Post on 08-Jul-2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRO REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO
ESCOLA DE SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E SOCIEDADE
MESTRADO PROFISSIONAL EM PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO E SAÚDE
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE TRANSPORTE NEONATAL INTER-
HOSPITALAR DE UMA MATERNIDADE ESCOLA
EMELINE NORONHA VILAR DE SOUZA
NATAL-RN
2019
EMELINE NORONHA VILAR DE SOUZA
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE TRANSPORTE NEONATAL INTER-
HOSPITALAR DE UMA MATERNIDADE ESCOLA
Profa. Dra. Maria Claudia Medeiros Dantas de Rubim Costa
Orientadora
Natal/RN
2019
Dissertação submetida ao
Programa de Pós-Graduação em
Saúde e Sociedade da
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte para obtenção do
grau de Mestre Profissional em
Práticas de educação e saúde.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Souza, Emeline Noronha Vilar de.
Avaliação do processo de transporte neonatal inter-hospitalar de
uma maternidade escola / Emeline Noronha Vilar de Souza. - 2019.
76 f.: il.
Dissertação (mestrado profissional) - Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Escola de Saúde, Programa de Pós-Graduação em
Saúde e Sociedade, Natal, RN, 2019.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Claudia Medeiros Dantas de Rubim
Rocha.
1. Recém-nascido - Dissertação. 2. Unidades de terapia intensiva
neonatal - Dissertação. 3. Transporte de pacientes- Dissertação. I.
Rocha, Maria Claudia Medeiros Dantas de Rubim. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 616-053.31-083
Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262
AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE TRANSPORTE NEONATAL INTER-
HOSPITALAR DE UMA MATERNIDADE ESCOLA
Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Saúde e Sociedade da Escola de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Como requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Aprovada em: 26 de abril de 2019, pela banca examinadora.
Presidente da banca:
Profa. Dra. Maria Claudia Medeiros Dantas de Rubim Costa (presidente)
Escola de Saúde UFRN
Banca Examinadora:
Dra. Anna Christina do Nascimento Granjeiro Barreto (titular)
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Dr. Wilton Rodrigues Medeiros (titular)
Hospital Universitário Ana Bezerra UFRN
Profa. Dra. Elisângela Franco de Oliveira Cavalcante (titular)
Escola de Saúde UFRN
Dedico
A Deus por tudo.
A minha família, especial o meu
marido, por me apoiar em todos
os momentos e compreenderem
as minhas ausências
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pelo dom da vida, pelo discernimento e sabedoria em
todos os momentos.
A minha família, por ter me proporcionado oportunidade para estudar e mostrado que o
melhor caminho é a partir da educação e do amor.
Ao meu marido Danilo, pelo apoio, carinho, amor e compreensão diária para a realização
desse projeto. Por todas as vezes que baixou o som da televisão atendendo aos meus
pedidos, pelas vezes que ficou me escutando lamentando-me pelas dificuldades impostas
no processo e, mesmo assim, me estimulava, fazendo-me crê que no final tudo daria
certo... e deu. Te amo muito!
Aos meus pais Evânio (in memória) e Suelly, agradeço por tudo nessa vida, se eu sou o
que sou hoje: devo aos senhores.
Aos meus irmãos Evãnio Jr, Evelyne e Emília, pelo estímulo e apoio quando estavam
próximos e que mesmo distantes não negaram. Vocês fazem parte da minha história e de
todas as conquistas.
Aos meus amigos, pela compreensão nos momentos de ausência, pelo estímulo diário e
por todo o amor emanado. Não sei o que seria de mim sem a amizade de vocês.
A minha professora e orientadora, Maria Claudia Rubin, pela leveza no desencadear desse
processo, acolhimento, confiança, disposição e paciência que sempre teve comigo.
Agradeço pela oportunidade que me proporcionou e por todo conhecimento transmitido.
Ao professor Wilton Medeiros, pela paciência e disponibilidade em transmitir os seus
conhecimentos sobre estatística e epidemiologia e ser tão fundamental e essencial nessa
conclusão do trabalho.
Aos mestres que participaram da minha formação e me permitiram crescer
intelectualmente e pessoalmente. Em especial, agradeço a Deborah Mororó, enfermeira
que me acolheu desde a época da graduação, apresentou-me o mundo da pediatria e a
responsabilidade de ser enfermeira. A enfermeira Juliana Jales por sempre está ao meu
lado nesse crescimento profissional, me orientando tanto pessoalmente como
profissionalmente e que me incentivou para a realização desse sonho. A professora Nilba
Lima por todo o encantamento e conhecimento transmitido na neonatologia, a sua
humildade encanta a todos. Muito obrigada.
A MEJC, pela oportunidade de desenvolver esse estudo, pelo estímulo e apoio no
crescimento profissional dos seus funcionários. Em especial as minhas chefes Maria
Anakarinne Souza e Shennya Barros, pelo apoio, oportunidades e incentivo,
representando todos que fazem parte dessa instituição, cuja integridade e profissionalismo
de ambas são exemplos que tento seguir.
A equipe de enfermeiras da UTI Neonatal da MEJC, que abraçou a minha idéia,
contribuindo para a pesquisa, compreenderam os momentos em que estive ausente da
rotina do serviço e torceram para a realização desse momento. Vocês me inspiram com o
comprometimento e dedicação.
A equipe de enfermeiras da UTI Neonatal da Maternidade Divino Amor, por todo o apoio,
amizade e profissionalismo. Vocês são mais do que colegas de trabalho, são amigas de
uma vida toda. A nossa ligação é muito além do ambiente de trabalho.
Aos meus colegas de turma, por todo o apoio coletivo, companheirismo e pelos
compartilhamentos das alegrias e das tristezas nos últimos dois anos. Agradeço pelos
momentos de distrações quando a situação estava difícil e juntos fazíamos ela fluir como
a leveza de uma pena. Por acreditarmos em nós quando nem nós achávamos que seria
possível. Foi uma caminhada longa, só quem vivenciou sabe as pedras encontradas no
caminho, cada um com as suas barreiras, porém com o mesmo objetivo.
Finalmente, agradeço a todos que de alguma maneira contribuíram para realização desse
trabalho.
“Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem
metas, os sonhos não têm alicerces. Sem
prioridades, os sonhos não se tornam reais.
Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades
e corra riscos para executar seus sonhos.
Melhor é errar por tentar do que errar por
omitir.”
Augusto Cury
RESUMO
O transporte neonatal consiste na transferência de um recém-nascido para uma unidade
mais especializada. O mesmo pode ser classificado em intra-hospitalar e inter-hospitalar.
Acredita-se que as condições do translado inter-hospitalar influencia na mortalidade
neonatal, logo quando realizado de forma ideal deve contribuir com a redução dos
coeficientes de mortalidade neonatal e infantil. Um dos grandes avanços da Neonatologia
foi à implantação do Transporte Neonatal, que contribuiu efetivamente para a redução
dos índices de mortalidade neonatal e infantil. Observa-se ainda uma lacuna na literatura
com relação aos transportes inter-hospitalares proveniente de uma equipe capacitada pela
instituição, sendo um dos pilares para a realização desse estudo. Têm-se como objetivo
avaliar a qualidade do transporte neonatal inter-hospitalar de uma maternidade escola por
meio do escore Ca-TRIPS. Trata-se de um estudo observacional descritivo do tipo
transversal, antes e depois, com abordagem quantitativa. Os dados coletados foram
inseridos em um formulário, seguido por uma análise bivariada dos dados, no qual se
verificou a associação das variáveis independentes selecionadas, sendo essas, todas
aquelas relacionadas ao perfil dos recém-nascidos transportados e características do
transporte (duração e setor demandante) com a variável dependente (inadequação do
transporte). Nesse momento da análise foi estimada suas respectivas razões de
prevalência (RP), essas obtidas por meio da regressão de Poisson com variância robusta,
também utilizada na análise múltipla. No modelo intermediário foram consideradas
inicialmente as variáveis que tiveram um valor de p < 0,20, obtidos na análise bivariada,
e permaneceram no modelo final se p < 0,05. Foi desenvolvido em uma maternidade
escola referência no Rio Grande do Norte. A amostra foi constituída por 70 transportes
neonatal inter-hospitalar, efetuados por profissionais e residentes da Instituição no
período de maio a outubro de 2018. Foram realizados 70 transportes inter-hospitalar,
destes 71,4% foram considerados adequados, apresentando uma predominância do sexo
feminino (62,9%), peso ao nascer abaixo de 2.500g (62,9%) e idade gestacional
prematuro (55,7%). A mediana da duração do transporte foi de 40 minutos com algumas
falhas mecânicas. A maioria dos transportes (37,1%) foi para realizar exames e o setor de
origem mais presente foi a UTI Neonatal (61,4%), 90% dos transportes foram feitos com
acesso venoso e 55,7% dos RN encontravam-se em ar ambiente. Identificou-se que
quanto menor o peso ao nascer do RN e/ou maior a duração do transporte, maior será a
prevalência de inadequação do transporte. Uma equipe especializada contribui
significativamente para a qualidade do transporte. O estudo mostrou que o transporte
neonatal inter-hospitalar foi adequado na maioria dos transportes de acordo com o escore
Ca-TRIPS.
PALAVRAS-CHAVE: Recém-Nascido. Unidades de Terapia Intensiva Neonatal.
Transporte de Pacientes.
ABSTRACT
Neonatal transport consists of the transfer of a newborn to a more specialized unit. The
same can be classified as intrahospital and interhospital. It is believed that the conditions
of the inter-hospital transfer influence neonatal mortality, so when performed ideally, it
should contribute to the reduction of neonatal and infant mortality rates. One of the great
advances of Neonatology was the implantation of Neonatal Transportation, which
effectively contributed to the reduction of neonatal and infant mortality rates. There is
also a gap in the literature regarding interhospital transport coming from a team trained
by the institution, being one of the pillars for the accomplishment of this study. The
objective of this study was to evaluate the quality of the inter-hospital neonatal transport
of a Maternity school through the Ca-TRIPS score. This is a cross-sectional, descriptive,
observational study with a quantitative approach. The data collected were inserted into a
form, after which a bivariate analysis of the data was performed, in which the association
of the selected independent variables was verified, all of which were related to the profile
of the NB transported and characteristics of the transport (duration and demanding sector)
with the dependent variable (inadequate transport). At the time of analysis, their
respective prevalence ratios (PR) were estimated, using poisson regression with robust
variance, also used in the multiple analysis. In the intermediate model, the variables that
had a value of p
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- California Transport Risk Index of Physiologic Stability (Ca- TRIPS) ...... 26
Quadro 2- Caracterização das variáveis dependentes que compõem o Ca-TRIPS. Natal,
2018 ................................................................................................................................ 29
Quadro 3- Caracterização das variáveis independentes do Recém-nascido. Natal, 2018
........................................................................................................................................ 32
Quadro 4- Caracterização das variáveis independentes do transporte neonatal. Natal,
2018. ............................................................................................................................... 31
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Valores de frequências absolutas e relativas da amostra segundo a adequação
do Transporte Neonatal a partir do escore Ca-TRIPS e dimensões que o compõem, antes
e depois do transporte. Natal- RN, 2019. ....................................................................... 33
Tabela 2- Valores de médias, desvios-padrão, medianas, quartis 25 e 75 e freqüências
absolutas e relativas segundo as variáveis independentes dos recém-nascidos
transportados. Natal-RN, 2019. ...................................................................................... 37
Tabela 3- Valores de médias, desvios-padrão, medianas, quartis 25 e 75 e freqüências
absolutas e relativas segundo as variáveis independentes do transporte neonatal. Natal-
RN, 2019. ........................................................................................................................ 35
Tabela 4- Valores de frequências absolutas e relativas da amostra segundo as variáveis
independentes relacionadas as condições do transporte. Natal –RN, 2019. ................... 37
Tabela 5- Valores absolutos e percentuais, significância estatística, significância
estatística ajustada, razão de prevalência, seu intervalo de confiança e seus valores
ajustados para cada variável representativa das características do recém-nascido
transportados em relação à adequação do transporte neonatal. Natal-RN, 2019. .......... 38
Tabela 6- Valores absolutos e percentuais, significância estatística, significância
estatística ajustada, razão de prevalência, seu intervalo de confiança e seus valores
ajustados para as variáveis representativas das características do transporte em relação à
adequação do transporte neonatal. Natal-RN, 2019. ...................................................... 39
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abrasco – Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AVC – Acesso Venoso Central
AVP – Acesso Venoso Periférico
BLH – Banco de Leite Humano
Ca- TRIPS - California Transport Risk Index of Physiologic Stability
Cebes – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
CNS – Conselho Nacional de Saúde
Conasems – Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
Conass – Conselho Nacional de Secretários de Saúde
CPAP – Continous Positive Airway Pressure
DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brail
DP – Desvio-Padrão
DT – Duração do Transporte
EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FIV – Fertilização In Vitro
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC – Intervalo de Confiança
ICSI – Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social
MC – Método Canguru
MEJC – Maternidade Escola Januário Cicco
MS – Ministério da Sáude
OMS – Organização Mundial de Saúde
PAISM – Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher
PN – Peso ao Nascer
PNHPN – Programa Nacional de Humanização do Pré-Natal e Nascimento
PROASP – Programa de Assistência à Saúde Perinatal
PSMI – Programa de Saúde Materno-Infantil
RN – Recém-Nascido
RNPT – Recém-Nascido Prematuro
RP – Razão de Prevalência
SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria
SUS – Sistema Único de Saúde
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TN – Transporte Neonatal
TRIPS – Transport Risk Index of Physiologic Stability
UBS – Unidades Básicas de Saúde
UCIN – Unidade de Cuidados Intermediários
UCINCa – Unidade de Cuidados Intermedíarios Canguru
UCINCo – Unidade de Cuidados Intermedíarios Convencional
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UTIN – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
VMI – Ventilação Mecânica Invasiva
VPP – Ventilação por Pressão Positiva
X – Valores da média
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
2. OBJETIVO ................................................................................................................. 17
2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 17
3. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 17
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A ASSISTÊNCIA AO RECÉM-
NASCIDO. .................................................................................................................. 17
3.2 O RECÉM-NASCIDO DE ALTO RISCO ........................................................... 22
3.3 O TRANSPORTE NEONATAL .......................................................................... 24
4. METÓDO ................................................................................................................... 27
4.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................... 27
4.2 LOCAL DA PESQUISA ...................................................................................... 27
4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA .............................................................................. 28
4.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO .................................................... 28
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ...................................................... 28
4.6 VARIÁVEIS ......................................................................................................... 29
4.7 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS ........................................... 32
4.8 ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................ 32
4.9 ASPECTOS ÉTICOS ........................................................................................... 33
5. RESULTADOS .......................................................................................................... 33
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ............................................................... 33
5.2 ASSOCIAÇÃO DAS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ESTUDADAS E A
INADEQUAÇÃO/ QUALIDADE DO TRANSPORTE NEONATAL ..................... 38
6. DISCUSSÃO .............................................................................................................. 40
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 46
ANEXOS ........................................................................................................................ 52
PARECER DO CÔMITE DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFRN ........................... 52
CARTA DE ANUÊNCIA DA MATERNIDADE ...................................................... 57
APÊNDICES .................................................................................................................. 58
APÊNDICE 1: FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS ..................................... 58
APÊNDICE 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
.................................................................................................................................... 60
APÊNDICE 3: PROTOCOLO DE TRANSPORTE INTER-HOSPITALAR EM
RECÉM-NASCIDO .................................................................................................... 62
14
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é o 10º país do mundo em número de nascidos vivos prematuros e o 16º em
número de óbitos decorrentes de complicações da prematuridade (WHO, 2012). Dados do
DATASUS apontam que cerca de três milhões de crianças nascem anualmente no Brasil, das
quais 350.000 apresentam idade gestacional menor que 37 semanas e 40.000 peso ao nascer
menor que 1.500g (BRASIL, 2013).
Define-se como recém-nascido (RN) a criança que acabou de nascer até o 28º dia de
vida (WHO, 1961), que pode ser classificado em pré-termo (menor que 37 semanas
gestacional), a termo (37 a 42 semanas) e pós-termo (maior que 42 semanas) (TAMEZ, 2013).
A sobrevida desses RN reflete a estrutura e a qualidade do cuidado antenatal, da assistência ao
trabalho de parto, parto e do atendimento neonatal, principalmente dos recém-nascidos pré-
termo (RNPT) (KIMURA, 2009).
Mediante tal cenário, surge a necessidade de cuidados hospitalares especializados,
realizados nas UTIN (Unidades de Terapia Intensiva Neonatal), que são direcionadas para o
atendimento dos RN em estado grave ou com risco de morte, sendo um serviço de internação
dotado de estruturas assistenciais que possuam condições técnicas adequadas à prestação de
assistência especializada, incluindo instalações físicas, equipamentos e recursos humanos.
As Unidades Neonatais são divididas de acordo com as necessidades do cuidado, nos
seguintes termos: I- Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN); II- Unidade de Cuidado
Intermediário Neonatal (UCIN), com duas tipologias: Unidade de Cuidado Intermediário
Neonatal Convencional (UCINCo) e Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru
(UCINCa) (BRASIL,2012).
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2016, mostram que
no Brasil existem 8.905 leitos de UTIN, sendo que 52,2% são do Sistema Único de Saúde
(SUS). Dos 4.405 leitos que são da UCINCo, 2.142 são do SUS e dos 1.129 leitos de UCINCa,
55% são do SUS. Ainda no Rio Grande do Norte, pode-se, encontrar dados bem alarmantes
onde existem 124 leitos de UTIN, sendo 60,4% dos leitos destinados ao SUS (BRASIL, 2016).
Em países desenvolvidos, estima-se que 15 a 20% dos RNs nascem em condições
inadequadas, sendo necessária a transferência para uma UTIN (PIMENTA; ALVES, 2016). No
Brasil, os números das transferências de RN para as UTINs ainda são subnotificados, o que
pode dificultar a mensuração desse fenômeno. Entretanto, a implantação de equipes de
15
Transporte Neonatal (TN) capacitadas, contribuiu efetivamente para a redução dos índices de
mortalidade neonatal e infantil (HERNANDO et al., 2013).
O TN é a transferência de um RN para uma unidade mais especializada. O mesmo pode
ser classificado em intra-hospitalar e inter-hospitalar. O intra-hospitalar é realizado quando os
recém-nascidos internados necessitam ser deslocado de setor dentro da instituição. Já o inter-
hospitalar, compreende a transferência de neonatos entre unidades de saúde públicas ou
privadas (BRASIL, 2010).
Desta forma, ambos os tipos de transporte devem ser considerados como uma extensão
dos cuidados realizados na UTIN e constituem um fator de risco ao recém-nascido. Assim, a
transferência deve ser feita, mediante a estabilização do quadro clínico do RN e com uma equipe
de profissionais treinados e experientes no manejo ao recém-nascido grave. Embora existam
riscos associados ao transporte de pacientes, os benefícios dos cuidados especializados para
elucidar o diagnóstico podem superar o risco (ARAÚJO, et al. 2011).
Buscando avaliar a qualidade do transporte preservando a segurança do paciente, sem
piorar sua condição de saúde, é essencial utilizar métodos capazes de identificar seus efeitos.
Para isso, o MS orientou a utilização, no Manual do Transporte do Recém-nascido de alto risco:
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria, do escore Ca-TRIPS (California Transport Risk
Index of Physiologic Stability), que trata de uma modificação do escore canadense original
TRIPS, validado em uma amostra de 21.279 transportes neonatais de emergência na Califórnia
(MARBA et al., 2017).
Apesar de se ter conhecimento sobre a importância do transporte neonatal e a sua
eficiência na diminuição das taxas de mortalidade e morbidade neonatal, um dos principais
desafios, encontrados no SUS, no campo perinatal é a organização da rede integral de
assistência à mulher, á gestante e ao RN, desde o acompanhamento ginecológico, o
planejamento familiar, até a assistência pré-natal, a assistência ao RN e á criança, sendo
importante uma assistência integral e resolutiva que efetive a promoção da saúde e a redução
dos agravos e mortes precoces e evitáveis de crianças (LANSKY et al., 2002).
O sucesso do TN vai depender da qualidade do atendimento na sala de parto, do contínuo
e adequado atendimento do RN na unidade neonatal enquanto a transferência não ocorre, da
escolha do tipo de transporte, da equipe que fará a transferência e da qualidade do transporte
até a unidade de referência. Salienta-se que qualquer etapa com uma assistência inadequada
pode produzir danos irreparáveis ao neonato (ARAÚJO, et al.2011).
O Ministério da Saúde com o intuito de concretizar as ações supracitadas, em 2011,
lançou a Rede Cegonha, a qual foi normatizada pela Portaria Nº 1.594, de 24 de junho de 2011.
16
Tal estratégia visa à ampliação do acesso e melhoria da qualidade da atenção pré-natal, da
assistência ao parto e puerpério e da assistência à criança até 24 meses de vida (BRASIL,
2011a).
Assim, a Rede Cegonha configura-se como uma importante estratégia do Governo
Federal na medida em que objetiva enfrentar o problema do elevado número de óbitos de
mulheres e de crianças por meio de iniciativas que provoquem mudança desse cenário existente
no Brasil. As ações da estratégia buscam a melhoria da atenção destinada ao seu público-alvo
e vão além de repasse de recursos atrelado ao aumento de leitos ou da oferta de procedimentos
(CAVALCANTI, 2010).
Mediante o cenário e com vistas a organização da Rede Cegonha para sua
resolutividade, a implantação do transporte neonatal representa um importante aspecto da
assistência perinatal, considerando elementos essenciais para o sistema de transferência
neonatal tais como: organização, comunicação, pessoal, equipamentos e unidades de transporte,
respeitando o princípio da integralidade do cuidado e bem como o sistema regionalizado e
hierarquizado das redes de atenção perinatal.
Dado a importância e a necessidade de um TN eficaz, a Gerência de Atenção a Saúde
da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) e gerenciada pela EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) ,
referência em gestação de alto risco no SUS, adquiriu equipamentos essenciais para um
transporte neonatal de qualidade, como incubadora de parede dupla para transporte, monitor
portátil, bolsa para armazenamento de insumos e materiais para intercorrências e investiu na
qualificação dos profissionais com a oferta de cursos de transporte neonatal feitos pela
Sociedade Brasileira de Pediatria.
A necessidade de qualificação dos profissionais para realizar os TN e a aquisição de
materiais se deu devido a alta demanda de transporte de recém-nascido para realização de
exames, consultas inter-hospitalar e carência de leitos de UTIN no estado.
A MEJC possui 20 leitos, porém não suprem, a contento, a demanda de vagas de UTIN
para os RN graves que nascem e necessitam de cuidados especializados, predispondo a
transferência desses RN para outras instituições de forma ágil para ter os cuidados ideais.
Apesar de existir o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), a prioridade do
serviço de urgência e emergência são para os casos em que a vítima está sem assistência, o que
faz com que o RN permaneça por horas aguardando uma transferência, o que acarreta bloqueio
de salas de centro cirúrgico e, às vezes, um agravamento do quadro clinico por falta de
profissional habilitado para assistir o RN adequadamente.
17
Pode-se observar que um transporte neonatal realizado em condições ideais diminui a
mortalidade e morbidade perinatal, desta forma faze-se necessárias estratégias para inserir o
transporte neonatal no cuidado com esses pacientes. Surge, assim, o interesse em avaliar o
transporte neonatal, realizado por profissionais capacitados visando à melhoria da qualidade do
serviço prestado, visto que, ainda encontra-se uma lacuna na literatura em relação aos
transportes inter-hospitalar proveniente de uma equipe implantada pela instituição, sendo algo
de relevante contribuição para as demais instituições que prestam assistência ao neonato.
Diante deste contexto e a partir da experiência da pesquisadora em TN há cinco anos, o
presente estudo será norteado pelas seguintes questões de pesquisa: Qual o nível de qualidade
do TN inter-hospitalar realizado por maternidade escola no estado do Rio Grande do Norte? Há
relação entre o nível de qualidade do TN e as variáveis relacionadas às características do RN e
do transporte?
2. OBJETIVO
2.1 OBJETIVO GERAL
• Avaliar a qualidade do transporte neonatal inter-hospitalar de uma maternidade escola
por meio do escore Ca-TRIPS.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Aferir o nível de qualidade do transporte inter-hospitalar dos RN, antes e depois do
transporte, através do escore Ca-TRIPS.
• Delinear o perfil dos RN submetidos ao TN inter-hospitalar de uma Maternidade
pública do Rio Grande do Norte e associar ao nível de qualidade.
• Caracterizar o transporte neonatal e associar ao nível de qualidade.
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA A ASSISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO.
No Brasil, ao longo das últimas décadas, as diversas intervenções voltadas para a
atenção ao período da gestação e primeiro ano de vida constantemente esteve no alvo das
políticas públicas de saúde (NETO, et al 2008). A elaboração de tais políticas voltadas ao
18
recém-nascido culminou na consolidação de diversas leis e programas de saúde, concernentes
à atenção materno-infantil, os quais tiveram papel preponderante na organização dos sistemas
e serviços de saúde (COSTA et al, 2010).
As políticas públicas direcionadas a assistência á saúde materno-infantil iniciou-se na
década de 70, com a implantação do Programa de Saúde Materno-Infantil (PSMI), cujas ações
estavam voltadas para o acompanhamento do pré-natal, o controle dos partos domiciliares e do
puerpério, e para as ações de promoção de saúde da criança. Ainda na década 70 ocorreram
movimentos sociais na luta pela redemocratização do país. Destacando-se a reforma sanitária,
tendo como principal argumento o direito á saúde como um direito de todo cidadão (LANSKY
et al., 2002).
Na década de 1980, as leis da assistência á saúde materno-infantil estavam voltadas para
a mulher-mãe, estando o RN sintetizado no cuidado integral a mulher-mãe, não sendo tratado
como sujeito do cuidado. Teve início, nesta década, as práticas humanizadas, direcionadas para
o parto e puerpério, a partir da regulamentação do alojamento conjunto, na Portaria 18 do
Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) do MS, mesmo sendo
uma medida de abrangência restrita a população, iniciava-se uma nova corrente de pensamento,
focando na humanização do cuidado (BRASIL, 1982).
Entre os programas relacionados à saúde da criança desenvolvidos na década de 1980,
destaca-se o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno instituído em 1981 com
a finalidade de incentivar o aleitamento materno e reduzir o desmame precoce. Também, pode-
se citar a criação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), sendo um
programa inédito até então, não apenas voltado ao binômio mãe-filho, mas à atenção à saúde
da mulher em sua totalidade e abrangência, tratando de assuntos não voltados apenas para o
pré-natal, parto e puerpério, mas também para a prevenção do câncer e das infecções
sexualmente transmissíveis (BRASIL, 1983).
No final da década de 1980, através do Movimento Sanitarista e das Conferências de
Saúde, fez-se a Constituição Federal de 1988 e foi idealizado o SUS com diversos artigos que
fundamentavam e constituíam a base dos direitos reprodutivos. Dentre eles, destacam-se: o
direito das presidiárias de permanecerem com seus filhos durante o período de amamentação;
a proteção à maternidade e à infância; a licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário
e com a duração de cento e vinte dias; a licença-paternidade, nos termos fixados em lei; a
assistência gratuita aos filhos e dependentes, desde o nascimento até seis anos de idade em
creches e pré-escolas; a proteção especialmente à gestante; e ao planejamento familiar
(BRASIL, 1988).
19
Pode-se afirmar que o SUS foi a maior conquista da sociedade brasileira no campo da
saúde e das políticas sociais. Sendo fruto de um trabalho árduo do Movimento da Reforma
Sanitária Brasileira que teve vários atores no seu percurso, como: os movimentos sociais no
campo da saúde, as universidades, as sociedades científicas como a Associação Brasileira de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(Cebes), os conselhos de gestores da saúde (Conselho Nacional de Secretários de Saúde
(Conass) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems)), o poder
Legislativo, entre várias outras instituições e pessoas (BRASIL, 2009).
Com a constituição do SUS e a concepção organizativa do sistema que preconiza uma
rede de serviços definidos em níveis de complexidade tecnológica crescente (hierarquizada)
dispostos numa área geográfica e atendendo a uma população definida (regionalizada), a
assistência à mulher e à criança passaram a incorporar novos desafios. O poder decisório da
utilização dos recursos e as competências relativas às ações e serviços de saúde, estavam, a
partir de então, descentralizados ou distribuídos entre as três esferas de governo (municipal,
estadual e federal). Previa, ainda, a participação de entidades de caráter privado, de forma
complementar, desde que contratadas ou conveniadas, sob a fiscalização do Estado e do
controle social (BRASIL, 2009).
Na década de 1990, o Brasil ratifica os preceitos da Convenção Internacional dos
Direitos da Criança ao promulgar a Lei Federal nº 8069, de 13/07/1990, conhecida como
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), surgindo o marco do cuidado ao RN, dando
direitos de um atendimento que proporcione condições adequadas para realizar o aleitamento
materno e alojamento conjunto em todas as instituições de saúde, ficando o berçário destinado
para os RNs de risco (BRASIL, 2001). Logo em seguida foi instituído o Programa de
Assistência à Saúde Perinatal (PROASP), definido a atenção perinatal como área programática
nas diretrizes governamentais de atenção à saúde no Brasil. Dessa forma, as políticas iniciaram
o esboço de ações que buscam contemplar o RN como sujeito do cuidado, na sua integralidade,
considerando a sua individualidade e especificidade, ainda que, de forma incipiente (BRASIL,
1991).
Desde então, foram formulados e executados diversos programas e estratégias de saúde
públicas voltadas à atenção materno-infantil, tanto para consolidar os direitos, como para
qualificar o que já havia conquistado. Pode-se citar o Programa de Apoio à Implantação dos
Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar para Atendimento à Gestante de Alto Risco, o
Programa Nacional de Humanização do Pré-Natal e Nascimento (PNHPN), tendo como
objetivo efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e de gestão e
20
fomentar trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários para a produção de saúde e
produção de sujeitos; e a Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso – Método
Canguru (MC), originariamente proposto pelo Dr. Edgar Rey Sanabria no Instituto Materno-
Infantil de Bogotá, na Colômbia, em 1978 e adaptado para a realidade brasileira em 2000
(COSTA et al, 2010).
O MC, no Contexto das Políticas de Saúde, é um modelo de assistência perinatal voltado
para a melhoria da qualidade do cuidado e sua visão trouxe uma mudança do paradigma da
atenção perinatal, onde as questões pertinentes à atenção humanizada não se dissociam, mas se
complementam com os avanços tecnológicos clássicos. A atuação começa numa fase prévia ao
nascimento de um bebê pré-termo e ou de baixo-peso, com a identificação das gestantes com
risco desse acontecimento. Com o nascimento do bebê, inicia-se a primeira etapa do MC e,
onde durante a permanência na UTIN ou na Unidade de Cuidados Intermediários, especial
atenção é dada no sentido de estimular a entrada dos pais na unidade e estabelecer contato pele
a pele com a criança, de forma gradual e crescente, de maneira segura e agradável (BRASIL,
2011b).
Ocorreu, ainda, em 2004, o lançamento da Agenda de Compromissos para a Saúde
Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil, o qual contribuiu tanto para a promoção
da saúde materna, quanto infantil. Esta agenda destaca, dentro das linhas de cuidado, a atenção
integral da saúde da criança, a redução da mortalidade infantil, as ações de saúde da mulher
com atenção humanizada e qualificada à gestante e ao recém-nascido, e o incentivo ao
aleitamento materno desde a gestação até o puerpério. Além disso, as principais estratégias de
ação da vigilância à saúde, pela equipe de atenção básica; e da vigilância da mortalidade
materna e infantil (BRASIL, 2004).
Nesta perspectiva, em 2006, o MS, através da Portaria MS/GM n. 399, aprova o Pacto
pela Saúde que estabelece como prioridades o Pacto pela vida e a redução da mortalidade
materna, neonatal e infantil (BRASIL, 2006).
Com a implantação dessas políticas, consegue-se observar uma evolução na assistência
prestada á mulher e ao recém-nascido. Entretanto, um dos principais desafios, encontrados no
SUS, no campo perinatal é enfrentar a realidade das altas taxas de mortalidade e organizar a
rede integral de assistência à mulher, á gestante e ao RN, desde o acompanhamento
ginecológico, o planejamento familiar, até a assistência pré-natal, a assistência ao RN e a
criança. É importante uma assistência integral e resolutiva que efetive a promoção da saúde e a
redução dos agravos e mortes precoces e evitáveis de crianças (LANSKY et al., 2002).
21
Várias iniciativas, no âmbito nacional, vêm sendo desencadeadas para apoiar a
organização da rede de assistência á gravidez e ao nascimento, como: o Programa de Gestação
de Alto Risco, o Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento, o Pacto Nacional pela
Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, os Cômites de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal
e, mais recentemente, a Rede Cegonha (BRASIL, 2011b).
Atualmente, a mortalidade neonatal é responsável por quase 70% das mortes no
primeiro ano de vida, e o cuidado adequado ao recém-nascido tem sido um dos desafios para
reduzir os índices de mortalidade infantil no país. (BRASIL, 2014).
Neste sentido, o MS, reconhecendo iniciativas e acúmulo de experiências em estados e
municípios, organizou uma grande estratégia, a fim de qualificar as Redes de Atenção Materno-
Infantil em todo país, com vistas á redução das taxas, ainda elevadas, de morbimortalidade
materna e infantil: que foi a Rede Cegonha. (BRASIL, 2014)
A Rede Cegonha foi criada em 2011, por meio da Portaria MS/GM nº1459, e vem sendo
operacionalizada pelo SUS em parceria com estados e municípios, gradativamente, em todo o
território nacional, tendo como base os princípios do SUS, de modo a garantir a universalidade,
a equidade e a integralidade da atenção à saúde. Ela traz um conjunto de iniciativas que
envolvem mudanças no modelo de cuidado a gravidez, ao parto/nascimento e a atenção integral
a saúde da criança, com foco nos primeiros 2 anos e, em especial no período neonatal. Baseia-
se na articulação dos pontos de atenção em rede e regulação obstétrica no momento do parto,
qualificação técnica das equipes de atenção primária e no âmbito das maternidades, melhoria
da ambiência dos serviços de saúde (Unidades Básicas de Saúde – UBS e maternidades) e a
ampliação de serviços e profissionais visando estimular a prática do parto fisiológico, a
humanização e a qualificação do cuidado ao parto e ao nascimento. (BRASIL, 2011c)
Assim, a Rede Cegonha se propõe a garantir á todos os RN boas práticas de atenção,
embasadas em evidências científicas e nos princípios de humanização. Este processo se inicia,
caso o RN nasça sem intercorrências, pelo clampeamento tardio do cordão, sua colocação em
contato pele a pele com a mãe e o estímulo ao aleitamento materno ainda na primeira meia hora
de vida. Também é objetivo a disponibilidade de profissional capacitado para reanimação
neonatal em todo parto-nascimento, garantindo que o RN respire no primeiro minuto de vida
(o “minuto de ouro”) (BRASIL, 2014).
Quanto à atenção integral e humanizada ao RN grave ou potencialmente grave o MS
liberou a Portaria MS/GM n° 930, de 3 de setembro de 2012, que vem definir diretrizes e
objetivos para a organização da atenção ao RN e os critérios de classificação e habilitação de
leitos de Unidade Neonatal no âmbito do SUS. Aborda, ainda, a organização dos leitos, serviços
22
oferecidos, infra-estrutura e equipe mínima necessária com respectivas titulações. Ainda dentro
dos procedimentos que compõem a atenção integral neonatal, pode-se citar a realização dos
testes de triagem neonatal: pezinho, olhinho e orelhinha, entre outros (BRASIL, 2014).
Na Rede Cegonha também constitui uma grande preocupação do MS a qualificação da
puericultura do RN/lactente na atenção básica, mas para tal é essencial uma chegada ágil e
qualificada do RN para inicio de acompanhamento. De nada valerá um enorme e caro esforço
pela sobrevivência neonatal intra-hospitalar, se os profissionais da unidade neonatal não
investirem em um adequado encaminhamento para a continuidade da atenção neonatal, agora
na atenção básica de saúde. Isso passa pelo contato com a unidade básica de referência de cada
RN, pela qualificação do encaminhamento com cartas de encaminhamento mais do que
relatórios de alta retrospectivos da atenção prestada, sejam orientadores do cuidado a ser
seguido pelos profissionais da Atenção Básica em relação aqueles agravos que estejam afetando
o RN. Neles também é importante que sejam pactuados os fluxos para encaminhamento pela
unidade básica de RN que demande reavaliação pela equipe neonatal, bem como o cronograma
de seguimento follow-up do RN de risco (BRASIL, 2014).
Estes programas tornaram-se essenciais como contribuição para a transformação dos
modelos tradicionais de gestão e atenção em saúde, estimulando as práticas de cogestão dos
processos de trabalho e atendendo as demandas manifestadas pelos usuários e trabalhadores
dos serviços de saúde. Quanto aos RNs; os programas promovem a equidade, integralizam a
assistência, dão enfoque na assistência multiprofissional e preconizam a atenção humanizada e
ao protagonismo da mãe e do pai nos cuidados ao RN (PEREIRA, 2014).
3.2 O RECÉM-NASCIDO DE ALTO RISCO
A taxa de mortalidade infantil é um indicador da condição de vida e saúde da população,
e no Brasil vem apresentando queda progressiva. Esforços específicos por parte de toda a
sociedade, em especial dos serviços e profissionais de saúde, são necessários para acelerar a
sua redução. Dados do DATASUS apontam que em 2013, a mortalidade neonatal correspondeu
a 69% dos óbitos infantis e, dos 26.730 óbitos neonatais, 76% ocorreram de forma precoce entre
0-6 dias após o nascimento, e, portanto, avanços na saúde da criança brasileira requerem maior
atenção à saúde do RN (BRASIL, 2013).
A sobrevida de RNPT reflete a estrutura e a qualidade do cuidado antenatal, da
assistência ao trabalho de parto, parto e do atendimento neonatal. A prematuridade é um dos
fatores determinantes mais importantes da mortalidade infantil. No Brasil, 7,2% dos nascidos
23
vivos foram pré-termo em 2010, variando entre 5,6% e 8,2% nas regiões Norte e Sudeste,
respectivamente, e 0,8% foi pós-termo. O baixo peso ao nascer (menor que 2.500 g) é o fator
de risco isolado mais importante para a mortalidade infantil. É maior nos extremos de idade da
mãe e está em torno de 8% no País: 7,9% em 1996, 8,2% em 2007 e 8,4% em 2010. A
prevalência é maior no Sudeste (9,2%) e no Sul (8,7%), o que pode estar associado a maiores
taxas de cesariana.
Crianças de muito baixo peso ao nascer (menor que 1.500 g) representam de 1% (na
região Norte) a 1,4% (na região Sudeste) dos nascidos vivos. Embora essa prevalência não seja
alta, o peso menor que 1.500 g representou 27,9% e 42,1% dos óbitos infantis nas regiões Norte
e Sul, respectivamente, o que reforça a importância da organização do sistema de assistência de
saúde à gestante e ao RN de risco (BRASIL, 2014).
O RNPT tem propensão à perda de calor por apresentarem pele fina, pouco
queratinizada, com tecido adiposo subcutâneo escasso e peso relativamente baixo em relação à
grande superfície corporal, existindo ainda a perda de calor central do sistema venoso a partir
do seio cavernoso, localizado logo abaixo da fontanela bregmática não ossificada. A respiração
logo após o nascimento é pouco efetiva, uma vez que há imaturidade estrutural dos pulmões,
do sistema surfactante, da musculatura e da caixa torácica, acompanhada de imaturidade do
sistema nervoso central responsável pelo controle do ritmo respiratório, portanto, observa-se
que a necessidade de Ventilação por Pressão Positiva (VPP) e a de manobras avançadas de
reanimação na sala de parto é bastante frequente em RNPT, especialmente naqueles de muito
baixo peso (HILLMAN, 2012).
Devido a essa instabilidade dos RNPT decorrente da sua imaturidade, todos os cuidados
para o transporte do recém-nascido de alto risco devem receber atenção especial no prematuro
extremo, seja inter-hospitalar ou intra-hospitalar, da sala de parto à UTIN ou desta para centros
de imagem ou cirúrgico. Para realizar um transporte seguro, qualquer que seja a distância, serão
necessários cuidados específicos relacionados à manutenção da temperatura corporal,
permeabilidade de vias aéreas, suporte respiratório e acesso vascular. (MARBA, et al. 2017).
Mediante esse cenário, consegue-se identificar que a mortalidade neonatal é mais baixa
quando o nascimento de um paciente de alto risco ocorre em centros terciários bem equipados
em termos de recursos materiais e humanos. No entanto, em algumas situações, o nascimento
de um concepto pré-termo e/ou doente pode ocorrer em centros secundários ou mesmo
primários. Nesse caso, o transporte inter-hospitalar é necessário. Assim, o transporte neonatal
inter-hospitalar tem por objetivo propiciar condições para que o recém-nascido possa ser
assistido em local com infraestrutura adequada em termos de espaço físico, equipe profissional,
24
equipamentos e recursos diagnósticos, diminuindo seus riscos de morbidade e mortalidade
(MARBA et al, 2017).
3.3 O TRANSPORTE NEONATAL
Atualmente o TN é classificado em dois tipos. O primeiro deles, intra-hospitalar, deve
ser realizado quando os RNs internados em UTIN necessitam de alguma intervenção cirúrgica
ou procedimentos diagnósticos que possam ser realizados nas dependências do próprio hospital
ou em locais anexos. O segundo, inter-hospitalar, compreende a transferência de neonatos entre
unidades de saúde (públicas ou privadas) almejando propiciar uma assistência com cuidados
intensivos ou complexos não disponíveis no local de origem, diminuindo riscos de morbidade
e mortalidade (BRASIL, 2011). Em qualquer das duas situações, o transporte pode se tornar
um risco a mais para o RN criticamente doente e, por isso, deve ser considerado como uma
extensão dos cuidados realizados na UTIN (MARBA et al, 2017).
Considerando assertiva, a estabilização pré-clínica inclui: manutenção do acesso
venoso, suporte metabólico, monitorização hemodinâmica, avaliação da dor, suporte
ventilatório e controle térmico (BRASIL, 2011), sendo esses dois últimos pontos cruciais, pois
os mesmos estão associados, frequentemente, ao aumento da morbimortalidade (MARBA et al,
2017).
É indispensável que a transferência do RN aconteça em condições seguras para
reduzir os riscos durante o transporte (ALBUQUERQUE, 2012), ou seja, continuidade dos
cuidados intensivos prestados por equipe especializada. As medidas são necessárias, pois pode
haver intercorrências, como alterações clínicas ou fisiológicas (variações na temperatura,
pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória) no RN e problemas de mau funcionamento
dos equipamentos, fatores que somados à inexperiência da equipe de transporte ou à ausência
de profissionais qualificados, acabam comprometendo a segurança do paciente em questão
(PIMENTA E ALVES, 2016).
As causas que levam ao estresse no RN transportado inter-hospitalar são muitas
e podem ser independentes da equipe de transporte, mas esta precisa estar preparada para
reconhecer e saber minimizá-las. Por ser um processo complexo e dinâmico, o TN busca
organização e profissionais qualificados, com a capacidade de agir de forma independente fora
de uma unidade de terapia intensiva neonatal (BOUCHUT et al., 2010).
Observa-se que as intervenções com maior impacto nas mortes neonatais são mais
dependentes de pessoas com habilidades do que de tecnologia e bens, sendo a escassez de
profissionais treinados o maior problema para ampliação da atenção clínica adequada em países
25
com altas taxas de mortalidade neonatal, constituindo o investimento na formação dos
profissionais uma importante estratégia para redução desses óbitos (KNIPPENBERG et al.,
2005).
Diante desta realidade, em 2011 a Sociedade Brasileira de Pediatria em conjunto com o
Ministério da Saúde (MS), desenvolveram um manual e cursos de capacitação, com o objetivo
de padronizar as condições ideais, a finalidade, composição da equipe e equipamentos
necessários para realização do TN (MARBA, et al. 2017). Tais ações corroboram com as
discussões anteriores ainda da década de 90, as quais ratificam que o transporte de recém-
nascidos realizados em condições favoráveis reduz o risco de mortalidade e morbidade, sendo
o treinamento e definição de guias de ação/orientação basilares para realização do TN com
excelência (ALBUQUERQUE, et al. 2012).
No que concerne ao veículo a ser selecionado para o transporte do RN, vai depender de
diversos fatores, incluindo o estado clínico do paciente, a distância a ser percorrida, as
condições climáticas, o número e qualificação dos profissionais de saúde necessários, o
equipamento exigido para a estabilização do paciente e a disponibilidade do veículo no
momento do transporte (MARBA et al, 2017).
Para o transporte neonatal por via terrestre, deve-se dispor de ambulância de suporte
avançado (tipo D). Tais veículos são eficazes para transportar pacientes graves ou instáveis em
um raio de até cerca de 50km e pacientes estáveis num raio de até 160km. Helicópteros são
preconizados para o transporte de pacientes graves num raio de 160 a 240 km de distância. A
partir dessa distância indica-se, se possível, o uso de aeronaves de cabine pressurizada
(MARBA et al, 2017).
Sabendo que o transporte neonatal é um instrumento essencial no cuidado neonatal, não
há uniformidade de opinião quanto ao melhor instrumento para avaliar o cuidado no transporte,
ainda que haja instrumentos amplamente utilizados, no entanto, o MS orienta no Manual de
transporte do recém-nascido de alto risco: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP), a utilização do escore Ca-TRIPS como forma de avaliar a qualidade do transporte inter-
hospitalar neonatal (MARBA et al., 2017).
No início e ao final de cada transporte inter-hospitalar, calcula-se o escore Ca-TRIPS,
que trata de uma modificação do escore canadense original Transport Risk Index of Physiologic
Stability (TRIPS), validado em uma amostra de 21.279 transportes neonatais de emergência na
Califórnia nos anos de 2007 a 2009. O escore Ca-TRIPS, de acordo com o quadro 1, é composto
por cinco parâmetros empiricamente ponderados: temperatura, pressão arterial, estado
26
neurológico, status respiratório e uso de drogas vasoativas (GOULD et al., 2013; MARBA et
al, 2017).
Quadro 1- California Transport Risk Index of Physiologic Stability (Ca- TRIPS)
VARIÁVEIS
CATEGORIAS
PONTOS
Temperatura
axilar (ºC)
37.6ºC 6
36.1–37.6ºC 0
Status
respiratório
Apnéia ou gasping 21
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,75 – 1,00
20
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,50 – 0,74
18
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,21 – 0,49
15
Sem necessidade de
suporte ventilatório
0
Pressão arterial
sistólica
40 mmHg 0
Estado
neurológico
Sem resposta a
estímulos,
convulsão, em uso de
relaxante muscular
14
Letárgico, não chora 10
Ativo, chorando 0
Vasopressores Sim 5
Não 0 Fonte: Gould JB, Danielsen BH, Bollman L, Hackel A, Murphy B. Estimating the quality of
neonatal transport in California. J Perinatol. 2013;33(12):964-70.
O Ca-TRIPS vai variar de zero a 70, sendo mais alto à medida que os parâmetros
avaliados estão mais distantes da faixa de normalidade. O escore é aplicado logo antes e
imediatamente ao final do transporte. Quando calculados antes do transporte, este escore ajuda
na avaliação do risco do paciente e permite a identificação de problemas que podem ser
resolvidos antes da saída, melhorando a situação clínica pré-transporte. Os valores obtidos ao
final do transporte se associam a chance de óbito até sete dias após o transporte, além de permitir
a avaliação da qualidade do transporte por meio da variação do escore ao início e ao final do
mesmo. Além disso, o Ca-TRIPS ajuda a priorizar as intervenções necessárias para diminuir o
risco de morbimortalidade do paciente a ser transportado (MARBA et al, 2017).
27
4. METÓDO
4.1 TIPO DE PESQUISA
Trata-se de um estudo observacional descritivo do tipo transversal, antes e depois, com
abordagem quantitativa e análise documental.
O estudo descritivo permite ao profissional realizar o delineamento da realidade; uma
vez que lhe permite observar, descrever, registrar, analisar e interpretar a natureza atual ou o
processo dos fenômenos sem manipulá-los. Além de descobrir a frequência com que um
fenômeno ocorre com a maior precisão possível. (CERVO; BERVIAN,1996, POLIT; BECK;
HUNGLER, 2004).
O estudo transversal, envolve a coleta de dados em uma ocasião, ou seja, coleta de dados
em um ponto do tempo, onde os fenômenos sob estudo são obtidos durante um período de coleta
de dados. (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
A escolha pela abordagem quantitativa deve-se ao fato da mesma possibilitar a coleta
sistemática de informação numérica, mediante condições de controle, medição e interpretação
cuidadosa da realidade (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
4.2 LOCAL DA PESQUISA
O estudo foi desenvolvido na MEJC, que foi inaugurada em 1950 e é integrante do
complexo hospitalar da UFRN, ligada ao Ministério da Educação e administrada pela EBSERH
(Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). A instituição é referência em gestação de alto
risco, saúde da mulher e em cirurgia ginecológica no estado do Rio Grande do Norte. Contém
141 leitos, desses, 20 são leitos na UTIN, 03 na UCINCo e 18 na UCINCa (DATASUS).
Categorizada como hospital de referência terciária e certificada como hospital de ensino,
a MEJC recebe alunos dos cursos de graduação, e no campo da pós-graduação lato sensu possui
dois programas de residência médica (ginecologia e obstetrícia; neonatologia) e um programa
de residência multiprofissional em intensivismo neonatal, que juntos, somam 49 residentes.
Entre os vários serviços que a maternidade oferece, existe o Centro de Reprodução
Assistida, o primeiro do Norte Nordeste 100% SUS. A MEJC está habilitada conforme a
Resolução nº 23/2011, da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pertencente ao
MS para realizar os seguintes procedimentos: inseminação artificial, FIV (fertilização in vitro)
e ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides). Este serviço contempla as diretrizes
do Plano da Rede Cegonha, estratégia do MS que oferece os direitos reprodutivos à população.
Além disso, a maternidade conta com o Banco de Leite Humano (BLH) fundado desde
1995, que é referência no Estado e atualmente recebeu a Certificação da Qualidade de BLH.
28
Além do certificado, foi concedido o diploma de reconhecimento considerando a avaliação
notável saber técnico-científico e pelos relevantes serviços prestados à causa pública e à classe
dos profissionais.
A MEJC foi escolhida como campo de pesquisa para o estudo devido o fato de ser a
primeira e única instituição no estado do Rio Grande do Norte a possuir uma equipe de
transporte neonatal e por ser o local de trabalho da pesquisadora, sendo possível, dessa forma,
avaliar a qualidade da assistência neonatal prestada.
4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA
Foi constituída por todos os transportes inter-hospitalar de neonatos internados na
instituição no período de maio a outubro de 2018, realizados pelos profissionais e residentes da
MEJC, totalizando 70 transportes.
4.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO
Para dimensionamento da amostra da pesquisa, foram utilizados os seguintes critérios
de inclusão:
a) Transportes inter-hospitalares de recém-nascidos internados na MEJC no período de maio a
outubro de 2018;
b) Transportes inter-hospitalares de neonatos realizados pelos profissionais da MEJC.
Como critérios de exclusão foram adotados:
a) Os transportes de recém-nascidos realizados pelo SAMU ou por outros serviços e por
profissionais não integrantes do quadro da instituição investigada;
b) Os transportes neonatais decorrentes de outras instituições para a MEJC, feitos pelos
profissionais da MEJC;
Salienta-se que alguns pacientes foram analisados mais de uma vez no estudo, devido o
fato de realizar mais de um transporte em ocasiões diferentes durante sua internação na
instituição.
4.5 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Foi utilizado durante a coleta de dados, o relatório do transporte neonatal da MEJC
preenchido a cada transporte por um profissional, o qual contempla a equipe responsável, dados
clínicos, sinais vitais, o escore do Ca-TRIPS pré e pós transporte e relato das intercorrências
ocorridas durante o trajeto e o livro de registro de transportes neonatal, onde possui todos os
transportes realizados de forma organizada e sumarizada, contendo nome do RN, número do
29
prontuário, data da realização do transporte, local de destino e de saída e indicação do
transporte. A coleta foi realizada uma vez por semana (pela pesquisadora), preenchendo os
dados coletados em um formulário elaborado, também, pela pesquisadora (Apêndice 1).
4.6 VARIÁVEIS
A adequação do transporte foi avaliada a partir do escore Ca-TRIPS, com a pontuação
antes e depois do transporte de acordo com as variáveis. O transporte é considerado adequado
quando a pontuação do escore Ca-TRIPS, após o transporte, for igual ou menor do que a
pontuação do escore antes do transporte. O aumento da pontuação depois do TN com relação à
antes do TN, indicará transporte não adequado, podendo isso ocorrer por fatores como: piora
clínica do RN, problemas mecânicos nos equipamentos ou equipe incompleta
(ROMANZEIRA; SARINHO, 2015).
Diante desta orientação do MS, foram consideradas variáveis dependentes, os
parâmetros que compõem o escore Ca-TRIPS antes e depois do transporte (Quadro 2). As
variáveis independentes serão o perfil do paciente transportado (Quadro 3) e as referentes ao
transporte neonatal (Quadro 4).
Quadro 2- Caracterização das variáveis dependentes que compõem o Ca-TRIPS. Natal, 2018
VARIÁVEL DEPENDENTE
NOME DA
VARIÁVEL DEFINIÇÃO FONTE DE DADOS
Temperatura axilar
inicial
Temperatura axilar
identificada imediatamente
antes do transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Temperatura axilar
final
Temperatura axilar identificada
imediatamente no final do
transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Status respiratório
inicial
Status respiratório identificado
imediatamente no final do
transporte
Relatório de transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Status respiratório
final
Status respiratório identificado
imediatamente no final do
transporte.
Relatório de transporte de recém-
nascidos da MEJC.
30
Pressão arterial
sistólica inicial
Pressão arterial sistólica
mensurada antes do transporte
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Pressão arterial
sistólica final
Pressão arterial sistólica
mensurada no final do transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Estado neurológico
anterior
Estado neurológico observado
anteriormente a realização do
transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Estado neurológico
posterior
Estado neurológico observado
posteriormente a realização do
transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Uso de vasopressores
no início
Fármacos utilizados no início do
transporte cuja ação característica
é o aumento da pressão arterial
através da vasonconstrição
arterial e venosa.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Uso de vasopressores
no final
Fármacos utilizados no final do
transporte cuja ação característica
é o aumento da pressão arterial
através da vasonconstrição
arterial e venosa.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Fonte: SOUZA (2018)
Quadro 3- Caracterização das variáveis independentes do Recém-nascido. Natal, 2018
VARIÁVEIS INDEPENDENTES DO RN
NOME DA
VARIÁVEL DEFINIÇÃO FONTE DE DADOS
Sexo Conjunto de caracteres que
permite classificar os seres
vivos em macho e fêmea
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Peso ao nascer Peso que o recém-nascido
apresenta quando nasce
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Peso atual Peso em que o RN se encontra no
momento do transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
31
Idade Gestacional É o tempo que o recém-nascido
apresenta ao nascer, medido em
semanas ou em dias completos,
decorrido desde a ovulação.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Idade atual Idade em que o RN se encontra
no momento do transporte.
Relatório de transporte de
recém-nascidos da MEJC.
Fonte: SOUZA (2018)
Quadro 4- Caracterização das variáveis independentes do transporte neonatal. Natal,
2018.
VARIÁVEIS INDEPENDENTES DO TN
NOME DA
VARIÁVEL DEFINIÇÃO
FONTE DE
DADOS
Indicação do
transporte
Motivo que levou o RN
a submeter-se a um
transporte.
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Vias de acesso
venoso
Acesso venoso para
administração de drogas
endovenosas.
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Duração do
transporte
Duração em que
ocorreu o transporte neonatal.
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Consentimento do
responsável
Autorização dos
responsáveis para realizar do
transporte neonatal.
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Equipe de
transporte
Profissionais que
realizaram o transporte do
RN.
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Condições do
transporte
Uso de incubadora de
parede dupla, espaço físico,
cinto de segurança, aparelhos
carregados e cilindros cheios
Relatório de
transporte de recém-
nascidos da MEJC.
Fonte: SOUZA (2018)
32
4.7 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS
Mediante a aprovação da carta de anuência da gestão de pesquisa da MEJC e do Comitê
de Ética e Pesquisa (Parecer: nº 2.628.191 CAAE: 85587518.0.0000.5537), iniciou-se a coleta
de dados. Seguidos os seguintes passos: apresentação do pesquisador, esclarecimento dos
objetivos e propósitos do estudo e solicitação de leitura e preenchimento do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 2), informando aos pais do RN
transportado sobre o anonimato do mesmo, esclarecimento sobre os desconfortos e riscos
mínimos associados à participação neste estudo, sigilo dos dados e guarda do material coletado
sob a responsabilidade do coordenador da pesquisa.
Como forma de minimizar qualquer constrangimento dos pais, o hospital conta com
uma equipe multiprofissional, composta por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e
médicos que dará todo o suporte necessário.
Após o consentimento dos responsáveis dos RN que se submeteram ao transporte inter-
hospitalar, iniciou-se a coleta de dados, o qual ocorreu uma vez por semana com a análise
documental dos relatórios dos transportes inter-hospitalar realizados e do livro de registro de
transportes. Através do livro de registro de transportes, foi possível identificar todos os
transportes de neonatos realizados na instituição; em seguida acessou-se o prontuário desses
neonatos, localizando o relatório do transporte, coletando e acrescentando os dados em um
formulário de coleta dos transportes elaborado pela pesquisadora (Apêndice 1) com todas as
variáveis de acordo com cada transporte.
Através do Microsoft Excel 2010, elaborou-se uma tabela na qual constava todas as
variáveis; independentes e dependentes que foram preenchidas com os dados anotados no
formulário de coleta dos transportes.
4.8 ANÁLISE DE DADOS
Os dados coletados foram organizados em um banco de dados do software Excel e
analisados através do software SPSS 20.0. Inicialmente fez-se a estatística descritiva para cada
variável, por meio da qual foi caracterizada a amostra.
Posteriormente, fez-se a análise bivariada dos dados, em que se verificou a associação
das variáveis independentes selecionadas, sendo essas, todas aquelas relacionadas ao perfil dos
RN transportados e características do transporte (duração e setor demandante) com a variável
dependente (inadequação do transporte). Nesse momento da análise foi estimada suas
respectivas razões de prevalência (RP), estas obtidas por meio da regressão de Poisson com
variância robusta, também utilizada na análise múltipla. No modelo intermediário foram
33
consideradas inicialmente as variáveis que tiveram um valor de p < 0,20, obtidos na análise
bivariada, e permaneceram no modelo final se p < 0,05.
Ao final, pressupostos de aderência e ajuste foram considerados; posteriormente serão
apresentados.
4.9 ASPECTOS ÉTICOS
A pesquisa foi realizada na Maternidade Escola Januário Cicco no município de Natal.
No entanto, para que os dados fossem coletados foi necessário o envio de ofícios á Gestão de
Ensino e Pesquisa da MEJC, onde a pesquisa será desenvolvida. Nestes, os pesquisadores
assumiram o compromisso de seguir os princípios Éticos e legais que regem a pesquisa
científica com seres humanos, de acordo com a Resolução nº 416/12 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS). (BRASIL, 2012).
Após tal autorização, o projeto foi enviado para o Comitê de Ética em Pesquisa Central
da UFRN, recebendo a aprovação (Parecer: nº 2.628.191 CAAE: 85587518.0.0000.5537),
conforme determinações da Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
As questões éticas foram observadas em todos os momentos do estudo, a participação
na pesquisa foi voluntária, mediante concordância dos responsáveis pelo RN, comprovada pela
assinatura do TCLE.
Os dados obtidos durante a pesquisa foram arquivados em documentos com tabelas e
gráficos em um CD-ROM, para ficarem por um período de cinco anos, sob posse dos
pesquisadores responsáveis pelo estudo, respeitando os princípios éticos de confidencialidade
e privacidade das informações coletadas.
5. RESULTADOS
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Os dados apresentados correspondem a 70 transportes inter-hospitalar de RN internados
em uma maternidade escola do Município de Natal/RN no período de maio a outubro de 2018.
A tabela 1 apresenta a distribuição da amostra a partir da classificação de adequação ao
transporte neonatal segundo o escore Ca-TRIPS e dimensões que o compõem, antes e depois
do transporte.
Tabela 1- Valores de frequências absolutas e relativas da amostra segundo a adequação do
Transporte Neonatal a partir do escore Ca-TRIPS e dimensões que o compõem, antes e depois
do transporte. Natal, 2019.
Variáveis Categorias N %
Adequado 50 71,4
34
Adequação do
Transporte
Inadequado 20 28,6
Temperatura
Axilar antes
36.1–37.6ºC 57 81,4
37.6ºC 13 18,6
Temperatura Axilar
depois
36.1–37.6ºC 40 57,1
37.6ºC 30 42,9
Status Respiratório
antes
Sem necessidade de
suporte ventilatório
40 57,1
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,21 – 0,49
23 32,9
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,50 – 0,74
7 10,0
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,75 – 1,00
0 0
Apnéia ou gasping 0 0
Status Respiratório
depois
Sem necessidade de
suporte ventilatório
38 54,3
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,21 – 0,49
23 32,9
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,50 – 0,74
8 11,4
Em suporte
ventilatório com FiO2
0,75 – 1,00
1 1,4
Apnéia ou gasping 0 0
Pressão Arterial
Sistólica antes
>40 mmHg 68 97,2
31-40 mmHg 0 0
20–30 mmHg 1 1,4
40 mmHg 68 97,2
31-40 mmHg 0 0
20–30 mmHg 1 1,4
35
relaxante muscular
Vassopressores
antes
Sim 66 94,3
Não 4 5,7
Vassopressores
depois
Sim 66 94,3
Não 4 5,7 Fonte: SOUZA (2019)
De acordo com a tabela 1, identifica-se que na amostra estudada a maioria dos
transportes foi avaliado como adequado. Nas dimensões do escore Ca-TRIPS, observa-se na
temperatura axilar que 81,4% dos transportes iniciaram com RN normotérmico e ao final do
transporte 57,1% permaneceram com esse quadro, sendo identificada variação na temperatura
em 17 transportes. No que tange as demais dimensões, foi perceptível uma pequena variação
no final com relação ao início.
Tabela 2- Valores de médias, desvios-padrão, medianas, quartis 25 e 75 e frequências absolutas
e relativas segundo as variáveis independentes dos recém-nascidos transportados. Natal, 2019.
Variável x ± dp Mediana Q25 -Q75
Idade do RN (dias) 32,67 ± 34,98 18 5-51,5
Peso atual (gramas) 2465,93 ± 796,48 2405 1926,3 – 3018,5
Categorias N %
Sexo Masculino 26 37,1
Feminino 44 62,9
Peso ao Nascer
(gramas)
≤ 2500 44 62,9
> 2500 26 37,1
Idade Gestacional
(semanas)
< 37 39 55,7
≥ 37 31 44,3
Apgar 1º minuto ≤ 6 30 42,9
≥ 7 40 57,1
Apgar 5º minuto ≤ 6 12 17,1
≥ 7 58 82,9 Fonte: SOUZA (2019)
A partir da análise da tabela 2, observa-se que a maior parte da amostra é composta por
RN do sexo feminino, maioria possui peso ao nascer abaixo de 2.500 gramas e idade gestacional
menor que 37 semanas. Possuem uma idade média de quase 33 dias de vida e a média do peso
é 2.465 gramas.
Tabela 3- Valores de médias, desvios-padrão, medianas, quartis 25 e 75 e frequências absolutas
e relativas segundo as variáveis independentes do transporte neonatal. Natal, 2019.
Variável x ± dp Mediana Q25 -Q75
Duração do transporte
(minutos)
62,7 ± 63,2 40 25 – 70
36
Categorias N %
Indicação do
Transporte
Transferência 17 24,3
Consulta Especializada 3 4,3
Cirurgia 24 34,3
Exames 26 37,1
Vias de Acesso
Venoso
AVC 19 27,2
AVP 39 55,7
AVC e AVP 5 7,1
Sem Acesso 7 10
Modalidade
Respiratória antes
Ar Ambiente 39 55,7
O2 Circulante 1 1,4
Hood 5 7,1
CPAP 1 1,4
VMI 24 34,3
Modalidade
Respiratória final
Ar Ambiente 38 54,3
O2 Circulante 1 1,4
Hood 4 5,7
CPAP 1 1,4
VMI 26 37,1
Consentimento do
Responsável
Sim 64 91,4
Não 6 8,6
Equipe de Transporte Médico e Enfermeiro 67 95,7
Enfermeiro 3 4,3
Setor de Origem UTI Neonatal 43 61,4
Outros 27 38,6
Solicitação de Vaga Sim 41 58,6
Não 0 0
Não se aplica 29 41,4
Documentação do
Paciente
Sim 70 100
Não 0 0 Fonte: SOUZA (2019)
De acordo com a tabela 3, relacionada as variáveis independentes do transporte,
verificou-se que 37,1% dos transportes ocorreram para realização de exames, seguidos de
34,3% para cirurgias. No que concerne à duração dos transportes, observa-se uma mediana de
40 minutos. Em relação a variável de vias de acesso; mais de 55% possuiam AVP, e apenas
10% não possuíam nenhum tipo de acesso venoso.
Apesar da UTI Neonatal ser o setor que mais realizou transportes, totalizando 61,4%,
observa-se que mais da metade da amostra encontrava-se em ar ambiente; tanto no início como
no final do transporte, ainda assim, 95,7% dos transportes foram realizados com a presença de
um médico na equipe.
Os documentos do paciente durante o transporte, por sua vez, se apresentam de forma
favorável, com 100% de presença. No que diz respeito, aos valores que não se aplica para
solicitação de vaga, encontrou-se relação com a variável de indicação do transporte, no qual é
37
salientado que 41,4% dos transportes foram para realização de exames e consultas, não havendo
necessidade de solicitação de vaga para leito.
Tabela 4- Valores de frequências absolutas e relativas da amostra segundo as variáveis
independentes relacionadas as condições do transporte. Natal, 2019.
Variável Categorias N %
Uso de Incubadora de Parede Dupla Sim 69 98,6
Não 1 1,4
Espaço Adequado Para Acomodação
da Incubabora na Ambulância
Sim 70 100
Não 0 0
Presença de Fonte de Energia Sim 0 0
Não 70 100
Presença de Fonte de Luz Sim 70 100
Não 0 0
Presença de Fonte de Oxigênio Sim 70 100
Não 0 0
Presença de Fonte de Ar Comprimido Sim 0 0
Não 70 100
Uso de Cintos de Segurança pela
Equipe
Sim 70 100
Não 0 0
Incubadora de Transporte Bateria carregada 55 78,6
Bateria
descarregada
15 21,4
Oximetro de Pulso Bateria carregada 60 85,7
Bateria
descarregada
10 14,3
Bomba de Infusão Bateria carregada 59 84,3
Bateria
descarregada
11 15,7
Conferência da bolsa de materiais Sim 70 100
Não 0 0 Fonte: SOUZA (2019)
Verifica-se na tabela 4 que 98,6% dos transportes foram realizados com incubadora de
transporte. Todos os transportes apresentaram espaço adequado para a acomodação da
incubadora de transporte com local seguro para fixar os rodízios, fonte de oxigênio, fonte de
luz, espaço interno suficiente para manusear o recém-nascido em situação de emergência e
cintos de segurança para a equipe. Nenhum transporte foi feito com cilindro de ar comprimido
e com fonte de energia no veículo.
Investigando-se a utilização dos equipamentos durante o transporte, constatou-se que a
incubadora descarregou em 21,4%, a bomba de infusão parou de funcionar em 15,4% e 14,3%
não foi possível monitorar os sinais vitais do RN durante todo o trajeto. Sobre a bolsa de
materiais, em 100% a mesma esteve presente e conferida.
38
5.2 ASSOCIAÇÃO DAS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ESTUDADAS E A
INADEQUAÇÃO/ QUALIDADE DO TRANSPORTE NEONATAL
As variáveis independentes relacionadas às características do RN e do transporte
(duração do transporte e setor de origem) foram confrontadas com o desfecho representado pela
inadequação do transporte, requisito utilizado para avaliar a qualidade do transporte realizado.
Nas próximas tabelas são apresentadas a distribuição das variáveis nos grupos de
transporte inadequado e adequado, a significância estatística e razão de prevalência (RP)
encontrada na análise bivariada e seu ajuste após a inserção no modelo multivariado final.
A associação entre as variáveis independentes representativas das características dos RN
transportados e a qualidade do transporte são apresentadas na Tabela 5.
Tabela 5- Valores absolutos e percentuais, significância estatística, significância estatística
ajustada, razão de prevalência, seu intervalo de confiança e seus valores ajustados para cada
variável representativa das características do recém-nascido transportados em relação à
adequação do transporte neonatal. Natal, 2019.
Variável
Categorias
Grupo
Não ajustado
Ajustado
Inadequado
n (%)
Adequado
n (%) p
RP (IC 95%)
p RP (IC95%)
Sexo** Masculino
Feminino
5 (19,2)
15 (34,1)
21 (80,8)
29 (65,9)
0,207 0,56 (0,23-1,37)
-
-
Idade
Gestacional
(semanas)**
< 37
≥ 37
14 (35,9)
6 (19,4)
25 (64,1)
25 (80,6)
0,146 1,85 (0,81-4,26)
-
-
Idade Atual
(semanas)**
≤ 18 dias
>18 dias
5 (14,3)
15 (42,9)
30 (85,7)
20 (57,1)
0,016 3,00 (1,22-7,36)
-
-
Peso ao
Nascer
(gramas)
≤ 2500
>2500
18 (40,9)
2 (7,7)
26 (59,1)
24 (92,3)
0,017
5,32 (1,34-21,01)
0,011
5,52 (1,49-20,46)
Peso Atual
(gramas)*
≤ 2405g
>2405g
11 (31,4)
9 (25,7)
24 (68,6)
26 (74,3)
0,598 1,22 (0,58-2,58)
-
-
Fonte: SOUZA (2019) *variável não entrou no modelo múltiplo
**variável entrou no modelo múltiplo, mas não permaneceu
39
De acordo com os dados apresentados na tabela 5, verifica-se as variáveis relacionadas
ao sexo, idade gestacional, idade atual e peso atual, esses dois últimos recategorizados a partir
da mediana, não apresentaram associação estatisticamente significativa com a qualidade do
transporte.
No que se refere à idade atual do RN transportado, na análise bivariada a mesma
apresentou diferença significativa em relação a inadequação do transporte. Todavia, quando da
sua inserção no modelo multivariado essa significância estatistica não se manteve.
Quanto a variável peso ao nascer, identificou-se uma associação estatisticamente
significativa com a qualidade do transporte neonatal, onde o RN que possui peso menor que
2500 gramas possui uma prevalência 5,5 vezes maior de inadequação do transporte do que
aqueles com peso ao nascer igual ou acima de 2500 gramas.
Na tabela subsequente é apresentada a análise inferência em relação à duração do
transporte:
Tabela 6- Valores absolutos e percentuais, significância estatística, significância estatística
ajustada, razão de prevalência, seu intervalo de confiança e seus valores ajustados para as
variáveis representativas das características do transporte em relação à adequação do transporte
neonatal. Natal, 2019.
Variável
Categorias
Grupo
Não ajustado
Ajustado
Inadequado
n (%)
Adequad
o
n (%)
p
RP (IC 95%)
p RP (IC95%)
Duração
do
Transporte
(mediana)
≤ 40 min
>40 min
5 (12,8)
15 (48,4)
34 (87,2)
16 (51,6)
0,01
3,77 (1,54-9,24)
0,002
3,90 (1,67- 9,07)
Setor de
Origem*
UTI
Neonatal
Outros
13 (30,2)
7 (25,9)
30 (69,8)
20 (74,1)
0,700
1,16 (0,53-2,55)
-
-
Fonte: SOUZA (2019) *variável não entrou no modelo múltiplo
A partir da análise da tabela anterior é possível aferir que o setor que demandou o
transporte não apresentou associação com a qualidade do transporte neonatal. Enquanto que a
duração do transporte apresentou associação, onde um transporte com duração maior que 40
minutos possui uma prevalência 3,9 vezes maior de inadequação que aqueles com menor
duração do transporte.
40
A equação representativa