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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E O ENSINO
SUPERIOR DE JORNALISMO
Por: Célio de Azevedo Júnior
Orientador
Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E O ENSINO SUPERIOR DE JORNALISMO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Docência do
Ensino Superior
Por: Célio de Azevedo Júnior
3
AGRADECIMENTOS
....aos amigos e pessoas queridas,
meus pais e amigos que sempre
estiveram do meu lado em minhas
idéias.
4
DEDICATÓRIA
.....Dedico às pessoas especiais, meus
pais e amigos que sempre me apoiaram
nessa jornada.
5
METODOLOGIA
Este trabalho realiza uma pesquisa bibliográfica através de livros,
documentos, etc, na perspectiva de entender esse processo tecnológico na era
da globalização, sobre a sua informatização no período entre o final do século
XX até os dias hoje e seu impacto na educação superior brasileira do curso de
jornalismo.
Os autores relacionados ao ensino superior e a área de comunicação
social trabalhados são Pierre Bourdieu, McLuhan, Pierre Levy, Edgar Morin,
entre outros.
O motivo da escolha desse tema é que alguns são grandes autores de
grande importância que compreendem o auge dos avanços das tecnologias da
comunicação, como a minituarização dos computadores a criação da WWW
(World Wide Web), assim como outros entendem a Educação e seu papel na
formação do indivíduo na sociedade.
6
RESUMO
Devido ao nosso histórico como país é fato de que hoje a sociedade
brasileira vive numa crise de cultura de massa. Os jornalistas atuam cada vez
mais como uma organização política em nosso país, determinando valores e
deturpando tudo o que for de encontro aos seus interesses.
Cabem a nós, educadores, mudarmos essa realidade, fazendo o
diferencial na sala de aula no intuito de formarmos profissionais mais
competentes e que sigam mais os valores universais da ética.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - CONTEXTO HISTÓRICO
1.1 - A COMUNICAÇÃO SOCIAL E O
AVANÇO DA GLOBALIZAÇÃO 10
1.2 – A EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA
E O CAPITALISMO 15
CAPÍTULO II – A DISCUSSÃO TEÓRICA
2.1 - O JORNALISMO E SUAS REPRESENTAÇÕES 18
2.2 – O ENSINO SUPERIOR E A COMUNICAÇÃO SOCIAL 21 CAPITULO III – COMPARAÇÕES SOBRE TEORIAS
3.1 – PERSPECTIVAS SOBRE O JORNALISMO 25 3.2 – PERSPECTIVAS SOBRE O ENSINO SUPERIOR DE JORNALISMO 35
CONCLUSÃO 39
ANEXOS 40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
ÍNDICE 47
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho analisa os avanços das novas tecnologias da
comunicação nos anos 1990, após o fim da guerra fria, que representou um
divisor de águas no mundo no século XX das novas relações humanas
interpessoais e que afetou a educação superior devido ao avanço tecnológico
que a globalização nos proporcionou nos últimos anos, com enfoque principal
ao curso de comunicação social-jornalismo.
A escolha desse tema se deu por conta das constatações feitas pelos
pesquisadores de que os meios de comunicação e a educação se constituem
em poderes atuantes na formação da opinião pública e na construção de uma
nova realidade através de novas representações.
Nesta pesquisa é realizada uma reflexão teórica com base em diversos
autores como Pierre Bourdieu, Pierre Lévy, Marshall Mcluhan entre outros que
apresentam suas teorizações sobre as novas tecnologias da comunicação e
outros como Edgar Morin e Piaget que também podemos utilizar para analisar
a educação.
Após o fim da guerra fria, o mundo antes bipolarizado passa a ser
hegemonizado pelo capitalismo. Assim, a globalização se torna cada vez mais
presente e juntamente com ela, o avanço das novas tecnologias como a
Internet, com a criação da WWW (World Wide Web) afeta as relações
interpessoais e seus instrumentos de mediação.
Sabe-se que não há como fugir da era da informática, cada
estabelecimento comercial hoje em dia ao menos um computador contendo o
cadastro de todos os seus sócios, assim como no governo, as informações já
são arquivadas em computadores, além de possuirmos também o convívio com
as urnas eletrônicas nas eleições.
Ao demonstrar em como as novas tecnologias afetam a metodologia do
ensino superior no curso de jornalismo na realidade brasileira nos tempos de
hoje, podemos conceber que:
9
• As novas tecnologias da comunicação estruturalmente trazem a fuga da
realidade.
• As tecnologias que envolvem a vida social alienam as relações pessoais.
E mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil isso não
impede de ocorrer este efeito que acontece nos países economicamente
ricos, como os EUA.
Essa monografia se divide em três capítulos:
• Capítulo 1 - Contexto Histórico.
• Capítulo 2 - A discussão teórica.
• Capítulo 3 – Comparações entre teorias
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CAPÍTULO I – CONTEXTO HISTÓRICO
1.1 - A Comunicação Social e o avanço da globalização
A evolução da Imprensa do Brasil está diretamente relacionada à
expansão do capital comercial na época do escravismo através dos
portugueses nos tempos de colônia e surgiu a partir do fortalecimento das
elites brasileiras.
A relação com a educação é que os meios de comunicação social
contribuem na formação da opinião e da cultura do povo brasileiro por conta do
déficit histórico que existe de investimentos na área de educação em nosso
país.
Um exemplo desse fato é que hoje em dia ouve-se falar mais sobre o
eliminado do BBB (Big Brother Brasil) ou sobre futebol do que em temas como
o papel das células tronco no combate de doenças genéticas ou a reforma
tributária, fruto de nosso passado colonizador, proveniente do período em que
nossos índios foram catequizados pelos portugueses e, assim, foi implantada a
religião católica.
Portanto, é fundamental conhecer também a história da comunicação e
seu processo de institucionalização no Brasil, em particular o Jornalismo, para
entendermos melhor a educação brasileira e a sociedade como um todo.
A História do Jornalismo brasileiro se confunde com a história do
capitalismo no Brasil. Analisando-se o que podemos chamar do início da
imprensa, é possível que desvendamos por quais meandros o mundo passou
para sabermos para onde vamos. É preciso saber que o jornal impresso foi
uma das primeiras publicações do mundo, assim como a Bíblia.
O conceito de Imprensa foi derivado da prensa móvel, criada por
Johannes Gutenberg, no século XV, porém há informações de que a Imprensa
já existia desde o século I, através do exemplo do Acta Diuma dos romanos,
11
que trazia diversos assuntos, como obituários, notícias do governo e crônicas
esportivas.
Segundo Sodré, todas as invenções, assim como a de Gutenberg,
resultaram de uma necessidade social, que o desenvolvimento histórico gerou
e que estava vinculado a ascensão da burguesia em seu sentido mercantilista
(SODRÉ, Nelson, História da Imprensa no Brasil, pg. 2, 1999).
A imprensa da época apenas era de interesse a elementos e de classes
e camadas numericamente reduzidas, entretanto, o desenvolvimento da
imprensa foi muito desenvolvido e facilmente controlado pelas autoridades do
governo.
Portanto, poderosas forças econômicas empenharam-se em debilitar
esse controle, eram as forças do capitalismo em ascensão: o princípio de
liberdade de imprensa, que foi antecipado na Inglaterra vai ser encontrado,
então, tanto na Revolução Francesa quanto no pensamento de Jefferson nos
EUA, que correspondia aos anseios da Revolução Americana (SODRÉ, 1999).
Ainda em Lage, a imprensa, como um todo ou em grande parte, é o
resultado das apropriações e desenvolvimentos de recursos técnicos criados
por outras culturas 1. A imprensa já existia como possibilidade material muito
antes da exigência social que a fez brotar.
O papel já era conhecido e usado nos países orientais, Pi Cheng já
utilizava caracteres tipográficos móveis de cerâmica entre 1040 e 1050, depois,
passaram a fazer o mesmo no Turquestão, entre 960 e 1280.
A técnica foi desenvolvida também na Coréia, 1830. Bem antes de
Gutenberg ter difundido à Bíblia em 1450, o que faz com que afirmação de que
a imprensa existia antes de Gutenberg seja contestável.
O primeiro jornal em papel foi inventado na China, o Notícias Diversas,
que foi formado em 713 D. C, em Pequim. Em 1041, lá foi inventado também o
tipo móvel, porém a iniciativa não conseguiu se espalhar pelo mundo, pois o
alfabeto chinês é muito mais complexo que o latino.
1 LAGE, Nilson, Ideologia e Técnica da Notícia, pg. 9, 1987.
12
Mas a ascendente burguesia da época precisava expandir seus
domínios pela Europa, a fim de derrubar o feudalismo e de instaurar o
capitalismo no mundo.
Portanto, precisava de heróis que personificassem os ideais da
sociedade moderna que nascia, sendo Gutenberg, um bom exemplo do
burguês empreendedor.
Ainda em Lage, o mais antigo predecessor do jornalista moderno surgiu
na Itália do século de Petrarca, os burgos da Costa Ocidental, enriquecidos
pelo comércio com os navegadores árabes, desenvolveram uma forma nova de
vida, baseada na concentração urbana 2.
Os primeiros jornais foram na Alemanha. Os Avvisi, que eram folhas
manuscritas a favor das elites da época, assim como as Zeitungem, nos
séculos XIII e XIV.
A leitura e a escrita passaram, portanto, a ser ferramenta de muitos para
se poder atuar em uma civilização que crescia seguindo os passos do
mercantilismo, na expansão do comércio das indústrias pelo mundo.
No século XX, a mídia impressa se globaliza e entra na era das grandes
corporações. Na era do grande capital, os trabalhadores assalariados
jornalistas tiveram de sofrer calados muitas vezes para seguir toda a orientação
da linha editorial que o dono do jornal possuía, mais claramente, podemos
dizer que a mídia impressa em geral opera em função dos anunciantes e dos
seus interesses político-econômicos.
Estas empresas, que por serem sociedades anônimas ou limitadas,
possuem donos, que possuem opinião política e as difundem, já que as
decisões aplicadas pelo Estado podem afetar e muito o seu lucro.
No Brasil, o caráter de formação do Estado capitalista se deu de uma
forma pactuada. De acordo com Mazzeo, a nobreza aburguesa-se e acaba
reforçando o processo de concentração de capitais e, concomitantemente,
constrói um aparelho estatal de acordo com seus interesses e projetos 3.
2 Idem, Ibiden, pg. 10. 3 MAZZEO, Antonio Carlos, Sinfonia Inacabada, pg. 111, 1999.
13
O autor diz também que diferentemente do ocorrido na via clássica, não
há uma ruptura revolucionária com as antigas classes de dominantes, percebe-
se que o novo, representado pelo capitalismo, “paga um pesado tributo ao
velho”.
A situação é, portanto, muito diferente do que aconteceu na Inglaterra e
na França, onde que os movimentos sociais participaram mais das decisões
nacionais.
As elites continuaram ocupando os seus mesmos lugares na sociedade,
essa transição por reformas ao capitalismo, chamadas por Lênin de via
prussiana de desenvolvimento do capitalismo.
Segundo, Mazzeo, em seu livro Sinfonia Inacabada, é fato de como o
Brasil é um caso comum de formação de extração colonial, a via brasileira é de
via prussiano-colonial 4.
A maneira de como isso se apresenta está vinculada ao período extenso
que tivemos como colônia de Portugal, e a sua tradição exploradora vinculada
à transição moderada à condição de reino unido, quando a imprensa chegou
ao Brasil junto com D. João VI, depois a de Império independente, por um
pacto de elites, à condição de república.
Portanto, a sociedade civil nunca teria participado ativamente dos
acontecimentos políticos, e no que condiz a classe trabalhadora, esta é
reconhecida no Brasil como a da maioria da população, vista como uma massa
politicamente.
Isso acontece devido ao advento da Corte de D. João, que fez com que
parte da imprensa brasileira surgisse com a proteção oficial do império. O
Gazeta do Rio de janeiro, é fundado no dia 10 de setembro, defendendo a
corte de Portugal.
Porém, a história do jornalismo brasileiro também é marcada por lutas,
Hipólito José da Costa que defendia idéias liberais já havia fundado o Correio
Braziliense antes, em junho de 1808. Este jornal pregava a libertação do Brasil
de Portugal. O jornal entrava escondido nos porões dos navios que
transportavam mercadorias e escravos.
4 Idem, Ibiden, pg. 113.
14
Até o ano de 1999, a data de fundação da imprensa brasileira era
comemorada no dia 10 setembro, em referência à primeira publicação do jornal
Gazeta do Rio de Janeiro.
Atualmente, a comemoração acontece no dia primeiro de junho, dia da
fundação do Correio Braziliense, veículo de comunicação que circulou até
dezembro de 1822, contando 175 números editados no total.
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1.2 - A Educação Superior brasileira e o Capitalismo
No século XIX, na época da fuga da família real ao Brasil por conta do
domínio de Napoleão na Europa, não havia universidades no Brasil. A primeira
instituição de ensino superior do país foi fundada no dia 18 de fevereiro de
1808, oito dias antes da partida da família real para o Rio de Janeiro. Ela foi
instalada no Hospital Real Militar, ocupando as dependências do Colégio dos
Jesuítas, no Largo do Terreno de Jesus.
Assim entende-se que a vinda da família real portuguesa foi fundamental
para o ensino superior, pois antes Portugal não permitia a criação de nenhuma
faculdade em suas colônias. Ao passo que nas colônias espanholas, existiam
universidades desde o século XVI.
Os primeiros cursos a existirem no Brasil foram os de medicina e o de
direito. Era comum que as famílias mais abastadas financeiramente da época
colocassem os seus filhos para estudar estes cursos, muitos já estudavam na
Europa.
No século XX, as intervenções norte-americanas no ensino superior
brasileiro começaram a surgir, com a intervenção da Fundação norte
americana Rockefeller, com as suas relações filantrópicas com a Universidade
de São Paulo (USP) durante o período entre 1930 e 1950.
Dessa forma, os ideais capitalistas do american way of life, em sua fase
mais expansionista econômica e cultural, assim como os europeus da mesma
forma criaram caminhos mais eficientes para a intervenção estrangeira na
educação dos países em desenvolvimento.
Durante a ditadura militar, os acordos MEC/USAID entre o governo
brasileiro e o governo norte-americano, através da USAID (Agência norte-
americana para o Desenvolvimento Internacional), voltados para a cooperação
entre os dois países, visavam à reforma do sistema educacional do Brasil.
Nessa época havia no mundo uma redefinição da hegemonia econômica
e social após a Segunda Guerra Mundial, com a ascensão econômica dos
Estados Unidos e a recessão na Europa. No interior da educação brasileira a
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situação não foi diferente. A hegemonia cultural francesa se manteve na área
de humanas, dando lugar à norte-americana nas exatas e biológicas.
O curso primário, de quatro anos, e o ginásio, de cinco anos, foram
fundidos formando assim o primeiro grau, com oito anos de duração e o curso
clássico se fundiu com o científico, formando o antigo segundo grau (atual
Ensino Médio). O curso universitário passou a ser chamado de Terceiro grau,
copiando assim os modelos norte-americanos de ensino.
Relembramos o que o assessor da USAID, Rudolph Atcon, convidado da
Diretoria de Ensino Superior do MEC para ser um dos principais idealizadores
da reformulação da universidade brasileira e do Conselho de Reitores das
Universidades Brasileiras - o CRUB.
De acordo com Atcon o Ensino Superior deveria se libertar de todas as
malhas do Estado, ter total autonomia para se desenvolver enquanto empresa
privada. Sua administração deveria acompanhar o modelo industrial de gestão.
A análise dos conteúdos dos programas e propostas do assistente da
USAID é um instrumento importante para estabelecermos as relações
necessárias entre os interesses das classes dominantes brasileiras e os
interesses do capital norte-americano 5.
Podemos entender então que as reformas educacionais só podem ser
entendidas através da articulação dialética entre a mundialização do capital e a
luta pela hegemonia política (luta de classes).
Hoje, incontáveis instituições de ensino superiores públicas e
particulares vêm se adaptando às novas tecnologias da informação. Com a
adoção do ensino a distância facilitada com a popularização da WWW (World
Wide Web) e a minituarização dos computadores além de sua adoção em
laboratórios específicos notamos o impacto do avanço dessas novas
tecnologias sobre a educação superior brasileira.
Aliás, antes mesmo da popularização dos computadores pessoais os
computadores já estavam aos poucos sendo introduzidos em centros de
pesquisas de grandes universidades pelo mundo. 5 PPE/UEM http://www.ppe.uem.br/publicacao/sem_ppe_2003/Trabalhos%20Completos/pdf/057.pdf acessado em
15/03/2008.
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No mercado de trabalho dos últimos anos convivemos com a extinção de
vários postos de trabalho, que são substituídos por computadores, além da
necessidade da especialização de antigos funcionários para se adaptarem à
era digital.
Os EUA representam ainda mais um grande pólo difusor de cultura
capitalista no mundo. Sabemos que não existe ainda pelo menos, um grande
país que possa ir de encontro a essa grande potência. Dessa forma, os países
periféricos como o Brasil estão sujeitos à influência norte americana.
A maior prova deste fato é a “enxurrada” de informações recebidas pela
mídia sobre os acontecimentos nos Estados Unidos, já que estes além de ser a
maior economia do mundo globalizado são também grandes interventores na
política de países mais atrasados economicamente e socialmente como o caso
do Brasil.
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CAPÍTULO II – DISCUSSÃO TEÓRICA
2.1 – O Jornalismo e suas representações
De acordo com Bourdieu, em seu livro Sobre a Televisão, o tipo de
violência que a televisão exerce sobre a opinião pública, é uma violência
simbólica que se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também,
dos que a exercem, na medida que uns e outros são inconscientes de exercê-
la ou de sofrê-la. (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 22, 1997a). Os
jornalistas tanto manipulam quanto também são manipulados e inconscientes
dessa manipulação.
E essa violência ocorre quando se é apresentado principalmente pelas
notícias de variedades, em seu caráter sensacionalista, que exploram o sexo, o
sangue, o drama. Atualmente, essas práticas são conhecidas em programas da
TV brasileira como o Pânico na TV, Ratinho, Big Brother Brasil, além dos
demais tipos de talks shows, no intuito de se ocultar um debate mais sério
sobre temas como governo federal, a segurança, a desigualdade social, entre
outros.
Pierre Bourdieu aponta o que Patrick Champagne chama de “fenômenos
de subúrbio”, em que a mídia seleciona nessa realidade particular um aspecto
inteiramente particular, em função das categorias de percepção que lhe é
própria. É organizado o percebido, determinando o que se vê e o que não se
vê.
Bourdieu afirma que, na “circulação circular da informação”, os produtos
jornalísticos são mais homogêneos do que parecem, além do mais, as
diferenças evidentes escondem semelhanças profundas ligadas às restrições
impostas pelas fontes e por vários mecanismos, dos quais o mais importante é
a lógica da concorrência (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 31,
1997b). Assim, o monopólio se estrutura e a concorrência ganha mais
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diversidade. Logo, a competição na área de jornalismo passa a exercer grande
influência nas atividades dos jornalistas. É comum, por exemplo, encontrarmos
nas bancas vários jornais com as mesmas manchetes e matérias, o que
prejudica o acesso do leitor a diferentes pontos de vista sobre os diferentes
fatos.
No mundo globalizado atual, a manipulação passa a ser então
imprescindível para a manutenção deste poder de atuar como órgão político.
Assim, os veículos jornalísticos procuram atuar como partidos políticos,
menosprezando, muitas vezes, o papel do Estado e negligenciando o poder da
opinião pública de impor as suas necessidades.
O mundo capitalista vem se desenvolvendo sob essa lógica de controle,
em que é cada vez mais comum esse tipo de prática. A diminuir-se a
importância do Estado enquanto nação cria-se mecanismos que dificulta cada
vez mais o conhecimento e a organização política da sociedade.
Após Revolução Russa, em 1917, Vladimir Lênin já se declarava contra
a publicação de jornais privados que fossem contra o modelo de sistema
econômico de governo socialista, e que não possuíssem nenhum tipo de
vínculo com o Partido Comunista da União Soviética ou com os antigos
Conselhos, os “Sovietes”.
Porém, esse tipo de relação entre os comunistas e a imprensa sempre
foi comum desde o próprio nascimento do marxismo durante o século XIX.
Segundo Karl Marx, a função da imprensa é ser o cão-de-guarda público, o
denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente
do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade (MARX, 1980).
Karl Marx era contra a liberdade de imprensa, da forma que esta se
apresenta no ideário burguês, considerando que, com essa liberdade, há sérios
riscos de um sistema como o socialismo perder o seu poder político. Lênin
critica a liberdade burguesa em seu livro, Como Iludir o Povo. Segundo ele, a
liberdade nos países ditos “civilizados” como na França, Inglaterra e nos EUA
seria uma farsa, já que a liberdade soviética, ao contrário das outras existentes
no mundo, seria escrita em sua própria constituição, na qual legaliza a
propriedade privada, ao passá-la para classe dominante no momento, “a classe
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trabalhadora”, e que nunca haveria no mundo uma revolução que estivesse
garantida, sem que existissem situações de desesperados sacrifícios (1979).
E por esses motivos os jornais A causa do povo e Sempre em frente
foram proibidos de circular porque, segundo Lênin, os seus representantes
davam à maioria de seus ataques ao Bolchevismo uma característica natural e
uma aparência de crítica teórica, porém superficial (LENIN, Vladimir, Como
Iludir o povo, pg. 12, 1979) 6.
Theodor Adorno, filósofo alemão da Escolha de Frankfurt, que analisou a
mídia norte-americana entendeu que por trás de toda o acesso à informação
que a sociedade possuía, em que rádios, filmes, revistas e jornais, atuavam de
maneira livre e independente, havia uma espécie de monopólio ideológico cujo
objetivo era a domesticação das massas 7.
Pierre Bourdieu afirma que o poder simbólico é um poder de construção
da realidade que tende a estabelecer o sentido imediato do mundo
(BOURDIEU, Pierre, O Poder Simbólico, pg, 9, 1989). Ou seja, para se mudar
o sentido da realidade é necessário que, para isso, um controle sobre os meios
de comunicação responsáveis pelo poder simbólico.
Bourdieu afirma que os poderes simbólicos, como instrumentos de
comunicação, só podem exercer um poder estruturante na sociedade porque o
poder simbólico é um poder de construção da realidade (BOURDIEU, 1989).
As ideologias, como oposição ao mito, servem a interesses particulares
que passam a serem apresentados como interesses universais (BOURDIEU,
1989). Assim, os interesses do socialismo científico, que refletem, por sua vez,
os interesses da classe trabalhadora passam a valer também para todos na
sociedade em que o novo sistema econômico-político vigora.
6 Trata-se de uma posição radical, mesmo que centrada no interesse da classe trabalhadora, seus representantes e do
Estado. Esta posição vem se justificando em nome dos “desesperados sacrifícios” em nome do socialismo.
7 M.Horkheimer e Theodor Adorno analisaram a Indústria Cultural, em 1947 nos estudos da Escola de Frankfurt.
21
2.2 – O Ensino Superior e a Comunicação Social
No que compreende a comunicação “de massa” podemos buscar uma
compreensão da construção do Estado atual como o aparato difusor da
hegemonia dominante, através dos instrumentos de reprodução simbólica do
sistema econômico presente.
Ciro Marcondes Filho diz que o jornalismo, normalmente, atua junto com
grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico raramente
fala sozinho. Ele é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados
econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e
particularistas, o foro da objetividade (1989). O jornalismo ao atuar de acordo
com os poderes econômicos e políticos, funciona como instrumento pelo qual,
os grupos econômicos e políticos que detém o poder, utiliza para difundir os
seus interesses de classe e transformá-las em senso comum, assim, a
imparcialidade se torna impossível.
Nessa perspectiva, o autor apresenta uma relação de jornalismo e poder
social, afirma que a classe dominante em qualquer sistema econômico, ao se
apropriar dos seus meios de produção, passa também a influenciar, direta ou
indiretamente, tudo o que é produzido dentro da esfera da comunicação social.
A imparcialidade apresenta-se apenas como mero discurso reprodutor
de uma idéia de que a objetividade deve ser perseguida por meio de
concepções impregnadas de valores morais pertencentes à ideologia do
sistema econômico, os quais os grupos financeiros e políticos desejam
transmitir as notícias à opinião pública.
A mesma massa que segue, é influenciada pelos formadores de opinião,
que agem no interior dos meios de comunicação colocando a população na
posição de passividade, uma vez que está excluída do processo de decisão
sobre o que é verdadeiro interesse público. Estamos sujeitos à chamada, por
Ciro Marcondes Filho, na qual apresenta-se ao público notícias que, de forma
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sensacionalista, a atemorizam, misturadas em outras amenas e superficiais
que a tranqüilizam e o fazem retornar a posição passiva.8
Ao se fragmentar a informação, a verdade fica distorcida para se
transformar em notícia e se adaptar às concepções mercadológicas, políticas e
ideológicas do veículo jornalístico.
A dependência da imprensa nos países em desenvolvimento ainda é
maior por conta de um Estado subserviente às elites dominantes, como o que
acontece no Brasil. Roberto da Matta (1979) diz que a sociedade brasileira se
divide em duas coletividades, um Estado Nacional moderno e igualitário, que
nasce a partir da proclamação da república com inspiração no modelo do
individualismo burguês norte americano e uma Sociedade Hierarquizada,
devido ao fato de termos sido colônia de exploração das grandes metrópoles.
Assim como ainda hoje as elites dominantes reproduzem os seus valores
simbólicos dentro da ideologia capitalista dominante.
E como diziam os pensadores da Escola de Frankfurt, os meios
massivos são braços difusores da ideologia capitalista, a situação de
manipulação política da opinião pública é ainda mais evidente num país em
que os veículos de informação estão concentrados nas mãos de um grupo
reduzido de “famílias” poderosas.
A própria formação da imprensa em geral exige que esta mantenha um
controle sobre os seus receptores. É comum observarmos a despolitização por
parte de grande parte do público. Isso decorre da cultura de acomodação como
afirma Ciro Marcondes Filho (1989), na qual atemoriza-se e logo depois de
tranqüiliza o receptor da notícia, com as soft news se contrapondo as hard
news 9.
É fundamental para a existência da imprensa essa tranquilização, esse
“equilíbrio” que o público é levado a ter para que continue consumindo os
jornais e produtos anunciados. E, sobretudo, não se rebele, não se insurja
contra o establishment, dando aos jornalistas a função de denunciar, se
8 A Mídia também apresenta uma parte “quebrada” da realidade, deixando a população distante de uma compreensão
maior dos problemas existentes na sociedade. 9 Um bom exemplo é a forma como o Jornal Nacional estrutura suas edições. Os seus apresentares sempre abrem o
telejornal com denúncias, fatos noticiosos graves, entremeando, ao longo dos blocos, notícias leves e até divertidas.
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indignar e “agir” em nome dele. Assim, o público não questiona as informações
que vem dos meios de comunicação e as aceitam, como se estas fossem as
únicas verdades.
Pierre Bourdieu afirma que a desigual distribuição dos elementos de
produção é o que faz a vida política seja descrita na lógica da oferta e da
procura, portanto, o mundo político é o lugar onde se dá a concorrência que há
entre os agentes envolvidos, produtos políticos, análises, programas
comentários, conceitos, entre os quais cidadãos, devem escolher a melhor
opção. Trata-se de um “mercado de bens simbólicos”.
Portanto, a possibilidade de engano é maior na medida em que alguém
se encontre cada vez mais afastado do conhecimento político mais profundo
sobre determinado assunto.
O público acaba não por ter vontade própria, ele apenas reproduz o que
lhe propõem como sendo de seu interesse, exatamente por este motivo, que
uma dona de casa, ou um cidadão comum, quando assistem o fato políticos
polêmicos como a queda ado socialismo no leste europeu ou mesmo a crise
política no governo federal, emitem opiniões sem saberem ao certo do que se
trata pois não conhecem o processo da produção daquela notícia, além das
razões ideológicas implicitas.
No curso superior de jornalismo temos contato com os mesmo tipos de
concepções exaltadas pelos jornalistas que trabalham nas grandes redações e
assim, se formam cada vez novos jornalistas que trabalham sob a lógica da
manipulação jornalística.
Estes temas apresentados de uma forma reducionista,
descontextualizada, como vários outros fatos sociais, políticos e econômicos
são traduzidos então de forma tendenciosa pela grande imprensa reproduzidos
aos alunos do curso de comunicação social-Jornalismo.
Segundo Edgar Morin, em os sete saberes necessários à educação do
futuro A identidade humana é completamente ignorada pelos programas de
instrução.
Podem-se perceber alguns aspectos do homem biológico em Biologia,
alguns aspectos psicológicos em Psicologia, porém a realidade humana é
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indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma
espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade,
temos esta como parte de nós, pois desde o nosso nascimento sua cultura nos
imprime. Somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie está dentro
de nós e depende de nós.
De acordo com a teoria Epistemologia genética de Jean Piajet o
conhecimento é gerado através de uma interação do sujeito com seu meio, a
partir das estruturas pré existentes no sujeito. Aplicando este pensamento na
educação superior jornalística, o ser humano assimila os dados que obtém do
exterior, mas uma vez que já tem uma estrutura mental anterior, precisa
adaptar esses dados à estrutura mental já existente anteriormente. Uma vez
que os dados são adaptados a si, assim dá-se a acomodação.
Dessa forma, os futuros jornalistas são adaptados à estrutura
mercadológica para reproduzir os interesses do estabilishment vigente do
capitalismo brasileiro, de manipulação jornalística.
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CAPITULO III – COMPARAÇÕES SOBRE TEORIAS
3.1 – Perspectivas sobre o Jornalismo
O jornalismo está diretamente ligado ao sistema econômico vigente e a
sua própria natureza de formação que é capitalista, como afirma Ciro
Marcondes Filho (1989), em seu livro O Capital da Notícia. Segundo o autor,
uma sociedade não estruturada sob as bases de exploração do lucro e do
trabalho levaria a um jornalismo menos alienador e manipulador.
A utopia se processa no sentido de ignorar que não se pode conceber a
existência do jornalismo em uma sociedade mais justa, igualitária sem que se
politize a opinião pública, para que esta não fique em constante estado de
aceitação, e sim, ganhe consciência crítica.
A imprensa funciona com todos os preceitos mercadológicos, dos quais
as elites precisam para se manter ideologicamente como classe hegemônica,
no sentido gramsciano, incentivando o consumo e a alienação com relação a
fatos políticos.
Os fatos são apresentados ao público para que este seja desviado,
então, da realidade. Um bom exemplo disso pode ser o fato de a TV Globo, em
plena ditadura militar, ter colocado em suas principais programações diárias, as
telenovelas nos anos 1950, para que, além de moldar a população ao
consumo, pudesse também desviar os olhos da ditadura militar e suas
atrocidades. Assim como acontece em jornais do sistema Globo que não
chamam à população a participar dos debates sobre os Atos institucionais. É
célebre a relação entre esta empresa e o regime militar e as benesses delas
resultantes para os dois lados.
A formação de uma redação, por exemplo, pode ser caracterizada por
uma relação a mais capitalista possível, no que condiz a divisão do trabalho,
em uma estrutura hierárquica, onde que vale é a palavra do editor do jornal e
que fala pelo dono do veículo e de seus anunciantes dentro do mercado.
26
Os repórteres, muitas vezes, questionam pautas, foco de matérias, a
manipulação discursiva, mas não têm poder para eximi-los da prática
profissional que se dá no interior das empresas jornalísticas.
É cada vez mais comum no mundo de hoje a não separação do
departamento comercial da produção das notícias nas redações. O que ocorre
é a submissão dos valores ético-morais a valores regidos pelo interesse do
lucro.
Os órgãos noticiosos oficiais dos partido comunista da União Soviética e
o Neues Deutschland antiga Alemanha Oriental também manipulavam. Em
qualquer perspectiva político-ideológico encontram-se interesses explícitos ou
não, na forma de se tratar a matéria, no enfoque, na valorização dos
componentes da notícia, na perspectiva subjetiva de se aproveitar o fato, como
diz Ciro Marcondes Filho (1989, pg. 33).
Portanto, os jornais nos países socialistas são também sensacionalistas
em sentido amplo e necessariamente manipulativos na conceituação de que a
possibilidade efetiva de um jornalismo não manipulativo, uma vez rompidas as
determinações mercadológicas de produção de notícias, é totalmente utópicas.
No início do século XX, o capitalismo introduziu o taylorismo-fordismo
nas empresas, que foram aplicados pelos grandes industriais americanos. De
acordo com Nilson Lage, A divisão em funções na redação decorreu de uma
imposição da transformação do jornal em empresa (LAGE, Ideologia e Técnica
da Notícia, 1987). Esta prática tinha como objetivo principal aumentar o lucro
obtido, além de barrar o avanço dos crescentes movimentos operários nos
EUA.
A racionalização do fordismo era realizada padronizando funções,
pagando apenas por peças produzidas, além de premiar os que mais
produzissem. Situação na qual muitos operários perdiam interesse pelo
movimento de mobilização política nos EUA. No caso do jornalismo, a divisão
de funções garantia impessoalidade às matérias.
A primeira escola de comunicação foi criada por Robert Lee, em 1869,
era a Washington College, era em Virgínia. Esta iniciativa promoveu a criação
de cursos semelhantes em outras universidades pelo mundo. De acordo com o
27
dicionário de jornalismo, a redação jornalística é o processo de construção da
notícia na qual o texto final é escrito a partir dos dados obtidos na apuração ou
reportagem. O profissional especializado neste processo é chamado de
Redator.
Por exemplo, na época em que os aconteceu a Intentona Comunista
1935, muitos materiais acusados de propaganda ideológica a favor do
comunismo foram apreendidos e numerosos comunistas foram de presos nas
redações jornais, como no jornal Novos Rumos, de acordo com o sítio Jornal
da Rede Alçar 10.
A imprensa promove também a idéia de que as redações tenham
preferência em comunicólogos que não possuam qualquer vinculo político
partidário, e por esse motivo, diversos militantes foram expulsos de suas
redações por conta de suas concepções ideológicas de esquerda.
Nos veículos jornalísticos, os responsáveis pelas editorias são
normalmente o redator-chefe ou a própria empresa. Este pode ter a função
desde redator e crítico até a de revisor do jornal.
As editorias internacionais são responsáveis por difundir para a opinião
pública os fatos noticiáveis que ocorrem no exterior, obtidos através das
agências de notícias internacionais, que são organizações responsáveis por
apurar fatos, diretamente das fontes, e repassá-los para os veículos
jornalísticos.
Normalmente estas empresas funcionam por meio de escritórios em
diversas cidades do mundo, normalmente em capitais, como a AFP, da França,
e a Reuters, inglesa. Os EUA têm a Associated Express.
Os colaboradores, mais conhecidos como stringers, e os
correspondentes atuam obtendo fatos em diversos países e repassam essas
informações para suas respectivas centrais jornalísticas.
O Brasil possui correspondentes e colaboradores no exterior que atuam
através do material jornalístico produzido pelas agências internacionais, mas
não possui nenhuma agência internacional. O que faz com que as matérias 10Jornal da Rede Alcar
http://www2.metodista.br/unesco/hp_unesco_redealcar43completo.htm#Imprensa%20Brasileira:%20retrospectiva%20d
os%20fatos%20relevantes%20de%202004 15/06/2006.
28
difundidas pelos veículos da mídia brasileira, como por exemplo o jornal O
Globo e o Jornal do Brasil apresentem visões tão parecidas quanto os veículos
de diversos jornais do mundo, como o The New York Times, Le Monde, etc.
Segundo artigo publicado no sítio do Observatório da Imprensa, diversas
agências de notícias estão ocupadas por profissionais sem preparo e por
correspondentes inexperientes. Alberto Dines afirma que já faz tempo que as
agências estão espremidas e subdimensionada. O autor ainda diz que o mundo
sumiu dos nossos jornais e revistas justamente no auge da globalização 11.
João Batista de Abreu, em seu livro As Manobras da informação, faz
uma análise sobre a imprensa na época da ditadura militar, em que os próprios
militares, ao perceberem o caráter duradouro do termo golpe, passaram a
caracterizar a tomada do poder do Brasil como Revolução. (ABREU, João
Batista, As Manobras da informação, pg. 23, 2000a).
De acordo com o autor João Batista de Abreu, em seu livro As manobras
da informação, com o tempo, a imprensa brasileira passou a caracterizar o
termo subjetivo de tachar todo cidadão de terrorista que fosse se contrário ao
sistema recém instalado (ABREU, João Batista, As Manobras da informação,
pg. 23, 2000b).
Desde a sua fundação do jornal O Globo, este veículo teve grandes
contribuições durante a ditadura militar a favor do governo, nas eleições de
1989 – com o apoio ao Collor, assim como na cobertura acerca do chamado
“fim do socialismo”.
Para o veículo do O Globo, assim como para a maioria dos outros
jornais da época, expressões como “império de mil anos havia ruído”, além do
excesso da utilização do conceito “golpista” na tentativa de derrubar Gorbachev
em agosto de 1991 12, foram comuns até os dias de hoje.
Emir Sader afirma em artigo público no jornal Correio Brasiliense, que os
grandes debates nacionais costumam se valer, como parâmetros decisivos, de
argumentos tirados da situação de outros países. O Brasil acaba por sofrer o
impacto das opiniões de veículos jornalísticos estrangeiros.
11 Observatório da imprensa. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/ter190920011.htm 12/06/2006. 12 Referente a crise do socialismo no leste europeu e na URSS de 1989-91.
29
Emir Sader (2006) ainda diz que quanto maiores as tiragens dos jornais,
piores são suas editoriais internacionais, já que os jornais buscam aumentar as
vendas com os outros cadernos mais solicitados por um público que já é mal
informado pela editoria internacional. Este público acaba por admitir qualquer
opinião independente dos interesses dos países desenvolvidos, como EUA ou
Reino Unido.
Os meios de comunicação no socialismo foram ao longo de muitos anos
criticados por diversos setores, tanto pelos defensores do capitalismo como
também por muitos progressistas e intelectuais de esquerda. É nesse sentido
analisar a importância do conhecimento da imprensa no socialismo.
Segundo João Batista de Abreu, em seu livro, As Manobras da
informação, desde o aparecimento dos primeiros jornais, os Avvisi, que foi nos
séculos XIII e XIV na Alemanha, a imprensa segue aos interesses de um grupo
ideológico, podendo ser hegemônico ou não, dependo do momento histórico
(ABREU, João Batista, As Manobras da informação, pg. 21, 2000a).
Para João Batista, todas as pessoas possuem ideologia, e todas as
palavras são impregnadas de valores ideológicos. Portanto, o texto, título, o
entretítulo, a foto, a localização da matéria na página, as chamadas e a escolha
da própria página compõem o discurso jornalístico. (ABREU, João Batista, As
Manobras da informação, pg. 22, 2000b).
Abreu diz que cada item examinado isoladamente oferece uma visão
fragmentada do contexto, o que compromete a unidade do discurso, no
entanto, os fragmentos são reveladores quando assumem caráter
emblemático, a palavra possui o menor fragmento do discurso jornalístico,
muitas vezes, o mais revelador (ABREU, 2000). Por outras palavras, o jornal
impresso está impregnado de sua ideologia que chega ao leitor através do
discurso jornalístico. A sua editoria busca na ordenação das palavras a melhor
maneira de passar a ideologia do veículo jornalístico.
Porém, é necessário compreender que a manipulação não envolve
apenas a questão ideológica dos sistemas econômicos-políticos já citados
(capitalistas e socialistas), mas também padrões de manipulação distintos
como os que Perseu Abramo aponta, em seu texto Padrões de Manipulação na
30
grande imprensa, em várias colocações sobre a manipulação dos veículos
jornalísticos.
Perseu Abramo (1988) diz que a ocultação é o padrão que se apresenta
pela ausência e a presença dos fatos reais na produção da imprensa 13. Essa
ocultação é comum em veículos jornalísticos que tratam de matérias em
momentos, em que se é necessário esconder alguns fatos, a fim de fazer com
que a opinião pública não perceba a realidade, como, por exemplo, no caso em
que na época da ditadura militar, muitos veículos divulgavam receitas para
donas de casa ao invés de informações que pudessem incentivar o senso
crítico da opinião pública. Era uma forma de denúncia à ocultação, neste caso
imposta pelo governo, mas há ocultação deliberadamente imposta pelos
próprios veículos.
O padrão de fragmentação diz que, ao se tratar a realidade, com suas
estruturas e interconexões, todo real é estilhaçado, despedaçado e
fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados (ABRAMO,
1988). Assim, os fatos são hierarquizados em graus de importância, dada à
linha editorial do veículo, criando uma nova realidade e distanciando o leitor da
versão original. A descontextualização da informação ocorre como
conseqüência da seleção dos fatos para apresentar o resultado final ao leitor.
Há também o padrão de Inversão, quando depois de fragmentado o fato,
os seus pedaços particulares, e fora do contexto, são reordenados, com a troca
de lugares e da importância destes. O fato está fragmentado em várias partes e
é reconstruído com base na troca de lugares, na substituição de umas por
outras, e prossegue na destruição do real e na criação de uma nova realidade.
(ABRAMO, 1988).
As principais formas de inversão são: a inversão da relevância dos
aspectos, a inversão da forma pelo conteúdo, a inversão da versão pelo fato e
a inversão da opinião pela informação.
Perseu Abramo afirma que na inversão da forma da relevância dos
aspectos, o mais importante é tratado como segundo plano, a complexidade é
13 ABRAMO, Perseu, Significado Político da Manipulação na grande imprensa, pg. 25, 1988.
31
trocada pela simplicidade, de fácil entendimento e o fato particular passa a ser
tratado como geral.
A inversão da forma pelo conteúdo é assim caracterizada: o texto passa
a ser mais importante que o fato reproduzido pelo mesmo. (ABRAMO, 1988). O
visual, o apelativo sensacionalista passa a valer mais do que a real veracidade
e importância do fato.
No padrão de Inversão da versão do fato, a versão do fato apresentada
pelo veículo jornalístico, pelas fontes, passa a ser mais importante do que o
próprio fato. A imprensa é capaz de sustentar versões mesmo que os fatos
verídicos as desmintam, assim é perpetuada uma obstrução dos fatos de
maneira que não se observe, nem se divulgue a realidade. Perseu Abramo
apresenta dos tipos de extremos nessa situação, o frasismo e o oficialismo.
No frasismo, ocorre o abuso da utilização de frases ou pedaços de
frases sobre uma realidade para a substituir a realidade, acoplado à ocultação,
fragmentação, seleção, descontextualização, etc (ABRAMO, 1988). Um fato
comum é a publicação de frases selecionadas nos órgãos de imprensa, a idéia
do Perseu Abramo é que seria uma manipulação levada a seus limites, assim,
de maneira mecânica, a mídia impressa difunde a sua opinião.
O extremo desse tipo inversão é o oficialismo, a versão ganha caráter de
fonte oficial não apenas de autoridades do Estado ou do governo, mas de
diversos setores da sociedade, a autoridade mais confiável é a do próprio
veículo jornalístico, que aparece no lugar dos fatos, sejam estes
acontecimentos da política nacional ou internacional, ou não.
Há ainda, a inversão da opinião pela informação, na qual o veículo
apresenta a opinião no lugar da informação (ABRAMO, 1988). Dessa maneira,
o jornal vai fazer com que a opinião pública acate automaticamente a opinião
do veículo jornalístico impresso sobre qualquer fato publicado.
No padrão da Indução, o leitor é induzido a ver o mundo não como ele é,
mas sim o resultado final de manipulação dos vários órgãos de comunicação
com os quais ele tem contato (ABRAMO, 1988). O leitor só vai receber em
casa um produto final repleto de idéias trazidas de diversas fontes, no processo
de produção da notícia.
32
Os leitores, no entanto, ao perderem o conhecimento da realidade por
quase sua totalidade, adquirem uma informação já manipulada com várias
opiniões implícitas nas matérias no lugar das informações no intuito de se
formar opinião sobre algo e sem certificar se aquela informação é verídica ou
não.
Após acontecer a substituição do juízo de valor pelo juízo da realidade,
acaba-se deixando seqüelas no leitor, as quais se originam da imposição de
valores distantes do real como verdades irrefutáveis, como a construção de
uma sociedade, cuja opinião pública não assuma posição sobre o que é ou o
que já foi publicado.
Perseu Abramo apresenta também uma avaliação sobre a objetividade e
a subjetividade do jornalismo. Primeiramente, o autor diferencia o conceito de
objetividade de outros conceitos a este relacionados, como neutralidade,
imparcialidade, isenção e a honestidade. Segundo o autor, estas palavras se
situam no campo de ação, dizem respeito a critérios do fazer, do agir, do ser, e
referem-se mais a categorias de comportamento moral. (ABRAMO, 1988).
Abramo diz também que se a objetividade absoluta não existe, ser
subjetivo é então, tentar obter uma objetividade relativa. Portanto, não existiria
nenhuma possibilidade de se obter a objetividade.
O conhecimento da realidade passa a ser mais objetivo quanto mais o
sujeito observador não se prende a aparências (ABRAMO, 1988). A análise da
realidade não se dá de maneira limitada apenas a analisar um fato particular, e
sim obter o conhecimento sobre todas as interconexões que envolvem
determinado acontecimento. Por de meio uma análise geral, é possível se ver
os dois lados da situação, com os seus antecedentes e conseqüências.
Normalmente, quando se busca uma análise da objetividade, não é
apontada a questão de como seria possível um jornalismo com objetividade.
Neste ponto, Perseu Abramo, faz-nos compreender porque os empresários da
comunicação manipulam e distorcem a realidade.
Perseu Abramo explica haver duas vertentes para a explicação do
fenômeno e a possibilidade de estarem corretas: Uma diz que o anunciante
impõe que o empresário da comunicação manipule e distorça as informações,
33
a outra é que a própria ambição do lucro do próprio empresário da
comunicação é o fator determinante da manipulação. Abramo classifica como
mais aceitável a definição de que os veículos jornalísticos hoje são novos
órgãos de poder. (ABRAMO, 1988).
Ainda em Bourdieu, em seu livro Sobre a Televisão, o tipo de violência
que a televisão exerce sobre a opinião pública, é uma violência simbólica que
se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também, dos que a
exercem, na medida uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-
la. (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 22, 1997a). Os jornalistas tanto
manipulam quanto também são manipulados e inconscientes dessa
manipulação.
E essa violência ocorre quanto se é apresentado principalmente pelas
notícias de variedades, em seu caráter sensacionalista, que exploram o sexo, o
sangue, o drama. Atualmente, essas práticas são conhecidas em programas da
TV brasileira como o Pânico na TV, Ratinho, além dos demais tipos de talks
shows, no intuito de se ocultar um debate mais sério sobre temas como
governo federal, a segurança, a desigualdade social, entre outros.
Pierre Bourdieu aponta o que Patrick Champagne chama de fenômenos
de subúrbio, em que a mídia seleciona nessa realidade particular um aspecto
inteiramente particular, em função das categorias de percepção que lhe é
própria. É organizado o percebido, determinando o que se vê e o que não se
vê.
Bourdieu afirma que, na “circulação circular da informação”, os produtos
jornalísticos são mais homogêneos do que parecem, além do mais, as
diferenças evidentes escondem semelhanças profundas ligadas às restrições
impostas pelas fontes e por vários mecanismos, dos quais o mais importante é
a lógica da concorrência (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 31,
1997b). Assim, o monopólio se estrutura e a concorrência ganha mais
diversidade. Logo, a competição na área de jornalismo passa a exercer grande
influência nas atividades dos jornalistas. É comum, por exemplo, encontrarmos
nas bancas vários jornais com as mesmas manchetes e matérias, o que
34
prejudica o acesso do leitor a diferentes pontos de vista sobre os diferentes
fatos.
No mundo globalizado atual, a manipulação passa a ser então
imprescindível para a manutenção deste poder de atuar como órgão político.
Assim, os veículos jornalísticos procuram atuar como partidos políticos,
menosprezando, muitas vezes, o papel do Estado e negligenciando o poder da
opinião pública de impor as suas necessidades.
O mundo capitalista vem se desenvolvendo sob essa lógica de controle,
em que é cada vez mais é comum esse tipo de prática. A diminuir-se a
importância do Estado enquanto nação cria-se mecanismos que dificulta cada
vez mais o conhecimento e a organização política da sociedade.
35
3.2 – Perspectivas sobre o Ensino Superior de Jornalismo
No curso acadêmico de Comunicação Social-Jornalismo vivemos um
exemplo do que vem acontecendo com a educação dos alunos. A visão de
muitos professores jornalistas normalmente está impregnada de valores
jornalísticos deturpados, o que acaba passando os mesmos para os futuros
jornalistas.
Este processo é perigoso, pois se formam novos indivíduos que já se
adequarão à estrutura mercadológica e hierarquizada de uma redação que
produzirá também uma fragmentação da informação, que leva á distorções de
compreensão.
Hoje é preciso que os alunos de comunicação social saibam que a
notícia antes de chegar ao público precisa passar por vários processos que
envolvem a sua produção, que vai desde a apuração dos fatos até o momento
em que o receptor toma conhecimento deles.
A “manipulação jornalística” (MARCONDES FILHO, 1979c) executa um
tratamento para transformar o fato em algo noticiável, para que este se torne
objetivo aos olhos do leitor, de acordo com a ideologização constituída pela
própria maneira de o jornalista organizar os fatos, por vezes, de maneira
inconsciente, através da autocensura, outras conscientemente.
Os valores, portanto, de cada jornalista, orientados sob uma lógica do
sistema econômico vigente está associada aos interesses de sua classe social
de origem e a uma visão mercadológica da informação que passam a serem
reproduzidos pelos veículos de comunicação para a opinião pública, como já
analisado anteriormente.
Estes novos jornalistas farão parte da formação de opinião da sociedade
e integrarão o aparato reprodutor da cultura de massa no Estado. O termo
36
Cultura de massa significa toda cultura produzida para a população em geral e
que, portanto, é veiculada pelos meios de comunicação em massa 14.
Sabe-se que o avanço das tecnologias da comunicação impediu o
avanço de outras culturas alternativas à vigente, que é difusora dos valores de
interesse ao poder dominante.
Theodor Adorno constatou que a Indústria Cultural absorvia as críticas e
os antagonismos sociais. Assim a cultura de massa faz a hegemonia
massificando cultural para melhor servir ao capital, ao desvalorizar qualquer
outra manifestação cultural 15.
Podemos reparar em salas de aula de uma turma de primeiro período de
comunicação existe por muitos a reprodução do que já senso comum devido à
falta de aprofundamento teórico e político em temas nacionais ou internacionais
como a guerra fria ou mesmo uma crise política que ocorra em nosso país,
como a que teve em 2005 com os incidentes de corrupção no congresso, o que
levou à cassação de mandatos de diversos deputados tanto governistas quanto
de oposição ao governo.
Ano a ano, a Cultura de massa brasileira vem reproduzindo as novas
disputas sobre quem será o vencedor do Big Brother Brasil numa tentativa
acertada de desviar a atenção da opinião pública em torno de um debate
imparcial envolvendo a política nacional.
Enquanto isso acontece, na cobertura jornalística brasileira sobre a crise
política do governo Lula, a Revista Veja procurou sempre se apoia com base
no denuncismo em suas matérias. Segundo o editorial do observatório da
imprensa, publicado por Alberto Dines, em 16/5/2006, no primeiro mandato do
governo Lula, a Veja pretendia provar que o presidente e alguns de seus
colaboradores possuíam contas em paraísos fiscais, mas acabou envolvida
numa das maiores fraudes jornalísticas dos últimos tempos. Quando não se
14 Termo utilizado pela Escola de Frankfurt.
15 ADORNO, Theodor. A indústria Cultural (Trad. de Amélia Cohn) in COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e
Indústria Cultural, 5ª., São Paulo: T.A. Queiroz, [1962]1987a, 287-295.
37
tem certeza de uma informação, não se publica esta informação até que seja
confirmada cabalmente. E se não for confirmada, fica na gaveta ou vai para a
cesta do lixo 16.
Os estudantes precisam compreender melhor a nossa realidade de
mundo globalizado. No mundo de hoje, o que é local passa a fazer parte da
esfera internacional e a informação ultrapassa as fronteiras geográficas e vai
para a tela do computador, sendo transmitida via satélite em tempo real, para
qualquer parte do mundo.
Milton Santos afirma que, nunca houve antes essa possibilidade
oferecida pela técnica à nossa geração de se tomar consciência do acontecer
do outro (SANTOS, Milton, Por uma outra globalização, 2000a). E é nesse
sentido que essas relações vem sendo reproduzidas por todo o mundo
globalizado para os vários indivíduos se transformarem em consumidores.
Tanto de bens simbólicos, quanto de bens materiais específicos.
Ainda em Milton Santos, o entendimento do que é o mundo passa pelo
consumo e pela competitividade, e que esse consumismo e essa
competitividade leva à atrofia da personalidade, do conhecimento dos
indivíduos e ocasiona a ausência do homem como cidadão.
Esse tipo de ausência sempre foi comum no Brasil até porque, segundo
o autor, as classes privilegiadas nunca quiseram assumir essa função
enquanto que os pobres jamais puderam (SANTOS, Milton, Por uma outra
globalização, 2000b).
Não é de se estranhar que alguns dos setores mais politizados acabem
sendo os que possuem maior poder aquisitivo e que, quando se revoltam
contra as injustiças sociais, venham a seguir pelo caminho da “esquerda”, ou
até se enveredam pelo lado do socialismo.
Como constatamos, a ideologia capitalista da sociedade brasileira está
impregnada de valores estrangeiros, cada vez mais inclusive, devido aos
avanços das novas tecnologias da comunicação, como o microcomputador e a
16 DIMES, Alberto. “Atentado aos princípios do jornalismo”. In:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=381IMQ007 – consulta em 11/06/2006.
38
aldeia global com a difusão de informações em tempo real através da Internet,
anulando as fronteiras mundiais.
No mundo globalizado, como efeito dos avanços nas tecnologias da
comunicação, as relações interpessoais são afetadas de todas as formas na
sociedade contemporânea brasileira. Os brasileiros vêm historicamente e
progressivamente a se interessar pelos costumes estrangeiros. Até na política,
questões como o neoliberalismo, os ideários do anarquismo e do socialismo no
início do século XX, a política de cotas em universidades públicas e
particulares, foram transpostas de maneira mecânica, muitas das vezes.
Sabe-se que esta característica do jornalismo brasileiro está
intimamente ligada ao histórico hierarquizador da nossa sociedade, na qual
seus formadores de opinião sempre foram as elites, desde a nobreza de
Portugal e, em nosso caso, não houve nenhum movimento revolucionário real
que rompesse com essa estrutura de subordinação aos interesses. No quadro
da globalização, a situação ainda fica mais complexa.
Por fim, é necessário que os docentes do curso de comunicação social-
Jornalismo prezem pela ética na facilitação do aprendizado do aluno para que
ele não seja também impregnado de idelogias ou concepções deturpadas
sobre os fatos jornalísticos no futuro.
39
CONCLUSÃO
Devido ao nosso histórico como país é fato de que hoje a sociedade
brasileira vive numa crise de cultura de massa. Os jornalistas atuam cada vez
mais como uma organização política em nosso país, determinando valores e
deturpando tudo o que for de encontro aos seus interesses.
Vivemos também o reflexo da alienação que as tecnologias que
envolvem a vida social trazem, pois estamos mais próximos um do outro, mas
com um contato cada vez mais consumista. Mesmo em países mais atrasados
economicamente como o Brasil isso não impede de ocorrer este efeito, pois
vivemos num mundo globalizado.
Cabem a nós, educadores, mudarmos essa realidade, fazendo o
diferencial na sala de aula no intuito de formarmos profissionais mais
competentes e que sigam mais os valores universais da ética.
40
ANEXOS
O autor utiliza esse espaço para trazer conteúdos de apoio,
objetivando aprofundar a prática da pesquisa e suas diferentes formas de
produção. Assim, o educando recebe uma bibliografia de apoio na confecção
de questionários, entrevistas, mensuração dos resultados entre outros.
Anexo >> Internet 41
Anexo>> Gráfico 44
41
A Internet é um sistema autosustentável?
Peter A. B. Schultz
A Internet é hoje em dia, alguns anos após o início da sua expansão além dos limites dos centros de pesquisa, o grande meio para o intercâmbio de informações, abrangendo um leque crescente de atividades e áreas do conhecimento; bem como de realização de operações, muitas das quais inimagináveis sem a intervenção humana direta há apenas dez anos. Essa diversidade do uso da Internet e da WWW (World Wide Web), seu veículo multimídia, é o tema de vários outros artigos dessa edição. Um exercício interessante para avaliar a importância da Internet sobre o cotidiano é tentar imaginar impactos similares, que os adventos das redes de energia elétrica e de telefonia devem ter causado em suas épocas iniciais.
A analogia com as redes de energia elétrica e de telefones é o ponto de partida para introduzir dois conceitos relativos à pergunta do título: sustentabilidade e vulnerabilidade dessas redes. De fato, existem muitas semelhanças: um endereço na WWW pode ser comparado a um número disponível na lista telefônica ou a uma conexão de uma residência (localizada na rua tal, número tal) à rede de fornecimento de energia elétrica. Cada uma dessas conexões são nós de uma rede ligados a outros nós principais (subestações ou centrais telefônicas), formando o que pode ser chamado de sistema complexo. Esses sistemas funcionam bem a maior parte do tempo. Às vezes, alguns telefones ficam mudos temporariamente, o que não afeta o funcionamento do resto do sistema. Isso caracteriza a autosustentabilidade de um sistema complexo. Por outro lado, o apagão ocorrido em 21 de janeiro de 2002, devido à queda de uma linha de transmissão importante, mostra outra característica desse tipo de rede: a vulnerabilidade frente a acidentes (ou sabotagens) em seus nós ou conexões principais.
A comparação acima é, no entanto, apenas parcial, pois a coleção de "sites" e páginas da WWW, construídas a partir do conceito de hipertexto, cresce a cada instante, junto com uma modificação constante das ligações entre as páginas, sem uma coordenação central como ocorre para as redes de telefones e de energia elétrica. A WWW é, portanto, uma rede complexa, que cresce e se modifica continuamente sem um controle central! Tal sistema complexo pode crescer indefinidamente e continuar funcionando? A Internet só se justifica se as informações ou serviço que buscamos puderem ser de fato localizados e acessados. No final dos anos 80, bem antes do desaparecimento das limitações ao uso comercial da Internet (1995), tentou-se criar uma indexação do conteúdo na rede nos moldes da biblioteconomia tradicional. Esse procedimento logo mostrou-se inviável com o rápido
42
crescimento do número de nós e páginas. Para se ter uma idéia, em junho de 1993 existiam apenas 130 "sites", enquanto que em março de 2002 esse número chegou a mais de 38 milhões! A viabilidade da Internet e do seu crescimento foi garantido pelo aparecimento dos navegadores em 1993 e mais recentemente dos programas de busca. No momento a tecnologia computacional carrega a maior parte da responsabilidade de organizar a informação na Internet. Um breve resumo dessa história da Internet pode ser encontrada na "Hobbes' Internet timeline", que disponibiliza também dados interessantes sobre o crescimento da rede.
A tecnologia de busca está longe de ser ideal. Uma pesquisa realizada em 1998 (Searching the World Wide Web, S. Lawrence e C. Lee Giles, Science vol. 280, p. 98 (1998)) mostrou que o tamanho da WWW indexável (coleção de documentos catalogados pelo cruzamento de dados disponíveis nos principais programas de busca) na época era de 320 milhões de páginas (hoje em dia são mais de 1 bilhão) , mas que o tamanho real seria muito maior e de um modo geral todas as estimativas subestimavam significativamente o número de páginas. Além disso, verificou-se que os programas de busca cobriam entre 3% e 34% da WWW indexável! Com o contínuo desenvolvimento de programas de busca inteligentes essa porcentagem tende a crescer.
O problema da busca e intercâmbio de informações na rede criou uma nova área de atuação: a engenharia de tráfego da Internet. A relevância dessa atividade é bem descrita no artigo "Internet tomography" de K. Claffy e colaboradores, que considera a infraestrutura da Internet como um "equivalente cibernético de um ecosistema" (outro sistema complexo!). De acordo com esses autores, bem como com a experiência cotidiana de qualquer usuário da Internet, "sem um monitoramento adequado e análise do comportamento do tráfego da Internet, a habilidade dessa infraestrutura de continuar crescendo e desenvolvendo completamente seu potencial poderá ser seriamente comprometida". Nesse sentido passaram a ser desenvolvidas ferramentas computacionais para fazer tomografias da rede, que constituem os passos preliminares no diagnóstico dos problemas de tráfego e estratégias de melhoria das ferramentas de busca e organização das informações contidas na WWW. Um programa interessante com esse propósito é o CAIDA, sigla para "Cooperative Association for Internet Data Analysis".
As tomografias (mapas) dos documentos na Web possibitaram aos cientistas a busca de modelos matemáticos que descrevessem a estrutura e o crescimento dessas redes. Descobriu-se que a Internet (e a WWW) pertence a uma classe de redes chamada de "redes livres de escalas" (scale-free networks). O que vem a ser esse tipo de rede? Nesse tipo de rede é estatisticamente significativa a existência de nós ("sites" ou páginas) ligados a um número muito grande de outros nós. Ao mesmo tempo, a probabilidade de encontrar nós com um dado número de conexões aumenta à medida que esse número de conexões diminui. Em resumo, a Internet possui um número pequeno (mas significativo!) de nós com um número muito grande de "links", enquanto que a grande maioria dos nós mostra um número muito pequeno desses "links". É o caso deste hipertexto, por exemplo, acessível através de uma única conexão (comciencia) e a partir do qual é possível acessar diretamente apenas 5 páginas. Uma outra maneira de dizer isso é que a conectividade da rede é não homogênea. As duas principais características de uma rede livre de escalas é
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que são robustas (apresentam um alto grau de tolerância frente a falhas), mas ao mesmo tempo vulneráveis. Para entender essas características precisamos definir ainda uma medida do tamanho da rede, chamada de "diâmetro da Internet". O tamanho da rede é simplesmente o número de "clicks no mouse" necessários para ir de uma página a outra qualquer na Web. Esse número seria de apenas 19 em média (Diameter of the World-Wide-Web, Barabási e colaboradores), embora o número de páginas exceda a um bilhão! Trata-se, portanto, do que chamamos de mundo pequeno, característica compartilhada pela rede de relacionamentos pessoais (Apesar de sermos mais de seis bilhões de habitantes, o número médio de elos na cadeia de "sou amigo de fulano, que conhece sicrano, que conhece beltrano" é de apenas seis relacionamentos entre quaisquer pessoas na Terra. Uma leitura complementar a essa discussão, bem como ao resto deste artigo, é o texto de divulgação Physics of the Web, de Albert-Lazlo Barabási).
O diâmetro da Internet mantém-se praticamente inalterado se 2,5% das conexões forem rompidas de forma aleatória. Isso significa que, em geral, é fácil encontrar um desvio na rede em torno de um "link" interrompido, sem para isso ter que aumentar significativamente o número de "clicks no mouse". É um pouco como se deparar com o trânsito impedido numa rua e fazer um desvio em volta do quarteirão. Esse número, 2,5%, parece pequeno, mas o importante é que é muito maior que a taxa atual de falhas de conexão na Internet, cerca de 0,33%. A rede é, portanto, robusta e altamente tolerante frente a erros aleatórios (como no caso dos telefones mudos isoladamente). A potencial má notícia, no entanto, reside na outra ponta dessa rede livre de escalas, ou seja, nos nós altamente conectados. Quando um número pequeno desses nós é desconectado (por causa de um acidente, ou mesmo uma sabotagem), a estrutura de toda a rede é modificada drasticamente e o diâmetro da mesma pode chegar a dobrar, o que pode inviabilzar a comunicação devido à sobrecarga nas demais conexões, bem como levar à fragmentação de toda a rede em pequenas sub-redes isoladas. (Ver também "The Internet Achilles' Heel", Barabási e colaboradores). Na verdade o problema pode ser mais sério ainda, como no exemplo mencionado do apagão, ocorrido devido à queda de uma única linha de transmissão.
Esses estudos sobre a estrutura (ou topologia), dinâmica de crescimento e rearranjos na presença de falhas de redes como a Web, são exemplos de "fenômenos emergentes", isto é, fenômenos que não podem ser previstos a partir das poucas regras (ou leis) básicas que regem a evolução do sistema, mas que são manifestações que surgem apenas quando esses sitemas passam a ter um determinado tamanho. No caso da Internet e da Web, as características emergentes são tais que o crescimento autosustentável é diretamente vinculado à possibilidade de colapso frente a falhas em um número pequeno de pontos estratégicos. As necessidades tecnológicas e econômicas de garantir a viabilidade da Internet levaram à disponibilidade de dados cada vez mais completos de sua estrutura, tornando-a quase um padrão para estudos fundamentais sobre sistemas complexos e seus fenômenos emergentes. Ao mesmo tempo, as questões levantadas por tais estudos de Ciência Básica são extremamente relevantes para monitorar e desenvolver a eficiência do tráfego de informações na Internet.
Peter Schulz é professor do Instituto de Física da Unicamp.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 5
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
1.1 - 10
1.2 - 15
CAPÍTULO II
2.1 - 18
2.2 - 21
CAPÍTULO II
3.1 - 25
3.2 - 35
CONCLUSÃO 39
ANEXOS 40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
ÍNDICE 47
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
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