Post on 18-Jan-2019
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
l
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-‐REITORIA DE PESQUISA E PÓS-‐GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO -‐ CIENTÍFICO Período : Agosto/2014 a Agosto/2015 ( ) PARCIAL (X) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho ): O PAC Urbanização de Assentamentos precários em Cidades Amazônicas: Proposta metodológica para avaliação da produção e ocupação humana na política habitacional em Belém e Macapá. Nome do Orientador: Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão Titulação do Orientador: Professora Doutora Faculdade: Arquitetura e Urbanismo Unidade: Instituto de Tecnologia -‐ ITEC Laboratório: Espaço e Desenvolvimento Humano -‐ LEDH Título do Plano de Trabalho: Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA) Nome do Bolsista: Danielli de Araújo Felisbino Tipo de Bolsa :
( ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/INTERIOR ( X ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD ( ) PARD -‐ renovação ( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
INTRODUÇÃO Desde a década de 60 estudos tem sido direcionados ao processo projetual, com o intuito de proporcionar uma gama de possibilidades tanto conceituais quanto operativas ao oficio da arquitetura. No entanto, tais processos não repercutiram do mesmo modo na adoção de requisitos e critérios de qualidade voltados a programas habitacionais de interesse social em cidades brasileiras. Atualmente a produção habitacional de interesse social vem dando prioridade aos projetos padronizados e não à participação do usuário na produção arquitetônica, nos quais observam-‐se fragilidade no vinculo entre morador e ambiente construído, tornando-‐se além de distorções nas oscilações em relação às condições de moradia um serio agravante para a mobilidade residencial. Dentro disso, surgem diversos questionamentos. Por exemplo, as bases do projeto padronizado que visa o atendimento da aparência e não da essência do espaço arquitetônico, o que reflete na falta de adaptação do usuário com a casa, por isso um estudo voltado ao uso espacial. Ultimamente novos processos, novos conceitos e novas práticas surgiram desde então influenciando e proporcionando diferentes interpretações sobre a atuação do arquiteto e urbanista, apoiados na relação entre ser humano e espaço físico. Com relações espaciais revigoradas, principalmente nos seus níveis de representação, estudos do ambiente construído poderão tratar de outras representações além das geométricas (PERDIGÃO & BRUNA, 2009). Tais,conceitos, práticas e processos poderão ser utilizados em programas de habitação popular, tratando com mais intensidade o aspecto afetivo, o vinculo espacial do morador com a habitação, de forma, a identificar as rupturas e permanências no período de pós-‐ocupação em processo de reassentamento, gerando assim melhor adaptação e satisfação com o novo ambiente habitacional pelo usuário final. A Vila da Barca apresenta um quadro de remanejamento/ reassentamento pertinente com famílias residentes em habitações com forte apelo à cultura ribeirinha que passa a residir em espaços projetados por arquitetos. O presente trabalho considera uma revisão da produção científica dos trabalhos (artigos,dissertações e trabalhos de conclusão de curso) sobre a área de estudo Vila da Barca realizados na Universidade Federal do Pará, destacando o laboratório de Espaço e desenvolvimento Humano que vem realizando pesquisas na área desde 2009, com projeto e habitações, o que já resultou em dissertações, TCCs e artigos. O intuito de acompanhar as transformações que vem ocorrendo na Vila da Barca em relação falta de adaptação do uso espacial, fator que repercute visualmente nas alterações realizadas nas unidades habitacionais, gera conflitos pelos usuários na apropriação do espaço. Observa-‐se a recorrência nas discussões sobre as áreas habitacionais e sua inserção à cidade formal, o impacto econômico e visual do ambiente construído. Para Malard (2006), a chamada “aparência” da arquitetura, ou seja, aos fenômenos arquiteturais tal qual ele se apresentam é uma maneira de examinar as características do objeto arquitetônico, sua peculiaridade e sua aproximação com a arte, a técnica e com a ciência. Entende-‐se, contudo que para arquitetura ser compreendida na sua totalidade, requer uma abordagem que esteja além dos aspetos visuais, ou seja, requer a relação com a essência da arquitetura. A relação entre usuário e espaço físico em habitação social ainda é uma lacuna a ser enfrentada no âmbito do projeto de arquitetura. Desta forma, o presente estudo visa decifrar elementos da habitação não contemplados pela adaptação habitacional em áreas de assentamentos precários∗ na Amazônia, no caso a Vila da Barca, identificados na produção habitacional formal e informal. Desse modo, definiu-‐se estudar também palafitas urbanas relacionadas com a produção arquitetônica de habitação social em programas de remanejamento habitacional. O estudo de palafitas para identificação de referências espaciais intenta fundamentar a representatividade de arranjos espaciais cujas propriedades intrínsecas podem ser mantidas em determinadas situações da prática profissional, especialmente nos casos onde há importância de continuidade nas referências espaciais do usuário como é o caso dos projetos de habitação de interesse social em situações de remanejamento. JUSTIFICATIVA:
∗ Em 2007, com a inclusão de um eixo denominado Infraestrutura Social e Urbana no PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, tornou-‐se possível contemplar a política habitacional com foco para urbanização de assentamentos precários, vislumbrando o tratamento adequado de favelas de maior porte e complexibilidade, situadas nas principais cidades e Regiões Metropolitanas do país.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
A mudança do espaço habitacional de produção informal para o de produção formal tem gerado insatisfação nos moradores com a nova moradia. O reassentamento de famílias em situações de remanejamento tem revelado conflito e a necessidade de adaptação habitacional, ou seja, cria um afastamento de espaços com maior familiaridade às famílias envolvidas com projetos governamentais. Pesquisas (SILVA,2013; MENEZES,2012; MENEZES,2014; FELISBINO,2012; FELISBINO,2013; PERDIGÃO & GAYOSO,2012 )demonstram conflitos com a configuração espacial da nova casa e a identificação do usuário com o ambiente. Desta forma, a identificação de elementos geométricos e significativos para moradores da casa tipo palafita, promove maior clareza no quadro de rupturas e permanências provocadas com a produção formal de habitação social. Quando investigadas promovem o conhecimento de propriedades intrínsecas ao espaço habitacional que podem ser mantidas em determinados contextos da prática profissional do arquiteto. Com isso, o presente estudo visa identificar os elementos espaciais socialmente produzidos que contribuam para adaptação habitacional do usuário na nova casa, aproximando códigos formais e profissionais de arquitetura daqueles elementos espaciais que fazem parte do vocabulário informal local para auxiliar a intervenção de projetos habitação social, tornando-‐os assim menos impositivos. A investigação proposta justifica-‐se como uma tentativa de oferecer aos envolvidos na produção de habitação social subsídios que possam fundamentar a elaboração dos projetos, a fim de evitar a descontinuidade no padrão já assimilado na própria produção informal, demandando estratégias projetuais híbridas, que promovam a integração entre formalidade e informalidade do habitar, as quais prescindem de investigações e decodificações capazes de promover a incorporação de elementos do vocabulário informal, e assim , estabelecendo a maior conexão entre códigos profissionais que possam assumir referências da arquitetura vernácula por meio de exemplares socialmente produzidos e mais diretamente pela produção informal de moradia, o que permitirá o fortalecimento da identidade cultural e individual do usuário com a casa. Os estudos dessa natureza, como aqui proposto, visam promover resultados que possam aproximar os códigos formais e profissionais de arquitetura daqueles que fazem parte do vocabulário informal mesclando técnicas de pesquisa capazes de suscitar discussões sobre o habitar amazônico. OBJETIVOS: Geral: -‐Discutir fundamentos do projeto de arquitetura por meio do uso espacial. Específicos: -‐Avaliar o uso espacial em projeto de arquitetura de habitação destino em remanejamentos urbanos; Identificar rupturas e permanências espaciais no reassentamento habitacional da Vila da Barca em Belém (PA); Sistematizar esquemas geométricos que representem subsídios ao trabalho do arquiteto para concepção arquitetônica de espaços habitacionais alvo do habitar ribeirinho; Investigar e sistematizar mecanismos que atestem a relação entre o ser humano e aspectos físicos no projeto de habitação. MATERIAIS E MÉTODOS: Considerando que o espaço habitacional abrange escopos teóricos metodológicos de natureza projetual entre escala urbana e edilícia, onde em cada uma delas a habitação apresenta-‐se com certa distinção de abordagem entre aparência e essência na valorização do espaço construído (PERDIGÃO& BRUNA, 2010), desta forma, foram definidos os materiais e métodos da pesquisa. Priorizou-‐se a pesquisa documental e bibliográfica em fontes primárias e secundárias no que se refere a soluções projetuais, habitação ribeirinha, para complementações de informações da área de estudo realizou-‐se visitas “in loco”,levantamento físico-‐espacial e fotográfico, levantamento da realidade habitacional da cidade de Belém, a fim de caracterizar a área de estudo; assim como o Levantamento de campo sobre a produção habitacional informal na área de estudo com utilização de instrumental que utiliza técnicas verbais e não verbais (Quadro 01), que apresentam além das necessidades e aspirações do morador que será remanejado, as manifestações implícitas nas representações espaciais dos moradores com o desenho da casa da infância e a casa dos sonhos, ou seja, permite relacionar a subjetividade do habitar e os elementos geométricos dos espaços habitacionais.
Quadro 01: Blocos Temáticos abordados no formulário não verbal
Formulários de Consulta não Verbal
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
1-‐Casa da Infância (desenhos) 2-‐Casa atual (desenhos, falas e registro fotográfico) 3-‐Casa dos Sonhos (desenho e poema do desejo) 4-‐informações gerais (dados sobre o entrevistado) 5-‐Comparativo entre a casa atual e a casa anterior 6-‐Levantamento físico da casa
Fonte: Laboratório de Espaço e desenvolvimento Humano (LEDH), 2015.
Aplicação de formulário verbal (Quadro 02) de adaptação habitacional aos moradores reassentados em empreendimentos executados pelo poder público foi elaborado pela equipe de pesquisa durante o desenvolvimento do projeto “O PAC Urbanização de Assentamentos Precários em Cidades Amazônicas: proposta metodológica para avaliação da produção e ocupação humana na política habitacional em Belém e Macapá”. A elaboração do questionário foi resultado da varias reuniões interdisciplinar envolvendo pesquisadores e bolsistas das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Psicologia e Serviço Social.
Quadro 02: Blocos Temáticos abordados no formulário de adaptação
Formulários de Adaptação 1-‐Identificação da área 2-‐Sociodemográfico (características dos entrevistados) 3-‐Antes e depois do remanejamento: comparativo entre a casa atual e a anterior 4-‐Situação atual (nível de adaptação da casa atual) 5-‐Avaliação e Perspectiva (sobre a casa atual)
Fonte: Laboratório de Espaço e desenvolvimento Humano (LEDH), 2015.
O questionário possui itens referentes a aspectos, sociodemográficos; comparando a casa atual e a anterior nos quesitos tempo de moradia, composição familiar, tipologia da casa, preferências e uso da casa; situação atual tratando de residência e áreas comuns; e avaliação e perspectiva do morador em relação à casa atual. Os questionários verbais foram aplicados com os moradores que residem nas unidades habitacionais do Projeto Vila da Barca no período de 17 de abril de 2014 a 13 de setembro de 2014, totalizando 10 visitas na área para conclusão dos questionários; já no período de 11 e 14 de dezembro foram realizadas duas visitas para aplicação dos Formulários de consulta não verbal aos moradores que residem na área de palafita e que estão na iminência de remanejamento para os empreendimentos habitacionais do projeto Vila da Barca executados pela SEHAB-‐PA. Além do questionários, foi realizada na área uma oficina, com duração de um dia (14/04/2015) que integra o projeto de pesquisa acima citado. A oficina promoveu o diálogo com os moradores do projeto Vila da Barca, para registrar modificações desejadas e realizadas na unidade habitacional no pós-‐remanejamento. Por fim, a análise dos resultados subsidirá a elaboração de quadro de esquemas geométricos que aproximam saber informal e saber formal para subsidiar a produção formal de habitação em linguagem de projeto a fim de apoiar a prática arquitetônica. Resultados/Discussão A fim de poder caracterizar a área de estudo sem distorções buscou-‐se trabalhar como dados fornecidos pela executora do projeto Secretaria de Habitação (SEHAB) e informações colhidas pelos moradores mais antigos da área de estudo, complementando os demais estudos pesquisados e já disseminados sobre a área. A partir da análise destes dados somados a pesquisas bibliográficas efetuadas em estudos anteriores desenvolvidos dentro e fora do LEDH-‐UFPA, bem como entrevistas com moradores, chegou-‐se a estes resultados de caracterização da Vila da Barca. 1. Processo de ocupação informal A área de estudo escolhida trata-‐se da,Vila da Barca, uma comunidade tradicional, que segundo Diogo (2002) iniciou entre as décadas de 20 e 30, com a migração dos ribeirinhos para cidade em busca de emprego, ou como ponto de apoio ao comercio fluvial da capital com as ilhas. A comunidade se mostra como espaço de transição entre a Baía do Guajará e a Cidade de Belém. Composta por mais de 80% de habitações em palafitas de 1 a 3 pavimentos que adentram a Baía do Guajará e em menor proporção de casas em alvenaria, nas áreas de terra firme. A Comunidade Vila da Barca foi funda próximo ao centro de comercial e histórico da cidade de Belém o Ver-‐o-‐Peso, os ribeirinhos das ilhas adjacentes, como Cametá, Abaetetuba, Igarape-‐Miri etc, comercializavam seus produtos como: açai, peixes, frutas no intuito de complementar a fonte de renda. Um dos fatores que levou ao adensamento na década de 40, foi a chegada dos ribeirinhos a cidade na busca de empregos no Cortume e na Industria de Castanha.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
De acordo com Diogo (2002), a localização da Vila da Barca próxima a orla facilitou a chegada dos produtos vindo das ilhas ao Mercado Ver-‐o-‐Peso, ao Porto, ao Centro Histórico e Comercial, definindo assim um importante via de circulação viária, que possibilitou que os moradores tivessem acesso ao trabalho gerado em função das atividades econômicas desenvolvidas naquela área da cidade.
Figura 02: Mapa de localização da Vila da Barca, em relação ao centro comercial de Belém (PA).
Fonte: Laboratório de Espaço e Desenvolvimento Humano (LEDH), 2014.
As primeiras habitações da comunidade foram construídas na Passagem Praiana, seguida pela Travessa Coronel Luis Bentes, atualmente a Avenida Pedro Álvares Cabral, e pela Passagem Cametá Souza (2008). Entre as décadas de 60 e 70 ocorreram obras de saneamento nas vias próximas à Avenida Pedro Álvares Cabral, que alterou a configuração espacial desse perímetro. (SEHAB, 2004a). O aterramento transformou o traçado urbano e a tipologia das habitações que ao longo do tempo foram sendo substituídas por alvenaria, culminando em divisão, para os moradores, do que seria a Vila da Barca, área alagada do tipo palafita, e a área de terra-‐firme. Tais mudanças levaram a saída de famílias que residiam nessas áreas. A comunidade só não foi extinta devido às lutas travadas pelos moradores em resistência à privatização da orla de Belém (SEHAB, 2004a). SEHAB (2004a) relata que apesar das pressões políticas e econômicas, a Vila da Barca ficou conhecida como símbolo de resistência urbana à privatização da orla de Belém, tendo no centro comunitário “Nossa Sra. do Perpétuo Socorro” e na Associação dos Moradores da Vila da Barca o apoio para conseguir benfeitorias como a instalação de postes de concreto, em substituição aos de madeira, pela Celpa em 1991 e as constantes recuperações das estivas.
1.2 Caracterização da área informal A Vila da Barca esta localizada no Distrito da Sacramenta (DASAC), bairro Telégrafo, município de Belém (PA). Os principais acessos eram por meio aquático, através da Baía do Guajará, e atualmente por terra-‐firme, pela Rua Prof. Nelson Ribeiro, pela Travessa Coronel Luís Bentes e pela Passagem Praiana. Encontra-‐se próxima a um importante corredor viário de acesso ao centro comercial da cidade, a Avenida Pedro Álvares Cabral, o qual oferta linhas de ônibus que trafegam tanto na capital, quanto nas cidades próximas como: Ananindeua, e Marituba.
Figura 03: Localização da Vila da Barca, com principais acessos.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Fonte: Laboratório de Espaço e Desenvolvimento Humano (LEDH), 2014.
De acordo com os dados do Projeto Social da SEHAB (2004a), no período de cadastro de lotes, a população local era de 4.000 habitantes, sendo 2.273 moradores beneficiários diretos com o projeto dos quais, a maioria era composta por jovens e crianças, equilíbrio entre homem e mulheres, pessoas com baixa escolaridade e ensino fundamental incompleto. A renda familiar girava em torno de 0 a 3 salários mínimos. Entre as principais atividades geradoras de renda estava a pesca, a criação de pequenos animais, como aves e porcos para consumo e venda.
Figura 04: Animais criados nas palafitas da Vila da Barca.
Fonte: SEHAB, 2013
Dos 472 imóveis cadastrados, os dados apresentam o uso predominante habitacional na área, 89,41% são residenciais, 9,53% são mistos (residência e comércio) e apenas 0,64% era apenas comércio. No geral, o número de cômodos varia entre 1 e 7, onde 80,51% das unidades são resididas por apenas 1 família, mas 19,50% encontrou-‐se a presença de coabitação, de 2 a 4 famílias, evidenciando-‐se uma média de 5 pessoas por domicílio. A grande maioria da população residia em palafitas, 83,05% e apenas 9,53% em casas de alvenaria, estas localizadas próximas aos acessos por via terrestre. Os acessos às palafitas ainda se dão através de estivas de madeira com largura entre 0,80m a 1,20m a uma altura que varia entre 0,50m a 5m do solo (SEHAB, 2004a).
O material das primeiras palafitas eram de madeira de baixa qualidade e cobertura de palha em duas águas, as quais foram sendo substituídas por habitações, ainda do tipo palafita, mas em madeira cerrada, com cobertura de fibrocimento ou barro, que dependendo do local, variam em tipologia como o uso de sacadas, varandas, caimento das coberturas, número de águas e pavimentos (55,08% em 1 pavimento e 44,07% em 2 pavimentos), além do uso de cores, assim como nas áreas mais adensadas são em larga escala de qualidade ainda muito precária (DIOGO, 2002; SEHAB, 2004a).
Figura 05: Palafitas na Vila da Barca.
Fonte: Acervo LEDH, 2014.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Em relação a infraestrutura da área, em 98,52% das habitações cadastradas era feito o abastecimento de água pela COSANPA, mas ainda de forma precária e o sistema de esgotamento sanitário praticamente não existia, 79,45% dos moradores lançavam seus dejetos e água servida diretamente no rio e apenas 12,50% utilizavam fossa negra. O projeto social (SEHAB, 2004a) relata que a coleta de lixo era feita regulamente na comunidade, mas a falta de infraestrutura aliada ao excesso de lixo jogado no rio são os principais fatores responsáveis pela imagem negativa da área.
Figura 06: Lixo e ausência de saneamento na área de Palafitas na Vila da Barca.
Fonte: SEHAB, 2008.
A relação com o rio é muito forte, este é utilizado como meio de transporte (8,7%), de lazer (27,97%), de subsistência (4,87%), através da pesca e como atividade econômica (1,06%). O Projeto Social da SEHAB (2004a) relata algumas falas de moradores sobre esta proximidade: “estou acostumado com a enchente e vazante da maré todos os dias, aqui é sempre ventilado, é perto de tudo”; “é só jogar o anzol e puxar que o almoço está garantido”.
Figura 07: Relação com o rio na Vila da Barca.
Fonte: SEHAB, 2013.
1.3 Implantação do projeto Vila da Barca Pela ótica urbana, a Vila da Barca é reconhecida por um cenário problemático devido à falta de saneamento, motivo que levou a Prefeitura de Belém, através da SEHAB a apresentar no ano de 2003 um projeto de erradicação das palafitas, em parceria com o Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades. O objetivo da proposta era elevar as condições socioambientais da população da Vila da Barca, através de ações de desenvolvimento local sustentável com reassentamento das famílias na mesma localização por meio de construções de moradias em área aterrada, infraestrutura urbana, saúde, educação, geração de renda, segurança e organização social (SEHAB, 2004b; SEHAB, 2008). No ano de 2004 o Plano Social da SEHAB (2004a) apresenta o cadastro de 472 imóveis em áreas de palafita, dos quais 590 famílias habitam. Já em 2008, a apresentação em meio digital da proposta, da mesma Secretaria, amplia a oferta e insere mais 162 imóveis como benfeitorias cadastradas, totalizando em 634 imóveis beneficiados diretamente. É possível que esta divergência de dados se de ao fato de que em 2006 a SEHAB realizou uma atualização cadastral, segundo Amorim (2011) e infere-‐se que seja devido à necessidade de remanejar famílias de área seca por conta de frente de obra.
Tabela 01: Imóveis registrados e imóveis cadastrados na Vila da Barca.
Ano Nº de Imóveis registrados Nº de imóveis cadastrados População Beneficiária direta
2004 541 imóveis 472 imóveis 2.273 pessoas (590 famílias)
2008 863 imóveis 634 imóveis 2.500 pessoas aproximadamente
Fonte: SEHAB, 2004a; SEHAB, 2008.
Figura 08: Área de implantação do Projeto Vila da Barca.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Fonte: Google Earth, 2004 (adaptação LEDH) e SEHAB, 2013.
As obras na Vila da Barca começaram no ano de 2006, devido problemas com a licitação de contratação de empreiteira, aliado a mudança de gestão municipal, e atualmente ainda não foi concluída e encontra-‐se paralisada. Apenas a primeira etapa foi concluída, no ano de 2007 e uma pequena parcela, 12 unidades habitacionais, da 2ª etapa foram entregues em 2011 (SEHAB, 2011), tendo da terceira etapa executados apenas serviços de infraestrutura, como aterramento. 1.4 tipologia habitacional O projeto Vila da Barca, como um todo abarca uma extensa área, a qual foi dividida em 3 etapas para execução de infraestrutura, aterramento, drenagem, saneamento, pavimentação e implantação de 634 unidades habitacionais (SEHAB, 2008). Foi elaborado pelo escritório de arquitetura do Rio de Janeiro, o Co.Opera.Ativa seguindo os moldes da padronização construtiva em alvenaria estrutural, o qual tem disseminado semelhantes tipologias pelo país.
Figura 9: Conjunto São Francisco (São Paulo, 1990) e Conjunto Liberdade (Belém, 2007).
Fonte: Co.Opera.Ativa, 2011.
O traçado das vias de circulação de veículos divide o espaço em cinco quadras habitacionais, uma quadra para comércio e outra, de frente para o rio, com os principais equipamentos comunitários, mas dentro dos perímetros habitacionais também são previstos outros equipamentos como igrejas, alguns pontos de comércio e praças para convivência e lazer. Observa-‐se uma maior preocupação no acesso aos blocos habitacionais, sendo todos interligados por vias locais que facilitam a mobilidade dos moradores por toda a extensão do conjunto.
Figura 10: Vila da Barca.
Fonte: Co.Opera.Ativa, 2011
As habitações foram concebidas a partir da geração de poliedros regulares, trabalhados na composição de blocos elevados, com intuito de articular-‐se formando composições de superposição, sobreposição e geminação das unidades formando blocos de dois ou três pavimentos. A proposta arquitetônica prevê a tipologia “sobrado” para toda a extensão do terreno e adota 3 tipos de planta, A e B para apartamentos de 2 pavimentos e P para unidades de 1 pavimento que configuram os blocos em 6 agrupamentos diferentes, mas que variam somente na forma, a área de todos os apartamentos é de aproximadamente 64m² e constam de sala, cozinha, banheiro, área de serviço, 2 quartos e varanda. O material construtivo é a alvenaria estrutural, pouco difundido na região e tem gerado sérios problemas como trincas e infiltração, além de impossibilitar a alteração da disposição dos cômodos e áreas de expansão.
Figura 12: Tipologia Habitacional em sobrado e Planta unidade térrea – Modelo P e Modelo AB.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Fonte: SEHAB, 2008/ Projeto SEHAB (adaptação LEDH)
O projeto de intervenção urbanística da Vila da Barca sofreu alteração na 3ª etapa devido inconformidades relatadas pela Caixa Econômica em relação ao programa de financiamento PAC, tendo em 2011 novo processo licitatório para elaboração dos novos projetos de unidades mistas e dos equipamentos urbanos. De acordo com a licitação TP 018/2011, o escritório de arquitetura 629 ganha a concessão de elaboração dos referidos projetos (SEHAB, 2011). Para Perdigão & Gayoso (2012) a casa apresenta vários aspectos que caracterizam sua complexidade de analise e de concepção espaciais. Com interpretações parciais pelo recorte conceitual e pela produção do espaço construído, revela -‐ se pela intencionalidade de quem concebe e pelo cotidiano de quem usa. A forma de habitar a casa evidencia a percepção que o morador tem desse espaço e traz em si e na sua forma de uso inúmeros significados, antes de ser meramente um espaço físico, a casa é um espaço de tradução das relações sociais em suas dimensões culturais e simbólicas. 1.5 Analise dos Resultados 1.5.1Comparativo entre a casa atual e anterior Os resultados apresentados visam discutir os níveis de melhorias que o projeto proposto, em análise, alcançou. E também apontar conflitos referentes ao não atendimento de necessidades humanas na produção de habitação. Observa-‐se que o atendimento da demanda habitacional em assentamentos precários vem incorporada ao discurso de melhoria da qualidade de vida para a população, mas tais intervenções atendeu prioritariamente em melhorias de infraestrutura e de qualidade ambiental, deixando em segundo plano soluções arquitetônicas que atendam a região Amazônica. Constata-‐se, no entanto, a imposição a um padrão espacial que não condiz com a realidade da cultura ribeirinha, o que leva a falta de adaptação do morador remanejado não considerando as necessidade e expectativa do morador. Com análises do uso espacial e de relação estabelecida entre morador e espaço físico. Propõe-‐se fazer uma abordagem sobre a casa, esse espaço físico, social e cultural tão importante na vida do ser humano e que nem sempre está incluído no quadro das decisões de produção da moradia (PERDIGÃO & GAYOSO, 2012). Busca-‐se trazer outros elementos à reflexão, para contribuição aos estudos mais voltados à análise de aspectos voltados a espacialidade, afim de verificar o uso espacial e a identificação que o morador tem com a nova casa e que esse olhar direcionado ao espaço doméstico para apoiar novas propostas de arquitetura em habitação social. A casa pode ser considerada como um espaço mais "restrito" ou mais "amplo" e traz em si uma função primeira -‐ a de habitar e a forma de habitá-‐la evidencia a percepção que o morador tem desse espaço e traz em si e na sua forma de uso inúmeros significados, ou seja, antes de ser meramente um espaço físico ela é a tradução das relações sociais em suas dimensões culturais e simbólicas. Assim a casa apresenta vários aspectos que caracterizam sua complexidade de análise e de concepção espaciais (PERDIGÃO & GAYOSO, 2012). Com interpretações parciais pelo recorte conceitual e pela produção do espaço construído, revela-‐se pela intencionalidade de quem concebe e pelo cotidiano de que usa, ou seja, pelo espaço experienciado, espaço vivido, portanto ele é constituído da existência humana, pertence a essência do ser, ele não é apenas funcional, racional ou simbólico, é existencial incorpora as necessidades, expectativas e desejos que fazem parte da existência humana (MALARD,2006). Segundo Silva (1994) o uso humano pressupõe a satisfação não apenas das necessidades relativas às sobrevivência, mas também de aspirações e expectativas localizadas no plano afetivo, tanto individual quanto coletivo. Assumindo que o espaço habitacional incorpora também aspectos não aparentes, de natureza humana, Malard (2006) os relaciona com os da aparência quando aborda o espaço arquitetônico pela integração das dimensões simbólicas, tecnológica e funcional, sendo o mesmo, portanto, a concretização do espaço existencial pela dimensão simbólica relacionada ao universo das
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
percepções, emoções e crenças, isto é, universo dos desejos que impulsionam as criações de lugares atribuindo-‐lhes significado e Também pela dimensão funcional (ou de uso), que se refere ao ordenamento espacial para desempenho das atividades cotidianas. Finalmente , pela dimensão tecnológica que se refere ao conhecimento técnico e habilidades para produção de espaços significativos (PERDIGÃO & GAYOSO, 2012). Nessa perspectiva, a importância do espaço para a realização das atividades humanas foi realizado por meio de comparativo casa atual com a anterior, onde os moradores também foram questionados sobre a percepção entre a residência atual em relação a anterior podendo escolher entre as opções "igual, melhorou, melhorou muito, piorou e outros" podendo ainda justificar a resposta. Para uma análise mais profunda foi considerado a questão da espacialidade (tamanho dos ambientes, vínculo espacial, casa). O objetivo é investigar as justificativas dos moradores quando diziam que melhorou, piorou, melhorou muito ou permaneceu igual se estavam relacionadas a aspectos ligados a fatores externos a casa ou fatores ligados e também a fatores ligados à espacialidade. A análise consistiu em mostrar quais aspectos estão sendo atendidos nos projetos de intervenções habitacionais que visam a melhoria das condições de moradia, ressaltando-‐se que as medidas de melhorias adotadas estão mais ligadas ao sistema construtivo, saneamento e infraestrutura. A análise entre antes e depois do remanejamento permitiu a construção de duas tabelas com as falas dos moradores. A tabela 03 apresenta a justificativa do morador para a pergunta realizada com destaque aos aspectos espaciais referentes à casa, vinculo e tamanho. Observou-‐se também na tabela 03, a incoerência entre a pergunta objetiva e a justificativa da mesma, que está representada na segunda coluna pelos sinais de Igual (=) e de Diferente (≠). O símbolo igual demonstra que há uma coerência entre o que o morador respondeu na pergunta objetiva e sua justificativa, enquanto que o símbolo de diferente mostra que existe incoerência na justificativa. Na alternativa “piorou” o símbolo 100% presente nas respostas foi o de “igual”, enquanto que nas demais alternativas houve variação. Esta análise permite a constatação de que nem todos os moradores que responderam que a situação da casa atual em relação a anterior “melhorou, melhorou muito ou permaneceu igual” condiz realmente com o que o morador realmente pensa. Porém nas justificativas da alternativa “piorou” a coerência se dá de maneira clara e objetiva apontando que as melhorias a que se referem não são totais e estão mais vinculadas a situações externas principalmente do espaço doméstico sobre a casa ou melhorias no sistema construtivo do que propriamente melhoria dos espaços. E aqueles que disseram que a casa atual é maior e melhor que a anterior, relacionam a condições de habitabilidade totalmente precárias, como casas de um ou dois cômodos e estrutura física em estado de degradação.
Tabela 03: Comparação entre casa atual com a anterior-‐ Espacial (CASA, VINCULO E TAMANHO)
Como você considera a
residência atual em relação a anterior?
Por quê?
Igual ≠ "Porém a parte ruim vem com relação a chuva, pois molha toda a casa."
Melhorou
≠ "melhorou a estrutura, mas perdeu espaço, ventilação, área de serviço muito pequena" ≠ "Lá em casa era de madeira, era grande e ventilada, aqui é menor e quente" ≠ "melhorou, mas não tem privacidade, a casa anterior era muito grande e tinha quintal" = " o espaço ficou melhor" ≠ "Aqui não dá rato, mas lá minha casa era grande" = "Agora tem mais espaço" = "Tem mais espaço" = " A casa é melhor em relação a anterior"
Melhorou Muito =
"Porque estou morando em uma casa de alvenaria, em um local seco, mas gostava também da minha casa, que apesar de ser de madeira era grande e a família da minha filha morava comigo."
Piorou
= "Minha casa antiga era grande, tinha quintal e aqui tudo é pequeno" = " A antiga casa era uma casa de verdade, não tem nem comparação com essa " = "Minha antiga casa era maravilhosa, sinto saudade"
= "Antes a casa era melhor porque era grande e localizada na principal rua, agora moro em uma casa pequena, mal acabada, tive que gastar muito dinheiro. Fico triste porque tive que sair por conta da obra, porque a casa não era de madeira e não alagava "
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
= "Lá era melhor, pois era maior e tinha mais conforto" = "Não temos privacidade e espaço" = "Lá tinha quintal, eu era feliz e não sabia " = "Achava minha casa melhor, mais espaçosa" = "Pois eu tinha casa própria, grande e na beira da pista"
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
A segunda tabela 05 apresenta a relação de respostas de 60 moradores diferentes consideradas incoerentes com a pergunta, pois para justificar a resposta objetiva de "igual, melhorou, melhorou muito e piorou" os moradores recorreram a aspectos que não estavam relacionados à espacialidade (casa, vínculo, tamanho), e sim questões ligadas ao sistema construtivo, saneamento, infraestrutura e outros. As categorias na tabela demonstram o que mais se repete na fala dos moradores como justificativa para o que houve de melhoria entre a casa anterior e a atual. Apontando-‐se que as intervenções destinadas a população de baixa renda de Belém, estão focadas em solucionar problemas mais voltados ao sistema construtivo, saneamento ,infraestrutura, localização, vizinhança/família, qualidade de vida, segurança, manutenção/ patologia,materiais/ acabamento e aparência. Vale ressaltar que o tempo de remanejamento e a condição de cada moradia levam a coerência ou não entre as respostas. O que reforça a falta de identificação do morador com a casa, decorrente da lógica de projeto adotada que visa solucionar a precariedade construtiva, não levando em conta aspectos da vivencia espacial, do uso espacial da casa pelo morador, especialmente quando o padrão da casa de origem é desconsiderado para casa de destino. Deste modo, há uma nova precariedade instalada a da espacialidade, o que é confirmada através das varias modificações realizadas nas unidades habitacionais pós-‐ remanejamento na tentativa de estabelecer vinculo e identificação com a nova moradia, ou seja, o espaço projetado necessitaria ser considerado como fator importante as reais necessidades do usuário final e também suas referencias espaciais.
Tabela 04: Comparação entre casa atual com a anterior-‐ Não Espacial
Como você considera a
residência atual em relação a anterior?
Por quê? CATEGORIAS
Igual
" Não tenho problema com ninguém, é de alvenaria" Sistema Construtivo/ Vizinhança
" mora na mesma rua e com os mesmos vizinhos" Vizinhança " Passou para uma casa de alvenaria, na qual a anterior era também, entretanto não fizeram o acabamento necessário. E na casa que eu saí já tinha sido feito tudo isso"
Sistema Construtivo/ Acabamento
Melhorou
" Saímos da palafita, aqui não tem bichos" Sistema Construtivo/ Saneamento
" A questão da limpeza, saneamento" Saneamento "Antes morava na palafita e atualmente moro em terra firme barreada"
Sistema Construtivo/ Saneamento
"Aqui é alvenaria e lá era de madeira" Sistema Construtivo "tem saneamento e não é em cima da lama" Saneamento "Piorar não piorou, é uma casa que não precisa trocar tábua." Sistema Construtivo "Porque lá era de madeira e aqui não alaga" Sistema Construtivo/
Saneamento "Antes não havia esgoto" Saneamento "Tem saneamento e aparência" Saneamento/ Aparência "Agora sim melhorou, pois é saneado" Saneamento "A casa antes era de madeira e hoje é de alvenaria." Sistema Construtivo "Por ela ser de alvenaria, apesar das infiltrações, melhorou" Sistema Construtivo/ Patologia "Porque o saneamento melhorou, a casa é mais limpa" Saneamento "A estrutura" Sistema Construtivo "Moro agora em lugar seco e sem lixo" Saneamento
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
"Morava na lama, sobre a ponte e agora mora na área saneada com ruas pavimentadas"
Saneamento/ Infraestrutura
"Melhores condições de saneamento" Saneamento "Porque a higiene melhorou, antes tinha mosquito e esgoto embaixo de casa"
Saneamento
"Essa é mais durável, a anterior era de madeira" Sistema Construtivo "Lá era lama e aqui não alaga" Saneamento "É de alvenaria e não precisa de muitos reparos como a antiga" Sistema Construtivo "Aqui é de alvenaria e tem saneamento" Sistema
Construtivo/Saneamento "Porque morava em palafita velha e caia nela" Sistema Construtivo "Alvenaria" Sistema Construtivo "Alvenaria e saneamento" Sistema Construtivo/
Saneamento "Antes era de madeira agora é de alvenaria" Sistema Construtivo "Não alaga e possui saneamento" Saneamento "Agora é saneado" Saneamento "A casa atual é de alvenaria" Sistema Construtivo "A casa é de alvenaria agora" Sistema Construtivo "Porque aqui não estou em cima da água." Saneamento "Antes era de madeira e atualmente é de alvenaria" Sistema Construtivo "Porque lá morava em cima da água" Saneamento "a casa anterior não era lajotada e tinha infiltração na sala e no quarto"
Acabamento/ Patologia
" Saiu da lama e tem mais privacidade" Saneamento "Melhorou a qualidade de vida e por ser de alvenaria a Casa" Sistema Construtivo/Qualidade
de Vida "Por ela ser de alvenaria, apesar das infiltrações, melhorou" Sistema Construtivo "Porque me sinto bem e estou perto da minha família , do shopping, das feiras. Só falta segurança."
Vizinhança-‐ Família/Segurança/Localização
"Tenho onde guardar o carro, a viatura passa na frente da casa. O custo de manutenção do apartamento é mais baixo que na palafita"
Manutenção/Segurança
"A anterior não tinha porta, tinha que entrar pela janela" Sistema Construtivo
Melhorou Muito
"Melhorou a qualidade de vida (saneamento básico)" Saneamento/ Qualidade de Vida
"Mudou o material da construção que era madeira e hoje é alvenaria por isso é mais seguro"
Sistema Construtivo
"É toda de alvenaria e boa aparência" Sistema Construtivo/Aparência "Atualmente moro num local seco e em uma casa de alvenaria" Sistema
Construtivo/Saneamento "Porque agora não alaga e tem saúde" Saneamento "Achei melhor pra cá, não ta na água" Saneamento "Antes era de madeira e em cima do rio e era insalubre" Sistema Construtivo/
Saneamento "Agora tenho mais privacidade e uma casa de alvenaria" Sistema construtivo "é mais limpo" Saneamento "Área aterrada com infra-‐estrutura" Saneamento/ Infraestrutura "Porque a qualidade de vida mudou" Qualidade de Vida "Melhorou a qualidade de vida , sai de cima da lama" Qualidade de Vida/Saneamento "O remanejamento trouxe qualidade de vida, não só casa como também o saneamento"
Qualidade de Vida/Saneamento
"A casa antiga era de alvenaria, mas era resistente e a atual apesar de ser de alvenaria é toda rachada"
Sistema Construtivo
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Fonte: Pesquisa de campo, 2014
Os dados a seguir apresentam um comparativo do que os moradores mais gostam na casa atual e mais gostavam na casa anterior, assim como o que não gostam da casa atual e o que não gostavam na casa anterior. As respostas foram categorizadas em três grupos: Centrado na pessoa (respostas voltadas a questões pessoais, não contemplam o ambiente físico, mas seu efeito no ser humano); Centrado no ambiente (questões relacionadas ao espaço físico); e Centradas no ambiente/pessoa (respostas ambíguas ligadas tanto ao ambiente físico e ao não físico). As Tabelas 02 e 03 apresentam as respostas mais frequentes na área de intervenção habitacional em questão.
Tabela 05: Principais respostas sobre o que mais gosta na Casa Anterior e na Casa Atual.
Categoria O que mais GOSTA na Casa Anterior O que mais GOSTA na Casa Atual
Centrado na pessoa
Vizinhança Era confortável
A casa é bem ventilada Lembrança, pois criou os filhos lá.
Tranquilidade O fato de ser casa própria
Visão do rio Ver o pôr do Sol perto do rio Vizinhança é igual a anterior
Família
Centrado no ambiente
Gostava do quintal Sala
Quarto O espaço grande
Cozinha
Quarto Sala
O fato de ser de alvenaria É na beira da rua
Localização
Centrado no ambiente/pessoa
Gosta de tudo Não gosta de nada Da rua (amigos)
Apesar de ser simples era mais confortável Familiares próximos
Gosta de tudo Não gosta de nada
Ser de alvenaria e ventilação Silêncio, terreno
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Tabela 06: Principais respostas sobre o que não gosta na Casa Anterior e na Casa Atual.
Categoria O que NÃO GOSTA na Casa Anterior. O que NÃO GOSTA na Casa Atual.
Centrado na pessoa
Falta de privacidade Violência Barulho
Quarto quente
Barulho Falta de privacidade Gastos elevados É muito violento.
Quente Morar no pavimento superior
Centrado no ambiente
Faltava muita água Era de madeira, chovia dentro.
Pontes Alagamento Lixo, insetos
Área de Serviço Não gosta de não ter quintal
Rachaduras, chove e molha tudo Casa pequena com pouco espaço Muitos problemas construtivos
Infiltrações Banheiro
Centrado no ambiente/pessoa
Gosta de tudo Não gosta de nada Privacidade e espaço
Perigo
Gosta de tudo Não gosta de nada
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Pior
"A antiga casa era de alvenaria, mas era resistente e a atual apesar de ser de alvenaria é toda rachada"
Sistema construtivo
"A casa antiga era com madeira de lei, pintada com tinta a óleo" Sistema Construtivo/Acabamento
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
As respostas sobre o que mais gosta e o que não gosta, tanto na Casa Atual (apropriação da casa destino) quanto na Casa Anterior, referem-‐se com mais frequência às categorias Centrada no ambiente e Centrada no ambiente/pessoa, identificando um vínculo com o ambiente físico. Na Casa Anterior a relação com a vizinhança, com os familiares que moravam próximos, uma varanda para sentar de tarde ou uma casa ampla, considerando que as habitações atuais possuem configuração mais compacta, são aspectos importantes que nem sempre são atendidos na Casa Atual. Sobre o que não gosta na Casa Anterior, as respostas da categoria “Centrado no ambiente” referiam-‐se predominantemente a problemas como a falta de saneamento e precariedade do material construtivo das palafitas, já na Casa Atual, o não gostar está mais relacionado a ambientes pequenos, ausência de varanda e quintal, problemas com material construtivo por se tratar de alvenaria estrutural. Com relação à situação atual, os moradores foram questionados, podendo responder entre "ótimo, bom, regular e ruim", a respeito do tamanho de cada cômodo e a disposição dos mesmos na composição da nova habitação. Os gráficos 01,02,03,04,05 e 06 apresentam os resultados obtidos. A fim de tonar claro algumas questões contidas nos gráficos optou-‐se por associar as respostas "ótimo e bom" na categoria "positiva" e "regular e ruim" na categoria "negativo", conforme a Tabela 04.
Gráfico 01,02 e 03 : Respostas sobre o tamanho da casa, cozinha e banheiro.
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Gráfico 04, 05 e 06 : Respostas sobre o tamanho da sala, dormitórios, área de serviço e Disposição dos cômodos.
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Tabela 04: Síntese das respostas sobre o tamanho dos ambientes.
Tamanho dos Ambientes Positivo Vila da Barca
Negativo Vila da Barca
N.S.A Vila da Barca
da Casa 57,00% 43,00%
da Cozinha 49,00% 51,00%
do Banheiro 54,00% 46,00%
da Sala 62,00% 37,00% 1,00%
dos Dormitórios 65,00% 35,00%
da Área de serviço 36,00% 55,00% 9,00%
Disposição dos cômodos 57,00% 43,00%
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Observa-‐se a priori que as respostas indicam que a maioria dos moradores, acham BOM os ambientes da unidade habitacional, exceto a área de Serviço e cozinha que são um dos maiores conflitos, devido às dimensões bem pequenas, muito diferente da casa de origem em que a cozinha fica ao final da casa, afastada da sala e a área de serviço geralmente localizava-‐se no quintal onde havia área para estender roupas. Contudo, na Tabela 04 percebe-‐se que a somatória das porcentagens sobre REGULAR e RUIM aproxima-‐se da metade do total de entrevistados, identificando que não há satisfação total com a dimensão dos ambientes na casa destino. Sobre a disposição dos cômodos, alguns conflitos relatados referem-‐se à localização da área de serviço, à circulação compacta e a localização do banheiro próximo à sala, visto que em habitações ribeirinhas este se localiza ao fundos da residência, ou mesmo em área externa. Aliado ao tamanho dos ambientes está a necessidade de espaço, para ampliar os cômodos existentes ou inserir um novo ambiente, os quais são apresentados nos Gráficos 07 como necessidade de espaço interno à casa ou externo à casa.
Gráfico 07 : Respostas sobre necessidade de espaço.
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Os espaços externos incluem as necessidades de quintal, varanda e área de serviço, seja para lavar roupa, criar animais; área de lazer e pequenos comércios que possam contribuir no orçamento familiar. Já os espaços internos, referem-‐se aos ambientes da casa como sala, cozinha, banheiro e quartos que necessitam ser ampliados; mais de 50% dos entrevistados confirmou a necessidade de espaço para suas atividades cotidianas, cabendo ressaltar que esta ausência ou tamanho reduzido do ambiente compromete a execução das tarefas diárias devido a dificuldade de adaptação espacial, visto que divergem de usos da Casa Anterior. 1.5.2 Análises de rupturas e permanências espaciais As temporalidades do habitar ainda são pouco exploradas em estudos e proposições do espaço habitacional por não serem condicionantes tradicionais de projeto de arquitetura. O instrumento de consulta não verbal retoma uma lógica de investigações importantes em escala urbana pela inclusão de percepção do usuário. A relação entre passado, presente e futuro, governamentais vem se confirmando de grande importância para uma prática arquitetônica na escala do edifício, pautada em referências espaciais significativas ao usuário. Para tanto, buscam -‐se fazer um comparativo entre casa da Infância, dos sonhos e casa do projeto com modificações realizada e desejadas pelo morador afim de identificar através dos desenhos as rupturas e permanecias de elementos espaciais, conforme o quadro 03. A consulta não verbal foi aplicada a 07 moradores residentes em palafitas na comunidade Vila da Barca. Através de escrita, fala, desenhos e fotos os moradores expressam particularidades de três tempos vividos, na casa da infância, casa atual e ainda o tempo do porvir, a casa dos sonhos. Já o workshop foi realizado com 07 moradores residentes no sobrados do Projeto Vila da barca. Através da identificação das modificações realizadas e desejadas na planta baixa. As respostas apresentadas sobre a casa da infância e casa dos sonhos, quando confrontadas com a planta baixa modificada pelo morador a fim de identificar rupturas e permanências espaciais no processo de remanejamento e como pode se identificar a relação existente entre a realidade e o desejo, tais informações são significativas, que possivelmente não seriam explicitas apenas em uma consulta verbal para compor o programas de necessidades para projetos de habitação social. Dai constata-‐se que em muitos casos quando há uma avaliação positiva por parte do morador alvo de remanejamento/reassentamento não necessariamente tal avaliação diz respeito ao projeto arquitetônico da unidade habitacional.
8% 42% 7% 42%
Espaço Interno Espaço Externo Espaço interno e externo Não
Necessidade de espaço Vila da Barca
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Desta forma, buscou-‐se confrontar não apenas os três períodos de habitar passado, futuro na palafita e presente no projeto, no intuito explicitar possíveis conflitos de adaptação habitacional de que ocorrem por não apresentar elementos almejados para a casa do futuro (casa dos sonhos) e/ou atender as necessidades atuais. Observa-‐se a presença de alguns elementos da casa da infância quanto na casa dos sonhos desenhados pelos moradores das palafitas como: relação com o rio, configuração linear, uso da varanda, cozinha e banheiro aos fundos da casa, enquanto que na unidade habitacional do projeto nota-‐se o resgate de elementos como a varanda, a tentativa de aproximação com uma configuração mais linear, a ampliação da cozinha visando estabelecer usos já consolidados como manter a mesa de jantar na cozinha, assim com a ausência códigos profissionais de arquitetura os moradores alteram o layout da unidade habitacional no intuito de resgatar o vínculos espaciais rompidos, adaptando-‐se ao espaço habitacional. Desta forma nota-‐se que as modificações realizadas se aproximam de aspectos da casa da infância ou da casa dos sonhos.
Quadro 03: Análise dos elementos da casa dos sonhos e infância confrontados com a casa atual modificada pelo usuário
Fonte: Laboratório de espaço e Desenvolvimento Humano, (LEDH) 2015.
1.5.3 Analise Geométrica da produção do espaço informal e formal
Os quadros 04 e 05 trazem uma análise geométrica da produção formal e informal da área em questão, observou-‐se pontos que desempenham um papel importante no sentido de captar e interpretar as necessidades dos usuários, cujo objetivo é entender a interação do ser humano com o espaço construído a fim de melhorar essa relação principalmente para produção habitacional para população de baixa renda.Este tipo de análise vem sendo explorado e aprimorado no Laboratório Espaço e Desenvolvimento Humano (LEDH/PPGAU/UFPA), investigando e identificando elementos recorrentes da produção informal na Amazônia e de como são significativas para população local e por isso devem ser incorporados em espaços habitacionais propostos por arquitetos. Como o objetivo maior dos estudos vinculados ao Laboratório é investigar a interação do ser humano com o espaço construído para levar o projeto de arquitetura como objeto de investigação científica, a produção habitacional de interesse social é uma lacuna teórica ainda frágil e pouco explorada conceitualmente e operativamente na formação do arquiteto.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Comparando-‐se os aspectos geométricos da palafita com a unidade habitacional do sobrado em alvenaria estrutural a partir da circulação, configuração espacial, forma, aberturas, setorização, áreas e elemento de transição, elementos já pesquisados por Sampaio (2013) e Silva (2013), para fazer um comparativo com as modificações realizadas e desejadas a fim de perceber as rupturas de usos entre as duas construções. Em linha gerais a produção do espaço informal na comunidade Vila da Barca, no caso o tipo palafita apresenta linearidade na planta com os espaços conectados e uma circulação que se realiza de espaço a espaço ou através de atividades, criando-‐se uma organização em planta e volume, onde a circulação, em alguns casos, não se separa do espaço de uso e em outros se apresenta superposta aos ambientes (REIS, 2002) ou como Clark & Pause (1987), as varandas atuam como elementos continuidade espacial traves da transição entre exterior e interior da casa, o uso de aberturas com fechamento com esquadrias de abrir o que permite maior visibilidade, alem de uma setorização que tem o banheiro como setor intimo como mostra o Quadro 04. Em contrapartida a produção do espaço formal no projeto Vila da Barca, no caso os sobrados em alvenaria estrutural nota-‐se um conjunto menos integrado, os espaços apresentam-‐se isolados se restringindo a núcleos de integração centralizada em virtude da planta-‐baixa apresentar uma solução mais compacta, onde o sobrado é composto por uma configuração com adição por sobreposição onde a forma do conjunto é a soma das partes ou blocos sobrepostos, resultando na combinação das partes e possibilitando a interpenetração de volumes e setores espaciais (REIS, 2002), ao mesmo tempo em que a geometria se apresenta pela superposição de quadrados e retângulos gerando uma forma quadrada, proporcionando uma circulação separada parcialmente do espaço uso, condicionada por uma configuração espacial compacta, criando-‐se espaços de distribuição que não se apresenta linearmente (CLARK & PAUSE, 1987), além disso nota-‐se a ausência de elemento de transição, já que o acesso é direto no térreo e no 1° pavimento o acesso é central e de uso comum como mostra o quadro 05.
Quadro 04: Produção do espaço informal na comunidade Vila da Barca
Fonte: Laboratório de espaço e Desenvolvimento Humano, (LEDH) 2015.
Quadro 05: Produção do espaço formal na Projeto Vila da Barca
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Fonte: Laboratório de espaço e Desenvolvimento Humano, (LEDH) 2015.
As diferenças observadas nos quadros 04 e 05 mostram como os elementos da produção informal do espaço habitado deixam de ser consideradas na produção formal, induzindo os moradores a adaptar os ambientes tanto para facilitar a execução das necessidades diárias como para aproximar de referenciais anteriores. “A casa é importante, lá eu tinha a minha liberdade, mas aqui não deixaram nem trocar as coisas externas",“Não gosto dessa casa, preferia ta morando na minha antiga casa, lá era do meu jeito, eu podia mexer e ninguém reclamava”, “Prefiro minha casa antiga, era de madeira, mas era grande”, “Eles nem pediram opinião como a gente queria a casa" são falas que se reproduzem no uso das novas unidades habitacionais ausência de identificação do morador com o novo modelo habitacional do projeto implantando, atendendo parcialmente as necessidades dos moradores visto que trata-‐se de um projeto que agrega fundamentos da racionalidade e padronização habitacional que vem sendo amplamente difundidos no território nacional sem atenção ao contexto local, fazendo com que os usuários não se identifiquem com a habitação, resultando em alterações na busca da identificação habitacional como mostra o quadro 06.
Quadro 06: Análise geométrica das modificações feitas e desejadas no projeto Vila da Barca.
Fonte: Laboratório de espaço e Desenvolvimento Humano, (LEDH) 2015.
Percebe-‐se no exemplo para discussão dos elementos de modificação realizadas e de modificações desejadas, que tanto as relações interior e exterior sofrem adaptações levando ao resgate de uma linguagem do espaço que era própria do morador com a casa do tipo palafita como: a busca de continuidade interior/exterior por espaços de transição, como as varandas, a circulação linear, a substituição das esquadrias projetantes por esquadrias de abrir favorecendo a visibilidade, uma configuração espacial tendendo a linearidade e a uma forma mais retangular,além de ampliações que no interior da casa que contribuem para novos usos espaciais. A adaptação do usuário com a habitação formal, causa a insatisfação do mesmo com à estrutura física da habitação, ao mesmo tempo que retrata o referencial espacial que tem com a habitação anterior (palafita), visto que alguns moradores mantêm forte vínculo com a área antes do remanejamento, muitas vezes por terem lá nascido e pelos familiares e vizinhos de longa data.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Os dados revelam que o tempo de moradia interfere diretamente nas modificações realizadas nas unidades habitacionais e está correlacionado ao grau de satisfação e/ou adaptação do morador com a nova casa. O Gráfico 08 indicam que as principais modificações realizadas na Vila da Barca (100 meses) referem-‐se ao alto o índice de moradores que realizaram ampliações, os chamados “puxadinhos”ou áreas de transição "varanda", e ainda desejam ampliar, conforme pode ser observado no Gráfico 09, dado interessante visto que a tipologia construtiva em alvenaria estrutural não possibilita grandes alterações e/ou acréscimo devido a inflexibilidade construtiva.
Gráfico 08 e 09: Modificações realizadas na casa atual e modificações desejadas.
Fonte: Pesquisa de campo, 2014.
Para ilustrar a recorrente necessidade de espaço, as Figura 13 apresenta imagens sobre algumas modificações já realizadas nos sobrados, mostrando a adaptação ao novo espaço habitacional para suprir a necessidade de espaço e tentar romper conflitos com usos espaciais não habituais.
Figura 13: Modificações (internas e externas) realizadas nos sobrados da Vila da Barca.
Fonte: Acervo LEDH, 2014.
PUBLICAÇÕES -‐ Um artigo intitulado “REASSENTAMENTO HABITACIONAL EM OBRAS DO PAC NA CIDADE DBELÉM: discussão sobre adaptação espacial e decisões de projeto” foi aprovado e será apresentado no 3º CIHEL – Congresso Internacional de Habitação no Espaço Lusófono ( Habitação: Urbanismo, Cultura e Ecologia dos Lugares), na Sessão Temática III. Informalidade e Precariedade do Habitat. -‐ Trabalho Final de Graduação em andamento cujo título é DA ARQUITETURA VERNACULAR À PROPOSTA DE HABITAÇÃO SOCIAL: Projetando a palafita amazônica na Vila da Barca (Belém-‐ PA).
ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES
-‐ Apresentação do relatório final no Seminário de Iniciação Científica na UFPA.
CONCLUSÃO Os dados quantitativos e qualitativos aqui apresentados e discutidos contribuem para incrementar as questões levantadas sobre espaço habitacional em seus aspectos de concepção e de uso. Os projetos de intervenção pública na região amazônica tem demonstrado um direcionamento para suprir uma demanda quantitativa por habitação, sem contudo, acompanhar a demanda qualitativa por habitação no que se refere a uma cultura ribeirinha amazônica que se reproduz tanto em ambiente rural quanto urbano. A discussão suscita algumas respostas que nos leva a uma reflexão sobre a importância dos valores de vivencia espacial para produção do espaço habitacional em situações de remanejamento/reassentamento habitacionais.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
Os resultados apontam a forte identificação que os usuários estabelecem com as casas do tipo palafita e a dificuldade de adaptação nas casas de produção formal pelo poder público, o que nos leva ao questionamento sobre a lógica de projeto dos espaços implantados com base em conflitos espaciais no reassentamento, já que as soluções que vem sendo adotadas visam resolver a precariedade construtiva sem uma devida atenção às soluções espaciais, especialmente com as referencias espaciais do usuário final. As técnicas utilizadas de consulta aos moradores aprofunda a discussão sobre a adaptação espacial a fim de que os espaços projetados e implantados pelo poder público possam oferecer a familiaridade com as residências anteriores dos moradores, seguindo a adoção de elementos geométricos condizentes com a cultura ribeirinha amazônica.
Vale ressaltar a importância deste estudo para a valorização de aspectos humanos da arquitetura, especificamente, pela decifração de padrões espaciais que não podem ser rompidos sob pena do não atendimento das verdadeiras necessidades dos usuários, ou seja, é preciso investigar e sistematizar o padrão espacial das palafitas para facilitar identificação de equivalentes espaciais a fim de apoiar decisões do projeto de arquitetura em áreas alvo de reassentamento/remanejamento habitacional, incluindo aspectos da vivencia espacial do usuário. Tais referências espaciais fornecem o valor da arquitetura experienciada , do espaço existencial (MALARD,2006) uma vez que incorpora as necessidades, expectativas e desejos que fazem parte da existência humana. Por isso a compreensão sobre o modo de morar ribeirinho permite oferecer elementos de projeto para a continuidade no uso de elementos espaciais significativas com a nova casa, além de proporcionar interações locais mais adequadas ao contexto amazônico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CLARK, R. & PAUSE, M. Arquitetura: Temas de composición. México: Ediciones G. Gilli, 1987. DIOGO, A. A. M. Por uma interpretação urbanística situacional de espaços de moradia autoconstruida. “Vila da Barca: morando sobre as águas” Belém – Pará – Brasil. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-‐graduação em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002. FELISBINO, D. A. ; PERDIGAO, A. K. A. V. ; MENEZES, T. M. S. . Sobre o programa de necessidades na produção habitacional. In: V PROJETAR: processos de projeto -‐ teorias e práticas, 2011, Belo Horizonte. V PROJETAR, 2011. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LEITÃO, Lúcia. "Entra na tua casa : Anotações sobre Arquitetura, Espaço e Subjetividade". In: LEITÃO, Lúcia & AMORIM, Luiz Manuel do Eirado (org.) A Casa Nossa de Cada Dia, Recife, Edufpe, 2007. MAHFUZ, Edson da Cunha. Reflexão sobre a arquitetura da forma pertinente. In. Lara, F. & Marques, S. (org.) Projetar desafios e conquistas da pesquisa e do ensino. Rio de Janeiro: EVC, 2003. MALARD,Maria Lucia. As aparências em arquitetura. Belo Horizonte: UFMG, 2006. MENEZES, T. M. S. ; PERDIGÃO, A. K. de A. V. ; FELISBINO, D. A. . Abordagem geométrica entre a informalidade e a formalidade da habitação amazônica. In: NUTAU 2012, 2012, São Paulo. BRISC e a Habitação coletiva sustentável, 2012. MENEZES, T. do S.; PERDIGÃO, A.K. A.V.MODO DE HABITAR AMAZÔNICO EM SISTEMAS: APROXIMAÇÕES COM O TIPO PALAFITA. Projetar. In: V PROJETAR: processos de projeto -‐ teorias e práticas, 2011, Belo Horizonte. V PROJETAR, 2013. PERDIGÃO, A. K. de A. V. A dimensão afetiva da arquitetura de espaços habitacionais. São Paulo, Tese de doutorado, FAUUSP, 2005. PERDIGÃO, A. K. A. V.& BRUNA, G. C. Representações espaciais na concepção arquitetônica. In: IV PROJETAR: Projeto como investigação: ensino, pesquisa e prática. São Paulo: Alter Market, 2009. PERDIGÃO, A. K. de A. V. & BRUNA, G. C. O papel do projeto de arquitetura na produção da moradia. In: PPLA 2010: SEMINARIO POLÍTICA E PLANEJAMENTO, 2, 2010. Curitiba. Anais... Curitiba: Ambiens, 2010. [CD]. PERDIGÃO, A. K. A. V. Considerações sobre o tipo e seu uso em projetos d e arquitetura. Arquitextos (SP), v. 114, p. 257, 2009. Disponível em: HTTP://www.vitruivius.com.br/arquitexto/arq000/esp527.asp. Acesso em 03 de junho de 2010. PERDIGÃO, A. K. A. V. & GAYOSO, S. Interpretações sobre a casa para produção de moradia. In: SANTANA, J. V.; HOLANDA, A. C. G.; MOURA, A. S. F. (org.) A questão da habitação em municípios periurbanos na Amazônia, Belém: Ed ufpa, 2012. REIS, Antônio Tarcísio. Repertório, análise e síntese: uma introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, 2002. SILVA , Mônica Nazaré Espírito Santo da. INVESTIGAÇÃO PROJETUAL EM HABITAÇÃO SOCIAL: O caso “Vila da Barca” (Belém-‐PA). 2013. 130 f. Dissertação em Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Pará. Belém, 2013.
Estudo de Adaptação Habitacional na Vila da Barca em Belém (PA)
SILVA, Elvan.Máteria, idéia e forma: uma definição de arquitetura. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1994. SIMONIAN, Ligia T. L. Palafitas, estivas e sua imagética na contemporaneidade urbanorrural a pan-‐amazônia. Panpers do NAEA n. 267-‐ 2010-‐ Belém: NAEA/ UFPA. SEHAB, Secretaria Municipal de Belém. Projeto Social Vila da Barca, 2004a. SEHAB, Secretaria Municipal de Belém. Projeto de Urbanização e infraestrutura da Vila da Barca (apresentação em PowerPoint), 2004b. SEHAB, Secretaria Municipal de Belém. Projeto de Habitação e Urbanização da Vila da Barca (apresentação em PowerPoint), 2008. SEHAB, Secretaria Municipal de Belém. Relatório de Gestão de setembro de 2010 a setembro de 2011, 2011. SEHAB, Secretaria Municipal de Belém. Relatório de Gestão, 2014. SOUZA, A. K. O projeto de urbanização da Vila da Barca e o auxílio-‐moradia: as dificuldades de execução no processo do remanejamento provisório. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Serviço Social, Universidade Federal do Pará, Belém, 2008. SOUZA, Mauro Henrique Costa. Arquitetura ribeirinha em Belém do Pará: estudo de conforto ambiental.Tese (doutorado em engenharia civil)-‐ Universidade Estadual de Campinas, UNICAMPI, 2002. TRINDADE -‐ Jr, Saint-‐ Clair, Cordeiro. Imagens e representações da cidade ribeirinha na Amazônia: uma leitura a partir de suas orlas fluviais. In: ARAÙJO, Ricardo Corrêa. Humanitas. Belém: UFPA, 2002. DIFICULDADES
As dificuldades deparadas na presente pesquisa foi o contato com alguns moradores da Comunidade Vila da Barca (Palafita e Sobrado) devido à resistência demonstrada por alguns deles em oferecer qualquer informação e por outros a falta de tempo dos mesmos, o que também levou a uma certa dificuldade de entrada na área para realização do levantamento físico e fotográfico bem como aplicação do questionários verbais e não verbais, onde estava previsto a aplicação em 139 Unidades habitacionais da 1º etapa Projeto Vila da Barca da o corresponderia a 100%, mas em virtude da dificuldade de entrar na área e da resistência dos moradores a responder o questionário foram aplicados 97 e 7 questionários do não verbal, outra dificuldade foi a de sintetizar em 10MB tanta informação coletada no decorrer de um ano de pesquisa.
PARECER DO ORIENTADOR
A bolsista executou a pesquisa bibliográfica, os levantamentos de campo e aplicou os instrumentos de consulta verbal e não verbal às famílias envolvidas na área habitacional estudada. A bolsista apresenta qualidades importantes como curiosidade, capacidade intelectual apurada, liderança e bom desempenho nos trabalhos de campo com as famílias consultadas. O relatório atende de modo satisfatório aos objetivos previstos no plano.
DATA : 09/08/2015
ASSINATURA DO ORIENTADOR
Danielli de Araújo Felisbino
ASSINATURA DA BOLSISTA
INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o destino do mesmo após a
graduação. Informar também em caso de alunos que seguem para pós-graduação, o nome do
curso e da instituição.
A aluna intenciona se submeter ao processo Seletivo do Programa de Pós Graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade federal do Pará em 2016.
22