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CENTRO UNIVERSITÁRIO CENTRAL PAULISTA UNICEP
VANTAGENS QUALITATIVAS SOBRE A ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO
Autor: Ricardo Raimundo Reyes
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO MBA EM FINANÇAS E CONTROLADORIA
Orientadora: Profa. Ms. Regina Maura Martins Dias Chiquetano
São Carlos
Abril de 2012
RICARDO RAIMUNDO REYES
VANTAGENS QUALITATIVAS SOBRE A
ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO
Trabalho de conclusão do Curso de Pós-Graduação apre-
sentado como parte das atividades para obtenção do título
de MBA, do curso de Finanças e Controladoria do Centro
Universitário Central Paulista – UNICEP.
Orientadora: Profa .Ms. Regina M. M. Dias Chiquetano
São Carlos
Abril de 2012
D E C L A R A Ç Ã O
Eu, Ricardo Raimundo Reyes, devidamente matriculado no curso de pós-graduação de
Finanças e Controladoria da UNICEP, declaro a quem possa interessar e para todos os fins de
direito que:
a. Sou o legítimo autor do trabalho de conclusão de curso cujo título é: VANTA-
GENS QUALITATIVAS SOBRE A ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO.
b. Respeitei, a legislação vigente de direitos autorais, em especial citando sempre as
fontes que recorri para transcrever ou adaptar textos produzidos por terceiros.
Declaro-me ainda ciente que se for apurada a falsidade das declarações acima, o TCC
será considerado nulo e o certificado de conclusão de curso/diploma porventura emitido será
cancelado, podendo a informação de cancelamento ser de conhecimento público.
Por ser verdade, firmo a presente declaração.
São Carlos, 11 de Abril de 2012.
Ricardo Raimundo Reyes
Dedico este trabalho ao meu pai Sidney, aos meus avós paternos (Manoel e Joanna) e aos meus avós maternos
(Regina e Sebastião) por estarem hoje em um plano superior, mas que tenho certeza que ficariam muito felizes
em ver mais esta etapa da minha vida sendo superada com muita dedicação, empenho e coragem
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus pelo milagre e dom da vida, pois sem Ele nada é possí-
vel.
Agradeço a minha “incrível” esposa Lucélia, por estar sempre ao meu lado, nos bons e
maus momentos, ser amável, compreensível, companheira e trazer sempre muito amor e feli-
cidade no meu dia.
Agradeço a minha família, minha mãe Maria e minhas irmãs Cristina e Cláudia, por me
apoiarem em momentos difíceis e mostrar o certo e o errado quando foi preciso, resultando
na pessoa que sou hoje.
Agradeço ao meu sogro José Roberto e sogra Clarice, por me acolherem em sua casa
como um filho e confiarem em mim uma nova vida junto a sua filha.
Agradeço aos meus cunhados, Younes e Marcos, a minha cunhada Luciana e aos meus
sobrinhos Fernando, Letícia, Gabriel e Rafaela por serem as pessoas do qual compartilho
bons momentos de alegria e descontração e a lembrar de que a melhor fase de nossas vidas é
a infância.
Agradeço aos meus amigos: César, Alessandra, Eric, Isabela, Osvaldo, Henri, Jaqueline,
Márcio e Poliana por estarem a muito tempo compartilhando alegrias e decepções, mas não
importa o que esteja acontecendo estarão sempre ali, para o que der e vier.
Agradeço aos meus colegas de trabalho e diretores da Crediguaçu, por me ajudarem na
minha formação profissional na área de crédito.
Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.
Charles Chaplin
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Resumo Diante das grandes mudanças econômicas que estão ocorrendo no mundo, as instituições
financeiras buscam cada vez mais ferramentas eficientes de mensuração, análise e resposta
sobre qual é o verdadeiro risco que o credor possui na concessão de crédito a um determinado
tomador de recurso ou cliente. SANTOS (2009) diz que conceder crédito a um cliente é sinô-
nimo de fazer um investimento nele, um investimento vinculado à venda de um bem ou servi-
ço, que mais tarde se espera o retorno. Por isso, atualmente, a missão principal das instituições
financeiras está associada ao atendimento das necessidades humanas ou a manutenção de um
negócio, buscando em tais instituições o suprimento destes recursos. Para SILVA (2008), a
atividade de gerir e conceder crédito possui um papel socioeconômico de vital importância no
país, pois, sem estas instituições são grandes as chances de grande parte destes tomadores não
conseguirem os recursos necessários na manutenção de seus negócios ou realizações pessoais.
O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos conceituais de análise de crédito e quais são os
resultados esperados pelas instituições financeiras com esta análise.
Palavras-Chave: Análise, Crédito e Risco.
8
SumárioAgradecimentos ................................................................................................................... 5
Resumo ................................................................................................................................ 7
Sumário................................................................................................................................ 8
Índice de ilustrações .......................................................................................................... 10
Índice de tabelas ................................................................................................................ 11
1. Introdução .................................................................................................................. 12
2. Objetivos .................................................................................................................... 14
2.1. Objetivos Gerais ................................................................................................. 14
2.2. Objetivos Específicos ......................................................................................... 14
3. Metodologia ............................................................................................................... 15
4. Princípio da Análise de Crédito ................................................................................. 16
5. Conceito de Crédito ................................................................................................... 17
6. Os Cs do crédito ......................................................................................................... 18
6.1. Caráter ................................................................................................................ 18
6.2. Capacidade.......................................................................................................... 19
6.3. Capital ................................................................................................................. 19
6.4. Colateral ............................................................................................................. 20
6.5. Condições ........................................................................................................... 20
7. Evolução do modelo 5 Cs do crédito ......................................................................... 21
7.1. Rating ................................................................................................................. 21
7.1.1. Escalas de Rating ........................................................................................ 22
7.2. Credit Scoring .................................................................................................... 25
7.2.1. Credit Scoring pelo método Z de Altman ................................................... 28
7.2.2. Processo de avaliação de crédito dentro do Credit Scoring ........................ 30
8. Principais demonstrações financeiras ........................................................................ 31
8.1. Relatório de Administração ................................................................................ 32
8.2. Demonstrações Financeiras ................................................................................ 32
8.2.1. Balanço patrimonial .................................................................................... 32
8.2.2. Demonstração de resultado do exercício ..................................................... 33
8.2.3. Demonstração das mutações do patrimônio líquido ................................... 33
8.2.4. Demonstração das origens e aplicações dos recursos ................................. 34
8.3. Notas Explicativas .............................................................................................. 34
9
8.4. Parecer dos auditores independentes .................................................................. 35
9. Análise Horizontal e Vertical..................................................................................... 37
9.1. Análise Horizontal .............................................................................................. 37
9.2. Análise Vertical .................................................................................................. 39
10. Principais Índices de Análise Financeira ............................................................... 41
10.1. Análise de Liquidez ........................................................................................ 41
10.1.1. Liquidez Geral (LG) ................................................................................... 42
10.1.2. Liquidez Corrente (LC) .............................................................................. 42
10.1.3. Liquidez Seca (LS) ..................................................................................... 43
10.2. Análise de Lucratividade ................................................................................ 44
10.2.1. Retorno sobre o Ativo - RSA (Sistema Du Pont) ....................................... 44
10.2.2. Giro do ativo (GA) ...................................................................................... 44
10.2.3. Retorno sobre as vendas (RSV) .................................................................. 45
10.2.4. Retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) ............................................... 45
10.3. Análise de Estrutura de Capitais ..................................................................... 46
10.3.1. Participação de Capital de terceiros (PCT) ................................................. 46
10.3.2. Composição do Endividamento (CE) ......................................................... 47
10.3.3. Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL) ................................................ 47
10.3.4. Endividamento Financeiro sobre o Ativo Total (EFSAT) .......................... 48
10.3.5. Nível de Desconto de Duplicatas (NDD) ................................................... 48
11. Principais Modelos de Avaliação de Risco de Crédito .......................................... 50
11.1 Valor em Risco (VaR) ........................................................................................ 50
11.2. CreditMetrics .................................................................................................. 51
11.3. Retorno sobre o capital econômico ajustado ao risco (RAROC) ................... 52
11.4. Modelo KMV (probabilidade de inadimplência) ............................................ 53
12. Considerações Finais .............................................................................................. 54
13. Referências bibliográficas ...................................................................................... 55
10
Índice de ilustraçõesFigura 1: Gráfico de ganhos com bons e maus pagadores e rejeição de clientes ..................... 28
Figura 2: Processo de avaliação de crédito ............................................................................... 30
11
Índice de tabelasTabela 1: Os Cs do crédito e suas características ..................................................................... 18
Tabela 2: Classificação de crédito segundo a OCC .................................................................. 21
Tabela 3: Agências de rating pelo Mundo ............................................................................... 23
Tabela 4: Matriz de transição - um ano (%) ............................................................................. 25
Tabela 5: Clientes classificados nas categorias de bons e maus pagadores ............................. 26
Tabela 6: Classificação de rating com score de pontuação ...................................................... 27
Tabela 7: Credit Scoring de bons pagadores, maus pagadores e ganho na rejeição. ............... 27
Tabela 8: Indicadores de grupos ............................................................................................... 29
Tabela 9: Análise Horizontal de uma DRE .............................................................................. 37
Tabela 10: Análise Vertical de uma DRE ................................................................................ 39
12
1. Introdução SANTOS (2009, p.1) cita BECKMAN (1949) dizendo que:
A oferta de crédito por parte das empresas e instituições financeiras deve ser vista como um importante recurso estratégico para alcançar a meta principal da adminis-tração financeira, ou seja, a de atender às necessidades de todos os supridores de ca-pital e agregar valor ao patrimônio dos acionistas.
Para SANTOS (2009), existem dois fundamentos principais na concessão de crédito: con-
fiança, expressa na promessa de pagamento, e tempo, que se refere ao período fixado entre a
aquisição e a liquidação da dívida. Diante de várias interpretações sobre crédito, há um con-
senso entre os autores que crédito refere-se à troca de um valor presente por uma promessa de
reembolso futuro, não necessariamente certo, pelo risco que a própria operação traz em si.
Desta forma, surge a necessidade de que o credor faça uma análise da capacidade de paga-
mento do tomador, para não transformar risco em prejuízo.
Uma ferramenta de grande potencial de análise de crédito deve fornecer ao gestor valores
intrínsecos e extrínsecos que compõem o risco envolvido no empréstimo do capital, maximi-
zando a possibilidade deste capital retornar ao credor, pelos meios tradicionais.
Por isso, uma das maiores preocupações dos credores é o risco de inadimplência, pois es-
te risco relaciona-se com a ocorrência de perdas financeiras que poderão prejudicar a liquidez
(capacidade de honrar dívidas com os supridores de capital) e a captação de recursos nos mer-
cados financeiros e de capitais.
SANTOS (2009, p. 2) cita WESLEY (1993) destacando dois fatores que tendem a ser de-
terminantes do risco de inadimplência:
• A fraca qualidade no processo de análise de crédito (fator interno);
• O agravamento da situação macroeconômica que pode resultar na escassez de clientes saudáveis (fator externo). Para o autor, essa situação tende a in-fluenciar na maior concentração de crédito com clientes de alto risco, o que pode resultar na redução da receita e da lucratividade de empresas e insti-tuições financeiras.
13
Como o risco do crédito é eminente, não há outra forma se não somente minimizar tal ris-
co e tentar evitar a inadimplência, sobretudo o prejuízo, de uma concessão de crédito mal fei-
ta.
De que forma pode-se utilizar as principais ferramentas de análise de crédito para mitiga-
ção de risco de um empréstimo?
14
2. Objetivos
2.1. Objetivos Gerais
Estudo qualitativo baseado em literatura que se encontra disponível em livros e internet
com objetivo de resumir os principais processos abordados dentro de uma análise de crédito e
risco, não sendo objetivo deste estudo um setor específico da economia.
2.2. Objetivos Específicos
a) Apresentar de forma conceitual as principais ferramentas de análise de crédito e risco
disponíveis ao mercado;
b) Reconhecer as diferentes tomadas de decisão na concessão ou não de crédito das em-
presas cessionárias de recursos.
15
3. Metodologia Foi utilizada a pesquisa qualitativa fundamentada em material publicado em livros, arti-
gos, teses, dissertações e fontes confiáveis da internet.
16
4. Princípio da Análise de Crédito Segundo Hoji (2010, p.531),
O risco existe em todas as atividades empresariais. Tudo o que é decidido hoje, vi-sando a um resultado futuro, está sujeito a algum grau de risco. Somente o que já aconteceu está livre de risco, pois é um “fato consumado”.
Para SANTOS (2009), na análise de crédito o principal objetivo do processo é verificar se
o tomador do empréstimo preenche os requisitos dos Cs do crédito (caráter, capacidade, capi-
tal, colateral, condições e conglomerado), possui pontos positivos nas agências de rating, ín-
dices financeiros e econômicos satisfatórios e preenche todos requisitos necessários nos mo-
delos de avaliação de risco, devendo estar apto a amortizar sua dívida futuramente. Desta
forma, o princípio da análise de crédito é minimizar os riscos envolvidos nas operações de
crédito, de tal forma que ambas as partes estejam satisfeitas com o negócio realizado.
17
5. Conceito de Crédito Segundo SANTOS (2009, p.1):
Crédito é definido como a modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e seus clientes.
Para SILVA (2008, p. 45):
A palavra crédito, dependendo do contexto do qual esteja tratando, tem vários signi-ficados. Num sentido restrito e específico, crédito significa a entrega de um valor presente mediante a promessa de pagamento.
Desta forma, segundo estes autores, crédito é a concessão de um recurso do qual o credor
espere que retorne capitalizado.
18
6. Os Cs do crédito SANTOS (2009, p.30) cita GILTMAN (1997) dizendo que:
Um dos insumos básicos à decisão final de crédito é o julgamento subjetivo que o analista financeiro faz para determinar se é válido ou não assumir riscos. Segundo este autor, a experiência adquirida do analista e a disponibilidade de informações (internas e externas) sobre o caráter do cliente são requisitos fundamentais para a análise subjetiva do risco de crédito.
SANTOS (2009) acrescenta que, os Cs do crédito (caráter, capacidade, capital, colateral,
condições e conglomerado) são informações importantes e necessárias para testar a capacida-
de financeira dos tomadores de crédito.
Cs do Crédito Informações
Caráter Idoneidade no mercado de crédito
Capacidade Habilidade em converter investimentos em receita
Capital Situação financeira
Colateral Situação patrimonial
Condições Impacto de fatores externos sobre a fonte geradora de receita
Conglomerado Análise do grupo econômico – pessoa física ou jurídica
Fonte: SANTOS (2009, p. 30)
Tabela 1: Os Cs do crédito e suas características
6.1. Caráter
Para SANTOS (2009, p.30),
o caráter está associado à idoneidade do cliente do mercado de crédito. Para a análi-se desse critério, é indispensável que os credores disponham de informações históri-cas de seus clientes (internas e externas), que evidenciem intencionalidade e pontua-lidade na amortização de dívidas.
19
SILVA (2008) acrescenta que o caráter está associado à pontualidade do tomador de cré-
dito com seus compromissos anteriores, se o nome tomador não encontra-se listado em servi-
ços de proteção ao crédito (SPC, SERASA, BACEN, entre outros) e quais seus hábitos de
pagamentos junto a outras instituições financeiras.
6.2. Capacidade
SANTOS (2009, p.31) define a capacidade como:
O julgamento subjetivo do analista quanto à habilidade dos clientes no gerenciamen-to e conversão de seus negócios em receita. Usualmente, os credores atribuem à ren-da de pessoas físicas ou à receita de empresas a denominação de “fonte primária de pagamento” sendo o principal referencial para verificar se o cliente tem capacidade de honrar a dívida.
Na definição de CHAIA (2003), a capacidade é normalmente representada pelo potencial
financeiro do tomador de crédito em honrar compromissos junto aos seus credores. As infor-
mações mais solicitadas pelas instituições financeiras para análise de capacidade são os dados
relativos à renda e aplicações financeiras para as pessoas físicas, e índices de liquidez ou en-
dividamento para as pessoas jurídicas.
6.3. Capital
SANTOS (2009, p.31), diz que o capital é:
Medido pela situação financeira do cliente, levando-se em consideração a composi-ção (quantitativa e qualitativa) dos recursos, onde são aplicados e como são financi-ados.
CHAIA (2003) complementa a citação acima dizendo que geralmente o capital é avaliado
da seguinte forma: patrimônio pessoal, nas pessoas físicas, e balanço patrimonial, nas pessoas
jurídicas. No balanço, normalmente é observado o índice de endividamento ou liquidez. O
capital é representado pela forma como são aplicados os recursos (bens e direitos) e como os
recursos de terceiros (passivos) estão sendo administrados pelo tomador de crédito, seja ele
pessoa física ou jurídica.
20
6.4. Colateral
Segundo SANTOS (2009, p. 31):
Colateral refere-se à riqueza patrimonial dos clientes composta por bens (móveis e imóveis) e aplicações financeiras. No mercado de crédito, esse C recebe a denomi-nação de “garantia acessória”, ou seja, garantia secundária vinculada aos contratos de crédito para proteger os credores de situações adversas decorrentes da perda de capacidade financeira dos clientes (parcial ou total). Apesar da garantia acessória ser uma prática usual na redução da inadimplência, devemos reconhecer a dificuldade de transformar a venda de tal bem, móvel ou imóvel, em caixa para o credor. A li-quidez da garantia deve ser considerada na concessão do crédito, pois garantia se-cundária vinculada não pode ser confundida com capacidade de pagamento.
CHAIA (2003) diz que de modo geral o colateral possui a finalidade de trazer liquidez a
dívida, caso o tomador de crédito entre em default e por isso o valor da garantia adicional
oferecida, em muitas vezes ultrapassa o próprio valor da dívida. Os procedimentos de avalia-
ção de crédito com garantias adicionais devem ser os mesmos procedimentos aplicados quan-
do o tomador de crédito não possui colateral.
6.5. Condições
SANTOS (2009, p. 32), diz que:
O C condições está relacionado à sensibilidade da capacidade de pagamento dos cli-entes à ocorrência de fatores externos adversos ou sistemáticos, tais como os decor-rentes de aumento de taxas de inflação, taxa de juros e paridade cambial, assim co-mo a de crises em economias em países desenvolvidos e emergentes, que mantém relacionamento com o Brasil.
CHAIA (2003) acrescenta dizendo que o fator condições esta relacionado à capacidade
de pagamento do tomador de crédito e a sensibilidade do mesmo em sofrer impactos econô-
micos e financeiros diante de fatores econômicos, relacionados a políticas governamentais,
cambiais, conjunturas econômicas nacionais e internacionais, concorrências etc. Uma empresa
ou pessoa física mais exposta a estes fatores, torna-se mais sensíveis a mudanças da econo-
mia, podendo estar sujeita a entrar inadimplência ou default mais facilmente.
21
7. Evolução do modelo 5 Cs do crédito
7.1. Rating
Segundo SANTOS (2009, p. 193):
Rating são opiniões sobre a capacidade futura dos devedores de efetuarem, dentro do prazo, o pagamento do principal e dos juros de suas obrigações. Assim, refletem o conjunto de observações e percepções de risco das agências especializadas, e não devem em hipótese alguma, ser utilizadas isoladamente como parâmetro para justifi-car decisões em propostas de crédito, investimentos em títulos de renda variável, transações financeiro estruturado etc.
CHAIA (2003) baseado em SAUNDERS (2000) diz que a U.S. Office of the Controller of
the Currency (OCC), desenvolveu um sistema que separava os empréstimos em cinco catego-
rias, sendo quatro classificadas como de baixa qualidade e uma como de alta qualidade. Mui-
tas instituições financeiras utilizam este sistema até os dias atuais.
Classificação de Alta Qualidade
Aprovado / de bom desempenho 0%
Classificação de Baixa Qualidade
Outros ativos especificamente mencionados 0%
Ativos abaixo do padrão 20%
Ativos duvidosos 50%
Ativos de perdas 100%
Fonte: CHAIA (2003, p. 17)
Tabela 2: Classificação de crédito segundo a OCC
22
Para CHAIA (2003), as instituições financeiras conseguiram melhorar seus modelos in-
ternos de classificação de risco, chegando a trabalhar com até dez categorias, sendo as seis
primeiras subdivisões da classificação de alta qualidade da OCC e as quatro últimas classifi-
cações de baixa qualidade. Cada categoria participa com seu percentual de possível inadim-
plência. Para calcular tal inadimplência, é aplicada uma fórmula conforme a equação abaixo:
����ê��������� �� = � ����é� �������������ê���������
���
Onde:
Empréstimos: i representa o total de empréstimos concedidos dentro da categoria i de
classificação da qualidade do crédito;
Inadimplência: i representa a perda esperada percentual por inadimplência dentro da ca-
tegoria i de classificação da qualidade do crédito.
SANTOS (2009) completa que a instituição classificadora de tal risco poderá informar os
investidores sobre o rating aplicado a determinada empresa, país ou até pessoas físicas e que
este mesmo rating permanecerá sob constante monitoramento.
7.1.1. Escalas de Rating
SANTOS (2009, p. 194), diz que:
As agências de classificação de risco de crédito trabalham com diferentes escalas que, em geral, começam com a nota máxima e vão decrescendo à medida que o risco observado aumenta. Os analistas acreditam que as diferenças de escalas não repre-sentam qualquer obstáculo ao entendimento por parte do investidor. Pelo contrário, consideram-na positiva, pois revelam diferentes critérios de avaliação e proporcio-nam ao investidor um panorama mais amplo das condições da empresa.
CHAIA (2003) baseado em CAOUETTE et all (1998) comenta que as empresas estão
substituindo a captação de recursos em bancos e demais instituições financeiras pelo mercado
de capitais, pois trata-se de um dinheiro menos oneroso. Desta forma, o risco de crédito é
maior para o financiador, que busca nas agências de risco, informações que tragam dados re-
levantes, se determinado tomador possui ou não condições de assumir tal tomada de capital.
23
Na atualidade as três maiores agências de classificação de risco são: Standard & Poor's, a
Moody's e a Fitch Ratings. Na tabela 3 consta as agências de classificação de risco no mundo
de maior destaque em meados de 1995.
Nome da Agência Ano em que foi fundada
Orientação de Mercado
Símbolos de Rating de Curto
Prazo
Símbolos de Rating de
Longo Prazo
Australian Rating (S&P) 1981 Local A.1+ a C.1+ AAA a C
Canadian Bond Rating Service 1972 Local A-1 a A-4 A++ a D
Dominion Bond Rating Service 1976 Local R-1 a U AAA a C
Agence d'Evaluation Financiere 1986 Local T-1 a T-4 AAA a D
Credit Rating Services of India Ltd. 1988 Local P-1 a P-5 AAA a D
Japan Bond Research Intitute 1979 Local - -
Japan Credit Rating Agency 1985 Local J-1 a J-5 Aaa a D
Mikuni & Co. 1975 Local Não Disponível AAA a D
Nippon Investors Service 1985 Local A-1 a D AAA a D
Korean Investors Service 1985 Local A-1 a D AAA a D
International Bank Credit Analysis 1979 Bancos - A a E
Duff & Phelps 1932 Local Duff-1 a 3 1 a 17
Fitch IBCA 1913 Global F-1 a F-4 AAA a D
Moody's Investors Services 1909 Global P-1 a P-3 Aaa a C
Standard & Poor's 1922 Global A-1 a D AAA a D
Fonte: Moody's Investors Services (1995, p. 62)
Tabela 3: Agências de Rating pelo Mundo
Segundo CHAIA (2003), além de sistemas desenvolvidos pelas instituições financeiras,
existem as classificações produzidas pelas agências de rating, que são empresas especializa-
das na avaliação da capacidade creditícia de emissores de títulos corporativos, municipais e
nacionais. Seu principal trabalho é informar aos investidores a probabilidade deles não rece-
berem os fluxos de caixa previstos em relação a um título.
24
SANTOS (2009, p. 194) destaca que:
Os sistemas de ratings estão sujeitos a variações qualitativas, influenciadas, entre outros, pelos seguintes aspectos: competência técnica e experiência dos avaliadores; metodologia de mensuração de riscos empregada; modelo de coleta; qualidade e confiabilidade das fontes de informações utilizadas no desenvolvimento da análise.
Segundo CHAIA (2003), cada agência de rating inclui na classificação uma letra ou uma
sequencia de letras para apresentar o rating de crédito, sendo que as classificações em “triplo
A” são descritas como de menor risco (o tomador possui condições de cumprir as suas obriga-
ções com terceiros, neste caso, o fornecedor do recurso). Já os tomadores com classificação
com risco D representam grande periculosidade, pois as chances de inadimplência ou do to-
mador entrar em default são altas. Para Standard & Poor’s obrigações classificadas em AAA
podem ser descritas através da seguinte expressão: “capacidade de pagar juros e principal é
extremamente forte”. Já obrigações classificadas em D representam não pagamento nas datas
devidas. Quanto mais baixo a classificação, maior o risco de não pagamento. Em geral, obri-
gações com classificação superior a BBB são consideradas como investimento enquanto as
demais são consideradas especulativas. Como o grau de qualidade do crédito muda ao longo
do tempo as agências realizam constantemente reavaliações.
CHAIA (2003) baseado em CAOUETTE et all (1998) diz que as agências de rating uti-
lizam o mesmo ferramental usado para análise de ações, diferindo no objeto final. Na análise
de ações é levado em conta o fluxo de caixa do acionista, já na análise de crédito o importante
é a capacidade que o tomador tem em retornar com o capital tomado acrescido dos juros, ou
seja, sua capacidade de pagamento da obrigação. As agências de classificação de risco levam
diversas vantagens em relação a análises isoladas feitas internamente pelas instituições finan-
ceiras, mas a principal é a maior abrangência, pois as agências não se concentram em segmen-
tos específicos e possuem bases de informações mais antigas, fornecendo a maior confiabili-
dade estatística.
Na tabela 4 consta uma matriz produzida para o mercado norte-americano, contendo a
chance de perda (default) de cada categoria e probabilidade de mudanças entre as categorias.
25
Matriz de Transição - Um ano (%)
Rating Inicial
Rating no final de um ano (%)
AAA AA A BBB BB B CCC Default
AAA 90,81 8,33 0,68 0,06 0,12 0,00 0,00 0,00
AA 0,70 90,65 7,79 0,64 0,06 0,14 0,02 0,00
A 0,09 2,27 91,05 5,52 0,74 0,26 0,01 0,06
BBB 0,02 0,33 5,95 86,93 5,30 1,17 0,12 0,18
BB 0,03 0,14 0,67 7,73 80,53 8,84 1,00 1,06
B 0,00 0,11 0,24 0,43 6,48 83,46 4,07 5,20
C 0,22 0,00 0,22 1,30 2,38 11,24 64,86 19,79
Fonte: Standard & Poor's CreditWeek (15 April 96)
Tabela 4: Matriz de transição - um ano (%)
7.2. Credit Scoring
Para SILVA (2008, p.348) o sistema de Credit Scoring:
Possibilita uma resposta rápida para decisões de crédito massificado. Você imputa os dados de seu potencial cliente no sistema e imediatamente o computador informa se o crédito foi aprovado. Na realidade o método estatístico também leva em conside-ração a experiência da instituição com os clientes.
CHAIA (2003) baseado em SAUNDERS (2000) diz que o Credit Scoring é utilizado em
concessões de crédito para pessoas jurídicas e físicas, desde empréstimos mais simples (crédi-
to direto ao consumir – CDC) até empréstimos mais complexos (investimentos em longo pra-
zo em sociedades anônimas) e pode estar incorporado em todas as possíveis formas de análise
de concessão de recursos. Apesar de todas as fórmulas estatísticas e matemáticas envolvida no
processo de Credit Scoring, há a possibilidade de aceitar um mau pagador e de recusar um
bom pagador e refutar o objetivo principal do Credit Scoring que é de detectar a probabilidade
de inadimplência de uma operação.
26
CHAIA (2003, p.20) cita SAUNDERS (2000) pressupondo que:
Nenhum sistema de avaliação consegue capturar todas as informações relevantes que são necessárias para a precisa classificação dos devedores nas categorias e, mesmo que algum sistema conseguisse, o seu custo tornaria esse processo de análise inviável economicamente.
CHAIA (2003) baseado em BOGGESS (1980) apresenta através da Tabela 5 o percentual
de clientes classificados nas categorias bons ou maus pagadores em alguns dos principais fa-
tores utilizados para a avaliação do Credit Scoring.
Características Bons Pagadores Maus pagadores
É casado (a)? 90,50% 86,20%
Tem casa própria? 80,40% 42,30%
Tem carro próprio? 80,70% 68,00%
Tem mais de 35 anos? 97,00% 89,50%
Mora mais de 3 anos no endereço atual? 91,80% 70,30%
Tem telefone? 75,40% 70,30%
Tem menos de 3 filhos? 65,80% 49,30%
Fonte: BOGGESS (1980)
Tabela 5: Clientes classificados nas categorias de bons e maus pagadores
CHAIA (2003, p.21) diz que:
É possível observar que nenhum fator sozinho define bons ou maus pagadores por-que, mesmo na casa própria, a chance do mau pagador é alta. Além disso, o peso dos fatores se altera em função da área de análise, mudança na sociedade ou com passar do tempo. Por si só os fatores não esclarecerem muito, mas em conjunto, são ferra-mentas de apoio às decisões eficientes.
Assim, o Credit Scoring pontua cada cliente em função de uma combinação de diversos
fatores como idade, tempo de residência e permanência no trabalho, quantidade de filhos,
estado civil no caso de pessoas físicas e índices financeiros e patrimoniais para pessoas jurídi-
cas. Na tabela 6 de BOGGES (1980), foram divulgados alguns fatores que indicam a probabi-
lidade de inadimplência (default), com base em um sistema de classificação de rating.
27
Características Pontos para a resposta sim
É casado (a)? 10
Tem casa própria? 15
Tem carro próprio? 7
Tem mais de 35 anos? 9
Mora mais de 3 anos no endereço atual? 14
Tem referência bancária? 18
Tem telefone? 8
Tem menos de 3 filhos? 19
Fonte: BOGGESS (1980)
Tabela 6: Classificação de rating com score de pontuação
Na segregação dos scores é determinada a análise de ganhos e perdas em função da rejei-
ção de clientes abaixo do ponto.
Credit Score Bons Pagadores Maus Pagadores Ganho na Rejeição
5 5 300 14.500
10 25 600 27.500
15 75 900 37.500
20 125 1.100 42.500
25 200 1.200 40.000
30 400 1.300 25.000
35 800 1.400 (10.000)
Fonte: CHAIA (2003, p. 22)
Tabela 7: Credit Scoring de bons pagadores, maus pagadores e ganho na rejeição.
Caso o banco, por não aceitar clientes com potencial para tomada de empréstimo, come-
çar a apresentar mais prejuízo do que ganho será obtido o score de corte 21.
28
Fonte: CHAIA (2003, p.22)
Figura 1: Gráfico de ganhos com bons e maus pagadores e rejeição de clientes
CHAIA (2003), diz que na figura 1 a instituição financeira começa a ter mais perdas pela
recusa de bons clientes do que ganhos associados a não concessão de crédito a maus pagado-
res, representado no score de corte será 33.
7.2.1. Credit Scoring pelo método Z de Altman
CHAIA (2003, p.22) cita CAOUETTE et all (1998) dizendo que:
Um dos modelos Credit Scoring mais utilizados na análise de crédito de clientes corporativos é o método multivariado de pontuação Z de Altman. Este método pro-cura combinar alguns índices financeiros extraídos de dados de balanço na procura de indicadores que possam discernir, dado um intervalo de tempo, empresas falidas e saudáveis no universo de empresas pesquisadas.
A Fórmula abaixo apresenta os pesos que os indicadores financeiros selecionados obtive-
ram no estudo de Altman sobre empréstimos comerciais. A Tabela 8 demonstra os resultados
desses indicadores nos grupos de empresas saudáveis e com problemas.
29
� = 0,012!X�# + 0,014!X&# + 0,033!X(# + 0,006!X*# + 0,999!X,#
Onde:
X1: representa o coeficiente entre capital de giro e ativos totais;
X2: representa o coeficiente entre lucros retidos e ativos totais;
X3: representa o coeficiente entre lucro antes do imposto e juros e ativos totais;
X4: representa o coeficiente entre valor de mercado do patrimônio líquido e valor escritural
do passivo;
X5: representa o coeficiente entre vendas e ativos totais.
Variável Média do grupo Quebrado Média do grupo não
quebrado
X1 -6,1% 41,4%
X2 -62,6% 35,5%
X3 -31,8% 15,4%
X4 40,1% 247,7%
X5 1,5 vezes 1,9 vezes
Fonte: ALTMAN (1968)
Tabela 8: Indicadores de grupos
CHAIA (2003, p.23) cita SAUNDERS (2000) afirmando que:
Uma série de questões pode ser levantada sobre o método Z de Altman. As princi-pais estão associadas à linearidade do modelo, pois o caminho para a falência pode não ser muito linear, e à natureza dos indicadores financeiros que são basicamente informações contábeis. Nesse ponto, é importante ressaltar que na maioria dos paí-ses as informações contábeis aparecem em intervalos regulares de tempo (ex. trimes-tralmente) e são desenvolvidos dentro de normas contábeis geralmente aceitas. Ape-nas o credit scoring não garante o sucesso da gestão do crédito, devendo manter o contínuo acompanhamento das posições dos clientes. A principal vantagem do mo-delo é que decisões sobre a concessão são tomados com base em procedimentos im-pessoais e padronizados gerando um maior grau de confiabilidade. Além disso, ele fundamenta-se em conceitos financeiros de ganho e perda com as operações, consi-derando os custos associados à recusa de bons clientes ou a aceitação de maus clien-tes.
30
CHAIA (2003) baseado em ALTMAN (1968) diz que a partir do método Z os emprésti-
mos comerciais seriam classificados como ruins e recusados caso o valor de Z estiver em
aproximadamente 1,81.
7.2.2. Processo de avaliação de crédito dentro do Credit Scoring
Para CHAIA (2003, p.24):
Após a definição do processo de avaliação da capacidade creditícia dos clientes, as áreas de crédito estabelecem os limites que serão concedidos para cada cliente. Nes-sa fase do ciclo de vida do crédito é avaliado o grau de concentração que a institui-ção financeira possui em uma determinada área geográfica, segmento de cliente ou tipo de produto. Com base nessas informações as áreas de crédito podem traçar dire-trizes para incentivar ou desincentivar determinado tipo de produto ou de cliente, di-recionando as operações para os objetivos traçados nos comitês de crédito. Nessa fa-se também são estabelecidas as regras de melhoria da qualidade do crédito em fun-ção da garantia utilizada. Quando é feita a avaliação do cliente não são consideradas as garantias que ele oferecerá na operação de crédito, sendo o limite estabelecido apenas pela qualidade individual. Contudo a colocação de garantias adicionais faz com que se melhore a qualidade do crédito da operação, e, por conseguinte, os limi-tes de exposição aceitos pela instituição financeira.
A Figura 2 abaixo apresenta um resumo do processo de avaliação.
Fonte: CHAIA (2003, p.24)
Figura 2: Processo de avaliação de crédito
31
8. Principais demonstrações financeiras Segundo SILVA (2008, p. 150):
As demonstrações financeiras constituem-se numa das grandes fontes de informa-ções para decisão de crédito. Os principais conjuntos de informações que as empre-sas de capital aberto publicam, compreendem:
• Relatório da administração;
• Demonstrações financeiras:
o Balanço patrimonial;
o Demonstração do resultado do exercício;
o Demonstração das mutações do patrimônio líquido;
o Demonstração das origens e aplicações dos recursos;
• Notas explicativas;
• Parecer dos auditores independentes.
As sociedades anônimas devem publicar suas demonstrações financeiras de forma com-
parativa, isto é, as relativas ao último e ao penúltimo exercício social, objetivando permitir
aos seus usuários a comparação da situação da empresa nos dois exercícios.
Já as sociedades por quotas de responsabilidade limitada normalmente não publicam de-
monstrações financeiras.
SANTOS (2009, p.116), diz que:
Embora parte das demonstrações financeiras apresente informações que não reflitam a real ou aproximada situação financeira das empresas, é destacado que:
• A grande utilidade da análise de balanço para levantamento de questões so-bre os Cs do crédito (caráter, capacidade, capital, colateral, condições e conglomerado);
• Que a Receita Federal do Brasil tem-se tornado cada vez mais eficiente na arrecadação de impostos, dado o atual estágio de investimentos e moderni-zação de sua estrutura humana e material. Isso lhe permite identificar os fraudadores e inibir essa prática com a aplicação de multas pesadas e en-quadramento dessas empresas em cadastro sujeito a acompanhamento mi-nucioso de todas as transações comerciais e financeiras. Como trunfo a RFB ainda dispõe da possibilidade legal de quebrar o sigilo bancário dos fraudadores. Com isso, o que se espera é que aumente o número de empre-sas que divulguem demonstrações contábeis que não apresentem grandes distorções com sua real situação financeira, o que, consequentemente, mui-to contribuirá para a análise de crédito.
32
• Que a comparação da situação financeira entre empresas de mesmo ramo contribui para verificar se os dados disponibilizados por uma delas se apre-sentam compatíveis, contraditórios ou muito distantes dos referenciais de mercado extraídos da média dos principais índices de desempenho.
8.1. Relatório de Administração
De acordo com SILVA (2008, p. 151):
O relatório de administração também pode aparecer com a denominação de Mensa-gem aos Acionistas. O conteúdo dessa mensagem varia de empresa para empresa. Em linhas gerais, o relatório da administração deve funcionar como uma prestação de contas dos administradores aos acionistas, ao mesmo tempo em que também for-neça uma análise prospectiva.
O relatório de administração, em muitos casos, não traz informações relevantes a tercei-
ros, ficando estes relatórios de interesse restrito a apreciação dos acionistas. Gerente de negó-
cios e analistas devem se atentar ao relatório de administração, pois em alguns casos há in-
formações importantes como: histórico da empresa, suas principais estratégias de crescimen-
to, seus planos futuros, suas políticas de recursos humanos e seus investimentos em pesquisa e
desenvolvimento. Informam sobre o estágio em que se encontram determinados projetos im-
portantes, analisam o ambiente em que a empresa opera e destacam as expectativas da admi-
nistração para os próximos exercícios. Pode ainda fornecer uma análise interna sobre os resul-
tados alcançados e sobre as políticas de investimento, de financiamento e de distribuição de
dividendos que foram adotadas no último exercício.
8.2. Demonstrações Financeiras
8.2.1. Balanço patrimonial
SILVA (2008, p.157) considera alguns aspectos do balanço patrimonial:
O balanço retrata a posição patrimonial da empresa em determinado momento, com-posta por bens, direitos e obrigações. O ativo mostra onde a empresa aplicou os re-cursos, ou seja, os bens e direitos que possui. O passivo mostra de onde vieram os recursos, próprios e de terceiros. Os recursos próprios podem ser originários de capi-tal colocado na empresa pelos sócios ou de lucro gerado pela empresa.
33
Para HOJI (2010), o balanço patrimonial é similar a uma fotografia da situação financeira
da empresa naquele momento, representando as contas de ativo e passivo de forma agrupada,
em ordem decrescente de grau de liquidez para o ativo e de exigibilidade para o passivo e
patrimônio líquido. Nas contas do ativo estão informados os bens e diretos da empresa e nas
contas do passivo estão informadas as obrigações com terceiros e sócios, representando as
fontes de recursos.
8.2.2. Demonstração de resultado do exercício
De acordo com SILVA (2008, p.159):
A demonstração de resultado do exercício, conforme o próprio nome sugere, de-monstra o resultado obtido pela empresa no período, isto é, lucro ou prejuízo. É im-portante notar que, enquanto o balanço patrimonial representa a posição da empresa em determinado momento, a demonstração do resultado acumula as receitas, os cus-tos e as despesas relativas a um período de tempo, mostrando o resultado e possibili-tando conhecermos seus componentes principais.
HOJI (2010) diz que a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) informa o fluxo
de receitas e despesas, ou a redução do patrimônio líquido entre duas datas, sendo apresentada
de forma dedutiva, ou seja, deduzem-se custos e despesas da receita bruta operacional para
apurar o lucro líquido. Também é possível dizer que enquanto o balanço patrimonial demons-
tra a situação estática da empresa, a DRE demonstra a situação dinâmica da empresa, o fluxo
como dito anteriormente.
8.2.3. Demonstração das mutações do patrimônio líquido
SILVA (2008, p. 160) diz que:
A demonstração das mutações do patrimônio líquido indica as ocorrências que mo-dificaram o patrimônio líquido, bem como a movimentação entre as próprias contas do patrimônio líquido.
34
Segundo HOJI (2010) a demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) in-
forma o quanto do saldo das contas do patrimônio Líquido esta impactando nas demonstra-
ções financeiras da empresa, assim as receitas e despesas que não são reconhecidos na de-
monstração de resultado do exercício deve estar evidenciado na DMPL. Exemplos de contas
que alteram o patrimônio líquido e não são evidenciados na DRE: ajustes de instrumentos
financeiros, reservas de reavaliação, ganhos e perdas em operações no exterior etc.
8.2.4. Demonstração das origens e aplicações dos recursos
Segundo SILVA (2008, p.160):
A Demonstração das Origens e Aplicações dos Recursos (DOAR), é um instrumento valioso para o analista. Mostra a movimentação dos recursos no âmbito de variação do capital circulante líquido, detalhando as diversas fontes e aplicações de recursos que o afetaram. Por meio desta demonstração, podemos saber se a empresa gerou re-cursos em suas operações, se imobilizou recursos no período, se obteve novas fontes de financiamento de longo prazo e se os acionistas fizeram novos aportes de capital.
A partir de 01.01.2008, a DOAR foi extinta, por força da Lei 11.638/2007, sendo obriga-
tória para apresentação das demonstrações contábeis encerradas somente até 31.12.2007.
8.3. Notas Explicativas
Segundo HOJI (2010, p. 262) é importante destacar que nas notas explicativas:
Os usuários obtêm importantes informações que complementam as demonstrações contábeis, por meio de explicações detalhadas e/ou quadros analíticos que esclare-cem a situação patrimonial e os resultados do exercício.
A Lei 6.404/76 informa que as notas explicativas devem publicar:
� Os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais e práticas contá-
beis adotadas, com relação a estoques, depreciação, amortização, exaustão, provi-
sões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a prováveis perdas na rea-
lização de elementos do ativo;
35
� Os investimentos relevantes em outras empresas;
� Os ônus reais sobre ativos, as garantias prestadas a terceiros e outras responsabili-
dades eventuais e contingentes;
� Os detalhamentos das dívidas de longo prazo (taxa de juros, vencimentos, garanti-
as etc.) e do capital social (número, espécie e classe de ações);
� As opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício;
� Os ajustes de exercícios anteriores;
� Os eventos subsequentes relevantes ocorridos após a data de encerramento do ba-
lanço.
Para SILVA (2008),
As demonstrações financeiras são complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. (p. 160)
8.4. Parecer dos auditores independentes
Segundo HOJI (2010, p. 263):
A publicação do parecer dos auditores independentes em conjunto com as demons-trações contábeis é obrigatória para companhias abertas (empresas de capital aberto). Além dessas, diversas empresas são obrigadas a publicá-lo: bancos, seguradoras, so-ciedades de grande porte etc. A Lei 11.638/07 determinou que as sociedades de grande porte, mesmo que não sejam constituídas na forma de sociedade por ações, tenham as suas demonstrações financeiras auditadas por auditor independente regis-trado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Grande número de companhias de capital fechado, mesmo que não sejam obrigadas por lei, publicam esse parecer para reforçar a fidedignidade das demonstrações financeiras.
Para SILVA (2008, p. 161):
Do ponto de vista do analista, uma empresa na qual o parecer dos auditores traga ressalva, seja adverso, ou haja negativa de opinião, é seguramente uma empresa de
36
maior risco, até porque dificulta ou impossibilita sua avaliação pelo analista que es-tará trabalhando com informações não confiáveis. É importante destacar que, depen-dendo do objetivo da análise, cabe ao analista avaliar se mesmo com aquelas consi-derações levantadas pelos auditores as peças contábeis poderão ser utilizadas e para quê.
SILVA (2008) diz que o parecer dos auditores independentes é ferramenta de grande im-
portância para o analista, sendo conveniente que toda análise de concessão de crédito de uma
empresa inclua a leitura do parecer dos auditores.
37
9. Análise Horizontal e Vertical
9.1. Análise Horizontal
Segundo HOJI (2010, p. 278):
A análise horizontal tem a finalidade de evidenciar a evolução dos itens das demons-trações contábeis, por períodos. Desta forma, são informadas as variações anuais.
SILVA (2008) diz que na análise horizontal o primeiro exercício poderá assumir a base
100 e comparar a evolução dos demais exercícios a essa base inicial.
Como exemplo, tem-se:
20x0 20x1 20x2
$ mil AH % $ mil AH % $ mil AH %
Receita Bruta 660.729 100 668.119 101,1 502.709 76,1
(-) Impostos (103.618) 100 (97.879) 94,5 (79.701) 76,9
(=) Receita Líquida 557.111 100 570.240 102,4 423.008 75,9
(-) CMV / Deprec. (359.542) 100 (359.069) 99,9 (293.883) 81,7
(=) Lucro Bruto 197.569 100 211.171 106,9 129.125 65,3
(-) Despesas (146.827) 100 (150.118) 102,2 (129.291) 88,1
(=) Lucro Op. I 50.742 100 61.053 120,3 (166) -
Rec / Desp Financ. (4.056) 100 2.072 - 6.985 -
(=) Lucro Op. II 46.686 100 63.125 135,2 6.819 14,6
Equivalência Patr. (13.063) 100 1.679 - 8.011 -
(=) Lucro Op. III 33.623 100 64.804 192,7 14.830 44,1
Resultado não Op. (4.216) 100 (5.410) 128,3 12.498 -
Lucro Liq. antes do IR 29.407 100 59.394 202,0 27.328 92,9
Provisões
Lucro Líquido 29.407 100 59.394 202,0 27.328 92,9
Fonte: SILVA (2008, p. 186)
Tabela 9: Análise Horizontal de uma DRE
38
Calculando o índice relativo de receita líquida de vendas em 20x1:
-���� ��í/0���1����20�1-���� ��í/0���1����2000 × 100 → 570.240557.111× 100 = 102,4
Calculando o índice relativo de receita líquida de vendas em 20x2:
-���� ��í/0���1����20�2-���� ��í/0���1����2000 × 100 → 423.008557.111 × 100 = 75,9
Ainda segundo SILVA (2008), deve-se tomar como base 100 o primeiro ano a ser anali-
sado e a evolução dos demais anos serão medidos com base neste ano. Como as receitas líqui-
das de 2000 foram de $557.111 (base 100) e as receitas líquidas de vendas de 20x1 e 20x2
foram de $570.240 e $423.008 respectivamente, pode-se concluir que:
• Em 20x1 a receita líquida de vendas em relação a 2000 foi de 102,4 enquanto o
que representa o custo dos produtos vendidos foi de 99,9 demonstrando que a re-
ceita cresceu em relação ao custo de produção.
• Em 20x2 a receita líquida de vendas em relação a 2000 foi de 75,9 enquanto o
que representa o custo dos produtos vendidos foi de 81,7 demonstrando que a re-
ceita foi reduzida em relação ao custo da produção.
• Nos três anos analisados a receita líquida de vendas teve evolução semelhante ou
pouco inferior ao custo dos produtos vendidos.
Para SANTOS (2009), na análise horizontal é possível calcular a variação das contas das
demonstrações financeiras e caso for necessário, verificar se houve alteração significativa,
período por período.
A análise horizontal é um complemento da análise vertical, análise de índices e de fluxo
de caixa das empresas.
39
9.2. Análise Vertical
Segundo HOJI (2010, p. 278):
A análise vertical facilita a avaliação da estrutura do ativo e do passivo, bem como a participação de cada item da Demonstração de Resultado na formação do lucro ou prejuízo.
Para SILVA (2008), a análise vertical demonstra como cada conta da demonstração fi-
nanceira corresponde em relação à outra conta, desde que sejam do mesmo ano.
Como exemplo, tem-se:
20x1 20x2
$ mil AV % $ mil AV %
Receita Bruta 668.119 117,2 502.709 118,8
(-) Impostos (97.879) (17,2) (79.701) (18,8)
(=) Receita Líquida 570.240 100,0 423.008 100
(-) CMV / Deprec. (359.069) (63,0) (293.883) (69,5)
(=) Lucro Bruto 211.171 37,0 129.125 30,5
(-) Despesas (150.118) (26,3) (129.291) (30,5)
(=) Lucro Op. I 61.053 10,7 (166) 0,0
Rec / Desp Financ. 2.072 0,4 6.985 1,7
(=) Lucro Op. II 63.125 11,1 6.819 1,6
Equivalência Patr. 1.679 0,3 8.011 1,9
(=) Lucro Op. III 64.804 11,4 14.830 3,5
Resultado não Op. (5.410) (0,9) 12.498 3,0
Lucro Liq. antes do IR 59.394 10,4 27.328 6,5
Provisões
Lucro Líquido 59.394 10,4 27.328 6,5
Fonte: SILVA (2008, p. 185)
Tabela 10: Análise Vertical de uma DRE
40
Calculando o índice relativo entre Lucro Bruto e Receita Líquida de Vendas em 2000:
80���9�0 �������2000-���� ��í/0��������2000 × 100 → 197.569557.111 × 100 = 35,5
Calculando o índice relativo entre Lucro Bruto e Receita Líquida de Vendas em 20x1:
80���9�0 �������20�1-���� ��í/0��������20�1 × 100 → 211.171570.240 × 100 = 37,0
Calculando o índice relativo entre Lucro Bruto e Receita Líquida de Vendas em 20x2:
80���9�0 �������20�2-���� ��í/0��������20�2 × 100 → 129.125423.008 × 100 = 30,5
Segundo SILVA (2008), pode-se tomar como base no DRE as receitas líquidas e a partir
desta base (representando 100%), calcular as demais contas da demonstração. No exemplo
acima, foi calculado o quanto o lucro bruto representava das receitas líquidas, nos anos de
2000, 20x1 e 20x2. No período apurado o lucro bruto representou 35,5; 37,0 e 30,5 respecti-
vamente.
Para SANTOS (2009), na análise vertical é possível calcular o quanto a cada conta parti-
cipa percentualmente em relação à receita líquida de vendas do período. Caso a análise seja
efetuada em um balanço patrimonial, normalmente é utilizado o percentual de cada conta em
relação ao ativo ou passivo total.
41
10. Principais Índices de Análise Financeira SILVA (2008, p. 181) pressupõe que:
A análise financeira pode ser conceituada como o exame das informações obtidas por meio das demonstrações financeiras, com intuito de compreender e avaliar as-pectos como: a capacidade de pagamento da empresa por intermédio da geração de caixa; a capacidade de remunerar os investidores gerando lucro em níveis compatí-veis com suas expectativas; o nível de endividamento, motivo e qualidade do endi-vidamento; políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa e diversos outros fatores que atendam ao propósito da análise. Entretan-to, a análise financeira, não pode ser restrita às demonstrações financeiras, devendo abranger todos os demais fatores que possam ter interferência na situação financeira da empresa. Daí haver necessidade de o analista financeiro ter uma adequada com-preensão de outras disciplinas como economia, administração geral, marketing e al-gumas particularidades do direito, entre outros conhecimentos.
Para HOJI (2010), a análise financeira através de índices pode ser classificada como óti-
mo, bom, satisfatório ou deficiente e ser comparado com outras empresas do mesmo setor de
atuação ou empresas que participem com mercados semelhantes. Algumas conclusões pode-
rão ser retiradas desta análise, relacionando as contas e grupos de contas.
SECURATO (2002), diz que os quocientes calculados são representados geralmente na
forma decimal ou de porcentagem e que estão baseados em uma vasta gama de demonstrati-
vos financeiros, buscando interpretar os números e vislumbrar o desempenho futuro da em-
presa.
10.1. Análise de Liquidez
Segundo Securato (2002, p. 76):
Uma das técnicas utilizadas para se avaliar a capacidade de solvência é a que utiliza os índices de liquidez.
Para SILVA (2008), os índices de liquidez indicam a capacidade, comparando os direitos
realizáveis e as exigibilidades, da empresa em cumprir compromissos com seus credores.
42
10.1.1. Liquidez Geral (LG)
Para SILVA (2008) a liquidez geral indica o quanto de recurso a empresa possui no curto
e longo prazo para cumprir com suas obrigações totais.
8: = ;< + ;=<>< + >=<
Sendo:
AC = Ativo Circulante ANC = Ativo não Circulante
PC = Passivo Circulante PNC = Passivo não Circulante
SECURATO (2002, p. 79), diz que:
O índice de liquidez geral indica o quanto a empresa possui de valores realizáveis para cumprir com suas obrigações. Trata-se de índice de validade relativa, conside-rando-se que o realizável a longo prazo inclui contas cujos montantes e prazos de re-alização são bastante discutíveis, como depósitos e empréstimos compulsórios, de-pósitos judiciais e outros valores.
10.1.2. Liquidez Corrente (LC)
Para SILVA (2008) a liquidez corrente compara o quanto a empresa possui de obrigações
com credores no curto prazo (até o próximo exercício) com quanto possui de recursos dispo-
níveis neste mesmo prazo, para atender tais pagamentos.
8< = ;<><
Sendo:
AC = Ativo Circulante
PC = Passivo Circulante
43
SECURATO (2002, p. 77) diz que:
O índice de liquidez corrente determina, realizando caixa e ativos circulantes, de quanto a empresa dispõe para pagar suas obrigações de curto prazo em um momento específico; trata-se de uma análise estática, que, se for considerado somente este ín-dice, não terá grande significado.
10.1.3. Liquidez Seca (LS)
Para SECURATO (2002, p. 79):
A liquidez seca indica em termos de unidades monetárias, de quanto à empresa dis-põe, após a exclusão dos estoques (realização de caixa mais lenta) para cumprir com suas obrigações de curto prazo. Indica, também, como as disponibilidades da empre-sa, somadas a itens de realização líquida e certa (a não ser que haja sérios problemas de inadimplência), cobrem o passivo circulante.
Segundo SILVA (2008), a liquidez seca informa se a empresa possui dinheiro em caixa,
aplicações financeiras de resgate rápido e duplicatas a receber de excelente liquidez para fazer
frente as suas obrigações do passivo circulante.
8? = @�?> + ;A + @B>8><
Sendo:
DISP = Disponibilidades
AF = Aplicações Financeiras
DUPL = Duplicatas a Receber
PC = Passivo Circulante
44
10.2. Análise de Lucratividade
SILVA (2008, p.189) afirma que:
Lucro é o principal estimulo do empresário e uma das formas de avaliação do êxito de um empreendimento. Os índices de retorno, também conhecidos como índices de lucratividade ou rentabilidade indicam qual o retorno que o empreendimento está propiciando.
10.2.1. Retorno sobre o Ativo - RSA (Sistema Du Pont)
Para SILVA (2008, p. 189),
O chamado Sistema Du Pont de análise consiste na decomposição do retorno sobre o ativo total (lucro líquido dividido pelo ativo total). O retorno sobre o ativo indica a lucratividade que a empresa propicia em relação aos investimentos totais.
-?; = 88;C × 100
Sendo:
LL = lucro líquido
AT = ativo total
No retorno sobre o ativo: quanto maior, melhor.
10.2.2. Giro do ativo (GA)
Segundo SILVA (2008, p. 191),
O giro do ativo estabelece relação entre as vendas efetuadas no período e os inves-timentos totais da empresa.
:; = D8;C
45
Sendo:
VL = vendas líquidas (ou receita líquida)
AT = ativo total
No giro do ativo: quanto maior, melhor.
10.2.3. Retorno sobre as vendas (RSV)
Segundo SILVA (2008, p.191):
O índice de retorno sobre as vendas compara o lucro líquido em relação às vendas líquidas do período, fornecendo percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação ao seu faturamento.
-?D = 88D8 × 100
Sendo:
LL = lucro líquido
VL = vendas líquidas (ou receita líquida)
No retorno sobre as vendas: quanto maior, melhor.
10.2.4. Retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL)
Para Silva (2008, p. 192):
O índice de retorno sobre o patrimônio líquido indica quanto de prêmio (retorno do investidor pelo risco de seu negócio) os acionistas ou proprietários da empresa estão obtendo em relação aos seus investimentos no empreendimento.
-?>8 = 88>8 − 88 × 100
46
Sendo:
LL = lucro líquido
PL = patrimônio líquido
No retorno sobre o patrimônio líquido: quanto maior, melhor.
10.3. Análise de Estrutura de Capitais
SILVA (2008) diz que os índices de estrutura de capitais estão relacionados às decisões
de financiamento e investimento. Estes índices conseguem aferir os níveis de imobilização de
recursos (composição de capital próprio e de terceiros), buscando sempre a relação estrutural
da dívida da empresa.
10.3.1. Participação de Capital de terceiros (PCT)
Segundo SILVA (2008, p. 193):
O índice de participação de capital de terceiros, indica o percentual de capital de ter-ceiros em relação ao patrimônio líquido, retratando a dependência da empresa em re-lação aos recursos externos.
><C = >< + >=<>8 × 100
Sendo:
PC = passivo circulante
PNC = passivo não circulante
PL = patrimônio líquido
Na participação de capital de terceiros: quanto maior, pior.
47
10.3.2. Composição do Endividamento (CE)
Para SILVA (2008, p. 194):
A composição do endividamento indica o quanto da dívida total da empresa deverá ser pago em curto prazo, isto é, as obrigações em curto prazo comparadas com as obrigações totais.
<� = ><>< + >=< × 100
Sendo:
PC = passivo circulante
PNC = passivo não circulante
Na composição do endividamento: quanto maior, pior.
10.3.3. Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)
Segundo SILVA (2008, p. 195):
O índice de imobilização do patrimônio líquido indica quanto do patrimônio líquido da empresa está aplicado no ativo permanente.
�>8 = ;>>8 × 100
Sendo:
AP = ativo permanente
PL = patrimônio líquido
Na imobilização do patrimônio líquido: quanto maior, pior.
48
10.3.4. Endividamento Financeiro sobre o Ativo Total (EFSAT)
SILVA (2008, p. 196) diz que:
O índice de endividamento financeiro sobre o ativo total indica a participação do passivo financeiro (PF) no financiamento do ativo da empresa, mostrando a depen-dência da empresa junto a instituições financeiras.
�A?;C = @@ + �A + C8> + @�D + >=<;C × 100
Sendo:
DD = duplicatas descontadas
IF = instituições financeiras
TLP = transferência do longo prazo para o passivo circulante
DIV = dividendos, impostos de renda e outros (não cíclicos).
PNC = passivo não circulante
AT = ativo total
No índice de endividamento financeiro sobre o ativo total composição do endividamento:
quanto maior, pior.
10.3.5. Nível de Desconto de Duplicatas (NDD)
Segundo SILVA (2008, p. 197):
O nível de desconto de duplicatas indica o percentual de duplicatas descontadas em relação ao total de duplicatas a receber.
=@@ = @@@- × 100
Sendo:
49
DD = duplicatas descontadas
DR = duplicatas a receber
Na imobilização do patrimônio líquido: quanto maior, pior.
50
11. Principais Modelos de Avaliação de Risco de Crédito
Santos (2009) diz que as empresas buscam cada vez mais aprimorar as ferramentas de
apoio aos analistas e gestores de crédito. Uma das ferramentas utilizadas por estes profissio-
nais são os modelos de avaliação e monitoramento de risco de crédito. Tais modelos são im-
portantes como retaguarda na concessão de crédito a tomadores e se utilizados corretamente
conseguem reduzir a possibilidade de perdas relacionada a um empréstimo mal sucedido.
Os principais modelos utilizados na avaliação de risco de crédito são:
• Valor em Risco (VAR);
• Creditmetrics;
• Retorno sobre o capital econômico ajustado ao risco (RAROC); e
• Modelo KMV.
11.1 Valor em Risco (VaR)
Para SANTOS (2009, p. 220):
A técnica do VaR representa a perda máxima esperada em carteiras de crédito e in-vestimentos, num horizonte de tempo definido, e dentro de um intervalo de confian-ça. O intervalo de confiança é um intervalo estimado, construído com base na média da amostra, pelo qual pode ser especificada a probabilidade do intervalo incluir o va-lor da média da população.
O VaR determina o volume de capital que as empresas devem reservar para cobrir perdas
inesperadas que excedam determinado nível crítico. Assim o VaR estará determinado o quan-
to há de possibilidade de perda máxima de dinheiro, nas próximas 24 horas.
SECURATO (2002) diz que o VaR não mede a dispersão, mas, sim, uma probabilidade
de perda dos ativos individualmente, diferenciando-se das medidas tradicionais de risco que
utilizam o desvio padrão.
51
SANTOS (2009) afirma que o VaR não pode ser considerado como uma verdade única e
absoluta de análise de crédito, uma vez que ele leva em consideração o histórico de crédito do
cliente, baseado em padrões históricos. Por isso, é sempre interessante utilizar outros modelos
de risco de crédito, como forma de aferir de forma mais abrangente o quanto de risco o toma-
dor ou a operação estará trazendo ao credor do crédito.
11.2. CreditMetrics
SECURATO (2002, p. 264) diz que:
O modelo CreditMetrics foi compilado pelo JP Morgan em 1997 com o intuito de administrar o risco total das carteiras de crédito através da metodologia do VaR (Va-lor em Risco). Os dois benefícios da metodologia do CreditMetrics são: a quantifi-cação do valor em risco devido ao crédito e do limite de crédito baseado no risco.
Para SANTOS (2009), o CreditMetrics calcula as contribuições marginais de risco de
acordo com a concentração de crédito na carteira, buscando as variações qualitativas de cada
cliente. Assim, o CreditMetrics constrói o risco da carteira para cada exposição específica.
SANTOS (2009) diz que são cinco os benefícios encontrados na implantação do Credit-
Metrics nas carteiras de crédito:
• O quanto de recurso pode ser perdido devido a uma concessão de crédito mal su-
cedida (quantificar o risco do crédito);
• O quanto de exposição há na carteira de crédito devido a fatores externos e inter-
nos da instituição financeira (identificar os fatores de risco);
• O quanto de risco individual há na carteira (o quanto cada tomador representa de
risco junto ao total da carteira);
• A quantidade de limite de risco (qual o montante de risco é considerado acima da
média da carteira);
52
• A quantidade de capital econômico (quanto de capital do credor é necessário para
cobrir as perdas com concessões de crédito mal sucedidas).
Apesar de inúmeros benefícios o CreditMetrics possui uma limitação operacional que é a
necessidade constante de simular as mudanças na qualidade de crédito, face o histórico dos
tomadores de crédito. Desta forma, deve-se aferir a qualidade de crédito a cada duas opera-
ções concedidas ao cliente.
O CreditMetrics pode servir de base para alocar capital com perdas inesperadas junto ao
Valor em Risco (VaR).
11.3. Retorno sobre o capital econômico ajustado ao risco
(RAROC)
SANTOS (2009, p. 225) define RAROC como:
A alocação de capital para transações ou divisões de uma empresa, igual à perda máxima esperada durante determinado período, com um nível de significância espe-cificado e antes da incidência do imposto de renda. Ele mede o retorno do negócio em relação ao montante de capital necessário para cobrir perdas inesperadas com o crédito, durante certo período de tempo.
A utilização do RAROC é justificada por:
• Necessidade de alocar capital;
• Necessidade de avaliação o desempenho econômico do credor;
• Necessidade de avaliar a diferença entre o retorno e o custo do capital (spread);
• Necessidade de gerir ativamente a carteira de crédito;
• Necessidade de maximizar o RAROC, otimizando a carteira de crédito.
53
11.4. Modelo KMV (probabilidade de inadimplência)
Segundo SANTOS (2009, p. 227):
A KMV Corporation criou uma abordagem para estimar a probabilidade de inadim-plência de empresas em capital aberto, baseando-se no preço de mercado das ações e informações extraídas das demonstrações contábeis.
Para entender o que é a KMV, deve-se recorrer a SECURATO (2002, p. 305) que diz:
Na década de 80, seguindo o pensamento do modelo de Merton (1974), surgiu o Credit Monitor Model, um modelo de predição de default desenvolvido por Kealho-fer e Vasicek, o qual vai dar origem ao modelo de uso comercial KMV, desenvolvido pelo KMV Corporation. O modelo de Merton foi um dos primeiros que possibilitou entender uma empresa como uma opção.
SANTOS (2009) apresenta o KMV como um modelo de probabilidade que retira do pró-
prio mercado (fonte mais eficiente de informações) as informações necessárias para aferir a
saúde financeira de um determinado tomador de crédito, levando sempre em conta a capaci-
dade financeira que um determinado cliente possui em honrar os seus compromissos com ter-
ceiros. O principal parâmetro de capacidade de pagamento do cliente, segundo o modelo
KMV, é a capacidade de geração de caixa (fluxo de caixa), mas outros fatores devem ser le-
vados em conta na análise deste modelo.
Segundo CHAIA (2003), diferente de outros modelos, o modelo KMV não estima a pro-
babilidade de inadimplência levando em conta as informações extraídas de agências de classi-
ficação de risco, mas busca no mercado determinadas informações, por isso este modelo con-
segue melhores resultados em análise de companhias de capital aberto com cotas na bolsa de
valores. Desta forma, as informações são extraídas diretamente do mercado de capitais e não
em demonstrações financeiras emitidas pelo próprio tomador, minimizando a possibilidade de
fraude ou ajustes impróprios em tais demonstrativos.
54
12. Considerações Finais
É de vital importância para as empresas de concessão de crédito a busca por informações
e ferramentas que minimizam o risco de inadimplência do tomador de crédito e consequente-
mente o default da operação, pois concessões de crédito mal sucedidas acarretam perdas irre-
cuperáveis ao credor e acabam por penalizar bons tomadores, com o aumento do spread ban-
cário, resultando em cobrança de juros maiores e aumentando o custo financeiro das empresas
e do consumidor final.
Para as empresas que concedem crédito (bancos, instituições financeiras, agências de fo-
mento etc.), a principal dificuldade é saber se o tomador possui capacidade de honrar com o
compromisso futuro e qual a possibilidade de inadimplência deste cliente. Por isso, é necessá-
ria uma avaliação estruturada, levando em conta a informação concedida por várias ferramen-
tas de gestão de crédito, como: Cs do crédito; o rating das agências de risco; o Credit Scoring;
a análise de índices das demonstrações financeiras e os modelos de avaliação de risco de cré-
dito. Estas ferramentas são complementares, e em uma analise estruturada de concessão de
crédito, nunca devem ser utilizadas de forma individual, mas sim como complementos inter-
cambiáveis entre elas.
Para as empresas tomadoras, a análise de crédito não deve ser levada com menos impor-
tância pelos gestores financeiros da empresa, pois é de grande valia aos administradores, só-
cios e acionistas destas empresas, aferir se o recurso solicitado será bem empregado em ativos
e se esta aplicação em ativos estará gerando receita e lucro futuros para a empresa, pois, sem
receita e consequentemente lucro, como a empresa irá pagar este empréstimo?
Desta forma, através de uma gestão de crédito eficiente de credores e tomadores de recur-
sos, pode-se reduzir o risco de inadimplência, assessorar melhor os clientes para utilização
consciente do crédito e no pior dos casos, provisionar de forma racional e inteligente os recur-
sos necessários em casos de perdas de créditos mal sucedidos. Assim, o custo financeiro das
empresas é reduzido ajudando a tornar as empresas brasileiras mais competitivas no Brasil e
no mundo.
55
13. Referências bibliográficas CHAIA, Alexandre Jorge. Modelos de gestão do risco de crédito e sua aplicabilidade ao mer-cado brasileiro. 02/06/2003. 90 páginas. Dissertação de Mestrado em Administração - Facul-dade de Administração, Economia e Contabilidade. São Paulo, 22/03/2004. HOJI, Masakazu. ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA: MATEMÁTI-CA FINANCEIRA APLICADA, ESTRATÉGIAS FINANCEIRAS, ORÇAMENTO EMPRE-SARIAL. São Paulo: Editora Atlas, 2010. SANTOS, José Odálio. ANÁLISE DE CRÉDITO: EMPRESAS, PESSOAS FÍSICAS, AGRONEGÓCIOS E PECUÁRIA. São Paulo: Editora Atlas, 2009. SECURATO, José Roberto (coord.). CRÉDITO – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO RISCO. São Paulo: Editora Saint Paul, 2002. SILVA, José Pereira da. GESTÃO E ANÁLISE DE RISCO DE CRÉDITO. São Paulo: Edito-ra Atlas, 2008.