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Elizabeth Maria da Costa Ávila
A Imagem de Deus em Sf 3,14-17
na mensagem de juízo do liv ro de Sofonias
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Teologia da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Teologia Bíblica.
Orientadora: Profa. Maria de Lourdes Corrêa Lima
Rio de Janeiro Março de 2008
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2
Elizabeth Maria da Costa Ávila
A Imagem de Deus em Sf 3,14-17 na mensagem de juízo do liv ro de Sofonias
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo programa de Pós-Graduação em Teologia do Departamento de Teologia do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Profa. Maria de Lourdes Corrêa Lima Orientadora
Departamento de Teologia – PUC-Rio
Prof. Leonardo Agostini Fernandes Departamento de Teologia – PUC-Rio
Prof. Paulo Severino da Silva Filho Seminário Teológico Presbiteriano Simonton
Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade Coordenador Setorial de Pós-Graduação e Pesquisa do
Centro de Teologia e Ciências Humanas – PUC-Rio
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008
3
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, da autora e da orientadora.
Elizabeth Maria da Costa Ávila
Graduou-se em Teologia pelo Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro em 2005.
Ficha Catalográfica
CDD: 200
Ávila, Elizabeth Maria da Costa
A Imagem de Deus em Sf 3,14-17 na
mensagem de juízo do livro de Sofonias / Elizabeth Maria da Costa Ávila; orientadora: Maria de Lourdes Corrêa Lima. –2008.
138f.; 30 cm Dissertação (Mestrado em Teologia) –
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Inclui bibliografia. 1. Teologia – Teses. 2. Bíblia. 3.
Teologia Bíblica. 4. Exegese do Antigo Testamento. 5. Doze Profetas. 6. Livro de Sofonias. 7. A Imagem de Deus. I. Lima, Maria de Lourdes Corrêa. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Teologia. III. Título.
4
A meu esposo, Antônio João,
meus pais, Seraphim e Alice,
meus filhos, Marcos, Ricardo e Viviane,
meus netos, Ricardo, Gabriela e Bernardo,
com amor e carinho pela compreensão e apoio.
5
Agradecimentos
Inicialmente, meu louvor a Deus que, em sua infinita bondade, me proporcionou a
oportunidade de uma maior proximidade com Ele mediante o estudo de sua
Palavra, a fim de levá-la a seus filhos e meus irmãos.
À minha orientadora, Profa. Dra. Maria de Lourdes Corrêa Lima, por ter aceitado
orientar-me neste trabalho, demonstrando toda a sua competência nas diversas
fases da pesquisa, e por ter sido acima de tudo uma amiga, que me incentivou, não
me deixou abater pelas dificuldades e confiou em mim.
Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não
poderia ter sido realizado.
Ao Departamento de Teologia, que me admitiu em seu corpo discente, dando-me
a oportunidade de prosseguir meus estudos na pós-graduação, ajudando em minha
formação acadêmica e em meu crescimento espiritual.
Aos ilustríssimos Professores Doutores: Manuel Bouzon Garcia (in memoriam),
Isidoro Mazzarolo, José Otácio de Oliveira Guedes, Ludovico Garmus e Paulo
Cezar Costa pelos cursos que ministraram com grande maestria e boa-vontade.
À minha família: pais, esposo, filhos, filha, noras e netos pela compreensão,
paciência, apoio e carinho dedicados em todo o percurso destes dois anos.
Aos meus colegas de curso, pela amizade e troca fraterna de conhecimentos:
Francisco Alexandre Vasconcelos, Ismael Cesar Granato, Marcelo Carneiro,
Marco Antônio Wanderley, Maria da Conceição Vieira e Teresa Akil.
Ao Prof. Dr. Leonardo Agostini Fernandes que muito me auxiliou na obtenção do
material para a pesquisa e me incentivou, principalmente nos momentos difíceis.
A todas as pessoas amigas que de uma forma ou de outra me estimularam com
uma palavra de incentivo e me acompanharam com suas orações.
6
Resumo
Ávila, Elizabeth Maria da Costa; Lima, Maria de Lourdes Corrêa. A Imagem de Deus em Sf 3,14-17 na mensagem de juízo no livro de Sofonias. Rio de Janeiro, 2008. 138p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
A imagem de Deus em Sf 3,14-17 é uma imagem de alegria pela salvação
do povo redimido. O regozijo de Deus vem manifestado logo após a sua ameaça
da destruição total da criação. A presente dissertação visa verificar
detalhadamente se a exortação à alegria dirigida ao povo pelo profeta, como
também a exultação de alegria da parte de Deus têm coerência com o restante do
livro de Sofonias. Este estudo fundamenta-se na pesquisa dos trabalhos realizados
por diversos estudiosos nos últimos 30 anos. Adquire maior relevância, uma vez
que o livro de Sofonias carrega uma densa mensagem da justiça e do amor
generoso de Deus. O desenvolvimento da presente pesquisa se dá pela aplicação
de uma abordagem diacrônica (capítulo 2) e sincrônica (capítulo 4), a fim de
proporcionar uma base crítica aceitável sobre a perícope em estudo. Inicia-se com
a tradução do texto, seguida pela delimitação, a datação e sua organização. Segue-
se com a análise exegética em seus aspectos formais, redacionais e teológicos.
Passa-se à verificação das correspondências terminológicas, temáticas e teológicas
entre o texto e o restante do livro. Este estudo chega à conclusão de que a perícope
Sf 3,14-17 revela pontos de contato com os capítulos precedentes do livro. Mostra
também a passagem de um processo de julgamento (cf. Sf 1,2–3,8) para um
processo de salvação daqueles que se convertessem. Com isso, fica justificada a
exteriorização da alegria de Deus.
Palavras-chave
Teologia Bíblica; Exegese do AT; Literatura Profética; Livro de Sofonias.
7
Abstract
Ávila, Elizabeth Maria da Costa; Lima, Maria de Lourdes Corrêa (Advisor). The Image of God in Zeph 3,14-17 in the judgment message in the book of Zephaniah. Rio de Janeiro, 2008. 138p. MSc. Dissertation – Departamento de Teologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
The image of God in Sf 3,14-17 is an image of joy for the salvation of the
redeemed people. God’s delight comes manifested after a threat of total
destruction of the creation. The present dissertation aims at verifying in full detail
if the joy exhortation driven to the people by the prophet as well as the
manifestation of God's joy have coherence with the remaining Zephaniah’s book.
This study is based on our research on works of several scholars in the last 30
years. It has great relevance once it brings God's dense message of justice and
generous love. The development of the present research is based on the
application of a diachronous approach (chapter 2) and a synchronous one (chapter
4) in order to provide an acceptable critical basis on the pericope in study. It
begins with the translation of the text, followed by the delimitation, dating and its
organization. Then an exegetic analysis on formal, redactional and theological
aspects is done. It continues with the verification of the terminological, thematic
and theological correspondences among the text and the remaining of the book.
This study reaches the conclusion that the pericope Sf 3,14-17 reveals contact
points with the precedent chapters of the Zephaniah’s book. It also shows the
passage from a judgmental process (cf. Sf 1,2–3,8) to a salvation process of those
converts. Therefore, the exteriorization of the joy of God is justified.
Keywords
Biblical theology; Exegesis of the OT; Prophetic literature; Book of Zephaniah.
8
Sumário
1. Introdução 13
1.1. Tema 13
1.2. Roteiro e Método 15
2. Sf 3,14-17: texto e crítica 16
2.1. Tradução, notas filológicas e crítica textual 16
2.2. Delimitação do texto e unidade 28
2.3. Época do texto no contexto do livro de Sofonias 39
2.4. Organização do texto 49
3. Comentário ao texto de Sf 3,14-17 62
3.1. Hino de exultação com justa motivação: Jerusalém – YHWH: v. 14-15b 62
3.2. Discurso: ações de Jerusalém – o “não” é motivo de esperança: v. 15c-16 72
3.3. Discurso: ações de YHWH – ratificam a esperança de Jerusalém: v. 17 82
4. Sf 3,14-17 no contexto do livro de Sofonias 90
4.1. Correspondências terminológicas de Sf 3,14-17
com o conjunto do livro 90
4.2. Correspondências temáticas de Sf 3,14-17
com o conjunto do livro 101
4.3. Significado de Sf 3,14-17
para o livro de Sofonias 114
5. Conclusão 119
5.1. Síntese da pesquisa 119
5.2. Considerações finais 124
6. Referências bibliográficas 126
7. Apêndices (tabelas) 134
9
Lista de siglas e abreviações
Ab Abdias
Am Amós
AnBib Analecta biblica
AncB The Anchor Bible
Ap Apocalipse
AT Antigo Testamento
AUSS Andrews University Seminary Studies
BDB The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon, ed.
BROWN, F.; DRIVER, S.; BRIGGS, C. USA: Hendrickson, 1999.
BHS Biblia Hebraica Stuttgartensia, ed. K. ELLIGER – W.
RUDOLPH. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.
BHSApp Biblia Hebraica Stuttgartensia. Aparato crítico
BiKi Bibel und Kirche
BSac Bibliotheca Sacra
BZAW Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft
BZK Zürcher Bibelkommentare
c. capítulo(s)
CAT Commentaire de l’Ancien Testament
CBQ The Catholic Biblical Quarterly
CCS The Communicator’s Commentary Series
1Cr Primeiro livro das Crônicas
2Cr Segundo livro das Crônicas
Ct Cântico dos Cânticos
DBHP Dicionário Bíblico Hebraico-Português, ed. ALONSO SCHÖKEL, L.
São Paulo: Paulus, 1997.
DITAT Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, ed.
HARRIS, R. L.; ARCHER, Jr., G. L.; WALTKE, B. K. São Paulo:
Vida Nova, 1998.
10
DTMAT Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, ed.
JENNI, E.; WESTERMANN, C., vol. I-II. Madrid: Cristiandad,
1978.1985 DicV Dicionário Vine, ed. VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W.
Rio de Janeiro: CPAD, 1985.
Dn Daniel
Dt Deuteronômio
Ecl Eclesiastes
Eclo Eclesiástico
Ef Efésios
Esd Esdras
EstBib Estudos Bíblicos
EThL Ephemerides Theologicae Lovanienses
Ex Êxodo
ExpB The Expositor’s Bible
Ez Ezequiel
f. feminino
GK Genesius’ Hebrew Grammar, edited and enlarged by the late
KAUTZSCH, E. Oxford: Clarendon Press, 1909.
GLAT Grande Lessico dell’Antico Testamento, ed. BOTTERWECK, G.
J.; RINGGREN, H. Brescia: Paideia, 1988.
Gn Gênesis
GTJ Grace Theological Journal
Hab Habacuc
IB The Interpreter’s Bible
Is Isaías
JBL Journal of Biblical Literature
Jl Joel
1Jo Primeira carta de João
Jo Evangelho segundo João
Jó Jó
Joüon-Mur A Grammar of Biblical Hebrew, ed. P. JOÜON – T. MURAOKA,
vol. I-II, SubBi 14/I-II. Roma: PIB, 2003.
Jr Jeremias
11
Js Josué
JSOTSup Journal for the Study of the Old Testament. Supplement Series
Jz Juízes
KAT Kommentar zum Alten Testament
Lc Lucas
Lm Lamentações
Lv Levítico
LXX Septuaginta
m. masculino
Ml Malaquias
Mq Miquéias
Mss manuscritos massoréticos
Mt Mateus
n. número
Na Naum
NAC The New American Commentary
Ne Neemias
NIB The New Interpreter’s Bible
Nm Números
NT Novo Testamento
ÖBS Österreichische Biblische Studien
Os Oséias
p. página
pl. plural
Pr Provérbio
RevScRel Revue des sciences religieuses
RIBLA Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana
Rm Romanos
1Rs Primeiro livro dos Reis
2Rs Segundo livro dos Reis
Rt Rute
Sf Sofonias
SBLSP Society of Biblical Literature Seminar Papers
SBSSymS Society of Biblical Literature Symposium Series
12
sg. singular
Sl Salmo
1Sm Primeiro livro de Samuel
2Sm Segundo livro de Samuel
SubBi Subsidia Biblica
Syr Peshita
T Targum
Tg Tiago
TM texto massorético
v. versículo(s)
Vg Vulgata
vol. volume
VT Vetus Testamentum
VTB Vocabulário de Teologia Bíblica
Zc Zacarias
1
Introdução
1.1.
Tema 1.1.1.
O horizonte temático
A manifestação da alegria do homem por YHWH na BH é vastamente
colocada, são muitos os motivos, como por exemplo: por ter recebido graças (cf.
Is 61,10) ou por estar em sua presença (cf. Sl 122,1). Todavia, a citação da
manifestação de regozijo de YHWH por seu povo é raríssima. Ele, em poucas
passagens, compraz-se com seu povo pelo que ele próprio lhes proporcionou (cf.
Dt 28,63; 30,9; Sl 35,27; Is 62,5; Jr 32,41).
Todavia, em nenhuma delas a manifestação de alegria é tão vibrante e
colocada na posição em que este texto se encontra, ou seja, inserido num conjunto
de oráculos de punição. Como entender, então, essa imagem de YHWH em Sf
3,14-17, que é de uma alegria sem limites?
Numerosos estudos sobre o livro foram feitos. Neles há divergências
específicas sobre este texto, a respeito de sua autoria, em relação à época de sua
redação, no que concerne ao gênero literário, se o autor estaria enviando uma
mensagem de esperança para seus contemporâneos ou dirigindo-se a gerações
vindouras.
A finalidade do presente estudo é apresentar os principais resultados das
pesquisas feitas sobre a imagem de Deus nas últimas três décadas e procurar
entender a riqueza da mensagem apresentada pelo texto. Onde, após uma ameaça
de destruição total apresentada nos capítulos precedentes (cf. Sf 1,2–3,8) e de uma
promessa (cf. Sf 3,9-13), inesperadamente, Sf 3,14-17 coloca o ouvinte-leitor
diante do profeta exortando Jerusalém a alegrar-se com sua restauração. Passando,
imediatamente após, a descrever a exultação de alegria do próprio YHWH com a
salvação de seu povo, de forma tão direta, absoluta e liricamente viva.
14
Esta dissertação também visa mostrar a relevância da mensagem
transmitida, através desta imagem de YHWH em Sf 3,14-17, para a compreensão
do livro de Sofonias, para os Doze Profetas, como também para a teologia do AT.
1.1.2.
O texto
Sf 3,14-17, pertencendo à última unidade do livro de Sofonias, praticamente
o conclui. Sua mensagem é de salvação, porém em total oposição e na mesma
dimensão do julgamento preconizado por todo o escrito. Enquanto este é mundial,
a perícope abre-se para uma perspectiva de restauração universal e definitiva.
O livro inicia-se com uma visão de destruição, mostrando que YHWH
estenderá sua mão contra todas as nações e que Israel não terá sorte diferente (cf.
Sf 1,2-6). Todos pecaram, logo, todos são merecedores de castigo. YHWH se
apresenta como juiz e mostra toda a radicalidade de seu julgamento (cf. Sf 3,5-8),
cuja execução se dará no yôm YHWH. A descrição deste dia mostra o quanto ele
será terrível (cf. Sf 1,14-18).
Inesperadamente, no meio de tantos oráculos de punição surge uma fagulha
de esperança dentro deste yôm (cf. Sf 3,9-13), seguindo-se, então, pelo texto de
nosso estudo. Na sua relação com o restante da profecia, Sf 3,14-17 emerge
justamente com uma visão oposta. Este texto inicia-se com uma exortação à
alegria aos fiéis minoritários, que passaram através da punição das nações.
Sf 3,14-17 revela o futuro do povo eleito, o tempo de salvação que YHWH
preparou para os redimidos. É a chegada de um início de salvação definitiva. A
palavra do profeta chamando o povo à alegria tem um caráter eminentemente
escatológico.1 Porque este estado de felicidade que já estão vivendo ainda não está
completo. Por isso, segue-se ao texto uma nova promessa (cf. Sf 3,18-20).
Esta visão indica o caminho a seguir nesta pesquisa, que deve ser o de
considerar o texto primeiramente em si mesmo e depois em sua relação com o
restante do livro, a partir do qual surgiu, para o qual foi escrito e no qual encontra
sua função e explicação.
1 Cf. ACHTEMEIER, E., Preaching from the Book of Zephaniah, p. 103; BARSOTTI, D., Meditazione sul libro di Sofonia, p. 157; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 71; MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 897.
15
1.2.
Roteiro e Método
O primeiro capítulo versará sobre o texto e os elementos que compõem a
crítica redacional. Iniciar-se-á com a tradução, acompanhada das notas filológicas
que se fazem necessárias para justificá-la, juntamente com a crítica textual
daqueles pontos que oferecem problemas de leitura (ponto 1). Seguir-se-á a
delimitação do texto e da unidade literária, a partir de uma visão do livro de
Sofonias em sua totalidade (ponto 2). Na seqüência será apresentado o
levantamento da época provável da redação do texto, a partir da datação do livro
em seu conjunto (ponto 3). Chegar-se-á, então, à organização do texto, à
estruturação e ao gênero literário utilizado (ponto 4).2
O segundo capítulo apresentará o comentário exegético-teológico do texto a
partir da consideração em separado de cada uma de suas seções. Esta análise
exegética perpassará elemento por elemento, onde se verificará a teologia presente
nos termos e nas expressões, que se ligam e caracterizam este anúncio salvífico, a
fim de chegar a uma percepção do alcance e compreensão da mensagem de alegria
presente em Sf 3,14-17. Referências a outros corpora serão marginais e far-se-ão
presentes quando tornarem-se necessárias para elucidar aqueles pontos que
apresentarem certa dificuldade.
O terceiro capítulo analisará a correspondência do texto com o conjunto do
livro, por meio das convergências e divergências encontradas. Num primeiro
momento, trabalhar-se-á com os próprios termos do texto e depois com os
vocábulos sinonímicos e antinonímicos (ponto 1). Num segundo passo, dar-se-á a
verificação da continuidade e da contraposição dos temas e perspectivas
encontradas no texto (ponto 2). E em terceira instância, far-se-á a investigação do
valor que Sf 3,14-17 tem para o livro de Sofonias, seja no aspecto terminológico,
seja no aspecto temático, seja no aspecto teológico (ponto 3). Esta tríplice análise
tratará de uma questão fundamental para a compreensão do texto em si e no
conjunto do livro, bem como procurará levar à percepção da profundidade da
mensagem sofoniana como um todo. Tendo por objetivo clarificar a imagem de
alegria de Deus colocada dentro de uma mensagem de juízo que perpassa quase
todo o escrito.
2 Tomaremos por base os passos apresentados na obra de H. Simian-Yofre (cf. Diacronia: os métodos histórico-críticos, p. 73-108).
2
Sf 3,14-17: texto e crítica
2.1.
Tradução, notas filológicas e crítica textual
Exulta de alegria, filha de Sião; 14a !AYci!AYci!AYci!AYci----tB; yNIr" tB; yNIr" tB; yNIr" tB; yNIr"
grita de alegria, Israel; 14b laer"f.yI W[yrIh'laer"f.yI W[yrIh'laer"f.yI W[yrIh'laer"f.yI W[yrIh'
regozija 14c yxim.fiyxim.fiyxim.fiyxim.fi
e celebra de todo coração, filha de Jerusalém. 14d ~Øil'v'Wry>~Øil'v'Wry>~Øil'v'Wry>~Øil'v'Wry> t t t tB; bleB; bleB; bleB; ble----lk'B. yzIl.['w>lk'B. yzIl.['w>lk'B. yzIl.['w>lk'B. yzIl.['w>
Revogou Yhwh tuas sentenças, 15a %yIj;P'v.mi hw"hy> rysihe%yIj;P'v.mi hw"hy> rysihe%yIj;P'v.mi hw"hy> rysihe%yIj;P'v.mi hw"hy> rysihe
expulsou teu inimigo. 15b %bey>ao hN"Pi%bey>ao hN"Pi%bey>ao hN"Pi%bey>ao hN"Pi
O rei de Israel, Yhwh, está no teu meio, 15c %Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m,%Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m,%Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m,%Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m,
não temerás mais o mal. 15d dA[ [r" yair>ytidA[ [r" yair>ytidA[ [r" yair>ytidA[ [r" yair>yti----al{al{al{al{
Naquele dia, será dito a Jerusalém: 16a ~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB;~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB;~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB;~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB;
não temerás, Sião; 16b !AYci yair"yTi!AYci yair"yTi!AYci yair"yTi!AYci yair"yTi----la;la;la;la;
não desfalecerão tuas mãos. 16c %yId"y" WPr>yI%yId"y" WPr>yI%yId"y" WPr>yI%yId"y" WPr>yI----la; la; la; la;
Yhwh, teu Deus, está no teu meio, 17a $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy>$Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy>$Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy>$Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy>
como um herói, ele salvará, 17b [:yviAy rABGI[:yviAy rABGI[:yviAy rABGI[:yviAy rABGI
alegrar-se-á por ti com regozijo 17c hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy"hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy"hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy"hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy"
guardará silêncio no seu amor, 17d Atb'h]a;B. vyrIx]y:Atb'h]a;B. vyrIx]y:Atb'h]a;B. vyrIx]y:Atb'h]a;B. vyrIx]y:
jubilará por ti com exultação. 17e hN"rIB. %yIl;[' lygIy"hN"rIB. %yIl;[' lygIy"hN"rIB. %yIl;[' lygIy"hN"rIB. %yIl;[' lygIy"
17
− v. 14:
a) A raiz de origem hebraica !nr, como verbo, apresenta no qal dois
significados básicos: “berrar, gritar de alegria, exultar” e “gemer ou lamentar-se”,
podendo ainda ser traduzida como um substantivo verbal “canto de júbilo” (cf. Sl
32,7). Na maioria dos casos, no AT, o verbo tem YHWH como objeto.3 Tomamos
!nr no sentido de “exultar de alegria” devido ao contexto em que se encontra.
A maior ocorrência deste verbo está nos Salmos.4 Fora dos Salmos, ela
aparece em texto poético de caráter hínico na literatura profética,5 denotando
pertencer prevalentemente ao âmbito da linguagem cúltica, mas não se reduzindo
ao culto (cf. Pr 1,20; 8,3). A manifestação deste “exultar”, geralmente, é feita em
alta voz e faz-se acompanhar de uma expressão corporal ruidosa (cf. Is 12,6; 54,1;
Sf 3,14; Zc 2,14). Quase sempre, está empregado com verbos que traduzem um
grito forte ou uma elevação da voz (cf. [wr, xmf, zl[, fwf, lyg).6 Num contexto
de tristeza encontra-se apenas em duas citações: Sl 35,27 e Lm 2,19.7
Os sujeitos deste verbo podem ser indivíduos isolados (cf. Is 54,1), um
grupo distinto do todo (cf. Is 35,6), um conjunto de homens (cf. Jr 31,7), a
sabedoria personificada (cf. Pr 1,20), a “filha de Sião” (cf. Sf 3,14) e a criação (cf.
Jr 51,48). Na maioria dos casos este convite à exultação vem expresso no
imperativo e está ligado com um louvor a YHWH, como uma resposta pela sua
atuação em favor do povo (cf. Dt 32,43).8
Em todas as ocorrências do verbo em Isaías, a conotação percebida é a de
uma alegria santa celebrada em Sião, acompanhada de gritos (cf. Is 12,6). Seu
emprego freqüente no AT induz a pensar que tal alegria era o estado de espírito
máximo que o povo atingia na sua religião.9
b) A raiz [wr “gritar, romper em gritaria, clamar”, desenvolvida apenas no
hebraico, é um verbo incomum com várias conotações e sentidos, que aparece no
hifil em quase todas as suas ocorrências no AT, sendo utilizado principalmente
3 Cf. WHITE, W., “!nr”, DITAT, p. 1434-1435; ALONSO SCHÖKEL, L., “!nr”, DBHP, p. 622. 4 Cf. Sl 5,12; 20,6; 32,11; 33,1; 35,6.27; 67,5; 84,3; 98,4. 5 E. Ben Zvi acrescenta que o verbo !nr na forma qal é bem atestado na literatura profética pós-monárquica e principalmente no livro de Isaías: Is 12,6; 24,14; 44,23; 49,13; 52,9; 54,1; Jr 31,7; Sf 3,14; Zc 2,14 (cf. A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 239). 6 Cf. BROWN, F.; DRIVER, S.; BRIGGS, C., “!nr”, BDB, p. 943. 7 Cf. SWEENEY M. A., Zephaniah, p. 197. 8 Cf. FICKER, R., “!nr”, DTMAT, vol. 2, p. 983-989. 9 Cf. WHITE, W., loc. cit.
18
nos Salmos.10 O sentido básico é “fazer barulho” mediante grito ou ao som de
algum instrumento, especialmente um rp'wOv, “trombeta” (cf. Nm 10,9; Os 5,8).
Este verbo é usado em rituais do templo (cf. 1Sm 4,5; Esd 3,11.13), aparece
em alguns Salmos (cf. Sl 47,2; 95,1.2; 100,1) e em contexto de entronização
através da aclamação do rei (cf. 1Sm 10,24; Sl 98,6). Também ocorre em textos
proféticos (cf. Is 44,23; Sf 3,14; Zc 9,9).
Sua maior aplicação pode ser encontrada em situação de batalha.11 Na
medida em que no verso 15b lê-se %bey>ao hN"Pi “expulsou teu inimigo”, o contexto
parece apontar para um hino de louvor a YHWH pela sua ação libertadora dirigida
a Israel num contexto bíblico.12
c) A raiz xmf “regozijar, alegrar”, significa o afeto subjetivo, interno, que às
vezes vem explicitado com o termo ble “coração” (cf. Ex 4,14; Sl 19,9), denotando
o “estar plenamente alegre ou contente”.13 Ela ocorre diversas vezes no AT
falando da alegria religiosa perante YHWH (cf. 1Sm 2,1; 1Cr 16,10; Sl 5,11).
Quando usado no modo intransitivo, o seu significado prende-se à ação do sujeito.
Desta forma, encontra-se o povo como aquele que se alegra com a atuação de
YHWH (cf. Sf 3,14).
Este verbo sugere três estados do sujeito:
• uma emoção espontânea e descontinuada, por não representar um bem-estar
permanente (cf. 1Sm 11,9), embora possa ser, em alguns casos, contínuo (cf.
1Rs 4,20);
• uma felicidade extrema que é expressa de maneira visível, acompanhada de
dança, canto e instrumentos musicais (cf. Sl 149);
• um sentimento provocado por um incentivo exterior e não sistemático como
produto de uma situação, uma circunstância ou de uma experiência exterior (cf.
Ex 4,14).14
Estes três estados de espírito são plausíveis de serem aceitos porque são
pertinentes à situação que agora eles vivem.
10 Cf. WHITE, W., “[wr” , DITAT, 1412-1413; ALONSO SCHÖKEL, L., “[wr” , DBHP, p. 612. 11 Cf. Nm 10,7.9; Js 6,5.10.16.20; Is 42,13; Jr 50,15; Os 5,8; Jl 2,1. 12 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 197. 13 Cf. WALTKE, B. K., “xmf”, DITAT, p. 1482-1483; ALONSO SCHÖKEL, L., “xmf”, DBHP, p. 644-645. 14 Cf. VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W., “xmf”, DicV, p. 33-34.
19
d) A raiz zl[ só aparece na forma verbal qal e significa “fazer festa, celebrar,
regozijar-se, exultar, cantar vitória” (cf. Hab 3,18; Sl 68,5; 149,5).15 Este verbo
refere-se a uma celebração que brota da emoção de regozijo que quer exteriorizar
o que vai no coração, referindo-se a uma alegria religiosa (cf. Sl 28,7; Hab 3,18;
Sf 3,14). Por isso, este verbo é impróprio para o aflito (cf. Jr 15,7) e para aquele
que pecou (cf. Jr 11,15). Algumas vezes, além de expressar um sentimento
individual, aparece também em manifestações coletivas, no todo ou numa parte,
de um povo ou de uma cidade (cf. Is 23,12), especialmente quando se refere a
Jerusalém (cf. Sf 3,14).16
− v. 15:
a) A formulação da oração em 0-qatal marca normalmente limites textuais de
abertura e fechamento de segmentos ou seções. A marca de abertura se dá após
um sinal de sof pasuq ou de ’atnaH. O final do v. 14 está marcado por um sof
pasuq, indicando que o verso 15a inicia um novo parágrafo.17 Sua função
principal é a apresentação de fatos passados, porém novos para o leitor, e que são
importantes para o fio condutor do discurso.18
Outra função desta estruturação 0-qatal é a de mostrar que a informação
nova apresentada pela oração é necessária para o desenvolvimento do texto,
precedendo o ponto principal do discurso.19
Além disso, a disposição 0-qatal pode apresentar-se em grupo, quando
aparece em orações imediatamente seguidas. Como é o caso dos versos 15ab, com
as raízes rws “revogar” e hnp “expulsar”.20
b) A raiz rws é muito comum no hifil e tem como idéia básica “remover,
extirpar”.21 É um verbo de movimento, expressando a ação de desviar ou afastar.
Esta forma verbal, quando usada nos livros históricos e proféticos, geralmente,
15 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “ zl[”, DBHP, p. 498-499. 16 Cf. SCHULTZ, C., “zl[”, DITAT, p. 1122. 17 Cf. DEL BARCO DEL BARCO, F. J., Profecía y Sintaxis, p. 132 18 Cf. Ibid., p. 228. 19 Cf. Ibid., p. 133. 20 Oito casos de 0-qatal ocorrem nos Profetas Menores, a saber: Os 8,5; 9,7; 9,9; Am 4,10; 5,21; Mq 2,13; Na 2,8; Sf 3,15 (cf. Ibid., p. 141). 21 L. Alonso Schökel explicita o que é removido: a) realidades materiais como vestimentas, coroa (cf. 1Rs 20,41; Jó 19,9); b) pessoas e membros do corpo (cf. 1Sm 17,46; 1Rs 20,24); c) realidades imateriais, como palavra, sentenças (cf. Is 31,2; Sf 3,15): cf. “rws”, DBHP, p. 464-465.
20
tem YHWH como o sujeito da ação.22 A idéia de afastamento pode envolver
questões espirituais (cf. 1Sm 12,20; Is 6,7).23
c) O BHSApp indica que em vez de %yIj;P'v.mi deve ser lido %yIj;p.fooOm. conforme o T,
substituindo “tuas sentenças” pela expressão “teus adversários”. Segundo alguns
críticos isto se deve ao fato de ser feita uma ligação com %bey>ao “teu inimigo”.24
O termo jP'v.mi traduzido por “causa, julgamento; direito; norma”, é uma
palavra polissêmica, cujo significado é clarificado pelo campo semântico e pelo
contexto no qual se encontra. Quer seja empregado no governo do homem pelo
homem (cf. 1Rs 7,7), quer no governo de toda criação por Deus (cf. Sl 36,7).
O campo judicial e forense parece ser sua aplicação primária, com os atos e
pressupostos pertinentes a um processo (cf. Dt 16,18); entretanto, é também
utilizado no campo religioso (cf. Lv 5,10) e político (cf. 2Rs 17,27); e ainda, com
menos força, ocorre no campo profano, ligado ao costume (cf. 1Sm 27,11), ao
estilo (cf. Jz 13,12), ao modo de proceder (cf. Sf 3,8) e como um projeto
arquitetônico (cf. Ex 26,30). Em todos os campos, o sentido básico é o de estar de
acordo ou não com o direito, com a norma.25
No campo religioso e político significa “decisão, norma, ritual, cerimonial”:
empregado na esfera cultual (cf. Lv 5,10) e na legislação religiosa (cf. Ex 21,1).
Aparece com verbos estabelecer, promulgar (rbd “dizer”, cf. Dt 4,45); e com os
verbos de cumprir / não cumprir (l[p “cumprir”, cf. Sf 2,3).
Este mesmo vocábulo no plural, ~yjiP'v.mi, freqüentemente vem significando
“decreto, estatuto” e é geralmente usado com ~yQixu “decretos”, quando então é
traduzido por “juízos” (cf. Dt 4,5.8.14; Ne 20,25; Ml 3,22). Já no singular
apresenta uma maior ocorrência denotando “julgamento, sentença” (cf. Os 5,11;
Am 5,24; Zc 7,9).26 Em Sf 3,15 encontra-se no plural com um sufixo de 2ª f.sg.
%yIj;P'v.mi, porém pode ser traduzida por “tuas sentenças” uma vez que a palavra
22 Cf. SCHWERTNER, S., “rws”, DTMAT, vol. 2, p. 198-200. 23 Cf. PATTERSON, R. D., “rws”, DITAT, p. 1034.1035. 24 Cf. CARBONE, S. P.; RIZZI, G., Sofonia, p. 444. Concordando com esta justificativa encontra-se KELLER, C.–A., Sophonie, p. 213. Além disso, R. L. Smith explica que esta leitura de “teus adversários” é feita como um particípio piel ou poel como em Jó 9,15 (cf. Zephaniah, p.143). 25 Cf. CULVER, R. D., “jP'v.mi”, DITAT p. 1604-1606; ALONSO SCHÖKEL, L., “jP'v.mi”, DBHP, p. 410-411. 26 Cf. VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W., “jP'v.mi”, DicV, p. 159.
21
abrange todos os níveis de um julgamento, desde a instauração do processo de
juízo até a sua execução.
Além disso, a LXX, com ta. avdikh,mata, sou “as tuas iniqüidades” e a Vg
com iudicium tuum “teu julgamento”, apresentam termos semelhantes, com o
significado de sentença. Logo não há razão para mudança, uma vez que o TM está
fortemente apoiado por estas duas traduções.
d) A raiz hnp na maioria das ocorrências leva o sentido de “virar para trás, virar
em outra direção”. Este é um verbo de movimento, físico ou mental. No piel toma
o significado de “preparar, desalojar, expulsar”.27
e) O termo %bey>ao “teu inimigo” é lido, em muitos manuscritos da LXX, Syr e T
como %yIb'y>ao “teus inimigos”, o que também pode ser visto na Vg.28 Contudo, por
não haver uma mudança significativa e o singular poder ser tomado como
coletivo, optamos em permanecer com a lição do TM.
f) Onde se lê %l,m,, os manuscritos da LXX segundo a recensão de Luciano de
Antioquia trazem basileu,sei conforme Mq 4,7, devendo ser lido %l{m.yI “reinará”.
Todavia, é uma lição isolada e, sem a evidência de um manuscrito mais forte, não
constitui razão para uma mudança.
g) A forma verbal p-yiqtol usada nos v. 15d.16bc, é uma forma predominante
no discurso preditivo, podendo também aparecer numa exortação. A letra “p”,
nestes versículos, representa as partículas negativas al{ e la;.29
h) O termo [r:, tomado como substantivo, pode referir-se a coisas que parecem
trazer aflição, tais como relatos dados por mensageiros (cf. Ex 33,4) ou
maravilhas terríveis (cf. Dt 6,22); acontecimentos (cf. Ecl 2,17; 9,3) ou períodos
(cf. Gn 47,9; Pr 15,15) que podem dar errado, gerando aflição. Esse substantivo
pode ainda designar descontentamento (cf. 1Sm 29,7) ou tristeza de coração (cf.
Ne 2,1-2; Pr 25,20). Pode exprimir deficiências morais (cf. Pr 15,3) que provocam
a ira de Deus, como a idolatria (cf. 2Rs 17,11), o orgulho (cf. Jó 35,12), a
violência contra os outros (cf. 1Sm 2,23; Ez 20,44).30
27 Cf. VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W., “hnp”, DicV, p. 329-330. 28 J. J. M. Roberts propõe que o plural deva ser preferido de acordo com os manuscritos citados (cf. Zephaniah, p.220). 29 Cf. DEL BARCO DEL BARCO, F. J., Profecía y Sintaxis, p. 195. 30 Cf. LIVINGSTON, G. H., “[r:”, DITAT, p. 1442-1443.
22
i) O BHSApp diz que yair>yti-al{, “não temerás”, provavelmente deve ser lido de
acordo com dois manuscritos hebraicos medievais, porque a LXX traz ouvk o;yh|
“não verás” e a Syr yair>ti-al{, as quais devem ter lido em um texto consonântico
diferente do TM. Neste caso, pode ter havido uma escrita defectiva do verbo ary
“temer” ou foi usada uma forma verbal proveniente do verbo har “ver”.31
O TM entende yair>yTi como um qal yiqtol do verbo ary, que nesta forma
verbal pode aparecer: em sentido dinâmico, “assustar-se” (cf. Am 3,8); em sentido
estático ou durativo, “sentir medo, temer” (cf. Gn 18,15); em formas negativas
“não temer”: enunciativas (cf. Nm 12,8) ou imperativas com conotação positiva
(cf. Sf 3,15.16); e num uso específico de “respeitar, prestar culto”, tanto no campo
religioso como no profano (cf. Sf 3,7).32
Todavia, a Vg apresenta uma lição com a qual o TM sai apoiado, podendo
perfeitamente ser mantido o sentido da raiz ary.
− v. 16
a) A forma verbal x-yiqtol que ocorre nos versos 16a.17b também é usada em
discurso preditivo. No verso 16a o termo “x” é a expressão aWhh; ~AYB; e no verso
17b “x” é o termo rABGI.33
b) A raiz hpr significando “desfalecer, declinar”, não tem aqui a acepção
comum de “abandonar” ou “declinar o dia” (cf. Ex 4,26; Jz 19,9). Como vem junto
com o sujeito %yId"y" “tuas mãos”, toma o sentido de “acovardar-se, desmoralizar-se”
(cf. Esd 4,4; Jr 49,24), tornando-se um sinônimo de arEy" “temer” (cf. Dt 31,6; Ez
21,12). Uma observação atenta nota que a concordância do sintagma WPr>yI-la; com
seu sujeito %yId"y" nesta sentença apresenta esta particularidade.
c) A expressão %yId"y" é um substantivo comum dual feminino construto com
sufixo de 2a f.sg., mas WPr>yI-la; apresenta-se na 3ª m.pl. Contudo, se o dual é
feminino, ele pode vir acompanhado pela forma verbal tanto no feminino como no
31 C.–A. Keller faz sua opção por “ver” porque o contexto em que o termo aparece é de uma liberação total e acrescenta que har no texto exprime tanto uma sensação visual como também uma experiência total (cf. Sophonie, p. 213). Por outro lado, J. J. M. Roberts pensa na possibilidade do autor ter sido influenciado pela leitura do verso 16b ary e que [r har “ver um mal” no idioma comum suporta a correção (cf. Zephaniah, p. 220). 32 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “ary”, DBHP, p. 292-293. 33 Cf. DEL BARCO DEL BARCO, F. J., Profecía y Sintaxis, p. 195.
23
masculino. Como na forma verbal do qatal não existe a 3ª f.pl., uma vez a 3ª pl. é
comum aos dois gêneros, isto deve ter colaborado para que no yiqtol às vezes o
feminino fosse negligenciado.34
− v. 17
a) No período [:yviAy rABGI $Ber>qiB. %yIh:l{a/ hw"hy> parece-nos ter ocorrido uma elipse da
partícula comparativa K.K.K.K. (como), entre os termos rABGI $Ber>qiB., a fim de se evitar o
encontro consonantal, que pode sugerir dois casos:
• da mesma consoante entre o final de uma palavra e o início da outra, uma vez
que a duplicação do kaf rafé é totalmente estranho à língua hebraica;35
• a não existência de duas consoantes homorgânicas juntas,36 uma vez que o kaf e
o ghimel são palatais, ambas possuindo um som forte e explosivo ou fricativo.37
A ausência de vocalização interna no kaf pode ser um indício proposital a
favor destas observações.
Chama a atenção, também, o fato de que a expressão $Ber>qiB. apresentando
em seu final o $ sem o shewa ou o qamets seja a única ocorrência na BHS.
A LXX apresenta em seu texto: ku,rioj o qeo,j sou evn soi, dunato.j sw,sei se
(“O Senhor, teu Deus, está em ti, poderoso te salvará”) e a Vg traz: Dominus Deus
tuus in medio tui Fortis ipse salvabit (“O Senhor, teu Deus, está em teu meio,
Forte, ele mesmo, salvará”). Desta forma, nota-se que os acentos do TM fazem
com que o texto da BH tenha uma elevação no ritmo do verso diferente daquele
encontrado na Vg.38 Além do que, o acento colocado entre $Ber>qiB. e [:yviAy rABGI é
disjuntivo.39
Quanto à declinação, tanto a LXX com dunato.j, como Vg com Fortis,
trazem o termo como um adjetivo, no nominativo singular, fazendo com que o
mesmo esteja ligado à %yIh:l{a/ hw"hy>, para não ser o sujeito do verso 17b, mas um
atributo do sujeito do verso 17a. Assim, também o TM.
34 Para maiores esclarecimentos veja: Joüon-Mur., § 150c.d; GK, § 145p. 35 Cf. Joüon-Mur., § 5k. 36 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., P. DBHP; BROWN, F.; DRIVER, S.; BRIGGS, C., BDB. 37 Cf. GK § 6o-q. 38 Cf. CARBONE, S. O.; RIZZI, G., Sofonia, p. 352. 39 Cf. FRANCISCO, E. de F., Acentos Massoréticos, p. 190-200; BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 247.
24
Alguns estudiosos40 explicam que [:yviAy rABGI é uma concisa oração relativa
assindética, sem o uso da partícula relativa rv,a] entre rABGI e [:yviAy.41 Desta forma,
torna-se uma oração relativa de atribuição, introduzida pela simples sobreposição
das palavras (cf. Is 40,20; Jr 13,20). Esta ausência é atestada na poesia hebraica
antiga (cf. Sl 56,10).
Há quem explique a oração como assindética, mas dividindo diferentemente
os versos 17ab, considerando rABGI do verso 17b como um aposto do verso 17a,
traduzindo como se houvesse a preposição K. prefixada.42
O verso 17b apresenta uma oração em x-yiqtol, denotando um discurso
preditivo.43 Estando ligado ao verso 17a, as duas sentenças fundamentam as
exortações que aparecem na seqüência das frases em p-yiqtol e x-yiqtol que as
precedem. A partícula comparativa K. expressa, então, uma relação de similitude,
considerando, porém, a diferença que em uma frase com o verbo no qatal, o
sentido é de igualdade, e em uma frase com o yiqtol, o senso é de semelhança.44
Mantendo a divisão do v. 17 do TM, a nossa tradução considera o verso 17a
como uma oração nominal e o verso 17b como uma oração coordenada
assindética, levando em conta a possibilidade plausível, sem entender com isso
desejar fechar a questão, de que tenha ocorrido uma elipse da partícula K. entre os
termos rABGI $Ber>qiB..
b) O termo rwOBGI “herói, forte, poderoso” ocorre no hebraico, do ponto de vista
gramatical, apenas como adjetivo. Pela sua forma intensiva, fala de uma pessoa
particularmente forte e poderosa, que fez, faz e será capaz de fazer grandes atos e
que é superior aos seus companheiros de ação. Nesta palavra é possível distinguir
dois significados básicos: no sentido geral, o valor de alguma qualidade ou
situação (cf. Dn 11,3); no sentido particular, valor de ordem militar ou bélica (cf.
1Sm 14,52). Na maioria das vezes está associada ao combate e tem relação com a
40 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 201-202; MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 957; BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 247; VLAARDINGERBROEK, J., Zephaniah, p. 213. 41 Sobre oração assindética veja Joüon-Mur., § 158a; por outro lado, em GK, § 155a-n, encontra-se uma explicação de que é incorreto falar em omissão de rv,a], sendo então, esta característica sintática, assinalada como uma oração coordenada atributiva. 42 H. Irsiglier traz “YHWH, dein Gott, is in deiner Mitte, als ein Held, / der (siegreich) hilft” (como um herói que salvará), estendendo o verso 17a até herói, deixando apenas o verbo [vy no verso 17b (cf. Zefanja, p. 418). 43 Cf. DEL BARCO DEL BARCO, F. J., Profecía y Sintaxis, p. 195.232. 44 Cf. Joüon-Mur., § 133g.
25
força e a vitalidade do herói guerreiro bem sucedido (cf. 2Rs 5,1; 1Sm 16,18). Em
algumas passagens este conceito é usado, metaforicamente, para proclamar a força
guerreira de YHWH (cf. Sl 24,8; 78,65; Is 42,13), para afirmar que ele é um herói
(cf. Dt 10,17; Jr 20,11) e que “um resto, o resto de Jacó, se converterá ao Deus
herói” (Is 10,21).45
c) A raiz [vy significando “salvar” fala da libertação através da ação divina (cf.
Is 30,15; 45,17), que age contra os inimigos humanos (cf. Nm 10,9; 2Sm 22,4),
contra todo o pecado (cf. Is 64,4; Jr 4,14) e contra qualquer desgraça (cf. Sl 34,7;
Ez 34,22).46
d) A forma verbal 0-yiqtol nos versos 17c-e é usada tanto em orações que
indicam fatos futuros como desejados (mais do que algo real),47 como aparece em
segmentos textuais com orientação futura.48
O 0-yiqtol em posição inicial absoluta pode ocorrer em três estruturas
diferentes: 1) em estruturas com relações causais; 2) em esquemas de bimembros;
3) em forma de paralelismo.49
Os versos 17c-e apresentam em sua estruturação um paralelismo das
orações. O paralelismo é um fator que deve ser considerado quando se analisa os
elementos textuais pertencentes à estrutura de 0-yiqtol da repetição.50
e) A raiz fyf / fwf significa “regozijar-se, alegrar-se”, podendo aparecer em
sua forma absoluta (cf. Is 35,1; Jó 3,22) ou acompanhado de uma partícula
preposicional B. ou l[; junto a um pronome (cf. Dt 28,63; Sl 70,5), a uma pessoa
(cf. Is 61,10; Lm 4,21) ou a uma coisa (cf. Jó 39,21; Sl 119,14). Esta raiz é
sinônima de xmf, zl[, lyg (que aparecem em Sf 3,14-17) e de #l[. Sua ocorrência
limita-se à forma verbal qal.51
45 Cf OSWALT, J. N., “rwOBGI” , DITAT, p. 242-243; ALONSO SCHÖKEL, L., “rwOBGI” , DBHP, p. 127-128; KÜHLEWEIN, J., “rABGI”, DTMAT, vol. 1, p. 568-574; KOSMALA, H., “rABGI”, GLAT, p. 1861-1863; VLAARDINGERBROEK, J. Zephaniah, p. 213. 46 Cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 957. 47 Cf. DEL BARCO DEL BARCO, F. J., Profecía y Sintaxis, p. 231. 48 Cf. Ibid., p. 168. 49 Cf. Ibid., p. 231. 50 A existência de 30 casos com uma seqüência em 0-yiqtol pode ser constatada na BHS, porém somente em quatro deles (cf. Os 10,11; Mq 7,19; Na 2,6; Sf 3,17) o paralelismo se dá com três elementos (cf. Ibid., p. 177). 51 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “fyf / fwf”, DBHP, p. 642; COHEN, G. G., “fwf”, DITAT, p.
1471.
26
f) O termo hx'm.fi, que significa “regozijo”, é um substantivo derivado da
mesma raiz do verbo xmf que aparece no verso 14c. A palavra pode ser usada
com uma predominância da expressão externa (cf. 1Rs 1,40; Ne 12,27) ou com
uma predominância da emoção interna (cf. Pr 12,20; Eclo 30,22) ou ainda pode
aparecer indiferenciadamente (cf. Pr 21,15; Ecl 8,15).52 Também é usado em
situações de festa: de casamento (cf. Jr 25,10), de despedida (cf. Gn 31,27), mas
especialmente para mostrar a alegria que o povo tem nos dias santificados perante
YHWH (cf. Nm 10,10; Ne 8,12) ou em comemorações sagradas (cf. 2Sm 6,12;
Esd 3,12). Todavia, o uso do termo para expressar o regozijo de YHWH ocorre
apenas duas vezes (cf. Ecl 9,7; Sf 3,17).53
g) A expressão Atb'h]a;B. vyrIx]y: “guardará silêncio no seu amor” tem a indicação
no BHSApp de que provavelmente deve ser lida Atb'h]a; vDEx;y> conforme a LXX
(kainiei/ se evn – “te renovará em”) e a Syr, que lendo um d no lugar de um r,
mudou o verbo vrx, “calar, guardar silêncio”, para vdx, “renovar”; e introduzindo
o pronome pessoal se, “tu”.
Carbone e Rizzi explicam que, na mudança do verbo para vdx, este foi lido
como se fosse um hifil (vydxy) ou um piel (vdxy). Todavia, não há ocorrência na
BH deste verbo no hifil e os raros usos no piel têm o sentido de “fazer de novo”
(cf. Sl 51,12; Is 61,4). O acréscimo do pronome pessoal ao verbo como objeto
indireto, na LXX, causa uma alternância na ação de YHWH, que sai de si mesmo
(v. 17c) para agir sobre o povo (v. 17d) e volta para si (v. 17e).54
Já a raiz vrx significa “calar”, no hifil pode ter um sentido causativo “fazer
calar”, como em Jó 11,3; porém, normalmente é intransitivo, isto é, causativo
interno “guardar silêncio”, como em Gn 34,5.55 Este verbo pode ser empregado,
como vrEx', com o mesmo significado, isto é, o da não-comunicação tanto no falar
como no ouvir. No hifil tem sua maior ocorrência e geralmente ligado ao sentido
de “guardar silêncio”, mas quase sempre se refere ao homem (cf. Gn 24,21).56
52 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “hx;m.fi”, DBHP, p. 645. 53 Cf. VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W., “hx;m.fi”, DicV, p. 34; WALTKE, B. K., “hx;m.fi”, DITAT, p. 1443. 54 Cf. CARBONE, S. P.; RIZZI, G., Sofonia, p. 446-447. 55 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “vrx”, DBHP, p. 248; DELCOR, M., “vrx”, DTMAT, vol. 1, p. 885-888. 56 Cf. COPPES, L. J., “vrEx'”, DITAT, p. 542.
27
Barthélemy diz que é difícil encontrar um sentido natural com vdx no
contexto onde ele se encontra, o qual é um momento de alegria. Assim, ele
apresenta duas possibilidades de esclarecimento: 1) o contexto pede um verbo que
indique sentimento ou emoção; ou 2) após “alegrar-se sobre ti com regozijo” há
duas formas contrastantes de manifestar este júbilo, guardando silêncio no seu
amor e celebrando.57
Como o TM apresenta o texto difficilior e entendendo que o sentimento de
alegria pode ser manifestado tanto interior como exteriormente, optamos por
manter o texto da BHS com o verbo vrx, aonde esta emoção ao mesmo tempo em
que vem expressada através de palmas, gritos e cantos, encontra-se também
guardada no coração.
h) A raiz lyg significa em sua origem “dar voltas, girar”, no sentido rotatório,
ou seja, de “rodear de alegria” emitindo gritos extáticos, de arrebatamento. Na
língua hebraica tomou o sentido de uma manifestação espontânea e entusiástica de
alegria, “gritar de júbilo, jubilar”. No pós-exílio passa a ser usado basicamente
como sinônimo de xmf, fwf, !nr, zl[, para designar vários tipos de alegria (cf. Is
61,10; Zc 9,9). Restringe-se fundamentalmente à forma qal.
O verbo lyg constrói-se em forma intransitiva, freqüentemente no seu modo
absoluto sem fazer qualquer referência direta ao motivo ou ao objeto que conduz a
esta celebração da alegria (cf. Sl 51,10; Pr 23,24-25). Quando é mencionada a
causa, vem acompanhado das partículas preposicionais: B. + seu objeto (cf. Is 9,2),
pessoa (cf. Is 41,16) ou acontecimento (cf. Sl 9,15); l[; + pessoa (cf. Sf 3,17); yKi +
57 Cf. BARTHÉLEMY, D., Critique Textuelle de l’Ancien Testament, p. 913-915. R. L. Smith diz que vydxy é uma forma muito difícil de se entender aqui. Por isso, acredita que talvez a melhor interpretação seja “silenciar” no sentido de “permanecer” em seu amor (cf. Zephaniah, p.143).
Por outro lado, P. R. House e C.–A. Keller são a favor de “renovar” porque consideram “silenciar” fora do contexto de alegria do versículo, afirmando que é possível a troca de um d por
um r. Todavia, C.–A. Keller explica que vdx em árabe significa tanto “vaguear” como “correr para um objetivo”; por isso opta por traduzir o versículo como “ele corre em sua alegria” (cf. HOUSE, P. R., Zephaniah, p. 133; KELLER, C.–A., Sophonie, p. 214).
Entretanto, J. J. M. Roberts é de opinião que este versículo está deslocado, causando uma construção corrompida, pois no lugar onde se encontra, separa dois versículos que falam da alegria de Deus. Para ele este versículo deveria vir imediatamente antes do v. 18 e assim o verbo que se apresenta como intransitivo se tornaria transitivo, cujo objeto estaria no verso 18a, onde “Deus traria para o silêncio”, no sentido de “acalmar” aqueles que estão aflitos. Além disso, ele chama a atenção para o fato dos versos 17c e 17e terem sua ação ligadas ao sufixo %yIl;[' e que de acordo com isso as lições da LXX e Syr trazem a tradução “ele te renovará”, amarrando o verbo com o sufixo (cf. Zephaniah, p.220).
28
motivo (cf. Jl 2,21). Traduz o sentimento e sua manifestação, tanto individual (cf.
Sl 13,5) como coletiva (cf. Sl 32,11). 58
A maioria das ocorrências de lyg está nos Salmos e nos livros proféticos,
sendo que nestes últimos aparece quase sempre em forma de hino (cf. Jl 2,21;
Zc 10,7).59 O seu uso restringe-se a ações presentes e futuras (de promessa e
espera), nunca aparece para expressar uma ação passada.
Na maioria dos casos em que lyg aparece, o sujeito é o próprio homem (cf.
Sl 9,15; Is 61,10) ou o povo que se alegra por algum motivo, geralmente por uma
ação ou atributo divinos (cf. Sl 14,7; 48,12), ou ainda perante YHWH (cf. Sl 35,9;
Zc 9,9); podendo ser também a natureza (cf. 1Cr 16,31; Sl 97,1). No entanto, o
próprio YHWH, como sujeito, aparece celebrando a alegria apenas em duas
citações (cf. Is 65,19; Sf 3,17).
i) O substantivo hN"rI, que significa “exultação, grito de júbilo”, com muita
probabilidade deriva da raiz !nr, que aparece no Pentateuco (cf. Lv 9,24; Dt 32,43),
embora hN"rI esteja ausente. Pode referir-se a um grito de alegria (cf. Is 14,7) como
também de lamento (cf. 1Rs 8,28). Sua maior ocorrência é na forma poética dos
hinos, denotando a exultação de alegria (cf. Sl 105,43; 126,5).60
2.2.
Delimitação do texto e unidade
2.2.1.
A visão do livro de Sofonias em seu conjunto
O texto se apresenta na BHS dividido em três capítulos, seguindo o esquema
básico de vários livros proféticos: oráculos contra Judá–Jerusalém (cf. Sf 1,2–2,3);
oráculos contra as nações estrangeiras (cf. Sf 2,4–3,8); oráculos de salvação para
Judá e para as nações estrangeiras (cf. Sf 3,9-20).61
Além desta tripartição, que é bem aceita, deve-se acrescentar que o livro
gravita em torno de um tema que lhe dá a unidade: o yôm YHWH. A lembrança
58 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L., “lyg” , DBHP, p. 137; LEWIS, J. P., “lyg” , DITAT, p. 262. 59 Cf. WESTERMANN, C., “lyg”, DTMAT, vol. 1, p. 591-596. 60 Cf. WHITE, W., “hN"rI”, DITAT, p. 1435-1436. 61 Cf. KAISER Jr., W. C., Zephaniah, p. 210; ACHTEMEIER, E., Zephaniah, p. 61.
29
deste grande dia aparece constantemente numa forma de estribilho de acordo com
a fórmula temporal tradicional: “naquele dia” (Sf 1,10; 3,11.16) – “naquele
tempo” (Sf 3,19.20).62
Dentro desta divisão, Sf 3,14-17 faz parte dos oráculos de salvação para
Jerusalém. Entretanto, há divergências entre os estudiosos na aceitação deste texto
como uma unidade independente ou pertence a uma unidade maior, cujo início e
fim variam de acordo com a interpretação que se faz do livro, de acordo com o
tema, o destinatário, o sujeito do discurso e as características estéticas formais.
Uma das explicações é a de que o pequeno livro de Sofonias, excetuando o
título, poderia constituir um único capítulo, uma vez que foi na Idade Média que
se introduziu tal divisão. Embora os Mss mais antigos tivessem já uma separação
em pisqot, estas nem sempre são concordantes. Dentre estes Mss, o Códice de
Leningrado é considerado o mais conhecido e amplamente aceito, por apresentar o
menor número de subdivisões e, assim, estar mais próximo do possível original.63
Contudo, uma posição contrária a esta divisão em pisqot é a de que, embora
nos Mss tenham sido utilizados critérios válidos, eles não abarcam totalmente as
características lingüísticas do texto (sintáticas e semânticas), como também a
forma de comunicação com o ouvinte-leitor: o que o orador quis dizer, quem era o
destinatário e qual o objeto do oráculo profético.64
O livro parece que foi escrito para enviar uma mensagem com o objetivo de
sensibilizar o público. Nele foram utilizadas determinadas formas e estruturas, que
são de grande valia para o estudo histórico-crítico adotado por alguns
estudiosos.65
Assim, deve ser levado em conta que o estudo do livro está dividido entre
aqueles que vêm o escrito primeiramente como um processo de composição
histórica e, portanto, valorizam a análise diacrônica, e os que, em princípio, levam
em conta o trabalho literário, enfatizando a análise sincrônica.66
62 Cf. SEYBOLD, K., Zephanja, p. 85; KELLEY, P. H., Zephaniah, p. 90-91. Quanto à fórmula temporal (v. 16a), S. J. De Vries explica que quando esta fórmula é usada nos profetas menores pré-exílicos ela é exclusivamente introdutória (redacional) com a função de ligar apêndices redacionais. Estas fórmulas temporais de transição fazem parte dos materiais secundários, são poéticos e têm suas transições temporais com rubrica litúrgica ou em anacruse (cf. Futurism in the Preexilic Minor Prophets Compared with That of the Postexilic Minor Prophets, p. 252.259). 63 Cf. BERLIN, A., Zephaniah, p. 17-19. 64 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 5-7. 65 Cf. BEN ZVI., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 268-269. 66 Cf. FLOYD, M. H., Zephaniah, vol. 2, p. 166-168.
30
Todas estas considerações mostram a complexidade do estudo e da
delimitação dos cinqüenta e três versículos do livro de Sofonias. Os estudiosos se
dividem em dois grupos: no primeiro estão aqueles67 que visualizam o livro como
um escrito único dividido em pequenas unidades, excetuando ou não a titulação
(cf. Sf 1,1). Estas unidades, por sua vez, podem ou não estar relacionadas aos oito
ou nove oráculos, de acordo com a visão de cada um. No segundo grupo estão
aqueles68 que consideram o escrito de Sofonias formado por duas ou três grandes
unidades, que por sua vez se subdividem em seções. Contudo, tanto as grandes
unidades como as suas subunidades apresentam extensões diferentes em função
dos critérios adotados para sua delimitação.
A partir disto, vê-se que no c. 3 há muitos sinais indicando que as unidades
que o formam não estão compiladas nem compostas num único conjunto.
Todavia, muitos elementos internos mostram que há uma relação entre elas. Estes
elementos incluem: posição literária, marcadores cronológicos, horizontes
literários, mudança nas perspectivas teológicas e correspondência temática.69
Serão elencadas, a seguir, algumas delimitações encontradas nos estudos
sobre Sofonias para Sf 3,14-17, considerando a justificativa de cada estudioso. O
critério adotado será a partir da visão daqueles que concebem o texto como uma
unidade independente (v. 14-17 ou 14-18aa), seguido daqueles que o consideram
parte de uma unidade maior (v. 14-20; 9-17; 9-20; 8-20; 6-20), sem divisão e
seccionando-a em subunidades, e ainda vendo Sf 3,14-17 formado por duas seções
(v. 14-15; 16-17 ou 16-18aa).
67 BAKER, D. W., Zephaniah, p. 87; BALL Jr., I. J., Rhetorical Shape of Zephaniah, p. 164 (considera Sf 2,1-7 um modelo, que é desmembrado e trabalhado em três subunidades); BARKER, K. L.; BAILEY, W., Zephaniah, p. 389; BERLIN, A., Zephaniah, p. 17-20; FLOYD, M. H., Zephaniah, p. 165; SMITH, R. L., Zephaniah, p. 124; HOUSE, P. R., Zephaniah, p. 118-126; KELLER, C.–A., Sophonie, p. 179; O’BRIEN, J. M., Zephaniah, p. 90-91; SWEENEY, M. A., A Form-Critical Reassessment of the Book of Zephaniah, p. 391. 68 ACHTEMEIER, E., Zephaniah, 61-61; ALONSO SCHÖKEL, L.; SICRE DIAZ, J. L., Zephaniah, p. 1144-1146; ASURMENDI, J., Sofonia, p. 138-140; BENNETT, R. A., The Book of Zephaniah, p. 662; BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 325-326; BERNINI, G., Sofonia, p. 9-11; BOADT, L., Zephaniah, p. 204; CLARK, D. J.; HATTON, H. A., Zephaniah, p. 141; DEMPSEY, C. J., Zephaniah, p. 86; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 64-65; KAISER, W. C., Zephaniah, p. 212; KOCH, K., Zefanja, p. 264; MACKAY, J. L., Zephaniah, p. 242; MARTIN, F., Le livre de Sophonie, vol. 39, p. 3; MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 901; NOGALSKI, J., Zephaniah, p. 171; PATTERSON, R., Zephaniah, p. 21; RENAUD, B., Le Livre de Sophonie, p. 2-3; ROBERTS, J. J. M., Zephaniah, p. 161-163; ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 29; SCHÜNGEL-STRAUMANN, H., Sofonia, p. 9; SILVA, R. R., Resta esperança para o Resto de Israel, p. 22; SPREAFICO, A., Sofonia, p. 35-45; VLAARDINGERBROEK, J., Zephaniah, p. 8-9; WALKER, L. L., Zephaniah, p. 543; ZENGER, E., Einleitung in das Alte Testament, p. 516-519. 69 Cf. NOGALSKI, J. D., Zephaniah 3, p. 210-211.
31
2.2.2.
Algumas propostas de delimitação
a) Sf 3,14-17 uma unidade independente
Na consideração de uma unidade bem delimitada está a percepção de uma
troca de metáforas junto ao vocabulário. Os problemas internos que são
apresentados nos v. 11-13 são agora substituídos por preocupações externas. O
horizonte literário se estende além do contexto imediato. Há a presença de
marcadores cronológicos e o estilo dos versos separam os v. 14-17 dos v. 18-20,
embora Sião continue como o destinatário desta última seção.70
Estes versos encontram-se formados por dois convites diferentes à alegria
(cf. Sf 3,14-15.16-17), que estão ligados pela frase temporal (v. 16a) e contêm
relações recíprocas que permitem considerar uma unidade interna bem marcada.
Estes chamados ao júbilo são colocados dentro do c. 3 separando dois oráculos de
salvação (cf. Sf 3,9-13.18-19).71
Todavia, a partir de um estudo sobre a versificação e a métrica dos versos de
Sf 3,14-17 é possível afirmar que não há razões estilístico-literárias que permitam
a sua divisão. A unidade interna do texto baseia-se nas repetições verbais. Os
limites externos estão estabelecidos pelas transições temáticas, mudança de sujeito
e pelos indicadores retóricos, como os imperativos.72
b) Sf 3,14-18aa uma unidade independente
Esta tese leva em conta as observações introdutórias de cada uma das seções
do livro e a pessoa do sujeito. Em Sf 3,14-18aa encontram-se as palavras do
profeta, enquanto nas unidades que estão imediatamente antes e depois é o próprio
YHWH o orador. Como a alegria é um sentimento que se manifesta
principalmente em dia de festa, o texto deve estender-se até o verso 18aa.73
c) Sf 3,14-17 uma parte da unidade indivisível de Sf 3,14-20
A opção por esta unidade maior tem como critério a reversão de tudo o que
foi apresentado anteriormente em todo o livro (cf. Sf 1,2–3,13). A criação que
70 Cf. NOGALSKI, J. D., Zephaniah, p. 214-215. 71 Cf. BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 320. No que concorda D. Baker, porém considerando o segundo oráculo estendendo-se até o v. 20 (cf. Zephaniah, p. 87-88). 72 Cf. Van GROL, H. W. M., Classical Hebrew Metrics and Zephaniah 2-3, p. 186. 73 Cf. KELLER, C.–A., Sophonie, p. 179.212.
32
estava para ser totalmente aniquilada (Sf 1,2-3.14-18; 3,8) é aqui reafirmada.
Porque YHWH de guerreiro destruidor passa a ser para Sião seu divino protetor.74
Essa mudança de estado gera uma exortação à Sião–Jerusalém, para que
busque a YHWH. Com a conversão de seus corações, Jerusalém deverá ser
estabelecida como o centro santo de toda a criação e de todas as nações.75
Com isso, é possível observar algumas mudanças. A primeira, no
destinatário da mensagem, que da relação do resto com Judá e as nações, passa a
dirigir-se somente a Sião.76 A segunda, na forma verbal, que inicia com um
imperativo, o qual carrega em si uma introdução a uma nova comunicação.77
Essa comunicação iniciada no v. 14 pode ser vista como uma unidade
interna coerente, numa temática bem articulada até o v. 20 e que não deve ser
quebrada.78
d) Sf 3,14-17 uma subunidade de Sf 3,14-20
O critério que subdivide Sf 3,14-20 em duas subunidades baseia-se na
progressão do “já e ainda não” realizado. Nos v. 14-17 a progressão está na
atitude do povo em relação a YHWH, primeiro chamado a “alegrar-se” pelo que
YHWH já realizou (v. 14-15) e depois instado a “não temer” pelo que Ele ainda
trará (v. 16-17); enquanto nos v. 18-20 a progressão aparece no agir de YHWH,
que da punição dos líderes apóstatas do povo (v. 18) passa a relatar como
restaurará os remanescentes fiéis (v. 19-20).79
Outro critério é aquele que visualiza a unidade formada por três salmos
celebrativos (v. 14-15; 16-18a; 18b-20), fundamentado na probabilidade da
influência do dêutero-Isaías e do trito-Isaías (cf. Is 40-66, especialmente Is 62).80
e) Sf 3,14-17 uma subunidade de Sf 3,9-17
A tese que justifica esta unidade baseia-se na reversão de pronunciamentos
negativos de julgamento para palavras positivas de consolação e confiança. A
subunidade de Sf 3,14-17 aparece como uma resposta profética ao que foi
74 Cf. BERLIN, A., Zephaniah, p. 148. 75 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 194. 76 Cf. O’BRIEN, J. M., Zephaniah, p. 90-91. 77 Cf. ROBERTS. J. J. M., Zephaniah, p. 204. 78 Cf. KAPELRUD, A. S., The Message of the Prophet Zephaniah, p. 38. Assim também W. P. Brown, explicando que a chamada ao louvor em Sf 3,14-20 marca o final das palavras de julgamento de YHWH contra Jerusalém (cf. Zephaniah, p. 116). 79 Cf. FLOYD, M. H., Zephaniah, vol. 2, p. 239. 80 Cf. SCHÜNGEL-STRAUMANN, H., Sofonia, p. 9.24.
33
prometido nas duas subunidades anteriores (v. 9-10 e v. 11-13), que tinham
YHWH como orador.
A frase temporal (v. 16a) não introduz uma unidade nova, mas funciona
como um divisor temático dentro de Sf 3,14-17, porque muda de perspectiva, que
da remoção dos inimigos (v. 3,15) passa para a alegria de YHWH por Sião (v. 17).
Enquanto separa-se da unidade posterior (v. 18-20), onde YHWH volta a ser
nomeado na 1ª pessoa do sg. Ficando perceptível que Sf 3,14-17 apresenta-se
como um conjunto com sentido lógico e coeso, tendo como único orador o profeta
e apresentando elementos paralelos com os v. 9-10.11-13.81
f) Sf 3,14-17 uma parte da unidade indivisível de Sf 3,9-20
O princípio que fundamenta esta opção é a alternância entre o universal e o
particular, entre os gentios e o povo eleito. Isto pode ser percebido a partir de uma
visão de conjunto do livro.
Esta passagem do todo para a parte é um estilo do autor que utiliza o fator
surpresa desenvolvido no tema do yôm YHWH, visando à correção dos eleitos. A
restauração em Sf 3,9-20 é vista como uma unidade indivisível.82
g) Sf 3,14-17 uma subunidade de Sf 3,9-20
Dentro ainda da visão da alternância do todo para a parte, se for levado em
conta o tom e o conteúdo deste texto, é possível notar que inicialmente tem-se
uma promessa de conversão universal e de salvação para o resto de Judá (v. 9-13)
e em seguida uma exortação à alegria endereçada a Jerusalém pela vitória que lhe
foi trazida por YHWH (v. 14-20).83
Um outro princípio que considera o v. 9 como o início de uma nova unidade
fundamenta-se na mudança do enfoque introduzido com a partícula za' (então).
Com isso, passa-se de um contexto de acusações e julgamentos para falar da
conversão mundial (v. 9-10) e da preservação do resto (v. 11-13), que gera uma
expressão de alegria (v. 14-17) pela restauração do povo de YHWH em sua terra
(v. 18-20). A era messiânica ora iniciada é um tempo de júbilo.84
81 Cf. NOGALSKI, J. Zephaniah, p. 175-176.201-204. 82 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L.; SICRE DIAZ, J. L., Sofonias, p. 1145-1147. 83 Cf. BENNETT, R. A., The Book of Zephaniah, p. 665.698-701. 84 Cf. KAISER, Jr., W. C., Zephaniah, p. 235. Todavia, D. A. Dorsey é a favor de que a última unidade do livro comece em Sf 3,8 por causa da partícula !kel' (por isso), que comumente é usada para introduzir uma unidade conclusiva (cf. The Literary Structure of the Old testament, p. 310-314).
34
Este momento de alegria é descrito em Sf 3,14-17, quando são projetados
para o futuro os motivos que falam das ações de YHWH que mudarão
radicalmente a sorte do povo eleito.85
h) Sf 3,14-18aa uma subunidade de Sf 3,9-20
Da semelhança redacional de Sofonias com os antigos profetas, surge uma
explicação para a mudança de enfoque. Esta similaridade leva à conclusão de que
não é possível deixar seus ouvintes-leitores com uma mensagem de castigo, sem
alguma esperança. Como o julgamento é para todas as nações (cf. Sf 1,2–3,8), a
salvação também é anunciada para todos (cf. Sf 3,9-20): para os pagãos que se
converterem (v. 9-10) e para os de Judá que se renovarem espiritualmente (v. 11-13).
Diante disso, só restam hinos de alegria (v. 14-15.16-18a) e esperança (v. 18b-20).86
Contudo, por apresentar dificuldades insuperáveis, às vezes é difícil fundamentar-se
exclusivamente nos critérios temáticos do sistema tripartido profético: oráculos de
condenação contra Judá-Jerusalém, oráculos de condenação contra as nações, oráculos de
salvação. Por isso, sem eliminar a apreciação do conteúdo, a opção é fazer a leitura através
de critérios literários. Com isso, a unidade intermediária desta seção, Sf 3,14-18a,
aparece nitidamente marcada, porque há uma mudança temática na próxima seção
(v. 18b-20), onde YHWH passa a ser o orador.87
i) Sf 3,14-17 dentro da unidade de Sf 3,6-20
Fugindo também do sistema tripartido profético, mas considerando a
estrutura do texto e a temática global do livro, é possível perceber uma
composição circular entrelaçada por palavras-gancho e repetição de motivos.
Deste modo, Sf 3,6-20 pode ser visto como uma unidade indivisível .88
Também é plausível considerar que a forma atual do livro visa dar ao
anúncio uma dimensão universal e projetada para o futuro, a fim de mostrar à
comunidade dos pobres como será para eles o tempo que há de vir. Este resto
pobre subsistirá no seio de Sião. Na tomada deste ponto de vista, Sf 3,14-17 é
subdividido em duas seções (v. 14-15 e v. 16-17).89
85 Cf. ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 64.106. 86 Cf. BERNINI, G., Sofonia, p.11-13. Também J. Vlaardingerbroek apresenta este esquema de subdivisão para Sf 3,9-20 (cf. Zephaniah, p. 192-194). 87 Cf. RENAUD, B., Le livre de Sophonie, p. 2-3.19. 88 Cf. ZENGER, E., Einleitung in das Alte Testament, p. 516 (citando LOHFINK, N., Zefanja und das Israel der Armen, p. 103-104). 89 Cf. GORGULHO, G., Sofonias e o valor histórico dos pobres, p. 33-34.
35
Outros critérios que podem ser observados junto com os temáticos são os
retóricos. Sf 3,6-20 teria sido escrito a partir de uma série de oráculos do profeta
que foram pronunciados em ocasiões distintas. Esta unidade se liga com a anterior
(cf. Sf 2,4–3,5) pela alternância entre Jerusalém e as nações e na relação que
existe entre os oráculos. Entretanto, Sf 3,14-17 é a parte mais unitária e bem
articulada desta unidade.90
Em síntese, percebe-se que Sf 3,14-17, pertencendo ou não a uma unidade
maior, é aceito pela maioria dos estudiosos como um conjunto textual bem
delimitado. No presente estudo considera-se esta perícope como uma subunidade
de Sf 3,6-20. Esta unidade parece trazer um discurso coerente, onde as
subunidades estão interligadas e continuam a apresentar a alternância entre
Jerusalém e as nações como perpassa todo o livro, sob diferentes aspectos. Ao
juízo das nações junta-se Jerusalém por não ter temido a YHWH (v. 6-8); abre-se
um tempo de promessas aos povos e depois ao povo eleito, mostrando a
universalidade da punição e da salvação (v. 9-13); que irromperá na realização das
promessas (v. 14-17), que por terem sua realização definitiva no futuro abre um
tempo de novas promessas (v. 18-20).
Na consideração de Sf 3,14-17 como um conjunto textual, percebe-se que o
texto não apresenta problemas quanto à sua delimitação inicial, visto que os
críticos em unanimidade concordam que no v. 14 começa uma nova unidade ou
subunidade, de acordo com a divisão que cada estudioso apresenta para o livro.
Todavia, o seu fechamento no v. 17 apresenta algumas discordâncias no que tange
a compreensão da extensão do último verso.
A concordância entre os críticos, quanto ao início do texto, está no fato de
que este se encontra delimitado tanto pela forma como pelo conteúdo e também
pela sua posição no livro. Além disso, a certeza da pessoa do discurso, do sujeito
da ação e sobre quem recai a ação.
Sf 3,14-17 traz uma mensagem de alegria para Sião, porque YHWH
revogou sua sentença, está em seu meio e se rejubila com ela. Por isso, vem
colocado no final do livro, logo após a descrição de como será “o resto” de Israel
que será preservado após o julgamento dos soberbos fanfarrões existentes em seu
90 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 42-43.
36
meio e depois do afastamento daqueles que os oprimiam com suas atitudes
injustas e corruptas (cf. Sf 3,11-13).
Na análise comparativa das características de Sf 3,14-17 com as da perícope
anterior, Sf 3,11-13, é perceptível que o v. 14 discorre sobre algo novo devido às
mudanças observadas em vários pontos.
No que diz respeito à ação, observa-se que em Sf 3,11-13 as ações verbais
estão todas numa série com sentido de futuro: yviAbte al{ (não terás), rysia'
(afastarei), ypisiAt-al{ (não continuarás), yTir>a;v.hiw> (deixarei), Wsx'w> (procurará),
Wf[]y:-al{ (não praticarão), WrB.d:y>-al{ (não dirão), aceM'yI-al{ (não se encontrará), W[r>yI
(apascentarão) e Wcb.r"w> (repousarão).
Por outro lado, no v. 14 as formas verbais aparecem numa cadeia de quatro
ações no imperativo: yNIr" (exulta de alegria), W[yrIh' (grita de alegria), yxim.fi
(regozija), yzIl.[' (celebra), mostrando que os momentos dos discursos são
diferentes.
Embora a pessoa do discurso varie, o sujeito da ação é sempre YHWH. Na
perícope de Sf 3,11-13 é o próprio YHWH quem fala ao povo fazendo-lhe
promessas, evidenciado pelas formas verbais rysia' (v. 11) e yTir>a;v.hiw> (v. 12) na
primeira pessoa do singular e através da expressão yvid>q' rh;B. (em meu monte santo
– v. 11).
Em contrapartida, em Sf 3,14 encontramos o profeta, em nome de YHWH
(cf. v. 15a – onde YHWH aparece em 3ª pessoa), exortando o povo a alegrar-se, a
regozijar-se através de uma tríplice chamada dirigida à: !AYci-tB; (filha de Sião),
laer"f.yI (Israel) e ~Øil'v'Wry> tB; (filha de Jerusalém). O profeta como a pessoa do
discurso que convida o povo ao júbilo (v. 14), torna-se ainda mais claro no v. 15
quando fala de YHWH, dizendo que “revogou YHWH as tuas sentenças” e
“expulsou teu inimigo” (v.15) Ambas as formas verbais estão na terceira pessoa
do singular. Depois, passa por uma referência a Jerusalém (v. 16) e volta a fazer
menção a YHWH (v. 17).
Ainda é possível admitir que o direcionamento à segunda pessoa do
feminino, que aparece no v. 14 em três das quatro ações verbais, continua nos
sufixos preposicionais que apresentam os motivos deste chamado à alegria (v.
15.16.17) e na última ação verbal yair>yti-al{ (não temerás), que apresenta-se no
yiqtol (v. 16b).
37
Todas estas constatações estão em perfeita consonância com o
desenvolvimento do tema, pois nota-se que em Sf 3,11-13 há uma mensagem de
esperança futura para o resto de Israel, depois da manifestação do yôm YHWH; ao
passo que em Sf 3,14 a missiva é uma exortação ao regozijo imediato, porque
YHWH já está no meio do povo e se alegra por aquilo que lhe proporciona.
A delimitação final do texto apresenta certa disparidade entre os críticos.
Em parte, esta discordância deriva do fato de não haver unanimidade a respeito da
autoria destes versículos, se são do profeta ou obra de um redator. Por causa disto,
alguns não fazem o estudo do texto como ele se apresenta hoje no cânon bíblico,
mas a partir da separação do que consideram autêntico e não-autêntico.91
Por outro lado, a LXX, propondo uma divisão sintático-gramatical diferente
do TM, acrescenta wj evn h`me,ra| eorth/j (como em dia de festa), como continuação
e conclusão do v. 17. Com isso, desloca para o v. 18, de forma simplificada, a
expressão d[eAMmi ygEWn (os aflitos afastados da festa), que se inicia com o seguinte
verso kai. suna,xw tou.j suntetrimme,nouj (e reunirei os aflitos).92 Alguns críticos
seguiram esta divisão.93
Na análise comparativa de Sf 3,14-17 com a perícope posterior, Sf 3,18-20,
observa-se que a pessoa do discurso mudou, visto que no v. 17 encontra-se o
profeta falando sobre o agir de YHWH em relação a seu povo, uma vez que as
ações verbais estão na 3ª pessoa do m.sg. e dão esta indicação. Por outro lado, no
v. 18 depara-se com a voz do próprio YHWH, na 1ª pessoa do m.sg., mencionando
sua atuação em favor deles.
Em Sf 3,14-17 presencia-se uma restauração já começada e por isso motivo
de alegria, mas não em seu estágio final; o que é muito sugestivo para a
mensagem da perícope de Sf 3,18-20, onde há um retorno a uma mensagem de
promessa, para um futuro definitivo, quando então todos os povos da terra
reconhecerão a Jerusalém totalmente restaurada, como o centro de nome e louvor,
como o lugar de onde parte a salvação. Então, o conteúdo das promessas dos v.
91 A abordagem sobre a redação do texto, como também da posição dos críticos, será feita mais adiante. 92 Cf. CARBONE, S. P.; RIZZI, G., Sofonia, p. 446-447. 93 Cf. ASURMENDI, J., Sofonia, p. 138; BERNINI, G., Sofonia, p. 13; DORSEY, D. A., The Literary Structure of the Old Testament, p. 313; KELLER, C.-A., Sophonie, p. 179-180; SCHÜNGEL-STRAUMANN, H., Sofonia, p.24; WESTERMANN, C., Prophetic Oracles of Salvation in the Old Testament, p. 121.
38
18-20 pode ser assim resumido: contra os impenitentes (v. 18), os que agem
contra o povo eleito (v. 19) e de retorno dos exilados (v. 20). Deixando clara a
continuação da alternância entre Jerusalém – nações até o v. 20.
Neste trabalho seguiremos a divisão apresentada pelo TM por encontrarmos
em Sf 3,14-17 uma unidade bem organizada.94
2.2.3.
Unidade de Sf 3,14-17
A partir das constatações acima, é possível aceitar que em Sf 3,14-17 trata-
se de uma palavra dirigida à filha de Sião – filha de Jerusalém (v. 14a-d), através
de Sofonias, que fala em lugar de YHWH.
Percebe-se uma continuidade que atravessa todo o discurso do texto, por
intermédio da permanência do mesmo orador-profeta que se dirige ao mesmo
destinatário, identificado na 2ª f.sg. e renomeado através das três formas utilizadas
no v. 14 numa ordem diversa: Israel–Jerusalém–Sião (v. 15c.16ab). O sujeito
determinante na ação, porém, é YHWH, fixo na 3ª m.sg. e nomeado também por
três vezes (v. 15a.c.17a).
Este oráculo, apesar da ausência de uma fórmula introdutória convencional,
está colocado após uma série de promessas feitas pelo próprio YHWH para a
iminente vinda do yôm YHWH (v. 9-13), momento no qual a justiça será
implantada. Estas promessas se colocam após uma ameaça de castigo (v. 6-7) e de
um tempo de espera para a sua realização (v. 8).
Com a chegada do yôm YHWH, o resto, que permaneceu fiel a Ele, reunido
em Sião, é exortado a regozijar-se “com todo o coração” (v. 14c), porque YHWH,
“o rei de Israel” e “o teu Deus”, “está no teu meio” (v. 15c.17a), “revogou tuas
sentenças” (v. 15a) e “expulsou teu inimigo” (v. 15b).
Por isso é dito: “não temerás” (v. 15d.16b), porque de agora em diante não
acontecerá “mais o mal” (v. 15d), como também “não desfalecerão tuas mãos”
(v. 16c), isto é, eles estarão sempre fortes diante de qualquer tipo de afronta futura,
certos de que YHWH é um “herói” e sempre “salvará” (v. 17b).
Ao resto, que agora representa a filha de Sião–Jerusalém, Sofonias fala da
alegria de YHWH por causa deles (v. 17c-e), pois, ao se manterem fiéis, tornaram-se
94 Cf. c. I, seção 2.4, p. 49-55.
39
abertos às bênçãos prometidas. Esta alegria de YHWH permanecerá sendo
exteriorizada (v. 17c.e), prolongada e mantida no “silêncio do seu amor” (v. 17d).
Em seqüência a esta palavra do profeta, que chama tanto o povo ao regozijo
como fala da alegria do próprio YHWH com o resto fiel, em Sf 3,18-20 encontra-
se, para estes que estavam aflitos e que YHWH reunirá (v. 18), um elenco das
bênçãos a serem recebidas (v. 19.20), mas também uma palavra de reprovação
para os que atentam contra Jerusalém (v. 19).
Com esta visão de conjunto, pode-se dizer que Sf 3,14-17 apresenta uma
unidade redacional, uma vez que não se encontram tensões dentro destes
versículos, havendo continuidade entre os v. 14 a 17. Estes seguem uma única
linha de pensamento, embora com diferentes momentos. Como também mostra
ser uma subunidade textual de Sf 3,6-20, revelando-se parte integrante do
desenvolvimento de uma situação instaurada, na qual está perfeitamente ajustada.
2.3.
Época do texto no contexto do livro de Sofonias
2.3.1.
A datação do livro em seu conjunto
Não é fácil determinar uma data provável para o livro de Sofonias. Os
críticos têm posições divergentes quanto à época histórica retratada no escrito e ao
período composicional. Isto se deve ao fato de se encontrar dados que podem
remontar tanto à época que antecede à reforma josiânica (cf. Sf 1,4-6), como ao
período que lhe sucede, sugerindo a queda da Assíria (cf. Sf 2,15); outras
informações, porém, parecem pertencer ao período exílico ou pós-exílico imediato
(cf. Sf 3,11-13.14-17).95
Se tomarmos como ponto inicial a determinação da atuação de Sofonias, a
única referência direta ao profeta encontra-se no título de seu livro (cf. Sf 1,1). Se
considerarmos o conteúdo deste versículo como autêntico, pode-se colocar seu
ministério profético durante a época do rei Josias (640 – 609 a.C.).96
95 Cf. MASON, R., Zephaniah, p. 35-43. 96 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 62; ALONSO SCHÖKEL, L.; SICRE DIAZ, J. L., Sofonias, p. 1143.
40
O contexto histórico do livro parece indicar o tempo da menoridade de
Josias, uma vez que não há menção ao rei e sim aos filhos do rei (cf. Sf 1,8),
levando a crer que Josias estava sob tutela e o governo encontrava-se nas mãos de
políticos palacianos pró-assírios. A reforma josiânica ainda não havia acontecido
(cf. 2Rs 22,3–23,25; 2Cr 34,1–35,19), porque existe uma recriminação à idolatria
de Judá, ao sincretismo religioso (cf. Sf 1,4-5), como também ao comportamento
dos oficiais da corte (cf. Sf 3,4) e dos sacerdotes em Jerusalém (cf. Sf 3,4).97
O movimento pró-reforma partiu de um grupo de aristocratas cultos
inconformados com a situação que se havia instalado em Judá na época dos reis
Manassés (cf. 2Rs 21,2-7.16) e Amon (cf. 2Rs 21,20-22). É plausível que este
grupo contasse com o apoio de determinados profetas (cf. 2Rs 21,10-15), dentre
eles Sofonias, que proclama seus oráculos contra Judá. Nesta reforma, motivos
políticos, sociais e religiosos se entrelaçavam indissoluvelmente.98
Todavia, não se deveria colocar a atuação de Sofonias após a reforma,
porque o texto deixa entrever que a Assíria ainda era uma potência forte capaz de
gerar temor. O profeta acusa a afluência de usos e costumes assírios, sobretudo
junto à aristocracia de Jerusalém (cf. Sf 1,1-6.8-9). Josias começa a implantar sua
reforma por volta de 628/627 a.C. Todavia, somente quando sente o poder assírio
enfraquecido é que este monarca leva ao auge sua reforma (622 a.C.).99
Outra possível indicação é a de que Sofonias provavelmente já não exercia
seu ministério quando teve início a reforma josiânica. Esta suposição baseia-se no
fato de que Josias decidiu consultar um profeta a respeito do Livro da Lei
encontrado (cf. 2Rs 22,3), mas a consulta foi feita à profetisa Hulda e não a
Sofonias.100 A partir desta informação, a pregação do profeta seria antecedente ao
ministério profético de Jeremias, iniciado em 627 a.C. (cf. Jr 1,1-3)101 e da tomada
de Nínive, capital da Assíria, destruída em 612 a.C. (cf. Sf 2,13-15),102 como
97 Cf. CAZELLES, H., História Política de Israel, p.182-183; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 61-64; BRIGHT, J., História de Israel, p. 381-389. 98 Cf. ALBERTZ. R., Historia de la religión de Israel en tiempos del Antiguo Testamento, p. 378-379; DONNER, H., História de Israel e dos povos vizinhos, vol. 2, p. 378-385.390-391; SOGGIN, J. A., Storia d’Israele, p. 362-369; MILLER, J. W., Between the Times: Zephaniah, Nahum, Habakkuk, Obadiah, p, 143. 99 Cf. CAZELLES, H., op. cit., 182-183; DONNER, H., op. cit., vol. 2, p. 384-385. 100 Cf. ALONSO SCHÖKEL, L.; SICRE DIAZ, J. L., Sofonias, p. 1144. 101 Cf. BRIGHT, J., História de Israel, p. 386; FOHRER, G., História da Religião de Israel, p. 319. 102 J. Asurmendi explicita que se forem levados em conta os dados do livro (cf. Sf 2,13-15), Sofonias não teria conhecido a queda de Nínive (Sofonia, 138).
41
também da tensão com Moab e Amon (cf. Sf 2,8-12), que remonta ao tempo da
deportação do rei Joacaz em 609 a.C. devido ao domínio egípcio sobre Judá (cf.
2Rs 23,31-35) e do reinado do rei Joaquim, de 609 a 597 a.C. (cf. 2Rs 24,2).103
A conjuntura internacional na época de Sofonias, contudo, já indicava
algumas mudanças, não havendo um quadro seguro e preciso sobre a situação de
Judá e da Palestina. A Assíria, da qual era vassala, estava mostrando sinais de
declínio. O oráculo contra Amon e Moab é muito genérico, não se referindo a fatos
concretos, mas ao modo como eles agem. Tudo isto pode sugerir, mais do que
previsões futuras, uma intuição do profeta para um futuro imediato.104
Por outro lado, determinadas informações se ajustam ao tempo posterior de
Josias (cf. Sf 2,11; 3,9-10), porque possuem temas com uma maior identificação
ao contexto pós-monárquico (cf. Sf 3,14-20), devido à terminologia utilizada, ao
estilo, à linguagem e à mensagem teológica.
Entretanto, admite-se que o trabalho redacional não se deve a um único
autor, mas que o texto passou por mais de uma mão, nas reelaborações sofridas,
até alcançar o seu estágio final.105
Dentro desta panorâmica, alguns estudiosos optam pela efetiva escrita do
livro na época do rei Josias.106 Outros são pelo parecer que Sofonias deixou seus
103 A. Spreafico lembra que no período de Josias não havia tensões com os reinos vizinhos de Amon e Moab (cf. Sofonia, p. 64). 104 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 64-66. Concordando com as colocações sobre a conjuntura da época e dizendo ser possível uma confidência de Sofonias a respeito da queda do Império Assírio, P. H. Kelley diz que a data mais provável para o ministério de Sofonias seria entre os anos 630-625 a.C., por volta da época da vocação de Jeremias (cf. Zephaniah, p. 91). 105 W. L. Holladay é do parecer que o alargamento dos pronunciamentos autênticos de Sofonias se deu após a reforma, quando então apresenta sua preocupação com o inimigo do norte e dos lapsos no cumprimento da lei do Deuteronômio, citando Jeremias como o adaptador (cf. Reading Zephaniah with concordance, p. 672). Da mesma forma, E. Ben Zvi diz que o livro de Sofonias, como se apresenta, foi redigido a partir de um material composicional já existente e de algumas poucas adições pós-composicionais (cf. A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 347). Além disso, S. J. De Vries diz que os materiais que anunciam julgamento são originais ou redacionais pré-exilicos; enquanto aqueles que falam de salvação são exílicos ou pós-exílicos; e quando a salvação de Israel aparece como uma salvação adicional (cf. v. 16a) é sempre pós-exílico (cf. Futurism in the Preexilic Minor Prophets Compared with That of the Postexilic Minor Prophets, p. 259-260). Um outro tipo de análise é feito por B. G. Curtis, que considera a contagem da delineação poética e das partículas de prosa (ta – rva – h). Estas partículas raramente aparecem na poesia. Embora o TM de Sofonias seja, nesta análise, designado uma prosa oracular, Sf 3,14-17 nas suas 55 palavras apresenta apenas uma ocorrência destas partículas, awhh !wyb, e uma acentuação poética. A baixa incidência das partículas no texto geralmente aponta para um material mais antigo oracular ou poético (cf. The Zion-Daughter Oracles, p. 172-180). 106 Assim se posiciona J. J. M. Roberts (cf. Zephaniah, p. 163); como também M. Eszenyei Széles, que é por uma datação anterior a 630 a.C. (cf. Zephaniah, p. 61). Segundo L. Alonso Schökel; J. L. Sicre Diaz, a maioria dos estudiosos se coloca a favor de ter sido Sofonias quem promoveu esta reforma (cf. Sofonias, p. 1144).
42
oráculos sob forma de palavras isoladas como era o comum em sua época.107
Ainda há quem diga que o livro poderia se aplicar a qualquer tempo do povo
eleito, pois as afirmações sobre a idolatria são de ordem geral e os inimigos de
Israel mencionados: cidades filistéias, Moab e Amon, Egito e Assíria, parecem ser
elementos estereotipados (cf. Sf 2,4-15).108
Para os que optam por uma datação mais tardia, o tempo do reinado de
Josias poderia ter sido escolhido como o período literário, isto é, não seria o
período histórico, mas aquele que serviu de base para o escrito, por ter sido
considerado muito favorável para os ouvintes-leitores desesperançados. Um dos
motivos para a escolha deste tempo encontra-se no império assírio que iniciava
sua decadência e Judá estava sendo governado por um monarca piedoso,
preocupado com uma reforma religiosa e que procurou, de certa forma, sustentar a
independência política da Assíria e recuperar o território de Israel. Isto aumentaria
as esperanças religiosas e políticas dos seus compatriotas.109
A partir de tudo o que foi acima considerado, poder-se-ia dizer que o livro
alcançou sua forma final depois de um prolongado desenvolvimento. Isto é
fundamentado por algumas teses:
a) um estudo bastante pormenorizado considera como sofonianas as seguintes
passagens: 1,2-5.7.8ab-9.12ab-18aa; 2,1-2ba.3-6.7abba.12ab-14; 3,6-7 e talvez
3,1-4. 110
b) estas poucas e variadas expressões proféticas (a), permaneceram vivas no culto
a YHWH continuado e no ensino de círculo de discípulos (cf. Sf 1,7-8), na forma
de tradição oral. Tempos mais tarde estes oráculos foram colocados por escrito.
Certamente houve uma primeira redação no período pré-exílico, feita por um
“discípulo de Sofonias”, que recolheu e ordenou os oráculos do profeta sem
grandes mudanças ou acréscimos. Posteriormente, na época exílica houve uma
107 Segundo E. Sellin – G. Fohrer, com segurança podem ser atribuídos ao profeta os seguintes oráculos: Sf 1,4-5.7-9.12-13.14-16; 2,1-3; 3,11-13 (cf. Introdução ao Antigo Testamento, p. 689-690). No entanto, E. Zenger diz que é questionável considerar Sf 3,12-13 como anterior ao exílio (cf. Einleitung in das Alte Testament, p. 519). 108 Conforme R. Mason, estas nações estariam simbolizando os inimigos de Israel do norte, sul, leste e oeste, que em algum momento da história a oprimiram (cf. Zephaniah, p. 21-22). 109 A. Berlin chama este momento de “pequena idade de ouro”, embora menor do que na época de Davi e Salomão, e que este tempo foi o melhor período entre o Cisma (931 a.C.) e o edito de Ciro (538 a.C.), acrescentando que a audiência exílica e pós-exílica teve muita afinidade com as palavras de Sofonias (cf. Zephaniah, p. 47); da mesma opinião J. M. O’Brien (cf. Zephaniah, p. 92). 110 Cf. LANGOHR, G.; Le Livre de Sophonie et la critique d’autenticité, p. 1-27.
43
reinterpretação da mensagem sofoniana mudando a linguagem para a da época
exílica e início da era pós-exílica, sendo esta redação colocada na segunda metade
do século V a.C.111 Desta redação fazem parte: 1,1aa (fórmula introdutória);
2,7aabb.11; 3,10.18-20.112 Depois disto teria havido uma nova edição cujo redator
poderia ter sido um anti-helenista e antipagão, com pouquíssimas alterações,
porém significativas. E a última seria muito recente, uma vez que a LXX
originária não a teria conhecido. Contudo, não se podendo ir além do século III-II
a.C.113
c) o processo de composição do livro passou por três estágios: 1º) original; 2º) de
releitura; 3º) da redação. No período original seriam encontrados nove oráculos:
Sf 1,4-5.7-9.12-13.14-16; 2,1-3.4.13-14; 3,6-8.11-13. No período da releitura
seriam adicionados os textos exílicos de caráter hínico e antológico, ligados às
idéias dêutero-isaianas (Sf 3,14-20), os de caráter deuteromístico (Sf 2,10-11) e os
que falam da presença de colônias judaicas no Egito (Sf 3,9-10). O redator pós-
exílico adicionaria ainda o título (Sf 1,1), as introduções (Sf 1,8a.10a.12a), as
fusões (Sf 1,17-18) e as glosas explicativas (Sf 1,4.13; 3,8d.9b.10.11a).114
d) os noves oráculos sofonianos, citados acima, foram deixados sob a forma de
palavras isoladas. Outros (Sf. 1,2-3.10-11.17; 2,5-7.8-11.12.15; 3,1-5.9-10), de
origem desconhecida, foram acrescentados em época posterior formando a grande
redação de Sf 1,1–2,13. Por último o escrito foi ampliado com oráculos de
inspiração no dêutero-Isaías: Sf 3,14-15.16-18aa.18ab-20, os quais são promessas
escatológicas posteriores, alargando a modesta visão de Sofonias sobre o futuro
para uma expectativa de pura salvação.115
e) as três etapas seriam: 1ª) fundo sofoniano; 2ª) importante trabalho de edição; 3ª)
glosas pontuais. As glosas e retoques redacionais apontam para uma redação pós-
exílica dos séculos VI ou V a.C., quando o autor final fez a estruturação do livro.
111 Segundo M. Eszenyei Széles, quando o redator, no tempo da restauração pós-exílica, acrescentando mais material, deu a conformação do esquema tripartido, o fez dentro de uma visão escatológica (cf. Zephaniah, p. 64). 112 A. Bonora afirma que alguns versículos têm uma maior compreensão se vistos à luz do contexto pós-exílico, visto se ajustarem melhor a este tempo: 2,7.9b.10; 3,10b.16-20. Porém, ainda há outros versículos que alguns estudiosos subtraem do profeta do século VII (cf. Sofonia, p. 79). 113 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 28-29. 114 Cf. TESTA, E., Sofonia, p. 291-292. 115 Cf. SELLIN, E.; FOHRER, G., Introdução ao Antigo Testamento, vol. 2, p. 689-690.
44
Estas glosas, se fossem retiradas, não comprometeriam o texto, nem a
autenticidade dos oráculos que estão bem enquadrados no século VII a.C. 116
Em síntese, a posição dos estudiosos é muito divergente em relação à
datação dos oráculos do livro. Todavia, podemos formular as seguintes
constatações:
• A pregação do profeta está na base do escrito do livro de Sofonias, que em sua
época teria deixado seus oráculos em forma de palavras isoladas conservadas
pela tradição oral.
• Esta mensagem original de oráculos independentes teria recebido na época pré-
exílica imediata uma primeira escrita sem grandes alterações, logo após a
atuação do profeta.
• A este escrito, na época exílica e pós-exílica, teriam sido acrescentadas
introduções, glosas explicativas, como também teriam sido feitas fusões, a fim
de dar uma boa estruturação ao livro.
• Estas alterações teriam surgido a partir da reflexão das palavras do profeta do
século VII, adaptando-as ao contexto que o povo estava vivendo. Isto teria sido
obra de um redator pós-exílico.
2.3.2.
Algumas propostas de datação de Sf 3,14-17
Dentro do contexto apresentado, para se abordar a época de Sf 3,14-17,
deve-se levar em conta alguns pontos sobre a autenticidade e as tradições
redacionais. Os estudiosos se dividem na aceitação ou não da autenticidade do
texto, se sua redação é obra de Sofonias ou de um ou mais redatores, sendo a
escrita pré-exílica, exílica ou pós-exílica.
Alguns posicionamentos serão apresentados. O critério adotado será o da
autenticidade do material. Começará pelos que se posicionam pela não-
autenticidade total de Sf 3,14-17 (a); passando pelos que admitem uma
autenticidade parcial, isto é, sofoniano (Sf 3,14-15) e não-sofoniano (Sf 3,16-17)
(b); chegando àqueles que acolhem a autenticidade total da perícope (c).
116 Cf. RENAUD, B., Sophonie, p. 178-180.
45
a) não-autenticidade total de Sf 3,14-17
a.1) Sofonias, um autor fictício pós-monárquico, colocou por escrito um material
de nível pré-composicional, que poderia ser originário de um profeta real e do
tempo de Josias. Esta afirmação leva em consideração que no livro não há
referências nem expectativas de aparecimento de uma nova elite social-política,
um outro rei piedoso, oficiais ou juízes. O único rei na sociedade ideal será
YHWH e o povo será formado pelos humildes e pobres. A sociedade é convidada,
então, a se identificar com aquela de Sf 3,14-15, que não são os ouvintes-leitores
do profeta, mas uma Jerusalém do futuro. Embora Sf 3,16-17 possa ser uma
adição, não parece refletir uma audiência diferente da anterior. Então, Sf 3,14-17
não seria material sofoniano e pertenceria ao nível composicional.117
a.2) Concorda com o pensamento anterior (a.1), mas, diferentemente, acredita
haver uma grande probabilidade de Sf 3,14-20, e não somente os v. 14-17, ser
uma interpretação refletida do redator que incluiu o dado de esperança no final do
livro.118
a.3) Sf 3,14-17 é uma glosa tardia, apresentando-se como um oráculo pós-exílico.
Sf 3,16-17 apresenta uma forma literária muito próxima ao dêutero-Isaías. A
exortação à alegria assemelha-se a Is 12,6 e ainda com Is 54,1; Zc 2,14; 9,9. A
menção de YHWH como rei de Israel lembra a perspectiva teológica nos Salmos
do Reino (cf. Sl 96-100). Sua datação recairia no pós-exílio imediato.119
a.4) Muitos dados falam a favor de uma redação principal do livro na época
exílica ou pós-exílica imediata, como uma legitimação das palavras acusatórias da
culpa da classe alta por ocasião do exílio da Babilônia (587 a.C.). Desta forma é
discutível colocar na época pré-exílica tardia Sf 3,14-15, que é muito próximo a
Mq 4,6-8 e Zc 9,9-10, textos certamente mais tardios. Enquanto Sf 3,16-20 é tido
por certo como sendo do período pós-exílico.120
a.5) O convite à alegria, com todas estas manifestações, é similar ao dêutero-Isaías
(cf. Is 41,16; 49,13). As razões apresentadas são as mesmas, ou seja, a retirada do
castigo, o afastamento dos inimigos e o retorno de YHWH para o meio do povo.
117 Cf. BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 35.355-356. 118 Cf. BOADT, L., Zephaniah, p. 207. 119 Cf. RENAUD, B., Le livre de Sophonie, p. 24-25. 120 Cf. ZENGER, E., Einleitung in das Alte Testament, p. 519.
46
Esta proclamação surge como um louvor pela libertação proporcionada por
YHWH a seu povo. A disposição das sentenças nas frases, palavra por palavra,
neste tipo de oráculo de salvação, ocorre também em escritos de outros profetas
(cf. Jl 2,21.23; Zc 2,10; 9,9).121
a.6) Os oráculos que aparecem em Sf 3,14-20 não dão a entender que seja apenas
uma salvação parcial que se manterá por mais algum tempo, por isso pressupõem
adições posteriores à época do profeta. Sf 3,14-15 indicando influência dêutero-
isaiana poderia ser datado no pós-exílio imediato (539-520 a.C.), enquanto Sf
3,16-20 seria ainda mais posterior.122
a.7) A única ocorrência destes quatro verbos no imperativo, juntos num mesmo
versículo, aparece em Sf 3,14-15. Nas passagens dos profetas pré-exílicos, de
Isaías e de Jeremias é difícil encontrar indícios do uso destes verbos para exprimir
a alegria de Israel.123 Contudo, encontra-se a ocorrência de !nr – xmf – zl[ para
mencionar a alegria provocada pela ação salvífica de YHWH em prol do povo no
dêutero-Isaías (cf. Is 44,23; 49,13) e no trito-Isaías (cf. Is 61,7; 66,10).
Além desses, há outros textos, provavelmente pós-exílicos da literatura
profética, onde se pode citar a ocorrência destes verbos expressando a alegria do
povo.124 Todavia, não é possível levantar provas pré-exílicas da ocorrência destes
verbos manifestando a alegria, sem que haja problemas crítico-literários. Com
exceção de Is 9,2 e Hab 3, que dos quatro verbos usam apenas dois (nnr – [wr). 125
b) autenticidade parcial: Sf 3,14-15 autêntico e Sf 3,16-17 não-autêntico
b.1) Considera o aparecimento de Sofonias em torno de 630 a.C. Como alguns
versículos (Sf 1,18; 2,7.9b.10; 3,8) supõem o exílio, o livro deve ter recebido sua
121 C. Westermann lembra que os oráculos de salvação do tempo exílico e pós-exílico apresentam uma relação muito grande com os lamentos dos “remanescentes” (cf. Prophetic Oracles of Salvation in the Old Testament, p. 130). 122 Cf. ALBERTZ, R. Exile as Purification, p. 223. 123 Cf. Os 5,8; 9,1; Mq 4,9; 7,8; Ez 7,12; 25,6; 35,14; Ab 1,12. 124 Cf. Hab 3,18; Zc 2,14; 4,10; 9,9; 10,7; Jl 2,21.23. 125 J. IHROMI também explicitou que estes verbos tendem a aparecer no material de Jeremias considerado “secundário” (!nr em Jr 31,7; [wr em Jr 50,15; xmf em Jr 31,13; 43,13; 50,11 [qere]; zl[ em Jr 11,15; 50,11 [qere]); 51,39; no material “secundário” do proto-Isaías (!nr em Is 12,6; 24,14; 35,6; [wr em Is 15,4; xmf em Is 14,8; 25,9; 39,2; zl[ em Is 23,12); e no dêutero e trito-Isaías (!nr em Is 42,11; 44,23; 49,13 54,1; 61,7; 65,14; xmf em Is 65,13; 66,10; [wr em Is 42,13; 44,23), chamando a atenção de que xmf ocorre no trito-Isaías e não no dêutero-Isaías, enquanto [wr ocorre no dêutero-Isaías e não no trito-Isaías (cf. Die Häufung der Verben des Jubelns in Zephanja III 14f., 16-18, p. 106-110).
47
forma final no exílio (Sf. 1,1–3,15), com Sf 3,14-15 originário do profeta. Sf 3,16-
20 só poderia provir do pós-exílio tardio, porque o texto fala do retorno dos
dispersos.126
b.2) Aceita-se Sf 1,1-18; 2,1-6.8-9a.11-15; 3,1-10a.bb-15 como de Sofonias. No
pós-exílio o livro teria sofrido complementações em vista do destino futuro dos
que se encontravam na diáspora. Um destes acréscimos seria Sf 3,16-20.127
c) autenticidade total de Sf 3,14-17
c.1) Sofonias foi a primeira voz profética dirigida a Judá depois de Isaías e
Miquéias. O conteúdo de Sf 3,14-17 teria sido comunicado ao povo entre os anos
612–609 a.C., após a queda de Nínive, capital da Assíria, e depois do mau êxito
da reforma josiânica, que tinha em sua base a pregação de profetas como Sofonias
e Jeremias. O c. 3 traz uma série de oráculos de Sofonias e, com o fracasso da
reforma, Sf 3,14-17 poderia muito bem ter sido proclamado após o encerramento
da atuação do profeta.128
c.2) Situando o ministério de Sofonias entre os anos 630–625 a.C., considera-se
como autêntico o texto de Sf 3,14-17, porque não haveria discrepância com a
perícope anterior, Sf 3,8-13, uma vez que a dualidade Israel–nações estrangeiras
continua e porque a linguagem usada não seria fruto de uma reflexão profunda,
nem de uma inspiração, mas do entusiasmo do profeta que convoca Sião–
Jerusalém ao júbilo por ela continuar a habitar o monte santo e por estar próxima
de YHWH.129
c.3) Sf 3,14-17 estaria perfeitamente em sintonia com a concepção de Sofonias a
respeito de Jerusalém, de Israel e da monarquia. Além disso, se algo do texto fosse
tirado, deixaria uma lacuna importante no que se refere ao livro como um todo. As
duas subunidades (v. 14-15 e v. 16-17) dentro deste texto seriam na realidade uma
duplicação, mas estariam dentro dos recursos comuns da poesia hebraica,
principalmente para conseguir um paralelismo.130
126 Cf. RUDOLPH, W., Zephanja, 255-256. 127 Cf. LOHFINK, N., Zefanja und das Israel der Armen, p. 102. 128 Cf. Achtemeier acrescenta que Sofonias pode ter sido um membro do grupo profético levítico que estava por trás da reforma deuteronômica, que teria como membro também Jeremias e mais tarde o trito-Isaías. Estes reformadores teriam uma retórica comum (cf. Zephaniah, p. 61-62.80). 129 KELLER, C.-A., Sophonie, p. 181.213. 130 Cf. SPREAFCIO, A., Sofonia, p. 25.
48
c.4) O v. 14, iniciando com exortações imperativas, com verbos que traduzem
“regozijo” e “canto de alegria”, seguidos pelos vocativos ligados ao povo eleito,
evocaria o estilo do dêutero-Isaías, de acordo com Is 54,1 (cf. ainda Is 44,23;
52,2). Todavia, embora o texto seja uma proclamação da salvação operada por
YHWH, quanto ao vocabulário destes imperativos haveria pouca ou nenhuma
ligação entre estes dois profetas. No dêutero-Isaías não está presente a expressão
ble-lk'B. (v. 14c), “de todo coração”, característica da linguagem deuteronômica; a
expressão %Ber>qiB. (v. 15c.17a), “no teu meio”, e %Ber>qimi (v. 11), “do teu meio”; o
verbo hnp (v. 15b), significando “expulsar”, só aparece junto com o objeto direto
“caminho” no sentido de “preparar” (cf. Is 40,3; 57,14; 62,10); e a expressão
hx'm.fiB. (v. 17c), “com regozijo” ligado a YHWH, ocorre apenas em Is 55,2 (e
hx'm.fii em Is 35,10; 51,3.11) relacionado ao povo eleito. A partir destas
observações, é possível considerar Sf 3,14-17 como um oráculo genuíno do
profeta e até se poderia propor o inverso; Sofonias é quem teria influenciado o
pensamento sobre a alegria do dêutero-Isaías.131
Em síntese, para os críticos que se posicionam pela não-autenticidade de
Sf 3,14-17, o autor do escrito seria fictício e teria trabalhado em um material
pertencente a um profeta do tempo de Josias.
Aqueles que dividem o texto de Sf 3,14-17 em duas subunidades,
geralmente aceitam Sf 3,14-15 como autêntico, enquanto rejeitam a autenticidade
de Sf 3,16-17.
Sobre a autenticidade de Sf 3,14-17, pode-se colocar o pensamento de
Spreafico a respeito da ligação entre história e profecia. Nos estudos mais antigos,
quando a ação profética era avaliada, levava-se em conta que os oráculos
proféticos eram considerados como previsões de eventos futuros, que se
realizariam na vida de Israel ou num futuro imediato. Desta forma, não era
encontrada qualquer dificuldade quando o profeta falava de eventos estranhos a
seu tempo. Os críticos, ao abandonarem esta concepção da correspondência entre
os eventos históricos e o anúncio profético, começaram a procurar acontecimentos
que estivessem ligados aos oráculos.132
131 Cf. HOLLADAY, W. L., Reading Zephaniah with a concordance, p. 683-684. 132 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 64.
49
Numa visão geral das colocações, não há uma justificativa bastante forte
para postergar o texto de Sf 3,14-15, retirando dele sua autenticidade. Porque a
conjuntura da época de Sofonias evidenciava a Assíria, da qual o reino de Judá era
vassalo, dando mostras de fraqueza e a grande expectativa com o reinado de
Josias, não só na parte religiosa com a reforma, mas também na parte político-
econômico-social, com a possibilidade de independência e aumento territorial.
Diante deste quadro, é possível supor a intuição do profeta quanto aos
acontecimentos de um futuro muito próximo; quando ele começa a exortar a
comunidade a alegrar-se com a realidade próxima da libertação de todo tipo de
idolatria e da sua independência, podendo sonhar com um futuro promissor.133
Contudo, não se pode afastar a hipótese do texto ter sido reinterpretado
dentro do contexto do exílio e pós-exílio imediato. Porque a morte de Josias, o
fracasso da reforma, a ascensão da Babilônia com a posterior devastação de
Jerusalém, a destruição do templo e o exílio tornam-se ocasiões para uma releitura
da profecia de Sofonias.
Mais tarde (538-520 a.C.), quando a dominação da Babilônia havia terminado e
a liberdade alcançada através do edito de Ciro, os primeiros exilados começam a
retornar para a terra prometida, deixando para trás a desgraça do desterro. A volta para
casa, porém, não estava sendo muito animadora, ainda atuavam as conseqüências
desoladoras da catástrofe de Jerusalém. Uma terra devastada, com os muros da cidade
cheios de brechas e o grandioso templo construído por Salomão destruído.
Este momento da história do povo sugere também um outro momento
propício a uma releitura da profecia de Sofonias, levando o autor a uma nova e
grande exortação à alegria pela liberdade recebida como bênção de YHWH e
agora vivida.
2.4.
Organização do texto
A partir da análise do esquema abaixo se explicitará a divisão das seções.
133 M. A. Sweeney diz que dentro desta perspectiva do julgamento de YHWH contra Jerusalém– Israel, devido aos pecados cometidos, há a possibilidade de ver neste contexto da invasão dos assírios a punição de YHWH. Nos séculos VIII e VII eles foram os maiores inimigos de Israel e Judá. A iminente queda do reino da Assíria durante o tempo de atuação do profeta no reino de Josias, tornava-se um motivo para ver aí o momento de restauração de Jerusalém e Israel também por ação de YHWH (cf. Zephaniah, p. 198-199).
50
Os extremos do texto estão em relação, apresentam termos correlatos: yNIr"
(v. 14a) com hN"rIB. (v. 17e) - yxim.fi (v. 14c) com hx'm.fiB. (v. 17c); e possuem
similitude de lexemas em torno do júbilo: W[yrIh' (v. 14b) - yzIl.['w> (v. 14d) - fyfiy"
(v. 17c) - lygIy" (v. 17e). No v. 14, há uma exortação à alegria dirigida a um
destinatário específico: filha de Sião – Israel – filha de Jerusalém, visando
evidenciar o que YHWH fez em seu favor. Já nos versos 17c-e é o próprio
YHWH que se demonstra jubiloso com o seu feito em prol de Sião.
O conteúdo dos v. 14-15b está articulado num paralelismo sinonímico. Eles
possuem um teor temático próximo e que preparam os v. 15c-17. Os lexemas
confirmam este conteúdo, pois mostram que o sujeito, o destinatário e as ações se
repetem em alternância terminológica.
No meio de todas as frases verbais com predicados dinâmicos e iniciativos,
surgem, em posições estratégicas, duas orações nominais estáticas (v. 15c.17a),
chamando a atenção. Estas sentenças têm um teor idêntico e apresentam o mesmo
DESTINATÁRIO SUJEITO AÇÃO
Adj.Adv.
Tempo
Adj.Adv
Lugar
Adj.Adv.
Modo
Obj.Dir.
Obj. Ind.
Vocativo
Aposto
Núcleo
Predicação
Verbal
14a
14b
14c
14d
15a
15b
15c
15d
16a
16b
16c
17a
17b
17c
17d
17e
dA[
aWhh; ~AYB ;
%Ber>qiB.
$Ber>qiB.
ble-lk'B.
hx'm.fiB.
Atb'h]a;B.
hN"rIB.
%yIj;P'v.mi
%bey>ao
[r"
~Øil;v'Wryli
%yIl;['
%yIl;['
!AYci-tB;
laer"f.yI
~Øil'v'Wry> tB;
!AYci
laer"f.yI %l,m,
%yIh;l{a/
rABGI
hw"hy>
hw"hy>
%yId"y"
hw"hy>
yNIr"
W[yrIh'
yxim.fi
yzIl.['w>
rysihe
hN"Pi
yair>yti-al{
rmea'yE
yair"yTi-la;
WPr>yI-la;
[:yviAy
fyfiy"
vyrIx]y:
lygIy"
51
sujeito, hwhy, acoplado a um aposto que especifica a forma como ele se apresenta
laer"f.yI %l,m, e %yIh;l{a/, e o local em que se encontra %Ber>qiB.. Estas frases parecem
soar como um refrão.
Pela distribuição terminológica, confirma-se que Sf 3,14-17 é uma unidade
bem articulada. Esta afirmação tem a seu favor duas constatações oriundas do
próprio texto. A primeira delas está na existência de duas séries ternárias, uma
ligada ao sujeito passivo que sofre a ação: !AYci-tB; “filha de Sião”, laer"f.yI “Israel” e
~Øil'v'Wry> tB; “filha de Jerusalém”, e a outra funda-se no sujeito ativo que pratica a
ação, hw"hy>, que aparece citado três vezes (v. 15a.15c.17a), como os termos que
dizem respeito ao destinatário mencionado com três diferentes nomes.134
A segunda constatação encontra-se nos três nomes citados no v. 14 como
destinatários, que vão reaparecer nos versos seguintes (v. 15c.16ab), embora não
na mesma ordem. Enquanto, o sujeito da ação, na posição que ocupa no texto,
mostra que o escrito desenvolve-se em três momentos.
Num primeiro momento há uma formulação das palavras de modo a deixar
entrever dois sujeitos. Onde uma exortação ao regozijo endereçada a Jerusalém
(sujeito passivo) vem seguida com a justa motivação pelas ações de YHWH
(sujeito ativo).
Num segundo momento há o desenvolvimento das ações do sujeito passivo.
Logo após a declamação do refrão há a apresentação das ações de Jerusalém que
são aguardadas em vista do que é apregoado pelo refrão, que mostra a presença do
sujeito ativo. Onde o “não” (al{ – la;), que aparece em três ações verbais, é motivo
de esperança.
Num terceiro momento há o desenvolvimento das ações do sujeito ativo.
Logo após a segunda declamação do refrão inicia-se a apresentação das ações de
YHWH em favor de Jerusalém, através de quatro verbos, que ratificam a
esperança do sujeito passivo.
Nesta alternância entre sujeito ativo e sujeito passivo é possível observar que
nem YHWH nem Jerusalém se encontram na posição sintática de um segundo
sujeito, mas ambos estão no mesmo nível, como se fossem atores que se revezam
no desenrolar desta ou daquela cena.135
134 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 45. 135 Cf. WEIGL, M., Zefanja, p. 219.
52
Um detalhe chama a atenção do ouvinte-leitor. No meio de todo o texto,
emoldurado pelos dois refrões e ladeado pelas orações em forma negativa,
encontra-se na referência que evoca o yôm YHWH, aWhh; ~AYB; (v. 16a), que é o
tema que perpassa todo o escrito de Sofonias.
Assim, uma das possibilidades de organização do texto é dispô-lo em três
seções:
v. 14-15b Hino de exultação com justa motivação: Jerusalém – YHWH 1ª seção
v. 15c-16c Discurso: ações de Jerusalém – o “não” é motivo de esperança 2ª seção
v. 17 Discurso: ações de YHWH – ratificam a esperança de Jerusalém 3ª seção
Em síntese, esta é uma palavra de salvação declarada pelo profeta e dirigida
ao ouvinte-leitor progressivamente em formas distintas. Inicia com uma
exortação, que se tornou uma forma própria dos profetas (exortação + motivo);
este chamado segue em forma de discurso falando das esperadas ações dos
exortados e continua num segundo discurso sobre as ações do motivador. Ambos
os discursos são introduzidos por um refrão.
2.4.1.
A primeira seção, v. 14-15b
A seção inicial apresenta uma chamada profética em dois momentos: uma
exortação à alegria feita a Sião–Israel–Jerusalém, imediatamente seguida pela
apresentação dos motivos que justificam esta atitude. As razões se fundamentam
nas ações favoráveis de YHWH em prol de seu povo.
Em esquema, a organização dos v. 14-15b pode ser proposta deste modo:
1° momento: Exortação à alegria sujeito passivo
yNIr" (14a) !AYci-tB; W[yrIh' (14b) laer"f.yI yxim.fi (14c) yzIl.['w> (14d) ~Øil'v'Wry> tB;
2° momento: Motivação sujeito ativo
%yIj;P'v.mi Rysihe (15a) hw"hy> %bey>ao hN"Pi (15b)
53
Esta exortação (v. 14) é muito forte, vindo através de quatro imperativos
sinonímicos (yNIr" – v. 14a, W[yrIh' – v. 14b, yxim.fi – v. 14c, yzIl.['w> – v. 14d), que
servem para dar uma especial ênfase à temática da alegria. Este versículo não
possui elementos distintos que possam deixar entrever um outro tipo de temática.
Vê-se, porém, que a sede de tudo isto fica evocada na locução “de todo o
coração” (v. 14d), marcando não só um aspecto humano individual, mas do mais
íntimo da comunidade inteira, envolvendo-a totalmente em todas as suas
dimensões. O povo de Israel (v. 14b) fica sublinhado e entrelaçado entre as
locuções que se tocam em reciprocidade: “filha de Sião” (v. 14a) e “filha de
Jerusalém” (v. 14c).136
Dois verbos deste apelo à alegria, que deve ser “de todo coração”, estão
interligados pela partícula conjuntiva aditiva w, a qual estabelece a conexão das
duas ações com tal locução, mostrando a ligação entre o ser e o agir do destinatário,
tanto no âmbito interno (“regozija” – v. 14c) como também no âmbito externo
(“celebra” – v. 14d).137
Na análise dos quatro verbos verifica-se a seguinte ordem de apresentação:
dois verbos como manifestação exterior (v. 14ab), seguido do terceiro verbo que
mostra uma emoção interior (v. 14c) e no último há a exteriorização do sentimento
interior (v.14d).
Em seguida, surgem as razões apresentadas ao povo para levá-lo ao júbilo,
vindo através de duas ações verbais na 3ª pessoa m.sg. (rys.he – v. 15a, hN"Pi – v. 15b)
com os seus respectivos objetos de atuação (%yIj;P'v.m – v. 15a, %bey>ao – v. 15b),
denotando que o orador está se referindo ao sujeito ativo: hwhy (v. 15a).
A partir deste movimento entre sujeito passivo e sujeito ativo, o profeta passa
a descrever as conseqüentes ações de cada um.
2.4.2.
A segunda seção, v. 15c-17
O primeiro discurso é dirigido ao sujeito passivo, descrevendo as ações
esperadas por parte dele.
136 M. A. Sweeney diz que o v. 14 comporta, então, a premissa retórica ou parenética básica para os versículos seguintes (cf. Zephaniah, p. 195). 137 Cf. Joüon-Mur., § 115c.
54
1º Discurso: Ações próprias do povo
Refrão: CAUSA %Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m, (15c) parte do sujeito ativo
dA[ [r" yair>yti-al{ (15d) antes (al{) O yôm yôm yôm yôm YHWH EFEITO (16a) ~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB; sobre o depois (la;)
sujeito passivo !AYci yair"yTi-la; (16b)
%yId"y" WPr>yI-la; (16c)
O primeiro discurso iniciado pelo refrão (v. 15c) mostra o porquê das
atitudes do povo. A presença de YHWH “no meio do povo” como “rei” é a causa
que justifica os efeitos do “não temor” (v. 15d.16b) e do “não desanimar” (v.16c).
Três são as ações verbais negativas: “não temerás” (v. 15d.16b) e “não
desfalecerão tuas mãos” (v. 16c). Todavia, estas exortações em forma negativa
têm um teor positivo. A primeira delas yair>yti-al{ com a partícula al{ tem um valor
de ordem permanente, enquanto nas duas outras yair"yTi-la; e WPr>yI-la; com a
partícula la; têm um sentido de ordem imediata.138
Estas partículas negativas são distintas, porque a de ordem permanente vem
em seguida ao que é dito de YHWH no refrão; enquanto as de ordem imediata
vêm após a colocação do aWhh; ~wOYB; (v. 16a).139
Esta expressão aWhh; ~wOYB; no meio da palavra profética parece estar ligando
o tema da alegria do povo com o tema da alegria de YHWH, geradas por este tão
grande dia.
2.4.3.
A terceira seção, v. 17
O segundo discurso continua sendo dirigido ao sujeito passivo, porém
descrevendo as ações por parte do sujeito ativo.
138 Cf. Joüon-Mur., § 116j. 139 Segundo alguns autores, esta fórmula seria um reenvio à expressão yAm YHWH (cf. JENNI, E. “~wOy”, 997; SPREAFICO, A. Sofonia, 98). Um aprofundamento ulterior será feito no comentário.
55
2º Discurso: Ações próprias de YHWH Refrão: CAUSA $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy> (17a) parte do sujeito ativo
[:yviAy rwOBGi (17b) sobre o sujeito passivo EFEITO fyfiy" hx'm.fiB. %yIl;[' (17c) sobre o vyrIx]y: Atb'h]a;B. (17d)
sujeito ativo lygIy" hN"rIB. %yIl;[' (17e)
O segundo discurso iniciado pelo refrão (v. 17a) mostra quais são as atitudes
de YHWH para com seu povo, uma vez que ele está “no teu meio” como “teu
Deus” e isto é motivo para as quatro ações provenientes de YHWH recaírem sobre
ele próprio.
Na análise desses quatro verbos ([vy – v. 17b, fyf / fwf – v. 17c, vrx – v.
17d, lyg – v. 17e), percebe-se que eles se sucedem numa ordem similar aos verbos
da 1ª seção: dois verbos como manifestação exterior (v. 17bc), seguido do terceiro
verbo que mostra uma emoção interior (v. 17d) e no último há a exteriorização do
sentimento interior (v. 17e). O fato de YHWH ser declarado “ teu Deus” leva à
primeira ação verbal que vai gerar as três ações subseqüentes.
Nos três verbos que denotam a alegria de YHWH, percebe-se que há um
jogo de sentimentos. O primeiro e o último verbos, que são expressões de atitudes
externas de algo que brota no íntimo do ser (“alegrar-se-á” e “jubilará”),
emolduram o segundo verbo que manifesta justamente esta atitude interior
(“guardará silêncio”).
Este texto apresenta uma espécie de moldura. Duas das raízes utilizadas no
início do texto !nr (v. 14a) e xmf (v.14c) para exortar Sião–Israel–Jerusalém à
alegria, reaparecerão no seu fechamento em forma de substantivos, em ordem
inversa, hx'm.fiB. (v. 17c) e hN"rIB. (v. 17e) para mostrar o modo como YHWH se
alegrará por ela.
A posição de Jerusalém, de um povo chamado à alegria pela sua nova
situação proporcionada por YHWH (1ª seção), passa a ser ela própria o objeto da
alegria de YHWH (3ª seção). Isto pode ser comprovado pela dupla colocação da
expressão %yIl;[' (v. 17c.e).
56
2.4.4.
A estruturação do texto
A análise da organização do texto mostra que, após a exortação à alegria
dirigida ao povo e depois de discorrer sobre as razões que fundamentam tal
manifestação de regozijo (1ª seção), segue-se a exposição das atitudes exigidas ao
povo (2ª seção), que acabam resultando na razão do próprio YHWH exultar de
alegria (3ª seção).
A visão de conjunto exposta nas três seções em que o texto aparece
disposto, aponta para uma estruturação quiástica bem articulada. Vários são os
estudiosos que desdobram o texto dentro de lógica simétrica.140
Todavia, esta lógica é trabalhada a partir de uma unidade maior, onde os
particulares que foram acima evidenciados nas seções não aparecem claramente.
Partindo do princípio de que cada unidade apresenta uma integridade interna,
Baker desenvolve Sf 3,14-17, disposto em 6 + 1 + 6, assim:141
A O cantar de Sião (v. 14a)
B Os gritos de alegria de Israel (v. 14b)
C A alegria de Jerusalém (v. 14cd)
D A libertação de YHWH (v. 15ab)
E A presença de YHWH, o rei (v. 15c)
F Mais nenhum temor (v. 15d)
G A mensagem futura de Jerusalém (v. 16a)
F’ Mais nenhum temor (v. 16bc)
E’ Presença de YHWH, o Deus (v. 17a)
D’ O salvador poderoso (v. 17b)
C’ A alegria de Deus (v. 17c)
B’ O silêncio de Deus (v. 17d)
A’ O cantar de YHWH (v. 17e)
140 A estruturação quiástica apresenta uma extensão variável de acordo com o critério adotado pelo estudioso para a delimitação da unidade. Assim, para Sf 3,9-20 (cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 902); para Sf 3,8-20 (cf. DORSEY, D. A., The Literary Structure of the Old Testament, p. 313); para Sf 3,6-20 (cf. LOHFINK, N., Zefanja und das Israel der Armen, p. 104; GORGULHO, G., Sofonias e o valor histórico dos pobres, p. 34); para Sf 3,6-15 (cf. WEIGL, M., Zefanja und “das Israel der Armen”, p. 253). 141 Cf. BAKER, D. W., Zephaniah, p. 87-88. Outras estruturações quiásticas são apresentadas por: MOTYER, J. A., Zephaniah, 956; SPREAFICO, A., Sofonia, p. 188; IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 406.
57
Em tal estruturação levou-se em consideração o conteúdo presente em cada
verso, apontando-se as suas relações internas. Entretanto, pode-se propor uma
estrutura alternativa para Sf 3,14-17 possibilitando a utilização e visualização do
paralelismo concêntrico, que valoriza os contatos terminológicos apresentados nas
três seções.
Com isto, temos a seguinte estrutura:
A A alegria de Sião dada por YHWH (v. 14)
B As razões dessa alegria (v. 15ab)
C Pela presença de YHWH no meio do povo (15c)
D A atitude exigida (15d)
E Naquele dia [da ação de YHWH] (16a)
D’ As atitudes exigidas (16bc)
C’ Pela presença de YHWH no meio do povo (17a)
B’ A razão dessa alegria (v. 17b)
A’ A alegria de YHWH por Sião (v. 17c-e)
Este quiasmo mostra que YHWH, ao lado da temática da alegria, ocupa o
centro da perícope. A lógica encontrada parte da exortação à alegria que Sião deve
manifestar proporcionada por YHWH (A), seguida pelos motivos que
fundamentam esta alegria (B), devida à presença de YHWH, como rei, no meio do
povo (C), de modo que, em contrapartida, uma tomada de posição é requerida (D).
Naquele dia [da ação de YHWH] (E) é enviada à Sião uma mensagem exigindo
um comportamento compatível (D’) com a presença divina (C’), fundamento da
alegria (B’) e razão pela qual o próprio YHWH figura como sujeito e objeto da
própria alegria que proporciona a Sião (A’).
2.4.5.
Gênero literário
A unidade de Sf 3,14-17 combina as exortações à alegria através de
imperativos (cf. v. 14) com a imediata apresentação dos motivos que justificam tal
estado de ânimo (cf. v. 15ab). Esta disposição dos elementos assemelha-se muito à
estrutura de um hino de louvor. Alguns estudiosos, acrescentando a estas
similaridades o motivo da realeza divina (cf. v. 15c), classificam Sf 3,14-15 como
58
um hino de entronização.142 Outros críticos, porém, fazem objeção a esta
qualificação.143
Aqueles que vêem Sf 3,14-17 como um hino de entronização, explicam que
as idéias e a terminologia usadas foram ganhando espaço nas festividades
relacionadas com o Ano Novo, principalmente naquelas em que se celebrava a
entronização do rei. Estes hinos iniciavam com uma chamada à alegria, usando
com muita freqüência o verbo [wr (cf. Sl 47,2; 98,4.6).144
Uma das objeções feitas para que não seja um hino de entronização
encontra-se no destinatário da mensagem. A explicação dada é a de que os
imperativos femininos são típicos dos oráculos proféticos quando estão fazendo
uma exortação à alegria; enquanto nos hinos isto é atípico.145
Assim, os imperativos femininos nas exortações de alegria faziam parte dos
oráculos de obtenção de um objetivo. Estes eram dirigidos à mulher nos cultos de
fertilidade sexual. Aos poucos, os profetas começaram a direcioná-los a Israel ou
Sião, personificando-as como mulher. Talvez, este desenvolvimento tenha se dado
no culto do templo. Alguns profetas utilizavam expressões próprias do culto em
seus oráculos (por exemplo: Isaías e Oséias) e principalmente em festas de Ano
Novo, que eram ligadas à entronização de YHWH.146
Estas imagens do culto à fertilidade podem ocorrer em alguns oráculos (cf.
Is 54,1; Jl 2,21.23), porém parece uma explicação bastante forçada para justificar
as origens do gênero literário hínico. É difícil pensar neste contexto de culto à
fertilidade em Sofonias.147 Como também apresenta dificuldade a idéia de ser um
142 Cf. BARSOTTI, D., Meditazione sul libro di Sofonia, p. 157-158; KAPELRUD, A. S., The Message of the Prophet Zephaniah, p. 39-40. 143 Cf. RUDOLPH, W., Zephanja, p. 298; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 111; SMITH, R. L., Zephaniah, p. 143-144; MASON, R., Zephaniah, p. 25. 144 A. S. Kapelrud explica que nestes grandes festivais YHWH era homenageado como rei pelo seu povo e, a seguir, promessas para o novo ano eram enviadas ao povo pelo rei, sacerdote ou profeta em nome de YHWH (cf. Eschatology in Micah and Zephaniah, p. 260). Assim também, SEYBOLD, K. Zephanja, p. 116. 145 Esta é a opinião de Crüsemann lida em KAPELRUD, A. S. The Message of the Prophet Zephaniah, p. 39. Indo mais além L. Sabottka afirma que eles são mais atípicos ainda nos salmos de entronização (cf. Zephanja, p. 124-125). 146 F. Crüsemann dentro desta idéia, toma Is 12,4-6 como ponto de partida para o estudo do texto de outros profetas, dentre eles Sf 3,14-15; in: KAPELRUD, A. S. The Message of the Prophet Zephaniah, p. 39. Contudo, R. Mason diz que se deve ter cuidado na consideração da origem cúltica do hino, porque isto poderia reduzir a ação de YHWH à derrota militar dos inimigos do povo, esvaziando o sentido da libertação de todos os tipos de pecados apontados antes no próprio livro (cf. Zephaniah, p. 25). 147 Esta explicação apresentada por M. H. Floyd, serve para objetar a teoria de Crüsemann (cf. Zephaniah, p. 244-245).
59
hino cantado na presumida festa de entronização de YHWH. Se este texto fosse
assim admitido, dever-se-ia considerá-lo um discurso da sucessão periódica do
domínio de YHWH, como se ele se afastasse e fosse novamente introduzido. Isto
também não condiz com a leitura do restante do livro.148
Outros críticos são pelo parecer de que se trata de um hino eminentemente
escatológico de louvor que abre a era messiânica, pronunciado na festa da
entronização do rei YHWH. Toda a comunidade renovada é chamada a participar
do rito com grande alegria. Depois de todo o medo, de todo terror, tem início uma
era de paz que pede uma atmosfera festiva.149
Neste ponto, mostra-se necessária uma comparação entre as exortações
proféticas ao júbilo e os hinos de louvor, sendo possível levantar algumas
diferenças:
• Nos chamados proféticos encontra-se o destinatário na 2ª pessoa f.sg., porque é
ao gênero humano como tal que este se direciona (cf. Is, 12,6; Jl 2,23). Nestas
manifestações, embora celebrem a atuação de YHWH, não estão dirigidas a ele.
• Nos hinos de louvor, de acordo com a pessoa do endereçamento há uma
mudança: se é ao povo, está na 2ª m.pl. (cf. Sl 134; 135), se é a YHWH
diretamente, está na 2ª m.sg., (cf. Sl 131; 132) ou se indiretamente,
descrevendo-o, está na 3ª m.sg. (cf. Sl 99; 147).150
No caso de Sf 3,14, o vocativo aparece na 2ª pessoa f.sg. A alegria não se
deve a uma ação feita pelo próprio povo (cf. 1Sm 18,6-7), mas lembra o que
YHWH fez para libertá-lo de todos os tipos de opressão vivida pelos que são fiéis
aos preceitos divinos.
Por outro lado, a ênfase deste texto está colocada na presença de YHWH no
meio de seu povo (v. 15c.17a), sendo isto motivo de restauração e bênção. Neste
caso, deve-se colocar Sf 3,14-17 entre os oráculos de salvação.
Vários são os motivos que fundamentam os oráculos de salvação, como
especificados a seguir:
148 Cf. ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 110. 149 Cf. BARSOTTI, D., Meditazione sul libro di Sofonia, p. 157-158; WALKER, L. L., Zephaniah, p. 562-563. 150 Cf. FLOYD, M. H., Zephaniah, p. 245. Como explica H. Irsiglier, estes verbos de expressão de alegria não possuem objeto preposicional, não se endereçando a alguém. Lingüisticamente, não se trata de uma alegria direcionada a alguém ou perante YHWH como é típico nos Salmos de Israel (cf. Sl 32,11; 33,1; 47,2; 66,1; 81,2; 97,12; 98,4.6; 100,1) que celebram a alegria (cf. Zefanja, p. 414).
60
• lamento do povo – como tal não constitui um elemento do oráculo, mas o
profeta normalmente anuncia a resposta de YHWH às súplicas de seu povo151;
os oráculos exílicos e pós-exílicos estão estreitamente relacionados com os
lamentos do “resto” e a resposta se assemelha à linguagem de adoração;
• perdão e retorno de YHWH para o meio do povo – nesta resposta é claramente
anunciado ao povo que YHWH mais uma vez o beneficiará152;
• louvor a YHWH antecipado – aqui a proclamação é feita em forma de hino
(especificamente Sf 3,14-15; cf. Sf 3,16-17).153 Este louvor antecipador
geralmente é o único motivo do oráculo, encontrando eco no conteúdo e na
forma do dêutero-Isaías154 e em outros profetas.155
Em Sf 3,15c.17a a restauração da relação do povo com YHWH quer dizer
que mais uma vez ele reina no meio do povo (cf. Ez 10,18-19; Zc 2,10.12; Jl 2,27;
Mq 4,7b). Em todas estas passagens, há mais ênfase na presença de YHWH no
meio do povo do que na restauração em si. Isto mostra uma transição na
linguagem cúltica, onde é proclamado que YHWH é rei, como nos Salmos de
Jerusalém (cf. Sl 96; 98-99) que falam do reinado divino.
Em Sf 3,15d.16bc pode-se encontrar exortações de encorajamento para que
não haja temor, a fim de transmitir segurança. Este tipo de convite amiúde ocorre
nos profetas, principalmente no dêutero-Isaías (cf. Is 41,10.13.14; 43,1.5),
algumas vezes em Jeremias (cf. Jr 46,27.28; Lm 3,57) e ainda em outros profetas
(cf. Ez 2,63; Ab 2,5; Zc 8,13.15).156
A partir disto, quando a certeza da redenção torna-se muito grande e
evidente para os profetas, eles começam a proclamar exortações (de tipo
litúrgicas) ao povo.157 A forma estrutural como estes chamados são proferidos
151 Cf. Zc 10,6b; Os 14,8; Sf 3,17; Mq 7,7. 152 Cf. Zc 1,16.17b; Na 1,12b; Sf 3,17b. 153 C. Westermann diz que Sf 3,14-17 está dividido em duas partes e os imperativos que aparecem nos v. 14.16 permitem uma estreita relação entre os v. 14-15 e os v. 16-18a (cf. Prophetic Oracles of Salvation in the Old Testament, p. 94.131-135). 154 Cf. Is 40,9-11; 42,10-13; 44,23; 45,8; 48,20-21; 49,13; 51,3; 52,7-12; 54,1-2. 155 Cf. Zc 2,10; 9,9-10; 10,6b-7; Na 1,15. 156 A. Berlin explica que em geral estas exortações são usadas para introduzir um oráculo (cf. Zephaniah, p. 143-144). Para J. Vlaardingerbroek, estas palavras são caracteristicamente sacerdotais, mais tarde assumidas pelos profetas, que as usaram em seus oráculos de salvação (cf. Zephaniah, p. 213). H. Irsiglier acrescenta que a promessa “não temas” (Sf 3,16b), no estilo do antigo oráculo de salvação sacerdotal (ou profético) era em resposta a uma queixa do indivíduo (cf. Zefanja, p. 421). Com esta opinião concorda R. A. Bennett (cf. The book of Zephaniah, p. 665). 157 Cf. Is 12,6; 54,1; Jl 2,21; Zc 2,14; 9,9.
61
torna-se, com o passar do tempo, um gênero profético: exortação à alegria +
especificações dos motivos para tal.158
Em síntese, o universo do texto é um conjunto de elementos que estão
ligados a um Sitz im Leben em um determinado momento histórico. Além disso, é
possível a existência de vários gêneros literários num texto e dentre estes haver a
predominância de um.159 Pode-se, então, dizer que Sf 3,14-17 é um oráculo de
salvação composto de uma parte hínica e de uma parte discursiva desdobrada em
duas alocuções, uma direcionada ao povo e outra a YHWH. Todavia, todos os
elementos e partes do texto estão tão estreitamente ligados que este não apresenta
rupturas nem tensões.
158 Cf. VLAARDINGERBROEK, J., Zephaniah, 206. Uma especificação do gênero de cada verso apresenta G. Krinetzki, que identifica neles síndromes bem marcadas (cf. Zefanjastudien, p. 157-166): − 14.15c – fórmula hínica pré-existente adotada pelos profetas, mas que na realidade introduz um
texto profético e não um hino; − 15a – fórmula jurídica que anuncia profeticamente um ato de justiça de YHWH; − 15b – apresenta um novo grande feito histórico-salvífico na linha da tradição da conquista de
terra; − 15d – supõe um oráculo salvífico sacerdotal na configuração profética; − 16a – antiga fórmula temporal de introdução profética, dando um cunho escatológico em
vista à consolação profética; − 16b – corresponde à linguagem dos oráculos de salvação sacerdotais; − 16c – indica a tradição da guerra santa e do grande yôm YHWH, também com a linguagem
dos oráculos de salvação sacerdotais e de consolação profética, tornando-se todo o v. 16 uma promessa de consolação;
− 17ab – fórmula proveniente da tradição hínica de Jerusalém, com o termo rwOBGI pertencente preferencialmente à linguagem de guerra, como uma metáfora para a intervenção de YHWH;
− 17c-e – continua a fórmula hínica; assim, a promessa de consolação do v. 16 torna-se no v. 17 um oráculo de salvação numa linguagem hínica.
159 Cf. SIMIAN-YOFRE, H., Diacronia: os métodos histórico-críticos, p. 100-104. Também M. H. Floyd diz que esta unidade é uma “chamada profética ao regozijo”, mas que tem a função de introduzir uma exortação profética relativa à salvação (cf. Zephaniah, p. 244).
3
Comentário ao texto de Sf 3,14-17
3.1.
Hino de exultação com justa motivação: Jerusalém – YHWH: v. 14-15b
Exulta de alegria, filha de Sião; grita de alegria, Israel; regozija e celebra de todo coração, filha de Jerusalém. Revogou Yhwh tuas sentenças, expulsou teu inimigo.
Esta seção contém uma exortação à alegria dirigido a destinatários
específicos, mostrando um júbilo evidente, como o que se encontra em muitos
textos proféticos,160 seguido das razões que justificam tal alegria.
a) o convite à alegria
Quatro imperativos caracterizam esta exortação ao regozijo: yNIr" (exulta de
alegria) – W[yrIh' (grita de alegria) – yxim.fi (regozija) – yzIl.[' (celebra). Todos eles
são termos muito semelhantes, que exprimem a alegria. Ao traduzir, não se faz
uma notória diferenciação entre eles, embora exista algo sutil.
Uma destas diferenças está na manifestação da alegria própria destes verbos,
em três deles (!nr – [wr – zl[) ela aparece numa forma exteriorizada do estado de
ânimo de quem a está experimentando (cf. Is 24,14; Esd 3,11; Jr 11,15), ao passo
que em xmf há uma interiorização do mesmo sentimento (cf. 2Cr 7,10; Is 39,2).161
Esta emoção invisível pode ser deduzida através das demonstrações visíveis
expressadas pelos outros três verbos.162
Na totalidade da BH não se encontra em qualquer outra passagem a
ocorrência destes quatro verbos juntos. Isoladamente, porém, é possível encontrar
a utilização de todos os quatro verbos somente nos escritos proféticos de Isaías e
160 Cf. Is 12,6; 52,9-10; 54,1; 66,10-14; Jl 2,23; Zc 2,14; 9,9-10. 161 Cf. detalhado anteriormente no ponto 2.1, p. 16-28. 162 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 183.
63
Jeremias (cf. !nr: Is 12,6; Jr 31,7 – [wr: Is, 42,13; Jr 50,15 – xmf: Is 25,9; Jr 41,13
– zl[: Is 23,12; Jr 11,15).
Os verbos xmf e zl[, que estão no qal imperativo f.sg. dirigidos à “filha de
Jerusalém”, aparecem juntos apenas em duas outras citações em toda a BH (cf.
2Sm 1,20; Jr 50,11). Porém, elas são dirigidas aos filisteus e aos babilônios. Em
2Sm 1,20 Davi quer impedir a alegria dos filisteus pela morte de Saul; enquanto
em Jr 50,11 o profeta fala que, embora os babilônios se alegrem pela devastação
que no passado haviam causado a Israel, eles terão a mesma sorte.163 Podendo-se
perceber que não se relacionam com o contexto da passagem de Sf 3,14, que é
eminentemente de alegria para Jerusalém porque estes inimigos foram afastados, o
que ajuda a enfatizar a grandiosidade do momento, que deve ser celebrado ble-lk'B.
(de todo coração).
Como o coração abarca todas as dimensões da existência humana, é possível
referir-se ao homem em sua totalidade (cf. Gn 24,45; Ez 21,12). No AT, o termo
não visa somente à dimensão individual, mas principalmente leva em conta um
grupo inteiro de indivíduos, referindo-se ao ble de todos, como se fossem e
formassem um só coração (cf. Gn 42,28; Ex 35,29).164
E desta forma, o povo como um todo, unido num só coração, está sendo
exortado através da multiplicação das palavras sinônimas, que indicam júbilo. Isto
porque o profeta quer mostrar a exuberância do apelo. Os quatro verbos,
colocados um após o outro, mostram cada um por si e num convite crescente que
a alegria deve ser vivida intensamente.165
Esta alegria aparece quando o povo experimenta um júbilo tão intenso em
seu coração, que não consegue conter toda a emoção. Por isso, transborda de seu
peito todo esse sentimento, manifestado através de gritos triunfantes e fortalecido
163 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 197-198. 164 O “coração” além de designar o órgão corporal (cf. 1Sm 25,37; Sl 37,15), abarca várias funções do homem: a) centro vegetativo (cf. Gn 18,5; Jó 31,9); b) centro emotivo (cf. Is 57,15; Jz 16,25); c) centro noético racional (cf. Pr 22,17; Jr 3,16); d) centro volitivo (cf. Sl 39,4; 1Rs 8,17); e) esfera religiosa (cf. Ez 11,19; 1Sm 24,6): cf. FABRY, H.-J., “ble”, GLAT, vol. 4, p. 636-682; STOLTZ, F., “ble”, DTMAT, vol. 1, p. 1176-1185; VINE, W. E.; UNGER, M. F.; WHITE Jr., W., “ble”, DicV, p. 82-84; WOLFF, H. W., Anthropology of the Old Testament, p. 40-58; EISSFELDT, O., “El corazón”, The Old Testament, p. 148-151. 165 Cf. MACKAY, J. L., Zephaniah, p. 292; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 111. Além disso, J. Ihromi explica que pela freqüência com que estes verbos que falam do júbilo e da alegria ocorrem no AT e aqui são colocados juntos, mostra que o orador da profecia de Sofonias, que os colocou neste hino, é, ele próprio, um grande anunciador da alegria (cf. Die Häufung der Verben des Jubelns in Zephanja III 14f., 16-18, p. 110).
64
de expressões ruidosas de cânticos, risos, palmas, batidas com os pés, danças e
ruídos produzidos por instrumentos (cf. Sl 98; 100). Não deve haver nenhuma
restrição ou constrangimento para esta manifestação. Tal alegria já é sinal e
dádiva da nova bênção para Sião.166
O profeta, valendo-se destes quatro imperativos para levar o povo a este
estado de ânimo, que é de uma total e intensa alegria, o faz através de sentenças
que apresentam um paralelismo sinonímico e as endereça a três destinatários
particulares.
b) os destinatários do convite
b.1) !AYci-tB;
O substantivo !AYci (Sião) em muitas passagens refere-se aos arredores do
templo (cf. Is 35,10; Jr 31,6), em outras citações está relacionado com Jerusalém
(cf. Is 10,24; Jr 30,17) e até mesmo com o povo de Israel (cf. Sl 97,8; Is 1,27).
Porque em Sião, inicialmente, estava instalada a capital do reino unido e depois do
cisma (931 a.C.) ficou apenas a capital do reino do sul. Entretanto, raramente Sião
é citada como a capital de Judá (cf. Is 40,9).
A maioria das citações de Sião no AT está nos escritos poéticos e proféticos.
O salmista declara a ajuda que provém de Sião (cf. Sl 14,7; 20,3), assim como das
bênçãos (cf. Sl 128,5; 134,3) e que “de Sião, beleza perfeita, YHWH resplandece”
(cf. Sl 50,2). Profetas tais como Isaías, Jeremias, Joel, Sofonias e Zacarias (cf.
Is 24,23; Jr 31,6.12; Jl 3,5; Sf 3,15.17; Zc 9,9) falam de Sião como o centro no
qual YHWH agirá promovendo a salvação de Israel.167 À qual o profeta envia sua
segunda chamada.
b.2) laer"f.yI
O substantivo laer"f.yI (Israel), ao longo da história do povo eleito, foi
tomando uma variedade de significações:
• o nome recebido pelo patriarca Jacó, faz com que seus filhos sejam conhecidos
como os “filhos de Israel” (cf. Gn 32,32);
• o reino do norte era chamado de reino de Israel (cf. 1Rs 12,20);
166 Cf. IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 414; EMMERSON, G., Zephaniah, p. 66. Em contrapartida, G. Rinaldi fala que este entusiasmo se apresenta como um idílio na fantasia imaginativa do profeta a respeito de uma comunidade ideal (cf. Sofonia, p. 1249). 167 Cf. HARTLEY, J. B., “!wOYci”, DITAT, p. 1282-1283; RENDTORFF, R. The Canonical Hebrew Bible, p. 577-578.
65
• após a queda e deportação do reino do norte pela Assíria (722 a.C.), o reino do sul
ou de Judá passou a receber a designação de “Israel” (cf. 2Rs 21,8; Jr 2,14.31);
• encontra-se também a personificação do termo, representando o povo eleito que
saiu do Egito (cf. Ex 5,1);
• como uma entidade ideal, o resto dos deportados, na comunidade exílica e pós-
exílica (cf. Is 44,21; 49,3).168
Por estas várias significações, pode-se perceber que o termo laer"f.yI foi
fechando seu campo de abrangência, ou seja, caminhou do geral para o particular.
De todo o povo eleito proveniente dos filhos de Jacó–Israel chega-se a este resto
que retorna do exílio. Estes remanescentes devem ser entendidos como todo o
povo que permaneceu fiel à promessa de ter YHWH habitando no seu meio,
inclusive os que emigraram do reino do norte antes da queda de Samaria,169 e
agora habitam em Jerusalém. A estes são enviados os dois últimos convites.
b.3) ~Øil'v'Wry> tB;Þ
O substantivo ~Øil'v'Wry> (Jerusalém) indicava antes de tudo a sede do templo,
que abrigava a arca da aliança e somente em segundo lugar é que era considerada
a cidade de Davi. Os profetas pré-exílicos já não fazem a ligação de Jerusalém
como a residência do rei, mas como a cidade de Deus. Não é somente da arca que
provém a santidade de Jerusalém, mas também a sua unicidade e exclusividade.
Em Jeremias, Jerusalém passa a ser o trono de YHWH, o único lugar para o seu
culto.170 Porque o templo edificado na cidade de Jerusalém, escolhida por YHWH
para nela habitar (cf. Dt 12,13-14.18.21), tornava concreta a sua presença e a
partir dela abençoar todo o seu povo. O Templo tornou-se o centro de unidade das
doze tribos como povo da aliança do único Deus, YHWH (cf. 1Rs 8,14-21).171
168 Cf. ZOBEL, H.-J., “laer"f.yI”, GLAT, vol. 4, p. 45-50; BROWN, F.; DRIVER, S.; BRIGGS, C., “laer"f.y>”, BDB, p. 975; PAYNE, J. B., “laer"f.y>”, DIDAT, p. 1490-1491. 169 Cf. ROBERTS, J. J. M., Zephaniah, p. 222; WALKER, L. L., Zephaniah, p. 1506. Para G. Bernini, o profeta com as expressões “filha de Sião” e “filha de Jerusalém” estava se referindo, em sentido coletivo, aos habitantes da cidade, que é a capital de todo o reino (cf. Is 54,1; Zc 9,9). Entretanto, ao convocar “Israel”, ele estava se referindo a todos os descendentes de Jacó–Israel (cf. Jr 17,13; 50,17-19; Ez 4,3.13; 6,2-3), ou seja, a todo povo eleito (cf. Sofonia, p. 81). D. L. Petersen explicita que este grupo dentro de Israel pode pertencer a uma seita formada por perfeccionistas, mas o mais provável é que sejam pessoas que ouviram e perseveraram nas palavras dos profetas mais antigos e mantiveram a esperança do restabelecimento radical da realeza de YHWH (cf. Zephaniah, p. 205). 170 Cf. TSEVAT, M., “~Iyl;v'Wry>”, GLAT, vol. 3, p. 1087-1096; PAYNE, J. B., “~Iyl;v'Wry>”, DITAT, p. 665-666. 171 Cf. FERNANDES, L. A., O Sl 122, p. 57-89.
66
Para todo o povo de Israel, que residia fora de Jerusalém, chegar à Cidade
Santa era, sem dúvida, motivo para festejar alegremente (cf. Sl 122). Ele esquece
os numerosos obstáculos e perigos que enfrentou durante o longo caminho, pois
os seus olhos avistam e contemplam o monte santo de Deus: Sião.
b.4) Considerações
Dois destes destinatários vêm precedidos do termo tB; (filha), cujo sentido
principal é o da menina da casa, com referência a uma descendente do sexo
feminino (cf. Gn 24,15; Ex 20,10).172 Quando este termo é usado no plural twOnB.
(filhas), designa freqüentemente as mulheres pertencentes a uma cidade, terra ou
povo (cf. Is 3,16.17; Ct 1,5; Ez 16,27). Todavia, no singular esta palavra, ligada a
um nome de cidade, terra, capital ou povo, torna-se uma personificação poética
para designar a cidade e/ou seus habitantes (cf. Is 1,8; Sf 3,14).173 Quando aparece
no plural após o nome de uma cidade, refere-se às vilas e aldeias que pertencem a
uma cidade-mãe, isto é, a uma cidade maior (cf. Js 15,45; Ne 11,25).174
No AT encontram-se várias citações em que o termo “tB;” no f.sg. vem
acrescido do nome de uma cidade, povo ou país (cf. Sl 45,13; Is 23,10; Os 1,3).
Esta aplicação, em alguns casos, é interpretada como a capital do país, porque está
relacionada com o rei (cf. Jr 50,42; 51,33). Em Sf 3,14-15 não há esta indicação
em todo o livro, porque não há qualquer alusão a um rei. Por isso, esta
possibilidade deve ser descartada.175 A sua referência está ligada ao povo em si
mesmo.
As expressões “filha de Sião” e “filha de Jerusalém”176 ocorrem somente em
textos proféticos ou poéticos. “Filha de Jerusalém” aparece 7 vezes,177 enquanto
172 Cf. MARTENS, E. A., “tB;”, DITAT, p. 192. 173 Cf. Para maiores esclarecimentos veja: GK, § 122s. 174 Cf. HAAG, H., “tB;”, GLAT, vol. 1, p. 1765-1778; BROWN, F.; DRIVER, S.; BRIGGS, C., “tB;”, BDB, p. 123; ALONSO SCHÖKEL, L., “tB;”, DBHP, p. 122-123. Além disso, J. M. P. Smith explicita que isto se deve ao fato de que Jerusalém, desde o tempo de Davi, foi ocupando o lugar central do Reino, tornando-se a capital e o ponto de referência para os israelitas. Principalmente quando o seu território começou a diminuir cada vez mais (cf. Zephaniah, p. 255-256). 175 SPREAFICO, A., Sofonia, p. 191-192. H. Thurman acrescenta que o termo “filha” junto a um nome, a princípio significava uma aldeia que estava sob a proteção de uma cidade cercada (cf. Jz 1,27), com o tempo passou a representar a comunidade de Israel como um todo (cf. Zephaniah, p. 1032-1033). 176 M. A. Sweeney explica que a utilização das expressões “filha de Sião” e “filha de Jerusalém” se deve a um antigo costume mediterrâneo de nomear as cidades como uma mulher ou uma noiva de uma divindade (cf. Zephaniah, p. 198). 177 Cf. 2Rs 19,21; Is 37,22; Lm 2,13.15; Mq 4,8; Sf 3,14; Zc 9,9.
67
“filha de Sião” é usada 26 vezes.178 Além disso, em todo o AT uma exortação à
alegria no imperativo dirigida à !wOYci-tB;, como a que se encontra em Sf 3,14,
somente aparece em Zc 2,14; 9,9 e no uso concomitante com ~Il'v'Wry> tB; é vista
apenas em Zc 9,9.179
Sintaticamente a expressão pode ser um genitivo epexegético,180 que leva a
uma personificação da cidade ou do país, isto é, “a filha que é Sião” ou “a filha
que é Jerusalém”. Deste modo, Sião é a filha personificada de YHWH, como
também Jerusalém (cf. 2Rs 19,21; Is 37,22; Zc 9,9).181
Neste ponto, a questão é saber se o ouvinte-leitor está diante de uma cidade
personificada (cf. Is 10,32; 16,1; 52,2; Jr 6,2.23; Lm 2,15) ou de uma população
representada por uma única figura feminina (cf. Is 12,6; Mq 1,13). Esta diferença
é muito sutil, uma vez que a cidade e seus habitantes são vistos numa relação
muito estreita.182
Outros questionamentos surgem: os três vocativos representariam um único
sujeito? Ou as exortações teriam distintos direcionamentos? “Filha de Sião” seria
o mesmo que “filha de Jerusalém”? Quem seria “Israel”? Um povo ou uma nação
ou apenas um grupo seleto do povo eleito?
Alguns estudiosos183 são do parecer de que “filha de Sião” e “Israel” são
denominações que representam a comunidade formada por todos aqueles que são
fiéis a YHWH, e que por várias vezes são mencionados no AT. Enquanto a
menção à “filha de Jerusalém” evoca um pequeno grupo de fiéis israelitas que
habita em Jerusalém.
Outros comentadores,184 chegando a um denominador comum, apontam para
a equivalência entre as expressões “filha de Sião” e “filha de Jerusalém”. Para
eles, o profeta teria usado estes títulos no f. sg. para fazer referência ao povo eleito
178 Cf. 2Rs 19,21; Sl 9,15; Is 1,8; 10,32; 16,1; 37,22; 52,2; 62,11; Jr 4,31; 6,2.23; Lm 1,6; 2,1.4.8.10.13.18; 4,22; Mq 1,3; 4,8.10.13; Sf 3,14; Zc 2,14; 9,9. 179 Cf. BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 239. 180 Para pormenores sobre “genitivo epexegético” veja-se GK, § 128k. H. Irsiglier explica que a ligação do termo tB; no construto com o substantivo próprio não deve ser entendido como relação de pertença no sentido de “filha de”, mas deve ser visto como uma relação de esclarecimento de quem é a pessoa chamada filha, isto é, a “filha Sião” (cf. Zefanja, p. 412). 181 MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 956. 182 Cf. VLAARDINGERBROEK, J., Zephaniah, p. 208; ROBERTS, J. J. M., Zephaniah, p. 222. 183 CLARK, D. J.; HATTON, H. A., Zephaniah, p. 197-198. 184 Cf. BAKER, D. W., Zephaniah, p. 117; BERLIN, A., Zephaniah, p. 136-137; THURMAN, H., Zephaniah, p. 1032-1033. Além disso, R. Rendtorff acrescenta que Sião e Jerusalém nos Salmos (cf. Sl 51,20; 102,22; 128,5; 135,21; 147,12) aparecem como parallelism membrorum (cf. The Canonical Hebrew Bible, p. 577).
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que recebe agora e continuará recebendo as bênçãos divinas. Sofonias não estaria
falando de uma parte de Jerusalém, de um quarteirão (cf. Sf 1,11), mas dirigindo-
se à cidade, vista nos seus habitantes (cf. 2Rs 19,21; Is 37,22 são paralelos).185
A inclusão do vocativo “Israel”, que a princípio tem uma conotação étnica
(cf. Ex 4,22), no meio das duas expressões “filha (que é) Sião” e “filha (que é)
Jerusalém” é muito sugestivo. Os três títulos denotam uma entidade político-
geográfica (cf. 2Sm 15,8; 2Rs 5,4; Is 15,32) e, ao mesmo tempo, carregam um
conceito religioso-ideológico (cf. Sl 122).186
Sião–Israel–Jerusalém evocam memórias do passado e da herança da
eleição do povo. Estes três termos têm uma gama de significados, que o profeta
parece ter em mente ao citá-los juntos. Porque cada um dos nomes poderia trazer à
lembrança, daqueles que estão sendo exortados, vários períodos da vida do povo
em que foi presenciada a ação de YHWH em sua história.187
Embora os três vocativos estejam se referindo ao povo, não é possível
esquecer que “Sião” é o lugar santo da habitação de YHWH188 e “Jerusalém” é a
cidade das promessas messiânicas (cf. Is 28,16). “Israel” foi incluído junto e entre
estes dois baluartes porque a esperança futura da nação sempre pensava no povo
todo, como na época em que o reino estava unificado.189
Todos aqueles remanescentes do povo, após a catástrofe do exílio, que se
mantiveram fiéis no temor ao Senhor e esperançosos na promessa de YHWH
durante sua provação, são chamados a integrar esta comunidade renovada e a
tomar parte deste momento de tão grande alegria, deixando extravasar plenamente
185 A. Spreafico explica que embora em Sf 1,11 haja uma menção aos habitantes de Mactés, o qual era um quarteirão ocupado pela população vinda do reino do Norte quando da destruição da Samaria (722 a.C.), a suposição de que !wOYc-tB; se refira a estes habitantes é difícil de se sustentar (cf. Zephaniah, p. 192-193). 186 Cf. BERLIN, A., Zephaniah, p. 136-137; BAKER, D. W., Zephaniah, p. 117. 187 Cf. MACKAY, J. L., Zephaniah, p. 292; MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 956; BAKER, D. W., Zephaniah, p. 117-118. 188 H. Irsiglier lembra que nos espaços semíticos-ocidentais e helenísticos-gregos, os fundamentos histórico-religiosos do nome da cidade como “filha” são pesquisados normalmente tendo em vista a deusa da cidade. Porém, a metáfora “filha de Sião” como figura de mulher, a muito tempo desvaneceu a base mítica, despertando no povo a lembrança dos atos salvíficos de YHWH e a fé de ser Sião o lugar escolhido por Deus para habitar no seu meio (cf. Zefanja, p. 413). 189 L. ALONSO SCHÖKEL; J. L. SICRE DIAZ dizem que a voz de Sofonias dirigida à cidade de Jerusalém designa, claramente, o povo que traz o nome da eleição, Israel (cf. Sofonias, p. 1161). Enquanto M. A. Sweeney diz que o uso do imperativo no masculino ligado a “Israel” ao lado dos outros imperativos femininos ligados à “filha de Sião” e à “filha de Jerusalém”, faz sentido; pelo fato de que era esperada, com a reforma de Josias, a reconstrução da cidade de Jerusalém para que viesse a se tornar o centro santo de todo Israel e do mundo (cf. Zephaniah, p. 199).
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todo o regozijo que sente em seu íntimo. Para isso, a eles são apresentadas as duas
razões que justificam tal convite.
c) as razões para o convite
c.1) %yIj;P'v.mi hw"hy> rysihe
Neste primeiro motivo da alegria (revogou YHWH tuas sentenças), o verbo
rws tem o sentido de uma decisão legal de “remover” pela arbitração. A expressão
jP'v.mi rWs aparece em Jó 27,2; 34,5 significando a “remoção do direito”. Numa
transposição do sentido para Sf 3,15 entende-se como a remoção daquilo que por
direito pertenceria a Jerusalém, que vem a ser “as sentenças”. Este fato já se
encontra atestado em Ez 5,8, pois “eis o que diz o Senhor YHWH: também eu me
ponho contra ti, executarei os meus julgamentos no meio de ti, aos olhos das
nações”.190
Além disso, %yIj;P'v.mi estando no plural, significa que não só uma, mas toda
possível sentença dirigida contra o povo (cf. Ez 5,8), qualquer que fosse sua
origem, estava agora revogada. O sujeito de todas as bênçãos é somente YHWH.
Foi ele que revogou as sentenças que pesavam sobre o povo, porque só ele tem
poder para isso (cf. Is 45,21).
A este primeiro motivo para a exultação de alegria, vem unir-se um
segundo. Estas duas fortes razões estão tão intimamente ligadas, que se
complementam e se explicam.
c.2) %bey>ao hN"Pi
A outra ação de YHWH (expulsou teu inimigo) em favor do povo vem
expressa com o verbo hnp no piel, mostrando que o propósito de YHWH não é
apenas o de expulsar o inimigo, mas de preparar um lugar seguro para o povo
viver debaixo de suas bênçãos (cf. Gn 24,31; 2Sm 7,10).
O verbo/substantivo bya, no texto, apresenta-se no particípio m.sg. by:a'
(aquele que é inimigo). Sendo tomado no coletivo,191 representa todo inimigo
(definido ou indefinido), seja no campo militar (cf. Js 7,8), político (cf. Dt 28,68),
social (cf. Sl 55,13-14) ou religioso (cf. Nm 10,35). Há inúmeras passagens que
190 Cf. BERNINI, G., Sofonia, p. 81; BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 242. 191 Sobre o uso da forma plural veja GK, § 124a; Joüon-Mur., § 136f.
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falam da intervenção de YHWH como guerreiro contra os inimigos do povo (cf.
Ex 23,22).192
Muitas vezes no AT encontra-se YHWH utilizando “os inimigos”, ou seja,
“as nações estrangeiras”, como seu instrumento para mostrar a sua força salvadora
através da derrota dos opressores (cf. Is 42,13; 59,18; 62,8) ou para punir os
pecados de alguns do povo (cf. Dt 32,41; Ez 7,27; Os 5,1), porque se colocaram
contra os estatutos de YHWH, os quais o povo havia se comprometido a cumprir
(cf. Ex 21,1; 24,3; Dt 7,12).193
Esses “inimigos”, quando se trata de ajuste de contas, representam duas
possibilidades de abordagem:
• os inimigos externos representados pelas nações estrangeiras, que servem de
instrumento para YHWH aplicar seu castigo;
• os inimigos internos representados por aqueles que, no meio do povo, oprimem
seus próprios irmãos, desencadeando a punição advinda da justiça de YHWH.
As ações dos inimigos, tanto dos externos como dos internos, estão ligadas
entre si.194
c.3) Considerações
A mensagem de Sofonias pode indicar um outro caminho além dos
especificados, isto é, com as sentenças sendo revogadas, concomitantemente os
inimigos são afastados. A linha de pensamento, então, pode ser a de “realce
contínuo”, ou seja, o profeta pode ter querido dar a entender que não só o
julgamento terminou, mas que não haverá nada que leve a um outro julgamento
futuro.195
As formas verbais rysihe e hN"Pi no qatal constatam que o fundamento e
motivo do regozijo se devem ao fato de que YHWH agiu como libertador. Os
inimigos, que anteriormente como instrumento de seu castigo oprimiam o povo,
agora são afastados por YHWH, como quem aplaina um caminho e se livra de
obstáculos (cf. Is 40,3; 57,14; 62,10; Ml 3,1). YHWH cria novamente para Israel
192 Cf JENNI, E., “byao”, DTMAT, vol. 1, p. 194-200. 193 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 198. 194 A. Berlin chama a atenção ao fato de que não se deve tentar identificar aqui um inimigo particular, como a Assíria, Baal ou qualquer outro inimigo de Deus (cf. Zephaniah, p. 143). 195 Cf. BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 243. H. Irsiglier diz que às vezes os versos de 3,15ab apontam para um fato válido de uma vez por todas, isto é, YHWH suspendeu as “sentenças”, que está expressa de uma maneira geral no objeto plural (cf. Zefanja, p. 414).
71
um espaço vital, gerando novas possibilidades de vida à semelhança da saída do
Egito (cf. Sl 80,9).196 Este byEao, tomado em sentido coletivo, é inimigo do povo e não
de YHWH (cf. Is 1,24; 66,6.14).197
Uma vez que YHWH mostrava ter revogado as iniqüidades do povo e
retirado todas as sentenças que pesavam sobre ele, não havia motivo para utilizar
as nações como instrumento para punir seu povo.198 Com a finalidade de mostrar
esta ligação entre “sentenças” e “inimigos” o profeta utiliza o recurso do
paralelismo, onde a revogação das sentenças que pesavam sobre Jerusalém–Israel
coincide com a expulsão do inimigo (v. 15ab).199
Os dois versos (15ab) falam da anulação dos julgamentos e do afastamento
dos inimigos, não dando pistas de sua identificação. Contudo, indicam a
imutabilidade do amor de YHWH por seu povo, que apesar de apontar para a
necessidade de castigá-lo por seus pecados, não pode deixá-lo longe de seu
misericordioso perdão e de sua completa redenção.200
O afastamento dos inimigos, também mostra a fidelidade de YHWH às suas
promessas. Para Abraão prometeu bênçãos numerosas e que sua “posteridade
conquistará a porta (isto é, as cidades) dos inimigos” (Gn 22,17). Uma das
bênçãos prometidas no Deuteronômio é a de que “YHWH te entregará, já
vencidos em tua frente, os inimigos que se levantarem contra ti; sairão contra ti
por um caminho, e por sete caminhos fugirão de ti” (Dt 28,7).
Em síntese, esta dupla motivação, remoção das sentenças (v. 15a) e
afastamento dos inimigos (v. 15b), tão fortemente imbricadas, uma vez que uma
justifica a outra, torna-se o agente gerador da grande exortação de júbilo que é
dispensada ao povo (v. 14). Todavia, torna-se necessário mostrar as conseqüências
positivas advindas deste fato antecipador de um futuro promissor, já começado a
ser vivido, mas não ainda plenamente.
196 Cf. WEIGL, M., Zefanja, p. 223. 197 Cf. THURMAN, H., Zephaniah, p. 1033; 198 Cf. KAISER Jr., W. C., Zephaniah, p. 238; ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 112. 199 G. del Olmo Lete explica que o paralelismo existente entre %yIj;P'v.mi (v. 15a) e %bey>ao (v. 15b) trata-se de um recurso lingüístico do tipo sinédoque, enquanto o inimigo é o executor das sentenças que pesam sobre Israel, isto é, o exílio (cf. El libro de Sofonías y la filología semítica nor-occidental, p. 302). Mas, E. Ben Zvi diz que este paralelismo não indica necessariamente que %yIj;P'v.mi estaria se referindo a pessoas (cf. A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 243). 200 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 336.
72
3.2.
Discurso: ações de Jerusalém – o “não” é motivo de esperança: v. 15c-16
O rei de Israel, Yhwh, está no teu meio, não temerás mais o mal. Naquele dia, será dito a Jerusalém: não temerás, Sião; não desfalecerão tuas mãos. No oráculo, o profeta, ao não falar quem são esses inimigos, deixa
subentendido que todos e tudo o que se colocava contra o povo foi afastado
definitivamente, tornando aparente alguns atributos de YHWH. Sofonias também
aponta as ações esperadas de Israel, que não deverá mais temer nenhum tipo de
doença ou ameaça interna, como também qualquer tipo de invasão externa será
impossível, pois agora é afirmada a presença de YHWH.
a) os atributos de YHWH que fundamentam as razões
%Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m, (o rei de Israel, YHWH, está no teu meio) é uma frase
nominal que apresenta dois atributos de YHWH, o de rei e o da sua presença no
meio do povo.201
a.1) laer"f.yI %l,m,
O título de %l,m, aplicado a uma divindade era comum entre os povos antigos
no mundo semítico.202 A idéia de hw"hy> %l,m, não aparece nos textos referentes aos
tempos patriarcais. Somente após a instauração da monarquia como regime
político do povo eleito é que o título de rei, aplicado aos reis de Judá–Israel (cf.
2Sm 5,4-5; 1Rs 12,23; 2Cr 18,31), aparece relacionado a YHWH (cf. Ex 15,18;
Nm 23,11; Dt 33,5), numa representação simbólica (cf. Jz 8,23; 1Sm 8,7),
indicando um regime teocrático.
Embora tensões cercassem o estabelecimento de um rei terreno para reinar
em lugar de YHWH, a condução da arca por Davi para Jerusalém simbolizava a
fusão da realeza de YHWH com o trono de Davi (cf. 2Sm 6–7; Sl 132).
201 H. Irsiglier explica que primariamente o texto do v. 15c era uma exortação da proclamação de %l'm' hw"hy> (YHWH reina, cf. Sl 96,10), mas que o texto hebraico do TM que foi transmitido pela tradição substituiu o grito de proclamação por uma frase nominal com a confissão da eterna presença salvífica de YHWH como rei de Israel (cf. Is 41,21; 43,15; 44,6) “no meio de” (cf. Sl 46,6; Jr 14,9; Zc 2,14) Jerusalém (cf. Zefanja, p. 415). 202 Cf. SOGGIN, J. A., “%l,m,”, DTMAT, vol. 1, p. 1237-1252.
73
Todavia, a idéia da realeza de YHWH, como rei de Israel no meio de seu
povo, é comum no AT. Na caminhada pelo deserto, o povo eleito já afirmava em
seus louvores: “YHWH reinará para sempre e eternamente” (Ex 15,18). Gideão
não aceita ser coroado rei pelo povo, dizendo: “porque é YHWH quem reinará
sobre vós” (Jz 8,23).203
O reinado de YHWH se estende sobre todos os seres da terra e do céu (cf.
Sl 24,7-10; 95,3-6; Jr 10,7). Porém, Ele escolheu um povo para seu domínio
particular e fez dele “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,6). Sua
regência se destaca dos outros reinados, porque ele não está ligado a um governo
político, mas com a moral. A queda da dinastia davídica e conseqüente deportação
para a Babilônia serviram para fazer com que os guias religiosos do povo
voltassem seu olhar para YHWH e o governo teocrático original, do qual nunca
deveriam ter se afastado (cf. Ex 10,21).204
A expressão hw"hy> %l,m,, em todas as citações (41 vezes), ocorre em textos
poéticos com uma única exceção em prosa (cf. 1Sm 12,12). O seu uso é
progressivo, havendo uma pequena ocorrência nos textos que se referem à época
pré-monárquica (cf. Nm 23,21; Dt 33,5; Sl 24), que vai aumentando naqueles que
aludem ao período monárquico (cf. Is 6,5; Jr 8,19) até chegar à sua maior
ocorrência nos do tempo pós-exílico (cf. Zc 14,9.16.17; Ml 1,14). O que leva a
pensar que o seu emprego é relativamente tardio.
a.2) %Ber>qiB.
A expressão br<q,B. (em meio de) formada pelo substantivo br<q, (meio), quando
prefixado pela partícula B., passa a significar o lugar dentro do qual está a ação.
Esta expressão é utilizada em paralelo com ble (cf. Jr 9,7; Is 26,9),205 mostrando
estar no meio não só de uma comunidade, mas também no coração de cada
membro desta (cf. Jr 31,31-34).
“Ele está no meio de Sião–Jerusalém” é uma fórmula de origem litúrgica
(cf. Sl 46,6; Is 12,6; Mq 3,7), pois com uma proclamação similar se celebrava e se
reconhecia a realeza de YHWH. Esta declaração, sendo repetida aqui, afiança a
203 Cf. BARKER, K. L.; BAILEY, W., Zephaniah, p. 494-495; ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 337. 204 Cf. DEVILLE, R.; GRELOT, P., “reino”, VTB, p. 871-877. 205 Cf. COPPES, L. J., “br<q,”, DITAT, p. 1370 ; ALONSO SCHÖKEL, L., “br<q,”, DBHP, p. 591.
74
Sião uma segurança absoluta.206 O profeta, no contexto em que se encontrava,
apresenta YHWH como a única possibilidade para justificar o que vem
acontecendo e como solução definitiva para a situação que o povo está vivendo.207
Embora em algumas passagens se encontre a menção da ausência ou
impotência de YHWH (cf. Jr 5,12; Sl 10,4; 14,1), ele é o soberano da promessa
divina e como resultado de sua benevolente presença não há o que temer (v. 15d).208
Sua presença é ativa, extraordinária, de uma espontaneidade imediata e total, “que
não se cansa nem se afadiga” (Is 40,28), que “não dorme nem cochila” (Sl 121,4),
que prontamente reage em favor do povo (cf. Dt 6,21). YHWH está sempre
presente e atento.
Por isso, embora a celebração do retorno de YHWH para sua habitação no
meio do povo pressuponha sua ausência da cidade no tempo de julgamento, não
fala do abandono do povo fiel. Nos profetas encontram-se estas palavras:
“aguardo a YHWH, que esconde sua face da casa de Jacó, nele ponho minha
esperança” (Is 8,17). Mais tarde, é relatada a saída do templo de Jerusalém por
YHWH como parte do julgamento e de sua destruição (cf. Ez 8–11). Também o
sofrimento de Sião–Jerusalém e o aparente fracasso de YHWH na não-salvação
do povo, na tradição de Israel são vistos como conseqüência do pecado.209 Agora
YHWH tomou de novo na mão o cetro em Jerusalém.
a.3) Considerações
Aquele que retém o cetro tem como principais tarefas: proteger o povo,
julgar suas causas e lutar em suas guerras (cf. 1Sm 8,20). Claramente, a imagem
da presença humana do rei na cidade conduz um sentido de segurança ao povo.
Esta representação é empregada, metaforicamente, a YHWH, para descrever a
proteção de Jerusalém contra os perigos internos e externos.
Os efetivos reis falharam na execução de suas obrigações, mas YHWH
quando reconhecido como rei, dispensa aos seus uma proteção sem igual. O povo
não presenciará mais destruição e desgraça.210 Como seu rei os protege, os guia,
os reúne (cf. Is 48, 17; Sl 80). Ele é o rei dos exércitos (cf. Is 6,5), ele conduz os
206 Cf. KELLER, C.-A., Sophonie, p. 214-215. 207 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 186. 208 Cf. BAKER, D. W., Zephaniah, p. 118. 209 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 199. 210 Cf. CLARK, D. J.; HATTON, H. A., Zephaniah, p. 198-199; SWEENEY, M. A., loc. cit.
75
acontecimentos da história (cf. Dt 4,27), ele julga seu povo e as nações, exercendo
seu juízo (cf. Sl 50,4; 96,13), porque ele é justo (cf. Dt 32,4).
Além do mais, Sofonias não cita em todo seu escrito outro rei específico
além de YHWH, não faz referência a alguma ação da linha davídica, nem
menciona qualquer possibilidade de que algum descendente venha a ocupar o
trono. Sofonias, porém, não considera que as promessas feitas estejam canceladas.
Embora ele não mencione a manutenção da monarquia, ele deixa claro que
Jerusalém continua sendo o lugar da habitação de YHWH, “a cidade do grande
rei” (cf. Sl 48,3).
Para o resto de Israel, que agora se reúne como comunidade de Sião,
habitando novamente em Jerusalém, é importante que YHWH, já no meio dessa
“filha de Sião – filha de Jerusalém”, construa o seu reinado libertador já no
presente e com isso proporcione tranqüilidade, não devendo o resto ter qualquer
tipo de temor.211
b) as ações esperadas do povo
Como conseqüências da atuação de YHWH na história de seu povo e de sua
presença no meio dele são esperados o não-temor e a ação construtiva. Por isso,
surgem três exortações estimulantes.
b.1) dA[ [r" yair>yti-al{
A primeira delas (não temerás mais o mal) com o verbo ary (temer) no qal
denota um sentido estático ou duradouro. Como também a partícula negativa al{,
que tem em sua base uma ordem de estado permanente.212
A expressão yair>yti-al{ na 2ª pessoa f.sg., mostra que o orador está se dirigindo
a uma figura de mulher, que representa o povo. Esta fórmula é mais freqüente nos
Salmos e é usada quando se está livre de todo temor. O medo é um sentimento
que nasce tanto diante de uma guerra, como diante de algo ou alguém que é visto
como inimigo (cf. Gn 31,31; 1Sm 7,7), alguma coisa que seja uma ameaça à
própria vida, como, por exemplo, as catástrofes naturais.213 Aparece, então, nos
Salmos de confiança (cf. Sl 23,4) ou nos Salmos de louvor (cf. Sl 118,6).214
211 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 337; IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 415. 212 Cf. Nota 138. 213 Cf. COSTACURTA, B., La vita minacciata, p. 41. 214 Cf. STÄHLI, H. P., “ary”, DTMAT, vol. 2, p. 1051-1068.
76
Assim sendo, o termo [r : (mal) tem aqui o sentido de calamidade ou
desgraça (cf. Is 45,7), não de culpa moral. Porque o contexto de Sf 3,14-15b
indica que YHWH revogou as sentenças e conseqüentemente afastou os inimigos.
Desta maneira, também apartou todos os perigos que ameaçavam seu povo.215
Então, o “mal” é visto como tudo aquilo que estava acontecendo ainda em
Jerusalém, mostrando que o medo instalado abrangia toda a cidade e não somente
parte do povo.
O povo parecia estar ainda de olhos fechados para a nova realidade,
anunciada em Sf 3,14-15b como já existente. É, então, necessário um impulso
profético, uma exortação para que aquele resto, a “filha de Sião”, compreenda
toda a extensão das bênçãos já recebidas.216
É como se YHWH desse um basta no castigo infligido ao povo como
resultado do juízo (cf. Ez 5,8) sobre a cidade e seus habitantes (cf. Jó 27,2; 34,5).
O juízo é o fruto do julgamento feito por YHWH ao povo, que pode resultar em
condenação para aqueles que se mantêm afastados dos preceitos de YHWH e que
experimentam o castigo vindo através dos diversos tipos de opressão (cf. Sl 9,5-9;
Is 3,11); mas que pode também implicar em salvação para aqueles que se mantêm
na amizade com YHWH, cumprindo seus mandamentos, e, portanto, recebendo
suas bênçãos (cf. Sl 48,12; 97,8).
Se agora YHWH já está no meio de um resto renovado, não há lugar para o
temor. Pois, no futuro, após a restauração total de Sião–Israel–Jerusalém não
haverá desvio dos estatutos de YHWH. Porque ele também estará “no meio de”
cada membro da comunidade, isto é, no interior de cada coração, provocando uma
mudança radical. O que se constatará é uma renovação da conduta social, religiosa
e moral, onde só existirá motivos para o regozijo.217
Por isso, a sentença dA[ [r" yair>yti-al{ ligada ao que foi declarado antes (v. 15ab),
ou seja, às ações passadas de YHWH, enfatiza que as promessas de libertação se
realizaram, continuam acontecendo e Sião–Israel–Jerusalém agora será restaurada
para exercer o papel que sempre lhe foi destinado, o de ser o centro da criação (cf.
Is 4,2-6).218 O que acarretará as futuras proclamações dirigidas a Jerusalém.
215 Cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 956. 216 Cf. IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 414; KAISER, W. C., Zephaniah, p. 238. 217 Cf. RINALDI, G., Sofonia, p. 1249. 218 Cf. KAPELRUD, A. S., Eschatology: Micah and Zephaniah, p. 261.
77
b.2) !AYci yair"yTi-la;
Mais uma vez é dito ao povo (não temerás, Sião), também no qal na 2ª f.sg.
como nas formas verbais anteriores direcionadas aos redimidos (v. 14) e nos
sufixos dos substantivos relacionados a ele (v. 15). A diferença está em que agora
vem nomeado explicitamente o destinário, !AYci, porém sem a designação anterior
tB;, mas isso não parece acarretar qualquer mudança. O endereçamento continua a
ser o resto que YHWH libertou. Porém agora, a sentença yair"yTi-la; apresenta em
sua forma verbal a partícula negativa la;, denotando uma ordem imediata, mais de
acordo com o contexto do v. 16.219
Esta exortação, embora pareça uma repetição da anterior, está mais ligada
ao que será dito a seguir, ou seja, as ações de YHWH presentes e que se
estenderão a um futuro definitivo.
A expressão yair"yTi-la; é uma fórmula que convida à tranqüilidade. Com
freqüência vem acompanhada de frase subordinada, introduzida pela partícula yKi,
ou de uma outra sentença independente (cf. v. 17a). Seu uso teológico é freqüente,
tendo YHWH ou seu mensageiro como portador da mensagem. A palavra divina
aparece quando há uma promessa de salvação e consolo.220 E junto a esta fórmula,
geralmente, é apresentada a base que fundamenta esta confiança (cf. v. 17c-e).221
Aqui em Sf 3,16b, a expressão yair"yTi-la;, dentro de um oráculo salvífico,
parece estar combinada com a confiante certeza da presença definitiva de YHWH.
Em Is 43,5 este sentimento fica mais claro com a complementação explícita “eu
estou contigo”, embora em Sofonias isto apareça implicitamente na afirmação de
que YHWH está no meio do povo (cf. v. 15c.17a). Esta presença gera ainda uma
terceira exortação (v. 16c).
b.3) %yId"y" WPr>yI-la;
Este forte estímulo (não desfalecerão tuas mãos) continua a exortação
anterior (v. 16b). A expressão “desfalecer as mãos” não é comum na cultura
ocidental, mas para o judeu “mão” simboliza “poder” e “força”. O desfalecimento
das mãos denota a perda das forças ou do poder. Ela aparece periodicamente ao
longo da BH para mostrar que, em face de uma adversidade ou de uma ameaça, as
219 Cf. Nota 138. 220 Cf. STÄHLI, H. P., “ary”, DTMAT, vol. 2, p. 1051-1068. 221 Cf. BARKER, K. L.; BAILEY, W., Zephaniah, p. 495.
78
pessoas tornam-se débeis (cf. 2Sm 4,1; Esd 4,4; Ne 6,9).222 Por isso, a exortação
para não deixar que isto aconteça mostra a necessidade de incutir ânimo e
coragem, a fim de levar o ouvinte-leitor a agir.223
O que aqui está sendo profetizado e em conseqüência ao que foi dito
anteriormente nos v. 14.15, sem dúvida, é um estado de salvação. Todavia, não é
possível pensar num estado indestrutível e sem ameaças futuras do bem-estar do
povo, como se fosse o amanhecer escatológico definitivo.224
A linha do discurso do profeta denota certa tendência, uma vez que as
antigas promessas foram dirigidas para a casa de Davi e ao futuro rei davídico,
proveniente de Belém, como também para Jerusalém, o ponto centralizador do
reino de Davi. Sofonias manifesta a esperança do restabelecimento de um novo
reino como o de Davi, porém maior, pois abrangeria todas as nações, tendo
Jerusalém como o centro (cf. Sf 3,9-10).225
E nesta perspectiva, esta sentença negativa, tem um valor positivo. A união,
bastante comum, dos termos “medo” e “mãos acovardadas”, tem uma conotação
muito forte. O medo que o ser humano sente é uma reação psicológica que se
manifesta através de uma ação fisiológica. O desfalecer das mãos, muito mais do
que a evidência externa, é a conseqüência de seu estado de ânimo.226
b.4) Considerações
Na comparação de dA[ [r: yair>yti-al{ (v. 15d) com yair"yTi-la; (v. 16b) e com
%yId"y" WPr>yI-la; (v. 16c) observam-se as relações existentes entre estas três sentenças
negativas. O medo foi afastado por causas objetivas, porque o povo não
experimentará “um mal novamente” (15d), por isso eles não terão mais aquela
realidade subjetiva do temor (v. 16b) que leva ao efeito paralisante da falta de
força, ou seja, do desânimo pela ausência de confiança (v. 16c).227
222 W. C. Kaiser diz que mãos frouxas ou fracas, além de sugerirem desânimo e desespero, indicam falta de envolvimento (cf. Zephaniah, p. 238). 223 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 201. 224 J. Vlaardingerbroek diz que, no contexto do AT em suas últimas formas, o v. 16 pode ter adquirido esta visão de um estado de salvação definitiva (cf. Zephaniah, p. 213). 225 Cf. KAPELRUD, A. S., Eschatology: Micah and Zephaniah, p. 261. 226 Cf. BAKER, D. W., Zephaniah, p. 118. 227 G. Rinaldi é de opinião que as duas sentenças (v. 16bc) parecem ser mais uma expressão da satisfação do profeta do que uma palavra de incentivo para o povo que teve sua sorte mudada (cf. Sofonia, p. 1249). Todavia, M. Eszenyei Széles explica que se deve notar que este versículo transmite o que um profeta certamente poderia dizer ao pronunciar um oráculo num lugar santo (cf. Zephaniah, p. 112).
79
O temor e a falta de confiança eram conseqüências da expectativa da
realização do julgamento de YHWH, mas agora após a libertação daquele resto
não há mais lugar para estes sentimentos. A total ausência de medo e ansiedade
será o estado alegre do povo renovado de Deus. O homem, como um todo, poderá
rejuvenescer. 228
Por isso, YWHW através do profeta previne o povo. Ele libertou-o de todos
os seus inimigos, mas não é para que eles fiquem se deleitando com estas graças
recebidas. Aqueles que estão tendo o privilégio de estar recebendo as benesses de
YHWH têm que se dedicar no desempenho disciplinado dos seus deveres e devem
perseverar. Esta disciplina mais do que uma dominação do espírito serve para
movê-los a agir sempre dentro do caminho desta nova aliança como para seu
próprio bem.229
O estado de desânimo que se abateu sobre o povo é aquele contra o qual se
insurgiu o dêutero-Isaías no círculo dos exilados, que pensavam que YHWH os
havia abandonado. Eles sentiam-se privados da sua proteção e ajuda (cf. Is 40,27;
49,14). E também o trito-Isaías fala da preocupação de YHWH com aquele de
espírito abatido, e ele, Isaías, estava sendo enviado para consolá-los (cf. Is 57,15;
61,1-3), visto o seu questionamento da proteção divina (cf. Is 58,2-3; 59,1; 63,19).
Eles se questionavam como no tempo do deserto: “YHWH está em nosso
meio ou não?” (Ex 17,7). Ou diziam: “por que serias como um homem atônito,
como um herói incapaz de salvar?” (Jr 14,9).
Estas interpelações pareciam sugerir que a comunidade ainda não havia se
dado conta da amplitude da situação de libertos que estavam vivendo. Tornava-se
necessária a exortação à alegria (v. 14) e ao afastamento de todo tipo de temor,
desânimo e resignação que tolhe o agir (v. 16). A ação profética neste momento
do povo estava voltada para a reconstrução da vida social, política, econômica
como um todo e, principalmente, a vida religiosa, que estava laxa. Era urgente a
superação daquela estagnação e da falta de paz interior. 230
c) no yôm YHWH
~Øil;v'Wryli rmea'yE aWhh; ~AYB; (naquele dia, será dito a Jerusalém) abre o v. 16.
A expressão aWhh; ~AYB; pode referir-se a um determinado dia já previamente
228 Cf. BERNINI, G., Sofonia, p. 82; KELLER, C.-A., Sophonie, p. 214. 229 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 339. 230 Cf. IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 412.421.
80
descrito no livro de Sofonias ou a um tempo já conhecido e esperado pelo povo.
Porque a palavra ~Ay é usada para designar um acontecimento decisivo ou uma
série de eventos, um momento ou período no qual o destino está fixado (cf. Is 9,3;
Jr 25,33).231
Pela tradição do povo ao tempo de Amós, os israelitas, que se consideravam
privilegiados por pertencerem ao povo eleito, aguardavam este dia como um
momento muito feliz em suas vidas. Pela sua experiência histórica (cf. Js 10,12-13;
Jz 7,15-25; 2Sm 5,17-25), neste dia, YHWH os libertaria de toda e qualquer
opressão.232 Amós herda esta suposta tradição de uma ação determinada de
YHWH, dirigida para o bem-estar do povo e que por eles era ansiosamente
aguardada (cf. Am 5,18a).
Na realidade, pouco se sabia sobre o que realmente era esperado até o termo
yôm YHWH ser usado por Amós. Ele opôs-se a esse privilégio, declarando que
este yôm seria “de trevas e não de luz” (Am 5,18b), trazendo uma maior certeza
de um julgamento divino (cf. Am 3,2). Não é necessário pensar que Amós fosse o
primeiro ou o único a perceber o significado do yôm YHWH. Certo é que a
expressão foi usada em seu livro para recordar aquilo de que ele e os profetas
sempre se deram conta: as trevas do julgamento dos ímpios (cf. Am 9,7-10) se
misturam com a luz da esperança dos fiéis (cf. Am 9,11-15).
Esta fórmula aWhh; ~AYB; é típica, mas não exclusiva, das proclamações que
anunciam a libertação de um inimigo ou de outra ameaça.233 Esta expressão faz
uma ponte, conectando adverbialmente o que será dito posteriormente (v. 16-17)
com o que foi apresentado anteriormente (v. 14-15).
Nada da verdadeira substância muda dos v. 14-15 nos v. 16-17, é apenas
uma reiteração da afirmação anterior do profeta. Todavia, com esta fórmula
conectante há o deslocamento do discurso inicial para um tempo futuro
indeterminado. Assim, com o verso 16a transpondo para o futuro a realização
231 A. Berlin diz ser um dia no futuro, porque depois que YHWH tiver removido as sentenças que pesam sobre o povo, não haverá mais motivo para temor de nova punição (cf. Zephaniah, p. 143); assim também D. J. Clark e H. A. Hatton dizem que xWhh; ~wOYB; marca explicitamente um tempo futuro (cf. Zephaniah, p. 199). 232 Cf. AUVRAY, P; LÉON-DUFOUR, X., “Dia do Senhor{”, VTB, p. 230-232. 233 J. M. O’Brien diz que o v. 16 com os verbos no futuro unidos às expressões aWhh; ~AYB; e yair"yTi-la; são características de “promessa de salvação”, como um desenvolvimento dos oráculos de salvação que os sacerdotes faziam na época pré-exílica (cf. Zephaniah, p. 125). Enquanto H. Irsiglier explica que a promessa profética respondia à queixa e ao desânimo (cf. Zefanja, p. 421). Para maiores explicações veja FLOYD, M. H., Zephaniah, p. 248-249.
81
completa da salvação de YHWH, retroativamente o grito de júbilo do v. 14 ainda
não é totalmente pleno.234
A forma verbal rmea'y E, no nifal yiqtol, ocorre poucas vezes nos profetas,
sendo mais utilizada por Isaías (cf. Is 4,3; 19,18; 32,5; 61,6; 64,42), seguida por
Jeremias (cf. Jr 4,11; 7,32; 16,14), Ezequiel (cf. Ez 13,12), Oséias (cf. Os 2,12) e
Sofonias (cf. Sf 3,16). A forma passiva impessoal, na 3ª pessoa m.pl., enfatiza o
destinatário da mensagem, mas suprime o orador.235
Diferentemente da literatura hebraica mais tardia e do NT, o AT não
conhece o passivum divinum, mas isto não descarta a possibilidade de YHWH ser
o sujeito. Como os profetas seriam os veiculadores da palavra divina, eles ao
escreverem seus oráculos poderiam querer dar uma ênfase maior à sua mensagem,
por isso usavam a forma passiva impessoal (cf. Nm 23,23; Sl 87,5).236
Desta forma, quem dirá a Jerusalém as sentenças seguintes do não-temor e
do não-desânimo? YHWH? Os inimigos? Os profetas?237 E quem será o sujeito da
ação que gera o oráculo de confiança?
A tradição bíblica lembra que eram os profetas que proclamavam seus
oráculos de salvação junto com as palavras consagradas no templo. O freqüente
uso da fórmula “não temas” indica que o sujeito da ação deve ser YHWH ou
algum representante seu. A forma verbal do nifal se refere à palavra de um outro.
Assim, o sujeito da ação não poderá ser o profeta. Então, por exclusão percebe-se
que YHWH é o sujeito, enquanto Sofonias é o portador de sua mensagem para o
povo.238
Em síntese, no discurso do profeta dirigido à Jerusalém (v. 15c-16), ele
principia com um refrão muito forte e explicativo. YHWH, como rei de Israel,
está novamente habitando a cidade (v. 15c). Por isso, as ações do povo devem ser
pertinentes a esta nova situação que estão vivenciando, ou seja, a realidade de
libertos (v. 15d.16bc).
234 Cf. IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 420-421. 235 A respeito da construção passiva impessoal com objeto indireto veja Joüon-Mur., § 128ba; GK, § 121a. 236 Cf. VLAARDINGERBROEK, J., Zephaniah, p. 212. 237 J. L. Mackay diz que a frase impessoal não convida a uma especulação de quem seria(m) o(s) orador(es) desta exortação (cf. Zephaniah, p. 293). 238 A. Spreafico afirma que somente YHWH é o sujeito autorizado para colocar fim àquela situação ameaçadora e geradora do medo (cf. Sofonia, p. 187-188).
82
A presença de YHWH como rei é a garantia da preservação da
tranqüilidade, pois ele não deixa de agir em prol do povo nem um instante. Mas,
em contrapartida, ele quer que seu povo também seja operante (v. 16c),
valorizando a proteção recebida e fomentando sua permanente benesse.
No v. 16 houve a retomada dos nomes “Jerusalém” e “Sião” sem a
especificação tB;. “Será dito a Jerusalém” (v. 16a) deixa explícito que se trata dos
habitantes de Jerusalém, que é reafirmado com “não temas, Sião” (v. 16b).
Todavia, Sião é colocado aqui, logo após Jerusalém, para enfatizar a cidade como
centro religioso, uma vez que Sião é o nome do monte santo escolhido por
YHWH para sua habitação junto a seu povo (cf. Sl 132,13-14).239
A frase temporal, que inicia o v. 16a e traz uma nova exortação ao povo,
mostra um futuro indefinido em relação à primeira exortação feita no v. 14, que
chamava o povo à alegria. A situação ideal proposta aqui e que acontecerá no
futuro não está em descontinuidade com o convite ao regozijo feito para o
presente momento que o povo está vivendo. Mas que se dará quando tudo estiver
realizado plenamente.240 Quando então à alegria do povo se juntará a alegria de
YHWH confirmando sua esperança.
3.3.
Discurso: ações de YHWH – ratificam a esperança de Jerusalém: v. 17
Yhwh, teu Deus, está no teu meio, como herói, ele salvará, alegrar-se-á por ti com regozijo guardará silêncio no seu amor, jubilará por ti com exultação. Após um primeiro discurso do profeta dirigido à Jerusalém exortando-a a
agir, passa-se a um segundo discurso onde se fala das ações de YHWH que vêm
ratificar a esperança de Jerusalém para continuar agindo, sem deixar que o temor
grasse em seu meio, não deixando suas mãos voltarem a desfalecer. Afinal, YHWH
está em seu meio, deixando visível outros atributos, e se alegrará com seu povo.
239 Cf. CLARK, D. J.; HATTON, H. A., Zephaniah, p. 199; BROWN, W. P. Zephaniah, p. 116. 240 E. Ben Zvi diz que o texto sugere um tipo de continuidade entre as duas exortações (v. 14.16) através das expressões e das concepções do homem piedoso vivendo numa situação não-ideal, mas que geralmente será aceita num futuro ideal (cf. A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 322-323).
83
a) outros atributos de YHWH
a.1) $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy>
A frase nominal (YHWH, teu Deus, está no teu meio) apresenta mais um
atributo de YHWH, o de ser o Deus de Israel e, ao mesmo tempo, enfatiza o
predicado da sua presença no meio do povo.
YHWH no meio do povo é a razão do não-temor confiante que está ligado à
sua presença pessoal, tanto como seu rei (v. 15c) como seu Deus (v. 17a), sinal de
segurança e das bênçãos concomitantes para o resto.241 Em alguns Salmos os dois
títulos são colocados juntos numa afirmação pessoal de fé: “meu Deus e meu rei”
(Sl 5,3; cf. Sl 84,4; 145,1) e também coletivamente (cf. Sl 44,5; 74,12).242
Este novo refrão $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy> não exclui a afirmação do anterior
%Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m,, mas o abarca em toda a sua extensão e o explicita, uma
vez que a idéia da realeza de YHWH está fundamentada no fato primordial de que
ele é o Deus de Israel.243 Como rei ele é capaz de julgar e fazer cumprir seu
julgamento, mas somente como Deus pode mudar e revogar as sentenças que
pesavam sobre o povo. Esta atitude não mostra uma inconsistência da parte dele,
mas sim o domínio soberano de YHWH. Como conseqüência de seu amor
compassivo ele muda a sorte do pecador, ele liberta-o, evidenciando o seu poder
re-criador.244
A relação que %Ber>qiB. hw"hy> laer"f.yI %l,m, (v. 15c) carrega para o que é dito nos
versículos anteriores (v. 15ab), onde como rei afasta as ameaças e garante a
segurança, é a mesma relação que $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy> (v. 17a) transporta para o
que é exortado nos versículos precedentes (v. 16bc), que confirma a tranqüilidade
de espírito assegurada pela presença constante de YHWH. O elemento comum é
hwhy, nome e natureza revelados no deserto. Seu nome não permite que ele seja
apenas juiz ou redentor, mas ele é ambos concomitantemente. Sua natureza em
plenitude está agora habitando no meio deles. Porque como juiz “revogou as
sentenças” (v. 15a), como redentor vive “no meio dos” redimidos (v. 15c.17a).
A presença de $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy> é a certeza objetiva de que YHWH
perdoou e esqueceu seus pecados e está satisfeito com os redimidos, pois agora
241 Cf. BAKER, D. W., Zephaniah, p. 118; KING, G. A., The Remnant in Zephaniah, p. 423. 242 Cf. SEYBOLD, K., “%l,m,”, GLAT, vol. 5, p. 130. 243 Cf. BERNINI, G., Sofonia, p. 81-83. 244 Cf. ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 110-112.
84
não há nada para afastar aquele que é o santo do meio do povo. Na redenção do
resto está também o objetivo central de YHWH, que é o seu retorno a Sião, como
aquele herói que traz a salvação.245
a.2) [:yviAy rABGI
Esta fórmula [:yviAy rABGI (como herói, ele salvará), que caracteriza YHWH
como herói libertador, é freqüente em contextos que querem assegurar aos
destinatários que determinada ameaça já tem passado (cf. Is 7,4-9; Jr 10,20-26).246
Aqui, ele está declarando paz para Israel, ele não mais se vingará deste resto do
povo com a destruição. Agora só há lugar para um temor sadio, aquele que busca
andar nos caminhos de YHWH.247
Tudo isto porque o amor de YHWH por seu povo não é uma emoção que
incapacita de agir em favor de sua amada, muito pelo contrário, “YHWH sai como
um herói, como se fosse um guerreiro” e “atira-se violentamente sobre os seus
inimigos” (Is 42,13). Quando o poder de YHWH é despertado (cf. Sl 80,2), seu
amor age concretamente para salvar seu povo. Nada nem ninguém podem resistir
ao seu poder, por isso é dito ao povo: “não temerás mais o mal” (Sf 3,15).248
Embora o papel da expressão, nos versos 15c e 17a, seja similar, há uma
sutil diferença. Sua posição no verso 17a parece mais a de um herói em posição de
ataque, enquanto a imagem no verso 15c mostra YHWH como rei defendendo seu
povo.249
Os versos 17ab seguem o verso 16b, onde yair"yTi-la; é uma resposta típica
quando se quer tranqüilizar alguém diante de uma desgraça. Contudo, não
necessariamente este desastre refere-se a uma guerra (cf. Gn 21,17; Rt 3,11), por
isso é necessário saber o contexto de tal declaração para se entender a natureza do
desastre.
A frase dos versos 17ab relembra quase que palavra por palavra a súplica
existente em Jr 14,9, onde o profeta fala: “Porque és como um homem atônito,
como um guerreiro que não pode salvar? Mas tu estás em nosso meio, Iahweh, e
teu nome é invocado sobre nós. Não nos abandones!” YHWH seria para
245 Cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 957; BERLIN, A., Zephaniah, p. 145. 246 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 202. 247 Cf. BARKER, K. L.; BAILEY, W., Zephaniah, p. 495. 248 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 339; MACKAY, J. L., Zephaniah, p. 293. 249 Cf. CLARK, D. J.; HATTON, H. A., Zephaniah, p. 200; BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 247.
85
Jerusalém como um herói que não quer ajudar efetivamente. Eles estão diante de
uma grande seca, mas apesar da súplica, eles não estão confiantes na atuação de
YHWH. E a continuação do texto mostra que YHWH rejeitou o pedido deles.
Diferentemente do que é proclamado em Jeremias, a promessa de salvação em
Sofonias que diz: [:yviAy rABGI $Ber>qiB. %yIh;l{a/ hw"hy> (v. 17ab) responde positivamente,
pois YHWH salva e salvará, livrando-os das ameaças e do medo.250
O confronto destas duas passagens deixa claro que a presença de YHWH no
meio do povo ou da cidade não significa salvação. YHWH pode agir ou não
salvificamente.251 Por isso, é necessário tomar conhecimento de todo o anúncio.
No caso de Sf 3,15.17, frases esclarecedoras os acompanham. A revogação das
sentenças (v. 15a) e a conseqüente expulsão do inimigo ligando-se a Sf 3,15 e a
exortação ao não-temor vinculado a Sf 3,17, mostram que a ação de YHWH é
favorável e que o elemento principal da mensagem deste não traz as conotações
militares da expressão [:yviAy rABGI.252
Esta certeza fica mais clara nos três versos finais, que comunicam a alegria
que YHWH experimenta em relação ao resto de Israel, que foi por ele libertado de
todo tipo de perseguição e que agora morará em paz em Jerusalém, junto ao lugar
de sua habitação, no monte Sião.
b) a alegria de YHWH
O grande convite à alegria de que trata o texto conclui-se com três sentenças
descrevendo a alegria de YHWH.
b.1) hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy" (alegrar-se-á por ti com regozijo) é a primeira declaração
descritiva deste júbilo e é a única citação na BHS utilizando o substantivo hx'm.fi
para expressar a alegria de YHWH em relação a seu povo. Na outra citação,
encontra-se Coélet dizendo a seus ouvintes-leitores: “Yhwh se agrada das tuas
obras” (Ecl 9,7)
b.2) Atb'h]a;B. vyrIx]y: (guardará silêncio no seu amor) é a segunda afirmação. Esta
imagem de YHWH é única no AT. Talvez por causa disso, esta oração apresente
uma dificuldade muito grande de entendimento. Algumas hipóteses para este
silêncio são apresentadas pelos estudiosos. Uma delas é a que fala da indulgência
250 Cf. IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 422; BERLIN, A., Zephaniah, 145. 251 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 188. 252 Cf. BEN ZVI, E., A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 248-249.
86
de YHWH por amor a seu povo, preferindo ficar calado quanto aos pecados de
seu povo (cf. Sl 50,21; Is 42,14).253 Uma outra leva em conta o amor
profundamente sentido, que concentra-se na amada com meditação e
admiração.254 Outra ainda baseia-se no seu plano em relação ao bem do resto.255
Muitos outros entendimentos opcionais têm sido propostos.256 Seguiremos na
linha desta segunda interpretação.
A partir daí, percebe-se que o verbo vrx é usado aqui no sentido
intransitivo, descrevendo mais a condição do sujeito que está quieto, isto é, em
silêncio, do que propriamente falando que o sujeito transmite tranqüilidade ao
objeto. Além do mais, o paralelismo que existe nos três versos (v. 17c-e) também
sugere este sentido intransitivo.
Observando-se o primeiro e o último versos (v. 17c.e), vê-se que eles
apresentam um termo médio %yIl;[' (por ti). Como no paralelismo hebraico é
comum a omissão de um termo que aparece em outra linha, é possível entendê-lo
como pertencente também ao verso intermediário (v. 17d), que seria lido
“guardará silêncio por ti no seu amor”.257
b.3) hN"rIB. %yIl;[' lygIy" (jubilará por ti com exultação) é a terceira asseveração. De
todas as palavras usadas neste oráculo para falar da alegria, lyg é a mais forte delas
no significado, todavia ainda tem um sentido apenas aproximativo, para exprimir
o júbilo que se desprende do sujeito com gritos espontâneos e entusiásticos.258
O paralelo mais comum a lyg é o verbo xmf, seguido por fwf, !nr, [wr hifil ,
zl[. Isto denota que ele pertence ao campo semântico da alegria, que muito mais
253 I. J. Ball Jr. faz alusão a Rashi e a outros comentadores judeus como apresentando esta interpretação (cf. A Rhetorical Study of Zephaniah, p. 185-186). Nesta mesma linha posiciona-se E. Ben Zvi, explicando que se houver a consideração de que Sf 3,16-17 contém uma resposta positiva para a súplica do povo, que se reconheceu pecador e sabedor da razão de suas desgraças (cf. Jr 14,7; Sl 41,5; 51,5-7), esta resposta divina será o afastamento das sentenças por causa de seu amor pelo povo (cf. Mq 7,17-19). O contraste evidente entre os versos 17d e 17e reforçam a tradução de vrx por “silenciar” (cf. A Historical-Critical Study of the Book of Zephaniah, p. 252). 254 Esta é a interpretação de C. F. Keil (cf. The Twelve Minor Prophets, vol 2. Grand Rapids: Eerdmans, 1954) citada por KING, G. A. The Remnant in Zephaniah, p. 424. 255 Cf. WALKER, L. L., Zephaniah, p. 563. 256 R. D. Patterson lista seis interpretações com seus respectivos autores. Estas, além das três apresentadas são: o descanso de Deus em seu amor, a paz e o silêncio dados por Deus ao crente e a canção de alegria de Deus de sua preocupação amante (cf. Zephaniah, p. 383). 257 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 340-341. Por outro lado, A. Berlin diz que este verso 17d, que é totalmente obscuro, interrompe um paralelismo (v. 17c.e) perfeitamente compreensível, o que sugere não ter sido este o seu lugar original (cf. Zephaniah, p. 145). 258 Cf. LEWIS, J. P., “lyg”, DITAT, p. 346.
87
do que um sentimento, uma emoção ou um estado de alma é a manifestação
exterior e que acontece em comunidade. No período pós-exílico, este verbo foi
utilizado com os que lhe são semelhantes e acima citados apenas como
sinônimos.259
b.4) Considerações
A partir destas colocações, pode-se dizer que, nestes três versos finais do
texto, o profeta está falando da alegria que o próprio YHWH está sentindo pelo
triunfo do seu povo, de sua libertação e salvação.260 Outras vezes na BH se
encontram passagens que falam da alegria de YHWH, mas não com a ênfase que é
dada em Sf 3,17, de modo absoluto e lírico. Esta é uma das descrições mais
vibrantes e emocionantes que falam da alegria e do amor de YHWH por seu povo
em todo o AT.
Os sentimentos exortados ao povo pelo profeta no início do texto (v. 14) são
agora (v. 17) os do próprio YHWH. Os verbos fyf / fwf (v. 17c) e lyg (v. 17e)
poderiam simplesmente dar a entender uma alegria interior, mas a presença do
termo hx'm.fi e principalmente hN"rI, mostra enfaticamente que YHWH exterioriza
seus sentimentos exultantemente.261
A alegria proclamada nos versos 17c-e não apresenta mais o homem como
sujeito da ação, mas o próprio YHWH. O objeto desta alegria tem também
peculiaridades bem significativas. Nos outros textos que falam do júbilo de
YHWH em relação ao homem, além de não ser afirmado enfaticamente, é dito que
YHWH se alegrará por fazer o bem a Jerusalém (cf. Dt 30,9; Is 65,19; Jr 32,41),
porém encontrando a alegria mais em si próprio do que com a cidade ou com o
povo. Diferentemente em Sf 3,17, onde YHWH se alegrará pelo povo. Além
disso, o autor proclama este regozijo de forma direta, utilizando cinco termos (fwf
- hx'm.fi - vrx - lyg - hN"rI) para descrever a profundidade e a extensão deste
sentimento.262
Este sentimento de alegria que YHWH vivenciará tem seu alicerce no seu
grande amor. A utilização abundante de termos para manifestar a letícia de
259 Cf. BARTH, Ch., “lyg”, GLAT, vol. 1, p. 2067-2082. 260 P. R. House diz que as razões para a libertação do resto fundamentam-se na satisfação de YHWH com eles e no seu poder salvador (cf. Zephaniah, p. 67). 261 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 188. 262 Cf. BARSOTTI, D., Meditazione sul libro di Sofonia, p. 157-170.
88
YHWH vai surgindo progressivamente. Primeiro implica num contentamento, que
desabrocha numa manifestação externa, seguida por uma prontidão de estar junto
à pessoa amada em silêncio, que por fim não se contendo em si de amor torna a
exteriorizar este sentimento e agora com grande exultação, como se YHWH
cantasse, gritasse e dançasse.263
A pessoa divina é um todo como a pessoa humana, por isso é o ser por
inteiro que estará vibrando em seu amor. A alegria descrita assemelha-se àquela
que um jovem noivo amoroso (cf. Sl 19,6) experimenta no encontro com sua
noiva, quando esta lhe é trazida pelos amigos, pura, sem mancha, sem nenhuma
sentença pesando sobre ela. Este júbilo tão grande não será visível somente no que
ele poderá proporcionar à sua noiva, mas transparecerá naquilo que ele
experimentará (cf. Is 62,5).264 Contudo, no amor nem tudo tem necessidade de ser
pronunciado com palavras, os noivos se entendem perfeitamente. Por isso,
YHWH Atb'h]a;B. vyrIx]y: (Sf 3,17), no enlevo com sua noiva.265
Talvez a maior dificuldade esteja em compreender a imensidão deste amor
de YHWH, que o arrebatará de tal forma que o fará sair de si mesmo para alegrar-
se pela sorte do resto do povo. Para algumas pessoas é quase insondável este amor
que, de tão profundo, é capaz de perder-se no silêncio da contemplação pelos
remanescentes, é capaz de fazer emudecer para depois explodir em aclamações
que ecoam como a dos próprios redimidos quando são exortados pelo profeta (cf.
Sf 3,14).266
Mas, embora pareça excessivo o modo como o profeta expressou a alegria
de YHWH por sua amada, deve-se ter em mente que ele em sua essência é o
amor. E que se o homem, com todas as limitações de sua natureza, é capaz de
exprimir tão fortemente seus sentimentos em relação a outra pessoa, quanto mais
YHWH, que pode atingir a profundezas muito maiores sem que haja qualquer
restrição de tempo, lugar, modo e duração desta exteriorização de amor e alegria
pelo seu objeto.
263 Cf. J. A. Motyer falando da progressão da expressão de alegria diz que partindo de uma emoção que o deleita, passa a uma contemplação sem palavras da pessoa amada e não conseguindo conter-se, explode numa exultação vocal (cf. Zephaniah, p. 958). 264 Cf. BERNINI, G., Sofonia, p. 83; KELLER, C.-A., Sophonie, p. 214-215; MACKAY, J. L., Zephaniah, p. 293-294; IRSIGLIER, H., Zefanja, p. 422. 265 Cf. ESZENYEI SZÉLES, M., Zephaniah, p. 113. 266 Cf. KING, G. A., The Remnant in Zephaniah, p. 424. Para O. P. Robertson aquele Deus onipotente se deleitando com a sua criação explica-se em si mesmo, mas torna-se incompreensível como o Santo possa experimentar êxtase pelo pecador (cf. Zephaniah, p. 340).
89
O objeto de amor de YHWH está limitado pelo termo %yIl;['. Pelo contexto
de Sf 3,14-17 fica claro que se trata da “filha de Sião – Israel – filha de
Jerusalém”, isto é, o resto do povo eleito que, mantendo-se fiel à aliança e à
promessa, foi liberto do cativeiro da Babilônia e agora já começa a usufruir das
bênçãos de YHWH. Mas, não é nele nem em algo que ele tenha feito que é para
serem encontradas as razões desta alegria irrestrita de YHWH, mas na própria
natureza do Senhor.267
Em síntese, a presença potente de YHWH $Ber>qiB. (v. 17a) como [:yviAy rABGI
(v. 17b) será motivo para ser dito yair"yTi-la;, e se tornar motivo para hx'm.fi (v. 17c)
e hN"rI (v. 17e), porque YHWH ama profundamente seu povo de modo que vyrIx]y:,
numa contemplação profunda de sua amada (v. 17d).
267 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 341-342.
4
Sf 3,14-17 e o contexto do livro de Sofonias
4.1.
Correspondências terminológicas de Sf 3,14-17 com o conjunto do livro
A terminologia presente em Sf 3,14-17 é significativa, capaz de acentuar os
diferentes aspectos que caracterizam a imagem de Deus, enquanto evidencia o
alcance da sua intertextualidade com a mensagem de juízo no inteiro livro de
Sofonias. A partir do que foi analisado no capítulo anterior, é possível atestar que
todos os termos e expressões do texto têm uma conotação positiva e favorável ao
povo redimido.
4.1.1.
1ª seção: v. 14-15b
a) Esta seção é marcada por termos e expressões hápax legómena em
Sofonias:268
− !nr – [wr – xmf – zl[
A unicidade destes verbos no livro mostra o contraste do texto com o escrito
que lhe antecede, visto que compõem a exortação à alegria que Sofonias dirige
aos redimidos por YHWH.269 No entanto, o adjetivo zyLi[; (alegre), da mesma raiz
do verbo zl[, aparece duas vezes no livro em sentido pejorativo. A primeira no
f.sg., em 2,15, falando da Assíria como hz"yLi[;h' ry[ih' (a cidade alegre) e a segunda
no pl. qualificando %tew"a]G: yzEyLi[; (os alegres orgulhosos), em 3,11. Ambas as
citações descrevem os inimigos do povo, os externos e os internos, que serão
afastados por YHWH. Portanto, é uma alegria apenas passageira, que diverge do
regozijo ao qual o povo está sendo convidado, que é duradouro.
Em antagonismo à alegria que o povo é exortado a manifestar pelas ações
salvíficas de YHWH, encontra-se, em 3,11, YHWH falando ao povo sobre o
268 Cf. Tabela 2 e 7, p. 135.138, respectivamente. 269 Além disso, a forma verbal yzIl.[' no qal imperativo f.sg. é um hápax legómenon na BHS (cf. EVEN-SHOSHAN, A., “yzIl.['”, A New Concordance of the Bible, p. 880).
91
tempo em que te yBi T.[;v;P' (revoltaste contra mim). O verbo [vp expõe uma atitude
oposta do povo, que em lugar de louvar a YHWH, rebela-se contra ele. Outro
antagonismo aparece na demonstração do sentimento, que em lugar da alegria será
de pavor, manifestado em 1,10 através dos termos e expressões de hq'['c. lAq
(grito), hl'l'ywI (uivo) e lAdG" rb,v,w> (grande lamento) no yôm YHWH, como também
com os verbos lly (uivar) em 1,11 e lhb (sentir pânico) em 1,18.
Ainda uma outra ação antagonista pode ser observada em 1,16 com o
tArcuB.h; ~yrI['h, l[; h['WrT. (grito de guerra contra as cidades fortificadas), cuja
proteção encontra-se nos muros da cidade, enquanto no texto o verbo [wr deixa
claro que o grito é de júbilo, entretanto é devido unicamente à proteção de
YHWH.270
− !AYci-tB; – ~Øil'v'Wry> tB;
Estas expressões únicas, que se referem ao povo redimido do pós-exílio,
estão em continuidade com 3,10, onde se lê yc;WP-tB; (filha da minha dispersão),
mencionando este mesmo povo enquanto ainda no período exílico. A diferença
entre as duas expressões do texto de estudo e esta última, que lhes antecede, está
também no espaço temporal, mostrando que há uma continuidade no escrito de
Sofonias.
− ble-lk'B.
O substantivo ble, escrito desta forma, aparece mais duas vezes fora do texto
na forma mais extensa bb'le, porém com uma conotação de castigo. Em 1,12
YHWH castigará os homens que dizem ~b'b'l.Bi (no coração deles) que YHWH
nada pode fazer. Enquanto em 2,15 é a soberba Assíria que se gaba Hb'b'l.Bi (no seu
coração) de si mesma, porém também será castigada. Nos dois casos o coração,
em vez de servir para conclamar a alegria, era o lugar para arquitetar planos e
pensamentos perniciosos.
A expressão, por sua vez, traz uma característica muito marcante do livro,
que é trabalhada com o termo lKo, um substantivo em hebraico, citado 22 vezes e
que transmite a noção de “totalidade”. Nela, o profeta exorta a “todos” os
membros da comunidade dos redimidos a alegrar-se, envolvendo-se com “todo” o
270 Cf. WEIGL, M., Zefanja, p. 226.
92
seu ser, porque YHWH agiu em seu favor. Em situação antagônica encontra-se
YHWH contra “todo” tipo de injustiça, de impiedade, de idolatria271. Há, porém, a
advertência a “todos os pobres da terra” para buscar a YHWH (cf. 2,3), que
promete salvar a todos (cf. 3,9.11) e dar-lhes reconhecimento entre todos os povos
da terra (cf. 3,19.20) e ainda colocar “os animais de todas as espécies” repousando
na terra destruída (cf. 2,14). Com esta colocação Sofonias deixa bem claro que
YHWH não admite meio termo, ou se é totalmente a favor dele ou totalmente
contra ele.
− %bey>ao hN"Pi
Tanto esta expressão, como o verbo hnp e o verbo/substantivo bya, são
hápax.272 Em Sofonias encontram-se outras passagens, que, embora não utilizando
estes termos, têm uma conotação similar. YHWH declara a seu povo: %tew"a]G: yzEyLi[;
%Ber>Qimi rysia' (tirarei do meio de ti os alegres orgulhosos), em 3,11, e %yIN:[;m.-lK'-ta,
hf,[o ynIn>hi (eis-me agindo contra todos os teus opressores), em 3,19. Em direção
oposta coloca-se a citação em 3,8, que apresenta um oráculo de YHWH dizendo que
derramará a sua cólera sobre toda a terra, englobando Jerusalém num castigo comum
e universal.
Em antonímia está o verbo dqp (visitar), que na forma verbal qal pode tomar
um valor negativo com o significado de “castigar, exigir contas”. Deste modo pode-se
encontrar YHWH prometendo punir a todos de seu povo que se afastaram dele (cf.
1,8.9.12).
b) Termos que nomeiam o povo e que ocorrem, cada um deles, duas vezes no
texto:273
− !AYci
Este substantivo não aparece fora do texto. Porém, em situação contrastante,
em 3,11 há uma menção a Sião através da expressão yvid>q' rh;B. (no meu monte
santo), não mais aludindo ao povo e sim ao lugar geográfico, de onde YHWH
retirará todos os inimigos do povo.
271 Cf. Sf 1,2.4.8.9.112.182; 2,112.15; 3,72.82; 3,19. 272 Inclusive a forma verbal hN"Pi no piel qatal na 3ª m.sg. é um hápax legómenon na BHS (cf. EVEN-SHOSHAN, A., “hN"Pi”, A New Concordance of the Bible, p. 948). 273 Cf. Tabela 1 e 7, p. 135.138, respectivamente.
93
− laer"f.yI
Fora do texto, a ocorrência deste substantivo se dá apenas mais duas vezes.
Contudo, a referência é sempre o povo de Israel que é observante dos preceitos de
YHWH e em contexto favorável a ele. Em 2,9 aparece ligado a um atributo de
YHWH, de ser o laer"f.yI yhel{a/ (Deus de Israel) e em 3,13 encontra-se declarado
quem é laer"f.yI tyrIaev. (o resto de Israel).
− ~Øil;v'Wry>
Este substantivo também só ocorre mais duas vezes no restante do livro.
Diferentemente das passagens do texto, estas outras tratam de palavras duras de
maldição dirigidas ao povo pecador: ~Øil'v'Wry> ybev.Ay-lK' l[;w> hd"Why>-l[; ydIy" ytiyjin"w>
(estenderei minha mão contra Judá e contra todos os habitantes de Jerusalém),
em 1,4, e tArNEB; ~Øil;v'Wry>-ta, fPex;a ] (eu esquadrinharei Jerusalém com lanternas),
em 1,12.
c) Expressão e termos restantes:274
− %yIj;P'v.mi rysihe
O verbo rws, aqui na voz de Sofonias, está na forma verbal do hifil qatal na
3ª m.sg. Em continuidade de sentido ocorre ainda em 3,11, agora na forma verbal
do hifil yiqtol na 1ª sg., o que denota que o próprio YHWH está se dirigindo ao
povo para comunicar-lhe: %tew"a]G: yzEyLi[; %Ber>Qimi rysia' (eu afastarei de teu seio os
alegres orgulhosos), os quais significam os inimigos internos. A diferença está no
espaço temporal, mostrando que em 3,15 a promessa anterior de 3,11 já havia se
tornado realidade.
Por outro lado, o substantivo jP'v.mi, aqui com sufixo de 2ª f.sg., %yIj;P'v.mi,
ocorre mais três vezes e em cada uma apresenta um sentido diverso. Em duas
delas, o substantivo aparece com o sufixo de 3ª m.sg. e denotam uma advertência:
a primeira, em 2,3, com a acepção de “decreto, mandamento”, incentivando a
buscar YHWH todos os Wl['P' AjP'v.mi rv,a] (que cumprem seu preceito), de modo a
não sofrerem o castigo que está para vir; a segunda, em 3,5, com o significado de
“julgamento”, pois YHWH !TeyI AjP'v.mi rq,BoB; rq,BoB; (manhã após manhã promulga
o seu juízo), que pode ser de maldição ou bênção. O último termo, que vem ligado
274 Cf. Tabela 1 e 7, p. 135.138, respectivamente.
94
a um sufixo de 1ª sg., acontece em 3,8 em sentido negativo, uma vez que YHWH
está avisando que trará o castigo sobre toda a terra, incluindo os não-tementes do
povo.
− hwhy
As outras ocorrências do termo, de acordo com a situação, mostram
continuidade ou oposição de sentido. Com YHWH como o sujeito da frase,
encontra-se:
• favorável a seu povo (cf. 2,7.9.10.11; 3,12.20);
• favorável a todos os povos (cf. 3,9);
• contra seu povo (cf. 1,7.10; 2,5; 3,5.8);
• contra todos os povos (cf. 1,2.3.17).
Com YHWH como objeto, tem-se:
• uma postura positiva de seu povo diante dele (cf. 1,7);
• uma postura positiva de todos os povos diante dele (cf. 2,3);
• uma postura negativa de seu povo diante dele (cf. 1,5.62.12; 3,2);
• uma palavra neutra dirigida ao profeta quando de sua vocação (cf. 1,1).
E ainda relacionado ao yôm YHWH negativamente (cf. 1,7.8.142.18; 2,22) e
positivamente, em advertência (cf. 2,3).
d) Primeiras conclusões:
A seção apresenta, no aspecto terminológico, poucos elementos de contato
com o restante do livro de Sofonias. Encontram-se numerosos hápax legómena,
não só em relação aos termos, mas também nas expressões utilizadas. Por outro
lado, as situações opostas verificadas através dos próprios termos ou de seus
antônimos são suficientes para mostrarem-se em sintonia com os capítulos
anteriores.
Dentre os pontos de contato de oposição é importante destacar Sf 3,10-11,
que está relacionado com as promessas. Seu povo é chamado de “filha da minha
dispersão”, porque seus integrantes estavam sofrendo o castigo pelos seus erros,
mas que trariam futuramente suas oferendas como verdadeiros adoradores de
YHWH (cf. 3,10); não teriam mais vergonha de seus erros e seus inimigos
orgulhosos seriam afastados (cf. 3,11). Enquanto em Sf 3,14-15 estas promessas
já se tornaram realidade. A “filha” já voltou do exílio e está em Sião–Jerusalém, o
castigo foi revogado e os inimigos afastados (cf. 3,14-15).
95
A verdadeira alegria, apregoada e manifestada através de gritos e danças em
Sf 3,14-17, traz um outro ponto de contato digno de ser mencionado, uma vez que
no livro não existe outro momento propício. Em oposição encontra-se o medo e o
pânico (cf. 1,10.11.18), com o grito de guerra (cf. 1,16); enquanto em contraste
aparece uma falsa alegria dos inimigos externos e internos (cf. 2,15; 3,1).
Um estágio redacional posterior é sugerido pela terminologia nova usada,
pela diferença a nível cronológico e comportamental tanto da parte do povo como
da parte de YHWH, denotando uma passagem de tempo e uma nova situação
histórica. O texto final do livro muda a situação de juízo condenatório, tanto
descrito como ameaçada, para uma condição de salvação.
4.1.2.
2ª seção: v. 15c-16
a) Termos e expressões que se apresentam como hápax legómena em
Sofonias:275
− [r:
O termo “mal” empregado no verso 15c, explicitamente, e no verso 16b,
implicitamente, engloba todas as impiedades e injustiças descritas no livro e que
agora eles não precisarão mais temer; ainda que este vocábulo não seja aplicado
diretamente para mencionar tais desgraças.
− laer"f.yI %l,m,
Esta expressão indica a realeza de YHWH, num governo teocrático sobre
Israel. A expressão é única no livro, porém o termo %l,m, comparece mais duas
vezes. A primeira citação, em 1,1, serve apenas para situar o ministério de
Sofonias no tempo de Josias, hd"Why> %l,m, (rei de Judá). A ocorrência em 1,8 é
diametralmente oposta ao sentido do texto, visto que faz referência aos príncipes e
%l,M,h; ynEB; (os filhos do rei), que num governo monárquico nos moldes das outras
nações, têm uma postura idólatra. Estes mesmos príncipes aparecem citados em
3,3 também numa palavra dura contra eles, que “no meio do povo rugem como
leões”, mas que o juízo recairá sobre eles. Mais negativamente ainda, a raiz $lm
275 Cf. Tabela 4 e 7, p. 136.138, respectivamente.
96
aparece em 1,5 no nome da divindade ~Kol.mi, que está associada com a suprema
apostasia do povo de adorar um falso %l,m,.276
− %yId"y" WPr>yI-la;
Além da expressão, os termos que a compõem, o verbo hpr e o substantivo
dual com sufixo de 2ª f.sg. %yId"y", também são hápax. Nas outras três vezes em que
o termo dy" aparece fora do texto, ele é usado no singular e em sentido de
condenação. A primeira ocorrência está com um sufixo de 1ª sg., quando YHWH
diz: “estenderei ydIy" (a minha mão) contra Judá” (1,4); as outras duas com um
sufixo de 3ª m.sg., Ady" (a sua mão), reportando-se ao fato de que, em 2,13, YHWH
!Apc'-l[; Ady" jyEw> (estenderá a sua mão contra o Norte), isto é, a Assíria, que depois
de desolada, em 2,15, Ady" [:ynIy" qrov.yI h'yl,[' rbeA[ lKo (quem passa por ela assobia e
agita a sua mão).
b) Termos e expressões que ocorrem no restante do livro:277
− %Ber>qiB.
Esta mesma expressão com o sufixo de 2ª f.sg. aparece em 3,12, porém
difere na atuação, uma vez que se trata de uma promessa de salvação ao resto que
ainda está sofrendo a opressão. Outras três passagens aparecem no livro com
alguma modificação da expressão. Em duas delas HB'r>qiB. (no meio dela), com
sufixo de 3ª f.sg., refere-se a Jerusalém. A primeira, em 3,5, apresenta YHWH
atuando como juiz e promulgando suas sentenças de castigo ou salvação. A
segunda está em 3,3 e é condenatória, visto que YHWH fala da liderança da
cidade que oprime seu povo. A última passagem, em 3,11, traz %Ber>Qimi (do teu
meio), mantendo o sufixo de 2ª f.sg., mas mudando o prefixo para !mi, todavia, é da
mesma forma condenatória, pois fala da expulsão do meio do resto daqueles que
são soberbos.
− ary
Este verbo reaparece em 3,7, na mesma forma verbal yair>yTi, em total
oposição. Trata-se de uma afirmação positiva de YHWH, contudo com um sentido
negativo, porque ele esperava que o povo passasse a temê-lo, vendo como ele
276 Cf. CULVER, R. D., “%l,m{”, DITAT, p. 844-845. 277 Cf. Tabela 3 e 7, p. 136.138, respectivamente.
97
aniquilou as nações, mas isso não aconteceu. Enquanto nas duas vezes que
aparece no texto de estudo, o verbo embora com uma partícula negativa acoplada,
tem um sentido positivo, dado que são exortações feitas ao povo para “não temer”,
não desanimar, porque YHWH vela pelo seu resto redimido.
− aWhh; ~AYB;
Várias são as expressões usadas para falar do yôm Yhwh. A única
declaração de salvação advinda com a chegada deste dia é a de 3,16 com a
expressão aWhh; ~AYB; (naquele dia). Esta mesma expressão ocorre em 3,11 num
momento de promessa desta salvação para o povo e em 1,9.10 descrevendo o
castigo de YHWH. Outras citações a respeito deste yôm apresentam modificações
em sua formulação, podendo ter um cunho de ameaça ou de advertência. Assim,
encontra-se em 1,15.16 e 2,2 como um ~Ay (dia) de angústia; em 1,15.18 como
hw"hy> tr:b.[, ~AyB. (no dia da cólera de Yhwh); em 2,2.3 como hw"hy>-@a; ~AyB.. (no dia
da ira de Yhwh); em 1,7.14 hw"hy> ~Ay (dia de Yhwh); em 1,8 hw"hy> xb;z< ~AyB. (no dia
do sacrifício de Yhwh); em 3,8 ~Ayl . (para o dia). O único uso do termo ~Ay no
plural surge no versículo de abertura do livro com ymeyBi (nos dias) “de Josias”
(1,1), fazendo referência ao tempo em que a palavra de YHWH foi dirigida a
Sofonias.
Ainda na alusão ao yôm YHWH encontra-se no livro o termo t[e (tempo).
Com uma conotação negativa, aparece em 1,12 onde é dito: ayhih; t[eB' (naquele
tempo) do castigo para Jerusalém e em 3,19, com a mesma expressão, é predito o
castigo para os opressores do povo. Contrariamente, em 3,20 há uma mensagem
de esperança e promessa para Jerusalém nas duas vezes em que o termo aparece:
uma com a mesma expressão e a outra somente com t[eB' (no tempo).
c) Primeiras conclusões:
Apesar dos hápax legómena que continuam a surgir no texto,
terminologicamente esta seção também se apresenta ancorada no escrito de
Sofonias. Isto pode ser detectado pela posição antagônica de várias afirmações,
como também através das expressões %Ber>qiB. e aWhh; ~AYB; e do verbo ary, que
ajudam a fazer o elo com o restante do escrito, mostrando que há uma
transformação do contexto inicial do livro.
98
Os pontos de contato que chamam mais atenção são três. No primeiro trata-
se do reinado de YHWH no futuro (cf. 3,15), que está em total oposição aos reis
do passado, corruptos, idólatras e que não defendiam seu povo, mas apenas seus
interesses (cf. 1,8; 3,3).
A segunda oposição encontra-se no termo “mão”, que é usado em sentido de
condenação: por YHWH para destruir (cf. 1,4; 2,13) ou pelo homem para
demonstrar desdém (cf. 2,15); enquanto as mãos dos redimidos, que não devem
desfalecer, estarão agindo para construir (cf. 3,16).
Por fim, o terceiro ponto, que deve ser mencionado, se relaciona com o
verbo “temer”. Enquanto os ímpios não temem YHWH com reverência, mas com
medo das desgraças (cf. 3,7); os remidos não temem as desgraças porque têm um
temor reverencial por YHWH (cf. 3,16).
Novamente aparece o fator cronológico, mostrando um processo de
realização das promessas em andamento, reforçando a sugestão de um estágio
redacional posterior. Mas mais do que isso se evidencia o motivo teológico, que
tem por objetivo mostrar a mudança ocorrida, que de uma situação de perdição
passa a uma condição de restauração e recriação.
4.1.3.
3ª seção: v. 17
a) Esta seção é quase que totalmente marcada por termos e expressões hápax
legómena em Sofonias:278
− hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy " – Atb'h]a;B. vyrIx]y: – hN"rIB. %yIl;[' lygIy"
Estas expressões, que fazem parte do discurso do profeta em relação à
manifestação de alegria, agora da parte de YHWH, como também os verbos que
as compõem fyf / fwf – vrx – lyg e os substantivos hx'm.fi e hN"rI são hápax.
Em antagonismo aos verbos e aos substantivos que traduzem a alegria
sentida por YHWH em relação aos redimidos, encontra-se a expressão @a; + !Arx'
(furor da ira), que ocorre duas vezes fora do texto. Em 2,2 encontra-se o apelo à
conversão feito por Sofonias à nação para que não tem vergonha de mudar
enquanto é tempo: hw"hy>-@a; !Arx] ~k,yle[] aAby"-al{ (não venha sobre vós o furor da
278 Cf. Tabela 6 e 7, p. 137.138, respectivamente.
99
ira de Yhwh) e, em 3,8, YHWH que diz: yPia; !Arx] lKo ymi[.z: ~h,yle[] %Pov.li (derramar
contra eles minha indignação, todo o furor da minha ira).
− [:yviwOy rABGI
Somente a expressão é hápax. O verbo [vy é usado mais uma vez fora do
texto, em 3,19. Em similaridade de sentido, também na forma verbal do hifil ,
porém na 1ª sg., deixando claro que é o próprio YHWH, que dirigindo-se ao povo,
afirma: h['leCoh;-ta, yTi[.v;Ahw> (salvarei as que coxeiam). Enquanto em 3,17 é o
profeta que fala da salvação que será trazida por YHWH.
Com terminologia sinonímica a [vy encontra-se o verbo lcn em 1,18 onde
está escrito que hw"hy> tr:b.[, ~AyB. ~l'yCih;l. lk;Wy-al{ (não poderá salvá-los no dia da
cólera de Yhwh), porém em situação oposta à do texto. E com terminologia
antinonímica a [vy, como também em contraposição ao texto, aparecem os verbos:
@ws (aniquilar) na forma verbal do hifil (cf. 1,2.3); trk (extirpar) na forma verbal
do hifil (cf. 1,3.4; 3,6) e do nifal (cf. 1,11; 3,7); dba (destruir) na forma verbal do
hifil (cf. 2,5) e do piel (cf. 2,13).
O substantivo rABGI também aparece uma única vez fora do texto, porém num
contexto totalmente oposto. Porque fala de um homem herói que, no yôm YHWH,
não terá a mínima força para salvar a si mesmo, quanto mais lutar pelo povo. A
passagem de 1,14 comenta que até rABGI ~v' x;rEc{ (o herói gritará).o
− Atb'h]a;B. vyrIx]y:
Apesar da expressão ser hápax, em 1,7 aparece a partícula de interjeição sx;
(calai, silêncio) em sentido sinonímico oposicional. Porque está dando uma ordem
ao povo pecador, afastado de YHWH, para calar-se diante dele, pois o yôm Yhwh
está próximo e será o dia de sua ira. Por outro lado, no texto, é YHWH quem se
cala diante de seu povo redimido, enlevado em seu amor.
b) Termos e expressões que ocorrem no restante do livro:279
− %yIh;l{a/ hw"hy>
A ocorrência desta expressão em 2,7 dá-se com a mudança do sufixo para 3ª
m.pl., ~h,yhel{a/ hw"hy > (Yhwh seu Deus); a mesma fórmula de modo ampliado em 2,9
279 Cf. Tabela 5 e 7, p. 137.138, respectivamente.
100
laer"f.yI yhel{a/ tAab'c. hw"hy> (Yhwh dos exércitos, Deus de Israel); e em 3,2 com o
profeta chamando a atenção do povo que não se aproxima de h'yh,l{a/-la, (seu
Deus), aparecendo com sufixo de 3ª f.sg. Estas três citações estão com sentido
negativo. Além destas, o termo é usado para os ídolos em 2,11, onde YHWH diz
que aniquilará yhel{a/-lK' (todos os deuses).
c) Primeiras conclusões:
A análise acima deixa bem visível a quantidade de hápax legómena nesta
parte do escrito, mais acentuada que o material do texto que lhe antecede.
Todavia, há pontos de contatos com as expressões %yIh;l{a/ hw"hy> e %Ber>qiB. como o
termo rABGI que aparecendo em posições contrárias ao restante do escrito, mostram
uma mudança na condição do povo, denotando, com isso, haver uma continuidade
com os capítulos precedentes. Por outro lado, o verbo [vy faz a ponte entre o texto
de estudo com a parte do livro que vem escrita logo a seguir e que o encerra,
reafirmando o desenvolvimento contínuo do livro.
Importante lembrar é a figura do “herói”, que quando se trata de um homem,
este não pode salvar ninguém da ira de YHWH, enquanto quando o herói é o
próprio YHWH, todos que dele se aproximam recebem a salvação.
Com terminologia sinonímica, embora em total oposição, duas situações
chamam a atenção. O verbo “salvar”, que enquanto YHWH como rei e Deus de
Israel salvará seu povo ([vy), nem a prata nem o ouro poderá salvar o povo que
não tem YHWH como seu rei e seu Deus (lcn). E a questão do “silêncio”, que os
pecadores devem guardar diante de YHWH por causa de sua ira; enquanto por
causa do amor de YHWH, ele próprio guarda silêncio diante dos redimidos de seu
povo.
Assim, é possível observar que a utilização de termos sinônimos e
antônimos no restante do livro corrobora e, ao mesmo tempo, acentua a
profundidade da mensagem que Sofonias quer passar para seus ouvintes-leitores.
Ele quer mostrar a vitória do bem sobre o mal, da justiça sobre a injustiça, do
justo sobre o injusto, o que provoca a mudança de uma iminente destruição para
uma situação de salvação, que vem a gerar o estado de alegria em que se
encontram YHWH e seu povo. Ao mesmo tempo em que reafirma a prevalência
da sugestão do estágio redacional posterior, tanto pela terminologia quanto pela
mensagem que é passada através do escrito.
101
4.2.
Correspondências temáticas de Sf 3,14-17 com o conj unto do livro
4.2.1.
1ª seção: v. 14-15b
Os temas que se encontram nestes versículos não se apresentam no restante
do livro como tal, porém mostram uma evolução dos eventos vivenciados pelo
povo, tais como:
a) a alegria (v. 14)
b) os nomes pelos quais é exortado (v. 14)
c) a anistia das sentenças (v.15a)
d) a libertação de qualquer poder opressor (v. 15b)
Cada tema será estudado separadamente em vista de deixar bem evidente a
reversão do quadro inicial e as novas perspectivas.
a) A alegria do povo não é mencionada em nenhum momento do livro até este
ponto. Pelo contrário, logo após a introdução (cf. 1,1), Sofonias começa
pronunciando um oráculo de YHWH, comunicando que suprimirá tudo da face da
terra, homens e animais (cf. 1,2-3). YHWH continua: “estenderei a minha mão
contra Judá e contra todos os habitantes de Jerusalém” (1,4; cf. 1,12-13), visto
que aqueles que detêm o poder, ou seja, príncipes, juízes, profetas e sacerdotes,
são corruptos e idólatras, como também muitos do povo (cf. 1,5-6.8-9; 3,1-4). As
nações opressoras do povo eleito, dos quatro cantos da terra, também receberão a
visita de YHWH. Elas serão destruídas, traspassadas pela espada, suas terras se
tornarão um deserto (cf. 2,4-15).
Este castigo de YHWH é proveniente de sua justiça, porque ele é o justo e
não pode aceitar a iniqüidade (cf. 3,5). Mas, apesar de todo seu descontentamento,
em algumas ocasiões é colocada uma advertência para a mudança de vida, isto é,
para a conversão a ele (cf. 2,1-3; 3,8). Como também há momentos em que são
proferidas promessas de restauração (cf. 3,9-13). Todavia, em nenhum ponto no
decurso do escrito se pode depreender qualquer sintoma de alegria. O tom de
júbilo encontrado no texto mostra que a guerra contra aqueles que não se
mantiveram na aliança com YHWH está no passado; agora os fiéis são vitoriosos.
102
b) Sofonias, ao convidar o povo à alegria, utiliza uma forma carinhosa para
dirigir-se a ele: “filha de Sião – Israel – filha de Jerusalém”. Isto está em
continuidade com 3,10, onde o próprio YHWH fala ao resto do povo pobre e
humilde, que se encontra no exílio. Ao dirigir-se a estes membros do povo, para
fazer-lhes uma promessa de libertação e de uma vida tranqüila, YHWH chama-os
afetuosamente de “filha da minha dispersão”.
No restante do escrito não há nenhuma outra nomeação delicada nem a
Sião–Jerusalém, nem a nenhuma das nações. Pelo contrário, diferentemente do
contexto do texto, as duas vezes em que YHWH direciona seu discurso a
Jerusalém é para condená-la por suas más ações (cf. 1,4.12).
c) O tema da anistia das sentenças é muito relevante no contexto do livro. Na
leitura do escrito pode-se perceber o desenrolar de uma situação, que a princípio
era caótica e mostrava-se insustentável, passando para uma promessa de
clemência e chegando, por fim, a um estado de remissão. Os pecados do povo
eram inúmeros (cf. 1,4-6.8-9.12-13; 3,1-4.7.11) e YHWH a cada dia apresentava-
se como juiz (cf. 3,5) e testemunha (cf. 3,8) para julgá-los. Inclusive ele aniquilou
as nações para lhes servir de exemplo, mas nem isto os demoveu, pelo contrário
ainda tornaram-se mais arraigados a seus atos injustos (cf. 3,6-7).
Entretanto, não é a intenção de YHWH destruir a obra de sua criação, nem
muito menos ser injusto. Por isso, ele vem em socorro do fraco e indefeso. A
princípio através de advertências a fim de que eles não sejam pegos de surpresa,
mas tenham a chance de procurar a salvação (cf. 2,1-3), porque o dia do ajuste de
contas, o yôm YHWH, será terrível (cf. 1.7.10-11.14-18). Numa segunda instância
YHWH promete um indulto a todos que invocam o seu nome e colocam-se
debaixo de seu jugo (cf. 3,9-13). Até chegar ao tempo da salvação daqueles que o
buscaram de coração sincero (cf. 3,14-20). É clara a evolução da ação de YHWH
visando à justiça.
d) Junto com o tema da revogação do castigo surge um outro que fala do
afastamento do inimigo. O que é muito sugestivo pela interligação que há entre os
dois temas.280 Anteriormente, YHWH menciona a utilização do recurso de reunir
as nações e os reinos para executar sua condenação contra o povo (cf. 3,8). Assim,
estas nações constituiriam os inimigos externos. Depois, YHWH diz que afastará
280 Cf. comentário ao versículo, p. 69-71.
103
os orgulhosos fanfarrões de sua montanha santa, significando os inimigos internos
do povo, aqueles que em vez de lutar pelos membros da sociedade ainda lhes
impunham mais opressões (cf. 3,11).
Desta forma, o afastamento do inimigo por YHWH constitui para os
redimidos o banimento de todo o tipo de opressão, para que eles possam ser
apascentados e repousar sem que ninguém os inquiete (cf. 3,13). Isto é um fator
muito forte para levá-los ao grande clamor de alegria (cf. 3,14).
4.2.2.
2ª seção: v. 15c-16
Estes versículos oferecem temas que continuam a reforçar o desenrolar de
um processo de implantação da justiça, presenciado desde o início do livro. Ao
mesmo tempo em que eles dão seguimento e um maior entendimento à seção
anterior. São eles:
a) o reinado de YHWH (v. 15c)
b) o porquê do não-temor (v. 15d.16b)
c) o yôm YHWH (v. 16a)
d) o chamado à ação (v. 16c)
As perspectivas para a vida do povo mostram-se extremamente favoráveis,
em total oposição à antiga condição. As características desta diferença são:
a) A abordagem inicial do livro, embora situe Sofonias no tempo do reinado de
Josias, rei de Judá (cf. 1,1), dá a entender que o povo estava sem um soberano
sentado no trono. O escrito menciona os príncipes, os filhos do rei (cf. 1,8) que
rugem como leão (cf. 3,3). O uso desta metáfora, do rei dos animais rugindo,
sublinha a sua investida sobre a presa indefesa de forma cruel, opressiva e
egoísta.281
Diferentemente, coloca-se a soberania de YHWH. Ele é o rei justo, que luta
por seus súditos (cf. 2,4-15; 3,11), não oprime o fraco, nem aquele que o busca
sinceramente. Pelo contrário, ele mesmo deseja que o procurem, como pode-se
entender das palavras de Sofonias: “procurai a YHWH, vós todos os pobres da
terra, que realizais a sua ordem” (2,3).
281 Cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 942.
104
b) O capítulo inicial da profecia de Sofonias deixa entrever um clima tenso, onde
YHWH mostra-se insatisfeito com o agir dos homens. Ele diz que visitará e
aniquilará toda a sua criação (cf. 1,2-6.8-13.17-18). Diante disso, humanamente
falando, o homem não pode deixar de sentir pavor. Muito mais aquele que não
pratica a iniqüidade, que é reto em sua conduta diante de YHWH e dos homens.
Seria uma contradição pedir que eles não temessem, visto que até o homem
valente, acostumado com as guerras, temerá e gritará por socorro (cf. 1,14), gritos
e uivos dos habitantes se levantarão (cf. 1,10-11). Por outro lado, apesar de
YHWH destruir as nações para servir de exemplo a seu povo, os ímpios não
temem a YHWH com um temor reverencial.
Todavia, no texto de estudo, o resto do povo, que agora habita em
Jerusalém, é exortado a não-temer (cf. 3,15.16). Este convite, surgindo depois da
ação de YHWH a favor deles, sugere que agora eles não estão mais sob uma
situação de ameaça. Contudo, este não-temor, significando não ter medo, vem
acompanhado de um temor reverencial a YHWH. Indicando, com isso, que houve
uma alteração no seu contexto histórico e comportamental.
c) Nitidamente apresentado no livro é o caráter judicial e punitivo associados ao
yôm YHWH, tanto para Judá–Jerusalém como para as nações circunvizinhas, que
na história do povo foram motivo de opressão (cf. 1,7.14-18). Este yôm manifesta
a ação de YHWH, que parece ter sido esquecido por seu povo (cf. 1,6), por causa:
da idolatria (cf. 1,4-5.8-9); das várias injustiças praticadas pelos diversos níveis de
liderança do povo (cf. 3,3-4) e daqueles soberbos que de alguma forma atingem os
fracos (cf. 3,11); enfim, do descaso daqueles que “dizem em seu coração: Yhwh
não faz o bem nem o mal” (1,12).
A descrição deste yôm revela que YHWH não é um Deus passivo e alheio
ao ser e ao agir de sua criação, de modo especial o seu povo. Ele não admite
injustiças contra o seu nome e contra as classes mais fracas. Ele acabará com a
falsa confiança daqueles que se julgam detentores de algum poder. Por si só
ninguém poderá escapar da ira de YHWH que se acende no fogo de seu zelo, pois
“nem a prata nem o ouro serão capazes de salvá-los” (1,18). O yôm YHWH será
um “dia de angústia e de tribulação” (1,14).
Contudo, YHWH é justo e quer a salvação dos homens. Por isso, antes da
chegada do seu yôm ele procura advertir os homens (cf. 2,3), promete a libertação
105
dos que manifestam um temor reverencial por ele (cf. 3,9-13.18-20) e tenta,
pedagogicamente, fazer seu povo mudar de atitude através da lição aplicada às
outras nações (cf. 3,6). Assim, aqueles que não estavam afastados dele, bem como
os que, entendendo seu chamado, se converteram a tempo, puderam ter seu
destino mudado e começaram a usufruir das bênçãos recebidas. É a estes que
Sofonias diz: “naquele dia se dirá” (3,16a), significando o dia no qual a salvação
estará completa, porque no momento da profecia eles viviam “o já e ainda não” da
restauração final.
d) YHWH não é inerte, ele está agindo permanentemente (cf. 3,19). Ele observa
e julga a cada dia (cf. 3,5). Toda a profecia narra suas ações passadas, presentes e
futuras. Por isso, ele quer que todos estejam em ação, não quer ninguém
desanimado, com as mãos inativas. Dentro desta perspectiva encontra-se, no texto,
o chamado aos redimidos para não deixar que suas mãos desfaleçam, ou seja,
fiquem sem ação.
Contudo, ele quer ações justas, inteiramente opostas àquelas praticadas
pelos que estavam afastados de YHWH. Sofonias relata o proceder das principais
classes de liderança do povo: príncipes, juízes, profetas e sacerdotes (cf. 3,3-4).
Cada um dentro de seu campo de atuação apresenta-se em oposição à atuação
desejada e esperada por YHWH. Todos parecem preocupados com o acúmulo de
riquezas, que infelizmente não poderá salvá-los. Outra má ação que também
denota ser uma prática comum e abominável entre o povo é a idolatria, pois eles,
embora se “prostrem diante de YHWH”, não deixam de procurar também outros
deuses (1,5; cf. 1,8-9).
4.2.3.
3ª seção: v. 17
Os temas do v. 17, dando prosseguimento e justificando as seções
anteriores, apresentam uma postura de YHWH diversa daquela dos capítulos
iniciais do livro. São eles:
a) YHWH no meio do povo (17a, cf. 15c)
b) YHWH, Deus de Israel (v. 17a)
c) YHWH, o herói que salva (v. 17b)
d) a alegria de YHWH (v. 17c-e)
106
O relacionamento de YHWH com o povo mostra perspectivas novas. As
promessas feitas precedentemente, agora estão em pleno curso de realização,
mostrando que algo de bom aconteceu.
a) A presença de YHWH no meio do povo é evidente. Não dá sinais de
abandoná-lo. Vê, ouve, conhece a miséria do povo. Sofonias assevera isto quando
diz que “manhã após manhã ele promulga o seu julgamento, à aurora ele não
falta” (3,5). Enfatizando a diferença entre sua atuação e aquela exercida pelas
lideranças no meio do povo (cf. 3,3-4).
A diferença dentro do livro está na ligação afetiva entre ele e seu povo.
Inicialmente YHWH apresenta-se no meio do povo como juiz e testemunha (cf.
3,5.8). A situação apresenta-se tão caótica que ele mostra-se consumido pelo ardor
da sua ira (cf. 3,8). Sofonias dá a entender que YHWH parece ser abandonado por
seu povo, substituindo-o por seus ídolos, pelos seus interesses econômico-social-
político-religiosos, que não se apresentam em sintonia com a justiça dele.
Em contrapartida, no nosso texto ele deleita-se no meio daqueles que ele
redimiu. Porque estes o buscam e o seguem, se alegram pelas suas obras. Ele está
no meio do povo como seu rei e seu Deus. Como rei ele age com justiça, procura
encaminhar seu povo de modo a tê-lo como modelo, mas é como Deus, no meio
do povo, que ele executa a justiça. Enfim, como rei ele liberta, porém somente
como Deus ele salva e recria.282
b) A afirmação de YHWH como Deus de Israel não aparece no primeiro capítulo
do livro. Neste, YHWH diz que eliminará o resto de Baal (cf. 1,4), como
igualmente aqueles que se prostram nos telhados para os astros e ao mesmo tempo
para ele (cf. 1,5). Esta exposição sugere uma prática que mostra o não-
reconhecimento da unicidade de YHWH.283
A partir do capítulo 2, nos oráculos contra as nações já se presencia o
reconhecimento de YHWH como o Deus do povo eleito (cf. 2,7). O próprio
YHWH se diz “Deus de Israel” (cf. 2,9) e que suprimirá todos os deuses da terra
(cf. 2,11), mostrando que não admitirá mais qualquer outro tipo de idolatria.
282 M. Eszenyei Széles comenta que não é uma questão de YHWH uma vez mais tornar-se rei no meio do povo, mas é a demonstração de seu poder real através de seus atos recriativos (cf. Zephaniah, p. 112). 283 A. Spreafico comenta que é possível imaginar que houvesse um panteon onde estariam YHWH, Baal e as milícias celestes (cf. Sofonia, p. 86).
107
Como os inimigos de Israel, os ídolos também serão todos destruídos, para
que todos os povos possam reconhecer a YHWH como o único Deus. Mais
adiante, Sofonias, condenando a cidade rebelde, manchada e opressora de
Jerusalém, fala claramente que seus habitantes “em YHWH não confiaram, de seu
Deus não se aproximaram” (3,2).
Por fim, o reconhecimento da unicidade e soberania de YHWH é visível,
uma vez que se verifica uma postura completamente diferente (cf. 3,15.16).
YHWH está no meio do povo como seu Deus (cf. 3,17) e como seu rei (cf. 3,15),
significando para eles total segurança e tranqüilidade. Isto é motivo para os
sentimentos contagiantes de alegria (cf. 3,14).
c) YHWH, como um herói que salva, mostra o imenso abismo que se abre
quando a confiança é colocada no ser humano, que: é falho, não é constante, é
passível também de ser acometido pelo medo, é finito, podendo sucumbir a
qualquer momento.
O único momento do livro que fala de um herói é através de uma imagem
negativa, descrevendo seu estado de espírito e sua atuação no yôm YHWH. Este
não poderá salvar-se, este guerreiro valente gritará amargurado (cf. 1,14). Em
oposição, YHWH é nomeado o “Senhor dos Exércitos” (2,9), significando que
não apenas que ele possui poder, mas que pela própria pessoa e por natureza, ele é
toda a potencialidade e poder.284 Ele é o garante da salvação do povo. Ele
defenderá qual pastor o seu rebanho, não permitindo que os lobos ferozes se
aproximem e que eles conheçam de novo a desgraça. “Sim, eles serão
apascentados e repousarão sem que ninguém os inquiete” (3,13).
d) Junto à alegria do povo está a alegria de YHWH. Esta alegria é única em todo
o livro, manifestando uma mudança radical, uma vez que no início YHWH mostra
que não está satisfeito com a atitude dos homens. Ele fala do seu yôm como um
“dia de cólera” (1,18), onde ele executará seus julgamentos. Toda injustiça e
impiedade serão castigadas. Por quase todo o escrito (cf. 1,2-3,8) os oráculos são
de punição.
Todavia, a clemência de YHWH apagou os numerosos erros daqueles que o
buscaram e o seguiram. Antes a alegria de YHWH não tinha por que existir.
284 Cf. MOTYER, J. A., Zephaniah, p. 934.
108
Somente depois da restauração total do povo, ele poderá dar vazão ao seu amor
generoso e extravasar inteiramente todo o seu contentamento com o povo e pelo
povo.
4.2.4.
Síntese
Desde o início do livro, Sofonias deixa entrever que em Jerusalém a
injustiça havia se instalado, transformado a cidade. O profeta chama a atenção
para sua insatisfação tanto em relação aos habitantes da terra (cf. 1,2-3), como, e
especialmente, com a classe dirigente de Jerusalém, que com suas atitudes
oprimiam o povo e serviam de modelo negativo, levando, com isso, os membros
da sociedade a agir erroneamente (cf. 1,4-13).
Por outro lado, com um sentimento diametralmente oposto, em Sf 3,14-17
encontra-se YHWH alegre no meio do povo por ele redimido. Várias asseverações
são feitas a respeito de YHWH:
• ele é “rei de Israel” (v. 15c);
• ele está “no meio” do povo (v. 15c.17a);
• ele é seu “Deus” (v. 17a);
• ele é um herói que salva (v. 17b);
• ele agiu em prol do povo (cf. v. 15ab).
Por tudo isso é dito ao povo para “não temer” (v. 15d.16b).
Como entender duas atitudes de YHWH tão conflitantes: ira e alegria?
Amor generoso e cólera? Que estava sendo dito sobre Jerusalém no início do
escrito e no final dele? Por que houve a reversão da situação? Só é possível
entender esta mudança tão radical a partir da exposição da justiça de YHWH, de
seu amor generoso e da realização do yôm YHWH.
1. A justiça de YHWH
Sf 3,1-8 carrega uma descrição muito densa desta problemática. No v. 3,5
está o âmago da explicação para o entendimento da mudança operada no decorrer
do livro, que de total destruição apresenta a salvação de um resto.
Em 3,5a encontra-se o profeta declarando publicamente que “YHWH é justo
no meio dela”, referindo-se à cidade de Jerusalém. Esta afirmação de que YHWH
109
é “justo” está em total oposição com os habitantes de Jerusalém, um povo rebelde
que não busca o seu Deus, e com aqueles que se acham no direito de habitar
Jerusalém como líderes (cf. 3,3-4).
A cidade de Jerusalém abriga forças antinômicas: YHWH e o povo,
encontrando-se todos “no meio dela”. Da cidade é dito que ela é “rebelde e
impura, a cidade opressora” (3,1), enquanto de YHWH é afirmado que ele é
“ justo” (3,5a).
Sofonias diz que YHWH comparece “manhã após manhã” (3,5c), sentando-
se como juiz num tribunal para dar o seu juízo. Esta forma de falar da presença de
YHWH no meio do povo significa que o julgamento não é ocasional, acontecendo
em dias marcados, mas é permanente e sem interrupção.
“À aurora ele não falta” (3,5d), significando a certeza de que ela romperá,
em qualquer situação, haja tempo bom ou haja tempestade, ela não faltará. Isto
quer dizer que, estando eles em momentos de tranqüilidade ou em épocas ruins,
YHWH sempre os visitará, mostrando sua justiça.285
A aurora também lembra que a justiça é luz e não trevas. Os julgamentos
com suas devidas sentenças não são feitos e declarados na calada da noite, a fim
de surpreender os réus. Pelo contrário, é um juízo público, às claras, para
conhecimento de todos. Em contraposição àqueles que agem na surdina, para que
ninguém tome conhecimento de suas más ações.286
A presença de YHWH como luz no meio do povo também é sinal de que
eles não andarão nas trevas. Mesmo quando a noite chegar, a luz não faltará.
Apesar disso, os ímpios não acolhem esta fonte luminosa, tornando difícil a
reconciliação. Estes dois pólos, acolher e não-acolher, confirmam que a presença
de YHWH no meio do povo é sinal de contradição, punição para uns e premiação
para outros.287
A colocação de YHWH como justo, logo após a descrição da atuação das
lideranças, quer deixar bem evidente os opostos. YHWH como rei suplanta os
príncipes e os filhos do rei, porque ele afasta os perigos que ameaçam o povo;
como juiz promulga a justiça, castigando os que dele se afastam e premiando os
que o buscam e procuram andar em seu caminho; como Deus ele salva e não
285 Cf. ROBERTSON, O. P., Zephaniah, p. 322. 286 Cf. BERLIN, A., Zephaniah, p. 130. 287 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 160.
110
precisa de intermediários: sacerdotes relapsos e maus profetas, que não cumprem
sua missão de buscar a salvação do povo, conduzindo-o por caminhos seguros.
YHWH, procurando educar seu povo, investe contra as nações (cf. 3,6). O
ensinamento divino é uma realidade visível, aos olhos do povo, visto que eles
precisam de situações concretas para se fundamentar. O fato de eles persistirem
em seus atos pecaminosos significa que não acolheram o ensinamento divino.
Porque o “acolher” requer mudança de atitude e ter a YHWH como paradigma.
Esta mudança é colocada em evidência no confronto de 3,5b, onde é dito
que YHWH “não pratica a iniqüidade”, e 3,13, onde YHWH declara que o resto
de Israel “não praticará a iniqüidade”.288 Entretanto, muitos não se transformam,
não mostram seu temor reverencial por ele. A ira subseqüente de YHWH (cf. 3,8)
é resultado deste não-temor (cf. 3,7).
A ira divina significa o afastamento definitivo da presença de YHWH. Sua
ira é suscitada pelo descaso dos ímpios, que é manifestado através de: a) idolatria
(cf. 1,5.9); b) afastar-se dele (cf. 1,6); c) não procurá-lo (cf. 1,6); d) agir sem
consultá-lo (cf. 1,6); e) não confiar nele, considerando que ele não pode fazer
nada (cf. 1,12; 3,2); f) violar a lei e a aliança (cf. 3,4); g) profanação do que é
santo (cf. 3,4); h) traição (cf. 3,4); i) não-temor (cf. 3,7); j) rebelar-se contra ele
(cf. 3,11).
Contudo, YHWH, na sua benevolência, ainda dilata o prazo da execução do
castigo, quando diz “esperai-me” (3,8). Porque talvez os ímpios ainda reflitam e
se convertam. O amor generoso de YHWH por seu povo é muito grande e não se
acaba. “Os favores de YHWH não terminaram, suas compaixões não se esgotaram;
elas se renovam todas as manhãs, grande é a sua fidelidade” (Lm 3,22-23).
Apesar disso, a justiça de YHWH não se resume ao seu povo, mas estende-
se a todos que invoquem o nome de YHWH e estejam dispostos a aceitar o seu
jugo (cf. 3,9). Deixando claro que tanto a perdição como a salvação são
universais.289 Embora em 3,10, com o apelativo de “filha da minha dispersão”, se
restrinja ao povo eleito exilado.
A justiça divina, porém, não aniquila a criação. A ira santa de YHWH pode
ser satisfeita e tão logo ela seja saciada haverá um canal no qual as bênçãos se
escoam.
288 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 172. 289 Cf. SWEENEY, M. A., op. cit., p. 183; PETERSEN, D. L., Zephaniah, p. 205.
111
2. O amor generoso de YHWH
Partindo-se desse ponto das bênçãos que se escoam, percebe-se que o amor
predomina sobre a ira divina. O julgamento não é a última palavra, mas o amor
abre uma brecha para deixar a misericórdia de YHWH se tornar patente, capaz de
trazer a salvação, fazendo com que se descerre uma porta para a esperança tanto
para Israel como para as nações. Sofonias deixa claro que o julgamento não causa
obliteração para a salvação.290
Toda a cólera manifestada no início da profecia, no entanto, dá lugar à
temática da alegria do povo (v. 14) e de YHWH (v. 17c-e). Esta reversão no
destino de alguns membros do povo, o resto, é devida à justiça e ao amor
misericordioso de YHWH.
É unicamente por um amor gratuito e imerecido que Deus liberta Israel de
suas sentenças e de seus inimigos, sem pedir nada em troca, a não ser que o povo
o siga com seu amor, sua humildade e obediência.
YHWH, sendo justo, não poderia deixar perecer aqueles que, apesar de
pecadores, mostram-se tementes e buscam refúgio em seu Nome (cf. 3,12). A ira
de YHWH é motivada pelo desprezo que o povo manifesta por ele.
Na visão de YHWH como o noivo amante, sua ira é oriunda da falta de
apreço de sua amada, que não valoriza seu amor fiel. Porém, não querendo perdê-
la totalmente, oferece-lhe uma chance de reconciliação. Ele está disposto a
esquecer todos os seus erros (cf. 3,11) e recriá-la (cf. 3,9.12-13).
Ira e amor estão conjugados em YHWH.291 Seu amor misericordioso é
capaz de perdoar e esquecer uma multidão de pecados. Este amor é capaz de
afastar a ira, porém não o castigo.
O castigo faz parte da justiça divina, ele é educativo, ele é necessário para
burilar as imperfeições e gerar a transformação. Por isso, YHWH deixa seu povo
ir para o exílio, mas não o esquece lá.292 Ele nunca deixa de estar ao lado do povo.
E a mudança no agir do povo se percebe quando YHWH diz que “do outro lado
dos rios da Etiópia, os meus suplicantes, a filha da minha dispersão, trarão a
minha oferenda” (3,10). Porque no yôm YHWH tudo mudará.
290 Cf. KING, G. A., The Message of Zephaniah, p. 217. 291 M. L. C. Lima comenta que “o amor surge como única instância capaz de evitar o desencadear da ira ou diminuir o seu furor” (cf. Salvação entre juízo, conversão e graça, p. 151-152). 292 Cf. SWEENEY, M. A., Zephaniah, p. 182.
112
3. O yôm YHWH
O yôm YHWH (cf. 1,14-18) é o “dia” do ajuste de contas. É o “dia” em que
a justiça de YHWH prevalecerá e será definitiva. Porque se esgotou o tempo em
que ele usou de toda a sua paciência e longanimidade. Este grande dia trará a
intervenção de YHWH para dentro da realidade humana, em suas atividades,
demonstrando a soberania universal de YHWH, como também sua superioridade
sem igual.
Este yôm é um divisor de águas. A presença de YHWH com sua justiça
redundará em causa de duplo efeito: punição para uns e salvação para outros. Por
isso, é um dia de trevas para aqueles que praticam a iniqüidade e se afastam de
YHWH (cf. 1,15-16). Mas, para os que permanecem fiéis e tementes será um dia
de luz (cf. 3,11.16.19.20).
Sofonias deixa patente a relação existente entre a causa e o efeito, porque é
somente através do julgamento do mal que a salvação pode chegar à sua plena
realização. Estes dois pólos, embora pareçam incongruentes, se completam. Este
yôm não é um tempo de destruição ou de julgamento opressor, mas é um tempo de
salvação e da vitória do bem sobre o mal.293
Este yôm divulga a misericórdia e o amor de YHWH, que não podiam ser
manifestados anteriormente, embora nunca ausentes. No início do livro não cabia
esta colocação. Mas neste yôm ficará claro que nem a destruição, nem o castigo
têm a palavra final, até mesmo no pensamento de YHWH. Desta feita, a profecia
de Sofonias, embora falando que o yôm YHWH será um dia tenebroso, não deixa
de advertir e de fazer uma promessa.
A advertência vem para todos os pobres da terra. É geral e universal. Ela
destina-se àqueles homens que ouvem o chamado de YHWH e realizam seus
decretos, para que eles estejam protegidos no “dia da ira de Yhwh” (2,3).
Contudo, YHWH não pára na advertência, ele prossegue. Ele faz uma promessa
de salvação para aqueles que derem ouvidos ao que ele diz.
E é da salvação destes que Sf 3,14-17 se ocupa. O texto mostra a vitória que
YHWH proporcionou àqueles que foram redimidos. Ele não só revogou as
293 Cf. KING, G. A., The Day of the Lord in Zephaniah, p. 30. Em acréscimo, R. D. Patterson comenta que julgamento e esperança são dois temas que embora pareçam irreconciliáveis, na realidade são dois aspectos de uma perspectiva divina. Ambos estão entrelaçados na realização dos propósitos de YHWH (cf. Zephaniah, p. 370).
113
sentenças que pesavam sobre eles, mas recriou-os. Sofonias mostra a recriação,
quando escreve o que YHWH diz: “darei aos povos lábio puro” (3,9), deixando
bem claro que a salvação é para todos, ou seja, Israel e os outros povos.294 Não há
paralelo na BHS para esta volta. Este uso é único.295 Esta mudança inclui a
conversão, a renovação e purificação de todos os redimidos.
YHWH proporciona para o resto sobrevivente de seu povo e dos outros
povos uma segurança duradoura e a descrição destes remanescentes como
libertados, restaurados, recriados e abençoados só serve para demonstrar que o
yôm YHWH é um dia de salvação.
O resto do povo, que agora habita em Jerusalém e com o qual YHWH se
alegra devido à sorte deles, é constituído pelos pobres e humildes, que, estando
em oposição aos orgulhosos (cf. 3,11), reconhecem YHWH como seu rei e seu
Deus. Este novo comportamento do povo não é uma ação própria de si, mas da
intervenção de YHWH.296 Ele recria um resto que representa a descendência do
povo eleito. Este é o verdadeiro Israel, remanescente do antigo povo da aliança do
Sinai, porém englobando a todos os que confiaram na salvação de YHWH.297
A alegria de YHWH está no povo, que enfim tem as características
desejadas por ele (cf. 3,12-13):
• humilde, pois reconhecem sua miséria;
• dependentes, porque buscam tudo o que precisam em YHWH;
• buscam refúgio no nome de YHWH, porque acreditam em tudo o que engloba
este Nome;
• remanescente redimido, o único Israel, porque em sua vida não há iniqüidade,
não se desviam da lei;
• não são mentirosos, porque têm os lábios purificados.
294 A. Spreafico chama a atenção para a relação entre Israel e os povos, desde o início da profecia entre 1,2-3 e 1,4-6, entre 2,4-15 e 3,1-5. A solidariedade entre o povo eleito e as nações é tanto para a perdição como para a salvação (cf. Sofonia, p. 172-173). 295 J. A. Motyer explica que aqui Sofonias introduz uma afirmação que descreve um cancelamento da confusão de Babel, (cf. Gn 11, 1-9) quando se deu a multiplicidade de línguas, no desejo dos homens de organizarem suas vidas, por si próprios, sem Deus; agora eles terão hr"Wrb. hp'f', “lábio puro” (Sf 3,9), significando uma única língua, uma única forma de viver, isto é, colocar-se-ão sob o jugo de YHWH (cf. Zephaniah, p. 951-952). Assim também, SMITH, R. L., Zephaniah, p. 142; MACKAY, J.L., Zephaniah, p. 287. 296 P. H. Kelley comenta que a qualidade mais valorizada por Sofonias é a humildade, por isso o objetivo do profeta era levar o povo ao arrependimento, à obediência e a ser humilde de coração para que pudesse receber as bênçãos de YHWH (cf. Zephaniah, p. 91). 297 Cf. SPREAFICO, A., Sofonia, p. 179-180.
114
O resto redimido e recriado se alegra e YHWH, ao ver a alegria e
restabelecimento de sua criatura, não tem outra alternativa a não ser explodir em
seu imenso amor por sua criação.
4.3.
O significado de Sf 3,14-17 para o livro de Sofonia s
4.3.1.
Do ponto de vista terminológico
A análise da terminologia do texto mostrou a sua particularidade em relação
ao restante do vocabulário empregado.
Entre as três seções em que o texto foi subdividido e analisado, observa-se a
repetição de alguns termos, apontando a sua unidade. Enquanto entre elas e o
restante do livro, um uso acentuado de termos e expressões hápax deixa entrever a
singularidade da mensagem neste ponto do escrito.
No restante do vocabulário empregado, a recorrência a termos já utilizados
no texto precedente (cf. Sf 1,1–3,13), como também no escrito que lhe segue (cf.
Sf 3,18-20), é muito reduzida. Com raras exceções como: hwhy e ~Ay. Por outro
lado, nota-se o uso de sinônimos e antônimos descrevendo uma situação oposta
àquela apresentada no texto em estudo.
Alguns termos e expressões ajudam a fazer o elo e apontam para a evolução
do escrito, tais como:
− na continuidade de conotação tipo positivo-positivo: as expressões %Ber>qiB.,
%yIh;l{a/ hw"hy> e aWhh; ~AYB;, os verbos [vy e rws, os termos tB; e jP'v.mi.
− na continuidade de conotação negativo-positivo, ou seja, a mesma
terminologia primeiramente usada em contento e sentido negativos e depois
em positivo: a expressão aWhh; ~AYB;, %Ber>qiB. e ~yhil{a/ hw"hy>, o verbo ary, os
termos rABGI, %l,m,, jP'v.mi, ble e a partícula l[;.
Além disso, a multiplicidade de pontos de contato no corpo do livro
analisados298 indica que, longe de ser uma caracterização secundária, este texto
está em completa sintonia com o restante do livro.
298 Também sendo possível a visualização a partir da Tabela 7, p. 138.
115
4.3.2.
Do ponto de vista temático
A análise das temáticas apresentadas em cada seção mostra uma reversão
total do quadro inicial descrito por Sofonias. Os temas abordados apresentam uma
sucessão de estados psíquicos, políticos, sociais, religiosos, que partem de uma
situação negativa para uma condição positiva. São eles:
− da tristeza inicial devida à opressão e injustiças sociais – à esperança pela
promessa de restauração – à alegria da salvação;
− de uma citação do nome de Jerusalém para proclamar-lhe o castigo – a uma
lembrança afetiva como “filha da minha dispersão” do tempo do castigo – à
exortação carinhosa de “filha de Sião” e “filha de Jerusalém” no tempo da
libertação;
− de uma condenação certa – a uma advertência para a conversão – a uma
promessa de remissão – à anistia do castigo;
− de uma opressão interna e externa – à visão do aniquilamento dos inimigos
externos e promessa de afastamento dos orgulhosos de seu meio – a um estado
de libertação de qualquer tipo de ameaça;
− de lideranças humanas opressivas, corruptas e ímpias – à implantação da
justiça com o afastamento destes líderes – ao reinado absoluto de YHWH;
− do medo do inimigo e da ira de YHWH, junto ao não-temor reverencial a ele –
às advertências e ações pedagógicas de YHWH – ao não-temor de ameaças e
ao temor reverencial a YHWH por causa de seus feitos;
− do yôm YHWH de aniquilamento total da terra – à advertência de mudança de
vida – à promessa de restauração dos tementes e observadores de seus
preceitos – ao yôm YHWH que trouxe punição para os ímpios e salvação para
os que se converteram a tempo;
− das más ações dos poderosos e inação dos oprimidos – à chamada a não deixar
desfalecer as mãos, significando ação para construir um mundo nos moldes de
YHWH;
− da presença dos ímpios no meio do povo que ignoravam a presença de YHWH
e diziam que ele nada podia fazer – à ação de YHWH como juiz e testemunha
no meio do povo – à presença permanente de YHWH como rei, herói e seu
Deus;
116
− da idolatria, com YHWH sendo substituído no coração do povo pelos deuses
das nações – ao reconhecimento pelas nações de que YHWH é o Deus de
Israel – à recognição pelo povo de que YHWH é seu único Deus e está em seu
meio;
− da colocação da confiança em um herói humano que no momento do
yôm YHWH não poderá salvar-se e se amedrontará – à confiança em YHWH,
o único herói capaz de salvar;
− da ordem de YHWH para que os pecadores se calem diante dele no dia de sua
ira – ao silêncio de YHWH diante do povo redimido, objeto de seu amor.
− da ira de YHWH devida ao caos implantado na humanidade e particularmente
em Jerusalém – a um tempo de espera pela mudança de comportamento dos
homens – à alegria pela restauração e recriação de uma nova sociedade dentro
dos parâmetros divinos.
Esta exposição deixa claro que Sf 3,14-17 apresenta o ponto de chegada de
um processo necessário de purificação, pois não é desejo de YHWH acabar com a
obra de sua criação, porém ele a quer como foi idealizada.
4.3.3.
Do ponto de vista teológico
A ordem das idéias que aparecem no livro de Sofonias é conduzida neste
texto a uma conclusão. As retomadas dos lexemas e dos temas, como os hápax
correm paralelamente ao desenrolar da trama do livro, fazendo desembocar neste
acorde final.
O texto de Sf 3,14-17 não pode, nem deve literariamente ser amputado.
Caso isto viesse a acontecer haveria a mutilação tanto da composição artística
como da mensagem teológica que carrega, que está fundamentada na justiça
divina.
A intervenção de YHWH, naquela situação caótica e injusta apresentada no
início da obra, altera a direção da história, que do aniquilamento de toda a terra
chega à salvação daqueles que reconhecem a soberania de YHWH e aceitam o seu
jugo. O profeta deixa claro que esta mudança de conjuntura não está restrita a
Jerusalém. Mas em oposição à destruição de toda a terra, a salvação é proposta
para todos os povos, ela é universal.
117
Para Sofonias, Israel não é um povo a parte na sua concepção de história,
mas está inserido no meio de todas as nações. De modo que, o juízo vindo para
todos os povos, recai também sobre o povo eleito. Assim como a salvação que é
proporcionada a Israel estende-se a todos aqueles que se tornarem adoradores de
YHWH. Ficando claro que tanto a punição como a salvação é para todos.
Partindo então do anúncio de uma intervenção divina contra tudo e contra
todos (cf. 1,2-3), incluindo Jerusalém (cf. 1,4-6), YHWH coloca-se contra aqueles
que detêm o poder, praticam injustiças e mantêm práticas sincretistas e idolátricas.
Estes são os príncipes, juízes, sacerdotes, profetas, comerciantes, ourives e todos
os que podem oprimir de alguma forma os fracos (cf. 1,8-13.18; 3,3-4).
No meio desta cidade rebelde, impura e opressora (cf. 3,1), YHWH, o justo,
apresenta-se todos os dias para julgar o procedimento do povo (cf. 3,5), ele não é
um Deus ausente. Insatisfeito, fala do dia de sua ira, o yôm YHWH (cf. 1,7.14-18;
2,2.3), quando afastará toda a iniqüidade.
O yôm YHWH é certo, ele se manifestará no cosmo e na história.
Entretanto, a sua ira não é inevitável. Ele deixa uma possibilidade de conversão a
todos (cf. 2,1-3), ele mostra a sua longanimidade (cf. 3,8). Ele não retira o castigo,
mas também não deixa de olhar pelos que o buscam de coração sincero. Ele nunca
deixa de estar ao lado do povo que o segue.
Dentro desta visão, Sf 3,14-17 é sem dúvida alguma uma mensagem de
salvação que surge a partir de um juízo instaurado e da justiça misericordiosa de
YHWH.
Neste texto vem sublinhada a mudança radical de todas as situações que
envolviam o povo. YHWH cria uma nova realidade, recriando um novo povo
forjado pelo seu ensinamento pedagógico e por sua ação interventora.
Esta nova sociedade é constituída pelos pobres e humildes (cf. 3,12), que
reconhecem a sua miséria e se sabem dependentes de YHWH. Esta coletividade
está em contraste com aquela formada pelos ricos e orgulhosos, os quais se diziam
detentores do poder (cf. 1,8-13; 3,3-4), que YHWH nada podia fazer (cf. 1,12),
praticando assim todo tipo de injustiça, e que foram, por isso, destruídos (cf.
3,11.15.19). Os remidos em contrapartida praticarão a justiça.
Eles terão YHWH em seu meio como rei garantindo a tranqüilidade e a
segurança, como herói salvando de qualquer situação, porque ele é o Deus de
Israel. Ele, habitando em Sião, lugar que escolheu para sua morada, torna
118
Jerusalém, lugar onde agora habita o povo redimido, o novo Israel, um ponto de
referência para todos os povos o adorarem, cada um de seu lugar (cf. 2,11).
A alegria de Israel, colocada neste ponto, não se deve ao retorno dos
dispersos, mas pela presença de YHWH no meio do povo, como rei e guerreiro. A
alegria de Sião–Jerusalém junto à alegria do próprio YHWH é sinal de uma
realidade totalmente transformada. YHWH como rei poderá mudar radicalmente a
situação do povo.
Com a expressão “naquele dia, será dito a Jerusalém” (3,16), Sofonias
mostra que o resto pode se alegrar porque a restauração já começou, mas ela ainda
não está completa. Com isso ele faz a ligação com o restante da profecia, que diz
que todos os povos da terra reconhecerão seu novo Israel, porque YHWH lhes
dará nome e louvor (cf. 3,19-20).
No grande e definitivo yôm, YHWH manifestará uma alegria comparável a
de um noivo no dia do casamento, com sua noiva amada, trazida pelos amigos do
noivo. Ela apresentando-se purificada por ele. Sua alegria então será sem medida,
unindo-se à alegria de sua amada.
YHWH estará presente como o único e verdadeiro esposo que Jerusalém
deve ter. Este noivo está de volta depois de um período de separação, é o herói
voltando vitorioso do combate e que agora pode esposá-la.
Esta imagem de YHWH como noivo e Jerusalém como a noiva aparece nos
outros profetas, mas, sem dúvida alguma, ela jamais foi expressa assim tão
fortemente em outra passagem.
Não é Jerusalém que volta para YHWH, o texto em momento algum faz
qualquer alusão a uma conversão do povo. Mas é YHWH que retorna para
Jerusalém, que volta a habitar no meio do povo, depois de tê-lo libertado e
recriado. Por isso, o povo deve ter confiança, não deve temer e deve prorromper
em gritos e cânticos de alegria.
YHWH, o Deus de Israel, o grande rei, o guerreiro que salva, habitando em
Jerusalém, no meio do novo Israel, tomba perdidamente de amor pela “filha de
Sião”. Ao vê-la recriada e tão formosa, não conseguindo conter-se no seu silêncio,
explode de alegria e se junta a ela neste momento de imenso júbilo.
5
Conclusão
5.1.
Síntese da pesquisa
5.1.1.
O texto e a crítica redacional
A partir da tradução com as justificações necessárias das opções feitas,
apresentadas nas notas filológicas e na crítica textual, adentrou-se no problema da
delimitação do texto. Observou-se, então, que há controvérsias entre os críticos
quanto ao texto de Sf 3,14-17 ser uma unidade independente ou não e quanto à
sua extensão. Quanto à sua dependência a uma unidade maior, várias possibilidades
foram encontradas para o início (v. 6; v. 8; v. 9; v. 11; v. 14), enquanto que para o
final apenas duas (v. 17; v. 20). Apesar destas diferenças, Sf 3,14-17 é considerado
pela maioria dos estudiosos como um conjunto textual bem delimitado. Quanto à
sua extensão não há dúvidas a respeito do seu início no v. 14, porém para o final,
alguns o fixam no v. 17, enquanto outros o estendem até o v. 18aa.
Nosso estudo considera Sf 3,14-17 como uma subunidade de Sf 3,6-20,
mantendo o término no último verso do v. 17. No confronto com a perícope
anterior, Sf 3,11-13, e com a que lhe é posterior, Sf 3,18-20, verificou-se uma
delimitação tanto pelo conteúdo como pela sua posição. Além de se constatar uma
mudança na pessoa do discurso e na forma verbal. A saber:
− quanto ao conteúdo e à posição que ocupa, constatou-se que Sf 3,14-17 é uma
mensagem de salvação, cujo tema é a alegria, e que está limitada pelos dois
lados por oráculos de promessa. Nos v. 11-13 há uma promessa de restauração,
nos v. 14-17 esta promessa já está realizada, porém não totalmente, o que faz
com que haja uma promessa para um futuro definitivo nos v. 18-20;
− quanto à pessoa do discurso e à forma verbal verifica-se que nos v. 11-13 e v.
18-20 é o próprio YHWH quem fala e quem promete, por isso as formas verbais
têm sentido de futuro, enquanto que no texto em estudo é o profeta quem se
dirige ao povo para mostrar a intervenção de YHWH passada, presente e futura.
120
Na leitura do texto é perceptível a continuidade temática que o atravessa,
não apresentando tensões, nem cisões. Os versículos seguem uma única linha de
pensamento, embora apresentem momentos diferentes. Logo, em Sf 3,14-17 há
uma unidade textual abordando um conteúdo teológico específico.
Quanto à época do livro, a posição dos críticos é muito divergente em
relação à datação de cada oráculo. Principalmente sobre Sf 3,14-17, onde há
dúvidas sobre sua autenticidade. A mensagem do livro, transmitida por escrito,
revela que Sofonias atuou durante os primeiros anos do reinado do rei Josias,
anterior à reforma josiânica implantada em 622 a.C. A pesquisa, porém,
demonstrou que embora Sofonias necessariamente não seja o autor do livro, não é
possível negar que sua pregação esteja na base de todo o escrito. A redação do
livro passou por várias fases: 1) proclamação dos oráculos com escritos isolados
(pré-exílico); 2) uma releitura desses oráculos (exílio e pós-exílio); 3) a redação
final (pós-exílica).
A mensagem de Sf 3,14-17 é considerada por muitos como uma adição
posterior à profecia, principalmente os v. 16-17. Nossa colocação parte do
princípio de que Sofonias enviou esta palavra de salvação e alegria, porque via,
dentro das perspectivas que se abriam com a proximidade da reforma josiânica e a
favorável gestão política do rei Josias, um futuro promissor. Após a morte do rei,
fatos sucessivos e negativos acabaram levando o povo ao exílio (587 a.C.) e mais
tarde presencia-se o seu retorno (538 a.C.). Nesta época provavelmente houve
uma releitura da antiga profecia, atualizando-a para o momento que os redimidos
viviam, sendo adaptada ao novo contexto do pós-exílio imediato.
Nesta palavra de salvação declarada pelo profeta e dirigida ao ouvinte-leitor,
é possível distinguir-se três seções, devido à terminologia e a temática utilizadas,
bem como pelo uso de um refrão para introduzir a 2ª e 3ª seções. O texto inicia-se
com uma exortação a Jerusalém, seguida da justa motivação proporcionada pela
ação de YHWH (1ª seção); depois, em forma de discurso, o profeta fala das ações
que Jerusalém deve pôr em prática devido à esperança do futuro que YHWH vem
proporcionando (2ª seção); por último, um outro discurso aborda alguns atributos
e ações de YHWH que ratificam a esperança de Jerusalém (3ª seção). Na
alternância entre Jerusalém e YHWH através das três seções fica bem visível a
posição de Jerusalém, que de chamada à alegria pelas bênçãos recebidas de YHWH
(1ª seção), passa ela própria a ser o motivo da alegria de YHWH (3ª seção). Além
121
disso, a visão de conjunto exposta nas três seções aponta para uma estruturação
quiástica bem articulada.
Quanto ao gênero literário, percebe-se que a unidade de Sf 3,14-17 traz uma
peculiaridade. A princípio, percebe-se uma estrutura própria dos hinos, pois há a
combinação de exortações à alegria através de imperativos (v. 14) com a
subseqüente exposição das razões para tal estado (v. 15ab). Por outro lado,
encontram-se elementos de oráculos de salvação, pois é colocada uma ênfase
muito grande na presença de YHWH no meio do povo, sendo isto motivo de
restauração e bênção (v. 15c.17ab). Há ainda o componente de encorajamento ao
não-temor, caracteristicamente de oráculos sacerdotais de bênção, que com
freqüência aparece nas profecias (v. 15d.16bc). Os profetas ao perceberem a
iminência de redenção, proclamavam exortações (litúrgicas) ao povo e a forma
como estas eram proferidas tornou-se um gênero profético. Com isso, há dois
gêneros literários neste texto, com a predominância do oráculo de salvação,
composto de uma parte hínica e de uma parte discursiva desdobrada em duas
alocuções, uma direcionada ao povo e outra a YHWH.
5.1.2.
O texto em si
O comentário aos versículos revelou um contexto de extrema manifestação
de alegria. O profeta inicia convocando o povo, que é formado pelo resto
redimido, pelos nomes de “filha de Sião”, “Israel”, “filha de Jerusalém”. A
comunidade é sacudida, é convidada a sair de sua letargia. O mensageiro da
alegria brada para o povo começar a festejar com gritos, cantos, danças, palmas,
batidas com os pés e ao som de instrumentos (v. 14).
Este momento de imensa alegria deve ser vivido de todo o coração, ou seja,
cada membro da comunidade deve juntar-se ao clamor, como se fosse uma única
voz. Todo o seu ser deve estar envolvido, não deve significar apenas uma
expressão externa, mas um extravasamento do que ele está vivendo no seu íntimo.
O profeta, para convencê-los, passa a narrar as razões que justificam esta
demonstração de júbilo. YHWH interveio em favor deles, revogando as sentenças
de castigo que pesavam sobre eles devido a seus numerosos pecados (v. 15a) e
afastando os orgulhosos que estavam em seu meio, oprimindo-os com suas
122
práticas injustas e corruptas, como também expulsando as nações que os
subjugavam e os ameaçavam (v. 15b).
Esta intervenção de YHWH foi um ato libertador. Por isso, logo a seguir é
dito que ele, como rei de Israel está no meio do povo (v. 15c). Novamente ele
reina depois de tempos ruins, não significando que algum dia tenha se afastado do
povo ou deixado de reinar. Na realidade, o povo é que dele tinha se afastado e
colocado na sua vida homens e deuses para reinar. Agora, YHWH tomou
novamente o cetro, ele volta a ser o rei absoluto no coração do povo e da cidade.
A realeza de YHWH é sinal de tranqüilidade e de afastamento de ameaças,
porque ao rei compete a função de manter a segurança da cidade e o bem-estar do
povo. Por isso lhes é dito para não temer mais o mal (v. 15d). Isto não significa
que não haveria mais tempos difíceis, mas que a presença de YHWH no seu meio
e no seu coração era o garante de vitória constante.
A primeira exortação ao não-temor é plausível que seja endereçada ao
orante queixoso, para atestar-lhe que sua prece tinha sido atendida. Ao mesmo
tempo em que tem o encargo de trazer-lhe um oráculo de salvação. Por isso vem
junto da fórmula de introdução “naquele dia” dirigida a Jerusalém (v. 16a).
A segunda exortação (v. 16b) está ligada a um outro estímulo, que é o de
não deixar as mãos desfalecerem (v. 16c). O que tudo indica é que eles, além de
letárgicos, pareciam ter os olhos vendados e não conseguiam ver a realidade que
estavam vivendo: um momento de libertação, uma ocasião sem igual. Os remidos
pareciam estar mais voltados para as realidades visíveis, de um retorno para uma
terra destruída, do que para a bênção de ter YHWH em seu meio. Diante disso, a
palavra profética visa chamar a atenção deles, para sua passividade e falta de
ânimo, incapazes de agir. Pelo contrário, devem colocar mãos à obra, devem
reconstruir. Porque YHWH não descansa, está sempre agindo.
A atividade de YHWH, contrastante com a resignação paralisante dos
redimidos, não está resumida a ele ser o rei de Israel, mas é dito também que ele é
seu Deus (v. 17a) e os salva como um herói (v. 17b). Porque como rei ele pode
libertá-los dos inimigos, mas somente como Deus é que pode salvá-los e cancelar
as sentenças devidas aos seus pecados.
O profeta, este grande mensageiro da alegria, declara ao povo que YHWH
está vibrando de alegria pela vitória deles, por eles terem, enfim, saído do
yôm YHWH triunfantes. Neste ponto de sua mensagem, o profeta compara
123
YHWH a um noivo no dia de seu casamento. Ele está repleto de amor e
felicidade, por isso ele manifesta sua alegria (v. 17c), depois ele fica em silêncio
contemplando sua noiva, objeto de seu grande amor (v. 17d), para de repente
explodir num extravasamento total de alegria (v. 17e).
Todavia, apesar de seu povo já estar vivendo sob suas bênçãos, ainda não é
o momento definitivo. Jerusalém, porém, já está colocada no lugar que deve
ocupar, como centro de toda a humanidade, o lugar que YHWH escolheu para
habitar e ser adorado no meio de sua criação.
5.1.3.
O texto em seu contexto
A pertinência de Sf 3,14-17 ao restante do livro foi analisada sob três pontos
de vista:
− terminológico: percebe-se pelos vocábulos sinônimos e antônimos que há
ligação entre o texto e o restante do livro. Todavia, a quantidade de termos e
expressões hápax e a pequena recorrência ao vocabulário comum do livro
sugerem duas possibilidades: 1) a novidade da mensagem contrastante com o
restante do livro requer termos e expressões distintos para descrevê-la; 2) sendo
uma releitura da profecia de Sofonias, evidencia o trabalho redacional posterior.
O autor que atualizou a mensagem de Sofonias visava a comunidade dos
redimidos, que, no pós-exílio imediato, habitava numa Jerusalém destruída,
saqueada e invadida. Era o momento da reconstrução e o povo mostrava-se
desanimado. Parecia que eles não tinham se conscientizado da realidade de
libertos pela intervenção de YHWH.
Este grande incentivador relê a mensagem sofoniana, que havia sido dirigida
aos contemporâneos da época do rei Josias, numa expectativa de futuro imediato,
mas não realizado. Esta releitura, adaptada ao contexto que estão vivendo, visa
mostrar ao povo, através de uma grande exortação à alegria, ao não-temor e ao
ânimo, que a realização das promessas estava em franco cumprimento.
− temático: a exposição dos temas de Sf 3,14-17 denota os momentos finais de
um processo, que veio sendo relatado através dos três capítulos do livro. Havia
graves erros na humanidade. YHWH, o justo, havia instaurado um julgamento.
Ele mesmo, como juiz e testemunha, comparecia todas as manhãs para julgar as
124
atitudes dos homens: de seu povo e das nações. O yôm YHWH seria o momento
da execução das sentenças. Porém, YHWH, querendo a salvação de suas criaturas,
ainda os advertia e prometia salvação, caso mudassem o agir.
Este oráculo de salvação dirigido ao povo serve para chamá-los a viver a
alegria do momento, que era o da realização das promessas. O castigo havia sido
revogado e os inimigos afastados. Ficando evidente que Sf 3,14-17 está em
perfeita sintonia com a evolução temática do livro, mostrando-se uma parte
integrante de todo o processo. Todavia, deixa claro que a restauração, embora já
uma realidade, ainda não chegou ao seu estágio definitivo. Por isso, os versículos
finais do livro (v. 18-20) voltam a apresentar novas promessas.
− teológico: a mensagem passada pelo texto é a da vitória de YHWH, o justo,
sobre toda a injustiça causada pelos homens com seu afastamento dele, colocando
sua confiança no poder dos homens e dos falsos deuses. Com isso, a impiedade, a
injustiça e a corrupção grassaram no meio deles. Havia necessidade de punição,
porém, YHWH, amando sua criação e sendo fiel às promessas feitas, não podia
deixar perecer o justo com o injusto. Por isso, apontou um caminho de salvação
para quem se convertesse. Mas, não podia deixar os erros impunes, por isso
permitiu que fossem para o exílio, porém não os abandonou lá, trazendo-os de
volta para Jerusalém.
Sf 3,14-17 vem mostrar a vitória da justiça de YHWH, que recria um novo
povo, o Israel do futuro, formado por todos que o buscam de coração sincero e o
têm como seu rei e seu Deus. Todavia, o autor deixa evidente que como o juízo é
universal, isto é, para todas as nações incluindo Israel, a salvação também é para
todos, não apenas para o povo eleito.
5.2.
Considerações finais
A partir de tudo o que foi pesquisado e apresentado neste estudo, conclui-se
que Sf 3,14-17 é, sem dúvida alguma, uma mensagem de salvação que surge a
partir de um juízo instaurado, da justiça misericordiosa e do amor generoso de
YHWH.
Isto revela que era o objetivo do autor final concluir o livro com ela,
mostrando a vitória da justiça e assegurando a presença permanente de YHWH no
125
meio do povo, com o reconhecimento geral da unicidade de sua realeza e
divindade.
Este texto não pode, nem deve, literariamente, ser amputado. Caso isto
acontecesse, haveria a mutilação tanto da composição artística como da
mensagem teológica que carrega, que está fundamentada na justiça divina.
O profeta, apresentando a alegria com imagens que sugerem o presente e o
futuro, dando a entender “um já e ainda não definitivo”, deixa entrever a
necessidade de um aprofundamento ulterior de seus elementos; a fim de verificar
se esta alegria e salvação teriam para seus contemporâneos um caráter iminente e
limitado ou se teriam no pensamento do autor um caráter escatológico.
O livro de Sofonias aparece apenas nove vezes citado no NT299. Contudo, a
passagem da anunciação está diretamente relacionada a Sf 3,14-17. A exortação à
alegria proclamada pelo profeta aos redimidos porque eles têm YHWH em seu
meio, como seu Deus e seu rei, é também dirigida a Maria pelo anjo Gabriel. A ela
é dito: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,18). E logo a seguir,
acrescenta: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus” (Lc 1,30). Neste
momento as promessas começam a ter sua realização definitiva. Com Jesus
cumpriu-se o tempo, é o Deus visivelmente no meio do povo, é a máxima
manifestação da misericórdia de YHWH e de seu amor generoso.
Em sua essência Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8). O amor de Deus pelo mundo é
sem limites (cf. Jo 3,16). Por isso entregou seu Filho ao mundo e Jesus com sua
morte na cruz e ressurreição destruiu o pecado, afastou o que pesava contra nós e
nos garantiu para sempre a salvação. Embora as tribulações ainda continuem, o
cristão tem a certeza de sua presença como rei e Senhor. Jesus mesmo garantiu
sua presença no meio daqueles que se reunirem em seu nome (cf. Mt 18, 20).
Vivendo neste tempo de espera, já usufruímos das bênçãos futuras, quando,
então, teremos a garantia da eterna segurança da Jerusalém celeste com a presença
de Cristo no meio dela (cf. Ap 21,2-4; 22,3); quando então haverá um grande e
único clamor de alegria no dia do encontro definitivo do noivo com sua noiva
purificada (cf. Ef 5, 25-27; Ap 19,7-9).
299 As citações são: Mt 13,41 (Sf 1,3); Lc 1,28 (Sf 3,14-15); 4,18 (Sf 2,3); Rm 1,18 (Sf 1,15); 2,5 (Sf 1,14-18); Tg 2,5 (Sf 2,3); Ap 8,1 (Sf 1,7); 14,1 (Sf 3,12-13); 14,5 (Sf 3,13).
6
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133
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7
Apêndices
7.1.
Tabela 1 – 1ª seção: v. 14-15b
Vocabulário: pontos de contato no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,14-15b RESTANTE DO L IVRO
tB; 14a.d 3,10 !AYci 14a.16b
laer"f.yI 14b.15c 2,9; 3,13 zl[ 14d 2,15; 3,11: zyLi[;
lKo 14d 1,2.4.8.9.112.182; 2,3.112.14.15; 3,72.82.9.11.14.192.20
ble 14d 1,12; 2,15: bb'le ~Øil;v'Wry> 14d.16a 1,4.12
rws 15a (hifil ) 3,11 (hifil )
hwhy 15a.15c.17a 1,1.2.3.5.62.73.8.10.12.142.17.18 2,22.32.5.7.9.10.11 3,2.5.8.9.12.20
jP'v.mi 15a 2,3; 3,5.8
7.2.
Tabela 2 – 1ª seção: v. 14-15b
Vocabulário: hápax legómena no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,14-15b
!nr 14a [wr 14b xmf 14c zl[ 14d hnp 15b bya 15b
135
7.3.
Tabela 3 – 2ª seção: v. 15c-16
Vocabulário: pontos de contato no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,15c-16 RESTANTE DO L IVRO
%l,m, 15c 1,1.8 1,5: ~Kol.mi
br<q, 15c.17a 3, 3.5.11.12 ary 15d.16b (qal) 2,11 (nifal); 3,7 (qal) dA[ 15d 2,15; 3,11
~Ay 16a 1,1.7.8.9.10.142.156.16.18; 2,22.3; 3,8.11
rma 16a (nifal) 1,12; 2,15 (qal) 3,7.20 (qal)
dy" 16c (dual) 1,4; 2,13.15 (singular)
7.4.
Tabela 4 – 2ª seção: v. 15c-16
Vocabulário: hápax legómena no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,15c-16
[r: 15d hpr 16c %yId"y" 16c
136
7.5.
Tabela 5 – 3ª seção: v. 17
Vocabulário: pontos de contato no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,17 RESTANTE DO L IVRO
~yhil{a/ 17a 2,7.9; 3,2: para Deus 2,11: para os ídolos
rABGI 17b 1,14 [vy 17b (hifil ) 3,19 (hifil )
l[; 17c.e (a favor) 1,42.83.92.122.16; 2,22.5.8.10.11.13; (contra) 3,8.18
7.6.
Tabela 6 – 3ª seção: v. 17
Vocabulário: hápax legómena no contexto do livro de Sofonias
TERMO Sf 3,17
fyf / fwf 17c
hx'm.fi 17c vrx 17d
tb'h]a; 17d lyg 17e hN"rI 17e
137
7.7.
Tabela 7 – Sf 3,14-17
Termos e expressões no contexto do livro de Sofonia s
TERMOS E
EXPRESSÕES
EM CONTINUIDADE EM CONTRASTE
14a 14b 14c 14d
!nr [wr Xmf zl[
3,11: [vp 1,10: hq'['c. lAq 1,10: hl'l'ywI antônimos 1,10: lAdG" rb,v,w 1,11: lly 1,18: lhb
14a 14d
!AYci-tB; ~Øil'v'Wry> tB;
3,10: yc;WP-tB;
14d ble-lk'B. 1,12: ~b'b'l.Bi 2,15: Hb'b'l.Bi
15a jP'v.mi 2,3: Wl['P' AjP'v.mi 3,5: !TeyI AjP'v.mi
3,5: !TeyI AjP'v.mi 3,8: yjiP'v.mi
15b %yIj;P'v.mi rysihe 3,11: %tew"a]G: yzEyLi[; rysia'
15b %bey>ao hN"Pi 3,11: %tew"a]G: rysia' expr. 3,19: %yIN:[;m.-lK'-ta, sinôn.
15c laer"f.yI %l,m, 1,1: hd"Why> %l,m, 1,8: %l,M,h; ynEB;
15c 17a
%Ber>qiB. 3,5: HB'r>qiB. 3,11: %Ber>Qimi 3,12: %Ber>qiB.
3,3: HB'r>qiB.
15d 16b
yair>yti-al{ yair>yti-la;
3,7: yair>yti-%a;
16c aWhh; ~AYB; 3,11: aWhh; ~AYB; 3,19.20: ayhih; t[eB' 3,20: t[eB'
1,9.10: aWhh; ~AYB; 1,7.142.156.16; 2, 22: ~Ay 1,8.18; 2,3: ~AyB. 3,8: ~Ayl. 1,12: t[eB'
17a ~yhil{a/ hw"hy> 2,7.9; 2,11; 3,2
17b [:yviwOy rABGI 1,14: rABGI ~v' x;rEco
17b [vy
1,18: lcn sinôn. 1,2.3: @ws 1,3.4.11; 3,6.7: trk antôn. 2,5.13: dba
17d vrx 1,7: sx; sinônimo
17c 17d 17e
hx'm.fiB. %yIl;[' fyfiy" Atb'h]a;B. vyrIx]y: hN"rIB. %yIl;[' lygIy"
2,2; 3,8: @a; + !Arx' antôn.
138
7.8.
Tabela 8 – Sf 3,14-17
Temas por seção no contexto do livro de Sofonias
TEMAS CONTINUIDADE/CONTRASTE
14 a alegria do povo contr. – situação de medo e angústia contin. – esperança de restauração
14 os nomes como é exortado contr. – Jerusalém contin. – filha da dispersão
15a a anistia das sentenças contr. – promulgação do castigo contin. – advertência e promessa
15b a libertação da opressão contr. – opressão dos poderosos contin. – aniquilamento dos opressores
15c o reinado de YHWH contr. – lideranças humanas contin. – afastamento dos líderes
15d.16b o porquê do não-temor contr. – medo dos opressores e de YHWH contin. – eliminação pedagógica dos povos
16a o yôm YHWH salvífico contr. – aniquilamento de tudo contin. – promessa aos tementes
16c o chamado a ação
contr. – más ações dos poderosos contin. – o agir permanente de YHWH
15c.17a YHWH no meio do povo contr. – os ímpios no meio do povo contin. – a justiça de YHWH em seu meio
17a YHWH, Deus de Israel contr. – idolatria e sincretismo contin. – reconhecimento de YHWH
17b YHWH, o herói que salva contr. – herói humano que não salva e que se amedronta
17c-e a alegria de YHWH contr. – a ira de YHWH contin. – a longanimidade de YHWH
7.9.
Tabela 9 – Sf 3,14-17
Temas gerais no contexto do livro de Sofonias
TEMAS CONTRASTE
A justiça de YHWH A injustiça das lideranças humanas
O amor generoso de YHWH A ira de YHWH
O yôm YHWH salvífico O yôm YHWH condenatório
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