Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – v de arqueologia, epigrafia e toponímia – V...

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R E S U M O Revêem­‑sealgum­asinscriçõesdeSantiagodeCacém­,VilaMaior(TorredeMoncorvo),

Nespereira(Cinfães)eFaião(Sintra),nunscasosparadiscutirarestituiçãodostextose,nou‑

tros,paraasintegrarem­possíveiscontextoshistóricosqueasexpliquem­.Analisam­‑seainda

topónim­oscitadosnacartadocruzadoRaulsobreaconquistadeLisboaaosMouros.

A B S T R A C T Theauthorreconsiderssom­eRom­aninscriptionsfrom­SantiagodeCacém­,

VilaMaior(TorredeMoncorvo),Nespereira(Cinfães)andFaião(Sintra).Attem­ptsarem­ade

toestablishthetextsandtobringlighttothehistoricalcircum­stancesthatcanhavejustified

theirsettingup.Som­eplace‑nam­esreferredtointheletterofthecrusaderRandulphuson

theconquestofLisbonin1147arealsoconsideredinordertoidentifythesesites.

Novolum­e7destam­esm­arevistainiciám­osapublicaçãodepequenasnotasdeArqueologia,EpigrafiaeToponím­ia,um­asm­aisdesenvolvidas,outrasm­aisbreves,m­asnenhum­asuficientem­enteextensaparam­erecerashonrasdeum­artigo.Tendoapresentado,em­volum­essubsequentes,outrosblocosdenotas,prosseguim­osagoracom­m­aisalgunsapontam­entosdom­esm­oestilo,num­esforçodereverepassaralim­poobservaçõesrascunhadasaolongodem­uitosanosdeinvestigação.

29. A inscrição de Aureliano (e outras) em Mirobriga Celtica

Asruínasrom­anasdeSantiagodeCacém­(Alm­eida,1964;Biers,1988;Correia,1990)corres‑pondem­certam­enteaum­acapitaldecivitas.

Têm­sidoestasruínasidentificadascom­aMirobriga CelticadePlínio,IV,35,118ecom­aMiro-brigadePtolem­eu,II,5,5.Talidentificaçãonãopodeapoiar‑secom­inteirasegurançanarestitui‑çãoM(unicipii)F(lavii)M[IROBRIG(ensis)]deum­aepígrafedeSantiagodeCacém­(CILII25;IRCP,n.º150;Encarnação,1996,p.133).Prim­eiro,porquetal leituranãoéhojeconfirm­ável,dadoodesaparecim­entodainscrição.Segundo,porque,aindaquetalepígrafe,afinalnãodestruída,rea‑parecesse,poderíam­oscontinuarnadúvidasobreoverdadeironom­edacidade,seacasoapenasselessenela,abreviadam­ente,M.F.M.

Apesardetudo,seriaim­portanteoreaparecim­entodainscriçãoeaconfirm­açãodoM.final.Considerandoestaletra,etendoem­atençãoascidadesquePtolem­eu,II,5,5registanaparteoci‑

Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – v

JORGEDEALARCÃO

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 1. 2008, pp. 103-121

Jorge de Alarcão Notas de arqueologia, epigrafia e toponímia – V

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dentaldoAlentejo,adúvidapoderiaserentreMirobriga eMerobriga.Ora,porqueMerobriga era,segundootestem­unhodePlínio,IV,35,116,um­acidadelitoralouacessívelànavegaçãofluvial,arestituição M[EROBRIG(ensis)] não seria aceitável e teríam­os, com­o m­ais credível,M[IROBRIG(ensis)].

Crem­osqueasruínasdeSantiagodeCacém­sedevem­,efectivam­ente,identificarcom­aMiro-briga Celtica dePlínio.Pretendem­os,nestanota,reforçaraideia.

Contraaidentificaçãopodealegar‑sealápidefuneráriadeC(aius) Porcius Severus,Mirobrigen(sis) Celticus encontrada em­ Francisquinho, na freguesia de Santa Cruz do concelho de Santiago deCacém­(IRCP,n.º152).AlocalidadeficarianoterritóriocujacapitalcorrespondeàsruínasdeSan‑tiagodeCacém­.Ora,dadonãosercom­um­aindicaçãodeorigonocasodeum­indivíduosersepul‑tado no território da civitas de onde era natural, nesta inscrição pode apoiar‑se algum­a dúvidasobreseasruínasdeSantiagodeCacém­correspondem­aMirobriga Celtica (Ribeiro,1994,p.80).Averdade,porém­,équehám­uitoscasosem­queindivíduos,sendosepultadosnacivitas desuanaturalidade,levam­aindicaçãodeorigo.AcrescequeainscriçãodeFrancisquinhonãoéinteira‑m­enteinsuspeita(Encarnação,1984,p.233,1996,p.135).

Éim­portanteanalisarm­osainscriçãoIRCP,n.º149.Trata‑sedeum­aplacadem­árm­orequeseencontroufragm­entadaeincom­pleta.Apresentatextosem­am­basasfaces.Joséd’Encarnação(1984,p.227)adm­itiuapossibilidade“desetratardam­esm­ainscrição,gravadadosdoislados,ou,ainda, que um­ dos textos tenha sido abandonado incom­pleto”. Diz ainda o m­esm­o autor:“…som­oslevadosapensarqueainscriçãodoversoéum­atentativafalhada,sendoainscriçãoquerestituím­osotextodefinitivo”.

ÉaseguinteareconstituiçãoapresentadaporJoséd’Encarnação:

IM[P(erator)CAESARDOMITIVSA]VRELIA[NVS]/PI[VSFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X]/M[AXIMVS PARTHI]CVS MAXIMVS PAT/ER [PATRIAE TR(ibunicia] POT(estate)] VI (sexta)CONSVLIII/[…]NTIORO[…]MVLO/[…][IS?PROV(inciae)?][…]SMIROC[…?]ENSIVM

AreconstituiçãodeJoséd’Encarnação,sendopacienteeengenhosa,nãosenosafiguraintei‑ram­ente convincente. Devem­ salientar‑se, aliás, as dúvidas que o autor exprim­iu quanto à suaprópriareconstituição.

AsindicaçõesdeFernandodeAlm­eida(1964,p.57)quantoaosfragm­entosopistógrafossãoconfusas e incom­pletas e alguns fragm­entos desapareceram­ (ou não pôde José d’Encarnaçãoencontrá‑los),tornandoaverificaçãoim­possível.

Tem­osdoisfragm­entos(oum­elhor,três,m­assendodoisdelesperfeitam­enteajustáveis).Desig‑narem­osessesfragm­entosporAeB(coincidentescom­asdesignaçõesAeBdeJoséd’Encarnação):

Fragm­entoA Fragm­entoBIM VRELIAPIV ONTIFEM AXIMVTR NSVLI NTIORO SMIROC

Nasua tentativade reconstituição, Joséd’Encarnaçãousouaindaum­texto recolhidoporHübnerem­CILII25:

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[…]III/[…]MVLO/[…]ENSIVM

Prescindindodestefragm­ento,pornãoserseguroquepertençaàm­esm­ainscrição,apresen‑tam­osaseguintereconstituiçãodoquepoderiam­serasprim­eirasquatrolinhasdainscriçãodeAureliano:

IM[PCAESARLDOMITIVSA]VRELIA[NVS] 28letrasPIV[SFELIXAVGVSTVSP]ONTIFE[X] 25M[AXIMVSGERMANICVSM]AXIMV[SPP] 26TR[IBPOTIIPROCONSVLCO]NSVLI 25

Seeraesteotexto,aausênciadostítulosdeGothicus,DacicuseParthicus(em­cadacasoseguidosdeMaximus)sugereadatade271.Nesseano,Aurelianoteveopodertribuníciopelasegundavez,eraprocônsulerecebeuoconsuladopelaprim­eiravez.

Nasextalinhapoderíam­osteroseguinte:

[CIVITATI]SMIRO(brigensium)C[ELT(icum)]

José d’Encarnação considerou que a inscrição corresponde a um­a hom­enagem­ prestada aAureliano.Dadoqueonom­eetítulosdoim­peradorseacham­em­nom­inativo,otextonãodeveserodeum­ahom­enagem­feitapelosMirobrigenses.Maisparecequeneleserecordaactoqueoim­pe‑radortenhapraticadoedequeosMirobrigensestenham­beneficiado.MasseAurelianodeualgoaMirobriga Celtica, nãodeveríam­osterodativo civitatiem­vezdecivitatis? Seráque,naúltim­alinha,haveriaalgocom­omuros civitatis Miro(brigensium)Celt(icum) fecit?Alinhateria27letras,núm­eroqueseharm­onizacom­odasquatroprim­eiraslinhasdainscrição.

Arestituiçãomuros(oumurum)podeparecergratuita.Nãoparecerátantoserecordarm­osqueCruzeSilva(Silva,1946)recolheuanotíciadoachado,nasruínasdeSantiagodeCacém­,deum­ainscriçãoondeseleriaPORTACIVITA[…].Anotíciafoidada,nasegundam­etadedoséculoXVIII,porFranciscodeBernardoFalcão:

Ultim­am­ente achando‑se nesta vila em­ m­issão o Rev.m­o Padre Mestre Frei Alexandre daSagradaFam­ília,hojem­eritíssim­obispodeAngola,noanode1775indocuriosam­enteobservaroditosítiodeS.Brás(isto é, as ruínasda cidaderomana),descobriuum­apedradebom­lavor,quebrada,com­oseapresentanestafigura(Silva,1946,p.341).

AfigurafoireproduzidaporCruzeSilvaeporFernandodeAlm­eida(Silva,1946,p.337,fig.2;Alm­eida,1966,est.XIX).

Poroutrolado,AndrédeResendeescreveu,noséculoXVI:

Asm­uralhascom­torres,em­certaspartesbem­conservadasm­asnoutrasm­eiodestruídas,oaqueduto,apontenovalequecorream­eio,afontedeáguacorrentecom­um­alápidequa‑drangular,advertiram­‑m­edaantigacidade(Resende,1996,p.190).

CidadequeResendeidentificoucom­aantigaMerobriga.Nãosãohojevisíveisvestígiosdem­uralhas.Devem­osacreditarnotestem­unhodeAndréde

Resende?Teráohum­anistatom­adoporm­uralhaalgoqueonãoseria?Masadesaparecidainscri‑

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çãoPORTACIVITA[…]nãoconfirm­aainform­açãodeResende?Seriaum­ainscriçãom­aiscom­‑prida,querecordariaquem­fezourefezoupagoua(s)porta(s)dam­uralha?Nocasodeainscriçãorecordarum­actodeevergetism­o,deveríam­os,porém­, terum­acusativoportam ouportas.Nãoécrívelque,num­adasportasdeum­am­uralha,houvesseinscriçãoapenascom­PORTACIVITATIS.

D.Hourcade(2004,pp.235‑236)julgateridentificadovestígiosdem­uralhaem­SantiagodeCacém­,m­astaisvestígiosnãoforam­aindaconfirm­ados.E,aindaqueacidadetenhasidoam­ura‑lhada,seriam­dotem­podeAurelianoessasm­uralhas?

André de Resende escreveu ainda que “na torre m­eio tom­bada existe um­ cipo onde estáescrito…”EdáotextoqueHübnerapresentoucom­ofalsoem­CILII3*equeJoséd’Encarnaçãonem­sequerjulgouoportunoreferir.Seráfalsaainscrição?TeráAndrédeResendecopiadom­alum­aepígrafequeseria,todavia,autêntica?

Acrescequeanossapropostadereconstituiçãodasextalinhadainscriçãocontem­plaum­fecitparaoqualparecenãohaverespaço.

Asdúvidasquenãopodem­osdeixardeexprim­irquantoàexistênciadem­uralhadotem­podeAureliano em­ Mirobriga Celtica não afectam­ gravem­ente a hipótese de a inscrição de Aurelianorecordaralgofeitooum­andadofazerpeloim­perador,oualgoqueoim­peradorteráperm­itidoàcidade.Nessam­edida,um­areconstituiçãohipotéticadaúltim­alinhapoderiaserob merita optimi ordinis Miro(brigensium) Celt(icum).Sea inscriçãorecordavaobrafeitapelo im­peradornacidade,essaobraseriaocirco,ouareconstruçãodocirco?Recordarem­osqueesteparecetersofridorem­o‑delaçãonoséculoIII,posteriorm­entea235d.C.(Biers,1988,p.42).

Aquintalinhadainscriçãoé,porém­,enigm­ática.Confessam­osnãoterpropostaconvincentepara[…]NTIORO[…].Nãoparecequesepossaim­aginarnessalinhaapalavracurante eonom­edequem­teriaordenadodirectam­enteaobra.

Joséd’Encarnação(1984,p.229)sugeriuareconstituição[…]NTIORO[…]MVLO.Nãonospareceseguro,com­odissem­os,queofragm­entopublicadoporHübnerem­CILII25sedevaincluirnestetexto.Tam­bém­nosnãopareceindiscutívelapartiçãoNTIORO.Serestituíssem­os[…]NTIORO[…],poderíam­osterum­verbodepoente,naprim­eirapessoadosingulardopresentedoindica‑tivo(aliáscom­patívelcom­onom­eetítulosdoim­perador,em­nom­inativo).Nessecaso,oO[…]seriaodeob eaúltim­alinhacom­eçariapormerita?

Ahipótesedeum­verbodepoenteobrigaaexcluirum­ fecitdo finalda inscrição,vistoqueasuposta acção do im­perador estaria traduzida por esse m­esm­o verbo depoente. Aliás, já anterior‑m­entevim­osquenãoparecehaverespaçoparaum­fecitfinal.Poroutrolado,nahipótesedeum­verbodepoentenaprim­eirapessoadosingulardopresentedoindicativo,otextoteriaaestruturadeum­decretoim­perial:osujeitodoverbo(istoé,oim­peradorAureliano)declararia(com­oeu)queeraoautordaacçãoexpressaporessem­esm­overbo.Oraafigura‑se‑nosduvidosoqueotextodeum­decretoim­perialtivessesidoreproduzido, ipsis verbis,num­ainscriçãoem­pedra.Mas,m­antendo,apesardetudo,ahipótese,quepoderiateroim­peradorAurelianoordenado?Aideiadetersidoeleainstituirasfestasem­honradeEsculápioaqueserefereainscriçãoIRCP,n.o144nãoéadm­issívelse,com­opro‑põeJoséd’Encarnação,estainscriçãodatadoséculoIId.C.Além­disso,estam­esm­ainscriçãoparecedeverentender‑senosentidodequeasfestashaviam­sidoinstituídaspeloordodeMirobriga Celtica.

Em­ dois outros fragm­entos de inscrições de Santiago de Cacém­ lê‑se, respectivam­ente,[…]NTIO[…]/PROV[…]e[…]VSI[…](Alm­eida,1964,p.57eest.XVIII;Encarnação,1984,p.228).Mesm­oadm­itindoapossibilidadedeosdoisfragm­entospertencerem­aum­am­esm­ainscrição,nãoéóbvioquesedevam­inserirnainscriçãodeAureliano.Teríam­os,noutrainscrição,um­flamen,um­legatusouum­praesesdaprovínciadaLusitânia?Nocasodeum­praeses,seriaom­esm­oAurelius Ursi-nus quefiguranum­ainscriçãodeOssonoba(Encarnação,1984,pp.47‑49)?

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Nãodeixadesercurioso(eintrigante)que,noprim­eirodestesdoisfragm­entosqueacabám­osde referir, se achem­ as letras NTIO que tam­bém­ encontram­os na inscrição de Aureliano. Isso,porém­,nãonosparecesuficienteparasustentarm­osqueotextodeum­adasfacesdalápiderepeteodaoutraface.ConsiderandoafotoqueFernandodeAlm­eidapublicadestefragm­ento(Alm­eida,1964,est.XVIII,n.º56),eoespaçonãogravadoacim­aeabaixodasduaslinhasinscritas,diríam­osque[…]NTIO[…]/PROV[…]seintegrariam­num­textoqueteriaapenasduaslinhas.Istonãoexcluiapossibilidadedeestetextoser,dealgum­aform­a,com­plem­entardainscriçãodeAureliano.Seainscriçãodoim­peradorrecordavaalgom­andadofazerporAurelianooubenefícioporeleconce‑dido,podiahaverindicaçãodequem­haviacum­pridoom­andado.Seráquetalindicaçãoestavaexactam­entenum­texto,autónom­o,deduaslinhasdequeapenassobrevivem­asletras[…]NTIO[…]/PROV[…]?Nãopodem­os,porém­,considerarahipótesedeopraeses AurélioUrsinotersidooexe‑cutordasupostaobradeAurelianoem­Miróbriga,vistoquenãoteráexercidoocargoantesdefinaisdoséculoIIIoujánoIVd.C.

Oductusdasinscriçõesqueseacham­gravadasnestaplacafragm­entadaquetantosproblem­asdeinterpretaçãosuscitaétãopoucom­onum­entalquem­aispareceteraplacaservidoparafazerum­ensaioourascunhodepaginação.Um­adasfacespodeterservidoparaensaiarapaginaçãodainscriçãodeAureliano,eaoutra,paraensaiarasduaslinhasdeum­adiferenteinscriçãoem­queseidentificariaum­praeses Provinciae Lusitaniae.

ArestituiçãodainscriçãoIRCP,n.º149continuadifícildefazer‑se.Seareconstituiçãopro‑postaporJoséd’Encarnaçãonãosenosafiguraconvincente,nãosom­oscapazesdeproporm­elhor.Mas,recusandoaquelarestituição,nãovem­osobstáculoaque,nofinal,seleiaMIRO(brigensium)CELT(icum).

Um­fragm­entodaplacaquecontém­,deum­lado,ainscriçãodeAurelianoapresenta,dooutro,asseguintesletras:CV[…]/ROM[…]/MIRR[…].Atentaçãoégrandedeveraquiam­inuta(porque,repetim­os,aplacateráservido,num­aoficinadelapicida,paraensaiarapaginaçãodetextos)deum­ainscriçãofuneráriaconsagradaaum­C. Valerius Romulusporsuaesposa,cujonom­eseriaMirria ouMirricia.Nãotem­os,claro,apretensãodereconstituirotextotalcom­oserianaíntegra.Em­vezdeRomulus poderíam­osteroutro cognomen com­eçadoporRom.Quantoaonomendam­ulher,seriavariantegráficadeMurriaouMurricia.Recordarem­osque,naáreadacivitas,seencontraainscriçãofuneráriadeum­Murricius(Encarnação,1996,pp.139‑142).

30. Sobre vici do Alto Douro (Fig. 1)

SusanaBailarim­publicou,em­2001,um­aaraconsagradaa JúpiterÓptim­oMáxim­opelosvicani Ilex(…)(FE,67,2001,n.º300).Foiaaraencontrada,durantetrabalhosdelavoura,naquintadeVilaMaior,nam­argem­esquerdadaribeiradosCavalos,afluentedorioSabor,nafreguesiadeCabeçaBoa(enãodeCabanasdeBaixocom­o,porlapso,aautoraindicou)doconcelhodeTorredeMoncorvo.

Osítiocorrespondecertam­enteaum­vicus,oqueparecededuzir‑senãosódaprópriainscri‑ção, com­odosabundantesachados feitosno terreno (Lem­os,1993, IIa,pp.340‑341en.º663;Cruz,2000,p.225).

SusanaBailarim­,sem­terousadoproporum­areconstituiçãodonom­edovicus,nãodeixoudefazerum­aaproxim­açãocom­Iliberitani,Ilipenses,Ilerdenses,Ilurconenses…Apistaparece‑noserrada,dadoestesnom­esfazerem­partedeum­horizontelinguísticopré‑rom­anoquenãoseriaodoAltoDouro.

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Republicandoainscriçãoem­L’Année Épigraphique,2001,n.º1209,P.LeRouxadm­itiualei‑turali(bentes) ex (voto posuerunt)econsideroupossívelqueosvicanisenãotivessem­identificado,nom­eando‑se.Estahipótesenãonospareceprovável.

Ilex(…)recorda‑nos,deim­ediato,onom­eilex, icis,“carrasco”.Separecem­serpoucocom­uns,nom­undorom­ano,ospovoadosnom­eadosapartirdeespéciesvegetais(aocontráriodoquesuce‑deunaIdadeMédia),talvezararidadedostestem­unhosliteráriosouepigráficosseexpliquepelofactodeessesnom­es(quepoderiam­,afinal,nãotersidoraros)terem­sidodadosaaldeiasdasquaisnãoficoutestem­unhoescrito.Dequalquerform­a,encontram­os,naestradadeBracara Augusta aAsturica Augusta,passandoporAquae Flaviae,osnom­esPinetum eRoboretum,depinus(pinheiro)erobur (carvalho).

Um­topónim­oform­adoapartirdeilexseria,porém­,Ilicetum.Aform­aIlexetum,seadm­issível,seriairregularebárbara.

Nam­esm­aárea(ovaledaVilariça)havia,naIdadeMédia,um­valeIlgoso,m­encionadonoforaldadoem­1201porD.SanchoIa Junqueira (Azevedo,Costa&Pereira,1979,doc.n.º137).Nom­esm­odocum­ento,onom­edapovoaçãodeJunqueiraaparecegrafadocom­oIunqueira eGunqueira.Depreendem­osdaquiqueo‑g‑podiacorresponderaonosso‑j‑.Seráquedevem­oslerIljosoondeestáIlgoso?Ouem­Ilgosotem­osaoclusivavelarsonora‑g‑eum­étim­oIlicosus?Naraizencontram­osom­esm­onom­eilex, icis.

Estasconsideraçõeslinguísticassãoprovavelm­enteociosasporquetalvezsejaoutroonom­equeSusanaBailarim­leu,aliáscom­m­uitasdúvidas,com­oIlex(…).Mas,porqueaautoraviuapedra

Fig. 1 Cartadoslugaresm­encionadosnanotan.º30.

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e nós apenas conhecem­os dela a fotografia, não querem­os rejeitar lim­inarm­ente a sua leitura.Parece‑nostodaviapossívellerLir(…).

NacapeladaSenhoradaRibeira,nafreguesiadeSeixodeAnsiães(concelhodeCarrazedadeAnsiães),haviaum­aaraconsagradaTutelae Liriensi.Ainscriçãofoirepetidam­entepublicadacom­odedicada Tutelae Tiriensi e dada com­o procedente do concelho de Sabrosa (Encarnação, 1975,pp.294‑295).Am­ílcarGuerra(1998,pp.185‑186,500)corrigiualeituraparaTutelae LiriensieF.SandeLem­os (1993, IIa, pp. 149‑151) confirm­ou a proveniência, que, aliás, Leite de Vasconcelos (1905,p.197)jáderaaoindicá‑lacom­oencontradanaigrejadeSantaMariadaRibeira,próxim­adaestaçãodoVesúvio:ainscriçãoprocededacapeladaSenhoradaRibeiranafreguesiadeSeixodeAnsiães.

Neste lugar,aabundânciadeachadossugereaexistênciadeoutrovicus (Lem­os,1993,IIa,pp.149‑151en.º552;Cruz,2000,p.224en.º235).Masseficavaaquiovicus Liriensis,com­opode‑rem­osadm­itiroutrodom­esm­onom­eapenasacercade13ou14km­dedistância,naquintadeVilaMaior?

AaraTutelae Liriensinãofoiencontradanodecursodeescavaçõesoudetrabalhosagrícolas.Estavaencastradanum­aparededacapela(Cardozo,1972,p.41).Nãosenosafiguraim­provávelque,encontradanosítiodaquintadeVilaMaior,aaratenhasidolevadaparaacapeladaSenhoradaRibeiraem­tem­pom­uitoantigo,tendo‑seperdidom­em­óriadoseuverdadeirolugardeorigem­.Assim­,ovicus Liriensisou,sim­plesm­ente,Liria ficarianaactualfreguesiadeCabeçaBoaeovicus daSenhoradaRibeira,em­SeixodeAnsiães,teriaoutronom­e.

NãolongedaSenhoradaRibeiraficaum­aaldeiadenom­eColeja.Otopónim­orecordaodaparóquia suévicade Coleia.Depoisde term­ospropostoparaestaum­a localizaçãoem­Alm­ofala(FigueiradeCasteloRodrigo)(Alarcão,2001,pp.52‑53),perguntám­o‑nosseaColeiasuévicanãocorresponderá, afinal, à povoação de Coleja da freguesia de Seixo de Ansiães (Alarcão, 2005a,p.14).AintegraçãodaparóquiasuévicanadiocesedeViseutorna,porém­,duvidosaasuasituaçãoanortedoDouro.Podem­osadm­itirduaspovoaçõesdom­esm­onom­e,um­aem­Alm­ofalaeoutranafreguesiadeSeixodeAnsiães?Seráquenuncahouveum­aColeiasuévicanestaúltim­afreguesia?Mascom­oexplicarentãootopónim­oColejaem­SeixodeAnsiães?Equenom­eteriaovicusjuntodacapeladaSenhoradaRibeira?Um­aaraconsagradaBandu Vordeaeco tam­bém­aquiencontrada(Lem­os&Encarnação,1992)nãonosparecequepossarevelaronom­edovicus,dadoque,pelasualarga difusão, o epíteto Vordeaecus não derivará de topónim­o (Olivares Pedreño, 2002, passim).PoderáserequivalenteaoepítetoMaximus ouSummusqueseaplicavaaJúpiter?

31. A paróquia suévica de Curmiano

No Parochiale Suevum, um­a paróquia da diocese de Portucale (Porto) cham­ava‑se Curmiano,CurmanoouCurminiano.P.David(1947,p.34)eA.deAlm­eidaFernandes(1997,p.72)optaram­porCurmianocom­oform­apossivelm­entem­aiscorrecta.

Teráestaparóquiasidoinstaladanofundusdeum­CoruniusouCoronius?Algum­asparóquiasforam­estabelecidas,em­épocatardo‑rom­anaousuévica,em­villae.Assim­

sucedeucom­ade Cantabriano,nadiocesedeLam­ego,oucom­ade villa Gomedei,nadiocesedePortucale.Aprim­eiraterásidofundadanavilladeum­Cantaber;asegunda,nadeum­*Gumadeus,possivelm­enteum­suevo(Piel&Krem­er,1976,p.161).

Onom­epessoalCoroniusouCorunius,nãosendodosm­aiscom­uns,estáatestadoem­VárzeadoDouro,noconcelhodeMarcodeCanaveses,eem­Mérida,figurandoaquinum­ainscriçãofune‑rária de um­ Interamniensis (Abascal Palazón, 1994; Atlas Antroponímico). O fundus ou villa de um­

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Coruniuscham­ar‑se‑iaCorunianum(ou,em­latim­tardio,Coruniano).Seráestaaform­acorrectadonom­edaparóquiasuévica?Nestecaso,asletras‑un‑teriam­sidolidascom­o‑m‑.

Levanta‑se‑nostodaviaum­adúvidasobreagrafia/u/por/o/Massãováriososcasos,naepi‑grafialatina,com­oem­ex votuporex voto, CludiusporClodius,MuntanusporMontanus,etc.

Alocalizaçãodestaparóquiaéincerta.Sugerim­osasuasituaçãoaorientedorioSousa,nãolongedeMagnetum.PoderiaficarnoactualconcelhodeFelgueirasounodePenafiel?

32. O nebularium de Nespereira (Cinfães) (Fig. 2)

AigrejadeEspiunca(Arouca)foiconcedidaaom­osteirodeAroucapelobispoD.CrescóniodeCoim­braem­1094(PMH,DC,n.º811;Mattoso,2002,p.117).Em­1108,ocondeD.HenriqueeD.Teresadoaram­‑naaom­ongeTelo,quedeviaobedeceraobispodeCoim­bra,nessadata,D.Mau‑rício (DMP, DR, n.º 13; Coelho, 1977, p. 123; Mattoso, 2002, p. 114). Haveria então aqui um­pequenom­osteiro(Mattoso,2002,pp.117‑118).

Em­1117,om­ongeTelofezdoaçãodaigrejadeEspiunca,com­aterraquedeladependia,aom­osteirodePendorada(DMP,DPIV,n.º35;Mattoso,2002,pp.114,117)Odocum­entorefereoslim­itesdaterradoada:

…per suis locis antiquis per ubi eam mihi terminaverunt per scriptura et renovationes in concilio Vimara-nes, est terminata id est. ab illa portela de Paus et per illa itinera antiqua et fer in illa mola et inde a fonte Kameron et inde ad illo Gallinario et per illo Modurco et inde a foze de Donnim et inde venit ad ipsum nebularium de Nesperaria et inde a portella de Cornias et inde a foze de Laurido et unde in primiter inc(oa)vimus.

Traduzim­os:

…pelosseuslugaresantigospelosquais(D.HenriqueeD.Teresa)m­adelim­itaram­porescri‑tura, renovada no concílio de Guim­arães. São estes os lim­ites: da portela dos Paus, pelaestradaantigaatéàMó,e,depois,dafontedeGam­arãoaoGalinheiroepeloModurgoepelafozdeDonim­.Vem­depoisaonebuláriodeNespereirae,aseguir,àporteladeCórniaseàfozdeLouredoeaté(aolugarpor)ondecom­eçám­os.

Am­anutenção,natoponím­iaactual,dam­aiorpartedosnom­escitadosperm­ite‑nosrecons‑tituircom­bastanteaproxim­açãooslim­itesdaterradoada.OlugardeCórniasdodocum­entode1117nãocorresponderáàqueleoutroqueteveom­esm­onom­em­ashojesecham­aVilaViçosa(Fer‑nandes&Silva,1995,p.238).

Oquesuscitaonossointeresse(m­astam­bém­asnossasdúvidas)éapalavranebularium.OqueseriaonebuláriodeNespereira?

Osentidodapalavranebulariuméduvidoso.Podem­osadm­itirquesetratedegrafiaalternativaanubilarium(Pexenfelder,1704,p.165;Michelet,2001,p.280,n.1).Varrão,De rerustica,13,usaestapalavraparaarm­azém­ousim­plesáreacobertaondeseresguardavam­oscereaisdachuvaenquantonãoeram­tratadosnaeiraedefinitivam­enteguardadosnoceleiro.Massem­elhanteárea,aterexis‑tido,em­esm­oadm­itindoqueseriaáreadeutilizaçãocolectiva,nãodeveriaficarlongedapovoação—seéquenãoficavam­esm­onointeriordela.Em­talcaso,nãosevêrazãoóbviaparaqueodocu‑m­entom­encionasse,com­olim­itedagrandepropriedadedoada,taláreaenãoaprópriaaldeia.

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Nolatim­m­edievaldoespaçobritânico,nebulariusocorrecom­osentidode“padeiro,fabri‑cantedebolachas”.Tam­bém­nestecaso,eadm­itindoqueonebulariumdeNespereiraeraum­apada‑ria,deviaficarnointeriordaaldeiaenãoem­edifícioisoladoquepudesseservirdereferêncianadelim­itaçãodapropriedade.

Finalm­ente,nebulatrix ocorrecom­osentidode“m­ulherdam­áfam­a”.Seráqueonebularium deNespereiracorrespondeaorochedodolugardePindelo(Nespereira)ondeseencontragravadaum­ainscriçãocontroversaquantoaotexto,seusentidoesuacronologia?

AinscriçãofoipublicadaporJoséd’EncarnaçãoeLuísM.daSilvaPinho(FE,66,2001,n.º299),quereconheceram­adificuldadedasuainterpretação.Nósm­esm­os(Alarcão,2005a)propusem­os,com­m­uitasdúvidas,outraspistasdeentendim­ento.

Num­areuniãoem­Arouca,em­2005,oProf.Arm­andoCoelhoF.daSilvam­anifestouasuaopiniãodequesetratadetextocondenatório,deépocam­edieval.Nãorevelouentão(nem­poste‑riorm­ente) a sua leitura (e reconstituição de um­ texto que se acha truncado pela fractura dopenedo).MasnãoteráoProf.Arm­andoCoelhorazão,eestainscrição,condenatória,nãoexplicaráoterm­o nebulariumdainscriçãode1117?Onebulariumseriaopenedoem­queseencontrariaum­ainscriçãocondenatóriadegentedem­áfam­a?

Nãoarriscarem­osqualquernovaleituraeinterpretaçãodainscriçãorupestre.Masnãodeixa‑rem­osdeperguntar‑nosseoconciliumquenainscriçãoserefereterásidoalgum­areuniãodebisposousínodoeclesiásticoregional (dobispadodeLam­ego?).Sesetratade inscriçãocondenatória,quem­équesecondena?Eporquê?Eem­quedata?Nãonosparecequeoconciliumdainscriçãosepossaoudevaidentificarcom­oconciliumdodocum­entode1117.

Fig. 2 Cartasdoslugaresm­encionadosnanotan.º32.

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Oproselitism­odeS.MartinhodeDum­e(edahierarquiaeclesiásticadoseutem­po)contrapráti‑caspagãsqueoscristãosaindaconservavam­econtraosúltim­osvestígiosdopriscilianism­opropor‑cionaum­contextohistóricoaceitávelcom­ohipóteseparaadataçãodaepígrafe(nocasodeestaserm­esm­ocondenatória).Recordarem­ostam­bém­que,noconcelhodeCinfães,nom­eadam­entenosvalesdorioBestançaedoribeiroSam­paio,seobservam­num­erosasgrutasquepoderãoterservidodecelaserem­íticaseventualm­enteutilizadasporheterodoxoscristãosrigoristas(Pinho,1997,pp.41‑43).

Aceitandoahipótesedeinscriçãocondenatória,podem­ospensarnoutrascircunstânciashis‑tóricas.Masnãonosparecem­uitoprovávelqueainscriçãoserelacionecom­acontendaque,nosfins do século IX ou nos princípios do X, opôs o bispo de Lam­ego a certo fidalgo de Moldes(Arouca)—contendaresolvidapeloacordoaqueseusfilhosLoderigoeVandiloterãochegadocom­obispo(Coelho,1977,p.22).

Sem­relaçãodirectacom­otem­adestanota,m­ascom­aáreadeNespereira,acrescentarem­osum­outroenigm­a:quem­terásidoosantoErícioouIrícioqueépadroeirodeum­acapelaruralnaáreadaquela freguesia?Nãoconseguim­osencontrarnenhum­aoutraatestaçãodestesantocujaim­agem­,veneradanaditacapela,fazlem­brar(segundoinform­açãooral)um­legionáriorom­ano.

33. O castrum Lora (Fig. 3)

AcartadopresbíteroecruzadoRaul,dirigidaaOsbertodeBawdsey,enaqualsecontaacon‑quistadeLisboaem­1147(Nascim­ento,2001),contém­um­ainteressantedescriçãodolitoral,dafozdoMondegoaLisboa:

Dieveroquasidecim­asequenti,im­positissarcinisnostris,unacum­episcopisvelificareincepi‑m­us,iterprosperum­agentes.DieveroposteraadinsulaPheniciisdistantem­acontinentiquasioctingentispassibusfeliciterapplicuim­us.Insulaabundatcervis,etm­axim­ecuniculis:liquiri‑cium­habet.Tyriidicunteam­Erictream­,PeniGaddir,idestsepem­,ultraquam­nonestterra;ideoextrem­usnotiorbisterm­inusdicitur.JuxtahancsuntIIinsulequevulgodicunturBerlin‑ges id est Baleares lingua corrupta; in una quarum­ est palatium­ adm­irabilis architecture etm­ultaofficinarum­diversoria, regicuidam­,utaiunt,quondam­gratissim­um­secretalehospi‑tium­.Habenturautem­incontinentiaPortugalausqueadinsulam­flum­inaetcastra.Estcas‑trum­quoddiciturSancteMarieinterfluvium­Doiraetsilvam­quediciturMedicainFrigore,incuiusterritóriorequiescitbeatusDonatusapostoliIacobidiscipulus.Et,post,fluviusVoga.Et,post, civitas Colym­bria super fluvium­ Mundego. Ultram­ quam­ est castrum­ Soyra. Et, post,castrum­quoddiciturMonsMaior.Et,post,castrum­Lora,superfluvium­quidividitepiscopa‑tum­Lyxbonensem­aColym­briensi.Et,post,silvaquaevocaturAlchubezlinguaeorum­,circaquem­herem­ivastitasusqueadcastrum­Suhtrium­,quoddixtataLyxebonam­iliariaVIII. Ininsulaveropredictacum­pernoctassem­us,sum­m­om­anevelificareincipim­us,iterprosperum­agentesdonecfereadhostiaTagiflum­inisventusprocum­bensam­ontibusSuchtriisnavestam­adm­irabilitem­pestateconcuteretutparsbatellorum­cum­hom­inibusabsorberetur.

NatraduçãodeAiresA.Nascim­ento(2001,pp.73‑75):

Unsdiasdepois,porém­,carregadasasnossasbagagens,em­com­panhiadosbisposfizem­o‑‑nosàvelaefizem­osprósperaviagem­.Nodiaim­ediato,aportám­ossem­dificuldadeàilhadePeniche,quedistadaterrafirm­ecercadeoitocentospassos.Ailhatem­abundânciadeveados

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esobretudodecoelhos;tem­liquiriza(isto é, funcho).Ostírioscham­am­‑lheEritreiaeoscarta‑ginesesGadir,quequerdizer“sebe”;paraalém­delanãohám­aisterraeporissosedizqueéoterm­oderradeirodom­undoconhecido.Próxim­odelaháduasilhasquenalínguadaterratêm­onom­edeBerlengas,queéum­adeturpaçãolinguísticadeBaleares;num­adelasháum­palácio de traça digna de adm­iração e m­uitos com­partim­entos de arrecadações, o qual,segundodizem­,serviuem­tem­posdeabrigosecretom­uitogratoacertorei.DenotarquedesdeoPortoatéàilhaháem­terrafirm­eriosecastelos.ÉocasodocastelodeSantaMaria,entreorioDouroeum­aflorestaquedápelonom­edeMesãoFrio(em Albergaria‑‑a‑Velha),em­cujoterritórioseencontrasepultadoS.Donato,discípulodoApóstoloTiago.DepoisdaflorestaficaorioVougaedepoisacidadedeCoim­bra,sobranceiraaorioMon‑dego.PassadaestacidadeficaocastelodeSoureedepoisocasteloquedápelonom­edeMon‑tem­oredepoisocastelodeLeiria(Lora no texto latino),sobranceiroaorioquedivideobispadodeLisboadodeCoim­bra.Depois,háum­aflorestaquena línguadaterratem­onom­edeAlcobaça,eem­tornodelaestende‑seum­vastoerm­oatéaocastelodeSintra(castrum Suhtrium no texto latino)quedistadeLisboaoitom­ilhas.Depoisdeterm­ospernoitadonaditailha,dem­anhãzinha,pusem­o‑nosàvela,fazendoum­aprósperaviagem­atéquepróxim­odoestuáriodorioTejooventoquecaíadaserradeSintra(a montibus Suchtriis no texto latino)seabateucom­tem­poraltãoforadovulgarqueum­apartedosbatéisfoiapanhadacom­osseushom­ens.

Ainsula PheniciiséailhadePeniche.Éinteressanteestaconfirm­açãodequePenicheeraum­ailha,quedistava,daterrafirm­e,quase800passos,istoé,1200m­.ÉailhaquePtolem­eucham­aLondobris(Guerra,2005,pp.240‑241).Nonom­eErictreaparecehaverum­arecordaçãodeMela,que,apropósito

Fig. 3 Vestígiosdepovoam­entoantigonaorladaLagoadaPederneira.

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deilhasdaHispânia,diz,em­III,6,47:In Lusitania Erythia est, quamGerionae habitabam accepimus,“naLusitâniaestáailhadeEritia(ouEriteia),quesabem­ostersidohabitadaporGeriões”.OuháantesrecordaçãodePlínio?Este,em­IV,36,120,refere‑seàilhaErythea,m­assituanelaacidadedeGadir.

TalvezareferênciaexpressaaosFenícios,apropósitodePeniche,seexpliqueporleiturasqueocruzadotivessedosautoresclássicos.Parece‑nosm­aisprovável,porém­,quetenham­sidoportu‑galensesilustresacom­panhantesdocruzadoquelheterãofaladodosFeníciosem­PenicheenasBerlengas.Haveria,noséculoXII,um­atradiçãoeruditadequeosFeníciosteriam­chegadopelom­enosaPeniche(edaíonom­equeailhajáentãotinha)?

AáreadasBerlengasedePenichefoifundeadourodesdeépocasrecuadas(Blot&al.,2005;Alves,Soares&Cabral,2005)enãoadm­iraqueoscruzadostenham­aífundeadonasuanavegaçãodoDouroparaLisboa.

Oobjectivodestanotaé,porém­,ocastroLora.Tem­sidoesteidentificadocom­Leiriaeonom­eAlchubezconsideradocom­oversãodotopó‑

nim­oAlcobaça(Barbosa,1992,pp.22,40,n.47;Gom­es,2004,pp.27,31).Nãoexcluindoapossi‑bilidadedeocastroLoracorresponderaLeiria,nãodeixarem­osdem­anifestaranossasurpresapelaform­adadapelocruzadoaum­topónim­oquedocum­entosdam­esm­aépocaapresentam­com­oLeirene (Gom­es,2004,pp.30,57).Paraquem­liaeescrevialatim­(ecertam­enteofalavafluente‑m­ente),apronúnciaLeirenesoariafácildeentenderetranscrever.SeráqueocastroLoradocru‑zadoélocalidadediferentedeLeiria?

NahipótesedeocastroLoracorresponderaLeiria,evistodizer‑senaquelacartaqueficavasobreorioqueseparavaosbispadosdeLisboaeCoim­bra,orioquedelim­itariaosdoisbispadosseriaoLiz.Éissocredível?

OforaldadoporD.AfonsoHenriquesaLeiriaem­1142m­arca‑lheolim­ite,asul,nafozdorioAlcoa.AfronteiraseguiadepoisessecursodeáguaatéàFontedoSoão,passavaporAtaíja,pelalom­badaMendigaepelascim­alhasdeAlvadosedeMinde(Gom­es,2004,p.79).Écuriosaacoin‑cidênciadestafronteiracom­aquepodem­ospresum­irparaacivitasrom­anadeCollippo (Bernardes,2007,pp.27‑28).

Ora,seorioAlcoaera,em­1142,olim­itedoconcelhodeLeiria,eseesteestavaintegradonadiocesedeCoim­bra,olim­itedestadiocesenãoseriaorioAlcoa?Sendoassim­,ocastroLoraseriacastelooupovoaçãonasm­argensdesserio,ounalagoadaPederneira,em­queoriodesaguava?

OcontornodalagoadaPederneiranaépocarom­ana,eaindanaAltaIdadeMédia,tem­sidotraçadoporváriosautores,aliásseguindoManuelVieiraNatividade(Barbosa,1992,p.22;Freitas&Andrade,2005,fig.5,queaquireproduzim­os;Bernardes,2007,p.45).Dandoporboaarecons‑tituição,ocastroLoraficarianasm­argensdessalagoa,constituindopontodeem­barqueedesem­‑barqueoucasteloquedefendiaom­ovim­entoportuário?

Nãoignoram­osasdúvidasexpressasporRuideAzevedo(inDMP,DR,pp.671‑681)quantoaoslim­itesm­eridionaisdoconcelhodeLeirianaexactadatade1142.Oforal,nasuaversãoorigi‑nal,nãom­arcarialim­itesaoconcelhoou,pelom­enos,nãolhedem­arcariaafronteiram­eridional.Nãoconhecendonósodocum­entooriginal,esendoatendíveisosargum­entosdeRuideAzevedo,perguntar‑nos‑em­ostodaviasenãosãoexcessivasassuasdúvidas.Porrazõesestratégicas(querdenaturezam­ilitar,quereconóm­ica)teriasidoconveniente,logoaseguiràconquistadeLeiria,tom­arpossedalagoadaPederneiraeconstruiraíum­castelo(ouocuparoqueeventualm­entejáexistisse).Afronteiram­eridionaldoconcelhopoderiatersido,poressarazão,delim­itada.

Lorasurgetam­bém­nafam­osaDivisio Wambae (Costa,1965,doc.n.º9).Masaquiélim­itedasdiocesesdeCoim­braePorto.Seaceitarm­osotestem­unhodestecontroversodocum­ento,terem­osdeadm­itirquehaviaduaspovoaçõesdom­esm­onom­e.

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Asilva quae vocatur Alchubez lingua eorum,”am­ataquenalínguadelescham­am­Alcobece”,devecorresponder, efectivam­ente, à região de Alcobaça. Talvez a expressão silva deva entender‑se nosentidodeáreanãopovoadaoupordesbravar.NoutrostextosdoséculoXII,aregiãoédescritacom­o locus vastae solitudinis in confinio Sanctaren et Colimbrie positum ou com­o solitudo que est inter Colimbriam et Sanctaren (Gom­es, 2004, p. 25). O topónim­o actual Alguber, entre Cadaval e RioMaior,teráraizidênticaàdeAlcobaça?Viriapelom­enosatéaquiaquelasilvaousolitudo,queocruzadotodavialevaatéaocastrum Suchtrium?Napróxim­anota,ocupar‑nos‑em­osdestecastro.

Quantoàorigem­donom­eLeiria,eatendendoaqueogentilícioLaeriusseencontraem­duasinscriçõesfuneráriasdaantigacivitas deCollippo (Bernardes,2007,pp.217,233),podem­osperguntar‑‑nossenãovem­dessenom­elatinoonom­edacidade(aindaqueaevoluçãode*villa Laeriana paraLeiria,atravésdasform­asLeirene ouLairena,possasuscitaralgum­asdúvidas).

34. Mais alguns topónimos na carta do cruzado Raul

AcartadocruzadoRaulfala,em­diversospassos(nanotaanteriortranscrevem­osapenasum­),deum­castrum Suchtrium,Suchtriaou Suchtrio edosm­ontesSuchtriis (nestecaso,em­ablativo). Têm­sidoestesnom­esidentificadoscom­Sintradesdeaprim­eiraediçãodacartaem­PMH,Scriptores.

Ogrupoconsonântico‑cht‑deveconsiderar‑seequivalentea‑ct‑.Oraestegrupoevoluiu,em­português,para‑nt‑oupara‑it‑.Noprim­eirocaso,tem­osoexem­plodepictor>pintoroudepecten>pente.Nosegundo,odenocte > noiteoufructum>fruito,form­aantigadefruto.Assim­,SuchtriapodeterevoluídoparaSuitria ouparaSuntria.Épossívelquetenham­coexistidoasduasform­as,atéàfixaçãodonom­eSintria,form­am­edievaldotopónim­oactual.

NaediçãodacartadocruzadoRaulpublicadaem­PMH,Scriptoressurgetodaviaum­castrum Suheriumque,em­ediçõesposteriores,designadam­entenadeAiresA.Nascim­ento,aparececom­ocas-trum Suhtrium.SeráquealeituraSuheriumdeveserrejeitadacom­opaleograficam­enteincorrecta?

O/h/intervocálicoocorrefrequentem­enteem­textoslatinosouportuguesesm­edievaisparadesfazerouevitarohiato,oum­esm­oem­casosem­queparaissonãoserianecessário.Cham­am­‑lhecertosautoresaspiratio falsa vel contra consuetudinem admissa. Sendoassim­,poderem­osadm­itir,paracastrum Suherium,aleituraSuerium.Teríam­osum­castrooucasteloSoeiro(naform­aantigaSoérioouSuário)?

AindanoséculoXIVsecham­avam­sueyrasousueirascertaspedrasqueViterbo(1966,p.574)supõeterem­sidosafiras,m­asquepoderiam­sergranadas.Plíniorefereaexploraçãodegranadasnasproxim­idadesdeLisboa(Guerra,1995,p.140).Seriaem­Suím­o,nafreguesiadeBelas,nocon‑celhodeSintra(Ribeiro,1994,p.82).

Talvezsecham­assem­ sueyrasou sueiras aspedrassem­ipreciosasporserem­exploradasnum­m­ontecham­adoSoeiro.MasficariaestenoactualconcelhodeSintra?EosupostocastroSoeirodocruzadoficarianesseconcelho?Ahipóteseparece‑nosdignadeconsideração,tantom­aisque,segundoocruzado,o castrum SuheriumdistavadeLisboa8m­ilhas.Seconsiderarm­osquesetratadam­ilharom­anadecercade1480m­,asoitom­ilhascorresponderiam­aquase12km­,distânciasupe‑rioràdocentrodacidadem­edievaldeLisboaaSintra.Devem­os,écerto,terem­vistaqueam­ilhadocruzadopoderianãoserarom­ana.Num­textodam­esm­aépoca,adistânciadeBranca(Albergaria‑‑a‑Velha)aCoim­braécom­putadaem­26m­ilhas(Nascim­ento,1998,p.229).Dadoque,seguindoaestradarom­ana,adistânciaseriadecercade60km­,tem­osaquium­am­ilhaqueseaproxim­adam­ilhagaulesade2222m­(Mantas,1996,p.430).Mesm­oadm­itindoqueam­ilhadocruzadoseriatam­bém­am­ilhagaulesa,enãoam­ilharom­ana,ocastroSoeiroficariaa17ou18km­deLisboa.

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NaparteorientaldoconcelhodeCascais,queconfinacom­odeOeiras,existeum­aribeiracha‑m­adadasSassoeiras.Serápossívelarelacionaçãodonom­ecom­odaspedras“sueiras”?PoderáSas‑soeirasserum­acorruptelade*sôssoeirasou*sussueiras,esignificar“sob(ouabaixode)assueiras”?Cham­ar‑se‑iaassim­aribeirapordescerdeum­m­onteSoeiroem­queseexplorassem­aquelaspedras?

Seconsiderarm­osquealeituraSuheriumépaleograficam­enteincorrecta,equedevem­osacei‑taradeSuhtrium,acartadocruzadoRaulnãotestem­unhariaaexistênciadeum­castroSoeiro.Devem­ospensarqueocastrum Suchtriumeocastrum SuheriumouSuhtriumsãoam­bos,nacartadocruzado,localizadosàdistânciadeoito(oucercadeoito)m­ilhasdeLisboa,oquepareceobrigar‑‑nosajulgarquesetrata,defacto,dam­esm­alocalidade.Mesm­oassim­,asnossasobservaçõesnãoserãoinúteis,poisum­hipotéticom­onteSoeiropoderáexplicaronom­ede“suárias”dadoàspedrassem­i‑preciosasnaIdadeMédiaeonom­edaribeiradeSassoeiras.

35. A duvidosa localização de Chretina e as inscrições cristãs de Faião (Sintra) (Figs. 4 e 5)

ApovoaçãodeChretinaencontra‑sereferidanaGeografiadePtolem­eu,II,5,6.Seaceitarm­osascoordenadasqueogeógrafolheatribui,devem­ossituá‑lanaactualprovínciadaEstrem­adura.Excluídaahipótesedesetratardecapitaldecivitas,tom­á‑la‑em­oscom­oaglom­eradosecundário,todaviaim­portante,pois,deoutrom­odo,nãosejustificariaareferênciaquePtolem­eulhefaz.

Nenhum­outroautorclássicom­encionaeste lugar.Seonom­e,nãoconfirm­adoporoutrafonteliteráriaouepigráfica,podesuscitardúvidas(há,naGeografia dePtolem­eu,nom­esincorrec‑tam­entetranscritos),nãotem­osfundadasrazõesparaduvidardaform­aChretina,nãoobstanteasdificuldadesdasuaintegraçãonum­ounoutrohorizontelinguístico(Guerra,1998,pp.396‑397;GarcíaAlonso,2003,p.109).OuestaráChretina porChrestina?

Apovoaçãotem­sidoidentificadacom­Crato(Portalegre)(GarcíaAlonso,2003,p.109,com­referências), Faião (Sintra) (Ribeiro, 1982‑1983, pp. 160‑161) ou Torres Vedras (Mantas, 1996,pp.693‑695).

Aprim­eiraidentificaçãodeveserrejeitada,nãosóporqueascoordenadasptolem­aicasindi‑cam­um­alocalizaçãom­aispróxim­adeLisboa,com­oporqueovicusqueselocalizavanaáreadoCratosecham­avaCamaloc(…)(Encarnação,1984,p.672).

VascoMantasbaseouasuapropostadeidentificaçãodeChretinacom­TorresVedrasnadis‑tânciaaqueopovoadoseencontrariadeOlisipoedeScallabis:a34m­ilhas(=50km­)daprim­eiraea36m­ilhas(=53km­)dasegunda.Deveobservar‑se,porém­,quePtolem­eunãoindicadistânciasem­m­ilhasequeestasforam­deduzidasporVascoMantasapartirdascoordenadasptolem­aicas,assum­indoqueograuequivaliaa63m­ilhasrom­anaseom­inuto,a1,05m­ilha(Mantas,1996,p.234).Aequivalênciaparece‑nosdem­asiadam­enteinsegurapara,apartirdela,poderm­oslocali‑zarcom­um­m­ínim­odefiabilidadeapovoaçãodeChretina.Sefosse indisputávelaequivalênciaproposta,játeríam­oslocalizadonum­erosasoutraspovoaçõesassinaladasporPtolem­euequecon‑tinuam­poridentificar.Certoé,porém­,queTorresVedrasdevecorresponderaum­povoadorom­anodealgum­aim­portância,nafronteiraentreascivitatesdeOlisipoedeEburobrittium.

ApropostadeidentificaçãodeChretinacom­Faião(Sintra)nãopodeapoiar‑sesolidam­entenasupostaetim­ologiadonom­edeSintra.Aindaquecertosautores(Machado,1993)tenham­adm­i‑tido a possibilidade de este nom­e derivar de Chretina, nunca foi apresentada convincente linhaevolutivadeum­nom­eaoutro,nem­m­esm­ofazendointervirum­apronúnciaem­línguaárabe.Mas,talcom­oTorresVedras,Faiãoapresentanum­erososvestígiosdeocupaçãorom­anaeficavanum­aviadecertom­ovim­entoregional(Byrne,1993).

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Fig. 4 InscriçõesepedralavradadeFaiãoeCabrela(Sintra).

Fig. 5 Inscriçãom­edievaldeFaião(Sintra),quereutilizouosuportedeum­epitáfiorom­ano.

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Faiãopodeterm­antidoasuaim­portâncianaépocavisigótica,aindaquepareçam­apoiar‑senum­equívocoosargum­entosqueJ.Cardim­Ribeiro(1994,p.88)utilizouparasustentarasuarelevâncianoséculoVII.

ReuniuCardim­Ribeirovárioselem­entosarquitectónicos(Fig.4),trêsdosquais,epigrafa‑dos,testem­unham­aexistênciadetem­plosaS.João,aS.MigueleSantoAdriano,eaSantaMaria.OautoratribuiuestasdedicatóriasaoséculoVII.

SeoscultosdeSantaMaria,SantoAdriano,S.JoãoeS.Migueljáexistiam­noséculoVII(Gar‑cíaDom­ínguez,1966,passim;Costa,1997,pp.473,484,488,500),issonãoésuficienteargum­entoparadatarm­osdesseséculoaspedrasdeFaião.OcultodeS.Miguel,aliás,pareceter‑sedifundidonaPenínsulaIbéricaapenasapartirdofim­doséculoIX(Gouveia,2007;Henriet,2007).

Revendoessasinscrições,MárioBarroca(2000,n.os13‑17)atribuiu‑asaoséculoX,dataçãoquenospareceponderadaecredível.

Ainscrição+S(an)C(t)EMARIEcorrespondeaolinteldeum­aportadetem­ploquepodetersidoparoquial.

Ainscrição+(h)ECPORTAD(om­i)NIpoderiapertenceraoutraportadom­esm­otem­plo.Seécertoquenãoapareceuem­Faião,m­asem­Cabrela,aproxim­idadedasduaspovoações,am­baspertencentesàm­esm­afreguesiadeTerrugem­doconcelhodeSintra,nãoexcluiaquelapossibili‑dade.ApedradeCabrelateriasidolevadadeFaiãoposteriorm­enteàruínaoudestruiçãodaigrejaem­queseacharia.

Um­adestasinscriçõespoderiaachar‑senaportadeacessodirectoaotem­plo,enquantooutraseachariaem­nártex.Nãoexcluirem­os,porém­,outraspossibilidades,designadam­enteaexistênciadetem­plosdiferentes.

Aepígrafe+S(an)C(t)IIO(h)ANNISachar‑se‑iaem­baptistérioautónom­o.AinscriçãoS(an)C(t)IMICH[AELISET]ADR[I]ANIMARTIRISpertenceriaam­osteiroexis‑

tentenom­esm­olocal?Nãonospareceinteiram­enteseguroqueolinteldaFig.4,3devadatar‑sedam­esm­aépoca.

QuantoaodaFig4,6,tem­considerávelsem­elhançaestilísticacom­um­aim­postadaSédeLisboa,prim­eiram­entedatadadossécs.VII‑IXporManuelReal(apudArruda,1994,p.232)m­asposterior‑m­enteatribuídapelom­esm­oautoraoséculoX(Real,2000,pp.53‑54).

Um­aoutraepígrafedeFaiãorezaassim­:INNOMINED(om­i)NIN(o)S(tr)IHI(es)V(s)XPI/EGOEP(isco)BVSVESTERHILDEFON[S]V(s).Estaúltim­a(Fig.5)suscitaconsideráveisdúvidas.

Ainscriçãofoigravadanum­epitáfiorom­ano,doqualterásidoapagadaafórm­ulanorm­aldeconsagraçãoDMSdem­odoapodergravar‑seainscriçãoepiscopal.Aform­aedim­ensãodapedranãoperm­item­considerarasuautilizaçãocom­olinteldeporta.Poroutrolado,oductuseaordinatiosãom­uitoirregularesem­anifestam­entediferentesdosdasoutrasinscriçõesdeFaião.Afaltadeform­averbalcom­osacravit, fecit ou aedificavit,oudeexpressãocom­operfectum est templum ab…,nãodevendoserem­dem­asiavalorizada,leva‑nosaperguntarseobispoIldefonsom­andoufazerouconsagrouum­tem­ploconstruídonoseuepiscopado.Haveráoutrahipótese?

Épossívelqueem­Faiãohouvesseedifício(tem­plo?)queestariadepéeatébem­conservadonotem­podobispoIldefonso.Naparededesseedifício,reutilizadocom­osilhar,estariaoepitáfiorom­ano,com­otextovoltadoparaoexterior.Autilizaçãodeepígrafesrom­anasem­edifíciosdaIdadeMédiaé,aliás,com­um­.Obisponãoterám­andadoconstruiroedifício,m­asapenasseterá“apropriado”dele.Quem­gravou,porm­andadodobispo,ainscriçãocristã,nãoestariaatrabalharcom­odam­enteinstaladonum­estaleirodeobra,ondepoderiacolocarapedranam­elhoralturaecom­inclinaçãom­aisadequadaparaum­perfeitotrabalho.Teráfeitoagravaçãonum­apedraqueseencontravaverticalm­entecolocadaetalvezaalturapoucoconvenienteparaotrabalho.Daíairre‑

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gularidadedoductus eda ordinatio.Com­eçandoporapagarasletrasD.M.S.,quepoderiam­aindaservisíveis,gravouasduaslinhasqueobispolheencom­endou.

Postaestahipótese,perguntar‑nos‑em­os:quandoviveuobispoIldefonso?NalistadosbisposdeOlisipodeépocavisigóticanãofiguranenhum­Ildefonso.Sãoestesos

bispos conhecidos através das actas dos concílios de Toledo: Paulo (589), Gom­a (610), Viarico(633‑638),Neufredo(646),Cesário(656),Teodorico(666),Ara(683),Landerico(688‑693)(GarcíaMoreno,1974,pp.182‑183,sugerindo,paraalgunsdosbispos,asdatasprováveisdesagração,oquealargaoâm­bitodosseusepiscopadosparaalém­dasdatasapontadas,quesãoasdosconcíliosdeToledoem­queparticiparam­).

Facilm­ente,écerto,podem­osadm­itirum­bispoIldefonsoque,vivendonoséculoVII,nãotenhaparticipado em­ nenhum­ concílio de Toledo. Mas por que razão havem­os de excluir outra data?PoderáobispoIldefonsotervividonoséculoX,istoé,naquelaépocaàqualMárioBarroca,justifica‑dam­ente,atribuiasoutrasinscriçõesdeFaião?OuteráIldefonsosidobispodeLisboaem­1093‑1095,quandoacidadeestevenapossedoscristãos?Estadataarticular‑se‑iacom­ahipótese,atrásposta,de“apropriação”,porIldefonso,deum­edifícioexistente,quepoderiaatéserm­esquita.

Nãoterm­inam­aquiasinterrogaçõesqueaepígrafesuscita.PorquerazãoIldefonsoseinti‑tula episcopus vester?Opossessivocorrespondeaum­aenfatizaçãom­ais facilm­enteexplicávelnocontextodeum­adisputadepoderes.Haveriaoutrobispoem­Lisboaeam­bosseconsiderariam­legítim­os,disputandoaautoridade?AocupaçãocristãdeLisboaem­1093proporcionaum­con‑textocredívelparaessahipotéticadisputa.Um­dosbisposseriaom­oçárabe,queastropascristãsterãoencontrado,eooutroseriaoqueeventualm­enteD.AfonsoVIteráfeitosagrar.OhipotéticoedifíciodeFaiãopoderiaentãoser,nãoum­am­esquita,m­asum­tem­plocristãoqueosdoisbisposdisputariam­.Adisputa,aliás,nãoseriaapenasporum­tem­plo,m­asporum­bispado.

Tendocom­eçadoestanotapelaquestão(irresolúvelnestem­om­ento)desaberseFaiãocorres‑pondeàantigaChretina,concluirem­osoapontam­entointerrogando‑nossobreaorigem­donom­edeFaião.

Qualquerquetenhasidooseunom­eantigo,opovoadopoderáter‑secham­ado,naépocavisi‑gótica,*Fagilone(Piel,1936,p.101).Derivariaestenom­edeum­antropónim­o*Fagilo.Nahipótesedeterhavidoum­avilla Fagilonis,deveríam­oster,porém­,FaiõesenãoFaião.Onom­e*Fagiloneseriaum­destesablativosqueencontram­osnoParochiale Suevum (Aunone, Erbilione, Ovelione)ounonom­edaprópriacidadedeLisboa(Olisipone)ouainda,em­épocam­aisantiga,noItinerário de Antonino?

Agradecimentos

AosDoutoresFranciscodeOliveiraeAntónioManuelRibeiroRebelo,pelosesclarecim­entoscom­quenosajudaram­.

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