Post on 22-May-2020
O CALÇAMENTO DE TIRADENTES:
história, intervenções e desafios para a conservação
CRUZ, LUIZ ANTONIO DA.
Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Arquitetura e Urbanismo
Área de Concentração: Teoria, produção e experiência do espaço
Rua Paraíba 697 – Funcionários – 30130140 – Belo Horizonte-MG
luizcruztiradentes@gmail.com.br
RESUMO
Bem no início do século XVIII, iniciou-se a ocupação da área que veio a ser Minas Gerais e, na
região do Rio das Mortes, o primeiro arraial a surgir foi o de Santo Antônio, depois Vila de São
José do Rio das Mortes, a atual Tiradentes. A implantação da vila ocorreu após os achados
auríferos e foi de forma linear, ao longo do caminho que cortava a localidade. Em 1710 teve
início a construção da igreja Matriz de Santo Antônio e com os recursos da mineração o lugar
foi dotado de belas edificações religiosas e civis. A ocupação urbana surgiu de forma
espontânea, seguindo os preceitos do decoro, já experimentado em Portugal. Havia contraste
das imponentes construções com as ruas em terra batida. Somente após a metade do século
XVIII elas foram calçadas com pedras do leito do Rio das Mortes e suas margens. Era o
calçamento pé-de-moleque. Com o passar do tempo e o abandono, o calçamento ficou
bastante precário. Existem fotografias das ruas de Tiradentes com o calçamento original e elas
estão dispersas em vários acervos. No final da década de 1950, os fragmentos restantes do
calçamento em pé-de-moleque foram removidos, a prefeitura fez um novo, com lajes de pedras
retiradas do alto da Serra de São José. Este artigo é sobre a história do calçamento de
Tiradentes, sua documentação e apresenta sua última intervenção de restauro, concluída em
2016, obra realizada pela prefeitura, com o apoio financeiro do BNDES. Por falta de projeto
adequado, conhecimento técnico, inserção de novos materiais e falta de acompanhamento da
execução, a intervenção acabou constituindo-se um grande equívoco. Agora Tiradentes sofre
com as consequências da obra. Prejuízo para o patrimônio, prejuízo para a cidade. Felizmente,
a obra foi devidamente documentada fotograficamente. O trabalho visa, também, sensibilizar
profissionais da área de Patrimônio, para que fiquem atentos, ao elaborar projetos de
intervenção, devem considerar a memória do bem cultural e evitar intervenções equivocadas,
como a do calçamento de Tiradentes.
Palavras-chave: calçamento, documentação, intervenção, conservação
V SEMINÁRIO IBERO-AMAERICANO ARQUITETURA E DOCUMENTAÇÃO BELO HORIZONTE – DE 24 A 26 DE Outubro de 2017
O pesquisador e arquiteto Sylvio de Vasconcellos em Arquitetura, Arte e Cidade
deixou-nos como legado um valioso estudo sobre as primeiras povoações em Minas
Gerais, quando se utilizaram as “tejupabas”, edificações rústicas indígenas
implantadas ao longo dos caminhos dos Sertões dos Cataguás. O pesquisador
salienta que as povoações: “originaram-se de estradas, cujas margens, construídas,
acabaram por transformá-las em ruas” (Vasconcellos, 2004, p.145) e logo era
implantada uma ermida e as construções ocupavam o seu entorno.
De acordo com outro pesquisador, Murillo Marx, a ocupação ocorria ao longo do
tempo, as “tejupabas” eram construídas às margens dos caminhos, que acabaram se
tornando os logradouros das principais vilas setecentistas. Ainda, segundo Marx, há
poucas informações sobre a evolução da história da cidade no Brasil, onde os estudos
existentes são dedicados à “interpretação arquitetônica e sua configuração geral, de
suas massas construídas e de seus espaços vazios”. O autor, em seu trabalho Cidade
Brasileira, destaca:
Mais do que o rego deixado pela via pública, o corpo contínuo e serpenteado
do casario denuncia ao longe o curso das ruas, ruelas e becos. A direção
caprichosa desse conjunto de cheios e vazios marca a personalidade da
povoação e lhe dá fisionomia própria. A vida urbana tem nas ruas o caminho
dos largos, dos edifícios importantes, do campo, e das outras cidades. Confia-
lhes, por isso, a feira, a procissão, o pretexto de encontro. (Marx, 1980, p.43)
Marx, um dos pioneiros a estudar a cidade brasileira, destaca a importância e a
funcionalidade das ruas, no contexto urbanístico e no corpo social dos núcleos
urbanos. As ruas com seus cheios e vazios ligavam um ponto ao outro e por elas as
pessoas circulavam, se encontravam e comercializavam suas produções. Aí
desfilavam as manifestações sociais, culturais e devocionais – dos cortejos festivos
aos cortejos fúnebres. Eram o palco do encontro e da socialização.
Sobre os calçamentos antigos, há menos informações ainda. Alguns registros foram
feitos pelos viajantes estrangeiros, como anotaram Spix e Martius, em Viagem pelo
Brasil:
Nas ladeiras íngremes, em parte calçadas com tijolo, quase possibilitando o
uso de cavalos, o viajante encontra “cadeira” de aluguel. (Spix e Martius, 1938,
4V.)
No terceiro quartel do século XVII, grupos de paulistas já haviam adentrado o território
que denominavam de “sertão”, com a ajuda de indígenas, percorreram e aprenderam
os caminhos que levavam ao território inóspito, habitado por várias tribos. Os paulistas
seguiam esses caminhos com objetivos específicos, o primeiro era capturar índios a
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serem vendidos para as fazendas de São Vicente e o segundo era a procura das
jazidas de ouro. Bem no início do século XVIII, iniciou-se a ocupação da área que veio
a ser Minas Gerais e, na região do Rio das Mortes, o primeiro arraial foi o de Santo
Antônio, que tornou-se conhecido como Arraial Velho, após a instalação de outro, o de
Nossa Senhora do Pilar – o Arraial Novo – a atual São João del-Rei. Em 19 de janeiro
de 1718, o “Velho” foi elevado à categoria de vila, com a denominação de São José, e
após a proclamação da República, em 6 de dezembro de 1889, passou a chamar
Tiradentes.
Em consequência da exaustão das minas auríferas e especialmente o malogro da
Inconfidência Mineira, São José entrou em decadência. Mas vale ressaltar que a
decadência econômica assolou a sede, enquanto os arraiais da vila prosperavam, com
suas atividades agropastoris. A localidade passou por longo período em profunda
decadência, cerca de cem anos. Com o abandono, sua estrutura urbanística ficou
praticamente intacta, ou seja, como era no século XVIII, mantendo suas ruas, largos,
becos e caminhos. O conjunto arquitetônico e paisagístico da cidade foi tombado pelo
SPHAN (atual IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1938.
A partir da década de 1980, Tiradentes passou por processo de revitalização. Hoje é
um dos polos indutores de turismo do Estado de Minas Gerais.
A implantação da antiga Vila de São José ocorreu de forma linear, ao longo do
caminho que cortava a região e foi depois dos achados auríferos no sopé da Serra de
São José. Em 1710 teve início a construção da igreja matriz, dedicada a Santo Antônio
e, com os recursos advindos da mineração, a localidade foi dotada de outras belas
edificações religiosas e civis. A ocupação urbana surgiu de forma espontânea, mas
seguindo os preceitos do decoro, já experimentado pelas vilas portuguesas.
Especialmente nessa localidade, havia um contraste com as imponentes construções,
arruamentos e largos, com as ruas em terra batida. Somente após a metade do século
XVIII as ruas receberam calçamentos feitos com pedras retiradas do leito do Rio das
Mortes e suas margens. Era o calçamento pé-de-moleque, também chamado de
“cabeça-de-negro”, feito com seixos de cascalho (quartzo). Com o passar do tempo e
o abandono, o calçamento original ficou bastante precário, em vários trechos se
perdeu. Existem registros fotográficos de ruas de Tiradentes com o calçamento
original e eles estão dispersos em vários acervos, alguns se encontram no Arquivo
Central do IPHAN, no Rio de Janeiro-RJ e no Laboratório de Fotodocumentação Sylvio
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de Vasconcellos, da UFMG, em Belo Horizonte-MG. Na Serra de São José, ainda
subsistem trechos de calçamentos antigos1.
Registros sobre os aspectos de nossas ruas e especialmente sobre os calçamentos
são poucos e os existentes foram anotados pelos viajantes, inclusive os brasileiros.
Em 1891, passou por São José, o poeta Olavo Billac (1865-1918), registrou:
As ruas, calçadas de pedras miúdas e avermelhadas, sobem e descem,
desertas, cheias de casas a cujas janelas nem uma cabeça de ente vivo
aparece. Os mesmos porcos que se encontram, de espaço a espaço,
focinhando a terra, tão meditabundo, que a gente chega a acreditar que os
porcos possuem como nós uma alma accessivel ao tedio e á misanthropia.
(Billac, 1891, p.77-84)
O viajante, professor e escritor Carlos de Laet (1847-1927), passou pela cidade, em
1893, quando já se chamava Tiradentes e anotou sobre suas ruas:
A cidade está quase deserta. Cresce capim nas ruas e há muitas casas onde
não mora ninguém.
E, com um suspiro:
– São José foi grande e poderosa: hoje está velha e cansada. É mãe de família
que criou muitas filhas: São João, Oliveira e outras ... As filhas agora é que
estão floreando, e a pobre velha vai vivendo aqui no seu canto ...
Não se poderia melhormente exprimir a honrosa decadência da velha cidade!
(Laet, 1993, p.65)
Os relatos revelam aspectos da decadência em que a cidade se encontrava, as
condições de conservação das ruas e consequentemente do calçamento, enfatizando
que muitas casas estavam abandonadas, inclusive alguns sobrados, que logo ruíram.
De maneira geral, o calçamento das vilas cativou muito pouco a atenção dos viajantes.
Até mesmo pesquisadores experientes, como José Wasth Rodrigues, que publicou o
preciosíssimo Documentário Arquitetônico, no qual nos revela os detalhes mais
minuciosos de nossa arquitetura civil, desde os espelhos de fechaduras até os
detalhes de gárgulas, praticamente não mencionou nada sobre os calçamentos.
Embora, em suas pranchas 56, 58 e 61, apresente detalhes de calçamentos da Casa
dos Contos, em Ouro Preto, com uso de pedras diferentes, mas sem mencioná-los.
1 Na Serra de São José, alguns caminhos foram calçados com grandes blocos de pedras areníticas, como
o caminho do Carteiro, do Mangue, das Águas Santas, da Bocaina e do Pico Alto, obras dos séculos XVIII e XIX. Para a construção desses empregaram conhecimentos de engenharia e destacam-se as soluções para os desvios de águas pluviais, as pontes secas e os muros de arrimo. Atualmente, todos precisam de obras de manutenção, no da Bocaina subsistem pequenos fragmentos e o do Pico Alto foi encoberto pela vegetação.
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Os primeiros calçamentos
Somente a partir de meados do século XVIII, as vilas mineiras começaram a calçar
suas ruas, com pé-de-moleque. Esse calçamento era feito com pedras arredondadas,
retiradas dos leitos de rios e suas áreas próximas às margens. Eram as pedras de
cascalho. Os calçamentos tinham um caimento único para as águas pluviais, no meio
da rua. Posteriormente, em algumas localidades, bem ao centro do calçamento,
colocaram pedras mais planas, para facilitar a circulação dos pedestres. A pedra ao
centro era chamada de capistrana2.
Os calçamentos nas vilas setecentistas têm sua origem no decoro português, mas que
vêm de período bem mais antigo, com Vitrúvio e seu Tratado de Arquitetura. Com o
decoro, as vilas coloniais ficaram mais formosas, pois os tratadistas portugueses
também herdaram os princípios vitruvianos, os quais foram também aplicados nas
colônias além-mar. A pedra já era usada nas edificações civis e religiosas, para os
detalhes e especialmente a proteção das paredes contra a umidade e para a maior
longevidade da madeira, como o uso do “soco” nos marcos de portas e janelas. Em
diversas edificações, utilizou-se o embasamento de pedra por motivos diversos, dentre
eles a monumentalização da edificação.
No Brasil, em geral, o calçamento foi feito aos poucos, mesmo nas cidades de maior
porte, como o Rio de Janeiro, conforme registros fotográficos do Paço Imperial e
outros, que mostram construções imponentes contrastando com as ruas de terra
batida. (Ferrez, 2008, p.136-7) Em localidades importantes como Paraty-RJ, o
calçamento foi realizado a partir de 1776 e as obras se estenderam até meados do
século XIX, utilizaram-se grandes blocos de pedras. Segundo o pesquisador Diuner
Mello:
As ruas têm formato de um canal, que permite rápido escoamento das águas
pluviais e das marés de lua cheia ou nova, que entram cidade a dentro. Este
engenhoso sistema de escoamento de águas é encontrado ainda em algumas
cidades portuguesas. Esta convivência e interação – mar/cidade – é uma
singularidade paratiense desde sua urbanização e mantida até os dias atuais.
(Mello, 2009, p.47)
Os primeiros calçamentos em Minas eram realizados pelas Casas de Câmara, que
habitualmente colocavam os editais de obras em hasta pública. Na Vila de São José
2 N.A. – A inserção das pedras ao centro do calçamento ocorreu no período em que o presidente da província era João Capistrano Bandeira de Melo, em sua homenagem as pedras receberam o nome de “capistrana”.
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del-Rei, as ruas calçadas no século XVIII foram a Rua Direita (FIGURA 1), a da
Câmara, a do Jogo de Bola, a do Sol (atual Padre Toledo), do Chafariz, dos largos
das Forras e do Sol. Em alguns logradouros, apenas trechos receberam calçamento,
como a Ponte de Pedra e o Largo do Chafariz e este deve ser da primeira metade do
século XVIII.
Com o período de decadência econômica de São José, que se prolongou por cerca de
um século, o calçamento ficou abandonado, sem manutenção, muitos trechos ficaram
comprometidos. Parte foi aterrada, especialmente no meio, por onde corria a água
pluvial. Até que no final da década de 1950, o prefeito Francisco Barbosa Júnior
(administração 1959-1962), resolveu calçar as ruas principais da cidade, aproveitando
parte das pedras antigas para compor as laterais do calçamento central, feito por lajes
de pedras, retiradas do alto da Serra de São José. Soterraram fragmentos do antigo
calçamento para abrigar o novo. Portanto, por baixo do atual calçamento existem
trechos do anterior, constituindo-se um curioso sítio arqueológico que deveria ser
considerado. O prefeito de Tiradentes, Francisco Barbosa Junior, naquela época, se
inspirou na experiência do calçamento que havia sido refeito em Diamantina, onde as
lajes de pedras foram assentadas sobre massa de cimento. Vale lembrar que o
calçamento diamantino era mais bonito que o Tiradentes, todo em pé-de-moleque,
bem assentado e delineado por pedras maiores, formando elegantes desenhos.
(Queiroz, 2010, p.4-71) A primeira intervenção ocorreu para a inserção de lajotas de
pedras ao centro, à moda capistrana, ainda no século XIX, entre 1877 e 1878. Esse
calçamento original foi retirado, no período de 1940 a 1960. Portanto, o calçamento
atual de Diamantina não é o original, com exceção de alguns trechos, como o
remanescente em frente ao Mercado Municipal. O pé-de-moleque foi substituído pelas
lajes de pedra largas e planas, retiradas das jazidas de quartzito da região. As pedras
retangulares eram colocadas formando quadrantes ou canteiros, nos interiores
inseriam os “matacões” – pedras sem lapidação. Com as pedras colocadas muito
próximas uma das outras, quase sem espaço, criava-se o “recunhado”, ou seja, um
sistema de travamento. Na década de 1960, ocorreu nova intervenção, acrescentando
linhas longitudinais e transversais no calçamento e o concreto para afixar as lajes.
Recentemente, realizou-se em Diamantina o “Projeto Acerta Pedra”, com o objetivo de
resgatar as técnicas antigas de calçamento, como o “recunhado” e a remoção do
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cimento, tudo feito manualmente e com o objetivo, também, de formar novos
calceteiros3.
Para o calçamento de Tiradentes, houve orientação do arquiteto Sylvio de
Vasconcellos, que sugeriu que as pedras fossem assentadas sobre terra vermelha,
com terra de cascalho de campo, ou seja, com a mistura, conseguia-se liga e
permeabilidade, evitando-se a experiência de Diamantina. No período de 1959 a 1963,
calçaram por lajes as ruas da Câmara, do Chafariz, Direita, Padre Toledo, Resende
Costa e do Jogo de Bola. A obra do calçamento teve fiscalização de Heitor Silva e
coordenação do mestre-pedreiro Antônio Carlos Ferreira, ambos funcionários da
prefeitura. Alguns operários que trabalharam nessa obra ainda estão vivos, dentre
eles Vicente de Paiva, João do Carmo de Paiva e José Celso Matias.
Retiraram as pedras para o calçamento do alto da Serra de São José, na ponta
extrema, área pertencente ao município de Prados. Todo o trabalho era realizado
artesanalmente, por Jair da Silva Velho, conhecido como Sô Breco, e seu irmão,
ajudados por seus familiares. Os blocos de pedras eram abertos por cunhas e
marretas, com a ajuda do calor de uma fogueira. Algumas vezes, podia-se apreciar
folhas ou pequenos esqueletos fossilizados, registros de um tempo muito distante, de
milhões de anos, quando a área ainda era mar. As pedras eram empilhadas e desciam
da serra transportadas por tropas. Eram vendidas a metro quadrado.
O antigo caminho existente junto ao sopé da serra foi alargado para passar o
caminhão que buscava as pedras. Foram transportadas por Vicente José da Costa, o
Vicente Firmino, num caminhão Ford F 6, conduzido por seu filho Vicente José da
Costa, o Nonôca, em duas viagens por dia. O motorista Rui Valente fez viagens
transportando-as num Chevrolet K 5. Para carregar e descarregar as pedras, o
trabalho era feito pelos irmãos Nelson José da Costa, Paulo José da Costa, Mário
Costa, com a ajuda de outros trabalhadores. Depois de descarregar o caminhão, as
pedras eram remanejadas, utilizando-se as carroças da prefeitura. (Cruz, 2015, p.119)
Segundo depoimento coletado de Nelson José da Costa, conhecido como Nelson
Firmino, havia o cuidado em carregar as pedras e empilhá-las no caminhão, o mesmo
ocorreu no descarregamento, para que “as pedras grandes e grossas ficassem bem
assentadas e o calçamento bonito”. Segundo depoimento de João do Carmo de Paiva,
que trabalhou na construção do calçamento, “tudo era feito no braço, com calma e
tempo, para ficar bem feito e bonito”. Ele ainda nos revelou um dos segredos da obra,
3 Projeto Acerta Pedra. Disponível em: http://diamantinacertapedra.blogspot.com.br/2015/07/projeto-acerta-pedra-diamantina-2012.html. Acesso em: 8 de setembro de 2018.
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“que quando estava pronto, cada trecho, precisava ser nivelado, então, pegou um
barril, encheu de cascalho e o transformou em rolo compressor, que era puxado pelos
homens”. E completou: “O calçamento ficou bonito e bem alinhado. Resistente. As
pedras eram grossas, tinham de 20 a 30 cm, todas assentadas sobre a terra, bem
juntas, para não levantarem, assim criando uma amarração.” (Paiva, 2016,
depoimento)
No segundo mandato do prefeito Francisco Barbosa Júnior, foi realizado o calçamento
da Rua da Santíssima Trindade (FIGURA 2). Depois outros trechos, como o entorno
do Largo das Forras e a Rua do Chafariz. O prefeito Josafá Pereira Filho
(administração 1977-1982) calçou, em poliédrico – pedras calcárias irregulares, as
ruas da Cadeia, Ministro Gabriel Passos, São Francisco e Nicolau Panzera. O Beco da
Matriz também teve uma parte calçada.
O paisagista Roberto Burle Marx idealizou projetos para os largos das Mercês, do
Chafariz, do Rosário, das Forras, do Sol e dos cemitérios da Matriz de Santo Antônio e
da Capela de Nossa Senhora das Mercês, através de iniciativa de Maria do Carmo
Nabuco e financiamento da Embratur, executados partir de 1980, quando concluiu-se
os trechos de calçamentos dos largos das Mercês e do Sol e parte da Rua Henrique
Diniz, utilizando-se ainda das pedras da Serra de São José. O Largo do Rosário
recebeu calçamento com pedras retangulares São Tomé.
O prefeito Mauro Barbosa (administração 1986-1988) fez o calçamento do entorno da
Rodoviária, conectando as ruas Ministro Gabriel Passos e Custódio Gomes em
poliédrico. Na gestão do prefeito Nilzio Barbosa (2009-2012) realizou-se a substituição
de asfalto por calçamento em paralelepípedo de trecho das ruas dos Inconfidentes e
Henrique Diniz. Depois, vários trechos foram calçados nos bairros e logo asfaltados. O
Governo do Estado Minas Gerais (administração Itamar Franco, 1999-2003) realizou o
calçamento da Estrada Velha, ligando Tiradentes a Santa Cruz de Minas e para tal
utilizou-se de paralelepípedo. (Cruz, 2009, s/nº)
Foram poucas as localidade mineiras setecentistas que conseguiram manter seus
calçamentos originais. A primaz de Minas, a cidade de Mariana, teve reurbanização
em consequência das inundações do Ribeirão do Carmo, foi “reformada” através
projeto urbanístico atribuído ao oficial sargento-mor e engenheiro José Fernandes
Pinto Alpoim. (Baeta, 2014, p.195) A reurbanização da antiga Vila de Nossa Senhora
do Carmo visava outro objetivo:
Com a ideia de se levantar na vila uma “nova cidade” – sede do Bispado
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Da capitania –, várias intervenções de cunho arquitetônico e urbanístico foram
estimuladas a procurar torná-la condigna de sua nova condição (...) (Bastos,
2014, p.182)
O calçamento em pé-de-moleque da área de preservação máxima de Mariana está
preservado e destaca-se o trecho em frente ao antigo seminário e Capela da Boa
Morte. (Queiroz, Machado, 2008, p.35) Ainda no Serro, as ruas do núcleo antigo,
também mantém o calçamento em pé-de-moleque. (Queiroz, 2010, p.69) Outras
localidades, como Ouro Preto, Congonhas e Sabará mantêm apenas alguns trechos
de calçamentos antigos. Diamantina e Tiradentes tiveram os seus originais
substituídos, mas os atuais são compatíveis com seus núcleos, pois são de pedra e
mantêm estreito diálogo com o conjunto arquitetônico. O calçamento de Tiradentes
tem características únicas, com grandes lajes de pedra, irregulares, formadas pelas
areias das ondas sedimentadas e constituem, cada uma, um documento geológico.
É importante registrar, ainda, que após a conclusão das obras do calçamento, a
retirada de pedras da Serra de São José continuou. Elas foram utilizadas para pisos e
revestimentos de paredes nas cidades da região. A Capela de Nossa Senhora da
Saúde, de Águas Santas teve sua fachada toda revestida de pedra. Outro exemplar
interessante é o antigo Colégio São João4, que tem seus amplos corredores com
barrados com pedras da Serra de São José.
Como a jazida das pedras era localizada no alto da Serra de São José teve a
exploração encerrada, porque a área foi transformada em uma unidade de proteção
ambiental5. Consequentemente, as pedras do calçamento de Tiradentes precisam de
cuidados especiais, pois não haverá mais como substituí-las por material pétreo com a
mesmo origem ou qualidade.
O calçamento de Tiradentes constitui um dos elementos que caracterizam e
identificam o lugar. O pesquisador Flávio de Lemos Carsalade, em sua obra A pedra e
o tempo – arquitetura como patrimônio cultural conceitua o “lugar” com personalidade
única e propícia para o desenvolvimento de sentimento de pertencimento, destacando:
4 Atual Campus Dom Bosco, da UFSJ – Universidade Federal de São João del-Rei. 5 N.A. - A Serra de São José foi transformada em APA – Área de Proteção Ambiental São José, através do
Decreto Nº 30.934, de 16 de fevereiro de 1990, e, por tornar-se uma área protegida, ali foi proibida a retirada de pedras. Posteriormente, foi criada a RVS – Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José, Decreto Nº 43.908, de 5 de novembro de 2004, reforçando ainda mais a necessidade de se preservar a área.
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É parte inerente da existência e da presença do homem sobre a terra a
qualificação especial dos seus lugares. Ao qualificá-los, toma posse deles em
seu nome e no nome do grupo que representa, criando condições para que
estes e seus descendentes se orientem, se identifiquem e reconheçam aquele
lugar como seu berço e sua vida, como seu patrimônio, portanto. (Carsalade,
2014, p.177)
As gerações que cresceram e conviveram no espaço urbano de Tiradentes,
identificavam-se com o calçamento. Muitos tinham sua pedra favorita, a de brincar, a
de cuidar, a de dialogar. Conforme diversos relatos de moradores da Rua da Câmara
e da Rua Direita.
Infelizmente, com o passar do tempo e a falta de manutenção, a situação de
conservação do calçamento do centro histórico ficou novamente crítica. Algumas
obras comprometeram sua preservação, principalmente quando ocorreram aberturas
para obras realizadas pela Cemig, Copasa, Telemig e por último para a instalação da
rede coletora de esgoto. Para cada obra, o calçamento foi aberto e fechado sem os
cuidados devidos. Consequentemente, foi perdendo suas características. Além das
obras, tanto as edificações do núcleo antigo quanto o calçamento são impactados
constantemente com o trânsito de veículos, inclusive os pesados. Existe legislação
municipal proibindo a circulação desses veículos na área de preservação máxima,
desde a década de 1980, porém nunca foi cumprida por parte da prefeitura e da
PMMG-Polícia Militar de Minas Gerais. Nas duas últimas décadas, a cidade sofreu
significativas transformações, uma delas foi o crescente trânsito de caminhões para
abastecer os diversos serviços turísticos.
Vale ressaltar, ainda, que as pequenas intervenções de manutenção, realizadas por
operários da prefeitura, sempre foram realizadas de maneira inadequada, as vezes
quebrando as lajes ou inserindo elementos pétreos diversos.
A última obra do calçamento de Tiradentes
Duremos na duração da obra,
já que em nós mesmos
é tão pouco o que duramos.
Matias Ayres, Arquiteto e Historiador
Portugal, 1728
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O BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social sempre realizou
obras de restauro de monumentos históricos pelo Brasil afora, mas decidiu realizar um
case, ao invés de fazer apenas uma obra, recuperar os principais elementos
arquitetônicos da localidade e dotá-la de instrumentos que pudessem contribuir para
sua proteção e manutenção. Após a avalição de cidades potenciais do país,
Tiradentes foi uma das eleitas para receber o case. A escolha foi por alguns motivos,
dentre eles o fato de abrigar um conjunto arquitetônico ainda preservado e ser um polo
indutor do turismo.
Na proposta do case, foram realizadas obras de restauro das capelas de São
Francisco de Paula, de Nossa Senhora do Pilar, de São João Evangelista, de Nossa
Senhora das Mercês e ainda Santuário da Santíssima Trindade e capelas dos Passos
da Paixão, essas últimas ainda em andamento. Foi desenvolvido o Projeto de
Educação Patrimonial e elaborado o Plano Diretor Participativo – sob a coordenação
da Fundação João Pinheiro. Foi implantado o Museu da Liturgia e houve apoio,
também, para os museus Casa Padre Toledo e de Sant’Ana. Essa primeira parte do
case foi realizada diretamente com os proponentes dos projetos e o apoio financeiro
do BNDES.
A segunda parte foi realizada através de empréstimo do Governo do Estado de Minas
Gerais (administração Antônio Anastasia, 2011-2014) ao BNDES, com os recursos
repassados à prefeitura, que executou as obras, com o acompanhamento do IPHAN.
Foram as seguintes obras: canalização do esgoto sanitário do Ribeiro de Santo
Antônio, instalação de iluminação externa dos principais monumentos históricos e
iluminação subterrânea com lampiões nos becos antigos, restauração do Chafariz de
São José, a aquisição de um novo caminhão-auto-bomba para o Corpo de Bombeiros
Voluntários de Tiradentes e a intervenção no calçamento da cidade.
Foram realizadas muitas obras e atividades tanto na primeira quanto na segunda parte
do case, mas nosso objeto de interesse aqui é o calçamento de Tiradentes.
Assim que começaram as intervenções no calçamento, na Rua da Santíssima
Trindade, iniciamos a produção de um documentário fotográfico, ao longo da execução
de toda obra foram feitas mais de cinco mil imagens, registrando vários aspectos,
como a remoção do calçamento, transporte das pedras, armazenamento. Depois, a
preparação da base, os materiais adicionados, o manejo das pedras, o maquinário e
as ferramentas utilizados, também o “fazer” dos trabalhadores.
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Segundo o pesquisador Marco Antônio Penido Rezende, é importante produzir uma
memória das técnicas construtivas, incluindo as “dimensões materiais e imateriais” que
envolvem a obra. E foi assim que tal documentação procedeu, registrando também o
“fazer” e o “como fazer”, com seus instrumentos adequados. E o pesquisador ainda
salienta:
Este é um primeiro aspecto de registro e documentação importante das
técnicas construtivas históricas: compreender que a conservação dos
monumentos passa pela preservação de seus sistemas construtivos;
compreender que mudar as técnicas em que o monumento foi construído
significa mudar parte importante de sua própria constituição, o que terá
significado irreversível para as próximas gerações. (Rezende, 2011, p.323)
Recentemente, autores vêm destacando a necessidade de se registrar o “fazer” e um
deles é o pesquisador Leonardo Barci Castriota, que refere-se à própria Constituição
Federal, no Art. 216, II, “os modos de criar, fazer e viver”; ele destaca os bens
imateriais, como as “formas de expressão” e os “modos de criar, fazer e viver” que são
manifestações eminentemente intangíveis. (Castriota, 2009, p.218)
Foi a partir desses preceitos que realizamos a documentação e comparando com as
informações e fotografias da obra do calçamento, realizada a partir década de 1950,
passamos a analisar e constatar que equívocos ocorriam com a última intervenção no
bem cultural, protegido por ser um dos elementos mais característico do Conjunto
Arquitetônico e Urbanístico de Tiradentes, tombado pelo IPHAN, processo 66-T-38 e
datado de 20 de abril de 1938. Desde a primeira ação, a retirada das pedras com o
uso de grandes máquinas (FIGURA 3), já estava errado, pois com esse manejo muitas
se quebraram. As pedras foram levadas para o terreno, onde esteve instalado um
escritório da empresa executora, a Suprema Engenharia Empreendimentos e
Comércio Ltda. Houve rebaixamento do nível do piso da rua e ocorreu movimentação
da terra, sobre ela adicionado cimento e após houve revolvimento. Em seguida,
fizeram uma cama de areia grossa, com cerca de 30 a 40 centímetros, para receber
novamente as pedras. No primeiro trecho refeito, a rua ficou sem o alinhamento
central, que divide a rua para o direcionamento em esquerda e direita.
Desde os primeiros metros de calçamento realizados, constatamos a maneira
equivocada, pois as pedras não ficaram assentadas devidamente sobre a areia. Os
próprios calceteiros e ajudantes disseram que jamais daria certo. Ocorreram muitas
críticas, mas todo o calçamento foi executado desse modo. Uma das primeiras
indignações registradas foi por se quebrar as grandes lajes com marreta, para facilitar
o manejo. O relato de Nelson José da Costa, Nelson Firmino, é significativo:
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Foi um sofrimento, pegar pedra por pedra, nos braços, colocar sobre o
caminhão e ao descarregar, também, uma por uma, para que o calçamento
ficasse com as pedras grandes, bonitas, tudo certinho. Só tínhamos uma
ferramenta para lidar com elas, a alavanca de ferro. Suamos muito, quase
acabamos com nossas mãos, braços e colunas. Foi muito trabalho para trazer
as pedras inteiras. E agora vocês vêm com tratores e marretas quebrar as
pedras que trouxemos com tanto cuidado. Isso é um crime contra o nosso
patrimônio! (Costa, 2016, depoimento)
Em diversos trechos a pedra original foi substituída por lajes São Tomé, pedras muito
mais finas, porosas, claras e bem mais frágeis. Em algumas ruas, como a da
Santíssima, quase todas as pedras foram substituídas, o mesmo ocorreu na Rua da
Câmara. Muitas delas desapareceram misteriosamente. Em trecho da Rua Henrique
Diniz, próximo à Ponte de Pedra, o calçamento de lajes foi substituído por
paralelepípedo, o mesmo feito com a antiga Rua da Praia, atual Rua Ministro Gabriel
Passos, que tinha calçamento poliédrico, substituídas por paralelepípedo. As pedras
retiradas dessas ruas também desapareceram.
O resultado não poderia ter sido pior, com as águas pluviais das primeiras chuvas, as
pedras soltaram e foram carreadas. Soltas sobre o banco de areia, prejudicaram
drasticamente a mobilidade, principalmente de veículos pequenos, sendo que alguns
até ficaram atolados na cama de areia.
Em alguns trechos a empresa refez o calçamento algumas vezes, mas as pedras
continuaram soltas. Na Rua da Santíssima Trindade, em trechos, foram removidas
pela prefeitura, porque estavam soltas. A circulação de pedestres e de veículos
automotores tornou-se perigosa. A rua ficou com piso de areia que causa problemas
aos moradores, devido à dispersão de poeira.
Na Rua da Câmara, foi feita tubulação para coleta de água pluvial, pela mesma
empresa, porém algumas bocas de lobo ficaram com suas aberturas acima do nível da
rua. Ou seja, a água pluvial só cairá na tubulação quando correr maior volume de
água.
A obra do calçamento de Tiradentes acabou tornando-se um expressivo equívoco,
pois desde o início, os principais envolvidos: prefeitura, IPHAN e a empresa ignoram a
documentação existente sobre o calçamento. Não tiveram a sensibilidade para buscar
informações junto aos moradores e especialmente com os trabalhadores que
participaram da sua construção, a partir de 1959.
Não houve acompanhamento de um arqueólogo, os trechos do calçamento original, do
século XVIII, com o remanejamento da terra, foram descobertos; antigos fragmentos
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da tubulação de água potável da Serra de São José, que abastecia a cidade, também
encontrados. Porém, no meio de tantos desencontros, desinformação e falta de
cuidado, foram ignoram os achados.
A empresa Suprema Engenharia levantou acampamento e foi embora, a cidade ficou
com um sério problema, um calçamento com suas pedras soltas, colocando em risco a
mobilidade (FIGURA 4).
Para agravar a situação, o trânsito de veículos pesados continua no centro antigo.
Mesmo depois da obra, a circulação de caminhões contribui acentuadamente para o
comprometimento do calçamento e do conjunto arquitetônico, com a trepidação que
causa rachaduras nas edificações. As obras realizadas pela empresa Suprema
Engenharia custaram R$4.347.117,47, (quatro milhões, trezentos e quarenta e sete
mil, cento e dezessete reais e quarenta e sete centavos) – incluindo o calçamento, o
restauro do Chafariz de São José e o encanamento do esgoto sanitário no Ribeiro
Santo Antônio. Para assegurar os investimentos realizados pelo BNDES, uma das
medidas para a conservação do calçamento deveria ser a expressa proibição da
circulação de veículos no núcleo de preservação máxima de Tiradentes.
CONCLUSÃO
Para a realização de obras em núcleos antigos, torna-se necessário pesquisar sobre a
memória do bem que receberá intervenção. É preciso considerar que além dos
arquivos, há outras maneiras de se obter informações, especialmente junto aos
moradores. Torna-se elementar considerar as experiências dos modos de “fazer”, pois
podem nos revelar informações significativas. Torna-se fundamental obter dados para
melhor compreender sobre os materiais utilizados, sua origem, seu manejo, sua
durabilidade, bem como as técnicas utilizadas para a execução. Tudo isso compõe um
conjunto elementar para a presente obra, a conservação e as futuras intervenções no
bem cultural – esses são os aspectos que estruturam a imaterialidade do patrimônio.
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FIGURA 1 - Rua Direita, Tiradentes, com o calçamento original. Década de 1950.
Fotografia do Acervo da EAU – Laboratório de Fotodocumentação Sylvio de
Vasconcellos, UFMG, Belo Horizonte-MG.
FIGURA 2 - Largo da Santíssima Trindade, Tiradentes, construção do calçamento com lajes da
Serra de São José, pela equipe da prefeitura. Década de 1970. Acervo Gilson Resende.
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FOTOGRAFIA 3 - Rua Direita, Tiradentes. Obra de intervenção no calçamento,
realizada pela Suprema Engenharia e Comércio Ltda., 2016. Fotografia do autor.
FOTOGRAFIA 4 - Trecho do calçamento da Rua Santíssima Trindade, Tiradentes,
realizado pela Suprema Engenharia Empreendimentos e Comércio Ltda, após das
primeiras chuvas, 2016. Fotografia do autor.