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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A BUSCA PELO RESPEITO À DIVERSIDADE UTILIZANDO PRÁTICAS
LÚDICAS NA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR
Edilene Aparecida Silva1
Violeta Maria Estephan2
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo a compreensão, o respeito e a valorização da diversidade a fim de prevenir a violência escolar. Observou-se um aumento do número de conflitos no período vespertino nas turmas de 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco, localizado no município de Mandirituba, onde os alunos não se respeitavam mutuamente. Buscamos discutir, a diversidade, o respeito e a sua valorização, desenvolvemos ações preventivas para diminuição da violência no ambiente escolar, para tanto propusemos práticas lúdicas que visaram contribuir na prevenção ou resolução dos conflitos que ocorriam na escola. Devido à boa receptividade e o interesse dos alunos nas atividades, concluímos que os jogos e brincadeiras trouxeram melhorias no relacionamento e na aprendizagem proporcionando assim, uma convivência social agradável e segura.
Palavras-chave: Respeito 1. Diversidade 2. Práticas Lúdicas 3. Prevenção 4. Violência na escola 5.
ABSTRACT
This article presents the results of a research that aimed to understanding, respect and appreciation of
diversity in order to prevent school violence. There was an increase in the number of conflicts in the
afternoon in groups of 6 years of elementary Joaquim de Oliveira Franco State School Education,
located in the municipality of Mandirituba where students are not respected each other. We discuss,
diversity, respect and its recovery, develop preventive actions to reduce violence in the school
environment, for both proposed playful practices that aimed to contribute to the prevention or
resolution of conflicts taking place in school. Due to the good reception and student interest in
activities, we conclude that the fun and games brought improvements in the relationship and learning
thus providing a pleasant and safe social coexistence.
Keywords: Respect 1. Diversity .2 Playful Practices 3. Prevention 4. School Violence 5.
INTRODUÇÃO
Na década de 1990, as situações de violência escolar foram observadas nas
interações dos grupos de alunos e também neste período aumentaram as iniciativas
para diminuir este fenômeno. Neste período ainda observou-se nas escolas
1 Aluna PDE formada em Pedagogia e especialista em Metodologia do Ensino da Geografia pelo
IBPEX. 2 Orientadora, professora do Departamento Acadêmico de Matemática da UTFPR-CT, Mestre em
Educação pela UFPR.
públicas, atos de vandalismo, agressões interpessoais (físicas e verbais) e ameaças,
sendo as últimas as mais frequentes. (SPOSITO, 2001).
Atualmente os problemas mais debatidos pelos professores têm sido a
indisciplina e a violência na sala de aula. Estes comportamentos inadequados que
perturbam o bom andamento das atividades cotidianas são provocações que
desafiam a autoridade do professor com agressões verbais ou físicas entre os
alunos. Os conflitos surgem devido a interesses diferentes relativamente ao mesmo
objeto ou situação, a mediação desses conflitos deveria ser efetiva com a resolução
entre os alunos diretamente envolvidos. No entanto, isso nem sempre acontece, há
casos em que o conflito acaba sendo resolvido pela força, pela prepotência e sai
vencedor o mais forte, o mais violento. Estas situações de relações entre pares com
abuso de poder são frequentes, designadas “violência”.
Essa violência acontece em maior ou menor grau, apresentando-se de
variadas maneiras e com diferentes vítimas. Existem diferentes termos utilizados a
fim de relacionar este tema e escola, tais como: violência escolar (LOPES NETO,
2005), violência na escola, violência em meio escolar, violência da escola,
indisciplina e bullying. Independentemente do termo usado se faz necessário que
sejam feitas reflexões e se busquem soluções para minimizar essa problemática,
que se encontra nos estabelecimentos escolares, para que haja entre os
estudantes uma convivência agradável, pacífica e harmoniosa. (CASAGRANDE,
2011, p. 211-216).
Relacionar a violência, a escola e o lúdico é um desafio que visa contribuir
para a prevenção e resolução dos conflitos que ocorrem no ambiente escolar, de
forma assertiva, por meio da aprendizagem realizada em jogos e brincadeiras que
oportunizem momentos de alegria, nos quais os alunos possam em condições
seguras, expressar sua agressividade e ao mesmo tempo respeitar e conviver com o
outro, por meio da brincadeira.
Conviver com a diversidade de modos de vida presentes na sociedade,
implica em realizar enfrentamentos, baseados no respeito, reconhecimento e a
valorização do(a) outro(a), por isso a escola deve promover a aprendizagem e a
formação do aluno como cidadão consciente dessa diversidade.
Assim, este artigo mostra-se relevante por desenvolver ações preventivas
para diminuição da incidência da violência na escola, pois a escola deve ser um
espaço de inclusão e da promoção de discussões com vistas à compreensão e
reflexão de nossas atitudes em relação ao outro. Para tanto utilizar-se-ão práticas
lúdicas para criar um ambiente favorável a conscientização e reflexão dos alunos
sobre os danos e as consequências que tais agressões podem ter em suas vidas.
FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
A escola sendo uma instituição social, que tem como objetivo o
desenvolvimento das potencialidades cognitivas, físicas e afetivas dos alunos deve
proporcionar situações que favoreçam este aprendizado. Para Libanêo: “a educação
de qualidade é aquela a qual a escola promove, para todos, o domínio dos
conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas
indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos”.
(2001, p.117).
Em contraponto encontramos o argumento de Louro (2004, p.57) que afirma:
“diferenças, distinções, desigualdades... A escola entende isso. Na verdade a escola
produz isso”. Acreditamos que a escola não apenas transmite conhecimentos, mas
ela também fabrica sujeitos, produz identidades étnicas, de gênero, de classe.
Ferrari argumenta que:
A intolerância, a agressividade, a violência, a falta de habilidade para resolver conflitos e a dificuldade de reconhecimento da alteridade são alguns dos principais desafios do cotidiano escolar. As relações humanas são marcadas pelo conflito e a escola é um desses campos, visto que é um dos locais de negociação das identidades. (2010, p.40)
Ao reconhecer que essas identidades estão sendo produzidas através de
relações de desigualdade, torna-se necessário pensarmos em estratégias de
intervenção procurando desestabilizar essas divisões. (LOURO, 2004, p.85-86) No
cotidiano da escola observamos as diferenças e essas, muitas vezes, geram
conflitos, devido à incompreensão, à intolerância, ao desrespeito e à violência.
Segundo Lopes Neto (2005), a agressividade no ambiente escolar é um
problema mundial e representa diferentes tipos de situações que envolvem a
violência durante a infância e adolescência.
Ao definir violência, podemos dizer que este nome expressa quando o
indivíduo não é tratado de maneira digna, quando seus direitos e sua dignidade de
ser humano são negados, podendo ser manifestada de diversas maneiras e
atingindo o indivíduo de variadas formas, na escola ou fora dela. No entanto, Lopes
Neto (2005) cita três documentos que formam a base legal de entendimento sobre a
educação e desenvolvimento de crianças e adolescentes que são: a Constituição da
República Federativa do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a
Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Todos
os documentos preveem direitos à dignidade e ao respeito, sendo a educação o
meio de prover o completo desenvolvimento da pessoa e o seu preparo para a
cidadania.
Dentre os tipos de atitudes que são classificadas como violência ou
intimidação que ocorrem no ambiente escolar destacamos a agressão física (uso da
força física), a agressão psicológica (ameaças, rejeição, depreciação, indiferença,
discriminação, desrespeito, punições exageradas, agressão verbal, exclusão social),
a agressão moral (discriminação, desrespeito), a agressão simbólica (insultos,
palavra que machuca, autoridade) e agressão virtual (bullying realizado por meio de
ferramentas tecnológicas: celulares, filmadoras e internet). (SILVA, 2010). São
muitos os tipos de violência, “todas têm consequências negativas imediatas e tardias
sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores” (LOPES NETO,
2005, S165), porém nem todas são facilmente identificadas como agressões.
Segundo o referido autor, o agressor ou autor normalmente é popular, tende a
envolver-se com vários comportamentos antissociais, pode ser agressivo com os
adultos, é impulsivo, tem opiniões positivas sobre si, considera sua agressividade
como qualidade e sente prazer em controlar, dominar e causar sofrimentos e danos
a outros. A vítima ou alvo é o aluno exposto, durante algum tempo e de forma
repetida, às ações negativas intencionais praticadas por um ou mais alunos. Os
observadores ou testemunhas, em sua maioria não se envolvem diretamente com os
atos violentos, quase sempre se calam por medo ou por não saberem agir (LOPES
NETO, 2005). O trabalho dever se realizado tanto com as vítimas quanto com os
agressores e testemunhas. Este fato ressalta a necessidade de se tomar ações
preventivas para que não tenhamos nem vítimas e tampouco agressores.
O respeito e a tolerância não podem ser impostos à força, sendo preciso que
eles sejam construídos e desenvolvam-se com eficácia. Para isso, é necessário que
os alunos sejam atraídos por um ambiente que os capacite a tomar as melhores
decisões diante das adversidades que enfrentam em suas vidas.
Para Beaudoin e Taylor (2006) os alunos envolvidos em situações de
desrespeito e violência precisam de ajuda, para auxilia-los, deve-se criar e
proporcionar experiências de opções, de forma que os educandos tenham
possibilidades de fazer escolhas variadas. Essas experiências de opções, colocadas
pelas autoras, não significam que os adultos exponham suas opiniões e sim que os
alunos sejam convidados a refletir sobre o que está acontecendo, realizando um
processo mais aprofundado de autoinvestigação e reflexão, estabelecendo
internamente noções mais pessoais, criando mais possibilidades de escolhas e
decisões positivas em um dado contexto de suas vidas.
Com o intuito de criar situações que proporcionem experiências para a
promoção de práticas que visem o respeito, a responsabilidade e a valorização à
diversidade, prevenindo a violência escolar, utilizaremos o lúdico, no
desenvolvimento de atividades que sensibilizem os estudantes a agirem com mais
respeito ao outro e a si mesmo.
Segundo as mesmas autoras, em relatos de mais de 200 alunos, os vínculos
são apresentados como aspecto mais importante da experiência da educação
escolar. “Entende-se por vínculo um processo de abertura e aceitação a outra
pessoa como um todo, com suas múltiplas versões do eu”. [...] “Refere-se ao estar
junto e também à realização de atividades conjuntas”. (2006, p.120)
Elas dizem que ao pensarmos nos vínculos, estaremos diminuindo o
desrespeito e o bulliyng, sugerem jogos estruturados, jogos de tabuleiro, atividades
de arte e de música para aumentar a noção de vínculos, para isso é preciso criar
contextos de forma que todos sintam a existência do mesmo entre os alunos.
Os jogos infantis oferecem a proposição de assertividade que focam a
perspectiva de cooperação e que a partir das práticas lúdicas, provoquem reflexões
sobre as relações sociais. (SANTOS, et al, 2010 p.67)
Trata-se de formas interessantes de aprendizado, pois a brincadeira busca
inspirar, motivar e ajudar atingir metas de um modo divertido. Kishimoto (1992)
confirma este argumento quando diz: “quando ela brinca, não está preocupada com
aquisição de conhecimento ou desenvolvimento de qualquer habilidade mental e
física.” O lúdico, através dos jogos propicia a diversão e o prazer, o jogo escolhido
livremente possibilita aos educandos a vivência de sua autonomia e permite que se
complemente os conhecimentos já adquiridos, ou ainda, pode melhorar as
informações e as habilidades ainda pouco desenvolvidas. (IDEM, 1992)
O brincar na escola é uma vivência fundamental para os alunos, já que
possibilita maior intimidade com o conhecimento, construção de respostas,
interpretação e assimilação do mundo por meio das práticas lúdicas, ajudando a
liberar a emoção e auxiliando na aquisição da autoestima. (KISHIMOTO, 1996)
RELATO DO TRABALHO NA ESCOLA
No início do mês de março como estratégia para implementação do projeto
inicialmente foi realizado um questionário de pesquisa adaptado do Kidscape3, com
todos alunos dos 6º anos do Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco do
período vespertino, com o intuito de diagnosticar e identificar situações de
desrespeito, discriminação e violência no espaço escolar. O questionário continha
questões sobre as concepções básicas prévias trazidas dos alunos, identificando
suas experiências, atitudes, expectativas e conhecimentos sobre violência escolar.
O mesmo foi respondido por via eletrônica, no laboratório de informática, visando
contribuir para que os estudantes conhecessem este ambiente de trabalho (Google
Drive). Após a aplicação do questionário, da análise e tabulação dos dados
coletados, que foram apresentados em gráficos, escolhemos duas turmas (as mais
problemáticas) para realização das intervenções.
As turmas escolhidas para o trabalho de intervenção foram, 6ºC e 6ºE, porque
nessas havia um maior número de alunos que afirmavam ter sofrido intimidação,
agressão ou assédio. A seguir mostramos os dados obtidos nessas turmas:
8
3 Fundada em 1985 foi a primeira instituição de caridade no Reino Unido estabelecida
especificamente para prevenir o bulliyng e abuso sexual infantil.
Na sequência, foram desenvolvidas atividades lúdicas, metodologia essa que
Kishimoto (1992) reforça.
As atividades desenvolvidas oportunizaram o entendimento, a compreensão e a
reflexão, procurando sensibilizar a importância do respeito e da valorização da
diversidade na prevenção da violência escolar, buscando a formação de opiniões,
atitudes e valores que desenvolvam cidadãos conscientes sobre os danos e
consequências que as agressões podem ter em suas vidas, como afirmam os autores
Beaudoin e Taylor (2006); Lopes Neto (2005).
Nos primeiros encontros para auxiliar os alunos a identificar tipos (formas) de
violência escolar, foram apresentados vídeos, o primeiro de aproximadamente 6 min
que mostrou as formas de bulliyng4 (atividade 1). O segundo, com o tempo de 7min,
apresentou os variados tipos de preconceito5 existentes na sociedade e o terceiro, com
5 min, abordou a valorização da diversidade de raças6 (atividade 2). Após a
apresentação do primeiro vídeo foram distribuídos dois pequenos textos, um deles foi
um fragmento da Cartilha do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que nos traz as
formas de bullying e dados sobre quem o comete mais e o outro texto foi sobre a
diferença entre bullying e violência escolar na concepção de Lopes Neto (2005, S165).
Em seguida os alunos participaram da dinâmica: “A delícia de sermos quem somos:
nos identificando (adaptada)”, que consistia em produzir rótulos colocados nas costas
dos alunos, os demais liam e demostravam alguma reação em forma de gestos ou
expressões faciais.
4 Vídeo que se encontra no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=j3v70bmk4eE 5 Vídeo que se encontra no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=h4Et0z7KY5Q
6 Vídeo que se encontra no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=W9eBpv-WPAs
Fotografia 1 - Atividade 1 Fotografia 2 – Alunos rotulados Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Todas as discussões, reflexões dos textos, dos vídeos e as informações foram
trabalhadas por meio das atividades lúdicas. As dinâmicas e jogos que os alunos
participaram, a maioria em grupos e em sala de aula, apresentaram muitos desafios
para os alunos e também para a pesquisadora. Essa experiência no início foi muito
difícil, os alunos não sabiam se organizar, faziam muita bagunça e muito barulho, mas
com o passar do tempo, aprenderam a lidar com as dinâmicas e os problemas
diminuíram.
No intuito de valorizar o respeito à diversidade contribuindo na prevenção e
resolução dos conflitos que ocorrem no ambiente escolar os alunos relataram atitudes
negativas que já tiveram que podem ser substituídas por atitudes positivas para assim
possibilitar o completo desenvolvimento e aprendizagem dos educandos. Isso ocorreu
no final dessa unidade, quando foi realizada uma avaliação informal trazendo
propostas de ações com relatos individuais e trabalhos coletivos com pequenos textos,
que são descritos a seguir.
Texto 1: “Eu xinguei sim uma colega pois ela é negra, ela chorou muito e tenho
certeza que foi muito triste pra casa. Me arrependi, então comprei um presente e falei
desculpa pra ela, ela me perdoou e daí e fui leva ela na minha casa para
brincar.”(J.B.S.F. 10 anos)
Texto 2: “Eu joguei uma bombinha na casa da minha amiga, xinguei ela e na
escola bati com um livro na cabeça dela. Não deveria ter feito isso, deveria ter mais
paciência, pedir desculpas e elogiar em vez de xingar.” (G. Z. 11 anos)
Texto 3: “Eu poderia chatear menos as pessoas que gostam de mim. Eu poderia
nunca mais falar mal de meus colegas e sim fazer elogios e respeita-los.”(C.P. 12
anos).
Nas atividades 2 e 3 também objetivou-se identificar os tipo de violência,
diversidade sexual, discriminação e preconceito utilizando vídeos e a leitura do livro:
Sexualidade: papo de criança na escola? Sim.
Fotografia 5 - Produção de texto e perguntas Fotografia 6 – Leitura livro Sexualidade Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Na atividade 2 realizamos a dinâmica da “Caixa de Pandora” e na terceira a
dinâmica “É assim mas pode mudar”. Na atividade 2 inicialmente a pesquisadora
conversou sobre o mito de Pandora e em seguida a brincadeira. Em uma caixa foi
colocado frases, palavras e imagens que estimulavam discussões sobre respeito,
discriminação, preconceito e violência. Na atividade 3, após a leitura do livro, a
pesquisadora conversou sobre diferenças de comportamentos de homens e mulheres
em variadas situações, dividiu a turma e os grupos receberam um caso a ser resolvido.
Fotografia 3 - Atividade 2 Fotografia 4 – Caixa de Pandora Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Ao final dessas atividades também houve avaliação. Na discussão final surgiram
dúvidas quanto ao tema proposto e os grupos elaboraram perguntas ou curiosidades
que foram desdobradas no decorrer das demais intervenções.
A seguir descrevemos algumas das perguntas mais frequentes:
Pergunta 1: Qual diferença entre bullying e preconceito? (grupo 1)
Pergunta 2: Quais são as consequências do bullying ? (grupo 2)
Pergunta 3: Uma pessoa vai para a cadeia se cometer qualquer forma de
violência escolar ou bullying ? (grupo 3)
Na unidade seguinte, todas as ações favoreceram a interação social baseadas
na cooperação e respeito estimulando os alunos na capacidade de resolver problemas
com o diálogo e a busca conjunta de soluções. Os jogos, as dinâmicas e as
brincadeiras que os alunos participaram, foram em sua maioria realizadas em grupos,
objetivando o desenvolvimento da compreensão, respeito e a valorização da
diversidade e do outro, no intuito de melhorar a convivência e prevenir a violência
escolar.
Para completar foram apresentados slides confeccionados pela pesquisadora,
que contribuíram no envolvimento, na participação e nas reflexões do tema em estudo.
Ao final das atividades lúdicas, como na unidade anterior, foram realizadas avaliações
informais utilizando questões a serem respondidas, confecção de cartazes, desenhos e
folders.
Fotografia 7 - Dinâmica Travessia Fotografia 8 – Dinâmica Travessia Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Na dinâmica “Travessia” os alunos foram desafiados a saírem de um ponto
na direção de outro, porém com vários obstáculos. Este jogo cooperativo estimulou
o rompimento da inércia e impulsionou os alunos a alcançarem a meta proposta.
Surgiram vários conflitos, discussões e alguns grupos não conseguiram terminar o
jogo, porque transgrediram as regras e os vencedores relataram aos demais que
somente conseguiram chegar ao objetivo, porque trabalharam em conjunto
cooperando uns com os outros. Nesta etapa, percebemos de maneira clara as
afirmações de Santos (2010) quando coloca que jogos infantis que oferecem a
proposição de assertividade e que focam a perspectiva de cooperação provocam
reflexões sobre as relações sociais.
As brincadeiras “Eu gosto de você” e “De pessoa para pessoa” estimulou os
alunos na promoção de valores, na demonstração de afeto e no reconhecimento do
que o outro tem de melhor. Durante a participação dos alunos nas dinâmicas e
jogos a pesquisadora pode perceber que se proporcionou aos educandos
vivenciarem situações com as quais muitos não vivem em seu ambiente familiar.
Outro fato relevante observado foi que muitos alunos não se sentem a vontade de
abraçar os colegas ou mesmo de elogiá-los. Logo no início houve resistência por
parte de alguns em abraçar o colega e nas avaliações finais ao relatarem como se
sentiram ao serem abraçados, responderam: “Eu senti felicidade em respeitar o
outro”, “Alegria por poder demonstrar carinho ao colega”, “Amor aos colegas”,
“Solidariedade”, “Medo”, “Alegria”, “Carinho”, “Vergonha”, “Amizade”, “Felicidade”.
Ainda como resultado se observou uma enorme diferença de comportamento
num aluno, que sempre foi indisciplinado, agressivo verbal e fisicamente com
colegas, professores e funcionários. Ele mudou muito no decorrer da aplicação das
atividades se mostrando amigável em relação aos seus amigos, sabendo ouvi-los e
respeitando-os. Sua participação na confecção do cartaz referente à dinâmica “Eu
gosto de você” foi muito gratificante. Agiu como líder, porém aceitando a opinião
dos demais e relatando que foi muito bom elogiar e ser elogiado.
Fotografia 9 - De pessoa para Pessoa. Fotografia 10 – Eu gosto de você Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Fotografia 11 – Dinâmica Eu gosto de você Fotografia 13 - De pessoa para pessoa Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Na atividade “Arco-íris da diversidade” o objetivo foi problematizar gostos,
opiniões e preferências. Para isso os alunos foram organizados em grupos a partir
da escolha de uma bolinha de papel colorido, em seguida formou-se os grupos
pelas cores iguais. Na sequência pegavam dentro de um saquinho uma tira de
papel contendo temas. Esses foram discutidos em uma roda de conversa na qual
cada um falou sobre o assunto, os grupos discutiram bastante. Os temas
escolhidos pelas equipes foram: Crenças, Esporte, Raça, Relacionamentos, Tipo
de Música e Tribos. Houve certos conflitos no grupo do Esporte, principalmente na
questão futebol, na qual os meninos resistiram à opinião das meninas e exaltavam
as suas. A pesquisadora necessitou intervir devido a muita divergência, no final
tudo se resolveu. Nos demais grupos as discussões transcorreram tranquilamente e
os grupos chegaram a um consenso para elaborar um cartaz expressando a
opinião do grupo sobre um tema escolhido.
Fotografia 11- Arco-íris da Diversidade Fotografia 12 – Arco-íris da Diversidade Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Fotografia 13- Arco-íris da Diversidade Fotografia 12 – Arco-íris da Diversidade Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Na dinâmica “Vivendo valores: O amor” os alunos resgataram muitos valores
esquecidos ou ausentes, que são pouco valorizados em nossa sociedade,
destacando sua importância nas relações cotidianas. As discussões foram muito
ricas a pesquisadora percebeu na fala de muitos, que ficaram surpresos ao
observarem os slides (confeccionados por ela) sobre valores e os variados tipos de
amor. Outros relataram que sentem dificuldades em experimentar e demonstrar os
valores apresentados, pois vivenciaram pouco, ou não vivenciam. Em seguida os
grupos criaram desenhos seguidos de pequenos textos sobre o tema: imaginando
como seria um mundo melhor. Alguns são descritos abaixo:
Texto 1: “Seria um mundo melhor sem guerra sem morte sem roubos com
todos se ajudando todos sendo amigos e ajudando os mais necessitados sem
mortes, protestos, bandidos, políticos corruptos. Todos se amando sem preconceitos
com negros, amarelos e homossexuais.” (R.S. 10 anos)
Texto 2: “Se o planeta fosse melhor seria muito melhor para todos viver se
tivesse mais amor, carinho, respeito, amizade, paz, cooperação, caridade e
colaboração, E todos iam respeitar uns aos outros. (A. J. 11 anos)
Texto 3: “ O planeta com paz, respeito e amizade pelos outros e com palavras
bonitas como caridade pela família, amigos, professores e pedagogas. O amor não
se fala mas se mostra para todas as pessoa e a mesma coisa com a paz, caridade,
cooperação e colaboração. Se eu ter respeito os outros também terá comigo.(J. C.C.
10 anos).
Fotografia 15 – Vivendo valores Fotografia 16 – Vivendo valores Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
E na atividade 6: Preconceito, violência e diversidade: Produzindo campanhas
publicitárias, os alunos criaram um folder. Em um primeiro momento a pesquisadora
perguntou quem sabia o que era uma agência de publicidade, na sequência
apresentou alguns slides sobre e trouxe alguns materiais publicitários como
exemplos. No segundo momento lançou um desafio. Dividiu a sala de aula em duas
agências que poderiam criar qualquer material publicitário com o propósito de alertar
as pessoas sobre o tema em questão, o tema escolhido foi Violência Escolar. Sendo
que para a construção do mesmo, foi decidido que os critérios: O que é, e o que
pode ser feito para prevenir, não poderiam faltar. Quanto aos desenhos e demais
frases, cada grupo usou a criatividade e principalmente o que aprenderam no
decorrer das intervenções.
Após a criação dos folders os alunos apresentaram seu trabalho nas demais
turmas alertando quais são os tipos de violência e principalmente como preveni-la.
Fotografia 17 – Folder (frente ) Fotografia 18 – Folder (frente) Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
Fotografia 17 – Folder (verso ) Fotografia 18 – Folder (verso) Fonte: Autoria Própria Fonte: Autoria Própria
E na última unidade foi reaplicado o questionário e concluiu-se que houve
benefícios dessa intervenção, pois os alunos tiveram mais segurança em suas
respostas. Também não houve contradições e percebemos o conhecimento
adquirido sobre o assunto. Depois, coletamos todas as produções confeccionadas
durante as atividades propostas e construímos um pequeno livro, que se encontra
na biblioteca da escola. O título e a capa do livro foram escolhidos dentre três que
foram confeccionados por alunos que se dispuseram a realizar essa atividade. O
escolhido foi “O caminho das coisas boas” de uma aluna.
Fotografia 19 – Capa do livro Fonte: Autoria Própria
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos que o ambiente escolar hoje não é o mais o mesmo de anos atrás,
nossos educandos quando chegam ao 6º ano, trazem muitas marcas que precisam
ser trabalhadas na escola de maneira consciente e responsável. Este trabalho deve
levar em consideração a violência escolar que não só inclui o comportamento entre
os alunos, mas refere-se às desigualdades sejam elas sociais, étnicas, de gênero e
de classes. Para que consigamos reverter e prevenir a violência no ambiente
escolar, os autores citados ressaltam a necessidade de priorizar ações preventivas.
Logo no início com a aplicação do questionário, ficou evidente que muitos
educandos já sofreram algum tipo de violência escolar. E também é claro a falta de
informação sobre o tema abordado, devido às contradições nas respostas dadas.
Com a realização das atividades propostas, que proporcionaram aos
educandos, informações, discussões, reflexões, emoções, sentimentos e
afetividade, ficou evidente que o lúdico contribuiu muito no processo de
aprendizagem e no convívio social, que anteriormente era bastante conflituoso,
fazendo com que melhorassem entre os colegas, respeitando as diferenças,
melhorando sua participação e contribuição na sala de aula. Foi constatado
também que os alunos perceberam a necessidade de saber ouvir e esperar sua vez
de opinar. Aprenderam a expor seus sentimentos ou experiências vividas de
maneira clara e educada, sem fazer julgamentos ou críticas quanto a forma de
como cada um se expressava.
Com a participação nos jogos e dinâmicas a maioria percebeu a necessidade
de respeitar as diferenças existentes na escola, sentiram-se importantes por poder
vivenciar e demonstrar sua contribuição na prevenção da violência escolar,
demonstrando como é possível aprender a conviver com a diversidade. Sendo
assim, ressaltamos a necessidade que toda a comunidade escolar esteja engajada
na valorização do respeito à diversidade na prevenção da violência escolar.
Os resultados deste trabalho foram positivos, percebo que as turmas
tiveram a oportunidade de conhecer e identificar as várias formas de violência no
espaço escolar e com a reaplicação do questionário, verificou-se que houveram
benefícios nessa intervenção. Percebemos que os alunos encontraram caminhos
para reverter e principalmente prevenir a violência e assim, termos um ambiente
favorável, proporcionando uma convivência social, agradável e segura.
Ressalto que essa intervenção foi apenas o início de um trabalho, que foi
realizado com os sextos anos justamente para que possa nos demais anos ter
continuidade.
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