Post on 27-Nov-2018
©2016 Vários autores Contato: http://muitoalemdasmontanhas.blogspot.com http://facebook.com/gloriosoimperiobrasil Edição, Diagramação e Arte: Eber Josué Impressão e acabamento:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Giublin, Luiz Guilherme Delenski et al.
G537m Muito além das montanhas / Luiz Guilherme
Delenski Giublin [et al.] – Três Corações:
Eber Josué Dias de Oliveira, 2016.
184 p.
ISBN 978-85-464-0218-2
1.Literatura brasileira. 2.Ficção.
3.Contos brasileiros. 4.História do Brasil.
5.Brasil Imperial. 6.Dom Pedro II. 7.Líbano.
I. Eber Josué, org. II. Série Glorioso Impé-
rio do Brasil. III. Título.
CDD: B869.3
CDU: 82-3 / 82-92/94
Índices para catálogos sistemáticos
1.Literatura brasileira: 869.3
2.Ficção : Contos brasileiros: 869.308
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem
prévia autorização dos respectivos autores.
Coletanea de contos
Varios autores
Muito alem das montanhas
Primeira Edicao
Tres Coracoes-MG Junho de 2016
PREFÁCIO
Este é um livro de emoções, em que cada página a ser
folheada tem um tesouro solene que cabe a você descobrir.
Antes vou lhe dizer: prepare-se para as aventuras que irá
conhecer. Você viajará pela leitura e a imaginação
mostrará um mundo só seu, leitor. Encontrará as portas
abertas para o universo do conhecimento e não resistirá ao
mundo mágico e extraordinário existente na obra cujo
nome é “Muito além das montanhas”, uma seleção de
contos fantásticos que compõem a coletânea organizada
pela comitiva de Sua Senhoria Eber Josué.
Imagine que cada página seja uma riqueza, contenha
a essência de duas nações cujos laços de amizade
marcaram a história: Brasil e Líbano, ambas maravilhosas,
cheias de cultura.
A cada episódio os eventos se transformam, como se
não houvesse final, assim é contada a relação de nosso
querido Dom Pedro II com o povo libanês. Recebendo vários
títulos e sendo honrado pelos seus personagens, com os
quais os escritores tiveram dedicação e carinho. É a
verdadeira história se transformando em arte.
Não se pode dar um significado à arte, mas deve-se
senti-la e entendê-la, pois esta possui encanto próprio,
modelada pelo seu criador com paciência na arte de
escrever e ser admirado. Assim é a literatura, ela nos
encanta e ensina a amar, prendendo-nos ao seu cosmos.
Meus parabéns a todos que se esforçaram para
garantir que o seu talento se tornasse visível, contribuindo
para a sociedade com os seus conhecimentos, mantendo
viva a história de nossa pátria tão amada e ressaltando o
grande coração do oriente, o Líbano.
“O talento desenvolve-se no amor que pomos no que
fazemos. Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que
se faz, o amor pelo próprio trabalho.” (Máximo Gorky)
YASMIM NASCIMENTO DE SOUZA RIBEIRO Graduanda em Letras-UFSC
ÍNDICE PREMIADO ESPECIAL
Joan Saulo do Monte 9
O iluminado
PREMIADOS
ARTURO 27
Retrato antigo
Bruno Lopes Curiel 38
Em busca dos pergaminhos de Al-Hakim
Christian S. 52
O medalhão
Eduardo Sussumo Smozono 60
Alvoradas
Guilherme Giublin 69
Laila e Majunm
João Baptista dos Santos 80
E voltarão prósperos
Lílian Abreu 93
Um lar no horizonte
Suzi Maria Moreira Marques 105
Além dos cedros do Líbano
Vicente de Melo 121
Lembranças e saudades
MENÇÕES HONROSAS
Adnelson Campos 131
O mascate
Aurineide Alencar 139
Buscando as origens
Edilson Luiz da Silva 147
Viajante
Edweine Loureiro 158
De porta em porta
Jober Rocha 163
Bem longe, lá atrás daqueles montes!
Nicoly Almeida 170
Ganha-se uma moeda, devolve-se duas
Muito alem das montanhas
9
Joan Saulo do Monte Pernambucano de Recife, 25 anos, Joan Saulo Ramos do Monte é domi-ciliado em Pilar (PB). É professor de Literatura e Produção Textual do Instituto O Pequeno Sábio, escola da rede particular de ensino. Como escritor e poeta, possui algumas conquistas, a exemplo de Aracnomo-mento (2015), seu livro de estreia, pela Editora Multifoco do Rio de Ja-neiro, além de várias Antologias Literárias, tais como: Prêmio Rima Rara (2013), Prêmio Poetize (2014), Prêmio Sarau Brasil (2014), Antologia de Contos e Poemas, Incertezas e suas Fragilidades (2014), Coletânea de Contos A Roupa Nova do Imperador (2014), Coletânea de Contos A Lei Áurea (2014), Coletânea de Contos As Cartas do Pequeno Imperador (2015), Coletânea de Contos O Soldado de sua Majestade (2015) dentre outras. Ultimamente, dedica-se à publicação do seu segundo livro de poemas, ainda no prelo.
O iluminado
- Terra do cedro. Local de culturas múltiplas. Gleba que
jamais permaneceu inerte. Originou fenícios e sua cultura marí-
tima que permaneceu ávida durante cerca de dois mil e quinhen-
tos anos. É de lá que eu vim. Aliás, que o sangue que corre em
minhas veias veio.
- O que você está dizendo Yamileth? Indagou Said, colo-
cando os livros de literatura sobre a mesa da sala.
Após uns segundos sem reação alguma, vagarosamente,
Yamileth (deixando que a leve brisa arrepiasse seu corpo, à medi-
da que inquietava seus cabelos negros e ondulados) fitou Said
como quem busca em quem está próximo a doçura e magnitude
do que está distante. Todavia, não falou nada. Apenas apontou
para uma cadeira de cor marrom que se encontrava no canto da
sala. Ele entendeu que o melhor a se fazer era sentar em silêncio,
Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’
10
coisa que exigiu demasiado esforço, haja vista que a esta atura a
curiosidade aumentava. Said desejava saber o que estava a acon-
tecer com Yamileth, visto que a mesma estava concentrada por
demais, com olhares ultrafixos para além das montanhas que
podiam ser visualizadas por meio de negras silhuetas que, jaz
contrapostas à luz da lua, quase cheia e brilhante, no firmamento
azul escuro do céu um tanto estrelado.
O que Yamileth estava a dizer, de fato, apenas ela sabia.
Então, sendo assim, deixemos que a própria fale quais os motivos
que arrancam de sua garganta, sob forma de palavras, o que lhe
inquieta ou lhe apraz. Não te intrometas leitor. A curiosidade é
sinônimo de pressa, e, quanto a esta, sabes muito bem (mais que
eu, que preciso de tua voz para se materializar) que é a perfeita
inimiga da imperfeição.
- Isso. Deixa-me falar, Said. Eu que sempre fui tão triste,
muda e estática! Agora quero falar como jamais falei antes.
- Tudo bem, Yamileth. Alça voo por meio de tua voz até os
meus ouvidos.
- Não hei de ir apenas aos teus ouvidos, mas também até
ouvidos distantes.
- Tudo bem, então comece, Yamileth. Vamos! Conte tudo.
O tempo, “tambor de todos os ritmos” é todo seu.
- Adoro o Caetano.
- Eu também. E muito. Muito mesmo. Essa música, ao lado
de Serena Serená da paraibana Odete de Pilar, me fascina. Entre-
tanto, deixemos tal assunto para depois. Estou a escutar.
Muito alem das montanhas
11
- Certo. Respondeu Yamileth à medida que lançava um o-
lhar sério sobre o irmão.
- Estas terras em que estamos, Said, configura o último re-
fúgio de pessoas que aqui estiveram bem antes de nós nascermos.
Enquanto há muitas pessoas que se sentem honradas pelo fato de
José Lins do Rego ter nascido aqui, mesmo sem nunca ter lido
um livro dele, há pouquíssimas pessoas que aqui também vieram
fazer história.
- Que coisa Yamileth! Do que estás falando? Não estou en-
tendendo nada.
- Calado! Não estou a pedir que entendas, mas que ouça.
- Tu... Tudo bem. Disse, Said com a voz trêmula.
- Pois bem. Said como você muito bem sabe, a nossa mãe
Aisha e o nosso pai, Mahoma, sempre preservaram a integridade
daquele enorme baú que se encontra no subsolo desta casa, en-
volto em sete grossas camadas de tecidos de cores distintas no
interior de outro baú, ainda maior, feito de cedro.
- De fato – Disse Said, ao asseverar a veracidade do que a-
cabara de ouvir.
- Porém, você não sabe o motivo de tamanho cuidado dos
nossos pais para com o baú.
- Não. De fato, não. E você? Não me diga que ...!
- Escuta! Há segredos que se transformam em mistérios.
Há mentiras que, ditas muitas vezes, transformam-se em verda-
des. Mas também há verdades que jamais poderão ser transfigu-
Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’
12
radas em silêncio. Nós somos exemplo disso. Entretanto, deixe-
mos de mistérios.
Olhando ainda de forma mais fixa para os olhos de Said,
Yamileth se aproximou ainda mais do irmão, segurou suas mãos e
falou:
- Said, meu irmão. Quantas vezes permanecemos aqui sem
termos a noção do quanto o nosso sangue reclamava o afago de
terras distantes?
- Muitas vezes, Yamileth. Em meus momentos escuros
sempre encontrei em ti uma fortaleza. Sempre mencionei o fato
de que aqui me sentia estranho.
- Estrangeiro aqui, mas não em toda parte, parafraseando
Pessoa.
- Isso mesmo.
- Pois então, aqui estamos porque temos uma missão a
cumprir. Missão esta que foi muito bem cumprida por nossos pais
e principalmente por nossa mãe, que de sua mãe recebeu o pro-
pósito e o dever de cumprir a promessa, jaz sagrada e há muito
tempo passada de geração em geração.
- Prossiga, Yamileth.
- Said, meu querido e amado irmão. A terra de nossos an-
cestrais, o Líbano, em tempos de outrora recebeu uma visita ilus-
tre. Imagine que, em 1876, o insigne D. Pedro II, lá esteve em
caráter turístico e científico.
Muito alem das montanhas
13
- Caramba, Yamileth. Sabia em o Imperador D. Pedro II já
havia visitado Pilar, mas desconhecia que ele tivesse pisado em
terras tão distantes.
- Eis a amostra de que nem sempre sabemos de tudo, meu
irmão.
- Verdade! Continue, irmã. Prossiga!
- Certo! Vamos lá! EM sua ida ao Líbano, o Imperador an-
dou por muitos lugares, conheceu diversas pessoas que muito
bem o receberam. Todos aclamaram o imperador que de imediato
recebeu de presente uma vasta biblioteca do ilustríssimo gramáti-
co de língua Árabe, Al-Yazigi, e ainda foi convidado de honra do
professor Cornelius Van Dyck para que assistisse a sua aula da
qual o Imperador do Brasil saiu maravilhado. Ademais, foi nesta
aula que D. Pedro II conheceu Nemi Jafet.
- Como?! Você está falando de Nemi Jafet? O intelectual
pioneiro da emigração para o Brasil?
- Sim, sim. Isso mesmo. Na verdade, Nemi Jafet serviu de
cicerone do Imperador em muitas visitas que ele fez a diversos
locais do Líbano. Também foi graças a Nemi Jafet que o amigo de
D. Pedro, o diplomata de origem francesa, Joseph Gobineau, fi-
cou mais tranquilo, uma vez que estava na Grécia, enquanto o
Imperador, então com 50 anos de idade explorava a terra dos
cedros, tão desconhecidas aos olhos deste último.
- Falando em olhos... Que maravilhosos olhos tinha o Im-
perador D. Pedro II. Bem azuis.
Varios autores serie ‘Glorioso Imperio do Brasil’
14
- Azul sem igual era o céu do Líbano, Said, nos momentos
em que, desprovido da tecnologia de ponta que move o mundo
moderno, o Imperador encontrou Xiomara em Beirute.
- Xiomara? Quem foi Xiomara, Yamileth?
- A estrela mais linda do universo, Said. Mulher guerreira,
esplêndida! Foi enviada, especialmente, por Miguel Debbane que
em tempos futuros viria a se tornar Cônsul Honorário do Brasil
em Alexandria e que fundou a Igreja Melquita Católica dedicada a
São Pedro. Até nos dias de hoje as missas são celebras em memó-
ria ao Imperador do Brasil.
- Mas o que ela tinha a tratar com o Imperador?
- Algo de extrema importância, Said e que possui forte liga-
ção para com a nossa família.
Yamileth, resolveu levantar da cadeira em que estava e co-
meçou a caminhar nos arredores da enorme mesa de vidro que se
encontrava no centro da sala rodeada por 12 cadeiras de madeira
com assento de couro marrom, assim como os sapatos que usava.
Sapatos estes que foi de encontro à tíbia de Said para chamar-lhe
a atenção para o que diria.
- Ai! Calma, Yamileth. Estou ouvindo. Ui! Essa doeu.
- Said. Xiomara teve que passar por maus bocados até con-
seguir encontrar o imperador D. Pedro II em Beirute, uma vez
que saindo dos arredores do monastério de Saint Sabbas que, por
sua vez, fica localizado nas montanhas de Moab, próximo a Jeru-
salém, teria que passar despercebida aos olhos de todos aqueles
que queriam impedir os planos de Debbane.
Muito alem das montanhas
15
- Que planos eram esses?
- No convento de Saint Sabbas era proibida a entrada de
mulheres. Todavia, os frades que ali viviam a se deliciar alimen-
tando os bandos de melros muito numerosos no local, também
ansiavam outras delícias.
- Que tipos de comida?
- Delícias de carne, osso, braços, coxas, seios e curvas, in-
gênuo irmão. A bíblia não adjetiva a mulher de “tentadora” à toa.
- Certo, Yamileth, mas uma vez proibida a entrada de mu-
lheres no local, tais delícias eram inalcançáveis.
- Engano seu. Os arredores do mosteiro eram repletos de
míseros camponeses que viviam a desejar o que não tinham. Eles
tinham que se contentar com as migalhas, aliás, com os imundos
dejetos jogados do alto do mosteiro por uma estreita porta até
cair em tamanhos, muito menores, aos pés da montanha, local
este onde ficavam seus casebres imundos.
- Que horror! Disse Said, mostrando-se enojado com a si-
tuação descrita.
- Horror foi Yesenia ver sua felicidade transformando-se
em desgraça, quando, ao entrar às escondidas por uma das inú-
meras portas do mosteiro que mais parecia um labirinto, foi agar-
rada a força por um dos 60 frades que ali residiam.
- Agarrada?! Como assim?
- O frade queria matar sua vontade de sexo, Said. Corpos
semelhantes não mais lhe bastavam. Em segredo, ele desejava
conhecer o poder tentador da mulher, conforme é descrito na