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Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 1
SOCIALSegurança no trabalho
CASE: Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção
AMBIENTALAlimentos e biocombustíveis
ECONÔMICO Finanças sustentáveis
edição - 1 • outubro de 2008 • R$ 15,00
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Os desafios da sustentabilidade empresarialA incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.
A Kimberly-Clark tem várias marcas registradas. Sustentabilidade é uma delas.A Kimberly-Clark acredita que a chave para qualquer negócio é asustentabilidade. Por isso trabalhamos para ser referência tanto para outrasempresas no Brasil como para nossas unidades distribuídas pelo mundo.
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 3
Kimberly
Editorial
A Revista Negócio Sustentável se originou da incontestável e crescente relevância que o tema Sustentabilidade assume no mundo empresarial e, como decorrência disso, da carência de informação qualificada e na linguagem profissional para empresários e executivos que traçam os contornos deste mundo.
A visão que inspirou a Revista Negócio Sustentável é a de que a postura e a atitude de cada empresa gera impacto não apenas em si mesma, mas, especialmente, em todo o ambiente de negócios, na sociedade e no ambiente.
Entendemos haver uma base de valores e crenças que ancora a discussão da sustentabilidade e que transforma numa relação de causa e efeito atrair para perto das empresas que a praticam parceiros interessantes, adequados e duráveis, sejam clientes, consumidores, fornecedores, entre outros.
Assim, quando levamos aos empresários e executivos de centenas das importantes empresas do País, conceitos e boas práticas de Sustetabilidade, acreditamos que nos tornamos agentes de transformação do cenário empresarial.
Sustentabilidade é para nós fator de inovação e de moderação de risco empresarial, que implica na perenidade e no sucesso dos negócios; desejamos estar ao seu lado nestes desafios, apoiando-os para que considerem a sustentabilidade de uma forma pragmática e vinculada aos seus resultados.
Convidamos você a avaliar e participar da Revista Negócio Sustentável, com sua atenção, opinião e mensagem. Muito obrigado e boa leitura!
Sergio Molinari Sócio sergio.molinari@negociosustentavel.com.br
4 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Colaboraram nesta edição
Fabrizio G. Violini Sócio-Diretor da Ecosfera Consultoria Ambiental
Arnaldo Marques de Oliveira Neto Sócio-Diretor da Performance Alliott Brasil Consultoria
Nélio Bilate CEO da Addcomm Comunicação Digital e Marketing
Raquel Sabrina Consultora de Comunicação e Sustentabilidade
Andrea Goldschmidt Diretora da Apoena Sustentável Consultoria em Gestão
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“A REVISTA NEGÓCIO SUSTENTÁVEL BUSCA SE TORNAR UMA DAS MAIS IMPORTANTES FONTES DE INFORMAÇÕES E INTERCÂMBIO
DE IDÉIAS E EXPERIÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. O OBJETIVO É ELEGER E APROFUNDAR AS PRINCIPAIS DISCUSSÕES
DO MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL, MOSTRANDO CAMINHOS PARA QUE FAÇA PARTE DO PROCESSO DE TOMADA
DE DECISÃO E GESTÃO ESTRATÉGICA.”
Sócio Responsável: Sergio Molinari – sergio.molinari@negociosustentavel.com.br
Conselheira Executiva: Andrea Goldschmidt – andrea@apoenasustentavel.com.br
Jornalista Responsável: Raquel Sabrina – raquelsabrina@gmail.com – MTB SC02747JP
Direção de Arte: Caio Carlucci – caio@casabrasileira.com.br
Diagramação: Casa Brasileira – www.casabrasileira.com.br
Pesquisa: UFR – Unit for Research – www.ufr.com.br
Fotografia: Márcio Kato – katophoto@ig.com.br
Revisão: Geni Goldschmidt – geni@apoenasustentavel.com.br
Administração: Márcia M. Bertolino – marcia.bertolino@negociosustentavel.com.br
Distribuição dirigida: Treelog S/A Logística e Distribuição
Impressão: Vox Gráfica - revista impressa em papel couché 90 g/m2 (miolo) e 150 g/m2 (capa) da Suzano Papel e Celulose, produzido a partir de florestas renováveis de eucalipto; cada árvore utilizada foi plantada para este fim.
Adalgiso Telles - Grupo Bunge • Almiro dos Reis Neto - Franquality • Daniela de Fiori - Wal-Mart • Flávia Moraes - FCM Consultoria
Juracy Parente - CEV - Fundação Getúlio Vargas – SP • Marco Antonio Iszlaji - Kimberly-Clark • Paulo Roberto Ferreira da Cunha - ESPM
Sandra Turchi - Associação Comercial de São Paulo
Expediente
Conselho Editorial
A Revista Negócio Sustentável é uma publicação bimestral da Ombrello Editora Ltda. • CNPJ 05.800.433/0001-45 Rua Dr. Luiz Nazareno de Assumpção, 13 – CEP 02316-190 - São Paulo – SPTiragem desta edição: 8.000 exemplaresEscreva para a Redação: redacao@negociosustentavel.com.brCompartilhe suas críticas e sugestões: ouvidoria@negociosustentavel.com.br Anuncie em Negócio Sustentável: publicidade@negociosustentavel.com.br Faça sua pergunta para a Seção Consultoria – consultoria@negociosustentavel.com.brPara outros assuntos: contato@negociosustentavel.com.br Atualize suas informações: leitor@negociosustentavel.com.br www.negociosustentavel.com.br
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 5
Compartilhe suas ações, estratégias sustentáveis e outros assuntos de alta relevância com nossos parceiros,
anunciando na Revista Negócio Sustentável.
Cada empresa tem seus objetivos e estratégias específicos. Consideramos fundamental
formular um plano específico para cada parceiro, em linha com estas situações individuais.
Estamos prontos para desenvolver um “case” único para sua empresa.
Entre em contato conosco e conheça como podemos apoiá-los
em seus esforços junto à Sustentabilidade Empresarial.
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6 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
08 CONSULTORIA
52 SNACKS
54 ARTIGOS
59 10 DICAS
Outubro2008
Sumário
Os desafios da sustentabilidade empresarial A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada
de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas.
22
Segurança no trabalho 500 mil acidentes e 2 mil mortes por ano mostram um país
com empresas que ainda precisam evoluir para se tornar sustentáveis.
46
Alimentos e biocombustíveis Os biocombustíveis e o aumento no preço dos alimentos:
uma questão econômica, ambiental ou política?
10
Os impactos socioambientais da construção civil Afinal, o que é realmente essencial para que uma construção
seja sustentável?
38
A evolução das finanças sustentáveis no país Considerar indicadores de sustentabilidade para a concessão de
financiamentos desponta nas carteiras de crédito das instituições brasileiras.
35
Consumo consciente Pesquisa confirma que consumidor ainda não exerce seu poder de
compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável.
30
CASE: Ética empresarial Wal-Mart Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção16
8 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Definitivamente o conceito é global.
Por mais que cada gestor seja responsável
pelas atividades que controla localmente,
como empresa, os impactos gerados pela
atividade econômica devem ser pensados
globalmente.
Neste sentido, uma empresa que
transfere sua área de produção para a
China - ou para qualquer outro lugar
onde as exigências e o nível de controle
sejam menores - pensando apenas na
redução de custos que irá obter, sem
se preocupar com os impactos sociais
e ambientais que possa estar causando
localmente, não está agindo de forma
sustentável.
Como as empresas podem se dizer a favor da sustentabilidade, se ainda continuam comprando
produtos e serviços “made in China” (que todos sabem que são às custas de trabalho
escravo/infanti)? A sustentabilidade é um conceito global ou local?
Luciana Jacob – RH – Lanxess
O mesmo vale para empresas que
mantêm sua produção em países mais
desenvolvidos, mas não se preocupam
com a origem dos insumos ou das
matérias-primas que compõem o seu
produto final.
É importante lembrar que o conceito
de sustentabilidade envolve aspectos
econômicos, sociais e ambientais e,
neste sentido, as oportunidades que a
globalização traz para reduzir custos
sempre devem ser avaliadas. No entanto,
justamente porque a sustentabilidade é
um conceito global, as empresas nunca
devem tomar uma decisão sem levar em
consideração as outras duas dimensões.
Problemas ambientais, como
o aquecimento global, não se
restringem ao local onde as emissões
de poluentes ocorrem, mas afetam
o planeta como um todo e seus
habitantes em todos os continentes.
Sugiro que você assista ao filme “A
história das coisas”, disponível no
Youtube, que aborda este tema de
forma muito interessante e mostra
claramente como as decisões dos
gestores, sem dúvida, devem estar
baseadas nos impactos econômicos,
sociais e ambientais de curto e longo
prazo para que realmente estejamos
falando de desenvolvimento sustentável.
Consultoria
A Revista Negócio Sustentável desenvolveu a Seção Consultoria em parceria
com a Consultoria Apoena Sustentável, que responderá às questões
encaminhadas por nossos leitores.
Em “Consultoria”, receberemos perguntas sobre os mais variados temas relacionados
à Sustentabilidade, através do e-mail consultoria@negociosustentavel.com.br.
Com o com o apoio de nosso Conselho Editorial, selecionaremos sempre duas perguntas
que serão respondidas pela Apoena Sustentável e publicadas na revista impressa.
Outras perguntas que também sejam de interesse amplo para os leitores serão
respondidas e estarão disponíveis para consulta no site
www.negociosustentavel.com.br.
Para saber mais ou entrar em contato com a Apoena Sustentável, nossa parceira
nesta Seção, acesse: www.apoenasustentavel.com.br – (11) 3079-0312
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 9
Quais os mecanismos mais interessantes de mensuração dos benefícios da sustentabilidade para as empresas? Adriana Cozzette e Daniel Périgo – Responsabilidade Social – Fleury
Consultoria
Mensurar os benefícios da sustentabilidade
para as empresas não é realmente uma
tarefa simples de ser executada.
Como o objetivo é abordar os impactos
de um negócio levando em consideração
o tripé composto por questões
econômicas, sociais e ambientais, a
mensuração de resultados também deve
levar em consideração estes 3 aspectos.
Neste sentido, há vários indicadores
sociais e ambientais que afetam os
resultados econômicos de uma empresa
e, desta forma, devem ser perdiodicamente
monitorados para que se possa realmente
avaliar os benefícios de uma gestão
baseada nos princípios da sustentabilidade.
Do ponto de vista social, os benefícios
podem ser de diferentes origens como:
• Diminuição da abstinência e/ou da
rotatividade dos funcionários – que
gera redução de custos de substi-
tuição e treinamento e evita a
perda de produtividade.
• Melhoria da qualidade de vida das
pessoas, podendo até gerar impactos
na área de saúde (governamental)
• Aumento do acesso de populações
menos favorecidas a produtos e serviços,
por exemplo, através de programas de
geração de emprego e renda. O que
aumenta o fluxo econômico na região
afeta e pode aumentar o volume de
vendas da empresa.
Do ponto de vista ambiental:
• Diminuição dos resíduos – que
têm alto custo de processamento e
podem afetar a saúde das pessoas
• Economia de recursos - como
acontece, por exemplo, quando
a empresa substitui alguma fonte
de energia ou quando inicia
um programa de mobilização dos
funcionários para redução de consumo.
• Diminuição de riscos – como por
exemplo, de autuação por problemas
ambientais, boicotes de consumi-
dores e necessidades de recall.
Antes de iniciar qualquer nova ação, a
empresa precisa identificar quais são os
seus objetivos e determinar as metas que
pretende atingir em relação a cada um
destes 3 aspectos.
Em seguida, deve-se selecionar a
metodologia mais adequada para
levantamento e registro de dados.
O relatório de sustentabilidade, por
exemplo, é um instrumento bastante
completo e que pode ajudar na
mensuração dos benefícios das ações
desenvolvidas pelas empresas.
Através dele, a empresa conseguirá
identificar quais os impactos mais
relevantes para o seu negócio e para
os seus públicos de interesse; poderá
criar indicadores que possam ser
acompanhados permanentemente e
monitorá-los de forma a aproveitar ao
máximo os benefícios e evitar, sempre que
possível, os custos associados.
Além disso, a publicação destes
indicadores torna todo o processo mais
transparente e ajuda a dar visibilidade à
empresa, destacando seus pontos fortes
e esclarecendo que medidas ela irá tomar
para evitar seus pontos fracos e, com isso,
pode conseguir também o benefício do
envolvimento das partes interessadas.
10 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
A preocupação e a ação desencadeada pela crise envolve
dados impressionantes. A previsão da Organização das Nações
Unidas é que, em função da alta mundial dos alimentos, 100
milhões de pessoas entrem na linha da extrema pobreza,
mais de um bilhão de pessoas na Ásia se tornaram pobres e
que a miséria e a fome aumentem em pelo menos 37 países.
A organização também prevê que 10 milhões de latino-
americanos podem se juntar à camada mais miserável da
população.
Segundo dados da entidade da ONU para agricultura e
alimentação, a FAO, nos últimos dois anos, importantes
produtos da dieta da maior parte da população mundial e da
balança comercial dos países aumentaram de preço em mais
de 100%. A soja subiu 107%, o milho 125%, o trigo, 136%
e o arroz aumentou 217%.
OS NÚMEROS DA CRISE
A miséria e a fome aumentaram
em pelo menos 37 países.
10 milhões de latino-americanos
podem se juntar à camada mais
miserável da população.
Os biocombustíveis e o aumento no preço dos alimentos: uma questão
econômica, ambiental ou polít ica?
A crise dos alimentos, como já está sendo chamada, é uma questão
que tem ocupado a agenda de organizações internacionais
e governos pelo mundo afora. Que os preços subiram não há
discussão e que a tendência é mundial também não. O principal
debate está em torno dos motivos para o aumento: embora sejam
apontados vários fatores, o foco entre as nações industrializadas
e organismos internacionais é o aumento da produção de
biocombustíveis. Assim, o Brasil ganha o centro das discussões no
cenário internacional como proponente e produtor de combustíveis
alternativos, em especial o etanol, feito da cana-de-açúcar.
Entre os que acusam os biocombustíveis e o etanol como
responsáveis pelo aumento do preço dos alimentos, o argumento
é que 100 milhões de toneladas de grãos são usadas para fazer
combustíveis alternativos todos os anos. Apontam também
uma tendência de haver um crescente aumento da demanda
pelos biocombustíveis, financiados por subsídios dos governos.
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 11
Desde janeiro deste ano os alimentos contribuíram com 6,4%
do aumento do índice, contra 2,81% no ano passado. Com
isso, o preço do pão subiu 19,38%, o do arroz 25,75%, o do
tomate 109,36% e do óleo de soja 30,05%.
OS AUMENTOS DE 2008
Média mundial de aumento de
preços para itens importantes
da dieta da população.
Este ano, o custo global de importação de alimentos,
conforme a FAO, deve chegar a US$ 1.035 bilhões, 26% a
mais do que no ano passado. Os países economicamente mais
vulneráveis vão pagar a maior conta no custo de importação
de alimentos. Devem acumular uma despesa total entre 37%
e 40% em relação a 2007.
Mais de 1 bilhão de pessoas na
Ásia se tornaram pobres.
Afinal o etanol é vilão, reduzindo a produção de alimentos e contribuindo para aumentar os preços da comida
ou é o mocinho, contribuindo para aumentar o interesse dos mercados e dos produtores pelo campo e oferecendo
uma alternativa sustentável para a redução dos gases e para o desenvolvimento que não polua o planeta?
O espaço de terra e os próprios grãos que deveriam servir
para alimentar estariam indo para a produção de combustível,
causando escassez, aumento da procura e conseqüente aumento
de preço. O consumo de etanol aumentou de 20 bilhões de litros
em 2006, para 26 bilhões em 2007, apenas nos EUA.
Etanol de milho X etanol de cana
O documento reconhece, no entanto, que a produção brasileira do
etanol à base de cana não levou a altas substanciais no preço do
açúcar. O Banco Mundial também compara o custo das diferentes
produções. Enquanto o etanol da cana-de-açúcar custava US$
0,90 o galão em 2007, contra um custo de US$ 1,70 por galão
do etanol de milho produzido pelos Estados Unidos e US$ 4 por
galão do biodiesel produzido pelos americanos e europeus.
Brasil - Mas o Brasil, que além do etanol também investe
em combustível a partir de óleos vegetais, é um dos principais
interessados tanto na produção de combustíveis alternativos
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
12 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
quanto na de alimentos, já que investe
para crescer ambos os produtos, visando
os mercados interno e externo. O principal
argumento do governo brasileiro é a
distinção entre o etanol de milho, produzido
nos Estados Unidos, e o etanol de cana
feito no país. A FAO também admite
que a demanda adicional por milho para
combustível tem tido um grande impacto
nos preços. Segundo a organização da
ONU, das quase 40 milhões de toneladas
a mais de milho utilizadas em 2007, quase
30 milhões foram destinadas às indústrias
de etanol. A maior parte dessa expansão
ocorreu nos Estados Unidos, o maior
produtor mundial e exportador de milho.
O milho, inclusive, tomou espaço de outras
culturas no país.
A situação do Brasil parece ser diferente e
particular, segundo a FAO, em função da
disponibilidade de terras (ver grafico). Mesmo
assim, o produto está na mira de entidades
internacionais e governos em função dos
números robustos que a produção tem
apresentado no Brasil. O etanol brasileiro,
feito de cana-de-açúcar, este ano terá a
maior colheita da história: entre 607 e 631
milhões de toneladas. Cerca de 55% da
colheita de cana será usada na produção
de biocombustíveis, mas a cana-de-açúcar
ocupa hoje apenas 0,4% da área antes
plantada com grãos. Ainda assim a ONU
rebate dizendo que 27% da expansão da
cana ocorreu em áreas ocupadas antes por
soja, milho, café e laranja.
O governo brasileiro defende o etanol
e os biocombustíveis dizendo que
eles impulsionaram a agricultura no
país, geraram renda para os pequenos
agricultores e ofereceram oportunidades
no campo ao invés de promover o êxodo
para as cidades. Cerca de 85% da mamona
produzida no Brasil, oleoginosa largamente
usada para a produção de biocombustível,
está concentrada na Bahia e é cultivada
por pequenos agricultores. Junto com o
produto, muitos agricultores plantam, por
exemplo, milho e feijão já que a colheita
da mamona ocorre justamente nos meses
de seca. O produto, que foi importante
nos anos 1980 e depois perdeu valor
econômico, agora volta a se valorizar
e dá mais rendimento aos agricultores
Entre 2000 e 2008, diminuíram as áreas plantadas com soja, algodão e arroz. O
resultado é que o preço do milho subiu 224% entre 2005 e 2008, em
todo o mundo.
O DESTAQUE DAS EMPRESAS BRASILEIRASO mercado brasileiro de etanol
movimenta cerca de 10 bilhões de
dólares por ano em investimentos.
A Votorantim, uma das empresas
com atuação mais marcante, investe
anualmente cerca de um milhão
em pesquisas. As maiores empresas
brasileiras que produzem etanol são as
maiores do mundo, junto com algumas
americanas.
Os destaques brasileiros são: Copersucar,
Crystalsev, Cosan, São Martinho, Irmãos
Biagi, João Lyra, Tércio Wanderley, Nova
América e Carlos Lyra. Há em operação
no Brasil cerca de 350 usinas, a maioria
controlada por famílias tradicionais.
Outras 100 usinas estão sendo
construídas, a maioria também por
empresários locais.
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 13
da região. Em 2004, a saca de 60kg era
vendida a atravessadores por 16 reais. Em
2008, a mesma saca rende o mínimo de
45 reais e é vendida direto para o produtor
de biocombustível. Para isso, o Governo
Federal criou o selo Combustível Social,
que garante a venda do produto e
estabelece um preço fixo. A indústria do
biodiesel compra direto dos produtores
e oferece assistência técnica. Luciano
Brito, pequeno agricultor do interior
da Bahia, garante que a mamona mudou
a economia da região e a condição de vida
dos agricultores. “Se não fosse a mamona,
muita gente já teria deixado esse sertão em
busca de outros lugares por aí”, afirma.
Respondendo aos debates e à reação de
países como o Brasil, que não aceitam que
o etanol e os biocombustíveis paguem a
conta, importantes entidades como o G-8,
já começam a ter que dar explicações sobre
os outros fatores apontados. No encontro
do G-8 realizado no início de julho no
Japão, a alta dos preços dos alimentos foi
tema de destaque. A expectativa era de
estabelecer medidas de médio e longo prazos
para combater a inflação dos alimentos e
garantir a segurança alimentar tanto em países
pobres quanto nas nações desenvolvidas.
Mais do que recriminar os biocombustíveis
e o etanol pela alta dos preços, retrocedendo
na questão climática e de novas alternativas
energéticas, a questão agora parece se
concentrar nos elementos econômicos,
tarifários, na especulação financeira
e, especialmente, no investimento em
agricultura para superar a crise, baixar
os preços e garantir o abastecimento.
No encontro do G-8 foram apresentadas
propostas de liberação de recursos para
aumentar a produção de alimentos. A
União Européia (UE), que não faz parte
do G-8, mas participa de suas cúpulas,
anunciou a disposição de liberar 1 bilhão
de euros para apoio à agricultura nos
países em desenvolvimento. A informação
foi dada pelo presidente da Comissão
Européia, José Manuel Durão Barroso,
no primeiro dia da reunião. O Japão vai
dobrar a ajuda oficial ao continente e
abrirá linhas de crédito para a região.
A guerra de versões, culpas e opor-
tunidades no mercado internacional
continua, com cada um dos atores
procurando defender a sua posição. As
respostas à crise dos alimentos podem
impulsionar os debates sobre planos de
desenvolvimento de energias alternativas,
priorizando culturas de pouco impacto,
como a da cana, ao invés do milho, e gerar
oportunidades internacionais para o Brasil
aumentar sua produção de alimentos para
abastecer a própria população e atender
parte do aumento da demanda mundial.
A opinião das ONGS
Estudo WWF confirma benefício
ambiental do etanol brasileiro
A produção de etanol à base de cana-de-
açúcar tem efeitos benéficos do ponto de
vista ambiental, não avança sobre áreas
de floresta na Amazônia e não compete
de forma significativa com a produção de
alimentos, afirma estudo da organização
ambientalista WWF-Brasil.
O estudo, divulgado em julho, foi
encomendado há três anos e é parte de
um projeto financiado pelo Ministério de
Assuntos Internacionais da Holanda. O
objetivo inicial era avaliar os efeitos da
expansão do setor de cana-de-açúcar no
Brasil, em razão da Rodada de Doha, da
Organização Mundial do Comércio (OMC).
“O estudo conclui que existem benefícios
ambientais confirmados e consolidados
no que diz respeito à produção de etanol
(a partir de cana-de-açúcar)”, disse o
coordenador do programa de Agricultura
e Meio Ambiente da ONG, Luis Fernando
Laranja. Segundo ele, o etanol brasileiro
tem um balanço energético mais positivo
(ou seja, é mais eficiente) do que, por
exemplo, o etanol à base de milho,
produzido nos Estados Unidos. O estudo
referenda a posição defendida pelo
governo brasileiro. “Do ponto de vista
ambiental, é um bom negócio substituir
gasolina por etanol”, afirmou Laranja.
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
14 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
O estudo do WWF-Brasil analisou algumas das dúvidas que
envolvem a produção de etanol.
O primeiro seria sobre a eventual expansão de plantações de cana-de-
açúcar na Amazônia. Segundo ele, há em torno de 200 mil hectares
de cana-de-açúcar na Amazônia. “Isso não significa nada no universo
da Amazônia. Só de pastagens, há 50 milhões de hectares.”
O segundo ponto analisado é o quanto a produção de cana-de-
açúcar compete com outras culturas alimentares, considerando-
se o atual cenário de crise mundial dos alimentos. De acordo
com Laranja, esse risco é baixo. “Compete pouco com as culturas
alimentares, especialmente porque ocupa pouca área e sendo que
metade vai para a produção de açúcar, e a outra metade para o
etanol”, disse.
O estudo, porém, alerta para alguns riscos ambientais da produção
de etanol em escala regional. “É uma cultura muito concentrada,
quase toda no Estado de São Paulo e em regiões vizinhas. Isso
representa um risco em potencial sobre a biodiversidade, sobre
os recursos hídricos e efeitos diretos sobre o solo. “Precisamos
fazer essa ocupação das novas áreas de forma mais estratégica,
da maneira mais racional possível”, disse.
O fracasso da Rodada Doha e o empresariado brasileiroNa nova rodada de negociações para liberalização do comércio
mundial, realizada pelos países-membros da OMC (Organização
Mundial do Comércio), o Brasil defendia que o álcool deveria
fazer parte de uma lista de produtos ambientais com acesso livre
a todos os mercados por sua contribuição em conter a mudança
climática e preservar o meio ambiente. Com a liberação, o produto
brasileiro não deveria ser submetido aos cortes gerais de tarifas
de importação. A rodada foi considerada um fracasso e os países
não conseguiram um acordo sobre tarifas de importação para o
setor agrícola.
O setor privado no Brasil defende que a sobretaxa é uma forma
mascarada de proteger contra a concorrência os produtores
americanos, menos competitivos. O presidente da União
da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, que
acompanhava as negociações, defende que a redução das tarifas
européia e americana para o etanol permitiria a esses países
aumentarem suas importações, o que beneficiaria os países mais
pobres produtores de matérias-primas.
Os Estados Unidos e União Européia se opõem a ideia, onde
grandes recursos públicos e altas tarifas de importação asseguram
a liderança de mercado, se opõem à idéia, alegando que faltam
ETANOL X AMAZÔNIADurante sua recente visita ao Brasil, Al Gore, ex-candidato
à Presidência dos Estados Unidos e uma das principais
vozes da causa ambiental, veio saber se a expansão do etanol
faria com que as plantações de cana avançassem sobre a
floresta Amazônica. A resposta do governo a Al Gore: não.
Primeiro, porque o ambiente amazônico não é propício ao
cultivo de cana. Segundo, porque essa cultura não requer
grandes extensões de terra. O país pode dobrar a produção
de etanol sem ter de avançar sobre áreas preservadas.
estudos mais profundos que comprovem sua eficácia e impacto
ambiental. O álcool brasileiro paga, atualmente, uma taxa extra
de US$ 0,54 por galão para entrar no mercado americano, além
da tarifa regular de importação de 2,5% sobre valor do produto.
Com o fracasso da Rodada e a conseqüente paralisação das
negociações sobre o etanol, sujeitas ao acordo global, o Brasil
agora considera fazer uma consulta na OMC (Organização Mundial
do Comércio) sobre as tarifas para a exportação do produto cobradas
pelos Estados Unidos.
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 15
ETANOL X PRODUÇÃO DE ALIMENTOSNa safra de 2007/2008, a área plantada com
cana-de-açúcar aumentou 653.700 hectares, um
crescimento de 12% em comparação com a safra
anterior, sendo 0,4% da área total cultivada com
grãos. Os canaviais avançaram principalmente sobre
as áreas de pastagens (65%), não ameaçando
as áreas de produção de alimentos.
ETANOL DE CANA X ETANOL DE MILHO
O etanol de cana-de-açucar é o mais eficiente...
Os biocombustíveis e a produção de alimentos
16 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Wal-Mart lança Programa Global de Combate à Corrupção
Para uma empresa, a corrupção significa aumento de despesa, o
risco com fornecedores, a cobrança de propinas para aberturas
legais e chance de aumentar o risco de uma ação da justiça ou
uma condenação por parte dos clientes. Quantas empresas já
não foram prejudicadas em seu direito de competir por acordos
corruptos entre participantes de licitações públicas ou sofrem
constantes pedidos de propina em troca de fiscalizações brandas?
Um país com alto índice de corrupção pode ter impacto sobre
os negócios de todas a empresas. Quando a corrupção é prática
comum em um país, as empresas daquele lugar tem custos mais
altos para obter financiamento externo, por exemplo, e o custo
será significativamente maior. Os efeitos poderão ser observados
no custo mais elevado dos recursos para as empresas.
Gigante do setor de varejo, o Wal-Mart é uma rede mundial e
por isso é uma de muitas empresas que pode encontrar casos
de corrupção. Com faturamento de R$ 15 bilhões em 2007
apenas no Brasil, 320 lojas em 17 estados brasileiros e no Distrito
Federal e mais de 70 mil funcionários, ao planejar aumentar suas
atividades a empresa precisa lidar com maiores riscos, e investe
agora no combate à corrupção. A novidade é a capacitação dos
funcionários para lidar com todas as situações do cotidiano de
forma ética, com ênfase para o tratamento com governos locais.
Combate à Corrupção
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 17
Tendo as diretrizes mundiais voltadas para o tema da
sustentabilidade, o Wal-Mart busca atuar agora com ações
coordenadas para o combate à corrupção. Ao mesmo tempo em que
cresce sua participação no país, a empresa expande sua atuação com
projetos e ações corporativas relacionadas à ética e à transparência.
Com iniciativas sistemáticas e consistentes de expansão dos
negócios ao longo dos últimos anos, o ano de 2007 é considerado
pela empresa como um marco. Nas iniciativas de fomento da
ética, foi o início de um novo projeto que implica no trabalho
sistematizado de treinamento e conscientização sobre o tema. Já
foram realizados treinamentos presenciais de três horas com todas
as lideranças dos escritórios e o aperfeiçoamento dos sistemas de
monitoramento e avaliação.
Para melhorar a identificação de problemas potenciais,
todos os setores em contato com órgãos públicos passaram
a ser monitorados mais de perto.
A capacitação tem dois focos principais. O primeiro é relacionado
à integridade, lidando com eventuais dilemas éticos que os
funcionários tenham e preparando-os para tomar a decisão correta,
com base em princípios éticos, em qualquer situação. O segundo
foco é em relação ao contato com entidades públicas. Cada
setor tem contatos diferentes com representantes públicos. “Os
vendedores, por exemplo, têm contato com fiscais. O programa
quer ensinar como lidar de forma ética com esse público”,
afirma Leonardo Machado, gerente de ética e conformidade da
Wal-Mart. Para os diretores, a orientação é, por exemplo, como
realizar reuniões com entidades públicas e como registrar gastos
realizados em situações em que esteja presente um representante
de órgão público.
A questão ética, além de ser um tema incorporado às
práticas empresariais através da difusão de conceitos de
responsabilidade social, hoje é também uma questão de
saúde e sustentabilidade do próprio negócio.
O Programa Global de Combate à Corrupção do Wal-Mart é
composto de mais três ações em diferentes frentes. O primeiro
módulo passa pela formalização de políticas e procedimentos
internos, treinamentos para todos os colaboradores no Brasil e a
identificação dos parceiros contratados para atuar em nome da
empresa perante qualquer autoridade pública no país. Uma vez
implantada a primeira etapa do programa, o módulo seguinte
visa a transparência e deve viabilizar a criação de um software que
permitirá a centralização de todas as informações e documentos
gerados por cada país pelo Departamento Jurídico nos Estados
Unidos. O terceiro módulo consiste em um programa de auditoria
intenso que contará com a participação de equipes internas
e empresas independentes, responsáveis por avaliar e validar
o programa, identificando possíveis falhas nos processos.
O objetivo geral é proporcionar relacionamentos mais
consistentes para a rede no Brasil, contribuindo para a
melhoria do desempenho em todas as frentes de negócio.
As aspirações são altas, tanto no âmbito das relações públicas e
privadas com bases éticas quanto nos objetivos de expansão da
rede. Até o final de 2008, a empresa vai inaugurar mais 36 lojas e
levar as bandeiras da companhia a mais cidades. O investimento
este ano é de R$ 1,2 bilhão em todos os formatos. Segundo a
empresa, o mercado de baixa renda tem especial destaque. Com o
crescimento do número de lojas e do numero de funcionários, os
desafios de capacitação e envolvimento são também cada vez maiores.
“Enquanto houver algum ato de corrupção, a concorrência será sempre desleal”, concluiu Machado.
A meta é capacitar 100% dos funcionários ainda este ano.
O Brasil está em 80º lugar no último ranking de corrupção
2008 divulgado em setembro pela ONG Transparência
Internacional. A instituição classifica 180 países com base
na percepção de corrupção entre autoridades públicas e
políticos, criando o Índice de Percepção de Corrupção
referência no mundo. Mesmo com a manutenção do
índice em 3,5, o Brasil aparece atrás de países como Butão,
Botsuana, Gana e Seicheles na lista da ONG.
Em 2008, o treinamento está sendo estendido a todos os
funcionários. Foi produzido um DVD de 30 minutos com
orientações específicas para o dia-a-dia dos colaboradores,
exemplificando situações que eles vivem no cotidiano.
Combate à Corrupção
Equipe responsável pelo programa
18 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Os desafios da sustentabilidade empresarial
A incorporação de indicadores sociais e ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a ser alcançado pela maioria das empresas
As ferramentas utilizadas pelas empresas
Os indicadores com maior evolução
As conquistas já alcançadas pelo movimento
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 19
20 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
No 15°andar de um imponente prédio na Avenida Paulista, o diretor de responsabilidade corporativa de uma grande
empresa faz os últimos ajustes na apresentação do relatório de sustentabilidade 2007. Esse foi um ano decisivo para os
negócios e faltam poucos minutos para mostrar aos acionistas os resultados consolidados no relatório. A tarefa dele é
apresentar a executivos acostumados a excelentes resultados financeiros as novas diretrizes de sustentabilidade a que a
empresa busca se alinhar a partir deste ano e que resultarão em escolhas importantes nos negócios.
Os desafios da sustentabi l idade empresarial
Pauta recorrente na mídia e tema de dezenas de eventos e
palestras, a sustentabilidade empresarial desgasta seu discurso,
irritando céticos, mas ainda enchendo de esperanças os otimistas,
que acreditam no papel das empresas na construção de um
mundo melhor. O fato é que a incorporação de critérios sociais e
ambientais ao processo de tomada de decisão ainda é um ideal a
ser alcançado e existe o risco de que o tema se perca em marketing
institucional antes mesmo de fazer parte da gestão estratégica
da maioria das empresas. No Brasil, que ganha cada vez mais
visibilidade nesse universo, a pouca evolução dos indicadores é
um sinal do longo caminho que temos a percorrer.
Segundo pesquisa realizada pela Aberje, Associação Brasileira
de Jornalismo Empresarial, o tema foi pauta de 256 matérias no
período de fevereiro a maio de 2008, pesquisado junto às mídias
impressas de grande impacto, como O Estado de São Paulo, Folha
de São Paulo, Gazeta Mercantil, Valor Econômico, O Globo, Jornal
do Brasil, Gazeta do Povo (PR), Estado de Minas, Zero Hora (RS) e
Correio Braziliense (DF). As matérias tiveram tom positivo em 91% dos
casos, nestes quatro meses, correspondendo a 96 páginas de jornal
e 45 páginas de revista. Matérias negativas representaram menos
de oito páginas nos jornais e não tiveram representação nas revistas
pesquisadas – entre elas Exame, Veja, Isto É, Época e Carta Capital.
Uma estratégia do movimento pelo desenvolvimento sustentável
é a valorização das boas práticas realizadas pelas empresas, para
que sirvam de referência e estimulem outras boas iniciativas.
A disseminação do tema na imprensa é uma das conquistas
alcançadas. Mas no Brasil, país do contra-senso em cada um
dos itens do tripple bottom line, a contradição se faz quando
cada pequena conquista é anunciada aos quatro ventos como
um caso de sucesso, enquanto os indicadores socioambientais
não mostram melhorias significativas. O risco maior para todos
que trabalham seriamente pela melhoria dos indicadores é o
marketing pouco responsável, com o qual empresas querem ter sua
imagem associada ao conceito ‘sustentável’ e levantam a bandeira
assinando um slogan e investindo milhões em campanhas. Mesmo
quando a intenção é apenas disseminar a idéia, cada ação como
essa constrói para todo o movimento um imenso telhado de vidro
e expõe as fraquezas de todas as empresas.
As recentes declarações de algumas personalidades
envolvidas no movimento podem ajudar a compor
esse cenário. Ricardo Young, presidente do Instituto
Ethos, a principal instituição referência brasileira em
sustentabilidade, afirmou que ainda há uma grande
distância entre o discurso das empresas e a aplicação
prática de boas intenções. Georg Kell, diretor do
Pacto Global, a iniciativa da ONU voltada para a
promoção da responsabilidade socioambiental das
empresas, disse que a sustentabilidade ainda não
entrou com profundidade na estratégia das empresas.
O economista Gustavo Pimentel, gerente de ecofinanças
da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, afirma que
as estratégias socioambientais evoluem no setor financeiro
de forma mais lenta do que anuncia o marketing dos bancos.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 21
GRI já são utilizadas por 1.500 instituições no mundo. No Brasil
a adesão tem sido crescente: em 2007, setenta e duas empresas
elaboram seus relatórios nesse padrão. Dentro dos critérios criados
pela GRI é possível avaliar os indicadores que apresentam avanços
e os indicadores mais atrasados no Brasil, excluindo-se, é claro,
aqueles pouco aplicáveis, já que a referência é mundial.
O levantamento Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS)
2008, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) com cruzamento de dados de 60 pesquisas, mostra que,
nos últimos anos, os maiores avanços do país ocorreram na área
econômica. O que não é pouco, já que a distribuição de renda é
um dos fatores principais para a promoção do desenvolvimento
sustentável em qualquer lugar do mundo.
O problema é que os avanços param por aí. No Brasil, enquanto
as mulheres representam 40% da População Economicamente
Ativa (PEA), elas ocupam somente 35% das vagas de emprego.
Enquanto mais da metade da população brasileira é negra e outros
13% têm alguma deficiência, só 3,5% e 0,4% dos cargos de
direção são ocupados pelos negros e deficientes, respectivamente.
“Os números indicam que não há inclusão nas empresas. Nem
as leis estão sendo aplicadas corretamente”, conclui Ricardo
Young, lembrando que já existe legislação que prevê a reserva de
vagas de emprego em empresas com mais de 100 funcionários para
trabalhadores com deficiência. Dados de levantamentos citados pelo
próprio Young apontam que há, aproximadamente, 1,4 milhão de
crianças exercendo alguma atividade de trabalho no Brasil. Maranhão
e Piauí têm 18% das suas crianças trabalhando e o Ceará tem 17%,
bem acima da média nacional. A taxa brasileira é de 11%.
Um indicador de difícil evolução para qualquer empresa do mundo
hoje é o que se refere à responsabilidade sobre os fornecedores
e à criação de uma cadeia de valor sustentável. As condições de
trabalho nos países asiáticos e a oferta de produtos que chegam
ao mercado às custas da violação aos Direitos Humanos ou sem
cumprimento de qualquer legislação ambiental, é uma realidade a
ser enfrentada por empresas de todos os portes.
No Brasil, as discussões acabam refletindo na Amazônia. Uma lei
criada pelo Ministério do Meio Ambiente, em junho, diz que todas
as grandes empresas que atuam em território amazônico terão
que apresentar a lista de seus fornecedores até o final do ano.
Siderúrgicas, frigoríficos e madeireiras estão sendo notificados
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) sobre o procedimento. O objetivo é tornar as grandes
empresas co-responsáveis por crimes ambientais da sua cadeia.
Indicadores básicos ainda em evolução
Os indicadores de sustentabilidade apresentam diferentes versões
e subdivisões. O padrão mais respeitado hoje, para publicação de
relatórios, é o da Global Reporting Initiative (GRI). As diretrizes
Os principais desafios da sustentabilidade empresarial:
Os clássicos- aplicar os critérios ambientais e sociais a cada processo
de tomada de decisão
- comprovar os resultados dos projetos e iniciativas
- convencer a alta cúpula da importância de investimentos sustentáveis
- engajar e dialogar com os principais públicos de relacionamento
Os atuais
- coerência entre o discurso e a prática
- timing: monitoramento e melhoria de indicadores
- conceito departamentalizado: sustentabilidade é responsabilidade de toda a empresa e não de uma área.
Os futuros
- separar o joio do trigo: quais empresas estão realmente alinhadas e o que é só marketing
- persistência: continuar a evolução de indicadores enquanto os resultados só aparecem a médio e longo prazo
- perseverança: manter o movimento em alta, apesar da lentidão dos resultados e do desgaste natural do tema.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
22 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
O desafio da evolução de indicadoresEstratégias de combate às mudanças climáticas, aumento da
eficiência energética, desenvolvimento do capital humano,
gestão do conhecimento, relacionamento com acionistas e
governança corporativa são alguns dos indicadores avaliados pela
GRI. No Brasil, os indicadores mais aplicáveis podem ser classificados,
segundo o nível de evolução das empresas:
Os básicos: Os indicadores de
desempenho ambiental obrigatórios
para as empresas que optam por
relatar no nível C da GRI ainda
são os mais simples: como
consumo de energia e água.
Os demais aspectos da
responsabilidade
ambiental são
difíceis de ser
relatados pela
maioria das
empresas,
ou por falta
de histórico
e medição,
ou por falta de
conscientização da
necessidade de mitigação
dos impactos ambientais.
Os evoluídos: Os indicadores de
desempenho econômico também são
um desafio para a maioria das empresas,
mas estão mais evoluídos devido a tradição de
publicação do Ibase, o padrão do Instituto Brasileiro
de Análise Sócio-Econômica. Os indicadores relacionados
aos fornecedores locais ainda são raros nas publicações.
Os avançados: indicadores de desempenho social, que dizem
respeito à gestão do público interno, como práticas trabalhistas
e direitos humanos, exigidos pela legislação brasileira, acabam
se tornando o centro dos relatórios de sustentabilidade. Mesmo
assim, sair do nível inicial de comprometimento ainda é difícil.
Os maiores desafios são os indicadores que dizem respeito
a práticas anti-corrupção e à transparência em relação às
contribuições para campanhas políticas.
Mas se os indicadores da GRI são complexos para qualquer
empresa, quando aplicados à realidade brasileira, a dificuldade
é ainda maior. Mesmo para os indicadores mais básicos, o país
ainda tem uma difícil lição de casa a fazer. Quando o indicador é o
vergonhoso trabalho escravo, impensável para qualquer empresa
que fale de responsabilidade social, os dados mostram que,
só em 2007, 5.975 trabalhadores foram libertados
dessa condição em 115 ações realizadas pelo
Ministério do Trabalho, sendo citadas
como responsáveis 179 empresas
brasileiras. Segundo
levantamento realizado
pela Organização
Internacional do
Trabalho e o Instituto
Ethos, a pecuária bovina
da Amazônia é responsável
por mais de 50% dos
empreendimentos que usam
trabalho escravo no país.
Reconhecendo as conquistas
Embora a realidade seja muito
diferente do que anunciam as
campanhas institucionais e do
que os prêmios se esforçam
para estimular, os primeiros
passos têm sido dados
pelas empresas e indicam o
potencial de evolução das
práticas sustentáveis no país.
Algumas empresas brasileiras
têm sido reconhecidas
internacionalmente por seu
conjunto de ações nesta direção
e impulsionam seus fornecedores a alinhar suas estratégias de
gestão. Entre os importantes resultados estão o número de
relatórios de sustentabilidade publicados, o lançamento de
produtos com impacto ambiental reduzido e o fato de que o
desempenho em sustentabilidade começa a se tornar parâmetro
para investidores em índices.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
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24 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Os índices de sustentabilidade têm por objetivo reunir as
empresas que atuam como promotoras das boas práticas no meio
empresarial. A Bolsa de Nova York é pioneira com a criação, em
1999, do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Outras bolsas
pegaram carona no movimento e estabeleceram seus próprios
índices, como são os casos da Bolsa de Londres, que criou o
FTSE4Good (Footsie for good) em 2001 e a de Johanesburgo,
com o JSE (2003). A metodologia desenvolvida pelo Índice Dow
Jones de Sustentabilidade seleciona 10% das 2500 companhias
líderes na prática desse conceito em 58 setores e tem registrado
um retorno anual de 16,1%, enquanto o Morgan Stanley Capital
Index (MSCI), por exemplo, tem retorno de 15,6% ao ano.
Esses índices funcionam como uma espécie de selo de qualidade
e o reconhecimento mundial facilita a disseminação por aqui.
Seguindo a tendência, a Bovespa criou em 2005 o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE) brasileiro. Com 32 empresas
de 13 setores, somando 40 ações e um valor de mercado de R$
927 bilhões, o ISE representa cerca de 40% da capitalização da
Bovespa. Mas o índice ainda tem uma alta alternância de empresas
presentes, sendo alvo de críticas e desconfiança.
Relatório e transparência
O número cada vez maior de adesão das empresas brasileiras
às diretrizes da GRI é outra importante conquista que merece
ser destacada. Uma iniciativa que deve ampliar ainda mais esse
número foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas. Um Grupo
de Trabalho organizado pela FGV, com certificação da própria
GRI, lançou no final de junho uma publicação para facilitar a
compreensão de relatórios de sustentabilidade GRI . O grupo
busca proporcionar às empresas um espaço para troca de
experiências e discussão dos desafios em torno deste processo,
ainda pouco compreendido. O objetivo é que o maior número de
empresas, stakeholders e ONGs tenham acesso aos indicadores.
Com a tema “o que você não mede, não pode gerenciar, e
o que você não gerencia, não muda”, a intenção da GRI é
ser uma ferramenta que aponte caminhos de gestão, incentive a
transparência na prestação de contas das empresas, abordando
os impactos sociais e ambientais das organizações.
Apesar do aumento do número de relatórios, os conteúdos ainda
têm um longo processo de melhoria a percorrer. Segundo a GRI,
um dos desafios enfrentados pelas empresas que decidem fazer
seus relatórios de sustentabilidade é definir quais aspectos devem
ser relatados e saber se eles atendem às demandas dos leitores.
Segundo a pesquisa Readers’ Choice Awards, realizada pela GRI,
os leitores esperam que os relatórios mostrem o aprendizado
das organizações por meio de suas falhas e incluam mais os
stakeholders no processo de levantamento de dados. Já os
investidores desejam relatórios concisos e com foco nas questões
mais relevantes para a empresa, sugerindo que os indicadores
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 25
sejam usados de forma mais consistente
para facilitar a comparabilidade entre
os relatórios de diferentes empresas e da
mesma empresa de um ano para o outro.
Outro ponto destacado é a necessidade de
transparência e coerência: 80% dos leitores
afirmam ficar com uma visão mais positiva
da organização quando essa assume seus
problemas e falhas. “Cada vez mais as
empresas vão reportar não só aquilo que
fazem de positivo, mas também os seus
desafios. Do contrário, a impressão que
se tem é que a companhia está tentando
passar uma imagem de que é perfeita,
o que gera desconfiança nos leitores
de que ela não está informando tudo o
que deveria”, conclui a representante da
organização no Brasil, Gláucia Térreo.
Perspectivas futuras
Segundo especialistas da Anders & Winst
Company, importante escritório internacional
de consultoria em sustentabilidade, nos
próximos cinco anos muitas empresas
deverão reconhecer que a responsabilidade
socioambiental impactou os negócios
menos do que deveria e não construiu o
valor se esperava. Mas é fato que o setor
empresarial é um agente importante na
promoção das mudanças necessárias,
por ser detentor de enormes recursos
financeiros, econômicos e tecnológicos,
bem como por sua influência política e
capital intelectual.
Mesmo com pouco esforço, a maioria
das empresas parece já ter compreendido
os porquês da sustentabilidade. As
mudanças necessárias não refletem
apenas em benefícios para a sociedade,
mas também para seus próprios negócios.
As empresas que agem de forma ética,
por exemplo, contribuem para a criação
de um mercado baseado na concorrência
leal, preservando sua marca e reputação.
Ao valorizar a diversidade, colaboram
para que a discriminação não seja uma
barreira para a atração e retenção de
talentos e contribuem para a redução
das desigualdades sociais. Empresas
que adotam práticas de ecoeficiência
tendem a reduzir seus custos, utilizando
menos recursos naturais do planeta. Ao
investir em ações sociais que beneficiam
a comunidade de entorno, promovem
o desenvolvimento social, criando uma
parceria que também favorecerá a
estabilidade da empresa e a qualidade de
vida de seus funcionários. Organizações
que adotam práticas de governança
corporativa tendem a aumentar o valor de
suas ações, e assim por diante.
A contribuição das empresas será
determinante para mudanças estruturais
nos modelos atuais de produção e
consumo, um novo paradigma que deverá
ocupar os corações e mentes dos gestores.
A sustentabilidade é um compromisso
com o futuro; não é uma meta que
possa ser atingida, mas um caminho
que as organizações devem trilhar. Este
compromisso com o futuro se expressa
de diversas maneiras e em distintos graus
dentro das organizações. O fundamental
é que permeie sempre qualquer decisão
dentro dos processos de gestão.
6Execute – fase de criação e
implantação dos planos de ação
advindos do diagnóstico efetuado.5 Relate – organização das
informações adquiridas em todas
as etapas anteriores no relatório
propriamente dito.
4 Monitore – coleta e análise das
informações que vão compor o
relatório de sustentabilidade.
3Defina – seleção de temas sobre
os quais a empresa vai atuar, de
acordo com suas estratégias e
com os desejos de seus stakeholders.
2 Conecte-se/engaje – fase de
identificação, priorização e
diálogo com os stakeholders. 1Prepare – esta fase envolve o
planejamento do relatório, o
desenvolvimento de um plano de
ação para cumpri-lo, o estabelecimento
de datas e a definição da equipe que vai
participar do processo.
Como melhorar o processo de elaboração do relatório de sustentabilidade, segundo a GRI:
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
26 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
As empresas vitrine
Real - Desde que abraçou esse tema, no início da década, o
Banco Real avançou de forma consistente na integração de
princípios sustentáveis à sua estratégia de negócios. Criou uma
área dedicada à avaliação de riscos socioambientais, linhas de
financiamento para empresas interessadas em melhorar seus
padrões de atuação e produtos sustentáveis para pessoas físicas.
Criou também um programa de microcrédito e o primeiro fundo
de investimentos socialmente responsável do país. Iniciativas
como essas foram possíveis por meio da disseminação do conceito
internamente. Dos 30 mil colaborares no Brasil, cerca de 19 mil já
passaram por treinamentos sobre desenvolvimento sustentável. O
banco foi o primeiro a inserir o tema em programas de educação
voltados para quem trabalha na ponta da operação, nas agências.
A área de desenvolvimento sustentável do Real, responsável por
disseminar o conceito pela organização, tem 65 pessoas.
Petrobrás - Apontada pelo terceiro ano seguido como a
empresa mais sustentável do país, a Petrobrás tem evoluído
suas práticas, o que se reflete tanto em indicadores como no
reconhecimento público. Entre 2005 e 2007, o valor de mercado
da Petrobras cresceu 148% e a incorporação da sustentabilidade
na estratégia do negócio teve impacto significativo na reputação
da empresa. Em 2007, a companhia saltou da 83 para a 8 posição
no ranking das empresas mais respeitadas do mundo, organizado
pelo Reputation Institute, de Nova York. A participação da
Petrobrás nos índices Dow Jones de Sustentabilidade e no ISE
da bolsa brasileira ampliou o acesso a um mercado potencial de
investidores em empresas social e ambientalmente responsáveis. O
reconhecimento foi atestado pelo instituto de pesquisa de mercado
e opinião pública Marketing Analysis. A pesquisa apresenta
os resultados do levantamento que aponta as dez melhores e
piores companhias em Responsabilidade Social atuantes no país.
A Petrobrás foi a mais bem avaliada com 19,8%. A empresa
também ganhou o prêmio “Prêmio GRI por escolha dos leitores”
(GRI Reader’s Choice Awards) por sua transparência e evolução
no relatório de sustentabilidade. Mas todo esse reconhecimento
coloca a empresa na vitrine e expõe dilemas e contradições.
Durante a última Conferência Internacional Ethos, a empresa
precisou responder porque ainda não cumpriu a meta de redução
de enxofre em seu diesel. A meta visa reduzir o enxofre no diesel
para 50 ppm, valor duas vezes mais alto que o estabelecido em
países que contém essa política de redução.
Natura - Pioneira na implantação do conceito da sustentabilidade,
a Natura é uma das empresas que está em uma nova fase da
busca pela evolução: diminuiu suas ações de divulgação da marca
vinculadas ao tema e aumentou o investimento na melhoria de
seus indicadores. Ser vitrine da sustentabilidade tornou a empresa
alvo fácil de críticas e levou a importantes decisões, como a redução
de gases geradores do efeito estufa em sua cadeia produtiva e o
fim aos testes em animais em 100% de sua linha de produtos.
Referência no relacionamento com comunidades produtoras
de seus insumos, a empresa tem parceria com comunidades da
Amazônia e da Bahia, que são treinadas para fazer o extrativismo
sustentado de matérias primas. A Natura repassa às comunidades
um percentual da receita líquida proveniente das vendas do
produto final. A empresa também é patrocinadora ou apoiadora
de quase todas as iniciativas de promoção e desenvolvimento
da sustentabilidade no país e todos os anos é destaque entre
os melhores relatórios de sustentabilidade. Em 2007, a empresa
passou por questões financeiras importantes, fincando abaixo
das expectativas dos investidores. Buscando um novo ciclo de
crescimento, a empresa investe agora em produtos voltados
para crianças, sem abrir mão de seus demais investimentos em
sustentabilidade.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 27
O papel das consultorias
Um dos caminhos para a efetiva
implantação de indicadores como forma
de medir e melhorar o desempenho da
empresa é a contratação de consultorias.
O principal papel de uma consultoria
nessa área é conseguir realizar um bom
diagnóstico do estágio de evolução da
empresa e propor soluções viáveis para
a evolução dos indicadores. Alguns dos
critérios para a escolha de uma consultoria:
- alinhamento conceitual: é importante
que a consultoria apresente os conceitos
alinhados com o que pensa e defende a
empresa e as organizações-referência em
sustentabilidade.
- cases: o portfólio de clientes e projetos
já realizados pela consultoria mostra
os trabalhos já realizados e o acúmulo
de experiências bem e mal sucedidas,
fundamentais nesta área.
- consultores: a experiência dos
profissionais-líderes é sempre um importante
diferencial em consultoria empresarial. Mas
é interessante também verificar quem são os
profissionais que realmente devem atuar no
trabalho a ser realizado.
- presença em eventos-referência: a
presença dos consultores em eventos-
referência e congressos contribui para
indicar alinhamento e credibilidade.
- empatia: o processo é longo e é
importante que os consultores sejam
capazes de entender a cultura da empresa e
trabalhar com sua equipe para alcançar os
melhores resultados.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
28 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Os fornecedores entram no climaPressionados por clientes e seguindo tendências mundiais, as
empresas fornecedoras buscam se alinhar aos conceitos adotados
por seus clientes e contribuem para criação da cadeia de valor
sustentável. O exemplo buscado pelos fornecedores da carne:
Varejo sustentável - O engajamento das redes varejistas
na busca por fornecedores mais sustentáveis é tema de uma
campanha do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
A preocupação sobre as condições de produção da carne, por
exemplo, está levando redes varejistas a investirem na chamada
“carne sustentável’’, produzida em condições menos agressivas
ao ambiente e com respeito às leis trabalhistas. Além de fomentar
boas práticas nas fazendas, o objetivo é o desenvolvimento da
qualidade da carne, com rastreamento da produção e identificação
clara nas lojas.
Wal-Mart - Seguindo as diretrizes mundiais de sustentabilidade,
a rede Wal-Mart passou a pedir que seus fornecedores busquem
se alinhar às boas práticas, melhorando indicadores e minimizando
seus impactos ambientais. Entre outras medidas incorporou ao
Top to Top (encontro semestral entre os gestores de alta hierarquia
da rede com seus pares de mais de 100 empresas fornecedoras,
entre elas as principais fornecedoras de carnes) a proposta de
criar ações sociais e/ou ambientais conjuntas.
JBS Friboi - O gigante dos frigoríficos lançou em 2004 uma linha-
piloto de carne orgânica, que hoje representa 3% da produção do
grupo. A carne é oriunda de um grupo de 20 fazendas da região
de Tangará da Serra (MT), que fornecem exclusivamente para a
empresa e cuja produção inclui cuidados com o bem-estar e a
rastreabilidade dos animais. Parte da produção é exportada para
Europa e Oriente Médio.
Asa Alimentos - Empresa integrada de produção de aves e
suínos de Brasília, também vislumbra um mercado para a carne
sustentável. A divisão de suinocultura da companhia, por exemplo,
adotou um sistema de criação de porcos que utiliza camas de
palha nas granjas, um sistema que permite produzir com menor
impacto ao meio ambiente e traz ganhos para a qualidade da
carne, já que os animais são mais saudáveis. O cuidado ambiental
ajudou a garantir contratos de fornecimento para as redes
Carrefour e Pão de Açúcar.
Capa Os desafios da sustentabilidade empresarial
30 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
A decisão de compra e a sustentabil idade das empresas
Pesquisa realizada com exclusividade para a Revista Negócio Sustentável
pela UFR – Unit For Research, confirma que consumidor ainda não exerce
seu poder de compra como forma de incentivar o desenvolvimento sustentável
Consumo consciente
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 31
Cada edição da Revista Negócio Sustentável deve
trazer uma pesquisa especial sobre um tema
relacionado a sustentabilidade. Para complementar a
edição de lançamento, o tema escolhido foi a visão
do consumidor como parte interessada no movimento
pela sustentabilidade empresarial. A pesquisa foi
encomendada à consultoria Unit For Research®,
especializada em metodologias interativas, e realizada
por meio de 750 entrevistas com pessoas de todo o
país. O objetivo principal foi verificar junto à população
com acesso à internet (classes AB do critério Brasil), o
conhecimento sobre o conceito de sustentabilidade e a
aplicação desse conhecimento no ato da compra.
Os resultadosA maioria dos consumidores entrevistados diz saber o
que é o consumo consciente e 72% dos consumidores
consideram comprar produtos de empresas responsáveis
e sustentáveis uma forma de construir um mundo
melhor.
Alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza são
as áreas de consumo em que mais são considerados os
critérios de sustentabilidade na hora da compra com
96% dos participantes da pesquisa. Este alto índice
indica uma oportunidade para os chamados produtos
sustentáveis. Como exemplos, podem ser citados os
vegetais orgânicos, produtos biodegradáveis, com
material de reflorestamento ou que consomem menos
embalagem e geram menos resíduos. Ainda segundo a
pesquisa, os consumidores de maneira geral consideram
os produtos que emitem menos poluentes e resíduos
como os que melhor se enquadram no conceito
de sustentabilidade.
Como principais conclusões da pesquisa vale citar
que a maioria dos entrevistados 96% assume
o seu poder de compra, mas 46% consideram
difícil associar consciência e consumo. Outros
54% consideram difícil aplicar o conceito de
sustentabilidade no dia-a-dia.
Sim, eu procuro ser um
consumidor consciente.
Roupas e acessórios
Sim, eu entendo e busco escolher as empresas mais
responsáveis
Sim, mas acho difícil aplicar no
dia-a-dia.
Alimentos e bebidas
Sim, mas acho difícil comprar
com consciência
Você sabe o que é consumo consciente?
Em qual área de consumo suas compras consideram critérios e sustentabilidade das empresas?
Você que entende que consumo consciente e sustentabilidade estão associados?
Não, eu não sei.
Higiene e Limpeza
Não, eu não entendo que as
duas coisas estão associadas
Não sei responder
Consumo consciente
32 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
O papel do consumidorA dificuldade de aplicar o conceito de sustentabilidade ao ato de consumo e a falta de conhecimento do consumidor sobre indicadores sociais e ambientais das empresas são consideradas entraves para o desenvolvimento sustentável. Segundo dados do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, a humanidade já consome 25% a mais de recursos naturais do que a capacidade de renovação da Terra e, se os padrões de consumo e produção se mantiverem no atual patamar, em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para atender nossas necessidades de água, energia e alimentos. A mudança nos padrões de consumo é vista como uma das maneiras de evitar esse cenário.
Um meio para que os consumidores possam obter informações sobre empresas ou produtos é a internet. Nela, é possível acompanhar a trajetória de cada empresa, conhecer o Código de Defesa do Consumidor e comparar indicadores de sustentabilidade de cada empresa e até de setores inteiros. Para contribuir, a Fundação Procon de São Paulo criou, no ano passado, uma lista das empresas que mais tiveram problemas com os clientes. A lista, com um total de 2.639 empresas fornecedoras, busca orientar a compra de produtos ou contratação de serviços. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça também lançou um Catálogo Virtual de Educação para o Consumo, que reúne em um site os diversos trabalhos realizados pelos Procons estaduais, por entidades civis, pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública em relação à defesa do consumidor.
O site traz, além do Código de Defesa do Consumidor e da Cartilha do Consumidor, um atlas geopolítico de defesa do consumidor na América Latina e o Guia do Consumidor Estrangeiro. Para ter acesso ao Catálogo Virtual de Educação para o Consumo, basta acessar o site www.mj.gov.br/dpdc e clicar no link Educação para o Consumo.
Sobre a Unit For ResearchA Unit For Research é parceiro estratégico da Revista
Negócio Sustentável em pesquisa e inteligência de
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Cerqueira César • São Paulo SP
O poder do consumidorSegundo a pesquisadora da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, Marta Caputo, os consumidores brasileiros
ainda não estão acostumados a utilizar uma outra poderosa arma
para fazer valer reivindicações a empresas: o boicote. Segundo
ela, o boicote a determinados produtos pode fazer com que as
empresas prestem mais atenção às demandas dos consumidores.
Marta Caputo lembra que a história do boicote é antiga. Um dos
primeiros atos de boicote organizado foi a luta do ativista negro
norte-americano Martin Luther King, que liderou uma campanha
de boicote aos ônibus em Montgomery (Alabama, Estados Unidos),
contra o sistema de segregação racial no transporte público da
cidade. Segundo a pesquisadora, os boicotes se tornaram cada
vez mais populares no mundo a partir da década de 90.
Como conhecer mais sobre as empresas
• Busque informações no Relatório de Sustentabilidade e
compare alguns indicadores que julgar relevantes com os de
outras empresas, de preferência do mesmo setor.
• Você pode olhar, por exemplo, a quantidade de mulheres em
cargos de chefia, de profissionais negros contratados e em cargos
de chefia, ou ainda o percentual de investimento em projetos
de proteção e educação ambiental e no relacionamento com
fornecedores.
• O mais importante, entretanto, é tentar identificar qual o
principal impacto ocasionado pela empresa e que ações estão
sendo realizadas para minimizá-lo.
• Por exemplo, se a empresa for consumidora de cobre, o que
ela tem feito para evitar a compra de material de procedência
duvidosa? A revenda de cobre é um dos principais estimuladores
do roubo de fios nas cidades.
São exemplos ainda:
• Cosméticos: extração de recursos naturais, testes
em animais, embalagens.
• Confecção: condições de trabalho, relações trabalhistas,
uso de materiais ecológicos.
• Alimentos: impactos das monoculturas, relacionamento com
as comunidades de entorno das plantações, fornecedores
em áreas de plantio próximas da Amazônia.
• Celulose: certificação da cadeia de custódia garantem o
plantio e não uso de florestas nativas, questões sobre a
monocultura e a biodiversidade, relacionamento com as
comunidades de entorno.
• Varejo: cuidados na seleção de fornecedores, relações trabalhistas,
estímulo ao consumo consciente nos pontos de venda.
Consumo consciente
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 33
O papel das ONGs
AkatuO Instituto Akatu foca suas atividades na mudança de
comportamento do consumidor. Para isso desenvolve ações
em duas frentes de atuação: Educação e Comunicação, com
o desenvolvimento de conteúdos, pesquisas, dinâmicas e
metodologias. O trabalho de educação é desenvolvido junto a
comunidades, funcionários de empresas e instituições de ensino.
Este trabalho é realizado por meio de palestras de sensibilização, da
capacitação de formadores de opinião para serem multiplicadores
do consumo consciente e da sistematização dos conteúdos,
materiais, metodologias e processos utilizados, de modo a levar
este trabalho a uma larga escala.
http://www.akatu.org.br
IdecO Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou em
2008 a campanha “Mude o consumo para não mudar o clima”,
com ações para disseminar o conceito de consumo consciente
e exigir de empresas e autoridades a elaboração de políticas
públicas que promovam a produção e o consumo sustentável.
Paralelo à campanha de conscientização, o Idec promoveu um
abaixo-assinado entre consumidores para ser enviado ao governo
federal, com o objetivo de cobrar dos órgãos competentes políticas
públicas relacionadas às mudanças climáticas e ao consumo.
http://www.idec.org.br
GreenpeaceO Greenpeace alerta os consumidores sobre a rotulagem
inadequada de transgênicos. O objetivo é cobrar das empresas
a identificarão de produtos com organismos geneticamente
modificados – determinação legal desde 2004. A organização
trabalha para que as empresas se ajustem à legislação, colocando
a informação em todos os seus produtos. A entidade reconhece
que ainda não foram comprovados danos à saúde causados por
transgênicos, embora destaque impactos no meio ambiente como
o aparecimento de ervas daninhas resistentes e a contaminação
genética de lavouras orgânicas. Mas o principal objetivo é que,
com a devida informação na embalagem, o consumidor tenha a
opção de comprar produtos de forma mais consciente.
http://www.greenpeace.org.br
ProtesteA PRO TESTE é uma entidade civil independente, que tem como
objetivo a defesa do consumidor, ajudando-o a fortalecer seu
poder de compra e a conhecer seus direitos. A organização
utiliza testes comparativos e artigos publicados em suas revistas,
orientando e intermediando pendências com fornecedores. A
ONG também encaminha a empresas e governos as reivindicações
e propostas pertinentes.
http://www.proteste.org.br/
Consumo consciente
34 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
A evolução das f inanças sustentáveis no país
Considerar indicadores de sustentabilidade para a concessão de financiamentos e investir em microcrédito
são tendências que já despontam nas carteiras de crédito das instituições brasileiras.
Na busca pela sustentabilidade, as instituições financeiras podem
desempenhar um papel decisivo. Não apenas pela importância
dos ativos financeiros na atividade econômica, mas também pela
necessidade de se proteger dos crescentes riscos financeiros causados
pelas más práticas sociais e ambientais. O processo de incorporação
no mercado financeiro brasileiro também tem se desenvolvido
por meio da criação de políticas e produtos específicos com foco
socioambiental. Cada vez mais, estão disponíveis linhas voltadas aos
créditos de carbono, energia renovável e eficiência energética.
O volume dos chamados investimentos sustentáveis no Brasil
é estimado em cerca de R$ 1 bilhão, representando 0,1% do
patrimônio dos fundos de investimento no país e milhares de
cotistas de dez instituições diferentes.
Os maiores bancos nacionais cada vez mais se comprometem a
seguir critérios socioambientais no financiamento de operações
com custo total acima de US$ 10 milhões. Bancos públicos e
privados buscam formas de garantir a inclusão de indicadores de
sustentabilidade como critério para a concessão de financiamento.
Apenas este ano:
- Foram lançadas as linhas de crédito com foco socioambiental
do HSBC;
- O Unibanco obteve linha de crédito inédita da International
Finance Corporation (IFC), entidade do Banco Mundial que
promove investimento sustentável do setor privado dos
países em desenvolvimento, para financiamento de projetos
nas áreas de energia renovável, eficiência energética e
construção sustentável;
- O BNDES criou o Fundo Brasil Sustentabilidade, primeiro fundo
de investimento do país voltado para o desenvolvimento de
projetos ambientais;
- O Itaú lançou política de crédito com classificação do risco
socioambiental dos clientes corporativos.
Em 2007, o Bradesco anunciou o lançamento de produtos com
foco socioambiental que iriam gerar recursos financeiros para
a Fundação Amazônia Sustentável, além de lançar o Banco do
Planeta, uma área dedicada a centralizar e ampliar todos os seus
projetos e iniciativas socioambientais. A Bolsa de Mercadorias &
Futuros (BM&F) realizou o primeiro leilão público de créditos de
carbono do mundo. O Unibanco, em convênio com o Japan Bank
for International Cooperation (JBIC), criou linha de financiamento
para projetos de comercialização de créditos de carbono. A
Serasa (empresa de análise de crédito) lançou o Rating de
Responsabilidade Ambiental que incorpora questões ambientais
na avaliação de risco de crédito.
O mais sustentável do mundoO ABN Amro Real criou o primeiro fundo de sustentabilidade,
o fundo Ethical. O banco foi um precursor na área e
recebeu o prêmio de instituição financeira mais sustentável
do mundo, segundo o jornal britânico Financial Times. O
Ethical ainda é o maior dos fundos de sustentabilidade,
com mais de 500 milhões de reais em patrimônio líquido.
Com metodologia própria para escolher os papéis das
empresas nas quais vai investir, o índice reúne as ações mais
negociadas da Bovespa e é a principal referência do país.
Finanças
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 35
O Banco do Brasil concentrou na Agenda 21 as suas ações de
negócios “com foco no desenvolvimento sustentável, em práticas
administrativas e negociais com Responsabilidade Socioambiental
(RSA) e investimento social privado”. Dentro da gestão de negócios
do BB, fazem parte da Agenda a disseminação dos princípios
e da cultura de Responsabilidade Socioambiental a manutenção
de processos administrativos coerentes com os princípios
de sustentabilidade.
Entre as ações que exemplificam os objetivos da Agenda 21 está o
modo de operar os processos negociais. Foi aprovada em agosto
de 2004 a suspensão de novos créditos a clientes que submetem
seus trabalhadores a formas degradantes de trabalho ou que
os mantenham em condições de trabalho escravo, incluídos em
relação de empregadores e proprietários rurais divulgada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego. A decisão também abrange
negativas de financiamentos a clientes envolvidos com exploração
sexual de crianças e com o uso do trabalho infantil.
Como uma política nacional da instituição em termos de finanças
sustentáveis está o Desenvolvimento Regional Sustentável.
O objetivo é sensibilizar, mobilizar e capacitar funcionários e parceiros
do BB para diagnosticar e fomentar as atividades produtivas de
cada região. Segundo o banco, já foram identificadas e estão sendo
trabalhadas mais de 100 atividades produtivas diferentes, como
sistemas agroflorestais, turismo, artesanato, cerâmica marajoara,
aqüicultura, fruticultura, calçados, cotonicultura, confeções,
ovinocaprinocultura, apicultura, horticultura, pecuária de corte
e leiteira, floricultura, mandiocultura, atividades extrativistas,
avicultura e reciclagem de resíduos sólidos. Os projetos recebem
prioridade do banco, dentro da estratégia de desenvolvimento
regional e são financiados, incentivados e desenvolvidos para ser
sustentáveis, ambientalmente, socialmente e economicamente.
A relação entre as instituições financeiras e os valores que
A sustentabilidade pode ser aplicada em várias frentes:
• na relação com os investidores, que dependem
dos recursos dos bancos
• na relação com seus funcionários e fornecedores
• ações exclusivas da administração da instituição
financeira, como a gestão do negócio
e a estrutura física.
desenham a sustentabilidade tem oferecido oportunidades a
diversos grupos e contribuído para o desenvolvimento regional
e nacional. Ela promove a responsabilidade socioambiental na
mesma medida em que consolida a necessidade dos projetos
e empreendimentos sociais de considerar a sustentabilidade
econômica como um pilar importante das suas iniciativas.
Finanças Sustentáveis
- Avalia riscos socioambientais em financiamentos?
- Possui programa de microcrédito produtivo orientado?
- Possui fundos socialmente responsáveis?
- Possui linhas de financiamento socioambientais?
- Comercializa títulos de crédito de carbono?
- Oferece seguros ambientais?
Gestão
- Utiliza critérios socioambientais na seleção de fornecedores?
- Possui relatório para informações socioambientais?
- Divulga emissões de GEE?
- Divulga informações sobre diversidade na força de trabalho?
- Divulga políticas relacionadas à segurança da informação?
- Divulga políticas relacionadas à lavagem de dinheiro?
Fonte: Pesquisa FBDS/07
Pode-se debater a sustentabilidade do setor financeiro a partir de dois aspectos:
Finanças
36 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
1Permear o conceito de
sustentabilidade por
toda a organização.
4Mensurar o valor da
sustentabilidade no
Bottom Line.
7Inovar constantemente,
como novos produtos e
processos.
5Assegurar uso
responsável do crédito
por parte dos tomadores
de empréstimo.
8Equilibrar benefícios
de curto prazo com
necessidades de longo
prazo em setor extremamente
orientado para resultados.
6 Aumentar o valor
dos negócios
socioambientais.
9 Incentivar a inclusão
bancária.
10Mudar a imagem
negativa do setor
diante dos clientes.
2Conscientizar e engajar
os colaboradores no tema. 3Mensurar riscos
socioambientais
em atividades de
financiamento.
Os 10 principais desafios para a sustentabilidade no setor bancário:
Produtos – Iniciativas do Setor BancárioCartões de Crédito Socioambientais – Bradesco – Citi – HSBC - Unibanco
Fundos de Investimentos Socioambientais – Bradesco – Banco do Brasil – Banco Real – CEF – Unibanco – HSBC - Itaú
Títulos de Capitalização Socioambientais – Bradesco - Itaú
Mercado de Carbono – Banco Real – Unibanco
Microcrédito – Banco do Brasil – Real – Bradesco – CEF – Unibanco – Itaú
Empréstimos e Financiamentos Socioambientais – Bradesco – Banco do Brasil – Banco Real – CEF – Itaú (46% com políticas / 33% com
linhas – diversidade)
Seguros Ambientais – Unibanco
O histórico do movimentoAs finanças pensadas no seu aproveitamento social - ou levando-se em conta não apenas a lucratividade - começaram a aparecer nos
anos de 1960. O movimento começou com fundos de investimentos ligados a organizações religiosas até chegar ao que se chama hoje
de investimentos socialmente responsáveis ou SRI (Socially Responsible Investments). Na década de 1990, as instituições financeiras
começaram a ser pressionadas pela sociedade civil a se ocupar da responsabilidade do credor e da forma como eram utilizados os
recursos financeiros. O Fórum Latino-Americano sobre Finanças Sustentáveis (LASFF) destacou nessa época campanhas como a da
RainForest Alliance, que pediam aos depositantes que questionassem os grandes bancos sobre a forma de aplicação dos recursos e
incitavam os clientes a fechar a conta bancária ou cortar o cartão de crédito em repúdio à forma de gestão dos bancos.
Finanças
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38 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
O que é essencial em uma construção sustentável?
A Revista Negócio Sustentável ouviu especialistas da construção civil e pesquisadores para apontar os principais
impactos das construções versus o que mais impacta para que um projeto seja realmente sustentável.
A construção civil desperdiça em média 56% de cimento, 44%
de areia, 30% de gesso, 27% de condutores e 15% de tubos de
PVC e eletrodutos, segundo pesquisa da Escola Politécnica da USP.
Ações para reduzir o desperdício ocupam cada vez mais espaço nos
novos empreendimentos e a atenção agora se volta para os critérios
e iniciativas sustentáveis em todas as etapas da obra: do projeto à
execução, passando pela escolha do tipo e da proveniência dos
materiais e da forma de contratação da mão-de-obra.
Não adianta, por exemplo, pensar em duas camadas de tijolo
para garantir o equilíbrio térmico, se os tijolos serão produzidos
com material de procedência duvidosa. Há economia de
energia, mas contribui-se mais para a degradação do meio
ambiente, já que será utilizado barro em dobro.
Cada vez mais as construções sustentáveis têm sido objetivo de
grandes e pequenos empreendimentos na hora de projetar plantas.
Mas, como tudo que envolve sustentabilidade, é importante avaliar
qual o grau de disposição e possibilidade para que realmente um
empreendimento leve em consideração aspectos ambientais,
econômicos e sociais: o tipo de material utilizado, a forma como
a mão-de-obra é contratada e empregada, como o projeto é
estruturado para que respeite o meio ambiente e aproveite
melhor as condições naturais. Dentro desse contexto, o aspecto
social é um outro importante desafio do setor – a valorização
das pessoas envolvidas, com o cumprimento de leis trabalhistas e
bom relacionamento com a comunidade do entorno.
Há iniciativas que buscam oferecer soluções sustentáveis que
complementem projetos bem pensados de engenharia e
arquitetura, como é o caso do Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade do Habitat (PBQP-H). O Programa está completando
10 anos e hoje é coordenado pelo Ministério das Cidades. O
objetivo é organizar o setor da construção civil em torno de duas
questões principais: melhoria da qualidade das habitações e
modernização produtiva. Com um espírito bem mais propositivo
do que punitivo, o programa busca a inserção das empresas
no processo produtivo normatizado, garantindo construções
de melhor qualidade, com redução do uso de material e mais
respeito ao meio ambiente.
Arquitetura e Urbanismo
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 39
Os principais impactos- RECURSOS
A construção e a manutenção da infra-estrutura
do país consomem até 75% dos recursos
naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do
setor a maior consumidora.
A utilização de madeira extraída ilegalmente,
além de comprometer a sustentabilidade das
florestas representa séria ameaça ao equilíbrio
ecossistêmico.
Os edifícios brasileiros gastam 21% da água
consumida no país.
- ENERGIA
No Brasil, as construções consomem 44%
da energia gasta no país. Sendo 22% em
uso residencial, 14% em comercial e 8% em
prédios públicos. Nos edifícios comerciais, 22%
da energia é gasta com iluminação, 47% com
ar condicionado e 31% em outros usos.
- RESÍDUOS
A quantidade de resíduos de construção e
demolição é estimada em torno de 450 kg/
hab ano ou cerca de 80 milhões de toneladas.
A este total devem ser somados os outros
resíduos industriais formados pela da cadeia:
os canteiros de obras são geradores de poeira e
ruído e causam erosões.
- POLUIÇÃO
A cadeia produtiva da construção contribui
para a poluição, inclusive na liberação de gases
do efeito estufa, como CO2 durante a queima
de combustíveis fósseis e a descarbonatação
de calcário e de compostos orgânicos voláteis,
que afetam também os usuários dos edifícios;
contaminação ambiental pela lixiviação de
biocidas e metais pesados.
Arquitetura e Urbanismo
40 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Com apoio do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), a iniciativa busca o
desenvolvimento para toda a cadeia
produtiva do setor da construção civil.
Cerca de 1.300 empresas fornecedoras
já foram certificadas pelo projeto. A
Caixa Econômica Federal já exige a
certificação PBQP-H para a concessão
de financiamentos habitacionais.
Um projeto importante do PBPQ-H é a
normatização da cerâmica vermelha (tijolo)
por ser um segmento que se encontrava
quase completameante fora das normas
no país. Os resultados do trabalho foram
a melhoria na qualidade do produto e
a redução do preço. Uma empresa que
produz em torno de 1.000 milheiros
de tijolos por mês, consegue reduzir
o custo de matéria prima em torno de
R$ 32.000,00 ao ano, conseguindo reduzir
o custo do frete do produto final em torno
de 20%”, conclui um dos coordenadores
do PBPQ-H, Paulo Sérgio Arias.
Para as construtoras, materiais de
construção e obras diretas, a economia
gerada pelo uso destes produtos
normatizados é ainda é maior. Na confecção
de paredes e reboco a economia na massa
e na argamassa utilizadas é de cerca de
50%, além de reduzir os custos com a
limpeza no canteiro da obra já que há
redução de quebra de produtos, entrando
na classificação de obra limpa. “Por isso os
empresários não oferecem resistência e se
interessaram”, avalia Paulo Arias.
Na avaliação dos diretores do projeto, além
de baixar o custo e evitar o desperdício,
outra questão importante é a redução do
passivo ambiental da construção civil. Se
o peso do tijolo reduziu em 20%, é 20%
menos queima, o que aumenta a vida útil
da jazida de argila. Menor uso de argila
significa menos lenha pra queimar os
tijolos, menos transporte, menos poluição.
Evita também o desperdício porque antes
o produto quebrava com facilidade. “Nós
estamos reduzindo o passivo ambiental
em 40%”, avalia Arias. Este pode ser
considerado um dos muitos aspectos e
Certificação cobiçadaEdifícios no Brasil buscam certificado de
“construção verde”. Excelência no uso
de energia e no design ambiental são
características que dão nome à sigla LEED
(Leadership in Energy and Environmental
Design), certificação para edifícios
sustentáveis - residenciais e comerciais -
concedida pelo Conselho de Greenbuilding
dos Estados Unidos. A primeira construção
a obter o cobiçado selo foi uma agência
do ABNAmro Real, em São Paulo.
Para obter o selo LEED é necessário que o
empreendimento obedeça a vários critérios
de sustentabilidade, desde a escolha do
terreno até a entrega do imóvel. Os edifícios
devem apresentar alguns pré-requisitos
que dizem respeito à economia de recursos
naturais como energia elétrica, água e
gás; materiais utilizados na construção e
qualidade interna dos empreendimentos.
Ainda recebem pontuações adicionais
conforme apresentarem novidades.
LEED no Brasil A organização gestora da certificação de
sustentabilidade Leed no País, GBC (Green
Building Council) Brasil, apresentou durante
seminário em São Paulo suas propostas
de adaptação à realidade brasileira dos
requisitos para a obtenção do selo.
Alinhada às novas legislações do País, a
versão nacional da certificação para novas
construções comerciais deverá reconhecer
projetos que privilegiem a acessibilidade
a pessoas portadoras de deficiência, o
aquecimento solar e a redução do consumo
de água e, entre outros.
Os trabalhos de adaptação dos requisitos
começaram em janeiro deste ano e devem
ser concluídos no primeiro semestre de
2009. Enquanto isso, continuam valendo
os requisitos norte-americanos para os
empreendimentos brasileiros que quiserem
obter a certificação.
Os tijolos normatizados são:
• 20% mais leves
• 150% mais resistentes
• gastam 20% menos energia com a queima
Arquitetura e Urbanismo
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 41
exemplos de busca pela sustentabilidade
na construção civil, sendo associado
a diversas outras idéias que reduzem
custo, poupam o meio ambiente, trazem
conforto, recorrendo a idéias e materiais
que aproveitem as condições locais, a
força do vento, a insolação e atendam às
necessidades de pessoas e empresas.
Ainda que a preocupação tenha aumentado
em relação à sustentabilidade em toda
a cadeia de produção da arquitetura
sustentável, este é um conceito recente
e que ainda é absorvido em pequenas
doses e não integralmente. Mas, para o
engenheiro norte-americano Tom Paladino,
que é uma autoridade internacional em
construções ambientalmente sustentáveis,
a busca pela sustentabilidade é crescente.
O mais comum, segundo Paladino, é as
Para saber se uma obra é sustentável:- Pesquise o histórico da empresa
construtora e avalie seu comprometimento
com a sustentabilidade. Certificações
e sistemas de gestão indicam cuidado
da empresa com aspectos sociais e
ambientais.
- Procure saber se o imóvel atende às
demandas ambientais do lugar onde ele
será construído. Áreas de mananciais
pedem cuidado extra com o uso da água.
Regiões frias reforçam a importância do
aquecedor solar.
- Visite a obra para conhecer as condições
de trabalho. Um projeto que se pretende
sustentável deve primar pela segurança e
pela saúde dos trabalhadores.
- Fique de olho nas vantagens oferecidas.
Negócios tentadores podem esconder
procedimentos que esbarram na
informalidade.
Para construir- Entre em contato com o Grupo de
Trabalho de Sustentabilidade da Associação
Brasileira dos Escritórios de Arquitetura
para obter orientações ou indicações de
profissionais.
- Procure consultorias que prestam serviço
para construtoras em empreendimentos
que buscam a certificação LEED. Elas
poderão indicar profissionais gabaritados.
pessoas absorverem aquilo que podem
pagar, que interessa a elas e de alguma
maneira irem incorporando esses cuidados
no projeto de seus empreendimentos.
A sua conclusão é que não importa a
motivação, o importante é começar por
algum lugar. “Observar construções
verdes como modelo pode ajudar. Se os
governos acreditarem no conceito poderão
promover incentivos, como redução de
taxas, para esse tipo de obras,”, afirma.
O segredo, para ele, é pensar primeiro
nas necessidades do lugar e do
empreendimento, e pensar nisso
como uma oportunidade de empregar
aspectos sustentáveis desde o projeto.
“É incorporar o conceito às iniciativas
e buscar que as soluções se dêem em
diferentes aspectos.”
Arquitetura e Urbanismo
42 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
O aspecto social na construção civilPouca qualificação, baixa escolaridade, acidentes
e aprendizado na prática.
A construção civil avançou no campo tecnológico, racionalizou
e otimizou o desempenho e busca inserir critérios ambientais
aos processos, mas esquece de inserir a mão-de-obra nos seus
esforços de desenvolvimento. De acordo com a OIT (Organização
Internacional do Trabalho), mais de 33% dos trabalhadores
registrados na construção civil são analfabetos funcionais e,
em geral, desempenham funções auxiliares com pouca ou
nenhuma especialização. Cerca de 67% dos trabalhadores
empregados recebe menos de três salários mínimos, dos quais
34,22% ganham até dois salários mínimos. Apenas 3,61% dos
trabalhadores da construção se enquadram na faixa acima de dez
salários mínimos.
A informalidade é um desafio do setor. Segundo levantamento do
SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado
de São Paulo) e da FGV Projetos, 2 milhões de trabalhadores estão
registrados sob regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Haruo Hishikawa, presidente do Sinduscon-SP, estima que outros
2 milhões acabem trabalhando no setor informalmente. “Como o
setor da construção está em crescimento, as indústrias contratam
muita gente de outros estados”. Se para o operário a situação
não é boa, ao construtor restam também enormes problemas.
A terceirização, a alta rotatividade e a fragilidade dos vínculos
empregatícios tornam difícil para o gerenciador controlar a obra.
Um estudo realizado pela Poli-USP (Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo) revelou as dimensões do desafio: para
que a totalidade dos trabalhadores da construção (entre formais e
informais) tenha uma educação compatível com os quatro primeiros
anos do ensino formal é preciso capacitar meio milhão de pessoas.
Esse número sobe para mais de 1,1 milhão quando se pensa em
cumprir a lei, garantindo o ensino fundamental ou os oito primeiros
anos de ensino aos operários da construção. Segundo o professor
Francisco Ferreira Cardoso, do Departamento de Construção Civil
da Poli-USP, 80% dos trabalhadores do setor têm menos de quatro
anos de estudo e 20% são analfabetos funcionais.
Para piorar, o alto índice de rotatividade do setor impede uma
formação continuada, já que em média 55% dos funcionários
ficam menos de um ano na mesma empresa e em torno de 30%
permanecem até seis meses.
O perfil do trabalhadorHomem, migrante, com baixa escolaridade, exposto ao maior
índice de acidentes do trabalho dentre todos os setores econômicos
e com salários abaixo do mercado. Essa é a cara e a condição do
operário da construção civil. A última pesquisa realizada sobre o
perfil do trabalhador do setor, feita pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em 2003,
mostrou que 72,4% dos empregados pela construção não
contribuem para a Previdência Social, em sua maioria têm jornada
de trabalho que excede o limite de 44 horas semanais e ganham
menos de cinco salários mínimos.
O setor é composto, quase totalmente, por trabalhadores do sexo
masculino, com média de 35 anos, faixa etária superior à dos
demais setores da economia. O estudo também comprovou a
importância dos migrantes na construção das metrópoles: 86,1%
dos ocupados pelo mercado do Distrito Federal, e 76,4% dos
trabalhadores de São Paulo nasceram em outras regiões do País.
Os maiores impactosOutras soluções importantes
Cimento – A produção de cimento responde por quase 5% das
emissões mundiais de gás carbônico, principalmente por causa
do clínquer, componente do cimento, cuja fabricação libera na
atmosfera alta quantidade de CO2. Já existem alternativas para
substituir esse componente, como o cimento que utiliza 70% dos
resíduos de indústrias siderúrgicas (sobras da fusão de minério
de ferro, coque e calcário), conhecido como CPIII. O produto
tem, além das vantagens ambientais, maior durabilidade e é
mais barato. Ele está no mercado desde 1952, mas em tempos
de construções verdes, já representa 17% da venda de cimento
no país. No Sul do Brasil, os fabricantes produzem o cimento
pozolânico (CPIV), que emprega resíduos das termoelétricas e tem
desempenho semelhante ao do CPIII.
Arquitetura e Urbanismo
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 43
Idéias importantes aos arquitetos e empresasSegundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura
• Localização urbana -- A posição de um edifício em relação ao
sol e aos ventos é muito importante e vai determinar várias das
necessidades térmicas dos espaços internos. Há inclusive normas
específicas para determinar o quanto de energia térmica cada
fachada recebe ao longo do dia em cada estação do ano.
• Circulação na região -- Devem ser preferidos locais arejados,
com pouco trânsito e bem servidos em termos de transportes
públicos. Com isto, haverá menos poluição e melhores alternativas
de locomoção.
• Orientação e insolação -- A energia solar é importante,
mas na medida certa. Aqui no hemisfério Sul, o ideal é ter os
ambientes nobres voltados para a face norte, que são frias no
verão e quentes no inverno.
• Proteção contra o sol -- Devem ser planejadas proteções nas
janelas para que não recebam tanto sol no verão. Pode-se usar
varandas, brise-soleils, persianas ou vegetação.
• Proteção contra ventos frios -- O lado sul da habitação deve
ser reservado a ambientes transitórios como banheiros, despensas,
cozinhas e outros cômodos que necessitem de poucas aberturas
para o exterior. Aqui no Brasil, especialmente na região Sul e
Sudeste, o vento frio vem predominantemente do sul, e deve-se
prever proteções como vegetação ou muros caso não se possa
usar esta face para os ambientes já citados. Com isto diminui-se a
necessidade de calefação.
• Fachadas -- Áreas envidraçadas causam grandes ganhos térmicos
na estação quente e perdas térmicas muito consideráveis durante
a estação fria, o que implica sistemas de climatização adicionais
para corrigir o efeito. Como sugestão, a área envidraçada de um
ambiente não deve ultrapassar 15% de sua área de pavimento.
Madeira certificada – Para o consumidor, atacadista ou varejista, a
madeira certificada é uma garantia de que o produto não vem de
floresta nativa e foi plantado para consumo. Para isso, o processo
de certificação assegura a manutenção das plantações, bem
como o emprego e a atividade econômica que a ela proporciona,
pois contribui para o desenvolvimento social e econômico das
comunidades nas quais a atividade florestal se insere. O FSC,
certificação do Conselho Mundial de Manejo Florestal (Forest
Stewardship Council ) é hoje o selo verde mais reconhecido
em todo o mundo, com presença em mais de 75 países e em
todos os continentes. O selo é atualmente o único sistema de
certificação florestal independente que adota padrões ambientais
internacionalmente aceitos e representa o melhor compromisso
disponível de que a atividade não acarreta destruição de florestas.
A área de florestas certificadas no mundo cresceu cerca de 10
milhões de hectares no ano passado, e atingiu a marca de 94
milhões de hectares, em 74 países. Cresceu também o número
de certificados para a cadeia de custódia, ou seja, de empresas
que possuem o selo verde porque processam e comercializam
produtos feitos com matéria-prima de floresta certificada ou de
origem controlada segundo as normas do FSC. Em 2007, eram
5400 empresas certificadas no mundo todo, hoje já somam 7700.
O Brasil é atualmente o país com maior área de florestas e o maior
número de produtos certificados pelo FSC, com cinco milhões de
hectares de florestas certificadas e 212 certificados de cadeia de
custódia. Estima-se que, no mundo, o comércio de produtos com
o selo FSC tenha movimentado cerca de 20 bilhões de dólares
em 2007.
Arquitetura e Urbanismo
44 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Arquitetura e Urbanismo
• Iluminação natural -- Prefira áreas
iluminadas naturalmente para minimizar o
uso de iluminação artificial.
• Lâmpadas adequadas -- Opte por
lâmpadas de baixo consumo e procure
usar iluminação localizada, colocando luz
só onde seja de fato necessária.
• Isolamento térmico -- A idéia é manter
uma temperatura constante no interior
do edifício, evitando perdas de calor no
inverno e ganhos de calor no verão. Prefira
materiais de isolamento com baixo índice
de condutibilidade térmica (U-value) e com
baixo teor de energia incorporada (energia
consumida desde a extração da matéria
prima até ao produto final). Em termos de
alvenaria, os tijolos de barro maciço são
uma ótima opção, já que não podemos
mais usar paredes de taipa de pilão como
nossos colonizadores.
• Cores -- As cores das fachadas e das
coberturas influenciam diretamente o
conforto térmico. Considere que as cores
claras não absorvem tanto calor como
as mais escuras: uma fachada branca
absorve só 25% do calor do sol enquanto
que a mesma fachada na cor preta pode
absorver até 90% de calor.
• Caixilhos e vidros -- Em termos de
conservação de energia, dê preferência
para vidros fabricados de forma a
promover redução da transmissão térmica.
Vidros duplos são indicados do ponto de
vista de conservação de energia, mas é
conveniente usar caixilhos com grelhas de
ventilação, para facilitar a renovação do ar
sem necessidade de exaustão mecânica.
• Materiais de construção -- Prefira os
de baixo impacto ambiental, não só na sua
produção mas também ao longo da sua
vida útil. Informe-se sobre a questão da
reciclagem, prefira aqueles que utilizam
material reciclado e/ou que geram resíduos
não agressivos ao ambiente e que possam
ser reciclados posteriormente.
• Cobertura -- Verifique que a
cobertura do edifício tenha isolamento
adequado em relação ao calor (poderá
fazê-lo através da FTH). Escolha um
isolamento durável e resistente à água,
preferencialmente colocado sobre uma
camada impermeabilizada logo acima da laje.
• Isolamento do solo -- No pavimento
térreo e em todos os pisos que tenham
contato direto com o solo, opte por
materiais resistentes à água. Se a região
for de clima frio, cuide do isolamento
térmico também, usando materiais que
evitem perdas térmicas ou então use
porões ou caixões perdidos.
• Ventilação -- Uma edificação com
ventilação insuficiente poderá reter
umidade do ar, afetando o conforto
e até mesmo a saúde dos habitantes.
Os caixilhos devem ter dispositivos que
permitam ventilação ou então deve existir
um sistema de renovação mecânica de ar.
• Energia renovável -- Procure usar
equipamentos que funcionem à base de
energia renovável. Algumas sugestões:
- Coletores solares térmicos -- Captam a
energia do Sol e a transformam em calor,
poupando até 70% da energia necessária
para o aquecimento de água.
- Painéis solares fotovoltaicos -- Por meio
do efeito fotovoltaico a energia do
sol é convertida em energia elétrica.
Podem ser utilizados inclusive em locais
isolados, com ou sem rede elétrica ou
como sistemas ligados à rede.
- Bombas de calor geotérmicas -- Sistemas
que aproveitam o calor do interior da
terra para o aquecimento do ambiente.
- Mini-turbinas eólicas -- Geram eletricidade
a partir da energia do vento. Muito usadas
nos EUA e na Europa, podem reduzir o
consumo de eletricidade de 50% a 90%.
- Sistemas de aquecimento a biomassa --
A biomassa pressupõe o aproveitamento
da matéria orgânica (resíduos das
florestas, agricultura e combustíveis).
Pode ser utilizada, por exemplo, em
sistemas de aquecimento representando
importantes vantagens econômicas
e ambientais.
• Água -- Use louças sanitárias que
funcionem com pouca água e instale
sistemas de regulagem do fluxo de água
nas torneiras. Se vai construir e tem
terreno disponível, existe a possibilidade
de usar mini-estações de tratamento de
água ou cisternas de armazenamento de
águas pluviais, para posterior utilização
em descargas não potáveis como
jardim, bacias sanitárias ou lavagem de
automóveis. Além de diminuir o consumo
de água da rede pública, a retenção de
águas pluviais dentro do lote diminui o
volume de água jogado nas vias públicas,
diminuindo as enchentes comuns nas
áreas urbanas no Brasil.
• Lixo -- Em condomínios preveja espaço
destinado à separação de resíduos
domésticos para facilitar a reciclagem.
Ao construir, procure adotar ao menos
algumas destas posturas. É muito mais caro
reformar um edifício com novos princípios
do que aplicá-los logo a partir do projeto.
A redução do consumo de energia e a
diminuição de resíduos lançados no meio
ambiente beneficiam a todos, inclusive o
proprietário do imóvel.
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 45
As principais questões sobre a Sustentabilidade, respondidas pela Consultoria Apoena Sustentável.
Envie suas perguntas sobre os mais variados temas
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Sustentável e publicadas na revista impressa.
Outras perguntas que também sejam de interesse amplo para
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46 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Segurança no trabalho e o cuidado com o públ ico interno
500 mil acidentes e 2 mil mortes por ano mostram um país com empresas
que ainda precisam evoluir para se tornar sustentáveis
Gestão de pessoas
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 47
Dados do Anuário dos Trabalhadores
2007, divulgado este ano e produzido
pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) em parceria com o Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), mostram que
são registrados cerca de 500 mil
acidentes de trabalho por ano no
país, com mais de 2 mil mortes.
De acordo com dados da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil
ocupa o 4º lugar em número de mortes
em acidentes de trabalho, com 2.503
óbitos. O país perde apenas para China
(14.924), Estados Unidos (5.764) e
Rússia (3.090). As principais causas são
o descumprimento de normas básicas
de proteção aos trabalhadores e más
condições nos ambientes e processos de
trabalho.
Em tempos em que os debates e as ações
sobre sustentabilidade avançam tanto no
Brasil e no mundo, principalmente com
o aumento da preocupação com o meio
ambiente e com os modos de produção
ambientalmente responsáveis, a segurança
dos trabalhadores ainda depende da
garantia da aplicação das leis básicas e da
negociação constante com instâncias que
representam os empregados. As taxas de
acidentes no Brasil, apesar de estarem em
queda, ocupam lugar de destaque até em
comparação com outros países latino-americanos.
As leis brasileiras não deixam margem para
que os empresários ofereçam projetos
e tenham atitudes que beneficiem seus
trabalhadores? Ou, ao contrário, o Brasil
promove mudanças através da implantação
de leis mais detalhadas do que as existentes
em muitos países desenvolvidos? O tema é
complexo e possivelmente envolve todos
os elementos citados e muitos outros
aspectos.
A prevenção de acidentes está ligada a
mudanças de processo, enclausuramento
de máquinas perigosas, redução da
fonte: Anuário Brasileiro de Proteção 2007
exposição a barulho, poeira e substâncias
tóxicas, entre uma série de outras medidas.
Além disso, a prevenção de acidentes deve
ser uma política dentro de toda a empresa e
não apenas preocupação e responsabilidade
de comissões específicas.
A identificação dos setores econômicos
em que há maior incidência de acidentes
norteia o planejamento das ações de
fiscalização. Dados do Anuário 2007,
que dividem os acidentes em diferentes
atividades econômicas, mostram novos
setores como os principais causadores de
acidentes e doenças ocupacionais.
O setor da construção civil e a indústria
são históricos causadores de acidentes de
trabalho, mas atualmente, a área de serviços
assumiu a posição. “Principalmente micro
e pequenas empresas, porque os registros
mais comuns encontrados na Previdência
Social são relacionados às doenças de
Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e
Distúrbios Osteomoleculares Relacionados
ao Trabalho (Dort), ocasionadas por
posto de trabalho inadequado”, afirma
o representante do Conselho Federal de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia
(Confea) e diretor técnico da Sociedade
Brasileira de Engenharia de Segurança,
Jaques Sherique.
Sherique ressalta que o perfil das doenças
do trabalho tem mudado conforme o
avanço das tecnologias e que os principais
registros do passado, ligados ao manuseio
do chumbo, do algodão e de minerais,
hoje dão lugar aos problemas relacionados
à ergonomia. “O maior número de
registros está ligado a doenças com o uso
Por que em um país que possui reconhecimento internacional por avanços importantes em sustentabilidade, os requisitos básicos
de segurança e saúde do público interno ainda são ignorados?
Gestão de pessoas
48 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
do aparelho esquelético, quando o trabalhador é obrigado a ter
um esforço muito grande. Casos que poderiam ser resolvidos
de forma simples, com um pouco de boa vontade, estudo de
ergonomia e adaptação das estações de trabalho.”
As empresas também são classificadas de acordo com o seu risco e
entre as áreas de maior riscos estão metalurgia, curtume, empresas
que lidam com alta tensão e com mercúrio. “A construção civil,
ainda merece atenção especial porque concentra grande número e
muitas possibilidades de ocorrerem tipos diferentes de acidentes”,
ressalta Lurdes Carvalho, técnica em segurança no trabalho que
atua em uma empresa privada do Rio Grande do Sul. Mas, para
a especialista, há uma questão de fundo neste tema: de quem é
a responsabilidade pelo trabalhador depois que ele retorna do
acidente? Das empresas ou exclusivamente da Previdência Social?
pergunta Lurdes. Ela acredita que as conseqüências do trabalho e
do risco gerado por ele devem ser compartilhados, principalmente
trazendo as empresas para assumir a sua parte.
Segundo estimativas da OIT, os casos de acidentes e doenças
ocupacionais chegam a comprometer 4% do PIB mundial. Em um
terço desses casos, cada acidente ou doença representa a perda
de quatro dias de trabalho.
“É mais fácil responsabilizar uma empresa por poluir um rio do que
pelas conseqüências causadas pelo trabalho a um funcionário”,
acredita Lurdes Carvalho
Qual a relação entre legislação trabalhista e a sustentabilidade de uma empresa?
Quais são os caminhos para que as empresas realizem de fato
ações de responsabilidade social que beneficiem seu público
interno e sejam mesmo sustentáveis? Cumprir a lei é fazer
responsabilidade social, ainda que não de forma espontânea, já
que a legislação brasileira tende a ser socialmente responsável
e muitas vezes mais completa do que em muitos países
desenvolvidos. Mas as empresas socialmente responsáveis
vão além da legislação, buscando alternativas para promover
a qualidade de vida e o bem o estar de seus funcionários,
oferecendo um ótimo ambiente para se trabalhar.
Além de iniciativas próprias das empresas para regular o trabalho
e garantir a segurança do seu público interno, a incorporação
de sistemas de gestão e de normas internacionais e obtenção de
certificações podem contribuir para garantir o cumprimento das
leis e promover outras práticas responsáveis e para alterar a cultura
do país. Segundo os dados do Anuário Brasileiro de Proteção,
478 empresas já estão certificadas em Segurança e Saúde do
Trabalho (SST). São Paulo possui hoje 194 empresas certificadas,
o Rio de Janeiro, 53 empresas, e Minas Gerais, 66 empresas.
A busca de melhorias deve ser o principal foco da
implantação de um sistema de gestão e conseqüente
certificação em Saúde e Segurança no Trabalho.
Implantar um sistema de gestão em Segurança e Saúde
do Trabalho exige profissionais especializados e capazes
de adaptá-lo à realidade da organização. Segundo os
especialistas, o foco deve ser a busca de melhorias para a
empresa e não a certificação. A certificação, inclusive, não é
uma obrigatoriedade e muitas empresas optam por implantar
apenas o sistema de gestão. O engenheiro químico e de
Segurança do Trabalho e consultor da área de Segurança e
Saúde, Elisio Carvalho Silva, concorda e ressalta que o sistema
de gestão e a certificação têm objetivos distintos. “O sistema
de gestão em SST tem o propósito de reduzir ou eliminar os
acidentes do trabalho. A certificação, por outro lado, tem a
finalidade de avaliar se um determinado processo está em
Gestão de pessoas
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 49
conformidade com uma norma”, afirma. Os benefícios que o
sistema de gestão em SST podem trazer à organização vão desde
a redução no número de acidentes e doenças do trabalho até um
melhor relacionamento com o mercado externo.
O engajamento das partes interessadas também é fundamental
para a continuidade e manutenção do sistema de gestão e para
a busca de uma certificação. De acordo com a engenheira civil e
de Segurança do Trabalho e diretora de Pesquisa e Pós-Graduação
do Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (Cefet/PB),
Nelma Chagas de Araújo, isto ocorre porque a implantação de um
sistema envolve pessoas e nem todas têm a mesma percepção
quanto à sua importância. Para implantar um sistema de gestão
em SST, há normas e diretrizes que devem ser seguidas, e é
fundamental o envolvimento das lideranças da empresa.
Posteriormente à implantação do sistema de gestão e sua
adequação à realidade da empresa, esta pode optar por obter ou
não a certificação. Em caso positivo, a empresa deve contratar um
organismo independente para auditá-la e certificá-la. A norma
mais utilizada em todo o mundo para certificação em SST é a
OHSAS 18001, um Sistema de Gestão voltado para a Saúde e
Segurança Ocupacional, que nasceu em 1998. A OHSAS 18001
especifica os requisitos para um sistema de gestão da SST, para
permitir que as organizações controlem de forma mais eficaz
seus riscos de acidentes e doenças ocupacionais, auxiliando-as a
alcançar seus objetivos.
A SA8000 (Social AccountAbility 8000)
é uma outra certificação, que abrange
requisitos que vão além da SST e
buscam critérios de responsabilidade
social e, por isso, pode se tornar
complementar à obtenção da OHSAS.
“O coração da SA8000 é acreditar que
todos os lugares de trabalho devem
ser geridos de forma que os direitos
humanos básicos sejam assegurados
e que a gerência esteja preparada a
assumir esta responsabilidade”, afirma
Yehuda Dror, gerente regional da
DNV Brasil, uma das autorizadas pela
Social Accountability International –
SAI, criadora da SA8000, a conduzir
auditorias e emitir certificados
credenciados.
Há ainda as Diretrizes da OIT sobre
sistemas de gestão em SST (ILO-OSH
2001), que não são usadas para
certificação, mas sim como um guia para a implantação do
sistema de gestão.
O fato é que as empresas estão longe de ser sustentáveis,
enquanto as leis não são cumpridas plenamente e os
trabalhadores não estão seguros para exercer suas funções.
Rati�cação de convenções da oit sobre o trabalho e o número de países que as ratificam - Brasil 2007
ConvençãoBrasil
ratidicaN° de países que ratificam
29
87
98100
105
111
122
135138
141
148
151
154
158
168
trabalho forçado ou obrigatórioliberdade sindical e a proteção do direito sindicalaplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva
igualdade de remuneração de homens e mulheres trabalhadores por trabalho de igual valor
abolição do trabalho forçado
discriminação em matéria de emprego e profissão
política de emprego
sim 171
147156
163
167
165
96
79
148
40
43
44
38
34
7
simsim
simsim
sim
simsim
sim
sim
sim
sim
denúncia
não
não
proteção e facilidades a serem dispensadas a representantes de trabalhadores na empresaidade mínima de admissão a emprego
organização dos trabalhadores rurais
relações de trabalho na administração pública
negociação coletiva
término da relação de trabalho por iniciativa do empregador
fomento de emprego e a proteção contra o desemprego
proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devidos à contaminação do ar, o ruído e as vibrações no local do trabalho
Fonte: OIT. Elaboração: DIEESEobs.: a) convenção é um instrumento sujeito a ratificações pelos países-membros da Organização e, uma vez ratificada, reveste-se da condição jurídica de um tratado internacional, isto é, obriga o Estado signatário a cumprir e fazer cumprir, no âmbito nacional, as suas disposições; b) Posição em 9 de abril de 2007
O que é a OHSAS?
OHSAS é uma sigla em inglês para Occupational Health and
Safety Assessment Series, cuja tradução é Série de Avaliação de
Saúde e Segurança Ocupacional. A OHSAS 18001 consiste em um
sistema de gestão, assim como a ISO 9000 e a ISO 14000, porém
com o foco voltado para a saúde e segurança ocupacional. Assim
como esses sistemas de gerenciamento ambiental e de qualidade,
o sistema de gestão de segurança e saúde ocupacional também
possui objetivos, indicadores, metas e planos de ação. A OHSAS
18001 é uma ferramenta que permite que uma empresa atinja e
sistematicamente controle e melhore o nível do desempenho da
Saúde e Segurança do Trabalho por ela mesma estabelecido.
A implantação da OHSAS 18001 retrata a preocupação da empresa
com a integridade física de seus colaboradores e parceiros. O
envolvimento e participação dos funcionários no processo de
implantação desse sistema de qualidade é, assim como outros
sistemas, de fundamental importância. A especificação OHSAS
18001 assegura a conformidade com os atuais requisitos legais,
reduzindo o risco de sanções e ações judiciais.
Gestão de pessoas
50 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Os benefícios do OHSAS 18001 - A norma OHSAS 18001 é um
referencial que contém requisitos para sistemas de gestão de
segurança e saúde no trabalho desenvolvida em conjunto por um
grupo de organismos de certificação internacionais, organismos
de normalização e outras partes interessadas. Permite às
organizações gerir riscos operacionais e melhorar o desempenho,
orientando a gestão dos aspectos de segurança e saúde no
trabalho de forma mais eficaz, tendo em grande consideração
a prevenção de acidentes, redução de riscos e o bem-estar dos
1Indicar um coordenador
que irá acompanhar
todos os trabalhos
relacionados à implantação do
sistema de gestão.
4Estruturar as equipes de
trabalho que participarão
da implantação do
sistema. Formar o Conselho
Diretor, representando a direção
da empresa, o Comitê Executivo,
representando colaboradores, e
grupos multifuncionais.
7Realizar auditorias
internas, com os
colaboradores da
empresa devidamente treinados,
efetuando possíveis ajustes no
sistema de gestão de SST.
5 A empresa deve
oferecer os treinamentos
necessários, que podem
incluir palestras de motivação
para direção e funcionários,
cursos sobre interpretação da
norma, formação de auditores
internos, entre outros.
8Certificar-se. A
certificação é realizada
por um Organismo
Certificador Independente, após
a adequação e conformidade do
sistema de gestão à OHSAS 18001.
6 A empresa deve
adequar ou criar a
Política de Segurança e
Saúde no Trabalho, a estrutura
organizacional e o Sistema de
Gestão da SST.
9 Após a obtenção da
certificação, a empresa
deve sanar eventuais
deficiências que possam
comprometer a manutenção
da certificação e a melhoria
contínua do sistema.
2Estabelecer a política da
empresa, identificando
os riscos da atividade e
os requisitos legais pertinentes.
3Elaborar o Plano de
Implantação, baseado na
análise crítica. O plano deve
conter ações a serem realizadas,
cronograma da implantação e
previsão do prazo de certificação.
funcionários. O resultado é a melhoria significativa da segurança
do funcionário e da qualidade do ambiente de trabalho porque as
responsabilidades são definidas e todos são preparados para lidar
de forma eficaz com quaisquer riscos futuros.
São exemplos de empresas certificadas com a OHSAS
Avon, Alcoa, Belgo, Cemig, Klabin, Perdigão, Petrobrás,
Philips, Samarco, Suzano, Votorantim, entre outras.
Informações do Anuário Brasileiro de Proteção, 2008.
Check List: Como implementar um Sistema de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho
Para saber mais:Alguns organismos certificadores no Brasil:
BRTÜV, BSI Brasil, BVQI – Bureau Veritas Quality International.
DNV – Det Norske Veritas Certificadora Ltda.
DQS do Brasil.
FCAV – Fundação Carlos Alberto Vanzolini.
LRQA – Loyd’s Register Q.A.
SAS Certificadora.
SGS ICS Certificadora Ltda.
Gestão de pessoas
Ser uma empresa líder e sustentável.
Esse é o novo
desafi o do mundo dos negócios.
Liderança sustentável.
Rua Ministro Nelson Hungria, 239, cj. 15 - Real Parque - 05690-050São Paulo - SP - Tel.: 11 3755-5520 - www.franquality.com.br
Hoje ser uma empresa sustentável e 100% responsável não se restringe a
apenas fazer a sua parte pelo meio ambiente. Suas lideranças têm o desafi o
de aplicar e multiplicar os conceitos de sustentabilidade também nas esferas
social e econômica.
Com o Programa de Liderança para Sustentabilidade, a Franquality tem
como objetivo sensibilizar os líderes, ajudá-los a desenvolver competências
específi cas, identifi car oportunidades e dar suporte para implantar projetos
que tornem as organizações mais sustentáveis.
A Franquality, consultoria especializada no desenvolvimento de lideranças,
ajuda as empresas a aumentar o impacto dessas idéias no resultado dos
negócios da organização e oferece suporte aos seus líderes para enfrentar
esse novo desafi o.
52 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Snacks
Igualdade social Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
divulgado em setembro indica que 13,8 milhões
de brasileiros subiram de faixa social
entre 2001 e 2007. Desse total,
10,2 milhões saíram da classe
de renda baixa. Os dados são
da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios,
de 2007.
Educação e retrocesso
A mesma pesquisa mostrou que
14 milhões de pessoas no país
que não sabem ler nem escrever
um bilhete simples.
Diversidade
Estudantes de 5.500 escolas estaduais
de São Paulo aprenderão, a partir de outubro,
a respeitar as opções sexuais com o projeto Diversidade. Cada escola receberá
DVDs com histórias de jovens que sofrem discriminação e livros sobre o tema.
Meio ambiente e transparência
O projeto de despoluição do Rio Tietê, em São Paulo, já custou quase US$ 1,5 bilhão, desde 1992.
Em Seul, capital da Coréia do Sul, um projeto semelhante custou quatro vezes menos e,
apoiado por políticas públicas, o rio já está despoluído.
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 53
O papel de cada um
Segundo a Sabesp, quase a metade
do lixo recebido pelo Tietê vem das ruas.
Snacks
Qualidade de vida
51% dos brasileiros não estão satisfeitos com a qualidade
de vida na sua cidade, segundo pesquisa realizada com 1,5 mil
pessoas em oito capitais brasileiras. Em São Paulo, o número
de insatisfeitos sobe para 70%.
Iniciativa
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) vai disponibilizar R$ 2,2 milhões
para implantar feiras livres e mercados
populares. O objetivo é acelerar a
superação da pobreza e das
desigualdades sociais
no meio rural.
Futuro
Dossiê Universo Jovem, produzido
pela MTV Brasil, teve como tema principal
a sustentabilidade: apenas 17% do público
parece comprometido e seis em cada
dez jovens das classes de A a C
não sabem definir sustentabilidade.
54 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Muito se tem comentado - na imprensa
falada e escrita, em seminários,
congressos, e na doutrina - a respeito da
importância da governança corporativa e
da sustentabilidade na vida das empresas.
Neste artigo, demonstramos que o
planejamento tributário - visto como parte
integrante do planejamento estratégico -
agregará valor (no curto, médio e longo
prazos) aos acionistas/cotistas e demais
interessados (stakeholders), bem como
ajudará as empresas a se tornar mais
sustentáveis e com menos riscos, no
contexto do que preceituam os princípios
da boa governança corporativa.
Existe uma convergência natural entre
sustentabilidade e a aplicação das práticas
de governança corporativa. Do ponto
de vista econômico, podemos afirmar
que não existe sustentabilidade sem
lucratividade. A possibilidade de crescer
e se desenvolver está intrinsecamente
associada à capacidade de gerar lucros
que possam ser reinvestidos. É a lógica do
desenvolvimento contínuo.
O sistema tributário nacional é um conjunto
de leis e princípios que impõem, às
empresas e às pessoas físicas, uma série de
tributos que servirão para viabilizar os fins
sociais, econômicos e políticos do Estado.
A tributação tem o papel de garantir que o
Estado exerça o seu papel – pois, à míngua
de recursos ele não poderia oferecer aos
indivíduos o mínimo existencial a que
fazem jus como cidadãos, em termos de
saúde, educação, transporte, habitação,
segurança, etc.- mas deve estar limitada
pelo direito que cada contribuinte tem de
organizar e desfrutar de seu próprio patrimônio.
Surge, então, o planejamento tributário.
Planejamento tr ibutár io, governança corporat iva e sustentabi l idade
O planejamento tributário encontra,
na doutrina brasileira, as mais variadas
definições. Entretanto, visando simplificar,
dizemos que, com o planejamento
tributário, a empresa busca identificar
a hipótese de incidência de tributos
mais benéfica (que implique em menos
desembolso de recursos financeiros), a
fim de permitir que as suas atividades
operacionais possam ser beneficiadas por
redução de carga tributária ou até por
isenção de tributos.
A doutrina chama tal comportamento
de elisão (planejamento tributário), em
oposição à ação ilícita (ilegal) de alguns
contribuintes que recebe o nome de evasão
(sonegação). No caso desta última, existe
subtração parcial ou total do pagamento
do tributo devido, adotando-se condutas
fraudulentas ou omissivas. Já na hipótese
da elisão, a conduta do contribuinte é
legítima. Ele procura, através da utilização
de alternativas negociais, jurídicas e
contábeis lícitas, eliminar, reduzir ou
retardar o desembolso de tributos.
É inegável que a complexidade e o
dinamismo da legislação tributária
brasileira e a sua crescente sofisticação
têm ensejado a necessidade de as
empresas organizarem seus negócios sob
apropriado planejamento tributário. A
carga tributária que recai sobre as empresas
é considerada como uma das mais altas
do mundo. Logo, para o cumprimento
eficiente e eficaz das obrigações fiscais, o
planejamento e organização das empresas
são imprescindíveis, tanto para se evitar
possíveis questionamentos por parte das
autoridades fiscais, como para permitir
uma razoável economia tributária.
Portanto, a empresa eficiente e sustentável,
do ponto de vista tributário, será aquela
que busca identificar, com a indispensável
antecedência, as alternativas legais e
tributárias menos onerosas para atingir seus
objetivos empresariais. Lembramos que,
do ponto de vista dos acionistas/cotistas,
constitui obrigação da alta administração
da empresa planejar seus negócios,
com vistas a aumentar - de maneira
contínua, perene e sustentável - as suas
receitas e reduzir seus custos (inclusive,
os tributários), visando torná-la cada vez
mais lucrativa, obviamente respeitando os
princípios da boa governança corporativa.
Como disse Setúbal, do ponto de vista
econômico, não existe sustentabilidade
sem lucratividade.
Um dos princípios da boa governança
corporativa é que o conselho de
administração tem de prover a orientação
estratégica da empresa, cobrindo aspectos
de curto, médio e longo prazos. No tocante
ao último, deve-se considerar os temas
da sustentabilidade. O planejamento
tributário, como mitigador de riscos e
captador de oportunidades de redução de
carga tributária deve ser visto como parte
integrante do planejamento estratégico da
empresa, sendo uma das formas de torná-
la mais lucrativa e sustentável.
Artigo
Arnaldo Marques de Oliveira Neto Sócio-Diretor Performance Alliott Brasil Consultoria amarques@performanceonline.com.br amarques@fgvmail.br
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 55
Quando a atuação das empresas sobre o meio ambiente vai além dos l imites tradicionaisDo ponto de vista dos recursos naturais
podemos afirmar que o Brasil é uma potência
de primeira grandeza. Para onde olharmos,
seja para a água doce, florestas, biodiversidade,
terras agricultáveis ou minérios, vamos
encontrar números significativos. Cuidar
bem desse patrimônio significará, cada vez
mais, uma questão estratégica e um grande
diferencial para o país. Será que estamos
tratando bem esse imenso patrimônio? A
quem cabe tal responsabilidade?
Dadas as dimensões e os desafios que tal
tarefa representa, todos necessariamente
temos um papel a cumprir. Ou seja, tal
responsabilidade não é exclusiva do estado,
da iniciativa privada ou da sociedade civil.
É, sim, de todos. E a eficiência das soluções
tende a aumentar quando as soluções são
integradas e compartilhadas entre esses
vários grupos.
Boa parte das empresas tem adotado
práticas de excelência em gestão ambiental
por perceber que, além de atender às
necessidades legais e evitar riscos de
autuação, tais práticas trazem vantagens
competitivas, agregam valor à imagem
e representam uma contribuição para a
sociedade como um todo.
Com o passar do tempo foi ficando claro
que boa parte do impacto ambiental das
empresas acontece antes das matérias
primas chegarem às suas fábricas e isso tem
motivado a ampliação das ações para toda
a cadeia produtiva, disseminando valores
ligados à sustentabilidade e identificando se
seus fornecedores conhecem e controlam
seus impactos sobre o meio ambiente.
Entendendo que tal informação é relevante
para os seus negócios, as brasileiras Vale e
Celesc (Empresa Elétrica de Santa Catarina),
em conjunto com outras 29 empresas, estão
verificando, através do Carbon Disclosure
Project, o padrão de emissões de gases de
efeito estufa nas suas cadeias produtivas e a
existência de ações para cuidar da questão.
O Projeto segue o princípio de que empresas
responsáveis devem cuidar dos seus impactos
e informar a sociedade, com transparência,
sobre suas ações; também visa ajudar a
entender melhor o clima, os impactos das
cadeias produtivas e servir de referência para
avaliar o grau de risco dos investimentos.
Por entender a potencialidade da atuação
das empresas ao longo da sua cadeia
produtiva, o Ministério do Meio Ambiente,
reuniu várias empresas na FIESP, em São
Paulo, na tentativa de adotar medidas mais
efetivas para combater o desmatamento
da Amazônia. Durante o encontro, o
Ministro Carlos Minc enfatizou que
as empresas que compram madeira
proveniente de fornecedores que praticam
o desmatamento ilegal são co-responsáveis
por tal ato, co-responsabilidade essa
prevista na Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei Federal 6.938/81).
Outra forma de atuação das empresas é o
estabelecimento de uma agenda comum
com outras empresas para tratar variáveis
socioambientais comuns a suas cadeias
produtivas. Tal estratégia apareceu entre
as propostas de atuação de empresas
durante a Conferência internacional do
Instituto Ethos, realizado em maio de
2008. Um exemplo desse tipo de atuação
foi a criação do ARES – Instituto para
o Agronegócio Responsável, formado
pelos principais representantes do
agronegócio brasileiro para tratar de forma
conjunta os impactos socioambientais das
suas atividades.
Além do aumento da responsabilidade
com relação à origem das matérias-primas
e materiais consumidos pelas empresas,
percebe-se que há também uma tendência
de preocupação com os resíduos pós
consumo que, apesar de ainda estar
longe da eficiência desejada, já tem bons
exemplos de ações como acontece nos
setores de pneus, pilhas e baterias. Esse
tem sido um dos itens mais debatidos
para o estabelecimento da nova Política
Nacional de Resíduos Sólidos.
A situação de crise socioambiental global
e a necessidade urgente de que todas as
atividades humanas sejam mais sustentáveis
tem trazido grandes mudanças. Não é
um exagero dizer que estamos diante da
transição do nosso padrão civilizatório
para um outro que, embora não saibamos
claramente como será, certamente
influenciará na forma como as empresas
funcionam e se organizam.
Estamos ainda no início da trilha rumo
às soluções. Atuar em um momento de
transição e mudança como esse não é
nada fácil, os desafios são inúmeros, mas
certamente entre estes estão presentes
também inúmeras novas oportunidades.
Organização não governamental norte
americana. Entre seus objetivos está o
levantamento de informações referentes
à emissão de gases de efeito estufa das
maiores empresas do mundo, e a facilitação
do diálogo entre elas para incentivar ações
de controle da emissão desses gases.
Artigo
Fabrizio G. Violini Sócio-Diretor Ecosfera Consultoria Ambientalfabriziov@terra.com.br
56 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
Já há algum tempo os especialistas de
mercado pregoam a máxima do Branding
que nada mais é do que fazer marca ou
marcar, melhor ainda, marcando. Aí eu
penso na literalidade da nossa língua
maravilhosa e cheia de sutilezas; se estou
marcando, estou colocando a minha marca
em alguém ou em alguma coisa.
Minha crença vem daquilo que é possível
ser feito pelo BENEFÍCIO, pelo bem de
alguém ou de alguma coisa, causa ou
ideal. Uma marca só vive o ato de marcar
ou só permanece marcando, quando
tem um SENTIDO, quando FALA de um
propósito que conversa com o de alguém.
Com a geração digital, meninos, meninas,
homens e mulheres estão marcando
também. Estão colocando a sua marca na
marca dos outros. Pelo menos foi isso que
eles entenderam quando alguém disse pra
eles: “venham e me experimentem, me
adotem”. Pois bem, eles acreditaram e
estão fazendo isso. Não só pelo consumo
que conhecemos, mas pela opinião,
interação, ação e reação. Hoje esses caras
digitais estão pegando a marca que eles
querem (admirando ou não) e colocam
lá no Youtube com a sua marca, com o
seu jeito de ver, com o seu sentimento. E
o que podemos fazer para impedir isso?
NADA. Podemos sim nos antecipar a isso;
entender esse movimento, estar com eles
e fazer com que eles - os caras digitais -
admirem a nossa marca e queiram fazer
dela um novo motivo para blogs, orkuts,
comunidades e e-mails virais.
Marcando Marcas...
E não falo só dos caras digitais, falo também
da dona-de-casa ou da vovó que não entrou
na “cauda longa” e hoje interage com
uma marca pela tradição, respeito, crença,
preço, benefício e pela solidariedade. Isso
mesmo, solidariedade. As vovós e suas
tribos maravilhosas, que, apesar de não
saber bem o que é isso, se preocupam e
estão de olhos bem abertos nas marcas
que praticam a tal da sustentabilidade, que
são marcas do BEM. E como o movimento
do bem é inexorável, elas querem isso para
suas vidas, famílias, amigas...
Elas querem sim um mundo melhor porque
apesar de não serem totalmente digitais,
elas sabem das Isabellas jogadas dos prédios,
dos maníacos austríacos, dos pedófilos e
de tudo mais que cerca a sociedade e as
coloca como vítimas e solidárias na dor.
Por isso, é melhor, é mais humano, mais
bacana, comprar marcas que fazem o bem,
que querem, falam e praticam o bem.
Que estão marcando por fazerem algo por
um planeta mais humano, saudável e feliz
para todos.
Ou para elas, ou para os digitais, as marcas
devem marcar por serem marcantes. Por
serem relevantes, diferentes, benéficas
e solidárias. Bonitas sim, sofisticadas
também, mas acima de tudo fazendo algo
pelo bem dos que as compram, consomem
e admiram. Por isso, pensem se vocês estão
fazendo o tal do branding ou marcando e
como estão fazendo isso. Que sentido nós,
que trabalhamos com Marcas, estamos
dando a elas e a seus admiradores,
compradores e consumidores?
Volto a dizer: o movimento de fazer algo
para um ambiente melhor é inevitável!
Então a pergunta é: como você estará
falando, vendendo a sua marca daqui
a 5, 10 anos? Como o seu pessoal está
se sentindo hoje? A sua empresa tem
pessoas FELIZES e SAUDÁVEIS? Como a
sua equipe estará daqui a 10 anos? Sinto
em dizer que esse tempo já está aí. Bem
pertinho de nós.
Hoje o tempo é diferente. O relógio
continua o mesmo. O tempo ainda é
contado em 24 horas. O que mudou é o
que fazemos e como fazemos nessas 24
horas. Isso mudou e vai mudar muito mais.
Hoje somos mais multi do que mono, mais
digitais do que analógicos. E isso tem um
preço, que pode ficar muito mais caro,
se nós não percebermos a nossa genuína
responsabilidade. E que podemos sim,
construir marcas marcantes, marcas que
têm um sentido contemporâneo, social,
humano e solidário.
Artigo
Nélio Bilate CEO Addcomm Comunicação Digital e Marketing nelio.bilate@addcomm.com.br
Revista Negócio SustentávelOutubro 2008 57
RE
VIS
TA
Não perca na próxima edição de Negócio Sustentável
Relatório de Sustentabilidade
Cadeia de valor / Logística reversa
A cadeia do álcool em S.Paulo
Pesquisa – Lei seca
O papel do governo e da política na promoção da sustentabilidade
Case – Gestão de Clima
Case - Crédito e sustentabilidade
Mesa Redonda – Papel reciclado x certificado FSC
10 dicas – Como as empresas podem reduzir CO2
Snacks
Artigos
• Ambiental
• Varejo
• O CEO e a Sustentabilidade
58 Revista Negócio Sustentável Outubro 2008
1Planejamento: A hora é de definir orçamento,
cronograma, equipe responsável pela
elaboração da relatório e, se possível,
contratar uma consultoria para aplicar os
indicadores.
2Inspiração:Já separou um tempo para olhar
com calma os relatórios das outras
empresas? Descubra ações interessantes,
abordagens diferentes e eleja seus favori-
tos. Quase todos os relatórios estão
publicados nos sites das empresas.
Aproveite. O objetivo não é avaliar
apenas a publicação em si, mas a escolha
de indicadores e boas práticas realizadas.
Anote idéias interessantes que poderiam
ser aplicadas à sua empresa. As boas
iniciativas estão aí para nos inspirar.
3 Equipe responsável:É importante avaliar o nível de moti-
vação e dedicação da equipe responsável
pelo relatório. Ainda que seja definida
uma única pessoa como facilitadora, é
fundamental que ela tenha o suporte e
a compreensão necessários para todo o
tempo que a execução da publicação vai
demandar.
4 Decisão: Se sua empresa ainda não aderiu ao
modelo GRI (Global Reporting Iniative),
é hora de se alinhar. Em 2007, mais de
70 empresas migraram seus relatórios do
Ethos para a GRI, e descobriram que não
é assim tão difícil quanto parece.
O final do ano é o período ideal para iniciar a elaboração do relatório de sustentabilidade 2008.
Fique atento às dicas da Negócio Sustentável e mãos à obra:
5Inovação:Se você já aplicou as diretrizes GRI
nos anos anteriores, talvez seja hora de
melhorar a qualidade de seu relato e
alcançar novos selos. Investigue as áreas
responsáveis pelos indicadores ainda
“não mensurados” e antecipe a busca
por respostas
6Engajamento: Uma outra inovação para o seu
relatório, ainda pouco aplicada pelas em-
presas brasileiras, é o engajamento dos
públicos na elaboração da publicação.
Começando o relatório mais cedo, a sua
empresa tem a oportunidade de evoluir,
ouvindo as expectativas desses públicos.
Escolha um ou mais grupos de interesse,
e convide-os para o processo.
7Comprometimento: Com mais tempo disponível, é pos-
sível ganhar também em envolvimento
e comprometimento do público interno.
Que tal organizar uma palestra sobre a
importância do desenvolvimento susten-
tável e inserir o relatório no contexto?
Entendendo o objetivo maior de todo o
trabalho extra, todos se sentirão mais
motivados a participar
8Avaliação:Antes de começar um novo ano, é im-
portante relembrar os problemas e desafios
enfrentados no ano anterior. O trabalho
é longo, com muitas pessoas envolvidas:
aprenda com os erros e antecipe soluções.
9Ânimo:Além dos pontos negativos, é
preciso lembrar as boas razões para a
tarefa anual de elaboração do relatório
de sustentabilidade. Ele serve como um
excelente diagnóstico da gestão interna
da empresa, sendo a oportunidade de
identificar seus pontos fortes e pontos de
melhoria para a efetiva incorporação de
princípios e práticas de sustentabilidade à
gestão do negócio.
10 Os resultados:
O atual desafio da publicação
de relatórios de sustentabilidade é en-
tender o verdadeiro objetivo da publica-
ção. Além de comunicar o desempenho
de sustentabilidade da empresa a seus
públicos, o relatório deve ser usado como
ferramenta de avaliação dos processos e
do relacionamento com as partes interes-
sadas para estabelecer processos de
melhoria contínua da gestão empresarial.
A análise das informações levantadas
deve servir para melhorar os indicadores,
com criação, execução e monitoramento
de planos de ação.
Aguarde a próxima edição da revista
Negócio Sustentável para saber mais.
Não perca!
10 D!casRelatório de sustentabilidade 2008
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O que este lago está fazendo no anúncio de uma empresa de agronegócio?
Quando a gente olha para umlago, vê refletido muito mais queo próprio rosto. Vemos refletidos
anos de trabalho. A Bunge é a maior exporta-dora do agronegócio do país, contribui commais de US$ 2 bilhões em divisas à balançacomercial brasileira, recolhe cerca de R$ 1bilhão em impostos e gera mais de 14 milempregos diretos e indiretos. Só que, mais doque gerar lucro, produzir fertilizantes, margarinase maioneses de sucesso, a Bunge quer ajudara construir um futuro melhor. E isso significa
agir de maneira sustentável e ter atitudes quefavoreçam todos, inclusive este lago e quemdepende dele. Por isso, a Bunge trabalha narecuperação, na regularização e na criação dereservas ambientais em fazendas no cerrado,que já abrangem mais de 260 mil hectares;
cuida diretamente de 4 mil hectaresde floresta; utiliza energia renovávelem mais de 65% das operações;mantém, há mais de 50 anos, a
Fundação Bunge, que beneficia anualmentemais de 6 mil crianças e contribui para a
formação de 11 mil professores da redepública. Aplica mais de R$ 30 milhõesanuais em ações ambientais,e mais de R$ 8 milhõesanuais são investidos em
projetos junto às comunidades e à sociedade. E, levando a responsabilidade sempre além, a Bunge também participa do Pacto paraErradicação de Trabalho Análogo ao Escravono Brasil. Todos esses dados estão no nossosite, em um relatório de sustentabilidade tão transparente quanto este lago.