Post on 03-Apr-2020
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
JEFERSON DA SILVA FERNANDES
ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE
EVANGÉLICA DE MARINGÁ, À LUZ DA
PRÁXIS RELIGIOSA.
São Bernardo do Campo
Agosto de 2010
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JEFERSON DA SILVA FERNANDES
ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE
EVANGÉLICA DE MARINGÁ, À LUZ DA
PRÁXIS RELIGIOSA.
Dissertação apresentada em cumprimento à
exigência do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Religião da Universidade Metodista
de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. James Reaves Farris
São Bernardo do Campo
Agosto de 2010.
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A dissertação de mestrado sob o título “Análise das Práticas Sociais da Igreja
Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa,” elaborada
por Jeferson da Silva Fernandes foi apresentada e aprovada em 25 de
Outubro de 2010, perante banca examinadora composta pelos professores
Doutores James Reaves Farris (Presidente/UMESP), Geoval Jacinto da Silva
(Titular/UMESP) e Carlos Ribeiro Caldas Filho (Titular/Mackenzie).
__________________________________________ Prof. Dr. James Reaves Farris
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
__________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião.
Área de Concentração: Práxis Religiosa e Sociedade.
Linha de Pesquisa: Ação das Instituições e dos Movimentos Eclesiais na
Sociedade.
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Dedico esta Pesquisa a:
Maria Aparecida de Alcântara Silva, minha mãe-avó.
Zenilda da Silva Fernandes, minha mãe.
Anésio Fernandes, meu pai.
Jussara e meus filhos,
meus amores!
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AGRADECIMENTOS
A Deus que me trouxe e me sustentou até aqui.
As minhas irmãs: Angela, Alexandra e Diana.
Ao Rogério, irmão que Deus me deu.
Ao meu amigo Marcos, companheiro de inconformismo e indagações.
Ao meu orientador, Prof. Dr. James Reaves Farris que, pela paciência e
sabedoria, transformou minhas divagações em pesquisa Acadêmica.
Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva a quem sou devedor, entre tantas outras
coisas, ao conhecimento sobre práxis e que, pela sua práxis de amor ao
próximo, me transformou em uma pessoa melhor.
Aos meus cunhados, Juliana e Marcelo, ao meu querido sobrinho Vitor e a
minha sogra especial, Dona Dora.
A Silvia Geruza Fernandes Gonçalves, que acreditou em mim, me tomou pela
mão e me ajudou a encontrar o caminho para a vida e também, para esse
mestrado.
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“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras?
Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nús, e tiverem
falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz,
aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo,
que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si
mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé
sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.
Tiago 2 : 14 - 18.
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FERNANDES, Jeferson da Silva. Análise das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, à luz da Práxis Religiosa. Dissertação. São Bernardo do Campo. Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião – Universidade Metodista de São Paulo - 2010.
RESUMO A pesquisa analisa as práticas sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, localizada no Estado do Paraná, à luz da Práxis Religiosa. Esta Igreja tem se destacado por suas atividades sociais na cidade onde está sediada. Foi fundada em 1989, por Irene Ribarolli Pereira da Silva, ex-integrante da Igreja Metodista de Maringá. Após deixar a Igreja Metodista, foi ordenada pastora e acumulou também, a função de presidente da nova Igreja. Adotou o neopentecostalismo na formação da nova Igreja, com ênfase na batalha espiritual. São comedidos nos pedidos de dízimos e ofertas e, contrários a entrevista com demônios, devido à exposição dos fiéis que, são em sua sede, predominantemente oriundos da classe média. Ao contrário das igrejas neopentecostais que, privilegiam as multidões mas não prezam pelo contato individual com os fieis, está igreja, valoriza e facilita o contato dos membros com seus pastores e líderes. Para isso disponibiliza publicamente os ministérios da Igreja, com nome e telefone dos pastores e líderes, inclusive o telefone da presidente, para contato pelos fiéis. Em função das práticas sociais realizadas na cidade, no ano de 2003, criaram a Organização Reviver. Essa organização foi criada para expandir e melhorar as atividades da Igreja e, posteriormente foi declarada de utilidade pública, através de um projeto de lei, da Câmara de Vereadores da cidade. Ao analisar suas práticas sociais, serão confrontados as teorias e discursos desta igreja, com suas realizações, para avaliar se existe em seu meio, reflexão, diálogo, percepção da realidade e necessidade caracterizando Práxis, que visa transformação e libertação, ou se o que está por trás, destas atividades é somente um proselitismo disfarçado, ou mero assistencialismo, ou seja, apenas práticas, sem práxis. Palavras chave: práxis, práticas sociais, neopentecostalismo, Comunidade Evangélica de Maringá.
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FERNANDES, Jeferson da Silva. Analyze social practices of the Evangelical Community of Maringá, the light of Religious Praxis. Dissertation. São Bernardo do Campo. Dissertation. Graduation Program in Sciences of Religion – Methodist University of São Paulo - 2010.
ABSTRACT
The research analyze the social practices of the Evangelical Community of Maringá, located in the State of Paraná, in light of Religious Praxis. This Church has been hailed for its social activities in the city in which it was founded. The Church was founded in 1989, by Irene Ribarolli Pereira da Silva, a former member of the Methodist Church of Maringá. After leaving the Methodist Church, she was ordained as a pastor and given the function of the president of a new Church. She adopted Neopentecostelism in the formation of the new church, with special emphasis on spiritual warfare. The request for offerings and monthly contributions are moderate, and contrary to the interview of demons, due to the exposition of the faithful, primarily of the middle class. In contrast to Neopentecostal Churches that appeal to the masses, but offer little in terms of individual contact with the faithful, this church give value and facilitate contact with their members, their pastors, and leaders. Evidence of this is the availability of the names and telephones of pastors and leaders of various Ministries, including the telephone of the president, in order to maintain contact with the faithful. Organization Reviver, was created because of the social practices realized by the church in the city, in 2003.This organization was created to expand and improve the activities of the Church, and, afterwards, was declared useful to the public, via a law established by the City Council. The analysis of its social practices will be based on the theories and discourses of the church, as well as their realization, in order to evaluate the existence of dialogue, perception of the reality characterized by Praxis, that seeks transformation and liberation, or if what is behind these activities is only disguised proselytism, or simple social assistance, which would indicate only practice, without praxis. Key words: praxis, social practices, neopentecostalism, evangelical community of Maringá.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 11
Capítulo 1
1.1 A Cidade onde está situada a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, no Paraná.............................................................................................................. 18 1.2 A Criação e o Planejamento de Maringá pelos Ingleses........................................18 1.3 A Colonizadora Inglesa no Norte do Paraná..........................................................25 1.4 O Projeto, a Fundação e os Pioneiros de Maringá................................................ 29 1.5 A Origem do nome da cidade de Maringá............................................................. 32 1.6 Dados de Maringá em 2010: A cidade com a terceira maior população do Estado do Paraná.................................................................................................. 37
1.7 A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá: ...................................................... 41 1.8 A Fundadora, sua História,Conversão e Formação............................................... 42 1.9 A Origem do Termo Comunidade nas Igrejas Evangélicas....................................45 1.10 A Fundação e a Expansão da Comunidade Evangélica de Maringá..................... 47 1.11 Do Pentecostalismo ao Neopentecostalismo.........................................................52
1.11.1 A Primeira Onda ou Pentecostalismo Clássico................................ 58 1.11.2 A Segunda Onda ou Deuteropentecostalismo ................................59 1.11.3 A Terceira Onda ou Neopentecostalismo........................................ 61
1.12 O Neopentecostalismo e a Liturgia da Comunidade Evangélica de Maringá....... 71 1.13 A Estrutura Administrativa da Igreja.......................................................................76
Capítulo 2
As Práticas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá.................................. 78 2.1 As Práticas Sociais Internas e Externas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá............................................................................................................ 78 2.2 Práticas por meio dos Ministérios ........................................................................ 80 2.3 Reunião de Células - Grupos Familiares.............................................................. 82 2.4 Práticas por meio do Atendimento Psicológico..................................................... 83 2.5 As Práticas às Família e aos Casais.....................................................................85 2.6 Práticas na Conscientização da Responsabilidade dos Pais................................87 2.7 Práticas no Ministério Infantil................................................................................ 88 2.8 Práticas no Ministério de Adolescentes................................................................ 89 2.9 Práticas no Ministério de Jovens.......................................................................... 90 2.10 Práticas no Ministério Homens e Mulheres de Negócios...................................... 91
10
2.11 A Igreja inserida nos Bairros carentes da cidade..................................................... 2.12 A Igreja com uma Missão......................................................................................... 2.13 A Organização Reviver............................................................................................. 2.14 Programa de Orientação e Apoio às Famílias......................................................... 2.15 Cursos de Culinária e Artesanato............................................................................ 2.16 Oficina de Recreação............................................................................................... 2.17 Academia de Música................................................................................................ 2.18 Oficina de Danças.................................................................................................... 2.19 O reconhecimento de Utilidade Pública da Organização Reviver........................... 2.20 Os Projetos Futuros................................................................................................. Capítulo 3 Conceitos e Análises das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá............................................................................................................... 3.1 A Pastoral, os conceitos e as críticas ao termo Ministério.................................... 3.2 A Contribuição da Educação,para a Transformação Social................................... 3.3 A Origem e o Conceito de Práxis na Grécia Antiga................................................ 3.4 O Conceito de Práxis em Marx............................................................................... 3.5 O Conceito e Diferenças entre Práxis e Prática em Vázquez............................... 3.6 O Conceito de Práxis em Floristan......................................................................... 3.6.1 Práxis como Ação Criadora e não Meramente Reiterativa........................................................ 3.6.2 Práxis como Ação Reflexiva e não Exclusivamente Espontânea... 3.6.3 Práxis como Ação Libertadora e de Modo Nenhum Alienante.................. 3.6.4 A Práxis como Ação Radical e não Meramente Reformista................. 3.7 Análise das Práticas Sociais da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa....................................................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................... ANEXO A - Declaração de Utilidade Pública da Organização Reviver................................ ANEXO B - Depoimento da fundadora e Presidente da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá - Paraná...........................................................................................
11
INTRODUÇÃO
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras
diferentes, a questão é transformá-lo 1.
Ao mencionar uma frase de Karl Marx na introdução desta pesquisa, cujo alvo
são as práticas sociais de uma Igreja, o leitor pode inicialmente imaginar que,
por ser Karl Marx também autor da frase “a religião é o ópio do povo”, que
críticas severas estão por vir ao longo deste trabalho.
Contudo, o que se pretende com a pesquisa é compreender se as Práticas Sociais
da Comunidade Evangélica de Maringá promovem transformações, ou se tratam
apenas de práticas rotineiras; neste entendimento, é pertinente a citação acima. A
análise das práticas serão realizadas à luz da Práxis Religiosa.
Casiano Floristan define o termo Práxis como equivalente à ação ou à atividade e
afirma que, após Marx, a práxis se entende como prática social, como atividade
humana transformadora do mundo; a práxis é atividade conscientemente, dirigida a
um fim, é a renovação do sistema e emancipação pessoal. Não é mera prática,
repetição ou inalterabilidade.
A práxis é um ato do ser humano total, produzindo efeitos totais em todas as áreas
ao mesmo tempo. Porém, Floristan observa que uma práxis capaz de criar um
homem novo e de modificar a ação humana radicalmente em todas as áreas não
existe2. Ocorrem somente práxis parciais, com efeitos parciais.
1 MARX, Karl Heinrich; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã – Teses sobre Feuerbach. São
Paulo: Editora Moraes, 1984. p.111. 2 FLORISTAN, Casiano.Teologia Practica – Teoria y Praxis de La Accion Pastoral. Salamanca:
Edicines Sigueme, 1993. p.179.
12
Santos Junior3, em concordância com Casiano Floristan, também menciona que o
aporte filosófico moderno sobre a práxis corresponde a Karl Marx, que as ideias
surgem da práxis material pela revolução econômica e social, pela transformação
na raiz. Para Marx, o critério da verdade é a práxis da pessoa humana.
A partir de Marx, a práxis passa a ser compreendida como prática social, atividade
humana transformadora do mundo, pois não existe possibilidade de emancipação e
supressão das desigualdades entre as classes sociais sem atitude práxis, porque
nem a teoria,nem a prática, nem a existência social podem libertar o ser humano.
O objetivo de estudar esse tema é compreender se por meio das práticas
sociais da igreja já citada, estão ocorrendo atividades e práxis que levam a
transformações libertadoras. Transformações que indivíduos carentes e a
própria sociedade anseiam e reconhecem como uma necessidade, em razão
dos inúmeros problemas sociais que ocorrem principalmente nas grandes
cidades de nosso país.
Não basta mero assistencialismo; as transformações são necessárias. Segun-
do Assmann & Sung4, quem entra em uma ação social, ou luta política, motivado
por uma experiência de ser interpelado pelo rosto do pobre ou das pessoas que
sofrem injustiças e dominações, sabe e sente dentro de si que não bastam boas
intenções. É preciso modificar a realidade que desumaniza e oprime o próximo e
resgatar a dignidade e o direito dessa pessoa.
Assmann & Sung afirmam que a espiritualidade cristã exige que se busquem
ações que sejam realistas, isto é, que não caiam no romantismo ou no idealismo
3 SANTOS JUNIOR, O.O. Itinerário para uma pastoral Urbana. São Bernardo do Campo: Editora
Metodista, 2008. p.96. 4 ASSMANN, H.; SUNG, J.M. Deus em Nós, O Reinado que Acontece no Amor Solidário aos
Pobres. São Paulo: Editora Paulus, 2010. p. 69.
13
que nega a realidade “dura” da história, pois, sem realismo e eficácia, o amor
não produz frutos na sociedade5.
Os Objetivos específicos estão inseridos nos capítulos de forma a conhecer a
Igreja e suas práticas. A pesquisa foi dividida em três capítulos.
O Primeiro Capítulo retrata o contexto histórico e atual da cidade de Maringá e
da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. Foi elaborado com a preocupação
de proporcionar parâmetros sobre o local em que a Igreja está inserida e as
características da cultura local6.
A história da cidade de Maringá, apesar de não ter sido relatada de forma
concisa, contribui com importantes informações sobre a formação da cidade e de
sua cultura. A região do norte do Paraná, incluindo Maringá, nasceu e se
desenvolveu devido ao trabalho e ao investimento de um elaborado projeto dos
ingleses.
Evidentemente, a filantropia não foi a motivação dos ingleses. Com a
colonização da região, queriam e conseguiram lucrar muito com a valorização
das terras e a exploração de madeira, entre outros. Ao conhecer a história de
Maringá, deparamo-nos com acontecimentos históricos desconhecidos da
grande maioria, como o fato de o Norte do Paraná ter pertencido ao Paraguai.
O capítulo também apresenta informações sobre como e por que os ingleses
influenciaram diretamente na ocupação do Norte do Estado do Paraná e
indiretamente na formação de Curitiba, além de curiosidades sobre o primeiro
governador do Paraná, um baiano, ex-conselheiro do Império.
5 ASSMANN, H.; SUNG, J.M. op.cit., p.70. 6 Características da cultura local nesse contexto significa o orgulho dos maringaenses pelo
sucesso e pela prosperidade da cidade.
14
Fornece ainda informações sobre a importância econômica do café, responsável
por trazer para a região norte do Paraná diversos migrantes e imigrantes em
busca de riquezas e, por fim, mostra alguns dados econômicos atuais de
Maringá, que se tornou a terceira cidade mais importante do Paraná.
Na segunda parte desse primeiro capítulo, foram mencionados os fatos que
antecederam ao surgimento da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, a
história da conversão da fundadora da Igreja, sua trajetória e as influências
externas.
Ainda que de forma sucinta, narra-se como e por que surgiu o termo
Comunidade, que inúmeras Igrejas Evangélicas adotaram, como parte do nome
de suas denominações. Após o conceito de Comunidade, são narrados como
ocorreu a fundação e a expansão da Comunidade Evangélica de Maringá.
Por se tratar de uma Igreja neopentecostal, foi necessário realizar uma
abordagem sobre esse fenômeno, seu surgimento e, consequentemente, sobre
o seu “antecessor”, o pentecostalismo, e como este chegou ao Brasil.
O pentecostalismo, no Brasil, foi dividido por Mendonça em duas fases7: a
primeira fase, ocorrida nos primeiros anos do século vinte, com o surgimento do
pentecostalismo clássico; e a segunda fase, na década de 1960, com o
surgimento do neopentecostalismo, da renovação carismática católica e das
agências de curas divinas.
Entretanto, Mariano8 menciona que, no Brasil, Paul Freston foi o primeiro a
dividir o movimento pentecostal em ondas, mais especificamente em três ondas.
Pelo fato de as Igrejas contidas na terceira onda, apresentarem diferenças
7 MENDONÇA, A. G.; FILHO, P.V. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições
Loyola, 1990. p. 256. 8 MARIANO, R. Neopentecostais, Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:
Edições Loyola, 2005. Segunda Edição. p.28.
15
significativas em relação às da segunda, a separação entre elas em três ondas,
segundo o autor parece ser correta e mais adequada9. Para essa pesquisa, foi
realizado o estudo em três ondas, conforme o trabalho de Paul Freston e
seguido posteriormente por Mariano, entre outros.
Ao final dessa parte, explanou-se como o neopentecostalismo é aplicado dentro
da Comunidade Evangélica de Maringá, sua liturgia e a sua estrutura
administrativa como Igreja.
No segundo capítulo estão relacionadas as Práticas Sociais internas e externas
da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, especificada por meio das
práticas dos ministérios, das reuniões de células (grupos familiares), das práticas
por meio do atendimento psicológico, das práticas destinadas às famílias, aos
casais, aos filhos, das práticas para conscientização da responsabilidade dos
pais e das práticas no Ministério homens e mulheres de negócios.
Ainda nesse capítulo, foram mencionados os tópicos, as congregações desta
Igreja, inserida nos bairros carentes da cidade, a Igreja com uma Missão, e a
Organização Reviver, que foi criada por essa Igreja para ampliar e melhorar
suas atividades sociais, conforme declara.
No terceiro capítulo, foram abordados, em diálogo com alguns autores, o
significado de Pastoral, o conceito e críticas ao termo Ministério. Também foi
exaltada a importância e a contribuição da Educação para a transformação
social.
Para colaborar na análise da pesquisa, foram mencionados: a Origem e
Conceito de Práxis na Grécia Antiga; o Conceito de Práxis em Marx; o Conceito
e as diferenças entre Práxis e Práticas em Vázquez; o Conceito de Práxis em
Floristan; as características da Práxis; e, finalmente, a Análise das Práticas
Sociais da Comunidade Evangélica de Maringá, à Luz da Práxis Religiosa. 9 MARIANO, R. op.cit., p.29.
16
Justifica-se o estudo da Comunidade Evangélica de Maringá, por meio das suas
práticas sociais, pelo intuito de obter conhecimento sobre essas atividades e
verificar se estão ocorrendo transformações, se há práxis ou assistencialismo,
ou ainda se, através dessas atividades, estão apenas acrescentando pessoas à
Igreja sem contribuições sociais. Trata-se de um fenômeno religioso, do qual há
a pretensão de se penetrar na busca de conhecimento e compreensão do
fenômeno. Não há nenhuma pesquisa realizada sobre essa Igreja.
Para o desenvolvimento da pesquisa, será utilizado o método do observador
participante e do método histórico.
Partindo do princípio de que as atuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua natureza e função. Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual por meio de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo, influenciados pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e de suas modificações10.
Serão utilizadas as informações e os documentos da Igreja, como o depoimento
pessoal da fundadora, em que estão narrados a história da fundadora e da
Igreja, dos folhetos da Igreja e do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica
de Maringá.
O pesquisador tem consciência da importância da neutralidade no trabalho a ser
realizado, principalmente pelo fato de ser integrante da Igreja a ser pesquisada,
o que lhe gera duas circunstâncias distintas. A primeira se refere à preocupação
contínua de não se deixar influenciar por sua formação religiosa; a segunda,
pela sua facilidade de transitar e penetrar nos diversos ministérios, sem
despertar em seus participantes desconfiança e mudanças de comportamento,
10 MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2007. p.69.
17
pela simples presença de um pesquisador “estranho”, o que certamente
contribuirá para uma apuração real dos fatos.
A fim de entender a história não escrita da Comunidade Evangélica de Maringá,
serão observados diversos cultos, realizadas conversas informais com o pastor
da Igreja Metodista, de onde a fundadora da Igreja estudada foi integrante,
conversas informais com a responsável pela Organização Reviver e com a
fundadora da Comunidade Evangélica de Maringá, para conhecer melhor os
fatos, desde sua conversão até a atualidade.
Casiano Floristan, através da Obra Teologia Práctica – Teoria y Práxis de La
Acción Pastoral11, será o principal referencial teórico para a sustentação do
conceito de práxis e para a análise das práticas sociais da Igreja Comunidade
Evangélica de Maringá.
O autor, além de conceituar o termo práxis, descreve o binômio teoria-práxis, a
consciência da práxis, e, a partir de certos apontamentos marxianos,
completados com outras correntes pragmáticas e existencialistas, descreve que
a práxis é uma mudança social e um compromisso militante, transformação de
estruturas e atitudes críticas, renovação do sistema social e emancipação da
pessoa. Ensina que a práxis não é mera prática, a saber, aceitação,
conformidade, repetição e inalterabilidade. Exorta que, ao contrário do que
muitos pensam, práxis não é sinônimo de prática.
Contudo, outros autores foram consultados e utilizados como referenciais
secundários, entre eles estão Ricardo Mariano, com Neopentecostais, e Geoval
Jacinto da Silva, com Abrindo Espaços para a Práxis da Missão de Deus.
Foram pesquisados ainda diversos autores, inclusive aqueles que narram a
história de Maringá e da região Norte do Paraná, além de Dissertações e Teses.
11 FLORISTAN, C. Teologia Practica, Teoria y Práxis de La Acción Pastoral. Salamanca:
Ediciones Sigueme, 1993.
18
CAPÍTULO 1
1.1 A CIDADE ONDE ESTÁ SITUADA A IGREJA COMUNIDADE
EVANGÉLICA DE MARINGÁ, NO PARANÁ
Tendo em vista que o presente trabalho analisa as práticas sociais da Igreja
Comunidade Evangélica de Maringá, faz-se necessário conhecer o local em que
essa Igreja está inserida.
Para isso, visando a conhecer quais são as circunstâncias que influenciaram o
surgimento da cidade e algumas das características da cultura local, será narrada
a história da cidade, desde sua fundação até o presente momento.
1.2 A CRIAÇÃO E O PLANEJAMENTO DE MARINGÁ PELOS INGLESES
A cidade de Maringá está situada na região norte do Paraná. Até o ano de 1632,
essa região estava sob o domínio espanhol, por direito de conquista assegurado
pelo Tratado de Tordesilhas. A divisa do que pertencia a Portugal e à Espanha era
fixada pela denominação Linha Alexandrina ou meridiano de Tordesilhas12.
Entretanto, os paulistas, com o objetivo de encontrar ouro, pedras preciosas e
escravizar índios para os engenhos de açúcar, organizaram bandeiras e, partindo
de São Paulo, começaram a disputar essa região, hoje conhecida como o norte do
Paraná.
12 HILÁRIO, J. Maria do Ingá, Amargo sabor de Mel na Colonização do Paraná. Maringá: Gráfica
Ideal,1995. p.179.
19
Em 1629, Raposo Tavares assumiu o comando da bandeira e derrotou os
espanhóis, com o extermínio dos índios guaranis, morte de jesuítas e a destruição
dos povoados espanhóis13.
A partir de 1632, com a retirada dos espanhóis, jesuítas e guaranis, o território do
norte do Paraná ficou completamente abandonado.
Mioni14 reforça essa situação ao mencionar que
“os bandeirantes asseguraram as fronteiras da Pátria. Expulsaram os espanhóis. A história se escreveu com sangue. Não fora os bandeirantes, isto tudo seria Paraguai”.
Segundo Hilário15, no período da colonização portuguesa, o território do atual
estado do Paraná fez parte da Capitania de Santo Amaro, que se estendia até a
região de Santana, em Santa Catarina, que, a partir de 1676, passou a se chamar
Laguna, que significa lagoa em espanhol.
Laguna serviu como ponto de apoio para o desbravamento da região sul brasileira.
Mas essa região, incluindo o litoral do Paraná, foi diversas vezes saqueada por
piratas ingleses.
Sem condições para resistir à superioridade dos piratas ingleses e cansados dos
sucessivos ataques, grande parte dos moradores da região do litoral, juntamente
com novos lusitanos que chegavam, procurou novos caminhos que os levassem
para além da serra do mar, o que resultaria em ficar a salvo da ação dos piratas
ingleses, que insistiam em continuar roubando, saqueando e incendiando as
povoações beira-mar.
13 HILÁRIO, J. op. cit., p.185. 14 BRANCO, G.M. F. Londrina no seu Jubileu de Prata.Documentário Histórico. Londrina:
Realizações Brasileiras,1959. p.21. 15 HILÁRIO, J.op. cit., p.109.
20
Com esse objetivo, em 1654, uma expedição que partiu de Cananéia, chega ao
começo dos Campos Gerais, região do Paraná que os padres jesuítas,
procedentes das colônias espanholas, já haviam colonizado, onde se fundou a
cidade de Curitiba16·. Esses jesuítas foram posteriormente expulsos do Brasil.
Do povoamento de Curitiba, os colonos embarcavam o excedente de suas
produções para a cidade de Paranaguá, para comercialização. Somente no ano de
1723, finalmente o território do Paraná foi promovido à categoria de comarca,
sendo denominada como Comarca de Paranaguá. Porém, continuaria até o ano de
1853 subordinada a São Paulo. A partir dessa data, foi definitivamente emancipada
e elevada à categoria de Província do Paraná. O primeiro presidente da província
do Paraná foi um baiano que, anteriormente ao cargo de presidente da província,
foi conselheiro do império.
Hilário17 narra que, em 1865, o Brasil já devia muito dinheiro à Inglaterra, que
impunha, pelo poder de sua força militar, suas condições ao Brasil. Foi coagido
pela Inglaterra que D.Pedro II foi obrigado a declarar guerra contra os paraguaios.
Mesmo assim, após a guerra, a Inglaterra continuou a aprisionar navios brasileiros
em águas do Brasil e a desrespeitar a frágil soberania de um país novo e sem
forças bélicas, econômicas ou políticas.
Influenciados pelo que foi contado pelos piratas que saquearam o litoral do Brasil,
os ingleses foram informados, conforme narra Hilário, de que na região conhecida
como norte do Paraná havia um lugar misterioso, um lugar de ouro e pedras
preciosas, e de que as nativas, dóceis e gentis, aguçavam a sensualidade18. Desta
forma, em 1872, desembarcam, pela primeira vez, os ingleses no norte do Paraná.
16 HILÁRIO, J.op. cit., p.117. 17 Ibid.,p.227. 18 Ibid.,p.257.
21
Os ingleses tinham problemas na área da diplomacia, em função do histórico de
imposições britânica ao país. Por isso, a Inglaterra convidou o rei da Suécia para
essa investida. Assim, junto com os ingleses desembarcou o sueco Cristiam Palm,
chefiando um grupo de agrimensores que tinham a missão de fazer levantamentos
topográficos, pesquisar minérios e florestas, com um objetivo pré-determinado.
Esse objetivo era projetar a construção de uma ferrovia transcontinental, cortando
ao meio o continente sul-americano e ligando o Atlântico ao Pacífico, como fórmula
para a Inglaterra, vender futuramente, trilhos, locomotivas, vagões e demais
artefatos produzidos pelas indústrias britânicas, que já os possuíam estocados e
sem compradores para a demanda.
Cristiam Palm morreu de malária no Rio de Janeiro, mas a missão prosseguiu. A
expedição era contratada pela Paraná and Mato Grosso Surray Expedition. Entre
os membros da expedição estava o engenheiro inglês Thomas Plantagenet Bigg-
Wither, que lançou em seu retorno à Inglaterra um livro sobre as aventuras no
Brasil, às quais denominou como “um passeio ao desconhecido reino das
maravilhas”19:
“... davam notícias das potencialidades agrícolas das terras, a
exploração da madeira com derrubada da portentosa mata Atlântica,
os registros geológicos, evidenciando riquezas no seu solo. Os
recursos inexplorados do Paraná acusavam a presença em grandes
veios de ouro, do diamante e outros cobiçados minerais enriqueciam
os relatórios e cadernetas de campo daqueles homens.” 20
Essa obra informou os ingleses sobre o Paraná e motivou-os a colonizar a região.
Era o ano de 1875. Em 15 de Novembro de 1889, com a proclamação da
República, o Paraná tornou-se um dos Estados do Brasil.
19 Ibid., p.259. 20 CORRÊA JUNIOR., J. A. O Trem de Ferro. Maringá: Editora 5 de Abril Ltda, 1991. p. 23.
22
O café teve uma importante participação na economia brasileira no século XIX, e o
país tornou-se o principal exportador da bebida a partir de 1840. Entretanto, foram
os ingleses que conseguiram se destacar e obter considerável lucro com a
distribuição da bebida.
Com o fim da escravatura no Brasil, muitos imigrantes chegaram ao país para
trabalhar nas plantações de café. Alguns produtores, buscando solo fértil para a
plantação do café, encontraram no norte do Paraná o local ideal. Segundo Reis21,
fazendeiros mineiros e paulistas, com o intuito de desbravar novas terras para o
plantio, vieram para o norte do Paraná.
Entre os produtores que vieram para o norte do Paraná, estava o major Antonio
Barbosa Ferraz Junior, que era agricultor em Ribeirão Preto. Ele e os outros
proprietários locais, como conta Hilário22, tiveram muita dificuldade em transportar o
café colhido no Paraná para as regiões onde seria comercializado. Por isso,
formaram a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. O engenheiro responsável
pela construção foi Gastão de Mesquita Filho. O percurso seria entre Ourinhos-SP
e Cambará - PR.
Segundo Andrade23, a implantação das estradas de ferro foi um dos fatores mais
importantes para o desbravamento do norte do Paraná. Milhares de pessoas foram
atraídas para a região em busca de riquezas.
Citando uma publicação da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná,24 Hilário
comenta a versão oficial divulgada como explicação pela vinda dos ingleses ao
Brasil. Nesse período de início de colonização no norte do Paraná:
21 REIS, O.R. A História em Conta-Gotas. Maringá: Gráfica Primavera, 2004. p.17. 22 HILÁRIO, J. op. cit., p.208. 23 ANDRADE, A. Maringá, Ontem, Hoje e Amanhã. Maringá: Rumo Gráfica,1979. p.47. 24 Essa Companhia substituiu a anterior, fundada pelos ingleses.
23
“... o governo do Brasil convidou a Inglaterra para conhecer sua situação agrícola e participar de investimentos dessa natureza, evento que, irrelevante em sua aparência, foi o fator principal de expansão do Paraná...”25
A vinda dos ingleses ficou conhecida como Missão Montagu, cujo líder da missão
inglesa foi Simon Joseph Fraser, o Lord Lovat, que havia sido secretário de Estado
para as Índias e secretário financeiro do tesouro da Grã-Bretanha. Seus
assessores foram Sir Charles Addis, diretor do Banco da Inglaterra e presidente do
Hong-Kong and Shangai Banking, e Sir Hartley Withers, conde de Londres.
A Missão Montagu, comandada por Lord Lovat, era aguardada pelas autoridades
brasileiras com esperança de receber recursos financeiros para incrementar a
economia interna e restabelecer a ordem nas finanças.26 Entretanto, Hilário revela
que o que ocorreu foi justamente o contrário: os banqueiros ingleses estavam
preocupados com a inadimplência brasileira e a ruinosa administração das finanças
no Brasil, pois um novo empréstimo de vinte e cinco milhões de libras havia sido
solicitado pelo presidente brasileiro Arthur Bernardes. Como não bastasse, os juros
e as amortizações junto ao grupo financeiro inglês N.M.Rothschild & Sons estava
atrasado. A dívida brasileira, portanto, não era exatamente com o governo
britânico.27
Gonçalves28 discorda da versão oficial, de convite do governo brasileiro, citando
Joffily: “... a Missão Montagu escondia, dentre outras motivações, um bem urdido plano de apropriação das excelentes terras do norte paranaense. A viagem teria sido uma imposição, e não o resultado de um convite. Os ingleses já conheciam o potencial daquelas terras...” 29
25 HILÁRIO, J. op. cit., p.209. 26 Ibid., p.262 e 263.
27 Ibid., p.263. 28 GONÇALVES, J.H.R.; DIAS, R.B. (Org.) Maringá e o Norte do Paraná. Maringá: UEM,
Imprensa Oficial do Paraná, 2000. p.97. 29 Ibid., p.97.
24
Segundo Joffily, o grupo financeiro inglês N.M.Rothschild & Sons, desde 1919,
tinha interesse no norte do Paraná e, em 1922, encomendou uma expedição
precursora na região. A política econômica inglesa da época apressava a
liquidação de créditos no exterior e a busca de novos recursos em suas áreas de
influência imperialista. O objetivo era jamais levar divisas para fora da Inglaterra e,
sim, carreá-las para a ilha de onde estivessem.30
Conforme Andrade, Lord Lovat, chefe da Missão Montagu, ao visitar o norte do
Paraná, foi informado por Gastão de Mesquita Filho de que na cidade de Cambará-
Pr, houve um loteamento de glebas que foram vendidas a 50mil réis o lote de meio
quarteirão. Quando ocorreu a notícia da aproximação da estrada de ferro, os
preços dessas datas subiram e, em um ano, atingiram o valor de 50 contos de réis,
uma valorização de mil por cento, enquanto que, na Inglaterra, os bons negócios se
faziam na base de cinco por cento ao ano.31
Gastão de Mesquita Filho informou ao Lord Lovat que o governo do Paraná
venderia as terras do norte do Paraná por preços irrisórios e que, se fosse
realizado o prolongamento da estrada de ferro, da qual ele era o engenheiro
responsável, os ingleses teriam garantia para a exportação de madeiras e dos
produtos agrícolas para a Inglaterra, através do porto de Santos, e ainda teriam o
lucro exorbitante da valorização das terras, após a construção da ferrovia.
A falta de via de acessos e principalmente de condições para o escoamento da
produção agrícola contribuía para que o governo do Paraná determinasse o preço
das terras por lei por preços muito baixos, cerca de 20 mil réis por alqueire paulista
de 24.200 metros quadrados, conforme relata Andrade32.
30 JOFFILY, J. Londres-Londrina. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985. p.49. 31 ANDRADE, A. op.cit., 47.
32 Ibid., p.51.
25
Lord Lovat ficou convencido de que estava diante de uma excelente oportunidade
de lucros para os ingleses. Assim, o próximo passo foi criar uma companhia, uma
empresa para legalizar os futuros negócios que seriam feitos no norte do Paraná.
1.3 A COLONIZADORA INGLESA NO NORTE DO PARANÁ
De posse das valiosas informações sobre os possíveis novos investimentos, Lord
Lovat retornou à Inglaterra com o objetivo de prestar contas sobre sua vinda ao
Brasil e, imediatamente, deu início, com o aval dos demais investidores ingleses, à
criação de uma empresa para administrar os novos negócios no Brasil.
Assim nasceu, na Inglaterra, a empresa Brazil Plantations Syndicate Ltd, e a
subsidiária brasileira foi organizada pelo inglês Arthur Miller Tomas, com o nome
de Companhia de Terras do Norte do Paraná, em 24 de setembro de 1925.
Ao elaborarem o plano de colonização do norte do Paraná, que incluía a compra
das terras, as construções de estradas de ferro e de rodagem, os investidores
perceberam que seria necessário aumentar o capital da empresa, que era de
200.000 libras esterlinas. A matriz em Londres passou a ter um capital de 750.000
libras esterlinas e passou a se chamar Paraná Plantations Ltda.
A Companhia adquiriu do governo do Paraná, entre 1925 e 1927, 515 mil alqueires
de terra. Há informação de que 450.000 alqueires custaram 8.712 contos de réis,
em 1925.
De posse dos documentos fornecidos pelo governo do Paraná sobre as terras, a
Companhia dos ingleses fixou seu campo de ação em uma área situada entre os
rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí. Entretanto, os ingleses se depararam com a
presença em alguns locais de pequenos agricultores, os quais haviam sido
outorgados pelo próprio governo do Paraná, além de alguns posseiros de terra.
26
A solução para o impasse foi recomprar novamente essas áreas. Porém, Hilário
menciona que se teve notícias de violência praticada contra posseiros, índios e
caboclos que viviam naquela região.33
“O que se sabe, é que a companhia Norte do Paraná, como também outras companhias de colonizadoras, possuíam uma guarda particular, bem como se utilizavam de jagunços, também chamados de limpa-trilhos, ou quebra-milho, para remover e sanear as terras compradas...” 34
Por outro lado, segundo Andrade, havia rigor nas metas e no trabalho dos
dirigentes da Companhia Norte do Paraná. Na derrubada das matas, preservavam
uma parte para proteção das pessoas e preservação do meio ambiente. As
queimadas também eram controladas, para não enfraquecer o solo e comprometer
os investimentos nas terras.
Conforme relata Andrade, em relação aos núcleos populacionais, a Companhia
Norte do Paraná projetou que as cidades seriam formadas a uma distância
aproximada de 100 quilômetros uma das outras, na seguinte ordem: Londrina,
Maringá, Cianorte e Umuarama. Cidades planejadas para serem grandes
metrópoles.35
Entre uma cidade e outra, determinaram a criação de pequenas vilas, que seriam
uma espécie de centro abastecedor intermediário da região. Projetaram ainda que,
próximo às áreas urbanas, seriam destinadas áreas para a formação de chácaras,
com o intuito de suprir as necessidades alimentícias da população local, em
especial a produtos hortifrutigranjeiros.
33 HILÁRIO, J. op.cit., p. 281. 34 GONÇALVES, J.H.R.; DIAS, R.B., op. cit., p.73. 35 HILÁRIO, J. op. cit., p.299.
27
Nas áreas rurais, as estradas foram planejadas para serem abertas para
possibilitar que a terra fosse dividida em pequenos lotes de 10,15 ou 20 alqueires,
com frente para a estrada principal ou secundária, e fundo para o ribeirão.
O café era o produto mais rentável na época e deveria ser plantado na proporção
de 1.500 pés por alqueire, sempre na parte alta do terreno. Na parte mais baixa,
deveria ser construída a casa do agricultor. Este poderia cultivar uma horta e criar
animais para o seu sustento e vender o excedente. Assim, o dinheiro das vendas
ficaria na própria região, gerando riquezas e sendo a mola propulsora do progresso
e do desenvolvimento.
Com esse propósito, as casas eram construídas próximas umas das outras,
aproximando as famílias, evitando o isolamento e criando consciência
comunitária36.
Em 1928, a Companhia de Terras Norte do Paraná, por meio da intermediação do
engenheiro Gastão de Mesquita filho, realizou a aquisição da Companhia
ferroviária São Paulo-Paraná.
Em Agosto de 1929, a Companhia de Terras Norte do Paraná inicía o
desbravamento das áreas adquiridas e parte em direção a um povoado já
existente, conhecido na época, como Patrimônio Três Bocas37.
Conforme informa Hilário, em 1930, o Patrimônio Três Bocas é alterado para
Patrimônio Londrina, e, em 3 de dezembro de 1934, foi decretado oficialmente
como município de Londrina, cujo nome significa filha de Londres.
Porém, com o início da segunda guerra, muitas empresas inglesas foram vendidas,
como forma de amenizar os gastos inseridos na guerra. Em 1942, Gastão de
36 ANDRADE, A. op.cit., p.47. 37 HILÁRIO, J. op. cit., p.282.
28
Mesquita Filho é informado sobre a situação e, juntamente com Gastão Vidigal,
fundador do banco Mercantil de São Paulo e um dos maiores financistas do país,
adquirem a Companhia.
A Companhia inglesa já havia lucrado com a venda de terras e a exportação de
madeira, mas, ainda assim, venderam a Companhia de Terras Norte do Paraná e a
companhia Ferroviária por 1.520.000 libras esterlinas. O seu capital inicial foi de
750.000 libras esterlinas.
Como a estrada de ferro era de concessão do Governo Federal, o presidente
Getúlio Vargas concordou com a transação, desde que a ferrovia, que agora se
estendia da cidade de Ourinhos, Estado de São Paulo, a Apucarana, no Paraná,
fosse adquirida pelo Governo Federal por 88.000 contos de réis.
Porém, os ingleses queriam 128.000 contos de réis pela ferrovia. Essa
circunstância forçou os novos donos da Companhia a arcarem com a diferença de
40.000 contos de réis. Naquela época, a estrada de ferro era rentosa; em 1944,
seu balanço contabilizou lucro de 52.000 contos de réis38.
Em 1950, Herman Moraes Barros assumiu o cargo de diretor-gerente. Os novos
donos da Companhia alteraram, em 1951, o nome da empresa para Companhia
Melhoramentos Norte do Paraná. As atividades da Companhia foram diversificadas
e, além da colonização, atuaram na pecuária, na agricultura e principalmente no
setor industrial.
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná fundou 63 cidades e patrimônios,
vendeu lotes e chácaras para 41.741 compradores de áreas, entre cinco e trinta
alqueires, e aproximadamente 70.000 datas urbanas, com tamanho médio de 500
metros quadrados, e colonizou uma área correspondente a 546.078 alqueires.39
38 ANDRADE, A. op. cit., p.47. 39 Ibid., p.47.
29
Com as diretrizes do plano inglês, as cidades fundadas obedeceram a um plano
urbanístico previamente estabelecido.
1.4 O PROJETO, A FUNDAÇÃO E O PIONEIROS DE MARINGÁ
Após a fundação de Londrina, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná
continuou a comercializar suas terras em lotes pequenos, que variavam entre
cinco, dez ou quinze alqueires cada um, todos servidos por estradas e recursos de
água.
Novas estradas foram abertas, chegando à primitiva povoação conhecida como
Vila Macuco ou Vila Pinquim40, onde posteriormente foi fundada a cidade de
Maringá. Conforme descreve Hilário, a Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná, chegou onde hoje é a cidade de Maringá, em 1945. Já havia alguns
poucos moradores na vila41, estes primeiros habitantes chegaram entre 1933 a
1944.
Segundo declara Reis, o povoamento da área compreendida pelo município de
Maringá iniciou-se aproximadamente em 1938, porém foi a partir da década de
1940, que começaram a ser erguidas as primeiras construções urbanas42.
Relata Hilário que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná condicionava os
compradores de terras na cidade à obrigação de construírem casas, pois a grande
maioria dos compradores residiam em outras cidades, e a Companhia não queria
correr o risco de que estes compradores pudessem revender as terras, visando
40 HILÁRIO, J. op. cit., p.84.
41 Ibid., p.303. 42 REIS, O. op. cit., p.18.
30
apenas ao lucro, por isso obrigavam a construção43. Dias & Gonçalves, informa que
o prazo para a construção das casas era de um ano após a aquisição.44
Duque Estrada45 também relata esse fato, ao mencionar a existência de uma
cláusula no contrato de venda, nos perímetros urbanos, no qual o adquirente era
obrigado a construir em determinado prazo. Assim, em razão da cláusula
contratual, as casas foram surgindo. A maior parte foi construída de madeira e
ficava fechada por falta de moradores, por esse motivo, entre 1947 e 1948,
Maringá era chamada de cidade fantasma.
Hilário enfatiza a situação, relatando em detalhes as centenas de casas fechadas,
com avenidas ostentando tocos enormes e raízes de árvores mal queimadas, ruas
sem iluminação à noite, cheias de lama e buracos.
Apesar disso, todas as cidades fundadas pela Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná obedeciam a um plano urbanístico previamente estabelecido.
Andrade afirma que a cidade de Maringá foi projetada por Jorge de Macedo Vieira,
um engenheiro civil paulista. Em São Paulo, o engenheiro já havia colaborado com
os projetos e as construções dos bairros do Pacaembu, Alto da Lapa e Jardim
América46. Esse engenheiro havia sido contratado para trabalhar por uma empresa
de urbanismo em São Paulo. Depois desse período, resolveu dedicar-se à
urbanização e projetou e construiu os bairros de Vila Maria, Vila Formosa, Parque
da Mooca e Jardim Japão, entre outros. No Rio de Janeiro, projetou e construiu o
Jardim Guanabara, na Ilha do Governador. Também projetou e construiu obras no
interior do Estado de São Paulo e no interior do Rio de Janeiro. Em razão do
sucesso dos trabalhos realizados, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná o
contratou para realizar o projeto de construção das cidades de Maringá e Cianorte.
43 Ibid., p.313. 44 GONÇALVES, J.H.R., op. cit., p.139. 45 ESTRADA, J.F.D. op. cit., p.13.
46 ANDRADE, A. op. cit., p.22.
31
Segundo Reis, o planejamento da cidade de Maringá determinava que as praças,
avenidas e ruas fossem demarcadas, predominando o verde nativo, conjugando
com a organização do uso do solo. A principal característica do planejamento da
cidade foi projetar uma avenida que atravessasse a cidade de um extremo a outro,
que seria denominada como Avenida Brasil e teria 7.450 m de extensão.
A demarcação dos bairros foi cuidadosamente desenhada e denominada como
zona. Cada zona significaria um bairro. Desta forma, foi projetada uma zona
residencial destinada às classes elevadas, zona residencial destinada às classes
populares, zona comercial, zona industrial, centro cívico, aeroporto, núcleos
sociais, áreas verdes, parques, etc.47
Cada zona recebeu um número. Assim a zona 01 foi destinada para o comércio, as
edificações do Centro Cívico e de outros serviços, tais como Prefeitura, Fórum,
Câmara Municipal, Agência de Correios, Central de Telefone, Estação Rodoviária e
Ferroviária.
Segundo Reis, o engenheiro urbanista Jorge de Macedo Vieira foi contratado pela
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná quatro anos antes da fundação da
cidade, mas nunca esteve em Maringá.48
Em 10 de maio de 1947, a cidade foi oficialmente fundada. Andrade afirma que o
café foi, naquele período, o produto agrícola que propiciou a arrancada histórica de
Maringá. O café era mais do que suficiente para garantir a balança de pagamento
do Brasil.
As condições de solo e clima contribuíram de forma decisiva para o enorme surto
da lavoura cafeeira, que expandira no norte do Paraná.49 Enquanto que a produção
47 REIS, O. op. cit., p.13. 48 Ibid., p.39. 49 ANDRADE, A. op. cit., p.66.
32
mundial no período de 1930-1940 foi de 33 milhões de sacas anuais, 22,9 milhões
eram produzidos no país.
Com o intuito de desbravar novas terras para o plantio do café, fazendeiros
paulistas e mineiros foram os primeiros a chegar ao povoado. A mão-de-obra era
realizada geralmente pelos nordestinos.50
Conforme Reis, além dos paulistas e mineiros, também foram responsáveis pela
colonização da cidade os japoneses, italianos, portugueses, alemães, libaneses e
os nordestinos, entre outros, em menor quantidade.
A cidade tem orgulho de seus desbravadores. Em Maringá, a história do pioneiro-
desbravador é contada elevando-os quase a heróis.51
Foi criado pela prefeitura local um projeto denominado Projeto Memória, e instituiu-
se por lei a outorga do título de Pioneiro, que representa um título de honra e
reconhecimento, como homenagem aos primeiros moradores que chegaram no
início do surgimento da cidade de Maringá.52
1.5 A ORIGEM DO NOME DA CIDADE DE MARINGÁ
Ao deixar de ser vila, o novo povoado precisava de um nome.
A escolha dos nomes dos povoados, riachos, córregos e ribeirões, naquela época,
ficava a cargo do departamento de topografia da Companhia Melhoramentos Norte
do Paraná.
50 HILÁRIO, J. op. cit., p.319. 51 GONÇALVES, J.H.R. op. cit., p.356. 52 Ibid., p.430.
33
Frequentemente, os patrimônios recebiam o nome da aguada mais próxima53, pela
utilização do dicionário guarani, além do uso dos nomes de santos, marca de
cigarros, times de futebol, nome de namoradas e esposas dos agrimensores.
No povoado onde foi fundada Maringá, a escolha do nome foi criteriosa e não
obedeceu a essa lógica exercida pelo departamento de topografia da Companhia.
Aproveitando o sucesso de uma música daquela época, a cidade foi batizada com
o nome dessa canção – Maringá.
O nome da música, além de batizar o nome da cidade, conferiu-lhe propaganda
gratuita, o que lhe concedeu popularidade instantânea, ajudando a alcançar os
objetivos da Companhia.
Joubert de Carvalho foi o compositor da música. Segundo Andrade, o compositor
era médico por formação e desejava ser nomeado médico do Instituto dos
Marítimos, no Rio de Janeiro. Para isso, solicitou a ajuda do então ministro da
Viação, José Américo, de quem era amigo.
Entretanto, antes de solicitar o pedido, Joubert de Carvalho procurou o oficial de
gabinete de José Américo, que era, na ocasião, Rui Carneiro. O chefe de gabinete
sugeriu ao compositor que fizesse uma música, narrando a triste realidade daquele
momento: a seca no nordeste. Devido à seca, muitos nordestinos migraram para
outras regiões e o ministro José Américo estava fazendo vários açudes na região,
para amenizar a seca.
O pedido era pertinente na lógica de Rui Carneiro, afinal Joubert de Carvalho era
desconhecido como médico, mas famoso como compositor. Segundo Reis, em
1921, a música “5 de Janeiro” tornou o compositor conhecido pela música feita por
ele, em homenagem ao renomado cientista Oswaldo Cruz.
53 HILÁRIO, J. op. cit., p. 300.
34
Entre outros sucessos, Reis destaca a música “Príncipe”, que ficou conhecida
internacionalmente interpretada pela cantora francesa Rasiani. Carmem Miranda
interpretou a musica “Taí”54. Ao longo de sua carreira musical, Joubert de Carvalho
compôs mais de quinhentas canções.
Andrade acrescenta que as músicas de Joubert de Carvalho foram interpretadas
por cantores famosos da época, como Francisco Alves, Silvio Caldas e Elizinha
Coelho, entre tantos outros.55
Se, por um lado, o pedido para fazer uma música por Rui Carneiro, chefe do
Gabinete do Ministro, era uma espécie de condição para conseguir o emprego
desejado por Joubert de Carvalho, por outro lado, pela capacidade do compositor,
tratava-se de um pedido fácil.
Conta Andrade que Joubert de Carvalho começou a compor a música
imediatamente, na frente do Chefe do Gabinete. Para escrever a letra da música,
perguntou ao Rui Carneiro onde o ministro havia nascido e recebeu como resposta
que fora era uma cidade chamada Areias. Descartando o nome da cidade, por ser
difícil para a rima da nova música, perguntou onde o Rui Carneiro havia nascido;
recebeu como resposta a cidade de Pombal.
Joubert de Carvalho, para acrescentar informações à música, também perguntou o
nome das cidades onde a seca estava assolando os moradores do nordeste. Entre
as cidades mencionadas por Rui Carneiro, escolheu Ingá, uma cidade que está
situada a 87 Km de distância de João Pessoa, na Paraíba.
Para personificar na música, uma pessoa que se ausentava da sua terra,
simbolizando os milhares de nordestinos que migravam para as diversas regiões,
criou para a música uma personagem com o nome de Maria, por se tratar de nome
comum e de fácil identificação.
54 REIS, O. op. cit., p. 24. 55 ANDRADE, A. op. cit., p.28.
35
Essa Maria, personagem inventada pelo compositor portanto, nunca existiu, e foi
retratada na canção como uma ex-moradora da cidade de Ingá, sendo mencionada
na música como Maria da cidade de Ingá.
O compositor, assim, cantarolando sua criação, alterou “Maria da cidade de Ingá”
para, “Maria do Ingá”. Assim, Joubert de Carvalho percebeu que a contração das
duas palavras soava melhor, ouvia-se ao, invés de Maria do Ingá, uma nova
palavra - Maringá.
Nasceu assim, na sala do Gabinete de Rui Carneiro, a música Maringá56. A canção
foi um sucesso nacional, e Joubert de Carvalho foi nomeado médico do Instituto
dos Marítimos, como havia solicitado.
A música chamada Maringá também agradou de forma generalizada os migrantes
e nordestinos que trabalhavam no povoado, que cantarolavam a canção em uma
identificação total com a letra.
Segundo Hilário, a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná era gerenciada
pelo inglês Arthur Hugh Miller Thomas, conhecido na época como Mister Thomas57,
casado com Elizabeth Thomas. Ela, ao ouvir os trabalhadores nordestinos
cantarem a música repetidamente, sugeriu, em homenagem aos trabalhadores
nordestinos, que o nome da nova cidade fosse Maringá58. A sugestão dela foi
recebida com aprovação total, dada a inteligência da escolha, pois a música já
divulgada projetaria a cidade nacionalmente. Seria propaganda gratuita.
56 Ibid., p.63. 57 REIS, O. op. cit., p. 22. 58 HILÁRIO, J. op. cit., p.307 e 308.
36
Com a aprovação do compositor, o nome da música foi escolhido como nome da
cidade de Maringá. Eis sua letra :
Foi numa leva
Que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante
Que mais dava o que falá.
E junto dela
Veio alguém que suplicou
Prá que nunca se esquecesse
De um caboclo que ficou.
Estribilho
Maringá, Maringá,
Depois que tu partiste,
Tudo aqui ficou tão triste,
Que eu garrei a maginá:
Maringá, Maringá,
Para havê felicidade,
É preciso que a saudade
Vá batê noutro lugá.
Maringá, Maringá,
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegá.
Antigamente
Uma alegria sem igual
Dominava aquela gente
Da cidade de Pombal.
37
Mas veio a seca
Toda chuva foi-se embora
Só restando então as água
Dos meus óio quando chora59.
Pelo fato de o nome da cidade de Maringá ter surgido de uma música, a cidade
ficou conhecida, posteriormente, também como cidade canção.
O compositor Joubert de Carvalho visitou Maringá e foi homenageado com o nome
de uma Rua e com um Busto. Também foi embaixador de Maringá no Rio de
Janeiro.60
1.6 DADOS DE MARINGÁ EM 2010: A CIDADE COM A TERCEIRA MAIOR POPULAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ O café foi indubitavelmente fundamental para a criação e expansão da cidade de
Maringá. Entretanto a lavoura cafeeira, que era o sustentáculo da economia de
Maringá e de todo o Norte do Paraná, enfrentou uma reviravolta e começou a
definhar a partir de 1953.
O confisco do café estocado para a queima, pelo Governo Federal, provocou a
falência financeira de muitos agricultores. A temperatura baixa em demasia,
conhecida como geada, nos anos de 1955, 1958, 1962, 1963, 1969 e 1972,
provocaram sensível diminuição na produção. Mas foi a geada de 1975, particular-
mente, crucial para a lavoura e para seus agricultores.61 Dessa geada não restou
nada; ocorreu a perda total das lavouras do Paraná. Os agricultores foram, por
força das circunstâncias, obrigados a diversificar seus negócios. Com essa
59 Ibid., p.94. 60 ANDRADE, A. op. cit., p.29. 61 HILÁRIO, J. op. cit., p.310.
38
necessidade, iniciaram o plantio de soja, trigo, pastagens para o gado e a criação
do bicho-da-seda, entre outras.62
Entretanto, os empregados dos sítios e das fazendas foram, de forma gradativa,
sendo substituídos por tratores, colheitadeiras e demais máquinas agrícolas,
utilizadas nas novas plantações.
Ocorreu um êxodo do homem do campo para a cidade. Segundo Hilário, Maringá
recebeu uma verdadeira multidão de ex-trabalhadores rurais à procura de moradia,
serviço e alimentação.
Ao contrário do café, que concentrava o homem na zona rural, as máquinas
agrícolas levaram à diminuição da necessidade de mão-de-obra, obrigando a
maioria dos trabalhadores rurais a procurarem oportunidades na cidade.
Dias & Gonçalves relatam que o antigo trabalhador rural, ao ser trocado pelas
máquinas, engrossou as reservas de trabalho urbano e, de forma gradual,
começou a colocar em risco o planejamento elaborado para a cidade.
A migração campo-cidade e a suposta desqualificação dos egressos do campo
para o trabalho urbano favoreceram o aparecimento de favelas. Nesse período
formaram-se algumas favelas na cidade, começaram a ocorrer também
contravenções de pequeno porte, o aumento do suicídio e do número de casos de
alcoolismo, entre outras práticas63 que somente anos mais tarde, a administração
pública conseguiu erradicar.
A partir de 1980, contando com a ajuda da tecnologia que avançava a passos
largos, a indústria ganhou força em Maringá, destacando-se a indústria de
confecções. Posteriormente, Maringá também se destacou, na produção, comer-
cialização e exportação de equipamentos odontológicos, carretas, caçambas,
62 Ibid., p.310. 63 GONÇALVES, J.H.R. op. cit., p.325.
39
tanques para caminhões, cadeiras de fibra de vidro para estádios e ginásios
desportivos, tecidos e fibras têxteis, barcos de pesca, couro, equipamentos de
segurança, calçados, carnes, laticínios e frutas entre tantas outras.
Conforme informações do IBGE64, no ano 2000, havia: 47 agências bancárias na
cidade; população estimada para o ano de 2009 de 335.511 pessoas; salário médio
mensal de 2,6 salários mínimos; onze partidos políticos; PIB per capita de R$
18.914,00, a taxa de crescimento geométrico de 2,08 %; a taxa de analfabetismo
de 15 anos ou mais de 5,4 %, e taxa de pobreza (2) IBGE/IPARDES de 8,74 %.65
ÁREA SOCIAL
INFORMAÇÃO FONTE DATA ESTATÍSTICA População Censitária – Total IBGE 2000 288.653 habitantes População - Contagem (1) IBGE 2007 325.968 habitantes População – Estimada IBGE 2009 335.511 habitantes Pessoas em Situação de Pobreza (2) IBGE/IPARDES 2000 26.453 Famílias em Situação de Pobreza (2) IBGE/IPARDES 2000 7.775 Número de Domicílios - Total IBGE 2000 96.645 Matrículas na Creche SEED 2008 5.390 alunos Matrículas na Pré-escola SEED 2008 6.033 alunos Matrículas no Ensino Fundamental SEED 2008 45.676 alunos Matrículas no Ensino Médio SEED 2008 15.198 alunos Matrículas no Ensino Superior MEC/INEP 2008 28.173 alunos Fonte: IBGE/IPARDES
O número de pessoas apuradas em situação de pobreza 66 pelo IBGE/IPARDES do
ano 2000 foi 26.453, e famílias em situação de pobreza, segundo o IBGE/IPARDES
do ano 2000, foram 7.775 . 64 Site acessado em 04.05.2010 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 65 Fonte:IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, acessado em
04.05.2010, tp://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87000&btOk=ok 66 Pessoas em situação de pobreza é a população calculada em função da renda familiar per
capita de até 1/2 salário mínimo. Os dados referentes à situação de pobreza são provenientes
40
ECONOMIA
INFORMAÇÃO FONTE DATA ESTATÍSTICA População Economicamente Ativa IBGE 2000 151.652 Pessoas População Ocupada IBGE 2000 133.566 Pessoas Número de Estabelecimentos – RAIS MTE 2008 13.709 Número de Empregos – RAIS MTE 2008 120.415 Produção de Soja IBGE 2008 64.625 Toneladas Produção de Milho IBGE 2008 75.534 Toneladas Produção de Trigo IBGE 2008 7.250 Toneladas Bovinos IBGE 2008 6.403 Cabeças Eqüinos IBGE 2008 768 Cabeças Galináceos IBGE 2008 273.836 Cabeças Ovinos IBGE 2008 2.196 Cabeças Suínos IBGE 2008 20.590 Cabeças Receitas Municipais Prefeitura 2008 507.245.236,96 R$ 1,00
Despesas Municipais Prefeitura 2008 487.179.045,31 R$ 1,00
ICMS por Município de Origem do Contribuinte SEFA 2009 285.250.402,87 R$ 1,00
Fonte: IBGE/IPARDES
Planejada para alcançar 200.000 habitantes em 50 anos, Maringá foi implantada
como um grande empreendimento econômico e, atualmente, é a terceira cidade
mais populosa do Estado do Paraná, com 335.511 habitantes. Londrina ocupa a
segunda posição, com 510.707 habitantes.
A cidade de Londrina, como o próprio nome sugere, também foi criada pelos
ingleses em 1932. Curitiba é a Capital do Estado do Paraná e a cidade mais
populosa do Estado, com 1.851.215 habitantes. Entre as cidades mais prósperas
dos micro dados do Censo Demográfico (IBGE) e das Tabulações especiais feitas pelo
IPARDES.
41
do Paraná, Maringá é sexta mais rica e a 65ª cidade mais rica do país, segundo
informação veiculada pelo jornal paranaense Gazeta do Povo, no dia 3/5/2010.67
Em Maringá há um aeroporto, onde operam cinco companhias aéreas: Azul Linhas
Aéreas, Gol Linhas Aéreas, Pantanal Linhas Aéreas, Trip Linhas Aéreas e Sol
Linhas Aéreas. Conta também com rodoviária e transporte ferroviário, além do
porto seco, pois Maringá está na rota do Mercosul.
1.7 A IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ A sede da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá está estabelecida no bairro
denominado como Zona 02, na Avenida Itororó, 449. Em Maringá, há outras cinco
Igrejas desta denominação. Em sua sede, a maioria de seus integrantes pertencem
à classe média.
Com exceção da sede, as outras cinco Igrejas, são denominadas pela Comunidade
Evangélica de Maringá como Congregações e estão situadas nos bairros Alvorada,
João de Barro/Santa Felicidade, Los Angeles, Oásis e Zona 05. Há também uma
sexta Igreja, estabelecida na cidade de Paiçandu, localizada aproximadamente a
dezessete quilômetros de Maringá. Ao todo, somam-se sete Igrejas.
Em Maringá, o trabalho social desenvolvido por meio da Organização Reviver foi
reconhecido e declarado como de Utilidade Pública. No país, a Igreja começa a ser
conhecida pelo sucesso e alcance de suas músicas. Essa Igreja já lançou quatro
CDs e dois DVDs.
A empresa Som livre lançou um CD com uma coletânea de músicas evangélicas
interpretadas por cantores como, Aline Barros, André Valadão, Irmão Lázaro, Régis
67 Consulta realizada no dia 4.5.2010, pelo endereço eletrônico:
http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?tl=1&id=955548&tit=Nove-cidades-
paranaenses-estao-entre-as-100-mais-ricas-do-Brasil.
42
Danese, Robson Monteiro. A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá participa
desse CD com a música “Descansarei”.
Uma particularidade da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá é a sua
fundação por uma mulher, a pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva – Presidente da
Comunidade Evangélica de Maringá e da Organização Reviver, que continua a
presidir a denominação.
1.8 A FUNDADORA, SUA HISTÓRIA, CONVERSÃO E FORMAÇÃO
A conversão da fundadora da Comunidade Evangélica de Maringá, Irene Ribarolli
Pereira da Silva, ao evangelho ocorreu pela dor emocional provocada pelo
falecimento de pessoas de sua família.
Casada com Waltermino Pereira da Silva, falecido em 2007, é mãe de Waltermino
Pereira da Silva Júnior, Cibele Ribarolli Pereira Montosa, Juliana Ribarolli Pereira
da Silva Zanoni e Carolina Ribarolli Pereira da Silva Casado.
A fundadora é Mestre em Letras e Professora aposentada da Universidade
Estadual de Maringá. Pastora desde novembro de 1989, é a líder da Igreja
Comunidade Evangélica, da Organização Reviver e líder do Ministério de Batalha
Espiritual.
A fundadora, anteriormente a sua conversão, não convivia com problemas
conjugais ou familiares, desfrutava de boa saúde e sempre teve uma situação
financeira privilegiada; entretanto, sua vida desmoronou de forma repentina, após
uma tragédia familiar.68
68 Conforme Documento da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, intitulado: Depoimento
Pessoal, sobre os principais fatos da minha conversão e fundação da Comunidade Evangélica
de Maringá. O Depoimento é da fundadora, Pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva. Esse
documento não está datado, há uma cópia em anexo a essa pesquisa .
43
Vítimas de um acidente de trânsito, seis pessoas de sua família morreram. Sua
irmã, o marido da irmã e os seus quatro sobrinhos, filhos do casal. Com o
falecimento dos seus familiares, com quem tinha profundos laços de amor e
convivência diária, sua vida perdeu as referências e o sentido.
O sentimento de perda dos seus familiares e as dificuldades emocionais para
aceitar a tragédia provocaram uma dor emocional maior do que poderia suportar.
Naquela ocasião, muitas pessoas se esforçaram para lhe dar amparo e consolo,
mas foram as evangélicas, segundo relata, que continuaram a lhe edificar.
Entre tais pessoas esavam sua sogra Cenita, conhecida na época como Irmã
Cenita, e o pastor Messias da Igreja Presbiteriana Independente da cidade de
Londrina-Paraná, que também é seu cunhado.Segundo relata, o convívo amoroso
e a oração constante a levaram à conversão.
Naquela época, foram realizadas muitas orações na sua casa. Em uma dessas
orações, com a presença de uma amiga evangélica, ela teve sua primeira
experiência sobrenatural, com visões espirituais, proporcionada por Deus. Em
menos de três meses, ela afirma ter recebido o novo nascimento, convertendo-se
assim, ao evangelho de Jesus, recebendo também a vontade de viver, a
esperança, o consolo e o batismo no Espírito Santo.
O Batismo no Espírito Santo ocorreu antes de ela receber o batismo pelas águas.
Foi novamente em sua casa que ela teve uma segunda experiência sobrenatural
com Deus e, dessa vez, recebeu também o dom de falar em outras línguas,
fenômeno religioso conhecido como glossolalia.
A partir de então, ela deixa suas funções de professora universitária para se
dedicar à família e a Deus. Nesse mesmo período, seu marido também se
converteu e se batizou na Igreja Presbiteriana Independente de Maringá, mas ela
não.
44
Ela percebeu que a liberdade no fluir dos dons do Espírito Santo não se adequava
ao estilo de culto da Igreja Presbiteriana Independente da época. Após
conhecerem o pastor Wanderley Nunes da Costa, da Igreja Metodista de Maringá,
ela e o marido decidiram ser membros dessa Igreja, onde permaneceram por
aproximadamente dez anos.
Segundo informa, a influência do ministério plural, aberto ao mover do Espírito
Santo, foi muito boa e agregou valores a sua formação espiritual, que retribuiu com
alguns trabalhos na Igreja, principalmente ajudando no evangelismo de casa em
casa e no atendimento telefônico, para oração e aconselhamento. Conforme relata,
naquela época, houve um grande avivamento na Igreja Metodista.
Após aquele período aproximado de dez anos, ocorreu a transferência do pastor
local da Metodista. O novo pastor não concordou com as manifestações dos dons
espirituais, mas ela e seu marido tinham convicção do legítimo agir do Espírito
Santo sobre suas vidas. Como o passar do tempo, ela e seu esposo começaram a
se sentir deslocados dentro da Igreja, porque criou-se uma tensão, gerada pela
posição do novo pastor. Sem solução para o impasse, isso lamentavelmente
terminou com a sua saída da Igreja Metodista, o que não era o que desejavam,
conforme afirma.
Decorridos dois meses, mudaram para a cidade de Londrina, onde congregaram na
Igreja Metodista Central, com o pastor Luiz Wesley de Souza, e trabalharam com
os casais dessa Igreja. Após permanecerem por três anos em Londrina, retornam a
Maringá, após o convite de uma senhora pentecostal, para fundar uma Igreja para
ser uma alternativa de Igreja Evangélica, no bairro da Zona 05, em Maringá.
Começaram a se reunir para orar e louvar a Deus. Toda semana, conforme
afirmam, aumentava o número de pessoas nessas reuniões, o que os levou a
procurar um pastor para conduzir o grupo. Porém, a vinda desse pastor trouxe
nova decepção e precisaram se retirar do grupo.
45
Contudo, conforme afirma, com o desejo de cumprir o propósito de Deus, e do que
acreditavam ser o ideal como Igreja Evangélica, buscaram informações sobre o
trabalho de outras Comunidades Evangélicas. Visitaram até a Argentina, onde, na
época, havia um grande avivamento espiritual.
Nesse novo início, foram influenciados pelo Bispo Robson Rodovalho, na época
presidente da Comunidade Evangélica de Goiânia, atualmente Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra. Do contato com o Bispo Rodovalho, ocorreram
influências importantes. Houve a consagração, pelo mesmo pastor, da pastora, do
casal Irene e Waltermino, do filho do casal, da nora e da sogra Cenita.
Também ocorreram, além do nome da nova denominação, Comunidade Evangélica
de Maringá, a introdução do discipulado, de ministérios de cura da alma e batalha
espiritual, entre outras.
Durante mais de dez anos, ocorreram influências também dos pastores Miguel
Piper e Thomas Wikings, da Comunidade Cristã de Curitiba, por meio da escola de
líderes, chamada Siloé.
1.9 A ORIGEM DO TERMO COMUNIDADE NAS IGREJAS EVANGÉLICAS O número de Igrejas Evangélicas que se utilizam do termo Comunidade é
significativo. Segundo informação de um dos pastores da Comunidade Evangélica
Sara Nossa Terra, o início da utilização do termo ocorreu com o Bispo Rodovalho.69
E, segundo apurado na Comunidade Evangélica de Maringá, o nome dessa Igreja
foi, de fato, influência desse.
O termo Comunidade buscava reformular o pensamento evangélico do final da
década de 1980 e início da década de 1990. A Comunidade Evangélica Sara a
Nossa Terra afirmava, naquela época, que a Igreja Evangélica no Brasil estava
69 O Bispo Rodovalho é o líder e fundador da Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra.
46
pregando apenas a volta de Cristo. Concluíram que a volta de Cristo só aconteceria
após o evangelho ser pregado a toda criatura. Dessa forma, o raciocínio foi que,
sendo assim, Cristo não iria voltar tão rápido como se pensava e pregava até então
e, neste sentido, era preciso viver o que definiram como o evangelho do reino.
Essa reformulação coincide com a terceira onda, ou neopentecostalismo, como
prefere Mariano, que começa na segunda metade dos anos 1970, cresce e se
fortalece no decorrer das décadas de 1980 e 1990.
Então, começaram a pregar o evangelho do reino, cujo enfoque passava pelos
cinco ministérios que a Igreja Evangélica havia deixado de pregar, em função da
iminente volta de Cristo. Reformularam também a forma de louvar, introduzindo
instrumentos e ritmos diversos, novas estratégias na evangelização, na forma de
adorar e na realização dos cultos, que se tornaram menos formais e passaram a
contar com a participação do que, na época, denominou-se sacerdócio leigo. Esse
sacerdócio afirmava que cada cristão é um sacerdote, e a Igreja, nas casas,
propiciava o exercício dos dons de seus integrantes.
Os cinco ministérios estavam fundamentados no livro de Efésios 4:11:
E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres.
E uma outra frente apontava para as mudanças em relação ao nome das
denominações. Para isso, fundamentaram-se em Atos dos Apóstolos 2:44:
Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
Desse versículo bíblico, buscaram realçar a força da Igreja primitiva, em que as
pessoas viviam em comunhão e unidade de propósitos. O termo agradou e
diversas Igrejas Evangélicas adotaram o termo Comunidade como parte do nome
da denominação.
47
Foi o que aconteceu também com a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. O
mesmo aconteceu em várias Igrejas em diversas cidades do país70·. Entretanto,
nem todas adotaram a palavra Evangélica após o termo Comunidade.
1.10 A FUNDAÇÃO E A EXPANSÃO DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ
Após a conversão de Irene Ribarolli Pereira da Silva e do marido dela, eles
frequentaram a Igreja Metodista de Maringá, onde atuaram ativamente em alguns
ministérios da Igreja. Porém, o novo pastor da Igreja Metodista de Maringá não
concordou com o pentecostalismo que lhe foi apresentado, e as divergências foram
inevitáveis. Irene e seu marido tinham convicção sobre o legítimo agir do Espírito
Santo sobre eles e, após ficarem deslocados, dentro da Igreja Metodista, devido à
tensão gerada e, sem nenhuma solução para o impasse, culminou na cisão não
desejada pelo casal Irene e Waltermino.
Após o desligamento da Igreja Metodista em Maringá, mudaram-se para a cidade
de Londrina e, durante três anos, permaneceram na Igreja Metodista Central
daquela cidade.
Após esses três anos em Londrina, o casal o aceitou o convite de uma irmã
pentecostal para fundar uma Igreja Evangélica no bairro da zona 5, em Maringá
70 Comunidade Evangélica Internacional Zona Sul, Comunidade Evangélica Luterana Bom Pas-
tor,Comunidade Evangélica Fé e Esperança,Comunidade Evangélica Luterana Concordia,
Comunidade Evangélica Cristo Vive, Comunidade Evangélica Araçatuba, Comunidade Evangé-
lica de Porto Alegre, Comunidade Evangélica de Cascavel, Comunidade Evangélica Leão de Ju-
dá, Comunidade Evangélica de Campinas, Comunidade Evangélica Vida Eterna, Comunidade
Evangélica Atos, Comunidade Evangélica Luterana Santíssima Trindade, Comunidade
Evangélica Entre as nações, Comunidade Evangélica Gênesis, Comunidade Evangélica Igreja
da Família, Comunidade Evangélica Kairós, Comunidade Evangélica de Maceió, Comunidade
Evangélica Restauração em Cristo, Comunidade Paz e Vida entre outras.
48
onde não havia templo Evangélico. Declaram que escolheram um local para orar,
louvar ao Senhor, e algumas pessoas começaram a se reunir com eles.
Tratava-se de um local provisório, era um barracão de alvenaria, nos fundos de
uma residência, anteriormente usado pela irmã Cenita, no bairro da zona 2, até que
a irmã Sebastiana Bento dos Santos terminasse a construção do templo na zona 5.
Toda semana, aumentava o número de pessoas participantes nas reuniões. Como
nem a Irene, nem seu marido eram pastores, acharam melhor procurar um pastor
para conduzir esse grupo e iniciar uma vida cristã, com amor, com comunhão,
transparência e próximo do modelo da Igreja primitiva, segundo informam. O
salário desse pastor era pago pelo marido da irmã Irene, pois era impossível para
as pessoas que ali se reuniam arcar todo mês com o salário dele.
Mas, novamente, sofreram outra decepção com um pastor. Já eram aproximada-
mente umas 250 pessoas que se reuniam toda semana quando, finalmente, o
templo na zona 5 ficou pronto. Contudo, o pastor recusou, de forma arbitrária, a se
mudar para o novo local e decidiu que, tanto as pessoas que estava pastoreando,
como as decisões seriam de acordo apenas com sua exclusiva vontade.
O pastor voltara atrás com o que havia sido o objetivo, de se viver em uma Igreja
próxima aos padrões da Igreja primitiva, uma comunidade, ou seja, tudo em
comum.
Surpresos e decepcionados com a atitude desse pastor, concluíram que expor as
atitudes do pastor, ou criar uma disputa pelas pessoas não era saudável,
principalmente aos novos convertidos. A Irmã Cenita já havia saído da II Igreja
Presbiteriana Independente de Maringá, onde, por anos congregara como
evangelista e fazia parte, agora, desse novo grupo.
O referido pastor os liberou para irem embora do grupo. Refletiram e decidiram por
não expor os novos convertidos que se reuniam ali aos acontecimentos e,
49
novamente partiram, o pastor ficou com as pessoas que lá se reuniam. Foram onze
as pessoas, incluindo a Irmã Cenita, que partiram desse grupo.
Assim, após mais um período de tempo, e já consagrada como pastora pelo Bispo
Robson Rodovalho, já tendo conhecido outras denominações e Comunidades
Evangélicas e considerando ter recebido orientação divina para fundar uma nova
Igreja, nos últimos dias de novembro de 198971, com apenas onze pessoas, a
fundadora Irene inicia oficialmente a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá.
Naquela época, foi o primeiro templo Evangélico entre os bairros denominados
como bairros das zonas 05 e 06, da cidade de Maringá.
O imóvel onde a Igreja foi estabelecida não era próprio. Foi concedido em
comodato vitalício por uma pessoa conhecida como Irmã Sebastiana, que era
integrante da Igreja Cristo Jesus Independente, nos seus oito primeiros anos de
existência.
O senhor Alcides Parizotto, cunhado da Pastora Irene e de outras pessoas de sua
família, juntamente com seu marido, já consagrado Pastor, Waltermino Pereira da
Silva, e a Irmã Sebastiana, doaram o valor para a compra do terreno no bairro da
zona 05, as mesmas pessoas doaram também o som e as cadeiras.
Naquela época, o local em que a Igreja estava estabelecida era considerado aos
maringaenses como um bairro distante. Entretanto as pessoas saiam dos mais
diferentes bairros de Maringá e se deslocavam para a Igreja, mesmo sendo
considerado um local muito longe.
O louvor da nova Igreja agradou e passou, desde então, a exercer uma forte
influência nas pessoas evangélicas da cidade, principalmente entre os jovens.
Utilizando ritmos e instrumentos variados, e com o cuidado na escolha das letras
71 Conforme informação do site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em
07.05.2010, http://www.comunidade.org.br/index.php.
50
das músicas, por acreditar que, além de conduzir o ouvinte à adoração, deveriam
também abordar o sofrimento e as dificuldades do dia-a-dia e, ao final trazer
consolo, esperança e sentido, diante da comunhão do membro com a Igreja e com
Deus.
Segundo essa Igreja, até o presente momento, a música executada na Igreja
continua a exercer grande influência dentro e fora da Igreja Comunidade
Evangélica de Maringá. A pretensão da Igreja é divulgar, por meio da música, os
ensinamentos de Deus.
Atualmente, o louvor é uma das mais conhecidas facetas da Comunidade, na
cidade e fora da cidade. Segundo suas declarações, a equipe pastoral e seus
lideres por meio do louvor, da oração, da Palavra, comunhão e do labor, acreditam
que trabalham para o reino de Deus.
Atestam que os Ministérios de Grupos Familiares (Células), de Crianças e de
Intercessão fizeram parte do começo da história dessa Igreja e sustentaram,
juntamente com o Ministério de Evangelismo e de Misericórdia, o futuro
crescimento da Comunidade.72
Com o crescimento de seus membros, o local que a Igreja ocupava se tornou
pequeno e, novamente por meio da família Parizotto, a Igreja recebeu a doação de
um novo templo maior e em lugar bem mais confortável.
Inauguraram o templo sede, localizado na Avenida Itororó, 449, em um dos bairros
mais valorizados da cidade. Posteriormente, inauguraram-se outras cinco
congregações, nos diferentes bairros da cidade de Maringá e ainda outra
congregação, na cidade de Paiçandu.
72 Conforme informação do site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em
07.05.2010, http://www.comunidade.org.br/index.php.
51
A Igreja passou, então, a contar, a partir dessa nova etapa da inauguração da
sede, com novos ministérios, como o de Batalha Espiritual e os Ministérios de
Casais e Discipulado. Acredita que estes novos ministérios proporcionaram à Igreja
um crescimento mais saudável e um pastoreamento mais eficaz.
Segundo informações obtidas por meio do site da Igreja Comunidade Evangélica
de Maringá, desde o início de sua fundação, a Igreja manteve um compromisso
com o próximo, mais especificamente com aqueles que se encontram vulneráveis
socialmente e sem condições de viver com dignidade.
Com ações assistenciais voltadas à caridade, a Comunidade Evangélica de
Maringá se empenhou em promover doações de alimentos, roupas, calçados e
brinquedos. Afirma que, paralelamente, ministravam palestras sobre família, vida
espiritual, educação, saúde e higiene.
Sentindo necessidade de separar as ações de caridade, das demais ações sociais
voltadas à promoção, à inclusão social e à capacitação para geração de renda, em
2003, a Pastora Irene fundou a Organização Reviver, braço social da Comunidade
Evangélica de Maringá.
Todas essas ações passaram a ser direcionadas às crianças, aos adolescentes e
às famílias em situação de vulnerabilidade e risco social.
Atualmente a Igreja Comunidade Evangélica de Maringá conta aproximadamente
com 2.500 membros. Por ser uma Igreja neopentecostal, faz-se necessário um
breve relato do que é e como surgiu esse fenômeno.
52
1.11 DO PENTECOSTALISMO AO NEOPENTECOSTALISMO
Segundo Mariano,73 a expansão do pentecostalismo é um fenômeno de amplitude
mundial e vêm crescendo de forma considerável em várias sociedades em
desenvolvimento, como o sul do Pacífico, da África e do leste e sudeste da Ásia.
Entretanto, no Brasil, o crescimento do pentecostalismo foi muito mais além do que
o verificado nessas outras regiões. O Brasil se destaca como o maior país
protestante da América Latina,com aproximadamente 50 milhões de evangélicos. 74
Mariano esclarece que a palavra evangélica, na América Latina, é utilizada para as
denominações cristãs nascidas ou descendentes da Reforma Protestante europeia
do século XVI. Portanto, a palavra evangélica é empregada tanto para as Igrejas
Protestantes históricas, as quais cabem mencionar as Igrejas Luterana,
Presbiteriana, Congregacional, Anglicana, Metodista e Batista, como as Igrejas
Pentecostais, entre as quais a Assembleia de Deus, a Congregação Cristã no
Brasil, A Igreja do Evangelho Quadrangular, O Brasil para Cristo, Deus é Amor e
Casa da Benção, entre outras.
Passos75 define o pentecostalismo como um segmento do cristianismo que adota
uma interpretação e uma prática marcadas pelo que consideram ser uma
experiência do Espírito Santo, iniciada pelo batismo no Espírito Santo e confirmada
pelos dons das línguas, a glossolalia, e das curas divinas. A sua característica
principal é a centralidade na experiência emocional, com culto de louvor
efervescente, a tendência à leitura literal dos textos bíblicos e a prática do
exorcismo.
73 MARIANO, R. Neopentecostais, Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:
Edições Loyola, 2005, 2ª Edição. p. 9. 74 Mariano utiliza esses números em sua Obra de 2005, cujos dados foram obtidos de Martin
(1990:60). 75 PASSOS, J.D. Pentecostais, Origens e Começo. São Paulo: Editora Paulinas, 2005, p.14.
53
Ricardo Mariano, por sua vez, descreve o pentecostalismo como surgido nos
Estados Unidos, no começo do século vinte, sendo herdeiro e descendente do
metodismo wesleyano e do movimento holiness.76
Para Mendonça77, do ponto de vista teológico, o pentecostalismo moderno tem sua
origem nesse movimento de santidade, sendo que este, por sua vez, deve muito ao
conceito wesleyano de perfeição cristã como segunda obra da graça, distinta da
justificação.
O foco mais preciso do movimento pentecostal foi a escola Bíblica de Topeka, nos
EUA, onde Charles Fox Pahram defendia a ideia de que o falar em línguas,
conforme dado pelo dom do Espírito Santo, era um dos sinais que acompanhavam
o batismo no Espírito Santo.
Romeiro78 informa que William Joseph Seymour, filho de ex-escravos, aprendeu
por si mesmo a ler e a escrever, tornou-se pregador e foi aluno de Pahram.
Pela simpatia que nutria pela Ku Klux Klan79, Pahram proibiu William Joseph
Seymour de frequentar a mesma sala de aula sobre seus ensinamentos a respeito
do batismo do Espírito Santo, com pessoas cuja cor de pele eram brancas, mas
permitiu que Seymour ouvisse do lado de fora da sala.
76 Segundo Passos, trata-se de um grupo norte-americano denominado santidade, do início do
século XX, p.18. 77 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P.V. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições
Loyola, 1990.p. 47. 78 ROMEIRO, P. R. Esperanças e Decepções: Uma análise da Prática Pastoral do
Neopentecostalismo na Igreja Internacional da Graça de Deus, sob a Perspectiva da Práxis
Religiosa, Tese, 2004, p.45. 79 Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) era o nome de várias organizações racistas dos
Estados Unidos que apoiavam a supremacia branca e o protestantismo, em detrimento das
demais religiões.
54
O pregador Willian J. Seymour, discípulo de Pahram, após ser expulso da Igreja da
evangelista Nelly Terry, em Los Angeles, por pregar a mesma ideia de Pahram,
começou a promover reuniões de casa em casa e, no dia 6 de Abril de 1906, um
menino de oito anos falou em línguas, seguido de outras pessoas. Iniciava-se pelo
menos formalmente, o movimento pentecostal.
Após assistir aos ensinamentos de Pahram e entendê-los, Seymour alugou em Los
Angeles um antigo templo metodista na Rua Azuza – 312. Nesse local, começaram
os fenômenos que atraíram muitas pessoas. As experiências eram sempre
acompa- nhadas de manifestações de línguas, profecias, orações em voz alta e ao
mesmo tempo cânticos espirituais.
Apesar do contexto social extremamente hostil à raça negra, William Joseph
Seymour viveu o que compreendia ser pentecoste, que era mais do que falar em
línguas, significava amar, a despeito do ódio. Enfrentou o racismo e o ódio de uma
nação, mas demonstrou que o Pentecoste era algo muito maior e diferente do es-
tilo de vida americano de sucesso.
Esse pastor batista80 acreditava que um novo pentecostes iria unir negros e
brancos, em uma época em que, nos EUA, havia forte preconceito e discriminação
racial. Os negros deviam ceder seus lugares nos ônibus aos brancos e havia até
bebedouros de água diferenciados para os negros não usarem o mesmo dos
brancos.
Entretanto, as pressões foram tantas que, nos EUA, surgiram Igrejas pentecostais
negras e brancas. Mas, ainda assim, isso não impediu o movimento de se espalhar
de Los Angeles, chegando a Chicago e de lá para diversas partes do mundo.
Também no Brasil, Chicago exerceu grande importância na exportação do
fenômeno. De lá, três pregadores vieram para o nosso país: Louis Francescon,
80 SELIVON, M. O Discurso da Igreja Renascer em Cristo. Dissertação, 2004. p.45.
55
fundador da Congregação Cristã, Daniel Berg e Gunnar Vingren, fundadores da
Assembléia de Deus.
Mendonça considera como sendo três as vertentes do pentecostalismo brasileiro,
partindo do núcleo comum de Chicago: a Batista, a Presbiteriana e a Metodista.81
O pentecostalismo desconstrói as devoções santorais tradicionais. Passos declara
que, na base do discurso inoclasta pentecostal, que renega o poder da imagem do
santo, estão uma iconoclastia histórica, a perda da função social do santo e a
busca de um novo sagrado, vivo e eficaz. Por esse motivo, os pentecostais
afirmam a exclusividade de Jesus e de seu poder que, segundo Passos, cumpre a
mesma função dos santos católicos, pois ele é o mediador entre Deus e os
homens, capaz de resolver todos os problemas da metrópole, assim como
interpretá-los.82
João Décio Passos também adota a expressão pentecostalismo, para designar
todo segmento cristão, originado do ocorrido em Azuza Street e que se desdobrou
em inúmeras denominações no Brasil.
Segundo o entendimento desse autor, para os adeptos do pentecostalismo, Deus
todo-poderoso faz-se presente e atuante por meio de algumas mediações que
possibilita aos fiéis uma relação de contrato e aliança, de forma a operar
interferências no curso da natureza humana e da história, realizando milagres na
vida dos fiéis.
No pentecostalismo, a Bíblia é a palavra de Deus e presentifica sua força. A Bíblia
é usada como objeto hierofânico, que manifesta o sagrado. Da mesma forma como
não há catolicismo popular sem a imagem do santo, não há pentecostalismo sem
Bíblia. Contudo, a Bíblia sofre, no pentecostalismo, a mesma manipulação do santo
pelo fiel. Seja abrindo uma pagina da Bíblia ao acaso para que Deus fale, seja
81 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P. V. op.cit., p. 48. 82 PASSOS, J.D. op.cit., p. 104.
56
usando gestos de colocar a mão sobre a Bíblia, ou colocar contribuições entre suas
paginas.83
Passos, ressalva que o pentecostalismo brasileiro tem vários começos no Brasil, a
partir de sua chegada no início do século XX, construindo fases, linhagens e
denominações, além da implantação de novas práticas.
Segundo Mariano, a principal diferença do pentecostalismo para o protestantismo
estão expostas nas definições do pentecostalismo já descritas por Passos, à qual
apenas acrescenta o discernimento de espíritos. As diferenças são baseadas na
Bíblia, no seu livro de Atos, no capítulo dois.
Os pentecostais, ao contrário dos protestantes, acreditam que Deus, através do
Espírito Santo, por meio de Cristo, continua agir hoje da mesma forma que no
cristianismo primitivo, curando enfermos, expulsando demônios, distribuindo
bênçãos e dons espirituais, realizando milagres, dialogando com seus servos,
concedendo infinitas amostras concretas de seu supremo poder e inigualável
bondade.84
As Igrejas pentecostais estão mais concentradas nas capitais e regiões me-
tropolitanas, arrebanham as camadas mais pobres e menos escolarizadas da
sociedade, as quais buscam superar as precárias condições de existência,
organizar a vida, encontrar sentido, alento e esperança diante da ineficiência do
Poder Público.85 Entretanto há Igrejas que direcionam com relativo sucesso seu
evangelismo às classes médias.86
83 Ibid., p.107. 84 MARIANO, R. op. cit., p.10. 85 Ibid., p.12. 86 Ibid., p.16.
57
Ricardo Mariano cita uma pesquisa feita pelo Diário Oficial do Estado do Rio de
Janeiro, que indica que de cada dez templos evangélicos criados no período, nove
eram pentecostais.87
Esse crescimento foi tão notório que obrigou a Igreja Católica, acomodada pelos
séculos de dominação religiosa no Brasil, a reagir ocupando mais espaços na TV
com a Rede Vida, a maximizar o uso das suas quase 200 emissoras de rádio,
incrementar a participação dos leigos nas celebrações, revalorizar tradições
populares e as pastorais sociais e de saúde. Além de renovar ainda mais sua
liturgia, para além das inovações concebidas pelo Concilio Ecumênico Vaticano II,
abrir novas pastorais, tornar sacerdotes mais disponíveis, acolhedores e atentos as
necessidades dos fiéis e conceder espaços a expressividade emocional nas
missas.88
Mariano menciona que, nos EUA, é comum utilizar a metáfora marinha de ondas
para classificar distintos movimentos de renovação da linha pentecostal. Cita ainda
que David Martin (1990) distingue três grandes Ondas: a Puritana, a Metodista e a
Pentecostal, e que a maior façanha desta última foi espalhar-se pelos mundos
anglo e hispânico em larga escala.
O pentecostalismo no Brasil foi dividido por Mendonça em duas fases89. Conside
rou como sendo os primeiros anos do século XX o surgimento do pente- costalismo
clássico, e a década de 1960 como o surgimento do neopentecostalismo, da
renovação carismática católica e das agências de curas divinas.
Paul Freston dividiu o movimento pentecostal em três Ondas, a partir de um corte
histórico institucional e da análise dinâmica interna do pentecostalismo brasileiro, a
qual, acrescentada pelas recentes pesquisas de Mariano e Passos, entre outros,
87 Ibid., p.11. 88 Ibid., p.14. 89 MENDONÇA, A.G.; FILHO, P. V. op. cit., pg. 256.
58
retrata melhor o fenômeno, ao contrário de outros autores que dividiram o
movimento do pentecostalismo em apenas duas fases distintas.
1.11.1 A PRIMEIRA ONDA OU PENTECOSTALISMO CLÁSSICO Para Paul Freston, a primeira Onda do pentecostalismo brasileiro inicia-se no
período de 1910, com a chegada da Congregação Cristã, seguida pela Assembleia
de Deus em 1911. Mariano classifica esse período como Pentecostalismo
Clássico.90
Essa primeira Onda pentecostal é marcada por certa linearidade e regularidade,
constituindo um período longo e com um crescimento lento. A Congregação Cristã
é marcada pela imigração italiana, sendo seu fundador um italiano, Luigi
Francescon, no bairro do Brás em São Paulo.
Francescon passou pelo presbiterianismo avivalista norte-americano, integrou o
movimento holiness em Chicago, em um grupo coordenado por um pastor que
presenciou os fenômenos de glossolalia de Los Angeles, juntamente com
Seymour.91
A Assembleia de Deus vem da mesma raiz pentecostal norte-americana, mas
constitui bases teológicas muito diferentes da Congregação Cristã. Também
nasceu do querigma missionário dos holiness. Essa Igreja foi fundada por dois
imigrantes suecos vindos de Chicago, que afirmavam ter recebido orientação divina
para fundar a Igreja em Belém do Pará.
Passos informa que foi em 191092 que ocorreu a vinda dos suecos Gunnar Vingren
e Daniel Berg para o Brasil. Congregaram inicialmente em uma Igreja Batista de
90 MARIANO, R. op. cit., p. 29. 91 PASSOS, J.D. op. cit., p.88. 92 Ibid., p.90.
59
Belém. Porém suas pregações pentecostais provocaram um cisma após sete
meses e desencadeou na fundação da Assembleia de Deus.
Contudo, esse pentecostalismo das duas Igrejas, Congregação Cristã e
Assembleia de Deus, reinou de forma absoluta até 1950, desde a fundação das
Igrejas até sua difusão para todo o país. Inicialmente, seus integrantes eram
pessoas simples, de baixa escolaridade.
Essas pessoas eram discriminadas pelos protestantes históricos e perseguidas
pela Igreja Católica. Tinham a crença na volta iminente de Cristo, na salvação
paradisíaca e um comportamento de radical sectarismo e ascetismo, de rejeição do
mundo exterior.
Essa primeira Onda abrange o período de 1910 até 1950.
1.11.2 A SEGUNDA ONDA OU DEUTEROPENTECOSTALISMO Conforme Freston, a segunda Onda ocorre no início dos anos 1950, na capital de
São Paulo. Mariano classifica esse período como Deuteropentecostalismo,
ressaltando que o radical deutero significa segundo, ou segunda vez, sentido que,
para ele, torna-se mais apropriado para nomear a segunda vertente pentecostal.93
Passos descreve que o contexto dessa segunda Onda do pentecostalismo é o
crescimento industrial e a consequente concentração urbana, proveniente do êxodo
rural e seus cinturões de pobreza. Nasce de uma idiossincrasia metropolitana.94
A chegada em São Paulo de dois americanos, ex-atores de filmes de faroeste,
vinculados à International Church of the Foursquare Gospel, à frente da Cruzada
93 MARIANO, R. op. cit., p.32. 94 PASSOS, J. D. op. cit., p.92.
60
Nacional de Evangelização, braço evangelístico da Igreja do Evangelho Quadran-
gular, provocaram mudanças.
Eles trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa, centrado na mensagem da
cura divina, difundindo-a por meio do rádio que, até então, era considerado
mundano e diabólico até a década de 1950, por esse motivo não era utilizado pela
Assembleia de Deus e pela Congregação Cristã.95
Com mensagens sedutoras e métodos inovadores e eficientes, atraíram, além de
fiéis, pastores de outras confissões evangélicas e milhares de indivíduos dos
estratos mais pobres da população.
Passos caracteriza esse período como um reavivamento pentecostal à brasileira,
prioritário do carisma da cura, que vem responder, sobretudo, às necessidades das
populações empobrecidas das metrópoles, adotando métodos de pregação mais
adaptados à linguagem moderna, com a oferta dos bens religiosos em pregações
públicas e pelos meios mais modernos de comunicação.96
Com o êxito das pregações, ocorreram fragmentações das denominações que, até
então, contava apenas com a Congregação Cristã e a Assembleia de Deus. Assim,
percorrendo o mesmo caminho de curas divinas, surgiu a Igreja O Brasil para
Cristo, cujo fundador teve passagem pelo catolicismo, assembleísmo e Evangelho
Quadrangular. Também surgiram a Igreja Deus é Amor e a Casa da Benção, entre
outras.97
Conforme menciona Ricardo Mariano, a ênfase na cura divina, a partir dos anos
1950, foi decisiva para a aceleração do crescimento e da diversificação institucional
do pentecostalismo brasileiro, que teve repercussões também em outros
95 Ibid., p.30. 96 Ibid., p.92. 97 Ibid. p.30.
61
continentes. Aliás, a cura divina, segundo os pesquisadores norte-americanos, foi a
responsável pela explosão pentecostal em diversas partes do mundo.
Em relação à teologia, entre a primeira Onda e a segunda, há distinções
significativas apenas nas ênfases que cada qual conferia a um ou outro dom do
Espírito Santo. A primeira Onda enfatiza o dom de línguas, a segunda, o de curas.
Entretanto, existem diferenças entre essas Igrejas, a Congregação Cristã é
predestinacionista, de origem Calvinista, enquanto que as demais adotam a
teologia Arminiana.
Mariano enfatiza que, com a utilização do rádio, tendas, cinemas, teatros e
estádios, além da ênfase na cura divina e em alguns casos exorcismos, justifica-se
a divisão em três ondas pelo critério do corte-histórico-institucional e não pela
existência significativa de diversidades teológicas entre elas.
A segunda Onda ocorreu no período entre 1950 e o início dos anos 1960 e tem
como marca a fragmentação e pluralidade de grupos e denominações.98
1.11.3 A TERCEIRA ONDA OU NEOPENTECOSTALISMO
A terceira onda, ou neopentecostalismo, como prefere Mariano, começa na
segunda metade dos anos 1970, cresce e se fortalece no decorrer das décadas de
1980 e 1990.
Conforme menciona Mariano, a Igreja de Nova Vida, fundada no Rio de Janeiro,
em 1960, pelo missionário canadense Robert McAlister, está na origem das Igrejas
Universal do Reino de Deus, fundada no Rio de Janeiro em 1977, da Internacional
da Graça de Deus, fundada no Rio de Janeiro em 1980, e da Cristo Vive, em 1986.
98 MARIANO, R. op. cit., p.29.
62
Essas três Igrejas, ao lado da Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra,
fundada em Goiás em 1976, a Comunidade da Graça, fundada em São Paulo em
1979, a Renascer em Cristo fundada em São Paulo em 1986 e a Igreja Nacional de
Nosso Senhor Jesus Cristo, fundada em 1994, constam entre as primeiras e
principais Igrejas Neopentecostais, segundo Mariano99, surgidas no período entre a
década de 1970 a 1990.
Mariano menciona também algumas entidades paraeclesiásticas neopentecostais.
Entre as mais conhecidas estão a Associação dos Homens de Negócio do
Evangelho Pleno (Adhonep), Missão Shekinah, comandada pelo pastor Jesher
Cardoso, e a Ágape Reconciliação, liderada por Neusa Itioka.100
A definição da classificação do termo como terceira onda, já está consagrada pelos
pesquisadores brasileiros para a designação de neopentecostal. O prefixo NEO,
menciona Mariano, é mais apropriado por remeter à formação recente e também
pelo caráter inovador do neopentecostalismo.
Freston, comentado por Mariano, observa que a terceira onda em contraste com a
segunda onda de Igrejas paulistas, fundadas por migrantes de nível cultural
simples, a terceira onda é formada sobretudo por Igrejas cariocas, fundadas por
pessoas citadinas de nível cultural um pouco mais elevado.101
Sobre as características do neopentecostalismo, Mariano destaca como
fundamentais a exacerbação na guerra espiritual contra o Diabo e seus anjos
decaídos, a pregação enfática da Teologia da Prosperidade e a liberalização dos
99 Ibid., p. 32. 100 Bacharel em Teologia (Faculdade Metodista Livre), formada em Pedagogia pela USP e
doutora em Missiologia pelo Seminário Teológico Fuller (Pesadena, California, EUA). Desde
1988, atua na área de libertação, cura Interior e batalha espiritual, ministraram individualmente a
mais de 60 mil pessoas e a mais de 800 igrejas por meio de seminários e cursos intensivos
locais. Esses cursos são pagos. Informação obtida no site:
http://www.agapereconciliacao.com.br/v3/quemsomos.asp?expandable=0, em 18.05.2010. 101 MARIANO, R. op. cit., p.35.
63
estereotipados usos e costumes de santidade. Segundo Oro, essas Igrejas também
se estruturam empresarialmente e algumas possuem fins lucrativos.102
Observa-se ainda a ruptura com o sectarismo e o ascetismo puritano dos pente-
costais como a principal característica do neopentecostalismo. Mariano afirma que
o neopentecostalismo constitui a primeira vertente pentecostal de afirmação do
mundo.
Contudo, isso não significa que todas as denominações formadas em meados dos
anos 1970 em diante devem ser classificadas como neopentecostais, pois nem
todas apresentam as marcas características dessa corrente pentecostal. Deve-se
consi- derar as genealogias e os vínculos institucionais antes de analisá-las e
classificá-las.
Segundo Mariano, para ser classificada como neopentecostal, uma Igreja fundada
a partir de meados da década de 1970 deve apresentar as características
teológicas e comportamentais do neopentecostalismo quanto mais destas
características estiverem presentes, tanto mais adequado será classificá-la como
neopentecostal.103
Quanto menos sectária e ascética e quanto mais liberal e tendente a investir em
atividades extraIgreja, como as empresariais, políticas, culturais, assistênciais,
entre outras, em especial naquelas tradicionalmente rejeitadas ou reprovadas pelo
pentecostalismo clássico, mais próxima a Igreja deve estar do espírito, do ethos e
do modo de ser dos componentes da vertente neopentecostal.
Importa ressaltar que o movimento pentecostal é muito mais complexo e
abrangente do que as correntes e os contornos mencionados. Não há
homogeneidade teológica entre as Igrejas neopentecostais, como não há no
pentecostalismo clássico e no deuteropentecostalismo.
102 Ibid., p.36. 103 Ibid., p. 37.
64
Ricardo Mariano relata que a teologia liberal católica e protestante, além de tratar o
Diabo e suas hostes como metáfora e abstração, não acreditam em curas
milagrosas, intervenções sobrenaturais na história ou na vida cotidiana dos
indivíduos.104
Essa teologia liberal obteve sucesso em estreitos setores da sociedade, mas
atualmente está em franco declínio. Essa teologia liberal foi repudiada pelos
pentecostais, em sua maioria pobres e de pouca escolaridade, comumente alheios
e indiferentes aos devaneios e as vicissitudes da erudição teológica, porém
igualmente presos ao literalismo bíblico e crentes na personificação do mal.
O pentecostalismo possibilitou a essas pessoas simples as condições necessárias
para anunciar e instalar seus mitos, suas crenças e suas práticas rituais. Os
pastores e fiéis enxergam a ação divina e a demoníaca em todos os
acontecimentos da vida. Não existindo acaso, o que dá sentido à vida. A Bíblia
contêm as respostas necessárias.
O dualismo, a luta entre o reino celestial e o das trevas permeia todo o cristianismo
e o próprio pentecostalismo clássico ou da primeira onda. Todavia, a diferença é
que o neopentecostalismo exacerbou essa guerra. As Igrejas da segunda onda, ou
deuteropentecostalismo, acompanham de perto, mas sem o mesmo impacto.
Os neopentecostais acreditam e afirmam que tudo o que ocorre no mundo físico
decorre da guerra travada entre as forças divina e demoníacas no mundo espiritual.
Deus e seus anjos, o Diabo e seus demônios estão no mundo espiritual em luta
constante.
104 Ibid., p.110.
65
O mundo físico é o habitado pelas pessoas. A narrativa do livro de Jó é geralmente
mencionada como um exemplo dessa afirmação.105 O que ocorre no mundo físico é
reflexo dos acontecimentos do mundo espiritual.
Neste sentido, os seres humanos, conscientes ou não, estão dentro dessa guerra,
cada pessoa agindo segundo seu livre-arbítrio e podendo, pelo poder e autoridade
concedidos por Deus, em nome de seu filho Jesus Cristo, reverter as obras do mal,
alterando as realidades indesejáveis do mundo material.
Com exceção da Bíblia, as Igrejas Pentecostais se opõem ao uso de objetos
sagrados dotados de poder mágico e terapêutico, para não sucumbirem à idolatria.
Entretanto, as Igrejas Universal e Internacional da Graça, indiferentes às críticas
das demais, distribuem aos fiéis objetos ungidos, dotados de poderes mágicos ou
miraculosos, ato que mais as aproxima das crenças e práticas dos cultos afro-
brasileiros e do catolicismo popular que essas Igrejas tanto combatem.
Conforme narra Mariano, mediante o pagamento de ofertas estipuladas, a Igreja
Universal e a Internacional da Graça distribuem aos seus fiéis rosa, azeite do amor,
perfume do amor, pó do amor, saquinho de sal, arruda, sal grosso, oliveiras,
fotocópia de dinheiro benzido, areia da praia do mar da Galiléia, água fluidificada,
cruz, chave, pente, sabonete. Como na Umbanda e no catolicismo popular,
recomendam que sejam colocados ora na comida, ora jogados no rio, ora
passados no corpo, ora guardados na carteira, carregados no bolso e assim por
diante.106
A guerra espiritual avançou entre as Igrejas evangélicas a partir dos anos 1990,
mas entre os neopentecostais foi onde mais se proliferou. Surgiu a Teologia do
Domínio que descreve tudo o que se refere à luta dos cristãos contra o Diabo, cuja
guerra é feita contra demônios específicos, espíritos territoriais e hereditários.
105 Livro contido na Bíblia, Antigo Testamento. 106 MARIANO, R. op. cit., p.134.
66
Nessa Teologia, os demônios de alta hierarquia satânica, são distribuídos para agir
e tentar controlar, áreas geográficas especificas, como países, cidades, bairros,
influenciando ou dirigindo diretamente instituições, grupos étnicos, tribais culturais
e religiosos.107
Os espíritos hereditários, ou de geração, são responsáveis pelas maldições na
família, carregando consigo a maldição provocada pelo demônio herdado. Para se
libertar, o indivíduo precisa renunciar ao pecado e às ligações demoníacas de seus
ancestrais e quebrar, por meio do poder de Deus, as maldições hereditárias.
O expoente da maldição hereditária desenvolve uma hermenêutica para tentar
explicar a causa de orações não respondidas e os acontecimentos fatídicos em
sucessão, como o alcoolismo, a prostituição, as enfermidades congênitas e os
demais vícios. Também tentam explicar por esse raciocínio a causa das guerras,
da violência, da desigualdade e das injustiças sociais.108
Após os fiéis se converterem a Jesus, são encaminhados para o processo de
libertação e aos cultos de cura interior. Na cura interior, oferecem-se a libertação
espiritual e a emocional às pessoas que sofreram traumas, (algumas fazem
regressão mental até a fase uterina), às que foram abusadas sexualmente, às
dependentes de drogas, tabaco e álcool, bem como aquelas com problemas de
depressão, homossexualismo, criminalidade, separação conjugal e no relaciona-
mento familiar.
Para receberem a cura interior, precisam primeiro confessar os traumas, que são,
segundo afirmam, feridas que o Diabo usa para aprisioná-los. Depois devem pedir
perdão pelos pecados dos antepassados, perdão pelas próprias transgressões e,
ainda, perdão às pessoas que os teriam prejudicado.109
107 Ibid., p.137. 108 Ibid., p.140. 109 Ibid., p. 142.
67
Por meio da luta espiritual, e fundamentados nesse entendimento, a Igreja
Universal e a Internacional da Graça fazem constantes entrevistas com pessoas
possuídas por demônios, para saberem seus nomes e a causa da possessão,
antes de expulsá-los das pessoas. Entretanto tal postura causa exposição excessi-
va dos fiéis.
As Igrejas Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara a Nossa Terra e
Comunidade da Graça, entre outras neopentecostais, não utilizam essa forma de
entrevista e evitam, nos cultos de libertação, expor os fiéis e visitantes a situações
constrangedoras.
Avessas ao espetáculo, não entrevistam demônios em público nem abusam do
possesso, quando desejam saber a origem da possessão, levam o endemoninhado
para uma sala reservada.
As paraeclesiásticas neopentecostais, Missão Shekinah e o Ágape Reconciliação,
oferecem cursos para formar pastores especializados no ministério de libertação e
batalha espiritual.
Outra característica que diferencia os pentecostais dos neopentecostais é que
antes os pastores pentecostais preparavam os fiéis para desfrutarem após a morte
dos prazeres do céu ou, após a volta de Jesus à terra. Atualmente, os pastores
neopentecostais preparam os fiéis para desfrutarem dos prazeres do céu na terra,
ou seja, aqui e agora.
João Décio Passos é enfático ao descrever as ofertas do neopentecostalismo. Para
o autor, o que ocorreu foi um desdobramento e uma adaptação da tradição
pentecostal, com seu paradigma original, à tradição brasileira, ao longo do século
vinte. Segundo afirma, toda religião segue a história humana, no seu
desenvolvimento e nas suas dinâmicas econômicas, sociais e culturais, tecendo
com elas relações de trocas, de forma que uma influencia a outra na configuração
de suas visões e de suas práticas. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a
religião ajuda a construir a sociedade como um todo, ela é também construída por
68
esta. O autor menciona a obra de Karl Marx e Max Weber110, para quem a cultura
só pode ser compreendida dentro de cada época da história.
Segundo Passos, a marca que caracteriza o neopentecostalismo é a oferta de bens
salvíficos, pois após o fiel receber a salvação e o batismo no Espírito Santo, segue-
se a conquista da prosperidade plena, uma vida feliz, sem doenças, sem misérias,
sem desavenças e sofrimentos.
As ofertas dos neopentecostais avançaram onde o pentecostalismo parava. Antes
o sofrimento e a espera pela volta de Jesus recebia a máxima atenção, o que levou
os pentecostais à postura de não fazerem parte deste mundo. O pentecostalismo
herdou a atitude de rejeição e afastamento do mundo diretamente do metodismo e
do movimento holiness, dos quais se originou. Daí provêm as raízes puritana e
pietista do movimento pentecostal, conforme narra Mariano.111
Essa forma de pensar e agir foi intensa a ponto de ter surgido nas Igrejas
pentecostais uma prática denominada “Usos e Costumes”.
Os fiéis, orientados por seus pastores, não podiam praticar esportes e não podiam
ser torcedores de uma equipe de futebol, não podiam assistir à televisão, as
mulheres não podiam cortar o cabelo, depilar-se, maquiarem-se, as calças
compridas e blusas sem mangas lhes eram proibidas e usavam roupas que,
obrigatoriamente, deviam cobrir os joelhos. O controle de natalidade era
considerado aborto, e o aborto sempre foi considerado pecado. Assim, além de
pobres, as famílias eram numerosas.
110 PASSOS, J.D. op. cit., p. 63. O autor comenta parte do pensamento de Karl Marx para
ressaltar a importância da produção econômica na produção da cultura, e Max Weber, com a
obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, para expor o ângulo inverso da relação da
religião com a sociedade. 111 MARIANO, R. op. cit., p. 190.
69
Os homens não podiam usar barba, quando muito usavam bigode; na sua maioria
usavam terno e nunca iam à praia ou à piscina pública. Homens e mulheres eram
conhecidos e muitas vezes alvo de anedotas, por tais vestimentas. Fumar e beber
era proibido.
Nas Igrejas pentecostais, os homens obrigatoriamente se sentavam de um lado da
Igreja, enquanto as mulheres se sentavam do outro lado. Durante o culto, o louvor
era realizado por meio de um hinário com músicas centenárias. Não havia guitarra,
bateria, rock, samba, entre outros ritmos considerados “coisa” do Diabo. Também
eram do Diabo a política, o dinheiro, a moda, o carnaval, a utilização da televisão e
de anticoncepcional.
Existiam nessas Igrejas disciplinas severas destinadas aos desobedientes, as
quais poderiam resultar desde a exposição pública do ato praticado pelo fiel
desobediente, em casos de penas brandas, e, em casos mais severos, até a
expulsão do rol de membros da denominação.
Entretanto, com o rápido processo de modernização no Brasil, a partir dos anos
1970, e com a ascensão social dos fiéis pentecostais e das promessas da
sociedade de consumo, dos serviços de crédito ao consumidor, dos sedutores
apelos do mundo da moda, do lazer e das opções de entretenimento criadas pela
indústria cultural, essa religião ou se mantinha sectária e ascética, o que
acarretaria na diminuição dos fiéis, ou fazia concessões.112 Desta forma, ocorreram
as concessões ou adaptações teológicas para justificar esse novo momento.
A teologia da prosperidade e a Confissão Positiva, amplamente divulgadas no país
pelo livro Há poder em suas Palavras113, crença de que os cristãos detêm poderes,
concedidos pela Bíblia a seus fiéis, para trazer à existência, para o bem ou para o
mal, o que falam ou decretam com a boca em voz alta, contribuiu para justificar as
mudanças.
112 Ibid., p.149. 113 GOSSETT, D. Há poder em suas palavras. São Paulo: Editora Vida, 1979.
70
Com essa nova forma de interpretar os textos bíblicos, em algumas Igrejas os
pastores passaram a exigir ou determinar que Deus cumprisse suas promessas
escritas na Bíblia. Deus estaria obrigado a fazer cumprir qualquer pedido em linha
com o que está escrito na Bíblia. O cristão deveria tomar posse da sua benção e da
sua prosperidade.
Conforme explica Mariano114, pela ótica neopentecostal, Deus não pode deixar de
cumprir com suas promessas bíblicas. O criador não tem escolha senão cumprir o
prometido. Está preso às promessas que fez, a onipotência divina fica compro-
metida. Cabe aos homens entregar os dízimos, além das ofertas, com amor e
alegria, por ser um dever do cristão, ter fé em Deus e em sua palavra, confessar ou
profetizar as bênçãos em sua vida e esperar o cumprimento das promessas
divinas.
O neopentecostalismo fundamentado, ou justificado na nova teologia, que lhe dava
base bíblica para seus ensinamentos começou a difundir-se. Os fiéis, agora
alinhados com a sociedade, estudam mais, sonham com promoções e em alcançar
melhores salários, praticam esportes e podem ser torcedores de uma equipe de
futebol, podem assistir à televisão. As mulheres podem usar anticoncepcional,
cortar o cabelo, depilar-se, maquiarem-se, as calças compridas e blusas sem
mangas lhes foram liberadas e, em alguns casos, os pastores sentem saudades da
época em que as roupas femininas obrigatoriamente, deveriam cobrir os joelhos e
não podiam ser transparentes.
Os homens podem usar barba, e em inúmeras Igrejas os pastores não usam mais
terno para pregar, não são mais conhecidos pelas vestimentas. Fumar ainda é
proibido, mas beber já é tolerado, desde que com moderação, e em algumas
114 MARIANO, R. op. cit., p.161.
71
Igrejas se recomenda que não seja em locais públicos, para não correr o risco “de
se assentar na roda de escarnecedores”.115
Não há mais separação de gênero durante o culto, os homens e as mulheres
sentam-se juntos, cada qual com sua família. A liturgia mudou, o louvor é composto
de músicas evangélicas que fazem sucesso na atualidade. Há guitarra, bateria,
rock, samba, entre outros ritmos que antes eram considerados “coisa” do Diabo.
Na política, já houve a campanha irmão vota em irmão, o dinheiro é bem vindo e há
algumas Igrejas milionárias, caso da Igreja Universal do Reino de Deus e a
Internacional da Graça, ambas não apenas utilizam a televisão, como também
compraram emissoras próprias.
Em muitas Igrejas, há em seus sites sugestões de moda e, em algumas Igrejas no
Rio de Janeiro, há participação em escolas de samba, nos quais alguns
evangélicos desfilam e, segundo afirmam, com finalidades evangelísticas.
Entre as inúmeras Igrejas Evangélicas neopentecostais existentes em todo o país,
não há um padrão de conduta entre elas, cada denominação adota, à sua maneira,
as práticas e a intensidade desse fenômeno, conforme suas convicções.
1.12 O NEOPENTECOSTALISMO E A LITURGIA DA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ
A Comunidade Evangélica de Maringá afirma ter sido respaldada, edificada e
aconselhada por líderes de outras denominações evangélicas. Entre os mais
conhecidos estão os pastores Lamartine Posella, da Igreja Batista Palavra Viva,
Asaph Borba e Jorge Linhares, da Igreja Batista Getsêmani, e o Pastor Silas 115 Uma referência à Bíblia, salmo 1:1, Bem-aventurado o homem que não anda segundo o
conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores, utilizado por algumas Igrejas, como advertência a não se relacionar com
pessoas de má índole, ou não convertidas à mesma religião.
72
Malafaia. O pastor Messias Anacleto Rosa, da Igreja Presbiteriana Independente
de Londrina e cunhado da pastora-presidente, e o pastor Rodolfo Montosa, genro
da pastora-presidente, também são citados.
O neopentecostalismo na Comunidade Evangélica de Maringá é comedido. Por se
tratar de uma Igreja em cuja sede predomina a classe média, a Igreja demonstra
aversão ao espetáculo e ao sensacionalismo. Mesmo nos cultos em que são
realizadas as batalhas espirituais, quando algum membro ou visitante, expressa
possessão demoníaca e não é despossuído imediatamente, após o exorcismo do
pastor, é rapidamente retirado do meio dos fiéis e encaminhado para uma sala
reservada.
Enquanto Igrejas como a Universal e a Internacional da Graça, entre outras tantas,
utilizam tempo considerável do culto para convencer os ouvintes a realizarem suas
ofertas, visando as bênçãos que receberão em troca dos dízimos e das ofertas, na
Comunidade Evangélica de Maringá isso não ocorre. Não há as famosas
“sacolinhas” ou salvas, onde os fiéis depositam suas ofertas.
Quando uma pessoa se converte na Comunidade Evangélica de Maringá, ou se
transfere para lá, vindo de outra Igreja, ela é direcionada a participar de seis etapas
oferecidas pela Igreja. As pessoas casadas participam também dos cursos casados
para sempre e pais para toda a vida.
Os cursos/etapas são denominados como:
1) Encontro com Deus; 2) Batismo; 3)Integração; 4) Módulo de discipulado que,
inclui Antigo Testamento I e II, Caráter, Visão e Aconselhamento; 5) Segundo
módulo do discipulado, com cura interior, oração, história de Israel e temas
diversos; 6)Participar em uma célula; 7) Curso casados para sempre e pais para
toda a vida.
73
Especificamente na etapa denominada como Integração, o fiel é doutrinado sobre
dízimos e ofertas. Durante os cultos, não se ensina ou se motiva os fiéis sobre as
ofertas, salvo em alguma pregação especifica sobre o tema, o que raramente
acontece.
A Liturgia da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá é bem definida e, salvo
nos casos em que a Igreja recebe algum pregador convidado de outra
denominação, há um roteiro pré-estabelecido que é flexível, mas que na maioria
das vezes, é obedecido116.
Antes do culto, alguns poucos fiéis se reúnem em uma sala denominada sala de
oração, para intercederem em favor do culto.
Inicia-se o culto sempre com o louvor. Devido à grande quantidade de músicos na
sede, há uma escala dividindo os dias em que cada músico irá tocar. Durante o
louvor, as músicas e os ritmos são diversificados. Os fiéis acompanham com
palmas. Normalmente inicia-se com músicas mais aceleradas e culmina com
músicas que remetem à reflexão. Em alguns intervalos do louvor, entre uma
música e outra, um dos vocalistas chama a atenção dos fiéis para aquilo que está
sendo cantado.
Sem alarde, normalmente, nos últimos momentos do louvor, é anunciado aos fiéis
o momento das ofertas e dos dízimos. Os fiéis se levantam dos seus lugares para
realizarem a entrega de seus dízimos e suas ofertas. Não há maior interrupção do
louvor, não se realiza nenhum tipo de explicação sobre o dízimo, nem se incentiva
as pessoas a fazê-lo.
Para depositar suas ofertas, as pessoas saem dos seus bancos e caminham em
direção ao púlpito, onde, na parte de baixo, fica o gazofilácio, local onde os fiéis
116 Informações obtidas através de observação pessoal, em diversos cultos assistidos pelo
próprio pesquisador.
74
depositam os dízimos e as ofertas e voltam aos seus lugares, enquanto os músicos
continuam a tocar e cantar.
Os diáconos e as diaconisas não usam uniformes; utilizam roupas normais. Não é
possível diferenciar um diácono de um membro.
Após o louvor, são feitas apresentações de novos fiéis, ou de algum encontro ou
trabalho realizado pela Igreja. Depois são mencionadas as atividades da semana,
bem como desafios e alvos para oração. E, sempre após um longo período de
recados, o pastor que irá pregar é convidado a subir no púlpito.Realiza-se uma
nova oração e, em seguida o pastor faz uma leitura bíblica e inicia a sua pregação.
Utiliza-se com frequência a inconveniente expressão “diga para o seu irmão(ã) ao
seu lado...” Dificilmente um mesmo pastor prega em dois domingos seguidos.
Ao final da pregação, os músicos, por iniciativa própria, ou chamados pelo
pregador, iniciam um novo louvor, enquanto o pastor convida as pessoas para mais
uma oração. Há casos em que as pessoas são convidadas a irem à frente do
púlpito, para serem ungidas e receberam oração específica.
No encerramento do culto, executam-se músicas com ritmos acelerados,
denomina- das como de celebração, enquanto os fiéis vão se dirigindo para fora da
Igreja.
A Igreja possui dias e horários específicos para os cultos, sendo o principal deles
no Domingo.
Os cultos são celebrados com temas específicos. No domingo às 9h30 min e às
19h, ocorrem os cultos de Celebração; na segunda-feira realiza-se a reunião dos
Homens e Mulheres de negócios, às 18h30min; na terça-feira, às 14h30min,ocorre
o culto tarde da Graça; na quarta-feira não há culto; na quinta-feira, às 20h
acontece o culto de Avivamento; na sexta-feira, às 20h, há o culto de Adolescentes;
e no sábado, às 20h, o culto dos Jovens.
75
Na Comunidade Evangélica de Maringá, comemora-se o aniversário de todos os
seus membros, pois acredita-se que Deus sempre ensinou seu povo a ter um
calendário anual e, dentro dele, muitas festas celebrativas, como a Páscoa,
Pentecostes, Festa dos Tabernáculos, etc. No primeiro domingo de cada mês, é
realizada a Santa Ceia.
Apesar da característica específica quanto a não dar ênfase, ao recolhimento de
dinheiro, por meio das doações dos fiéis, há outras características que fortalecem o
entendimento de Igreja neopentecostal, entre elas está a declaração da Pastora-
Presidente:
Precisamos estar conscientes do mundo invisível em que Satanás e seus demônios pelejam impiedosamente contra a humanidade, mas que na vida cristã autêntica temos armas e aliados invencíveis na guerra espiritual na qual estamos envolvidos. Aliançados com Deus somos mais do que vencedores. Deus nunca nos deixará sós. Precisamos confiar e avançar. Cada conquista, cada vitória será para a glória de Deus. No final da nossa vida poderemos dizer como Paulo: “Combati o bom combate, corri a carreira, guardei a fé” (II Tm 4:7). A Comunidade crê que recebeu de Deus autoridade sobre Londrina, Niterói, Brasília e Maringá. Semanalmente o grupo se reúne para orar e pedindo a Deus estratégias para o combate e rogando que Deus desmantele os ardis satânicos revelados aos profetas do Senhor. Quando orientados, fazemos caminhadas de oração pelos bairros ou pontos específicos da cidade onde se observa claramente a presença de sistemas satânicos operando e controlando certos espaços ou classes de pessoas dominando-as. Temos que saber guerrear já que estamos participando da luta (...) (...)O inimigo foi derrotado na cruz, mas não foi totalmente destruído. Precisamos conhecer como ele opera a fim de impedi-lo de conseguir o que ele urde. Deus está conosco e pelejará por nós. Não somos mais um grupo que sai quebrando maldições já anuladas ou repetindo renúncias dos vínculos criados por alianças não cristãs”(...) (...)Somos um grupo que procura detectar novas estratégias de Satanás para destruir as cidades e seus habitantes; verificamos se houve o retorno de espíritos às posições que tinham ocupado anteriormente e confirmamos a posse territorial e a libertação conseguida por Jesus na cruz do calvário(...) Antes de tudo orar!
76
Pra Irene Ribarolli Pereira da Silva Pastora Titular e líder do Ministério de Batalha Espiritual. 117
1.13 A Estrutura Administrativa da Igreja A administração da Igreja é realizada pelo que denomina de um gestor.
Esse gestor tem a responsabilidade de gerenciar e comandar, no dia-a-dia, as
necessidades burocráticas, avaliar e suprir, se pertinente, os pedidos de recursos
humanos ou econômicos dos diversos ministérios da Igreja.
As demais congregações, como não conseguem ser independentes em razão do
inexpressivo valor recebido pelos seus fiéis, também são administradas por este
mesmo gestor. Dessa forma, as congregações enviam para a sede todo o valor
arrecadado dos fiéis, que é contabilizado e registrado pela Igreja. Em contrapartida,
a sede, por meio desse gestor, arca todo mês com todas as despesas das
congregações. Entre essas despesas, inclui-se o pagamento de energia elétrica,
água, reforma e manutenção das congregações e o salário do pastor.
Contudo, todas as decisões mais complexas, além das relativas às áreas pastorais
e ministeriais, entre outras, são decididas por um Conselho. Trata-se de um
Conselho que é formado pelos pastores e presidido pela pastora-presidente. Os
assuntos são expostos ao conselho para solução ou decisões necessárias, quando
há algum impasse, acata-se a palavra final da pastora-presidente da Igreja
Comunidade Evangélica de Maringá.
117 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 25.05.2010,
Batalha espiritual, http://www.comunidade.org.br/index.php.
77
Há uma rigorosa fiscalização, conforme a Igreja informa, sobre os gastos com o
dinheiro arrecadado. As ofertas e os dízimos são contabilizados e depositados em
uma conta bancária. As retiradas de dinheiro ou pagamentos são efetuadas por
meio de cheque, com duas assinaturas.
Entretanto, apesar de se afirmar que existe a preocupação com a transparência na
arrecadação e nos gastos da Igreja, os valores não são divulgados, o que
impossibilitou uma melhor análise sobre a administração dos recursos financeiros,
para efeitos desta pesquisa.
78
CAPÍTULO 2
AS PRÁTICAS DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ Este capítulo tem a finalidade de descrever quais são as principais práticas sociais
da Comunidade Evangélica de Maringá. Desta forma, após a descrição das
atividades realizadas por essa Igreja, será possível realizar, no capítulo seguinte,
as análises desejadas.
2.1 AS PRÁTICAS SOCIAIS INTERNAS E EXTERNAS DA IGREJA COMUNI-DADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ
De acordo com a última pesquisa do IPARDS (Instituto Paranaense de
desenvolvimento Econômico e Social), órgão oficial do Estado do Paraná, apurou-
se existir 26.453 pessoas em situação de pobreza na cidade de Maringá.118
Esses dados foram levantados no ano 2000, o que provavelmente reflete em um
número ainda mais significativo de pessoas em situações de pobreza em Maringá,
tendo em vista que a pesquisa foi realizada dez anos atrás.
Em razão dessa realidade de pobreza, desde o ano de 1989, a Comunidade
Evangélica de Maringá declara ajudar aos menos favorecidos da cidade, os quais
clamavam por ajuda, para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência.119
118Conforme informação do site:
http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87000&btOk=ok, acessado
em 13.05.2010. (2) Pessoas em situação de pobreza é a população calculada em função da
renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo. Os dados referentes à situação de pobreza
são provenientes dos micro dados do Censo Demográfico (IBGE) e das tabulações especiais
feitas pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo
do Paraná).
79
Apesar do extraordinário sucesso que a cidade de Maringá conseguiu alcançar, é
notória a presença de pessoas mendigando pelas ruas do centro da cidade.
Segundo afirmam, foram realizadas inúmeras atividades pela Comunidade
Evangélica de Maringá, dentre as quais a distribuição de alimentos, roupas e
calçados.Tais atividades eram desenvolvidas na sede da Igreja e, posteriormente,
passaram a ser realizadas pelas Congregações dessa Igreja. Por isso, as ações
realizadas na sede, considerada como Igreja abastada, em muito difere das
práticas realizadas nos bairros carentes, onde foram implantadas essas
Congregações.
As Congregações foram implantadas nos bairros pobres, visando alinhar às
práticas sociais de acordo com a necessidade e realidade do bairro. Os ministérios
foram adaptados para atender a essa demanda.
Percebe-se uma significativa diferença entre a Igreja sede e as Igrejas instaladas
nos bairros, quanto à forma de perceber a realidade e a necessidade. Como
exemplo disso pode ser mencionado o culto realizado na quinta-feira na sede, em
que se busca o avivamento espiritual, distinguindo-se da congregação João de
Barro/Santa Felicidade, cuja ênfase, no mesmo dia, é a busca pela libertação.
Para descrever cada departamento ou área de atuação das práticas da Igreja
Comunidade Evangélica de Maringá, utiliza-se a palavra ministério seguido do
nome da área de atuação. Dessa forma, o conceito de ministério será abordado
com respaldo de autores consagrados.
119 Conforme informação do site da Igreja: http://www.comunidade.org.br/index.php, acessado
em 13.05.2010.
80
2.2 PRÁTICAS POR MEIO DOS MINISTÉRIOS.
Conforme define Clovis Pinto de Castro120, o termo ministério é, sem qualquer
dúvida, uma tradução que esvazia e empobrece o sentido pastoral que, para os
católicos, tem uma forte conotação sociológica, pois, na sua essência, há a
interlocução de duas hermenêuticas, a teológica e a política. A leitura da palavra de
Deus e a leitura dos sinais dos tempos.
Ainda para esse autor, para a maioria dos evangélicos, o termo ministério tem um
colorido mais eclesiástico e menos sociológico e, no contexto dos evangélicos,
volta-se tanto para as práticas das próprias Igrejas locais (como o ministério de
louvor) como para a inserção destas na realidade social (como o ministério com
meninos de rua, de ação social entre outros).
As Igrejas Evangélicas são resistentes ao termo pastoral e continuam a
desenvolver as suas experiências sempre voltadas para a visão de ministério. O
termo pastoral continua, em muitos círculos, com dificuldade de compreensão e de
aplicabilidade na vida das comunidades. É o que ocorre na Comunidade
Evangélica de Maringá, em que, para cada área de atuação dentro da Igreja,
utiliza-se a palavra ministério. Dessa forma, cada ministério é uma espécie de
departamento, todos sujeitos à liderança da pastora-presidente. Os ministérios são
divididos por faixa etária ou por área de interesse.
Acreditam que “os braços humanos do amor de Deus”121 se manifestam na
Comunidade Evangélica de Maringá, por meio das pessoas dos seus pastores e
líderes, por isso entendem que os ministérios são um serviço para os membros da
Igreja e de qualquer pessoa interessada ou necessitada de ajuda. Por essa razão,
tornam público o número do telefone de todos os líderes da Igreja, os quais são
120 CASTRO, C.P. Por uma fé cidadã, a dimensão pública da Igreja. São Paulo: Edições Loyola,
2000. p.105. 121 Frase extraída da Bíblia Sagrada, Oséias capítulo 11, versículo 4.
81
divulgados nos folhetos durante os cultos e nas demais reuniões com os líderes e
também no site da Igreja.
Assim, ao contrário dos líderes da Igreja Universal e de outras neopentecostais,
que amam as multidões, mas não valorizam o atendimento pessoal ao fiel, os
pastores e demais líderes de ministérios são orientados a permanecerem
disponíveis e a fornecer o número de seu telefone para contato dos interessados.
Não há exceção para esse entendimento, mesmo a pastora-presidente divulga seu
número de telefone, como se observa abaixo, juntamente com os demais líderes e
cooperadores nos diversos ministérios da Igreja:
Pra. Irene Ribarolli Pereira da Silva – Presidente da Comunidade Evangélica de
Maringá e da Organização Reviver- 9904-0220.
Pr. Antonio A. Mazzarin e Pra. Enoan Mazzarin- Ministério de Aconselhamento-
3222-8357.
Pr. Aristeu Bertozzi - Pr. Ministério de Células e Rede de Homens- 3029-0242 /
9973-0248.
Pra. Edna Maria Paula Ravaneli - Ministério de Evangelismo - 9945-4139.
Pr. Luis Roberto N. Oliveira – Ministério de Jovens - 3026-4291.
Pr. Marcelo A. Gonçalves – Ministério de Discipulado e Adolescentes - 9925-4089.
Pr. Silvio Renato Neves - Gestor - 3262-5922 / 9972-8186.
Pr. Sirdenei Porfírio da Silva - Superintendente Congregacional e Aconselha-
mento - 3028-3823.
Líderes:
Pra. Alice M.G.Silva – Ministério de Libertação.
André e Caroline Rodrigues – Ministério para Jovens.
Antonio Geraldo e Cleusa Dias - Projeto Débora - 3226-5843.
Carla Tiaki - Ministério para Adolescentes - 3028-0933.
Clarice Teixeira - Ministério Infantil, Células Juvenis e Crianças - 3026-1820.
Eliud e Lucelena Paiva – Ministério Casados para Sempre, Educação de
Filhos e Curso para Noivos - 3028-6503.
82
Fukumi Santos Lima - Ministério Alegria de Viver (3a. Idade ) - 3263-4981.
Gerson Tudela - Homens e Mulheres de Negócios - 3028-0589.
Iolanda Assoni - Intercessão - 9929-2930.
Pra. Irene Ribarolli P. Silva – Batalha Espiritual - 9904-0220.
Jeanete Ferreira - Cura - 9961-0535.
Leila Giovanini Neves - Ministro do Altar - 3262-5922.
Maria Ivanilde Mommensohn - Discipulado - 3031-0421.
Maria Regina e Rodrigo Luz - Ministério Células - 3026-1439.
Maria Edite Calefe - Rede de Mulheres - 9143-3301.
Rose Moraes – Ministério de Louvor - 3227-9103 / 9904-0222.
Sueli Maldonado – Ministério Discipulado das Congregações - 3028-7753.
Sueli Merizzio – Ministério de Misericórdia - 9992-8354 / 3026-2744.
Yone Sanches Pinto - Oficina de Artes - 3226-2649.
Almir de Moraes, Eliud e Lucelena Paiva, João e Nair Montoro, Laurindo e
Sueli Merizzio, Maria Lourdes Freitas - Ministério do Diaconato.
Pastores das Congregações:
Pra. Alice M. G. Silva - Congregação Jd. Alvorada - 3026-4387.
Pr. Antonio dos Santos - Congregação Jd. Oásis - 3301-8755 / 9928-7345.
Pr. Carlos B. Lacerda - Congregação em Paiçandu - 3305-1231.
Pra. Marta P. Martins - Pra. Congregação Zona 05 - 3222-6820.
Pra. Margarete Maria Saes - Pra. Cong. Jardim Los Angeles - 3031-6135.
Pra. Oricena V. Pinto - Congregação João de Barro - 3255-0023.122
2.3 REUNIÃO DE CÉLULAS – GRUPOS FAMILIARES As células funcionam, em sua maioria, em grupos de sete pessoas, sob a
orientação do Presbitério da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, que
122 Todos os nomes e telefones foram obtidos por meio do site da Igreja Comunidade Evangélica
de Maringá: http://www.comunidade.org.br/index.php, acessado em 22.05.2010.
83
outorga as coordenadas aos líderes, que têm autoridade para pastoreamento
desses grupos.
As reuniões são realizadas na residência de um dos participantes. Por sua
característica informal, as pessoas, após serem inseridas no grupo, sentem-se
pertencente a ele. As reuniões de células promovem comunhão, orientação sobre
temas religiosos e sociais, fortalecimento emocional e desenvolvimento do caráter
do fiel.
A ferramenta para os estudos realizados nas células são os livros da Bíblia. Afirma-
se que se ensina para os participantes, membros ou não, a como reagirem e
praticarem, no dia-a-dia, o estilo de vida cristão diante das necessidades familiares,
profissionais ou emocionais.
Cada líder de célula tem o compromisso de “cuidar de perto” de seus membros,
visitando, aconselhando e orando. Nessas reuniões, ao contrário do culto, em que
as pessoas são apenas ouvintes, estas têm uma participação importante. Elas
questionam, discordam, aprendem e ensinam.
As células têm também o propósito de trazer crescimento à Igreja, e, por isso, há
um interesse duplo na participação dos não membros da Igreja.
2.4 PRÁTICAS POR MEIO DO ATENDIMENTO PSICOLÓGICO O aconselhamento psicológico oferecido pela Igreja Comunidade Evangélica de
Maringá é realizado objetivando dar amparo emocional aos fiéis. Ou seja, está
disponível apenas para os fiéis dessa denominação. Dessa maneira, para o
integrante da Igreja interessado em obter ajuda psicológica, é marcado
previamente um atendimento pastoral, com o objetivo de avaliar qual é a sua
necessidade.
84
Essa primeira análise ocorre por dois fatores: primeiro por se tratar de uma Igreja e
pelos pastores estarem à disposição dos membros; segundo porque os psicólogos
são voluntários e em menor número, o que resultaria em demora no atendimento.
Cabe, portanto, ao pastor avaliar se o fiel realmente necessita do psicólogo ou do
atendimento pastoral. Quando o pastor está convencido da necessidade, o fiel
passa a receber ajuda dos psicólogos.
Os atendimentos são agendados pela secretaria da sede. Esse ministério conta
ainda com o trabalho de uma estagiária do curso de psicologia, que realiza o
trabalho de triagem e a primeira entrevista.123
Afirma-se que o atendimento psicológico visa a dotar a Igreja de um recurso que
auxilie seus membros na busca da restauração do seu “eu”, da cura das feridas
mais íntimas e profundas, contando com o que a Igreja define ser um diferencial:
todo procedimento terapêutico é pautado nos princípios bíblicos, aliando-se
psicologia e teologia.
Pelo fato de os psicólogos serem membros da própria Igreja, há uma comunicação
entre pastor e psicólogo, pois, da mesma forma que o pastor indica o psicólogo,
este, quando convencido de que o fiel superou seu problema, dá-lhe alta ou se
julgar necessário, encaminha-o para aconselhamento pastoral.
Segundo o entendimento dessa Igreja, o verdadeiro cristão busca chegar à
“estatura de varão perfeito”, por isso deve, a cada dia, ficar mais parecido com
Jesus. Sendo assim, precisa estar limpo e liberto de quaisquer laços ou prisões,
como feridas na alma e transtornos psicológicos. Dessa forma, essa Igreja afirma
que todas as patologias podem ser curadas espiritualmente, ou seja, pelo poder de
Deus mas, assim como Deus usa os médicos, dando-lhes sabedoria e conheci-
mento para tratar os transtornos físicos, da mesma forma, usa os psicólogos para
123 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 28.05.2010
http://www.comunidade.org.br/index.php.
85
tratar dos transtornos psicológicos (emocionais). Fundamenta-se no versículo
bíblico do profeta Daniel:
“... instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento...” (Daniel 1:4).
O Ministério de Psicologia Clínica da Comunidade Evangélica de Maringá conta
com uma equipe de três psicólogas, que realizam o atendimento sem custo algum
para os membros da sede e das congregações.
2.5 AS PRÁTICAS ÀS FAMÍLIAS E AOS CASAIS
A família é valorizada na Igreja Comunidade Evangélica de Maringá. O segundo
casamento não é realizado por essa denominação. Contudo, reflexo da sociedade,
o número de pessoas que estão no segundo casamento cresce de forma
significativa, e muitos casais nessa situação, tornam-se membros de alguma Igreja
Evangélica.
Assim como os casais do segundo casamento, mulheres separadas, mães solteiras
e avós que são chefes de família já somam um número expressivo dentro das
Igrejas. Por sua vez, a Comunidade Evangélica de Maringá acolhe essas pessoas,
minimizando ao máximo as sequelas das denominadas novas famílias, com
aconselhamento pastoral e psicológico, além de intensificar o seu trabalho, na
família tradicional.
Para isso, contam com o ministério de casais. Todos os casais da Igreja são
obrigados a participar do curso Casados para Sempre, importado dos EUA – MMI –
Marriage Ministries International, fundado em 1983, no Colorado.
O alvo do ministério e o propósito do curso Casados para Sempre é equipar e
capacitar os casais para lhes proporcionar vida em plenitude no relacionamento, o
que o ministério denomina de uma-só-carne. Assim, seriam capazes de cumprir o
chamado de Deus em suas vidas.
86
Nesse ministério, os princípios bíblicos são compartilhados semanalmente,
transmitindo aos casais maneiras de se relacionar entre os membros da família,
sob a influência do poder do Espírito Santo, tornando seus lares oásis de paz, para
sua vizinhança e comunidade, afirma a Comunidade Evangélica de Maringá. Dessa
forma, a Igreja declara que cada lar se torna um “farol”124, em que o casal torna-se
apto a ministrar salvação, libertação e cura, em nome de Jesus. Declara ainda que
a força, a unidade e o poder sinérgico que emana desse relacionamento de uma-
só-carne são usados por Deus para ministrar a outros casais.
Para aqueles casais, cujos lares estão enfrentando problemas no relacionamento
conjugal, a Igreja afirma que o curso oferece esperança de reconciliação e cura. Os
casamentos que ficaram “frios” e rotineiros, descobrem nova vida e vibração. Por
outro lado, afirmam que os casamentos que já têm uma base sólida caminham
para a excelência e aprendem a usar sua estabilidade para reproduzir vida em
outros casamentos.
O curso tem a duração de catorze semanas, sendo composto de catorze lições. As
aulas possuem dinâmicas e, segundo a Igreja, os casais, durante o curso, vibram
com o aprendizado e se fortalecem cada dia mais. O curso ajuda a construir
casamentos fortes, com base no diálogo, compreendendo as necessidades de
cada cônjuge, e com mudanças nos comportamentos, por meio da visão, do
propósito e do direcionamento oferecido pelo curso.
O curso Casados Para Sempre está aberto para os casais integrantes da Igreja e
também para casais que não são membros da Igreja.
124 Texto extraído do site oficial da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, em 28.05.2010
http://www.comunidade.org.br/index.php.
87
2.6 PRÁTICAS NA CONSCIENTIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DOS PAIS
Por meio do curso denominado Pais para toda Vida, a Igreja afirma que orienta e
estimula a conscientização da responsabilidade dos pais sobre seus filhos. Os pais
são orientados e treinados a perceberem que os filhos são o reflexo da educação
dos próprios pais e que, portanto, os filhos serão o reflexo deles. Os pais são
levados a compreenderem que, para dar estabilidade e segurança aos filhos, o
casamento deve estar sobre o que denomina a base da aliança, em que cada
cônjuge cumpre o seu papel.
O curso procura despertar nos pais a alegria e gratidão de entenderem os filhos
como um presente de Deus. São estimulados a descobrir o temperamento singular,
os dons de motivação e a linguagem de amor deles e a amá-los incondicional-
mente; a compreender a diferença entre contribuir e investir tempo na vida dos
filhos; a aprender a estar presente na vida diária deles, e a desenvolver um caráter
piedoso nos filhos, tanto nas atitudes como no comportamento.
O curso tenta orientar ainda sobre como exercer a disciplina baseada na
autoridade de pais e não no poder; como transferir sabedoria, compreensão e
conhecimento aos filhos, para que eles sejam felizes, protegidos e prósperos na
vida; como ter um relacionamento com alegria, entre os pais e filhos e entre os
irmãos.
Há ainda ensino de fundamentos da educação e da disciplina, a maneira de Deus,
sobre como criar a moral nas crianças, a fim de que os filhos tenham a capacidade
de discernir o certo do errado; como saber o momento certo e a forma correta de
dizer que ama o filho; e por fim, como ensinar os filhos a respeitarem corretamente
às autoridades, aos pais, aos idosos e a se tornem cidadãos honrados e
vencedores.
Durante o curso, há diálogo e troca de experiências entre os casais e entre os
palestrantes. O curso é disponível para os fiéis da Igreja e demais membros da
sociedade.
88
2.7 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO INFANTIL
O Ministério Infantil tem como objetivo, oferecer ensino religioso às crianças nos
horários de cultos e também nas reuniões de células. O alvo dos professores é
ensinar as crianças a pensarem, mediante as perguntas: O quê? Por quê?
Como? Onde? Quando? Por quem? Bem como motivá-las a meditar na palavra
de Deus diariamente, levando-as a conhecer mais a Deus.125
As crianças que participam desse ministério têm entre 18 meses a 10 anos de
idade e são organizadas por faixa etária: entre 18 meses a 3 anos; entre 4 e 6
anos; entre 7 e 8 anos; e por último, entre 9 e 10 anos.
As reuniões são realizadas às terças-feiras, quintas-feiras e domingos, com
ensino e aprendizagem, de acordo com a faixa etária e suas necessidades.
A reunião da terça-feira é denominada de célula. Os grupos de células são
compostos por crianças e juvenis de 6 a 12 anos, sempre às 20h, no templo da
Comunidade e nos templos dos bairros. O objetivo das células é discipular e
também agregar pessoas à Igreja, visa a alcançar vizinhos, amigos e parentes
dos frequentadores.
A cada dois meses, realiza-se uma confraternização entre as células, com
integração lazer e evangelismo entre as crianças e os amigos convidados. Com
os mesmos objetivos, a cada final de semestre, realiza-se outra confraternização
em uma chácara, onde cada células apresenta teatro, músicas ou danças.
Desenvolvem-se também algumas atividades como: escola bíblica de férias (4 a
12 anos), coral infanto-juvenil (7 a 16 anos), noite do pijama (2 a 6 anos) e
125 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, acessado em 02.06.2010
http://www.comunidade.org.br/index.php.
89
reuniões e acampamentos (7 a 12 anos), esportes e recreações (até 12 anos),
além de programas especiais em datas comemorativas.
2.8 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO DE ADOLESCENTES
A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que o Ministério de Adolescentes,
incentiva a participação dos juvenis nos discipulados. Por meio do ensino
religioso, a Igreja procura levar os adolescentes a terem compromisso com Deus,
com a Igreja e com a família. Para isso, eles são orientados a obedecer aos
fundamentos da vida cristã, como a fé, a santidade, o amor a Deus e ao próximo.
As atividades são semanais com o culto teen. As células (reuniões em grupos
pequenos), o curso de formação de líderes (discipulado) e o ensaio da banda
teen, são para aqueles com vocação musical. São realizadas também algumas
atividades anuais como os acampamentos, evangelismos, intercâmbios com
outros grupos evangélicos, e as tardes esportivas e recreativas, como gincanas e
arborismo.
Afirma-se que os adolescentes procuram se comportar dentro dos padrões
aprendidos na Igreja e se esforçam para influenciar no relacionamento familiar,
escolar e em seus círculos de amizades. O adolescente adquire consciência
sobre sua parcela de responsabilidade e sobre seus atos, segundo a Igreja.
Dessa forma, assumem uma postura de vida comedida, e a grande maioria deles
não fuma, não ingere bebidas alcoólicas, não usa drogas, não se envolve com o
crime, é avessa à violência, estuda mais, é consequentemente mais educada e
procura respeitar os pais e as autoridades.
De maneira geral, as Igrejas têm o propósito de formar pessoas, para seguir as
normas e crenças em Deus. E a Comunidade Evangélica de Maringá confirma
que procura orientar os adolescentes para amarem e “servirem” a Deus.
90
Os adolescentes procuram influenciar outras pessoas de sua convivência, na
família, escola, ministério e em seus círculos de amizades. O que se evidência é
que há benefícios também à Igreja, com o acréscimo de fiéis. A faixa etária varia
entre 13 a 17 anos, aproximadamente.
Por meio das reuniões de células, eles podem se expressar, perguntar, aprender
e ensinar. Há diálogo e comunhão. Esse ministério cria um ambiente acolhedor
para os participantes do grupo e também aos visitantes.
2.9 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO DE JOVENS Os integrantes deste ministério são os jovens que ultrapassaram a faixa etária
do grupo de adolescentes, ou jovens que se converteram com dezoito anos ou
mais. Estão incluídos neste ministério todos os solteiros.
As atividades reforçam e ampliam o ensino religioso, que foi aplicado pelo
ministério de adolescentes. Os temas das reuniões visam sempre a firmar o
compromisso com Deus e com a Igreja, e são abordados com mais ênfase do
que no ministério de adolescentes. Os temas principais são: vida religiosa e
familiar, trabalho, namoro, sexo, drogas e vícios em geral.
Os jovens são orientados sobre a importância e a responsabilidade de estudar,
escolher uma profissão, sobre o noivado, o casamento e preparados e
motivados para um relacionamento de acordo com os valores adquiridos na
Igreja e a expressá-los em sua família, na escola, na faculdade, no trabalho e
entre os amigos.
As atividades desse ministério são realizadas nos cultos específicos para os
jovens e em pequenos grupos (as células). São realizadas esporadicamente,
atividades de cunho evangelístico e de consciência sobre os problemas sociais,
por meio da distribuição de sopas e outros alimentos em ruas do centro da
91
cidade, onde há concentração de mendigos, drogados e prostitutas, ou em
bairros carentes.
Conforme declara a Igreja, a missão e os propósitos do Ministério de Jovens é
“ganhar” jovens não-cristãos, integrando-os a pequenos grupos, ensinando-os a
obedecer a Palavra de Deus, a fim de adorar e servir a Deus com suas vidas.
Para isso, orientam e incentivam esses jovens através do ensino religioso, a
praticarem a oração diaria, a fazerem leitura da Bíblia, terem uma vida exemplar,
com bom testemunho de vida cristã, afim que tenham maturidade espiritual e
que isso se reflita, em amor e serviço na pregação do Evangelho e àqueles que
não são convertidos a Jesus.
Cita-se a frase creditada a Joel A. Baker para expressar a visão desse
ministério:
"Visão sem ação não passa de sonho. Ação sem visão é só um passatempo. Visão com ação pode mudar o mundo”.126
2.10 PRÁTICAS NO MINISTÉRIO HOMENS E MULHERES DE NEGÓCIO.
Esse Ministério é voltado para os empresários, profissionais liberais, autônomos,
homens e mulheres de negócios. Foi criado no exemplo da Adhonep. Contudo, em
razão da distância daquela, que realiza suas reuniões normalmente em hotéis e
restaurantes de luxo, a Comunidade Evangélica de Maringá adaptou o conceito
para aplicá-lo na própria Igreja. As reuniões são realizadas às segundas-feiras às
18h30 min.
126 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, http://www.comunidade.org.br/index.php,
acessado em 02.06.2010.
92
Realizam-se ainda alguns eventos, como café da manhã, jantares, seminários ou
palestras nas empresas e em outros locais. Também são feitas visitas e
aconselhamento empresarial aos interessados.
As reuniões, além de motivacionais, são educativas e abordam temas sobre
administração e finanças. Há testemunhos de empresários e profissionais liberais
que experimentaram e obtiveram resultados positivos com o que aprenderam.
Afirma-se que esse ministério proporciona aos empresários e profissionais liberais,
o embasamento bíblico e a capacitação necessária para transpor todas as
barreiras que surgem no dia-a-dia, fortalecendo e incentivando, na orientação da
Palavra de Deus, o espírito empreendedor existente em cada um, a fim de que
venham a alcançar satisfação, vitória e prosperidade nos seus empreendimentos e
nas demais áreas de suas vidas.
Os temas abordados são variados, e qualquer pessoa interessada pode participar
das reuniões. Esse ministério recebe currículos de empregados que são anuncia-
dos aos participantes, proporcionando algumas oportunidades de emprego.
2.11 A IGREJA INSERIDA NOS BAIRROS CARENTES DA CIDADE
Maringá é uma importante cidade, tanto no Paraná quanto no Brasil. Atualmente,
ocupa a posição de terceira cidade mais populosa do Estado e a sexta cidade mais
rica do Paraná. No ranking nacional, é a 65ª cidade mais rica do país.
Lamentavelmente o progresso, o sucesso e a economia da cidade não consegui-
ram eliminar os mesmos problemas existentes nas demais cidades do país. Os
problemas sociais são reflexo de um complexo maior, entre os quais estão a
globalização e a exclusão social.
93
O analfabetismo, a falta de capacitação técnica, o desemprego, os crimes, o
consumo excessivo de álcool, consumo e tráfico de drogas, a prostituição, a
violência doméstica, a AIDS e o crescente número de adolescentes grávidas estão
entre as inúmeras mazelas que avançam na cidade de Maringá.
Nos Bairros João de Barro e Santa Felicidade, as consequências da exclusão
social são percebidas à luz do dia. Jovens e adultos podem ser encontrados
consumindo ou vendendo drogas. O alcoolismo também está presente em grande
parte da população masculina e tem crescido seu consumo também entre as
mulheres. Observam-se famílias sendo destruídas, seja por meio da prisão do
marido, seja pelas constantes intrigas que geram violência doméstica, separação
dos casais e a criação das chamadas novas famílias. Os filhos recebem, nessas
circunstâncias, um modelo de comportamento reprovável, mas que tendem a
repetir de forma ainda mais cruel.
A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá afirma que instalou suas
congregações em bairros específicos, principalmente nesses dois bairros, para
que, de acordo com a realidade destes, pudesse implementar melhor suas práticas
sociais, para amenizar os diversos problemas sociais ali encontrados. Nessa
expectativa, estabeleceu-se uma Congregação nos Bairros: Jardim Oasis, Jardim
Los Angeles, Zona 05, Jardim Alvorada e nos mais necessitados João de Barro e
Santa Felicidade.
2.12 A IGREJA COM UMA MISSÃO
A Igreja Comunidade Evangélica de Maringá entende, como a grande maioria das
Igrejas Evangélicas, que sua missão primordial é a pregação do evangelho.
Entretanto, como Igreja neopentecostal, enfatiza o que considera ser uma vida
plena. Essa referência à vida plena está relacionada às bênçãos que os fiéis têm à
disposição, pelo fato de terem se convertido ao evangelho, estando aptos, portanto,
a receberam a prosperidade e libertação - espiritual, emocional e financeira.
94
Descreve da seguinte forma a missão da Igreja:
Nossa missão é a pregação do evangelho e a capacitação do homem para a vida plena conferida por Cristo. Queremos que cada membro da Comunidade seja um ministro de Deus, cheio de fé, santidade, amor e compromisso com Deus e com o próximo.127
2.13 A ORGANIZAÇÃO REVIVER
As primeiras práticas sociais da Comunidade Evangélica de Maringá, focadas nos
Bairros João de Barro e Santa Felicidade, ocorreram de forma mais acentuada fora
do território da Igreja, ou seja, aconteceram dentro de um espaço cedido pela
direção da escola local, a Escola Municipal Benedita Natália Lima.
Essa prática social da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, nos bairros João
de Barro e Santa Felicidade, ficou conhecida como Projeto Cenita, em razão de a
Pastora Cenita ter iniciado e liderar as atividades no local.
Essas atividades se realizaram com ações de caridade e promoção humana,
desenvolvidas por meio de doações de alimentos, roupas, calçados, brinquedos e
também de orientações familiares, atividades festivas, fortalecimento espiritual,
atividades recreativas e educativas para crianças, acompanhada de distribuição de
lanches.
Com o passar do tempo, a Igreja percebeu a necessidade de uma ação mais
efetiva e resolveu separar as atividades religiosas das demais ações sociais e
valorizar as soluções do próprio bairro, pois as soluções eram de cima para baixo.
A Igreja afirma que refletiu sobre as necessidades reais daqueles excluídos e como
seria a melhor forma de contribuir para amenizar os problemas sociais, com mais
agilidade e eficiência. Para conseguir que as atividades resultassem numa 127 Site da Comunidade Evangélica de Maringá, http://www.comunidade.org.br/index.php
acessado em 07.06.2010.
95
abrangência maior das práticas sociais necessárias e desejadas para aqueles
bairros carentes, decidiu criar uma Organização por meio do Terceiro Setor.
Declara que entendeu que mais importante do que divulgar e propagar o nome da
denominação, era ajudar as pessoas excluídas e necessitadas. A Igreja com-
preendeu que a criação de uma organização romperia com o assistencialismo,
possibilitando também receber recursos de fontes diversas, inclusive dos não
simpatizantes com uma instituição religiosa.
Conforme afirma Kappaun128, no Terceiro Setor, o oferecimento de serviços à
população, por intermédio das ONGs, são mais eficientes do que aqueles que são
oferecidos pelo Estado, quando o Estado atua de forma insuficiente.
O Terceiro Setor se tornou possível devido às mudanças ocorridas a partir da
década de 1990, do modelo de associativismo em todo o mundo. A sociedade civil
mobilizou-se por meios dos movimentos sociais e das Organizações Não-
Governamentais (ONGs) para oferecer socorro, ainda que limitado, diante da
vastidão dos problemas sociais.
Segundo o autor, a transferência dos serviços públicos para a sociedade civil,
mediante as ONGs, trouxe à tona o denominado Terceiro Setor, que tem
representado um fenômeno de proporções mundiais e tem incorporado as ações
referentes ao enfrentamento das questões sociais, por meio de ações organizadas
pela sociedade civil e de empresas no mundo contemporâneo.
O Estado é o Primeiro Setor, representado por entes políticos, ou seja, as
Prefeituras Municipais, os Governos dos Estados e a Presidência da República,
além de entidades a estes entes ligados, como os Ministérios, as Secretarias, as
Autarquias, entre outras. Trata-se, portanto, do setor público, que obedece ao seu
caráter público e exerce atividades públicas e aplica, ou deveria aplicar o dinheiro
128 KAPPAUN, M. A Práxis Social da Igreja: Inserção Pública Transformadora. Campinas:
Editora Batista Independente, 2008. p.23.
96
público em ações para a sociedade, com a finalidade de diminuir as desigualdades
sociais, erradicar a pobreza, a marginalização e promover o bem-estar de todos,
sem preconceito de origem, etnia, gênero e cor, construindo uma sociedade mais
justa e solidária.
O Segundo Setor caracteriza-se por bens e serviços, com lucros e benefícios
próprios, voltados para si mesmos. Nele estão incluídos o mercado e as empresas
que exercem atividades privadas, ou seja, que atuam em benefício próprio e
particular, cujo objetivo é o sucesso e o lucro, sem compromisso com as condições
sociais do individuo.
Paradoxalmente, é o mercado, por meio das empresas, que investem no Terceiro
Setor. Dessa forma, as empresas contribuem economicamente, o que permite o
enfrentamento de parte dos problemas sociais, de uma parcela da grande popula-
ção excluída. Vale ressaltar que o investimento das empresas no Terceiro Setor
ocorre devido à motivação em receber incentivos fiscais, concedidos pelo Estado.
O Terceiro Setor nasceu da discussão sobre o fortalecimento da sociedade civil
que, em decorrência da democratização globalizada, o Estado não conseguiu
realizar sua função na totalidade. Dessa forma, seu objetivo é complementar ou
substituir as ações que deveriam ser executadas pelo Estado.
Assim, o Terceiro Setor é composto por organizações privadas, sem fins lucrativos,
que atuam nas lacunas deixadas pelos setores público e privado, buscando a
promoção do bem-estar social. Não é nem público nem privado, é um espaço
institucional que abriga entidades privadas com finalidade pública.
O Terceiro Setor é formado pelas ONGs, sem fins-lucrativos, ele pode ser de
natureza religiosa, filantrópica e solidária e prestar serviços gratuitos à população.
O termo ONG foi denominação dada pela ONU, para designar as entidades de
97
caráter privado, com fins públicos, executores de projetos humanitários ou de
interesse público transnacional.129
Mas isso não exime o Governo de suas responsabilidades, pois tais entidades são
um reconhecimento de que a parceria com a sociedade permite a formação de uma
sociedade melhor. O Terceiro Setor não é, e não pode ser, substituto da função do
Estado. A ideia é de complementação e auxílio na resolução dos problemas
sociais.
Com esse propósito, foi fundada, em junho de 2003, a Organização Reviver, para
ser o braço social da Comunidade Evangélica de Maringá. A Organização Reviver
é dirigida pela Pastora Irene Ribarolli Pereira da Silva, presidente da Comunidade
Evangélica de Maringá.
O início do trabalho da Organização Reviver caracterizou uma nova e importante
fase nas práticas sociais da Igreja. Contribuiu para incrementar as atividades
realizadas nos bairros João de Barro e Santa Felicidade, bairros pobres da cidade,
envolvendo voluntários na prestação de serviços e incentivando os fiéis a ter um
compromisso prático com os mais necessitados.
As ações deixaram de ser realizadas na Escola Municipal Benedita Natália Lima. A
Igreja construiu uma congregação no bairro e cedeu parte do espaço desse imóvel
para a realização das atividades da Organização Reviver.
Essa Organização afirma realizar as práticas sociais, de acordo com as normas
exigidas do CMDCA (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente) e COMAS
(Conselho Municipal da Assistência Social). Pautada em suas diretrizes, a
Organização Reviver elaborou o Projeto Reviver, que oferece ações voltadas a
crianças, adolescentes e seus familiares, contemplando também famílias em
situação de vulnerabilidade social.
129 BRITO, B. W.B.; LIBERAL, M.M.C. O Impacto da Práxis Religiosa na Construção de Vínculos
Sociais. São Paulo: Editora Expressão & Arte, 2009. p. 81.
98
A Organização Reviver conta, em seu quadro de recursos humanos, com três
instrutores contratados. Também dispõe da contribuição de voluntários, uma
assistente social, uma coordenadora de projetos, além de vários outros
profissionais de diversas áreas de atuação.
Os principais objetivos da Organização Reviver são:
Promover a inclusão social de crianças e adolescentes em situação de risco;
oferecer novas alternativas para a geração de renda às famílias; resgatar a
dignidade pessoal, elevando a autoestima e autoconfiança; fortalecer e preservar a
família.
2.14 PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO E APOIO ÀS FAMÍLIAS
O Programa de orientação e apoio às famílias tem como objetivo principal
complementar as ações que foram ou estão sendo desenvolvidas com as crianças
e os adolescentes que estão matriculadas na Organização Reviver.
Por meio das atividades e demais ações feitas junto às famílias dessas crianças ou
desses adolescentes, procura-se contribuir para melhorar o convívio familiar e,
consequentemente, o seu bem-estar social.
As ações deste programa são definidas de forma a:
Realizar encaminhamentos aos recursos da comunidade; desenvolver a cidadania;
melhorar a relação afetiva com os filhos; orientar na solução das dificuldades
pessoais e familiares; melhorar o nível de conhecimento e informações por meio de
palestras.
99
2.15 CURSOS DE CULINÁRIA E ARTESANATO.
Esses cursos, para sua operacionalização, conta com parcerias para o patrocínio
financeiro e ocupação do espaço físico. O público alvo da ação são os familiares
dos alunos inseridos nos projetos da Organização Reviver e as famílias em
situação de vulnerabilidade social.
A pretensão dos cursos é despertar o interesse em desenvolver a arte da culinária
e do artesanato como alternativa de geração de renda. A culinária visa também a
instalar novos hábitos alimentares, para melhorar o padrão de saúde da família,
desenvolver hábitos de higiene no preparo dos alimentos, elevar a autoestima e
melhorar o relacionamento familiar.
2.16 OFICINA DE RECREAÇÃO
Voltada para crianças e pré-adolescentes entre 7 e 12 anos de idade, de ambos os
sexos, a oficina de recreação tem como objetivo tirar as crianças e os adolescentes
das ruas, desenvolver a consciência crítica, promover o interesse coletivo, além de
elevar sua autoestima e autoconfiança.
Nelas, as atividades oferecidas são futsal, a biblioteca ambulante, desenhos e
fantoches, confecção de brinquedos com garrafas pet, resgate das brincadeiras
antigas, como amarelinha, lenço-atrás e cabo-de-guerra.
2.17 ACADEMIA DE MÚSICA
As aulas da academia de música tem a finalidade de aprimorar a concentração, a
disciplina, a criatividade e o equilíbrio físico e emocional.
Seu público alvo são as crianças e jovens entre 8 a 17 anos de idade, de ambos os
sexos. As aulas são de violão, teclado, bateria, contra baixo e guitarra.
100
O objetivo principal é utilizar a música como elemento de desenvolvimento pessoal
de transformação e inclusão social, além de propiciar o conhecimento e
aprimoramento nos instrumentos e nas técnicas musicais, visando à harmonia dos
grupos a serem criados, bem como a execução de audições e apresentação de
recitais.
2.18 OFICINA DE DANÇAS
Criada para atender as crianças de 6 a 12 anos de idade, de ambos os sexos, a
oficina de danças desenvolve os cursos de Ballet e Street Dance. Seu objetivo é
evitar que as crianças fiquem nas ruas, promovendo assim, a inclusão social dos
alunos e o desenvolvimento de habilidades específicas, por meio da dança, como
resistência, força, flexibilidade, agilidade, destrezas motoras e comunicação
corporal.
2.19 O RECONHECIMENTO DE UTILIDADE PÚBLICA DA ORGANIZAÇÃO REVIVER. Por meio do Projeto de Lei n.11.331/2009, de autoria do Vereador Paulo Soni, a
Organização Reviver foi declarada de Utilidade Pública para a cidade de Maringá.
Por meio desse reconhecimento, ampliou-se a credibilidade da população sobre as
atividades realizadas e geraram-se outras oportunidades para receber recursos em
função dos trabalhos realizados pela Organização. O reconhecimento motivou
também a vinda de novos voluntários para os trabalhos efetuados e motivou outros
a divulgar e participar financeiramente do projeto.
2.20 PROJETOS FUTUROS A Organização Reviver pretende ampliar significativamente o número de pessoas
atendidas, aumentando também as atividades e demais projetos que possibilitem
contribuir para a transformação dos indivíduos e da sociedade local.
101
Contudo, é pequeno o local onde a Organização atende no conjunto habitacional
João de Barro/Santa Felicidade, em Maringá, ao lado da Congregação da
Comunidade Evangélica de Maringá, o que limita a ampliação das atividades.
Dessa forma, há um projeto para a aquisição de um novo espaço para a
construção da sede da Organização Reviver, com área suficiente para atender o
maior número possível de pessoas.
102
CAPÍTULO 3 CONCEITOS E ANÁLISES DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA IGREJA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ Após descrever as principais práticas sociais, realizadas tanto interna como
externamente, pela Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, neste capítulo,
serão abordados temas importantes para a estruturação desta pesquisa, como a
transformação do indivíduo e da sociedade.
Dessa forma, serão mencionados o conceito de pastoral e as críticas ao termo
ministério, a contribuição da educação para a transformação social, os conceitos de
Práxis, a diferença entre Práxis e Prática, a origem e aplicação da Práxis após
Marx. Posteriormente, as práticas sociais da Igreja Comunidade Evangélica de
Maringá serão novamente mencionadas, para a realização da análise, à luz da
Práxis Religiosa.
3.1 A PASTORAL, OS CONCEITOS E AS CRÍTICAS AO TERMO MINISTÉRIO Conforme ensina Silva130, estabeleceu-se ao termo ministério, uma forte crítica,
como categoria abarcante e descritiva das ações eclesiais e por sua íntima relação
com a teologia pastoral anglo-saxônica.
Segundo o autor, na tradição católica, a partir do Vaticano II e de Medellin, a Igreja
Católica Romana, no contexto da América Latina, experimentou uma radical
mudança no seu processo de formação pastoral e no agir da Igreja. A nova ótica se
estabelece a partir da análise da realidade, desenvolvendo um novo instrumental
teológico e uma nova postura pastoral, pela necessidade de uma pastoral que 130 SILVA, G.J. Idéias Fundamentais Para o Estudo da Teologia Prática: Uma Abordagem a
Partir da Questão do Método. São Bernardo do Campo: Estudo de Religião nº 12/1996. p. 207.
103
consiga adaptar-se às diversidades e pluralidades culturais e sociais do povo latino
americano.
Dessa forma, conforme Silva, a pastoral deixou de ser um instrumento para manter
a tradição e começou a ter uma dimensão social e política. O agente da pastoral
não está mais preocupado com a manutenção, mas com as possibilidades de
atuação na sociedade, em especial com os menos favorecidos.
Na definição de Libanio131, pastoral é a Igreja em marcha, é o agir da Igreja no
mundo, é a sua face prática.
Castro132 define o termo pastoral no âmbito católico, como a ação do povo de Deus
na comunidade eclesial e principalmente na realidade social. Pastoral é a ação do
povo de Deus na realidade cotidiana, onde, na relação tempo e espaço, o ser
humano se encontra. A preocupação básica da pastoral é a eficácia e a relevância
da fé cristã. Para o autor, a pastoral é também responsável pela inserção do povo
de Deus no espaço público.
Argumenta ainda que pastoral é ação intencional, sistemática e organizada
coletivamente, fruto do esforço missionário da Igreja que busca mudanças,
vislumbrando novos tempos na perspectiva do reino messiânico de Deus. Não se
trata de qualquer tipo de ação; não pode ser vazia de sentidos. É a ação que
instaura o novo. Não é ação isolada, individual e personalizada do pastor ou da
pastora, mas a ação da comunidade da fé, organizada em pastorais específicas,
que atua e colabora na produção de eventos de ação pública.
Castro descreve que, no senso comum das comunidades evangélicas, o conceito
de pastoral tem um forte conteúdo clerical que se relaciona com atividades do
pastor ou da pastora, o que gera certa confusão entre os evangélicos quanto ao
uso do termo pastoral. O autor ressalta ainda que ministério, com certa probabili-
131 LIBANIO, J.B. O que é Pastoral. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p.11. 132 CASTRO, C.P., op. cit., p.105.
104
dade, é a expressão usada pelos evangélicos que mais se aproxima do sentido da
palavra pastoral. Na experiência católica, o termo pastoral tem encontrado maior
ressonância, e a comunidade procura vivenciá-lo de forma mais presente nas
ações pastorais. O termo ministério não traduz a realidade, nem motiva os fiéis que
não compreendem seu significado.Trata-se de uma palavra bonita, porém vazia.
Segundo Silva, no decorrer da história da Igreja, tanto de tradição católica como de
protestante histórica, em dado momento, o termo teologia pastoral foi absolvido
como pastoral ou ministério. Diversas tentativas foram realizadas no sentido de
substituir o termo ministério. Porém, ressalta o autor, que até os esforços liderados
pelo Centro Evangélico Latino-Americano de Estudos Pastorales (Celep) não
obteve êxito.
As Igrejas Evangélicas são resistentes ao termo pastoral e continuam a desen-
volver as suas experiências sempre voltadas para a visão de ministério. O termo
pastoral continua, em muitos círculos, com dificuldade de compreensão, por mero
preconceito ao termo, ou pelo fato de a palavra ser utilizada pela Igreja Católica.
A Comunidade Evangélica de Maringá, neste sentido, tem o mesmo entendimento
da maioria das Igrejas Evangélicas. Prefere denominar as áreas de atuação dentro
e fora da Igreja com o termo ministério. Os fiéis não são contemplados por um
termo mais exato e didático, pois o termo ministério não traz de imediato uma
relação com o seu objetivo central.
O termo pastoral, ao contrário da palavra ministério, favorece o entendimento, em
especial do leigo, e colabora para o entendimento de seu significado e objetivo. A
declaração de Clovis Pinto de Castro pode ser mencionada como exemplo de uma
melhor compreensão do termo, quando utiliza-se a palavra pastoral, ao afirmar que
a pastoral é a ação do povo de Deus na realidade cotidiana, onde, na relação
tempo e espaço, o ser humano se encontra133.
133 Ibid., p.105.
105
3.2 A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Uma das formas de se definir educação é afirmar que trata-se do processo pelo
qual a sociedade forma seus membros a sua imagem e em função de seus
interesses.134Por consequência, a educação é a formação do homem pela
sociedade, ou seja, o processo pelo qual a sociedade atua constantemente sobre o
desenvolvimento do ser humano, no intento de o integrár no modo de ser social
vigente e de o conduzir a aceitar e buscar os fins coletivos.
Álvaro Vieira Pinto135 declara que, no ato do ensino, o educador se defronta com
verdadeiras dificuldades, obstáculos reais, concretos, os quais precisa superar. A
educação é, para o autor, a transmissão de uma consciência a outra, de alguma
coisa que um já possui e o outro ainda não. Não se trata da entrega de um
embrulho de uma pessoa para outra, mas de possibilitar uma modificação no modo
como essa outra pessoa, que é o aluno, está capacitada para receber
embrulhos136. Para o autor, a educação implica uma modificação de personalidade
e é por isso que é difícil de se aprender, porque ela modifica a personalidade do
educador ao mesmo tempo em que vai modificando a do aluno.
Na definição de Vieira Pinto, a função de educar é um atributo da elite social, de
onde derivam seus status de possuidora do saber e da cultura. Nas sociedades em
que não há oportunidades e o poder econômico se acha concentrado, a função de
educar é delegada a um pequeno grupo de indivíduos instruídos e deles se espera
que sirvam aos objetivos de tal sociedade. Nesta sociedade, o educador é
134 PINTO, A. V. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: Cortez Editora, 1994, 9ª.
Edição, p.29. 135 Ibid., p.21. 136 Ibid., p.22.
106
concebido sempre como um funcionário, um servidor e não como um portador de
uma consciência.137
O motor da educação está no interesse da sociedade em aproveitar para seus fins
coletivos (definidos pelas camadas dirigentes), a força do trabalho de cada um de
seus membros. A finalidade da educação precisa ser nacional em sua plena
significação, pois deve ter como objetivo a transformação da nação. Por isso, a
educação tem de ser popular, por sua origem, por seu fim e por seu conteúdo. A
transformação das pessoas é o que constitui a substância da mudança na
realidade da nação.
Vieira Pinto define educação popular como a que dá possibilidade igual para todos,
em qualidade e quantidade, pois a finalidade da educação não se limita à
comunicação do saber formal, científico, técnico, etc. A comunicação é
indispensável para esses saberes; porém, segundo o autor, o que se intenta por
meio da educação é a mudança da condição humana do individuo que adquire o
saber.
Para Paulo Freire, a preocupação com o futuro, é a dimensão utópica da
educação138. Gromme, sobre isso, comenta que Paulo Freire quer dizer com isto
que a educação não deve permitir que a pessoa se molde pelo que já é, mas se
deve levá-la a construir um mundo melhor. Caráter utópico da teoria e prática da
educação, segundo Groome, é tão permanente quanto a própria educação.139
Segundo o autor, o homem educado pela sociedade modifica esta mesma
sociedade como resultado da própria educação que dela recebe. O que permite
refletir e afirmar é que esta verdade pode caminhar tanto para o bem como para o
mal, dependendo de como a sociedade o educou.
137 Ibid., p.48. 138 FREIRE, P. Ação Cultural para a Liberdade. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1981. p 48. 139 GROMME, T. H. Educação Religiosa, Compartilhando Nosso Caso e Visão. São Paulo:
Editora Paulinas, 1985. p.28.
107
Contudo, a educação é substantiva e altera o ser do homem, e o homem que
adquire o saber, passa a ver o mundo e a si mesmo de um outro ponto de vista,
tornando-se um elemento transformador de seu mundo. Por isso, para o autor a
finalidade essencial da educação é a razão de que todo movimento educacional
tenha consequências sociais e políticas.140
3.3 A ORIGEM E O CONCEITO DE PRÁXIS NA GRÉCIA ANTIGA Santos Junior141 menciona que o conceito de práxis sofreu alterações e incorporou
contornos que melhor lhe definiram ao longo da história.
A partir da antiguidade grega, a filosofia ignorou e, muitas vezes, reprimiu o mundo
prático, pois a atividade prática era concebida como indigna de um ser humano
livre, pois todo trabalho braçal era realizado pelos escravos. Contudo, segundo
Floristan142, a origem da práxis se encontra nessa filosofia grega clássica, e foi
Aristóteles quem diferenciou práxis (atividade inseparável) de poiésis (ação transi-
tiva). A Práxis é um trabalho humano.
A práxis era definida como atividade imanente, como é a filosofia e a política,
enquanto a poiésis foi conceituada como uma ação transitiva, como a produção
artística ou técnica. Nessa forma de pensar, a práxis é um trabalho humano distinto
da técnica, ou da arte. Diferenciou-se também a práxis como atividade política da
vida teórica, por meio do uso da inteligência. Colocou-se teoria sobre a práxis.
A separação entre teoria e prática foi um trabalho realizado por Platão. Floristan
ressalta que a palavra teoria procede do verbo “teoreo”, que equivale a contemplar.
Donde se associa à contemplação das ideias, é dizer o real que está atrás das
aparências. Neste sentido, a teoria é um privilégio de uma minoria; à maioria das
140 PINTO, A.V. op. cit., p.49. 141 SANTOS JUNIOR, op. cit., p.89. 142 FLORISTAN, C. op. cit., p.173.
108
pessoas basta à prática, ou participação na vida comunitária. A poiésis era
reservada aos escravos.
Os escolásticos traduziram a palavra grega práxis por ato, agir, que cedeu lugar ao
termo ação; e poiésis foi traduzida por produto, fazer. A práxis, segundo Aristóteles,
não é meramente a prática.
Conforme afirma Santos Junior, Platão reconhece uma práxis política a partir dos
princípios da teoria. A ideia de práxis na sociedade grega escravista corresponde
aos interesses de uma oligarquia dominante que não tem interesse na transforma-
ção dessa situação, ao contrário, prefere sua manutenção. Dessa forma, a práxis,
nesse período, é uma atividade relacionada à polis, exercida por homens livres, e a
reflexão era um elemento constante na práxis.
Santos Junior afirma que, nos primórdios da Grécia, existiram três atividades
humanas básicas; a práxis, a poiésis e a theoria. A partir disso, a atividade humana
tem sido objeto de estudo e debate entre os estudiosos em torno das diferenças
entre teoria e prática, ação e contemplação.143 O aprimoramento humano ocorria
pela negação de qualquer atividade prática material, separando a teoria, a
contemplação e a prática. Floristan declara que o cristianismo viveu durante anos a
tensão entre a ação e a contemplação, pois durante séculos se viveu apenas a
contemplação.
3.4 O CONCEITO DE PRÁXIS EM MARX
Santos Junior144, ao citar as onze teses de Feuerbach, escritas por Karl Marx em
1845, declara que a décima primeira tese é uma síntese do pensamento marxista: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes, a questão é transformá-lo.” 145
143 SANTOS JUNIOR, O.O. op. cit., p.90. 144 Ibid., p.96. 145 MARX, K.; ENGELS, F. op. cit., p.111.
109
A tese menciona que qualquer vida social é essencialmente prática e que todos os
mistérios que levam ao misticismo encontram sua solução racional na práxis
humana e na compreensão dessa práxis.
Gruner146, por sua vez, afirma que a famosa décima primeira tese sobre Feuerbach
pode ser tomada, entre outras coisas, como um enunciado de epistemologia
radical, ou como um ultracondensado discurso do método de Marx. Para o autor,
Marx está afirmando que a transformação do mundo é a condição de uma
interpretação correta e objetiva e vice-versa. Dessa forma, a interpretação já é, de
certa forma, uma transformação da realidade que implica sentido amplo, mas
estrito, a um ato político, e não meramente teórico.147 Segundo o autor, é isso que
encerra o conceito de práxis que Marx toma dos antigos gregos. A práxis não é
simplesmente a unidade da teoria e da prática, pois assim a teoria e a prática
seriam duas entidades originais e autônomas, preexistentes, que logo a práxis viria
juntar de alguma forma e com certos propósitos.
Porém, Eduardo Gruner afirma que sua lógica é exatamente inversa, porque
sempre há práxis, pois a ação é a condição do conhecimento e vice-versa, pois
ambos polos estão constitutivamente coimplicados, que pode-se diferenciar os
momentos lógicos e não cronológicos nem ontológicos, com sua própria
especificidade e autonomia relativa, mas ambos no interior de um mesmo
movimento, da realidade social.148 Esse movimento, na maior parte das vezes
inconsciente, é o movimento da própria realidade social e histórica. Não se trata
esse movimento nem do puro pensamento teórico, nem da pura ação prática.
146 GRUNER, E. A Teoria Marxista Hoje, Problemas e Perspectivas. São Paulo: Clacso, Editora
Expressão Popular Ltda, 2006. p.103. 147 Ibid., p.104. 148 Ibid., p.104.
110
Conforme Gruner, o que a genialidade de Marx fez foi mostrar que esse é o
movimento da realidade, e denunciar que certo pensamento hegemônico, ou
ideologia dominante, tende a ocultar essa unidade profunda, a manter separados
os momentos, promovendo uma divisão social do trabalho, com o objetivo de
legitimar o universo teórico da pura interpretação, como patrimônio do Amo; o
universo prático da pura ação é patrimônio do Escravo.
Nessa lógica, a classe dominante sabe que nem sempre a pura abstração da
teoria, nem o puro ativismo da prática tem realmente consequências materiais
sobre o estado de coisas do mundo, não produzindo o verdadeiro conhecimento da
realidade, no sentido de Marx.
Consoante Gruner, Marx tenta resolver, mediante a introdução da práxis da história
material, como critério básico do complexo conhecimento transformador/transfor
mação conhecedora, o falso dilema entre a ideia sem matéria e a matéria sem
ideia.149 E que a práxis que fundamenta o método de Marx constrói e produz seus
próprios objetos150, e de reconstruir e reproduzir os objetos, que são produtos da
práxis social-histórica em sua complexa totalização.
Dessa forma, Santos Junior descreve que o aporte filosófico moderno sobre a
práxis corresponde a Karl Marx. As ideias surgem da práxis material pela revolução
econômica e social, pela transformação na raiz.151 Descreve também que, para
Marx, o critério da verdade é a práxis da pessoa humana. A práxis é o fundamento
e fim de toda teoria. A partir de Marx, a práxis passa a ser compreendida como
prática social, atividade humana transformadora do mundo, pois não existe
possibilidade de emancipação e supressão das desigualdades entre as classes
sociais sem atitude práxis, porque nem a teoria, nem a prática, nem a existência
social podem libertar o ser humano.
149 Ibid., p.110. 150 Ibid., p.139. Objeto para o autor: o capitalismo, a exploração, a mais valia, a luta de classes,
etc. 151 SANTOS JUNIOR, O.O. op. cit., p.96.
111
3.5 O CONCEITO E DIFERENÇAS ENTRE PRÁXIS E PRÁTICA EM VÁZQUEZ Vazquez realiza uma importante colaboração, ao esclarecer a diferença entre a
práxis e a prática, pois há uma tendência em associar os termos como sinônimos, o
que indubitavelmente é um equívoco irreparável.
Com a intenção de trazer luz sobre a associação entre esses termos, o autor, de
forma didática, enfatiza que toda práxis é atividade, mas que nem toda atividade é
práxis152·. Não existe igualdade entre atividade e práxis. Ele define por atividade,
em geral, o ato ou o conjunto de atos em virtude dos quais um sujeito ativo
modifica uma matéria-prima dada. Neste sentido, ato é sinônimo de ação.
Pela generalização, essa caracterização da atividade não especifica o tipo de
agente, quer seja físico, biológico ou humano, nem a natureza da matéria-prima
sobre o qual atua, nem tampouco determina a espécie de atos (físicos, psíquicos
ou sociais) que levam a certa transformação. O resultado da atividade, ou seja, seu
produto, também se dá em diversos níveis, um conceito, uma obra artística ou um
novo sistema social.
Deste amplo sentido, atividade opõe-se à passividade e sua esfera é a da
efetividade, não a do meramente possível. Para o autor, agente é o que age, o que
atua, e não o que tem apenas a possibilidade ou disponibilidade de atuar ou agir,
pois sua atividade não é potencial, mas sim atual. Ocorre que o ato, ou o conjunto
de atos sobre uma matéria, traduz-se em resultado ou produto, que é a própria
matéria já transformada pelo agente.
Para Vazquez, o homem ainda pode ser sujeito das atividades biológicas ou
instintivas. Entretanto, a atividade humana apenas se verifica quando os atos
152 VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da Práxis. São Paulo: Clacso, Editora Expressão Popular Ltda,
2007. p. 219.
112
dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou com
um fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real.
A atividade humana tem um caráter consciente em virtude da antecipação do
resultado que se deseja obter pela intervenção da consciência, pelo resultado ideal
e pelo produto real. O resultado real é o que se desejou obter e existia inicialmente
como um ideal.
Dessa forma, Vazquez concebe que a atividade humana se orienta conforme os
fins, e estes só existem por meio do homem, como produtos de sua consciência.
Assim, toda ação verdadeiramente humana exige certa consciência de um fim que
se sujeita ao curso da própria atividade.153
Neste sentido, o fim é a expressão de certa atitude do sujeito diante da realidade.
O fim prefigura idealmente o que ainda não se conseguiu alcançar, mas pelo fato
de traçar fins, o homem nega uma realidade efetiva e afirma outra que ainda não
existe. Logo os fins são produtos da consciência, e por isso a atividade que regem
é consciente.
A atividade da consciência é inseparável da atividade humana, pois se apresenta
como elaboração de fins e produção de conhecimentos em íntima unidade. Se o
homem aceitasse sempre o mundo como ele é, e se, por outro lado, aceitasse
sempre a si próprio em seu estado atual, não sentiria a necessidade de transformar
o mundo nem de transformar-se.154
Vázquez declara que o homem age conhecendo, da mesma maneira que se
conhece agindo. Contudo, a atividade da consciência tem um caráter que o autor
define como teórico, pois não pode conduzir por si a uma transformação da
realidade, natural ou social. A consciência não ultrapassa seu próprio âmbito; sua
153 Ibid., p. 222. 154 Ibid., p.224.
113
atividade não se objetiva ou se materializa, por essa razão, são atividades, não são
de modo algum, atividade objetiva, real, não é práxis.155
Segundo o autor, a atividade prática ocorre quando o sujeito age sobre uma
matéria que existe, independentemente de sua consciência e das diferentes
operações ou manipulações exigidas para sua transformação. É o agir sem
reflexão, é o repetitivo. Já a práxis se apresenta como uma atividade material
transformadora e adequada a fins156·. A práxis é ação do homem sobre a matéria e
a criação e, por meio dela, uma nova realidade157. De fora fica a atividade teórica,
que não se materializa, na medida em que é atividade espiritual pura, entretanto
não há práxis como atividade puramente material, sem a produção de fins e
conhecimentos que caracteriza a atividade teórica.
A práxis, segundo Vázquez, pode ser analisada por dois diferentes níveis: a práxis
criadora e a práxis reiterativa. E isso de acordo com a penetração da consciência
do sujeito ativo no processo prático e com o grau de criação ou humanização da
matéria transformadora, destacado no produto de sua atividade prática. Dessa
forma, para determinar o que é práxis, conforme o autor, é necessário delimitar o
mais profundo possível as relações entre teoria e prática.
3.6 O CONCEITO DE PRÁXIS EM CASIANO FLORISTAN
De acordo com Floristan, o cristianismo pode ser e de fato é, interpretado de
muitas maneiras. Para o autor, entender a vida cristã como um trabalhar segundo o
evangelho significa aceitar a práxis como categoria central.
As teologias atuais, direta ou indiretamente práticas, acentuam a referência à
práxis libertadora da pessoa e do mundo, pondo em relevo a atuação reta da Igreja
e dos cristãos, conforme as normas e diretrizes do reino de Deus no presente
155 Ibid., p.225. 156 Ibid., p.237. 157 Ibid., p.265.
114
mundo. A partir desse pressuposto, o autor examina Teologia Prática como
Teologia da Práxis da Igreja e examina também qual o sentido que a práxis tem.
Casiano Floristan define o termo práxis como equivalente à ação ou à atividade.
Está ligado ao desenvolvimento do pensamento marxiano na filosofia moderna,
pois, após Marx, a práxis se entende como prática social, como atividade humana
transformadora do mundo. A práxis é atividade conscientemente, dirigida a um fim.
Todavia, o autor argumenta que nem toda atividade ou ação do homem é práxis,
embora toda práxis seja atividade ou ação humana. Atividade humana é ação
consciente, sobre um projeto ou resultado ideal e que finaliza com um resultado
real.
O binômio dialético teoria-praxis se estabelece mediante uma relação entre um
modo de pensar e a forma de atuar. A cabeça (as ideias) trabalha tanto como as
mãos (a prática).Teoria e práxis se incluem mutuamente; esta mútua implicação
permite que se fale de teoria da práxis e de práxis da teoria. Segundo Casiano
Floristan, quando se acentua excessivamente a práxis em detrimento da teoria,
cai-se no pragmatismo; e quando se acentua exageradamente a teoria em
depreciação da práxis, chega-se ao idealismo. Por isso o autor afirma que em
nenhum caso deve-se separar a teoria e a prática, nem tão pouco elas devem se
afrontar. Entre teoria e prática, há uma relação dialética, permanente dinâmica, às
vezes problemática, mas isso deve-se resolver em forma de sínteses ou em modo
de superação .
A consciência ordinária (comum, em estado normal) de tipo imediato, particular e
individualista percebe a atividade prática, ou o prático, como ação espontânea e
repetitiva do cotidiano. Não acredita que necessita de alguma explicação teórica.
Não é consciente da quantidade de prejuízos, hábitos mentais e referências
comuns, que a bloqueiam, para examinar a fundo esse tipo de atividade prática. O
homem prático rechaça qualquer teoria. Não admite que o melhor remédio à uma
prática ruim é uma boa teoria .
115
A consciência ordinária do homem (sem reflexão) tem crescido historicamente até
se transformar em consciência crítica, ao menos em certo setor humano. O
caminho tem sido dialético e problemático, mediante um processo de luta de um
grupo social dominado contra a classe social dominante. Casiano Floristan entende
que, a partir de certas contribuições de Marx, completadas com outras correntes
pragmáticas ou existencialistas, a práxis passou a ser mudança social e
compromisso militante, transformação de estruturas e atitudes críticas, renovação
do sistema e emancipação pessoal. Não é mera prática, repetição ou
inalterabilidade.
A práxis é um ato do homem total, produzindo efeitos totais, em todas, as áreas ao
mesmo tempo. Contudo, o autor afirma que uma práxis capaz de criar um homem
novo e de modificar a ação humana radicalmente em todas as áreas não existe.
Ocorrem somente práxis parciais, com efeitos parciais.158
Segundo Casiano Floristan, as características da práxis podem ser descritas como:
ação criadora e não meramente reiterativa; ação reflexiva e não exclusivamente
espontânea ; ação libertadora e de modo nenhum alienante; ação radical e não
meramente reformista.
3.6.1 PRÁXIS COMO AÇÃO CRIADORA E NÃO MERAMENTE REITERATIVA
Para que a práxis seja ação criadora é necessário um certo grau, de consciência
crítica no agente que atua e determinado nível de criatividade que se reflita no
criado. A práxis é criadora e inovadora frente a novas realidades ou novas
situações. Para o homem, não basta repetir ou imitar o resultado, mas inventar,
criar.
158 FLORISTAN, C. op. cit., p.179.
116
3.6.2 PRÁXIS COMO AÇÃO REFLEXIVA E NÃO EXCLUSIVAMENTE ESPONTÂNEA
A práxis criadora exige uma elevada atividade de consciência crítica. Para superar
o nível espontâneo da prática é necessário um alto grau de reflexão. É preciso ser
critico: saber o que se busca e onde encontrá-lo. Por isso, a transformação sobre
muitos aspectos não poderá ser, às vezes, nem muito rápida, nem tão radical como
se deseja.
3.6.3 A PRÁXIS COMO AÇÃO LIBERTADORA E DE MODO NENHUM ALIENANTE
A ação humana é práxis na medida em que se molda a um projeto de libertação. O
fim de toda atividade prática, ou de toda práxis é a transformação real do mundo
natural ou social, cuja realidade deve ser uma nova realidade, mais humana e mais
livre.
3.6.4 A PRÁXIS COMO AÇÃO RADICAL E NÃO MERAMENTE REFORMISTA
A práxis intenta transformar a organização e a direção da sociedade, modificando
as relações econômicas, políticas e sociais. Como a sociedade está dividida em
classes sociais, nasce a luta de classes entre si, e daí emerge a atividade política.
A práxis política alcança sua forma mais elevada na práxis radical, pois intenta
transformar pela raiz as bases econômicas e sociais em que se assenta o poder
das classes dominantes, para construir uma nova sociedade.
117
3.7 A ANÁLISE DAS PRÁTICAS SOCIAIS DA COMUNIDADE EVANGÉLICA DE MARINGÁ À LUZ DA PRÁXIS RELIGIOSA Com o intuito de conhecer a Comunidade Evangélica de Maringá, para posterior
análise de suas práticas sociais, inicialmente foram descritas informações sobre a
cidade onde a Igreja está estabelecida, sua história e algumas características atuais.
Na continuidade da pesquisa, foram narrados os fatos que antecederam o
surgimento da Comunidade Evangélica de Maringá, a história da fundadora e a
fundação da Igreja. Posteriormente foram descritas as características quanto à
teologia da Igreja e algumas peculiaridades sobre a sua forma de interagir com seus
fiéis, inclusive por não valorizar os pedidos de dízimos e ofertas em seus cultos,
apesar de ser uma Igreja neopentecostal. Foram descritas também as práticas
sociais internas e externas, realizadas pela Igreja Comunidade Evangélica de
Maringá, e narrados de forma concisa alguns conceitos sobre práxis.
Desta maneira, fundamentados no conceito de práxis, descritos anteriormente, de
modo sucinto, serão novamente mencionadas às práticas sociais da Comunidade
Evangélica de Maringá, para a análise pretendida.
O objetivo é identificar se, por meio destas práticas, estão ocorrendo ações que
levam o indivíduo, para além do assistencialismo ou do proselitismo, colaborando
com o rompimento da condição de oprimido ou excluído, promovendo-o para uma
transformação social, por meio da colaboração da práxis religiosa dessa Igreja, com
base nos referenciais teóricos e nas observações do pesquisador.
A práxis religiosa se encarrega de estudar o fenômeno religioso, de analisar o
processo de ações que ocorrem dentro dos grupos e na sociedade. Neste sentido, a
práxis religiosa não pode ser confundida com o pastorado, que se refere ás funções
específicas do pastor e ao exercício dos atos relacionados às pessoas reconhecidas
para essa função. Da mesma forma, a práxis religiosa não pode ser confundida com
o exercício do testemunho de serviço da comunidade, ou seja, com a pastoral.
118
Para a análise, buscaremos identificar as principais características da práxis como:
a) ação criadora e não meramente reiterativa, inovadora, frente a novas realidades
ou novas necessidades; b) ação reflexiva e não exclusivamente espontânea, para
superar o nível espontâneo da prática, através de um alto grau de reflexão e senso
crítico: saber o que se busca e onde encontrá-lo; c) ação libertadora e de modo
nenhum alienante, pois o objetivo de toda práxis é a transformação real do mundo
natural ou social, cuja realidade deve ser uma nova realidade, mais humana e mais
livre; d) ação radical e não meramente reformista, transformando a organização e a
direção da sociedade, modificando as relações econômicas, políticas e sociais pela
raiz das bases econômicas e sociais, para construção de uma nova sociedade.
Como ponto de partida, analisaremos a divulgação pública dos números de
telefones dos pastores e líderes de Ministérios da Comunidade Evangélica de
Maringá.
Por acreditarem que os braços humanos do amor de Deus159 se manifestam por
meio dos seus pastores e líderes, e que os ministérios são um serviço para aqueles
que necessitam de ajuda, independentemente de serem membros ou não, a Igreja
divulga pubicamente o número do telefone de todos os pastores e líderes da Igreja,
para ajuda em caso de necessidade.
Ao que se sabe, a tendência das Igrejas neopentecostais é priorizar os cultos (a
multidão) e não valorizar o atendimento pessoal ao fiel. Dessa forma, nota-se que
houve uma reflexão da Comunidade Evangélica de Maringá sobre a necessidade de
fornecer um meio rápido e eficiente de comunicação entre os líderes e as pessoas
necessitadas para proporcionar acolhimento, amparo e aconselhamento.
Essa atitude da Igreja gera benefícios principalmente para os fiéis, que são os que
de fato mais buscam ajuda. Trata-se de um socorro ou assistência imediata
importantes, pois podem fazer diferença em algumas situações extremas como em
159 Texto extraído da Bíblia, no livro do profeta Oseías capítulo 11, versículo 4, Edição
Contemporânea, 1990, Editora Vida Sagrada.
119
casos de amparo às famílias enlutadas, famílias ou casais em crises entre outras
tantas. São atitudes que se esperam de uma instituição religiosa. Contudo não há
práxis as atividades realizadas são assistencialistas, pois, segundo Casiano
Floristan, atividades como essas mencionadas não levam a transformações. Não é
possível identificar, por essas práticas, as características da práxis como ação
criadora, reflexiva (não-espontânea), libertadora e radical.
Ao analisar as reuniões de células ou grupos familiares, constatou-se que são
realizadas na residência de um dos participantes e, por sua característica informal,
as pessoas são facilmente inseridas no grupo e sentem-se acolhidas e pertencentes
a ele.
A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que o líder de célula, ao “cuidar de
perto” dos seus membros, com visitas, aconselhamento e ensinando aos
participantes, por meio do ensino religioso, a viverem de acordo com os padrões
cristãos, provocam mudanças nos comportamentos. Vale lembrar que são
orientados e ajudados a deixar de consumir drogas, cigarros, ingerir bebidas
alcoólicas em demasia, a deixar o alcoolismo, a violência doméstica e o sexo
promíscuo, entre outros.
A Igreja afirma que, em conformidade com os conceitos bíblicos, os maridos são
ensinados sobre seu papel de marido; e o mesmo acontece com a esposa e com a
educação dos filhos. Também são abordados os problemas gerados pelo
desemprego e os oriundos do cotidiano.
Apesar de a célula também ter o propósito de trazer crescimento à Igreja, o individuo
é conduzido a uma nova condição ele passa por transformações. Existe práxis e não
se trata apenas de mera prática, pois, ao contrário do culto, em que o fiel é apenas
ouvinte, nessas reuniões as pessoas interrompem o líder, discordam, refletem,
trocam experiências, ensinam e aprendem.
Ao avaliar o atendimento psicológico da Comunidade Evangélica de Maringá,
constatou-se que esta atividade auxilia e colabora na restauração de traumas e
120
demais problemas emocionais dos seus fiéis. De fato, a ajuda psicológica está
solidifica como ciência e como uma importante ferramenta para ajuda do indivíduo.
Apesar de se tratar de uma Igreja que enfatiza a batalha espiritual e,
consequentemente, creditar aos demônios a responsabilidade pelas mazelas
pessoais e sociais, a disponibilidade do atendimento psicológico, ainda que limitado
para os fiéis dessa Igreja, ao que parece, é um avanço por se tratar de uma
denominação neopentecostal.
No tratamento psicológico, durante todo o processo, há dinamismo, reflexão e
transformação. Há práxis, porque por meio destas práticas ocorrem contribuições
importantes para superações e mudanças de atitudes e comportamentos dos
indivíduos. O psicólogo coopera na restauração do equilíbrio mental deles. A partir
desse equilíbrio adquirido, essas pessoas tornam-se aptas novamente para uma
vida saudável e são capazes de se relacionar e realizar suas atividades do dia-a-dia.
Quanto às práticas dessa Igreja relacionadas à família, em especial aos casais,
inclusive aqueles em que um, ou os dois cônjuges, estão no segundo casamento160,
são notoriamente, depois da pregação do evangelho, o maior alvo desta Igreja. Por
meio do ensino religioso, essa Igreja afirma procurar motivar todos os casais a
participarem do curso Casados para Sempre, porque acreditam que este os
capacitam a construírem e usufruírem da plenitude do relacionamento conjugal.
Os casais que estão enfrentando conflitos conjugais ou problemas no
relacionamento familiar recebem ajuda e esperança. Há práxis, pois, à medida que
os participantes do curso procuram ajuda, os líderes, por meio do diálogo, de
atividades diversas e variadas, colaboram com ações refletidas e adequadas a
finalidades na busca das soluções transformadoras, de acordo com a necessidade
de cada caso. Contudo, a propaganda referente aos resultados dos cursos que a
Igreja realiza são extremamente exagerados, mas ainda assim há uma contribuição
160 A Comunidade Evangélica de Maringá, não oficializa o segundo casamento, mas recebe as
pessoas que já estavam casadas anteriormente.
121
significativa que reflete em mudanças satisfatórias para os casais e, consequen-
temente, para suas famílias.
Ao analisar o outro curso, denominado “Pais para toda Vida”, constatou-se que a
Comunidade Evangélica de Maringá obtém êxito parcial, mas significativo na
orientação e conscientização da responsabilidade dos pais perante seus filhos. Os
pais são orientados e treinados a educarem seus filhos a obedecerem aos pais, aos
idosos, às autoridades, ao próximo e a se tornem cidadãos exemplares. Trata-se de
um ideal que não é possível alcançar plenamente. Apesar de ser um ensino
religioso, há contribuição na identificação e solução de problemas e sobre a
importância da educação na formação de novos cidadãos. Não se trata apenas de
prática. Há práxis com diálogo, reflexão e ações inovadoras frente às novas e
complexas realidades e necessidades dos pais na educação de seus filhos. Entre o curso Pais para toda vida e o Ministério Infantil há várias diferenças. No
primeiro, são os pais quem aplicam os ensinamentos aos seus filhos, e, no
Ministério Infantil, além da faixa etária estar limitada até os 12 anos, são os
professores que ensinam diretamente as crianças. As crianças que participam
desse ministério têm entre 18 meses e 12 anos de idade e são agrupados por
faixa etária. Entre 18 meses e 3 anos, entre 4 e 6 anos, entre 7 e 8 anos, e, por
último, entre 9 e 12 anos. A Igreja afirma que o alvo desse ministério é ensinar as
crianças a pensarem, mediante as perguntas: O quê? Por quê? Como? Onde?
Quando? Por quem? Neste ministério, há prática de transmissão dos valores
religiosos dessa Igreja, não há práxis.
Ao avaliar o Ministério de adolescentes, constatou-se que há orientação e
incentivo à participação dos juvenis nos discipulados. Por meio do ensino
religioso, a Igreja consegue, ainda que não em sua totalidade, criar nos
adolescentes um comportamento, definido pela instituição, como sendo o
compromisso do adolescente com Deus e com os padrões religiosos da
denominação, o que influencia também outras pessoas.
122
As atividades são semanais. Há o chamado culto teen, em que não há diálogo a
mensagem dos cultos não é discutida com os adolescentes. Entretanto, nas
reuniões das células (reuniões em grupos pequenos), repete-se o mesmo formato
das células dos adultos, ou seja, o líder também é orientado a “cuidar de perto” dos
adolescentes, abordando assuntos de interesse dos participantes. Nessas reuniões,
há dialogo, pois, durantes as reuniões, o líder é interrompido e questionado, ensina-
se e aprende-se sobre a realidade do universo dos adolescentes, ocorrem
mudanças de comportamentos tanto do líder quanto dos adolescentes.
Há ainda o curso de formação de líderes e ensaio da banda teen, para aqueles
com vocação musical. São realizadas algumas atividades anuais como os
acampamentos, evangelismos, intercâmbios com outros grupos e tardes espor-
tivas e recreativas, como gincanas e arborismo, que são atividades de lazer.
A Comunidade Evangélica de Maringá afirma que os adolescentes adquirem
consciência sobre a responsabilidade dos seus atos e assumem uma postura de
vida comedida. São consequentemente, mais educados e procuram respeitar os
pais, professores e autoridades. Com raras exceções, não fumam, não ingerem
bebidas alcoólicas, não usam drogas, não se envolvem com o crime e com a
violência.
Nesse ministério, há práxis somente nas reuniões de células dos adolescentes,
nos quais se constatou reflexão, senso crítico e adequações a finalidades,
possibilitando buscar e encontrar as orientações, aconselhamento, identidade e
transformações para a construção de uma nova realidade para esses
adolescentes. Nas demais atividades deste ministério, há somente prática.
Ao analisar o Ministério de Jovens, constatou-se que as atividades são uma
continuidade das atividades do Ministério de adolescentes. Os jovens que
ultrapassaram a faixa etária do ministério de adolescentes, ou jovens que se
converteram com dezoito anos ou mais, são incluídos nesse ministério. Suas prá-
ticas reforçam e ampliam o ensino religioso, com o propósito de que os jovens
tenham compromisso com Deus, com a Igreja, com a família, com o namoro, com
123
o noivado e com o casamento, motivando-os e preparando-os a constituírem um
casamento sadio e uma família bem sucedida. Há ainda ênfase sobre
necessidade de estudar e se preparar profissionalmente para trabalhar, além de
palestras sobre dúvidas e problemas específicos da juventude.
Com raríssimas exceções, a grande maioria dos jovens da Igreja seguem as
normas da denominação, pois são orientados a dar bom testemunho de
comportamento. São conscientizados também, ainda que de forma tímida, a
ajudarem os excluídos.
As atividades desse ministério são realizadas nos cultos e em pequenos grupos (as
células). Ns reuniões das células (reuniões em grupos pequenos), repete-se o
mesmo formato das células dos adultos e dos adolescentes, ou seja, o líder também
é orientado a estar próximo e ser acessível aos jovens, abordando assuntos de
interesse dos participantes. São nessas reuniões que os diálogos e as reflexões
acontecem. Há liberdade durantes as reuniões para perguntas e respostas, o líder e
os participantes ensinam e aprendem uns com os outros, e as transformações
acontecem.
Diante das complexas necessidades desses jovens, há práxis, por meio das
reuniões de células, nas quais são criadas ações diversas, utilizando o senso
crítico para reflexão e transformação desses indivíduos, que são ainda motivados
a se tornarem cidadãos conscientes e prósperos.
Ao avaliar o Ministério homens e mulheres de negócios, constatou-se que as
reuniões, além de motivacionais, são educativas, fortalecem o empreendedorismo,
abordam temas sobre administração. Há ainda testemunhos de empresários e
profissionais liberais que conseguiram resultados satisfatórios com o que aprende-
ram. O objetivo desse ministério é auxiliar os participantes a alcançarem
prosperidade nos seus empreendimentos e nas demais áreas de suas vidas.
Contudo, trata-se de uma atividade rotineira, não se identificam nessas atividades,
as características da práxis como: uma ação criadora, reflexiva (não espontânea),
libertadora e radical.
124
Ao avaliar a ação da Comunidade Evangélica de Maringá, de instalar suas
congregações em bairros específicos, principalmente nos bairros João de Barro e
Santa Felicidade161 constatou-se a preocupação dessa Igreja em buscar práticas
que colaborem para a solução dos diversos problemas sociais em alguns dos bairros
da cidade.
O intuito desta ação foi acentuar as atividades religiosas da Igreja, de acordo com a
realidade desses bairros, e oferecer amparo espiritual, educação religiosa e
aconselhamento pastoral às famílias desses bairros, amenizando os diversos
problemas sociais ali encontrados, entre os quais estão o desemprego, crimes,
consumo excessivo de álcool, consumo e tráfico de drogas, violência doméstica,
entre outros.
Contudo, não é possível, apenas com as pregações, aconselhamento pastoral e
assistencialismo, reverter aquela realidade a uma transformação libertadora e
alcançar uma realidade mais humana. Não há práxis; neste contexto, a pregação
está associada apenas à teoria. Não se identificam por essas atividades as
características da práxis como ação criadora, reflexiva, libertadora e radical.
Ao analisar o conceito de missão da Comunidade Evangélica de Maringá, verifica-se
que está incluso em sua definição o amor e o compromisso com o próximo.
Nossa missão é a pregação do evangelho e a capacitação do homem para a vida plena conferida por Cristo. Queremos que cada membro da Comunidade seja um ministro de Deus, cheio de fé, santidade, amor e compromisso com Deus e com o próximo.162
Entretanto, como na maioria das denominações evangélicas, a pregação do
evangelho é a tarefa e a função primordial da Igreja. Nesse entendimento, apenas a
161 Essa Congregação está instalada na divisa dos dois bairros. 162 Informação obtida por meio do site da Comunidade Evangélica de Maringá, em 30.06.2010.
http://www.comunidade.org.br/index.php.
125
declaração que existe a preocupação com o próximo não se caracteriza como
práxis. Trata-se de uma teoria, a teoria dessa Igreja.
Sem atividades e ajustes adequados frente às diversas necessidades, com reflexão
e senso crítico, focados na transformação real do mundo natural ou social não há
práxis.
Ao analisar a Organização Reviver, constatou-se que a Comunidade Evangélica de
Maringá conseguiu resolver um dos grandes desafios para uma instituição religiosa;
romper com o assistencialismo. A Organização Reviver, por meio de ações
participativas e educativas, privilegia o indivíduo na busca de soluções dos
problemas sociais, ao contrário da Igreja que, por sua própria natureza, prioriza as
atividades espirituais. Com essa Organização as práticas sociais se tornaram mais
efetivas; primeiro por separar as atividades religiosas das demais ações sociais, e,
segundo, por valorizar as soluções de acordo com a realidade do próprio bairro.
Marciano Kappaun afirma que os serviços oferecidos à população, por intermédio
das Organizações Não Governamentais (ONGs), são mais eficientes até do que
aqueles oferecidos pelo próprio Estado, quando este atua de forma insuficiente163. A
Organização Reviver, por meio do seu Projeto Reviver, ainda que de forma limitada,
diante da vastidão dos problemas sociais, oferece ações voltadas às crianças, aos
adolescentes e a seus familiares. Promove a inclusão social das crianças e
adolescentes em situação de risco; oferece cursos como novas alternativas à
geração de renda das famílias; resgatando a dignidade pessoal, elevando a
autoestima e a autoconfiança, fortalecendo e preservando as famílias, orientando-as
na solução dos conflitos pessoais e familiares.
As principais atividades que o Projeto Reviver desenvolve são programas de
orientação e apoio às famílias, cursos de culinária e artesanato, oficina de
recreação, academia de música e oficina de danças.
163 KAPPAUN, M. op. cit., p.22.
126
Por meio do Projeto de Lei Municipal n.11.331/2009, a Organização Reviver, criada
pela Comunidade Evangélica de Maringá, foi declarada de Utilidade Pública, como
reconhecimento pelas contribuições aos bairros carentes da cidade.
Há práxis nas atividades da Organização Reviver, com reflexões, ações diversas e
inovadoras na busca de soluções frente a cada nova necessidade, procurando
oferecer às pessoas condições para transformações sociais, a fim que tenham uma
nova realidade de vida, mais livre e humana pela transformação social.
127
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa concluiu seu objetivo principal de analisar as práticas
realizadas pela Igreja Comunidade Evangélica de Maringá, para comprovar se as
ações por ela realizadas promovem transformações nos indivíduos, ou se estão
limitadas apenas a atividades rotineiras, que não caracterizam a ação da práxis e,
consequentemente as mudanças dos necessitados à uma condição social
mínima, digna a qualquer ser humano.
O trabalho concluiu que por meio da práxis, compreendida como atividade social,
é possível alterar a triste realidade dos pobres e excluídos para uma condição
humana e, por isso, não pode ser ignorada ou desprezada. Deve, ao contrário,
ser o foco para o êxito de todas as ações realizadas neste sentido.
A investigação demonstrou que não é possível diminuir as desigualdades sociais
sem atitude práxis, pois apenas teorias ou somente práticas, por melhor
intencionadas que sejam, não têm condições para alterar e transformar a cruel
realidade daqueles que são vítimas do atual e injusto sistema social.
Na análise realizada, a práxis religiosa foi utilizada na tarefa de entender o
fenômeno religioso decorrente das práticas da Igreja Comunidade Evangélica de
Maringá. As diversas áreas de atividades referidas são as realizadas pelos
ministérios dessa Igreja, como também as ações realizadas pela Organização
Reviver.
Como todas as demais Igrejas Evangélicas, a Comunidade Evangélica de
Maringá afirma estar fundamentada na mensagem bíblica. Assim, respaldado
pelos referenciais teóricos para a pesquisa, foi possível realizar a observação
minuciosa e atenta sobre as práticas que essa Igreja realiza. Casiano Floristan
afirma que, pela Bíblia, a práxis é a obra ou ação produzida pelo ser humano,
com uma determinada conduta e perspectiva religiosa.
128
Pelos relatos bíblicos, o autor menciona duas práxis: na primeira, um povo
oprimido pelo Faraó obtém a liberdade; na segunda, Jesus penetra estratégica-
mente nos conflitos, optando pelos pobres e pela libertação salvadora do povo
(FLORISTAN, 1993, p. 182 e 183). A vida e os atos de Jesus foram práxis; a ação
de Jesus para os crentes foi salvadora, traduzindo a realização das obras de
Deus.
O sujeito da práxis histórica é o povo pobre e sem posses, que por ser ao mesmo
tempo povo cristão, seu direito a pensar se converte na reflexão teológica. Com
essa compreensão, o objeto da práxis histórica é a libertação. Trata-se da
transformação da história para destruir um sistema injusto baseado no pecado
como antirreino para criar uma sociedade mais humana e justa, com base na
justiça do reino de Deus.
Entretanto, apesar do expressivo número de Igreja Evangélicas em Maringá,
constata-se que apenas uma minoria dessas Igrejas está empenhada em contribuir
para a libertação e transformação social das pessoas. De maneira geral, as Igrejas
Evangélicas têm como foco principal a preocupação com a mensagem de salvação e
a libertação da alma. Há valorização do espiritual, mas menosprezo pelo físico.
O pesquisador constatou, por meio de suas observações pessoais, que a Igreja
Comunidade Evangélica de Maringá é reconhecida como uma das mais importantes
e respeitadas Igrejas Evangélicas na cidade onde está situada. Vale ressaltar que
sua Organização Reviver foi reconhecida e declarada pelo Poder Legislativo de
Maringá, por meio de um Projeto de Lei da Câmara Municipal de Vereadores, como
de Utilidade Pública para o município.
Apesar disso, as ações sociais não são tão abrangentes como se esperava
inicialmente, pois o grande alvo dessa Igreja continua sendo a pregação do
Evangelho e a salvação das almas em detrimento das questões sociais. Certamente
essa Igreja, como a maioria das demais Igrejas Evangélicas, ainda está sob certa
influência do pentecostalismo, que transferia para o porvir, seja após a morte, ou
129
seja após a volta de Jesus, o momento para as transformações e abolição das
injustiças sociais.
Por outro lado, o neopentecostalismo e a teologia da prosperidade contribuíram de
forma decisiva para a nova forma de pensar sobre essa questão. Todavia, apesar da
introdução sobre o direito de desfrutar dos “deleites materiais” e avalizando a busca
por uma melhor condição social, a contribuição do neopentecostalismo atinge
somente aqueles que já têm, ao menos, certa capacidade para gerar sua própria
transformação.
Lamentavelmente, em alguns meios neopentecostais, há a divulgação que se um
indivíduo evangélico não prospera financeiramente, a causa está na sua falta de fé
ou em algum pecado cometido. Dessa forma, aqueles que não possuem nenhuma
possibilidade para, sozinhos, transformar sua realidade social, continuam como
antes, carentes de tudo e de todos. E alguns neopentecostais pobres creem que o
problema pela sua miséria é sua falta de fé ou pecado.
Indubitavelmente, seja pelo desconhecimento, ou por negligência, a ênfase apenas
na salvação da alma reduz a participação e contribuição das Igrejas Evangélicas,
não apenas na cidade de Maringá, como em todo o país, na transformação e
libertação social dos indivíduos carentes de nossa sociedade.
As Igrejas Evangélicas têm, pela sua mensagem, mandamentos bíblicos e exemplos
de vida e práxis de Jesus, que lhes dão considerável potencial e condições para
contribuir de forma significativa, por meio da práxis religiosa, para a libertação e
transformação social dos indivíduos. Infelizmente, essa capacidade de transfor-
mação e libertação pela mensagem bíblica está adormecida, mas carece ser
despertada, em razão da crescente necessidade observada principalmente nas
grandes cidades.
Conforme declara Clovis Pinto de Castro, o cotidiano das cidades, especialmente
dos grandes centros urbanos, clama pela presença do sagrado e por uma presença
mais solidária dos cristãos. As pessoas em geral, homens, mulheres, crianças,
130
jovens ou idosos, pertencentes às diversas classes sociais, estão experimentando o
dia-a-dia das cidades, marcado pela violência generalizada, pelo medo, pela miséria
humana, pela solidão, pelo stress, pela depressão e por tantas outras marcas que
comprovam a incapacidade do ser humano em construir cidades onde possa viver
sua humanidade de forma mais plena. São espaços desumanos (CASTRO, 1996,
p.98).
Não há dúvidas de que a sociedade carece de alternativas para amenizar as
desigualdades e os diversos problemas sociais. Não basta apenas criticar o Estado
e apontar suas falhas. Faz-se necessário a contribuição de todos para uma
sociedade mais justa e mais humana. O Estado não consegue suprir as diversas e
complexas necessidades para o equilíbrio, o desenvolvimento e a manutenção de
um sistema social equilibrado. As Igrejas Evangélicas podem e devem por meio da
sua práxis religiosa, dar sua contribuição à sociedade.
A transformação das pessoas e da sociedade deve ter como visão o indivíduo como
um todo integral. Segundo Leonardo Boff (BOFF, 1961, p.31), uma Igreja só pode se
considerar adulta quando dispõe de uma reflexão séria que acompanha suas
práticas. Neste sentido, enquanto não ocorrer contribuição de forma significativa das
Igrejas Evangélicas, elas não podem se considerar maduras. A teoria deve estar
acompanhada por suas obras, não deve prevalecer apenas a fé e a oração. Aos
cristãos convém ter ação, ter práxis, a exemplo de Jesus, líder e exemplo máximo
dos cristãos.
O pesquisador constatou que a palavra práxis é desconhecida quase que em sua
totalidade entre as pessoas e os pastores consultados informalmente. Os poucos
que afirmaram conhecer a palavra práxis a confundiram e, erroneamente,
interpretaram-na como sinônimo de prática. Dessa constatação ocorreu a
necessidade, ao longo da pesquisa, de esclarecer o que é práxis e a diferença
entre práxis e prática. Esse esclarecimento se tornou pertinente para o propósito
de proporcionar ao leitor parâmetros para a compreensão da importância da
práxis, além de possibilitar a análise das Práticas Sociais da Comunidade
Evangélica de Maringá, à luz da Práxis Religiosa.
131
A práxis religiosa examina minuciosamente o fenômeno religioso na sociedade e nas
diversas manifestações, preocupando-se em estudar esse fenômeno religioso como
processo de ações que estão ocorrendo nos grupos e na sociedade. O fenômeno é
ligado à sensação, em especial ao sujeito religioso, e está relacionado à maneira de
ser e ver os acontecimentos da vida, respondendo às necessidades ocasionais ou
de interesse pessoal ou de grupos, para agir de acordo com as necessidades
detectadas.
A percepção da realidade, o diálogo e a reflexão fornecem condições para a
aplicação da práxis religiosa ao entender o fenômeno e, assim, proporcionar as
condições para as transformações necessárias. Dessa forma há uma relação direta
da práxis religiosa com a sociedade, ao participar com a sociedade para capacitar e
promover a atividade humana, no sentido de transformar e construir uma sociedade
mais humana, justa e solidária.
A práxis religiosa deve direcionar as atitudes das Igrejas Evangélicas em como
construir o saber, com os sujeitos que participam do cotidiano que envolve a
sociedade. A Teologia, por sua vez, contribui ao estudar e subsidiar a práxis da
Igreja, tendo a tarefa de oferecer a teoria dessa práxis, contribuindo na identificação
e construção de estratégias que tornem eficaz a ação da Igreja. Por meio da práxis,
a Igreja foca sua atividades na cidade dentro de um contexto social específico.
Diante da realidade do dia-a-dia das grandes cidades, a pastoral urbana, descreve
Geoval Jacinto da Silva (SILVA, 2008, p.15), tem como objetivo bíblico, teológico e
pastoral a criação de sinais de esperança em situações de desesperança. A pastoral
urbana não pode separar-se do símbolo de esperança. A Igreja não pode se limitar
apenas ao seu idealismo teológico. Há necessidade de auscultar cientificamente a
realidade; entender o que acontece, para saber como transformar. Neste sentido, a
contribuição da práxis religiosa é uma necessidade diante da realidade e do
cotidiano das cidades.
132
Casiano Floristan alerta para o fato de que Jesus não propôs nenhum modelo
concreto revolucionário de práxis, mas, por meio de seus discípulos, foram
mostrados atos que incidem na realidade para transformá-la e libertá-la. Se a
Igreja como comunhão ou comunidade de crentes se distancia da práxis, viverá
fora do mundo, da história, e do futuro e, a não ser que admita a práxis, deixará
de ser Igreja (FLORISTAN, 1993, p.184). Pela perspectiva neotestamentária, o
autor afirma que verdadeiro cristão é o que pratica ou faz, e não quem diz, mas
não faz. O verdadeiro cristão é quem pratica o amor, na medida em que o amor
substitui as relações sociais, mediante ações e práxis realmente humanas.
Nesse contexto, por meio da revelação bíblica, a fé e a práxis aparecem unidas: a
ortodoxia, o reto pensar, cumpre-se na ortopraxis, no seu modo de atuar. Ambas
têm a mesma importância, a práxis da esperança e do amor constitui um
momento interno e essencial da fé.
Quem afirma ser cristão, mas não pratica o amor mediante ações sociais e práxis
humana, conforme a práxis de Jesus, é fariseu, declara Casiano Floristan
(FLORISTAN, 1993, p.186). Nesse contexto, o fariseu representa o cinismo
religioso do cristão, o que leva a conclusão que, se há, conforme mencionado,
cristãos que são fariseus, também há Igrejas que pregam, mas não fazem o que
ensinam. O autor enfatiza que fazer equivale na tradição judaica, “a praticar a
justiça” de Deus. E “crer” significa levar a cabo ou realizar a verdade que é a fé.
Se a fé e a teologia não estão produzindo práxis e se limitam a interpretações
teóricas, elas estão em desacordo com a missão de Deus. Geoval Jacinto da
Silva ensina que, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a práxis da Igreja
Primitiva está de acordo com o exercício da ação de Deus no mundo, mediante
pessoas fielmente comprometidas, capazes de exercer uma práxis
transformadora e não meramente uma prática repetitiva. Jesus foi contra as
autoridades do seu tempo porque a religião oficial estava a serviço de ações
repetitivas e orações largas, sem qualquer objetivo de mudança de vida (SILVA,
2009, p. 23).
133
Somente por meio da práxis no mundo se encontra Deus como realidade última
do mundo, já que Deus se faz presente no homem, em especial no oprimido que
anseia por uma libertação e que se dispõe a consegui-la. Desta forma, questiona-
se por que as Igrejas Evangélicas não se atentam para a práxis religiosa ou
atentam mal, pois há inúmeras possibilidades de contribuição. Os evangelhos
mostram Jesus preocupado com as diversas necessidades das pessoas, ele foi
além da salvação da alma. Em sua missão, preocupou-se e em cooperar para a
solução dos problemas físicos e emocionais das pessoas e reprovou e denunciou
as injustiças sociais que eram praticadas.
Para Geoval Jacinto da Silva, o conceito bíblico de missão deve estar relacionado
com uma práxis cristã transformadora. A missão não é estática, mas dinâmica.
Cabe, portanto, à Igreja possibilitar a missão de Deus de maneira que ela não
tenha um fim em si mesma, mas sua ação seja permanente, sendo vista por meio
dos diversos serviços que a Igreja presta às pessoas envolvidas na sociedade e
na vida dos que, pelo sistema injusto em que a sociedade está arquitetada, não
têm possibilidade de alcançar melhores condições de vida (SILVA, 2009, p.19).
Segundo o autor, deve-se entender que, teológica e pastoralmente, e na
dimensão da práxis cristã, a missão de Deus é maior do que a missão da Igreja,
ou do que as missões das Igrejas. Enquanto as denominações religiosas fizerem
missões com o objetivo de implantar Igrejas e salvar almas, não estarão
participando efetivamente da missão de Deus, que é única e tem como finalidade
a plenitude da promessa do Reino de Deus: a vida, a justiça e o amor (SILVA,
2009, p.74).
Para Casiano Floristan, o problema crucial da humanidade deve ser visto pela
Igreja em conformidade com os requisitos do reino de Deus e a sua justiça.
Obviamente, a Igreja não tem soluções técnicas a oferecer para os problemas da
sociedade, nem sua doutrina social é uma terceira via entre o capitalismo e
coletivismo. Mas a palavra da Igreja, derivada de sua missão de evangelização e
libertação, pode orientar a fé dos crentes, dando à vida sentido transcendente à
134
capacidade de juízo, discernimento crítico e à dimensão da conduta moral
evangélica a partir da opção pelos pobres (FLORISTAN, 1993, p.713).
A mensagem e as ações dos cristãos e das Igrejas não podem se limitar apenas à
salvação da alma, faz-se necessário uma práxis que vá além do amor e da
fraternidade, para transformar o indivíduo e a própria sociedade. Para que
aconteça a transformação da realidade, principalmente nas grandes cidades, a
práxis da Igreja também necessita contar com a contribuição fundamental da
práxis educacional, para o início das transformações do indivíduo, para sua maior
participação na esfera pública e nas atividades que possibilitem seu crescimento
e progresso social e humano.
As primeiras descobertas deste trabalho apontaram pistas para futuras pesquisas.
Os autores Paul Freston e Ricardo Mariano argumentam que o pentecostalismo
brasileiro deve ser estudado a partir de três ondas. Nessa direção, constatou-se,
ao longo desta pesquisa, que salvo mudanças, em sua trajetória, o neopente-
costalismo brasileiro também deverá, em breve, ser classificado para estudo em
três categorias distintas: Neopentecostalismo Conservador, Neopentecostalismo
Moderado e Neopentecostalismo Radical.
A descoberta ocorreu durante a tarefa de compreender se a Igreja Comunidade
Evangélica de Maringá, se tratava de uma Igreja Pentecostal ou Neopentecostal.
A pesquisa constatou uma distinção significativa entre as Igrejas
Neopentecostais, pois um número expressivo de denominações evangélicas,
apesar de serem neopentecostais, são contrárias a várias práticas e discursos
das Igrejas neopentecostais citadas pela a maioria dos autores, como as mais
representativas do fenômeno neopentecostal; a Universal do Reino de Deus, a
Internacional da Graça de Deus e a Renascer em Cristo.
Dessa forma, a pesquisa sugere que uma Igreja Evangélica, com características
próximas à da Comunidade Evangélica de Maringá, deve ser identificada como
Neopentecostal Conservadora. Por outro lado, Igrejas com o perfil da
Comunidade Sara a Nossa Terra e Comunidade da Graça devem ser
135
classificadas como Igrejas Neopentecostais Moderadas, e Igrejas com
características agressivas, como as Igrejas, Universal do Reino de Deus, a
Internacional da Graça e a Renascer em Cristo, devem ser classificadas como
Neopepentecostais Radicais.
A classificação da Igreja como conservadora, moderada ou radical dependerá do
nível de aprofundamento da denominação com as práticas do fenômeno, ou seja,
do Neopentecostalismo.
A pesquisa também apontou, em concordância absoluta com outros autores, que,
ao contrário do que sugere a palavra pastoral, o termo Ministério, utilizado para
definir os “departamentos” da maioria das Igrejas Evangélicas, é inadequado e
remete inconscientemente a uma associação e confusão com os Ministérios do
Governo Federal (Ministério do Trabalho, da Educação, entre outros). Seria
coerente substituir o termo ministério por pastoral.
A análise das práticas da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá se deparou
entre dois extremos: por um lado, as práticas de seus ministérios e a criação da
Organização Reviver lhe dá status no meio evangélico de Maringá, de Igreja
engajada nas causas sociais; por outro lado, quando aplicadas as ferramentas
fornecidas pelos referenciais teóricos, a confrontação demonstrou que parte das
práticas dessa Igreja não se caracterizam como práxis, pois são atividades
rotineiras sem reflexão, incapazes de alterar a realidade social. Dessa maneira,
esse status não se sustenta; as ações são dignas de mérito, mas pequenas
diante do poderio financeiro e da qualificação profissional das pessoas que
frequentam essa Igreja.
As pistas que a pesquisa se propõe a apontar têm a pretensão apenas de indicar
caminhos para a ampliação da práxis dessa Igreja, não se trata de críticas.
Inicialmente, os membros da Igreja Comunidade Evangélica de Maringá devem
ser motivados a demonstrar a fé acompanhada pelas obras, devem continuar a
incentivar a oração, mas também a ação, seguindo o modelo bíblico. Uma outra
direção a ser apontada são as atividades dos ministérios da Igreja, que devem ser
136
incentivados a dialogar e refletir em conjunto com outros ministérios da própria
Igreja. Como exemplo de trabalho em conjunto com os ministérios da própria
Igreja, a Organização Reviver poderia realizar treinamento profissional para a
população que procura emprego, orientada pelo Ministério Homens e Mulheres de
negócios que, por estarem atuantes no comércio e negócios da cidade, sabem
exatamente em que áreas os novos profissionais devem ser treinados. Haveria o
treinamento de um lado e o encaminhamento de emprego pelo outro ministério.
Outro exemplo são os ministérios que administram as células. Eles devem
dialogar e contar com a colaboração do ministério de atendimento psicológico,
para melhor entenderem como ajudar os participantes das células. O que se
observou durante a pesquisa foi que cada líder de célula está inicialmente focado
no ensino bíblico, e a práxis acontece de forma tímida, em razão da falta de
treinamento desses lideres.
Os psicólogos podem ajudar os lideres de célula a compreender e ajudar nas
principais necessidades observadas nos atendimentos desses profissionais em
consultório e fornecer ferramentas para a melhor atuação desses líderes. Dessa
maneira, sem abrir mão do ensino bíblico, os temas bíblicos podem ser
canalizados, focando nos temas sugeridos. Os pastores que realizam aconselha-
mento, também devem contribuir com a experiência adquirida por meio dos acon-
selhamentos pastorais.
Com diálogo entre os ministérios dessa Igreja, a reflexão e a diversidade de
atividades variadas e adequadas, buscando fins específicos, de acordo com cada
necessidade, resultará em uma melhor e maior contribuição da práxis religiosa
dessa Igreja. Contudo, apesar de se ter em vista que não é possível por meio da
práxis, criar um homem novo e de modificar a ação humana radicalmente em
todas as áreas, não se deve por isso ignorar a práxis.
O que se constatou, na análise das práticas sociais da Comunidade Evangélica de
Maringá, é que, apesar das inúmeras atividades desta Igreja, não obstante todas
estarem idealizadas por bons ideais, apenas em algumas há práxis. As atividades
137
embora bem intencionadas, em sua maioria são rotineiras, o que gera um
assistencialismo infértil, incapaz de promover atividade humana transformadora.
A pesquisa também demonstrou tratar-se de um fenômeno muito complexo, o que
impossibilitou penetrar no âmago do fenômeno, como se esperava inicialmente.
Mostrou-se ainda, demasiadamente complexo medir ou comprovar, a profundida-
de das mudanças e o tempo necessário para que os frutos da práxis religiosa
contribua para as transformações de cada indivíduo. O tema é complexo e
merece contínua atenção por parte dos pesquisadores.
138
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ANEXOS
A - Declaração de Utilidade Pública da Organização Reviver.
B - Depoimento da Fundadora e Presidente da Igreja Comunidade Evangélica de
Maringá – Paraná.