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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E O ENSINO SUPERIOR DE JORNALISMO Por: Célio de Azevedo Júnior Orientador Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E O ENSINO

SUPERIOR DE JORNALISMO

Por: Célio de Azevedo Júnior

Orientador

Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO E O ENSINO SUPERIOR DE JORNALISMO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior

Por: Célio de Azevedo Júnior

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AGRADECIMENTOS

....aos amigos e pessoas queridas,

meus pais e amigos que sempre

estiveram do meu lado em minhas

idéias.

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DEDICATÓRIA

.....Dedico às pessoas especiais, meus

pais e amigos que sempre me apoiaram

nessa jornada.

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METODOLOGIA

Este trabalho realiza uma pesquisa bibliográfica através de livros,

documentos, etc, na perspectiva de entender esse processo tecnológico na era

da globalização, sobre a sua informatização no período entre o final do século

XX até os dias hoje e seu impacto na educação superior brasileira do curso de

jornalismo.

Os autores relacionados ao ensino superior e a área de comunicação

social trabalhados são Pierre Bourdieu, McLuhan, Pierre Levy, Edgar Morin,

entre outros.

O motivo da escolha desse tema é que alguns são grandes autores de

grande importância que compreendem o auge dos avanços das tecnologias da

comunicação, como a minituarização dos computadores a criação da WWW

(World Wide Web), assim como outros entendem a Educação e seu papel na

formação do indivíduo na sociedade.

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RESUMO

Devido ao nosso histórico como país é fato de que hoje a sociedade

brasileira vive numa crise de cultura de massa. Os jornalistas atuam cada vez

mais como uma organização política em nosso país, determinando valores e

deturpando tudo o que for de encontro aos seus interesses.

Cabem a nós, educadores, mudarmos essa realidade, fazendo o

diferencial na sala de aula no intuito de formarmos profissionais mais

competentes e que sigam mais os valores universais da ética.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - CONTEXTO HISTÓRICO

1.1 - A COMUNICAÇÃO SOCIAL E O

AVANÇO DA GLOBALIZAÇÃO 10

1.2 – A EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA

E O CAPITALISMO 15

CAPÍTULO II – A DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 - O JORNALISMO E SUAS REPRESENTAÇÕES 18

2.2 – O ENSINO SUPERIOR E A COMUNICAÇÃO SOCIAL 21 CAPITULO III – COMPARAÇÕES SOBRE TEORIAS

3.1 – PERSPECTIVAS SOBRE O JORNALISMO 25 3.2 – PERSPECTIVAS SOBRE O ENSINO SUPERIOR DE JORNALISMO 35

CONCLUSÃO 39

ANEXOS 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO 48

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho analisa os avanços das novas tecnologias da

comunicação nos anos 1990, após o fim da guerra fria, que representou um

divisor de águas no mundo no século XX das novas relações humanas

interpessoais e que afetou a educação superior devido ao avanço tecnológico

que a globalização nos proporcionou nos últimos anos, com enfoque principal

ao curso de comunicação social-jornalismo.

A escolha desse tema se deu por conta das constatações feitas pelos

pesquisadores de que os meios de comunicação e a educação se constituem

em poderes atuantes na formação da opinião pública e na construção de uma

nova realidade através de novas representações.

Nesta pesquisa é realizada uma reflexão teórica com base em diversos

autores como Pierre Bourdieu, Pierre Lévy, Marshall Mcluhan entre outros que

apresentam suas teorizações sobre as novas tecnologias da comunicação e

outros como Edgar Morin e Piaget que também podemos utilizar para analisar

a educação.

Após o fim da guerra fria, o mundo antes bipolarizado passa a ser

hegemonizado pelo capitalismo. Assim, a globalização se torna cada vez mais

presente e juntamente com ela, o avanço das novas tecnologias como a

Internet, com a criação da WWW (World Wide Web) afeta as relações

interpessoais e seus instrumentos de mediação.

Sabe-se que não há como fugir da era da informática, cada

estabelecimento comercial hoje em dia ao menos um computador contendo o

cadastro de todos os seus sócios, assim como no governo, as informações já

são arquivadas em computadores, além de possuirmos também o convívio com

as urnas eletrônicas nas eleições.

Ao demonstrar em como as novas tecnologias afetam a metodologia do

ensino superior no curso de jornalismo na realidade brasileira nos tempos de

hoje, podemos conceber que:

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• As novas tecnologias da comunicação estruturalmente trazem a fuga da

realidade.

• As tecnologias que envolvem a vida social alienam as relações pessoais.

E mesmo em países em desenvolvimento como o Brasil isso não

impede de ocorrer este efeito que acontece nos países economicamente

ricos, como os EUA.

Essa monografia se divide em três capítulos:

• Capítulo 1 - Contexto Histórico.

• Capítulo 2 - A discussão teórica.

• Capítulo 3 – Comparações entre teorias

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CAPÍTULO I – CONTEXTO HISTÓRICO

1.1 - A Comunicação Social e o avanço da globalização

A evolução da Imprensa do Brasil está diretamente relacionada à

expansão do capital comercial na época do escravismo através dos

portugueses nos tempos de colônia e surgiu a partir do fortalecimento das

elites brasileiras.

A relação com a educação é que os meios de comunicação social

contribuem na formação da opinião e da cultura do povo brasileiro por conta do

déficit histórico que existe de investimentos na área de educação em nosso

país.

Um exemplo desse fato é que hoje em dia ouve-se falar mais sobre o

eliminado do BBB (Big Brother Brasil) ou sobre futebol do que em temas como

o papel das células tronco no combate de doenças genéticas ou a reforma

tributária, fruto de nosso passado colonizador, proveniente do período em que

nossos índios foram catequizados pelos portugueses e, assim, foi implantada a

religião católica.

Portanto, é fundamental conhecer também a história da comunicação e

seu processo de institucionalização no Brasil, em particular o Jornalismo, para

entendermos melhor a educação brasileira e a sociedade como um todo.

A História do Jornalismo brasileiro se confunde com a história do

capitalismo no Brasil. Analisando-se o que podemos chamar do início da

imprensa, é possível que desvendamos por quais meandros o mundo passou

para sabermos para onde vamos. É preciso saber que o jornal impresso foi

uma das primeiras publicações do mundo, assim como a Bíblia.

O conceito de Imprensa foi derivado da prensa móvel, criada por

Johannes Gutenberg, no século XV, porém há informações de que a Imprensa

já existia desde o século I, através do exemplo do Acta Diuma dos romanos,

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que trazia diversos assuntos, como obituários, notícias do governo e crônicas

esportivas.

Segundo Sodré, todas as invenções, assim como a de Gutenberg,

resultaram de uma necessidade social, que o desenvolvimento histórico gerou

e que estava vinculado a ascensão da burguesia em seu sentido mercantilista

(SODRÉ, Nelson, História da Imprensa no Brasil, pg. 2, 1999).

A imprensa da época apenas era de interesse a elementos e de classes

e camadas numericamente reduzidas, entretanto, o desenvolvimento da

imprensa foi muito desenvolvido e facilmente controlado pelas autoridades do

governo.

Portanto, poderosas forças econômicas empenharam-se em debilitar

esse controle, eram as forças do capitalismo em ascensão: o princípio de

liberdade de imprensa, que foi antecipado na Inglaterra vai ser encontrado,

então, tanto na Revolução Francesa quanto no pensamento de Jefferson nos

EUA, que correspondia aos anseios da Revolução Americana (SODRÉ, 1999).

Ainda em Lage, a imprensa, como um todo ou em grande parte, é o

resultado das apropriações e desenvolvimentos de recursos técnicos criados

por outras culturas 1. A imprensa já existia como possibilidade material muito

antes da exigência social que a fez brotar.

O papel já era conhecido e usado nos países orientais, Pi Cheng já

utilizava caracteres tipográficos móveis de cerâmica entre 1040 e 1050, depois,

passaram a fazer o mesmo no Turquestão, entre 960 e 1280.

A técnica foi desenvolvida também na Coréia, 1830. Bem antes de

Gutenberg ter difundido à Bíblia em 1450, o que faz com que afirmação de que

a imprensa existia antes de Gutenberg seja contestável.

O primeiro jornal em papel foi inventado na China, o Notícias Diversas,

que foi formado em 713 D. C, em Pequim. Em 1041, lá foi inventado também o

tipo móvel, porém a iniciativa não conseguiu se espalhar pelo mundo, pois o

alfabeto chinês é muito mais complexo que o latino.

1 LAGE, Nilson, Ideologia e Técnica da Notícia, pg. 9, 1987.

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Mas a ascendente burguesia da época precisava expandir seus

domínios pela Europa, a fim de derrubar o feudalismo e de instaurar o

capitalismo no mundo.

Portanto, precisava de heróis que personificassem os ideais da

sociedade moderna que nascia, sendo Gutenberg, um bom exemplo do

burguês empreendedor.

Ainda em Lage, o mais antigo predecessor do jornalista moderno surgiu

na Itália do século de Petrarca, os burgos da Costa Ocidental, enriquecidos

pelo comércio com os navegadores árabes, desenvolveram uma forma nova de

vida, baseada na concentração urbana 2.

Os primeiros jornais foram na Alemanha. Os Avvisi, que eram folhas

manuscritas a favor das elites da época, assim como as Zeitungem, nos

séculos XIII e XIV.

A leitura e a escrita passaram, portanto, a ser ferramenta de muitos para

se poder atuar em uma civilização que crescia seguindo os passos do

mercantilismo, na expansão do comércio das indústrias pelo mundo.

No século XX, a mídia impressa se globaliza e entra na era das grandes

corporações. Na era do grande capital, os trabalhadores assalariados

jornalistas tiveram de sofrer calados muitas vezes para seguir toda a orientação

da linha editorial que o dono do jornal possuía, mais claramente, podemos

dizer que a mídia impressa em geral opera em função dos anunciantes e dos

seus interesses político-econômicos.

Estas empresas, que por serem sociedades anônimas ou limitadas,

possuem donos, que possuem opinião política e as difundem, já que as

decisões aplicadas pelo Estado podem afetar e muito o seu lucro.

No Brasil, o caráter de formação do Estado capitalista se deu de uma

forma pactuada. De acordo com Mazzeo, a nobreza aburguesa-se e acaba

reforçando o processo de concentração de capitais e, concomitantemente,

constrói um aparelho estatal de acordo com seus interesses e projetos 3.

2 Idem, Ibiden, pg. 10. 3 MAZZEO, Antonio Carlos, Sinfonia Inacabada, pg. 111, 1999.

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O autor diz também que diferentemente do ocorrido na via clássica, não

há uma ruptura revolucionária com as antigas classes de dominantes, percebe-

se que o novo, representado pelo capitalismo, “paga um pesado tributo ao

velho”.

A situação é, portanto, muito diferente do que aconteceu na Inglaterra e

na França, onde que os movimentos sociais participaram mais das decisões

nacionais.

As elites continuaram ocupando os seus mesmos lugares na sociedade,

essa transição por reformas ao capitalismo, chamadas por Lênin de via

prussiana de desenvolvimento do capitalismo.

Segundo, Mazzeo, em seu livro Sinfonia Inacabada, é fato de como o

Brasil é um caso comum de formação de extração colonial, a via brasileira é de

via prussiano-colonial 4.

A maneira de como isso se apresenta está vinculada ao período extenso

que tivemos como colônia de Portugal, e a sua tradição exploradora vinculada

à transição moderada à condição de reino unido, quando a imprensa chegou

ao Brasil junto com D. João VI, depois a de Império independente, por um

pacto de elites, à condição de república.

Portanto, a sociedade civil nunca teria participado ativamente dos

acontecimentos políticos, e no que condiz a classe trabalhadora, esta é

reconhecida no Brasil como a da maioria da população, vista como uma massa

politicamente.

Isso acontece devido ao advento da Corte de D. João, que fez com que

parte da imprensa brasileira surgisse com a proteção oficial do império. O

Gazeta do Rio de janeiro, é fundado no dia 10 de setembro, defendendo a

corte de Portugal.

Porém, a história do jornalismo brasileiro também é marcada por lutas,

Hipólito José da Costa que defendia idéias liberais já havia fundado o Correio

Braziliense antes, em junho de 1808. Este jornal pregava a libertação do Brasil

de Portugal. O jornal entrava escondido nos porões dos navios que

transportavam mercadorias e escravos.

4 Idem, Ibiden, pg. 113.

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Até o ano de 1999, a data de fundação da imprensa brasileira era

comemorada no dia 10 setembro, em referência à primeira publicação do jornal

Gazeta do Rio de Janeiro.

Atualmente, a comemoração acontece no dia primeiro de junho, dia da

fundação do Correio Braziliense, veículo de comunicação que circulou até

dezembro de 1822, contando 175 números editados no total.

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1.2 - A Educação Superior brasileira e o Capitalismo

No século XIX, na época da fuga da família real ao Brasil por conta do

domínio de Napoleão na Europa, não havia universidades no Brasil. A primeira

instituição de ensino superior do país foi fundada no dia 18 de fevereiro de

1808, oito dias antes da partida da família real para o Rio de Janeiro. Ela foi

instalada no Hospital Real Militar, ocupando as dependências do Colégio dos

Jesuítas, no Largo do Terreno de Jesus.

Assim entende-se que a vinda da família real portuguesa foi fundamental

para o ensino superior, pois antes Portugal não permitia a criação de nenhuma

faculdade em suas colônias. Ao passo que nas colônias espanholas, existiam

universidades desde o século XVI.

Os primeiros cursos a existirem no Brasil foram os de medicina e o de

direito. Era comum que as famílias mais abastadas financeiramente da época

colocassem os seus filhos para estudar estes cursos, muitos já estudavam na

Europa.

No século XX, as intervenções norte-americanas no ensino superior

brasileiro começaram a surgir, com a intervenção da Fundação norte

americana Rockefeller, com as suas relações filantrópicas com a Universidade

de São Paulo (USP) durante o período entre 1930 e 1950.

Dessa forma, os ideais capitalistas do american way of life, em sua fase

mais expansionista econômica e cultural, assim como os europeus da mesma

forma criaram caminhos mais eficientes para a intervenção estrangeira na

educação dos países em desenvolvimento.

Durante a ditadura militar, os acordos MEC/USAID entre o governo

brasileiro e o governo norte-americano, através da USAID (Agência norte-

americana para o Desenvolvimento Internacional), voltados para a cooperação

entre os dois países, visavam à reforma do sistema educacional do Brasil.

Nessa época havia no mundo uma redefinição da hegemonia econômica

e social após a Segunda Guerra Mundial, com a ascensão econômica dos

Estados Unidos e a recessão na Europa. No interior da educação brasileira a

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situação não foi diferente. A hegemonia cultural francesa se manteve na área

de humanas, dando lugar à norte-americana nas exatas e biológicas.

O curso primário, de quatro anos, e o ginásio, de cinco anos, foram

fundidos formando assim o primeiro grau, com oito anos de duração e o curso

clássico se fundiu com o científico, formando o antigo segundo grau (atual

Ensino Médio). O curso universitário passou a ser chamado de Terceiro grau,

copiando assim os modelos norte-americanos de ensino.

Relembramos o que o assessor da USAID, Rudolph Atcon, convidado da

Diretoria de Ensino Superior do MEC para ser um dos principais idealizadores

da reformulação da universidade brasileira e do Conselho de Reitores das

Universidades Brasileiras - o CRUB.

De acordo com Atcon o Ensino Superior deveria se libertar de todas as

malhas do Estado, ter total autonomia para se desenvolver enquanto empresa

privada. Sua administração deveria acompanhar o modelo industrial de gestão.

A análise dos conteúdos dos programas e propostas do assistente da

USAID é um instrumento importante para estabelecermos as relações

necessárias entre os interesses das classes dominantes brasileiras e os

interesses do capital norte-americano 5.

Podemos entender então que as reformas educacionais só podem ser

entendidas através da articulação dialética entre a mundialização do capital e a

luta pela hegemonia política (luta de classes).

Hoje, incontáveis instituições de ensino superiores públicas e

particulares vêm se adaptando às novas tecnologias da informação. Com a

adoção do ensino a distância facilitada com a popularização da WWW (World

Wide Web) e a minituarização dos computadores além de sua adoção em

laboratórios específicos notamos o impacto do avanço dessas novas

tecnologias sobre a educação superior brasileira.

Aliás, antes mesmo da popularização dos computadores pessoais os

computadores já estavam aos poucos sendo introduzidos em centros de

pesquisas de grandes universidades pelo mundo. 5 PPE/UEM http://www.ppe.uem.br/publicacao/sem_ppe_2003/Trabalhos%20Completos/pdf/057.pdf acessado em

15/03/2008.

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No mercado de trabalho dos últimos anos convivemos com a extinção de

vários postos de trabalho, que são substituídos por computadores, além da

necessidade da especialização de antigos funcionários para se adaptarem à

era digital.

Os EUA representam ainda mais um grande pólo difusor de cultura

capitalista no mundo. Sabemos que não existe ainda pelo menos, um grande

país que possa ir de encontro a essa grande potência. Dessa forma, os países

periféricos como o Brasil estão sujeitos à influência norte americana.

A maior prova deste fato é a “enxurrada” de informações recebidas pela

mídia sobre os acontecimentos nos Estados Unidos, já que estes além de ser a

maior economia do mundo globalizado são também grandes interventores na

política de países mais atrasados economicamente e socialmente como o caso

do Brasil.

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CAPÍTULO II – DISCUSSÃO TEÓRICA

2.1 – O Jornalismo e suas representações

De acordo com Bourdieu, em seu livro Sobre a Televisão, o tipo de

violência que a televisão exerce sobre a opinião pública, é uma violência

simbólica que se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também,

dos que a exercem, na medida que uns e outros são inconscientes de exercê-

la ou de sofrê-la. (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 22, 1997a). Os

jornalistas tanto manipulam quanto também são manipulados e inconscientes

dessa manipulação.

E essa violência ocorre quando se é apresentado principalmente pelas

notícias de variedades, em seu caráter sensacionalista, que exploram o sexo, o

sangue, o drama. Atualmente, essas práticas são conhecidas em programas da

TV brasileira como o Pânico na TV, Ratinho, Big Brother Brasil, além dos

demais tipos de talks shows, no intuito de se ocultar um debate mais sério

sobre temas como governo federal, a segurança, a desigualdade social, entre

outros.

Pierre Bourdieu aponta o que Patrick Champagne chama de “fenômenos

de subúrbio”, em que a mídia seleciona nessa realidade particular um aspecto

inteiramente particular, em função das categorias de percepção que lhe é

própria. É organizado o percebido, determinando o que se vê e o que não se

vê.

Bourdieu afirma que, na “circulação circular da informação”, os produtos

jornalísticos são mais homogêneos do que parecem, além do mais, as

diferenças evidentes escondem semelhanças profundas ligadas às restrições

impostas pelas fontes e por vários mecanismos, dos quais o mais importante é

a lógica da concorrência (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 31,

1997b). Assim, o monopólio se estrutura e a concorrência ganha mais

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diversidade. Logo, a competição na área de jornalismo passa a exercer grande

influência nas atividades dos jornalistas. É comum, por exemplo, encontrarmos

nas bancas vários jornais com as mesmas manchetes e matérias, o que

prejudica o acesso do leitor a diferentes pontos de vista sobre os diferentes

fatos.

No mundo globalizado atual, a manipulação passa a ser então

imprescindível para a manutenção deste poder de atuar como órgão político.

Assim, os veículos jornalísticos procuram atuar como partidos políticos,

menosprezando, muitas vezes, o papel do Estado e negligenciando o poder da

opinião pública de impor as suas necessidades.

O mundo capitalista vem se desenvolvendo sob essa lógica de controle,

em que é cada vez mais comum esse tipo de prática. A diminuir-se a

importância do Estado enquanto nação cria-se mecanismos que dificulta cada

vez mais o conhecimento e a organização política da sociedade.

Após Revolução Russa, em 1917, Vladimir Lênin já se declarava contra

a publicação de jornais privados que fossem contra o modelo de sistema

econômico de governo socialista, e que não possuíssem nenhum tipo de

vínculo com o Partido Comunista da União Soviética ou com os antigos

Conselhos, os “Sovietes”.

Porém, esse tipo de relação entre os comunistas e a imprensa sempre

foi comum desde o próprio nascimento do marxismo durante o século XIX.

Segundo Karl Marx, a função da imprensa é ser o cão-de-guarda público, o

denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente

do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade (MARX, 1980).

Karl Marx era contra a liberdade de imprensa, da forma que esta se

apresenta no ideário burguês, considerando que, com essa liberdade, há sérios

riscos de um sistema como o socialismo perder o seu poder político. Lênin

critica a liberdade burguesa em seu livro, Como Iludir o Povo. Segundo ele, a

liberdade nos países ditos “civilizados” como na França, Inglaterra e nos EUA

seria uma farsa, já que a liberdade soviética, ao contrário das outras existentes

no mundo, seria escrita em sua própria constituição, na qual legaliza a

propriedade privada, ao passá-la para classe dominante no momento, “a classe

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trabalhadora”, e que nunca haveria no mundo uma revolução que estivesse

garantida, sem que existissem situações de desesperados sacrifícios (1979).

E por esses motivos os jornais A causa do povo e Sempre em frente

foram proibidos de circular porque, segundo Lênin, os seus representantes

davam à maioria de seus ataques ao Bolchevismo uma característica natural e

uma aparência de crítica teórica, porém superficial (LENIN, Vladimir, Como

Iludir o povo, pg. 12, 1979) 6.

Theodor Adorno, filósofo alemão da Escolha de Frankfurt, que analisou a

mídia norte-americana entendeu que por trás de toda o acesso à informação

que a sociedade possuía, em que rádios, filmes, revistas e jornais, atuavam de

maneira livre e independente, havia uma espécie de monopólio ideológico cujo

objetivo era a domesticação das massas 7.

Pierre Bourdieu afirma que o poder simbólico é um poder de construção

da realidade que tende a estabelecer o sentido imediato do mundo

(BOURDIEU, Pierre, O Poder Simbólico, pg, 9, 1989). Ou seja, para se mudar

o sentido da realidade é necessário que, para isso, um controle sobre os meios

de comunicação responsáveis pelo poder simbólico.

Bourdieu afirma que os poderes simbólicos, como instrumentos de

comunicação, só podem exercer um poder estruturante na sociedade porque o

poder simbólico é um poder de construção da realidade (BOURDIEU, 1989).

As ideologias, como oposição ao mito, servem a interesses particulares

que passam a serem apresentados como interesses universais (BOURDIEU,

1989). Assim, os interesses do socialismo científico, que refletem, por sua vez,

os interesses da classe trabalhadora passam a valer também para todos na

sociedade em que o novo sistema econômico-político vigora.

6 Trata-se de uma posição radical, mesmo que centrada no interesse da classe trabalhadora, seus representantes e do

Estado. Esta posição vem se justificando em nome dos “desesperados sacrifícios” em nome do socialismo.

7 M.Horkheimer e Theodor Adorno analisaram a Indústria Cultural, em 1947 nos estudos da Escola de Frankfurt.

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2.2 – O Ensino Superior e a Comunicação Social

No que compreende a comunicação “de massa” podemos buscar uma

compreensão da construção do Estado atual como o aparato difusor da

hegemonia dominante, através dos instrumentos de reprodução simbólica do

sistema econômico presente.

Ciro Marcondes Filho diz que o jornalismo, normalmente, atua junto com

grandes forças econômicas e sociais: um conglomerado jornalístico raramente

fala sozinho. Ele é ao mesmo tempo a voz de outros conglomerados

econômicos ou grupos políticos que querem dar às suas opiniões subjetivas e

particularistas, o foro da objetividade (1989). O jornalismo ao atuar de acordo

com os poderes econômicos e políticos, funciona como instrumento pelo qual,

os grupos econômicos e políticos que detém o poder, utiliza para difundir os

seus interesses de classe e transformá-las em senso comum, assim, a

imparcialidade se torna impossível.

Nessa perspectiva, o autor apresenta uma relação de jornalismo e poder

social, afirma que a classe dominante em qualquer sistema econômico, ao se

apropriar dos seus meios de produção, passa também a influenciar, direta ou

indiretamente, tudo o que é produzido dentro da esfera da comunicação social.

A imparcialidade apresenta-se apenas como mero discurso reprodutor

de uma idéia de que a objetividade deve ser perseguida por meio de

concepções impregnadas de valores morais pertencentes à ideologia do

sistema econômico, os quais os grupos financeiros e políticos desejam

transmitir as notícias à opinião pública.

A mesma massa que segue, é influenciada pelos formadores de opinião,

que agem no interior dos meios de comunicação colocando a população na

posição de passividade, uma vez que está excluída do processo de decisão

sobre o que é verdadeiro interesse público. Estamos sujeitos à chamada, por

Ciro Marcondes Filho, na qual apresenta-se ao público notícias que, de forma

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sensacionalista, a atemorizam, misturadas em outras amenas e superficiais

que a tranqüilizam e o fazem retornar a posição passiva.8

Ao se fragmentar a informação, a verdade fica distorcida para se

transformar em notícia e se adaptar às concepções mercadológicas, políticas e

ideológicas do veículo jornalístico.

A dependência da imprensa nos países em desenvolvimento ainda é

maior por conta de um Estado subserviente às elites dominantes, como o que

acontece no Brasil. Roberto da Matta (1979) diz que a sociedade brasileira se

divide em duas coletividades, um Estado Nacional moderno e igualitário, que

nasce a partir da proclamação da república com inspiração no modelo do

individualismo burguês norte americano e uma Sociedade Hierarquizada,

devido ao fato de termos sido colônia de exploração das grandes metrópoles.

Assim como ainda hoje as elites dominantes reproduzem os seus valores

simbólicos dentro da ideologia capitalista dominante.

E como diziam os pensadores da Escola de Frankfurt, os meios

massivos são braços difusores da ideologia capitalista, a situação de

manipulação política da opinião pública é ainda mais evidente num país em

que os veículos de informação estão concentrados nas mãos de um grupo

reduzido de “famílias” poderosas.

A própria formação da imprensa em geral exige que esta mantenha um

controle sobre os seus receptores. É comum observarmos a despolitização por

parte de grande parte do público. Isso decorre da cultura de acomodação como

afirma Ciro Marcondes Filho (1989), na qual atemoriza-se e logo depois de

tranqüiliza o receptor da notícia, com as soft news se contrapondo as hard

news 9.

É fundamental para a existência da imprensa essa tranquilização, esse

“equilíbrio” que o público é levado a ter para que continue consumindo os

jornais e produtos anunciados. E, sobretudo, não se rebele, não se insurja

contra o establishment, dando aos jornalistas a função de denunciar, se

8 A Mídia também apresenta uma parte “quebrada” da realidade, deixando a população distante de uma compreensão

maior dos problemas existentes na sociedade. 9 Um bom exemplo é a forma como o Jornal Nacional estrutura suas edições. Os seus apresentares sempre abrem o

telejornal com denúncias, fatos noticiosos graves, entremeando, ao longo dos blocos, notícias leves e até divertidas.

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indignar e “agir” em nome dele. Assim, o público não questiona as informações

que vem dos meios de comunicação e as aceitam, como se estas fossem as

únicas verdades.

Pierre Bourdieu afirma que a desigual distribuição dos elementos de

produção é o que faz a vida política seja descrita na lógica da oferta e da

procura, portanto, o mundo político é o lugar onde se dá a concorrência que há

entre os agentes envolvidos, produtos políticos, análises, programas

comentários, conceitos, entre os quais cidadãos, devem escolher a melhor

opção. Trata-se de um “mercado de bens simbólicos”.

Portanto, a possibilidade de engano é maior na medida em que alguém

se encontre cada vez mais afastado do conhecimento político mais profundo

sobre determinado assunto.

O público acaba não por ter vontade própria, ele apenas reproduz o que

lhe propõem como sendo de seu interesse, exatamente por este motivo, que

uma dona de casa, ou um cidadão comum, quando assistem o fato políticos

polêmicos como a queda ado socialismo no leste europeu ou mesmo a crise

política no governo federal, emitem opiniões sem saberem ao certo do que se

trata pois não conhecem o processo da produção daquela notícia, além das

razões ideológicas implicitas.

No curso superior de jornalismo temos contato com os mesmo tipos de

concepções exaltadas pelos jornalistas que trabalham nas grandes redações e

assim, se formam cada vez novos jornalistas que trabalham sob a lógica da

manipulação jornalística.

Estes temas apresentados de uma forma reducionista,

descontextualizada, como vários outros fatos sociais, políticos e econômicos

são traduzidos então de forma tendenciosa pela grande imprensa reproduzidos

aos alunos do curso de comunicação social-Jornalismo.

Segundo Edgar Morin, em os sete saberes necessários à educação do

futuro A identidade humana é completamente ignorada pelos programas de

instrução.

Podem-se perceber alguns aspectos do homem biológico em Biologia,

alguns aspectos psicológicos em Psicologia, porém a realidade humana é

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indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de uma

espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade,

temos esta como parte de nós, pois desde o nosso nascimento sua cultura nos

imprime. Somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie está dentro

de nós e depende de nós.

De acordo com a teoria Epistemologia genética de Jean Piajet o

conhecimento é gerado através de uma interação do sujeito com seu meio, a

partir das estruturas pré existentes no sujeito. Aplicando este pensamento na

educação superior jornalística, o ser humano assimila os dados que obtém do

exterior, mas uma vez que já tem uma estrutura mental anterior, precisa

adaptar esses dados à estrutura mental já existente anteriormente. Uma vez

que os dados são adaptados a si, assim dá-se a acomodação.

Dessa forma, os futuros jornalistas são adaptados à estrutura

mercadológica para reproduzir os interesses do estabilishment vigente do

capitalismo brasileiro, de manipulação jornalística.

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CAPITULO III – COMPARAÇÕES SOBRE TEORIAS

3.1 – Perspectivas sobre o Jornalismo

O jornalismo está diretamente ligado ao sistema econômico vigente e a

sua própria natureza de formação que é capitalista, como afirma Ciro

Marcondes Filho (1989), em seu livro O Capital da Notícia. Segundo o autor,

uma sociedade não estruturada sob as bases de exploração do lucro e do

trabalho levaria a um jornalismo menos alienador e manipulador.

A utopia se processa no sentido de ignorar que não se pode conceber a

existência do jornalismo em uma sociedade mais justa, igualitária sem que se

politize a opinião pública, para que esta não fique em constante estado de

aceitação, e sim, ganhe consciência crítica.

A imprensa funciona com todos os preceitos mercadológicos, dos quais

as elites precisam para se manter ideologicamente como classe hegemônica,

no sentido gramsciano, incentivando o consumo e a alienação com relação a

fatos políticos.

Os fatos são apresentados ao público para que este seja desviado,

então, da realidade. Um bom exemplo disso pode ser o fato de a TV Globo, em

plena ditadura militar, ter colocado em suas principais programações diárias, as

telenovelas nos anos 1950, para que, além de moldar a população ao

consumo, pudesse também desviar os olhos da ditadura militar e suas

atrocidades. Assim como acontece em jornais do sistema Globo que não

chamam à população a participar dos debates sobre os Atos institucionais. É

célebre a relação entre esta empresa e o regime militar e as benesses delas

resultantes para os dois lados.

A formação de uma redação, por exemplo, pode ser caracterizada por

uma relação a mais capitalista possível, no que condiz a divisão do trabalho,

em uma estrutura hierárquica, onde que vale é a palavra do editor do jornal e

que fala pelo dono do veículo e de seus anunciantes dentro do mercado.

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Os repórteres, muitas vezes, questionam pautas, foco de matérias, a

manipulação discursiva, mas não têm poder para eximi-los da prática

profissional que se dá no interior das empresas jornalísticas.

É cada vez mais comum no mundo de hoje a não separação do

departamento comercial da produção das notícias nas redações. O que ocorre

é a submissão dos valores ético-morais a valores regidos pelo interesse do

lucro.

Os órgãos noticiosos oficiais dos partido comunista da União Soviética e

o Neues Deutschland antiga Alemanha Oriental também manipulavam. Em

qualquer perspectiva político-ideológico encontram-se interesses explícitos ou

não, na forma de se tratar a matéria, no enfoque, na valorização dos

componentes da notícia, na perspectiva subjetiva de se aproveitar o fato, como

diz Ciro Marcondes Filho (1989, pg. 33).

Portanto, os jornais nos países socialistas são também sensacionalistas

em sentido amplo e necessariamente manipulativos na conceituação de que a

possibilidade efetiva de um jornalismo não manipulativo, uma vez rompidas as

determinações mercadológicas de produção de notícias, é totalmente utópicas.

No início do século XX, o capitalismo introduziu o taylorismo-fordismo

nas empresas, que foram aplicados pelos grandes industriais americanos. De

acordo com Nilson Lage, A divisão em funções na redação decorreu de uma

imposição da transformação do jornal em empresa (LAGE, Ideologia e Técnica

da Notícia, 1987). Esta prática tinha como objetivo principal aumentar o lucro

obtido, além de barrar o avanço dos crescentes movimentos operários nos

EUA.

A racionalização do fordismo era realizada padronizando funções,

pagando apenas por peças produzidas, além de premiar os que mais

produzissem. Situação na qual muitos operários perdiam interesse pelo

movimento de mobilização política nos EUA. No caso do jornalismo, a divisão

de funções garantia impessoalidade às matérias.

A primeira escola de comunicação foi criada por Robert Lee, em 1869,

era a Washington College, era em Virgínia. Esta iniciativa promoveu a criação

de cursos semelhantes em outras universidades pelo mundo. De acordo com o

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dicionário de jornalismo, a redação jornalística é o processo de construção da

notícia na qual o texto final é escrito a partir dos dados obtidos na apuração ou

reportagem. O profissional especializado neste processo é chamado de

Redator.

Por exemplo, na época em que os aconteceu a Intentona Comunista

1935, muitos materiais acusados de propaganda ideológica a favor do

comunismo foram apreendidos e numerosos comunistas foram de presos nas

redações jornais, como no jornal Novos Rumos, de acordo com o sítio Jornal

da Rede Alçar 10.

A imprensa promove também a idéia de que as redações tenham

preferência em comunicólogos que não possuam qualquer vinculo político

partidário, e por esse motivo, diversos militantes foram expulsos de suas

redações por conta de suas concepções ideológicas de esquerda.

Nos veículos jornalísticos, os responsáveis pelas editorias são

normalmente o redator-chefe ou a própria empresa. Este pode ter a função

desde redator e crítico até a de revisor do jornal.

As editorias internacionais são responsáveis por difundir para a opinião

pública os fatos noticiáveis que ocorrem no exterior, obtidos através das

agências de notícias internacionais, que são organizações responsáveis por

apurar fatos, diretamente das fontes, e repassá-los para os veículos

jornalísticos.

Normalmente estas empresas funcionam por meio de escritórios em

diversas cidades do mundo, normalmente em capitais, como a AFP, da França,

e a Reuters, inglesa. Os EUA têm a Associated Express.

Os colaboradores, mais conhecidos como stringers, e os

correspondentes atuam obtendo fatos em diversos países e repassam essas

informações para suas respectivas centrais jornalísticas.

O Brasil possui correspondentes e colaboradores no exterior que atuam

através do material jornalístico produzido pelas agências internacionais, mas

não possui nenhuma agência internacional. O que faz com que as matérias 10Jornal da Rede Alcar

http://www2.metodista.br/unesco/hp_unesco_redealcar43completo.htm#Imprensa%20Brasileira:%20retrospectiva%20d

os%20fatos%20relevantes%20de%202004 15/06/2006.

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difundidas pelos veículos da mídia brasileira, como por exemplo o jornal O

Globo e o Jornal do Brasil apresentem visões tão parecidas quanto os veículos

de diversos jornais do mundo, como o The New York Times, Le Monde, etc.

Segundo artigo publicado no sítio do Observatório da Imprensa, diversas

agências de notícias estão ocupadas por profissionais sem preparo e por

correspondentes inexperientes. Alberto Dines afirma que já faz tempo que as

agências estão espremidas e subdimensionada. O autor ainda diz que o mundo

sumiu dos nossos jornais e revistas justamente no auge da globalização 11.

João Batista de Abreu, em seu livro As Manobras da informação, faz

uma análise sobre a imprensa na época da ditadura militar, em que os próprios

militares, ao perceberem o caráter duradouro do termo golpe, passaram a

caracterizar a tomada do poder do Brasil como Revolução. (ABREU, João

Batista, As Manobras da informação, pg. 23, 2000a).

De acordo com o autor João Batista de Abreu, em seu livro As manobras

da informação, com o tempo, a imprensa brasileira passou a caracterizar o

termo subjetivo de tachar todo cidadão de terrorista que fosse se contrário ao

sistema recém instalado (ABREU, João Batista, As Manobras da informação,

pg. 23, 2000b).

Desde a sua fundação do jornal O Globo, este veículo teve grandes

contribuições durante a ditadura militar a favor do governo, nas eleições de

1989 – com o apoio ao Collor, assim como na cobertura acerca do chamado

“fim do socialismo”.

Para o veículo do O Globo, assim como para a maioria dos outros

jornais da época, expressões como “império de mil anos havia ruído”, além do

excesso da utilização do conceito “golpista” na tentativa de derrubar Gorbachev

em agosto de 1991 12, foram comuns até os dias de hoje.

Emir Sader afirma em artigo público no jornal Correio Brasiliense, que os

grandes debates nacionais costumam se valer, como parâmetros decisivos, de

argumentos tirados da situação de outros países. O Brasil acaba por sofrer o

impacto das opiniões de veículos jornalísticos estrangeiros.

11 Observatório da imprensa. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/ter190920011.htm 12/06/2006. 12 Referente a crise do socialismo no leste europeu e na URSS de 1989-91.

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Emir Sader (2006) ainda diz que quanto maiores as tiragens dos jornais,

piores são suas editoriais internacionais, já que os jornais buscam aumentar as

vendas com os outros cadernos mais solicitados por um público que já é mal

informado pela editoria internacional. Este público acaba por admitir qualquer

opinião independente dos interesses dos países desenvolvidos, como EUA ou

Reino Unido.

Os meios de comunicação no socialismo foram ao longo de muitos anos

criticados por diversos setores, tanto pelos defensores do capitalismo como

também por muitos progressistas e intelectuais de esquerda. É nesse sentido

analisar a importância do conhecimento da imprensa no socialismo.

Segundo João Batista de Abreu, em seu livro, As Manobras da

informação, desde o aparecimento dos primeiros jornais, os Avvisi, que foi nos

séculos XIII e XIV na Alemanha, a imprensa segue aos interesses de um grupo

ideológico, podendo ser hegemônico ou não, dependo do momento histórico

(ABREU, João Batista, As Manobras da informação, pg. 21, 2000a).

Para João Batista, todas as pessoas possuem ideologia, e todas as

palavras são impregnadas de valores ideológicos. Portanto, o texto, título, o

entretítulo, a foto, a localização da matéria na página, as chamadas e a escolha

da própria página compõem o discurso jornalístico. (ABREU, João Batista, As

Manobras da informação, pg. 22, 2000b).

Abreu diz que cada item examinado isoladamente oferece uma visão

fragmentada do contexto, o que compromete a unidade do discurso, no

entanto, os fragmentos são reveladores quando assumem caráter

emblemático, a palavra possui o menor fragmento do discurso jornalístico,

muitas vezes, o mais revelador (ABREU, 2000). Por outras palavras, o jornal

impresso está impregnado de sua ideologia que chega ao leitor através do

discurso jornalístico. A sua editoria busca na ordenação das palavras a melhor

maneira de passar a ideologia do veículo jornalístico.

Porém, é necessário compreender que a manipulação não envolve

apenas a questão ideológica dos sistemas econômicos-políticos já citados

(capitalistas e socialistas), mas também padrões de manipulação distintos

como os que Perseu Abramo aponta, em seu texto Padrões de Manipulação na

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grande imprensa, em várias colocações sobre a manipulação dos veículos

jornalísticos.

Perseu Abramo (1988) diz que a ocultação é o padrão que se apresenta

pela ausência e a presença dos fatos reais na produção da imprensa 13. Essa

ocultação é comum em veículos jornalísticos que tratam de matérias em

momentos, em que se é necessário esconder alguns fatos, a fim de fazer com

que a opinião pública não perceba a realidade, como, por exemplo, no caso em

que na época da ditadura militar, muitos veículos divulgavam receitas para

donas de casa ao invés de informações que pudessem incentivar o senso

crítico da opinião pública. Era uma forma de denúncia à ocultação, neste caso

imposta pelo governo, mas há ocultação deliberadamente imposta pelos

próprios veículos.

O padrão de fragmentação diz que, ao se tratar a realidade, com suas

estruturas e interconexões, todo real é estilhaçado, despedaçado e

fragmentado em milhões de minúsculos fatos particularizados (ABRAMO,

1988). Assim, os fatos são hierarquizados em graus de importância, dada à

linha editorial do veículo, criando uma nova realidade e distanciando o leitor da

versão original. A descontextualização da informação ocorre como

conseqüência da seleção dos fatos para apresentar o resultado final ao leitor.

Há também o padrão de Inversão, quando depois de fragmentado o fato,

os seus pedaços particulares, e fora do contexto, são reordenados, com a troca

de lugares e da importância destes. O fato está fragmentado em várias partes e

é reconstruído com base na troca de lugares, na substituição de umas por

outras, e prossegue na destruição do real e na criação de uma nova realidade.

(ABRAMO, 1988).

As principais formas de inversão são: a inversão da relevância dos

aspectos, a inversão da forma pelo conteúdo, a inversão da versão pelo fato e

a inversão da opinião pela informação.

Perseu Abramo afirma que na inversão da forma da relevância dos

aspectos, o mais importante é tratado como segundo plano, a complexidade é

13 ABRAMO, Perseu, Significado Político da Manipulação na grande imprensa, pg. 25, 1988.

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trocada pela simplicidade, de fácil entendimento e o fato particular passa a ser

tratado como geral.

A inversão da forma pelo conteúdo é assim caracterizada: o texto passa

a ser mais importante que o fato reproduzido pelo mesmo. (ABRAMO, 1988). O

visual, o apelativo sensacionalista passa a valer mais do que a real veracidade

e importância do fato.

No padrão de Inversão da versão do fato, a versão do fato apresentada

pelo veículo jornalístico, pelas fontes, passa a ser mais importante do que o

próprio fato. A imprensa é capaz de sustentar versões mesmo que os fatos

verídicos as desmintam, assim é perpetuada uma obstrução dos fatos de

maneira que não se observe, nem se divulgue a realidade. Perseu Abramo

apresenta dos tipos de extremos nessa situação, o frasismo e o oficialismo.

No frasismo, ocorre o abuso da utilização de frases ou pedaços de

frases sobre uma realidade para a substituir a realidade, acoplado à ocultação,

fragmentação, seleção, descontextualização, etc (ABRAMO, 1988). Um fato

comum é a publicação de frases selecionadas nos órgãos de imprensa, a idéia

do Perseu Abramo é que seria uma manipulação levada a seus limites, assim,

de maneira mecânica, a mídia impressa difunde a sua opinião.

O extremo desse tipo inversão é o oficialismo, a versão ganha caráter de

fonte oficial não apenas de autoridades do Estado ou do governo, mas de

diversos setores da sociedade, a autoridade mais confiável é a do próprio

veículo jornalístico, que aparece no lugar dos fatos, sejam estes

acontecimentos da política nacional ou internacional, ou não.

Há ainda, a inversão da opinião pela informação, na qual o veículo

apresenta a opinião no lugar da informação (ABRAMO, 1988). Dessa maneira,

o jornal vai fazer com que a opinião pública acate automaticamente a opinião

do veículo jornalístico impresso sobre qualquer fato publicado.

No padrão da Indução, o leitor é induzido a ver o mundo não como ele é,

mas sim o resultado final de manipulação dos vários órgãos de comunicação

com os quais ele tem contato (ABRAMO, 1988). O leitor só vai receber em

casa um produto final repleto de idéias trazidas de diversas fontes, no processo

de produção da notícia.

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Os leitores, no entanto, ao perderem o conhecimento da realidade por

quase sua totalidade, adquirem uma informação já manipulada com várias

opiniões implícitas nas matérias no lugar das informações no intuito de se

formar opinião sobre algo e sem certificar se aquela informação é verídica ou

não.

Após acontecer a substituição do juízo de valor pelo juízo da realidade,

acaba-se deixando seqüelas no leitor, as quais se originam da imposição de

valores distantes do real como verdades irrefutáveis, como a construção de

uma sociedade, cuja opinião pública não assuma posição sobre o que é ou o

que já foi publicado.

Perseu Abramo apresenta também uma avaliação sobre a objetividade e

a subjetividade do jornalismo. Primeiramente, o autor diferencia o conceito de

objetividade de outros conceitos a este relacionados, como neutralidade,

imparcialidade, isenção e a honestidade. Segundo o autor, estas palavras se

situam no campo de ação, dizem respeito a critérios do fazer, do agir, do ser, e

referem-se mais a categorias de comportamento moral. (ABRAMO, 1988).

Abramo diz também que se a objetividade absoluta não existe, ser

subjetivo é então, tentar obter uma objetividade relativa. Portanto, não existiria

nenhuma possibilidade de se obter a objetividade.

O conhecimento da realidade passa a ser mais objetivo quanto mais o

sujeito observador não se prende a aparências (ABRAMO, 1988). A análise da

realidade não se dá de maneira limitada apenas a analisar um fato particular, e

sim obter o conhecimento sobre todas as interconexões que envolvem

determinado acontecimento. Por de meio uma análise geral, é possível se ver

os dois lados da situação, com os seus antecedentes e conseqüências.

Normalmente, quando se busca uma análise da objetividade, não é

apontada a questão de como seria possível um jornalismo com objetividade.

Neste ponto, Perseu Abramo, faz-nos compreender porque os empresários da

comunicação manipulam e distorcem a realidade.

Perseu Abramo explica haver duas vertentes para a explicação do

fenômeno e a possibilidade de estarem corretas: Uma diz que o anunciante

impõe que o empresário da comunicação manipule e distorça as informações,

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a outra é que a própria ambição do lucro do próprio empresário da

comunicação é o fator determinante da manipulação. Abramo classifica como

mais aceitável a definição de que os veículos jornalísticos hoje são novos

órgãos de poder. (ABRAMO, 1988).

Ainda em Bourdieu, em seu livro Sobre a Televisão, o tipo de violência

que a televisão exerce sobre a opinião pública, é uma violência simbólica que

se exerce com a cumplicidade tácita dos que sofrem e também, dos que a

exercem, na medida uns e outros são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-

la. (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 22, 1997a). Os jornalistas tanto

manipulam quanto também são manipulados e inconscientes dessa

manipulação.

E essa violência ocorre quanto se é apresentado principalmente pelas

notícias de variedades, em seu caráter sensacionalista, que exploram o sexo, o

sangue, o drama. Atualmente, essas práticas são conhecidas em programas da

TV brasileira como o Pânico na TV, Ratinho, além dos demais tipos de talks

shows, no intuito de se ocultar um debate mais sério sobre temas como

governo federal, a segurança, a desigualdade social, entre outros.

Pierre Bourdieu aponta o que Patrick Champagne chama de fenômenos

de subúrbio, em que a mídia seleciona nessa realidade particular um aspecto

inteiramente particular, em função das categorias de percepção que lhe é

própria. É organizado o percebido, determinando o que se vê e o que não se

vê.

Bourdieu afirma que, na “circulação circular da informação”, os produtos

jornalísticos são mais homogêneos do que parecem, além do mais, as

diferenças evidentes escondem semelhanças profundas ligadas às restrições

impostas pelas fontes e por vários mecanismos, dos quais o mais importante é

a lógica da concorrência (BOURDIEU, Pierre, Sobre a Televisão, pg, 31,

1997b). Assim, o monopólio se estrutura e a concorrência ganha mais

diversidade. Logo, a competição na área de jornalismo passa a exercer grande

influência nas atividades dos jornalistas. É comum, por exemplo, encontrarmos

nas bancas vários jornais com as mesmas manchetes e matérias, o que

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prejudica o acesso do leitor a diferentes pontos de vista sobre os diferentes

fatos.

No mundo globalizado atual, a manipulação passa a ser então

imprescindível para a manutenção deste poder de atuar como órgão político.

Assim, os veículos jornalísticos procuram atuar como partidos políticos,

menosprezando, muitas vezes, o papel do Estado e negligenciando o poder da

opinião pública de impor as suas necessidades.

O mundo capitalista vem se desenvolvendo sob essa lógica de controle,

em que é cada vez mais é comum esse tipo de prática. A diminuir-se a

importância do Estado enquanto nação cria-se mecanismos que dificulta cada

vez mais o conhecimento e a organização política da sociedade.

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3.2 – Perspectivas sobre o Ensino Superior de Jornalismo

No curso acadêmico de Comunicação Social-Jornalismo vivemos um

exemplo do que vem acontecendo com a educação dos alunos. A visão de

muitos professores jornalistas normalmente está impregnada de valores

jornalísticos deturpados, o que acaba passando os mesmos para os futuros

jornalistas.

Este processo é perigoso, pois se formam novos indivíduos que já se

adequarão à estrutura mercadológica e hierarquizada de uma redação que

produzirá também uma fragmentação da informação, que leva á distorções de

compreensão.

Hoje é preciso que os alunos de comunicação social saibam que a

notícia antes de chegar ao público precisa passar por vários processos que

envolvem a sua produção, que vai desde a apuração dos fatos até o momento

em que o receptor toma conhecimento deles.

A “manipulação jornalística” (MARCONDES FILHO, 1979c) executa um

tratamento para transformar o fato em algo noticiável, para que este se torne

objetivo aos olhos do leitor, de acordo com a ideologização constituída pela

própria maneira de o jornalista organizar os fatos, por vezes, de maneira

inconsciente, através da autocensura, outras conscientemente.

Os valores, portanto, de cada jornalista, orientados sob uma lógica do

sistema econômico vigente está associada aos interesses de sua classe social

de origem e a uma visão mercadológica da informação que passam a serem

reproduzidos pelos veículos de comunicação para a opinião pública, como já

analisado anteriormente.

Estes novos jornalistas farão parte da formação de opinião da sociedade

e integrarão o aparato reprodutor da cultura de massa no Estado. O termo

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Cultura de massa significa toda cultura produzida para a população em geral e

que, portanto, é veiculada pelos meios de comunicação em massa 14.

Sabe-se que o avanço das tecnologias da comunicação impediu o

avanço de outras culturas alternativas à vigente, que é difusora dos valores de

interesse ao poder dominante.

Theodor Adorno constatou que a Indústria Cultural absorvia as críticas e

os antagonismos sociais. Assim a cultura de massa faz a hegemonia

massificando cultural para melhor servir ao capital, ao desvalorizar qualquer

outra manifestação cultural 15.

Podemos reparar em salas de aula de uma turma de primeiro período de

comunicação existe por muitos a reprodução do que já senso comum devido à

falta de aprofundamento teórico e político em temas nacionais ou internacionais

como a guerra fria ou mesmo uma crise política que ocorra em nosso país,

como a que teve em 2005 com os incidentes de corrupção no congresso, o que

levou à cassação de mandatos de diversos deputados tanto governistas quanto

de oposição ao governo.

Ano a ano, a Cultura de massa brasileira vem reproduzindo as novas

disputas sobre quem será o vencedor do Big Brother Brasil numa tentativa

acertada de desviar a atenção da opinião pública em torno de um debate

imparcial envolvendo a política nacional.

Enquanto isso acontece, na cobertura jornalística brasileira sobre a crise

política do governo Lula, a Revista Veja procurou sempre se apoia com base

no denuncismo em suas matérias. Segundo o editorial do observatório da

imprensa, publicado por Alberto Dines, em 16/5/2006, no primeiro mandato do

governo Lula, a Veja pretendia provar que o presidente e alguns de seus

colaboradores possuíam contas em paraísos fiscais, mas acabou envolvida

numa das maiores fraudes jornalísticas dos últimos tempos. Quando não se

14 Termo utilizado pela Escola de Frankfurt.

15 ADORNO, Theodor. A indústria Cultural (Trad. de Amélia Cohn) in COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e

Indústria Cultural, 5ª., São Paulo: T.A. Queiroz, [1962]1987a, 287-295.

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tem certeza de uma informação, não se publica esta informação até que seja

confirmada cabalmente. E se não for confirmada, fica na gaveta ou vai para a

cesta do lixo 16.

Os estudantes precisam compreender melhor a nossa realidade de

mundo globalizado. No mundo de hoje, o que é local passa a fazer parte da

esfera internacional e a informação ultrapassa as fronteiras geográficas e vai

para a tela do computador, sendo transmitida via satélite em tempo real, para

qualquer parte do mundo.

Milton Santos afirma que, nunca houve antes essa possibilidade

oferecida pela técnica à nossa geração de se tomar consciência do acontecer

do outro (SANTOS, Milton, Por uma outra globalização, 2000a). E é nesse

sentido que essas relações vem sendo reproduzidas por todo o mundo

globalizado para os vários indivíduos se transformarem em consumidores.

Tanto de bens simbólicos, quanto de bens materiais específicos.

Ainda em Milton Santos, o entendimento do que é o mundo passa pelo

consumo e pela competitividade, e que esse consumismo e essa

competitividade leva à atrofia da personalidade, do conhecimento dos

indivíduos e ocasiona a ausência do homem como cidadão.

Esse tipo de ausência sempre foi comum no Brasil até porque, segundo

o autor, as classes privilegiadas nunca quiseram assumir essa função

enquanto que os pobres jamais puderam (SANTOS, Milton, Por uma outra

globalização, 2000b).

Não é de se estranhar que alguns dos setores mais politizados acabem

sendo os que possuem maior poder aquisitivo e que, quando se revoltam

contra as injustiças sociais, venham a seguir pelo caminho da “esquerda”, ou

até se enveredam pelo lado do socialismo.

Como constatamos, a ideologia capitalista da sociedade brasileira está

impregnada de valores estrangeiros, cada vez mais inclusive, devido aos

avanços das novas tecnologias da comunicação, como o microcomputador e a

16 DIMES, Alberto. “Atentado aos princípios do jornalismo”. In:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=381IMQ007 – consulta em 11/06/2006.

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aldeia global com a difusão de informações em tempo real através da Internet,

anulando as fronteiras mundiais.

No mundo globalizado, como efeito dos avanços nas tecnologias da

comunicação, as relações interpessoais são afetadas de todas as formas na

sociedade contemporânea brasileira. Os brasileiros vêm historicamente e

progressivamente a se interessar pelos costumes estrangeiros. Até na política,

questões como o neoliberalismo, os ideários do anarquismo e do socialismo no

início do século XX, a política de cotas em universidades públicas e

particulares, foram transpostas de maneira mecânica, muitas das vezes.

Sabe-se que esta característica do jornalismo brasileiro está

intimamente ligada ao histórico hierarquizador da nossa sociedade, na qual

seus formadores de opinião sempre foram as elites, desde a nobreza de

Portugal e, em nosso caso, não houve nenhum movimento revolucionário real

que rompesse com essa estrutura de subordinação aos interesses. No quadro

da globalização, a situação ainda fica mais complexa.

Por fim, é necessário que os docentes do curso de comunicação social-

Jornalismo prezem pela ética na facilitação do aprendizado do aluno para que

ele não seja também impregnado de idelogias ou concepções deturpadas

sobre os fatos jornalísticos no futuro.

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CONCLUSÃO

Devido ao nosso histórico como país é fato de que hoje a sociedade

brasileira vive numa crise de cultura de massa. Os jornalistas atuam cada vez

mais como uma organização política em nosso país, determinando valores e

deturpando tudo o que for de encontro aos seus interesses.

Vivemos também o reflexo da alienação que as tecnologias que

envolvem a vida social trazem, pois estamos mais próximos um do outro, mas

com um contato cada vez mais consumista. Mesmo em países mais atrasados

economicamente como o Brasil isso não impede de ocorrer este efeito, pois

vivemos num mundo globalizado.

Cabem a nós, educadores, mudarmos essa realidade, fazendo o

diferencial na sala de aula no intuito de formarmos profissionais mais

competentes e que sigam mais os valores universais da ética.

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ANEXOS

O autor utiliza esse espaço para trazer conteúdos de apoio,

objetivando aprofundar a prática da pesquisa e suas diferentes formas de

produção. Assim, o educando recebe uma bibliografia de apoio na confecção

de questionários, entrevistas, mensuração dos resultados entre outros.

Anexo >> Internet 41

Anexo>> Gráfico 44

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A Internet é um sistema autosustentável?

Peter A. B. Schultz

A Internet é hoje em dia, alguns anos após o início da sua expansão além dos limites dos centros de pesquisa, o grande meio para o intercâmbio de informações, abrangendo um leque crescente de atividades e áreas do conhecimento; bem como de realização de operações, muitas das quais inimagináveis sem a intervenção humana direta há apenas dez anos. Essa diversidade do uso da Internet e da WWW (World Wide Web), seu veículo multimídia, é o tema de vários outros artigos dessa edição. Um exercício interessante para avaliar a importância da Internet sobre o cotidiano é tentar imaginar impactos similares, que os adventos das redes de energia elétrica e de telefonia devem ter causado em suas épocas iniciais.

A analogia com as redes de energia elétrica e de telefones é o ponto de partida para introduzir dois conceitos relativos à pergunta do título: sustentabilidade e vulnerabilidade dessas redes. De fato, existem muitas semelhanças: um endereço na WWW pode ser comparado a um número disponível na lista telefônica ou a uma conexão de uma residência (localizada na rua tal, número tal) à rede de fornecimento de energia elétrica. Cada uma dessas conexões são nós de uma rede ligados a outros nós principais (subestações ou centrais telefônicas), formando o que pode ser chamado de sistema complexo. Esses sistemas funcionam bem a maior parte do tempo. Às vezes, alguns telefones ficam mudos temporariamente, o que não afeta o funcionamento do resto do sistema. Isso caracteriza a autosustentabilidade de um sistema complexo. Por outro lado, o apagão ocorrido em 21 de janeiro de 2002, devido à queda de uma linha de transmissão importante, mostra outra característica desse tipo de rede: a vulnerabilidade frente a acidentes (ou sabotagens) em seus nós ou conexões principais.

A comparação acima é, no entanto, apenas parcial, pois a coleção de "sites" e páginas da WWW, construídas a partir do conceito de hipertexto, cresce a cada instante, junto com uma modificação constante das ligações entre as páginas, sem uma coordenação central como ocorre para as redes de telefones e de energia elétrica. A WWW é, portanto, uma rede complexa, que cresce e se modifica continuamente sem um controle central! Tal sistema complexo pode crescer indefinidamente e continuar funcionando? A Internet só se justifica se as informações ou serviço que buscamos puderem ser de fato localizados e acessados. No final dos anos 80, bem antes do desaparecimento das limitações ao uso comercial da Internet (1995), tentou-se criar uma indexação do conteúdo na rede nos moldes da biblioteconomia tradicional. Esse procedimento logo mostrou-se inviável com o rápido

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crescimento do número de nós e páginas. Para se ter uma idéia, em junho de 1993 existiam apenas 130 "sites", enquanto que em março de 2002 esse número chegou a mais de 38 milhões! A viabilidade da Internet e do seu crescimento foi garantido pelo aparecimento dos navegadores em 1993 e mais recentemente dos programas de busca. No momento a tecnologia computacional carrega a maior parte da responsabilidade de organizar a informação na Internet. Um breve resumo dessa história da Internet pode ser encontrada na "Hobbes' Internet timeline", que disponibiliza também dados interessantes sobre o crescimento da rede.

A tecnologia de busca está longe de ser ideal. Uma pesquisa realizada em 1998 (Searching the World Wide Web, S. Lawrence e C. Lee Giles, Science vol. 280, p. 98 (1998)) mostrou que o tamanho da WWW indexável (coleção de documentos catalogados pelo cruzamento de dados disponíveis nos principais programas de busca) na época era de 320 milhões de páginas (hoje em dia são mais de 1 bilhão) , mas que o tamanho real seria muito maior e de um modo geral todas as estimativas subestimavam significativamente o número de páginas. Além disso, verificou-se que os programas de busca cobriam entre 3% e 34% da WWW indexável! Com o contínuo desenvolvimento de programas de busca inteligentes essa porcentagem tende a crescer.

O problema da busca e intercâmbio de informações na rede criou uma nova área de atuação: a engenharia de tráfego da Internet. A relevância dessa atividade é bem descrita no artigo "Internet tomography" de K. Claffy e colaboradores, que considera a infraestrutura da Internet como um "equivalente cibernético de um ecosistema" (outro sistema complexo!). De acordo com esses autores, bem como com a experiência cotidiana de qualquer usuário da Internet, "sem um monitoramento adequado e análise do comportamento do tráfego da Internet, a habilidade dessa infraestrutura de continuar crescendo e desenvolvendo completamente seu potencial poderá ser seriamente comprometida". Nesse sentido passaram a ser desenvolvidas ferramentas computacionais para fazer tomografias da rede, que constituem os passos preliminares no diagnóstico dos problemas de tráfego e estratégias de melhoria das ferramentas de busca e organização das informações contidas na WWW. Um programa interessante com esse propósito é o CAIDA, sigla para "Cooperative Association for Internet Data Analysis".

As tomografias (mapas) dos documentos na Web possibitaram aos cientistas a busca de modelos matemáticos que descrevessem a estrutura e o crescimento dessas redes. Descobriu-se que a Internet (e a WWW) pertence a uma classe de redes chamada de "redes livres de escalas" (scale-free networks). O que vem a ser esse tipo de rede? Nesse tipo de rede é estatisticamente significativa a existência de nós ("sites" ou páginas) ligados a um número muito grande de outros nós. Ao mesmo tempo, a probabilidade de encontrar nós com um dado número de conexões aumenta à medida que esse número de conexões diminui. Em resumo, a Internet possui um número pequeno (mas significativo!) de nós com um número muito grande de "links", enquanto que a grande maioria dos nós mostra um número muito pequeno desses "links". É o caso deste hipertexto, por exemplo, acessível através de uma única conexão (comciencia) e a partir do qual é possível acessar diretamente apenas 5 páginas. Uma outra maneira de dizer isso é que a conectividade da rede é não homogênea. As duas principais características de uma rede livre de escalas é

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que são robustas (apresentam um alto grau de tolerância frente a falhas), mas ao mesmo tempo vulneráveis. Para entender essas características precisamos definir ainda uma medida do tamanho da rede, chamada de "diâmetro da Internet". O tamanho da rede é simplesmente o número de "clicks no mouse" necessários para ir de uma página a outra qualquer na Web. Esse número seria de apenas 19 em média (Diameter of the World-Wide-Web, Barabási e colaboradores), embora o número de páginas exceda a um bilhão! Trata-se, portanto, do que chamamos de mundo pequeno, característica compartilhada pela rede de relacionamentos pessoais (Apesar de sermos mais de seis bilhões de habitantes, o número médio de elos na cadeia de "sou amigo de fulano, que conhece sicrano, que conhece beltrano" é de apenas seis relacionamentos entre quaisquer pessoas na Terra. Uma leitura complementar a essa discussão, bem como ao resto deste artigo, é o texto de divulgação Physics of the Web, de Albert-Lazlo Barabási).

O diâmetro da Internet mantém-se praticamente inalterado se 2,5% das conexões forem rompidas de forma aleatória. Isso significa que, em geral, é fácil encontrar um desvio na rede em torno de um "link" interrompido, sem para isso ter que aumentar significativamente o número de "clicks no mouse". É um pouco como se deparar com o trânsito impedido numa rua e fazer um desvio em volta do quarteirão. Esse número, 2,5%, parece pequeno, mas o importante é que é muito maior que a taxa atual de falhas de conexão na Internet, cerca de 0,33%. A rede é, portanto, robusta e altamente tolerante frente a erros aleatórios (como no caso dos telefones mudos isoladamente). A potencial má notícia, no entanto, reside na outra ponta dessa rede livre de escalas, ou seja, nos nós altamente conectados. Quando um número pequeno desses nós é desconectado (por causa de um acidente, ou mesmo uma sabotagem), a estrutura de toda a rede é modificada drasticamente e o diâmetro da mesma pode chegar a dobrar, o que pode inviabilzar a comunicação devido à sobrecarga nas demais conexões, bem como levar à fragmentação de toda a rede em pequenas sub-redes isoladas. (Ver também "The Internet Achilles' Heel", Barabási e colaboradores). Na verdade o problema pode ser mais sério ainda, como no exemplo mencionado do apagão, ocorrido devido à queda de uma única linha de transmissão.

Esses estudos sobre a estrutura (ou topologia), dinâmica de crescimento e rearranjos na presença de falhas de redes como a Web, são exemplos de "fenômenos emergentes", isto é, fenômenos que não podem ser previstos a partir das poucas regras (ou leis) básicas que regem a evolução do sistema, mas que são manifestações que surgem apenas quando esses sitemas passam a ter um determinado tamanho. No caso da Internet e da Web, as características emergentes são tais que o crescimento autosustentável é diretamente vinculado à possibilidade de colapso frente a falhas em um número pequeno de pontos estratégicos. As necessidades tecnológicas e econômicas de garantir a viabilidade da Internet levaram à disponibilidade de dados cada vez mais completos de sua estrutura, tornando-a quase um padrão para estudos fundamentais sobre sistemas complexos e seus fenômenos emergentes. Ao mesmo tempo, as questões levantadas por tais estudos de Ciência Básica são extremamente relevantes para monitorar e desenvolver a eficiência do tráfego de informações na Internet.

Peter Schulz é professor do Instituto de Física da Unicamp.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 5

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

1.1 - 10

1.2 - 15

CAPÍTULO II

2.1 - 18

2.2 - 21

CAPÍTULO II

3.1 - 25

3.2 - 35

CONCLUSÃO 39

ANEXOS 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 47

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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