Post on 23-Nov-2018
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS
ATRAVÉS DA SIMULAÇÃO DE CONFERÊNCIAS DA ONU
Autora: Margarete Maria Lemes1
Orientador: Marcos Roberto Rodacoski2
RESUMO
Apresenta-se uma proposta prática para a construção da cidadania e para o desenvolvimento de competências profissionais que foi aplicada aos alunos e professores do turno noturno do Colégio Estadual Leôncio Correia – EFMN (CELC) - em Curitiba-PR. A ação motivadora foi a Simulação de Conferência da ONU com a escolha de tema de debate relacionada à área do Curso de Educação Profissional e relacionado a temas de cidadania. Tal Simulação demonstrou ser uma excelente prática educativa pois os alunos refletiram, vivenciaram e desenvolveram opinião crítica que certamente tem grande potencial para se transformar em ações práticas na sociedade. Como resultado detectou-se que os participantes desenvolveram naturalmente competências, ou seja, conhecimentos, habilidades e atitudes, apresentando progressos notórios na argumentação, dedicação à pesquisa, organização, trabalho em equipe e foco em suas atividades. Neste sentido pode-se afirmar que a Simulação da Assembleia da ONU prepara os envolvidos para agir como protagonistas no meio em que estiverem inseridos.
Palavras-chave. Educação Profissional, Simulação de Conferências da ONU,
Competências, Cidadania.
1. INTRODUÇÃO
Como professora de direito no ensino médio e na educação profissional da rede
pública estadual, desde 1988 presencio e compartilho das angústias que os alunos
trazem quando estudamos as leis do nosso país. A partir desta experiência surgem
algumas questões reincidentes entre as turmas, que podem ser expressas pelas
seguintes perguntas: Como a cidadania pode ser exercida de maneira integral sem o
conhecimento e entendimento das leis, sem a confiança no coletivo e sem a
confiança em si mesmo? Como desenvolver o senso coletivo? Como aliar o
crescimento pessoal ao desenvolvimento do cidadão?
Ao buscar a resposta a estas questões, percebi o quanto é essencial ao
1 Professora de Direito na Rede Pública Estadual de Educação do Paraná – Área PDE: Educação Profissional; NRE Curitiba(PR). 2 Professor Doutor – Coordenação dos Cursos Técnicos – UTFPR- Campus Curitiba (PR)- http://lattes.cnpq.br/9886872095397151
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
aprendizado que o aluno tome consciência de que cada um de nós pertence a um
coletivo, que influencia e é influenciado proporcionalmente à organização deste
coletivo, mesmo sem perceber. Associações de moradores, conselhos de
condomínios, associações de classe e sindicatos, são entidades em torno das quais
as pessoas se reúnem para traçar medidas que resultem no bem estar coletivo e
pessoal. Estas entidades acabam sendo uma forma dos cidadãos serem ouvidos
pelos políticos e pelos órgãos estatais do país. Assim também fazem os países, se
associando às organizações internacionais, para buscar medidas globais ou locais
que resultam no bem estar coletivo.
A Organização das Nações Unidas (ONU), Organização dos Estados
Americanos (OEA), Organização Internacional do Trabalho (OIT), são exemplos de
organizações internacionais onde os países membros tratam de assuntos diversos,
desde a defesa de direitos humanos ao financiamento de projetos. Estas, ao lado
dos Estados, foram muito atuantes na sociedade internacional nos últimos anos a
ponto de serem consideradas um novo canal de comunicação global.
As organizações internacionais oferecem aos países o espaço permanente
para discussões e para a busca de soluções relacionadas aos problemas coletivos,
pois são entes de direito internacional público e tem capacidade jurídica para serem
titulares de direitos e deveres e de poderem fazer prevalecer esses direitos por meio
de queixa internacional, conforme a normatização vigente.
A ONU tem como função: a articulação e agregação dos negócios
internacionais; a socialização internacional; a criação de regras de direito capazes
de guiar estados membros; a reunião e disseminação de informações; garantir o
cumprimento de acordos e convenções; produzir atividades operacionais como gerar
programas de assistência técnica ou financeira ou a empregar forças militares; a
função política e diplomática; a criação e desenvolvimento de práticas internacionais;
a preservação da paz e segurança no mundo e servir de fórum de discussão para o
desenvolvimento do sistema internacional.
O Brasil faz parte da ONU e suas ações estão sujeitas às influências de
decisões dos demais países membros. Ações que interferem direta ou indiretamente
no dia a dia do povo brasileiro, que na maioria das vezes sequer tem conhecimento
desse fato.
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Dada a magnitude e importância de tais decisões, há alguns anos, iniciou-se
em alguns países desenvolvidos, a prática de se fazer simulações de assembléias
da ONU, junto a alunos do ensino médio e universitários para que estes tivessem em
sua formação, aspectos políticos de âmbito internacional, podendo cada um
experimentar a diplomacia e sua desenvoltura. Esses modelos evoluíram e se
adequaram ao público estudantil, gerando grande envolvimento e resultados
extraordinários, nos aspectos educacionais e de consciência política e cidadã.
O projeto de intervenção pedagógica aqui relatado é o primeiro modelo
desenvolvido para alunos da educação profissional, em um colégio estadual no
estado do Paraná. E o segundo dentro deste estado, uma vez que o Colégio Militar
de Curitiba foi o precursor, trazendo experiências de suas outras unidades nacionais,
obteve em 2013 na sua primeira Simulação, excelentes resultados. Este projeto
optou em dar enfoque às simulações da ONU, devido aos variados campos de ação
propícios de serem utilizados como tema de debate, portanto, capazes de
oportunizar o foco comum, conhecimentos profissionais e de cidadania e ampliação
dos horizontes, para esferas mundiais, provocando transformações pessoais que
influenciam na postura profissional e pessoal. Os alunos apresentaram progressos
notórios na argumentação, dedicação à pesquisa, organização, trabalho em equipe e
foco nas atividades.
Ao debater assuntos de relevância internacional, na estrutura de discussão
das organizações internacionais, os alunos da educação profissional desenvolveram
competências (conhecimentos, habilidades e atitudes - CHA) que facilitaram o
entendimento dos seus direitos e deveres e que são fundamentais para a vida
profissional e cidadã. A sensação de responsabilidade, de ser sujeito ativo (diferente
da atitude passiva) nos debates, levaram os alunos ao estudo e à prática da
cidadania. Ficou notória a descoberta pelos alunos de seus potenciais ligados ao
aprimoramento profissional graças ao envolvimento na ação da Simulação de
Assembléias
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
2. PORQUE USAR A SIMULAÇÃO DA ONU NO DESENVOLVIMENT O DAS
COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS
“......Definir competência na docência não é uma tarefa fácil, destacando que é importante ressaltar o processo da construção da profissão. Define-se a partir de então a competência como uma aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de forma correta, rápida, pertinente e criativa múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, micro competências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, de avaliação e de raciocínio. A pedagogia tradicional de ensino não tem o mesmo poder de estimular atitudes criativas e de autonomia nos alunos. Os alunos que se destacam com este perfil possivelmente são aqueles que resistem à passividade imposta pela metodologia tradicional de ensino e mantém sua conduta pró-ativa. Para estimular o perfil empreendedor nos alunos é muito importante superar o modelo tradicional de ensino e inovar em busca de um modelo menos prescritivo e mais permissivo, receptivo à criatividade, aos diversos meios de aprendizagem, às trocas de experiência e ao modelo da aprendizagem por problemas, onde as perguntas são mais importantes que as respostas. Ao assumir o compromisso de desenvolver as competências dispostas nas Diretrizes Curriculares, inerentes a função docente desde 2002, os professores devem oportunizar situações com o objetivo de elevar o conhecimento dos alunos, a habilidade em aplicá-lo e atitudes para que o façam com gradativa e sucessiva autonomia e independência.....”3.
A Simulação de Conferências da ONU foi aqui utilizada como estratégia de
ensino que fugiu da pedagogia tradicional, inovando e motivando a participação de
todos, já que ela traz para dentro da sala de aula, o desafio de analisar e
compreender assuntos de vulto mundial e que quando debatidos mobilizam
esforços, provoca o trabalho em equipe, o respeito às decisões coletivas, e tudo
isso leva ao treino da tomada de decisões, dinamiza qualidades que são próprias de
um bom profissional e de um cidadão consciente de suas responsabilidades para
com o meio onde está inserido, bem como da possibilidade de exigir o cumprimento
de seus direitos.
3 RODACOSKI, M. R. ; Rodacoski, Giseli C. . O DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES EMPREENDEDORAS E OS MODELOS DE
EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA. 2012. (Apresentação de Trabalho/Congresso).
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
3. METODOLOGIA: A SIMULAÇÃO DE ASSEMBLÉIA DA ONU NO COLÉGIO
ESTADUAL LEONCIO CORREIA ( SIMUCELC)
No Colégio Estadual Leoncio Correia a Simulação recebeu a denominação
SIMUCELC. Para melhores resultados didáticos , foi organizada em fases
conforme figura 1: a) Fase preparatória; b) FASE PRÁTICA I- capacitação;
c)FASE PRÁTICA II – a simulação.
Figura 1- Fases do SIMUCELC
A seguir cada fase é detalhada.
a. FASE PREPARATÓRIA
Para possibilitar que o evento atingisse sucesso, foi necessário que na fase
preparatória todos conhecessem os recursos necessários para a implementação da
simulação: ambientes, ornamentação e pessoas. Nesta fase, participaram todos os
alunos dos cursos técnicos e seus professores.
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
b. FASE PRÁTICA I - CAPACITAÇÃO:
A capacitação consistiu em preparar os alunos e professores para garantir o
sucesso do evento que aconteceria dois meses depois. Os professores foram os
primeiros a serem informados e contagiados com a ideia. Justamente porque eles
seriam os incentivadores dos alunos.
Para iniciar, todas as turmas leram, interpretaram e discutiram o material
desenvolvido para este fim, iniciando pelo texto : “Direito Internacional do Trabalho e
Direitos Humanos no Brasil: da internalização à aplicação , de Roberto de Figueiredo
Caldas. Após o trabalho com o texto, todos puderam participar de uma palestra
tendo como tema o Direito Internacional e os organismos internacionais, proferida
pelo advogado João Paulo Bomfim. Com estas ações, a curiosidade foi despertada.
Na sequência os alunos receberam as primeiras orientações dos professores,
de modo a se familiarizar com o ritmo dos trabalhos e entender como seria o
evento de simulação, que segue modelos reais. Os trabalhos seguiram o roteiro da
figura 2 e o material previamente organizado para este fim.
Figura 2- Roteiro da Capacitação dos Alunos
c. FASE PRÁTICA II - SIMULAÇÃO
Na simulação, os alunos assumiram o papel de diplomatas, chefes de
governo, juízes e repórteres e ao representarem diversos países membros do
organismo internacional, discutiram assuntos de relevância mundial e no individual,
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
desenvolveram a tolerância, negociação, oratória, liderança e a capacidade de
interagir no trabalho em equipe.
Os alunos participaram discutindo e refletindo sobre o caso CASO LADELE 4
& MCFARLANE 227 V. O REINO UNIDO:
4. RESULTADOS
Foram realizados encontros individuais com os professores, onde foram tratados
aspectos da qualidade do trabalho em andamento e do resultado final, através da
utilização de questionários. Com os alunos foram feitos encontros com a sala toda,
através de rodas de conversa e questionário individualmente. .
Foram oportunizadas reflexões e discussões entre alunos, entre professores e
alunos, entre os professores, buscando os pontos positivos e os de aprimoramento.
Dentre os pontos apontados como positivos estão: o conhecimento pessoal; o
trabalho em equipe; o exercício de oratória, retórica e argumentação; conhecimentos
de direito internacional; aperfeiçoamento da comunicação verbal dos alunos
participantes; trabalho respeitando a decisão coletiva; o entrosamento dos alunos de
diversos cursos; o conhecimento cultural dos diferentes países possibilitou a
diminuição do preconceito em relação às raças, em relação à religião e também em
relação ao gênero.
Tudo foi detalhadamente exposto no programa Escola Interativa do dia 15 de
outubro de 20145
4 Caso Ladele @ Macfarlane 227- v. Reino Unido : http://www.sinus.org.br/2013/wp-
content/uploads/2013/03/7.-CEDH-Artigo.pdf
5 Você pode acessar o link através do seguinte endereço:
www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1420"
target="_blank">www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1420
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Simulação conseguiu envolver os alunos participantes e seus professores,
em todas as suas atividades, dando a eles a motivação para as pesquisas,
debates e para superação de seus próprios limites.
O caso Ladelle escolhido como o assunto para os debates, trouxe riqueza de
detalhes o que despertou a vontade de ler e pesquisar,a oportunidade de discutir
numa dimensão internacional. Podemos assim concluir que a Simulação foi uma
estratégia acertada e de qualidade para despertar em nossos alunos a vontade
de estudar e de desenvolver suas o encontro com suas habilidades e de refletir
sobre suas atitudes, ou seja, de desenvolver competências pessoais e
profissionais.
Foi impossível ficar de fora deste processo de desenvolvimento das
competências. A descoberta de cada aluno participante marcou suas vidas e
acrescentou muito no aspecto profissional.
6. REFERÊNCIAS
SIEM- SIMULAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PARA ENSINO MÉDIO, III Edição, 2013, Florianópolis - Sc. Guia de estudos. Florianópolis-sc: UFSC- Relações Internacionais, 2013. ARAUJO, Rodrigo De Sousa. et al. Indivíduo, sociedade e autonomia: caminhos para a dignidade humana. um. Ed. Brasil ia: Art. Letras Gráficas E, 2013. Um v. 604 p. SINUS- SIMULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA SECUNDARISTAS, 12, 2013, Brasil ia. Guia geral de conferência. Brasil ia: Art. Letras Gráficas, 2013. ONU JR., um, 2012, Rio De Janeiro. Edital dg no. 007-2012. Rio De Janeiro: Colégio Internacional Signorelli, 2012. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. um. Ed. Brasil ia: Cortez, 2003. (MEC/UNESCO).
BRASIL. Lei no.9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB.Brasilia. 1996.
BRASIL. Lei no. 12796, de 04 de abril de 2013. Altera a Lei no.9.394, de 20 de
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. Brasília DF,2013-07-09.
MUNIZ, Cleber. CHA- conhecimento, habilidade e atitude, 2010. Disponível em HTTP://administrando.biz/2012/09. acesso em 11 abr.2013.
LUCENA, Andréa Freire de . Regimes Internacionais- Temas Contemporâneos. 22.ed.Curitiba:Juruá .
SEITENFUS, Ricardo. Manual das Organizações Internacionais. 5ª. Ed.Porto Alegre: Livraria do Advogado.
BARROSO , Darlan. Direito Internacional. 5ª. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.
COLÉGIO ESTADUAL LEÔNCIO CORREIA , Projeto Político Pedagógico (PPP). Curitiba-|PR,2011
LAGO ,Samuel Prof. O melhor de Rubem Alves, 22a.Ed. Curitiba: Nossa Cultura.
RODACOSKI, M. R. ; et al. C. . O DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES EMPREENDEDORAS E OS MODELOS DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA. 2012. (Apresentação de Trabalho/Congresso).