Post on 01-Apr-2016
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O CORAÇÃO DA MÃO
DIREITA
O Coração da Mão Direita
INTRODUÇÃO
O mestre Kametarou Nakayama é
Reverendo da religião Konkokyo, quando dos
seus cinco anos de idade devido a um grave
acidente sofrido nos trilhos de uma ferrovia,
acabou tragicamente perdendo seus dois pés e
um dos braços.
Apesar dessa tragédia, por um grande
milagre divino o mestre teve sua vida salva. E
dentro desta terrível angústia, graças a sua fé
fervorosa nos deixou uma famosa frase:
“Sofra com intensidade, viva com total
lealdade. Ame o destino e vivifique-o.”
Quando completei cinco anos de idade, eu
também fui vítima de um acidente num trilho de
ferrovia, como o do mestre Nakayama e perdi o
meu braço direito. Dentro dessa grande tristeza,
com o passar do tempo e vendo que era uma
pessoa anormal, comecei a ter um terrível
ressentimento dessa desgraça, comecei a odiar
esse meu “destino” e até reclamava desse com
palavras terríveis.
Caso eu não encontrasse em minha vida a
Konkokyo e caso não me encontrasse com Deus
Universal, não estaria hoje liberta desse
O Coração da Mão Direita
sofrimento como também minha vida teria um
final desastroso.
Uma vida sem esperança e sem espírito de
luta, vivia numa escuridão que parecia não
haver fim. Foi nessa ocasião que Deus pousou os
olhos em mim. E com muita misericórdia, Ele
estendeu suas mãos em meus ombros e me
levantou. Era como se Ele tivesse refletido em
cima de mim, uma luz no fim do túnel. E com
muita paciência cuidou de meu coração ferido,
cicatrizando toda aquela angústia sofrida.
Demorou muito, mas hoje aprendi a “Amar
o destino” e “vivificar o destino”. E descobri
dentro de tudo isso que na verdade, fora tudo
obra de Deus e que o “destino é que me amava” e
também o “destino é que me vivificou”. Aprendi a
transformar o sofrimento, numa alegria a ser
vivida. A minha vida é uma luz iluminada por
Deus.
Este livro “O Coração da Mão Direita”,
relata toda a minha vida e hoje não sinto
carência de algo no meu dia a dia, como também
não sinto nenhuma inconveniência e está
sustentando meu espírito, coração de luta com a
fé em Deus.
O Coração da Mão Direita
ÍNDICE
O Nascimento e a Casa da Família
dos Matsuo
O Acidente na Ferrovia
Uma criança Sem a Mão Direita
Líder
A Primeira Mão Postiça
O Casamento
A morte da mãe
A Grande Mudança de Rumo
Divórcio e o Impasse
Vivendo por algo
O Encontro da Vida
Segundo Casamento e as Dúvidas
Sobre a Fé
A Mudança do Coração
(Renovação)
Desistindo a Mão de Postiço
A Mudança do Marido
A Mudança da Família de Meu
Filho
A Mudança de Meus amigos
Yoshimi chan
Amado Pelo Destino e Vivificado
pelo Destino
Epílogo
O Coração da Mão Direita
■ O Nascimento e a Casa da Família dos
Matsuo
Eu nasci no dia 28 de Janeiro de 1945, no
estado de Fukuoka, subdistrito de Kasuya cidade
de Umi. Sou filha de Matsuo e Misano Matsuo.
Minha família é composta por oito irmãos sendo
eu, a caçula da família.
Meu pai trabalhava como técnico de
mineração e tinha um caráter muito autoritário.
Estava sempre rodeado por pessoas, mas tinha
ao mesmo tempo uma conduta muito rígida. Era
uma pessoa típica daquele que “bebe, bate,
compra”, pensando apenas em si próprio. E
quando ingeria bebida alcóolica sempre
violentava a minha mãe. Como era uma pessoa
de temperamento muito curto, quando estava
mal humorado era capaz de lançar qualquer
objeto que estivesse segurando.
Quando meu pai recebia o seu salário, não
usava para as despesas da família e vivíamos
numa pobreza profunda. Devido a dificuldades
financeiras, a minha irmã Kimiko, depois de
terminar o ginasial foi para a cidade de Tóquio
em busca de trabalho. E com o trabalho que
conseguiu, enviava parte do salário para a
família.
O Coração da Mão Direita
E foi por essa razão a qual não tive
recordações dos momentos de infância que vivi
com essa minha irmã. No ano novo ela comprava
para os irmãos mais novos casacos e blusas como
presentes, mas nós não chegávamos nem a vestir
essas roupas, porque o meu pai usava como
pagamento dos impostos e também para comprar
sua bebida.
Até os meus irmãos que começaram a
trabalhar muito jovem na mineração, foram
vítimas de roubo de nosso pai. Caso tentasse
enganá-lo, éramos violentamente espancados e
mesmo sentindo revoltas, o pavor era maior e se
agravava cada vez mais, não tendo outra opção
se não obedecê-lo.
Ele traia minha mãe com sua amante,
tornando-se algo frequente. O sofrimento de
minha mãe diante desta enorme tristeza era algo
indescritível.
Dentro desta situação de indigência, e
vendo minha mãe sofrer diante de nossos olhos,
todos nós queríamos que ela pudesse viver com
maior tranquilidade. Então nós, nos ajudando
um ao outro com muito esforço conseguimos sair
com sucesso de uma pobreza extrema.
Não tenho boas lembranças de meu pai.
Durante muito tempo deixei tapado no fundo de
um poço essa tristeza que vivi com ele.
O Coração da Mão Direita
Quando nascemos nesse mundo, não há
como escolher nossos pais. Assim como os pais,
não tem como escolher o seu filho.
Caso o filho tivesse esse privilégio é lógico
que escolheria um pai amoroso, carinhoso, que
pudesse ajudar em todos os momentos e que
estivesse sempre sorrindo de alegria. E teria
também escolhido ter nascido numa vida mais
rica materialmente.
E caso o pai pudesse escolher pelo seu
filho, com certeza escolheria um filho que
pudesse ter inteligência e capacidade de sucesso
no futuro e que também fosse obediente.
Mas isso não é algo possível.
Deus escolheu para mim essa família dos
“Matsuo” e foi essa família que também me
escolheu.
■ O Acidente na Ferrovia
No ano de 1950, quando completei 5 anos
de idade, tinha uma vizinha que era muito amiga
minha. Ela se chamava Yoshimi e tinha 12 anos
de idade. E ela sempre cuidava e brincava
comigo.
O Coração da Mão Direita
E num dia, como sempre, ela me chamou
para passearmos juntas com o seu cachorro de
estimação.
__ Kyoko, vamos! - ela me chamava.
Nesse dia, para encurtar a caminhada
Yoshimi juntamente com seu cachorrinho usou o
caminho que percorria nos fundos de minha casa.
Nesse local, havia uma linha ferroviária.
Yoshimi já havia atravessado a linha
férrea e eu corria muito para alcança-la. Essa
linha que ficava numa parte mais alta, ficava
parecendo um pequeno morrinho no meio da
estrada.
Foi como num piscar de olhos, para
atravessar essa linha férrea, tive que apoiar as
minhas mãos numa das trilhas e foi nesse exato
instante que o trem passara em alta velocidade
esmagando a minha pequena mãozinha, fazendo
com que sangrasse muito.
Não sabia nem o que estava acontecendo
comigo. Mas uma dor terrível tomou conta de
meu braço e comecei a chorar desesperadamente.
__ Iaaaaaa! - E ouvindo esse choro
desesperado de sua filha, minha mãe veio me
socorrer rapidamente.
E mesmo sangrando muito ela me levou ao
hospital mais próximo. Caso fosse num hospital
O Coração da Mão Direita
moderno como atualmente, essa tragédia teria
acabado somente com a amputação das mãos.
Mas naquela época, devido ao término da
Segunda Guerra Mundial, o médico que
trabalhava nesse hospital era um soldado médico
do exército japonês.
Esse médico fez um tratamento muito
escabroso. E aproveitando-se do desespero e
aflição de minha mãe, disse:
__ Há o perigo de contrair tétano. - E ele
amputou o meu braço do cotovelo até as mãos.
E quando fiquei sabendo desta realidade
comecei a sentir ódio desse médico. E também do
meu pai, que estava bebendo durante a tarde e
nem se mostrou preocupado com a minha
situação.
__ Por que não fizeram uma cirurgia e não
apenas um tratamento? Por que o meu pai não
veio me ver? Por que perdi o meu braço direito?
Por que tive que ter esse azar? Foram dúvidas
que começaram percorrer minha cabeça durante
anos.
O Coração da Mão Direita
■ Uma criança Sem a Mão Direita
Foi antes de começar a cursar o primário,
na olimpíada que a escola promovia todo ano.
Numa das competições, havia o pique-bandeira.
Cada criança segurava em cada mão uma
bandeira. Mas fiquei com duas bandeiras na mão
esquerda e desfilei dessa forma no campo.
Sabendo que começaria meus estudos no
primário, fazia me sentir muito feliz, me
mantendo sorridente durante esse desfile. E
minha mãe vendo essa minha aparência alegre
chorava muito e me aplaudia muito.
__ Por que a mãe chora tanto. - perguntava
dentro de mim.
Não entendia essas lágrimas de minha
mãe. E também ainda não sabia da profundidade
de ser uma pessoa de deficiência física. E minha
mãe com certeza sempre pensava dolorosamente:
__ Como será a vida de minha filha?
Ela se culpava muito por essa tragédia que
eu sofri.
Eu era ainda uma pequena criança, mas
essa lembrança ficou gravada profundamente em
meu coração.
O Coração da Mão Direita
Não tinha como saber das dificuldades de
minha mãe e não sabendo disso, o sofrimento que
ela tinha com o comportamento de meu pai e
agora cuidar de uma filha com deficiência física,
trouxe ainda mais preocupações a ser
encarregada.
Durante a minha infância fiquei sem saber
o sorriso alegre de minha mãe.
Dentro deste todo sofrimento, a minha
única alegria era a relação com meus irmãos.
Devido a essa minha deficiência, eles sempre me
protegiam e me ajudavam muito.
Num certo dia, durante minhas aulas de
educação física, tivemos o treinamento de pular o
cavalinho. É um treinamento que fazemos para
pular uma caixa com estofado em cima usando as
duas mãos.
Meus amiguinhos conseguiam pular sem
problemas, mas eu nem tentava, não tinha
coragem devido ao meu braço. Quando me sentia
muito decepcionado, lembrei-me das palavras de
meu irmão, Fukumi:
__ Kyoko, não há algo que você não
consiga. É só porque você acha que não consegue.
Se você tem coragem, levantando essa vontade
não há algo que você não consiga. - disse ele com
muito carinho e tocando suavemente em meu
braço.
O Coração da Mão Direita
E lembrando disso olhava fixamente para o
cavalinho que sentia ficar pequenino e pensei:
__ Tenho a certeza que consigo.
E com essa convicção, comecei a correr em
direção ao cavalinho. E com apenas um braço
para me sustentar em cima do cavalinho,
consegui pular com sucesso. Foi um momento de
muita emoção para mim e me lembro como se
fosse ontem. Pular um cavalinho é algo comum
para uma pessoa saldável, mas para mim não
era. E ter conseguido realizar essa proeza, foi
uma experiência nova com uma emoção
indescritível.
Meu irmão, Fukumi, me ensinou outra
palavra:
“Querendo poderás, não querendo não
poderás. Para tudo se eu não querer nada
poderei”.
Essa frase se tornou no lema de minha
vida.
Meu outro irmão, Fuyumi, trabalhava na
mineração e à noite frequentava o curso de
contabilidade. Creio que seja pensando no futuro
que ele resolveu fazer esse curso.
Quando ele voltava do curso, praticamente
todos os dias, íamos para o sofá e ele me
O Coração da Mão Direita
ensinava a aritmética mental. E foi graças a isso
aprendi muito sobre como fazer cálculos.
Infelizmente não tive amor paterno, mas o
amor fraterno dos irmãos preencheram meu
coração deste enorme vazio que sentia. Mesmo
estando num ambiente familiar de muitas
desgraças, o amor entre os irmãos resistiu forte
fazendo com que esse laço tornasse cada vez
mais firme.
Mas o meu maior sofrimento aconteceu
justamente com o início das aulas no primário.
Só de passar ao lado dos alunos ou colegas
de classe, eles sentiam nojo de mim e até
apontavam o dedo dizendo que eu era um “germe
transmissor”.
Fui também vítima de uma emboscada de
um grupo de meninos na saída da escola. E eles
judiavam jogando pedras em mim e dizendo que
eu era uma menina “sem braço”.
Foram muitas vezes o qual voltava
chorando em minha casa.
__ Por que todos me judiam só por não ter
um dos braços? - berrava como se tivesse
descontando a raiva em minha mãe.
Não sabia nada sobre os sofrimentos de
minha mãe, e nem me importava com isso. A
O Coração da Mão Direita
situação que ela sofria não era algo comparável
ao meu pequeno sofrimento.
Ainda no primário, quando começaram as
excursões escolares, não sentia nenhuma
vontade viajar devido as judiações que sofria.
O meu irmão, Haruo, parece que percebeu
isso e resolveu ir até a escola onde eu estudava e
olhando fixamente nos olhos dos alunos, como se
tivesse intimando todos eles, disse em tom alto e
grosso:
__ Aquele garoto que judiar de minha irmã
sofrerá graves consequências!”
Nunca havia confiado tanto quanto aquele
momento nesse meu irmão Haruo. E todos
ficaram com medo dessa intimação dele, tanto
que depois disto não mais sofri judiações. E
graças a isso, pude fazer uma excursão muito
alegre.
Haruo também me ajudou muito me
levando de bicicleta até a escola e me ensinou
também a dirigir essa bicicleta, tanto que na 6ª
série já comecei a usá-la.
Recebi muito apoio de meus irmãos, e
graças a esse amor e carinho consegui superar
aos poucos essa minha deficiência física.
O Coração da Mão Direita
■ Líder
Quando entrei no ginasial, pensei:
__ O que fazer para não sofrer judiações?
E logo cheguei numa resposta:
__ Isso mesmo, ao invés de ficar no lado
que sofre as judiações ficarei no lado de judiar.
Lembrei-me que em meu corpo também
tenho o sangue de meu pai, que era uma pessoa
com temperamento muito curto. E foi nessa fase
que ocorreu grandes mudanças em meu caráter.
As notas nas avaliações eram muito boas,
na olímpiada escolar nas competições de longa e
curta escala conquistava sempre o primeiro
lugar. E assim fui sendo muito reconhecida pelos
companheiros de escola.
Isso me fez adquirir muita auto-confiança e
ao mesmo tempo meu caráter se tornava muito
rígido. Comecei a ter muitos amigos ao meu
redor e quando menos esperava, sempre estava
como líder do grupo.
Quando ouvia as pessoas sussurrarem que
eu era uma pessoa sem a mão direita, chamava
essas pessoas e dizia:
O Coração da Mão Direita
__ Avise a sua família que farei você não
vir mais a escola ! - assustava assim os alunos
que faziam esse tipo de sussurro.
Essa minha atitude rígida aumentava
gradualmente fazendo com que as pessoas
amedrontassem de mim.
Num certo dia, quando fui a um balneário,
uma senhora viu que não tinha a mão direita e
disse:
__ O que aconteceu com sua mão direita?
Coitada ... - disse ela como se tivesse sentindo
pena de mim, mas era apenas por curiosidade.
Com um olhar severo, virei os olhos fixamente
para ela e respondi:
__ O que é minha senhora, estou te
incomodando em algo? Não tenho nada haver
com a senhora.
Assustada, essa senhora então se afastou
às pressas de minha frente.
Receber piedade das pessoas era um
grande complexo que nasceu dentro de mim.
Aliado à puberdade o meu coração foi se
tornando gradualmente numa pessoa de muita
insensibilidade, fazendo com que as pessoas se
afastassem de mim.
O Coração da Mão Direita
■ A Primeira Mão Postiça
Foi em 1963, quando completei 17 anos de
idade. Recebi um telefonema de uma entidade da
previdência social dizendo:
__ Você não gostaria de experimentar uma
mão postiça?
__ Existe uma coisa dessas? - respondi
surpreendida.
Fui correndo para uma loja que fabricava
mão postiça e fiz o pedido. E quando coloquei
pela primeira vez essa mão, uma alegria
repentina tomou conta de meu corpo. Até aquele
momento odiava me ver no espelho, e graças essa
mão postiça comecei a confiar mais na minha
beleza.
■ O Divórcio
Ainda muito jovem, me apaixonei por um
rapaz, vindo logo a se casar com ele. Na época
tinha 20 anos, a mesma idade do rapaz. Mas
minha família inteira ficou contra esse
relacionamento.
O Coração da Mão Direita
O motivo: “Por ser eu uma pessoa
portadora de deficiência física, casar-se com uma
pessoa saudável terminaria em colapso”.
Como vivia sempre dependendo do auxílio
de meus irmãos, nada pude fazer.
Mas apenas a minha irmã concordou com
esse casamento e disse:
__ Até pessoas saudáveis quando se casam
acabam se separando, não é? Casar-se com uma
pessoa que você goste é o melhor caminho para a
felicidade. -- e convenceu toda família.
Assim pude realizar meu tão sonhado
casamento. Comecei a morar na cidade de
Nagoya, onde morava os familiares de meu
marido. Ele trabalha numa agência de
telecomunicações muito conhecida no Japão.
Como eu era uma pessoa de deficiência
física, achava que sempre receberia apoio da
nova família, e que sempre receberia um carinho
especial. Mas a realidade foi outra.
Quando recebíamos visitas e oferecia o
café, todos diziam:
__ Você não é preciso ficar na sala. E me
rejeitavam com muita frieza. Parecia até que não
queriam sentir vergonha por ter uma nora com
deficiência física.
O Coração da Mão Direita
Pensei que já estivesse acostumado com
esse tipo de comportamento, mas o convívio com
a nova família, recebendo por muitas vezes esses
maus tratos, me magoou muito.
Mas nada pude fazer, a não ser ter
paciência.
Aos 24 anos de idade tive o meu tão
sonhado primeiro filho. Nomeei-o de Yuichi.
__ Quando essa criança crescer e perceber
que sua mãe é uma deficiente física, qual será o
seu comportamento? Pensava dentro de mim.
Apesar da alegria de dar à luz uma criança
saudável, sentia também preocupações e receios
do futuro desta criança. Era um sentimento
muito embaraçoso.
■ A morte da mãe
Quando Yuichi completou 8 meses de vida,
a minha mãe que estava muito ansiosa para ver
seu crescimento, acabou morrendo em um
acidente de transito. Ela tinha 61 anos de idade.
Na época, meus irmãos haviam levantado
um empreendimento que acabara de entrar em
linha, e todos fizeram uma economia para
retribuir todo amor que recebemos de nossa mãe.
O Coração da Mão Direita
A minha família acabara de construir uma
casa nova e fazia 6 meses que se mudaram para
o novo local. Finalmente, era o momento em que
achávamos poder levar uma vida feliz.
Ela sofreu um acidente o qual envolvia um
caminhão. Ela andava pela calçada, quando esse
caminhão perdendo o controle invadiu a calçada
atropelando minha mãe.
Parece que ela nasceu nesse mundo
somente para sofrer. Meus irmãos lamentavam-
se dizendo:
__ Não conseguimos retribui-la nenhum
carinho. Todos choravam com muita tristeza.
Ela sempre cuidava mais de mim do que
qualquer outro irmão. E eu não sabendo desse
sofrimento todo que ela vivia e também não
sabendo de seus sentimentos, comecei a reclamar
dizendo:
__ Por que nasci com essa deficiência?
Porque? Nascia um sentimento de revolta dentro
de mim.
Quando recebi a notícia de que ela havia
falecido, fiquei muito atordoada e sem palavras.
Voltei às pressas a minha casa de origem, onde
seria realizado o velório. E assim chegando, lá
estava ela dentro de um caixão deitada em sono
eterno. Peguei nas mãos dela e comecei a chorar
O Coração da Mão Direita
e reclamar para mim mesmo por não ter
conseguido retribuir nenhum carinho e amor
para ela.
De tanta revolta, comecei a achar que
neste mundo não existe um Deus bondoso.
__ Por que não consegui ser mais boazinha
com ela? Por que minha mãe teve que sofrer
tanto nessa vida? Por que existem pessoa felizes
e infelizes nesse mundo? Por que nascer nesse
mundo?
■ A Grande Mudança de Rumo
Caso meu marido continuasse trabalhando
na agência de telecomunicações, teríamos um
futuro com condições de vida altamente estável.
Mas ele tinha muito interesse em abrir seu
próprio restaurante e naquela época um dos
irmãos dele estava muito bem sucedido após
abrir um restaurante, ficando muito rico
economicamente.
Todo essa influência e aspectos trouxe uma
repercussão muito grande em meu marido, que
até pediu demissão da empresa.
Voltamos então da cidade de Nagoya para
a cidade de Fukuoka. E juntamente com meu
marido entramos num restaurante administrado
O Coração da Mão Direita
pelo meu irmão. Entramos primeiramente como
aprendizes, na época tinha 27 anos de idade.
Um ano depois abrimos o nosso primeiro
restaurante. O meu marido não sabia o quanto é
árduo abrir seu próprio negócio, tudo que tinha
em mente era que restaurante rendia dinheiro.
E eu como esposa, fiquei responsável com
os trabalhos domésticos, cuidar da criança e
depois ajudar nos serviços do restaurante.
Acordava sempre às 3 horas da manhã e era
como se tivesse num campo de guerra todos os
dias.
Praticamente não tinha nem tempo para
me sentar quando fazia minhas refeições.
Dormia de pé durante o trabalho. Mas o meu
temperamento forte de querer vencer na vida foi
o principal fator que me impulsionou à diante.
Apesar do trabalho diário ser árduo, me
sentia muito satisfeita convivendo com minha
família. E com o restaurante em pleno êxito
levávamos uma vida muito bem sucedida.
Mas essa tão sonhada felicidade estava
perto de um final triste. Comecei a perceber que
meu marido estava me traindo com outra
mulher.
O Coração da Mão Direita
■ Divórcio e o Impasse
Foram 13 anos de casamento, mas
infelizmente pus um ponto final nessa relação.
Ainda tinha 33 anos de idade e sentia uma dor
insuportável quando pensava que trabalhei e me
dediquei tanto para que o restaurante viesse a
ter sucesso. E sempre dedicava muito amor ao
meu marido, por que esse final?
O sentimento de ódio contra o meu marido
tomava conta de minha pessoa e também do meu
espírito. E sentia que ele me traiu por causa
dessa minha deficiência física.
Estava completamente perdida, não
suportava nem mais viver. O divórcio foi uma
decepção insuportável em minha vida.
De tanto sofrer andava perdidamente nos
trilhos de uma ferrovia com meu filho, que me
disse:
__ Mamãe, você não vai morrer, não né? --
disse ele olhando em meus olhos com muita
tristeza e preocupação.
Ouvindo essa voz de meu filho, limpei as
lágrimas e respondi a ele:
__ Filho, meu filho desculpe. Desculpe-me
lamentei, mas não aguentava e abraçando-o
firmemente comecei a chorar.
O Coração da Mão Direita
Meu sentimento de ódio contra meu
marido era tão grande que sentia vontade até de
esquartejá-lo. Mas sempre lembrava do apoio
que recebia de todos os meus irmãos e isso
ajudou muito no alívio de meu coração.
Quando assinamos nossa escritura de
divórcio, meu ex-marido me disse:
__ Dentro de uma família não é necessário
dois chefes. Nessa cidade de Fukuoka, se
escolhermos três pessoas de temperamento
rígido, você com certeza seria uma delas.
Fiquei muito revoltada com essas palavras
e repeli dizendo:
__ Seu safado! Você vai ver! Ser escolhida
entre três é insuportável, serei a primeira de
todas!
E de tanto ódio e revolta realmente pensei
em almejar ser a pessoa de maior temperamento
rígido da cidade. A obsessão por isso ficou tão
profunda que me deu forças para viver e também
para me vingar-se com a mesma moeda ao meu
ex-marido.
Assim como a morte de minha mãe e agora
com a decepção desse casamento me fez ter
convicção de algo:
“Realmente nesta vida Deus não existe!”
O Coração da Mão Direita
Após o divórcio meu ex-marido retornou a
cidade de Nagoya e eu para continuar vivendo
tive que trabalhar. Fiquei com a parte do
restaurante e continuei com essa administração.
Mas o meu coração estava totalmente quebrada.
Durante a tarde trabalhava normalmente,
mas quando a noite vinha, me sentia no fundo de
um poço e para me livra-se dessa mágoa
profunda comecei a usar a bebida como saída ou
salvação. Eu não era uma pessoa dependente de
bebida alcóolica, mas não tinha outra alternativa
a não ser beber.
Sempre quando terminava meu trabalho,
comprava uma garrafa de sakê e bebia sozinha.
E de tanto ingerir o álcool, comecei a ficar com
uma terrível depressão psicológica, fazendo com
que tenha alucinações e ilusões.
Como estava numa situação destas, não
conseguia cuidar bem de meu filho. E ele sempre
foi um garoto que recebia muito carinho e amor
de sua avó que morava na cidade de Nagoya.
__ Quero ir na casa da avó. - insistia
sempre com a mesma palavra.
E vendo o meu filho insatisfeito comigo e
com muita saudade de sua avó, me fez pensar
muito no futuro dele. E cheguei à conclusão de
que o melhor caminho para ele, seria morar em
O Coração da Mão Direita
Nagoya. Foi doloroso, mas resolvi largar e
entregá-lo nas mãos de sua avó.
Era o meu único filho. Senti que já era o
fim de meu “destino” nesse mundo.
■ Vivendo por algo
Acabei desistindo do restaurante, mas para
viver era preciso trabalhar. Tentei procurar em
vários lugares algum serviço.
Nas entrevistas, no começo pareciam
gostar de mim. Mas ao fim, sempre diziam a
mesma palavra:
__ Desculpe, mas o sua mão direita... --
nem terminavam direito o que queriam dizer.
Mas já era bem notável e sempre me recusavam.
Por ter administrado um restaurante,
sentia-me confiante, mas a realidade era outra e
muito rigorosa.
__ Sou uma pessoa portadora de deficiência
física, mas consigo fazer qualquer tipo de serviço.
Por favor me admita. Posso trabalhar por apenas
R$ 1,00, não me importa. Quero trabalhar,
somente isso. - dizia implorando às pessoas, mas
nada adiantava.
O Coração da Mão Direita
Por que nessa vida as pessoas são tão
insensíveis? E aprendi diante de meus próprios
olhos o que é apanhar por ser uma pessoa com
deficiência física.
__ Ninguém quer me empregar. Não há
mais outra alternativa a não ser trabalhar para
mim mesma. - decidi firmemente e criando uma
dívida abri um pequeno botequim.
A obsessão de se vingar na mesma moeda
do meu ex-marido ainda permanecia viva dentro
de mim e comecei a trabalhar arduamente.
Durante 10 anos, na parte da tarde trabalhava
num restaurante e á noite trabalhava no meu
botequim. Para mim não existia tarde ou noite, e
dormia sempre somente 3 horas.
Tornei-me uma pessoa desonrada,
dependente do álcool e dizia para mim mesma
que “o dinheiro nunca me abandonaria”.
Comprava joias e roupas de alto custo, vivia uma
vida ostentada pelo luxo e ganância.
E dessa forma conquistei somente a
ganância e a ambição. E quando me enxerguei
estava totalmente arrasada.
Devido à instabilidade emocional e úlcera
duodenal fui obrigada a ficar internada no
hospital. Não acreditava na existência de Deus e
muito menos não acreditava nas pessoas. Não
havia nada para me apoiar-se. Era como se
O Coração da Mão Direita
tivesse andando em cima duma fina camada de
gelo todos os dias.
■ O Encontro da Vida
Durante a minha internação no hospital,
um grande acontecimento fez com que minha
vida mudasse da noite para o dia. Vivia um
momento de desespero num túnel escuro sem
saída.
Parece que Deus não me largara e me
enviou uma pessoa. Uma mulher. Ela se
chamava Yukie Kitajima. Ela estava no hospital
porque visitava sua irmã que estava internada.
Ela era dona de um botequim e havia me
ajudado muito antigamente. Era uma pessoa de
bom caráter, mas quando o assunto era negócios,
ela se transformava. Era uma rainha do
trabalho. E foi um reencontro depois de 20 anos.
Foi um reencontro depois de muitos anos e
de muitas saudades. E sem me aperceber já
contava a ela, tudo aquilo que vivi durante esse
período. O divórcio, a separação do filho o
sofrimento diário de estar se sentindo dentro do
fundo de um poço, confessei e desembuchei tudo.
Ela me ouvia atenciosamente até o final e
quando terminei ela me disse:
O Coração da Mão Direita
__ Kyokozinha, na cidade de Kurume há
um local onde ajudam o coração das pessoas.
Você gostaria de visitar comigo? - disse ela com
um tom de voz muito carinhosa.
E ouvindo a conversa, ela me explicou
sobre uma religião desconhecida, conhecida como
Konkokyo.
Jamais imaginava que ela, Yukie,
praticaria a fé de alguma religião. Foi algo
totalmente inesperada para mim e como me
sentia desapontada por tudo e procurava
desesperadamente por algo para me apoiar-se,
acabei aceitando naturalmente esse convite.
Depois de alguns dias, juntamente com
Yukie, fui pela primeira vez na igreja da
Konkokyo. Foi o meu primeiro encontro com a
Igreja Konkokyo de Airaku. Era o ano de 1987.
Na minha primeira visita à igreja tudo era
diferente e ainda não sentia o meu coração curar-
se. Mas quando olhava o jardim da igreja, não
sei explicar o porquê, mas sentia que uma luz
fina começou a me envolver.
Mas mesmo recebendo, nas outras vezes, o
convite de Yukie para visitarmos a igreja, sentia
um pouco de medo por se tratar de religião. E no
começo só aceitava porque não queria ofendê-la.
O Coração da Mão Direita
Mas com isso, meu pensamento aos poucos
foi mudando. Quando algo ruim acontecia ou
algo não ia bem, logo sentia que era por causa da
falta de frequentação à igreja. Era assim que
entendia a fé.
Depois de perder o meu braço direito,
durante longos 35 anos, meu coração
permaneceu duro e frio, como um pedaço de gelo.
Mas mesmo assim, Deus nunca me abandonou e
continuava sempre me protegendo com muita
ternura.
Certo dia, dentro da conversa que tive com
o mestre da igreja, ele me ensinara a respeito da
“persistência na fé em Deus”.
Resolvi então, frequentar com persistência
duas vezes ao ano a matriz da Konko kyo. E
numa dessas visitas à matriz, o mestre de nossa
igreja, o reverendo Katsuhiko Otsubo, estava
rodeado pelos representantes dos fiéis. E eu num
cantinho da parede observava todo esse
ambiente, quando de repente o mestre percebe a
minha presença e diz:
__ Sra. Kyoko, que surpresa agradável
saber que você também veio hoje. -- falou ele
admirado pela minha visita.
Essas palavras do mestre pareciam como
uma seda de algodão que me envolvia com muito
O Coração da Mão Direita
amor e carinho. Mal ainda havia conhecido ele. E
pensava dentro de mim:
__ Ele lembrava-se de meu nome! Sentia
uma alegria enorme, até parecia que uma carga
elétrica envolvia todo meu corpo. Foi a primeira
vez que senti uma emoção muito forte dentro de
mim.
A minha alma estava com fome e sede de
compaixão, e essa personalidade agradável do
mestre me encantou muito.
Naquela época o mestre carregava em seus
ombros a responsabilidade de ser a segunda
geração da igreja Konkokyo de Airaku. E devido
a isso escavava com profundidade seu coração o
que representava seu próprio recipiente de fé em
Deus.
Depois deste acontecimento passei a
frequentar sozinha a igreja Konkokyo de Airaku
e aos poucos abria meu coração à Deus. Mas essa
frequentação a igreja era ainda apenas para
visar as graças de Deus.
O Coração da Mão Direita
■ Segundo Casamento e as Dúvidas Sobre
a Fé
Em 1993 tive a felicidade de ter o meu
segundo casamento. Casei-me com Tomeo
Hatano, meu atual marido. Mas antes de me
casar com ele passei por um pequeno problema.
Naquela época estava em dúvida se
trabalharia como administradora de um
restaurante de comida chinesa ou viveria
novamente um novo casamento. Estava indecisa
quanto à escolha.
A forte falta de confiança e também o
trauma que tinha com homens fizeram com que
recusasse esse casamento. Mas Tomeo veio até
mim e disse:
__ Eu ajudarei você a recuperar-se dessa
dor da mão direita e serei como um braço direito
para você.
Estava realmente precisando de uma
pessoa que me compreendesse e como dessa vez
estava praticando a fé em Deus, achei que não
teria problemas e aceitei casar-se com ele.
No começo era aquele todo carinho. Ele me
chamava de Kyokozinha e eu o chamava de
Tomezinho.
O Coração da Mão Direita
Para mim, não era necessário fazer uma
cerimonia de casamento. Mas Tomeo queria
realizar apenas a cerimonia e nada de festas.
Mas algo terrível mexeu com o meu sentimento
de desconfiança.
Foi quando estávamos fazendo os
preparativos da cerimonia no salão. Uma mulher
que manteve anteriormente relação amorosa com
Tomeo, telefonou para ele. E quando soube desse
telefonema o sangue que percorria meu corpo
parecia que começava a ferver de ódio e
perguntei com voz grosseira:
__ O que você tem com essa mulher ? Uma
indignação tomou conta de mim fazendo com que
uma repugnância ganhasse vida em meu corpo.
Depois de muita conversa e agitação, de
algum modo conseguimos realizar a cerimonia de
casamento. Mas desse dia em diante, a nossa
vida de marido e esposa se tornara num tumulto
generalizada.
Quando ele voltava tarde para a casa ou
quando saia para beber com amigos, sempre
duvida dele, pensando que ele estaria me
traindo. Não conseguia imaginar outra coisa a
não ser isso.
E comecei a duvidar de todos os
comportamentos dele. Meu coração estava
sempre nervosa e não parava de atormentá-lo.
O Coração da Mão Direita
__ Não sou eu a culpada, e sim, você. Você
está me traindo -- culpava ele sem ouvir suas
razões.
__ Se têm tanta dúvida, verifique o carro!
Tomeo também se revoltava com essa
minha atitude. E acabava chutando e quebrando
o carro e até me espancava com murros.
__ Você frequenta a igreja para quê? Se é
assim, pare de praticar essa fé! - dizia Tomeo
com muita braveza e me violentando.
Naquela época não havia ainda percebido,
mas dentro de toda aquela confusão, a maior
culpada era eu. Era o meu coração insensível que
possuía um forte sentimento de desconfiança.
“Pratico a fé em Deus” não era algo aceito
na vida real. E minha prática de fé até esse
momento era apenas superficial.
Meu marido havia me dito:
“Você frequenta a igreja para quê? Se é
assim, pare de praticar essa fé!” - depois dessas
palavras comecei a ter dúvidas sobre essa minha
própria fé. Sentia-me quase uma neurótica.
__ Pratico devotadamente a fé em Deus,
por que nós sempre brigamos? Por que não
somos felizes? Por que o meu coração sofre tanto?
O Coração da Mão Direita
■ A Mudança do Coração (Renovação)
Dentro desse todo desentendimento, um
grande acontecimento veio acontecer.
Num certo dia, por um pequeno
desentendimento acabamos tendo uma grande
briga tanto que ele fugiu de casa e foi no
botequim da minha amiga, Yukie.
E aí, ficou bebendo sua cervejinha. Mas
exagerou na bebida e acabou criando uma
confusão enorme com um outro cliente. Para
amenizar a situação toda, foi preciso chamar a
polícia e meu marido foi então detido e
encaminhado para a delegacia.
Eu estava muito desgastada fisicamente e
psicologicamente. Pensava em desistir desse
casamento e fugir para um lugar muito distante.
Mas a minha amiga, Yukie, como sempre
preocupada comigo me apresentou uma senhora
que se chamava Asou. Acabei ficando
temporariamente na residência dessa amiga de
Yukie.
E graças a isso, pude ter uma conversa
muito aberta com essa senhora que com muita
atenção ouvira meus sofrimentos e problemas. E
depois de ouvir tudo, me aconselhou com muito
carinho me ensinando sobre a fé em Deus. Com
O Coração da Mão Direita
isso, consegui reorganizar todos os meus
sentimentos e recomeçar a minha prática de fé
do zero.
Desta vez, comecei a frequentar a igreja
com maior dedicação. E com isso sentia meu
coração ter pequenas mudanças. E hoje,
relembrando desse fato, acredito que Deus
estava fazendo com que eu passasse
primeiramente por uma restauração corporal.
Era uma sensação o qual sentia que o
espírito de Deus estava entrando em meu corpo.
Uma experiência que tive exemplifica essa
sensação. Naquela época, gostava muito de beber
a vodca japonesa. E bebia 1 litro de vodca sem
ter problema algum. Mas, após ter começado a
dedicar-se a Deus, meu corpo começou ter
mudanças.
Quando bebia essa vodca, não conseguia
tomar mais do que 3 copos. Se tomasse uma
quantidade maior do que 3 copos, sentia-me
muito mal. E quando dormia acabava vomitando
uma quantidade excessiva de água. Foi uma
coincidência muito misteriosa para mim.
E não foi somente isso. Quando estive em
meu banho. A água que jorrava pelo chuveiro
sentia lavar o meu coração. Era uma sensação
maravilhosa que me fazia sentir profundamente
que meu corpo e também meus sentimentos
O Coração da Mão Direita
estavam passando por um processo de
transformação.
E quando fechei os meus olhos para que
pudesse enxergar meu coração, senti ter uma
visão. Essa visão me mostrava “uma corrente de
água que passava por um local seco, mas que era
rapidamente absorvida pelas terras secas”.
Essa visão exemplifica a transformação
que estava acontecendo com a minha fé em Deus.
E até no meu ambiente de trabalho
mudanças começaram a acontecer. Retornei ao
meu trabalho com o sentimento de estar
aprendendo tudo do zero, como se fosse uma
nova aprendiz.
Certo dia, quando ouvia a palestra do
mestre Katsuhiko, suas palavras fizeram
despertar o meu coração. Ele dizia:
__ Não tente arrancar nada de Deus, muito
menos nas pessoas. Arranque tudo que tens em
ti.
Essas palavras tocaram no fundo de meu
coração e senti pela primeira vez com profunda
convicção de que todos problemas que estava
vivendo com o meu marido, não era culpa dele,
mas sim era tudo por minha culpa.
Esse pensamento começou a fluir
intensamente dentro de mim. Mas ainda tinha
O Coração da Mão Direita
uma pequena dúvida: Como fazer para que eu
próprio mudasse? Como fazer para renovar o
meu coração? E não sabendo desta resposta e
também não encontrando uma saída para os
problemas, passei um bom período atormentada.
E com uma firme determinação, resolvi
seriamente buscar por essa resposta. E para isso
comecei a praticar com total seriedade e devoção
a fé em Deus. Foi essa decisão que me fez
despertar a praticar verdadeiramente a fé Nele.
Comecei a participar seriamente das
missas e também das orações matinais da igreja.
Ouvia com total atenção as palestras dos
pastores e comecei também a ler os livros da
Konko kyo. E praticando uma fé dentro do meu
cotidiano, fazendo dos acertos e erros cometidos
uma prática para renovar o meu coração.
O centro essencial da prática da fé não era
visar e arrumar os defeitos ou problemas do meu
oponente (marido, familiares ou amigos), mas
sim, visar à renovação exclusivamente do meu
coração.
Fazia uns cinco dias que não via o meu
marido, e quando fui ao encontro dele,
evidentemente ele não quis me ver. Ele ainda
estava em poder da delegacia, dentro de uma
cela.
O Coração da Mão Direita
Recebi um conselho de minha amiga, a
Yukie. Ela me dizia para escrever uma carta e
resolvi então fazer isso mesmo.
E quando estava para começar a escrever,
em cima da mesa havia uma revista semanal. E
a capa desta revista ilustrava uma foto de um
campo com terras secas e rachadas. E vendo essa
foto, senti profundamente que essa terra seca e
rachada representava o estado de meu coração.
Não só senti como também percebi que esta era a
realidade real do meu coração e sem contos de
fadas ou teorias.
Então comecei a escrever esta carta...
“Querido Tomeo, desculpe por tudo que te
causei até hoje. A culpada e se é que tem uma
responsável por toda essa situação, sou eu. Meu
coração estava seco no meio dum eterno deserto.
Sou uma pessoa horrível. E percebi que uma
pessoa como eu não mereço receber todo amor e
carinho que você tem. Mas quero muito que você
retorne para mim. E quero mudar muito para
que possa ser uma pessoa merecedora do seu
amor”.
Depois de um mês, cumprido sua punição,
meu marido foi liberado pela delegacia. E eu que
estava morando provisoriamente na residência
da senhora Asou, também retornei à minha
morada. A data: 29 de novembro de 1995.
O Coração da Mão Direita
Na igreja Konkokyo de Airaku, a igreja
onde frequentava para praticar minha fé em
Deus, comemorava o falecimento de 1 ano do
mestre Souchiro Otsubo. (Fundador da Igreja,
primeira geração da família dos Otsubo)
Quando eu me divorciei do meu primeiro
marido, achei que o motivo da separação era a
traição que sofri por eu ser uma pessoa
portadora de deficiência física. Não havia
percebido o quanto meu coração era insensível e
rígido. E foi pela primeira vez que foquei todas
as essenciais atenções exclusivamente ao meu
coração.
Com essa experiência que vivi, aprendi que
eu, como uma pessoa comum, possuía duas faces.
A face do bem e a face do mau. E a face que
estava mais alimentando era, francamente, a
face do mau. Como fazia isso?
Machucando o coração de meu marido,
culpando-o por razões que não tinham nenhum
fundamento. Sendo que toda aquela confusão era
criada propriamente pelo estado de meu coração.
Graças a fé que pratico em Deus, pude
desmascarar essa minha face, enxergando o lado
real dessa mesma. Esse meu coração mau, que
era sólido como uma rocha foi se quebrando com
o poder da fé em Deus.
O Coração da Mão Direita
E foi se tornando maleável e aconchegante.
E abrindo espaços para o bem-estar de ambos.
Foi a experiência que fez mudar o meu
coração.
Apesar dessa grande mudança que
aconteceu em minha vida, isso não quer dizer
que a briga entre eu e meu marido terminou por
completo e que vivemos felizes para sempre.
Não, não foi assim. Depois que ele retornou
à sua casa, tivemos ainda muitas brigas. Mas
não era a mesma situação. Quando brigas
aconteciam, usava esse fator adverso como
ingredientes para poder enxergar o defeito de
meu coração. Ou melhor, para fazer uma reflexão
ou análise e saber qual parte do meu coração
deve ser renovada.
Anteriormente, acumulava em meu
coração muitos “por que”. E achava que praticar
a fé em Deus, era um instrumento para ser
usada somente para receber as graças e
milagres.
Logicamente que pensando dessa forma
nunca alcançaria uma felicidade altamente
verdadeira.
As pessoas nunca mudam com palavras,
mas sim com atitudes.
O Coração da Mão Direita
Atitudes essas que sejam voltadas por uma
mudança que ocorra propriamente de seu próprio
coração.
Praticando com total devoção a prática da
fé em Deus, nasceu em mim o desejo e a vontade
de querer aprender o caminho verdadeiro, que
me levasse ao centro do coração de Deus. A
vontade de sentir na alma a fé sincera de Deus
transbordava em meu coração.
E para que pudesse realizar isso, resolvi
adquirir minha carteira de habilitação. E
consegui isso em 1998.
Porém isso trouxe uma preocupação
enorme aos meus familiares e amigos, porque
não tinha o braço direito. Mas o carro foi
improvisado para deficientes físicos e também a
marcha era eletrônica.
Com o carro liberado, facilitou muito
minha frequentação à igreja. E comecei a fazer
estágios na igreja para aprofundar mais nos
estudos sobre a fé.
Dentro desses estudos, aprendi
exclusivamente que “Todos os acontecimentos
que rodeiam a vida das pessoas e também da
natureza são trabalhos de Deus”.
Com os estudos, a parte mental evolui
muito, causando um pouco de desnivelamento
O Coração da Mão Direita
com relação à parte espiritual, que era a prática
do dia-a-dia. Havia sim um desnivelamento
entre a mental, corporal e espiritual.
Mas praticando aos poucos, valorizando
muito os pequenos detalhes consegui alcançar,
ou melhor, me libertar de um pesado sofrimento
que carregava nas costas por anos.
Aquele meu “destino” o qual me fez sofrer o
grave acidente na ferrovia. Era o ano de 1999.
■ Desistindo da Mão Postiça
Certo dia, numa das frequentações que
fazia a igreja, estranhamente a mão postiça não
se encaixava em meu braço. Desde que consegui
essa mão postiça, jamais deixei de usá-la na
frente das pessoas.
Essa mão postiça era tão importante
quanto minha própria vida. Caso, o meu filho e
essa mão postiça caísse em algum rio, com
certeza salvaria a mão postiça. O apego por ela
era algo fora do normal, era um consolo para
superar e angústia que tinha sobre a deficiência
física.
Caso acontecesse algo trágico que
impedisse o uso dela, com certeza me suicidaria.
Assim era a importância que sentia por ela.
O Coração da Mão Direita
Mas, desta vez, vendo que não se
encaixava, lembrei-me do ensinamento que
recebi durante meus estudos na igreja.
“Todos os acontecimentos que rodeiam a
vida das pessoas e também da natureza são
trabalhos de Deus”.
Lembrando-me disso, percebi que Deus
estava me dizendo que saísse sem a mão postiça.
Comecei então, orar a Deus para que
conseguisse não mais ter vergonha dessa minha
deficiência física e também para que eu pudesse
desistir dessa mão postiça.
Deixei a mão postiça no carro e meio que
escondendo o braço, entrei na igreja. Quando
cheguei no salão de Deus, me ajoelhei e comecei
a fazer minha oração. Mas de repente uma
emoção incontrolável tomou conta de meu corpo
e de minha alma. Comecei a derrubar lágrimas
de emoção e não contendo isso, comecei a chorar
sem se importar com as pessoas que estavam ao
meu redor.
Senti que Deus me dizia:
“Minha filha, você conseguiu, você
conseguiu! É o que mais esperava por você.”
Foi o momento em que consegui abolir
dentro de mim uma falsa ilusão edificada pelo
orgulho, que servia apenas para sentir ser uma
O Coração da Mão Direita
pessoa saudável como qualquer outra. A mão
postiça já não representava tão profunda
importância.
Depois da oração me convidaram para a
refeição da igreja. Mas ainda sentia a emoção
conter meu corpo e mesmo durante a refeição,
derrubava lágrimas. As lágrimas caiam por cima
da refeição, mas nem me importava. Mas foi a
primeira vez que comi uma refeição com sabor de
lágrimas.
Essa experiência emocional que vivi,
marcou minha vida. E mais uma pequena
mudança ocorreu em minha vida. Reconheci a
fundo de que eu, Kyoko Hatano, era uma pessoa
com deficiência física, mas feliz.
Quando aos 5 anos de idade, sofri o terrível
acidente na ferrovia, achava que tudo aquilo era
algo inaceitável, intolerável.
Comecei a odiar o médico que amputou o
meu braço,
Comecei a odiar o meu pai que não me
visitou no hospital uma única vez. Ele estava
bebendo.
E com aquela emoção vivida, as pessoas
que odiei no passado, os acontecimentos que
formaram a minha historia, conseguiu perdoar
tudo.
O Coração da Mão Direita
E hoje compreendo que a mão postiça era
como uma cruz que carregava diariamente
dentro de mim.
Estava tendo somente prejuízos na parte
espiritual. Mas consegui me libertar dessa
intensa ilusão.
Jamais esquecerei essa experiência vivida.
E isso fez com que até as pessoas que
mantinham relações de amizade comigo também
mudassem.
■ A Mudança do Marido
Meu marido era como um ateu e até me
falava para que não tentasse envolve-lo nesse
mundo. Antes do casamento, quando terminava o
serviço no botequim, ele sempre me levava até a
igreja.
Mas ele nem se quer entrava no
estacionamento da igreja, e ficava esperando o
término de minha frequentação num local
próximo.
Numa certa ocasião, a minha amiga Yukie
havia pedido ao meu marido para que nos
levasse até a matriz da Konkokyo. (A matriz
situa-se aproximadamente a 500 km, em
Okayama)
O Coração da Mão Direita
O nosso casamento foi possível graças a
sra. Yukie e ele também sabia disso. E foi por
essa razão o qual ele aceitou o pedido. Durante a
viagem ele agradecia muito a ela por esse
casamento ter acontecido.
Era a primeira vez que ele se comunicava
com uma pessoa da igreja onde frequentava e
também era a primeira vez que ele visitava a
matriz da Konkokyo. E isso foi um fator muito
positivo para ele.
Depois dessa agradável viagem, houve
uma mudança no meu marido.
A igreja Konkokyo de Airaku preparava-se
para comemorar os 30 anos de fundação e para
isso realizava a construção de um novo prédio. E
o meu marido recebendo o convite da Srª Asou
para ajudar nessa obra, começou a trabalhar
como rebocador da obra.
Certo dia, depois que ele terminou o
serviço da igreja, saiu para comprar um cigarro
num barzinho próximo. E quando voltava a
igreja, uma senhora de idade, desconhecida
passou por ele e disse:
__ Hoje você trabalhou muito, não? Bom
trabalho meu filho. Muito obrigado e descanse
bem seu corpo. - disse a senhora.
O Coração da Mão Direita
Meu marido ficou muito surpreso com esse
acontecimento e perguntava para si: ‘o por quê
de uma senhora desconhecida passar de repente
ao meu lado e me cumprimentar dessa forma tão
carinhosa’.
Foi uma experiência que o deixou muito
emocionado. E ele sentira que as palavras
daquela senhora desconhecida, eram as palavras
de Deus que estava agradecendo profundamente
por estar ajudando a igreja.
E foi a primeira vez que ele falava sobre
Deus. Quando ele me contou sobre essa
experiência vivida, senti que uma áurea enorme
envolvia seu corpo.
O mestre da igreja, o reverendo Katsuhiko
Otsubo também participava muito nos serviços
da obra. E estando próximo e no mesmo
ambiente com uma pessoa tão importante,
deixava meu marido muito emocionado.
E quando eu menos esperava, ele já estava
frequentando naturalmente a igreja. Sem que eu
perceba, dentro do coração dele começava a
brotar a semente da fé.
Em abril do ano de 2007, fui com meu
marido até a Loja do senhor Kawamura, que
trabalhava com impressões. O senhor Kawamura
era um antigo amigo nosso, e já fazia 10 anos
que não nos encontrávamos.
O Coração da Mão Direita
Ele convidou-nos para tomar um café em
sua casa, que ficava nos fundos da loja e
permanecemos ai durante algumas horas
conversando sobre aqueles momentos saudosos.
E dentro desta conversa falamos que hoje
estamos praticando a fé na religião da Konkokyo.
E como a conversa estava muito empolgante,
conversamos também sobre os ensinamentos da
religião, da forma como salvamos os nossos
corações e entre outros demais assuntos.
Então, o sr. Kawamura falou ao meu
marido:
__ Jamais imaginaria você praticando fé.
Eu gosto muito de ler livros. E leio muito livros
da religião cristã, e como também, converso
muito com fiéis desta religião. Mas de vez em
quando sinto algumas dúvidas, porque há uma
diferença naquilo que está escrito no livro
comparada com as conversas dessas pessoas.
Mas hoje, ouvindo a conversa de vocês, ouvi pela
primeira essa forma de praticar a fé e por essa
razão a visão que tinha sobre sua religião mudou
muito.
O sr. Kawamura e meu marido já se
conheciam desde a idade quando eram jovens e
ele sabia das tramas e confusões que meu marido
cometera nessa vida. Ele chama-o de “Hatchan”
e disse:
O Coração da Mão Direita
__ Hatchan, você carrega em suas costas, a
bandeira da Konkokyo. Não se esqueça dessa
responsabilidade. Você já me judiou muito, meu
amigo. E você, Kyouko, também sofreu muito,
não é? - disse com um sorriso no rosto e ao
mesmo tempo olhando com ternura em minha
direção.
E respondi:
__ Sim. Caso não tivesse praticado a fé em
Deus já estaríamos separados.
Como dito anteriormente, fazia 10 anos
que não nos encontrávamos. Nesse reencontro
saudoso, o Sr. Kawamura se surpreendeu muito
com a fisionomia e comportamento de meu
marido e disse:
__ É incrível quando um ser humano
realmente muda! - mas quem se surpreendeu
com tudo isso fora propriamente a minha pessoa.
Graças à prática da fé em Deus, a
transformação e renovação que consegui realizar
em meu coração, fez com que o meu “destino” e
até o meu “temperamento” mudasse.
É lógico que ainda de vez em quando
fazemos umas briguinhas, mas hoje, ajudamos
muito na igreja, frequentamos as missas e até
vamos juntos em outras igrejas. Se compararmos
esse presente momento, com aquele nosso
O Coração da Mão Direita
passado, o que estamos vivendo hoje é
praticamente um mundo cheio de sonhos.
■ A Mudança da Família de Meu Filho
Meu único filho, Yuichi, que havia largado
para que ele pudesse viver juntamente com sua
avó, já estava casado e tinha um filho. Os três
estavam vivendo muito bem na cidade de
Nagoya.
Num certo dia, a esposa dele com algum
problema nas relações pessoas, telefonara para
mim pedindo por conselhos. Ouvi-a com muita
atenção e disse:
__ Deve ser difícil, não? Eu te compreendo
perfeitamente. Também passei por isso. Mesmo
não indo a igreja, Deus esta sempre próximo ao
seu lado. Se o céu é o nosso PAI, a terra é a nossa
MÃE. ELE estará sempre te protegendo. Tudo
que ELE deseja é que você seja feliz. Estarei
sempre orando por você. -- falava como se estive
acariciando suas costas. Então ela disse:
__ Eu tenho uma mãe que me ouvi com
muito amor e carinho e que esta sempre orando
por mim, eu sou uma pessoa muito feliz. -- com
tom de choro, ela parecia estar mais aliviada.
O Coração da Mão Direita
Nessa conversa que tive com ela, tive a
oportunidade de transmiti-la a experiência, o
caminho que percorri até chegar o estado
espiritual que me encontro no presente
momento.
__ Minha filha, lembre-se de algo: Nunca
culpe alguém, por mais errada que ela estiver. O
mais importante é você estar sempre buscando a
mudança. O coração nunca cresce sem um
treinamento próprio. Talvez isso que direi agora,
seja algo insignificante ou chato para você, mas
tente compreender a fundo que, essa pessoa que
tanto te incomoda, é um espelho que reflete o
estado de seu coração. E se o seu coração mudar
e crescer com certeza tudo que esta em sua volta
também mudará.
E transmitindo isso, sentia que o coração
dela estava mais confortável e aliviada. Depois
disso, ela passou a focar mais em seu coração,
não mais culpando as pessoas quando enfrentava
problemas com relações pessoais. Ela aprendeu
que qualquer tipo de problema ou sofrimento que
viesse acontecer, seria uma adversidade que
Deus estaria usando para que ela entendesse
qual a parte do coração a ser renovada.
Por graças a Deus, o problema que ela
estava vivendo acabara desaparecendo
naturalmente. E hoje ela até transmite para
O Coração da Mão Direita
suas amigas o quanto seu coração mudou graças
ao ensinamento da Konkokyo.
Num outro dia, ela me escreveu uma carta.
E nela estava escrita:
“Querida mãe
Entramos na estação da primavera e as
flores com seu aroma e cores enfeitam toda
paisagem.
Até hoje sempre quando conversava com a
senhora, devido aos meus problemas, os assuntos
eram muito tristonhos, mas parece que o sol da
primavera também veio a brilhar em cima de
nossa família.
Hoje, meu marido estava de folga e eu
havia saído mais cedo de meu serviço e levamos o
nosso filho Renji para visitarmos a igreja.
Oramos para os nossos antepassados e pedimos
também para que Renji fosse aprovado no exame
do ginasial.
Estou orando muito para que Renji possa
aprender aos poucos a importância de nossos
ancestrais e também a gratidão que devemos à
Deus.
Juntamente com essa carta envio também
a foto que tiramos na igreja. Renji segura em
suas mãos o ‘os grãos de arroz sagrado’ que a
senhora deu a ele. No dia do exame, eu misturei
O Coração da Mão Direita
os grãos de arroz sagrado juntamente com sua
refeição.
E graças a oração de todos ele conseguiu
passar no exame. Quando soube da aprovação,
fiquei muito feliz e pensei dentro de mim que o
‘grão de arroz sagrado’ também surtiu grande
efeito.
Não havia contado para ninguém sobre o
‘grão de arroz sagrado’, mas hoje contei tudo
para Renji.
Renji recebeu essa graça porque o pai,
Tome e a mãe estão sempre orando por nós.
Diante de toda essa graça pude perceber o
quanto sou feliz por Deus ter me dado essa
família.
Espero que nós possamos continuar
aprendendo muito com vocês e que possamos
viver essa vida com muita vitalidade.
Pai Tome e Mae Kyoko, muito obrigada e
fiquem com Deus.”
Se hoje, não tivesse a fé em Deus, minha
vida seria um desastre. Divórcio, afastamento do
filho ou fim do relacionamento mãe e filho,
arruinamento familiar, com certeza estaria
vivendo esse tipo de “destino”.
O Coração da Mão Direita
E dentro de um incompensável amor de
Deus, o meu “destino” se transformou no que
hoje estou vivendo.
Certo dia, quando estive conversando com
meu filho, o Yuichi, e resolvi perguntar-lhe pela
primeira vez, o que ele sentia por ser filho de
uma mãe portadora de deficiência física. E ele
respondeu:
__ Eu sempre sentia um profundo respeito
pela senhora. Sentia muito orgulho de ser filho
de uma mãe que apesar de não ter um dos
braços, vivia sempre com muita vitalidade.
Ouvindo isso, não pude mais conter as
lágrimas e comecei a chorar muito. Naquela
época pensava em até me suicidar de tanto
sofrer. Percebi que enquanto passava por todos
aqueles sofrimentos Deus estava sempre
protegendo, Yuichi, sem que eu saiba.
Acredito hoje que recebemos tantas graças,
que os nossos olhos não conseguem ir até o
alcance dessas graças.
■ A Mudança de Meus amigos
Aproximadamente há 3 anos atrás, uma
amiga me procurou e disse:
O Coração da Mão Direita
__ Tenho algo que quero conversar
somente com você. - dizia ela no telefone.
Ela era uma pessoa que sofreu muitos
infortúnios na vida e ela praticava a fé em uma
tal religião, mas devido há alguns problemas ela
se afastou dessa religião. E estava sofrendo com
depressão.
Ela começou visitar minha casa e com isso
passamos a conversar sobre fé.
Ouvindo a minha conversa, ela sentiu que
a religião que frequentava era diferente e estava
gostando.
Certo dia, ela me telefonou e aparentava
estar muito preocupada. Ela estava internada
devido a uma doença, que era o câncer, e a
preocupação e a apreensão com isso a deixava
sofrendo muito.
Quando soube desta situação, falei para
ela:
__ Não se preocupe, minha amiga. Deus
apenas esta usando essa doença porque ELE
deseja algo muito grande para você. Não se
preocupa, Deus ajudará você e eu estarei orando
por ti.
Alguns dias depois, fui a hospital visitá-la.
Parece que a cirurgia sucedeu com sucesso e ela
estava muito bem. O médico havia me dito que
O Coração da Mão Direita
caso ela descobrisse um pouco mais atrasado
essa doença, hoje ela não estaria viva.
Depois que ela recebeu alta do hospital, ela
foi em minha casa me visitar e disse:
__ Já agradeci de coração ao médico, mas
sinto que ainda não é o suficiente. O que possa
fazer para agradecer?
Eu a respondi rapidamente:
__ Deus.
E ela, indo para a sala onde estava
enfeitado um pequeno altar para orações, ela se
ajoelhou e começou a orar e agradecer a Deus
com muita devoção.
E depois conversando sobre vários
assuntos, ela me disse:
__ Quando estou com você sinto-me muito
confortável, como se estivesse no meio de muito
algodão. E quando visito a sua casa, sinto
sempre minha alma em plena tranquilidade.
Eu havia dito a ela a personalidade, o
caráter de minha pessoa antes de conhecer a
Konkokyo. Que eu me parecia como uma diaba,
com um coração muito mal, que era muito
ríspida com as pessoas. Mas a transformação que
ocorrem em mim foi tão grande que ela não
acreditou nessas minhas palavras.
O Coração da Mão Direita
E continuei dizendo:
__ Sou uma pessoa muito frágil, mas Deus
é forte e seu Poder é algo incalculável e
imaginável.
Graças a essa conversa agradável, ela
começou a sentir a presença de Deus em seu
coração.
■ Yoshimi chan
Há exatos 60 anos atrás, o meu destino foi
demarcada por um terrível acidente na linha
ferroviária.
Naquele dia, a pessoa que me chamou para
passear nos fundos de minha casa, onde passava
a linha ferroviária, foi Yoshimi, uma garota que
tinha 7 anos a mais que minha idade.
Caso ela não me chamasse para passear,
talvez seria uma pessoa saudável, sem problema
nenhum como qualquer outra pessoa. Mas, o
“destino” me fez carregar nas minhas costas o
peso de ser uma pessoa portadora de deficiência
física. E, ela também, sentindo-se culpada por
essa situação, carregou em si esse pesado
remorso.
Ela sempre dizia com muita lamentação:
O Coração da Mão Direita
__ Kyokozinha, desculpe. Se naquele dia eu
não te chamasse para fora... se eu não te
chamasse.
Depois daquele acidente, Yoshimi sempre
me convidava para refeições com seus familiares,
até almoçávamos em restaurantes. Me levava
para assistir filmes no cinema, sempre estava ao
meu lado me ajudando para que eu não sentisse
tristeza com a perda do meu braço.
Depois, ela se casou e mudou para o Norte
do Japão, em Hokkaido. Mas em 2000 ela
mudou-se novamente, vindo morar na cidade
vizinha onde eu morava.
Quando fiquei sabendo disso, fui logo ao
encontro dela e ela se surpreendeu muito, como
também ficou muito contente. Fazia 40 anos que
não nos encontrávamos.
Havia levado um buque de flores para
presenteá-la e ela se contentou mais ainda.
Eu também estava muito emocionada e
não contendo tanta emoção lhe disse:
__ Caso fosse uma mulher infeliz devido a
essa minha deficiência, com certeza não viria
aqui para te ver. Mas hoje estou muito feliz, e
queria transmitir a você um pouco dessa
felicidade, por isso estou aqui. -- derrubava
lágrimas de tanta emoção.
O Coração da Mão Direita
__ Que bom! Que maravilha! Vendo sua
alegria até meu coração se salvou! -- disse
Yoshimi que também não contendo as lágrimas
me abraçou com muita firmeza.
A matriz da Konkokyo, publicou um livreto
que relata a história de minha vida e foi
entregue de lembrança aos fiéis durante uma
missa e presenteei-a com uma e disse:
__ Por favor leia este livreto, assim saberá
o quanto sou feliz hoje.
Deus trabalhou em cima de mim, para que
encontrasse com Yoshimi e fizesse com que ela se
libertasse do peso que carregava daquele
remorso trágico.
■ Amado Pelo Destino, Vivificado pelo
Destino
Antes de conhecer a Konkokyo minha vida
era cheia de tormentos que achava não ter fim.
Achava ser um “destino” amaldiçoado e quando
mais estrebuchava contra ele, me afundava num
abismo tenebroso sem fim.
Mas graças à iluminação da fé em Deus,
desse caminho iluminado da Konkokyo, consegui
aceitar de coração esse meu “destino” e hoje
O Coração da Mão Direita
compreendo que sou uma pessoa amada pelo
meu próprio “destino”.
Com a transformação de meu coração tudo
aquilo que está ao meu redor também se
transformou.
Achava que a existência de Deus, era algo
inalcançável, estando tão distante que Sua
presença era ignorada pelos meus olhos tapados
pela arrogância e egoísmo.
No ensinamento da Konkokyo temos:
“Deus é o Pai de toda existência, praticar a
fé Nele é como ter piedade filial”.
E compreendi a fundo que Deus é o nosso
Pai. E sendo um Pai para nós, podemos até ficar
mimados a Ele, podemos deitar em Seu colo como
se estivéssemos nos entregando tudo a Ele.
Todos nós estamos diariamente e a todo
momento recebendo infinitas bênçãos e graças
Dele, portanto a vida de cada um nós é movida
pelas Suas Forças e não pela nossa.
O coração para mim era como se fosse um
instrumento para odiar, bravejar, detestar as
pessoas. Hoje sei que o coração não é um
instrumento e sim, um sentimento para ser
usado com muita gratidão e também para
agradecer e manifestar a alegria de Deus.
O Coração da Mão Direita
O caminho da fé da Konkokyo, fez com que
iluminasse todo o meu passado, vivificando o
presente e transformando o meu futuro. Hoje
vivo somente de agradecimentos a Deus.
Sou uma pessoa “Amada pelo Destino”.
Sou uma pessoa “Vivificada pelo Destino”.
E acredito que esse meu “destino” ainda
me encaminhará para a felicidade verdadeira. A
minha vida está nas mãos desse “destino”, que é
controlada pelo nosso Deus Pai e nessa minha
presente vida, cumprirei minha incumbência a
favor Dele.
Peço a Deus com muito amor para que
continue iluminando a minha vida para que
possa compreender a fundo, o verdadeiro sentido
de minha vida nesse mundo.
Epílogo
Praticando a fé da Konkokyo aprendi pela
primeira vez o sentimento dos pais. Arrependo-
me muito, por ter culpado por muito tempo, a
minha mãe por causa da minha deficiência física.
Sempre que ia ao túmulo onde ela esta
enterrada, me desculpava por esse ato cometido.
O Coração da Mão Direita
Mas mesmo fazendo isso por longuíssimo
tempo, meu coração não se sentia satisfeita. E
sentia que a alma de minha mãe não se salvaria
somente com isso.
Porém, certo dia, quando orava para sua
alma.
“Kyokozinha, tudo bem, já entendi você. Te
perdou.”
Senti ouvir sua voz, e de repente uma
emoção enorme tomou conta de meu coração e
derrubei lágrimas. Senti que ela me perdoou e
que também sua alma estava muito bem salva
no outro mundo.
Mas havia ainda mais uma alma de uma
pessoa que necessitava de muita ajuda e
salvação. A existência dele estava praticamente
desaparecida de minha mente. Mas na igreja
muito se ensinava:
“Honrar os pais é a base de toda prática de
fé e até mesmo precede-a”
Apesar das inúmeras graças recebidas,
havia um canto de meu coração que estava vazia
e que não conseguia preenchê-lo porque achava
doloroso. E quando comecei a orar para a alma
de meu pai, senti em meu coração que ele foi
usado por Deus, para fazer o papel de vilão em
minha vida.
O Coração da Mão Direita
Sentindo isso, aquele espaço vazio que, na
verdade, mais parecia um ‘Muro de Berlin’, que
me incomodava muito, começou a se desmoronar.
Sentia que minha oração estava surtindo efeito.
Hoje penso diferente. Caso meu pai fosse
uma pessoa boa, que não criasse problemas, será
que estaria viva até hoje? Será que superaria
todas as barreiras que passei? Se minha família
fosse comum como qualquer outra família, será
que meus irmãos teriam sucesso como
empresários?
Quando penso nisso, percebo o quanto foi
importante à existência de meu pai em minha
vida, apesar das incontáveis tristezas que ele
causara.
Consegui perdoar o meu pai e até
agradecê-lo por tudo. E finalmente o espaço vazio
que me incomodava por muito tempo, foi
preenchido, graças ao amor de Deus.
Quando as pessoas nascem nesse mundo,
não é possível escolher seus pais, e hoje sei o
porquê Deus escolheu para mim a família dos
Matsuo. E dentro de minha vivência compreendi
profundamente o pedido que Deus tem para a
família dos Matsuo.
Graças ao encontro que tive com a religião
da Konko kyo, hoje estou salva, minha família
também esta salva e até as pessoas que estão ao
O Coração da Mão Direita
meu redor estão se salvando. Não só as pessoas,
como também as almas das pessoas que
deixaram esse mundo.
O caminho da Konkokyo transforma o
passado, presente e o futuro das pessoas. Hoje,
desejo e peço a Deus para que todas as pessoas
possam se salvar através deste caminho
verdadeiro.
E por fim, agradeço aos mestres das igrejas
que colaboraram muito na publicação deste
livreto.
Muito obrigada
31 de julho de 2012
Kyoko Hatano