Post on 24-Jan-2017
Dominar o tempo
Num mundo cada vez mais agitado, parece que apenas o tempo tem o dom de
assumir o exclusivo das nossas decisões. Deste modo, trago hoje a este espaço uma breve
interpretação, cuja importância constitui um dos corolários das sociedades modernas: o
tempo. O tempo pode ser definido como o que sentimos ocorrer entre um instante e outro.
Esta realidade acompanha-nos por toda a vida, desenrolando-se de forma distinta, nas
diversas etapas do desenvolvimento: lentamente na infância e terceira idade, de forma
veloz na idade adulta.
Para melhor nos ajudar a perceber estas matérias, a cronobiologia permite-nos
compreender as características temporais dos organismos em todos os momentos da
relação com o meio. Esta ciência engloba o estudo dos ritmos biológicos, que oscilam em
função do tempo, repetindo-se regularmente. Traz-nos, ainda, uma das mais importantes
contribuições relativas ao tempo: a noção de variabilidade das funções biológicas ao longo
das 24 horas do dia. Esse dado é interessante na medida que mostra, por exemplo, a
variação do desempenho cognitivo ao longo do dia para qualquer pessoa. Revela,
igualmente, que as pessoas tendem a responder de forma diferente à mesma situação,
conforme o momento do dia em que ela ocorra.
As alterações de rotinas, próprias do período pós-férias, representam
invariavelmente um conjunto de mudanças profundas do nosso ritmo biológico, sendo
necessário regressar ao emprego atentos a possíveis sintomas físicos ou psicológicos, de
modo a reagir de forma adequada às novas solicitações de vida.
De um modo geral, quando temos uma relação demasiadamente intensa com a
vida, respondemos de forma quase imediata aos apelos que se passam à nossa volta. Por
mais que tenhamos uma agenda, planificações e tudo mais, acabamos por descobrir de
forma imediata que não temos tempo. Vivemos sempre no dilema de não ter tempo e, às
vezes, de forma contraditória às nossas expectativas acabamos mesmo por “perder
tempo”. Outros ainda utilizam uma expressão que considero mais desconcertante, “matar
o tempo”. Apesar de absurdo, acaba por ser curioso a sensação de “matar o tempo”, pois
quando a sentimos, é nesse momento que o tempo deixa de exercer uma certa tirania sobre
nós. Prefiro a designação de Fernando Pessoa quando afirma que “o tempo é uma ilusão
obstinadamente persistente” e, enquanto ilusão com mais ou menos participação da nossa
parte, ele (o tempo) acaba por ser gerido por nós.
Quando no fundo acabamos por estar dependentes do tempo dos outros, temos
noção de que não sendo donos do nosso tempo, só nos resta protestar, aquilo que por
vezes todos fazemos e em que alguns se especializaram. Não permita que o tempo
preencha a sua agenda. Prefira viver a cultivar o que já é e a usufruir do que já tem. Dessa
forma, o tempo acabará por ser uma “ilusão obstinadamente persistente”.