Post on 09-Dec-2018
«A hereditariedade 6 a lei. .
D atum
rigorosa verdade historica que se attribue à nobiliarchiad
'
uma familiatrasmontaua, pelo epitheto d
'
umdos seus varões mais re
centes conhecida por Os brocas.
Parece—me, de resto, dispensavel para o interesse pratico do meu intuito averiguar se tal linha
gem trazia integra a progenitora d'
aquelle Fruela,irmão de Alfonso genro de Pelagio, fundador damonarchia de Oviedo e Leão , dos reis Vermudo ouBermudo, Ramiro I e Ordonho, ou então, por ou
tras vias, do fidalgo solarengo D . PaioMagudo deSandim. Basta ter como elucidado mais ou menosque, olhando emambito mais curto para essa eadeia de transmissões de sangue azul, que se per
de por uma dynastia de Ordonhos, n'
uns temposvagos do reiBermudo de Navarra, se nos deparaum Domingos Correia Botelho, que ainda precisamente se não sabe se foiestudante ou picheleiro.
Ha fundadas razões para pôr emduvida a
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Espiolhando bemas costel las de creatura a quemgenealogistas diversos tão varias prohssões attri
buiram,vem-se a saber daexistencia, emseu nobre
sangue, de laivos judeus, oriundos de duas christãs novas que respectivamente conviveram comseu pae e seu avô . Para o cadastro pathologicoque é l ícito formar n'
esta familia, convemnão per
der o indício que nos pôde dar umfacto tal , porisso que é hoje já vulgar na sciencia que a raçahebraica é , d
'
entre todas as raças, uma das quemaiorcontingente fornecempara o grupo das doenças nervosas. Os que aliirmam que esse Domingos Botelho foipicheleiro ambulante, contam-nos
como provavel que elle tenha feito prºpaganda
das prºphecias do Bandarra, nasua agitada vida deaventureiro errante.
O que parece fóra de duvida, emmeio da incerteza de tanta informação, é que o pretendido descandente remoto dos grandes senhores de Oviedoe de Navarra, casou duas vezes. Dos lilhos que
deixou, dois compre agora distinguir— João e Manuel—como de mais particular interesse para a
sequencia correntia do meu estudo. Após umamocidade accidentada, em 1872 , o primeiro vestiu o
habito de augustiniano descalço, no mosteiro daPiedade, emSantarem. «Viera de longe prºpellido
por uma grande catastrophe. A profissão eraoacto
Sa vi: GliI araela'
l a'
diE uropa, 1872 ; Vultos : Archa'
m'
o
da'
statistica, 1880; Boom n'
rz La N em-natha lia, 1891 ; Los:
naoao : L'
hamne de qem'
e (ed . francas) 1908: Bulletins dela Societé d
'
anthW, t. I V ; Bim : L'Iieréditó citolo
gi
íue, 7! ed . 1 2; m o D
'
Amn na : Estudo bre Cumilo, publicado na Revista I llustrada, de Lisboa, em1896 .
An cara P intu ra . : DaAmores de Camillo, 1899, p. 80.
ii
linal d '
uma tragedia. Quanto ao segundo, interessa-nos apenas saber que foicasado e dois dosseus lithos foram Luiz Botelho, salvo por graçaregia d
'
um crime de assassínio, e o dr. DomingosCorreia Botelho deMesquita eMenezes, homemque,pelo caracter pouco vulgar e curta intelligencia,deu brado na vida de Coimbra. Foielle que, pelarudeza dos seus modos, conquistou da graciosidade dos condiscipulos a alcunha de brocas ) que parasifoiBcando depois e para os seus.
D'
este bacharel se contam algumas anecdotas
interessantes; sobre ser umamoroso, atiradiço aosgalanteios palacianos, cita. que conseguira frequentar o papo, insinuando—se por ignoradas bullasna estima de B. llaria e de D. Pedro, era um ex
centrico e, sabido que os neurasthenioos heredita
rios passam em geral por entes bizarros e originaes, sera lícito suppôr que essa anormalidadenamaneira de ser nomundo, poderiabemcorres
ponder, como geralmente succode, a umaanormalidade morbida tambem. Não fazemos antecedentes o asserto extranho, suspeito fundadamente o sangue judeu que na sua ascendencia por duas gerações seguidas se enxertâra e o romance que se
adivinha navida de João Botelho e que emverdes
an os o levou a procurar o abrigo e a serena paz doseu mosteiro. Já Marcos Botelho, outro irmão, fôraum cioso homemque disputou a ponta de espada
Camaro : Bohemia do Espirito, 1899, p. 28.
A
O caso vemcontado, emnota, no primeiro capitulo do
C hamaram—lhe lá. pelos seus u sei o
Bouvnans': Ob. cit.. p. 904; C l . n a: Lafamilia netto
-
M iga , 1899, p. 20.
l 2 o
os direitos d'
um rival, esse mesmo alferes de intantaria que, salvo do primeiro assalto, comumtiro do clavina empleno peito, Luiz Botelho assasamou.
Domingos Botelho, que foimorto violentamente ,
casou comD. Rita CastelloBranco,— poucoaventurado consorcio esse, porque a dama da cõrte mal seacadimava à sua nova vida, tão dtll
'
erente das pompas de que vinha, e malaventurado ainda na sorte
dos dois lllhos: Simão e Manuel .A vida de Simão Botelho vemcontada comla
grimas nas paginas dolorosas e intensas do Amorde perdição; ella foia simples historia d
'
uma existeueia esturdia que umhel lo dia se embaraçou e
prendeu irremediavelmente n'
um lino cabello demulher; e, como elle viesse, talvez por uma Opportunidade ma de nascimento, a acarretar, n
'
umequilibrio falso, comuma herança morbida que se
acumulou em seus maiores de geração em gera
ção,—emdezoito an os esgotou toda a razão de serda sua vida de cepirito, morrendo quando lhe l
'
al
tavajaa coragempara todo o esforço, mesmo atirado de golpe, n
'
essa impulsão de vesania que ou
tr'
ora fizera d'
elie um desordeiro, depois um as
sassino, e o acompanhou passo a passo nos momentos de lyrics paixão. Simão amava com loucura Thereza, outra doente, que morreu agitando o
lençosinho branco no mirante de Monchique e
agora a sciencia vem, implacavel , a dizer-nos quesó é susceptível de se tornar doido d
'
amor aquelle que tiver umamor do dordo. Ribotallirma quenada se semelha mais a paixão que a loucura e
ligaria : Traité de P athologie l atente, trad. Boyle , t. 111,
p . 1
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que as causas geradoras d'
uma paixão violenta sãoas mesmas que muitas vezes levam quem as sot
fre ao manicomio. E' claro que a referencia é
geral e tanto respeita a paixão amorosa como a
outra.
De Manuel Botelho é conhecido o adulterio coma açoriana, que na historia da vida de seu irmãoepisodicamente nos vem contado e, depois, demaior interesse para nós, o amor romantico que ouniu a D. Jacintha Rosa d 'almeida do Espirito Santo. Endoideceu e uma congestão cerebral veiu libertâ-lo da desventura de viver assim.
Temos pois aqui, no mesmo'
degrau d'
uma linhagemsuspeita, duas creaturas que llzeram do amoro objectivo unico quasi das suas acções, e porqueo assassinato no primeiro e no segundo a loucuraindiquem, comgrande rigor de syndromia, a existencia d
'
uma tara morbida luxuriante, seria, semduvida, de interesse averiguar até que ponto o seufeitio amoroso ao manifestar—se foia causa daexacerhação d
'
uma doença antiga ou apenas o resul
tado logico do proprio mal .A analogia que existe entre alguns caracteres
objectivos do amor e aquelles que as obsessõescanscientes d'umaorigemmorbida incontestada nosapresentam, o facto de os amorosos serem, emsumma, seres de excepção, n
'
umrestricto numerodos quaes se encontra com frequencia uma elevada prºporção de criminosos, temlevado alguns philosOphos e scientistas a attribuirem ao amor umaorigem puramente pathologica J Depois, os aspectos morbidos comque a paixão amorosa, emge
iRI I O'I ': Oh. cit, p. 100.
Gam a Du vrzu : Le P ag/citologia de l'
amour, 1894.
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ral se exteriºrisa, vieramcorroborar até certo pºntouma tal ºpiniãº, e physiº lºgistas mºdernos lembram a anecdota de Plutarcho em que se cºntacºmº º medico Erasistratº recºnheceu pelºsmºvimentºs tumultuosos dº pulsº que Antiºchº amava Estratºnica.
” Gastºn Danville cºmbate esta doutrina e º seu argumentº capital baseia-se n
'
umcriteriº de utilidade applicadº à classificaç㺠dasºbsessões, separandº as nºcivas aº indivíduº ºu a
sºciedade cºmº as unicas a que rigºrºsamente cºmpete a ºrigem pathº lºgica que se lhes attribue.
Fincando n'esse argumentº tºdas as suas deducçõese attribuindo aº amºr nºrmal o mero intuitº daprºcreaç㺠da especie, é clarº que º philºsºphºn㺠encºntrºu grande dilliculdade para º pôr a salvº dº seu capitulº de ºbsessões de ºrigemmorbida.
Julgº que Danville temraz㺠emnegar aº amºruma ºrigempathº logica: que a attracç㺠entre dºisindividuºs de sexo differente verincavel de restºemquasitºda a escala zºolºgica, n㺠pºde decertºinterpretar-se fºra das leis que regemº mecanismº psychico no estadº normal de cada um. O amºrvirá, é certº, pºrempreeminencia, resultante d
'
umaintensa e quasiexclusiva actividade, º sentimentºatractivº e, se a creatura fºr umpsc patha, adºen
ça encaminhar—se-na irremediavelmente para ºpºntº em destaque da sua entidade psychica. Bouveret ºbservºu n
'
umcaso typico da sua clinica dedºenças nervºsas a tendencia d'umcerebrasthenicºpara a exageração dºs sentimentºs atractivºs.“
Dan a nn: Ob. cit. ; Mosso: La pcur (ed. francesa) , 1886 .
3 P avu na» : Vida de Demetrius, u n i.
Du vn u z 0h. cit.Boovaaar : Ob. cit., p . 193.
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A influencia dº estadº de eSpiritº dº s paes nº
mºmento de cºncepç㺠sºbre a maneira de ser
psychica dº s ll lhºs, tinha 8 ld0 ºbservada já antesdº s medicºs se ºccuparemdº seu estudº : Hesíºdºprescrevia a ahstinencia dº cºito na vºlta das ccrimonias funehres para se n㺠gerar lithos melancolicos. Erasmº punha na hºcca dasuaLº ucura estas palavras: «Eu n㺠sºu º fructo d'umabºrreci
do amºr cºnjugal » . M atam Shandy attribue as enfadºnhas particularidades dº seu caracter a umapergunta que sua mãe, emmºmentº muitº importunº , fºrmulºu.
' Umdº s Bibos adulterinos de LuizX IV, cºncebidº durante uma crise de lagrimas del l . I lllle de Montespan que as cerimºnias dº jubileu tinham emºciºnadº , cºnservºu pºr tºda a vida umcaracter que º fez chamar «º filho do jubileu» ! E'
cºnhecidº º casº d'
umpae, hºmemillustrado, quedurante tºda a vida teve sensiveis tendencias paraum estadº mental dºentiº, comperíºdos alternadºs de excitaç㺠e abatimentº . Dºs numerºsºs lllhºs que teve dois fºramalienados: a epºca da suacºncepç㺠cºincidia cºm os momentºs em que º
pae tinha tidº emgrau mais alto as suas tendencias malsanas.
ª De Candº lle, citado por Lombroso,taz nºtar a intluencia d
'
um estadº de paixão violenta dºs paes, nº mºmentº da copula e lembra º
F u i: Ob . (
ªtt., p. 17.
h de l iteralP . Lucas: raité p ratique etp yatº logsquc'
it
naturel le, 1850, t. 11, p. 504.3 Este casº vem em B rno-r: Ob. cit. 265, como tendo
sido cºmmunicado ao auctor pºr umm ico, e ligura tambem,
'
untamente com o anterior, emDu m L 'lteredité
dana me lodia da mtuu mm : , 1886, d'
onde I n u
n osº ºa tirº u para o seu trabalhº .
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numerº cºnsideravel de bastardºs de geniº .I E
'
nas
uniões illicitas, mais que nº casamentº , que se encºntra, nº enthusiasmº da suamaximaintensidade,um amºr viºlentº; mil rasões ha n
'
esse caso paraexcitar, pela alegria, pelº medº, pela revºlta ºupela angustia, o estadº de capiritº d
'
um dºs pro
genitºres ºu d'
amhºs elles. lsac Bian ch escre
veu na Memºirs de I bland : «O nascimentº fºradº casamento cria ºs caracteres fºrtes e resolu
tos. »
AManuel Bºtelho e asua cºmpanheirade aventora pºdia bem caber a sºrte de darem vida a umacreatura de caracter extranho n
'
ummºmentº maisintensº da sua vida de amºres e de tºrturas. Mas
um llibo de D. Jacintha do Espiritº Santº tinha já
pº r banda paterna ºs symptºmas reveladºres d'
umanevrose herdada. Cºrremºs a linha da sua saccodencia e encontramºs uma lºnga tradiç㺠de ve
sania.
ª
Pºstº istº , não se cºncluo de rºmpante que ºfilhº nascidº dº episºdiº rºmanesca de D. Jacinthae llanuel deveria fºrçºsamente ser umdºido ºuum criminºsº , ainda mesmº sujeitº a inlluencia
morbida hereditaria. Dilllcil , se n㺠impºssivel, seria mesmº prever qual a fºrma de psychºse quequasicertº era vir junta a essa creaturinha pºstanomundº cºmo carretº d
'
uma t㺠pesadaherança.
D aºgz
aaooau z Histoire de Sciences, 1883; Imaaoso: Ob.
cit.
um se : Ob cit., p . 217.
.Amhos nevro thas hereditarioa, Camil lo e Julio, poisem ambas as famiias havia a dupla tradição da vasawa e
do suicidiº .» Sousa l l a m a: Nosograp hia d'
Anthero, no I nM emoriam.
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A variaç㺠da hereditariedade é um factº . «As
dºenças dº systema nervºsº, quer se manifestempºr perturbações psychicas, sensº riaes ºumºtºrasº ll
'
erecem entre sialinidades numerºsas, pºntºs decºntactº multip lºs; e se bem que, n
'
estes ultimºsanuos, ºs estudºs tantº clinicºs cºmº anatºmºphysiº lºgicºs tenhammultiplicadº as especies, pºde—se dizer que el las cºnstituemuma sº familia,ligada indissº luvelmente pelas leis da hereditariedade. Mas n㺠ha uma regra precisa e º prºpriºschema que Mºrel fº rmulºu para amarcha da degenerescencia prºgressiva esbarra na pratica a
cada passº, pºr circumstancias que se explicammas que nempºr isso se pºdem deixar semnºta,cºm casºs que abertamente o contradizem. «Os
alienadºs, º s criminºsºs e ºs hºmens de geniotrazem ingenitamente uma cºnstituiç㺠muitº analºga; tºdos s㺠dºtadºs d
'
uma tal excitahilidade quereagem fºra das regras psycolºgicas º rdinartas.
S㺠as vezes as circumstancias que determinama especialisaç㺠. »
ª Por hereditariedade n㺠se
entende exclusivamente a dºença transmittida ã
prºgenie cºm a identidade de symptºmas de ºrdem physica e mºral ºbservadºs nºs ascendentes.
Cºmprehende-se nº termº hereditariedade a trans
missão de dispºsições ºrganicas de paesa filhºs. .
«A tixidez das ideas nºs prºgenitores , pºde transformar-se nºs descendentes emmelancºlia, amºr
1 F u i: Ob. cit., p . 8 .
ª G . Wave sl u ' z Atlas "mas!de P sychiatric (ed. ir.,pº r Rouamº vn cu 26 .
3 F ast: Ob. cit. , p. 4Mºa-r. : Traité des degénémsenccs, 18
5 7;Risos : 0h. cit.,pagina 247.
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à meditaçãº, aptid㺠para as sciencias exactas,energia de vontade . Amania dºs prºgenitºrespºde vir a ser nºs descendentes aptid㺠para as
artes, arrºjº de imaginaçãº, vivacidade d'
espiritº .
incºnstancia dos desejºs, vºntade brusca e semtenacidade. » «Assimcomo uma lºucura real pºdereproduzir—se hereditariamente sºb a fºrma de
excentricidade, não se transmittir sen㺠cºmmeiastintas
, tºns mais ºu menº s adoçados, assimumestadº simples de excentricidade, que n㺠vá
além da bizarrice d'
um caracter singular, pºdeser na descendencia a ºrigemd
'
umverdadeiro delirio. »
A histº ria nºsº logica das familias de hºmensnºtaveis, traçada pºr algum auctores, mostra-noscºm frequencia a assºciação de psycºnevrºses comum alto desenvºlvimentº intellectivº . N
'uma fa
milia estudada pºr Berti, emquatro gerações decerca de ºitenta individuºs, derivados d
'umdoidº
melanchº licº , observaram-ss três hºmens de genio, tres criminº sos, dezenºve nevrºticºs, e dez
RI M : Ob. cit., p. 249.
l io-sao, (Dl Toons) La psyeologic m rbide, 1859.
Liam: c a ic, la mison et la folie, le demon dc 80cratc, 1856 ; Gaara : H eredita ry Genius. 1868; Mon at: (deTours) : Ob. cit P . Jacour : E tudc sur la selection dans les
ram i-ts avec l
'
heredité cite; l'hornmc. 1881; Lon-sw» : Oh .
cit. ; Ris os Ob. cit. ;Mam a naas zD eLa N et-rosedesgrande
hom es, 1881; H . Jou r : P sycho'
e des grands hommes,(ed . fr. ) 1883; E. Tomou» : Emile 1896; Gu ns-a': Lae
;.feriorité intellectuel lc et la acm e, 1903; Ga l e n! Lorena,J l . B MW , 1904; H a l l am : L. N . Tolstoâ
'l'xxiv
,
Saae . xv . p. 869 doAM ioi
fádâP siAc
l
h
'
iatr-iaàweq c
!de
«tropa! m k , nao su sto : m as!»
H obbes, m v, fase 17 , do Archivio as
dºidos.
* Da linhagem de Carlºs V, que teve alie
nadºs, lypemanºs e excentricº s, nasceu um has
tardo de geniº : Alexandre Farnese. Beethºvenera filhº d
'
um alcoolico, Alexandre nasceu d'umbebadº e d
'
uma mulher perversa e dissº luta, a
mãe de Byrºn era desequilibrada e º pae um es
troina bizarrº e impudente.
ª O prºpriº Baudelaireescreveu que os seus antepassadºs, idiºtas ºumahiscoe, fºramvíctimas de terriveis paixões.
“ Pedrº,º Grande, e º s seus d㺠asciencia salientes casºsde geniº, imbecilidade, habitºs crapulosos, mºrtesprematuras, ataques epileptiformes, e virtudes e
v íciºs levadºs aºs ultimºs extremºs. Pºr ultimº ,Voisin cita º casº typicº d
'
umpintºr de talentº , lilhº d
'
uma hysterics e irm㺠de dºis idiºtas e d'umalienado. M ummagnumingeniumnisimistura
quadam stu ltitiw, disse um antigº , e a sciencia
mºderna pôde cºncretamente cºncluir : º geniouma neurºse.
7
Na familia illustre cuja genealºgia se perde nºsendal dºs tempºs que mal deixa ver º s vultºsimpºnentes dºs grandes senhores de Oviedo e de
Leãº, º cadastrº pathº lºgico, já bem opulentadodesde aquella Ruy de Nisa que desposou uma Bº
I n t ru so: Ob. cit. p . 210.
luar.—ito : Tite B lat upon the B rain,1885, p . 147 ; Ds
aaain : Ob. cit. ; Lonn osc : Ob. cit.ª Imunnoso: Ob. cit. ; Bu n o Ca n n a: Vida de Lord
Byron (T rad. de M. F ernandes Reis), 1876 .
4 E . C as te r: &?q p ºsrhumcs et corresp ºndancc ineditcde Baudelaire.
5 Mºtt a!) (de Tours) : Oh . cit.
V orsts : H ercdité, no Dictionnaire de medicine ctoirargic p ratique, 1875: t. um, p . 473.
“ cacau (de Tº urs) : Ob. cit.
2 1
telhº , enriqueceu-se n'
esta altura cºmº exemplarmorbido mais nºbre. De Manuel Botelho— umdºidº , irm㺠d
'
um assassinº e netº d'um excentricº
e de D. Jacintha dº Bapiritº Santº—a ll lha d'umadºida— nasceu umhºmemde geniº: Camillº Castel lº Brancº .
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se tºrna analizar bem as condições mesº lºgicasque fºram de alta influencia n'alguns dº s aspectº smais typicº s e reveladºres dº seu caracter.
Será precisº cº l lºcà- lo, a elle — umdegenerado- n
'
um meiº que pº r muitas razões reclama ºnº ssº interesse e ver cºm precisão pº r que cºnjuntº de circumstancias derivantes, d
'
um certºmºdo º traçº etiº lºgicº dº seu mal evolutiu. E
as suas ºbras, para º rigºr incºntestavel dº meuestudº, h㺠de apparecer cºmº dºcumentº e si
multaneamente cºmo cºnsequencia nº decursº dasua vida de trabalhº e cºnc mítante evºlução dºseu capiritº .
Orphão de pae e mãe aºs nºve annºs, Camillº,levado para Villa Real pºr impºsiç㺠do conselhºde familia, em breve se revºltºu cºntra a irmãde seu pae, que º educava cºm uma liberdademenºs ampla que aquella a que vinha acºstumadºda sua vida de Lisbºa. Elle era º hlho unicº d 'umaligaç㺠rºmanesca em que o tediº veiº , aº queparece, matar em breve º exaltadº amºr que aprºvºcºu, e, cºmº quer que ºs dºis Bcassem—paee mãe— vivendo uma mesma vida, de relaçõescortadas cºmº passadº, sementhusiasmo d 'amantes, unidºs pºr um casamentº que veiº tarde paratransmudar na tranquillidade feliz d
'
um lar umaagitada existencia d
'
aventura, percebe—se cºmoambºs el les cºnsagrassem aº ilibo, apaixºnada .
mente, º ali'
coto que d'
umpara º ºutro andavain
C amil lo C astellº Brancº nasceu emLisboa, n'
uma caea do largº do C armo, em 16 de março de 1826 .
3 João na Msm ,n'
um artigo publicadº na F olha daN ºite, do P ortº , em 19—4 -05, oitavo d
'
uma serie intituladaP ara a biºgrap hia de Camillo, aã rma o m ento dos
paes do romancista, facto que ainda nenhumoutrº biogra
25
cºmprehendido º u deSpresado. Cercavam-no de
mimos, faziam passar º primeirº períodº da sua
educaç㺠sem uma rudeza, sem umestorvo, e ºcaso é que º futurº rºmancista. assimcreadº àlarga, nº melhºr meiº para º amp lo desenvº lvimento das tendencias innatas dº seu espiritº , antes da epoca em que licºu sem pae, jà, emna
mºricºs, exhibía as tendencias libertinas de pivete.
Fºi damºrte de Manuel Bºtelhº que Camillº guar.
dou para a rememºrar depºis na sua obra, n'
umscenario em que ha o traçº dº sentimental e dºartista, a ultima phrase dº mºribundo : «Que será
de timeu filhº, sem ninguemque te ame l .Pºuco afeitº a rispidez da tia, bem dill
'
erente
dºs carinhºs dºs seus primeiros zonos, e n'
umprimeiro impulsº d'aventura que bem ficava emquem viria a ser umexemplar completº de fatalidade hereditaria, um bellº dia, cºm um par de
piugas e duas camisas atadas n'um lençº , Camillºabalºu para Lisboa. Logº depºis foipara Samardan, ºnde, em companhia d'uma irmã casada comummedicº irmão d'aquellº padre Antºnio d
'
Azeve
do que º iniciou nºs mysteriºs dº latim, Camillº,levandº a vida do campº , fazendo-se pastor dº rebanhº da casa, indo para º mºnte armado, prompto aº cºmbate cºm o lºbº , simultaneamenteaprendendo º cantºchão e lendº Camões e o Meudes Pintº ,— passou então, cºmº el le 0 conta, o periodo mais feliz da sua vida. Namorava campºne
nhamencionado. Tambem, n'
esse mesmo artigo, vem
que se diz eseudada comprovas, de que o paom 1835, Geando el le assimorphão aº s
des e não aos nove an os. Essa é porémuma minudeneia
que só muito secundariamente nº r interea
zas, desandou a fazer versºs e quandº , tempºsdepºis, se fºiaté Friume cºma sua guitarra a tira
cºllº e um arsenal de cantigas bem sºrtido dasmais sºnºras rimas, presº das graças d
'
uma lavradeirºna rija, filha d
'
um tendeiro de S. Cºsme deGºndºmar que paraallise fôra estabelecer,—casºu
comel la.
Tinha ent㺠dezeseis annºs. O sºgrº, que à vivafºrça queria ter um dºutºr na familia, mandº u—oaprender mais latim em terra prºxima, mas diabruras metricas hzeram cºmque, acºnselhado pela prudencia dº tendeiro, Camillº tivesse de partir pars Lisbºa. De lá, embreve praso , veio para ºPºrtº e d'aqui, umbellº dia, porque a saudade dº stempºs idºs mais º apºquentasse, vºltºu para Samardan.
O casamentº fôra para elle uma passageira aventura. Se nºs interrogarmos n
'
este pºnto sobre omotivº que º levºu a umactº emque a paixãº,dºcil de mais à vºntade d'umsºgrº ambicioso, nãohavia de ser muita, temºs de hxar º seu temperamentº de sensual, umpºucº grºsseirº, semnos
requintes de delicadeza que fºssembemcomº seutir d
'
umbardo que canta, uma um, os seus amºres. Havemºs de vê—lo assimpela vidafºra, amandº sempre, amandº coma ancia sºll
'
rega da pos
se, º crepitar d'um desejº irrellectidº , arrebatadº, que, satisfeito, nada deixa de si, e, por cºn
sequencia, aincapacidade para uma vida tranquilla,dº amºrosa paz que não teria, mesmº que circumstancias ºutras não interviessem a impedi—la,na intimidade dº seu primeirº lar.
Na vida de Camillº ha a pôr emdestaque, paraum lºgar primeirº , a sua feição amºrºsa: elle fºium sacrificadº ao amºr, cºmº já o haviamsido
27
en linha de curta ascendencia ºs seus maiºres, ecºmº , a mais que qualquer d '
esses, el le tivesse
ainda º amºr as letras, tºda a pequenina paix㺠se engrandecia, enriquecida pela sua imaginaç㺠exuberante, rºmantizada pelº seu geniºd'arlista. Junte—se esse vidrº d
'
augmentº que existevulgarmente na cºnsciencia dº artista pelº que toca a assumptºs de cºraç㺠a uma prºnunciadatendencia hereditaria e mais aancia de prºcurar alfectos fºrtes, natural emquem cºmº el le cedº tenhaficadº quasisó nº mundº, e ter—se—ha justihcada amaneira preponderante comº º amºr influiu na
vida inteira de Camillº , subindº a timºneirº dassuas acções e arbitro superiºr dº seu destinº.
q uantº Jºaquina Pereira, em Friume, comuma filha nos braçºs, chºrava a ausencia dº marido, Camillº, indo a Samardanmatar saudades, deixava—se prender pelºs encantºs da Maria dº Adrº,camponeza dº lºgar. A rapariga era triste desdeque uma dºença lhe levara as louçanias melhºresda mºcidade, e cºmº quer que aº romancistaagradasse essamelancºlia de sempre, que a faziacºntemplativa, guardando—se cºm ºs seus pensamentos da alegria bulhenta das mais, ahicomeçºuum honestº idylliº , cºnversas aº crepusculº cºmextasis pantheistas, prºmessas, juramentºs, na
ingenua poesia d'
um singelº amºr de adolescentes.Até que umdia º estudante vºltou para as an
las, e Maria ,dº Adro, semnºvas d 'elle, pensandotalvez na incºnstancia do namºradº, mºeu—se desaudade pelos campºs trasmºntanºs, entrou de
adºecer, e peºrar, peorsr sempre, de modº quequandº elle resºlveu voltar, passadºs mezºs, jaan㺠encºntrºu— tinhamorrido.
Entra aqui a histºria d'umdºs mais extranhos
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episºdiºs da vida de Camil lº. Cºm º auxilio deseu cunhadº, medico, Camillº abriu a sepultura
de Maria, desenterrºu oa, viu-a, e tal fºia impressão sentida que , quandº , aº ºutrº dia, º medicº ,
sºsinhº , preparava º esqueletº da camponezamºrta, º futurº rºmancista sºfl
'
ria nº leitº ºs primeirºs assaltºs d 'uma febre cerebral intensa que º
prostrou. D'
essº factº nos apparece a exacta nar
ração na sua obra,' se bem que º decorativº d'
umanºite de tempestade, cºmsilvos de ventania e cia
rões tragicos de relampagºs, pºde ser um devaneiº phantasista dº romanticº que se comprazia empºr aquelle casº lugubre n
'
um bellº quadrº dehºrrºr e de tº rtura.
E'
ainda a prºpºsitº d'este episºdio que º sr.
dr. Egas Moniz, cavalheirº que parlamenta emLisbºa e ensina coisas medicas na Universidade deCºimbra, nº vºlume Patholºgia da sua Vida Se
:vual traz à baila º nºme dº rºmancista para registar que «pelº exame das prºvas que as biºgraphiaspublicadas nos fornecem, n㺠pºdemºs levantar a
suspeita de que Camillo fºsse um Af
firmação é essa que ninguempediu aº capel lo e
bºrla de 3. cx.
“
(pºrquantº tal suspeita, aº quemeconsta, nunca se aventºu) e que nº seu livrº apenas vem fazendº um pºucº de argumentação .pº r
conta e risco, cºisamuitº de apreciar n'
uma these, genero de escriptº s em que vulgarmente se
topam opiniões de tºdas_
as firmas da sciencia,exceptº a dº auctor que ninguem, asmais das vezes descºrtina. Ora realmente aquillo embºa ra
Imp ressão indelevel .a s Moura: 4 Vida Sawai, I l P athologia, 1902 ,
p . 1.
29
z㺠n㺠é necrºphilia, mas antes o explicavel
proceder d'uma ºrganisaç㺠de romanesco, morbidamente anºrmal pº r já expostas razões de progenie, desenvº lvendº
—se de certº mºdo, mercê dainfl uencia deleteria d
'
ummeio que eu tereide estudar cºmmais detença para fixar d'uma maneiralºgica ºutrºs factºs singulares da vida que me interessa. Camillº . depºis de mezes de esquecimenlº , lembrº u—se cºm saudade d'aquellamulher triste; pensºu em escrever-lhe . mas ella n㺠sabia
ler. Na sua alegre jornada, ao cºmeçar das ferias,decertº se lembrariamuitº d 'el la, a recºrdaç㺠detº dº aquelle idylliº a que amaterialidade n㺠cºntaminara º tedio. ter—lhe—hia chegado t㺠nítidaa tãºfeita de encantº cºmº desde muitº n㺠a sentira;a cada passo mais pertº da sua aldeia a ancieda
de deveria subir n'
umcrescendº , cºntinuamente ,
até que, quandº elle julgava que faltariam apenasmºmentºs para que a Maria dº Adrº viesse, cºma sua melancolia resignada de feia, convencer-seºutra vez de que era amada, a nºticia da sua
morte chegºu a cº rtar cerce tºdas as suas phantasias de imaginoso, exacerbandº ' lhe, aguilhºan
do -º cºmº impºssivel . o desejº, irresistível agºra.
de a ver. Necrºphitia implica sadismº , d'
ondeº s senhº res cºncluem que para prºvar a falta de
raz㺠d '
uma hypºthese feita para viver apenas o
tempº necessariº ao trabalho bem simples de a
refutar, o dºutºradº de Cºimbra, emtres paginasabarrºtadas de argumentºs, deve ter feitº indubitavelmente umBgur㺠.
Melhor será pºrém deixar em paz as lºcubra
ções utilissimas dº mestre , que a glºria se eu
carregará mais tarde de trocar embºamºeda e
seguir º relatº minuciºsº da vida de Camillº nos
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pºntº s em que mais de pertº interessa a realiza
ç㺠dº meu intentº; el la entra agºra n'
umperiºdºagitado e instavel emque a cada passº curiºsºs factº s surgem encastel landº -se, a fºrmar, aluz d
'
umcriteriº que ºs condense, a physiºnºmiamºral d
'
umadas mais extraº rdinarias Bguras d
'
homemque cºnheçº .
Camillº, depºis dº episºdiº da Maria dº Adrº,lindas as ferias, veiumatricular—se nº segundº annºda Escºla Medica dº Pºrtº e fºipassadº poucº que,perdidº o annº pºr faltas, retirºu para Villa Real,decertºmais leve. semo encargoestºpante d
'
aquel la
fºrmatura.
Percebe—se que assim fºsse. Camillº levava pºresse tempº uma vida alegre de bohemio, n
'
essa
altura º humºrista revelou—se pºr uns fºlhetºs hºjeraros e o episºdiº capirituºsº do duelº simuladºna Torre da Marca, e essa vida quemais pºdia ser ad'
umociosº que procura divertir-se, passar o tempº ,
— com as suas serenatas rºmanticas, ºs seusderriços, a tentaç㺠dº bºtequim— n㺠era de
certo o que cºnvinha a quempretendia, para satisfazer um sºgrº de Friume, estudar muitº e ser
dºutºr.Depºis os cursºs, entre nºs, mal ºrganisadºs,
aterrandº pºr uma cºmplexidade todamaterialºnaque sºlicita º esforçº das memºrias mais bem do
tadas e nada quer das faculdades de intelligencia,aptas a uma clara cºmprehensão mais raciºnal emais prº fícua, fizeramse de tal modº º privilegiºde vºcações espºradicas de intel ligentes eruditose damultid㺠dºs menºs lucidos. cuja delhcienciase acºmmºda semcustº aº trabalho materialmaistº rturante e ºs força a sinceramente encarar semum sorrisº º pedantismo vulgar aos professores
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um estygma, pela ºrelhas d'um cabula, ou lançarm㺠, em casº extremº, dº recursº salutar da pal
matº ría.
Camillº Castel lº Brancº , de índºle avessaa docilidades de cº llegíai, intelligente de mais para cs
tar bem n'
uma ºrganizaç㺠a tal pºnto atrazada e
deprimente, pºucº estavel , de restº, n'
uma resº
loção ou n'
umprºjectº, ficºu semº diplºma d'umcursº, cºmº de restº hºmens eminentes cºmº Herculano e OliveiraMartins tambemficaram, semquepºr isso a sua ºbra fºsse menºs grande ºu a falta
da chancella º lílcial prejudicasse º seu saber.
Era º que ignºrava º tendeiro de Friume, insensível aºs rogos da filha, cº ndemnada pela ambiçãºd'
um papelucho sellado, a essa viuvez que cºmeçºu dias depºis dº casamentº e havia de a acºmpanhar irremediavelmente até mºrrer.
No n.' 9 das N oites de I nsºmnia, correspondente a Se
tembro de 1874, escreveu Camil lo, n'
uma narração, referiudo-se a D uarte Valdez : «T res epocas me º ceorreram. P rimeira a da nº ssa jovial convivencia emumcasebre da Ceuraça dos Apostol º s, emCoimbra, no an o de 1815. Segunda, º utra menºs modesta e menos alegre camaradagemde quarto, no hºtel Frances, dº P º rto, em1861 . Antes demencionar a terceira epoca, urge “ Mu se que nenhumdenºs se format-a. E lle contentara-ae cºmumdiploma de insuã ciencia emrhetorica, e eu coma renda não commnmde arpcjar tres varios fadº s na viola. ão rivalisavamos emsciencia. F ormavamºs da nossa recíproca ignorancia umconceito honesto. N㺠queriamºs implicar com l abiºs, nem
para os inve'
ar nempara os detrahirn. (p. 83)F alla se a ide Coimbra e de facto Camillº lã esteve, de
pois da prisão, estudando preparatorios para direito, aº que
parece . Q uandº em 46 rebentou a revolução popular e as
au las se fecharam, o futuro romancista partiu para Vil laReal . N
'
este ponto. teminteresse uma carta d'eaaa locali
dade publicada pelo sr . Alberto P imentel nº seu livro 0
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Camillº, pº r esse tempº, esquecidº dº lar, viviaem Vil la Real cºm umtiº afim, negociante de cabedaes e cujas tendencias absºlutistas º ex-estu
dante lisºngeava, empoleirado nos coiros da lºja,aclamando D. Miguel, aº tempº emque, em '
Pºr.
res Nºvas, se erguia cºmmais força º mºvimentode prºtestº cºntra º gºverno dºs Cahraos.Fºient㺠que Camillº se apaixonºu pºr Patrícia
Emilia, menina que vivia em cºmpanhia d 'uns parentes emcuja casa elle cºnsumia comagrado a in
sipidez das nºites trasmontanas. O drama Agºsti
nhº de Ceuta , representadoemVillaRealn'
umtheatrºque º prºpriº auctor improvisou, foiescriptº paraque ella º ºuvisse, e cºmo quer que empleno rº
romance do rºmancista, 1890 -
p. 129—180, transcrevo d'
ellaestes períºdos curiºsos
«Na revº lução de 1846 , n㺠me cºnsta no º Camillo ligurasse, n
'
esta terra . C reio, até, que el le n residia por aqui;porém, em 1847, depºis do desastre de V alpassos, ue esta
vil la º ra estava governada pela patulea da Junta o P or.
tº , º ra pelos cartistas e , até, alguns dias pela gente dºMacdºncll , lembro me que o Camillo, uma noite, emqueesta villa estava semauctoridades nemgoverno algum, pº rque º s cartistas fugiram para C haves, e os da Junta esta
vam em Amarante, 0 C amil lº appareceu ao escurecer, dechapeu armado, de espada á cinta, de esporas nas botas ,fazendo grande barulho com a espada a rasto, de forma
que toda a vil la ficou apavorada, tºdos os habitantes fecharam as pº rtas, e, el le só fes a polí
cia da terra. . N'
essa
mesma carta diz—se que, pº uco depois, C amil lo foiamauacase dº Gº vernº Civil e que mais tard a umcondictºcom o Olho de boi. caceteiro às º rdens e osé Cabral , tesolveu vir para o P orto.
D evo n'
esta altura declarar que tanto o livroextraio esta carta comº os ºutros que o mesmo auctor
pub lic ºu sº bre Camil lº , pelos dados que forneceme peladocumenta do que os valorisa, me auxiliaramvaliosissím&mente na e abºraçl º d
'
esta trabalho.
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mantismº º raptº cºrºasse n'
uma aureola de abnegaç㺠e herºísmº tºdº º devºtadº amºr, assim º s
dºis fugiram, abandºnandº -se aº destinº para queel le º s protegesse, na vehemencía d '
uma paixãºque n㺠pensava; elle , pobre, seguindº a sua sendade aventura; ella, deixando-se cºnduzir, vencida,cºm º seu vestidº de chita escura e a sua capinhacºr de vinhº , cºm riscas negras.
Quando º s dºis fugiamemdirecç㺠a Coimbraetinham chegadº aº Pºrtº sãºs e salvºs, º tio dº scahedaes, zelandº a sºrte dº sºbrinhº e, servindose n㺠seide que pretextº, mandºu—os prender naRelaç㺠. A pris㺠durºu pºucº e º rºmance d'amº r não durºumuitº; d
'
elle ficºu uma filha e , cºmella, anpºs depºis, apenas a recordaç㺠carinhºsad 'uma paixão antiga. O prºpriº Camillº se encerregºu de dizer umdia, aº traçar a biographia d
'
umamigº, t㺠desgraçadº cºmº el le: «Jºãº Jacques,nas suas Comissões, diz que vira ºs homens e ºs
costumes dº seu tempº. Eu vimais que elle pºrque me estºu vendº a mim. Jºsé Augustº , cre
por fé nº apºstºlº da experiencia. O anjo que foge dº seiº de sua familia, deixa lá dentrº as azas,e fºra da pºrta é mulher. » Patricia Emilia tevc uma rival , exaltou—se aº presentfo lº , decertºfez lembrar aº amante º direitº que elle não tinha
de lhe pagar cºmº abandºno º sacritlciº da sor
te e da hºnra por amºr d 'elle, e fºient㺠quedºis amigos evitaram, pºr umacasº, que Camillºse matasse cºmuns grãºs d
'
ºplo, depois de escre o
ver A Harpa dº Scepticº , pºesia hereje, cºmº ultimo adeus a uma vida que lhe fºra de agitações
N o Bºut Jesus do Mºnte, 1864, pig. 116 .
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e d'
amarguras. Cºnta Vieira de Castro que, nº
lance, Camillº tinha sºbre a banca setenta libras,para que se n㺠dissesse , ,
vendo ºmºrtº , que amiseria tinha sidº a causa que º levaraatal extremº !
E tudº istº que hºje nº s faz sorrir, temumcaracterque t㺠naturalmente deriva da epºcha emque fºi,tudo istº se nos apresenta d
'
ummºdº que a feiçãºindividual dº escriptº r, juntamente cºmas caraotaristicas tão salientes dº meiº , d'uma fºrma tãºperfeita nos explicam, que eu não saberia ir maisalém nº meu estadº, sem rapidamente lançar ºsºlhos para º aspectº da vida pºrtuguesa— ou, maisrestrictamente, portuense—n
'
esse tempº, que emtantºs pºntºs e pº r vezes d
'
ummºdº pittorescose afasta prºfundamente da maneira de ser dos
nossºs dias.Abstraindo mesmº dº que al lí se pºde encon
trar de pathº lºgicº , ainda aquelle desvairamentºé susceptível d '
uma exp licaç㺠, porquantº Camillºera um hºmem, cº llºcadº entre amulher que elleseduzira e que abandºnºu º futuro para º seguir
de ºlhºs fechadºs, que lhe lembrava cºmdesespero º amºr antigº e na vºz, º ra supp licante, ºraagreste, da dºr e dº ciume, vinha gritar º s seusdireitºs, —e essa outra prestigiºsa altura de cujabelleza se renders º pºbre martyr d'um cºraçãºque tinha de º tºrnar infeliz a vida toda. Pcrque
era ainda esse hºmemque, anuos depºis, pensa.
Nas H oras de Lacta (1889, p. 1 17) F reitas F ºrtunaassegura que, quandº escre veu a poesia, Camillo tinha jáengulido quantas pastilhas de opio lhe haviamreceitado
para dehcl lar ainsomnia. Os amigos soccº rreram-no depois .
ª J . C . Vratna na Casrsº : Castillo Castello B ranco, noti,cia de sua vida e ºbras. 1862 , p. 118 .
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va assim: «Eu de mim, se viesse da natureza pri
vado de tºdºs º s dºtes, que habilitampara º trabalhº , sahiria de nºite a pedir esmºla para sus
tentar amulher que se hºuvesse despenhadº dºsafagºs de uma família à deshonra dºs meus braços. a
ª
Umrapidº escºrçº dº meiº dar—nºs—hamargema uma melhºr cºmprehens㺠da cºmplexa figurade Camillº cuja histºria, n
'
este pºntº dº meu re
latº , vae entrar nº seu períºdo de maiºr actividade como escriptºr, periºdº dentrº dº qual se os
bºça, desenrºla e fenece sºb º pesº da desgraça.mais intensº e duradoirº que ºs ºutrºs, o derradeiro episodiº d'amº r da sua vida.
Cru-een , 1861, 1. 1, p 6.
aOui, femmes, quoiqu'
on puisse dire,V º us avez le fatal pºuvoirDe nºus jeter par un sourire
Dans l'
ivresse º u le desespºira
Atras o na Musssr .
!t tempºre, a cidade da Virgem já nãº
era apenas º amºntºadº interessante de casas, trepandº sºbre º Dºurº, n
'
um dec live , até àsalturas dº severº Paçº Episcºpal. O Pº rtº d '
outros
tempos, t㺠característicº nº pittº rescº dº s seus aspectos, de hamuitº se alargàra e, na altura emqueº meu estudº º encºntra, já. cºmos seus theatrºs.
o seu passeiº publicº e a pºsse dº cº raç㺠do rei
D. Pedrº, entrara, de par e passo, na cívilisaçãoe na glºria.
Fºco, pela histºria adeante, das reivindicaçõesdo terceiro estadº, baluarte das liberdades patria:no nºssº tempº . º Portº de ha quarenta e tantºsannos tinha, pºrém, mais º aspectº sºmbriº e ao
cegadº de velhº burgo que o bellicº sº ar de tor
r㺠fadadº aº fermentº de revºluções e à genesede herºes. Atraz dºs balcões da rua das Flºres edos Clerigos havia uma sºciedade pacata e labº
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ríº sa que mºnºtºnamente levava a sua vida detrabalhº , presando a sua hºnra, cuidandº º s seus
cal lºs, n㺠se impºrtandº de pº litica, arrecadandºcºm usura, gulosamente , as libras que º negºciolhe dava em seu provento; e cºmtudo esses hº
mens, curtos d '
aspirações, poupadºs nº saber,cº rrectamente mettidºs nas suas lºngas sºbrecasacas negras, trabalhandº º dia inteirº, deitandºao dºmingº, regradamente, a suamerenda pelºriº ºu º seu camarºte nº theatrº , lºnge a lºnge,— eramvelhos cºmbatentes dº cercº dº Pºrtº , quefizeram frente audaz às trºpas míguelistas, ou ºs
que sustentaramdepºis, nas incºnstancias d'
umre
gimen adaptadº a fºrça aumaterra que º n㺠queria, as lhotas varias que por muitº tempº segui
ram, emcºntinuas rehel liões, impºsições armadas,um mal—estar cºnstante, umamaneira de ser in
stavel, º adventº dº cºnstituciºnalismº emPºrtugal .
«Da pºlitica prºpriamente dita, escreveu llamalhº , tinham uma ideia lºngínqua e nebulºsa aque a palavra ladroagemservia de vaga syntheses ,mas dºs seus deveres de cidadãºs—mesaríºs daMisericºrdia, irmãºs de cºnfrarias, juízes de paz,cotizando-se para festejar º s santºs padroeiros,cºmparecendº pºntualmente, cºmº a bºns cathºlicºs cumpria, a prºcissões e rºmarias, d
'
esses
deveres tinham elles a conscienciamais nítida comº nítida tinhamtambem, e intransigente, a sua
ideia de mºral . A dissº lvencía dºs cºstumes nãº
entrãra na pacatez hºnesta da rua das Flºres, nemtão pºucº a arte corrompera ºs candidºs espíri
Nº estudo crítico que precede a edição mºnumental doAmor de P erdição.
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cramentº que lhes dava a pºsse da mulher, pº rmais gentil, exclusiva à face de Deus e dºs no
mens, pºr reapeítadas determinaçõesdºs canones,damºral e da justiça.
Era a edade de ºirº dºs Manfrºdºs, jºvens etristes, de lºngºs cabellos negrºs, pallidez de cºra, olheiras fundas, cºm um dicciºnariº de rimasnº bºlsº e a alma de Mussetnº cºraçãº. E essamocidade pºrtuense, n㺠desprezandº as suas tradi
ções de valentia, esmurrando-se empugilatos, pugnandº a escºla e a tirº pºr uma tirada emfº lhetim ºu a vºz d 'uma cantºra, era, nº fimde contas,uma legi㺠de creaturas exaltadas, pelºs mºdelºsda epºca, impºrtados da França de Lamartine,e que, nº ardor das suas aventuras, pºndº amascara d
'
um cynísmº que triumpha, nem sempredeixavam de ser, por seumal , apenas uns sincerºs.
A pºpulaç㺠da cidade ficava assim, na parte
que me interessa, dividida em duas facçõesd'
um ladº ºs hºmens de acçãº, trabalhandº demanhã até noite nºs seus armazens e nas suas lojas, dº ºutrº, uns mºços estrºrnas, desbaratandopatrimonios, aprºveitandº a seu mºdº a vida, fazendo gala de aventuras, se bemque mettendº ºcºraç㺠emtºdas ellas, e, pºr essas e pºr ºutras,cºnquistandº a granel as suas damas.Manda a verdade dizer que se n㺠compraban
diam uns aºs ºutrºs, e que, apreciando—se mutuamente, fºram, pºrvezes, deplº ravelmente injustºs,—porque nemº mercante era sempre e emabso
lotº abjecto e desprezível , nemºs rapazes eramtãºmaus nemt㺠perversos como º terrºr dºs paes ecºnsºrtes ºs pintava.
Pelº que respeita a damas sensiilcadas e cava
«11
lheirº s que lhes mitigavam cºm º alcide dº amºra sua aplestia de carºaveis afl
'
eições, é de saber
que estavam n'
esta afinação : Ellas, se tinham cer .
tºs dºtes litterariºs, escreviam cºisas d'
estas
.Eu amei-º , ºh meu Deus !era umanjºE ra umanj º o mºrtal qu
'
eu amei;Mas que digo ? infeliz inda º amoSó pº r morte de º amar deixarei.
Tem uns º lhº s castanhº s escurºs,Q uasinegrº s . que lindº s que sãoExpressivos, t㺠temº s, t㺠meigosI guacs º lhºs n㺠lia
—isso não .
Nunca amara— era livre e ditosa,E sses º lhº s mal vilºgº amei.F eiticeiros fasciname matam;D ºidejando pºr elles fiquei.
F iqueidºida pº r º lhºs divinºs,Tão divinºs comº eu nunca vi,Longºs tragos d
'amot inefavel
N'
aura taça por el les bebi.
E º cabel lº tão negrº , t㺠negro,Sua tez t㺠mº rena e tiº ura,
E º s dentes t㺠brancos, se neve,
E a gentil t㺠esbelta hgura
H e pº eta º meu an'
º nº peito
pºeta e bate
nunca, ó poeta eu t'
adoro
P ois tu hcs cá na terra º meu vate .
Aieu t'
amo cº ' extremo e dºçuraAieu t
'
amo cºmidº latriaA ummºrtal tantº amºr consagradºTanto amor . só a D eus pertencia
1 2
O bomD eus castigou—me por isso0 meu anjº infiel se tº rnº uGosta d
'
outra . e a mim mal fadadaTão inf
'liz e t㺠só me deixºu .
Gosta d'
outra esse ingrato queridºGosta d
'
outra l e agora aide mim 1Q ue tormento me rala minh '
alma,
Q ue tormentº , meus D eus . e sem lim I
E ºs hºmens iam dizendº maguas e amºresn'
aquelle estylº , hºje mº rtº . emque Jºãº de Lemºs gemia ºs seus tºrmentºs
«Ouves alémnº retumbar da serra,
O somdº brºnze, que nos causa horrorF ºimais umente que voºu da terraMais umpºeta que mºrreu d
'
emor.a
Pºrque n'
esse tempº mº rria—se d'amºr, lyricsmente, fºra das imagens dos pºetas e das paixõesde maventura das chrºnicas medievas. Emorriase pºr vezes de modº t㺠extranhavel para amaneira de ver materialona dº s nºssºs dias, que eu
tereide encarar semumgracejº , d'
entre o grupodos nºvºs ent㺠emevidencia, alguns cuja sorte.
cºmcerteza, merece, pelº que temde dºlºrºsº , o
nºssº respeito, antes mesmº '
de, pelº seu interesse cºmº dºcumentº d 'uma epoca e, demºdºmaisrestrictº , cºmº casº morbido curiºso, reclamar ºnossº estudº .
P ertencem estas quadras a uma extensa cºmposiçãoque, como titulo de O uter: viver e assignada por Uma por .
tuertas, veminserta no t. V da Lisia poetica ou eolleeção de
poesiasmodernas de and ares portugueses publicada pºr José F erreira Mºnteirº , em1817, no Riº de Janeiro.
13
Assim esse Jºrge Arthur, versejador e enamºradº , que ºuvindº, da rua, cantar, entretendº as
visitas de casa, a creatura amada que, pºr elleser pºbre, lhe n㺠davam, se fºideitar da pºnteabaixº , levandº junto aº cºração umbºné de vel
ludº , bºrdadº pelamulher pºr quemmºrria.
Assim esse 0. Jºão d'Azevedº , pºeta e romancista, que, amandº uma mulher rebelde, fez imprimir e mandºu—lhe um sº exemplar d
'
um livrºa descºmpº da, º que lhe acarretºu o ºdiº d'ella eummaior mºtivº as suas amarguras.
AssimJacinthº Navarro d'Andrade que, depºis dedesbaratar º patrimºniº, casºu, e umdia, nº tempº da febre amarella, aº ver amulhermorta, fºiaº estabelecimentº dº Nilo, tºmºu unibanhº friºe entrºu em casa mºribundº para expirar hºrasdepºis.
E esse Jºsé Augustº que, sabendº, entre ºraptº e º casamentº cºm Fanny Owen, que essasenhºra, já depºis de º conhecer, escreveu a umamigº, dizendº que não achara ainda cºraç㺠quea cºmprehendesse, deixou-a, passadosmezesmorrer virgem. Quandº dias depºis, uma febre ce
rebral o levºu, dentrº da unicamala que conduzira para º hºtel de Lisbºa ºndemºrreu, encontrouse apenas umvestido de nºivado e uma cºrºa deflºres de larangeira.
E, alémd 'estes, que Camillº nºs mºstra diapersºs na sua longa galeria, ainda esse ºutrº antigºmilitar que, segundº Ramalhº nºs cºnta, «desen
C ammo: AMulher F atal e Obº lo ás C rcauças.
Cantam: N o BomJesus do Monte.
Barracao Oa'rtaão: Lºg. cit.
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ganado de tºdas as glº rias, descridº de tºdas asíllusões cºmque se pºde illuminarumaexistenciademund 1110 , fazia periodicamente uma peregrinaçãºde nºve leguas a pé, para ir a uma mºntanha daprºvíncia dº Dºurº ver uma rapariga dº campº quetinha ºs ºlhºs verdes e uma lºnga trança de ca
hel lºs lºuros. As paredes dº quartº em que per
nºttava, pº r ºccasi㺠d '
essas romagens, encheramse de versºs à que denºminava, Adeusa dºs º lhºsgarças. » O ºriginal amante «mºrreu no Pºrtº prºstradº pelº abusº dº alcºº l
,em que tentava afogar
º seu lºngº e pesadº tediº , n'
umquartº de dºrmirarmadº em barraca de
,campanha, tendo pºr decº
raç㺠duas mumias trazidas dº Egypto, e uma jaula emque se dehatía e uivava um le㺠. .
E, a par d'
isso, se corrermos de passagem, as
causas da mºrte da maiºr parte dº s que n'
esse
tempº figuravam na arte e no dandysmo e espantavam, cºm ºs seus princípiºs e as suas arrogancias, a pacatez dºs bºns e hºnestºs mercadºres,iremºs ver prepºnderantes a tysíca, º alcººlismº,a demencia e º suicídiº .
Nasceram esses homens n'umperiºdº de agita
ç㺠pºlítica, em que as tentativas de Napºleãºainda n㺠tinham esquecidº e º liberalismº rºmpia pºr tºda a parte, berrandº os seus direitºs pela bºca dºs tribunos ºu pela intimaç㺠das bayºnetas; Portugal vinha a ser, dentro em pºucº , umreinº semrei, sujeitº aº mandº de tºdos, à merce dº alvedrio d
'
um bret㺠ºu das ameaças d'umfrancês, ºu das represalias viºlentas d'um pºvºrevºltadº .
N㺠vemistº para demºnstrar que nºs invictos
Barrau d Om o㺠Log. cit.
15
Saint—P reu ss medrasse º furºr d'
esse constituciº
nalismo que, entre nós, nunca fºimais que uminattíngidº ideal para meia duzia e, sºh º sendalde hypocrisie , um suculentº fil㺠para a maiºrparte . A screncia pºrémensina que os indivíduºscºncebidos em certas epºcas agitadas apparecemmuitº vulgarmente malformados ºu sº fl
'
rendº per oturbações nutritivas e nervºsas ; e, pºr esse ladºn㺠capanta, mesmo que circumstancias individuaes nº s n㺠convençam, cºncluir que , afinal,cºm todº º seu ruídº de escandalº , as suas arremettrdas de D. Juans e de Quixotes, amºcidade esturdia de ha cincºenta annºs n㺠passava deuma infeliz geraç㺠de nevrºpathas. Para esses
bºns rapazes, se alguma cºisa de altº e respeitavel havia na vida era º amºr, esse amºr que ºslançava sem medo nºs braçºs da aventura, esseamºr que elles cºntavame cantavamnas íngenuas
paginas dºs seus livrºs. O amºr era a redempç㺠,a fortuna, o destinº, e amºrte .
Um factº basta que º cºmprºve : Quandº fºiàscena, nº Pºrtº, pela primeira vez, a Dama dasCamelias , a gente mºça deu emprºcurar pºr toda a parte, já n㺠pelºs salões, mas nas ruelasdamiseria e dº víciº, a Margarida Gauthier que ºseu amºr redimiria. E º casº é que, na febre re
habilítadºra, alguns d'
esses homens desposaram,
salvandº da tysica rºmantica no ultimº lance, garridas damas que lá fºram, nº cºrrer dº tempº , euvelhecendº e encarquilhandº , em charra prºsa,cºmº qualquermatrona honesta.
Sempre estes doidivanas atiravampara umre
gaçº de mulher, entre as petalas d'
umgalanteiº ,
F B I É,Ob. cit., p. 18 .
16
um pedaço de cºraç㺠, de fºrma que, se era
aquella a mu lher fata l de que falamas chrºnicas
do tempº , assim º hºmem n'
uminstante iniciavaa sua sina de amº r e de desgraça. Elles faziamversºs, ellas liam-n
'
os, e º s bºns papásmercantes,vivendº n
'
um pºsitivismº que não excluía, de vez
em quandº, a sua histº ria de cºraç㺠, n㺠queriamsaber de musas e ºlhavamde soslaio para º s endiabradºs perturbadºres da sua paz. De restº, aepºca, pºr qualquer ladº que a encaremos , apparece-nº s comum certº ar de ingenuidade, tºda deenthusiasmºs espºntaneºs, uma maneira sinceramente simp les em tudº , sem sºmbras d'uma preºccupaç㺠pelº grºtesco, que incºmmºde º u quecºnstranja.
Era º tempo dº
«Senhºr Rei, acceita o preitº »
arrºtº lyricº—patriotico que um bardº enthusiasta
arrojou, nº S. Jºãº, às reglas faces dº monarchs0. Luiz, quandº aºs reis se falava emºitava rima e a Carta n㺠gemia ainda º fadº da desillus㺠. Aº ver agºra, já de lºnge , n
'
ummeiº t㺠diversº e. valha a verdade, tão menos interessante,essa sºciedade pittº resca, cºm as suas usanças
curiºsas e a sua maneira, t㺠ºutra, de tºmar avida a serio, — a gente sorri, cºmº Camillo, nº sultimºs annoe da sua vida, sºrria. d
'
esse passadºdepressa desfeitº, cºm a estabilidade ephemeradas epºcas de transiç㺠.
Fºicºmtudº n'
esse períºdº, quando º feitiº rº
manescº tríumphava em tºda a linha, que, n'
umbaile da Assembleia, Camillº deixºu presº n
'
umºlhar de mulher º seu destino.
Anna Placidº, senhºra sºmaticamente dºtada de
48
pºr esse Pºrtugal fºra, a exhibir vaidºsamente aºsºlhºs de censºres emaldizentes o interesse picanteda aventura. Pinheirº Alves, feridº pelº escandalº ,prºcessºu pºr adulterio a mulher e º amante a
cºnsºrte fºipresa no justº praso emque a justiçaassim º quiz, e º rºmancista, incapaz, cºmº emto
das as épºcas da vida, de tºmar cºm firmeza umaresºluç㺠, deixou-se levar, º ra pºr cºnselhºs precavidºs de amigºs, ºra pºr instancias da saudade,n'
uma peregrinaç㺠pelas terras em que lºgares
ºu creaturas estavampresºs a umepisº diº inº lvidadº da sua agitada vida de ºutrºs tempºs.Lã fºi a essa Samardan e viu a Luiza que em
nºvº amãra, seguindº cºm ºs seus filhºs e as suasrugas º caminhº da velhice, a Villa Real , ºnde a
irmã dº seu pac, decrepita e cadaveríca, lhe disseque era necessariº ser desgraçadº , para n㺠cºntradizer os fadºs da familia, e ainda aº BºmJesusdº Mºnte, onde recentes recºrdações lhe traziamaº espíritº, n
'
umnimbo, de doirado idealismº, ºseu amor de entãº. Até que, instavel na prºpria pºsiç㺠de fugitivº, n㺠podendº supporter pº r muitotempº a mesma orientaç㺠, destituídº de tºda aequilibrada fºrça de vontade, passadºs quatromezes, Camillº entregou-se aº carcereirº da Relaç㺠dºPortº, para que, sementrave, a justiça resºlvessedaincerteza dº seu destinº , pºrque se lhe n㺠podiajá que dissesse da bºa ºu má raz㺠da sua causa.
A elºquencia de um advºgadº, as razões deummedico e a consciencia de uns juradºs, cºuseguiramque o tribunal perdºasse aºs adulteros e
elles pudessemseguir, agora juntºs para sempre,1 C ammº : Mentor-idade Careers, v. I , p. X I X .
3 Marcel lino de Mattº s.
Jºaquim José F erreira.
119
n'
uma vida que já n㺠tinha certamente º encantºque lhe déra, esmaltando-a com aspectos nºvºsde mais brilhº, a il lus㺠de umamº r que deSpºntava. A sua vida depºis, abstrahindº dº trabalhº insanº , cºnstante e infatigavel dº escriptº r, decºrresem factºs salientes sºbre º s quaes mereça deter, nº percursº de um ligeirº estudº , o nºssººlhar ; basta que se diga, embºra escusadº fºssedize-lo, pºr estar em linha de lºgica irrecusavel ,que essa vida n㺠fºifeliz, e amelancºlia de umamº r mortº, sem que, do ladº dº rºmancista, llcasse arreigadamente a estimaºu º respeitº , e depºis º ciume e º remºrsº, e a dºença sobretudºa dºença, congenita, fatal e inabalavel — lizerambem dº declinar da vida aventureira d
'
esse hºmemde genio um periºdº triste de tºrtura : Camillº fºium desgraçadº .
A'
hºra emque mºrreu Pinheirº Alves, elle, recostado nº leitº, a ler, sentiu que m㺠herculea ºestrangulava e, depºis, na sºlidão da casa deSeide, rºdeada de pinhaes, que pertencera aº brazileírº , ºs espectrºs, povoando-lhe as nºites de nevrº se, acabarampara tºdº º sempre a passageirapaz da sua vida.
Quiz ser visconde e foio ; ficºu cegº aceitºuremunerações dºs cº fres publicºs; sentiu º azedu
me dºs que º malqueriamcalcá—lo, quandº o seu
cacete fºrmidavel jan㺠tinha umpulsº que º brandisse; casºu, foipas de um filhº dºidº e, de dºr
emdºr, presa da fatalidade que parecia pesar, cºmo de chumbº, pº r sºbre a tara que mà herançalhe deixºu, n㺠pºdendº já trabalhar— º seu su
premo consºlº : —matou-se.
An anso P rata:-rn : Os amores de Camil lo, p. 335.
ª Em 1 de junho de 1890 .
«P arece -me, meu queridº
amigº , que não fugias heranças de pae, d
'avó materna
e duas tias. »
( Carta de Camillo ao
P .ª Senna F reitas)
AMI LLO Castellº Brancº fºigeradº nº pe
riodo mais intensº d'
umamºr viºlentº , eesse factº é impºrtante na determinaçãº
etiº lºgica dº seu geniº .
N'
uma casa em que dºis dºentes revolviamcºmamargura as cinzas da paixão que ºs unira e benevº lamente encaravam, através das lagrimas, as
diabruras infantis d'aquelle filhº, Camillo viveu atéaºs nºve anuos, semuma educaç㺠que de cºmeçº º orientasse na vida º u corrigisse namaneirade ser dº seu espíritº qualquer nativº mal , se é
que º tinha. N'
essa edade cºmeçºu a vida apº
quentada, aº s empurrões d'
um cºnselhº de familia que º levou para Vil la-Real e fºia causa da suaevasão da terreº la quandº a rispidez da tia que ºcuidava cºmeçºu a asphixiar nº sºbrinhº irrcquie
52
tº as prematuras tendencias dº homem livre. liº
mem livre esse que aº s dezesseis annº s se jul
gº u presº pelºs encantºs da filha dº tendeiro quefez dº rapaz leviano ummau maridº e marcou ºprimeirº passº na sua accidentada carreira deaventuras.
Na vida de Camillº que ahicºmeça, cºmºs seus
dramas, ºs seus triumphºs, º s seus cºmbates e assuas amarguras, ha um symptºma morbido quesalta aºs ºlhºs d'aquelles mesmºs que n㺠bus
quem na figura dº rºmancista tºdº º interesse novº e elucidante d'um casº de dºença. E
'
a abu
lia, a falta de energia mºral que trºuxe esse hº
mem de geniº pela vida fºra n'uma hesitaç㺠decada instante, que º fez iniciar diversas carreirasabandºnadas lºgº, recºrrer à vida de padre cheiºde fé, e nº mºmento de tºmar ordens vir-se embºra, e que, alastrandº para tºdas as faculdades dºseu espíritº , fºimais tarde a ºrigem d'uma existencía de vagabundº , de terra emterra, e d'uma
,
mutabilidade cºnstante namaneira de julgar as cºisas e ºs hºmens. As diversas tendencias lítterariasa que elle a cada passº amoldava º s recursºs extraº rdinariºs dº seu geniº , a variaç㺠dºs generº s de litteratura ao serviço dºs quaes punha a
sua phantasia inexhaurivel e a sua erudição amplae firme, entramaquiprºpriamente comº symptºma denunciadº r d 'essa abulia. Era bem aquelle
estado dºlºrºsº de. írresº luç㺠cºnstante que Leºpardidefiniu Mille dubbietà nel deliberare e milleritegni nell
'
eseguire, cºmo bemº comprºva 0 poriºd º errante que precedeu a entrada de Camillºna cadeia apºs a aventura de Anna Placidº e estaselucidativas palavras que elle deixºu escriptas em1881 n
'
uma carta a Silva Pinto: «Recolhí antes de
53
hºntem de Vizella e resºlviir para Ancºra nº dia
24 . Ainda assim. se me escrever faça-º para Seide, porque eu n㺠cºntº cºmigº » . Pºde—se aquipresuppº r, na mente dº rºmancista, umreceiº dedºença, esse receio que º º bsecº u durante amaiºrparte da sua vida, mas º factº é que º dºente davºntade tem sempre essas e ºutras cºisas a querecºrrer para tºrnar explicaveis, aºs ºlhºs dºs outrºs e aºs seu prºpriº s, squillo que n㺠passa deuma malsanidade que elle na maiº r parte dºs casº s descºnhece . De mºdº que º symptºma danathº lºgia da vºntade que se ºbserva nºs nevro
pathas é nº nºssº casº d'uma nitidez absº luta.
Entrandº pº r assim dizer nº mecanismº d '
essa
dºença, vemºs que emtºdº º phenºmenº volitivoha a distinguir a acç㺠excitante, a percepç㺠cºma assºciaç㺠de ideias cºnsequente e a determinaç㺠aqual na nºrmalidade se seguemecanicamente a execuç㺠; mas nº s casºs de abulia º influxººriginadº n
'
uma dada excitaç㺠ºu se dispersa n'
umgrande numerº de direcções e da ºrigema ºutrastantas determinações cºntradictºrias, e irresº luçãºpºrtantº , ºu cºnduz a uma resºluç㺠unica quese n㺠chega a executar. Mas tºda essa hesitaç㺠que é tº rturante enfileira bem, pºr suas ori
gens e cºnsequencias, aº ladº dainfinidade de terrores doentios que Jº lly, pºupandº se aº passatempº de buscar palavras gregas para ºs baptizarum a um, cºnglºbou na designaç㺠geral cairophºbia . Aabulia pºder se—hamesmº chamar bºu leaenphºbia (medº de querer) entendendº -se n
'
este ca
Cartas de C amill º C astellº B rancº , cºm umprefacio enotas de Srava P rrtro. 1895, p . 62 . V êr nota 2, p . 67.
ª La: Daru-nc: Traité de Biolºgie. 1903, p . 481—484.
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ao pº r querer º exerciciº amplº e perfeitº d'
umavºntade sã. E nem pºr essa cºncretizaçãº, quesimplifica º estudº, º prºcessº morbido se altera.
Vamºs assrm seguindº, passº a passº, a nºsºgenia de um estadº neurasthenicº , n㺠perdendº devista que a neurasthenia é sempre º indíciº d'umatara nervºsa, prºfunda e que «ella cºnstitue ºterrenº mais prºpriº para º desenvºlvimentº dasnevrºses, das vesanias e mesmº das afl
'
ecções ºr
ganicsa cerebro-spinaes, a pontº de se pºder cºnsiderar cºmº a ºrigem cºmmumdamaiºr partedas dºenças nervºsas. Emsumma, a neurasthenia
cria a ºppºrtunidade morbida dº systems nervosº r .
Enunciandº ºs symptºmas danevrose de Camillº,eu tenhº emcerta altura de me afastar dº quadrºneurasthenicº ; a prºpria actividade prºdigiºsa dºrºmancista, cºntrastando cºma fadiga e amá dispºsiç㺠para tº dº º esfºrçº, que é a característicaprimeira dº exgºtamentº , nºs indica de cºmeçºque º diagnostico se n㺠pºde fazer aquipºr ummeiº simples, grºsseiramente, sementrar nº maisdelicadº estudº d 'essamesma actividade . Se bemque alguns symptºmas, e entre elles a inaptidãºpara º trabalhº intellectual, cºmmuns quandº a
neurasthenia é adquirida, muitas vezes faltamna
neurasthenia hereditaria, embºra nºs dºentes d'
este
mal º trabalhº sustentadº e perseverante seja assimmesmº superiºr às suas forças.
Camillº n㺠tinha, realmente, esse methºdº re
gularissimº de trabalho que é apresentadº como
B arrº s o: P recio desmaladiesmentales, 1904, p . 110.
3 F iat : Ob. cit., p 803 Bouvnst r: Ob . cit. , p . 204.
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primeirºs quartºs d'hºra, pºr cºnsequencia do augmentº de exercíciº, para baixar emseguida pºucºa pºucº à medida que a fadiga semanifesta, —nºs
neurasthenicº s cºnstituciºnaes se verificavambruscº s saltºs nº decºrrer da prºducç㺠, mºdificandºse por vezes nº intervallo de cincºminutºs, de 50a 100 p . 100, e nºs neurasthenicºs pº r esgºta
mento a capacidade productiva desde º cºmeço daexperiencia ia baixandº.
Neurasthenicº cºnstituciºnal era Camillº e eis
porque º seu trabalhº prodigiºsº, irregularmentefeitº , aºs sºlavancºs, lºnge de nºs afastar dº diagnostico aventadº, no-lo vem justificar pºr sua
vez .
Entrandº agora nº estudº das phobias, cumpreregistar perturbações prºfundas na sensibilidadeinterna. Efi
'
ectfvameute, emquantº que, n'
umindividuo normal , a sensibilidade n㺠alcança as vias cºnscientes de assºciaç㺠que residemna cºrticalida
de e neurºnes superiºres, nos casºs de dºençaattinge—os dºlºrºsamente depºis de, n
'
uma superexcitação, passar ºs nenrºnes inferiºres, reflexºs eautomaticºs. A essas sensações cenesthesicas queé pºssivel cºnsiderar º primummºvem da neu
rasthenia, que chamamtº da a sua attenç㺠e uní
camente º preºccupam, º doente, capaz apenas
d 'uma reacç㺠insufiiciente e dºlºrºsa, n㺠ºppõeas suggestões solidas das acquisições sensitivas esensºriaes anteriºres, entra n
'
umestado de angustia. quer e não quer, temdesequilíbrios de sensibilidade e intelligencia, e apenas as sensações cenesthesicas e as ideias que ellas evocam, ºccupam,
em p lena pºsse, o campo da cºnsciencia. E' a
1 J . Visao: Maladiee servem . 1902, p. 401
,1 10.
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ºppºrtunrdade de tºdas as perturbações adstrictasaº estadº nevrasthenicº ; vem ent㺠a arithmºmam
'
a,t㺠vulgar nºs grandes hºmens e denunciada
em !ºla pelº medicº Tºulº use, a ºnºmatºmam'
a ,
pºssivel de encontrar n'
umestudº attento d 'algunsdºs mais salientes mattºides da litteratura symbºlista, uma serie lºnga de ºbsessões e impulsõesque pºdem levar até aº crime , a lºucura da du .
vida de Legrand du Saulle e as phºhias.
E digº ºbsessões e impulsões apezar dº s reparºs que pºssa suscitar a propositada assºciaçãºd 'estes dºis termºs. Pºrque realmente a coexistencia dºs dºis syndrºmas emalguns estadºs morbidºs n㺠é factº que tenha passadº semreparºpºr parte d 'alguns auctores. Ainda recentementeSºukhanov publicºu na Rº usslri Vralch um estu
dº sºbre as ideias ºbsídentes e actºs impulsivos(Naviazt myali iimpulsivnya deistvia) pondo emcºntradicção as duas ºrdens de phenºmenº s e
cºnstatandº , emcasº excepciºnal de existencia símultanea, uma fraqueza cºngenita das inhibições
mºraes ºu um enfraquecimentº de senso mºral .Mas º factº irrecusavel, sejamquaes fºremas ra
zões que º justifiquem, é que ºbsessões e impulsões apparecem assºciadas em alguns processºsmorbidºs, completando-se. Tal O casº , vulgaríssimonºs estadºs nevrasthenicºs, d
'
um dºente que,ºbsidiadº pela ideia de n㺠praticar umcertº actº,a meiº da sua angustia e n㺠pºdendo resistir a
uma impu ls㺠, º efl'
ectua.
T . I I , n 15, p . 56 1.2 «Muitas vez es a ºbsessão estende—se ao dcminiº psycomotº r e torna se ent㺠uma imp uls㺠.a
(Wrr oaxor : Ob. cit. p .
«Todº s estes phenomenºs, obsessão e impuls㺠, s㺠em
58
Assento pºis a ºppºrtunidade das perturbaçõesnevrasthenicas, preparadº º terrenº, inutilizada devez a resistencia, a nevrose pºde, ir larga, cºinquinar º espiritº . Na ºbra de Camillº, e nomeadamente nas suas cartas, preciosas cºmº dºcumentºsde analyse nº º lºgica, ha a revelaçãºmais ºumenºsprecisa d'um numero avultadº de phºbias. As quemais nºtavelmente predºminams㺠a pathophºbia
ºu nºsophºbia (horrºr à doença) que, tºmandº porvezes º caracter ºbsessivº , n
'
elle chegºu quasiaconstituir uma verdadeira nosºmania, e a thanato
phºbia (horrºr amºrte) , cºnsequencia natural d'
a
quella, que actuºu cºmuma intensidade se é pos
sível superiºr ainda e cºrreu a par d'
essamorbida
realidade da mesma natureza; comportamuma fraqueza davontade. »
(Barrºso : Ob. cit, p .
.A uestão está em saber se as ºbsessões caracterizadas
pela p obia d'
um actº, isto é, por uma repulsão anciosa
por esse acto, se relacionam de qualquer modº com as
obsessões impulsivas, 1a quaes ao primeiro aspecto parecem oppºr
—se inteiramente . Em theoria, a questão não
oB'
ercce duvidas e, pºis que «toda a ideia d'
umacto é ummºvimentº que começa. FM ) , º medo de eâectuar umacto deve ser uma tendencia para esse acto» . «Os rºpriº s
dºentes, que emgeral se observam bem, dizem in iB'
eren
temente : «Tenho medº de cer obrigado a fazer istº . ºu. Sou impel lidº , sintº vºntade de fazer isto N
'
outros ha a
coexistencia de phobia e prºpensão im ulsivas, e emal
guns, finalmente, a bobia termina pela mpuls㺠.»
(A. P in t-:s et E . ser obsessioas et les imp ulsiona,1902, pags. 111—1 13.
«A impuls㺠morbida n㺠é mais que o ultimº acto deuma especie de drama cerebral que cºmeça pela obsessão ecºntinua pela ideia Exa. .
(Baum ann : P athologie de la uolonté).
59
tendencia para º suicídiº que emCamillº se reve
lº u desde bemcedº .
«Sintº -me nº cabº da vida «Esta nºite passeipeor;masainda assim cºnservei-me na cama. A grande desgraça é
quandº l á n㺠pº ssº estar . P arece ue me faz hº rror a pºsição hº rizºntal da sepultura» . oN me cºnsidercs enca
recedº r dºs meus padecímcntos . Eu estºu gravíssimamente dºente e decertº te n㺠vejº mais. . «Agora, depois queestas c reanças brincamfelizes naminha negra atmº spherae a respiram cºmdelicias, a mºrte apavº raomen . «E sta infelicidade de dº ença n㺠me deixa ir ver—te. F igura—se omeque me ha—de apanhar lº nge de casa uma febre cerebral » .
. Comprehendº que as molestias te dºbrassemmais cedº ,que as desgraças mº raes . Se eu ha dºze annº s, quandºcºmeceia ser tão infeliz , padecesse cºmº hoje, ter -me -hiamatadº » . «Se ainda a muitº custº escrevº d
'
issº que vês,antevejo a cºmp leta paralysia dº cerebrº , e em seguida a
mº rte . .
C antam: C º rrespondencia epistolar entre José CardosoVieira de Castrº e Camillo Castel lo B rancº . 1874, T . I ,
p. n, p . 51, 62, 109. e
«A preoccupaç㺠da mº rte é ainda mais familiar na sua
genus . C hega a ser uma ºbsess㺠, cºmº º precipíciº deM ChB I J
P s . Sentra F reiras : P eryil de Camil lo Castel lº B ranco.
N ºva ediç㺠, rsss, p .
«T enhº a—não seise triste se alegre—cºnvicç㺠de que
vou emâmdescançar brevemente. .
(C ar-raw : C arta a Silva P intº . Ob. cit. , p .
.A cada passo, Camil lº , imaginandº os e mptºmas deuma dº ença grave , chamava afiiicto pº r D . nua. » .Umavez , Camil lº estava nº periodº de se j ulgar muitº doente enão querer sahir de casa D . Anna P lacido pediu, instou,supplicou a C amillº que fº sse dar um passeiº cºmumdºsamigos que o visitara. C amillo resistia, dizendº que n㺠ti
nha for as, que iria mº rrer de inanição nº meiº da rua,
por na avia muitºs dias que se alimentava —Vouhe ar o desgºsto de mºrrer na rua, disse el le ao amigº ..
Ansaaro P u es-rar. Os Amº res de Camil lo, p . 347 e
3 ass. )
60
A círcumstancía apparentemente paradºxal, dea thanathºphºbia cºnduzir cºm frequencia ao sui
cidiº , crtada pº r alguns auctores, mereceu a Nicº
lau um desenvº lvrdº estudº . E'
um factº semduvida interessante mas para encºntrar um paradoro nº qual nºs teriamºs em bºa raz㺠de cousiderer º SUÍC ll resultandº d
'
um raciºciniº s㺠,cahindº assim n
'
um paradºxº tantº maiºr quantºelle aqui se dá n
'
um casº cºnfessº de desequilibriº anteriºr que as phºbias descºrtinam.
Entre estas nºtareí mais a celaphºbia (hºrrºr aºsruidºs) , cºnsequencia natural da peresthesia dºs
seus º uvidºs hyperacusicºs que durante a vidatºda lhe fez um dº s maiºres dºs seus tºrmentos, a authrºpºpbºbia (horrºr amultidão) e ama
T
1
X
7
X
'
r
lranatop lrobie ct suicide. Annales méd . psychol . 1892,
ª O peºr é este rº lar de trºvões que me estruge na cabeça. Ora vô tu, meu Jº sé, que desesperaç㺠n㺠pºder euuminstante fazer calar estes estrºndº s, e tamanhº s quemeaccº rdam em sobreaaltº! A medicina n㺠temnada paraisto» . «Tu n㺠imaginas º s dº lº rº sº s caprichº s d
'
esta en
fermidade que me está despedaçandº . Lá vejº nº céu a luaserenissima O estrºndº que me rebº a nº s ºuvidº s n㺠medeixa º uvir º mar. Assal tamme ímpetºs de lºucura qudº pensº que este infernº n㺠ha—de p assara . «Escrevº devagar pº rque tenciºnº concentrar-me quantº pº ssa e por
que achº diã culdade em escrever. Este incessante estron
do na cabeça dia e noite, chega ao extremº do me pºrdeantc a mº rte cºmº unico remedio . Cºmº se n㺠bastassem vinte mezes de ºuvir incessantemente uma zoeirade mar tempestuº sa c um silvº de va r, accresceu agº ra
a dºr enetrante de ladº a lado. . a ºje estºu sºd'
rendo
muitº a zºeira e d'
uns vagddºs que me assustam. Seme dissessem antes de eu adºecer que havia de estar
assim dºis annos, eu cuidaria que ao dmde pºucºs dias
preferiria a mº rte» .
(C attrnnº : Corr. Epist. T . I I, p . 58-59, 62, 69, 97 e
6 1
nºphºbia (hºrrºr a estar só) ºppºstas, alternandose nº s períºdºs de abuliamais intensºs, a phºnºphobia (hºrrºr á musica) citada em Victºr Hugº ,Gºethe, Musset, Goncourte tantºs ºutrºs, 1
a pho
1 .P ara º seu ºuvidº tºdº º sºmé umbarulhº , a nãº
ser º da palavra falada que º deleita nºs entrechº s d'uma
conversaç㺠íntima, e emque el le é t㺠superiº r comº Meyerbeer na phraseologia das cº lcheias e das semi-fusas.Minto. Tenhº uma excepç㺠a fazer, mas uma só. E stava
mº s nºa na praia de banhos da P ºvºa de V arzim,no verãº
de 1876 se não me enganº . Ambº s cºmº devºtos romeirº s, tinhamos idº pedir aº s metal lºides tºnicos do mar asua acç㺠reconstituínte para as dyspepsias de uns estoma
fºo avariadº s. P or essa occasi㺠chegºu al liº notavel vio
oncel lista Giuseppe C asel la que se restou a dar umºu
dºis concertos emum sal㺠dº ent㺠e amadº H otel d'
I ta
lia . Na nºite do primeirº cºncertº combineicom CastellºBrancº ir comel le º uvir º exímio prºfessor de viº l ºncel lº
de D . Luiz F ºmº s. Ficámº s umaº pé do ºutrº . C asel la,
que emquanto viveu foi talvez o rimeirº stradivario da
Europa, fez n
'
essa nºite prodígiºs e dificuldades. Arran
cou dº instrumento aº lu ºs, gemidº s, cºl etas, tempestades,trºvºadas hºrriveis, cc oa lºngin nºs, sons m storiosº s
cºmo º cicio d'
um segredº , artic ações abafa as e didi
ceis cºmº a derradeira phrase dº agºnisante, risºs de
Odenbach , threnos de C hºpin . fez emfimdº viº lºnce llº
e dº arco tudo quanto quis, e penso que quis tudº quanto
pôde. N'
aquel lo violºucellº havia uma orchestra inteira:todo umgeniº de melodia e de caprichos surprebendentes
escondiaose dentrº da caixa dº magico instrumentº . N º sintervall º s dºs pizzicatr
'
dº maestro, eu º lhava para C amillo fixamente, buscando divisar n
'elle umgesto de admira.
pão, que não fosse senão uma apilla dilatada de repente
pelo enthusiasmo interior. E e le mudº e impassí vel . Até
que afinal resolviome a interrogai—o : «Então que lhe parc
ce ? Simplesmente magniâcº , hein ?o . Eu, meu amigº ,»disse C amillo comumm ane friº britanntco forrado de te
dio comprimido, «não gºsto de musica» . «P ossivel Umespirito culto como º seu
,respondí
o lhe, um romancista quetem percº rrido commão segurissima todº o “ clado das
paixões humanas, da mais Violenta 1 mais dºce, não gºstar de musica, a mais adequada traducç㺠dos sentimen
62
tºphobia (hºrrºr a luz) cºincidindº cºm º s primei.rºs assomos das perturbações visuaes, a kero
nauphºbia (hºrror a ºbscuridade mais tarde quan.
de essa afecç㺠tºmºu caracter grave, depºis aphºbºphobia (hºrrºr aº medº) cºmº s seus pavoresmº rbidº s, ª a pantºphºbia (hºrrºr a tudº) e, restrictamente, nº fim, a biophºbia (hºrrºr avida) antecedente natural dº suicidiº .
Cºmº signal d'
umestadº pathº lºgicº mais grave,as ºbsessões e impulsões fizeram—se sentir nº rº
mancista mas d'uma fºrma velada, revelando-se
apenas tiumºu n'
outro pºntº mais saliente da suavida publica e n㺠dandº margempºr issºmesmºa uma analyse perfeita.
Talvez até a manifestaç㺠ºbsessivamais por
tos humanºs!» «P ºis é cºmo lhe digº , retrucºu; faço só umaexcepç㺠«Qual?» «D ou º beiçº pe lº . fadº , gemidinhºna
Su l a F I SH —I : Ob. cit. p . 50
V êr Lºusaºsº : Ob. cit. p . 48 .
«Basta dizer—te que escrevo sempre à luz do erepusculo.
Os meus º lhºs não compº rtam º utra lux. Q uando º s dias
est㺠lucidissimos do brilhantismo do sol,eu tomo do fa
vor de D eus a frºuxa claridade de um raiº coado por
transparentes negrº s. O meu gabinete de trabalho durante º s meses esplendidºs dº annº , 6 um cºntinuado começo de noite.
Cartu m: Vinte horas de liteira.
.Em 1886 estive em casa de Camil lº , na P º voa dºV arzim, e ahilhe liº ºriginal dºs I dyllios dostorze luzes, em duas serpentinas de sete castiaes cadauma
, ill uminavama sala que aliás era pequena. ra assimque Camillo queria afugentar as trevas que avançavam.
Ans aarº P l usat-ar.: O romance do romancista, p .
aEsgotado de forças, exaltada a imagina que chamejava comº fº rnalha accesa, C amillº era ºminado portenebrosos pavores, visões torturantes .
(Au -aro P ittm an: Os amores de Castillo, p . 336—337.
dade, que traz cºmsigº a incºnstancia. F azeique e l le nãº
chegue aº s trinta annº s detectandº as vinte variedades de
mulheres 1 que cº nheceu, e detestando—se pº r ter abusadºdas faceis regalias, que º ºirº
,a juventude, e a seducçâº
lhe serviam emmesa de risº s e v enenº s, cºmº nº s festtns
dº s Borgias. Arrancae-lhe dº fundº dº seiº º espiritº in
quieto , que principia por travessuras, e acaba em ciumesrancorº sº s: insumes—lhe lá uma alma nº va, pacifica, facilde nutrir—se , parca, e susceptível de adº rmecer na az pôdre de uma amisade burgueza, e estupidamente eliz . .
Moralistas , quandº tiverdes descºbertº º rºcessº de eucadear º espiritº , devereis erguer umcada alsº para º s ihfames vº luntariºs, que arremessarem a mul her ao abismº u 3
N'
essa mesma paix㺠pºr Anna Placidº , a maisviºlenta talvez, cºm ser a ultima, a saciedade veiºdentrº em pºucº, e a vida seguinte, cºm ciumes,recºrdações de tempº s tdºs, insultºs até a essa
mulher em que elle teve aº que se diz uma eu
fermeira dedicada, fºitºda ella uma expiaçãocruciantissima.
ª
E'
talvez aqui º ensejº de dizer que Camillº ,
comº quasi tºdºs º s neurasthenicos, vivia muitºdº passadº, comprazia—se em recºrdar º s maisgravativºs incidentes da sua agitada vida de aventuras, e esse factº , juntº cºma qualidade, morbida tambem, da incºnadencia, cºnstitua º fundºde uma grande parte das suas ºbras.
cD . Jºão, n'
ummomentº de humor sombrio dizia—me ,emThº rn : H a só vinte variedades de mulheres, e lºgo no
se conhecemduas ºu tras de cada variedade, cºmeça 0 ªsstio.
—Su tton“ , P hysiología do amor , cap. LI a —O auctor
cºnhece vinte e uma variedades.—(Nota de Ga l iLLO ) .
3 C an c ao : Onde está a felicidade? ed . 1864, p. 174—176 .
3 .A mulher da paixão, que eu , nº pavº r da minha ao
lcdadc, pedira ao Senhºr;A mulher queme acorrentou a umcadafalso dc aupplicios
ignomtniosos
65
Tinha ainda, bem marcada essa tendencia pa
thº lºgica para a autº -observação de que quasisempre a neurasthenia se acºmpanha, e pena fºiquea falta de cºnhecimentº s de psycºpathia, º tenhainhibidº de dar a esse inqueritº de cada instanteuma ºrientaç㺠mais prºveitº samente screntiflca.
Se algummedicº , amigº de Camillº e já versadºna maneira mºderna de cºnsiderar º s males daalma, cºlheu d '
uma ºbservaç㺠directa e trinh
ciosa ºs dadºs preciºsissimºs que sº uma ºbservaç㺠assimnºs pºde dar, º resultadº dº seutrabalhºficºu occulto: de mºdº que quemhºje queira cºnscienciº samente fazer a critica, encºntra a cadapassº lacunas insuperaveis, abertas a hypothesessempre vagas pela impºssibilidade de as verificarcºm segurança. Assim, se nem sempre º quadrºnº sºgraphicº nºs apparece mais ºumenºs integrº,n㺠é bem pºrque Camillº deixasse de ser aquil lo
que emmedicina se cºstuma chamar umbºmcaso,
mas pºrque a dºcumentaç㺠de certºs symptºmasn㺠é t㺠cºmpleta que pºr sisó nº s consinta,sem escrupulº s, regista
—lº s. De restº , para º es
tudo perfeitº d'um exemp lar cºmº Camillº , have
ria a pºr em pratica, durante a sua vida,um
certº numerº de methºdº s de ºbservaç㺠cujºs
A mulher que me levºu as virtudes da alma e º pudº r
::deoraçâo, quandº eu já n㺠tinha lagrimas, que me el larsse ;A mulher, a quema P rovidencia divina, em sua ira j us
ticeira , atirara sos gryphº s dº drag㺠dº mundº , cºntra º
qual eu pºzcra º pertº , emquantº º cº raç㺠teve sangue
que expedir ;A mulher que me fez ºdiar a justiça de D eus, e insultar
a providencia dos hºmens ;Essa mulher mº rreu . »
(C amm º : N o B omJesus do Monte,186i
, p. 216)
66
dadºs seriam d'
um valor indiscutivel . Seria mister recºrrer à anthrºpº lºgia, effectuandº as mensurações craneanas, a analyse das urinas, aº hydrºphymºgraphº e aº myºgraphº , para º examedº apparelhº circulatº riº e da emºtividade dºdºente, seriamister estudar rigºrosamente º s phenºmenºs da sensibilidade geral e tambem º s º r
gãºs dos sentidºs, eSpecialisandº nº nºssº casº ºcampº visual, e, alémde tudº issº, fazer mil outras º bservações que se tºrnaria lºngº e fasti
diº sº enumerar aqui. Mas º factº de faltarem ele
mentºs_de impºrtancia n㺠pºderia nem deveria
impedir que eu dirigisse º meu estudº cºm a
unica ºrientaç㺠cºmpativel cºm º rigºr scientificuda crítica mºderna. Seria improductivo fazer psycologie sã n
'
um hºmem cºmº Camillº emquemºs
stygmas mº rbidºs se accentuam d'
ummºdº tal
que ferem mesmº agnelles menºs versadºs emcºisas d'essas, e a prºpria critica litteraria d
'
umaºbra gerada nºs períºdºs exacerbadºs d '
uma na
vrºse intensa havia pºr força de sair falsa, cºn
venciº nal, postiça, a debater—se emmeio de adjectivºs incolores e de afirmações incºmprºvadas.
N '
este capitulº dº meu trabalhº ficamjà registadºs variºs symptºmasmº rbidºs que me auxiliar㺠a fixar d'aquia pºucº umdiagnosticº provavel : a abulia, as phobias, as ºbsessões e as impulsões, e irregularidade característica dº trabalhº, ºexagerº de tºdas as sensações, a incºnfidencia, astendencias para recºrdar o passadº e para a autº
observaçãº, º s pavores nºcturnos e ºs phenºmenos peresthesicºs. Citareiainda as insomnias, as
1 «Só duas linhas, porque aminha dºença me não permittemais. Ha cinco dias e nºites que apenas conseguidor
67
vertigens, ºs estadºs hypºcºndricºs, a vagabunda
gem, e tambem as dºres navralgicas, a atºnra
mir a sºmma de seis horas a «A noite passada fºidas taes
medonhas. Não conseguidº rmir. Já n㺠descanaº semnar
cº ticº s que cada vez mais me desafinam ºs nervos. As minhas cartas estão sendº para ti, meu filhº , umboletim sa
nitariº . Eu sai na em verdade te interessas naminhavida, porque ten o de consciencia que me julgas umdº stens mais aiiiigidºa amigº s . » «H a quatrº nºites que ape
nas durmo instantes. .
(C an tam,Corr . Epist. I I , p . 32, 47 e
. Se vº u para o P ortº , cºmintenção de lá estar 15 dias,apenas lá estºu uma noite crue l de insºmnia e anciedade
de me safars
C anin º : Carta aSan ta F an s-ae. Ob. cit. p .
A'manhã, vº ltº ara º BomJesus; mas se me escreve
res seja ra F ama'
cão. N 㺠parº . C usta—me a immobilidada» . a a não seiºnde heide estar. Em 16 dias ensaieiquatro paradeiros, uns nas montanhas, ºutrº s nas praias .
Em toda a
Jan te º tediº , º saco das cºusas e das pessº as » .
.
Xâm de izella hºntem, e não seipara ºnde ireiâme
n
(Cantam : C artas aº Visconde de Ouguel la, lºg cit
p . 113A lgumas palavras de Camil lº interessantes comº prº va
da instabilidade das suas opiniões«A deliberação da ida
1ªpura Lisbºa só poderá desfazel
o a
a gravidade da dºença. u vivisempre mal ahi.
(Corr . Epist. I I , p .
«Grita—se cºntra Lisbºa; eu quando ahivº u parece—me
que bebº saude n'
essa atmosphere , t㺠bºa que trausfº rruaem ºxygeniº º s gases do Arrºba» .
(C arta a Silva Pint Ob. cit. p. 115«0 Albertº P imenta tambem foge º P º rtº ? E ssa terra
é insalubre para tºdº s º s que respirampela alma; e eu a
dizer a verdade, emnenhuma ºutra me d ºu t㺠bem, quer
dº corpo quer dº os iritº .
(Carta a Alberto entel, B oas. do B om.
, p.
«Estive no P orto cºm a familia uns dias. V imdºente,como se sahisse d
'
uma cloaca. O P orto temm. por deu
tro c pºr fôra.Lisboa é só por dentro.» «I nveja-lhe a vida
68
gastrº—intestinal , a dispepsia, a surdez, tºda a
serie lºnga das perturbações visuaes, manias persecutºria e das grandezas, e ainda certºs caraotares que Lombroso e ºutrº s auctores attribuemaº s
hºmens de geniº , taes cºmº a prºcura constantedo termº rarº, a perda de sensº mºral , as dasegualdades psychicas, a interpretaç㺠mystics dºsfactºs mais simples e º misoneismo. Tºdºs estesultimºs s㺠phenºmenºs cºmplexºs que necessitam d 'umamais detida prºva.
de Lisbºa. Tenhº muitas saudades d'iseº tudº
, e seiquen㺠tº rnº a ver a minha querida Lisbº a» .
C artas a Silva P intº . Ob. cit., p . 102 a
êr cit. p. 51 .
E u ha dez dias que passo as horasa contorcer—me n '
umanevralgia que já me tem posto diante dºs º lhº s o re
c ursº dº suicidiº «Os meus adecimentos vº ltaram. E stou escrevendo às seis da man ã. P asseitºda a nºite coma cara nos vidrºs á espera dº dia . I magina, meu fil hº , umespasmº nervº sº no esophago que só commuitº custº medeixa respirar, e a fº rça da antihistericº s . P º r cimad
'
isto o estrondº de uma azenha na cabeca— aquilio
que H enry H eine sentia quandº escrevia nº Livro de La
; aro: «No fundº dº meu c erebrº vae umruidº sº desmanc hº s . D e is a fraqueza que me n㺠deixa ter em pé, e a
impossibiidade de estar quieto. N㺠se pºde viver assim» .
«Antas de hºntem reuniaquitres medicº s Não seiº que
pensam de mim. 0 de Braga chama gastralgia amolestia.
0 de Guimarães tambem. E o das Taipas, que cura ha 60nunca, ainda n㺠sabe o que é» . .As nºites s㺠asmesmasa atribuladas . H ºje veiu uma sobra-carga de dores nervosas nas pernas que me privamde andar. . Estou de cama
pe rdi ambºs º s º uvidº s : honram—me horrendas dºres queme tomam toda a face . .
(C antam: Corr . Epist. 11, p. 16—17, 40, 44, 61 e 96«Hº uten: estive da cama,
a curtir umcºme º de ron
chita e a cavar as dºres das pernas com º ain K il ler,uma mixordia americana que me leva a epiderme e medeixa as dºres Estºu na cama comasmesmas dºres davelhice. . «Jd vê que lhe escreve na cama,mºrdido de dº
69
Nºs seus delíriºs de megalºmanº e perseguidº ,Camillº seguiu º typo classrcº : é umcasº perfeitº ,
pºstº que nº tavelmente attenuadº . E n'
el le se pº
dem talvez encontrar aquella passagem racrºcina
da dº deliriº de perseguições para º de grandezas que alguns alienistas pretendem e ºutrºs nãºmenº s illustres, cºmº entre nós º dr. Juliº de Maltº s , se recusam, pelº resultadº das suas ºbservações cºnfirmar. Quando Camillº fºipara LisbºacºmAnna Placidº e a ºpini㺠publica, cºmmuialto
res, e anciº so pºr istº acabado «F akir sºa cºmo p ºbrenas l ínguas semiticas. Escrevº -lhº de cama cºmmuitasdºres de º lhº s e de pernas, cºmº um fakir da peº r raçaestrº piadº a .
(C artas 9. Silva P intº . Ob. cit., p . 48 , 82, 85 e«E stranhei
, pºis, que V . E x.“me não felicitasse pº r estar
surdº, quasi cegº , trºpegº , com duas nevrº ses em cada
nervº , cºm duas atº nias”
fº rmadas, uma nº estºmagº , outra no fígado e a terceira a principiar no cerebrº » .
(C arta a D . Maria Amalia. B ºhemia dº E spirito, p .
oE stº u quasi paralyticº ; a quando a atrophia me subira regi㺠peitº ral , decertº , e felizmente, acabareide penar» .
.Ainda vivº no ultimo acto da decºmposição. As pernas j a
estão na campo; mas ninda '
na sinto nos estº rcegões das
nevralgias . Eu esperava isto ha vinte annº s, quando expe
rimenteiº s prodomos da ataxia. Agº ra já didicilmente mearrastº d uma cadeira para outra; mas assimmesmº vou
até ºnde pºde levar—ma uma saga
(C artas ao P .
' Senna F reitas. Ob . cit. , p . 114 a
. Estº u dºente como uma enfermaria de San Jº sé. C he
guei rº sa da dºr da barriga. . «Sintº -ma vivo de navraigias. enhº andadº pº r todas as praias dº nº rte, semto
mar um banhº ; quando sº fl'
ro até cair, venhº para a piadade inutil da familia. .
(C arrrz z º . C artas ao Visconde de Ouguel la. Log. cit. ,
p . 112 e«Eu vim d
'
ahi,de cº lica emcº liea intestinal
, até estaruína gastrica que sº u hºje . .
(C an cro : Maria da F onte) .Juntº na Man º s: A Loucura. 1902.
e aprºpriadº sentimentº demoralidade, º s aggredia,
o rºmancista julgou-se victims de tenebrºsº s cºnciliabulº s dºs amigºs de Pinheirº Alves, que cºn
tra el le tramavam prºjectºs de assassíniº . E' clarº
que taes prºjectºs n㺠existiam. O maridº atrai
çº adº vivia n'
um meiº em que essas resºluçõesviºlentas só cºmmuitº custº pºderiamgerminar,e mesmº que a sua dºr fºsse tamanha que º allucrnasse , º s respeitabilissimº s amigºs que o cercavam, gente cºnselheiral e ordeira, havia de fazerlhe escutar a vºz da prudencia e da raz㺠. Pinhei
rº Alves instaurºu umprºcessº, metteu ºs amantes na cadeia e . embºra º seu sº fi
'
rimentº fºssemuitº e lhe encurtasse uma vida amargurada, ºcerto é que a issº se crfrºu e a issº se deveria cifrar lºgicamente a extenºrizaç㺠dº seu rancº r .
Mais tarde , dizia º sr. Antºniº d'Azevedº Castello
1 «Assim foique de Lisbºa escrevera para º P orto a se
guinte carta, que está junta aº processo, e na reputamoscompletamente infundada nas suspeitas que ha servem deassumpto
. I llustrissimº Senhº r—V . S.
'a eu reduzimºs sua sobri
nba à extrema miseria . H a no crime ainda a pº ssibilidade
da virtude . A minha,se alguma me concede, é trabalhar
nºite e dia para alimental—a e a seu filho. Os prºjectº s deassassinio tremados por V . S ' cº ntra mimn㺠vingaramnº P orto . Se cº nseguir que alias vinguem emLisboa, glºria-se V . S.
. de ter quebradº º u ltimo esteiº d '
uma senhº
ra desvalida. N㺠se espante da liberdade que tomº de escrever l he. Esperº q ue V . S seja umdia o primeiro a di
ser que eu não era tão infame como a sociedade me julga.
D e V . S!attentº venerador e creado
Camillo Caetello Brancº . »
(Au n rº P I I I I T I L : Os Autores de Camillo , p . 262
20 de fevereirº de 1859.
dº seu deliriº dºminante.
l E fºiainda indubitavelmente esse delºriº que o levºu a acceitar o titulo
de viscºnde que, sºb º rºtulº d'
uma nobreza debrazileirº minhoto, vinha encºbrir tºdº o brilhº dºseu nºme de glº ria. Dizem que era uma antiga aspiraç㺠sua, satisfeita depºis pela influencia d'unsamigos a é ainda º sr. Alcartº Pimentel que nº s .
cºnta a tal respeitº esta episºdiº
«T ºda a gente estranhºu que alia quizesse trºcar º seu
nºme por umtítulº de viscºnde; só el le n㺠estranhou.
Em Seide disse -lhe eu—Se eu fº sse ministrº , teria intrºduzidº uma in ºvaçãº
nº seu titulº , meu queridº mestre .
—Q ual? perguntº u C amillo.
—Agracial—º—hia como titulo de—visconde Camillº Castel lo Brancº . Assim, a mercê não eclipsaria umnºme glºrioao, antas lhe seria hºmenagem.
Camil lº não gº stº u, e respºndeu de prºmptº" Correia Botelhº s㺠appel lidºs nº bres da minha fami
N'
uma carta aº viscºnde de Sanches de Baena,inserta nº Rºmance do Romancistagdiz Camillº
«P elº que respeita a C º rreias Botelhº s, estºu plenamentasatisfeito, graças às il lucidações prestantissimas de V . Ex !
O que muitº me interessava era saber quem fossa D . Rita
Caste l lº Branco, senhº ra cºm quem casou º dr. D ºmingº sJºsé C º rreia Bºtelhº , em Cascaes, sendo ahijuiz de fºra.
Os paes d'
el la constam da certidão do baptismº que envieia V . e º dr. Domingº s Jº sé Correia Bote lhº , segundºcalculº , casºu entre 1760 a 1765. EmC ascaes existe umindigena general reformadº , de sp llido C astel lº B ranco :
pºde ser que el le prºceda d'
essa amilia. C ºnheciuma 6
Are na-rº P intura . : Os Amores de Camil lº , p . 400.
º Os amores de Camil lo, p 3993p . 2 1.
73
lha dº dr. D omingº s Jº sé Cº rreia Bºtelhº que se assignº u
C a ldeirão. P º rque? Entre º s meus papeis manuscriptº s haumas trºvas pvº pheticas d
'
um physico Caldeirão de C ascaes, es cia de Bandarra dº secu lo xvr. P oderemº s espiºlhar o
'
aldeir⺠n'
essa familia de C ascaes que ha50 numa
assiguava Castello B ranco?.
Registeiem'
Camillº a cºnstante prºcura dº termº rarº, e facil se me tºrna justificar o asserto.
N㺠ha em tºda a litteratura pºrtuguesa linguagemmais exuberante, mais fornida e aº mesmº tempºmais pura que a d '
elle . Mas a grande parte dº seuvastissímº vºcabulariº s㺠termºs pºr el le creadºs º u feitºs reviver d
'
entre a prºsa ºbsoleta dº scartapacios velhºs, domºdº quemuitas s㺠as pa
ginas da sua ºbra emque para uma cºmprehensãolitteral º usº d
'
umdiccionariº ºu d'
um elucidariº
se dispensa a rara será aquel la emque n㺠encºntremº s uma palavra nºva, derivada sempre segundº a indºle e º mecanismº da l íngua, para queesta da fºrma alguma deixe de ser ainda e sempreº mesmº instrumentº autºnºmº, vivendº à custadºs seus recursºs prºpriºs, varnaculº e purissimo.
E' clarº que se não trata aquiapenas d
'
uma necessidade urgente de express㺠, mas da exigenciad'
um temperamentº da colorista, n'
um hºmem de
geniº que pºssuia cºmº tºdºs a tendencia para a
originalidade.
Agº ra, para prºvar a falta de sensº mºral deCamilº eu teria, se quirasse expô—lºs, alguns factºs novºs e elucidantes fºra d
'
aquelles que, maisº u menºs deformados pela inimizade e pela calumnia, ainda hºje se citamcºmapparato quandºse pretende denegrir a memºria dº homemillustre.
N㺠hºuve infamia que lhe n㺠attribuissem,
mºnstruºsidade mºral que n㺠servisse paraaºlhosde idiºtas meticulº sº s diminuir a grandeza dº seu
genio e º valor cºlossal da sua ºbra.
O certº é que Camillº , cºmº nevrºpatha, tinha
desegualdades de caracter pº r vezes exteriº rizadas
d'
um mºdº saliente e, assim, de envºlta com umºu ºutrº mºdº de prºceder pºucº cºrrectº, actº sde bºndade que francamente º nºbilitam. N '
omacarta a Silva Pintº escreveu elle : «Os seus Rea
lismºs deviamser bemacºlhidos; agºra cºmnºvº
prefacmveja lá º que faz. Eu n㺠lhe inculcº apu
jança dº s seus inimigºs; advirto—lhe simplesmenteque é melhºr n㺠º s ter, pºrque a gente de cºra
ç㺠nºrmal até mesmº quandº fere ºs adversariºsse magºa. Eu sºu desgraçadº até me entristecerquandº lirº alguem: prefirº que a retaliaç㺠sejacruel para me n㺠ficarem escrupulºs. »
Tendº ardidº a casa do editº r de Umhºmemdebrios, Rodrigº d
'
oliveira Guimarães, dias depºis dapublicaç㺠d'esse rºmance, Camillº, condoído damiseria dº livreirº n㺠só não acceítºu º preçº daedição comº ainda escreveu º drama Espinhos e
flºres, fé-lo representar nº S. Jºãº e cedeu tºdº ºprºductº da recita em favºr d
'
elle. Anuos depºis,Camil lo era insultadº nº jºrnal d'esse mesmº hºmem que t㺠bizarramente soccorrera.
Em favºr d'um velho sºldadº de D. Miguel, Tho
me Cabral , cedeu º rºmancista uma edição dº folhetº 0 Clerº e o sr . Alexandre Hercul anº . Tempºsdepois, º homem fºilavar- lha 405000 réis, metade do prºducto l íquido da publicaç㺠. Camillº nãº
ºs acceitº u e Cabral , sahindº da casa d'
ella, cºm
Sima P ir rº : Ob . cit., p. 52 .
75
prºu um bilhete de lº teria que fºipremiadº cºmvinte cºntºs.
Estava cºm Camilla no mesmº hº tel , na Pºvºade Varzim, ummedíºcre pintor hespanhº l que perdeu ao jºgº tudo que levava, deixandº por fimdepagar a dºna da casa. Quandº, semanas depois,esta, que era uma tal 0. Ernestina, despediu 0 boapede, a hºra dº jantar, explicandº º mºtivº pºrque assimprºcedia, Camillº levantºu se dº seu logar e disse :
A D. Ernestina é injusta. Eu trºuxe dº Pºrtºcem mil réis que me mandaram entregar a esse
senhºr e ainda º n㺠tinha feitº pº r esquecimentº . Desempenhº—me agºra daminhamiss㺠.
E entregºu aº pintºr ºs cemmil réis. Mais tar
de, cºmº º artista lhe declarasse que n㺠tinha
meios para pagar aquella divida, Camillº cocarragºu
-º , para saldº de contas, de pintar º retratº dºfilhº e dº cão, O que º pºbre homem faz cºmto
da a imperícia notavel que pºssuia.
O certº é que umhºmem nºrmal que praticasse acções d
'
estas n㺠seria capaz de injuriargrosseiramente amulher que por causa d
'
elle perdeua cºnsideraç㺠da grande parte. e º desafogo deuma situaç㺠sºcial invejavel , fºsse qual fôsse , perante a sua cºnsciencia, º valºr mºral d
'
essamulber, nem t㺠pºucº de ir viver para uma casaque ella tinha cºnseguidº à custa d
'
esse cassmantº que, depois , para o seguir, repudiou.
Pºuca gente cºnhece a raz㺠pº r que º rºmanceArinºs de P rºsa appareceu abruptamente cºrtado
' J . C . Vmaa na C arrao: Ob. cit.. 148, 150.
3 P rimeiro de Janeiro, de 3 de junhº de 1890; A. P utar
rr r : romance do romancista, p .
J369.
76
nº mais emaranhadº da acç㺠, cºmestes periºdº sfinacs que algumas edições pºsteriºres eliminaram
«Alguma vez verá o leitor que bº leus deu tºda estagen
te cºm as costumadas vº ltas do mundº . O livrº comp le.mentar d
'
estas biºgraphias ha-de denºminar se B z acçaº
na P º rreta. E'
o natural seguimentº dº s An º s na P r º sa s .
Ora tal Reacç㺠n㺠sahiu nunca e º mºtivº re
salta bem cºntando a histºria.
O editºr tinha cºntratadº cºm Camillº a publicaç㺠d 'uma nºvella d
'
um certº numerº de paginas e n
'
essas cºndições abriu a assignatura. Da
quantia dº ajuste deveria entregar metade nº co
meçº da impressão, tal cºmº fez, e º restº nº fim.
Camillº em certa altura suspendeu a remessa dººriginal que ia em meiº e declarºu que a nãº
cºntinuava sem lhe darem o resto dº dinheirº,pretensão cºm a qual a muitº custo º editor se
conformou, sem que cºmtudº a remessa dº º rigi
nal cºntinuasse . E fºi apºs reiteradas instanciasfeitas pelº prºprietariº da ediç㺠emtºdº s º s termº s, que Camillº mandºu ametade que faltava .
n'
uma pagina. Ora tal editºr, fallecido recentemente e de quem eu ºuvia narraç㺠de tºda a histº
ria, tendº -se cºmprºmettidº a dar umcertº numerº de paginas aºs seus assignantes, resolveu dal .
as a tºdº º transe, fazendº seguir º s Armas deprosa de dºis ºutros rºmances traduzidºs livremente pº r um pharmaceuticº de Lisbºa, ' cºm ºtitulo de A Gratid㺠e 0 Arrependimentº e a
acç㺠transpºrtada para Pºrtugal . O frºntispicrº
Hasarqua Manau s: Bibliographia Camil liana. P rimei
ra parte . MD CCC X C I V , p. 3
77
prestava-se a uma dubia interpretação que a esco
lha dos locaes da acção — S. Cosme e o Caudal
mais avolumava, e alguem que descobriu a tra
ducção não tardou emlançar sobre Camillo o labeude plagiario. Camil lo exigiu do editor uma declaração que elle, com eli
'
eito, fez inserir nos jor onaes do Porto, redigida cautelosamente em ter
mos que encobriam a fraude do romancista. De
bem com a sua consciencia e pensando decertode sipara sique a magnanimidade é virtude que
pouco custa, estava o bom do editor, quando Camillo lhe entra pela porta dentro barafustando quelhe exigira a verdade para desfazer uma accusaçãofalsa, mas não lhe pedira que cantasse uma historia para desculpar a incorrecção do seu procedi
mento.
c— O que o senhor deveria ter dito era o se
guinte : o sr. Camillo tinha combinado comigo a
publicação d'
um romance de tantas paginas, re
cebett dinheiro e faltou a sua palavra; e eu en
tão liz traduzir os outros contos para completar ovolume. »
E' possivel que estas palavras não sejam tex
tuaes, mas o facto é authentico comcerteza. 0 pro
prio editor que m'
o contou era um honrado nomem incapaz de mentir e que tinha por Camillouma grande admiração.
Com respeito às desegual j ades psychicas do
grande escriptor eu penso que, no decorrer d'
este
estudo, ellas ficaramjá suliicientemente provadas eda interpretação mystica dos factos mais simples,queme cumpre n
'
este ponto justificar, julgo que bemfundamente deve estar convencido todo o que te
78
nha lido a sua obra e muito principalmente aquella que foiescripta no tempo em que a descrençacedeu o passo a ummysticismo que o ia levandoà vida de padre e o arrastou ainda a frequenciado seminario. Mas depois mesmo: a loucura do lilho (e é claro que isto não entra nos factos maissimples, posto que seja bemdos mais explicaveis)a attribuiu elle a um castigo de Deus, e, no decorrer das suas novellas, essa mesma ideia da intervenção da divindade no destino dos homens se notaa cada passo.
Deter—me-heipois apenas no misoneismo, antesde entrar no estudo das perturbações vrsuaes, quedeixei para o fim porque seria immethodiro separa—las do facto capital de que ellas foram a causaimmediata : o suicidio. l á ficou dito que o misoneismo é vulgar nos grandes homens. «Os homensde genio, escreve Lombroso, são como a gente
do povo, as creanças e os idiotas, essencialmentemisoneistas; possuem uma energia incrivel pararecusar as descobertas d '
outrem, seja porque a saturação, por assim dizer, dos seus cerebros lhesnão permitta novas acquisições, seja porque, possuindo uma grande sensibilidade para as ideiasprºprias, se não possam impressionar comas dos
outros» . Camillo foi, sem duvida, misoneista.
E se a sua indtd'
erença por coisas de politica nos
não deixa facilmente por esse lado colher ele
mentos demonstradores d 'essa verdade , os impetos de reaccionario, evidentes nos seus escriptosde doutrina e a Opposição, mais ou menos franca,comque recebeu a escola de Coimbra e mais tar
ou. cit., p . as.
80
Castro: «Estou enfraquecidissimo da vista e da ca
beça e , tempos depois, n'
uma outra carta: «Os
olhos não me deixamescrever, filho. Estão afoga
dos em lagrimas, mas olha que são de Ophtal
mia» .
Desde então, a doença caminhou sempre, e, successivamente , as crises de lagrimas, a nevrite
optica, a diplopia e a amaurose vieram, emtodo otempo que decorreu desde essa data até ao suicidio, collaborando comas nevralgias, os ruídos nos
ouvidos e todos os males do eSpirito, na formidavel desventura que o prostrava. O velho luctador
sentiu-se vencido. E a sua energia doente, a sua
Corr . Ep ist. T . I I, p . 55.
l dem, p . 114.
ª 187õ.—«Estou enfraquecidissimo da vista e da cabeça
(C amm o : C orr . Ep íst. I I , p . 65. l
1878 .—Agosto—«Nâo posso ler nem escreveu .
—N ovembro—«Estou com uma conjuntivite ha doismezes . A o
ra mal posso encarar a luz artificial . . «C ontinuo a a e
ccr de tudo, e principalmente dos olhos . Tenho de vo ta demim 14 luz es, para ver o que te escrevo. D esde que o sol
se esconde , estou cego; e não apresento symptoms. deamaurose nemde cataratas!(C arm o: Cartas ao Visconde de Ouguel la. Log. cit.
, p .
1 16 e
1880.—Janeiro—oEu mal de tudo e principalmente dos
olhos . Vejo só com umpara não ver tudo duplicado. Ahentdos da optica. C hama—se a isto uma coisa grega. .
188 1.—Março—c0 peior é que l he escrevo com umdos
dois olhos fechados—para não ver duplicado. Uminferno .
1881 .—Outubro—oDesconõo que vou ficar cego. Ha
muitos dias que nem lêr posso1882 . Jul ho—«A luz dos meus pobres olhos creio que
se apaga . H a tres meses que choram sempre. .
(cr
an iano : Cartas a Silva Pinto . Ob. cit., p . 28
, 1 18, 71e “ J .
8 1
vontade oscillante mas imperiosa às vezes, os recursos do seu bellissimo espirito, nada podiamcon
tra aquelle novo assomo da desgraça, que lhe vio
nha roubar impiedosamente o supremo bemdetrabalhar. Queria ler, queria escrever, sobretudoescrever, e não podia.
Uma vez,
'
n'
ummomento de desanimo, mandouleiloar a preciosa bihliotheca que possuia, desistiu
1885.— Setembro .Se eu viver em novembro hei-de ver
se posso ser apresentado por ti sciencia on acaridaded
'
algunsmedicos de Lisboa. O que eu queria, meu queridoamigo, era
ºgue me dessema vrsta que eu tinha ha 4 me
z es, para p er trabalhar até morrer . Não me podia ser inflingida maior tortura que isto de não poder escrever sem
grande mortificação-v.(C A I I LLO: C arta a Thomaz Ribeiro
,inserta n
'
os Amoresde Camillo p . 418 )1886 . -ha dois mezes que não escrevo nem leio por
falta de vista. O menor esforço roduz—me vertigens. Sus
penditodos os meus trabalhos. ocorreu muito para esta
perversão nervosa o estado do meu pobre Jorge . .
1887 .-Março—cD epois veiu um periodo de quasicc
gueira; e agora commuita didiculdade e quasiemtrevas
l he escrevo» .
C ammo: C artas a Alberto P imentel . Rom. do rom, p .
289 e
1887.—Abril -Estou quasi cego, porque algumas ho
ras de escripta me cegarama circumferencia da iria, demodo na apenas v ejo um circulo mais estreito ue este
p apel . odas as minhas infe licidades do corpo e a almaeram de licias antes de ou sentir esta suprema desgraça.
Se isto progredir resolvereidepressa a crise .
(C ammo : C arta a Ouguel la. Log. cit. p . 119 )1890.
—Abril Em coisas de letras deve faller se demimcomo se fal la de um escriptor morto. Logo que eu accei
tei do Estado uma pensão é que eu não podia trabalhar emanter a minha laboriosa independencia de quarenta nu
nos. C egueina lucta, e tiqueivencido. Sirva istode exemp lo a muitos escriptores» .
(C A I I LLO: Carta a Oliveira Ramos.)
82
de todas as investigações historicas a que se eu
tregava nos ultimos tempos —e poz—se a fazer ver
sos. N'
um soneto ao filho doido, escreveu isto:
«N emgoso nem paixão te altera a vida '
E u choro sem remedio a luz perdida
B emmais feliz és tu, que vês o sol : .
E n'
umoutro:
. E eu que tanto carpia os condemnados,
Os cegos—os supremos desgraçados!
Ja lagrimas não tenho para mim!
Augmentaram as impaciencias da sua vida e'
r
rante . E começou a consultar medicos de toda a
parte. Escrevia ao padre Sebastião a pedir—lhe os
Padres—Nossos dos pequenos e recorria a tudo,e acreditava emtudo . até na medicina.
Dez dtas antes de morrer. dirigiu ao medico especialista de doenças dos olhos dr. Edmundo Ma
i C ammo: N as trevas, 1890.
2 «Commovido até ás lagrimas ouvilêr a sua carta. Senti fazer—se a luz da esperança na minha alma em trevas;mas, considerando—me indigno das suas preces e da Mise .
ricordia Divina, a escuridão da alma volveu ao estado em
que se acham os meus pobres olhos . Entretanto espero que
as orações de v . ex !e dos seus innocentes protegidos con
sigum aligeirar a minha agonia de modo que a morte me
sej a menos tormentosa. D eus Nosso Senhor lhe dê saude
para amparo de outros infelizes a uem v . ex!ensina o
caminho do trabalho e da virtude rosce omeu agradecimento quando vejo que v . ex.
.recorre ao poder divino
para que se o
gere o milagre que a sciencia não fez nem
poderá fazer. u tenho muita confiança nas suas preces,acompanhadas da voz innocente dos seus filhos adoptivos,cuja alma v. ex.
. regenerou u.
(Os -imo: C artas dirigidas em Setembro de 88 ao padreSebastião de Vasconcel los e transcriptas no B om do rom.
p .
83
galhães Machado, esta carta, que é umdos maisextraordinarios documentos da dôr que tenho vis
to escriptos
« I I I .-º e EX .-º Sr .
Sou o cadaver representante de umnome que teve alguma reputação gloriosa n
'
este pais, durante 40 an os de
trabalho.
C hamo-me Camil lo C astel lo Branco e estou cego.
Ainda ha quinze dias podia ver cingir—se a umdedo das
minhas mãos uma Hammula escarlate . Depois, sobreveiu
uma forte ophthalmia que me alastrou as corness de tar
jas sanguíneas.
H a poucas horas ouvilêr no C ommercio do P orto o no
me de V . Ex ! Sentina alma uma extraordinaria vibração
de es eran
P era Ex .
. salvar me? Se eugudesse, se uma quasi
paralysis me não tivesse ocorrente o a uma cadeira, iria
procural —o. Não posso. Mas poderá V . Ex.I l diser—me o que
devo esperar d'
esta irrupção sanguinea n'
uns olhos em
que não havia até ha pouco uma gota de sangue?Digno—se V . Ex perdoar á infelicidade estas por untas
feitas tão semcerimonia por umhomemque não con ecc .»
E em 26 de Maio ainda esta outra carta a Mel lo F reitas :
«Ex.—º Sr. Joaquimde Mello F reitas
Emtempos relativamente felizes me deu V . Ex! 9. houra das suas re lações . H oje que a minha desgraça e suorme, recordo-me do seu nome, da sua intelligencis e do seu
coração para vir pedir-lhe um favor.
Escreviao D r. Magalhães Machado, patrício de V .
acerca da minha cegueira, na esperança de que el le pudesse operar o milagre de me restituir não a vista que tive,mas a bastante para me descondensar a treva que haverádois meses se fez completa nos meus olhos. O D r . Magalhães Machado respondeu me de modo que me deixou seu
tir a delicadeza do seu cs irito e a sua commiseraçâo pelosmeus padecimentos. 8 . x.
.podiame umrelatorio dami
nha doença; el la porém é tão.complicada e variada no
85
A impaciencia de C amilio manifesta-se no telegrammaque recebia 28 do alludido mez
_
P cço favor avise chegada D r . p ara mandar carro esta .
çao .
E nderecei—lhc segunda carta communicando-lhe a boa
noticia de que no domingo ás 1 1 horas da manhã o dr. Edmundo Magal hães estaria emVil la Nova de F amalicão. ereiterava-l he os meus votos de felicidade e profunda eso
tima .
No dia 30 recebioutro telegramma; cujo texto é o se
guinte :
B emhaj a p elas suas cartas.
Afinal, em f de junho, a visita fez o se; e como odr. Machado, depois de detido exame, puzesse departe a ideia primeiro aventada d'umtratamentoem Aveiro e aconselhasse o doente a ir algumtempo para o Gerez, onde, emoutros ares, colheria de certo algumallivio, Camillo comprehendendo n
'
essas meias palavras consoladoras a sua con
demnação irrevogavel, insistiu coma esposa paraque acompanhasse o medico até ao palco e, fican
do só, matou—se .
E isso afinal não era eramais que a realização,um pouco tardia d
'
um projecto que desde cedocomeçou a germinar no seu espirito. E se tardiaella foicomo eu digo, lance-se isso emconta d'aquella indecisão— mille ritegm
'
nell'
eseguire de
que fala o Leopardi. O suicidio é vulgar nos nevropathas, como de resto o é emtodos os que softremde certasmolestias semcura. Masnos casos deperversão nervosa todo o raciocinio se torce n
'
umafeição doentia, e quando as esperanças de melhora vão morrendo de desil lusão emdesillusão e a
psychialgia tortura, a cada passo exacerbada, o
86
doente resolve morrer. Se é umneurasthenico, umdoente da vontade, nem sempre consegue reunir
o quantum. de energia necessario para executar a
sua resolução e ou não a executa nunca ou vae le
vando, entre umavariedade de considerações dilatorias, mezes e sucos, a encher-se de razão ) Passaesse tempo todo a convencer—se, n
'
uma auto-catechese lenta, cheiademinucia, laboriosa, destruindouma umtodos os argumentos que no seu eSpirito
se vão oppondo à ideia dominante . Se é umcrente,procura justificar amorte violenta dentro dos principios religiosos que professa, se se lembra do quedirão os outros, argumenta que o suicidio não é
uma cohardia, mas o recurso ultimo e legitimo dosque tem sobre os hombros o peso da desgraça.
Tal é o caso de Camillo.
Eu já fellei da tentativa de suicidio romanticocom os grãos
«d'
opio, a poesia de despedida e as
libras em cima damesa para afastar a razão materialona da falta de dinheiro, e a palavra suicidiopor vezes temapparecido nas citações que até estaaltura tenho feito dos seus livros. A referencia doresto é vulgaríssima, a cada passo se encontra. e,segundo a afirmação de Sousa Martins, as tentativas de execução forammais repetidas do que se
pensa: . . antes do tiro decisivo,'
no decurso deannos, mais de cemvezes—t ou 5 à minha vista—sacou do revolver, que, ameio da cabeça, pendia da mão paralysada pelos instinctos conservadores» São do Livro de Consolacão estas palavraa
A ph rase é de Sousa Martins na referencia a um caso
identico.
Sousa Massi-s: Ob. cit.—p. 804.
88
«Poderá alguem suspeitar demencia em Napoleão!E, comtudo, este seguro pensador tres vezes at
tentou contra a sua existencia. » Mal pensava Ca
millo que, annos volvidos, toda a gente saberiaque o grande imperador foideclarada e provavadamente um epileptico.
No livro Horas de lucra , colligido por FreitasFortuna, vêmalguns pensamentos de Camillo sobre
o suicídio, escriptos emAbril de 88 . Transcrevo—os :
«A vida dos desgraçados irremediaveis seria umperfidoescarneo do C reador se o suicidio lhe fosse defeso .
«Quando confronto a minha covardia com as tenta ões
redemptoras do suicidio, então comprehendo a gran esa
d'
animo dos que se matam.
«I nvectivar de covarde o suicida é escarrar na fronted'
ummorto . Não se pode ser mais cruel nemmais infame.
«Umdos canticos do I nferno de D ante é umpoema de lagrimas. São os suicidas que passamgementes.
«Se a alma do suicida podesse subir presença de D eus,a divina Magestade esconderia a face envergonhada ou
condoída da sua obra; porque o suicida lhe diria como Job :«P orque me tirastes do ventre materno
'
b —Quare de vulvaeduz isti—mcf .
3
N'
uma carta a Freitas Fortuna, inserta nas notas
aos Delícias da Mocidade:
«P ergunta—me o meu amigo : Chegado a esse extremo deextraordinario softrimento , porque te não matas? B es
pondo :—Não posso; D eus não quer.. 3
E n'uma carta ao Visconde de Ouguel la
«P asso mal , não paro. As noites são intoleraveis. Se eu
C anu to: H oras de P az, v . I , p . 39.
3 H oras de I nseto , p 32.
D dictos da Mocidade, 1889, p . 228 .
89
fosse só,como devia ser se tivesse juizo, j a tinha resolvido
isto summariamente .
Sempre um pretexto: uma vez a fé emDeus,outra os deveres da familia e , em ambas ellas,fundamentalmente, a mesma indecisão do neuras
thenico que se prende amenor ideià, aomenor facto que lhe forneça uma explicação plausível .Mas a preoccupação de sempre, retrahindo-se uminstante para irromper depois mais violenta, caminhando para a fatalidade d
'
um destino, creandoforças novas a cada passo andado, accelerando-se
comumincidente, por vezes futil , mas caminhandosempre, mas continuamente progredindo. «A pre
meditação mede—se por dias, por mezes, por annos até, escreveu Sousa Martins; ª haja vista o ,
por isso celebre ll . Cousteux, que em 1863 se
suicidou em Castellamare, decepando a cabeçan'
uma guilhotina por suas proprias mãos construida, dia a dia, durante o longo periodo de doissanos. s
E'
um facto, conclusão natural do que está dito,que o suicidio e vulgar nos grandes homens, masd 'entre os grandes homens é nos escriptores que
elle colhe emmaior parte as suas victimas. A lista
é longa e seria ocioso transladá—lados livros desciencia que a divulgam, mas basta que se digaque uma estatistica italianainforma que n
'
esse paiza proporção de suicidas litteratos por ummilhão ede 6 19, emquanto dos professores primarios, que
Log. cit p . 116.
2 «O suicidio é-mc ideia tão habitual que já nempoesianemgrandeza tempara mim» .
(C assiano: Mamonas do C arcere, I , p . u m).Ob . cit. p. soo—sor.
90
mais se lhe approxima e apenas, a dos commerciantes 272 , a dos moços de fretes 36 , dos iadustriaes 80 e dos padres 53. Geralmente os queexercemprofissões liberace suicidam—se comarmasde fogo e os suicidas por armas de fogo visamna
maior parte dos casos a cabeça. «Sempre o
tempo quente foio mais pr0picio aos suicidas. »3
Foi n'
uma tarde de Junho que, depois d '
umadesillusão mais forte Camillo Castel lo Branco, empunhando com a mao direita o revolver e segu
rando—o com a esquerda para que a pontaria não
falhasse no ultimo momento, perfurou o parietaldireito com uma bala que , atravessando o encephalo, foibater contra o parietal do lado Opposto.
Solireu ainda duas horas, já sem fala. E, como nãofosse possível encontrar por alliperto umpadreque lhe viesse prestar os ultimos soccorros religiosos, sem elles acabou de morrer tragicamenteesse homem de genio que a desgraça acompanhoupasso a passo a vida inteira.
Até aqui, os factos. Cumpre, para que toda estalonga exposição não flque esteril , classifica—los, tazendo umtrabalho de synthese que permitta che
gar às conclusões geraes que nos interessam.
Estasabido que Camillo foiumnevropatha s porconcluso se pôde ter, tambem, que a essamaneirade ser doentia anda adstricta toda a primacial grandeza do '
sengenio.
MOBBEL I : D el Suicídio; l 882 ; Lico" : Le Suicide, 1881
Lonaaoso : Ob . cit p . 71 .
Sousa Maarras : Ob. cit. , p . 808 .
3 I dem.
91
Eu bem seique sobre as relações do genio coma pathologianervosaa sciencia não disse ainda asuau ltima palavra. Porque tendo—se como uma verdade incontestavel a coincidencia da superioridadeintel lectual com a nevrose, um problema se pro
põe ainda ao nosso espírito- E
'
o genio umell'
eito da nevrose e consequen
temente uma forma morbida especial, caracteristica!— E
'
antes a nevrose a resultante do'
genio, pe
lo uso excessivo de certas cel lulas nervosas?— Ou então o genio e a nevrose são as conti
nantes parallelas d'uma construcçãomental'
anor
malissima!Ainda ha pouco a questão foiposta n'estes ter
mos n'
um notavel estudo medico—psycologico emque o auctor conclua comestas palavras que resamem todo o seu modo de considerar o problema
«Applicando ao espirito a leida evolução, vem—se a considerar o genio como a realização antecipada d
'
umtypo
superior de humanidade ou de intel ligencia que não a
parecerá, normal e adaptado a uma existencia nova, se
n'
um estado ulterior de evolução . A doença resulta daina
daptação do genio às condições actaeas que só permitemumimperfeito esboço d
'
esse typo futuro de humanidade.»
E'
afinal o desenvolvimento da conhecida phrasede Goethe: «O genio não é do seu tempo senão
pelos defeitos» .
Diga—se emverdade que o problema é comple
xo e quasiimpossivel de resolver satisfatoriamente no estado actual dos conhecimentos scientifi
cos. Moreau de Tours considera o genio como uma
Gsssou Loxousn Ob. cit. , p. 181
92
nevrose sem fºrma determinada. Lombroso atir
ma-a de natureza epileptics e , depois de lermos ume ºutro, occorre-nºs uma observação: E' que a du
vida nasce da ignorancia emque estamos d'
essas
nevroses com que queremos relacionar o genio,levados por factos pºsitivºs que realmente impressionam. Entrar na destrinça das psyconevrº ses para ver em qual d '
ellas o genio melhormente se
íntegra, e transpor os limites d'
umcampo vagº deincerteza.
Não nºs illudamos: depois demilhares de observações e centenas de volumes, a psychiatria estaainda metade pºr fazer, e n㺠é sem razão que
Sergiescreveu nº seu livro sobre as emoções: Eupenso que em psychiatria existe ainda a cº nven
ção e existirá até que a psycolºgia normal façaumprogresso mais accentuado nas relações da basephysica comos phenomenºs mentase. Lombrosoumhomemde sciencia nºtabilissimo, e º seu li
vrº sobre o geniº vale muito, mas julgo não
errar afirmandº que pºucos logrou convencercom a sua theº ria. O seu trabalhº é uma coºrde
nação de anecdºtas interessantes, mais ou menºscºmprºvadas, mais oumenos deturpadas pelatradição que as foitrazendo; e, embora a essas histºrias avulsas se procurasse aplicar com toda a
boa vontade º melhor dos criteriºs, parece-me quearrancar—lhes uma theoria é umarrojo que extravasa umpouco dosmethodos rigorosºs que scien
cia competem. Lembram-me a prºpºsitº ss palavraa de Juliº Dantas, illustre escriptºr e medicotambem, nº seu livro sºbre Pintores e Poetas de
1 S. Gasot: Les Emotions, 1901, p. 282 .
93
-0 marbus sacer, nevrose banalissima a que se quis vestir o pontifical do genio, nada de valioso produz sob o
ponto de vista d'
arte . Entre tantos epilepticos que temRilhafol les, nem um genio só, sendo a e ilepsra o ventre
creador dº s genios l E que admira, se tº 0 o comicial o éab-ovo, terreno maldito para tºda a raça de educação, se a
grande massa dos c sagradoss são verdadeiros dobeis, e se
a decadencia intel lectual,no morbus sacer, é uma verdade
c linica que fere todos os observadores? Recorrendº à documentaç㺠d este trabalho, encontramos a tina flôr dasobras d
'
arte que nos tem dado, nos ultimos tempos, a popu laç㺠epileptics de Rilhafº lles : incoherencias, predilec
ção pe las fôrmas externas do culto, reli'
osidade excessivae hypocrita, symetria, cacochromia e a uso d
'
oiro nos do
cumentos picturaº s, figuras desbragadas e escurrilidadestorpes d
'
envolta com imagens devotas e latina de ritual ,tendencias para a figuração de animaes fabulosos
,nos
documentos escriptos, os of ertorios de feitio bájulo e meloso, os diminuitivos constantes, os característicos «vossa
excellentissima, vossa reverendissimas , e, por derradeiro,ainda nas menos toscas manifestações d
'
arte, a amrmaçãºd'
uma inteira invalidade psychics . Se o mal sagrado fºsserealmento o grande seio creador do genio, como Rilhafolles se desentranharia em luminosas crcaçõcs, emesta endasriquezas plasticas e imaginativas, e como estaria des ocada,lá em baixo, nos muros fradescos de S. F ranciscº , a nossa
beata academia de Bel las Artes l
A ºpini㺠de Moreau, cºmº ser mais vaga, pa
rece—me ainda a mais acceitavel . O genio andaadstrtctº , ou se quizeremmesmo, na dependenciade manifestações doentias dº systems nervº so. Se
essas manifestações revestem uma feiç㺠prºpriae característica, ou entramno quadrº symptcmaticod'
alguma das nevroses que cºnhecemºs, e que se
torna dntllcil responder, pela raz㺠jà dita, de queessas nevroses, classificadas umpoucº arbitraria
1 Jnato D aaras: P intores e P astas de Rilkafolles, 1900,p . 45—46 .
94
mente, não nos apresentamºs limites precisos para pºdermos isola—las e cotejar com ellas, uma a
uma, as manifestações morbides do genio. Mesmºentre o estadº que chamamos normal e a loucuraha uma transição insensível . Diz um livro recente:
«E impossivel fazer dos estados pathologicos de espirito, entidades morbidas, c lassifical -as, segundo a sua symptomologia, em compartimentos nitidamente separados
uns dos outros. Ha, ao contrario, uma fus㺠de tintas, ccmo n
'
um esbatido photographico que passa do branco brtlhsnte ao negro mais retinto . N enhum de nós pôde ter a
pretensão de tomar logar n'essa zona de branco que repre
senta a saude ideal , inaccessivel ; estamos todos no brancoapagado, no cinzento c laro. O nevrotico que nos consulta
pode estar tranquil lo : não está tão leu e de nós como imagina. E stendamos—lhe a mão, a esse po re doente, não receiemos confessar—lhe sinceramente as nºssas fraquezas,as nossas taras innatas : approximemoonos d
'
el le » .l
O que é a neurasthenia de que tantº se fala e
de que tão pouco se entende ? O facto é que nós,º s sãos, estamºs juntos d
'
ella e ella vae até bemlonge . De mºdo que ha quema colloque n
'
esse
branco sujo de que fala Dubois e ha tambemquema ponha ameaçadºramente nas fronteiras da lºucu
ra. Depois, quando a nevrose é simples e quadramais ou menos rigorosamente n
'
umdos modelosconhecidºs, ainda o caso se facilita; mas eu es
tou em crer que essas fºrmas simples são raras.
A prºpria neurasthenia, estadº morbido tão vasto,d'
uma elasticidade tamanha, pau para toda a co
lber, doença para tºdos os symptºmas, temdeclinicamente acceitar fusões já com a hysteria, já
D csois: Les P sychonét'
roscs et leur traitementmoral,1901, p . 184.
96
quencia, segundo o seu modo de ver, a creaturaque apparece dotada de genio realiza umtypomaisperfeito de humanidade e, como n
'
esse caso se nãºadapta às condições ambientes, torna—se presa deestados morbidº s mais ou menos accentuados. E
'
um nevrºpatha porque é uminadaptado, uminadaptado porque é umgenio, e cºnsequentementeum nevropatha porque é umgenio.
Mas se está, por pormenores de interpretaçãº,sujeito a controversia o facto das relações da su
periºrida le intellectual cºmas nevroses, omesmonão succede cºmesse outro facto comprovadtssimº da ancestralidade nevropathica dº s homens degenio; e de tal modo º individuº n
'
essas condições é por via de regra, mercê da fatalidade daherança, umnevrºpatha, antes ainda de ser umgenio. Seria em qualquer casº umtarado e pºderiadar n
'
um neurasthenico , n'
umepileptico, n'
umhisterico . mesmo usº fruindº umrestricto desenvolvimento de intel ligencia. Ja aquia adrmaç㺠dºmedico frances claudica. Poderá o genio n㺠derivar da dºença nervºsa, mas o que é positivo é quea doença-
nervosa não resulta do genio, pela razaocºmesinha de que mesmº sem elle existiria.
O que me parece dever concluir-se diverge umpºuco. Nºs hºmens de genio tem-se diagnºsticadoexemp lares de quasi toda a serie da patholºgia
nervosa e simplesmente se observamalguns caracteres communs a quasitodos taes cºmº o misoneismº e a vaidade . D
'
ahi, nadame impede de considerar o genio como um symptoms , muitopouco v ulgar , que acompanh a no quadro
nosographiºo umanevrose . Tal legitimamenteo cºnsidero, sem comtudº dar a essamaneira dever, aliás bem simples e bemnatural, a pretensãº
97
pedante d '
uma verdade scientifica. E tal o cousiaerando, e restringindº todo o raciºcinio anterior
aº caso que me interessa, resta dizer qual a
forma de nevrose que em Camillº se manifestoupºr tºda a serie dºs phenºmenºs morbidos jà largumante enunciados e pelo genio.
Segundº Charcot, «as nevrºses resultamde dºisfactores : um essencial e invariavel : a hereditariedade nevrº pathica; o ºutro, contigente e polymorpho: º s agentes prºvocadores» havendo aindaa juntar à hereditariedade nevropathica os factorescongenitaes, adquiridos na vida fetal, que a excessiva concis㺠d'aquella fºrmula exclue.
Quanto ao primeirº factºr, essencial e invariavel, 6 notorio cºmo emCamillo elle influiu. Eu pen
so que difllcilmente se encontrará estirpemais opulenta para a guarda avançada d
'
umcasº esplendido de genio. E pelo que se refere aos factores adquiridºs na vida fetal , basta recordar as primeiraspalavras d 'este capitulo: «Camillo Castello Brancºfoigeradº nº periºdomais intensº d
'
umamºr violento . o
Citar agora, um a umos agentes provocadºresseria repetir º que está dito, contar de novo todaessa biographia accidentada, essa vida errante, depaixão e de amargura que n
'
um periºdo d'umacarta ao viscºnde de Ouguella, o propriº romancista synthetizou precisamente: «Eu, que não co
absetminha mãe, e aos dez annos já não tinha
pse, ve tu que mocidade tive, e como toda amionha vida se havia de sentir da esterilidade de emºções, comque passeiaOs symptomssmorbidos observados emCamillo
Log. cit., p . 7 .
98
podemdividir-se emtrês grupos, pouco nitidamenteseparados muitº embora pelas razões apontadas,segundo a doença mais ou menos autonoma quedenunciam.
Não seise disse ainda que Camillo era umgaleati, segundo a expressão de Charcot, e esse capaeste de ferro pesando-lhe constantemente sobre ocraneo, e a insomnia, a dyspepsia, a hyperacusia,as nevralgias, a irregularidade do trabalho, a excitação pathologies à auto—observação, a tendenciapara a recordação frequente de coisas passadas, avagabundagem, a abulia, as obsessões, as impulsões, as phobias e mesmo as primeiras perturbações visuaes, pertencem, a meu ver, a essa for
ma neurasthenica, amais grave, que Gilles de LaTourette denominou neurasthenia hereditaria ouconstitucional .As dores fulgurantes, os silvos nos ouvidºs, a
surdez, a ataxia e as perturbações visuaes maisavançadas, taes como a epiphora, a dypIOpia, aamblyopia, a nevrite ºptica, aimmºbilidade dapupil lae a amaurose, devem aliar-se, segundo penso,n'
uma doença ºrganica do systems nervoso—o ta
bes, na sua fºrma clinica cerebro—bulbar.As manias de perseguição e de grandezas, ictus,
egoismo, irritabilidade, falta de sensomoral , pertencemtalvez a uma psycose do tabes que alguns
auctores attribuemà paralysnageral coexistente.
A paralysis geral é mesmo considerada pormedicºs illustres, cºmo Reymont, Pierre Marie, Gilbert Ballet, Joff
'
roy, Rendu, Remond e Claveller cºmo a express㺠clinica d 'uma localisação differente do processus da doença de Duchenne. Pelº querespeita à neurasthenia eu ponhº de parte a ideiad'
umerro de diagnostico resultante dos sympto
00
cterizada por uma atrophia pupillar'
de evoluçãºrapida, acompanhada frequentemente, não so de
perturbações tabeticos minimas, mas tambemdeperturbações mentaes minimas, em tudo analoges
às do começo da paralysia geral; e que a cegueiradita tabetica, poderia ser tambem considerada cº
mo uma cegueira paralytica, se as perturbaçõesmentaes minimas da meningo-encephalite diffusaligeira tivessem na nosographia amesma importeueia que as perturbações physicas e funcciºnaesminimas dameningo-myélite spinal posterior ligeira; o que o tabes, a paralysia geral e a amaurosetabetica representam simp lesmente tres localisações d'ummesmo processus, talvez de origemsy
philitica terciaria, que podem associar-se ou ficarmais oumenos cºmpletamenteisoladas. Alémd
'
is
so, anatomicamente, disse ainda omesmo congressista, a atrophia ºptica do tabes, é semelhante ada paralysia geral ; trata
-se da atrophia secundariaem lesões de meningite e de nevrite intersticialcomponto de partida vascular (endo e periarterite e phlebite) .N'
um livrº sem responsabilidades scientidcas,P ensewrs et savants, assignadº pelo dr. Gelineau,afirma este medico que se encºntrou entre os pensadºres umexemplo de tabes, emAubryet. Mas
já Pierret, na suamemoria Sur la pathogem'
e da
tabes, apresentada ao congresso de Mºscow, em97 ,nos diz que: «A sensibilidade é muito grande nosfuturos tabeticos. Romancistas, artistas, hºmenspoliticos, artinces muito bemdotados, são sensitivos» .
Journal de N eurologie de Outubro de 1904, p . 878.Gent-aw: P enseurs et
,
savana, 1904, p . 190.
!Ol
Fournier pretende que o tabes é sempre de origemsyphilitica. Charcotinclina—semais para aperversão nervosa. Grasset relaciona—o com umadoençamais geral que se pôde chamar a sclerosemultipla disseminada. 0 que é fºra de duvida é
que o tabes-suppõe umterrenº anteriormente preparadº , perturbado, diminuído nas suas reacções,viciado, degenerado, sendo essa degenerescenciafuncção da hereditariedade e traduzindo—se por essa sensibilidade excessiva, doentia, anormal, quecaracteriza os predispostos.
Quanto ao papel etiologicº da siphylis, pode-sedizer que a opinião de Fournier, comtodo o seu
radicalismo, esta já fora das conclusões damoderna sciencia. A syphilis temo seu lºgar importante, mas n㺠exclusivº na etiologiatabetica, emhora um radicalismo opposto esse mesmo lhe re
cuse (Lancereaux) . Assimo considera hoje amaioria dos tratadistas e isso me dispensa de procurara syphilis em Camillo, para o que, devº confessá—lo, os menºres indícios me faltavam.
Eu abstive-me mesmo de mencionar a varíola,que deixou no romancista vestigios para toda a
vida, porque considero n'
este casomuito secundario o valor etiologicº d 'essa doença. De restº, aataxia, a atrophia optica, cuja bilateralidade é tãºcaracteristica nºs tabeticos, e º symptoms de Argyll
-Roberston que me parece poder adrmar—sesem grande perigo de errar, são elementos bastantes para um diagnostico provavel . Mesmo, porque a classidcação que fiz dos seus symptºmasnão impede a hypothese d'uma das associaçõesmorbides de que falei, antes a approximação de
V laas: Ob. cit., p 541.
102
symptomas classincados em cathegorias diversase o aspecto diff
'
erente em que certos d 'elles nºsapparecem, talvez desvirtuados por essa mesmamorbida associaçãº, me poderiamservir emabonod'
essa hypothese.
Tal o que se concluo synthetizando o longo os
destro pathologico de Camillo Castello Brancº .
Na sua descendencia, indo até onde as naturaes
reservas nos permittem, encontramos, na geraçãoimmediate, além d'uma filha que vivo ainda, o tilhº Nuno estroinaçº , nevralgico e alcoolico, e oJorge passandº a vida ora bebendo e masturbando—se, ora em accessos de loucura extrema. Bio
graphos, levados talvez por um optimismo queforça um pouco, à mercê dºs seus bons desejosphantàsistas, as leis da herança morbida, descobremjá na descendencia d'esses olhos a aura de
novos
104
obra todo o estadomoral de uma época perturbadapor falta de uma doutrina. »
1
E é a essa falta de doutrina, tão claramente re
flectida na sua obra, que nós devemos a expansãoliberrima e admiravel do seu genio.
Que me perdoemos sabios;mas aº reler paginaa pagina a obra do maior escriptor portugues donosso
'
tempo eu pergunto amimprºprio se umasysthematização de toda ella, ºbedecendo a umclarº programma de doutrina, roubando-lhe tudoque lá existe de admiravelmente espontaneo,por umacasº lhe augmentaria a grandeza. Subordinar uma larga obra d
'
arte a umcorpº doutrinario, alinhandº oa d
'
antemão, por uma ordem, comººs capítulos regrados, rigorosos, d
'
umtrabalho desciencia, é correr o risco de por emdebandadatudoque à emotividade do artista essa obra d 'arte temde pedir para ser grande.
Camillo Castello Branco começºu a sua vida litteraria n
'
uma epoca emque o romantismo, semisolto das mãos de Garrett e prestes a cahir narhetorics vasia de Castilho, entrava rasgadamenteno caminho da decadencia. Começava-se a não se
saber quaes as armas l ítterarias, d'
aquie ladefºra, dignas de admiraç㺠e de respeito. Os pro
prios mestres, cºmo Herculano, não hesitavamemreunir namesma citação Balzac e Kook e em falar
cºm todo o seu valioso despresº cathedratico «das
fabricas parizienses de novellas, dramas, viagens,cºmedias, romances, folhetins, physiologiasmoraesou immoraes, e não seide que outros productos
1 Tu ºm zo Bases : As modernas ideias na litteratura
portuguesa, 1892, v. I , p. 240.
105
das fabricas de Balzac, Sue, Sand , Arlincourte C . »
Porque para a ºpinião do solitario de Val—de-Lobosque já pºr esse tempo falava sempre emtomso
lemne e era ºuvido de joelhos comº summo pontífice da sciencia e da litteratura lusitanas, a Comedia Humana valia tanto como os prºductos do onanismo de olhos emalvo doalambicado visconded'Arlincourt. Era assimquando Camillo cºmeçou a crearum nome com º ruídº das suas primeiras obras.
Quatorze annos mais tarde, Theophilo e Anthero,rompendo fogo contra o elogio mutuo d '
essa litte
ratura ofiicial de que Castilho era o arbitro supremo, derrubaramde vez º romantismo, rudemente,n'
umataque violento emque a audacia e o irres
peito nemsempre infelizmente iamservindo umer
guido espirito de justiça. Fundou—se assima cha
mada escºla de Coimbra, precursora dº realismo,que dez annos depºis surgiu exclusivista, intolerante, fincado nas suas apregoadas bases philosophteas, na justeza irrefutavel dos seus principiºs.
N'
esses modernºs tempos as dºutrinas positivistas, pendão de revolta dos aguerridos sapiritosmilitantes, nem sempre os impediam de discorrererradamente. Pºr 1880, um moço de talento
que emmais serenº ramo d'arte nos deixou algu
mas pequenas e quasiignoradas obras-primas, envergou um pseudonymo para dirigir a Camillºuma carta-aberta emque se leemperiodos assim:.V. Ex.
?terá na litteratura portuguesa o papel de
Hugo, Dumas, Flaubert, Sue. Feulllet, !ola, Feydeau, Claretie, Macpherson, Klopstock , Schuchart,etc . , etc nas differentes litteraturas dos diversospaizes! Cremos que não» .
M u m Hsacuasso Opum los, 1878, t. I I ,p . 79e 104
106
Elle sabia lá º bome ingenuo apostolo de Cºmte que diabo de papel tinhamemFrança Feydeaue Claretie ou º arrevesado Macpherson nas nevºentas terras da sua Escºcia. Era, afinal , o mesmo faociosismo de escola que fizera a hostilidade de Lopes de Mendonça e de Herculano quando Camillolitterariamente ensaiou os seus primeiros passos.
Sempre o circulo de ferro de meia duzia de ideiastalhadas pelo dgurinº emmoda a accorrentar a liberdade d
'
um juizo sem paixão, empanando inconscientemente um equitativa criterio de justiça.
Ora º que ha de mais admiravel na personalidade litteraria de Camillo é o mºdo como atravessou tão diversos períodos de combate, sem lhessoffrer sensivelmente a influencia, firme semprenos seus processos d 'arte, realizando espontaneamente ummeio termo que seria difilcil conseguird 'outra maneira. Realista demais para ser romantico, romantico demais para realista, mas camillesco sempre, elle só , incºnfundível, é assimque temos de cºnsidera—lo, fóra de todas as escºlas deque apenas corticalmente, quandomuito, soffreu ainfluencia.
E afinal a .razão primeira d'esse isolamento, devebuscar-se na phase inicial da suaeducação: o tempo da Samardan em que viveu cºm esse padreAntºnio d'Azevedo, «nome que os pobres, seus irmãos, reverenceiam, e os enfermos da alma abençoam; ancião virtuoso; . operario infatigavel emserviço de Deus e da humanidade» , como o pro
prio Camillo escreveu mais tarde na dedicatoria de0 Bem e o Mal . Palavras do romancista recordan
do essa epoca que elle confessa ter sido amelhorda sua vida :
188
des P into a direita, e as Viagens do Cyro pºr cima, e a
theologia do Lugdonense por baixo.1
Litterariamente, educou' se pois Camillo fôra daatmosphere do seu tempo, começou a ler rºmanticos na altura já emque o seu eSpirito estava aptoa recebe los semesse enthusiasmo vulgar na gentenova pelos nomes aclamados; aº contrario de todºsos outros incipientes plumazes do seu tempo, ellesoube que existiu um Bocage, umJosé Agostinhoe um Fern㺠Mendes Pinto, antes de boquiabrir-seao estylo fl ºribundo do visconde de Castilho, adorarº visconde Garrettna Lyrica de Jºãº Minimo, e emHerculanº, aio do rei, humildemente, saudar o
Mestre. D'
ahio seu amor aos classicos que depoisfoi lendo e estudando cominteresse e mais tardea sua paixão de papelista, proporcionando-lhe excellentes meios de investigação de factos historicosdeturpados ou controversos; e ainda, como natu
ral consequencia d'
essas leituras, a acquisição d'
umvocabulario vastissimo que lhe permittiu levar a
nossa língua, que desde o seculo dezoito se vieradeploravelmente empobrecendo e abastardando, a
um grau de malleabilidade e a umpoder de expressão nunca attingidos.
De tal modo, a orientação litteraria de Camilloentra como elementº importante najustidcação critica da sua obra. Orientadojacomsegurança quando conheceu o romantismº, elle que emoutro casºamesquinharia talvez o seu talento na corriqueirareproducção de moldes feitos, soube da escolaqueo recebeu aproveitar apenas as virtudes. Facciosismos de seita, exageros deploraveis, exclusivismosdeprimentes—Luo que respeita, não aos seus pºn
1 Cam eo: Ao Anoitecer da Vida, 1874.
109
tos de vista criticos, mas aos processos da sua arte— não os tinha elle nem os pºdia ter emvista
d 'isso, e eis porque, começando durante a febre romantica, acabandº no enthusiasmo realista, os ro
manticos acha!-o—hiam avançado demais nºs seus
principios e os realistas haviam de ve-lo sempre,emseu trajar antigo, como velha relíquia de tempos já distantes.
Em rigor na evolução litteraria de Camillo não
existem as phases distinctas que alguns querem;antes essa evºlução, umpoucº sinuosa, é apenasa resultante das contigencias da vida aventureirado artista e da transformação natural do seumeion'um largo percurso de quarenta anuos. Só um
artincio pode fazer a divisão do seu trabalho emperiodos autonºmos, semque multiplºs caracterescommuns aqui e além apaguem o quer que sejade difl
'
erencial que os scinda. Um estudo completode cada uma das suas obras explica-nos a sua ra
são de ser, a origemda feição mais oumenos extraubs que pºrventura ella revista, esclarece—nºssuppostas contradições, mas não nos danempodedar os elementos para uma classidcação que não
redunde empassatempo meramente ocioso.
Fixe-se aquimais uma vez que a obra colossaldo romancista n㺠resulta d
'umtrabalho methodi
co, ordenado, regular; a sua actividade era aos
altos e baixos, como sempre acºntece nos neurasthenicos constitucionaes. Eu vou mesmo até ver
na realização das suas obras todo º processod'uma obsessão impulsiva; a sua nevropathia, amplamente provada, auctoriza—me a pensar assim.
Pois do mesmo modo que, se fosse umklepto
110
mano, n'
um impulso irresistível nos roubaria a
carteira, se fosse um pyrºmanº nºs lançaria fogoa casa, se fosse umdípsomano não resistíria a be
ber, se fosse um dumomano se veria forçado, contra tºda a serie de ínhihições, a por—se em fuga e
se fosse umcºprolalo não teria outro'
remedio senão proferir ínconveníencías lamentaveis,—sendoumhºmemde genio, Camil lo havia de irresistívelmente se fazer admirar emobras primas.
Teimo em considerar o processo identico, fundandº—me nos factos que me elucidama suamaneira de trabalho. Certas obras suas, planeadasmuito tempo antes de seremescriptas impuzeramse talvez todo esse
“
tempo ao seu espírito como umaobsessão: haviade por força hesitarmil vezes emescrever umlivro, antes de traçar a primeira linha,essehomem que hesitou sempre emtodos ºs actos dasuavida. Emalguns casos porém, essa hesitação se
esclarece: alguns seus livros, ínutílízados depois deimpressos, por escrupulos de varias ordens, apparecíammais tarde com alterações que só muitosuperficialmente lhes tiravamo mal que os tinha
condemnado. Mas, vencidas todas as resistencías
do doente da vontade, a obra, romance ou historia,escrevia-se com uma rapidez prodigiosa, d
'
umso
jacto, n'
um impulso : o Livro Negro do Padre Diniz foi feitº em vinte dias,
ª o Amor de P erdiçãoem quinze «os mais atormentados da sua vida.
N'
essas condições, a obra forçosamente haviade ser irregular no genero. na concepç㺠e no
processo, e ao estylo teria de faltar essa per
feção regrada e uniforme que é o privilegio dos
H . Humm : Ob. cit.
Cam o : Manos-ias de
pearcers.
ou dois casos dispersos, se pode dizer da obra
poetíca do romancista.
O romance da actualidade, a novella historica, osbosquejos eruditos, as peças theatraes, os versºse os volumes de compilação, apparecem-nos alter
nando—se durante todo o período da sua actividadelitteraria. Comtudo nem sempre a sua elaboração preside o acaso : os artigos religiosos reunidºsnos dois volumes Divindade de Jesus 0 Horas dePaz fºram feitos durante a crise de mystícísmoque o levºu ao Seminario; ºs estudos historicosappareceramquando elle pela supposição de que oreiD. Luiz se ºppunha a que lhe dessemº vis
condado, coordenºu um libello de tremer cºntraos Braganças ; as brºchuras de fragmentos appareceram sempre nos períodos da sua vida emquea obra original não eramonetariamente tão proveitosa que dispensasse o recurso d'uma exploraçãomais ou menos guarnecida do seu nome gloriºso,na capa d'umvºlume de coisas tríviaes.
Esse trabalho de cºordenadºr de coisasmínimasfoi quasi exclusivamente todº o emprego da suaactividade quandº, no um da vida, a doença lheembotou pelo cansaço, pela dôr, pela cegueira, osderradeiros recursos do artista. Os livros do polomica víolentissima vem quando, mais que o ataque do adversario, a doença nervosa o exaspe
ra, e eis pºrque então da sua penna espirramodios e a sua prosa despedaça cruelmente comose esse homemsoffredor quizesse provar aºs quegosavam a saude que lhe faltava, o bem-estar
que não possuía, a fortuna que o trabalho lhe nãodava, que se não usufruis como el les esses bensque Deus sabe comque grande ambiç㺠desejaria,tinha o geniº que os aniquilsva brincando, em
113
meia duzia de paginas demolidoras. Aunicaevolução que naobrade Camillo é possivel talvezmarcarregularmente e a do estylo que a pouco e pouco setºrnamais ductil, mais harmonica, lucrando na sonºridade do período e nº córtemoderno daphrase oque porventura emespontaneidade e leveza íaperdendo. N
'
esse aspectº é elucidante a comparação doAnathema, dos Mysteries de Lisboa , das Somas Contemporaneas e d
'
outros romances dos primeirºstempos coma Brasileira de P razins ºu cºmos capitu
los cºnhecidºs danºvella incompleta Vía-Sawa.
Mas em tudº º que, àparte º estylo, existe
de valioso na sua ºbra já o caso é outro. A Filha
e A Nota do Arcediago, publicadºs em 55 e 56,são já duas nºvellas ínteresssntíssimas, feitas cºmarte, architectadas sem esfºrço, d
'
uma graça es
pºntanea que as faz ler com agrado, Onde estáa felicidade! d'essa epoca tambem, corre comosendº uma das suas obras primas e foiaquella
que fez desanuvesr a Herculano a carranca duvidºse do talento primacial dº romancista. Esse livro fºi, até então, o mais applaudido, e Camillo,animadº cºm º successo fez-lhe a continuaç㺠emUmHomem de brios que o n㺠vale, e ainda, annos depois, nas Memorias de Guilherme do Amaral , notavelmente inferior a ambos os outrºs. OAmor de Salvação, publicado em 64, n㺠cheganempºr sombras ao Amor de P erdição, publicadodois an os antes e cujo exito retumbante na se
melhança do rotulo explora. 0 Livro de Consola
ção, feitº aprºpositº do casº Vieira de Castro e publicado em 72 , As Tres I rmans, encomenda dºCommercio do P orto, em6 1, e as Coisas Espanto
sas, do anno seguinte, não figurariamn'
uma ediçãºselecta aº ladº do Romance d'umHomemRico, de
8
114
6 1, de OBeme o Mal, de 63, dº Esqueleto, de 65,e d'essamaravilhosa collecç㺠das Novenas do Minho, impressa de 75 a 7 7 . Depois da Corja e do
Eusebio Maoorio, veio o romance medíocre Vu l
cões de Lama . E eis como a producç㺠litteraria deCamillo, irregular em quasi todºs os seus aspectºs, artihcialíza, desvalorizando-a, tºda a tentativa
para dxar rigorosamente adentro d'ella os estadiosd 'uma regular evolução.
Ao ler a lºngaserie das novellas de Camillo, comsuas paixões infelizes, suas meninas envelhecidaspenandº pecados d'amºr na sº ledade dºs mºsteiros, seus paes tyrannos e seus brazileírºs grotes
cas de joanetes, apercebe ose o estudº inteirº d'ummeio e d 'uma epocae, dentrº d
'
elle, a comprehensão síngularmente feliz do caracter de cada uma dasfiguras que vivemintensamente através das paginas aventurosas dº s seus livros. Completa justezade scenario, emcada personagemum estudo paycolºgíco perfeitº e, sobre tudo istº, um certº ar
cºntadº, familiar, na narração inimitavel e umri
gor muitº sobrio nº desenho d'umtypo ou d'
umlogar. lia personagens emCamillo quemeia paginase define e maravilhas da intuição no traço d'umcaracter quenos revelamdesde logono artista eminente umvelhº sabedºr da sciencia das almas.
Camillo possuia no grau mais alto os dois pºderes supremos de evºcar e cºmmºver. Certas scenas dos seus livros— como essa, já celebre, damorte do lobº. nº Eusebio Macao
-io, a sabida dºMelro na Brasileira de P razins e o incendio nº Rstrato de Ricas—dino , fixam—se para sempre como se
116
setenta anuos de idade'
viu sumiro se ara sempre o seu que
rido engeitado, pediu a Deus por el a, por si, morreu. .
N'
essameia duzia de linhas está a revelação de
um grande artista. Pode-se escrever commais ornato, com mais brilho, mas não se escreve melhor.
Pºrtugues antes de tudº, encarandº as cºisas eos acontecimentºs cºmo modº de ver da sua ra
ça, Camillo n㺠poz nem seria capaz de pôr todasessas eminente; qualidades ao serviçº d'uma causa ou d 'uma dºutrina; nºs seus romances não haaquilio a que hoje se convencionou chamar a these, mas sempre na bºca do auctor ou dºs seus
personagens os considerandos d '
uma philosophiaum poucºchínho burguesa, brilhando de ºnde a
ºnde pela novidade do paradoxo e conduzindo as
mais das vezes a conclusões moraes de poucº ar
rojo. Mas essa mesma mºralidade varia de livro
para livrº, é de cynísmº ou de crença, de bondade ou de sarcasmº, amercê da instabilidade docaracter do artista.
Ha novellas de Camillo emque rara e a scenainventada: uma das suas características l ítterariasé, cºmº jadisse, a incºnfidencía. E eis porque emgrande parte dos livrºs seus nos apparecem, maisou menºs velados, episodiºs da sua prºpria vida.
Toda a gente sabe que nºs Armas de P rosa e no
Ultimo Acto figura Anna Placido, que º Amor deP erdição e a Mu lher Fata l são verdadeiros e queo episodio macabrº da Maria do Adro arrancada dºtumulo pelo romancista apaixºnado, deu assumpto
C AI I LLO: N ovenas do Minho, I I 0 Commendador.
1876, p. 49 e 50.
117
para umtrecho do livro Somas Contemporaneas efigura episodicamente emalguns outros.
Mas ainda mesmo nos casos em que o auctorn㺠entra na prºpria acção da novel la, nunca el le
cede 0 seu logar do espectador que comments,elucida e observa, e essa posiç㺠que daum certopittoresco às suas narrativas, favorece é claroºppºrtunidade das largas divagações do psycº logo.
E toda a acuidade do seu espírito de analystsapparece então nitidamente. Esses mesmos quelhe recusam ºs dotes de observação noologica
não o fazem senão pºrque o seu processo de
analyse os desorienta. As grandes crises dos romances de Camillo nunca se limitama violentos
estados d 'alma, exteriorizam-se sempre, concretizando se, materializando-se em factºs. De modoque, c ºmº é natural d
'
essamaneira, o romancistafaz o estudo dos seus personagens de fóra paradentro: observa-lhes ºs actºs e investiga depois asrazões intimas que os determinarama agir d
'
essa
maneira. E, por esse processº, chega à realizaçãºde typos admiraveís.
Apenas n'
essa altura uma vez pºr outra o sar
casta íntervem, surpreheude a figura emmeio,cºmuma gargalhada, arremessa—lhe o escºpro emmeia duzia de traços diabolícos e faz d
'
aquillo umacaricatura. Taes os personagens do Morgado da Fafe, tal o typo, aliás admiravel, 'de Calisto Eloy deBarbuda da Queda d
'
um Anjo, ou nos Anno: de
P rosa o de José Franciscº Andrsens.
E pºis que faleido seu sarcasmo e pois queconsequentemente ia falar da sua graça, opportu
118
no será referir—me ao aspecto, se n㺠o mais brilhante, se não o mais valiosº, pelo menºs o maisinimitavel e inconfundível do seu alto espirito. E
'
o trabalho de humorismo adstrícto as suas obrasde crítico e de polemísta, que constitua o maisadmiravel documento de genio em obras-primasde irreverencia grºsseira e rude crueldade.
EmCamillo existia a negaç㺠completa de tºdasas qualidades que para o críticº emgeral se pre
ceitnam. Faltavao lhe a visão serena das cºisas e
dºs homens e o pºder de serenamente julgar; viatudo através das sympathías ou dos ºdiºs que favores ou offensas enxertavamna sua natural hon
dade tamanha quanto o pode ser abºndade n'umnevmpatha da sua força e via a mesma coisacontradictoríamente, segundo a variabilidade habítual do seu espírito.
«Uma tarde, emS. Miguel de Sade,—escreve Silva Pin
to—sahiramos a passeiar pela aldeia ; Camillo CastelloBranco e eu. N
'
umcaminho de atalho,umvelho, sentado
a uma porta, ergueu-se respeitosamente e cortejou : c—Tenham vossas senhorias mmto boa tarde!» C orrespondemos,e Camillo, interrompendo a palestra, informou-me :—n1;1'
homem ven
àra
glglªsta ancíã
ãh'l'
smpâgodz
maos a e amarguras. a eu emm er o
61 o emladrão, e a mulher morreu—l he de dôr . Mas,cºncluiu commovimento brusco,—Deus l l sabe o que faz .
Um n arto d'hora depois, passavamos novamente pelo
velho. ste ergueu—se outra vez . Tireio chapeu; e Camillo, attentando no caso, perguntou me—Q ucm foique V . cortejou
F oio velho de ainda agora.
Qual velhoAquel lo desgra ado de quem V . Ex! me contou a
historia O pae do la ão e daAh !stm: um borrachão
120
correr ao mais despejado vocabulario do insulto .
Camillo pegava nas suas phrases uma a uma, expunha—as n
'
uma gargalhada que fazia rir tambemos que o liam, punha em cada argumento consu
deravel do adversario o barbicacbo do sarcasmo.
e
depois fazia—o pular, emdivertidas cabriolas, acusta dos beliscões, com que, n
'
umoynismo cruel otorturava. De tal modo que a dois passos do começo ja se via o adversario apºpletico, debatendo—se, vomitandoinjurias, descomposto, desconcertado, perdido, e Camillo gozando
'
o prazer de o
aniquilar de todo, de o arrazar, de lhe fazer pa
gar bom cara a audacia de profanar mesmoao de leve, a intangibilidade do seu nome e dasua obra.
Essa polemica da Corja é modelar e define bememabsoluto a sua maneira de combate. No seu
primeiro artigo de resposta, Alexandre da Conceição escrevia:
Uma ultima observaçl o.
O sr. Camil lo Castello Branco, pelos excessos da sua bilis palavrosa, adquiriu n
'este paia a reputapl o leudaría de
um lemista temeroso e intractavel .ós queremos prevenir o sr. Camillo de que emana
nmos ba muito o nosso ambito do terror sagrado deas lendas e do temor pus dosgrandes homens, de is quenos resolvemos a tocar Ibes com umdedo e recon ecemosque estavamcheios de palha, como os espantalhos .
Em homens por raso ao glorioso nome do romancista e aserieda e daimprensa, rocuramos manter esta reaposta nos limites que nos são postos pelos preceitos maiscom uns da decencia e da urbanidade.Se porém os assomos olympicos da vaidade irritada do
sr. Camil lo o levarem a replicar nos emtome por fôrma
que exceda as raias da boa adm nós nio teremos duvnda em o seguir a esse terreno s emeonverter esta inoffensira polemica nomais divertido e decotado escandaloque tem entretido ha muito a ociosidade indigena. Como
l º l
temos sobre a. exe) , apezar de velhos, a vantagemde menos vinte annos seguros , aâançamos—lhe que havemos deser o ultimo a faller,
(porque d
'
aquia vinte annos, escreveu
do todos os dias, ain a teremos muito que lhe dizer .
N'
este ponto , a nossa imaginação é d'
uma fecundidadeil limitada e o nosso pulcbro aminha d 'uma pureza relati
vamente excepcional.Tire; le p remier, Monsieur l
'Anglais.
Nunca combatente algum entrou em camwcommais denodada decisão, e a muitos pareceun'
esse momento que Camillo ia ter emfimo con
teador digno d'
elle.
Pois bem: escriptos mais tres artigos contratantas outras respostas de Camillo, obras-primasde ironia insolente, o adversario que comtão alti
sonantes propositos entrara, bate emretirada semserenidade, sem argumentos, nem ironia, uemmesmo insultos que o salvem.
«Esta questl o esta terminada escreve el le então.
Não é possivel discutir comuminsensato n '
umtal estadode al lucinacl o.
Quebramos aquio protesto de continuar indeânidamenteesta polemica.
Contavamos comtodas as torpezas; como que não contaramos, porém, foi com a tolerancia do nosso estomagopara supportar a presença do torpe.
“V encgm-nos o nojo da sua baixeza e não o receio do seu
E'
claro que isso teve resposta e, como aindadepois, n
'
uma carta publicada, Conceição se lhe re
terceiro anno
22
ferisse ligeiramente, Camillo, ao ver que o adver
sario derrotado ainda hulia, aniquilou-o de vez
n'
um ultimo artigo.
O dr. Manuel Maria Rodrigues, hoje lente da
Universidade e, apezar de tudo, esse mesmo Alexandre da Conceição, foram os adversarios de
mais valor que terçaramarmas como grande polemista. Elle prºprio o reconhecia quando, feitasas treguas, serenamente o seu espírito avaliava os
factos e os homens.E afinal o odio caia coma ultima palavra dos
seus artigos de combate. Atacou Theophilo comextrema violencia e quando este escriptor perdeudois ll lhos e João de Deus organizou umalbumdehomenagem, Camillo deu—lhe o soneto Amaior dôrhumana que ea suamelhor obra rimada. E namerte de Alexandre da Conceição escreveu versos
assim
Bemme lembra que o vi, na juventude,Rosado pela aurora d
'
essa edade.
Eram prismas d'amor e d'amizade
Os carmes do seu mystico alahude
Sendo fatal que degenere e mudeA crença e o af ecto e o bemdamocidade,Sangram-lbe o eito espinhos de vaidadeNos arranques a briga azeda e rude.
Mais tarde o encontrei. Já era o homemBalado por desgostos queE põemna face umgesto acre e severo.
Se o seu bondoso riso eraBastava—lhe este honrosoP regando o Socialismo, era sincero.
C h il e tre s
mas os pecados de que a seu tempo o sr.Luiz de Magalhães terá de dar contas ao
Senhor, figura um romance que embola.
recen nas estantes das livrarias com o rotulo de
O Brasileiro Soares. E'
a historia ingenua d'
umJoaquim de anissas que, de volta do Brazil onde ganhou dinheiro, veiu negociar empapel , casar comuma linda rapariga, ser traído por um administrador de concelho e suicidar-se com um tiro de
pistola. E temo gracioso intuito de ser a rehabili
tação novellesca d'
esse typo de brasileiro de tornaviagem com que Camillo guarneceu exuberantemente a collecção numerosa dos seus bôbos.
Pois bem. Eça de Queiroz, que prefaciou a obra
terminando por lhe chamar uma «BoaAcção» comumB e umAmaiusculos que encerramtodo o eucanto d 'essa finíssima ironia que o fez grande,n'
esse mesmo prefacio escreveu isto :
a . . se ha um etypou de que o Bomunce e o Theatro, emP ortugal , tenhamusado immoderadamente é, decerto, easelavrad or Minhoto, enriquecido e vestido de pan o lino, a
que nas aldeias se chama o brasileiro
126
H amais de trinta annos, emnovel la, emdrama, empoameto, o Romantismo (ou antes o Maneirismo Sentimental
que entre nós representou o Romantismo) temutilisado o
brasileiro como a encarnação mais eu nhesa e mais com
preheusivel da sandice e da materia idade. Sempre que oenredo, como se dizia n
'esses tem os vetustos em no as
Musas viviam, necessitava umser e animalidade in criar,um bºçal ou um grotesco, o Romantismo lá tinha no seu
Heirento deposito de Gguras do pa elâo, recortadas pelos
estres, o brasileiro jaengonça o, já enfardelado, comtodos os seus joanetes e todos os seus diamantes, crasso,glutão, manhoso, e revelando placidamente na lingoagemmais bronca os sentimentos mais sordides . Bastava só cellar—lhe na nuca umnome bemplebeu, arranjar- lhe uma aldeia d
'
origem que cheirasse bem a curral , atiral—o para o
meio de paginas tremq e regadas de lagrimas, e ell e
começava logo a ser bestialmente burlesco e a enojar os de,licados .
N'
isto, os Mestres do Romantismo não procederam, originariamente, por animosidade contra uma classe cujosmodos, gostos, interesses, lhe repugnassem: obedeciamd'
instincto a um I dealismo nevoeuto, theoria da Alma
profundamente separada do C orpo, e consequente divisão
dos «types» litterarios em I dosos e Materiaes, segundo elles personiâcavamo Sentimento, cousa nobre e alta da V ida, ou representavama Acção, que ao Romantismo apparecera sempre como cousa subalterna e grosseira. Ora emP ortugal o homem que mais evidentemente symbolisava a
Acção aos olhos turvos do Romantismo—era esse labrego,que, largando a enxada, embarcava para o Brasil n
'
umporão de galera, comumpar de tamancos e uma caixa de
pinho,
—e annos depois voltava de lá, na Mala Real , comotas novas de verniz , grisalho e jocunde, a edificar umpalacete, a dar jantares de leitão ao abbado, a tramar eleições e a ser barão .
E note V . que este mesmo cavador endinheirado commovia o Romantismo até aE legia, quando elle era ainda o
triste W º rth , arando uma derradeira vez na estrada,
para ouvir o rui o do açude entre as carvalheiras da sua
aldea ; quando elle era o pobre embarcadiço, de noite ,no mar gemente, encostado aborda da escuna Amelia, srguendo os olhos chorosos para a lua de P ortugalApenas voltava porém, como dinheiro que juntara car
regando todos os fardos da servidão,—on ado»
128
gemgenuinamente portuguesa, de raiz .O homemfatal e poetico; amulher de negros cabel lo que perde; a mulbet de pestanas baixas que salva: e arrogante Bdalgg
, comleu os nomes e hostil ao seculo; o padre risonho que mdiae a a todos esses vieramimportadas de F rança : e as
suas ôres, as suas descrenças, os seus murmurios d'
amor,tudo chegou pelo paquete, e pagou direitos na Alfandega,misturado ao couros i lessa e às peças de pan o Sedan .
O nosso Romantismo n o 6 res
ponsavel por essas gentis
creações d'
alem dos P yrinees. E las já a ortavamao Tejoe ao D ouro, assim fal sas e mal feitas, f ra da natureza eda verdade. ORomantismo acolhia-as comuma submissareveraneia provinciana: e assim asmandava imprimir C asaMoré e Casa Roland, taes como as recebia, traduzindolhes apenas emvernaculo o
'
s martyrios e os jubilos.
O brasileiro, porém, era só nosso,todo nos» , d
'
este solo
que pisamos, castiço e mais originalmente portugues
que a chalaça e a louça das C aldas. Mais que nacional ,local . Era do Minho, como o vinho verde. Ora 0 Re
mantismo que sendo triste amou sempre essa provinciaverde—triste, encontrava lá o brasileiro constantemente, nafeira, na romaria, na egreja, na varzea, na villa. Nomirante caiado d
'
amarel lo, que el le avistava entre as ramadas, estava tomando e fresco e brasileiro: na caleche forrada de reps azul , que el le cruzava na estrada e que o empoeirav vinha o brasileiro, de perna estendida. Muitasvezes o mantismo (incoherencias inevitaveis da vida terrestre) jantava com o brasileiro. Assim, profusamente, acotovel land
pºgor essa provincia brasileiros inuumeraveis
LÉta—os de os os feitios exteriores: seccoa, obesos deba, rapados, miudinhos, espadaúdos, calvos , guedelhudos,fracos, e fortes como os boia de Barroso. Vira. os, homensvarios, comas varias, multiplas qualidades humanas : bonse velhacos, ridiculos e veneraveis, generosos e torpes, tinose Q ue importa!O Romantismo eduzira uma vez do seu odio Acção eao «homem que sua. umtype symbolieo de brasileiro gordalhufo e abrutado—e assime apresentavainvariavelm&te.,implacavelmente, em novella, emdrama, empoema, comose não houvesse existido jdmais sendo aquelle brasileiro, efosse tão impossivel mostral—o semos attributes de materialidade que o individualisavam, como eimpossivel pintarMarte sema sua armadura, eu contar Tiberio semesboçar
Capreia ao longe, nas brumas domar . O brasileiro da
129
rua a cada passo desmentiu o brasileiro do livro? Q ue importa!0 bom Romantico não cuida da rua: se é umMestre, marcha al tivamente, com os olhos alçados de nuvens:se é umdiscipulo segue cautelosamente, comos olhos attentos ás pegadas dos Mestres.Extraordinarios. estes Romanticosl E bemsympathicos,os primeiros, os grandes, os que tinhamta lento e uma
veia soberba comeste inspirado, magniâeo desdempelanatureza, pelos factos, lo real e pelo exacto!Os diecipulosesses, louvado seja esse Senhor, são bempecosinhoa, ebemchochinbosl a
Essas palavras foramescriptas por umdosmaiores prosadores do nosso tempo, esse grande homem de talento que salvou o naturalismo pertugues do grotesco d'uma morte iugleria e que dapenas de Camillo logrou sempre os louvores maximes que o grande romancista não tinha por costume outhergar aos que o malqueriam. Escriptas
por umhomemque nos costumamos a admirar devetameute, essas palavras enchem—nos de triste
za, porque até no dandysme de quemas escre
veumarcamanodes d'umborrão grosseiro, revestindo a fôrma desagradavel d
'
uma aggressãe emque os nomes se escondeme fazendo ao preprio
Eça quebrar, n'
umarremesso de senhora visinha, oseu porte habitual de gentilhemem.
Se o grande artista dos Maias quizesse olhar,com olhos de ver, para a sociedade portuense. talcomo ella era no tempo dos brazilelros de Camillo ,teria de concordar emque comessa vulgar encar
nação de grotesco, nemtão pouco os apaixonadosromanticos. eram«types insupidamente falsos comogeneralização» . Não eramtal . Todaagente recorda
Carta—prefacio ao romance de Lu z na Man u l -s : OB rasileiro Soares, 1886 , pag. v-xm.
130
ainda hoje historias d'
esse tempo. comseus amoresinfelizes, suasmeninas reclusas, olhando o ceuatravez dasgradesdosmosteiros; eo namoradoeraquasisempre magro e pallida, sabendo Mussetde côr etrazendo «uminferno dentro do peito — segundoa phrase que o chronista dasensação nona decertonão poderia escrever semse sorrir. l esa figura do
namorado foirareando e não haveria quema dos
cortinasse, n'
esta enema confusão dos temposd'boje em que os poetas lyrices são vinhateiros e
os homens de sciencia se nzerem sonhadores. O
brasileiro é que ainda existe, sema preponderan
cia d'
outros tempos, mas sempre coma camada degrotesco que lhe deu afinal todo o interesse.
Diz Eça que o romantismo carpiaobrasileiro quando elle era apenas o triste emigrante e «encostado
a borda da escunaAmelia, erguia os olhos chore
sos para a lua de Portugal,» troçando—o sempiedade quando voltava como dinheiro que, à forçade duros esforços, conquistara. E' infantil o reparoe de tal modo que a olhos maldosos poderia parecer semboa fé. 0 migrante, que ia comuma sacaao hombre, deixando a sua terra, deixando a familia, buscar a fortuna na obscuridade d'umdestino incerto—era um humilde. ignorante , alvar,abrutado—tanto importa!—nunca fazia rir. Na sua
terra era um filho de lavrador, meurejando de sola sol na labuta espera dos campos, depois a ambição arremessava-o desamparado, se, ao acaso doseu destino, para a riqueza ou para amorte. tias,se resistiu às inclemencias do clima. e se luctou
comtenacidade e se venceu, el-lo então que entrana sua aldeia entre repiques de sinos emusicas defesta, com seu corpo de lavradormettido n
'
umafatiota de ingarilho, asmãos callejadas dosmisté
135
.De facto, o pobre bran'
leiso, o rico torw uiagen 6 hoj e
para nós ogrande fornecedor do nosso riso.
P ois bem. E'
uma injustiça que assimseja. E nós os por
tugue ses que cá âcamos não temcs o direito de nos rir
mos dos brasileiros no de lá voltaram.— P or que, emâm,
o que 6 o Brasileiro E'
simplesmente a expansão do P ortuez .8“Existe uma leide retracção e dilataçl o para os eorpos,
sob a inªuencia da temperatura. (Apprende—ae isto nos lyceus, quando vem o buço) . Os corpos ao cal or dilatam, ao
frio encolhem. A mesma leipara as plantas, que ao sol
alargam e dorescem. ao frio aeanham c estiolam. A bana
nei nos nossos climas, 6 uma pequena arvore tímida,retra ida
,esre f l l : no calor do Brazil 6 a grande arvore
triumphante , de folhas palmares e re luzentes, tremo pos
sante, seiva insolente , toda sonora de sabida e outros, os
candalosa de bananas. Mesma leipara os homens. O hes
panbol das Asturias, modesto, humano, discreto e graveassando para o sol do Equador, nas Antil has Hespauhotorna—se o su l—americano vaidoso, ruidoso, ardente,
raire e feroz . P ois bem!O Brasileiro 6 o P ortuguez“
la
tado pelo calor.
0 que elles são, ex' '
vamente—nós somol -o, retrahidamente. As qualid es internadas emnós, estâo n
'
el les
Goresccutes. Onde nós somos a sorrelfa ridiculs'
tos, e l les
são larga ridiculas. Os nossos defeitos, aquisob climafrio, estão retrabidos, não a parecem, âeam por dentre16, sob um so l fecundante, a se emgrandes evidencias grotescas. Sob céo do Brasil a bananeira abre em fru
e o portu ez rebenta embrazileiro. Eis o formidavel p
rincipio! Brasileiro 6 e P ortugues desabrochadot
E o sol de lique nos fecunda. O C hiado sob os tropidd inteiramente a rua do Ouvidor. Rin ne -nos do bra
sileiro é rirmo-nos de nós sempiedade . Nós somos o germen. elles são o fructo : 6 como se a espiga se risse da se
mente . P e lo contrario!o hrazileiro 6 bemmais respeitavel,porque 6 completo, attingiu o seu leno desenvolvimento:nós permanecemos rudimentares. lles estão já acabadoscomo a abobora, nós embryonarios como a pevide. 0 P orto
s!» 6 pevide de Brasileiro!na somos nós? Brasileiros que o olin e não deixa des
abrochar. Serp entes a'
que falta o sol . Em cada um de nós,no nosso fundo, existe emgerman umbrasileiro entaipado,afogado—que para crescer, brotar emdiamantes de peiti
133
lho, calles e predios sarapintados de verde, só necessitaembarcar e ir receber o sol dos tropicos. Cada lisboeta, sabei-o, traz em sia larva d
'
umbrazileiro . Nós aquivestimos côres escuras, lemos Renan , repetimos P aris, e no emtanto cá dentro, fatal e indestructivel , está aboborandoumbrazileiro .
Quem o não tem sentido agitar-se, como o feto no seioda mãe?—F itaes às vezes uma gravata verde com pintasescarlates? E
'
o Brazileiro a remecber por dentro. D ese
jaes inesperadamente uma boa feijoada comida emmangasde camisa? E '
o B rasileiro.—A peteca—vos ir visitar aMe
moria do Terreiro do P aço? o Brazileiro, lá dentroLembra—vos re ler uma ode de Vidal
,ou uma fala de Me li
cio? E'
o B razileiro!E l le está dentro de vós lisboetas!Absabei—c l vós estaca semme no vosso estado interessanted'
umB razileiro!E quereis uma prova? E
'
o verão!E'e cruel verão!En
tão sob a temperatura germinadora—s B razileiro interiortende derir, a desabrochar, a alastrar emcachos. Entãocomeçaes a deitar e chapeu para a nuca, a usar quinzenade alpaca, a sacar depois do jantar como palito na bdeos , a exigir os vendedores a agua do Arsenal, a fr uen
tar a D eusa dos Mares!Sabeis o que 6? E'
o B razieiro,
que lá tendes dentro na entranha, attrabido pelo sol,a
querer romper!P ortanto quando nos rim0s d'elle intentamos a nós
mesmo um processo amargo. No inverno a pevide contéma abobora : mas quando a abobora cresce no verão 6 el la
que contéma pevide. Nós cicontornos e brasileiro; e lle lã,chegado ao Brazil, germina, brotaemfructo, e nós ficamoslbe dentro. Ora se esmagarmos a abobora a grandes gol e
de chacota, 6 sobre a nossa propria e rica pessoa que es
carregamos o riso fere. Tenhamos juizo!Reconheçamo-nosn
'
el les como nós mesmos—ao sol
Pensarão decerto os senhores que esta satyracheia de vivacidade, chispande espirito, d
'
umagraça fina e adoravel, 6 obra d
'
algumd'esses eudemoninhados romanticos a quemo espirito de justiçade auctor da Reliquia não perdoa. Pensarão talvezque o homensinho, n
'uma hora de bomhumor, se
serviudosinstrumentos habltuaes de trepar os dl là
134
para jogar por tabella a suamaliciosa bisca aos de
ea, tudo comaquello facciosismo que contundia osdelicados nervos de brilhante auctor do Mandarim.
Puro engane. Eça de Queiróz não podia dizermald'esse pedaço de prosa porque elle nasceu do seu
proprioengenho. Vemn'
umnumero das Farpas e foireproduzido depois na obra Uma campanha Alegre
(11 vol . pag. 97 que reune a collaboraçâo do
grande escriptor no pamphlete seu e de Ramalho.
Verdade é que isso foiescripto em72 , e prefaciodo Brasileiro Soares em86 , e quatorze nunca sãodemais para afinar certas cordas bambas do nossoespirito e amadurecer noções de ponderado res
peito que as tendencias juvenis as vezes tolhem.
Na sua qualidade de regra, pode esse modelo debrazileire que lixeisoii
'
rer as suas excepções? Nadamais certo, e tanto que o proprio Camillo assimpensava, traçando algumas das suas dguras de terna -viagemnas Nopellas do Minho, cheias de acçõesnobres, de abnegação, de amor e de bondade. tias
a lendaa que deu curso a conhecida diatribe d'uma
princeza nymphomaniaca, faz dos brazileires de Camillo apenas types toscos e Eçade Queiroz preferiu citar de ouvido, semter o incemmodo de solidamente fazer primeiro a prova.
E'
certo que elle falou de ummodo vago de remantismo, semsequer citar o nome do romanticode 8. Miguel de Seide. ilas romanticos grandes queemnovel las troçassemo brazileiro e que fizessemduettos d
'
amor entre jovens pallidas e manceboslanguidos, de melena ao vento, houve emPortugalapenas um. E nem o proprio Eça iria gastar tãoprol lxamsute o seu esiyie d'eire a'uma longa referenela ameia duzia de subl lteruos obscuros. A
136
de logsr, nenhuma novellaminha se incul ea na capa ron anee renl ssta, A lguem arguiu, com m 㺠, um meu editor,
que nee anuuucil a da 4 ! ina l os jornaes especialisavaa factura realista da neve la. D
'
ahiprocedeu tal vez o equivoco importuuo e dagel l ador do sr. Eça de Queiroz . Se a.
ex ! me julgasse menos irracional do que o seu modo dei6r os frontispícios dos meus livros semos ver (eu 6 quevejo tudo quanto o insigne romancista imprime) . duvidaria
que eu fosse capaz d'
essa parvoiçada ara chamar aosmeus romances attenção dos leitores e a. C ródo
P ois eu precisaria, para.ser visto, de me nivellar com a
espadua litteraria do sr. Eça? Mas, se o Gzesse, era essa a
m eira de me tornar invisivel, como diz a sentença de não
seique grande sabio . Talvez seja do grande sr. Eça da
Q ueima a sabia sentença.
Camillo começava a ser ironico no dmd'essesperiodos e 6, com esforço. apparentemente calmoemtodo o artigo. Era preciso que elle tivesse porEça uma consideração enema para não respondercom a brutalidade de umataque violento el le,
que não perdoava nunca. Não seimesmo se Eça o
comprehendeu mais tarde quando, arrefecidos osarderes de combatente, desfeitos facciosismos deescola. recordando os tempos moços, decerto pesou, commagna. os desatinos dajuventude, n
'
umahora calma de justiça.
Cinco anuos antes de morrer, Camillo foiagraciado com o titulo do visconde. Alguns amigos,conhecedores da velha ambiçãomegalomaniaca doromancista, conseguiram a mercê do monarca, eo parlamento, emsessão d
'
essemesmo anno, pro
'
Arti
Qaefn f . o Otelo ds Cren ças. 1887, pag. 142.
137
mulgou uma lei que o dispensava das despezasiuherentes à graça concedida.
Vem a proposito dizer que a providencia legisletiva, tendente a honrar o nome de umhomemde genio, não mereceu na camara baixa a unani
midade dos mila gres, e que, se n'
essa assembleiase ouviramde alguns oradores—como os srs. An
tonio Candido, João Franco, João Arroyo e Manueld'
Assumpção— palavras de alevantada justiça, outras soaramn
'
uma lamentosa e desolada opposição.
Disse as Elvino de Brito, sobriamente, estribandese nos ditames da escrupulosa administração dascoisas publicas, e disse—as umsr. Simões Ferreira,negando «um valor social notavel» obra de Ca
millo, fazendo confrontos litterarios e insurgindose contra o precedente que, attentadec rte a quantidade de genio: agraciados, iria ser para o thesouro publico uma fat
'
al calamidade.
Mais tarde, quando namesma camara se votouuma pensão ao Jorge, o filho doido, não houve dis
cessão, e certo, mas ainda ummembro da commissão de fazenda - o sr. José Dias Ferreira
assignee vencido o comsinceramagna, estou emcre-lo, de que aquelle conto de reis annual viesseimpedir asnuançaspatrias d
'
umaregeneração brevee proiicna. llandaa justiça dizer que Elvino de Brito,reconhecendo talvez, depois d'esses quatro annosdecorridos, o erro antigo, assigned approvandoesse projecto.
Os factos apontados representama exterioriza
ção d'
uma mt vontade que vemde longe e quenem amorte do escrlotor conseguiu ainda apagarinteiramente. Odlos semeadas pelas suas palavrasde azedume, odio ainda d
'
umasociedade a que ellearrancou os seus melhores grotescas, o odio das
138
vaidadesiuhas feridas e do amor-proprio que e ri
diculo fulmina, —tudo isso veio deitar raizes de
calumnia, intrigar na sombra, difamar, servindo-se
da arma de desprezo, esquecendo-se do respeito
que primeiro se deveu ao nome do maior artista
da nossa tem , e depois ainda se deve emhomenagemà suamemoria altissima.
Camillo morreu. e morreu d'umamaneira tragica. Era umhomemcego que se matava, erao fimcruel de um desgraçado. Pois quando o cadaverd'esse homemchegou ao Porto, havianagare ape
nas umcento de pessoas que o esperavam, e, en
tre essas, nemumunico escriptor, nemumunicoartista!Estavam reporter: por dever de oincio, oconego Alves Mendes, o padre Sebastião e Freitas
Fortuna, por amizade, estava o editor Costa Santos e mais um pequeno grupo anonyme que a
admiração humilde ou a curiosidade banal levou
«0 cortejo era composto apenas de 18 trens eatravessou a cidade nomeio da tndiii
'
erença geral
e quasidespercebido» , diz o telegramma do Portopara um jornal da epoca. fias, aquie além, e
mercante saltava o balcão e vinha is portas—rir.
I a alli, emmudecido paratodo o sempre, o sarcastaque escreveu a lilica e a Nota do Arcediago, os
Brilhantes do Brasileiro, toda essa galeria emqueos seus grotescos viveme asua sociedade egoísta,vil , ntilitaria, sem intelligencia e semvergonha,anima os bellos quadros que a Exam, come poder
gravativo d'
umartista de genio, napartemais deprimente e caricatural dos seus aspectos.. la alli
Correio da uma, de essa
v as lhe votarama corda civica, de heros, de martyr ou desimples e incategorisado visconde .
Ora o caso 6 que logo depois da morte do romancista daReliquia , F ialho d
'
Almeida ublicou n'
uma revista de Lisboa um artigo critico que esagradou a muita gente , sem
que comtudo nenhum dos grandes amigos domorto tivessea coragem de re licar, como lhes cumpria. Consentiraln todos— porque ca aram.
N'
esse artigo havia um periodo, de al lusão evidente a
C amil lo, que começava assim: «Houve, 6 certo, n'
estametade do seculo, umgrande escriptor portuguez que não foi
consul, nemdandy .
A resposta veiu agora nas palavras do sr. Ramalho: no'
P orto existe uma sociedade recreativa como nome de Camillo, simples e incategorisado visconde foiCamil lo. E nema rhetorica do orador den tente de perigo que havia
em fazer lembrar a toda a gente, al li, n'aquel le logar,
o nome do nosso p rimeiro romancista, a quem at6 hojeP ortugal não soube erigir ummonumento.
As palavras de mal ho, justas ou não, tinham doido
muito, e todos esses que, por indolencia, ignorancia ou
egoismo, se cal laram, espreitavama occasião de lançar emdespique a insonsa piadinha que adual omaior d
'
ellas par
turejou em tão desageitado ensaio. P onàue se as opiniões
expandidas no artigo do pamp rio os Gatos sobre a
obra de Eça são diacutiveis, as palavras emque al ludin
ao suicida de Seide são indiscutivelmsnte damais inteirajustiça. Tocarn
'
este ultimo ponto, deixando todas as outrasaârmações de pe, chega a ser uma cobardia,ma u malvem sugerir comparações sobre a justiça das enagens
aos nossos grandes homens : e toda a te, allimearno naconsagração, havia de se lembrar, o do o monumento,de que nemHerculano, nemCamilloP ortugal. »
E , logo a seguir, n'
uma nota, elucidei
Em junho de 1902, n'
um recondito jornalsinho emqueeu então devotamente col laborava na verde illusão de queera lido, publiquei, a proposito do anniversario da mortede C arnil lo Çastcllo Branco, uma serie de artigos peguandolela realização d
'
ummonumento 6 suamemoria.
id6a pareceu fruetiâear e, dias vol vidos, osjurases do
duair, elle ia falar. Não roduaiu nem falou,mas o factoemsidenuncia a maneira e ver d
'
umaminoria que não é
tal restricta e cujos elementos e influencia eu tive oecasiiode observar depois commais vagar.»
Depois de publicadas estas palavras, o membroillustre da Associação dos Jornalistas a que ellasse referem, teve a amabilidade de me informardos esforços empregados por essa conectividadedesde longa data para conseguir uma homenagemdigna da memoria de Camillo. Pensou n
'
ummonumento e encontrou apenas mit—vontade, pensouno Pantheone viu-se só coma suaidea. para arealização da qual nemmesmo os sobrinhos do romancista, politicos graúdos, quiseram prestar o con
curso da sua influencia; pensou por um, modestamente, n
'
um lettreiro como nome do escriptor aum canto d'uma rua do Porto, e anual nemisso
mesmo conseguiu.
Fui pois injusto para comos directores da collectividade portuense, arguindo—ade obstrucionismoe desinteresse; as suas iniciativas apenas falharampelos effeitos damesma indid
'
erença ou damesmasurda hostilidade que mais tarde se veio oppór aosnossos.
Ora essa questão domonumento cderece aindaalguns aspectos que vale a pena analysar detidamenteA' primeira perguntaque occorre: «Deve—se fazer
omonumentob a resposta é, semhesitar, adrmativa. Camillo foiumhomemde genio que nasceuemPortugal e escreveu emportuguês, a suaobra
1 P . Osoalo: Aguª d a , 1904, l .' serie, n.
' 6.
164
velho tutor se associa aos brinquedos innocentes dos seus
papil los, prestando—se simplesmente a vigial
c os de longe,com bonhomia e condescendencia.
Não competindo, portanto, ao E stado—tutor pr omovermanifestações de gosto litte rario como as que se rec lamampara H erculano e Garrett e C amillo e C astilho, emquempretendem delegar esse encargo, visto que não o tomam
spra si, os amigos e admiradores d ”
esses il lustres homense lettras 1
Emprimeiro logar, parece-me que o sr. Chagaslabora n'umerro pensando que ao Estado não compete promovermanifestações degosto litterariacomoas que se reclamamparaHerculano e para Camillo;porque uma estatua vale pelo interesse d 'arte ede homenagemmas vale tambemcomo documentoeducativo— e a Educação é umdos attributes doEstado. E tambemcurioso seria inquirir do articalista se qualquer das individualidades que, segundoo seu modo de ver, significampatrimonio nacional,fez mais perduravel obra em prol d'essa naciona
lidade que Herculano, revelando ignorados do
cumentos de suahistoria e Camillo opulentando-lhee puritlcaudo
—lhe a lingua, e fazendo uma obraque encerra o reflexo mais lucido damaneira desentir da sua raça. Depois, o raciocinio do scintillante chrouista arrasta-nos emverdade a bemex
tranhas conclusões.
Toda a gente sabe como entre nós se temfeitoas homenagens lítterarias dos ultimos tempos.Garrett foiparar aos Jeronymos porque encontrouum conde rico com o snobismo de convencero amava] publico de que entende e admira o poetados olhos verdes da Joannínha Eça logrou encal
í Joio Cascas: Roda s e FM , 1906, p. 24-25.
H S
rar-se n'
um deprimente larguelho lisboeta a co
brir, por ordem da policia, as formas nuas d'
umaverdade aphrodisiaca, porque outro elegante se
nhor conde n'
isso metteu toda a sua influencia e odinheiro seu e dos antigos. Quemfez o monumentoa Eça não foio sr. João Chagas nemquejandoshumildes adoradores do talento primacial dograndehomem, mas simmeia duzia de opulentos amigosque o romancista da Reliquia, por seumal ou porseu bem, aquideixou. Ora por tal modo,meus senhores, se Camillo e Herculano, como é provavel , não tem entre os seus amigos posthumos umpar de condes ricos, a suagloria para sempre tlcara sepultada nos seus tumulos, sem um pedaçode marmore ou de bronze que os reclame aattenção inculta dos vindoiros.Aminha opinião é que omonumento deve ser
feito por subscripção publica, concorrendo o Estadocom os meios suiiicientes para não poder gorartentativa. E
'
claro que se não deve recorrer porcoisa alguma aos processos, a meu ver poucoidoneos, de que se tem servido a commissãoque no Porto intenta uma estatua a Garrett. Nembazares de prendas, nembatalhas de Horas, nemrecitas de gala; mas unicamente uma subscripçãoque todos os jornaes dopai: abrissem. Qualquer quefosse o resultado d'essa tentativa, o monumentoestaria garantido pelo auxilio pecuniario do Estado.
Seria esse, ameu ver, nas acluaes circumstancias,o mais honesto dosmeios de conducta.
Terceirapergunta: «Onde deveseromonumento!»Tomando apenas em conta a parte decorativa, a
terra indicada seria Lisboa, porque, sobre ser a
nossa unica cidade, sabido que o Porto não passade uma aldeia a que a pretensão tira todo en
146
canto e faz grotesca— é ainda o centro da nossaintellectualidade pobresinha.
—aceite já de hamuitoque Coimbra caiu na decadenciamais deprimentee mais desoladora. Lisboa é susceptível de se emhellezar e o Porto não. Os talhões daAvenida pedemmonumentos, embora semgrandes lances de architaetura sumptuosa, o centro do Porto pede apenassaneamento porque geralmente cheira mal . Comtudo ligurs de Camillo está tão ligada ao Porto
que, apezar de tudo, eu penso que o monumentoa erigir deve ser aqui. E contra isso dos a dimonidade nova da escolha de local idoneo, sabido queos sitios amplos da cidade não são decerto muitode molde a tornar facil o trabalho de escolha. Os
que a alguma coisa se prestavamestão tomados.
Citou-se, até ha pouco, a Cordoaria: mas essa latemjá o horticultorMarques Loureiro, supportandoao-de -cima uma iavradeirona de perna gorda e
grandes seios, que o esculptor nacional chamouF lora— louvado seja Deus!8. Lazaro é um localacanhada e feio, abafado pelos casarões que o circumdam; qualquer dos outros jardins publicos ficamuito distante do centro da cidade e fõra do ca
minho que geralmente põde seguir um forasteiroe o prºprio Passeio Alegre, que era o unico localem que se deveria ter feito omonumento ao infante D . Henrique, esse mesmo é improprio agorapara homenagemque se projecta.
Parece—me que 6 esse um ponto importante quese não deve descurar n'esta questão. Nemeu sei
mesmo se foiattendendo a elle que o sr. Silva
Pinto apresentou a tal respeito umabemestranha ebizarra ºpinião: «O monumento—escreven a. ex.
“
— deve ser em S. lliguel de Seide, comromariaannual dos escriptores a valor, no dia 1 de junho,
148
Uma edição de obras escolhidas de Camillo constituiria pois uma das mais altas homenagens queseria bello tributar a suamemoria. E com ella il
cariamos possuindo três ou quatro dezenas de vo
lumes onde brilhasse emplena luz, semuma sombra, toda a genial grandeza do seu espírito.
P aº l º 0 8 0310 o o o o o o o o o e o
P itros etRógis n- Les obcessions et lec impulc
'
1902
monumental do Amor de P er
S enna F reitas
ea (nova edição) , 1888.
Les emotions, 1901 .
Gliisraelibs diE uropa, 1872.
Cartas de Camil lo CastelloBrun
Cartas de Lisboa, na Vos P u
blica, do P orto, 1902.
Naviaxt myali i imp ulcivnyc
1904.
Sousa N osograp llia d'Antãero
, no I n
Tb eOphilo B raga.
tura portrlgueza, v. I,1892.
Atlas—Manuel de P sychialrie,
(ed. franc , porRomtaovu-on),1904.
V arga .
Vieira de C astro . .
de sua vida e obras, 186
Cantillo C astel lo a co, na Re
vista Contemporanea, 1864.P recis de: maladies mmtales1904.
L'
hereditépcycliologique ed.)1902 .
!A DA H I STO RIA DE ORT UGAÍLI VRARI A MODERNA: RUA AUGUSTA
,95
L I S B O A" ª '"
A .
'
l'.1V u neo n c d l o n enc J oã o d e C q btm
'
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A . l ª . B a rista
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"
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