Post on 20-Oct-2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Instituto de Geociências e Ciências Exatas
Campus Rio Claro
COLÔNIA POLONESA E O PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO DE
CURITIBA:
IMPACTOS ESPACIAIS DA MODERNIDADE
Sylvio Fausto Gil Filho
Orientação: Profª Drª Helena Köhn Cordeiro Profª Drª Silvana Pintaudi.
Dissertação de Mestrado apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação em Geografia - Área de Concentração em Organização do Espaço, para obtenção do Título de Mestre em Geografia.
Rio Claro (SP)
1994
ii
AGRADECIMENTOS
Firmo o registro de agradecer a Profª Drª Helena Köhn
Cordeiro por envidar os maiores esforços na orientação deste
trabalho de pesquisa, assim como o incentivo e apoio em momentos
cruciais de sua realização.
Reconheço com gratidão a continuidade do trabalho de
orientação realizado pela Profª Drª Silvana Pintaudi que com a
maior boa vontade encaminhou a fase final desta dissertação,
fato este motivado pela grande perda que foi o falecimento da
Profª Drª Helena Köhn Cordeiro no início de 1994.
Cumpro o dever também de reconhecer a organização e
competência da Coordenação de Pós-graduação do Instituto de
Geociências e Ciências Exatas da UNESP/ campus Rio Claro na
figura de seus professores e funcionários em fornecer toda a
infraestrutura necessária ao pleno desenvolvimento do curso.
Cabe lembrar a concessão da bolsa de estudo e amparo a pesquisa
fornecida pela CAPES sem a qual a conclusão do curso estaria
comprometida.
Devo destacar a atenção dos colegas: Prof Nilson Antonio
de Morais (IAP), Nora Thaerzadeh (IAP), a historiadora Neda
Mohtadi Doustdar (IPARDES), o companheiro de curso Prof. Paulo
Roberto Rodrigues Soares (Departamento de Geociências da FURG),
Débora Novas (estagiária de Geografia do IAP), Prof Henrique
iii
Firkowski (Departamento de Geociências da UFPR) e aos
companheiros de trabalho do Departamento de Geografia da UFPR.
Em especial agradeço o apoio da Profª Ana Helena Corrêa
de Freitas Gil (Escola Técnica da UFPR) minha querida esposa, ao
grande amigo e velho companheiro Hercílio Josef pela ajuda com a
tradução do Resumo para o inglês e ao meu sobrinho Daniel de
Freitas Channe responsável pelo trabalho gráfico da maioria dos
cartogramas.
iv
RESUMO
Esta dissertação sob o título de Colônia Polonesa e o
Processo de Metropolização de Curitiba foi construída a partir das questões relativas a identificação de relações presentes no processo de reestruturação espacial a antiga Colônia Polonesa de Tomás Coelho no município de Araucária em face às transformações da Região Metropolitana de Curitiba (PR), assim como a verificação dos padrões de modernidade envolvidos neste processo. Partimos do pressuposto que o choque existente entre o espaço de produção tradicional e o espaço de produção moldado pelo capitalismo industrial monopolista representam o cerne desta realidade. Neste contexto elaboramos a hipótese de que as características tradicionais da Colônia Polonesa sofreram impactos devido ao processo urbano-industrial responsável pela marginalização do núcleo colonial e sua desarticulação. Para implementar a nossa análise partimos da configuração de estrutura espacial baseada em SANTOS (1985) e o conflito entre o tradicional e o moderno com base em LIPIETZ (1988). No que tange as aspectos intrínsecos à Colônia tomamos como base principal os estudos de WACHOWICZ (1976 - 1981). Quanto aos procedimentos metodológicos buscamos duas dimensões na coleta de dados: a primeira em relação a própria colônia em que foi utilizado uma amostragem de 20 (vinte) propriedades em levantamento realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) em 1985 pouco antes da inundação destas terras por causa da construção da Barragem do Rio Passaúna; em segundo lugar coletamos dados relativos a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) através da análise do Plano de Desenvolvimento Integrado da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC) e os dados de desempenho econômico dos setores da economia da RMC que referendaram a dinâmica urbano-industrial da região coletados da Secretaria da Fazenda do estado do Paraná. De acordo com os procedimentos adotados concluímos que o solo que pertencia a Colônia está sendo ocupado pelo setor industrial e o próprio avanço da malha urbana. Evidencia-se o fato de que a marginalização econômica da Colônia e sua tradução territorial comprovam as hipóteses levantadas. A perpetuação do tradicionalismo por parte dos colonos poloneses marcou uma profunda ruptura com a natureza do sistema capitalista hodierno e suas estruturas espaciais. Houve a consumação de um processo de desarticulação espacial da Colônia Polonesa de Tomás Coelho que não se apresenta como caso isolado porém, como as próprias incongruências do sistema hegemônico.
v
ABSTRACT
This essay under the title of Poland Colony and the Metropolization Process of
Curitiba was built from the questions related to identifications of relations present in the spatial restructuration of the old Poland Colony of the Metropolitan Region of Curitiba (Pr), in that way like the verification of the modernity patterns involved in this process. We begin buy the standing of the hypothesis that the chock existing between the space of industrial and monopolist capitalism represents the main of this reality. In this context we elaborate the hypothesis that the traditional characteristics of the Poland Colony suffered impacts due to the urban industrial process responsible buy marginalization of the colonial centre and its desarticulation. To implement our analysis we start from the configuration of spatial structure based in SANTOS (1985) and conflict between the traditional and the modern based in LIPIETZ (1988). In which refers to intrinsical aspects to the Colony we take as main base the studies of WACHOWICZ (1976-81). Talking about the methodological procedures we search two dimensions in collecting information: the first relative to the own colony in which was utilised a sample of 20 (twenty) properties in collecting information it was made by Paraná Institute of Economical and Social Development (IPARDES) in 1985 before the flood of these land because of the construction barrage Passaúna river ; in the second place we collected information related to the Metropolitan Region of Curitiba (RMC) we what concerns the analysis of the Development and Integrated Plan of Coordination of Metropolitan Region of Curitiba (COMEC) and the economical performace of the sectors of the economy of the RMC which confirmed the dynamic of the urban industrial of the region collected from the Financial Secretary of the State of Paraná. According to the procedures adopted we conclude that the ground which belonged to the Colony is being occupied by the industrial sector and the own advance of the urban area. It’s evident the fact that the economical marginalization of the Colony and it’s territorial effect comprove the hypothesis. The perpetuation of traditionalism by the polish colonisers marked a deep rupture with the nature of the modern capitalist system and it’s spatial structures. There was the consummation of a process of spatial desaticulation of the Poland Colony of Tomás Coelho which does not present itself as an isolated case never the less like the own incongrucies of hegemonic system.
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SUMÁRIO
Introdução___________________________________________________________________i Apresentação da Problemática ______________________________________________________ 5
Bases Teóricas _____________________________________________________________ 13
Revisão Bibliográfica sobre a colônia polonesa de Tomás Coelho_____________________ 27
Procedimentos Metodológicos _________________________________________________ 28
Capítulo 01 __________________________________________________________________
Modernidade e Reestruturação do Espaço da colônia de Tomás Coelho ________________ 34
Capítulo 02 __________________________________________________________________
Sociedades Tradicionais: Resistência e Modernidade_______________________________ 55
Capítulo 03 __________________________________________________________________
Processo de Metropolização de Curitiba e a Organização do Espaço da Colônia Tomás Coelho ____________________________________________________________________ 78
3.1 O Processo de Urbanização no Brasil ____________________________________________ 78
3.2 O Processo de Metropolização de Curitiba _______________________________________ 84
3.3 Estrutura do Espaço da Colônia Polonesa de Tomás Coelho ________________________ 118
CAPÍTULO 04 _______________________________________________________________
Caracterização da Área de Pesquisa e Amostragem _______________________________ 157
CAPÍTULO 05 _______________________________________________________________
Tomás Coelho, Modernidade, Resistência e Marginalidade _________________________ 167
À Guisa de Conclusão ______________________________________________________ 176
Referências Bibliográficas ___________________________________________________ 179
Bibliografia _______________________________________________________________ 192
vii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BADEP - BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO PARANÁ
CIAR - CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA
CIC - CIDADE INDUSTRIAL DE CURITIBA
COMEC - COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
COPEL - COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA
DNOS - DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS E SANEAMENTO
IAP - INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IPARDES - INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E
SOCIAL
IPPUC - INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA
ITCF - INSTITUTO DE TERRAS, CARTOGRAFIA E FLORESTAS
PDI - PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DA RMC
PETROBRÁS - PETRÓLEO DO BRASIL SOCIEDADE ANÔNIMA
PLAMEC - PLANO METROPOLITANO DA RMC
PMA - PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAUCÁRIA
REPAR-REFINARIA PETROLÍFERA DE ARAUCÁRIA OU REFINARIA PRESIDENTE
GETÚLIO VARGAS
RMC - REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
SANEPAR - COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ
SEDU - SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO URBANO E MEIO
AMBIENTE DO PARANÁ
SINPAS/FUNRURAL - SISTEMA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA
SOCIAL / FUNDO RURAL
SUREHMA - SUPERINTENDÊNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E MEIO AMBIENTE
DO ESTADO DO PARANÁ
TELEPAR - TELECOMUNICAÇÕES DO PARANÁ SOCIEDADE ANÔNIMA
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LISTA DE TABELAS
01 POPULAÇÃO URBANA DOS MUNICÍPIOS DA RMC ENTRE 1940 E 1991.................88
02 POPULAÇÃO POLONESA NO PARANÁ POR COLÔNIA EM 1884.............................. 125
03 NÚCLEOS COLONIAIS POLONESES NA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA............................................................................................................................. 127
04 COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DE TOMÁS COELHO EM 1877 SEGUNDO
ORIGEM ÉTNICO-CULTURAL.......................................................................................... 128
05 PRODUÇÃO DOS 792 ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE
ARAUCÁRIA EM 1920 ........................................................................................................ 130
06 PROPRIEDADES AGRÍCOLAS NO PARANÁ POR CATEGORIA EM HECTARES NO
ANO DE 1920........................................................................................................................ 136
07 DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS ENTRE OS PROPRIETÁRIOS DE TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987. ........................................................... 156
08 CONDIÇÃO DE POSSE E ÁREA DO IMÓVEL EM TOMÁS COELHO NO MUNICÍPIO
DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987 ............................................................................... .. 159
09 ESTRUTURA ETÁRIA DA POPULAÇÃO AMOSTRA DE TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987.............................. ............................. 160
10 SITUAÇÃO OCUPACIONAL DOS HABITANTES DE TOMÁS COELHO NO
MUNICÍPIO DE ARAUCÁRIA NO ANO DE 1987. ......................................... ................. 165
ix
LISTA DE FIGURAS
01 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA —ESTADO DO PARANÁ 1975.. ........ .... 02
02 TOMÁS COELHO: LIMITES ORIGINAIS...... ................................................ .................... 21
03 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1992.... .......................................... ............ 23
04 ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO — ADMINISTRATIVOS............... ......................... 46
05 TOMÁS COELHO: DISTRIBUIÇÃO DE LOTES........... .......................................... .......... 65
06 REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1989........... ...................................... .......... 84
07 EXTENSÃO DAS ÁREAS URBANAS DA RMC ENTRE 1953 E 1976 - MUNICÍPIOS
SELECIONADOS..................................................................................................... .............. 86
08 ARAUCÁRIA - QUADRO URBANO......................... ................................................. ........ 91
09 CENTRO INDUSTRIAL DE ARAUCÁRIA............ ............................................. ............... 94
10 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1955..................... .. 97
11 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1965..... .................. 98
12 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1975...................... . 99
13 ÁREA URBANA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1985..................... 100
14 EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO VALOR ADICIONADO POR
SETOR DA ECONOMIA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA SOBRE O
TOTAL DO ESTADO DO PARANÁ 1975/1986................... ........................................... .. 107
15 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
NO ESTADO DO PARANÁ EM 1975..................... ................................................... ........ 108
16 PARTICIPAÇÃO DOS SUBSETORES NA COMPOSIÇÃO DO VALOR ADICIONADO
DO ESTADO DO PARANÁ EM 1980...................... ................................................... ....... 109
x
INTRODUÇÃO
Em meados dos anos 80 manchetes como: "Colônia de
Poloneses pode Morrer" (Jornal do Estado 07 de fevereiro de
1984 ) ou "A Morte Líquida" ( Folha de Londrina 24 de abril de
1985 ) demonstravam a preocupação e certa perplexidade dos meios
de comunicação em massa do Paraná sobre o destino da cultura
imigrante polonesa tradicional do Estado.
No centro desta polêmica residia o fato da eminente
inundação de uma parcela considerável das propriedades que
constituíam a colônia agrícola original de Tomás Coelho,1 em
conseqüência da construção da barragem de captação de água do
rio Passaúna, implementada pelo Governo Federal, a fim de
abastecer a Região Metropolitana de Curitiba (fig. 01 p. 02).
O Projeto do Passaúna decorreu de estudos desenvolvidos
sobre a necessidade de água tratada na área metropolitana de
Curitiba. O pleno aproveitamento dos recursos hídricos depende
da formação de reservas para compensar a diminuta vazão dos rios
1A origem do núcleo colonial remonta a meados do século XIX. A crise do sistema fundiário brasileiro desencadeado pela escassez de mão-de-obra e alta de preços dos gêneros alimentícios fez com que o então presidente da Província do Paraná, Lamenha Lins, implementasse um projeto de assentamento de colonos europeus nos arredores da capital da província, com base na experiência obtida em outras colônias e no intuito de suprir Curitiba da carência de produtos alimentícios. Tomás Coelho distinguia-se de outras colônias implantadas no Brasil, onde os colonos não tinham a posse da terra que trabalhavam. No caso de Tomás Coelho o assentamento baseava-se na pequena propriedade e assim foram estabelecidos 270 lotes com uma área estimada em 1665,4 hectares, localizadas à 17 Km da capital.
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FIGURA: 01
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 1975
3
existentes na região, formadores de bacias hidrográficas nas
suas nascentes. A construção da barragem foi atribuição do
Governo Federal através do DNOS. A desapropriação da área ficou
a cargo do Governo Estadual. O acordo foi definido em 1977,
porém somente em 1982 começou a ser realizado.
Segundo o Plano Diretor de Abastecimento de Água e
Controle de Poluição da Região Metropolitana de Curitiba de 1976
houve a indicação do rio Passaúna como reserva para o
abastecimento de água para a região, com vazão regularizada em
2,2 m³/s. Já em 1977 recomendaram 3,0 m³, levando em conta a
vazão média de 3,25 m³/s de longo período no local da barragem.
Em 1980 outros estudos desenvolvidos fixaram um volume útil de
48 x 10Å m³, delimitados entre o nível mínimo de 879,5 m e o
nível normal de 887,2 m ( Plano Geral de Água/Esgoto da Região
Metropolitana de Curitiba - SANEPAR ).
Embora as controvérsias entre os relatórios hidrológicos,
a obra foi declarada de utilidade pública através do Decreto
4291 de dezembro de 1977, tendo sido desapropriados 10.000 m² de
terras na bacia do rio Passaúna. Com o término do prazo do
Decreto anterior, novo Decreto é sancionado, o de número 3031 de
junho de 1984. Este novo decreto corrobora o primeiro e
recomenda urgência para a formação do reservatório de água.
O Governo do Estado acionou os órgãos auxiliares,
autorizando a SUREHMA, a realizar as desapropriações e ao ITCF,
hoje reunidos sob a denominação de IAP, para elaborar a
4
demarcação das terras a serem inundadas a partir da cota de 892
m, acima do proposto pelo levantamento de 1980.
Houve necessidade, para garantir a qualidade da água, da
remoção da cobertura vegetal da área de cota 873 m
correspondente ao futuro lago artificial. No levantamento
preliminar foi estabelecido que seriam desapropriadas 179
propriedades.
Mesmo antes das devidas indenizações serem efetivamente
realizadas a empreiteira contratada pelo Governo Federal invadiu
a área. A ação inábil do Governo Estadual no pagamento das
indenizações geraram protestos e revolta por parte dos colonos
poloneses atingidos. Esta realidade foi o marco da
desarticulação final de Tomás Coelho no que tange a sua
existência e identidade cultural.
Este contexto é o clímax de vários impactos de tradução
espacial imediata que a colônia polonesa sofreu no seu processo
espaço-temporal que justificam vários estágios de mudança.
Ao nos reportarmos ao estudo dos impactos na
reestruturação do espaço do núcleo colonial o nosso interesse
pelo tema foi decisivamente estimulado.
Assim, no ano de 1985, na iminência da formação do lago
artificial da represa do rio Passaúna, desenvolvemos um trabalho
de pesquisa a nível de graduação, com o objetivo de estudar
aspectos relativos a cultura polonesa ali radicada. No âmbito da
Geografia Humanista-Cultural escolhemos então a estruturação
5
do espaço mítico e sagrado como objetivo fundamental da
pesquisa.
No ano de 1989 retomamos os estudos sobre o núcleo
colonial porém, sob nova abordagem, na tentativa de explicar o
impacto da lógica industrial estimulada pela implantação da
refinaria de petróleo REPAR, a partir da década de 70, que
estava redimensionando o caráter tradicional da colônia.
Caracterizando a lógica industrial no município de Araucária e
Curitiba buscávamos explicar o avanço espacial deste fato em
detrimento ao espaço tradicional da Colônia Polonesa de Tomás
Coelho.
Esta segunda monografia a nível de especialização
provocou uma série de questões não respondidas. Havia de fato a
consumação de um processo de reestruturação espacial, ao qual
cabia uma análise mais aprofundada, além dos limites endógenos
ao núcleo colonial.
A meta do presente estudo é retomar essas questões e
junto a outras, o que envolve o impacto de padrões de
modernidade, recuperar a análise em uma nova dimensão: o patamar
da nova realidade sob uma visão diacrônica da estruturação do
espaço.
APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA
Nesta dissertação dois aspectos se interpõem para a
compreensão dos seus fundamentos: de um lado o aspecto que tange
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ao reconhecimento do caráter tradicional do núcleo colonial ou
seja, sociedade cujo vínculo essencial é a tradição (ELIADE,
1972) cujas características específicas são destacadas nos
estudos de WACHOWICZ (1976/1981); KERSTEN (1983) e DOUSTDAR
(1990).
A produção perpetua-se nos moldes ancestrais com
resistências acirradas ou esparsas às inovações tecnológicas e a
padrões de modernidade. Entendemos por padrão cultural as
especificidades que delineiam uma tradição cultural transmitida
através das gerações com características próprias de
conhecimento, valor e moral. Interessa-nos salientar que esta
realidade compõe um corpo cristalizado na construção da
sociedade no que se refere ao modo como se organiza no espaço
geográfico.
De outro lado, não menos importante, refere-se ao
entendimento dos denominados padrões de modernidade.
Reconhecemos modernidade como um todo constituído de uma força
autônoma: a tecnologia, em última análise, responsável pela
operacionalidade, difusão e evolução do sistema (SANTOS, 1985).
Sob este prisma os fenômenos de urbanização e industrialização
perpassam as diversas instâncias do espaço total ora difundindo,
gerando ou resistindo, em termos de processos aos padrões de
modernidade.
A síntese que se apresenta através do impacto de novas
tecnologias, a partir de novas formas de produção inerentes ao
sistema capitalista, nega a dicotomia tradicional/moderno. A
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negação resultante deste conjunto de processos é a metamorfose
da organização espacial.
O processo de modernização, em que fluem os padrões de
modernidade, atinge a organização espacial perpassando as
diversas instâncias da sociedade.
O espaço apresenta formas cristalizadas de momentos de
produção econômica diferenciados no plano histórico. O espaço
apresenta-se como mosaico de estruturas construídas em
diferentes períodos históricos (SANTOS, 1982).
No entanto, cabe ressaltar que esta reestruturação do
espaço ocorre em uma seqüência de momentos históricos e é
assimilada pela superestrutura política e cultural em períodos
não sincrônicos. No que tange ao caráter cultural dos núcleos
coloniais o padrão de modernidade é quase um arquétipo de
renovação a nível superestrutural.
Contextualizando os impactos espaciais relevantes ao
processo de modernização podemos obter uma visão mais adequada
dos mecanismos, segundo os quais ocorrem novos arranjos
espaciais. O locus central de assimilação destes impactos são os
sistemas metropolitanos. Os núcleos coloniais limítrofes ou
presentes nos sistemas metropolitanos interagem com os impactos
de novos padrões de modernidade.
A partir deste contexto indagamos:
8
a) Quais são as relações existentes na reestruturação do
espaço do núcleo colonial polonês de Tomás Coelho em face às
transformações da Região Metropolitana de Curitiba?
b) Qual a ação dos agentes dos padrões de modernidade no
processo de reestruturação do espaço da colônia polonesa de
Tomás Coelho?
A partir desta preocupação definimos os seguintes
objetivos específicos:
1 - Caracterizar a estrutura espacial do núcleo colonial
polonês de Tomás Coelho, enquanto parte integrante do sistema
metropolitano de Curitiba, no decorrer do seu processo
histórico.
2 - Identificar o processo e os elementos dos padrões de
modernidade a partir dos anos 70 presentes no sistema
metropolitano de Curitiba.
3 - Selecionar os agentes dos padrões de modernidade
relevantes na reestruturação recente do espaço do núcleo
colonial polonês de Tomás Coelho.
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Para situar o objeto de pesquisa, assumimos o pressuposto
de que o choque existente entre o espaço de produção tradicional
e o espaço de produção moldado pelo capitalismo industrial
monopolista representa a síntese mais adequada da realidade
espacial. Acreditamos que esta abordagem supera não apenas a
clivagem tradicional/moderno, mas também a dicotomia
cidade/campo. Esta superação de caráter conceitual percebe a
organização espacial diferenciada, primordialmente sob o ponto
de vista da produção antes que pela organização social (MITRANY,
1957).
1ª Hipótese
Assim, levantamos a primeira hipótese:
As características tradicionais do núcleo colonial
polonês em questão sofreu impactos devido ao processo urbano-
industrial da Região Metropolitana de Curitiba o que resultou na
sua desarticulação.
Entre outros fatores, a recriação e a desarticulação do
Núcleo Colonial Polonês estão afetos ao avanço territorial da
lógica urbano-industrial que se contrapõem à lógica camponesa
tradicional.
10
2ª Hipótese
Considerando o processo mencionado explicitamos a segunda
hipótese:
A desarticulação recente do núcleo colonial polonês de
Tomás Coelho e a reestruturação do espaço socioeconômico
demonstram uma marginalização da colônia imigrante em relação ao
processo de modernização.
Concomitante ao processo de marginalização podemos
diagnosticar também a dissolução do caráter fechado da sociedade
colonial imigrante em relação ao macro contexto metropolitano
através do processo de descaracterização cultural.
Integramos, em nossa análise, a produção do espaço à
questão cultural. Para tanto cabe ressaltar alguns aspectos
distintivos das sociedades tradicionais:
(i) O espaço sociocultural de caráter tradicional rompe
com a tendência de homogeneização do sistema capitalista
moderno, reforçando o contraste que permite reconhecê-lo.
(ii) A projeção da cultura na organização do espaço
revela-se como um pólo de referência. O espaço torna a cultura
algo legível e neste ponto passa a ser o plano de execução das
formas representativas da organização social.
(iii) No que se refere às sociedades arcaicas, a
organização social é como um espelho de projeções culturais da
11
práxis da tradição e do modo como a produção econômica se
realiza.
(iv) A tradição além de dar razão de ser à vida ordenada
em sociedade, transcende esta aparência e atinge a consciência e
concretude do estilo de vida. A tradição viva se realiza na
dinâmica social, como uma gama de escolhas excludentes. Ou seja,
a práxis social de tarefas, a visão e a classificação do mundo
são reproduzidas sob regras fixas (MATTA, 1981). Regras fixas
estabelecidas dentro de uma forma de temporalidade e
concretizadas em formas espaciais configuram-se como obstáculos
à reprodução dos padrões de modernidade. Consideramos a tradição
como elemento determinante da variável cultural e ideológica,
principalmente na realidade dos núcleos coloniais poloneses.
No que tange ao nosso objeto de pesquisa o embate entre
lógicas distintas do sistema capitalista nos remete a
possibilidade de sucessivos níveis de equilíbrios
organizacionais.
Ao visualizar a Metrópole como estrutura podemos ressaltar que o ajustamento das diversas instâncias do espaço metropolitano sofrem um processo de interações nos diversos níveis: econômico, político/administrativo , cultural/ideológico e territorial que justificam os estágios de equilíbrio de sua existência (SANTOS, 1988). O novo arranjo espacial desenvolvido em cada fase sofre várias disfunções e quando nos referimos a um Núcleo Colonial como parte desta estrutura não olvidamos suas especificidades.
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Levando em conta a exposição anterior consideramos que a
reestruturação do espaço do núcleo colonial polonês de Tomás
Coelho foi realizada no plano histórico através de sucessivos
patamares de equilíbrio espaço-organizacionais da metrópole que
referendam a situação atual.
No âmbito político e cultural o processo de modernização
é reproduzido pelos agentes hegemônicos. No entanto, a sua
assimilação pela sociedade é diferenciada. Aceleram-se em
contrapartida os processos de modernização incompletos. A
disparidade e a seletividade com que os processos de
modernização atuam, acentuam o empobrecimento e a segregação
territorial (SANTOS, 1988 b).
Todavia a dialética de modernidade/tradicionalismo,
evolução/involução reagem de modo especial em sociedades de
vínculos sociais e territoriais mais radicais devido às
características culturais próprias.
Podemos identificar duas formas de ação dos agentes dos
padrões de modernidade em relação às sociedades arcaicas: a) Sob
um aspecto o fato dos vínculos socioculturais serem mais fortes,
podem configurar uma resistência tenaz a qualquer forma de
inovação tecnológica que comprometa a estrutura social
tradicional vigente; b) por outro lado, pode ocorrer que a
própria configuração social facilite a assimilação e reprodução
de novos padrões de modernidade.
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A realidade dos núcleos coloniais poloneses revela a
reprodução dos padrões ancestrais de produção, sustentada pelas
características culturais e ideológicas dos imigrantes.
Podemos diagnosticar certas resistências à modernidade, a
partir dos estudos de WACHOWICZ (1981) e KERSTEN (1983).
Resgatando a categoria analítica cultural a fim de explicar os
impactos da gestão e difusão de novos padrões de modernidade,
verificamos que os câmbios no que diz respeito à dinâmica
social, não acompanham necessariamente as transformações
tecnológicas.
A realidade cultural do núcleo colonial polonês de Tomás
Coelho não se harmoniza com a tendência de homogeneização do
capitalismo reinante na metrópole e, por conseguinte, representa
resistência à assimilação de padrões de modernidade.
BASES TEÓRICAS
Familiarizados com a área de estudo bem como a
bibliografia existente, abordaremos a temática em separado dos
aspectos endógenos ao sistema Colônia Polonesa. Procuramos
confrontar os dados endógenos e exógenos à Colônia Polonesa a
fim de obtermos os elementos da nova realidade da região sempre
no sentido de um processo dialético das formas espaciais.
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Munidos dos elementos essenciais à pesquisa procuramos
concatenar o trabalho de modo que sua estrutura apresente um
tratamento crítico ao tema.
Conscientes dos possíveis vazios, dada a aplicação dos
métodos e em referência à coleta de dados, consideramos que a
opção teórico-metodológica não compromete as bases e as metas
propostas, assim como avalia satisfatoriamente as hipóteses
expostas.
Como procuramos diagnosticar mutações na estruturação do
espaço, reconhecemos a dinâmica social como determinante deste
processo, insuflado pelas vias do capital hegemônico.
Segundo LIPIETZ (1988):
Toda prática, toda relação social se inscreve em uma totalidade concreta sempre já dada, que a determina como sua condição de existência, condição que, à medida que é material, tem dimensão espacial. (p. 25)
A partir desta premissa definimos as concepções aqui
utilizadas. Conforme comenta SANTOS (1985), o espaço é um
conjunto de formas representativas de relações sociais presentes
que se manifestam através de processos, funções e formas. O
espaço é um fator da evolução social e que contém uma instância
da sociedade, uma instância econômica, uma cultural-ideológica e
outra político-institucional. As diversas interações destes
níveis revelam a realidade da dinâmica espacial.
Segundo a mesma fonte podemos considerar que a estrutura
espacial como caráter social, tende a reproduzir-se de modo
ampliado, referendando a possibilidade de demonstrar a sua
15
qualidade de dominante em detrimento de outras estruturas
preexistentes. O espaço organizado pelo homem revela, como as
outras estruturas sociais, uma relação
subordinação/subordinadora. Através da progressão espacial estas
relações são apresentadas de acordo com o condicionantes
espaciais.
O espaço, como fator social, apresenta uma realidade
objetiva pois representa um produto da ação humana, ou seja,
pode tornar-se conhecido pela produção. Como o espaço é uma
condição necessária à mudança ele é um fator social. Porque as
formas espaciais são resultantes de processos passados e
condições para processos futuros. O espaço também é parte de uma
estrutura social quando é determinado pelos aspectos da
organização social.
Consideramos assim que a localização é um momento do
movimento dialético do mundo e o lugar, este sim, é um conjunto
fixo de objetos. Pela razão de que a localização é resultado da
dinâmica de um fluxo de forças sociais. É por este fato que
temos de considerar a periodização, ou seja, a variável
temporal.
Segundo LIPIETZ (1988):
É preciso compreender bem que o espaço socioeconômico concreto se apresenta, ao mesmo tempo, como articulação dos espaços analisados, como um produto, um reflexo da articulação das relações sociais e, enquanto espaço concreto já dado, com um constrangimento objetivo que impõem ao desenvolvimento dessas relações sociais. Diremos que a sociedade recria seu espaço concreto, sempre já dado, herdado do passado.(pp.24-25).
16
Ainda, no dizer de LIPIETZ, as relações sociais atuais
são as que estruturam ou reestruturam o tecido social,
distribuindo assim os lugares enquanto localização.
Na transformação das relações sociais utilizam-se por
matéria prima as condições herdadas do passado. Quando uma
sociedade arcaica desarticular-se a partir dos seus valores
sociais e da desintegração de sua atividade produtiva, estamos
diante da subversão das forças produtivas por uma nova lógica de
acumulação capitalista. O produtor tradicional recria-se sob o
capital ou é obrigado a perder a condição de dono dos meios de
produção na medida em que o espaço que domina é cobiçado pela
produção moderna industrial capitalista. Esta desarticulação
possui necessariamente uma dimensão espacial.
Existe, por certo, um choque entre a chamada lógica
industrial que compreende a forma avançada do capitalismo e a
lógica camponesa de produção identificada como um arcaísmo.
O modo de produção dominante apropria-se e desarticula as
formas arcaicas que resistem; dentro deste contexto as relações
entre exploradores e explorados atingem uma dimensão espacial
propriamente dita.
Quando observamos que o espaço é um fator importante na
evolução social estamos também partindo do pressuposto de que a
realidade da dinâmica espacial não pode ser analisada fielmente
se não considerarmos a dinâmica social que o estrutura.
17
Como produto da ação social o espaço é dinâmico em
constante transformação o que justifica a heterogeneidade do
espaço habitado.
Como afirma SANTOS (1988):
Uma das características do espaço habitado é pois, a sua heterogeneidade, seja em termos da distribuição numérica entre continentes e países ( e também dentro destes), seja em termos de sua evolução.
Aliás, essas duas dimensões escondem e incluem a outra: a enorme diversidade qualitativa sobre a superfície da terra, quanto a raça, cultura, credos, níveis de vida, etc. (p. 40)
As várias especificidades alocadas no espaço que em
última análise lhe concedem o próprio caráter, não podem ser
analisadas desarraigando-as da totalidade.
Entendemos que uma visão holística da realidade e as
contradições que se manifestam na produção e conseqüentemente
nas relações sociais estão cristalizadas no espaço e são
resultantes do movimento de macro forças que extrapolam uma
análise regional limitada.
Não é ambição deste trabalho recuperar integralmente este
aspecto, mas tentaremos oferecer um enfoque que ainda não foi
devidamente explorado.
O lugar apresenta-se como uma combinação de variáveis de
idades diferentes o que se evidenciará quando enfocarmos a
colônia polonesa de Tomás Coelho diante das forças da lógica
capitalista industrial. As relações entre as variáveis vão ao
encontro de um contexto global.
18
A fim de compreendermos melhor esta realidade do espaço
total é necessário realizar um processo de fragmentação em
elementos. Os elementos que se dispõem no espaço estão em
constante relação em sua própria dimensão e entre um e outro.
Podemos categorizar estes elementos em algumas dimensões
básicas:
i) o trabalho do homem enquanto materialidade;
ii) o plano das idéias e das legitimações e normas;
iii) a base física do território modificado.
O intercâmbio das dimensões e a redutibilidade das
interações nos fornecerão as condições para análise das
estruturas como colocaremos a seguir.
A totalidade do espaço e sociedade onde está inserido o
nosso micro contexto, a colônia polonesa, será melhor
compreendida e identificada por um lugar. No que tange a
realidade específica, a combinação de técnicas diferentes e a
interação dos diferentes componentes do capital apresentam uma
estrutura peculiar do trabalho que materializa as formas
espaciais.
Quando anteriormente apresentamos o espaço como fator
social possuidor de especificidades devemos levar em
consideração de que os elementos que compõem a totalidade
espacial são sistemas dispostos em estruturas.
Em um primeiro momento a estrutura espacial apresenta
elementos homólogos que mantém laços de hierarquia com a
19
demografia, economia e setor financeiro. No segundo momento
possui elementos não-homólogos de diferentes classes com laços
relacionados se apresentando como uma estrutura complexa.
Assim, podemos considerar que a estrutura espacial pode
ser considerada a partir das seguintes subestruturas:
demográfica, de produção, de renda, de consumo e de classes.
Além dos arranjos específicos de técnicas organizadas definindo
as relações de produção presentes. A interação entre a realidade
social e o espaço.
Segundo SANTOS (1985) a evolução das estruturas seguem
três princípios básicos:
a) O primeiro é representado pela ação externa, ou seja
uma evolução exógena do sistema;
b) O segundo é representado pelo intercâmbio de
subsistemas e subestruturas o que representa uma evolução
interna ou endógena;
c) O terceiro é a evolução particular de cada parte ou
elementos do sistema isoladamente, interna e endógena.
A evolução das estruturas aparece como um dos pontos
chaves para a compreensão da transformação das formas espaciais
da colônia polonesa de Tomás Coelho.
Como já analisamos, a questão dos elementos e estruturas
espaciais, apresentaremos o terceiro ponto: a questão da
periodização, variável temporal que é a linha pela qual se
desenvolve o movimento dialético das realidades espaciais. A
contraposição entre formas passadas e as presentes resultando
20
sínteses que por sua vez serão novamente negadas gerando novas
sínteses que superam as anteriores.
Nesta análise partimos da premissa de que os elementos
cedem lugar a outros elementos de mesma categoria porém mais
modernos. Ainda outros, elementos resistirão ao processo de
inovação. Neste caso, elementos novos e arcaicos coexistem ao
mesmo tempo. No dizer de SANTOS (1985) o espaço se apresenta
como um mosaico de elementos de diferentes períodos históricos,
que indica de um lado a evolução da sociedade e de outro,
expressa situações da atualidade. O espaço não pode ser isolado
da variável temporal.
Consideramos que o sistema temporal coincide com o
período histórico. No que se refere ao nosso contexto de estudo
dividimos a evolução da colônia polonesa no seguinte sistema
temporal:
1ª Etapa - implantação da colônia a partir de 1876,
criando novas áreas de expansão agrícola circunstanciais à
economia da época.
2ª Etapa - desenvolvimento da organização do espaço
socioeconômico da colônia polonesa em relação às transformações
da economia agrícola e o choque da economia urbano-industrial de
caráter hegemônico.
3ª Etapa - impactos marcantes a partir dos anos 70 do
processo de industrialização e expansão da ocupação urbana do
espaço e o impacto decisivo da construção da barragem de
21
captação de água do rio Passaúna (fig. 02 p.22).
A sucessão dos períodos presos às circunstâncias da
política institucional nacional vincularam uma série de mutações
no espaço da Colônia Polonesa. As macro relações a nível
internacional e nacional articulam-se no plano da totalidade
espacial às mutações do micro contexto da colônia polonesa de
Tomás Coelho.
Na medida em que o capitalismo recria-se, transforma
rapidamente as relações sócio-espaciais que sofrerão direta ou
indiretamente o impacto destas transformações. O diagnóstico
atual a partir da verificação das inovações define-se como:
... o resultado do equilíbrio entre os fatores de dispersão e de concentração em um dado da história do espaço. No presente período, os fatores de concentração são essencialmente, o tamanho das empresas , a indivisibilidade das inversões e as economias e externalidades urbanas e de aglomeração necessárias para implantá-las. Tudo isto contribui para a concentração em uns poucos pontos privilegiados do espaço, das condições para a realização de atividades mais importantes. (SANTOS, 1985: 29)
As inovações apresentam-se sob várias formas, porém podemos
destacar as estruturas viárias e de comunicações que são formas
induzidas no plano institucional e também serão vias para a
circulação das inovações provenientes dos pólos mais avançados.
22
FIGURA: 02
TOMÁS COELHO - LIMITES ORIGINAIS
23
Na medida em que a circulação desenvolve-se e conduz as
novas exigências do capital, as formas espaciais são
necessariamente readaptadas adquirindo novas dimensões e
aspectos em relação a nova lógica que se impõem. Este é o caso
da RMC (fig. 03 p.24), bem como das suas áreas camponesas.
Ao encontro da segunda hipótese, baseamo-nos no
desenvolvimento do conceito de espaços organizacionais de
sociedades marginais. A fixação deste conceito realiza-se em
tese na teoria da marginalidade, enquanto espaços locais.
Espaço social marginal refere-se ao limite da assimilação
de padrões de modernidade, no que tange à área metropolitana de
Curitiba. Este processo de marginalização ocorre também em
termos de produção do espaço, a lembrança de LIPIETZ (1988):
Mas, mais profundamente, são as relações sociais que, a medida que têm uma dimensão espacial, "polarizam" o espaço social. A "região" aparece assim como produto das relações inter-regionais e estas como uma dimensão das relações sociais. Não há "região pobre", há apenas regiões de pobres, e, se há regiões de pobres, é porque há regiões de ricos e relações sociais que polarizaram riqueza e pobreza e as dispõem diferentemente no espaço.(p. 29).
A distância entre as classes sociais, também podemos
destacar entre grupos culturais de característica social e
econômica específica. Os pólos hegemônicos de um lado e os
grupos sociais marginais de outro concretizam o processo de
modernização incompleta e involução como custo de adaptação ao
sistema vigente (SANTOS, 1988).
24
FIGURA: 03
REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - 1992
25
O processo de imigração no Brasil agravou a formação de
periferias das grandes cidades ou bairros marginais. No entanto,
o processo de favelamento ou bairros de precárias condições de
vida demonstram apenas uma faceta da realidade. Dentro de uma
abordagem funcionalista da marginalidade a questão de integração
social é considerada fundamental. Nesta colocação as dualidades
tradicional/moderno ou marginal/integrado são vistas a nível
macro-sociológico em termos estruturais (KOWARICK, 1977).
Encarando , mesmo dentro de uma aproximação de caráter
Marxista as oposições entre explorados e exploradores ou o
conceito de exército industrial de reserva tateiam apenas a
realidade que tentamos explicar.
A falta de identificação de um grupo social à cultura
dominante atinge um ponto mais essencial da problemática em
questão. Assim, reconhecemos duas formas de marginalidade: uma
em relação à produção econômica e outra supra estrutural,
enquanto sistema cultural.
Considerando a inserção no espaço das instâncias
econômica e cultural e reconhecendo o caráter peculiar de
sociedades tradicionais coloniais, viabilizaremos a análise a
partir de tal concepção teórica.
Retomando algumas das colocações da Teoria da
Modernização que podem espelhar questões de caráter local,
assumimos que a problemática, em termos analíticos, passa pela
consideração do surgimento de uma "lógica do industrialismo"
26
responsável pela distribuição de papéis sociais em meios não-
industriais propriamente ditos. ( APTER, D. apud KOWARICK,
1977).
O processo de modernização desencadeia rupturas e
desorganiza quadros sociais preexistentes, assim como origina
descontinuidades entre o padrão sociocultural e os padrões
incorporados por indivíduos e grupos que sofreram impactos pela
metamorfose social ( DURKHEIM apud KOWARICK, 1977).
A marginalidade decorre da dificuldade de uma sociedade
colonial em assimilar os padrões modernos, que são reconhecidos
como formas modelares urbano-industriais antagônicas às formas
tradicionais rurais.
Nas palavras de SANTOS (1985):
Em cada período, o sistema procura impor modernizações características, operações que procede do centro para a periferia. Não se trata de uma operação ao acaso. Os espaços atingidos são aqueles que respondem, em um momento dado, às necessidades de crescimento ou de funcionamento do sistema, em relação ao seu centro.
As modernizações criam novas atividades ao responder a novas necessidades.(...) a modernização local pode representar adaptação de atividades já existentes a um novo grau de modernismo. O fato de que a cada momento nem todos os lugares são capazes de receber todas as modernizações explica porque: 1) certos espaços não são objetos de todas as modernizações; 2) existem demoras, defasagens, no aparecimento desta ou daquela variável modernizante; e isto ocorre em diferentes escalas. (pp. 31 e 32).
O aumento das disparidades de assimilação dos padrões de
modernidade no decorrer do processo histórico retrata graus de
marginalidade à lógica urbano-industrial enquanto reestruturação
do espaço e avanço em termos de território.
27
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A COLÔNIA POLONESA DE TOMÁS COELHO
No que tange a bibliografia utilizada destacamos os
seguintes autores que trabalharam a questão da migração polonesa
e que serviram de base para a presente análise:
A obra de Romão WACHOWICZ (1975) conhecida como a Saga de
Araucária revela em outras questões a luta do imigrante na
implantação das colônias, o trabalho da terra e as possíveis
relações com os aspectos míticos e religiosos de suas vidas.
Trata-se de um trabalho básico, descritivo e, por vezes,
transparecendo o lado romântico da história da colonização
polonesa no município de Araucária.
Sob o ponto de vista acadêmico de maior interesse foram
os trabalhos de Ruy Chistovam WACHOWICZ: Tomás Coelho uma
Comunidade Camponesa de 1976 e O Camponês Polonês no Brasil de
1981. Apoiado em referências originais em polonês, como
historiador, constrói o referencial que explica a saída do
migrante polonês do século XIX na Europa e a difícil adaptação
na realidade brasileira. A apreensão da história do colono
polaco, principalmente no Paraná passa necessariamente por suas
pesquisas.
Dentre as pesquisas mais recentes, especialmente sobre a
Colônia Polonesa de Tomás Coelho, destacam-se os trabalho de
Márcia S. de Andrade KERSTEN e Neda M. DOUSTAR. O trabalho de
KERSTEN de 1983, embora restrito à análise da população de Tomás
28
Coelho por se basear nos registros do SINPAS/FUNRURAL, revela
uma reflexão interessante para a realidade do colono polaco
diante do sistema capitalista. Já o trabalho de DOUSTAR de 1990
demonstra outra faceta da realidade do imigrante polonês os
aspectos tradicionais de sua cultura e o enfrentamento do
sentimento anti-polonês no Brasil. A análise do preconceito
enfrentado pelo polonês no Brasil é o plano de reflexão de sua
pesquisa.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Não nos limitamos à rigidez de uma atitude preconcebida
diante das fontes. Antes, buscamos a pluralidade como meio de
construir a síntese mais próxima da realidade. Assumimos uma
postura crítica diante da análise dos dados e não discriminamos
os autores que tomamos como base teórica .
Quanto ao quadro teórico buscamos a reflexão dialética.
De acordo com a probabilidade de resposta à problemática da
dissertação, muitas vezes, torna-se necessário o resgate
sistêmico no tratamento dos dados para posterior análise de
caráter crítico. Mesmo porque não escapamos totalmente à lógica
formal na qual estamos imersos. Como afirma Hegel na sua
Fenomenologia do Espírito: “O que há de mais fácil é julgar o
que possui conteúdo e densidade. Mais difícil é apreendê-lo e o
mais difícil é produzir a sua exposição, que unifica a ambos”
(Os Pensadores vol II 1992). Confrontando, a ver da história,
29
não existe regra, embora plausível e bem fundamentada na
epistemologia, que não seja violada em algum momento.
(FEYERABEND, 1977).
Uma postura estática de uma teoria inerte da
racionalidade fundamenta-se em uma concepção à revelia da
situação social do homem.
Coleta de Dados
Distinguimos quatro categorias para a coleta de dados:
1ª - De caráter exploratório e bibliográfico referente às
bases teóricas conforme delineada no item anterior.
2ª - Refere-se aos trabalhos específicos relativos à
colonização polonesa em escala local.
3ª - Trata-se dos trabalhos referentes ao processo de
metropolização de Curitiba enquanto afetos à problemática em
questão.
4ª - A colônia Tomás Coelho em si em termos de
organização espacial. Para tanto consideramos a seguinte
subdivisão:
a) a colonização polonesa no plano histórico da sua
origem.
b) a colonização polonesa em seu caráter recente.
c) os estudos de caso no âmbito circunstancial da
desestruturação da colônia.
Duas variáveis primordiais foram consideradas nos
objetivos relativos à organização do espaço em estudo:
30
a) as características culturais específicas;
b) a questão da produção e existência econômica.
O desenvolvimento da pesquisa a partir dos objetivos específicos.
1º Objetivo
Para a caracterização espacial do Núcleo Colonial de
Tomás Coelho no decorrer do seu processo histórico, consideramos
os seguintes momentos:
1) Levantamento feito a partir dos estudos mais recentes
do IPARDES, IAP, dados da Prefeitura Municipal de Araucária a
partir do seu departamento de urbanismo. Também levamos em
consideração os estudos históricos e etnográficos específicos de
KERSTEN (1983) e DOUSTDAR (1990), assim como GIL (1985/1989), ou
seja, nossos estudos anteriores.
3) Levantamento a partir dos 71 laudos de desapropriação
do ITCF responsável pela avaliação das terras a serem
desapropriadas em ocasião da formação do lago artificial da
barragem de captação de água do rio Passaúna. Os laudos
proporcionaram o universo de nossa pesquisa e a partir dos
mesmos o reconhecimento dos produtores agrícolas da colônia de
Tomás Coelho. No que tange a análise destes laudos, partimos dos
estudos do IPARDES (1987), onde foi selecionado uma amostra de
propriedades para o trabalho de campo que se desenvolveu. Os
critérios utilizados nesta seleção se estabeleceram na seguinte
forma:
31
a) Verificou-se que dos 71 laudos do ITCF apenas 61 eram
correspondentes a lotes propriamente rurais. Dos lotes rurais
alguns eram improdutivos e não faziam parte da dinâmica social
da colônia.2
b) As propriedades restantes pertenciam a poucos
proprietários o que restringiu nosso universo à 28 famílias
residentes sendo que nove dentre elas faziam apenas a guarda dos
lotes que na verdade pertenciam a outros. Diante deste fato a
amostra, a mesma que utilizamos em nossa análise, limitou-se a
20 famílias.3
Neste levantamento considerou-se as seguintes variáveis
específicas:
3.1 - origem cultural do proprietário;
3.2 - área estimada da propriedade em hectares;
3.3 - forma de produção do solo;
3.4 - condição de posse do imóvel;
3.5 - forma de aquisição do imóvel;
3.6 - pauta de produtos;
3.7 - base técnica das unidades de produção;
3.8 - volume de produção;
3.9 - formas de comercialização da produção e
3.10 - padrão de vida da população residente.
2 Algumas áreas improdutivas pertenciam a Rádio Cidade de Araucária e outros lotes pertenciam a empresa de cerâmica Klemtz e também as propriedades da Indústria e Comércio de Desidratados Ltda. 3Dessas famílias foi considerado, uma que fazia apenas guarda do lote porém, comercializava parte da produção.
32
4) Levantamento do IAP a partir de fotografias aéreas de
1992 que reconstituíram o uso do solo da região nos fornecendo a
realidade atual após a inundação das propriedades da antiga
colônia de Tomás Coelho.
A partir destes dados nos foi possível produzir uma
imagem concreta da dinâmica socioeconômica responsável pela
reestruturação espacial constante do local concatenando estas
características com as especificidades da supra estrutura
cultural.
2º Objetivo
Para identificar o processo e os elementos agentes dos
padrões de modernidade a partir dos anos 70 na área
metropolitana de Curitiba nos detivemos nas características do
processo de metropolização. Para tanto identificamos e
analisamos a expansão de sistemas dinâmicos como,
principalmente, o setor secundário responsável pela gestão da
modernidade.
Neste intuito consideramos os seguintes dados:
1) Levantamento do aglomerado industrial do município de
Araucária a partir dos dados da Prefeitura Municipal de
Araucária e as organizações presentes no Centro Industrial de
Araucária (CIAR). Em plano secundário os dados correspondentes a
Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
2) Levantamento dos dados da expansão urbana e industrial
da RMC encontrados nos planos da Coordenação da Região
Metropolitana de Curitiba (COMEC). Cabendo ressaltar o Plano de
33
Desenvolvimento Integrado (PDI) e o Plano Metropolitano da RMC
(PLAMEC) que referenda o comportamento do valor adicionado do
setor secundário e terciário da RMC de 1974 a 1986. Além destes,
consultamos o Plano de Desenvolvimento Urbano do município de
Araucária (New Plan) do departamento de Urbanismo da Prefeitura
Municipal de Araucária.
3) Levantamento específico em relação à construção da
barragem de captação de água do rio Passaúna a partir do Plano
Geral de Água e Esgoto da RMC da SANEPAR.
4) Levantamento da descrição ambiental da bacia do rio
Passaúna a partir de relatório técnico de 1990 da SUREHMA. Além
das características próprias dos efeitos ambientais da barragem,
o uso do solo na área específica da colônia com o devido
mapeamento.
3º Objetivo
Selecionamos os agentes dos padrões de modernidade mais
atuantes no processo de metropolização de Curitiba e que
motivaram o processo de desarticulação que a Colônia Polonesa
vem sofrendo. Para tanto explicitamos a expansão espacial urbana
em detrimento das antigas áreas rurais. Este processo está afeto
ao crescimento industrial da região. Esta corresponde à síntese
em resposta à problemática da pesquisa.
34
CAPÍTULO 01
MODERNIDADE E REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO DA COLÔNIA DE TOMÁS
COELHO
A análise dos processos motivadores da reestruturação do
espaço da antiga Colônia de Tomás Coelho pressupõe a
caracterização do que entendemos por modernidade e a relação
desta com a evolução da organização do espaço em questão.
A antiga colônia polonesa corresponde , em relação a sua
área remanescente, à região situada entre o quadro urbano do
município de Araucária e a sua fronteira ao norte com o
município de Curitiba e Campo Largo (fig. 03 p. 24). Conforme o
quadro teórico exposto na introdução, a evolução com as devidas
transformações espaciais da antiga colônia de Tomás Coelho pode
ser melhor compreendida através das figuras concretas que se
cristalizam no espaço e testemunham a sucessão de épocas e as
práticas produtivas. Estas mudanças se reconhecem na medida em
que analisamos o processo de metropolização de Curitiba e
relacionamos a sua dinâmica com a expansão urbano-industrial da
região. A metrópole desempenha o papel de área receptora e
propagadora de padrões de modernidade dependendo da sua condição
hierárquica na rede urbana nacional.
Tomando por base CORRÊA (1989), a rede urbana é
simultaneamente reflexo e condição da divisão territorial do
trabalho. No interesse do nosso argumento a lógica de acumulação
35
capitalista suscita o aumento da escala de produção, assim como
o progresso técnico e a conseqüente expansão do território onde
se realiza. Isto possibilita a valorização de determinadas áreas
em detrimento de outras.
Entendemos por padrões de modernidade a tendência à
facilidade na aceitação e adoção de novas práticas relacionadas
a produção e dinamizadas no plano das relações sociais e das
idéias que se contrapõem a prática da tradição e do
conservadorismo representado por formas de produção arcaicas e
relações sociais e políticas restritas a uma etnia ou uma
nacionalidade específica.
Segundo BERMAN (1987):
Existe um tipo de experiência vital - experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida - que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências como "modernidade". Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, auto transformação e transformação das coisas em redor - mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como diz Marx, "tudo o que é sólido desmancha no ar". (p. 15).
Ao relacionar a modernidade ao modo de vida, BERMAN, nos
aponta uma saída conceitual interessante. A diversidade das
experiências relacionadas à modernidade tendem a romper com o
36
permanente, tende a reunir o inconciliável; assim rompe com os
padrões tradicionais de culturas específicas, amalgamando-as em
uma única dinâmica de transformação contínua, fragmentando o
próprio passado.
Porém não podemos desvincular a modernidade do seu âmbito
estrutural, ou seja o processo de modernização articulado ao
desenvolvimento do modo de produção capitalista. Em um de seus
trabalhos mais recentes HARVEY (1992), explica referindo-se a
Marx como um dos primeiros a analisar o processo de modernização
do sistema capitalista. Sendo assim atribui a burguesia a
criação de um internacionalismo relacionado ao mercado mundial,
a par da sujeição da natureza humana a um complexo maquinário e
uma série de transformações relacionadas à indústria e à
agricultura. Porém, tudo feito a um alto custo social. O
advento de uma economia do dinheiro dissolve os vínculos e
relações próprias das comunidades tradicionais. A manutenção da
lucratividade própria do sistema tende ao esfacelamento de modos
arcaicos considerados avessos às transformações que a tendência
homogeneizante do capitalismo impõe.
A modernidade revela constantemente a experiência do
"novo" que se sobrepõe ao "velho", adornando a realidade
espacial de signos próprios da modernidade em contraste aos
signos tradicionais.
Segundo GOMES & COSTA (1988):
(...) a modernidade é um tempo de conflitos entre o moderno e tradicional, mas também entre as visões do novo e a imprevisibilidade das transformações, entre
37
as versões proclamadas da mudança e os processos efetivamente vividos. (p. 50).
A difusão da modernidade entra em conflito com diversas
resistências e é um processo que possui diversas ambigüidades. O
resultado destes conflitos está impresso no espaço geográfico.
O espaço é veículo e testemunha da dinâmica dos padrões
de modernidade. No espaço encontram-se os signos da permanência
e da mudança (GOMES & COSTA, 1988).
Propondo a modernidade como articuladora de um processo
de direcionamento da dinâmica metropolitana não queremos afirmar
que a modernidade seja a única responsável. No entanto o
conjunto dos diversos processos que a compõem é significativo e
preponderante em relação a outros.
Existe de fato uma lógica moderna, por assim dizer,
articulada ao desenvolvimento capitalista, na razão direta em
que ela gera novas diretrizes em termos de relações sociais
dinamizadoras de uma produção massiva. A produção massiva
peculiar dimensão da modernidade, concretiza-se no espaço
metropolitano e nos caminhos de sua expansão urbana. Encaramos o
conjunto dos processos articuladores do capitalismo industrial e
suas implicações nas relações sociais e no espaço geográfico
como expressões concretas da modernidade.
GOMES & COSTA (1988) afirmam que:
O espaço metropolitano é extremamente enfático na medida em que revela as múltiplas conexões dos sentidos atribuídos à espacialidade e incorpora sinteticamente a mudança e a permanência, o caos e a ordem, sem os justapor, congregando-os em uma dinâmica comum que constitui, em certo sentido, a própria natureza dos processos de metropolização. (p. 56).
38
Quando, em meados deste século, o processo de
modernização rompe com os limites territoriais dos países
centrais e torna-se visível na periferia, esta atinge uma
configuração diferenciada pela temporalidade (BERMAN, 1987).
Entendemos que o modo de vida moderno reduz o passado a
fragmentos porém, absolutamente não o apaga. Deste modo, as
sociedades tradicionais são testemunhas de um rompimento com a
modernidade e uma recrudescência da tradição. Sua resistência a
padrões de modernidade está na essência da explicação do modo de
vida da comunidade dita tradicional.
O processo de modernização, enquanto articulado à
acumulação do capital, repercute no caráter da prática
produtiva, o que se refere ao conflito inerente do choque de
padrões de modernidade a uma realidade tradicional.
Na medida em que a contradição entre a dinâmica social e
o caráter privado cristalizam-se no espaço, reconhece-se
sucessivos períodos de características peculiares. As
transformações reconhecidas são conseqüências da evolução de
determinada formação social (LIPIETZ, 1988).
A divisão social e econômica do espaço reproduz-se
através de uma estrutura já existente que determina a ação dos
agentes econômicos.
As características de uma sociedade tradicional se
evidenciam em Tomás Coelho. A estrutura econômica da colônia
baseia-se em uma pequena produção onde os excedentes são
comercializados a nível regional. Possuem tradições arraigadas
39
que mantém a prática produtiva aos moldes arcaicos típicos de
uma fase anterior ao capitalismo industrial. Esta realidade
demonstra a oposição de uma lógica moderna à outra tradicional.
A lógica industrial, cuja dinâmica é típica da modernidade,
tende a romper com a pequena produção agrícola tradicional, na
medida em que ela atende às necessidades de produção massiva
contrapondo aos níveis de acumulação do capital industrial. A
reprodução desta realidade tem origem no próprio desenvolvimento
do capitalismo; a própria criação de um proletariado reside no
fato da desintegração social e econômica da comunidade de
pequenos produtores (DOBB, 1987). A comparação de pequenos
produtores feudais com os colonos poloneses de meados do século
XIX é válida na medida em que os últimos apresentavam condições
sociais e econômicas pré-capitalistas, avançando apenas no
comércio de excedentes.
Em Curitiba, como capital provincial, desenvolveu-se
através de uma diversificação de serviços. A política de
instalação de imigrantes poloneses visava contribuir à
necessidade de abastecer de gêneros alimentícios a capital. A
realidade do Brasil do século XIX apresentava-se plena de formas
arcaicas de vida quando comparamos à Europa.
Segundo WACHOWICZ (1981):
No Brasil, os imigrantes poloneses encontraram também, predominando na sociedade, as formas arcaicas de vida. O Brasil novo apenas iniciava sua emergência, as formas arcaicas ainda predominavam. As populações agrícolas locais, constituídas de escravos, libertos e caboclos eram bem diferentes das populações agrícolas européias. A população polonesa aportada ao Brasil, maciçamente camponesa não poderia
40
ser equiparada a estas populações agrícolas locais. Os poloneses, apesar de seu atraso, com relação aos moldes da Europa Ocidental, sentiram sua superioridade técnica, e isto os satisfez em seu orgulho. Onde quer que as populações agrícolas nativas brasileiras entrassem em concorrência, os poloneses se impuseram na agricultura. (p. 12).
Até meados do nosso século, as características
eminentemente agrícola tradicional da colônia polonesa não
sofreram mudanças marcantes. No entanto, a Região Metropolitana
de Curitiba sofreu o impacto das novas condições agrárias que se
evidenciavam no país, o que possibilitou um incremento da rede
urbana nacional devido ao processo de modernização.
A realidade agrícola tradicional da colônia polonesa se
perpetuou desde a sua fundação, porém sofreu algumas mudanças em
relação a inserção do colono polonês na economia de mercado que
se desenvolvia no Brasil nos anos 50. O processo de
industrialização tardio que se desenvolveu no Brasil, repercutiu
sensivelmente na Grande Curitiba. Já nos anos 70 os limites da
capital alcançaram a colônia polonesa. Neste período o município
de Araucária começa a industrializar-se. O capital industrial de
caráter monopolista referenda uma transformação profunda da
lógica reinante, culminado com a progressiva desarticulação de
espaços tradicionais.
O colono polonês e seus descendentes apresentaram-se
conservadores e apegados às formas tradicionais que herdaram de
sua origem na Europa Central.
Segundo WACHOWICZ (1981), na década de 70, ficou claro a
superação na concorrência que os luso-brasileiros e outros
imigrantes apresentaram em relação ao colono polonês. As
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características da produção da colônia, baseada na subsistência
e no comércio de excedentes agrícolas se demonstrou resistente à
inovações.
A partir da premissa de que os ditames do capital
condiciona a produção do espaço nos reportamos ao impacto
causado pela dinâmica do sistema capitalista no processo de
reestruturação da colônia polonesa.
Considerando o Brasil, percebemos que a evolução do
sistema capitalista apresenta-se em várias etapas e com
características próprias. As transformações do quadro geral
brasileiro repercutem em uma reorganização dos setores
produtivos e uma reelaboração das relações entre capital e
trabalho.
Três estágios da evolução do capital nacional
desenvolvem-se a par com o processo histórico da formação da
colônia polonesa de Tomás Coelho.
O primeiro estágio —— da hegemonia do capital comercial —
, devido as monoculturas de exportação, onde destaca-se o café
como principal gerador destes capitais, contemporâneo do
programa de estabelecimento de colônias imigrantes na então
província do Paraná. Na segunda metade do século XIX o Brasil se
caracteriza por uma economia cuja lucratividade se baseava na
exploração da mão-de-obra escrava, na manutenção dos latifúndios
com a produção destinada ao mercado externo. Porém, a economia
cafeeira já demonstrava sinais visíveis de esgotamento. É neste
contexto que os programas de imigração européia se intensificam.
42
Com base em OLIVEIRA (1982) a economia cafeeira baseada
no trabalho compulsório, embora gere um primeiro produto de
circulação internacional de mercadorias, no que interessa ao
desenvolvimento urbano nacional foi de caráter abortivo.
Praticamente até os anos 20 esta realidade perpetuou-se, a
exemplo de São Paulo que até este período não tinha expressão na
rede urbana nacional.
Sob este prisma a industrialização do Brasil seria
difícil de acontecer pois esta se apoia no desenvolvimento
urbano. De fato o que vai ocorrer é que a nossa industrialização
forçará uma urbanização sem precedentes.
Os imigrantes poloneses que se estabeleceram no Brasil de
meados do século XIX encontraram uma realidade diferente daquela
de onde vieram. Curitiba era uma pequena vila em uma realidade
estritamente agrícola. A política do Estado Brasileiro no
estabelecimento dos colonos poloneses caracterizava-se pela
pequena propriedade rural dando preferência à tradição agrícola
do colono. Em Curitiba o colono polonês se insere em uma
economia de caráter comercial, sendo que os mesmos desfrutaram
de uma certa autonomia em relação à produção e à venda dos
excedentes na cidade. No caso, ao colono polonês foi garantido a
posse da terra que o diferenciava do camponês nativo.
Nota-se que a economia primário-exportadora possuía um
único elemento autônomo para o crescimento de renda, sendo o
setor externo o centro dinâmico da economia (MELLO, 1982).
43
O café que na verdade era o elemento principal do
investimento de capitais nacionais, capitais estes que são
gerados e reinvestidos na expansão da produção cafeeira. O
colono polonês não está integrado à produção cafeeira
diretamente, sendo sua realidade a produção de gêneros
alimentícios para a sua subsistência e a venda de excedentes no
mercado interno.
No entanto é a produção cafeeira que dinamiza a
modernização do país, pois são os capitais gerados com o café
que possibilitaram o pleno desenvolvimento da lógica
capitalista. Ou seja, a massa de capital gerado com o café
transformou-se em capital industrial possibilitando a formação
de mão-de-obra assalariada (MAZZEO, 1988).
Segundo MELLO (1982):
O período que se estende de 1888 a 1933 marca, portanto, o momento de nascimento e consolidação do capital industrial. Mais que isto, o intenso desenvolvimento do capital cafeeiro gestou as condições de sua negação, ao engendrar os pré-requisitos fundamentais para que a economia brasileira pudesse responder criativamente à “Crise de 29”. De um lado, constituem-se uma agricultura mercantil de alimentos e uma indústria de bens de consumo assalariado capazes de, ao se expandirem, reproduzir ampliadamente a massa de força de trabalho oferecida no mercado de trabalho, que já possuía dimensões significativas; de outro forma-se um núcleo de indústrias leves de bens de produção (...) e, também, uma agricultura mercantil de matérias-primas que, ao crescerem, ensejariam a reprodução ampliada de fração do capital constante sem apelo às importações. (p. 109).
Parece importante que a organização de uma economia
baseada no trabalho assalariado, marca o início de uma economia
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propriamente capitalista que posteriormente será base do
capitalismo industrial que se consolidará no Brasil.
O segundo estágio se apresenta com transição da economia
agro exportadora para uma economia industrial. Também
reconhecida como a fase concorrencial. A característica peculiar
deste período á a transposição do modelo de uma autarquia rural
para uma autarquia industrial. Para OLIVEIRA (1982), as
indústrias que nascem, em um processo avançado de acumulação,
serão completamente autárquicas desde que não apoiavam seu
processo produtivo em uma divisão social do trabalho anterior
que as ligassem ao campo. A industrialização que sediava-se nas
cidades, centros burocráticos do capital comercial, não vai
encontrar uma divisão social do trabalho que possibilitasse a
formação de unidades produtivas de pequeno porte.
Na primeira metade do nosso século estabelece-se no
Brasil um processo de industrialização que está fundamentado no
aumento do lucro em um espaço rápido de tempo pela debilidade da
concentração de capitais e as condições de mercado (CARLOS,
1988).
MELLO (1982) sugere que o capitalismo estruturado no
Brasil foi imposto pela colonização européia. Deste modo o
próprio desenvolvimento do sistema guarda em seu bojo padrões
estruturados no período colonial que se perpetua na fase inicial
da industrialização brasileira. Como exemplo podemos citar a
estrutura autárquica, a reprodução e manutenção de grandes
45
unidades produtivas. Nesta fase a lógica era a substituição de
importações.
A produção do espaço da colônia de Tomás Coelho, a
despeito das transformações da economia nacional, se manteve nos
moldes ancestrais com poucas modificações no processo produtivo.
Curitiba e região, na verdade, ficaram à margem das modificações
que o processo produtivo nacional vivenciava e onde São Paulo
despontava como principal centro. O impacto da industrialização
se torna mais substancial na década de 50 já no início da fase
do capitalismo industrial monopolista, principalmente pela ação
estatal.
No terceiro estágio o 2º pós-guerra impõe uma
reorganização da economia mundial. Esta realidade referendou a
mudança na forma de exploração por parte dos países centrais em
relação aos países periféricos. Anteriormente os investimentos
no exterior concentravam-se no controle de matérias-primas,
aberturas de filiais manufatureiras e a disseminação de
operações bancárias internacionais. Posteriormente ampliaram-se
as empresas com poder de operar no exterior e a luta pelos
mercados passou para produção dentro dos países periféricos
(MAZZEO, 1988).
Segundo CARLOS (1988), a fase monopolista centra-se nas
grandes firmas e o espaço deixa de ser organizado pela indústria
como simples unidade produtiva. Processa-se uma articulação de
modo hierárquico através do capital, caso das empresas
multinacionais que se instalam no Brasil nos anos 50. Esta
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concentração deve-se à aglomeração dos meios de produção e da
gestão por parte das metrópoles. Acentua-se a especialização
produtiva do espaço junto com as transformações dos meios de
comunicação e transportes.
Nesta fase de redimensionamento do espaço de produção
brasileiro, ocorrem transformações em relação a Curitiba e
região, como por exemplo a formação da Cidade Industrial de
Curitiba na década de 70. A expansão da lógica industrial na
região relaciona-se a articulação do capital multinacional e o
Estado tende, em sua expansão territorial, a encampar setores de
produção tradicional como Tomás Coelho no município de Araucária
(fig. 04 p. 47). A concentração, a formação dos conglomerados e
empresas multinacionais revelam uma nova lógica organizacional
que se evidencia a nível espacial.
Neste estágio ocorre a desarticulação da organização
espacial anterior e a reestruturação de uma nova lógica
espacial. Neste ponto a ação Estatal visa amenizar as
insuficiências na alocação do espaço por parte dos agentes
privados através de uma atitude concreta na produção de
equipamentos coletivos e planejamento.
Nesta articulação do Estado com os agentes do Capital
industrial monopolista, as facilidades do acesso ao solo
metropolitano por parte do capital hegemônico torna-se evidente.
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FIGURA: 04
ARAUCÁRIA - LIMITES POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS
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A urbanização do Brasil, enquanto articulada pelo Estado
e as forças do capitalismo industrial monopolista, fixa um
período de intensa ocupação do espaço outrora rural.
A princípio, reconhecemos, com base em OLIVEIRA (1982),
uma certa incapacidade da iniciativa privada nacional para
oferecer padrões de acumulação de capital necessários à dinâmica
industrial. A articulação entre o Estado Nacional e as empresas
multinacionais pode ser colocada como conseqüência da debilidade
da iniciativa privada nacional. A intervenção estatal resgata a
possibilidade de redirecionar a política rural e urbana do país
a fim de atender emergentes interesses do capital internacional.
O impacto inicial da lógica industrial sobre a Colônia
polonesa de Tomás Coelho redimensiona as relações econômicas
essencialmente mercantis que desde a sua fundação vigorava.
Segundo KERSTEN (1983) o camponês fora redimensionado
pelo capital, já que a posse do meio de produção dependia da
venda de produtos agrícolas na cidade. A vinculação ao mercado
no modo do capitalismo mercantil criara portanto, uma profunda
dependência do colono que tinha que saldar o custo de produção e
a manutenção da posse da terra.
Para melhor caracterizar a forma de produção camponesa e
o porquê de atribuir um caráter quase pré-capitalista à sua
dinâmica citamos CHAYANOV (1981):
O camponês ou artesão que dirige sua empresa sem trabalho pago recebe, como resultado de um ano de trabalho, uma quantidade de produtos que depois de trocada no mercado, representa o produto bruto de sua
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unidade econômica. Deste produto bruto devemos deduzir uma soma correspondente ao dispêndio material necessário no transcurso do ano: resta-nos então o acréscimo em valor dos bens materiais que a família adquiriu com o seu trabalho durante o ano ou, para dizê-lo de outra maneira, o produto de seu trabalho. Este produto do trabalho familiar é a única categoria de renda (da terra) possível, para uma unidade de trabalho familiar camponesa ou artesanal, pois não existe maneira de decompô-la analítica ou objetivamente. Dado que não existe o fenômeno social dos salários, o fenômenos social de lucro líquido também está ausente. Assim é impossível aplicar o cálculo capitalista do lucro.(p. 138)
A partir da década de 70, o capitalismo industrial
monopolista renova as relações de dependência, pois a produção
industrial reverte a um novo modo de vida e a uma intensa
valorização do solo.
A situação de assédio do capital industrial em relação ao
solo ocupado por colonos poloneses na grande Curitiba reflete as
novas relações de produção próprias da modernidade engendrados
pela expansão do espaço industrial e urbano.
Neste contexto, verificamos a condição do dominado em
relação ao dominante materializados no desmantelamento de uma
organização espacial agrícola tradicional e a reestruturação sob
formas avançadas do capitalismo industrial.
Para LIPIETZ (1988):
A análise revelará, assim, por exemplo, o antagonismo de uma lógica industrial, correspondendo às formas avançadas do capitalismo, oposta a uma lógica fundiária , própria aos modos arcaicos; mas o estudo concreto mostrará o funcionamento de um sistema único e coerente, possuindo características originais, àquelas que a análise tem precisamente por finalidade explicar. Enfim, as próprias modalidades da articulação devem ser compreendidas como um processo, onde o modo dominante domina, dissolve, integra o modo dominado segundo fases sucessivas nas quais se
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modificam as regras de funcionamento da totalidade social. (p. 23).
O antagonismo de duas lógicas distintas, participando
antes do mesmo espaço, acarretará uma relação contraditória,
cuja síntese se concretiza numa configuração espacial.
Considerando que cada momento histórico se destaca pela
manifestação de sistemas dominados por técnicas diferenciadas,
podemos reconhecer a descontinuidade que representam as formas
de produção arcaicas. Estas reproduzem técnicas de períodos
históricos anteriores na tentativa de auto preservação. No
entanto, mesmo que permaneça o caráter tradicional no plano
supra estrutural, ou seja, cultural e político, no plano
estrutural ou econômico pode haver assimilação de padrões de
modernidade.
As transformações , muitas vezes, seguem a via econômica
antes de afetar as relações propriamente sociais.
A mudança tecnológica impõe uma reestruturação que afeta
a sociedade tradic