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ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS: EXPIEIUÉNCMS EM COGNIÇÃO SOCIAL COM UMA METODOLOGIA DE TESTE-
llETESTE LONGHUDINAL
LISBOA
2001
Dissertação de mestrado em Psicologia, Área de Psicologia Cognitiva, apresentada na
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa
A I N S ; C ^ I Í L I D B O S E S O È m i E Ó : ^
E X P E R Z É N Ê I ^
Orientador: Professor Leonel
Barcia-Marques
ANA SOFIA CORREIA DOS SANTOS
LISBOA
2001
8566
-mW^ãkSím
Ao longo da tese, onde se iè: 'ás", leia-se: "às".
Na página 2, onde se Iè: "O mesmo tipo de insuficiências, (...), já tinham sido notadas...", leia-se: "O mesmo tipo de insuficiências, (...), já tinha sido notado...".
Na página 5, onde se lé: "...os conceitos são utilizados para classificar novas entidade...", leia-se: "...os conceitos são utilizados para classificar novas entidades...".
Nas páginas 13-14, onde se Iè: "A palavra "come" (...). mas os esses traços...", teia-se: "A palavra "come" (...), mas esses traços...".
Na página 27, onde se Iè: "...que uma quantidade enorme de conceitos estão armazenados na memória...", leia-se: "...que uma quantidade enorme de conceitos está armazenada na memória...".
Na página 32, onde se iè: "...a natureza das pistas disponíveis no contexto são cnticas...", leia-se: "...a natureza das pistas disponíveis no contexto é crítica...".
Na página 34, onde se Iè: "Finalmente, (...) as teorias da categorizarão.", leia-se: "Finalmente, (...) as teorias da categorização.".
Na página 36, onde se lê: "Algumas instâncias...da categoria dos que outras.", leia-se: "Algumas instâncias...da categoria do que outras."
Na página 42, onde se Iè: "São vários os investigadores que propuseram...", leia-se: "Foram vários os investigadores que propuseram...".
Na página 43, onde se iè: "Apesar dos modelos (...), frequentemente, as pessoas adquirirem...", leia-se: "Apesar dos modelos (...), frequentemente, as pessoas adquirem..."; e, onde se Iè: "Agora, alguns modelos...quando ocorre a categorização ou os julgamentos...", leia-se: "Agora, alguns modelos...quando ocorrem a categorização ou os julgamentos...".
Na página 56, onde se Iè: "Alguns aspectos distinguem, (...) é necessário assumir que as pessoas codifiquem...", leia-se: "Alguns aspectos distinguem, (...) è necessário assumir que as pessoas codificam...".
Na página 59, onde se Iè: "Os resultados forma interpretados...", leia-se: "Os resultados foram interpretados...".
Na página 64, onde se lê: "Incluí, portanto, (...), e é assumido que tèm efeito apenas através de pistas periféricas...", leia-se: "Incluí, portanto, (...), e é assumido que tem efeito apenas através de pistas periféricas...".
Na página 67, onde se iè: "Esta hipótese é baseada (...), que sugerem que as representações das crenças sociais...", leia-se: "Esta hipótese é baseada (...), que sugerem que as representações das crenças individuais...".
Na página 69, onde se Iè: "Embora tivesse sido dada liberdade...qualquer tipo de características...", leia-se: "Embora tivesse sido dada liberdade...qualquer tipo de característica...".
Na página 70, onde se Iè as instruções: "Estamos interessados nas caracteristicas que as pessoas ut i l izam para desc rever m e m b r o s de vários gaipos . Vamos pensar no grupo de indivíduos que têm em c o m u m a prof i s são de médicos . Pedimos-i l ie que, aparlir d;i lista de traços de personal idade q u e lhe ap resen tamos , escolha aque les que caracter izam os médicos c o m o um todo. Escolha ap ro . \ imadamenie
cinco caracter ís t icas da lista, para transmitir a sua impressão sobre os médicos e para os descrever de fomia adequada , e escreva-as nas lijiiias abaixo. Não exis tem respostas cer tas ou erradas, apenas es tamos interessados na sua op in ião pessoal ." , ieia-se: ' 'Es tamos interessados nas caracter ís t icas que as pessoas ut i l izam para descrever m e m b r o s de vários grupos. Vamos pensar no g rupo de indivíduos que têm em c o m u m a prof i ssão de médicos. Pedimos- lhe que lisle aqueles traços de personal idade , ad jec t ivos ou f rases curtas que usaria para caracterizar os médicos c o m o um todo. Assinale tantas caracter ís t icas quan tas achar necessár ias para transmitir a sua impressão sobre os médicos e para os descrever de fo rma adequada . N ã o exis tem respostas certas ou erradas. Es tamos interessados na sua opinião pessoal acerca dos médicos. '".
Na página 79, onde se iè: ".46", ieia-se: ".48".
Na página 82, onde se Iè: "Esta medida de positividade...e para os dois tipos de crenças avaliadas...", ieia-se: "Esta medida de positividade...e para os dois tipos de crenças avaliados...".
Na página 105, onde se lê: "Estes testes pretendiam medir, para cada condições de resposta,...", leia-se: "Estes testes pretendiam medir, para cada condição de resposta,...".
Na página 106, onde se Iè: "Consideraram-se periféricos os traços...que obtiveram avaliações acima da média...", leia-se: "Consideraram-se periféricos os traços...que obtiveram avaliações acima da mediana...".
Na página 117, a Tabela 7 passa-se a ler segundo as alterações introduzidas a sublinhado na seguinte tabela:
Tabela 7: Médias e valores de correlação para os grupos sociais
Grupos Número médio de Acordo intra sociais instâncias geradas sujeitos
• • ti-'':
Ciganos 4,83 4.77 .55
Homossexuais 4.37 4.38 .62
Emigrantes 4.34 4,37 .55 africanos
Na página 120, onde se Iè. na Tabela 9: 'T= -1,98; p=.052", leia-se: "T= 1,98; p=.052"; e onde se Iè: "Foi necessário (...) distinguir entre instâncias mais típicas e menor típicas.", leia-se: "Foi necessário (...) distinguir entre instâncias mais típicas e menos típicas."
Na página 125, onde se Iè: "Salientam-se...no estudo da categorizarão,...", ieia-se: "Salientam-se. .. no estudo da categorização,...
Na página 127, onde se Iè: "(.37)", leia-se: "(.34)".
Na página 146, não foi introduzida a seguinte referência:
McArdie, J.J. e Woodcock, R.W. (1997). Expanding test-retest designs to include developmental time-lag components. Psychological Methods, 4, 403-435.
Nos anexos referentes às tarefas de identificação de uma distr ibuição, não foi introduzido um exemplo da matriz de 25 distribuições utilizada, que é apresentado agora como anexo desta errata.
N ã o sei até o n d e m e a c o m p a n h o u a sorte , mas ,
inequivocamente , ela estava presen te q u a n d o
encontrei o Paulo e a Liuba, a q u e m dedico este
trabalho.
Agradecimentos
Ao Professor Leonel Garcia-Marques que tornou possível este trabalho, antes de
mais pelo desafio constante que me proporcionou, pela sua sábia orientação, pela
objectividade, clareza e discernimento com que organizou ideias que nascem e renascem,
desirmanadas, pelo seu rigor metodológico e pelas inúmeras sugestões teóricas e empíricas.
Ao Professor Danilo Silva que, mesmo antes do início da minha carreira académica,
foi capaz e quis facultar-me as oportunidades e liberdade necessárias para o meu
desenvolvimento científico.
Ao Coordenador e Professores do Mestrado em Psicologia, Área de Psicologia
Cognitiva, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de
Lisboa: Professor Carlos de Brito-Mendes, Professor José Morais. Professor Leonel Garcia-
Marques, Professor Simões da Fonseca e Professor Paulo Ventura.
Ao Professor José Manuel Palma-Oliveira pela aposta realizada em mim e pela sua
amizade.
Ao Professor Paulo Ventura pela sua imensa boa vontade e esforço em me facultar
os seus alunos como sujeitos.
Aos alunos do 1° ano do curso superior de Psicologia, da Faculdade de Psicologia e
de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, do ano lectivo de 1998/99, que
colaboraram enquanto sujeitos.
Aos colegas do Mestrado em Psicologia. Área de Psicologia Cognitiva, da Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, especialmente à
Margarida Garrido. Rita Jerónimo e Miguel Pimenta.
À minha família e amigos e em especial aos meus pais. à minha avó e à minha irmã.
Resumo
As visões tradicionais sobre os estereótipos consideram-nos estruturas estáveis
armazenadas na memória e recuperadas intactas, enquanto as visões mais recentes
enfatizam a fluidez e flexibilidade dos estereótipos, propondo que estes são construídos com
base no conjunto de conhecimentos disponível num determinado momento. Contudo, pouca
ou nenhuma investigação foi feita para determinar quão estáveis podem ser estas estruturas
de conhecimento. Nas três experiências seguintes, é feita uma estimativa da estabilidade dos
estereótipos e das crenças individuais sobre grupos sociais. O método usado consistiu em
pedir aos sujeitos que desempenhassem as mesmas tarefas de recuperação em duas
sessões separadas por duas semanas. Em cada sessão da Experiência I, foi pedido aos
participantes que listassem atributos de grupos sociais com base nos seus estereótipos e
com base nas suas crenças pessoais. A correlação média entre os conteúdos produzidos nas
duas sessões foi .51, para os estereótipos, e .52, para as crenças individuais. Os resultados
são consistentes com a ideia de que a representação de uma determinada categoria social
varia substancialmente intra sujeito. Colocou-se também a hipótese que, porque se supunha
que os exemplares tivessem um maior efeito nas descrições baseadas em crenças
individuais, os estereótipos fossem mais estáveis do que as crenças individuais, e essa
hipótese foi infirmada. A Experiência II revelou resultados semelhantes, utilizando outros
grupos sociais. Na Experiência III, em vez de listar atributos, foi pedido aos sujeitos que
gerassem instâncias de grupos sociais. Semelhantemente, a correlação média entre as
instâncias geradas nas duas sessões foi apenas modesta, .57. Em conjunto, estes resultados
ilustram a instabilidade substancial das representações de categorias sociais intra
individualmente, o que sugere que as estruturas de conhecimento invariantes que muitos
investigadores procuram identificar são meras ficções. E que alguma estabilidade temporal
que se verificou nas representações de uma categoria ficou a dever-se aos atributos verbais
considerados mais centrais e ás instâncias consideradas mais típicas para a descrição da
mesma, e não aqueles atributos e instâncias periféricos. São discutidas implicações destes
resultados para as teorias sobre como são representados mentalmente os grupos sociais.
Abstract
Traditional views regard stereotypes as stable structures that are retrieved from
memory intact, whereas more recent views contend that stereotypes are constructed at the
time that they are evoked and are thus relatively flexible. However, little or none research has
been done to determine how reliably such information can be retrieved from memory. In the
next three experiments, an estimate of reliability of stereotypes and personal beliefs about
social groups was made. The method used was to ask subjects to perform the same retrieval
task in each of two sessions separated by two weeks. In each session of Experiment I.
participants were asked to list characteristics of social groups based on their stereotypes and
based on their personal beliefs. The mean correlation between the contents of the two
sessions was found to be .51, for stereotypes, and .52, for personal beliefs. The results are
consistent with the idea that representation of a given social category varies substantially
within-subjects. It was also hypothesized that, because exemplars would have a stronger
effect In descriptions of personal beliefs, stereotypes would be more reliable than personal
beliefs, and this hipothesis was disconfirmed. Experiment II indicated similar results with
others social groups. In Experiment III, Instead of listing characteristics, the subjects were
asked to generate Instances of social groups. Similarly, the mean correlation between the
contents of the two recalls was found to be only modest, .57. Taken, thogether, these findings
illustrate substantial within-subject instability In social category representation. This suggest
that the invariant knowledge structures that many researchers attempt to Identify are merely
fictions. And that some stability found in social category representation was due to
characteristics and instances considered central to her description, and not to peripheral ones.
Implications of this findings for theories about how social groups are represented mentally are
discussed.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 1
1.1 Visões sobre a categorização geral: Que estabilidade atribuem às representações mentais de categorias ^
1.1.1 A impor tância de categor izar 1.1.2 M o d e l o s de representações mentais de ca tegor ias 6 1.1.3 Cont ras te entre a visão absiraccionis ta e a visão exemplar is ta dos processos cogni t ivos i 1
1.2 A estabilidade modesta das representações de categorias gerais revelada pela visão empírica 15 1.2.1 Ava l iações s i s temát icas de ins tabi l idade das representações de categorias - revisão de es tudos 15 1.2.2 Impl icações da instabi l idade para a natureza dos concei tos 24
1.3 Visões sobre os estereótipos: Que estabilidade atribuem a estas estruturas de conhecimento social ^^
1.3.1 M o d e l o s de representações mentais de g rupos sociais ^^ 1.3.2 Expec ta t ivas de que os es tereót ipos não mudam mas pressupostos exempla r i s t a s de q u e são instáveis 47
1.4 Efeito de homogeneidade do out-group: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo ^^ 1.5 A trilogia de Princeton e a necessidade de uma metodologia apropriada ao estudo da estabilidade dos estereótipos: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo 58
1.6 A distinção entre estereótipos e crenças individuais
1.7 Objectivos ^^
2. EXPERIÊNCIA I ^^
2.1 Experiência I: Método ^ 2.1.1 Pré-teste ^ ^ 2.1.2 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l ^ ' 2 .1.3 Mater ia l ^^ 2.1.4 P roced imen to 2.1.5 M e d i d a s dependen te s
2.2 Experiência I: Resultados e Discussão ^^
2.3 Experiência I: Conclusões ^^
3. EXPERIÊNCIA II ^^
3.1 Experiência II: Método ^^ 3.1.1 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l 3.1.2 Mater ia l ^ ^ 3.1.3 P roced imen to ^ ^ 3.1.4 M e d i d a s dependen tes
3.2 Experiência II: Resultados e Discussão ^^
3.3 Experiência II: Conclusões
4. EXPERIÊNCIA III
4.1 Experiência III: Método 4.1.1 Par t ic ipantes e D e s e n h o exper imenta l ' ' ^ 4.1.2 Mater ia l ' 4 .1.3 P roced imen to ^ ' , 4.1.4 M e d i d a s dependen te s 116
4.2 Experiência III: Resultados e Discussão
4.3 Experiência III: Conclusões 123
5. CONCLUSÕES GERAIS 125
5.1 Principais resultados das três experiências: uma síntese 126
5.2 Principais lições aprendidas e perspectivas futuras de investigação 137
6. REFERÊNCIAS 141
7. ANEXOS 150
ANEXO 1 - Instruções para a Experiência I 151
ANEXO 2 - Instruções para a Experiência II 162
ANEXO 3 - Instruções para a Experiência III 175
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1. Introdução |
Na tenta t iva de dar sentido aos outros, os indiv íduos cons t róem e usam regula rmente
representações ca tegór icas para s implif icar e dar fo rma ao processo de perceber pessoas .
Uma vez imp lemen tada , os indivíduos podem usar os con teúdos da estrutura de
conhec imen to (i.e. expec ta t ivas sobre traços e compor tamen tos ) para derivar aval iações e
impressões de um alvo, um processo que, f r equen temen te , dá or igem a j u lgamen tos
baseados em es te reó t ipos . De facto , notando a complex idade social do dia-a-dia . são
necessár ios m e c a n i s m o s cogni t ivos que prote jam os ind iv íduos da necess idade de l idar
com inf in i tos de ta lhes , sem perder demasiada in fo rmação . Os es tereót ipos podem ser esses
mecan i smos , por represen ta rem as caracter ís t icas supos tamente t íp icas dos grupos sociais .
Permi tem tratar ind iv íduos únicos como membros semelhantes de uma categoria , e assumir
a presença de qua l idades relevantes para a ca tegor ia sem ter que ver i f icar a sua exis tência .
A na tureza da representação mental dos es tereót ipos tem sido controversa . Os
modelos in ic ia is a s sumiam que estes eram estruturas cogni t ivas es táveis , representadas
abs t rac tamente , ou e squemas . De acordo com esta visão, os es te reó t ipos são es t ru turas
duradouras a r m a z e n a d a s na memória e recuperadas intactas para guiar o p rocessamento de
in fo rmação . Novos a lvos são categorizados com base na sua seme lhança com um esquema
par t icular . E a in fe rênc ia es tereot ípica acontece quando o ind iv íduo infere que cer tos
t raços, t endênc ias compor tamenta i s , e por aí adiante, que es tão con t idos no esquema, se
apl icam ao novo alvo. Contudo, apesar da sua p laus ib i l idade , estes pressupos tos são
discut íveis . De fac to , os es tereót ipos têm apresentado d i f i cu ldades na sua medição . Apesa r
de serem, t r ad ic iona lmente , cons iderados represen tações menta i s de grupos sociais
duradouras , a sua med ida e expressão estão minadas por um grande número de fac to res
sensíveis ao con tex to . De tal modo que não é claro se os es tereót ipos têm ou não
desvanec ido ao longo do tempo (Devine e El l iot , 1995) e se os es te reó t ipos covar iam ou
não com as c renças individuais (Devine, 1989). Por outro lado, es tudos ex is ten tes
(Bodenhausen , Schwarz , Bless e Wanke , 1995; Schwarz e Bless , 1992; Coats e Smi th ,
1999) m o s t r a m que as representações mentais de ca tegor ias socia is amplas e de subt ipos
podem ser a l te rados se um exemplar especí f ico (membro da ca tegor ia ou do subt ipo da
categoria) fo r ac t ivado .
C o m o é óbv io , estas evidências empír icas não são fáce is de expl icar dentro dos
l imites de e n q u a d r a m e n t o s segundo os quais , as es t ru turas de conhec imen to deve r i am
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
exibir um grau de cons tância surpreendente face ás m u d a n ç a s ambienta is , como sustentam
as visões mais t radic ionais . Apesar destes ind icadores suger i rem a ins tabi l idade das
es t ruturas de conhec imen to social, o fac to é que não se u t i l izaram, até agora , métodos
apropr iados para es tudar essa instabi l idade. O m e s m o tipo de insuf ic iênc ias , re la t ivamente
aos p ressupos tos de es tabi l idade das es t ruturas de c o n h e c i m e n t o geral , j á t inham sido
notadas pelos ps icó logos cogni t ivos in teressados no p rocesso de ca tegor ização geral.
Alguns des tes inves t igadores têm cons iderado es ta ques tão da es tab i l idade mais
expl ic i tamente , ap l i cando uma metodologia longi tudina l de tes te- re tes te apropr iada ao seu
es tudo (Barsa lou , 1987, 1989; Barsalou e Medin , 1986; Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c).
E m termos gerais , estas inves t igações com es t ímulos não sociais têm demons t rado
conv incen temen te que as teorias que pos tu lam es t ru turas cogni t ivas representadas
abs t rac tamente não conseguem expl icar todos os dados ex is ten tes e que são necessár ias
teorias mais adequadas sobre a representação e uso de ca tegor ias . Por exemplo , no que
concerne à es tab i l idade das representações , foi d e m o n s t r a d o que se c o m p a r a r m o s os
mesmos ind iv íduos em duas ocasiões d i fe ren tes , eles ex ibem apenas uma prec i são modes ta
ao r ecupe ra rem exempla res de ca tegor ias c o m u n s (Bel lezza , 1984b), c lass i f ica rem
ins tâncias em te rmos dessas categorias (McCloskey e Gluksberg , 1978), fo rnecerem
def in ições de conce i tos comuns (Bel lezza , 1984a) ou ava l ia rem a t ip ica l idade das
ins tâncias re la t ivamente ás ca tegor ias de que p rovêm (Barsa lou , 1987, 1989; Barsa lou e
Medin , 1986). T a m b é m , outras inves t igações mos t ra ram que as ca tegor ias c o m u n s são
la rgamente sensíveis ao contexto , na medida em que o con tex to l inguís t ico imedia to
enviesa quer o j u l g a m e n t o de t ipical idade de uma ins tânc ia quer a rapidez com que pode
ser acedida (Roth e Shoben , 1983).
Ora, no tando que a ins tabi l idade das es t ru turas de conhec imen to , cons i s t en temen te
observada nestes es tudos sobre o processo de ca t egor i zação de ob jec tos não sociais
( B a r s a l q u , _ 1 9 8 7 ^ 1 9 8 9 ; Bar,salou_e Medin , 1986; ^Bellezza,- 1984ar4-984b, 1984.c . ;_Roth^
Shoben , 1983), representa um desaf io para as teorias sobre a sua suposta es tab i l idade , o
nosso ên fa se nesta d isser tação é na represen tação e uso de ca tegor ias sociais e no processo
de ca t egor i zação de es t ímulos sociais . Ou seja , é ten ta r saber se a na tureza e uso dos
es te reó t ipos têm semelhanças com o processo de ca t ego r i zação de ob jec tos não sociais .
Poder - se - ia a rgumenta r , por várias razões que adiante de senvo lvemos , que os es te reó t ipos
cul tura is têm uma natureza mais abstracta do que as ca tegor ias comuns . C o n t u d o , nos
es tudos sobre ca tegor ização de objec tos não sociais encon t r am-se g randes n íve is de
ins tab i l idade em categor ias comuns mas t a m b é m em ca tegor ias cons ide radas mais
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
abstractas, como adject ivos (Barsalou, 1982,1983,1985; Bellezza, 1984b). E esses efei tos
demonstram, na perspect iva de Barsalou, a natureza exemplar das categorias. De facto, se
interpretarmos esses resultados em termos de processos de recuperação de exemplares , de
informação episódica e de maior f luidez das categorias, podemos tentar antecipar as
implicações destas descobertas para a suposta estabil idade dos estereót ipos.
Assim, nesta dissertação vamos defender que, tal como as categorias de objectos não
sociais, os estereót ipos não são representações estáveis, monolí t icas; e que a aplicação de
uma metodologia de teste-reteste das concepções e descrições que os mesmos indivíduos
fazem das categorias sociais evidenciará apenas uma estabi l idade modesta , parale lamente
aos resultados obt idos com categorias não sociais.
Para alcançar estes object ivos esta introdução discutirá, pr imeiro, a natureza do
processo de categorização geral, as característ icas básicas dos principais modelos de
categorização geral e os seus pressupostos distintos sobre a es tabi l idade dos concei tos .
Depois, uma secção da dissertação apresentará o padrão t ípico de resul tados obtidos
por uma metodologia longitudinal de teste-reteste aplicada ao es tudo da estabi l idade das
representações mentais de categorias e discutirá o impacto desses resultados para os
modelos sobre o processo de categorização.
Na secção seguinte, part indo de diferentes modelos teóricos sobre estereótipos,
serão equacionados os pressupostos sobre a instabil idade mas também sobre a suposta
persistência destas estruturas de conhecimento social.
Outra secção apresentará o tópico relacionado do efei to de homogene idade do oui-
group como um efe i to razoavelmente bem documentado que revelou a sensibi l idade dos
indivíduos à in fo rmação sobre a variabil idade, conduziu à re formulação do concei to de
estereótipo e, tal como Já tinha acontecido na psicologia cognit iva, levou a ul t rapassar as
representações puramente abstractas das categorias.
Na secção seguinte, será revelada a necessidade de estudar empir icamente os
pressupostos de instabi l idade dos estereótipos através de uma metodologia apropriada não
utilizada até agora, tal como Já aconteceu nos estudos da psicologia cognit iva sobre a
instabil idade das representações de categorias gerais.
Nesta disser tação vamos defender ainda que a ins tabi l idade teste-reteste será
s igni f ica t ivamente diferente entre as descrições dos grupos sociais baseadas nas crenças
individuais e as descr ições baseadas nos estereótipos. Para a lcançar este object ivo será
incluída na disser tação uma secção que apresentará, sucintamente , os argumentos teóricos
e os estudos empír icos que sustentam a distinção conceptual entre es tereót ipos e crenças
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
individuais . Es ta secção discut i rá também dois e n q u a d r a m e n t o s teór icos apropr iados para
pensar a ques t ão da maior ou menor instabi l idade t empora l das crenças ind iv idua is e dos
es tereót ipos , a v i são dual is ta de processamento e a v isão com pr inc íp ios ep isódicos .
Depois serão suc in tamente s is tematizados os p r inc ipa i s ob jec t ivos teór icos do
parad igma exper imenta l usado nas experiências rea l izadas e, f i na lmen te , serão re la tadas as
três exper iênc ias conceb idas para estudar a ins tabi l idade das represen tações menta is de
categor ias sociais .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.1 Visões sobre a categorização geral: Que estabilidade atribuem às representações mentais de categorias
A i m p o r t â n c i a do p e n s a m e n t o ca tegór ico no d ia -a -d ia p o d e r á j u s t i f i c a r os va r i ados
e s f o r ç o s t eó r icos e e m p í r i c o s para carac te r izar a sua e s t ru tu ra e para iden t i f i ca r os
p roces sos que a g e m sobre ele, dos quais se sa l i en tam duas g randes v isões d is t in tas : a
abs t r acc ion i s t a e a e x e m p i a r i s t a , de in teresse p a r t i c u l a r m e n t e p e l a s p rev i sões con t r a s t an t e s
que f a z e m q u a n t o à e s t a b i l i d a d e dos conce i tos .
As três s u b s e c ç õ e s segu in tes desenvo lvem es te e n c a d e a m e n t o de ideias .
1.1.1 A importância de categorizar
C o m o notou Al lpo r t (1954 , c i t ado por M a c r a e e B o d e n h a u s e n , 2000) , "A m e n t e
h u m a n a tem q u e p e n s a r com a a juda de c a t e g o r i a s . . . N ã o p o d e m o s ev i ta r esse p roces so .
V ive r o r d e n a d a m e n t e d e p e n d e d i sso . " (p.21).
De f ac to , s e m ca t ego r i a s a vida menta l ser ia caó t i ca . Se cada en t idade f o s s e
pe rceb ida c o m o ú n i c a se r í amos u l t r apassados pela e n o r m e d ive r s idade daqu i lo q u e
e x p e r i m e n t a m o s e i n c a p a z e s de l embrar mais do q u e uma f r a c ç ã o de u m minu to daqu i lo
que e n c o n t r a m o s . E se cada en t idade indiv idual necess i t a s se de u m n o m e dis t in to , a nossa
l i n g u a g e m ser ia m u i t o c o m p l e x a e a c o m u n i c a ç ã o v i r t u a l m e n t e imposs íve l (Smi th e M e d i n ,
1981).
F e l i z m e n t e , não p e r c e b e m o s , l e m b r a m o s e f a l a m o s sobre cada ob j ec to e
a c o n t e c i m e n t o c o m o ún ico , mas , em vez d isso , c o m o uma in s t ânc i a de uma c lasse ou
conce i to sob re o qua l j á t emos a lgum c o n h e c i m e n t o . Os c o n c e i t o s dão ass im e s t ab i l i dade
ao nosso m u n d o . C a p t a m a ide ia de que mui tos ob j ec to s e e v e n t o s são s eme lhan te s e m
aspec tos i m p o r t a n t e s e, por isso, pode- se pensa r ne les ou r eag i r a e les de f o r m a s q u e j á
c o n h e c e m o s .
Os c o n c e i t o s p e r m i t e m t a m b é m ir para a lém da i n f o r m a ç ã o dada ; se a t r i bu i rmos u m a
en t idade a u m a c l a s s e c o m base em atr ibutos pe rcep t íve i s , p o d e m o s in fe r i r a lguns dos seus
a t r ibutos i m p e r c e p t í v e i s .
A s s i m , os c o n c e i t o s são cr í t icos pa ra pe rcebe r , r e c o r d a r , f a l a r e pensa r sob re
ob j ec to s e e v e n t o s da rea l idade . Dizer que os c o n c e i t o s têm a f u n ç ã o de c a t e g o r i z a ç ã o é
cons ide ra r q u e os c o n c e i t o s são e s senc i a lmen te i n s t r u m e n t o s de r e c o n h e c i m e n t o de
padrões , o que s i g n i f i c a que os conce i tos são u s a d o s para c l a s s i f i c a r novas en t i dade e
de senha r i n f e r ê n c i a s sob re essas en t idades .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Do m e s m o modo , a construção e ut i l ização de ca tegor ias de natureza social é um
requis i to fundamen ta l no processo de perceber pessoas . É através da act ivação e
implemen tação do pensamen to categórico que os ind iv íduos u l t rapassam com sucesso a
complex idade dos ambien tes sociais e l idam com a i n f o r m a ç ã o esperada , mas é também
at ravés-desse m e s m o pensamen to ca tegór ico que os ind iv íduos são sensíveis e são capazes
de l idar com i n f o r m a ç ã o inesperada. Af ina l , pode-se apenas ser su rpreendido por um
compor t amen to de uma pessoa se t ivermos expec ta t ivas prév ias sobre como o indivíduo se
deverá compor ta r . E ass im, de um modo ou de outro, o p e n s a m e n t o ca tegór ico fornece a
f lex ib i l idade que o processo de percepção de pessoas ex ige (Macrae e Bodenhausen , 2000).
1.1.2 Modelos de representações mentais de categorias
C o m o sa l ientado atrás, um dos pressupos tos bás icos da c iência cogni t iva é que as
pessoas têm extenso conhec imento sobre o que as rodeia . E quando re levante para uma
de te rminada s i tuação, o conhec imento da memór ia a longo prazo é u t i l izado para
compreende r o que se passa, para fazer predições sobre o que poderá vir a acontecer , para
guiar acções e es t ru turar outras operações cogni t ivas bás icas . Ora, dada a impor tânc ia do
conhec imen to no compor t amen to humano , mui tos inves t igadores despende ram bastante
e s fo rço para carac ter izar a sua estrutura e para iden t i f i ca r os p rocessos que agem sobre ele.
Nes te percurso , p ropuse ram uma variedade de es t ru turas de conhec imen to c o m o unidades
básicas do conhec imen to humano , inc lu indo de f in ições , p ro tó t ipos , exemplares , esquemas,
etc. Impl íc i to em mui tos destes t rabalhos é que as es t ru turas de conhec imen to são estáveis:
As es t ru turas de conhec imen to são a rmazenadas na m e m ó r i a a longo prazo c o m o conjuntos
de i n f o r m a ç ã o d iscre tos e re la t ivamente es táveis ; são recuperadas in tac tas quando
re levantes para o p rocessamen to corrente; d i fe ren tes m e m b r o s de uma popu lação usam as
mesmas es t ru turas bás icas ; e um dado indiv íduo usa as m e s m a s es t ru turas em vários
contex tos .
Alguns autores cons ideraram esta ques tão da es tab i l idade mais expl ic i tamente ,
de f endendo que qua lquer que seja a conc lusão a que c h e g u e m o s esta deve rá ter
impl icações impor tan tes para as teorias da cogn ição h u m a n a (Barsa lou e M e d i n , 1986;
Barsa lou , 1989).
Vár ias são as teorias sobre as represen tações de ca tegor ias que f o r a m sendo
propos tas ao longo do tempo. Alguns autores in t roduz i ram s i s t emat i camente a distinção*
entre as várias abordagens (Smith e Medin , 1981; Med in e Smi th , 1984).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
De acordo com a visão clássica, as ca tegor ias são de f in idas por propr iedades que,
em conjunto , são suf ic ien tes e, individualmente , são necessár ias para per tencer à ca tegor ia
(Armstrong, Gle i tman e Gle i tman, 1983; Osherson e Smith , 1981). Os teóricos da visão
clássica a s sumem, f r equen temente , que essas def in ições exis tem porque , como o mundo
objec t ivo con tém vár ios tipos de coisas que par t i lham propr iedades def in idoras , o
conhec imento h u m a n o passa a representar essas propr iedades .
Ass im, a represen tação de uma categoria na m e m ó r i a (o concei to) está bem
del imi tada. D i fe ren te s pessoas deverão ter o mesmo concei to , ou concei tos mui to
semelhantes , de uma ca tegor ia especí f ica , j á que todos têm razoável acesso à i n fo rmação
sobre o mundo ob jec t ivo . De acordo com esta visão, os conce i tos devem ser es tá t icos num
indivíduo, porque as propr iedades def in idoras de uma ca tegor ia ra ramente ou nunca
mudam (Smith e Med in , 1981; Medin e Smith, 1984; Barsa lou e Med in , 1986).
Já que apenas p ropr iedades def in idoras ocorrem nos concei tos , todas as inferências
que podem ser fe i tas sobre uma entidade, a partir da sua per tença a uma categor ia , são
precisas . In fe rênc ias imprecisas são impossíveis porque todas as propr iedades per tencem a
todos os exempla res . Contudo, uma série de i n fo rmação po tenc ia lmente impor tan te é
excluída. Por exemplo , porque há pássaros que não voam, segundo esta visão, essa
propr iedade não é incluída no concei to de pássaro. No entanto , se a lguma ent idade é
cons iderada um pássaro , há uma elevada probabi l idade que voe.
^ A teoria do protótipo representa um avanço em re lação à visão clássica, j á que
rejei ta a ideia de que as representações conceptuais são necessa r i amen te def in ições (Smith
e Medin , 1981). Pr imei ro , tem sido f r equen temente a r g u m e n t a d o que para mui tas
ca tegõr las nãô ex is tem def in ições (Wit tgenstein, 1953, c i tado por Barsa lou e Medin , 1986).
Segundo, m e s m o quando exis tem def inições , as represen tações das ca tegor ias inc luem mais
do que p ropr i edades necessár ias e suf icientes . Por isso, mui tos teór icos sugerem que as
pessoas r ep resen tam as categor ias com protót ipos , que con têm propr iedades carac ter í s t icas
dos membros da ca tegor ia (Rosch e Mervis, 1975, c i tado por Smith e Medin , 1981)._Assim,
de acordo com esta visão, a representação de uma ca tegor ia con t ém propr iedades com
elevada, embora não necessar iamente perfe i ta , p robab i l idade de ocor re rem nos seus
exemplares - v i são probabi l í s t ica das categorias . D e p e n d e n d o de quão carac ter í s t ica dos
membros da ca tegor ia é a propr iedade , torna-se central no pro tó t ipo da ca tegor ia .
Outro p res supos to bás ico da teoria protot íp ica é que as pessoas abs t raem
propr iedades carac ter í s t icas de uma categoria apart i r da sua exper iênc ia com as ins tâncias
da categor ia .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Hart ley e H o m a (1981) , numa tarefa de c l a s s i f i cação de pinturas , revelam que a
precisão da c l a s s i f i cação de novos exemplares não é a f ec t ada pela duração do intervalo
entre o pe r íodo de aprend izagem prévia de pinturas e o de tes te de novas pinturas , embora
um e s q u e c i m e n t o s igni f ica t ivo ocorra para as p in turas aprendidas previamente . A
in te rpre tação da maior ia dos estudos abs t racc ionis tas é que, durante a aprendizagem, é
fo rmado um pro tó t ipo que é mais resis tente ao dec l ín io do que os exemplares
o r ig ina lmente aprendidos . E, portanto, embora as pessoas pos sam ter a lguma informação
sobre e x e m p l a r e s individuais , a evidência sugere que os e x e m p l a r e s são mais rapidamente
esquec idos do que a tendência central , e que a u m e n t a n d o o in tervalo de tempo, o
de sempenho passa a estar cada vez mais baseado na t endênc ia central (Posner e Keele,
1968). Posner e Keele (1968), ut i l izando um pa rad igma de abs t racção de esquema,
desenvo lve ram um con jun to de invest igações sobre a a p r e n d i z a g e m de e squemas . Nesses
es tudos , padrões , cada um consis t indo num con jun to de c o n f i g u r a ç õ e s a leatór ias de pontos,
f o rmavam as c lasses de eventos que ser iam cap tadas nos e squemas adquir idos pelos
suje i tos . Esses padrões eram construídos e sco lhendo uma conf igu ração de pontos
protot íp ica e depois o con jun to de conf igurações m e m b r o s de cada padrão era gerado
apl icando uma t r ans fo rmação estatíst ica aleatória ao pro tó t ipo . Out ros autores como Franks
e Brans fo rd (1971) desenvolveram inves t igações com um pa rad igma semelhan te ao de
Posner e Keele (1968) , contudo, a natureza dos mater ia is e s t ímu lo usados foi d i fe ren te pela
d i f i cu ldade de espec i f i ca r com precisão as descr ições es t ru tura i s para as represen tações do
protó t ipo e t r ans fo rmações a rmazenadas em memór ia , quando se ut i l izam conf igurações de
pontos a lea tór ios . Ass im, para faci l i tar o es tudo da na tureza das es t ru turas de memória
adquir idas , es tes autores usaram padrões de es t ímulos não a leatór ios - conf igurações
espacia is de fo rmas geométr icas bem es t ru turadas - e t r a n s f o r m a ç õ e s d iscre tas s is temáticas
f o rma apl icadas ás conf igurações de fo rmas - e s senc ia lmente , um padrão era caracter izado
por um grupo de t rans formações escolhido. S u m a r i a n d o o con jun to de resul tados
s i s t emat i camente encont rados por es tudos que usa ram o pa rad igma de abs t racção de
e squema ver i f i ca - se que: (a) A c lass i f icação dos p ro tó t ipos é mais es tável ao longo do
t empo do que a de exemplares apresentados an te r iormente , o que pode ser uma evidência
de que a r ep resen tação de tendência central de ca tegor ias ( esquemas ou protót ipos) é
abs t ra ída duran te a aprend izagem e que esta r epresen tação dec l ina mais devagar do que os
t raços dos exempla re s de t reino; (b) Os exemplares ant igos são me lho r c l a s s i f i cados do que
os novos , j á que é a semelhança do protót ipo empí r i co de r ivado da expe r i ênc ia com os
exempla res ant igos que é crucial e não a semelhança ao p ro tó t ipo em si (tal como a média
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
de uma amos t ra está normalmente mais p róx ima da média das pon tuações da sua própr ia
amostra do que da méd ia das pontuações de outra amost ra da mesma população) ; (c) A
t rans fe rênc ia da c lass i f i cação apartir dos exempla res ant igos para novos padrões é me lhor
para os pro tó t ipos , in te rmédia para pequenas d is torções dos protót ipos e pior para grandes
dis torções dos protó t ipos , o que apoia que cada ca tegor ia é representada por um t ipo de
protót ipo, e há uma semelhança do resul tado com os efe i tos de t ip ical idade encon t r ados
com concei tos na tura is ; e (d) A t ransferência para novos padrões melhora com o aumen to
do tamanho da ca tegor ia , isto é, com o número de exempla res de t re ino da ca tegor ia , pois
quanto mais va r iedade de exemplares houver mais e f icaz se torna o processo de abs t racção
do protót ipo h ipoté t ico .
É c la ro que, apesar da plausibi l idade destas in terpre tações , podemos pensar que o
desempenho nestas tarefas de c lass i f icação atrás descr i tas não seria a fec tado se os
exemplares aprendidos previamente fossem se lec t ivamente esquec idos mas os aspec tos
crí t icos para a c lass i f i cação fossem ret idos; o que já se coaduna com os p ressupos tos da
^ visão exemplar das categorias. De facto, uma terceira fo rma como as pessoas p o d e m
representar as ca tegor ias é não com protót ipos mas com exempla res (Hintzrnan,_ 1986;
Jacoby e Brooks , 1984; Medin e Schaf fe r , 1978).
Vár ios mode los de exemplares têm exp l icado com sucesso os f e n ó m e n o s atrás
refer idos , que inves t igadores apresentaram prev iamente como evidência a f avor da
abs t racção de pro tó t ipos . Por exemplo , os me lhores desempenhos de c lass i f i cação que se
obtêm em re lação a protót ipos nunca apresentados na fase de treino, c o m p a r a t i v a m e n t e
com exempla res apresentados previamente , são bem previs tos por modelos de e x e m p l a r e s
puros (Medin e Scha f f e r , 1978). A ideia geral é que, embora não apresentados duran te o
treino, os p ro tó t ipos de categorias são f r equen temen te a l tamente semelhantes a numerosas
instâncias de t re ino da sua própria ca tegor ia e t endem a ser bas tante d i fe ren tes das
instâncias de t reino de categorias a l ternat ivas . Em contras te , qua lquer exempla r de t re ino
pode ser a l t amente semelhante apenas a si p rópr io . A redundânc ia em relação ao pro tó t ipo
dá-lhe f r e q u e n t e m e n t e vantagem em testes de c lass i f icação . Ass im, segundo esta v isão, em
vez de induzi r uma def in ição ou abstrair um pro tó t ipo para uma ca tegor ia , as pes soas
podem s imp le smen te armazenar memór ias de exempla res e spec í f i cos ou con jun tos de
exemplares para representar a categoria. Por exemplo , quando c lass i f icam um novo
es t ímulo, os ind iv íduos podem procurar na memór ia um exemplar ou exempla res mais
semelhantes ao es t ímulo e c lass i f icar os novos es t ímulos por analogia com a ca tegor ia
associada aos exempla re s recuperados . Aliás, como supor te desta ideia, Medin e S c h a f f e r
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
(1978) cont ro laram a d is tânc ia de itens à tendência centra l de duas categorias e
nnanipularam a s eme lhança desses itens a exemplares conhec idos , demons t r ando que a
aprendizagem era de te rminada pela semelhança a e x e m p l a r e s conhec idos , e não pela
dis tância a tendências cent ra is . Resul ta desta visão que, as r ep resen tações das categorias
ref lec tem a exper iênc ia dos indivíduos . Na medida em que as pessoas exper imentam
di ferentes d is t r ibuições de exemplares para uma ca tegor ia , as suas represen tações da
mesma var iam.
Haverá a lgum papel para a visão clássica? Smith e Med in (1981) in t roduzi ram a
dis t inção entre "cerne" e "identificação" de um concei to . O "cerne" con t ém propr iedades
que revelam re lação com outros concei tos , enquan to a "identificação" contém
propr iedades que são usadas para categorizar objectos reais . A re levânc ia des ta dist inção
era que a "identificação" poder ia ter uma estrutura p ro to t íp ica , e o "cerne" estar em
con fo rmidade com a v isão c láss ica . Apesar destes autores te rem no tado esta poss ibi l idade,
não encont ra ram ev idênc ia que a suportasse . Arms t rong , G le i tman e Gle i tman (1983)
fo rneceram alguma evidênc ia . Es tes autores inves t igaram conce i to s que com cer teza teriam
um "cerne" c láss ico, número ímpar. A in tenção dos au tores era mos t ra r que m e s m o esses
concei tos t inham "procedimentos de identificação". C o m o prova, Arms t rong e
co laboradores (1983) demons t r a r am que os suje i tos ava l i avam as ins tânc ias desse concei to
como var iando em t ip ica l idade e ca tegor izavam ins tâncias t íp icas mais r ap idamen te do que
as at ípicas. Estes autores in terpre taram estes resul tados c o m o supor t ando a ideia de que um
"procedimento de identificação" pode coexis t i r com um "cerne" c láss ico . Na real idade,
pode-se pensar que esta visão consti tui uma tentat iva da teor ia c láss ica l idar com as
descober tas sobre a ins tab i l idade das representações . Para d e f e n d e r a ex is tênc ia de cernes
def in idores , a visão "cerne+identificação" expl ica os e fe i to s da exper iênc ia e con tex to em
termos de p roced imen tos de ident i f icação. Por e x e m p l o , esta v isão a s sume que as
propr iedades pro to t íp icas , cor re lac ionadas e os exemplares que as pessoas adqui rem apartir
da exper iênc ia res idem s implesmente nos p roced imentos de i den t i f i c ação em vez de nos
cernes. Seme lhan t emen te , esta visão argumenta que a i n s t ab i l i dade ao longo do tempo
entre populações , i nd iv íduos ou intra indivíduos resul ta em d i fe ren tes p roced imen tos de
ident i f icação . E o m e s m o argumento pode ser fe i to para con tex tos d i fe ren tes . Mais
importante , esta v i são de f ende que, enquanto os p roced imen tos de iden t i f i cação var iam, os
cernes de f in idores m a n t ê m - s e cons tantes quer entre quer in t ra ind iv íduos . Segue daqui que,
exis tem pacotes de i n f o r m a ç ã o está t icos associados ás ca t egor i a s e que são esses pacotes ,
que são as par tes mais impor tan tes das representações das ca t egor i a s (Barsa lou e Medin ,
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1986; Ba r sa lou , 1987) . Pa ra mais d i scussão sobre as d i f e r en t e s v i sões das r ep resen tações
de ca tegor ias ver S m i t h e Samue l son (1997) , Smi th e M e d i n (.1981) e Medin e Smi th
(1984) .
1.1.3 Contraste entre a visão abstraccionista e a visão exemplarista dos processos
cognitivos
Já que a v i são abs t racc ion is ta e a v i são e x e m p l a r são v isões r ivais , uma
c o m p a r a ç ã o des t a s duas perspec t ivas parece va le r a pena .
C l a s s i c a m e n t e , o p re s supos to pr incipal da v i são e x e m p l a r i s t a é q u e a r ep r e sen t ação
de um c o n c e i t o cons i s t e em desc r i ções s epa radas de a lguns dos seus exempla r e s , es ta
supos ição en t ra e m c o n f l i t o com um dos cr i tér ios para uma r ep re sen t ação sumár ia , ou se ja ,
que a r e p r e s e n t a ç ã o se ja tão abst racta quanto poss íve l . Es ta ques t ão é re levan te aqui .
E s p e c i f i c a m e n t e , p o r q u e as represen tações sumár ia s são a s s u m i d a s pela v i são
abs t r acc ion i s t a m a s n ã o pela v isão exempla r i s t a , as duas v i sões p o d e m ser d i s t ingu idas
com base na a b s t r a c ç ã o .
No c a s o da v i s ã o exempla r i s t a , d i f e ren tes c o n j u n t o s de a t r ibu tos de u m conce i to
c o r r e s p o n d e m a d i f e r e n t e s ins tânc ias a r m a z e n a d a s , e, po r t an to , são r ep re sen t ados
exp l i c i t amen te , no c a s o da teor ia abs t racc ion is ta os c o n j u n t o s de a t r ibu tos ex i s t em apenas
duran te a c a t e g o r i z a ç ã o e ass im são r ep re sen t ados apenas imp l i c i t amen te . Para Smi th e
Med in (1981) , es ta d i f e r e n ç a entre a d i s junção expl íc i ta e impl íc i ta t em imp l i cações para
as ex igênc i a s de a r m a z e n a m e n t o em ambas as v i sões .
T a m b é m , os m o d e l o s de exempla re s não c o n s i d e r a m que se ja s e m p r e r ecupe rada a
m e s m a r e p r e s e n t a ç ã o , d i f e r en t e s exempla re s são r e c u p e r a d o s e m d i f e r en t e s s i tuações . A
r e c u p e r a ç ã o to ta l ve r sus a r ecupe ração parc ia l é po i s ou t ra d i f e r e n ç a en t re os m o d e l o s de
exempla r e s e os m o d e l o s abs t racc ion is tas . Ser ia , c o n t u d o , útil para os m o d e l o s
abs t r acc ion i s t a s a s s u m i r que apenas a lgumas p r o p r i e d a d e s de u m a r e p r e s e n t a ç ã o sumár ia
são r e c u p e r a d a s n u m m o m e n t o . Permi t ia a es tes m o d e l o s l i da rem m e l h o r com a apa ren te
ins t ab i l idade de a lguns conce i to s e expl icar ce r tos e fe i tos do con tex to .
A inda , e n q u a n t o nos mode los de e x e m p l a r e s todas as r ep re sen t ações p o d e m ser
ins tânc ias e s p e c í f i c a s , f r e q u e n t e m e n t e , esse não é o caso c o m os m o d e l o s abs t racc ion i s t a s .
E uma p r o p r i e d a d e n u m a rep resen tação p robab i l í s t i ca t em que ter uma p robab i l i dade
subs tanc ia l de oco r r e r nas ins tânc ias do conce i to , e n q u a n t o , na v i são de exempla r e s , u m a
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
propr iedade pode fazer parte de uma representação se fo r caracter ís t ica de uma única
instância .
Esta breve carac te r ização das duas visões sugere j á quão dist intas são as suas
concepções da mente humana e os pr incípios básicos que adop tam.
Na verdade , a h ipótese de escassez de recursos cogni t ivos que a visão
abs t raccionis ta adopta como ponto de par t ida def ine , desde logo, a lgumas propr iedades que
o p rocessador de in fo rmação tem que ter para manter a e s t ab i l idade cogni t iva face a tão
grande var iab i l idade social .
De fac to , esta visão considera que a p reservação dos recursos cogni t ivos l imitados é
um dos ob jec t ivos pr imordia is do p rocessamento de i n f o r m a ç ã o e que a consequente e
necessár ia s impl i f i cação do es t ímulo é, em grande med ida , conseguida à custa da
capac idade mental de abs t racção, ou seja , de ir para a lém do que é e spec í f i co (Garcia-
Marques , 1998).
Ora isso tem como consequências que: O processador de i n f o r m a ç ã o tem que ser um
agente act ivo capaz de cons t ru i r cri térios adapta t ivos que lhe pe rmi t am ignorar , na fase de
cod i f i cação , as caracter ís t icas menos re levantes dos es t ímulos ; os deta lhes d isponíve is na
recuperação só podem provir das estruturas de conhec imen to genér icas , e não dos próprios
es t ímulos cod i f i cados ; o papel teórico a t r ibuído aos ep i sód ios e spec í f i cos e aos exemplares
nos processos cogni t ivos é mín imo ou, na melhor das h ipó teses , t ransi tór io (enquanto a
es t rutura de conhec imen to não abstraiu ainda os a t r ibutos cr í t icos apart ir de um conjunto
suf ic iente de episódios aprendidos) ; e os p rocessadores de i n f o r m a ç ã o são agentes
cogni t ivos es táveis la rgamente insensíveis ás in f luênc ias do con tex to .
Ao contrár io , a visão de exemplares fo rmula uma c o n c e p ç ã o mui to d i fe ren te da
mente humana . Esta concepção abandona o abs t r acc ion i smo cogni t ivo e dá maior
p r io r idade teór ica aos efe i tos do processamento de es t ímulos espec í f i cos em contextos
espec í f i cos usando p roced imentos cogni t ivos espec í f i cos . Nes ta concepção episódica , a
ca tegor ização , a «memória, o pensamento e a ap rend izagem de compe tênc ia s são vistos
como processos baseados em exemplares (Hin tzman, 1986; N o s o f s k y e Pa lmer i , 1997;
Smith e Medin , 1981) e não-anal í t icos (Jacoby e Brooks , 1984).
Is to s ign i f ica concre tamente que, nesta visão, a r ep resen tação cogni t iva de uma
categor ia não é reduzida ás caracter ís t icas modais das suas ins tânc ias (Rosch, 1978, ci tado
por Smith e Medin , 1981) .Mas é assumido que as pessoas u sam a covar iação dos atr ibutos
na ca tegor ização de ins tâncias (vão para além do conhec imen to moda l a t r ibuto-por-a t r ibuto
na ca tegor ização) e é atr ibuída pr ior idade teórica à var iab i l idade perceb ida dos exemplares .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Nesta v isão, não se espera assim que as es t ru turas de conhec imento ex ibam uma
grande cons tânc ia em diferentes momentos , nos m e s m o s indivíduos ou entre ind iv íduos ,
mas é a s sumido que es tas sejam instáveis. A ins tab i l idade pode resultar da sens ib i l idade ao
contexto - d i f e ren tes pis tas em diferentes con tex tos recuperarem diferentes exempla res .
Pode t ambém resul tar dos mesmos indivíduos expe r imen ta rem diferentes exempla res ao
longo do t empo e de d i ferentes indivíduos expe r imen ta rem di ferentes exemplares .
Recen temen te , o apoio a esta concepção mais episódica dos processos cogni t ivos
surge com a r e fo rmu lação radical das visões c láss icas sobre a memór ia a longo prazo
desencadeada pelos avanços teóricos oferec idos pelo mode lo de ajustamento global e pelos
modelos de m e m ó r i a de recuperação compósi ta . Es tes modelos , ao postularem a memór ia a
longo p razo que pode ser sondada, em para le lo , sem gastos s igni f ica t ivos de recursos
cogni t ivos (assoc iados à recuperação extensiva) e ao permi t i rem que um sis tema cogni t ivo
se compor te como uma máquina de abst racção sem calcular qualquer abs t racção, de i tam
por terra o a rgumen to dos recursos l imitados que sustenta a visão abs t raccionis ta e que
deixa de se apl icar a estes modelos de memór ia de ajustamento global. Os mode los de
memór ia de ajustamento global são capazes de desempenhos re lac ionados com a
aprend izagem de ca tegor ias e replicar efe i tos c láss icos de protó t ipo (Posner e Keele , 1968;
Hart ley e H o m a , 1981) sem desenvolver representações abstractas . Alguns destes mode los
foram t ip icamente usados para explicar a ap rend izagem de categor ias (Hin tzman, 1986;
Kruschke , 1992) e o e fe i to da espec i f ic idade do contex to no s igni f icado de um conce i to
(Hin tzman, 1986). Por exemplo no Minerva II (Hin tzman , 1986), o ajustamento global
refere-se a uma respos ta de memória compós i ta fo rmada na recuperação - enquan to na
cod i f i cação cada ins tância é armazenada ind iv idua lmente sem cálculo de "abs t racção" .
Apesar d isso , o Mine rva II, numa tarefa de aprend izagem de categor ias , exibe uma resposta
mais in tensa ao i tem protot ípico que é a " m é d i a " dos i tens p rev iamente apresentados ,
mesmo que este pro tó t ipo nunca tenha sido vis to - e fe i to c láss ico do protót ipo (Posner e
Keele, 1968; Har t ley e Homa, 1981). Nout ro exemplo , o mode lo .Minerva II demons t ra um
efei to aná logo ao inves t igado por Roth e Shoben (1983) , o de que os concei tos não têm
representações uni tár ias . Manipulando o con tex to semânt ico , os indivíduos reordenam as
aval iações de t ip ica l idade dos membros da ca tegor ia . O mode lo Minerva II sugere que se
não há represen tan tes de concei tos f ixos em memór ia , mas apenas t raços de ep isódios em
que o nome do conce i to foi usado, então é compreens íve l que o s ign i f icado recuperado por
uma pa lavra se ja a l tamente dependente do contexto . A palavra ' ' come" pode ser
representada por um grande número de traços que podem ser ac t ivados em parale lo , mas os
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
esses traços serão fo r t emen te act ivados em qualquer encon t ro com a pa lavra . Qualquer
subcon jun to part icular act ivo desses traços é uma amost ra env ie sada apart i r da população,
e o subcon jun to activo pode variar quer no tamanho quer no con t eúdo de uma ocas ião para
outra, dependendo do con tex to em que a palavra aparece (H in t zman , 1986).
Sem dúvida , um quadro fundamenta lmente d i fe ren te emerge se adop ta rmos uma
visão onde es t ruturas de conhec imen to genéricas baseadas em e x e m p l a r e s são sensíveis ao
contexto. Se a resposta des tas es t ruturas de conhec imento genér icas for o resul tado de um
processo de ajustamento global, a na tureza das pistas d i spon íve i s no con tex to será crítica
para essa resposta . Esta dependênc ia do contexto der iva da na tu reza compós i t a das pistas
de recuperação que ins t igam a memória a longo prazo. P is tas , enquan to objec t ivos de
recuperação, são e spon taneamen te integradas com a i n f o r m a ç ã o que está d isponível no
contexto imediato , f o r m a n d o pistas compósi tas que são c o m p a r a d a s com memórias
a rmazenadas para resul tar numa resposta (Garc ia -Marques , 1998) . Nes ta perspect iva , a
sensibi l idade ao con tex to torna-se teor icamente s ign i f i ca t iva e a var iab i l idade das
estruturas de conhec imen to uma consequência natural .
C o m o revemos na secção seguinte, com o de senvo lv imen to de métodos apropriados
para es tudar a ins tabi l idade das representações de ca tegor ias gerais , que conduzi ram à
conclusão que os concei tos são a l tamente instáveis, o e n q u a d r a m e n t o abs t racc ionis ta para
além de se ver conf ron tado com a poss ibi l idade de mode lo s ep i sód icos pode rem simular a
maior parte da evidência acumulada para a abs t racção, passou a ver-se conf ron tado
também com a sua incapac idade para explicar e acomodar s i gn i f i c a t i vamen te uma série de
evidências empír icas que não previa.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1,2 A estabilidade modesta das representações de categorias gerais revelada pela visão empírica
S a b e m o s agora que as teor ias c láss icas sobre a o r g a n i z a ç ã o em memór i a do
c o n h e c i m e n t o c a t e g ó r i c o ou dos conce i tos são b a s e a d a s no p o s t u l a d o que o nosso s i s tema
cogn i t ivo c o n t é m u m a rede h ie rárquica de ca t ego r i a s a l t amen te e s t ru tu rada que pe rmi te ao
ind iv íduo i d e n t i f i c a r ob jec tos e, mais g loba lmen te , p rocessá - los , i n d e p e n d e n t e m e n t e do
con tex to em que o p r o c e s s a m e n t o tem lugar . Por d e f i n i ç ã o , essa r ede é par t i lhada por t odos
os ind iv íduos (é v i s ta c o m o universa l ) e é i n d e p e n d e n t e das c i r cuns tânc ias (é es tável num
ind iv íduo) . C o n t u d o , c o m o revemos nesta s ecção , es tes p r e s s u p o s t o s têm sido f o r t e m e n t e
q u e s t i o n a d o s pe la s descober tas de um c o n j u n t o imenso de inves t igação sobre
ca t ego r i zação . A p e s a r da grande va r i edade de ma te r i a i s e p r o c e d i m e n t o s expe r imen ta i s
usados , os r e s u l t a d o s sobre a ins tab i l idade das r ep re sen t ações t êm sido, c o m o ve remos ,
mui to c o n s i s t e n t e s e as suas impl icações , para a na tu reza dos conce i to s , vas tas .
As duas p r ó x i m a s subsecções serão d e d i c a d a s a cada u m des tes tóp icos , a saber :
rev i são dos e s t u d o s q u e aval iam a es tab i l idade dos conce i to s e seu impac to nas teor ias
sobre as r e p r e s e n t a ç õ e s menta i s de ca tegor ias .
1.2.1 Aval iações sistemáticas de instabilidade das representações de categorias -
revisão de estudos
I n v e s t i g a d o r e s descobr i r am que, na g e n e r a l i d a d e , as p is tas ma i s e f i cazes para acede r
a um t r aço de m e m ó r i a durante a r e c u p e r a ç ã o são aque las que f a z e m aumen ta r a
s e m e l h a n ç a en t re o c o n t e x t o da sua c o d i f i c a ç ã o e o da r e c u p e r a ç ã o (Tu lv ing e T h o m p s o n ,
1973). De a c o r d o c o m es te pr inc íp io de e s p e c i f i c i d a d e da c o d i f i c a ç ã o , as pa lavras s e r i am
r ecupe radas não pe lo acesso a uma rep resen tação ún ica , mas pela r ec r i ação das c o n d i ç õ e s
semân t i cas q u e e n v o l v e r a m a cod i f i cação in ic ia l . A s s i m , em vez de usa rem uma es t ru tu ra
de c o n h e c i m e n t o i n v a r i a n t e para represen ta r u m a pa l av ra duran te a c o m p r e e n s ã o de f r a s e s
d i f e ren tes , os i n d i v í d u o s pa recem cons t ru i r d i f e r en t e s r ep re sen tações , com as
r e p r e s e n t a ç õ e s e m d i f e r e n t e s f r a ses a f o c a r e m - s e e m pis tas d i f e ren te s . Es te é um dos
e fe i to s do c o n t e x t o c o m mais impac to na l i t e ra tu ra cogn i t i va . Ora o f ac to do con tex to ter
tanta i n f l u ê n c i a na m e m ó r i a sugere que u m a c o m p r e e n s ã o do c o n t e x t o é necessár ia pa ra
uma c o m p r e e n s ã o d o s p rocessos de m e m ó r i a (Garc i a M a r q u e s , T. 1998). E, de f ac to ,
apar t i r daqu i , a m a l e a b i l i d a d e contextua l dos p r o c e s s o s gera is pas sa a ser vis ta nos
f e n ó m e n o s de m e m ó r i a e o con tex to , quer s e m â n t i c o quer amb ien t a l , to rna-se u m a área
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
legí t ima e impor tan te de es tudo e com impl icações p r o f u n d a s nas teorias sobre as
representações mentais de categor ias (para uma revisão do conce i to de "con tex to" ver
Garcia Marques , T. 1998; Davies , 1986).
Nesse processo de por à prova empír ica teor ias sobre as representações de
categor ias , o desenvolv imento de métodos apropr iados para es tudar a es tab i l idade que
exibem essas representações - como a metodologia de tes te- re tes te longi tudinal - foi
de te rminante para c lar i f icar mui tos mecan ismos subjacentes à capac idade representacional
d inâmica que os indivíduos parecem ter. De facto , usando múl t ip las ta refas exper imenta is e
as mais diversas manipu lações , teria sido quase imposs íve l obter ev idência empír ica
directa sobre a ins tabi l idade das estruturas de conhec imen to se não se t ivesse in t roduzido o
p roced imen to de comparar os mesmos indivíduos em duas ocas iões d i fe ren tes , ca lculando
o grau de corre lação entre as produções no momen to de teste e as p roduções no momento
de reteste . A maior ia dos es tudos que revemos a seguir pa r t i lham essa metodologia . Na sua
apresentação , são agrupados segundo a natureza da tarefa expe r imen ta l usada.
Estrutura gradativa
Embora o f enómeno da estrutura gradat iva tenha s ido um dos fac tores pr imordia is
responsáve is pela re je ição da visão cláss ica (Smith e Med in , 1981), Barsa lou (1987, 1989)
p reocupou-se , e spec i f i camente , com a relação entre a es t ru tura gradat iva e a es tabi l idade
dos concei tos .
A estrutura gradat iva de uma categor ia é s imp le smen te a o rdenação dos seus
exemplares do mais para o menos t ípico (Barsalou, 1987). Porque qua lquer tipo de
ca tegor ia observada até agora tem estrutura gradat iva, parece razoáve l assumir que esta é
uma propr iedade universal das categorias . Rosch e Merv i s (1975 , c i tado por Barsalou,
1987) descobr i ram estrutura gradat iva nas categor ias t a x o n ó m i c a s comuns , Armst rong ,
Gle i tman e Glei tman (1983) encont ra ram-na em categor ias fo rma i s , c o m o números ímpares
ou raiz quadrada, Barsalou (1983, 1985) encontrou es t ru tura g rada t iva em ca tegor ias que
não estão bem es tabelec idas na memór ia mas que fo ram cr iadas pa ra at ingir um object ivo,
como se jam as categor ias d i r ig idas para objec t ivos e as ca tegor i a s adhoc .
C o m o revêm Medin e Smith (1984) e Smith e Med in (1981) , a es t ru tura gradat iva
parece ser a variável mais impor tan te para predizer o d e s e m p e n h o numa var iedade de
tarefas de ca tegor ização. É central para prever o t empo que leva a c lass i f i ca r a lgo como
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
membro de uma ca tegor ia , com os exempla res t ípicos a serem iden t i f i cados mais
rap idamente do que os exemplares at ípicos (McCloskey e Glucksberg , 1979, c i tado por
Barsalou, 1987), para prever a f requênc ia com que as pessoas geram membros da ca tegor ia ,
com os exempla res t ípicos, a serem gerados mais f r equen temen te do que os a t íp icos
(Barsalou, 1983, 1985). Muitas inves t igações demons t ra ram que a es t ru tura grada t iva de
uma categor ia é ins tável . Dependendo da população , do indivíduo, ou do con tex to , a
ordenação dos exempla res da categoria por t ip ica l idade pode var iar muito. A t ip ica l idade
de um exempla r aumenta com a sua semelhança à represen tação da categor ia ; m u d a n ç a s na
representação da ca tegor ia alteram as suas semelhanças aos exemplares (Barsa lou , 1985,
1987); e essas m u d a n ç a s na semelhança al teram a es t rutura gradat iva (Barsa lou , 1989).
Na maior ia dos es tudos sobre a estrutura gradat iva , os su je i tos receb iam nomes de
categorias segu idos de nomes de exemplares e j u l g a v a m quão t ípicos os exempla res e ram
da sua ca tegor ia . Em alguns estudos, os su je i tos o rdenavam os exemplares de mais para
menos t ípico; em out ros , os sujei tos aval iavam a t ip ical idade dos exempla res numa esca la
bipolar de 1 a 7.
In fe l i zmente , a maioria dos es tudos fei tos in ic ia lmente sobre o acordo nos
ju lgamen tos de t ip ica l idade usaram medidas que eram enviesadas pelo t amanho da amost ra
(Barsalou e Sewel l , 1984). Por exemplo , Armst rong , Gle i tman e Gle i tman (1983) re la ta ram
níveis de acordo entre su je i tos de .90 ou super iores , suger indo que as pessoas são quase
unânimes na sua pe rcepção da es t rutura protot ípica . No entanto , a medida que usa ram,
corre lação split-half, aumenta monoton icamente com o tamanho da amost ra e es t ima a
es tabi l idade das médias em vez do acordo entre su je i tos . Com suje i tos suf ic ien tes , p o d e m
ser obt idos acordos de .90 ou super iores , apesar do acordo médio entre pares de su je i tos
ser pequeno . Q u a n d o são usadas medidas não enviesadas , o acordo méd io entre su je i tos
para a t ip ica l idade s i tua-se normalmente , como vamos ver, entre .30 e .50 (Barsa lou ,
1983).
A es t ru tura gradat iva de uma categoria pode variar vas t amen te ao longo de
populações . Barsa lou e Sewel l (1984) cor re lac ionaram a es t rutura grada t iva méd ia de duas
populações d i fe ren tes , para as mesmas categorias , e observaram uma cor re lação total de .2,
indicando que estas duas populações t inham es t ruturas gradat ivas pouco re lac ionadas . Es te
nível ba ixo de acordo foi re la t ivamente pouco a fec tado por uma var iedade de
manipulações : O acordo foi l ige i ramente maior quando os su je i tos a s s u m i a m o pon to de
vista, cu l tu ra lmente par t i lhado, do amer icano méd io (.55) do que quando as sumiam o seu
própr io ponto de vista ( .46). Os su je i tos que ju lgavam 16 exempla res por ca tegor ia não
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
m o s t r a v a m m e n o s aco rdo ( .45) do que os su je i tos que j u l g a v a m 8 e x e m p l a r e s por ca tegor ia
( .42) . O nível de aco rdo foi pouco a f e c t a d o pelo t ipo de c a t e g o r i a , com as ca tegor ias
t a x o n ó m i c a s c o m u n s a e v i d e n c i a r e m l ige i r amen te ma i s e s t a b i l i d a d e do que as ca tegor ias
d i r ig idas para o b j e c t i v o s ( B a r s a l o u , 1983 ,1985) .
Ba r sa lou , Sewel l e B a l l a t o (1986, c i t ado por B a r s a l o u , 1989) e x p l o r a r a m o grau em
que u m d a d o i nd iv íduo p r o d u z a m e s m a es t ru tura g r a d a t i v a p a r a uma ca tegor ia em
d i f e r en t e s m o m e n t o s , no m e s m o contex to . Para ava l i a r o a c o r d o , c o r r e l a c i o n a r a m as
es t ru tu ras g rada t ivas p r o d u z i d a s n u m a sessão e nou t ra s e s s ã o , s e m a n a s depo i s . A
co r r e l ação méd ia rondou os .8, i nd i cando que a es t ru tu ra g r a d a t i v a do su j e i t o n u m a sessão
c o n s e g u e exp l i ca r apenas 6 4 % da var iânc ia da ou t ra ses são . T a m b é m aqui , os n íve is de
aco rdo f o r a m r e l a t i v a m e n t e p o u c o a fec t ados pe los d i f e r e n t e s p o n t o s de v is ta que os
su j e i to s a s s u m i a m , pela p r e s e r v a ç ã o , ou não, da o r d e m e m q u e os e x e m p l a r e s eram
ap re sen t ados nas duas s e s sões , pe lo n ú m e r o de e x e m p l a r e s a p r e s e n t a d o s , e pe lo t ipo de
ca tegor ia . O aco rdo intra s u j e i t o es tava a l t amen te r e l a c i o n a d o c o m o a c o r d o en t re su je i tos ,
e x i b i n d o uma c o r r e l a ç ã o m é d i a de .75, suge r indo q u e os m e s m o s f ac to re s p o d e m ser
r e s p o n s á v e i s pe la i n s t ab i l i dade intra su je i to e en t re s u j e i t o s ( B a r s a l o u e co l aboradores ,
1986, c i t ado por B a r s a l o u , 1989). Es tes autores , a inda , a v a l i a r a m a e s t ab i l i dade dos
e x e m p l a r e s com vá r ios n íve i s de t ip ica l idade e m o s t r a r a m q u e os j u l g a m e n t o s para
e x e m p l a r e s em todos os n íve i s de t ip ica l idade m u d a m f r e q u e n t e m e n t e , m a s com os
j u l g a m e n t o s para e x e m p l a r e s m o d e r a d a m e n t e t íp icos a m u d a r m a i s \
Bar sa lou e Sewel l (1984) de scob r i r am que a e s t r u t u r a g r a d a t i v a t a m b é m varia com o
con tex to . I n d i v í d u o s que a d o p t a r a m d i fe ren tes p o n t o s de v i s t a g e r a r a m es t ru turas
g rada t ivas mu i to d i f e r e n t e s pa ra a m e s m a ca tegor ia . Po r e x e m p l o , q u a n d o os es tudan tes
a m e r i c a n o s j u l g a v a m a t ip ica l idade , do p o n t o de v is ta dos a m e r i c a n o s e dos ch ineses
g e r a v a m es t ru tu ras g rada t ivas que, em média , não e s t a v a m c o r r e l a c i o n a d a s . P o r q u e o
aco rdo en t re su j e i to s era c o m p a r á v e l para os d i f e r en t e s p o n t o s de v is ta , es tas m u d a n ç a s na
es t ru tu ra g rada t iva não r e f l e c t e m respos tas ao acaso . De m o d o s e m e l h a n t e , R o t h e Shoben
(1983) m o s t r a r a m q u e j u l g a r a t ip ica l idade e aceder a e x e m p l a r e s e m c o n t e x t o s l ingu í s t i cos
d i f e r en t e s t inha u m g rande i m p a c t o na es t ru tura g rada t iva .
' Este resultado complica, aliás, as visões unitárias da categorização, que assumem um único mecanismo subjacente à tipicalidade e à pertença à categoria, porque, para a tipicalidade, a estabilidade aumenta do exemplar moderadamente típico para o menos típico, e, para a pertença, a estabilidade diminui do exemplar moderadamente típico para o menos típico, atestando que, em alguma medida, diferentes mecanismos estão subjacentes a estas duas tarefas (McCloskey e Glucksberg, 1978).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Ainda, Ross (1996) discute como a in teracção com instâncias pode afectar as
representações das categorias , espec i f icamente a fo rmação de ca tegor ias e a sua estrutura
gradativa, e as impl icações deste estudo para as teorias de c lass i f icação. As pessoas ,
f r equen temente , c l a s s i f i cam novas instâncias e depois in teragem com elas ou usam-nas .
Dois es tudos mos t r am que resolver uma equação depois de a c lass i f icar inf luencia
c lass i f icações pos te r io res doutras equações, e que as d i fe renças encontradas entre grupos
não se devem s implesmente ao facto do grupo que resolveu a equação ter aprendido mais.
Para Ross (1996) , es tes dados têm implicações para as teorias de c lass i f icação exis tentes ,
no sent ido de requere rem extensões das mesmas que inc luam os meios pelos quais a
in formação não c lass i f i cadora (as interacções com as ins tâncias para a lém da c lass i f icação)
afecta a c l a s s i f i cação .
Geração de propriedades
Poder -se- ia a rgumentar que a estrutura gradat iva é um modo re la t ivamente indirecto
de aval iar as representações das categorias. Ta lvez uma fo rma mais directa seja,
s implesmente , pedi r aos indivíduos que desc revam as representações das categor ias
enquanto p e n s a m sobre elas. É provável que, por es tarem a relatar os conteúdos da
memória de t raba lho , esta abordagem seja mais prec isa .
Para aval iar o acordo entre sujei tos, Barsa lou , Spindler , Sewel l , Ballato, e Gendel
(1987, c i tado por Barsa lou , 1989) calcularam a sobrepos ição média das propr iedades entre
todos os pares poss íve i s de sujei tos que gera ram propr iedades para a categoria . A
sobrepos ição foi med ida com a correlação de elemento comum, ou seja, o número de
propr iedades c o m u n s aos dois protocolos d iv id ido pela média geométr ica do total de
propr iedades em cada protocolo (Bellezza, 1984a, 1984b, 1984c). Em vários es tudos , os
protocolos de d i f e ren tes sujei tos exibiram uma sobrepos ição à vol ta dos .32, indicando que
apenas um terço da descr ição que um sujei to faz de uma categor ia se sobrepõe á descr ição
que o outro su je i to faz da mesma categoria.
Este nível ba ixo de acordo foi re la t ivamente pouco afec tado por uma var iedade de
manipulações : Não foi afectado por diferentes pon tos de vista assumidos ; a es tabi l idade
ta lvez tenha s ido marg ina lmente maior para ca tegor ias d i r ig idas para object ivos (.22) do
que para ca tegor ias taxonómicas comuns (.18); e os su je i tos que produzi ram ideais ( .22)
most ra ram mais es tab i l idade do que os suje i tos que p roduz i ram médias (.17). Os ideais
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
ta lvez se j am mais e s táve i s po rque es tão a s soc i ados a c o n h e c i m e n t o func iona l ,
r e l a t i vamen te es táve l , sobre as ca tegor ias , enquan to as m é d i a s t a lvez f l u t u e m de acordo
com a expe r i ênc i a r ecen te c o m e x e m p l a r e s (Barsa lou , 1989).
T a m b é m , os su j e i to s que p r o d u z i r a m d e f i n i ç õ e s ( .44) n ã o m o s t r a r a m m a i o r acordo
do que os su je i tos que p r o d u z i r a m pro tó t ipos ( .45) . E s p e c i f i c a m e n t e , es te p a d r ã o de
r e su l t ados não supor ta a v i são ''cerne+identificação" das c a t e g o r i a s , que p r o p õ e q u e as
r e p r e s e n t a ç õ e s de ca tegor i a s con t êm cernes d e f i n i d o r e s e p r o c e d i m e n t o s de i den t i f i c ação
b a s e a d o s na t ip i ca l idade (Arms t rong , Gle i tman e G l e i t m a n , 1983; Oshe r son e Smi th , 1981;
Smi th e M e d i n , 1981). De a c o r d o com esta v isão, os c e rnes d e f i n i d o r e s , que r e f l ec tem
inva r i an te s na tura i s e lóg icos , deve r i am ser ma i s e s t áve i s do q u e os p r o c e d i m e n t o s de
i den t i f i c ação , que r e f l e c t em a exper i ênc ia pessoa l . C o n t u d o , os su j e i to s q u e p r o d u z i r a m
d e f i n i ç õ e s não m o s t r a r a m mais e s t ab i l idade do que os que p r o d u z i r a m protó t ipos^ .
O aco rdo t a m b é m não variou en t re conce i t o s b e m d e f i n i d o s ( c o m cond ições
neces sá r i a s e su f i c i en te s ) , c o m o mamífero ou solteiro, e c o n c e i t o s fuzzy s em cond i ções
neces sá r i a s e su f i c i en tes , c o m o jogo e mobília.
Bel l ezza (1984b , 1984c) obse rvou t a m b é m a e s t a b i l i d a d e da g e r a ç ã o de
p r o p r i e d a d e s , tal c o m o a e s t ab i l idade da ge ração de e x e m p l a r e s (1984a) . C o i n c i d e n t e s com
os r e su l t ados de Barsa lou e co l abo rado re s (1987, c i t ado por B a r s a l o u , 1989) , os n íve i s de
aco rdo en t re su je i tos são ba ixos para ca tegor ias abs t r ac t a s ( .18) , c a t ego r i a s s u p e r o r d e n a d a s
( .20) , c a t ego r i a s de nível bá s i co ( .28), e desc r i ções de p e s s o a s f a m o s a s ( .21) .
Pa ra ava l ia r o a c o r d o in t ra su je i to em c o n t e x t o s igua i s , Bar sa lou e c o l a b o r a d o r e s
(1987 , c i t ado por B a r s a l o u , 1989) ca l cu la ram a s o b r e p o s i ç ã o en t re do i s p r o t o c o l o s do
m e s m o ind iv íduo p r o d u z i d o s no m e s m o con tex to e c o m p o u c a s s e m a n a s de d i s t ânc i a . Em
duas i nves t igações , e n c o n t r a r a m uma sob repos i ção m é d i a de .55, i n d i c a n d o que , para a
m e s m a ca tegor ia , apenas um pouco mai s de m e t a d e de u m p r o t o c o l o de u m s u j e i t o numa
sessão se sob repõe ao seu p ro toco lo na segunda sessão .
Tal c o m o no a c o r d o en t re su je i tos , es te b a i x o nível de a c o r d o foi p o u c o a f e c t a d o por
u m a va r i edade de m a n i p u l a ç õ e s : Não foi a f e c t a d o pe lo p o n t o de v is ta a s s u m i d o ; foi o
m e s m o q u a n d o os su j e i to s p r o d u z i r a m ideais ou m é d i a s , m a s fo i m a i o r pa ra ca tegor ias
d i r ig idas para ob j ec t i vos do q u e para ca tegor ias t a x o n ó m i c a s c o m u n s ; fo i o m e s m o para
^ Ora, se existem esses cernes definidores então deveria ser possível identificá-los. Mas. mesmo para categorias científicas, onde as definições deveriam ser bem conhecidas, é difi'cil descobrir definições. Por exemplo, é sabido que na biologia não existem definições clássicas para muitas espécies (Sober, 1984, citado por Barsalou e Medin, 1986). E mesmo que existam definições teóricas para certas categorias, não é claro que as pessoas as saibam e as usem.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
def in ições ( .66) e protót ipos (.67), o fe recendo ainda mais evidência contra a visão
"cerne+identificação".
Bel lezza (1984b, 1984c) pediu aos su je i tos que fo rnecessem def in ições de nomes ,
sendo que cada pessoa definiu cada nome duas vezes, com dois dias de intervalo. Se as
pessoas t ivessem cernes def in idores para as ca tegor ias , seria razoável que fos sem capazes
de aceder a e les quando lhes fosse pedido para def in i r as palavras que se r e fe rem a eles.
Surpreenden temente , este autor encontrou n íve is de acordo comparáve is aos já observados
por outros autores para categorias abstractas ( .43), superordenadas ( .46), de nível bás ico
(.54), descr ições de pessoas famosas ( .55) e descr ições de amigos pessoa is (.38),
con f i rmando uma substancial instabil idade. Para este autor, os resul tados mos t ram bem que
a recuperação de in fo rmação da memória semânt ica (onde reside o conhec imen to verbal
permanente sobre ob jec tos e o s ignif icado das palavras) é um processo probabi l í s t ico que
ocorre apenas com um nível de precisão modes to , o que sugere que a palavra não é uma
unidade de s ign i f i cado válida e que t ambém não é mais precisa a recuperação de
in fo rmação que diz respei to a referentes espec í f icos , pessoas espec í f icas . Mas a única
in terpre tação pode não ser só que há ins tabi l idade, é também possível que uma única
palavra não seja adequada como pista para recuperar in fo rmação ; ta lvez mais i n fo rmação
deva ser ad ic ionada à pista de recuperação para haver mais precisão; o contexto é muito
impor tante na compreensão e recuperação de i n fo rmação (Bel lezza, 1984b).
Pertença a categoria
Poder-se- ia a rgumentar que a ins tabi l idade na geração de p ropr iedades ref lec te
s implesmente uma amost ragem aleatória da in fo rmação cont ida em represen tações
invar iantes . Ta lvez as representações invar iantes se mani fes tem apenas em ta re fas mais
lógicas, como de te rminar a per tença à categoria ou pensar sobre ca tegor ias (Armst rong ,
Gle i tman e Gle i tman , 1983; Osherson e Smith, 1981, Smith e Medin , 1981). Ou seja , talvez
as pessoas não pos sam relatar d i rec tamente os cernes mas esses cernes apareçam
ind i rec tamente em ta re fas de per tença a categor ias . Se, por exemplo , as representações
invar iantes são usadas nos ju lgamen tos de per tença , então os j u l g a m e n t o s de per tença a
ca tegor ias deve r i am ser re la t ivamente estáveis . No entanto, M c C l o s k e y e Glucksberg
(1978) encon t ra ram um padrão de ins tabi l idade semelhan te ao que tem v indo a ser descr i to:
Di fe ren tes su je i tos reve la ram di fe renças substancia is na fo rma como a t r ibuem a per tença a
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
uma categoria específ ica; e os sujei tos mudaram f requen temente de ideia sobre se uma
entidade é membro de uma categoria ou não, em duas sessões com uma distância de um
mês. Portanto, também as representações usadas para ju lgamen tos de pertença a categorias
são instáveis.
E, obviamente , verdade que há certas categorias que têm def in ições claras (por
exemplo, solteiro) mas, em mui tos desses casos, as teorias intui t ivas^ integradas com os
conceitos podem relegar essas def in ições para um estatuto de auxil iares . Por exemplo , as
def inições podem ser importantes em domínios técnicos, onde a prec isão é fundamenta l , ou
em domínios onde fazer c lassif icações correctas traz mui tos ganhos. E, talvez, os
protótipos e exemplares , const rangidos pelas teorias intui t ivas, tenham um papel central
mesmo nessas categorias com def inições (Barsalou e Medin , 1986).
Apesar de toda a evidência descrita apontar para o fac to de os conceitos, na
general idade, não terem cernes definidores, podem t ip icamente ter cernes baseados na
experiência. Barsalou (1982) mostrou que certa in formação é au tomat icamente activada
sempre que a representação da categoria é acedida, independen temente do contexto. Ela
não tem, no entanto, um carácter definidor no sent ido em que não constitui propriedades
que são necessárias e suf ic ientes para definir um concei to , tal. como sustenta a visão
"cernem identificação ".
Os cernes baseados na experiência diferem dos cernes def in idores porque não são
def inições . É s implesmente informação que, na exper iênc ia de alguém, ocorre
f requentemente para uma categoria, de tal modo que se torna automát ica . A informação
pode também ser processada com frequência se for a l tamente re levante para a teoria
intuitiva que as pessoas têm sobre a categoria (Murphy e Medin , 1985).
Apenas os cernes baseados na experiência podem variar entre e intra indivíduos.
Pessoas com diferentes experiências podem f r equen temen te processar diferentes
propriedades para a mesma categoria, contudo, o acordo mode rado entre suje i tos pode ser
resul tado de informação parti lhada culturalmente (Barsalou, 1987). Também, assumindo
que, ao longo do tempo, a in formação que uma pessoa f r equen temen te processa para uma
categoria muda, não há razão para esperar que o cerne baseado na exper iência com a
categoria se mantenha estável. Essas mudanças podem ocorrer len tamente ou ser pequenas,
^ Teór i cos (Murphy e Med in , 1985) a rgumen tam que as teorias intui t ivas sob re o m u n d o têm um papel central no p roces samen to conceptual . As teorias intuit ivas podem ser vistas c o m o cons t ruc tos q u e as pessoas usam para explicara estrutura , a or igem e c o m p o r t a m e n t o de u m a categoria. E, neste sent ido, estas teor ias s e l ecc ionam, in terpre tam e o rgan izam as propr iedades no processo de fo rmar representações de ca tegor ias . N a m e d i d a e m que os indivíduos adqu i rem di ferentes teorias intui t ivas sobre o que os rodeia, podem desenvo lve r d i f e ren tes represen tações de categorias.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
excepto quando exper iênc ia muito f requente com a categoria ocorre durante um per íodo
curto de t empo . Es tes efei tos da experiência e con tex to são expl icados pela visão
"cernemidentificação", in t roduzindo a noção de "procedimentos de identificação", j á
abordada an te r io rmente nesta dissertação, exac tamente para preservar a exis tência dos
"cernes" de f in idores . Os primeiros, permeáveis à exper iência , os segundos, constantes e
estáveis .
Na pe rspec t iva de Barsalou (1982), outra i n fo rmação faz parte da representação,
aquela que é r e l evan te para um contexto par t icular . Enquanto as propr iedades do cerne
fornecem ao ind iv íduo um meio de produzir expecta t ivas que são, p rovavelmente ,
verdadeiras apar t i r da sua experiência, as p ropr iedades dependentes do contexto fo rnecem
um meio de p roduz i r expectat ivas que são p rovave lmente verdadei ras no contexto
especí f ico .
Todos os resu l tados em conjunto , revistos anter iormente , i lustram, na perspect iva de
Barsalou (1982, 1987, 1989), a instabi l idade das representações das categor ias . Di fe ren tes
pessoas usam d i fe ren tes representações para uma ca tegor ia espec í f ica , e uma dada pessoa
não representa uma categor ia da mesma manei ra em di fe ren tes contextos . Em vez disso, as
representações de uma dada categoria variam subs tanc ia lmente entre suje i tos e nos mesmos
sujei tos , o que sugere que as estruturas de conhec imento es táveis que mui tos
inves t igadores t en ta ram identif icar são f icções . Mais , postular o uso desses cons t ructos
tende a obscurece r mui tos mecanismos impor tantes e fontes de in fo rmação subjacentes à
capac idade representac ional dinâmica que os ind iv íduos parecem ter (Barsa lou, 1987, 1989; Barsa lou e Med in , 1986).
Mas os resu l tados anteriores não i lus t ram só que os contextos al teram as
representações de categor ias existentes, ac t ivando d i ferentes propr iedades ou d i fe ren tes
instâncias do conce i to (Roth e Shoben, 1983; Barsa lou e Sewell , 1984; Barsa lou, 1982;
Wisn iewski , 1995), a exis tência de categorias adhoc ilustra que os contextos podem criar
representações de categor ias comple tamente novas (Barsalou, 1983). Ou seja , parece pois
que os su je i tos , sem se basearem em concei tos p rev iamente exis tentes , f o r m a m categor ias
novas e con tex tua lmen te coerentes, most rando as mesmas caracter ís t icas de desempenho
que nas ca tegor ias taxonómicas comuns (Barsa lou, 1983). Des te modo , o acto de
ca tegor ização não requer um concei to já representado .
Mais r ecen temen te , Yeh e Barsalou (1996) avançaram ainda mais na aval iação de
como a i n f o r m a ç ã o da si tuação é incorporada na aprend izagem e representação de
concei tos . Ao con t rá r io de muitos estudos sobre aprend izagem de concei tos , este es tudo
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
inc lu í i n f o r m a ç ã o da s i tuação duran te a a p r e n d i z a g e m de c o n c e i t o s e, ao con t rá r io de
mui tos e s tudos que e x a m i n a m a i n f luênc i a da s i tuação na m e m ó r i a ep i sód ica , es te es tudo
inves t iga c o m o as s i tuações a f e c t a m o p r o c e s s a m e n t o c o n c e p t u a l . Os r e su l t ados i lustram
que "os su je i tos v e r i f i c a m as p rop r i edades ap rend idas e t e s t adas nas m e s m a s s i tuações
s i g n i f i c a t i v a m e n t e ma i s dep res sa do que as t es tadas e m s i t uações d i f e ren tes . Ou seja , os
i nd iv íduos não p r o c e s s a m a p e n a s o conce i to , mas t a m b é m a s i t uação em que o conce i to
ocor re , a s soc i ando d i f e r en t e s p r o p r i e d a d e s de um c o n c e i t o c o m d i f e r en t e s s i tuações .
Mas para as s i tuações a f e c t a r e m o p r o c e s s a m e n t o c o n c e p t u a l , é c ruc ia l que as
p rop r i edades do conce i t o i n t e r a j a m s i g n i f i c a t i v a m e n t e c o m as s i t uações . Os su j e i to s podem
e l abo ra r essas r e l ações l endo f r a se s que e s p e c i f i c a m c o m o u m a p rop r i edade oco r r e numa
s i tuação , ou u s a n d o o seu c o n h e c i m e n t o p rév io sobre a s i t uação . Se a p r o p r i e d a d e ocorre
apenas c o n t i n g e n t e m e n t e com a s i tuação , s em re lação c o n c e p t u a l en t re as duas , a s i tuação
não a fec ta o m o d o c o m o os su je i tos ve r i f i cam as p r o p r i e d a d e s m a s apenas a r e c o r d a ç ã o das
p rop r i edades , c o m o f r e q u e n t e m e n t e d e m o n s t r a d o nos e s t u d o s s o b r e e fe i tos do con tex to
ambien ta l (Yeh e B a r s a l o u , 1996) .
1.2.2 Implicações da instabilidade para a natureza dos conceitos
U m a ques t ão que se co loca é c o m o in t e rp re t a r os r e su l t ados q u e mos t r am a
in s t ab i l i dade das r e p r e s e n t a ç õ e s e que imp l i cações t êm es t e s r e su l t ados para a na tu reza dos
conce i to s e pa ra as teor ias da ca t ego r i zação .
De fac to , a l g u m a s das ques tões cen t ra i s na c a t e g o r i z a ç ã o d i z e m re spe i to à es t ru tura
dos conce i to s e o c o n j u n t o de resu l tados rev i s to a n t e r i o r m e n t e co loca o b v i a m e n t e cer tos
p r o b l e m a s a a l g u m a s v i sões dos conce i tos . Senão v e j a m o s ,
• Por e x e m p l o , a v i são c láss ica não c o n s e g u e e x p l i c a r os e f e i t o s de t ip i ca l idade , j á
que os m e m b r o s de u m a ca tegor ia não têm t o d o s igua l e s t a tu to ; f a l h a em expl icar
a i n s t ab i l i dade dos j u l g a m e n t o s de pe r t ença a c a t e g o r i a s em d i f e r e n t e s ocas iões ,
j á que cons ide ra q u e os l imi tes das c a t e g o r i a s são c l a ros e b a s e a d o s em
p r o p r i e d a d e s d e f i n i d o r a s ; não c o n s e g u e e x p l i c a r o u s o de p r o p r i e d a d e s que não . i
são ve rdade i r a s pa ra todos os e x e m p l a r e s de u m a c a t e g o r i a pa ra de t e rmina r a I
pe r t ença à m e s m a , etc .
• C o n t r a r i a n d o a v i são de Rosch e M e r v i s ( 1 9 7 5 , c i t ado por B a r s a l o u , 1987) de
que as ca t ego r i a s t ê m or igem na es t ru tu ra c o r r e l a c i o n a d a do a m b i e n t e e que a
t i p i ca l idade dos e x e m p l a r e s r e f l ec t e o g rau e m q u e p o s s u e m o p a d r ã o de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
cor re lações caracter ís t ico da sua categoria , as ca tegor ias d i r ig idas para
ob jec t ivos têm uma estrutura gradat iva que não ref lec te a es t ru tura
cor re lac ionada do ambiente e que evidencia a impor tânc ia de ideais na
o rgan ização das categorias .
Aliás, Barsa lou (1991) aborda d i rec tamente esta ques tão quando cons idera que as
categorias d i r ig idas para object ivos e as ca tegor ias taxonómicas comuns re f l ec tem duas
formas f u n d a m e n t a l m e n t e d i ferentes de adquir i r categorias , r espec t ivamente , a
aprendizagem de exempla res e a combinação conceptual .
Apesar dos dois t ipos de categorias possu í rem estruturas proto t íp icas , d i f e rem nos
de terminantes dessas estruturas . Seguindo o t raba lho de Rosch e Merv i s (1975, c i tado por
Barsalou, 1987), mui to invest igadores acredi taram que a semelhança à tendência central
consti tuía o pr incipal de terminante da t ip ical idade da categoria , onde a tendência central é
a média ou a moda das caracter ís t icas dos exemplares das categor ias . A p rox imidade à
tendência centra l é essenc ia lmente a visão protot íp ica que aparece na l i teratura sobre a
ca tegor ização nos ú l t imos 30 anos: quanto mais p róx imo o exempla r está da tendênc ia
central da ca tegor ia - o protót ipo - mais t ípico é. Vár ios inves t igadores mos t ra ram m e s m o
que a p rox imidade à tendência central de te rmina a estrutura pro to t íp ica das ca tegor ias
comuns e das ca tegor ias art i f iciais (Rosch e Merv is , 1975, c i tado por Barsa lou , 1987;
Smith e M e d i n , 1981). Na real idade, Rosch e Merv i s (1975, c i tado por Barsa lou , 1987)
vêm o papel da tendênc ia central na t ip ical idade de uma forma algo d i fe ren te . Argumen tam
que a seme lhança média de um exemplar aos out ros exemplares todos da categor ia é que
determina a sua t ip ical idade. Alguns modelos exempla res de ca tegor ização , desenvolv idos
pos te r io rmente , exp l icam a es t rutura protot ípica também deste modo (Brooks , 1987;
Hin tzman, 1986; Med in e Schaf fe r , 1978).
Con tudo , f requen temente , os ideais (caracter ís t icas que os exempla res d e v e m ter
para servir da me lhor fo rma um object ivo assoc iado com a ca tegor ia , por exemplo , um
ideal para a l imentos a comer numa dieta é zero calor ias) são centra is para a per tença à
categoria tal c o m o para a t ipical idade, c o m o acontece nas ca tegor ias d i r ig idas para
objec t ivos (Barsa lou , 1983, 1985). Os ideais d i fe rem da tendênc ia central porque
gera lmente não são as tendências centrais nas ca tegor ias e po rque não dependem
d i rec tamente dos exemplares que a pessoa exper imentou , mas são de te rminados
i ndependen temen te deles (Barsalou, 1985). Inclui r ideais nos pro tó t ipos ampl ia os
protót ipos de f o r m a não standard, porque os inves t igadores t ip icamente a s sumem que os
protót ipos apenas con têm informação de tendência central . De fac to , porque as teorias de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
conhec imen to (como a teoria de protót ipo, exempla r e e squema) t endem a expl icar a
t ip ical idade apart i r da p rox imidade à tendência central ou apar t i r da semelhança média de
um exempla r aos outros exemplares da categoria , as represen tações que usam apenas
incluem tendência central e in fo rmação de f requênc ia (Barsa lou , 1985). Mas, se um factor
de termina uma es t ru tura protot ípica de uma ca tegor ia , en tão deve exist ir na representação
da categor ia . Consequen temen te , os ideais devem exis t i r nas representações de categorias
cu ja es t ru turas proto t íp icas predizem.
• As cons iderações anteriores i lustram bem que a es t rutura protot íp ica é um
f e n ó m e n o c o m p l e x o e dinâmico e que não há um ún ico de te rminante responsável
pela es t ru tura protot ípica de todas as ca tegor ias . T a m b é m , re la t ivamente a este
aspecto, a visão de Rosch e Mervis (1975 , c i t ado por Barsa lou, 1987) não
fornece exp l icações porque é que a es t ru tura p ro to t íp ica das ca tegor ias varia
tanto com o con tex to (Roth e Shoben, 1983; Barsa lou e Sewel l , 1984), sejam
elas ca tegor ias c o m u n s ou adhoc.
N u m cenár io em que, t rabalhos recentes p a r e c e m converg i r para a visão de que as
representações não devem ser vistas como es t ru turas invar ian tes mas como estruturas
d inâmicas que var iam ao longo dos contextos , a lgumas teor ias , que a seguir descrevemos ,
parecem ser capazes de acomodar estes resul tados empí r i cos e a r e fo rmulação necessária
da noção de concei to . Especia l ênfase será dado à teor ia de cons t rução de concei tos de
Barsa lou por ser uma propos ta que atribui s ign i f i cado teór ico expl íc i to à ins tabi l idade e à
sens ib i l idade contextua l , cons is ten temente reveladas emp i r i camen te ; que de ixam de ser
encaradas como um ar te fac to de medida ou uma ind icação de m u d a n ç a menta l p ro funda e
i r revogável .
A teoria de construção de conceitos de Barsalou U m a a l ternat iva p laus ível para a
ins tabi l idade das represen tações de uma categoria é p ropos ta por Barsa lou (1987 , 1989).
Cons idera que as pessoas têm a capacidade de cons t ru i r uma grande quan t idade de
conce i tos na memór ia de t raba lho e que, dependendo do con tex to , incorporam in formação
d i fe ren te , p rovenien te da memór ia a longo prazo, no conce i to que es tão a cons t ru i r para
uma ca tegor ia (Barsalou, 1987). Assim, de acordo com esta v isão, as pessoas possuem uma
grande quant idade de conhec imen to para uma ca tegor ia na m e m ó r i a a longo prazo. Muito
desse conhec imen to pode ser par t i lhado por uma popu lação , e o seu con teúdo pode
pe rmanece r re la t ivamente es tável ao longo do t empo nos ind iv íduos . Con tudo , apenas um
subcon jun to do conhec imen to total do indivíduo para u m a ca t egor i a está act ivo numa dada
ocas ião para representar a ca tegor ia na memór ia de t raba lho . E m b o r a na maior ia dos
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
subconjun tos para uma categoria possa exis t i r um cerne, a maior ia da in formação é
dependente do con tex to ou ref lecte exper iência recente (Barsalou, 1987, 1991). Porque os
contextos e a exper iênc ia recente raramente são os mesmos , ra ramente é act ivado, para
representar uma categoria , o mesmo subconjun to de in formação . Por esta razão, a
ins tabi l idade, em vez da invariância, caracter iza melhor as representações de uma
categoria .
Segu indo a terminologia de Barsalou (1987), o termo concei to refere-se apenas a
representações cons t ru ídas temporar iamente na memór ia de t rabalho, e não à in fo rmação
na memór ia a longo prazo. Portanto, um concei to é s implesmente uma concepção
especí f ica individual de uma categoria , numa ocas ião especí f ica . Não é def in idor mas
fornece ao ind iv íduo expecta t ivas úteis sobre a ca tegor ia baseadas na exper iência passada,
recente e no con tex to actual (Barsalou e Medin , 1986).
Isso expl icar ia uma série de dados discut idos anter iormente . Nomeadamente ,
Bel lezza (1984c) mostrou que as p ropos ições que compõem as def in ições que os
indivíduos f a z e m de uma palavra apenas se cor re lac ionam .48 em média com as
propos ições que c o m p õ e m as suas def in ições uma semana depois . Isto sugere, de facto, que
a i n fo rmação que um indivíduo incorpora num concei to pode variar subs tancia lmente de
ocasião para ocas ião . E que manipular exp l ic i t amente o contexto em que as pessoas
p roduzem de f in i ções (mudando o ponto de vista) resulta , p rovave lmente , ainda em mais
var iabi l idade. Expl ica , t ambém, os vários efe i tos de contexto discut idos na secção anterior.
Em di fe ren tes contex tos l inguíst icos e para d i ferentes pontos de vista, as pessoas
cons t róem conce i tos algo novos para categor ias fami l ia res que resul tam em estruturas
gradat ivas d i fe ren tes . Quando usam categor ias adhoc, cons t róem novos concei tos .
Ass im, a s sumindo que os concei tos são cons t ru ídos quando são necessár ios , não é
preciso assumir que uma quant idade enorme de concei tos estão a rmazenados na memór ia a
longo prazo para uma categoria part icular . A quant idade grande de concei tos associados a
uma categor ia re f lec te s implesmente um processo capaz de const rui r uma grande var iedade
de concei tos na m e m ó r i a de t rabalho, apartir de uma base de conhec imen to em cons tante
mudança na memór ia a longo prazo. Neste sent ido, a capac idade conceptual das pessoas é
a l tamente p rodut iva e dinâmica.
Nesta teor ia de const rução de concei tos de Barsalou (1987, 1991), a ins tabi l idade é
concebida c o m o re f lec t indo estruturas do conhec imen to na memór ia a longo prazo com
algumas p ropr iedades especí f icas e a operação s is temát ica de alguns mecan i smos básicos
de recuperação .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Entre outras:
• O fac to de muitas das caracter ís t icas geradas para ca tegor ias não poderem ser atr ibuídas
apenas a um único domínio do conhecimento sugere que o conhec imento na memór ia a
longo prazo, apart i r do qual os concei tos são cons t ru ídos , é re la t ivamente
ind i fe renc iado ou contínuo, no sentido em que não está bem del imi tado.
• O conhec imento associado a uma categoria parece var iar , subs tanc ia lmente , na sua
acessibilidade. Uma fo rma de olhar para a acess ib i l idade é em termos da dist inção,
feita por Barsalou (1982), entre in fo rmação independen te do contexto e in formação
dependente do contexto . A primeira é au tomat i camen te act ivada sempre que um
concei to é cons t ru ído para u m a categoria. A segunda apenas vem à cabeça em contextos
re levantes , ou seja , esta in fo rmação é incorporada num concei to apenas quando
act ivada por pistas a l tamente associadas, ex is ten tes no contexto corrente . Essa
in fo rmação do contex to corrente pode também recupera r exempla res da ca tegor ia , quer
do passado recente quer do passado longínquo (Brooks , 1987; Jacoby e Brooks , 1984) e
não s ignif ica que os exemplares es te jam acess íveis ao consc ien te e se jam recuperados
expl ic i tamente . Esta d is t inção é, portanto, baseada na recuperação , no sen t ido em que a
i n fo rmação é c lass i f icada com base na sua acess ib i l idade e e spec i f i c idade da pista.
Adic iona lmente , ela é or togonal à dis t inção baseada no con teúdo entre in formação
genér ica e episódica . Uma propr iedade genérica ou um ep i sód io podem ser dependentes
ou independentes do contexto . Como só se tornam independen te s do con tex to depois de
terem sido incorporados mui tas vezes no concei to , aqui lo que é independen te do
contexto para um concei to pode variar bas tante quer entre ind iv íduos quer intra
indivíduos , como f u n ç ã o da sua exper iência com uma ca tegor ia .
A d i fe renc iação entre in formação dependente e i ndependen te do con tex to pode
a judar a expl icar a es tabi l idade, tal como a ins tabi l idade da es t ru tura gradat iva (Barsalou,
1987). Embora a es t rutura gradat iva possa var iar subs tanc ia lmente , a lgum acordo é
gera lmente obse rvado quer entre quer intra su je i to . Ind iv íduos da m e s m a população
apresentam corre lações uns com os outros à volta de .50, quando a s sumem os pontos de
vista de amigos ín t imos essa corre lação aumenta para .60, e entre s i tuações , os indivíduos
apresentam uma cor re lação com eles próprios de .80. U m a in te rpre tação poss íve l para esta
es tabi l idade é que re f lec te a presença da i n fo rmação i ndependen t e do con tex to , embora
isso ainda es te ja por most ra r empir icamente .
• Representações de exemplares e episódios na m e m ó r i a a longo p razo podem ser
in tegradas com o conhec imento genér ico que i lus t ram. A l g u m a s descober t a s recentes
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
sugerem a presença desta organização. Ross (1984, ci tado por Barsalou, 1987) revela
que carac ter í s t icas espec í f icas de um episódio recentemente aprendido func ionam como
pistas para episódios aprendidos p rev iamente que par t i lham essas caracter ís t icas .
Kahneman e Mil ler (1986) revêm mui tos casos de tomada de decisão social em que
caracter ís t icas espec í f icas duma exper iênc ia actual f unc ionam como pistas para
episódios re lac ionados . Porque os episódios var iam muito entre indiv íduos , e intra
indivíduos ao longo do tempo, a i n fo rmação episódica fornece outra fonte de
ins tabi l idade no conhec imento usado para construir concei tos . C o m o revê Brooks
(1987), a cumulam-se as evidências da impor tância da var iação episódica numa
divers idade de tarefas de c lass i f icação e ident i f icação. Não se pode assumir que as
tarefas de ca tegor ização se baseiam apenas em conhec imento abst racto geral , de ixando
as in f luênc ias episódicas para tarefas pouco famil iares em que fa l tam abs t racções
re levantes . A l i teratura mostra que ep isódios espec í f icos anter iores podem afectar
tarefas a l tamente famil iares ; episódios processados anter iormente são um recurso para
lidar com mater ia l complexo e novo; ep isódios processados an te r iormente podem ter
um papel impor tan te em certas condições perceptuais , mesmo quando es tão d isponíveis
regras de fácil apl icação (Brooks, 1987). Também, Heit e Barsalou (1996) , encont ram
evidência para o pr incípio de instantiation (ou seja, para o fac to de in fo rmação
deta lhada sobre instâncias ou de in fo rmação idiossincrát ica ter in f luênc ia nos processos
de ca tegor ização) , supos tamente em contraste com a função de "economia cogni t iva"
das ca tegor ias proposta por vários autores. Estes autores não d e f e n d e m propr iamente
que o pr inc íp io da instantiation fornece uma expl icação completa da ca tegor ização mas
apresen tam resul tados que indicam que os su je i tos incorporam in fo rmação de ta lhada
sobre ins tânc ias da categoria nas suas representações das categor ias e que indicam que
o mode lo que cr iaram para s imular os ju lgamen tos de t ip ical idade tem menor
capac idade predi tora quando instâncias de baixa f requência são exclu ídas .
• E ainda, como evidenciado nos es tudos descri tos an te r iormente sobre es t rutura
gradat iva e geração de propr iedades , uma dada pessoa evidencia mudança substancial
no seu conce i to de uma categoria depois de uma semana ou mais , m e s m o quando as
condições exper imenta i s se mantêm constantes . Porque os contextos exper imenta i s nas
duas sessões são os mesmos, este decl ínio não ref lec te mudanças na in fo rmação
dependen te do contexto . Pode ref lect i r a informação dependente de um contexto recente
equiva len te a um efe i to de recência. Esta i n fo rmação dependente do con tex to recente
pode m e s m o ref lec t i r act ividade recente do s is tema cogni t ivo em geral . Esses efe i tos
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
provêm das teorias segundo as quais é assumido que qua lquer evento per turba mais
conhec imento do que aquele a que di rec tamente se ap l ica , e ta lvez todo o conhecimento,
em memór ia (exemplo , modelos coneccionis tas , M c C l e l l a n d e Rumelhar t , 1985). Uma
nova exper iênc ia modi f i ca a memória como um todo, no sen t ido em que a adição de um
traço de memór ia pode al terar o compor tamento do s i s t ema (Hin tzman, 1986).
Assim, como v imos , questões fundamenta i s sobre a suf ic iência de recursos
conceptua is genera l izados e sem inf luências contex tua is f o r a m levantadas por Barsalou
(1987, 1990, 1991). Na sua visão, uma abordagem do c o n h e c i m e n t o que exclua informação
idioss incrát ica , i n fo rmação que co-ocorre, ou represen tações d inâmicas é inadequada e
mesmo os concei tos mais famil iares são, em a lgum grau , c r iados no momen to da sua
apl icação (Barsa lou , 1990; Heit e Barsalou, 1996).
Outras teorias podem também acomodar os resu l tados empí r icos sobre a
ins tabi l idade das represen tações mentais de categor ias , s enão ve jamos :
Teorias exemplaristas Medin e Schaf fe r (1978) p r o p u s e r a m que as pessoas usam
exemplares em vez de pro tó t ipos genéricos como base de c lass i f icação . Esta abordagem
pode po tenc ia lmente expl icar a instabi l idade. A ins tab i l idade entre indiv íduos pode
resultar de d i fe ren tes ind iv íduos exper imentarem d i f e r en t e s exempla res , e a instabi l idade
intra indiv íduos pode resul tar dos mesmos ind iv íduos expe r imen ta rem diferentes
exemplares ao longo do tempo. Efei tos do contexto p o d e m t a m b é m resultar de diferentes
pistas em di fe ren tes con tex tos recuperarem diferentes e x e m p l a r e s .
Traba lho re lac ionado sobre act ivação p recep t iva mos t ra que a capac idade das
pessoas para c lass i f icar es t ímulos é enviesada em re l ação a exemplares semelhantes
àqueles que fo ram recen temente encontrados (Jacoby e Brooks , 1984; Brooks , 1987).
Cons is ten te com a teoria de construção de conce i tos de Barsa lou (1987) e com os
resul tados de McCloskey e Glucksberg (1978), parece que a c lass i f i cação das pessoas é
instável e varia com a exper iênc ia recente.
É preciso, no entanto , dizer que os mode los e x e m p l a r e s que a s s u m e m que o
con jun to total de exemplares representa a ca tegor ia não m u d a m a represen tação da
categoria de ensa io para ensa io , excepto por adição de novos exempla res , o que não é
d i ferente de actual izar a abs t racção depois de cada n o v o exempla r (Barsa lou , 1990). Ou
seja , nesses modelos , cada exemplar subsequente tem pouco impac to na ca tegor ização,
dado o aumento do número de exemplares que i n f l u e n c i a m a ca tegor i zação (Medin e
Schaf fe r , 1978), to rnando as representações das ca t egor i a s tão es táve is quan to as dos
modelos abst raccionis tas . Há, contudo, modelos e x e m p l a r e s em que a memór ia dos
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
exemplares pode ser act ivada em diferentes graus , p rovocando grandes mudanças
(Hintzman, 1986). E há modelos abstraccionis tas Cujas regras de aprendizagem opt imizam
o poder predi tor das pis tas , o que pode produzir grandes al terações depois de um evento
anormal (Barsa lou, 1990; Heit e Barsalou, 1996). Ou seja, os modelos abst raccionis tas
t ambém podem representar concei tos d inamicamente durante d i ferentes ca tegor izações e
ter capac idade de abst ra i r caracter ís t icas idiossincrát icas (McClel land e Rumelhar t , 1985).
Teoria da norma Kahneman e Miller (1986) escrevem um art igo que se foca no
acto de cons t rução de normas através das quais j u lgamos as nossas act ividades no
momento . P ropõem que a exper iência actual recruta episódios prévios a rmazenados em
memória que lhe são semelhantes . À medida que os episódios são recuperados são
compi lados numa norma que os sumaria . A exper iência actual é depois comparada com a
norma acabada de cons t ru i r na memória de t rabalho e. com base na sua semelhança , vários
tipos de in fe rênc ias e j u lgamen tos são feitos.
As normas são representações de conhec imento que func ionam como padrões de
act ivação t emporá r ios da memór ia e servem para interpretar a exper iência actual.
Kahneman e Mil ler (1986) desaf ia ram a concepção de normas como estruturas pré-
calculadas e suger i ram que as normas são const ru ídas on-line e num processo invert ido,
que é guiado pelas caracter ís t icas do es t ímulo que evoca e pelo con tex to momentâneo .
Neste sentido, esta perspec t iva assemelha-se a outras abordagens que enfa t izam o papel de
episódios e spec í f i cos e de exemplares na representação de categor ias (Barsalou, 1987;
Hintzman, 1986; Jacoby e Brooks , 1984; McCle l land e Rumelhar t , 1985, Medin e Schaf fe r ,
1978). Es tas p ropr iedades de cálculo on-line e esta sens ib i l idade ao contexto são comuns
nos modelos exempla res e coneccionis tas ou PDPs (Murdock , 1982; McCle l land e
Rumelhar t , 1985).
Modelos de processamento distribuído em paralelo (Coneccionismo) Mui tos
teóricos adop ta ram uma arqui tectura para a cognição fundamen ta lmen te d i ferente da
t rad ic iona lmente empregue pelos psicólogos cogni t ivos .
As abordagens t radicionais assumiam que a represen tação de uma ent idade
especí f ica exis t ia c o m o uma componen te invar iante na memór ia e que era recuperada de
um local e spec í f i co na memór ia quando necessár ia . As teorias PDP assumem que as
representações de uma ent idade espec í f ica exis tem como um es tado de ac t ivação espec í f ico
do sistema de memór ia total. Represen tações de d i fe ren tes en t idades cor respondem a
di ferentes es tados de ac t ivação no mesmo s is tema de memór ia (McCle l land e Rumelhar t ,
1985).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Vários aspectos do contexto actual combinam-se para conduz i r o s is tema PDP a um
estado único, cada vez que um concei to é representado. C o n s e q u e n t e m e n t e , a instabilidade
dos concei tos é uma consequência natural desta a rqu i tec tu ra bás ica , o que a torna
consis tente com os dados empír icos sobre ins tabi l idade e necessár ia para dar conta da
grande f lex ib i l idade da cognição .
Outros mode los pa recem também apropr iados para expl icar a f lexibi l idade e
dependência do con tex to que parece caracter izar o uso h u m a n o dos concei tos . Part i lham o
facto de inc lu í rem uma componen te de ajustamento global na recuperação da memória,
para a qual a na tureza das pistas disponíveis no con tex to são cr í t icas para a resposta
(Humphreys , Bain e Pike, 1989; Hintzman, 1986; M c C l e l l a n d e Rumelhar t , 1985;
Murdock , 1982). A dependênc ia do contexto resulta da na tu reza compós i t a das pistas de
recuperação que sondam para le lamente os traços de m e m ó r i a a rmazenados como um todo
para obter uma resposta con t ínua indexada ao grau de f ami l i a r idade (coincidência) com
essas pis tas . Ou se ja , as pis tas (rótulos de grupos ou de ob jec tos de ati tude) são
e spon taneamente in tegradas com a in formação disponível no con tex to imedia to formando
pistas compós i tas . Nes te sent ido, os pressupostos que pa r t i l ham s ign i f i cam, em geral, que
um item não pode ser r ecuperado precisamente da m e s m a f o r m a c o m o foi a rmazenado . E é
melhor pensar numa represen tação como sendo recr iada , do que como sendo recuperada,
em função de objec t ivos , con tex to actual e exper iência recen te (Smi th e DeCos te r , 1998).
Estes mode los d i f e rem depois em relação a se os t raços de memór ia são
a rmazenados ind iv idua lmen te ou localmente (Hin tzman, 1986) ou sobrepos tos (Murdock,
1982), ou seja , se as exper iênc ias são combinadas na r e c u p e r a ç ã o - como no Minerva II -
ou na cod i f i cação . Pode-se , por exemplo, pensar que isso tem impl icações , no sent ido em
que um s is tema que espera até à altura da recuperação para c o m b i n a r exper iênc ias tem
mais f lex ib i l idade no modo como a combinação é fei ta ( H i n t z m a n , 1986). D i f e r e m também
noutros aspectos espec í f i cos como as operações m a t e m á t i c a s envo lv idas no ajustamento.
Humphreys , Pike, Bain e Tehan (1989) e Raa i jmake r s e Sh i f f r i n (1992) apresentam
revisões compara t ivas des tes modelos .
Alguns des tes mode los foram t ip icamente usados para expl icar a ap rend izagem de
categorias (Hin tzman , 1986; Kruschke, 1992) e o e fe i to da e spec i f i c idade do contex to no
s igni f icado de um conce i to (Hintzman, 1986).
C o m p a r a t i v a m e n t e com os modelos de p r o c e s s a m e n t o d i s t r ibu ído em parale lo , a
teoria de cons t rução de concei tos de Barsalou (1987) pa rece seguir a arqui tectura
t radicional ao assumir que apenas um subcon jun to de i n f o r m a ç ã o na m e m ó r i a a longo
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
prazo está act iva na memór ia de trabalho para representar cada conceito. Contudo , na
perspect iva de McCle l l and e Rumelhar t (1986, c i tado por Barsalou, 1987), as teorias
t radicionais e as teor ias PDP não são mutuamente exc lus ivas - as pr imeiras poderão ser
descrições do c o m p o r t a m e n t o de nível de abs t racção super ior dos s is temas PDP.
Para conc lu i r , e a propósi to da compat ib i l idade dos vár ios modelos apresen tados
com os p re s supos tos da teoria de construção de concei tos de Barsa lou (1987, 1989, 1991),
um aspecto que é cons tan te nos estudos deste autor é que ele não está p ropr iamente a tentar
dist inguir en t re c lasses de modelos abstractos ou exempla res . Pelo contrár io , o seu
object ivo é s imp lesmen te avaliar a ins tabi l idade e sens ib i l idade ao con tex to das
representações menta i s de categorias , assumindo que estas propr iedades podem ser
implementadas de vár ias maneiras . Portanto, não está a tentar de terminar que um t ipo de
modelo pe rmi te implemen ta r melhor estas p ropr iedades do que outro.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.3 Visões sobre os estereótipos: Que estabilidade atribuem a estas estruturas de conhecimento social
Até agora f a l á m o s da impor t ânc i a do p e n s a m e n t o c a t e g ó r i c o no d ia -a -d ia e dos
va r i ados e s f o r ç o s teór icos e emp í r i cos para ca r ac t e r i za r a sua e s t ru tu ra e iden t i f i ca r
p roces sos que a g e m sobre ele . C o n t r a s t á m o s d u a s v i sões da p s i co log ia cogni t iva
i n t e r e s sada no e s tudo da ca t ego r i zação - abs t r acc ion i s t a e e x e m p l a r i s t a - e d i s c u t i m o s a
sua a d e q u a b i l i d a d e empí r i ca para exp l ica r a i n s t ab i l i dade que e x i b e m as r ep re sen tações
men ta i s de ca t ego r i a s q u a n d o ap l icada uma m e t o d o l o g i a de t e s t e - re tes t e long i tud ina l .
F i n a l m e n t e , c o n s i d e r á m o s as i m p l i c a ç õ e s des tes r e s u l t a d o s pa ra a na tu reza dos conce i to s e
para as t eo r i a s da ca t ego r i za r ão . C o m o ve rem os , o p r o c e s s o de e v o l u ç ã o que os m o d e l o s de
r e p r e s e n t a ç õ e s men ta i s de g r u p o s soc ia is f o r a m t e n d o não é a lhe io aos d e s a f i o s que os
m o d e l o s de r e p r e s e n t a ç õ e s men ta i s das ca t egor i a s e m geral t i v e r a m que ir u l t r apas sando .
Ass im , e s t a s e c ç ã o p re t ende , p r ime i ro , ava l ia r o c o n h e c i m e n t o que se tem sobre a na tureza
dos e s t e r e ó t i p o s e n q u a n t o es t ru tu ras cogn i t ivas , apar t i r da i n v e s t i g a ç ã o e m ps ico log ia
social e, p a r t i c u l a r m e n t e , apar t i r de i nves t i gação gu iada po r u m a a b o r d a g e m sócio-
cogn i t i va a es te tóp ico . A seguir , p r e t ende sa l ien ta r os p r e s s u p o s t o s e x e m p l a r i s t a s de
i n s t ab i l i dade dos e s t e reó t ipos que con t r a r i am as e x p e c t a t i v a s de q u e es tas e s t ru tu ras de
c o n h e c i m e n t o socia l não m u d a m .
As duas s u b s e c ç õ e s segu in tes se rão ded icadas a cada u m des te s a spec tos .
1.3.1 Modelos de representações mentais de grupos sociais
N a p e r s p e c t i v a cogn i t iva , os e s t e r eó t ipos p o d e m ser c o n s i d e r a d o s c o m o es t ru tu ras
de c o n h e c i m e n t o abs t rac tas que l igam u m g rupo soc ia l a u m c o n j u n t o de t r aços ou
ca rac t e r í s t i c a s c o m p o r t a m e n t a i s . C o m o tal , f u n c i o n a m c o m o e x p e c t a t i v a s que gu i am o
p r o c e s s a m e n t o da i n f o r m a ç ã o sobre o g rupo c o m o u m todo e sob re m e m b r o s pa r t i cu la res
do g rupo ( H a m i l t o n e S h e r m a n , 1994). Pa ra a lém des t a s e x p e c t a t i v a s g e n e r a l i z a d a s , o
c o n h e c i m e n t o sobre m e m b r o s pa r t i cu la res do g r u p o (ou e x e m p l a r e s ) pode t a m b é m
i n f l u e n c i a r j u l g a m e n t o s sobre g rupos e seus m e m b r o s .
As e x p l i c a ç õ e s soc iocu l tu ra i s dos e s t e reó t ipos e n f a t i z a m o pape l d o s p r o c e s s o s de
a p r e n d i z a g e m socia l na f o r m a ç ã o e m a n u t e n ç ã o dos e s t e r e ó t i p o s . As n o s s a s c o n c e p ç õ e s de
vár ios g r u p o s soc ia i s t êm o r igem na in fânc ia , p o r i n f l u ê n c i a de a d u l t o s c o m que
c o n t a c t a m o s , e são p e r p e t u a d a s a t ravés de p e r c e p ç õ e s r e p e t i d a s de m e m b r o s de s se s g rupos
e m cer tos papé i s soc ia i s tal c o m o são a p r e s e n t a d o s n o s m e d i a . E m ad i ção a esses
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
m e c a n i s m o s , a a b o r d a g e m cogni t iva dos e s t e reó t ipos focou a a tenção noutros m e c a n i s m o s
que p o d e m con t r ibu i r para a f o r m a ç ã o inicial de s i s t emas de c renças e s t e reo t ipados .
A r g u m e n t a m que os es te reó t ipos são b a s e a d o s na d i f e r enc i ação pe rceb ida en t re g rupos
socia is , e que a m b o s p rocessos de ca t ego r i zação e co r re l ações i lusór ias ' ' p o d e m con t r ibu i r
s i g n i f i c a t i v a m e n t e para essa d i f e renc iação . Es ta d i f e r enc i ação não cons t i tu i em si m e s m a
es te reo t ipa r mas f o r n e c e os a l icerces para o d e s e n v o l v i m e n t o dos es te reó t ipos . À med ida
q u e o ind iv íduo adqu i re c o n h e c i m e n t o e c renças sobre um grupo, e essas c renças p a s s a m a
es ta r a s soc iadas a esse g rupo , es tabe lece-se um es te reó t ipo desse grupo . Esse e s t e reó t ipo é
a r m a z e n a d o em m e m ó r i a como uma es t ru tura cogni t iva , e pode en tão i n f luenc i a r
pe r cepções e c o m p o r t a m e n t o s subsequen tes pa ra com o g rupo e os seus m e m b r o s . A pesa r
des tas a f i r m a ç õ e s p o d e r e m parecer in tu i t ivamen te óbv ias , m a s c a r a m um c o n j u n t o de
ques tões sob re a na tu reza dessas es t ru turas cogn i t ivas , conceb idas , ao longo dos anos ,
n u m a va r i edade de f o r m a s .
D u r a n t e mui tos anos os ps i có logos soc ia i s d e f i n i r a m s i m p l e s m e n t e os e s t e reó t ipos
c o m o s i s t emas de c r enças sobre grupos sociais , e d e d i c a r a m os seus e s f o r ç o s a i den t i f i ca r e
med i r os c o n t e ú d o s desses s i s temas de c renças . N o es tudo c láss ico de Katz e Bra ly (1933 ,
c i t ado por Pa rk , Judd e Ryan, 1991), f o r a m ca rac t e r i zados vár ios e s t e reó t ipos é tn icos
a t ravés da p r eva l ênc i a com que os su je i tos a t r ibu íam t raços par t i cu la res a cada grupo . C o m
a pe r spec t iva cogn i t iva , mais in te ressada nas ques tões p rocessua i s , os inves t igadores dos
e s t e reó t ipos c o m e ç a r a m a es tudar a o rgan ização des tas es t ru tu ras e o m o d o c o m o o
c o n h e c i m e n t o e as c renças sobre g rupos soc ia i s es tão a r m a z e n a d o s em m e m ó r i a e são
s u b s e q u e n t e m e n t e u t i l i zados (Park, Judd e R y a n , 1991).
Vár ia s a b o r d a g e n s sobre c o m o o c o n h e c i m e n t o acerca de g rupos e m e m b r o s de
g rupos es tá r e p r e s e n t a d o em m e m ó r i a e sobre c o m o esse c o n h e c i m e n t o é u sado na
e l abo ração de j u l g a m e n t o s , f o r a m pos t e r i o rmen te desenvo lv idas . A l g u m a s vêem os
e s t e reó t ipos c o m o c o n c e p ç õ e s gerais dos a t r ibu tos mais impor t an t e s do g rupo , e c o m o tal
es tão r e p r e s e n t a d o s em memór i a como abs t r acções b a s e a d a s em ap rend i zagens e
expe r i ênc i a s p rév ias . Outras abordagens va lo r i zam o pape l da i n f o r m a ç ã o sobre
e x e m p l a r e s , a t r i bu indo menos ou nenhum peso a conce i to s abs t rac tos . Para es tudar essas
r e p r e s e n t a ç õ e s os inves t igadores u sa ram m o d e l o s cogn i t ivos de ca t egor i zação e
j u l g a m e n t o , que e s t ão cen t rados nos p rocessos pe los quais o c o n h e c i m e n t o p rév io é u s a d o
para c a t ego r i za r e j u lga r ins tânc ias que p o d e m ou não ser m e m b r o s da ca tegor ia .
" A tendência para sobres t imar a f requência de ocorrências que são congruen tes c o m u m a expecta t iva prévia (Hamil ton e Rose , 1980, c i tado por Hamil ton e Sherman, 1994).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Compreendendo esses p rocessos de categor ização social e j u l g a m e n t o no domínio do
estereót ipo podem aumentar o conhec imento sobre a na tureza des ta represen tação cognitiva
subjacente .
Def in i r os es tereót ipos ao nível representacional é crucial porque d i fe ren tes tipos de
representações têm d i fe ren tes impl icações para outras ques tões sobre os es tereót ipos. Ou
seja, conduzem a predições dist intas sobre a forma c o m o os es te reó t ipos são formados,
mant idos, apl icados, a l terados , sobre a sua f lexibi l idade e sobre o papel da categorização
na percepção social (Hil ton e VonHippel , 1996; Smith, 1992; Smi th , 1990).
Representações baseadas em abstracções
Os es tereót ipos fo ram t radic ionalmente conceb idos c o m o crenças gerais abstractas
sobre grupos sociais , com pouca ou nenhuma atenção dada ao papel do conhec imen to sobre
exemplares , ou membros individuais do grupo. Mode los in ic ia is a s sumiam, por tanto , que
estes eram representados abs t rac tamente como estruturas cogn i t ivas es táveis ou esquemas.
Acredi tava-se que esta representação sumária das ca rac te r í s t i cas médias re levantes de um
grupo social se ia desenvo lvendo à medida que ia sendo adqu i r ida i n fo rmação sobre esse
grupo. Múl t ip las fontes , inc lu indo experiência directa com os m e m b r o s do grupo e
in formação aprendida soc ia lmente através de famil iares , amigos e media , con t r ibu íam para
a fo rmação dessas represen tações abstractas estáveis . Nes ta v isão, os es te reó t ipos são,
portanto, protót ipos do grupo que estão a rmazenados em m e m ó r i a e são recuperados
intactos para guiar o p rocessamento de informação. Qua lque r p rocesso de j u lgamen to do
grupo tem que ser necessa r iamente precedido por uma ca t ego r i zação social . Ou seja , antes
do es tereót ipo do grupo poder ser act ivado e usado na p e r c e p ç ã o de outra pessoa , essa
pessoa alvo tem que ser ca tegor izada como membro do grupo . (Sherman , 1996).
De acordo com os mode los protot ípicos de ca t egor i zação social , as ca tegor ias não
têm traços caracter ís t icos def in idores ou critérios que d e t e r m i n e m se u m a pessoa é ou não
membro da categor ia . Em vez disso, as categorias são "fuzzy sets'\ cu jos m e m b r o s variam
no grau em que se a s semelham com a categoria. A l g u m a s ins tânc ias são melhores
exemplos da ca tegor ia dos que outras. Esta " seme lhança" é de t e rminada pela comparação
da instância com o protó t ipo da categoria , que resume as ca rac te r í s t i cas dos m e m b r o s da
categoria. Se as carac ter í s t icas do indivíduo fo rem s u f i c i e n t e m e n t e semelhantes ás
caracter ís t icas do protó t ipo do grupo (ou seja, se a s eme lhança exceder um l imiar ou se for
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
maior em re lação ao pro tó t ipo desta categoria do que em re lação ao protót ipo de categor ias
compet i t ivas) , a pessoa será categorizada como m e m b r o desse grupo. Logo, a
ca tegor ização é probabi l í s t ica .
Em suma, mode lo s de representação baseados em abstracção postulam que os
es t ímulos são ca tegor izados por comparação com os protót ipos do grupo ou os
es tereót ipos. A ac t ivação do estereótipo permite ao ind iv íduo inferir as caracter ís t icas do
alvo através da pe r t ença ao grupo e pode enviesar o p rocessamento de in fo rmação
subsequente no sen t ido de conf i rmar o es tereót ipo.
C o m o revis to nas secções anteriores, houve um con jun to de evidências que
conduzi ram à r e fo rmu lação de modelos cogni t ivos gerais e à prevalência de visões
al ternat ivas ao abs t racc ion ismo na psicologia cogni t iva con temporânea (Garc ia -Marques ,
1998).
O m e s m o t ipo de inadequabi l idades fo ram de tec tadas também nos modelos da
cognição social baseados na abstracção. Não é de es t ranhar uma vez que o vocabulá r io
conceptual (de e squemas , exemplares , protót ipos, e outros) é la rgamente par t i lhado pelas
teorias desenvo lv idas em várias áreas das duas discipl inas (Smith e DeCoster , 1998)^.
Ass im, apesar dos modelos baseados em abs t racções terem sido muito in f luen tes ,
descober tas recentes , que mostram que o ju lgamen to humano é muito sensível ao contexto ,
ques t ionam e põem em causa a adequabi l idade de uma abordagem puramente esquemát ica
dos es tereót ipos . E de facto , apesar da sua prevalência , estes modelos encaram prob lemas
que l imi tam a sua capac idade de dar uma expl icação comple ta dos es tereót ipos (Hamil ton e
Sherman, 1994; Smi th e Zárate, 1992; Hilton e VonHippe l , 1996), senão ve jamos:
• Uma l imi tação dos modelos baseados em abs t racções é que uma representação
prototípica pura não pode representar atributos correlacionados dentro de uma
categoria. Contudo, as pessoas usam o conhec imen to sobre cor re lações de
a t r ibutos na categor ização (por exemplo : é mais provável que pássaros pequenos
can tem) , cons iderando mais fácil c lass i f icar novas instâncias que con tenham
essas cor re lações aprendidas do que ins tâncias que as v iolem. Na visão
pro to t íp ica , se o protótipo é o pássaro pequeno que canta, então prevê-se que
pássaros grandes que não cantam d i f i ram mais do protót ipo e, por isso, se jam
^ D e facto, q u a n d o o m o v i m e n l o da Cognição Social dos anos 7 0 e 80 t rouxe u m a forie tendência para u m a crescente integração teórica na Ps ico log ia Social, à medida que teorias sobre vários tópicos emerg iam c o m base n u m vocabu lá r io conceptual c o m u m , essa in tegração ultrapassou fronteiras da ps icologia social j á que esse vocabulár io era la rgamente par t i lhado c o m a Ps ico log ia Cogni t iva .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
mais di f íceis de c lass i f icar do que os pássaros que di ferem apenas numa
caracter ís t ica . E como refer imos atrás, a ev idênc ia é contrár ia a isto. Para os
modelos exemplares , que assumem que maior dens idade de exemplares é
encont rada nas regiões do espaço que r e f l ec t em a corre lação (pequeno e canta;
grande e não canta) , isso não consti tui p rob lema . Do mesmo modo, Linville,
F ischer e Yoon (1992, ci tado por Linvi l le e F i scher , 1993) mos t ram como os
modelos de exemplares conseguem expl icar a sens ib i l idade das pessoas para
cor re lações entre caracter ís t icas de m e m b r o s de in-groups e de owí-groups,
enquanto modelos abst raccionis tas não c o n s e g u e m . Para que um modelo
abs t raccionis tas consiga expl icar a sens ib i l idade a cor re lações entre
caracter ís t icas é necessár io assumir que as pessoas abs t raem ac t ivamente um
grande número de corre lações para além de i n f o r m a ç ã o de tendência central ,
var iabi l idade e outros parâmetros de d i s t r ibu ição de caracter ís t icas únicas . A
propósi to disto, Barsalou (1990) defende , con tudo , que não há razões para o
conhec imento abst racto não conter i n f o r m a ç ã o de co-ocorrênc ias . Vários
modelos abs t raem in fo rmação que co-ocorre nos exempla res (El io e Anderson,
1981; McClel land e Rumelhar t , 1985), apesar de serem cr i t icados por fazerem
exigências de a rmazenamento pouco razoáve is (Medin e Schaf fe r , 1978). No
entanto , segundo Barsalou (1990), essas cr í t icas sobre as ex igências de
a rmazenamento não fazem sent ido porque, entre out ros a rgumentos , as pessoas
a rmazenam apenas combinações de p ropr iedades que recebem atenção, que
encaixam em padrões s is temát icos de cor re lações ou que são re levantes para
teorias intui t ivas e é pouco provável que todas as combinações poss íve is de
propr iedades ocorram em todos os exemplares . Por ou t ro lado, nenhuma destas
cr í t icas se apl icam aos modelos de ajustamento global e aos mode los PDP, de
acordo com os seus pressupos tos atrás d iscut idos .
• De igual modo, os modelos abstraccionistas parecem pouco adequados para
explicar a sensibilidade dos indivíduos á informação sobre a variabilidade
dentro de grupos sociais. C o m o abordaremos na secção 1.4, a inves t igação sobre
a percepção da var iabi l idade do grupo foi e s t imulada pelo e fe i to de
homogene idade do out-group - a tendência das pessoas para pe rceber os out-
groups como mais homogéneos do que os g rupos a que pe r t encem - no sent ido
em que, apart ir daí, começou-se a considerar que , para a lém da i n fo rmação de
tendência central ou relat iva ás caracter ís t icas t íp icas do grupo, outros aspectos
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
faz iam par te da representação do grupo, como a var iabi l idade percebida. Neste
contexto , e como discut i remos na secção seguinte , vár ios autores ques t ionaram a
adequab i l idade dos modelos teóricos abs t raccionis tas exis tentes para es tudar e
expl icar esse aspecto da representação dos grupos sociais e de fenderam a
necess idade de ul trapassar as representações proto t íp icas das categorias .
• Ainda , modelos abstraccionistas têm dificuldade em explicar o impacto que
exemplares específicos podem ter no processamento. Por exemplo , um modelo
de represen tações abstractas teria d i f icu ldade em expl icar o impacto e efe i to
du radouro de uma única experiência com uma instância especí f ica da categoria
(Smith e Zára te , 1990). Já que, na perspect iva des te modelo , os protót ipos (isto
é, o conhec imen to de nível de grupo) são tão es táve is que a exper iênc ia com
membros individuais do grupo não pode al terá- los muito , ou por mui to tempo.
Ass im, e fe i tos do contexto, da ac t ivação e da d i sponib i l idade são fáceis de
expl icar nos modelos exemplares , exac tamente porque o con jun to par t icular de
exempla res que são recuperados pode depender da act ivação temporár ia e de
fac tores contextuais , tanto quanto da ins tância espec í f ica que está a ser
p rocessada (Barsalou, 1987; Kahneman e Mil ler , 1986; Roth e Shoben, 1983;
Smith e Med in , 1981).
O es tudo de Lewicki (1986) é, f r equen temente , c i tado para most rar a impor tânc ia
de represen tações de exemplares nos j u lgamen tos sociais . Nesse es tudo, os
su je i tos t inham a expectat iva que um ind iv íduo desconhec ido com cabelo
compr ido seria pouco amigável s implesmente porque recuperavam, como base
para o ju lgamen to , um primeiro indiv íduo pouco amigável , que t inham
conhec ido prev iamente e que também tinha o cabe lo compr ido . No entanto , para
alguns autores , os sujei tos desta exper iência pod iam não possuir um es tereót ipo
re levante para o alvo em questão, e, neste sent ido, os resul tados podem não
const i tu i r tão forte evidência contra as represen tações de conhec imen to
abst ractas , como os estereótipos (Hamil ton e Sherman , 1994). Smith e Zárate
(1990) demons t ra ram que exemplares espec í f icos são ut i l izados como base para
a ca tegor ização quando o conhec imento abst racto se sustenta em poucas
ins tâncias e é mal def inido.
Outros es tudos mais recentes indicam que a expos ição a exemplares espec í f i cos
pode ter um grande impacto no modo como as pessoas pe rcebem grupos sociais
(Bodenhausen , Schwartz , Bless e Wanke , 1995; Schwar tz e Bless , 1992; Smith e
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Zárate , 1990,1992) . Por exemplo, B o d e n h a u s e n e colaboradores (1995)
descobr i ram, no seu estudo, que os par t ic ipantes a quem tinha sido apresentado
p rev iamente um exemplo de um a f r o - a m e r i c a n o popular e avaliado
f avorave lmen te cons ideravam que exist ia mais d i sc r iminação na sociedade
moderna , do que os part icipantes a quem não foi apresentado o exemplar
act ivado. O exemplar , neste caso. parece ter i n f luenc iado as visões dos
par t ic ipantes sobre toda a categoria social dos a f ro -amer icanos . Ou seja, a
ac t ivação de membros incongruentes do g rupo a fec ta os ju lgamen tos do grupo,
m e s m o de grupos estereot ipados para os quais a d isponib i l idade de um
j u l g a m e n t o do grupo pré-calculado é mais do que provável . N u m estudo
semelhante , conduz ido por Schwartz e B less (1992) , os ju lgamen tos dos
par t ic ipantes sobre os polí t icos em geral f o r a m in f luenc iados por políticos
espec í f i cos em quem os part icipantes se t inham de t ido a pensar , previamente .
Estes resul tados sugerem que a visão de um g rupo social pode var iar de uma
ocas ião para outra , dependendo dos exemplares e s p e c í f i c o s que vêem à cabeça.
Estes dois es tudos refer idos mostram que os e s t e reó t ipos de ca tegor ias sociais
amplas podem ser al terados através da ac t ivação de um exemplar específ ico
(membro da categor ia) (Coats e Smith, 1999). M a s para Sherman (1996) , estes
resul tados demons t ram apenas que, uma vez ac t ivados , os exemplares podem
inf luenc ia r os ju lgamen tos do grupo, mas não d e m o n s t r a m que esses exemplares
fo ram act ivados espontaneamente pelos ind iv íduos , quando pensavam sobre os
grupos sociais ; mais , os resul tados nada d izem sobre se os ind iv íduos também
possuem e apl icam estereót ipos abst ractos nos j u l g a m e n t o s , para além de
exempla res sal ientes . Coats e Smith (1999) d e m o n s t r a m o m e s m o tipo de
sens ib i l idade ao contexto, ao nível de subt ipos de ca tegor ias sociais . Mas aqui, a
sens ib i l idade ao contexto foi demons t rada p e d i n d o aos par t ic ipantes que
l i s tassem caracter ís t icas dos subtipos depois de t e rem s ido expos tos a um de dois
exempla res d i fe ren tes dos subtipos. Tal c o m o os au tores previam, as descrições
dos subt ipos d i fe r i ram s igni f ica t ivamente entre as cond ições de exemplares , de
um modo que ref lect ia a inf luência de carac te r í s t i cas par t icu lares dos
exemplares . Evidênc ia adicional fornecida por Smi th e Zára te (1990) demonstra
a impor tânc ia dos exemplares nos es te reót ipos . Nes t e es tudo, os par t ic ipantes
f o r a m tre inados para categorizar pessoas c o m base em descr ições escritas.
Depois de expos tos a uma série de treino, fo i - lhes ped ido que ca tegor izassem
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
novos casos . Os resultados demons t ram que os ju lgamentos tendem a ser
baseados na semelhança do alvo com exempla res especí f icos e não na sua
s e m e l h a n ç a com informação média t ípica do grupo. Todos estas ev idênc ias
supor tam a hipótese de que os exemplares f a z e m pelo menos parte da i n f o r m a ç ã o
que é usada para fazer ju lgamentos de ca tegor ia sociais .
Representações baseadas em exemplares
A maio r i a dos modelos baseados em exempla res , tal como vimos an te r iormente ,
foram desenvo lv idos para tentar explicar os p rocessos de ca tegor ização (Medin e Scha f f e r ,
1978; Jacoby e Brooks , 1984). De acordo com estes modelos , a ca tegor ização envo lve a
comparação do a lvo com a pertença à categoria do con jun to de exemplares recuperados , e
não com o p ro tó t ipo da categoria, e os exemplares ac t ivados não têm que per tencer todos ,
necessa r iamente , ás mesmas categorias sociais uns dos outros . Assume-se que os
exemplares r ecupe rados são aqueles mais semelhan tes ao alvo e que a sua recuperação e
uso podem ser, f requen temente , processos para le los e implíc i tos , não acess íve is à
consciência , e que não requerem recursos cogni t ivos s igni f ica t ivos (Smith, 1990; Brooks ,
1987). Al iás , es te const i tui o argumento que responde à observação fei ta pelos de fenso re s
dos modelos ba seados em abstracção, que, depois de um processamento ex tenso e
represen tação de numerosos membros do grupo, parecer ia mais e f ic iente sumar ia r o
conhec imen to sob a fo rma de caracter izações de nível de grupo - general izar .
Em mode lo s como o modelo de Medin e Schaf fe r (1978) a c l ass i f i cação é
de te rminada por todos os exemplares a rmazenados de cada categor ia ; cada um é ponde rado
de acordo com a sua semelhança com o alvo ou es t ímulo . Que efe i to tem cada exempla r
recuperado depende de como a atenção é d i r ig ida a uma ou a outra d imensão , o que
condic iona a s eme lhança percebida. A semelhança não pode, pois, ser cons iderada c o m o
uma propr iedade de um conjunto de es t ímulos que é, independente do contexto e f ixa . E m
vez disso, a s eme lhança depende da maneira como o indiv íduo processa e in terpre ta o
es t ímulo (Medin e Schaf fe r , 1978). Porque é que os indiv íduos tomam atenção a a lgumas
d imensões do es t ímulo e não a outras requer ent rar na rea l idade dos fac tores socia is ,
contextua is e de mot ivação , aspectos que têm sido inves t igados na ps icologia social e na
ps icologia cogn i t iva (Barsalou, 1987; Roth e Shoben , 1983). A atenção dos ind iv íduos ás
d imensões d e p e n d e da tarefa ou object ivos do indiv íduo, da exper iênc ia passada , da
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
re levância para o self , da f requênc ia de exposição, da d inâmica in-group / out-group, e do
contexto social .
Os modelos de memór ia coneccionis tas (McCle l land e Rumelha r t , 1985) e o modelo
de memór ia baseado em exemplares de Hintzman (1986) f o r n e c e m contr ibutos plausíveis
de como este p rocesso de recuperação baseado na s eme lhança pode func ionar e,
espec i f icamente , de como se geram expecta t ivas sobre a t r ibutos não observados no
exemplar actual , com base em propr iedades conhec idas de exemplares semelhantes
encont rados p rev iamente . Sob a fo rma de uma s imulação de computador , Smith (1988),
u t i l izando o modelo baseado apenas em exemplares de Hin tzman (1986) , r eproduz várias
evidências que mos t ram que a magni tude dos e fe i tos de ac t ivação não é apenas
de terminada pela semelhança do es t ímulo teste com o pro tó t ipo . Para a lém de out ras sobre
os efe i tos da ac t ivação social na acess ibi l idade da ca tegor ia , que , t rad ic iona lmente , são
vistas como evidências de que a memória incluí cons t ruc tos abs t rac tos .
São vários os inves t igadores que p ropuseram mode lo s de represen tação de
es tereót ipos que en fa t i zam o papel de exemplares no j u l g a m e n t o social (Linvi l le , Fisher e
Salovey, 1989; Park, Judd e Ryan , 1991; Smith e Zárate , 1990,1992) . Al iás , Smith e Zárate
(1990) exploraram a re levância dos exemplares em vár ias ques tões da cogn ição social
como os es tereót ipos , a acess ib i l idade das categorias , as co r re l ações i lusór ias , a percepção
de pessoas , etc., e, pos te r io rmente , cons t ru í ram um mode lo in tegrador de j u l g a m e n t o social
baseado em exemplares (Smith e Zárate, 1992). Nes t e mode lo , a r ecuperação de
exemplares é responsáve l pela ca tegor ização inicial do e s t ímu lo e por guiar os processos
de j u lgamen to subsequentes envo lvendo o alvo. Os es te reó t ipos são conceb idos como um
sumár io de exemplares , e não como conhec imento abs t rac to a r m a z e n a d o (Smi th , 1990).
Nes ta perspect iva , a v isão do grupo social pode, pois, var ia r de u m a ocas ião para outra,
dependendo dos exempla res que são acedidos. P re sumive lmen te , os m e s m o s exemplares
que são recuperados para a ca tegor ização são ut i l izados para f o r m a r o ' ' e s t e reó t ipo" do
grupo (Kahneman e Mil ler , 1986). Assim, as carac te r í s t icas desses exempla re s são
sumar iadas , c r iando um "es te reó t ipo" do grupo no qual o a lvo foi ca tegor izado , que actua
depois como uma expecta t iva que pode guiar processos s u b s e q u e n t e s . Para a lguns autores,
contudo , chamar a este sumár io do grupo, fei to á pos te r ior i , um es te reó t ipo é al terar o
s ign i f icado do termo, que sempre se referiu a uma fo rma de r ep re sen t ação genera l izada
(Hamil ton e Sherman, 1994). Para além disso, se os e x e m p l a r e s são recuperados e
sumar iados para fazer j u l g a m e n t o s de grupo, então não é c la ra a neces s idade de postular a
cr iação de um "es te reót ipo" . Na verdade, a pos ição de H a m i l t o n e She rman (1994) é
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
tautológica po rque se a abstracção faz parte da natureza dos es tereót ipos então a questão da
natureza dos es te reó t ipos deixa de ser empír ica.
Apesar dos mode los exemplares mais ext remis tas , como o de Hintzman (1986),
sugerirem que a reacção aos es t ímulos é feita apenas com base nos exemplares act ivados
em maior ou menor grau, que a ca tegor ização em si m e s m o não ocorre e que não existe
conhec imento ca tegór ico , abstracto, f requen temente , as pessoas adquir i rem in formação
abstracta sobre um grupo por aprendizagem social , em vez de abstrair esse conhec imento
apartir da r ecupe ração de exemplares . Na real idade, as abst racções podem ser
representadas no Mine rva II (Hintzman, 1986), não têm é nenhum estatuto especial . No
mesmo sent ido, e c o m o resposta a esta questão, Smith e DeCos te r (2000) a f i rmam que os
modelos de exempla re s não prevêem necessar iamente que as pessoas não têm estereót ipos
sobre grupos que não encontraram pessoalmente . A aprend izagem social apart ir dos media
e dos outros pode permi t i r ao indivíduo construir representações menta is dos membros de
um grupo, p redominan temen te consistentes com os es tereót ipos cul turais . Agora , a lguns
modelos de exempla re s sugerem que essa in formação abstracta é s implesmente a rmazenada
e act ivada c o m o out ro exemplar quando ocorre a ca tegor ização ou os ju lgamen tos , ou seja ,
fornecem um m e c a n i s m o para representar carac ter izações abst ractas sob a fo rma de
exemplares (H in tzman , 1986; Linvil le , Fischer e Sa lovey, 1989; Smith e Zárate , 1990).
Para Hami l ton e Sherman (1994), esta concep tua l i zação obscurece a d is t inção entre
in fo rmação abst racta e específ ica; quando uma abs t racção é recuperada como é que se
determina se foi adquir ida e armazenada como uma ins tância espec í f ica ou é uma
genera l ização resul tan te de um processo de abst racção. Na verdade , tal como assinala
Barsalou (1990) , à med ida que as teorias baseadas em abs t racções e as teorias baseadas em
exemplares são mais p ro fundamente desenvolvidas , tendem a tornar-se indist intas umas
das outras . De tal m o d o que, representações exemplares e abst ractas p o d e m potenc ia lmente
representar a m e s m a informação. A in formação protot íp ica pode exist ir quer em
representações proto t íp icas de categorias quer em represen tações exemplares . E porque
apenas p o d e m o s observar representações através do p rocessamento , concluir que as
pessoas usam uma representação e não outra é dif íc i l , se não imposs íve l .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Modelos mistos de representação
Os modelos mis tos de representação de grupos cons ide ram também que os
exemplares têm um papel impor tante no conhec imento ou es te reó t ipo de um grupo social
(Park, Judd e Ryan, 1991; Sherman, 1996; Garc ia -Marques e Mack ie , 1999). Vários foram
os autores que subsc reveram que as representações de ca tegor ias incluem ambas
in formações de exempla res e de protót ipo, ou de nível de grupo (Barsalou, 1990;
Nosofsky , Palmeri e McKin ley , 1994; Sherman, 1996; Ga rc i a -Marques e Mackie , 1999) e
vários fo ram os autores que, nos seus modelos sobre os p rocessos de ca tegor ização e
ju lgamen to social , i ncorpora ram informação abstracta sobre g rupos sociais e exemplares de
grupo espec í f icos (Elio e Anderson , 1981; Kahneman e Mi l le r , 1986). Os modelos mistos
de fendem que o conhec imen to sobre os grupos sociais é b a s e a d o quer em informação
abstracta quer em in fo rmação baseada em exemplares e que d i fe ren tes condições podem
conduzir a que o p rocessamen to seja mais sustentado por um t ipo de in fo rmação do que por
outro. Ass im, os mode los mistos também permitem cons ide ráve l f lu idez e ins tabi l idade na
conceptua l ização que o ind iv íduo tem de um grupo socia l .
Uma ques tão óbvia e importante é de terminar as cond i ções que conduzem a um
processamento baseado em exemplares ou baseado em abs t r acções (Park e Hast ie , 1987).
• Por exemplo , Garc ia -Marques e Mackie (1999) a s s u m e m que se a in fo rmação de
nível de grupo es t iver a l tamente disponível e f r e q u e n t e m e n t e ut i l izada, ela
sozinha pode ser usada no Julgamento do grupo . Nessas condições , o papel da
cr iação ou recuperação de exemplares é mín imo . N ã o é, contudo, a lheio a isto a
natureza do es t ímulo que actua como uma pista para recuperar i n fo rmação . Para
Smith (1992) , um rótulo verbal do grupo é mais provável que recupere
in fo rmação de nível de grupo e um exempla r e s p e c í f i c o é mais provável que
recupere outros exemplares . Isto porque um ró tu lo verbal do grupo está
semant i camente l igado a atr ibutos de nível de g rupo (pode ser v is to c o m o mais
semelhan te a i n fo rmação de nível de grupo) , e n q u a n t o um ind iv íduo espec í f ico
terá sempre t ambém atributos não e spec í f i cos do grupo . Desde os estudos
c láss icos de Katz e Braly (1933, citado por Smi th , 1992), e m a n t e n d o essa
tendência (Devine , 1989), a maioria dos inves t igadores fornece rótulos verbais
para aval iar os es tereót ipos . É possível que esses t eór icos aval iem es t ru turas de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
c o n h e c i m e n t o reais, mas que não se jam as acedidas pe los indivíduos no seu dia-
a-dia de encont ros com membros ind iv idua is da categor ia .
• T a m b é m , a ordem em que os ind iv íduos aprendem in formação abstracta e
exempla r sobre um grupo pode afec tar o p rocessamento subsequente dos
m e m b r o s do grupo. Assim, se os ind iv íduos possuem um estereót ipo prev iamente
f o r m a d o quando encontram os membros do grupo, o estereót ipo dirige o
p r o c e s s a m e n t o posterior. Contudo, quando os indiv íduos interagem com os
m e m b r o s de um grupo sobre os quais não possuem um estereót ipo, a recuperação
de exempla re s da categoria pode ter um papel par t icu la rmente importante no
p roces samen to subsequente (Smith e Zára te , 1990).
• Por ou t ro lado, as capacidades cogni t ivas a fec tam o processamento de
i n f o r m a ç ã o sobre membros de grupos . Q u a n d o Devine (1989) mostra que os
es te reó t ipos são automaticamente ac t ivados , contr ibui para a ideia de que o uso
de i n f o r m a ç ã o abstracta requer pouca capac idade , e que é mais provável que os
ind iv íduos se detenham sobre i n fo rmação abstracta em condições de capac idade
l imi tada (Hamilton e Sherman, 1994). Nesta perspect iva , o processo de
au toma t i zação partilha com a visão abs t racc ionis ta os ganhos em ef ic iênc ia
cogni t iva . A invariabil idade e a f r equen te assoc iação de um es t ímulo com uma
respos ta cogni t iva torna possível que, t ambém à custa de uma independência do
con tex to , esta última seja act ivada com pouco c o n s u m o de recursos cogni t ivos e
com pouca consciência da parte de su je i to (Bargh, 1994). Por exemplo , a
ac t ivação subl iminar do rótulo de um grupo es te reo t ipado induz a act ivação do
es t e reó t ipo correspondente (Dovidio, Evans e Tyler , 1986).
^ A l g u m a s evidências minam, contudo, a exp l i cação abs t raccionis ta atrás proposta .
Em tarefas ráp idas de c lass i f icação precept iva , respos tas cogni t ivas baseadas em
exemplares p o d e m também ser al tamente e f ic ien tes e c a l c u k d a s fora da consciência"^©
processador de in fo rmação social (Nosofsky e Pa lmer i , 1997) e a act ivação do r ó i ^ o _ ^
uma ca tegor ia não conduz^invaria-velmente-à. ac t ivação do es tereót ipo (Gilbert e Hixon ,
1991). Es tes _autores, que fazem--pr- imeiro-que _tudo uma dis t inção entre ac t ivação e
apl icação de es te reó t ipos , apresentam^ evidência que sugere que os es tereót ipos requerem a
atenção e o e s f o r ç o consciente para serem ac t ivados e por isso não são automát icos . Parece
que os e s t e reó t ipos requerem capacidade de a tenção , apesar da sua act ivação poder ser não
intencional^ A pessoa pode não estar consciente da manei ra como um evento ou es t ímulo é
in terpre tado ou ca tegor izado, como sugere Devine (1989) para os es tereót ipos , e essa
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
consciência é um aspecto do au tomat i smo que é cr í t ico para o controlo intencional do
pensamento e compor t amen to (Bargh, 1994), mas a ac t ivação do es tereót ipo pode depender
da existência de r eçu j sps atent ivos, o que está re lac ionado com outra qua l idade do
au tomat i smo - a e f i c i ê n c ^ ^ ^ ^ g ^ , 1994). Esta na tureza condic ional da automat ismo
parece, de facto, ter a ver c o m , a observação de Bargh (1994) de que o au tomat i smo não
um const ructo unitário. Em vez disso, d i fe ren tes t ipos de au tomat i smo requerem diferentes
níveis de p rocessamento por parte do indivíduo. Parece p rováve l , pois, que a ac t ivação do
es tereót ipo este ja ao nível do automat ismo dependente de capac idades cogni t ivas , na
medida em que o indiv íduo não pode ter l imitações de recursos cogni t ivos para o
es tereót ipo ser act ivado automat icamente . Algumas rev isões de l i teratura (Bargh , 1994;
Hamil ton e Sherman, 1994) ques t ionam-se sobre se os par t i c ipan tes do es tudo de Gilbert e
Hixon (1991.).não exib iam act ivação de es tereót ipos na cond ição de sobrecarga cogni t iva
porque o es tereót ipo usado era re la t ivamente f raco, pa r t i cu la rmente quando comparado
com o estereót ipo de a f ro -amer icano - que a inves t igação de Dev ine (1989) suger ia como
sendo provave lmente ac t ivado automat icamente . Recen temen te , Spencer , W o l f e , Fong e
Dunn (1998, Exper iênc ia 2) usaram o estereót ipo de a f r o - a m e r i c a n o que, por ser mais
for te , fornecia um teste mais forte sobre se a ac t ivação de es tereót ipos vas tamente
adquir idos pode ser moderada . Um segundo ob jec t ivo foi examinar a ac t ivação do
es tereót ipo num contex to mais subtil do que o das exper iênc ias anter iores - um contexto
em que os par t ic ipantes não t inham consciência de que es tavam a ser expos tos a um
membro de um grupo es tereot ipado, já que a face de um a f r o - a m e r i c a n o era apresen tada de
fo rma subliminal (durante 17 mi l i segundos) e era seguida de um con jun to de rab i scos sem
sent ido que mascarava o es t ímulo . Spencer e co laboradores (1998) repl icam os resul tados
de Gilbert e Hixon (1991) de que par t ic ipantes com sobreca rga cogni t iva não revelam
evidência de ac t ivação de es tereót ipos , sus tentando que esta pode ser e spon tânea e não
c o n s c k j u e mas requer recursos atentivos suf ic ientes (na med ida em que se fossem
automát icos e inevi táveis face à exposição de pistas re levan tes para o es te reó t ipo então a
sua act ivação teria s ido evidente nos par t ic ipantes na cond ição de sobrecarga cogni t iva ; na
medida em que se a sua act ivação requisesse consc iênc ia en tão teria hav ido pouca ou
nenhuma act ivação do es tereót ipo. Estes autores d e m o n s t r a m t a m b é m que se os
par t ic ipantes t iverem acabado de receber uma aval iação nega t iva ameaçando a sua auto
imagem revelam ac t ivação do estereót ipo apesar da sobreca rga cogni t iva . Estes resul tados
sugerem que as mot ivações das pessoas podem afectar a ac t ivação de es te reó t ipos mesmo
quando a act ivação es tereot íp ica ocorre au tomat icamente e f o r n e c e m evidênc ia de um novo
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
caminho para a ac t ivação automática dos es tereót ipos: es tereot ipar ao serviço de manter a
a u t o T m a g e m . O es tudo de Gilbert e Hixon (1991) revela ainda que, na condição de
sobrecarga cogn i t iva , os sujei tos não deixaram de fazer a ca tegor ização da pessoa alvo,
suger indo que a ca tegor ização pode ocorrer sem a ac t ivação do estereót ipo. Certo é que, os
estudos atrás r e fe r idos cr iam, sem dúvida, uma ponte entre os domínios da automat ização e
ca tegor ização .
D e t e n d o - s e exactamente na d inâmica cogni t iva subjacente á act ivação do
pensamento ca tegór i co e nas condições em que este é act ivado, Macrae e Bodenhausen
(2000), s u g e r e m que as categorias podem não ser todas iguais no seu potencial para a
act ivação e ap l icação , nem na fo rma como são apl icadas; e que a invest igação das
condições de ac t ivação do pensamento categór ico tem que ir para além do ênfase nas
variáveis m o d e r a d o r a s - como a capacidade de p rocessamen to e a mot ivação para e fec tuar
uma anál ise com es forço - para incluir uma série de condições informat ivas e de
mot ivação. Por exemplo , uma var iedade de es tados de mot ivação parecem importantes .
Mot ivação para a acuidade inibe o uso de es tereót ipos (Fiske, 1998, ci tado por Macrae e
Bodenhausen , 2000) . Por outro lado. a mot ivação para a p ro tecção do ego fornece uma
base para a c o m p a r a ç ã o social (Fein e Spencer , 1997, c i tado por Macrae e Bodenhausen ,
2000).
1.3.2 Expectativas de que os estereótipos não mudam mas pressupostos
exemplaristas de que são instáveis
As a b o r d a g e n s mais recentes enfa t izam cons i s t en temente a f lu idez dos es tereót ipos,
cont ra r iando a ideia prevalecente abstraccionis ta de que os es tereót ipos são representações
mentais e s táve i s e duradouras de grupos sociais.
Se é ve rdade que a estabi l idade é na tu ra lmente previs ta por certas perspect ivas
teóricas do p rocesso de categorização social , t ambém é verdade que um conjunto de
indicadores levar ia a prever uma maior f lu idez das es t ru turas de conhec imento social.
Por um lado, em nome da estabi l idade cogni t iva e da preservação de recursos
cogni t ivos l imi tados , o enquadramento abs t racc ionis ta concebe o processador de
in fo rmação social como ext remamente recept ivo à i n fo rmação que melhor encaixa ou
coincide c o m as suas estruturas de c o n h e c i m e n t o ^ O r a se ele f i l t ra radicalmente os
es t ímulos e usa vas tamente essas estruturas de conhec imen to para suplantar os dados que
despreza na cod i f i cação , então as opor tunidades para ser sensível ás inf luências do
contexto se rão escassas e a instabi l idade das es t ru turas reduzida .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Para além disso, os es tereót ipos podem enviesar o p rocessamento de in fo rmação de
inúmeras formas que resul tam na sua au to-perpe tuação . C o m o menc ionámos anter iormente ,
os es tereót ipos func ionam c o m o expecta t ivas sobre grupos e os seus membros . A act ivação
de um estereót ipo pode afec tar todos os aspectos do p roces samen to de i n fo rmação social,
inc luindo a a tenção, a interpretação, a inferência , e a recuperação . Os es te reó t ipos podem
também inf luenciar o tipo de in formação que os ind iv íduos procuram sobre os alvos e
podem inf luenciar o compor tamento no sent ido conf i rma tó r io , c r iando h ipóteses auto-
conf i rmatór ias . Claramente , através destes vários processos , os es tereót ipos pa recem tender
a au to-perpe tuar -se (Smith e Mackie , 1995; Hamil ton e She rman , 1994).
Por outro lado, um conjunto de indicadores tem t raz ido à d iscussão este problema
proeminente da cognição social , que nos interessa pa r t i cu la rmente para o presente estudo:
a ins tabi l idade das es t ruturas de conhec imento social. Senão ve j amos ,
• Note-se , como f icou claro na subsecção atrás, que os pressupos tos exemplar i s tas
sustentam representações de categor ias socia is baseadas em exemplares
espec í f icos e cons ideram que os exemplares têm um papel impor tan te no
conhec imento de um grupo social e nos processos de j u l g a m e n t o socia l . Estes
pressupos tos admi tem, assim, cons iderável f lu idez e ins tabi l idade na
conceptua l ização que o indivíduo possui de um grupo social .
• Note-se , t ambém, que um con jun to de es tudos , rev is tos an te r io rmente nesta
secção, mos t ram, cons is ten temente , o impac to que exempla res espec í f i cos têm
no processamento e no modo como as pessoas pe rcebem grupos sociais . Ao
fazerem isso. sugerem que a visão de um grupo social pode var iar de uma
ocasião para outra, dependendo dos exemplares e spec í f i cos que vêm à cabeça , ou
seja, sugerem que as categorias sociais são sens íve is ao contex to .
• Note-se , ainda, que, apesar dos es tereót ipos serem t rad ic iona lmen te cons iderados
estruturas de conhec imento social duradouras e es táve is , a sua med ida e a sua
expressão estão minadas por um grande número de fac tores sens íve is ao
contexto. E esta labi l idade que os es te reó t ipos d e m o n s t r a m em labora tór io
cont inua a colocar à cognição social ques tões de f u n d o sobre a ve rdade destas
estruturas .
Várias teor ias abst raccionis tas fo ram desenvo lv idas para expl icar a var iab i l idade
intra su je i to na med ida e expressão dos es te reó t ipos e consegu i r am faze - lo com
algum sucesso (Devine , 1989; Petty e Cacc iopo , 1986; W e b e r e Crocker , 1983),
encarando essa sens ib i l idade ao contexto c o m o o resu l tado de represen tações
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
es táveis em conf l i to ou de processos mentais especia is que prevalecem sobre
outros , ou, ainda, o lhando para os es tereót ipos como es t ru turas hierárquicas que
evo luem através da experiência , como faz o mode lo de subtyping. Segundo este
modelo , embora possamos categor izar e descrever os out ros de acordo com o
es te reó t ipo genérico, desenvolvemos es tereót ipos d i fe renc iados de subgrupos
mais e spec í f i cos dessa categoria inclus iva e é através da c r iação de subt ipos que
os es te reó t ipos mudam. Pode haver mesmo casos em que subt ipos muito restr i tos
se de senvo lvem para representar instâncias que i n f i rmam o es tereót ipo. Mas
ass im, em vez de produzir mudança de es tereót ipo essas ins tâncias to rnam-se o
seu própr io grupo e não colocam qualquer desaf io à es t ru tura de crenças
preexis ten tes (Weber e Crocker , 1983; Hewstone , 1994). Smi th (1990) ques t iona ,
contudo , a necess idade de assumir que são fo rmados es tereót ipos ao nível dos
subt ipos . Duvida que os indivíduos a rmazenem es te reó t ipos dis t intos para todos
os subt ipos possíveis que possam ter desenvo lv ido e a rgumenta que mui tos
subt ipos podem ser específ icos do contexto e que mui tas carac ter izações dos
subt ipos são, provavelmente , calculadas , baseadas na recuperação de exempla res
no m o m e n t o em que os ju lgamentos são fei tos, um género de es tereót ipos adhoc.
Por exemplo , podemos fazer j u lgamen tos sobre grupos que não t ínhamos
p rev iamen te considerado como subgrupos s igni f ica t ivos e sobre os quais não
temos represen tação - ju lgamentos esses que são, necessa r iamente , baseados na
r ecupe ração de exemplares . Assim, parecer ia mais apropr iado adoptar uma visão
em que as es t ruturas de conhec imento genér icas são baseadas em exemplares e
sens íve is ao contexto e em que esta sens ib i l idade deixa de ser cons iderada um
ar te fac to de medida ou uma indicação de mudança mental p r o f u n d a e i r revogável
(Garc ia -Marques , 1998).
Ass im, parece exist ir a ideia, na l i teratura de ps icologia social , que os es tereót ipos
são es táveis e que vários mecanismos con t r ibuem para a sua pe rpe tuação . M e s m o a teoria
de subtyping, à qual se pode recorrer para expl icar a lab i l idade que os es tereót ipos
demons t r am em laboratór io , não é, na verdade, uma teoria de mudança dos es tereót ipos , j á
que não co loca qualquer desaf io à estrutura de crenças preexis ten tes . Contudo , esta
sensação de es tab i l idade que há em relação aos es tereót ipos t ambém acontece em relação a
ca tegor ias natura is e pode não ser mais do que uma i lusão, tal como o é para esses outros
concei tos de ob jec tos . De facto, Barsalou (1987) most ra que os concei tos são
aparen temente es táve is quando não usamos ins t rumentos de medida sensíveis o suf ic ien te
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
para detectar a var iabi l idade intra- individual com o tempo. Na ps icologia social , apesar das
sugest ivas fo rmulações teór icas e evidências empí r icas que já fo rnecem, os indicadores
atrás re fe r idos ainda não propõem uma metodologia sa t i s fa tór ia e adequada para medir a
ins tabi l idade dos es te reó t ipos e a natureza t ransi tór ia da sua mudança , que cons t i tuem um
desaf io impor tan te para as teorias sobre a sua suposta pers i s tênc ia e t ambém para as teorias
que descrevem a fo rma como mudam.
Conc lu indo este capí tulo , enfa t izamos que, embora a teoria do esquema tenha sido
muito inf luente , descober tas recentes acentuam que o j u l g a m e n t o humano pode ser muito
sensível ao contexto , desa f iando a p laus ib i l idade de uma expl icação puramente
esquemát ica dos es tereót ipos (Hamil ton e Sherman, 1994; Smith e Zárate, 1992; Hilton e
VonHippel , 1996). Vár ios invest igadores p ropuse ram mode los de represen tação dos
es tereót ipos que sa l ien tam o papel dos exemplares no j u l g a m e n t o social e expl icações mais
recentes enfa t i zam a f lu idez dos es tereót ipos, p ropondo que estes cons is tem em muitos
t ipos de conhec imen tos , e são const ruídos com base no con jun to de conhec imento
disponível num de te rminado momento (Smith e Zára te , 1992; Coats e Smith , 1999). Os
modelos mis tos , ao mante rem também o papel impor tan te dos exempla res no conhec imento
ou es tereót ipo de um grupo social (Park e co laboradores , 1991; Sherman , 1996), permitem
também cons iderável f lu idez e ins tabi l idade nas concep tua l i zações que os ind iv íduos têm
dos grupos sociais . Os modelos coneccionis tas f o r n e c e m t a m b é m uma implementação
directa para as ideias de f lexibi l idade e sens ib i l idade ao con tex to e de m u d a n ç a das
representações (Smith, 1996), encora jando a exp loração das suas potenc ia is ap l icações na
psicologia social (Smith e DeCoster , 1998).
Pode haver i n fo rmação central que é quase s empre re la tada , mas out ros aspectos
desse relato dependem do contex to envolvendo a r ecupe ração da i n f o r m a ç ã o re levante para
o grupo (Coats e Smith, 1999). Assim, os es tereót ipos não são conceb idos como estruturas
a rmazenadas na memór ia e recuperadas como un idades únicas , mas como concei tos
temporár ios que são f lex ive lmente cons t ru ídos on-line. Há , contudo , cer tas ca tegor ias
sociais que são vistas como representando divisões f u n d a m e n t a i s no mundo , baseadas no
que são perceb idas como p ro fundas e estáveis .
Co inc iden temen te , Wilson e Hodges (1992) , r e v ê m evidênc ia cons iderável
supor tando a h ipótese de que, t ambém, as at i tudes p o d e m ser cons t ruções temporár ias ,
nomeadamente , inves t igações most rando que as a t i tudes dos ind iv íduos var iam de acordo
com o con tex to e com o tipo de pensamen to em que e n g r e n a m . As at i tudes parecem,
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
portanto, cons t ruções temporár ias apartir dos dados que es tão mais acessíveis no momento ,
e não en t idades es táveis e inalteráveis (Wilson e Hodges ,1992 ; Schwarz , 2000).
Na perspec t iva de Bodenhausen , Schwarz, Bless e W a n k e (1995) , as evidências que
se têm v indo a acumular sobre a sensibi l idade dos es tereót ipos e das ati tudes à act ivação
momentânea de exempla res representam um domínio par t i cu la rmente interessante para
investigar mode los de ju lgamento social baseados em exemplares , assim como a
abordagem das a t i tudes como construções temporár ias . E que talvez seja altura de
equacionar que a ps icologia das at i tudes é s implesmente a ps ico logia dos ju lgamentos
aval ia t ivos (Bodenhausen e colaboradores , 1995). Uma abordagem das atitudes como
ju lgamen tos , f ac i lmen te : explica o fenómeno que desaf ia o p ressupos to que as pessoas têm
ati tudes duradouras , prediz as condições em que os efe i tos do contexto são ou não
prováveis e e spec í f i ca a sua direcção e d imensão (Schwarz , 2000) .
C la ramen te , há mais trabalho a fazer sobre a ques tão da instabi l idade dos
es tereót ipos . Os modelos propostos, e as inves t igações que es t imularam, deixam ainda
questões f u n d a m e n t a i s por responder . Contudo, desa f i am a nossa manei ra tradicional de
pensar sobre a natureza dos estereót ipos e incent ivam a criar enquadramentos conceptuais
novos que p o d e m func ionar como catal isadores do progresso .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.4 Efeito de homogeneidade do out-group: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo
Esta secção pre tende apresentar o efe i to de homogene idade do out-group como algo
que levou à r e fo rmulação do concei to de es tereót ipo, na medida em que levou a pensar na
in fo rmação sobre a var iabi l idade do grupo e a perceber como os mode los teóricos
exis tentes e ram mui to pouco adequados para es tudar e expl icar esse aspecto da
represen tação dos grupos sociais. T a m b é m a ps ico log ia cogni t iva in teressada na
ca tegor ização já t inha visto que era necessár io u l t rapassar as representações proto t íp icas de
ca tegor ias naturais e ar t i f ic ia is e encontrar modelos que exp l icassem a sens ib i l idade dos
indiv íduos à i n fo rmação sobre a var iabi l idade.
Do m e s m o modo, parece agora necessár io que a abordagem sócio-cogni t iva ao
tópico das representações mentais das categorias socia is desenvo lva mode los teóricos e
métodos adequados para es tudar a suposta ins tabi l idade destas es t ru turas , j á notada pela
ps icologia cogni t iva , in teressada no processo de ca tegor ização geral , para as categorias
naturais e ar t i f ic ia is .
Os dois pa rág ra fos atrás abordam, desde logo, duas das razões que fundamen ta r i am,
na nossa opinião, a inc lusão da presente secção nesta d isser tação . Pr imeiro , há um visível
para le l i smo no modo como novos desenvolv imentos da ps ico log ia cogni t iva , na área da
ca tegor ização , incen t ivam a abordagem sóc io-cogni t iva a criar enquadramentos
conceptua is novos quer para expl icar a sensibi l idade dos ind iv íduos à var iab i l idade dentro
de grupos sociais quer para estudar a suposta ins tab i l idade das represen tações menta is de
ca tegor ias sociais . Segundo , o es t ímulo dado pelo e fe i to de homogene idade do out-group, a
seguir abordado, à inves t igação sobre a percepção da var iab i l idade do grupo vem
re fo rmula r a natureza das representações mentais de grupos sociais e co loca r novas
ques tões sobre o modo como in formação sobre m e m b r o s de grupos é processada ,
a rmazenada em memór ia e usada para fazer j u l g a m e n t o s sobre o grupo, a que a
inves t igação sobre a ins tabi l idade das representações menta i s dos es te reó t ipos não pode
f icar indiferente . Espec i f i camente , alguns modelos desenvo lv idos para expl icar os
mecan ismos subjacentes ás percepções de var iab i l idade do grupo e ao c h a m a d o efe i to de
homogene idade do out-group p ropõem um papel d i fe renc ia l da ac t ivação dos exemplares
nos ju lgamentos de var iabi l idade, dependendo do es ta tu to de per tença ao grupo {in-
group/out-group) (Park, Judd e Ryan, 1991), expl icações que têm impl íc i tos pressupos tos
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
de maior ou menor ins tabi l idade das representações mentais de out-groups e de in-groups,
como seria aliás tes tado por Coats e Smith (1999).
Para além da in fo rmação de tendência central ou rela t iva ás caracter ís t icas t ípicas
do grupo, outros aspec tos fazem parte da representação do grupo, como a var iabi l idade
percebida . Con tudo , só recentemente os modelos cogni t ivos da ca tegor ização
u l t rapassaram as representações protot ípicas de categor ias naturais e ar t i f ic iais (Medin e
Schaf fe r , 1978; Smith e Medin, 1981). Como resul tado, apenas recen temente o tópico da
var iabi l idade de grupo percebida ganhou lugar na l i teratura da ps icologia social (Park,
Judd e Ryan, 1991). A partir daí, os mecanismos subjacentes à pe rcepção da var iabi l idade
do grupo têm sido centrais para compreender os es tereót ipos como representações menta is
dos grupos. E mode los que procuraram expl icar a sens ib i l idade dos indivíduos à
var iabi l idade dent ro dos grupos t iveram impl icações na natureza da representação dos
es tereót ipos .
A inves t igação sobre a percepção da var iabi l idade do grupo foi es t imulada pelo
efe i to de homogene idade do out-group vas tamente repl icado - a t endênc ia das pessoas para
perceber os out-groups como mais homogéneos do que os grupos a que per tencem.
Vár ios mode los ofe recem diferentes propostas sobre os mecan i smos subjacentes ás
percepções de var iab i l idade do grupo. Alguns a rgumentam que os es tereót ipos, como
representações de nível de grupo, não podem expl icar a sens ib i l idade dos indivíduos ao
grau de var iab i l idade entre os membros de um grupo. Nesses mode los a in fo rmação sobre a
var iabi l idade não é representada ao nível do grupo mas der ivada da recuperação de
exemplares quando espec i f i camente pedida. Por exemplo , de acordo com o modelo de
Linvi l le , F ischer e Salovey (1989), os ju lgamentos de var iab i l idade são cr iados
recuperando exempla res especí f icos do grupo e sumar iando as suas caracter ís t icas . O grau
de var iabi l idade perceb ida depende do número de membros conhec idos do grupo. Se se
recupera um grande número de exemplares , é provável que essas ins tâncias tenham maior
var iabi l idade do que quando é recuperado um pequeno número de exemplares . Uma
consequênc ia é que os grupos famil iares são percebidos c o m o mais var iáveis do que os
grupos pouco fami l ia res . Como conhecemos mais membros in-group do que out-group,
resulta uma maior var iabi l idade percebida in-group - o c h a m a d o e fe i to de homogene idade
do out-group. Pos te r io rmente , Linvil le e Fischer (1993) p r o p õ e m que as pessoas j u lgam a
var iabi l idade de um grupo, em relação a uma de te rminada d imensão/ t raço , c r iando
pr imei ro um c o n j u n t o de pistas cor respondendo a d i fe ren tes níveis do traço e usando
depois os d i fe ren tes graus de disponibi l idade de exempla res , que resu l tam dessas pis tas .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
para formar uma dis t r ibuição de exemplares . A h ipó tese de recuperação exaust iva de
exemplares de Garc ia -Marques e Mackie (1999) , enquadra - se nesta perspect iva mas
acrescenta a propos ta de um enviesamento conf i rma tó r io no processo de cr iação das pistas
de recuperação .
Smith e Zárate (1992) apontam uma represen tação c o m u m para o out-group e para o
in-group ( todos os grupos são representados por exempla res ) , qua l i f i cando que a atenção
diferencial e os processos de codi f icação al teram a r ep resen tação desses exemplares de tal
modo que os membros do out-group parecem mais seme lhan tes entre si. Isto porque os
seus atr ibutos individuais recebem menos a tenção e os a t r ibutos def in idores da categoria
mais a tenção.
Alguns autores a rgumentam, ainda, que a de f in i ção de es tereót ipo deve
s implesmente ser a largada para incluir a var iab i l idade tal c o m o incluí i n fo rmação de
tendência centra l . De fendem que a in formação sobre a var iab i l idade está a rmazenada ao
nível do grupo, a rgumentando que esta é abstraída, a rmazenada como parte do estereót ipo
do grupo e recuperada quando necessária (Park, Judd e Ryan, 1991; Park e Hast ie , 1987).
Park e co laboradores (1991) , apesar de sugerirem que os j u l g a m e n t o s sobre a var iabi l idade
do grupo são in ic ia lmente cr iados recuperando uma impres são geral abstra ída do grupo,
cons ideram que esta impressão inicial é, f r equen t emen te , ac tual izada através da
recuperação de instâncias do grupo. De acordo com este mode lo , ao fazer ju lgamentos
sobre o in-group, a impressão inicial func iona c o m o um ensa io e a r ecuperação de
instâncias é mui to provável . No entanto, para o out-group os ind iv íduos t endem a basear-se
mais na impressão geral e a não recuperar instâncias . Nes te sent ido , par te-se da hipótese
que os j u lgamen tos sobre o in-group se baseiam mais em exempla re s e que os ju lgamen tos
sobre o out-group se baseiam mais em representações abs t rac tas . Ass im, de acordo com
estes autores , o e fe i to de homogene idade do out-group resul ta de d i fe renças no t ipo de
in fo rmação usada para ju lgar a variabi l idade (dependendo do es ta tu to de per tença ao
grupo) , concre tamente , do apoio diferencial nos exempla res . Porque é prováve l que os
exemplares se jam, em parte, d iscrepantes da abs t racção , e spe ra - se que a inc lusão de
in fo rmação de exemplares aumente a percepção de va r iab i l idade para o in-group,
re la t ivamente sio-out-group.
Park e co laboradores (1991) p ropõem vár ias razões pe las quais os exemplares
podem ter um maior papel nos ju lgamentos de in-group do que nos j u l g a m e n t o s do out-
group. Pensa-se que isto pode ocorrer porque os ind iv íduos es tão mais envo lv idos no in-
group e mais mot ivados para fazer ju lgamentos acurados . E sendo ass im, é poss íve l que se
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
use uma maior amost ra de exemplares quando e fazem es t imat ivas de variabi l idade de um
in-group do que de um out-group. É, também, mais provável que o auto-concei to venha à
cabeça como um exempla r quando se fazem ju lgamen tos sobre um in-group do que sobre
um out-group (Park e colaboradores , 1991), o que pode induzir a comparações entre o
au to-concei to e out ros membros do in-group, f o c a n d o a a tenção em exemplares do in-
group quer na cod i f i cação quer na recuperação (Hamil ton e Sherman, 1994). Por outro
lado, podemos estar expostos a diferentes t ipos de in fo rmação sobre in-groups e out-
groups. As impressões dos in-groups são, p rovave lmen te , mais baseadas em exemplos
compor t amen ta i s rea is tes temunhados enquanto o conhec imen to dos out-groups é
f r equen temen te fo rnec ido (por media e agentes que sociabi l izam) sob a fo rma de
descr ições gerais . É possível que tenhamos t ido menos exper iência com membros
individuais do out-group (Park e colaboradores , 1991), o que torna as impressões sobre
out-groups mais es tereot ipadas do que aquelas adquir idas por expos ição directa a
instâncias do grupo (Park e Hastie, 1987).
Embora tenha havido teor ização considerável sobre a impor tânc ia do es ta tuto de
per tença ao in-group/out-group no uso de exempla res ou abs t racções nos ju lgamentos de
grupos, tem havido pouca evidência directa até à data (Coats e Smith , 1999)^Há , contudo,
a lguma ev idênc ia suges t iva fornecida por Park e Judd (1990) . Es tes autores encon t ra ram
uma re lação pos i t iva entre membros do in-group r ecuperados e os ju lgamentos do in-group
mas nenhuma re lação entre os membros do out-group r ecuperados e os ju lgamen tos do out-
group. Es tes resu l tados fornecem algum suporte à h ipótese que a memór ia para membros
do grupo tem um papel mais forte nos j u lgamen tos de in-groups do que para os
j u lgamen tos dos out-groups. Baseado no raciocínio anter ior , que sugere que os exemplares
são ut i l izados mais p roeminentemente nos j u lgamen tos de in-groups do que nos
j u lgamen tos de out-groups. Coats e Smith (1999) p ropuseram que . cor responden temente ,
as impressões dos in-groups seriam mais fo r t emen te in f luenc iadas pela ac t ivação de
exemplares do que as impressões de out-groups. Os resul tados con f i rmam as h ipóteses
destes autores , no sent ido em que exemplares dos subt ipos mascu l inos t iveram um efe i to
mais for te nas descr ições dos par t ic ipantes mascul inos , e exemplares dos subt ipos
femin inos t iveram um efei to mais forte nas descr ições dos par t ic ipantes femininos . Esta
descober ta é impor tan te porque a hipótese de que os es tereót ipos de in-groups são,
compara t ivamen te com os estereót ipos de out -groups , mais baseados em exemplares t inha
até agora pouca ev idênc ia directa.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Conclu indo , podemos fa lar de dois grandes mode los desenvolv idos para explicar o
efe i to de homogene idade do out-group: um mode lo baseado em exemplares , como o
proposto por Linvi l le e colaboradores (1989), e um mode lo baseado em abst racções , em
que um exemplo é o propos to por Park e Judd (1990) . A var iabi l idade percebida é
representada d i fe ren temente por estes dois t ipos de mode los . Nos modelos abstraccionistas ,
a represen tação da var iabi l idade percebida do grupo em cer tas d imensões crí t icas é feita
por abs t racções ca lculadas on-line, cons t i tu indo i n f o r m a ç ã o de nível de grupo. Ao fazer
j u lgamen tos sobre o grupo, esta in fo rmação de nível de g rupo é recuperada e usada e, em
algumas c i rcuns tâncias , ins tâncias de categor ias podem t ambém ser usadas . As diferenças
de var iabi l idade percebida em in-groups e out-groups podem der ivar das d i fe renças nos
processos de cod i f i cação associados aos dois t ipos de grupos e/ou d i fe renças nos processos
de recuperação . Os modelos de exemplares a rgumentam que a var iab i l idade é calculada
d i rec tamente apart ir do con jun to de exemplares da ca tegor ia a rmazenados . Os ju lgamentos
sobre a ca tegor ia são fei tos recuperando uma amost ra de exempla res e cons t ru indo a
d is t r ibuição dos mesmos em alguma d imensão cr í t ica , apart i r da qual uma medida de
dispersão percebida é ca lculada. Por exemplo , num mode lo c o m o o de Hin tzman (1986), o
j u lgamen to pode ser fei to ca lculando a força da ressonânc ia desencadeada pe lo valor do
atr ibuto em questão. A magni tude do eco será in f luenc iada pela var iab i l idade dos
exemplares a rmazenados . Para estes autores o nível de f ami l i a r idade com os in-groups e os
out-groups é uma expl icação fundamenta l para as d i f e renças de var iab i l idade percebida e
para o e fe i to de homogene idade do out-group observado.
Comparações dos modelos baseados em abs t racções e dos mode los de exemplares
most ram que ambos fo rnecem expl icação para muitas das descober tas re lac ionadas com o
efe i to de homogene idade do out-group. Alguns aspectos d i s t inguem, con tudo , estes dois
t ipos de abordagem: (1) S imulações com o modelo baseado em exempla res (Linvil le e
colaboradores , 1989) most raram que este consegue p roduz i r d i s t r ibu ições i rregulares
semelhantes ás produzidas pelos sujei tos enquanto o mode lo baseado em abs t racções de
propr iedades on-line para conseguir isso é necessár io assumir que as pessoas cod i f iquem
não apenas a média e a var iância para cada d is t r ibuição de carac ter í s t icas mas também
parâmet ros adic ionais da fo rma como a ass imetr ia ; parece improváve l que as pessoas
cons igam abstrair ac t ivamente tantas propr iedades para cada carac ter í s t ica de cada
categoria; (2) A capac idade de fo rmar abs t racções não d i s t ingue entre mode los on-line e
baseados em memór ia ; modelos com um mecan i smo de abs t racção pe rmi t em exp l ica r como
as pessoas f o r m a m estereót ipos de grupos mas modelos c o m o o de Hin tzman (1986) , que
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
face a uma pista que consis te num rótulo de uma categor ia evoca um eco da memória
compósi ta co r re sponden te a um protót ipo de grupo perceb ido , possuem as propr iedades
necessár ias para abstra i r , a rmazenar e recuperar protót ipos de grupos . Contudo, não atribui
especial es ta tu to a esses protót ipos.
No entanto , cons iderave lmente mais vasto e fundamen ta l do que o efe i to de
homogene idade do out-group, atrás def in ido, é o modo como a in fo rmação sobre os
membros do grupo é processada , armazenada em memória , e usada para fazer j u lgamen tos
sobre o grupo. Ou se ja , leva-nos a pensar sobre a natureza das representações do grupo e
sobre o s ign i f i cado do te rmo estereót ipo.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.5 A trilogia de Princeton e a necessidade de uma metodologia apropriada ao estudo da estabilidade dos estereótipos: Sua importância na reformulação do conceito de estereótipo
Ao cont rá r io do que acontece com as represen tações menta i s de ca tegor ias gerais,
não existe até agora um conjunto de aval iações s i s t emát icas da ins tabi l idade das
represen tações menta is de categorias sociais. Alguns es tudos , que a seguir revemos,
reve lam con tudo uma preocupação em avaliar o grau de es tab i l idade temporal dos
es tereót ipos . Es ta secção pre tende salientar , suc in tamente , que os métodos ut i l izados até
agora por esses es tudos in teressados em avaliar o grau de es tab i l idade ou mudança dos
es te reó t ipos , como a t r i logia de Princeton, não são apropr iados , porque não apl icam uma
metodolog ia de tes te-re tes te longitudinal , cu ja adequab i l idade aliás tem sido
cons i s t en temente comprovada nos estudos da ps ico log ia cogni t iva in teressados na
ins tabi l idade dos concei tos .
Duran te os ú l t imos 50 anos, mudanças d ramát icas no ambien te social e polí t ico
amer icano to rnaram a d iscr iminação racial ilegal e a m a n i f e s t a ç ã o do preconce i to racial um
tabu social . Nes te contexto , a vários invest igadores tem in te ressado saber se a mudança do
es te reó t ipo social ao nível individual tem acompanhado esta m u d a n ç a a nível macro . Estas
cons iderações são par t icu la rmente importantes para re lações in te r -grupais amigáveis , já
que a mudança de es tereót ipos é considerada um pré- requis i to da redução do preconcei to .
Ut i l izando a técnica clássica de aval iação de es te reó t ipos de Katz e Braly (1933,
c i tado por Devine e Ell iot , 1995), vários inves t igadores conc lu í r am que os es tereót ipos
raciais es tão a desaparecer gradua lmente ao longo dos anos. Dois es tudos (Gilbert , 1951,
c i tado por Devine e Ell iot , 1995; Karlin, C o f f m a n e Wal te r s , 1969, c i tado por Devine e
El l iot , 1995) que rep l icaram o procedimento de Katz e Bra ly , no sent ido de examinar o
grau de es tab i l idade dos es tereót ipos , fo ram denominados , j u n t a m e n t e com o es tudo de
Katz e Bra ly (1933, ci tado por Devine e Ell iot , 1995), a t r i logia de Pr ince ton , porque
aval ia ram os es tereót ipos de três gerações de es tudantes da Un ive r s idade de Pr ince ton .
No es tudo de Katz e Braly (1933, ci tado por Dev ine e El l iot , 1995), os sujei tos
r eceb iam uma lista de 84 adjec t ivos e e ram ins t ru ídos a ler a l is ta e esco lher os adjec t ivos
que lhes pa recessem típicos do grupo alvo. Os su je i tos e ram e n c o r a j a d o s a esco lher tantos
ad jec t ivos quantos fossem necessár ios para descrever o g rupo a lvo adequadamen te e a
acrescentar os seus própr ios adject ivos se necessár io . Era - lhes depois ped ido que
iden t i f i cassem as c inco palavras da lista que lhes pa rec i am mais t íp icas dos m e m b r o s do
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
grupo alvo. O con teúdo do estereótipo de um grupo era def in ido como o con jun to de
adjec t ivos que os su je i tos atr ibuíram mais f r equen temente ao grupo.
Os dois ú l t imos es tudos da trilogia de Pr ince ton usam o mesmo procedimento e o
mesmo con jun to de adjec t ivos .
Os resu l tados dos estudos conduziram a a f i rmações de que os sujei tos , ao longo dos
anos, passam a se lecc ionar conjuntos de traços d i fe ren tes para representar o es tereót ipo de
negro, passam a most ra r menos consis tência nos ad jec t ivos escolhidos e os traços que
escolheram passam a não ter uma conotação tão negat iva. Os resul tados fo rma
in terpre tados c o m o ref lec t indo mudança nos es tereót ipos , no sentido das percepções dos
negros pelos amer icanos se terem tornado mais posi t ivas .
Con tudo , Dev ine e Elliot (1995) acredi tam que exis te a lguma ambiguidade naqui lo
que mudou exac t amen te ao longo do tempo. Estes autores encont raram a lgumas
ambigu idades metodo lóg icas nos estudos da tr i logia de Pr inceton que tornam ténues as
conclusões sobre a pers is tência ou a mudança dos es tereót ipos: Ambigu idade das
ins t ruções dadas ; nenhuma avaliação prévia do nível de preconcei to racial ; e o uso de uma
lista desac tua l izada de adjec t ivos .
Com a d is t inção conceptual entre crenças individuais sobre grupos sociais e
es tereót ipos sobre grupos sociais, introduzida por Devine (1989) , e que espec i f i ca remos na
próxima secção, é dif íc i l saber precisamente o que é que os su je i tos responderam no
es tudos da t r i logia de Princeton - o seu conhec imen to sobre os es tereót ipos ou as suas
crenças pessoais . Uma al ternativa igualmente plausível é que os es tereót ipos se tenham
mant ido es táve is ao longo dos anos (na consis tência e valência , não necessar iamente no
con teúdo espec í f i co ) , enquanto as crenças individuais tenham sofr ido uma revisão.
Devine e El l iot (1995) propõem um es tudo onde apl icam a dis t inção conceptual
entre es te reó t ipo e c rença individual aos estudos c láss icos da tri logia de Pr inceton, com o
intui to de reaval ia r os seus resultados. Só que agora ped i ram aos su je i tos quer as suas
crenças indiv iduais quer os seus estereót ipos, e compara ram o padrão de resul tados dos
es tudos de Pr ince ton com o padrão de resul tados obt ido por si. As ava l iações de
favorab i l idade dos es tudos anteriores revelavam uma clara tendência para se to rnarem mais
posi t ivas com o t empo. Interessantemente , o índice de favorabi l idade no estudo de Devine
e Ell iot (1995) enca ixa bem com a tendência observada nos es tudos anter iores , enquanto o
índice de favorab i l idade nos estereót ipos é semelhan te ao do es tudo inicial de Katz e Braly
(1933. c i tado por Dev ine e Ell iot , 1995).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Na opinião destes autores, esses são indicadores de que os es tudos de Princeton
aval iaram não os es tereót ipos mas as crenças individuais dos es tudantes , que podem ou não
ser congruen tes com o estereót ipo. Estes dados con jugados sugerem, na opinião de Devine
e Ell iot (1995), a exis tência de um es tereót ipo con temporâneo de negro que é al tamente
cons is tente e negat ivo e uma revisão das crenças indiv iduais sobre este grupo, ao longo do
tempo, no sent ido de maior posi t iv idade.
Embora se jam poss íve is cons ideráveis teor izações sobre a ins tabi l idade das
representações mentais de grupos sociais apartir destes resul tados , estes es tudos não
cons t i tuem evidência directa sobre a sua natureza. Aval ia r essas representações menta is de
grupos sociais nos mesmos indivíduos, em dois momen tos d i fe ren tes , permit i r ia validar
empi r icamente a natureza instável destas es t ruturas de conhec imen to , t ra tando, portanto, a
sessão como uma variável intra sujei to, e ca lculando a sobrepos ição entre dois protocolos
do m e s m o sujei to, p roduzidos no mesmo contexto e com poucas semanas de dis tância .
Nesta disser tação vamos faze r uma tentat iva de desenvo lver e apl icar uma
metodologia sa t isfa tór ia para o estudo da ins tabi l idade nas es t ru turas de conhec imento
social.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
1.6 A distinção entre estereótipos e crenças individuais
Até agora nesta disser tação, compi lámos evidência empír ica acumulada que nos
permite prever , de fo rma fundamentada , que as representações sobre grupos sociais
mani fes tem o m e s m o grau de instabi l idade que ev idenc iam as categorias não sociais ,
apesar de, c o m o v imos na secção anterior, até ao momen to , não ter sido aplicada uma
metodologia apropr iada ao seu estudo. O nosso objec t ivo , contudo, é ir para além do teste
desta previsão.
A inc lusão desta secção sobre representações mentais de grupos sociais de natureza
conceptual dis t inta pre tende , exactamente , a judar a fundamen ta r teor icamente previsões
mais espec í f icas a testar .
Devine (1989) no seu modelo sobre processos au tomát icos e controlados no
preconcei to , a rgumenta que os es tereót ipos e as crenças indiv iduais são es t ruturas
cognit ivas dis t in tas do ponto de vista conceptual , e que cada es t rutura representa apenas
parte do conhec imen to de base total que o indiv íduo tem sobre um grupo social espec í f ico .
Devine sugere que um estereót ipo é um conjunto de assoc iações bem aprendidas que liga
um con jun to de caracter ís t icas a um rótulo de um grupo e que, através de um processo de
social ização, todos os indivíduos aprendem uma var iedade de es tereót ipos cul turais . Esta
autora, a rgumenta a inda que as crenças individuais são p ropos ições que são assumidas e
aceites como verdade i ras . Assim, embora , por exemplo , a maior ia dos amer icanos possua
conhec imento sobre o es tereót ipo de negro, apenas uma parte assume rea lmente o
es tereót ipo e acredi ta que é verdadeiro (Devine, 1989).
Devine (1989) , apresenta es tudos que supor tam esta d is t inção conceptual entre
es tereót ipos e c renças individuais . N u m pr imeiro es tudo, a autora (1989) fornece evidência
empír ica que ambos os grupos de sujei tos , com e levado e ba ixo preconcei to , possuem
conhec imento equ iva len te sobre o estereót ipo de negro. N u m a tarefa de resposta l ivre, os
indivíduos e ram ins t ru ídos a listar componentes do es tereót ipo de negro. Os suje i tos eram
informados que os inves t igadores não es tavam in teressados nas suas crenças pessoais sobre
os negros, mas no seu conhec imento sobre o es tereót ipo de negro. Comparações dos traços
gerados para ind iv íduos com elevado e ba ixo preconce i to não suger i ram d i fe renças
s ignif ica t ivas . Supor te indirecto para a suposição que indiv íduos com elevado e ba ixo
preconcei to p o s s u e m di fe ren tes crenças individuais sobre os negros foi obt ido num estudo
subsequente (Devine , 1989, estudo 3). Sob condições que en fa t i zavam o anonimato , os
sujei tos e ram ins t ru ídos a listar os seus pensamentos sobre os negros c o m o grupo social . A
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
anál ise das respostas revelou di ferenças claras entre os su je i tos com e levado e baixo
preconcei to , no sent ido dos indivíduos com maior p reconce i to l is tarem mais traços
negat ivos do que os outros . Des te modo, o modelo de Devine (1989) enfa t iza uma dist inção
conceptual que é essencia l considerar na literatura sobre a ava l i ação de es tereót ipos .
Tal como desc revemos na secção anterior, Dev ine e El l iot (1995) , apl icando a
d is t inção conceptua l entre es tereót ipos e crenças ind iv idua is , in t roduzida por Devine
(1989), aos es tudos da tr i logia clássica de Princeton, r eava l i am a a legação que o
es tereót ipo de negro está a mudar no conteúdo, cons i s tênc ia e valência (Dovidio e
Gaer tner , 1986, c i tado por Dev ine e Ell iot , 1995).
As aval iações fei tas nos estudos da tri logia de Pr ince ton não d is t inguiam entre
es tereót ipos e c renças individuais , mas apenas ped iam aos su je i tos que se leccionassem
traços que pa recessem t ípicos dos negros. Esta a m b i g u i d a d e me todo lóg ica dos estudos
c láss icos que u t i l izavam listas de adject ivos , não permi t ia , na rea l idade , ret irar conclusões
claras sobre a mudança dos estereót ipos. Clar i f icando as ins t ruções fornec idas aos sujei tos
e apresen tando uma lista de t raços adjec t ivos actual izada, D e v i n e e Ell iot (1995) obtiveram
uma aval iação precisa das representações que os su je i tos têm dos negros como grupo
social, o que permit iu conclu i r que o es tereót ipo de negro se m a n t e v e estável ao longo dos
anos; em vez disso, as c renças individuais sobre os negros es tão a sof rer uma revisão. Ou
seja, comparando os dados dos estudos da trilogia de Pr ince ton c o m os dados do es tudo de
Devine e Ell iot (1995) , pode-se concluir que, f ru to de imprec i sões me todo lóg icas (como a
ambigu idade das ins t ruções dadas, a não aval iação do p r econce i t o e o uso de listas de
ad jec t ivos desac tua l izada) , os pr imeiros estudos med i r am, na rea l idade, as crenças
individuais dos su je i tos e não (como era t ip icamente a s sumido) o seu conhec imen to sobre
o es tereót ipo de negro.
O es tudo de Devine e Ell iot (1995) não só rep l ica os resu l tados dos es tudos de
Devine (1989) mas t ambém fornece a pr imeira ev idênc ia d i rec ta que supor ta o aspecto das
crenças indiv iduais do mode lo de Devine. Mais impor tan te , ava l i ando ambas as crenças
individuais e os es te reó t ipos no mesmo estudo, intra su je i to , pe rmi t e val idar empi r icamente
a d is t inção es te reó t ipo /c renças individuais .
Os dados anter iores sugerem uma considerável m u d a n ç a das c renças individuais e
uma maior es tab i l idade dos estereót ipos culturais ao l ongo do t empo . Pode-se argumentar
que um con jun to de fac tores podem contr ibuir para a ma io r pers i s tênc ia dos es tereót ipos e
maior ins tabi l idade das crenças individuais . Os es te reó t ipos m a n t ê m - s e p ro fundamen te
embut idos na nossa cul tura , as imagens es te reo t ipadas pe r s i s t em nos media ( televisão.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
jo rna is ) e os grupos sociais cont inuam a ser representados em papéis sociais t radic ionais . E
provável que se jam, f requentemente , fo rnec idos por inf luência social de agentes
soc ia l izadores e dos media sob a fo rma de descr ições gerais, e, por isso, t enham uma
natureza mais abstracta e sejam mais impermeáve i s ao contexto; ou seja, que a sua
fo rmação e manu tenção resulte de um processo de acul turação que cria, mais
p rovave lmen te , representações com in fo rmação de nível de grupo do que de nível
individual . As crenças individuais são, p rovave lmente , mais baseadas em exemplos
compor t amen ta i s reais tes temunhados , são adquir idas por contacto directo com ins tâncias
do grupo social , o que sugere que os exemplares são mais ex tensamente usados quando são
emi t idos j u l g a m e n t o s sobre grupos sociais baseados em crenças individuais e que estas são
mais pe rmeáve i s aos efe i tos contextuais . É, t ambém, mais provável que os ind iv íduos
es te jam mais envolv idos e mais mot ivados para fazer ju lgamentos precisos quando estes
são baseados nas suas crenças individuais , por serem mais re levantes pessoa lmente , o que
tem sido suger ido que conduz os indivíduos a basearem-se mais na recuperação de
instâncias do que em impressões gerais (Park e colaboradores , 1991). E é mais natural que,
quando os ind iv íduos estão a dar o seu ponto de vista, a t r ibuam mais peso à i n fo rmação
resul tante da sua exper iência directa com ins tâncias do grupo em contex tos recentes ,
max imizando assim a contr ibuição da sua exper iênc ia pessoal , do que ao conhec imen to
t ransmi t ido cu l tu ra lmente (Barsalou, 1989). Ass im, pode-se a rgumentar que as crenças
individuais se sus ten tam mais em exemplares , ou seja , a memór ia de membros do grupo
tem um papel mais determinante nos j u lgamen tos baseados em crenças individuais ; e que
os es te reó t ipos têm uma natureza re la t ivamente mais abstracta.
A ques tão da estabi l idade foi levantada em psicologia social nos domín ios das
ati tudes rac ia is , aí, os modelos dualistas tentam expl icações baseadas não em di fe renças de
represen tação mas em di ferenças de p rocessamento . De facto , dentro de uma visão dual is ta
de p rocessamen to , um enquadramento apropr iado para repensar a ques tão da maior ou
menor ins tab i l idade temporal das crenças indiv iduais e dos es te reó t ipos existe, ta lvez, na
inves t igação sobre persuasão na produção de novas ou na mudança de at i tudes. Quando
apl icados a grupos sociais , os conteúdos cogni t ivos das at i tudes são re fe r idos como
es tereót ipos . Aliás, Johnston e Coolen (1995) propuseram a adopção dessa perspect iva
dualista no es tudo dos estereót ipos e da sua mudança , inves t igando o conhec imen to dos
processos envo lv idos na modi f icação de es tereót ipos exis tentes . D e f e n d e m que a
inves t igação t radic ional sobre mudança de es tereót ipos devia es tender as suas
cons iderações , para além da in formação que in f i rma em si, a outras caracter ís t icas da
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
si tuação de mudança do es tereót ipo, como pistas sobre as fontes de informação
(credibi l idade) , a qua l idade da mensagem, etc.
Na inves t igação actual , se, em vez de adop ta rmos pr incípios episódicos,
fundamen ta rmos as nossas predições numa abordagem dual i s ta de p rocessamen to teremos
que repensar a d i sc repânc ia que postulámos à part ida entre as crenças individuais e os
es tereót ipos de grupos socia is .
Alguns mode los têm s ido muito inf luentes na área da persuasão e mudança de
at i tudes, p ropondo dois processos que ref lect i r iam dois t ipos de p rocessamento de
in fo rmação essencia is nes ta área: s is temático ou centra l e heur ís t ico ou per i fér ico
(Chaiken, 1980, c i tado por Smith e DeCoster , 2000; Pet ty e Cac ioppo , 1981, ci tado por
Smith e DeCoster , 2000) . O processamento s is temático é ca rac te r i zado pela sensibi l idade à
qual idade e valência da mensagem, pela e laboração cogni t iva dos a rgumentos persuasivos;
cor responde a um processamen to mais p ro fundo da i n f o r m a ç ã o e requer mot ivação
(Johnston e Coolen , 1995; Smi th e DeCoster , 2000; Eag ly e Cha iken , 1993). As atitudes
que resul tam do p r o c e s s a m e n t o s is temático são mais pe rs i s ten tes no t empo e mais
resis tentes à con t rape r suasão (Eagly e Chaiken, 1993). No p roces samen to heurís t ico, a
in fo rmação disponível não é toda processada, os j u l g a m e n t o s são baseados em heuríst icas,
usando pistas d i sponíve is para formar um j u l g a m e n t o ráp ido . Incluí , por tan to , um
processamento superf ic ia l e um raciocínio atr ibutivo; inc lu í mecan i smos re lac ionados com
papéis e mot ivações socia is , tal como preservar re lações sociais e iden t idades pessoais
favoráveis , e é a s sumido que têm efei to apenas a t ravés de pis tas per i fé r icas (Eagly e
Chaiken, 1993). As a t i tudes const ruídas heur is t icamente são mais vu lneráve i s à mudança .
Vários es tudos sus ten tam os pressupostos gerais da abordagem do processamento
heur ís t ico /s i s temát ico no domín io da mudança de a t i tude e da in f luênc ia social (Eagly e
Chaiken, 1993, capí tu lo 7 para uma revisão).
Com base nas cons ide rações anteriores, pode-se a rgumen ta r que é mais provável que
os es tereót ipos t enham s ido construídos heur i s t icamente a t ravés de in f luênc ia social de
agentes socia l izadores , cu jos argumentos ins t igam a um processo de comparação
re la t ivamente superf ic ia l e onde func ionam como pistas heur í s t i cas , o pres t íg io do emissor ,
o fac to das mensagens usa rem dados estat íst icos, os consensos (as pessoas acredi tam
normalmente que o consenso ref lecte a real idade) .
Compara t ivamente , a re levância e envolv imento pessoa i s no contac to d i rec to com
indivíduos podem conduz i r a um processamento mais s i s t emát ico da i n fo rmação na
cons t rução de crenças ind iv idua i s sobre grupos sociais . E, nes te sent ido, seria de esperar
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
uma inversão da p red ição sugerida anter iormente; ou seja , seria de esperar uma maior
ins tabi l idade dos es tereót ipos quando comparados com as c renças individuais , mais
resis tentes à m u d a n ç a .
E m b o r a se jam possíveis consideráveis teor izações sobre o uso de exemplares ou de
abst racções nos j u l g a m e n t o s de grupos sociais baseados em crenças individuais ou em
estereót ipos ou sobre o uso de um processamento mais s i s temát ico ou heuríst ico de
in fo rmação na cons t rução destas duas estruturas cogni t ivas , não há evidência directa sobre
a sua na tureza ou grau de estabi l idade.
Nes ta d i sser tação , apl icámos a dis t inção conceptual entre es tereót ipos e crenças
individuais , p ropos ta por Devine (1989), com o intui to de aval iar adequadamente várias
questões r e l ac ionadas com a estabi l idade e sens ib i l idade ao con tex to diferencial destas
duas es t ru turas cogni t ivas , ut i l izando uma metodologia de tes te- re tes te longi tudinal , até
agora não apl icada a esta área de estudo.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.7 Objectivos
Pr imei ro , es tudos exis tentes (Bodenhausen e co laboradores , 1995; Schwarz e Bless,
1992; Coats e Smith, 1999) mostram que os es te reó t ipos de ca tegor ias sociais amplas e de
subt ipos p o d e m ser a l terados se um exemplar e spec í f i co ( m e m b r o da categoria ou do
subt ipo da ca tegor ia) for activado. Segundo , apesar dos es tereót ipos serem
t rad ic iona lmente cons ide rados representações menta i s de g rupos sociais duradouras e
estáveis , a sua medida e expressão estão minadas por um grande número de factores
sensíveis ao contexto . Terceiro , invest igações com ca tegor ias não sociais têm demonst rado ,
conv incen temente , que se compararmos os mesmos ind iv íduos em duas ocas iões d i ferentes
eles ev idenc iam apenas uma precisão modes ta ao f o r n e c e r e m def in ições de concei tos
comuns (Bel lezza , 1984a), recuperarem exemplares de ca tegor ias comuns (Bel lezza,
1984b), c l a s s i f i ca rem instâncias em termos dessas ca tegor i a s (McCloskey e Gluksberg ,
1978) ou ava l ia rem a t ip ical idade das instâncias r e l a t ivamen te ás ca tegor ias de que provêm
(Barsalou, 1987, 1989; Barsalou e Medin , 1986). P r e t e n d e m o s most rar o m e s m o tipo de
ins tabi l idade e de sens ib i l idade ao contexto nas ca tegor ias socia is que Barsalou revelou na
ca tegor ização de ob jec tos não sociais.
Ass im, com base nestas evidências , p r e t endemos , a t ravés de um c o n j u n t o de
exper iências , testar a nossa pr imeira predição, de que o tes te- re tes te das concepções e
descr ições que os m e s m o s indivíduos fazem das ca tegor ias socia is ev idenciará apenas uma
precisão modes ta , pa ra le lamente aos resul tados ob t idos com ca tegor ias não sociais .
Poder -se- ia a rgumentar que os es tereót ipos cu l tura i s são mais abst ractos do que as
ca tegor ias comuns e que, por isso, ser iam mais es táveis . Na verdade , porque o conteúdo
dos es te reó t ipos é f r equen temen te comunicado soc ia lmente , com as pessoas a ouv i r em que
os m e m b r o s de um grupo têm caracter ís t icas espec í f i cas , e essa i n fo rmação tem uma forma
cod i f icada l ingu i s t i camente e abstracta, e porque os es te reó t ipos são auto-perpetuadores®,
pode-se pensar que se jam mais estáveis . Contudo , nos es tudos sobre ca tegor i zação de
objec tos não sociais encon t ram-se grandes níveis de ins tab i l idade em ca tegor ias comuns
mas t ambém em ca tegor ias consideradas mais abs t rac tas , o que, na perspec t iva de
^ D e facto, os es tereót ipos p o d e m conduzi r a um env iesamen to no p r o c e s s a m e n t o de i n fo rmação numa série de formas au to-perpe tuadoras . Os es te reó t ipos podem enviesar a in terpre tação inicial da i n f o r m a ç ã o no sent ido conf i rma tó r io . As a t r ibuições fe i tas sobre c o m p o r t a m e n t o s consistentes e inconsis tentes t a m b é m s e r v e m para conf i rmar o es te reó t ipo . As cor re lações i lusórias en t re i n fo rmação estereotipada e a lvos in f lac iona a p reva lênc ia percebida de in fo rmação consis tente . S o b cond ições apropr iadas a in formação consis tente c o m os e s t e reó t ipos p o d e receber m a i s a t enção e ser melhor r ecordada d o que a i n fo rmação inconsistente. Os es te reó t ipos p o d e m licitar c o m p o r t a m e n t o s conf i rmatór ios , c r iando profec ias au to conf i rmatór ias . Globalmente , estes vários p rocessos d e m o n s t r a m q u e uma das f u n ç õ e s pr incipais dos es tereót ipos é a auto pe rpe tuação (para uma revisão, ver Smi th e M a c k i e , 1995; Hami l t on e She rman , 1994).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^
Barsalou, demons t ra a natureza exemplar is ta das categorias em geral . Por isso, poder íamos
encontrar nos es te reó t ipos os mesmos níveis de ins tabi l idade.
C o m o segundo objec t ivo global destas exper iências , p re tendemos ainda testar a
hipótese que esta ins tabi l idade intra sujei to será mais e levada nas descr ições dos grupos
sociais baseadas nas crenças individuais do que nas descr ições baseadas nos es tereót ipos .
Esta h ipótese é baseada na dis t inção conceptual entre es tereót ipos e crenças individuais
(Devine e El l iot , 1995) e no raciocínio desenvolv ido anter iormente sobre a or igem e
natureza dis t in tas des tas duas estruturas cogni t ivas , que sugerem que as representações das
crenças socia is podem ser mais for temente const i tu ídas por exempla res espec í f icos do que
as represen tações dos estereót ipos. E que, por tanto , os exempla res podem ser usados mais
p roeminen temen te nos ju lgamentos baseados em crenças individuais do que naqueles
baseados em es te reó t ipos .
É de sa l ientar , contudo, dois aspectos:
• Na pe rspec t iva de Barsalou, em que as representações têm todas uma natureza
exempla r i s t a , não seria de esperar esta d i fe renc iação s igni f ica t iva nos níveis de
ins tab i l idade entre crenças individuais e es tereót ipos de grupos sociais.
• Se, em vez de adoptarmos pr incípios episódicos , f u n d a m e n t a r m o s as nossas
p red ições numa abordagem dualista do p rocessamento l igado aos es tereót ipos
(Johns ton e Coolen, 1995) teremos que repensar , tal como desenvo lvemos na
secção anter ior , a discrepância que pos tu lámos à par t ida entre as c renças
ind iv idua is e os estereótipos de grupos sociais , p revendo uma maior
ins tabi l idade dos estereót ipos quando comparados com as crenças individuais ,
mais res is tentes à mudança.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2. Experiência I í
L _J
Dada a cons iderável evidência (descri ta an te r io rmente ) sobre a precisão modesta
que revelam as ca tegor ias não sociais, a pr imeira exper iênc ia foi desenhada para avaliar o
grau de prec isão com que a in formação sobre ca tegor ias socia is pode ser recuperada.
Adic iona lmente , com base nas d i ferenças entre es te reó t ipos cul tura is e crenças individuais
atrás d iscut idas , qu i semos comparar estas duas es t ru turas cogni t ivas e es t imar a sua
precisão. Para obter as representações mentais dos es te reó t ipos , ass im como das crenças
individuais , de grupos sociais , pedimos aos su je i tos para desempenharem as mesmas
tarefas em duas sessões separadas por 15 dias. Usámos vários medidas (descr i tas adiante)
que esperávamos se rem sensíveis a alguns parâmet ros das representações menta i s que os
indiv íduos têm sobre grupos sociais. A nossa h ipótese pr incipal era que o grau de precisão
intra su je i to para as ca tegor ias sociais fosse modes to , à s eme lhança do encon t rado para as
categorias não sociais . E que a instabi l idade que essa p rec i são modes ta re f lec te fosse maior
nas descr ições e j u lgamen tos baseados em crenças ind iv idua i s do que nas descr ições e
j u lgamen tos baseados nos es tereót ipos sociais.
Es t ávamos in teressados ainda em perceber que grau de sens ib i l idade à mudança
temporal man i f e s t avam as medidas de dispersão pe rceb ida e de j u lgamen to da tendência
central . A d ispersão percebida é um parâmetro essencia l do con teúdo das representações
dos grupos sociais , de tal modo que parece in f luenc ia r o grau em que i n fo rmação de nível
de grupo vs. i n fo rmação individual é usada para faze r j u l g a m e n t o s de um novo indivíduo
(Park e co laboradores , 1991); permite pensar na m u d a n ç a de es te reó t ipo de outra maneira ,
na medida em que esta, para além da mudança na t endênc ia central do grupo, pode ser
concebida em termos de mudança na var iabi l idade perceb ida (Park e co laboradores , 1991;
Garc ia -Marques e Mackie , 1999). Qual a pe rmeab i l idade ao contexto destes dois
parâmetros do con teúdo das representações mentais de g rupos socia is , será uma questão a
explorar nestes dados .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
2,1 Experiência I: Método
2.1.1 Pré-teste
O objec t ivo inicial deste pré-teste era testar a e f icác ia das ins t ruções e do material
const ru ído, e spec i f i camen te da tarefa de geração de t raços propos ta , e a duração da
si tuação exper imenta l . À semelhança das experiências de Bel lezza (1984b, 1984c) uti l izou-
se um proced imen to aber to mas aqui para obter descr ições dos es te reó t ipos culturais e das
crenças indiv iduais dos grupos sociais. Neste tipo de tarefa , po rque as pessoas estão a
relatar os con teúdos da memór ia de t rabalho, a in fo rmação obt ida é mais f iável ; as pessoas
descrevem as represen tações das categorias à medida que pensam nelas (Barsalou, 1989).
Os par t ic ipantes fo ram 31 es tudantes da Univers idade de L i sboa que se ofereceram
volunta r iamente para o es tudo, a pedido do exper imentador . Era solici tado aos
par t ic ipantes que ten tassem fornecer descrições dos quatro grupos sociais^ apresentados
(médicos, seguranças de discoteca, programadores de compu tador e p rofessores de liceu).
Pre tendia-se incluir uma amostra variada de grupos sociais alvo. Para além de grupos
consensuais , e sco lhe ram-se grupos com que as pessoas t ivessem di fe ren tes graus de
fami l ia r idade . Os su je i tos eram instruídos a listar carac ter í s t icas , usando traços de
personal idade , ad j ec t ivos ou f rases curtas, que ut i l izar iam para desc rever membros t ípicos
de cada grupo. Pr imei ro , foi- lhes dito que fo rnecessem tantas caracter ís t icas quantas
fossem necessár ias para t ransmit i rem a impressão que as pessoas em geral têm de cada
grupo e para descrever cada grupo adequadamente . Embora t ivesse s ido dada l iberdade aos
sujei tos para fo rnece rem qualquer tipo de caracter ís t icas que lhes v iesse à cabeça, os traços
de persona l idade fo ram os mais f requentemente l is tados, com as caracter ís t icas f ís icas e
outras, como compor t amen tos e circunstâncias , a terem papéis secundár ios . Um exemplo
das ins t ruções dadas é o seguinte:
E s t a m o s in teressados nas característ icas que as pessoas e m geral u t i l izam para descrever m e m b r o s de vários grupos. V a m o s pensar no grupo de indivíduos que têm e m c o m u m a p ro f i s são de médicos . Pedimos- lhe q u e liste aqueles t raços de persona l idade , ad jec t ivos ou f rases cur tas que ache que as pessoas em gera! usar iam para carac ter izar os méd icos c o m o um todo. Ass ina le tantas característ icas quantas achar necessár ias pa ra t ransmit i r a impressão q u e as pessoas em geral têm dos médicos e para os desc rever de f o r m a adequada . N ã o ex i s tem respostas certas ou erradas. Es tamos interessados na sua op in ião sobre o que as pessoas ge ra lmen te pensam acerca dos médicos.
' Dois des tes g rupos sociais , os seguranças de discotecas e os p rog ramadores de c o m p u t a d o r , t êm sido vas tamente util izados, por Ga rc i a -Marques , em outros es tudos sobre estereót ipos (ver, por e x e m p l o , G a re i a -Marq u es e Mackie , 1999).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Ins t ruções idênt icas foram dadas para obter a expressão das crenças individuais dos
par t ic ipantes em re lação a cada grupo, enfa t izando agora as suas opiniões pessoais:
E s t a m o s in te ressados nas característ icas que as pessoas ut i l izam para desc reve r m e m b r o s de vários g rupos . V a m o s pensar no grupo de indivíduos q u e têm em c o m u m a prof i ssão de médicos . Ped imos - lhe que, apartir da lista de traços de pe r sona l idade q u e lhe apresentamos, escolha aque les que caracter izam os médicos c o m o um lodo. Esco lha ap rox imadamen te c inco caracter ís t icas da lista, para transmitir a sua impre s são sobre os médicos e para os desc rever de f o r m a adequada , e escreva-as nas l inhas aba ixo . N ã o ex i s t em respostas cer tas ou er radas , apenas es tamos interessados na sua opinião pessoa l .
Primeiro , o pré- tes te revelou que a resposta ao c o n j u n t o de tarefas incluídas na
exper iência demorava cerca de uma hora e meia , em média , o que levou à exc lusão de um
grupo social com o ob jec t ivo de encurtar o t empo de respos ta . Segundo , apesar da tarefa de
geração de t raços, tal como foi concebida, permit i r l ic i tar a t r ibu ições mais espontâneas por
parte dos ind iv íduos , havia uma objecção. É poss íve l que vár ias descr ições fossem
coinc identes no s ign i f icado , mas que os su je i tos as expressassem com palavras
ob jec t ivamente d i fe ren tes , o que aumentou t r emendamen te o n ú m e r o de termos usados para
caracter izar os grupos sociais . De facto, apart ir das l is tas de caracter ís t icas obtidas,
encont rou-se um grande ni jmero de termos, u t i l izados por d i fe ren tes ou pelos mesmos
par t ic ipantes , que co inc id iam no s ignif icado e que te r iam, por tan to , de ser combinados ,
p roced imento que poder ia introduzir um elevado grau de sub jec t iv idade . Uma al ternativa
era, r ecuperando um procedimento de Katz e Braly (1933 , c i t ado por Dev ine e Elliot,
1995), cr iar uma lista de caracter ís t icas para apresentar aos su je i tos , com base na qual os
suje i tos fa r i am as suas escolhas . Por isso, a tarefa de respos ta l ivre ut i l izada neste pré-teste
acabou por servir para e laborar esta lista. Para cada g rupo socia l , fo ram inic ia lmente
mant idas as carac ter í s t icas mencionadas pelo menos por 4 par t ic ipantes , quer nas
descr ições baseadas em estereót ipos cul turais quer naque la s baseadas nas crenças
individuais . Baseados nesta lista inicial, as 9 carac ter í s t icas mais f r e q u e n t e m e n t e geradas
(quer nos es te reó t ipos sociais quer nas crenças ind iv idua is ) para cada grupo social foram
se lecc ionadas , exc lu indo aquelas cujos s ignif icados se s o b r e p o n h a m . Em todos os casos em
que foi poss ível , in t roduz i ram-se ainda os an tónimos das carac ter í s t icas j á inc lu ídas na
lista, to ta l izando 43 caracter ís t icas . Porque, nas suas desc r i ções l ivres , os sujei tos
ass inalaram, quase sempre , t raços de personal idade , a l ista c o m p o s t a incluiu apenas este
tipo de carac ter ís t icas .
Ainda de in te resse era o grau em que d i f e ren tes su je i tos ge ravam as mesmas
caracter ís t icas por ca tegor ia social. Para obter uma med ida do acordo entre su je i tos , os
sujei tos fo ram empare lhados aleator iamente. As p o n t u a ç õ e s que re f lec t i am o grau de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
s o b r e p o s i ç ã o pa ra os do i s ind iv íduos de cada par f o r a m depo i s ca l cu ladas para cada grupo
social , e d e n t r o de s t e , para os es tereót ipos soc ia i s e para as c r enças ind iv idua is . C o m o
espe rado , o a c o r d o en t re su je i tos foi super ior para as d e s c r i ç õ e s baseadas em es t e reó t ipos
do que para a q u e l a s ba seadas nas c renças ind iv idua i s , apesa r dos n íve is de acordo m é d i o s
ent re pa re s de s u j e i t o s não terem u l t rapassado .23' (o que se deveu , p rovave lmen te , à
g rande q u a n t i d a d e e va r i edade de ca rac te r í s t i cas ge radas pe los ind iv íduos na t a re fa de
respos ta l iv re , de q u e f a l ámos an te r io rmente ) . Essa d i f e r e n ç a foi m e n o s acen tuada para o
g rupo de P r o f e s s o r e s de liceu do que para os res tan tes t rês g rupos , r azão por que , dada a
nece s s idade de e n c u r t a r o t empo de respos ta , es te foi o g rupo exc lu ído . U m a das
p r e o c u p a ç õ e s na s e l ecção dos grupos soc ia is foi e x a c t a m e n t e esco lher g rupos c o m
es t e r eó t ipos c u l t u r a i s consensua i s for tes m a s c o m os qua i s as pessoas m a n t i v e s s e m
con tac to d i r ec to c o m exempla re s e spec í f i cos , o que , se supunha , ter ia impac to nas c r enças
ind iv idua i s d e s e n v o l v i d a s .
2.1.2 Participantes e Desenho experimental
A r e c o l h a de dados da presen te expe r i ênc i a u t i l i zou um grupo d i f e r e n t e de
pa r t i c ipan t e s do u t i l i z ado no pré- tes te .
Os p a r t i c i p a n t e s fo ram 68 es tudan tes da U n i v e r s i d a d e de L i sboa que ace i t a r am
par t i c ipa r v o l u n t a r i a m e n t e no es tudo a ped ido do e x p e r i m e n t a d o r .
O d e s e n h o expe r imen ta l bás ico desta e x p e r i ê n c i a foi 2 o r d e n s de ap re sen tação das
c renças ( E s t e r e ó t i p o s - C r e n ç a s ind iv idua i s ou C r e n ç a s i nd iv idua i s -Es t e r eó t i pos ) x 2 ses sões
(Sessão 1 v e r s u s S e s s ã o 2) x 3 grupos socia is ( M é d i c o s ve r sus Segu ranças de d i sco teca
versus P r o g r a m a d o r e s de compu tador ) x 2 t ipos de c r enças (Es t e r eó t ipos versus C r e n ç a s
i nd iv idua i s ) . A p e n a s o fac tor o rdem de a p r e s e n t a ç ã o das c r enças era um fac to r en t re
su je i tos .
2.1.3 Material
T o d o s os i n d i v í d u o s r e sponde ram quer ás qua t ro t a r e fa s de ava l i ação de e s t e r eó t ipos
que r ás q u a t r o t a r e f a s de ava l iação de c renças i n d i v i d u a i s , pa ra cada u m dos três g rupos
soc ia i s i n c l u í d o s (méd icos , seguranças de d i s co t eca e p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r ) .
M e t a d e dos p a r t i c i p a n t e s comple tou a ava l i ação dos e s t e r eó t ipos p r ime i ro e depo i s a
ava l i ação das c r e n ç a s ind iv idua is , a outra m e t a d e c o m p l e t o u as t a r e f a s na o r d e m inversa .
Os s u j e i t o s f o r a m a l ea to r i amen te d i s t r ibu ídos po r u m a das duas o rdens . U m a m e d i d a de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
fami l ia r idade subject iva com cada grupo social foi adminis t rada no f im da sessão a todos
os par t ic ipantes .
As quatro tarefas que foram dis t r ibuídas pelos par t ic ipantes , quer na ava l iação dos
es tereót ipos sociais quer na aval iação das crenças indiv iduais sobre cada grupo social,
fo ram as seguintes:
Na avaliação do estereótipo. Em todas as tarefas de aval iação dos es tereót ipos , as
ins t ruções foram e laboradas com o intuito de e l iminar a ambigu idade que Dev ine e Elliot
(1995) demons t ra ram estar presente nas ins t ruções de Katz e Braly (1933, c i tado por
Devine e Ell iot , 1995). Af i rmava-se expl ic i tamente que es távamos in te ressados no
conhec imento que os par t ic ipantes t inham sobre o es te reó t ipo de um de t e rminado grupo
social , ou seja , na impressão que as pessoas em geral têm sobre esse grupo social .
• Geração de traços. Talvez até devido ao ob jec t ivo do t raba lho de Katz e Braly
(1933, ci tado por Devine e Ell iot , 1995), que es tavam in te ressados no grau de
acordo que os es tudantes de Princeton ev idenc iavam ao a t r ibu í rem traços a
vários grupos raciais , os es tereót ipos fo ram no rma lmen te ava l iados ao nível
consensual . Por isso, as es t ra tégias de medida dos es te reó t ipos e r am muitas
vezes baseadas na apresentação aos su je i tos de l istas de carac te r í s t icas . Nesta
exper iência , u t i l izou-se a tarefa c láss ica de Bra ly e Katz (1933, c i t ado por
Devine e El l iot , 1995) revista , no sent ido de e laborar ins t ruções que
es tabe lecessem c laramente a dis t inção entre es te reó t ipos sociais e crenças
individuais e no sent ido de apresentar uma lista ac tua l izada que incluísse
caracter ís t icas for temente suger idas , pela ta refa de respos ta l ivre u t i l i zada no
pré-teste, como fazendo parte do es tereót ipo social e das c renças individuais
con temporâneos de cada grupo social . Essas carac ter í s t icas f o r a m ordenadas
a lea tor iamente . As ins t ruções apresentadas nes ta ta refa f o r a m as seguin tes :
Estamos in teressados nas caracter ís t icas que as pessoas em geral u t i l izam para desc reve r m e m b r o s de vár ios grupos . V a m o s pensar no grupo de ind iv íduos que t êm e m c o m u m a prof i ssão de médicos . Pedimos- lhe que, apartir da lista de t raços de pe r sona l idade q u e lhe apresentamos , esco lha aque les que ache que as pessoas e m geral usa r i am para carac ter izar os médicos c o m o um todo. Escolha ap rox imadamen te c inco caracter ís t icas da lista, para transmitir a impressão que as pessoas em geral têm dos méd icos e para os desc reve r de fo rma adequada , e escreva-as nas l inhas abaixo. N ã o exis tem respos tas cer tas ou er radas . Es t amos in teressados na sua opinião sobre o que as pessoas ge r a lmen te p e n s a m ace rca dos médicos .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^
• Es t imat iva da percentagem de membros da população com os traços. Depois dos
par t ic ipantes se lecc ionarem os traços de pe r sona l idade apart i r da lista
apresentada , fo i - lhes pedido que vol tassem ao iníc io e que, para cada
carac ter í s t ica , indicassem a percentagem do grupo a que a caracter ís t ica se
apl icava (0% a 100%). Ao obter uma descr ição dos es te reó t ipos sociais , tentou-
se levar em conta a noção de genera l ização que o ind iv íduo atribui ás
carac ter í s t icas que escolheu para def ini r os grupos espec í f i cos . Por isso, foi
incluída uma medida que determina a p reva lênc ia percebida de cada
carac ter í s t ica no grupo social . O anonimato e a necess idade de resposta s inceras
fo ram enfa t i zados ao longo destas tarefas .
• Ava l iação de d imensões mais f requentes dos grupos em escalas bipolares . Outra
es t ra tégia de medida dos estereót ipos e da sua m u d a n ç a t rad ic iona lmente usada
incluí as esca las de ad jec t ivos bipolares, que en fa t i zam d imensões par t iculares .
Nes ta exper iênc ia , foram avaliadas 13 d imensões , u t i l i zando escalas de aval iação
de 9 pontos , em que os pólos difer iam s ign i f i ca t ivamente em dese jabi l idade . As
13 d imensões escolhidas foram as cons ideradas c o m o as mais per t inentes para
os três g rupos sociais incluídos na exper iência , não só por serem as d imensões
usadas mais f r equen temen te para descrever os es te reó t ipos dos grupos sociais ,
por tan to mais sa turadas nos estereót ipos, mas t a m b é m por poderem representar
expec ta t ivas de traços desejáveis e indese jáve is para cada um dos grupos sociais .
• Iden t i f i cação de uma distr ibuição. Para aval iar os pa râme t ros de var iabi l idade
das represen tações mentais dos es tereót ipos dos g rupos sociais foi apresentada
aos par t ic ipantes uma matriz de 25 d i s t r ibu ições que combinava
s i s t emat i camente cinco níveis de tendência central e c inco níveis de d ispersão (a
tarefa da matr iz de distr ibuição). Outras inves t igações (Garc ia -Marques e
Mackie , 1999) já t inham provado que esta tarefa era f ac i lmen te compreend ida
pelos par t ic ipantes e não era difícil de comple tar . Foi ped ido aos par t ic ipantes
que se lecc ionassem a dis tr ibuição que cons ide ravam represen ta r melhor cada um
dos três g rupos sociais como um todo. Para cada grupo , as dis t r ibuições
apresen tadas em matriz diziam respei to à d i m e n s ã o mais consensua lmente
incluída na descr ição do estereótipo, como d o c u m e n t a d o no pré-teste (os
médicos f o r a m f requentemente vistos como in te l igen tes , os seguranças de
d isco teca c o m o ant ipát icos e os p rog ramadores de computador como
in te l igentes) . Espe rávamos que a matriz de d i s t r ibu ições fosse uma medida de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
d i spe r são , sens íve l ao acha tamen to r e l a t ivo da d i s t r i bu i ção , e de tendência
cen t ra l do e s t e r e ó t i p o e da sua m u d a n ç a .
Na avaliação das crenças individuais. As i n s t r u ç õ e s para ava l ia r as crenças
ind iv idua i s f o r a m e l a b o r a d a s para tornar c laro que e s t á v a m o s in t e re s sados nas crenças
ind iv idua i s dos s u j e i t o s sobre cada grupo socia l . Ou t r a vez a n o s s a p r e o c u p a ç ã o foi não
haver a m b i g u i d a d e sobre o q u e es tava a ser p e d i d o aos pa r t i c i pan t e s . As qua t ro tarefas
ap re sen t adas f o r a m aque l a s usadas na ava l i ação dos e s t e r e ó t i p o s soc ia is , acen tuando
apenas q u e agora e s t ava e m causa aqui lo que os p a r t i c i p a n t e s a c r e d i t a v a m pes soa lmen te
que c a r a c t e r i z a v a cada g rupo .
• J u l g a m e n t o de f ami l i a r idade com cada g rupo soc ia l . N o f ina l , foi p e d i d o aos
p a r t i c i p a n t e s que ind icas sem, numa esca la de a v a l i a ç ã o de 9 pon tos , o grau em
q u e s e n t i a m fami l i a r idade com cada g r u p o soc ia l ap re sen t ado . O grau de
f a m i l i a r i d a d e poder i a co r r e sponde r a uma m e d i d a do c o n t a c t o m í n i m o regular e
d i r ec to c o m m e m b r o s do grupo e, p o r q u e se s u p u n h a q u e a e x p e r i ê n c i a directa
c o m e x e m p l a r e s teria impac to nas c renças i n d i v i d u a i s , pode r - s e - i a e spe ra r maior
s e n s i b i l i d a d e ao con tex to nas p e r c e p ç õ e s p e s s o a i s dos g rupos ava l i ados como
ma i s f a m i l i a r e s e u m a acen tuação da d i f e r e n ç a , q u a n t o á e s t ab i l idade , entre
e s t e r e ó t i p o s soc ia is e c renças ind iv idua i s s o b r e e s s e s g r u p o s .
2.1.4 Procedimento
T o d o s os su j e i t o s f o r a m tes tados duas vezes e n q u a n t o g r u p o , c o m a s e g u n d a sessão
a decor re r c o m u m a d i s t ânc ia de 15 dias da p r ime i ra ses são . O p r o c e d i m e n t o fo i o m e s m o
nas duas s e s sões e f o r a m usadas as m e s m a s i n s t ruções . Foi d a d o aos pa r t i c ipan t e s um
cade rno c o m o ma te r i a l e as ins t ruções . As i n s t r u ç õ e s ge ra i s f o r a m c u i d a d o s a m e n t e
e l abo radas para m i n i m i z a r p r e o c u p a ç õ e s r e l ac ionadas c o m a c o n v e n i ê n c i a soc ia l ; todos os
pa r t i c ipan tes c o m p l e t a r a m quer as ava l iações dos e s t e r e ó t i p o s que r as a v a l i a ç õ e s das
c renças i n d i v i d u a i s sob cond ições de anon ima to . C o n t u d o , pa ra pode r i d e n t i f i c a r as
r e spos tas do m e s m o ind iv íduo ás duas sessões , p e d i u - s e a c a d a p a r t i c i p a n t e q u e ind icasse ,
no c a d e r n o de r e spos t a s , a sua data de an ive r sá r io e a da sua mãe , a s s e g u r a n d o o
anon ima to . Os t rês g r u p o s soc ia i s fo ram a p r e s e n t a d o s n u m só c a d e r n o , s e m p r e na m e s m a
ordem: m é d i c o s , s e g u r a n ç a s de d iscoteca e p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r . M e t a d e dos
pa r t i c ipan tes r e s p o n d e u ás t a re fas na seguin te o rdem : " g e r a ç ã o de t r a ç o s " e " e s t i m a t i v a da
p e r c e n t a g e m de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o c o m os t r a ç o s " c o m b a s e no e s t e r eó t ipo socia l de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^
médico e, a s egu i r , c o m base nas crenças ind iv idua i s sob re os méd icos ; "ava l i ação de
d imensões m a i s f r e q u e n t e s dos grupos em esca l a s b i p o l a r e s " com base no es t e reó t ipo
social de m é d i c o e, a seguir , com base nas c r enças i nd iv idua i s sobre os méd icos ;
" i den t i f i c ação de u m a d i s t r ibu ição" com base no e s t e r e ó t i p o socia l de méd ico e, a segu i r ,
com base nas c r e n ç a s ind iv idua is sobre os m é d i c o s . D e p o i s , r e sponde ram ás m e s m a s
ta refas pa ra os s e g u r a n ç a s de discotecas e para os p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r e
f i n a l m e n t e c o m p l e t a r a m a tarefa de " Ju lgamen to de f a m i l i a r i d a d e com cada g rupo soc ia l " .
Nas duas s e s s õ e s , as t a r e fa s e os g rupos sociais f o r a m a p r e s e n t a d o s exac tamen te na m e s m a
o rdem. A ou t r a m e t a d e dos par t ic ipantes c o m p l e t a r a m as t a r e fa s na o rdem inver sa ,
p r imei ro r e s p o n d e r a m à aval iação das c renças i nd iv idua i s e depo is à ava l iação dos
es te reó t ipos .
2.1.5 Medidas dependentes
As m e d i d a s d e p e n d e n t e s deste es tudo f o r a m :
a) O nível de acordo intra suje i to em re l ação aos t raços se lecc ionados , da l is ta
in ic ia l , na sessão 1 e na sessão 2, c a l c u l a d o a t ravés da cor re lação de e l e m e n t o
c o m u m (Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c) .
b) O nível de acordo intra su je i to r e l a t i v a m e n t e ás e s t ima t ivas pe r cen tua i s
a t r i b u í d a s a cada t raço se lecc ionado e m a m b a s as sessões .
c) O nível de acordo ent re suje i tos r e l a t i v a m e n t e aos t raços esco lh idos da l is ta
in ic ia l , c a l cu l ado a t ravés de uma c o r r e l a ç ã o de e l e m e n t o c o m u m para cada par
de s u j e i t o s empare lhados a l ea to r i amente por ses são .
d) O nível de acordo intra suje i to r e l a t i v a m e n t e ás a v a l i a ç õ e s das d i m e n s õ e s ma i s
f r e q u e n t e s dos grupos (em escalas b i p o l a r e s de 9 p o n t o s ) p roduz idas na ses são
1 e na s e s são 2. e) A a v a l i a ç ã o da d ispersão pe rceb ida e da t endênc i a cen t ra l pe rceb ida apar t i r da
ma t r i z de d i s t r ibu ições . ^
f ) O nível de acordo intra su je i to r e l a t i v a m e n t e à d i s p e r s ã o pe rceb ida e à
t e n d ê n c i a cent ra l percebida .
N o t a : T o d a s as med idas dependen tes f o r a m c a l c u l a d a s po r g r u p o social e, den t ro de
cada g rupo , po r t ipo de c rença (es tereót ipo vs. c r ença i nd iv idua l ) , q u a n d o ass im o ex ig i am.
r r ' o : - , . X-. '
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.2 Experiência I: Resultados e Discussão
Anál i ses pre l iminares testaram efe i tos de o rdem das aval iações dos estereót ipos
sociais e das crenças individuais . Em a lgumas destas anál ises fo ram encont rados efe i tos de
ordem; assim, nem sempre os resul tados apresentados adiante puderam ser anal i sados sem
cons ideração da variável ordem.
Geração de traços e Estimativa da percentagem de membros da população com os traços
• N ú m e r o de atr ibutos
Foi e fec tuada uma anál ise de var iância a quatro fac tores sobre o número médio de
a t r ibutos gerados . Os fac tores fo ram a ordem das c renças (CRI-Es te reó t ipos vs.
Es te reó t ipos-CRI) , a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), o grupo social (médicos , seguranças de
d iscoteca , p rogramadores de computador ) , e o t ipo de crença (es te reót ipos vs. crenças
individuais) . Apenas a ordem das crenças era um fac tor entre su je i tos . O número médio de
atr ibutos escolh idos para cada condição de resposta nas duas sessões é apresen tado na
Tabela 1 (ver coluna 1 e 2 da tabela) . Da anál ise de var iância emerge um efei to
s igni f ica t ivo da variável sessão (F ( l , 66 )=23 ,35 ; p=.000) , no sent ido em que foram
s i s temat icamente gerados mais atributos na sessão 1 (M=4,96) do que na sessão 2
(M=4,61) . Bel lezza (1984c) encontrou o m e s m o efe i to e avança com a exp l i cação que os
su je i tos , na sessão 2, podem não ter apenas tentado descrever os g rupos , mas podem
também ter tentado recordar as suas descr ições de há quinze dias . Es ta h ipó tese aponta
para o fac to de os sujei tos poderem ter gasto t empo a tentar lembrar as descr ições que
gera ram na sessão 1 sem terem conseguido, m e s m o es tando ins t ru ídos apenas para
descrever os grupos. Barsalou e colaboradores (1987, c i tado por Barsa lou , 1989) também
observou um decrésc imo do número de propr iedades da sessão 1 para a sessão 2. Estes
dados em con jun to poder iam conduzi r à in te rpre tação de que a ins tab i l idade intra sujei to
re f lec te esquec imento . Out ros resul tados a rgumentam, con tudo , contra es ta in terpre tação;
não é claro como é que o esquec imento poder ia melhorar o aco rdo entre su je i tos da sessão
1 para a sessão 2 (Bel lezza, 1984c; Barsalou e co laboradores , 1987, c i t ado por Barsalou,
1989). Uma in terpre tação al ternat iva é que os su je i tos c o n v i r j a m re la t ivamente a
i n fo rmação de cerne ao longo das sessões. Na sessão 1, os su je i tos p o d e m recuperar e
relatar in fo rmação algo i r re levante , no processo de descobr i r i n f o r m a ç ã o que percebam
como re levante . Esta exper iênc ia inicial pode levar os su je i tos a serem mais e f ic ien tes na
sessão 2, recuperando apenas in formação re levante . Na m e d i d a em que, in formação
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
re levante é p a r t i l h a d a en t re ind iv íduos e a i n f o r m a ç ã o i r r e l evan te não é, o acordo deverá
aumenta r ao l o n g o das duas sessões .
E n c o n t r a r a m - s e , na p resen te exper iênc ia , ou t ros e f e i t o s s i gn i f i ca t i vos adic ionais .
Foram g e r a d o s s i g n i f i c a t i v a m e n t e mais a t r ibutos ( F ( 2 , 1 3 2 ) = 1 0 , 6 2 ; p= .000) no grupo do
médicos ( M = 4 , 9 4 ) do que nos res tan tes grupos , ( M = 4 , 7 1 ) pa ra os s e g u r a n ç a s de d iscoteca
e (M=4 ,70) pa ra os p r o g r a m a d o r e s de compu tador . O g r u p o d o s m é d i c o s , c o m o ve remos
adiante , foi t a m b é m aque l e que os par t ic ipantes j u l g a r a m c o m o s i g n i f i c a t i v a m e n t e mais
fami l ia r , o que p o d e ind ica r que os ind iv íduos têm u m a g rande q u a n t i d a d e de i n f o r m a ç ã o
em m e m ó r i a sob re g r u p o s que conhecem melhor e, po r t an to , p o d e m p roduz i r mais a t r ibutos
quando p r o d u z e m d e s c r i ç õ e s dos mesmos .
Sa l ien ta -se , a inda , u m ou t ro e fe i to s ign i f ica t ivo , o do t ipo de c r ença . H o u v e uma d i f e rença
s i s temát ica no n ú m e r o méd io de t raços gerados q u a n d o c o n s i d e r á m o s o t ipo de crença que
es tava a ser a v a l i a d o (es te reó t ipos vs. c renças i nd iv idua i s ) , ( F ( l , 6 6 ) = 9 . 5 0 ; p=.003) . Os
su je i tos g e r a r a m u m n ú m e r o significativamente maior de traços durante a avaliação dos
estereótipos (M=4,86) do que durante a avaliação das crenças individuais (M=4.71), à
semelhança dos resultados de Devine e Elliot (1995).
T a b e l a 1: M é d i a s e v a l o r e s d e c o r r e l a ç ã o p a r a o s g r u p o s s o c i a i s n a s c o n d i ç õ e s e s t e r e ó t i p o s e c r e n ç a s
Grupos Número médio de Acordo intra Acordo entre
sociais Crenças traços qerados suieito suieitos
Sessão 1 • : Sessão'2. .
Individuais 5,04 4.71 .46 .28 Médicos
.37 Estereótipos 5,25 4,76 .49 .37
Seguranças de Individuais 4,84 4,41 .56 .33 discoteca
.48 Estereótipos 5,00 4,57 .55 .48
Programadores Individuais 4.72 4,53 .53 .39 de computador
4,68 .48 .34 Estereótipos 4,88 4,68 .48 .34
• A c o r d o in t ra su je i tos
Para d e t e r m i n a r o grau de sobrepos ição dos a t r ibu tos s e l e c c i o n a d o s da l ista por cada
su je i to d u r a n t e as s e s s õ e s foi usada a co r re lação de e l e m e n t o c o m u m (Bel lezza , 1984a,
1984b, 1984c) . P a r a ca lcu la r es te valor para cada g r u p o soc ia l , e den t ro de cada g rupo
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
social para cada tipo de crença (estereót ipos e c renças individuais) , por cada sujeito, o
número de atr ibutos comuns em ambas as sessões foi d iv id ido pela raiz quadrada do
produto entre o número total de atr ibutos escolh idos na sessão 1 e o número total de
a t r ibutos escolh idos na sessão 2 (a média geométr ica) . Esta medida de corre lação indica a
p roporção de sobrepos ição e varia entre valores de O e 1. Os níveis médios de acordo por
cada condição de resposta são também apresentados na Tabe la 1 (ver co luna 3 da tabela).
Os at r ibutos fo ram cons iderados os mesmos independen temen te dos erros de or tograf ia ou
de d i fe renças na forma s ingular vs. plural .
C o m o esperado, g lobalmente , os valores do acordo intra su je i to obt idos na tarefa de
geração de t raços para ca tegor ias sociais es tavam ao m e s m o nível dos valores obt idos por
autores que inves t igaram as categorias não sociais com o m e s m o parad igma experimental
(para uma revisão ver Barsalou e Medin , 1986; Barsa lou , 1987; Barsa lou , 1989). Indicam
que exis te uma correspondência moderada entre os a t r ibutos das ca tegor ias sociais
escolh idos nas duas sessões pelos mesmos suje i tos . As pon tuações médias de sobreposição
(ver Tabe la 1, coluna 3) var iaram entre .46 e .56, s ign i f i cando que o número de atributos
comuns produz idos por um m e s m o indiv íduos nas duas sessões não se a fas ta dos 50%.
Estes níveis médios de acordo não deixam dúvidas sobre a ins tabi l idade que as
represen tações de categorias sociais mani fes tam e acen tuando as semelhanças que a
natureza e uso dos es tereót ipos sociais e das crenças ind iv idua i s têm com o processo de
ca tegor ização de objec tos não sociais.
Uma análise de var iância a três fac tores (com o p r imei ro factor a ser a o rdem das
crenças , o segundo a ser o grupo social, e o terceiro a ser o t ipo de crença) most rou que, ao
contrár io do que prevíamos , não havia e fe i to s ign i f ica t ivo do t ipo de c rença aval iada, ou
seja, os es tereót ipos não revelaram mais es tabi l idade do que as crenças indiv iduais . No
entanto , a emergênc ia de um efei to de in teracção com a o rdem em que es tas c renças foram
aval iadas (F ( l , 66 )=3 ,90 ; p=.052) demons t rou que os es te reó t ipos só reve lam maior
es tab i l idade do que as crenças individuais quando são ava l iados em pr imei ro lugar,
r espec t ivamente (.57) e (.54). Quando as crenças ind iv idua i s são aval iadas pr imeiro , o
padrão inver te -se e estas revelam mais es tabi l idade ( .49) do que os es te reó t ipos (.44).
C o m o é visível no gráf ico 1, o acordo foi sempre maior para o t ipo de crença que se
avaliou em pr imei ro lugar.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
0.60
0.58
0.56
0.54
0.52
0.50
0.48
0.46
0.44
0.42
ORÁF ICO 1
l n t « r 3 C ç ã o o r d e m x t i p o d e c r e n ç â
FC1.66>=3.00: p<.0526
C R I - e s t e r e ó t i p o e s t e r é o t i p o - C R I
- o - C R E N Ç A
i n d i v i d u a l
o - C R E N Ç A
es te re ó t i p o
O R D E M
De qua lquer modo , avaliar pr imeiro os es tereót ipos conduziu sempre a um acordo
maior quer para os es tereót ipos quer para as crenças individuais , do que avaliar p r imei ro as
crenças ind iv idua is . É possível pensar numa expl icação para este resul tado: A de que o
pr imeiro t ipo de crença avaliado afecta o segundo t ipo de crença, por isso quando os
es tereót ipos são aval iados pr imeiro as crenças individuais são mais es táveis e quando as
crenças ind iv idua is são avaliadas primeiro os es tereót ipos são menos es táveis .
Esta anál ise de variância evidenciou t ambém que o acordo intra su je i to varia
s ign i f i ca t ivamente c o m o grupo social (F(2 ,132)=4,60; p=.011) . Os níveis de acordo
variaram ent re .46 e .55, correspondendo o valor mais baixo e mais e levado ,
respec t ivamente , ao grupo dos médicos e dos seguranças de discoteca. C o n j u g a n d o es tes
resul tados com os resul tados dos ju lgamentos de fami l ia r idade em relação aos quais os três
grupos t a m b é m var ia ram s ignif icat ivamente (F(2 ,132)=41 ,75 ; p=.000) , ver i f ica-se que o
grupo mais fami l ia r , os médicos (M=6,33) , obteve o valor de precisão intra su je i to mais
baixo ( .46) e o menos famil iar , os seguranças de discoteca (M=3,85) , obteve o valor de
precisão intra su je i to mais e levado (.55). O m e s m o padrão de resul tados foi obt ido por
Bel lezza (1984b) . Ta lvez isto refl icta o facto dos suje i tos terem uma grande quant idade de
in fo rmação em memór ia sobre grupos que conhecem melhor . A grande var iedade de
exemplares d i f e ren tes que as pessoas conhecem e expe r imen tam, em grupos sociais com
que con tac tam mais , diminui a sua es tabi l idade (Barsa lou, 1991). T a m b é m , ta lvez os
suje i tos adqu i r i s sem mais faci lmente nova i n f o r m a ç ã o ou renovassem, mais
p rovave lmente , i n f o r m a ç ã o antiga em relação a estes grupos nos dias de in tervalo entre as
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
duas sessões. De qualquer modo, isso não teve, como se poder ia esperar , um maior impacto
nas crenças individuais desses grupos mais fami l ia res e uma acentuação da diferença,
quanto à es tabi l idade, entre es tereót ipos sociais e as c renças indiv iduais .
Para calcular o acordo intra suje i to re la t ivamente ás es t imat ivas percentuais
a t r ibuídas a cada t raço gerado nas duas sessões d iv id iu-se o número de est imativas
percentuais coincidentes em ambas as sessões pelo número total de traços sobrepostos nas
duas sessões . Uma anál ise de var iância a três fac tores (ordem das crenças x grupo social x
tipo de crença) evidenciou resul tados que vão de encon t ro ás nossas predições , na medida
em que o t ipo de crenças se revelou um factor s ign i f ica t ivo ( F ( l , 6 6 ) = 5 , 0 6 ; p=.027) . O
acordo intra sujei to , para as es t imat ivas percentuais de cada t raço, foi s igni f ica t ivamente
maior quando se avaliou os es tereót ipos sociais ( .37) do que quando se ava l ia ram as
crenças individuais (.27), reve lando a maior es tab i l idade que se esperava encont rar nas
pr imeiras representações compara t ivamente com as segundas . Contudo , este e fe i to tem que
ser qua l i f i cado pelo efe i to de in teracção s igni f ica t ivo que surgiu entre a var iável tipo de
crença e grupo social (F(2 ,132)=4,02; p=.02) . Na rea l idade , a in te racção f icou a dever-se
ao fac to da d i ferença entre es tereót ipos sociais e c renças ind iv idua i s ser bas tante mais
acentuada no grupo dos p rogramadores de computador do que nos outros dois grupos . Este
grupo, numa análise de contras tes , d is t inguiu-se s ign i f i ca t i vamen te dos res tantes dois
grupos ( F ( l , 6 6 ) = l l , 6 8 ; p=.001) .
• Acordo entre su je i tos
As medidas apresentadas até agora re f lec tem o grau em que uma pessoa especí f ica
escolhe os mesmos atr ibutos para uma categoria em duas sessões separadas por 15 dias.
T a m b é m com interesse, contudo , é o grau em que d i fe ren tes su je i tos e sco lhem os mesmos
atr ibutos para uma categor ia . Para de terminar o grau de acordo entre su je i tos , no que
respei ta ás várias condições de resposta , os sujei tos f o r a m e m p a r e l h a d o s a lea tor iamente e
uma cor re lação de e lemento comum foi ca lculada para cada par, e m cada condição . Para os
34 par t ic ipantes na condição ordem CRI-Es te reó t ipos , fo ram f o r m a d o s 17 pares apar t i r dos
dados da sessão 1 e 17 pares d i ferentes apart ir dos dados da sessão 2. O mesmo
proced imento foi usado para os 34 suje i tos na condição o rdem Es te reó t ipos -CRL Os níveis
médios de acordo entre su je i tos encont ram-se na Tabe la 1 (ver co luna 4 da tabela) .
Foi e fec tuada uma anál ise de variância a 4 fac to res ( o rdem das crenças , sessão,
grupo social e tipo de crença) . Apenas as variáveis g rupo socia l e t ipo de c rença eram
variáveis intra par de suje i tos . Uma fonte s igni f ica t iva de va r i ação foi o t ipo de crença
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
(F ( l ,64 )= 13,24; p= .000) . Como previsto ver i f i cou-se um consenso entre sujei tos
s ign i f ica t ivamente maior quanto aos es tereót ipos ( .40) do que quanto ás crenças
individuais ( .33) , por tan to os sujei tos descreveram os es te reó t ipos sociais de forma mais
semelhante do que as crenças individuais que têm sobre os g rupos . Uma interacção
s ignif icat iva en t re g rupo social x tipo de crença (F(2 ,128)=9 ,68 ; p= .000) revelou, contudo,
que o maior c o n s e n s o entre sujei tos sobre os es tereót ipos sociais só ocorreu nos médicos e
nos seguranças de d isco teca . Confo rme demonst rou a anál ise de cont ras tes (F( 1,64)=17,83;
p=.000), o g rupo de p rogramadores de computador d i s t inguiu-se s ign i f i ca t ivamente dos
restantes dois , r eve l ando um padrão inverso. Uma in te rpre tação poss íve l é a de que talvez
as pessoas não sa ibam bem ou não tenham bem conso l idado o es tereót ipo social de
programador de compu tado r ; concordante com esta in te rpre tação é o fac to de o valor
médio de acordo ent re sujei tos para o es tereót ipo social de p rog ramador de computador
(.34) ter sido o mais ba ixo dos três grupos es tudados .
Esta aná l i se de variância evidenciou, ainda, uma in te racção s igni f ica t iva entre as
variáveis o rdem das crenças x tipo de crença ( F ( l , 6 4 ) = 1 2 , 8 7 ; p= .000) . Como salienta o
Gráf ico 2, só q u a n d o se aval iaram primeiro os es te reó t ipos sociais se obteve, como
previsto, um maior consenso entre sujei tos para os es te reó t ipos do que para as crenças
individuais .
o RAF ICO 2
Interacção ordem x t ipo de crença
F(1.64)= 12.87; p<.0006
0 . 4 4
0 .42
0 ,40
2 0 . 3 8 •2L J 0 .36
I 0 .32 o ^ 0 .30
0.28
0 . 2 6 individuai estereótipo
-o- ORDEM CRI-estereótipo
o - ORDEM estere ótipo-CRI
CRENÇA
Este r e su l t ado pode indicar que, quando se aval ia p r ime i ro o es tereót ipo social, os
indivíduos c o m e ç a m por uma descr ição baseada no consenso pa r t i lhado socia lmente sobre
o grupo da qual t endem depois a distanciar-se, a d i s t ingui r - se , q u a n d o descrevem as suas
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
crenças indiv iduais , resu l tando num maior acordo ent re su je i tos no estereót ipo social . E é
poss íve l que, quando c o m e ç a m por descrever as suas c renças individuais , incorporem a
i n f o r m a ç ã o consensua l sobre o grupo nas suas p rópr ias c renças individuais , resul tando
depois numa menor d i f e renc iação destas em relação ao e s t e reó t ipo social e, por tanto , num
nível de acordo entre su je i tos semelhante para os dois t ipos de crenças . O natural é que
quando os ind iv íduos a s sumem pontos de vista mais pe r sona l i zados ha ja menos acordo
entre su je i tos . Apesar de Devine e Ell iot (1995) não te rem encont rado efe i tos da
man ipu lação da ordem em que os es tereót ipos e as c renças indiv iduais fo ram aval iados , os
resu l tados da presen te exper iência apontam para o f ac to de uma maior d i fe renc iação entre
estas represen tações de grupos sociais depender da o r d e m em que são aval iadas.
Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares
• Pos i t iv idade das representações de grupos socia is
A ava l iação das d imensões mais f requentes nos g rupos socia is permit iu ca lcular uma
med ida da pos i t iv idade média das representações de g rupos sociais . Esta med ida de
pos i t iv idade provou ser precisa no presente es tudo, para os vár ios grupos sociais e para os
dois t ipos de crenças aval iadas (Os valores do alfa de C r o n b a c h osc i la ram entre .65 e .87) e
foi obt ida ca lcu lando a média ar i tmética, por su je i to , das t reze d imensões aval iadas . Foi
e f ec tuada uma anál ise de var iância a quat ro fac tores , em que os fac tores fo ram a o rdem das
crenças x a sessão x o g rupo social x o tipo de c rença . Es ta anál ise revelou um efei to
pr incipal da var iável t ipo de crença , F ( l , 6 6 ) = 1 6 , 8 8 ; p= .000 , ind icando que, ao longo das
aval iações , as se lecções dos traços baseadas nos es t e reó t ipos sociais fo ram menos
favoráve i s (M=5,42) do que aquelas baseadas nas c renças ind iv idua is (M=5,65) . Este
resu l tado é concordan te com o obt ido por Devine e El l iot (1995) , sa l ien tando a maior
pos i t iv idade das represen tações das crenças ind iv idua is do que das r ep resen tações dos
es te reó t ipos sociais . Um efe i to de in teracção s ign i f i ca t ivo ent re g rupo social x t ipo de
crença (F(2 ,132)=17 ,10 ; p= .000) mostra, contudo, que essa d i f e rença de favorab i l idade
entre es te reó t ipos e c renças individuais foi p ra t i camen te inex is ten te para o g rupo dos
médicos , respec t ivamente , (M=6,19) e (M=6,15) .
Um efe i to de in te racção marg ina lmente s ign i f i ca t ivo en t re o rdem das c renças x tipo
de c renças foi t ambém obt ido (F ( l , 66 )=3 ,29 ; p= .074) . Pa receu haver uma t endênc ia para
uma maior d i f e rença entre a aval iação dos es te reó t ipos e a aval iação das crenças
indiv iduais , quando se ava l i a ram pr imei ro os es te reó t ipos do que quando se ava l ia ram
pr imei ro as c renças indiv iduais . Este resul tado sugere u m a in te rp re tação seme lhan te à
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
avançada an te r io rmente re la t ivamente ao grau de acordo entre suje i tos : uma maior
d i fe renc iação entre estas representações de grupos sociais parece depender da o rdem em
que são ava l iadas .
Sa l ien ta -se a inda que esta anál ise de var iância evidenciou t ambém que a
pos i t iv idade das aval iações variou s ign i f ica t ivamente com o grupo social
(F(2 ,132)=274 ,50 ; p=.000) . Os níveis médios de pos i t iv idade var iaram entre M = 4 , 5 3 e
M=6,17 . c o r r e s p o n d e n d o o valor mais baixo e mais e levado, respec t ivamente , ao grupo dos
seguranças de d iscoteca e ao grupo dos médicos . Anal i sando estes resul tados para le lamente
com os resu l tados dos ju lgamentos de fami l ia r idade em relação aos quais os três grupos
também var iam s ign i f ica t ivamente (F(2 ,132)=41,75; p=.000) , ver i f ica-se que o grupo mais
fami l iar , os méd icos (M=6,33) , obteve o valor de posi t iv idade mais e levado (M=6,17) e o
menos fami l ia r , os seguranças de discoteca (M=3,85) , obteve o valor de pos i t iv idade mais
baixo (M=4 ,53 ) .
• Cor re lações entre as aval iações produzidas na sessão 1 e na sessão 2, pelos
mesmos su je i tos
Aprove i t ando ainda as aval iações das d imensões mais f requen tes nos grupos sociais
e fec tuadas pe los mesmos sujei tos , na sessão 1 e na sessão 2, ca lculou-se , para cada
d imensão ava l iada , a corre lação entre a pr imei ra e a segunda produção . Para obter uma
medida da re lação entre as variáveis ut i l izou-se o coef ic ien te de cor re lação de Pearson.
Quer para as ava l iações das d imensões baseadas nos es tereót ipos sociais quer para aquelas
baseadas nas c renças individuais , os valores das corre lações fo ram, g loba lmente , mui to
var iados , osc i l ando entre .04 e .60; permi t indo contudo pensar que a p roporção de var iação
comum das ava l iações fei tas pelos mesmos suje i tos de uma sessão para a outra aponta para
uma prec i são modes ta . Estes resul tados são concordantes com a ins tabi l idade previs ta para
as r ep resen tações menta is de categorias sociais, j á que a tarefa de aval iação de t raços mais
f requen tes em escalas bipolares é uma segunda medida das represen tações de grupos .
Identificação de uma distribuição
Os resu l tados obt idos em outras inves t igações (Garc ia -Marques e Mack ie , 1999)
com a t a re fa de matr iz de dis t r ibuições como medida de d i spersão e de tendência central ,
que inclui a esco lha da dis t r ibuição que "melhor co inc ide" com a sua impressão do grupo
como um todo, fo ram par t icularmente sa t i s fa tór ios . Es te a r ranjo , apart i r do qual os
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
par t ic ipantes f azem a sua selecção, manipula i ndependen temen te a d ispersão e a tendência
central .
• Ava l iação da dispersão percebida na tarefa de mat r iz de dis t r ibuições
Uma anál ise de var iância a quatro factores (ordem das crenças x sessão x grupo
social X tipo de crença) desta medida de dispersão permit iu obter os resul tados descri tos a
seguir .
A anál ise de var iância evidenciou um efe i to pr incipal da var iável t ipo de crença
( F ( l , 6 6 ) = 1 4 , 6 3 ; p=.000) . A dis t r ibuição média escolh ida com base nas c renças individuais
foi s ign i f i ca t ivamente mais achatada (M=3,28) do que a escolh ida com base nos
es tereót ipos (M=3,03) . De facto , baseado no raciocínio, de senvo lv ido no capí tu lo anterior,
de que as represen tações das crenças individuais ser iam mais fo r t emen te cons t i tu ídas por
exemplares espec í f icos do que as representações dos es te reó t ipos , p redominan temen te
baseados em in fo rmação abstracta, poder-se- ia esperar que as represen tações das crenças
individuais fossem percebidas como mais var iáveis do que as represen tações dos
es tereót ipos . Ou seja, po rque é provável que os exempla res se jam, em par te , d iscrepantes
da abs t racção, poder-se- ia prever que a inc lusão de i n f o r m a ç ã o de exempla res conduzisse a
uma maior pe rcepção de var iabi l idade nas represen tações das c renças ind iv idua is do que
nas representações dos es tereót ipos . C o m o se pode obse rva r , os resu l tados fo rnecem,
exac tamente , suporte para esta ideia de que os ind iv íduos a d m i t e m mais var iab i l idade nas
crenças individuais do que nos es tereót ipos cul turais . O e fe i to de in te racção s igni f ica t ivo
entre grupo x tipo de crença (F(2 ,132)=4,20; p=.017) , c i r cunsc reve , con tudo , esse resul tado
a dois dos três grupos (os médicos e os seguranças de d i sco teca) , j á que o nível de
d ispersão admit ido nos p rogramadores de computador foi , como mos t ra o G r á f i c o 3,
sens ive lmente igual para as c renças individuais (M=3,29) e para os es te reó t ipos (M=3,28) .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
3.8
3.5
3.4
3.3
3.2
3.1
3.0
2.8
2 . 8
2.7
2 . 8
2.5
GRAFICO 3
Interacção grupo x t i po d« crença
FC2.132)=4.20; p<.0170
individual estereótipo
-o- ORUPO médicos
o- GRUPO se g. discotecas
•ô. GRUPO prog.computado!
CRENÇA
Apart i r desta anál ise de var iância sal ienta-se, ainda, o g rupo social como uma fonte
de var iação s ign i f ica t iva ( F ( 2 , 1 3 2 ) = l l , 9 2 ; p=.000) , no sent ido em que o nível de d ispersão
admit ido na represen tação dos seguranças de discoteca foi s ign i f i ca t ivamente menor do que
nos res tantes dois grupos , médicos (M=3,32) e p rogramadores de computador (M=3,29) .
Talvez não alheio a isso é o fac to de, como vimos anter iormente , o g rupo dos seguranças
de discoteca ter sido ju lgado como menos famil iar , compara t ivamen te com os res tantes
dois grupos. E fec t ivamen te , para alguns autores, as pessoas j u l g a m a var iabi l idade de um
grupo re la t ivamente a uma dada d imensão cr iando pr imei ro um con jun to de pistas
co r respondendo a d i fe ren tes níveis da d imensão e depois usando os variados graus de
d i sponib i l idade de exemplares que resul tam dessas pistas para fo rmar uma dis t r ibuição de
exemplares (Linvi l le e colaboradores , 1989; Linvil le e Fischer , 1993). No modelo destes
autores, que pre tende fornecer uma expl icação para o e fe i to de homogene idade do out-
group, uma maior fami l ia r idade com exemplares do grupo conduz a uma maior
var iabi l idade perceb ida , porque a es t imat iva leva em conta um grande número de
exemplares (Linvi l le e colaboradores , 1989). Contudo, outros autores cons ideram que o
nível de f ami l i a r idade não é o único factor que inf luenc ia a var iab i l idade percebida (Park e
Judd, 1990; Park, Judd e Ryan, 1991).
F ina lmente , um efei to emergiu da variável sessão ( F ( l , 6 6 ) = 3 , 9 5 ; p=.05) . As
dis t r ibuições esco lh idas na sessão 2 foram marg ina lmente mais acha tadas (M=3,26) do que
as escolh idas na sessão 1 (M=3,04) .
86 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
• Aval iação da tendência central na tarefa de matriz de distr ibuições
Para agregar s ignif icat ivamente os dados da tendência central ao longo dos grupos
sociais e assegurar a comparação entre grupos, foi necessár io inverter as pontuações das
respostas no grupo dos seguranças de discoteca. Pontuações mais elevadas indicam maior
estereotipical idade.
Uma análise de variância a quatro factores (ordem das crenças x sessão x grupo
social X tipo de crença) revelou um conjunto de e fe i tos que descrevemos adiante. Uma
fonte s ignif icat iva de variação foi o tipo de crença (F( 1,66)=5,11; p=.027). A distr ibuição
média escolhida foi menos estereotipada nas crenças individuais (M=4,02) do que nos
estereótipos sociais (M=4,21) , o que, de algum modo , seria previsível pois a nossa
suposição que o processo de construção dos es tereót ipos, compara t ivamente com o das
crenças individuais , depende menos da experiência directa com membros individuais torna
naturalmente as impressões baseadas em estereót ipos mais estereot ipadas do que as
baseadas em crenças individuais.
Uma interacção significativa entre as variáveis ordem das crenças x grupo social x
tipo de crença (F(2,132)=4,54; p=.012) permit iu-nos explorar melhor a sensibi l idade ao
contexto da estereot ipical idade.
t.7 ajB t-S
44
8 fl 4.1 4J0 0.9
Q.7
GRÁFICO 4
Interacção ord«rn x grupo x tipo de crença
F(2.132^4,54; p<.0123
t ;
/
r f
[
/ jO
" 'i j
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.P.
indwidiBl mefoàliixi iidMidisl (ruewnipo indvidiol «sleiwkipa CRENÇA CRENÇA CRENÇA
GRÜPÔ:mãdb» âRüPO:> 4lhoaiaca» ÔRüPO: p'c isompilado'
-O- ORDEM
CRI-estereótipo
•o - ORDEM estereótípo-CRI
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
C o m o most ra o Grá f i co 4. exceptuando para o grupo dos seguranças de discoteca,
ver i f icaram-se m u d a n ç a s menores de es tereot ipical idade para os es tereót ipos sociais ,
qualquer que tenha s ido a ordem em que foram pedidos, do que para as crenças individuais ,
onde surgiram mudanças maiores de es tereot ipical idade dependendo da ordem em que estas
fo ram pedidas .
A anál ise de var iância revelou, ainda, que a in teracção das var iáveis sessão x grupo
social foi uma fonte de var iação s ignif icat iva (F (2 , l 32 )=7 ,82 ; p= .000) , no sent ido em que,
excepto para o g rupo dos médicos onde o padrão é inverso, as d is t r ibuições médias
escolhidas na sessão 1 fo ram mais es tereot ipadas do que as escolh idas na sessão 2.
P rocurámos t ambém, u t i l izando a corre lação de Pearson, aver iguar , quanto ao
parâmetro de d i spersão percebida e à tendência central , o nível de cor re lação entre as
dis t r ibuições esco lh idas na sessão 1 e na sessão 2, por grupo social e, dent ro de cada
grupo, por t ipo de c rença . Os resul tados são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2: Valores de correlação, entre a sessão 1 e a sessão 2, da dispersão percebida e da tendência central por grupo social e por tipo de crença
Grupos sociais
Valores das Crenças correlações entre a S1 e a S2
Dispéreâó: ij percábídi-
Médicos Individuais
Estereótipos
.33*
.20
.36*
.44*
Seguranças de Individuais discoteca
Estereótipos
. 5 r
.09
.34'
.39*
Programadores de computador
Individuais
Estereótipos
.20
.16
.45-
.28*
Apart i r da T a b e l a 2 podemos verif icar que, g lobalmente , o pa râmet ro de d ispersão
percebida das represen tações menta is de grupos sociais parece ter s ido mais sensível à
mudança do con tex to do que a medida de tendência centra l , cu jas escolhas das
dis t r ibuições na sessão 1 e na sessão 2 estão mais s ign i f i ca t ivamente cor re lac ionadas . Em
estudos in te ressados no impacto que in formação incongruen te com o es tereót ipo tem na
tendência central percebida e na var iabi l idade percebida , os resu l tados sa l ientam a
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^
sens ib i l idade espec í f ica deste úl t imo parâmet ro ao impac to de i n fo rmação desta natureza
(Garc ia -Marques e Mackie , 1999). Talvez , porque as mudanças na var iabi l idade percebida
permi tam uma revisão menos radical de um es tereót ipo , tais mudanças possam ser um
resul tado ainda mais f r equen te do que a revisão da tendênc ia central (Garc ia -Marques e
Mackie , 1999). Isto pode ser, no entanto, função da prec i são das medidas ut i l izadas . Se
es tamos a usar medidas d i ferentes pode acontecer que as med idas de tendência central
sejam mais robus tas do que as medidas de var iabi l idade percebida . A grande defesa aqui, é
que usámos a m e s m a medida - a matr iz de d is t r ibuições que incluí e aval ia estes dois
parâmet ros ao m e s m o tempo. Para além disso, como most ra a Tabe la 2, os pon tos de vista
individuais parecem ter p roduz ido medidas de d i spersão pe rceb ida mais cor re lac ionadas no
tempo do que seria de esperar , compara t ivamente com os pon tos de vis ta baseados nos
es tereót ipos cul tura is .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
2.3 Experiência I: Conciusões
Em suma, os resul tados desta pr imeira exper iênc ia supor tam, globalmente , a
hipótese pr incipal de que o acordo intra sujei to para as ca tegor ias sociais revela níveis de
precisão modes tos , equ iva len tes aos obt idos por outros autores em inves t igações sobre a
ins tabi l idade de ca tegor ias não sociais. Suporte para esta h ipó tese foi conseguido num
conjunto de med idas d i fe ren tes de representações menta is de g rupos sociais , como a ta refa
de "geração de t r aços" e a tarefa de "aval iação das d imensões mais f r equen tes nos grupos
em escalas b ipo la res" .
C o n s e g u i m o s t ambém obter evidências que permi tem a demons t r ação de f enómenos
básicos previs íve is , como se jam, que, compara t ivamente com as c renças individuais , os
es tereót ipos sociais são mais negat ivos , pelo menos em dois dos grupos ut i l izados; são
mais es te reo t ipados ; são percebidos como mais homogéneos ; e são descr i tos com maior
número de a t r ibutos .
Os resu l t ados não supor tam, contudo, a previsão de que , ao longo das sessões, os
pontos de vis ta ind iv idua is ir iam evidenciar s ign i f i ca t ivamente mais ins tabi l idade do que
os es tereót ipos socia is . Ao contrár io de Devine e Ell iot (1995) , os resu l tados da presente
exper iência apon tam para um efe i to s ignif ica t ivo de man ipu lação da ordem em que os
es tereót ipos e as c renças individuais são aval iados, mos t rando que o acordo intra su je i to é
sempre maior para o t ipo de crença que se avalia em p r ime i ro lugar . Ou seja, a maior
es tabi l idade dos es tereót ipos , comparados com as crenças ind iv idua is , parece depender
destes serem os p r ime i ros a ser aval iados. Outro con jun to de dados parece indicar que uma
maior d i f e renc iação entre estas representações de grupos sociais , t ambém no sent ido
previsto, depende da ordem em que estas são aval iadas , senão ve jamos : quando se
aval iaram pr imei ro os es tereót ipos sociais, obteve-se para es tas representações , e como
previsto, um maior consenso entre sujei tos e uma maior d i f e renc iação de posi t iv idade entre
estas represen tações e as crenças individuais .
Os dados pa recem, ainda, apontar para uma maior sens ib i l idade à mudança da
sessão 1 para a sessão 2 do parâmetro da d ispersão percebida do que da tendência central ,
cu jas escolhas das d is t r ibuições da matriz na sessão 1 e na sessão 2 es tão mais
s ign i f ica t ivamente cor re lac ionadas . Se bem que, compara t i vamen te com os pontos de vista
baseados nos es te reó t ipos cul turais , os pontos de vista ind iv idua i s pareçam produzi r
medidas de d i spe r são percebida mais corre lac ionadas no t empo do que seria de esperar .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
C o m a lguma fac i l idade , poder-se- ia dizer que a l imi tação da Exper iênc ia I que
impor ta rea lçar res ide no fac to da grande ins tabi l idade encon t rada se poder dever ao uso de
grupos sociais com es tereót ipos cul turais f racos e pouco consensua i s . É natural que quando
os ind iv íduos não conhecem bem os es tereót ipos cul tura is de g rupos sociais ou quando
esses es te reó t ipos não estão bem def in idos e e s tabe lec idos cu l tura lmente , estas
represen tações menta is se jam menos estáveis no tempo. In teressa pois testar a ins tabi l idade
tempora l de represen tações mentais de grupos sociais a lvo de es te reó t ipos for tes , pela
cul tura por tuguesa . Por outro lado, o fac to dos resu l tados não supor ta rem a previsão de
que, ao longo das sessões , as crenças individuais ser iam s ign i f i ca t ivamen te mais instáveis
do que os es te reó t ipos sociais requer igua lmente uma esco lha mais cr i ter iosa de grupos
sociais , no sen t ido de se procurarem grupos em que as c renças ind iv idua is e os es tereót ipos
d iv i r j am max imamen te , num segundo teste empí r ico . Por f im, criar condições
exper imenta i s que fac i l i tem uma compreensão mais p rec i sa da na tureza da ins tabi l idade
tempora l man i f e s t ada parece ser t ambém desejável .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
3. Experiência II
Elaborámos um segundo es tudo onde , com base nos resul tados da pr imeira
exper iência , i n t roduz imos algumas modi f icações que poder iam conduzi r a resul tados mais
claros, e spec i f i c amen te em relação ás d i fe renças entre representações menta is dos
estereót ipos e das c renças individuais sobre os grupos sociais, e que s imul taneamente
corr igissem l imi tações do primeiro estudo, que a seguir expl ic i tamos.
De acordo com o nosso enquadramento , a d i fe renc iação que se esperar ia obter , na
medida de ins tab i l idade intra sujei to , entre es tereót ipos sociais e crenças indiv iduais
resulta de d i f e renças no grau de abstracção destas duas representações menta is . Ora, o
fac to de não te rmos obt ido maior acordo intra su je i to nos es tereót ipos sociais do que nas
crenças ind iv idua is poder ia ser expl icado se os grupos ut i l izados na pr imei ra exper iênc ia
não fossem alvo de um estereót ipo per fe i tamente def in ido e par t i lhado cu l tu ra lmente . O
que traz, inev i t ave lmente , à discussão uma ques tão ainda mais per t inente , a de saber se a
ins tabi l idade re la t ivamente grande encontrada para os es tereót ipos , na Exper iênc ia I, não
se deveu ao uso de es tereót ipos f racos . Neste sent ido, e procurando u l t rapassar estas duas
l imitações da Exper iênc ia I, os grupos sociais inc lu ídos dever iam carac te r i s t i camente ter
um es tereót ipo cul tural for te , vas tamente par t i lhado e consensual , mas t ambém ser grupos
com quem as pessoas têm exper iências reais e directas . Nesta segunda exper iênc ia , a
escolha de novos g rupos sociais incidiu novamente em cri térios como, a poss ib i l idade do
rótulo do grupo ser en tendido pelas pessoas em geral , dos grupos se rem en tendidos como
dist intos e de fo rnecer descr ições acerca dos grupos. Mas procurou-se t a m b é m acentuar os
dois fac tores atrás indicados . Fez-se isso e legendo grupos que t ivessem um es tereót ipo
cultural nega t ivo fo r t emen te consensual na população , que fosse , de f o r m a clara, normat iva
ou soc ia lmente condenáve l . E que fossem grupos com os quais os su je i tos t ivessem a lgum
contacto d i rec to min imamen te regular com membros especí f icos . O pr imei ro ob jec t ivo era
saber se um grau de ins tabi l idade re la t ivamente grande cont inuava a surgir quando es tavam
em causa es te reó t ipos mui to fortes , consensua lmente conhec idos e par t i lhados . Por outro
lado, o in teresse de escolher estereót ipos consensua lmente negat ivos , que fossem
socia lmente condenáve i s foi o fac to de, nestes grupos , estas es t ruturas cogni t ivas poderem
ser mais d i sc repan tes em relação ás crenças individuais . Por exemplo , no grupo dos
seguranças de d iscotecas , os es tereót ipos e as c renças indiv iduais poder i am ser mui to
coincidentes ; por isso p rocurámos grupos em que fosse previs ível que estes dois t ipos de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
est ruturas cogni t ivas se d i fe renc iassem claramente. Es tes fo ram os seguintes: os ciganos,
os homossexua is e os emigran tes afr icanos.
A nossa h ipótese pr incipal nesta experiência foi , outra vez , que as representações
dos grupos sociais reve lassem, para le lamente à pr imei ra exper iênc ia , um nível modes to de
prec isão intra su je i to . E que, por tanto , este segundo es tudo c o n d u z i d o pudesse determinar
se estes resul tados espec í f i cos eram general izáveis e, pa r t i cu la rmen te , general izáveis a
grupos sociais com es te reó t ipos mais fortes. Novamen te , e spe rávamos que um maior
acordo intra suje i to surgisse quando os sujei tos desc revessem os es tereót ipos do que
quando produz issem descr ições baseadas nos seus pon tos de vis ta indiv iduais . Para tentar
max imiza r a d i fe renc iação entre estes dois t ipos de represen tações , apresentámos,
c o n f o r m e suger iam os resu l tados obtidos na pr imeira exper iênc ia , o mater ia l a todos os
par t ic ipantes numa única ordem: estereót ipos - crenças ind iv idua is .
Ao m e s m o tempo, este estudo pretendia trazer a lguma luz para uma compreensão
mais precisa da na tureza espec í f ica das respostas dos pa r t i c ipan tes e da ins tabi l idade que
estas man i fe s t a ram ao longo das duas sessões separadas t empora lmen te , na primeira
exper iência . De fac to , vár ias expl icações al ternat ivas para es ta ins tab i l idade poder i am ser
suger idas . É d i fe ren te dizer que, de uma sessão para a out ra , a r epresen tação mental do
grupo social é t r ans fo rmada , é outra representação d i fe ren te , do que dizer que só parte da
represen tação é que foi ac t ivada em um momento , pe lo con tex to . P re tendendo só uma
inves t igação inicial des ta ques tão , começámos por ave r igua r quão centrais são, para a
impressão geral que o ind iv íduo tem sobre os g rupos , os t raços gerados para os
caracter izar . Co locava-se como questão, saber até que pon to o f ac to de serem cons iderados
mais ou menos centrais , mais ou menos apl icáveis , pode r i a es tar r e l ac ionado com a maior
ou menor es tabi l idade que man i fes t am de uma sessão para a out ra . E até que ponto estes
atr ibutos cabem na concepção de cerne conceptual de u m a ca tegor ia . C o m o revimos
anter iormente , a maior ia das teorias tem uma visão sobre os ce rnes conceptua is . Algumas
p ropõem que os cernes conceptuais das ca tegor ias são de f in i ções (Armst rong e
colaboradores , 1983; Osherson e Smith, 1981; Smith e M e d i n , 1981). Outras p ropõem que
os cernes conceptua is contêm teorias intui t ivas (Murphy e M e d i n , 1985). Barsa lou (1982,
1987, 1989) vê os cernes conceptuais d i fe ren temente , e n f a t i z a n d o aquelas propr iedades
mais f r equen temente centra is para o uso da categoria , s a l i en t ando a sua na tureza baseada
na exper iênc ia e in te rpre tando a lguma estabi l idade que os conce i to s m a n t ê m ao longo do
tempo como re f l ec t indo a p resença desse cerne. Por e x e m p l o , a t r ansmissão cul tural do
conhec imento envolve , em grande medida , es tabe lecer , pa ra ca tegor ias , cernes de
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^
in fo rmação que su rgem independentemente do contexto e que são par t i lhados pelos
membros de uma população . Como corroborado por evidência empír ica (Barsalou, 1982),
também, num ind iv íduo , os concei tos mantêm uma certa es tab i l idade ao longo do tempo,
pela presença de in fo rmação que, tendo sido incorporada em vários concei tos que a pessoa
constrói sobre uma categoria part icular , se torna central e ganha a lguma estabi l idade e
independência dos contextos . Nesta visão, o cerne conceptua l de uma categoria contém,
portanto, a lguma in fo rmação central para a descr ição da ca tegor ia , que é a l tamente
acessível e mais es tável (Barsalou. 1982). Baseados neste rac iocín io , seria mais previsível
que as ca rac te r í s t i cas consideradas mais centrais e mais impor tantes para a impressão geral
sobre o g rupo man i fe s t a s sem maior es tabi l idade ao longo das sessões , compara t ivamente
com as carac te r í s t icas ás quais o indivíduo t ivesse a t r ibuído menos impor tânc ia e
centra l idade. P o d e n d o signif icar que a lgumas destas caracter ís t icas ter iam um estatuto
equivalente ao de ce rne de informação, ou seja , i n fo rmação central e imprescindível para a
descrição da ca tegor ia , que é a l tamente acessível e estável ao longo do tempo. Interessante ,
ainda, seria pe rceber se, apesar da maior es tab i l idade esperada das caracter ís t icas centrais
re la t ivamente ás cons ideradas mais per i fér icas , o nível de precisão intra su je i to cont inuar ia
a ser modes to , m e s m o para as caracter ís t icas centra is para a impressão geral sobre o grupo.
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3.1 Experiência //; Método
3.1.1 Participantes e Desenho experimental
Os pa r t i c ipan tes f o r a m 46 es tudan tes de p s i co log i a da U n i v e r s i d a d e de L i sboa que
pa r t i c ipa ram v o l u n t a r i a m e n t e no es tudo. Todos os i n d i v í d u o s r e s p o n d e r a m quer ás quatro
t a re fas de ava l i ação dos es te reó t ipos quer ás qua t ro t a r e f a s de ava l i ação das crenças
ind iv idua i s , pa ra os t rês g r u p o s socia is inc lu ídos . T o d o s os pa r t i c ipan te s comple t a r am
p r i m e i r o a ava l i ação dos es te reó t ipos soc ia is e depo i s a a v a l i a ç ã o das c r e n ç a s ind iv idua is ,
s e m p r e nes ta o r d e m . D e p o i s , foi ap l icada uma m e d i d a de f a m i l i a r i d a d e sub j ec t i va com
cada g rupo socia l . E no f im da sessão foi ped ido a t odos os su j e i t o s que ava l i a s sem, em
esca las b ipo la res , a impor t ânc i a e a cen t r a l idade dos t r aços ge rados an te r io rmente ,
p r ime i ro , pa ra os e s t e r eó t ipos socia is e, depois , para as c r e n ç a s p e s s o a i s do ind iv íduo .
O d e s e n h o e x p e r i m e n t a l desta exper iênc ia foi 2 s e s s õ e s ( S e s s ã o 1 ve r sus Sessão 2) x
3 g rupos soc ia i s ( C i g a n o s ve r sus H o m o s s e x u a i s ve r sus E m i g r a n t e s a f r i c a n o s ) x 2 t ipos de
c renças (Es te reó t ipos ve r sus Crenças ind iv idua i s ) . T o d o s os f a c t o r e s e r a m fac to re s intra
su je i to .
3.1.2 Material
A s s i m , es te s e g u n d o es tudo foi s eme lhan te ao p r i m e i r o , c o m a l g u m a s m o d i f i c a ç õ e s
c ruc ia i s . As qua t ro t a r e fa s d is t r ibuídas pe los p a r t i c i p a n t e s na a v a l i a ç ã o dos e s t e reó t ipos e
na ava l i ação das c r enças ind iv idua i s f o r a m as m e s m a s u s a d a s na p r ime i r a e x p e r i ê n c i a (para
ma i s de ta lhes , ver a s e c ç ã o 2 .1 .3 da Expe r i ênc i a I). M a n t e v e - s e o f o r m a t o e e x t e n s ã o das
in s t ruções , das t a r e fa s e da l is ta inicial de ca r ac t e r í s t i c a s , t e n d o - s e apenas a l t e rado os
n o m e s dos g rupos soc ia i s , adap tado , aos ac tuais g r u p o s , o c o n t e ú d o da l is ta in ic ia l de
t raços e as d i m e n s õ e s a ava l ia r nas esca las b ipo la res e na m a t r i z de d i s t r ibu ições .
As i n s t ruções gera i s , in t rodu tór ias da e x p e r i ê n c i a , f o r a m m o d i f i c a d a s no sen t ido de
ten tar m i n i m i z a r a inda ma i s as p r eocupações de c o n v e n i ê n c i a soc ia l dos su je i tos ,
s a lvagua rda r i n d i v í d u o s que apa ren temen te p e r c e b a m o p r o c e s s o de a t r ibu i r t raços
ca rac te r í s t i cos a g r u p o s soc ia is c o m o uma a c t i v i d a d e i n a c e i t á v e l ou censu ráve l e
descu lpab i l i za r ma i s os pa r t i c ipan tes por ace i t a rem r e s p o n d e r ( a i n d a ma i s pe r t i nen t e agora
que os g r u p o s soc ia i s u t i l i zados t inham es te reó t ipos n e g a t i v o s s o c i a l m e n t e condenáve i s ) .
As ins t ruções f o r a m as segu in tes :
Da sociedade actual fazem parte muitos grupos diferentes sobre os quais temos, em geral, algum conhecimento. De facto, a facilidade com que formamos impressões relativamente bem definidas acerca dos indivíduos e dos grupos sociais que nos rodeiam, simplifica
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
extraordinariamente a nossa vida social. Essas impressões que temos acerca de um grupo são muitas vezes impressões genéricas que não se aplicam a cada um dos seus membros mas ap!icam-se a uma percentagem dos membros desse grupo. Por exemplo, quando dizemos que os programadores de computador são inteligentes não estamos a dizer que são todos inteligentes, mas estamos a dizer que há uma quantidade relevante de programadores de computador que são inteligentes. Estas impressões genéricas são, evidentemente, simplificações, não são julgamentos baseados em dados objectivos. E note-se que, mesmo quando se consideram existir diferenças entre os grupos, isso não significa estabelecer uma hierarquia entre os grupos, em que um é superior ao outro. Ou seja, não implica a discriminação de um grupo em relação ao outro. Nesta investigação ser-lhe-ão feitas várias perguntas sobre essas impressões em relação a alguns grupos sociais. É natural que não tenhamos todos ideias iguais acerca de todos eles. Não existem respostas certas ou erradas. Estamos interessados nas suas impressões pessoais, nas suas intuições, nas ideias que surjam à primeira vista e não tanto no que é de bom tom julgar-se, ou afirmar-se.
N o f ina l da se s são , foi in t roduz ida uma nova t a re fa que p a s s a m o s a desc rever .
• A v a l i a ç ã o da impor tânc ia e cen t ra l idade dos t raços em esca l a s b ipo la res . Pa ra
a l é m de p r e t e n d e r m o s e l ic i tar as ca rac te r í s t i cas que os i n d i v í d u o s a t r ibuem aos
m e m b r o s de u m grupo social , i n t e r e s sava -nos saber a i m p o r t â n c i a e c en t r a l i dade
que o i n d i v í d u o assoc iava ás mesmas . Por e x e m p l o , a ca rac te r í s t i ca rico pode ser
c o n s i d e r a d a nada cent ra l , m o d e r a d a m e n t e centra l ou mu i to cen t ra l , d e p e n d e n d o
do g r u p o a q u e m é d i r ig ida ou da pe r spec t iva q u e es tá a ser descr i t a ,
e s p e c i f i c a m e n t e o e s t e reó t ipo social ou o pon to de v is ta pes soa l sobre o g rupo
soc ia l . Por isso, com esta ta refa t e n t á m o s levar e m c o n t a a i m p o r t â n c i a e
c e n t r a l i d a d e que um indiv íduo inves t e nas ca r ac t e r í s t i c a s ao usá - l a s pa ra
d e s c r e v e r g rupos socia is pa r t i cu la res . N e s t a t a r e f a é p e d i d o aos su j e i to s q u e
o l h e m n o v a m e n t e para as ca rac te r í s t i cas que l i s t a ram (na t a r e f a de ge ração de
t r aços ) e pa ra as d imensões que a v a l i a r a m (na t a r e f a de ava l i ação de d i m e n s õ e s
ma i s f r e q u e n t e s dos grupos) , para cada g rupo , e que i n d i q u e m até que p o n t o cada
c a r a c t e r í s t i c a é impor tan te e é cent ra l pa ra a i m p r e s s ã o gera l de u m grupo . É
p e d i d o pa ra rea l izar esta t a re fa t an to para as ca rac t e r í s t i ca s q u e u s a r a m pa ra
d e s c r e v e r os es te reó t ipos sociais q u a n t o pa ra as ca r ac t e r í s t i c a s que d e s c r e v e m as
c r e n ç a s ind iv idua i s , nes ta m e s m a o r d e m . A ava l i ação de c a d a ca rac te r í s t i ca é
f e i t a e m do is t ipos de esca las b ipo la re s de 9 pon tos , u m a q u e osc i l a en t re +1
( N a d a cen t r a l ) e +9 (Mui to cen t ra l ) , e ou t ra q u e osc i l a en t re +1 (Nada
i m p o r t a n t e ) e +9 (Mui to impor t an te ) . Es t a s duas e sca las f o r a m in t roduz idas
c o m o duas m e d i d a s do m e s m o c o n s t r u c t o , c o m o dois ve í cu los pa ra med i r a
m e s m a co i s a e para aver iguar se e s t ão c o r r e l a c i o n a d a s . C a s o e s t e j a m
c o r r e l a c i o n a d a s podem ser c o m b i n a d a s na aná l i se dos r e su l t ados , se , por ou t ro
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
lado, a cor re lação entre elas for pequena é po rque os su je i tos dist inguem
ps ico log icamente estas duas d imensões e, nesse , caso os resul tados podem ser
e luc ida t ivos de como es tabelecem essa d is t inção.
3.1.3 Procedimento
Novamen te , todos os part icipantes foram tes tados duas vezes enquanto grupo, com
uma dis tância de 15 dias entre as duas sessões. O p r o c e d i m e n t o e as ins t ruções foram os
mesmos nas duas ocas iões de teste, à excepção da nova t a re fa incluída nesta experiência
( "Aval iação da impor tânc ia e central idade dos t raços em esca las b ipolares") , que foi
apl icada apenas no final da sessão 1. Para poss ib i l i ta r a iden t i f i cação das respostas do
mesmo suje i to ás duas sessões , foi pedido, outra vez, que ass ina lassem, no caderno de
resposta , a sua data de aniversár io e a da sua mãe . Os três grupos sociais foram
apresentados num só caderno de resposta , sempre c o m a seguin te ordem: ciganos,
homossexua i s e emigran tes afr icanos. As ta re fas f o r a m apresentadas a todos os
par t ic ipantes , sempre na m e s m a ordem: "geração de t r aços" e "es t imat iva da percentagem
de m e m b r o s da popu lação com os t raços" com base no e s t e reó t ipo social de c igano e, a
seguir , com base nas crenças individuais sobre os c iganos ; "ava l i ação de d imensões mais
f requen tes dos grupos em escalas b ipolares" com base no e s t e reó t ipo social de c igano e, a
seguir , com base nas c renças individuais sobre os c iganos ; " iden t i f i cação de uma
d is t r ibu ição" com base no es tereót ipo social de c igano e, a segui r , com base nas crenças
individuais sobre os c iganos . Depois , r e sponde ram ás m e s m a s ta refas para os
homossexua i s e para os emigrantes afr icanos. C o m p l e t a r a m a ta refa de " Ju lgamento de
fami l ia r idade com cada grupo social" e f ina lmente r e s p o n d e r a m à tarefa "ava l iação da
impor tânc ia e cent ra l idade dos traços em escalas b ipo la re s" , ava l iando os t raços uti l izados
an ter iormente para descrever os es tereót ipos sociais e, a seguir , os u t i l izados para
descrever as c renças indiv iduais , para os três g rupos . Nas duas sessões , as ta refas e os
grupos sociais f o r a m apresen tados exac tamente na m e s m a o r d e m .
3.1.4 Medidas dependentes
As medidas dependen tes deste es tudo foram:
a) O nível de acordo intra su je i to em re lação aos t raços se lecc ionados , da lista
inicial , na sessão 1 e na sessão 2, ca lcu lado a t ravés da cor re lação de elemento
c o m u m (Bel lezza , 1984a, 1984b, 1984c).
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
b) O nível de acordo intra suje i to re la t ivamente ás es t imat ivas percentuais
a t r ibuídas a cada traço se leccionado em ambas as sessões .
c) O nível de acordo entre sujei tos re la t ivamente aos t raços escolhidos da lista
inicial , ca lcu lado através de uma cor re lação de e lemento c o m u m para cada par
de su je i tos empare lhados a leator iamente por sessão.
d) O nível de acordo intra sujei to re la t ivamente ás aval iações das d imensões mais
f r equen te s dos grupos (em escalas b ipolares de 9 pontos) produzidas na sessão
1 e na sessão 2.
e) A ava l iação da dispersão percebida e da tendênc ia central percebida apartir da
mat r iz de dis t r ibuições.
f ) O nível de acordo intra sujei to re la t ivamente à d i spersão percebida e à
t endênc ia central percebida .
g) A aval iação , em escalas bipolares , da impor tânc ia e da cent ra l idade dos t raços
esco lh idos da lista inicial , na sessão 1.
h) O nível de acordo intra sujei to em relação aos t raços se lecc ionados na sessão 1
e na sessão 2, considerados centra is , ca lcu lado a t ravés da corre lação de
e l emen to c o m u m (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c).
i) O nível de acordo intra sujei to em relação aos t raços se lecc ionados na sessão 1
e na sessão 2, cons iderados per i fé r icos , ca lcu lado a t ravés da corre lação de
e l emen to c o m u m (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c).
j ) O nível de acordo entre su je i tos re la t ivamente aos t raços escolh idos
cons ide rados centrais , ca lculado através de uma cor re lação de e lemento c o m u m
para cada par de sujei tos empare lhados a lea tor iamente por sessão.
k) O nível de acordo entre su je i tos re la t ivamente aos t raços escolhidos
cons ide rados per i fér icos , ca lculado através de uma cor re lação de e lemento
c o m u m para cada par de sujei tos empare lhados a lea tor iamente por sessão.
Nota : Todas as medidas dependentes fo ram calculadas por g rupo social e, dentro de
cada grupo, por t ipo de crença (estereót ipo vs. c rença indiv idual ) , quando assim o exig iam.
98 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3.2 Experiência II: Resultados e Discussão
Geração de traços e Estimativa da percentagem de membros da população com os traços
• N u m e r o de a t r ibutos
Rea l izou-se uma anál ise de variância a três f ac to res , todos eles intra su je i to . Os
factores fo ram: a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), o g rupo social (ciganos, homossexuais ,
emigrantes a f r icanos) , e o t ipo de crença (es tereót ipos vs. c renças individuais) . Na Tabela
3 (ver coluna 1 e 2 da tabela) , são apresentados os va lores cor respondentes ao número
médio de a t r ibutos gerados em cada condição de respos ta . O ún ico efe i to que emergiu da
análise de var iância foi um efe i to s ignif ica t ivo da var iável sessão (F ( l , 45 )=7 ,62 ; p=.008) ,
indicando que fo ram gerados s igni f ica t ivamente mais a t r ibu tos na sessão 1 (M=4,93) do
que na sessão 2 (M=4,74) . Este efei to replica os resu l tados encon t rados na Exper iênc ia I
do presente es tudo e os resul tados coincidentes encon t rados por outros autores (Bel lezza,
1984c; Barsa lou e co laboradores , 1987, ci tado por Bar sa lou , 1989), suger indo, novamente ,
que uma expl icação poss íve l pode estar no aumento de e f i c i ênc i a dos su je i tos , da sessão 1
para a sessão 2, conve rg indo re la t ivamente a i n fo rmação de ce rne ao longo das sessões .
Tabela 3: Médias e valores de correlação para os grupos sociais nas condições estereótipos e crenças individuais
Grupos Número médio de Acordo intra Acordo entre sociais Crenças traços gerados suieitos sujeitos
^ SêssãO::-1 - • Sessão 2 t \ . A /
Individuais 4,89 4.76 .56 .28 Ciganos
estereótipos 5,20 4,85 .60 .42
Individuais 4,83 4,61 .56 .31 Homossexuais
estereótipos 4,78 4,72 .49 .29
Emigrantes Individuais 4.85 4.61 .50 .25 africanos
estereótipos 5,02 4.89 .48 .26
Encont rou-se , a inda , um outro efe i to marg ina lmen te s ign i f i ca t ivo , re la t ivamente à
variável t ipo de c rença (F ( l , 45 )=3 ,13 ; p=.083) . À s e m e l h a n ç a dos resu l tados da
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
Exper iência I e de Dev ine e Elliot (1995), houve uma tendência para gerar mais atr ibutos
nas descr ições dos es tereót ipos (M=4,90) do que nas descr ições dos pontos de vista
individuais (M)=4 ,75) sobre os grupos sociais.
• Acordo intra suje i tos
Calcu lou-se , novamente , a correlação de e lemento c o m u m (para mais deta lhes , ver a
secção 2.2 da Exper iênc ia 1), para determinar o grau em que os mesmos suje i tos
esco lheram os m e s m o s atr ibutos na sessão 1 e na sessão 2. para descrever as mesmas
categorias sociais . Os níveis médios de acordo por cada condição de resposta são
apresentados na Tabe la 3 (ver coluna 3 da tabela) .
C o m o prev is to , os níveis de acordo intra sujei to vol taram, como na Exper iênc ia I, a
expressar , g loba lmente , o nível modes to de precisão das represen tações menta is das
categorias socia is ao longo das sessões. As pontuações médias de sobrepos ição dos
atr ibutos esco lh idos var iaram entre .48 e .60, indicando que o número de propr iedades
comuns p roduz idas por um mesmo indivíduo nas duas sessões es teve p róx imo dos 50%.
U m a anál ise de variância a dois fac tores (grupo social x t ipo de crença) con f i rmou
novamente que, ao contrár io do que esperávamos , não há efe i to s ign i f ica t ivo do t ipo de
crença ava l iada ( F ( l , 4 4 ) = . 4 8 ; p=.488) , ev idenc iando que os pon tos de vista sociais não
reve laram mais es tab i l idade dos que os pontos de vista individuais . Supor t e para a ausência
de d i f e renc iação des tes dois t ipos de representações menta is , quan to ao acordo intra
sujei to , foi obt ido t ambém com a medida das es t imat ivas percen tua is a t r ibuídas a cada
t raço nas duas sessões . Seguindo o mesmo procedimento de cá lcu lo e fec tuado na
Exper iênc ia I, não se obteve, na anál ise de var iância a dois fac tores (g rupo social x t ipo de
crença) , qua lquer e fe i to s ignif icat ivo da variável tipo de crença ( F ( l , 3 6 ) = . 19; p=.66) .
A única fon te s ignif icat iva de var iação foi o grupo social . O acordo intra su je i to
variou s ign i f i ca t ivamente com o grupo (F(2 ,88)=3,93; p=.023) , com os níveis de acordo a
oscilar en t re .49 (nos emigrantes a f r icanos) e .58 (nos c iganos) . Coinc iden temente ,
anal i sando em c o n j u n t o os resul tados dos ju lgamen tos de f ami l i a r idade , em relação aos
quais os três grupos var iam s igni f ica t ivamente (F(2 ,90)=13,68; p= .000) , repl ica-se o
resul tado da exper iênc ia I e o obt ido por Bel lezza (1984b) . Ou seja , o g rupo ju lgado c o m o
mais fami l ia r , os emigrantes a f r icanos (M=5,10) , foi t ambém aque le que revelou menor
acordo intra su je i to ( .49). A mesma interpretação é apontada para exp l ica r o resul tado. Ou
seja , é poss íve l que o maior contacto com o grupo social conduza ao conhec imen to de uma
100 A INSTABILIDADE DOS ESTERÓTIPOS
maior var iedade de exemplares diferentes desse grupo e que isso d iminua a es tabi l idade da
represen tação menta l do grupo social.
• Aco rdo entre suje i tos
Para ca lcular uma medida que ref lec t i sse o nível de acordo entre su je i tos nas várias
condições de respos ta , seguiu-se o procedimento adop tado na Exper iênc ia 1. Ass im, fez-se
o empa re lhamen to aleatór io dos sujei tos, fo rmando-se 24 pares com base nos dados da
sessão 1 e, t ambém, 24 pares apartir dos dados da sessão 2. O cá lcu lo da cor re lação de
e lemento c o m u m para cada par obedeceu aos mesmos passos e fec tuados na Exper iênc ia 1
(para mais deta lhes , ver secção 2.2 da Exper iência I). Os níveis médios de acordo entre
su je i tos são apresen tados na Tabela 3 (ver coluna 4 da tabela) .
Foi e fec tuada uma análise de variância a três fac tores . Os fac tores f o r a m a sessão x
o g rupo social x o t ipo de crença. Apenas as var iáveis g rupo social e t ipo de crença eram
var iáveis intra par de suje i tos . O tipo de c rença reve lou-se apenas uma fonte
marg ina lmente s igni f ica t iva de variação ( t (44)=3,37; p< .036 , uni la tera l ) , no sent ido em
que, só t endenc ia lmente , se verif ica, como esperado , um maior consenso entre sujei tos
quanto aos es tereót ipos sociais (.32) do que quanto ás c renças ind iv idua is ( .28). Qual i f ica
este resu l tado a lei tura da in teracção s ignif ica t iva que se ob tém entre as var iáveis grupo
social e t ipo de crença (F(2,88)=5,40; p=.006) . C o m o mos t ra o Grá f i co 5, há c laramente
maior consenso social sobre os es tereót ipos apenas no g rupo dos c iganos .
0RÁFIC0 5
Interacção grupo social x i i po de crença
F(:2.88>=5.«TO: p<.0061
estereótipos individuais
-o- GRUPO ciganos
o- GRUPO homossexuais
GRUPO emig.afrioanos
CRENÇA
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS 101
Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares
• Pos i t iv idade das representações de grupos sociais
A medida de pos i t iv idade calculada através da média ar i tmét ica das aval iações das
d imensões provou ser uma medida moderadamente precisa no presen te estudo; para os
vários grupos sociais e para os dois tipos de crenças aval iadas , os valores do alfa de
Cronbach osc i la ram ent re .54 e .72.
C o m esta med ida de pos i t iv idade média das representações dos grupos sociais , foi
real izada uma anál ise de variância a três factores (com o pr imei ro fac tor a ser a sessão, o
segundo a ser o g rupo social e o terceiro a ser o tipo de crença) . Es ta anál ise evidenciou
um efe i to pr incipal da variável t ipo de crença (F ( l , 45 )=173 ,03 ; p= .000) , repl icando um
resul tado já obt ido na Exper iência I e t ambém por Dev ine e El l io t (1995) . Ou seja,
novamente , os t raços se lecc ionados com base nos es tereót ipos cul tura is t raduziram a menor
posi t iv idade dos es tereót ipos cul turais (M=4,51) enquanto aqueles baseados nas crenças
individuais (M=5,34) ev idenc ia ram a maior posi t iv idade destas representações dos grupos.
Como most ra o Grá f i co 6, um efei to de interacção s igni f ica t ivo entre o grupo social x t ipo
de crença (F(2 ,90)=4 ,07 ; p=.02) salientou que, dependendo do grupo social , a
d i fe renc iação de pos i t iv idade entre as crenças individuais e es te reó t ipos é mais ou menos
acentuada. Por exemplo , a d i fe rença de posi t iv idade entre as representações mentais das
crenças indiv iduais e dos es tereót ipos é s ign i f ica t ivamente maior no grupo dos a f r icanos
compara t ivamente com o grupo dos homossexuais , onde essa d i f e rença é acentuadamente
menor.
5.85
5.55
5.25
4.05
4.65
4.35
4.05
Oráfico 6
Interacção Orupo x Crença
FC2.00)=4.07: p<.0203
D "
estereótipo indiv idual
-o - G R U P O Cigano
o- GRUPO Homossexuais
^ GRUPO Afr icanos
CRENÇA
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^
• Cor re lações entre as avaliações produzidas na sessão 1 e na sessão 2, pelos
m e s m o s ind iv íduos
Ut i l i zando o coef ic ien te de correlação de Pearson e a inda com as aval iações das
d imensões mais f r equen tes dos grupos sociais, e f ec tuadas pelos mesmos suje i tos , na sessão
1 e na sessão 2, ob teve-se os valores das corre lações . G loba lmen te , estes valores variaram
entre .0 e .79; apesar da proporção de variação c o m u m não ser mui to e levada é de salientar
que os valores de cor re lações mais e levados caíram nas ava l iações das d imensões do grupo
dos c iganos.
Identificação de uma distribuição
• Ava l i ação da d ispersão percebida na ta refa de mat r iz de dis t r ibuições
Par t indo das escolhas das dis t r ibuições fe i tas pe los indiv íduos apart ir das
matr izes foi poss íve l obter uma medida de dispersão. O cá lcu lo de uma anál ise de variância
a três fac to res (sessão x grupo social x tipo de c rença) ev idenc iou que o t ipo de crença é
uma fonte de var iação s ignif icat iva (F ( l , 45 )=52 ,94 ; p= .000) , rep l icando os resul tados
obt idos na Exper iênc ia I. Ass im, como previs to, a d i s t r ibu ição média escolh ida com base
nas crenças indiv iduais é s igni f ica t ivamente mais acha tada (M=2,79) do que a escolhida
com base nos es te reó t ipos (M=3,57) , o que s ign i f i ca que a represen tação das crenças
individuais é pe rceb ida como mais variável do que a r ep resen tação do es te reó t ipo cultural
de um grupo. Surgiu , t ambém, um efei to de in te racção ent re g rupo social x t ipo de crença
(F(2 ,90)=6,47; p= .002) , como mostra o Gráf ico 7. A i n specção do Gráf ico 7 sugere que,
enquanto que os grupos são percebidos como d i f e r e n c i a l m e n t e d ispersos em te rmos de
es tereót ipos , o cont rá r io se ver i f ica para as c renças ind iv idua i s . Ou seja , os níveis de
dispersão dos vár ios grupos variam mui to mais r e l a t ivamen te aos es tereót ipos sociais do
que ás c renças indiv iduais .
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ ^^
ORÁFICD 7
Interacção grupo social xüpo d« crença
FC2.00)=6.47; p<.0024
estereotipo; individuais
-o- ORUPO ciganos
o- ORUPO horr^ossexuais
•o ORUPO emig.africanos
CRENÇA
• Ava l i ação da tendência central na tarefa de matr iz de dis t r ibuições
N o v a m e n t e , para agregar s igni f ica t ivamente os dados da tendênc ia central de modo
a que todos os g rupos permit issem interpre tações comparáve i s entre si, inver teu-se as
pontuações das respos tas em dois grupos, os c iganos e os emigrantes a f r icanos . Pon tuações
mais e levadas con t inuam a indicar maior es tereot ip ica l idade.
U m a anál ise de var iância a três factores (com o pr imei ro a ser a sessão, o segundo a
ser o g rupo social e o terceiro a ser o tipo de crença) revela , como fac tor s igni f ica t ivo , o
tipo de c rença ( F ( l , 4 5 ) = 3 5 , 0 1 ; p=.000). É repl icado o e fe i to encont rado na Exper iênc ia I,
em que os es te reó t ipos sociais são vis tos como representações dos grupos
s ign i f ica t ivamente mais es tereot ipadas (M=4.35) do que as crenças individuais (M=3,97) .
Como most ra o G r á f i c o 8, o efe i to de in teracção s ign i f ica t ivo entre grupo social x t ipo de
crença, c i rcunscreve , contudo, esse resul tado a dois dos três grupos sociais (os c iganos e os
af r icanos) , j á que o padrão de resultados inver te-se no grupo dos homossexua is , onde a
dis t r ibuição méd ia esco lh ida foi mais es tereot ipada nas crenças individuais (M=3,96) do
que nos es te reó t ipos (M=3,70) , a inda que a d i fe rença não seja mui to acentuada .
104 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
5 . 0
4 . 8
4.e
4.4
4 .2
4 . 0
3 . 8
3 . 6
3 . 4
0 R A F I C 0 8
Interacção grupo social x t i po d€ crença
F ( 2 . 9 0 ^ i e . 5 0 : p < . 0 0 0 0
estereótipos individuais
CRENÇA
- o ORUPO ciganos
o- ORUPO
homossexuais
o- GRUPO emig.africanos
Aprovei tando ainda o parâmet ro de dispersão pe rceb ida e o j u lgamen to da tendência
central aval iados pelos m e s m o s suje i tos , ca lculou-se o nível de cor re lação entre as
d is t r ibuições escolhidas na sessão 1 e na sessão 2, por g rupo social e por t ipo de crença.
Para obter esta medida ut i l izou-se o coef ic ien te de co r re l ação de Pearson. Os resul tados
são apresentados na Tabe la 4.
Tabela 4: Valores de correlação, entre a sessão 1 e a sessão 2, da dispersão percebida e da tendência central
Grupos sociais Crenças
Valores das correlações entre a S1 e a S2
• 'r ' / / ' . Dispersão > percebida"
Tendência.; ^ central'-^
Ciganos Individuais
Estereótipos
.36*
.48*
.32*
.13
Homossexuais Individuais
Estereótipos
.42*
.37*
.47*
.56*
Emigrantes africanos
Individuais
Estereótipos
.35*
.41*
.45*
.11
Apart i r da tabela 4, podemos observar que, g loba lmen te , tanto para o pa râme t ro de
dispersão percebida quan to para a medida de t endênc ia central , as escolhas das
2296 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
distribuições na sessão 1 e na sessão 2 estão s ignif icat ivamente correlacionadas. E que os
pontos de vista individuais , também na globalidade, parecem produzir medidas destes dois
parâmetros mais corre lacionadas no tempo do que seria de esperar, compara t ivamente com
os pontos de vista baseados nos estereótipos culturais.
Avaliação da importância e centralidade dos traços em escalas bipolares
• Teste de d i ferenças de médias, de central idade e importância (correlacionadas) ,
entre os t raços que se repetiram na sessão 1 e na sessão 2 e os que não se
repet i ram
Para c lar i f icar se são os traços a que os indivíduos atr ibuem maior central idade e
maior impor tância , para a impressão geral do grupo, que se mantêm mais estáveis ao longo
das sessões, e fec tuámos testes de diferenças de médias para amostras dependentes . Estes
testes pre tendiam medir , para cada condições de resposta, se exis t iam diferenças
signif icat ivas entre as avaliações médias de central idade e de importância dos traços
coincidentes na sessão 1 e na sessão 2 e as avaliações médias de central idade e de
importância dos t raços que não se repetiram na sessão 2. Para tal, foram calculadas
previamente as médias ari tméticas das avaliações de central idade para o conjunto de traços
coincidentes e para o conjunto de traços não coincidentes . O mesmo procedimento foi
aplicado, só que considerando, agora, as aval iações dos traços na escala de importância . Já
que estas duas escalas , de central idade e de importância , foram introduzidas como duas
medidas da mesma coisa, calculou-se o seu nível de correlação, por grupo social, por tipo
de crença e por coincidência ou não dos traços nas duas sessões. Para obter esta medida
uti l izou-se o coef ic ien te de correlação de Pearson. Os resul tados revelaram sempre
correlações s igni f ica t ivas , razão porque as duas escalas foram combinadas na análise dos
resultados. Parece pois que os indivíduos não dis t inguiram ps icologicamente estas duas
dimensões nas suas avaliações. Os resultados dos testes de d i fe renças de médias para
amostras dependentes , para todas as condições de resposta, são apresentados na Tabela 5,
adiante.
Apart ir da observação da Tabela 5, podemos constatar que, g lobalmente , a
central idade média atribuída aos traços foi s ignif ica t ivamente maior para aqueles que se
repetiram na sessão 1 e na sessão 2 do que aqueles que não se repet iram, o que parece
indicar, como previs to , uma estabil idade s ignif icat ivamente maior dos traços considerados
centrais para a impressão geral do grupo.
106 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Tabela 5: Valores dos testes de diferenças de médias de centralidade e importância (correlacionadas) entre os traços coincidentes nas duas sessões e os traços não coincidentes
< >
^ " ^ Traços coincidentes 6,24 í Estereótipost . . ^ , T=2,02; p=.049*
^ < ^ ^ Traços não coincidentes ^ 5,44
^ ^ ! ^ Traçqs'còincidentes;/":;'. Í 5,92 v Crenças indtviduais K -r.v -í?:^ T=1,63; p=.110
^Traços nãó co"incidèrites% i 5,47 - ;
^ ^ ^ " Traços còincideht' 5GAy 5.75 - Estereótipos % p=.462
^ ^ - < , - ^ Traços nâp çòlncldentes; .. ^ ^ 5,46
Ciganos
Homossexuais r- ^ ' < í ^ ^ ' ^ Traços coincidentes . 6,03
- Crenças individuais ^ ^ ' > " T=:2,08; p=.042* ^ % ' ^ X / Traços não coincidentes 5,29
í . ' Jraços coincidentes 6,12 ^ ' . Estereótipos ^ ^ ^ ^ ' ' T= -.26; p=.79
^ . - -j- - - . Traços;nâo:coincidentes..ify -.-:i 6,20 y N v' j -N , ^ i i
Emig.Africanos - ^ . « , c ' ^ w < " Traços coincidentes lU 5,96
j Crenças individuaiSj ^ ' ^ ^ ^ ^ T= 2,12; p=.038* f. < I " , Traços não coincidentes ^ 5,11
< ^ t > ^ í
Salienta-se, contudo, que especif icamente em re lação ás avaliações das crenças
individuais no grupo dos ciganos, o valor do teste de d i fe rença de médias de central idade
entre traços coincidentes e traços não coincidentes saiu p re jud icado depois de combinada a
aval iação da central idade com a importância. Esta d i fe rença , embora no sentido previsto,
passa a não ser s ignif icat iva. Na real idade, esta foi a condição em que se obteve uma
correlação mais baixa, apesar de s ignif icat iva (.54), ent re as aval iações de central idade e as
de importância .
• Acordo intra sujei tos para os atr ibutos cons iderados centrais e para os
considerados per i fér icos
Calculou-se mais uma vez a correlação de e lemento comum (para mais detalhes, ver
a secção 2.2 da Experiência 1), agora, para determinar o grau em que os mesmos sujeitos
escolheram os mesmos atributos centrais, e os mesmos a t r ibutos per i fér icos para descrever
as mesmas categorias sociais, na sessão 1 e na sessão 2. Para dist inguir entre traços
centrais e per i fér icos calculou-se, para cada indivíduo, a med iana com base nas avaliações
de centra l idade efec tuadas na sessão 1. Cons ideraram-se per i fér icos os traços com
aval iações abaixo da mediana e centrais os traços que ob t iveram aval iações acima da média
( foram negl igenciados os traços que se sobreponham nas duas sessões e com avaliações
107 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
c o r r e s p o n d e n t e s à m e d i a n a ) . Po rque a med iana d iv id iu o c o n j u n t o de t raços esco lh idos e m
duas me tades igua i s - t raços cent ra is e t raços pe r i f é r i cos - o n ú m e r o total de a t r ibutos
esco lh idos na ses são 1 e na sessão 2, para se rem u t i l i zados no cá l cu lo das cor re lações de
e l emen to c o m u m , f o r a m d iv id idos por dois. Os n íve i s méd ios de aco rdo por cada cond ição
de respos ta são a p r e s e n t a d o s na Tabe la 6, a segu i r (ver co luna 1 da tabe la ) .
U m a aná l i s e de var iânc ia a três f ac to res (g rupo socia l x t ipo de c rença x grau de
cen t ra l idade) m o s t r o u que , c o m o p rev imos , há u m e fe i t o s i gn i f i ca t i vo do grau de
cen t r a l idade a t r i b u í d o aos t raços ( F ( l , 3 4 ) = 4 , 2 3 ; p= .047) , e v i d e n c i a n d o que os t raços
cons ide rados cen t r a i s r eve l am u m a es t ab i l idade s i g n i f i c a t i v a m e n t e ma io r ( .36) do que os
t raços ava l i ados c o m o pe r i f é r i cos ( .28) . Sa l i en ta - se , con tudo , que , m e s m o nos t raços
cons ide rados cen t r a i s pa ra as desc r i ções dos g rupos , os n íve is de aco rdo intra su je i to são
mu i to m o d e s t o s , o q u e mos t ra que, ao cont rá r io do que se pode r i a pensa r , a in s t ab i l idade
das r e p r e s e n t a ç õ e s m e n t a i s das ca tegor ias soc ia i s m a n i f e s t a d a ao longo das sessões não se
f ica apenas a d e v e r à in s t ab i l idade dos a t r ibutos pe r i f é r i cos u t i l i zados pe los su je i tos pa ra
as ca rac te r iza r .
Tabela 6: Valores de correlação para os grupos sociais nas condições estereótipos e crenças individuais, para
Grupos sociais Crenças
Grau de centralidade dos
traços Acordo intra
suieitos Acordo entre
suieitos " - p - r
! ^ ^ r < ^
Ciganos Individuais
estereótipos
íPeriferiGOSi:
V Centrais.
Perifericos:
^.Xentrais
.30
,37
.27
.49
.15
.21
.22
.43
A- X < ^
" Periféricos ^ ^
Homossexuais Individuais
estereótipos
< ^Centrais^/
' P e ^ é n c è s ^ - / .
' . Centrais < 4 ^
.31
.27
.30
.38
.11
.34
.12
.36
. Perifencos i Individuais ^^ ^ ^ ^ ^
Emigrantes africanos
'^Centrais \
estereótipos ^ Periféncos
Centrais
.22
.34
.29
.28
.20
.25
.14
.37
108 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
• Acordo entre su je i tos para os atr ibutos cons ide rados centrais e para os
cons iderados per i fé r icos
Para calcular uma medida que ref lec t i sse o nível de acordo entre suje i tos para os
t raços centrais e pe r i fé r icos seguiu-se o p roced imen to adop tado na Exper iência I. Assim,
fez-se o empare lhamen to a leatór io dos suje i tos , f o r m a n d o - s e 24 pares com base nos dados
da sessão 1 (as aval iações de centra l idade foram ped idas apenas na sessão 1). Antes de
e fec tuar o cálculo da cor re lação de e lemento c o m u m , foi necessár io d is t inguir entre os
t raços centra is e per i fé r icos . Para tal, calculou-se , para o c o n j u n t o dos su je i tos e para cada
traço, a média das aval iações de centra l idade atr ibuídas . C o m base nos valores médios de
cent ra l idade, foi ca lculada a mediana. O cálculo da cor re lação de e lemento c o m u m para
cada par de su je i tos obedeceu aos mesmos passos e f e c t u a d o s na Exper iênc ia I (para mais
detalhes , ver secção 2.2 da Exper iênc ia I ) .Novamente , po rque a mediana dividiu o con jun to
de t raços escolh idos em duas metades iguais - t raços cent ra is e traços pe r i f é r i cos - o
número total de a t r ibutos escolhidos pelo suje i to 1 e pe lo su je i to 2 de cada par, para serem
ut i l izados no cálculo das correlações de e lemento c o m u m , f o r a m divididos por dois . Os
níveis médios de acordo entre sujei tos são apresen tados na Tabe la 6 (ver co luna 2 da
tabela) .
Foi e fec tuada uma anál ise de var iância a três fac to res . Os fac tores f o r a m o grupo
social X o t ipo de crença x o grau de centra l idade. Todas as var iáve is e ram var iáve is intra
par de suje i tos . O grau de central idade a t r ibuído aos t raços revelou-se uma fonte
s ignif ica t iva de var iação (F ( l , 15 )=9 ,35 ; p=.008) , no sen t ido em que se ver i f ica , como
esperado, um maior consenso entre suje i tos quanto aos a t r ibu tos cons ide rados centra is
( .33) do que quanto aos a t r ibutos avaliados como pe r i f é r i cos ( .16), apesar dos níveis de
precisão, quer num tipo de at r ibutos quer noutro, serem mui to modes tos .
2300 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3.3 Experiência 11: Conclusões
Em suma, par te dos resul tados deste es tudo repl icam as ev idênc ias da Experiência 1.
Ass im, tal c o m o previsto, replica-se o efe i to já obt ido na Exper iênc ia I de que as
descrições de ca tegor ias sociais revelam níveis de ins tabi l idade semelhantes aos das
categorias não socia is , supor tando a ideia de que as percepções dos grupos sociais são
f lexíveis e sens íve is ao contexto , em vez de baseadas em ent idades es táveis recuperadas de
forma ina l te rada . Supor te para este efei to é obt ido através da medida de "geração de
t raços" e da med ida de "aval iação das d imensões mais f r equen tes nas escalas bipolares" .
Estes resul tados mos t r am, ainda, que o efe i to não é l imitado aos três grupos inicialmente
testados na Exper i ênc ia I, o que aumenta a genera l idade das nossas descober tas , nem fica a
dever-se à u t i l i zação de grupos sociais com estereót ipos cul tura is f racos . De facto, os
es tereót ipos cu l tu ra i s ut i l izados nesta experiência são for tes , o que permi te conclui r que a
instabi l idade não é f u n ç ã o da f raqueza dos es tereót ipos .
P roduz imos o m e s m o padrão de resul tados da Exper iênc ia I, u t i l izando o mesmo
paradigma com três novos grupos sociais, no que respei ta a uma série de fenómenos
básicos prev is íve i s . Ass im, conseguimos evidências de que, nes tes três grupos, os
es tereót ipos socia is cont inuam a ser percebidos como mais negat ivos ; cont inuam a ser
percebidos c o m o mais es tereot ipados, pelo menos em dois dos grupos ut i l izados; os
indivíduos c o n t i n u a m a admitir menos var iabi l idade nestes t ipos de representações mentais
dos grupos; e são tendenc ia lmente descri tos ut i l izando maior número de atr ibutos.
Os resu l t ados vol tam a fornecer a lguma evidência que desacred i ta a previsão inicial
sobre a maior p rec i são dos es tereót ipos, comparados com as c renças individuais . Suporte
para a ausênc ia de d i fe renc iação destes dois t ipos de represen tações menta is , quanto ao
acordo intra su je i to , foi obt ido quer com a medida de "geração de t raços" quer com a
medida das "es t ima t ivas percentuais atr ibuídas a cada t raço nas duas sessões" . Esta
hipótese co locada in ic ia lmente sobre a maior es tabi l idade dos es te reó t ipos re la t ivamente
ás crenças ind iv idua i s será mais p ro fundamen te reaval iada , tal c o m o a ausência de suporte
empír ico para a m e s m a , no capí tulo 5 desta disser tação, onde se apresen tam as conclusões
gerais. Ob teve- se , marg ina lmente , um maior consenso à vol ta dos atr ibutos dos
estereót ipos socia is , mas só no grupo dos c iganos .
Out ra par te dos resul tados desta segunda exper iênc ia apon tam para efe i tos que
parecem f ac i lmen te acomodáveis nas teorias que pos tu lam a exis tência de cernes
conceptuais nas ca tegor ias . Os atributos que não se sobrepõem nas duas sessões foram
110 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
s i s temat icamente cons iderados menos centrais para as impres sões dos grupos, enquanto os
a t r ibutos que se repe tem foram considerados, pelos ind iv íduos , s igni f ica t ivamente mais
essencia is e de te rminantes . C o m estes dados p o d e m o s pensa r que, seja a natureza dos
cernes das ca tegor ias mais de carácter def in idor ( A r m s t r o n g e colaboradores , 1983) ou
mais baseado na exper iênc ia (Barsalou, 1982, 1989), a lguns destes atr ibutos que os
indiv íduos esco lheram para descrever grupos socia is p a r e c e m ter ganho um estatuto
equ iva len te ao de cernes de informação, na medida em que parecem in fo rmação central
(para a descr ição da categoria) , al tamente acessível e mais es tável (Barsalou, 1982). No
m e s m o sent ido, os níveis de acordo intra suje i tos e en t re su je i tos obt idos para os traços
aval iados como centrais e per i fér icos apontam para a m a i o r es tabi l idade temporal e para o
maior consenso entre suje i tos re la t ivamente aos t raços centra is para a descr ição da
impressão geral sobre o grupo, do que para os t raços per i fér icos . Contudo , sendo
s ign i f i ca t ivamente maiores , os níveis de precisão, quer intra su je i tos quer entre sujei tos ,
reve lados pelos t raços centrais são modestos . O que j á não sus tenta a apl icação da noção de
cerne conceptua l , p ropos ta por Armstrong e co laboradores (1983) , aos atr ibutos cent ra is , já
que esta v isão enfa t iza não só o carácter def in idor mas t a m b é m a grande es tab i l idade da
i n fo rmação com esse estatuto. Estes resul tados apon tam, assim, para o fac to da
ins tabi l idade das representações mentais de ca tegor ias socia is ser uma caracter ís t ica
in t r ínseca aos concei tos e ao seu processo de cons t rução , c o m o supõem a visão de Barsalou
(1987, 1989) e as perspect ivas exemplar is tas da ca t egor i zação . Já que, com indicadores
sobre a modes ta precisão temporal mesmo dos a t r ibutos cons ide rados centra is t emos que
deixar de supor que a instabi l idade mani fes tada pelas r ep resen tações de ca tegor ias sociais
p rovém apenas da var iabi l idade temporal de a t r ibutos menos essencia is , mais per i fé r icos
para a descr ição da categor ia ; o que, até aqui, era t a m b é m u m a pos ição defensáve l .
Tendo chegado à conc lusão que os atr ibutos verba is das ca tegor ias socia is não são
recuperados da memór ia de forma comple t amen te prec isa , uma das ques tões de
inves t igação que se coloca é a de saber se a i n f o r m a ç ã o sobre ins tâncias , que ac tua lmente
se cons idera incluída nas representações menta is dessas ca tegor ias , t a m b é m revela o
mesmo grau de ins tabi l idade. Ainda, a cur ios idade sobre a natureza da ins tabi l idade
temporal mani fes tada levou, na Exper iência II, a cr iar cond ições exper imen ta i s que
demons t ra ram a maior es tabi l idade dos atr ibutos ava l iados pe los ind iv íduos c o m o centrais
para as impressões dos grupos, do que dos atr ibutos pe r i f é r i cos . Do m e s m o m o d o . poder-
se-ia a rgumenta r que as instâncias mais estáveis , c o m p a r a t i v a m e n t e com as ins táveis ,
co r respondessem aquelas que os indivíduos j u l g a r i a m c o m o s ign i f i ca t ivamen te mais
2302 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
t ípicas, de acordo até com estudos da ps icologia cogni t iva (Barsalou e Medin , 1986). Neste
sentido, uma terceira exper iência foi del ineada para responder a estas ques tões de
inves t igação.
112 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
4. Experiência III
Até agora p re t endemos determinar com que grau de p rec i são pode ser recuperada
in formação da memór ia dos indivíduos re la t ivamente a ca tegor i a s sociais , u t i l izando um
método de geração de i n f o r m a ç ã o apart ir de uma lista de a t r ibu tos , outro de aval iação de
d imensões carac ter í s t icas em escalas bipolares e ou t ro de se lecção de dis t r ibuições
apresentadas em matr izes . Bas icamente , os su je i tos f o r n e c i a m respos tas a rótulos de
categorias sociais , e sc revendo traços de persona l idade carac te r í s t icos das categorias
apresentadas , ava l iando d imensões caracter ís t icas dessas ca tegor ias e, ainda, escolhendo
dis t r ibuições mais represen ta t ivas das mesmas. Duas s e m a n a s depois , e ram tes tados nas
mesmas ta refas e usando os mesmos rótulos. Nesta tercei ra exper iênc ia con t inuávamos
interessados em es tudar a prec isão com que in fo rmação re la t iva ás representações mentais
de categor ias socia is é recuperada , mas agora in t roduz indo um pa rad igma de geração de
exemplares . Subsc revendo o consenso con temporâneo de que as represen tações das
categorias t ambém inc luem informação de exempla res e spec í f i cos , pa receu-nos útil
aver iguar o seu cont r ibu to para a maior ou menor p rec i são das represen tações menta i s de
grupos sociais . Os resu l tados das duas exper iências an ter iores t inham ind icado que os
atr ibutos verbais das ca tegor ias sociais não eram recupe rados da memór ia de forma
comple tamente prec isa . U m grau de instabi l idade da r e c u p e r a ç ã o pode ser ve rdade para os
atr ibutos das ca tegor ias , mas será verdade para a r ecupe ração de ins tâncias das categorias
sociais? Esta ques tão foi aver iguada pedindo aos su je i tos que d e s e m p e n h a s s e m a mesma
tarefa de geração de ins tâncias em duas sessões, com um in te rva lo de 15 dias.
Bel lezza (1984a) , u t i l izando um paradigma seme lhan te , pediu aos su je i tos para
gerarem ins tâncias de ca tegor ias comuns em duas sessões sepa radas por uma semana , para
chegar a uma es t imat iva dessa precisão. Obteve uma cor re l ação média entre os conteúdos
das duas recordações de .69. Vários estudos sobre a e s tab i l idade da es t ru tura gradat iva
produzida pelo m e s m o ind iv íduo para a mesma ca tegor ia , m o s t r a r a m que estas estruturas
não re f lec tem es t ru turas invariantes subjacentes ás ca tegor ias , mas que os seus
determinantes p o d e m mudar com o contexto e que , por isso, a es t ru turação de uma
categoria é um processo a l tamente d inâmico e dependen te do con tex to (Barsa lou, 1985;
Barsalou e co laboradores , 1986, ci tado por Barsa lou , 1989). Es tes es tudos abordaram
também a ques tão de que exemplares "'dentro" de uma ca tegor ia são pr inc ipa lmente
responsáveis por m u d a n ç a s na estrutura gradat iva p roduz ida por um indiv íduo. Ao longo
2304 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
de uma var iedade de condições , os exemplares moderadamen te t íp icos fo ram sempre os
mais instáveis , enquan to os exemplares t ípicos e atípicos f o r a m sempre mais es táveis ,
revelando, con tudo , uma ins tabi l idade substancial (Barsalou e Medin , 1986). Baseados
neste rac iocínio , e cons ide rando que a estrutura gradat iva é um predi tor impor tan te do
desempenho, en t re outras , em tarefas de produção de exempla res , a nossa h ipótese
principal era que o grau de precisão intra suje i to para os exempla res gerados fosse
modesto, à s eme lhança dos valores encontrados para as ca tegor ias não sociais . E, poder-se-
ia argumentar que os exemplares mais estáveis , compara t ivamen te com os ins táveis ,
cor respondessem aqueles ju lgados , pelos indivíduos, como s ign i f i ca t ivamente mais t ípicos.
Es t ávamos in te ressados ainda em replicar os níveis de ins tab i l idade intra suje i to ,
obtidos nas duas exper iênc ias anteriores, re la t ivamente ás ava l iações das d imensões mais
f requentes dos grupos sociais em escalas bipolares .
114 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
4.1 Experiência III: Método
4.1.1 Participantes e Desenho experimentai
Os su j e i t o s f o r a m 65 es tudantes da U n i v e r s i d a d e de L i s b o a que pa r t i c ipa ram por um
b ó n u s parc ia l na sua nota na d isc ip l ina . T o d o s os p a r t i c i p a n t e s r e sponde ram ás quatro
t a r e fa s i n c l u í d a s na expe r i ênc i a (descr i tas ad ian te ) , p a r a os t rês g rupos socia is .
O d e s e n h o e x p e r i m e n t a l desta expe r i ênc i a foi 2 s e s s õ e s (Ses são 1 versus S e s s ã o 2) x
3 g r u p o s soc ia i s ( C i g a n o s versus H o m o s s e x u a i s v e r s u s E m i g r a n t e s a f r i canos ) . T o d o s os
f a c t o r e s e r a m f a c t o r e s in t ra su je i to .
4.1.2 Material
As in s t ruções gera is fo rma man t idas i dên t i ca s ás da Expe r i ênc i a II (para mais
de t a lhe s ver s e c ç ã o 3 .1 .2 da Exper iênc ia II). E os g r u p o s a p r e s e n t a d o s nes ta expe r i ênc ia
m a n t i v e r a m - s e os m e s m o s da Exper iênc ia II, ou s e j a , c i g a n o s , h o m o s s e x u a i s e emig ran t e s
a f r i c a n o s .
As qua t ro t a r e f a s da exper iênc ia f o r a m f o r n e c i d a s aos pa r t i c ipan te s na seguin te
o r d e m :
• G e r a ç ã o de ins tânc ias . In i c i a lmen te , foi p e d i d o aos p a r t i c i p a n t e s que
e l a b o r a s s e m desc r i ções dos a spec tos c a r a c t e r í s t i c o s de i n s t ânc i a s de uma
c a t e g o r i a soc ia l , sa l ien tando a i m p o r t â n c i a de d e s c r e v e r pe lo m e n o s c inco
i n d i v í d u o s d is t in tos . As ins t ruções a p r e s e n t a d a s f o r a m as segu in tes :
Nesta tarefa vamos pedir-lhe que construa pequenas descrições (de duas ou três frases) de indivíduos específicos que têm em comum serem ciganos. Os indivíduos que descrever podem corresponder a indivíduos que conhece quer íntima quer superficialmente ou até a indivíduos específicos que imagine a partir dos seus conhecimentos gerais acerca dos ciganos. Sabemos que é impossível fornecer um retrato completo de um indivíduo em duas ou três frases, mas uma breve descrição dos aspectos que considerar mais característicos do indivíduo específico em causa é o suficiente. Pedimos-Ihe ainda que numere cada uma das descrições para que saibamos que se tratam de diferentes indivíduos. Por favor, elabore pelo menos cinco descrições de cinco indivíduos diferentes. Pode elaborar mais se for capaz (ou menos de cinco se sentir que cinco é excessivamente difícil). Estamos interessados nas descrições que as pessoas fazem de indivíduos que têm em comum serem ciganos. Pode usar o reverso da página se necessitar. E por favor tente utilizar uma letra bem legível. Se tiver alguma dúvida, esclareça-a com a experimentadora.
• J u l g a m e n t o da f ami l i a r idade com as i n s t ânc i a s ge radas . D e p o i s d o s pa r t i c ipan te s
g e r a r e m as ins t ânc ias para o p r i m e i r o g r u p o soc ia l (os c i g a n o s ) , f o i - l h e s ped ido
que v o l t a s s e m ao iníc io e que, pa ra c a d a i n s t â n c i a , i n d i c a s s e m o grau de
f a m i l i a r i d a d e que sen t iam c o m cada e x e m p l o de c i g a n o desc r i to , n u m a esca la
2306 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
bipolar de 9 pontos, que oscilava entre +1 (Muito pouco famil iar) e +9 (Mui to
fami l ia r ) . Es tava aqui em causa, não o papel da fami l ia r idade com a ca tegor ia
social , como foi explorado nas duas exper iências anteriores, mas o papel da
fami l ia r idade com exemplares espec í f icos , gerados para as categorias .
• Ju lgamento da t ipical idade das ins tâncias geradas. Para obter ju lgamentos da
t ip ical idade, pediu-se aos sujei tos que vol tassem novamente ao início da ta refa
de geração de instâncias e que, para cada instância produzida , aval iassem, agora ,
a sua t ip ical idade numa escala de aval iação bipolar , onde o ponto +1 foi ro tu lado
Atípico e o ponto +9 foi rotulado Típico. Os indivíduos t inham que indicar , para
cada ins tância , o número da escala que melhor t ransmit isse quão t ípico esta era
da sua categor ia . Outros autores (Barsa lou , 1985) houve que, para ava l ia rem a
t ip ical idade ut i l izaram inst ruções que ped iam para avaliar "quão bons exemplos
e ram da ca tegor ia" , por receio que o termo típico induzisse os suje i tos a usar , em
vez, a f r equênc ia com que viram a ins tância como membro da categoria .
• Aval iação de d imensões mais f r equen tes dos grupos em escalas b ipolares .
F ina lmente , foram apresentadas aos su je i tos as mesmas escalas de ad jec t ivos
b ipolares ut i l izadas na Exper iência II, contendo t a m b é m as 13 d imensões
cons ideradas como as mais per t inentes para os três grupos sociais incluídos nes ta
exper iência . Foi pedido aos sujei tos que respondessem, u t i l izando escalas de
aval iação de 9 pontos.
4.1.3 Procedimento
Todos os su je i tos foram testados duas vezes enquanto grupo , com a sessão 2 a
decorrer com um in tervalo de 15 dias da sessão 1. O p roced imen to foi o mesmo nas duas
sessões, t endo s ido ut i l izadas as mesmas ins t ruções . As ins t ruções e as quatro ta refas
fo ram apresentadas num único caderno. Repet iu-se o m e s m o p roced imen to de iden t i f icação
dos su je i tos , j á u t i l izado na Exper iência I e na Exper iênc ia II (ped indo que ind icassem a
sua data de aniversár io e a da sua mãe) . Os três grupos sociais f o r a m apresentados num só
caderno, sempre na mesma ordem: ciganos, homossexua i s e emigran tes af r icanos . Pr imei ro
responderam à ta refa de "geração de ins tâncias" para o grupo dos c iganos , depois à t a re fa
de " ju lgamen to de fami l ia r idade das instâncias geradas" , segu ida do " ju lgamento da
t ip ica l idade das ins tâncias geradas" e da "ava l iação das d imensões mais f requentes dos
grupos em escalas b ipolares" . Depois responderam ás mesmas t a re fas para o grupo dos
116 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
homossexua is e para o g rupo dos emigrantes a f r icanos . Nas duas sessões, as tarefas e os
grupos sociais f o r a m apresen tados exac tamente na m e s m a o rdem.
4.1.4 Medidas dependentes
As medidas dependen tes deste es tudo foram:
a) O nível de acordo intra suje i to em relação ás ins tânc ias geradas, na sessão 1 e
na sessão 2, ca lculado através da cor re lação de e l emento c o m u m (Bellezza,
1984a, 1984b, 1984c).
b) As esca las b ipolares de ju lgamen to da f ami l i a r idade sent ida em relação ás
ins tâncias geradas .
c) As esca las b ipolares de ju lgamen to da t ip ica l idade a t r ibuída ás instâncias
geradas .
d) O nível de acordo intra suje i to re la t ivamente ás ava l iações das d imensões mais
f r equen tes dos grupos (em escalas b ipolares de 9 pon tos ) p roduz idas na sessão
1 e na sessão 2.
e) O nível de acordo intra su je i to em relação ás ins tânc ias geradas na sessão 1 e na
sessão 2 cons ideradas mais t ípicas, ca lcu lado a t ravés dá cor re lação de elemento
c o m u m (Bel lezza , 1984a, 1984b, 1984c).
f) O nível de acordo intra su je i to em relação ás ins tânc ias geradas na sessão 1 e na
sessão 2 cons ideradas menos t ípicas, ca lcu lado a t ravés da cor re lação de
e l emento c o m u m (Bellezza, 1984a, 1984b, 1984c).
117 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
4.2 Experiência III: Resultados e Discussão
Geração de instâncias
• N ú m e r o de instâncias
Foi e f ec tuada uma análise de variância a dois fac tores para o número médio de
instâncias geradas . Os factores foram a sessão (sessão 1 vs. sessão 2), e o grupo social
(c iganos, homossexua i s e emigrantes afr icanos) . Ambos os fac tores e ram intra suje i to . O
número médio de ins tâncias geradas é apresentado na Tabe la 7 (ver co luna 1 e 2 da tabela) .
Da anál ise de var iância obteve-se um efe i to s ign i f ica t ivo da var iável grupo social
(F(2 ,128)=13 ,47 ; p=.000) , no sent ido em que, houve s i s temat icamente d i fe renças no
número de ins tânc ias geradas, dependendo do grupo social . Na real idade, esta d i fe rença
s igni f ica t iva f icou a dever-se , essencia lmente , ao grupo dos c iganos que, numa anál ise de
cont ras tes , se dis t inguiu s ignif ica t ivamente dos res tantes dois grupos ( F ( l , 6 4 ) = 1 7 , 6 9 ;
p=.000) , para os quais o número de instâncias geradas não difer iu s ign i f ica t ivamente
( F ( 1 . 6 4 ) = . 1 1 8 ; p = . 7 3 1 ) .
Tabela 7: Médias e valores de correlação para os grupos sociais
Grupos Número médio de Acordo intra sociais instâncias geradas sujeitos
Sessão 1 Sessão 2
Ciganos 4,83 4.37 .55
Homossexuais 4,34
Emigrantes africanos
4,38
4,77
4.37
.62
.55
• Acordo intra sujei tos
Para de te rminar o grau de acordo intra su je i to em relação ás instâncias geradas foi
usada a cor re lação de e lemento comum (Bel lezza, 1984a, 1984b, 1984c). Para calcular este
valor para cada grupo social, por sujei to, o número de ins tâncias comuns em ambas as
sessões foi d iv id ido pela raiz quadrada do p rodu to entre o número total de ins tânc ias
geradas na sessão 1 e o número total de ins tâncias geradas na sessão 2. O número de
ins tâncias comuns foi de terminado por aval iação de cada suje i to do seu própr io protocolo .
118 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Assim, no final da sessão 2, facul tou-se a cada su je i to as descr ições das instâncias que
t inham gerado na sessão 1 e pediu-se que ass ina lassem aquelas que coinc id iam com as
geradas naquela sessão. Os níveis médios de acordo por cada condição de resposta são
t ambém apresentados na Tabela 7. (ver co luna 3 da tabela) .
C o m o previs to , g lobalmente , os níveis de acordo intra su je i to obt idos na ta refa de
geração de ins tâncias para categorias sociais es t iveram ao m e s m o nível daqueles obtidos
por Bel lezza (1984a) , que invest igou as ca tegor ias não sociais com o mesmo paradigma
exper imenta l . As pontuações médias de sobrepos ição de ins tânc ias var iaram entre .55 e
.62., r e f l ec t indo a precisão modesta com que são recuperadas as ins tâncias de categorias
sociais em memór ia .
Sal ienta-se , contudo, que, compara t ivamente com os níveis de acordo intra sujei to
obt idos na tarefa de geração de atr ibutos nas duas exper iênc ias anter iores , os níveis de
prec isão at ingidos na tarefa de geração de ins tâncias são mais e levados . Pode-se
a rgumenta r que este resul tado pode dever-se ao p roced imen to , menos objec t ivo , adoptado
para ca lcular o número de instâncias comuns nas duas sessões , na presen te exper iênc ia . Os
par t ic ipantes p o d e m ter t ido tendência para sobres t imar este valor , vis to que uma análise
superf ic ia l dos protocolos sugere, exac tamente , que uma desc r i ção de uma ins tância não
comple tamen te equiva lente (em termos dos e lementos inc lu ídos) à fei ta na sessão anterior
é mui tas vezes cons iderada uma descr ição comum a ambas as sessões .
• Ju lgamento da fami l ia r idade em relação ás ins tânc ias geradas
Ut i l izou-se os ju lgamentos de fami l ia r idade com as ins tânc ias geradas para
aver iguar se estes d i fe r iam s igni f ica t ivamente para as ins tânc ias que se mant ivessem
es táveis ao longo das sessões, quando comparadas com as que não se man t ivessem. Foram
e fec tuados testes de d i fe renças de médias para amost ras dependen te s , para cada condição
de resposta . Para tal, fo ram calculadas prev iamente as méd ias a r i tmét icas das ava l iações de
fami l ia r idade para o con jun to das instâncias co inc iden tes e para o c o n j u n t o das ins tâncias
não co inc identes . Os resul tados dos testes são apresen tados na Tabe la 8.
2310 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Tabela 8: Valores dos testes de diferenças de médias de familiaridade entre as instâncias coincidentes nas
í ^ s ^ > Exemplares^ coincidentes
c a n o s I t ' ' C - ^ Exemplares não coincidentes
M=3,62
M=4,43
T= -2,52; p=.014
, Exemplares coincidentes ^ ^
^ Homosexua ls ^ ^ ^ l ^ ^ , í ^ Exemplares não coincidentes "
M=5.03
M=3,75
1=3,83; p=.000
Z.—% ^ ^ j ji ^ ^ ^ ^ \ ^ ' ^ "" Exemplares coincidentes
^ Emigrantes ^ . ' afncanos ^ ^ Exemplares não coinicidentes
M=5,64
M=4,80
T=2,51; p=.014
C o m o se pode constatar , excepto para o grupo dos c iganos , a fami l ia r idade média
atr ibuída foi s ign i f ica t ivamente maior para as instâncias que se repet i ram na sessão 1 e na
sessão 2, do que para as instâncias que não se repet i ram nas duas sessões.
A fami l ia r idade , tal como foi ut i l izada nesta exper iência , pode ser de f in ida c o m o a
es t imat iva subjec t iva , de a lguém, de quão f requen temente observou d i rec tamente , ou
conheceu pessoa lmente , uma ent idade ao longo de uma d ivers idade de contextos . E nesse
sentido, a fami l ia r idade é uma medida de f requênc ia independente de uma categor ia
part icular . Por isso, podia-se esperar que não fosse predi tora da p rodução de exempla res de
uma categor ia . E de facto, Barsa lou (1985) concluí nas suas inves t igações que a
fami l ia r idade não é um determinante da es t rutura gradat iva. Contudo , a ev idência obt ida
nesta exper iênc ia não suporta esta conclusão. De facto , o que se ver i f ica é que a var iável
" fami l i a r idade com as ins tâncias" está mais re lac ionada do que seria de esperar , pe los
es tudos de Barsa lou (1985), com a es tabi l idade das mesmas . In terpre tações a l ternat ivas
para este resul tado são fac i lmente encont radas como, por exemplo , o f ac to de ser provável
que se dê mais peso a um exemplar especí f ico da categor ia que se conheça melhor , ou com
o qual se contactou mais , recentemente ; pode-se colocar a ques tão de até que ponto isso
não o tornará mais acessível e não levará os su je i tos a cons iderá - lo mais impor tan te para
def in i r a ca tegor ia .
• Ju lgamento da t ipical idade das ins tâncias geradas
T a m b é m em relação ás aval iações da t ip ical idade das ins tâncias , p rocurou-se
aver iguar se estas d i fe r iam s igni f ica t ivamente entre as ins tânc ias que se man t ivessem
estáveis nas duas sessões e as que não se mant ivessem. Ca lcu lou-se novamente as médias
120 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
a r i tmé t i cas dos j u l g a m e n t o s de t ip ica l idade para o c o n j u n t o das ins t ânc ias co inc iden tes e
para o c o n j u n t o das i n s t ânc i a s não co inc iden tes . E u t i l i z o u - s e tes tes de d i f e r e n ç a s de
méd ia s pa ra t e s t a r as d i f e r e n ç a s . Os resu l tados dos tes tes são a p r e s e n t a d o s na Tabe la 9, a
seguir .
Tabela 9: Valores dos testes de diferenças de médias de tipicalidade entre as instâncias coincidentes nas duas sessões e as instâncias não coincidentes
i
^ Ciganos
ií >
Exemplares coincidentes v ^ < i
• ' i' . ' v> . ' .• f
Exemplares não coincidentes l
M=6,32
M=5.51
T=-1,98; p=.052
i Exemplares coincidentes^ M=6,02
• ' — . ... v.- a.../- . ::.tí N ^ ^ { > ^
Homossexuais A ^ < i , -S
> ' " ' ' ' l T=4,47; p=.000 ^ í. ; Exemplares^não coindcientes - c? M=4.28
í l
^ > Y H ' '
! Emigrantes ^ afncanos^
Exemplares coincidentes
Exemplarei não coinicidentes:í- .Vi
M=6,37
M=5,94
T=1,17; p=.243
Pe lo m e n o s e m dois dos grupos , os r e su l t ados p a r e c e m a p o i a r a p r ev i s ão de que a
t i p i ca l idade das i n s t ânc i a s é uma boa pred i to ra da e s t a b i l i d a d e na p r o d u ç ã o de exempla res .
De f ac to , pa ra o g r u p o dos c iganos e pa ra o g r u p o dos h o m o s s e x u a i s , as ins tânc ias
r epe t idas nas duas ses sões f o r a m ju lgadas c o m o s i g n i f i c a t i v a m e n t e m a i s t íp icas do que as
ins tânc ias que não se r epe t i r am nas duas sessões .
• A c o r d o in t ra su j e i to s , por grau de t i p i ca l idade a t r i b u í d o aos e x e m p l a r e s
Para d e t e r m i n a r o grau de acordo intra su j e i t o s e m r e l a ç ã o ás i n s t ânc i a s geradas
cons ide radas ma i s t íp icas ou m e n o s t íp icas foi u s a d a a c o r r e l a ç ã o de e l e m e n t o c o m u m
(Be l l ezza , 1984a, 1984b, 1984c) . Foi necessá r io , p r i m e i r o , tal c o m o fo i f e i to e m re lação
aos t r aços cen t r a i s e p e r i f é r i c o s , d is t inguir ent re i n s t â n c i a s m a i s t í p i cas e m e n o r t ípicas .
Para cada su je i to , fo i c a l c u l a d a uma med iana , c o m b a s e na qua l as i n s t ânc i a s aval iadas
com va lores a b a i x o da m e d i a n a fo ram cons ide radas m e n o s t í p i ca s e as ava l i adas com
valores ac ima da m e d i a n a f o r a m cons ide radas ma i s t í p i cas (as i n s t â n c i a s sob repos t a s nas
duas ses sões e c u j o s va lo res ca í ram em c ima da m e d i a n a f o r a m n e g l i g e n c i a d a s para o
cá lcu lo do a c o r d o in t ra su j e i t o s ) . O p r o c e d i m e n t o de c á l c u l o da c o r r e l a ç ã o de e l emen to
c o m u m foi s e m e l h a n t e ao e f e c t u a d o para o a c o r d o in t r a s u j e i t o s em a d i s t i n ç ã o ent re
ins tânc ias t íp icas e a t íp icas (ver o início des ta m e s m a s e c ç ã o , 4 .2 ) , c o m a d i f e r e n ç a de que
121 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
O n ú m e r o de i n s t ânc i a s ge radas na sessão 1 e na ses são 2 foi d iv id ido por dois . c o m o já
t inha a c o n t e c i d o na E x p e r i ê n c i a II para cá lcu los e q u i v a l e n t e s . Os n íve is méd ios de a c o r d o
para cada c o n d i ç ã o de r e spos t a são ap resen tados na T a b e l a 10, a segui r .
Tabela 10: Valores de correlação para os grupos sociais, por grau de tipicalidade atribuído aos exemplares gerados
Grupos sociais
Grau de tipicalidade das instâncias
Acordo intra sujeitos
Ciganos Instâncias perifencas-
Instâncias-centrais^^
.35
.44
Homossexuais Instâncias periféncas-;
:lnstâncias.cehtrais,.í:^v
.34
.50
i-Instâncias periféncas': Emigrantes africanos :4lnstâncias centrai.S;;0;.
.32
.47
C o m o ob t ido na Expe r i ênc i a II, e c o m o prev i s to , u m a aná l i se de var iânc ia a do i s
f ac to res ( g r u p o soc ia l x grau de t ip ica l idade das ins t ânc ias ) ev idenc iou um e f e i t o
s i gn i f i ca t i vo da va r i áve l grau de t ip ica l idade das i n s t ânc i a s ( F ( l , 3 7 ) = 1 3 , 5 8 ; p= .000) , no
sen t ido e m q u e as ins t ânc ias mais t ípicas, ma i s cen t ra i s pa ra a d e s c r i ç ã o da ca tegor ia soc ia l
r e v e l a r a m m a i o r a c o r d o intra su je i to ( .47) do q u e as ins t ânc ias m e n o s t íp icas , p o r t a n t o
mais p e r i f é r i c a s pa ra a desc r i ção do grupo soc ia l ( .34) . T a m b é m no m e s m o sen t ido do que
acon teceu na E x p e r i ê n c i a II, o nível de p rec i são t empora l ob t i do para es tas ins t ânc ias
c o n s i d e r a d a s cen t r a i s é modes to .
Avaliação de dimensões mais frequentes dos grupos em escalas bipolares
• C o r r e l a ç õ e s en t re as aval iações p r o d u z i d a s na sessão 1 e na sessão 2, pe los
m e s m o s i n d i v í d u o s
U t i l i z a n d o o coe f i c i en t e de cor re lação de P e a r s o n , c a l c u l o u - s e a p r o p o r ç ã o de
va r i ação c o m u m en t re as ava l iações das d i m e n s õ e s ma i s f r e q u e n t e s dos g rupos soc ia i s
e f e c t u a d a s na ses são 1 e as e f ec tuadas na ses são 2, pe los m e s m o s ind iv íduos . G l o b a l m e n t e ,
o b t i v e r a m - s e v a l o r e s mu i to var iados , que o s c i l a r a m en t re .14 e .75. Es tes resu l t ados são
c o n c o r d a n t e s c o m os ob t idos na Exper i ênc ia I e, f u n d a m e n t a l m e n t e , c o m os ob t idos na
122 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Exper iênc ia 11, que incluiu os mesmos grupos sociais , pe rmi t i ndo rea f i rmar a instabil idade
previs ta para as representações mentais de categor ias socia is .
2314 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
4.3 Experiência III: Conclusões
E m s u m a . e c o m o previs to , nesta expe r i ênc ia , vo l ta -se a rep l icar o e fe i to , j á ob t i do
nas duas e x p e r i ê n c i a s an ter iores , de q u e as desc r i ções de ca tegor ias socia is e v i d e n c i a m
níveis de i n s t ab i l i dade seme lhan te s aos das ca t egor i a s não socia is , mas agora u t i l i z ando u m
p a r a d i g m a d i f e r e n t e , o pa rad igma da ge ração de ins tânc ias . Supor t e pa ra es te e f e i t o fo i
t a m b é m c o n s e g u i d o a t ravés da m e d i d a de " a v a l i a ç ã o das d i m e n s õ e s ma i s f r e q u e n t e s nas
esca las b i p o l a r e s " , onde se produziu o m e s m o p a d r ã o de resu l tados da E x p e r i ê n c i a I e da
Expe r i ênc i a II.
T a m b é m c o m o previs to , c o n s e g u i m o s ob te r r esu l t ados que ind icam a var iáve l
" t i p i ca l idade das i n s t ânc i a s " c o m o uma b o a p red i to ra da p r o d u ç ã o de ins tânc ias . As
ins tânc ias q u e c o i n c i d i r a m nas duas sessões f o r a m , pe lo m e n o s e m dois dos g rupos ,
s i s t e m a t i c a m e n t e cons ide radas mais t íp icas do q u e as ins tânc ias que não c o i n c i d i r a m . Ou
se ja , pa r ece v e r i f i c a r - s e uma maior e s t ab i l idade das ins tânc ias que são c o n s i d e r a d a s ma i s
r ep resen ta t ivas das ca tegor ias sociais . Os va lo res do aco rdo intra su j e i to s pa ra i n s t ânc i a s
ava l i adas c o m o ma i s t íp icas e para ins tânc ias ava l i adas c o m o m e n o s t íp icas vão no m e s m o
sent ido , a p o n t a n d o para uma maior e s t ab i l idade das ins tânc ias cons ide radas m a i s t íp icas .
Rosch (1975 , c i t ado po r Smith e Med in , 1981) e Rosch e M e r v i s (1975 , c i t ado po r Smi th e
Med in , 1981) j á t i n h a m d e m o n s t r a d o q u e as ins tânc ias mais t íp icas t i n h a m mais
p r o b a b i l i d a d e de s e r e m recuperadas , j á que são ma i s s eme lhan t e s aos e x e m p l a r e s de u m
conce i to q u e e s t ão a rmazenados . Os t r aba lhos des tes au tores a p o n t a m pa ra u m t ipo
par t i cu la r de m o d e l o de ca tegor i zação que, pa ra a l ém de as sumi r desc r i ções de e x e m p l a r e s ,
cons ide ra as r e p r e s e n t a ç õ e s de ca tegor ias res t r i tas a exempla r e s q u e são t íp icos do
conce i to .
Pode r - s e - i a a té m e s m o a rgumen ta r que . a noção de ce rne concep tua l , q u e a v i s ã o
"cerne+identificação" (Arms t rong e c o l a b o r a d o r e s , 1983) p r o p õ e r e l a t i v a m e n t e aos
a t r ibutos das ca t ego r i a s , seria t a m b é m apl icável a e x e m p l a r e s e s p e c í f i c o s das ca t ego r i a s ,
no sen t ido e m que as ins tânc ias t íp icas c o r r e s p o n d e r i a m a i n f o r m a ç ã o cen t ra l pa ra a
desc r i ção da ca t ego r i a e depois ex is t i r iam ins t ânc i a s ma i s pe r i f é r i cas . E . nes te sen t ido , as
p r ime i ras s e r i am a l t amen te acess íve i s e e s t áve i s , i m p r e s c i n d í v e i s pa ra de f in i r a c a t e g o r i a
s empre que a sua r ep re sen t ação menta l e s t ivesse e m causa ; e as ú l t imas só se r i am ac t i vadas
o c a s i o n a l m e n t e . C o n t u d o , c o m o a per tença grupai nes te p a r a d i g m a e x p e r i m e n t a l de
ge ração de in s t ânc i a s não é d e f i n i d a po r a t r ibu tos de p e r s o n a l i d a d e e ou t ros , e s t e s
r esu l t ados e n q u a d r a m - s e me lhor na teor ia de B a r s a l o u (1982 . 1989), pa ra q u e m a na tu reza
124 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
dos cernes tem um carác ter mais baseado na exper iência , do que na teor ia de Armstrong e
co laboradores (1983) , s egundo quem os cernes têm um carác te r de f in idor , no sent ido em
que são cons t i tu ídos por propr iedades necessár ias e su f ic ien tes para def in i r um conceito.
Na visão "cerne+identificação" (Armst rong e co laboradores , 1983), as propriedades I
protot ípicas e os exempla res que as pessoas adqu i rem re s idem s implesmente nos
"procedimentos de identificação", em vez de nos "cernes", e, por tan to , nunca chegar iam a
ser cent ra is para a ca tegor ia na acepção destes autores . Por outro lado ainda, é
de te rminante que, apesar das instâncias mais t ípicas r eve la ram mais es tab i l idade temporal
do que as ins tâncias menos t ípicas, os níveis de es tab i l idade des tas ins tâncias centrais
cont inue a ser mui to modes to , o que mais uma vez a rgumen ta para o f ac to de ser difícil
apl icar a noção de "cerne" def in idor (Armstrong e co l abo radores , 1983) ás instâncias
centrais , pois na concepção destes autores os "cernes" são a l t amen te es táveis .
Al iás , tal como reve lado neste estudo, e de acordo com a lguns autores , m e s m o as
instâncias t ípicas reve lam uma instabi l idade substancial (Be l lezza , 1984a; Barsa lou , 1985;
Barsa lou e Medin , 1986). Ass im, é provável , pois, que os n íve is modes tos de acordo intra
suje i to possam ser o resu l tado da variabi l idade da es t ru tura g rada t iva das ca tegor ias , j á que
os gradientes de t ip ica l idade não são f ixos ao longo do t e m p o e em di fe ren tes contextos.
Mas p o d e m ser t ambém resul tado da fo rma como até as ins tânc ias mais t ípicas são
a rmazenadas e recuperadas apart i r da memória .
Os dados desta exper iênc ia parecem, ainda, apontar para a var iável " fami l ia r idade
com as ins tânc ias" como es tando mais re lac ionada do que ser ia de esperar com a
es tabi l idade das mesmas ; j á que, pelo menos em dois dos g rupos , a fami l ia r idade foi
s ign i f i ca t ivamente maior para as instâncias coincidentes do que para as não coincidentes .
125 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
S.Conclusões gerais
A impor tânc ia do pensamento ca tegór ico no dia-a-dia jus t i f i ca , com certeza, os
var iados e s fo rços teór icos e empír icos para caracter izar a sua es t rutura e para ident i f icar os
processos que agem sobre eles. Sa l ien tam-se duas visões da ps icologia cogni t iva
in teressada no es tudo da categorizarão, pelas previsões cont ras tantes que fazem quanto à
es tabi l idade dos concei tos , tópico de par t icular interesse nesta disser tação: A
abs t racc ionis ta e a exemplar is ta . No processo de pÔr à prova empír ica teorias sobre a
es tabi l idade das representações mentais de categor ias , o desenvo lv imento de métodos
apropr iados para es tudar a es tabi l idade que ex ibem essas representações - como a
metodolog ia de tes te-re tes te longi tudinal - foi de te rminante , p roduz indo resul tados cu jas
impl icações para a natureza dos concei tos e para as teorias da ca tegor ização são vastas.
O p rocesso de evolução que os modelos de representações menta is de grupos sociais
fo ram tendo não é alheio aos desaf ios que os modelos de representações mentais das
categor ias em geral t iveram que ir u l t rapassando. O m e s m o tipo de inadequabi l idades que
levou à r e f o r m u l a ç ã o de modelos cogni t ivos gerais e à prevalência de visões al ternat ivas
ao abs t racc ion i smo na psicologia cogni t iva con temporânea (Garc ia -Marques , 1998), fo ram
detec tados t a m b é m nos modelos de cognição social baseados na abst racção. As abordagens
mais recentes en fa t i zam, cons is tentemente , a fluidez e flexibilidade dos es tereót ipos ,
p ropondo que es tes são construídos com base no con jun to de conhec imentos d isponíveis
num d e t e r m i n a d o momento . Contudo, pouca ou nenhuma inves t igação foi fei ta para
de te rminar quão es táveis podem ser estas es t ru turas de conhec imento social .
Nes ta d i sser tação fizemos uma tentat iva de desenvolver e apl icar uma metodolog ia
adequada ao es tudo da instabi l idade de categor ias sociais - a metodolog ia de tes te-retes te
longi tudinal , vas ta e cons is tentemente tes tada na ps icologia cogni t iva in teressada na
ins tabi l idade dos concei tos . Nas três exper iências e fec tuadas foi fe i ta uma es t imat iva da
es tab i l idade dos es tereót ipos e das crenças individuais sobre grupos sociais .
Ass im, a secção final desta d isser tação cons is te em duas subsecções : a pr imei ra é
dedicada a u m a síntese dos principais resul tados obt idos ao longo das três exper iências e
procura aponta r os pr incipais erros e lacunas da presente inves t igação, a segunda pre tende
ser um r e sumo das principais l ições aprendidas apart i r destes es tudos , j un t amen te com as
perspec t ivas de fu tu ras invest igações.
126 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
5.1 Principais resuitados das três experiências: uma síntese
As três exper iências produziram uma grande divers idade de resultados
correspondentes ás várias medidas dependentes usadas. As principais descobertas estão
sumariadas a seguir.
(ci) Efeito de instabilidade intra-individual de categorias sociais. O resul tado mais
óbvio destas experiências é a instabil idade intra-individual das representações mentais de
grupos sociais. De facto, os resultados das três exper iênc ias suportam globalmente a
hipótese de que o acordo intra sujeito para as categorias sociais revela níveis de precisão
modestos, equivalentes aos obtidos por outros autores em invest igações sobre a
instabil idade de categorias não sociais (para uma revisão ver Barsalou e Medin , 1986;
Barsalou, 1987, 1989).
Suporte para este efei to foi obtido com um parad igma de geração de traços, com um
paradigma de geração de instâncias e através de uma medida de "aval iação das dimensões
mais f requentes nas escalas bipolares".
Assim, estes resul tados permitem analisar a ex tensão do efe i to , quando demonst ram
que um grau de instabi l idade acontece tanto na recuperação dos atr ibutos verbais como na
recuperação de instâncias dessas categorias.
Os resul tados most ram também a generalidade das descober tas , j á que o efe i to não é
l imitado aos três grupos sociais inicialmente testados, mas surge t ambém nos três grupos
introduzidos nas Exper iências II e III. E mostram ainda que essa instabi l idade intra-
individual não se f ica a dever ao uso de estereótipos f r acos mas ocorre igualmente em
grupos com estereót ipos bastante bem definidos e re levantes socia lmente .
Parece pois que as representações mentais de grupos sociais são al tamente
permeáveis ao contexto em vez de entidades estáveis recuperadas de forma inal terada, à
semelhança da natureza do processo de categorização de ob jec tos não sociais. Este facto
deve ser levado em consideração nas conceptual izações sobre c o m o os grupos sociais estão
representados menta lmente .
Esta instabi l idade intra-individual poderia ref lect i r um erro de medida, ou seja, ser
devida, em parte, ao ins t rumento de medida em si e em par te ás condições que envolvem o
seu teste. Na real idade, se o erro de medida fosse responsáve l pelos níveis baixos de
estabil idade observada no conjunto das experiências que vários inves t igadores da
psicologia cognit iva e fec tuaram, então dever-se-ia sempre observar estes níveis baixos
independentemente de se pedir para os itens serem aval iados ou ordenados .
127 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Contudo, Galambos e Rips (1982, ci tado por Barsalou, 1989) relataram um resul tado g
que inf i rma esta predição. Alguns dos seus sujei tos ordenaram acções de um script da
mais central para a menos central, onde a central idade das acções num script é análoga à
t ipical idade dos exemplares numa categoria. Outros sujei tos ordenaram essas mesmas
acções por posição ou ordem temporal , começando pela acção que ocorre primeiro no
script e conclu indo com a acção que ocorre no f im do mesmo. Os sujei tos que ordenaram
pela central idade exibiram um acordo entre sujei tos de .35, que é comparável ao acordo
entre suje i tos relatado anteriormente para a t ipicalidade (Barsalou e Sewell , 1985, ci tado
por Barsa lou, 1989). Ao contrário, os sujei tos que ordenaram de acordo com a posição
temporal exib i ram um acordo entre sujei tos de ,89, indicando que o baixo acordo para a
central idade não era devido a um erro de medida. Em vez disso, o baixo acordo para a
central idade parece ref lect i r menor estabil idade da informação que os sujei tos recuperaram
para fazer ju lgamentos . Mais, é al tamente plausível que Galambos e Rips (1982, ci tado por
Barsalou, 1989) t ivessem encontrado maior estabil idade intra sujei to para a pos ição
temporal do que para a central idade se t ivessem recolhido esses dados. Dada a
possibi l idade, muito provável , que os sujei tos revelassem acordo intra e entre suje i tos
quase perfe i to para algumas dimensões das categorias, pode-se esperar que o erro de
medida não seja exclusivamente responsável pela instabil idade dos ju lgamentos de
t ipical idade. Se assim fosse, não deveria haver uma dimensão para a qual os suje i tos
exibissem maior estabil idade. Além de que as diferenças de instabi l idade obtidas entre
grupos sociais não podem ser explicadas por l imitações do ins t rumento de medida. De
facto, os resul tados das Experiências II e III revelam, não só, um acordo entre suje i tos
(.33), para os atr ibutos considerados centrais, comparável ao relatado anter iormente por
Galambos e Rips (1982, citado por Barsalou, 1989), para os sujei tos que ordenaram pela
central idade, mas também, uma instabil idade temporal intra sujei to considerável para
atributos verbais considerados mais centrais (.36) e para instâncias consideradas mais
típicas ( .47), que é ainda maior para os traços avaliados como per i fér icos (.28) e para as
instâncias menos t ípicas (.37). Os resultados revelam, ainda, d i ferenças de instabi l idade
intra suje i to entre os grupos sociais testados que não podem ser re f lexo de um erro de
medida, que jus t i f icar ia níveis baixos de estabil idade independentemente de se pedir a
avaliação de um grupo social ou de outro. Por exemplo, para o estereótipo de cigano, o
« Conhecimento geral que possuímos sobre o que é esperado numa dada situa_ção cognitivamente repre^ntado num script. Os scripts dizem-nos que comportamentos são normais e esperados em dadas situações (Smith e Mackie, 1995)
128 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
acordo intra suje i to para t raços centrais é de .49, enquan to para o es tereót ipo de emigrante
a f r icano o m e s m o acordo ronda os .28.
Torna-se pois mais plausível um enquadramento ba seado na recuperação , através de
mecan i smos bás icos como a acessibi l idade e as p is tas contex tua is , para explicar a
ins tabi l idade das represen tações do conhec imento , c o m o o p ropos to por Barsa lou (1987,
1989).
Crenças sociais percebidas como mais negativas, mais estereotipadas, mais
homogéneas e descritas por mais atributos do que as crenças individuais. Globalmente ,
conseguimos obter , nas Exper iências I e II, ev idências que pe rmi t em a demons t ração de
alguns f enómenos bás icos previsíveis .
Ass im, à semelhança dos resultados de Devine e El l iot (1995) , compara t ivamente
com as crenças individuais , os es tereót ipos sociais são descr i tos u t i l izando maior numero
de atr ibutos, e são perceb idos como mais negat ivos .
Também, baseado no raciocínio de que as r ep re sen tações das crenças individuais
seriam mais fo r t emente const i tu ídas por exemplares e spec í f i cos do que as representações
dos es tereót ipos , p redominan temen te baseadas em i n f o r m a ç ã o abstracta , esperava-se , tal
como se ver i f icou , que as representações das crenças ind iv idua i s fo s sem perceb idas como
mais var iáveis do que as representações dos es tereót ipos . De fac to , porque é prováve l que
os exemplares se jam, em parte, d iscrepantes da abs t r acção poder - se - ia esperar que a
inclusão de i n fo rmação sobre exemplares aumentasse a pe r cepção da var iab i l idade nas
representações das crenças individuais , compara t ivamen te com as r ep resen tações dos
es tereót ipos .
E ainda, de acordo com a nossa suposição de que o p rocesso de cons t rução dos
es tereót ipos, compara t ivamen te com o das c renças ind iv idua i s , depende menos da
exper iência directa com membros individuais , o b t i v e m o s impressões baseadas em
estereót ipos mais es te reo t ipadas do que as baseadas em c renças ind iv idua is .
Estes resul tados representam e enca ixam bem na d i s t inção conceptua l in t roduzida
por Devine (1989) entre as duas representações menta i s de g rupos sociais : as c renças
individuais e os es tereót ipos .
(C) Os atributos e instâncias coincidentes no teste-reteste são consistentemente
considerados mais centrais e mais típicos. Os resu l tados das Exper i ênc ia s II e III vão no
mesmo sent ido, na medida em que revelaram que os a t r ibu tos e as ins tâncias que não se
129 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
sobrepõem nas duas sessões foram s is temat icamente cons iderados menos centrais e menos
t ípicos para as impressões dos grupos sociais , enquan to os atr ibutos e as instâncias que se
repetem f o r a m cons iderados s ign i f ica t ivamente mais essencia is , de te rminantes e t ípicos.
No m e s m o sent ido, o cálculo do acordo intra suje i tos para a t r ibutos mais centrais e
ins tâncias mais t íp icas e para atr ibutos mais per i fé r icos e ins tâncias menos t ípicas revelou
a maior es tab i l idade intra individual ao longo das sessões dos a t r ibutos centrais e das
ins tâncias mais t ípicas , apesar de mesmo estes reve laram uma ins tabi l idade substancial .
Os resu l tados quanto aos atr ibutos pa recem fac i lmente acomodáve i s ás teorias que
pos tu lam a ex is tênc ia de cernes conceptuais nas categor ias . Alguns dos atr ibutos que os
suje i tos e sco lhe ram para descrever grupos sociais pa recem ter ganho um esta tuto
semelhan te ao de ce rne de in formação , na med ida em que parecem in fo rmação central para
a descr ição da ca tegor ia , permanecendo a l tamente acessível e mais estável (Barsalou,
1982). Os resu l tados , pela instabi l idade cons iderável m e s m o dos atr ibutos centrais ,
parecem, no entanto , enquadrar-se melhor numa visão em que a na tureza dos cernes das
ca tegor ias se ja mais baseada na exper iência (Barsa lou, 1982, 1989) do que numa visão que
impr ima um carácter def in idor a esta noção (Armst rong e co laboradores , 1983).
Por outro lado, t ambém na visão de Barsa lou (1982, 1989), a t ransmissão cultural
do conhec imen to envolve , em grande medida , es tabelecer , para ca tegor ias , cernes de
in fo rmação que são par t i lhados pelos membros de uma população . O resul tado obt ido na
Exper iênc ia II, que revela um maior acordo entre su je i to para os a t r ibutos centrais do que
para os pe r i fé r i cos , parece também acomodável à teoria de Barsa lou (1982, 1989).
D o m e s m o modo, poder-se- ia começar por pensar que a teoria de
"cerne+identificação" relativa aos atr ibutos é apl icável a exempla res espec í f icos das
ca tegor ias , no sent ido em que as instâncias t ípicas cor responder iam a in fo rmação central
para a desc r ição da categoria e depois ex is t i r iam ins tâncias mais per i fér icas . Con tudo ,
como no caso da geração de exemplares a per tença grupai não é de f in ida por atr ibutos de
pe rsona l idade e out ros e como, mesmo para as ins tâncias t íp icas , a ins tabi l idade é
substancia l , es tes resul tados enquadram-se melhor na noção de cerne baseado na
exper iênc ia , in t roduz ida por Barsalou (1982, 1989), do que na noção de cerne com carác ter
def in idor p ropos ta por Armst rong e co laboradores (1983) .
Essenc ia l é que, apartir destes resu l tados , a ins tab i l idade intra individual das
represen tações menta i s de categorias socia is deixa de poder ser atr ibuível apenas a
a t r ibutos ou ins tâncias mais per i fér icos que va r iave lmente os ind iv íduos incluem nas suas
descr ições das ca tegor ias . E que uma visão que sus tente a ins tab i l idade intra individual
130 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
como uma caracter ís t ica intr ínseca ao processo de cons t rução de concei tos de categorias
sociais permi te acomodar melhor os resul tados das três exper iênc ias atrás descr i tos .
Apesar disso, estes resul tados não de ixam de sa l ientar que ins tâncias espec í f icas de
um grupo, tanto quan to propr iedades ou atr ibutos, pa recem poder contr ibuir para alguma
es tabi l idade tempora l que man i fes t am as representações menta i s de grupos.
Claramente , a re levânc ia teórica destes resu l tados p r o v é m da poss ib i l idade de usá-
los para compreende r com maior precisão a na tureza espec í f i ca das respos tas dos
par t ic ipantes e da ins tab i l idade que estas revelam no tes te- re tes te .
Por exemplo , seria poss ível a rgumentar que es tes a t r ibutos e ins tâncias centra is para
a cons t rução dos concei tos , que se mantêm mais es táveis ao longo das duas sessões , cabem
na. noção de ' ' i n fo rmação independente do con tex to" p ropos ta por Barsa lou (1982) . Ou
seja, cor responder ia a cer to t ipo de in fo rmação que é au toma t i camen te ac t ivada sempre que
um concei to é cons t ru ído para a categoria , não é r ecuperada por pis tas contextuais
espec í f icas e ganhou esse es ta tu to pela exper iência indiv idual e/ou par t i lhada soc ia lmente .
E o fac to é que, aprovei tando a dist inção, in t roduz ida por Barsa lou (1982) , entre
t ipos de i n fo rmação incorporados nos concei tos de ca tegor ias com base na sua
acess ib i l idade e e spec i f i c idade da pista com que são recuperados ( " in fo rmação
independen te do con tex to" , " in formação dependen te do con tex to" e " in fo rmação
dependente do con tex to recen te" ) , outras questões para inves t igação da ins tab i l idade intra-
individual ganham in teresse .
Barsa lou cons idera que uma in terpre tação poss íve l para a lguma es tab i l idade que os
concei tos de uma ca tegor ia mantêm entre contextos e entre su je i tos é a p resença da
" i n fo rmação independen te do contexto" , embora i sso a inda es te ja por provar
empi r icamente . E in t roduz a noção de " in fo rmação dependen t e do con tex to recente"
quando há uma subs tancia l mudança do concei to de u m a ca tegor ia depois de uma semana
ou mais , mesmo que as cond ições exper imenta is se m a n t e n h a m cons tan tes , r e f l ec t indo a
in f luênc ia de eventos recentes e imedia tamente anter iores à cons t rução do conce i to (que
const i tui r ia um efe i to de recência) .
Por exemplo , embora a nossa inves t igação tenha s ido toda o r ien tada para testar o
fac to da d i fe rença de es tab i l idade prevista entre as c renças ind iv idua i s e os es te reó t ipos ser
garant ida por d i fe renças na natureza do conteúdo (mais ou m e n o s exempla r i s t a ) destas
es t ruturas , poder -se- ia pensa r que uma questão or togonal a esta poder i a prever a mesma
d i ferença de es tab i l idade entre as duas es t ruturas cogn i t ivas — e x a c t a m e n t e o peso re la t ivo
dado aos d i fe ren tes t ipos de in formação ( " i n f o r m a ç ã o i ndependen t e do contexto" ,
2322 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
" informação dependente do contexto" e " informação dependente do contexto recente") ,
introduzidos por Barsalou (1982, 1989).
É verdade que a natureza distinta de conteúdo, que postulámos para as crenças
individuais (mais for temente consti tuídas por exemplares específ icos) e para os
estereótipos, fundamenta a previsão de que as primeiras manifes tem mais instabil idade do
que os segundos (podendo até os atributos gerados ser ou não coincidentes do ponto de
vista pessoal e do ponto de vista social, é a sua associação é que é necessar iamente
diferente) . Mas também é possível considerar que os diferentes t ipos de informação
( Informação independente do contexto, Informação dependente do contexto. In formação
dependente do contexto recente) propostos por Barsalou tenham pesos relativos diferentes
no processo de const rução de um conceito na memória de trabalho de um estereótipo ou de
uma crença individual e prever, por isso, a mesma diferença de estabil idade entre as
crenças individuais e os estereótipos. Especif icamente , os sujei tos , quando descrevem as
suas crenças individuais sobre um grupo social, podem dar mais peso à " in formação
dependente do contexto recente" para maximizar a contr ibuição da sua experiência pessoal
e, quando descrevem o seu conhecimento sobre os estereótipos relat ivos a esse grupo,
podem dar menos peso a essa mesma informação, para minimizar a inf luência da sua
experiência pessoal , e mais peso à informação part i lhada cul tura lmente sobre o grupo
social em causa.
Tal raciocínio fundamentar ia um outro teste empírico de uma predição segundo a
qual se esperaria uma diferença significativa na estabil idade das crenças individuais
compara t ivamente com os estereótipos, com base no peso relat ivo dado aos diferentes t ipos
de informação, no sentido, aliás, da previsão formulada na presente invest igação.
(d) Efeito do tipo de crença na estabilidade intra-individual. Os resultados das
Experiências I e II, onde se testou este efei to, desacredi tam consis tentemente a previsão
inicial sobre a maior estabil idade dos estereótipos sociais, compara t ivamente com a
evidenciada pelas crenças individuais.
Suporte para a ausência de diferenciação entre estes dois t ipos de representação
mental , quanto ao acordo intra sujei to, foi obtido quer com a medida de "geração de
t raços" quer com a medida das "estimativas percentuais atr ibuídas a cada traço nas duas
sessões".
132 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Este const i tui o pr incipal malogro do con jun to de exper iênc ias e laboradas no âmbito
desta d isser tação e requer também, obviamente , a lgumas cons iderações metodológicas e
teóricas sobre si.
Duas fo rmulações teór icas foram propostas para f u n d a m e n t a r a previsão de que se
ver i f icar ia uma d i fe renc iação nos níveis de ins tabi l idade ent re crenças individuais e
es tereót ipos de grupos sociais .
Uma, sus ten tada em princípios episódicos que admi tem es t ru turas de conhec imento
genér icas baseadas em exemplares sensíveis ao con tex to e subsc revendo o consenso
con temporâneo de que as representações de ca tegor ias inc luem ambas , i n fo rmação de nível
de grupo e i n fo rmação de exemplares (Barsalou, 1990; El io e Anderson , 1981; Nosofsky,
Palmeri e McKin ley , 1994; Sherman, 1996), prevê maior es tab i l idade para os estereót ipos
re la t ivamente ás representações das crenças indiv iduais sobre g rupos sociais .
Outra, que adopta pr incípios dualistas de p r o c e s s a m e n t o sobre os es tereót ipos
(Johnston e Coolen, 1995) e supõe que p rocessamentos de i n f o r m a ç ã o d i fe ren tes est iveram
na or igem da cons t rução das crenças individuais e dos es te reó t ipos , p revê mais es tabi l idade
das crenças individuais quando comparadas com os es te reó t ipos .
De fac to , a pr imeira visão considera o con tex to crucial para a natureza das pistas
usadas quando são pedidas descrições de es t ruturas de conhec imen to genér icas (seja o
processo subjacente um de natureza não del ibera t iva e a l t amente e f ic ien te , p rocesso de
ajustamento global, ou um de natureza mais s i s temát ica e que requer recursos cogni t ivos
extensos) e assume que se uma representação for mais baseada em in fo rmação de nível de
grupo e se este tipo de i n fo rmação for al tamente acess ível ou mui to usado, a i n f o r m a ç ã o de
nível de grupo terá um papel preponderante na desc r ição e j u l g a m e n t o do g rupo social,
to rnando o papel da recuperação de exemplares menor .
Ora, de acordo com estes pressupostos e com base no rac iocín io desenvolv ido
anter iormente , na Secção 1.5 desta disser tação, sobre a o r igem e na tureza dis t in tas das
crenças individuais e dos es tereót ipos, que sugere que as represen tações das crenças
individuais podem ser mais for temente const i tu ídas por exempla re s espec í f i cos do que as
representações mentais dos es tereót ipos, seria previs ível maior ins tab i l idade das pr imeiras
do que das segundas .
Já a segunda visão cons idera que um p roces samen to mais s i s temát ico da in fo rmação
esteve subjacente à cons t rução das crenças indiv iduais sobre g rupos sociais e quando a
in formação é cu idadosamente atendida, c o m p r e e n d i d a e e laborada , t odo este
p rocessamento mais ex tens ivo inscreve as r ep resen tações na m e m ó r i a to rnando-as tão
2324 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
f i rmemente f ixadas que pouco as pode afectar , seja novo mater ia l seja a passagem do
tempo. E que os es tereót ipos cons t ru ídos através de um processamen to heurís t ico são mais
suscept íveis à mudança . Esta v isão suportada por estes a rgumentos far ia , por isso, a
previsão inversa da v isão anterior.
Os dados das exper iências real izadas não permi tem conf i rmar nem uma nem outra
predição. Não se ve r i f i ca ram d i fe renças de es tabi l idade in t ra- indiv idual entre as c renças
individuais e os es tereót ipos . Algumas l imi tações metodológicas podem ter de t e rminado d i rec tamente estes
resul tados. Apesar dos p roced imentos de escolha dos grupos sociais te rem sido considerados e
revistos cu idadosamen te , ao longo das exper iências , uma das grandes d i f icu ldades sent idas
permaneceu a esco lha de grupos em que as crenças individuais e os es tereót ipos sociais se
d i fe renc iassem c laramente . T inham de ser grupos sociais com um es tereót ipo
carac ter i s t icamente def in ido e consensua lmente par t i lhado pela soc iedade e com os quais
os su je i tos t ivessem algum contacto directo min imamen te regular com membros
espec í f icos , j á que é natural que existam mais efe i tos contextua is quando as pessoas têm
mais contac to com e lementos especí f icos do grupo do que quando não têm e que, por tanto ,
o papel que se espera para os exemplares em ju lgamen tos ou descr ições baseados em
crenças indiv iduais /es te reót ipos se ja mais desproporc ionado .
À poster ior i , é de considerar que ta lvez tenhamos esco lh ido grupos sociais com os
quais as pessoas têm mui to pouco contacto e que, por isso, as descr ições dos indivíduos
baseadas nas c renças individuais se jam mais abstractas do que querer íamos .
Pode f u n d a m e n t a r este raciocínio o fac to de não se ter obt ido cons is tentemente , para
todos os grupos sociais , um consenso entre suje i tos s ign i f i ca t ivamente maior à volta dos
atr ibutos gerados com base nos es tereót ipos do que para os a t r ibutos gerados com base nas
crenças ind iv idua is . Ou seja, de cer teza que dever íamos ter ob t ido um acordo entre suje i tos
s ign i f i ca t ivamente maior nos estereót ipos do que nas c renças individuais . Sal ienta-se ,
contudo , que m e s m o nos grupos sociais em que esse e levado consenso entre suje i tos foi
obt ido para os es tereót ipos (compara t ivamente com as crenças individuais) , a previsão de
maior es tab i l idade int ra- individual para os es tereót ipos , re la t ivamente ás c renças
individuais , não se conf i rmou . Por outro lado, a medida de famil iar idade com cada grupo social ut i l izada talvez não
tenha f u n c i o n a d o c o m o uma verdadeira e boa medida do contac to que os sujei tos t inham
com e lementos espec í f i cos dos grupos . Rea lmente , a fami l ia r idade , tal como foi ut i l izada
134 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
nas Exper iênc ias I e II, é susceptível de várias in te rpre tações . Poderá ser de f in ida como a
es t imat iva subjec t iva , de a lguém, da f requênc ia c o m que observou di rec tamente ou
conheceu pessoa lmen te ent idades específ icas de um grupo socia l , mas poderá ser também a
fami l ia r idade subjec t iva que o indivíduo sente com o grupo , que pode ser f ru to até de um
maior conhec imen to que adquiriu indirectamente sobre o grupo .
Esta f rag i l idade da medida não permitiu que ela dê-se , à poster ior i , in formação
válida sobre o grau de contac to dos suje i tos com os g rupos soc ia i s u t i l izados .
Cla ramente , dever ia ser concebida mais inves t igação para u l t rapassar estes
problemas, apesar de ser sempre possível que a razão para não termos obt ido o resultado
previsto seja a de que o grau de abstracção das r ep resen tações ( se rem baseadas numa maior
ou menor cont r ibu ição relat iva do conhecimento abs t rac to ou de exempla res ) não modera o
acordo in t ra- indiv idual , ou seja, não modera a sob repos i ção ent re as descr ições que um
sujei to faz de uma ca tegor ia social no momento de teste e no m o m e n t o de reteste .
Aver iguar se, em outras condições exper imenta i s , este resu l tado que não diferencia
a es tabi l idade das represen tações mentais das c renças ind iv idua i s e dos es te reó t ipos se
mantém ou não seria um bom teste à viabi l idade des ta p rev i são .
De fac to , a ins tabi l idade e sensibi l idade ao con tex to poder i a se demons t r ada noutras
condições exper imenta i s . Levando os par t ic ipantes a l is tar ca rac te r í s t i cas de g rupos sociais
depois de te rem sido expos tos a um de dois t ipos de i n f o r m a ç ã o : um exempla r do grupo ou
in fo rmação es ta t ís t ica sobre o grupo e esperando que as desc r i ções dos g rupos sociais
d i fer issem dependendo do tipo de in formação apresen tado .
Nes tas condições , seria esperado, contudo, que a i n f o r m a ç ã o do exempla r tivesse
um efe i to maior para os par t ic ipantes cu jas descr ições são ba seadas nas c renças individuais
do que para os par t ic ipantes cu jas descrições são baseadas nos es te reó t ipos , j á que as
crenças indiv iduais ser iam previs ive lmente mais sens íve is ao contac to d i rec to com
exemplares do que os es tereót ipos , que se baseiam ma i s f o r t e m e n t e numa impressão geral.
Por ou t ro lado, ser ia previsível que a i n fo rmação es ta t í s t ica - onde não há contacto
directo com um exempla r - t ivesse um maior e fe i to nos pa r t i c ipan tes que desc revessem o
grupo com base no conhec imen to que têm dos es te reó t ipos do que nos par t i c ipan tes cu jas
descrições, se baseassem nas suas crenças pessoais .
Estas pred ições sus tentam-se , obviamente , nos p re s supos tos de que o conhec imen to
que. os su je i tos têm sobre os es tereót ipos é fo rnec ido e mais suscept íve l à m u d a n ç a por
heurís t icas de in f luênc ia social , que normalmente a p r e s e n t a m a i n f o r m a ç ã o sob a f o rma de
descr ições gerais do grupo social , e de que as crenças ind iv idua i s são cons t ru ídas e mudam
2326 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
com base no c o n t a d o directo, na experiência pessoal do indivíduo com instâncias
especí f icas do grupo social .
A magn i tude do efei to , dependendo do t ipo de crença (estereót ipo ou crença
individual) , a in f luênc ia de manipular a t ip ical idade dos exemplares ou manipular a
var iabi l idade da in fo rmação estat íst ica apresentada são todas ques tões po tenc ia lmente
interessantes a inves t igar com este paradigma exper imenta l . Por exemplo, inves t igação
recente tem fo rnec ido evidência sobre as condições em que a in fo rmação de exemplar
incongruente conduz à revisão de estereót ipos (para uma revisão ver Hamil ton e Sherman,
1994), ou desencade ia um processo cognit ivo de recuperação e geração de exemplares mais
del ibera t ivo e s i s temát ico (Garcia-Marques e Mackie , 1999).
É de sa l ientar , contudo, que na perspect iva de Barsalou nem seria de esperar esta
d i fe renc iação nos níveis de instabi l idade entre as c renças individuais e os es tereót ipos de
grupos sociais . Para este autor, a inf luência que a i n fo rmação de ta lhada sobre instâncias ou
a i n fo rmação id ioss incrá t ica tem sobre os processos de ca tegor ização pode não fornecer
uma expl icação comple ta da categor ização mas acumulam-se cada vez mais ev idências que
sugerem a p re sença de uma organização da memór ia a longo prazo onde i n fo rmação de
exemplares e ep i sód ios são integradas com o conhec imen to genér ico que i lustram. Na sua
visão, não se pode assumir que as tarefas de ca tegor ização se base iam apenas em
conhec imen to abst racto geral, deixando as inf luências ep i sód icas para ta refas pouco
fami l ia res em que fa l tam abstracções re levantes . Nes te sent ido, as representações têm
todas i n f o r m a ç ã o de exemplares armazenada que em qualquer m o m e n t o de j u lgamen to da
categor ia p o d e m inf luenc ia r e ser determinantes na cons t rução de concei tos da categor ia .
Para a lém disso , este autor admite que o conhec imen to abst racto talvez flutue com a
exper iênc ia recente com exemplares , que a p rodução de pro tó t ipos de uma categor ia ela
própr ia revela níveis importantes de ins tabi l idade in t ra- indiv idual ( .67) e que a
acess ib i l idade des ta in formação abstracta, a sua au tomat ização , resul ta da prát ica. Ora,
neste sent ido , depende di rec tamente de i n fo rmação episódica , é f u n ç ã o da f requênc ia e
recência dos ep isódios processados (Barsalou e co laboradores , 1993). E. por isso, não seria
de esperar n íveis de instabi l idade diferentes entre as c renças ind iv idua is e es tereót ipos .
Por outro lado, na perspect iva de Barsa lou , qualquer ca tegor ia é representada na
memór ia de t r aba lho por representações que inc luem a lguma in fo rmação de cerne (que
ocorre em todas as representações para a ca tegor ia) e por u m a grande quant idade de
in fo rmação dependen te do contexto ou que re f lec te a exper iênc ia recente . E porque os
contextos e a exper iênc ia recente raramente são os mesmos , o m e s m o subcon jun to de
136 A INSTA BI LI DADE DOS ESTERÓTIPOS
i n fo rmação para uma categoria ra ramente é ac t ivado como sua representação. O
enquad ramen to baseado na recuperação propos to por Barsa lou para expl icar a ins tabi l idade
de qua lquer t ipo de categoria , apresenta uma f o r m u l a ç ã o espec í f ica de como a
acess ib i l idade e as pis tas contextuais se combinam para produzi r esse e fe i to (para uma
revisão ver Barsa lou , 1987, 1989; ver t ambém a subsecção 1.2.2 desta d isser tação) .
A verdade é que, na perspect iva de Barsa lou, m e s m o que a maior ia das pessoas
numa popu lação par t i lhem um certo tipo de conhec imen to bás ico sobre uma ca tegor ia (e
que, embora não provado empi r icamente , possa ter o es ta tu to de " in fo rmação independente
do con tex to" ) , como acontece nos estereót ipos, porque as pessoas de uma popu lação têm
d i fe ren tes exper iências com uma categor ia p o d e m desenvolver , em a lgum grau,
" i n f o r m a ç ã o independente do contex to" d i ferente , do m e s m o modo que nas crenças
individuais . Por isso, para qualquer categoria , a acess ib i l idade da maior par te da
i n fo rmação pode variar vas tamente num mesmo ind iv íduo com a exper iênc ia do dia-a-dia;
para a lém de exper imentar a categoria em di fe ren tes con tex tos poder , semelhan temente ,
tornar sal iente d i ferente in formação . E, nessa perspec t iva , os es te reó t ipos são tão
suscept íveis a essa inf luência quanto as crenças indiv iduais .
2328 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
5.2 Principais iições aprendidas e perspectivas futuras de investigação Este con jun to de exper iências foi concebido com vários objec t ivos teóricos: (1)
desenvolver uma metodologia apropriada ao es tudo da ins tab i l idade intra- individual das
representações mentais de categorias sociais, com o intui to de inves t igar se, à semelhança
das categor ias não sociais , as representações de grupos sociais são t ambém ineren temente
plást icas e mutáve is ; (2) invest igar o contr ibuto de dois t ipos de in fo rmação , que se admite
que f azem par te das representações mentais de ca tegor ias sociais , para a sua maior ou
menor es tab i l idade in t ra- individual : para es tudar a prec isão com que in fo rmação de
atr ibutos verbais era recuperada usou-se um parad igma de geração de in fo rmação e para
avaliar a p rec i são da in fo rmação sobre instâncias u t i l izou-se um parad igma de geração de
ins tâncias ; (3) aver iguar se a ins tabi l idade in t ra- individual das representações mentais de
es tereót ipos é s ign i f ica t ivamente menor do que a ins tabi l idade in t ra- individual das crenças
pessoais .
Para estes propósi tos ut i l izou-se sempre uma metodolog ia longi tudinal de teste-
reteste de vár ias med idas expl íc i tas (atrás descr i tas) que e spe rávamos serem sensíveis a
a lguns pa râmet ros das representações mentais que os indiv íduos têm sobre grupos sociais .
Suc in tamente , o conjunto de exper iências apresenta três aspectos bás icos novos: (1)
a ins tabi l idade das representações mentais de grupos sociais , para a qual con t r ibuem quer
in fo rmação de at r ibutos verbais quer in formação sobre exempla res espec í f icos ; (2) a lguma
es tabi l idade tempora l que se ver i f ica , intra ind iv íduos e entre indivíduos , nas
represen tações de uma categoria f ica a dever-se aos a t r ibutos verba is cons iderados mais
centrais e ás ins tâncias consideradas mais t ípicas para a descr ição da mesma; (3) as
representações menta i s dos es tereót ipos e as represen tações mentais das crenças
individuais r eve lam níveis semelhantes de ins tabi l idade tempora l in t ra- individual .
U m a das qua l idades atract ivas deste con jun to de exper iênc ias é o fac to de ser
cumula t iva , cons t ru ído apartir de t rabalho teór ico e empí r ico desenvo lv ido em áreas
crucia is de inves t igação da ps icologia cognit iva sobre o p rocesso de ca tegor ização geral e
apart i r de ind icadores teóricos e empír icos de inves t igação em cognição social sobre
ca tegor ias sociais .
Uma das ques tões essenciais que levanta é, con tudo , sobre como compat ib i l izar a
visão que carac ter iza os es tereót ipos pela sua inércia , pela sua d i f i cu ldade em mudar , com
es ta visão aqui desenvolv ida , que aponta para a sua p las t ic idade e mutab i l idade intr ínseca.
138 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Dado o seu papel de pro teger os indivíduos da necess idade de l idar com detalhes
inf ini tos , os es te reó t ipos são necessar iamente ca rac te r i zados pela inércia. Se nova
in formação desencadeasse uma mudança imediata e cons tan te nas representações mentais ,
os es tereót ipos se r iam inúteis . Portanto, estes ins t rumentos cogn i t ivos parecem importantes
para ident i f icar r egu la r idades e d i ferenças no ambiente social e para s impl i f icar a tarefa de
p rocessamento de i n f o r m a ç ã o num mundo de es t ímulos c o m p l e x o s (Hamil ton e Sherman,
1994; Garc i a -Marques e Mackie , 1999; Macrae e Bodenhausen , 2000) . Inúmeros exemplos
de como os es te reó t ipos exis tentes podem inf luenciar a f o rma c o m o é processada nova
in fo rmação sobre grupos ou membros de grupos, pod iam ser dados; e de como o
env iesamento resu l tan te serve para manter o es tado das coisas . É mais provável que o
indivíduo a tenda e note in fo rmação consis tente com o es te reó t ipo , que faça inferências
consis tentes com o es tereót ipo , que se lembre de i n f o r m a ç ã o cons i s t en te com o estereót ipo,
etc. M e c a n i s m o s que servem para manter as crenças es te reo t ipadas preexis ten tes , tornam a
mudança dif íc i l .
Mas m e s m o ass im, apesar da sua pers is tência , s abemos que os es te reó t ipos mudam.
Por exemplo , a inves t igação tem fornec ido ev idências sobre as condições em que a
i n fo rmação incongruen te conduz à mudança de es te reó t ipos (Hami l ton e Sherman, 1994;
Hewstone , 1994; Ga rc i a -Marques e Mackie , 1999).
Mais que isso, a inves t igação parece começar a reve lar a sua mutab i l idade como
uma carac ter í s t ica in t r ínseca e a sua sensibi l idade ao con t ex to como teor icamente
s igni f ica t iva , suge r indo as poss ibi l idades e capac idades de a ju s t amen to do nosso
pensamento ca tegór ico ao con tex to social imediato.
De fac to , se pensa r é para fazer , poder íamos espera r que os ind iv íduos a jus ta s sem o
seu pensamen to ca tegór ico , enquanto estratégia cogni t iva , ao con tex to social imediato .
Sem dúvida , ser ia conven ien te tratar os factos menta is c o m o se f o s s e m baseados em ideias
estáveis , parece , con tudo , que não há nada na evidência que r e s p o n d a nesse sent ido.
Se assim é, sob a perspect iva que subscreve o d i n a m i s m o das representações
mentais de ca tegor ias sociais , outras questões de i nves t igação c o m e ç a m a ganhar
per t inência . Por exemplo , até que ponto as mudanças de es te reó t ipos que consegu imos
obter em labora tór io , usando manipulações mais ou menos subt is , mais ou menos f racas ,
não f azem par te ou não ganham s igni f icado num f e n ó m e n o mais vas to que é o de que estas
estruturas menta i s supos t amen te duradouras são, na rea l idade , ins táve is e sens íve is ao
contexto. E, nes te sent ido, a sensação de es tabi l idade que há em re lação ás ca tegor ias
sociais e ás ca tegor ias naturais parece não ser mais do que u m a i lusão d ispos ta a persist i r
139 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
se não usarmos ins t rumentos de medida sensíveis o suficiente para detectar a instabil idade
intra individual que ocorre com o tempo. Ainda, af lorar esta questão da instabil idade temporal das representações mentais de
categorias sociais , o ferece a oportunidade de estender o seu estudo a outras medidas e
fenómenos.
Claramente , torna-se pertinente estender o estudo da instabi l idade dos estereótipos
ás medidas impl íc i tas . Embora as medidas implíci tas, por exemplo na área das atitudes,
tenham sido desenvolvidas com o intuito de que fornecessem o acesso directo ás
verdadeiras at i tudes, ul t rapassando a sensibil idade ao contexto das medidas explícitas das
atitudes que levaram ao desenvolvimento da noção de ati tude como um constructo
temporário (Schwarz , 2000), experiências recentes (Glaser e Banaj i , in press, ci tado por
Schwarz, 2000) parecem sugerir que as medidas implíci tas, tal como as explícitas, podem
ser sujeitas aos efe i tos do contexto. E que a menor precisão com que recuperam as ati tudes
pode ser f ru to sim da instabil idade intrínseca das atitudes.
Interessante , será perceber se são obtidos os mesmos níveis de instabil idade intra-
individual dos estereót ipos quando usamos medidas implíci tas, ao invés de medidas
explícitas, numa metodologia de teste-reteste longitudinal .
Também, o e fe i to de correlação ilusória - a tendência para sobrest imar a f requência
de ocorrências que são congruentes com uma expectat iva prévia (Hamilton e Rose, 1980,
citado por Hamil ton e Sherman, 1994) - é visto como um enviesamento provocado pelos
estereótipos e que levaria à sua estabilidade. Do mesmo modo, seria interessante averiguar
os níveis de precisão de teste-reteste intra-individual destes enviesamentos feitos pelos
sujeitos, uma vez que se aceita vastamente que contr ibuem para manter a estabil idade dos
estereótipos.
F ina lmente , a aplicação de métodos de análise de equações estruturais com variáveis
latentes (McArdle e Woodcock , 1997) ao estudo da estabi l idade temporal dos estereótipos,
uti l izando dados sobre múltiplos grupos com diferentes intervalos de teste-reteste, pode
trazer inúmeros benef íc ios . Os desenhos que incluem componentes de "time-lag" têm sido
f requentemente usados em estudos longitudinais preocupados com os efei tos do
desenvolvimento , permit indo separar componentes ps icométr icos de interesse no
desenvolvimento , como a consistência interna, efe i tos da prát ica, estabil idade do factor ,
crescimento do factor , etc.
As inves t igações interessadas na estabi l idade de um atr ibuto psicológico ut i l izam
normalmente a correlação teste-reteste. Esta correlação pode ser informat iva mas muitas
140 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
vezes c o n f u n d e concei tos de es tabi l idade dos traços com prec i são do teste, comprometendo
a u t i l idade de testes. Como demons t ram McArd le e W o o d c o c k (1997) , é possível melhorar
a u t i l idade de duas medidas no tempo se se considerar a var iação no in tervalo de tempo
entre testes e as questões re lacionadas com o in tervalo de t empo entre as medidas . Neste
modelo , o t empo entre o teste e o reteste não é o m e s m o para cada grupo es tudado; a
amost ra é d ividida em grupos com diferentes tempos de in te rva lo tes te-reteste .
Ass im, seria interessante, em es tudos fu turos sobre a es tabi l idade dos estereót ipos,
usar este t ipo de análise de equações es t ruturais num desenho ''time-lag" (McArdle e
W o o d c o c k , 1997), expandindo a metodologia de tes te- re tes te longi tudinal apl icada nesta
d isser tação , para a judar a dist inguir parâmetros re lac ionados com a precisão, es tabi l idade e
mudança .
2332 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
6. Referências
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Cognition, 2h 4 4 9 - 4 6 8 .
150 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Anexos
Anexo 1 - I n s t ruções pa ra a Expe r i ênc i a I ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s para o
g rupo dos m é d i c o s , na o rdem Es te reó t ipos - C r e n ç a s i n d i v i d u a i s )
Anexo! - I n s t ruções pa ra a Expe r i ênc i a II ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s pa ra o
g rupo dos c i g a n o s , na o rdem Es te reó t ipos - C r e n ç a s i nd iv idua i s )
Anexo 3 - I n s t ruções pa r a a Expe r i ênc i a III ( e x e m p l o das i n s t r u ç õ e s pa ra o
g rupo dos c iganos )
151 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Anexo 1
1.1 Lista de atributos verbais utilizada na Experiência I
Negligente Exigente
Disponível Pacífico Minucioso Estudioso
Violento Competente
Extrovertido De trato difícil Distante Forte Viciado no trabalho Introvertido
Impessoal Paciente Estúpido Activo Tolerante Desonesto Sociável Preguiçoso
Pobre Inculto Honesto Simpático Inteligente Fraco Passivo Arrogante Humilde Feio Atraente Incompetente Trabalhador Humano
Chato Rico Culto Antipático Com prestígio Impaciente Divertido
152 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.2 Instruções gerais
Da s o c i e d a d e ac tua l f a z e m par te mu i to s g r u p o s d i f e r e n t e s sob re os quais
t e m o s , em ge ra l , a l g u m c o n h e c i m e n t o . De f a c t o , a f a c i l i d a d e c o m que f o r m a m o s
i m p r e s s õ e s r e l a t i v a m e n t e b e m d e f i n i d a s ace rca dos i n d i v í d u o s e dos g r u p o s soc ia i s
que nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a e x t r a o r d i n a r i a m e n t e a n o s s a v i d a soc i a l . E s s a s i m p r e s s õ e s
sob re os g r u p o s são , n o r m a l m e n t e , g e n é r i c a s , a p e s a r de s a b e r m o s que exis te
v a r i a b i l i d a d e nos m e m b r o s de um m e s m o g rupo . Ou s e j a , as p e s s o a s que p e r t e n c e m ao
m e s m o g r u p o d i f e r e m en t r e si mas t a m b é m p a r t i l h a m a s p e c t o s c o m u n s e por i s so as
i d e n t i f i c a m o s c o m o um g r u p o e t emos i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s a c e r c a de l a s .
N e s t a i n v e s t i g a ç ã o s e r - l he - ão f e i t a s vá r i a s p e r g u n t a s s o b r e e s s a s i m p r e s s õ e s
em r e l a ç ã o a a l g u n s g r u p o s soc ia i s . É na tu ra l que não t e n h a m o s t o d o s i d e i a s igua is
ace rca de t o d o s e les . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r a d a s . O ma i s i m p o r t a n t e são
as suas i m p r e s s õ e s .
Muito obrigada pela colaboração.
153 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1,3 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada no estereótipo
E s t a m o s i n t e r e s s a d o s nas ca rac te r í s t i cas que as p e s s o a s em g e r a ! u t i l i zam
para d e s c r e v e r m e m b r o s de vár ios grupos . Vamos pensa r no g rupo de ind iv íduos que
têm em c o m u m a p r o f i s s ã o de médicos . P e d i m o s - l h e que , apa r t i r da l is ta de t raços de
p e r s o n a l i d a d e que lhe ap re sen t amos , e sco lha aque le s que ache que as p e s s o a s em
g e r a l u s a r i a m para ca rac t e r i za r os méd icos c o m o um todo . E s c o l h a a p r o x i m a d a m e n t e
c inco c a r a c t e r í s t i c a s da l is ta , para t ransmi t i r a i m p r e s s ã o que as p e s s o a s em g e r a l têm
dos m é d i c o s e pa ra os desc reve r de fo rma adequada , e e s c r e v a - a s nas l inhas aba ixo .
Não e x i s t e m r e s p o s t a s cer tas ou er radas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua op in ião sobre o
que as p e s s o a s g e r a l m e n t e pensam acerca dos m é d i c o s .
Os m é d i c o s são
154 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.4 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nos estereótipos
Por f a v o r , vo l te agora ao in íc io des ta s e c ç ã o e d e t e n h a - s e sobre cada uma das
c a r a c t e r í s t i c a s que as s ina lou . C o n t i n u a m o s i n t e r e s s a d o s na op in i ão q u e a s p e s s o a s em
g e r a l têm sobre os méd icos . O que agora lhe p e d i m o s é que , para cada uma das
c a r a c t e r í s t i c a s que ind icou an t e r i o rmen te , e s t i m e a p e r c e n t a g e m (de 1% a 100%) de
m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de méd icos com essa c a r a c t e r í s t i c a .
% de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o de m é d i c o s
C a r a c t e r í s t i c a s com essas c a r a c t e r í s t i c a s
2346 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.5 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada nas crenças individuais
A b a n d o n e m o s agora a opin ião das pessoas em geral sobre os g r u p o s e
d e b r u c e m o - n o s sobre as s u a s o p i n i õ e s p e s s o a i s . Vamos vo l ta r aos méd icos e ped i r -
lhe que de sc r eva os m e m b r o s t íp icos des te g rupo . Esco lha , en tão , da l is ta de t r aços de
pe r sona l i dade que lhe ap re sen t amos , aqueles que ca r ac t e r i zam os m é d i c o s c o m o um
todo. Ind ique , nas l inhas aba ixo , a p r o x i m a d a m e n t e c inco ca rac t e r í s t i ca s da l i s ta para
t r ansmi t i r a s u a o p i n i ã o p e s s o a l sobre os méd icos e para os desc reve r de f o r m a
adequada . N ã o e x i s t e m respos tas cer tas ou e r radas . E s t a m o s i n t e r e s sados na sua
o p i n i ã o p e s s o a l .
Os m é d i c o s são:
156 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.6 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nas crenças individuais
Vol t e agora ao in íc io desta secção e obse rve , n o v a m e n t e , as ca rac te r í s t i cas que
a s s ina lou . P e d i m o s - l h e para es t imar , na s u a o p i n i ã o , qual a p e r c e n t a g e m (de 1% a
100%) de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de méd icos c o m cada u m a das ca rac te r í s t i cas .
Não e x i s t e m r e spos t a s cer tas ou er radas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua o p i n i ã o pe s soa l .
% de membros da população de médicos
Características com essas características
2348 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.7 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos
Vamos agora pedir-lhe que traduza as impressões genéricas que as pessoas em geral têm
acerca dos médicos. Para o efeito pedimos-lhe que preencha as escalas bipolares que se encontram
abaixo, de acordo com as impressões que as pessoas em geral têm dos médicos como um todo.
Por favor, faça um círculo à roda do número que melhor corresponde à impressão das
pessoas em geral sobre este grupo. Assim, se por exemplo, tem a opinião que as pessoas em geral
acham os médicos no seu conjunto mais inteligentes do que estúpidos deve usar um número entre 6
e 9, e se a sua opinião for o contrário deve usar um número de 1 a 4. O ponto 5 é o ponto que indica
a indiferença.
Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente
NãoPrestável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Prestável
Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Caloroso
Inseguro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seguro
Passivo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Activo
Antipático 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Simpático
Egoísta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Generoso
Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto
Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Especial
Injusto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Justo
Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico
Incompetente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Competente
158 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.8 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nas crenças individuais
Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r aduz i s se as i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que as pessoas
em gera l têm s o b r e os m é d i c o s . Agora p e d i m o s - l h e q u e t r a d u z a , nas m e s m a s esca las
b i p o l a r e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as suas impressões genéricas sobre os
m é d i c o s .
P r e e n c h a , e n t ã o , as e sca l a s q u e se e n c o n t r a m a b a i x o , de a c o r d o c o m as suas
i m p r e s s õ e s s o b r e e s t e g r u p o como um todo . E s t a m o s , p o r t a n t o , i n t e r e s s a d o s ago ra na
sua impressão pessoal.
Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente
NãoPrestável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Prestável
Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Caloroso
Inseguro 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Seguro
Passivo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Activo
Antipático 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Simpático
Egoísta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Generoso
Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto
Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Especial
Injusto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Justo
Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico
Incompetente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Competente
2350 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.9 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nos estereótipos
I m a g i n e m o s um con t ínuo de f in ido ao longo de u m a d i m e n s ã o E s t u p i d e z -
In te l igênc ia . Se p o s i c i o n a r m o s o con jun to dos m é d i c o s ao l ongo dessa d i m e n s ã o de
acordo com o grau de in te l igênc ia de cada um desses m é d i c o s f o r m a r e m o s uma
d i s t r ibu ição que se e spa lha ao longo dessa esca la . Agora v a m o s ped i r - l he que obse rve
com a tenção as vá r i a s d i s t r ibu ições que es tão na pág ina s egu in t e e que e sco lha aque la
que lhe pa reça ma i s p r o v a v e l m e n t e co r re sponde r à op in i ão que as p e s s o a s em geral
têm sobre a p o p u l a ç ã o de méd icos . Não ex i s t em re spos t a s ce r tas ou e r r adas , apenas
e s t amos i n t e r e s s a d o s na sua es t imat iva sobre a op in i ão das p e s s o a s em geral . P o r
f a v o r e x a m i n e t o d a s a s d i s t r i b u i ç õ e s a n t e s d e se d e c i d i r .
R e p a r e que a f o rma como a popu lação de m é d i c o s se p o s i c i o n a e se d i s t r ibu i
ao longo do c o n t í n u o é mui to d i fe ren te de d i s t r i b u i ç ã o para d i s t r i bu i ção . Mai s
c o n c r e t a m e n t e as vár ias d i s t r ibu ições va r i am na área da d i m e n s ã o E s t ú p i d o -
In te l igen te em que se pos i c ionam, no geral , os m é d i c o s . V a r i a m i g u a l m e n t e no grau de
concen t r ação ou de d i s p e r s ã o que ex ibem.
D e p o i s de e x a m i n a r cada uma das d i s t r i bu i ções , por f avor f aça u m c í r cu lo à
roda daque la que m e l h o r co r responder às i m p r e s s õ e s q u e as p e s s o a s e m g e r a l t ê m
sobre a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s .
Se r - lhe -á a p r e s e n t a d a na página segu in te , para a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s , u m a
matr iz de d i s t r i b u i ç õ e s que var iam na área da d i m e n s ã o E s t ú p i d o - I n t e l i g e n t e . S i£a
e x a c t a m e n t e o m e s m o p roced imen to , exp l i cado a n t e r i o r m e n t e , para r e s p o n d e r a es ta
matr iz de d i s t r i b u i ç õ e s que se encont ra na pág ina segu in t e .
160 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
1.10 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nas crenças individuais
Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r aduz i s se as i m p r e s s õ e s que as pessoas em geral
têm sob re os méd icos . Agora p r e t e n d e m o s que t r a d u z a , u t i l i zando as mesmas
d i s t r i b u i ç õ e s a p r e s e n t a d a s an t e r io rmen te , as s u a s i m p r e s s õ e s p e s s o a i s sobre os
m é d i c o s .
P e d i m o s - l h e , n o v a m e n t e , q u e e x a m i n e a s v á r i a s d i s t r i b u i ç õ e s q u e e s t ã o na
p á g i n a s e g u i n t e a n t e s de se d e c i d i r e que faça um c í r cu lo à roda daque la que melhor
c o r r e s p o n d e r às s u a s i m p r e s s õ e s sobre a p o p u l a ç ã o de m é d i c o s .
1
A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS ^ 61
1.11 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as categorias
A ú l t i m a t a r e f a des ta i n v e s t i g a ç ã o c o n s i s t e s i m p l e s m e n t e na a v a l i a ç ã o n u m a
e sca l a b i p o l a r de 9 p o n t o s de cada um dos q u a t r o g r u p o s a p r e s e n t a d o s ao l o n g o da
i n v e s t i g a ç ã o : s e g u r a n ç a s de d i s c o t e c a s , p r o f e s s o r e s de l i ceu , m é d i c o s e p r o g r a m a d o r e s
de c o m p u t a d o r .
A e s c a l a , j á a n t e r i o r m e n t e u t i l i z ada , va r ia e n t r e M u i t o p o u c o f a m i l i a r (1) -
M u i t o f a m i l i a r (9) . P e d i m o s - l h e que ava l i e o grau de f a m i l i a r i d a d e que tem c o m c a d a
um dos g r u p o s a p r e s e n t a d o s . Por f a v o r , f a ç a um c í r c u l o à roda do n ú m e r o q u e m e l h o r
c o r r e s p o n d e ao seu grau de f a m i l i a r i d a d e c o m c a d a g r u p o .
G r u p o dos s e g u r a n ç a s de d i s c o t e c a s
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
Grupo dos médicos
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
Grupo dos programadores de computadores
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
162 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Anexo 2
2.1 Lista de atributos verbais utiiizada na Experiência 11
Forte Honesto Rico Culto Conflituoso Atraente Trabalhador Triste Pacífico Frio Desonesto Ingénuo Feio Ganancioso Não respeitador Emotivo Exibicionista Empreendedor Vulgar Infiel Sensível Vaidoso Discreto Frágil Despretensioso Sem iniciativa Fiel Estúpido Alegre
Ignorante Insensível Pobre Supersticioso Delicado Desconfiado Generoso Reservado Sofisticado Sociável Respeitador Rude Preguiçoso Inteligente
2354 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.2 Instruções gerais
Da s o c i e d a d e actual f a z e m parte mui tos g rupos d i f e r e n t e s sobre os qua is
temos , em gera l , a l g u m conhec imen to . De f ac to , a f a c i l i d a d e com que f o r m a m o s
impressões r e l a t i v a m e n t e bem de f in idas acerca dos i nd iv íduos e dos g rupos soc ia i s
que nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a ex t r ao rd ina r i amen te a nossa vida soc ia l . Essas i m p r e s s õ e s
que t emos ace rca de um grupo são mui tas vezes i m p r e s s õ e s gené r i cas que não se
ap l icam a cada um dos seus membros mas a p l i c a m - s e a u m a p e r c e n t a g e m dos
m e m b r o s des se g r u p o . Por exemplo , q u a n d o d i z e m o s que os p r o g r a m a d o r e s de
c o m p u t a d o r são i n t e l i gen t e s não es t amos a d izer que são todos i n t e l i gen te s , mas
e s t amos a d ize r que há uma quan t idade r e l evan te de p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r
que são i n t e l i g e n t e s . Es tas impressões gené r i ca s são, e v i d e n t e m e n t e , s i m p l i f i c a ç õ e s ,
não são j u l g a m e n t o s baseados em dados ob j ec t i vos . E no te - se que , m e s m o q u a n d o se
cons ide ram ex i s t i r d i f e r e n ç a s ent re os g rupos , isso não s i gn i f i c a e s t a b e l e c e r u m a
h ie ra rqu ia en t re os g rupos , em que um é super io r ao ou t ro . Ou se ja , não imp l i ca a
d i s c r i m i n a ç ã o de um grupo em re lação ao out ro .
Nesta investigação ser-lhe-ão feitas várias perguntas sobre essas impressões em relação a
alguns grupos sociais. É natural que não tenhamos todos ideias iguais acerca de todos eles. Não
existem respostas certas ou erradas. Estamos interessados nas suas impressões pessoais, nas suas
intuições, nas ideias que surjam à primeira vista e não tanto no que é de bom tom julgar-se, ou
afirmar-se.
Muito obrigada pela colaboração.
164 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.3 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada no estereótipo
E s t a m o s i n t e r e s s a d o s nas ca rac te r í s t i cas que a s p e s s o a s em g e r a l u t i l izam
para d e s c r e v e r m e m b r o s de vár ios g rupos . Vamos p e n s a r no g rupo de ind iv íduos que
têm em c o m u m se rem c iganos . Ped imos - lhe que , apa r t i r da lista de t raços de
p e r s o n a l i d a d e que lhe ap re sen t amos , e sco lha a q u e l e s q u e ache que a s p e s s o a s em
g e r a l u s a r i a m para ca rac t e r i za r os c iganos como um todo . E s c o l h a a p r o x i m a d a m e n t e
c inco c a r a c t e r í s t i c a s da l i s ta , para t r ansmi t i r a i m p r e s s ã o que a s p e s s o a s e m g e r a l têm
dos c i g a n o s e pa ra os d e s c r e v e r de fo rma a d e q u a d a , e e s c r e v a - a s nas l inhas abaixo.
Não e x i s t e m r e spos t a s ce r tas ou erradas . Es t amos i n t e r e s s a d o s na sua op in i ão sobre o
que as p e s s o a s g e r a l m e n t e pensam acerca dos c iganos .
Os ciganos são
165 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.4 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nos estereótipos
P o r f a v o r , vo l t e agora ao in í c io d e s t a s ecção e d e t e n h a - s e s o b r e c a d a u m a das
c a r a c t e r í s t i c a s que a s s ina lou . C o n t i n u a m o s i n t e r e s s a d o s na o p i n i ã o que as pessoas em
geral t êm s o b r e os c i g a n o s . O que agora lhe p e d i m o s é que , p a r a cada u m a das
c a r a c t e r í s t i c a s que i nd i cou a n t e r i o r m e n t e , e s t ime a p e r c e n t a g e m (de 1% a 100%) de
m e m b r o s da p o p u l a ç ã o to ta l de c i g a n o s c o m essa c a r a c t e r í s t i c a .
% de membros da população de ciganos
Características com essas características
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.5 Instruções para a tarefa de geração de traços baseada nas crenças individuais
A b a n d o n e m o s a g o r a a op in i ão das p e s s o a s e m ge ra l sob re os g rupos e
d e b r u c e m o - n o s s o b r e as s u a s o p i n i õ e s pes soa i s . V a m o s v o l t a r aos c i g a n o s e ped i r - lhe
que d e s c r e v a os m e m b r o s t íp icos des te g rupo . E s c o l h a , e n t ã o , da l i s ta de t r aços de
p e r s o n a l i d a d e que lhe a p r e s e n t a m o s , aque les que c a r a c t e r i z a m os c i g a n o s c o m o um
todo . I n d i q u e , nas l i n h a s a b a i x o , a p r o x i m a d a m e n t e c i n c o c a r a c t e r í s t i c a s da l i s ta para
t r an smi t i r a sua o p i n i ã o p e s s o a l sobre os c i g a n o s e p a r a os d e s c r e v e r de fo rma
a d e q u a d a . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r a d a s . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua
o p i n i ã o p e s s o a l .
Os ciganos são:
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2 . 5 Instruções para a tarefa de estimativa da percentagem de membros da população que possuem os traços gerados com base nas crenças individuais
V o l t e a g o r a ao in íc io des ta s ecção e o b s e r v e , n o v a m e n t e , as c a r a c t e r í s t i c a s que
a s s ina lou . P e d i m o s - l h e para e s t imar , na sua o p i n i ã o , qua l a p e r c e n t a g e m (de 1% a
100%) de m e m b r o s da p o p u l a ç ã o total de c i g a n o s com c a d a u m a das c a r a c t e r í s t i c a s .
N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s ce r t a s ou e r r adas . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua o p i n i ã o p e s s o a l .
% de membros da população de ciganos
Características com essas características
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.7 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos
Vamos agora pedir-lhe que traduza as impressões genéricas que as pessoas em geral têm
acerca dos ciganos. Para o efeito pedimos-lhe que preencha as escalas bipolares que se encontram
abaixo, de acordo com as impressões que as pessoas em geral têm dos ciganos como um todo.
Por favor, faça um círculo à roda do número que melhor corresponde à impressão das
pessoas em geral sobre este grupo. Assim, se por exemplo, tem a opinião que as pessoas em geral
acham os ciganos no seu conjunto mais inteligentes do que estúpidos deve usar um número entre 6 e
9, e se a sua opinião for o contrário deve usar um número de 1 a 4. O ponto 5 é o ponto que indica a
indiferença.
Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente
Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível
Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo
Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto
Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador
Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa
Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado
Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto
Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado
Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte
Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico
Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.8 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nas crenças individuais
Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r a d u z i s s e as i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que as p e s s o a s
em gera l t êm s o b r e os c iganos . A g o r a p e d i m o s - l h e que t r a d u z a , nas m e s m a s e s c a l a s
b i p o l a r e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as s u a s i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s sob re os c i g a n o s .
Preencha, então, as escalas que se encontram abaixo, de acordo com as suas impressões
sobre este grupo como um todo. Estamos, portanto, interessados agora na sua impressão pessoal.
Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente
Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível
Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo
Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto
Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador
Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa
Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado
Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto
Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado
Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte
Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico
Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.9 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nos estereótipos
I m a g i n e m o s um c o n t í n u o d e f i n i d o ao l ongo de u m a d i m e n s ã o D e s o n e s t i d a d e -
H o n e s t i d a d e . Se p o s i c i o n a r m o s o c o n j u n t o dos c i g a n o s ao l o n g o des sa d i m e n s ã o de
a c o r d o c o m o grau de h o n e s t i d a d e de cada um d e s s e s c i g a n o s f o r m a r e m o s uma
d i s t r i b u i ç ã o q u e se e s p a l h a ao l ongo des sa e sca la . A g o r a v a m o s p e d i r - l h e q u e obse rve
c o m a t e n ç ã o as vá r i a s d i s t r i b u i ç õ e s que es tão na p á g i n a s e g u i n t e e que e s c o l h a aquela
que lhe p a r e ç a m a i s p r o v a v e l m e n t e c o r r e s p o n d e r à o p i n i ã o q u e as p e s s o a s em geral
t êm sobre a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s . N ã o e x i s t e m r e s p o s t a s c e r t a s ou e r r a d a s , apenas
e s t a m o s i n t e r e s s a d o s na sua e s t i m a t i v a sobre a o p i n i ã o d a s p e s s o a s em ge ra l . Por
f a v o r e x a m i n e t o d a s as d i s t r i b u i ç õ e s ante s de se d e c i d i r .
R e p a r e que a f o r m a c o m o a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s se p o s i c i o n a e se d i s t r i bu i ao
l o n g o do c o n t í n u o é m u i t o d i f e r e n t e de d i s t r i b u i ç ã o p a r a d i s t r i b u i ç ã o . Ma i s
c o n c r e t a m e n t e as vá r i a s d i s t r i b u i ç õ e s va r i am na á rea da d i m e n s ã o D e s o n e s t o - H o n e s t o
em que se p o s i c i o n a m , no gera l , os c iganos . V a r i a m i g u a l m e n t e no grau de
c o n c e n t r a ç ã o ou de d i s p e r s ã o que e x i b e m .
D e p o i s de e x a m i n a r cada uma das d i s t r i b u i ç õ e s , por f a v o r f aca u m c í r c u l o à
roda daque l a q u e m e l h o r c o r r e s p o n d e r às i m p r e s s õ e s Que a s p e s s o a s em gera l têm
sob re a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s .
S e r - l h e - á a p r e s e n t a d a na p á g i n a s egu in t e , p a r a a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s , uma
ma t r i z de d i s t r i b u i ç õ e s q u e va r i am na área da d i m e n s ã o D e s o n e s t o - H o n e s t o . S iga
e x a c t a m e n t e o m e s m o p r o c e d i m e n t o , e x p l i c a d o a n t e r i o r m e n t e , pa ra r e s p o n d e r a esta
ma t r i z de d i s t r i b u i ç õ e s que se e n c o n t r a na p á g i n a s e g u i n t e .
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.10 Instruções para a tarefa de identificação de uma distribuição baseada nas crenças individuais
Há p o u c o p e d i m o s - l h e que t r a d u z i s s e as i m p r e s s õ e s que as p e s s o a s em gera l
t êm sobre os c i g a n o s . Agora p r e t e n d e m o s que t r a d u z a , u t i l i z a n d o as m e s m a s
d i s t r i b u i ç õ e s a p r e s e n t a d a s a n t e r i o r m e n t e , as suas i m p r e s s õ e s pes soa i s sobre os
c iganos .
P e d i m o s - l h e , n o v a m e n t e , que e x a m i n e as v á r i a s d i s t r i b u i ç õ e s que es tão na
pág ina s e g u i n t e a n t e s de se d e c i d i r e que f a ç a um c í r c u l o à roda d a q u e l a que m e l h o r
c o r r e s p o n d e r às s u a s i m p r e s s õ e s sobre a p o p u l a ç ã o de c i g a n o s .
^ A /JVSTA BILWADE DOS ESTERÓTJPOS
2.11 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as categorias
A u l t i m a t a r e f a des t a i n v e s t i g a ç ã o c o n s i s t e s i m p l e s m e n t e na a v a l i a ç ã o numa
esca la b i p o l a r de 9 p o n t o s de cada um dos t rês g r u p o s a p r e s e n t a d o s ao l o n g o da
i n v e s t i g a ç ã o : c i g a n o s , h o m o s s e x u a i s e e m i g r a n t e s a f r i c a n o s .
A e sca l a , j á a n t e r i o r m e n t e u t i l i zada , va r i a e n t r e M u i t o p o u c o f a m i l i a r (1) -
M u i t o f a m i l i a r (9) . P e d i m o s - l h e que ava l i e o grau de f a m i l i a r i d a d e q u e t em c o m cada
um dos g r u p o s a p r e s e n t a d o s . Por f a v o r , f aça um c í r c u l o à r o d a do n ú m e r o que m e l h o r
c o r r e s p o n d e ao seu grau de f a m i l i a r i d a d e com c a d a g r u p o .
G r u p o dos c i g a n o s
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
G r u p o dos h o m o s s e x u a i s
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
Grupo dos emigrantes africanos
Muito pouco familiar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Muito familiar
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
2.12 Instruções para as tarefas de avaliação da centralidade e importância dos traços gerados
V o l t e a g o r a , por f a v o r , à S e c ç ã o A do g rupo dos c i g a n o s e, para cada traço ,
que e s c o l h e u pa ra d e s c r e v e r a i m p r e s s ã o que as p e s s o a s em gera l têm des te g rupo ,
ava l i e :
• A t é que pon to é centra l pa ra a i m p r e s s ã o geral que as p e s s o a s em geral
t êm dos c i g a n o s
Nada central 123456789 Muito central
• A t é que pon to é i m p o r t a n t e pa ra a i m p r e s s ã o gera l q u e as p e s s o a s em
geral t ê m dos c i g a n o s
Nada importante 1 2 3 4 5 6789 Muito importante
P o r t a n t o , ava l i e s e m p r e cada t r a ç o em r e l a ç ã o ás d u a s e s c a l a s
a p r e s e n t a d a s . P o d e e s c r e v e r a sua a v a l i a ç ã o à f r e n t e de c a d a um d o s t raços .
Na S e c ç ã o B do g rupo dos c i g a n o s , s iga o m e s m o p r o c e d i m e n t o an te r io r , mas
agora p a r a c a d a um dos t raços que e sco lheu para d e s c r e v e r a sua i m p r e s s ã o pes soa l
sob re e s t e g r u p o . Ou se ja , para cada t r aço e s c o l h i d o , ava l i e :
• A t é q u e p o n t o é centra l pa ra a sua i m p r e s s ã o ge ra l dos c i g a n o s
Nada central 123456789 Muito central
• A té que p o n t o é i m p o r t a n t e pa ra a sua i m p r e s s ã o ge ra l d o s c i g a n o s
Nada importante 1234567 89 Muito importante
M a n t e n h a o m e s m o p r o c e d i m e n t o para os t r aços ma i s f r e q u e n t e s que se
e n c o n t r a m na S e c ç ã o C do g r u p o dos c iganos . N ã o se e s q u e ç a de ava l i a r s e m p r e cada
t r aço em r e l a ç ã o ás duas e sca la s a p r e s e n t a d a s .
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
D e p o i s , s iga , pa ra o g rupo dos h o m o s s e x u a i s e dos e m i g r a n t e s a f r i c a n o s ,
e x a c t a m e n t e os m e s m o s pas sos que seguiu com o g r u p o dos c i g a n o s . V o l t e ás Secções
A, B e C d e s t e s do i s g rupos e p roceda , por f a v o r , da m e s m a m a n e i r a que p rocedeu
c o m o g r u p o dos c i g a n o s .
M u i t o o b r i g a d a p e l a sua c o l a b o r a ç ã o .
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
Anexo 3
3.1 Instruções gerais
Da s o c i e d a d e ac tual f a z e m par te m u i t o s g r u p o s d i f e r e n t e s sobre os qua i s
t e m o s , em ge ra l , a l g u m c o n h e c i m e n t o . De f a c t o , a f a c i l i d a d e c o m que f o r m a m o s
i m p r e s s õ e s r e l a t i v a m e n t e bem d e f i n i d a s ace rca dos i n d i v í d u o s e dos g rupos soc i a i s
q u e nos r o d e i a m , s i m p l i f i c a e x t r a o r d i n a r i a m e n t e a nos sa v ida soc i a l . Essas i m p r e s s õ e s
q u e t e m o s a c e r c a de um g rupo são mui tas vezes i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s que não se
a p l i c a m a c a d a um dos seus m e m b r o s mas a p l i c a m - s e a u m a p e r c e n t a g e m dos
m e m b r o s d e s s e g r u p o . Por e x e m p l o , q u a n d o d i z e m o s que os p r o g r a m a d o r e s de
c o m p u t a d o r são i n t e l i g e n t e s não e s t a m o s a d i ze r que são t o d o s i n t e l i gen t e s , mas
e s t a m o s a d i ze r que há u m a q u a n t i d a d e r e l e v a n t e de p r o g r a m a d o r e s de c o m p u t a d o r
q u e são i n t e l i g e n t e s . Es t a s i m p r e s s õ e s g e n é r i c a s são, e v i d e n t e m e n t e , s i m p l i f i c a ç õ e s ,
n ã o são j u l g a m e n t o s b a s e a d o s e m dados o b j e c t i v o s . E n o t e - s e que , m e s m o q u a n d o se
c o n s i d e r a m ex i s t i r d i f e r e n ç a s en t r e os g r u p o s , i sso n ã o s i g n i f i c a e s t a b e l e c e r u m a
h i e r a r q u i a e n t r e os g r u p o s , em q u e um é s u p e r i o r ao o u t r o . Ou se j a , não i m p l i c a a
d i s c r i m i n a ç ã o de u m g r u p o em r e l a ç ã o ao ou t ro .
N e s t a i n v e s t i g a ç ã o s e r - l he - ão f e i t a s vá r i a s p e r g u n t a s s o b r e essas i m p r e s s õ e s
e m r e l a ç ã o a a l g u n s g r u p o s soc ia i s . É na tu ra l que não t e n h a m o s todos ide ias i gua i s
ace rca de t o d o s e l e s . N ã o ex i s t em re spos t a s ce r t a s ou e r r a d a s . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s
nas suas i m p r e s s õ e s pe s soa i s , nas suas i n t u i ç õ e s , nas i d e i a s q u e s u r j a m à p r i m e i r a
v i s t a e n ã o t a n t o no q u e é de bom tom j u l g a r - s e , ou a f i r m a r - s e . >
M u i t o o b r i g a d a pe la c o l a b o r a ç ã o .
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3.2 Instruções para a tarefa de geração de instâncias
N e s t a t a r e f a v a m o s p e d i r - l h e que c o n s t r u a p e q u e n a s d e s c r i ç õ e s (de duas ou
três f r a s e s ) de i n d i v í d u o s e s p e c í f i c o s que t êm em c o m u m se rem c i g a n o s . Os
i n d i v í d u o s que d e s c r e v e r p o d e m c o r r e s p o n d e r a i n d i v í d u o s que c o n h e c e q u e r ín t ima
quer s u p e r f i c i a l m e n t e ou até a i n d i v í d u o s e s p e c í f i c o s q u e i m a g i n e a pa r t i r dos seus
c o n h e c i m e n t o s g e r a i s ace rca dos c i g a n o s . S a b e m o s q u e é i m p o s s í v e l f o r n e c e r um
re t r a to c o m p l e t o de um i n d i v í d u o em duas ou t rês f r a s e s , m a s u m a b r e v e d e s c r i ç ã o dos
a s p e c t o s que c o n s i d e r a r ma i s c a r a c t e r í s t i c o s do i n d i v í d u o e s p e c í f i c o em c a u s a é o
s u f i c i e n t e . P e d i m o s - l h e a inda q u e n u m e r e cada u m a das d e s c r i ç õ e s para que s a i b a m o s
que se t r a t a m de d i f e r e n t e s i n d i v í d u o s . Por f a v o r , e l a b o r e pe lo m e n o s c inco
d e s c r i ç õ e s de c i n c o i n d i v í d u o s d i f e r e n t e s . P o d e e l a b o r a r m a i s se f o r c a p a z (ou
m e n o s de c i n c o se sen t i r que c inco é e x c e s s i v a m e n t e d i f í c i l ) . E s t a m o s i n t e r e s s a d o s
nas d e s c r i ç õ e s q u e as p e s s o a s f a z e m de i n d i v í d u o s que têm e m c o m u m s e r e m c iganos .
Pode u sa r o r e v e r s o da p á g i n a se neces s i t a r . E p o r f a v o r t e n t e u t i l i za r u m a l e t r a bem
l eg íve l .
Se t ive r a l g u m a d ú v i d a , e s c l a r e ç a - a com a e x p e r i m e n t a d o r a .
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3.3 Instruções para a tarefa de julgamento de familiaridade com as instâncias geradas
P o r f a v o r , v o l t e ao in í c io des t a s e c ç ã o e d e t e n h a - s e , a g o r a , s o b r e c a d a um dos
e x e m p l o s q u e d e s c r e v e u de c i g a n o s . V a m o s , ago ra , p e d i r - l h e que a s s i n a l e o grau de
f a m i l i a r i d a d e q u e t e m com c a d a um dos e x e m p l o s , ou se j a , o grau de c o n t a c t o p e s s o a l
que tem c o m cada e x e m p l o q u e d e s c r e v e u . Pa ra o e f e i t o p e d i m o s - l h e que p r e e n c h a a
e sca la b i p o l a r que e n c o n t r a a b a i x o , de a c o r d o com a f a m i l i a r i d a d e que tem c o m cada
e x e m p l o . P o r f a v o r , p r e e n c h a u m n ú m e r o de e s c a l a s c o r r e s p o n d e n t e ao n ú m e r o de
e x e m p l o s de c i g a n o s que t iver d e s c r i t o e faça u m c í r c u l o à r o d a d o n ú m e r o q u e
m e l h o r e x p r e s s a o s e u grau de f a m i l i a r i d a d e .
D e s c r i ç ã o n" E s c a l a de f a m i l i a r i d a d e
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
M u i t o p o u c o f a m i l i a r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 M u i t o f a m i l i a r
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3A instruções para a tarefa de julgamento de tipicalidade com as instâncias geradas
P o r f a v o r , v o l t e ao in í c io des ta s e c ç ã o ma i s u m a vez e d e t e n h a - s e , n o v a m e n t e ,
s o b r e os e x e m p l o s q u e de sc r eveu de c i g a n o s . E s t a t a r e f a c o n s i s t e , ou t r a vez , na
a v a l i a ç ã o , n u m a e s c a l a b i p o l a r de 9 p o n t o s , de c a d a e x e m p l o de c i g a n o que ind icou
a n t e r i o r m e n t e . O q u e lhe p e d i m o s ago ra é que a v a l i e q u ã o t í p i co é c a d a e x e m p l o
r e l a t i v a m e n t e à p o p u l a ç ã o de c iganos . P o r f a v o r , p r e e n c h a u m n ú m e r o de e sca las
c o r r e s p o n d e n t e ao n ú m e r o de e x e m p l o s de c i g a n o s q u e t i v e r d e s c r i t o e f a ç a um
c í r c u l o à r o d a do n ú m e r o que m e l h o r e x p r e s s a o s e u g r a u de t i p i c a l i d a d e .
D e s c r i ç ã o n E s c a l a de t i p i c a l i d a d e
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
A t í p i c o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T í p i c o
166 A INSTABILIDADE DOS ESTEREÓTIPOS • 9
3 .5 Instruções para a tarefa de escolha dos traços mais frequentes nos grupos baseada nos estereótipos
V a m o s agora ped i r - lhe que t raduza as suas i m p r e s s õ e s genér i cas acerca dos
c iganos . Para o e f e i t o p e d i m o s - l h e que p reencha as e sca las b i p o l a r e s que se encon t r am
aba ixo , de aco rdo c o m as suas impressões dos c iganos c o m o um todo.
Por f a v o r , f aça um c í rcu lo à roda do número que me lho r co r r e sponde à sua
i m p r e s s ã o sobre es te grupo . Ass im, se por exemplo , tem a op in i ão que os c iganos no
seu c o n j u n t o são ma i s in te l igen tes do que e s túp idos deve usar um número en t re 6 e 9,
e se a sua op in i ão fo r o con t r á r io deve usar um n ú m e r o de 1 a 4. O ponto 5 é o pon to
que ind ica a i n d i f e r e n ç a .
Estúpido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Inteligente
Insensível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sensível
Ignorante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Culto
Frio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Emotivo
Exibicionista 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Discreto
Preguiçoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Trabalhador
Empreendedor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sem iniciativa
Rude 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Delicado
Desonesto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Honesto
Vulgar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sofisticado
Frágil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Forte
Conflituoso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Pacífico
Reservado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sociável
Nota: No final da sessão 2, de releste, facultou-se a cada sujei to as descrições das
instâncias que tinham gerado na sessão 1 e pediu-se que assinafass.em^
coincidiam com as geradas naquela sessão, para calcular os níveis de acordo intra sujeito
com base nessas avaliações. ,
Ciganos
Percen tagens de Cig ino»
2 3 4 5 8 7 9 10 11
Pefcer tagefw de a g a n o s
n 100
75
z c r 50
«RS !OSZ 2 5
1 1 7 atX} 5 1 1 0 0 0 0 0 -
74
•3W
S 3 4 5 5 4 3
— . 0 0 0 0
1 2 3 4 5 6 7 a 9 10 1-
Percentagens de O t ^ n o s
5 7
S N i . 0 0 0 0
1 2 3 4 5 7 Ô 9 1 0
Percen tagens a s Ciganos
92
2 1 t 0 0 0
2 3 4 5 8 7 8 9 10 I t
Porcentagens Oe Ciganos
1 0 0
75
50
25
O OMonrao
Percen iagens de Ciganos
7 'O 5 ' i g " ^ 5
2 3 4 5 a 7 a 9 1 0
•Percentagens de Ciganos
92
2 1 1
2 3 4 5 9 10 1 1 Ncnwio
Percentagens de Ciganos Percen tagens de Ciganos
1 0 0
75
50
25
O D*S(ineao
5 7
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Percen tagens de Ciganos
9 2
0 0 0 1 2 1 1
5 a 7 8 9 10 11
Percentagens Oe Ciganos
0 0 0 3 4 5
I 2 3 4 5" 9 7
Percentagens de Cigarras
0 0 0 o
2 3 4 5 8 7 8 9 10
Percen tagens de Ciganos
0 0 0 0 1 1 2 2 I
1 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11
Percentagens de O g a n o s
0 0 0 0
1 2 3 4 5 8 7
Percen tagens de C i ^ n o s
o i 0 0 0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
P»reen(agens de Ciganos
0 0 0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Percentagens de Ciganos
18 20 18 o '3 ® —J^ 0 0 0 0 1 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11
Percemagens de Clgínos
O Dmotimiq 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Percentagens de Ciganos
J 2 3 4 5 8 7 8 9 10 11
Percentagens de Ciganos
j i p g 1 2 3 4 5 6 7
Percentagens de Ciganos
Percentagens de Ciganos Percentagens de Ciganos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Percentagens de C i ^ n o s
10 0 0 0 0
' 2 3 4 5 8 7 8 9 10 n
Percenlagerts de Ciganos