... era pra ser apenas de poesia.

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. . . e r a p r a s e r a p e n a s d e p o e s i a .

description

Esse zine como diz em seu título muito direto, é sim um zine apenas de poesias. Essas poesias são um compilado do que de melhor o autor escreveu entre os anos de 2004 à 2008, segundo ele mesmo. Imprimam e distribuam à vontade.

Transcript of ... era pra ser apenas de poesia.

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. era

pra ser

apenas

de

poesia.

A arte de metalinguar é nos dias de hoje e´ muito boa de se usar, por isso eu digo jovens: - Metalíngua, metalíngua.

na ordem do dia

caos

em passadas largas

correria sem parada

harmonia desregrada

sintonia inacabada

e na curva que da volta no

mundo

onde o Judas as botas

perdeu

talvez seja o lugar

perfeito

pra passar o tempo

que a monotonia comeu

na o

rde

m d

o d

ia

em minhas orelhas queimam flores

pétalas voam

sonífero de sonhos

engodo

imbróglio

degolo

em meus olhos ardem fatos

eventos desencadeados

fogo fátuo

momento dado

lapso ralo

em meu nariz incendeia nuvem

carregada de chuva gelada

frio de milagres

enclaves

som grave

em minha boca inflamam fósseis

dóceis de sentimentos

desejos ao relento

invento

incêndio

em minhas mãos há pó

desconstrução inacabada em andamento

alienação

sublimação

negação

... em meu eu infra-estrutura, infla-cosmo, intra-mundo,

incha-tudo, intro-specto, onto-lógico, orto-pédico, olho-a-

olho, semi-ótico, pédi-cure, maria-mole, ab-dómen, sangue-

sugo, bangue-bangue...

big-bang!

logo

-gên

esis

Borboletas

Vi várias borboletas coloridas voando e passando sobre a estrada. Tinha amarelas e brancas e algumas foram atropeladas.

Borboleta

Acordou e a vontade de se espreguiçar era

tão grande

Esticou o braço e as pernas e todo o corpo

E o sangue espichou todo

Correu solto

Aqueceu

Saiu então de baixo das cobertas

Pulou da janela

Borboleta que era

nos por menores dos menores minuciosos daquele momento foi bom instante bonito desses de cinema que sobe os créditos é claro, faltou um sol poente quem sabe se fosse na praia também ajudasse quiçá, noite estrelada seria melhor mas haveria pouca luz só se fosse lua cheia uma estrela cadente perfeito! digno de Oscar - mas como nada é perfeito...

o oxigênio que respiro

me enferruja

mas

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Maria m

orreu de overdose em

sua casa

uma dessas luxuosas mansões

das zonas sul

com piscina olímpica

quadra de tênis e campo de

futebol

hidroginástica, salão de jogos

a cama com colchão d’água

e o esp

elho no teto

fotografou esse mórbido

momento

mas isso não im

porta tanto...

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BUR(r)OCRACIA no mar da papelada nado de braçadas azul esferográfica assinaturas timbradas ordem de fachada em coro grampeadores pregaram as areias da ampulheta para nascer foram necessárias três vias autentificadas em cartório não podemos fazer nada não há nada a fazer diz a voz de taquara rachada aos infernos! aos infernos! por acaso meus braços estão amarrados? é que a tinta do carimbo acabou e a próxima remessa está datada para daqui dez dias PUTA-QUE-LHE-PARIU! PEGUE A CANETA, O CARIMBO, O CARALHO ENFIE NO OLHO afoguei-me por não saber nadar

Aleluias em volta da lâmpada

... cada vez mais Aleluias me voltam da lâmpada se debatendo, se matando

lutando com o espectro luminoso que emana da lâmpada

umas caem, outras persistem mas nunca acabam as Aleluias

um enxame em volta da lâmpada nuvem ou massa disforme

a luz se apaga de volta da lâmpada e as Aleluias vão em desordem

em busca de mais outra lâmpada Aleluias em volta da lâmpada

... cada vez mais Aleluias me voltam da lâmpada

aleluia! aleluia! aleluia!

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Arca de Noé E de repente acordou e não conseguiu controlar a imensa vontade do choro que brotara do pé de seus olhos, assim como uma criança manhosa que desaba em lágrimas após ter deixado o doce cair no asfalto, não controlava os soluços que pareciam cada vez mais fundos no peito, não sabia ao certo o que acontecia, com a vista embaçada observava a parede branca de seu quarto e um sentimento de vazio dominava sua mente, cambaleou até a porta e trancou-a para que ninguém presenciasse esta cena absurda, sentia-se como um jesus na cruz tendo que suportar todas as dores da humanidade, e mesmo não acreditando em anjos olhou para o teto implorando misericórdia, e chorou mais e mais, até que sua camisa se encharcasse e o nariz ardesse de tanto escorrer viscoso ranho, sentiu-se como os velhos que choram à toa pelos tempos passados, como as mães que perdem seus filhos prematuramente, e os enamorados que se separam indefinidamente mesmo querendo permanecer juntos, chorou pelos pobres que moram nas favelas sitiadas, pelos que passam fome e pelos que precisam de umas doses de pinga pela manhã para continuarem vivendo, chorou pela borboleta que só vive um dia e pelos animais em extinção, pela flor que amassara no dia anterior, chorou também as lembranças de quando era criança e não sabia muitas coisas da vida, chorou a vida, a morte e as incertezas e reticências, chorou também de felicidade mesmo não entendendo porque o fazia, chorou tanto e tudo que seus olhos secaram ao passo que seu quarto vinha alagado, e não sabendo nadar, morreu afogado de tanto chorar.