Os protestos do Brasil em contexto global

Post on 11-Mar-2016

223 views 2 download

description

Tecnopolítica e padrões rede da #GlobalRevolution

Transcript of Os protestos do Brasil em contexto global

Tecnopolítica e padrões rede das revoltas interconectadas

Os #ProtestosBR no contexto global

Javier Toret, Bernardo Gutiérrez e Tiago Pimentel /// Global Revolution Research Network

A difusão dos movimentos rede é global

A explosão dos movimentos rede no Brasil e Turquia confirmam que há um novo padrão de comportamento político auto-organizado em nossas sociedades conectadas. O diálogo e a troca de ícones, símbolos e logos entre Brasil e Turquia foi intenso. O Brasil contagiou os movimentos do mundo, apesar de não se reconhecer no primeiro momento como parte das “revoltas globais”.

Nós podemos cheirar o gás lacrimogênio do Rio e Taksim até Tahrir (texto). “Acabou a modormia. O Rio vai virar outra Turquia”

Turquia no Brasil

Detalhes do grafo Cartografía espaços híbridos de (Interagentes) mostram um detalhe importante: a presença de contas da Turquia. CONVOCANTES: Movimiento Passe Livre. PETIÇÕES: reduçao da tarifa de autobuses. SLOGANS: “Se a tarifa não cair, a cidade vai parar”. DETALHES GRAFO: Duas contas turcas (Recep Tayyip Erdoğan - Türkiye'nin Gururu y Diren Gezi Parkı) do Facebook entre as dez autoridades.

Geração postalfa vs geração analógica

A crise das esquerdas, que se manifesta no retrocesso político das forças organizadas do movimento sindical e progressista, é apenas um epifenômeno de um problema muito mais profundo: a crise de transmissão cultural na passagem das gerações alfabético-críticas às gerações pós-alfabéticas e configuracionais. A dificuldade de transmissão cultural não está limitada à uma incapacidade para transmitir conteúdos ideológicos ou políticos, mas também pela impossibilidade de estabelecer comunicação entre mentes que operam de diferentes formas e muitas vezes são incompatíveis. É essencial compreender essa da mente pós-alfabética.

A primeira geração que aprendeu mais palavras com uma máquina que com sua mãe está agora em cena.

A relação entre tecnologias e transformação social

Compreender o 'como', as mentalidades, as capacidades e as competências coletivas do intelecto aliadas à novas ferramentas tecnológicas, podem criar novas formas de mudar o mundo.

¿Como estão conectados os cérebros e as redes? ¿Como entender o estado emocional? ¿Cébrero eletrônico?

8 padrões rede da #GlobalRevolution

1.Tecnopolítica: Ações multi-camada, espaços híbridos

●  Uso tático e estratégico das ferramentas digitais e identidades coletivas online para a organização, comunicação e ação coletiva.

●  A capacidade das multidões conectadas, dos cérebros e corpos em rede para criar e auto-modular a ação coletiva . Padrão da auto-organização política na sociedade rede.

Tecnopolítica não é...

●  Ciber-ativismo

A tecnopolítica utiliza a rede e o ciberterritório para ter efeito fora e dentro dele. Não é ativismo sem estratégia nem organização ou exclusivamente online.

Clicktivismo

Idéia fraca do ativismo na internet baseada simplesmente em fazer 'likes' e assinar 'abaixo assinados' em plataformas tipo Change.

Análise multicamada // camada física + camada digital

A combinação entre redes sociais e ocupação do espaço urbano antecipa a cobertura da mídia e pauta a comuicação de massas

'Vândalos' na mídia brasileira

Manifestantes o vándalos,

2. Contágio tecno-logicamente estruturado //

●  O crescimento dos perfis segue um padrão de auto-organização simples e lógico, próprio das formas da tecnologia. A estruturação do contágio se faz a partir da sintaxe e estructuras da tecnologia

(Acima) Mapa dos protestos convocados no mundo o #17J / (abaixo) mapa de acampadas da #SpanishRevolution

Multiplicação das práticas tecnopolíticas em um nível de massa

●  Os grupos, fanpages de Facebook e canais de Youtube foram utilizados na primavera árabe para canalizar e organizar os protestos. No 15M, na Turquia e nos protestos do Brasil foram importantes na gestação do movimento rede.

Viralidade e emocionalidade

http://viralgezi.outliers.es/

Crescimento da rede #vemprarua no Twitter 15 a 17 junho por Fábio Malini

Um viral à brasileira

3. Transição de fase // Explosão da comunição e emoções

Uma aceleração exponencial da atividade e emotividade do sistema

Na transição é fundamental canalizar a energia e o desejo de continuar o protesto em outro formato médio: acampadas 15M, Turquia, Occupy. #ocupacabral, #OcupaCâmara, etc. no Brasil... É a transformaçåo de estado e de meio ( da rede às ruas), do meio digital ao físico.

Transformação de forma (precisa inventar uma estrutura organizativa)

#13J, da violência à indignação

CONVOCANTES: Movimento Passe Livre, Anonymous, Occupy Brasil, A Verdade Nua & Crua. PETIÇÕES: redução da tarifa de ônibus, fim da corrupção. SLOGANS: “Se a tarifa não cair, a cidade vai parar”. DETALHES GRAFO Cartografía espaços híbridos (Interagentes): novas autoridades convocantes como OccupyBrasil, Anonymous Rio, Mães de Maio o Rede Esgoto de Televisão. Nós que são autoridades e hubs ao mesmo tempo: A verdade nua e crua, Anonymous Rio, Anonymous Brasil, Anonymous BR, Mães de Maio, Passe Livre São Paulo ou Geração Invencível. VIOLÊNCIA POLICIAL: As manifestações acabam com forte repressão policial.

Da indignação ao empoderamento

A violência policial e a cobertura depreciativa da mídia e do poder transforma os manifestantes em Vándalos (Brasil), Chapullers (Turquia) ou Perroflautas (Espanha). A indignação é combustível das revoltas em rede. A indignação se transforma em empoderamento e emoções positivas, como a esperança.

Emoções agregadoras = empoderamento

Análise emocional 15M: resultados

Análise de vocabulário: resultados

Vocabulário dos #ProtestosBR

Núvem de tags – dia 13 - Facebook Núvem de tags – dia 20- Facebook

Cartografía Afectiva (periodo15-25 de junho) e nuvens de palavras e hashtags mais habituais das protestas do Brasil realizadas pelo LABIC.

4. Identidades colectivas

As identidades coletivas são um comum de todas as revoltas em rede dos últimos anos. Identidades que aceitam remixes e adaptações, como as acampadas do 15M ou Occupy. No Brasil surgiram muitas identidades coletivas a partir da “vida sem catracas” do Passe Livre, ainda que convivam com famosos e mídia.

Nas revoltas do Egito, a morte do blogueiro Khaled Said virou uma identidade coletiva nas fanpages de Facebook #Somos KhlaedSaid. No Brasil, o sumiço do pedreiro Amarildo Dias de Souza gerou uma (quase) identidade colectiva. Imagens esquerda: intervenção na avenida Delfim Moreira, no Leblon (Rio de Janeiro) e moradores da Rocinha com cartaz 'Onde está Amarildo?'..

#SomosKhaledSaid, #SomosAmarildo

Identidades coletivas fragmentadas, característica do Brasil

A indignação no Brasil tem adotado forma de identidades coletivas fragmentadas: pessoas adicionando no seu nome “Vândalo”, “Guarani Kaiowá” ou “Baderneiro”.

Anonymous: controvérsia e núvens

Núvem e palavras de AnonymousRio

Anonymous Brasil

AnonymousBR LABIC: palavras dos protestos

A irrupção de diferentes perfis de Anonymous deixou confusos muitos coletivos e partidos da esquerda. Alguns acusavam eles de “fascistas por usar algumas bandeiras da direita brasileira (luta contra a corrupção) e usar anonimato. Os estudos de rede não confirmam as teses de Anonymous=Fascismo, ainda existam grupos Anonymous com comportamentos convervadores // Textos: Anonimato nos #ProtestosBR (estudo de redes) // Primavera brasileira ou golpe da direita?

5. Agregação Os slogans de fácil adesão (“Não é por vinte centavos, é por direitos”, “Hospitais padrão FIFA”, “No somos mercancías en manos de políticos y banqueros”, “We are the 99%....) se convierten en máximos dicisores comuns. A agregação da mobilização do sistema rede desmantela todo tipo de antagonismo. O identitário (os fãs de futebol criando o evento Istambul United ou caminhando juntos em São Paulo), regional (Rio e São Paulo esquecendo rancores) ou confronto manifestantes vs polícia.

Redes de partidos políticos (competitivas):

 Ausência de interações entre diferentes comunidades (partidos diferentes).

 A maioria dos atores centrais correspondem à pessoas previamente designadas como líderes.

Redes das revoltas globais (cooperativas):

 Interações entre diferentes comunidades (ideológicas, geográficas…)

 Os nós centrais correspondem, no geral, à identidades coletivas.

Mudança de paradigma

O estudo das relações entre PT, PSDB, Anonymous e Passe Livre feita pelo LABIC provou a endogamia dos partidos políticos e a transversalidade do Passe Livre e do enxame explosivo dos Anonymous. Imagem // Militantes de esquerda procuram participar no protesto em São Paulo no dia 20 de junho.

A endogamia dos partidos

Memes transnacionais

Grito de “Não me representam”, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro // Conta de Twitter de O Globo hackeada com “Democracia Real Já” // Democracia Real Ya da España, #TomaLaCalle, meme usado no Peru // perfil Cuenta @AnonymousRio, com motivos indígenas // Occupy, we are the 99%

6. Crescimento auto-organizado, enxames e catalizadores da multidão conectada

Topologia de redes do 15M

Gráfico da rede #Yosoy132 México

Importância dos Hubs e das Autoridades

Dia 17 de junho - Detalhe de Grafo de compartilhamentos de mensagem no Facebook. A imagem da esquerda foi mapeada por Autoridade, a da direita por HUB.

O estudo #ProtestoRj do Media Lab da UFRJ sobre as manifestações no Rio de Janeiro prova que a mobilização aconteceu graças à “nós pobres” como @catupiry, por sua capacidade de diálogo. Os grupos influentes na cidade - exceto Anonymous - foram irrelevantes nas primeiras chamadas.

#ProtestoRJ, nós pobres comandando a onda

#OcupeAMídia, hashtags do empoderamento

Captura de tela dos TT de 17 de junho antes da manifestação. (izda) grafo de #AbaixoARedeGloboPovoNãoÉBobo feito posteriormente pelo LABIC.

7. Liderança temporal distribuída // Beta Movimento

●  Entendemos que há uma rede ou corrida de revezamento entre uma constelação de identidades coletivas sem lideranças permanentes-pessoais unívocas

As “499 contas mais influentes do 15M” (grafo de Manuela Lucas)

Núcleo dinâmico da multidão conectada

Grafos #Globalrevolution // movimentos rede

Grafo Brasil - #6j - Facebook

Grafo Brasil - #7j - Facebook

Grafo Brasil - #11j - Facebook

Grafo Brasil - #13j - Facebook

Grafo Brasil - #17j - Facebook

Grafo Brasil - #17j - Twitter

Grafo Brasil - #20j - Facebook

8. Bens comuns urbanos

As revoltas do grito-processo #VemPraRua e suas mutações (#ForaCabral, #Tarifazero...) tiveram uma clara origem urbana. O mal trato dos bens comuns pelo Estado e pelo mercado mobilizou um sistema-rede de micro-lutas interconectadas. A tese das cidades rebeldes de David Harvey fica reforçada após #DirenGezi e #VemPraRua. No Brasil, alguns dos principais eixos da luta são orientados para a defesa dos bens comuns. O Tariza Zero (transporte), O Maraca é Nosso (proposta da administração coletiva para parar a privatização do Maracanã), o Parque do Cocó (Fortaleza), os Comitês da Copa ou a onda de aulas públicas no espaço público (na foto, o juiz João Damasceno em # OcupaCabral) coincidem com formas de luta do 15M, #occupy ou #YoSoy132. Ainda que o movimento 15M não tivesse 'causas' ou 'motivos' iniciais vinculados ao urbano, transformou a urbe no novo prototipo de participação política.

Imagens superiores: Aula Pública no #OcupaCabral do Rio de Janeiro com o juiz João Damasceno, #UnienLaCalle do 15M-Marea Verde de Madrid // Imagens inferiores: #OccupyGeziArchitecture (Istambul) e El Campo de Cebada, 15M-Madrid

Referências 1. Nós podemos cheirar o gás lacrimogênio do Rio e Taksim até Tahrir. http://passapalavra.info/2013/07/80352 2. “Acabou a modormia. O Rio vai virar outra Turquia http://propolis-colmena.blogspot.com.es/2013/07/acabou-mordomia-o-rio-vai-virar-uma.html 3.Grafo de Interagentes #6N // http://interagentes.net/wp-content/uploads/2013/07/dia6_branco.png 4. Manifestantes o vándalos, http://blog.pageonex.com/2013/08/24/manifestantes-ou-vandalos-como-a-midia-tradicional-abordou-os-protestos-em-junho-de-2013-no-brasil/ 5. Viral Gezi // http://viralgezi.outliers.es/ 6. Cartografia espaços híbridos. http://portal.interagentes.cc/?p=62 7. Emociones 15M // http://assets.outliers.es/15memociones/ 8. Vocabulario 15M // artografía Afectiva http://www.cartografiaafetiva.talkinc.com.br/cartografia.pdf 9. Cartografía Afectiva http://www.cartografiaafetiva.talkinc.com.br/cartografia.pdf 10. Anonimato BR //(estudio de redes) http://anonimatoprotestosbr.wordpress.com/2013/08/18/grafos/ 11.Primavera brasileira ou golpe da direita http://outraspalavras.net/blog/2013/06/23/primavera-brasileira-ou-golpe-de-direita-5/ 12. Estudio #ProtestoRj del Media Lab del UFRJ http://medialabufrj.wordpress.com/2013/08/05/protestorj-atores-menores-fazem-a-rede/ 13. AS 499 contas da SpanishRevolution http://www.manuelalucas.com/sre/ 14. Estudo da relação entre PT, PSDB, Anonymous e Passe Livre. http://www.labic.net/sem-categoria/poder-ser-mas-nao-e-a-relacao-entre-pt-psdb-anonymous-e-passe-livre-no-facebook/ 15. Grito de “Não me representam”, na Câmara municipal do Rio de Janeiro http://www.youtube.com/watch?v=DR8i5JMyAWg 16. Conta de Twitter de O Globo hackeada com Democracia Real Já http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/114122/ 17. #OccupyGeziPArk http://occupygeziarchitecture.tumblr.com/ 18. El Campo de Cebada. http://elcampodecebada.org/

Imagens superiores: Campanha Tarifa Zero de BH, Salve o Cocó (Fortaleza), um dos eixos dos protestos de Fortaleza, com destaque de movimentos como o Pro- Árvore. // Imagens inferiores: #OccupyODTU (estudantes plantando árvores em Istambul) e 'O Maraca é nosso'.

GLOBAL REVOLUTION RESEARCH NETWORK ///

Javier Toret (@toret), Bernardo Gutiérrez (@bernardosampa) e Tiago Pimentel (@antropoiese)