Post on 05-Dec-2018
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
VALORES E CRENÇAS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO DE
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES:
UM ESTUDO EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ITAJAÍ
PRISCILA DOS SANTOS CÉ
Itajaí, (SC) 2006
PRISCILA DOS SANTOS CÉ
VALORES E CRENÇAS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO DE
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES:
UM ESTUDO EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DE ITAJAÍ
Itajaí, (SC) 2006
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Prof. Maria Helena Baptista Vilares Cordeiro
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AGRADECIMENTOS
Os meus sinceros agradecimentos são para minha família, pessoas que estão
presentes no dia a dia e que sempre temos a certeza de podermos contar uns com os
outros, tendo-se a tranqüilidade de um amor incondicional e infinito, Obrigada.
Agradeço também em especial uma pessoa que já não está mais tão presente em
minha vida, mais o meu carinho é imenso por você, não teria como eu ter chegado até
aqui sem lembrar de toda a sua dedicação e confiança em mim, sempre me estimulando
e me mostrando o quanto sou capaz, obrigada Fabrício.
Agradeço a minha professora Maria Helena, por quem tive o privilégio de ser
orientada, sua dedicação e compreensão foi fundamental pra mim, para que juntas
pudéssemos finalizar este projeto.
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS Tabela 1 profissão dos respondentes - freqüências............................................................... 20 Tabela 2. nível de escolaridade dos respondentes - freqüências........................................... 20 Tabela 3 Média e Desvio Padrão das diferentes categorias, por Nível Sócio-econômico.... 29 Tabela 4. Média e desvio-padrão referentes aos valores que os pais priorizam na
educação de seus filhos................................................................................................. 35 Tabela 5. Hierarquização dos itens da escala de valores educacionais ................................ 36 Tabela 6. Média, mediana e desvio-padrão referentes aos valores que os pais priorizam
no exercício de suas ocupações profissionais............................................................... 37
LISTA DE QUADROS Quadro 1. Número de sujeitos que participaram da pesquisa............................................... 20 Quadro 2. Questões que compõem a categoria CONVERSA .............................................. 22 Quadro 3. Questões que compõem a categoria MIMO ........................................................ 22 Quadro 4. Questões que compõem a categoria CONTROLE .............................................. 22 Quadro 5. Questões que compõem a categoria LIBERDADE ............................................. 23 Quadro 6. Questões que compõem a categoria INFLUÊNCIA DA TV............................... 23 Quadro 7. Questões que compõem a categoria INATISMO/FATALISMO......................... 24 Quadro 8. Questões que compõem a categoria INFLUÊNCIA DOS PAIS ......................... 24 Quadro 9. Questões que compõem a categoria COMPETÊNCIA ....................................... 25 Quadro 10. Questões que compõem a categoria OPORTUNIDADES E
EXPECTATIVAS ........................................................................................................ 25 Quadro 11. Questões não incluídas em nenhuma categoria: OUTROS ............................... 25 Quadro 12 Qualidades incluídas na Escala de Valores Educacionais .................................. 26 Quadro 13 Qualidades incluídas na Escala de Valores de Trabalho .................................... 27 Quadro 14. Exemplo de itens em que a mesma pontuação atribui um valor oposto à
categoria à qual pertencem os itens .............................................................................. 28
LISTA DE FIGURAS Figura 1 pontuação média atribuída pelos pais, por NSE, às afirmativas incluídas na
categoria “oportunidades e expectativas”. .................................................................... 32 Figura 1 pontuação média atribuída pelos pais, por NSE, às afirmativas não incluídas
em nenhuma das categorias anteriores. ........................................................................ 33
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RESUMO
Este projeto investigou a relação entre as crenças e valores educacionais e as
qualidades que eles consideram importantes no exercício de suas ocupações profissionais de pais/responsáveis de crianças entre 3 e 6 anos, utilizando como quadro de referência a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (1997, 1989, 1993, 1998). Para identificar as crenças educacionais foram utilizados questionários sobre crenças e valores relativos à educação das crianças e valores profissionais dos pais entrevistados. Foram entrevistados 39 sujeitos responsáveis por crianças de 3-4 e 5-6 anos em dois grupos de diferentes níveis sócio-econômicos, CEI1 (mais baixo),CEI2 (menos baixo). A análise das respostas dos sujeitos permitiu concluir que no CEI1, os itens que obtiveram maior pontuação foram “ser uma criança feliz”, “obedecer aos pais”, “ser honesto”, “ser arrumado e limpo” e “ser querido pelos adultos”. Ambos os grupos priorizam a felicidade da criança, a obediência aos pais, a honestidade e a responsabilidade como valores educacionais. Honestidade obediência e responsabilidade também foram apontadas como valores de trabalho. O grupo do CEI1 parece considerar o trabalho com o emprego, uma necessidade, já o grupo do CEI2 parece considerá-lo como uma carreira para a promoção social e por isso esta grupo valoriza ter boas maneiras e auto-controle, na educação dos filhos.
Palavras-chave: crenças e valores; educação infantil; contextos de desenvolvimento; exossistema.
v
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... II
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES.............................................................................. III
RESUMO........................................................................................................... IV
SUMÁRIO ..........................................................................................................V
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 6
1.1 Objetivo geral ...............................................................................................................................9
1.2 Objetivos específicos ....................................................................................................................9
2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................... 10
2.1 Desenvolvimento em contexto ...................................................................................................10
2.2 Concepção de infância: um elemento do macrossistema.........................................................11
2.3 Crenças e valores na educação dos filhos: elementos do macro-sistema que impregnam as relações familiares ......................................................................................................................14
2.4 Crenças e valores do trabalho ...................................................................................................16
3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS............................................ 19
3.1 Questões de pesquisa..................................................................................................................19
3.2 Sujeitos ........................................................................................................................................19
3.3 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados...................................................................21
3.4 Procedimentos éticos ..................................................................................................................27
4 ANÁLISE DE DADOS............................................................................... 28
4.1 Opiniões e crenças educacionais ...............................................................................................28
4.2 Valores priorizados na educação das crianças ........................................................................34
4.3 Valores priorizados pelos pais no exercício de suas ocupações profissionais........................37
4.4 Relação entre valores de trabalho e valores educacionais ......................................................39
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................ 41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 44
ANEXOS .......................................................................................................... 20
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa deu continuidade a um projeto desenvolvido em 2005,
intitulado como, Valores e Crenças na educação de crianças pré-escolares: relação
com as percepções sobre as profissões dos pais. É um projeto integrado que envolve
vários estudos que têm por objetivo desenvolver um programa para avaliar e
diagnosticar a qualidade do atendimento nos CEIs (Centro de Educação Infantil) de
Itajaí, considerando-os como contextos de desenvolvimento das crianças atendidas.
A educação de crianças entre 0 e 6 anos tem sido temática importante discutida
nas diversas instâncias que geram políticas e respectivas práticas educativas para esta
faixa etária. Tem-se verificado que a demanda para instituições de educação infantil
aumenta rapidamente, mas a resposta a esta demanda e a análise das conseqüências
desta iniciativa ainda não acompanham o mesmo ritmo desta expansão. Sendo assim,
este projeto poderá contribuir para ampliar a nossa compreensão a respeito das
concepções sobre a infância e educação das crianças pequenas dentro dos lares e
instituições. O que queremos promover é uma reflexão sobre os valores e crenças que
guiam nossas ações no atendimento as nossas crianças, pois a formação do indivíduo
começa desde o momento em que ele nasce e interage com os outros ao seu redor,
continuando ao longo de nossas vidas, salientando características pessoais que começam
a se manifestar desde a mais tenra infância (Bronfenbrenner, 1989). Pretende-se iniciar
uma discussão que chame a atenção daqueles que são responsáveis por criar
possibilidades para uma educação formal e informal que realmente atinja os cidadãos de
maneira diversificada, atendendo às diferenças culturais, étnicas, sociais e, sobretudo,
individuais.
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Parte-se do pressuposto que o desenvolvimento da pessoa é influenciado pelas
relações que essa pessoa estabelece em diferentes contextos. O sujeito é concebido
como um ser ativo, que contribui para o seu próprio desenvolvimento, sua interação
com o meio é um fator essencial no processo de desenvolvimento
(BRONFENBRENNER, 1989). Contexto é um conjunto que implica inclusão e
interligação entre os aspectos físicos e sociais do ambiente, incluindo sistemas de
crenças e ideologias (Bronfenbrenner, 1979; 1996). Desta forma, quando os pais
interagem com seus filhos, eles são guiados por uma série de idéias e crenças sobre o
desenvolvimento e a educação dos mesmos. Quando se pensa na origem dessas idéias,
deve-se pensar em duas possibilidades, a experiência direta com as crianças e a
transmissão cultural (Palácios, 1991, p. 18).
O enfoque no micro-sistema, segundo Bronfenbrenner, pressupõe que a pessoa
em desenvolvimento seja vista como um ator que toma parte de todo e qualquer
processo que se desenrole nesse micro-sistema. Desta forma, o estudo do
desenvolvimento inclui, entre outros aspectos, 1) a avaliação de atributos e
características pessoais que podem ser considerados como desenvolvimentalmente
instigantes; 2) a percepção de competência dessa pessoa no cenário específico que está
sendo analisado, tanto sob o ponto de vista da própria pessoa como o dos outros com
quem ela interage significativamente nesse micro-sistema e 3) as relações entre as várias
pessoas que fazem parte desse micro-sistema, além de 4) conjunto de recursos e
oportunidades colocados à disposição da pessoa em desenvolvimento em um ambiente
determinado.
Estudar o meso- e o exo- sistemas significa investigar as relações entre dois ou
mais micro-sistemas dos quais a pessoa em desenvolvimento faz parte (meso-sistema)
ou entre um micro-sistema do qual a pessoa faz parte e outro do qual ela não participa
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(exo-sistema). Por exemplo, o estudo de como as ocupações profissionais dos pais
afetam o desenvolvimento das crianças é um dos aspectos do exo-sistema que é
interessante investigar.
Uma forma como o macro-sistema influencia o desenvolvimento refere-se às
oportunidades que estão disponíveis em uma dada cultura, em um dado momento da
História. Entretanto, a influência do macro-sistema, de acordo com Bronfenbrenner
(1989, p. 229), inclui também o repertório de sistemas de crenças disponível em uma
determinada cultura, ou subcultura, pois é com base nesse repertório que:
pais, professores, e outros agentes de socialização se baseiam quando, consciente ou inconscientemente, definem as metas, riscos, e formas de criar as gerações mais jovens.[...] Portanto, o reconhecimento científico do sistema de crenças que prevalece no mundo da pessoa em desenvolvimento é essencial para uma compreensão da interação das forças do organismo e do meio no processo de desenvolvimento.
Assim, espera-se que este estudo contribua para esclarecer uma das formas como
o macro-sistema influencia o desenvolvimento das crianças. Conhecer as crenças e
valores educacionais dos pais, assim como suas expectativas escolares e profissionais
em relação ao futuro de seus alunos/filhos, abre possibilidades para compreender como
essas crenças e valores podem influenciar o desenvolvimento. Além disso, será possível,
em outros estudos, comparar as crenças e valores de pais e professoras, o que poderá
subsidiar ações que visem promover o envolvimento das famílias nas creches e pré-
escolas.
Deste modo, este estudo será direcionado para a investigação do seguinte
problema:
As crenças e valores educacionais dos pais de crianças que freqüentam
centros de educação infantil da rede pública municipal de Itajaí, SC, estão
9
relacionados com as qualidades que eles consideram mais importantes no exercício
de suas ocupações profissionais?
Levando em consideração o problema acima formulado, foram definidos, para
este estudo, os objetivos apresentados a seguir
1.1 Objetivo geral
Verificar se as crenças e valores educacionais dos pais de crianças que
freqüentam centros de educação infantil da rede pública municipal de Itajaí, SC, estão
relacionados com as qualidades que eles consideram mais importantes no exercício de
suas ocupações profissionais.
1.2 Objetivos específicos
- Conhecer as crenças educacionais de pais de crianças de três a seis anos que
freqüentam centros de educação infantil da rede pública municipal de Itajaí,
SC.
- Conhecer quais os valores que esses pais consideram prioritários na educação
de seus filhos.
- Conhecer quais as qualidades que esses pais consideram mais importantes no
exercício de suas ocupações profissionais.
- Relacionar os valores educacionais dos pais com as qualidades que eles mais
valorizam no trabalho. .
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Desenvolvimento em contexto
A interação entre sujeitos e o meio é um fator essencial no processo de
desenvolvimento. Segundo Bronfenbrenner, desenvolvimento é “o conjunto de
processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem
para produzir constância e mudanças nas características da pessoa no curso de sua
vida” (BRONFENBRENNER, 1998, p. 191). Portanto, o desenvolvimento se traduz por
“uma mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com seu
ambiente” (BRONFENBRENNER,1996, p.05).
O sujeito é um ser ativo, que contribui para o seu próprio desenvolvimento. O
modelo ecológico de Bronfenbrenner (1996) considera que o organismo em
desenvolvimento está inserido numa série de sistemas hierarquizados que o influenciam
e são influenciados por ele. O autor (1989) defende que um ambiente promotor de
desenvolvimento é aquele que não só provoca a ação do sujeito, como oferece
obstáculos superáveis a essa ação.
Devido às pressões sócio-econômicas-culturais, a ênfase tradicionalmente dada
ao ambiente ideal para o desenvolvimento das crianças tem saído dos limites do lar.
Desta forma, para se estudar o desenvolvimento infantil, é necessário analisar os
contextos em que as crianças estão inseridas, pois as crianças pequenas passaram a
dividir novos espaços com outras pessoas que não somente os de suas famílias.
Contexto é um conjunto que implica inclusão e interligação entre aspectos físicos e
sociais do ambiente incluindo sistemas de crenças e ideologias (Bronfenbrenner, 1979/
1996).
O autor defende que, para compreender o desenvolvimento da criança, devem ser
consideradas as influências ambientais mais amplas como, por exemplo, o padrão de
interação dentro da família e as influências da cultura sobre aquela família. São
analisadas as pessoas ativas em desenvolvimento e as propriedades mutantes dos
ambientes imediatos em que essas pessoas vivem, sendo afetadas pelas relações entre
esses ambientes e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos.
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Dessa forma, analisa-se o desenvolvimento humano, envolvendo vários níveis
(sistemas) que se afetam mutuamente.
No estudo do Microssistema, a pessoa em desenvolvimento é vista como um
ator que toma parte em todo e qualquer processo que se desenrole nesse micro-sistema,
o qual contém outras pessoas com características distintas de temperamento,
personalidade e sistemas de crenças” (BRONFENBRENNER, 1989, p. 227).
O Mesossistema “ compreende as ligações e processos que ocorrem entre dois ou
mais ambientes onde a pessoa em desenvolvimento está inserida por exemplo: as
relações entre lar e escola, escola e lugar de trabalho, etc.” (idem, p. 227).
O autor denomina de Exossistema, as conexões e processos que ocorrem entre
dois ou mais ambientes, sendo que em um deles a pessoa em desenvolvimento não se
encontra presente, mas que influenciam o seu desenvolvimento, como, para a criança:
as condições do local de trabalho dos pais, ou da interação que esses estabelecem com
seus superiores ou subordinados.
Bronfenbrenner descreve Macrossistema como sistemas de valores e crenças
partilhadas por um grupo, assim como as oportunidades, recursos, estilo de vida e
pessoas em cada cultura ou sub-cultura, e que são vivenciadas e/ou assimiladas
promovendo e direcionando o processo. Por exemplo, a classe social: as relações não
são as mesmas para as famílias abastadas e para as famílias pobres (idem, p. 227).
Assim, para compreender esse processo de transformação que é o
desenvolvimento, é preciso entender um pouco como o macrossistema vem
influenciando e, ao mesmo tempo, sendo plasmado nas relações que constituem o
microssistema, o exossistema e o mesossistema, envolvendo pessoas em tempos e
ambientes históricos diferenciados.
2.2 Concepção de infância: um elemento do macrossistema
Para um melhor entendimento das crenças e valores existentes hoje em dia sobre
a criança e seu desenvolvimento, é necessário que se conheça a concepção de infância
dominante na sociedade, pois, com o passar dos tempos, as idéias que se tinha sobre
infância mudaram. Podemos perceber essas mudanças no trabalho de Philipe Ariès
(1981, p.10) o qual aponta que na sociedade medieval, se desconhecia a infância ou não
se tentava representá-la, pois a consciência da particularidade infantil que distinguia a
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criança do adulto não existia.. Portanto a duração da infância era reduzida ao seu
período mais frágil, e quando a criança mal adquiria um desembaraço físico, era logo
misturada aos adultos e partilhava de seus trabalhos e jogos. “De criancinha pequena,
ela se transformava imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da
juventude”.
Ariès afirma que a transmissão dos valores e dos conhecimentos e a socialização
da criança não eram asseguradas nem controladas pela família. Durante séculos, a
educação da criança foi garantida através da convivência com os adultos. “A passagem
da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que
tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade” (Ariès, 1981, p. 10
).
O autor chamou de “paparicação” quando as pessoas se divertiam com a criança
pequena em seus primeiros anos de vida. Quando ela conseguia superar os primeiros
perigos e sobreviver ao tempo da “paparicação”, era comum que passasse a viver em
outra casa que não a de sua família ( Ariès, 1981, p. 10 ).
Áries (1981) esclarece que o sentimento de infância, de preocupação e
investimento da sociedade e dos adultos nas crianças, de criar formas de regulação da
infância e da família são idéias que surgem com a modernidade.
Segundo Áries (1981), no fim do século XVII, a escola substituiu a
aprendizagem direta como meio de educação. A criança foi separada dos adultos e
mantida à distância numa espécie de quarentena que foi a escolarização.
A história do século XX foi caracterizada pela crescente profissionalização do
cuidado infantil, escolas, creches, maternidades foram criadas e surge o interesse pela
capacidade da família de satisfazer as elevadas demandas sociais que envolvem a
educação de uma criança (Sandin, 1999).
Para Bronfenbrenner (1996), em nossa sociedade, o único ambiente, além do lar
familiar, que serve como um contexto abrangente para o desenvolvimento humano a
partir dos primeiros anos de vida é a instituição infantil. Desse modo, garantir um
serviço de qualidade nas instituições de educação infantil é de fundamental importância,
não só para prevenir problemas futuros como até para promover um desenvolvimento
mais efetivo. Podemos observar os efeitos positivos do programa pré-escolar
High/Scope que David P. Weikart, propôs para a educação no início da infância e no
qual os adultos e as crianças partilham o controle das atividades. Reconhece que o poder
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para aprender reside na criança, o que justifica o foco nas práticas de aprendizagem
através da ação. O papel do adulto é apoiar e guiar as crianças no desenvolvimento das
aventuras e das experiências que integram a aprendizagem pela ação. (Weikart, 1995).
Ao longo dos anos investigadores testaram a validade dessa abordagem, recolhendo
dados longitudinais acerca do High/Scope Perry Preschool Project e do High/Scope
Preschool Curriculum Demonstration Project. Os dados sobre o impacto da abordagem
foram obtidos em um estudo longitudinal que acompanhou o programa entre 1962 e
1967 até a idade de 40 anos. Foram examinados registro de seus percursos escolares,
dados dos serviços de segurança social e registros cadastrais. Nessa pesquisa foram
encontradas diferenças favorecendo os sujeitos que se envolveram no programa pré-
escolar de aprendizagem pela ação. Essas diferenças que os favoreceram referem-se aos
itens que foram investigados, como a responsabilidade social, salários e estatuto
econômico, rendimento escolar e comprometimento no casamento. Estes estudos
mostram o impacto positivo, mesmo a longo prazo, de programas de qualidade,
confirmando as conclusões dos autores que afirmam que as práticas educacionais para
as crianças pequenas tendem a desenvolver mais o raciocínio e a capacidade de solução
de problemas, tornar as crianças mais cooperativas e atentas aos outros e a adquirir
maior confiança em si (Oliveira, 2002, p. 85).
Embora não seja o ambiente de desenvolvimento dominante no Brasil, a instituição
de educação infantil vem ganhando um espaço crescente entre as formas de cuidado à
criança de zero a seis anos, passando a ser uma opção viável para as famílias, com
repercussões para a promoção da igualdade entre os gêneros, na medida em que facilita o
engajamento da mulher no mercado formal de trabalho (LORDELO, 2002. p. 93). Desta
forma, a educação infantil passa a ser mais um recurso e contexto para o desenvolvimento
humano.
A criança, a partir do lugar social e do contexto cultural em que está inserida, será sempre alvo de intervenção dos adultos, instituindo-se diferentes formas de relacionamentos, conforme os poderes subjacentes a eles. Por esse fato, cada época, cada cultura comporta características específicas, que se inserem no conjunto complexo de fatores presentes na organização social (FERNANDES, p. 16, 2004 ).
Os processos que envolvem as crianças no ambiente pré-escolar são
influenciados por inúmeros fatores, como o currículo da escola, as professoras, o
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contexto sócio-cultural, a família e também a forma como se constituem os diversos
sistemas (micro, meso, exo, macrossistema).
De acordo com Cordeiro (2004), ao avaliar os Centros de Educação Infantil
como contextos de desenvolvimento, a preocupação em criar um ambiente que
proporcione a aprendizagem ativa não se limita à organização do espaço físico e dos
materiais colocados à disposição da criança, mas se estende às interações que ocorrem
nesse ambiente.
A instituição de educação infantil brasileira, como um ambiente de
desenvolvimento, ainda têm muito a desenvolver em termos de conhecimentos e
práticas inovadoras que ampliem o potencial de condições favorecedoras do
desenvolvimento, reduzindo as possibilidades de prejuízos ao bem-estar atual e futuro
da criança e da família. (LORDELO, 2002).
Um dos aspectos que merece atenção quando se pensa em uma educação infantil
de qualidade é a relação entre a família e a instituição que atende à criança. Observa-se
que essa relação ainda é contaminada por pré-conceitos que afetam as práticas
pedagógicas, sobretudo as direcionadas a crianças de níveis sócio-econômicos mais
baixos. Gama ( apud Donaduzzi).
Esses pré-conceitos podem estar relacionados com a existência de diferentes
crenças e valores educacionais entre as professoras e as famílias, ou até pelo fato de
tanto as famílias como as professoras assumirem que a existência de diferenças que, na
realidade, podem não existir. Estudos como o de Palácios e Oliva (1991) trazem alguns
subsídios para esclarecer essa questão.
2.3 Crenças e valores na educação dos filhos: elementos do macro-sistema que impregnam as relações familiares
De acordo com Bronfenbrenner (1996), a família com a qual a criança interage
diretamente constitui um microssistema. Idealmente, é neste contexto familiar que
ocorre a maior fonte de segurança, proteção, afeto, bem-estar e apoio para a criança.
Nele, a criança exercita papéis e experimenta situações, sentimentos e atividades.
Dentro dele, a criança desenvolve o senso de permanência e o de estabilidade, por meio
do sentimento e segurança transmitidos dos pais aos filhos. Assim, a família é
considerada como o primeiro ambiente onde a criança participa ativamente. Nesse
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ambiente, a interação ocorre de uma forma diádica, em uma relação face a face, como,
por exemplo, na relação da mãe com a criança.
As relações dentro do grupo familiar vão se expandindo, formando, dentro deste
sistema, vários subsistemas, como a relação pai-criança e a relação entre irmãos. A
sociabilidade com outras crianças também exerce influência sobre o desenvolvimento
infantil. Segundo Papalia e Olds (2000), as crianças aprendem imitando umas às outras.
Questões como brincar, identidade sexual, comportamento agressivo ou pró-social,
envolvem outras crianças e será por meio dessas amizades e interações que aprenderão a
relacionar-se com os outros.
É importante o envolvimento dos pais com as crianças e sua capacidade de
estimulá-las. Há evidências de que a responsividade do cuidador pode ajudar a
desenvolver habilidades cognitivas, mas se o ambiente doméstico é pobre, as chances de
bons resultados são menores (PAPALIA E OLDS, 2000). Percebe-se que os pais ou
educadores têm uma forte influência no desenvolvimento, pela maneira como educam
seus filhos.
Applegate, Burleson e Delia (apud LORDELO E COL, 2000) mostraram a
existência de um acentuado efeito dos estilos parentais de criação sobre o
desenvolvimento da criança. As técnicas de controle aversivo utilizadas nas práticas de
criação resultam no aumento de comportamento agressivo entre as crianças, em
contraposição às técnicas usadas pelos pais indutivos, que utilizam a razão e o
argumento no controle do comportamento da criança os quais têm, em geral, crianças
mais altruísticas, com comportamentos guiados por normas pessoais e morais.
Segundo Alvarenga e Piccinini (2001), no convívio diário, os pais procuram
direcionar o comportamento dos filhos no sentido de seguir certos princípios morais e
adquirir uma ampla gama de comportamentos que garantam independência, autonomia e
responsabilidade, para que mais tarde possam desempenhar adequadamente seu papel
social.
O modo como as crenças exercem seus efeitos nas práticas de criação não é
suficientemente claro. Lighfoot e Valsiner (apud LORDELO E COL, 2000) apontam
que não se pode deduzir que as crenças parentais tenham efeitos diretos nas práticas de
cuidados parentais nem que essas práticas tenham efeitos diretos no desenvolvimento
infantil. Contudo, tem sido observada uma sistemática ligação entre estes termos, no que
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se poderia descrever como uma cadeia de influências, embora as direções dessas
influências, bem como as interligações entre elas, não estejam evidentes.
Por exemplo, Martin e Johnson (apud LORDELO E COL., 2000) encontraram
uma relação entre as crenças maternais sobre o desenvolvimento e a percepção materna
da competência infantil: mães com um conhecimento mais sofisticado sobre teorias do
desenvolvimento infantil e da aprendizagem tenderiam a perceber as crianças como
mais competentes, embora não sejam evidentes os mecanismos subjacentes a essa
relação. Como apontado pelos autores, é possível que as mães com teorias mais
sofisticadas sejam estimuladas, como efeito de suas crenças, a se tornarem mais
observadoras de suas crianças.
As idéias parentais de como cuidar das crianças tendem a acompanhar as crenças
da sociedade, sujeitas a mudanças históricas, de modo que as famílias procuram integrar
sua forma de cuidar dos filhos a essas crenças (BASTOS, 1991, apud LORDELO e
COL., 2000).
2.4 Crenças e valores do trabalho
A interação que os pais estabelecem com colegas de trabalho, superiores e
subordinados em seus locais de trabalho, que é o seu contexto profissional, afeta o
desenvolvimento da criança mesmo ela não estando inserida diretamente nesse contexto.
Para Spodek (2000, p.762), segundo o modelo ecológico, investigações recentes sobre
sistemas informais mostram que estes podem influenciar significantemente o
comportamento dos pais, “ estas redes incluem relações sociais com familiares, amigos,
colegas de trabalho e vizinhos. A investigação demonstrou que o grau, intensidade e
conteúdo do intercâmbio entre os pais e os membros das suas redes sociais pessoais
(isto é, o seu círculo mais íntimo de amigos) influenciam as suas percepções, recursos e
comportamentos. Entretanto estas percepções, recursos e comportamentos influenciam o
desenvolvimento da criança”.
De acordo com Sarriera (2004), o trabalho permite ao indivíduo progredir em
suas sucessivas escolhas, auxiliando a perceber a relação que existe entre as decisões
que vai tomando no decorrer de sua vida profissional, pessoal e familiar, porque os
inter-relacionamentos que se estabelecem entre as pessoas, entre os agentes e atores dos
cenários em que se movimenta a organização, ultrapassam as meras relações funcionais.
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Há o carinho, o carisma, a amizade, a admiração mútua, o companheirismo, que,
permite que mesmo os equívocos, as falhas e os erros sejam entendidos como parte
integrante dos processos de aprendizagem organizacional (idem, p. 138).
No entanto, a profissão é mais que um emprego. Hoje, as pessoas buscam
empregos em que possam exercer suas competências técnicas, tecnológicas, cognitivas,
sociais e afetivas. Querem, ao mesmo tempo, contribuir na construção de ambientes de
trabalho que lhes permitam evoluir, aperfeiçoar-se continuamente , desenvolvendo-se
como pessoas e como profissionais. O autor acima destaca que, o modo como o trabalho
é executado, ou seja, a atividade, bem como o produto desse trabalho, também são
aspectos importantes na construção da identidade humana. Considera também, o
significado que o trabalho tem para o indivíduo em termos de satisfação ou insatisfação
com o mesmo.
Por outro lado, o trabalhador, quando fica dependente da empresa e do emprego,
quando sai por demissão, muitas vezes inesperada, ou até por aposentadoria, perde não
só o emprego, mas sua identidade, muitas vezes sem condição de refazê-la através de
outros círculos de relacionamentos e outras opções de vida e de realizações humanas e
profissionais.
No que tange ao desemprego, é um dos aspectos do contexto de trabalho que
interfere nos projetos profissionais e de vida. O ser humano se torna algo por meio de
sua prática. O não exercício de uma atividade de trabalho faz com que o indivíduo não
se sinta profissional. O trabalho significa manter ou buscar status, realização pessoal ou
familiar, necessidade de sustentar-se, entre outras coisas. O autor aponta que as relações
de trabalho determinam o comportamento do ser humano, bem como suas expectativas e
projetos para o futuro. O indivíduo necessita do trabalho para sobreviver na sociedade
capitalista e, devido a esse aspecto, a colocação no mercado de trabalho é importante. A
condição de trabalhador assalariado é valorizada e provoca uma desvalorização daqueles
que não ocupam esse lugar, ou, não se encontram nessa condição. O sentimento com a
não-ocupação de um lugar no contexto de trabalho, Sarriera cita Codo (1984), que
afirma que diferentes ambientes de trabalho determinam indivíduos diferentes: “ Cada
gesto, cada palavra, cada reflexão, cada fantasia traz a marca indelével, indiscutível de
sua classe social, do lugar que o individuo ocupa na produção”. Contudo, a não-
ocupação desse lugar traz também suas repercussões.
18
Segundo Sarriera (2004, p.127), os valores são princípios ou metas que norteiam
o comportamento do indivíduo ou de uma instituição. O autor refere-se a uma pesquisa
realizada em 49 países na qual foi investigada a centralidade do trabalho para os
indivíduos de culturas diferentes. Os resultados mostram que nas sociedades nas quais a
dominação e a autonomia são considerados valores muito importantes, o trabalho é
percebido como algo central na vida dos sujeitos, enquanto que nas culturas em que os
valores mais importantes são a autonomia afetiva, igualitarismo, harmonia e
conservadorismo, o trabalho não possuía um papel tão central. Implicitamente ou
explicitamente os valores culturais representam, liberdade, prosperidade e segurança,
que são a base para normas específicas do que as pessoas dizem que é apropriado,
correto. Numa sociedade na qual a ambição e o sucesso individual é muito valorizado
pelo sistema econômico, as pessoas são estimuladas a serem competitivas. Por outro
lado, há culturas em que a ênfase é no bem-estar do grupo, baseado nos valores de
cooperação.
3 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Questões de pesquisa
- Quais as crenças educacionais de pais de crianças de três a seis anos que
freqüentam centros de educação infantil da rede pública municipal de Itajaí,
SC?
- Quais os valores que esses pais consideram prioritários na educação de seus
filhos?
- Quais as qualidades que esses pais consideram mais importantes no exercício
de suas ocupações profissionais?
- Qual a relação entre os valores educacionais dos pais e as qualidades que eles
mais valorizam no exercício de suas ocupações profissionais?
3.2 Sujeitos
Participaram da pesquisa 39 pais ou responsáveis pelas crianças de quatro a seis
anos, em dois Centros de Educação Infantil da rede municipal de Itajaí, sendo vinte em
cada centro.
A seleção dos CEI,s obedeceu a um critério sócio-econômico, que foi definido
para os outros estudos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa. Esse critério foi baseado
na renda familiar das famílias atendidas nos centros de Educação Infantil. Foram
identificados três extratos que correspondem a diferentes comunidades da cidade de
Itajaí: muito carentes; mais ou menos carentes e menos carentes. Como os dados sobre
renda familiar não estavam disponíveis nos CEIs, foi feito um levantamento para outros
projetos do grupo de pesquisa. Ainda assim, esta avaliação é apenas aproximada e inclui
também as características do bairro onde o CEI está localizado, pois os indicadores de
renda familiar foram informados pelos pais que, em alguns casos, receando que seus
filhos perdessem a vaga, podem ter informado uma renda inferior à que realmente
20
percebem. Para este estudo foram entrevistados os responsáveis pelas crianças dos
extratos considerados mais carente, (CEI 1) e menos carente (CEI 2).
O quadro 1 mostra o número de sujeitos que participaram da pesquisa, por
instituição.
Quadro 1. Número de sujeitos que participaram da pesquisa
CEI1 CEI2 Mães, avós ou tias 19 19
Pais 1 0
Tabela 1 profissão dos respondentes - freqüências
CEI1 CEI 2 TOTAL
Catador de papelão 1 1 Operário 4 4 Serviços administrativos não especializados 2 5 7 Serviços domésticos / manicure 7 14 21 Dona de casa/ aposentada/ desempregada/ estudante 5 5 Professores de qualquer nível 1 1 Serviços técnicos (nível médio) 0 Serviços especializados (nível superior) 0 Pequenos empresários / autônomos / profissionais liberais 0
Como pode ser observado, os respondentes do CEI1 (quase todos mães) exercem
profissões não especializadas e a maioria não tem vínculo com qualquer tipo de
organização com uma estrutura hierárquica mais definida, já que apenas quatro
trabalham em empresas (de pescado) como operárias.
Tabela 2. nível de escolaridade dos respondentes - freqüências
GRUPOS FORMAÇÃO ESCOLAR
CEI1 CEI2 Total
Analfabeto 1 1 S.iniciais incompleto 5 5 4a série 6 1 7 Fundamental completo 5 7 12 Médio incompleto 2 3 5 Médio completo 1 9 10
A maioria das mães do CEI1 tinha freqüentado a escola apenas até à quarta série,
no máximo. Apenas uma mãe deste grupo tinha concluído o ensino médio. A maioria
das mães do CEI2 já tinha completado ou estava cursando o Ensino Médio. Todas as
outras já tinham concluído pelo menos a 4a série.
21
3.3 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados
Foram utilizados três formulários construídos com base em instrumentos
utilizados por Tudge (manuscrito não publicado), que serão descritos mais adiante:
- Inquéritos sobre opiniões e crenças educacionais dos pais
- Escala de valores educacionais
- Escala de valores de trabalho
Esse formulários foram preenchidos pela pesquisadora de acordo com as
respostas dos pais/responsáveis, obtidas em uma entrevista conduzida pela pesquisadora
nos CEIs ou na residência dos mesmos, conforme eles preferiram. Para isso, a
pesquisadora entrou em contato com os pais por telefone, para agendar a entrevista. O
número de telefone foi fornecido pela coordenação dos CEIs. As famílias do CEI1
foram entrevistadas por outra acadêmica do curso de Psicologia em trabalho realizado
anteriormente.
3.3.1 Descrição do instrumento “Inquérito sobre Opiniões e Crenças Educacionais
dos Pais”
O “Inquérito sobre Opiniões e Crenças Educacionais dos Pais” é constituído por
59 questões que foram organizadas nas seguintes categorias: Mimo (oito questões),
Liberdade (seis questões), Controle (sete questões), Conversa (três questões), Influência
dos pais (oito questões), Competência (cinco questões), Inatismo/fatalismo (sete
questões), Influência da TV (três questões), Oportunidades e expectativas (seis
questões). Além destas, cinco questões não couberam em nenhuma das categorias acima
e foram agrupadas com o nome genérico Outras. Essas questões foram respondidas
pelos sujeitos de acordo com uma escala semântica com cinco níveis:
• Discordo totalmente • Discordo em parte • Não tenho opinião • Concordo com restrições • Concordo totalmente
Descrição da categoria CONVERSA
Esta categoria refere-se à importância que os pais dão em disponibilizar tempo
para conversar com seus filhos. É constituída pelas questões apresentadas no quadro 2:
22
Quadro 2. Questões que compõem a categoria CONVERSA
38. Eu acredito que é importante que eu dedique muito tempo para conversar com meu (minha) filho (a).
45. Dedicar tempo para conversar com as crianças provavelmente não terá efeito nelas. 54. É importante, para o desenvolvimento de uma criança, que seus pais lhe dêem respostas
consistentes quando falam com ela.
Descrição da categoria MIMO
Esta categoria procura identificar as crenças dos pais sobre a quantidade de
carinho que se deve dar às crianças, tanto no que se refere ao contato físico como ao
atendimento às suas demandas. É constituída pelas questões apresentadas no quadro 3:
Quadro 3. Questões que compõem a categoria MIMO
2. É provável que seu(sua) filho(a) pequeno(a) fique mimado(a) se você responder/atender à maioria dos seus choros.
11. Uma criança pode ficar mimada se a mãe lhe der uma grande quantidade de atenção. 14. Um bebê fica mimado quando ele se acostuma a ficar no colo sendo embalado
freqüentemente. 19. Responder rapidamente ao choro de um bebê o encoraja a sempre exigir mais (ser cheio de
vontades). 25. Eu fico preocupado(a) em mimar demais (“estragar”) meu(minha) filho(a), por ser um
pai(mãe) muito atencioso(a). 48. Há mais chances que os filhos cresçam muito dependentes dos pais se estes forem muito
afetuosos com eles, quando bebês. 59. Os pais deveriam controlar o quanto eles expressam o afeto que sentem pelo seu bebê,
limitando o quanto embalam, abraçam e seguram seus filhos. 35. Bebês, algumas vezes, choram um pouco depois de serem alimentados e trocados; se não
há uma razão aparente do porquê eles estão chorando, é melhor ignorar seu choro.
Descrição da categoria CONTROLE
Esta categoria permite que os pais mostrem o quanto são permissivos ou
restritivos em algumas situações em relação aos seus filhos, e a importância que
atribuem a exigir obediência e impor regras. É constituída pelas questões apresentadas
no quadro 4:
Quadro 4. Questões que compõem a categoria CONTROLE
4. Os pais devem ser rigorosos com seus filhos pequenos ou terão dificuldade de lidar com eles no futuro.
13. A tarefa mais importante dos pais é disciplinar a criança. 21. Uma das melhores maneiras de preparar uma criança pequena para ser um bom estudante
é ensinando-a a ser obediente. 44. Crianças que são mantidas sob regras firmes tornam-se os melhores adultos. 49. Uma família, como todas as outras organizações, precisa de uma lista de regras claramente
definidas, as quais todos devem seguir sem exceção.
23
27. É mais importante para uma criança aprender a pensar por si própria do que aprender a obedecer aos adultos.
42. Quando as crianças sentem que as regras familiares não fazem sentido, devem ser encorajadas a dizer aos seus pais que elas discordam das regras.
Descrição da categoria LIBERDADE
Esta categoria refere-se à opinião dos pais, quanto ao grau de liberdade e
possibilidades de escolha que devem dar aos filhos, promovendo ou não a sua
autonomia. É constituída pelas questões apresentadas no quadro 5:
Quadro 5. Questões que compõem a categoria LIBERDADE
3. As crianças precisam aprender a brincar sozinhas, por elas mesmas e, por essa razão, devem passar algumas horas por dia com pouca supervisão de adultos.
12. Desde que a criança não corra perigo e o objeto não vá ser danificado, deve-se permitir que ela brinque com quase todos os objetos da casa que lhe interessam.
20. Para evitar que as crianças sejam “levadas” (isto é, que tirem coisas dos lugares, brinquem com objetos que não sejam brinquedos etc), os pais devem limitar rigorosamente a área da casa na qual é permitido à criança brincar.
26. As crianças deveriam aprender cedo que o desejo dos pais de ter uma casa limpa e em ordem deve ser respeitado.
36. As crianças vão aprender mais se elas puderem brincar dentro e fora de casa.
37. Já que não podemos confiar que as crianças façam a coisa certa, devemos limitar as oportunidades delas fazerem coisas erradas.
Descrição da categoria INFLUÊNCIA DA TV
Esta categoria procura identificar as crenças dos pais em relação ao poder da
televisão de influenciar o comportamento de seus filhos. É constituída pelas questões
apresentadas no quadro 6:
Quadro 6. Questões que compõem a categoria INFLUÊNCIA DA TV
24. Uma criança pequena pode aprender muito vendo televisão. 33. Eu acredito que quanto menos meu filho assistir televisão quando jovem, melhor ele vai
ser. 57. Se uma criança assiste programas violentos na televisão, ela estará mais inclinada a se
comportar agressivamente com outras crianças (batendo, chutando, xingando).
24
Descrição da categoria INATISMO/FATALISMO
Esta categoria procura investigar se os pais se consideram que o caráter, as
características de personalidade e a inteligência dos filhos é determinada por fatores
inatos ou pela sorte, ou se, ao contrário, essas características estão mais relacionadas
com o tipo de criação e educação que é proporcionada pelos pais. É constituída pelas
questões apresentadas no quadro 7:
Quadro 7. Questões que compõem a categoria INATISMO/FATALISMO
6. A maneira como os pais criam seus filhos tem pouca relação com o que eles irão se tornar.
23. Criar bem uma criança tem muito a ver com sorte. 31. Eu acredito que envolver meu(minha) filho(filha) em casa em atividades que são
desafiadoras para ele(a), aprimora sua habilidade de aprender coisas na escola. 43. Não existe muita coisa que um pai/mãe possa fazer para influenciar o desenvolvimento
das habilidades intelectuais de seu filho. 53. A mais importante diferença entre crianças que são bons alunos e crianças que vão mal
na escola é a quantidade de habilidades com que elas nascem. 55. Algumas crianças nascem com características de personalidade indesejáveis e não há
muito que um(a) pai(mãe) possa fazer para mudar essas características. 5. Há muitas coisas que os pais podem fazer para tornar seus filhos mais espertos.
Descrição da categoria INFLUÊNCIA DOS PAIS
Esta categoria procura identificar as crenças dos pais em relação ao poder de
suas orientações quando confrontado com a influência de outras pessoas no
comportamento de seus filhos, como, amigos, professores, escola, vizinhos. É
constituída pelas questões apresentadas no quadro 8:
Quadro 8. Questões que compõem a categoria INFLUÊNCIA DOS PAIS
8. Quando meu(minha) filho(a) estiver na escola, seu comportamento provavelmente será mais influenciado por seus amigos do que pelas minhas expectativas.
15. Eu acredito que o modo como eu trato outras pessoas vai influenciar muito o modo como meu filho se comporta com os outros.
17. Depois que meu filho estiver na escola por algum tempo, suas professoras vão, provavelmente, influenciar suas idéias mais do que eu.
29. Eu me preocupo que alguns vizinhos possam ser má influência para o meu(minha) filho(filha).
40. Eu me preocupo que os meus filhos sejam influenciados pelo mau exemplo dado pelas crianças da vizinhança.
46. Se meu(minha) filho(a) se mistura com más companhias na escola, eu vou ter dificuldade para mantê-lo(a) fora de problemas.
50. Eu me preocupo que idéias e valores contrários aos meus venham a ser adotados pelo(a) meu(minha) filho(a) depois de algum tempo de seu ingresso na escola.
22. Uma vez que a criança esteja na escola, esta é a principal responsável pela sua educação.
25
Descrição da categoria COMPETÊNCIA
Esta categoria procura investigar a auto-avaliação dos pais em relação às suas
competências, capacidades e habilidades de educar seus filhos, em comparação a outros
pais que eles conhecem. É constituída pelas questões apresentadas no quadro 9:
Quadro 9. Questões que compõem a categoria COMPETÊNCIA
7. Eu sou um pai/mãe mais competente do que a maioria dos pais/mães que eu conheço. 16. Eu sou mais seguro(a) a respeito das minhas habilidades como pai/mãe do que a maioria
dos pais/mães (do mesmo sexo que eu) que eu conheço. 32. Eu não tenho muito conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. 39. A maioria dos pais que eu conheço parece ter se ajustado às exigências de ser pai/mãe melhor do
que eu. 51. Pelo fato das escolas e dos cursos terem mudado tanto nos últimos anos, será difícil para
mim ajudar meu(minha) filho(a) a aprender o que é ensinado na escola.
Descrição da categoria OPORTUNIDADES E EXPECTATIVAS
Esta categoria procura investigar se contingências sociais e econômicas
determinam as crenças e expectativas dos pais em relação às possibilidades de seus
filhos de escolherem qualquer carreira e obterem sucesso, ou não, no futuro, na carreira
escolhida. É constituída pelas questões apresentadas no quadro 10:
Quadro 10. Questões que compõem a categoria OPORTUNIDADES E EXPECTATIVAS
9. Eu estou convencido(a) de que meu(minha) filho(a) terá um futuro brilhante. 18. Eu acredito que o meu filho terá a oportunidade de se formar numa boa universidade, se
este for o seu objetivo. 30. As oportunidades ocupacionais disponíveis para a minha criança vão depender em grande
parte da política econômica do governo. 34. Eu acredito que meu(minha) filho(a) vai ter oportunidade de conseguir um trabalho com
alto salário e alta responsabilidade caso ele(a) queira tal trabalho. 41. Se o meu (minha) filho(a) arrumar um trabalho sem boas perspectivas, do qual ele(a) não
gosta, isso é culpa dele(a), pois outras oportunidades estão disponíveis para a maioria das pessoas.
47. Eu acho que as chances do(a) meu(minha) filho(a) de ser bem sucedido(a) como um adulto, são melhores do que as da maioria das crianças do mesmo sexo e idade.
Descrição dos itens não categorizados - OUTRAS
Incluímos neste grupo todos os itens que não se encaixam em nenhuma das
categorias acima definidas. É constituído pelas questões apresentadas no quadro 11:
Quadro 11. Questões não incluídas em nenhuma categoria: OUTROS
1. É importante para o desenvolvimento das crianças que elas saiam de casa várias vezes por semana com os pais ou com outros adultos.
10. A aprendizagem das crianças resulta, principalmente, da repetição de informações básicas.
26
28. Freqüentemente é difícil eu me manter interessado(a) quando estou brincando com meu(minha) filho(a).
52. Crianças pequenas são freqüentemente maldosas com os seus pais. 56. Ler para uma criança pequena provavelmente tem pouco efeito nela. 58. Pais que dão demasiada importância ao sucesso escolar (notas) têm mais chance de ter filhos
que se preocuparão exageradamente com a possibilidade de não corresponderem às expectativas dos pais.
3.3.2 Descrição do instrumento “Escala de valores educacionais”.
O formulário Escala de Valores Educacionais, contém dezoito qualidades para
serem avaliadas pelos pais, tendo como referência qualquer criança da mesma idade de
seu(sua) filho(a), numa escala semântica de cinco pontos 1) não importante, 2) pouco
importante, 3) mais ou menos importante, 4) muito importante e 5) extremamente
importante.
Quadro 12 Qualidades incluídas na Escala de Valores Educacionais
A. Ter boas maneiras B. Ter interesse em como e por que as coisas acontecem C. Ser responsável D. Ter consideração pelos outros. E. Ser arrumado(a) e limpo(a) F. Agir como um(a) menino(a) deveria agir G. Ter auto-controle H. Ser um(a) bom/boa aluno(a) I. Obedecer aos pais J. Ter bom senso e bom julgamento K. Ter um bom relacionamento com as outras crianças L. Ser honesto(a) M. Esforçar-se para ter sucesso N. Ser carinhoso(a) O. Ser uma criança feliz P. Ter habilidade para brincar sozinho(a) Q. Ser querido(a) pelos adultos R. Ter habilidade para se defender
No final do inquérito das dezoito qualidades, o entrevistado escolhia as três
qualidades mais importantes e as três menos importantes e, entre estas, elegia a mais e a
menos importante, respectivamente (ver quadro 10). Para que a escolha das qualidades
fosse facilitada, optou-se em confeccionar fichas para serem manuseadas pelos
entrevistados, contendo as dezoito qualidades apresentadas no quadro 10. As fichas
eram dispostas sobre a mesa, na frente do entrevistado, para facilitar a seleção pelo grau
de importância, de forma a obter-se o valor atribuído pelos respondentes a essas
qualidades.
27
3.3.3 Descrição do instrumento “Escala de valores de Valores de Trabalho”.
Este instrumento apresenta dezessete qualidades pessoais e os respondentes
devem avaliar a importância das mesmas de acordo com sua experiência profissional,
numa escala de valores que vão de “não importante” a “extremamente importante”.
Posteriormente, escolhiam e ordenavam as três qualidades que consideraram mais
importantes. Para que a escolha das qualidades fosse facilitada, optou-se em
confeccionar fichas para serem manuseadas pelos entrevistados, contendo as dezoito
qualidades apresentadas no quadro 10. As fichas eram dispostas sobre a mesa, na frente
do entrevistado, para facilitar a seleção pelo grau de importância, de forma a obter-se o
valor atribuído pelos respondentes a essas qualidades.
Quadro 13 Qualidades incluídas na Escala de Valores de Trabalho
A. Obedecer rigorosamente a meus superiores B. Reconhecer meus pontos fortes e meus pontos fracos C. Ser Inteligente D.Fazer nem mais nem menos do que me é requerido E. Ser amável F. Persistir em uma tarefa até que esteja terminada G. Ser ambicioso(a) para melhorar de posição H. Saber como trabalhar com os outros I. Saber como evitar confusões J. Ser capaz de fazer sacrifícios no presente em prol de resultados no futuro K. Respeitar as regras L. Ser imaginativo(a) M. Confiar em mim mesmo(a) N. Ser honesto(a) O. Ter um interesse genuíno em meu próprio trabalho P. Mostrar suas capacidades diante dos outros Q. Ser responsável/confiável em relação àquilo que depende de mim
3.4 Procedimentos éticos
Em todos os casos, os respondentes assinavam um termo de consentimento para
sua participação, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde/MS, de 10/10/96. O projeto desta pesquisa foi previamente aprovado pelo comitê
de ética.
4 ANÁLISE DE DADOS
4.1 Opiniões e crenças educacionais
No que se refere ao inquérito sobre as opiniões e crenças dos pais, das cinqüenta
e nove questões, 18 foram recodificadas, ou seja, os valores atribuídos pelos
entrevistados foram invertidos para que se mantivesse a coerência da avaliação. Por
exemplo, nos itens apresentados no quadro 13, referentes a categoria LIBERDADE, os
pais acham que devem dar mais liberdade aos seus filhos quando atribuem um valor
mais alto ao item 12, mas, quando se trata do item 20, que faz parte da mesma categoria,
mais liberdade seria expressa por um valor mais baixo. Por isso, neste caso, os valores
atribuídos pelos sujeitos no item 20, foram invertidos de forma que, na análise geral da
categoria, maior liberdade correspondesse a um valor médio mais alto.
Quadro 14. Exemplo de itens em que a mesma pontuação atribui um valor oposto à categoria à qual pertencem os itens
Discordo
totalmente
Discordo em
parte
Não tenho
opinião
Concordo com
restrições
Concordo
totalmente
12. Desde que a criança não corra perigo e o objeto não vá ser danificado, deve-se permitir que ela brinque com quase todos os objetos da casa que lhe interessam.
1
2
3
4
5
20. Para evitar que as crianças sejam “levadas” (isto é, que tirem coisas dos lugares, brinquem com objetos que não sejam brinquedos, etc), os professores devem limitar rigorosamente a área na qual é permitido à criança brincar.
1
2
3
4
5
As questões que constituem o Inquérito Opiniões e Crenças Educacionais dos
Pais, foram organizadas nas categorias acima descritas. Para a análise descritiva destas
categorias, calculou-se a média e o desvio padrão dos valores atribuídos, por cada
sujeito em todos os itens de cada categoria. Como as IEIs (Instituições de Educação
Infantil) investigadas atendem a populações de diferentes níveis sócio-econômicos,
considerou-se que uma análise comparativa das IEIs equivale a uma análise por NSE.
29
Assim, foram utilizadas análises estatísticas descritivas (média e desvio padrão
de cada categoria e de cada item), assim como análises estatísticas inferenciais para
comparação das respostas dos grupos (CEI1 e CEI2).
Tabela 3 Média e Desvio Padrão das diferentes categorias, por Nível Sócio-econômico
CEI1 CEI2 N M SD N M SD
CONVERSA 20 4,95 0,22 20 4,75 0,48
MIMO 20 3,73 0,92 20 2,79 0,70
LIBERDADE 20 2,73 0,73 20 2,81 0,67
CONTROLE 20 3,86 0,64 20 3,24 0,89
INATISMO / FATALISMO 20 1,98 0,59 20 1,76 0,67
INFLUÊNCIA DOS PAIS 20 2,87 0,78 20 3,09 0,59
INFLUÊNCIA DA TV 20 3,05 0,77 20 3,06 1,00
COMPETÊNCIA 20 3,46 0,61 20 3,33 0,59
OPORTUNIDADES 20 3,11 0,54 20 3,43 0,57
Como pode ser observado na tabela 3, na maioria das categorias não existem
grandes diferenças entre os grupos. Ainda assim, é interessante analisar os resultados de
cada categoria, comparando os dois grupos.
Conversa
Nesta categoria, quanto maior o valor atribuído aos itens, mais os pais apostam
na importância de conversar com seus filhos. Os resultados mostram que todos os
grupos tendem a concordar com a importância de conversar com as crianças. Embora a
diferença entre os grupos seja mínima, ela sugere que, quanto menor o NSE, mais os
pais tendem a dar importância a conversar com os filhos. A ANOVA confirmou que a
diferença entre os grupos não é significativa [F(1,39) = 2,83; p = 0,10], mas é
importante lembrar que a amostra analisada é pequena.
Mimo
Nesta categoria, quanto maior o valor atribuído aos itens, mais os pais
concordam que dar carinho e atenção pode mimar a criança. Como pode ser observado
na tabela, quanto maior o NSE, mais os pais tendem a discordar que dar atenção e colo e
atender aos choros das crianças possa deixá-las mimadas. Entretanto, a uma diferença
entre o grupo “CEI1” (NSE mais baixo) e o grupo “CEI2” (NSE menos baixo) A análise
de variância ANOVA confirma a existência dessa diferença significativa entre os grupos
30
[F(1,39) = 13,23; p < 0,001]. Revelando que os pais de NSE mais baixo se preocupam
mais com a possibilidade de mimarem seus filhos por lhes darem muita atenção.
Liberdade
Também nesta categoria, um valor mais alto significa uma maior concordância
em proporcionar às crianças mais liberdade e ampliar as oportunidades delas interagirem
com o ambiente. A comparação entre as médias mostra que todas elas se aproximam de
3, ou seja, de uma posição não claramente definida, mas com uma leve tendência a
discordarem das afirmações. Não existe diferença significativa entre os dois CEIs
(p=0,71). Portanto, os resultados revelam que os pais dos CEI,s não tem posição
definida mais estão mais inclinados a concordar com a existência de maiores restrições à
liberdade das crianças explorarem o ambiente.
Controle
Nesta categoria, quanto maiores os valores atribuídos aos itens, maior a
concordância com a imposição de limites e controles e maior a valorização da
obediência e a disciplina.
Considerando os resultados da categoria Liberdade, esperava-se que, na
categoria controle, houvesse uma relação inversa entre a defesa do controle e o nível
sócio-econômico. A comparação das médias dos grupos confirma essa suspeita. A
análise de variância mostra que, realmente, existe uma diferença significativa entre os
grupos, nesta categoria [F(1,39) = 6,30; p = 0,02].
Portanto, quanto menor o NSE, mais os pais tendem a concordar que devem
controlar e disciplinar seus filhos.
Inatismo / fatalismo
Nesta categoria, quanto mais alto o valor atribuído a cada item, mais o
respondente assume posições fatalistas. Como pode ser observado (tabela 3), com a
média variando de 1,75 a 1,98, pode ser concluído que nenhum grupo assume posições
fatalistas ou inatistas. Com efeito, a comparação das médias utilizando-se a análise de
variância ANOVA mostra que a diferença entre os grupos não é significativa [F(1,39) =
1,23; p =0,27].
31
Influência dos pais
Nesta categoria, quanto maior o valor, mais o sujeito considera que os pais têm
mais influência do que outras pessoas. Como pode ser observado na tabela 3, as médias
dos dois grupos aproximam-se de 3, sugerindo que os sujeitos, independentemente do
nível sócio-econômico, não têm posição definida em relação a essa questão. Desta
forma, também nesta categoria não foi observada uma diferença significativa entre os
grupos [F(1,39) = 1,01; p = 0,32].
Influência da TV
Nesta categoria, quanto maior o valor atribuído aos itens, mais os pais se
mostram preocupados com a influência que a TV possa exercer sobre o comportamento
dos seus filhos. Como pode ser observado na tabela 3, os grupos dos dois CEIs
apresentam uma ligeira tendência a concordar que a TV pode exercer uma influência
negativaA ANOVA confirma que não existem diferenças entre os grupos [F(1,39) =
0,01; p = 0,91].
Competência
Na categoria competência, quanto maior o valor atribuído aos itens, mais os pais
se sentem confiantes em relação ao desempenho de sua tarefa como educadores, quando
se comparam a outros pais.
A observação das médias mostra que, nos dois grupos, há uma tendência muito
leve em concordar com as afirmativas, mas os pais parecem não se sentir muito à
vontade para afirmarem que são mais competentes que os outros pais. Nesta categoria
não foi observada uma diferença significativa entre as médias dos grupos [F(1,39) =
0,47; p = 0,50].
Oportunidades e expectativas
Nesta categoria, quanto maior os valores atribuídos, mais confiantes se
mostravam os pais em relação à possibilidade de seus filhos optarem, no futuro, pela
carreira que quisessem, ou seja, menos preocupações eles demonstravam de que seus
filhos pudessem vir a ter as possibilidades de escolha e de sucesso profissional limitados
devido a condições socioeconômicas e políticas adversas. A observação das médias
mostra que não existe uma diferença entre os grupos [F(1,39) = 3,42; p = 0,07], já que
32
nenhum dos grupos tem uma posição definida em relação a essas questões. Entretanto, é
interessante observar cada item desta categoria, já que os itens se referem tanto a
expectativas como à percepção das oportunidades disponíveis.
Como pode ser observado na figura 1, não existem diferenças nas expectativas
que os dois grupos de pais alimentam em relação ao futuro de seus filhos. Já em relação
às oportunidades, a maioria dos pais dos dois grupos considere que as oportunidades
disponíveis não dependem dos filhos. Entretanto, os pais do CEI1 são mais enfáticos ao
manifestarem essa opinião, afirmando que o futuro dos filhos depende das políticas
governamentais e não da vontade dos filhos e que estes não terão mais condições de
serem bem sucedidos que as outras crianças.
CEI2CEI1
CEI
5
4
3
2
1
0
Mediana
1,5
1
2
1
55
3
1
55 55
chances de sucessodo meu filho melhor queas dos outros
oportunidadesdependerão de meufilho
trabalho c/ salário alto
oportunidadesindependem da políticaeconômica do governo
formação universitária
futuro brilhante
Figura 1 pontuação média atribuída pelos pais, por NSE, às afirmativas incluídas na categoria “oportunidades e expectativas”.
Outras crenças e opiniões
A figura 2 mostra as medianas dos valores atribuídos por cada grupo às
afirmativas não incluídas nas categorias anteriores.
33
CEI2CEI1
CEI
5
4
3
2
1
0
Mediana
ênfase no sucessoescolar-insegurançanos filhos
ler para cça tem poucoefeito
é difícil manter ointeresse em brincarcom a cç
aprendizagem resultada repetição deinformações
importante sair de casacom adultos
Figura 2 pontuação média atribuída pelos pais, por NSE, às afirmativas não incluídas em nenhuma das categorias anteriores.
Como pode ser observado, ambos os grupos discordam que seja difícil se
manterem interessados quando estão brincando com seus filhos. Quase todos os pais
estão convictos que a leitura é importante e que vai ter efeito nas crianças. Também
acreditam que sair de casa com os adultos contribui para o desenvolvimento das
crianças, embora os pais do CEI1 estejam mais convencidos disso do que os do CEI2.
Também acreditam que um excesso de preocupação com os resultados escolares pode
causar insegurança nos filhos, que receiam não atender às expectativas dos pais. Essa
crença é mais marcante nos pais do CEI1 do que nos do CEI2. Em relação à concepção
de aprendizagem, os pais dos CEIs tendem a assumir uma posição empirista,
associacionista.
Sintetizando o resultado das categorias acima analisadas, observou-se que os
grupos diferem sobretudo nas categorias MIMO (média do CEI1=3,73 e do CEI2=2,79)
e CONTROLE (média do CEI1=3,86 e do CEI2=3,24). Essas diferenças mostram que,
os pais de NSE mais baixo, tendem a acreditar mais na necessidade de controlar e
disciplinar seus filhos do que os pais de NSE um pouco mais elevado, valorizando a
obediência e restringindo as oportunidades para eles fazerem coisas erradas. Nos pais
dos NSE mais baixo (CEI1) esses posicionamentos são acompanhados da crença de que
34
dar carinho, colo e atender aos choros das crianças pode torná-las mimadas. Por outro
lado, esses pais são os que mais acreditam na eficiência da conversa na educação dos
filhos, o que sugere que eles preferem usar métodos de convencimento quando acham
que é necessário restringir a liberdade das crianças. Eles também acreditam que a
aprendizagem se dá por repetição de informações, o que sugere que o que eles entendem
por conversa pode se assemelhar mais a um sermão do que a um diálogo com as
crianças. No entanto, isso não é confirmado nas respostas ao item 42, no qual os dois
grupos manifestaram sua concordância em que as crianças devem ser encorajadas a
manifestar sua discordância das regras quando as consideram injustas. Aliás, no CEI1,
essa foi uma opinião quase unânime: 16 respondentes concordaram completamente e
apenas quatro discordaram totalmente.
4.2 Valores priorizados na educação das crianças
A tabela 4 mostra os valores que os pais e mães entrevistados priorizam na
educação de seus filhos em cada nível sócio-econômico pesquisado.
35
Tabela 4. Média e desvio-padrão referentes aos valores que os pais priorizam na educação de seus filhos
VALORES CEI1 CEI2
N M DP N M DP A. Ter boas maneiras 20 3,75 ,44 19 3,95 ,85 B. Ter interesse em como e porque as coisas acontecem 20 4,00 ,32 19 2,89 1,20 C. Ser responsável 20 3,95 ,60 19 3,84 ,76 D. Ter consideração pelos outros 20 4,05 ,22 19 2,89 1,05 E. Ser arrumado (a) e limpo (a) 20 4,20 ,41 19 2,63 1,01 F. Agir como um menino (a) deveria agir 20 3,75 ,55 19 2,00 1,00 G. Ter auto-controle 20 3,85 ,49 19 3,37 1,21 H. Ser bom/ boa aluno (a) 20 4,10 ,64 19 3,00 ,94 I. Obedecer aos pais 20 4,75 ,44 19 4,47 1,02 J. Ter bom senso e bom julgamento 20 3,50 ,95 19 2,79 1,32 K. Ter um bom relacionamento com as outras
crianças 20 4,15 ,37 19 2,84 1,30
L. Ser honesto (a) 20 4,65 ,49 19 3,74 1,05 M. Esforçar-se para ter sucesso 20 4,05 ,51 19 2,74 1,24 N. Ser carinhoso (a) 20 4,15 ,49 19 3,05 1,13 O. Ser uma criança feliz 20 4,80 ,41 19 4,42 ,90 P. Ter habilidade para brincar sozinho (a) 20 3,80 ,41 19 3,00 ,88 Q. Ser querido pelos adultos 20 4,20 ,70 19 1,58 ,90 R. Ter habilidade para se defender 20 4,15 ,37 19 2,05 1,22
Como pode ser observado, no CEI1, os itens que obtiveram maior pontuação
foram “ser uma criança feliz”, “obedecer aos pais”, “ser honesto”, “ser arrumado e
limpo” e “ser querido pelos adultos”.
No CEI2, os itens que obtiveram maior pontuação foram “obedecer aos pais”,
“ser uma criança feliz”, “ter boas maneiras”, “ser responsável” e “ser honesto”.
Desta forma, pode-se observar que alguns valores são priorizados nos dois níveis
sócio-econômicos: a felicidade das crianças e a honestidade.
No entanto, obseva-se que no CEI 1 foram atribuídos os escores máximos a
quase todos os itens, o que pode comprometer a interpretação dos resultados. Para evitar
esse problema foi solicitado que os respondente escolhessem os três itens que eles
consideravam mais importantes e os três itens que consideravam menos importantes, e
destes três apenas um item mais importante e um menos importante.
Na análise dos dados obtidos foi atribuído um ponto para o item considerado o
menos importante, dois pontos para o segundo item menos importante e três pontos para
o terceiro item menos importante; foi também atribuído sete pontos para o item
considerado mais importante, seis pontos para o segundo mais importante e cinco
36
pontos para o terceiro mais importante. Os itens não selecionados como sendo um dos
três mais ou menos importantes receberam quatro pontos.
A soma das pontuações dos itens resultantes da classificação realizada por todos
os sujeitos resultou na hierarquização dos mesmos, como mostrado na tabela **
Tabela 5. Hierarquização dos itens da escala de valores educacionais
CEI1 CEI2
N MIN MAX SOMA N MIN MAX SOMA
obedecer os pais 20 4 7 104 19 4 7 106
ser honesto 20 4 7 106 19 4 7 98
ser uma cça feliz 20 4 7 100 19 4 7 104
ser responsável 20 3 7 90 19 1 7 87
ter boas maneiras 20 4 4 80 19 1 7 89
ser carinhoso 20 4 5 83 19 2 6 80
ser bom aluno 20 4 4 80 19 4 6 82
ter um bom relacionamento com outras cças
20 4 4 80 19 1 7 78
ter auto-controle 20 1 5 66 19 4 7 91
ser querido pelos adultos 20 3 7 89 19 1 4 65
ter consideração pelos outros 20 3 5 77 19 1 4 75
esforçar-se para ter sucesso 20 1 5 73 19 1 6 77
ser arrumado e limpo 20 1 4 76 19 1 4 72
ter habilidade para se defender 20 3 4 77 19 1 6 63
ter habilidade p/ brincar sozinha 20 1 4 64 19 2 5 76
ter interesse em como e por que as coisas acontecem
20 1 4 64 19 1 6 74
ter bom senso e bom julgamento
20 1 5 63 19 1 4 65
agir como um menino deveria agir
20 1 5 69 19 1 4 58
A hierarquização das qualidades classificadas pelos sujeitos do CEI1 confirma
que, para os dois grupos, os valores mais priorizados são: “obedecer aos pais”, “ser
honesto” e “ser uma criança feliz”; ser responsável também é bastante valorizado pelos
dois grupos, embora mais pelos pais do CEI1. Estes valorizam também o “ser querido
pelos adultos”, enquanto os do CEI2 valorizam “ter boas maneiras”, o que pode ter um
significado semelhante, já que as crianças que têm boas maneiras geralmente são
queridas pelos adultos. Entretanto, privilegiar o ser querido enfatiza a importância da
afetividade, enquanto que privilegiar as boas maneiras enfatiza a conformidade a
normas sociais, com uma maior valorização do que parece do que do que è. Talvez por
37
isso, os pais do CEI2 valorizaram bastante o auto-controle, o que não aconteceu com a
mesma intensidade entre os pais do CEI1.
4.3 Valores priorizados pelos pais no exercício de suas ocupações profissionais
A tabela 6 mostra o quanto os pais valorizam algumas qualidades no exercício de
sua profissão.
Tabela 6. Média, mediana e desvio-padrão referentes aos valores que os pais priorizam no exercício de suas ocupações profissionais.
Nº de sujeitos Média Mediana Desvio padrão
obedecer rigorosamente a meus superiores 39 4,56 5,00 0,50
reconhecer meus pontos fortes e fracos 39 3,90 4,00 1,05
ser inteligente 39 3,97 4,00 0,87
fazer que me é requerido 39 4,03 4,00 0,81
ser amável 39 4,33 4,00 0,48
persistir numa tarefa até terminá-la 39 4,56 5,00 0,50
ser ambicioso p/ melhorar de posição 39 2,90 3,00 1,59
saber como trabalhar com os outros 39 4,13 4,00 0,86
saber como evitar confusões 39 4,10 4,00 0,82
fazer sacrifícios no presente em prol do futu 39 3,41 4,00 1,57
respeitar as regras 39 4,54 5,00 0,51
ser imaginativo 39 3,77 4,00 1,13
confiar em mim mesmo 39 4,41 4,00 0,55
ser honesto 39 4,95 5,00 0,22
interesse genuíno no próprio trabalho 39 4,28 4,00 0,51
mostrar suas capacidades diante dos outros 39 3,77 4,00 1,16
responsável/confiável em relação ao que depende de mim
39 4,74 5,00 0,44
Como pode ser observado, as qualidades que obtiveram maior pontuação
considerando-se a totalidade dos respondentes foram “ser honesto”, “ser responsável e
confiável em relação ao que depende de mim”, “obedecer rigorosamente a meus
superiores”, “persistir numa tarefa até terminá-la”, e “respeitar as regras”.
Considerando os valores da mediana, observa-se que todas as qualidades são
importantes ou extremamente importantes pela maioria dos entrevistados. A única
exceção é “ser ambicioso para melhorar de posição”, em relação a qual não se verificou
uma tendência positiva ou negativa.
38
Para obter uma melhor discriminação entre os itens (qualidades) solicitou-se que
os sujeitos escolhessem e ordenassem os três itens mais importantes. As tabelas 6 e 7
mostram os resultados no CEI 1 e no CEI 2.
Tabela 7. valores de trabalho, CEI 1
CEI1 N Minimum Maximum Sum ser honesto 20 0 3 50 responsável/confiável em relação ao que depende de mim 20 0 3 29
obedecer rigorosamente a meus superiores 20 0 3 13
respeitar as regras 20 0 3 12
ser amável 20 0 2 4
mostrar suas capacidades diante dos outros 20 0 2 4
ser inteligente 20 0 2 3
reconhecer meus pontos fortes e fracos 20 0 1 1
fazer que me é requerido 20 0 1 1
saber como trabalhar com os outros 20 0 1 1
fazer sacrifícios no presente em prol do futuro 20 0 1 1
confiar em mim mesmo 20 0 1 1
persistir numa tarefa até terminá-la 20 0 0 0
ser ambicioso p/ melhorar de posição 20 0 0 0
ser imaginativo 20 0 0 0
interesse genuíno no próprio trabalho 20 0 0 0
saber como evitar confusões 20 0 0 0
No CEI1 “ser honesto”, “responsável e confiável”, “obedecer rigorosamente a
meus superiores” e “respeitar as regras”, foram os valores mais priorizados pelos
entrevistados em relação a sua profissão. Já a persistência, a ambição na carreira, a
imaginação, o interesse pelo trabalho e o saber evitar confusões não foram considerados
tão importantes. É interessante observar que as qualidades mais valorizadas parecem
indicar uma visão de trabalho como um dever a cumprir, como uma necessidade, um
emprego; aparentemente não é considerado como um investimento na carreira, com
vistas à promoção social, nem em si mesmo, com vistas a uma realização pessoal.
Interessante, neste grupo, é a polarização observada entre os diversos valores, com uma
pontuação muito elevada nos valores acima referidos (sobretudo na honestidade) e
muito baixa em todos os outros.
39
Tabela 8. valores de trabalho, CEI 2
CEI2 N Mínimo Máximo Soma ser honesto 19 0 3 36
ser ambicioso p/ melhorar de posição 19 0 3 27
obedecer rigorosamente a meus superiores 19 0 3 24
persistir numa tarefa até terminá-la 19 0 3 21
saber como evitar confusões 19 0 3 20
fazer sacrifícios no presente em prol do futuro 19 0 3 17
responsável/confiável em relação ao que depende de mim 19 0 3 17
ser imaginativo 19 0 2 14
confiar em mim mesmo 19 0 3 13
mostrar suas capacidades diante dos outros 19 0 3 8
reconhecer meus pontos fortes e fracos 19 0 3 7
saber como trabalhar com os outros 19 0 3 6
respeitar as regras 19 0 3 5
ser inteligente 19 0 3 3
interesse genuíno no próprio trabalho 19 0 2 2
fazer que me é requerido 19 0 1 2
ser amável 19 0 0 0
No CEI 2 “ser honesto”, “ser ambicioso”, “obedecer rigorosamente a meus
superiores”, e “persistir numa tarefa até terminá-la”, são valores priorizados na
profissão dos entrevistados. Diferentemente dos pais do CEI1, os pais do CEI2 não
foram tão unânimes na priorização das qualidades. Quase todas as qualidades foram
apontadas por pelo menos uma pessoa como sendo “a mais importante”. Entre as que
não foram, a única que não recebeu pontuação foi “ser amável”. A hierarquização das
qualidades para este grupo sugere uma visão de trabalho como carreira, na qual se deve
investir para ter sucesso.
4.4 Relação entre valores de trabalho e valores educacionais
A última questão de pesquisa refere-se à relação entre os valores educacionais
dos pais e às qualidades que eles mais valorizam no exercício de suas ocupações
profissionais.
Os resultados apresentados acima sugerem que os pais do CEI1 (NSE mais
baixo) consideram o trabalho como emprego, como dever a cumprir, obedecendo às
40
ordens de alguém. No que se refere aos valores educacionais, além da felicidade das
crianças, estes pais priorizam a obediência, a honestidade, a responsabilidade e uma
relação afetiva positiva com os adultos. Tanto a obediência como a honestidade e a
responsabilidade são valores que eles também consideram importantes no seu exercício
profissional. Na educação eles não consideraram como mais importante que os filhos
tenham interesse em “como e por que as coisas acontecem”. Em termos profissionais,
estes pais também não priorizaram o ter um interesse genuíno no trabalho, qualidade
que seria importante se este fosse considerado como um meio de realização pessoal. Ter
bom senso e bom julgamento, são qualidades que seriam importantes para a tomada de
decisões e que também não foram priorizadas pelos pais deste grupo. Entretanto, aqui é
necessário ter cuidado porque foi colocado que eles pensassem em uma criança com a
idade dos filhos e por isso os pais de crianças menores, provavelmente não iriam
considerar importante que elas tivessem bom senso nessa idade.
Obediência, honestidade, felicidade, auto-controle e boas maneiras, seguidos por
responsabilidade, são valores priorizados pelos pais do CEI2. Honestidade e obediência
também são valores que eles consideram muito importantes no exercício de sua
profissão. A responsabilidade também é valorizada, embora não tanto quanto as
qualidades já mencionadas. Os resultados sugerem que estes pais vêm o trabalho como
uma carreira que lhes proporciona ascensão social, valorizando mais a ambição e a
dedicação ao trabalho do que o interesse no mesmo. Esse foco na carreira é coerente
com valores educacionais que consideram prioritários na educação dos filhos como ter
boas maneiras e auto-controle, mas não consideram tão importante a curiosidade das
crianças em descobrir o por que e como as coisas acontecem.
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados expostos acima, é agora possível responder às questões
de pesquisa acima propostas.
1) Quais as opiniões e crenças educacionais de pais/responsáveis de crianças de três a
seis anos que freqüentam Instituições de Educação Infantil de Itajaí, SC?
Em relação à primeira questão, observou-se que os pais dos dois CEI1 acreditam
que “ser uma criança feliz”, “obedecer aos pais”, “ser honesto”, “ser arrumado e limpo”
e “ser querido pelos adultos”, são valores priorizados na educação de seus filhos.
No CEI2, os itens que obtiveram maior pontuação foram “obedecer aos pais”,
“ser uma criança feliz”, “ter boas maneiras”, “ser responsável” e “ser honesto”.
Desta forma, pode-se observar que alguns valores são priorizados nos dois níveis
sócio-econômicos: a felicidade das crianças e a honestidade. O entrevistados do CEI1
valorizam o “ser querido pelos adultos”, enquanto os do CEI2 valorizam “ter boas
maneiras”, o que pode ter um significado semelhante, já que as crianças que têm boas
maneiras geralmente são queridas pelos adultos. Ambos os grupos discordam que seja
difícil se manterem interessados quando estão brincando com seus filhos. Quase todos
os pais estão convictos que a leitura é importante e que vai ter efeito nas crianças.
Também acreditam que sair de casa com os adultos contribui para o desenvolvimento
das crianças, embora os pais do CEI1 estejam mais convencidos disso do que os do
CEI2. Também acreditam que um excesso de preocupação com os resultados escolares
pode causar insegurança nos filhos, que receiam não atender às expectativas dos pais.
Em relação às oportunidades e expectativas para o futuro de seus filhos, a maioria dos
pais dos dois grupos consideram que as oportunidades disponíveis não dependem dos
filhos. Entretanto, os pais do CEI1 são mais enfáticos ao manifestarem essa opinião,
afirmando que o futuro dos filhos depende das políticas governamentais e não da
vontade dos filhos e que estes não terão mais condições de serem bem sucedidos que as
outras crianças.
42
2) Quais os valores que esses pais/responsáveis consideram prioritários na educação
de seus filhos?
Os pais de ambos grupos valorizam “obedecer aos pais”, “ser honesto” e “ser
uma criança feliz”; ser responsável também é bastante valorizado pelos dois grupos.
Coerentes com as crenças e opiniões manifestadas, as qualidades mais valorizadas pelos
pais de nível socioeconômico mais baixo referem-se a características que são
importantes para que a criança transmita uma boa imagem e seja aceita, sobretudo entre
os adultos. Já os pais de nível socioeconômico baixo, a qualidade que mais valorizaram
foi a obediência aos pais e ter auto-controle.
3) Quais as qualidades que esses pais consideram mais importantes no exercício de
suas ocupações profissionais?
As qualidades que os pais entrevistados consideram mais importantes em sua profissão
são: ser honesto, ser responsável e/confiavel em relação ao que depende de mim e
obedecer rigorosamente aos meus superiores. Apenas os pais do CEI2 valorizam que ser
ambicioso é uma qualidade importante em seu trabalho, esse resultado sugere que estes
pais vêm o trabalho como uma carreira que lhes proporciona ascensão social,
valorizando mais a ambição e a dedicação ao trabalho do que o interesse no mesmo.
4) Qual a relação entre os valores educacionais dos pais e as qualidades que eles mais
valorizam no exercício de suas ocupações profissionais?
Ao analisar a relação entre os valores educacionais e as qualidades que eles mais
valorizam em suas ocupações profissionais, pode-se verificar que ser honesto, ser
responsável e obedecer as regras são valorizados pelos pais no exercício de suas
profissões como também na educação de seus filhos. Os pais do CEI1 consideram o
trabalho como emprego, como dever a cumprir, obedecendo as ordens de alguém. Esses
pais priorizam a honestidade, a obediência e a responsabilidade, tanto como valores
educativos como profissionais. Os pais do CEI2, vêm o trabalho como uma carreira que
lhes proporciona ascensão social, valorizando mais a ambição e a dedicação ao trabalho
do que o interesse no mesmo. Esse foco na carreira é coerente com valores educacionais
que consideram prioritários na educação dos filhos como ter boas maneiras e auto-
controle.
43
Assim, embora este estudo tenha envolvido poucos sujeitos, ele já dá indicações
que tornam possível concluir que não é possível considerar o desenvolvimento das
crianças nos dois principais microssistemas em que elas se inserem – a família e a
instituição de educação infantil sem se levar em conta esses elementos do
macrossistema que, provavelmente, afetam as práticas dos pais em relação a maneira de
como educar seus filhos, e o exossistema que são os processos que ocorrem entre dois
ou mais ambientes, em que pelo menos um dele não está a pessoa em desenvolvimento,
mas a qual é afetada também por esses eventos ambientais que ela não esta inserida.
É importante ressalvar que este foi um estudo exploratório e que os instrumentos
utilizados tinham algumas limitações, que podem ter direcionado as respostas dos
sujeitos e que tornaram mais difícil a interpretação dos resultados. Sugere-se que o
estudo seja aprofundado utilizando-se outras técnicas de pesquisa, sobretudo a
realização de entrevistas abertas, onde seja possível a apreensão dos significados
atribuídos pelos sujeitos aos valores por eles defendidos. Também seria interessante a
utilização da técnica de associação livre para o levantamento dos valores priorizados
pelos sujeitos, tanto em relação à educação de seus filhos, como ao seu exercício
profissional.
Apesar dessas limitações, espera-se que os resultados deste estudo venham a
subsidiar maiores reflexões sobre as práticas educativas, sobretudo as relacionadas com
o envolvimento das famílias, visando uma melhoria da qualidade da educação.
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