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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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O PROJETO UCA EM 11 ESCOLAS DE SANTA CATARINA: A REINVENÇÃO DO OLPC
Gisele Luz Cardoso1 (IFSC/Gaspar) Selma dos Santos Rosa2 (UFSC)
Carlos Alberto Souza3 (IFSC/Itajaí) Valdir Rosa4 (Universidade do Minho)
Resumo: No Brasil, o uso de Laptops em sala de aula (através do projeto UCA), inspirado no projeto americano OLPC (One Laptop Per Child), tem como
finalidade promover a inclusão digital, pedagógica e social mediante a aquisição e a distribuição de computadores portáteis - os laptops educacionais – em escolas públicas (BRASIL, 2010). O presente trabalho visa mostrar os resultados obtidos por um grupo de pesquisa do estado de Santa Catarina que avaliou o uso dos Laptops Educacionais em 11 escolas do estado. Depois da avaliação, as escolas foram visitadas e dados foram colhidos através de questionários e entrevistas respondidos por gestores, alunos, pais/responsáveis e docentes das disciplinas de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias (CNMT) nas escolas. Depois da análise dos dados, foi oferecida para as escolas uma oficina denominada “Estratégias Pedagógicas para o Ensino de CNMT com apoio das Tecnologias Educacionais Móveis” a qual objetivou abordar o ensino de CNMT e a aplicação da estratégia pedagógica Hands-on-Tec, que busca contribuir com o uso de tecnologias educacionais móveis. Resultados indicam que os docentes participantes da oficina avaliaram-na positivamente devido, principalmente, a sua dinamicidade e as possibilidade de uso dos laptops aliadas ao programa curricular .
Palavras-chave: inclusão digital, ProUCA, OLPC
1 Gisele Luz Cardoso, Profa. Dra.
Instituto Federal de Santa Catarina/Gaspar gisele.luz@ifsc.edu.br 2 Selma dos Santos Rosa, Doutoranda
selmadossantosrosa@gmail.com Universidade Federal de Santa Catarina 3 Carlos Alberto Souza, Profº Dr.
carlos.souza@ifsc.edu.br Instituto Federal de Santa Catarina/Itajaí 4 Valdir Rosa, Doutorando
Universidade do Minho, Portugal valdir.orientador@gmail.com
Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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Abstract: In Brazil, the use of the laptops in the classrooms (by means of the UCA project), inspired by the American OLPC (One Laptop Per Child) program, aims to promote digital, educational and social inclusion through the acquisition and distribution of portable computers – educational laptops – to public schools (BRAZIL, 2010). This paper aims to show the results obtained by a research group from the state of Santa Catarina which evaluated the use of the Educational Laptops in 11 schools in the state. After the evaluation, the schools were visited and data were collected through questionnaires answered by some managers, students, Science and Math teachers, parents/guardians in the schools. After analyzing the data, a workshop was offered to the schools, named "Pedagogical Strategies for the Teaching of Science and Math with the support of Portable Educational Technologies” which aimed to address the teaching and application of
Science and Math and the application of a pedagogical strategy named “Hands-on-Tec”, which seeks to contribute to the educational use of mobile technologies, highlighting the educational Laptops. Results indicate that the participant teachers in the Workshop evaluated them positively, mainly due to its dynamism and high quality. Keywords: digital inclusion, ProUCA, OLPC
Introdução
A preocupação com a inclusão digital no Brasil não vem de hoje. Em 1997, o
MEC criou o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) com a
finalidade de equipar as escolas públicas brasileiras com computadores (BRASIL,
2010a). Já em 2007, inspirado pelo programa One Laptop per Child – OLPC - (Um
laptop por criança) de Negroponte, nos Estados Unidos, o governo brasileiro lança o
programa “Um Computador por Aluno”, o ProUCA.
Em 2010, onze escolas do estado de Santa Catarina (SC) receberam os
chamados Laptops Educacionais, ou os uquinhas, como são chamados nas escolas.
Ao mesmo tempo, é lançado um edital para envio de projetos que avaliassem o uso
dos laptops e o impacto do ProUCA nas escolas brasileiras contempladas pelo
programa. Em 2011, um grupo de pesquisadores de SC, agraciados pelo edital,
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inicia sua pesquisa nas 11 escolas. Este artigo tem como propósito relatar alguns
resultados mais relevantes da pesquisa.
OLPC X ProUCA
O programa ousado One Laptop per Child – OLPC - (Um laptop por criança) de
Nicholas Negroponte, nos Estados Unidos foi iniciado em 2005 no MIT
(Massachusetts Institute of Technology). Negroponte tinha como objetivo estender
o acesso à Educação Básica (EB) por meio da oferta de laptops de baixo custo para
cada criança (de 6 a 12 anos) do planeta, começando pelas mais carentes, de
acordo com a OLPC Foundation e a Secretariat of the Pacific Community (2008).
Como proposta pedagógica e com intenção de modificar o paradigma da educação
tradicional, a proposta inclui novos conceitos de ensino e aprendizagem por meio
do computador (SANTOS; BORGES, 2009). O modelo de laptop de baixo custo
desenvolvido pelo MIT foi o XO (FIGURA 1).
Figura 1: O laptop XO criado por Nicholas Negroponte (MIT).
Fonte: http://graphics.stanford.edu/~edluong/olpc/history/olpc_history.htm
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Mais tarde, veio o Classmate da empresa Positivo, parceira da Intel na sua
produção (BRASIL, 2010a). Algumas escolas no Brasil foram selecionadas para
receber o XO do OLPC program como experimentos iniciais. Em 2010, 11 escolas
públicas de SC receberam o Classmate (FIGURA 2), escolas estas contempladas pelo
ProUCA. É sobre estas 11 escolas que trata a presente pesquisa.
Fazer com que crianças tivessem contato aos computadores portáteis e que
elas aprendessem a usá-los por conta própria, não produziu resultados muito
positivos segundo Warschauer (2011).
Figura 2: Laptop da Positivo - modelo Classmate em uma escola de SC
Fonte: http://pro-uca-sc.blogspot.com.br/2010_09_01_archive.html
Foi observado que, sozinhas, sem instrução, sem orientação de um par mais
instruído, como um professor, as crianças não conseguiam fazer mais além de
brincar com os equipamentos. Fato que pode levar à distração e declínio no
rendimento escolar dos aprendizes da EB, como um caso relatado por Warschauer
(2011).
Inspirado no OLPC, o ProUCA no Brasil iniciou em 2007, mesmo que o
programa estadunidense não tivesse tido estudos mais aprofundados a respeito dos
impactos educacionais ou pedagógicos. A Fase 1 do ProUCA, segundo Brasil (2010a)
foi a fase pré-piloto que consistiu na implantação do UCA em cinco escolas públicas
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(em 2007 e 2008). A Fase 2 (em 2010) constituiu-se do projeto piloto propriamente
dito e envolveu cerca de 300 escolas públicas brasileiras de até 500 alunos cada.
Foram comprados 150.000 laptops para os estudantes para fins pedagógicos nos
ensinos Fundamental e Médio (BRASIL, 2010b).
No início da fase piloto, algumas escolas que foram contempladas pelo
projeto nem chegaram a distribuir os laptops para os alunos porque não se
encontravam preparadas e, outras, não deixavam os alunos levarem os
computadores para casa, contrariando um dos objetivos do programa que é o de
promover a inclusão digital, pedagógica e social dos estudantes e de seus familiares
mediante a aquisição e a distribuição de computadores portáteis em escolas
públicas (BRASIL, 2010a).
Atualmente, um novo cenário se faz presente nas escolas de SC integrantes do
ProUCA, no qual gestores, professores, alunos e, em alguns casos, seus familiares
apropriaram-se dos laptops educacionais e buscam utilizar esse recurso dentro e
fora dos muros da escola.
Metodologia de pesquisa
De 2011 a 2012, um grupo de pesquisadores iniciou um estudo metódico do
uso dos laptops educacionais e o impacto do ProUCA em SC. Foi feita uma análise
documental inicialmente e, em seguida, uma coleta de dados presencial através de
questionários e entrevistas. Os participantes eram professores, alunos do 6º ao 9º
ano, seus pais ou responsáveis e, finalmente, os gestores de 8 das 11 escolas de SC
contempladas pelo ProUCA. Ao todo, obteve-se a participação de 1.645 sujeitos de
pesquisa. As respostas foram compiladas e separadas por categorias. Após a análise
individual dos dados de cada escola em questão, todos os dados foram unidos e
generalizados para as escolas.
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Já no ano de 2013, depois da análise dos dados pelo grupo de pesquisa, foi
oferecida para as escolas uma oficina denominada “Estratégias Pedagógicas para o
Ensino de CNMT com apoio das Tecnologias Educacionais Móveis” a qual objetivou
abordar o ensino de CNMT e a aplicação da estratégia pedagógica Hands-on-Tec,
que busca contribuir com o uso de tecnologias educacionais móveis, com destaque
para aos Laptops Educacionais (CARDOSO et al, 2013; ROSA et al. 2013).
A oficina foi oferecida em três momentos e cidades diferentes, com carga
horária de 20 horas (13h presenciais e 7h a distância). Foram realizadas três
atividades com os professores participantes, sendo uma atividade de Física, uma de
Matemática e uma de Química. Além das atividades, as diretrizes da estratégia
pedagógica Hands-on-Tec foram abordadas5. Para a atividade a distância, os
professores participantes formaram grupos e desenvolveram uma atividade baseada
na estratégia supracitada. A próxima seção apresentará os resultados gerais deste
estudo.
Resultados e análise de dados
Após analisarmos as respostas do questionário dos alunos de 8 das 11
escolas contempladas com o ProUCA em SC, pudemos observar que no ano de 2012,
30% dos laptops já apresentavam defeitos e, assim, não eram usados. Os alunos que
possuíam o laptop consideravam o equipamento uma ferramenta fácil de ser
utilizada. Mesmo assim, seus professores, na maior parte ajudavam os alunos a
entender como se utilizava o laptop e também a internet. Mesmo tendo-se em
consideração a conexão lenta da internet em algumas escolas e o fato de alguns
sites serem bloqueados, 68% dos alunos declararam que conseguiam acessar todas
as páginas da internet para o seus estudos. Aliás, o “acesso à Internet passou a ser
visto como condição sine qua non nos programas de tecnologia educacional”.
5 No site http://handstec.org/ o leitor é convidado a ter mais conhecimento sobre a estratégia pedagógica Hands-on-Tec,
desenvolvida por esta equipe de pesquisadores.
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(BRASIL, 2010a, p. 61).
Uma grande parte dos alunos declarou que considerava o laptop uma
ferramenta que facilitava o estudo e que, com a sua utilização, houve melhoras nas
atividades de sala de aula. Quanto às tarefas realizadas em casa, 57% dos
participantes declararam que as realizavam melhor com a utilização do laptop; 60%
dos alunos declararam que pesquisavam em vários sites sobre o assunto estudado e
61% deles declararam que realizavam as tarefas sem se distraírem com o laptop.
Isso mostra que apesar das limitações de conexão para acessar a internet, a
maioria dos alunos utiliza o laptop para complementarem seus estudos fora do
ambiente escolar.
A relação que os alunos faziam entre a melhoria das notas de Ciências e
Matemática com o uso dos laptops é significativa. Do total, 51% e 54%,
respectivamente, declararam que conseguem aprender melhor o conteúdo dessas
disciplinas quando o uquinha é utilizado. No que tange às redes sociais, 50% dos
alunos aferiram que utilizavam o laptop educacional para acessá-las. Deste modo,
consideramos que os efeitos dos laptops nas escolas de SC no período de 2010 a
2012 foram, em geral, positivos, com algumas poucas exceções provenientes de
algumas escolas específicas.
Todos os entrevistados das oito escolas visitadas por essa equipe relataram
que gostavam de utilizar o laptop na sala de aula. Os alunos, em geral, relataram
que têm mais privacidade nos seus arquivos pessoais, pois o computador era só
deles e não era compartilhado como os computadores dos laboratórios de
informática das escolas. Cada um trabalhava no seu próprio equipamento. Não era
preciso se locomover para usar os computadores de mesa dos laboratórios. As aulas
ficavam mais dinâmicas, interessantes e menos chatas. Além disso, ao que
concerne, mesmo tendo outro computador em sua residência, o aluno tinha um
computador pessoal (que era só para ele) que lhe dava liberdade e autonomia para
estudar, jogar e “visitar” regiões desconhecidas que, possivelmente, não teria
acesso caso o uquinha não tivesse sido disponibilizado para ele pelo ProUCA.
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No que diz respeito aos problemas acarretados pelos usos dos laptops em
sala de aula, segundo os alunos entrevistados, o uso do uquinha e da internet, em
geral, levava-os a se distraírem, o que gerava, também, problemas de disciplina.
Com isso, fica clara a importância do professor no planejamento da aula com o uso
dos laptops, propondo atividades diversificadas e contextualizadas para motivar os
alunos a refletirem e buscarem o conhecimento sobre o objeto de estudo.
Os problemas técnicos se assemelham aos relatados em diversas escolas do
Brasil e do mundo que adotaram programas no paradigma 1:1. Os entrevistados
declararam, em geral, que: a conexão com a internet nas escolas era lenta; a
bateria tinha pouca durabilidade de carga; alguns laptops estragavam e eram
inutilizados, travavam com frequência e possuíam pouca memória. Devido a esses e
outros problemas, os alunos acabavam conversando mais, o que levava, às vezes, à
indisciplina.
Quando perguntados se preferiam fazer tarefas no laptop ou no caderno, a
maior parte dos entrevistados relatou que preferia fazer tarefas no laptop por ser
mais rápido para escrever, mais divertido, não precisava copiar e podia pesquisar
simultaneamente na internet. Eles achavam mais prático digitar, já que eles
preferem digitar a escrever.
Com relação aos docentes, a maioria deles declarou que possuía
computadores pessoais e, então, não utilizavam o laptop educacional que também
lhes fora ofertado. A metade dos respondentes declarou que tinha facilidade em
usar o laptop em suas aulas. Quase 60% deles declarou que utilizava o laptop em
todas as suas aulas e 74% dos professores declararam que utilizavam os laptops
para acessarem redes sociais. Com relação à aprendizagem, praticamente todos os
professores declararam que a aprendizagem dos seus alunos, depois da inserção dos
laptops, melhorou.
Finalmente, 70% deles declararam que passaram a usar com mais
frequência conteúdos digitais em substituição às obras de referência impressas
para preparar aulas ou para estudar e 63% dos professores passaram a recomendar
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sites para os seus alunos complementarem os conteúdos escolares, com mais
frequência. Quanto aos programas que estes utilizam para realizar suas atividades
pedagógicas, a maioria usava programas de edição de textos, seguidos pelo uso de
programas de internet e de edição de slides. No que tange às mudanças que
ocorreram com a prática de ensino dos professores com a utilização do laptop, a
maioria notou que houve um maior interesse por parte dos alunos nas aulas, as
quais passaram a ser mais dinâmicas e interativas, menos expositivas e, assim, mais
valorizadas. Apesar de a maioria dos professores não terem sentido conflitos em
relação às mudanças, alguns respondentes relataram que os alunos perdiam um
pouco a noção do limite de uso do laptop, levando para o lado da brincadeira.
No que diz respeito às dificuldades operacionais, a maior parte dos
docentes relatou que os problemas eram relativos à conexão com a internet.
Também foram relatadas dificuldades em relação ao apoio por gestores. Para o
tratamento dessas dificuldades, algumas escolas tiveram o apoio de pessoas com
maior conhecimento de informática. As atividades realizadas com os laptops foram
avaliadas, segundo a grande maioria dos respondentes, através da realização de
trabalhos com pesquisas na internet e os resultados obtidos foram bons. Alguns
observaram também uma melhora no interesse e rendimento de seus alunos.
Finalmente, as atividades educacionais planejadas pelos professores não se
restringiram somente à sala de aula. Estas eram expandidas para outros lugares
como as residências dos estudantes, onde eles eram motivados a fazer tarefas
escolares.
Referente ao comportamento dos alunos nos estudos, a maioria dos
respondentes declarou que houve mudanças positivas, principalmente em relação à
pesquisa. Houve mais interesse e participação dos alunos. Todavia, em relação às
notas ou conceitos obtidos pelos alunos, os respondentes declararam que não
houve evolução neste sentido devido ao laptop. Enfim, o grau de satisfação em
relação ao apoio recebido na sua escola para o uso do laptop nas aulas foi
considerado alto pela maioria, o que pode se dizer que foi um resultado bem
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positivo.
De acordo com as respostas dos gestores, podemos concluir que o ProUCA é
um programa importante, pois oportuniza a inclusão digital de alunos e professores
e potencializa as práticas pedagógicas. Desta forma, na visão dos gestores
entrevistados, o ProUCA em SC conseguiu atingir seu objetivo principal que é o de
promover a inclusão digital. Contudo, eles consideram que as metodologias devem
ser alteradas, assim como, o processo de ensino-aprendizagem devido à inclusão de
novas tecnologias digitais nas escolas. As respostas dos gestores também indicam
que o interesse dos alunos em aprender aumentou visto que eles aprendem de
forma diferenciada, mais divertida e autônoma.
As mudanças percebidas pelos gestores nos alunos, referem-se ao interesse
deles pelas novas tecnologias digitais, o que desencadeia maior motivação nos
estudantes. Além disso, percebem os gestores que, quem aprende mais são os
professores, pois eles, na sua maioria, pareciam não dominar esta nova tecnologia –
o laptop educacional.
No que se refere às mudanças causadas nos pais, os gestores relataram que
a escola se torna mais atraente e interessante com as novas tecnologias digitais e,
muitos deles, acabam por utilizar os computadores dos filhos. Os pais, segundo os
gestores, entendem que o uso das novas tecnologias na escola preparará os alunos
para a inserção deles no mercado de trabalho. Já os professores, segundo os
gestores, passaram a trabalhar mais em grupos e passaram a ter um maior interesse
em adaptar suas aulas em função do novo equipamento. A principal mudança,
talvez, esteja na metodologia de ensino, uma vez que se altera completamente o
ambiente escolar, ou seja, este é alterado, já que os professores buscam
aperfeiçoamento e utilização de novos software. Inicialmente, alguns professores,
como afirmam os gestores, ficaram receosos em utilizar os laptops, mas depois do
primeiro contato, a utilização se intensificou. Além disso, o uso e a aplicação de
laptops educacionais abre novas oportunidades de formação continuada para os
professores. A prática pedagógica mudou radicalmente, segundo o relato de um
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gestor, visto que o Projeto Pedagógico de sua escola teve que ser alterado. Além
disso, as aulas saíram do cotidiano e da rotina e os recursos pedagógicos, em
consequência, foram ampliados.
Tanto alunos quanto docentes melhoraram significativamente seus
conhecimentos no que se refere ao uso da nova tecnologia. Com relação à melhora
das notas dos aprendizes, os gestores relataram que eram poucos os indícios que
podiam comprovar isto. Acreditamos que ainda é cedo para identificar se os
laptops estão influenciando no aumento nas notas dos estudantes, pois ainda não
existe um estudo ou uma reflexão mais aprofundada e longitudinal neste sentido
dentro das escolas. Há de se considerar, também, que, apesar das novas práticas
pedagógicas acontecerem na escola frente à introdução dos laptops, as avaliações
ainda seguem os modelos tradicionais de ensino. Logo, mudam-se as práticas, mas
não se muda o processo e o conceito de avaliar.
Com relação às dificuldades operacionais, os gestores relataram problemas
como: sistema operacional ruim; acesso à internet de baixa qualidade; rede
elétrica insuficiente e tamanho pequeno das telas dos laptops. No que se refere às
dificuldades organizacionais, houve problemas com: o planejamento; o pouco
tempo para se ambientar com o laptop; a resistência de alguns professores; a falta
de preparo dos mesmos e, enfim, a preocupação e o cuidado com os laptops.
Apesar das dificuldades, os gestores relataram que muitos deles estavam
sendo, aos poucos, resolvidos com o apoio de Associações de Pais e Mestres e das
Secretarias de Educação de cada município. Além disso, mostravam-se satisfeitos
com o ProUCA e desejavam, não somente, que este programa continuasse em suas
escolas, mas que também fosse ampliado a todas as escolas do país. Além disso, os
gestores relataram que ansiavam por novas máquinas e equipamentos e esperavam
que houvesse um suporte técnico mais eficaz que atendesse aos problemas já
apresentados anteriormente.
Quanto aos questionários enviados aos pais, tivemos um retorno
significativo. Foram mais de 600 pais ou responsáveis que os responderam.
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Observamos que 82% deles declararam que seus filhos usavam os seus laptops para
assistirem a vídeos; 78% relataram que seus filhos usavam os laptops para
realizarem tarefas escolares; 66% declararam que os alunos os usavam para jogar;
65% utilizavam o laptop para fazer consultas na internet; 67% para participar de
projetos e apenas 40% dos seus filhos usavam o laptop para produzirem textos.
Essas respostas estão muito semelhantes com as respostas dos alunos, de que eles
utilizavam o laptop para continuar os seus estudos além dos muros da escola.
Com relação às reclamações sobre o uso do laptop em sala de aula, 85% dos
pais-participantes responderam que, segundo seus filhos, a utilização do laptop não
gerava indisciplina em sala de aula, ou causava qualquer outro tipo de problema.
No que se refere à melhora das notas, apenas 30% dos pais-respondentes relatou
que achava que elas haviam melhorado.
Em relação à utilização do computador pelos pais antes do laptop
educacional ter sido entregue a seus filhos, a maioria deles (61%) relatou que
nunca tinham utilizado um e só passaram a conhecer e utilizar um computador a
partir daquele momento. Identificamos com estes dados que um dos objetivos do
ProUCA, o relacionado à inclusão digital, foi alcançado, mesmo que parcialmente.
Ou seja, para a maior parte dos pais de alunos de 8 escolas do ProUCA/SC, o laptop
educacional Classmate foi o primeiro computador com o qual eles tiveram contato
em suas casas, naquele ano de 2010.
As oficinas pedagógicas com a estratégia Hands-on-tec
Destacamos ainda as oficinas oferecidas para as 11 escolas do ProUCA/SC e a
estratégia utilizada nelas. Apresentando-se como uma estratégia inovadora, a
Hands-on-Tec possibilita que o professor utilize ferramentas diversificadas como
editores de vídeos e imagens, editores de texto, sites de busca e pesquisa,
dicionários online e simuladores para o estudo de Ciências Naturais e Matemática.
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A Hands-on-Tec é uma estratégia integradora da tecnologia na sala de aula e, ao
mesmo tempo, interdisciplinar.
No ato da inscrição das oficinas, os professores foram questionados se
utilizavam as tecnologias digitais para o desenvolvimento das atividades de ensino.
De acordo com as respostas, em torno de 50% dos participantes responderam que
utilizavam tecnologias frequentemente e 41% deles utilizavam com pouca
frequência. Dadas as condições adversas que os professores enfrentavam
relacionadas à baixa conectividade e aos problemas descritos neste artigo,
reconhecemos o esforço deles para se adequarem aos novos tempos e às novas
TICs. Assim, consideramos, dados os resultados desta pesquisa, que a utilização
frequente das novas tecnologias pelos professores tende a aumentar.
De acordo com a avaliação feita pelos próprios participantes (foram 57 ao
todo) das três oficinas oferecidas por este grupo de pesquisadores, as oficinas
pedagógicas foram válidas devido, principalmente, a sua dinamicidade e facilidade
de alinhar-se ao programa curricular.
Considerações finais e sugestões para futuras pesquisas
Depois de uma fase de experimentação, o programa de Negroponte – o OLPC –
continuou se espalhando pelo mundo e algumas lições foram aprendidas: para
atingir seu potencial, o programa OLPC deveria buscar desenvolver conteúdos
digitais, preparar os professores, desenvolver uma conexão melhor com a internet
e uma infraestrutura mais apropriada de rede elétrica, de acordo com a OLPC
Foundation e a Secretariat of the Pacific Community (2008).
Com relação ao ProUCA no Brasil, na sua Fase 1 (2008), foram detectados
problemas semelhantes aos constatados na presente pesquisa. Os problemas
relatados na fase pré-piloto eram aqueles relacionados às diferenças ambientais e
de contexto escolar; à infraestrutura tecnológica e física; aos equipamentos; à
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conexão com a internet, ao suporte técnico; à capacitação profissional e suporte
padagógico, entre outros (BRASIL, 2010a). Por outro lado, oportunidades
significativas de melhorias da inserção das tecnologias na EB, apontou para novos
contextos e oportunidades.
Nos relatos dos alunos da presente pesquisa, identificamos perfis com
facilidade de uso instrumental do laptop e dos programas a ele associados como,
por exemplo: o acesso à internet, a participação em redes sociais, o acesso a
videoaulas e jogos, entre outros usos. Aliado a esse fato, o uso de laptops
despertou motivações e também elencou possibilidades de explorar fontes de
pesquisas em contextos virtuais, como a realização de buscas na internet para
auxiliar na realização de atividades elencadas pelos professores. Ademais, os
docentes notaram que a inserção dos laptops na escola aumentou o interesse do
aluno pelos estudos. Já os gestores salientaram que o uso dos laptops
desencadeava maior motivação nos alunos e, além disso, eles revelaram que havia
docentes que inovaram suas práticas de ensino. Enfim, os pais dos alunos,
relataram que consideravam que o uso desses tipos de novos recursos tecnológicos
contribuirá para a inserção dos seus filhos no mercado de trabalho, haja vista as
competências profissionais contemporâneas exigidas, frente às novas evoluções
tecnológicas.
Pelo exposto ao longo deste artigo e tendo em vista experiências anteriores
do governo federal brasileiro, aliado aos trabalhos e estudos significativos de
professores e pesquisadores, na tentativa de contribuir com o uso de novas TICs na
EB, podemos aferir que o ProUCA, encontrou um cenário “fértil” para favorecer
essa proposição, tendo em vista a própria imersão das Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação na sociedade. Não obstante, encontramos também um
cenário com muitos desafios pela frente. Além das falhas técnicas já citadas,
destacamos a ênfase no aperfeiçoamento do uso tanto instrumental quanto
cognitivo das tecnologias educacionais pelos professores e alunos. Assim,
salientamos que investimentos em programas da natureza do ProUCA merecem ser
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continuados. Todavia, para tanto, urgem questionamentos reflexivos. Assim, tendo
em mente os critérios para a adoção de um programa no paradigma 1:1 e haja vista
os problemas já encontrados, questiona-se os critérios estabelecidos para a adoção
de um programa deste tipo, bem como, a expansão da sua implantação. Já
observamos que resolver os problemas físicos, técnicos e pedagógicos ao mesmo
tempo em que se distribui a nova tecnologia, em alguns casos, causa
desorganização e descontentamento dos sujeitos envolvidos no programa.
Ao iniciar a Fase Piloto em SC, não houve um plano para amenizar os
problemas constatados na Fase Pré-piloto. Cada escola participante teve que
buscar recursos e meios para avançar e atingir os objetivos propostos pelo ProUCA.
Dos problemas relatados, a conexão lenta da internet e a manutenção ou troca dos
computadores com defeitos, são problemas que devem ser discutidos e resolvidos,
por meio de políticas públicas a nível federal para que o programa continue e
venha a apresentar melhores resultados.
Salientamos que as contribuições do ProUCA estão sendo reconhecidas pela
comunidade acadêmica. No entanto, torna-se pertinente, antes de se pensar nos
futuros programas que visem à integração da tecnologia digital na sala de aula,
discussões mais amplas, a nível nacional e a reflexão sobre questões relacionadas
ao uso dessas tecnologias na educação, como por exemplo: quais modificações essa
integração acarretará para a escola? Qual é o papel da própria escola perante esse
novo século? Que mudanças devem ser feitas no currículo escolar para melhorar a
qualidade do ensino?
Sem responder a essas questões, procurar somente resolver os problemas
internos ligados à infraestrutura escolar e/ou tentar capacitar os professores, sem
repensar mudanças da própria estrutura curricular antes da distribuição de novos
equipamentos, julgamos que não alcançaremos as proposições do uso com fluência
e criticidade das tecnologias na educação. Além disso, não teremos resultados
sustentáveis a longo prazo. Uma recente ação do governo federal, a saber, a
distribuição de tablets para docentes do ensino médio de escolas públicas
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brasileiras, já iniciou de maneira precipitada, não levando em consideração todas
as dificuldades enfrentadas pelos programas anteriores e os novos paradigmas
emergentes da educação. Em consequência, os tablets educacionais acabarão
sendo utilizados apenas para fazer pesquisas na internet, ler/enviar e-mails e
participar de redes sociais. Desta forma, alcança-se a proposição da inclusão
digital. Porém, não se garante o uso com fluência e criticidade no contexto
educacional e, consequentemente, as tecnologias não potencializarão processos de
ensino–aprendizagem os quais entendemos ser uma das principais proposições do
ProUCA.
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