Post on 10-Nov-2018
O CONHECIMENTO NA ESCOLA: a relação imprescindível entre cultura e educação
Autor: Darly de Lourdes Andreola Carvalho Silva1
Orientador : Prof.ªMestre Carina Alves da Silva Darcoleto2
Resumo: Este estudo tem como objetivo, buscar uma reflexão sobre o conhecimento e a cultura produzido e acumulado historicamente pela humanidade e que deve ser priorizado no contexto escolar. Nessa perspectiva a pergunta que se faz é: que conhecimento deve ser selecionado, reorganizado e estruturado no currículo escolar para que ele se torne compreensível aos alunos, ou seja, é necessário realizar a transposição didática?
Palavras- chave: cultura-currículo- conhecimento, transposição didática.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz em seu escopo a relação entre cultura e educação, e
apresenta uma contribuição para embasar a discussão e reflexão sobre a
importância do currículo na escola, na medida em que se tem como preocupação
central o conhecimento produzido historicamente pela humanidade e para a
formação dos alunos.
Como pedagoga da rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná,
atualmente no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2010/2011 e
integrante de uma equipe Pedagógica, tenho a preocupação constante é sobre o
que o professor está realmente ensinando? Que conteúdo ele está ministrando?
Qual é sua intenção ao transmitir aqueles conteúdos? Quais contribuições estes
conteúdos trarão para a formação do aluno? Várias interpelações surgem e
1 Especialista em Informática na Educação, Graduada em Pedagogia e Psicopedagogia Clínica, Pedagoga no
Colégio Estadual Rodrigues Alves, Ensino Fundamental e Profissional- Jaguariaíva- PR - NRE- Wenceslau Braz.
2 Mestre em Educação.
instigam, e, afinal, como pedagoga, onde buscar uma forma de contribuir
efetivamente no processo ensino aprendizagem?
A intenção ao integrar-me ao Programa de Desenvolvimento Educacional -
PDE é de buscar formas e alternativas para auxiliar o professor na escolha de
conteúdos que possam vir efetivamente, contribuir com o desenvolvimento
educacional.
A seleção do conhecimento científico e quais conteúdos deverão ser
trabalhados na escola, deve ser uma das principais preocupações do professor.
Como sistematizar o conhecimento científico no processo de ensino/aprendizagem
para que haja um melhor aproveitamento dos conteúdos deve ser o primeiro passo
na busca de um bom ensino.
Neste artigo – que é um resultado parcial de nossa pesquisa, a qual se intitula
“O conhecimento na escola: a relação imprescindível entre cultura e educação” –,
pretendemos tratar da importância do conhecimento científico e do conhecimento
escolar na e para a formação dos alunos. Na medida em que se concebe que o
conhecimento científico é de extrema relevância para a formação dos indivíduos, é
importante que a escola atual priorize o ensino do conteúdo universal, aquele que
deve ser ensinado a todas as crianças, jovens e adultos, independentemente do
local onde vivem. Com este trabalho, pretendemos contribuir para a discussão e
reflexão sobre a construção e implementação de um currículo escolar que considere
a importância do conhecimento produzido historicamente para a formação dos
alunos da escola estadual paranaense, em geral, e em particular do Colégio
Estadual de Ensino Médio e Profissional Rodrigues Alves, da cidade de Jaguariaíva.
Para realizar este trabalho partiremos do conceito de transposição didática. Os
docentes do colégio Estadual Rodrigues Alves darão sua contribuição e farão parte
da implementação deste trabalho, realizando estudos, reflexão e trocas de
experiências com os colegas das 1ª séries do ensino médio, no horário destinado às
suas horas atividades de rotina na escola.
É lugar-comum dizer que a escola ensina e deve ensinar o conhecimento.
Porém, ao se falar que a escola deve ensinar o conhecimento, não necessariamente
se está tratando da mesma coisa. Cada vez mais tem se defendido (tanto pelos
profissionais que atuam na Educação Básica, como por pesquisadores da área da
educação) que a escola deve ensinar conteúdos que tenham relação com a “vida”
dos alunos, com o seu cotidiano. Por outro lado, há profissionais que defendem um
currículo que dê conta não só das especificidades locais, mas de elementos da
cultura geral, entendendo-se estes como imprescindíveis para o desenvolvimento
dos alunos.
Para tratarmos do conhecimento que deve ser priorizado no currículo escolar,
julgamos pertinente lançar mão do conceito de transposição didática, o qual nos
permitirá não só tratar das especificidades daquilo que se entende por conhecimento
escolar, como também entender o processo que se estabelece desde o
conhecimento científico até se chegar ao conhecimento ensinado/aprendido pelos
estudantes.
Vale destacar que não podemos perder de vista de qual conhecimento
estamos falando, quando pensamos e/ou temos que propor um currículo para a(s)
nossa(s) escola(s). Impondo-se essa necessidade, a seguir, buscaremos delinear
contribuições de alguns autores que se debruçam sobre o tipo de conhecimento que
deve ser ensinado na/pela escola.
2. ESTADO DA ARTE
Segundo Betty Oliveira e Newton Duarte, o conhecimento se desenvolveu a
partir das necessidades concretas do homem. A humanidade sempre se deparou
com problemas em seu cotidiano, os quais demandavam respostas. Desta forma,
pode-se concluir que mesmo os conceitos mais abstratos de determinados campos
do conhecimento não surgiram de meros “pensamentos puros” ou de “idéias” e/ou
intuições “inatas”, mas tiveram, mesmo que de modo mediato, uma certa vinculação
com as necessidades da vida social.
A autora cita que “A vida cotidiana é o ponto de partida e de chegada de toda
atividade e conhecimento do homem, desde as formas mais simples de criação e
reprodução da realidade até as formas mais elaboradas do conhecimento como
ciência e arte (OLIVEIRA e DUARTE, 1992). Por outro lado, o conhecimento –
elaborado visando, primordialmente, as demandas do cotidiano – passa a tomar
formas das mais simples as mais complexas e se torna independente na medida em
que se especifica até o ponto em que chega a criar uma autonomia frente à
cotidianidade.
Todavia, é o próprio desenrolar do cotidiano, influenciado pelos
conhecimentos já autônomos, que faz surgir novas exigências e novas ramificações
do conhecimento.
O indivíduo consciente de sua prática social deve ser capaz de dominar o
conhecimento elaborado existente na sociedade em que vive, bem como o próprio
modo de produzir esse conhecimento. Nesse sentido, a escola se constitui como um
dos organismos da sociedade civil que visa, precipuamente, o desenvolvimento do
processo de transmissão e assimilação do conhecimento elaborado. Destarte, a
escola é o local onde o indivíduo se instrumentaliza para atuar no meio social a que
pertence.
O saber escolar deve ser democratizado, sendo possibilitada a apropriação,
por todos os indivíduos, de ferramentas culturais imprescindíveis para a luta social
que visa a transformação das estruturas.
Quanto mais se consegue identificar e efetivar os vínculos entre a escola e a
sociedade, entre prática educativa e prática social global, mais a eficácia aumenta
O “saber escolar” representa os elementos essenciais do conhecimento
humano sistematizado e em sistematização, devidamente dosado e graduado em
anos correspondentes às diversas faixas etárias dos educandos.
Desta forma, torna-se imprescindível ao homem apropriar-se do mais vasto
campo de conhecimento, valores, hábitos, comportamentos e instrumentos já
desenvolvido pela humanidade. Ao contrário dos animais, em que seus modos
peculiares de ser lhes é dada por herança genética, o homem necessita incorporar
essas determinações por um processo histórico-social. Para Luckács (1981, p.152),
na educação dos homens “o essencial consiste em torná-los aptos a reagir
adequadamente aos acontecimentos e situações imprevisíveis, novos, que
aparecerão mais tarde em sua vida”.
Libâneo (1990,p.426), por sua vez, destaca que: “O caráter essencial do ensino é a
transmissão e assimilação ativa de conhecimentos e modos de atividades
acumuladas pela humanidade como produtos, isto é, como resultado do saber
sistematizado no processo de conhecimento do mundo objetivo.” Como tal, é um
processo que se manifesta no movimento da atividade cognoscitiva dos alunos para
o domínio de conhecimentos, habilidades e hábitos, no decurso do qual se
desenvolvem as capacidades mentais e práticas, pela mediação do professor.
A educação é uma exigência fundamental para o ser humano possa realizar o
ato de transformar a natureza, construir o seu meio de vivência, para que possa
garantir sua sobrevivência e reprodução. Saviani (2008, p.13) define a atividade
educativa como “o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo
singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos
homens”. Tonet (2005, p.222), por sua vez, afirma que atividade educativa possui
como finalidade
Proporcionar ao indivíduo a apropriação de conhecimentos, habilidades,
valores, comportamentos, etc., que se constituem em patrimônio acumulado e
decantado ao longo da História da humanidade. Neste sentido, contribui para que o
indivíduo se construa como membro do gênero humano e se torne apto a reagir
diante do novo de um modo que seja favorável à reprodução do ser social na forma
em que ele se apresenta num determinado momento histórico.
Toda educação, e em particular a escolar, supõem na verdade uma seleção
no interior da cultura e uma reelaboração dos conteúdos da cultura destinados a
serem transmitidos às novas gerações. Enfim, consiste numa seleção de elementos
da cultura, passíveis e desejáveis de serem ensinados/aprendidos por meio da
educação escolar.
Vivemos em uma época que devemos garantir a “formação de um nível de
pensamento mais alto”, ou seja “o nível do pensamento científico-teórico
contemporâneo, cujas regularidades revela a dialética materialista como lógica e
teoria do conhecimento” (DAVIDOV, 1981, p.7), em contraposição ao pensamento
empírico (próprio do cientificismo do ensino tradicional), forma importante de
conhecimento, que porém, “não é mais eficiente para época atual”.
É necessário compreender as condições da chamada “Revolução Científica-
Técnica como impostas pelas leis do desenvolvimento da humanidade” das quais
não se pode abrir mão e as quais devem ser consideradas relevantes em qualquer
discussão sobre educação (TALÍZIA,1984, p.8).
A escola deve ser criadora para, além de transmitir os conhecimentos
científicos, capacitar o aluno para buscar informações em outras fontes, de acordo
com seu desenvolvimento individual e social, pois as constantes mudanças no
desenvolvimento do homem e da sociedade, e a necessidade da educação estar
sempre se adequando a elas, assumem características novas, dadas as
particularidades do desenvolvimento científico e tecnológico, que impõem maiores
exigências à educação escolar e, principalmente , ao ensino básico.
A revista Veja (2011) traz uma reportagem que trata de um assunto de
extrema relevância para este tema, o professor e doutor Evanildo Bechara passou
décadas estudando o português, lingüística e filologia romântica em universidades
do Rio de Janeiro, da Alemanha e de Portugal, Membro da Academia Brasileira de
Letras (ABL), um dos mais respeitados especialistas da língua portuguesa condena
os colegas que se insurgem contra a norma culta – e diz que disseminá-la é crucial
para o do país. Bechara contrasta com o tom incisivo de suas críticas a certa
corrente de professores entusiastas da tese de que é “preconceito lingüístico”
corrigir os alunos. Diz Bechara: “Alguns de meus colegas subvertem a lógica em
nome de uma doutrina que só serve para tirar de crianças e jovens a chance de
ascenderem socialmente”. A defesa de que o Livro “Por uma vida Melhor”,
distribuído a 500.000 estudantes ao custo de milhões de reais para o bolso dos
brasileiros, do uso errado da língua deveria ter provocado uma revolta maior no seio
da sociedade. O problema de ordem pedagógica, que diz respeito às escolas, vem
sendo confundido com uma velha discussão teórica da sociolingüística, que
reconhece e valoriza o linguajar popular. Ninguém de bom senso discorda de que a
expressão popular tem validade como forma de comunicação, só que é preciso que
se reconheça que a língua culta reúne infinitamente mais qualidades e valores e que
consegue produzir e traduzir os pensamentos que circulam no mundo da filosofia, da
literatura, das artes e das ciências. Não resta dúvida de que ela é um componente
determinante da ascensão social. Qualquer pessoa dotada de mínima inteligência
sabe que precisa aprender a norma culta para almejar melhores oportunidades.
Privar os cidadãos disso é o mesmo que lhes negar a chance de progredir na vida.
Raffaele Simone foi quem situou esse debate de forma mais lúcida, criticando os
populistas que ao fazer apologia da expressão popular contribuem para perpetuar a
segregação de classes pela língua, pois justamente é o ensino da norma culta que
ajuda na libertação dos menos favorecidos. O domínio do idioma é resultado da
educação de qualidade e é necessário então, que professores tenham que deter
uma cultura geral mais ampla e devam se esforçar para tal, como faziam os antigos
mestres.
A ciência merece lugar destacado como e enquanto objeto de conhecimento,
isto é, seu valor consiste, ao mesmo tempo, em elevar o nível do pensamento
(cognitivo) dos estudantes e permitir-lhes o conhecimento da realidade e
interpretação do mundo em que vivem possibilitando sua transformação.
3. TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA
Nesta seção serão discutidos três aspectos principais, a saber: Análise da
relação educação e cultura, apontada e discutida por Forquin; Explanação sobre a
diferença entre conhecimento científico e conhecimento escolar e por fim a
transposição didática.
3.1 Análise da relação educação e cultura
Em seu livro “Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do
conhecimento escolar”, Jean-Claude Forquin (1993), afirma que a questão da
transmissão da cultura é função social da escola por excelência. Para isso, parte da
relação entre educação e cultura, a qual, para ele, é o cerne de toda transmissão
cultural. O autor tem como referência do tema-transmissão cultural a década de
1960.
No que diz respeito aos conteúdos ensinados na escola, é preciso que seja
feita uma reflexão sobre eles, ou corre-se o risco de tornar-se superficial, por isso
todo questionamento dos conteúdos ensinados, sua intencionalidade, sua
pertinência, seu interesse, seu valor educativo ou cultural, constitui para os
professores um motivo de grande inquietação.
Antes de falar de tal relação é necessário comentar que o autor Jean-Claude
Forquin faz um esclarecimento léxico da palavra cultura, de modo a não usá-la
arbitrariamente e chega a conclusão que tal termo, quando se fala a palavra “cultura”
a tratar de transmissão cultural na escola, deve ser tomado como:
“(...) um patrimônio de conhecimentos e de competências, de instituições, de
valores e de símbolos, constituídos ao longo de gerações e característico de
uma comunidade humana particular, definida de modo mais ou menos amplo e
mais ou menos exclusivo (...)” (p.12).
Se as escolas podem ter maneiras diferentes para realizarem a seleção dos
conteúdos da cultura a serem introduzidos em seu interior, é primeiro necessário
que se atente para o valor que o ensino deve ter.
Como aponta Forquin: “Educar alguém é introduzi-lo, iniciá-lo numa
certa categoria de atividades que se considera como dotadas de valor, não no
sentido de um valor instrumental, de um valor enquanto meio de alcançar uma
outra coisa ( tal como o êxito social), mas de um valor intrínseco, de um valor
que se liga ao próprio fato de praticá-las (como se vê por exemplo no caso das
artes); ou ainda é favorecer nele o desenvolvimento de capacidades e de
atitudes que se considera como desejáveis por si mesmas, é conduzi-lo a um
grau superior (mesmo que esta superioridade seja apenas relativa) de
realização...(p. 165)”
Assim percebe-se claramente que para Forquin a educação deve ser
formadora e jamais instrumentalista. O valor da educação, para ele, é
intrínseco, devendo ser selecionado da cultura humana pela escola apenas
aqueles conhecimentos que terão sentido formativo para o homem. Desse
modo, extrai-se a concepção do autor de currículo, em que este é o produto de
uma seleção de conteúdos da cultura a serem ensinados na escola, sempre
como valor formativo, permita ao homem chegar a “um grau superior” (p. 165)
Até aqui tem se tratado de elementos da “cultura escolar”, tais como os
conteúdos transmissíveis ao currículo. Faz-se necessário ainda, acrescentar a
análise do conceito “cultura da escola”, ressaltando a diferença entre os dois
conceitos.
Para o autor, a cultura da escola está relacionada com as características de
vida próprias do “universo”, sendo estas refletidas pela sociedade. Em suas
palavras Forquin comenta que: “...a escola é também um „mundo social‟, que tem
suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua linguagem , seu
imaginário, seus modos próprios de regulação e de transgressão, seu regime próprio
de produção e de gestão de símbolos...(p.167)”
De acordo ainda com Forquin, cabe às instituições de ensino selecionarem os
conteúdos que consideram mais importantes a serem introduzidos e é
imprescindível que atentem para o valor que o ensino deve ter.
O autor é extremamente convicto em defender que a cultura escolar tem que
privilegiar na cultura transmitida os aspectos mais constantes, mais universais e
incontestáveis e reconhece que com isso que toda educação, e em particular a
escolar, supõe na verdade uma seleção no interior da cultura e uma reelaboração
dos conteúdos da cultura destinados a serem transmitidos às novas gerações.
Finalizando, Forquin enfatiza que é necessário reconhecer que: “...estamos
determinados a ensinar, estamos determinados a transmitir alguma coisa que valha
para os que nos seguem, não porque achemos que o mundo se tornará
especialmente, por isso mais feliz, mais justo ou mais sábio, mas muito
simplesmente porque o mundo continua. (...) Sujeitos à finitude, e sabendo disso,
nós não temos, ao final das contas, outra escolha senão querer para os outros a
vida e confiar-lhes o nosso testamento."
3.2 O Conhecimento Científico e o Conhecimento Escolar
Veicular a educação escolar com a difusão do saber científico consiste em um
sistematizar o saber organizado que garante e concebe o ensino como processo,
norteador de finalidades educacionais claras e objetivas.
“No que se refere ao conteúdo do ensino, encontrar os melhores meios de seleção,
organização é um objetivo tão complexo quanto o de escolher o caminho adequado
para propiciar sua assimilação/ apropriação por alunos de um determinado grau (ou
definir os métodos de ensino aprendizagem). Portanto, para que a instrução pública
possa se colocar em consonância com os avanços científicos e técnicos do mundo
contemporâneo, é preciso superar a tendência ao rotineiro aperfeiçoamento do
conteúdo e das metodologias de ensino o que requer a substituição dos métodos
vigentes de estruturação das disciplinas por outros princípios de seleção e
desenvolvimento do material de estudo.” (DAVYDOV, 1981, p. 370). Segundo o
autor é inegável o entrelaçamento da ciência não só com a técnica, mas também
com a filosofia, a política, arte, a cultura em geral, exercendo influência cada vez
maior nas diversas atividades humanas, interferindo e levando a mudanças
significativas nos usos, costumes e modos de vida dos povos.
Segundo Danilov e Skatkin, (1984, p. 150) o domínio do conhecimento científico vai-
se tornando mais e mais uma necessidade que a educação escolar não pode
ignorar. Além disso, vale considerar a própria influência educativa da ciência como
experiência generalizada da humanidade, no desenvolvimento da personalidade de
cada aluno.
Segundo Saviani (2010, p.72) o trabalho utilizando o conhecimento científico
na educação escolar não deve se restringir à transmissão/assimilação de fatos e sim
de conceitos, idéias, princípios, informações etc. É certo também que a mera
utilização, na escola, dos procedimentos metodológicos das ciências, torna-se
insuficiente para a formação do conhecimento científico, é preciso ainda entender a
especificidade da atividade científica e precisar seu papel na educação escolar e o
lugar que deve ocupar na formação dos alunos nos diversos níveis de ensino. É
preciso entender a especificidade do processo ensino- aprendizagem como espaço
de atividade cognoscitiva (capacidade para aprender) e organizada. Em geral, as
disciplinas escolares encontram (ou devem encontrar) seus fundamentos em uma ou
mais disciplinas científicas, por exemplo: as bases científicas da disciplina Biologia
são a Botânica, a Zoologia e a Antropologia; as do Desenho são a Estética, a
História da Arte, a Pintura, a Artes Gráficas, as Artes Plásticas.
É papel da escola levar o aluno a pensar, desenvolver-se em suas
capacidades mentais, e também proporcionar sua autonomia de processo
(capacidade para aprender), tal papel, a escola desempenhará tão melhor quanto
mais se dedicar a organizar sua atividade cognoscitiva dos alunos, servindo ao
mesmo tempo como fonte de informação. Trabalhar a ciência na sua história, na sua
lógica e no seu método apresenta-se, como uma das grandes tarefas da escola.
3.3 Transposição Didática
No texto “Trajetórias do saber e a transposição didática”, disponível em
http://people.ufpr.br/~trovon/cursos/especializacao2009/Transposicao_Didatica.pdf
encontra-se uma análise e descrição da noção de iniciação à pesquisa e uma
abordagem da noção da transposição didática, vimos que o conhecimento, desde
sua produção e transmissão às novas gerações sofre transformações e adequações
para que possa ser transmitido pelos educadores e apropriado pelos educandos. A
transposição didática pode ser entendida como transposição de saberes, sendo
assim entendida no sentido da evolução de ideias no plano histórico da produção
intelectual da humanidade. No caso das ciências e da matemática, essa evolução
ocorre sob um controle mais intenso dos receptivos paradigmas. De acordo com
Klun (1975) os paradigmas são princípios e regras que os membros de uma
comunidade científica compartilham entre si, visando à validação dos saberes
produzidos nesse contexto. Para que uma produção seja reconhecida como
científica é preciso que os membros da respectiva comunidade respeitem o conjunto
de regras. Dessa forma, os conceitos de transposição e o próprio saber científico
estão interligados, o que fica evidente quando sua análise é remetida ao plano
pedagógico, onde toda transposição está relacionada a um saber específico, assim
como toda aprendizagem se faz sob a infuência de uma transposição, portanto, a
definição de saber escolar dá-se na relação com “outros saberes”. De um lado,
aqueles dos quais ele procura se aproximar: saber sistematizado, elaborado, não
espontâneo, erudito, enfim, os que integram o acervo cultural organizado; de outro
aqueles dos quais ele parte: saber espontâneo, comum, habitual, ingênuo, pré-
científico, enfim, os que integram o chamado senso comum.
O saber científico foi desenvolvido e publicado pela atividade científica,
conforme preconiza Luiz Carlos Pais (2005, p. 21), o saber escolar representa o
conjunto dos conteúdos previstos na estrutura curricular das várias disciplinas
escolares valorizadas no contexto da história da educação.
Os conteúdos de ensino não se compõem apenas de conhecimento científico
transposto em conhecimento escolar. Além do conhecimento sistematizado, Libâneo
(1990, p. 451) destaca como conteúdo de ensino as habilidades e hábitos, atitudes e
convicções, capacidades cognoscitivas. Interessa segundo ele verificar como se
apresenta o conhecimento científico nessas obras, pois é base do ensino, condição
prévia para os demais conteúdos de ensino, e aponta para o conhecimento
sistematizado.
Conceitos e termos fundamentais das ciências; fatos e fenômenos da ciência
e da atividade cotidiana; leis fundamentais que explicam as propriedades e as
relações entre objetos e fenômenos da realidade; método de estudo da ciência e a
história de sua produção; problemas existentes no âmbito da prática social (contexto
econômico, político, social e cultural do processo de ensino e aprendizagem)
conexos com a matéria.
O estudo das prioridades que orientam a prática pedagógica é também uma
das prioridades da didática, que fornece referências a fim de estabelecer propostas
de conteúdo para a educação escolar. A noção de transposição estuda a seleção
que ocorre de uma extensa rede de infuências, envolvendo diversos segmentos do
sistema educacional. Essas idéias aparecem na definição de Chevallard: “Um
conteúdo do conhecimento, tendo sido designado saber a ensinar, sofre então um
conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto a tomar lugar entre os
objetos de ensino. O trabalho que, de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de
ensino, é chamado de transposição didática.” (CHEVALLARD, 1991)
O estudo da trajetória dos saberes permite visualizar suas fontes de
influências, passando pelos saberes científicos e por outras áreas do conhecimento
humano. O conjunto de aspectos conceituais e também na reformulação de sua
forma de apresentação. O conjunto das fontes de influências na seleção dos
conteúdos recebe o nome de noosfera segundo a descrição de Chevallar, da qual
fazem parte: cientistas, professores, políticos autores de livros e outros agentes que
interferem no processo educativo. Seu resultado da influência da noosfera
condiciona o funcionamento de todo o sistema didático. O trabalho seletivo resulta
não só na escolha de conteúdos, como também na definição de valores, objetivos e
métodos, que conduzem o sistema de ensino.
Valente ET. AL (2006, p. 8), citam que, para Chevallard, o conhecimento
passa pelos seguintes processos: “nascimento na comunidade acadêmica,
assumindo modalidades e funções diferentes; exposições e difusão; reprodução e
reconstrução social- produção didática, na qual as exigências não são as mesmas
da produção acadêmica”. Nos livros didáticos, a transposição didática se manifesta
de maneira clara, uma vez que nestes livros, ou seja manuais, estão os
conhecimentos a serem ensinados, o saber a ensinar Pinho Alves ( 2000a) destaca
que o “saber sábio”, produzido pelos cientista são apresentados através de
publicações científicas, revistas especializadas, destinadas a um público restrito,
enquanto o “saber a ensinar” apresenta-se nos livros-textos ou manuais e apostilas
de ensino.
A partir dessas ponderações, vale salientar a necessidade de uma maior
aproximação entre conhecimento escolar e científico, sendo que no atual momento
de desenvolvimento das ciências e, tendo em vista as exigências de formação do
homem contemporâneo, a escola, deve estruturar-se para ajudar os alunos, desde
logo, a superar os conceitos espontâneos pelos científicos.
4. Considerações Finais
Conclui-se, com estes estudos que existe uma necessidade constante de
analisar e compreender a transposição didática, os modelos teóricos da “ciência
escolar que não é uma simples redução ou simplificação da ciência dos cientistas e,
sim, uma reconstrução que deve cumprir a condição de selecionar aspectos como
forma de beneficiar o ensino aprendizagem. Em síntese o presente trabalho mostra
que existe uma cultura escolar sui generis, resultante de seleções feitas a partir da
cultura mais ampla. Na escola, ocorre uma reconstrução e uma nova produção do
conhecimento, existindo mesmo uma “ciência escolar”, com uma epistemologia
própria. Nesta direção, este projeto tem o intuito de destacar a importância do
professor no processo de transmissão do conhecimento selecionado para compor o
currículo escolar, para que o conhecimento possa ser apropriado pelos alunos.
Assim, compreende-se o papel do professor no processo de re-elaboração do
conhecimento científico e a forma como é organizado esse conhecimento para fins
de ensino, ou seja, como ele é transmitido para que seja assimilado pelos alunos.
Por fim, conclui-se ser necessário, então, fazer uma aproximação entre estes
conhecimentos, o científico e o escolar, como condição sine qua non para o
funcionamento dos saberes.
Referências
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DOMINGUINI, L. A. Transposição didática como intermediadora entre o
conhecimento científico e o conhecimento escolar. Revista Eletrônica de
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FORQUIN, J.C. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do
conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
MARANDINO, M. Transposição ou recontextualização? Sobre a produção de
saberes na educação em museus de ciências. Revista Brasileira de Educação:
Agosto. 2004, Nº 26.
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chegada da prática educativa. Ed. Cortez, 1992.
POLIDORO, L., STISA, R. Transposição Didática a passagem do saber científico
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http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia.
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SACRISTÁN, J. G. O CURRÍCULO: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre:
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SAVIANI, N. Saber Ecolar, Currículo e Didática. CAMPINAS, SP: Autores
Associados, 6ª Ed. Revista, 2010.
TROVON, A. As Trajetórias do saber e a transposição didática. Disponível em:
http://peopple.ufpr.br/~trovon/cursos/especializacao2009/Transposição Didatica.pdf
Último acesso em: 15 de maio de 2011.