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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRAUDAÇÃO “LATO SENSU”
DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS
DE GRADUAÇÃO – ÊNFASE EM JORNALISMO
projeto monográfico apresentado à
Pós-Graduação da Faculdade Cândido
Mendes como pré-requisito para a
conclusão do Curso de Docência do Ensino
Superior.
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS
DE GRADUAÇÃO – ÊNFASE EM JORNALISMO
Por
Denise Dias Pillar Leal
Orientadora
Profª Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
Junho/2003
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AGRADECIMENTOS
Agradeço as minhas colegas de
trabalho que compartilharam comigo esta
Pós-Graduação e que muito me ajudaram a
chegar ao fim da caminhada.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de monografia
a todos aqueles que, como eu, se interessam
pelo estudo da Língua Portuguesa.
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RESUMO
Este trabalho monográfico analisou se o ensino da língua Portuguesa nos
cursos de graduação e, em especial nos de jornalismo, é uma realidade ou uma
utopia. Para tal, foi feita uma pesquisa bibliográfica, onde foram consultados livros
que apontam erros cometidos por jornalistas no que diz respeito ao uso da Língua
Portuguesa. Foi feita também uma pesquisa documental, na qual foram analisados os
textos produzidos por Jornalistas da TV Alto Litoral. Os textos utilizados nesta
pesquisa foram apresentados no mês de janeiro de 2002. Por fim, foram feitas
entrevistas com nove jornalistas formados por faculdades distintas e com uma
professora de Língua Portuguesa, para saber se o ensino desta disciplina realmente
ocorre e como este ensino deveria ser.
Através destas pesquisas chegou-se a conclusão de que o ensino da Língua
portuguesa nos cursos de graduação, principalmente no curso de jornalismo, é uma
utopia. Os documentos analisados apresentaram trinta e sete erros de português.
Alguns livros inteiros apontam erros no uso da Língua Portuguesa que foram
publicados por jornalistas e sete dos nove profissionais entrevistados disseram que
não houve o efetivo ensino da Língua Portuguesa no curso superior que concluíram.
Esta monografia leva a uma reflexão acerca da eficácia dos cursos de
jornalismo e aponta alguns caminhos na tentativa de tornar o ensino da Língua
Portuguesa uma realidade nestes cursos.
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METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho, foi feita uma pesquisa bibliográfica. Foram
utilizados os principais livros com críticas a textos jornalísticos, bem como sites
sobre o assunto citado.
Foi feita também uma pesquisa documental cadastrando-se todos os erros
encontrados em scripts (textos/roteiros) do telejornal de maior audiência da TV Alto
Litoral no mês de janeiro de 2002. Todos os textos lidos por apresentadores do Jornal
RJTV Segunda Edição, exibidos durante o período citado, foram revisados neste
trabalho. A intenção aqui, longe de expor o profissional, é mostrar que até mesmo
nos jornais de empresas líderes de audiência, que atingem uma grande parte da
população, existem erros de português cometidos por jornalistas, apesar de terem
concluído seu curso de graduação.
Os nomes dos editores/jornalistas que redigiram tais textos não serão
declarados.
Para demonstrar a importância do ensino da Língua Portuguesa nos cursos de
jornalismo, foram feitas entrevistas com nove jornalistas, formados por faculdades
distintas. Foi perguntado a todos eles se na grade curricular havia a disciplina Língua
Portuguesa, se esta matéria realmente foi ensinada e se avaliaram o curso como
eficiente na formação deles como jornalistas. Pretendeu-se, desta forma, analisar se
as faculdades de jornalismo realmente ensinam português, o grau de importância da
citada disciplina sob o ponto de vista dos profissionais e saber como eles entendem
que deve ser o ensino desta disciplina no ensino superior. Os resultados foram
analisados pelo método dedutivo.
Os nomes dos entrevistados também não serão declarados.
Por fim, foi entrevistada uma professora de Língua Portuguesa, com
formação também em Pedagogia, para que ela apontasse o que as faculdades devem
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fazer para formar profissionais que tenham o completo domínio da Língua
Portuguesa e que saibam usar também a linguagem adequada aos textos jornalísticos.
A professora escolhida foi Sueli Siqueira Braga que, além de orientadora educacional
é mãe de uma jornalista recém-formada e, portanto, acompanhou com a filha as
deficiências do curso superior em questão.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I – A Imprensa em Foco 12
CAPÍTULO II – Comunicação e Educação 18
CAPÍTULO III – Os Erros nos Textos Jornalísticos 22
CAPÍTULO IV – Português na Graduação: Realidade ou Utopia? 27
CAPÍTULO V – Resultados e Discussão 32
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 37
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INTRODUÇÃO
Tem-se observado uma série de erros ortográficos e gramaticais em textos
produzidos por jornalistas. Jornais, revistas, programas de rádio ou de televisão e a
internet, não raramente, são publicados com erros de português, embora tenham sido
escritos por jornalistas, profissionais que, pelo menos em tese, deveriam dominar o
idioma nacional.
O jornalista é um formador de opinião e o trabalho dele constitui-se na base
de leitura, muitas vezes diária, de um grande número de pessoas. Os jornais, as
revistas, as webnotícias (ou notícias divulgadas através da internet) e outros textos
jornalísticos são usados como base de pesquisas, consultas, estudos e em diversos
tipos de trabalhos. Se o jornalista escreve de forma errada, está ensinando errado e há
grande chances de induzir outras pessoas também ao erro.
O brasileiro já incorporou ao seu linguajar, palavras e expressões erradas,
algumas delas fruto da repetição de erros cometidos por jornalistas. São raras as
pessoas que usam, por exemplo, o pronome de forma correta. As pessoas que não o
fazem, é por não saber como fazê-lo ou por vergonha de falar corretamente. A
imprensa dá sua contribuição de incentivo a este palavreado popular e incorreto, uma
vez que ela, dizendo-se coloquial, também divulga um português errado.
Acredita-se que esta falta de domínio da língua nacional por parte dos
jornalistas é agravada pelo fato de muitas faculdades não oferecerem aulas de Língua
Portuguesa nos cursos de jornalismo e, quando as oferecem, o fazem de forma
superficial. Desta forma, são formados, anualmente, centenas de jornalistas que não
sabem escrever corretamente. O que seria um requisito essencial à profissão, torna-se
uma habilidade de poucos e o reflexo deste despreparo é estampado nas publicações
que, ao invés de servirem para educar o cidadão que as lê, deseducam e confundem a
grande maioria da nossa população. O jornalista mal educado transforma-se, assim,
em um péssimo educador.
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As diretrizes curriculares nacionais para a área de jornalismo são claras
quando apontam as competências e habilidades gerais referentes à área de
comunicação social, dentre as quais destacam-se: “ter competência no uso da língua
nacional para escrita e interpretação de textos gerais e especializados na área”. O
documento, elaborado pelo CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, reforça
ainda que os cursos de jornalismo devem promover algumas competências
específicas, dentre elas: “ dominar a língua nacional e as estruturas narrativas e
expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se leitura,
compreensão, interpretação e redação”. Os cursos de jornalismo, porém, em sua
maioria, não cumprem com esta diretriz ao formarem profissionais que não
demonstram segurança na hora de fazer um texto na língua pátria e o reflexo deste
estado de coisas traduz-se em uma série de conteúdos jornalísticos com erros de
português, contaminando toda uma sociedade, que lê e reproduz estes erros.
Por estas questões apresentadas, por ser o jornalista um formador de opinião e
pelo fato do trabalho deste profissional ser tão difundido e utilizado pela população
em geral, como referência, entende-se que o ensino da Língua Portuguesa é de
extrema importância nos cursos de jornalismo, assim como nos demais cursos de
graduação.
Apenas com uma formação apropriada, com o total domínio do idioma
nacional, com o completo conhecimento de todas as regras do uso da Língua
Portuguesa, pode o profissional da área de comunicação prestar um serviço de
qualidade à comunidade através de seu trabalho, seja ele escrito ou falado. Sem a
formação devida, o jornalista limita-se a ser apenas um conhecedor da linguagem
jornalística. Mesmo que ele domine todas as técnicas do rádio, da imprensa e da
televisão, sem o domínio da língua Portuguesa ele em nada estará contribuindo para
a formação cultural do povo brasileiro.
Entende-se que este problema apresentado não atinge apenas milhares de
jornalistas que se formam a cada ano. O uso inadequado da Língua Portuguesa por
quem é fonte de consulta noa mais diversos temas atinge a todos os brasileiros, que
perdem a referência do idioma nacional e passam a se despedir na sexta-feira com
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um “bom final de semana”, quando o certo seriam terem todos um bom e correto fim
e semana, simplesmente porque ouvem os mais conceituados apresentadores de
televisão fazer esta saudação e não param para analisar o erro contido na frase que
estão pronunciando.
Acredita-se ser necessária uma revisão nos currículos dos cursos de
jornalismo, visando proporcionar a estes futuros profissionais as ferramentas
adequadas ao exercício da profissão que escolheram para si. Só tendo um completo
domínio sobre a Língua Portuguesa o jornalista poderá se considerar completo na sua
profissão.
Este trabalho tem, pois, como objetivo geral, conscientizar a classe acadêmica
sobre a importância do ensino da Língua Portuguesa nos cursos de graduação, como
no de jornalismo. Pretende-se despertar nos docentes e, mais precisamente, nos
diretores dos cursos de graduação, a consciência de que falta a nossos profissionais
um maior domínio da língua nacional e, consequentemente, uma redação correta no
exercício das suas atribuições profissionais.
Através desta monografia, pretende-se também mostrar que as faculdades que
não contém o ensino da Língua Portuguesa em sua grade curricular formam
profissionais que escrevem mal, além de apresentar os erros nos textos jornalísticos
publicados em jornais, revistas e transmitidos pela televisão, despertando assim, na
população, uma leitura crítica destes materiais.
Desta forma, espera-se que este trabalho contribua para que cada vez mais os
comunicadores se expressem de maneira correta e que cada vez menos a população
erre pela simples repetição.
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CAPÍTULO I
A IMPRENSA EM FOCO
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São inúmeros os artigos e publicações que abordam os erros cometidos por
jornalistas. Um dos endereços eletrônicos mais contundentes sobre o assunto é o
Página Negra – SOS Língua Portuguesa. Nele são retratados os atuais erros
cometidos pela imprensa em geral, com críticas abertas a respeito da falta de domínio
que os jornalistas têm do idioma nacional. Em uma das edições, por exemplo, fez-se
uma crítica à Revista Veja, sob o título “Massacrando nossa Língua Portuguesa?”
destacando: “Todos aceitam que o correto é motosserra e não moto-serra, mas a
revista VEJA se esqueceu disso ao fazer a capa da edição de 7/04/1999.”
O jornalista Marcos de Castro, licenciado em letras clássicas, escreveu um
livro cujo título já diz tudo: “A IMPRENSA e o Caos na Ortografia”. No livro, o
autor faz uma introdução a respeito do papel educador do jornalismo e relata uma
série de erros cometidos e repetidos pela imprensa. Segundo Castro, “ A educação já
não é boa – e a imprensa ajuda a deseducar, dando sua larga e generosíssima
contribuição.” (CASTRO, 1998, p.21). Dentre os vários erros destacados por ele,
encontra-se o uso incorreto da palavra aficionado:
“É uma palavra que sumiu dos nossos jornais e revistas, como sumiu das bocas
dos repórteres e locutores de rádio. Foi substituída por uma invencionice que
não existe na língua portuguesa: aficcionado, Por que teriam metido um
segundo c aí no meio da palavra ninguém sabe explicar. Fácil de explicar,
porém, é por que a palavra que não existe assumiu de modo arrasador o lugar
da palavra correta. É o mesmo fenômeno de sempre: como, com raras exceções,
ninguém sabe nada nas redações, quem ouve ou vê o erro passa-o adiante.
Repete como um papagaio qualquer coisa que tenha sido dita por um colega. E
assim, nesta cadeia incessante de erro e desconhecimento, já não se vê nem se
ouve mais no Brasil a palavra a, aficionado.” (CASTRO, 1998, p.107)
Ainda no que se refere a apontar e corrigir os erros da imprensa, o professor
PASQUALE CIPRO NETO lançou o livro “Ao Pé da Letra” no qual explica a
forma correta de se usar várias palavras e expressões da Língua Portuguesa, como no
trecho a seguir:
“A imprensa tem publicado frases como “O policial extorquiu o gerente” ou
“Os seqüestradores extorquiram a família”. “Extorquir” significa “obter por
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violência, ameaças”. Então é óbvio que só é possível extorquir algo de alguém e
não extorquir alguém. Deve-se dizer “O policial extorquiu dinheiro do gerente”,
“Os seqüestradores extorquiram dinheiro da família” . (NETO,2001, p.20)
No site da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, uma aluna do
segundo ano de jornalismo, JULIANA PARENTE, entrevistou o jornalista JOSUÉ
MACHADO, colunista da Revista Educação. Na entrevista, MACHADO, que é
autor do livro “Manual da Falta de Estilo”, relata que “A moçada da imprensa
escreve mal, na maioria porque estudou mal, leu e lê mal. Como a maioria da
população do país.”
Entende-se que uma das grandes lacunas deixada pelos cursos de jornalismo,
assim como o de todo sistema de ensino de graduação no Brasil, é não formar um
cidadão com o hábito da leitura. Um exame que envolveu duzentos e cinqüenta e
cinco estudantes de trinta e dois países no fim de 2001, como parte do “Programa
Internacional de Avaliação de Alunos” (PISA), rebaixou os brasileiros à última
colocação e fez com que o então Ministro da Educação, PAULO RENATO DE
SOUZA, fosse taxativo ao afirmar que: “Nossa escola não sabe ensinar a ler e
ponto.”
Outros defensores da leitura são o caricaturista ZIRALDO, que disse “ler é
mais importante que estudar” e o escritor MONTEIRO LOBATO, que afirmou que
“um país se faz com homens e livros”. Precisa-se de defensores da leitura, como estes
citados, nos cursos de jornalismo para que este hábito leve os futuros profissionais da
comunicação a saberem expressar-se, seja pela escrita, seja pela fala.
É também defendido por professores da Língua Portuguesa que o período
mais importante e decisivo para se aprender a língua mãe é alfabetização. Mas o que
fazer quando este período já passou, não foi bem aproveitado e o indivíduo decide
profissionalizar-se em uma área em que o português é fundamental? Defende-se que,
mesmo no ensino superior, ainda há tempo para mostrar a importância do hábito da
leitura e para ensinar, agora de forma prática, como se usa a Língua Portuguesa. Só
assim os educadores estariam emancipando seus alunos e formando futuros
profissionais que “conseguem ir além do seu aprendizado profissional estrito, na
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medida em que desenvolvem uma reflexão acerca de sua profissão, ou seja, pensam
acerca do que fazem.” (ADORNO, 2000, p.54)
Ainda citando ADORNO, em seu livro “Educação e Emancipação”:
“... procuramos tornar claro com base em catorze laudos de psicólogos e
sociólogos que o talento não se encontra previamente configurado nos homens,
mas que em seu desenvolvimento, ele depende do desafio a que cada um é
submetido. Isso quer dizer que é possível “conferir talento” a alguém. A partir
disto, a possibilidade de levar cada um a “aprender por intermédio da
motivação” converte-se numa forma particular do desenvolvimento da
emancipação,” (ADORNO, 2000, p.170)
Com esta afirmação de ADORNO, defende-se que, mesmo quem não teve
uma boa alfabetização pode aprender a dominar a Língua Portuguesa estando no
ensino superior, desde que este ensino seja marcado pelo estímulo e pela motivação,
ou seja, que o ensino da Língua Portuguesa seja feito utilizando-se técnicas às quais
os alunos demonstrem-se receptivos e que este ensino seja acompanhado de uma
aplicação prática que desafie o aluno a ampliar seus próprios limites.
Na era da informática, que impera no momento presente, o conhecimento é
extremamente seletivo, levando as pessoas a descartar aquilo para o qual não
vislumbram uma aplicação imediata. O ensino da Língua Portuguesa, da maneira que
é realizado em muitas escolas, na base de repetições de fórmulas e regras para
simples memorização, se vê, cada vez mais, fadado ao fracasso. Como ressalta
PIERRE LÉVY, em seu livro “As Tecnologias da Inteligência”, o pensamento na
era da informática, assim como o conhecimento, obedece regras similares às dos
computadores: para que guardar na memória (disco rígido) aquilo que não será
preciso usar agora? Informações que não são úteis são deixadas à parte, em outras
gavetas como nos livros ou nos disquetes, e só fica na memória o conhecimento que
terá aplicação imediata. Ele ressalta também que a repetição não é a melhor forma
para armazenar informações na memória de longo prazo.
Ainda segundo PIERRE LÉVY,
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“as representações que têm mais chances de sobreviver em um ambiente
composto quase que unicamente por memórias humanas são aquelas que estão
codificadas em narrativas dramáticas, agradáveis de serem ouvidas, trazendo
uma forte carga emotiva e acompanhadas de música e rituais diversos.” (LÉVY,
2001, p.83)
Dificilmente se vê uma aula de português com estas características para que
seja memorizada. Em contrapartida, o que os meios de comunicação, em especial os
produtos jornalísticos, fazem senão transmitir uma informação carregada de
sentimentos, de personagens que garantem um tom dramático à narrativa, e recheada
de efeitos como fotos, sons e declarações? Implica admitir que os jornalistas, que
passam a sua mensagem usando equipamentos que unem texto, som e imagem,
contam com mais facilidade do que qualquer professor. Por esta análise, conclui-se
que os meios de comunicação são mais eficientes para transmitir uma informação e
fazer com que esta seja armazenada, do que uma aula tradicional. Daí a necessidade
de que esta informação passada pelos meios de comunicação seja verdadeira e
correta em todos os sentidos, principalmente no uso da língua utilizada nesta
comunicação, porque são as informações transmitidas por esta língua e, portanto, as
palavras utilizadas, que ficarão armazenadas na memória da população que receberá
a influência dos erros e dos acertos destes jornalistas.
“as novas gerações são leitoras da comunicação audio-visual ainda no estado
intra-uterino. A mãe, quando está gravida, senta em frente à televisão, se
emociona, passa para o feto aquelas impressões. Tudo vira história... as novas
gerações são formadas nisso desde que abrem os olhos para o mundo. Já estão
compreendendo aquilo que a televisão está mostrando, que o cinema está
exibindo. Trazem isso para dentro da sala de aula, esse conhecimento, essa
leitura. São todos pós-graduados em linguagem audio-social, quando entram
analfabetos na escola.” (FRANCO, 1996, p.108-113)
Em toda a bibliografia consultada são encontrados argumentos que defendem
a necessidade de um completo domínio da Língua Portuguesa por parte dos
profissionais oriundos do ensino de graduação. E acredita-se que, sendo um
aprendizado fundamental a uma profissão, como no caso do jornalismo, deveria
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necessariamente ser realizada através da escola, mais precisamente no curso superior.
Ou então os jornalistas estarão colocando sua integridade profissional em risco.
“Manchete de página do caderno São Paulo da Folha: Número de mortes em
Guaratuba já são 27. Li em voz alta para meu secretário, que fuzilou de lá: “O
número de mortos éééééé 28, considerado”. – Como você sabe que já são 28 os
mortos em Guaratuba?, perguntei. Janistraquis imitou a voz de Leão Serva (ex-
Folha) quando castiga um repórter: - Inclui o redator!” (JAPIASSU, 1997,
p.63)
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CAPÍTULO II
COMUNICAÇÃO X EDUCAÇÃO
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Por quantas horas e com qual atenção um jovem fica hoje em frente à
televisão ou à tela do computador? E qual é o período que este mesmo jovem passa
na escola e qual a atenção dispensada a uma aula tradicional?
Com certeza, cada vez mais crianças e adolescentes adotam a tecnologia
como meio de lazer, informação e cultura de uma forma mais intensa. A intimidade
entre um jovem e o computador, ou qualquer outro meio de comunicação de massa,
supera, em sua grande maioria, a intimidade que esta tem com seus pais. A
tecnologia hoje oferece o mundo que se quer ver sendo preciso apenas um toque para
transformar desejo em realidade. E esta comodidade atrai os jovens que, íntimos da
máquina, acreditam em tudo o que é exibido nestas mídias eletrônicas e virtuais,
como se fosse a verdade máxima.
A televisão, os jornais, as revistas e o computador educam e ampliam o
horizonte dos estudantes, mas também deseducam, seja por trazerem conteúdos
repletos de erros, seja por criarem uma nova forma de leitura muito mais passiva. Por
mais que haja a interação com o meio, como no caso do computador, não há a leitura
crítica do que é encontrado neste meio. Acomodados, os jovens (e as crianças e os
adultos também) apenas absorvem a mensagem sem questionamento. E o que
poderia ser um excelente recurso na educação passa a ser um adversário,
principalmente quando a guerra é em defesa da Língua Portuguesa, a língua nacional.
“A indústria cultural ou “cultura média”, transmite uma cultura agramatical e
desortográfica, decretando que aprender é fastidioso e que o esforço intelectual
deve ser proscrito. Protagoniza a leitura rápida e “por saltos”, o que pode valer
para um cartaz publicitário, mas é inteiramente inadequado para textos
filosóficos, literários e, de maneira geral, científicos.(...) A educação de massa é
neutralização da língua tanto falada quanto escrita.(...) O processo de
neutralização das línguas faz-se pelo cursus pseudo-falado e pseudo-escrito das
mídias – referidas a um vocabulário restrito e simplificador. (...) O predomínio
da linguagem jornalística na educação exila a palavra narrativa em nome
daquela instrumental e sem história.” (MATOS, 1999, p.01-02)
Citando PIERRE LÉVY, na era da informática a verdade tem outro valor.
Agora é simples e rápido fazer a correção de erros no computador. Não existe mais
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desperdício de papel, não existem mais rabiscos, borrachas ou corretivos. Basta
apertar a tecla “delete” e todo o erro está apagado. Com isso surge uma nova forma
de pensamento; a verdade crítica sofre um grave declínio e o homem da nova era
pensa pontualmente no aqui e agora.
“Com exceção de certos livros, as mensagens escritas são cada vez menos
recebidas ou interpretadas fora do contexto de transformação do saber, são
cada vez menos concebidas para durar. Os critérios de pertinência, aqui e
agora, tomam pouco a pouco o lugar sobre os de universalidade e objetividade,
mesmo no domínio científico.” (LÉVY, 2001, p.121)
Com todas estas transformações culturais, os meios de comunicação se
tornam cada vez mais eficientes no que diz respeito a “conquistar” o receptor da
mensagem que emitem. Sem questionamentos, sem análises, a pessoa que assiste a
um jornal ou lê uma revista, acredita em tudo aquilo que está ouvindo ou lendo. E
quando esta pessoa encontra uma frase nova ou uma palavra diferente, adota-a como
um novo item aprendido e passa a fazer uso deste linguajar sem parar para pensar se
o que está adotando é certo ou errado.
Desta forma, a mesma comunicação que é parte integrante do processo
ensino-aprendizagem pode se tornar um obstáculo quando o emissor não tem o
domínio do que está transmitindo. Limitando a área desta pesquisa, tudo o que um
apresentador de TV ou um jornalista escreve ou fala, tende a ser aceito como certo e
adotado pela população como parte do vocabulário, enfraquecendo a Língua
Portuguesa. E aí surgem as pessoas que “repetem de ano” porque ouvem repórteres
usar a expressão errada no Jornal Nacional (reportagem de 17 de novembro de 1997,
sobre a criança brasileira). Quem deveria “repetir o ano” era o jornalista, para
aprender a usar os termos e expressões corretos. A justificativa da imprensa é que
este linguajar é uma “expressão popular”. Disso ninguém duvida. Mas será que o
povo tem que falar errado? Se a televisão, assim como os outros meios de
comunicação, se comprometesse a usar o português correto, a população não adotaria
também o que é certo? É evidente que qualquer pessoa entenderia a expressão
“repetir o ano” e o jornalista não estaria deixando de usar uma linguagem coloquial.
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Erro, falha ou deslize, é este tipo de linguagem usada pela imprensa que vai
enfraquecendo a Língua Portuguesa e deseducando o nosso povo.
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CAPÍTULO III
OS ERROS NOS TEXTOS JORNALÍSTICOS
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Durante um mês (janeiro de 2002), os editores do RJTV Segunda Edição da
TV Alto Litoral escreveram trinta e sete textos com erros de português. Estes textos
podem ser separados em: textos sem clareza na mensagem: quatro; erros que podem
ser captados na fala: vinte e três; erros que só podem ser captados na escrita; dez.
Os erros que podem ser captados apenas na escrita são em decorrência da
falta de vírgulas, ou da utilização destas em lugares errados, falta de crase e,
portanto, não puderam ser percebidos pelos telespectadores. Os outro vinte e sete
erros – erros que podem ser captados pela fala e textos sem clareza – foram ao ar e
puderam ser percebidos pelos telespectadores, o que torna ainda mais grave a falha
dos profissionais que os escreveram.
Eis alguns dos erros cometidos que só podem ser captados na escrita:
“...está pedindo a população que ajude no combate a dengue.” (03/01/02) – faltam
crases: pedindo à população e combate à dengue .
“A chuva e o calor das últimas três semanas vem contribuindo para o agravamento
da situação”. (16/01/02) – o correto seria: a chuva e o calor... vêm contribuindo...
“E o Automóvel Clube de Campos joga neste sábado ao meio dia em casa a segunda
partida do retorno do Estadual de Basquete Feminino” (17/01/02) – faltam três
vírgulas na frase: ...joga neste sábado, ao meio dia, em casa, a segunda...
São erros que, como já foi dito, não puderam ser percebidos pelos
telespectadores, mas que assustam quando se analisa que são textos feitos por
jornalistas e que, portanto, poderiam estar estampados em jornais, revistas ou na
internet.
Quanto aos erros que foram percebidos pelos telespectadores, destacamos:
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“... mas especialistas acreditam que a verdadeira função de ser um habitat de espécies
marinhas vai ser abandonado.” (10/01/02) – erro básico de concordância. A
verdadeira função é que vai ser abandonada, não o habitat.
“... a quantidade desviada das adutoras seria suficiente para atender uma cidade do
tamanho de São Pedro da Aldeia.” (12/01/02) – atender, neste caso, deve ser seguido
da preposição a: atender a uma cidade.
“... disse ainda que o pescador que der entrada no processo para receber o seguro
desemprego, este deve ser retroativo ao período do defeso.” (18/01/02) – frase
confusa. Quem ou o que deve ser retroativo ao período do defeso?
“... para você uma boa noite e um bom final de semana.” (19/01/02) – despedida
comum no jornalismo nas sextas-feiras. O correto é fim de semana porque não existe
a semana inicial e sim o início da semana. Portanto, temos o fim de semana e não o
final da mesma. Fim é substantivo e vem do latim finis. Final é adjetivo e vem do
latim finalis.
“... esportes durante o dia e a noite muitos shows. Então vamos ver qual é a
programação deste final de semana com a repórter...” (26/01/02) – o certo seria
durante o dia e à noite e a programação só pode ser deste fim de semana.
“Assaltantes invadem uma casa em Rio das Ostras durante uma festa e aniversário e
fazem convidados de reféns.” (30/01/02) – os assaltantes, na verdade, fizeram os
convidados reféns.
Alguns destes erros já foram incorporados como certos pelos próprios
jornalistas e pela população, como é o caso do final de semana. Os outros, mesmo
que ainda não adotados pela população como parte do linguajar local, por toda a
influência que os telejornais exercem sobre as pessoas, no mínimo, confundem e
atrapalham a prática do bom e correto português.
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Um número de trinta e sete erros no uso da Língua Portuguesa em um único
jornal, no período de apenas um mês, mostra que os jornalistas realmente precisam
aprender mais a língua nacional. Não se trata aqui de textos escolares ou trabalhos
amadores. A pesquisa foi feita com base em textos produzidos por profissionais do
jornalismo que fazem da mensagem, das palavras, o seu meio de vida. Textos
produzidos por quem tem a mais alta credibilidade junto a um povo que, todos os
dias, recebe mensagens que chegam a ele através da televisão, sem parar para
analisá-las ou corrigi-las.
Esta é uma característica que não é encontrada apenas nos jornalistas da TV
Alto Litoral. CAIO TÚLIO COSTA, ombusdman da Folha de São Paulo de
25/09/89 a 22/09/90, disse em artigo publicado aos vinte e dois dias de setembro de
mil novecentos e noventa e um, na Folha Online, que o jornal havia apresentado
uma média diária de cento e dezenove erros de português em agosto daquele ano, em
virtude de uma nova regra que exigia textos curtos e concisos. E o jornalista,
licenciado em Letras Clássicas pela Faculdade Nacional de Filosofia da antiga
Universidade do Brasil, MARCOS DE CASTRO também aponta uma série de erros
cometidos por outro grande e renomado veículo de comunicação: a Rede Globo. No
livro “A Imprensa e o Caos na Ortografia”, CASTRO apresenta o que ele chama de
“pequeno dicionário de batatadas da imprensa”, no qual exibe uma série de
palavras e/ou expressões que são usadas da forma errada nos jornais de maior
audiência da Rede como o Jornal Nacional, Jornal Hoje e Jornal da Globo. E o pior,
quem lê o livro se espanta ao descobrir que o que ele próprio já achava correto é
inaceitável na Língua Portuguesa, como é o caso da palavra desmanche.
“No início dos anos 90, os ferros-velhos... passaram a ser chamados
insistentemente nas reportagens da TV Globo, de desmanches. Como o termo
não existe na Língua Portuguesa – que tem desmancho e desmancha, mas nunca
desmanche (...)sugeri aos repórteres de São Paulo que passassem a usar o
substantivo desmonte, que significa precisamente o ato de desmontar.”
(CASTRO, 1998, p.152)
Os exemplos acima mostram que são muitos os jornalistas que não sabem
usar, adequadamente, o idioma nacional embora tenham diploma de um curso
26
superior que, segundo o MEC, tem que promover o desenvolvimento de algumas
competências específicas como: “dominar a língua nacional e as estruturas
narrativas e expositivas aplicáveis às mensagens jornalísticas, abrangendo-se
leitura, compreensão, interpretação e redação.” (Diretrizes Curriculares Nacionais
do Curso de Comunicação Social – Jornalismo)
Tarde ou não, cabe aos cursos de graduação o papel de habilitar estes
profissionais ao bom uso da Língua Portuguesa, para que não coloquem no mercado
jornalistas que não sabem escrever.
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CAPÍTULO IV
PORTUGUÊS NA GRADUAÇÃO:
REALIDADE OU UTOPIA
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Dos nove profissionais entrevistados nesta pesquisa, quatro declararam que
não tiveram aulas de português na faculdade e, dos cinco jornalistas que estudaram a
língua portuguesa durante o curso superior, apenas dois consideraram a disciplina
completa. O que deveria ser obrigatório em todo curso de jornalismo, acaba se
revelando exceção.
A entrevista foi feita com jornalistas formados por faculdades distintas.
Apenas duas, uma em Niterói (Universidade Estácio de Sá) e uma em Ribeirão Preto,
interior de São Paulo (Universidade de Ribeirão Preto), foram consideradas
eficientes no ensino da Língua Portuguesa pelos alunos entrevistados.
Na Universidade de Ribeirão Preto existe a disciplina em todos os anos do
curso e ela ainda é complementada com a disciplina Redação e Estilo, que é
ministrada em dois anos com a finalidade de se trabalhar os diversos estilos do texto
jornalístico. Já a Estácio possui quatro módulos de Língua Portuguesa, divididos da
seguinte forma: o primeiro faz a revisão do que foi aprendido da Língua Portuguesa
ao longo da vida escolar; o segundo trabalha texto e gramática; o terceiro módulo
concentra-se em produção de texto e o quarto trabalha textos jornalísticos e estilos.
Os entrevistados que estudaram nestas duas faculdades aprovaram o currículo e
declararam que o curso superior foi válido para que soubessem usar a Língua
Portuguesa adequadamente em suas profissões.
Os outros três entrevistados que tiveram língua Portuguesa como parte do
currículo mas consideraram o ensino ineficaz, responderam que as aulas de
português ficaram apenas atreladas às regras gramaticais já conhecidas por eles e que
faltou a aplicação prática do que foi ensinado. “Foi apenas um complemento do que
tínhamos visto no segundo grau. Faltou a aplicação prática voltada para o jornalismo.
Não tivemos sequer redação jornalística. Os professores se preocupavam muito com
regras e eu achava que precisávamos menos da teoria e mais da prática”, relatou uma
entrevistada que cursou jornalismo na Faculdade de Filosofia de Campos. Os outros
dois profissionais que não aprovaram o ensino da Língua Portuguesa na faculdade
reforçam este argumento. “Foi válido, mas ficou faltando a aplicação prática”, conta
uma jornalista formada pela Faculdade da Cidade. E é seguida por uma ex-aluna das
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Faculdades Integradas do Triângulo, que diz: “Acho que os alunos não aprendem se
só forem ensinadas as regras. Deveria ter sido um ensino mais prático”.
Os outros quatro jornalistas entrevistados se disseram ainda mais
prejudicados pela falta do ensino da Língua Portuguesa na faculdade e declararam
que, mesmo sem ter sido oferecida uma só aula de português, as faculdades
estampavam a disciplina Língua Portuguesa na grade curricular.
Uma ex-aluna da faculdade Federal de Juiz de Fora disse que no curso de
jornalismo tinha Português em quatro módulos, mas que em nenhum deles ela teve
qualquer aula de gramática. O ensino se limitava a produção e interpretação de texto,
fato que para a entrevistada, não foi suficiente pois não ensinou efetivamente a usar a
Língua Portuguesa de forma profissional. “A faculdade deveria ensinar onde e
quando usar os termos corretos. Depois de anos no mercado de trabalho, fiquei
sabendo que muitas das expressões que eu usava não eram aceitas pela língua
Portuguesa”, relata a jornalista.
Na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica) também não há o ensino da
Língua Portuguesa, segundo relato de uma ex-aluna. “Tivemos três períodos de
produção de texto e de literatura mas não tivemos nada de gramática. Faltou ensinar
a aplicação prática do português que aprendemos na escola antes do terceiro grau.”,
ressalta. Tal afirmação é completada pelo depoimento de uma jornalista formada pela
Universidade Gama Filho: “Só tivemos aula de técnicas de expressão. Senti falta do
domínio da Língua Portuguesa quando comecei a estagiar e vi que meus
conhecimentos estavam muito aquém do que era necessário. Deveria ter um
português prático na faculdade, algo mais ligado ao que se usa todos os dias na nossa
profissão”.
E uma jornalista formada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de
Janeiro) é ainda mais enfática: “Os professores e diretores da faculdade acreditam
que as regras gramaticais já tinham que ter sido aprendidas na escola e, por isso, não
acrescentavam nada na nossa formação superior. Na faculdade as pessoas não sabem
escrever. Eles (os diretores e professores) têm que entender que temos que saber usar
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o português, temos que saber aliar as regras à prática e isso tem que ser ensinado
também na graduação”.
Através desta pesquisa, chega-se a um percentual de 77,7% de reprovação dos
entrevistados ao ensino da Língua Portuguesa no curso de jornalismo (quando este
existe de fato) e de 22,3% de graduados satisfeitos com as aulas de português que
tiveram na faculdade. O número de profissionais entrevistados que saíram da
faculdade sem o necessário domínio do idioma nacional supera, em muito, o dos
entrevistados que declararam ter aprendido a usar a Língua Portuguesa na faculdade,
contrariando até mesmo as diretrizes curriculares exigidas pelo Ministério da
Educação.
Conclui-se, desta forma, que é necessária uma revisão curricular nos cursos
de graduação e sobretudo no curso de jornalismo e uma conscientização dos diretores
das faculdades no sentido de que estes entendam a importância e o sentido da Língua
Portuguesa em tais cursos. Só com uma efetiva restauração nestes cursos será
possível formar, verdadeiramente, jornalistas. Uma pessoa que não sabe usar a língua
pátria, que escreve mal, que não se comunica de forma correta e eficiente, não pode,
jamais, receber o diploma de jornalista ou de qualquer outra graduação. E cabe ao
ensino superior este papel de formar cidadãos aptos a desempenhar a profissão para a
qual estão sendo formados.
Mais uma vez, os diretores das faculdades de jornalismo precisam refletir
acerca do que é preciso para formar um bom jornalista. Hoje dá-se muita importância
às tecnologias e se esquece do básico, da formação do indivíduo. Ensina-se nas
faculdades a operar uma câmera, a usar o microfone durante um programa de rádio, a
diagramar um jornal impresso usando computador, mas não é ensinado como deve
ser a comunicação através de cada um destes veículos. Aprende-se a fazer uso da
tecnologia para divulgar determinada mensagem, mas não se aprende a elaborar a
mensagem que irá dar finalidade a esta tecnologia. “Os homens inclinam-se a
considerar a técnica como sendo algo em si mesma, um fim em si mesmo, uma força
própria, esquecendo que ela não é a extensão do braço dos homens.” (ADORNO,
2000, p.132)
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Faz-se necessário, ainda, que as faculdades de jornalismo formem leitores.
Segundo a professora de Língua Portuguesa e Pedagoga SUELI SIQUEIRA
BRAGA, “o incentivo à leitura é primordial para formar cidadãos críticos, que
saibam refletir e desenvolver um raciocínio lógico acerca de algum tema”. Muito
além do jornalista que não tem o domínio das regras gramaticais, encontra-se o
profissional que não consegue elaborar um texto lógico. Não são raras as publicações
jornalísticas em que o autor se perde na estrutura textual. A boa e velha redação com
começo, meio e fim, defendendo sempre uma mesma idéia ou apresentando assuntos
que se entrelaçam, é artigo raro nas faculdades de jornalismo. Um problema que é
proveniente, em grande parte, da falta de leitura por parte dos alunos.
Ainda em defesa da leitura, a professora SUELI SIQUEIRA BRAGA afirma
que é lendo que o aluno vai se familiarizar com a escrita. Entrevistada durante esta
pesquisa, ela disse que é difícil tentar resgatar na faculdade todo o ensino de
português que o aluno recebeu ao longo de toda a vida escolar, mas que os cursos
superiores devem despertar nos futuros jornalistas a consciência da importância da
língua na profissão para a qual estão sendo formados e mais; “o aluno tem que
entender que aquilo que está aprendendo tem aplicação prática, e que ele vai usar
fora da escola o que aprende na faculdade”. E quem deve levar a esta reflexão é a
própria faculdade.
Apenas com cursos onde se ensina a Língua Portuguesa, onde as regras
gramaticais são aliadas à elaboração de textos jornalísticos, onde a leitura é
valorizada e entendida como parte importante do aprendizado integral do indivíduo,
será possível formar jornalistas que, ao empunhar a arma da mídia, disparem
mensagens que contribuirão para a formação do povo brasileiro.
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CAPÍTULO V
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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As entrevistas e pesquisas realizadas neste trabalho apontam para o fato de
que o ensino da Língua Portuguesa, na maioria das faculdades de jornalismo, é uma
utopia.
São muitos os erros gramaticais cometidos por jornalistas, são várias as falhas
na estrutura textual, o que torna o produto jornalístico prejudicial ao aprendizado do
idioma nacional. Problema este que os profissionais apontam como sendo
provenientes de uma formação deficiente e incompleta.
Que os textos jornalísticos têm credibilidade, ninguém duvida. Que eles
atingem milhares de pessoas, ninguém contesta, mesmo porque este é o troféu na
briga pela audiência. O que não se explica é que, mesmo sabendo disso tudo, as
faculdades de jornalismo não se preocupem em formar profissionais que saibam usar
a Língua Portuguesa, que saibam elaborar uma mensagem jornalística de forma
correta e compreensível por todas as camadas da sociedade.
Muito se discute ética, jornalismo comunitário que fale para e pela massa,
novas tecnologias e até mesmo o preço do papel que é usado nas gráficas para fazer o
jornal ou a revista, mas pouco se fala da estrutura da mensagem que é veiculada
todos os dias para uma infinidade de seres humanos que não apenas acreditam no que
estão recebendo como adotam a linguagem jornalística como forma de “falar
bonito”. A munição usada por esta potente arma chamada imprensa deveria ser
melhor analisada, estudada, para que atingisse o seu real objetivo.
De nada adianta um jornalista que aprende a operar uma ilha ES-7, um dos
equipamentos mais avançados em edição de telejornalismo, se este mesmo
profissional não recebe na graduação os ensinamentos necessários sobre a aplicação
correta da língua que se fala no país dele. Não adianta aprender, na faculdade, que o
jornalista deve servir a verdade e ouvir sempre todos os envolvidos no fato que será
divulgado, se não se sabe como escrever sobre o fato.
Afirmações de fatos que parecem absurdos, mas que são encontrados todos os
dias, em todas as redações de jornalismo.
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Um jornal se faz por pessoas, por uma equipe formada por indivíduos que só
sabem aquilo que aprenderam a fazer, seja pela escola, seja pela prática. Aprender a
escrever escrevendo, sem ajuda externa, sem um facilitador, só é possível para quem
é autodidata ou para quem lê muito e com tal atenção e análise que compreende a
estrutura do texto que está lendo. Como as duas situações são raras na era da
informática em que o pensamento tem se tornado pontual, faz-se necessário aprender
a escrever na escola, no curso superior, onde também deve haver o estímulo à leitura.
Quem faz uma faculdade de jornalismo quer aprender a ser jornalista e ser
jornalista significa, acima de tudo, ser um comunicador. O jornalista a todo instante
está contando histórias. O que o difere de um escritor é que suas histórias são, via de
regra, histórias reais. Uma profissão tem como desafio transformar vidas em
palavras. Por isso o texto jornalístico tem que ser vibrante, tem que pulsar dentro de
quem o lê, ouve ou assiste. Histórias mortas ou sem sentido não são vendidas, não
têm audiência. E ninguém mais que o jornalista precisa de platéia. É isso que as
faculdades de jornalismo precisam analisar na elaboração do currículo do curso. Um
jornalista só se faz com um bom texto e um bom texto só se faz com um bom
português.
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CONCLUSÃO
Através deste trabalho mostrou-se que o ensino da Língua Portuguesa nos
cursos de jornalismo é uma utopia. Das nove faculdades analisadas, apenas duas
ofereceram a disciplina com eficiência formando, efetivamente, comunicadores. As
sete faculdades restantes ou não ofereceram o ensino da língua portuguesa ou o
fizeram de forma utópica, fora da realidade dos jornalistas.
Como demonstrado ao longo desta pesquisa, o jornalista exerce uma grande
influência sobre o cidadão comum. O texto jornalístico pode ser, guardadas as
devidas proporções, comparado a um instrumento cirúrgico. Quando é correto e
claro, consegue atingir o seu objetivo que é comunicar. Quando contém erros, ou não
é entendido ou deseduca, pois ensina uma língua que não é o Português. Assim como
o médico tem a vida de uma pessoa aos seus cuidados, o jornalista tem a educação de
um povo sob a influência do que escreve. O cuidado com o texto jornalístico deveria
ser proporcional a esta abrangência. E são as escolas formadoras de jornalistas, as
faculdades, que devem promover a capacitação deste profissional para que ele não
apenas saiba da importância do que escreve como também saiba escrever.
Conclui-se que é necessário que se faça uma reestruturação nos currículos de
jornalismo e que estes sejam adequados à prática da profissão para a qual estão
formando. Que além de discutir se vai ou não haver o ensino da Língua Portuguesa
nos cursos, se discuta também como deve ser este ensino.
Pelos resultados obtidos nesta monografia, constata-se que é imprescindível
que haja um maior incentivo à leitura e que as aulas de Língua Portuguesa sejam
atreladas à prática profissional. Acredita-se que desta forma as faculdades estarão
muito mais próximas de conquistar a excelência naquilo para o qual foram criadas:
formar profissionais integralmente capacitados para exercer a prática do jornalismo.
Aos que não são profissionais da área de jornalismo ou comunicação, nem da
área educacional, recomenda-se uma leitura mais crítica dos contéudos jornalísticos.
É comum a população discordar das opiniões defendidas em algum artigo, é comum
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haver o questionamento de algumas informações, mas raramente se vê ou se ouve
alguém discutindo a estrutura do texto apresentado pelo jornalista. A forma da
mensagem parece ser aceita por todos como soberana, inquestionável quando deveria
ser lida com muito mais crítica. Pelo trabalho apresentado vê-se que os jornalistas
também escrevem errado – e como escrevem! Portanto, cabe também ao leitor ou
ouvinte filtrar aquilo que recebe, analisando o que é certo e o que é errado e não
apenas fazer uma leitura digestiva onde tudo o que está na mensagem é assimilado
sem contestação.
Tal reflexão não tira dos cursos de jornalismo o papel de formar profissionais
que saibam escrever corretamente. Defende-se que formando leitores e profissionais
que saibam aplicar o português nos mais diversos estilos de textos, as faculdades
estarão contribuindo na formação de todo um povo.
Só assim o ensino da Língua Portuguesa nos cursos de jornalismo será uma
realidade.
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BIBLIOGRAFIA
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2ª ed.
CASTRO, M. A Imprensa e o Caos na Ortografia. Rio de Janeiro. Record, 1998
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http://www1.folha.uol.com.br/folha/ombudsman/omb-19910922.htm,
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JAPIASSU, M Jornal da Imprensa. São Paulo: Jornal dos Jornais Editora, 1997
LEVY, P, As Tecnologias da Inteligência. São Paulo: Editora 34 Ltda., 1993
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http://www.lab.demac.ufu.br/lab/espec/pt/industriacultural.html.
NETO, P. C, Ao Pé da letra, , Rio de Janeiro: Editora do Brasil, 2001
PARENTE, J, “ Moçada da imprensa escreve mal “ disponível em
http://biondi.fel.com.br/facasper/jornalismo/entrevistas/noticia.cfm?seçao=2&codigo
=23.
TERRA, PAGINA NEGRA – S.O.S. LINGUA PORTUGUESA, IN: Massacrando
nossa lingua porguesa? disponível em
htt://www.terra.com.br/soslinguaportuguesa/pagneg.htm.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTOS 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 9
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I 12
A Imprensa em Foco
CAPÍTULO II 18
Comunicação e Educação
CAPÍTULO III 22
Os Erros nos Textos Jornalísticos
CAPÍTULO IV 27
Português na Graduação: Realidade ou Utopia
CAPÍTULO V 32
Resultados e Discussão
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 37