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PENTAGRAMA LECTORIUM ROSICRUCIANUM Ano vinte e dois - Janeiro/Fevereiro Revista bimestral do 2000 O CORPO É UMA SOMBRA DE DEUS, MAS A ALMA É SUA IMAGEM IMORTAL A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO DIVINO: OBJETIVO DA ALMA HUMANA NÚMERO I OS 75 ANOS DE ATIVIDADE DA ROSACRUZ ÁUREA O ANEL DA SABEDORIA MTI-MFALM, A LENDA DA ÁRVORE REAL

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PENTAGRAMAL E C T O R I U M R O S I C R U C I A N U M

A n o v i n t e e d o i s - J a n e i r o / F e v e r e i r o

R e v i s t a b i m e s t r a l d o

2 0 0 0

O CORPO É UMA

SOMBRA DE DEUS, MAS

A ALMA É SUA IMAGEM

IMORTAL

A MANIFESTAÇÃO

DO ESPÍRITO DIVINO:OBJETIVO DA ALMA

HUMANA

NÚMERO I

OS 75 ANOS DE

ATIVIDADE DA

ROSACRUZ ÁUREA

O ANEL DA

SABEDORIA

MTI-MFALM, ALENDA DA ÁRVORE

REAL

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REVISTA BIMESTRAL DA

ESCOLA INTERNACIONAL

DA ROSACRUZ ÁUREA

LECTORIUM ROSICRUCIANUM

A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção de

seus leitores para a nova era que já se iniciou para o

desenvolvimento da humanidade.

O Pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo

do homem renascido, do novo homem.

Ele também é o símbolo do universo e de seu

eterno devir, por meio do qual o plano de

Deus se manifesta.

Entretanto, um símbolo somente tem valor

quando se torna realidade. O homem que realiza o

Pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio

pequeno mundo, consegue permanecer no

caminho da transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor a

operar esta revolução espiritual em seu

próprio interior.

Editado nos seguintes Idiomas:

Português, Alemão, Espanhol*,

Francês, Holandês, Húngaro,

Inglês, Italiano*, Polonês e

Sueco.

A revista é editada 6 vezes por

ano (*Editada 4 vezes por ano)

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ÍNDICE

2 O CORPO É UMA SOMBRA

DE DEUS, MAS A ALMA

É SUA IMAGEM IMORTAL

15 A MANIFESTAÇÃO

DO ESPÍRITO DIVINO: OBJETIVO DA ALMA

HUMANA

20 OS 75 ANOS DE ATIVIDADE

DA ROSACRUZ ÁUREA

37 O ANEL DA

SABEDORIA

42 MTI-MFALM, A LENDA

DA ÁRVORE REAL

2000

ANO VINTE E DOIS

NÚMERO 1

Este primeiro número da revista Pentagrama

de ano novo traz um apanhado geral das

atividades nacionais e internacionais do Lectorium

Rosicrucianum, a fim de informar

os leitores. Esta visão geral mostra, em texto e

imagem, o estreito laço que une todos os

que trabalham para divulgar a filosofia

da Rosacruz Áurea e para atrair a

atenção dos pesquisadores sobre

sua mensagem.

A Redação

PENTAGRAMA

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O filósofo Marsílio Ficino, nascido em

1433, morreu em 1499. Protótipo do

homem do Renascimento, ele foi escri-

tor, tradutor, músico, médico, e, princi-

palmente, grande filósofo. Sem exage-

ros, a influência de suas idéias sobre

seus contemporâneos foi imensa. Ele

manteve correspondência com todos os

homens eminentes da Europa e desem-

penhou um papel preponderante na

redescoberta dos filósofos gregos, prin-

cipalmente graças a suas traduções das

obras de Platão. No final de sua vida,

ele brincou, dizendo que suas cartas

haviam conquistado toda a Europa.

Na passagem deste novo século, seustextos profundos e puros, dos quais osmais conhecidos são as cartas, podemtambém ser uma fonte de inspiração. Paradar uma idéia, podemos citar uma carta deCosme de Médicis, o mais importantedignitário da cidade de Florença, a seuprotegido, Marsílio Ficino, intitulada:“Sobre o desejo de ser feliz”, que é umtema sempre atual.

“Cosme de Médicis saúda MarsílioFicino, o platônico.

Ontem fui ao meu domínio de Carregi,não para trabalhar a terra, mas sim o espí-rito. Venha nos encontrar o mais rápidopossível, Marsílio, e traga o livro de Platão

sobre o Bem superior que você sem dúvidatraduziu do grego em latim, como vocêhavia prometido. Não há nada que eudeseje saber mais ardentemente do quequal seria o melhor caminho que conduz àfelicidade. Até logo, e não venha sem a sualira de Orfeu.”

“O CAMINHO DA

FELICIDADE”

Esta carta mostra claramente queFicino não era somente um filósofo apre-ciado, mas também um músico apaixona-do e um hábil médico. Vemos isto porsua resposta intitulada: “O Caminho dafelicidade.”

“Marsílio Ficino ao grande Cosme:Salve! Logo que puder, irei com o maiorprazer, pois será que existe alguma coisamais agradável do que ficar em Carregi, opaís das graças, com Cosme, o pai das gra-ças? Enquanto estiver à minha espera,aprenda rapidamente qual é o melhorcaminho que conduz à felicidade, segundoos platônicos.

É a sabedoria que, por causa de nossosesforços, nos faz ver nossos esforços se rea-lizarem em todas as atividades humanas.A sabedoria, por seu lado, nunca divagaou se engana, pois de outra forma ela nãoseria a verdade. Como a sabedoria é, por-tanto, o que nos permite atingir a metaproposta, ela é de extremo valor para arealização da felicidade.

Por si mesmos, os dons eventuais dohomem não são bons nem maus. Para osábio, as circunstâncias boas ou más são

“O CORPO É UMA SOMBRA DE DEUS, MAS A

ALMA É SUA IMAGEM IMORTAL”(Marsílio Ficino)

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úteis, pois ele faz bom uso das duas. Mascom o ignorante acontece justamente ocontrário. É por isso que o melhor de nos-sos dons é a sabedoria, enquanto que aignorância é má por si mesma. Comotodos gostaríamos de ser felizes; e comoesta felicidade só pode ser adquirida como bom uso de nossos dons; e como quemnos oferece este bom uso é o conhecimen-to; cada um de nós deve começar preen-chendo-se de amor pela sabedoria e aspi-rando com a maior devoção a conseguirser o mais sábio possível. Desse modo,nossa alma se torna mais semelhante aDeus, que é a própria sabedoria. SegundoPlatão, é nessa semelhança que reside ograu superior de felicidade.

Esperamos que estas palavras desper-

tem o interesse do leitor.”Seguindo as pegadas de Ficino, tenta-

mos encorajar todos os homens a adquirira compreensão e o conhecimento dosvalores e da finalidade da existência ter-restre. É assim que Ficino tentava ajudar oseu próximo, e, se necessário, sustentá-loe consolá-lo.

A TRADUÇÃO COMPLETA DOS

TEXTOS HERMÉTICOS

O pai de Marsílio Ficino era médico deCosme de Médicis. Dizem que sua mãeera vidente.

Ficino gostava muito de seus pais, a

Hermes Trismegistoconversa comMoisés (laje doséculo XV, Catedralde Siena, na Itália).

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quem manteve financeiramente durantea velhice. Quando era jovem, não lhe fal-taram bons professores e ele publicousua primeira obra com 23 anos: ADoutrina de Platão. Cosme de Médicisordenou-lhe que aprendesse grego paratraduzir as obras originais dos gregosmais célebres e para poder consultá-las.Por volta de 1462, Ficino publicou suasprimeiras traduções: os Hinos de Orfeue os Gathas de Zoroastro. No ano se-guinte veio uma obra ainda mais impor-tante: a tradução completa dos textosherméticos, que seria reeditada muitasvezes.

Ficino tinha saúde frágil. Sempre ficavadoente e sofria de depressão. Um dia,quando estava neste estado, seu amigoGiovanni Cavalcanti o aconselhou aescrever sobre “o amor” como se fosseum remédio. Foi assim que ele redigiu DeAmore, um comentário sobre o Banque-te de Platão. Neste texto, ele explicacomo a criação começou e se perpe-tuou, e como ele finalmente voltou àsua fonte por meio de uma correntede amor que não pode ser inter-rompida.

DISCIPLINA: CONDIÇÃO

PARA O DESENVOLVIMEN-TO ESPIRITUAL

Em 1469, Ficino termi-nou o resumo dos diálogosde Platão e no ano seguinte elecomeçou a Teologia Platônica,que trata da imortalidade da alma.Esta seria uma de suas obras maisimportantes, com um total de nadamenos que 18 volumes. Para de-monstrar a imortalidade da alma,ele descreve o que constitui os pila-

res da civilização ocidental: a religiãojudaico-cristã e a filosofia grega. Emseguida, ele publica ainda inúmeras obrasde filósofos gregos. Seu último livro, umcomentário da Epístola de Paulo aosRomanos, jamais foi acabado. Para ele, adisciplina era a condição essencial paraatingir a meta espiritual. Ele era vegetaria-no como Pitágoras. Levantava-se muitocedo todos os dias, praticava a abstinênciae a sobriedade, o que permitiu a seu espí-rito libertar-se dos dogmas que se torna-ram letras mortas. Ele considerava a sendacristã como sendo a melhor, mas tambémpensava que muitas outras sendas pode-riam conduzir à mesma meta. EmReligião Cristã, ele escreve: “A providên-cia divina não permitiria que pudessehaver, em alguma parte do mundo, umperíodo por mais curto que fosse, sem

nenhuma religião, mesmo que sempreexista um meio de adaptar os

rituais às mudanças dos tempos.É este, talvez, o objetivo dadiversidade: ser agradável aDeus adorando-o de inúme-ras maneiras diferentes, ouaté mesmo de modo pou-

co conveniente, pois émelhor que seja assim

do que recusar a ado-rá-lo por orgulho.”

Ficino não foi o pri-meiro a pensar que areligião judaica e a

filosofia grega vinhamda mesma fonte: Zoro-

astro, Moisés e HermesTrismegisto. Entretanto, eleinsistia mais do que os outrosno fato de que estas duas tra-dições européias tinham o

mesmo valor e a mesma autori-dade. Ele persuadiu seus con-temporâneos de que uma filoso-

À esquerda:Lorenzo deMédicis.À direita: Cosmede Médicis.

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fia autêntica não diferia de uma verdadei-ra religião (pelo menos não mais do queuma religião autêntica poderia diferir deuma verdadeira filosofia). Na Catedral deSiena encontra-se uma imagem muito evi-dente de sua influência: um Moisés con-versando com Hermes Trismegisto.

AS BASES DA DIGNIDADE

HUMANA

Em 1439 Cosme de Médicis decidiufundar em Florença uma academia platô-nica sob a direção de Ficino. Uma de suasvillas, em Carregi, foi colocada à sua dis-posição com esta finalidade. Esta constru-ção, situada sobre colinas, ao sul de Mon-tevecchio, fica voltada para a villa de Mé-dicis. Atualmente, tornou-se um museuque atrai muitos admiradores de MarsílioFicino.

O ambiente da academia tor-nou-se muito vivo e elevado. Fi-cino, espírito inspirado, raramen-te abordava assuntos materiais domundo transitório e irradiava cal-ma e força. Protótipo do homemdo Renascimento, como filó-sofo, estudioso, médico emúsico, ele era um ho-mem de Deus: era sacer-dote e monge. Inúmeraspessoas vinham para es-cutar seus sermões naCatedral de Florença.Ele não tinha medo deescrever para os dirigen-tes das ordens religiosas eaté mesmo ao papa falandosobre a corrupção que ameaça-va espalhar-se por toda a Igreja.Para ele, a imortalidade e adivindade da alma constituíam a

base da dignidade humana. E ele não era oúnico a ter esta opinião. Dezenas de artis-tas e escritores tentavam exprimir as idéiasde Platão de um modo novo e estainfluência era visível em todos os níveis dasociedade. Mas as idéias da época geral-mente ficavam reduzidas a demonstraçõesexteriores: assim, a riqueza e o poder tor-naram-se as ambições dominantes daque-les que ainda não compreendiam que oRenascimento era um processo de renova-ção interior. A nobreza deixou seus caste-los sombrios e construiu palácios de pro-porções harmoniosas, cheios de graça eluminosidade. A maior parte das torressinistras e as ruas estreitas das cidades me-dievais foi desaparecendo. Organização eespaço: esta era a nova ordem. Inúmerasconstruções demonstram uma arquiteturaequilibrada e magnífica e hoje nos fazemlembrar deste “renascimento da beleza”,que é a noção mais característica desta

época.Mas não é somente na arquitetura e

na arte que a dignidade do novohomem europeu se refletia: ela

estava presente também em suaatividade. Lourenço de Médicis,aluno de Ficino, foi considerado o

próprio exemplo de “ho-mem universal”. Nobre,

generoso, corajoso e fiel,ele passava facilmente desuas atividades de guer-ra ou de estado para a

filosofia, a ciência, apoesia, a música etodas as formas de

arte, onde sempre semostrou excelente. Seu

contato com estes assun-tos eram bastante naturais,

assim como o contato quetinha com os seus pares. Sua

autoridade procedia de seu

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ser interior e não da posição oficial. A aca-demia de Florença exerceu grande in-fluência sobre a cultura européia e as car-tas de Ficino foram ligando muitas perso-nagens eminentes com as idéias e concei-tos da antiga sabedoria.

SALVAR OS CLÁSSICOS DAS

GARRAS DOS COVEIROS

O século XV foi uma época de grandesmudanças. A imprensa ainda era uma arterelativamente nova, mas foi-se propagan-do tão rapidamente que, 50 anos depois damorte de Guttenberg, já havia milhões delivros em circulação. Na Itália, AldoManuzio planejou imprimir toda a litera-tura grega. Em 1490, ele se instalou emVeneza como impressor encadernador,com 15 funcionários. Foi assim que impri-miu os clássicos gregos e latinos e tambémA Divina Comédia de Dante. Ele diziaque queria salvar os clássicos das garrasdos coveiros para colocá-los à disposiçãodos leitores interessados a preços maisrazoáveis. Como as cartas de Ficino foramimpressas pela primeira vez em Veneza em1495, não é provável que tenham sido edi-tadas por Manuzio.

Mas deixemos a palavra com Ficino.Trata-se do trecho de uma carta paraTommaso Valeri, médico de Florença, arespeito da excelência, da utilidade e daaplicação da medicina.

“É preciso exercer a medicina, por umlado, com o maior respeito para com Deus;e por outro, com o maior amor para com oshomens. É o que nos mostram Lucas, oevangelista, e os santos Cosme e Damião,por meio de seus exemplos. Pois, se Deus éo pai do bem, o verdadeiro médico é comoDeus entre os homens, pois ele os afasta damorte e os traz de volta à vida. Assim, ele

é honrado como Deus pelos reis e pelossábios, quando estes estão doentes. Todo omundo acha que um médico precisa terhabilidade, conhecimento e experiência.Não há dúvida de que ele deve pronunciarseu diagnóstico com grande cuidado eseriedade. Mas, como diz Hipócrates aoshabitantes de Abdera, quando o diagnós-tico é pronunciado, a demora prejudicaesta arte mais do que qualquer outra. Noentanto, Galeno declara a Glauco que nãoé seguro e até é bastante perigoso intervirmuito depressa e antes da hora no processonatural, e acrescenta que muitos médicosque agem sem pensar praticam este erro,ou seja, vão minando diariamente o pro-cesso natural, criando um obstáculo ouprocurando apressá-lo. Mas os que não sefiam somente em sua própria habilidade,cairão com menos facilidade neste erro.Hipócrates escreve a Demócrito que, pormais velho que ele já estivesse, ainda nãohavia chegado até o final na arte da medi-cina. Galeno também declara que ele so-mente foi compreender a natureza dobatimento cardíaco com a idade de 90anos. O médico deve, primeiro, lembrar-sede que a saúde vem de Deus e de que anatureza é seu instrumento para adquiri-la e mantê-la; e que o médico é o servidorda Natureza e de Deus, não para aumen-tar a força do Criador, mas para colocar ocorpo em boas condições, eliminando osobstáculos que o separam do Criador. E,quando o médico estimula ou freia o corpono momento errado, ele apressa estes doisatos e impede que a Natureza os conduzaa um bom termo. Mas, escutemos, em‘Timeu’, as palavras do divino Platão,bem no espírito dos pitagóricos: ‘Ora, detodos os movimentos, o melhor é aqueleque um corpo produz por si mesmo em simesmo, porque é ele que está mais próxi-mo e aparentado ao movimento da inteli-gência e ao movimento do universo. O

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movimento que vem de um outro agente émenos bom, mas o pior é aquele que ,vindo de uma causa estranha, move ocorpo parcialmente durante o tempo emque ele está deitado e em repouso.Também de todos os meios de purgar econfortar o corpo, o melhor consiste nosexercícios físicos; em seguida, vem o balan-ço que experimentamos em um barco ouem outro veículo que não cause cansaço aocorpo. Uma terceira espécie de movimen-to, que pode ser útil em certos casos deextrema necessidade, mas que um homemde bom senso não deve admitir em outroscasos, é a purgação medicamentosa prove-niente de drogas; pois, quando as doençasnão apresentam grande perigo, não deve-mos deixar que os remédios as irritem. Anatureza das doenças é semelhante, de umcerto modo, à natureza dos seres vivos. Aconstituição dos seres vivos comporta, defato, tempos de vida regulares para toda aespécie, e cada indivíduo nasce com um

tempo de vida fixado pelo destino, alémdos acidentes inevitáveis, pois desde o nas-cimento de cada um, seus triângulos sãoconstituídos de maneira a poder manteraté um certo tempo, além do qual nin-guém pode prolongar sua própria vida. Omesmo acontece com a constituição dasdoenças: se as perturbarmos com drogassem levar em conta o tempo predestinadopara elas, o que acontece, geralmente éque as doenças leves tornam-se doençasgraves e que crescem em número. É porisso que é preciso dirigir todas as doençascom certo critério, com tranqüilidade, enão irritar com remédios um mal refra-tário’. Assim fala Platão.

Adeus e uma saudação cordial deminha parte ao hábil médico AntonioBenivieni. Girolamo Amazzi, meu caroconfrade em medicina e tocador de cítaratambém o saúda. Mais uma vez, adeus”.(Citação de Platão a partir das EdiçõesFlammarion).

Grande sala de reu-nião dos membrosda academia deFlorença.

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A HABILIDADE DO MÉDICO TEM

QUATRO PONTOS BÁSICOS

Segundo estas palavras de Ficino, pare-ce que a medicina e a música eram muitoligadas neste tempo. Além disso, sabemosque suas idéias, tanto em matéria de filo-sofia como em ciências médicas, influen-ciaram Paracelso. Este médico, muitocélebre em certos meios, nasceu em 1493 efoi promovido a doutor em medicina pelauniversidade de Ferrara, na Itália.

Contrariamente a Ficino, que passousua vida em Florença e arredores, Paracel-so percorreu toda a Europa e esteve noscampos de batalha para socorrer os feri-dos, imparcialmente. Aí ele recolheu umtesouro de experiências tanto médicasquanto filosóficas. Para ele, a habilidademédica repousa sobre quatro pontos bási-cos: a filosofia, a astronomia, a alquimia ea virtude.

A filosofia: o médico deve ver sem olhose ouvir sem ouvidos. Ele deve reconhecer o

“homem” no homem, considerá-lo comoum todo, de tal modo que encontra naterra ou no céu tudo o que faz parte de suaconstituição.

A astronomia: quem conhece o que éinferior é um filósofo, mas quem estáconsciente do que é superior é um astrô-nomo, pois ele conhece não somente anatureza terrestre, mas também a Na-tureza divina. Ora, o conhecimento destasduas naturezas forma o médico.

A alquimia: quem quer encontrar apedra dos sábios (a pedra filosofal) deveformá-la em seu interior.

A virtude: louvo os médicos alquimis-tas porque eles trabalham dia e noite emseus laboratórios e não deixam que o fogose apague. Eles não falam muito e nãofazem barulho porque eles sabem que é aobra que fará a glória do mestre e não omestre quem fará a glória da obra.

Pessoas como Ficino e Paracelso foramverdadeiras colunas do Renascimento,que foi um período tão agitado. Podemosconsiderar que eles anunciaram novosprocessos espirituais e que o resultadodisto foi o crescimento da consciência. Asidéias revolucionárias sempre têm parti-dários e adversários. Uns desejam o novo,outros se agarram ao que já conhecem porse sentirem mais seguros. O verdadeiropesquisador, que está em busca da verda-de, sempre descobre se o “novo” pode sero verdadeiro ponto de partida para umaautêntica evolução.

SEUS OLHOS

FLAMEJAVAM

Algumas cartas de Ficino não são fáceisde ser compreendidas. Especialmente seustratados sobre a medicina e a música, queexigem uma certa atenção contínua. Se-

A imprensa foi inventada pelos chine-ses, mas Gutenberg encontrou um sis-tema para ordenar os caracteres mó-veis em metal. As linhas formadaseram dispostas sob a forma de páginasem um “veículo de madeira”, friccio-nado com tinta e impressas com oauxílio de uma espécie de prensa.Quando Gutenberg pediu a um cons-trutor de Strasburgo que construísse aprimeira prensa, ele exclamou: “Mas éuma prensa, que o senhor está mepedindo?” Gutenberg respondeu:“Sim, mas será uma prensa que nosdará o suco mais maravilhoso, quenunca foi derramado para estancar asede dos seres humanos!”

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gundo os contemporâneos, Ficino sabiatocar o coração. De passagem a Florença,o bispo Campano escreve:

“Enquanto se fazia acompanhar pelalira, ele cantava hinos de Orfeu e meenfeitiçou com suas árias maravilhosas.Era como se Apolo, com seus abundantescabelos cacheados tivesse tomado a lira deFicino, que assim tivesse caído vítima deseu próprio canto. Ele parecia louco: seusolhos flamejavam, e ele tocava como nin-guém jamais poderia saber como”.

O próprio Ficino escreve sobre a música:“Marsílio Ficino saúda Antonio Cani-

giani, homem sábio e prudente. Você mepergunta, Canigiani, por que junto o estu-do da medicina ao da música e qual é arelação entre os remédios e a lira. Os as-trônomos, Canigiani, diriam que se tratade um encontro entre Júpiter, Mercúrio eVênus. Eles acham que a medicina provémde Júpiter; e a música, de Mercúrio e deVênus. Os discípulos de Platão afirmam,entretanto, que um só deus é a fonte dosdois: Apolo. Segundo os antigos teólogos,este deus era o inventor da medicina e omestre do canto que tem a lira como acom-panhamento. Em seu livro de hinos, Orfeuadianta que Apolo dá a saúde e a vida atodos por meio de uma potente irradiaçãovital que expulsa as doenças. Além disso,ele diz que Apolo dá uma justa medida atudo por meio das melodias que vêm doato de tocar as cordas, ou seja, com suaforça e sua vibração: com ‘hypate’, que é osom baixo, ele regula o inverno; com ‘-neate’, que é o som alto, ele regula o verão;com o modo dórico, ou seja, com os sonsmédios, ele faz com que venham a prima-vera e o outono. Como o mesmo deus ésenhor da música e inventor da medicina,não é de se espantar que estas duas artesgeralmente sejam exercidas pela mesmapessoa. Além disso, acrescentemos que nãosomente o espírito e o corpo mas também

as partes separadas do espírito e do corpofuncionam em uníssono de acordo comrelações naturais. O ciclo natural da tem-peratura e dos líquidos do corpo e atémesmo os batimentos do pulso parecemacontecer com a mesma harmonia. É pre-ciso apreciar que Pitágoras, Empédocles eSócrates também tocavam lira em idadeavançada. Mas também é preciso pensarque Temístocles era pouco civilizado parater recusado a lira que seu hóspede lhe ofe-recia. Em Alcebíades, Platão demonstraque os sábios, que são os servidores dasmusas, as quais presidem a música, dizemque a palavra música vem de musa. MasPlatão rejeita a música leve ou sentimentalporque ela perturba o espírito ou o irrita,ou o perverte. Ele preconiza unicamente amúsica séria e harmoniosa como o únicoremédio salutar para a alma, o espírito e ocorpo. E eu (para falar de seu amigo Mar-sílio) depois de estudar teologia e medici-na, estou seguindo este conselho, e me en-

A “villa” de Cosme,em Carregi.

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trego regularmente às sonoridades da lirae ao canto para que minha atenção nãoseja desviada para outros prazeres sen-suais. Também faço isso regularmentepara afastar a inquietude espiritual e aspreocupações do corpo e para orientar meuespírito o mais possível para o que há demais elevado, que é Deus; e faço isso sob aautoridade de Mercúrio e de Platão, quedisseram que a música nos foi dada porDeus para dominar o corpo, equilibrar oespírito e louvar a Deus. Sei que Davi ePitágoras prescreveram a música antes detudo e creio que eles também a pratica-ram. Adeus”.

O MÚSICO “QUE TOCA SEU PRÓPRIO

INSTRUMENTO”

É isso, portanto, o que escreve MarsílioFicino sobre a estreita relação entre amedicina e a música. Ninguém teve idéiastão elevadas sobre a música como Ficino.Bach e Haendel subscreviam suas compo-sições com as letras S.D.G.: Soli DeoGloria (sob as graças de Deus). O grandemístico sufi Hazrat Inayat Kahn fazia arelação entre a música e o aspecto divinodo homem. Quando ele parou de fazermúsica, explicou sua decisão assim:

“Toquei vina até o momento em quemeu coração mudou com este instrumento.Depois disso, ofereci este instrumento aoMúsico divino, o único músico verdadeiro.Desde então, me tornei seu instrumento equando ele quer, toco sua música. Os ho-mens me honraram por causa desta músi-ca, que não vinha de mim, mas do Músicoque tocava seu próprio instrumento.”

Ficino também escreveu diversas car-tas sobre a filosofia. Uma delas tem comotítulo “Louvação da verdade”.

“Marsílio Ficino saúda Angelo Polizia-

no, o poeta homérico. Você diz que há cer-tas cartas que circulam com o meu nomeno estilo de Aristipo e em parte no estilo deLucrécio, mais do que no de Platão. Se elasfossem minhas, Angelo, elas não seriamassim, e se elas são como você diz, elas cer-tamente não são minhas, mas de algunsque querem me prejudicar, pois sou, desdea juventude, um discípulo de Platão, comotodos sabem. Pode-se reconhecer minhascartas por este sinal que as distingue: nelassempre existem certos pensamentos éticos,científicos ou teológicos para despertar ospoderes inatos do espírito. Se às vezes elasevocam o amor, este é sempre platônico ehonesto e não imoral, à moda de Aristipo.A louvação justa é aquela que aguilhoa ouestimula sem favorecer a ninguém. Emminhas cartas, quase não há palavrassupérfluas, pois decidi, desde o início demeus estudos, escrever da maneira maisconcisa possível, pois falar de coisas supér-fluas em um texto tão curto é próprio maisde quem ama as palavras do que quemama a sabedoria. E como são raros aquelesque sabem muito, os que falam muitogeralmente dizem mentiras ou coisassupérfluas, ou as duas coisas. Isso é indignodo homem e mais ainda de um filósofo.Saudações”.

VENERAR A VERDADE COMO A ÚNICA

IRRADIAÇÃO DE DEUS

Assim Ficino indica de forma seguraquais são as cartas escritas por ele e quaisnão são, o que dá idéia de reuni-las paraserem impressas. Ele explica em uma delaso que ele entende por “verdade divina”:“A verdade divina é irradiação, beleza,amor. O principal desejo do divino Platãofoi o de demonstrar que existe uma origemdas coisas como ele expõe em Parmênides e

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Epimônis. Ele deu a esta origem o nomemais apropriado de: o único Ser. Ele diztambém que a única verdade que englobatudo é o Ser, ou seja, a luz do único que éDeus; que penetra o espirito e a forma detodas as coisas; que mostra as formas aoespírito e re-liga as formas ao espírito.Quem quer proclamar a doutrina dePlatão deve, portanto, venerar a únicaVerdade (ou seja, a Verdade única) comoa única irradiação divina. Esta irradiaçãopenetra o mundo dos anjos, das almas, docéu e outros mundos. E como já explicamosno Livro a respeito do amor, o brilho daverdade irradia em cada pessoa de acordocom sua própria natureza e é chamado degraça e beleza. Quando este brilho é maisnitidamente visível, atrai aquele que voltaseu olhar para ele, estimula quem refletesobre ele e transporta quem dele se aproxi-ma. E este é obrigado a venerar mais quetudo este brilho como uma força divina, enão deve fazer mais nada a não ser esfor-çar-se para irradiá-lo para o exterior,depois de ter deixado sua antiga natureza.A situação é a mesma de um amante que,não contente de ver ou de tocar sua bem-amada, fica exclamando sem parar:‘Quem é este ser que faz de mim umachama e um fogo? Não compreendo o quedesejo!” Então, parece que a alma é infla-mada pelo fogo divino que reflete, comoem um espelho, um ser de bela aparência;e que a alma, por este brilho, é atraídapara o alto, sem perceber, de tal modo quea alma vai-se tornando Deus. Assim, qual-quer pessoa que é atraída por Deus pormeio do poder da vista, mas teima em con-tinuar na lama por sua atração ao sensível,torna-se infeliz e estúpida. Apesar depoder tornar-se Deus contemplando abeleza divina na beleza humana, esta pes-soa faz de si mesma um animal, preferin-do a forma física e falaciosa à beleza espi-ritual e verdadeira”.

O CAMINHO DA PERFEIÇÃO

Na carta sobre a tenacidade diante dodestino, Ficino dá conselhos sobre o com-portamento que deve ser adotado por quemquer percorrer o caminho da perfeição.

“Sobre a tenacidade diante do destino,Marsílio Ficino saúda Giovanni Caval-canti, seu amigo muito querido. Platão nosdiz, no Teeteto que trata de ciência, queSócrates protegeu poderosamente seuamigo Teodoro, o matemático, contra osgolpes do destino com armas de ouro e nãode ferro como faz a maioria. Eis o que elediz: ‘É impossível, Teodoro, extrair o malda raiz pois é necessário que sempre hajaalguma coisa que se coloque diante dobem. O mal não pode vir dos deuses, masele envolve necessariamente a naturezamortal, as regiões inferiores. Esforça-tepara fugir o mais depressa possível para asenda superior. Falando de fuga, entendoque é preciso que nos tornemos semelhan-tes a Deus o mais rápido possível. Por meioda compreensão profunda, o desinteresse ea eqüidade, o homem torna-se semelhantea Deus”. Vou explicar rapidamente comocompreender este conselho de nosso divinoPlatão. Assim como Deus é o criador e ocondutor de nossas almas, o universo é ogerador e o condutor de nossos corpos.Como a alma é filha de Deus e os corpossão os membros do universo, nossa alma édirigida por Deus como por um pai, demodo clemente e maravilhoso, de acordocom as leis da providência. Mas é o mundofísico que arrasta nosso corpo com as forçasdo destino na violência e na paixão, assimcomo a parte sempre é arrastada para otodo ao qual ela pertence. Mas as forças dodestino não podem penetrar em nosso espí-rito, a menos que ele se abandone ao corposubmetido ao destino. Que ninguém se fieinteiramente a suas próprias forças e a sua

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própria compreensão para evitar as doen-ças corporais ou os acontecimentos futuros.Não deixem a alma perder-se no corpo,mas que ela se retire no espírito a fim deque o destino descarregue suas forças nocorpo e não na alma.

O sábio e prudente não lutará contra odestino, pois isso não tem sentido; ele resis-tirá, esforçando-se para evitar isso. Não sepode afastar o infortúnio, mas pode-semuito bem fugir dele. É por isso que Pla-tão pressiona nosso coração para fugirdaqui, isto é, para renunciar ao amor pelocorpo e pelas coisas exteriores, para acabarencontrando um recurso enquanto cuida-mos de nossa alma. Não há outra maneirade nos desviarmos da infelicidade; e eleacrescenta: ‘o mais rápido possível’. Poressa razão penso que, desde a juventude, épreciso começar a fazer a separação entre aalma e o corpo, a fim de evitar que a almanão pereça por seu intercâmbio com ocorpo. Esteja certo de que, por meio deuma fuga como essa, a alma torna-se iguala Deus porque, liberta de seus laços com ocorpo, ela surge semelhante a Deus.

Adquirimos essa liberdade especialmen-te a partir de três virtudes: a compreensãoprofunda, a eqüidade e o desinteresse. Acompreensão nos faz distinguir o quedevemos a Deus e o que devemos aomundo; a eqüidade faz com que passemosa dar ao mundo o que lhe pertence; e odesinteresse, o que pertence a Deus. É porisso que o sábio se distancia de seu corpocomo de uma pequena parte do mundo e oconfia ao ciclo das coisas, para onde eledeve ser conduzido. Ele mantém sua alma,que é filha de Deus, afastada do intercâm-bio com o corpo e a confia à providênciadivina, para que ela a dirija de acordo coma sua vontade. Se seguirmos esta regraáurea que Platão nos oferece, meu queridoGiovanni, animados por um fogo celeste,contornaremos sãos e salvos o enorme re-

demoinho do destino e logo chegaremos aoporto, sem avarias”.

CONSELHOS E CONCEITOS

ATEMPORAIS

É claro que Marsílio Ficino desempe-nhou um papel muito importante no pla-no da cultura européia, e que isso aconte-ce ainda hoje. Suas cartas contêm concei-tos e conselhos atemporais que serão sem-pre atuais. Ele escreve a Antonio Se-raphico sobre o nobre comportamentoque resulta de uma aspiração séria e bemsustentada. A carta é intitulada: “A respei-to do homem sábio e feliz”

Marsílio Ficino saúda seu confrade filó-sofo Antonio Seraphico de San Miniato. Euconsidero um homem sábio e feliz aqueleque continua alegre e jovial diante daadversidade, porque ele somente tem con-fiança em Deus. O medo não o põe fora desi, a dor não o tortura, o prazer não o tocae o desejo sensual não o inflama. No meiode uma moita espinhosa das mais impene-tráveis, ele colhe belas e frágeis flores, e nalama ele acha e daí retira pérolas. Ele con-tinua a ver, mesmo nas trevas mais escurase, mesmo acorrentado, ele rapidamentetoma vôo, livre e sem entraves. E o Espíritoceleste o acaba sempre inspirando. Por-tanto, siga o exemplo de Pitágoras, de Só-crates e de Platão, que se consagravam àfilosofia mais pelos atos do que pela razão,mesmo quando foram perseguidos pelafatalidade. A filosofia, que muitos profes-sam com a boca, eles a aplicavam de todocoração. Seraphico, quem não vivencioupor si mesmo, tem um conhecimento inútil.Adeus e persevere em seus bons hábitos”.

Na última carta que citamos neste arti-go, vemos como Ficino seguia apaixona-damente as idéias de Platão. O título é

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“Os que conhecem Deus estão despertos:o resto dorme”.

“Marsílio Ficino a Giovanni Caval-canti, seu amigo particularmente querido,saudações. Algumas pessoas se espantampelo fato de venerarmos tanto Platão, ape-sar das contradições e dos mitos confusosque encontramos o tempo todo em suasobras. Mas penso que estas pessoas logo vãoparar de se espantar quando perceberemque somente as coisas divinas existem ver-dadeiramente, que elas jamais serão atin-gidas por alguma influência externa e queo estado das coisas divinas não mudajamais. A matéria física sempre está sendosubmetida a forças contrárias e vai-setransformando continuamente. É por issoque a substância física tem menos valor doque todas as outras substâncias, apesar daaparência do contrário. Esta é a verdadeirarazão pela qual a matéria física jamais seráuma verdade, mas somente um reflexodela. E, enquanto quase todos os filósofosse devotam exclusivamente ao estudo damatéria física e dormem, nosso Platão seaplicou em estudar o divino e foi, entremuitos, o mais desperto de todos os filóso-fos. É por isso que penso que mais vale se-guir Platão, que conhece Deus, do que osoutros filósofos, assim como vale mais con-fiar em um comandante de navio bem des-perto do que em um que está dormindo”.

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UMA PONTE É LANÇADA RUMOÀ GNOSIS HERMÉTICA

Por ocasião do aniversário de morte deMarsílio Ficino, há 500 anos, foi organi-zado um simpósio, em 24 de abril de 1999,em Renova, na Holanda. Os 259 partici-pantes da Bélgica, Alemanha, Suíça e

Holanda assistiram a três exposiçõessobre o filósofo italiano que marcou comseu timbre o pensamento da Renascença:- O simpósio, alimento da alma.- A descoberta do corpo intacto de

Hermes- A realização da renascença atual.

No hall de entrada do Centro de Con-ferências de Renova estavam expostas asreproduções do afresco A procissão dosReis Magos, de Benozzo Gozzoli. Podi-am-se também ser admirados vários ma-nuscritos de Ficino emprestados pela Bi-bliotheca Philosophica Hermetica deAmsterdã. O terceiro simpósio, desta vezsobre Jacob Boehme, acontecerá em 20 demaio de 2000.

Simpósio deMarsílioFicino emRenova,Bilthoven,Holanda.

Ficino, emdetalhe doMilagre doSantoSacramento,por CosimoRosselli (1486).

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Os seres humanos chegam ao século

XXI em um mundo agitado e baru-

lhento. Dividindo suas vidas entre

inúmeros centros de interesse, eles são

dirigidos pela publicidade e pela socie-

dade de consumo. O progresso e o bem

estar parecem oferecer a eles tudo o

que imaginam e querem possuir. Mui-

tos têm o suficiente para viver confor-

tavelmente, enquanto outros mergu-

lham sem esperanças na pobreza e na

miséria. Todos querem mais e cada vez

mais! Mas por quê? O que ainda está

faltando?

Todos os dias, um número crescente depessoas está sendo constrangido pela faltade tempo. Elas já não têm nem um minu-to de sossego, voltam das férias cansadas eestressadas, sentindo um grande descon-tentamento. Tempo, descanso e satisfaçãoficaram raros neste mundo apressado,preocupado com poder e dinheiro. Tempoe descanso (e ainda muito limitados) sóexistem para aqueles que sabem se conter:eles refletem sobre sua existência; elesprestam atenção aos obstáculos que osseparam de outras dimensões e esperamescapar deste mundo que só pode ofereceruma felicidade muito curta.

O progresso e o bem estar ajudam, semdúvida, como um paliativo provisório,contra o sentimento de vazio exterior.Mas são incapazes de eliminá-lo radical-mente. O ser humano sempre está sentin-do este vazio, mas sem saber como resol-ver o problema. Ele sente: “Quem sabevou conseguir ser feliz se conseguir des-cobrir o véu que oculta o mistério de

minha vida?” Mas, enquanto isso nãoacontece, ele continua a passar por suasexperiências.

A compreensão de que ele não está cla-ramente pronto para suportar este senti-mento de vazio, certamente serve de ajudaem seu caminho. O autor austríaco StefanZweig (1881-1942) declara: “O sentido davida é mais do que a própria vida”. Este“mais” refere-se a algum tipo de cresci-mento no plano externo? Será aquilo queultrapassa as preocupações cotidianascom seu próprio bem estar? Será que istotem a ver com uma evolução interna? Emsuas exposições filosóficas, Zweig mostraque estava buscando um sentido superiorpara a vida. Mas, desespero e decepçãoforam destruindo suas ilusões e ele se sui-cidou, depois de constatar que a Europaestava se tornando um completo campode batalha.

Somente a alma vivente alimentada pelaGnosis tem a possibilidade de fazer evo-luir o homem espiritual, o que muitosdesesperados da época de Zweig estavambuscando. De fato, a alma que se elevaacima da violência terrestre conhece oobjetivo da vida e conduz o homem pelasenda de sua verdadeira vocação.

RECONHECIMENTO DA HERANÇA

ESPIRITUAL

O significado da vida torna-se, portan-to, visível para aqueles que estão buscan-do em seu ser mais profundo. A almaespera ser encontrada debaixo de espessascamadas de ilusão que a recobrem.Descobrir sua alma que morre de sede éum processo criador radical, que exigemuita coragem, pensamentos totalmente

A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO DIVINO: OBJETIVO DA ALMA HUMANA

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diferentes, uma reflexão sobre a vida e suaorigem, uma introspecção extremamenteprofunda, para daí extrair a luz que écapaz de expulsar as trevas da vida coti-diana.

QUAL É A ORIGEM DE NOSSA

EXISTÊNCIA? DE ONDE VIEMOS? QUAL É

A FINALIDADE DE TERMOS SIDO CRIADOS?

A vida na terra não passa de uma fasedo desenvolvimento humano. A humani-dade está viajando através do universo eatualmente está no ponto mais baixo desua materialização. Ela está passando poruma guinada em seu processo de realiza-ção! Sim, pois se a alma sabe libertar-se damatéria, ela vai voltar a subir a curva daevolução. Ela vai encontrar-se no últimobarrote da escada que, atravessando todosos domínios da criação, conduz aoEspírito.

O homem vivia, antigamente, em ummundo superior em total harmonia com alei do espírito. Mas ele desviou-se delibe-radamente de Deus a fim de construirpara si um mundo “melhor”, acreditando

que era imortal. As três dimensões da vidaterrestre impuseram-lhe então algumasleis, que ele teve de respeitar para viver,quer isso lhe agradasse ou não!

A matéria foi pouco a pouco o enfeiti-çando e ela o reterá aqui até o momentoem que ele descobrir o objetivo superiorda vida e aspirar a ele. Até aí ele será deter-minado por forças contrárias e pela insta-bilidade de todas as coisas. O que ele per-cebe, com seus olhos ou por meio de ins-trumentos de astronomia, pertence àsdimensões do espaço e do tempo, e ele ésubmetido ao círculo do nascimento, docrescimento e da morte. Assim, sua exis-tência está limitada no ilimitado doInfinito. Ora, esta humanidade foi amesma que escolheu seus obstáculos ao sedesviar do Espírito para seguir seu pró-prio caminho.

Como é uma célula da humanidade, ohomem recebeu como herança de sua vidaoriginal uma centelha de fogo que traztodo o seu passado e seu futuro sob aforma de “genes”. Esta centelha de luzpode fazer com que ele se volte novamen-te para o Espírito, se quiser, mas paratanto é preciso que ele passe por muitasexperiências, sobretudo é preciso que ele

O Unicórniomolha seu chifrena corrente parapurificar a água(gravura de JeanDuvet, cerca de1562,MetropolitanMuseum of Art,New York).

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renuncie a sua própria sabedoria e se voltepara a Luz. Esta caminhada dá um sentidoà vida: é o próprio significado da vida!

A LUTA PARA MANTER O EU

E o que impede o ser humano de seguira senda do Espírito? A Gnosis! Podeacontecer que ele mal perceba os impulsosda Gnosis, ou que ele sinta seu estímulo,mas reage inconscientemente de modoerrado. Pode acontecer, também, que eleesteja perfeitamente consciente desteapelo interior, mas que se recuse a reagircom conhecimento de causa.

Nos países onde reina uma prosperida-de atraente, é difícil para o buscador man-ter firmemente o fio da orientação inte-rior. Tantos interesses o mantêm prisio-neiro que mal ouve o chamado da Gnosis,isto sem falar em compreendê-la ou segui-la. Sua busca de realização se horizontali-za completamente: é uma caça cega embusca da felicidade ou uma corrida parauma vida melhor; e a alma que se lembrade sua origem deixa-se levar, dessa forma,por uma conquista que não passa de umacaricatura.

O ser humano está mais ou menosconsciente de seu próprio mundo mate-rial, pois ele pensa e faz seus projetos(projetos que ele vai ajeitando ao redor deseus interesses pessoais e aos quais eledevota toda a sua energia). A realização deseus ideais no mundo exterior dá a suavida uma finalidade e a própria autocons-ciência. Quem não está tentando se afir-mar neste mundo? Pode-se evitar a luta ea agitação, que são as conseqüências natu-rais da necessidade de se manter na vida?Assim nós nos esgotamos, em uma luta

sem fim contra o mundo, e a alma ficaabandonada e empobrecida. Com seusmilhões de semelhantes, o ser humano vaiconstruindo a fortaleza de seu EU, e lutapara que seu EU seja melhor que o dosoutros!

Ele mesmo está se acorrentando às leisterrestres. A inércia e o hábito determi-nam seus pensamentos, sentimentos, von-tades e ações. Suas aspirações de poder,sua avidez, suas saídas dos trilhos refletemas limitações de sua consciência obscure-cida. Ele mesmo criou os valores queforam substituindo o verdadeiro desejo desua alma. E então seria de se estranhar queele já não possa ouvir a voz desta alma?

QUEM ASPIRA AO ESPÍRITO CUMPRE

A LEI DO ESPÍRITO

“O mundo e suas atividades”, diz JacobBoehme, “lançam um véu sobre o mundoespiritual, da mesma forma que a alma érecoberta pelo corpo”.

A finalidade da vida é levantar e retirareste véu: é ver o mundo tal qual ele é,como uma região de passagem para ohomem que está a caminho rumo aoEspírito. Deste ponto de vista, o mundonão passa de uma aparência, uma sombrado campo de vida original. Ele é como umvéu que recobre a realidade e impede ohomem de perceber a eternidade.

Quanto à alma, esta conhece aEternidade, pois a Eternidade é a suanatureza. Seus poderes somente podemser demonstrados quando o eu compreen-de que não irá jamais entrar naEternidade, porque ele não está capacita-do para tanto e porque ele é um produtoda natureza que perdeu o rumo e se des-

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viou. É por isso que o espírito, a Gnosis,dirige-se à alma, a fim de que ela despertee saia da matéria, a fim de que ela se des-faça dos véus que a envolvem e receba aLuz para viver da Luz.

Enquanto não se abrir, não se tornarreceptivo à Luz, o ser humano pode real-mente esforçar-se para tornar sua vidamais agradável, mas não vai conseguirentrar no novo campo de vida. Para ele éimpossível alcançar o Espírito por meiode suas próprias forças. A Gnosis unica-mente o tocará se ele já não basear suavida em seu próprio orgulho, sabedoriapessoal e suas capacidades terrestres, quesão fruto das percepções enganosas deseus sentidos; se ele compreender que avida tem um objetivo superior que é oúnico valor verdadeiro que deve ser atin-gido; se ele captar o que torna a vida ver-dadeiramente digna de ser vivida; se elequiser aspirar ao Espírito.

OS PODERES DA ALMA E A FORÇA

QUE TUDO MUDA

Podemos considerar o ser humanocomo um reflexo de toda a criação: umpequeno mundo, um microcosmo. Eletraz em si o céu, o inferno, a vida eterna ea vida terrestre, a liberdade e o aprisiona-mento. Ele possui em si toda a criação emtamanho pequeno e busca a possibilidadede expressão.

O desejo e a aspiração atraem forçascorrespondentes. Se alguém estiver volta-do para a vida material, fará parte destavida. Se estiver voltado para a Gnosis,para o Espírito, ele fará parte do Espírito.A força do Espírito, sua sabedoria e seuamor lhe serão conferidos e nele irão agir

crescentemente, à medida em que ele forse abrindo ao Espírito.

É assim que a alma vai poder se libertarpouco a pouco da matéria. Seus poderesirão se desenvolvendo à medida em queela for escapando das exigências do corpo,para conseguir tornar-se um perfeito ins-trumento do Espírito. A alma é um cáliceque pode não somente receber as forçasda Gnosis, mas também transmitir a cor-rente gnóstica regeneradora no imo dosseres humanos. Assim, ela tem a capacida-de de transformá-los radicalmente e defazer com que eles se engajem no proces-so da transfiguração.

A VITÓRIA SOBRE O EU E A

RENÚNCIA

Quem se entrega à força regeneradora etransformadora da Gnosis segue umasenda sobre a qual as influências do eu nãoparam de diminuir. “Ele deve crescer e eudevo diminuir”. Quem, no início estavasomente voltado para si mesmo, volta asua face para outra direção. Seus esforçosegocêntricos vão diminuindo, seu interes-se pelo poder e pelas posses terrestres vãodesaparecendo, e sua vida vai-se dirigindo

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para um objetivo preciso e imenso, paraonde ele já não será vítima de nenhumadoença, sofrimento e morte. O orgulho, aambição e a cobiça separam o ser humanode Deus. Quando estas tendências vãodesaparecendo, elas vão sendo substituí-das pela humildade e por um sentimentode profunda ligação com os outros sereshumanos. A impaciência, a resistência e acólera endurecem a alma e causam doen-ças. O ser que se liberta de tudo isso vêsurgir a paciência, a aceitação e a alegria.Se ele renunciar à avidez, à agitação e àinveja que o aprisionam em atividadesfebris, ele faz nascer a calma, a paz, a har-monia e a moderação. Então, ele já não vaicorrer atrás de uma felicidade superficial,de pequenos sucessos momentâneos ou daestima dos outros. Ele volta a si, ele “caiem si”.

Quando seus atos já não forem deter-minados pelo egocentrismo, ele aprenderáa agir segundo os princípios da Gnosis: eleirá buscar a verdade e tentará viver juntodela. Ele aprenderá a aceitar também aslimitações do mundo que já não escondedele o verdadeiro objetivo de sua vida: eleaprenderá a julgar o mundo em função desua tarefa. Ele também verá que a terra eos limites da vida terrestre são sempreoportunidades de sofrimento característi-cas da imperfeição humana.

A FORÇA CRÍSTICA MANIFESTA

O SER HUMANO VERDADEIRO

Posse e poder, de fato, nada represen-tam. O homem somente tem valor real nacriação se encontrar e seguir o caminho dalibertação interior; e ele dá valor a seussemelhantes quando reflete sobre a finali-

dade da existência, quando descobre estafinalidade e dela tira suas conseqüências.A reflexão e o autoconhecimento são,portanto, tão essenciais quanto a desco-berta de que existe dentro dele um outroprincípio, diferente do eu que ele coloca-va em um pedestal: um ser que não estáligado ao homem da natureza e a seusinteresses.

Quem, deste modo, “cai em si”, dálugar ao homem interior, verdadeiro, quedeve nascer dentro dele. Este homem temo nome de homem-Jesus. Ele vai seguindosua senda de crescimento interior: a sendana qual o Cristo poderá se manifestar.Quem está consciente desta herança espi-ritual, deste princípio de luz que permite aressurreição do homem-Espírito, podeseguir esta senda. Todos os que seguemesta senda reconhecem a verdadeira finali-dade da existência e sua vida, finalmente,ganha um profundo significado.

Cavaleiro sobreum unicórnio(Konrada vanVechta, Bíblia deAnvers, MuseuPlantino Moretus,em Anvers, naBélgica).

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Desde 24 de agosto de 1924, as reações

positivas ao chamado da Fraternidade

da Rosacruz Áurea não param de cres-

cer. Para celebrar este desenvolvimen-

to mundial, centenas de alunos belgas

e holandeses reuniram-se em Haarlem

para um serviço templário especial e

para a colocação da pedra comemora-

tiva sobre a qual estão gravadas as

seguintes palavras:

“PARA QUE O HOMEM COMPREENDA,ENFIM, SUA NOBREZA E SUA MAJESTADE E

A RAZÃO PELA QUAL ELE É CHAMADO DE

MICROCOSMO”.

Entre 10 de dezembro e 19 de fevereirode 1999 aconteceu a exposição “O Cha-

OS 75 ANOS DE ATIVIDADE DA

ROSACRUZ ÁUREA

Vós sabereis, com base na autoridade de vossas almas esvaziadas segundo a natureza.

Z. W. Leene

Há muito tempo a verdade é um valor astral oferecido aos homens pelos homens.

Jan van Rijckenborgh

Se perseverarmos em nosso trabalho em total auto-entrega, o espírito da verdade se elevará efalará cada vez mais claramente no mundo.

Catharose de Petri

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À esquerda,Biblioteca Real deHaia, na Holanda.

Embaixo: concertona Orangerie deDarmstadt.

mado da Rosa-Cruz, quatro séculos deuma tradição sempre viva”, na BibliotecaReal de Haia, na Holanda. Esta exposiçãoatraiu mais de 2500 visitantes e foi organi-zada pela Biblioteca Real, pela BibliothecaPhilosophica Hermetica de Amsterdã epelo Lectorium Rosicrucianum de Haar-lem. Ela apresentou um vasto panoramadas inúmeras reações e respostas aos Ma-nifestos Rosa-cruzes que surgiram no sé-culo XVII.

CONCERTO NA ORANGERIE DE

DARMSTADT, ALEMANHA

Sete alunos do Sul da Alemanha deramum magnífico concerto no dia 16 de junhode 1999 na belíssima sala da Orangerie deDarmstadt. O programa somente com-preendia composições e poemas dos alu-nos do Lectorium Rosicrucianum.

Tens o conhecimentoEm forma de intuição,E, se fizeres silêncio,Poderás aproximar-te dele.Calar-se não quer dizerEntrar no silêncioReflete a respeito dissoFicando silencioso.

O CAMPO DE TRABALHO DA

ALEMANHA OCIDENTAL

Este é o 15º centro do sul da Alemanha,que foi inaugurado no dia 23 de outubrode 1999 em Coblentz. Com o Centro deConferências de Birnbach, os Centros deCoblentz, Bonn, Düsseldorf, Essen,Frankfurt, Giessen, Colônia e Wiesbadenformam o campo de trabalho da Ale-

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manha Ocidental. Em Coblentz há umtemplo, uma sala de contato para cerca de60 pessoas e uma sala de silêncio. Na vés-pera da inauguração foi realizada umatarde de “portas abertas” ao público, in-cluindo uma exposição que atraiu umgrande número de visitantes.

COLOCAÇÃO DA PEDRA FUNDAMENTAL

NO TERCEIRO CENTRO DE CONFERÊNCIAS

DA ALEMANHA, EM BIRNBACH

Este evento aconteceu no dia 29 demaio de 1999, na presença de inúmeraspessoas vindas da Alemanha e do exterior.Falar de pedra fundamental, no caso falarde uma pedra que foi colocada em umadas paredes do grande templo não é com-pletamente correto, pois uma grande partedas construções já estava terminada. Birn-bach está situada no coração da Europa, láonde a Fraternidade dos Rosa-Cruzes co-meçou seu trabalho para o mundo e a hu-manidade no século XVII. É aí que se de-senvolveu uma importante parte da histó-ria do desenvolvimento espiritual da Eu-ropa e de inúmeras culturas européias quenela se inspiraram. “Nós estamos conti-nuando esta história”, declarou o Sr.Schneemann, membro da Direção Espi-ritual Internacional, “colocando a primei-ra pedra de um conjunto de construçõesque serão consagradas ao trabalho gnósti-

co no final do ano. Este conjunto com-preende um grande templo, dormitórios,salas de silêncio, uma cozinha e um refei-tório para cerca de 600 pessoas, um hall deentrada, escritórios administrativos e alo-jamentos para o staff permanente. Assim,pela primeira vez na história da JovemGnosis, está sendo construído um centrocompleto. Antes, um projeto como estedevia ser realizado por etapas, por causado custo. Começava-se pelos dormitórios,

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Ao alto: colocação dapedra come-morativa, em29 de maio de1999 emBirnbach.

Embaixo: o novo Centrode Conferên-cias quase terminado emdezembro de1999.

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depois vinham o refeitório e a cozinha; aconstrução do templo era feita depois.Pudemos realizar este projeto de uma vezsó graças aos alunos de toda a Alemanha.Este grupo bem determinado desejavaverdadeiramente a realização deste tercei-ro centro de conferências e assim o foiconstruindo durante dez anos seguidos,com uma base financeira que ultrapassoutodas as expectativas. Ninguém de forapode imaginar como foi. Caros amigos,vocês tornaram possível o impossível, ehoje nosso projeto tomou forma: isto é umacoisa certa! O amor de vocês e o seu devo-tamento para com a Escola Espiritualagora estão bem visíveis. O texto gravadosobre a pedra comemorativa é o seguinte:

“A glória de Deus e o plano divino parao mundo e a humanidade são inatacáveis.Nem as alturas, nem as profundezas, nema distância poderá nos separar d’Ele, quenos dá a vitória e depositou em nós a forçada vitória como uma semente, como umpoder criador latente.”O Sr. H. Albert, membro da DireçãoEspiritual Internacional, acrescentou:“Vocês acabam de ouvir as palavras queestão gravadas na pedra comemorativa.Vocês irão compreender que esta promessanão se dirige unicamente aos alunos daEscola Espiritual da Rosacruz Áurea, mastambém a todos os homens e ao nosso pró-ximo. Entretanto, a maioria dos homensnão está completamente consciente, apesarde possuir as mesmas possibilidades liber-tadoras que nós. Sim, há no mundo umgrupo relativamente pequeno que conheceo objetivo da humanidade, ou seja, a rea-lização do ser interior pela elevação emuma vida superior. Com relação à huma-nidade inteira, nós formamos apenas umgrupo muito pequeno entre aqueles quetendem mais ou menos conscientementepara esta realização. Todos esses grupos seencontram em níveis de desenvolvimentodiversos, mas eles têm algo em comum:eles estão se esforçando para descobrir eabrir a senda da vida superior”.

O Centro de Conferências de Birnbachserá inaugurado oficialmente em marçodo ano 2000 sob o nome de Christia-nopolis.

DOIS NOVOS CENTROS NA ÁUSTRIA

Há 20 anos o Centro de Salzburg serviacomo Centro de Conferências de renova-ção. Desde que estas conferências passa-ram a acontecer em Schloss Neustein,Salzburg tornou-se um Centro regional.Mas como o lugar foi ficando muitopequeno, foi providenciado um outrocentro, muito bonito, em um bairro tran-qüilo. Além disso, desde agosto de 1999Graz dispõe de um espaço em que os alu-nos e os pesquisadores podem se reunir.Os locais se encontram no primeiro andarde um imóvel, em um conjunto de fácilacesso construído em um antigo terrenoindustrial.

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SIMPÓSIO SOBRE O CRISTIANISMO, NA

REPÚBLICA DOS CAMARÕES

Sobre a entrada, uma bandeirola traziaa seguinte inscrição: “Simpósio sobre ocristianismo, organizado pelo LectoriumRosicrucianum, Camarões” Este foi umdos inúmeros anúncios para esta reuniãomuito especial de 4 de julho de 1999, nohotel Hilton de Yaoundé, capital daRepública dos Camarões. Um auditorinterrogado pela imprensa, não escondiasua admiração: “Parabéns para esta comu-nidade espiritual que é a primeira a tomara iniciativa de falar sobre este tema emnosso país! O que se passou aqui hoje émuito bom. Eu felicito os organizadores”.Um outro observou no mesmo jornal:“Não tenho nada a dizer sobre a organi-zação: tudo se passou muito bem! O estan-de de livros estava magnífico. Tive a chan-ce de vir um pouco mais cedo para olhar aexposição. Realmente, todo mundo estámuito bem informado. As pessoas quemostravam os livros conheciam o assuntosobre o qual eles falavam. A organizaçãome parece ser perfeita!

Houve 4 exposições:• Vinte séculos de cristianismo: quais são

os resultados?• O cristianismo até a Idade Média.• O cristianismo a partir do Renasci-

mento.• O cristianismo gnóstico no século XX.

O programa começou às 14 horas comuma introdução do Sr. Simon Emini Efa,organizador do simpósio, que declarou aorepórter da revista mensal Educação 2000:“O simpósio tem como objetivo definir ocristianismo e em seguida avaliá-lo, poisnão é possível avaliar algo que não conhe-cemos. Além disso, o simpósio quer tentarsalvar o que ainda vale a pena na huma-nidade. Os senhores sabem que as religiõesnaturais praticam um cristianismo comple-tamente exterior, que não pode libertar aalma. Somente o cristianismo interior écapaz de fazer isso. No século XX, o Lec-torium Rosicrucianum tem a missão decolocar em prática esta segunda forma decristianismo e de ensiná-la”.Cada tema foi seguido de um trecho demúsica de Bach, Haendel ou Mozart, edepois os convidados puderam fazer per-guntas sobre o assunto tratado. Às 16h45,

Simpósio emYaoundé,República deCamarões.

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foram servidos refrescos belamente deco-rados aos visitantes que chegavam a 800.O programa terminou por volta de20h15. A revista internacional “Eco da Á-frica” observou, no final de seu resumo arespeito do simpósio: “O Lectorium a-proveitou a oportunidade para impulsio-nar as pessoas a seguir este caminho. Este trabalho não será em vão, principal-mente no final de um século em que ahumanidade sofre por falta de uma dire-ção espiritual”.

CONSAGRAÇÃO DO TEMPLO DE

LIBREVILLE, NO GABÃO

Por ocasião da consagração do Templode Libreville que reuniu nesta tarde tan-tas pessoas, lembramos que a Escola daRosacruz Áurea já tem 17 anos no Gabão.O trabalho começou em 1980, com umúnico aluno. Em seguida, foram dois ehoje são quase 100 para uma população de1.200.000 pessoas. Apesar dos graves pro-blemas financeiros que pesam sobre eles,os alunos reuniram, com maior ou menor

800 ouvintes no hotel HiltonYaoundé,República deCamarões.

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dificuldade, uma soma de 11.600.000francos CFA. Uma vez mais agradecemosos amigos que nos ajudaram a desenvolvero trabalho espiritual, apesar de todos osobstáculos.

AMPLIAÇÃO E REFORMA

EM LA PAZ

Em La Paz, a 3.800 m de altitude, foicelebrada a inauguração de um novoCentro num sábado, dia 6 de novembro.O templo é muito bonito e pode recebermais de 100 pessoas. Sucre é a capitalfederal da Bolívia, enquanto La Paz é a ca-pital administrativa.

PORTO DE PAZ EM BOGOTÁ, COLÔMBIA

No dia 29 de outubro de 1999 foi inau-gurado o magnífico centro de Bogotá,capital da Colômbia. Com este novoCentro, a Colômbia dispões de três cen-tros onde acontecem Conferências de re-novação regularmente: Bogotá, Cali eMedelin. Bogotá é uma cidade de ativida-de febril de 9 milhões de habitantes.Apesar de tudo, o Centro está situado emum bairro tranqüilo de fácil acesso. O

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Ao alto: entrada do Centro de Libreville, no Gabão.

No meio: Centro de la Paz, na Bolívia.

Embaixo: o novo Centro de Bogotá, naColômbia.

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templo pode receber mais de 120 pessoase compreende salas para diferentes ativi-dades. O financiamento foi asseguradocom a ajuda da Fundação de Zurique.

CENTRO DE CONFERÊNCIAS PEDRA

ANGULAR, EM JARINU, BRASIL

A construção deste Centro começouem meados do ano de 1997. Em umasuperfície de cerca de 1000 m2 deveriamser construídos um grande templo, trêstemplos menores, uma sala de reunião emuitos outros locais. Dois outros edifí-cios deveriam abrigar salas de tradução edois apartamentos para a equipe. De acor-do com o projeto, o terreno deveria estarpronto para a construção entre dezembrode 1997 e junho de 1998. Em julho, iriamacontecer os transporte de materiais e emagosto os trabalhos preparativos para oaterro; em dezembro começaria a constru-ção do templo, que só terminou em feve-reiro de 2000. Inúmeros visitantes foram àinauguração. Foi um acontecimento mui-to importante, do qual falaremos maistarde.

DOIS NOVOS CENTROS NO BRASIL

No dia 17 de setembro houve a inaugu-ração de um novo centro na ruaLaranjeiras, 10, em Belém do Pará, Brasil.Três meses depois, instalou-se o centro deCampinas.

O novo templode Jarinu, noBrasil.

Convite para a inauguraçãodo Centro deBelém, noBrasil.

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DÉCIMO-TERCEIRO TEMPLO

NA ESPANHA

Este décimo terceiro templo da Espa-nha foi inaugurado em 20 de novembro de1999 em uma rua calma do centro da dinâ-mica cidade de Valença. Nos anos 80s,Valença já dispunha de um centro, mas,como este ficou muito pequeno, os alunosse instalaram em uma antiga fábrica deviolões, um edifício de 4000 m2 de super-fície. É amplo para um templo de 140lugares, uma biblioteca e locais para o tra-balho da Mocidade. Há também um pátiointerno com um jardim de aproximada-mente 200 m2.

GERONA, NÚCLEO DA CABALA

ESOTÉRICA

Gerona se encontra ao norte de Bar-celona, perto da fronteira franco-espa-nhola. Esta situação geográfica fez destacélebre cidade histórica mais um núcleode novos desenvolvimentos. É assim queaí se desenvolveu uma viva cultura judai-ca, onde a Cabala desempenhou um papelimportante. Na tranqüila rua La Forca dacidade antiga foi instalado um pequenonúcleo com um templo e uma bibliotecapara alunos e interessados.

Ao alto: grande sala daantiga fábricade violões emValência, naEspanha.À direita: salade recepção do Centro deGerona.Ao lado: rua pitorescaem que seencontra oCentro deGerona.

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REFORMA DO CENTRO DE MÁLAGA, NA ESPANHA

No coração da segunda cidade daAndaluzia, perto da estação e ao lado deum parque tranqüilo, Diego VasquezOtero, 40 alunos de Málaga alugaram umescritório para as atividades do núcleo.Como Málaga está a 900 km aproximada-mente de Saragoza, aí se realizarão quatroconferências de renovação no ano 2000,facilitando a presença dos alunos. Aí tam-bém se encontra uma biblioteca que éregularmente freqüentada pelos alunos epesquisadores. Estes locais foram inaugu-rados no dia 9 de outubro de 1999.

“CONSACRAZIONE DEL CENTRO DI BARI,SABATO 8 MAGGIO 1999, ORE 18H”

Este é o texto do convite oficial para ainauguração do centro de Bari, na Itália, epara a consagração do templo de 45 luga-res. Este novo local se encontra no centroda cidade, em um belo apartamento, nãomuito longe do mar. Bari é uma cidadeportuária na beira do mar Adriático, nosul da Itália, e a cerca de 600 km deDovadola.

Ao alto: a biblioteca parapesquisadores,no Centro deMálaga.Embaixo: o Centro deBari, na ruaLungomariStarita, 24.

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UM NOVO CENTRO NO NORTE

DA ITÁLIA

Quatro meses depois da abertura docentro de Bari aconteceu a inauguraçãosolene do centro de Veneza, na PiazzaMarzabotto em Dolo, uma cidadezinhaque fica no meio do caminho entre Venezae Pádua, em uma região muito ativa edinâmica de cerca de 500.000 habitantes.O templo pode acolher 68 pessoas.

MUDANÇA DO CENTRO PARA

MONTREAL

As conferências de renovação no Cana-dá aconteciam em Mont-Saint-Hilaire,Quebec. Agora, elas acontecem emSutton, e as atividade do centro estão maispróximas de Montreal. Aí está sendo pre-parado um grande templo que será inau-gurado em agosto do ano 2000. Há tam-bém uma ampla sala e, no andar térreo,alguns quartos, para os participantes dasconferências.

PRIMEIRO CENTRO DE CONFERÊNCIAS

DE RENOVAÇÃO NA NOVA ZELÂNDIA

Quando o conjunto dos edifícios ficoupronto, em Karapiro, no centro da Ilha doNorte da Nova Zelândia, os habitantes dacidadezinha foram convidados para virver no que se transformaram “seus” edifí-cios. Este conjunto de quase 8 hectaresperto de Karapiro tinha sido criado pelosconstrutores da barragem. Quando esteúltimo foi terminado, os edifícios vaziosforam vendidos para o LectoriumRosicrucianum, mas os habitantes dacidadezinha se sentiram envolvidos noacontecimento.

Intenso trabalhoem Montreal,para terminar onovo Centro.

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O Centro deConferências deKarapiro, na NovaZelândia, situado àsmargens de umarepresa.

Foram os próprios alunos (ou seja, umpequeno número, pois este país só tem 20alunos) que reformaram o conjunto, a-daptando-o às exigências do trabalhognóstico. Eles transformaram a grande sa-la, o antigo teatro, em um templo para ummáximo de 100 pessoas. Na construçãoprincipal, eles colocaram a cozinha, o re-feitório e diversos escritórios administra-tivos. A “Hotelaria” continuou seu papelabrigando os dormitórios; enfim, a oficinafoi reduzida e instalada na garagem.

No dia 30 de outubro de 1999, os alu-nos se reuniram para celebrar solenemen-te a inauguração do centro de conferên-cias da Nova Zelândia que estava sendoesperada há tanto tempo. Havia três con-vidados australianos, um aluno do ReinoUnido, cinco alunos da Alemanha e 20dos Países Baixos.

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PRIMEIRA CONFERÊNCIA DE

RENOVAÇÃO EM PRAGA

No primeiro número de 1999 nós jáhavíamos mencionado os eventos promis-sores da República Checa. No decorrerdo ano passado, os vinte alunos de Pragamantiveram suas promessas amplamente.O centro encontra-se no pátio interno deum conjunto de edifícios do bairro histó-rico de Wyschehrad, perto da cidade anti-ga. Depois da inauguração do templo, nodia 17 de março de 1998, foi realizada areforma do andar térreo com a criação deuma cozinha, de um refeitório e de umasala para a Mocidade. No dia 13 de abrilde 1999, 26 alunos checos e 59 convidadosestrangeiros encontraram-se reunidospara uma primeira conferência de renova-ção, todos alojados fora do local. Foi

anunciado que a equipe do centro haviaconseguido comprar a casa inteira, inclu-indo o pátio. De abril a junho, os alunosrenovaram as fachadas e o pátio interno, afim de que “elas representassem digna-mente a Escola”.

UMA ESCOLA, E NÃO

UMA SEITA!

A compra, em março de 1999, do quehavia sido um local de radares, emWielun, na Polônia, suscitou uma mani-festação contra “a seita” diante da Pre-feitura. Graças à atitude calma e imparcialdas autoridades, a excitação logo acabou.O jornal “Ziema Wielinska” trazia comomanchete: “Rosa-cruzes no lugar daOTAN?” mas logo no dia seguinte, eleafirmava que os habitantes de Wielun nãoprecisavam se preocupar. Sua manchetedizia: “Uma escola, e não uma seita!” parasossegar a todos. Outros jornais publica-ram artigos sobre o assunto e as respostasna seção de cartas. Surgiram informaçõesno site internacional do Lectorium Rosi--crucianum para responder às insinuaçõese à emoção. O casal de intendentes do pri-meiro centro de conferências da Polôniaabriram suas portas aos interessados e areação foi positiva. Um certo número deprofissionais convidados a colaborar coma reforma do local respondeu com entu-siasmo ao convite.

Wielun é uma cidade antiga e modernaao mesmo tempo, situada no centro dopaís. Ela tem acesso fácil por trem ou porcarro. O centro de conferências se encon-tra um pouco fora da cidade, em um valeonde se alternam campo e floresta. O ter-reno de pelo menos 6 hectares compreen-de quatro “villas” e 3 grandes edifícios decerca de 400 m2, todo em bom estado e

Praça Kresomyslova,

8, em Praga.

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pronto para tornar-se um centro de confe-rências digno deste nome. No edifíciomaior serão instalados um templo provi-sório, um refeitório e dormitórios para100 a 140 pessoas. O acabamento do pisodo templo foi colocado logo que se inicia-ram os primeiros dormitórios e a villa daentrada ficou completamente pronta paraa equipe. O aquecimento central foi insta-lado e o jardim, que estava invadido porervas daninhas foi energicamente limpo,pois o conjunto ficou desocupado duran-te três anos. Agora, o centro dispõe, naprimeira villa, de um refeitório e de umtemplo provisório para as 20 pessoas quetrabalham ao ar livre. A segunda villaabrigará os intendentes e a administração.A inauguração oficial e a consagração dotemplo, assim como a primeira conferên-cia, estão previstas para setembro do ano2000. A compra foi financiada pelosFundos instituídos há 10 anos e a reforma,pelos Fundos Internacionais da Suíça.Muitos alunos poloneses também contri-buíram mais do que haviam anunciadoque fariam e agora podem passar “seusdias de liberdade” em Wielun.

Ao alto: reunião daDireção Nacionalda Polônia no jar-dim de Wielun.Embaixo: prédio do temploprovisório.

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NYIREGYHAZAN, NOVO CENTRO

NA HUNGRIA

A pronúncia do nome desta cidade daEuropa central não é problema... para oshúngaros. “Nyir” lembra as grandes flo-restas de bétulas e “egyhaz” significa “aúnica casa de Deus”, ou “igreja-mãe”.

A partir da necessidade de alguns alu-nos desta cidade e dos arredores, o Lec-torium Rosicrucianum começou a organi-zar conferências públicas em 1995. Emfevereiro de 1997, já havia 34 alunos eassociados. Alugaram uma casa para fazero núcleo, onde o primeiro serviço templá-rio aconteceu no final de maio de 1999.Quando o proprietário viu as belas trans-formações aí efetuadas, colocou a casa àvenda, mas a direção do centro logoencontrou um novo edifício que foi com-prado com a ajuda dos alunos. Em meadosde verão e outono de 1998, os trabalhospermitiram a inauguração, no dia 13 denovembro de 1998, na presença de 53membros deste novo centro.

DUAS REGIÕES LINGÜÍSTICAS SE ENCON-TRAM EM MISKOLC, NA HUNGRIA

Quatro húngaros e 4 eslovacos dividema direção do sétimo centro húngaro emMiskolc, o que fez desaparecer a barreiralingüística entre inúmeras populações.Com a ajuda do grupo de Debrecen, osalunos de Miskolc encontraram um imó-vel na Tuzerstraat, e logo o compraramcom seu próprio dinheiro. No dia 13 dejaneiro de 1999 todos os alunos dos arre-dores foram convidados a vir fazer obalanço e a colaborar com os trabalhos,que caminharam logo que o tempo permi-tiu, e no dia 22 de outubro, o novo centroestava pronto para cumprir suas funções.

Ao alto:NyrregyzahaEmbaixo:Miskolc.

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O PELICANO RESSUSCITA NA

EUROPA ORIENTAL

Quem imaginaria que um antigo quar-tel iria se tornar um centro de conferên-cias? Foi o que aconteceu na Hungria. A30 km a noroeste de Budapeste, os alunosencontraram um conjunto de construçõesmilitares em Uny, no meio de um cenáriomagnífico. O terreno fica num vale e com-preende três lagoas. Em alguns meses, osedifícios abandonados foram reformadose se tornaram irreconhecíveis. O Pelicanoagora é um belo centro de conferênciaspara cerca de 600 pessoas. Em um dos edi-fícios, reservado aos oficiais, encontrava-se a imagem do pelicano que alimenta seusfilhotes. O mesmo símbolo também seapresenta no escritório da prefeitura deUny, e portanto ficou claro que se tratavade um lugar muito especial. Nesta cidadedescobriram os restos de um templo doséculo IX e a informação sobre este lugarsurgiu pela primeira vez em 1193. Até oséculo XI a religião oficial da Hungria foio maniqueísmo. Aí reinava uma duplamonarquia, sob a forma de um rei para osnegócios públicos e de um rei-sacerdote,que residia em Uny. No século XVII, oprotestantismo era florescente nesta cida-de. Além disso, Lajos Kossuth, o chefe darevolução de 1848, era originário de Uny.Portanto, não é de se estranhar que asautoridades e os moradores, um poucopor curiosidade, tenham sido apresenta-

dos à Rosacruz Áurea com um espírito detolerância e de boa-vontade.

Foi na primavera de 1984 que aconte-ceu em Budapeste a primeira palestrapública para 33 pesquisadores interessa-dos. Na primeira exposição que se seguiu,vieram 4 pessoas. Dois anos mais tarde,acontecia a primeira conferência de reno-vação na Hungria, no dia 2 de maio de1987, quando foi celebrada a inauguraçãodo templo. Pouco depois, houve o desmo-ronamento do comunismo, e gnosticismovoltava ao país depois de 9º séculos! Onúmero de centros foi aumentando rapi-damente, assim como o número de alu-nos, que logo ultrapassou a casa dos mil.A literatura do Lectorium Rosicrucianumfoi traduzida e editada no país, em De-brecen. Durante as conferências, no pe-

Refeitório doCentro “OPelicano”, emUny, na Hungria.Embaixo:brasão da cidadede Uny.

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queno centro de Budapeste, de 300 a 500alunos assistiam aos serviços espremidosuns contra os outros, e muitos em pé. Eraindispensável que se construísse um cen-tro maior. Num sábado, 12 de junho de1999, aconteceu a consagração da templo ea inauguração oficial do centro de confe-rências de Uny, que foi assistida por 450húngaros e cerca de 200 alunos daAlemanha, da Croácia, dos Países Baixos,da Sérvia, da Eslováquia, da Eslovênia e daSuíça. Olhando a planta, à esquerda vê-sea entrada, um terreno ondulado onde seráconstruído o conjunto dos cinco templos.À direita, encontram-se os escritórios ealojamento da equipe (EM) e do intenden-te (IV). Em frente, dois edifícios interliga-dos abrigam a cozinha e o refeitório, ser-vidos por um corredor. No refeitório, ele-gantes arcos dividem o ambiente. Durantea conferência, as refeições eram tomadasneste espaço ou em uma grande tenda. Naconstrução B há dormitórios; e, no finalda construção A, o templo provisório.

Em um folheto destinado aosalunos do país e do estrangei-ro, o intendente declara-va: “Estamos criandoum centro na Hungria.Nele estamos acendendoum archote. Este processopode ser comparado aonascimento, quando épreciso superar muitosobstáculos. E é por

isso que temos necessidade dos “pais-mãesque estão plenamente maduros”: esta aju-da procede da consciência de que, acimadas fronteiras nacionais, somos todos célu-las de um Corpo-Vivo [...] E que podemosdar em troca? Um pouco de juventude, deesperança, de fogo interior e de impulsoespiritual de um grupo composto em suamaioria por jovens, de um grupo de jovenspioneiros em desenvolvimento”.

Algumas semanas depois desta primei-ra conferência, o grupo internacional dosJovens Alunos veio construir, pintar, fazerjardins e criar uma quadra de jogos para ascrianças.

Vista aérea doCentro de Con-ferências de Uny.

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Ó maravilha,

Um jardim em meio às chamas,

Meu coração se abre a cada forma:

Ele é prado para as gazelas,

Claustro para monges cristãos,

Templo para os deuses,

Kaaba para os peregrinos,

Mesa para o Thorá,

Livro para os versos do Corão.

Fiel às religiões do amor,

Qualquer que seja a senda delas,

O rastro delas é minha religião

e minha fé.

Ibn Arabi, o autor do poema citado aci-ma, nasceu em 1165 em Múrcia, na Anda-luzia, e morreu em Damasco em 1240. Emsua época, o Islã tolerava o judaísmo e ocristianismo, e estas três religiões viviamem pleno acordo. Ibn Arabi, o “grandemestre” do sufismo, transmite em seusmais de 700 textos, a doutrina da unida-de ou ”wahdat alwudjud”. Durante suavida, ele sofreu a hostilidade dos repre-sentantes da ortodoxia islâmica, e ele foiqualificado de panteísta. Além disso, mui-tos, tanto hoje como antigamente, o lou-vavam profundamente e consideravamsua obra como o máximo da teosofia e dafilosofia do sufismo. Inúmeros pesquisa-dores, tanto individualmente quanto emgrupo, interessam-se vivamente por suasidéias e pensamentos profundos.

Quando jovem, Ibn Arabi foi inspira-do por uma visão de Moisés, Jesus eMaomé. Esta visão lhe deu o sentimentode que estava sendo escolhido por Deus.Há um só Deus, de onde procede toda a

sabedoria, e para Ibn Arabi o conheci-mento dos profetas provinha desta fontedivina. O ponto central de sua doutrina éo “wahdat alwudjud” que geralmente étraduzido como “unidade do ser”: é porisso que muitos conceitos sufis são tacha-dos de panteístas ou de monoteístas.

Entretanto, “wudjud” não significa so-mente “ser”, como demonstrou a profes-sora holandesa Annemarie Schimmel, queindica como é possível traduzir correta-mente este conceito. Esta palavra tambémpode significar, por exemplo, “encontrar”ou “ser encontrado”, o que faz com quesurja a relação entre Deus e o homem co-mo Ibn Arabi a entende. Tudo recebe seu“wudjud”, ou existência, porque tudo se“encontra” em Deus e é conhecido porEle. Deste ponto de vista, o que é real é oque está voltado para Deus: o resto nãoexiste. Esta proposição mostra a origemda concepção dos dois mundos ou dasduas naturezas. O homem terrestre quenão conhece Deus não faz parte da exis-tência real.

O SER HUMANO É UMA SOMBRA

DE DEUS

Em “Fusus al Hikam” (O Anel daSabedoria), a relação entre a unidade e amultiplicidade, entre Deus e o homem éevocada de maneira precisa. Entre omundo (o que é não-divino) e Deus há amesma relação entre uma sombra e o quea projeta. O ser humano, o mundo, o que“não é”, é a sombra de Deus. Esta sombraé perceptível sensoriamente exclusiva-mente por alguém que tem esta aptidão.Se não houver ninguém capaz de perceberesta sombra, então esta continua em esta-

O ANEL DA SABEDORIA

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do de abstração não perceptível pelos sen-tidos. Em outras palavras, a sombra estápresente em potencial na aparência mate-rial que tem alguma relação com ela.

A SOMBRA É TÃO DESCONHECIDA

QUANTO A SUA ORIGEM

O mundo é o campo de existência dohomem decaído e este campo de desen-volvimento é uma projeção do divino. Emoutras palavras, o ser divino não é visível.Sabemos tão pouco sobre Deus quantosobre as formas sob as quais Ele se mani-festa. Da mesma forma que um som ouque uma freqüência somente podem serpercebidos por um instrumento adaptadoa eles, da mesma forma, a sombra divinasomente será percebida por sentidosadaptados, sem que estes tenham, porisso, a capacidade de perceber Deus.

Estes conceitos importantes evocam aalegoria da caverna de Platão. Nestacaverna, encontram-se homens que estãoacorrentados a ela desde muito jovens.Eles não podem voltar a cabeça e nãovêem, portanto, a entrada diante da qualarde uma fogueira. Diante desta fogueirapassam todos os tipos de formas que pro-jetam sua sombra sobre a parede dofundo, enquanto os ruídos do exteriorsomente chegam até a caverna sob a formade ecos. Para os prisioneiros, essas som-bras e esses ecos são a única realidade, e,no entanto, é uma realidade inexata. Esteexemplo mostra bem a relatividade domundo e do eu. Esta tomada de consciên-cia é a primeira etapa na senda da Verdade:“Homem, conhece-te a ti mesmo.”

No livro “O Anel da sabedoria” , IbnArabi declara:

“O conhecimento que temos de Deus étão ínfimo quanto os fenômenos por meiodos quais Ele se manifesta”.

E ele explica: “Se uma luz incolor atra-vessar um vidro colorido, ela ficará da cordo vidro. Quem diz que a luz é verde, diz a verdade a partir de seu ponto devista, e seus sentidos testemunham a favordesta verdade. Mas, quem diz que a luznão é nem verde nem colorida, diz a ver-dade e é a razão sã que dá testemunhodesta verdade”.

A APARENTE MULTIPLICAÇÃO

DA LUZ

Quando a luz atravessa pedaços devidro de diferentes cores, acontece umamultiplicação aparente desta, conforme aconsciência dos observadores. O sufiAbdul Quasim al Djunaid diz: “A água éda cor daquele que a olha”. Da mesma

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forma, um processo ou um certo númerode características dependem do ponto devista do observador. Podemos dizer da luzque penetra tudo no universo que ela é“branca” e que ela não pode ser percebidaa não ser por aqueles que se encontramnela. Para tocar os homens, a luz deveadaptar-se a sua consciência, a fim de fazê--los sair de sua decadência.

NATHAN, O SÁBIO, CONTOUAO SULTÃO SALADINOA SEGUINTE HISTÓRIA:

Era uma vez, no Oriente, um homem que possuía um anel de umvalor inestimável. Esta jóia era enfei-tada com uma opala cintilante deinúmeras cores. Este homem queria deixá-la como herança a seufilho preferido. Ele a enviou em seu leito de morte e esta tradição seperpetuou. Finalmente, o preciosoanel acabou sendo possuído por um pai que tinha três filhos que ele amava igualmente. Na impos-sibilidade de escolher entre eles, elemandou fazer dois outros anéis idênticos e, logo antes de morrer, deu um anel a cada um deles. Esta história consta do Decameron de Bocage, mas Lessing a desenvol-veu: a impossibilidade de distinguir

o verdadeiro anel significa que as três religiões são, no fim, todas verdadeiras. Lessing acrescentauma nova interpretação: o verdadeiro anel possui uma força secreta que faz com que seu possuidorseja reconhecido, desde que seja digno desta força. Entretanto, osirmãos brigam e nenhum dos três consegue se fazer reconhecer.Daí vem a impressão de que os trêsanéis (e portanto as três religiões) são verdadeiras. Elas não podemfazer de outro modo: seguir a ordem do cádi, aceitar-se, tolerar-se e amar-se mutuamente.

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“O QUE É A VERDADE?”

Esta pergunta fez lembrar Nathan, oSábio, a quem pediram que demonstrassea verdade das diferentes religiões. Parailustrar este difícil problema, ele conta ahistória dos Três Anéis. Um pai tinha umanel que queria legar a um de seus filhos.Como ele amava seus três filhos igual-mente, mandou fazer duas cópias perfei-tas, de modo que não teria de decidir aqual dos três deveria dar o anel verdadei-ro. Era impossível distinguir os dois ou-tros, diz Nathan. Os três irmãos começa-ram a brigar, mas o “cádi”, o juiz, os ab-solveu dizendo que o verdadeiro anel aca-baria mostrando seu poder. “Convoco osnetos de seus netos a apresentar-se diantedeste tribunal daqui a mil anos.” Con-cluíram que a autenticidade do anel surgi-ria graças à autenticidade de quem o usas-se. De repente, a questão de saber qual erao verdadeiro anel tornou-se menos im-portante. Tratava-se de receber a herançacomo um tesouro interior, de compreen-der o dever que esta herança implica e agirem conformidade com este dever.

Ibn Arabi prossegue: “Compreendam o

que estou explicando com profundidade!Pois as coisas são da forma que eu disse atodos: o mundo realmente não existe. É oque entendemos por ‘imagem mental’[hyial]. Temos a impressão de que omundo basta a si mesmo, que ele está forade Deus e substituindo Deus. Não é ver-dade. Olhem o que vocês são e que relaçãovocês têm com Deus. No que vocês seriamDeus? E em que o mundo (que está fora deDeus e não é divino) corresponde a issoque vocês estão constatando? E se tudo oque foi apresentado a vocês é exato, sai-bam então que vocês são uma imagemmental e que tudo o que é percebido porvocês e sobre o qual vocês dizem para simesmos: ‘Isso não sou eu’ é também umaimagem mental.” ‘Ser’ não é, portanto,nada mais do que uma imagem mental deuma imagem mental, e a realidade somen-te existe quando está em Deus, que é ‘uno’de acordo com sua essência, mas não deacordo com seu nome. A unidade mostratudo o que é real, a multiplicidade, tudo oque é imagem mental.”

Assim a multiplicidade se explica pelaunidade e dela procede; e a unidade seencontra na multiplicidade. A multiplici-dade é visível por suas características

Lessing com seusamigos na GaleriaBaumhaus, emHamburgo (gra-vura em madeira,D. Spekter, 1768,Museu de ArteHamburguesa, emHamburgo).

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conhecidas. O homem foi criado, e criou asi mesmo.

O HOMEM COMO CORPO

TRANSPARENTE

A idéia de unidade começa no coração.Ibn Arabi fala da disposição do coração,que é um poder. Portanto, a fonte inesgo-tável que dá a vida pode se esvair se seuutilizador temporário, o homem, nãoimpedir que isso aconteça. Se ele tiveruma disposição ativa e a vontade de cum-prir sua missão interior, seus atos com-provarão isso; se não tiver, a luz se dividee se mostra na cor de sua consciênciaoposta. O ser que vive uno com Deus équalificado por Ibn Arabi de “corpotransparente”, pois ele já não dá cor à puraluz branca e já não divide o raio divino.

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Da África, logo abaixo do Saara, nos

vem a lenda de Mti-Mfalm, a árvore

real. Ela começa como um conto de fa-

das: era uma vez uma árvore impo-

nente por sua folhagem abundante e

suas flores, únicas em seu gênero, tanto

por seu colorido como por seu maravi-

lhoso perfume, que acabavam por dar

a esta árvore gigante um ar de majes-

tade. Mti-Mfalm era inigualável. En-

quanto o limite da floresta ficava longe

das casas dos homens, Mti-Mfalm ocu-

pava o centro de um grande vilarejo.

Para a comunidade de almas que vivia àsua volta e nos arredores, sua presença erauma graça e uma vantagem, pois essa ár-vore simbolizava a unidade, a sabedoria, aharmonia, o amor e a concórdia entre to-dos os habitantes da cidade.

Mti-Mfalm não era propriamente umaárvore de conferências, onde as soluçõesdos conflitos somente acabavam em tor-neios de retórica e meditações laboriosas.

Quando explodia um conflito entrehomens ou grupos de homens, os sábiostentavam a conciliação caso a caso. Mas, seas discussões não eram resolvidas, pediamaos oponentes que ficassem muito tempodebaixo de Mti-Mfalm, sentados sobre otapete de folhas e de flores mortas, semdizer nada, deixando-se impregnar pelosodores que vinham da vegetação abun-dante que apaziguavam os impulsos doscorações agitados. E durante muito tempofoi assim que aconteceu.

Mas eis que um dia, sem que houvessetempestade ou ventania, os habitantes da

cidadezinha foram surpreendidos por umruído que parecia um trovão. Eles pensa-ram em tudo, menos que Mti-Mtfalmtivesse caído. Quando acordaram, real-mente foi um grande espanto. Alguns gri-tavam que era a maldição que estava cain-do sobre os habitantes da cidade; algumasmulheres e crianças, tomados de pânico,puseram-se a chorar; a cidade inteira ficoude luto. Houve quem reconhecesse naqueda da árvore um sinal que anunciavacalamidade. Logo, todos ou quase todosficaram entregues a sombrias conjeturas.

Entretanto, um pequeno grupo de ho-mens viu a coisa sob uma luz menos dra-mática, e eles avaliaram que o melhor a fa-zer era ir procurar os velhos sábios paraperguntar sua opinião sobre uma tão vastacatástrofe.

É claro que eles foram procurar o maisvelho e o mais sábio, um homem de quase100 anos, com um rosto que não traía nemo menor sentimento de seu coração.Um dos habitantes da cidadezinha lheperguntou:

– O senhor soube, ó grande sábio, dagrande infelicidade que aconteceu emnossa cidadezinha?– Claro que sim, meu filho, respondeuo homem centenário com um sorriso,que era bem raro ele dar.– O senhor parece que não está ligan-do para isso.– Nem tanto quanto vocês, meu filho!– E por que não, ó grande sábio?– Simplesmente porque uma árvoreque teve tanta compaixão, que desdetempos remotos teve piedade das infe-licidades dos homens e participou docaos que reina em seu coração estácondenada, certamente, a cair! Omais surpreendente é que isto somen-te tenha acontecido agora!

MTI-MFALM, A LENDA DA ÁRVORE REAL

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– Então o senhor sabia que Mti-Mfalm iria desabar?– E não fui o primeiro: nossos ances-trais já sabiam disso!– E eles não pensaram que aconteceriaalguma coisa quando a árvore caísse?– Claro que sim!– E o que eles predisseram que deve-ria ser feito?– Nada além do que fazem os agricul-tores. Eles comem a semente, masguardam um pouco para semear a fimde que a terra lhes dê uma novasemente. Nela está escrita toda a his-tória da planta.– O senhor quer dizer, ó oráculo, quedeveremos replantar uma semente deMti-Mfalm?– Claro. Procurem no alto da copa deMti-Mfalm: aí vocês encontrarão umasemente. Esta semente traz a históriade Mti-Mfalm.

Nem bem o sábio terminou de falar, osjovens da aldeia que vieram consultá-lovoltaram em direção de Mti-Mfalm, bus-cando a semente. Apesar da queda, pôdeser encontrada uma semente no galhomais alto. Eles se perguntaram, então, oque deveriam fazer. Alguns achavam queseria preciso plantá-la bem ali, perto deMti-Mfalm.

A opinião que prevaleceu foi a de umpequeno número que pediu que todos vol-tassem a consultar a sabedoria do patriarca.

Depois de uma nova conversa, o sábioobservou que plantar a semente no localda fatalidade seria um erro monumental.

– Pois (respondeu ele a um membrodo grupo que fazia perguntas): a leiinexorável que provocou a queda deMti-Mfalm será impiedosa com suasemente, ainda tenra e frágil, e quetraz em si a imagem da árvore real.

Os jovens convenceram-se desta verda-de e se apressaram em deixar o velho sábiopara colocar em prática seus conselhos.Mas eles o deixaram um pouco depressademais, pois tiveram que se render maisuma vez à evidência de que não tinhamtodos os detalhes sobre a operação. É ver-dade que falando de uma terra hospitalei-ra, havia certamente alusão a uma terrafértil, ao humus, mas não se sabia nadasobre o resto, o grau de umidade, em queprofundidade a semente deveria ser enter-rada etc.Eles voltaram, portanto, a consultar osábio que, sorrindo, lhes disse:

– Meus filhos, eu compreendo a suaconfusão, e louvo os esforços que vocêsestão fazendo para reviver Mti--Mfalm. Tenham paciência para meescutar e irão terminar sua obra. Co-loquem a semente na terra a uma pro-fundidade de um cúbito. Façam umcercado de bambu para evitar queuma cabra devore a plantinha.– Acredito, ó grande sábio, que agoraestamos satisfeitos – gritou uma vozdo grupo.– Não tão depressa, retorquiu o velho.Faz muito tempo que a semente carre-

Afresco, em Praga,Checoslováquia.

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ga a história de Mti-Mfalm e nem porisso ela é menos frágil. É preciso sus-tentá-la por um tempo. Eis o que vo-cês devem fazer: ao lado da semente,colado a ela, coloquem um caule forte,uma estaca, para que não se possa con-fundir a árvore com a erva daninha.A planta irá se apoiar sobre ele, atéque a árvore ganhe força para crescersozinha.

Tendo dito isso, o velho olhou atenta-mente para o rosto de seus interlocutorese apontou para um deles:

– Você, meu querido filho, você vaiter a tarefa pesada de tomar conta“dos primeiros passos” da nova Mti--Mfalm. Seja vigilante; que a estacajamais seja confundida com a árvorereal. Se isso acontecer, arranque-a ejogue-a no fogo.

Alguns dias se passaram. O guardião,como de costume, ficava no lugar ondehavia sido plantada a semente. Um dia,qual não foi o seu espanto ao constatarque a estaca havia enraizado, pois era pos-sível ver seus brotos e até mesmo folhasem todo o caule!

– O que estou vendo, ó estaca, você éa árvore real?– Claro! Você duvida?

Sem esperar mais, e lembrando-se dasrecomendações do sábio, o guardiãoarrancou a estaca e colocou uma outra emseu lugar. Outros dias se passaram; oguardião ia, como sempre, até o pequenocercado do qual se encarregara de cuidar.

Qual não foi o seu espanto ao observarmais uma vez que a segunda estaca tinhacriado raízes também! Ele agiu como lhedisseram e jogou todas as estacas que ten-taram passar pela árvore real. No entanto,um dia, a décima-primeira estaca mos-trou-se mais humilde e respondeu ao

guardião que a planta que ela tinha quesustentar havia vindo antes dela e queexistiria depois dela.

A lenda termina com a imagem de umajovem e poderosa árvore, que já possuíatodas as qualidades da Mti-Mfalm origi-nal. A estaca havia desaparecido, engolidapela árvore real que se elevava nos ares,rumo às alturas.

Esta antiga lenda africana serviu detema para uma palestra pública do Lec-torium Rosicrucianum em Kinshasa, capi-tal da República Democrática do Congo.

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“O homem vivia em um mundo superior, em total harmonia com a lei do Espírito. Mas ele se desviou

livremente de seu Criador para construir um mundo ‘melhor’, acreditando que era imortal. Então, as três dimensões da vida terrestre lhe impuseram suas leis, que ele deve respeitar para viver: quer ele queira,

quer não!”

(A manifestação do espírito divino: objetivo da vida humana, p. 16)