Post on 08-Nov-2018
QUAL O CURRÍCULO PARA OS BEBÊS?
ANGELA M. S. COUTINHO – angelamscoutinho@gmail.com
NEPIE/UFPR
Cândido Portinari
Ponto de Partida
• Afirmação de Maria Malta Campos (2012, p.
19):
“[...] uma dificuldade [...] é a ausência de
propostas curriculares claras, aceitas e conhecidas
de todos os que atuam nas instituições”.
• Currículo/Orientações curriculares:
- Não é uma categoria estática, universal, homogênea e de significado óbvio.
- Socialmente construído.
• [...] não é um elemento inocente e neutro de transmissão
desinteressada do conhecimento social. O currículo está
implicado em relação de poder, o currículo transmite
visões sociais particulares e interessadas, o currículo
produz identidades individuais e sociais particulares
(MOREIRA; SILVA, 2002, p. 8, grifos nossos).
- EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTEXTO MULTIFACETADO
- Instituições com finalidades diversas, gestadas em momentos históricos
concomitantes ou diferenciados, mas com uma marca: a co-existência
Guarda
Preparatória Compensatória
Com fim em si mesma
Creches e pré-
escolas
1995 – Critérios para o atendimento em creche que respeite os direitos
fundamentais das crianças – (indicativos ou mediadores curriculares):
documento que revela consonância com o paradigma de infância presente nos
debates acadêmicos e políticos, gestado de modo participativo, que antecedeu a
promulgação da LDBEN n. 9394/1996 - que inclui a Educação Infantil como
primeira etapa da Educação Básica.
1999 - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – (mandatário) –
institui três princípios para as propostas pedagógicas: éticos, políticos e
estéticos.
1999 – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – (indicativos ou
mediadores curriculares) – analisado como demasiadamente prescritivo e
dissonante a todo o movimento vivido até então.
2009 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – (mandatário) –
reapresenta os princípios, ampliando suas dimensões, bem como apresenta uma
preocupação com os eixos de trabalho com as crianças pequenas – brincadeira e
interações, articulados com as concepções vigentes, bem como com as
diretrizes para a educação básica.
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Básica
• Art. 6º Na Educação Básica, é necessário
considerar as dimensões do educar e do
cuidar, em sua inseparabilidade, buscando
recuperar, para a função social desse nível
da educação, a sua centralidade, que é o
educando, pessoa em formação na sua
essência humana (BRASIL, 2010).
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil
• Art. 3º O currículo da Educação Infantil é
concebido como um conjunto de práticas que
buscam articular as experiências e os saberes das
crianças com os conhecimentos que fazem parte
do patrimônio cultural, artístico, ambiental,
científico e tecnológico, de modo a promover o
desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos
de idade.
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil
• Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação
Infantil deverão considerar que a criança, centro
do planejamento curricular, é sujeito histórico e de
direitos que, nas interações, relações e práticas
cotidianas que vivencia, constrói sua identidade
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta, narra,
questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a
sociedade, produzindo cultura.
[...] as propostas pedagógicas das instituições de
Educação Infantil deverão prever condições para o
trabalho coletivo e para a organização de materiais,
espaços e tempos que assegurem:
• I - a educação em sua integralidade, entendendo o
cuidado como algo indissociável ao processo educativo;
• II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora,
afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e
sociocultural da criança;
• III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das
famílias, o respeito e a valorização de suas formas de
organização; [...].
Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a
proposta curricular da Educação Infantil devem
ter como eixos norteadores as interações e a
brincadeira, garantindo experiências que:
• VI - possibilitem situações de aprendizagem
mediadas para a elaboração da autonomia das
crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-
organização, saúde e bem-estar;
• Para Kramer (2002) um currículo ou proposta
pedagógica, reúne tanto as bases teóricas quanto
as diretrizes práticas nelas fundamentadas, bem
como aspectos de natureza técnica que viabilizam
sua concretização. Partindo do pressuposto de que
uma proposta pedagógica é um caminho, não um
lugar e de que toda proposta pedagógica tem uma
história que precisa ser contada, a proposta nasce
de uma realidade que pergunta e é também busca
de uma resposta; é diálogo.
• Precisamos:
- Conhecer as indicações existentes para a elaboração
das orientações curriculares.
- Retomar o percurso vivido e as experiências
elaboradas.
- (Re)Conhecer as especificidades do trabalho na
Educação Infantil dando visibilidade ao o que
selecionamos para organizar experiências que dão
corpo a um currículo para crianças de 0 a 3 anos.
- Conhecer as crianças: seus interesses, culturas, as
práticas sociais das suas famílias, os saberes que
possuem, o momento da vida em que se encontram –
se são bebês, crianças bem pequenas etc.
A questão do olhar torna-se fundamental para
retomarmos o tema da alteridade: “o olhar convoca
nossa dimensão ética na relação com o outro”
(Amorim, 1997). Ao reconhecer a diferença no
“Outro”, recuperamos a dignidade de nos
reconhecermos nos nossos limites, nas nossas
faltas, na nossa incompletude permanente, enfim,
em tudo isso que é essencial e verdadeiramente
humano e, ao mesmo tempo, inefável (PEREIRA;
SOUZA, 1998, p. 39)
- Relações Sociais
- Brincadeira
- Linguagens
- Relações com a natureza
- Categorias fulcrais a toda ação pedagógica:
*Educar-cuidar
*Espaço e tempo
*Relação com as famílias
- Concepções basilares: Criança, infância e educação infantil
- Considerar os princípios que orientam o trabalho pedagógico na EI
- Tomar o processo de organização do trabalho pedagógico como fundamental à estruturação das experiências a serem propostas às crianças
• INTENCIONALIDADE
- A partir das orientações para o trabalho pedagógico na educação infantil, das observações e seu estudo, as professoras definem as proposições que serão planejadas no sentido de ampliar o repertório de experiências e saberes das crianças.
• MARAVILHAMENTO
- Dimensão a ser considerada como fundamental no trabalho pedagógico com as crianças pequenas: o ser humano nunca deve perder a capacidade de maravilhar-se com as pequenas coisas, mas para isso ele precisa, desde a mais tenra idade, saber que tem esse direito.
“O trabalho de cuidado requer
competência delicada e profunda e a
capacidade de um pensamento reflexivo
e interrogativo da parte do adulto que se
ocupa do crescimento da criança.
Necessita de um diálogo contínuo entre
o pensamento e a ação.” (COLOMBO,
2008, p.21)
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Algumas questões:
- Como lidar com a assimetria de poder na elaboração
de orientações curriculares?
- Como assegurar a dimensão do coletivo no processo
de sistematização?
- Como “orientar” sem prescrever?
- Como assumir e deixar claro a provisoriedade das
escolhas? Como assumir as escolhas?
- Temos que ter atenção a obrigatoriedade do 4 e 5,
pois esse processo não pode provoque um retrocesso
educação de 0 a 3 anos.
NECESSÁRIO:
• Estruturar processos coletivos de estudo e
sistematização das orientações curriculares
para a educação infantil, por meio da
formação em serviço, dos grupos de estudos
nas instituições etc. Esses processos
precisam envolver todos/as os/as
profissionais e o estudo em profundidade do
que constitui o contexto educativo para as
crianças pequenas.
• A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu
não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que
abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando
borboletas.
• Manoel de Barros
OBRIGADO PELA ATENÇÃO!
Para continuar o diálogo,
acessem os sites:
www.nepie.ufpr.br
www.ced.ufsc.br/nupein
REFERÊNCIAS BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil. Resolução 05/2009 - Câmara da Educação Básica. Brasília, 2009. ______. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica. Resolução 04/2010 - Câmara da Educação Básica. Brasília, 2010. CAMPOS, Maria Malta. Infância como construção social: contribuições do campo da
Pedagogia. In: VAZ, Alexandre F.; MOMM, Caroline M (orgs.). Educação infantil: questões contemporâneas. Nova Petrópolis: Nova Harmonia, 2012, p. 11-20.
COUTINHO, Angela S.; ROCHA, Eloísa A. C. Bases Curriculares para Educação
Infantil. Ou isto ou aquilo. In: MEC. Revista criança. Brasília, ago. 2007, p. 09 -11. KRAMER, Sonia. Propostas pedagógicas ou curriculares de educação infantil: para
retomar o debate. In: 25ª Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG, 2002.
MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu (orgs). Currículo, cultura e sociedade. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.