É PRECISO FALAR SOBRE A SAÚDE MENTAL NO AMBIENTE DE …... · mandar um e-mail como este. Toda...

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CATEGORIAENGAJAMENTO

É PRECISO FALAR SOBRE A

SAÚDE MENTAL NO AMBIENTE DE TRABALHO

Parte I

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Redação Gabriela Ferigato

Edição Élida Rocha

Conteúdo Conexus

Design Mada2209

São Paulo 2020

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INTRODUÇÃOEm junho de 2018, a programadora Madalyn Parker compar-tilhou em sua rede social uma conversa entre ela e o CEO da empresa em que trabalha. Poucas horas depois, a postagem no Twitter já ultrapassava trinta mil curtidas. Com o assunto “Onde está Madalyn?”, a jovem enviou um e-mail à equipe dizendo que iria tirar dois dias de folga para focar em sua saúde mental e es-perava voltar na próxima semana renovada e 100% pronta para o trabalho.

“Oi, Madalyn. Eu gostaria de te agradecer pessoalmente por mandar um e-mail como este. Toda vez que você o faz, eu os uso como lembretes da importância de usar dias de folga tam-bém para a saúde mental. Eu não acredito que isso não seja uma prática comum em todas as companhias. Você é um exemplo para todos nós, ajudando a cortar o estigma para que seja possí-vel para todos nós darmos 100% no trabalho”, disse o CEO Ben Congleton.

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O teor da resposta chamou atenção justamente pela maneira com que lidou frente à saúde mental – um tema ainda cercado de tabu e estigma dentro e fora das organizações. Especificamente sobre o se-gundo, nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apre-sentam sintomas de ansiedade, do grau mais leve ao incapacitante.

Segundo a última pesquisa da International Stress Management As-sociation do Brasil (ISMA-BR), organização sem fins lucrativos dedica-da ao tema, metade dos profissionais ativos (47%) sofrem de algum nível de depressão, recorrente em 14% dos casos.

Os transtornos mentais e emocionais são a segunda causa de afas-tamento do serviço. Nos últimos dez anos, a concessão de auxílio--doença acidentário devido às doenças em questão aumentou em quase em vinte vezes, segundo o Ministério da Previdência Social. Com frequência, essas pessoas ficam mais de cem dias longe de suas funções.

Em todo o mundo, os gastos relacionados a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a seis trilhões de dólares até 2030, mais do que a soma dos custos com diabetes, doenças respiratórias e cân-cer, apontam estimativas do Fórum Econômico Mundial.

De acordo com Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR, ainda existe um estigma muito grande em relação à saúde mental, sendo que a compreensão é diferente se comparada com uma doença biológica e/ou física. Preconceito e desinformação são fatores que contribuem para o cenário.

“Muitas vezes a pessoa discrimina a própria doença por medo ou ver-gonha. Há também o olhar discriminatório dos outros. Isso termina gerando mais problema, porque internalizam aquilo e daí vão pio-rando, o que faz com que se agrave”, destaca Ana Maria.

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Em uma pesquisa feita pelo instituto britânico de saúde mental Mind, descobriu-se que 90% dos profissionais que ficaram longe do traba-lho devido ao estresse não citaram o verdadeiro motivo como razão de sua ausência. Na verdade, a maioria deles elencou como justifica-tiva um problema físico, uma dor de cabeça, por exemplo.

O termo psicofobia foi criado para designar o estigma e preconceito contra as pessoas com doenças ou transtornos mentais. Tramita no Senado o Projeto de Lei nº 74, de 2014, que prevê a sua criminaliza-ção. Há, inclusive, um dia dedicado ao enfrentamento da questão. Idealizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a data 12 de abril foi escolhida em alusão ao nascimento do ator e humorista Chico Anysio, apoiador da luta contra o preconceito, e que sofreu de depressão.

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Sintomas

A pesquisa da ISMA-BR indicou os sintomas mais comuns entre as pessoas ativas no mercado de trabalho. Eles podem ser de origem comporta-mental, emocional ou físico, sendo possível que se manifestem mais de um ao mesmo tempo.

Ana Maria Rossi, ISMA-BR

Físico: Dores musculares (91%), incluindo dor de cabeça, distúrbios do sono e problemas gastrointestinais.

Emocional: ansiedade (87%), angústia (81%) e preocupação (68%).

Comportamental: consumo de drogas ou álcool (63%), agressividade (58%) e mudanças de apetite (38%).

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De acordo com Ana Maria, os sintomas, se não cuidados, podem de-sencadear doenças – desde dor crônica, inclusive a fibromialgia, in-sônia, úlcera, gastrite, diarreia e constipação. Dentre os emocionais, o alto nível de ansiedade pode gerar fobia e síndrome do pânico.

Enquanto a fobia possui um fator desencadeante, como medo de avião, lugares fechados, falar em público etc, sendo que, em muitas vezes, a pessoa pode se deparar com a fobia apenas no momento em que tem contato com o fator gatilho, a síndrome do pânico ocor-re quando há um acúmulo de pressões e demandas que se tornam intoleráveis.

Ana Maria pontua que esse sentimento excessivo pode se transfor-mar em Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG). “Pode ter pro-blema ao estar em um espaço aberto, dar uma palestra, fazer uma apresentação. Há profissionais que acabam se demitindo de um car-go porque teriam que falar em público”.

Em relação aos sintomas comportamentais, a presidente da ISMA--BR ressalta o aumento do consumo de álcool e drogas prescritas ou de rua entre os profissionais brasileiros. “Não significa que são indivíduos descomprometidos, mas consomem como uma forma de se anestesiarem. Isso tem aumentado”. Além disso, chama atenção para a agressividade, notável em situações de trânsito, por exemplo. “Demonstra que as pessoas estão mais agressivas e algumas se des-controlando em função disso”, completa.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é con-siderado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Nos últimos dez anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos. No Brasil, 5,8% dos habitantes – a maior taxa do continente latino-americano – so-frem com o problema.

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O país também lidera em relação à ansiedade, com 9,3% da popula-ção. Esse problema engloba efeitos como fobia, transtorno obsessi-vo-compulsivo, estresse pós-traumático e ataques de pânico. As mu-lheres sofrem mais com a ansiedade: cerca de 7,7% das mulheres são ansiosas e 5,1%, deprimidas. Já entre os homens, o número cai para 3,6% nos dois casos.

Outra situação comum no Brasil é a síndrome de Burnout, que já afe-ta 32% da população economicamente ativa do País, sendo o segun-do índice mais alto no mundo, perdendo apenas para o Japão. De acordo com Ana Maria, ela chega a ser confundida com a depressão, porém se diferencia por estar sempre relacionada ao trabalho.

Também denominada como esgotamento profissional, a síndrome tem como principais características o estresse crônico, tensão, des-personalização e o esgotamento físico e emocional.

“Ela tem diversas causas: sobrecarga, falta de controle, desajuste, di-ferença entre esforço e recompensa, falta de justiça, por exemplo, profissionais recebendo promoção porque são mais próximos dos gestores e não pela qualidade do trabalho ou conhecimento. Às ve-zes conflitos de valor, atuar em situações que discordam totalmente”, explica Ana Maria.

Há, ainda, o custo do presenteísmo — quando o funcionário vai traba-lhar, mas está com a cabeça em outro lugar. Segundo a presidente da ISMA-BR, 96% das pessoas que têm burnout se sentem incapacitadas para trabalhar. Mesmo assim, 92% continuam indo para a empresa, com medo de serem demitidas ou de se afastarem e não consegui-rem voltar.

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Ambiente de trabalho

Antes mesmo dos sintomas e doenças há os fa-tores que contribuem para isso. Especificamente em relação ao mercado de trabalho, Ana Maria os chama de estressores: são as causas ou gatilhos do estresse profissional.

1: Sobrecarga e/ou excesso de tarefas. “Princi-palmente quando mais empresas estão demitin-do, em função do próprio momento brasileiro. Às vezes é uma questão de enxugamento mesmo e a pessoa que é demitida não é substituída. Por exemplo, há um departamento de marketing e outro de publicidade com cinco funcionários ao todo. Aí decidem juntar os dois e ficam três cola-boradores. Só que o trabalho não diminui com o agrupamento. Isso tem sido uma causa de estres-se muito constante”, afirma.

2: Medo de demissão. “Pessoas começam a ter receio que sejam demitidas, isso se agrava quan-do começam a ver colegas sendo desligados. É comum ter casos em que executivos são solicita-dos a criarem uma lista de colegas para serem de-mitidos. Não é incomum”, pontua Ana Maria.

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3: Falta de controle. “Profissionais que possuem grandes responsabi-lidades, mas com pouco controle para tomada de decisões em situa-ções que são responsáveis. Isso tem gerado estresse”.

Segundo Luis Felipe Cortoni, diretor da LCZ Consultoria Organizacio-nal, os estudos de Fatores de Risco Psicossocial buscam analisar as características das condições de trabalho e, sobretudo, da empresa que afetam a saúde das pessoas por meio de mecanismos psicoló-gicos e fisiológicos, também chamados de fatores de estresse, que podem ser utilizados como ferramenta de prospecção de problemas e consequentemente intervenções de caráter preventivo.

“Os Fatores de Risco Psicossocial, como o próprio nome indica, enfo-cam aspectos específicos da companhia e do ambiente de trabalho tais como: carga de trabalho excessiva, exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções e papéis, falta de participa-ção na tomada de decisões que afetam o empregado, falta de contro-le sobre a forma como executa o trabalho, má gestão de mudanças organizacionais, insegurança laboral, comunicação ineficaz, falta de apoio da parte de chefias e colegas, assédio psicológico ou sexual, violência de terceiros etc”, explica Cortoni em artigo publicado.

Para o diretor da LCZ, o mundo corporativo atual é reflexo da socieda-de contemporânea, sendo que todas as mudanças e transformações de valores e comportamentos ocorridas nesse meio impactaram e continuam impactando o comportamento humano dentro de orga-nizações. “As exigências, fruto das mudanças organizacionais, que recaem sobre as pessoas até este momento, são nossas conhecidas”, destaca Cortoni ao listar algumas na próxima página.

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“Quer dizer, pelo lado das pessoas, impõe estar preparado para esta nova realidade o que implica em desenvolver mecanismos de defesa pessoais para, minimamente, sobreviver com saúde mental e física ao ambiente mutante. Pelo lado das empresas, sabe-se que sua perfor-mance é conquistada por meio de pessoas de preferência saudáveis, portanto é fundamental proporcionar condições de saudabilidade ao ambiente organizacional”, pontua Cortoni.

Diante do cenário traçado, fica evidente a importância de as orga-nizações debaterem a questão e traçarem soluções preventivas e focadas na saúde mental de seus colaboradores. Na parte 2 deste E-book, mostraremos de que forma isso tem sido feito, alternativas, soluções e desafios frente ao tema.

Aumento dos requisitos de aprendizagem e de novas competências;

Aumento da capacidade de trabalhar sob pressão de tempo e em trabalhos estressantes;

Contar com menos tempo para os companheiros de trabalho e para socializar experiências, dificuldades e ajuda;

Necessidade de adotar novas formas de trabalhar, maior produtividade e mais qualidade do trabalho;

Sobreviver ao maior individualismo no ambiente de trabalho;

Agilidade, rapidez e resiliência.

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