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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA (1780-1850)
Marinalva Aparecida Consoli1Roberto Leme Batista2
ResumoEste Artigo apresenta os resultados obtidos a partir da realização de uma Intervenção Pedagógica desenvolvida durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED). Para sua efetivação elaboramos uma Unidade Didática sob o título: As Transformações no Mundo do Trabalho e a Exploração do Trabalho Infantil na Revolução Industrial Inglesa (1780-1850), uma análise sobre a Revolução Industrial na Inglaterra e suas consequências para os trabalhadores, principalmente o trabalho infantil. Portanto, nessa Unidade Temática apresentamos e discutimos conteúdos, referências teóricas e atividades importantes para o ensino de História, com vistas ao entendimento das transformações decorrentes da Revolução Industrial e a intensificação destas na exploração do trabalho infantil. Palavras-chave: Revolução Industrial. Fábricas. Exploração. Trabalho infantil.
Introdução
A Revolução Industrial é resultado de um processo de profundas
transformações na sociedade britânica. Ou seja, esta Revolução de fato “explodiu”
porque a partir da metade do século XVIII o acúmulo de velocidade para que isso
ocorresse já era nítido, os britânicos encontraram uma situação prática
revolucionária para o problema agrário. Além disso, o Estado havia investido nas
melhorias do transporte terrestre e fluvial, assim como nas comunicações. Houve
um importante avanço do mercado consumidor interno, pois houve um avanço
substancial da população a partir de 1740, que se intensificou depois de 1770. A
conquista de mercados externos possibilitou o crescimento das exportações. O
Estado teve papel fundamental como fomentador das atividades econômicas e na
proteção aos interesses dos empresários privados. (HOBSBAWM, 1978, p. 40).
A Revolução Industrial não foi resultado do acaso. Ela desembocou de
uma série de transformações que ocorreram na Inglaterra. Nesse sentido, essas
transformações prévias impulsionaram e fizeram “explodir” a Revolução Industrial,
1 Professora de História e Geografia da Educação Básica da Rede Pública Estadual/SEED-PR Professora PDE 2013/2014.
2 Professor Adjunto do Colegiado de História da UNESPAR campus Paranavaí. Historiador e Doutor em Ciências Sociais. Coordenador e Orientador do PDE.
por outro lado, esta, ao revolucionar a economia, potencializou o avanço dessas
transformações, provocando profundas alterações estruturais na sociedade
britânica. De fato, essa “explosão” levou a as profundas mudanças na relação
entre o campo e a cidade, com a constituição de imensas metrópoles decorrentes
do êxodo rural forçado pelos enclosures e a necessidade crescente de força de
trabalho para ser empregada na atividade industrial em expansão.
Essas transformações afetaram e modificaram o mundo do trabalho e as
relações humanas de forma radical. Portanto, é necessário compreender que a
Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra a partir do final no século XVIII foi um
salto ontológico qualitativo do capitalismo. Essas transformações permitiram ao
capital impor uma subsunção real ao trabalho, já que conseguiu desenvolver uma
passagem do trabalho artesanal para o trabalho manufatureiro e, posteriormente
para o trabalho assalariado na grande indústria fundada no sistema de máquinas.
Foram nessa circunstância que o trabalho infantil que já era explorado na
situação concreta anterior à Revolução Industrial ganhou novas formas e
intensidade. Logo, a exploração do trabalho infantil não foi uma invenção da
Revolução Industrial, pois isto já ocorria antes, o que esta fez foi aprofundar o grau
de exploração ao introduzir o sistema de máquinas. As máquinas intensificaram o
ritmo de trabalho, de produtividade e, portanto de exploração. É disto que
trataremos na sequência.
Revisão da literaturaO processo histórico que desembocou na Revolução Industrial foi
marcado por intensas transformações no conjunto das relações humanas. Vários
fatores fizeram com que a Inglaterra se tornasse o país pioneiro da
industrialização, como já salientamos na introdução.
Hobsbawm (1978) salienta que a Revolução Industrial não se constituiu
numa simples aceleração do crescimento econômico, mas sim numa “[...]
aceleração de crescimento em virtude da transformação econômica e social”, foi
através dessa transformação que se processou a Revolução Industrial. Esse
historiador destaca o fato da Revolução Industrial britânica ser a primeira na
história, que ela não começou do zero, além do que é possível “[...] apontar outras
fases anteriores de rápido desenvolvimento industrial e tecnológico”. Porém,
nenhuma fase anterior desenvolveu “[...] a típica fase moderna da história, a de
crescimento econômico autossustentado, mediante revolução tecnológica e
transformação social perpétua”. Assim a Revolução Industrial inglesa foi a primeira
e, portanto, foi “[...] também, em aspectos cruciais, diferente de todas as
subsequentes revoluções industriais”. (HOBSBAWM, 1978, p. 33-34).
A Revolução Industrial é um fenômeno britânico do final do século XVIII.
Basicamente ela foi desencadeada pelo algodão, que promoveu a industrialização
da cidade de Manchester, promovendo um crescimento demográfico
extraordinário, pois saltou de 17.000 habitantes em 1760 para 180.000 em 1830.
Porém, a Revolução Industrial não foi só algodão, muito menos só Lancashire,
pois passada umas duas gerações o algodão perdeu a supremacia. Mas foi o
algodão que fez explodir a mudança industrial, ele foi o esteio que deu
sustentação às transformações das primeiras regiões que desencadearam a “[...]
mudança industrial e foi o esteio das primeiras regiões que não teriam existido se
não fosse à industrialização e que expressaram uma nova forma de sociedade, o
capitalismo industrial, baseada numa nova forma de sociedade, a ‘fábrica’.”
(HOBSBAWM, 1978, p. 53).
Vale destacar que a rápida urbanização se deu devido aos cercamentos
(enclosures), que desencadeou uma enorme saída de camponeses em direção às
cidades em busca de trabalho. A justificativa para os cercamentos estava no fato
de que isso permitia que as terras não cultivadas pudessem ser postas em uso, o
que tornava o fazendeiro “progressista”, com espírito de tino comercial.
A qualidade de vida dos trabalhadores que foram para as cidades sem
emprego fixo, sem moradia e sem perspectiva de vida, de acordo com Engels, era
degradante. O processo de degradação aumentava quando se observava o
interior das casas, os pátios e as pequenas ruas transversais. Não existia um
único vidro nas janelas que não estivesse quebrado; as portas, quando existiam,
eram feitas de restos de madeira pregados um ao outro. Até os porões eram
usados como moradia e em toda a parte acumulavam-se detritos e água suja.
(ENGELS, 2008).
Esses eram os espaços de pobres, trabalhadores mal pagos, misturados
aos ladrões, aos escroques e às prostitutas. Parte da população, para garantir seu
sustento, fazia nas ruas um verdadeiro mercado de legumes e frutas de péssima
qualidade, o que acabava reduzindo o espaço para os que ali precisavam transitar.
Estes bairros eram considerados de “má reputação”, ou seja, eram locais à parte
dos olhares da burguesia.
Dessa forma, salienta Engels (2008, p. 140), que os operários vivem em
péssimas condições, num amontoamento de casas, cheias e abarrotadas de
pessoas, e que “[...] quando recordamos que doentes e sadios dormem num único
e mesmo cômodo, às vezes na mesma cama, ficamos surpresos pelo fato de uma
doença tão contagiosa como o tifo não se propagar ainda mais”. São realmente
muito consistentes as afirmações que o jovem Engels faz a partir da análise da
situação concreta da classe trabalhadora na Inglaterra.
Por outro lado, Karl Marx, companheiro intelectual de Engels, demonstra-
nos que aos poucos a máquina impôs o ritmo ao trabalho realizado pelo operário.
Isto porque ela dispensa a força física. O trabalhador, na medida em que serve
sempre à mesma máquina, adquire movimentos mecânicos e repetitivos,
especializando-se, parcialmente, naquele tipo de tarefa.
A introdução do sistema de máquinas e a substituição da força bruta pela
agilidade permitiram a contratação de mulheres e de crianças nas fábricas. O fato
concreto é que a Revolução Industrial ao se apropriar das inovações que
permitiram tirar as ferramentas das mãos dos trabalhadores e acoplá-las à
máquina deixou “[...] para o homem, além do novo trabalho de vigiar a máquina
com os olhos e corrigir os erros dela com as mãos o papel puramente mecânico
de força motriz” (MARX, 2013, p. 448).
Portanto, o advento da maquinaria se constitui numa revolução do meio de
trabalho, pois as fábricas passaram a operar com um sistema articulado de
máquinas o que permitiu a apropriação das forças de trabalho feminino e infantil.
Marx (2013, p. 468) se referiu a esta questão salientando que:
À medida que torna prescindível a força muscular, a maquinaria converte-se no meio de utilizar trabalhadores com pouca força muscular ou desenvolvimento corporal imaturo, mas com membros de maior flexibilidade. Por isso, o trabalho feminino e infantil foi a primeira palavra de ordem da aplicação capitalista da maquinaria. (MARX, 2013, p. 468).
De fato o sistema articulado de máquinas se tornou num poderoso meio
para aumentar o número de assalariados disponíveis e prontos para serem
explorados pelo capital. Uma vez que o uso da máquina permite tornar
dispensável o trabalhador qualificado, especialista, acaba “[...] submetendo ao
comando do capital todos os membros da família dos trabalhadores, sem distinção
de sexo nem idade”. Sendo assim, ao olhar para o problema da infância, Marx
afirmou que “[...] o trabalho forçado para o capitalista usurpou não somente o lugar
da recreação infantil, mas também o do trabalho livre no âmbito doméstico, dentro
de limites decentes e para a própria família”. (MARX, 2013, p. 468).
A maquinaria forçou a entrada no mercado de trabalho de todos os
membros da família do trabalhador, pois explodiu a antiga equação que
determinava o valor da força de trabalho “[...] pelo tempo de trabalho necessário à
manutenção não só do trabalhador adulto individual, mas do núcleo familiar.” Isto
acabou repartindo o valor da força de trabalho do homem entre sua família inteira.
Dessa maneira toda a família passa a trabalhar para receber aquilo que antes do
sistema articulado de máquinas o homem adulto recebia sozinho. Assim ocorreu o
processo de desvalorização da força de trabalho da família. (MARX, 2013, p. 468).
Nesse sentido Marx enfatizou que É possível, por exemplo, que a compra de uma família parcelada em quatro forças de trabalho custe mais do que anteriormente a compra da força de trabalho de seu chefe, mas, em compensação, temos agora quatro jornadas de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai na proporção do excedente de mais-trabalho dos quatro trabalhadores em relação ao mais-trabalho de um. Para que uma família possa viver, agora são quatro pessoas que têm de fornecer ao capital não só trabalho, mas mais-trabalho. (MARX, 2013, p. 468).
Portanto, a maquinaria permitiu ao capital aumentar o material humano de
exploração, ou seja, aumentou o campo e o grau de exploração. De fato, o capital
passou a explorar pessoas menores de idade ou desprovidas de maioridade
plena. De fato Marx nos demonstrou que
“[...] antes o trabalhador vendia sua própria força de trabalho, da qual dispunha como pessoa formalmente livre. Agora, ele vende mulher e filho. Torna-se mercador de escravos. A demanda por trabalho infantil assemelha-se com frequência, também em sua forma, à demanda por escravos negros, como se costumava ler em anúncios de jornais americanos”. (MARX, 2013, p. 469-470).
Paul Mantoux (s/d, 415) ao analisar as revoltas dos trabalhadores da
Inglaterra contra as máquinas, cita as petições apresentadas pelos trabalhadores
da indústria da lã ao parlamento. Num certo trecho os peticionários se dizem
penteadores honrados, que sempre ganharam a vida com o trabalho, que nunca
recorreram à assistência paroquial. Os peticionários argumentaram seus temores
de se tornarem eles e suas famílias uma carga pesada para o Estado em
consequência da invenção e utilização da máquina de pentear lã. Enfatizaram que
uma pessoa adulta auxiliada por quatro ou cinco crianças, vigiando uma única
máquina, faria o trabalho equivalente a trinta homens trabalhando manualmente
de acordo com o método antigo. (MANTOUX, s/d, p. 415).
Karl Marx recorreu aos relatórios dos inspetores de fábricas e apresenta
uma profunda análise sobre a exploração do trabalho infantil. O pensador alemão
é extremamente ácido quanto essa questão, pois apresenta uma crítica radical
aos adultos, pais, chefes de famílias que conquistaram para o capital o trabalho
feminino e infantil, destacando que são “[...] atitudes verdadeiramente revoltantes,
próprias de comerciantes de escravos, por parte de pais trabalhadores, no que
concerne ao tráfico de crianças.” (MARX, 2013, p. 469).
Não obstante, Marx (2013) também não poderia deixar de ser irônico e
ácido na crítica aos detentores do capital, pois vai direto ao ponto do falso
moralismo burguês ao afirmar que “[...] o fariseu capitalista, como se pode ver
nesses mesmos “Reports” (relatórios), denuncia essa bestialidade, por ele mesmo
criada, eternizada e explorada, e que, em outras ocasiões, ele denomina
‘liberdade de trabalho’”. (MARX, 2013, p. 469).
Portanto, Marx não deixa passar em branco o falso moralismo burguês
que condena a atitude dos pais que conduzem seus filhos para a exploração fabril,
mas esquece de que é o próprio capital que cria e eterniza esta bestialidade
chamada de liberdade de trabalho. Quando na verdade chama-se exploração.
Nesse sentido, nosso autor cita uma passagem de um relatório de 1833 que
afirma:Recorreu-se ao trabalho infantil [...] até mesmo para que as crianças trabalhem por seu próprio pão de cada dia. Sem forças para suportar faina tão desproporcional, sem instrução para guiar sua vida futura, foram jogadas numa situação física e moralmente corrompida. [...] O historiador judeu observou, com respeito à destruição de Jerusalém por Tito, que não era de admirar que a cidade tivesse de ser destruída, e de maneira tão terrível, quando lá uma mãe desumana sacrificara seu próprio rebento para saciar aos impulsos de uma fome absoluta. (Pubric Economy Concentrad - Carlisle,1833 apud MARX, 2013, p. 469-470).
Ao recorrer aos relatos dos inspetores de trabalho na Inglaterra, Marx
apreendeu a situação concreta da degradação e precarização da existência
desses seres que desde pequeno eram obrigados a se submeterem à exploração
do capital. Nesse sentido, salientou que os empregadores priorizavam a
contratação de garotos crescidos que pudessem passar por 13 anos, pois de
acordo com a Factory Act de 1833 crianças abaixo dessa idade só podiam
trabalhar 6 horas por dia. Para que a exploração pudesse ser expandida a
jornadas extensas, era necessário que um médico certificasse que a criança já
tinha 13 anos. Porém, muitos médicos davam certificados falsos que permitiam a
exploração de crianças abaixo de 13 anos, dessa forma as estatísticas eram
falsas. Ou seja, muitas crianças eram exploradas como se fossem maiores de 13
anos, mas tinham idades inferiores. No distrito londrino de Bethnal Green, um mal-
afamado lugarejo, tinha lugar “[...] todas as segundas e terças-feiras pela manhã,
um mercado público, onde crianças de ambos os sexos, a partir de 9 anos de
idade, alugam a si mesmas para as manufaturas de sedas londrinas.” (MARX,
2013, p. 470).
Portanto, Marx foi um defensor radical da criança e crítico contundente da
exploração infantil. Nesse sentido, descreveu o mercado público de Bethnal Green
afirmando que “[...] As cenas e o linguajar, durante o funcionamento desse
mercado são verdadeiramente revoltantes”, pois as crianças rendiam em torno de
1xelim e 8 pence, por semana, aos pais que praticamente as entregavam para
serem escravas, enquanto que uma espécie de gato (contratador e terceirizador
de mão de obra) recebia em torno de 2 pence e chá por cada criança contratada.
Sendo que ainda havia na Inglaterra mulheres cujo ofício levava-as a “pegarem
crianças nas workhouse e as alugarem para qualquer comprador por 2 xelins e 6
pence por semana”, conforme relatórios dos inspetores de fábrica analisados por
Marx. O trabalho exaustivo provocava deterioração física nas crianças e
adolescentes e, “[...] apesar da legislação, pelo menos 2 mil adolescentes
continuam a ser vendidos por seus próprios pais como máquinas vivas para a
limpeza de chaminés (embora existam máquinas para substituí-los)” (MARX,
2013, p. 470).
Marx além de apreender e criticar radicalmente a exploração da força de
trabalho infantil se preocupou também com o problema da alta taxa de mortalidade
de filhos de trabalhadores em seus primeiros anos de vida. Assim, com base em
análise de investigações médicas oficiais sentenciou que, [...] desconsiderando-se as circunstâncias locais, as altas taxas de mortalidade se devem preferencialmente à ocupação extradomiciliar das mães, que acarreta o descuido e os maus-tratos infligidos às crianças, aí incluindo, entre outras coisas, uma alimentação inadequada ou a falta dela, a administração de opiatos etc., além do inatural estranhamento da mãe em relação a seus filhos, que resulta em sua esfomeação e envenenamento intencionais. (MARX, 2013, p. 471).
Para Marx a exploração capitalista do trabalho de mulheres e crianças se
constitui em uma corrupção moral. Nesse sentido ele observou que[...] a devastação intelectual, artificialmente produzida pela transformação de seres humanos imaturos em meras máquinas de fabricação de mais-valor – devastação que não se deve confundir com aquela ignorância natural-espontânea que deixa o espírito inculto sem estragar sua capacidade de desenvolvimento, sua própria fecundidade natural – acabou por obrigar até mesmo o Parlamento inglês a fazer do ensino elementar a condição legal para o uso ‘produtivo’ de crianças menores de 14 anos em todas as indústrias sujeitas à lei fabril. (MARX, 2013, p. 473).
Entretanto, Marx ao apreender criticamente o problema da educação e do
ensino previsto na legislação industrial sentenciou que:O espírito da produção capitalista resplandece com toda claridade na desleixada redação das assim chamadas cláusulas educacionais das leis fabris, na falta de um aparato administrativo, sem o qual esse ensino compulsório se torna, em grande parte, ilusório, na oposição dos fabricantes até mesmo a essa lei do ensino e nos subterfúgios e trapaças práticas a que recorrem para burlá-la. (MARX, 2013, p. 473).
Porém, o discurso filantrópico da burguesia, era a concepção de que
crianças e mulheres pobres deveriam trabalhar, para não cair na marginalidade,
uma vez que os trabalhos nas fábricas tiravam as crianças das ruas e as mulheres
da prostituição e ainda permitia o aumento da renda familiar. Essa ideia visava
ocultar a exploração do trabalho infantil em próprio benefício. As crianças muitas
vezes morriam devido o excesso de trabalho que poderia chegar até a 10, 12 ou
mais monótonas horas por dia, havia muita insalubridade do ambiente e
desnutrição. (THOMPSON, 1987, p. 207).
O trabalho infantil foi drasticamente explorado entre 1780 e 1840, fato este
observado tanto nas minas menores e ineficientes, onde as galerias eram às
vezes tão estreitas que apenas crianças poderiam atravessá-las sem dificuldade.
As crianças eram empregadas como ajudantes de cozinheiro ou como operadores
de portinholas de ventilação. Nas fábricas, a força de trabalho infantil e juvenil
crescia a cada ano, em diversos dos ofícios indignos ou relacionados com o
trabalho externo, seu trabalho tornava-se mais intenso, e a jornada, mais longa.
Segundo Thompson (1987, p. 203) o trabalho infantil não era uma
novidade, uma vez que a criança fazia parte intrínseca da economia industrial e
agrícola desde antes de 1780, exercendo atividades precárias e degradantes.
Nesse sentido, este brilhante historiador britânico elencou algumas ocupações,
tais “[...] como a dos limpadores de chaminés ou a dos garotos empregados em
navios” entre as atividades mais penosas e piores do que aquelas atividades
desempenhadas nas primeiras fábricas. Com certeza, “[...] um órfão entregue
como ‘aprendiz’ pela paróquia a um Peter Grimes ou a um carvoeiro bêbado, em
algum ‘antro’, estava submetido a um tratamento cruel, num isolamento ainda
mais terrível.” (THOMPSON, 1987, p. 203).
Porém, nosso historiador salienta que discutir a exploração do trabalho
infantil sob esta ótica generalizante desses exemplos extremos, “[...] concluindo
que representassem a atitude predominante antes da Revolução Industrial,” é um
exagero, um erro. Pois, de fato, antes de 1780 “a forma predominante de trabalho
infantil era a doméstica ou a praticada no seio da economia familiar. As crianças
que mal sabiam andar podiam ser incumbidas de apanhar e carregar coisas.” O
autor descreve memórias de vários filhos que relatam como muito cedo foram
introduzidos pela família no trabalho. (THOMPSON, 1987, p. 203).
O trabalho infantil era muito usado nas atividades têxteis, fato que
provocava inveja nos trabalhadores de outras ocupações que não podiam colocar
seus filhos para trabalhar a fim de aumentar a renda familiar. O trabalho doméstico
era um estímulo ao uso do trabalho infantil. Este fato fazia com que trabalhadores
temessem o triunfo do sistema fabril, pois poderia diminuir a renda familiar, por
não poder usar o trabalho dos filhos. (THOMPSON, 1987, p. 204).
Ao analisar a transição das atividades domésticas Thompson salientou que: De acordo com os padrões da época, tratava-se de uma novidade penosa e até mesmo brutal. Em todas as casas, as meninas ocupavam-se com o preparo do pão e da cerveja, a limpeza e outros serviços. Na agricultura, as crianças – frequentemente mal agasalhadas – trabalhavam nos campos ou na fazenda, sob qualquer condição climática. (THOMPSON, 1987, p. 204).
As ocupações exercidas no sistema fabril, pelo contrário eram muito
diferentes, “[...], pois as atividades domésticas eram mais variadas (e a monotonia
é particularmente cruel para a criança).” A monotonia veio com o trabalho
industrial, já que nas ocupações domésticas o turno de trabalho não era tão longo
e “[...] nenhuma criança tinha de pisar sobre o algodão numa tina, durante oito
horas por dia, seis dias por semana.” (THOMPSON, 1987, p. 205).
Entretanto, Thompson salienta que não foi somente a fábrica “[...] que
motivou a intensificação do trabalho infantil entre 1780 e 1830”, de fato, “[...] talvez
nem tenha sido ela a causa principal”, pois,Há, em primeiro lugar, a própria especialização, a crescente diferenciação dos papéis econômicos e a ruptura da economia familiar; e, em segundo lugar, o abandono do humanitarismo característico do final do século XVIII e a atmosfera contra-revolucionária durante as guerras, que alimentou o feroz dogmatismo da classe patronal. (THOMPSON, 1987, p. 205).
Thompson destaca que em 1842 cidades como Staffordshire, Lancashire e
Yorkshire, “[...] ainda tentavam livrar-se dos meninos indigentes de seis, sete ou
oito anos, entregando-os como aprendizes aos carvoeiros, recebendo um guinéu
‘para roupas’. Os meninos ficavam ‘totalmente à mercê dos capatazes’, e não
recebiam um único Pêni”. De fato, “[...] informes lacônicos traziam informações
sobre a mescla de terror e fatalismo que afligia as crianças.” (THOMPSON, 1987,
p. 206).
As condições analisadas por Thompson se equiparam “[...] às piores
observadas no século 18 só que multiplicadas.” Uma vez que “[...] a
especialização e a diferenciação econômica impuseram a atribuição de tarefas
especiais às crianças, fora das fábricas, pagas por unidade de trabalho, que
exigiam a dedicação durante dez, doze ou mais monótonas horas.”.
Thompson relata a monotonia na exploração de crianças em Cleckeaton,
um vilarejo especializado na preparação de cardas. Eis o relato,[...] pequenas criaturas de apenas quatro anos de idade [...] permaneciam hora após hora na monótona tarefa de enganchar as cardas no arame com seus dedinhos, até que suas cabecinhas começassem a pender e os olhos ficassem avermelhados e ardidos; os mais fracos cresciam arqueados e torcidos. (THOMPSON, 1987, p. 206).
Thompson conclui a análise da exploração do trabalho infantil afirmando de
forma taxativa “[...] permito-me reafirmar um ponto de vista mais tradicional: a
exploração das crianças, na escala e na intensidade com que foi praticada,
representou um dos acontecimentos mais vergonhosos da nossa história”
(THOMPSON, 1987, p. 206).
Mantoux (s/d, p. 418) salienta que os trabalhadores artesãos consideravam
que “[...] entrar para a fábrica era, diziam, como ir para um quartel ou uma prisão.”
Por isso, originariamente a classe operária veio das partes mais pobres do reino,
Irlanda, País de Gales e Escócia. Ou seja, o capital recrutou mão de obra entre as
populações mais pobres que eram brutalmente privadas dos meios de existência.
Porém, Mantoux destaca o fato dos manufatureiros da indústria têxtil ter
encontrado outra solução para o problema de escassez de força de trabalho. Ou
seja, a contratação de mulheres e crianças.
Assim escreveu Mantoux sobre a solução deste problema:Consistia ela na contratação maciça de mulheres e, principalmente, de crianças. O trabalho nas fiações era fácil de aprender, exigia muito pouca força muscular. Para algumas operações, o pequeno porte das crianças e a finura de seus dedos faziam delas os melhores auxiliares das máquinas. Eram preferidas ainda por outras razões, mais decisivas. Sua fraqueza era a garantia de sua docilidade: podiam ser reduzidas, sem muito esforço, a um estado de obediência passiva, ao quais os homens feitos não deixavam facilmente dobrar. (MANTOUX, s/d, p. 418-419).
A mão de obra infantil tinha um baixo custo, porque ora recebia salários
mínimos, que equivaliam entre um terço e um sexto do salário de um trabalhador
adulto ora trabalhavam somente em troca do alojamento e da alimentação.
Portanto, era interesse dos fabricantes contratarem o máximo possível de crianças
e reduzir o número de operários adultos. Infelizmente estas crianças ficavam “[...]
presas por contratos de aprendizagem que as retinham na fábrica por sete anos,
no mínimo, e com frequência até sua maioridade.” (MANTOUX, s/d, p. 419).
Na sequência Mantoux nos fornece uma forte descrição da crueldade
cometida contra as crianças. Apesar de longa, julgamos necessário citá-la na
íntegra, pois é muito esclarecedora.A maioria desses infelizes seres eram crianças assistidas, fornecidas – poderíamos dizer vendidas – pelas paróquias por elas responsáveis. Os manufatureiros, principalmente durante o primeiro período do maquinismo, quando as fábricas eram construídas fora das cidades, e, em geral, longe delas, teriam tido grande dificuldade para obter a mão de obra de que necessitavam em sua vizinhança imediata. Por seu lado, as paróquias só queriam se desembaraçar de suas crianças. Aconteciam verdadeiros negócios, vantajosos para ambas as partes, embora não para as crianças, que eram tratadas como mercadorias, entre os fabricantes e os administradores do imposto dos pobres. (MANTOUX, s/d, p. 419).
De fato, as paróquias cediam as crianças em bloco aos empregadores que
as enviavam “[...] como gado, com destino à fábrica onde deveriam ficar fechadas
durante longos anos.” A crueldade e o baixo nível de humanismo era tal que “[...]
certa paróquia, para que o negócio fosse melhor, estipulava que o comprador seria
obrigado a aceitar os idiotas, na proporção de um por vinte.” A desumanização era
tão brutal que os “aprendizes das paróquias” se constituíram, no início, nas “[...]
únicas crianças empregadas nas fábricas.” Isto porque os operários, com razão,
não aceitavam empregar as suas. Porém, “[...] sua resistência, infelizmente; não
durou muito tempo; levados pela necessidade resignaram-se àquilo que, a
princípio, tanto os havia horrorizado.” (MANTOUX, s/d, p. 419).
Mantoux também faz ressalvas ao afirmar que não foi a revolução industrial
que criou a exploração do trabalho infantil, “[...] o trabalho forçado das crianças
não é um mal novo. Na oficina doméstica, a exploração das crianças era praticada
como coisa muito natural.” O trabalho e a aprendizagem de ofícios “[...] aos cinco,
quatro anos, assim que fossem consideradas capazes de atenção e obediência.”
Infelizmente, não havia indignação quanto a isso, pois “os contemporâneos
achavam isso admirável.” Tinha aqueles que defendiam a criação de escolas de
indústria, este é o caso de Yarranton que queria a implantação de escolas que vira
na Alemanha “[...] onde duzentas meninas fiavam sem descanso, sob a ameaça
da palmatória de uma mestra, submetidas a um silêncio absoluto, e chicoteadas
se não fiassem bem ou rápido o bastante.” Na Alemanha, o homem que tinha mais
filhos vivia melhor, graças ao trabalho das crianças, enquanto na Inglaterra quanto
mais filhos tem mais pobre é, enquanto na Alemanha “[...] as crianças enriquecem
seu pai, aqui (Inglaterra) elas o reduzem à mendicância”, assim pensava
Yarranton. Enquanto que “[...] De Föe, ao visitar Halifax, ficou maravilhado ao ver
crianças de quatro anos ganharem a vida como pessoas adultas.” (MANTOUX,
s/d, p. 420-421).
Tudo isso acontecia antes da Revolução Industrial. A criança era um
“aprendiz” super explorado, porque “[...] a aprendizagem real só podia começar
quando a criança estava em idade de aproveitá-la: durante vários anos, o
‘aprendiz’ só podia servir de auxiliar gratuito, ou muito mal pago, do operário.” Do
ponto de vista da higiene as oficinas domésticas eram muito precárias e, “[...] os
próprios pais, sob o aguilhão da necessidade, às vezes, eram os mais exigentes,
se não os mais duros dos mestres.” (MANTOUX, s/d, p. 421).
Feitas as necessárias ressalvas, Mantoux retorna à análise da exploração
do trabalho infantil na revolução industrial, afirmando “[...] que a sorte dos
‘aprendizes das paróquias’ nas primeiras fiações foi particularmente lamentável.”
(MANTOUX, s/d, p. 422). Mantoux apresenta uma análise bastante profunda e
esclarecedora da exploração do trabalho infantil nas primeiras fábricas da
Revolução Industrial. Nesse sentido, nos esclarece que,[...] abandonados ao arbítrio dos patrões, que os mantinha fechados em seus edifícios isolados, longe de qualquer testemunha que pudesse comover-se com seu sofrimento, padeciam uma escravidão desumana. O único limite para o seu dia de trabalho era o esgotamento completo de suas forças: durava quatorze, dezesseis e até dezoito horas, e os contramestres, cujo salário aumentava ou diminuía proporcionalmente ao trabalho executado em cada oficina, não lhes permitia descansar um instante. (MANTOUX, s/d, p. 422).
Na maioria das fábricas eram concedidos quarenta minutos para a principal
ou única refeição. Porém, desses quarenta, vinte minutos eram reservados para
limpar as máquinas. Sendo que,[...] frequentemente para não paralisar o funcionamento das máquinas, o trabalho continuava sem interrupção, dia e noite. Nesse caso, eram formadas equipes que se revezavam: ‘as camas não esfriavam nunca’. Os acidentes eram frequentes, sobretudo no final dos dias de trabalho muito longos, quando as crianças, exaustos, ficavam trabalhando meio adormecidas: foram incontáveis os dedos arrancados, os membros esmagados pelas engrenagens. (MANTOUX, s/d, p. 422).
Mantoux recorreu a relatos da época para discutir a questão da disciplina
feroz, da brutalidade inominável e crueldade refinada a que eram submetidos
seres indefesos. Nesse sentido, apresenta o relato de Robert Blincoe, recolhido
em 1822 por J. Brown e publicado em 1828, no The Lion, dirigido por R. Carlile e,
em 1832, no The Poor Man’s Advocate. Eis o que escreve Mantoux sobre o relato
da triste infância de BlincoeEm Lowdham, perto de Nottingham, para onde ele foi enviado em 1799, com um lote de mais ou menos oitenta crianças de ambos os sexos, contentavam-se em usar o chicote: na verdade, era usado de manhã à noite, não apenas para corrigir a mais ligeira falta dos aprendizes, mas para estimulá-los ao trabalho, para mantê-los acordados quando a fadiga os prostrava. (MANTOUX, s/d, p. 423).
Em uma fábrica de Litton, a brutalidade, crueldade e o sadismo eram de
outra ordem. Lá havia um patrão, um sujeito que se chamava Ellice Needhan que
“[...] batia nas crianças com murros, pontapés e chicotadas: uma de suas
gentilezas consistia em beliscar-lhes as orelhas entre as unhas, com força
suficiente para atravessá-las.” (MANTOUX, s/d, p. 422).
Mas, tinha coisa pior. Este é o caso dos contramestres, senão vejamos o
que afirma Mantoux:Um deles, Roberto Woodward, inventou torturas engenhosas. Foi ele que inventou de suspender Blincoe pelos punhos, sobre uma máquina em movimento cujo vai-e-vem obrigava-o a manter as pernas dobradas; fazê-lo trabalhar quase nu, no inverno, com volumes muito pesados para suas costas; limar-lhe os dentes. O infeliz havia recebido tanta pancada que sua cabeça ficou coberta de feridas: para cuidar delas tiveram que arrancar-lhe os cabelos com emplastro de pez. Se as vítimas dessas atrocidades tentavam fugir, punham-lhes ferros nos pés. Muitas pensavam no suicídio: uma menina, aproveitando-se de um momento em que a vigilância foi relaxada, correu e jogou-se na água, obtendo assim
sua liberdade: foi despedida, pois ‘temiam que o exemplo fosse contagioso’. (MANTOUX, s/d, p. 423).
Mantoux afirma que nem todas as fábricas, com certeza, foram palco
dessas cenas horrorosas. Porém, aquelas em que isso aconteceu “[...] não foram
tão raras como seu incrível horror faria supor e se repetiram enquanto não foi
instituído um controle muito severo.” Porém, o autor salientou que mesmo quando
não ocorriam maus tratos como os acima descritos, “[...] o excesso de trabalho, a
falta de sono, a própria natureza das tarefas impostas a crianças em idade de
crescimento, teriam bastado para arruinar a saúde e deformar seus corpos.” É
necessário acrescentar a isto “[...] a alimentação má e insuficiente: pão preto,
mingau de aveia, toucinho rançoso.” É horroroso ler passagens como a que afirma
“[...] em Litton Mill, os aprendizes brigavam com os porcos cevados no pátio da
fábrica, disputando com eles o conteúdo de suas gamelas.” (MANTOUX, s/d, p.
423).
Além disso, Mantoux acrescenta várias situações que contribuía para a
degradação e precarização das condições de vida das crianças, ou seja:[...] As fábricas eram, geralmente, insalubres: seus arquitetos pouco se preocupavam com a higiene e com a estética. Os tetos eram baixos, de forma a se perder o menos possível de espaço, as janelas estreitas e, quase sempre, ficavam fechadas. Nas fiações de algodão, a borra pulverizada flutuava como uma nuvem, penetrando nos pulmões e causando, em longo prazo, os mais graves distúrbios. Nas fiações de linho, onde se praticava a fiação umedecida, a poeira de água saturava a atmosfera e molhava as roupas. A aglomeração num ambiente fechado, que a fumaça das velas noturnas viciava ainda mais, engendrou uma febre contagiosa, análoga à febre nas prisões. Os primeiros casos dessa ‘febre das fábricas’ foram observados em 1784, nos arredores de Manchester: ela se alastrou em pouco tempo pela maioria dos centros manufatureiros, onde fez inúmeras vítimas. (MANTOUX, s/d, p. 424-425).
Mantoux foi mais longe, pois apreendeu em suas análises também o
martírio da infância quanto à promiscuidade e desrespeito total pela sexualidade,
afirmando que:[...] a promiscuidade da oficina e do dormitório favoreciam o desenvolvimento de uma perigosa corrupção dos costumes, sobretudo, porque envolvia crianças, infelizmente incentivada pela conduta indigna de alguns patrões e contramestres, que aproveitavam para dar livre cursam a seus baixos instintos. Devido a essa mistura de depravação e sofrimento, barbárie e abjeção, a fábrica representava, para a consciência puritana, a perfeita imagem do inferno.
Metodologia e resultados obtidosO processo de intervenção pedagógica na escola, ocasião em que
discutimos esse conteúdo com os alunos, se deu por meio de uma unidade
temática. Desenvolvemos quatro etapas de atividades diversificadas com os
alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Barão do Rio Branco
– EF/EM, com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio.
Na primeira etapa, com o objetivo de investigar os conhecimentos prévios
dos alunos e levantar suas expectativas com relação ao tema proposto,
realizamos uma investigação de conhecimentos por meio de avaliação em forma
de questionário sobre o tema. Dessa forma constatamos que os alunos
demonstraram ter pouco ou nenhum conhecimento sobre a exploração do trabalho
infantil, como recorte importante no processo da Revolução Industrial. Foi a partir
dessa realidade que selecionamos textos historiográficos e didáticos a fim de
nortear a compreensão da Revolução Industrial.
No desenvolvimento das atividades propostas verificamos mudanças no
conteúdo das respostas, questionamentos e argumentações dos alunos.
Percebemos que a proposição de atividades variadas, tais como: músicas,
charges, paródias, textos, imagens, filmes e documentários alargou a visão dos
alunos em relação ao recorte temático.
Após o desenvolvimento das atividades, reaplicamos um instrumento de
avaliação (o mesmo utilizado no início do trabalho), para efeito de comparação em
relação ao que os alunos sabiam no início das atividades. Com o conhecimento
que apresentaram no final do processo, pudemos verificar as mudanças ocorridas
na concepção dos alunos em relação aos conteúdos trabalhados. Dessa forma,
podemos afirmar que os avanços foram satisfatórios, pois os alunos enriqueceram
seus conhecimentos sobre o contexto histórico abordado.
Finalmente, para encerrar nossa intervenção pedagógica, reunimos todas
as atividades realizadas ao longo do processo e montamos um mural que foi
exposto à comunidade interna e externa da escola.
No que diz respeito ao trabalho com os professores do Grupo de Trabalho
em Rede (GTR), consideramos que as participações foram relevantes e as
postagens contribuíram com meu trabalho. Os professores em seus relatos
deixaram claro que o material poderia ser utilizado em sala de aula, que o
conteúdo era amplo e bem elaborado. Consideraram que o trabalho tem um bom
referencial teórico e excelentes recursos didáticos, os quais despertam a atenção
e o interesse dos alunos, conforme dito por eles: “o projeto é muito bom e com
total possibilidade de serem utilizadas com importantes instrumentos didáticos,
principalmente por apresentar várias formas de trabalho, entre eles à utilização de
vídeos, filmes, paródias, músicas, charges, etc.” E que “a unidade didática está
bem articulada para o processo de ensino aprendizagem e a consequente
construção do conhecimento, pois inicia com questões mais próximas do
cotidiano”, e ainda “o seu trabalho e as atividades propostas abrem um leque de
possibilidades e de discussões referentes à exploração do trabalho infantil,
fazendo com que o professor traga o assunto trabalhado para a vida dos
educandos na atualidade”.
O GTR foi uma etapa enriquecedora do nosso trabalho, pois pudemos
verificar o comprometimento dos professores em busca de metodologias
inovadoras que certamente contribuirão para que conquistemos alunos pensantes
na construção do fazer História.
Considerações FinaisA exploração do trabalho infantil não foi uma invenção da Revolução
Industrial, muito antes dela ocorrer às crianças já eram exploradas nas oficinas
domésticas. O que a Revolução Industrial fez foi intensificar a exploração das
crianças, uma vez que a maquinaria assim permitiu. Portanto, a Revolução
Industrial herdou o que havia de pior na fase do artesanato.
Ao analisar o fenômeno, somos levados a associá-lo às condições de
produção e reprodução da sociedade capitalista que promovem a degradação
humana desde os primeiros anos da classe trabalhadora.
Acreditamos que a abordagem deste tema mostrou-se bastante
enriquecedora haja vista que propiciou uma melhor compreensão sobre o
processo de formação da classe trabalhadora, permitindo aos educandos
entenderem a transição do trabalho artesanal para o manufatureiro e,
posteriormente, na indústria fundada na maquinaria.
Temos consciência que não conseguimos esgotar o tema. Porém, o estudo
proposto neste trabalho certamente serve de base para novos estudos em torno
desse conteúdo. Evidencia-se assim, que o entendimento das mutações no
mundo do trabalho nos obriga a analisar a exploração do trabalho infantil seguindo
a trilha do desenvolvimento histórico-social.
O estudo deste tema possibilitou aos alunos apreenderem a Revolução
Industrial, fundamentalmente no que diz respeito à exploração do trabalho infantil
nas oficinas domésticas e nas fábricas modernas. Conseguimos desenvolver uma
reflexão crítica sobre a realidade histórica da Revolução Industrial e acreditamos
ter contribuído na formação de homens e mulheres com espírito crítico e
comprometidos com as questões candentes da sociedade em que vivem.
REFERÊNCIASENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008. HOBSBAWM, E. J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense Universitário, 1979.MANTOUX, P. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo: Edunesp/Hucitec, s/d.MARX, K. O capital: Crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013.PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná de História. Governo do Estado da Educação. Curitiba: 2008.THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. V. II, 4.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
REFERÊNCIAS DOS FILMES E VÍDEOS
BERRI, Claude (Dir.). Germinal. Gênero: Drama. Duração 170 min. / cor. Bélgica, Itália, França: 1993. CONINX, Stijn. Daens: Um grito de Justiça. 132 min. Bélgica, 1993.LEAN, David. Oliver Twist. 111min. Inglaterra, 1948.
VÍDEO BARSA, Encyclopédia Britânica - Documentário sobre a Revolução Industrial Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU>. Acesso em: 07/10/13.