Post on 14-Mar-2016
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joanafpires
eu não entendo. a fotografia é algo que me escapa. não é de hoje, mas de sempre. talvez do nosso primeiro encontro – que já não guardo na memória – esse desentender que persegue.e o mais desanimador é que nunca entenderei. mas me conforto na ignorância. compreender já não é mais problema, certa que fico de que não é possível descrever aquele resultado, apesar de tanta gente já ter tentado. porque o que eu vejo não é exatamente uma reação química, com seu sentido mais puramente retido. fico imune a tanto reducionismo, e quando vejo uma foto, vejo mais do que um simples registro.
fotografia, do grego, “desenhar com luz”, soa muito além do que qualquer cientificismo possa descrever. e tudo se mistura num ceticismo quase que místico.tenho medo da fotografia porque ela cabe em si. e nela cabem todas as coisas do mundo. num movimento que se assemelha por demais ao eterno retorno, que me foi quase impos-sível de digerir naquele livro de kundera*. porque é um ser (o mundo) que se condensa num estar (a foto), que vai fazer referência a um outro ser (o mundo fotografado). e assim naquele círculo vicioso que a gente sabe que é vida. mais parecendo que a gente está preso. sendo isso o que atordoa.
a fotografia é uma arte que captura, que prende. porque cada pedaço de gente dentro de uma foto está consumido em uma parte. e é um pedaço de gente a menos. como aquelas pessoas que não se deixavam fotografar porque acreditavam que a fotografia era capaz de lhes roubar a alma. e quem é que pode negar?penso nisso com mais intensidade ainda quando vejo uma pinhole, com toda a sua artesanal perspicácia. e me soa como se fosse possível a gente fazer as mãos em concha e, abrindo um tiquinho, capturar um pedaço de mar. depois chegar em casa, abrir as mãos com delica-deza “para não desmanchar” e dizer surpreso: mãe, olha o mar que eu trouxe pra você lá de calhetas.acho que vai ter um dia em que a gente vai poder fazer isso com cheiro e mandar um email: meubem, te mando aquele cafezinho que você tanto gosta. beijo.
Pois, quando vejo uma pinhole é quando me espanto com a idéia de que a memória não de-pende da mente, nem de pensar. porque uma foto de pinhole é como lembrança, numa lata de leite ou numa caixinha de fósforo. o fotógrafo é um furtador de momentos.
28 de julho de 2008
Ressaca, 2011
Boa Viagem, Recife, 2010
Destino, 2011
Contorno, 2011
Adaptação, 2011
Esquecimento, 2011
Apagão em Recife, 2010
Pedra do Sal, Rio de Janeiro, 2010
Parada da Diversidade, Recife, 2010
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Jockey Clube, Recife, 2011
Jockey Clube, Recife, 2011
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Boa Viagem, 2011
Moda com Erastos Vasconcelos, 2011
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Imaginidade
Teoria do Apagamento
Ilustre Quem
Joana Pires faz parte do coletivo 7Fotografia, que mantém o blog http://setefotografia.wordpress.com em parceria com as fotógrafas Ana Lira, Isabella Valle, Pri Buhr, Maíra Gamarra e Val Lima. É formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco e concluinte do curso de fotografia pela Uni-versidade Católica de Pernambuco. Atualmente, estuda Mídia e Estética no mestrado de Comunicação da UFPE. Está es-crevendo a dissertação “Imagens contemporâneas: novas for-mas de interação com a imagem digital”, com orientação da professora Maria do Carmo Nino. Tem medo de ser fotógrafa.