Post on 21-Feb-2016
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“O Domador” é um poema de Paulicéia Desvairada, constituído por 26 versos
dispostos em 5 estrofes, que tem de 6 a 4 versos cada. Além de não se encaixar em
forma fixa, as rimas são brancas, caracterizando a denominada forma livre, a estrutura
presente no poema analisado é predominante em outras obras de Mário de Andrade.
Este estilo é reflexo do movimento inaugurado por Mário de Andrade, o Modernismo,
visando romper com os antigos padrões poéticos característicos do parnasianismo, ao
passo que buscava em elementos nacionais objetos para a construção de sua poética.
Mário de Andrade admite ter sido “tocado” pelas vanguardas europeias (colocar
referência), utilizando-se de técnicas avançadas para versificar a encarnação da
modernidade em Paulicéia Desvairada, onde o sujeito poético é representado pela figura
do Arlequim
“A cidade moderna é o labirinto arquitetônico que o homem
criou à imagem de sua alma. Mário persegue essa identidade
nos poemas de Paulicéia...: manipulando suas antíteses, reticências e exclamações, cria um rtraje de arliquim que
veste tanto o trovador quando a metrópole.” lafeta figuração
da intimidade, imagens na poesia de mário de andrade página 20)
Mário de Andrade busca no folclore e no passado histórico do Brasil elementos
formadores de uma identidade nacional ao mesmo tempo em que resistem à cultura
massiva trazida pela industrialização (colocar referência). Junto à isso, Mário de
Andrade rompe com os antigos padrões literários característicos do parnasianismo.
Conhecidos respectivamente como projeto ideológico e projeto estético, as duas
definições convergem no âmbito
Graças à liberdade estética, Mário de Andrade, através da utilização de
‘reticências, pontos de exclamação e o fluxo de consciência (colocar referência),
constrói “O Domador” com uma linguagem de ritmo alucinante – uma alusão à São
Paulo. João Luiz Lafetá explica a máscara utilizada pelo eu lírico na incorporação da
metrópole:
“[...] À preocupação cosmopolita, que sucede às grandes
transformações urbanas do começo do século, corresponde a
fase vanguardista, a máscara do trovador ararlequinal, do
poeta sentimental e zombeteiro que encarna o espírito da
modernidade e de suas contradições [...]” (lafeta figuração da
intimidade, imagens na poesia de mário de andrade página
15)
Ao encarnar o Arlequim, o sujeito poético descreve de dentro de um bonde
(colocar referência) através de frases nominais na primeira estrofe, cenas de uma cidade
em processo de desenvolvimento (colocar referência). A ausência de verbos passa a
sensação de congelamento de cena, uma vez que as ações estão implícitas neste
primeiro momento. No final da primeira estrofe, o autor nos mostra elementos que
indicam a imigração estrangeira que moldou a cidade de São Paulo na década de 30,
destacados nos versos abaixo:
Filets de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo
Na frente o tram da irrigação,
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux
Laranja da China, laranka da China, laranja da China
Guardate! Aos aplausos do
Passa galhardo um filho de imigrante,
Louramente domando um automóvel
O quarto parágrafo, entretanto, admite o saudosismo
Nota-se também a contraposição entre elementos modernos e rurais ao longo do poema:
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira
O projeto estético viabiliza o ritmo acelerado, marcado por reticências, pontos de
exclamação e fluxo de pensamento (João Luiz Lafetá 1930: a crítica e o modernismo,
página 125: o psicologismo e a ruptura) com que a cidade em desenvolvimento é
retratada em “O Domador”, fazendo com que a imagem lúdica do sujeito poético (o
Arlequim) reflita São Paulo de 1930 ao mesmo tempo em que a descreve, ou seja,
raramente o sujeito e o objeto poético são desassociados, uma vez que o primeiro
contempla características do segundo.
O poema analisado reflete ambos os projetos ao contrastar o passado e o presente, os
versos a seguir clareiam esta dicotomia (colocar referência)
As expressões em destaque foram calculadas por Mário de Andrade, que as explica em
seu Prefácio Interessantíssimo (colocar referência).
Por outro lado, “Tristeza do Império”, composta exclusivamente por uma estrofe,
carrega a herança modernista do projeto estético de Mário de Andrade, também presente
em “O Domador”. As divergências estão presentes desde o tom eufórico com que a
metrópole é retratada pelo Arlequim e a ironia e sarcasmo com que o sujeito poético
drummondiano retrata a corte, até a relação entre o sujeito e objeto poético, onde em
Paulicéia Desvairada nota-se uma curta distância entre os dois, fazendo com que
raramente sejam retratados desassociadamente como relatado anteriormente. Esta
proximidade não é notada em “Tristeza do Império”, na qual o eu – lírico observa a
corte de longe, em terceira pessoa do plural, não há como saber se ele faz ou não parte
da elite criticada na poesia.
Portanto, nota-se que o eixo comparativo entre as duas obras consiste na retomada do
passado, onde as divergencias se constituem.
De um lado a lírica marioandradiana remete ao passado em busca da identidade
nacional (colocar refeência)
do outro, a lírica drummondiana se utiliza do passado para que a crítica social à respeito
da alienação seja viabilizada (colocar referência)
Influenciado pelas vanguardas europeias, Mário de Andrade utiliza técnicas
avançadas ao passo com que se transveste de
Falar sobre as exclamações e as reticências, sobre o ritmo e o ritmo de crescimento de
São Paulo.
Falar sobre algumas palavras que nos dão indício da mdernidade (Mário fazia isso de
propósito, como indica em Prefácio Interessantíssimo)
O sujeito poético indica já no primeiro verso (onde está focado o ponto de vista) e
disserta sobre a dicotomia PASSADOxFUTURO na quarta estrofe, assim como nos
apresenta à uma são paulo fragmentada, assim como traje do arlequim, pela imigração,
ao mesmo tempo que é essa pluralidade que torna a cidade homogênea.
Fala sobre os “filhos da terra”, os bandeirantes, os gaúchos paulistas etc
Carlos Drummond de Andrade
O eixo comparativo que rege “O Domador” e “Tristeza do Império” é a
retomada do passado que é, no entanto, retratado sob perspectivas diferentes em cada
poesia. Mário de Andrade procura engrandecer o passado nacional através de figuras e
fatos históricos, em uma tentativa de resistir à cultura estrangeira que contamina o país
com a chegada dos imigrantes, ao mesmo tempo em que aceita a modernização
paulistana, admitindo que seus olhos estão “saudosos dos ontens”. A perspectiva
adotada em “O Domador” é compatível com o objetivo de Mário de Andrade: a busca
pela identidade brasileira. Por outro lado, Carlos Drummond de Andrade cria uma
distância temporal a fim de criticar a alienação social a partir de uma visão histórica
irônica e aguda, que pretende “desmascarar” a ilusão de segurança gerada durante a era
Vargas e comprada pela elite conservadora, representada aqui pelos “conselheiros
angustiados.”