Post on 20-Jul-2015
NOVELA DA
MINHA VIDA
(Profissional)
Miguel Santos
30 CAPITULOS INÉDITOS
Historia real e descontraída de um cidadão,
que se dedicou à Comunicação, atuando em
Jornais, Rádios e Televisões em Pernambuco.
CAPITULO DE APRESENTAÇÃO
Escrever um livro ou uma auto-biografia, mesmo
autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça. Até
porque escrever sobre mim mesmo tem um ar de pieguismo
ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos....
Mas, com o advento dessa poderosa maquina que é a
Informática e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam
a fazer um livro digital. Você lê uma vez e joga fora a mídia,
para não ocupar espaço na sua estante.
Como um ser aposentado decidi, então, aproveitar a
maioria das minhas horas vagas para escrever essas linhas,
que são, antes de tudo, fragmentos interessantes, curiosos, e
até mesmo gozados da minha vida profissional, que se não
foi tão significativa o foi de grandes e imorredouras
emoções.
Não levem em conta os nomes de amigos e colegas
não citados na narrativa. Afinal, numa tarefa como essa fica
muito difícil a gente lembrar de tudo e de todos.
.Posso garantir que se trata de uma obra que não vai
interessar aos estudantes de Comunicação, mas, que,
certamente, vai deixar “água na boca” nos companheiros
que, mesmo de longe, vão relembrar alguns dos momentos
por mim vividos e aqui narrados.
Miguel Santos
Jornalista/Radialista (com muito orgulho)
CAPITULOS
01 - Rádio no sangue 02 - Bibi Ferreira e eu 03 - Novo Rádio 04 - Jornais & Jornais 05 - Linha virada 06 - Ultima Hora 07 - As Revistas 08 - TVU: 27 anos no batente 09 - Carnaval pela TVU 10 - O Repórter 11 - Verdade ou Mentira ? 12 - Elefante e confusão 13 - Minha estréia no Cinema 14 - Meu Bairro é o Maior 15 - Guina: quanta saudade ! 16 - Show do Homem com “H” 17 - Meu encontro com Lula 18 - Mister John 19 - Luiz Gonzaga – o Rei do Baião 20 - Roberto Carlos em três atos 21 - Claudia Barroso e Garin 22 - O mundo que conheci 23 - Artista é quase isso... 24 - Sustos no ar 25 - Atritos com Celebridades 26 - Dominguinhos e Calheiros 27 - Colegas e Amigos 28 - Campanhas Políticas 29 - Eventos produzidos 30 - Linha do Tempo
Capitulo 1
RADIO NO SANGUE
Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só
existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube.
Tinha um aditivo a mais: meu tio-padrinho era outro que gostava e
conhecia muita gente que atuava em rádio. Lembro que ele costumava
contratar um verdadeiro serviço de alto-falante que era instalado no amplo
terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu primo. Eu
comandava o show, fazia brincadeiras com os coleguinhas, uns cantavam,
outros aplaudiam e eu era quem falava ao microfone. Por volta dos 12 anos
de idade, freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos domingos, à tarde,
para assistir ao programa comandado por Ernane Seve e sua secretária de
palco, Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família.
Fui crescendo e meu padrinho alimentava a idéia de que eu deveria
ser um locutor de rádio. Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu
fizesse um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava
na ladeira de São Francisco, em Olinda, mas que mantinha um estúdio
avançado de jornalismo num prédio da Avenida Guararapes. Foi nesse
estúdio que recebi as primeiras orientações do jornalista Geraldo Seabra,
que era o chefe do departamento de jornalismo da Emissora. Quando
começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para gravar o
jornal-falado, que tinha sido irradiado uma hora antes. Devo ter passado
um mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio desisti do estágio, porque
naquela época (1957) não era qualquer um que botava a boca na “latinha”.
Mas, o “virus” do rádio já tinha tomado conta do meu sangue. Anos
depois, ingressei na Radio Capibaribe, cujos estúdios ficavam no prédio
da então ”Casa Barreira”, uma loja de auto-peças na Rua Siqueira Campos
e os transmissores instalados na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da
Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora.
Rádio Capibaribe - 1961
Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras
atividades, como a de repórter e apresentador de programas. A Jovem
Cap, como está sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola
radiofônica. Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu filho adotivo,
Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto Schiller,
tive a oportunidade de conviver com outros nomes que participaram dessa
fase inaugural: Genivaldo di Pace, locutor noticiarista de grande talento;
Edson Lima e Miriam Silva, Reginaldo Silva, Jocemar Ribeiro, Samir
Abou Hana. Cezar Brasil e outros mais. Um dos programas que criei foi
“Musicas e Personalidades” (1960/61), no qual gente famosa apontava as
dez musicas inesquecíveis, que eram irradiadas juntamente com dados
biográficos da pessoa focalizada. Além de escrever programas, estreei
como repórter e comunicador, sempre com o sentido de adquirir
experiência, mesmo porque na época a gente tinha que ser polivalente para
trabalhar no rádio.
Cícero, dono do Restaurante Samburá, de Olinda, recepcionando a
direção e funcionários da Radio Capibaribe. Da esquerda para a direita:
Humberto Pinto, Miguel Santos, Cícero, Gilberto Lins, Edson Lima e
Miriam Silva (Ano: 1962)
A Radio Capibaribe foi a minha primeira grande escola. Daí prá
frente, o micróbio do radio não me largou mais. Quando assumi as colunas
de Rádio e Televisão do Jornal do Commercio e Diario da Noite, passei
quase que imediatamente a atuar também no Rádio Jornal, como produtor
de um programa chamado “Disco Brinde” (1966), comandado por Nilson
Lins. Depois, não parei mais: fui produtor do programa de auditório
“Festa de Brotos”, comandado por Antenor Aroxa, , em 1968. E por um
longo tempo, enquanto trabalhava na TVU em um expediente, atuava no
radio em outro. Como produtor de Samir Abou Hana percorri as Rádios
Tamandaré, Olinda, Globo e Clube. Por ultimo, fui produtor do saudoso
Paulo Marques na Radio 103-FM e na Rede Estação Sat. Rádio e
Televisão sempre andaram paralelos durante praticamente toda a minha
vida profissional.
Jáder de Oliveira, apresentador do programa “Varietê”, ao me entregar
premio de melhor produtor do ano de 1971, no auditório do Rádio
Jornal. Nessa época, alguns veículos de comunicação e entidades
faziam pesquisas para apurar quem eram os melhores do Radio e da TV.
AUDITORIO DO RADIO JORNAL DO COMMERCIO – PALCO E PLATEIA
Capitulo 2
BIBI FERREIRA E EU
Um dos maiores nomes do teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava
no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou:
- ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar aqui conosco. Você vai nos dar
uma grande ajuda ao nosso espetáculo.”
Depois desse encontro, pensei: será que eu sou tão importante assim
para receber esse elogio da maior atriz do teatro brasileiro ?
Juntei-me ao grupo de figurantes que havia sido convocado para
participar da peça “La Conchita”, uma opereta espanhola, com a qual Bibi
Ferreira encerraria a temporada (de 01 a 13 de Setembro de 1956) no
Recife para seguir de navio para uma turnê pela Europa . Era uma noite de
sexta-feira. Na parte da manhã eu tinha ido visitar um amigo, José
Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o
salvador do mundo. Foi logo dizendo:
- “Você chegou na hora certa. Esteja as seis da noite no Teatro de
Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu mais
detalhes.”
Jovem aventureiro, 18 anos de idade, não fiz outra coisa. Às seis da
noite lá estava eu na porta dos fundos do teatro. Guilherme me levou até o
camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e uma
maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia
acontecendo comigo sem que eu viesse a saber, com antecipação, o que eu
teria que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina fechada, ouvi o murmúrio
do publico e arrisquei uma olhada pela fresta da cortina. A platéia do
suntuoso teatro estava lotada. Afinal, Bibi Ferreira era um nome
respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50, ela
montou um repertorio com sua companhia e depois de bem sucedidas
temporadas no eixo Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com elenco
numeroso e uma produção de alto nível. Dentre seus maiores sucessos
estava o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o
ator Herval Rossano, Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco.
Mas, como já disse, tudo parecia um sonho.
Eu havia experimentado uma sensação um pouco parecida quando
tinha apenas 8 anos de idade. Estudava no Ginásio São Luiz, e fiz parte
de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio de
Ponte D`uchoa. Era um numero que lembrava as noitadas juninas.
Enquanto se ouvia a marchinha “Cai, Cai Balão”, eu e meus
companheiros rodeavam uma fogueira cenográfica E terminava o numero
fazendo uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça
comprida. Emocionado, cheguei a desfilar pelo corredor do Auditório para
mostrar que já era um homenzinho...
Com Bibi Ferreira foi um pouco diferente, porque a emoção foi
maior, apesar de que, na primeira noite, eu realmente ia entrar em cena sem
ter feito um simples ensaio e sem saber nada do que ia fazer. Eu era aquele
figurante do empurrão, como caldo-de-cana, feito na hora. No primeiro
ato, os figurantes entravam em fileira indiana pelos dois corredores da
platéia até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos dadas a dois
companheiros, terminando por participar de uma dança de roda. Saímos
do palco e retornamos no ato seguinte. Aí , o cenário era um típico cabaré,
com homens e mulheres fumando, bebendo, se beijando e se abraçando,
numa autêntica orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava
enchendo a cara (a bebida era guaraná). Em dado momento, uma das
figurantes vinha me fazer caricias e sentava no meu colo. Rolavam
simultaneamente outras cenas semelhantes. A figurante que estava sentada
no meu colo sussurrou no meu ouvido:
- “Agora, você vai me empurrar. Vou cair no chão e vou sair de cena.
Você fica e toma mais um copo com raiva de mim. Faz parte da cena. Vai,
me empurra !”
Eu dei um empurrão prá valer na moça e realmente ela se esparramou
no chão e saiu blasfemando... Isso acontecia entre o grupo de figurantes –
(Na minha mesa estavam Leda Alves, Cely, Edmilson Catunda e eu).
Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no
movimento cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura e uma
das pessoas mais influentes do Estado.
Tudo isso, minha gente, foi muito difícil para mim, porque tudo
acontecia como uma grande surpresa. Nas demais noites, ficou mais
perfeito o meu desempenho artístico. Já havia aprendido tudo na difícil
noite da estréia.
Lembro que acabada a nossa participação, alguns figurantes, como
eu, corríam para o camarim, para retirar a maquilagem, mudar de roupa e,
então, seguíamos para a porta principal do teatro para que o publico nos
vissem mais de perto.. Vaidade de artista. Afinal, éramos coadjuvantes de
Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro que numa das
noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me reconhecer,
uma mocinha apontou prá mim e disse:
- ”Foi esse cara que empurrou aquela moça no chão... Você não tem
vergonha na cara, não ?”
Desapareceria de cena ali um grande ator frustrado. Vilão e canastrão,
que nunca mais quis saber de subir num palco de teatro.
FOTO HISTORICA
FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO TEATRO
DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956). NA MESA, LEDA
ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA. NA ÉPOCA, ESTAVA
COM 18 ANOS DE IDADE.
Capitulo 3
NOVO RADIO
A Televisão havia chegado com gosto de gás. Será que vai acabar com
o rádio ? Era a preocupação de muitos radialistas. Até porque muita gente
boa migrou imediatamente para o novo veiculo. O interesse pelas novelas
radiofônicas foi diminuindo, os cantores davam preferência à TV e o rádio
sentiu a necessidade de um impulso para sobreviver (alguns pensavam
assim).
Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio
jogava ao ar uma programação inovadora apelidada de “novo rádio”. A
estreia foi numa segunda-feira, 26 de abril de 1965.
Eu trabalhava como editor de rádio e televisão nos dois jornais da
Empresa – o Jornal do Commercio e e Diário da Noite – e acompanhei
de perto todas as providencias para o lançamento da nova programação. O
gerente geral do Radio Jornal era o Sr. Luiz Felipe Vieira e o gerente de
programação, Abérides Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista:
“A nova programação é o começo de uma série de iniciativas visando
a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio, como fator de progresso de
um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se adaptar aos novos
tempos.”
Uma caravana de consagrados artistas nacionais, entre os quais
Erasmo Carlos, Sergio Murilo, Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o
lançamento da nova programação, realizando apresentações nos programas
”Praça da Alegria”, comandado por Walter Spencer, no sábado, à tarde, e
“Varietê”, sob o comando de Jáder de Oliveira, no domingo, á noite.
A equipe de produtores do “novo rádio” era formada por Aldemar
Paiva, Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes, Ivan Soares,
Medeiros Cavalcanti, Wladimir Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel
Barbosa.
Integrei essa valorosa equipe como coordenador do “Disco Brinde”,
apresentado de segunda a sexta-feira, as duas da tarde, sob o comando de
Nilson Lins. O programa realizava testes de conhecimentos musicais entre
os ouvintes e distribuía discos entre os premiados, numa parceria com a
Fábrica de Discos Rozenblit.
Outros programas se notabilizaram nessa fase do Radio Jornal,
Como o “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com produção de Manoel
Barbosa e participação do elenco de rádio-teatro, interpretando casos
registrados nas delegacias policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da
Retreta”; Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do Almoço”, aos
domingos; Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do Cotidiano” e era da
consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9 da noite,
enquanto os programas esportivos tinham mais ou menos o mesmo espaço
que ocupam no rádio de hoje. O discotecário na época era o Eraldo
Mendonça. Lembro que ele foi enviado ao sul do país, para adquirir os
mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos
necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para
facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O
departamento de radio-jornalismo era comandado pelo competente
jornalista Artur Malheiros e o espaço físico foi ampliado para receber mais
maquinas de escrever e redatores.
Ano seguinte – 1966 – Antenor Aroxa foi contratado para
conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à tarde, substituindo
Walter Spencer. Passei, então, à exercer a atividade de produtor de
programas de auditório, experiência que me levou a fazer a mesma coisa na
Televisão.
O superintendente da Empresa Jornal do Commercio, dr. Paulo Pessoa
de Queiroz, ao meu lado. Momento em que a TV e o Rádio Jornal eram
homenageadas na cidade de Vitoria de Santo Antão (1968)
Capitulo 4
JORNAIS & JORNAIS
Sempre gostei de escrever. Quando estudava no Ginásio São Luiz
criei um jornalzinho manuscrito, que passava de mão em mão, divulgando
eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo os coleguinhas
do segundo período do curso colegial.
Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional
de Seguros de Vida, em 1958, editei o jornal ”O Timoneiro”, este já
produzido em uma gráfica. Circulava internamente, com exemplares
distribuídos entre funcionários, corretores e médicos da empresa.
Ainda em 1958 comecei a colaborar com a “Folha do Povo”, um
jornal criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação
ocupava duas salas no Edifício Vieira da Cunha, na Rua Floriano Peixoto
E aí pude desenvolver todos os meus desejos de ser um jornalista completo.
Comecei escrevendo uma coluna sobre o Rádio (ainda não existia a
Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma das quais
denunciava a retirada de corpos ainda em estado de decomposição no
Cemitério de Casa Amarela.
A reportagem gerou notas de esclarecimento
por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os
jornais da cidade. Como o jornal apoiava o Governo pensei que fosse
afastado, mas recebi parabéns não só porque o jornal faturou a nota oficial
como porque a matéria era verdadeira e ganhou repercussão.
Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser
revisor (um episodio dessa época faz parte de outro artigo deste trabalho).
Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo
jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda hoje é na Rua do Imperador.
Já existia a Televisão e passei a editar uma coluna sobre as atividades
desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador.
Experimentei vários pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos.
Afinal, comecei mesmo num jornal comunista e queria esconder o meu
nome verdadeiro. Fui até Francis, um colunista de discos fonográficos.
Foi a partir de 1963 que efetivamente passei a ser jornalista
profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho
político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste
trabalho.
Em 1965 fui chamado pelo gerente geral do Radio e da TV, Sr.
Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão
mantidas pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite
(vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer
o que era feito nas Emissoras pertencentes à Empresa. Portanto, um
jornalismo parcial, que não me agradava. Mas, tive a felicidade de merecer
o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e
TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento obsessivo pelo zelo,
pelo respeito e pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam
ter pela Empresa do “dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por
todos. Não é piada, mas houve um caso em que um funcionário foi pedir
um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe havia falecido e o
Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a morte de sua
mãe”. E negou o adiantamento. Pois esse dirigente de quem todos tinham
medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das
oficinas do Jornal, a fazer a diagramação das colunas, arrumando os textos
linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da
montagem da coluna um gráfico tirava uma prova a gente fazia
a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente artesanal
levava pelo menos uma hora e era feito pela manhã (para a edição do
“Diário da Noite”, que circulava à tarde) e à tarde (para a edição do “Jornal
do Commercio” que circulava no dia seguinte). O sr. Vieira e o gerente de
programação do Radio Jornal aprovaram a minha indicação para coordenar
o programa “Disco Brinde”, comandado por Nilson Lins.
Posso assegurar que o sr.Vieira foi um dos que contribuíram
para que eu conquistasse um espaço no jornalismo pernambucano,
ampliando meus horizontes em relação também ao rádio.
Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi
publicada no dia 15 de outubro de 1965.
Capitulo 5
LINHA VIRADA
Foi Fernando Spencer, que escrevia uma coluna de cinema na Folha
do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem
me informou que havia uma vaga de revisor no Diário de Pernambuco.
Depois de um teste, ingressei no secular Diário exercendo uma função
extinta no jornalismo de hoje. Naquele tempo, o texto original escrito pelo
redator ia para as oficinas gráficas e o linotipista transformava o texto em
linhas gravadas no chumbo quente da linotipo. Essa nova impressão seguia
em forma de uma prova, juntamente com o texto original, para ser cotejado
pelo revisor. A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar
se havia algum erro. Assinalado algum erro, o material era devolvido para
que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o meio-campo entre
a redação e a oficina gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém
da redação. Ao sair do jornal, encontrava na calçada Antonio Camelo,
Joezil Barros, Gladstone Vieira Bello e outros nomes da cúpula do jornal.
Comecei no primeiro turno do expediente da revisão, no período da
tarde. Como todo principiante cheio de orgulho por estar trabalhando no
maior jornal do Nordeste do Brasil naquela época, iniciei revisando textos
sem maior importância, como, por exemplo, os anúncios classificados, os
roteiros de cinema, teatro, anúncios fúnebres, matérias avulsas, etc.
Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava de ler e escrever. Não foi
difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui transferido com
excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã.
A família protestou, mas naquela época não havia a insegurança que
domina as ruas nos dias de hoje. Saia do jornal, na Praça da
Independência, seguia pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos
Correios tomava o ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de
Parnamirim. Trabalhar no período em que o jornal fechava a edição era da
maior responsabilidade. Matérias mais importantes passavam pelas minhas
mãos, como, por exemplo, a crônica de professor Aníbal Fernandes, o
editorial do jornal, as chamadas de capa, inclusive as legendas das fotos
que ilustravam a primeira pagina. Uma certa noite, com a cabeça pesada
pelo sono, aconteceu o que eu considerei a minha primeira grande tragédia
profissional. Deixei passar uma linha virada na primeira pagina. A linha
de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E na capa do
jornal, nem se fala. Ao entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo:
- “Tem um aviso aqui prá você se dirigir à Superintendência.”.
E o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o
dr. Fernando Chateaubriand, filho de Assis Chateaubriand, o todo
poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de
jornais e emissoras de rádio e televisão do Pais.
A secretaria me anunciou e eu entrei na sala como se estivesse
carregando um saco de 50 quilos na cabeça. Encontrei atrás de um amplo
birô de madeira de lei um cidadão de quase dois metros de altura, que foi
logo perguntando:
- O senhor foi o revisor disso aqui ? - e apontou para o jornal na
mesa, com um circulo vermelho no texto, onde se encontrava a fatídica
linha virada. Não havia outra resposta, já sabendo por antecipação que
estava demitido sumariamente.
- “Fui eu, sim senhor.”
- “Por que isso aconteceu ?” – quis saber o “todo poderoso”.
- “Estava muito cansado, o sono me pegou.” – confessei.
Aí, veio a grande surpresa. Dr. Fernando olhou prá mim,
acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo de vida que sigo
até hoje: - “Sabia que quando está revisando o jornal o senhor é mais
importante do que eu, que sou o superintendente ?”
Respondi que não sabia. Ele apertou a minha mão e se despediu
assim: - “Procure superar o sono e você será um vencedor na vida. Vá
em frente e que isso jamais se repita.” - O saco de 50 quilos que parecia
carregar despencou da minha cabeça, mas da minha memória esse fato
jamais se apagou.
Secular prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência.
Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo Amaro.
Capitulo 6
ULTIMA HORA
Em 1963, um ano antes da Revolução Militar de 64, eu ingressava no
Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de
Goiana, na Boa Vista. Para mim, uma escola de jornalismo de alto nível,
Independente de sua linha política, já que apoiava Miguel Arraes, tido
como defensor do regime comunista. Minha coluna de estréia foi
publicada no domingo, 11 de agosto de 10963.
O diretor era Mucio Borges da Fonseca. O editor geral: Ronildo
Maia Leite. Na chefia do departamento fotografico, Clodomir Bezerra.
Assumi a editoria de rádio e televisão. Escrevia uma coluna que não
ultrapassava um quarto de pagina. Diariamente. Dava noticias, fofocas e
entrevistas curtas com gente que atuava nos meios de comunicação.
Tudo dentro do ritmo dinâmico do jornal que primava por matérias
polemicas, linguagem objetiva e direta, evitando os clichês costumeiros
dos demais periódicos. Recordo de um fato que não se passou comigo,
mas que me impressionou bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não
me recordo, foi designado para fazer a cobertura de uma procissão no
centro da cidade. Recomendação do editor:
- “Não quero fotos de andor, nem de padre, nem de freira. Quero
uma foto expressiva para ilustrar matéria de primeira página. Se vire.”.
E o fotografo saiu da redação com uma preocupação na cabeça.
Durante toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia uma
parte do andor, ou um padre ou uma freira. Não sabia mais o que fazer para
atender o pedido do editor. Já retornando à redação, avistou uma
criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse
rezando. Tacou o dedo no clique da máquina. Foi essa a expressiva foto ;
primeira pagina do jornal.
Essas provocações eram comuns na redação. O obvio não era o ideal.
As inovações eram bem aproveitadas. Uma linha de matéria redacional
poderia dar uma manchete de oito colunas, como aconteceu comigo.
Certa feita, escrevi na coluna:
- “FPF vai proibir o vídeo-tape do futebol”.
Foram só essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me
foi confidenciado por um diretor de Televisão, porque na época o futebol
era gravado para exibição na noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no
dia seguinte, lá estava a frase em letras garrafais de canto a canto da
pagina, encabeçando a minha coluna. A repercussão foi grande, mas
graças a Deus ninguém contestou a nota. Se não, eu estaria sumariamente
demitido.
Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade
Nua); Lula Carlos (Bola na Rede); Celso Marconi (Cinema); Wilton de
Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves
(Luzes da Cidade), entre outros.
Sem querer ser redundante, fiquei na Ultima Hora até a sua ultima
hora, 10 horas da manhã do dia 1 de abril de 64. Entreguei minha matéria
na redação e me preparava para sair, Ronildo Maia Leite fez o pedido:
- “Quando você chegar no centro da cidade, observe se há algum
movimento do Exercito e liga prá gente.”
Jovem, sem muito conhecimento dos rumos da política, não soube
avaliar o dramático significado daquele pedido. Naquela mesma manhã
não cheguei a dobrar a Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel
Borba, andando porque não tinha carro. Os caminhões carregados de
soldados do Exercito seguiam em direção ao jornal para empastelá-lo.
Segundo Ronildo Maia Leite: - “Ultima Hora era um jornal que
nada temia e pagou caro pela ousadia.”
Fim melancólico de uma verdadeira escola de jornalismo, criada por
Samuel Wayner, onde aprendi muito convivendo com gente que
realmente sabia fazer jornal.
|
Capitulo 7
AS REVISTAS
Não me perguntem como nem por que, mas o certo é que assumi a
tarefa de ser representante-correspondente da já extinta Revista do Radio,
que na época era a publicação semanal segunda colocada em vendas em
todo o Brasil (a primeira era a Revista “O Cruzeiro”). A Revista do
Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e tinha como
secretário de redação Borelli Filho. As duas paginas centrais eram
ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”, onde os artistas mais
consagrados eram visados pelas fofocas e disse-me-disse. Aliás, nessa
época só existia o rádio e a Nacional do Rio era a mais poderosa
Emissora do País, cujo “cast” reunia os maiores nomes da musica
brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais o que revelava a
Madrinha do Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba
chegava a empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas.
A coluna que escrevia era “Rádio de Pernambuco”. A matéria era
enviada pelos correios, razão por que existia a preocupação de mantê-la
mais atualizada possível porque chegava na redação da revista com alguns
dias de atraso. Eram pequenas notas sobre o rádio que se fazia em
Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as
fofocas, etc), com uma ou duas fotos no máximo. Era minha tarefa
tambem promover a revista nos meios de comunicação. Sempre que
era autorizado pela Editora distribuía exemplares nas portarias dos
programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal. Quando esteve
no Recife, Anselmo Domingos me convidou para trabalhar na sede da
Revista, no Rio de Janeiro, mas o apego à família e a minha própria idade
(pouco mais de 20 anos) me impediram de seguir outro rumo na vida.
Foi nessa época que a Televisão surgiu e fui convidado para atuar
na Revista TVlandia, que nascia como um guia de programação semanal
das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação circulou no dia 19
de junho de 1961, com a foto de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava
uma pagina sobre o Radio. Outros colaboradores: Hilton Marques (hoje
produtor do programa de Jô Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz
Mendonça, fundador do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém;
Renato Melo, produtor de TV, entre outros. A revista era dirigida pelo
publicitário Oliveira Junior e por Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia
de registros de marcas e patentes. Rildo Uchoa integrava a direção
cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as fotos.
Os artistas que mais figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi,
Arlete Sales, Nair Silva, Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal.
Depois de alguns meses de circulação, assumi a editoria geral da Revista,
que era editada pela Gráfica Ilha, que funcionava no bairro de São José.
Quatro meses depois de circular gratuitamente, TVlandia passou a ser
vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais,
um marco na historia dos periódicos que existiram até hoje em
Pernambuco.
Capa da Primeira Edição da Revista TVLANDIA (1961)
A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do
radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como
César Brasil. Outra equipe foi formada: Adel Barros na gerencia
geral e os colaboradores Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino,
Emanoel Rodrigues e outros. A TVlandia viveu até meados de
1963, quando foi criada a Canal, outra revista tipo de bolso, com o mesmo
objetivo. Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e Fernanda Simões,
com secretaria de Miguel Santos e uma equipe de colaboradores de peso:
Dias da Silva, famoso psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os
jornalistas Romildo Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de
criada, mudou de direção. Assumiram o publicitário Waldir Machado e
o artista plástico Wellington Virgolino, com a colaboraação editorial de
Fenando Spencer, Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando Bastos.
Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma tiragem média de
dois mil exemplares semanais e uma boa aceitação por parte do publico.
NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA REVISTA CANAL
Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio.
Capitulo 8
TVU – 27 ANOS NO BATENTE
A placa ainda existe na recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade
de ampliar os horizontes da Educação e de elevar o nível da Cultura do
povo do Nordeste e do Brasil, foi instalada esta primeira Televisão
Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco.
Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da
Educação e Cultura: Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof. Murilo
Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de
Lemos. Coordenador Geral da TV-Universitaria: Prof. Manoel Caetano
Queiroz de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.”
Integravam o quadro dos primeiros diretores: José da Costa Porto
(diretor administrativo); Nédio Cavalcanti (diretor técnico); Jorge José
Barros de Santana (diretor de produção); Milton Baccarelli (diretor de tele-
teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho (diretor de programação). Havia
também um núcleo de Musica, dirigido por Rafael Garcia. Na TVU
nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra Armorial.
Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de
Carvalho, uma das pessoas que mais contribuiu para o meu
desenvolvimento profissional. Comecei como produtor de programas
culturais. O primeiro tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou em abril
de 1969, lembrando uma enciclopédia em vídeo. Um dos programas de
maior repercussão, do qual participei junto com Sergio Kyrilllos, foi “A
Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Em convenio com a
Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma competição cultural
com a participação das escolas. Para evitar a disputa antipedagógica Escola
x Escola, a briga era alunos x alunas. Meninos contra as meninas,
disputando quem acertava mais perguntas sobre conhecimentos gerais.
Nessa linha cultural, integrei a equipe de produção do programa “A Alma
Encantadora das Ruas”. Durante 8 anos fui o produtor do programa “João
Alberto Informal”, apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí
a coordenação da equipe esportiva que gravava os jogos do campeonato e
cheguei a participar como repórter da inauguração dos estádios estaduais
de João Pessoa e Campina Grande,
Em 1971, a OEA – Organização dos Estados Americanos –
patrocinou o Projeto Multinacional de Televisão Educativa, com o
propósito de promover o intercambio de técnicos entre os países que
desenvolviam tecnologias educativas. Fui escolhido para representar o
Brasil, juntamente com a companheira Ivanise Palermo. Designados para
as cidades do México (D.F) e Bogotá, Colômbia, participamos da
experiencia durante dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.
Professor e alunos do Curso de Radio Educativo – Porto Alegre - RS
ATVU me proporcionou outras viagens. Participei de um Curso de
Radio Educativo, patrocinado pelo Prontel – Programa Nacional de
Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação Educacional
Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor
da BBC, de Londres, prof. John Volden e teve como local um centro
educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão, na região
metropolitana de Porto Alegre.
Ainda como representante da direção da TVU participei de várias
reuniões de dirigentes de Emissoras Educativas do Brasil. Esses encontros
ocorriam todos os anos sempre numa capital diferente – Rio de Janeiro,
São Paulo, Porto Alegre, Terezina, Fortaleza, Manaus.
Durante 27 anos exerci várias atividades no Canal 11. Depois de
ingressar como produtor, fui repórter, apresentador de programas,
chefe do departamento de jornalismo e vice-diretor, quando resolvi me
aposentar em 1992.
Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo cumprimentado por
dirigente do MEC. Na foto, o dr. Francisco Dário Mendes da Rocha,
Diretor Geral do Canal 11 e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE.
Com as colegas Wanda Phaelante e Alice Rolim.
A NOITE É DO 11
Comandado pelo saudoso apresentador José Maria Marques, o
programa “A Noite é do 11” reunia estudantes da rede de ensino do
Estado.. Como diretor do programa, contei com a valiosa colaboração
do companheiro Sérgio Kyrillos e a participação de toda a equipe
técnica da TVU.
.
RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO
Foram companheiros de todas as horas na TV-Universitária.
O saudoso Rui Cabral se notabilizou com o quadro “Cadeira de
Engraxate”, na TV-Jornal, chegando a entrevistar o então Presidente
da Republica, Juscelino Kubstchek. Maranhão, experiente professor
universitário na área da Comunicação Social, advogado e escritor, foi
diretor administrativo e de Jornalismo do Canal 11. Tivemos alguns
“pegas”, mas todos imbuídos da vontade de fazer o melhor pela
Primeira Televisão Educativa do Brasil.
Capitulo 9
CARNAVAL PELA TVU
Na década de 70 o folião se divertia, preferencialmente, de duas
maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar iam aos clubes sociais
(Português, Internacional, Cabanga, Sport, Nautico, etc.) onde as
grandes atrações eram as orquestras contratadas para tocarem nas quatro
noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson Ferreira, Guedes
Peixoto, José Menezes, Clovis Pereira, Duda, etc. A outra forma, mais
popular, era assistir, no centro da cidade, aos desfiles das agremiações
carnavalescas, que recebiam subvenções da prefeitura para ajudar nas
exibições perante o publico. Algumas agremiações chagavam a arrastar
grandes torcidas ao espetáculo. Entre elas estavam o Clube das Pás,
Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria do Ritmo,
Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José, Banhistas do Pina,
Caboclinhos Sete Flechas, e tantas outras. Local dos desfiles: Avenida
Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram
montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico.
A TV-Universitária tinha uma programação voltada para a
educação e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval,
a TVU se notabilizava ao transmitir os dois grandes bailes pré-
carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os desfiles das
agremiações. Tanto nas quatro noites como no desfile das campeães a
Emissora fazia o registro de tudo, conquistando uma audiência realmente
invejável. Participei desse trabalho, exercendo as atividades de
apreserntador e repórter, e ainda cheguei a comandar um programa na noite
da quarta-feira de Cinzas, intitulado “Balanço do Carnaval”, reunindo
jornalistas, radialistas, dirigentes de agremiações e da Comissão
Organizadora do Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e
negativos dos festejos. Esse programa conseguia movimentar os
carnavalescos, que
Sempre o aguardava com certa ansiedade.
Não posso deixar de reconhecer que fazia tudo com muito
entusiasmo e empolgação . Era um torcedor inveterado, que lutava pelo
engrandecimento do Carnaval mais popular, aquele que nascia na
alma da gente humilde dos bairros mais proletários da cidade.
Infelizmente, a violência e o custo de vida foram modificando hábitos e
costumes do nosso povo. Os desfiles das agremiações já não despertam
o interesse da população, poucos são os bailes carnavalescos e já não
existem frevos como antigamente.
Sem ser saudosista demais, acho que o Carnaval mudou para pior,
lamentavelmente.
Programa “Balanço do Carnaval” - TVU
Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show.
Capitulo 10
O REPORTER
Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o
privilegio de ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape
portátil, mais conhecido por mini-tape, que substituía as câmeras de
filmagem em 16 milimetros. O filme cinematográfico era mais caro e
mais complicado. Exigia laboratório para revelar as filmagens feitas.
O material era editado para tirar as falhas e o editor tinha que redigir o
texto de acordo com o tempo útil do filme finalizado . No caso do mini-
tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o repórter
podia fazer a narração e/ou a entrevista simultaneamente com a captção
das imagens, como acontece hoje em dia.
O primeiro vídeo-tape portátil adquirido pela TV-U consistia em
uma câmera e um gravador, que fazia a gravação em fita magnética.
Prático porque quando não precisava de edição a matéria era transmitida
imediatamente.
Com a mobilidade do VT portátil fiz algumas matérias inéditas.
Por exemplo: mostrar todo o funcionamento do tradicional farol
de Olinda. Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar na área onde
a enorme lâmpada gira durante a noite orientando os navios que passam
pela costa pernambucana. Foi preciso autorização do Comando da Base
Naval para a realização da reportagem.
Outra matéria cheia de lances emocionantes foi o acompanhamento
da Buscada de Itamaracá, num barco meio rústico, que exigiu muito
equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar agitado quase jogou o câmera e
o seu equipamento no mar. Mas, conseguimos realizar a proeza a tempo
de exibir o vídeo no programa “A Noite é do 11”, comandado por José
Maria Marques.
Quando o novo comandante do Segundo Comando Aéreo foi realizar
a sua primeira visita à Base Aérea de Natal (RN), o mini-tape o
acompanhou. Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de
apresentação do novo comandante e retornamos ao Recife. Na volta, o
piloto achou por bem sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o
intestino pela boca...
Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”,
que existia em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, em 1995.
Estava com a pauta da manhã voltada para a chegada no aeroporto do então
Ministro da Educação, Paulo Renato Souza Matéria recomendada até pela
TV-Educativa, do Rio de Janeiro.
No exato momento em que uma Emissora de Rádio divulgou a
ocorrência, que matou sete operários e deixou mais de dez feridos, seguí
para o local, mesmo contrariando a minha equipe que achava mais
importante a chegada do Ministro. Com a câmera postada na frente da
fábrica, fiz a “cabeça” da matéria (repórter em primeiro plano da
ocorrência) registrando ao fundo a passagem das ambulâncias conduzindo
as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar o Ministro e
gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto.
Quando cheguei na redação levei uma bronca do meu chefe, Luiz
Maranhão Filho, alegando que havia me arriscado muito e, contrariando a
pauta, poderia ter perdido a entrevista com o Ministro, que era muito mais
importante.
As duas matérias foram enviadas, naquele tempo via Embratel,
para a edição nacional do Jornal da TV-Educativa, que era transmitido
para todo o Brasil. E a surpresa foi quando o jornal abriu com a matéria
da explosão da fábrica. A entrevista com o Ministro foi exibida no ultimo
bloco do jornal. Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o
município de Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em
2013, fazendo novas vitimas.
Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971,
Cinegrafista Jairito e o repórter Miguel Santos..
Capitulo 11
VERDADE OU MENTIRA ?
Polemico, irreverente, ousado, destemido, “Verdade ou Mentira” foi
um programa que se notabilizou na TV nordestina no ano de 1980.
Ninguém até hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas
conhecidas da sociedade. Foi noticia nos grandes jornais e nas revistas
nacionais de maior circulação, como a “Veja” e “Isto É”. Toda semana
repercutia nas paginas dos jornais com comentários favoráveis e
contraditórios em torno dos personagens que enfrentavam inquisidores
corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber o que
era verdade e o que era mentira em relação aos fatos mais contestadores da
vida dos entrevistados.
O programa considerado de mais “baixo nível” foi com o babalorixá Pai
Edu. Um telespectador chegou a escrever na secção ”Cartas`a Redação”, do
Jornal do Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num
programa de televisão, tendo à sua frente pessoas ilustres como jornalista,
advogado, pastor evangélico, sociólogo e parapsicólogo, ofendeu, de
maneira gritante, não apenas a dignidade da sociedade, mas o nome do
próprio Deus e de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou
daqueles homens ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor
que fizeram tremer os céus e a Terra.”
Outro debate que deu repercussão no Brasil inteiro foi com a deputada
Aracy Nejaim, ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim.
Na Revista “Veja” o caso foi relatado assim:
“PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA EX-MULHER NA TV. –
O Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da
cidade para evitar que o eleitorado local assistisse a uma entrevista da sua
ex-mulher Aracy Alves de Souza, no programa “Verdade ou Mentira”, da
TV-Jornal do Comercio do Recife. No programa Aracy contou a historia
de sua convivência com Nejaim. Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy
acusou o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar
pensões alimentícias.” - A matéria ocupou uma pagina inteira da Revista.
Na “Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX-
MULHER” - a Revista também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com
fotografias do casal.
Eu fazia a produção do programa, com supervisão de Jorge José e
apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por volta das
11 da noite. Havia sempre pessoas que se recusavam a partiripar do
programa pelo impacto que ele causava na sociedade. Lembro que tentei
levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira” o polemico atacante Dario
Maravilha, que jogava pelo Sport. Ele foi incisivo: - “Meu caro, esse
programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...” e revelou quanto
queria em dinheiro para participar. O programa não tinha verba para isso e
Dario não foi “saco de pancadas” no programa.
Outras participações surpreendentes, foram a jornalista Fátima Bahia,
o delegado de policia João Acioly, o vereador Brás Batista, o diretor do
DETRAN Walter Benjamin, o “rei do melaço” Gileno de Carli, o professor
Abdias do Nascimento, que chegou a revelar que o Brasil era o país mais
racista do mundo e terminou abandonando o programa diante das duras
perguntas dos entrevistadores, entre eles o antropólogo Roberto Mota.
Até hoje, não houve um programa de Televisão em Pernambuco que
conseguisse superar a popularidade do “Verdade ou Mentira”. A TV-
Cultura, de São Paulo, mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da
ousada, corajosa e polemica atração da TV-Jornal. De saudosa memória...
Pagina da Revista “Isto é”
Capitulo 12
ELEFANTE E CONFUSÃO
Como produtor-executivo do “Programa Jota Ferreira”, transmitido ao
vivo do estúdio-auditorio da TV-Jornal, enfrentei varias situações
inusitadas. Programa de grande audiência nas tardes dos sábados, sempre
com o auditório lotado, a atração tinha o formato de variedades, com
quadros de calouros, participação de artistas de passagem pelo Recife e
outras atrações, que preenchiam três horas de duração. Era um programa
completo dentro de suas limitações, com quadro próprio de bailarinas,
grupo musical com 7 musicos e tudo que um programa de variedades
exigia. Pelas pesquisas, em muitos sábados o programa superava a
audiência do inesquecível Chacrinha, que mantinha um programa
.semelhante na Rede Globo.
Eu ficava comandando os passos de Jota Ferreira posicionado diante
dele no espaço entre o palco e a platéia. Usava um interfone para me
comunicar com a suíte e o operador do som. Tinha dois bons auxiliares:
Zuca Show e Wilson Silva, este ultimo coordenava os ensaios dos calouros
do programa, no meio da semana.
Os artistas do sul do País, que viam ao Recife, invariavelmente,
participavam do programa para divulgação de seus shows e de seus discos.
A produção se encarregava também de buscar atrações e uma delas fui
encontrar em um circo de categoria internacional que fazia temporada na
cidade. Após assistir ao espetáculo a direção do circo pediu que eu
escolhesse um dos números para apresentar no programa, em troca da
promoção da temporada. Optei pelo elefante que fazia malabarismos.
Sabia que não haveria qualquer problema de espaço físico para que o
animal adentrasse ao palco, porque as instalações da TV Jornal permitiam
grandes montagens.
O elefante chegou com o seu domador na hora marcada. Na ampla
area da cenografia do Canal 2, onde são montados e guardados os cenários
dos programas, fizemos um pequeno ensaio. Jota subiria no elefante e
daria uma volta pelo palco. Quando Jota anunciou o elefante do circo e
este entrou em cena o au ditório veio abaixo. E quando Jota foi pego pela
tromba e jogado no dorso do animal houve até desmaios de algumas
”fanzocas” diante da coragem do apresentador do programa.
Eufórico e emocionado, Jota procurou no final do programa o
fotografo “Lambe-Lambe”, como era conhecido, que costumeiramente
fotografava tudo o que acontecia no programa para depois vender copias
das fotos entre os artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse
para o fotógrafo:
- “Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”
Aí, veio a resposta de “Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir:
- “Seu Jota, a máquina estava sem filme. Eu esqueci de carregar.
Nessa época, não havia ainda a fotografia digital e Jotinha deixou
de guardar para sempre o inesquecível momento em que passeou no dorso
do gigantesco animal...
Uma realização que marcou a historia do programa foi o
“Campeonato das Feirinhas”, reunindo representações das feirinhas típicas
que funcionavam nos bairros do Recife criadas pela Prefeitura, na
administração do Prefeito Gustavo Krause. Os bairros se agitavam e
havia uma concorrência muito saudável entre os feirantes.
A audiência do programa era tão consagradora, que permitiu que
fosse realizado um grande show comemorativo do primeiro aniversário no
no Geraldão, em 1981, com casa lotada e a presença de consagrados
nomes do cenário artístico nacional.
Outro fato inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um
programa. Eu estava passando o nome do próximo cantor, através de uma
“dália” (uma cartolina com o nome que eu mostrava para Jota anunciar –
não existia ainda o ponto eletrônico), quando observei uma agitação entre
as bailarinas. As tapadeiras que compunham o cenário também
balançavam. Não havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do
comum nos bastidores. Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do
cantor e apresentei outra, na qual estava escrito “Chama intervalo”.
Quando os comerciais começaram a ser exibidos corri para saber o
que estava acontecendo. Era Zuca com um revolver na mão, correndo
atrás de um calouro que havia se insinuado para pegar na coxa de uma
das bailarinas. O corre-corre pelos estreitos corredores dos bastidores
apavorou todo mundo. Gritei para Zuca e ele me atendeu:
-“O cabra safado merecia um tiro na testa.”
Acalmei Zuca, ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir aquele
programa que poderia ter dado oportunidade de Jota noticiar mais um
crime como repórter policial em pleno auditório do Canal 2.
Ainda bem que tudo terminou em paz.
Momento de homenagem no Programa Jota
Ferreira. Na foto, Zuca, a bailarina Dalva e o comandante do
programa.
Capitulo 13
MINHA ESTREIA NO CINEMA
Minha primeira e também ultima participação no Cinema foi algo que
me surpreendeu, do mesmo jeito como foi minha atuação ao lado da
estrelissima Bibi Ferreira no teatro.
O cineasta Jarbas Barbosa, irmão do Velho Guerreiro Chacrinha, veio
filmar aqui no Recife “Juventude e Ternura”, o longa-metragem que
marcava a estréia de Wanderléa - Rainha da Jovem Guarda - no cinema.
A cantora estava no auge da fama, com várias musicas nas paradas de
sucesso. Eu trabalhava na TV-Jornal do Commercio, na área
administrativa, e fui encarregado de dar apoio ao evento. Jarbas queria
que a estrela Wanderléa, fosse recebida por uma multidão no aeroporto.
Queria também uma apresentação especial do programa “Bossa 2”,
comandado por José Maria Marques, onde ela faria uma participação como
cantora consagrada pelo publico jovem. Havia também no roteiro do filme
cenas nas praias de Boa Viagem e Candeias e na recepção do Grande
Hotel. Durante uma semana fizemos ampla divulgação dos eventos e tudo
saiu como o cineasta desejou: multidão no aeroporto, auditório lotado e eu
fazendo das tripas coração para que toda a equipe de filmagem transitasse
livremente nas áreas escolhidas para as tomadas de cena. Foi produzida
uma audição especial do programa “Bossa 2”, que era comandado pelo
saudoso José Maria Marques. Além das cenas no auditório, com Wanderléa
cantando acompanhada de conjunto musical e bailarinas e sendo
delirantemente aplaudida pelo público do auditório, foram feitas cenas nos
controles de áudio-e-video, onde o ator Anselmo Duarte, aparece exigindo
um melhor enquadramento na imagem da cantora, já que ele interpreta no
filme o papel de empresário de Wanderléa.
“Juventude e Ternura” é um filme romântico e musical por
excelência. Produzido por “JB Produções Cinematográficas Ltda.”, com
direção do competente cineasta Aurélio Teixeira, fotografia de José Rosa e
direção musical de Erlon Chaves. No elenco, além do consagrado galã
Anselmo Duarte, participam Enio Gonçalves, Bobby de Carlo, entre
outros.
Fiquei o tempo todo colaborando com o diretor do filme e na
cena em que Wanderléa concedia uma entrevista coletiva no hall do
Grande Hotel Jarbas pediu:
- Miguel arranja por aí dois ou três repórteres para participar da cena.
Você mesmo será um deles. Bote paletó e gravata e vá pro hotel. Lembro
que convidei Hélio de Oliveira, que era o produtor do “Bossa 2”, para dar
uma de repórter também.
Nunca pensei que um dia seria protagonista de um filme nacional,
Botei o terno e segui para o hotel. Luzes.... câmeras.... ação. Todos a
postos, após um rápido ensaio, e tudo saiu de primeira. A “avant
premiere” do filme no dia 20 de abril de 1968, teve como patronesse dona
Lotinha Pessoa de Queiroz, que doou toda a renda da bilheteria do Cinema
São Luiz para a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.
Com o cinema lotado, compareci à estréia para avaliar o meu desempenho.
Eu apareço fazendo uma pergunta a Wanderléa, embora minha voz tenha
sido dublada. A cena dura uns 10 a 15 segundos, mas dá prá reconhecer
quem eram os personagens. Quem me conhece logo me identificou na cena.
Matéria publicada no jornal Diário da Noite, em 20/04/1968.
Além de haver permanecido em cartaz por 15 dias no cinema São
Luiz, alguns anos depois o filme foi exibido na Rede Globo e na TV
Educativa, inclusive numa homenagem a Anselmo Duarte no dia de seu
falecimento. Para os incrédulos ou invejosos, informo que tenho o filme
inteiro, gravado em DVD e a foto abaixo é uma cena do filme.
Miguel Santos aparece no filme entrevistando a estrela
Wanderléa. Ao lado, o galã do cinema brasileiro, Anselmo
Duarte, ao lado de Hélio de Oliveira. A cena foi gravada no “hall” do
Grande Hotel, na época o mais luxuoso da cidade.
Wanderaléa numa entrevista para o rádio.Ao meu lado o jornalista Paulo Granja.
Capitulo 14
MEU BAIRRO É O MAIOR
As competições realizadas pela Televisão sempre tiveram uma
boa aceitação por parte dos telespectadores. A experiência começou
na TVU com o programa “A Noite é do 11” e ganhou um vulto maior
quando produzimos o “Meu Bairro é o Maior”, na TV-Jornal do
Commercio. Antes disso, a Emissora já havia realizado um torneio
semelhante envolvendo as principais cidades do interior do Estado.
“Meu Bairro é o Maior” proporcionou uma participação ativa das
lideranças comunitárias, das instituições de ensino, das agremiações
sociais, enfim, de todas as pessoas que se empenhavam para que o seu
bairro conquistasse o premio maior do programa, que era a construção de
uma nova praça por parte da Prefeitura do Recife, que dava apoio
institucional à competição.
O programa tinha um sentido de revelar valores artísticos, dando
oportunidades a novos cantores, compositores, dançarinos, atletas
amadores, além de uma gincana de conhecimentos gerais e um show
livre que era organizado e apresentado pelos próprios bairros disputantes.
A comissão que julgava as tarefas era constituída por jornalistas,
professores, universitários e outros segmentos da sociedade. Durante
praticamente todo segundo semestre de 1973 o programa apresentou cerca
de 24 bairros do Recife, sempre aos sábados na programação noturna do
Canal 2, com direção de Jorge José, apresentação de José Maria Marques,
produção de Miguel Santos e coordenação de Djalma Miranda e Marcio
Maia.
Como a disputa era muito acirrada em vários momentos era preciso
a ação de agentes de segurança para conter os ânimos dos mais exaltados.
Alguns lideres comunitários ficaram mais conhecidos nos seus bairros por
causa da visibilidade do programa, e um deles chegou a se candidatar a
vereador na eleições municipais.
A grande final da maratona foi entre os bairros de Casa Amarela e
Arruda, vencendo este ultimo numa disputa realmente muito empolgante. O
prefeito do Recife em exercício, Wandenkolk Wanderley entregou o
troféu ao bairro vitorioso. Em seguida, os participantes e a torcida que
estavam na Televisão, saíram pela Rua do Lima até ao Arruda,
proporcionando um verdadeiro Carnaval fora de época na cidade.
Outros bairros que se destacaram na competição: Iputinga, Torre,
Estância, Cajueiro, Tejipió, Beberibe, Casa Forte e Vila do IPSEP.
Na página seguinte a reprodução de uma das reportagens que o Jornal do
Commercio costumava fazer a respeito do programa.
Capitulo 15
GUINA, QUANTA SAUDADE
Aguinaldo Batista de Assis, pernambucano de Palmares, era um
moço modesto, sempre bem humorado, corpo franzino, um tanto ou
quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva, um homem de
caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o
gênio do humor nas veias e com o desejo de só fazer o bem.
Conheci Aguinaldo Batista através do comunicador Walter Lins, na
Rádio Clube. Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do
Radio”, editada no Rio de Janeiro e distribuída para todo o Brasil. Eu era
representante-corrrespondente e mantinha uma coluna semanal com as
noticias do radio pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval.
Walter Lins comandava o “Carrocel”, que era apresentado no
pequeno auditório da Radio Clube. Dei a idéia de produzir uma revistinha
carnavalesca para o programa. Ele gostou da sugestão e disse que ia me
apresentar a Aguinaldo, ídolo do grande publico, com seus quadros
humorísticos. Grande parte de sua imensa popularidade se devia ao tipo
“Azarildo”, que ele interpretava no programa “Atrações do Meio-Dia”.
No dia da apresentação, pensei comigo:
- “Esse cara vai me levar na gozação”.
Aconteceu o que eu jamais esperava. Aguinaldo apoiou a minha
idéia, ajudou-me a passar tudo para o papel e realizamos juntos a
revistinha, que teve a participação de atores, cantores, músicos e
dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana seguinte.
Daí em diante, não nos largamos mais. Ficamos amigos inseparáveis.
Para onde um ia o outro ia também. Amigão nosso também era oJosé
Augusto Branco, que ainda atua na Rede Globo morando no Rio de
Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do tamanho de um
elefante, Aguinaldo era admirado por todos, colegas, ouvintes,
telespectadores, todos enfim. Certa feita, ele me confessou:
- “Tem uma mocinha apaixonada por mim. Ela é linda e de família
rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está apaixonada apenas pelo
artista. Esse namoro não pode dar certo”
E acabou o namoro. Conheci a moça, realmente muito bonita e de
família abastada. Mas, Aguinaldo era assim. Extremamente sincero. Não
tolerava ser ingrato com ninguém. Na época em que a Empresa Jornal
do Commercio atravessava dificuldades financeiras, Aguinaldo estava
enfrentando também problemas semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as
pessoas mais próximas dele desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos
Macena num estúdio de gravação. O que fazer para ajudar Aguinaldo de
uma forma que ele não desconfiasse de nada ?
Macena inventou uma historia e deu certo:
- “Aguinaldo, a loja Tiradentes quer um texto para vender rápido 20
geladeiras. Aqui estão os detalhes. Faça o texto logo, porque a loja já
mandou o dinheiro da produção prá voce Aqui está,” – e Macena passou
o dinheiro da cota que fizemos prá ele. Aquinaldo acreditou. Fez o texto,
recebeu o dinheiro e Macena gravou para dar a entender que era tudo
verdade. Só assim ajudamos Aguinaldo a sair de um sufoco, sem que ele
entendesse que era realmente uma ajuda.
Aguinaldo casou-se com a nutricionista e professora, Conceição
Lopes, teve um filho (Guiga) e morava na Madalena. Família feliz, que
vivia na mais completa harmonia.
No ano de 1977, Aguinaldo e Macena comandaram o programa
“Sabado Show”, transmitido do auditório da TV-Jornal aos sábados, à
tarde Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia no comando do
programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil presepadas e
conseguiam fazer o publico rir o tempo todo. Era, por assim dizer, um
programa de variedades ancorado por dois excelentes comediantes.
Doente dos rins, Aguinaldo chegou a se submeter a sessões de
hemodiálise três vezes por semana. Uma batalha contra a morte. Numa
das sessões o coração não resistiu. No velório do Hospital Português, fui
vê-lo pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei
copiosamente. Que Deus o tenha.
Capitulo 16
SHOW DO HOMEM COM “H”
Tive o privilegio de administrar, juntamente com Jota Ferreira e Jorge
José, um show para o mega-empresário Manoel Poladian. Ficamos
responsáveis pela mídia, contatos com as autoridades, logística de
transporte, hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que
nos rendeu um percentual da renda liquida do espetáculo.
Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no
batente. É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não
tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina
Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que
tiveram shows administrados por Poladian. Na relação dos brasileiros
estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal Costa, Caetano Veloso,
Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre outros. Como empresário de faro
aguçado e muita experiência, Poladian costuma também contratar um
artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores
espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a
ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele.
Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo “Secos &
Molhados” para fazer carreira solo. Durante os dois primeiros anos
Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela
irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que
ganharam rapidamente o gosto popular. Depois de se exibir no Anhembi,
em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Ney
trouxe suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com
a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior
show do ano”, o que realmente aconteceu. O espetáculo foi realizado no
dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife. Os ingressos foram
disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram
problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos,
que queriam embargar o show. Os empresários - Poladian, Jota
Ferreira e eu – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos
relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa,
principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite” divulgou com certo
sensacionalismo, os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre
a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses
lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações
contratuais por parte dos empresários.
Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O
Geraldão pegou o maior publico de toda a sua historia. Para mais de 20
mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil
ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos,
quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia.
Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado para conter a multidão. Lembro
que logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por
cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de
Bombeiros estacionada ao lado. Foi nessa hora que a policia pediu para
fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo
queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados.
Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto e
fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à
distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer.
. No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou
como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show do Homem
com H”. E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu,
certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e
causaram toda essa superlotação
O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente
compensação financeira..
Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o
show “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na
voz de Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo
sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas houve um
erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes,
para um publico mais refinado. O ginásio não era local para Gal. Na ânsia
de voltar a ganhar muito, perdemos tudo, pelo menos o trabalhão que
tivemos.
Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço:
- “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....”
(Nas paginas seguintes, alguns recortes dos jornais noticiando as
broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios
ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos
os jornais da época).
Capitulo 17
MEU ENCONTRO COM LULA
Ao assumir a direção da Massangana Multimídia, a produtora de vídeo
da Fundação Joaquim Nabuco, o meu amigo Jorge José Santana me
convidou para participar de alguns projetos da instituição. Um desses
projetos tinha o patrocínio da SUDENE e se destinava a ressaltar a
importância dos incentivos fiscais oferecidos pela autarquia de
desenvolvimento do Nordeste. Os vídeos me levaram a conhecer
destacadas empresas localizadas na região, entre as quais uma industria
de plástico no Distrito Industrial de João Pessoa, uma empresa de
confecções em Natal-RN, a Raymundo da Fonte em Paulista-PE, entre
outras.
Mas, o projeto que mais me emocionou foi o denominado “Nomes
que fazem a diferença”, no qual eram ressaltadas personalidades publicas
que se destacaram em vários segmentos da nossa sociedade. Tive o
privilegio de produzir os vídeos sobre o empresário Armando Monteiro
Filho, o ex-governador Cid Feijó Sampaio e o ex-prefeito do Recife, José
do Rego Maciel. O trabalho consistia em realizar pesquisas sobre cada um
dos entrevistados, obter depoimentos de pessoas do seu rol de amigos,
companheiros de trabalho e familiares, elaborar um roteiro para as
entrevistas comandadas pela experiente apresentadora Carmen Peixoto e,
finalmente, ilustrar a edição, com imagens recentes e/ou colhidas dos
álbuns de família dos entrevistados.
Durante toda essa minha experiência profissional fui repreendido
publicamente duas vezes. A primeira quando tentei captar imagens do dr.
José do Rego Maciel e família assistindo missa na Capela de Jesus Menino
de Praga, existente na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem.
Cheguei cedo com a equipe, instalamos a câmera, iluminação e som para a
captação da missa e da presença de familiares. Na época, o filho do
homenageado era o Vice-Presidente da Republica, Marco Antonio Maciel.
Poucos minutos antes da missa duas viaturas da Policia Federal chegaram à
Igrejinha, fazendo o cortejo de segurança do carro que conduzia o vice-
presidente. E logo que ele entrou no recinto e viu o nosso “circo” armado
mandou um dos seguranças solicitar delicadamente a nossa retirada do
local, porque não queria que aquele momento íntimo da família fosse
registrado por câmeras, luzes e tudo mais. Fiz o que foi solicitado, mas o
câmera foi orientado por mim para buscar, mesmo de longe e sem a
iluminação adequada, algumas imagens do dr. José do Rego Maciel
ajoelhado, rezando, ao lado do filho. Essas mesmas imagens foram
colocadas no vídeo e causaram a emoção tão esperada por todos nós.
A segunda repreensão foi do empresário Armando Monteiro Filho.
Na lista que tinha sobre os seus grandes amigos estava o nome de Luiz
Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a Presidente da Republica.
Demonstrei a Jorge José a minha disposição de ir à Brasília ou à São Paulo,
onde ele estivesse, para obter o depoimento de Lula para o documentário.
Mas, o projeto não dispunha de verba suficiente para essa despesa.
Pesquisei por onde andava Lula e, coincidentemente, ele estava agendado
para receber uma homenagem em Petrolina e que, depois, viria para o
Recife. No dia da homenagem, segui com a equipe para o Aeroporto dos
Guararapes. Em nenhum balcão das empresas aéreas havia o registro do
passageiro Luiz Inácio Lula da Silva. Fui bater com os costados na
Infraero e lá me orientaram para procurar os hangares das empresas que se
utilizam de aviões particulares. Dito e feito. No hangar da Empreiteira
Queiroz Galvão confirmei a chegada de uma aeronave vinda de Petrolina
com o precioso passageiro. Montei meu esquema para gravar o
desembarque de Lula e logo em seguida o depoimento que ele certamente
daria se referindo ao dr. Armando, mas eu não contava que o homenageado
estaria também na recepção. Quando o dr. Armando me viu, foi
categórico:
- “Por favor, não fica bem essa ostentação para o nosso encontro
que não é publico. É encontro muito reservado...”
- “Dr. Armando, vamos ficar escondidos. Lula não vai notar que
estamos aqui. Só depois que o senhor se retirar é que vou conversar com
ele e explicar a nossa intenção.” – foi o que eu disse.
Lula recebeu um forte abraço do dr. Armando ao descer do avião.
Conversaram por um período e, em seguida, dr. Armando foi embora.
Fui ao encontro de Lula, expliquei o que estava buscando e ele, de
imediato, se propôs a dar o depoimento. Enquanto urinava no
banheiro da sala vip ele perguntava detalhes do trabalho que eu estava
realizando. Ainda no banheiro, trocou de camisa, penteou os cabelos
e disse: - “Estou pronto para falar.”
A câmera foi ligada e ele começou:
- “A minha relação de amizade com dr. Armando Monteiro é
uma relação, eu diria, até um pouco recente,. Primeiro, eu conhecia dr.
Armando de leituras sobre o Governo João Goulart; depois eu me inteirei
umn pouco mais sobre dr. Armando nas conversas com Brizola; depois
euconheci um pouco mais dr. Armando nas eleições de 1994, quando ele
era candidato a Senador , e aí eu acho que reside a interação das pessoas.
Como é que nasceu essa nossa amizade ? Eu estava em Petrolina, nós
íamos fazer um comício, eu era candidato a Presidente pelo PT, o Armando
Monteiro era candidato ao Senado na chapa de Arraes, mas apoiava o
Brizola enquanto candidato a Presidente da Republica, e quando dr.
Armando foi falar , o publico de Petrolina, uma parte do publico, deu uma
vaia no dr. Armando. E vaiaram Dr. Armando porque ele falou o nome do
Brizola, ou seja, eu era o presidenciável que estava no palanque e ele
defendeu o nome do Brizola, e por isso deram uma vaia no Dr. Armando.
Eu fiquei pensando que o Dr. Armando estava certo, ele tinha mais era que
defender o Brizola, afinal de contas ele era o candidato do partido do
Brizola, e Brizola era candidato como eu e não era pelo fato de eu estar
naquele palanque que Dr. Armando teria que mudar e me apoiar, porque aí
, com seria virar a casaca da forma mais esdrúxula possível. Foi pensando
assim que eu construí no meu imaginário um respeito muito grande ao
Armando Monteiro (.....) Eu tenho um profundo respeito pelo Armando,
pelo seu passado político, mas sobretudo pelo seu caráter e pelo seu
comportamento ético (....) e prá mim a ética é muito importante neste
Pais onde os governantes são ladrões, onde os políticos são corruptos,
onde delegado rouba, policial rouba, governante rouba, juiz rouba. Quando
a gente encontra um homem honesto, a gente tem que estender a mão e
falar: - “é com esse que eu vou”.
O video documentário sobre Dr. Armando Monteiro Filho foi
lançado no Cine-Teatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, no dia
6 de dezembro de 2000 e foi noticia em todos os jornais. Na ultima pagina
deste capitulo, reproduzo uma matéria que foi publicada na “Folha de
Pernambuco”, com fotos sobre o evento.
E sobre Dr. Cid Feijó Sampaio resta a grata satisfação de ter me
aproximado de um homem que eu já admirava como governante, que lutou
pelo desenvolvimento industrial de Pernambuco. Dr. Cid era um politico
obstinado, impetuoso, inovador, um autentico líder empresarial e um
gestor de extraordinária competência no zelo pela causa publica.
Capitulo 18
MISTER JOHN
Houve um período - em um ano que não me recordo - que a carne
bovina desapareceu do mercado. Do mercado só, não: do açougue,
do matadouro, do frigorífico, de todo canto. Não me atrevo a explicar
os motivos desse sumiço porque realmente não me lembro mais. Foi
a “crise do boi”. Quem adorava saborear um churrasco, uma picanha
ou mesmo uma carne moída ficou na pior. O “black-out” da carne foi
geral, tanto das carnes nobres como das partes mais populares do boi.
Foi nesse clima de total abstenção da carne bovina que os meus
companheiros Marcos Macena e Jorge José chegaram com uma boa
noticia:
- “Mister John vai matar um boi na fazenda dele e convidou a
gente. Vamos lá ?” - Macena fez a pergunta prá mim. Jorge José
explicou:
- “ É um amigo da gente. Ele é americano. Está há bem pouco
tempo no Brasil e tem uma fazenda em Tapera”.
Tapera chama-se hoje Bonança e fica no município de Moreno.
Louco prá comer e levar prá casa um fardo de carne ou, pelo menos,
um quilo, aceitei o convite dos colegas e lá fomos no carro de Jorge
em direção à então Tapera. A conversa dos amigos era sobre Mister
John:
- “Como é que um cara como Mister John deixa os Estados
Unidos prá vir morar nesse fim de mundo....”
- “Mas, ele soube aplicar o dinheiro que trouxe. Tem uma
bela fazenda, muito gado e vive feliz com a família. Isso é o que
importa.” – complementou Macena para Jorge concluir:
- “Mister John é um homem feliz mesmo, porque tem uma
mulher loura muito bonita de olhos azuis como ele e duas
crianças que são uma gracinha...”
As opiniões de Macena e Jorge eu ouvia sem poder fazer
um comentário, porque ainda não conhecia Mister John, embora
estivesse cada vez mais ansioso para dar de cara com ele.
Chegamos em Tapera. Deixamos a BR-232 para entrar numa
rua sem pavimento, cheia de buracos. Macena explicou:
- “Não se espante com o lugar, Miguel. A fazenda de Mister
John é meio escondida...fica lá no alto.” – e apontou para um morro.
Jorge dirigia o carro subindo e descendo em ruelas e becos
tão apertados que o veiculo passava roçando os casebres. Diante de
uma casinha bem modesta de porta e janela, o carro parou. Um cara
de meia idade, poucos dentes na boca, barba por fazer, rodeado de
dois meninos bochudos, se aproximou e foi dizendo:
- “Veio buscar carne, dotô” ?
- “ gente veio, sim, Mister John...” – e com uma gargalhada
Macena olhou prá mim. O cara não entendeu a brincadeira, mas eu
senti na pele a gozação. Mister John não era outro senão aquele
cidadão sem camisa, pitando um cigarro, que logo entrou no barraco
onde morava, chamando a gente para segui-lo. No quintal, estava a
“preciosidade”: pedaços de carne ensangüentada em uma bacia de
banho. Ossos em outro vasilhame. Não havia muita higiene e muito
menos a fiscalização da Vigilância Sanitária. Era como se estivesse
ali um produto contrabandeado. Um abate de carne clandestina. O
preço do quilo meus dois “muy amigos” já haviam combinado. Só
que era uma venda casada. Ao levar um quilo de carne tinha-se que
levar também um quilo de osso. Mister John, dirigindo-se a mim,
explicou:
- “Não pode sobrar nada. Com o osso, dotô, o sinhô faz uma
sopa....” Eu concordei com ele. Só não concordei com a gozação
dos dois companheiros... Mister John era uma figura de ficção criada
pela imaginação fértil do excelente produtor de Televisão, Jorge José
e pelo talentoso ator e locutor, Marcos Macena, duas importantes
”figuraças”, pelas quais tenho grande admiração
Marcos Macena, talentoso locutor, ator e comediante, com
quem convivi em várias oportunidades, inclusive na visita a Mister John.
Capitulo 19
LUIZ GONZAGA
O REI DO BAIÃO
Apesar de ter sido produtor de diversos programas de rádio e
televisão, inclusive alguns de auditório, foram poucas as oportunidades
que tive de contatos com Luiz Gonzaga – o Rei do Baião. Três momentos,
porém, marcaram definitivamente a minha vida em relação a esse artista
que se imortalizou como o maior divulgador da musica nordestina.
Lembro de Gonzaga dando uma entrevista no programa de Samir
Abou Hana na Radio Tamandaré num ano que não me recordo mais. A
segunda oportunidade foi mais marcante. Como produtor do “Programa
Jota Ferreira”, mantinha uma equipe de jurados para avaliar o quadro de
calouros, que era uma das grandes atrações do programa transmitido aos
sábados, à tarde, do auditório da TV-Jornal. Uma das juradas era Edelzuita
Barros, uma moça muito simpática, que àquela altura era “namorada” de
Gonzagão. Eu não sabia dessa amizade. Quando decidimos realizar um
grande show no Geraldão para assinalar a passagem do primeiro
aniversario do programa, mais de uma dezena de artistas famosos vieram
do sul do pais para participar da festa. E entre eles estava “seu” Lula.
Antes de o espetáculo começar, fui até a área destinada aos artistas para
anotar os nomes dos que já haviam chegado e me deparei com Edelzuita,
que, ao me ver, correu para me abraçar e me beijar como fazia sempre de
um modo muito carinhoso e respeitoso. Não observei que Gonzagão estava
ao lado dela com uma cara de poucos amigos. Edelzuita percebeu o clima
e disse pro grande artista de Exu:
- “Gonzaga, este é o produtor de Jota Ferreira, que me dá a feliz
oportunidade de participar do programa. É um grande amigo meu”
“Seu” Luiz apertou minha mão, mas senti que o ciúme tomava
conta dele naquele momento.
Edelzuita foi o ultimo grande amor de Gonzagão. Com muita
dedicação e carinho, ela acompanhou sua agonia no Hospital Santa Joana,
onde ficou internado até o fim de sua vida. Como repórter da TVU, estive
por mais de uma vez no hospital e entrevistei o medico que o acompanhou
nos últimos momentos de sua vida.
No dia do velório no plenário da Assembléia Legislativa, lá
estava eu de novo me encontrando com Luiz Gonzaga, desta feita numa
situação extremamente triste: ao lado de sua urna funerária. A TVU
mostrou ao vivo as enormes filas que se formavam ao longo da Rua da
Aurora e as pessoas mais ilustres que chegavam para velar o corpo do
inesquecível artista. Entrevistei, na ocasião, Rosemary, Gonzaguinha,
Reginaldo Rossi, Alcymar Monteiro, entre outros. Eu estava ao lado do
caixão com o microfone da TV, quando chegou o Arcebispo de Olinda e
Recife, Dom Helder Camara para celebrar a missa de corpo presente.
Quis ouvir alguma palavra do nosso inesquecível Arcebispo e perguntei:
- “Dom Helder, um momento de muita dor para todos nós...?”.
Ele encerrou a entrevista sem começar, Disse apenas:
- “O momento é de silencio e prece, meu filho”.
E fiquei com a cara no chão.
Instantes depois, o corpo de Luiz Gonzaga seguiu numa viatura
do Corpo de Bombeiros para o aeroporto militar, onde um avião o levou
para Exu, sua ultima morada.
Capitulo 20
ROBERTO CARLOS EM TRÊS ATOS
A primeira vez foi quando o Rei da Jovem Guarda ainda despontava com
o seu primeiro sucesso: “Calhambeque”. Eu era assistente da Supervisão
Administrativa da TV-Jornal. Naquela época, o organograma da
Emissora era dividido por supervisões – a Administrativa, a Artística, a
Técnica. Eu fazia parte da administrativa, tendo como meu chefe o
inesquecivel Mayerber de Carvalho, de quem guardo muitas lembranças e
de quem sou profundamente grato por ter me orientado nos primeiros anos
das minhas atividades no Radio e na Televisão.
Voltando a Roberto Carlos. Ele tinha vindo participar do programa
“Noite de Black-tie”, o super-programa de auditório dos sábados
comandado por Luiz Geraldo. A supervisão administrativa ocupava uma
sala ao lado do gabinete da superintendência e nessa noite, além do
Superintendente da Empresa JC, Paulo Pessoa Queiroz, estava também o
fundador F. Pessoa de Queiroz, então Senador da Republica, e alguns
familiares, inclusive alguns adolescentes netos do grande empresário de
comunicação. Além de cuidar da burocracia da Supervisão Administrativa,
eu me ocupava também de dar assistência ao Superintendente, quando ele
lá estava em seu gabinete. Nessa noite, terminada a apresentação de
Roberto Carlos no palco-auditorio, que era o Estúdio A do Canal 2, dr.
Pessoa fez o pedido:
- Peça pro Roberto vir até aqui para que meus netos possam
cumprimentá-lo” - saí, então, como uma bala pelos corredores da
Emissora até encontrar Roberto Carlos já dentro do carro estacionado na
porta lateral de acesso ao estúdio onde havia se apresentado. Fui direto ao
assunto, sem passar pelo seu empresário:
- ”Roberto, o senador F. Pessoa de Queiroz gostaria de
cumprimentá-lo.”
Roberto foi atencioso, mas respondeu que estava muito cansado e
que receberia, sim, o senador mas no hotel onde estava hospedado.
Voltei com o sentimento de ter fracassado na missão que me havia sido
confiada, mas como sempre fui uma pessoa que entendia os sentimentos
das pessoas, principalmente de um cantor que, pór ter sofrido um acidente,
tinha ainda dificuldades de andar e até de subir lances de escadas como
teria que fazer para chegar ao gabinete do Senador, transmiti o recado de
Roberto, informando que ele o aguardava no hotel.
Dr. Pessoa juntou a família, e mais que depressa rumou para o Hotel
São Domingos, na época o melhor existente no centro do Recife. Lá,
Roberto Carlos recebeu os netinhos e familiares do homem forte da
comunicação em Pernambuco e então Senador da Republica.
O segundo ato dos meus três encontros com Roberto Carlos foi no
então Hotel Othon Palace, em Boa Viagem. Já era considerado um
grande ídolo do Brasil. Tanto que a imprensa foi convocada para.uma
entrevista coletiva. Compareci na condição de produtor executivo do
“Programa Samir Abou Hana”, da Radio Tamandaré, líder de audiência
na época. Dois fatos marcaram esse meu segundo encontro com Roberto
Carlos. O primeiro deles ocorreu já no finzinho da entrevista. Tinha sido
encarregado por Samir de obter algo que eu próprio não esperava que fosse
conseguir. Mas, engatei o pedido inusitado para o meio do ano:
- “Roberto, grava uma mensagem de Natal para os ouvintes da Radio
Tamandaré”
Lembro que Roberto deu uma gostosa gargalhada:
- “Mas, bicho, mensagem de Natal em pleno mês de maio ?”
A “risadagem” tomou conta da sala inteira. Os puxa-sacos queriam
agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a todos:
- “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este ano ao Recife e esta é a
oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou atendê-lo, cara.
Prepara o gravador. E mandou ver uma mensagem de Natal exclusiva para
a Radio Tamandaré e ainda emendou com outra para o Fim do ano.
Samir agradeceu a minha valiosa conquista e a Tamandaré teve o
privilegio de irradiar uma mensagem natalina personalíssima naquele ano
na voz do não menos consagrado ídolo de todos os brasileiros.
Nessa mesma coletiva, eu fui mais longe. Quando RC se preparava para
sair, novamente lhe indaguei:
- “Daria prá você cumprimentar um companheiro que está no estúdio,
nesse momento, fazendo um programa com suas musicas ?”
- “Pois, não. Liga prá ele, cara “
Imaginem o sufoco. Um telefone extensão na sala vip do hotel para eu
ligar para a central técnica da Radio. Fiz primeiro o contato com a
telefonista do hotel, que imediatamente me colocou em contato com Biu
Montanha, o operador da central da Radio Tamandaré. Biu não quis
acreditar no que eu dizia. Chamou o saudoso Rui Cabral, que era o
produtor de Ednaldo Santos, que estava no estúdio realmente comandando
um programa entremeado de musicas do rei RC. Convencer Rui que eu
estava com RC diante de mim e que ele ia falar ao vivo com Ednaldo
Santos foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Rui não
queria acreditar. Pensava que era uma das minhas brincadeiras.
Até que de tanto insistir, ele mandou Biu “linkar” a linha com o estúdio.
Quando Ednaldo Santos (fã ardoroso de Roberto) disse, sem acreditar:
- “Parece que o Roberto Carlos está na linha...”.
Roberto cortou:
- “Estou sim, Ednaldo Santos. Boa tarde, bicho.”
Ednaldo quase cai da cadeira. Foi um papo de quase meia hora.
Roberto em pé, os assessores cobrando-lhe o fim do telefonema, e Roberto
no maior papo com Ednaldo Santos. Para o querido comunicador que hoje
atua no Radio Jornal, foi uma das maiores emoções de sua vida.
O terceiro e ultimo ato dos meus encontros com Roberto Carlos se
deu no Geraldão. Samir Abou Hana, líder de audiência já na Radio
Globo, tinha uma entrevista agendada com o idolo em seu camarim no
proprio Geraldão, onde realizaria um grande show de casa lotada. RC
chega sempre muito cedo aos locais onde se apresenta para se ambientar,
passar o som, fazer um pequeno ensaio, e até relaxar antes do espetáculo.
Nessa tarde, chegamos por volta das 4 horas.Eu também trabalhava no
Jornalismo da TV-Universitaria e apoveitando o momento achei que podia
também gravar uma ,entrevista para a TVU e uma equipe foi escalada
também para o local.
Fim da entrevista gravada por Samir fiz o pedido a Roberto:
- “Podemos gravar uma mensagem para a primeira Televisão Educativa do
Brasil ?,”
Roberto foi sincero. Estava ali muito à vontade, de cara limpa, e que
preferia que a entrevista fosse dada antes do show. E aí foi que eu passei a
admirar o grande artista. Ele mesmo produziu a entrevista como se fosse
um editor de jornalismo. E explicou como tudo deveria acontecer:
- “Você chega na porta aqui do camarim, dá uma batidinha, eu abro, você
conversa comigo aqui na porta, eu me despeço e subo aquela escada
como se fosse para o palco. Você, então, edita a minha imagem já no
palco e começando o show. Tá legal assim, cara ?”
Tava mais do que legal. E foi assim que aconteceu. Uma matéria
elaborada pela imaginação do excepcional artista.
Capitulo 21
CLAUDIA & GARIN
A cantora Claudia Barroso, ainda com uma certa projeção no cenário
musical brasileiro, resolveu vir trabalhar no Recife como apresentadora de
um programa de auditório. Fez contrato com a TV-Jornal em 1979. Fui,
então, indicado para produzir o programa. Mas, tanto ela como o marido, o
empresário José Roberto, talvez não tivesse confiança no meu trabalho.
Na semana da estréia do programa, eles convidaram Humberto Garin,
diretor do setor musical do SBT para dar uma olhada no meu trabalho.
Veio ao Recife, leu o roteiro do programa e acompanhou o ensaio. Depois,
disse para Claudia:
- “A produção do programa está bem entregue. Não sei o que vim
fazer aqui.” – e teceu elogios ao meu trabalho.
O programa estreou e seguiu seu rumo, sem maiores complicações.
Só que o marido de Claudia era um fascinado pela mulher. Achava-a a
estrela maior da Televisão brasileira. E caiu no mercado publicitário para
vender as cotas do programa, cotas que custavam mais caras que as
inserções no Jornal Nacional, da Rede Globo. O mercado publicitário não
reagiu favoravelmente e o programa começou a definhar pelo lado
economico. Meu cachê estava atrasado três meses quando eu senti que o
mesmo acontecia em relação ao pagamento do contratado firmado com a
Televisão. Nesse ínterim, o casal, que tinha ainda a companhia da filha de
Claudia e o marido, deixava o Hotel São Domingos, onde estava
hospedado para ir morar num apartamento de cobertura do dono do hotel,
que ficava na Av. Agamenon Magalhães, próximo do Hospital da
Restauração. Pelo menos, o hoteleiro se livrava da diária com
alimentação no hotel.
Foi quando a TV não agüentou mais o prejuízo e cancelou o
programa, que, por sinal, tinha razoável audiência. O meu prejuízo não foi
maior porque recebi umas letras promissórias para descontar mensalmente
de uma loja de confecções. Sabendo da situação, o lojista se aproveitou
para não me pagar em dinheiro. Virou permuta e eu reforcei meu guarda-
roupa com ternos, calças, camisas, cuecas, etc.
Claudia Barroso em foto recente
Uma coisa valeu: a amizade com Humberto Garin. Meses depois
do cancelamento do “Programa Claudia Barroso”, Garin me pediu para
indicar dois cantores amadores entre os muitos que participavam dos
quadros de calouros dos programas da TV. Teria que ser um casal para
participar de uma disputa em São Paulo. Tratava-se da sequencia “A Mais
Bela Voz do Brasil” do programa comandado por Jota Silvestre no SBT.
Convoquei, então, Ivan Sales e Valdete Tavares, efetivamente dois
excelentes cantores que ainda não haviam assumido o profissionalismo.
Segui com eles para a capital paulista. Era uma segunda-feira. E tudo foi
muito rapidinho. Chegamos pela manhã. À tarde, os cantores já ensaiavam
com a grande orquestra do maestro Milani. Lembro que em dado momento
Jota Silvestre, que assistia ao ensaio, disse baixinho pro maestro:
- “Essa dupla de Pernambuco vai ganhar e aí não vai dar...”
O antipático apresentador se referia ao fato de que a jogada do
programa era que os artistas de Pernambuco perdessem para os cantores
do Rio de Janeiro e os dois representantes cariocas enfrentariam, na
grande final, os cantores de São Paulo. Ainda havia por cima a questão de
que o programa não era exibido no Recife.
O risonho (só no vídeo) Jota Silvesre anunciou Ivan Sales e o garoto
começou a cantar houve de tudo: o m icrofone falhou, a orquestra atrasou,
mas a platéia aplaudiu assim mesmo. A mesma coisa aconteceu com a
Valdete. No fim, a comissão julgadora (já devidamente preparada) deu a
vitoria aos dois cantores cariocas. Nos bastidores, todos os jurados foram
unânimes em afirmar que os pernambucanos foram melhores que os
cariocas. Sandra de Sá, uma das juradas, chegou a se desculpar:
- “Vocês foram maravilhosos. Só que o resultado já estava escrito,
sabe como é, né ?”
Manhã do dia seguinte, ao sairmos do hotel no Largo do Arouche
para um passeio pelo centro da cidade, várias pessoas pararam a gente para
se referirem ao resultado desastroso da competição.
Mas, o publico não entende esses macetes, porque na TV o que
importa mesmo é a audiência... Garin prometeu mandar o vídeo-tape do
programa. Estou aguardando até hoje....
Capitulo 22
O MUNDO QUE CONHECÍ
Conheci o México City e Bogotá (Colômbia), simultaneamente.
Passei um mês em cada uma, no ano de 1971. Escolhido para representar
a TV-Universitária no projeto de intercambio das televisões educativas
da America Latina, patrocinado pela OEA – Organização dos Estados
Americanos, participei de um estágio de observação nas duas capitais.
Juntamente com a saudosa companheira de trabalho, Ivanise Palermo.
Aprendemos muito pouco durante a viagem, porque em matéria de
comunicação o Brasil sempre foi bastante avançado e criativo. O que
restou da viagem foi o turismo que fizemos. Nos finais de semana, dentro
da programação traçada, tive o privilegio de conhecer pontos turísticos
inesquecíveis. O México, chamada de “Cidade dos Palácios”, possui
monumentos arquitetônicos suntuosos, como o Museu de Antropologia,
que a pessoa leva pelo menos dois dias para conhecer o acervo de peças
arquologicas, artesanais e folclóricas do país; a Catedral do México, o
Palácio Nacional, o Palácio de Belas Artes; a Praça das Três Culturas; a
Cidade Universitária; o Estádio Azteca, onde o Brasil se sagrou tri-
campeão na Copa do Mundo de 1970; e a Torre Latimo-americana, com 47
andares, de onde se pode ver toda a Grande Capital; estivemos também em
Xochimilco, onde barcos decorados com flores circulam por canais
atraindo turistas; e a fantástica Praça das Pirâmides Aztecas, em San Juan
de Teotihuacán.
Uma coisa não me agradou: a culinária mexicana, muito carregada
na pimenta. Outra coisa que atrapalha é a altitude. México fica há quase
800 metros acima do nível do mar. Quem não está preparado se cansa logo
nos primeiros passos.
Encontrei Bogotá em crise política intensa. Muito pouca segurança
nas ruas. No segundo dia, os jornais noticiaram a morte de passageiros e
do motorista de um ônibus que trafegava pelo centro da cidade e foi alvo
da ação de terroristas. Os recepcionistas do hotel onde estava hospedado
me aconselhavam sempre a não sair sozinho, principalmente à noite. Fui
proibido até de atravessar a rua para comprar cigarros. Mas, apesar de
tudo, tive a oportunidade de assistir a uma tourada, na principal praça
de touros da cidade. Não gostei dos trejeitos do toureiro, mas ele
ganhou a parada para o touro e foi muito ovacionado pela torcida. Ambos
saíram carregados: o toureiro pelo triunfo alcançado. O touro porque
morreu em praça publica. O espetáculo lembra as épocas remotas em que
leões devoravam seres humanos para alegria do povo.. Ainda em Bogotá,
conheci o Salto de Tequendama, uma queda dágua muito parecida com a
que existe na cidade de Canela (RS),
A cascata tem 140 metros de altura, há pouco mais de 40 quilometros da
Capital. Na primeira vez, só ouvimos o som da água caindo,. Um forte
nevoeiro escondeu de nossos olhos essa beleza da Natureza. No dia
seguinte, o tempo continuava nublado, mas não existia o nevoeiro e
conseguimos visualizar o maravilhoso espetáculo.
Durante um curso de radio educativo, realizado no Rio Grande do
Sul, reunindo profissionais de todo o país, ocorreu a chance de pisar em
outro solo estrangeiro. Era um fim de semana majs longo – o feriado de
8 de dezembro caiu na sexta-feira e os companheiros mais abastados e que
moravam em Estados próximos decidiram causar inveja na gente, os
“matutos” do norte-nordeste. Eles decidiram passar o fim de semana em
Buenos Aires e como a nossa grana (já era o finzinho do curso, que durou
25 dias), não dava para vôos mais altos, resolvemos participar de um
pacote turístico até Montevidéu, com passagens pelas praias de Punta Del
Leste e Piriápolis. Participaram da excursão meu conpanheiro
pernambucano Washington França, um amazonense e um cearense.
Saímos as 7 da noite do centro de Porto Alegre e as 7 da manhã estávamos
em Montevidéu. O passeio foi maravilhoso. Conhecemos Punta Del Leste,
famoso laneário do litoral uruguaio e outras regiões litorâneas. Ficamos
num hotel 3 estrelas no centro da cidade e conhecemos os pontos turísticos
no mesmo ônibus da nossa viagem. Chegamos de volta a Porto Alegre as 7
da manhã da segunda-feira. Para quem não tinha grana pra gastar em
Buenos Aires a gente se contentou com Montevidéo.
Por duas vezes estive nos Estados Unidos, precisamente em
Orlando e Miami, acompanhado por Samir Abou Hana, que já conhecia o
caminho. Orlando é um verdadeiro sonho. Depois que Walt Disney decidiu
fazer dela o lar de Mickey e seus amigos e criar a Walt Disney World, a
cidade transformou-se uma metrópole que recebe milhões de visitantes de
todo o mundo. Os parques temáticos são atrações obrigatórias, onde os
sonhos e a ficção se tornam realidade: Universal Studios, Walt Disney
Magic, Epcot Center, MGM Studios, entre outros. Ficamos hospedados no
Hotel Holiday in, na International Drive, a principal avenida do centro
turistico de Orlando a poucas quadras do Wet`n Wild, o melhor parque
aquático das Américas.
Um desses centros de diversão mais procurados é a Universal
Studios, onde são apresentadas tecnologias de efeitos especiais de filmes
consagrados, como “King Kong”, “”Tubarão”, “Terremoto”, no meio dos
quais nos tornamos personagens vivos. Um dos que mais nos atraíram foi
A criação de Stephen Spielberg. Dentro de um barco umas 10 a 15
Pessoas saem num passeio pela replica do Porto de Amity, momento em
que surge um enorme tubarão branco de 3 toneladas de puro terror. Ondas
De excitação tomam conta dos visitantes a cada ataque da selvagem
criatura. Uma mistura de diversão e medo provoca a emoção, enquanto
enormes chamas circundam os visitantes. Explosões ecoam em todas as
direções levando os atônitos passageiros a confundir imaginação e
realidade. Cinemas em 3D, com poltronas moduladas, que giram de acordo
com os movimentos do filme, replicas de filmes de faroeste,
e o incrível vôo que fazemos no assombroso “De volta para o Futuro”,
onde uma das recomendações é não ter problemas cardíacos para
enfrentar a extraordinária sensação de voar pelo espaço.
No Parque da Disney a gente volta a ser criança. Tudo é fantasia.
Um imenso parque de diversões, onde milhares de pessoas, entre adultos e
crianças se deslumbram com a mágica sensação de causar uma emoção
diferente e o encantamento de brincar com os personagens que se tornaram
imortais no cinema. Ainda tem o Epcot Center, onde estão fabulosas
atrações construídas com a mais avançada tecnologia e a presença de onze
países do mundo, que exibem sua arquitetura, artesanato e gastronomia.
Por ultimo Miami, na região sul dos Estados Unidos onde a cultura
latina e espanhola se misturam tornando uma cidade à parte. Localizada no
litoral, Miami tem 15 milhas de praias, sendo a mais conhecida Miami
Beach. O comercio de eletro-eletronicos é a grande atração para os
turistas, valendo destacar a presença de muitas lojas de brasileiros. No
porto, há sempre um luxuoso transatlântico aguardando passageiros para as
rotas turísticas pelo Caribe. No centro, um metrô de superfície percorre os
pontos turísticos para facilitar o conhecimento do que existe de mais
significativo na cidade.
Estive em Orlando e Miami por duas vezes. Se a idade e as
finanças permitirem algum dia voltarei por lá para rejuvenescer alguns
anos da minha vida....
O ENORME GLOBO DO “EPCOT CENTER”.\
Capitulo 23
SER ARTISTA É QUASE ISSO....
Abraçar uma carreira artística é desprezar qualquer outra coisa. É ser
fiel, eternamente fiel à gloriosa atividade de transmitir ao povo a arte pela
arte. O artista autêntico vive do presente, esquece que existe o futuro e
não se prepara para enfrentá-lo. Muitos deles sofrem profunda depressão
quando as luzes da fama se apagam. Uns porque ficaram pobres, outros
porque deixaram de ouvir o aplauso tão gratificante e que representava o
alimento da própria alma.
Essa reflexão é para afirmar que conheci muitos artistas que achavam
que jamais seriam esquecidos pelo publico ou que o tempo jamais os
haveria de levar à solidão e ao abandono. A fama seria eterna. Um
exemplo disso tem um nome: Roberto Bozan. Para quem não o conheceu
traço um perfil da pessoa. Era um cantor popular, de origem humilde, que
interpretava bolerões que algumas pessoas conhecem hoje como bregas.
A chamada musica de ”roedeira”, que tocava muito nas radiolas de ficha
que existiam em profusão nos bares e gafieiras da cidade. Bozan era
famoso, tão famoso que chegou a gravar muitos discos de vinil na
gravadora Mocambo, a única do gênero do Nordeste, que prestigiava os
artistas da terra produzindo e distribuindo discos para toda a região. Bozan
era um dos artistas que mais vendiam no mercado fonográfico. Suas
musicas eram divulgadas intensamente pelas Emissoras de Rádio. Os
grandes artistas que faziam sucesso no disco também cantavam nos
programas do Rádio Jornal e da Rádio Clube, as únicas Emissoras com
auditório na época.
Roberto Bozan era ídolo do programa “Varietê”, comandado por
Jader de Oliveira, aos domingos, à noite. Cantava ao vivo, acompanhado
de um conjunto musical da própria emissora. Práticamente era sua única
obrigação semanal. Nem precisava ensaiar porque os músicos do conjunto
sabiam de cor e salteado o que ele cantava e a tonalidade das musicas.
Botava uma béca bacana e lá estava Bozan recebendo os calorosos
aplausos das 500 pessoas que lotavam o auditório no quarto andar do
prédio do Radio Jornal, na Rua Marquês do Recife.
Apesar de trabalhar tão pouco – uma vezinha por semana - Bozan
era contratado da Emissora. Carteira assinada para ser exclusivo e não se
apresentar na estação concorrente. De tanto se sentir artista consagrado,
admirado pelo povo, Bozan não se desgrudava da fama. Estava sempre
bem vestido e quase toda tarde se postava na portaria do Radio Jornal,
com pose de galã, para receber os cumprimentos de quem passava pela
frente. E muita gente o assediava pedindo um autógrafo ou simplesmente
reconhecendo a sua figura de cantor famoso.
Foi quando surgiu a Televisão. A grande maioria dos artistas do
Rádio passaram de malas e bagagens para o novo e revolucionário veiculo
de comunicação. Menos Bozan, que era um artista tido como popularesco
para o novo veiculo que chegava com muito luxo e sofisticação. Cantar na
Televisão, nos programas comandados por Fernando Castelão (“Você faz
o show”) e Luiz Geraldo (“Noite de Black-tie”) só os cantores admirados
pela elite ou aqueles que cantavam musicas do mais alto nível. Tinha outra
coisa ainda: a figura de Bozan, um morenão meio desengonçado, não tinha
aquela imagem de galã para enfrentar uma câmera.
Resultado: a programação das Emissoras de Rádio foram se
modificando, os programas de auditório foram se extinguindo e Roberto
Bozan terminou sendo demitido.
Eu era produtor do Rádio Jornal. A sala da produção ficava no
quinto andar do prédio da extinta sede da Empresa Jornal do
Commercio, na Rua Marques do Recife esquina com a Rua do Imperador.
Uma tarde, Roberto Bozan surgiu na minha frente me oferecendo um
pacote:
- “Compra prá me ajudar. É um quilo de fígado de boi do
açougue do meu irmão.”
O produto estava envolvido numa folha de papel de jornal, todo
ensangüentado. Olhei prá ele e indaguei:
- “Bozan, por que antes de você chegar nessa situação que está
hoje, você não procurou ocupar o tempo vago de que dispunha com outra
atividade ?” - Bozan olhou bem prá mim e foi sincero:
- “Miguel, tudo o que eu sabia fazer era cantar e jamais
imaginei que deixaria de ser artista. Agora, preciso sobreviver...” – a voz
embargou, eu paguei o preço do quilo de fígado de boi e ele foi embora.
Nunca mais ouvi falar em Roberto Bozan e ele nunca mais me
procurou. Triste sina do artista que jamais pensou que deixaria de ser um
dia ídolo do povo.
Majestoso Prédio do Parque Eletrônico do Radio Jornal do Commercio,
no bairro de Santana, , onde existiam as torres de transmissão da
Emissora. Hoje, no mesmo locql, está o Hiperbompreço de Casa Forte.
Capitulo 24
SUSTOS NO AR
Já enfrentei muitas dificuldades no ar, ou melhor, dentro de um avião.
A primeira delas foi para Paulo Afonso, em agosto de 1959.
Eu tinha apenas 21 anos e escrevia para o jornal Folha do Povo. Fui
conhecer a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que
acabava de inaugurar as três primeiras turbinas que passaram a gerar
energia para o Nordeste. A viagem foi num avião bimotor da Real
Aerovias. Estava acompanhado de Edilton Feitosa, que na época estava
concluindo o curso de piloto em Barbacena. Conhecia tudo sobre aviação.
O primeiro trecho até Garanhuns foi tranqüilo para quem nunca tinha feito
uma viagem de avião. Quando decolamos de novo, o avião fez uma curva
fechada daquelas que a gente vê a terra em cima e o céu embaixo. Edilton
comentou:
- “Isso não é permitido em vôos comerciais. Mas, o piloto quer
encurtar o caminho e lá vamos nós.... “ – e riu prá mim. Chegamos a Paulo
Afonso sem mais atropelos.
Cumpridas as minhas tarefas de conhecer de perto a monumental obra
da Chesf, inclusive visitando a imponente sala onde as três primeiras
turbinas produziam energia para a nossa região, já no final da viagem
fomos conhecer a Cachoeira e num lance de desequilibrio ao atravessar um
pequeno riacho meus sapatos sociais caíram nágua e foram embora. A
correnteza os levou. Fiquei descalço, porque eram os únicos pisantes que
havia levado. Mas, veio o conselho de gente da cidade:
- “Vai na feira de Paulo Afonso. La tem umas alpercatas muito
bonitas.”
Comprei um par de sandálias de rabicho, aquelas de couro cru que
os vaqueiros costumam usar. Pegamos o avião de volta e lá estava eu com
as tais sandálias nos pés, terno bem aprumado, camisa social, só não botei a
gravata que também tinha levado para usar numa eventual cerimônia. Na
escala em Garanhuns bronca pesada. Um cidadão, político influente na
região, havia sofrido um atentado e estava deitando numa Kombi, assistido
por um enfermeiro que lhe aplicava soro para não morrer dos dois balaços
na barriga. A família queria embarcá-lo no vôo e o comandante da
aeronave exigia o visto de uma autoridade policial. A bronca durou mais
de uma hora, Finalmente, a vitima foi embarcada e acomodada numa
cadeira-cama, enquanto a família rezava ao seu redor para que ele não
viesse a óbito em pleno vôo. Quando o avião estabilizou a comissária de
bordo passou a servir um cafezinho requentado num copinho de plástico.
Segurei o tal copinho no momento em que o avião deu uma descaída
daquelas que chamam de turbulência. O tal cafezinho borrou toda a minha
camisa branca. Parecia vômito. A porta da cabine do comandante estava
aberta, quando ouvi ele chamar a torre do aeroporto solicitando uma
ambulância com urgência. Dois problemas se apresentaram logo para mim:
primeiro, a preocupação com meus pais que estavam no aeroporto me
esperando e podiam ficar apreensivos. Segundo – o estado lastimável da
minha camisa. Que fiz eu ? Botei o paletó e abotoei os três botões. Vejam
que imagem inusitada: um passageiro da alpercata de rabicho, paletó todo
atacado prá ninguém ver a camisa manchada e o meu semblante de
preocupado com a família. Era um domingo. Três horas da tarde. O
Aeroporto dos Guararapes era atração turística (tinha sido reformado).
Desci do avião e quando me aproximei da mureta próxima da pista de
pouso ouvi um cara gritar:
- “Matuto, quem morreu no avião” ?
Eu não disse que tinha sido a mãe dele porque a minha estava ansiosa
me esperando....
Paulo Afonso City
Em 1971 fiz minha primeira viagem aérea internacional. Destino:
México com escala no Panamá. Peguei o pássaro metálico da Panam –
considerada a maior empresa aérea do mundo – no Aeroporto do Galeão,
no Rio de Janeiro. Quando a aeronave sobrevoava Brasília o avião parecia
ter perdido força e o aviso do comandante veio logo em seguida:.
- “Senhores passageiros, estamos retornando ao aeroporto do Rio de
Janeiro, porque estamos com dificuldade em uma das turbinas.”
Daí por diante, o semblante dos passageiros já não era o mesmo.
Todos apreensivos, mas conseguimos aterrissar na mesma pista que
havíamos decolado. Aí tivemos que desembarcar para o conserto da
turbina avariada. Ao meio-dia, voltamos a bordo para almoçar. Depois,
devolveram a gente para o saguão do aeroporto. Por volta das 6 da noite,
levantamos vôo. O tempo estava fechado e um trovão seguido de um
relâmpago assombrou tripulação e passageiros. Parecia que o avião tinha
explodido. Daí por diante, vôo absolutamente tranqüilo, mas não havia
mais a conexão no Panamá. Fomos bater na Guatemala, um País que
estava atravessando violenta crise política. Fomos cercados por
metralhadoras até chegarmos ao hotel 5 estrelas para pernoite. Às 7 da
manhã nos acordaram para o vôo programado para as 8. Quando cheguei
no aeroporto, tinha um mexicano baixinho e meio entroncado, com uma
placa na mão, com o meu nome. Era o Avendãno, meu colega mexicano.
Outra viagem atribulada foi para Teresina, no Piauí, representando
A TVU num encontro de diretores de rádio e TVs educativas do País. Meu
Companheiro Carlos Benevides, professor universitário e produtor da
Radio Universitária, tinha medo de avião. Queria ir ao encontro de
ônibus. Convenci-o a ser meu companheiro de vôo. E mesmo a contra-
gosto topou a parada. Até a escala em Fortaleza, tudo bem. Ele estava
meio tenso, mas suportando bem a altura. Quando decolamos para
Terezina, não demorou 10 minutos para o comandante anunciar:
“Estamos retornando ao aeroporto de Fortaleza devido a uma
pane no sistema de segurança de vôo da aeronave”
Benevides mudou imediatamente de cor, passou a suar frio, teve
uma crise de nervos, que foi preciso ser medicado a bordo. Já no aeroporto
ele não queria voltar ao avião, mas tanto que eu fiz que ele concordou.
Chegamos em Terezina em paz. Apreciador de peças de antiquário,
Benevides adquiriu na cidade um crucifixo de madre pérola lindo, com
mais de um metro de comprimento. Expliquei que a peça deveria ser
despachada como bagagem, porque era grande demais para ele
conduzi-la a bordo. Eu estava apenas antecipando o rolo que deu na hora
do “check-in”. Ele não queria despachar o crucifixo porque poderia
quebrar e os funcionários tentando convence-lo de que não era permitido
ele levar a peça em mãos.
Resultado: o avião ficou na pista aguardando o nosso
embarque e o vôo atrasou mais de 20 minutos. Quando Benevides entrou
no avião com o crucifixo os passageiros só não chamava a gente de arroz
doce. Ouvi dois ou três palavrões, até que um dos passageiros foi mais
sensato ou gozador:
- “Não liga, pessoal. É o Cristo ! Olha pro crucifixo dele...” – e todos
riram e o vôo seguiu tranquilo, com a proteção Divina....
Num vôo de regresso de Porto Alegre, havia uma escala em São
Paulo e outra no Rio de Janeiro antes de chegar ao Recife. No trecho São
Paulo-Rio, o Boeing da Varig pegou uma tempestade daquelas. O pássaro
de ferro jogava de um lado para o outro, subia e descia como uma pipa nas
mãos de uma criança e todos a bordo estavam certos de que havia chegado
a hora da prestação de contas com Deus.
Naquele tempo algumas aeronaves tinham duas classes distintas – a
primeira classe, VIP, nas primeiras filas da frente muito sofisticada, com
talheres de prata, pratos de porcelana e copos de vidro, tudo da melhor
procedência, enquanto a classe executiva era na base dos talheres, pratos e
copos de plástico. Por razões que hoje não sei explicar, nesse vôo fui
colocado na ala dos barões. E quando a turbulência atingiu o auge eu já
havia tomado de duas a três doses de uísque, que na primeira classe era
servido à vontade do freguês. Quando o avião imbicou para aterrissar no
Aeroporto do Galeão, a apreensão era tão grande que foram ouvidos
alguns gritos de terror.
Quando, finalmente, o avião estacionou para desembarque, pude
avaliar o estrago. Os passageiros estavam transtornados, algumas
bagagens espalhadas pelo chão, aquele clima de desarrumação e
nervosismo. Eu ainda estava com meu copo de vidro de uísque na
mão quando ouvi uma voz me chamando. Nas poltronas do fundo estavam
Assis Farinha, Fernando Castelão Filho e mais duas pessoas que seguiam
também para o Recife. Lembro que Assis Farinha tomou o copo da minha
mão e entornou o uísque com sofreguidão. O comandante do vôo, já mais
tranqüilo, confessou para um grupo:
- “Sabia que estava chovendo muito nessa região entre o Rio e São
Paulo, mas não esperava tanta turbulência. Foi preciso ter munheca boa prá
botar esse bicho no chão..” - Incrível, mas depois seguimos viagem em
céu de brigadeiro... nem parecia que a gente estava no ar, dentro de um
avião.
Voei outras vezes para outros destinos: Manaus, Fortaleza,
Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo...nada mais que viesse mexer com a
minha tranqüilidade, uma vez que uma coisa eu garanto – apesar de tudo,
jamais tive medo de voar... de avião.
Em São Paulo, no Viaduto do Chá (2012)
Capitulo 25
ATRITOS COM CELEBRIDADES
Não sei se deveria contar. Mas, vou soltar o verbo. Como jornalista e
produtor de Radio e Televisão tive de conhecer de perto diversas
celebridades do meio artístico. Tive uma convivência com Consuelo
Leandro, durante um período em que ela vinha todas as semanas participar
do programa Você faz o Show. Terminado o programa, Consuelo se reunia
com as famílias de Renato Silva e Luiz Queiroga, que moravam próximos,
e a madrugada era pequena para os longos papos. Muitas vezes, Consuelo
saia direto para o aeroporto. Apesar de muito famosa, nunca teve uma crise
de estrelismo.
Do mesmo modo que convivi com gente simpática como Consuelo,,
alguns caras irresponsáveis também passaram pelo meu caminho. Certa
vez, foi o cantor Altemar Dutra. Ao chegar aos bastidores da TV-Jornal
pude perceber que ele estava sem condições de se apresentar em publico,
devido ao seu estado etílico. Ciente da minha responsabilidade, dei uma
desculpa, alegando que o programa estava com o horário estourado e que
não havia mais espaço para ele se apresentar. Saiu esculhambando o
programa, a Televisão e o produtor. Como não anunciávamos com
antecipação os convidados do programa, o publico não percebeu a
ausência de Altemar Dutra, que uma semana depois viajou para os
Estados Unidos, onde veio a falecer.
Outro que quis armar um barraco foi o cantor Waldik Soriano.
Na produção do programa de Jota Ferreira eu ficava sempre numa área
entre o auditório e o palco do estúdio A da TV-Jornal. De repente, ouvi
um murmúrio forte vindo do publico e quando me virei observei que
Waldik estava se preparando para descer as escadas e invadir
intempestivamente a cena do programa no momento em que Jota
entrevistava uma senhora que fazia um apelo em favor de uma instituição
de caridade. De imediato fiz sinal para Waldik voltar. Ele quis insistir e eu
fui até ele e disse que o caminho para se apresentar no programa era outro,
não daquela forma. Na sala de espera dos artistas, soube que ele só não
me chamou de “arroz doce”... Mesmo assim, Waldik Soriano participou
do programa e mereceu os aplausos do publico que o admirava. No final de
tudo, ele humildemente veio me pedir desculpas, alegando que queria fazer
o mesmo que teria feito em outro programa de auditório no sul do país.
Outro que me deu muito trabalho foi Chacrinha. Nos vários contatos
que tivemos, tanto no Recife como no Rio e em São Paulo, onde eu estive
por mais de uma vez, pude avaliar o quanto ele era ativo, um
dínamo em permanente rotação. Quando me pediu para divulgar um disco
que havia lançado para o Carnaval, ele ligou às 3 horas da madrugada para
apenas perguntar:
- “E aí, Miguel Santos, como anda a divulgação do meu disco aí
em Recife ?” - Nem parecia que era 3 da matina....
Outra vez, em pleno restaurante lotado do Mar Hotel , ao lhe
informar que o programa dele na Rede Globo perdia em audiência para o
Programa Jota Ferreira, ele não se conteve:
- “ Esse porra nunca ganhou prá mim. Eu sou o Chacrinha,
cara...” - e o palavrão ecoou por todo o salão e os circunstantes se viraram
para a nossa mesa.
Num show que montamos em praça publica em Jaboatão dos
Guararapes, ele estava impaciente. Conversava com o Prefeito Geraldo
Melo, mas não tirava os olhos do relógio. É que sua esposa, dona
Florinda, chegaria num vôo às 11 da noite para passar o fim de semana
com ele. Chacrinha não se conteve e subiu ao palanque antes do tempo.
Pegou o microfone e saiu convocando calouros e o conjunto musical,
Ninguém estava preparado para começar o show. Foi preciso puxá-lo para
um canto, tomar o microfone da mão dele e dizer:
- “Chacrinha, não é hora de começar. Tenha paciência...”
Ele saiu resmungando e alegando que queria terminar logo para
encontrar com a mulher. Só voltou a fazer o show depois que a gente
montou uma logística para recepcionar a esposa no aeroporto e levá-la
para o hotel. O que realmente aconteceu.
Certa vez, Paulo Marques e eu chegamos ao Hotel Danúbio,
em São Paulo. A recepção do hotel anunciou a nossa presença. Chacrinha
mandou a gente subir. Quando entramos no apartamento, ele estava sentado
no vaso sanitário lendo o jornal. Detalhe: o banheiro estava coberto de
paginas do jornal, Quando ele acabava de ler, jogava o pedaço do jornal no
chão.... uma balburdia muito típica do seu comportamento.
Mas, Chacrinha era uma figura folclórica, bem humorada,
elétrica e muito humana. Um pernambucano que muito nos honrou como
artista consagrado no Brasil.
Outra grande bronca foi com um ator de novela da TV
Bandeirantes. Nome: Rubens di Falco. Veio ao Recife junto a uma
caravana de artistas da Emissora paulista para se apresentar no Baile
Municipal. Era costume as Televisões enviarem seus artistas para essa
exibição na festa pré-carnavalesca mais badalada da cidade. A Rede Globo
mandava um grupo e a Band também. Até a extinta Rede Manchete fazia
o mesmo. Fiquei assessorando a permanência dos artistas da Band,
afiliada à TV-Jornal, desde a chegada deles no aeroporto.
Na hora prevista para chegar ao baile, fui buscar os artistas
no Mar Hotel, em ônibus de luxo. Todos já estavam prontos no hall,
menos o tal do Rubens di Falco. Liguei para o quarto dele. Pediu para eu
subir. Quando cheguei, ele estava de olho na televisão, que já dava
”flashes” do Clube Português. Disse-me então; - “Só vou chegar no baile
depois da apresentação do pessoal da Globo” Quem era ele para se tornar
tão estrela assim ? Não disse isso, mas tive vontade. Quis convencê-lo de
que eu tinha recebido ordens para que todos estivessem no clube até as 9
da noite. Ele insistiu que queria chegar depois da apresentação dos artistas
globais. Aí, eu engrossei:
- Pois voce vai de taxi porque todo pessoal já está no ônibus
esperando.” E saí do quarto. Ao chegar na recepção do hotel já havia uma
recomendação para que eu o aguardasse, que ele já estava descendo. E foi o
que aconteceu.
Para concluir esse capitulo dos atritos com celebridades,
vem o episodio com a cantora Nara Leão, musa da bossa nova. Ela veio se
apresentar no programa “Noite de Black-tie”, comandado por Luiz
Geraldo. Eu era assistente da direção administrativa da TV Jornal e fui
incumbido de levar a consagrada artista para João Pessoa, após o programa.
Contratei dois taxis para a viagem. No primeiro veiculo, iam a cantora, o
empresário e eu. No outro, os três músicos que a acompanharam. Destino:
Clube Jangada, o mais sofisticado da sociedade paraibana, inteiramente
lotado para aplaudir aquela que fazia parte da ala dos artistas que
condenavam a ditadura militar implantada no País. Após o show, fui
orientado por Alfredo de Oliveira para receber o cachê das mãos do
presidente da agremiação, Fernando Milanez. Quando o procurei, ele me
pediu: - ‘Leva Nara até a mesa do governador. Ele quer cumprimentá-la.”
Nara já estava dentro do taxi, cansada, louca para fazer a viagem
de volta ao Recife. Ela foi incisiva:
- “De jeito nenhum Vim aqui fazer um show, não foi fazer
media com governador algum.”
Dei a desculpa do cansaço da cantora , mas Milanez, foi
grosseiro:
- “Só pago quando ela for pra mesa do governador”. –
pegou a mulher e foi dançar no salão.
A encrenca estava formada. Não tive duvidas. Dei um
tempinho, saí à procura do cara dentro do salão e sapequei:
-“ Nara está uma fera. Vai à imprensa denunciar que o
senhor não quer pagar o cachê dela”.
A ameaça inventada por mim foi a solução. Ele
abandonou a mulher no meio do salão, saiu comigo até uma sala e pagou o
que devia. Saí aliviado. Nara Leão ainda perguntou por que eu havia
demorado tanto, E inventei outra mentira: - “O governador fez questão
que eu fosse porta-voz de seus agradecimentos pelo maravilhoso show que
voce proporcionou à sociedade paraibana.” - Nara aceitou a desculpa e fez
a viagem de volta dormindo no carro...
O “VELHO GUERREIRO”
Chacrinha cercado de radialistas conterrâneos: - Miguel
Santos, Bob Nelson e Roberto Nogueira.
Capitulo 26
DOMINGUINHOS E CALHEIROS
No dia em que foi feito o traslado do corpo do mestre Dominguinhos
para Garanhuns, sua terra natal, agora em 2013, chega à minha lembrança
um momento muito semelhante e para mim também muito emocionante,
ocorrido há 45 anos passados. Atuava como jornalista e radialista da
Empresa Jornal do Commercio e era sempre convocado para os seus
eventos promocionais. Alberto Lopes, um dos grandes produtores da TV,
filho de Garanhuns, chegou com a idéia de a Empresa promover o traslado
dos restos mortais do cantor Augusto Calheiros, nascido em Alagoas, mas
que tinha uma adoração pela “suíça pernambucana”, onde começou a
carreira de cantor e onde viveu durante 23 anos. Faleceu no Rio de
Janeiro, em 1956, onde foi sepultado. Em 1968, atendendo ao desejo da
família, com o apoio do então prefeito Amilcar Valença, tivemos o
orgulho de coordenar a trasladação do corpo de Calheiros do Rio de
Janeirio para Garanhuns. A urna funerária veio acompanhada pelo
consagrado cantor Orlando Silva, e o radialista Almirante, dois nomes de
peso do cenário musical e artístico brasileiro. Familiares de Calheiros
também vieram do Rio para a cerimônia. A nossa parte era conseguir o
apoio logístico, coordenar junto com Alberto Lopes e dar toda cobertura
jornalística. Como não havia qualquer apoio financeiro por parte da
Empresa JC, tivemos que buscar a cortesia de empresas de ônibus. Uma
delas se prontificou a fazer o percurso Recife-Caruaru. Outra ofereceu o
percurso Caruaru-Garanhuns. Eram as dificuldades próprias da época que
tivemos que enfrentar. No finzinho da tarde, os restos mortais de
Calheiros chegaram ao Cemitério de São Miguel. Com a intensa
divulgação da então Radio Difusora, toda a população da cidade estava
nas ruas dificultando o acesso do ônibus. Os convidados tiveram que seguir
andando enquanto eu fiquei no veiculo, junto ao motorista, à procura de
um local para estacionar. Terminei não conhecendo o mausoléu erguido
pela Prefeitura para abrigar o querido e famoso cantor Augusto Calheiros.
Calheiros.
Dominguinhos e Calheiros, dois consagrados artistas da nossa
musica popular, estão repousando para sempre no friozinho gostoso de
Garanhuns. Um privilégio para a cidade e seu povo.
Capitulo 27
COLEGAS & AMIGOS
Ter amigos não é privilégio de ninguém. No entanto, ter bons e
desinteressados amigos é privilegio de poucos. Eu me sinto recompensado
porque procurei sempre conviver com bons colegas e amigos. . Seria
enfadonho listar aqui todos os meus amigos, porque correria o risco de
esquecer de alguns. Aliás, a linha divisória entre colegas de trabalho e
amigos as vezes não chega a ser bem definida. A gente chega a confundir
as duas coisas. Alguns deles foram amigos circunstanciais: José Augusto
Branco, Jota Ferreira, José Maria Marques, Claudia Barroso, Paulo
Marques. Estiveram muito próximos de mim enquanto durou a convivência
profissional com eles. Uns ficaram na lembrança, outros duram até hoje.
Mas, poucos foram aqueles que influenciaram de forma decisiva na
minha vida profissional. Dois deles posso citar: Samir Abou Hana e Jorge
José de Barros Santana, sem esquecer o saudoso Mayerber de Carvalho,
que exerceu um papel muito importante no meu destino.
Foi durante a reunião de um clube de oratória que existia na Boa Vista
que eu vim a conhecer Samir Abou Hana. Nem ele nem eu sabíamos que
nos encontraríamos depois no rádio. Ele começou na Rádio Capibaribe,
como eu também. Depois, ele foi desenvolver seu talento na antiga Radio
Repórter, que ficava na Rua da Concórdia.
O encontro seguinte foi na Empresa Jornal do Commercio, ele
atuando no Rádio e na TV e eu na produção de programas apenas na
Televisão. Nessa época eu já trabalhava na TV Universitária, no primeiro
expediente. Foi quando, em 1983, o Grupo Edson Queiroz, proprietário
da Rede Verdes Mares de Comunicação, do Ceará, adquiriu a Radio
Tamandaré, que era uma Emissora AM no estilo FM – “musica, somente
musica e um anuncio por intervalo”. Os estúdios ficavam ao lado da
Brasilgás, na Avenida Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira. O Grupo
resolveu modificar a programação e transformar a Tamandaré numa
Emissora eclética, com mais jornalismo e esportes. Para essa mudança,
Samir foi chamado e me levou para lá. Com sua experiência e capacidade
profissional, Samir reuniu uma equipe de peso para enfrentar a
concorrência: Ednaldo Santos, Jota Albuquerque, Fernando Colorido,
Walter Lins, Lacerdinha e Vasconcelos Lima. Rui Cabral era o produtor de
Ednaldo Santos, à tarde, e eu cuidava da produção de Samir Abou Hana, na
manhã. No departamento de jornalismo, comandado por Regina Lima,
figuravam Fernando Veloso, Paulo Fradique, Heitor Rocha e Jaimar
Chedid. Repórteres: Candido Galvão, Jáder Bastos, Isaurino Brasil e
Miriam Maranhão. No setor esportivo atuavam Rubens Souza, Ednaldo
Santos, Carlos Miranda (narradores), Luiz Cavalcanti e Uaci Matias
(comentaristas), Edvaldo Morais (plantão) e os repórteres Haroldo Rômulo,
Vitorio Mazzile, Aldeci Lima e Eduardo Santana, Como numa gestação,
em nove meses a Tamandaré foi para a liderança da audiencia. Um pulo
significativo do quinto para o primeiro lugar, Uma verdadeira revolução no
radio pernambucano, graças a uma equipe que trabalhava redondinha,
afinada, bem direcionada e enfrentando alguns sacrifícios.
Três anos depois, por questões que não valem a pena descrever,
Samir resolveu deixar a Tamandaré e seguir para outra vitoriosa jornada –
ampliar a audiência da Radio Olinda. A diretora era Cleone Barbosa, no
jornalismo Antonio Menezes. Ficamos na Olinda por pouco tempo.
Tarefa seguinte - Radio Globo. Tínhamos o apoio do Sistema
Globo de Radio. Samir gozava da admiração e do respeito da diretoria
nacional. Certa vez, fomos ao Rio de Janeiro gravar umas vinhetas e eu
ouvi o convite feito por Mario Luiz, um dos mais conceituados radialistas
do Pais, diretor-geral do Sistema:
- “Samir, você escolhe: Rio ou São Paulo. O horário da tarde é seu
nessas duas praças.”
Mesmo reconhecendo a importancia do convite, Samir preferiu ficar
no Recife. Se tivesse aceito, seria certamente o mais popular comunicador
do radio brasileiro.Essas idas e vindas nos levou a uma temporada na
Radio Clube. Fizemos juntos também um programa de entrevistas na TV-
Tribuna, que tinha uma audiência muito boa.
Nossa amizade nos levou a duas viagens aos Estados Unidos para
curtir as maravilhas dos parques da Disney, em Orlando, e conhecer
Miami. Foram momentos inesquecíveis vividos com nossos familiares.
Samir seguiu outra carreira: a de radiodifusor, ao adquirir a
Radio Planalto, de Carpina. Eu não pude acompanhá-lo, mas hoje o tenho
na conta dos amigos que deram impulsos importantes na minha carreira
profissional.
.
Com Samir Abou Hana, no bar de sua residência.
Uma pessoa que sempre apostou no meu trabalho, me orientou muito
e tem demonstrado ser um amigo de todas as horas é Jorge José Barros de
Santana. Seu nome está imortalizado na galeria dos grandes realizadores
do Rádio e da Televisão de Pernambuco. Começou escrevendo para o
rádio e logo que a TV chegou por aqui ele conquistou-a com inesquecíveis
trabalhos tanto na TV-Radio Clube como na TV-Jornal do Commercio.
Foi nesta última que ele produziu a novela “A Moça do Sobrado Grande”,
tão empolgante que chegou a ser exibida pela TV-Bandeirantes de São
Paulo.
Jorge José Barros de Santana é bacharel em comunicação social e
por algum tempo lecionou na Escola Superior de Relações Públicas. Foi
também diretor da TV-Itapoan, de Salvador-Bahia e da TV-Tropical, do
Governo de Pernambuco.
Trabalhei ao lado de Jorge José em várias oportunidades: como
colega na TV-Universitária; como meu chefe na produção da TV-
Jornal; realizando eventos promocionais e artísticos com artistas nacionais
Na TV-Jornal, Jorge José me confiou a produção do programa
“Verdade ou Mentira”, do qual me refiro em outro capitulo deste trabalho,
e do “Programa Jota Ferreira”, que se consagrou como um dos horários
de maior audiência da TV pernambucana.
Na Massangana Multimídia, da Fundação Joaquim Nabuco, na
qual foi diretor, participei da produção de uma série de documentários
para a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE.
O objetivo era ressaltar os incentivos fiscais oferecidos pela autarquia à
industria nordestina. Documentamos várias empresas, como a Confecções
Guararapes, em Natal-RN: a Polyutil, de João Pessoa-PB; a Raymundo da
Fonte, em Paulista-PE, entre outras. Foi uma experiência muito válida
porque aprendi muito na captação de imagens, depoimentos, edição e
finalização dos vídeos. Outro projeto que me gratificou muito realizar foi a
série “Nomes que Fazem a Diferença”, sobre a qual me refiro com
detalhes em outro capitulo deste trabalho.
Por essas e outras realizações, Jorge José tem dado uma
demonstração de que confia no meu trabalho, tanto assim que tive o
privilegio de participar, como assistente de produção, da editoria de seus
excelentes trabalhos editoriais, que resgatam a historia da comunicação
social em Pernambuco. Os livros que escreveu sobre o Radio, a Televisão e
os Jornais de Pernambuco mereceram elogios da critica e do publico leitor
Atualmente, está sendo preparado um outro excelente trabalho literário,
desta feita sobre os Governadores de Pernambuco .
Presente no ambiente familiar e na atividade profissional, Jorge é
um amigo sincero e leal, coisa tão difícil hoje em dia.
Com o escritor Jorge José de Santana, , por ocasião do lançamento
do livro “Meio Século Depois – Televisão Pernambucana”.
Sintam-se todos os meus amigos – os mais distantes e os mais
próximos – homenageados neste artigo. E me desculpem por não cita-los
nominalmente aqui. Afinal, amigo é pra essas coisas....
Um exemplo de amigo distante é Osvaldo Secco. Convivemos na
época em que ele era o chefe dos câmeras da TV-Jornal. Foi casado
com Valéria Acyoman, de quem ficou um viúvo prematuro. Depois,
voltou para a TV-Globo de São Paulo, onde viemos a nos encontrar
numa das viagens que fiz à capital paulista.
Capitulo 28
CAMPANHAS POLITICAS
Ao longo da minha vida participei de varias campanhas políticas. A
primeira delas foi a do Senador Cid Sampaio. O coordenador da campanha
era o publicitário Vicente Silva, dono da Viçar Publicidade, que se
notabilizou com a realização da Fecin - Feira do Comercio e Industria
do Nordeste, que acontecia na área onde é hoje o Parque da Jaqueira.
Vicente Silva inovou. Criou um caminhão repleto de monitores para a
projeção em slides-show do programa de governo do candidato. O veiculo
percorria os bairros, causando um verdadeiro reboliço nas camadas mais
pobres da população. Foi uma campanha extremamente cansativa, porque
havia sempre algo a mais para fazer. Lembro que uma vez, Vicente me
acordou com essas palavras:
- “Seis da manhã e você ainda está dormindo ? Deixa para dormir
quando morrer...”
Guardei a piada para descontar depois. Já nos últimos dias da
campanha, com toda a equipe estafada de tanto trabalhar, tive necessidade
de falar com o patrão por volta das 9 da manhã. Ele estava em casa, ainda
dormindo. Quando me atendeu, apliquei o mesmo conselho:
- “Vicente, deixa prá dormir quando morrer...”
Vicente Silva era um homem de quase dois metros de altura,
publicitário competente e vitorioso. Na ultima vez que o vi estava muito
ofegante, emocionado porque a filha estava se formando em Medicina.
Ofegante também pela doença que já o acometia. Dias depois, o seu
reloginho parou e ele foi levado para um mundo certamente melhor...
Já trabalhando com Samir Abou Hana, participei da campanha de
Joaquim Francisco para Governador, em 1990. Samir coordenou os
programas de rádio para o Guia Eleitoral. Foi mais do que um trabalho:
uma grande experiência que me levou a conquistar espaço nesse segmento
de produção radiofônica.
Depois de Joaquim Francisco, foi a vez de André de Paula para
Prefeito do Recife, em 1992. Essa campanha foi desenvolvida no Estúdio
Três, comandado por Marcos Macena e Aguinaldo Batista. André não foi
eleito, mas a campanha foi muito proveitosa e conquistou a admiração dos
marqueteiros da época.
Já com mais experiência adquirida, fui convidado por André
Gustavo, filho do publicitário Antonio Carlos Vieira, diretor da Arcos
Propaganda, para assumir a coordenação dos programas de rádio da
campanha eleitoral de Lucia Braga, esposa do então Senador Wilson Braga,
um dos políticos mais influentes da Paraíba. O ano era 1996 e a campanha
era para Prefeito de João Pessoa. Foram dois meses de permanência na
capital paraibana, com algumas fugidas até o Recife nos fins de semana.
Comigo estava o locutor Leonardo Boris e com ele vivemos um momento
de muita angustia e quase desespero. Tínhamos terminado o ultimo
programa do segundo turno da campanha e faltava receber 15 dias de
trabalho intenso e estafante. Boris e eu ficamos quase três horas na porta de
uma sala da sede o partido. Havia uma reunião também muito tensa e não
havia como cobrar do próprio Wilson Braga o que o coordenador
financeiro da campanha havia nos negado: o nosso dinheiro sofrido. O
momento era tão dramático que eu e Boris quase íamos às tapas, um mais
irritado do que o outro. Em dado momento, quando o cara do cafezinho
entrou na sala aproveitamos o momento e entramos também.
A cobrança foi imediata e na frente de todos que estavam na reunião.
- “Precisamos voltar para o Recife e ainda não recebemos a nossa
parte” – Boris foi incisivo. Wilson Braga demonstrou surpresa, tirou o
talão do bolso e preencheu um cheque com o valor que nos devia.
Corremos para o banco, já prestes a encerrar o expediente, com uma
preocupação a mais: será que o cheque tem fundos ? Tinha, sim. Pegamos
o dinheiro, as malas no hotel e no meu carro retornamos ao Recife. Na
passagem pela fronteira Paraíba-Pernambuco, Boris não se conteve: deu
aquela “banana” pro lado paraibano, sem que a terra e seu povo merecesse
o gesto...
Aprovado na Paraíba, a Arcos me convidou para outro desafio,
desta feita mais longe, a 800 quilômetros do Recife. Em Petrolina, ano
2000. Foi quando eu tive a oportunidade de conhecer uma região de muita
prosperidade e riqueza. Formei uma equipe com o pessoal de lá, e meu
locutor-ancora era o Joélio Alves, filho da terra, que me ajudou muito
durante toda a campanha. De maneira brilhante o candidato Fernando
Bezerra Coelho ganhou as eleições e governou Petrolina até ser chamado
para exercer outros cargos mais importantes, até chegar a ser Ministro da
Integração Nacional.
Nessa primeira jornada em Petrolina, fiquei amando o Rio São
Francisco. Conheci fazendas de uva, a Barragem de Sobradinho, a
cidade vizinha de Juazeiro da Bahia, saboreei um bom peixe de água doce
e tive a felicidade de conviver com o povo bom e hospitaleiro da cidade.
Próximo desafio: Joaquim Francisco, Prefeito. Ano: 2004.Trabalho
desenvolvido na Muzak, uma das melhores produtoras de áudio da região.
A briga era contra João Paulo, do PT. Perdemos o combate.
Etapa seguinte foi cumprida na Virtual Multimídia, sob o comando
de Carlos Alberto, localizada no bairro de Casa Amarela. Candidato:
Arlindo Siqueira para Prefeito de Olinda. Ano: 2008 Quando organizamos
a equipe e levantamos os custos, o candidato era apoiado pelo PTB de
Armando Monteiro Neto e novamente a Arcos Propaganda seria a
coordenadora geral da campanha. Mas, uma semana antes de tudo começar
o PTB saiu da jogada. Arlindo Siqueira assumiu sozinho o custo do
trabalho e aí se deu mal. Faltou dinheiro e ficamos sem receber uma boa
parte do que havia sido combinado. Os mais experientes afirmam que
campanha eleitoral tem seus riscos. Mas, só essa é que me deu prejuízo.
Arlindo além de ficar devendo ao pessoal ainda perdeu a eleição para o
candidato que disputava a reeleição – Renildo Calheiros, do PCdoB.
Por ultimo, lá vou eu de novo para Petrolina, em 2012, para
coordenar o Guia Eleitoral de Rádio do candidato Fernando Filho,
deputado federal, filho do Ministro Fernando Bezerra Coelho. Concorria
com Julio Lossio, do PMDB, um populista candidato à reeleição, cuja
bandeira eram as creches que instalou em diversos bairros da cidade e
Odacy Amorim, deputado estadual do PT. Tive a valiosa colaboração de
gente de gabarito no meio do marketing político, como Ivan Mauricio,
com quem já tinha trabalhado no Diário da Noite e na campanha de
Arlindo Siqueira. A empresa de Juarez Canejo administrou a campanha
e eu tive ainda a valiosa colaboração do jornalista Carlos Britto, Na área
técnica, contei com a eficiência de Junior Macedo, da Vocall Studio e de
uma equipe de locutores e repórteres muito competentes. Fernando Filho
não venceu as eleições, por razões que não valem a pena ressaltar, mas a
campanha atingiu os objetivos.
Foram majs dois meses morando em hotel em Petrolina, uma
permanência muito agradável, porque desde a primeira vez passei a
adorar a cidade. Voltei a fazer meus passeios nas horas de folga e conhecer
melhor uma região diferenciada e progressista.
Considero-me hoje um profissional experiente como coordenador
de equipes para o Guia Eleitoral.
Com o publicitário Vicente Silva.
Capitulo 29
MEIA DÚZIA DE CAUSOS & “GAFES”
1 – Quando era redator de fofocas de revistas revelei um caso amoroso
Entre uma atriz e um cantor casado. Não citei nomes na matéria, mas
eles assumiram a “carapuça” e este escrivinhador quase apanha dos
2 – Na qualidade de assisrtente da direção geral da TV-Jornal eu era
encarregado de pagar os “cachês” dos atores, atrizes e coadjuvantes do
elenco da novela “ A Moça do Sobrado Grande”. Só estranhava que na lista
figurava o nome de uma pessoa que nunca era visto na novela. Depois
fiquei sabendo que o cara era simplesmente o dono do cavalo e da charrete
que aparecia sempre nos capítulos do consagrado seriado.
3 – Galba Araujo, “dublê” de advogado e cantor, falecido no Rio de
Janeiro, costumava aparecer nos bastidores durante o “Programa Jota
Ferreira”, mesmo sem estar escalado, para rever os amigos. Numa
dessas vezes, faltando dois minutos para o programa terminar, Jota
Ferreira achou de anunciá-lo. Galba entrou na maior empolgação e
começou a cantar. Um minuto depois, foram inseridos na imagem os
créditos finais do programa. Ao final, Galba veio a mim agradecer
pela oportunidade, mas perguntou intrigado: - “Só não por que
apareceram tantas palavras na minha cara enquanto eu estava
cantando....” Preferi não explicar o ocorrido.
4 – Quando eu era repórter da Radio Capibaribe fui escalado para a
cobertura dos desfiles das agremiações carnavalescas, que aconteciam na
Avenida Dantas Barreto. Naquela época as transmissões externas eram
feitas por linha telefônica e, para economizar, a Emissora utilizava apenas o
recurso de uma linha só, que não permitia que por ela a gente se
comunicasse com o estúdio. Assim, de meia em meia hora, quando eu
ouvia a vinheta anunciando o repórter eu teria que dar um flash do local.
Era pouco mais de uma hora da tarde, não havia agremiação desfilando,
mas eu tinha que dar alguma informação. Eu já havia entrevistado todas as
pessoas importantes que estavam no palanque oficial, foi quando avistei de
longe o jornalista Sócrates Times de Carvalho (famoso na época) e comecei
então a falar diversas vezes o nome do jornalista até que me vi ao lado
dele. Voltei a anunciá-lo, quando o cidadão disse ao microfone: -
“Sócrates não sou eu, não.” Procurei um buraco para me enterrar naquela
hora. O cara era a cópia fiel do jornalista e ele próprio reconheceu isso
depois da minha “gafe”.
5 - Walter Lins, no auge de sua carreira de animador de auditório na
Radio Clube, costumava me convidar para acompanhá-lo toda vez que
Comparecia a festinhas em sua homenagem. Certa noite, estávamos
numa dessas reuniões em casa de uma fã, quando Walter resolveu me
apresentar como se eu fosse famoso locutor da Radio Nacional do Rio
de Janeiro, de passagem pelo Recife. Assumí o papel pensando que
depois Walter iria revelar que tudo não passava de uma brincadeira.
Mas, isso não aconteceu e eu passei a festa toda dando autógrafos e
falando com “voz de locutor” para não comprometer Walter Lins.
6 – Brivaldo Framklin se notabilizou na Televisão personificando a figura
do “Zé do Gato”, quadro humorístico de grande popularidade. Convivi
com Brivaldo como um dos bons companheiros de trabalho. Tinha fama de
“mão fechada”. Sempre que chegava ao Restaurante da TV-Jornal
procurava saber o sabor da sopa e o preço e sempre pedia “meia sopa” para
economizar. Escalado pela Radio Capibaribe para cobrir os bailes
carnavalescos do Clube Sargento Wolff, eu tive o privilegio de ocupar
uma mesa de pista no salão do clube e de gozar da mordomia da diretoria.
Não havia limites para pedidos de bebidas e comidas. Na ultima noite do
Carnaval, fui surpreendido com a chegada de Brivaldo e esposa. Ele havia
estado no Clube Internacional, mas preferiu encerrar os festejos de momo
no Wolff. Acomodou-se na minha mesa e minutos após o garçom chegou
com duas b andejas carregadas de comidas e bebidas. Brivaldo não quis
nem saber se aquilo era cortezia do clube ou seria “rachada” no final da
festa. Deu uma desculpa e foi embora... A fama de “pirangueiro” era tanta
que contam que ele foi buscar uma namorada na casa dela. Quando a moça
apareceu, certa de que ia ter uma noite maravilhosa, Brivaldo foi logo
perguntando:
- “Já jantou, minha querida ?”
A garota surpresa respondeu empolgada:
- “Ainda não”.
“Então, volte, jante e depois a gente conversa....”
O namoro acabou naquela mesma noite.
Capitulo 30
Principais eventos nos quais participei como
coordenador e/ou produtor
INAUGURAÇÃO DA REPETIDORA DO SINAL DA TV-JC-BAND
EM NATAL-RN – Local: Praia do Meio (Show e outros eventos),
FESTIVAL DA TURMA DA MONICA - Show comandado por Jota
Ferreira, com a participação dos personagens de Mauricio de Souza.
Promoção: Empresa Jornal do Commercio e Editora Abril. Local:
Horto de Dois Irmãos. Data: 24 de abril de 1978
PRIMEIRO FORRÓ INFANTIL DO RECIFE – Apresentação de Samir
Abou Hana e Palhaço Pitombinha. Apoio: Prefeitura da Cidade do
Recife e EMPETUR. Local: Horto de Dois Irmãos. Data: 22/09/1978
PRIMEIRO FESTIVAL DO SORVETE E REFRIGERANTES DO
RECIFE - Apresentação do Palhaço Pitombinha, que na época comandava
o programa “Recreio da Bandeirantes”, na TV-Jornal. Patrocínio: Kibon/
Maguary e Refrescos do Recife Ltda.Local: Horto de Dois Irmãos. Data:
16/12/1079.
ANIVERSARIO DO PROGRAMA JOTA FERREIRA – Local:
GERALDÃO.
SHOW DE NEY MATOGROSSO NO GERALDÃO.
SHOW DE GAL COSTA NO GERALDÃO.
CLUBE DA SOLIDARIEDADE – Campanha para arrecadar donativos
Para as crianças pobres no Natal de 1998. Liderança da Radio Clube, com
Apoio da Radio Caetés e Diário de Pernambuco.
OITENTA ANOS DA RADIO CLUBE - Apresentação da Banda
Musical da Policia Militar e exibição do vídeo “A Vida Começa aos 80”,
produzido pela Fundação Joaquim Nabuco (Massangana Multimídia). .
Local: Pátio de São Pedro. Ano de 1999.
LINHA DO TEMPO 1956 Atuação na Companhia Teatral de Bibi Ferreira; 1957 - Estágio na Radio Olinda (jornalismo).
1958 - Comecei a trabalhar como escriturário na Sul America – Cia. Nacional de Seguros de Vida. Carteira assinada no dia 16 de abril. Desliguei-me no dia 15 de fevereiro de 1965. 1959 Representante-correspondente da Revista do Radio (RJ). 1959 - Cronista de radio e reporter da Folha do Povo 1959 Comecei a escrever também para o Diário da Manhã; 1959 - Revisor do Diário de Pernambuco; 1960 - Começo da carreira de radialista na Radio Capibaribe; 1960 - Colaborador da Revista da Tela. 1961 - Colaborador da Revista da AABB. 1963 - Ingressei no jornal Ultima Hora. 1963 - A Associação da Imprensa de Pernambuco elege a coluna de Radio e TV do jornal “Ultima Hora” a melhor do ano. 1963 Secretário, editor e redator da Revista TVlandia; 1964 - Colaborador da Revista do Clube Náutico Capibaribe. 1964 - Editor da Revista Canal 1965 Ingressei na Empresa Jornal do Commercio no dia 16/09, como Auxiliar de publicidade, redator do Jornal do Commercio e Diário da Noite e produtor do Radio Jornal. 1965 Eleito melhor colunista de Radio e TV pelo Diário da Noite. 1969 Produtor da TV-U. 1967 - Eleito melhor produtor de Rádio pela Primeira Noite das Personalidades, promovida pelo jornalista Paulo Granja. 1971 - Primeiro passaporte para viajar ao México e Colômbia. Embarque – Rio 21/03. Desembarque – Manaus, (09/05) 1971 - Como produtor do programa “A Noite é do 11”, fui eleito melhor do ano, promoção do programa “A Hora do Chau”, da TV-Jornal. 1973 Secretario Executivo do III Congresso Brasileiro de Radialistas, realizado no Recife. 1977 Produtor executivo do X Concurso de Musicas Carnavalescas, Promoção da Prefeitura do Recife e TV-Jornal. 1979 -Reingresso na Empresa Jornal do Commercio (TV Jornal) 1980 - Registro na DRT/PE n. 107, como Radialista Profissional na função de Produtor Executivo 1983 - Ingressei na Radio Tamandaré (11 de fevereiro); 1984 - Registro na DRT/Pe n. 1300, como Jornalista Profissional, na função de Redator. 1985 - Produtor do Sistema Globo de Radio (02/05); 1987 Produtor da Radio Olinda (01/09); 1990 -Campanha de Joaquim Francisco para Governador; 1991 - Produtor da Rádio 103 FM;
1992 - Aposentei-me pela Universidade Federal de Pernambuco. (Núcleo de Televisão e Rádio) no dia 4 de setembro. 1992 - Campanha de André de Paula para Prefeito do Recife; 1993 - TV Tribuna, como produtor (21/08); 1994 - Rádio 102 FM e TV Estação Sat, como produtor; 1996 - Campanha de Lucia Braga para Prefeita de João Pessoa; 1998 - Chefe de Produção da Radio Clube; 1999 - Coordenador da programação dos 80 anos da Radio Clube. 2000 - Rádio Planalto, como produtor; 2000 - Campanha de Fernando Bezerra Coelho para Prefeito
de Petrolina (eleito); 2004 - Campanha de Joaquim Francisco para Prefeito do Recife; 2006 - Assistente de produção do livro “A Televisão Pernambucana por quem a viu nascer”, do escritor Jorge José Santana. 2008 Campanha de Arlindo Siqueira para Prefeito de Olinda; 2007 Assistente de produção do livro “Meio Século Depois – Televisão Pernambucana”, do escritor Jorge José Santana. 2008 Assistente de produção do livro “O Rádio Pernambucano por quem o viu crescer”, de autoria do escritor Jorge Jose Santana. 2012 - Campanha de Fernando Filho para Prefeito de Petrolina; 2013 - Assistente de Produção do livro “Os Governadores de Pernambuco”, de autoria do escritor Jorge José Santana. 2014 - Produtor assistente do livro “O Radio Pernambucano por quem o viu crescer”, segunda edição atualizada.
FOTOS DA LINHA DO TEMPO
COM OS COMPANHEIROS DA “SUL AMERICA” (1958)
Recebendo do apresentador Jorge Sá, no auditório do Canal 2, o
diploma de melhor produtor de TV no ano de 1971.
Na TV-Radio Clube, com o técnico José Leão, demonstrando o
funcionamento do mais moderno (na época) gravador-reprodutor de
imagens (um vídeo-tape quadruplex já superado nos dias de hoje).
E A NOVELA ACABOU....
... E esse é o resumo alinhavado, em tom bem
descontraído, de alguns flagrantes da minha modesta atuação nos meios de comunicação de Pernambuco.
Se o trabalho não agradou aos leitores de boa vontade,
peço perdão pelo tempo perdido com essas “memórias
memoráveis”... Aos saudosistas, que voltaram no tempo
comigo, agradeço pela paciência de aturar essa narrativa
comprometida apenas com a verdade dos fatos.
Vou continuar na batalha enquanto Deus me permitir
para poder escrever a segunda edição, mais atualizada,
dessa... “NOVELA DA MINHA VIDA”.
2014 (Ano da Copa)
MIGUEL SANTOS