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1 REVISTA OUTUBRO 2010
CULTURAEntrevista com Heitor Martins, presidente da fundação Bienal, e Fernanda Feitosa, organizadora da SP-Arte
BAIRROVila Olímpia, novo polo de negócios de São Paulo cresce e aparece
A R E V I S T A D A Y U N Y I N C O R P O R A D O R A
YUNY
ANO 1 | REVISTA NÚMERO 02
PARA UMA PESSOA, É CEDO. PARA A YUNY, 14 ANOS SigNifiCAM TEMPO SUfiCiENTE PARA MOSTRAR A SUA VOCAÇÃO DE fAZER MUiTO E fAZER CADA VEZ MELHOR.
Vocação. É isto que faz com que algumas pessoas e empresas consigam destaque
em seu foco de trabalho antes das outras. Quando nasceu, em 1996, a Yuny sabia
exatamente o que queria fazer, como fazer e qual a sua verdadeira vocação.
Passados 14 anos, a vocação da Yuny de fazer pensando em cada
detalhe pode ser medida pelos metros quadrados construídos,
pelas parcerias firmadas, pelos empreendimentos lançados
e, fundamentalmente, pela satisfação de cada cliente.
E como fazer mais e melhor é a vocação da Yuny.
Que venham os próximos 14 anos. Estamos prontos.
Ao longo de 14 anos de muito trabalho e suor, a Yuny vem
conquistando seu espaço de uma maneira bem própria. Para
nós, esse é um espaço especial, pois se alicerça sobre os pilares
dos nossos valores mais básicos e profundos. A engenharia que
ergue estes pilares é feita de ética e competência. O material é
um composto de pessoas da nossa equipe, dos nossos parceiros,
muitos fornecedores e vocês, clientes. Para uma empresa que
tem como conceito de prosperidade algo bem mais amplo, não
nos importa qual o tipo de resultados estamos buscando, mas
também a forma como queremos atingi-los. Para isto, tornam-
se indispensáveis ingredientes como arte, saúde, culinária,
sustentabilidade, entre tantos outros que permeiam o nosso dia
a dia. Prosperar, para nós, significa também compartilhar com
vocês estes valores, as matérias que vêm a seguir e permitir que
compartilhem suas experiências nas mais diversas interfaces que
possamos ter hoje e sempre. Portanto, um caráter interativo neste
veículo é muito bem-vindo. Escreva quando quiser para nós no
e-mail revistayuny@yuny.com.br e incremente, sugira, critique.
Um abraço,
Marcos YunesPresidente
Editorial
4 REVISTA OUTUBRO 2010
Í N D I C E 2 0 1 0
09 REVISTA OUTUBRO 2010 08 REVISTA OUTUBRO 2010
A N O 1 N Ú M E R O 0 2
16 28 34 40 82 EXPEDIENTE
Marcelo YunesDiretor-Executivo
Fábio RomanoDiretor de Incorporação
Carolina KhappazGerente de Marketing
PROJETO EDITORIAL
Rua Artur de Azevedo, 560 Pinheiros – SP – 05404-001
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Sergio Zobaran Editor chefe
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Giuliano Pereira Diretor de Atendimento
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Sandro BiasoliDiretor de Produção Gráfica
Helder Lange TisoRevisão
Ana Luiza VaccarinArte Final
Paulo BrentaFotógrafo
ColaboradoresLea Maria Aarão
Ana Maria Santeiro
Contato
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pág. 10INSTITUCIONALTom Shapiro: entrevista com o presidente do GTIS Partners
pág. 16CULTURAO casal de colecionadores Heitor Martins e Fernanda Feitosa agitam a Bienal e a SP-Arte
pág. 22GIFTFesta no céu: o passeio de helicóptero vale cada centavo
pág. 28BEM-ESTARAtletas nada amadores treinam por amor aos esportes
pág. 34ARTEGrafite: o movimento pop ganha status
pág. 40GASTRONOMIAComendo e bebendo em São Paulo com Ed Motta
pág. 44 BAIRRONa Vila Olímpia, o futurojá começou
pág. 50 PERFILDr. Marcelo Terra: Morar, comprar ou vender um imóvel
pág. 54ESTILO YUNYLimited Funchal traduz o jeito de morar contemporâneo
pág. 58SOCIALMeio Ambiente e educação:as ações da Yuny
pág. 62LIFESTYLEBeto Pandiani, o executivo-velejador
pág. 68 TURISMODe volta aos países de origem
pág. 80 VERNISSAGEUm passeio fotográfico no Ibirapuerapara lançar o Marquise
pág. 90 ESTILO YUNY IIBoutique Offices no “novo” bairro de Pinheiros, escritórios cult ganham espaço
pág. 92NOTAS YUNYAtua, o braço econômico da Yuny Incorporadora, faz lançamentos estratégicos
PUBLISHING
Tom Shapiro: Ja investimos 770 milhões de reais no eixo Rio-SP.
I N S T I T U C I O N A L
Por que decidiu investir no Brasil? E como encontrou a
Yuny Incorporadora?
Ainda me recordo da minha primeira viagem ao Brasil
em 1996, quando o País estava apenas começando a
colher os primeiros frutos do Plano Real e das reformas
que foram implantadas no primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso. As pessoas diziam, brincando, que
o Brasil era o “País do Futuro” – e assim seria para
sempre. No entanto, havia algo real e concreto sobre as
reformas que estavam sendo introduzidas após a dolorosa
experiência de hiperinflação, e os investidores começavam
a se dar conta disso. Sem confiança no funcionamento do
sistema financeiro – como nós ironicamente presenciamos
atualmente nos Estados Unidos – nenhum país pode
permanecer no caminho de crescimento por muito
tempo. O Plano Real e as decorrentes reformas no
processo regulatório e legal, tais como a independência
do Banco Central, as novas leis de falência e a Lei de
Responsabilidade Fiscal tiveram grande importância para
abrir caminho à recente vitalidade da economia brasileira.
A crise na Argentina e a desvalorização cambial no Brasil
entre 2001 e 2002 foram entraves temporários, mas em
2005 já dava para ver o futuro finalmente chegando.
Ao interagir com as inúmeras empresas que atuavam
no mercado brasileiro, passei a respeitar o espírito
empreendedor que lhes permitiu investir, construir e
crescer, apesar de uma grande escassez de capital no
mercado. Com minha experiência, me convenci de que o
Brasil era o membro esquecido do BRIC, cuja hora tinha
Tom ShapiroEm entrevista exclusiva, o presidente GTIS Partners fala da economia brasileira, do crescimento imobiliário no eixo Rio-São Paulo e da parceria de sucesso com a Yuny.
O caminho brasileiro que o fez atingir o status de quinta
economia mundial, atualmente, reforçou esta decisão?
Com certeza. O caminho de desenvolvimento do Brasil
e os principais fatores de crescimento que surgiram na
última década contribuíram muito para nossa decisão de
investir no Brasil. Há três fatores principais.
O primeiro é a estabilização da economia brasileira.
Depois de anos caracterizada pela volatilidade e crescimento
lento, acreditamos que o Brasil está progredindo em
direção à estabilidade macroeconômica por meio de uma
política fiscal e monetária mais disciplinada. A hiperinflação
foi derrotada e as taxas de juros foram reduzidas de
mais de 25% em 2003 para menos de 10% em 2010.
O crédito soberano brasileiro recebe agora a classificação
de investment grade e as reservas internacionais do País
cresceram de forma constante, atingindo mais de $250
bilhões. O Brasil tornou-se um credor externo líquido, o
que é bastante notável levando-se em consideração sua
experiência no passado com crises relacionadas com dívidas
e repetidas moratórias. Mas, como dizem, da crise surgem
as oportunidades. A crise de crédito mundial certamente
impôs um ambiente de desafio para todos os países e, ao
mesmo tempo em que o Brasil não ficou imune, passou
muito bem no teste e está agora entre as economias mais
robustas no cenário mundial. As estimativas recentes para
um crescimento do PIB de quase 9% no primeiro semestre
mostram que o Brasil é uma das maiores economias do
mundo a sair da recessão mundial com sucesso.
A segunda razão são os números demográficos
positivos do Brasil. Numa época em que muitos
países desenvolvidos estão passando por uma fase
difícil; caracterizada por crescimento lento e pelo
envelhecimento da população, espera-se que a idade da
população economicamente ativa do Brasil crescerá por
volta de 14% entre 2010 e 2030. A taxa de crescimento
da população brasileira de aproximadamente 1,5% é
significativamente mais alta do que a taxa média de
0,3% na Europa e de 1% nos Estados Unidos.
Estima-se que a população de São Paulo vai aumentar em 2 milhões
de habitantes nos próximos 15 anos. Embora sem apresentar o mesmo
crescimento rápido da Índia, a projeção da taxa de crescimento para o Brasil é
significativamente maior do que a da China, por exemplo. Cerca de metade da
população brasileira tem idade inferior a 26 anos e todos esses jovens ainda
entrarão em sua idade mais produtiva daqui alguns anos. Tal crescimento da
população produtiva se traduzirá diretamente em uma maior força de trabalho
e maior base de consumidores. Demograficamente, o Brasil assemelha-se aos
Estados Unidos do final da década de 70, quando o ápice da geração do baby
boom estava entrando em idade produtiva e começando a contribuir para
a formação de famílias e criação de riquezas. O ingresso daquele grupo na
economia levou a um período de 25 anos de forte crescimento nos Estados
Unidos sem precedentes, e acreditamos que é provável que o efeito seja
parecido no Brasil.
Por fim, nossa decisão em investir no Brasil foi motivada pelo fato de o País ser
um mercado deficitário – tanto de capital como de imóveis de qualidade. A falta
de capital foi a herança de muitos anos de hiperinflação e dos riscos decorrentes.
finalmente chegado. O mercado imobiliário estava prestes
a decolar. Em 2005 abri um novo fundo de investimento
chamado GoldenTree InSite Partners (hoje GTIS Partners) e
comecei a arrecadar recursos de private equity, que seriam
parcialmente destinados para investimentos no Brasil.
Os primeiros investimentos tiveram um desempenho
extraordinário até agora e, por isso, ampliamos nosso foco
no Brasil ao mesmo tempo em que o mercado americano
começou a ficar incerto.
Um ponto-chave de nossa estratégia foi a nossa parceria
com incorporadoras locais de grande talento, tais como a
Yuny e a Atua (braço econômico da Yuny). Nós podemos
contribuir com know-how, bem como com nossa fonte de
capital estável e segura em troca da experiência de nossos
parceiros em incorporação no mercado local. Realmente
acreditamos que fazer parcerias com empresas que são
reconhecidas por seu conhecimento, mas que estão
querendo crescer, é a melhor forma de ampliar nossa
própria plataforma. Embora outros fundos de investimento
tenham entrado recentemente no mercado brasileiro,
acreditamos que somos um dos poucos que possui um
histórico de sucesso comprovado em fornecer capital para
incorporadores locais. Estamos muito impressionados
pelo profissionalismo, perspicácia nos investimentos e o
conhecimento do mercado imobiliário da Yuny e da Atua
e, na verdade, criamos parcerias exclusivas para injetar
centenas de milhões de reais de capital em seus programas
de investimento. Estamos no Brasil visando planos de
longo prazo porque vemos grandes oportunidades aqui.
10 REVISTA OUTUBRO 2010 11 REVISTA OUTUBRO 2010
“Há dois investimentos dignos de destaque em nosso portfólio: o 106 Seridó e o Infinity.”
I N S T I T U C I O N A L
Notavelmente, mesmo enquanto o resto do mundo
estava passando por um processo de alavancagem
financeira e tanto os consumidores como as empresas
estavam se endividando de forma ostensiva, o Brasil
permaneceu relativamente sem dívida. Com a crise do
crédito, o Brasil estava mais protegido de seus efeitos do
que a maioria dos outros países. Ao invés de um espiral de
deleveraging negativo que atinge no momento o mundo
desenvolvido, o Brasil está, na verdade, apresentando
uma expansão do crédito, parcialmente graças às
iniciativas do governo. A maioria dos projetos imobiliários
ainda depende de capital privado proveniente de fundos
de investimento, e é neste sentido que podemos contribuir
com nossa experiência. Até o momento, já investimos no
Brasil por meio de três veículos diferentes de investimento,
e estamos no processo de abrir um novo fundo que é
dedicado exclusivamente aos investimentos por aqui.
Ao mesmo tempo em que o Brasil apresenta falta
de capital, também há uma baixa oferta de imóveis de
qualidade. Há um déficit habitacional bem conhecido,
principalmente de imóveis populares. O governo está
tentando resolver este problema com o programa Minha
Casa Minha Vida, bem como disponibilizando financiamento
para os compradores. No setor de edifícios comerciais, a
maioria dos prédios existentes foi construída nos anos
1960 e 70, e apenas por volta de 5% é considerado classe
A pelos padrões internacionais. Para uma economia do
tamanho da brasileira, isto é simplesmente insuficiente.
Enquanto Nova York é comparável com o tamanho de São
Paulo, o estoque de espaços comerciais (sem incluir toda
a área metropolitana) é mais de três vezes maior. Mesmo
o estoque de espaços comerciais considerados classe A de
Boston é maior do que o de São Paulo, e Boston é uma
cidade relativamente pequena em escala mundial. Não é
de se estranhar que São Paulo e Rio constituam-se um dos
mercados de prédios comerciais com melhor desempenho
no mundo atual. A maior parte dos prédios comerciais
sofreu uma grande perda de ocupação devido à crise
mundial nos últimos dois anos, mas a taxa de vacância
permaneceu estável em São Paulo e, no Rio, houve, na
verdade, uma melhora para menos de 4%, enquanto que
a Atua, foi completamente vendido um mês após seu lançamento,
e as unidades da Fase 1 do Club Life se esgotaram em apenas um
dia. No Rio, somos parceiros no recém-construído Ventura Towers,
que é uma das contribuições mais notáveis à paisagem do centro
do Rio nos últimos anos.
Todas as nossas decisões sobre investimentos são baseadas
em uma análise rigorosa do mercado e da rentabilidade do
investimento proposto. Buscamos identificar oportunidades
únicas de investimento e as validamos por meio de processos
de due diligence e intensa pesquisa de mercado. Devido à nossa
experiência prévia como incorporadores, focamos na valorização
do imóvel por meio de melhor eficiência e projeto diferenciado,
em conjunto com nossa experiência em estruturação financeira.
E por que seus investimentos se concentram em São Paulo,
enquanto o Brasil vê crescerem outros de grande porte ao
longo de sua costa tropical de 8 mil km?
Na verdade, atuamos tanto em São Paulo como no Rio. A razão
para focar nestas duas regiões é novamente devido a três fatores.
Primeiramente, porque acreditamos veementemente em investir
em mercados primários que possuam liquidez e uma base sólida
de compradores ou locatários, dependendo da natureza do projeto,
seja para locação ou venda. Grandes mercados como São Paulo e Rio
nos permitem comparar nossos projetos em relação à concorrência
para ver, por exemplo, qual o nível de preços de empreendimentos
vizinhos e de que forma nosso projeto pode ser melhor. Dessa
forma, podemos garantir o sucesso financeiro de nosso próprio
investimento com um risco menor. Também precisamos no final
liquidar nossos investimentos, e para tal é necessário que haja uma
base suficientemente grande de compradores para colocar em
prática nossa estratégia de saída. Neste momento, São Paulo e Rio
são os mercados com maior liquidez no Brasil.
A segunda razão é que esses dois mercados, até agora, nos
ofereceram inúmeras oportunidades, e conseguimos diversificar
nossos investimentos em tipos diferentes de imóvel, ao invés
de migrar para outras regiões. Por exemplo, com a Yuny nós
atuamos no setor residencial e comercial. Quando o mercado
de empreendimentos populares tornou-se uma oportunidade
interessante, conseguimos trabalhar com a Yuny para estruturar
uma nova parceria em conjunto com a Atua, que é especializada
no mercado de imóveis populares.
os aluguéis aumentaram significativamente. Nós estamos sempre em busca
desse tipo de atrativos ao procurar oportunidades de investimento, e o Brasil
vem sendo um investimento muito bom para nós.
Quais são seus principais investimentos por aqui e em que valores? Como
baseou estas decisões?
Desde o início de nossos investimentos no Brasil, já investimos capital em
24 projetos residenciais e comerciais, sendo 16 com a Yuny, em São Paulo
e no Rio, totalizando mais de R$ 770 milhões de capital privado. Possuímos
16 empreendimentos residenciais, 7 dos quais são de alto padrão, 4 para
classe média e 5 populares. No total, estamos financiando a incorporação de
mais de 5.300 apartamentos. De todos esses projetos que lançamos, 85% das
unidades já foram vendidas. Além disso, nosso portfólio ainda conta com 6
empreendimentos comerciais classe A para locação, um edifício comercial e
um edifício-garagem. Os projetos comerciais compreendem mais de 178.000
metros quadrados de área disponível para locação.
Como se pode ver, atuamos em vários setores e com diferentes tipos de
imóveis. Há dois investimentos dignos de destaque em nosso portfólio, são eles:
o 106 Seridó, o qual é provavelmente o condomínio residencial mais luxuoso
de São Paulo no momento; e o Infinity, o qual acreditamos que será o melhor
prédio comercial classe A na região da Faria Lima. Possuímos outros dois projetos
residenciais menores, mas com o mesmo prestígio, na região do Parque do
Ibirapuera: o Le Paysage e o Marquise. O Club Life no Morumbi e o Hipódromo
na Mooca são exemplos de nossos projetos populares de grande sucesso. O
Hipódromo, um empreendimento com 422 unidades realizado em parceria com
A terceira razão concerne às nossas próprias operações
e nossa equipe. O Brasil é um mercado bastante grande,
conforme foi colocado, e é simplesmente mais efetivo para
nossa equipe focar oportunidades que estejam mais próximas.
Preferimos ter conhecimento local, conhecer o mercado
realmente bem antes de investir. Nós expandimos nossos
investimentos para o Rio porque tínhamos uma experiência
anterior nesse mercado, e porque há diversos atrativos de
curto prazo, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
Às vezes, leva-se o mesmo tempo para cruzar de um lado a
outro em São Paulo, e ir de avião para o Rio. Estamos abertos a
expandir nossos investimentos para novas regiões. Mas até o
momento não foi necessário. Se nós encontrarmos mercados
suficientemente atraentes e parceiros altamente qualificados
que entendam nossas demandas e que queiram trabalhar
conosco, estaremos atentos a novas oportunidades.
Estamos em ano eleitoral e isso, com certeza, pode alterar
a conduta da política econômica da nação. O que pensa
do Governo Lula e das próximas eleições em que pese
possíveis mudanças?
Quando Lula assumiu o poder em 2002, os investidores
ficaram preocupados, achando que um governo de esquerda
implantaria mudanças que prejudicassem o livre mercado e
o investimento estrangeiro. Com o passar do tempo, tornou-
se claro que a forte retórica de Lula não se traduziria em uma
ameaça real para os mercados. De fato, seu governo continua no
caminho das reformas. O Brasil deu grandes passos em direção
à estabilidade macroeconômica sob a presidência de Lula, graças
em grande parte à posição independente do Banco Central. Quando
chegou a crise, o Brasil estava relativamente bem posicionado para
lidar com o choque mundial.
12 REVISTA OUTUBRO 2010 13 REVISTA OUTUBRO 2010
“A parceria com a Yuny contribuirá para mudar a paisagem de São Paulo.”
I N S T I T U C I O N A L
Uma das grandes iniciativas, pela qual o governo Lula pode
levar o crédito, é o programa de habitação popular Minha
Casa Minha Vida. O governo reconheceu que a habitação tinha
potencial de continuar a ser um mecanismo de crescimento para
toda a economia, mas que precisava do apoio do governo, uma
vez que os investidores privados rapidamente se retiravam após
a quebra do Lehman Brothers no final de 2008. Nós acreditamos
que o programa, apesar de suas deficiências administrativas e
objetivos otimistas demais, vem trazendo muitos benefícios para
o setor. Ele melhorou o acesso a financiamentos e possibilitou
a compra da casa própria, pela primeira vez para um grande
número de pessoas das classes média e baixa.
A expansão dos limites de empréstimos SFH, os aumentos
dos prazos de financiamento para até 25 anos e uma queda nas
taxas de juros reduziram drasticamente as prestações mensais
necessárias para se comprar uma casa.
O valor da prestação caiu de 15 a 50% dependendo da classe
social e para algumas famílias passou a ser menor do que o valor
do aluguel. Este tipo de mudança da acessibilidade econômica,
estimulada pelo programa de subsídio do governo, aumentou
consideravelmente a demanda por imóveis. Acreditamos
que o programa acrescentou 12 milhões de famílias na base
de compradores em potencial. É claro que esta acessibilidade
financeira hipotética não significa que todas essas pessoas irão
agora correr para comprar uma casa. Mas significa que um dos
maiores entraves ao crescimento foi minimizado, uma vez que o
financiamento imobiliário está agora à disposição e em expansão
– diferentemente da situação da maioria dos outros países.
Como vê esta parceria com a Yuny Incorporadora?
Nossa parceria com a Yuny foi e continua sendo baseada
no reconhecimento de que ambos os parceiros contribuam
de forma significativa para o negócio.
Nossa contribuição é em grande parte em forma de
capital, e em oferecer conhecimento na avaliação de
oportunidades atrativas de investimento. A contribuição
primária da Yuny é em identificar negócios atrativos
e depois trabalhar intensamente para executá-los.
Com o passar dos anos, a Yuny construiu operações
sólidas de incorporação e conhecimento profundo
sobre vários aspectos do mercado imobiliário, e nós
estamos muito impressionados com o profissionalismo
com que eles conduzem seus negócios. A Yuny cresceu
ao ponto de se tornar um grande participante deste
mercado, e estamos felizes em poder contribuir para
isso. Temos uma parceria exclusiva para os projetos
que a Yuny identifica e realizamos inúmeros projetos
em conjunto nos últimos três anos. Por exemplo, a
Yuny está atualmente desenvolvendo um dos projetos
comerciais mais sofisticados na Faria Lima chamado
Infinity, e grande número de empreendimentos
residenciais em São Paulo, muitos dos quais foram
totalmente vendidos em tempo recorde.
E o que espera, no futuro, como resultado deste
trabalho conjunto?
Nossa parceria tem sido vantajosa para ambas as partes,
e esperamos que assim seja por muito tempo, uma vez que
nossos planos no Brasil são de longo prazo. Os executivos
seniores da Yuny sempre nos deram todo apoio e têm sido
um recurso de grande valor para nossos investidores, que
gostam de viajar para o Brasil para ver o mercado de perto
e falar com nossos parceiros operacionais. Agora que um
grande número de nossos projetos com a Yuny já saiu do
papel, posso dizer que a parceria contribuirá certamente
para mudar a paisagem de São Paulo. Antes de qualquer
coisa, estamos focados em investimentos lucrativos, mas
é bom saber que nossos negócios estão contribuindo para
mudar de forma positiva o espaço urbano e o crescimento
sustentável de São Paulo, e mudando a cara da cidade
para melhor.
14 REVISTA OUTUBRO 2010
C U LT U R A
a sala da casa de Heitor Martins e Fernanda
Feitosa, no Morumbi, se destacam trabalhos
de Tunga e de Farnese, dois artistas muito
queridos do casal. Suas obras fazem parte de
uma bela coleção que vem sendo montada
pelos dois, com todo cuidado e carinho, ao longo dos
últimos treze anos. A amostra é diversificada e seus donos
brilham no cenário das artes plásticas brasileiras. Heitor
é sociodiretor da McKinsey Consultoria, e há um ano foi
eleito, praticamente por unanimidade, para a presidência
da Fundação Bienal de São Paulo – “uma máquina que
tem de ser administrada profissionalmente”, ele observa.
Já Fernanda, sua mulher, idealizou e é a coordenadora da
festejada mostra SP-Arte, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo,
da Bienal, com 80 estandes e faturamento, em 2009,
de US$ 15 milhões, assim como o seu filhote, como ela
mesma diz, o desdobramento da SP-Arte, a simpática São
Os colecionadores Heitor Martins e Fernanda Feitosa agitam a Bienal e a SP-Arte.
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
N
UMCASALBRILHANA CENA
DASARTES
Paulo-Arte/Foto, realizada todos anos no salão do roof
do Shopping Iguatemi. Enquanto Heitor garante uma 29ª
edição da Bienal vigorosa e de “fôlego”, porque “a arte é
para todos e a sua demanda, hoje, é enorme”, Fernanda
completa a ideia do marido: “Eu não diria que arte é coisa
para as elites”. Aqui, mostramos em um pingue-pongue
artístico, de quem conhece profundamente seu ofício, a
complementaridade e a harmonia existente entre os dois
de gostos, tendências e afeto.
HEITOR MARTINS: “O MINC É UM PARCEIRO ESTRATÉGICO”Yuny: Há um ano o senhor previu que a 29ª Bienal, em
outubro, estava orçada em R$ 20/25 milhões. Mantém
esse orçamento?
Heitor: O orçamento está um pouco maior, em R$ 30 milhões,
porque acrescentamos a parte educativa, um programa que
prevê a visita monitorada de 300 a 400 mil alunos por 40 mil
professores contratados — daí a diferença do original.
Y: E disse também que essa seria uma “Bienal de fôlego”.
Confirma a sua previsão? Será uma Bienal vigorosa, marcante?
H: Sem dúvida! Será 160 artistas, dos quais 110
estrangeiros, formando uma Bienal bem contemporânea:
um retrato fidedigno da produção atual. Trata-se de uma
das maiores proporções entre brasileiros (que chegam a
30%) e estrangeiros. É um limite alto, considerando que
anteriormente eles não chegavam a 20%.
Y: Não haverá mais um artista único homenageado na
29ª Bienal. Por quê?
H: Não existem mais artistas homenageados ou núcleos
históricos ou salas de referência. São sete curadores sendo
dois brasileiros – Moacyr dos Anjos e Agnaldo Farias – e cinco
internacionais, quase todos ligados a grandes instituições: da
Espanha, do Japão, da Inglaterra e de Angola, além de uma
independente, de Miami, nos Estados Unidos. A ideia é cobrir
a produção contemporânea, com uma visão abrangente.
Y: Artistas brasileiros que vivem e trabalham na Europa,
em especial em Berlim, dizem que a discussão que vem
se travando no Brasil, há algum tempo, de que “a arte
estaria morrendo” ou “esvaziou conteúdos”, não existe por
lá. Qual a sua opinião?
17 REVISTA OUTUBRO 2010 16 REVISTA OUTUBRO 2010
H: Esta discussão está superada no Brasil. O papel da Bienal é ser rica
do ponto de vista plástico. É fazer uma mostra provocativa, bonita e
política também. Em nível plástico e não teórico.
Y: Como faz para conciliar suas atividades de empresário e consultor
na McKinsey com as de presidente da Fundação Bienal?
H: Trabalhamos em equipe, em uma diretoria com nove pessoas,
diferente do passado centralizador. E temos trinta colaboradores. Ou
seja, somos cerca de quarenta pessoas, todos nós voluntários.
Y: Qual o seu balanço depois de praticamente um ano nesse cargo?
H: Um balanço positivo. Porque especialmente descobrimos que
a sociedade tem vontade que a Bienal dê certo. Temos muitos
parceiros, dos meios de comunicação ao apoio das empresas: Itaú,
Fiat, Rede Globo, Oi, e das pessoas, artistas, galerias, sociedade civil
como um todo, passando pelos governos em todas as instâncias.
Y: E como está a colaboração do MinC em relação à Bienal? Apoia de
que modo?
H: O Ministério da Cultura é um parceiro estratégico, tem efetivamente
um projeto e entende a importância da Bienal. Vem apoiando nos
diversos planos inclusive com aporte de recursos – é muito bacana.
Y: Sua eleição para a Fundação da Bienal foi quase unânime.
Apenas um voto contra. Isto deve ser motivo de grande orgulho.
H: Era um momento muito específico e não votaram em mim, mas
na Bienal.
Y: Deve ser gratificante e agradável ser marido de uma mulher
que também aprecia arte e possui excelente cultura nessa área.
Costumam frequentar junto galerias e mostras especiais em
museus quando viajam?
H: A melhor parte do casal é ela. Há uma complementação muito
grande nas artes, na coleção e na relação como um todo.
Y: Vocês têm gostos e tendências semelhantes? Quais as diferenças?
H: Ela é mais contemporânea. Eu sou mais moderno, mais tradicional.
FERNANDA FEITOSA: “Temos muito carinho pelo trabalho de Farnese”
Yuny: Sua coleção começou a ser montada no Brasil ou quando
morou fora? É um costume que vem de família? Qual o primeiro
trabalho que adquiriu?
Fernanda: Compramos a primeira obra durante a nossa lua de mel, no
Nordeste, em 1993, e temos até hoje! Depois, quando do nascimento
do nosso primeiro filho, compramos outra e assim foi indo. Aos
poucos, o gosto de ver e conhecer novos artistas ia aumentando
e as possibilidades de adquirir alguns trabalhos foram aparecendo.
Meus dois tios por parte de pai, Roberto Feitosa e Mario Pacheco,
são artistas plásticos. Desta forma, convivi bastante, na infância, com
telas e tintas. Mas nunca no meio colecionador em si.
Y: Quando decide adquirir algum trabalho, quem bate o martelo – você
ou seu marido? Ou os dois juntos? Você tem o gosto semelhante ao dele?
F: Combinamos desde que começamos que seriam decisões
conjuntas – compraríamos o que ambos admirássemos. Temos gostos
semelhantes, gostamos das mesmas coisas, mas às vezes temos
pontos de vista diferentes e discutimos se um determinado trabalho se
encaixa ou não na coleção, se precisamos ou não dele ou se teremos
outra oportunidade de adquiri-lo, se podemos esperar mais, etc. O
interessante é que nunca o processo de compra é igual ao outro. Cada
obra tem sua particularidade, sua história, sua procedência.
Y: Qual ou quais os trabalhos da coleção do casal são os
prediletos, os mais queridos?
F: Temos muito carinho pelas obras do artista já falecido
Farnese de Andrade que conseguimos juntar ao longo
desses anos todos. Foi uma das primeiras obras de que
nós gostamos, mas não foi possível comprar quando
éramos jovens. Por causa de uma dessas voltas que a vida
dá, terminamos comprando inúmeras obras dele depois.
Temos também uma pequena coleção de trabalhos de
Volpi, que fomos juntando, e muitas outras obras. É difícil
dizer: gostamos de tudo que está em casa!
Y: Repetidas vezes você ressalta que comprar e colecionar
arte não deve significar status ou ascensão social, mas
sim prazer estético. Essa percepção já existe por parte
da maioria dos colecionadores brasileiros? Eles não
consideram ainda que comprar arte é um investimento
meramente financeiro?
F: Acho que tudo feito por prazer ou hobby deve estar
ligado ao que se gosta ou ao que se acredita. Assim
começou nossa coleção. No entanto, tenho que admitir
que, às vezes, em um determinado momento, esse hobby
pode tomar uma dimensão maior e acabar representando
uma parcela importante do patrimônio. Nesses casos,
obviamente, o aspecto do investimento não pode ser
ignorado, e tem que ser levado em consideração também
no momento da decisão de compra. Acho que muitos
colecionadores pensam desta forma na maior parte das
compras. Obviamente, quando a paixão por uma obra bate
forte, o aspecto financeiro perde para o emocional.
Y: Foi depois de viagens à feira de Basel, à Fiac, à Frieze,
entre outras, que idealizou a sua SP-Arte? Como é que a
ideia surgiu?
F: Não. Foi quando morei na Argentina e visitei a feira de
lá; me chamou atenção que um país como aquele, com
mercado de arte e produção artística bem menor que a
brasileira, tivesse uma feira de arte contemporânea há
quinze anos. Nessa época decidi fazer o mesmo aqui no Brasil. Viagens a outras
feiras internacionais fizeram parte, no início, de estudo e aprendizado de como
são montadas as maiores e melhores feiras de arte do mundo. Atualmente,
essas viagens fazem parte do processo contínuo de relacionamento e divulgação
da nossa feira no exterior.
Y: Nesta próxima SP-Arte/Foto, serão quantos visitantes entre galeristas,
artistas e colecionadores? E quantos expositores?
F: A SP-Arte/Foto, 4ª edição, é uma feira dedicada exclusivamente à fotografia
e vídeo. É realizada anualmente no nono andar do Shopping Iguatemi, em São
Paulo. São 18 galerias participantes e o público aguardado é de 7 mil pessoas.
O patrocínio é da Oi e do Shopping Iguatemi.
Y: A economia no Brasil, hoje, favorece em que medida o movimento de
compra e venda de arte?
F: A economia aquecida do País favorece, e muito, o mercado de arte. Na
medida em que as pessoas sentem a economia forte, ficam mais esperançosas
e as decisões de investimento em arte são mais fáceis.
Heitor Martins: no seu escritório há trabalhos de Ernesto de Fiori e José Resende
Fernanda Feitosa: na coleção do casal, obras de Thiago Pitta e do argentino Matias Duville
18 REVISTA OUTUBRO 2010 19 REVISTA OUTUBRO 2010
Fernanda Feitosa (2ª à esq. ) e a equipe das duas SP-Arte
C U LT U R A
Y: Essa movimentação continua sendo de elite?
F: Nem tanto. Eu não diria que arte é um movimento de elite. O ato
de colecionar arte, no sentido de comprar um conjunto expressivo
de obras que representam um movimento ou um período não é
para todos, como nunca foi. A feira vem crescendo bastante. Este
ano quase metade dos visitantes nunca tinha ido à feira antes. São
pessoas curiosas e interessadas em ver arte, e isso é um sinal de que
esse interesse está aumentando. O número de compradores na feira
representa menos de 10% dos visitantes. Ou seja, o resto do público
está “consumindo cultura” e participando da economia cultural do
País. Isso é importantíssimo em uma nação se pretende ser desenvolvida!
Y: Fora do eixo Rio-SP, há outros centros de excelência artística no
Brasil, hoje?
F: Sim, mas não o suficiente. Fora de São Paulo-Rio, já temos Minas
Gerais, Recife, Bahia.
Y: Pode fazer um balanço da mais recente SP-Arte na Bienal?
F: Gostaria que o público tivesse muito cuidado. A SP-Arte nada
tem a ver com a Bienal. Ela é um evento que ocorre no Pavilhão
Ciccillo Matarazzo. O evento não se confunde com a Bienal, mostra
de arte realizada pela Fundação Bienal de dois em dois anos. Tenho
um cuidado especial em distinguir as duas mostras. Muita gente lê
sobre a SP-Arte e faz confusão. A última SP-Arte/2010 foi um grande
sucesso de público, de vendas e de qualidade de obras. Estamos
orgulhosos do padrão alto de qualidade que conseguimos alcançar.
A feira já é comentada espontaneamente no exterior, por outras
galerias internacionais e por curadores que passaram por aqui.
Y: E a SP-Arte/Foto do Iguatemi?
F: A SP-Arte/Foto é um evento filhote da SP-Arte, e vem sendo
realizada desde 2007 no Iguatemi. É um evento muito importante
para a fotografia nacional porque procura colocar a fotografia e seus
protagonistas em destaque especial.
Y: Seus filhos também gostam de artes plásticas? Como vocês
inculcaram neles esse interesse?
F: Nossos filhos gostam muito de arte e curtem visitar a feira. Isso
é um processo de educação que começa na infância, com visitas a
museus, tanto no Brasil como no exterior, sempre que possível. No
início reclamam, é claro, pois acham tudo muito parado essa coisa
contemplativa. Mas depois passou a fazer parte dos seus repertórios,
tanto quanto ir ao parque. Uma coisa interessante é tentar fazer com
que esse processo seja atraente. Isto é: por trás de cada obra, por
exemplo, há uma história a ser contada sobre o artista e isto desperta
a atenção deles e ajuda a criar o interesse.
20 REVISTA OUTUBRO 2010
G I F T
FESTA NO CÉU: O PASSEIO VALE
CADA CENTAVOPOR ANA MARIA SANTEIRO • FOTOS HELIBRAS/DIVULGAÇÃO
Algum tempo atrás uma escritora americana entrou em meu escritório esfuziante. Havia acabado de
fazer um voo turístico em helicóptero pelo Rio de Janeiro e, de maneira bem enfática, exclamava: it
worths every cent I paid! Desde então, quando algo muito bom me acontece, sempre lembro desta
expressão. Outros tantos anos já se passaram depois da experiência da escritora, quando um amigo,
médico do Corpo de Bombeiros, me perguntou se eu já havia voado de helicóptero. Naquele momento,
a experiência não era de maravilha, mas de espanto, por constatar que, visto do alto, o Rio de Janeiro era uma
grande favela com uma Zona Sul, tal a ocupação dos morros pelas camadas mais pobres da cidade. Entre um
tempo e outro, voar de helicóptero deixou de ser exclusivo dos passeios turísticos, das ações de salvamento
ou de operações militares. Com a crescente urbanização das cidades e o tráfego a partir da década de 1970,
sobretudo nas metrópoles, transitar pelos ares tornou-se uma real possibilidade para muitos executivos e homens
de negócio que tentavam exercer o dom da onipresença.
23 REVISTA OUTUBRO 2010 22 REVISTA OUTUBRO 2010
G I F T
No Brasil, o início da exploração do petróleo em alto
mar pela Petrobras também contribuiu para um aumento
na demanda por helicópteros para operações off-shore.
Em 1973, por exemplo, a Líder, a mais antiga empresa
brasileira de serviço de táxi aéreo, ganhou a primeira
concorrência para prestação de serviços à Petrobras,
interligando as plataformas de prospecção de petróleo
na costa brasileira. Para essa atividade foram adquiridos
na ocasião oito helicópteros Sikorsky S-58T. Entretanto,
levaria ainda onze anos para definitivamente incluir
o helicóptero como uma unidade importante de suas
operações, passando a representar — até 2003 — a Bell
Helicopter Textron, no país. E só na década seguinte
incluiria um helicóptero — o Sikorsky S-76 — na sua
embrionário, este voo elevou-se cerca de 30 cm acima do solo, e por apenas
20 segundos! Um ano antes, em Paris, Santos-Dumont realizara os voos com os
Oiseau de Proie (1, 2, 3), elevando-se, com o terceiro, a 6 metros do chão, e
percorrendo 220 metros. Um pouco antes teria também iniciado a construção de
um helicóptero, projeto que, entretanto, logo abandonou. Entre os anos 1920 e
1926, novos avanços são introduzidos pelo argentino Raul Panteras Pescaras —
ajuste angular das pás — e, finalmente, em 1937, a piloto de teste alemã Hanna
Reitsch realiza o primeiro voo de um helicóptero completamente controlável.
A presença do helicóptero é, portanto, bastante recente na aviação, pois
apenas na década de 1940 é que se inicia a sua produção em série. Destinados
originalmente apenas ao uso militar, os helicópteros, da metade do anos
1960 em diante, foram encontrando outras funcionalidades de natureza civil:
transporte de passageiros, salvamento, resgates, transporte de cargas, vigilância
civil e contra incêndios, filmagens, coberturas jornalísticas, transporte de doentes,
voos turísticos. Os céus brasileiros têm uma frota de cerca
de 1.000 aparelhos, dos quais 452 estão concentrados em
São Paulo – a maior frota do mundo, deixando Nova Iorque
em segundo lugar, com uma frota de 445 – que possui 272
helipontos, apesar de apenas 86 terem licença para operar.
A indústria brasileira tem se destacado na aviação
executiva tanto na produção quanto na comercialização
de voos, com a presença de importantes empresas,
como a Helibras, fundada em 1979, pertencente ao
grupo francês Eurocopter, que também possui fábricas
na França, Alemanha e Espanha. A fábrica brasileira está
situada em Itajubá, Minas Gerais, onde recentemente
inaugurou uma nova planta. “Não se trata apenas de uma
simples expansão da fábrica, mas também do aumento da
própria frota. Atualmente são 51 aeronaves dedicadas,
sobretudo, às opererações off-shore.
Apesar de ter sido pensado por Leonardo da Vinci em
1510, a invenção do helicóptero só aconteceu no início
do século XX, período em que as ideias e as invenções
fervilhavam, no rastilho da chamada Revolução Industrial,
iniciada na segunda metade do século XIX, com a substituição
da energia humana pela energia motriz, e do modo de
produção doméstico pelo sistema fabril, gerando uma
notável evolução tecnológica. Grandes desenvolvedores
da época, como Louis Breguet, Igor Sikorsky e Paul Cornu
abriram caminho para esse tipo de aeronave (com rotor),
cujo primeiro voo bem sucedido e registrado ocorreu em
1907, realizado por Cornu, em Lisieux, na França. Ainda
Os céus brasileiros têm uma frota de cerca de 1.000 aparelhos, dos quais 452 estão concentrados em São Paulo, a maior frota do mundo, deixando Nova Iorque em segundo lugar, com uma frota de 445 – que possui 272 helipontos, apesar de apenas 86 terem licença para operar.
24 REVISTA OUTUBRO 2010 25 REVISTA OUTUBRO 2010
G I F T
capacidade de engenharia da Helibras, para que, a partir da próxima
década, a empresa passe a fabricar completamente os helicópteros
no Brasil”, impulsionando o mercado de fornecedor de peças,
como lembra Eduardo Marson, presidente da Helibras. Desde 1979
a Helibras já entregou mais de 500 helicópteros no Brasil, sendo
70% do modelo Esquilo, dentre os 11 modelos que fabrica. Cotada
como a indústria líder no Brasil, tem 49% do mercado civil, 81%
do mercado governamental, 66% do mercado militar e 46% do
mercado corporate. Mas se o tráfego aumenta, outras oportunidades
surgem para novos negócios e outras empresas vêm compartilhar
este céu promissor. A paulista Helimarte Taxi Aéreo, por exemplo,
em apenas onze anos no mercado, dispõe de uma frota de 10
helicópteros com capacidade de 3 a 6 passageiros, transportando
de executivos em viagens de negócios a monitores de trânsito,
entre outros. Um outro indicador que revela o potencial deste
mercado são os centros de serviços voltados exclusivamente para
o segmento. É o caso do Helipark, helicentro privado, inaugurado
em 2002, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, seguindo a
tendência mundial de se afastar o tráfego intenso de helicópteros
dos aeroportos e grandes concentrações urbanas por razões de
segurança. Projetado pelo arquiteto João Armentano, é o maior da
América Latina, com estrutura necessária para que se realizem —
com segurança — operações de atendimento de pista, manutenção,
abastecimento e hangaragem de helicópteros. Ali, empresários,
executivos, personalidades circulam em modernos aparelhos Bell
Textron, Robson Helimagic e Esquilo (da Helibras).
Se na canção da Angélica ela ia de táxi, numa versão atual da
fábula Festa no Céu o sapo não precisaria ir de clandestino na viola
do urubu. Certamente pediria carona a um besouro muito estranho,
de nome mais esquisito ainda: helicóptero.
26 REVISTA OUTUBRO 2010
B E M - E S T A R
28 REVISTA OUTUBRO 2010
á algumas décadas, a OMS – Organização Mundial
da Saúde – vem propondo o incentivo à prática
de atividades físicas como política preventiva
para uma série de doenças relacionadas ao
sedentarismo presente em nossas sociedades tão
urbanizadas. No decorrer das últimas, pelo menos quatro
décadas, o conceito de vida saudável foi se associando ao
desenvolvimento do esporte de lazer de tal maneira que
um cardápio variado de opções de esportes e de exercícios
físicos se abriu para milhões de pessoas no mundo.
Quem não se lembra do cooper (ou jogging), aquela
corrida (ou trote) num ritmo sem exagero, criada pelo
médico americano Kenneth Cooper, muito difundida nas
décadas de 1970 e 1980, cuja meta é aumentar a condição
física com menos desgaste ao corpo? Muitas pistas para
sua prática foram criadas nas áreas litorâneas das cidades,
em parques, nos condomínios, em volta de lagos e
lagoas, ao longo de rios canalizados. Até um vestuário foi
Atletas nada amadores treinam por amor ao esporte
POR ANA MARIA SANTEIRO
PROFISSIONAISQUASE
desenhado para esta prática. A difusão do cooper pode ser
considerada como o início de uma rotinização da atividade
física entre os habitantes das zonas mais urbanizadas das
cidades em todo o mundo, fazendo, inclusive, surgir um
novo mercado – o dos atletas quase profissionais. Sim,
porque entre os atletas existem algumas categorias:
os profissionais, que têm no esporte a sua profissão e
fonte de renda; os amadores, que têm outras profissões,
mas também se dedicam a atividades esportivas com
regularidade; e os amadores de fim de semana, que só se
exercitam nos dias livres de trabalho.
Tradicionalmente a prática dos esportes estava restrita
aos clubes e associações particulares, que ofereciam aos
seus associados a possibilidade de nadar, remar, jogar
tênis, golfe, vôlei, basquete, judô, jiujitsu, ginástica rítmica,
bocha. Apenas o futebol e o vôlei eram, e continuam
sendo, os esportes que também se praticava fora dos
clubes: nas várzeas, nos campinhos, na areia das praias.
H
Na pág. à esquerda dedicação é a palavra para quem busca completar provas de triathlon ou maratona.
De cima para baixo: o helicóptero que registra o evento; a largada ao nascer do sol em Floripa; a chegada de uma atleta profissional - nove horas ou mais de muito esforço.
B E M - E S T A R
Bikes leves e confortaveis para suportar os 180 km
30 REVISTA OUTUBRO 2010 31 REVISTA OUTUBRO 2010
A universalização do conceito de prática esportiva com
vida saudável e prevenção de doenças estendeu-se a
todos os segmentos da sociedade e novas modalidades
de esporte de lazer foram sendo criadas e desenvolvidas,
como, por exemplo, os esportes de aventura e os radicais.
Outros ambientes também foram surgindo para a prática
de esportes ou de atividades físicas orientadas para o
condicionamento e bem-estar físico: as academias ou
centros de fitness, os ginásios pluriesportivos e quadras
de futebol, de vôlei, de tênis, públicas. Muitos clubes
ampliaram a categoria socioatleta, abrindo suas instalações
para aqueles que buscam um local para exercitar o
esqueleto e fugir do sedentarismo. Novos condomínios de
casas e edifícios também têm sido pensados com quadras
de esporte ou salas de ginástica.
Caminhar e correr são boas opções de atividade física
por serem fáceis de praticar e sem maiores custos. A
adesão maciça a ela foi uma das primeiras manifestações
da mudança de hábitos neste sentido. À tradicional
corrida de São Silvestre, na capital paulista, no último
dia do ano, veio somar uma infinidade de corridas,
maratonas, meia-maratonas, de orientação, de aventura,
de montanha, Ironman, triathlon (associada ao nado e
à bicicleta). Se os participantes não são profissionais,
a organização, entretanto, passou a ser, contando com
equipe, inscrição, largada no horário, percurso aferido,
hidratação, classificação, cobertura de imprensa e ranking.
Uma excelente ferramenta de marketing promocional para
muitas empresas, sempre associando alguma campanha
de responsabilidade social.
Os novos atletas, igualmente aos atletas profissionais,
são disciplinados e dedicam um bom par de horas aos
exercícios. Alguns deles vão mais longe, incorporando
a atividade como um hobbie. Participam, inclusive, de
eventos esportivos e de competições não-profissionais que,
entretanto, requerem praticamente o mesmo aparato de
uma competição profissional. Como diz o médico paulista
Dr. Ruggero Bernardo Guidugli, especialista em medicina
esportiva, e ele mesmo um ultramaratonista, “quem corria
para fugir da obesidade ou por recomendação médica se
tornou um atleta com equipe multidisciplinar: personal
trainer, nutricionista, fisioterapeuta, ortopedista. Para os
triatletas, por exemplo, a rotina de exercícios é diária:
corrida, nado, pedalada, musculação. O paulista Carlos
Galvão, consultor de marketing, diretor geral do Ironmman
Brasil, e triatleta desde 1998, corre, nada, pedala e faz
musculação todos os dias, alternando as modalidades, em
alta carga, de domingo a domingo. A modalidade criada
há 20 anos no Havaí inclui 3.880 metros de natação no
mar, 180 quilômetros de bicicleta e, para finalizar, uma
maratona de 42 quilômetros de corrida. Ou seja, para a
maioria dos participantes, mais de 10 horas de exercício
físico ininterruptos. Desafio que tem atraído cada vez mais
participantes no mundo todo. Na última prova da edição
brasileira da competição, que acontece em Florianópolis
desde 2001, participaram 1.650 atletas, de 33 países. A
organização do evento distribuiu 50 vagas para o Havaí,
entre profissionais e amadores, além de prêmios em
dinheiro para os melhores profissionais.
Acima, Marcos Paulo Reis, idealizador do Projeto Arrastão. Abaixo, Amilcar Lopes, conquista tempo invejável para um atleta amador na maratona de Chicago - rendeu assunto até para o livro de Sérgio Xavier (capa à direita)
B E M - E S T A R
32 REVISTA OUTUBRO 2010
Para Marcos Paulo Reis, carioca radicado em São
Paulo, um dos maiores treinadores de corrida, triathlon e
pedestrianismo, a prática esportiva é uma filosofia de vida.
Assim, além de seu trabalho, seja à frente de sua assessoria
esportiva, ou das equipes olímpicas que treina, ou ainda de
suas colaborações como comentarista esportivo em várias
mídias, encontra tempo para desenvolver um programa
de iniciação esportiva junto a comunidades carentes,
como o que desenvolve em parceira com o Projeto
Arrastão, proporcionando a centenas de crianças, jovens
e adultos moradores da região de Campo Limpo, Zona
Sul da capital paulista, a oportunidade de usar o esporte
como ferramenta para a melhora da qualidade de vida e
da inclusão social.
A ideia de superação é inerente à prática esportiva ou
física, tanto para atletas amadores e profissionais como para
os atletas com deficiências físicas. Incontáveis são, portanto,
as histórias e testemunhos de pessoas que se revelaram,
se descobriram, superaram traumas ou encontraram novos
sentidos para suas vidas através do esporte. No curioso livro
Operação Portuga - 5 homens e um recorde a ser batido
(Arquipélago Editorial), o jornalista Sergio Xavier Filho, diretor
de redação das revistas Placar e Runner’s, relata como
um grupo de amigos corredores não-profissionais busca
alucinadamente bater um recorde pessoal do empresário
Amílcar Lopes Jr. (o “Portuga”): 2 horas 43 minutos e 50
segundos, na Maratona de Chicago, em 2006. Uma marca
extraordinária para um amador, que fez dele uma espécie
de lenda no circuito dos corredores de rua de São Paulo. Para
alcançar o objetivo, os amigos, que são executivos ocupados,
driblam suas agendas apertadas, desviam de compromissos
sociais e deixam de lado muitas horas de descanso ou de
convívio familiar. E o circuito das maiores maratonas do
mundo – Berlim, Boston, Chicago, Nova York e Paris – é o
cenário ideal para as tentativas de derrubar o recorde do
Portuga. O treinamento dos atletas não profissionais é quase
um rito de passagem que requer muitos itens a cuidar e a
cumprir. De amador fica apenas o sentido etmológico da
palavra: esporte de quem ama fazer esporte.
O MOVIMENTO POP GANHA STATUS: VAI AO MUSEU, É RESTAURADO NA RUA E SE APRENDE NA ESCOLA.
POR SERGIO ZOBARAN
GRAFITEDISCIPLINADO
Sobre pastilhas ou madeira, os grafites de César Profeta
A R T E
s vezes confundido por gente mais desavisada
com a pixação (ou pixo) — aqueles rabiscos que
têm até alfabetos próprios que representam
a rebeldia de alguns grupos de jovens
considerados criminosos, e por isso passíveis de prisão
–, o grafite (ex-”graffiti”, em inglês e no plural) cresce e
aparece em São Paulo há mais de trinta anos. Só que hoje
é reconhecido, aceito e até incentivado por muita gente
– de galeristas a colecionadores, de jovens até museus,
literalmente. O MASP, por exemplo, a instituição cultural
mais visitada na capital, dedicou meses de seu maior salão
a uma exposição específica de alguns dos maiores nomes
da área (como Zezão, Carlos Dias e Stephan Doitschinoff,
este grande artista, que aliás não se diz grafiteiro) entre
2009 e 2010. A Prefeitura também se mexe e o defende:
o grande mural grafitado no túnel da Av. Paulista, uma
vez pixado, foi imediatamente restaurado por seus
funcionários. E mesmo uma instituição de ensino, instalada
na Rua Augusta, e que se dedica a cursos independentes,
a Escola São Paulo, faz do grafite uma disciplina com o
professor-grafiteiro Loro Verz. Disciplina no grafite? É a
nova realidade de uma arte hoje abrigada pelas galerias.
As expressões são muitas: vão de Ozéas com seu Jesus
Cristo de orelhas de Mickey Mouse a tatus de Gejo feitos
em estêncil nos bueiros abertos da cidade, como um alerta.
Da inspiração hip-hop e marginal, o grafite conquista a cidade
definitivamente, e outros nomes também se fizeram importantes
na cena paulistana: Ciro Schunenam, Boleta, Mazu, Rafa Cachos,
Akeni. E mais: Titi Freak, Prozac, Espeto... São dezenas de famosos
ou quase, talvez centenas de ainda anônimos querendo a fama de
“Osgêmeos”, por exemplo. “Todo grafiteiro tem a sua identidade,
a sua assinatura que é reconhecida pelos outros – e atualmente
também pelo público”, diz a jovem marchande Jaqueline Martins.
O grafite começou a aparecer nas ruas de São Paulo no final
da década de 1970. O pioneiro oficial foi Alex Vallauri (1949-
1987), italiano nascido na Etiópia, criado em Santos e depois
em São Paulo. “Erudito” para um meio que se espera marginal,
foi artista gráfico formado em Comunicação Visual pela FAAP,
onde deu aulas de desenho. Foi também pintor, cenógrafo e
gravador – por ela começou sua arte. E, por fim, foi grafiteiro,
depois de especializações em Artes Gráficas na Suécia e
desenho na Inglaterra, além de ter estudado nos Estados
Unidos, onde já grafitava. Aqui deu continuidade ao trabalho
nos muros da cidade: anonimamente imprimiu o grafite de uma
bota preta, de salto agulha e cano longo por aí, em um de seus
trabalhos mais reconhecidos à época. Em breve, Vallauri volta à
cena, pelas mãos de Jaqueline Martins, que reabre sua galeria.
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À
Jaqueline Martins: “Ainda tem espaço para muitos artistas.”Ao lado, outra obra de César Profeta
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A R T E
E como e quando o grafite saiu das ruas e foi parar
nas galerias? “A partir da década de 1980, a galerista
Suzanna Sassoun expõe Alex Vallauri. Aliás, ela foi a
primeira galeria a trabalhar com grafite em São Paulo”,
diz Jaque. Hoje a mais emblemática entre as galerias de
grafiteiros é a Choque Cultural, inicialmente instalada em
uma casinha da Rua João Moura, em Pinheiros, e que
ganhou recentemente outra unidade, na Vila Madalena,
também especializada neles. Mas o movimento migratório
não para por aí. “Galerias dos mais variados estilos têm
em seu time artistas que saíram da rua para elas”. Senão,
vejamos: a Leme representa Nina Pandolfo — que, além
do talento, ainda é casada com um dos irmãos-estrelas-
do-grafite, vulgo “Osgêmeos”, de notoriedade irrefutável
– representam para o grafite o que os Irmãos Campana
também o são para o design nacional.
A galeria Triângulo representa o Nunca (é, os grafiteiros
normalmente têm apelidos irreverentes). A Thomas Cohn
trabalha com Alex Hornest. E a futura galeria Zipper, de
Fábio Cimino (que se instala em breve na Rua Estados
Unidos, nesta febre de arte que ganha de novo a cidade),
representa o Higraff. Mônica Filgueiras, tradicional
galerista que sempre se renova, ou melhor, nunca deixou
de ser atualizada e inovadora, trabalha com Oséas e
Gejo, por exemplo. E existe também um grupo, o Família
Baglione, que atua no mercado nacional e internacional
com quatro grafiteiros, com destaque para Herbert
Baglione (vale entrar no blog deles, ou no Facebook, e
dar uma olhada). Obviamente, por vocação, a Choque
Cultural de Baixo Ribeiro e Mariana Martins tem a maior
concentração de grafiteiros inseridos no mercado. “Mas
ainda tem espaço e muitos artistas desconhecidos a serem
abrigados”, Jaqueline complementa, lembrando daqueles
em que também aposta: Pato, César Profeta, Vitché (com
importantes exposições no exterior, como na Fundação
Cartier em Paris, e em museus e galerias na Bélgica,
Alemanha, Los Angeles, Londres, etc.): “ótimos artistas
nas ruas, nas galerias, ou dentro de qualquer coleção.”
E para falar de comercialização do grafite, consultamos
Jaque mais uma vez: “Acho que o critério deve ser a
qualidade. Se a obra é boa, o artista é sensível e criativo,
OK!”. Ela encerra: “A arte de rua seria assimilada no nosso
mercado mais cedo ou mais tarde. Na verdade, por aqui
demorou muito a chegar. Imagine que, em 1977, Alex
Vallauri já estava participando da Bienal de São Paulo. E
pouco tempo depois já tinha uma galeria, e mesmo assim
a gente continua tratando o grafite como uma novidade,
um movimento de agora...”.
36 REVISTA OUTUBRO 2010 37 REVISTA OUTUBRO 2010
A arte de rua seria assimilada no nosso mercado mais cedo ou mais tarde.
Flávio no ateliê do Beco do Batman e em frente ao seu grafite na rua.
A R T E
Era uma vez um menino de Campinas que, como muitos, gostava
de desenhar. Aos seis anos, o filho de projetista (e músico nas
horas vagas) sentava-se ao lado da prancheta do pai e rabiscava,
rabiscava... As consequências juvenis foram a banda de garagem e
o curso de Artes Plásticas na PUC. Depois vieram as ilustrações para
os manuais da Tigre e a descoberta do humor, da caricatura. Prêmios
na área? Em (quase) todos os salões de humor brasileiros, do Piauí
a Piracicaba, o mais importante de todos. A passagem pelo Correio
Popular de sua cidade serviu de trampolim para as colaborações
na Editora Abril, produzindo para revistas como Superinteressante,
Playboy, Veja, Saúde, Vip e Placar. Conheceu Ziraldo e trabalhou para
o (re)lançamento do Pasquim, onde “fez” de José Serra a Lula. Com
sucesso, mas sem reconhecimento artístico, o que mais queria, Flávio
Rossi abandonou tudo e partiu para as telas em 2003, incensado por
Pedro Martins, filho de Aldemir, seu primeiro marchande. Livre da
pauta jornalística, mas não do aluguel, foi criticado e despejado. Mas,
estimulado por Reinaldo Marques, fez uma exposição no Shopping
Iguatemi, vendeu e foi em frente.
NA CONTRAMÃOFlávio Rossi foi cartunista, artista plástico e hoje é grafiteiro até sob encomenda.
Hoje, aos 31 anos, este Flávio ex-ilustrador e ex-caricaturista,
é artista e tem seu atelier no Beco do Batman, na Vila Madalena,
epicentro da cena grafiteira de São Paulo. Com técnica e precisão,
virou do avesso e, por convivência e vontade de ir para a rua
democratizar sua arte, é grafiteiro também. Entre seus orgulhos
estão: o de ter seu grafite intacto no muro do bairro, e flashes de
visão antes de começar cada novo trabalho, além de uma história
meio à la Jean-Michel Basquiat, que já grafitava enquanto ele apenas
nascia. No mesmo tempo em que Alex Vallauri espalhava pelos
muros da cidade de São Paulo a sua bota, entre outros ícones. Então,
enquanto discutimos, cerca de trinta anos depois de seu surgimento
no Brasil, a “validade” do grafite como obra de arte – e há mais de
vinte anos comemoramos seu Dia Nacional, 27/3 –, o movimento se
institucionaliza de forma avassaladora em São Paulo, como no mundo
(vide o fenômeno inglês Banksy). Como na história de Flávio Rossi,
com sua obra que hoje é feita até sob encomenda para restaurantes
como o Farofa Paulista (nos Jardins) e o Ringue (em Pinheiros). Flávio
expõe na nova galeria de Luis Tripoli.
38 REVISTA OUTUBRO 2010
Depois de lançar Piquenique, o músico e gourmet revela suas preferências enogastronômicas.
G A S T R O N O M I A
em São Paulo
com Ed Motta
eto de cozinheiro, o cantor e compositor carioca Ed Motta trouxe ao
público, no primeiro semestre de 2010, o décimo disco de sua carreira,
Piquenique – que marca a estreia da parceria com sua mulher Edna Lopes,
também companheira de degustações “clássicas e conservadoras”. Em
seguida, este expert em boa comida e bebida, especialmente vinhos,
conversou com a revista Yuny sobre seus gostos à mesa. Respondeu às nossas
perguntas de uma forma objetiva e franca, atendendo à nossa curiosidade – e
ainda deu dicas preciosas sobre restaurantes. Especialmente em São Paulo, que,
para ele, faz uma das melhores gastronomias do planeta: “tem excelência”.
Yuny: Qual é o seu maior prazer: comer ou beber?
Ed Motta: Adoro comer, mas os vinhos me dão vontade de chorar, me
emocionam mais.
Y: Quais são as suas preferências gastronômicas? O que seria um menu ideal?
EM: Adoro desde um menu de trufas brancas até uma simples e boa massa
pommodori basilico. Minha carne favorita é o pato – e as aves em geral.
De sobremesa, prefiro queijos como um Époisses de Bourgogne com um
bom Sauternes.
Y: O que mais preza em um restaurante – boa comida, é claro, e o que mais?
EM: Taças corretas para vinho, isso é fundamental. Música baixa ou de
preferência sem música. Ela não merece ser pano de fundo para a gastronomia
– me irrito muito com isso. Quanto mais alta a música, mais sem noção é o
lugar... geralmente esses restaurantes que têm um mesmo menu (que mistura)
pratos de influência tailandesa com outros clássicos europeus.
POR SERGIO ZOBARAN • FOTOS DIVULGAÇÃO
40 REVISTA OUTUBRO 2010 41 REVISTA OUTUBRO 2010
N
Ed Motta: “Bebo de joelhos vinhos brancos e
tintos da Borgonha”.
G A S T R O N O M I A
Y: E o vinho é indispensável como acompanhamento a uma boa
refeição? Quais os vinhos de sua preferência?
EM: Adoro vinhos do Velho Mundo, principalmente franceses, que
pairam em um patamar acima de tudo. Gosto sempre de um branco
antes do tinto, isso é religião.
Y: O couvert é indispensável?
EM: Se for do Alex Atala, sim! Mas torradinha com focaccia velha
muitas vezes é dispensável.
Y: E a sobremesa? Qual, quais?
EM: As melhores para mim são as do Antiquarius: a torta de nozes e
a siricaia, e doces conventuais, meus favoritos.
Y: A valorização do chef no Brasil está sendo correspondida na
qualidade da comida?
EM: De certo ponto sim, mas tem muito curioso fazendo experimentos
e querendo desconstruir sem saber o que é uma construção.
Y: Onde é melhor para se comer, Rio ou São Paulo?
EM: No Rio é bem fraco: eu conto nos dedos de uma mão os lugares
legais, e mesmo assim acho bem inferior a São Paulo. Comida na
América Latina é em SP, sem sombra de dúvida. Sushi, por exemplo,
só como aqui. No Rio e incomível.
Y: Quais os restaurantes que mais frequenta em SP? E por quê?
EM: D.O.M., Kinoshita, Vecchio Torino, Rufinos, La Brasserie / Erick
Jacquin e a cantina Speranza. Mas a lista é grande: vai de Due Cuochi
até a Casa Garabed (de esfihas especiais). O motivo é simples: São
Paulo faz uma das melhores gastronomias do planeta, com grande
excelência em tudo.
Y: O que come rezando? E o que não come em qualquer hipótese?
EM: Trufas brancas e pretas. Não como fast-food jamais. Nunca
gostei, prefiro arroz com ovo.
Y: O que bebe de joelhos? E o que não bebe “nem que a vaca
tussa”?
EM: Brancos e tintos da Borgonha. Malbecs em geral descem
quadrado para mim.
Y: Quem o acompanha nestas refeições? E de onde vem o amor
pela comida e pela bebida?
EM: Minha mulher Edna. Isso começou de casa, com minha mãe, por
influência do meu avô que era cozinheiro.
Y: E quais são as descobertas recentes e as combinações
gastronômicas (inusitadas) que costuma fazer?
EM: Uma descoberta simples e deliciosa foi um risoto de quinua na
Casa de Francisca, uma casa de shows minúscula e muito charmosa
no Jardim Paulista. Não sou adepto das misturas inusitadas: sou
conservador e clássico à mesa.
“Adoro vinhos do Velho Mundo, principalmente franceses, que pairam
em um patamar acima de tudo.”
43 REVISTA OUTUBRO 2010
B A I R R O
JÁ COMEÇOU
NAVILA
OLÍMPIAO FUTURO
Novo polo de negócios de São Paulo cresce e aparece.
ais recente, e quinto downtown corporativo a nascer na capital paulista – depois da tradição secular
do Centro velho, da grandiosa Paulista e das consagradas regiões das avenidas Brigadeiro Faria Lima
e Engº. Luis Carlos Berrini –, a Vila Olímpia é um dos bairros mais famosos com esta denominação tão
bucolicamente provinciana de vila, como outras centrais de vocações tão diversas na cidade: a residencial
Vila Mariana e a hypada Vila Madalena. É na Vila Olímpia, hoje lugar nobre da megalópole, que o futuro
paulistano se desenha, e no seu cenário já o presente se afirma. Nas ruas e avenidas dessa Vila, algumas alargadas há
muito pouco, existe uma atmosfera otimista e evolutiva de Blade Runner light, com seus edifícios altos. De futurismo, da
fulminante eficiência no modo de produzir e de trabalhar no século XXI.
45 REVISTA OUTUBRO 2010 44 REVISTA OUTUBRO 2010
M
Fachadas espelhadas para edifícios inteligentes: a nova fase de um bairro que já foi
um charco.
B A I R R O
Poucos podem imaginar, portanto, que a região, na sua parte alta (até a
década dos anos 30 do século passado), se espreguiçava ainda sonolenta. Era
uma vasta área verde pontilhada de bonitas propriedades rurais, de imigrantes
italianos e portugueses, que então começaram a ser loteadas. Na parte baixa
desta Vila, a várzea do Rio Pinheiros – depois aterrada por causa das enchentes
–, indústrias de médio porte, galpões, casas de vila e sobradinhos mostravam
a outra face do bairro. Ali estavam todos instalados num charco, tornando a
sub-região menos valorizada.
O boom imobiliário da Vila Olímpia – com seu passado de chácaras, e hoje
com quase 200 prédios e 25 helipontos – é recente. Ocorreu a partir da abertura
da imponente Avenida Faria Lima, que se chamaria Radial Oeste, na gestão do
prefeito Vicente Faria Lima, nos anos 1960, e que ligava os bairros de Pinheiros
ao Itaim Bibi. E, depois, da construção do seu prolongamento, nos anos 1990. A
partir daí começaram a brotar as torres impressionantes e os edifícios inteligentes
típicos do fim do século passado no mundo todo, e uma das características básicas
do século atual. Era o novo polo de negócios de São Paulo que se formava. Hoje,
muitas dessas torres são verdadeiros cartões de visitas
de grandes empresas, como diz o arquiteto e urbanista
Roberto Aflalo Filho, do Aflalo & Gasperini, escritório
autor de inúmeras obras no bairro “O endereço é uma
forma de uma empresa se apresentar, de se expor”, diz
Aflalo. No décor que nos remete a fibras ópticas, às super
tecnologias de ponta e às soluções arquitetônicas radicais,
as fachadas das torres, de modo geral – e isto vale para as
da Vila Olímpia, ainda segundo Aflalo – são uma espécie de
“membranas que separam o ambiente externo do interno,
sem excluir a importância de pensar na estética”. Por detrás
de fachadas fascinantes, algumas quase hiper-realistas, há a
preocupação de manter a qualidade ambiental, a qualidade
térmica (para bloquear a penetração do calor) e a qualidade
do ar. “E controlar a entrada excessiva da luz, interferindo na
iluminação dos escritórios.”, observa o arquiteto.
46 REVISTA OUTUBRO 2010 47 REVISTA OUTUBRO 2010
Restaurantes, chocolateria, ateliê de cerâmica e o Shopping:
bucolismo e progresso.
B A I R R O
APOSTA NO BAIRROMas há um outro rosto da Vila Olímpia que contrasta
com o cenário francamente progressista. Ele foi criado por
algumas pessoas visionárias e criativas que ali instalaram
nas décadas passadas, nas casas sobreviventes do bairro,
ateliês, cafés, restaurantes e pequenos escritórios de
microempresas em que o tema é sempre este: charme.
Stella Ferraz, a emblemática ceramista, é uma delas. Está
há anos na Rua Chilon. A sapateira Paula Ferber é outra.
Abriu seu primeiro espaço na mesma Vila. O restaurante
Trio ali nasceu, há quatorze anos, e se criou com o
poderoso banqueteiro Charlô entre seus sócios. Até hoje,
sob o comando de Dudu Linhares, que abriu também um
espaço de eventos com o mesmo nome, o Trio faz grande
sucesso no horário do almoço comercial, no jantar e aos
domingos, com o seu afamado brunch. Paula de Lima
Azevedo ali instalou a sua conhecida chocolateria Sweet
Brazil há mais de vinte anos, em uma casa de vila na
Rua Cassiano da Silva Passos. “Quando cheguei aqui, em
1987, o bairro era uma grande favela, com ruas estreitas
e engarrafadas, esburacadas ou sem saída, inundadas
quando chovia, e praticamente sem calçadas – além dos
pontos de crack. Eu trabalhava de portas fechadas e a minha
primeira fábrica era protegida por grades porque, de vez
em quando, recebíamos ameaças,” ela lembra, com o ar
de quem diz parece que foi ontem. E foi mesmo! Hoje em
novo endereço, com arquitetura de Alfredo Pimenta, muitos
doces, bombons, barras de chocolate e salgados, a Sweet
Brazil conta com trinta funcionários e uma loja defronte da
pequena fábrica que é outro grande sucesso: serve mais de
trezentos cafés, no horário do almoço, para executivos e,
especialmente, segundo sua proprietária, publicitários que
descem de seus edifícios de escritórios na Rua Funchal e na
Rua das Olimpíadas e circulam pela ainda pacata Alameda
Raja Gabaglia, onde está a Sweet Brazil de Paula. Outro que
apostou na Vila Olímpia foi o chef Roberto Ravióli. Lá, ele
inaugurou o seu primeiro espaço gastronômico, o Empório
Ravioli, na Rua Fidêncio Ramos. E o bairro é também
incubadora de outras cozinhas muito apetitosas: foi ali
que se estabeleceu a cozinha do Arábia, famosa cadeia de
restaurantes de comida árabe da cidade, entre outras.
48 REVISTA OUTUBRO 2010
P E R F I L
m dos mais respeitados especialistas em
Direito Imobiliário do Brasil, o advogado
Marcelo Terra, sócio do escritório Duarte
Garcia, Caselli Guimarães e Terra, tem duas
certezas. A primeira é de que a construção,
cada vez mais frequente, de condomínios horizontais
e verticais na capital do estado e em outros grandes
centros, atende necessidade dos habitantes das cidades,
hoje básica e crescente, de segurança não apenas
patrimonial, mas também pessoal. São empreendimentos
que, além do mais, em geral, oferecem serviços in loco
aos seus moradores – o que proporciona mais flexibilidade
de locomoção através de ruas e avenidas congestionadas.
A segunda afirmativa de Terra diz respeito à prática da
sua especialidade no Direito. “É o Direito que trata dos
negócios cuja base é o imobiliário”, diz ele. Trata-se de uma
atividade que visa a proteção de todos os protagonistas
envolvidos nas operações de negócios – investidores de
imóveis e compradores de unidades habitacionais.
Membro do Conselho Jurídico do Sindicato de Compra e
Venda de Imóveis (Secovi-SP) e autor de diversos livros
sobre o tema, Marcelo Terra também observa que esses
condomínios atendem a todas as classes. E para quem
deseja seguir o seu exemplo pessoal, deve prestar
MORAR E COMPRAR(OU VENDER)
BEM UM IMÓVELDr. Marcelo Terra: “O Direito Imobiliário é uma proteção a toda a sociedade”.
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
atenção à trilogia que acompanha a boa compra de
imóvel: a escolha do local, a análise atenta da planta e
o preço convidativo. A seguir, uma entrevista construtiva
do Dr. Marcelo.
Yuny: Quase diariamente lemos, na mídia, o noticiário
sobre o boom da indústria da construção civil e uma
retomada das atividades imobiliárias, nos grandes
centros do País. Ela existe mesmo?
Marcelo Terra: Sim, sem dúvida. Todos os indicadores
divulgados apontam para este incremento na atividade
da indústria imobiliária. Aqueles que de alguma forma
trabalham com a indústria imobiliária sentem este
acréscimo de atividade. E todos os indicadores apontam
para uma efervescência sustentada.
Y: Em uma grande cidade como é São Paulo, em quais
regiões essa movimentação se verifica?
MT: Em todas as regiões. São Paulo é, na realidade, um
conjunto de diversas cidades. Cada bairro do centro
urbano e cada cidade da região metropolitana têm as
suas características e o seu público. Com o programa de
governo Minha Casa Minha Vida, efetivamente todas as
regiões encontram demanda para os produtos imobiliários. Dr. Marcelo Terra em seu escritório de São Paulo
51 REVISTA OUTUBRO 2010 50 REVISTA OUTUBRO 2010
U
P E R F I L
Y: No Brasil, o Direito Imobiliário já é uma área jurídica bastante
conhecida. Como ele pode ser definida e quais são os seus objetivos?
MT: O Direito Imobiliário é uma expressão bastante ampla. Na
realidade, o advogado que trabalha com Direito Imobiliário pratica
uma série de ramos do Direito (Civil, Comercial, Ambiental,
Urbanístico, Tributário) interagindo com Direito Societário, Família e
Sucessões. Gosto de dizer que o Direito Imobiliário praticado pelo
nosso escritório é o direito dos negócios com base no Imobiliário.
Y: E a quem ele protege? Aos incorporadores e construtores, e
também aos clientes?
MT: Como todo ramo do Direito, o Imobiliário existe e está à disposição
da sociedade. Seu objetivo é regrar e disciplinar a vida em sociedade,
protegendo, portanto, não essa ou aquela parte isoladamente, mas
a relação contratual firmada. Portanto, em última análise, protege a
própria sociedade como um todo.
Y: Qual é a função do advogado nas incorporações, na
aprovação da compra do terreno, no contrato entre os
sócios do negócio, na montagem jurídica do processo e no
relacionamento da empresa com poder público?
MT: Hoje em dia, o advogado dos negócios com base imobiliária
exerce estas múltiplas facetas, incluindo o relacionamento com o
adquirente final do produto imobiliário: lote, unidade autônoma,
ou título de valor mobiliário com base imobiliária como certificados
de recebíveis imobiliários, debêntures imobiliárias, fundos de
investimento imobiliário, etc.
Y: Problemas na aquisição dos terrenos, por exemplo: pessoas
idosas que não pretendem deixar as suas casas; o número cada
vez menor de terrenos disponíveis para compra; o tombamento
de imóveis pelos serviços de patrimônio... Em que medida tudo
isto dificulta o trabalho de incorporação e compra de áreas
interessantes?
MT: A sociedade é cada vez mais complexa nos seus múltiplos
regramentos. A atividade da indústria imobiliária permeia o meio
ambiente, o consumidor, o urbanístico. A complexidade da legislação
é cada vez maior. Alie-se este incremento de complexidade à natural
diminuição de áreas destinadas a empreendimentos imobiliários nos
grandes centros urbanos. Resultado: maior dificuldade na aquisição,
com rapidez e com a necessária segurança, de áreas destinadas a
empreendimentos imobiliários.
Y: Um empreendimento que seja espetacular, por exemplo, em São
Paulo, em uma área até então semidegradada, tem capacidade
de atrair negócios nas proximidades dele e, em médio prazo,
transformar a qualidade de vida dos moradores da região?
MT: Sem dúvida. Há vários e inúmeros exemplos. Basta olharmos
o mapa da cidade. Alguns exemplos podem ser vistos no Shopping
Iguatemi, em Alphaville, no Centro Empresarial.
Y: E qual é a sua opinião sobre a legislação – nacional, estadual,
municipal – que regulamenta o zoneamento urbano? Ela
realmente protege o patrimônio público? E as alterações mais
recentes nesse conjunto de leis? São justas? Elas procedem?
MT: O grande segredo de uma boa legislação urbanística ambiental
consiste na sábia e ponderada coordenação entre atividade econômica
e proteção urbanística e ambiental. E precisa ser de fácil compreensão
por todos os cidadãos. Mais ainda: precisa haver um grau de segurança
jurídica para os investimentos que não podem ser surpreendidos a
meio do caminho, seja por causa da alteração legislativa ou pela
modificação de entendimento de legislação anterior.
Y: Quais os cuidados que o empresário da atividade imobiliária,
devidamente assessorado pelos seus advogados, deve ter para
realizar um bom negócio e, ao mesmo tempo, evitar a agressão
ao meio ambiente?
MT: Trabalhar com os melhores profissionais de todas as áreas, saber
compreender a importância de sua atividade e de sua atuação no
seio da coletividade.
Y: Em que medida os novos lançamentos de condomínios
horizontais ou verticais, onde os moradores podem usufruir de
dezenas de serviços, estão determinando novos comportamentos
e estilos de vida inéditos para os moradores das cidades?
MT: Em um grande centro urbano recheado de preocupações
relacionadas ao trânsito e à segurança pessoal e patrimonial, os
grandes condomínios vieram preencher uma lacuna para determinada
camada da população. São extremamente positivos.
Y: E a insegurança crescente, em um grande centro como São
Paulo? Determina mudanças nos lançamentos imobiliários?
MT: Sem dúvida. Voltamos ao exemplo dos grandes empreendimentos.
E devemos lembrar também dos empreendimentos do tipo
loteamento fechado e de alterações arquitetônicas mais singelas,
como as guaritas, que eram inexistentes nos projetos e no cenário
paulistano até a década de 1980.
Y: Qual é o perfil do cliente mais cortejado pela atividade
imobiliária? Jovem? Idoso? Desejoso de adquirir seu primeiro
imóvel? Vem do interior do estado? É investidor? Compra para
fazer negócio?
MT: Penso que todo cliente é cortejado. O segredo está em se
descobrir o projeto adequado para o público desejado.
Y: O senhor mora em condomínio? Em apartamento? Em casa?
Costuma se beneficiar dos serviços do seu condomínio?
MT: Moro em apartamento situado em prédio, e me beneficio da
sala de fitness.
Y: Como escolheu a sua moradia?
MT: Pelo local, pela planta e pelo preço.
“A atividade da indústria imobiliária permeia o meio ambiente, o consumidor, o urbanístico. A complexidade da legislação é cada vez maior”.
52 REVISTA OUTUBRO 2010 53 REVISTA OUTUBRO 2010
E S T I L O Y U N Y
Limited Funchal traduz o jeito de morar contemporâneo.
VIDANA VILA OLÍMPIA,
O NOVO MODO DE
01. Perspectiva ilustrada da Fachada.
54 REVISTA OUTUBRO 2010 55 REVISTA OUTUBRO 2010
iluminado, como em edifícios de escritórios nova-iorquinos – um loft moderno. “Buscamos trabalhar
com muito vidro, e por isso todos os terraços têm este tipo de fechamento e massa texturizada branca.
Portanto, é um edifício bem clean, com o forro dos terraços em madeira para aquecer um pouco“, diz
a arquiteta Grazzieli S. Gomes, coordenadora de projetos no Aflalo&Gasperini, escritório emblemático
na cidade e no país, e autor do Limited Funchal, cujo paisagismo leva a assinatura de Marcelo Novaes.
O Limited tem um salão de festas no térreo e no sexto pavimento está a área de lazer, que inclui
fitness, sauna, área de descanso e uma raia descoberta em cima do edifício mais baixo, conectado ao
corpo mais alto por uma elegante passarela – e as garagens ficam nos quatro subsolos. “Em todas as
opções de apartamentos buscamos criar um espaço qualitativo e flexível”, diz Grazielli. E continua: “Na
verdade, trata-se de um grande ambiente que pode ser dividido como se queira. Afinal, somente nos
apartamentos de dois dormitórios é que eles aparecem definidos e mais separados”. Mas ela relembra
om uma localização excepcional – um dos
últimos terrenos localizados no coração da Vila
Olímpia, na esquina das ruas Funchal e Gomes
de Carvalho –, em duas torres residenciais, com
apenas algumas lojas abaixo do corpo de um
destes dois edifícios, o Limited Funchal lança,
em São Paulo, o conceito nova-iorquino de arquitetura
contemporânea: espaços inteligentes e multiuso. São
pouco mais de 80 apartamentos de áreas variadas, com
um ou dois dormitórios, em cinco tipos de plantas –
entre 62 e 130 m2 – os tamanhos ideais para os seus
objetivos. As unidades são totalmente integradas, como
manda o jeito de morar contemporâneo: sala, quarto,
lavabo e cozinha formando um único volume – todos
com janelas de piso a teto e terraço em toda a sua
frente, permitindo assim uma grande luminosidade no
apartamento e flexibilidade total de layout. Ainda há os
duplex, apartamentos diferenciados, com 1 dormitório
no pavimento superior, e as áreas sociais no inferior.
O fechamento dos terraços do Limited Funchal é feito
em “pele de vidro”, e em ambos os andares do duplex
a sensação (e a realidade) é de um espaço amplo e
C
E S T I L O Y U N Y
FICHA TÉCNICA*
* Material preliminar sujeito a alteração.
TORRE A03 apartamentos duplex com 65,40 m²
18 apartamentos duplex com 64,53 m²
VAGAS
1 ou 2 vagas para unidades duplex
TORRE B16 apartamentos com 67,30 m²;
14 apartamentos com 66,37 m²
16 apartamentos com 62,51 m²
01 apartamento com 129,43 m²
01 apartamento com 130,79 m²
06 apartamentos com 106,06 m²
07 apartamentos com 76,25 m²
VAGAS
1 vaga por unidade
02. Imagem ilustrativa.03. Perspectiva ilustrada do apartamento de 67 m2.
02 03
que a solução estrutural “limpa” da torre possibilita
a junção de apartamentos, dando maior flexibilidade
aos futuros moradores e/ou investidores.
NADA MAIS A DIZERTem gente que é antenada com o mundo, que tem
um lifestyle globalizado. E que busca as melhores
marcas porque sabe que seus produtos têm mais
qualidade. A Yuny entendeu isso e buscou enfrentar
um de seus maiores desafios: trazer para São
Paulo um novo padrão “grifado” de apartamentos.
A partir de pesquisas, a incorporadora constatou
que, no contexto urbano de uma megalópole, a
localização da moradia é fundamental – e traz
contemporaneidade, além de status ao seu morador.
Como no Limited Funchal, cujo nome já diz tudo,
é para quem preza conforto com praticidade! “Ser
Limited já traz uma dimensão da exclusividade e alto
padrão”, diz a campanha de lançamento. Porque o
nome do empreendimento, que tem este conceito,
já diz tudo. Daí o slogan criado: “Nada mais a dizer”,
que mostra a força do produto, valorizando tudo
o que é Limited. E que começa na Vila Olímpia,
desenvolvido para quem tem muito a dizer.
56 REVISTA OUTUBRO 2010 57 REVISTA OUTUBRO 2010
S O C I A L
Toca, Zezinho!
Iniciado em fevereiro de 2009, visa o ensino de canto coral, musicalização infantil e o
uso dos instrumentos musicais, atingindo 440 crianças e adolescentes atendidos pela
ONG Casa do Zezinho. Utilizando um repertório de música erudita internacional, e
com especial enfoque na música brasileira clássica e folclórica – além da participação
de músicos das principais orquestras de nossa cidade –, o Toca, Zezinho! busca a
educação e o crescimento dessas crianças através da música. Em 2010, a Yuny
duplicou seus investimentos nesse projeto.
O investimento social da Yuny Como toda corporação que se preze no mundo de hoje, a Yuny tem uma estratégia de investimento socioambiental, o que contribui para minimizar o impacto causado pela sua atividade econômica e para promover o desenvolvimento social.Os projetos desta área, desenvolvidos com a assessoria especializada da Lynx Consultoria, são quatro até o momento.
MEIO AMBIENTE,
EDUCAÇÃOE ENSINOPROFISSIONALIZANTE
58 REVISTA OUTUBRO 2010 59 REVISTA OUTUBRO 2010
S O C I A L
Escola Verde
Trata-se de um projeto de educação ambiental em escolas públicas, localizadas no
entorno dos empreendimentos da Yuny. E que visa mobilizar e capacitar gestores,
professores e, ainda, mobilizar alunos através de um conteúdo pedagógico
adequado às necessidades e realidades de cada público-alvo. A primeira Escola
Verde Yuny está sendo implantada próximo aos empreendimentos Le Paisage
e Marquise, no bairro do Ibirapuera, dentro da Escola Municipal de Educação
Infantil (EMEI) Heitor Villa Lobos, localizada na Rua Curitiba, e que atende 165
crianças de 3 a 6 anos de idade. Neste projeto pioneiro, o foco é em jardinagem,
reciclagem, e na horta.
Semana do Planeta
Utilizando a Semana Internacional do Meio Ambiente, de 7 a 11 de junho, a
Semana do Planeta Yuny promoveu a conscientização dos funcionários da
incorporadora através de uma série de iniciativas que tinham como objetivo o
engajamento e a sensibilização do público interno para questões ambientais.
Houve testes de consumo, revoada de balões biodegradáveis, plantio de mudas
e sorteios de itens orgânicos, buscando assim sensibilizar os colaboradores diante
do desafio de se preservar nossa natureza.
Construindo o futuro
Este projeto quer contribuir para a qualificação profissional e inclusão dos jovens
com menos oportunidades no mercado de trabalho, dentro do setor da construção
civil, promovendo seu desenvolvimento socioeconômico. Após a conclusão do
curso, a intenção é que os jovens, de 18 a 24 anos, sejam contratados pelas
construtoras parceiras para trabalhar nos empreendimentos da Yuny.
60 REVISTA OUTUBRO 2010 61 REVISTA OUTUBRO 2010
L I F E S T Y L E
EXECUTIVO IMPREVISÍVELDepois de fazer a noite paulista, Beto Pandiani veleja profissionalmente em busca do inóspito.
POR SERGIO ZOBARAN • FOTOS ARQUIVO PESSOAL
62 REVISTA OUTUBRO 2010 63 REVISTA OUTUBRO 2010
L I F E S T Y L E
m São Paulo, o ex-homem da noite Beto Pandiani
leva hoje uma vida regrada de executivo, ainda
que sem terno e gravata. Em casa o velejador e
palestrante lê (livros prediletos: O Poder do Mito,
Expedição Kontiki e Abaixo da Convergência),
assiste TV (filmes preferidos: todos os de Fellini, além
de Dersu Uzala e Fitzcarraldo), pesquisa na internet.
Nos fins de semana, quase sempre vai para a Ilhabela.
Bem, aí tem a vela, paixão que move sua vida para
lugares imprevisíveis.
Beto escreve bem – já lançou seis livros, como o mais
recente Travessia do Pacífico (Terra Virgem Editora, com
Igor Bely) –, rodou três filmes – e fará mais um em sua
próxima viagem pelo mar polar do Ártico, este para
o cinema –, e organizou inúmeras exposições de suas
fotografias. E, como atividade principal, dá palestras
motivacionais para empresas sobre este seu trabalho
Yuny: O que motiva um homem a singrar os mares ao
invés de sentar-se em frente ao computador e trabalhar
como executivo?
Beto Pandiani: Foram seis viagens no total (até agora),
mas engana-se quem pensa que deixei de trabalhar como
executivo. Só não ando de terno e gravata, mas o meu
trabalho continua sendo o de empreender, organizar,
liderar, cuidar do orçamento, motivar o time, tomar
decisões, administrar riscos, etc. A motivação é o novo,
o desconhecido, é a tentativa de realizar o impossível, a
superação física e organizacional.
Y: Quantos dias por ano dedica ao mar e quantos passa
em terra?
BP: Depende; se for ano de viagem, posso me afastar de
São Paulo por alguns meses; se não, só velejo nos fins
de semana. As minhas atividades giram em torno das
viagens. Já fiz seis livros, três filmes, inúmeras exposições
de fotografia e, como atividade principal, faço palestras
motivacionais para empresas.
Y: Como funcionou a tripulação desta viagem mais
recente, quantas pessoas, com que funções?
BP: Como o barco é pequeno, e não tem cabine, só velejo
com mais um companheiro. Temos sempre um fotógrafo e
um cinegrafista nos seguindo e, dependendo da viagem,
eles vão de avião, barco, carro ou mesmo, em determinados
trechos, no nosso barco. Sempre tem alguém em São Paulo
coordenando a viagem, além da assessoria de imprensa e
das empresas que patrocinam também.
inusitado. Ele explica como tudo começou: “Velejo
desde os 23 anos, e só não comecei aos 15 por motivos
financeiros e falta de oportunidade, mas já sonhava em
dar uma volta ao mundo. Nasci em Santos, de frente para
o mar, que amo desde pequeno. Meu pai foi velejador
também, e acho que a inspiração também veio dele. Como
profissão, não imaginei que isso fosse possível, tanto que
estudei achando que ia para o lado administrativo de
alguma empresa. Depois fui trabalhar em restaurante e no
final fui parar na noite paulistana, sendo sócio de diversas
casas noturnas nas décadas de 1980 e 90 – AeroAnta,
Singapore Sling, Clube BASE, Lounge, Mr. Fish e Olivia.
Passados alguns anos, veio a oportunidade de fazer uma
longa viagem Miami-Ilhabela, em 1994. Larguei tudo e fui.
Mesmo durante a época do trabalho na noite eu velejava,
competia na Classe Hobiecat 16”. E aí perguntamos ao
Betão, como é chamado pelos amigos!
65 REVISTA OUTUBRO 2010 64 REVISTA OUTUBRO 2010
E
L I F E S T Y L E
Y: O que comiam e bebiam; enjoavam, passavam mal?
BP: Maiores dificuldades, medos... Comemos um pouco de tudo.
Pratos principais quentes são as comidas liofilizadas; café da manhã
são cereais, leite, frutas secas, frutas, barras. Comemos também
castanhas, nozes, queijos, salames, biscoitos, doces e barras
energéticas. Enjoar faz parte, pode acontecer, mas é difícil. Adoecer
nunca aconteceu, felizmente. As maiores dificuldades são inerentes
ao fato do barco ser aberto e ficarmos expostos ao frio, calor e à água
do mar. Tem os dias lindos no mar, como também os dias feios de
mau tempo, quando não conseguimos descansar à noite, e somos
obrigados a resistir até passar a tempestade.
Dois fatos mais curiosos: a primeira viagem, que foi de Miami a Ilhabela
na sua primeira parte, velejamos pelo Caribe e, quando chegamos à
América do Sul, não contornamos as Guianas como seria normal para
atingir a costa brasileira. Ao invés disso, entramos no Rio Orinoco, na
Venezuela, e subimos este gigante por 1.800 quilômetros até o encontro
do Canal do Casiquiare. De lá, passamos a navegar em direção ao Rio
Negro. Mais um mês e chegamos ao Rio Amazonas e, por fim, Belém.
Cortamos a Amazônia toda por rios durante 75 dias, navegamos mais
de 5 mil quilômetros por uma rota praticamente desconhecida.
Y: Qual foi a maior viagem, o maior desafio?
BP: A mais longa viagem em distância foi a última, a Travessia do
Pacífico: 9 mil milhas náuticas, quase 17 mil quilômetros. Mas a que
mais tempo durou foi a Entre Trópicos, 289 dias de Miami à Ilhabela.
Sempre o maior desafio é ficar exposto por meses em situações de
risco. Basta uma decisão errada, um descuido, e tudo pode estar
perdido. Ficar muito tempo velejando nestas condições requer uma
cabeça em ordem, calma, confiança e determinação.
Y: E as próximas, para onde e quando?
BP: A próxima viagem deve ser a mais difícil e complicada. A ideia
é partir da Groenlândia, onde chegamos em 2005, e continuar
velejando para o norte, acima do Círculo Polar Ártico passando por
cima do Canadá e chegando ao Alaska. Uma viagem pelo mar polar
do Ártico que descongela em parte no verão. Serão noventa dias pela
região mais imprevisível do planeta. A viagem deve acontecer em
2012, e desta vez vamos produzir um filme para o cinema.
Sonhos futuros de outras viagens? Quais, para onde? Continuar a
velejar por lugares inóspitos, pouco explorados, quase sem ninguém
morando por perto.
Imagens e capa do livro em parceria com Igor Bely.
66 REVISTA OUTUBRO 2010
T U R I S M O
Descendentes de imigrantes refazem o caminho de origem.
POR ANA MARIA SANTEIRO • CONTEÚDO CONCIERGE TURISMO
DE VOLTA ÀS
RAÍZES
Scaliger - Castelo do Sec. XIIlocalizado em Sirmione uma
comunidade na Brescia
68 REVISTA OUTUBRO 2010 69 REVISTA OUTUBRO 2010
prendemos na escola que os brasileiros são frutos de três povos: índios, africanos e europeus,
ingredientes básicos para a formação da brasilidade durante quatro séculos. No final do século
XIX e início do XX, entretanto, outros temperos foram salpicados a esse melting pot, dando-
lhe novos sabores. Portugueses e espanhóis da Europa deram lugar aos italianos. E, de outros
continentes, vieram árabes e japoneses. Entre 1870 e 1929, grandes levas de imigrantes
aportaram aqui através de processos migratórios organizados pelo Governo brasileiro e incentivados
pelos países de origem. De um lado, a procura de mão de obra para a lavoura ante a iminência
do fim da escravatura. De outro, a busca por melhores condições de vida, fugindo da fome ou de
perseguições religiosas. Cento e quarenta anos depois, rendidos à total miscigenação, que sempre
fala mais alto, esses grupos são parte indelével da cultura brasileira. Afinal, quem não conhece (ou
gosta de) uma esfiha, uma pizza ou um sushi? Uma vez estabelecidas e ascendidas, muitas famílias
de imigrantes, e agora seus descendentes, fazem o caminho de volta, para rever ou conhecer suas
origens, pois nele há muita história a se contar e coisas a se ver.
ITÁLIA: TUTTI BUONA GENTE
Da Itália veio um total de 1.243.633 imigrantes, de todas as regiões. O Vêneto, no norte italiano, foi
a que mais exportou: 365.710 pessoas! A origem do nome vem do povo que habitava a laguna de
Veneza, às margens do Mediterrâneo, na época romana. Na Idade Média, a República de Veneza
estendeu sua influência às demais cidades-estado vizinhas, como Verona, Vicenza e Pádova. Da capital
é fácil e rápido visitar estas lindas cidades históricas, que conservaram fabuloso patrimônio cultural e
arquitetônico. Lugares repletos de monumentos romanos, medievais e renascentistas, villas, palácios,
castelos, pontes e museus. O Vêneto também oferece excelentes vinhos e gastronomia, com pratos
à base de frutos do mar – incluindo risotos e massas. Veneza é uma cidade singular, tanto pela sua
construção sobre o mar – as quadras são ilhas e as ruas, na maior parte, canais – e pela sua arquitetura
cheia de palácios e belos edifícios, tão diversos entre si e, ao mesmo tempo, tão homogêneos, como
pela forte influência oriental, que dá à cidade uma aura de conto de fadas.
A
T U R I S M O
Praça São Marcos, em Veneza
Noite em Verona
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Na Piazza San Marco fica a Basílica em estilo veneziano-
bizantino e o Palazzo Ducale (ou Palácio do Doge), em
estilo gótico-veneziano, construído a partir do século XII. À
esquerda de quem olha para a basílica, a linda Torre dell
Orologio. Pela Ponte dos Suspiros, do século XVI, chega-
se ao Palácio do Doge. E durante o inverno acontece o
Carnaval de Veneza: a população sai às ruas com as
tradicionais máscaras inspiradas nos personagens da
Commedia dell’arte: Arlequim, Colombina, Polichinelo e
Balanzone. Bem perto dali está a eterna cidade de Romeu
e Julieta, Verona. Seu patrimônio histórico inclui a Arena
construída no século I d.C., um castelo medieval com altas
muralhas, o Castelvecchio, residência da família Scaligeri,
as igrejas de Santa Maria Antica e a Basílica di San Zeno
Maggiore (1120). E, para não sair do conto de fadas que
a cidade também inspira, a “Casa de Julieta”, do século
XIII. Uma das mais antigas cidades de Vêneto, Pádova foi
importante centro comercial e agrícola, e do século XI ao
XII tornou-se comuna livre, até sua anexação à República
de Veneza, no século XV. São desta época a Universidade
de Pádova e a Basílica de Santo Antonio, que era
português e ali viveu e morreu. Giotto, autor dos afrescos
da Cappella degli Scrovegni, também viveu em Pádova
entre 1305 e 1310. De lá, pelo Canale di Brenta – ladeado
por dezenas de magníficos palácios – chega-se à Laguna
de Veneza. Vicenza, fundada antes da era Cristã, viveu
grandes disputas com Verona e Pádova, até ser anexada
a Veneza em 1404. As villas e os palácios projetados pelo
arquiteto renascentista Andrea Palladio e seus discípulos
constituem importante patrimônio arquitetônico. O Palácio
Chiericati – atual Museo Cívico – construído em 1549, é
todo ornamentado por estátuas, com arcos e colunas
jônicas. Obras de Tintoretto, Mantegna, Carpaccio e
Veronese fazem parte do acervo. O Teatro Olímpico, na
Piazze Matteotti é o mais antigo teatro coberto da Europa.
Em Cortina d’Ampezzo, uma das principais estações de
esqui italiana, desfruta-se de belas paisagens no inverno,
e no verão os morros floridos convidam ao trekking, ao
mountain bike, às escaladas.
T U R I S M O
Uma das belas vistas de Beirute
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LÍBANO: JOIA DO ORIENTE MÉDIO
Do Oriente Médio, também banhando pelo Mediterrâneo, vieram os árabes da Síria e do Líbano.
Do ponto de vista étnico, sírios e libaneses têm a mesma origem, embora política e culturalmente
haja diferenças marcantes entre eles. Seus passaportes eram da Turquia, pois o Líbano e a Síria
não existiam como países independentes. Faziam parte do Império Otomano (1299-1922), regido
pela Turquia. Esse detalhe fez com que, aqui no Brasil, todo árabe fosse referido como turco. Como
Nassib, o personagem de Jorge Amado, em Gabriela, Cravo e Canela. O Líbano é um pequeno país
montanhoso, de rica cultura. Protetorado da França até 1926, tem o francês como segunda língua,
além do árabe. Faz fronteira ao sul com Israel, a norte e leste com a Síria. Na estreita costa banhada
pelo Mediterrâneo estão Beirute, Trípoli, Byblos, Sidon e Tyro, cidades com muita história. Outras
grandes e pequenas cidades ou aldeias formam o resto da costa do norte ao sul na sombra do Monte
Líbano, que parece levantar-se do Mediterrâneo de maneira súbita.
Sua capital Beirute é conhecida pelas belezas naturais e
modernidade. Durante muitos anos foi conhecida como a
Paris do Oriente. Normalmente, o turista que vai ao Líbano
se hospeda em Beirute, onde há uma infinidade de hotéis
de todas as categorias, e de lá visita às outras partes do
país e retorno no mesmo dia, pois fica tudo muito próximo
(em geral, menos de duas horas de viagem). Por toda
cidade, construções modernas convivem com construções
em estilo arabesco-otomano e francês, que lhe conferem
um charme próprio. Às margens do Mediterrâneo, seu
clima é perfeito para viagens o ano inteiro. Deve-se fazer
compras nas boutiques mais fashion nos diversos souqs,
explorar os tesouros do país no Museu Nacional, visitar
galerias de arte, dançar nos clubs super trendy, jogar no
cassino, ver o pôr do sol, relaxar nos spa na La Corniche:
com certeza Beirute tem muitas coisa a oferecer para
todos. A Torre do relógio, na Place d’Etoile, é o ponto
central da cidade, de onde saem vários calçadões cheios
de lojas chiques, cafés e restaurantes. Mais à frente, pode-
se apreciar a Mesquita Al Omari, sobretudo iluminada, à
noite. Durante o dia, Ras Beirut, onde fica o campus da
Universidade Americana do Líbano, fundada em 1866,
e Hamra são bairros onde se pode conferir o dia a dia
alegre e contagiante dos beirutianos. E à noite, Beirute não
para. Na rua Manot, no bairro Achrafiyé, estão as baladas
do momento. Junto a Beirute, estão Jounieh, balneário
elegante; Harissa, na montanha, acima de Jounieh, sítio
da Basílica e Santuário de Nossa Senhora do Líbano e da
Basílica de São Paulo, umas das mais fantásticas atrações
do Líbano, onde se chega de carro ou por teleférico, e de
onde se tem uma vista espetacular: o o mar até a ilha de
Chipre; a Gruta de Jeita, localizada no vale do rio Nahr Al-
Kalb, uma das maravilhas do mundo, descoberta em 1836,
formada for cavernas em dois níveis – na de cima se vai
de barco (é uma rota de escape do rio Nahr Al-Kalb) e na
de baixo vai-se a pé –; e Faqra, estação de esqui, cheia
de ruínas de templos, túmulos, colunas e altares, onde se
pode continuar a honrar deuses e antepassados.
T U R I S M O
Na pág. anterior,rochas em Beirute, à beira do Mediterâneo
Ao lado,01. Noite agitada noverão libanês.02. Universidade Americanado Líbano.03. Centro de Beirute.
Kasato Maru, navio que trouxe mais de 800 japoneses ao Brasil.
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Nas cidades históricas, chega-se ao berço da
Humanidade e se maravilha com o maior conjunto
arquitetônico romano existente no mundo, os templos
dedicados a Júpiter, Vênus e Baco, datados dos séculos I
e III, em Baalbek, no vale de Beka; as ruínas de palácios,
souqs, thermas, ruas com colunas e muros, recintos com
impressos dos primeiros muçulmanos, em Anjar; o Palácio
Beit Ed-Dine, pérola da arquitetura oriental, em Beit Ed-
Dine; os vestígios de um castelo dos Cruzados, num dos
sítios arqueológicos mais ricos do Oriente Médio e uma
das cidades mais antigas do mundo, Biblos ou Jbeil. Ao sul,
Sidon e Tiro mantêm não só os vestígios dos povos que
por ali passaram como mantêm a tradição de importantes
portos e entrepostos comerciais que são desde os tempos
imemoriais do Rei Salomão, como nos conta Z. Rodrix em
seu livro Joabel, a Reconstrução do Templo (Ed. Record).
Ao norte, Trípoli, a segunda maior cidade libanesa, encarou
sua parte no drama através das eras desde o século XIV
a.C.; foi dominada por persas, romanos, o muslim de
Manluke, turcos, otomanos, resultando numa cidade cheia
de história, mesquitas, banhos turcos, castelos medievais
e mercados (souqs) tradicionais.
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NO JAPÃO, A PORTA DE SAÍDA É A MESMA DE ENTRADA
Com o fim do reinado dos Xoguns, o Japão iniciou um processo de
transformação – a Restauração Meiji (1868) – inserindo o país no mundo
moderno. As mudanças econômicas e políticas ocasionaram tensões
sociais internas por conta da escassez de terras e do endividamento dos
trabalhadores rurais. Assim, o projeto de emigração de trabalhadores
japoneses para outros países teve como objetivo aliviar tais tensões e
foi altamente promovido pelo governo.
A opção pelo Brasil começou quando os Estados Unidos e a Europa
limitaram a entrada dos japoneses. O fluxo migratório se concentra
entre 1904-1940, quando cerca de 150.000 japoneses iniciam sua
aventura brasileira. Na década de 1950, o Brasil recebe ainda outros
35.000 japoneses. O estado de São Paulo foi o destino de quase 80%
deste contingente de trabalhadores, que contribuíram muito para a sua
riqueza e prosperidade.
Kobe, a porta de saída para os nikkies, pode ser a porta de entrada
para os nisseis – seus descendentes – iniciarem o caminho de origem
em terras japonesas. Capital da província de Hyogo, é importante
centro econômico e um dos maiores portos do Japão e do mundo, de
onde saiu o primeiro navio – o Kasato Maru – com 802 imigrantes, com
destino ao Brasil, em 1908. Localizada na região de Kinki, é parte da
área metropolitana de Keihanshin, também muito conhecida por seu
próspero entorno, cuja paisagem é realçada pelo Monte Rokko, e está
aproximadamente a três horas de Tóquio, pelo “trem-bala”. Kobe foi
uma das primeiras cidades a abrir o comércio com o Ocidente, no final
do século XIX, e desde então é conhecida como uma cidade portuária
associada ao cosmopolitismo e à moda, com atmosfera exótica para os
padrões japoneses, sintetizada na frase “se você não pode ir a Paris, vá
a Kobe”. Ali, a cada dois anos acontece o Kobe Fashion Week – a Kobe
Collection – importante evento de moda não só para os japoneses como
para os países da Ásia oriental. O estilo de Kobe é caracterizado pelas
roupas do dia a dia muito refinadas, nas cores neutras: azul marinho,
preto, branco e cinza, em contraste, por exemplo, com estilo popular
das meninas de Osaka. Outro evento importante da cidade é o Kobe
Jazz Festival. A história da cidade está intimamente ligada ao Templo de
T U R I S M O
Pôr do sol na baía de Kobe. Noite em Kobe
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Ikuta, e seu nome deriva de “kanbe”, o nome arcaico das famílias que
mantinham o santuário que, curiosamente, está plantado no meio da
área comercial do distrito de Sannomiya. Talvez por essa proximidade,
os jovens japoneses o elegeram como um templo para os pedidos e
promessas amorosas. Os noves bairros ou regiões administrativas que
compõem a cidade oferecem o que se ver e visitar. Em Nishi-ku está a
Universidade Kobe Gakuin e de lá se vê a cidade de Akashi; na área mais
extensa, Kita-ku, os escarpados montes Rokko e Maya são conhecidos
pelas trilhas de caminhadas e pelas águas termais quentes do resort
de Arima; no subúrbio, Tarumi-ku é uma elegante e tranquila área
residencial, onde começa a maior ponte suspensa do mundo, Akashi
Kaikyo, que liga esta zona à ilha de Awaji, ao sul; no verão tem a praia
de Suma, em Suma-ku; o Templo de Nagata, em Nagata-ku. Em várias
épocas conhecida como Ancoradouro Owada ou Porto Hyogo, Hyogo-ku
é coração histórico da cidade; o centro comercial e de entretenimento de
Kobe fica em Chuo-ku, que significa literalmente centro. Suas principais
zonas de entretenimento são: Sannomiya – eixo de transporte –,
Motomachi, antigo downtown, adjacente à Nankinmachi ou Chinatown,
e a Kyu-kyoryuchi, com restaurantes e cafés em construções do século
XIX; e Harborland, uma área de shopping construída na antiga praça
de frente à estação de Minatogawa Kamotsu, com grandes lojas,
excelentes restaurantes, muitos hotéis, de fácil acesso por trem, metrô,
ou barco, o paraíso dos pedestres. Na zona portuária está o Meriken
Park com sua Torre do Porto, que oferece uma vista espetacular da
baía e dos arredores, o Museu Marítimo e o memorial aos mortos do
grande terremoto de Hanshin (1995); o monumento dedicado aos
emigrantes – Kibou No Funade –, e o Museu Municipal de
Hyogo, um moderníssimo museu, aberto em 2004, com
coleções de esculturas e gravuras de artistas estrangeiros
e japoneses, que pretende ser um amuseum, onde não só
se aprecia as artes plásticas, mas também se encoraja as
trocas com as outras expressões artísticas como a música,
o teatro, o cinemas, e realiza uma variedade enorme de
eventos culturais. Conhecida pelo seu sakê, Nada-ku abriga
o Oji Zoo e a Universidade de Kobe. Rokko, a segunda maior
ilha artificial de Higashinada-ku, hospeda hotéis, espaços
para esporte e convenções, mercados, parques aquáticos,
edifícios de apartamentos com vista para o mar e o Museu
da Moda. Kobo ainda tem o atrativo de ser uma cidade que,
por pressão de seus cidadãos, conseguiu, em 1975, impedir
que barcos carregados com armas nucleares circulassem
pelo seu porto. Para completar o roteiro de memórias, a
10 minutos de táxi do parque Meriken, em uma colina, fica
a antiga Hospedaria Nacional dos Emigrantes Ultramarinos
de Kobe, fundada em 1928, que alojava os emigrantes,
dias antes de embarcarem para o Brasil, e onde recebiam
seus passaportes, aulas sobre a cultura brasileira, além de
aprenderem um pouco de português. Tendo resistido ao
grande terremoto de 1995 que arruinou Kobe, a antiga
Hospedaria foi alvo de um movimento dos nikkeis e nisseis
do Brasil para a preservação da construção. Rebatizado de
Museu da Emigração e Centro de Intercâmbio Cultural Kobe,
a antiga hospedaria é um museu com exposições de fotos
e objetos relacionados ao Brasil – e abriga ainda a sede da
Comunidade Brasileira Kansai (CBK), que ensina português
aos filhos dos sanseis.
T U R I S M O
Rio Douro em Portugal
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DE VOLTA À TERRINHA
Eugénia Melo e Castro dá uma receita de Lisboa
Recém-condecorada pela Academie de Arts Sciences et Lettres da
França, a cantora portuguesa Eugénia Melo e Castro comemora, em
2010, três décadas vividas (e trabalhadas) entre Brasil e Portugal,
em constante viagem musical e pessoal recheada de parcerias com
muitos brasileiros. Atualmente morando em Lisboa, em dezembro
virá ao Brasil homenagear Dorival Caymmi em uma série de shows.
Para ela, antes de mais nada, é uma boa ideia navegar no www.
avidaebela.com (um site para encontrar todos os tipos de aventuras
em Portugal, desde passeios de balão, escaladas, presentes-surpresa,
turismo original, spas, cruzeiros no Rio Douro ou no Alqueva). Outras
sugestões práticas de Eugênia: para se hospedar, o Hotel Hermitage
Liberdade e o Hotel do Bairro Alto; ir à La Vie en Rose Flores / Loja
Gourmet, ao restaurante Tavares Rico (com o chef português mais
premiado, José Avillez), à Galeria Luis Serpa, à Happy Days, loja de
sapatos irreverentes, com decoração rétro, no Bairro Alto. E não deixar
de ir ao lugar mais cool e trendy da cidade, o Silk Club: a melhor vista
e noite de Lisboa na zona histórica Alfacinha, é sofisticado, moderno
e exclusivo. Aberto há dois anos, no último andar de um antigo centro
comercial do Chiado, tem paredes de vidro, uma zona chill out e pista
de dança. No repertório, jazz&blues ao vivo às quartas. Entre quinta
a sábado, house vocal com incursões pelos anos 1980 e sucessos
recentes. Fora de Lisboa, “visite a loja e o museu Bordallo Pinheiro,
nas Caldas da Rainha, é imperdível! E também a Aldeia da Luz e o
Museu da Luz no Alqueva (Alentejo)”.
V E R N I S S A G E
ma super mostra de fotografias e o lançamento de um livro, com os trabalhos de quatro profissionais brasileiros da área, está
festejando o lançamento do Marquise, no bairro do Ibirapuera, empreendimento da Yuny e R. Yazbek. O edifício resgata as
linhas arquitetônicas e os espaços internos criados para as habitações na glamorosa década dos anos 60, em São Paulo, e agora
adaptados às necessidades e à estética da vida moderna. As redondezas do Marquise – o Parque do Ibirapuera, a Rua Curitiba,
os Jardins e até a Av. Paulista –, foram captadas pelas lentes sensíveis de Cássio Vasconcellos, Daniel Klajmic, Kadu Niemeyer e
Renato Elkis. Através dos ensaios fotográficos, onde se misturam a arquitetura paulistana da época e os cortes de imagens valorizando as linhas
rétro, o público revisita os recantos e as perspectivas das imediações do Marquise, batizado assim em homenagem à famosa marquise do
próprio parque, uma das joias esculturais do arquiteto no Ibirapuera. E ainda: será publicado um livro com textos poéticos e os ensaios desses
fotógrafos, relatando e relembrando a História e as histórias curiosas da cidade.
Renato Elkis, Daniel Klajmic, Kadu Niemeyer e Cássio Vasconcellos: Ensaios fotográficos grifados lançam Marquise Ibirapuera.
NO PARQUE
UMPASSEIO
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U
POR LÉA MARIA AARÃO REIS
V E R N I S S A G E
OS FOTÓGRAFOS E SUAS LENTES
Cássio Vasconcellos, nascido e criado no bairro do Brooklin,
em São Paulo, um dos integrantes do famoso grupo Blink,
já expôs em 20 países, ganhando o prêmio de melhor
exposição, em 2002 com a série de trabalhos Noturnos
SP. Neste ensaio ele foi percorrendo, a pé, o parque, as
ruas, praças e avenidas ao entorno do Marquise, clicando
as grandes e copadas árvores que quebram a “dureza
da paisagem”, como observa. Cássio gosta de fotografar
paisagens urbanas e procura sempre transformar a
realidade através da foto. “O meu caminho é onírico”,
diz ele, “e por isso o resultado é o do fantástico”. Andar
pela cidade de São Paulo e tentar conhecê-la melhor para
compreendê-la é o objetivo habitual de Cássio, como
método de trabalho.
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V E R N I S S A G E
Já o fotógrafo Daniel Klajmic, no seu ensaio, utilizou uma modelo para recriar a atmosfera sessentista. “Usei lentes,
figurinos da roupa e ângulos das imagens, tudo bem característico daquele período,” diz Daniel que, nesse trabalho para
o Marquise, seguiu o grafismo da arquitetura com o movimento também gráfico, “porém mais orgânico” da modelo.
Carioca, Klajmic foi assistente do célebre fotógrafo Luis Garrido, no Rio de Janeiro. Viveu e trabalhou em Nova York e Paris
e, bem jovem ainda, participou da Coleção Pirelli do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Daniel foi o único brasileiro
a expor suas fotos na mostra New Photographers 2006, da Getty Images, no Festival de Cannes. Hoje publica fotos nas
principais revistas europeias e americanas – I.D., Sunday Times, Visionaire, Vogue, Elle e Tattler, entre outras, e fotografa
para inúmeras campanhas de publicidade.
84 REVISTA OUTUBRO 2010 85 REVISTA OUTUBRO 2010
V E R N I S S A G E
Assim como Klajmic, o fotógrafo Kadu Niemeyer, neto do arquiteto Oscar Niemeyer, com quem
aprendeu a fotografar ainda menino, também é nascido no Rio. Viveu em Brasília em 1970 e 71, na
companhia da mãe e do avô, com quem mantém uma relação afetiva forte. Apaixonado pela Capital
Federal, ele costuma dizer, com orgulho, que é “quase um candango”. Em São Paulo, Kadu gosta de
fotografar o Ibirapuera e o Memorial da América Latina – não se cansa de registrar os trabalhos de
Oscar. “Atualmente, estou realizando um trabalho batizado de Fachadas, no qual o edifício Copan
se destaca”, diz ele. “Mas fotografar o Ibirapuera tem gosto especial. Representa
um retorno aos anos 60. E lá encontramos paz na natureza. As pessoas passeando
mudam a imagem a cada momento e é onde relembramos a arquitetura que tanto
projetou o parque no mundo”. Para Kadu, “é uma emoção renovada fotografar
projetos do meu avô nos quais surge sempre uma novidade: um ângulo ou uma luz
diferente; e é como se os visse pela primeira vez”.
86 REVISTA OUTUBRO 2010 87 REVISTA OUTUBRO 2010
V E R N I S S A G E
Renato Elkis completa, com brilho, o quarteto de fotógrafos do Marquise Ibirapuera. Renato é graduado
pela Brooks Institute of Photographers, da Califórnia, e há 20 anos trabalha com agências de publicidade
e com os melhores arquitetos e decoradores brasileiros. “Gosto de captar fragmentos de luzes e sombras,
de formas e movimentos, contrastes e saturação das fotos”, diz Elkis que usa, em fine arts, o requinte
dos pigmentos minerais e do papel de algodão. Registrar o Ibirapuera, para Renato, é apreender uma
“linguagem simples e pura”, como costuma dizer Oscar Niemeyer. “Adoro captar os reflexos do parque nos
vidros das janelas do prédio da Bienal”, comenta, “e as suas formas geométricas e orgânicas bem definida”.
Mas Renato ressalta que gostou, especialmente, de registrar um contraste, no edifício do Marquise: “Sua
forma também orgânica em contraste com as colunas. É muito interessante!”.
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airro que mais rapidamente se atualiza em São Paulo,
sem perder suas características básicas de zona
residencial e comercial – por isso tão dinâmica em sua
(re)construção –, Pinheiros acaba de ganhar a estação
de metrô Faria Lima, primeira entre as outras duas
anunciadas para a região, a Fradique Coutinho e a Pinheiros, previstas
para inauguração nos próximos anos. Quem circula por lá, hoje, vê
os novos prédios crescerem ao mesmo tempo em que surgem
incessantemente, a cada semana, ainda mais atrações culturais e
gastronômicas, entre outras, que vão dos shows e baladas roqueiras
aos simpáticos botecos das esquinas, das antiguidades aos móveis
contemporâneos, da moda básica ao luxo, do artesanal das feirinhas
aos carros importados.
Se por um lado o início da última década viu ali nascer o imponente e
moderno prédio que abriga o Instituto Tomie Ohtake, e a implantação
da grande livraria de origem francesa FNAC, a contemporaneidade
aportou agora em Pinheiros definitivamente (acompanhe, com
atenção, a revitalização total do anteriormente degradado Largo da
Batata): é expressivo o número de galerias de arte recém-instaladas,
e de bistrôs e padarias que chegam com saboroso jeito francês, por
exemplo. Estes vêm se unir à grande oferta de bares e restaurantes com
especialidades dos mais diversos estados – vide o carioquíssimo Pirajá
e os lugares de comida típica baiana, nordestina e capixaba – e países,
como os bons japoneses, chineses, mexicanos e até sul americanos,
como um chileno e um peruano, além dos tradicionais portugueses,
E S T I L O Y U N Y I I
No “novo” bairro de Pinheiros, escritórios cult ganham espaço.
BOUTIQUE OFFICESCONCEITO:
aqueles que já existiam na região, ao lado de pizzarias, grills e outras
regionalidades que só existem mesmo em Pinheiros, que assim se
globaliza. Vida noturna também tem – do pequeno e sofisticado Bar
Secreto ao eclético Estúdio Emme, um complexo que abriga teatro,
loja, casa de shows e balada. Some a tudo isso a proximidade de dois
shopping centers, o Iguatemi e o Eldorado, também revitalizado em
seu mix de lojas e inúmeros serviços, e eis o novo perfil de uma grande
área bem localizada, tanto para a moradia quanto para o trabalho, em
função de tudo o que oferece, e das facilidades de circulação e acesso
aos demais bairros da cidade.
Neste clima, com sofisticação em cada detalhe, a Yuny oferece ao
mercado um empreendimento diferente, o Boutique Offices, “uma
união de referências de moda, design e cultura em um projeto
arquitetônico único”, como se anuncia em sua campanha de lançamento
– “uma identidade contemporânea criada a partir do melhor espírito
cosmopolita, o de reunir o melhor para você e sua empresa em um
só lugar”. Bem no coração de Pinheiros, na esquina das ruas Artur de
Azevedo e Pedroso de Moraes, o Boutique Offices está próximo ao
Largo da Batata, que em breve ganha um shopping center. Pensado
detalhe por detalhe para ser único, ele se destaca por sua sofisticação,
com arquitetura contemporânea, design inovador, espaços do tamanho
ideal e elevadores panorâmicos. Por ter tudo o que é preciso à sua
volta, é um empreendimento sem igual na região, o que resulta em
um alto potencial de valorização, e leva ao seu escritório um conceito
e um prestígio nunca antes explorados neste segmento.
B
90 REVISTA OUTUBRO 2010 91 REVISTA OUTUBRO 2010
Fotomontagem da perspectiva artística da Fachada
N O T A S Y U N Y
92 REVISTA OUTUBRO 2010 93 REVISTA OUTUBRO 2010
m dos principais diferenciais da Atua Construtora é
a localização dos seus empreendimentos”, diz Hugo
Louro, arquiteto, urbanista e gerente responsável pelo
Departamento de Incorporações da jovem empresa
com mais de três mil unidades comercializadas
na região metropolitana em São Paulo, além de outros
empreendimentos localizados nas proximidades de
estações de metrô e de vias arteriais importantes da
cidade – o que facilita a locomoção dos clientes. Outro
objetivo da Atua o braço econômico da Yuny Incorporadora,
observa Hugo Louro, é proporcionar facilidade de acesso
aos aparelhos urbanos, como shoppings centers e edifícios
institucionais. Deste modo, segundo ele, estão garantidas
a qualidade de vida para os compradores dos imóveis e
a valorização para os investidores. “Isto demonstra”, ele
lembra, “a preocupação da Atua em relação a todos os
detalhes dos produtos comercializados. Sem dúvida, a
localização de um imóvel, atualmente, é item fundamental
no processo de concepção do negócio”.
Para Louro, que é pós-graduado em Negócios
Imobiliários pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é difícil
destacar, especificamente, uma região de São Paulo na
qual a efervescência imobiliária, verificada atualmente,
seja mais significativa. “Toda a cidade se encontra
no ápice de sua produtividade se considerarmos a
história e a vocação de cada bairro”, diz ele,” mas no
nosso segmento, em função de áreas disponíveis e
da demanda reprimida de clientes, podemos assinalar
a Zona Leste da cidade como aquela que se encontra
em grande movimentação”. Para ele, o que a mídia
chamou de “crise”, ano passado, não passou de uma
acomodação de mercado. Segundo ele, isso é natural
nos setores em franca expansão. “E não julgamos que
todo esse sucesso, na nossa atividade, seja apenas
uma ‘bolha’, mas uma valorização importante do bem
imóvel e do lastro garantidor que ele representa. Assim,
acreditamos que a atual movimentação seja sustentável,
sólida, real e crescente”.
Desde o primeiro lançamento da Atua, em 2007, considerada
um exemplo positivo no seu mercado, um novo empreendimento é
anunciado a cada sessenta dias. Mas a meta da empresa, a partir do
próximo semestre, é a de colocar na rua um lançamento de trinta
em trinta dias. Para o seu gerente de Incorporações, a Atua e a Yuny,
juntas, são empresas que acreditam e, principalmente, constroem uma
nova São Paulo. “E um dos pilares do nosso processo – a inteligência
construtiva – é utilizar uma técnica construtiva para atingir seu melhor
aproveitamento estrutural, usufruir de suas vantagens arquitetônicas,
criar economia na obra para repassá-la aos clientes e desenvolver a
sua gestão de modo a gerar menor quantidade de resíduos, o que
motiva uma economia ainda maior e contribui para diminuir o impacto
da ação do homem no planeta”.
Em sua opinião, e dentro desse quadro, a forte e importante
parceria da Atua Construtora com a Caixa Econômica Federal
perdurará. “Trata-se de um trabalho conjunto que vem rendendo
bons frutos. Somos agentes complementares de uma história de
sucesso. E, como se costuma dizer: em time que está ganhando não
se mexe”. A previsão de Louro para vencer o déficit de habitação,
no Brasil, é impossível mensurar. “Mas garantimos que a Atua está
fazendo a sua parte”. Já a sua ação no Minha Casa Minha Vida significa
800 unidades comercializadas nos últimos meses, e enquadradas
nesse programa 450 delas estão localizadas no centro expandido de
São Paulo. “E mais: estamos prospectando outras 5.000 unidades
também enquadradas nesse programa para os próximos doze meses.
E mais de 600 unidades com previsão para serem lançadas ainda
neste semestre”. Como exemplo de lançamentos de grande sucesso,
Hugo Louro destaca o Atua Mooca II. “São 232 unidades incluídas no
programa Minha Casa Minha Vida, localizadas a 120 metros da rua da
Mooca. Vendemos todas as unidades em pouco menos de 8 horas! O
nosso histórico de sucessos recorrentes existe graças à competência
de uma excelente equipe – do pessoal do departamento de Novos
Negócios, passando pelas áreas de Produtos, Aprovações, Jurídico,
Financeiro, Engenharia e, enfim, Incorporações”.
Boa localização dos imóveis e transporte fácil são itens fundamentais.
LANÇAMENTOS ESTRATÉGICOS
“UPerspectivas artísticas das fachadas
E S T I L O D E V I D A
96 REVISTA OUTUBRO 2010
QUANDO ESSAS MARCASSE ENCONTRAM, É CERTEZA
DE 100% DE SUCESSO.
Lopes e Yuny.Parceria 100% de sucesso.
Sinergia é a palavra que resume o relacionamento entre as duas empresas.
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