Post on 14-Jul-2015
BERNARD TSCHUMI
O PRAZER DA ARQUITETURA
BÁRBARA CASTRO
HUMANIDADES 9
Bernard Tshumi
Nasceu em 25 de janeiro de 1994. na Suíça.
Em 1969 graduou em arquitetura.
Bernard Tshumi, por meio de analogias, busca formas de inserir o corpo no espaço, criar
experiências dinâmicas, que por meio de uma contradição busca surpreender e estimular o
espectador. Ao se referir ao espaço com analogia sexual, se mostra o lado irracional.
Tshumi aborda também questões como a função da arquitetura, busca quebrar com os
valores conservadores, ao citar o uso das máscaras na arquitetura é possível compreender
como os elementos arquitetônicos podem nos servir de artifícios, que Tschumi evidencia ser
necessário para despertar a sensualidade, a surpresa, o convite à interação nos espectadores.
Muito se questiona a respeito da arquitetura, seus caminhos e critérios, desde o movimento
moderno. Busca-se entender seus extremos, ordem e desordem, estrutura e caos, ornamento e
pureza, racionalidade e sensualidade. Procurar compreender essa complexidade é o que
possibilitou o desenvolvimento de novas formas de arquitetura.
Adolf Loos (1870 – 1933)
“Quando uma cultura evolui, ela
gradativamente abandona o uso do ornamento
em objetos utilitários"
Antoni Gaudí - La pedrera
Rem Koolhaas
Le Corbusie - Villa Savoye
Lina Bo Bardi – Sesc Pompéia
Zaha hadid – Galaxy Soho
Envolvendo pontos divergentes, em busca de uma nova arquitetura discutia-se de um lado, a arquitetura como coisa do intelecto, uma disciplina desmaterializada ou conceitual com suas variações tipológicas e morfológicas; de outro lado, a arquitetura como fato empírico que se concentra nos sentidos, na experiência do espaço.
Por meio de 11 fragmentos, Bernard Tschumi desconstrói e nos faz repensar a arquitetura.
Sempre considerando que não é um fragmento ou outro, mas o conjunto e suas complexidades
que formam um grande quebra-cabeça, que deve ser considerado na arquitetura.
FRAGMENTO 1
Um duplo prazer
O prazer do espaço:
Possui uma complexa definição, é uma forma de experiência, o momento em que o corpo se
apropria do espaço, o percebe e mapeia através dos sentidos, da percepção e do movimento.
(...) Movimentos tão simples como esticar os braços e as pernas são básicos para que tomemos
consciência do espaço. O espaço é experiênciado quando há lugar para se mover. Ainda mais,
mudando de um lugar para outro a pessoa adquire um sentido de direção. Para frente, para trás
e para os lados são diferenciados pela experiência, isto é, conhecidos subconscientemente no
ato de movimentar-se. O espaço assume uma organização coordenada rudimentar centrada no
eu, que se move e se direciona. Os olhos humanos, por terem superposição bifocal e capacidade
esteroscópica, proporcionam às pessoas um espaço vívido, em três dimensões. A experiência,
contudo é necessária. (Tuan; 1930, p.13)
Um duplo prazer
O prazer da geometria ou o prazer dos conceitos:
Governada pelas proporções, a arquitetura deve guiar-se pela régua e pelo compasso, como se
fosse algo separado da realidade, a arquitetura se desenvolve na mente do arquiteto, com o uso
de elementos que tendem para uma poética dos signos congelados, desvinculados da realidade
e voltados para um prazer mental, gélido e sutil.
Não se pode dizer que o prazer do espaço ou o prazer da geometria, isoladamente, constitua o
prazer da arquitetura, mas esta é acontece pela união de ambas as formas de prazer. A união de
percepção e técnica.
FRAGMENTO 1
Jardins do prazer
Quem souber projetar bem um parque não terá dificuldade alguma para traçar o plano de
construção de uma cidade, em conformidade com a área e a situação dada. Deve haver
regularidade e fantasia, relações e contrastes, e elementos casuais, inesperados, que dão
variedade à cena; grande ordem nos detalhes, confusão, excitação e tumulto no conjunto.
(Abade Laugier 1765)
Laugier propõe que exista união entre os diferentes tipos de prazer da arquitetura, constituindo
por meio dessa complexidade de elementos, algo que seja completo, interativo, instigante.
No caso dos jardins, sua história quase sempre antecipou a história das cidades, a proposta de
contemplação e deleite, desfrutar de um prazer sensorial são conceitos que se opõe à
arquitetura funcional.
Os jardins combinam prazer sensual do espaço com o prazer da razão, de uma forma
completamente inútil.
FRAGMENTO 2
O prazer e a necessidade
A arquitetura apresenta uma forte conexão com a função, interferindo na cultura, sociedade, na
segurança, saúde, comportamento e diversas outras formas.
Entre todas as artes, essas filhas do prazer e da necessidade, com as quais o homem fez uma
parceria a fim de suportar as dores da vida e de transmitir sua memória às futuras gerações, não
se pode negar que a arquitetura ocupa um papel destacado. Considerada unicamente do ponto
de vista da utilidade, a arquitetura é superior a todas as artes. Ela provê a salubridade das
cidades, cuida da saúde das pessoas, protege suas propriedades e trabalha apenas em favor da
segurança, da tranquilidade e do bom ordenamento da vida civil.
FRAGMENTO 3
Metáfora da ordem – cativeiro
Diferentemente da necessidade da pura construção, a desnecessidade da arquitetura é
indissociável de suas teorias, histórias e outros precedentes.
O prazer da arquitetura não está na construção em si, mas também em suas restrições, nos
encaixes, nos detalhes. Em meio a infinitas opções, tramas e formas, encontrar um único
caminho como solução, acreditando ser esta a melhor forma de se fazer algo, o prazer em ser
restringido e continuar oferecendo inúmeras possibilidades.
FRAGMENTO 4
Racionalidade
Optar por uma determinada linguagem ou tipo construtivo, leva-la ao extremo e explorar de todas as formas possíveis. É uma das formas de racionalidade
FRAGMENTO 5
Erotismo
O prazer máximo da arquitetura está naquele momento impossível em que um ato
arquitetônico, levado ao excesso, revela ao mesmo tempo os vestígios da razão e a experiência
imediata do espaço.
O erotismo ou prazer da arquitetura, não se encontra em específico em sua forma, dimensão ou
puramente seus conceitos, mas no conjunto de todas as coisas. A harmonia entre elementos,
conceitos e a forma de perceber o espaço.
FRAGMENTO 6
Metáfora da sedução – máscara
A arquitetura usa máscaras, no caso elementos arquitetônicos desde fachadas, praças até os
conceitos arquitetônicos tornam-se artifícios de sedução. Os artifícios são formas de seduzir o
espectador, pode evidenciar algo ou ainda convidar a descobrir o que está subjetivo.
A máscara pode exaltar aparências, mas, por sua presença mesma, ela diz que, no fundo, existe
uma outra coisa.
FRAGMENTO 7
Excesso
Ao levar ao extremo, o prazer da arquitetura, a técnica, necessidade, vivência do espaço,
percepção e a máscara. É possível criar uma arquitetura interessante, com conflitos, surpresas,
convidar a descoberta e surpreender o espectador.
Não há dúvidas de que o prazer da arquitetura sobrevém quando ela satisfaz as expectativas
espaciais de alguém e materializa ideias, conceitos ou arquétipos arquitetônicos com
inteligência, imaginação, refinamento, ironia. Mas há um prazer especial que procede dos
conflitos: quando a fruição sensual do espaço entra em conflito com o prazer da ordem.
Não apenas é possível, mas necessário, quebrar com as formas já estabelecidas, por meio de
uma nova linguagem, uso da semiótica e ruptura com antigos sistemas por meio da
compreensão da percepção, não apenas por uma questão de subversão de valores, mas da
necessidade da arquitetura romper com o conservadorismo, propor um ambiente capaz de
interagir, com potencial para despertar o espectador.
FRAGMENTO 8
Arqutetura do prazer
A arquitetura do prazer está onde o conceito e a experiência do espaço coincidem
abruptamente, onde os fragmentos da arquitetura colidem e se fundem em deleite, onde a
cultura da arquitetura é eternamente desconstruída e as regras são transgredidas.
Entende-se que a arquitetura do prazer é onde se pode transgredir regras, reformular conceitos,
entrar em conflito com a memória, com a percepção. Alterar as formas de vivenciar o espaço,
desconstruindo desde a arquitetura, onde há conceitos, o que é palpável até a percepção,
entendimento de espaço, a mente e memória dos espectadores.
FRAGMENTO 9
Anúncios da arquitetura
Não há como produzir arquitetura em um livro. Palavras e desenhos podem somente produzir
espaço no papel, não a experiência do espaço real. O espaço no papel por definição é
imaginário: é uma imagem.
Com todo o potencial da imagem e sua capacidade de representação, também por meio de uso
da tecnologia, ainda assim não é possível apreender todos os aspectos que compõe o espaço
arquitetônico, não apenas por uma questão de conceitos, estudos e experimentos até se obter
um resultado, mas depois de definido só é possível entender o espaço ao vivencia-lo.
o espaço interior, espaço esse que não pode ser representado de nenhuma forma, que não
pode ser conhecido e vivido a não ser por meio de experiência direta, é o protagonista do fato
arquitetônico. (Zevi, 1996, p.18)
FRAGMENTO 10
Desejo/fragmentos
A arquitetura se forma por uma série de fragmentos que compõe a realidade, possuidora da
capacidade de atingir o real, o concreto e também o imaginário, a memória. Conduzindo o
espectador por meio de transições reais e virtuais.
Uma obra de arquitetura não é arquitetural porque seduz, ou porque preenche dada função
utilitária, mas porque põe em ação as operações da sedução e o inconsciente.
FRAGMENTO 11
REFERÊNCIAS
Espaço e Lugar a perspectiva da experiência – Yi Fu Tuan
Saber ver arquitetura – Bruno Zevi