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A Última Ceia de Leonardo

Palestra proferida por Antonio Carlos Jorge em 06 de julho de 2007

O tema que iremos abordar talvez nunca despertou tanta curiosidade

como atualmente. O recente sucesso editorial do livro “O Código Da

Vinci” de Dan Brown, instigou o imaginário, através de uma narrativa

que envolve todos esses assuntos ligados à vida de Cristo,

questionando e apresentando conjecturas e teses, algumas verossímeis

e outras tantas, ao meu ver, sem muita fundamentação, como é o caso da obra de

Leonardo Da Vinci, “A Última Ceia”.

Antes de falarmos sobre o significado da obra de Leonardo, vamos abordar

rapidamente alguns aspectos da sua vida para entendermos o contexto em que toda

sua obra se desenvolveu. Leonardo nasceu em abril de 1.452, em Vinci, uma vila

próxima à Florença, filho de Piero da Vinci, um notário, e de uma serva.

Leonardo era filho ilegítimo, não tendo direitos aos bens de seu pai. Mas seu pai,

zeloso, não o abandonou, tendo assumido a sua criação. Devemos lembrar

Leonardo nasce ainda na idade média.

O final da idade média é determinada pela queda de Constantinopla, em maio de

1.453. Naturalmente a mudança de um período para outro não se dá através de um

único evento, mas sim é um processo de transição que envolve vários

acontecimentos.

Com o fim da idade média temos o renascimento, com o ressurgimento da

valorização do homem como figura de relevância em todos os contextos. Inicia-se o

Humanismo, movimento que revolucionou o pensamento, dando origem a novas

concepções e visões de mundo. Essa nova concepção é precursora da

especialização do conhecimento, dando origem mais tarde, à sistematização do

saber humano, com o cientificismo e segregação de um conhecimento que até então

era unificado.

Leonardo está mais para um homem da idade média do que alinhado às novas

tendências renascentista, pois não restringia um conhecimento específico como os

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demais gênios seus contemporâneos. Ele reunia um vasto conhecimento. Não foi só

pintor. Foi escultor, músico, arquiteto, engenheiro, inventor, anatomista e também

astrólogo, apesar de sua biografia nada mencionar quanto a esse universo de

conhecimentos ocultos. Enfim ele tinha um conhecimento universalista, muito mais

próximo de um sábio medieval do que um renascentista. Em todas as áreas em que

atuou deixou a marca de sua genialidade.

Ao completar 14 anos, o pai de Leonardo o matriculou como aprendiz na oficina de

artes de Verrocchio que era um grande mestre de Florença. As oficinas de artes não

se ocupavam somente de obras artísticas, como esculturas e pinturas, mas também

de construções de edifícios, pontes e obras de engenharia, metalurgia, máquinas de

guerra, enfim, tudo que exigia a criatividade do homem e a fabricação de algum tipo

de artefato.

Leonardo logo se destacou em todas essas artes, tendo participado da confecção de

uma pintura de Verrocchio, encomendada por Lorenzo Médici, governante de

Florença. Ele fez a pintura de um rosto de anjo numa pintura e pela delicadeza dos

traços e jogo de luz, chamou a atenção da família Médici, que passou a protegê-lo.

Nestas épocas, o sucesso dependia não do talento, mas principalmente da figura de

protetor, de um mecenas.

A península itálica, nesta época, era uma região de muitas disputas, não havendo a

identidade de um país, que consolidou somente após três séculos. Existiam as

cidades-estado, que viviam em contendas. Pelo interesse do Vaticano, guerras eram

sistematicamente travadas, com o objetivo de sedimentar o poder do clero. Neste

contexto, foi deflagrada uma guerra contra Florença, fomentada pelo Vaticano, pois

havia muitos interesses de composição política e de domínio da hegemonia e

supremacia econômica.

Leonardo, diante desta situação, depois de servir a outros poderosos, como os

Borgia, por exemplo, acaba se transferindo para Milão, tendo se colocado à

disposição do Duque Ludovico Sforza. Só para termos uma idéia dos talentos de

Leonardo, ele apresenta o seu currículo como sendo principalmente Engenheiro

Militar, como ele gostava de ser reconhecido, Arquiteto, Construtor de Armas,

inventor, músico e ao final da lista de suas qualificações está a de pintor e é

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justamente por esta sua habilidade é que o Duque o contrata. Ludovico, agora, é

novo protetor de Leonardo.

Entre as diversas obras que Leonardo realiza sob encomenda de Ludovico está a

“Última Ceia”. A obra deveria decorar o refeitório do Convento de Santa Maria delle

Grazie. A obra iniciou no ano de 1495 e foi concluída em 1.497. Levou quase quatro

anos. Na realidade ela não foi concluída. Aliás, nenhuma obra de Leonardo, exceto a

de São João e o Menino Jesus foi concluída, se não me falha a memória. Foram

vários os processos movidos contra Leonardo, pois ele não cumpria os contratos.

Isso era um traço do gênio. Leonardo falava que a criação é divina, a execução

servil!

“Última Ceia” foi pintada numa das

paredes do salão e Leonardo desenvolveu

uma técnica nova. Costuma-se dizer que

se trata de um afresco, mas na realidade

um afresco é uma pintura realizada sobre

uma camada de gesso recém aplicada,

ainda úmida. É uma técnica que não

permite erro e retoques posteriores e Leonardo era antes de tudo um perfeccionista.

Ele queria uma técnica que pudesse abreviar a secagem da tinta. Não que ele não

fosse perito. Ele não cometia erros, mas queria o retardamento da secagem para

executar a obra com a maior perfeição imaginada. Então ele desenvolveu

determinadas tintas e pigmentos que se demonstraram pouco eficazes no que se

refere à sua conservação. O afresco tem sido constantemente atacado pela ação de

fungos que o decompõe, exigindo uma manutenção e restauração constantes.

O desrespeito para com a arte não é um fato que ocorre somente em nossos dias.

Observem que, por necessidade de se criar uma passagem para um cômodo

contíguo, foi aberta e depois fechada uma porta justamente

sobre a pintura, destruindo para sempre uma parte da base.

Fato semelhante ocorreu com “Mona Lisa”, que é uma pintura feita sobre painel de

madeira, que teve as partes laterais serradas.

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Passemos então a analisar o quadro apresentado. Vemos que a figura de Cristo é

colocada exatamente ao centro. Se traçarmos duas linhas perpendiculares,

projetando o ponto de fuga, teremos esse ponto de convergência exatamente sobre

o olho direito de Cristo:

Desta forma temos o quadro, com Cristo na posição central e os apóstolos

distribuídos nos dois lados. Ao redor de Cristo, forma-se um círculo que passa pelo

arco da porta ao fundo, desenhando-se um triângulo, com o vértice para cima e outro

com o vértice para baixo.

No livro “O Código da Vinci”, Dan Brown fala desses símbolos de uma forma muito

primária. Ele os relaciona aos princípios masculino, personificado pela figura de

Cristo e o feminino, formado entre Ele e João que está ao seu lado direito.

Como as feições de João são femininas ele logo associa com a figura de Maria

Madalena, que teria sido sua esposa e mãe de sua filha Sara, que teria originado a

dinastia dos Merovíngios, primeiros reis francos. Inclusive ele argumenta que Jesus

por ser um Rabi, não poderia ser solteiro, teria que necessariamente ser casado.

Isso é uma verdade entre os Fariseus, porém se considerarmos Jesus como Essênio

isso não era uma verdade, pois os essênios faziam votos de castidade, além de

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pobreza, e como se acredita que Jesus fosse essênio, naturalmente ele não poderia

ser casado. Mas isso não interesse à narrativa de Dan Brown, pois inviabilizaria sua

narrativa e não existiria o livro. Dan Brown é pesquisador e eu acredito que este

conhecimento não foge ao seu estudo, mas acredito que isso não lhe interessa, pois

não vende, não é comercial.

Este simbolismo representado com os

dois triângulos, com vértices opostos é

muito profundo, estando presente em

diferentes tradições, como a védica e a

hebraica, que apresenta os dois

triângulos entrelaçados, formando a

estrela de seis pontas.

Este símbolo encerra princípios

herméticos, como o da correspondência,

ao da polaridade, assim como ao gênero e isso não pode ser reduzido simplesmente

a representações fálicas.

Não estamos a desmerecer o trabalho de Dan Broawn e reconhecemos que nunca

se falou tanto sobre esses assuntos e nunca estas obras foram tão visitadas como

hoje e isso por si só já é importante, mas temos que colocar as coisas nos seus

devidos lugares.

Podemos relacionar a tríade superior com Visnhu, contendo os princípios Atma,

Buddhi e Manas e a tríade inferior com Brahma e os gunas, que segundo as

tradições védicas são os atributos constituintes da matéria, ou seja: Sattwa, Tamas e

Rajas.

Com a combinação destes três atributos se geram os quatro elementos materiais.

Vejamos, pela análise combinatória usando três

elementos primários, ou seja, A, B e C. A associa-

se com B, A associa-se com C, B associa-se com

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C, A associa-se com B e com C.

Temos, então, quatro elementos secundários. Podemos também fazer uma analogia

com as cores primárias, que são a azul, a amarela e a vermelha, que combinadas

entre si formam as quatro cores secundárias.

Então temos o ternário superior sobre o quaternário inferior.

Da combinação do três com o quatro, temos como resultado o doze, que traduzem

os diferentes tipos básicos de energias, ou seja, os doze arquétipos huma-nos.

É por isso que esses números são chamados esotéricos, pois repre-sentam a

constituição do universo.

A pirâmide, por exem-plo, é um símbolo esplêndido, pois é o ternário assentado so-

bre uma base quater-nária, contendo 12 ângulos.

Os três tipos primários determinam o compor-tamento e os quatros secundários

ditam o temperamento.

Podemos representar estas correlações através do diagrama ao abaixo.

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Então, o simbolismo que a obra passa é muito profundo e é isso que procuraremos

demonstrar.

Falamos das qualificações de Leonardo que entre elas ele detinha o conhecimento

astrológico e é justamente este conhecimento que está a ser revelado em sua obra.

É o conhecimento profundo dos arquétipos, detalhando suas características,

demonstrando perfeitamente o zodíaco, com os doze signos, tendo o Sol (Cristo)

como o centro dos acontecimentos e da criação.

Isto se torna mais evidente se nós separarmos os apóstolos em grupos de três.

Temos, assim, quatro grupos de três, associando-os às quatro estações do ano.

Cada estação tem três meses e conseqüentemente três signos, iniciando-se na

Primavera, que é o ponto vernal no hemisfério norte, com os meses de março, abril e

maio, relacionados a Áries, Touro e Gêmeos, ao Verão, com os meses de junho,

julho e agosto, relacionados a Câncer, Leão e Virgem, ao Outono, com os meses de

setembro, outubro e novembro, relacionados à Libra, Escorpião e Sagitário e ao

Inverno, incluindo dezembro, janeiro e fevereiro, relacionados à Capricórnio, Aquário

e Peixes.

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Uma outra forma de demonstrarmos é dispormos da figura numa visão

tridimensional, tendo a figura de Cristo ao centro e a dos apóstolos distribuídas na

eclíptica.

Na roda zodiacal, temos os signos

distribuídos formando eixos, onde um signo

tem suas características virtuosas que são as

dificuldades vividas pelo signo colocado em

oposição, o que nos remete ao princípio da

polaridade, onde se afirma que tudo tem dois

pólos, sendo os mesmos são de natureza

similar, variando, porém o grau e que essas

polaridades podem ser reconciliáveis.

Para se vencer as dificuldades, representada pela sombra, tem-se que buscar as

virtudes, que é a luz, localizada em sua oposição.

Na realidade o que deve determinar entre os dois pólos é a busca pelo equilíbrio, ou

seja, o ponto central que é a figura de Cristo, a viver o caminho da temperança, o

caminho do meio.

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Associando, os diferentes discípulos, temos a representação na figura abaixo:

Jesus abre sua mão esquerda, voltada para cima, como estivesse a alimentar

àqueles colocados a sua esquerda, às estações de primavera e verão, onde ocorrem

o nascimento e o crescimento e sua mão direita, voltada para baixo, num ato de

absorção das energias e experiências acumuladas pelas estações de outono e

inverno, relacionadas com a maturidade e morte. Isso demonstra o ciclo zodiacal de

nascimento e morte. Nota-se que mesma correlação é feita na medida em que a luz

é projetada à esquerda de cristo e a sombra à direita. A mesma dualidade polar

também é representada no manto de Jesus que delimita os dois hemisférios.

À cabeceira da mesa, ao extremo lado esquerdo de Cristo, temos a figura de Simão,

representando Áries. Leonardo representa na ordem da esquerda para a direita, pois

os signos, como vistos da Terra, “movimentam-se” em sentido anti-horário. Áries, o

signo que abre o Zodíaco, tem por características o pioneirismo, a liderança, a

iniciativa, e é exatamente este o papel demonstrado por Simão, ao se sentar na

cabeceira da mesa. Áries rege a cabeça e a cabeça de Simão é apresentada de

forma proeminente. A posição de Simão é de ascendência sobre os demais. Mas não

só é a posição ocupada por Simão que denota esse papel ariano, mas sim o que a

temática sugere, pois tudo decorre de algo falado por Simão, pois os demais

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apóstolos estão a comentar, a argumentar e a observar o próprio Simão, ao que foi

dito.

Se Áries está relacionado ao eu, à personalidade, Libra corresponde ao outro, ao

relacionamento, à satisfação da necessidade do parceiro. É ideal do libriano viver o

relacionamento em clima de paz, beleza, equilíbrio e harmonia. A figura de João,

diametralmente oposta à de Simão, recebe e absorve todo o impacto daquilo que foi

falado, fazendo com que assuma uma postura de submissão e recolhimento. As

mãos de João estão colocadas em posição de reconciliação. A figura tem realmente

semblante feminino, pois Libra, pelos seus valores, ao buscar a harmonia está

associado à condição receptiva. O manto também remete ao equilíbrio, na medida

em que se divide em duas cores. Libra é regido por Vênus e Áries por Marte. Este é

o eixo da individualidade, tendo Áries a personificação do ego psicológico e Libra o

outro com quem o ego se relaciona.

Em seguida temos Judas Tadeu relacionado ao signo de Touro. Touro é

caracterizado pelos valores pessoais, posses, ao ter e dentro disso ele tem a

necessidade de desenvolver uma estrutura sólida, ter apoio e se notarmos no

quadro, veremos que é o único apóstolo a se apoiar à mesa, a colocar o braço

esquerdo usando a mesa como anteparo. O porte do taurino é sólido, robusto. Touro

rege o pescoço e garganta e isso é bastante evidenciado na pintura. A atitude de

Judas Tadeu é de ponderação. Argumenta e aceita.

Este é o eixo dos valores e do poder, tendo Touro de um lado e Escorpião do outro.

Escorpião é representado por Judas Iscariotes. Escorpião relaciona-se com os

valores do outro, aos valores coletivos, função assumida por Judas, pois era

tesoureiro do grupo. Escorpião é o signo das profundezas, da transformação, da

regeneração ou da morte. Regido por Plutão, ou Hades, rege tudo que é profundo e

transformador. O papel de Judas Iscariotes, tão mal interpretado pelas tradições

cristãs, foi fundamental para o desfecho trágico do drama que é a paixão e a

ressurreição. Mas Judas Iscariotes de certa forma foi o mais leal dos apóstolos, pois

foi ele quem fez cumprir as escrituras. Ele assumiu a missão mais penosa do grupo

cumprindo a ordem de denunciar ao sinédrio seguindo a própria ordem de Jesus,

quando lhe disse “Judas, com um beijo você trai o filho do homem” (Lucas 22:48).

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Na realidade Escorpião é o motor do Zodíaco, pois é ele quem determina os

processos de transformação necessários à evolução da vida. Judas Iscariotes na

pintura é apresentado como um expectador, a observar ao desenrolar da trama, a

analisar os rumos dos acontecimentos, características própria de Escorpião. Analisa

profundamente, traça as estratégias e desfere a ação precisa no momento certo.

A seguir temos Mateus, relacionado ao signo de Gêmeos, cujo regente é Mercúrio.

Gêmeos está relacionado a todo processo mental e de comunicação. Ao mental

concreto, ao processo de acúmulo de conhecimento cognitivo e aplicado à realidade

material. Os geminianos são esbeltos e ágeis, joviais, de olhar curioso e por

considerar todas as possibilidades possíveis diante das situações, podem ser

considerados, às vezes, contraditórios, instáveis, volúveis. Mateus demonstra

algumas destas características. Ele está a comunicar com Simão, olhando-o, mas

argumentando com as mãos e braços como se tivesse considerando todos os

aspectos diante do que foi dito. Pode aparentar também uma ambigüidade entre o

que foi colocado e o que o grupo pensa. Como Gêmeos está relacionado à

comunicação e à fala, relaciona-se anatomicamente com os ombros, braços e mãos

e é isso que notamos também na figura de Mateus, que também é considerado o

repórter de Cristo, como Mercúrio o mensageiro de Júpiter.

Aqui temos o eixo do conhecimento, da sabedoria. Opondo-se a Mateus temos

Pedro, representando o Sagitário que é o signo relacionado com a religião. Sagitário

rege os assuntos superiores, o conhecimento abstrato e se lança espontaneamente

rumo ao desconhecido, sendo às vezes abrutalhado, podendo se expressar com

excesso da franqueza. Isso corresponde ao espírito de Pedro, aquele que fundou a

Igreja, ou a religião, juntamente com Paulo. A fé quando levada às últimas

conseqüências pode ser cega e em sua defesa tudo pode ser permitido. À mão

Pedro está a assegurar uma faca como defesa de seus próprios ideais, não em

atitude ameaçadora a João, com alguns querem crer. Sagitário, o centauro, empunha

o arco com a flecha a ser arremessada. Sagitário rege anatomicamente também os

quadris e isso está evidente na pintura, na medida em que a mão direita nela se

apóia. A disposição do corpo de Pedro lembra o desenho do símbolo do signo de

Sagitário (I).

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Na seqüência temos Felipe, relacionado a Câncer. Aqui chegamos no fundo do

Zodíaco, ou fundo do Céu. Ponto axial do inconsciente correspondendo a toda

manifestação devocional, ao sentimento materno, às origens e tradições. Relaciona-

se ao lar e à família e Felipe personifica esse arquétipo. Com semblante nitidamente

feminino, Felipe leva as suas duas mãos ao peito, como se estivesse chamando

todos como filhos a se reconciliarem. Aliás, Câncer rege justamente os seios,

estômago e útero. As mãos com os braços formas também uma figura que lembra as

garras do caranguejo que é o próprio Câncer.

Este é o eixo do tempo, com o passado e o destino. Como passado, temos a relação

com Câncer, à mãe, e o futuro, relacionado a Capricórnio, ao pai. Então, Capricórnio

rege o destino, ou seja, aquilo que procuramos como carreira, como objetivo de vida

e o papel social que buscamos e como desejamos reconhecimento. Diz respeito

também à autoridade.

Temos então, André como Capricórnio, numa atitude nitidamente capricorniana.

Capricórnio é cauteloso e prático, podendo vir a ser frio e pessimista. Enquanto

Felipe diz “venham a mim”, André parece dizer “afaste de mim”, pois para assumir as

responsabilidades há de calcular e planejar o que deve ser realizado. Capricórnio

corresponde anatomicamente a toda constituição óssea, joelhos, pele. Na pintura

André é o único que apresenta as mãos com os dedos esqueléticos, transparecendo

a estrutura óssea.

Ao lado de Felipe temos Tiago menor, correlacionado ao Leão. Leão é o soberano.

Carismático, altivo, criativo, dramático, busca o reconhecimento através da exibição.

É regido pelo Sol e irradia sua luz. Leão rege o coração que é análogo ao Sol

corporal. Essas características de Leão estão claramente transpostas ao Tiago

menor. Seguramente ele é a figura cênica mais bela do quadro e ao assumir a

postura de braços abertos, expondo-se à luz, colocando-se ao lado do próprio Cristo.

Demonstra o peito aberto, o coração da generosidade, um comportamento

tipicamente leonino, que às vezes chega a ser ingênuo, centrado na vaidade e no

egocentrismo.

Este é o eixo do poder da criação. Se Leão é a manutenção da criação, Aquários é

mudança, renovação e também criação. Leão rege o poder do rei, do monarca.

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Aquários o poder do coletivo, do grupo, da sociedade. Neste eixo é que ocorrem as

contendas pela disputa de poder.

Aquários, com o regente Urano, promove toda sorte de mudanças abruptas,

significando sempre drásticas mudanças. Muitas vezes, em nome da inovação se

revoluciona e se destitui o monarca para o estabelecimento de um novo regime, para

em seguida, se tornar um modelo muito parecido com o anterior. É o que se observa

com as revoluções aquarianas, como a Revolução Francesa, que teve

posteriormente Napoleão coroado como imperador (Leão) e mais próximo de nosso

tempo, a Revolução Cubana, com Fidel governando como Rei-Ditador.

Aquário está associado, desta forma, às ações de libertárias, à rebeldia, ao

radicalismo, pois é comprometido com valores humanos, aos valores progressistas, à

impessoalidade. Analisando a figura de Tiago Maior, vemos que ele não aparece em

primeiro plano. Ele não se expõe isoladamente, mas sim através do grupo, através

da diplomacia e vejam: Aquário é o signo da amizade e temos então Tiago

abraçando André e Pedro, demonstrando que a força vem do grupo e não da atitude

individual de Leão.

Finalmente, temos Tomé, representando Virgem. O signo de virgem relaciona-se à

praticidade, à análise e à crítica. É regido também por Mercúrio, mas aqui o mental

está voltado mais às questões de se dar uma aplicação utilitária e prática a todas as

coisas e é por este motivo que o virginiano questiona, detalha e discrimina. O

virginiano tem necessidade extrema de se sentir útil e de prestar o seu serviço, mas

para isso ele necessita compreender a causa das coisas. Dentro destas

características temos a figura de Tomé, mesmo porque Tomé necessita de ver para

crer. Tomé no seu ato de questionador questiona até o próprio Cristo, na medida em

que coloca o seu dedo indicador direito à frente de Jesus. Como o virginiano tende à

timidez e humildade, Tomé é colocado também em uma posição afastada da mesa.

Este é o eixo do servir, tendo Virgem correspondendo ao servir pragmático e Peixes,

ao servir humanista, às vezes não muito claro e perceptível, o que pode levar o

pisciano a viver em estado de irrealidade.

Peixes está associado ao ser sonhador, à inspiração e compreensão. São

compassivos, emotivos, intuitivos e românticos, mas, por esse estado de

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contemplação, se não bem canalizado, pode levar a atitudes evasivas, fantasiosas, a

ter dificuldades em perceber a realidade.

Bartolomeu é o apóstolo que fecha o círculo zodiacal ao se posicional do outro lado

da mesa. Ele demonstra claramente as características piscianas. Parece que sua

visão está direcionada a um ponto que extrapola ao ambiente retratado, a um ponto

difuso, podendo não perceber exatamente o que está se passando. Não fala, só

observa, contempla e aceita. Peixes rege os pés é justamente seus pés,

entrelaçados, que estão iluminados sob a mesa. Peixes tem a grande potencialidade

intuitiva, mas necessita conhecer como pode transformar a sua natureza, o seu

sentimento de servir a humanidade de forma mais prática e construtiva.

Desta forma, Leonardo também nos legou mais este conhecimento, através desta

maravilhosa obra, demonstrando o rico significado simbólico representado pelos

arquétipos humanos, demonstrados pela astrologia.

A astrologia deve ser entendida sob essa concepção, demonstrando o esplendor da

diversidade e faz com que nós possamos compreender a natureza das diferenças e

a aceitá-las como manifestação da mesma fonte de vida.