Post on 16-Mar-2016
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SOLIDARIEDADES FAMILIARES E
APOIO A IDOSOS: LIMITES E
IMPLICAÇÕES
Luísa Pimentel
Começando pelo princípio…
No sistema de trocas familiares, os mais velhos não são somente recetores, são também provedores de ajuda.
- ajudas financeiras (mais ou menos substanciais)- apoio emocional- cuidados aos netos- provisão de alojamento- prestação de serviços - ajuda na realização de tarefas domésticas- transmissão de valores e de saberes
Daniel Sampaio (A razão dos avós - 2008) realça o contributo dos avós na transmissão das heranças e patrimónios familiares, na continuidade das relações e, particularmente, no apoio emocional aos netos, em caso de instabilidade familiar, como elemento de suporte e de referência.
Mas as relações familiares (intra e intergeracionais) não são fáceis…
… e os problemas aumentam quando as pessoas idosas se tornam dependentes de cuidados no seu quotidiano.
Individualismo
Hedonismo
Liberdade
Altruísmo
Disponibilidade
Solidariedade
CONCILIAÇÃODIFÍCIL
Trabalho e realização
profissional
Participação social e cívica
Lazer e tempos livres
Família e afetos
Cuidados e apoio social
Hoje, o contrato entre as gerações, no domínio dos cuidados, assenta em novas premissas
Contudo, muitos familiares, sozinhos ou com apoios externos, continuam a cuidar.
Ajustam-se a novas exigências e a novas circunstâncias, revelando uma enorme maleabilidade
e capacidade de adaptação.
É mais frequente o suporte aos mais velhos ser assegurado de forma indireta, através do recurso a instituições ou a outros agentes externos à família.
Encontramos soluções de apoio muito diversas e inventivas
A predominância dos cuidados familiares pode estar associada a vários fatores, dos quais realçamos: fatores de índole normativa e moral; fatores de índole afectiva e relacional; escassez de equipamentos e de serviços disponíveis ou considerados de qualidade; falta de informação sobre o leque de respostas disponíveis e sobre a especificidade dos serviços que podem ser prestados; escassez de recursos económicos por parte dos idosos e das suas famílias, especialmente para arcar com os custos de serviços de maior qualidade.
Limites à constituição das redes de entreajudas
- inserção dos familiares adultos no mercado de trabalho e transformação dos papéis assumidos pelas mulheres nas sociedades contemporâneas;
- constrangimentos materiais e escassez de recursos (tempo, recursos financeiros, dimensão das habitações, distanciamento geográfico, …);
- constrangimentos de ordem relacional (conflitos familiares ou distanciamento afetivo. Retrospetiva das interações familiares);
- constrangimentos no processo negocial subjacente à constituição das redes de apoio;
- constrangimentos relacionados com as atuais tendências no domínio dos valores e dos comportamentos demográficos (valorização da privacidade e autonomia, instabilidade conjugal, diminuição do nº de filhos);
- escassez de competências dos cuidadores informais;
- indisponibilidade ou inadequação dos recursos formais.
Luísa Pimentel (2006) - Estudo sobre as interações familiares no contexto da prestação de cuidados a idosos dependentes. Entrevistas a 34 pessoas, todas elas fazendo parte da geração intermédia (descendentes dos idosos) e todas elas pertencendo a fratrias.
Perfil dos cuidadores entrevistados- são predominantemente do sexo feminino (32 mulheres/2 homens) - têm idades compreendidas entre os 38 e os 73 anos- são predominantemente casados - têm baixos níveis de escolaridade (em particular em meio rural)- a maioria está integrada no mercado de trabalho (por conta de outrem)- na sua grande maioria são filhas dos idosos a quem prestam cuidados
Fratrias constituídas predominantemente por 2/3/4 pessoas
Cuidados prestados preferencialmente por
um elemento da fratria
Uma prole numerosa não é
garantia de cuidados
Modos de Cuidar Articulação de dois indicadores: as estratégias utilizadas e os esquemas delineados.
estratégias de exclusividade apelam unicamente à mobilização dos recursos familiares (sem apoio exterior).
estratégias de complementaridade permitem conciliar os esforços dos elementos da fratria com a utilização de recursos externos (mais frequente em meio urbano)
Esquemas rotativos, envolvimento (eventualmente diferenciado) de vários irmãos que implica uma articulação interna.
esquemas “egocentrados” só um dos irmãos assume a responsabilidade de cuidar, podendo haver um envolvimento menor e pontual dos outros irmãos.
Baixas expetativas em relação à disponibilidades das gerações mais jovens
Entendem-se como a ultima geração de
cuidadores
Mais recetivos a apoios formais ou informais pagos
inevitabilidade do apoio institucional para a sua geração
Pela consciência das dificuldades
O trabalho não pago tem custos e conduz à desvalorização do papel das mulheres. (O’Shea, 2002)
INTERFERÊNCIA NAS RELAÇÕES
ABANDONO DE OUTRAS
ACTIVIDADES
IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
INTERFERENCIA NA ATIVIDADE PROFISSIONAL
PERDA DE ESPAÇO E
TEMPO INDIVIDUAIS
Perda de liberdad
e
Contudo, não podemos ignorar que o trabalho de cuidar dos parentes dependentes pode ser gerador de muita satisfação pessoal e trazer compensações diversas.
Estas são, essencialmente, de natureza psicológica e relacional: - sensação de ter cumprido o seu dever- sensação de ter dado um sentido à sua vida- sensação de ter pago uma dívida de gratidão- elevação do estatuto social- fortalecimento dos laços familiares- transmissão de valores de solidariedade às crianças
Mas também podem ser materiais – ganhos financeiros
Os cuidadores familiares precisam cada vez mais de:
Acompanhamento e apoio financeiroRespostas adequadas e facilitadoras das suas tarefasReconhecimento
A maior flor do mundo
de José Saramago
Grata pela atenção!