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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE PEDAGOGIA – COLPED
JOÃO ASSIS SILVA OLIVEIRA
HISTÓRIA DE MULHERES PROFESSORAS: A HISTÓRIA DE VIDA E
FORMAÇÃO DE DONA VANDA
Senhor do Bonfim2012
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
COLEGIADO DE PEDAGOGIA – COLPED
JOÃO ASSIS SILVA OLIVEIRA
HISTÓRIA DE MULHERES PROFESSORAS: A HISTÓRIA DE VIDA E
FORMAÇÃO DE DONA VANDA
Monografia apresentada ao Departamento de Educação / Campus VII – Senhor do Bonfim, da Universidade do Estado da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção de graduação no Curso de Pedagogia com Habilitação em Docência e Gestão de Processos Educativos.
Linha de Pesquisa: Cultura Escolar
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Gloria da Paz
Senhor do Bonfim2012
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JOÃO ASSIS SILVA OLIVEIRA
HISTÓRIA DE MULHERES PROFESSORAS: A HISTÓRIA DE VIDA E
FORMAÇÃO DE DONA VANDA
Monografia apresentada ao Departamento de Educação / Campus VII – Senhor do Bonfim, da Universidade do Estado da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção de graduação no Curso de Pedagogia com Habilitação em Docência e Gestão de Processos Educativos.
Aprovada em ____ de ________________ de 2012.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Gloria da Paz - Universidade do Estado da Bahia –UNEB
Orientadora
_____________________________________________________________
Prof.ª..................................................................................................
Examinadora
____________________________________________________
Prof.ª..................................................................................................
Examinadora
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EPÍGRAFE
Quem és Tu Mulher?
Sou quase como vocês homens.Sou guerreira, justiceira,
cumpridora de meus deveres, masdesconhecida de meus direitos.
Sou tua mulher; sou tua mãe,
sou mãe de teus filhos,sou tua namorada,
sou tua amiga,sou mulher.
Mas quem és tu mulher?
Sou mãe, sou advogada,
sou médica,sou faxineira,
sou mulher-da-vida,sou professora.
sou também a flor que encanta seu jardim,a estrela que ilumina o seu céu, mesmo em noites de escuridão.
Roni Roque da Silva
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DEDICATÓRIA
A minha mãe, Irene, em nome de todas as
mães deste vasto mundo.
A Dona Eulina, em nome das professoras de
outrora que tanto contribuíram para o
crescimento educativo e social de tantas
pessoas.
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.AGRADECIMENTOS
A Deus, com sua sublime bondade, por permitir que este trabalho fosse iniciado,
desenvolvido e, finalmente, concluído.
A Prof. Dr.ª Gloria da Paz, minha orientadora, mulher sábia, que me guiou neste
caminho, levando-me passo a passo, até chegar ao destino tão almejado.
Aos professores e a Universidade do Estado da Bahia – CAMPUS VII, por estes
anos de crescimento.
Aos meus familiares e amigos que sempre estiveram ao meu lado.
Aos colegas universitários por quantos trabalhos, quantos conhecimentos
partilhados.
A Senhora Perpetua em nome dos familiares de Dona Vanda
A Dona Terezinha em nome de todos os depoentes.
A Senhora Aldalice, mulher guerreira, uma verdadeira líder. Sempre sorridente e de
bem com a vida. Por suas palavras de animo e conforto.
A Jaciane, Ani, que é de Deus. É meu presente de Deus. Uma preciosidade na
minha vida. Que com seu jeito simples e carinhoso sempre soube dar-me forças
para continuar. Sempre me incentivando a continuar firme e forte. Minha musa
inspiradora.
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LISTA DE ABREVIATURAS
Dr.ª – Doutora
Ed. – Editora
(Org.) – Organização
Prof.ª – Professora
P. - Página
Trad. - Tradução
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RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso: História de mulheres professoras: a
história de vida e formação de dona Vanda, tem como objetivo demonstrar a
importância da mulher na educação, refletindo a cerca das contribuições desta
educadora na comunidade de Missão do Sahy. A metodologia aplicada nesta
pesquisa foi a história oral, através de entrevista semi-estruturada. Foram coletados
depoimentos de cinco pessoas do povoado, sendo estes, ex-alunos e familiares de
Dona Vanda. As fontes escritas utilizadas foram: Josso (2004), Louro (2007), Perrot
(2007), Nóvoa (2007) e outros autores. Por fim, apresentamos os resultados
alcançados revelando que são pequenos trabalhos como o de Dona Vanda que
fazem a diferença na melhoria educativa e social.
Palavras - chave: História de professores, história de vida e formação,
Professora Vanda.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
CAPÍTULO I...............................................................................................................12
1.1. HISTÓRIA DE PROFESSORAS.........................................................................12
1.2. HISTÓRIA DE VIDA E FORMAÇÃO..................................................................17
CAPÍTULO II............................................................................................................21
2. Procedimentos Metodológicos.......................................................................21
2.1. A pesquisa.....................................................................................................21
2.2. Os instrumentos............................................................................................21
2.3. As fontes de pesquisa..................................................................................24
2.4. O local da pesquisa......................................................................................26
CAPITULO III...........................................................................................................27
3. Os resultados da pesquisa.............................................................................28
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................35
REFERÊNCIAS........................................................................................................36
ANEXOS
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INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como tema a História de Mulheres Professoras, com um
recorte sobre A História de Vida e Formação da Professora Vanda Pereira da Silva.
Esta escolha se deu primeiramente porque este assunto está ligado as minhas
origens; sou residente na comunidade de Missão do Sahy, e percebo que a maioria
da população comenta sobre a atuação de Dona Vanda na educação deste
povoado, outra razão advém da necessidade de dar visibilidade a estes
personagens que contribuíram para a formação das pessoas que por aqui nasceram
ou que ainda residem nesta comunidade.
O fato de tentarmos reconstituir a história de alguém tem a finalidade de dar
conhecimento sobre esta pessoa e seus feitos, até porque muitos da nova geração
desconhecem a sua própria origem, sabendo muito pouco sobre si mesmo, sobre o
povoado em que residem e suas personalidades. Pensando sobre a valorização da
cultura da nossa comunidade e das pessoas que aqui nasceram, criaram vínculos,
estabeleceram relações e contribuíram para o seu crescimento, é que desejo
estudar a história de vida da professora Wanda Pereira da Silva, reconstituindo
partes de sua história a partir da oralidade das pessoas que a conheceram e que
foram seus alunos.
Na história de vida de professores, são de grande importância os registros sobre a
sua atuação na educação na solução de problemas relacionados com as
comunidades, na formação dos cidadãos, dos seus agentes sociais e políticos,
especialmente quando se trata das comunidades rurais. Este também é um dos
motivos que nos impulsiona a trazer à luz histórias de educadores, em sua maioria,
leigos, sem formação acadêmica, e que através das práticas e de suas próprias
experiências conseguiam iniciar o processo de letramento das pessoas.
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CAPITULO I
1.1. HISTÓRIA DE PROFESSORAS
Diferente do modelo da mulher administradora da família, a dona do lar, que fora
historicamente transmitido e muitas vezes reproduzido como certo, muitas mulheres
provedoras de suas famílias, corajosamente, enfrentam a realidade sozinhas com
seus filhos, e buscam através do trabalho os meios de sustento da sua família.
Tomando para si esta iniciativa, não ficam à mercê da sorte, e mesmo em situação
diferenciada ou quando são casadas, não ficam a depender dos recursos do marido.
Na maioria das vezes, as mulheres da classe popular ou da zona rural recebem um
salário irrisório pelo trabalho exercido, o que as fazem procurar alternativas, assim
como as frentes de emergência durante os períodos de seca, colocarem as filhas
mais velhas para trabalhar na cidade como domésticas, dentre outras formas de
obtenção de renda para a família.
Por influencia do mercado, do êxodo rural e da industrialização crescente, a vida das
mulheres também sofreu grandes modificações, mudaram a vida das mulheres que
aprenderam a desempenhar atividades que antes eram exclusivas dos homens. A
educação foi a forma que as mulheres encontraram para se libertar da condição de
submetimento em que viviam.
As primeiras escolas, em maior número para meninos, foram fundadas por
congregações e ordens religiosas femininas ou masculinas e eram mantidas por
professores leigos. Professores para ensinar aos meninos e professoras para as
meninas. Esses por sua vez deveriam ser pessoas dignas socialmente. O ensino era
basicamente centrado na formação de habilidades para ler, escrever, contar e
conhecimento sobre a doutrina cristã.
Em muitos momentos as disciplinas mais complexas eram confiadas aos
professores e esses também recebiam uma remuneração maior que as mulheres.
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Para os povos descendentes indígenas, a educação escolar, acontecia de forma
elementar, a educação nestas comunidades, realizava-se no seio familiar, tendo
como pano de fundo as praticas e os costumes do grupo de origem; o acesso a uma
escolarização mais ampla, se tornava mais difícil, principalmente por habitarem mais
distantes dos grandes centros, onde se concentravam os colégios, cabendo-lhes
apenas o acesso ao ensino das primeiras letras.
Para as filhas de grupos sociais privilegiados, o ensino da leitura, da escrita e das
noções básicas de matemática era geralmente complementado pelo aprendizado do
piano e do francês que, na maior parte dos casos, era ministrado em suas próprias
casas por professores particulares, ou em escolas religiosas. As habilidades com as
agulhas, os bordados, as rendas, as habilidades culinárias, bem como as
habilidades de mando das crianças e serviçais, também faziam parte da educação
das moças; acrescida de elementos que pudessem torná-las uma esposa agradável
e capaz de representar o marido socialmente.
Ainda que o reclamo por uma educação feminina viesse a representar, sem duvida
um ganho para as mulheres, sua educação continuava a ser justificada por seu
destino de mãe. Tal justificativa já estava exposta na primeira lei de instrução publica
do Brasil, de 1827.
As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são elas
que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os
homens bons e maus; são as origens das grandes desordens, como
dos grandes bens; os homens moldam a sua conduta aos
sentimentos deles.
Para muitos, a educação feminina não poderia ser concebida sem uma solida
formação cristã, que seria a chave principal de qualquer projeto educativo. Pois,
predominava a moral religiosa, onde se esperava que as meninas e jovens
conservassem uma imagem de pureza. Portanto, não podendo estas, ficar no
mesmo espaço que os homens.
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Em meados do século XIX, foram tomadas medidas para atender aos reclames de
que faltam mestres e mestras de boa formação. Foram criadas escolas formadoras
de docentes, as escolas normais. Elas atendiam ambos os sexos, porém homens
ficavam separados das mulheres em classes separadas. ( LOURO, 2008 ).
O objetivo das escolas normais era formar profesores (as) para atender o aumento
de alunos. Porém, o êxito não foi alcançado como era esperado porque as escolas
estavam formando mais mulheres que homens. Os homens estavam abandonando,
aos poucos, a sala de aula.
Ao final dos anos 60 e na década de 70 torna-se mais forte a questão do
pofissionalismo do ensino. A legislação para o setor tona-se mais minunciosa e
extensa; procedimentos e relações de ensino são disciplinados, especialmente,
através da burocratização das atividades ecolares da edição de livros e manuais
para docentes, da revitalização de disciplinas como educação moral e cívica, da
preferência politico-ideológica dos professores, etc.
São valorizados o carater profissional da atividade, através das qualidades como
afeto, espontaneidade e informalidade nas relações intra escolares. Há uma
tendência em se substituir a representação da professora como mãe espiritual por
uma nova figura: a da profissional do ensino.
A partir dai era exigido do professor uma ocupação bastante itensa com atividades
de ordem administrativas e de controle; sua forma de ensinar deveria ser mais
técnica, eficiente e produtiva.
Reivindicar o reconhecimento como profissional também se constituia numa forma
de mulheres professoras lutarem por salários iguais aos dos homens e por
condições de trabalho adequadas.
Um aspecto muito forte na questão do gênero é o da diferença, que, na pespectiva
pós-estruturalista, é um processo social estritamente vinculado à significação.
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Identidade e diferença não são condições inerentes aos gêneros ou as culturas, não
sendo possível reduzi-las a algo fixo, estável, unico, homogêneo. Estas so podem
ser percebidas como construção, efeito, processo de produção e ato performativo.
Que apenas por uma repetição exaustiva, acabam por produzir efeitos de realidade.
Por um lado, como uma espécie de reafirmação da função afetiva e de sua
importância central na atividade docente, muitas professoras e professores
subvertem a pretendida propaganda desejada pelos orgãos educacionais, modificam
as tarefas e atividades programadas, introduzem caracteristicas próprias aos
sistemas de instrução e passam a usar a tia como uma denominação substituta a de
professora.
Outra forma de resistência se dá na luta pelos direitos trabalhistas. Professores e
professoras vão buscar formas de reivindicar semelhantes aos operarios. Criam-se
centros de professores e sindicatos que expressão suas reivindicações através de
greves e de manifestações publicas de maior visibilidade e impacto social. São os
movimentos dos trabalhadores da educação.
A professora sindicalizada, denominada de trabalhadora da educação, é
representada pela mulher militante, disposta a ir às ruas lutar por melhores salários
e melhores condições de trabalho. Ela deve ser capaz de parar suas aulas; gritar
palavras de ordem; expor publicamente sua condição de assalariada, não mais de
mãe, tia ou religiosa, exigir o atendimento de seus reclames. Face à discreta
professorinha do incio do século, o contraste parece evidente: são outros gestos,
outa estética outra ética.
Portanto, retomando o processo histórico da educação escolar vemos o quanto esta
tem tomado varias mudanças no decorrer dos anos e o professor, pivô deste
processo, é encaminhado a acompanhar essas inovações.
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Inúmeras linhas de conceitos e modelos de ensino são postos em evidência e
discutidos como o melhor método a ser trabalhado no ambiente escolar. Trazem
novas abordagens e requerem nova formação dos docentes para acompanha-los.
Progressivamente, a atenção exclusiva às práticas de ensino tem vindo a ser
analisada e reconhecida de modo a valorizar a pessoa do professor, sua vida e não
somente sua função enquanto profissional formador. Essa visão valoriza e fortalece
a identidade do educador. Pois, esta é auto reconhecida quando a pessoa encontra-
se naquilo que faz, quando se sente responsável por aquela área que atua, ciente
de que sua identidade não é algo produzível.
Todavia, a identidade do professor é fruto daquilo que ele controla dentro da sua
função, é o elo entre sua pratica de ensinar e a autonomia que tal realização lhe
proporciona. O profissional professor e a pessoa do professor são duas coisas que
andam juntas, uma contribui com a outra e ambas dependem uma da outra.
Contudo, a realidade é mais sofrida, no nordeste do Brasil onde está maior parte sob
a responsabilidade dos professores não qualificados. Esses professores, a maioria
mulheres, são responsáveis pela escola que é negligenciada por muitos dos
governos muncipais. Ganhando os menores salários, sem orientação apropriada,
sem condições, esses trabalhadores rurais dividem seu tempo entre trabalho
agrícola e gestão de sala de aula.
Esta tem sido abalada nos últimos anos por uma pressão tripla: classes mais baixas
requerem uma escola de qualidade, a Unesco e outras agências internacionais
exigem que a escola seja capaz de responder às solicitações da globalização, a
globalização do capital, o Ministério da Educação do Brasil promulgaram leis que
exigem a profissionalização de todos os professores no país.
Como para não graduados professores, vários estudos mostram que a situação é
complexa: sua existência decorre da realidade estrutural e cíclica do nordeste do
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país que são responsáveis pela existência das escolas rurais e que estes
professores têm uma história comum que não deve ser negligenciada.
Outro ponto prejudicial ao ensino das classes rurais é a exigencia do cumprimento
de conteúdos curriculares que são desenvolidos para a realidade urbana, onde
sabemos que tem suas diferenças.
1.2. HISTÓRIA DE VIDA E FORMAÇÃO.
Identificamo-nos com as nossas experiências, nos fixamos nelas. E diante das
potencialidades e fragilidades prosseguimos nossa história de vida com uma maior
visibilidade.
Todavia, em se tratando de experiência e vivência, Josso (2004), esclarece em seus
estudos a diferença existente entre estes termos, ao considerar que a experiência
nasce de uma postura refletida, isto é, o sujeito reflete sobre as vivências de sua
vida. Esta reflexão permite que as vivências se transformem em experiências de
vida. Para tanto dar importância à narrativa de formação do sujeito, que mesmo
adquirida tecnicamente, destaca-se como essencial às subjetividades e
singularidade do mesmo.
A formação descreve os processos que afetam a nossa subjetividade. Ela indica
assim, um dos caminhos para que o sujeito oriente, com lucidez, as próprias
aprendizagens e o seu processo de formação.
Segundo Josso (2004), as nossas culturas ocidentais contemporâneas, fundadas no
livre empreendimento e na capacidade de iniciativa criadora, obrigam-nos a ter
cenários de vida, enquanto as formas e os conteúdos educativos procuram orientar
e conter essa criatividade. Se a inovação nasce de individualidades inquietas, os
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procedimentos da sua legitimação social são um testemunho da tensão frágil entre
tradição e modernidade.
O conceito de experiência formadora implica uma articulação conscientemente
elaborada entre atividade, sensibilidade, afetividade e ideação. Articulação que se
objetiva numa representação e numa competência.
Através da experiência temos a possibilidade de poder avaliar situações, podemos
analisar mais precisamente atividades e acontecimentos novos.
O domínio dessas competências implica não apenas uma integração de saber fazer
e ter conhecimento, mas também de subordina-las a uma significação e a uma
orientação no contexto de uma história de vida.
Se a abordagem biográfica da formação, uma vez que ela se centra o aprendente,
permite compreender o que é uma experiência formadora, os trabalhos eventuados
com essa metodologia continuarão a precisar e a afinar a dinâmica da formação e,
por conseguinte, o próprio processo experiencial.
O que está em jogo neste conhecimento de si mesmo não é apenas compreender
com nos formamos por meio e um conjunto de experiências, ao longo da nossa vida,
mas sim tomar consciência de que este reconhecimento de si mesmo como sujeito,
mais ou menos ativo ou passivo segundo as circunstancias, permite a pessoa dai
em diante, encarar o seu itinerário de vida, os seus investimentos e os seus
objetivos, que articule de uma forma mais consciente as suas heranças, as suas
experiências formadoras, os seus grupos de convívio, as suas valorizações, os seus
desejos e o seu imaginário nas oportunidades socioculturais.
Construir a sua história constitui uma prática de encenação do sujeito que se torna
autor a pensar a sua vida na sua globalidade temporal, nas suas linhas de força, nos
seus saberes adquiridos ou nas marcas do passado, assim como na perspectiva dos
desafios do presente entre a memória revitalizada e o futuro já atualizado, porque
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induzido por esta perspectiva temporal. É entrar em cena um sujeito que se torna
autor ao pensar na sua existencialidade. Porque o processo auto reflexivo, que
obriga a um olhar retrospectivo e prospectivo, tem de ser compreendido como uma
atividade de auto interpretação critica e de tomada de consciência da relatividade
social, histórica e cultural dos referenciais interiorizados pelo sujeito e, por isso
mesmo, constitutivos da dimensão cognitiva da sua subjetividade.
O processo de formação, nas dialéticas e nos conteúdos que caracterizam uma
trajetória, é progressivamente explicitado a partir de questionamentos, de hipóteses,
de constatações de recorrência nos comportamentos, nas atitudes ou nas
valorizações, e na maneira de cada um gerir a própria vida.
Nas narrativas de vida é evidente que as vivencias são relatadas, mas contam-nas á
devolvendo-nos uma significação, por mais sumaria que ela seja.
Na abordagem “Histórias de vida e formação”, a reflexão sobre a vida é centrada no
salientar as experiências que consideramos significativas, para compreendermos o
que nos tornamos, nesse dia, e de que forma chegamos a pensar o que pensamos
de nos mesmos, dos outros, do nosso meio humano e natural.
Os gêneros de aprendizagens identificados correspondem a três gêneros de
conhecimento: o saber-fazer consigo mesmo (psicossomático), o sabe-fazer com
outrem ou com objetos mais ou menos complexos (pragmáticos), e o saber-pensar
(explicativo e/ou compreensivo).
O trabalho biográfico sobre o passado se efetua a partir dos interesses, das
questões, das preocupações, das expectativas e dos desejos de um presente que
contem um futuro implícita ou explicitamente projetado. Por isso que considero que a
intensão de caminhar conscientemente para si é um processo-projeto que só
termina no fim da vida.
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Assim, a abordagem de história de vidas pode não apenas provocar um
conhecimento da sua existencialidade e do seu saber-viver com recursos de um
projeto de si auto-orientado, mas convoca ainda o sujeito da formação a reconhecer-
se como tal, a assumir sua quota de responsabilidade no processo, finalmente, a
colocar-se numa relação renovada consigo, com os outros, com o meio humano e
com o universo, na sua vida em geral e no nosso grupo em particular.
Boa parte dos professores leigos era da zona rural. A grande maioria é constituída
de posseiros que complementam o orçamento doméstico como professores. Eram
pessoas que viviam isoladas, precariamente servidos pelos meios de comunicação e
de transporte e que, durante o passar de um tempo, reconhecem seu valor e vão em
busca de resgatar sua identidade, começando a perceber o valor de sua história.
Assim como situa CAMARGO, essa experiência singular, ainda hoje ausente da
História da Educação Brasileira, precisava, urgentemente, ser relatada,
sistematizada e refletida (...). Essa é, portanto, a principal preocupação e objeto
deste trabalho, cuja importância está diretamente relacionada ao despontar de
novos projetos no Brasil em tempos e espaços diferentes. (Camargo 1997, pp. 13,
14)
Para a autora, a experiência de campo não deve ocorrer em um vazio teórico. (...)
Visando, sobretudo, atingir a realidade escolar no contexto rural e indígena, a partir
da observação e da experimentação. Nesta perspectiva, (...) rompe com o ensino
convencional (...). Esta prática teve como estratégia principal o Laboratório Vivencial
- ou seja, a vizinhança do observador que percebe essa realidade a partir de seus
referenciais (...). Apesar de ser o mais "interdisciplinar" dos laboratórios, necessita
de uma metodologia que permita a sistematização do conhecimento. Assim, tal
metodologia teve como fundamentação básica a abordagem etnográfica para o
tratamento do conteúdo observado. (Camargo, 1997, pp. 32-34).
O senso de compromisso na condução educacional emerge constantemente da
leitura, uma vez que vamos sendo introduzidos na importância da história regional
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por intermédio de temas como terra e trabalho, ou descobrindo os conflitos e a
diversidade cultural dos grupos sociais existentes, por meio dos conteúdos.
O ensino primário continuou a ser ministrado por leigos sem qualquer preparo,
existido professores que não ensinavam os alunos “nem a assinarem o nome”, por
não saberem fazer; Somente mais tarde o ensino normal passaria a ser olhado por
seus dirigentes como importante para a comunidade.
O magistério, que era profissão basicamente dos homens, cedeu seu espaço as
mulheres.
Com a defasagem do salário do professor e com a disponibilidade de outras funções
pelas mulheres o magistério enfraqueceu. Com a extinção das escolas normais
contribuiu para o enfraquecimento do mesmo.
Os professores na sua maioria são mulheres. Os homens que atuam no magistério
estão nele até encontrar uma oportunidade de emprego com melhor remuneração.
Havia uma grande predominância de classes multiseriadas, onde se misturava
alunos com grau de aprendizagem diferentes, idade e muitas vezes classe social.
Todavia, o professor leigo escrevia no quadro um exercício para execução na sala,
um texto para leitura e um dever para casa. Ficava sentado na cadeira esperando
que os alunos copiassem, resolvessem os exercícios, enquanto examinava ou
corrigia cadernos, copiava deveres para alunos mais fracos ou mais adiantados.
Chamava aluno por aluno para fazer leitura.
Com o comportamento verbal predominante de dar ordens, ele tentava, sobretudo,
manter a disciplina na sala. Certamente não sabendo como lidar com a
heterogeneidade da turma, voltava-se para o atendimento individual que se resume
na leitura de um pequeno trecho ou correção de um pequeno exercício.
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Já o professor habilitado desempenhava sua função dinamicamente, passando o
conteúdo para os alunos e trazendo muitas explicações e exemplos e solicitando a
participação do aluno nas atividades.
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CAPITULO – II
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. A pesquisa
2.1.1. Tipo de pesquisa: História Oral
A História Oral foi escolhida para estudar a História de Mulheres Professoras, em
especial, a História da atuação da Professora Vanda na educação das pessoas no
povoado de Missão do Sahy. Através da História Oral pudemos colher depoimentos
sobre a educação escolar do povoado na época da professora Vanda.
2.1.2. Os Instrumentos da pesquisa:
Entrevista semiestruturada
2.2. O GUIA DA PESQUISA
BLOCO I: a identificação dos entrevistados
A ficha de identificação é composta por elementos de identificação pessoal:
Nome:
Endereço:
Filiação:
Data de Nascimento:
Naturalidade:
Estado civil:
Escolaridade:
Profissão:
Data:
23
BLOCO II;
1. O Senhor (a) conheceu Dona Vanda, fale um pouco sobre a sua vida?
2. De que maneira o trabalho de Dona Vanda contribuiu para a melhoria da
comunidade de Missão do Sahy?
3. Se você foi aluno de Dona Vanda, fale um pouco sobre esta professora e sua
maneira de ensinar.
4. O que você aprendeu com Dona Vanda?
5. Deseja falar mais alguma coisa sobre Dona Vanda?
2.1.1.2. CARTA CESSÃO
CARTA CESSÃO DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL PARA A
UNEB/CAMPUS VII – SENHOR DO BONFIM - BA
1 - Pelo presente documento...........................brasileiro, estado civil)......................
(profissão)..........carteira de identidade nº......., emitida por.................... CPF
nº................, residente e domiciliada em..................................................., Município
de Senhor do Bonfim, Bahia. Cede e transfere nesse ato, gratuitamente, em caráter
universal e definitivo ao Campus VII da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) a
totalidade dos seus direitos patrimoniais de autor sobre o depoimento prestado no
dia ....de ...................... de 2010, perante o pesquisador João Assis Silva Oliveira.
2 – Na forma preconizada pela legislação nacional e pelas convenções
internacionais de que o Brasil é signatário, o DEPOENTE, proprietário originário do
depoimento de que trata este termo, terá, indefinidamente, o direito ao exercício
pleno dos seus direitos morais sobre o referido depoimento, de sorte que sempre
terá seu nome citado por ocasião de qualquer utilização.
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3 – Fica, pois o Campus VII da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
plenamente autorizado a utilizar o referido depoimento, no todo ou em parte, editado
ou integral, inclusive cedendo seus direitos a terceiros, no Brasil e/ou no exterior.
Sendo esta forma legitima e eficaz que representa legalmente os nossos interesses,
assinam o presente documento em 02 (duas) vias de igual teor e para um só efeito.
_____________________________________
[assinatura do entrevistado]
TESTEMUNHAS:
_____________________________________
1ª testemunha
_____________________________________
2ª testemunha
2.2. Fontes
2.2.1. Fontes orais
As fontes orais escolhidas são pessoas da comunidade que foram alunos ou
mantiveram relações familiares com a professora em estudo.
1. Adalgisa Alves do Nascimento.
Filha de Eleotério A. do Nascimento e Odelia A. Rosas. É residente na comunidade,
75 anos de idade, é viúva e natural deste povoado, é aposentada e estudou até a 5ª
serie do ensino fundamental.
2. Maria Perpétua Pereira da Silva
Nascida em Senhor do Bonfim, filha de Felix A. da Silva e Vanda P. da Silva, casada
residente na comunidade de Missão do Sahy, tem 53 anos de idade, é dona de casa
e tem o segundo grau completo.
25
3.Terezinha Aquino da Silva
Nasceu em Missão do Sahy, é filha de Pedro Joaquim dos |santos e Maria Xavier da
Silva, tem 79 anos de idade, é viúva e dona de casa, aposentada e foi alfabetizada
pelo antigo programa denominado MOBRAL- movimento brasileiro de alfabetização
4. Eulina Vieira Malta Valadão
Residente na comunidade de Missão do Sahy, nascida na Fazenda Varzinha em
Missão do Sahy, filha de Manoel P. da Silva e Maria dos Santos, é viúva,
aposentada, tem 60 anos de idade, foi professora leiga na comunidade e possui a 5ª
série do ensino Fundamental.
5. Mario Pereira da Silva
Filho de Manoel Pereira da Silva e Maria dos Santos, casado, 60 anos de idade,
aposentado da Via Férrea – Leste Brasileira, a sua escolaridade é o antigo curso
primário.
2.2.2. Fontes escritas
Perrot (2007). Apresenta o anonimato e o ocultamento em que as mulheres têm sido
submetidas, em relação aos homens. Traz a divulgação de fontes, registros, falas,
discursos, imagens, ideias e expressões artísticas sobre elas e por elas produzidas.
Nóvoa (2007). Estabelece a relação entre a profissionalização do professor, a
construção de sua identidade e a historia de sua vida. Valendo-se de uma
retrospectiva histórica, mostra que as tentativas de racionalização do ensino
impuseram a separação entre o eu pessoal e eu profissional do professor.
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Josso (2004). Refere-se a questão do saber e sua relação com os aprendestes.
Focaliza a perspectiva existencialista trazendo a importância do singular, do sujeito,
do experiencial, do existencial, da globalidade concreta, e da complexidade dos
processos de formação no movimento de ideias.
Louro (2007). Vem mostrar as diferenças que eram impostas pela sociedade com
relação ao homem e a mulher. A educação a ela imposta. As concepções
tradicionais de postura da mulher. As lutas destas em busca do seu espaço. A
conquista do magistério.
2.3. O local da pesquisa
No ano de 1697 os Franciscanos da Ordem Menor criaram Arraial da Missão de
Nossa Senhora das Neves do Sahy. Seus habitantes, os índios (sobretudo Payayá e
Kariri), foram vistos e tratados como uma fonte de mão de obra para o trabalho do
salitre e nas fazendas de brancos, como está escrevendo numa carta aos frades
franciscanos Luiz César de Meneses (de 12 de março de 1706).
De 24 de julho de 1722 a 5 de junho de 1724 - Missão foi elevada a categoria de vila
(virando um espaço administrativo da Coroa, com a finalidade de administrar a
justiça, efetuar a cobrança dos impostos sobre o ouro produzido pelas minas,
implantar a lei e combater a violência), mas logo depois Missão do Sahy perdeu este
título e importância, sendo esquecida e ignorada. Em 1721, num episodio dramático,
frei capuchinho, Martin de Nantes (francês), evitou a todo custo que o poderoso
Garcia D´Ávila levasse todos os índios da aldeia de Missão do Sahy como escravos
para vendê-los aos senhores de engenho da região. Em 17 de dezembro de 1841 o
juiz de direito de Jacobina, Ângelo Muniz da Silva Ferraz, assinou um documento de
apreensão de todos os bens que pertenciam a Missão. Estes bens deveriam ser
devolvidos ao último frade da Missão, frei Sebastião de Santo Antônio, segundo o
decreto de 16 de maio de 1843 (hoje ninguém sabe, onde pararam estes bens).
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Missão do Sahy hoje conta com uma população de aproximadamente 4.000
pessoas. Seus habitantes sobrevivem de pequenas culturas de subsistência e de
prestação de pequenos serviços, pois suas terras foram transformadas no passado
em latifúndios. Há um pequeno grupo de descendentes de indígenas num local
afastado, denominado "Aldeinha", fazendo o artesanato em cipó e outros artesãos
que desenvolvem suas atividades isoladamente. O distrito de Missão do Sahy é
bastante rico em cultura e história. No passado, já foi uma das localidades mais
importantes da Bahia, quando sendo um posto de fiscalização e administração da
Coroa portuguesa. Mas, depois de perder importância para localidades vizinhas
(como a Vila Nova da Rainha, atual município de Senhor do Bonfim, do qual é hoje
distrito, e Vila de Santo Antônio de Jacobina), Missão do Sahy foi ignorada e
esquecida. Atualmente existem poucos resquícios desse passado. A antiga "Missão
de Saí" dos franciscanos foi extinta em 1864.
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CAPITULO III
3.1. Dona Vanda: quem conheceu fala um pouco sobre sua vida.
Os depoimentos recolhidos sobre a vida de Dona Vanda, ressaltam a sua atuação
como professora na comunidade de Missão do Sahy; inicialmente numa área rural
conhecida como Fazenda Varzinha, onde tinha em sua casa uma escola, ensinando
a ler, escrever e contar. Para muitos dos nossos entrevistados a competência de
Dona Vanda enquanto educadora se sobrepõe ao que se toma como competência
profissional na atualidade, como explica uma das colaboradoras. “As professoras de
hoje num sabe nem a metade dela, ela ensinava aqui, depois adoeceu e parô.”
Dona Vanda foi uma professora leiga, a sua formação advém da pratica, pois não
frequentou o antigo curso de formação de magistério, curso oferecido pelo
Educandário Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento - uma escola do ensino
privado, e de difícil acesso aos indivíduos pertencentes ás camadas populares,
especialmente aos residentes na zona rural do município. A maioria dos leigos,
eram pessoas que pouco alfabetizadas, se dispunham a ensinar o pouco que
sabiam para pessoas da comunidade que tinham interesse em aprender.
Dona Vanda ensinou na Fazenda Varzinha do ano de 1952 até 1966. Na época, a
população do povoado era pequena e a convivência entre os moradores era muito
próxima, facilitando o afeto e o respeito. Para esta professora, mãe de família,
tornou-se imperativo ter que mudar-se da zona rural com a sua família para a sede
do povoado de Missão do Sahy, uma vez que seus filhos estavam crescendo e ela
queria que eles tivessem uma educação escolar mais qualificada.
O povoado localizado nas proximidades da cidade de Senhor do Bonfim, facilitava o
seu desejo, dar aos filhos uma escolarização mais significativa. A partir da mudança
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de endereço, e da organização da vida escolar dos filhos, ela começa e exercer a
função de professora no povoado, em sua própria casa, aonde chegou a formar
turmas numerosas de pessoas que queriam aprender a ler e escrever, haja vista que
na época o índice de pessoas analfabetas era muito grande, e os professores leigos,
sempre tinham em sua casa um espaço para mais um aluno. Este era também o
lema de Dona Vanda; e desta maneira, muitas pessoas de Missão do Sahy puderam
ser educados por ela, muitos destes já faleceram, alguns permanecem na
comunidade e outros vivem em outros lugares.
Segundo depoimentos, os alunos gostavam muito dela, pois, apesar do rigor que
exigia no momento das aulas, era uma pessoa bondosa e amiga que queria
somente o bem deles. Educou desde os pais até os filhos e era muito respeitada por
todos. Muitos a tinham como uma segunda mãe e era madrinha de quase todos os
seus alunos. Estes sentiram muito a sua falta.
Madrinha Vanda, eu gostava muito dela, primeiro eu estudei cum a professora Maria Menez, depois foi cum Dona Vanda, ela também foi minha garnde amiga, cumadre e eu senti muito a separação dela, ela ajudou muito as minhas filhas, foi professora delas também, ave Maria, elas respeitava muito ela, elas choraro muito a morte dela, era como parente, num era nada de sangue, mas é como se fosse. Eu conheci esse povo todo, até o pai dela, seu Antônio.
Outro depoimento confirma a proximidade da professora com as famílias da
localidade, uma vivencia muito comum entre os professores leigos que atuavam em
comunidades rurais,
Madrinha Vanda foi minha primeira e única professora, ela começou ensiná na fazenda Varzinha, no ano de 52, me parece, eu sei que eu era pequena na época, mas quando eu fui pra escola, eu tinha 6 anos, porque eu chorava pra ir pra escola, eu via os grande, e ela dizia assim – não, eu num vô deixar ela ir pra escola não, ela ta muito pequena, eu nem me matriculei, que naquele tempo só se matriculava com 7 anos.
Na época a idade exigida para o aluno matricular-se na escola era sete (7) anos,
entendia-se que a criança nesta idade estaria pronta para assimilar os ensinamentos
30
e aprender as habilidades de ler, escrever e contar, funções ensinadas nas escolas
elementares da época. Os alunos que conseguiam finalizar os estudos, alcançando
aí o quarto ano primário ou o quinto ano – admissão com Dona Vanda, estes
estavam aptos a criarem as suas próprias escolas e ou a exercer a função de
professor leigo em escolas municipais do povoado.
3.2. O trabalho de Dona Vanda, uma vocação, um dom de Deus.
Dona Vanda era, para muitos, uma pessoa sem defeito que partia o que tinha com
quem precisasse. Quebrando um pouco a hegemonia, também havia aqueles que
reafirmavam a sua atuação enquanto professora, porém, não acreditavam muito em
seu trabalho assistencialista; estes se constituíam em um número reduzido e sem
expressividade. “Ela só era professora, ela num ajudava não, que nada!”
Para a maioria, ela era uma mulher caridosa, costumava ajudar, principalmente,
aqueles que mais necessitavam e procurava atender a todos que a procuravam. “[...]
Mãe gostava de ajudar os otros que precisava, ela só negava se num tivesse como.
Ela ensinava na casa da gente a todo mundo que ia pra lá”. Outro relato destaca a
caridade da professora Vanda, “ [...] ajudava o povo, essa minina da D.., oxe, ela
dava rôpa, a cumade J, ave Maria era assim cum ela... Era gente boa , ajudava
muito!
Apesar de a educação predominante ser a tradicional, muitas atividades que a
professora realizava com os alunos eram bastante diversificadas e interessantes,
pinturas, colagem, enfeites com papel, além de frequentemente sair para passeios
em rios, fazendas e outras localidades adjacentes. A “merenda’” para os alunos era
feita pela própria professora com a ajuda dos alunos maiores, algum tempo depois é
que foi contratada uma pessoa para executar esta função.
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A atuação dos professores leigos foi muito importante especialmente para a zona
rural, num tempo em que poucos tinham o acesso ao meio escolarizado. A formação
de muitas pessoas se deu por estes profissionais que tanto contribuíram para a
educação dos indivíduos que viviam distantes dos grandes centros urbanos. “[...] Os
professores leigos naquela época se doavam, não trabalhavam apenas pelo dinheiro
não, trabalhavam por vocação, aquele dom que tinho recebido de Deus, porque o
salário sempre foi mínimo dos minimo”. (Dona Eulina). A remuneração que os
professores ganhavam era mínima, tão pouco que mal dava para se manter, mesmo
assim, estes não desistiam de fazer o trabalho que haviam escolhido por
necessidade ou por amor, mas um trabalho que tinha o objetivo de melhorara vida
daquelas pessoas.
Dona Vanda era querida por todos, porem não deixava de ter aqueles que por este
ou aquele motivo não gostavam dela. Muitos porque achavam que a falta de
interesse que seus filhos tinham com relação à escola era culpa da professora e
diziam que ela não ensinava corretamente e por isso seus filhos não aprendiam da
mesma forma que os demais alunos.
Todavia aquelas pessoas que tinham acesso ao trabalho dela sabiam o quanto ela
se esforçava e dava tudo de si para que seus alunos aprendessem, era uma
professora muito aplicada, esforçava-se o máximo para que seus alunos
absorvessem todos os conteúdos que ela passava em sala. Gostava de trabalhar
com os alunos, fazendo as atividades sempre em conjunto, fazendo uso da
criatividade.
3.3. Dona Vanda e a sala de aula: tudo que o aluno fazia, a pessoa que
cuidava da turma anotava no caderno.
Dona Vanda, ao mesmo tempo em que dava aula era dona de casa e tinha que
cumprir com os afazeres domésticos. Quando morava e lecionava na Fazenda
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Varzinha, em uma casa cedida por uma família da localidade, ela costumava ir para
rio, que não ficava muito longe da casa, lavar roupa e deixava os alunos com outra
pessoa, muitas vezes com um aluno mais velho, geralmente aquele aluno que
demonstrava ser mais desenvolvido e dedicado aos estudos.
Este aluno era responsável para anotar tudo que acontecesse de errado na classe
em um caderno e depois passar para Dona Vanda. Este aluno por sua vez sentia-se
no dever de registrar tudo, até para demonstrar competência e mostrar-se melhor
que os demais. O aluno que tivesse o nome anotado no caderno por algum ato
errado que tivesse realizado recebia um castigo como forma de punição pelo erro
cometido, exemplificado no depoimento de uma das entrevistadas.
Ela foi pro rio e deixou a classe com uns trinta alunos, que era muito, tudo que o aluno fazia, ela ou ele, a pessoa que ficava cuidando da anotava no caderno, eu coitada , deste tamanho, me deu vontade de cuspir, num fui cuspi dentro da sala e fui botá o rosto assim na janela pra cuspí lá fora e num é que o infeliz colocou meu nome, quando ela chegou, num contou historia, botou todo mundo de castigo, de joelho cum banco na cabeça. E eu era tão pequena que o banco num alcançou a minha cabeça, aí chegou o cumpadre P. e falô: - o que é que tá fazeno esses menino de joelho com um banco na cabeça? Aí ela falou: - Há é porque eu fui pro rio e eles tavo bagunçando, e eu disse: - eu num baguncei, eu simplesmente levantei a cabeça pra cuspi e o R pegou uma vareta de vilão deste tamanho e era pra bater, tu acha? (Dona Eulina).
A rigidez de Dona Vanda na educação dos alunos fazia com que ela utilizasse os
castigos como uma maneira de conseguir disciplina-los, dessa forma tinha-se a
impressão de que as crianças se tornavam mais atenciosas e obedientes. “Ela era
rígida, ela não batia pra tirar sangue, ela botava de castigo [coloca-se de joelhos
olhando pra parede], e dava bolo... [ Utilizava-se a palmatória para bater nas palmas
das mãos ] Oxe, nego tinha medo, quando via ela, ficava tudo queto, tudo era
afilhado num sabe? Hoje uns foro embora, otros já morrero e só chamavo madrinha
Vanda.”
Naquela época era comum o pai entregar os filhos para que a professora os
educasse, tanto na questão do letramento como também nas questões disciplinares.
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Em sua tese PAZ (2009) comenta alguns recortes de entrevistas, concedidas por
senhoras da comunidade de Missão do Sahy, cujo tema era a disciplina através dos
castigos sofridos pelas crianças na escola.
Perguntadas sobre qual a reação dos seus pais ao saberem que elas sofriam determinados castigos, responderam que os pais achavam que isso era bom, e até sugeriam que fosse feito dessa forma mais vezes, pois servia tanto pra torná-las mais obedientes como para que tivessem mais atenção e aprendessem mais; afinal, estavam ali para serem educadas. Neste relato encontra-se mais um resquício de ancestralidade, segundo Willeke (1974, p. 65), “[...] embora os pais não adotassem o costume de castigar os filhos em casa, eram eles próprios que permitiam e até pediam aos religiosos castigassem os filhos, demonstrando assim a sua confiança na justiça dos abarés educadores.”(p.67).
Vemos neste recorte que a disciplina era um dos pilares da educação religiosa
trazida pelos padres no período da colonização, estas práticas disciplinares como os
castigos físicos e morais, serviam como maneiras de conseguir o controle das
crianças, e através da obediência, prepará-los para o trabalho de evangelização e
civilização, uma pratica que se prolongou por muito tempo na família e nas escolas.
Dona Vanda era uma mulher que primava pela verdade e honestidade e transmitia
esses valores para seus aprendizes. Os indivíduos que passaram pela sua escola e
foram instruídos por ela, tornaram-se cidadãos responsáveis. Estes têm consciência
de que a educação que receberam dela foi o principal fator que contribuiu para que
eles se tornassem homens e mulheres de bem, pessoas integras, motivos que as
fazem lembrar de dona Vanda até hoje.
Eu aprendi com ela foi a ter caráter, responsabilidade Ne tudo aquilo que eu faço. Isso ela sempre passou pra nois, não foi todos os aluno que seguiro, mas esse foi uma contuição, uma lição que ficou. Foi respeitar os outro, principalmente os mais velho, não ter egoísmo e a partilha.
Assim, repassando bons ensinamentos, cultivando a amizade com todos foi que ela
conquistou afeto e respeito. E isso foi transmitido a seus alunos, de forma que
mesmo com o passar dos anos esses ensinamentos não deixam de fazer parte de
suas vidas e são retransmitidos para outras pessoas com as quais convivem.
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Vivendo em um local onde as dificuldades eram muitas, principalmente financeiras,
Dona Vanda nunca se seu deu por vencida batalhava e dava um jeito de reverter a
situação ou ao menos ameniza-la. Foi assim que ela foi professora e mão de família,
foi assim que ela criou e educou seus filhos, dando a estes a oportunidade de ter
uma vida mais tranquila e poder estudar e construir uma carreira profissional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho teve como tema a História de Mulheres Professoras, com um recorte
sobre a História de Vida e Formação da Professora Vanda Pereira da Silva, uma
professora leiga, que atuou entre os anos 50 e 90 na comunidade de Missão do
Sahy, um povoado situado no município de Senhor do Bonfim, Bahia. Teve como
objetivo reconstituir partes de história de vida da professora Vanda Pereira, a partir
da oralidade das pessoas que a conheceram e que foram seus alunos.
O caminho trilhado na construção deste trabalho se deu, a principio, pela
importância dos relatos orais, visto que a oralidade possibilitou o encontro entre a
memória e as lembranças, tornando possível reconstituir em pequenas partes da
trajetória de vida de uma pessoa que com simplicidade e muita força de vontade,
contribuiu de maneira significativa para melhoria de vidas.
Ouvir os colaboradores foi fundamental para saber e poder mostrar o quanto Dona
Vanda, como professora leiga e outros professores com esta mesma formação,
contribuíram para o desenvolvimento educativo e social de comunidades carentes
como esta, em vários recantos do interior da nossa microrregião.
Essas lembranças permitiram redimensionar a importância da trajetória de vida de
uma pessoa e trazer significado a esta existência. Pois, é refletindo acerca de
momentos que, muitas vezes foram imperceptíveis, que conseguimos ré-significar os
valores que por estes foram construídos.
Assim, concluímos dizendo que todo trabalho em prol da educação, da sociedade e
do bem comum, mesmo que em pequena intensidade produzirá efeito e deixará para
sempre a sua pequena marca, foi assim com a professora Vanda Pereira, uma das
ilustres personalidades da educação do povoado de Missão do Sahy, Bahia.
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REFERÊNCIAS
CAMARGO, Dulce Maria Pompêo de. Mundos entrecruzados: Formação de
professores leigos. Ed. Atomo e Alinea. 1997, 176 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 31ª, Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
JOSSO, M.C. Experiência de vida e formação. Trad. José Cláudino e Júlia
Ferreira. São Paulo: Cortez, 2004, 285 p.
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORI Mary (Org.).
História das mulheres no Brasil. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
NÓVOA, António. Vidas de professores. Edição/reimpressão: 2007, Porto Editora,
216 p.
PAZ, Maria Gloria da. História de mulheres remanescentes de Missão do Sahy/
Maria Gloria da Paz.- Natal, 2009. 195 p.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Trad. Angela M. S. Côrrea. São
Paulo: Contexto, 2007.
ARTIGOS
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http://www.anped.org.br/reunioes/27/ge23/t234.pdf
http://www.congressods.com.br/vcopehe/images/trabalhos/3.profissao_docente.Lucy%20Rosane%20O.%20Vieira%20Raposo.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301999000200008
http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/770.pdf
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