Post on 30-Jul-2015
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Recensão Crítica – Equipa CAPA
A presente recensão crítica insere-se no desenvolvimento da atividade número cinco da unidade
curricular Educação e Sociedade em Rede, do mestrado em Pedagogia do Elearning da
Universidade Aberta.
Os objetos de análise da nossa recensão crítica são os vídeos:
Students Helping Students. Spring 2010 Class of Digital Ethnography.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_npqbMKzHl8;
A Vision of Students Today. Michael Wesch em colaboração com 200 alunos da Kansas
State University, BY-NC-SA license.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dGCJ46vyR9o;
The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity. Apresentado em
2009 Personal Democracy Forum at Jazz at Lincoln Center.
Diponível em: https://www.youtube.com/watch?v=09gR6VPVrpw;
The Machine is Us/ing Us. Michael Wesch, BY-NC-SA license.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NLlGopyXT_g.
O mentor dos vídeos é Michael Lee Wesch, professor associado de Antropologia Cultural na
Kansas State University. O seu trabalho é reconhecido na área da ecologia dos meios de
comunicação quanto à etnografia digital, explorando usos humanos da tecnologia digital.
Vencedor de vários prémios, destacamos a 20 de novembro de 2008 o prémio de Professor do
Ano pela CASE e pela Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino.
No que respeita ao primeiro vídeo mencionado, Students Helping Students, com a duração de
4,53 minutos, promove-se o projeto K-State Proud, de entreajuda dos alunos da Kansas State
University. O próprio título reflete essa entreajuda e transmite claramente a mensagem que
Wesch pretende transmitir: o impacto que um grupo de pessoas que se unem pelo mesmo
objetivo tem na vida de uma pessoa. De uma forma alegre e divertida, Wesch descreve como o
projeto K-State Proud beneficiou alunos, cujas histórias de vida são dramáticas.
Este vídeo reflete os mais básicos instintos do ser humano, somos sociais e sentimos empatia
pelos da nossa espécie e estas caraterísticas podem ser ampliadas com a existência das redes
sociais que habitam o território digital. As comunidades aumentam e com elas o seu alcance na
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obtenção de objetivos positivos. Aqui são só abordados os aspetos positivos porque são esses
que se pretende fomentar, mas não podemos esquecer que muitas redes sociais com objetivos
bem mais sinistros também já atuam nestas redes.
No segundo, A Vision of Students Today, com a duração de 4,44 minutos, promove-se a reflexão
sobre o estado atual da educação e aquilo que a tecnologia tem a oferecer para o engajamento
dos alunos. Resumem-se algumas das características mais importantes dos estudantes de hoje:
como aprendem, o que precisam para aprender, os seus objetivos, esperanças, sonhos, o que
as suas vidas serão, como e que tipos de mudanças irão ocorrer nas suas vidas. Neste vídeo a
mensagem que está implícita é que devemos refletir na forma como nos podemos aproximar
dos alunos de hoje. A tecnologia tem aqui um papel muito importante, uma vez que está bem
presente na vida dos estudantes.
Importa refletir sobre este vídeo, porque a educação é a base para a construção do futuro. A
realidade apresentada ainda é a vivida na maioria dos locais de ensino, existindo um
desfasamento entre a realidade vivida pelos alunos e as instituições educacionais. Ao
analisarmos o vídeo falta apenas uma informação, qual o investimento em tecnologia e na sua
aplicação, pois não devemos desvincular o papel do Estado como principal investidor num
processo que vai garantir a sua continuidade. É importante meditar seriamente como devemos
aproveitar o que já está acessível à maior parte dos estudantes, de forma a não perdermos
tempo e rentabilizarmos ao máximo a aquisição e manuseamento de conhecimento.
Facebook®, Youtube®, Websites são muitos dos recursos utilizados pelos alunos e esta será a
forma mais eficaz de aproximação e de obtenção de resultados mais eficazes, sem desperdício
de recursos, como um livro que não vai ser lido ou uma sala de aula, na qual os alunos estão
presentes fisicamente, mas cuja atenção não está centrada no que lá se passa. Muitos alunos
consideram que a tecnologia pode ser a solução, aproximando-nos daquilo que realmente
importa.
O terceiro vídeo, The Machine is (Changing) Us: YouTube and the Politics of Authenticity, tem a
duração de 33,44 minutos e traduz a participação de Wesch na Conferência apresentada no
Personal Democracy Forum de 2009, no Lincoln Center, sobre os novos meios de informação e
as novas formas de interação que emergem no YouTube®. Iniciando a sua palestra com a
referência a duas obras sobre a sociedade em 1984, lembra que na sociedade do Big Brother®
os livros foram relegados e os factos verídicos ocultados à população, transparecendo a
sociedade infoxicada, que consome informação cegamente, o que confere aos meios de
comunicação uma natureza ecológica específica. Eles moldam as conversações e apontam para
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um esvaziamento da dimensão social, agora fortemente patrocinada pelos meios de
comunicação. Com o fenómeno da Web 2.0 e dos novos meios de informação e comunicação,
um novo momento de nos explorarmos e reencontrarmos surge e ganha evidência. É esta a base
do estudo do palestrante com os seus alunos, tendo por objetivo observar os comportamentos
atuais no YouTube.
A grande conclusão foi que existe um desbloqueio da personalidade, a recognição, que nos leva
a refletir sobre nós próprios, ao nos revermos digitalmente na interação com os outros. A esta
observação Wesch designa de inversão cultural, uma autenticidade individual e liberdade de
expressão, gerando novas formas de auto-conhecimento. Assim, o Whatever, que a meio da
palestra Wesch havia apontado como sinónimo de indiferença geracional, ganha, atualmente,
um novo significado de manifestação cultural: "I care. Let's do whatever it take…by whatever
means necessary!".
O orador salienta a revolução cultural que pode advir desta nova ferramenta, no entanto no
final afirma que ainda estamos a tentar descobrir a melhor forma de a manejarmos e sabermos
tirar partido dela, sem nos deixarmos arrastar pelo histerismo da novidade e da supremacia da
tecnologia. Ao utilizarmos o Youtube® devemos saber dominar algumas ferramentas
tecnológicas para não sermos arrastados no turbilhão de informação que existe e que torna
difícil a pesquisa do material realmente relevante, para não nos expormos de forma incorreta
abrindo portas para a privacidade que pretendemos manter. Ao criarmos um conteúdo devemos
ter em atenção a forma e contexto para que seja corretamente interpretado. Também devemos
ter em atenção que o conteúdo não é controlado e por isso podemos acabar por aceder a
material perturbador. Ficou claro que muitos procuram através desta plataforma encontrar um
meio onde se possam afirmar e auto consciencializar.
Por fim, o quarto vídeo, The Machine is Us/ing Us, com a duração de 4,33 minutos, que reflete
as potencialidades da Web 2.0 e a virtualização do real. Em comparação com a escrita em papel,
o hipertexto mostra-se mais flexível, podendo estar entreligado e estabelecendo uma rede
muito abrangente a qualquer momento e em qualquer lugar. A passagem do HTML ao XML
trouxe alterações relevantes. Enquanto o HTML preocupa-se em formatar dados em etiquetas,
o XML estrutura a informação que se pretende armazenar, nomeadamente a estrutura, a marca,
a lógica própria da informação. Quem irá organizar toda a informação disponível na rede? Nós
todos, com base em etiquetas que vamos dando às informações. A rede usa-nos e é o nosso
reflexo. A Web 2.0 conecta e liga pessoas, lugares, tempos. Há que se reavaliar todos os direitos
autorais e intencionalidades na rede, bem como a reconfiguração das relações. Este vídeo
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espelha bem a forma como nos relacionamos com a máquina/ tecnologia. Por um lado,
utilizamos a máquina para divulgação da nossa informação, sendo que somos nós que a
controlamos e organizamos na rede… ao mesmo tempo que a “máquina nos usa”, pois é o nosso
reflexo, porque afinal… “the machine is us”.
Independentemente das críticas apontadas a Wesch, a verdade é que a escola está desadequada
ao tempo atual e a necessidade de mudança de paradigma é uma realidade, promovida em
grande escala pelo advento das novas tecnologias. É este o grande foco de Wesch, a necessidade
de adequarmos as práticas docentes à sociedade em rede em que vivemos, que promovam
interações no ciberespaço e concretizem atividades pedagógicas de sucesso. Michael Wesch
deixa-nos em cada um dos vídeos aqui analisados mensagens óbvias e nas quais a tecnologia é
referida no que respeita à sua evolução de forma bem elucidativa, o que nos leva mesmo a
interrogar sobre o futuro, tal é a velocidade vertiginosa a que a mesma avança. Aponta assim a
Web 2.0 e os novo meios de comunicação como formas facilitadores dessa mudança de
paradigma. A tecnologia surge como forma de socializar, mas também como forma de aprender
e evoluir como ser humano, agora sem barreiras de tempo e de espaço, interagindo numa escala
global. A máquina, enquanto produto do social, reflete e espelha esse mesmo social, bem
patente na expressão “Educar é estar mais atento às possibilidades do que aos limites”, de
Wesch.
O modelo atual de educação encontra-se obsoleto e urge uma transformação radical que
(re)atraia os alunos à escola e à educação. As necessidades hoje são outras, pois
a Internet, as redes, o celular, a multimídia estão revolucionando nossa vida no quotidiano. Cada vez resolvemos mais problemas conectados, a distância. Na educação, porém, sempre colocamos dificuldades para a mudança, sempre achamos justificativas para a inércia ou vamos mudando mais os equipamentos do que os procedimentos. A educação de milhões de pessoas não pode ser mantida na prisão, na asfixia e na monotonia em que se encontra. Está muito engessada, previsível, cansativa. (MORAN, 2004).
Na sociedade da imagem e do espetáculo e o quadro e o giz já não estão de acordo e já não
fazem sentido para os alunos da e-geração. A sala de aula tem de se abrir ao mundo exterior e
não fazer com que a escola seja um mundo à parte e desadequado. As novas tecnologias
revolucionaram o conhecimento e democratizaram-no e a educação ganhou novas dimensões.
Citando Almeida (2005):
É importante integrar as potencialidades das tecnologias de informação e comunicação nas atividades pedagógicas, de modo que favoreça a representação textual e hipertextual do pensamento do aluno, a seleção, a articulação e a troca de
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informações, bem como o registro sistemático de processos e respetivas produções, para que possa recuperá-las, refletir sobre elas, tomar decisões, efetuar as mudanças que se fizerem necessárias, estabelecer novas articulações com conhecimentos e desenvolver a espiral da aprendizagem.
A nova configuração colaborativa, construtivista e interacionista da educação evidenciou-se e
não podemos fugir a ela enquanto educadores. Só assim se pode promover uma educação
adequada e ajustada aos alunos do século XXI. Como Wesch realça “Let’s do whatever it
takes….by whatever means necessary”.
Assim, os professores têm uma grande responsabilidade: "serem os catalisadores da sociedade
do conhecimento” (HARGREAVES, 2003). É fundamental lançarmos mãos à obra, com o apelo
de Wesch, para mudarmos as práticas, repensarmos formas alternativas de educação na
sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem. Vivemos numa sociedade
digital, exigente e competitiva, mas que nos dá a todos um manancial de oportunidades imenso.
A educação e a tecnologia caminham lado a lado e há essa preocupação de que o acesso à
aprendizagem deva ser cada vez mais acessível, no qual o elearning, fruto dessa mudança, pode
ter o papel de facilitar e ajudar a essa nova era educacional.
A importância e o grande contributo de Wesch é esse apelo à ação, pois a escola deve preparar
o futuro, até porque, “if we teach today as we taught yesterday, we rob our children of
tomorrow” (DEWEY, 1916).
Concluimos citando Wesch (2009):
Taken together, this new media environment demonstrates to us that the idea of learning as acquiring information is no longer a message we can afford to send to our students, and that we need to start redesigning our learning environments to address, leverage, and harness the new media environment now permeating our classrooms.
25 de Janeiro de 2015
Equipa Capa: Ana Melão, António Costa, Daniela Belo e Hélder Pereira
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. (2005). Prática e formação de professores na integração de mídias.
DEWEY, J. (1916). Democracy and Education. An introduction to the philosophy of education.
New York: Free Press.
HARGREAVES, A. (2003). O Ensino na Sociedade do Conhecimento: a educação na era da
insegurança. Colecção Currículo, Políticas e Práticas. Porto: Porto Editora.
MORAN, J. (2004). Educação e Tecnologias: Mudar para valer.
WESCH, M. (2009). From Knowledgable to Knowledge-able: Learning in New Media
Environments. Disponível em:
http://www.academiccommons.org/2014/09/09/from-knowledgable-to-
knowledge-able-learning-in-new-media-environments/