Post on 23-Jul-2016
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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº 1755
Serra Dourada
Preservação da tradição, coletividade, união e
persistência são sinônimos que caracterizam os moradores da
comunidade de Montes do Zezé, localizada no município de
Serra Dourada no oeste da Bahia. Em meio à serras e vegetação
catingueira, é fácil encontrar o verde de hortaliças cultivadas por
um grupo de mulheres da comunidade.
Montes do Zezé é uma comunidade que está diretamente
ligada com a história de sua gente. Como contam os próprios
moradores, as raízes e a tradição na produção de hortaliças vêm
sendo cultivada há quase 50 anos de geração em geração. Rita de
Cássia dos Santos Nascimento é uma das mulheres que realizam
esse trabalho e expressa com satisfação sobre a importância
dessa atividade para as famílias da comunidade: “Já tem 26 anos
que eu planto e isso é uma ajuda muito importante para nossa
família, porque ao invés de comprar na feira a gente produz aqui sabendo de onde vem esses alimentos. E a gente que mora na roça,
num é todo dia que tem o dinheiro pra comprar, e tendo plantado aqui, é bem melhor.”
O tanque e a propriedade que o grupo de mulheres usa para plantar as suas hortaliças, pertencem a seu Jair Lourenço de
Oliveira que disponibiliza esses recursos para que as mulheres
produzam organicamente. Jair relata que a terra sempre
pertenceu a sua família e a tradição de plantar ao redor do tanque
vem desde o tempo do seu avô, que cuidou, preservou e deixou
seus ensinamentos para que a tradição não morresse com o
tempo. “No início, eu comparava as sementes e dava pra elas
plantarem de meia. Depois eu consegui a doação de tela e
cerquei a área e deixei pra elas trabalhar e zelar pelo que fosse
produzido.”
As mulheres relatam que o acesso à água na comunidade
sempre foi difícil. E o tanque que era do avô de Jair, foi aberto à
mão e servia para as atividades mais necessárias das famílias.
Para outros afazeres, as famílias utilizavam a água que minava
nas serras. Gleicione dos Santos Nascimento relembra: “A gente
ia com a nossa mãe e levava as roupas sujas pra lavar no gerais.
A gente ia quando o sol saia e voltava no clarear da lua.”
Junho/2014
Mulheres que produzem e preservam tradições
Grupo de mulheres e seu Jair no local de produção das hortaliças
Cleonice Maria Barbosa de Oliveira é uma das mulheres que produzem à beira do tanque
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia
Avós, mães, filhas, netas, irmãs, mulheres
agricultoras que aprenderam a cultivar alimentos de forma
orgânica para o consumo de suas famílias. Além disso, elas
têm o hábito de guardar as sementes que são plantadas em
suas hortas e também distribuir para outras famílias da
comunidade que produzem em seus quintais.
Ao redor do tanque, elas produzem uma diversidade
de alimentos como alho, cebola, coentro, beterraba,
cenoura, alface, quiabo, maxixe, pepino e abóbora, que são
cultivados de forma totalmente orgânica e livre de qualquer
veneno.
O adubo é coletado na própria comunidade e,
quando é necessário, elas mesmas fazem alguns defensivos
orgânicos por conta das eventuais pragas que aparecem nas
hortas.
Além das mulheres que produzem ao redor do tanque de seu Jair, outras famílias da comunidade de Montes de Zezé também
têm a prática na produção de hortaliças nos seus quintais que são regadas com a água de um poço artesiano que foi aberto pela
prefeitura e funciona há mais de 20 anos.
Os alimentos produzidos pelas mulheres são utilizados para o próprio consumo e garantem uma alimentação mais saudável
e nutritiva para essas famílias da região semiárida.
Montes do Zezé é uma comunidade com histórias e tradições muito valiosas que se fortalecem a cada dia com a organização
e a coletividade de sua gente. Exemplo disso são os festejos em comemoração do Divino Espirito Santo, padroeiro da comunidade,
que acontece todo ano no mês de julho há mais de 150 anos.
A tradição dos festejos em honra ao padroeiro e a
produção de hortas à beira do tanque são duas ações
conjuntas dos moradores da comunidade.
Isso porque, segundo alguns moradores, desde o
tempo dos seus bisavós, todo o tempero que era usado para
preparar a comida da festa do padroeiro, era doado pelas
famílias que plantavam ao redor do tanque, e essa ação vem
passando de geração em geração e continua sendo efetuada
até os dias de hoje.
Essas e tantas outras ações demonstram sempre
como o semiárido é um lugar rico em diversidade, cultura e
tradições, e o povo que aqui vive é cheio de criatividade,
persistência, sabedoria e conhecimentos que impulsionam
uma realidade cada vez mais dinâmica e cheia de vida na
região.
Realização
Apoio
Espaço onde as mulheres produzem
Rita de Cássia regando as hortas que cultiva