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Teoria do TurismoConceitos, Modelos e Sistemas
Guilherme Lohmann
Alexandre Panosso Netto
7Sumrio
Apresentao ..................................................................................................... 13
Seo 1: Teorias, Sistemas e Modelos
Epistemologia do Turismo ........................................................................... 19
Teoria Geral de Sistemas e Turismo ............................................................. 26
Cuervo, Sistema Turstico de ........................................................................ 30
Leiper, Sistema Turstico de ......................................................................... 33
Krippendorf, Modelo Existencial da Sociedade Industrial de ................... 37
Jafari, Modelo Interdisciplinar de ................................................................ 42
Molina, Sistema Turstico de ........................................................................ 47
Beni, Sistema Turstico de ............................................................................ 50
Boulln, Teoria do Espao Turstico de ....................................................... 56
Seo 2: Conceitos
Hospitalidade ................................................................................................ 67
Lazer ............................................................................................................... 73
Entretenimento ............................................................................................. 79
Recreao ....................................................................................................... 83
Turismo e Viagem.......................................................................................... 89
Alimentos e Bebidas (A&B) ............................................................................ 92
Eventos ........................................................................................................... 98
Paisagem ........................................................................................................ 103
Seo 3: Disciplinas
Organismos de Turismo ............................................................................... 115
Poltica Pblica de Turismo .......................................................................... 121
Planejamento Turstico................................................................................. 129
Legislao Turstica ....................................................................................... 137
Ps-modernidade e Turismo........................................................................ 145
8Teoria do Turismo
Marketing Turstico ....................................................................................... 151
Segmentao do Turismo ............................................................................. 164
Mercado Turstico ......................................................................................... 176
Cluster de Turismo ........................................................................................ 184
Qualidade dos Servios (SERVQUAL) ............................................................. 195
Yield Management (Gerenciamento de Receitas) ...................................... 199
Impactos Positivos e Negativos do Turismo ............................................... 206
Efeito Multiplicador do Turismo .................................................................. 221
Conta Satlite do Turismo ............................................................................ 230
Balana Comercial do Turismo .................................................................... 233
Seo 4: O Turista
Demanda Turstica ........................................................................................ 237
Fatores Determinantes e Motivadores ........................................................ 242
Iso-Ahola, Modelo da Psicologia Social do Turismo de ............................. 245
Crompton, Modelo de Escolha de Destinos de .......................................... 249
Schmll, Modelo de Escolha do Consumidor de Turismo de ................... 252
Urry, Teoria do Olhar do Turista de ........................................................... 254
Plog, Sistema Psicogr co de ....................................................................... 258
Cohen, Tipologia de Viajantes de ................................................................. 265
Smith, Classi cao de Turista de ............................................................... 269
Gray, Tipologia do Turismo de ..................................................................... 272
Wickens, Tipologia do Turista de ................................................................. 277
Klenosky & Gitelson, Modelo Conceitual de............................................... 280
Seo 5: Intermediao, Distribuio e Viagem
Canais de Distribuio em Turismo ............................................................ 285
Agncias de Viagens e Operadoras Tursticas ............................................. 293
Sistemas de Reserva por Computador (CRS) ............................................... 305
Mariot, Modelo de Fluxos Tursticos de ...................................................... 313
Campbell, Modelo de Viagens Recreativas e Excursionistas de ................ 315
Modelo de Padres de Viagem Multidestinos ............................................. 318
Oppermann, Modelo de Itinerrios de Viagem de ..................................... 321
Defert, ndice de Funo Turstica de ......................................................... 324
ndice de Viagem ........................................................................................... 327
Transportes .................................................................................................... 330
Funes Nodais ............................................................................................. 337
9Sumrio
Seo 6: O Destino Turstico
Destino Turstico ........................................................................................... 347
Imagem de um Destino Turstico ................................................................ 350
Butler, Modelo de (Ciclo de Vida de um Destino Turstico) ....................... 357
Prideaux, Espectro do Desenvolvimento de Resort de............................... 362
Resorts ............................................................................................................ 367
Oferta Turstica .............................................................................................. 369
Custos e Preos dos Produtos e Servios Tursticos ................................... 375
Infra-estrutura Turstica ............................................................................... 381
Servios e Equipamentos Tursticos ............................................................ 387
Atrao Turstica ........................................................................................... 390
Gunn, Modelo de Atrao Turstica de ........................................................ 396
Meios de Hospedagem ................................................................................. 399
Produtividade no Setor Hoteleiro ................................................................ 411
Residncias Secundrias .............................................................................. 415
Capacidade de Carga .................................................................................... 420
Sazonalidade ................................................................................................. 428
Patrimnio Cultural ...................................................................................... 431
Zoneamento Turstico .................................................................................. 441
Referncias bibliogr cas ............................................................................... 447
ndice de lugares ............................................................................................... 467
ndice de autores .............................................................................................. 473
ndice remissivo ................................................................................................ 479
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Teoria do conhecimento e gnosiologia so sinnimos de epistemologia.
Sua raiz etimolgica est no grego, onde gnosis conhecimento e cincia, e lo-
gia estudo e discurso ordenado. Portanto, resumidamente, epistemologia o
estudo do conhecimento.
Epistemologia do turismo um assunto que ganhou importncia nos es-
tudos tursticos somente na dcada de 1990. Isso se deve ao fato de que, em
sua maioria, os investigadores da rea estavam mais interessados em ques-
tes prticas da atividade, como gesto, planejamento e polticas pblicas,
entre outros. A epistemologia nasceu da loso a; entretanto, a maioria dos -
lsofos no se interessa pelos estudos tursticos, pois, como a rmou Comic
(1989), eles esto preocupados com outros temas mais importantes que o tu-
rismo; da origina-se tambm a relativa escassez de publicaes sobre esse as-
sunto.
Entre as perguntas feitas pela epistemologia do turismo, esto as seguin-
tes: o que se pode conhecer em turismo? Como produzido o conhecimento
em turismo? O conhecimento em turismo possvel? Pode o conhecimento
produzido em turismo ser verdadeiro? Como se d a apreenso do conheci-
mento em turismo pelo sujeito pensante? Por que se conhecem algumas coisas
em turismo e outras, no? At onde vai o campo de estudos do turismo? Quais
so os limites do conhecimento produzido em turismo? Pela relao de per-
guntas acima, possvel perceber que a epistemologia questiona os alicerces
tericos e as questes fundamentais sobre o conhecimento de determinado as-
sunto, no pairando sobre aspectos super ciais e pseudocient cos.
Para se fazer epistemologia do turismo, necessria uma re exo sria
acerca do problema proposto. Segundo Bunge (1980), para ser til, a epistemo-
logia deve ter as seguintes condies:
referir-se cincia propriamente dita, no imagem pueril e, s vezes,
at caricata, tomada de livros-texto elementares;
Epistemologia do Turismo
20
Teoria do Turismo
ocupar-se de problemas los cos que se apresentem, de fato, no cur-
so da investigao cient ca ou na re exo sobre os problemas, mto-
dos e teorias da cincia;
propor solues claras para tais problemas, em particular solues
consistentes com teorias rigorosas e inteligveis, bem como adequadas
realidade da investigao cient ca, em lugar de teorias confusas ou
inadequadas experincia cient ca;
ser capaz de distinguir a cincia autntica da pseudocincia, a investi-
gao profunda da super cial;
ser capaz de criticar programas e, at, resultados errneos, assim como
sugerir novos enfoques promissores.
Para todas as cincias, a epistemologia importante porque estabelece
uma reviso do conhecimento de determinado assunto e oferece critrios para
a aceitao desse conhecimento.
Para a validao do conhecimento, o lsofo da cincia Karl Popper criou
o critrio da falseabilidade. Para ele, um enunciado cient co, para ser conside-
rado verdadeiro deveria, ser passvel de comprovao pela experincia. Ainda
segundo o referido autor, o critrio de demarcao da validade do conheci-
mento no seria a veri cabilidade, mas sim a falsea bilidade de um sistema. Em
suas palavras:
(...) no exigirei que um sistema cient co seja suscetvel de ser dado como
vlido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porm, que sua
forma lgica seja tal que se torne possvel valid-lo atravs de recurso a provas
empricas, em sentido negativo: deve ser possvel refutar, pela experincia, um
sistema cient co emprico (POPPER, 2003, p. 42).
Para Popper, o cientista deve expor seu pensamento e esperar por crticas
que o obriguem a reformular as partes falhas; somente assim o conhecimento
avana. Essa nova posio causou uma revoluo na forma de analisar o co-
nhecimento, pois criou uma forma ao contrrio de validade dos enunciados
cient cos, pois o critrio no seria mais a possibilidade de sua veri cabilida-
de, mas sim o de sua falseabilidade.
Popper tambm a rmava que o conhecimento cient co avanava em for-
ma de degraus, gradativamente. Todavia, outro lsofo Thomas Kuhn no
21
Epistemologia do turismoSeo 1
concordava com ele neste ponto, pois, para ele, o conhecimento avanava em
forma de saltos, de rupturas.
Em seu famoso livro A estrutura das revolues cient cas, de 1962, Kuhn
apresentou sua maior teoria, qual seja, a dos paradigmas cient cos. Por para-
digmas, Kuhn (2001) compreendia os valores, as crenas e os mtodos que uma
comunidade cient ca partilha, e, ao mesmo tempo, uma comunidade cient-
ca consistiria de homens que partilham um paradigma.
Segundo essa teoria, as comunidades cient cas, em algum momento,
chegam a um ponto na estrada do conhecimento em que no conseguem mais
avanar, seja por estarem indo pelo caminho errado, seja por estarem utilizan-
do mtodos inapropriados ou por no haver mais condies de seguir a teoria
e as leis por elas mesmas propostas. Neste momento, necessrio romper com
o paradigma vigente e tentar uma nova abordagem para o problema proposto.
Lentamente vai sendo construdo um novo modelo cient co, que acaba por
substituir seu antecessor e, assim, ocorrem os saltos, as rupturas tericas (e de
paradigmas) que fazem o conhecimento avanar.
Um modelo que buscou explicar a criao e o desenvolvimento do conhe-
cimento em turismo foi o apresentado por John Tribe (1997), no qual o campo
do turismo dividido em duas partes (ver Figura 1): Campo do Turismo 1 (CT1)
e o Campo do Turismo 2 (CT2). Para este autor, o conhecimento em turismo no
produzido apenas na universidade; isso signi ca que, nas agncias de viagens,
nas companhias areas, nos meios de hospedagem e em todas as empresas de
turismo de um modo geral, produzido conhecimento em turismo. Desta for-
ma, esse campo leva o nome de Campo do Turismo 1, que o campo dos aspec-
tos comerciais do turismo. No entanto, no Campo do Turismo 2 produzido
conhecimento pelos aspectos no-comerciais do turismo. Este campo neces sita
de que outra disciplina faa a ligao com o turismo e oferea a base conceitual
para a produo do conhecimento em turismo. Ele inclui reas como percep-
es do turismo e impactos sociais e ambientais (TRIBE, 2004).
No crculo de fora, esto as disciplinas1,consideradas cincias (disciplinas
n indicam as outras cincias), que oferecem as ferramentas de abordagem do
1 O conceito de disciplina tem o signi cado de cincia, que possui mtodo de investigao e
objeto de pesquisa j constitudo e que se tornou um paradigma para sua comunidade cient -
ca. Entretanto, o conceito de campo no tem o signi cado de cincia, mas sim de objeto de es-
tudo de outras disciplinas (ou cincias). neste sentido que John Tribe a rmou que o turismo
no uma disciplina (cincia), mas sim um campo de estudo (objeto de estudo) das cincias.
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Teoria do Turismo
turismo. O crculo do meio, denominado Banda K, a regio na qual o conhe-
cimento do turismo criado. na Banda K que ocorre a interface das discipli-
nas com os campos do turismo. Por exemplo, o conceito de capacidade de
carga emerge de uma combinao de disciplinas que incluem Sociologia, Eco-
nomia e Biologia (TRIBE, 2004).
Figura 1 Criao do conhecimento em turismo na viso de John Tribe
Fonte: Adaptada de Tribe (1997).
23
Epistemologia do turismoSeo 1
No centro do crculo, esto o modo 2 de produo do conhecimento e o
campo do turismo (CT1 + CT2 = CT). O modo 1 corresponde ao co nhe cimento
produzido por uma cincia, primeiramente em um contexto acadmico
(GIBBONS et al. 1994; TRIBE, 2004, p. 51). Trata-se do conhecimento produzido
em um contexto acadmico e madurado em instituies de educao superior.
O modo 2, por sua vez, corresponde a uma nova forma de conhecimento que
se d nas empresas, no governo, nos grupos de interesse, nas consultorias e nos
institutos de pesquisa. um conhecimento produzido nas empresas tursticas
e direcionado para as empresas tursticas; ou seja, um conhecimento que nas-
ce de um contexto particular, com teorias e estrutura terica distintas, mtodos
de pesquisa e prticas que no so alocadas em um mapa disciplinar concei-
tual. Tribe tambm introduziu o conceito extradisciplinar para denominar o
conhecimento produzido fora dos meios acadmicos cient cos, como o caso
do modo 2 de produo do conhecimento.
O debate se o turismo ou no uma cincia tambm se encontra no cam-
po da epistemologia. So trs as correntes a respeito deste tema. A primeira diz
que o turismo no uma cincia, mas est trilhando o caminho para tornar-se
uma, pois est passando pelas mesmas fases de outras cincias que surgiram
no incio do sculo XX, tais como a Antropologia2 e a Etnogra a3. A segunda cor-
rente diz que o turismo no e nunca ser uma cincia, pois se constitui ape-
nas de uma atividade humana, e auxiliado pelas cincias em seus estudos. A
argumentao deste grupo diz que os estudos tursticos no possuem um ob-
jeto de pesquisa claro e de nido, nem um mtodo de estudo particular, o que
o inviabiliza de se tornar uma cincia. O terceiro grupo de pesquisadores diz
que o turismo uma cincia por possuir um corpo terico maduro e relativa-
mente grande; todavia, esses pesquisadores ainda no conseguiram compro-
var esta a rmao por meio de seus estudos.
2 Cincia do homem no sentido mais amplo, englobando o estudo de suas origens, evoluo,
desenvolvimentos fsico, material e cultural, siologia, psicologia, caractersticas raciais, cos-
tumes sociais e crenas, dentre outros.3 Estudo descritivo das diversas etnias, de suas caractersticas antropolgicas, sociais etc.
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Teoria do Turismo
OPERACIONALIZANDO
O livro Filoso a do turismo: teoria e epistemologia, publicado por Panosso Netto
(2005b) apresenta algumas das principais abordagens tericas de turismo e ensaia
um estudo epistemolgico apresentando a Fenomenologia como um possvel caminho
para uma compreenso mais completa do turismo.
EXERCCIO PROPOSTO
Selecione dois ou trs livros de turismo que foram indicados por seus professores em
aula e estabelea uma relao entre eles destacando o fundamento cient co utilizado
por cada autor para justi car o fenmeno turstico. Descubra qual a formao aca-
dmica dos autores (socilogos, economistas, gegrafos, turismlogos etc.) e veri que
at que ponto essa formao acadmica interfere nas opinies dos autores. Procure
tambm levantar possveis falhas tericas e contradies. Veri que se os autores usam
de fundamentos cient cos ou descrevem o fenmeno turstico apenas a partir de suas
experincias pessoais.
REFERNCIAS
BUNGE, M. Epistemologia: curso atualizado. So Paulo: Queiroz Editor/EDUSP, 1980.
COMIC, D. K. Tourism as a subject of philosophical re etion. Revue de Turisme, AIEST, n. 2, p. 6-13, 1989.
GIBBONS, M. et al. The new production of knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societie. Londres: Sage, 1994.
KUHN, T. A estrutura das revolues cient cas. 6. ed. So Paulo: Perspectiva, 2001.
PANOSSO NETTO, A. Filoso a do turismo: teoria e epistemologia. So Paulo: Aleph, 2005b.
POPPER, K. A lgica da pesquisa cient ca. 16. ed. So Paulo: Cultrix, 2003.
TRIBE, J. The indiscipline of tourism. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 4, p. 638-657, 1997.
______. Knowing about tourism. In: PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative research in tourism: ontologies, epistemologies and methodologies. Londres: Routledge, 2004. p. 46-62.
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Epistemologia do turismoSeo 1
PARA SABER MAIS
KUHN, T. S. O caminho desde a estrutura. So Paulo: Perspectiva, 2006.
NECHAR, M. C. & CORTS, M. L. (Orgs.). Apuntes para la investigacin turstica. Chetumal: Universidad de Quintana Roo, 2006.
NECHAR, M. C. & GARCA, M. O. (Orgs.). Ensayos tericos-metodolgicos del turismo: cuatro enfoques. Toluca-Mxico: Universidad Aut noma del Estado de Mxico, 2006.
PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative research in tourism: ontologies, episte-mologies and methodologies. Londres: Routledge, 2004.
SALVATIERRA, N. M. & VILLARREAL, L. Z. (Orgs.). Investigacin turs tica. Toluca-Mxico: Uni-versidad Autnoma del Estado de Mxico, 2000.
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H consenso nos meios acadmicos em a rmar que um dos principais
criadores e divulgadores da teoria geral de sistemas foi o bilogo Ludwing von
Bertalanffy (1901-1972). Bertalanffy considerava sistema (VASCONCELLOS, 2002,
p. 199-200): Amplamente a qualquer unidade em que o todo mais do que a
soma das partes. Assim, um sistema um todo integrado cujas propriedades
no podem ser reduzidas s propriedades das partes, e as propriedades sist-
micas so destrudas quando o sistema dissecado.
Vasconcellos (2002) explicou que Bertalanffy reconheceu que as leis da F-
sica no poderiam ser aplicadas igualmente na Biologia e na sociedade huma-
na; por isso, ele postulava novas categorias do pensamento cient co, com leis
que pudessem ser aplicadas tanto na Fsica quanto na Biologia e nas Cincias
Sociais. Foi da que, baseado na termodinmica clssica, que lida com os siste-
mas em equilbrio, ele postulou a criao de uma termodinmica que lidasse
com os sistemas abertos, que no esto em equilbrio.
As idias de Bertalanffy foram publicadas em vrios artigos e livros, mas o
seu livro mais conhecido Teoria geral dos sistemas, publicado nos Estados
Unidos, em 1968, no qual ele apresentou a sua teoria para os sistemas abertos.
Tais sistemas poderiam ser de qualquer natureza, e a sua teoria geral de siste-
mas pretendia ser interdisciplinar.
A partir das idias bsicas de Bertalanffy (1973), constituem exemplos de
sistemas o corpo humano, a economia de um pas, a organizao poltica de um
municpio e o turismo de uma regio qualquer. A teoria geral de sistemas permi-
te analisar cada um desses sistemas de forma total o sistema unido ou dividir
o sistema em partes para facilitar sua compreenso e seu estudo.
Um sistema, para ser completo, deve possuir meio ambiente (local em que
o sistema se encontra); unidades (as partes do sistema); relaes (entre as uni-
dades do sistema); atributos (qualidade das unidades e do prprio sistema);
input (o que entra no sistema); output (o que sai do sistema); feedback (o con-
Teoria Geral de Sistemas e Turismo
27
Teoria geral de sistemas e turismoSeo 1
trole do sistema para mant-lo funcionando corretamente); modelo (um dese-
nho do sistema para facilitar a sua compreenso).
Existem vantagens e desvantagens de se estudar o turismo a partir da teo-
ria geral de sistemas, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1 Vantagens e desvantagens da teoria geral de sistemas
Vantagens Desvantagens
Pela criao de um modelo (desenho con-
ceitual), tem-se uma viso geral do todo
do turismo.
possvel segmentar o sistema em partes
e estud-las separadamente.
A separao do sistema turstico dos ou-
tros sistemas facilita o estudo, mas, entre-
tanto, ocasiona uma viso fragmentada do
objeto de estudo.
possvel separar o sistema turstico de
outros sistemas, sendo seu estudo facilita-
do desta forma.
Possibilita o estudo interdisciplinar do tu-
rismo.
Ao separar o turismo em um sistema, de-
veria ser levado em conta que o turismo
faz parte de um sistema maior, como o so-
cial, por exemplo.
Getz (1986) fez uma reviso terica de artigos e livros publicados em ln-
gua inglesa e encontrou cerca de 150 modelos de abordagens do turismo, toda-
via nem todos so baseados na teoria geral de sistemas. Segundo esse autor, os
modelos de turismo encontrados dividem-se basicamente em trs grupos: (1)
modelos tericos; (2) processos de planejamento e gerenciamento; e (3) mode-
los de previso.
Segundo a bibliogra a levantada, a primeira anlise do turismo utilizan-
do a teoria geral de sistemas foi feita por Raymundo Cuervo (1967); entretan-
to, no est presente no levantamento de Getz (1986), que trabalhou somente
com textos em ingls. No Brasil, o sistema turstico mais difundido e conheci-
do o de Beni, que desenvolveu a sua teoria com inspirao na obra de Chris-
tofoletti (1979). No exterior, o sistema turstico mais conhecido o de Leiper
(1979). Sem dvida, a teoria geral de sistemas a teoria mais utilizada nos es-
tudos tursticos mundiais, e grande parte dos autores internacionais baseia-se
nela para empreender seus estudos do turismo.
28
Teoria do Turismo
Todavia, o sistema em questo no est livre de crticas, sendo mais co-
muns aquelas direcionadas teoria de sistemas de um modo geral, como o fato
de que os modelos sistmicos oferecem algumas explicaes de como funcio-
na o turismo, mas no conseguem aprofundar fatos importantes para a com-
preenso total. Algumas perguntas cam em aberto, tais como: qual seria a
lgica que existe entre os componentes do sistema? Como os atributos do sis-
tema in uenciam seu funcionamento? Em que sentido possvel dizer que se
constitui em um sistema funcional social? Como possvel a quanti cao das
entradas (input) e das sadas (output) de energia do sistema? Se no possvel
essa quanti cao, como seria possvel, ento, a sua anlise qualitativa? Como
possvel delimitar o sistema turstico de seu entorno?
Talvez, devido a essas perguntas sem respostas, recentemente autores pas-
saram a investigar e a procurar outras formas e teorias para se analisar o turis-
mo; da tm surgido anlises inovadoras com a aplicao da teoria dos rizomas,
da complexidade e da fenomenologia.
OPERACIONALIZANDO
Uma aplicao da Teoria de Sistemas est no atual Plano Nacional de Turismo 2007-
2001 uma viagem de incluso, do Ministrio do Turismo, que adota claramente
essa opo terica para fundamentar suas aes prticas.
O plano est dosponvel em: http://www.turismo.gov.br/portalmtur/opencms/institucio-
nal/arquivos/plano_nacional_turismo_2007_2010.html
EXERCCIOS PROPOSTOS
1. Em grupo, estabelea os pontos positivos e negativos de se analisar o turismo como um
sistema, tendo como fundamento a Teoria Geral de Sistemas.
2. Que outra teoria busca explicar o turismo alm da sistmica? Voc conhece alguma?
Quais so os pontos de vantagem dessa teoria em relao ao sistemismo? Procure se
informar e estudar sobre outras anlises e abordagens do turismo que no a sistmica.
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Teoria geral de sistemas e turismoSeo 1
3. Ouse e crie uma proposta de sistema de turismo que seja original. Se tiver di culdades,
consulte um professor ou dialogue com os colegas. No tenha medo de ousar e deixar
a imaginao funcionar. Porm, seu sistema de turismo tem que ser lgico e minima-
mente funcional.
REFERNCIAS
BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas. Petrpolis: Vozes, 1973.
CHRISTOFOLETTI, A. Anlise de sistemas em geogra a. So Paulo: EDUSP/Hucitec, 1979.
CUERVO, R. S. El turismo como medio de comunicacin humana. Mxico-DF: Departa-mento de Turismo do Governo do Mxico, 1967.
GETZ, D. Models in tourism planning: towards integration of theory and practice. Tourism Management, v. 7(1), p. 21-32, 1986.
LEIPER, N. The framework of tourism: towards a de nition of tourism, tourist, and the tourist industry. Annals of Tourism Research, v. 6, p. 390-407, 1979.
VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistmico: o novo paradigma da cincia. Campinas: Papirus, 2002.
PARA SABER MAIS
KRIPPENDORF, J. Le tourime dans le systeme de la societe industrielle. In: SESSA, A. La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985. p. 167-184.
PANOSSO NETTO, A. Filoso a do turismo: teoria e epistemologia. So Paulo: Aleph, 2005.
SESSA, A. La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985.