Post on 18-Mar-2016
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Ano 3 | Edição 12 | MARÇO 2012
CÓDIGO
FLORESTAL EM DEBATE
O Código deve ser
votado no 1º semestre de 2012
52
CENÁRIO | ENGENHARIA
E A MINERAÇÃO
Entrevista com Tito Martins, diretor
executivo de Finanças e Relações
com Investidores da Vale
30
IMPRESSO ESPECIAL
991 22 55 307- DR/MG
SOC. MINEIRA DE ENGENHEIROS
DEVOLUÇÃO GARANTIDA
CORREIOS
CORREIOSIMPRESSO FECHADO PODE SER ABERTO PELOS ECT
Artigo sobre Desenvolvimento Sustentável | 16 Engenharia e Inovação | 26Leia Mais
Projeto Ciência sem FronteirasA SME faz entrevista com a Presidenta Dilma Rousseff
Leia mais | 22
2
PRESIDENTE Ailton Ricaldoni Lobo
VICE - PRESIDENTESRonaldo José Lima Gusmão
José Luiz Nobre Ribeiro
Victório Duque Semionato
Alexandre Francisco Maia Bueno
Délcio Antônio Duarte
DIRETORESLuiz Felipe de Farias
Diogo de Souza Coimbra
Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz
Marcílio César de Andrade
Alessandro Fernandes Moreira
José Flávio Gomes
Fabiano Soares Panissi
Janaína Maria França dos Anjos
Normando Virgílio Borges Alves
Clemenceau Chiabi Saliba Júnior
SUPERINTENDENTE José Ciro Mota
CONSELHO DELIBERATIVOMarcos Villela Sant'Anna
Teodomiro Diniz Camargos
Jorge Pereira Raggi
Flávio Marques Lisbôa Campos
Rodrigo Octavio Coutinho Filho
Paulo Safady Simão
José Luiz Gattás Hallak
Alberto Enrique Dávila Bravo
Cláudia Teresa Pereira Pires
Márcio Tadeu Pedrosa
Sílvio Antônio Soares Nazaré
Felix Ricardo Gonçalves Moutinho
Levindo Eduardo Coelho Neto
Fernando Henrique Schuffner Neto
Ivan Ribeiro de Oliveira
CONSELHO FISCALJosé Andrade Neiva
Nilton Andrade Chaves
Carlos Gutemberg Junqueira Alvim
Alexandre Rocha Resende
Wanderley Alvarenga Bastos Junior
Coordenador EditorialRonaldo Gusmão
Projeto Gráfico | DiagramaçãoDepto. Comercial | Vendas Blog Comunicação
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(31) 3309 1036 | 9133 8590
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Jornalista Resposável
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A Sociedade Mineira de Engenheiros, por meio da sua
equipe, tem desenvolvido uma série de trabalhos
para atender cada vez mais e melhor a cada
um dos associados.
Em seus 80 anos de existência, a
SME trabalha para integrar, desen-
volver e valorizar a Engenharia, a
Arquitetura, a Agronomia e seus
profissionais, contribuindo para
o aprimoramento tecnológico,
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planejamento financeiro, seguros, serviços fo-
tográficos, hotéis, beleza e estética, dentre
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Compromisso com o futuro
Aprimoramento profissional e
inovação tecnológica também
têm sido uma das grandes ban-
deiras da SME na busca em ofere-
cer os melhores produtos e
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Por meio do nosso site: newsletters, re-
vistas, eventos e participação nas redes so-
ciais, a SME tem se tornado, cada vez mais, um
canal aberto para ouvir suas sugestões e para repre-
sentar seu interesse.
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Geologia
e problemas
hidrológicos
urbanos
Artigo
Drenagem Pluvial e
Resíduos Sólidos
36 42 44
22
Eliseu
Resende,
um líder
para o bem
20 e 41
Perfil doengenheiro Diogo Coimbra
Desenvolvimento
sustentável
Í N D I C E
12 16
Mestres da
Engenharia
Beatriz
Alvarenga
6
52
10
48
Gestão
de Águas
Pluviais da
RMBH
Na 11ª edição da revista, a matéria "Diretoria da SME reativa o Conselho Consultivo da instituição,
formado por ex-presidentes", não mencionou, no quadro dos ex-presidentes, o eng. Márcio Damazio
Trindade, que ocupou o cargo entre 2005 e 2011.
ERRATA
Workshop
Gestão de
Águas Pluviais
da RMBH
Medalha
Engenheiro
do Ano
14
26 30
CAPA
Ciência sem
Fronteiras, Um
plano de futuro
SME 12:30
Encontro de
lideranças nacionais
Engenharia
e Inovação Cénário
Mineração e
a Engenharia
Código florestal
deve ser votado
ainda no primeiro
semestre de 2012
4
MINAS GERAIS INFRAESTRUTURA PARA O FUTURO
O futuro do nosso estado depende de grandes obras de
engenharia. Estamos falando de estradas, aeroportos, in-
fraestrutura urbana e tantas outras.
Minas Gerais, estado fornecedor de matérias primas, rico
em minerais, onde se encontra a água em
abundância, agricultura desenvolvida, etc.
Somos um estado bastante privilegiado
do ponto de vista da natureza. Temos
bons ventos no topo de nossas monta-
nhas, temos o sol com forte presença em
algumas regiões, notadamente no
norte/nordeste. Muita água se manifes-
tando na forma de rios e quedas d’água.
Estamos vivenciando uma mudança no perfil produtivo do
estado onde as commodities permanecem tendo sua im-
portância, mas entram em cena indústrias dos diversos
segmentos, que se utilizaram da tecnologia e da inovação
para agregar valor aos produtos. Falamos de indústria quí-
mica, metal mecânica, eletroeletrônica, TI, dentre outras.
Isso porque a indústria que se estabelece e pede para cres-
cer demanda infraestrutura compatível.
Muitas empresas de grande porte e alta tecnologia de-
monstram seu interesse em se estabelecer no nosso es-
tado, porém, temos ameaças que podem impedir a atração
destes investimentos.
Trata-se da precariedade das condições de nossas estra-
das, da necessidade de ampliação do aeroporto Tancredo
Neves que está sendo postergada há muito tempo por di-
versos motivos, da mobilidade urbana que também vem
sendo tratada de forma negligente ou sem o devido em-
penho das autoridades envolvidas.
Tudo isso está relacionado com o futuro do nosso estado,
bem como com o futuro da engenharia.
O programa lançado pela presidente da república Dilma
Rousseff e que nos brinda com uma entrevista nesta edi-
ção da revista Mineira de Engenharia, tem
um significado muito importante para o
crescimento do estado e para o desen-
volvimento do país, porém podemos
criar condições para que estes brasilei-
ros que vão intercambiar conhecimento
e se aperfeiçoar lá fora, tenham condi-
ções de voltar ao país e encontrar pos-
tos de trabalho compatíveis com o
conhecimento e a experiência adquiri-
dos. Caso contrário, como diz o ditado
popular, estaremos comprando a bici-
cleta para outros andarem.
Propugnamos por ações imediatas do governo federal, re-
lativamente aos investimentos necessários ao desenvolvi-
mento da infraestrutura da qual falamos, ou que se abra a
oportunidade para a participação da iniciativa privada nes-
tes empreendimentos.
Isto, sob pena do estado permanecer atrasado por mais
uma década e continuar sendo um supridor de matéria
prima.
A SME se manifestará através de suas Comissões Técnicas
sobre a importância dessas ações, e ainda, interagindo com
as entidades mineiras na defesa dos interesses de Minas
Gerais.
Editorial | Palavra do Presidente
Ailton Ricaldoni LoboPresidente da SME
No último dia seis de março, a
Comissão Especial de Gestão das
Águas Pluviais da RMBH da Socie-
dade Mineira de Engenheiros
(SME) promoveu, em Belo Hori-
zonte, na sede do Conselho Re-
gional de Engenharia, Arquitetura
e Agronomia de Minas Gerais
(CREA-MG) o workshop Gestão
das Águas Pluviais da RMBH.
O evento reuniu 130 participan-
tes entre engenheiros, estudantes
universitários, gestores públicos
e, ainda, lideranças comunitárias
para um debate consistente sobre
temas como a importância do
planejamento municipal e suas re-
lações com as enchentes urbanas,
áreas verdes e permeabilidade do
solo nos aqüíferos urbanos, mo-
nitoramento hidrológico e sis-
tema de alerta contra cheias e,
como não poderia faltar, a ques-
tão dos resíduos sólidos e os pro-
blemas na drenagem urbana.
O presidente da Comissão, Paulo
Maciel, explica que o evento foi
bastante positivo e abrangente, já
que os temas abordados interfe-
rem na gestão das águas pluviais,
um desafio que as cidades ainda
não conseguiram vencer. “Essa é
uma questão que tem preocu-
pado as administrações públicas e
a população a cada ano, durante
o período de chuvas, principal-
mente em função dos problemas
causados em função de passivos
acumulados por décadas ou sécu-
los”, destaca.
Um dos resultados práticos desse
workshop será a ampliação dos
canais de diálogo com as prefei-
turas, Estado e Defesa Civil, para
que as ações implementadas te-
nham enfoque preventivo.
A engenharia tem procurado
evoluir para oferecer soluções
sustentáveis para as questões que
envolvem a gestão das águas plu-
viais, como ressalta o engenheiro.
No entanto, a velocidade da ocu-
pação urbana em um momento
de acelerado crescimento econô-
mico como o atual ainda é bem
maior.
Mas a mudança está acontecendo,
na prática. Um exemplo é que
aquelas antigas obras de canaliza-
ção de córregos, tão comuns em
Belo Horizonte e RMBH, têm
sido substituídas por projetos
sustentáveis. “Tampava-se os cór-
regos. As pessoas na viam a su-
jeira e nem o problema, que
continua a existir mesmo debaixo
da terra”, alerta.
Um exemplo recente é o projeto
do Ribeirão Arrudas, em Conta-
gem. Dos 2,7 km de leito, apenas
300 metros foram canalizados. Os
PLANEJAMENTO URBANO | Saneamento
6
Comissão de Gestão Técnicaespecial de Águas Pluviais da RMBH promoveu evento em março
Paulo Maciel é presidente da
Comissão Técnica
de Gestão de
Águas Pluviais da SME
2,4 km restantes obedecem o
leito natural do ribeirão.
Outra obra emblemática, na Ci-
dade Administrativa do Governo
do Estado, foi a descanalização
de um pequeno córrego que
havia na região, o que, de acordo
com Maciel, demonstra que os
projetos de engenharia têm se
pautado por questões como
preservação do meio ambiente
e sustentabilidade.
Segundo Maciel, pensar em ordena-
mento e controle da ocupação das
cidades é algo novo. “Os planos di-
retores municipais têm tido maior
preocupação com o tema, embora
os problemas que acontecem a
cada ano são fruto de um passivo
reprimido que pode agravar ainda
mais sem medidas corretivas”.
Há que se considerar, também,
que a manutenção da boa quali-
dade de vida nas cidades depende
da consciência e educação da po-
pulação. “É um processo de cida-
dania onde as pessoas entendem
que têm um papel a cumprir para
contribuir para que a sua ação
seja positiva ou menos negativa
possível para o meio ambiente.
Nesse sentido, além de direitos,
as pessoas têm responsabilida-
des”, argumenta.
Mas a engenharia, enquanto
ciência, tem um papel prepon-
derante nesse processo de
mudança, a partir de um enfo-
que holístico para solucionar
os problemas já existentes e
propor soluções sustentáveis
para novos/antigos desafios.
Na prática, os projetos devem
considerar a bacia hidrográfica
de toda uma região.
Nesse sentido, as intervenções
são interligadas, assim como os
rios que, no seu leito natural, não
atingem velocidade suficiente
para causar estragos, já que a água
da chuva penetra também na
terra das encostas e áreas verdes
do entorno. Segundo o enge-
nheiro, canalizados, os cursos de
água podem atingir alta veloci-
dade durante uma chuva, o que
representa riscos.
Além de mudar o conceito dos
projetos de engenharia, é pre-
ciso fazer o monitoramento
correto das áreas de risco,
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Rio Arrudas próximo ao Shopping Boulevard durante últimas chuvas de verão
8
9
PLANEJAMENTO URBANO | Saneamento
outra área que merece maior
atenção dos profissionais e
também dos entes públicos,
para que a Defesa Civil possa
avisar aos moradores da beira
dos rios que a água vai subir.
Além de cuidar das bacias hi-
drográficas de forma integrada,
é imprescindível modificar,
também, outro hábito antigo.
“A chuva deveria cair e infiltrar
no solo para alimentar as nas-
centes mas isso não acontece
porque as áreas livres são
todas impermeab i l i zadas” ,
comenta.
Ao manter áreas permeáveis –
uma tendência dos projetos
atuais - é possível alimentar as
nascentes no período de cheia
e também de seca. Essa é outra
questão que merece a atenção
dos engenheiros, visto que, os
problemas surgem não apenas
durante a temporada de chu-
vas, mas também quando elas
são escassas. “É preciso ter
água no lugar e quantidade cer-
tos, em todas as temporadas
do ano”, enfatiza o engenheiro.
Além das questões técnicas,
o mercado de consumo tam-
bém tem exigido mudanças
de conduta da parte da in-
dústria da construção, como
lembra Maciel. Prédios sus-
tentáveis podem trazer be-
nefícios econômicos para o
comprador por meio do uso
de tecnologias como aqueci-
mento solar, energia fotovol-
taica, i luminação e elevador
inteligentes, por exemplo.
As exigências ambientais im-
postas pelo poder público
também colaboram para essa
mudança de valores. “Quem
não acompanhar essa ques-
tão vai ficar para trás, vai en-
velhecer para o mercado”,
afirma.
CÉLIA REGINA ALVES RENNÓPresidente da ABES-MG
CLÁUDIA TERESA PEREIRA PIRESRepresentante da SME no Compur e ex-presidente do IAB-MG
CLEMENCEAU CHIABI SALIBA JÚNIOR Diretor da SME e Perito do Ibape
EDÉZIO TEIXEIRA DE CARVALHO Consultor em Geologia Urbana e Ambiental da Geolurb
JOÃO CARLOS DE CASTRO SILVAProfessor e Coordenador do Curso de Saneamento Ambiental da Fumec
JOSÉ NELSON DE ALMEIDA MACHADOConsultor de Saneamento da Diefra
MAELI ESTRELA BORGES Professora e Consultora em Resíduos Sólidos
PAULO MACIEL JÚNIOR Presidente da Comissão Técnica Especial e Diretor da Lume Estratégia Ambiental
RONALDO LUIZ REZENDE MALLARD Diretor Executivo da EME Engenharia Ambiental
ROSILENE GUEDES SOUZA Presidente do IAB-MG
Membros da Comissão
Técnica Especial de
Gestão de Águas Pluviais
da RMBH | SME
A comissão está aberta a novos membros que queiram colaborar, participe.
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Workshop
Gestão de
Águas Pluviais
da RMBH SME No último dia seis de
março a Comissão Especial
de Gestão das Águas
Pluviais da RMBH da SME
promoveu, na sede do
(CREA-MG) o Workshop
de Gestão das Águas
Pluviais da RMBH. O
evento reuniu 130 partici-
pantes entre engenheiros,
estudantes universitários,
gestores públicos e, ainda, li-
deranças comunitárias.
Ailton Ricaldoni Lobo , Ronaldo Gusmão, Maeli Estrela Borges,
José Ciro Mota e Edésio Texeira de carvalho
José Ciro Mota Ailton Ricaldoni Lobo
e Ronaldo Luiz Rezende Mallard
Ronaldo Luiz Rezende Mallard, José Nelson de Almeida
Machado, Ailton Ricaldoni Lobo e Paulo Maciel
Mesa de palestrantes
Edésio Texeira de carvalho, José Nelson de Almeida Machado, Paulo Maciel,
Danilo Botelho,Ronaldo Luiz Rezende Mallard e Maeli Estrela Borges
O evento com duração de quase 10 horas com 6 paletrantes e intenso debate
Maeli Estrela Borges é palestrante do evento e
é consultora em Resíduos SólidosAilton Ricaldoni Lobo, Paulo Maciel,
Ronaldo Gusmão e José Ciro Mota
Apoio
SME Workshop
Gestão de
Águas Pluviais
da RMBH
Patrocinadores
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Mestres da Engenharia | Beatriz Alvarenga
Um legado de seis décadas de paixão pela física na formação de engenheiros
Quando ingressou no curso de Engenharia Civil
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a
jovem Beatriz Alvarenga, então com 22 anos, queria
aprimorar seus conhecimentos em Matemática.
Naquela época, a Física era matéria desconhe-
cida para os alunos do ensino médio e foi no ciclo bá-
sico do curso superior, que ela conheceu a ciência que
seria uma das grandes paixões de sua vida.
Filha de família numerosa, ela começou a sua
vida como professora do Colégio Santa Maria e, pos-
teriormente, do Colégio Estadual de Mimas Gerais,
para pagar as mensalidades. “Na época, o ensino era
pago”, lembra. Após a formatura, em 1947, ela
foi alçada, pela competência adquirida no dia a dia da
sala de aula, a auxiliar dos mestres, na UFMG .
Posteriormente, fez a prova para tornar-se uma
catedrática no ensino da Física, matéria que, segundo
ela, explica a origem do mundo e do próprio ser hu-
mano, mas que continua a ser temida pelos estudantes
graças à limitação pedagógica do aprendizado.
“Eu nunca entrei na sala de aula com as mãos
vazias. A Física tem que ser apresentada aos alunos
na prática e não apenas por meio de fórmulas deco-
radas”, desafia as novas gerações de professores da
matéria. Muitos deles, inclusive, continuam a trabalhar
com os três volumes do Curso de Física para o en-
sino médio, que a professora assina juntamente com
Antônio Maximo.
13
A experiência que ela procura repassar aos
professores de Física, através dos seus livros, é de
que a matéria tem tudo para agradar a todos os alu-
nos e não apenas àqueles naturalmente entusiasma-
dos pela área de Exatas. Para Beatriz Alvarenga,
inclusive, esse é um conteúdo que, bem apresen-
tado, pode atrair mais alunos para as Engenharias,
um desafio que as escolas enfrentam atualmente.
Hoje, aos 89 anos, com os olhos azuis bri-
lhando mesmo por trás dos óculos, ela continua ativa.
Ao lado da casa onde mora, no bairro Floresta,
mantém um escritório onde recebe professores e
amigos e, também, os mais de 40 sobrinhos que a
procuram para estudar Física de um jeito dife-
rente, principalmente quando o período de pro-
vas se aproxima.
Além da biblioteca e da sala onde está
o computador, o local guarda painéis que abor-
dam diversos temas ligados à Física e também
brinquedos lúdicos que ela traz das viagens in-
ternacionais aos Estados Unidos e países da
Europa que têm na extensa matéria o seu prin-
cípio básico. “Fiz o que achei que seria útil para
mostrar que a Física requer um processo de
aprendizagem baseado na experimentação do
mundo”, conclui.
Eu nunca entrei na sala de aula com as mãos
vazias. A Física tem que serapresentada aos alunos na
prática e não apenas por meio de fórmulas decoradas
““Os volumes de Física elaborados para o ensino
médio são adotados há mais de 40 anos pela
instituições de ensino em todo o Brasil
11 12
Engenheiro
do Ano SME
6 7
A cerimônia de entrega da “Medalha Engenheiro do Ano 2011” para
o engenheiro e presidente executivo do Grupo Andrade Gutierrez,
Otávio Marques de Azevedo, encerrou a programação de eventos
da Sociedade Mineira de Engenheiros no ano passado.O evento foi
realizado no dia 13 de dezembro, no Hotel Ouro Minas, em Belo
Horizonte, para convidados.
Otávio Marques de Azevedo, Presidente da Andrade Gutierrezrecebe o prêmio em noite festiva
1) Otávio Azevedo Filho, Otávio Marques de Azevedo, Ângela e LuizOtávio Mourão
2) Vera Campos, Tânia, Otávio Azevedo,Adriana e Paulo Roberto Henrique
3) Rodrigo Azevedo Campelo, José Flávio Azevedo Campelo, Francisco Azevedo Neto, José OsvaldoAzevedo Campelo, Nelson Furtado Azevedo e Márcio Nunes Orsini
4) Otávio Marques de Azevedo, AdrianaAzevedo, FlávioCampos e Paulo Roberto
5) Celso Mello Azevedo, Ailton Rical-doni Lobo, Sílvio Soares Nazaré, Helenide Melo Fonseca, Jobson Andrade e Ro-drigo Octávio Coutinho Filho
6) José da Costa Carvalho Neto, IvanRibeiro, Marcos Luz da Costa Carvalhoe Werner Cançado Rohlfs
7) Ronaldo Gusmão e Otávio Marquesde Azevedo
8) Marcus de Rezende Kfoury, Alexan-dre Rocha Resende, Jobson Andrade eEderson Bustamante
9) Suzane Drummond, Marlene Mon-teiro, Dilma Neiva e Ana Elisa Lobo
10) Ailton Ricaldoni Lobo, Otávio Mar-ques de Azevedo, Levindo Coelho, Mar-cos Luz da Costa Carvalho e José daCosta Carvalho Neto
11) Marcelo Orrico, Marcelo Lobo, Normando Virgílio Borges Alves,José Ciro Mota e Wagner Barbosa
12) Augusto Drummond, Suzane Baeu-dette Drummond, Otávio Marques deAzevedo e Ailton Ricaldoni Lobo
13) Ronaldo Gusmão, Ailton RicaldoniLobo e Fabiano Soares Panissi
14) Isis Mesquita Carvalho, Márcia Tito e Dilma Neiva
15) Djalma Bastos de Morais e José Ciro Mota
13 14 15
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Patrocinadores
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Resumo: A questão ambiental se intensifica nos
discursos após uma fase de intensa degradação do
meio ambiente decorrente do processo de desen-
volvimento. Este cenário representa o desafio da
Engenharia no século XXI em conhecer o poten-
cial de sustentabilidade do planeta e reconhecer
que a avaliação do impacto da tecnologia no con-
texto social, econômico e ambiental é essencial
para a sobrevivência e progresso.
Palavras chave: Desenvolvimento sustentável;
Engenharia; sustentabilidade.
Desenvolvimento sustentável
Diante da dinâmica de um mundo em constante
evolução a Engenharia torna-se fundamental na
superação dos desafios da era da sustentabilidade.
O desenvolvimento econômico é um fenômeno
inerente ao ser humano e conseqüentemente às
nações. Entretanto a deterioração contínua dos
ecossistemas leva ao questionamento das relações
que se estabelecem entre o homem, a ciência e a
natureza. Assim, o desenvolvimento sustentável
integra-se ao conjunto de esforços internacionais
para concretização das idéias e princípios que
combine eficiência econômica, justiça social e pre-
servação ambiental.
Desenvolvimento sustentável: diante da dinâmica
de um mundo em constante evolução a Engenharia
torna-se fundamental na superação dos desafios da
era da sustentabilidade.
ARTIGO | Desenvolvimento Sustentável
Paulo José Braz Rosas
17
Desenvolvimentosustentável: rumo asustentabil idadeambiental.
O conceito de desenvolvimento
sustentável surge como expres-
são aos anseios coletivos a partir
de estudos da Organização das
Nações Unidas, como uma res-
posta para a humanidade perante
a crise social e ambiental pela
qual o mundo passava a partir da
segunda metade do século XX.
Tal conceito firmado na Agenda
21, durante a Conferência ECO-
92, no Rio de Janeiro, deve ser
entendido como aquele que
atende as necessidades do pre-
sente sem comprometer as pos-
sibilidades de as gerações futuras
atenderem suas próprias neces-
sidades
1. Ressalta-se ainda a Carta da
Terra, declaração de princípios
éticos fundamentais para a cons-
trução de uma sociedade global
justa, sustentável e pacífica, a qual
afirma que para se chegar a este
propósito, é imperativo que os
povos da Terra, declarem respon-
sabilidade uns para com os ou-
tros, com a grande comunidade
da vida, e com as futuras gera-
ções
2. Este compromisso em conci-
liar as interações entre o desen-
volvimento humano e o meio
ambiente, foi ratificado em Johan-
nesburgo, durante a Rio +10, rea-
firmando o desenvolvimento
sustentável como elemento cen-
tral da agenda internacional e de-
finindo dimensões essenciais: o
desenvolvimento econômico, que
visa à gestão mais eficiente dos
recursos naturais, a coesão social,
ancorada na equidade da distri-
buição de renda e de bens e a
proteção ambiental, que consiste
na obediência do limite das ativi-
dades humanas para não destruir
a diversidade, a complexidade e a
função do sistema ecológico.
A Engenharia: desafiopara o século XXI.
A Engenharia sempre esteve pre-
sente na vida do homem, desde
os primórdios da civilização hu-
mana. No Congresso Mundial de
Engenheiros de Brasília – WEC
2008, foi ressaltado o papel da
Engenharia como vetor de inova-
ção tecnológica e como sendo
de vital importância para o de-
senvolvimento humano, social e
econômico sustentável
3.O crescimento sustentável é,
pois, intrínseco a função do en-
genheiro uma vez que é definida
como a atividade de concepção,
projeto e realização de sistemas
ou de produção de bens e servi-
ços, com base no conhecimento
científico e tecnológico, seguindo
paradigmas de ética, eficiência e
eficácia, bem como de sustenta-
bilidade e equilíbrio em relação
ao meio ambiente
4. A complexidade do mundo
moderno exige dos profissionais
de Engenharia uma visão sistê-
mica e uma postura ousada de
um espírito inovador e empreen-
dedor e em conformidade ao
propósito do capítulo 35 da
Agenda 21, deve aplicar os seus
conhecimentos para articular e
apoiar as metas de desenvolvi-
mento sustentável por meio da
avaliação do impacto da tecnolo-
gia no contexto social, econô-
mico e ambiental, baseadas em
inovações atuais e futuras da
ciência, utilizadas nos processos
de tomada de decisões
5.Considerações Finais
Vários tem sido os acontecimen-
tos que marcam a evolução do
conceito desenvolvimento susten-
tável, de acordo com os progres-
sos tecnológicos. Grande parte
dessa tecnologia advém das varias
áreas de Engenharia.
A Engenharia no século XXI terá
que enfrentar desafios cada vez
mais complexos. Nas próximas
duas décadas, mais de 2 bilhões de
pessoas irão povoar o planeta
Terra. Este crescimento demográ-
fico irá gerar uma escala sem pre-
cedentes de demandas de toda
ordem. O hiato entre ricos e po-
bres, entre nações desenvolvidas e
não desenvolvidas, continua cres-
cendo. O meio ambiente continua
deteriorando-se, as principais fon-
tes da matriz energética mundial,
como petróleo e gás natural não
são renováveis e estarão esgota-
das em poucas décadas.
Este panorama representa o
grande esforço que a Engenharia
terá que fazer para suprir as novas
necessidades da humanidade e, ao
mesmo tempo, garantir um desen-
volvimento sustentável. Uma pos-
sibilidade para reverter este
cenário é ter um conhecimento
amplo do potencial de sustenta-
ção do planeta e reconhecer que
o desenvolvimento sustentável de-
pende de planejamento e do reco-
nhecimento de que os recursos
naturais são finitos.
Torna-se fundamental desenvolver
a consciência da necessidade de
profissionais de Engenharia social-
mente responsáveis, tendo como
base a conciliação de suas habili-
dades técnicas com habilidades
humanas, essenciais para a sobre-
vivência e progresso. Assim, o de-
senvolvimento sustentável será
impossível sem a contribuição da
profissão de Engenharia
6. Notas:
1. CMMAD - Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento. Nosso futuro comum. 2a ed.
Tradução de Our common future. 1a
ed. 1988. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getúlio Vargas, 1991.
2. CARTA DA TERRA – Organização
das Nações Unidas, Brasília, 2002.
3. DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA. En-
genharia e Inovação para o Desen-
volvimento com Responsabilidade
Social. In: Congresso Mundial de En-
genheiros – WEC 2008, Brasília..
4. QUARESMA, Celestino Florido.
Razão e sensibilidade na formação
do engenheiro civil. Revista Engenha-
ria do Instituto de Engenharia, n.597,
pág. 21, 2010.
5. AGENDA 21. Conferência das Na-
ções Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento. 2ª ed. Brasília: Se-
nado Federal, subsecretaria de edições
técnicas, 1997.
6. STRONG, Maurice. In: DALL'
ACQUA, Cláudio. Palestra apresen-
tada na XXXI Convenção Panameri-
cana de Engenharia. Engenharia e
Infra-estrutura para o Desenvolvi-
mento Social dos Países das Américas.
Brasília, 2008.
18
ARTIGO | Desenvolvimento Sustentável
Paulo José Braz Rosas é engenheiro
Mecânico Eletricista graduado pela
Universidade Federal de Itajubá –
UNIFEI é também membro do
Conselho Municipal de Conserva-
ção, Defesa e Desenvolvimento do
Meio Ambiente e do Conselho De-
liberativo do Patrimônio Histórico,
Artístico e Cultural de Itajubá;
Membro da Comissão Multimodal
da Inspetoria de Itajubá do CREA-
MG e Diretor da Associação de
Engenheiros e Arquitetos de Ita-
jubá-AENAI. Contato pelo e-mail
pbrosas@yahoo.com.br
19
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Um produto da SME | Sociedade Mineira de Engenheiros
20
Em 2011, a Sociedade Mineira de En-
genheiros (SME) promoveu duas edi-
ções do projeto SME 12:30, na sede
social da entidade, na região central
de Belo Horizonte. O primeiro al-
moço palestra contou com a pre-
sença do engenheiro mineiro e atual
presidente da Eletrobras, José da
Costa Carvalho Neto, encontrou os
engenheiros mineiros no dia seis de
maio do ano passado, com auditório
cheio.
Ele falou sobre “O papel da Eletro-
bras no Setor Elétrico”, um tema que
tem estreita ligação com o atual ce-
nário de desenvolvimento econô-
mico do país e da indústria da cons-
trução.
A empresa tem parque gerador ins-
talado no Brasil composto por 29 hi-
drelétricas, 15 termelétricas, duas
usinas nucleares, 237 subestações
com mais de 61 mil km de linhas de
transmissão em 2011.
No exterior, a empresa tem 5.140
km de linhas de transmissão com ge-
ração de 18.320 MW de potência.
Além de atuar no país, a estatal tam-
bém tem projetos estratégicos inter-
nacionais. De acordo com o presi-
dente da Eletrobras, a empresa está
aberta para parcerias em novas
oportunidades de negócios em gera-
ção e transmissão no Brasil e tam-
bém no exterior.
Novos negócios na área de eficiência
e conservação de energia estão entre
os desafios que a empresa pretende
enfrentar para chegar a 2020 como
o maior sistema empresarial global
de energia limpa, com rentabilidade
comparável às melhores empresas do
setor elétrico.
SME | 12:30Lideranças NacionaisInformação & Opinião
ProjetoGle
nio Cam
preghe
r
Nilton Chaves, João Miguel Drummond, José Ciro Mota
Jaime Elias Pasce ( Vice‐Presidente ‐ Arcadis Logos) e Pedro Braga (Diretoria ‐ Arcadis Logos)
Cristovam Magalhães (Presidente ‐ Arcadis Logos )
Ailton Ricaldoni Lobo e José da Costa Carvalho Neto
José da Costa Carvalho Neto
O presidente da Eletrobras, José da Costa
Carvalho Neto, falou sobre energia e desenvolvimento
Joao Alberto da Silva, Carlos Gustavo Andriolli, Geraldo Mota, Gustavo Coelho e Leonardo Erthal
2121
SME ENGENHEIRO SOLIDÁRIO | Reynaldo Arthur Ramos Ferreira,
Pesquisa realizada pelo IBOPE Inteligência para a Rede
Voluntária em 2011 concluiu que um em cada quatro
brasileiros com mais de 16 anos fazem ou já fizeram
algum trabalho voluntário. Desse grupo, 20% têm o di-
ploma do curso universitário.
Os motivos que levam uma pessoa a se engajar em al-
guma causa, seja ela ajudar os desabrigados de uma
chuva, dar assistência a um vizinho em um momento
de dificuldade ou mesmo a se disponibilizar conheci-
mento técnico para melhorar a qualidade de vida dos
semelhantes são vários. Mas nenhum deles é maior
que aquele sentimento de “dever cumprido”. Que o
diga o engenheiro civil formado pela Universidade Fe-
deral de Minas Gerais (UFMG), Reynaldo Arthur
Ramos Ferreira, 73 anos.
Há 40 anos, ele começou a fazer um trabalho indivi-
dual ajudando famílias que haviam sido induzidas por
políticos a invadir um terreno dele. “O meu foco sem-
pre foi ajudar no sentido de desenvolver pessoas, es-
pecialmente crianças, buscando dar oportunidades de
fazerem alguma coisa na vida, melhor do que aquilo
que lhes caberia naturalmente”, explica. Ainda hoje,
alguns deles trabalham para o engenheiro.
Com o tempo, Ferreira mudou a forma de atuar por-
que descobriu pessoas que têm grande capacidade
multiplicadora. “A cada parcela de ajuda se passa para
elas, elas conseguem atender a um grupo grande de
carentes, especialmente crianças, oferecendo sempre
oportunidades de desenvolvimento e crescimento”,
ressalta. Hoje, são duas pessoas, a Sra. Vanilda, que
mora na entrada da favela do Paquetá, perto da Toca
da Raposa. Além da comunidade local, ela também
atende diversos pontos da periferia de Belo Hori-
zonte, chegando até a região de Posto da Mata, no in-
terior da Bahia.
O segundo multiplicador é o pastor Manoel, que tra-
balha na Vila Leonina, entre as avenidas Raja Gabaglia
e Barão Homem de Melo e na favela do Calafate,
perto da Via Expressa, todas com centros operacionais
de tráfico de drogas consolidados. Ele também vai para
o norte de Minas, uma região que sempre merece a
atenção da sociedade e dos governos.
O terceiro projeto que conta com a participação do
engenheiro é o Instituto Aletheia, sociedade benefi-
cente, sem fins lucrativos e nenhuma vinculação reli-
giosa, que procura ajudar pessoas com problemas
graves de saúde, através de um trabalho espiritual há
mais de 18 anos. “Temos alcançado resultados verda-
deiramente impressionantes. Atualmente, são realiza-
dos centenas de atendimentos por mês”, aponta.
Para o engenheiro que não tem sala com placa e nem
registro, ajudar outras pessoas é um ato incorporado
ao seu dia a dia. O resultado, segundo ele, só pode ser
visto pessoalmente.
Reynaldo Arthur Ramos Ferreira, há 40
anos, ele começou a fazer um trabalho
individual ajudando famílias e hoje é mul-
tiplicador de solidariedade
Sentimento de dever cumprido
Se você é um engenheiro solidário e quer
contar a sua história, basta entrar em
contato pelo e-mail sme@sme.org.br
22
EDUCAÇÃO | Ciência sem Fronteiras
. É com essa perspectiva que a primeira mulher pre-
sidenta do Brasil, a mineira Dilma Roussef, criou o
programa Ciência sem Fronteiras, que vai oferecer
101 mil bolsas de estudo para alunos brasileiros in-
teressados em estágios ou cursos de especialização
e, também aqueles interessados em ingressar na área
de iniciação científica no exterior, nas melhores ins-
tituições do mundo, pelos próximos quatro anos.
Em outras palavras, o que era luxo para poucos está
se tornando realidade para muitos jovens brasileiros
que pretendem construir carreiras de sucesso em
áreas consideradas estratégicas para o desenvolvi-
mento nacional, como é o caso da Engenharia.
Essa empreitada conseguiu a façanha de unir go-
verno, universidades públicas e privadas e, ainda, em-
presas que apostam na qualificação profissional
como diferencial competitivo para elevar o país à
condição de potência econômica que tanto almeja.
Quem fala sobre o programa é a presidenta, uma
mulher a frente do seu tempo e que, exatamente
por isso, foi capaz de incluir a educação profissional
na agenda de prioridades do seu governo.
Durante o balanço do programa, em oito de feve-
reiro último, foram ressaltadas as mais de 36 mil ins-
crições para a segunda chamada do programa CsF
(graduação-sanduíche para instituições de ensino su-
perior dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha,
Itália e França. Entre as mudanças anunciadas, a ins-
crição do aluno não será mais via universidade de
origem, mas diretamente nas agências responsáveis
– CNPq e Capes. O processo seletivo acontece na
fase seguinte.
Presidenta Dilma, qual a proposta do pro-
grama Ciência Sem Fronteiras?
Presidenta:Em dezembro de 2011, o governo fe-
deral abriu inscrições para selecionar 12.500 jovens
brasileiros de cursos de graduação, que vão estudar
durante um ano e meio em universidades dos Esta-
dos Unidos, Alemanha, Itália, Reino Unido ou França.
Para os Estados Unidos, serão 4.500; para a Alema-
nha, 2.500; para a França, 1.500; e para o Reino
Unido, 2.500. Já para a Itália, serão 1.500 bolsas. No
dia 02 de janeiro abrimos mais 500 vagas para o Ca-
nadá. Mas já fizemos chamadas também para univer-
sidades da Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal,
Coreia e Suécia.
Ciência sem Fronteiras
Um plano de futuro
23
Quais as áreas privilegiadas pelo pro-
grama?
Presidenta: A necessidade mais urgente do
nosso mercado de trabalho é ampliar a forma-
ção na área das engenharias, das ciências exa-
tas, das ciências médicas e da tecnologia de
informação. Agora, esse é um programa que
veio para ficar. Tenho a certeza de que depois
desses 101 mil estudantes ou mais, que vamos
selecionar até 2014, virão outros milhares. Eles
vão estudar lá fora e depois, com conhecimen-
tos científicos adquiridos, serão cada vez mais
capazes de ajudar o Brasil a ganhar mais pro-
dutividade e competitividade. O Ciência sem
Fronteiras é um investimento no futuro do
Brasil.
O Ciência sem Fronteiras também terá bol-
sas para alunos dos cursos de pós-graduação?
Presidenta:Terá. Para o doutorado e pós-douto-
rado, as inscrições de estudantes brasileiros ficam
abertas permanentemente. Vamos ter também bol-
sas para atrair doutores estrangeiros para virem tra-
balhar em centros de pesquisa ou empresas aqui no
Brasil também.
Quanto o governo federal vai investir
neste projeto?
Presidenta: O governo federal está investindo R$ 3,2
bilhões para oferecer essas 75 mil bolsas. É um impulso
inédito para a formação científica e tecnológica de nos-
sos jovens numa escala nunca antes vista no nosso país.
“Com o Ciência sem Fronteiras, daremos
oportunidade aos melhores talentos,
porque o conhecimento é o que move e muda o
mundo.”
DIvulga
ção
- Palá
cio d
o Pla
nalto
24
E a participação da iniciativa privada no
programa?
Presidenta: A adesão das empresas está sendo
um sucesso. Quando nós lançamos o Programa,
no final de julho, propusemos às empresas o de-
safio de cobrir os custos de 25 mil bolsas. Em
menos de cinco meses nós já superamos essa
meta. As empresas garantiram 26 mil bolsas, que
serão pagas pela Confederação Nacional da In-
dústria (CNI), Federação Brasileira dos Bancos
(Febraban), Associação Brasileira de Infraestru-
tura e Indústrias de Base (ABDIB), além da Vale,
Petrobras e Eletrobras.
Mas, para estudar no exterior é preciso domi-
nar outro idioma.
Presidenta:Ah é sim. Por isso nós vamos ajudar
os estudantes a superar essa barreira. Primeiro,
nossas universidades vão oferecer cursos de lín-
guas aqui no Brasil para quem tiver mais de 600
pontos no Enem, e quiser também se candidatar
a uma bolsa no exterior. Mas, o mais importante
é que iremos levar os estudantes selecionados
para o exterior, de seis a oito meses antes do
início dos cursos, para que eles façam cursos de
imersão no idioma do país onde serão bolsistas
do Ciência sem Fronteiras.
Qual o critério para ingressar nesse Programa?
Presidenta: O principal critério é o mérito do
estudante, que será medido pela pontuação no
Enem. Queremos oferecer oportunidades para
os melhores estudantes de todo o Brasil estu-
darem fora do país, independentemente da
renda da família. Com o Ciência sem Fronteiras,
daremos oportunidade aos melhores talentos,
porque o conhecimento é o que move e muda
o mundo.
EDUCAÇÃO | Ciência sem Fronteiras
25
O programa é fruto de esforço do Mi-
nistério da Educação em conjunto com
o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação, por meio de suas instituições
de fomento – Capes e CNPq –, e secre-
tarias de Ensino Superior e de Ensino
Tecnológico do MEC.
Universidades públicas e privadas que têm tradi-
ção no ensino da Engenharia já aderiram ao pro-
grama Ciência sem Fronteiras. Na primeira fase
do programa, a Fumec recebeu seis bolsas na
modalidade SWG – Graduação Sanduíche no Ex-
terior pela participação no Programa Institucio-
nal de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) e
Programa Institucional de Iniciação Tecnológica
(PIBITI) do CNPq. Delas, quatro foram para alu-
nos dos cursos de Engenharia.
As bolsas são direcionadas para alunos de graduação
para estágios de 6 a 12 meses em instituições es-
trangeiras, como explica a coordenadora de Pes-
quisa e Pós-Graduação da Fumec e professora,
Andréia Laura Prates Rodrigues. “Concordamos em
participar por acreditarmos nesta iniciativa e enten-
dermos a importância para o Brasil e para os nossos
estudantes. Acreditamos que na graduação, a opor-
tunidade de ampliar o conhecimento e a formação
é de grande importância para os futuros profissio-
nais. A presença dos alunos nos melhores centros
de pesquisa do mundo é um diferencial dos mais im-
portantes”, afirma.
Segundo a professora, o ganho para o estudante
que participa do programa é muito grande,
desde a formação acadêmica diferenciada até o
crescimento pessoal que se adquire em uma expe-
riência fora do país de origem. Dominar outro
idioma e fazer relacionamentos com colegas e
mestres também amplia as possibilidades de se
construir uma carreira de sucesso.
A UFMG, como uma das mais relevantes insti-
tuições de ensino superior do país, não poderia
deixar de participar do programa. A universi-
dade passa por um processo de internacionali-
zação há muito tempo - há parcerias com
instituições estrangeiras que já duram algumas
décadas. O Ciência Sem Fronteiras é uma opor-
tunidade de ampliar as relações da instituição
com universidades estrangeiras.
Para o aluno de graduação e pós-graduação, uma
bolsa de estudo como a fornecida pelo programa re-
presenta um universo de oportunidades: incrementar
um projeto de pesquisa, enriquecer o currículo, apro-
fundar seus conhecimentos em determinada área, e
mesmo vivenciar novas experiências.
Atualmente, encontram-se abertas chamadas públi-
cas para graduação e pós-graduação. As chamadas
abertas para a graduação destinam-se a conceder
bolsas de estudo para Alemanha, EUA, França, Itália
e Reino Unido. As chamadas para a pós-graduação
são mais específicas e contemplam institutos de di-
ferentes países.
Mais informações podem ser encontradas no site do
programa: www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/
o-programa
Universidades reafirmam o sucesso do programa
26
Ciência e Tecnologia | Engenharia e Inovação
Qual é a receita para au-
mentar a produtividade e
adquirir diferenciais com-
petitivos? Inovação.
Não é à toa que governos e enti-
dades de classe têm trabalhado ar-
duamente para que os gestores
empresariais modifiquem a cultura
corporativa de suas organizações
para incluir temas como pesquisa
e desenvolvimento (P&D), seja por
meio de convênios com universi-
dades ou mesmo pelo incentivo
para que os próprios funcionários,
pelo conhecimento que têm em
suas respectivas áreas de atuação,
proponham soluções para proble-
mas que afetam o negócio.
A indústria da construção segue na
mesma direção, e não poderia ser
diferente, já que a necessidade de
compatibilizar custos com produ-
tividade para garantir maior renta-
bilidade é crescente. Entretanto,
ainda há muita resistência para que
o conceito de inovação seja real-
mente transformado em prática,
como ressalta o engenheiro eletri-
cista, consultor e professor nas
áreas de Gestão da Inovação e Al-
ternativas Energéticas e coordena-
dor da Comissão de Ciência,
Tecnologia e Inovação da Socie-
dade Mineira de Engenheiros
(SME) e do Prêmio SME de Ciên-
cia, Tecnologia e Inovação, José
Henrique Diniz.
Para ele, embora seja aceita por
todos, a inovação ainda não é uma
prática consolidada pelas empre-
sas. “No Brasil, embora tenha ha-
vido grandes avanços em materiais,
equipamentos e ferramentas, pro-
cessos construtivos e marketing,
grande parte das empresas da in-
dústria da construção ainda inovam
de forma tímida. Aquelas realmente
inovadoras são exceção”, enfatiza.
Para inovar basta definir um cami-
nho e são vários disponíveis. Na
prática, não basta ter ideias. É pre-
ciso transformá-las em produtos
que gerem resultados para a em-
presa. Incorporar novos serviços,
adotar nova abordagem mercado-
lógica, de comunicação, de relacio-
namento e de promoção também
compõem o escopo da inovação.
“A adoção de práticas e processos
que reduzam o desperdício e, con-
sequentemente, os custos e o ín-
dice de retrabalho, é uma medida
que está ao alcance de qualquer
empresa que pretenda manter-se
competitiva, rentável e sustentável
Conceito de inovação ainda é novidade para a maioria das empresas
27
do ponto de vista ambiental”,
exemplifica.
As organizações que se baseiam
em P&D podem contar com o
uso da nanotecnologia às mega-
construções, além da eletrônica e
das TICs (tecnologias da informa-
ção e comunicação). “A engenha-
ria gera inovação em todas as
áreas e de todos os tipos (produ-
tos, serviços, processos, marke-
ting, organização e gestão) e em
todos os níveis (incremental, rela-
tiva e radical)”, explica Diniz.
Os avanços reafirmam que há
muito espaço para inovar na enge-
nharia, principalmente em produ-
tos e processos. Segundo o
engenheiro, recentes pesquisas
sobre empresas inovadoras brasi-
leiras constataram que a maioria
delas usa tecnologias importadas
para incrementar processos pro-
dutivos. No entanto, há muito o
que melhorar nas áreas de gestão
e de organização, para as quais o
conceito também é interessante.
“As maiores resistências são fruto
da desinformação. Embora quase
todos concordem que inovação é
fundamental, a maioria não sabe
exatamente o que é inovação e,
principalmente, não entende que
inovação é um processo e que
pode e deve ser gerenciada de
modo a otimizar resultados e ala-
vancar competitividade. Inovação
não acontece de forma espontâ-
nea, ao acaso. Deve ser um pro-
cesso sistêmico alinhado com a
estratégia empresarial” define.
E tudo começa pela formação
dos engenheiros. Embora inova-
ção faça parte do cotidiano, sua
conceituação como processo é
bastante recente o que leva ao
desconhecimento. Dessa forma,
é preciso desenvolver uma cul-
tura para inovação para que o
conceito seja disseminado em
todas as matérias dos cursos. Só
assim, é criado um ambiente pro-
pício para que as pessoas pen-
sem e proponham soluções e/ou
novas ideias. Para Diniz, além da
inovação, é preciso que os cursos
também abordem o tema em-
preendedorismo.
O tema tem aparecido em discus-
sões e trabalhos universitários de
forma gradativa. Já a forma curri-
cular continua muito focada em
tecnologia que, por si só, não é
considerada inovação. Mesmo as
universidades tecnológicas ainda
abordam de forma insuficiente a
esse conceito, ao contrário do
que acontece nos cursos de ex-
tensão e de pós-graduação.
Os engenheiros que quiserem
saber mais sobre o tema têm, a sua
disposição, a Comissão de Ciência,
Tecnologia e Inovação da SME.
Com a missão de contribuir para
que a ciência, a tecnologia e a ino-
vação sejam instrumentos de de-
senvolvimento da sociedade e da
valorização do profissional de En-
genharia, esse grupo de trabalho
realiza e promove o debate sobre
o tema e desenvolve estudos e re-
comendações com foco na ativi-
dade, no profissional e na
sociedade.
A Comissão também é responsá-
vel pela coordenação das edições
anuais do Prêmio SME de Ciência
e Tecnologia, que em sua 21ª edi-
ção (2012) passa a se intitular,
também, Prêmio SME de Ciência,
Tecnologia e Inovação, voltado
para estudantes de graduação de
engenharia, arquitetura e agrono-
mia, valorizando, incentivando e
premiando a pesquisa e a produ-
ção de trabalhos inovadores.
José Henrique Diniz é coordenador do
prêmio de ciência e tecnologia da SME,
engenheiro eletricista e professor
28
A P O I OPAT R O C Í N I O
Prêmio SME
de Ciência e
Tecnologia SME Desde o início do programa, há 20 anos, foram inscritos 1,6 mil trabalhos
que obtiveram, além dos prêmios, oportunidades de melhores trabalhos, es-
tágios, bolsas nacionais e internacionais, e também a aplicação prática dos
projetos.Maiores informaçõe sobre a como concorrer ao Premio de 2012
acesse o site da SME: sme.org.br e ou envie o e-mail para sme@sme.org.br
20ª edição do Prêmio SME de Ciência e Tecnologia
1
5
2
3 4
1) Ailton Ricaldoni Lobo, Ana Elisa Freire Lobo, Sabrina Lobo e Fábio Ornatelli2) José Luiz Gattas Hallak, Ailton Ricaldoni Lobo, Marcos Antônio Borges e José Luiz Nobre Ribeiro3) Marcílio César de Andrade, Mirian Elizabeth Andrade, Éderson Bustamante, Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz e Marcelo Ribeiro Vasconcelos Diniz4) Fábio Celso de Castro Tito e Normando Virgílio Borges Alves5) Marita Arêas de Souza Tavares, Geovanni Rodrigues, Fernando de Almeida Freitas, Vagner Vinícius Miyazato, Juliane Soares de Souza e Vinícius Fortes de Castro
30
O binômio mineração/engenha-
ria traduz, de forma absoluta-
mente clara, o atual cenário de
crescimento econômico brasi-
leiro. Para suprir o aumento
crescente da demanda por me-
tais nos últimos anos, as empre-
sas do setor tiveram que investir
em mão de obra qualificada o
que resultou na abertura de
vagas para engenheiros das mais
diversas especialidades.
Além dos tradicionais engenhei-
ros de minas, há postos abertos
para engenheiros civis, mecâni-
cos, elétricos, ambientais, de pro-
dução e de telecomunicações.
Na outra ponta, há uma grande
ansiedade, por parte das compa-
nhias, para atrair e reter esse
contingente de profissionais para
dar continuidade ao atual ciclo
virtuoso que, até 2015, prevê in-
vestimentos de US$68,5 bilhões
até 2015, um novo recorde pa-
trocinado pelo setor.
O diretor executivo de Finanças
e Relações com Investidores da
Engenharia e MineraçãoSetor continua a abrir vagas de trabalho e
oportunidades de carreira para engenheiros
CENÁRIO | Engenharia e Mineração
Tito Martins, diretor executivo
de Finanças e Relações com
Investidores da Vale
31
Vale, Tito Martins, afirma que o momento exube-
rante da mineração tem gerado aumento nunca
antes visto nas contratações, pelas empresas do
setor, independente do porte, devido às novas
operações que estão chegando e os projetos de
expansão em curso.
No caso específico dos engenheiros, além dos
profissionais responsáveis pelas operações, as
empresas do ramo também têm sido bastante
demandadas. De acordo com o executivo, o setor
de mineração é o principal contratante das em-
presas de engenharia e gestão de projetos, de
fornecedoras de equipamentos e prestadoras de
serviço as mais diversas, desde as especializadas
em projetos de plantas de beneficiamento, pas-
sando pela área ambiental, com foco no impacto
dos empreendimentos.
As áreas de consultoria em mineração e logística
são outras que estão na lista das contratadas pela
mineração. Os serviços de transporte portuário e
ferroviário estão trabalhando com capacidade má-
xima graças ao setor. Em resumo, a engenharia está
se beneficiando com a mineração. “Não há enge-
nheiro de minas e de metalurgia sobrando no mer-
cado interno”, afirma.
Mas há vagas para outras especialidades. “O pes-
soal precisa perder a mania de achar que enge-
nheiro civil constrói casas e que engenheiro
mecânico só vai trabalhar montando carros ou
O momento exuberante
da mineração tem gerado aumento
nunca antes visto nas contratações,
pelas empresas do setor,
independente do porte,
devido às novas operações que
estão chegando e os projetos
de expansão
em curso.
Tito Martins, diretor executivo de Finanças
e Relações com Investidores da Vale
““Ag
encia
Vale
32
navios. Outra coisa é que as oportunidades de tra-
balho não se restringem à São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais. Hoje, as fronteiras são bem maio-
res, em locais remotos”, explica.
Na região Amazônica, do Pará ao Maranhão. Já no
Nordeste, a mineração está entre a Bahia e o Rio
Grande do Norte. O sudeste de Minas Gerais e os
estados do Mato Grosso e Goiás também apresen-
tam boas oportunidades de carreira.
Para quem está começando e quer colocar a “mão
na massa”, o executivo recomenda as vagas fora do
circuito principal. E é aí que entram as oportunida-
des no exterior, em destinos como Moçambique e
África do Sul, na África. Omã no Oriente Médio
também é um destino interessante. Malásia e Indo-
nésia na Ásia estão na mesma lista de projetos que
demandam mão de obra qualificada.
A Austrália e o Canadá, dois destinos muito pro-
curados pelos brasileiros que querem aprender ou
aprimorar os conhecimentos no idioma inglês, são
outros países onde há projetos de mineração, só
que em regiões remotas. Com temperaturas de até
40 graus centígrados abaixo de zero, a província ca-
nadense que fica a 700 km de Winnipeg oferece,
ainda, a experiência de conhecer de perto de perto
os fornos específicos para a fundição de níquel que
também podem ser usados para cobre e zinco.
Engenheiros podem se tornar executivos também.
Para tanto, basta ter um diferencial que atende pelo
nome de gestão de pessoas. “Quem sabe lidar com
gente se transforma em líder da companhia”, res-
salta Martins. Além de vagas de trabalho, a remu-
neração oferecida pelas companhias é muito
atraente, sem contar pacotes de benefícios muito
atraentes.
CENÁRIO | Engenharia e Mineração
Agen
cia Va
le
33
Atualmente, dos oito diretores daVale, quatro são engenheiros, o quecomprova que a possibilidade deconstruir uma carreira de sucesso nacompanhia existe. A mineradora mineiraé, hoje, a segunda maior do mundo ea maior empresa do setor em produ-ção diversificada das Américas, comoperações em 38 países. Empregadossão 134 mil.
A Vale tem plano de investimento de US$ 21,4 bi-
lhões em 2012 em vários projetos que estão em
andamento no Brasil e no exterior. Para sustentar
estes projetos a empresa vai precisar de muitas
pessoas. A previsão para 2012 é contratar 8,1 mil
profissionais em todo o mundo, dos quais 6,6 mil
no Brasil. Entre eles, estão cerca de 800 engen-
heiros e 1,7 mil técnicos.
A política de treinamento da companhia envolve
os empregados de todos os escalões, a qualifi-
cação da mão de obra das regiões onda a Vale
atua para futura incorporação, oferta de cursos
que não têm relação direta com o negócio da
empresa mas que aumentam a empregabilidade
das comunidades onde há plantas instaladas e,
ainda, qualificação de fornecedores.
Além de promover a marca “Vale” como sinô-
nimo de empresa que oferece oportunidades
de crescimento profissional no Brasil e no ex-
terior, esses programas visam acelerar as car-
reiras dos empregados, treinando-os para se
tornarem sucessores. Com isso, aumenta o ín-
dice de retenção de talentos e, ainda, a produ-
tividade já que os funcionários produzem mais
porque admiram a empresa e o trabalho que
desenvolvem.
Pátio de empilhamento de pelotas em Itabirito
34
Desde 2003, a Vale mantém um departamento
de Educação, a Valer, que tem como principal
objetivo qualificar mão de obra e promover
o desenvolvimento local a partir do acesso a
educação, emprego e renda. Por meio de par-
cerias com instituições de ensino de todo o
mundo, a Vale oferece ações de desenvolvi-
mento pessoal e profissional nos segmentos
de educação básica, formação técnica, desen-
volvimento gerencial, cidadania corporativa,
cultura e arte. Vários cursos oferecidos pelo
mercado foram estruturados pioneiramente
pela empresa em parceria com as instituições
de ensino para a capacitação de profissionais.
A Vale aposta em educação como mecanismo
fundamental para perpetuar a competitivi-
dade e na excelência de desempenho como
estratégia de atração, desenvolvimento e re-
tenção de profissionais qualificados. Como
parte de nossa filosofia, nas comunidades em
que atuamos, oferecemos oportunidades de
acesso a empregos, a treinamentos e a renda,
que movimentam as economias locais, criando
bases para o desenvolvimento sustentável.
Além das 34 unidades da Valer no Brasil, tam-
bém existem unidades no Canadá, na China, em
Omã e na Suíça. Só nos últimos cinco anos a
Valer capacitou mais de 70 mil empregados e
foram feitas mais de 900 mil participações em
ações educativas para o público interno.
O investimento total da Vale em educação em
2011 foi de US$ 73,9 milhões em todo o mundo,
dos quais US$ 67,8 milhões somente no Brasil.
Foram treinados mais de 57 mil empregados só
no Brasil, resultando em um número de 2,76
milhões de horas/aula.
Programas Porta de Entrada
A Vale investe em programas para treinar
profissionais de níveis superior, técnico e
médio recém-admitidos na empresa. É uma
forma de qualificar a mão de obra para a es-
pecificidade dos negócios da empresa. Por
meio desses programas já foram treinadas
mais de 11,7 mil pessoas. Em 2012, a previsão
é de treinar mais de 3 mil profissionais.
O programa de Especialização Profissional
busca desenvolver engenheiros e geólogos
por meio de curso de pós-graduação nas
áreas de mineração, ferrovia e porto para
atuarem nas localidades onde a Vale está pre-
sente. Dessa forma, a empresa contribui com
o atendimento da demanda por profissionais
especializados e, ao mesmo tempo, promove
a inovação tecnológica e o desenvolvimento
CENÁRIO | Engenharia e Mineração
35
local por meio da geração de empregos e
renda.
O curso está aberto para profissionais com
até três anos de formação e tem duração de
três meses com aulas em tempo integral e vi-
sita técnica às instalações da Vale para alinhar
o conhecimento acadêmico às práticas. É rea-
lizado em parceria com universidades.
O profissional é avaliado por meio de provas e
ao final do curso deve desenvolver uma mono-
grafia sobre um dos temas de projetos discuti-
dos durante a realização das aulas. O projeto
é realizado sob orientação do corpo docente
e entregue após o término do curso, em prazo
determinado pela Vale e a instituição de ensino.
Criado em 2008, o programa formou 660 pro-
fissionais até hoje. Em 2012, haverá a abertura
de novas vagas.
Programa de Recrutamento para Projetos
Este programa tem como objetivo contratar e aper-
feiçoar engenheiros na gestão de projetos, conside-
rando as práticas de mercado e a metodologia de
gestão específica da Vale, para que possam atuar na
implantação de projetos de capital da empresa no
Brasil e outros países. A atuação na área envolve a
implementação de projetos de crescimento orgâ-
nico da empresa e aumento da produtividade.
O programa está aberto para engenheiros com até
quatro anos de formação. O profissional é contra-
tado desde o início e passa por um treinamento de
alguns meses antes de ser destacado para algum
projeto da empresa. Desde a implantação em 2010,
já foram 235 participantes. Todos permaneceram na
empresa ao final do programa.
A Vale é uma das empresas que integram o pro-
grama Ciência sem Fronteiras.
O programa de Especialização Profissional busca desenvolver engenheiros e geólogos por
meio de curso de pós-graduação nas áreas de mineração, ferrovia e porto
Foto: Agencia
vale
36
O engenheiro Tarcio Primo Belém Barbosa, eficaz e des-
prendido presidente da Associação dos ex-alunos da Es-
cola de Engenharia da UFMG, honrou-me com convite
para falar ao lado do ilustre José Israel Vargas sobre o
engenheiro Eliseu Resende, que foi um extraordinário
representante dos engenheiros da UFMG.
Eliseu facilitou a missão que recebi, pois trabalhava e es-
crevia sobre o que havia feito. Contou sua historia em pa-
lestra a que assisti em 14 de dezembro de 2000, na
Sociedade Mineira de Engenheiros, disponível na Web.
Ninguém conhece bem a ninguém, nem a se próprio. En-
tretanto, há imagens e representações subjetivas que
temos das pessoas. E há imagens fabricadas. Trarei aqui
uma representação subjetiva, um depoimento sobre Eli-
seu.
Depoimentos não têm o rigor da historia, mas servem à
historia. São relatos de lembranças, ás vezes enriquecidos
por notas da época. São fragmentos, peças a montar com
outras, confrontadas com novas fontes e valorizadas ao
serem colocadas no contexto dentro da metodologia da
historia.
Para reduzir subjetividade e distorções, ouvi muito sobre
Eliseu, li textos que ele escreveu e escritos sobre ele, lem-
brei-me de nossos debates sobre o Brasil, e examinei seu
papel no contexto em que ele viveu.
Emerge uma figura maior, um líder.
Na vida, algumas pessoas, lideres, influem nos aconteci-
mentos e no futuro, pensam sobre os outros, criam e ino-
vam, planejam e constroem em termos físicos e
espirituais, agem sobre grupos maiores, influenciam
rumos e infletem curvas. Porem há lideres maus. Eliseu
foi um líder para o bem. Líder setorial em transportes e
energia, líder regional como deputado federal e senador
por Minas Gerais.
A minha vida encontrou-se em cruzamentos e em para-
lelos com Eliseu.
Trarei agora destaques que ampliam a visão que preva-
lece sobre ele, a de administrador maior na área de
transportes. Eliseu, com sucesso, foi professor, alto fun-
cionário publico, empreendedor, ministro de Transportes
e da Fazenda, parlamentar e trabalhou na área de energia
ARTIGO | João Camilo Penna
ELISEU RESENDE
Um engenheiro,um líder para o bem
37
elétrica.
Formei-me na Escola de Engenharia em 1948, onde ouvia
falar em um estudante de grande talento duas turmas de-
pois, o Eliseu, que seguiu para estudar análise matemática
na universidade de Nova Iorque, onde obteve o primeiro
lugar de master e de doutor entre colegas dos Estados
Unidos e do mundo.
Depois, no governo Juscelino Kubistchek fui para a
Cemig, e Eliseu, no governo Magalhães Pinto, para o DER,
que logo chefiou, com importante trabalho de moder-
nização e de construção de grande quilometragem de
estradas de 1964 a 1967, e também no governo Israel
Pinheiro . Na ocasião, o nosso grande professor Fran-
cisco Magalhães Gomes comentou ser pena que ele des-
perdiçasse seus conhecimentos no Der. Ora, ele
aplicava ali seus conhecimento de racionalização de
métodos e processos, o que foi constante em sua vida.
Utilizava, para fixar prioridades, o planejamento, estudo
de alternativas, programação e valor presente. Estas ino-
vações deram acesso do Der aos órgãos internacionais,
tal como na Cemig.
Nossos contatos foram muitos, na Cemig eu era incum-
bido dos acertos com o DER sobre estradas para as bar-
ragens, relocação de trechos rodoviários a inundar e
pontes a levantar. Foi notável a colaboração do Eliseu. E
ganhei uma sólida amizade.
E logo estradas cortam montanhas, pontes cruzam rios,
barragens como montanhas fecham rios, e de usinas no
fundo do vale, pesados cabos sobre esbeltas torres trans-
portam em alta tensão energia para a cidade dos ho-
mens.
No final dos anos 50, eu fazia uma palestra na Sociedade
Mineira de Engenheiros, e Eliseu lá estava. -Eu disse:
Então, ao estudar procuramos entender melhor este fas-
cinante mundo em que nascemos. Ao trabalhar procura-
mos tornar melhor este estranho mundo em que
vivemos. E em seguida poderemos descansar.”
João Camilo Penna é Engenheiro Gra-
duado pelaUFMG, trabalhou na Vale, foi
Presidente, da CEMIG . Foi Secretário de
Estado da Fazenda de Minas na década de
70 e ainda Presidente de Furnas Cen-
trais Elétricas, do Instituto Cultural Bra-
sil-Estados Unidos de Belo Horizonte e
da Fundação Dom Cabral
Divulga
ção
| SIA
MIG
38
Eliseu aparteou: “João, (- ele me cha-
mava assim), você sintetizou os ve-
tores que orientam a minha vida. Eu(
Eliseu) acrescentaria e estudar e tra-
balhar nos aproximam de futuro
melhor, do novo!.”
Incorporei esta lição em novas pa-
lestras , e , após citar sua frase, eu
dizia:
“O tempo é um recurso natural
não renovável em nossas vidas. Te-
nhamos uma agenda para o bom
uso do tempo, - no dia, no ano e na
vida.” .
Em palestra, mais tarde na Fiemg,
eu falei sobre esperança sem ânsia.
Eliseu disse: “João, sugiro acrescentar
que esperança com ânsia aproxima-
se da ganância
Seus méritos o levaram, no governo
Israel Pinheiro, do DER para o
DNER, de 1967 a 1974 durante os
governos Costa e Silva e Garrastazu
Médici, com Mario Andreazza mi-
nistro dos Transportes. Aí ele rea-
lizou trabalho resumido em placa
que recebeu da Associação de rodo-
viários do Brasil, e que dizia
“30.951km.”
Construiu a ponte Rio – Niterói,
então com o maior vão livre de viga
de concreto no mundo. Foi integra-
dor da misteriosa e fascinante Ama-
zônia ao Brasil. Construiu a
Transamazônica e asfaltou a Belém-
Brasília, mostrando com satisfação
carta de JK cumprimentando-o por
isto. Preocupava-se com o trans-
porte urbano, e iniciou, usando tre-
chos de ferrovia desativados, os
metrôs em Belo Horizonte, Recife,
Porto Alegre, Salvador e Fortaleza;
todos com atrasos após Eliseu.
Abro parênteses para falar sobre
Mario Andreazza, colega no ministé-
rio do presidente Figueiredo e
amigo próximo. Com espírito pu-
blico e capacidade de trabalho, An-
dreazza esteve perto de ser
candidato á presidência da republica
em 1984, mas foi sabotado por Del-
fim, ( - que Andreazza havia promo-
vido junto ao presidente
Figueiredo para seu ministério,-)
que preferiu Paulo Maluf. Amargu-
rado, Andreazza recolheu se a mo-
desto apartamento em modesto
bairro do Rio. Algumas vezes o visi-
tei, doente, pobre e honrado.
Eliseu foi para a iniciativa privada, na
presidência da Samarco de 1974 a
março de79. quando construiu mi-
neroduto das montanhas de Minas
até o mar no Espírito Santo.
Em Março de 79 foi a ministro de
Transportes . Como ministro, não
descuidou das ferrovias, mas privile-
giou as rodovias, com custo de
construção muito menor por km,
aceitando maiores rampas e curvas
mais fechadas, e os caminhões
transportavam porta a porta Tive o
privilegio em ser seu colega no mi-
nistério do presidente João Figuei-
redo , ele de março 79 a março 82
e eu na Indústria e Comércio,de
março 79 a Agosto 84. Muitas vezes
trabalhamos juntos em temas de in-
teresse nacional.
Incumbidos pelo presidente Figuei-
redo, no MIC,- com José Israel Var-
gas, cientista e tecnólogo de
renome internacional, e Marcos José
Marques, administrador que faz as
coisas acontecerem, - cuidávamos
da expansão e consolidação do pro-
grama do álcool, inovação brasi-
leira, cartão de visita do Brasil no
mundo. Após a mistura limitada de
álcool anidro á gasolina. Lançamos
ARTIGO | João Camilo Penna
3939
com grande aceitação o carro a ál-
cool hidratado em escala comercial
o primeiro veiculo automotor do
mundo movido com combustível
não derivado de petróleo, e com
redução em 80% da poluição da
gasolina, e sucesso internacional.
Hoje predomina o carro flex de
menor eficiência pois deve servir a
dois senhores, mas o carro a álcool
voltará.
Eliseu disse que com o programa
do álcool estávamos fazendo his-
toria.
E, brincando, dizia que eu era favo-
recido pelo presidente João Fi-
gueiredo porque eu chamava João.
Eliseu, em 1982, foi candidato a Go-
vernador de Minas Gerais, que per-
deu para Tancredo Neves, seu único
insucesso que conheço.
Vitorioso na iniciativa privada e na
presidência de Furnas e da Eletro-
brás, Eliseu foi ministro da fazenda
de Itamar Franco de janeiro a maio
1993, com relevante trabalho de or-
ganização, melhor equilíbrio e
transparência das contas federais.
Em maio 1994, eleito deputado fe-
deral, reeleito duas vezes, em 2006
eleito senador da República. Tive a
satisfação de cooperar na minha ci-
dade de Curvelo com votação para
ele, e Curvelo através dele recebeu
obras federais. Antonio Alberto Ca-
nabrava, curvelano, amigo do Eliseu,
também foi diretor geral do DNER.
No Congresso, Eliseu teve papel cria-
tivo e relevante no preparo das leis
de Agencias reguladoras, decisivas
para o sucesso da livre iniciativa em
serviços públicos, A Agencia nacional
de Águas, a de Energia Elétrica, do
Petróleo, das Telecomunicações e a
de Transportes. Sofreu acusações in-
fundadas e não provadas, tinha a co-
ragem de decidir sobre temas
controversos
Vivemos, ele e eu, um contexto em
que se debatia o dilema “o técnico
versus o político”. Eu era muito li-
gado ao grande brasileiro para mim
muito saudoso engenheiro Aureliano
Chaves, que reunia as duas condi-
ções, e construía pontes entre elas, -
o que Eliseu também personificaria,
o político e o técnico em uma só
pessoa– Em palestras, interpelado
sobre o dilema, eu respondia que era
bobagem dizer que o político, um hu-
manista, pensava no Ser e o o téc-
nico, frio, pensava no Saber; ambos,
quando competentes, sabiam que o
Ser e o Saber se entrelaçam.
O governo em inícios de 1990
levou-o para a presidência de Fur-
“““O tempo é um re-curso natural não reno-vável em nossas vidas.
Tenhamos uma agendapara o bom uso do
tempo, - no dia, no anoe na vida.” .
ELISEU RESENDE
Divu
lgação
Sena
do |
www
.sena
do.go
v.br/s
enad
or
40
nas,- que eu exercera quatro anos
e me exonerado em fins de 1989,
o diretor Roberto Haig na presi-
dência até Eliseu.chegar e continuar
com sua competência a recupera-
ção do setor elétrico. Antes de as-
sumir a presidência de Furnas,
estudou o setor e honrou-me com
visitas em minha casa, em que con-
versamos longamente e em que en-
treguei- lhe estudos correlatos.
Dias depois, ele dominava o tema.
Furnas era pouco para ele, e em
1992, no governo Itamar Franco, foi
para a presidência da Eletrobrás,
onde, de 1992 a 1993, salvou o
setor.
Eliseu encontrou grave crise no
setor elétrico. A contenção das ta-
rifas, usada por Delfim Neto no
combate á inflação, levara á inadim-
plência entre geradoras e distribui-
doras em valor cerca de US$34bi
equivalentes.
Criatividade e competência em en-
genharia financeira, conhecimento
fas contas orçamentárias, apoio do
ministro Paulino Cícero e aproxima-
ção com o presidente Itamar Franco
permitiram a Eliseu solução para o
problema.
Como sempre, não buscou solução
isolada, mas que atendesse a um
conjunto de problemas correlatos,
através das Leis 8631, de 4 de Março
1993 e 8274 de 28 de Outubro de
1993. As concessionárias foram au-
torizadas a contabilizar a seu favor
as diferenças entre as remunerações
asseguradas pelas leis e as remune-
rações conseguidas, criada a Conta
de Resultado a Compensar (CRC).
Estas leis, cobertas por secutiriza-
ção das CRCs, intermediadas
pelos estados controladores das
empresas de energia elétrica pro-
moveram a desequalização tarifa-
ria; após uma defasagem de até
100 %; extinguiram a garantia de
remuneração das empresas e re-
conheceram líquidos e certos os
créditos da CRC criando um
fundo federal da ordem de
US$26bi equivalentes, após des-
conto de 25% a ser arcado pelas
concessionárias.
Eliseu foi de enorme importância
no setor elétrico no Brasil tanto
quanto no setor de transportes,
personalizando o binômio de JK,
energia e transporte.
Em meados de 1993, fui honrado
com a visita de Eliseu, presidente
da Eletrobrás. Trazia-me convite
do presidente Itamar Franco, para
ser ministro das Minas e Energia.
Inclinado a aceitar, motivos pes-
soais o impediram. Eliseu sugeriu
que eu telefonasse ao presidente
explicando as razões, e deu-me o
numero de seu telefone.
Entre outros encontros, vimos-nos
quando o presidente Fernando
Henrique Cardoso concedeu-me,
em 2002, a Ordem Nacional do
Mérito, por trabalhos voluntários
na atenuação do racionamento em
2001. Eliseu telefonou-me di-
zendo que adiara uma viagem para
poder ir á cerimônia. Terminada
essa, ele me disse:” João, fiquei sa-
tisfeito como se eu recebesse esta
medalha. De FHC, eu não a ga-
nharei, o presidente suspeita que
a divulgação dos meus trabalhos
no ministério da Fazenda revele
as bases para o plano Real”
Meus caros companheiros peregri-
nos na vida: Vivo agora uma expe-
riência nova, a velhice. Sei que nós
somos mortais e natais.
Hoje, Eliseu Resende renasce na
historia de sua vida - o engenheiro
pensador, o professor, o em-
preendedor, o homem publico -
um homem moderno, repousa no
regaço do eterno.
Até lá, Eliseu!
ARTIGO | João Camilo Penna
41
No dia 10 de junho, foi a vez do enge-
nheiro civil com especialização em Admi-
nistração de Empresas e atual presidente
da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção, Paulo Safady Simão, conver-
sar com os engenheiros mineiros sobre o
programa de habitação do governo fede-
ral “Minha Casa, Minha Vida” que tem ge-
rado grandes contribuições para a
indústria da construção civil brasileira na
segunda edição do SME 12:30.
Para ele, o desenvolvimento e implemen-
tação do Programa Minha Casa, Minha
Vida ao longo dos últimos dois anos, re-
presentou um estágio fundamental e im-
prescindível de aprendizado e
aperfeiçoamento dos processos dentro
da máquina do Estado e das próprias em-
presas da cadeia produtiva da construção.
Foi esta etapa inicial que permitiu capaci-
tar a burocracia; viabilizar e regulamentar
terrenos; elaborar e aprovar projetos; via-
bilizar e conceder crédito para constru-
toras e compradores.
Em outras palavras, o processo de ama-
durecimento do Programa foi o instru-
mento que possibilitou avanços
institucionais e de procedimentos notá-
veis na produção imobiliária no país.
Paulo Simão afirma, ainda, que o déficit ha-
bitacional brasileiro, avaliado atualmente
em cerca de 5,6 milhões de domicílios é
uma das mais graves dívidas sociais do
país. O conceito moderno de morar, já
consolidado por estudiosos e organiza-
ções internacionais, como a ONU, por
exemplo, compreende que o acesso a
uma moradia digna é um direito funda-
mental que assegura uma série de outros
direitos como segurança, trabalho, educa-
ção e saúde.
A Câmara Brasileira da Indústria da Cons-
trução defende que a questão habitacional
deve ser compreendida como uma polí-
tica de Estado, e não de Governo. Univer-
salizar este direito significa focar em
políticas públicas que assegurem a expan-
são da oferta de moradias para as popu-
lações de menor poder aquisitivo.
Neste sentido, a cadeia produtiva da cons-
trução, em parceria com diferentes seto-
res da sociedade, apresentou ao governo,
em 2008, um conjunto de propostas reu-
nidas na Campanha denominada Moradia
Digna.
Um dos pontos mais importantes da
Campanha é a defesa pela aprovação da
Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 285-A/2008, conhecida como “PEC
da Habitação”.
Apesar do sucesso alcançado na primeira
etapa do Programa Minha Casa - Minha
Vida, a CBIC entende que, para garantir
efetivamente, num prazo máximo de 12
anos, a meta de acabar com o déficit de
moradias que atinge as populações mais
pobres do país, é fundamental que o Con-
gresso Nacional se manifeste objetiva-
mente aprovando a PEC da Habitação.
José Ciro Mota, Marcos Carvalhaes e José FlávioRodrigo Octávio Coutinho Filho e Ailton Ricaldoni Lobo
Ailton Ricaldoni Lobo, Paulo Safady Simão, Alberto José Salum e José Antônio Costa Cintra
Marcio Araujo de Lacerda, Ailton Ricaldoni Lobo e Paulo Safady Simão
"Minha Casa, Minha Vida" foi o tema
abordado pelo presidente da CBIC, Paulo Safady Simão
Paulo Safady Simão
é Presidente da
CBIC -Câmara
Brasileira da
Indústria da
Construção,
SME | 12:30
Lideranças Nacionais
Informação & Opinião
Projeto
42
Desafios e aprendizadospara construir uma carreira de sucessoJovem, curioso, empreendedor e versátil. O engenheiro mecânico com ênfase em mecatrônica, Diogo Coimbra, 30 anos, graduado pela Pontifícia Universidade Católicade Minas Gerais (PUC-MG) em 2005 está construindo uma carreira de sucesso na suaprofissão, uma das mais demandadas pelo mercado brasileiro nos últimos quatro anos.
Atualmente, ele ocupa o cargo de ge-
rente Comercial/Desenvolvimento
de Negócios da M.Roscoe, uma con-
quista profissional que é fruto da ges-
tão da própria carreira, desde a
universidade, quando procurou fazer o maior número
possível de estágios, em diversos setores. O mais sig-
nificativo deles no Departamento de Energia da Uni-
versidade de Sttutgart, na Alemanha, onde morou por
oito meses.
O primeiro trabalho foi na Arcelor Mittal Timóteo, ex
Acesita, no Departamento de Controle de
Processo/Produção. Durante dois anos e meio, ele co-
locou em prática o aprendizado teórico adquirido na
faculdade.
O passo seguinte foi a transferência para o escritório
central da empresa em Belo Horizonte, onde por mais
três anos, trabalhou no Departamento de Planeja-
mento Estratégico, dando suporte à diretoria/presi-
dência do grupo na elaboração do Business Plans
Plurianual e na análise e aprovação de investimentos
de médio e grande portes.
Em suma, Diogo Coimbra foi adquirindo experiência,
aquele diferencial competitivo que o profissional só
conquista quando tem contato direto e prático com
o mercado.
“Naquele mesmo período, fui colocando em prática
meu lado empreendedor, com a construção de um alo-
jamento na região do Jardim Canadá, com a criação de
uma pousada em Congonhas e, também, com a plan-
tação de eucalipto em terreno pertencente ao meu
pai, sempre em parceria com o meu irmão”, comenta.
A dúvida normal entre investir no negócio próprio e
a construção da carreira em organizações do mer-
cado, fez com que o engenheiro não se acomodasse.
Aproveitando a experiência adquirida, fez um estudo
de viabilidade econômica para a abertura de uma em-
presa no segmento de locação de gruas. Analisando
possíveis clientes, conheceu o sócio-diretor da M.Ros-
coe, Maurício A. Roscoe, que após conceder entrevista
a respeito do tema, logo fez o convite para que ele
fosse trabalhar no departamento comercial/desenvol-
PERFIL | Engenheiro em foco
43
“Procuro estar sempre atua-
lizado e bem informado.
Mas o fato é que para as
organizações se manterem
no mercado competitivo elas
precisam inovar,
buscando alternativas
que reduzam custo,
soluções diferenciadas.
““Diogo de Souza
Coimbra
vimento de negócios da constru-
tora e, ao mesmo tempo, associar-
se à companhia para a abertura
dessa nova frente de negócios. O
resultado tem sido construído há
dois anos e meio, quando ele assu-
miu o cargo . Há um a locadora de
gruas está em operação.
Em função do trabalho, ele conhe-
ceu a Sociedade Minera de Enge-
nheiros (SME) da qual se tornou
representante dos jovens enge-
nheiros, com cadeira na Diretoria
da entidade. “A idade influencia um
pouco. Normalmente as pessoas
com quem estabeleço relações co-
merciais são mais velhas do que eu,
e no início sempre existe um
pouco de desconfiança, mas a me-
dida que as negociações avançam e
as pessoas conhecem minha pos-
tura profissional a desconfiança
passa”, explica. É nessa hora que se
percebe que os engenheiros mais
experientes estão aceitando o in-
gresso dos jovens.
Para o engenheiro, inovação é es-
sencial para as empresas que pre-
tendem se manter competitivas.
“Acredito que incentivando e de-
senvolvendo essas ações dentro da
organização, automaticamente eu
me preparo para o ambiente de
competição”, afirma.
Para ele, o reconhecimento finan-
ceiro, que também é importante,
torna-se conseqüência do pro-
cesso de gestão da carreira. Para
este ano, além de desenvolver das
demandas da M.Roscoe, o enge-
nheiro está organizado o casa-
mento, marcado para 2013.
Ele não abre mão de viajar em
suas férias, nas horas de lazer, de-
dica-se à prática esportiva – ci-
clismo, peteca e corrida. Os
horários são imprevisíveis mas
ele dá um jeito para manter-se
saudável, seja levando o calçado
na bagagem de uma viagem de ne-
gócios ou mesmo reservando
parte do horário de almoço para
fazer exercícios físicos. “O hobby
é cozinhar e confraternizar com
as pessoas que me fazem bem,
principalmente os familiares”,
destaca.
Satisfeito com o rumo da sua car-
reira, já pensa em fazer uma pós-
graduação em engenharia de
vendas, se não comprometer os
preparativos do casamento. “Este
será um ano de muitas atividades
pessoais”, conclui.
A Drenagem Pluvial Urbana
e os Resíduos Sólidos
Planejamento Urbano | Drenagem Pluvial e Resíduos sólidos
44
O sistema convencional de drena-
gem pluvial urbana é composto de
uma série de unidades e dispositi-
vos hidráulicos de micro drena-
gem, como: greide, meio-fio,
sarjeta, sarjetões, bocas de lobo,
galerias, condutos de ligação,
poços de visita, trechos de galeria,
caixas de ligação; e dispositivos hi-
dráulicos de macro drenagem: ga-
lerias, canais e cursos d’água.
Este é um modelo de concentra-
ção e transferência das águas plu-
viais que impossibilita a sua
infiltração no solo.
Com a expansão urbana sempre
crescente nas cidades brasileiras,
acompanhada pelo aumento das
áreas impermeabilizadas de solo,
torna-se de fundamental impor-
tância a adoção de sistema de dre-
nagem pluvial urbana sustentável
para contribuir para a infiltração e
captação de água pluvial para uso.
O conceito de drenagem pluvial
urbana sustentável é assunto rela-
tivamente novo, se comparado
com a maioria dos conceitos con-
vencionais de drenagem.
A drenagem pluvial urbana sus-
tentável deve contemplar uma
abordagem ecológica do manejo
da água pluvial, com ações plane-
jadas para evitar processos ero-
sivos do solo, assoreamentos de
cursos d’água, enchentes ou
inundações e o processo de
perda da capacidade dos manan-
ciais. Deve ser um sistema que
contemple a manutenção do
ciclo hidrológico com a sufi-
ciente infiltração da água pluvial
para a recarga dos lençóis aquá-
ticos, que mantenha os recursos
hídricos e a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas.
A viabilidade de ações planejadas
abrangentes e de ações de cunho
individual para manter o ciclo hi-
drológico ou permitir a captação
no meio urbano para uso da água
tem, prioritariamente, suporte na
criação de espaços livres e públi-
cos e nas diversas tipologias de es-
truturas paisagísticas capazes de
Por Maeli Estrela Borges
45
auxiliar no processo de drena-
gem urbana, a exemplo de: jardins
de chuva, canteiro pluvial, lagoa
pluvial ou bacia de retenção,
tetos verdes, grades verdes, pavi-
mentação de vias e estaciona-
mentos projetados para reter ou
absorver água pluvial, entre ou-
tros.
Para a macro drenagem, a ten-
dência mundial é reduzir a ocu-
pação das margens de cursos
d’água, impedir que sejam canali-
zados e revertê-los à sua condi-
ção natural, utilizando as margens
para criação de parques lineares.
Em Belo Horizonte existe uma
bacia de retenção, a Barragem
Santa Lúcia, que cumpre a função
de retenção temporária de água
pluvial para reduzir a afluência ao
sistema de macro drenagem e
funciona também na retenção de
sedimentos. Mas o que prevalece
na Capital e Região Metropoli-
tana de Belo Horizonte são os
sistemas convencionais de drena-
gem pluvial urbana, micro e
macro drenagem, que demandam
um dimensionamento compatível
com a vazão de contribuição de
água pluvial de grandes chuvas e
necessitam de limpeza e draga-
gem frequentes para manter a
vazão nas canalizações e nos lei-
tos de cursos d’água.
Considerando que o grande ob-
jetivo do sistema de drenagem é
a prevenção de enchentes ou
inundações, a gestão bem suce-
dida da água pluvial depende,
entre outras ações, da disposição
ambientalmente adequada dos
resíduos sólidos (lixos).
A disposição inadequada de resí-
duos sólidos domiciliares, de re-
síduos volumosos e de resíduos
de construção e demolição, é um
dos vários fatores que contribui
para a ocorrência de enchentes
ou inundações e deslizamentos
de encostas em áreas urbanas no
país, com prejuízos materiais e de
vidas humanas.
No período chuvoso, estes resí-
duos ficam saturados pela infiltra-
ção de água pluvial, que aumenta o
peso de seus maciços e a possibili-
dade de deslizamentos. Podem ser
também carreados, por transporte
hídrico, tendo como destino os fun-
dos de vale, provocando assorea-
mentos de cursos d’água ou, ainda,
atingindo as galerias e canalizações
pluviais, obstruindo-as e reduzindo
a seção livre e a área de escoa-
mento, com consequentes inunda-
ções de áreas urbanas.
Quando há a possibilidade do
transporte hídrico dos sedimen-
tos e dos resíduos sólidos, prin-
cipalmente atingindo galerias e
fundos de vale, a correção da de-
posição inadequada desses resí-
duos, pelas conseqüências
regionais na bacia hidrográfica,
passa a ter um caráter regional
ou metropolitano porque os re-
síduos que atingem galerias e fun-
dos de vale à montante geram
prejuízos também para as regiões
à juzante.
Belo Horizonte dispõe de rede
para gestão de pequenos volumes
de resíduos volumosos de cons-
trução e demolição, composta de
31 Unidades de Recebimento de
Pequenos Volumes – URPVs – e
rede para gestão de grandes vo-
lumes, representada pelas esta-
ções de reciclagem de resíduos da
construção Estoril, Pampulha e
BR-040 e, ainda, programas com-
plementares: de comunicação e
mobilização social, de recupera-
ção de áreas degradadas, de fisca-
lização e de correção ambiental e
reciclagem com carroceiros.
Mesmo assim, a deposição clan-
destina de resíduos volumosos e
de construção e demolição estão
presentes pela cidade, atingindo a
rede de drenagem pluvial, canais e
os cursos d’água, causando
e n chentes ou inundações no
período chuvoso.
46
Na Região Metropolitana de Belo
Horizonte, o problema se multi-
plica, estando a requerer uma so-
lução regional, de modo que as
galerias pluviais e os cursos
d’água que atravessam Belo Ho-
rizonte não recebam e transpor-
tem resíduos e sedimentos de
outros municípios.
Para garantir a aplicabilidade
da lei 12.305/2010, Política
Nacional de Resíduos Sólidos,
e prevenir as enchentes ou
inundações tendo os resíduos
sólidos como fatores agravan-
tes, propomos as ações:
1. Extinguir lixões, deposições
clandestinas de resíduos e recu-
perar áreas degradadas.
2. Planejar a construção de área
de triagem e transbordo ou de es-
tação de reciclagem de resíduos de
construção e demolição (Regional
Leste ou Nordeste ou imediações)
para racionalizar os deslocamentos
do transporte de resíduos.
3. Criar aterros específicos de
resíduos de construção e demo-
lição e de volumosos.
4. Intensificar as ações de fiscali-
zação e educação para erradica-
ção de deposições inadequadas
de resíduos de construção e de-
molição, resíduos volumosos, e
ampliar a divulgação dos endere-
ços das URPVs e das Estações de
Reciclagem de RCD em Belo Ho-
rizonte.
5. Retomar o projeto metropo-
litano de reciclagem de resíduos
de construção e demolição, ela-
borado na Agência Metropolitana
da RMBH, visando sua revisão e
implantação.
6. Reativar o Comitê de Gestão
de Resíduos Sólidos da Agência
Metropolitana, para garantir a
participação dos municípios e o
controle social pela sociedade
civil nos programas, projetos e
ações sobre reciclagem de resí-
duos de construção civil.
7. Criar e implantar programa de
educação e informação ambiental
na RMBH.
A conscientização da sociedade e
do governo para uma gestão dos
resíduos sólidos com responsabi-
lidade compartilhadade é uma
das saídas para a prevenção de
enchentes e inundações. “Uma la-
tinha jogada na rua hoje pode ser
motivo da enchente de amanhã e
a impermeabilização excessiva do
solo em casas e ruas hoje pode
ser também a causa da inundação
de amanhã.”
Planejamento Urbano | Drenagem Pluvial e Resíduos sólidos
Maeli Estrela Borges é
engenheira-arquiteta e Sanitarista e
Consultora de resíduos sólidos
e limpeza urbana.
48
ARTIGO | Edézio Teixeira de Carvalho
CONTRIBUIÇÃO DA GEOLOGIA
PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
HIDROLÓGICOS URBANOS
PROCESSOS HIDROLÓGICOS:
A urbanização implica mobilização de massas geológi-
cas, impermeabilização do terreno e bloqueio do acesso
das águas pluviais a ele. A exportação de massas geoló-
gicas provoca consequências hidrológicas negativas por-
que leva junto o espaço poroso dos solos exportados
e faltará acomodação das águas pluviais. Impermeabili-
zações, bloqueios, aterros argilosos e solos superficiais
compactados (placa tecnogênica) impedem o acesso da
água aos poros do solo, aumentando o escoamento.
Nas encostas com materiais permoporosos em subsu-
perfície a água do lençol freático esvai-se, formando-se
uma franja insaturada, um verdadeiro oco hidrológico
entre a placa e o lençol freático deprimido por carência
hídrica. Nas partes baixas, se o sistema viário for im-
plantado com greide baixo, virá um efeito a mais: A água
promoverá alagamentos onde calhas de drenagem não
derem conta do escoamento. Nas cidades ilimitada-
mente crescentes, principalmente para montante dos
drenos locais, fatalmente se chegará à superação da sua
capacidade e sobrevirão alagamentos, inundações,
cheias incômodas ou catastróficas. Além dessas altera-
ções, massas geológicas escavadas expostas nos taludes
de corte serão erodidas e engrossarão enxurradas e
caudais de cheias.
49
PREVENÇÃO E CONTROLE:
A contribuição geológica para a prevenção e controle dos pro-
cessos e eventos hidrológicos indesejáveis, consequentes à ur-
banização, baseia-se essencialmente nos seguintes pontos:
• Dar às águas pluviais, componente itinerante da plataforma
geológica, condições médias de entrada adequadas (ressalvada
imposição geotécnica essencial de drenagem). Isto implica com-
pensação ou neutralização das impermeabilizações e bloqueios.
A neutralização significa transpor bloqueios por cisternas de
infiltração ou poços a que sejam conduzidas as águas dos te-
lhados (áreas altas), inibindo o início das enxurradas; a neutra-
lização local pode ainda ser feita por captação das águas
pluviais (sem exigências geológicas);
• Nas cidades urbanizadas em áreas baixas, a coleta de águas
pluviais pode ser aplicada, e o recurso não será suficiente. A
compensação, implicando aumento da capacidade de recepção,
pode ser aplicada por aterros de inertes que as cidades pro-
duzem em crescente quantidade. Um aterro desses geologica-
mente bem posicionado em vale ou voçoroca, com grande
volume, pode compensar a perda de infiltração em áreas adja-
centes;
• Nas cidades novas a prevenção é possível por diversas for-
mas. Na urbanística a implantação de vias de vales em greide
previamente levantado deixa espaço poroso disponível para a
infiltração que reduz inundações e alagamentos; na arquitetô-
nica, coleta de águas pluviais e infiltração estimulada são solu-
ções ideais.
50
ARTIGO | Edézio Teixeira de Carvalho
• O combate à erosão em
taludes de cortes exige mu-
retas de pé e cobertura ve-
getal para imobilização das
terras.
• Em situações geológicas
favoráveis o uso das águas
subterrâneas de aquíferos
superficiais (cisternas e
poços tubulares) estimula a
infiltração e reduz inunda-
ções por criar condições
de carência hídrica artificialmente.
COOPERAÇÃO INTERPROFISSIONAL
Nessa cooperação a contribuição geológica propor-
ciona recursos das condições contextuais para im-
plantação prévia ou corretiva de esquemas como os
acima sumariados, objetivando a implantação da mais
importante forma de combate ao desequilíbrio do
regime hidrológico, qual seja a adoção do conceito
de vazão admissível, entendida como a que poderá
passar por dada seção de escoamento que seja con-
siderada definitiva, sem hipóteses de ampliação. Para
limitar a vazão afluente ao valor da admissível
podem-se trabalhar em conjunto os recursos dispo-
níveis, que se relembram:
• Infiltração forçada, abaixo da placa tecnogênica, nas
áreas altas, não havendo problemas de instabilidade;
• Coleta de águas pluviais e seu armazenamento para
uso posterior (quaisquer áreas);
• Imobilização das massas geológicas nos taludes de
cortes, usando muretas de pé e cobertura vegetal;
• Aterros de resíduos do grupo RCC inertes;
• No plano institucional: Estimular mestrados e doutorados
no estudo das franjas insaturadas ou ocos hidrológicos, e
pontos favoráveis ao descarte de inertes como vales en-
caixados, ravinas, cavas de minas; passar a ler leis de orde-
namento como meios e não como fins (o legislador quis
que se faça como recomenda a lei, ou de forma compro-
vadamente melhor, porque, se estivesse pensando de forma
diversa, estaria tratando a lei como fim e isto a sociedade
não deve admitir por intrinsecamente inconstitucional).
Edézio Teixeira
de Carvalho
Engenheiro Geólogo
51
A Sociedade Mineira de Engenheiros tem comomissão posicionar-se diante das principaisquestões técnicas, sociais, culturais, políticas eeconômicas. O evento café com tema é umaproposta para se debater assuntos relevantes àEngenharia Mineira e Nacional.
O Projeto SME – Café com Tema, promovido pela Sociedade
Mineira de Engenheiros (SME), na sede social teve como
palestrante o prefeito municipal de Belo Horizonte, Marcio
Araujo de Lacerda. Ele falou sobre o projeto de planejamento
da capital mineira “BH. Transformando o presente, planejando
o futuro”, para uma platéia de engenheiros e empresários.
A proposta central do projeto é reunir lideranças empresari-
ais e políticas do país para discutir temas de interesse das
cidades, Estados e também do Brasil.
Prefeito de Belo Horizonte
Marcio Araujo de Lacerda e
Ailton Ricaldoni Lobo Presidente da SME
Prefeito de Belo Horizonte
Marcio Araujo de Lacerda
Participantes do evento
ApoioPatrocinador
Café com TemaSME
Prefeito de BH reafirma a importância de planejar o futuro da cidade
52
CÓDIGO FLORESTAL
Ponto
A proposta de um novo código flo-
restal para o país, projeto de lei
que deve ser votado ainda no pri-
meiro semestre pelo Congresso
Nacional, pode ser avaliada por di-
versos ângulos. Para a Federação
da Agricultura e Pecuária do Estado
de Minas Gerais (FAEMG) há ga-
nhos consideráveis com a mu-
dança, se comparada com a
legislação atual.
O superintendente técnico da ins-
tituição, Affonso Damasio, lembra
que, se cumprida na íntegra, a legis-
lação atual que trata do tema torna
ilegais a maior parte dos negócios
rurais do Estado porque estão em
áreas de preservação permamente
(APP), seja pela declividade do re-
levo montanhoso de Minas Gerais
ou em margem de rios.
A correção desses erros, segundo
a legislação atual, seria a erradica-
ção da produção ou o paralisação
o que comprometeria o agronegó-
cio do Estado. Segundo o superin-
tendente, a proposta do novo
código florestal não está liberando
nada novo – e não é verdade que
incentiva o desmatamento de
novos terrenos.
O principal ganho da proposta é
que ele tira da ilegalidade as ocu-
pações já consolidadas. Há casos,
inclusive, em que o produtor terá
que recompor o que fez no pas-
sado, com direito a incentivo para
se fazer as adequações necessárias.
Outra vantagem do projeto de lei
é que as propriedades rurais pode-
rão contar com as áreas de preser-
vação permanente para somar os
20% compor a reserva legal das
ocupações. Segundo a legislação
atual, esses dois espaços são con-
tabilizados separadamente, o que,
em muitos casos, restringe a possi-
bilidade de cultivo.
Os terrenos que têm até quatro
módulos fiscais – média de 100
hectares em Minas Gerais – serão
isentos da manutenção da reserva
legal. Para Damasio esse é mais um
ganho da proposta em tramitação
no Congresso Nacional, já que be-
neficia a agricultura familiar.
A aprovação é aguardada com an-
siedade, já que, de acordo com o
superintendente, representa um
mal menor que o causado pela le-
gislação atual.
Em debate
Código florestal deve ser votado ainda no primeiro semestre de 2012
Affonso Damasio é
superintendente
técnico da FAEMG
CÓDIGO FLORESTAL | PONTO E CONTRA PONTO
53
Contraponto
O País está debruçado sobre os
debates que ocorrem no Con-
gresso Nacional a respeito de
mudanças que querem introduzir
no Código Florestal brasileiro.
Como se trata de matéria natu-
ralmente polêmica, os ânimos
estão acirrados e o debate se
prolonga sem chance de um
acordo, diante de posições infle-
xíveis e cristalizadas que acabam
esterilizando a discussão.
É um assunto realmente sério,
que deve merecer toda a aten-
ção dos congressistas e da socie-
dade brasileira, pois o que está
em jogo é o patrimônio florestal
do País. Por isso, não se está fa-
zendo uma lei para hoje, mas
uma lei inter geracional. Infeliz-
mente, o tema está dominado
pelas preocupações de ontem,
quando deveria está focado nas
premissas do amanhã, já que a
cobertura vegetal e as florestas
em particular, são e serão funda-
mentais para o desenvolvimento
sustentável do Brasil a curto,
médio e longo prazos.
Além do intenso debate sobre as
áreas de preservação perma-
nente e da reserva legal que está
polarizando o debate, já que as
APP são áreas ecologicamente
sensíveis, fundamentais para o
equilíbrio dos ecossistemas e as
RL estratégicas para a manuten-
ção e conservação da biodiversi-
dade, há outros temas que
merecem ser analisados mais
profundamente, diante da impor-
tância do tema para o futuro da
nação.
Em primeiríssimo lugar é funda-
mental observar que embora o
Código trate de florestas, não é
só de vegetação que ele cuida,
razão pela qual surge de forma
tão evidente a questão da APP e
da RL, uma vez que as florestas
guardam uma relação de total in-
terdependência com os solos, as
águas e a fauna. De fato, não
existe floresta sem solo, não
existe água sem solo e floresta e
a fauna não existe sem estes três
elementos.
Daí porque o uso predatório dos
recursos naturais renováveis não
deve ser abordado como um pro-
blema exclusivamente ecológico,
embora os prejuízos ambientais
do uso inadequado desses recur-
sos sejam flagrantes. Há conside-
rações de ordem econômica
também a serem analisadas, por-
que as florestas, o solo e as águas,
alem de recursos ambientais, são
também recursos econômicos. A
destruição desses recursos signi-
fica, antes de tudo, destruir os fa-
tores de produção do setor
agropecuário. Malbaratá-los, agora,
implica comprometer a prosperi-
dade futura dos produtores rurais
e agricultores e o desenvolvi-
mento da Nação a longo prazo.
É comum ouvir o argumento de
que a RL só existe no Brasil, o que
é verdade, e que sua exigência sig-
nifica um ônus para os proprietá-
rios rurais. É um equivoco.
Juntamente com as APP elas pres-
tam serviços ambientais de ex-
traordinária importância para o
País, começando pelos próprios
agricultores, como elemento natu-
ral essencial para a conservação
do solo, da água e como abrigo da
fauna. Por outro lado, numa eco-
nomia cada vez mais globalizada,
em que os mercados estão mais
Por Jose Carlos Carvalho é ex-ministro do meio ambiente
CÓDIGO FLORESTAL | PONTO E CONTRA PONTO
54
exigentes em relação a produtos
ambientalmente saudáveis, a Re-
serva Legal é uma vantagem com-
parativa para um País que se
tornou grande exportador de
commodities agrícolas.
Alem disso, temos grande dispo-
nibilidade de terras abandonadas
e subutilizadas no processo de
produção, algo em torno de
700.000 Km², uma área fabulosa,
que permite a expansão da produ-
ção sem novos desmatamentos e
com recuperação das áreas ecolo-
gicamente sensíveis.
De fato, a expansão da fronteira
agrícola em áreas cobertas com
florestas e a existência de terras
abandonadas numa extensão tão
grande, significa, na atualidade, uma
das maiores, senão a maior con-
tradição do modelo de desenvol-
vimento que estamos praticando.
É uma irracionalidade total, ab-
surda, incompreensível.
Esta situação impõe a perda de
biodiversidade, de solos agricultá-
veis e de mananciais de água numa
escala alarmante, mesmo para um
País de dimensão continental
como o nosso. Neste contexto,
perde o meio ambiente e perde a
agricultura. O meio ambiente
perde em razão de danos irrepa-
ráveis provocados à natureza e a
agricultura perde, porque destrói
os fatores de produção do seu
próprio negócio.
Aliás, uma agricultura que se torna
competitiva utilizando predatoria-
mente seus fatores de produção é
uma agricultura sem futuro, como
demonstra as regiões dos Vales do
Rio Doce e do Mucuri, em Minas,
do Sul do Espírito Santo e do No-
roeste do Rio de Janeiro, para
citar exemplos geograficamente
mais próximos, de como este mo-
delo afeta a economia agrícola
com drástica redução da produti-
vidade, do mesmo modo que afeta
o meio ambiente, ao degradar as
bacias hidrográficas e devastar os
ecossistemas.
Na prevalência deste modelo ana-
crônico de produção, nós estamos
subsidiando a agricultura brasileira
com o nosso capital natural, numa
total demonstração de miopia es-
tratégica e infantilismo político.
Este modelo poderá nos fazer a
quinta economia do mundo nas
próximas décadas e, muito prova-
velmente, a qüinquagésima, no fim
do século. Por esta razão, ao defi-
nir o novo Código Florestal não
estamos tratando apenas dos in-
teresses ambientais do Brasil, mas
com igual importância, do sucesso
e da sustentabilidade de nossa
agricultura.
Graças ao talento profissional do
ex-ministro Alysson Paulinelli que
idealizou a criação da EMBRAPA,
o Brasil já desenvolveu e está de-
senvolvendo tecnologias agrícolas
tropicais que permitem ao nosso
País praticar uma agricultura ba-
seada no uso sustentável dos re-
cursos naturais, sem a necessidade
de insistir no modelo ultrapassado
que levou vastas regiões brasilei-
ras à decadência econômica e que
já viveram a prosperidade que
fazem o progresso de outras re-
giões, principalmente no centro-
oeste. Por isto é que estamos
vivendo este falso dilema, que di-
ficulta a missão do Dep. Aldo Re-
belo em encontrar uma proposta
contemporânea para a Lei Flores-
tal brasileira.
Com relação ao Substitutivo pro-
priamente dito do Relator algu-
mas questões centrais estão
passando ao largo das discussões.
A primeira e a mais importantes
delas está na concepção da pró-
pria Lei. A proposta sob exame
dos Congressistas repete os
mesmo vícios de origem das Leis
anteriores, isto é, continua ba-
seada exclusivamente nos meca-
nismos de comando e controle do
Estado, sem criar instrumentos
reais e efetivos de fomento para
conservação. Quando se trata de
controle e fiscalização o Projeto
de Lei é mandatório e quando
aborda a questão crucial dos in-
centivos econômicos é mera-
mente declaratório. Isto é, atenua
as ações de controle e fiscalização,
mas não define com precisão os
incentivos para recuperar o que já
foi detonado no passado, princi-
palmente, para a agricultura fami-
liar, fazendo recair sobre os agri-
cultores os mesmos ônus da Lei
atual. O agricultor familiar que não
tem condições de recompor sua
APP de 30m continuará sem con-
dições econômicas de recuperar a
faixa de 15m.
Se parte das APP e RL foram des-
matadas com o financiamento do
Estado, como argüi corretamente
as lideranças do setor agropecuá-
rio, nada mais natural que o Es-
tado financie a recuperação destas
áreas. Até porque, como bem de-
fine a legislação florestal brasileira,
desde 1934, as florestas e demais
formas de vegetação existente no
território nacional são bens de in-
teresse comum do povo. Ora, se
são bens de interesse coletivo, é
justo que a coletividade participe
diretamente do esforço de recu-
peração que a incúria do passado
legou às presentes gerações e que
se agravarão no futuro, se nada for
feito na atualidade. No caso da
agricultura familiar, a solução ideal,
não está em desobrigá-la de manter
as áreas necessárias à conservação,
mas apoiá-la para reconstituir estas
áreas a longo prazo, de tal maneira
que esta obrigação não reduza
ainda mais os padrões de renda já
baixos dos pequenos agricultores.
Na verdade, é o intensivo uso pre-
datório dos imóveis rurais no pas-
sado, sem observância da Lei e das
práticas recomendadas de conser-
vação do solo e água, com cultivos
e criações de baixa produtividade
que criaram o quadro de crise que
estamos vivendo hoje. Os Vales do
Rio Doce e Mucuri em Minas, re-
giões tradicionalmente ocupadas
com a pecuária, chegaram a su-
portar 2,8 unidades animal por
hectare, no auge da ocupação há
50 anos, e hoje, com a destruição
dos recursos naturais, incluindo a
55
José Carlos Carvalho é ex-ministro do meio
ambiente, Engenheiro florestal, fala sobre as
mudanças propostas para alteração do código
florestal, em tramitação no congresso nacional.
56
devastação da mata atlântica, a bo-
vinocultura atinge, em média, 0,6
unidade animal, no mesmo ha, isto
é, uma redução de quase 5 vezes.
Neste caso, como é comum ouvir
dizer que o meio ambiente atra-
palha a agricultura, é de se pergun-
tar: quanto custa não proteger o
meio ambiente para agricultura?
Outro ponto crucial, normal-
mente ignorado no Brasil, diz res-
peito às Leis de norma geral,
como é o Projeto do Código se-
gundo definição encontrada logo
no seu Artigo 1º. No nosso sis-
tema federativo, a Lei de norma
geral, como define o manda-
mento constitucional da compe-
tência legislativa concorrente,
deveria remeter aos Estados
Membros da União, as normas es-
pecificas. Mas não é que ocorre,
já que o PL é um misto de norma
geral e normas especificas, a
ponto de disciplinar detalhada-
mente como deve ser feito um
Plano de Manejo Florestal Sus-
tentável, iniciativa inteiramente
técnica que poderia ser discipli-
nada pelo órgão ou entidade res-
ponsável pela sua aprovação.
Todavia, a tendência de transfor-
mar Lei de norma geral em Lei es-
pecifica é um dos problemas
enfrentados pelo Congresso Na-
cional, diante da exacerbada difi-
culdade de harmonizar as diferen-
tes realidades regionais numa
única norma, como ocorre no
caso presente. A Lei nacional é si-
métrica por definição, mas sua
aplicação se faz numa federação e
num território totalmente assimé-
tricos, com peculiaridades distin-
tas e por vezes antagônicas. Eis aí,
a causa principal da dificuldade em
obter o necessário consenso em
torno do tema e de outros assun-
tos de dimensão nacional que são
submetidos ao exame do Con-
gresso Nacional. Embora as lide-
ranças do governo e da oposição
digam que já há consenso sobre
98% do Substitutivo, é importante
lembrar o saudoso Presidente
Tancredo Neves que já nos ensi-
nou que em política, 1% pode ser
mais que 99%. As dificuldades em
votar o Projeto de Lei demons-
tram que ele tinha razão.
Fica claro, mesmo para os leigos,
que é praticamente impossível,
produzir uma norma legal ade-
quada aos seus objetivos, em re-
lação a este tema, sem regras de
caráter específico, que possam
capturar e dar tratamento às pe-
culiaridades locais e regionais, le-
vando em conta as realidades dos
nossos diversos biomas, os ecos-
sistemas que os compõem e as
diferentes bacias hidrográficas
que drenam o território. Con-
tudo, como os biomas se espa-
lham por mais de um Estado, a
melhor solução não está em re-
meter às unidades federadas a le-
gislação complementar, mas
estabelecer no âmbito do pró-
prio Congresso, Leis especificas
por biomas, como, aliás, já ocor-
reu com a Mata Atlântica, por ini-
ciativa à época do então
Deputado Fábio Feldman.
Desta forma, a solução recomen-
dável no atual cenário político,
seria aprovar a atualização possí-
vel do Código Florestal, sem re-
trocessos que descaracterizem
os fundamentos que vem sendo
erigidos desde a Lei de 1934,
adotando a moratória dos des-
matamentos por 5 anos, como
originalmente previsto pelo rela-
tor, com a obrigação do Con-
gresso Nacional votar Leis
especificas para os biomas da Flo-
resta Amazônica, do Cerrado, do
Pantanal e da Caatinga, dentro
deste prazo.Esta solução evitaria
que os Estados, como Minas Ge-
rais, no uso e no limite de sua
competência constitucional con-
corrente sejam instados a elabo-
rarem suas próprias Leis,
tratando de biomas compartilha-
dos com outros Estados, para
CÓDIGO FLORESTAL | PONTO E CONTRA PONTO
57
atenuar os conflitos que giram
em torno do tema e que tumul-
tuam o processo de governança
do setor e a gestão ambiental das
florestas e da biodiversidade.
É preciso reconhecer a necessi-
dade de dar às Áreas de Preserva-
ção Permanente tratamento
compatível com o uso antrópico
consolidado, historicamente, consi-
derando o horizonte temporal de
uso do solo agrícola no Brasil, prin-
cipalmente com o objetivo de des-
criminalizar o uso de boa fé feito
no passado. Este é um ponto que
precisa ser enfrentado com cora-
gem e bom senso, dando à agricul-
tura familiar tratamento especial,
em razão das condições sócio-eco-
nômica dos pequenos agricultores.
Quanto à Reserva Legal, é difícil
compreender que se adote agora
a sua inexigibilidade, já que é uma
obrigação estatuída desde o Có-
digo de 1934, ratificada em 1965
e em 1989, em todas as ocasiões
pelo Congresso Nacional, e não
por Medida Provisória, como se
tenta argüir na atual etapa dos de-
bates. É sempre bom lembrar que
a obrigatoriedade da recomposi-
ção da RL também foi adotada
por Lei de iniciativa congressual,
através da Lei Agrícola com apoio
das bancadas partidárias vincula-
das ao setor agropecuário. Ora,
isto significa que o atual Substitu-
tivo do Deputado Aldo Rebelo é
uma contradição histórica, uma
negação do papel histórico do
Parlamento brasileiro, um lamen-
tável retrocesso que não honra a
biografia do Relator e depõe con-
tra conquistas inalienáveis da
Nação brasileira, obtidas exata-
mente pela clarividência e pela
contemporaneidade de parlamen-
tares que nos idos de 1934, 1965
e 1989, há quase 80 anos, deram
ao Brasil um estatuto jurídico fun-
dado no sentimento de Pátria, que
não deve faltar agora.
Isto não significa que esta posição
de vanguarda, historicamente afir-
mada e reafirmada no Congresso,
deixe de considerar questões espe-
cificas como a da agricultura fami-
liar, por razões sócio-econômicas.
Mas, esta realidade não justifica a
visão reducionista e a decisão sim-
plista de se abolir a Reserva Legal.
Há outras alternativas e outros ca-
minhos a serem explorados, que
podem assegurar a recomposição
destas áreas, mediante financia-
mento e assistência técnica pro-
porcionada pelo Poder Público,
sem sua súbita eliminação, mais
uma vez sem comprometer a
renda dos agricultores familiares.
Uma das hipóteses a serem consi-
deradas poderia ser a adoção de
uma escala progressiva de redução
da RL de 4 módulos fiscais para
menos, condicionando a recompo-
sição ao apoio efetivo do Poder Pú-
blico, no âmbito do PRA –
Programa de Regularização Am-
biental estabelecido no próprio
Substitutivo, estabelecendo me-
diante motivação edafo-climática,
biológica, hídrica e geológica as
áreas prioritárias de recomposição
das RL. Isto significa que a recom-
posição só poderá ser cobrada da
agricultura familiar se viabilizado o
apoio do Poder Público. Caso con-
trário, o pequeno agricultor conti-
nuaria dispensado da obrigação de
recompor, recaindo sobre os go-
vernos a responsabilidade de sua
omissão.
Outra questão relevante sobre o
tema da RL diz respeito aos aspec-
tos locacionais. Mais uma vez o PL
mantém a propriedade rural como
a célula da reserva legal, ofere-
cendo o bioma como opção na au-
sência de alternativa local. Embora
polêmica, esta decisão precisa ser
pensada na ótica da bacia hidrográ-
fica. Definir a RL na propriedade,
principalmente em regiões de es-
trutura minifundiária, é um erro
técnico e estratégico, pois o má-
ximo de conservação a ser obtida
será um retalho de pequenas áreas,
58
um conjunto de fragmentos sujeito
ao efeito de borda, condenados ao
desaparecimento, sem nenhuma
serventia para a estratégia de con-
servação da biodiversidade, princi-
palmente como corredores de
conectividade para assegurar o
fluxo gênico da flora e da fauna e
como cobertura essencial à prote-
ção de mananciais e cabeceiras de
córregos e rios de ordem inferior
até o rio de primeira ordem. Neste
caso, a bacia hidrográfica é a me-
lhor referência espacial para a lo-
calização dessas reservas.
As entidades que integram o mo-
vimento Diálogo Florestal, reu-
nindo organizações ambientalistas
e da iniciativa privada, apresenta-
ram um documento baseado em
dezesseis (16) pontos que constitui
um bom eixo para orientar as ne-
gociações das partes interessadas
visando a romper o imobilismo e
criar as condições políticas que
permitam um grande entendi-
mento nacional sobre futuro das
nossas florestas.
Muita critica tem sido feita ao Subs-
titutivo do Código Florestal em
tramitação na Câmara dos Depu-
tados, em razão do debate acirrado
entre ruralistas e ambientalistas,
que praticamente, como seria na-
tural, monopolizam o debate, ao
discutir as falhas do Projeto se-
gundo o pensamento dominante
de cada um desses segmentos. To-
davia, torna-se necessário conside-
rar que este PL não pode ser
elaborado para ambientalistas e ru-
ralistas, ele tem que ser elaborado
para a Nação, principalmente para
a maioria silenciosa e indiferente
que sequer percebe que o Con-
gresso está decidindo o seu futuro
e o futuro dos seus filhos.
Por isso, é necessário criticar o
Substitutivo também pelas qualida-
des que ele não tem. E certamente,
uma das lacunas desta iniciativa le-
gislativa, diz respeito a ausência de
instrumentos econômicos manda-
tórios para assegurar que os pe-
quenos agricultores terão as
condições necessárias para fazer o
seu papel, ao lado dos médios e
grandes. Em 2002, foram criados
dois instrumentos econômicos im-
portantes para estimular o reflo-
restamento e a recuperação de
áreas degradadas, o PRONAF FLO-
RESTAL E O PROPFLORA, duas li-
nhas de crédito com prazo e
carência compatíveis com as ativi-
dades florestais. Passados 9 anos,
nada se fez para aprimorar e am-
pliar estes instrumentos e adotá-
los como ferramentas importantes
para fomentar a conservação e o
uso sustentável das florestas no
Brasil.
Outra lacuna está relacionada com
o silêncio do Substitutivo no que
pertine as instituições florestais e
ambientais encarregadas de colocá-
lo em execução. Com exceção de
meia dúzia de Estados, os demais,
incluindo a União, não estão prepa-
rados para assumir as competên-
cias que o Projeto de Lei está lhes
atribuindo, em virtude, entre ou-
tros pontos, da gratuidade justifi-
cada que a proposta assegura aos
agricultores familiares. O PL ignora
a necessidade de fortalecimento
institucional dos órgãos e entida-
des florestais e ambientais que
lidam com a matéria. Só em Minas
Gerais são mais de 300.000 pro-
priedades a serem atendidas. Pela
toada em que estamos, o problema
continuará praticamente do
mesmo tamanho. Restará nova-
mente o controle e a fiscalização. E
que os órgãos e entidades ambien-
tais não venham a ser novamente
amaldiçoados, pela incapacidade
operacional de atender a esta nova
demanda.
Fazer uma Lei que cria obrigações,
sem meios de implementação, é
fazer uma Lei inexigível.
O Brasil é uma das poucas, se não
a única Nação do mundo com
nome de árvore, o pau-brasil, in-
cluído por incúria nossa e de nos-
sos antepassados na lista das
espécies da flora brasileira ameaça-
das de extinção. É hora de lembrar
os Congressistas desta verdade.
CÓDIGO FLORESTAL | PONTO E CONTRA PONTO
59
Na década de 40, era comum
que muitos estudantes da uni-
versidade federal de Itajubá per-
manecessem na cidade durante
o período de férias de julho.
Além do dinheiro curto, as con-
dições das estradas e transporte
também não animavam muito os
alunos a visitar os pais. Para dar
conta de preencher o tempo
livre, eles faziam um exercício de
criatividade inigualável.
Em 1942, as férias ficaram ainda
mais longas. A essa altura, o
então aluno do Instituto Eletro-
técnico de Itajubá ( IEI), Calis-
trato Borges de Muros, já tinha
esgotado todas as possibilidades
de lazer disponíveis. Foi aí que
pensou em algo diferente.
Resolveu então pregar uma peça
no colega de república José Mil-
ton Costa que viajara deixando
o seu Fiat na cidade. Com a
ajuda de alguns colegas, desmon-
tou o carro para montá-lo no
segundo andar da república
onde moravam, logo na sala de
visita para garantir o impacto da
operação.
Quando chegou de viagem, o
dono do carro ficou assustadís-
simo ao ver o seu Fiat dentro de
casa. Essa também foi a sensação
do dono do imóvel que não
compreendeu como o veículo
foi parar lá dentro sem que ne-
nhuma parede fosse demolida
ou quebrada.
A lição de mecânica automotiva
só chegou ao final quando Calis-
trato novamente desmontou o
Fiat do colega para montá-lo lá
na rua.
O engenheiro e professor
Calistrato Borges de Muros
diplomou-se na turma de
1945 no antigo Instituto Ele-
trotécnico de Itajubá (IEL).
Pioneiro das Telecomunica-
ções em Minas Gerais, ele de-
dicou 62 anos à Engenharia,
seja como gestor ou profes-
sor da EFEI, PUC-MG, UFMG
e Inatel. Em 1984, já aposen-
tado após uma brilhante car-
reira, prestou concurso
público para a CBTU / Deme-
trô BH, onde passou a ocupar
vários cargos até o ano de
2007, quando de fato se apo-
sentou. Ele faleceu em 16 de
abril de 2010.
A Revista SME quer recebere publicar a sua história,basta enviar o texto para oe-mail sme@sme.org.br
Causos da Engenharia
Lição de mecânica com Calistrato Borges de Muros