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Aprendendo a consumir com TRÊS ESPIÃS DEMAIS PATRÍCIA IGNÁCIO

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Aprendendo a consumir com TRÊS ESPIÃS DEMAIS

PATRÍCIA IGNÁCIO

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL PRÓ­REITORIA DE PESQUISA E PÓS­GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PÓS­GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS­GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

APRENDENDO A CONSUMIR COM TRÊS ESPIÃS DEMAIS

PATRÍCIA IGNÁCIO

Canoas 2007

PATRÍCIA IGNÁCIO

APRENDENDO A CONSUMIR COM TRÊS ESPIÃS DEMAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós­ Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª Drª Marisa Vorraber Costa

Canoas 2007

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

I24a Ignácio, Patrícia. Aprendendo a consumir com Três Espiãs Demais / Patrícia Ignácio. –

Canoas, 2007. 203 f. : il.

Dissertação (mestrado) – Universidade Luterana do Brasil, Programa de Pós­Graduação em Educação, 2007.

Orientação : Profª. Drª. Marisa Vorraber Costa.

1. Educação. 2. Estudos culturais. 3. Mídia. 4. Consumo. 5. Cultura. 6. Comportamento. 7. Identidade. 8. Desenho animado­ Três Espiãs Demais. I. Costa, Marisa Vorraber. II. Título.

CDU 37.012

(Bibliotecária responsável: Débora Jardim Jardim – CRB 10/1598)

3

Os pensamentos, embora possam parecer grandiosos, jamais serão grandes

o suficiente para abarcar a generosa prodigalidade da experiência humana,

muito menos para explicá-la. (Bauman, 2004).

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AGRADECIMENTOS

É hora de agradecer. De relembrar aqueles que com distinta intensidade

participaram de minha vida, colaborando para que o sonho de ingressar, participar e

concluir o mestrado fosse possível. Agradeço a todos, porém, cito somente alguns

devido à impossibilidade de registrar em poucas páginas a infinidade de pessoas

que povoam minha memória.

Dentre todos, quem mais esteve ao meu lado, seja sofrendo a cada tombo ou

festejando a cada conquista, foi minha querida mãe. Obrigada mãe, pelas vezes que, com muito esforço, compreendeu que no mestrado o trabalho é muito solitário, pelas vezes que me emprestou seu ombro e, por outras, que me fez acreditar que de tudo sou capaz quando acredito sê­lo.

Ao meu querido avô, que mesmo sem compreender o que ao certo fazia

(todas as quintas e sexta­feira e naqueles solitários finais de semana) sempre esteve

o meu lado, apoiando­me e ajudando­me.

À minha querida avó (in memoriam) que, durante sua vida, mostrou­me como ser forte e lutar por meus ideais. Espero que estejas vendo o quanto teu exemplo e tua ajuda foram fundamentais para o alcance de meus sonhos.

Agradeço também ao meu irmão, pessoa com quem tenho forte relação,

chegando muitas vezes a confundir­me acreditando ser ele, ora, mais novo que eu,

ora mais forte e protetor que nosso pai. Mano, obrigada por teu apoio e amor incondicional.

Ao colega de orientação Douglas Flor, pela amizade, pelo apoio e pelo

companheirismo.

Aos meus amigos por todas as vezes que passaram a ouvir incansavelmente

as temáticas relacionadas à minha pesquisa e, mesmo que pouco compreendendo

do que se tratava, mostraram­se prestativos e atentos.

Se há alguém que realmente merece meu profundo e incansável

agradecimento é aquela que acreditou em meu potencial e buscou ser compreensiva

em relação a minha vida atribulada, minha querida orientadora Dr. Marisa Vorraber

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Costa. Profe, obrigada por sua rigorosa e afável orientação. Plantando sementes,

regando idéias e acompanhando o meu crescimento, Marisa tornou possível colher o

mais belo fruto acadêmico que já produzi em minha vida, a presente dissertação.

Às doutoras da banca, professoras Cristianne Maria Famer Rocha, Rosa

Maria Hessel Silveira, Ruth Sabat, por aceitarem o convite de participar da banca de

qualificação do projeto de pesquisa e da dissertação, promovendo uma leitura sábia

e criteriosa e apontando possíveis caminhos para a presente dissertação. Suas preciosas colocações foram seriamente avaliadas e na medida do possível contempladas neste estudo.

A Deus, agradeço a vida, os momentos em que recorri e que me permitiu

seguir adiante e as preces atendidas. Obrigada por ter me permitido chegar até aqui e acreditar que todos os obstáculos podem ser transformados em caminhos a serem percorridos.

Com profundo sentimento de gratidão, relembro as pessoas aqui

mencionadas e as que, por descuido, não tenham sido contempladas. Com estes

agradecimentos, quero que todos os que me ajudaram saibam que são muito

especiais para mim e parte importante de minha vida.

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Resumo

Inscrito em um registro pós­estruturalista e com as lentes ajustadas segundo referenciais teóricos dos Estudos Culturais, o estudo volta­se para a análise da série de desenho animado Três Espiãs Demais. A pesquisa tem por objetivo chamar a atenção para a forma como o desenho animado compõe as identidades de jovens meninas contemporâneas, expondo­as como inteiramente capturadas pela cultura do consumo. O estudo centrou­se na análise de dezesseis episódios da série — transmitida em horário matinal, na TV Aberta, e em horário matinal e vespertino na TV a Cabo —, com o objetivo de investigar, colocar em evidência e desnaturalizar características identitárias das jovens meninas contemporâneas que, segundo o desenho animado, são expostas como naturais e desejadas em determinados grupos e contextos sociais e culturais específicos. O estudo pretendeu mostrar, também, o desenho operando uma pedagogia que ensina às jovens meninas os meandros e estratégias do consumo.O suporte teórico foi buscado em autoras e autores que problematizam questões referentes à condição pós­moderna, às pedagogias culturais e ao consumo, como Bauman, Sarlo, Lipovetsky, Schor, Linn, Garcia­Canclini, Steinberg e Kincheloe, Giroux, Freire Costa, Fischer e Costa, dentre outros. Os achados da pesquisa mostram as narrativas dos episódios construídas sobre uma representação de tempo e espaço pós­modernos, onde as meninas­heroínas apresentam­se excessivamente preocupadas com o consumo de objetos, de aparências e de relacionamentos. A obsessão por um corpo perfeito, o desejo de alcançar status social e a necessidade de ter a seu lado um jovem com aparência estonteante, transformam o dia­a­dia das personagens em um constante desejar e descartar objetos da moda, colocados em evidência na sociedade do espetáculo. Exortando e, talvez, caricaturizando a superficialidade e a banalidade, a narrativa do desenho expõe as missões de caráter coletivo­mundial, a serem realizadas pelas meninas, niveladas com as de caráter individual­grupal. Em meio à ludicidade e ao prazer do entretenimento, as narrativas do desenho animado Três Espiãs Demais estão a invadir a vida de crianças e jovens, convocando­os a compartilhar significados sobre o mundo do consumo, exposto em práticas que os enquadram nas lógicas das sociedades orientadas pelo e para o mercado.

Palavras­chave: mídia e educação, educação e consumo, consumo do corpo, consumo de relacionamentos, desenho animado, Três Espiãs Demais, identidade juvenil, identidade infantil.

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Abstract

Inscribed in a register post­structuralist and with the lens adapted according to theory reference of culture studies, the application turns to analyze the cartoon series totally spies. The research’s goal is to catch attention to the way that the cartoon builds the identity of young and contemporaneous girls, showing them as completely caught by the consumption culture. The study was centered in the analyzes of sixteen episodes of the series – reported in mutatinal time, on opened TV, an in mutatinal and vespertine time on cabled TV ­, with the goal of investigate, put into evidence and desnaturalize identitary characteristics of the young contemporaneous girls that, according to the cartoon, are exposed as natural and wished in specific groups and social and cultural context. The study intended to show the cartoon operating a pedagogy that teaches the young girls the strategies of consumption. The theory carrier was searched in authors that deal with pos­modern, pedagogy and consumption issues, as Bauman, Sarlo, Lipovetsky, Schor, Linn, Garcia­Canclini, Steinberg and Kincheloe, Giroux, Freire Costa, Fischer and Costa, among other. The founds of the research show the episodes narration built on a pos­modern representation of time and space, where the hero­girls are overly worried about the consumption of objects, appearance and relationship. The obsession for a perfect body, the wish to reach social status and the necessity of having a boy with vertiginous appearance beside them, turns the characters day into a constant wish and discard of fashion objects, these are put into evidence in the society of spectacle. Exhorting and, maybe, caricaturing superficiality and banality, the narrative of the cartoon exposes the missions of collective­worldwide character, to be realized by the girls, leveled with the individual­grouped character. Between ludicrousness and the pleasure of entertainment, the narratives of the cartoon Totally Spies are to invade the life of children and youngers, convoking them to share world consumptions means, exposed in activities that officer them in the logic of societies guided by and for market.

Key­words: media and education, education and consumption, consumption of body, consumption of relationships, cartoon, Totally Spies, young identity, children’s identity.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de aparências........................................................................................................ 90

QUADRO 2 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de objetos.............................................................................................................. 91

QUADRO 3 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de relacionamentos ............................................................................................... 91

QUADRO 4 — Missões de Caráter coletivo — mundial ................................... 95

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1 ESTUDANDO UM DESENHO ANIMADO COM MENINAS INTRÉPIDAS, CONSUMISTAS E NAMORADEIRAS.................................................................................................. 12

O caminho investigativo ............................................................................... 24

CAPÍTULO 2 PARA AGUÇAR O OLHAR...................................................................................... 29

A centralidade da cultura.............................................................................. 29 O lugar da mídia na cultura contemporânea ................................................ 31 As pedagogias culturais ............................................................................... 33 Representação, produção de significados e constituição de sujeitos .......... 35 Subjetivação................................................................................................. 38

CAPÍTULO 3 DESENHOS ANIMADOS COMO NARRATIVA FÍLMICA ................................................. 41

O desenho animado através dos tempos..................................................... 42 Narrativas sobre jovens meninas ................................................................. 51 As Três Espiãs Demais ................................................................................ 57

CAPÍTULO 4 O CONSUMO COMO IDENTIFICADOR CULTURAL DA PÓS­MODERNIDADE .................... 68

A pós­modernidade...................................................................................... 68 O consumo como identificador..................................................................... 73 A cidadania no consumo.............................................................................. 77 Amor líquido ................................................................................................. 78 O consumo do corpo.................................................................................... 81 O Império da Moda ...................................................................................... 84

CAPÍTULO 5 ESPREITANDO AS JOVENS MENINAS ESPIÃS DEMAIS.............................................. 87

Missões........................................................................................................ 89 Consumo de Aparências .............................................................................. 97 Consumo de Objetos ................................................................................... 105 Consumo de Relacionamentos .................................................................... 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 123

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 127

ANEXOS Anexo I – Ficha Técnica Anexo II – Textos Anexo III – Fichamento

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APRESENTAÇÃO

Se quisermos um mundo melhor, teremos de inventá-lo, já sabendo que conforme vamos nos deslocando para ele, ele vai mudando de lugar. À

medida que nos movemos para o horizonte, novos horizontes vão surgindo, num processo infinito. Mas, ao invés de isso nos desanimar, é

justamente isso que tem de nos botar, sem arrogância e o quanto antes, a caminho.

(VEIGA-NETO, 2005, p.31).

O começo, o princípio, os primeiros passos, de fato, são os mais perpassados

por sentimentos de insegurança e incerteza. Talvez seja por isso que, ao iniciar um

projeto, sintamo­nos um pouco indecisos em relação aos caminhos a seguir.

Entretanto, lançando mão das lentes teóricas que nos fornecem os autores e autoras

que estudamos, gradativamente, nossos olhos parecem perceber novas sendas nos

caminhos a percorrer. Começamos a vislumbrar o que antes sequer existia para nós.

Os primeiros passos, para mim, tiveram significativa relação com as vivências

que constantemente me interpelavam e me desafiavam. Dentre os muitos caminhos

que poderiam ser percorridos, optei por dirigir meu olhar para os meus alunos, para

a minha escola e para a mídia. Enquanto professora, instigava­me investigar a

produtividade de certos programas de entretenimento dirigidos às crianças e aos

jovens, recorrentemente comentados por meus alunos e alunas.

Tomando por base o referencial teórico oferecido pelas análises do campo

dos Estudos Culturais, comecei a perceber não só a influência da mídia no dia­a­dia

dos sujeitos, mas também a dar atenção aos diferentes ensinamentos por ela

promovidos.

Dentre os diversos programas assistidos por meus alunos, aos quais em um

primeiro momento me propus a assistir também, não por mera coincidência, optei

pela série de desenho animado — Três Espiãs Demais. Sua escolha foi subsidiada pelas contribuições oferecidas pelos estudos de Hall (1997), Bauman (1999, 2001,

2004), Garcia­Clanclini (2006), Sarlo (2006), Lipovetsky (2005, 2006), Fischer (1997,

2001), Costa (2002, 2007), Freire Costa (2005), dentre outros. Estudos que

acabaram por nortear as análises realizadas para a presente dissertação.

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Procurei refletir, a partir das narrativas apresentadas na série de desenho

animado selecionada para análise, quais representações de jovens meninas eram

colocadas em destaque. Instigada para identificar quais atitudes eram narradas

como naturais e “normais”, procurei assistir a dezesseis episódios da série Três Espiãs Demais, fichá­los, decupá­los, problematizá­los e discuti­los.

Minha análise teve como eixo o consumo − um conceito que durante a assistência e decupagem dos episódios começou a esboçar­se como chave, como

central, para se poder discutir, problematizar e mostrar a produtividade do artefato

cultural examinado no governo da conduta das crianças, especialmente das jovens

meninas que vão à escola hoje.

Após entrecruzar o referencial teórico e os registros da decupagem, foi

possível perceber um outro jeito de narrar as jovens meninas. Um jeito que se

distingue, e muito, daqueles dos séculos XIX e XX. Segundo a narrativa da série de

desenho animado, moda, consumo e namorados voláteis passam a ser temas­chave

no dia­a­dia de jovens meninas contemporâneas. Assim sendo, o desenho não só

fala sobre, mas também institui um novo jeito de ser e pensar este sujeito social

constituído pelas condições culturais da pós­modernidade.

Optei por organizar meu estudo em cinco seções, onde procuro mostrar por

onde caminhei, o que observei, aprendi, consegui enxergar melhor, e o que me

mobiliza a continuar investigando.

No capítulo um, Estudando um desenho animado com meninas intrépidas, consumistas e namoradeiras, descrevo alguns passos e pistas que encontrei, no

meu caminhar, e que acabaram por me impulsionar a pesquisar um desenho

animado que fala de jovens meninas. Abordo ainda os caminhos investigativos

escolhidos e trilhados, os objetivos da pesquisa e os focos de análise.

Em Para aguçar o olhar, mostro alguns conceitos que foram decisivos na seleção, compreensão e constituição do objeto de estudo. Examino os conceitos de pedagogias culturais, representação, produção de significados, constituição de sujeitos e subjetivação.

Em uma tentativa de introduzir o leitor no “mundo das Três Espiãs Demais”, no capítulo Desenhos animados como narrativa fílmica, componho um breve histórico sobre essa invenção tão fascinante, que conquista crianças, jovens e

adultos − o desenho animado. Descrevo, também, sem muitas pretensões, algumas

narrativas produzidas, ao longo dos tempos, acerca de jovens meninas. Por fim,

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apresento comentários, reportagens, entre outras informações sobre a série de

desenho animado selecionada para o estudo.

Para compreender como o consumo gradativamente mostrou­se central nesta

pesquisa, examino no capítulo O consumo como identificador cultural da pós­ modernidade, alguns pontos­chave que potencializam a discussão acerca das

vivências dos sujeitos pós­modernos em relação ao consumo, aos relacionamentos

e à moda.

No capítulo cinco, Espreitando as jovens meninas espiãs demais, ofereço à consideração de leitores e leitoras aquilo que minhas lentes permitiram ver e

problematizar. Nele realizo as análises do corpus da pesquisa, operando com os conceitos mencionados. Após a assistência de vários episódios do desenho Três Espiãs Demais, e do contato com muitos materiais inscritos no registro dos Estudos Culturais, percebi algumas regularidades no programa em questão. Tais

regularidades acabaram por se constituir em focos de pesquisa, apresentados nessa

seção: consumo de aparências, consumo de objetos e consumo de relacionamentos.

Finalmente, no capítulo final, teço algumas considerações sobre os achados

da pesquisa.

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CAPÍTULO 1 ESTUDANDO UM DESENHO ANIMADO COM MENINAS

INTRÉPIDAS, CONSUMISTAS E NAMORADEIRAS

O que acontece quando crianças educadas pela cultura infantil vêem-se diante do conhecimento

certificado da escola? (STEINBERG e KINCHELOE, 2004, p.49)

Professoras e professores têm vivenciado, de forma cada vez mais intensa e

freqüente, a forte presença da mídia na escola, dispositivo que passa a interpelar e a

contribuir para a subjetivação, na contemporaneidade, dos sujeitos escolares. Tal

ingerência pode ser percebida no cotidiano escolar, na forma como os alunos e as

alunas se vestem, na forma como se comunicam, no vocabulário utilizado em seus

diálogos ou nos temas discutidos entre eles e elas, e que emergem de diferentes

formas no cotidiano escolar.

Em sala de aula, muitas são as ocasiões em que professores e professoras

percebem a necessidade de rever seu planejamento e desenvolver atividades que

se relacionem com as temáticas colocadas em foco pela mídia, para que seus

alunos possam discuti­las e problematizá­las na escola. A exceção apenas se

verifica em relação àqueles professores que, numa atitude mais drástica, porém

ineficaz, acabam por reforçar o “policiamento”, numa tentativa impotente de evitar

tais focos ou discussões e de impedir a presença, no âmbito escolar, de outros

assuntos além dos conteúdos mínimos previstos nos planos curriculares.

Ao trabalhar como professora da quarta série do ensino fundamental, vi­me

embrenhada nesse contexto intensamente entrecruzado pelos temas midiáticos, e

senti­me inserida no primeiro grupo, que percebe a escola como mais um espaço de

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discussão das questões sociais. Isso porque, freqüentemente, sou apresentada

pelos alunos a novos objetos que ingressam no nosso cotidiano escolar, e passam a

fazer parte do dia­a­dia dos estudantes: as figurinhas e revistas dos Rebeldes 1 , os estojos dos mais diversos filmes e desenhos, as mochilas dos personagens do

momento, são alguns exemplos 2 . Nos recreios, muitas vezes, ouço e participo dos

comentários sobre desenhos, novelas, programas preferidos, shows. O espaço para

a discussão em aula passa a existir a partir das produções textuais dos alunos e

alunas, de seus desenhos, dos diálogos com que reproduzem as temáticas da TV ou

das discussões sobre o que ocorreu no mundo da televisão no período em que não

estavam na escola.

O que parece evidente é que jovens e crianças estão intensamente

enredados pela mídia, porque ela, de fato, tem recursos fascinantes. Segundo Juliet

Schor, em seu livro Born to buy (2004), as crianças e jovens são, hoje, o centro da

cultura. Grande parte dos olhares dos anunciantes encontra­se focado nesse

segmento da população. Gostos e opiniões desse público promovem tendências e

moldam estratégias de marketing. E a mídia mostra­se cada vez mais perspicaz na busca das mais variadas formas de conquistar os jovens.

Um bom exemplo é a evolução apresentada no formato de jornais, revistas e

programas de TV. Inicialmente, jornais e revistas eram parcamente ilustrados; suas

imagens continham poucos atrativos gráficos. Com o tempo, seus layouts foram enriquecidos com recursos gráficos de última geração, brilhos, cores, grande número

de imagens, variação de letras. A televisão, em seus primórdios, produzida com

imagens em preto e branco — movimentos que seguiam a lógica da reprodução do

tempo real — foi substituída por grande número de nuances de cores, por

impressionantes efeitos especiais e por um frenesi de imagens.

Contudo, é preciso ressaltar que o conceito de imagem não deve ser tomado

apenas em relação à representação de objetos, pessoas ou espaços. Há, além disso

— e este conceito muito nos interessa refletir —, a imagem construída acerca de

produtos, instituições ou mesmo personagens.

1 Rebelde foi uma novela mexicana transmitida no Brasil pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), de 15 de agosto de 2005 ao fim de 2006. Sua exibição ocorria no horário das 19h. Maiores informações podem ser encontradas no livro A Obra Oficial, organizado por Paulo Roberto Houch (2006). 2 A pesquisa de Costa (2004) — intitulada Quando o pós­moderno invade a escola — tem se dedicado ao estudo desse fenômeno.

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Hoje, os significados atribuídos à imagem, e concentrados na marca do

produto, são considerados mais importantes do que os próprios objetos. Estar

associada a conceitos de beleza, juventude, felicidade, amor, inovação faz da marca

um objeto de desejo por parte dos consumidores, pois, conforme Sarlo (2006, p.28),

“[...] os objetos nos significam: eles têm o poder de outorgar­nos alguns sentidos, e

nós estamos dispostos a aceitá­los”. Assim sendo, os sujeitos buscam os objetos,

mais do que por necessidade, para associarem­se aos significados a eles atribuídos.

De acordo com Klein (2004, p.28), a marca surgiu em meados da década de

1980, como um processo de enxugar “o peso de coisas demais”. Com a produção

em larga escala de diferentes artigos para o mercado, decorrente do avanço

tecnológico e da sofisticação das indústrias, houve a sobrecarga de produtos, o que

resultou no inchaço de produção e de empregos nas fábricas. A produção em massa

e o anonimato das embalagens mobilizaram grandes empresas para a criação de

um algo mais, que fidelizasse seus clientes. Com esse objetivo, fabricantes como Nike e Microsoft, por exemplo, optaram por preocupar­se menos com a fabricação de seus produtos, e mais com a produção da imagem de suas marcas. Imagem que

provou sua importância, já que,

[...] muitos dos mais conhecidos fabricantes de hoje não mais fazem os produtos e os distribuem, mas em vez disso compram produtos e lhes dão sua marca, essas empresas estão continuamente procurando por novas formas criativas de construir e fortalecer a imagem das marcas. (KLEIN, 2004, p.28­29)

A marca, agora mais importante que o produto, foi a propulsora para a criação

de “uma ilusão de estilo de vida ‘marcada’” (KLEIN, 2004 p. 83). Partindo deste

princípio e seguindo essa lógica, com o tempo, também a marca vinculada a

personagens da mídia, bem como a seus atributos físicos ou psicológicos, passou a

fazer parte do conjunto de significados a serem desejados. O que parece é que os

sujeitos vivem hoje em busca do prazer de possuir a imagem da marca 3 , seja ela de

produtos, seja de personagens, e que as imagens veiculadas pela mídia passam a

ser as mais almejadas.

Cabelos tingidos ou arrepiados, maquilagem nos olhos, pulseiras, formas com

que meus alunos e alunas, de oito e nove anos, tentam transformar o uniforme da

3 Os sujeitos compram os significados atribuídos aos produtos. Por exemplo, ao comprar um produto das Três Espiãs Demais, adquirem­se os significados que estão associados às personagens (beleza, inteligência, atitude fashion, entre outros).

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escola num simulacro dos modelos representados pelos personagens da mídia, são

indícios da produtividade das marcas.

Inseridos em uma sociedade que, segundo Sarlo (2006), passa a conviver de

acordo com os clichês da televisão, as alunas e os alunos vivem em um “estado de

televisão” (p.81), tentando das mais variadas formas ser e viver como se apresentam

os protagonistas associados a seus programas e artefatos preferidos, e buscando

constantemente associar­se aos significados atribuídos à imagem construída para a

marca que representam e divulgam.

Vivendo agora sob o fascínio do espetáculo, os sujeitos não apenas querem

ver o que está em destaque na sociedade, mas também querem se tornar parte do

show através da imitação do estilo de vida dos personagens da moda (FREIRE

COSTA, 2005), já que, na sociedade do espetáculo — assunto que será abordado e

discutido nos Capítulos 4 e 5 —, somente os sujeitos espetaculares podem desfrutar

da felicidade promovida pela notoriedade.

Ao refletirmos sobre essa ação da marca sobre os sujeitos, faz­se necessário

pontuar que a televisão é o meio de comunicação que mais investe na divulgação

das marcas. Segundo pesquisa realizada entre dezembro de 2004 e fevereiro de

2005, disponível no site Multirio, ela é o meio de comunicação que consome maior tempo dos brasileiros por semana. Assim sendo, a televisão se sobressai a passos

largos perante os outros meios. Segundo Souza (2004), ela “[...] mantém o atributo

de babá eletrônica neste país, em que as crianças passam poucas horas na escola.

Por isso, o gênero infantil garante para elas diversão passiva desde o início do dia

até o fim da tarde” (p.114). Nossos jovens telespectadores, conforme reportagem de

Daniel Castro na Folha de São Paulo 4 , são provavelmente os que mais vêem televisão no mundo.

Nesse contexto, a televisão, além de promover o entretenimento e, muitas

vezes, servir de babá eletrônica, passa a ter um papel de instrutora dos meninos e

meninas. Contudo, seus ensinamentos se processam de forma distinta aos que

ocorrem na escola. Evocando o prazer, o fascínio e a ludicidade, a televisão

transforma­se em um instrutor mais atraente, competente e encantador que a

escola.

4 Folha de São Paulo, 17 out. 2004.

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As pesquisas de Giroux (1995), junto com as de Steinberg e Kincheloe

(2004), Kellner (2001) e outros, procuram mostrar a ampliação do espaço da

pedagogia, não a restringindo à escola. Isso nos possibilita refletir acerca dos

diferentes lugares onde se ensina e se aprende, e nos estimula a investigar quais

questões estão sendo colocadas em evidência e quais são omitidas:

Ao analisar toda a gama dos lugares diversificados e densamente estratificados de aprendizagem, tais como a mídia, a cultura popular, o cinema, a publicidade, as comunicações de massa e as organizações religiosas, entre outras, os Estudos Culturais ampliam nossa compreensão do pedagógico e de seu papel fora da escola como o local tradicional de aprendizagem. (GIROUX, 1995, p.90)

Esses autores ressaltam que há uma pedagogia poderosa que ultrapassa a

escola, que está o tempo todo inserida em seu espaço, mas sobre a qual ela não

tem controle. Uma pedagogia que Steinberg e Kincheloe (2004) denominam de pedagogia cultural. Uma pedagogia que educa fora do âmbito escolar. Aceitar a mídia como um outro espaço pedagógico contribui para que possamos apontar e

investigar ensinamentos e significados por ela veiculados.

No entanto, essa aprendizagem não se processa de forma linear; não há uma

relação de causa e efeito. Não são todos os sujeitos atingidos da mesma forma. Não

se pode dizer que aquilo que a TV ensina todos aprenderão e assimilarão igual e

totalmente.

Segundo Fischer (2001):

Quando acabamos por consumir um tal produto ou a repetir uma informação ou opinião (a partir de uma conversa rotineira, da leitura de um livro ou de algo visto na TV), possivelmente de alguma forma fomos convencidos de algo, porque as imagens ou coisas ditas, naquele lugar e através daqueles recursos de linguagem, fizeram sentido para nós, tocaram­nos em nossos desejos, sonhos, convicções políticas ou religiosas, faltas ou aspirações. Talvez simplesmente porque ali nos reconhecemos, nos sentimos representados e pudemos, num dado momento, conscientemente ou não, dizer: “Sim, é isso aí. É bem isso”. (p.28­29)

Desse modo, a aprendizagem televisiva se estabelece numa relação com as

outras vivências do telespectador. O programa atinge aos sujeitos, sua

subjetividade, a partir de suas referências, das experiências já vividas, sejam elas

nas intervenções e aprendizagens da escola e da igreja, sejam nas relações em

família e nos diversos grupos em que cada um esteja ou já esteve inserido. Apesar

de o processo de aprendizagem depender de muitos fatores, a televisão também

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ensina, e o que pretendo mostrar nesta dissertação é que podemos perceber tais

indícios no cotidiano escolar.

Diariamente a televisão invade o dia­a­dia de nossos alunos e alunas e passa

a interpelá­los através de suas narrativas. A linguagem televisiva, como a linguagem

de outros meios de comunicação, é constitutiva, ou seja, ao relatar um fato,

descrever objetos e pessoas, expressar posições, ela também os institui e constitui.

Constitui mediante narrativas que vão atribuindo, produzindo e associando

significados aos personagens e às tramas dos programas de TV. Esses significados

vão produzindo modos de ser e estar no mundo tidos como padrão, como modelo.

Esse movimento, ao apontar os sujeitos aceitáveis, ou seja, os que fazem parte do

que se pode considerar dentro da norma, demarca também os inaceitáveis, e

determina os possíveis lugares que devem ou não ser ocupados pelos sujeitos.

Os programas produzidos pela TV são textos culturais impregnados por

discursos que fazem parte de nossas vidas. Nós somos produzidos por esses textos

que, ao serem apresentados, nos narram, nos conformam e nos constituem; textos

culturais que falam para nós, sobre nós e, ao mesmo tempo em que nos inventam,

também nos assujeitam e governam. E isso podemos perceber no dia­a­dia de

nossos alunos e alunas, pela capacidade que as imagens, discursos e

representações têm de, nos mais encantadores formatos, interpelá­los e convocá­los

a se comportarem de tal ou qual forma.

Ao ingressar no curso de mestrado, interessava­me pesquisar a relação das

crianças com a mídia. Inserida no contexto escolar e instigada pela curiosidade

acerca da produtividade de certos programas de entretenimento dirigidos a crianças

e jovens, aventurei­me a tentar compreender e colocar em destaque a forte relação

que se estabelecia entre os programas de televisão e certos comportamentos e

atitudes assumidos pelas crianças.

De início, busquei, através de um questionário, saber ao que meus alunos

estavam assistindo, do que mais gostavam na televisão e quanto tempo de seu dia

estavam dedicando à programação televisiva.

As informações obtidas me ajudaram a esboçar alguns delineamentos da

pesquisa, a partir da percepção da relação que se estabelecia entre os sujeitos e os

programas preferidos.

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Por meio dos questionários, percebi que meus alunos dedicavam de cinco a

dez horas por dia à TV, o que me fez refletir sobre a desproporção entre o tempo de

exposição das crianças a esse artefato tão fascinante e aquele de sua permanência

na escola. Até então, lembrando das práticas da minha infância, acreditava que os

estudantes tinham um significativo contato com a televisão, porém, não imaginava

que quase todo o tempo em que não estavam na escola era preenchido pela

televisão e sua programação — segundo a pesquisa, em grande parte assistida por

eles sozinhos. É que eu ainda acreditava que, no período em que estavam fora da

escola, as crianças permaneciam em suas casas ou apartamentos, nos pátios ou playgrounds, jogando bola, brincando de casinha, carrinho ou pega­pega. Através do questionário, acabei por constatar que tais atividades, antes consideradas

corriqueiras no dia­a­dia das crianças, estão rapidamente desaparecendo de sua

rotina, o que vem ao encontro das informações coletadas por Daniel Castro (2004),

na reportagem na qual afirma que: “os que moram em grandes cidades quase não

brincam”.

Partindo da afirmação de que a televisão é um artefato que ensina —

invocando o fascínio, a beleza e, freqüentemente, o prazer — e identificando o longo

espaço de tempo que as crianças ficam expostas a ela, muitas vezes maior do que o

tempo de permanência na escola, constata­se que os jovens telespectadores

aprendem desde muito cedo com sua programação.

Segundo o questionário, novelas, desenhos, telejornais, shows, seriados, filmes, programas de esporte eram alguns dos gêneros preferidos e assistidos por

meus alunos e alunas. E, dentre a programação, o levantamento feito aponta a

preferência por séries e desenhos animados.

Deparei­me, então, com uma imensa lista de programas indicados por eles e

elas, direcionados às mais diversas faixas­etárias. O que fazer a não ser assisti­los?

Percebi que seria impossível procurar compreender as escolhas dos alunos sem me

dedicar a saber de que tratavam. Optei, primeiramente, pelos desenhos animados,

que representavam maioria na preferência.

A difícil tarefa de parar em frente à televisão para assistir a desenhos

animados, programação que há muito não fazia parte de minha vida, foi substituída

pelo sentimento de espanto em relação à forma como esses programas estão agora

diferentes, distantes daqueles a que eu assistia.

20

Durante minha infância e adolescência, acostumei­me com heróis como o Homem­Aranha, a Mulher Maravilha, o Super Homem, o Batman e tantos outros, cujas aventuras e poderes me fascinaram. Todos eles personagens adultos, fortes,

inteligentes e preocupados com a solução de problemas graves, grandiosos e com

repercussões mundiais. Todos eles preocupados com a defesa dos mais fracos e a

captura e punição dos vilões. Alguns minutos em frente à TV, hoje, nos faz relembrá­

los e registrar a ausência de personagens com tais atributos.

Constatei, em seguida, a presença de um novo tipo de heróis e heroínas —

crianças e jovens. Num processo de garimpagem, voltei­me para a observação de

diversos desenhos animados transmitidos no horário da manhã, na TV aberta. Na

maioria desses programas, encontramos garotos e garotas, quase sempre geniais,

ágeis e poderosos, em busca de namorados, circulando em shoppings, preocupando­se com questões de moda e corpo e aventurando­se por espaços

incomuns, em deslocamentos instantâneos que faz o tempo e o espaço

desaparecerem.

Kim Possible, Hi Hi Puffy Ami Yumi, Martin Mistery, Tottaly Spies, entre outros desenhos animados, fazem parte de produções que apontam para novos tempos.

Desenhos que refletem o delineamento de um novo cotidiano de jovens e crianças

que têm de se dividir entre a rotina escolar, os programas da “vida fashion” e as mais variadas missões para salvar o mundo (MAGALHÃES, 2003). Nesses programas,

percebi também a presença significativa do gênero feminino. Jovens e crianças

compõem um novo quadro de heróis em que despontam as jovens meninas, muitas

delas como personagens totalmente capturadas pela cultura da mídia e do consumo.

Foi observando os desenhos animados e realizando importantes leituras dos

Estudos Culturais, dos estudos de gênero e dos estudos acerca da cultura da mídia

e do consumo, que pude ajustar minhas lentes e perceber que a forma como minhas

alunas se conduziam em aula estava fortemente relacionada à forma como a

televisão as representava em seus programas. Os novos heróis e heroínas e os

novos dilemas dos desenhos animados produzem de forma prazerosa

“comportamentos e sujeitos” (KINDEL, 2001), estabelecendo referenciais de

identidade. Esse fato me instigou a investigar mais minuciosamente como as jovens

meninas são narradas pelos desenhos animados, já que tais narrativas colocam em

21

destaque alguns dos possíveis conceitos, entre os muitos que circulam na sociedade

contemporânea, sobre o que vem a ser uma jovem menina de hoje.

Podemos constatar essa construção, em nosso dia­a­dia, nos momentos em

que esboçamos a representação do que venham a ser os sujeitos a partir das

classificações que a sociedade vai categorizando constante, aleatória e

transitoriamente. Por exemplo, quando pensamos em menina, hoje, logo nos vêm à

mente, como referência central desse conceito, as inúmeras meninas­personagem

dos programas de televisão. Sem contar as diversas vezes que utilizamos tais

personagens como padrão e os comparamos com as pessoas que fazem parte de

nossas vidas.

Os desenhos animados, enquanto artefatos culturais, são parcialmente

responsáveis por colocar em circulação discursos que formam e subjetivam os

sujeitos, na medida em que estão eivados de dicas e fórmulas de como ser, não ser,

pensar, comportar­se, vestir­se, relacionar­se, encontrar a felicidade etc. Eles, assim

como outras programações da TV, balizam, através da ressonância dos seus

discursos tidos como “verdades”, o que é natural, normal, lógico e desejável,

delimitando e constituindo os conceitos que são adotados como padrão em nossa

sociedade. Nesta dissertação, pretendo analisar o desenho animado como um texto

cultural que opera na produção de significados sobre o que é ser uma jovem menina

contemporânea.

Entre os desenhos assistidos, o que mais me chamou a atenção pela

proximidade com o comportamento de minhas alunas, pela reprodução de episódios

da história das personagens nas suas produções textuais, pela forma como é

produzido e pela forma como representa a jovem menina, foi a série de desenho

animado Três Espiãs Demais 5 (Totally Spies).

A série selecionada para estudo na presente dissertação é uma produção da

empresa francesa Marathon. Ela é apresentada no programa TV Xuxa, de segunda à sexta­feira, desde 2005 até o presente ano de 2007 6 , a partir das 11h15min da

manhã, de segunda à sexta, nos horários das 10h30min e 14h30min, pelo Canal

5 A ficha técnica da série de desenho animado encontra­se no anexo I. 6 No período de agosto de 2006 a dezembro de 2006, ocorreu uma interrupção na exibição da série de desenho animado Três Espiãs Demais, no aguardo da nova temporada. O programa TV Xuxa passou a transmitir o desenho WITCH em seu lugar.

22

Jetix da TV a Cabo, e no programa TV Globinho, aos sábados, desde 2005 até o

presente ano de 2007, a partir das 10h.

A série de desenho animado Três Espiãs Demais, com duração aproximada de vinte a trinta minutos, narra as aventuras de três jovens meninas de nível

sócioeconômico privilegiado (Clover, Sam e Alex), estudantes e moradoras de Beverly Hills, que realizam missões em todo o planeta. O desenho é uma narrativa no sentido clássico, pois a cada episódio conta com uma situação inicial — na qual

se articulam no mínimo duas missões a serem resolvidas — e uma situação final —

na qual ocorre a resolução das missões. As missões, freqüentemente, entrecruzam

dois planos, os problemas referentes à identidade enquanto jovem menina de Beverly Hills e os referentes à identidade enquanto espiã mundial. No episódio Dor de dente, por exemplo, existem quatro missões a serem resolvidas, três delas referentes à vida particular das meninas — acabar com a dor de dente de Alex,

conseguir a bolsa da Mute e descobrir o motivo da pobreza de Mandy — e uma

referente à WOOHP 7 — encontrar pessoas importantes que estão desaparecendo.

Sam, Alex e Clover recebem instruções e apoio de Jerry, que é chefe do

Centro de Serviços Secretos da WOOHP. Em suas tarefas de agentes especiais,

utilizam vários recursos tecnológicos — comunicadores, transportes alternativos,

hologramas, lasers etc. Em suas tarefas prosaicas, são garotas consumidoras e adeptas do shopping, vestem­se de acordo com a última moda, preocupam­se muito com a beleza e com sua imagem, apresentam o estereótipo atual de corpo perfeito,

magro e alto. Atendendo aos critérios atuais “politicamente corretos” de respeito à

diversidade, as três personagens são: uma loira, uma morena e outra ruiva.

As meninas­heroínas são representadas em seu dia­a­dia como

excessivamente dedicadas aos cuidados com sua aparência, comparando­se

constantemente com as demais garotas que compõem a trama e que fazem parte de

seu grupo social. No enredo, todas as jovens meninas de seu círculo social sonham

em ser a mais fashion, a mais rica, a mais bela, fazendo de tudo para vencer essa disputa. Nesse contexto, as três espiãs voltam­se contra as suas rivais de escola

com a mesma veemência com que agem contra os perigosos contraventores

mundiais.

7 World Organization Of Human Protection (Organização Mundial de Proteção Humana).

23

O que se pode perceber já em um primeiro contato com a série é que as

espiãs refletem e narram situações que descrevem uma sociedade capitalista que

“[...] produziu uma indiferença generalizada em relação ao outro e às tradicionais

fontes de valor, como a família, a religião e a política” (FREIRE COSTA, 2005,

p.225), na qual o eu passa a ser o núcleo do universo, o ponto de chegada e o ponto

de partida. Nessa narrativa, há quase um nivelamento de valores, sendo as

preocupações com o cabelo, com as unhas, com as paqueras ou com as roupas tão

intensas e merecedoras de empenho e de energia quanto às investidas na solução

de missões, relativas a problemas mundiais graves. Dessa forma, as narrativas

aproximam e fazem equivaler dilemas pessoais e mundiais. Tão importante quanto

salvar o mundo de alguma catástrofe é ser a primeira a comprar o produto a ser

lançado, anunciado nas propagandas. O fato de tais discursos invadirem o universo

infantil e interpelarem crianças e jovens, cristalizando problemáticas representações

de gênero, foi um importante elemento que me instigou a analisar tal programação.

Inscritas em um contexto de “culto ao corpo” (FREIRA COSTA, 2005), as

jovens espiãs acreditam que a felicidade encontra­se na composição do corpo da

moda. As análises evidenciam que, na maioria dos episódios, a série de desenho

animado enaltece a beleza, as formas quase anoréxicas, as faces maquiadas, a

obsessão pelo corpo perfeito e a necessidade de buscar um relacionamento afetivo

com um rapaz de aparência estonteantemente bela e sedutora.

Os temas tensionados pelo desenho — e reproduzidos por minhas alunas —

me fizeram recordar o passado e perceber outros motivos que me mobilizaram a ver

no desenho Três Espiãs Demais questões especialmente relacionadas ao modo de ser jovem menina. Tais temáticas me remetem às minhas vivências. Quando

menina, e ainda muito jovem, morava na zona rural de uma cidade da grande Porto

Alegre. Naquela época, as “coisas do gênero feminino” — brincar de boneca, de

maquilagem, de casinha — não me atraíam com tanta fascinação quanto aquelas

que faziam parte do dito “universo masculino”. Era meio moleque, adorava jogar

futebol, brincar de pegar, subir em árvores, jogar bolinha de gude. Ficar admirando

as intocáveis coleções de bolas de gude e de chaveiros do meu irmão mais velho

fazia parte de minhas atividades prediletas. Além disso, vivia brincando de ser padre.

Dizia que, quando mais velha, um dia celebraria a missa. Minha mãe, durante algum

tempo, não interveio em minhas práticas. Sua preocupação mostrou­se significativa

24

a partir da oitava série, momento em que fui convidada a participar do time de

futebol da escola. A partir de então, as coisas mudaram. Lembro­me de minha mãe,

por diversas vezes, preocupada com essa postura “desviante”. Recordo as ocasiões

em que me instruía sobre como ser mais delicada e dócil, vestir­me adequadamente,

como sentar e falar de acordo com o seu imaginário do que seria uma “verdadeira”

jovem menina.

É interessante perceber que a forma como minha mãe tentava me educar, me

instruir, inscrevia­se num registro de narrativa de jovem menina de um tempo que se

distancia do que hoje as meninas vêm aprendendo na televisão, em especial no

desenho animado selecionado para esta pesquisa.

Instigada em saber como meus alunos e alunas percebiam as narrativas

apresentadas pela televisão, certa ocasião, em sala de aula, em uma discussão

procedente de um capítulo do livro de português, questionei­os quanto aos artifícios

utilizados pelos programas de televisão para a conquista de seu público e às

informações, os valores e os princípios por eles transmitidos.

Nessa tarefa, além das atividades de interpretação, cada estudante produziu

um programa, selecionou o público­alvo, a temática e os atributos necessários para

a conquista e o correto endereçamento ao público escolhido. Ao justificar o foco do

programa que cada um produziria, invocaram razões como: apresentar mulheres

“gostosas”, incluir personagens e bandas famosas, entrevistar jogadores de futebol,

entre outros.

Aproveitando a temática dos programas de TV e as informações por eles

transmitidas, questionei os estudantes em relação ao que o desenho Três Espiãs Demais lembrava ou ensinava a quem os assistia. Contrariando a metanarrativa de que as crianças são ingênuas, não compreendem as coisas da mesma forma que os

adultos, ou mesmo de que não têm capacidade de perceber os saberes que os

desenhos animados ensinam, as alunas e os alunos trouxeram em suas narrativas

importantes ilações. Segundo elas e eles: As meninas estão sempre no shopping!, Elas adoram comprar, É bom comprar, né, profe?, Elas estão sempre na moda, Elas são muito belas! Tais ditos assinalaram que esse desenho era, sim, um importante

objeto para este estudo e percebi nessas falas o quão válido seria colocar em

evidência as narrativas por ele produzidas.

25

É preciso deixar claro que, na presente dissertação, minhas intenções

distanciam­se da pretensão de mostrar o que venha a ser o certo ou errado em

relação à representação das jovens meninas. Até porque, de acordo com Sarlo

(2006), “a juventude não é uma idade e sim uma estética da vida cotidiana” (p.36).

Dessa forma, entendo­a enquanto uma construção histórica, cultural e contingente.

Uma construção que vai se constituindo de acordo com a época, com o local e com

o grupo social em que está inserida.

O que pretendo nesta dissertação é colocar em evidência a produtividade das

narrativas apresentadas por esse desenho animado, que criam e articulam sentidos

“produzidos no âmbito de uma prática cultural e histórica, já que se trata de materiais

veiculados por determinados meios de comunicação, numa determinada época, para

determinados públicos” (FISCHER 2001, p.66).

O Caminho Investigativo

Os caminhos investigativos percorridos na pesquisa inspiram­se na

abordagem Pós­Estruturalista, o que possibilitou o entrecruzamento de distintas

possibilidades, uma vez que essa abordagem possibilita que nos embrenhemos “em

tramas e teias de pensamentos que, ao invés de nos indicarem rotas seguras,

capturam­nos e enleiam­nos em circuitos aparentemente inescapáveis” (COSTA,

2005b, p.200).

Assim sendo, abre mão de modelos engessados e possibilita a criação de

estratégias específicas para cada investigação. Em um processo de fazer ver, o

pesquisador se distancia da articulação de verdades e passa a buscar caminhos,

menos pretensiosos, que coloquem em evidência os significados incrustados na

cultura. Tal concepção parte do princípio de que nossas escolhas não são isentas,

elas estão inscritas em uma linguagem, em um pensamento e em uma cultura

contingente e histórica. Dessa forma, expressam um conjunto de signos que se

inscrevem num certo e restrito registro.

Para nós, pesquisadores, constituídos por discursos modernos, com verdades

universais, assépticas e inquestionáveis, os primeiros passos do processo fazem­se

demasiado complexos, na medida em que fazemos parte de um mundo povoado por

26

instituições que reforçam normas e verdades consideradas absolutas, irrevogáveis e

indiscutíveis.

Nessa perspectiva, lançar um olhar mais atento para a escola e para as

repercussões da mídia na escola, com as lentes dos Estudos Culturais, significa

desvencilhar­se de paradigmas e metanarrativas sufocantes e apontar para novos e

desafiadores caminhos (COSTA, 2007). Um olhar que, segundo Veiga­Neto (2002),

não se constitui isentamente, um olhar que, de certa forma, constitui e cria os

problemas do mundo. E é nesse registro que se inscreve a presente pesquisa,

despojando­se das verdades acabadas e costurando caminhos no entrecruzamento

do objeto de pesquisa e das leituras realizadas no curso de mestrado.

Pesquisas como a de Costa (2004; 2007) e de Momo (2005) têm se

preocupado em analisar os atravessamentos dos artefatos culturais contemporâneos

na vida escolar, fator facilmente identificado na forma como meus alunos e alunas se

comportam em sala de aula. Como já referi anteriormente, neste capítulo, a maneira

com que meus alunos e alunas, de oito e nove anos, tentam transformar­se em

personagens da mídia televisiva, como é o caso dos personagens da novela Rebelde, são indícios fortes de como a mídia está constantemente interpelando

nossos estudantes, e promovendo processos de subjetivação.

Nesse contexto, a série de desenho animado, selecionada para análise nesta

pesquisa, constitui­se em um dos fascinantes artefatos culturais, que colocam em

circulação discursos que vão enredando, subjetivando e ensinando dicas e fórmulas

de como ser e como não ser enquanto sujeito social.

No trecho abaixo 8 — fragmento da produção textual de uma de minhas

alunas, realizada em aula — podemos perceber, juntamente com outros dois textos

incluídos no anexo dois deste trabalho, que a série de desenho animado Três Espiãs Demais não só povoa as telinhas como invade o imaginário infantil.

Um belo, dia Clover foi ao shopping com Sam e Alex, suas melhores amigas. Clover disse: — Olha que lindo aquele chapéu! — Sim, Clover! É lindo!

8 Essa epígrafe é o fragmento de uma produção textual realizada por uma de minhas alunas, de nove anos de idade, em 28 de março de 2006. A proposta era a criação de um texto de temática a ser escolhida pelo aluno. Essa aluna optou por escrever sobre um dos episódios do desenho animado Três Espiãs Demais.

27

E aí apareceu a Mandy, a pior inimiga que já se viu na vida. Ela diz para a moça da loja: — Eu quero esse chapéu! Bota na minha conta. Bye, bye! Clover ficou um inferno... 9

Além disso, esse fragmento coloca em evidência um tipo de comportamento

das meninas­heroínas em relação ao consumo, recorrentemente evocado pelo

desenho animado e que pretendo problematizar no presente estudo.

No desenho, as jovens meninas são representadas como excessivamente

preocupadas com o consumo de objetos, relacionamentos e aparências.

Comportamento que, como já mencionei anteriormente, se aproxima e muito da

conduta de minhas alunas no cotidiano da escola. Segundo Kellner (2001),

[...] a cultura veiculada pela mídia transformou­se numa força dominante de socialização: suas imagens e celebridades substituem a família, a escola e a Igreja como árbitros de gosto, valor e pensamento, produzindo novos modelos de identificação e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento. (p 27)

Para a sensibilização de meu olhar, na definição dos focos e na realização

das análises, elegi algumas questões discutidas por Fischer (2001), no livro Televisão & Educação: fruir e pensar a TV, por outras elaboradas por Duarte (2002), no livro Cinema e Educação, e ainda outras evidenciadas por Costa (2002), no artigo Ensinando a dividir o mundo; as perversas lições de um programa de televisão.

Entre as questões pontuadas por Fischer (2001), selecionei observar os

recursos de linguagem utilizados em cada episódio, os pontos altos do programa em

termos de dramaticidade e endereçamento, o vocabulário utilizado e a sonorização

do desenho animado Três Espiãs Demais.

Do trabalho de Duarte (2002), elegi as questões referentes aos planos de

enquadramento da imagem, ao uso de cores, ao som e à montagem das imagens.

Das discussões apresentadas por Costa (2002), chamou­me a atenção a

forma como a autora mostra a linguagem e o discurso (enquanto) capazes de

constituir e disseminar significados acerca dos sujeitos sociais, atribuindo­lhes

papéis, funções e espaços próprios.

9 A partir daqui, todas as citações referentes ao corpus desta pesquisa serão apresentadas em fonte diferente daquela do texto.

28

Tais questões serão colocadas em destaque em minhas análises, pois

compreendo que a maneira como são engendradas no desenho animado é fator

determinante na composição dos significados da narrativa que se quer construir.

Embora Fischer (2001), Duarte (2002) e Costa (2002) não tenham examinado

especificamente desenhos animados, elas tratam de TV e cinema, mídias que estão

sendo espantosamente invadidas pelos desenhos animados, cada vez mais

apresentados indistintamente seja nos telões do cinema, seja nas telinhas da TV.

O que procurei fazer durante meu trabalho de dissertação foi olhar para os

episódios da série Três Espiãs Demais, tentando estranhar e desconstruir o que o

desenho apresenta como natural e familiar no que diz respeito às questões do

consumo. Desse modo, procurei colocar em evidência quais as narrativas

produzidas pelo desenho animado em questão. Meu objetivo é apontar e

desnaturalizar características juvenis que, segundo o desenho animado, são

expostas como “identidades desejadas” e “naturalmente” femininas.

Através do contato com as lentes teóricas dos Estudos Culturais e da

observação de vários episódios da série de desenho animado em estudo, percebi

que, no contexto do desenho, as questões do consumo mostram­se intensamente

evidentes no cotidiano das jovens espiãs. Isso fez com que inúmeras questões me

inquietassem em relação à presença do consumo no dia­a­dia das protagonistas do

desenho. Questões que serão colocadas em discussão, no capítulo das análises, a

partir das narrativas apresentadas nos episódios selecionados. São elas: Como são

representadas as jovens meninas no desenho? O que ele ensina sobre os

significados do consumo? Como são as relações afetivas das jovens meninas?

Como as jovens meninas lidam com seu próprio corpo? O que mobiliza as jovens

meninas a querer, incansavelmente, consumir objetos, imagens e relacionamentos?

Em que contexto tais ações se justificam?

Para a presente pesquisa, com o intuito de articular e organizar possíveis

achados acerca dos questionamentos acima, optei por voltar­me para os seguintes

focos de análise: o consumo de objetos, o consumo de aparências e o consumo de

relacionamentos.

Segundo dados do site Wikipédia, o desenho animado Três Espiãs Demais conta com quase duzentos episódios divididos em cinco temporadas, de 2001 a

2007. Entre eles, realizei a gravação, aleatoriamente, de trinta e cinco episódios

29

produzidos entre 2001 e 2006 10 , tanto na TV aberta quanto na TV a cabo. Como sua

exibição acontecia em horários 11 de meio de tarde e meio de manhã — horários em

que usualmente estava trabalhando em minha escola —, tive acesso apenas a

alguns episódios, quando eventualmente era possível assistir ao programa. Minha

família responsabilizou­se por gravar muitos episódios para que eu pudesse assisti­

los posteriormente.

Assistindo aos programas, vários fatos me chamaram a atenção. Contudo,

ficaria inviável o retorno constante ao material, para olhar novamente toda a

programação já gravada. Meu desafio então foi encontrar uma forma de acessar os

episódios sem ter de assisti­los na íntegra outra vez. O meio mais adequado para tê­

los decupados e de fácil acesso foi a elaboração de uma espécie de ficha, inspirada

no trabalho de Elí Henn Fabris, para catalogar as informações.

Faz­se necessário sublinhar que as fichas, incluídas no anexo 3, não

contemplaram todas as informações contidas em cada episódio, bem como não

conseguiram reproduzir a riqueza de elementos da linguagem televisiva. No entanto,

foram instrumentos fundamentais nos diferentes momentos da pesquisa, pois

demarcaram os conteúdos de cada episódio e ajudaram na organização dos dados

e na aglutinação das regularidades apresentadas no desenho.

Dentre os trinta e cinco episódios, para esta pesquisa, optei pela seleção de

dezesseis que apresentassem maior número de cenas, ações, reações e falas

marcantes em relação aos focos escolhidos.

10 Episódio Dor de dente — gravado em maio de 2006. Episódio Biscoitos da paixão — gravado em maio de 2006. Episódio Alienígena — gravado em junho de 2006. Episódio Encolhe­encolhe — gravado em junho de 2006. Episódio Encolheu a cabeça — gravado em junho de 2006. Episódio A promoção do mal (Parte 1) — gravado em junho de 2006. Episódio A Ilha WOOHP — gravado em julho de 2006. Episódio As garotas dos games — gravado em julho de 2006. Episódio Garotas do Vale do Silício — gravado em novembro de 2006. Episódio Lei da Gravidade — gravado em novembro de 2006. Episódio Cidadãs modelo — gravado em dezembro de 2006. Episódio Natal do mal — gravado em dezembro de 2006. Episódio Nasce uma espiã — gravado em janeiro de 2007. Episódio Verdade no susto — gravado em janeiro de 2007. Episódio É o jeito como se joga — gravado em fevereiro de 2007. Episódio Mania de Manicure — gravado em abril de 2007. 11 Horários em que as crianças que não têm aula naquele turno estão em casa, assistindo à televisão.

30

CAPÍTULO 2 PARA AGUÇAR O OLHAR

Quanto mais importante – mais “central” – se torna a cultura, tanto mais significativas são as

forças que a governam, moldam e regulam. (HALL, 1997a, p.35)

A Centralidade da Cultura

Com a “revolução cultural” verificada no século XX, a cultura passou a

assumir uma função de importância inigualável. Conforme Hall (1997a), nessa

“revolução cultural”, a cultura assumiu um papel central, constitutivo e determinante

nas sociedades contemporâneas e, conseqüentemente, na compreensão e análise

das instituições e relações sociais. Os Estudos Culturais, linha de pesquisa em que

se inscreve a presente dissertação, chamam a atenção para a importância da

cultura, preocupando­se com a sua produtividade.

Faz­se necessário destacar que a cultura é aqui entendida como significados

que são partilhados por meio da linguagem e da representação. Assim sendo, nós

compartilhamos da mesma cultura, pois partilhamos linguagem e significados

semelhantes, constituindo, desse modo, semelhantes representações. A cultura se

distingue da parte genética, biológica ou instintiva. Ela “[...] tem de ser vista como

algo fundamental, constitutivo, determinando tanto a forma como o caráter deste

movimento, bem como a sua vida interior” (HALL, 1997a, p. 23).

Favorecida pelas inovações tecnológicas — que facilitaram a produção,

circulação e troca de informações — a cultura acaba por impulsionar e sugerir, quem

31

sabe, uma homogeneização cultural. Entretanto, já é de conhecimento comum que

as informações são movidas e administradas de forma desigual e que as recepções

realizadas pelos sujeitos não são uniformes. Desse modo, a transmissão cultural de

informações locais e particulares para o mundo existe e, em certos casos, promove

a hibridação 12 de diferentes peculiaridades culturais e não a assimilação total e igual

por parte dos receptores. “A cultura global necessita da ‘diferença’ para prosperar –

mesmo que apenas para convertê­la em outro produto cultural para o mercado

mundial [...]” (HALL, 1997a, p.19). Um bom exemplo é a própria série de desenho

animado em estudo, que resulta da hibridação de características dos desenhos

japoneses, associada a representações da cultura norte­americana, sendo,

finalmente, produzida por franceses.

O desenho animado Três Espiãs Demais, objeto de estudo da presente pesquisa, embora tenha sido produzido na França e com algumas peculiaridades

francesas, remete a um modo de viver quase que mundialmente padronizado e que

vai se infiltrando na forma com que jovens de outras sociedades e culturas

processam e administram suas atitudes e na forma como a sociedade age perante a

juventude feminina.

A ampliação da compreensão do que constitui a cultura, promovida pelos

Estudos Culturais, faz com que se perceba que as práticas sociais podem ser

analisadas através de um ponto de vista cultural. Segundo Hall (1997a), a “virada

cultural” é o movimento no qual as questões culturais passam a ocupar uma posição

central “ao lado dos processos econômicos, das instituições sociais e da produção

de bens, da riqueza e de serviços” (p.27). Uma abordagem “[...] que passou a ver a

cultura como uma condição constitutiva da vida social, ao invés de uma variável

dependente [...]” (HALL, 1997a, p.16).

Através da “virada cultural”, a linguagem é vista como importante ferramenta

de atribuição de sentidos e significados e de constituição de fatos, objetos,

relacionamentos e sujeitos. Dizendo de outro modo, a linguagem não apenas relata,

mas também constitui e tem posição privilegiada na construção e circulação dos

significados.

12 Emprego a palavra no sentido proferido por Garcia­Canclini no livro Culturas híbridas (2003), no qual ela é compreendida como “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existem de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (p.19), sendo que nenhuma delas pode ser considerada inicialmente pura.

32

Nesse contexto, conforme Hall (1997a, p.16):

A ação social é significativa tanto para aqueles que a praticam quanto para os que a observam: não em si mesma mas em razão dos muitos e variados sistemas de significado que os seres humanos utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em relação aos outros. Estes sistemas ou códigos de significado dão sentido às nossas ações. Eles nos permitem interpretar significativamente as ações alheias.

Assim sendo, ao mesmo tempo em que as narrativas do desenho animado

estabelecem alguns possíveis significados para as jovens meninas, o desenho

compartilha alguns códigos e contribui para a regulação da conduta da juventude

feminina de hoje, reafirmando comportamentos já existentes, bem como introduzindo

novos tipos de subjetividades em conexão com outros programas, com grupos

sociais, entre outros.

A cultura encontra­se imbricada no dia­a­dia dos sujeitos e constantemente os

interpela através das narrativas, das imagens, dos sons, entre outros. Ela é central

na vida dos sujeitos e acaba por determinar, significar e representar formas de ser,

viver, conviver ou não na sociedade. “A expressão ‘centralidade da cultura’ indica

aqui a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea,

fazendo proliferar ambientes secundários, mediando tudo” (HALL, 1997a, p.22). Ou seja, há uma imensa proliferação de todo o tipo de textos culturais dirigidos a todo o

tipo de receptores e consumidos indistintamente.

O lugar da mídia na cultura contemporânea

Hábitos como ligar a TV no horário da manhã para saber a previsão do tempo

ou o tráfego da cidade, olhar revistas de moda para escolher o vestido que será

adequado para uma festa de casamento, ler o jornal para estar por dentro dos fatos

que serão comentados durante o dia, pesquisar na Internet assuntos que estão em

foco ou mesmo ligar a TV nos momentos de lazer são práticas que nos possibilitam

refletir sobre o importante papel que a mídia assumiu no dia­a­dia das pessoas. Ela

já está tão imbricada em nossas vidas que não nos imaginamos sem a mídia para

nos informar, instruir, comunicar, divertir, criar, guiar.

33

As transformações tecnológicas promoveram grandes mutações em nossa

sociedade e redesenharam os cenários mundiais. Elas “influenciam profundamente a

natureza do saber, nossos modos de vida, e nosso próprio jeito de sermos humanos.

Uma certa forma de conceber o que entendemos por ‘humanidade’ estaria sendo

radicalmente transformada” (COSTA, 2006, p.179). A mídia, com os aparatos

tecnológicos fantásticos de que se utiliza, tem sido a grande propulsora da expansão

cultural, um dos principais meios de circulação de imagens e informações do

planeta, e estabelece forte regulação e domínio sobre os sujeitos.

Segundo Hall, a mídia “[...] sustenta os circuitos globais de trocas econômicas

dos quais depende todo o movimento mundial de informação, conhecimento, capital,

investimento, produção de bens, comércio de matéria prima e marketing de produtos e idéias” (1997a, p.17). A ela cabe divulgar e colocar em foco não só fatos que

acontecem no âmbito local, mas divulgar também questões mundiais.

Contudo, essa escolha e seleção da informação não se faz isenta. Ela diz

mais numa relação com o que a mídia acredita que o receptor espera e quer receber

e com aquilo que quer enfocar como “verdade”. Nesse contexto, o vasto tempo de

exposição à TV, ao rádio, às revistas, aos jornais, entre outros veículos de

informação, vai constituindo uma imensa gama de significados e produzindo formas

como os sujeitos interagem na sociedade.

“As narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os

mitos e os recursos que ajudam a constituir uma cultura comum para a maioria dos

indivíduos em muitas regiões do mundo de hoje” (KELLNER, 2001, p.9). Logo, o

modo como o desenho Três Espiãs Demais narra as jovens meninas para o mundo, coloca em foco um possível jeito de ser e agir, a partir de códigos que passam a ser

mundialmente interpretados, compreendidos e compartilhados. Códigos que vão,

aleatoriamente, moldando a vida das pessoas e influenciando o modo como

pensam, como se comportam, como vêem a si e como vêem os outros, ou como

constroem sua própria identidade (KELLNER, 2001).

Assim, a mídia “não apenas veicula mas constrói discursos e produz

significados e sujeitos” (FISCHER, 1997, p.63). Ela coordena nossas vidas, delimita

possíveis caminhos a serem percorridos, possíveis linguagens a serem utilizadas,

possíveis formas de estar no mundo e exclui de maneira feroz aquilo que não faz

parte de seu discurso central.

34

“As imagens da TV tendem a fixar determinadas ‘verdades’, determinados

conceitos universais como, por exemplo, os de prostituta, de adolescência, de

sexualidade jovem, de beleza feminina, de virilidade, de classe trabalhadora e assim

por diante” (FISCHER, 2001, p.42). A forma como a TV apresenta as jovens

meninas (consumistas, num jogo de caça aos meninos, excessivamente

preocupadas com o corpo), no desenho animado Três Espiãs Demais, acaba por formular um estatuto de “verdade” e de prescrever uma das formas consideradas

“corretas” de viver enquanto juventude feminina.

As pedagogias culturais

Percebendo a importante e significativa presença da mídia no dia­a­dia das

crianças, em especial de meus alunos e alunas, notei a presença das pedagogias

culturais que matizam a pedagogia escolar. Isso implica abrir mão de conceitos

relacionados à educação apenas compreendida como resultado da ação sistemática

da escola, representada pela figura central do professor, e passar a considerá­la

“como conjunto de processos pelos quais os indivíduos são transformados ou se

transformam em sujeitos de uma cultura. [Trata­se agora da educação e da

pedagogia que acontecem num espaço ampliado] [...] que, hoje, inclui, com especial

ênfase, os meios de comunicação de massa e a TV ocupa aí, um ligar de destaque”

(MEYER; SANTOS; OLIVEIRA; WILHELMS, 2004, p.52­53).

Se, na modernidade, a formação dos sujeitos se restringia a espaços como o

da família, da igreja e da escola, hoje em dia ela ultrapassa essas instituições, se

expande e fica sujeita a mais uma importante “pedagoga”, a mídia. Estamos vivendo,

segundo Fischer (1997):

O deslocamento de algumas funções básicas, como a política e a pedagógica, que gradativamente deixam seus lugares de origem — os espaços institucionais da escola, da família e dos partidos políticos —, para serem exercidas por um outro modo, através da ação permanente dos meios de comunicação. (p.61­62)

Meios que dominam a cultura contemporânea e através da informação e do

entretenimento constituem o que tem sido chamado de pedagogia cultural: nos

ensinando como nos comportar, o que pensar e sentir, em que acreditar, o que

temer e desejar — e o que não devemos realizar (KELLNER, 2001).

35

Estudos como o de Walkerdine (1999), de Steinberg e Kincheloe (2004),

Giroux (2004) e Kellner (2001) colocam em evidência, em suas análises, as formas

como a mídia ensina os sujeitos a ser e estar no mundo, ressaltando o caráter e o

estatuto pedagógico da mesma. Eles focalizam a questão da produção e do

consumo cultural. Seus trabalhos mostram os modos de subjetivação e de

construção de sujeitos e de determinadas identidades e representações culturais,

considerando a mídia como importante espaço pedagógico.

Conforme Giroux (2004) “o significado dos desenhos animados opera em

vários registros, mas um dos mais persuasivos é o papel que eles desempenham

como as novas ‘máquinas de ensino’, como produtores de cultura” (p.89). Inspirada

nessa percepção de que o desenho animado se constitui numa forma especial de

ensinar, pretendo abordar e colocar em evidência a pedagogia do desenho Três Espiãs Demais como forma de instrução social, oferecendo um conjunto de

problematizações para investigar quais representações identitárias de jovens

meninas contemporâneas, baseadas em determinados grupos e contextos sociais e

culturais específicos, têm sido privilegiadas. Nesse sentido, o desenho animado atua

como uma pedagogia cultural, ou seja, como uma eficiente, fascinante e prazerosa

forma de ensinar na e pela mídia.

Nas lições ensinadas pelo desenho, assim como em outros programas,

segundo Costa, Silveira e Sommer (2003):

Freqüentemente se estabelece o normal e, concomitantemente, o desviante; o “progressista”, sinalizando o “antiquado”; o certo, sinalizando para o errado, em um panorama que, marcado pelas questões culturais, é naturalizado e mostrado como “moderno”, “atual”, “biologicamente condicionado”, “estando na ordem das coisas”. (p.56)

E foram essas questões que me inquietaram a inquirir acerca do desenho

animado, pois ele, juntamente com os diversos programas televisivos, está a ensinar

nossos alunos e alunas a como estabelecer parâmetros do que deve ser aceito,

correto e desejável ou não em nossa sociedade.

36

Representação, produção de significados e constituição de sujeitos

Sam: Clover! 13

Alex: O que aconteceu com você? Clover: A Imagem Perfeita 14 rouba partes do corpo. Foi assim que criaram a Gasele. Agora tem alguém aí correndo com as minhas pernas perfeitas 15 ! (Neste instante, a imagem foca as novas pernas de Clover: coxas, panturrilhas e tornozelos muito grossos. A reação de pavor de Sam e Alex é instantânea. Olhos arregalados, boca aberta e grito expressam o susto das jovens). Sam e Alex: Aaaaaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!! Sam: Sem problemas! Vamos tirar você inteirinha daqui! (A trilha sonora é como se algo estivesse caído e quebrado. A imagem de Clover é desproporcional, suas pernas mudam completamente o seu visual).

Dos séculos XVIII a XIX, inúmeros foram os artistas que, como Jean Auguste

Dominique Ingres 16 , representaram a beleza da mulher através de telas e esculturas

de mulheres com silhuetas arredondadas e gordas. Naquela época, a mulher era

bela e deslumbrante se fosse corpulenta, bem dotada de “carnes revestindo os

ossos”. Hoje, podemos perceber, através do trecho acima, retirado do episódio Cidadãs Modelo da série de desenho animado Três Espiãs Demais, que as coisas mudaram. Coxas grossas se tornaram sinônimo de espanto e feiúra. A gordura, não

mais símbolo de beleza e saúde, transformou­se em um castigo para milhares de

jovens no mundo inteiro. Esse outro significado de gordura corporal já faz parte de

nossas vidas e nos condiciona a preocuparmo­nos constantemente com a balança e

com o espelho.

Estudos como o de Costa e Martins (2006, p.7), por exemplo, chamam a

atenção para a rede de inteligibilidade que foi se constituindo sobre o “ser gordo”.

Rede que, na contemporaneidade, opera como um “dispositivo de magreza”, através

de discursos que abarcam “um modo de vermos e pensarmos a ‘alma’ desses

sujeitos”.

13 Episódio Cidadãs Modelo. 14 Nome da agência de modelos que estão investigando. 15 As magras e bem delineadas pernas de Clover haviam sido substituídas por um par de pernas grossas e arredondadas. 16 Jean Auguste Dominique Ingres foi um famoso pintor francês. Nasceu em 1780 em Montauban, Província de Toulouse. Rigoroso em seu trabalho, aos 21 anos recebeu o Grande Prêmio de Roma, reconhecimento máximo da ala conservadora das artes na França. Maiores informações: (GÊNIOS..., 1995).

37

Podemos nos perguntar, então: mas o que mudou? O que mudou foram os

significados atribuídos à constituição física das pessoas e a representação de

beleza, que passaram, no interior da cultura e através da linguagem, a interpelar e

constituir os sujeitos, a partir de outros conceitos e outros valores.

O que quero mostrar com esse exemplo é que o significado não está na

“configuração do corpo” em si, “mas é produto da forma como esse objeto é

socialmente construído através da linguagem e da representação” (DU GAY apud

HALL, 1997a, p.28). Ele vai depender do contexto em que está inserido. Ou seja, as

coisas têm, sim, sua existência material, mas nosso acesso a elas se dá através da

linguagem e dos significados culturais que os textos carregam e partilham num

determinado tempo e espaço.

A forma como o desenho animado articula o conceito de corpo obeso compõe

e significa um conjunto de “verdades” acerca dos sujeitos que o possuem. Verdades

essas que surgem dos discursos que, através da linguagem, não apenas

descrevem, mas formam seus objetos discursivos. Segundo Hall (1997a),

o significado surge não das coisas em si — a “realidade” — mas a partir dos jogos da linguagem e dos sistemas de classificação nos quais as coisas são inseridas. O que consideramos fatos naturais são, portanto, também fenômenos discursivos. (p.29)

A representação de beleza, dos séculos XVIII a XIX, associada à gordura e a

formas arredondadas, hoje sofreu significativas mutações, uma vez que “os

significados — aquilo que se diz que as coisas são — não são fixos, nem naturais,

nem normais, nem lógicos” (COSTA, 2000, p.4). Mulheres excessivamente magras

compõem o novo discurso dominante de modelo estético feminino 17 . Talvez, num

futuro próximo, tais características já estejam superadas e outras venham a

subjetivar homens e mulheres, atribuindo novos significados à representação do que

é ser bela ou belo, pois, “é através do uso que fazemos das coisas, e o que dizemos,

pensamos e sentimos acerca destes – como os representamos – que lhes damos significado” (HALL, 1997b, p.17). E isso vai ocorrer de forma semelhante com os conceitos referentes aos relacionamentos afetivos e ao consumo dos objetos,

significações que serão discutidas no Capítulo 4.

17 Entretanto, o dipositivo da magreza, identificado por estudo já mencionado na presente dissertação, tem sido atravessado por movimentações com vistas a combater suas conseqüências, como é o caso das campanhas midiáticas voltadas à prevenção da anorexia e da bulimia.

38

Segundo Santos, Meyer, Oliveira e Wilhelms (2004), a representação

“engloba práticas de significação lingüística e cultural e sistemas simbólicos através

dos quais os significados (que permitem a mulheres e homens entender suas

experiências e delimitar modos de ser e de viver) são construídos” (p.53).

Dizendo de outro modo, quando representamos a beleza, as relações afetivas

ou o consumo, por exemplo, lançamos mão de um vasto sistema de códigos

lingüísticos e culturais que fazem parte de nosso dia­a­dia para conceber tal idéia. O

tipo de linguagem selecionado é que vai possibilitar ou não que pessoas de

diferentes localidades compreendam aquilo que está sendo dito.

Faz­se importante ressaltar que as representações que, neste momento o

desenho animado pressupõe “verdadeiras” e desejáveis enquanto beleza, consumo

e relacionamentos são apenas algumas das formas de dizer sobre a coisa.

Representações essas que mudam ao longo dos tempos, de acordo com o espaço

em que estão inseridas e de acordo com os programas a que se assiste.

Sendo assim, os significados partilhados e disseminados pela série de

desenho animado Três Espiãs Demais — que circula por diversos países — está

representando um jeito, um entendimento em relação à juventude feminina. Repletas

de significados, as narrativas do desenho animado constituem os objetos e os

sujeitos que narram. Neste estudo, interessa­me mostrar como essa linguagem

televisiva, em especial o desenho animado em estudo, vem representando e

conceituando as jovens meninas de hoje, pois, como afirma Hall (1997a),

[...] a identidade emerge não tanto de um centro interior, de um “eu verdadeiro e único”, mas do diálogo entre os conceitos e definições que são representados para nós pelos discursos de uma cultura e pelo nosso desejo [...] de responder aos apelos feitos por estes significados, de sermos interpelados por eles, de assumirmos as posições de sujeito construídas para nós por alguns dos discursos [...]. (p.26)

Desse modo, a forma como o desenho narra as jovens meninas constitui­se

num dos modelos possíveis do que é ou deveria ser uma jovem menina de hoje. Ao

fazer isso, acaba por constituí­las de uma certa forma, enquadrá­las e assujeitá­las.

Os significados construídos por ele regulam e organizam possíveis condutas e

práticas da juventude.

Nesse sentido, precisamos então admitir que “quem tem o poder de narrar o

outro, dizendo como está constituído, como funciona, que atributos possui, é quem

39

dá as cartas na representação, é quem diz o que tem ou não tem estatuto de

‘realidade’” (COSTA, 2001, p.42). O desenho animado, junto a outras vivências

sociais, cria representações identitárias femininas para a juventude. A forma com

que o desenho e as demais vivências sociais narram os sujeitos acaba por interpelar

suas subjetividades e constituí­las a partir dos pressupostos por ele apresentados.

Subjetivação

O eu contemporâneo, não mais acreditado como o resultado de um centro,

individual, privado e imparcial, passa agora a ser visto e pensado como produzido

num determinado espaço, oriundo de uma determinada tradição, portanto, parte

ativa e também receptiva de um certo registro lingüístico e cultural. Assim sendo, “o

que é histórica e culturalmente contingente não é apenas nossa concepção do que é

uma pessoa humana, mas também, e sobretudo, nosso modo de nos comportar”

(LARROSA, 2000, p.41).

Modos que passam a ser alvo dos diferentes estratos sociais, que

continuamente lançam mão de diferentes regras e normas com o intuito de

“aprimorar” o sujeito social, governando e se apoderando da “alma humana” (ROSE,

1998, p.30). Fato que nos faz inquirir em relação à forma com que personagens,

como as três espiãs, transitam nas teias do consumo e nos faz perceber o quanto

seus discursos estão inscritos numa espécie de “cartilha” de normas socialmente

compostas.

Rose (1998) enumera três importantes aspectos que, na contemporaneidade,

promovem a administração do eu, eentre eles, a incorporação de capacidades

pessoais e subjetivas dos cidadãos pelos poderes públicos, na tentativa de regular

sua conduta; a busca da administração das subjetividades por parte das

organizações modernas (escola, empresas, prisões, hospitais); e o aparecimento da expertise da subjetividade, que busca o conhecimento da psique.

O último aspecto, de grande valor para a presente pesquisa, refere­se à

busca — por parte de profissionais de diversas áreas — de “[...] compreender os

aspectos psicológicos da pessoa e de agir sobre eles, ou de aconselhar outros sobre

o que fazer” (ROSE, 1998, p.32). Mesmo porque todo o aparato conceitual e

40

lingüístico, que utilizamos como parâmetro para avaliarmos a nós e aos outros, parte

de uma gama de conceitos oriundos da cultura. Assim sendo, “a própria idéia que

temos de nós mesmos tem sido revolucionada” (ROSE, 1998, p. 33).

Medos, desejos, angústias, esperanças são constituídos e caracterizados

socialmente e passam a fazer parte da vida da juventude feminina de todo o mundo.

Meninas que, agora preocupadas com a “vida fashion” e com a sociedade do espetáculo, procuram dar conta de padrões considerados aceitáveis através da

incansável auto­inspeção e da autoconsciência.

À medida que as redes se formam, que os mecanismos de transmissão, as traduções e as conexões conectam as aspirações políticas com modos de ação sobre as pessoas, estabelecem­se tecnologias da subjetividade que permitem que as estratégias do poder se infiltrem nos interstícios da alma humana. (ROSE, 1998, p. 40)

Estimulados e persuadidos por normas e verdades, e pela atração exercida

pelas imagens da vida e do eu, vivemos balizando e regulando nossas condutas e

lançando mão das chamadas “Técnicas do eu” (ROSE, 1998, p.43) para dar conta

dos objetivos, ambições e atividades valorizadas socialmente.

Rose (1998) as explica como

[...] as formas pelas quais nós somos capacitados, através das linguagens, dos critérios e técnicas que nos são oferecidos, para agir sobre nossos corpos, almas, pensamentos e conduta a fim de obter felicidade, sabedoria, riqueza e realização. (p.43)

Os sonhos de nossas jovens espiãs são sonhados pela sociedade e por elas,

incansavelmente, esquadrinhados. Alcançar, a qualquer custo, os artefatos em voga,

divulgados e celebrados na cultura da mídia e do consumo, é partir do princípio de

que os critérios por ela estipulados demarcam não só a posição social dos sujeitos,

mas os seus significados como seres humanos.

Enquanto avaliam e agem sobre seus corpos, padronizam seus

relacionamentos e adquirem e descartam, incansavelmente, os artefatos da moda,

as jovens espiãs são governadas pela cultura, pois buscam ser ou parecer ser um

certo tipo de pessoa social e culturalmente aceito e valorizado.

Indo além, partindo do princípio de que a experiência de si é histórica,

culturalmente contingente, e a compreendendo como algo que passa a ser

transmitido e aprendido dentro de uma sociedade específica, é possível constatar

41

que os ensinamentos da mídia, bem como dos demais meios de convívio do sujeito,

constituem um repertório que estabelece como ele deve ser, viver e relacionar­se.

Assim, a forma como as três espiãs comportam­se em relação ao consumo de

objetos, relacionamentos e aparência corporal passa a fazer parte da cartilha de

referência e, juntamente com os diferentes critérios que entrecruzam as vivências

dos sujeitos, compõem um determinado tipo de apresentação acerca do que venha

a ser uma jovem menina. Isso porque as histórias que contamos de nós mesmos

“estão construídas em relação às histórias que escutamos, que lemos e que, de

alguma maneira, nos dizem respeito na medida em que estamos compelidos a

produzir nossa história em relação a elas” (LARROSA, 2000, p.48).

A fascinação exercida pelas três espiãs mobiliza as meninas a viverem como

e a partir de padrões, estilos e princípios que se tornam normais de acordo com sua

programação preferida. Fatos como a história de Sarah, mencionada na reportagem

“Descontrole remoto” de Camilo Vannuchi, Eliane Lobato e Rita Moraes, ilustram a

subjetivação desencadeada pelo desenho animado e demonstram o quanto ele pode

ser produtivo. Conta a reportagem que a jovem de catorze anos desenha os

modelitos das personagens de Três Espiãs Demais, para que sua mãe os confeccione. A reportagem cita a fala da menina e eu também dela me aproprio para

destacar o poder de interpelação do desenho, que acaba por subjetivar seus

telespectadores. Segundo a menina Sarah: “Elas são garotas normais, que vão à escola e

adoram ir ao shopping depois de solucionar um caso. Fico com vontade de ser uma delas”.

E ser uma delas significa aceitar e conviver com um número restrito de

normas e passar a ver a partir de lentes que trazem consigo valores específicos.

Sarah parte de uma imagem referencial e procura ser, viver e conviver a partir

desses preceitos.

42

CAPÍTULO 3 DESENHOS ANIMADOS COMO NARRATIVA FÍLMICA

Ao contrário da muitas vezes obstinada e triste realidade escolar, os filmes para crianças

fornecem um espaço visual high-tech, onde aventura e prazer se encontram num fantasioso

mundo de possibilidades e numa esfera comercial de consumismo e comodismo.

(GIROUX, 2004, p 90)

Perceber a cultura enquanto um contínuo processo de re(construção), no qual

os conceitos são contingentes, históricos e mutantes, possibilita acrescer ao

desenho animado papel importante na formação dos sujeitos que nela se inserem.

O desenho animado é visto, nesse contexto, para além de um mero contador

de histórias, como articulador de múltiplas formas possíveis de ser e estar no mundo

contemporâneo. Nele, bem como em outros programas midiáticos, narra­se como os

sujeitos e suas vidas são e, ao mesmo tempo, descreve­se como poderiam ser,

restringindo e delimitando ou ainda criando outras opções, num diálogo constante

com seus telespectadores, através das pesquisas de mercado e audiência, enquetes

ou cartas de fãs.

Duarte (2002), ao analisar e discutir o cinema, argumenta que:

Convenções cinematográficas expressam, de um modo mais ou menos circular, a influência mútua que cinema e sociedade exercem entre si. Se, por um lado, elas refletem valores e modos de ver e de pensar das sociedades e culturas nas quais os filmes estão inseridos, funcionando, assim, como instrumento de reflexão, por outro, repetidas insistentemente, essas convenções constituem um padrão amplamente aceito e dificultam ou retardam o surgimento de outras formas de representação, mais plurais e democráticas. (p 56)

43

E é esse processo de constituição de padrões, em especial os padrões

aceitáveis na sociedade do espetáculo acerca do que venha a ser uma jovem

menina de hoje, que pretendo colocar em evidência em minha pesquisa. Para tanto,

traço a seguir algumas considerações acerca do desenho animado, suas

transformações e sua linguagem. Logo em seguida, procuro mapear e expor dados

relativos ao desenho animado selecionado para o presente estudo — Três Espiãs Demais.

O desenho animado através dos tempos

Por se tratar de uma temática distanciada do meu universo de conhecimentos

e por saber da importância da familiarização do pesquisador com as gramáticas

próprias dos artefatos culturais midiáticos, procurei apropriar­me de algumas

informações técnicas e dados históricos referentes ao desenho animado.

Conforme Barbosa Júnior (2002), o desenho animado, oriundo da união do

desenho e da pintura com a fotografia e o cinema, faz uso das mais variadas artes

gráficas, explorando as características cinematográficas do filme. Sua linguagem,

que se distinguia do cinema de animação ao vivo, exigiu a formulação de regras

artísticas próprias, as quais vieram a se estabelecer como princípios fundamentais

da animação.

A busca de expressar o movimento através do desenho e da pintura parece

encantar a humanidade desde os tempos mais remotos; isto porque o movimento é

considerado a atração visual mais intensa. No entanto, a expressão do movimento

através da rápida sucessão de imagens carecia de um desenvolvimento técnico e

científico que só se alcançou no início do século XX.

Segundo Barbosa Júnior (2002, p 28), “A palavra ‘animação’, e outras a ela

relacionadas, deriva do verbo latino animare (‘dar vida a’) e só veio a ser utilizada para descrever imagens em movimento no século XX”. De acordo com Halas e

Manvell (1979), “na animação, cada desenho sucessivo é parte de uma seqüência

pictórica, um movimento que tem um começo e um fim e que é elemento essencial

da sua forma artística” (p.26).

44

A lanterna mágica inventada por Athanasius Kircher, por volta de 1645,

possibilitou talvez o que tenha sido a primeira projeção de slides pintados em lâminas de vidro. Seu dispositivo, apesar de causar espanto, despertou grande

interesse em cientistas. Em 1671, Kircher explicou como utilizar um disco de vidro

giratório para a apresentação de uma série de imagens.

De acordo com as informações de Barbosa Júnior (2002), foi no século XVIII

que o cientista holandês Pieter Van Musschenbroek utilizou um disco giratório

semelhante ao de Kircher, mas com imagens em seqüência para produzir a ilusão

do movimento. Tempos depois, Musschenbroek incrementou seu invento, usando

múltiplas lanternas e imagens sincronizadas, para fazer aquela que teria sido a

primeira exibição animada. A lanterna mágica logo se transformou num

entretenimento popular com exibições itinerantes.

Em 1794, explorando todo o potencial de comunicação visual da lanterna

mágica, Etienne Gaspard Robert lançou em Paris o espetáculo Fantasmagorie, que ficou em cartaz por dez anos. Robert preparou uma sala escura, decorada com

caveiras, para criar um ambiente propício e inserir o espectador no contexto da

história.

Apesar dessas técnicas já estarem sendo utilizadas, segundo os estudos de

Barbosa Júnior (2002), somente a partir do século XIX surgiriamas descobertas

tecnológicas que possibilitaram a animação. Conforme o autor, em 1824, Peter Mark

Roger, observando as rodas das carruagens (que, em movimentos, certas vezes

pareciam girar ao contrário ou, ainda, estarem paradas), descobriu que “o olho

humano retém uma imagem por uma fração de segundo enquanto outra imagem

está sendo percebida” (BARBOSA JÚNIOR, 2002, p 34). Segundo Roger, nosso

olho combina imagens assistidas em seqüência, se exibidas rapidamente, com

regularidade e adequada iluminação. Já Pereira (1981) afirma que foi o físico belga

Joseph­Antoine Plateau quem primeiro conseguiu medir o tempo da persistência da

retina. Segundo suas pesquisas, “qualquer estímulo luminoso, na retina, permanece,

aproximadamente, por 1/10 de segundo” (p.12).

A partir de então, variados inventos se utilizaram da animação: o taumatroscópio (imagem frente e verso que gira rapidamente), o fenaquistoscópio (um disco com seqüência de imagens pintadas e outro com fresta na mesma

disposição que, ao entrarem em movimento, viam­se as imagens), criado entre 1828

45

e 1832 por Joseph Plateau e Simon Von Stampfer, em 1834, o daedalum, também chamado de zootroscópio (desenhos em tira de papel, dentro de um tambor giratório), entre outros.

Conforme Barbosa Júnior (2002), o primeiro projetor de cinema teria sido

criado pelo militar austríaco Franz Von Uchatius que, no começo da década de 1850,

incrementou a lanterna mágica combinando­a com dois discos giratórios.

Descendente do zootroscópio, o praxinoscópio foi uma invenção do pintor Emile Reynaud, em 1877, aparelho que projetava em uma tela imagens desenhadas

sobre fitas transparentes. Assim, cada espelho refletia uma das imagens da tira do

desenho colocada na circunferência. Aperfeiçoando o praxinoscópio, combinado­o com lanternas, Reynaud inventou o teatro praxinoscópio (1882) que, em 1892, vai se transformar no teatro óptico com filme por ele denominado de Pantomimes lumineuses, com quinze minutos de duração, centenas de desenhos coloridos,

enredo, trilha sonora e personagens com movimentos adequados ao cenário.

Apesar do grande sucesso, sua invenção foi superada pelos irmãos Lumière que,

em 1895, inventaram o cinematógrafo. Em dezembro do referido ano, os Lumière

projetaram o primeiro filme, a primeira exibição de fotografias animadas.

“Não tardou para se perceber que a arte no cinema estava em ‘trapacear’ com

a realidade (agora tão facilmente captada), na qual a manipulação do tempo

encerrava seu grande segredo” (BARBOSA JUNIOR, 2002, p 41). A descoberta do

chamado lightning sketches (substituição por parada da ação) — atividades em que

o desenhista tinha sua performance filmada mediante engenhoso plano de

truncagem — será o primeiro passo para a constituição do que viria a se tornar a

técnica da animação. O trickfilm (filme de efeitos), originário da substituição por parada da ação, produzido como um espetáculo ilusionista e repleto de trucagens,

foi criado pelo cineasta francês Georges Méliès. Essa idéia — filme enquanto

espetáculo de magia — servirá de base para a produção dos desenhos animados.

James Stuart Blackton, artista plástico inglês, havia realizado o primeiro

desenho animado — Humorous Phases of Funny Faces — em 1906. Era um filme

de curta duração, com animação frame a frame 18 em seqüências desenhadas por

poucos instantes.

18 Animação quadro a quadro.

46

Como aos poucos o mercado foi sendo saturado de filmes nesse estilo, logo o

interesse do público desapareceu. A reconquista desse espaço e público só se daria

mais tarde, a partir do aparecimento de obras que melhor envolvessem as pessoas

(BARBOSA JÚNIOR, 2002).

Em 1911, Winsor McCay inaugura uma nova fase para a animação, ao

realizar desenhos animados baseados em histórias em quadrinhos, trazendo para a

tela os personagens de Little Nemo in Sumberland. A ele também coube a inclusão de um dos grandes trunfos da animação, as características dos personagens, a

personalidade. Antes do trabalho de McCay, os personagens apenas se moviam

num processo de reprodução de ações mecânicas e insípidas. No filme How a Mosquito Operates, McCay enfatiza a narrativa e atribui ao personagem principal, um mosquito, características humanas, levando seus espectadores à reflexão sobre

a condição humana. A forma como McCay construiu seu personagem ganhou a

simpatia do público que com ele se identificava.

No entanto, teria sido em Gertie Dinosaur, considerado o primeiro grande marco da história da animação, que McCay se superou. Nele, teriam surgido vários

princípios da animação, como o acréscimo de cenário estático e a contratação de

assistentes para a realização dos desenhos repetitivos. De acordo com Barbosa

Júnior (2002), Gertie não só conquistou o público como também encantou dezenas de jovens artistas (Walter Lantz — Pica­Pau, Dave Fleischer — Koko, o palhaço e Dick Huemer — um dos mestres dos Estúdios Disney), que acabaram por também

se dedicar à animação.

De acordo com os estudos de Barbosa Junior (2002), alguns dos desafios que

mobilizaram os primeiros profissionais do ramo da animação referiam­se: à criação

de público, à aquisição de respeito profissional e ao espaço de divulgação.

Nesse contexto, surgem os estúdios de animação como meio de produção

rápida e barata, buscando inovações tecnológicas e organizacionais. Foi nos

Estados Unidos (sem a concorrência européia), pouco antes da Primeira Guerra

Mundial, que a animação deu um salto.

Impulsionadas pela possibilidade de produção em larga escala e pelas

inovações das técnicas de criação, surgem as séries de desenhos animados. A

expressão “desenho animado” teria aparecido pela primeira vez em 1913, com a

47

primeira das séries de personagens — The Newlyweds 19 — produzida por Emile

Cohl.

As séries de personagens resultaram da necessidade de uniformização da

animação e da produção de massa. Dessa forma, também facilitou a compreensão

das histórias pelo público, que passou a identificá­las com maior agilidade.

A maior contribuição técnica para a animação tradicional foi a descoberta das

folhas de celulóide transparente (no Brasil o celulóide é denominado de acetato).

“Enquanto os fundos do filme permaneciam como desenhos independentes,

executados em papel branco, as fases sucessivas da animação das figuras do

primeiro plano eram desenhadas em folhas finas de celulóide transparente e

superpostas no estágio da fotografia” (HALAS, MANVELL, 1979, p.29). Segundo os

autores, inovação descoberta pelo cineasta norte­americano Earl Hurd e patenteada

em junho de 1915.

Para muitos, o Gato Felix, de Otto Mesmer, foi o mais importante, influente e admirado personagem desse período da animação. De acordo com Barbosa Júnior

(2002), com temperamento, desenvoltura e sabedoria semelhante à humana, Felix conquistou o público na década de 1919. “Tudo dentro de uma estrutura narrativa

que se apoiava completamente na fantasia” (p 79). Segundo o autor, dentre outros

personagens, o próprio Mickey Mouse, maior símbolo do império Disney, teria sido inspirado no Gato Felix.

Oskar Fischinger, considerado o mais importante animador independente dos

anos 1930, expandiu o universo estético da animação abstrata e criou uma série de

inovações técnicas. Dentre elas, a sólida união entre som e imagem. Fischinger

também colaborou com o Walt Disney na produção do famoso longa­metragem Fantasia, em 1940.

Nos anos de 1930, surgem os primeiros filmes coloridos de produção

industrial. Coube à Technicolor Ltda. a produção de um dos mais bem sucedidos

sistemas de cor da história do cinema. Apesar da inovação aproximar o desenho do

que se considerava real, sua utilização trouxe novos problemas. Em preto e branco,

era fácil destacar os personagens, a introdução da cor exigiu atenção em relação à

19 The Newlyweds tratava­se de uma série de desenho animado, adaptada dos quadrinhos The Newlyweds and Their Baby, produzidos por George McManus.

48

configuração espacial, ao clima psicológico, à legibilidade e à caracterização dos

personagens.

De início, animação era sinônimo de desenho em movimento. Foi por volta

dos anos de 1940, que animadores como George Pal exploraram o cinema

enquanto entretenimento, demonstrando que sem imaginação e talento os filmes se

tornavam monótonos e desinteressantes.

Walt Disney, um dos grandes nomes da animação, estudou em escola de arte

e, nos anos de 1920, já se ambientara às técnicas e aparatos da animação. Seu

forte não era o desenho. Logo percebeu que outros artistas faziam­nos melhor que

ele e acabou se concentrando na direção de todo o processo de produção dos

desenhos animados.

Walt Disney possuía uma impressionante capacidade empresarial para a

criação de produtos que se destinassem ao consumo de massa. Para ele, conforme

Barbosa Junior (2002, p.98), “a animação tinha de ser entendida como a arte do

entretenimento por excelência”. Contrapondo­se aos gags (piadas), ele ambicionava a produção de personagens convincentes, inseridos numa trama com continuidade,

numa narrativa inscrita no espaço­tempo, com história.

Segundo Barbosa Júnior (2002), Disney introduziu algumas novidades: a

invenção da barra de pinos na base da prancheta de luz que, apesar de dificultar o

apoio da mão e do pulso, assegurou ao animador uma checagem instantânea da

ilusão do movimento, a fotografia, com filme preto e branco e barato, após a

produção completa de uma seqüência com desenhos esboçados (pencil test — o

que na animação digital assemelha­se ao preview), possibilitando a percepção de erros na projeção da seqüência e a contratação de assistentes (clean­up men), que se responsabilizavam pela finalização do desenho, para cada animador.

Mesmo não sendo o pioneiro na introdução do som no cinema, Disney o

produziu com tamanha qualidade, que acabou por ser conhecido como o verdadeiro

precursor da técnica. Para tanto, recorreu à marcação do tempo para a orquestra

com uma bolinha pulando ao lado de cada frame da película.

Preocupado com a formação de sua equipe, instituiu um programa de

treinamento com estudos de desenho de modelo vivo, anatomia, psicologia da cor,

análise de movimento, princípios de representação e observação de espetáculos de

49

variedades e mímicos. Seu objetivo era o domínio do real, a ação deveria basear­se

na realidade, para daí produzir para a caricatura, o exagero, a encenação. Disney

queria atingir o máximo da expressividade plástica e cinética.

Valiosas invenções dos artistas de Disney surgiram a partir do filme Os três porquinhos (1933). O layout, preocupando­se com a concepção gráfica dos

personagens, o figurino, os cenários, a definição de cores e iluminação dos

ambientes. E a storyboard — que consiste numa série de pequenos desenhos com

legendas que mostram as ações­chave do desenho — permitiu maior controle do

ritmo e do encadeamento visual das cenas.

Ao longo dos tempos, um dos grandes desafios da animação foi a produção

de filmes de longa­metragem que mantivessem o interesse das platéias. O primeiro

longa dos estúdios Walt Disney — Branca de Neve e os sete anões — não foi a

primeira produção, mas a mais marcante de todas. O filme tornou­se uma legenda

na história da animação, e referência no seu estilo. Sua consagração pode ser

percebida nas representações construídas pelo público ao longo dos tempos: a

música dos sete anões, que ultrapassou gerações; a construção de uma imagem

popularizada de bruxa; a inclusão dos anões nos jardins e decorações de casas,

entre outros. As alterações introduzidas por Disney integraram simultaneamente três

segmentos básicos: inovações técnicas, conceitos artísticos e estratégia de

produção.

A partir daí, outros estúdios passaram a contrapor­se à tradição de

desenvolvimento técnico de Disney. O estúdio dos irmãos Fleischer, por exemplo,

com a charmosa e sensual Betty Boop e o extravagante marinheiro Popeye, ousaram na concepção gráfica, no enredo e na mecânica da animação. Os estúdios

Warner Brothers e MGM trabalharam com a comédia através de distorção e exagero

dos princípios artísticos estabelecidos pelos estúdios Disney, dando origem a

personagens ágeis, selvagens, insanos, atrevidos, engraçados como Pernalonga, Patolino, Papa­Léguas, Coiote, Pepe Legal, Diabo da Tasmânia, Tom e Jerry etc.

Abordagens inovadoras invadiram as telonas, com mudanças na estrutura

narrativa, no tempo, na encenação e com a inclusão de piadas.

Na composição dos personagens, de acordo com Halas e Manvel (1979), o

exagero é funcional. “As partes do corpo que gesticulam — pernas, braços, mãos,

50

pés — exigem maior tamanho, e mais ainda a cabeça, que é a característica

principal de qualquer ser humano ou animal”. (p.65). Na cabeça, a boca recebe

maior tamanho devido à fala e os olhos, destaque, pois juntos constituem o “meio

mais importante para a demonstração visual de certos estados de espírito, emoções

e personalidade”. (p.66). Segundo os autores, os personagens, geralmente, são

produzidos a partir da distorção da configuração e da forma. A voz também é peça

importante na composição do personagem. Conforme Halas e Manvell (1979):

Às vezes, a voz bem definida de um personagem de desenho animado pode tornar­se mais importante, mais disseminada entre o público, no que tange às suas características facilmente reconhecíveis, do que as próprias imagens visuais. Logo que se escuta uma dessas vozes, a platéia evoca imediatamente os traços essenciais do personagem. (73)

Referindo­se aos desenhos animados, Barbosa Júnior (2002) afirma que,

“uma das virtudes mais evidentes nesses filmes é o domínio absoluto do tempo. Se

o movimento é a essência da animação e esse é um fenômeno que ocorre no

tempo, naturalmente a animação é a arte de lidar com o tempo” (p 126). O domínio

do tempo, descoberta importante no desenho animado, surge como ferramenta de

construção do enredo e organização espaço­temporal da história. Tal constatação

me remete, instantaneamente, ao desenho animado em estudo —Três Espiãs Demais — no qual o tempo é outro, o ritmo é frenético, os acontecimentos são

instantâneos, surpreendentes e inconstantes, com a justaposição de momentos

desenfreados e outros de calma absoluta. Tal composição do desenho toma por

base os antigos desenhos, porém, hoje, articula objetivos distintos.

No caso da TV, segundo Bastos (2004),

O surgimento do controle remoto delegou ao telespectador a tarefa de seleção e ordenação de fragmentos de programas que ele próprio optava por ver. A montagem desse verdadeiro quebra cabeça, para evitar intervalos comerciais e programas maçantes, fez com que a própria televisão passasse a oferecer programas tão fragmentados que produzissem eles próprios o efeito de sentido de zapping 20 . (p.74)

Assim sendo, hoje, a velocidade e o excesso de imagens é utilizado para que

o dinamismo da ação “fisgue” a atenção dos espectadores o maior tempo possível.

O zapping, considerado um grande vilão pelos executivos de emissoras e agências de publicidade, impulsionou a criação de programas que já introduzissem na sua

20 Zapping é o movimento de troca de canais, quando os telespectadores buscam constantemente novas imagens sem se deter nas informações.

51

composição a fragmentação e o efêmero. Segundo Sarlo (2006), a televisão ensinou

leis aos espectadores:

Primeira lei: produzir a maior acumulação possível de imagens de alto impacto por unidade de tempo e, paradoxalmente, baixa quantidade de informação por unidade de tempo ou alta quantidade de informação indiferenciada (o que oferece, de todo modo, o “efeito de informação”). Segunda lei: extrair todas as conseqüências do fato de que a retroleitura dos discursos visuais ou sonoros, que se sucedem no tempo, é impossível (exceto quando a pessoa grava um programa e realiza as operações próprias dos especialistas em mídia e não dos telespectadores). A televisão explora esse traço como uma qualidade que lhe permite uma enlouquecida repetição de imagens; a velocidade do meio é superior à nossa capacidade de reter seus conteúdos. O meio é mais veloz do que aquilo que transmite. Estes, nessa velocidade, competem até anularem­se os limites entre áudio e vídeo. Terceira lei: evitar a pausa e a retenção temporária do fluxo de imagens, porque conspiram contra o tipo de atenção mais adequado à estética dos meios de massa e afetam o que é considerado seu maior valor — a variada repetição do mesmo. Quarta lei: a montagem ideal, ainda que nem sempre possível, combina planos muito breves; as câmeras devem mover­se o tempo todo, para encher o vídeo com imagens diferentes e assim evitar a mudança de canal. (p.57­58)

O que se percebe é que, com a invenção da televisão, a animação sofreu

profundas transformações e o desenho animado assumiu o papel de entretenimento

predominantemente voltado ao público infantil. Conforme Barbosa Júnior (2002), em

1949, foi transmitida a primeira série de desenho animado criada para a televisão: Crusader Rabbit. Em 1953, a série Winky Dink and You estreou o primeiro programa interativo, no qual as crianças eram convidadas a desvendar a continuidade da

história, ligando uma série de pontos na tela. No entanto, na contemporaneidade, há

um alargamento de fronteiras e os desenhos animados passam para um

endereçamento não mais restrito às crianças e, sim, abarcam características que

atraem e também atingem jovens e adultos.

O que se pode constatar, nesta breve tentativa de visitar alguns momentos da

trajetória do desenho animado na cultura, é que, com o passar dos anos, muitas

inovações foram constituindo o que hoje denominamos desenho animado. Podemos

também perceber a mudança de foco da animação, que inicialmente foi voltada para

a produção do movimento e que, atualmente, encontra­se focada na construção de

enredos que mesclam ficção e realidade, capazes de captar e enredar os

espectadores. Contando histórias, inserindo tramas e contextos, acrescendo

personagens com personalidade, expressividade e sentimentos, os desenhos

52

animados encantam e fascinam seus espectadores, ensinado­lhes uma gama de

significados em suas narrativas.

Narrativas sobre jovens meninas

A idéia de que os conceitos são contingentes, arbitrários e históricos nos

possibilita (re)pensar as diferentes e variadas formas com que os sujeitos vêm sendo

narrados ao longo da história, numa correlação com os contextos em que foram

constituídos.

A representação das jovens meninas, por exemplo, vem sofrendo, ao longo

dos anos e nos diferentes espaços, distintas atribuições de signos, símbolos e

linguagem.

Com o intuito de examinar tais narrativas e de poder contrastá­las, procuro, a

seguir, estabelecer um breve epítome com algumas das narrativas proferidas no

meio acadêmico e na animação em relação às jovens meninas durante os séculos

XIX, XX e início do XXI.

Mulher e Família Burguesa, por exemplo, um artigo de Maria Ângela D’Incao

(2001), apresenta uma breve caracterização da sociedade brasileira durante o

século XIX, dando ênfase aos papéis e significados atribuídos às mulheres

burguesas daquele tempo. Segundo a autora, naquele período, os passos da mulher

não só eram vigiados pelo pai ou pelo marido, “[...] sua conduta era também

submetida aos olhares atentos da sociedade”. (D’INCAO, 2001, p. 228).

Sob a eterna vigilância dos pais e sob sua autovigilância, as mulheres

daquela época primavam por sua virgindade. Isso porque, naquele contexto, ela

servia como uma espécie de “[...] dispositivo para manter o status da noiva como objeto de valor econômico e político [...]” (D’INCAO, 2001, p.235). Era comum

também o casamento entre famílias ricas e burguesas ser usado como um degrau

de ascensão social ou como manutenção do status.

Depois de casadas, as mulheres deveriam “[...] contribuir para o projeto

familiar de mobilidade social através de sua postura nos salões como anfitriãs e na

vida cotidiana, em geral, como esposas modelares e boas mães” (D’INCAO, 2001, p.

229). A idéia que se sobressai é a de que os conceitos que se relacionavam ao ser

53

mulher estavam intimamente relacionados às vivências enquanto mães dedicadas e

atenciosas, “[...] um ideal que só pode ser plenamente atingido dentro da esfera da

família ‘burguesa e higienizada’” (D’INCAO, 2001, p.229).

Segundo D’Incao (2001):

Convém não esquecer que a emergência da família burguesa, ao reforçar no imaginário a importância do amor familiar e do cuidado com o marido e com os filhos, redefine o papel feminino e ao mesmo tempo reserva para a mulher novas e absorventes atividades no interior do espaço doméstico. Percebe­se o endosso desse papel por parte dos meios médicos, educativos e da imprensa na formulação de uma série de propostas que visam “educar” a mulher para o seu papel de guardiã do lar e da família — a medicina, por exemplo, combatia severamente o ócio e sugeria que as mulheres se ocupassem ao máximo dos afazeres domésticos. Considerada base moral da sociedade, a mulher de elite, a esposa e mãe da família burguesa deveria adotar regras castas no encontro sexual com o marido, vigiar a castidade das filhas, constituir uma descendência saudável e cuidar do comportamento da prole. (p. 230)

O que parece é que, no século XIX, as jovens meninas participavam do dia­a­

dia e da rotina das mulheres adultas, aprendendo no contato e na vivência das

práticas da comunidade em que estavam inseridas, quais as atribuições e o papel

social que deveriam assumir para poder casar­se e compor uma família “ideal”

burguesa.

Já o estudo de Carla Bassanezi (2001), intitulado Mulheres dos anos dourados, apresenta e caracteriza o papel da mulher no Brasil nos anos 50, século XX. Nele a autora afirma que “a mulher ideal era definida a partir dos papéis

femininos tradicionais — ocupações domésticas e o cuidado dos filhos e do marido

— e das características próprias da feminilidade, como instinto materno, pureza, resignação e doçura”. (p.608­609). Aquelas que não cumprissem tais determinações

estariam contrariando a natureza e não poderiam ser felizes ou fazer com que outras

pessoas fossem felizes.

Classificadas, por revistas da época, em moças de família ou moças levianas, as jovens passavam pelo crivo dos preceitos morais sancionados pela sociedade. As moças de família “tinham gestos contidos, respeitavam os pais, preparavam­se adequadamente para o casamento, conservavam sua inocência sexual e não se

deixavam levar por intimidades físicas com rapazes”. (BASSANEZI, 2001, p.610). Já

“as levianas eram aquelas com quem os rapazes namoram, mas não casam” (BASSANEZI, 2001, p.612).

54

Quanto ao vestuário, para não arruinar sua reputação, as jovens meninas não

deveriam usar roupas muito ousadas ou sensuais. Ao sair com rapazes deveriam

respeitar algumas regras. Segundo as normas da época, o mais adequado era estar

em companhia de outras pessoas — amigos, irmãos, parentes —, não encontrá­los

em locais escuros ou dar abertura a intimidades.

Quanto ao namoro, “a iniciativa da conquista e das declarações de amor,

conforme o costume, cabia ao homem, pois a mulher deveria ‘a todo momento saber

conservar o seu lugar’” (BASSANEZI, 2001, p.614).

Naquela época, de acordo com o estudo de Bassanezi (2001), as mulheres

viviam para o amor. O romantismo era característica feminina. Contudo, um

romantismo comedido, sem romper com os princípios do código da moralidade.

Conforme Bassanezi (2001), “isso não quer dizer que todas as mulheres

pensavam e agiam de acordo com o esperado, e sim que as expectativas sociais

faziam parte de sua realidade, influenciando suas atitudes e pensando em suas

escolhas” (p. 608). As mais intrépidas acabavam por sofrer represálias da

sociedade, o que impulsionou muitas das jovens a manter as aparências, para não

sofrer as conseqüências — serem “estigmatizadas, discriminadas ou até

abandonadas” (BASSANEZI, 2001, p.622), já que, toda a transgressão necessitava

ser escondida.

Em relação às diferentes personagens femininas apresentadas pelo desenho

animado, ao longo dos tempos, selecionei duas personagens, dentre muitas outras,

que ficaram famosas no século XX — Betty Boop e Penélope Charmosa.

Betty Boop 21 — desenho animado produzido pelo estúdio dos irmãos

Fleischer e sucesso desde a década de 1930 — foi uma personagem polêmica em

seu tempo. A bela jovem se comportava de forma independente e provocadora. Com

pernas de fora, cinta­liga e decote provocante, não demorou muito para que o

Comitê Moralizador cobrasse de seus autores e produtores a modificação estética e

comportamental da personagem. Após as modificações realizadas, Betty continuou

sendo perseguida e acabou por ser tirada do ar em 1939.

21 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Betty_Boop>. Acesso em: 29 ago. 2006.

55

Já o desenho animado Os apuros de Penélope Charmosa, estrelado pela

personagem Penélope Pitstop 22 , — outra produção dos irmãos Fleischer —

conhecida no Brasil como Penélope Charmosa, conta a história de uma jovem,

herdeira de uma vasta fortuna. Seu tutor, maior interessado em sua fortuna, passa

boa parte dos episódios tentando se livrar da bela e inteligente Penélope. A jovem,

esperta e audaciosa em suas fugas, é auxiliada pela Quadrilha Maravilha — sete gangsters bonzinhos que possuem inúmeras engenhocas.

Na contemporaneidade, é possível perceber indícios de que outros discursos

sobre a juventude feminina, diferentes dos proferidos anteriormente, estão sendo

postos em circulação. Mídia e instituições públicas e privadas, que trabalham para e

com o público juvenil, se reestruturaram continuamente para conquistar esses

“novos” sujeitos constituídos numa interação constante com o contexto em que estão

inscritos.

O que se entende por juventude é constantemente (re)significado através da

atribuição de novas características e funções sociais, destoando, e muito, daquilo

que antes se considerava “próprio” e “adequado” ao universo juvenil.

Sarlo (2006) cita um fato esclarecedor em relação à flexibilidade e

transitoriedade do conceito de juventude ao longo dos anos. Segundo a autora,

“também se reconheciam como jovens os dirigentes da Revolução Cubana e os que

marcharam pelas ruas de Paris em maio de 1968. Tendo a mesma idade, os líderes

da Revolução Russa de 1917 não eram jovens” (p 37). Dizendo de outro modo, os

limites e demarcações que utilizamos para estipular e classificar a fase denominada

juventude costuma mudar o tempo todo de acordo com a sociedade e a época em

que os sujeitos vivem.

Minutos em frente à TV são suficientes para que passemos a perceber essas

modificações na representação da juventude. A linguagem, as imagens, as histórias

narradas e os personagens juvenis que circulam nas tramas da telinha falam de e

para sujeitos que, cada vez mais, se distanciam daqueles “construídos” e narrados

nos séculos XIX e XX.

As jovens meninas certas vezes narradas — em livros, revistas, filmes,

desenhos, novelas, entre outros — como puras, inocentes e apreciadoras de

22 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%A9lope_Pitstop>. Acesso em: 29 ago. 2006.

56

trabalhos manuais, prendadas, meigas e cuidadosas com os outros, começam,

agora, a navegar na fronteira do que venha a ser o puro e o profano, o necessário e

o supérfluo, a aquisição e o consumo desenfreado, o amor e os relacionamentos.

Isso não quer dizer que não havia mulheres intrépidas nos séculos XIX e XX, muito

menos que ainda não existam mulheres recatadas. Muitos romances falam de tais

personagens. Aliás, elas se tornaram heroínas porque queriam quebrar os

paradigmas de seu tempo, expressando uma ruptura com determinados modelos. O

que ocorria, naquela época, é que as mais ousadas acabavam por sofrer represálias

ao não se enquadrar nos princípios morais de sua época.

Como exemplo de transformações nas narrativas em relação às jovens

meninas, podemos destacar a nova versão de personagens que invadem a

programação televisiva. Jovens meninas geniais, perspicazes e com significativa

independência povoam novelas, seriados, desenhos e programas de auditório. Sua

inteligência, muitas vezes destacada como similar ou mais avançada que a do

adulto, é enfatizada nas explicações, justificativas ou mesmo contestações. Nos

momentos de conflito com um sujeito adulto, as pequenas personagens demonstram

seus conhecimentos apropriando­se de noções científicas ou discursando a partir de

conceitos advindos da psicologia.

Existe um novo jeito de narrar o jovem apresentado pela mídia, em especial

no desenho animado. E é esse novo jeito de narrar as jovens meninas e as

temáticas por ele discutidas que pretendo problematizar através da análise dos

episódios da série de desenho animado Três Espiãs Demais.

Personagens como as três espiãs — Sam, Alex e Clover — passam a

configurar, através de suas relações com a cultura, um novo jeito de olhar o mundo

numa perspectiva de jovem menina. Sua busca incansável por um namorado, o

desânimo e a infelicidade de não consegui­lo, transforma­nas em jovens meninas

sedutoras e, ao mesmo tempo ingênuas, em suas reações. Sua procura por objetos

para comprar sinalizam a importância da aquisição de produtos que passam a ser

necessários e essenciais na composição e significação das identidades no contexto

de mundo fashion e de concorrência desenfreada por aparência e elegância. Ter

sempre coisas novas extrapola a aquisição de produtos necessários e coloca em

evidência o que Sarlo (2006, p. 26) denominou de “colecionadores às avessas”,

assunto que será trabalhado no capítulo quatro.

57

As três espiãs, em oposição a muitas das narrativas dos séculos XIX e XX,

são meninas que não se comportam como jovens recatadas 23 . Elas são

caracterizadas como cidadãs do mundo, circulando livremente por diversificados

territórios. Não há dúvida de que elas representam um outro tipo de jovem menina

que passa a ser visibilizada como um dos modelos de jovens meninas

contemporâneas, que a cultura parece aprovar e reforçar.

O que podemos perceber, neste breve panorama construído em relação à

trajetória das narrativas relacionadas às jovens meninas, é que a forma como a

cultura tem olhado para as jovens meninas, o que tem sido dito sobre elas e o que a

sociedade delas espera, têm variado através dos tempos. Há uma mudança muito

grande entre o que se pensava, o que se dizia, o que se esperava e como se

narrava o mundo feminino até o século XIX e aquilo que começa a acontecer ao

longo do século XX e início do XXI.

Faz­se necessário destacar que, ao longo dos tempos, as definições e

caracterizações, articularam os pensamentos sobre as jovens meninas, forjando

“verdades” narradas por especialistas e reforçadas pelo capitalismo, que aglutinaram

as significações nessa área e deram conta de fornecer ao mercado todos os objetos,

informações e instruções para lidar com as jovens meninas.

Assim sendo, todas as ações perante a juventude feminina passaram a ser,

notoriamente, orientadas por estas mutantes “normas” que assumiram um estatuto

de “verdade”. Ou seja, o conceito de jovem menina, aqui referido, nada mais é do

que uma construção discursiva que passa a ser incorporada na medida em que se

fala, produz e reproduz sobre ela. Ao mesmo tempo em que narram, os discursos

constituem e formam os sujeitos. Cabe ressaltar que a construção dos discursos em

relação à juventude feminina se dá na relação com os discursos sobre a juventude

masculina.

O desenho animado selecionado é um extraordinário artefato para análise

dessa mudança implicada na representação das jovens meninas. Por isso, escolhi­o

para estudo e utilizo­o para apontar e discutir quais narrativas sobre jovens meninas

são privilegiadas em seus episódios. Narrativas que instituem uma identidade para

23 Tomo o recato no seu sentido corrente disseminado de preservação da intimidade, discrição nos comportamento, atitudes e relacionamentos.

58

jovens meninas, ensinam como é uma jovem menina do século XXI e fornecem

significados que, enfim, acabam por subjetivar telespectadoras e telespectadores.

As Três Espiãs Demais

Após selecionar a série de desenho animado Três Espiãs Demais, um dos primeiros movimentos do estudo foi o mapeamento de informações técnicas relativas

ao mesmo. O processo envolveu a busca por reportagens, fãs clubes, blogs 24 , site oficial do desenho, comunidades no Orkut, pesquisas acadêmicas, entre outros dados relacionados às espiãs, disponíveis na Internet. Esse movimento teve por

objetivo central tentar entender e colocar em evidência a repercussão criada em

torno de tal programação no dia­a­dia dos jovens estudantes.

Nessa busca de elementos para a pesquisa, mobilizei­me no sentido de

rastrear aproximações possíveis do desenho com outras produções televisivas cuja

semelhança de enredo e personagens sugeriam alguma relação. Isso se justifica por

muitas vezes as pessoas perguntarem se “existe alguma aproximação entre o

desenho animado Três Espiãs Demais e o filme As Panteras”. O que parece é que há indícios da possibilidade de a criação do desenho se dar a partir do seriado As Panteras, da década de 1970, e do filme As Panteras, produzido no ano 2000. Há também a série As espiãs — exibida de 2003 a 2004 no Canal AXN da televisão a cabo, de 2004 a 2005 na televisão aberta pelo SBT e em 2005 na televisão aberta pela Rede Record 25 — que se assemelha à trama dos outros dois. Apesar de

acreditar nessa aproximação e de ouvir de muitas pessoas que isso é “claro” ou

“óbvio”, minhas pesquisas não apresentam uma conclusão segura a respeito, pois

não encontrei declarações dos produtores e diretores do desenho que pudessem

comprovar tal afirmação.

O que pude constatar é que o desenho animado, as séries e o filme

apresentam significativas semelhanças: como personagens centrais das tramas, há

três lindíssimas espiãs do sexo feminino que buscam desvendar as mais variadas

24 Um blog, weblog ou blogue é uma página da web com registro cronológico. Suas atualizações (chamadas posts) são organizadas cronologicamente de forma inversa. É uma espécie de diário virtual, no qual freqüentemente descrevem­se fatos, inserem­se imagens, publicam­se opiniões ou qualquer outro tipo de conteúdo que os autores queiram disponibilizar na web. 25 Disponível em: <http://superserie.vilabol.uol.com.br/aseries/espias.htm>. Acesso em 14 ago. 2007.

59

missões, sob o comando de uma figura masculina. Do chefe, elas recebem

instruções, informações e demais acessórios tecnológicos necessários para

solucionar os grandes problemas, neutralizar perigos e riscos.

A série As Panteras, sucesso na década de 1970, estreou na TV ABC em 22 de setembro de 1976, criada por Aaron Spelling e Leonard Goldberg (os mesmos

produtores de Starsky and Hutch, Justiça em Dobro e A Ilha da Fantasia). O programa era estrelado por três policiais graduadas com honras na academia de

polícia. As jovens eram ex­policiais e integrantes da Agência de Detetives Towsend.

Juntas, lutavam e desvendavam delitos em lugares exóticos e glamourosos. O site Central RetroTV — Uol também destaca o visual impecável das três panteras e a influência da série, que virou moda entre o público feminino da época, instituindo

modelos de penteado e de trajes como pantalonas, blusas de frente­única e écharpies. As belas espiãs seguiam as coordenadas do misterioso chefe Charlie, da

agência Charles Townsend, recebidas através de um “viva­voz”. Conforme as

informações coletadas, as panteras apenas viram Charlie no último episódio da

série.

Segundo o site Central RetroTV — Uol, o filme As Panteras, produzido pela

Columbia Pictures e estrelado por Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu,

grande sucesso de bilheteria, foi criado a partir da série As Panteras. De início, a intenção dos produtores era que as antigas panteras participassem do filme, porém

apenas a atriz Farrah Fawcett mostrou interesse.

O filme 26 , co­produzido em 2000 pelos Estados Unidos e Alemanha e dirigido

por McG, narra a história de três belas, inteligentes e talentosas detetives que

trabalham para solucionar o seqüestro de um bilionário (Eric Knox). Charlie é o chefe

da agência de detetives, que também dá informações e ordens, como na série, e

evita sempre o confronto cara­a­cara com suas contratadas. As panteras são

contrárias ao uso de armas comuns. Elas lançam mão de equipamentos de alta

tecnologia, de suas habilidades em lutas e de seu charme feminino.

26 Panteras (2006a, 2006b, 2006c, 2006d); Charlie’s Angels (2006), cf. ref. biblio.

60

A série americana As Espiãs 27 — produzida pela MGM Television e pela NBC

Enterprises — é uma criação de Craig Van Sickle e Steven Long Mitche. As Espiãs é uma série de ação sobre um trio de ex­presidiárias — Cassie, Shane e D.D. — que,

por meio de um programa governamental de agentes federais, foram libertadas para

trabalharem em forças especiais da polícia. As belas jovens receberam uma

tentadora proposta: ou passavam os melhores anos de suas vidas atrás das grades

ou mudavam para o lado da lei e usavam seus talentos criminosos a favor das forças

especiais da polícia. A série é estrelada por Natasha Henstridge, que interpreta

Cassie, uma agente elegante, inteligente, charmosa e feroz. Antes de ser presa,

Cassie ganhava a vida como falsificadora. Depois de liberta, ela lidera este trio de

ex­condenadas transformadas em agentes do governo. Kristen Miller é a espiã D.D.,

meiga e ingênua, a bela é brilhante quando está sentada em frente ao seu

computador. Natashia Williams é Shane, durona, sexy e corajosa, uma mestra nas

artes marciais. As garotas oficialmente têm de se reportar a Jack (Carlos Jacott),

funcionário do governo. Entretanto, Jack tenta, arduamente, durante os episódios,

mantê­las nos trilhos.

As aproximações das quatro produções (séries, filme e desenho animado)

destoam no que se refere à seleção das espiãs para o serviço secreto. Enquanto na

série As Panteras a seleção partiu de um treinamento, no filme, na série As Espiãs e no desenho as escolhas das jovens obedecem a critérios distintos. No desenho

animado Três Espiãs Demais, conforme o episódio A promoção do mal — parte 1, as jovens foram escolhidas ainda quando eram crianças pequenas e de acordo com

suas aptidões. Numa das cenas, Sam, ainda bebê, sentada ao chão, consegue

enlaçar um pote de biscoitos que estava em cima da pia, fazendo­os cair em suas

mãos. Alex foi selecionada por conseguir disfarçar­se de menino para poder jogar no

time de futebol da escola. Clover, ainda muito pequena, mostrava aptidão para a

espionagem, pois na cena que apresenta a sua escolha, aparece em cima de uma

árvore, com um binóculo, observando um belo menino.

Outro aspecto que promove discussões em relação ao desenho seria a

possível criação e narração caricaturizada da imagem de jovens meninas norte­

americanas. O debate surge devido ao fato de que o desenho é uma produção

27 Outras informações: http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=8954 http://www.sbt.com.br/serie/espias/; http://superseries.vilabol.uol.com.br/aseries/espias.htm; htt://pt.wikipedia.org/wiki/she_spies. Acesso em 15 ago. 2007

61

francesa que narra o dia­a­dia de jovens americanas de Beverly Hills. O que ocorre é

que os franceses são extremamente críticos em relação a algumas características

atribuídas aos norte­americanos, que seriam fascinados por compras e shoppings. Assim sendo, seria possível pensar que o desenho exagera na imagem quase

caricatural que constrói acerca do consumismo das heroínas Sam, Clover e Alex e

que, talvez, ele vise a fazer uma crítica a essa face da cultura e da sociedade norte­

americana. Entretanto, também é possível supor que, pela boa penetração e

aceitação da série de desenho animado não só nos Estados Unidos como no Brasil

e em outros países, a identificação com a imagem e com as características das

personagens é um fenômeno “globalizado”, fato que pode ser evidenciado nas

produções textuais de minhas alunas.

Durante o levantamento de informações, apurei, também, a existência de dois

trabalhos acadêmicos que fazem referência ou tematizam a série de desenho

animado Três Espiãs Demais — Televisão, Criança e Educação: as Estratégias Enunciativas de Desenhos Animados 28 , de Maria Nazareth Bis Pirola, e Televisão e Infância: Algumas reflexões a partir de produções infantis e seus possíveis reflexos na cultura de movimento das crianças 29 , de Mariana Mendonça Lisboa.

A dissertação de Maria Nazareth Bis Pirola — Televisão, Criança e Educação: as Estratégias Enunciativas de Desenhos Animados — enfoca a análise das

vinhetas de abertura de três desenhos animados: Homem­Aranha, Três Espiãs Demais e Shaman King. A autora parte do princípio de que, nas vinhetas, o enunciador faz uma espécie de resumo dos desenhos, apresenta e caracteriza

personagens e expõe principais espaços e lugares. Faz­se necessário destacar que

o trabalho se aproxima da presente pesquisa no que tange à percepção de que

existe a forte presença do consumo de objetos no dia­a­dia das jovens espiãs.

Entretanto, se distancia do presente trabalho no enfoque dado ao estudo e na linha

de pesquisa e referencial teórico.

O trabalho de conclusão de disciplina de mestrado — Televisão e Infância: Algumas reflexões a partir de produções infantis e seus possíveis reflexos na cultura de movimento das crianças — de Mariana Mendonça Lisboa teve por objetivo

analisar o conteúdo de algumas produções televisuais infantis. A autora percebe­os

28 Pirola (2006), cf. ref. biblio. 29 Lisboa (2007), cf. ref. biblio.

62

como parte do universo simbólico que a cultura oferece para a constituição dos

sujeitos. Segundo a pesquisadora, esses programas acabam se constituindo em

importante elemento no mundo infantil, carregados de sentidos/significados

compartilhados que precisam ser estudados/refletidos pela educação que se deseja

transformadora. O trabalho faz a análise dos desenhos animados Três Espiãs Demais e BeyBlade e coloca em evidência questões que se aproximam desta pesquisa — consumo de objetos e hiper­valorização do corpo — porém, seu

enfoque esportivo e o curto período de produção diferencia­o do presente trabalho.

O desenho animado Três Espiãs Demais é produzido pela empresa francesa Marathon Production, fundada em 1990 por Olivier Brémond e Pascal Breton e que, em 1999, recebeu Vincent Chalvon­Demersay como sócio. A empresa de animação,

com estúdios próprios em Paris e na Itália, segundo informações do site oficial 30 ,

conquistou seu espaço em produção e distribuição de programas de TV e tem

relação com mais de cem divulgadores franceses e internacionais.

De acordo com o site oficial da Marathon, a produtora tornou­se uma empresa reconhecida no campo do drama, animação e documentário. Com a chegada de

Vincent Chalvon­Demersayem, a empresa cresceu na animação infantil, com 60%

de suas vendas destinadas a esse setor. A estratégia da instituição é concentrar a

produção em séries de longa duração e alta propaganda em países como Estados

Unidos, Alemanha, Canadá e Itália.

O desenho animado Três Espiãs Demais foi criado e é produzido por Chalvon Demersay e David Michel e dirigido por Stéphane Berry. Os quase duzentos

episódios das Três Espiãs Demais estão no ar em muitos países do mundo. No site, além da sinopse do desenho, encontramos diversas reportagens sobre o sucesso

das três espiãs pelo mundo desde 2001.

Segundo as informações coletadas no site da Marathon, além de sua distribuição no território brasileiro pela Rede Globo de Televisão, o desenho também

já foi adquirido por redes de outros países 31 .

30 Informações coletadas no site oficial da empresa Marathon: <http://www.marathon.fr>. 31 Canal Sur (Espanha); BB TV7 (Tailândia); Alter Channel (Grécia); ABS CBN (Filipinas); Abc Family (Estados Unidos), Broadcasting (Chipre); Channel 4 (Reino Unido); Channel 1 (Romênia); CFI (Divers) Cartoon Network Japan (Japão); Kanal D (Turquia); Fox Latin America (América Latina); Fox Kids Europe (Bélgica, Países Baixos, Israel); Disney Ásia (China, Índia, Taiwan); Prava i Provodi (Bósnia); PT Indonésia (Indonésia, Sri Lanka); Nickelodeon (Austrália); MTV 3 (Finlândia); Koko Enterprise (Coréia do Sul); RTL TVI (Luxemburgo); RTB (Brunei); Romanian TV (Romênia); Rete

63

Reportagens no site oficial da Marathon Production comentam o sucesso da

série em diferentes localidades. No Canadá, por exemplo, a reportagem do dia

27/04/06 noticia que estava previsto para o último trimestre de 2006 o lançamento

de caixas com quatro DVDs.

Conforme informações da Marathon, em reportagem do dia 21/11/05, a série

de desenho animado já alcançou picos de 62% de audiência em seu horário de

exibição. Para a empresa, o grande desafio dos produtores é superar o espantoso

sucesso alcançado por Pokémon, que chegou a 70% da audiência em seu horário.

Orgulho da Marathon, Três Espiãs Demais é a única série infantil, mundialmente

conhecida, escrita, produzida e desenvolvida por uma companhia francesa, algo que

dificilmente acontece em um mercado dominado por japoneses e americanos.

De acordo com a reportagem Totally Spies: totally successful!, de 09/04/05, coletada no site oficial da empresa, entre as três séries francesas mais assistidas

nos Estados Unidos, Três Espiãs Demais é o primeiro programa francês a alcançar sucesso real no mercado americano. A reportagem também noticia o lançamento de

um jogo de celular e do quarto livro da série e comenta o sucesso do disco com as

músicas do desenho animado, que atingiu a marca de mais de 50 mil discos

vendidos entre os meses de junho e agosto de 2004. Ainda segundo essa matéria, a Marathon lançou na Europa, como brindes na compra do hambúrguer, em sociedade com a rede de fast food McDonald’s (março a junho de 2005), acessórios colecionáveis das Três Espiãs Demais (relógio, pingente, bolsa e xampu).

A Rede Dez (australiana), uma empresa privada de programas infantis,

adquiriu, em 2005, 78 episódios da série. Foi a primeira vez que essa empresa

comprou programas franceses. Segundo a reportagem Network Ten Australia acquires Totally Spies, do dia 11/02/05, estava previsto para o ano de 2005 o lançamento de cosméticos da linha Três Espiãs Demais, na Austrália.

Vincent Chalvon­Demersay, criador e gerente geral da Marathon, afirma que:

Este sucesso é devido ao fato de termos criado um programa verdadeiramente original. Nós quebramos todas as regras existentes e nossa escolha, apoiada pelo TF1, parece lógica agora, mas naquele

Italia (Itália); Pro 7 (Alemanha & Áustria, Malásia); SABC (África do Sul); RUV (Islândia); RTP (Portugal); RTE (Irlanda); TV Catalunya, TV Madrid, TV Valenciana, TV de Galicia, TV Vasca, Canarias TV (Espanha); TSR (Suíça); Televisa (México); Teletoon (Canadá); TBL (Hong Kong); TV Panama (Panamá); TV12 (Singapura); TV3 (Nova Zelândia); TV2 Norway (Noruega); TV2 Denmark (Dinamarca); VT 4 (Bélgica); Venevision (Venezuela); TV Tokyo (Japão).

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momento foi extremamente audaciosa: escolher meninas para serem os personagens principais e heroínas de uma série de animação. (CHALVON­ DEMERSAY, 2005)

Para David Michel, assistente geral da Marathon e criador da série de desenho animado Três Espiãs Demais:

Ação, comédia, sem sentimentalismo, sempre examinando o significado por trás das típicas fixações das meninas adolescentes... Esses são os ingredientes secretos do programa. Sua diferente abordagem nos inquieta, sendo muito benéfica para nós. (CHALVON­DEMERSAY, 2005)

Conforme informações do site oficial da empresa produtora do desenho — na

reportagem Totally Spies: totally successful! de 9 de abril de 2005, após três anos de sucesso, a TF1 32 elaborou um evento especial para a série, exibindo cinco episódios

consecutivos em sua programação, com audiência de 43,6%.

A Marathon — segundo a reportagem Totally Spies! Lands on Germany’s Super RTL!, de 25/03/2006, encontrada no site da empresa — estava

desenvolvendo, no ano de 2006, uma linha de produtos — tais como: jogos de

celular, livros, acessórios, videogames, mochilas, software interativos, entre outros

— com lançamentos previstos para o mesmo ano.

No site Wikipedia, além de dados técnicos sobre o desenho, é possível encontrar informações sobre um projeto envolvendo a produção de um longa

metragem para Três Espiãs Demais, previsto para o ano de 2007.

No Brasil, segundo a reportagem Três Espiãs Demais terá produtos no Brasil 33 , encontrada no site da Associação Brasileira de Licenciamento, a série de desenho animado Três Espiãs Demais, juntamente com Bob Esponja, foi o desenho mais exibido pela Rede Globo de Televisão em 2005. Já o site Mídia Ativa 34

apresenta o desenho como sucesso no Brasil nos anos de 2004 e

2005. A afirmação é resultante de uma pesquisa realizada pela

32 TF1 é um canal francês privado e aberto de televisão. 33 Dados segundo a Associação Brasileira de Licenciamento (ABRAL, 2006), cf. ref. biblio. 34 Flintstones... (2006), cf. ref. biblio.

65

Eurodata. O estudo apresentou o desenho com audiência de 13%

em todo o país.

Navegando no Orkut, encontramos hoje, 20/08/07, cerca de duzentas e nove comunidades que fazem referência à série de desenho animado Três Espiãs Demais — aproximadamente cento e cinqüenta e quatro a mais do que o número de

comunidades identificadas no período de elaboração do projeto da presente

pesquisa —, algumas com mais de vinte e dois mil participantes. Entre os tópicos de

discussão, encontramos questionamentos tais como Qual a espiã que você mais

gosta?, Com qual das espiãs você se parece?, Qual dispositivo das espiãs você

gostaria de possuir?, Qual espiã é a mais bonita?, Qual arma você gostaria de ter?.

Surpreendentemente, as repostas são preenchidas por pessoas tanto do sexo

masculino quanto do sexo feminino e das mais variadas idades. Saliento inclusive o

depoimento de um rapaz de dezenove anos no fórum “Qual espiã você gostaria de

ser?”. Sem grandes pudores, ele afirma que gostaria de “ser o Clover”, o que seria

uma espécie de versão masculina para a espiã Clover. E, ainda, o depoimento de

Zopo — jovem de dezenove anos — que participou da enquete: Quantos anos você

acha que o Jerry tem?

O que parece é que o endereçamento do desenho acaba por abarcar um

contingente bastante distinto de fãs que buscam não só discutir como também viver

um pouco desse mundo de “espião demais”. Um bom exemplo são as dezenas de blogs dedicados à série de desenho animado, encontrados na Internet. Em alguns blogs que mencionam as espiãs — como é o caso do blog Três Espiãs Demais 35 —

é possível encontrar a descrição e a criação de episódios por autores do blog e a discussão e comentários de muitos internautas. Na Internet, também é possível

encontrar uma infinidade de sites que apresentam letras de músicas, bate­papos e

mercadorias referentes às três espiãs. Em vista do elevado número de sites,

comunidades no orkut, blogs e reportagens acerca da série de desenho animado Três Espiãs Demais, é possível perceber o quão grande é sua produtividade no dia­ a­dia dos sujeitos, sejam eles crianças, jovens e adultos.

35 Informações disponíveis em: <http://fotolog.terra.com.br/espiasdemais:1>. Acesso em: 23 ago. 2007.

66

Quanto à produção do desenho, conforme o site Wikipédia 36 , a série é um dos exemplos de desenho animado que imitam os animes 37 japoneses.

Os estudos de Sato (2005) mostram que o Japão — nação oriental que

permaneceu por 1500 anos quase intocada devido a sua localização geográfica —

começou a interagir culturalmente com outras nações somente a partir da segunda

metade do século XIX, momento em que buscava desenvolver sua economia e

industrialização. Durante a Segunda Guerra Mundial, um novo bloqueio se

estabeleceu, já que o país acabou por se aliar à Itália e à Alemanha. O pós­guerra,

caracterizado pela busca da paz e da reconstrução do país, despertou a curiosidade

e o fascínio de outros povos em relação a uma cultura tão distinta das conhecidas

culturas ocidentais — “[...] samurais e catanas, quimonos de seda, gueixas, bonsais,

templos e cerejeiras em flor [...]” (SATO, 2005, p.28).

A autora afirma que, “por volta de 1910, as platéias japonesas passaram a

conhecer desenhos animados, graças ao cinema. Eram curtas­metragens mudos

produzidos no que hoje se chama núcleo pioneiro de animação de Nova York [...]”

(SATO, 2005, p.29­30). Esse processo acabou por motivar a produção nacional,

mobilizando desenhistas japoneses a produção por iniciativa individual.

Em relação à origem da palavra anime, Sato (2005) sublinha que:

Até a ocupação norte­americana, os desenho animados no Japão eram em geral chamados de dõga (‘imagens em movimento’). Essa expressão servia também para definir ‘filme’. Não havia na língua japonesa uma palavra distinta que significasse “animação”. A influência estrangeira trouxe ao idioma japonês novas expressões, derivadas do inglês [...]. A partir da década de 1950, o termo anime, derivado do inglês animation, passou a ser usado como sinônimo de desenhos animados. Com a difusão de produções de animação japonesa no exterior a partir da década de 1980, a palavra ‘animê’ virou sinônimo de animação com a estética e a técnica desenvolvidas pelos japoneses, embora no Japão ela signifique todo e qualquer desenho animado, japonês ou não. (p.31­32)

Conforme a autora, “sem qualquer intenção premeditada, as produções de

animação japonesas foram exportadas e televisionadas a vários países a partir da

década de 1960, como alternativa de diversão despretensiosa” (SATO, 2005, p.29).

Olhos grandes, cabelos espetados (embora não haja relação com a realidade física

oriental), uniformes escolares, entre outros, passaram a ser traços conhecidos no

36 Totally_Spies (12 set. 2006), cf. ref. biblio. 37 Palavra derivada do inglês animation e trazida para o Japão após a ocupação norte­americana, passou a ser usada como sinônimo de desenho animado.

67

mundo todo e caracterizados como pertencentes à estética japonesa. Segundo Sato

(2005), o fenômeno de popularização dos desenhos animados japoneses no

ocidente ainda é muito recente, se deu a partir da década de 1980, década em que a

produção de animação para TV atingiu seu ápice no país — somente em Tóquio, se

concentravam mais de dez mil profissionais da área de animação.

Os animes japoneses trazem consigo características que se distinguem dos demais desenho animados. De acordo com o site Wikipedia, freqüentemente, eles apresentam enquadramentos ousados, cenas muito movimentadas, o uso de uma

direção de arte ágil e a abordagem de temas variados. Geralmente, as situações de

humor envolvem enredos, enquadrados em uma linguagem endereçada ao público

adulto.

Em relação às cores, Luyten (2000) afirma que, dentro da cultura japonesa,

elas também fazem parte do enredo e contribuem para a composição do contexto da

história apresentada. Suas simbologias ajudariam na composição da atmosfera

contextual do desenho. A autora enfatiza que

Os japoneses, em contraste com os ocidentais, têm uma visão das cores num plano horizontal intuitivo e dão pouca atenção à influência da luz. As cores, mesmo se intensas ou suaves, não são muito identificadas com base no reflexo de luz e sombra mas em termos do significado ou sentimento associado a elas. (LUYTEN, 2000, p.45)

O estudo apresentado por Luyten, no livro Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses (2000), expressa o significado de algumas cores para a cultura oriental.

Para os japoneses, conforme os registros da autora, o vermelho combinado com

branco, por exemplo, faz referência à vitalidade e à pureza. Sua combinação sugere

aos japoneses felicidade ou celebração. Já o verde é a cor da vida e do espírito

eterno, pois representa a forte integração do povo com a natureza, sua tonalidade

indica a complexidade da vida e do espírito. O azul, relacionado ao fato de o Japão

ser um arquipélago, denota algo materno ou envolvente. O mistério e a idéia de

desconhecido são atribuições do preto. Enquanto o amarelo e o dourado

demonstram a felicidade perto da colheita do arroz (LUYTEN, 2000).

O design dos personagens também se distingue dos demais programas do gênero. Olhos grandes, muito bem definidos, redondos ou rasgados, cheios de

brilhos e com cores chamativas compõem os personagens dos animes. Segundo informações coletadas no site Wikipedia, talvez isso se deva ao fato de que, para a

68

cultura japonesa, “os olhos são a janela da alma”. Cabelos de todas as formas,

cores, tamanhos, volumes e penteados, com laços, fitas e afins; corpos esculturais e

muito bem delineados; roupas coloridas e cheias de estilo; personagens de

expressiva personalidade e vozes muito características — poderosas, infantis,

estridentes, harmoniosas ou cavernosas — dão ao telespectador a oportunidade de

conhecer e se familiarizar com os personagem que povoam os animes.

Outra característica marcante nos anime japoneses são os sinais visíveis de sentimentos, utilizados em cenas de comédia. Personagens com dentes e chifres em

momento de raiva, a diminuição súbita para representar vergonha, a saliência de

nervos na testa para ilustrar a raiva e a reconhecida gota d’água ao lado do rosto

nas situações de constrangimento são alguns dos atributos que podemos conferir

nesse tipo de produção.

A breve caracterização do anime, recém apresentada, tem por objetivo

familiarizar o leitor em relação a esse tipo específico de produção. A exposição quer

oportunizar ao leitor um conhecimento mais apurado em relação à hipótese de que a

série de desenho animado Três Espiãs Demais seja uma imitação de um anime —

embora consiga identificar muitas de suas características na série — sem o intuito

de assegurar que seja verossímil a afirmação.

69

CAPÍTULO 4 O CONSUMO COMO IDENTIFICADOR CULTURAL DA

PÓS-MODERNIDADE

Na corrida dos consumidores, a linha de chegada sempre se move mais veloz

que o mais veloz dos corredores; mas a maioria dos corredores na pista tem músculos muito

flácidos e pulmões muito pequenos para correr velozmente. (BAUMAN, 2001, p.86)

A pós­modernidade

Ao me dedicar minuciosamente ao estudo da série de desenho animado Três Espiãs Demais, e após assistir a dezesseis episódios, muitos questionamentos começaram a se constituir e a sugerir caminhos e focos para as análises desta

dissertação.

Algumas indagações começaram a povoar meus pensamentos e a colocar em

destaque suspeitas que me intrigavam em relação ao desenho e à

contemporaneidade. O que mobiliza os indivíduos a ”querer”, incansavelmente,

consumir objetos, imagens e relacionamentos? O que assegura e reafirma a ação

constante de descartabilidade das coisas que adquirimos? Em que contexto tais

ações se justificam?

As possíveis pistas que gradativamente encontrei não se constituíram em

respostas, mas, sim, em uma perspectiva que, sob a ótica dos Estudos Culturais,

coloca em evidência as diferentes faces do consumo e acaba por inserir as

70

protagonistas da série — Sam, Alex e Clover — em um contexto compatível com a

condição pós­moderna.

Penso ser necessário, neste momento, iniciar o presente capítulo destacando

algumas características e peculiaridades da vida nos tempos pós–modernos para

demonstrar a possível inserção do desenho animado no contexto do mundo pós­

moderno.

A modernidade, cujos contornos surgem nos meados do século XVI, era um

projeto para superar as condições bruta, pobre e solitária dos indivíduos. Inserido

num processo civilizatório, o indivíduo — caracterizado como bárbaro, primitivo —

deveria adquirir um conjunto de habilidades que o tornaria apto à convivialidade.

Nesse processo de passagem daquilo que, grosso modo, poderíamos

caracterizar como domínio dos irracionalismos e desordem para a racionalidade e a

organização, estabeleceu­se um conjunto de saberes e verdades que deveriam ser

disseminados. Verdades que, segundo Costa (2005b), eram e ainda são:

[...] inteiramente construídas, engendradas no interior da cultura e não decorrem de uma suposta natureza humana ou de uma suposta natureza do social. Elas resultam, isto sim, de minuciosas tramas de saberes e poderes e são, portanto, contingentes, radicalmente históricas. (p.204)

A modernidade pretendeu assentar­se sobre verdades absolutas e universais,

construídas no interior da cultura, e acreditava em identidades que se constituiriam

centradas e estáveis. Tudo o que se pensava ou fazia era previsível, esperado,

cartográfico, delimitado e engessado, já que, na modernidade, “[...] grandes

narrativas fundadoras com seus sistemas totalizantes e explicações generalizáveis e

definitivas” (COSTA, 2005b, p.210) pretendiam nortear a ação dos sujeitos e das

sociedades.

“As identidades modernas eram territoriais e quase sempre monolingüísticas”

(GARCIA­CANCLINI, 2006, p.45). Os sujeitos fixavam­se a uma região

geograficamente determinada e a questões étnica e culturalmente definidas por

fazer parte de uma nação.

No mundo moderno, outras eram as vivências e outros eram os objetivos que

mobilizavam mulheres e homens a seguir suas vidas. Nas palavras de Bauman

(1999):

71

Aquela velha sociedade moderna engajava seus membros primordialmente como produtores e soldados; a maneira como moldava seus membros, a “norma” que colocava diante de seus olhos e os instava a observar, era ditada pelo dever de desempenhar esses dois papéis. A norma que aquela sociedade colocava para seus membros era a capacidade e a vontade de desempenhá­los. (p.88)

Assim sendo, as pessoas, desde muito pequenas, projetavam seus caminhos

— esperavam ansiosos o dia de seus casamentos, o momento em que teriam seus

filhos, o tipo de vida que as condições econômicas e o trabalho lhes poderiam

garantir — e buscavam segui­los à risca. Caminhos predeterminados, etapas

detalhadas e previsíveis, objetivos claros e fins absolutos reduziam as opções e

delimitavam as oportunidades dos sujeitos modernos. Uma vida nem muito aquém,

nem muito além, já que o além era sinônimo de ostentação e luxo, ou seja, pecado.

Características, objetivos e sonhos máximos eram estipulados para desejar e

perseguir. Tudo o que se fazia passava pelo crivo da aprovação social e, portanto,

partia, segundo Bauman (2001), de normas reguladas e reguladoras.

Significativas mudanças e transformações, nesse mundo moderno,

mobilizaram autores como Bauman (1999, 2001 e 2004), Garcia­Canclini (2006),

Sarlo (2006) e também Costa (2004, 2005a, 2005b e 2007), entre outros, a refletir

sobre a vida dos sujeitos na contemporaneidade, denominada e identificada por

muitos como pós­modernidade. Um novo mundo que é percebido como “[...]

contingente, gratuito, disperso, instável, diverso e imprevisível”. (COSTA, 2005b, p.

210). Marcado, segundo a autora:

[...] entre outras coisas, pelo mundo disperso e efêmero das novas tecnologias, pelo consumo de toda a sorte de produtos da indústria cultural (inclusive imagens, identidades e modos de ser), por variadas e difusas políticas de identidade, por conformações de curto prazo e grande flexibilidade no trabalho [...]. (COSTA, 2005b, p.209)

Assim sendo, a pós­modernidade abre mão dos sistemas totalizantes e das

explicações definitivas para assumir “[...] uma condição de instabilidade,

ambigüidade e efemeridade [...]” (COSTA, 2005b, p.210).

O que ocorre é que vivemos em um século caracterizado “[...] pela

transitoriedade da mercadoria e pela instabilidade dos valores” (SARLO, 2006, p.22),

aliadas à excessiva oferta de oportunidades extremamente atraentes. No mundo do

efêmero e da novidade, muitos podem ser os caminhos, diferentes podem ser as

conquistas, porém não há chegada previsível.

72

O vasto número de possibilidades consome e agoniza os sujeitos em relação

à escolha de seus objetivos.

Conforme Bauman (2001),

Nesse mundo, poucas coisas são predeterminadas, e menos ainda irrevogáveis. Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos, irreversíveis; mas nenhuma vitória é tampouco final. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar­ se em realidade para sempre. (p.74)

Vivemos no mundo das oportunidades, que extrapolam a quantidade

humanamente possível de ser experimentada e nos inscrevem em uma liberdade de

ser e estar inacabado e incompleto. O que se percebe é que o sujeito pós­moderno

é um ser inacabado que sobrevive à deriva, navegando no mar das incertezas e

enfrentando as turbulentas ondas de ansiedade na busca dos caminhos a percorrer.

Agora, não mais territorializado em sua nação, transita nas lógicas das significações

do mercado mundial.

Outro importante fator que caracteriza a vida pós­moderna é o deslocamento

das autoridades de um patamar de exclusividade, determinação, prescrição e

ordenamento, para um patamar de sedução e tentação. Na modernidade, líderes

mobilizavam multidões na busca de um mundo melhor. Hoje, conselheiros

conduzem a vida pessoal dos sujeitos, para ajudá­los com seus problemas

peculiares, porém, interessantemente, comuns problemas pessoais. Livros de auto­

ajuda como o de Melody Beattie 38 (Codependent no More) afirmam que devemos cuidar de nossos problemas, pois “há pouco a ganhar fazendo o trabalho dos outros,

e isso desviaria nossa atenção do trabalho que ninguém pode fazer senão nós

mesmos”.

Focados, agora, nos problemas pessoais a serem resolvidos, os conselheiros

passam a colocar em evidência os exemplos a serem seguidos. Os exemplos

passam a ser a esperança de que existe uma trajetória possível para que possamos

alcançar a felicidade ou ao menos para que possamos nos desfazer do sentimento

de infelicidade. “Olhando para a experiência de outras pessoas, tendo uma idéia de

suas dificuldades e atribuições, esperamos descobrir e localizar os problemas que

causaram nossa própria infelicidade, dar­lhes um nome e, portanto, saber para onde

olhar para encontrar meios de resistir a eles ou resolvê­los” (BAUMAN, 2001, p.78).

38 Mencionado por Bauman no livro Modernidade Líquida (2001, p.77).

73

Assim, gradativamente, os meios de comunicação foram invadidos por casos

privados, que acabaram por se tornar constituintes da vida pública. Hoje, o que

podemos observar é que dramas privados são encenados e vividos nos palcos da

esfera pública (BAUMAN, 2001). Dessa forma, as pessoas sob os holofotes da mídia

têm o “poder” de mostrar o que é importante realizar em nossas vidas.

Nesse contexto, podemos considerar que as jovens espiãs colocam em

evidência, descrevem, constituem e representam não só suas aventuras e missões,

mas também sua vida privada. Elas carregam consigo a importante tarefa de

“mostrar” uma das possibilidades, um dos caminhos possíveis a serem seguidos por

jovens meninas em suas vidas.

Seria então essa a fórmula secreta para o alcance da felicidade: observar

erros e acertos já cometidos e seguir caminhos já percorridos? Talvez, para alguns

poucos desavisados, essa seja uma forma de temporariamente realizar­se. Contudo,

buscar a felicidade — com a pretensão de que ela seja cultural e socialmente para

sempre — é a ilusão de muitos cidadãos que ainda não perceberam o quanto

estamos engajados em uma sociedade marcada pela efemeridade e rápida

obsolescência. Na qual a felicidade se consome no instante em que se realiza. Hoje,

vive­se uma felicidade pela metade, que como um aperitivo, desperta a fome sem

poder saciá­la (FREIRE COSTA, 2005). O que podemos perceber, como muitos

autores vêm tentando discutir e tematizar, é que, para muitos, a satisfação tem seus

dias contados, pois cada vez mais o desejo de consumir se esvai no próprio desejo,

que rapidamente é substituído por outro. Vivemos no mundo das possibilidades. Os

objetos que nos seduzem se renovam a cada instante.

A efemeridade das coisas que possuímos, e também dos nossos desejos,

pode ser observada o tempo todo em narrativas da mídia. Menciono, aqui, a título de

exemplo, dois dos episódios analisados no desenho Três Espiãs Demais: Dor de Dente (Neste episódio, a bolsa da marca Mute é o objeto de desejo de Clover no início do programa e, ao final, já desvalorizada, é substituída pela bolsa da marca Mússia) e Natal do Mal (Neste episódio, a personagem Clover almeja,

desesperadamente, uma bota Yves Mont Blanc. Contudo, ao final do episódio, após

fazer de tudo para adquiri­la, Clover doa sua bota para Mandy, pois ela já estava

fora de moda. A nova onda do momento era George Vivaldi).

74

A velocidade com que os produtos do consumo são liquidados nos envolvem

em uma incansável e inacabada corrida, porém, conforme Bauman (2001):

Nenhum dos prêmios é suficientemente satisfatório para destituir os outros prêmios de seu poder de atração, e há tantos outros prêmios que acenam e fascinam porque (por enquanto, sempre por enquanto, desesperadamente por enquanto) ainda não foram tentados. (p.86)

O consumo como identificador

Assim como a sociedade sofreu transformações, o consumo recebeu, ao

longo da modernidade e, atualmente, na pós­modernidade, distintas características

e atribuições. Os jovens de hoje, melhor inseridos e já nascidos em um contexto

pós­moderno, o realizam de forma hábil e prática. Fato que não se repete se

colocarmos, hoje, nossos avós a navegar no atribulado mar de oportunidades que o

mercado oferece.

Contudo, esse aprendizado realizado pelos jovens não se refere à capacidade

intelectual juvenil, mas a uma aptidão que vem sendo ensinada na pós­

modernidade, já que desde muito jovens “os indivíduos consomem, porque

aprenderam a associar consumo à felicidade” (FREIRE COSTA, 2005, p. 137).

Na modernidade, tempo e condição sob a qual teriam vivido nossos avós, o

ato de consumir um produto fazia parte das tarefas necessárias para suprir o

essencial ao sujeito. Comprar um carro, roupas, casa, entre outras coisas, fazia

parte de objetivos estabelecidos previamente. Assim que adquiridos, os produtos

apenas seriam substituídos quando necessário — ou seja, quando estragados,

quebrados, irreparáveis. O valor de estima também influenciava na hora da decisão

de desfazer­se ou não dos “seus” objetos. Os objetos carregavam significados

duráveis para seus donos. Serviam para lembrar de momentos importantes, pessoas

inesquecíveis, fatos memoráveis. Sua relação com o passado, inclusive, atribuía­

lhes um status. Naquela época, a qualidade dos produtos se sobrepunha à sua estética. Ter o melhor correspondia a algo para “durar pra toda a vida”, como diziam

nossos avós.

Com o tempo, as funções do consumo receberam novas atribuições. Novos

hábitos surgiram no e a partir do consumo. Nesse aspecto, Harvey (1993), Bauman

75

(2001) e tantos outros concordam que o consumo constitui­se em um identificador

cultural da pós­modernidade. Mas quais seriam os fatores que o tornam tão

importante e o transformam em um marco da sociedade contemporânea?

Garcia­Canclini conceitua o consumo como “o conjunto de processos

socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos” (2006,

p.60). Esse conceito nos dá pistas quanto à importância que o consumo recebia no

passado e à importância que hoje ele o tem. Sua função não apenas se restringe a

suprir as necessidades essenciais do sujeito, mas também se transforma em peça

importante na identificação dos sujeitos na sociedade do consumo. Assim sendo, o

processo de adquirir um objeto passa pelo crivo da importância e do significado

social que aquele item tem para o grupo a que pertenço, pois o que a sociedade

produz tem significados diferentes perante os diferentes grupos que dela fazem

parte.

Segundo Garcia­Canclini (2006), “[...] nas sociedades contemporâneas boa

parte da racionalidade das relações sociais se constrói, mais do que na luta pelos

meios de produção, pela disputa em relação à apropriação dos meios de distinção

simbólica” (p.62). Portanto, as formas como certo grupo de pessoas estuda, habita,

trabalha, convive, se diverte se assemelham e são realizadas de acordo com uma

coerência social, que lhes transfere uma sensação de pertencimento e, ao mesmo

tempo, de distinção dos demais grupos sociais.

Dessa forma, ao fabricar um produto, os grandes conglomerados mercantis

não só se preocupam com a qualidade, a venda, as utilidades, entre outros fatores,

mas também, e principalmente, em buscar produzir uma justificativa racional para a

sua aquisição.

Contudo, se estamos constantemente buscando objetos que nos façam

pertencer a um grupo, por que os descartamos continuamente?

Provavelmente porque pertencemos à cultura do efêmero, na qual, segundo

afirma Garcia­Canclini (2006) em sua obra Consumidores e cidadãos, o consumo incessantemente renovado, a surpresa e o divertimento são os valores que, na pós­

modernidade, dinamizam o mercado.

76

A vida em torno do consumo é constituída de comparações universais e

parâmetros instáveis. O que é “mega 39 ” hoje, não mais o será em breve. Não

existem normas a seguir ou limites a alcançar. Nem mesmo o exagero é tomado

como ostentação ou luxo. Os indivíduos, na sociedade do consumo, vivem

orientados pela sedução e por novos e crescentes desejos.

As protagonistas, do desenho Três Espiãs Demais, exemplificam, vivem e expressam em seus episódios, constantemente, a sensação de que há ainda algo

para ser comprado, ou alguma sensação para ser sentida, ou um rapaz belo para

ser conquistado, ou alguma transformação em seu corpo para ser realizada.

Segundo o professor Ricardo Petrella, da Universidade Católica de Louvain,

mencionado por Bauman (1999), “A globalização arrasta as economias para a

produção do efêmero, do volátil (por meio de uma redução em massa e universal da

durabilidade dos produtos e serviços) e do precário (empregos temporários, flexíveis,

de meio expediente)” (p. 86).

Aprendemos e somos constantemente produzidos para viver na cultura do

efêmero e das novas sensações. Somos instruídos a não dispensarmos muito tempo

e atenção aos objetos. Aprendemos que “[...] um bom consumidor é um aventureiro

e amante da diversão” (BAUMAN, 1999, p.90). Somos produzidos para vivermos na

busca de novas sensações. “De fato, a própria produção de consumidores devora

uma fração intoleravelmente grande dos custos totais de produção — fração que a

competição tende a ampliar ainda mais” (BAUMAN, 2001, p. 88­89).

Traçando brevemente um perfil da história do consumo, a partir do estudo das

obras de Bauman (2001 e 2004), podemos perceber que ele, ao longo dos tempos,

atingiu diferentes níveis de prioridade. Segundo o autor (2001), o ato de consumir,

primeiramente, referia­se à busca dos objetos sólidos, do encontro dos objetos que

satisfizessem as necessidades dos sujeitos — ou seja, era resultado de uma causa.

Com o tempo, o ato de consumir passou a mobilizar­se através do desejo, “[...]

entidade muito mais volátil e efêmera, evasiva e caprichosa, e essencialmente não­

referencial que as ‘necessidades’, um motivo autogerado e autopropelido que não

precisa de outra justificação ou ‘causa’” (BAUMAN 2001, p.88). Sem causa ou

justificativa, o desejo é por si só o objeto constante a ser desejado, portanto

39 Mega constitui­se em uma gíria atualmente utilizada para caracterizar o que está acima do melhor.

77

insaciável. No entanto, o desejo é um processo que envolve tempo para “[...]

germinar, crescer e amadurecer” (BAUMAN, 2004, p.26), e cultivá­lo despende

tempo demais na cultura do efêmero. Nesse sentido, o desejo — movimento que

introduziu a sociedade no vício do consumo — abriu as portas para o momento em

que vivemos, o do “comprar por impulso” (BAUMAN, 2004, p. 26). Hoje, render­se

aos impulsos mantém a esperança de que não haverá conseqüências duradouras

capazes de impedir novos prazeres.

Bauman (2004) fala­nos que a vontade de comprar nasce instantaneamente

e, da mesma forma, se dissipa. Sua durabilidade reduz­se ao tempo necessário para

transitarmos da entrada à saída de um shopping center.

Lembremos, neste instante, das jovens espiãs demais percorrendo os

corredores do shopping center e adentrando em todas as possíveis lojas. Juntas, vão às compras, mas não sabem ao certo de que. Procuram nas promoções roupas

ou acessórios de marca — tendo por base as lojas que fazem parte do conjunto de

instituições consagradas pelo seu grupo social. O que, especificamente, comprar,

surge no momento, no trajeto, no passeio ou na ditadura da moda. “Render­se aos

impulsos, ao contrário de seguir um desejo, é algo que se sabe ser transitório,

mantendo­se a esperança de que não deixará conseqüências duradouras capazes

de impedir novos momentos de êxtase prazeroso” (BAUMAN, 2004, p.27). Como

que caracterizando a sociedade pós­moderna, os sujeitos do consumo vivem à

deriva, sem paradeiro certo.

O que podemos perceber é que o mercado invade meteoricamente nossos

sonhos, e as instabilidades do cotidiano dissolvem nossas identidades. “Sonhamos

com as coisas que estão no mercado” (SARLO, 2006, p.26), e delas,

constantemente, nos apropriamos e, rapidamente, nos desfazemos. Segundo Sarlo

(2006), o novo é o “motor perpétuo” e os que possuem condições de consumir

passam a se tornar “colecionadores às avessas”. Contudo, é preciso esclarecer que

não se colecionam mais objetos e, sim, “atos de aquisição de objetos”. Antigos

colecionadores costumavam adquirir objetos para agregar ao seu tesouro. Desfazer­

se deles, jamais. O valor de seus objetos era inafiançável e sua presença, na

coleção, insubstituível. Como afirma Sarlo (2006), hoje tornamo­nos colecionadores às avessas, pois os objetos que nos mobilizam à compra, perdem seu valor no mesmo instante em que os adquirimos. Quando possuímos o produto desejado, ele

78

“perde sua alma”, seu significado se dissipa. Não há um objeto final de desejo que

assegure ao sujeito a eterna felicidade. Não há um objeto que contemple todo o

nosso desejo, pois consecutivamente existirá outro que nos arrebatará e nos

motivará a ambicioná­lo e a adquiri­lo. Assim sendo, o consumo e a sua

descartabilidade volátil caracterizam a cultura do efêmero.

A Cidadania no Consumo

Conforme Garcia­Canclini (2006):

[...] ser cidadão não tem a ver apenas com os direitos reconhecidos pelos aparelhos estatais para os que nasceram em um território, mas também com as práticas sociais e culturais que dão sentido de pertencimento, e fazem que se sintam diferentes os que possuem uma mesma língua, formas semelhantes de organização e de satisfação de necessidades. (p.35)

Partindo do princípio de que, ao adquirirmos e manipularmos um produto o

selecionamos de acordo com as características do grupo ao qual pertencemos, é

possível constatar que ser cidadão está diretamente ligado ao ato de consumir e

assim estabelecer uma identidade social. Da mesma forma, porém inversamente,

não possuir condições para consumi­lo — sejam elas financeiras, sejam geográficas

— exclui aqueles que não o possuem.

Desse modo, critérios sociais de pertencimento mobilizam o ato de comprar, a

seleção e a apropriação de objetos. Esses critérios também são usados para

identificar o que o sujeito considera valioso e como se integra e se distingue

socialmente. O que parece é que as meninas­heroínas da série de desenho

animado Três Espiãs Demais compreendem muito bem essa lógica de cidadania, já que, freqüentemente, e em quase todos os episódios analisados, justificam a

aquisição de seus produtos pela preocupação do pertencimento ou do desprezo

social. Dizendo de outro modo, o sujeito, ao consumir pensa, escolhe a quais

significados quer ser associado e (re)identifica sua identidade social.

Na contemporaneidade, o orgulho de possuir um objeto de uma procedência

nacional específica foi substituído pelo desejo de adquirir um objeto de certa marca,

que não mais é fabricada em uma nacionalidade específica. Os bens, que antes

eram exclusivos de uma etnia ou de uma nacionalidade, perderam sua localidade e

79

durabilidade. Hoje, se transformaram e se adaptaram em compactos produtos

vendáveis mundialmente, não mais produzidos exclusivamente em um país.

O desejo de pertencimento e identidade local perdeu terreno para a busca do

sentimento de pertencimento a “[...] comunidades transnacionais ou

desterritorializadas de consumidores [...]” (GARCIA­CANCLINI, 2006, p. 40). Hoje,

Rebeldes, Rock, MTV, WITCH, entre outros, são todos artefatos globais. Os pontos

de referência deixaram de ser locais e passaram a ser universais.

Em relação às regras do consumo e à sua adequada utilização, quanto mais

jovens, mais aptos para essa cidadania mundial encontram­se os sujeitos. Para as

jovens meninas e os jovens meninos as referências mundiais parece que solaparam

a importância das referências locais e regionais. Adidas, Nike, Puma, RBD, por

exemplo, têm maior significado — portanto maior envolvimento sentimental e

consumidor — do que coisas próximas, produzidas no interior das culturas locais.

Nesse contexto, compreender as regras do consumo torna o sujeito “cidadão

do mundo”. “Abandonar­se aos impulsos” (BAUMAN, 2004, p.27) é uma linguagem

mundialmente compreendida e potencialmente aceita. Ela possibilita ao sujeito uma

certa sensação de pertencimento a um lugar específico e, ao mesmo tempo, a todos

os lugares. O shopping center é um exemplo apropriado para justificarmos tal afirmação. Como salienta Sarlo (2006) “[...] qualquer pessoa que tenha usado um

shopping uma vez pode usar qualquer outro, em outra cidade, mesmo estrangeira,

da qual não conheça sequer a língua e os costumes” (p.19). Estejamos no Brasil, no

Uruguai ou nos Estados Unidos, compreendendo a lógica do consumo, estaremos

aptos a exercer nossa cidadania.

Amor Líquido

O título desta seção, propositalmente escolhido, faz referência ao livro de

Zygmunt Bauman (2004), obra que coloca em discussão a descartabilidade das

relações afetivas e faz uma surpreendente comparação entre o consumo dos objetos

e o “consumo” das parcerias.

Há algum tempo atrás, o sonho de muitos homens e de muitas mulheres era

encontrar a pessoa amada e lutar para ficar ao seu lado até o fim de seus dias.

80

Clássicos como A Bela Adormecida, Cinderela, Romeu e Julieta, entre outros,

refletiam pensamentos de uma época que acreditava no amor como sentimento

verdadeiro, eterno, sólido e único. Amava­se apenas uma vez — muitos ainda dizem

que amaram somente uma vez — e vivia­se para cuidar do ser amado, para

preservá­lo e para a ele se doar. O casamento, simbologia máxima do amor eterno,

pregava e ainda proclama que os casais permaneçam juntos “até que a morte os

separe”. O amor era compreendido como a gênese e não a aquisição de coisas

prontas e substituíveis. Amar era transcender, “[...] abrir­se ao destino, a mais

sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num

amálgama irreversível” (BAUMAN, 2004, p.21).

Contudo, esse conceito de amor bucólico, romântico e infinito vem sofrendo,

há pouco tempo, uma importante re­significação. Caracterizo essa re­significação

como jovem, pois também vivi por um bom tempo na busca do “príncipe encantado”

e do amor para toda a vida.

Hoje, os tempos são outros e outras, também, são as aplicações da palavra

amor. Vivemos no mundo das oportunidades, da compulsão de experimentar novas

sensações, novos objetos e, por que não, novos relacionamentos. O elevado

número de produtos — dos mais diferentes formatos e com as mais atraentes

propagandas — impulsionam os sujeitos a não mais se aterem em um produto

exclusivo, mas, sim, a viver na expectativa de encontrar outros “melhores” para

adquirir. Assim como acontece com os objetos, passamos a viver a compulsão de

experimentar novos relacionamentos, novos afetos. Hoje, constroem­se as

experiências amorosas “[...] à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e

seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade,

esforço sem suor e resultados sem esforço” (BAUMAN, 2004, p.22).

Os critérios que constituíam a definição da palavra amor foram borrados e

reescritos por relações mais avulsas e de pouca durabilidade. De fato, o que ocorre

é que o número de experiências que referíamos como amor vem, ao longo dos

tempos, expandindo. Sente­se amor várias vezes e por muitas pessoas. Ama­se

com facilidade e sem que se perceba a quem exclusivamente. Muitos sujeitos

chegam a denominar amor suas noites avulsas de sexo.

Inversamente ao que ocorria há pouco tempo, as pessoas buscam,

constantemente, apaixonarem­se para, logo em seguida, desapaixonarem­se.

81

Movidos pelo desejo, homens e mulheres buscam provar, explorar, experimentar

para, depois de satisfeitos, refugar, descartar o já experimentado e trocar por outra

conquista. O desejo “[...] é contaminado, desde o seu nascimento, pela vontade de

morrer” (BAUMAN, 2004, p.24).

O que podemos perceber é que na pós­modernidade nada é fixo ou estável,

nem mesmo os relacionamentos afetivos. Somos sujeitos inacabados. Buscamos

nossa infinita e mutável completude, no entanto, sem nos atermos a objetivos finitos.

Segundo essa lógica, sempre conheceremos algo que nos surpreenderá e terá

plenas condições de superar a conquista anterior. Assim como ocorre com os

objetos, sempre existirão novos relacionamentos ainda não experimentados. E

devemos ter ciência de que nos aprisionarmos a um deles significa desfazermo­nos

de todos os outros. Desse modo, passamos a acreditar “[...] que o próximo amor

será uma experiência ainda mais estimulante do que a que estamos vivendo

atualmente, embora não tão emocionante ou excitante quanto a que virá depois”

(BAUMAN, 2004, p.19).

Em conexão com essa nova forma de experimentar relacionamentos afetivos

e em detrimento à busca do amor durável, as três jovens espiãs vivem, em seus

episódios, intensos e curtos eventos amorosos. Denomino seus relacionamentos

como intensos, pois as heroínas fazem de tudo para alcançar a conquista do belo

jovem em destaque no episódio — mesmo que isso represente disputá­lo

heroicamente com suas amigas. No entanto, seus sentimentos e relacionamentos

são frágeis, de curta duração, descartáveis, e não sobrevivem até o próximo

episódio. “As habilidades assim adquiridas são as de ‘terminar rapidamente e

começar do início’ [...]” (BAUMAN, 2004, p. 20). Em nenhum dos dezesseis

episódios analisados os parceiros se repetem, nem ao menos são lembrados.

Nas palavras de Bauman (2004):

Guiada pelo impulso (“seus olhos se cruzam na sala lotada”), a parceria segue o padrão do shopping e não exige mais que as habilidades de um consumidor médio, moderadamente experiente. Tal como outros bens de consumo, ela deve ser consumida instantaneamente (não requer maiores treinamentos nem uma preparação prolongada) e usada uma só vez, “sem preconceito”. É, antes de mais nada, eminentemente descartável. (p.27)

82

O Consumo do Corpo

Serão somente os objetos e os relacionamentos facilmente consumidos e

descartados?

Ocorreu­me de súbito. Estava na imensa fila de um supermercado, refletindo

sobre as questões do corpo e a forma como somos interpelados a cuidá­lo e

manipulá­lo, quando, de repente, deparei­me, frente a um estande de revistas, com

manchetes de capa que me desassossegaram e me motivaram a falar sobre o

consumo do corpo. Pílula antibarriga –— A opinião de quem tomou 40 , Maracujá bloqueia a gordura 41 , As escovas que garantem o liso perfeito 42 , Perdi 14 kg para não perder o namorado 43 , 42 exercícios infalíveis para ter um abdômen malhado 44 , As melhores plásticas das celebridades: Nariz de Claudia Raia, Barriga da Xuxa, Olhos de Scheila Carvalho, Seios de Danielle Winits 45 .

Após a leitura dessas manchetes, iniciei uma reflexão acerca da

aplicabilidade de tais métodos em meu próprio corpo. Afinal, ao que parece, dizem

que somos livres. Livres para sermos do jeito que pensamos ser melhor. Podemos

melhorar aqui, espichar ali, encolher lá... Será? Será que neste momento de decisão

e reflexão somos apenas nós, sozinhos, pensando e refletindo sobre o que se

adapta aos nossos biotipos? Ou será que o que pensamos segue padrões que ditam

as normas para o corpo e a imagem?

Ao que parece, a lógica da mudança corporal tem uma aproximação

importante com as coisas que nos dizem sobre nosso corpo. Entregues ao escrutínio

moral do outro, ficamos melindrados em relação a comentários referentes à nossa

aparência. Freire Costa (2005) fala de uma espécie de hipersensibilidade aos

problemas da aparência corporal, já que os deformados — “[...] os que ficam para

trás na maratona fitness: obesos; manchados de pele; sedentários; envelhecidos precocemente; tabagistas; não siliconados; não lipoaspirados etc” (FREIRE COSTA,

2005, p.196) — são vistos como problemáticos, portanto excluídos.

40 Revista Boa Forma (jun. 2007). 41 Revista Boa Forma (jun. 2007). 42 Revista Boa Forma (jun. 2007). 43 Revista Sou + eu! (jun. 2007). 44 Revista Sport Life (jun. 2007). 45 Revista Plástica e Beleza (jun. 2007).

83

Isso porque, “hoje, somos o que aparentamos ser, pois a identidade pessoal e

o semblante corporal tendem a ser uma só e mesma coisa” (FREIRE COSTA, 2005,

p.198). Nessa lógica, nossa imagem corporal diz respectivamente quem nós

“verdadeiramente” somos. O que se distancia, e muito, dos valores morais prescritos

durante séculos de história ocidental, pois, antes “nada do que fôssemos, do ponto

de vista físico, intervinha na definição do que deveríamos ser, dos pontos de vista

emocional, intelectual, moral, político, artístico ou espiritual” (FREIRE COSTA, 2005,

p.165). O que percebemos é que o corpo, antes compreendido como templo para a

execução de tarefas e para o desenvolvimento da alma, dos sentimentos e dos

valores, passa a ser entendido como o templo da beleza, da longevidade e da boa

forma. Hoje, o que vemos é a aglutinação da visibilidade do corpo físico com a

identidade dos sujeitos. E isso ocorre de tal forma que não mais conseguimos

percebê­las dissociadamente.

Longe de nos mobilizarmos na busca pela saúde, somos estimulados a

praticar, incansavelmente, a aptidão de nossos corpos à conquista de atributos

físicos social e culturalmente valorizadas em cada estação. Somos impulsionados a

buscar a modelagem de partes de nosso corpo. Enquanto a saúde está relacionada

ao “estado próprio e desejável do corpo e do espírito [...]” (BAUMAN, 2001, p. 91), a

“aptidão está sempre aberta do lado do ‘mais’: não se refere a qualquer padrão

particular de capacidade corporal, mas a seu (preferivelmente ilimitado) potencial de

expansão” (BAUMAN, 2001, p. 92). Ou seja, ser apto é estar aprimorando e

descobrindo novos limites para serem superados. Seguindo o ritmo desenfreado da

cultura do efêmero, nunca estaremos completamente belos, pois novas aptidões e

perfeições surgirão instantaneamente.

Segundo Umberto Eco (2004), em sua obra A História da Beleza, as pessoas que vivem a partir das diretrizes dessa incansável busca dos modelos distintos de

beleza — em nosso país, sejam eles o modelo de loira “turbinada” de Danielle

Winits, seja o modelo de morena “sarada” de Claudia Raia — “seguem os ideais de

beleza propostos pelo consumo comercial” (p. 418), já que o conceito de beleza,

objeto de análise e de múltiplas construções conceituais, jamais, ao longo da

história, foi algo absoluto e imutável. Na obra, o autor transcreve, de forma

fascinante, as diferentes faces que a definição da beleza assumiu. O texto parte do

princípio de que o conceito de beleza transitou e transita ao longo dos tempos e se

84

constitui a partir de premissas históricas e locais “e isso não apenas no que diz

respeito à beleza física (do homem, da mulher, da paisagem), mas também no que

se refere à Beleza de Deus ou dos santos, ou das idéias [...]” (ECO, 2004, p. 14). Na

contemporaneidade, em especial, pelas diretrizes dos Meios de comunicação.

No entanto, o sujeito belo em muitas épocas — inclusive na atual — não

existiu sozinho. Ele coabitou e coabita com aquele que hoje aterroriza a todos os

sujeitos pós­modernos, o feio. Ser feio é estar à sombra, é ser visto e caracterizado

como antítese do belo. O feio é algo que está em desarmonia, anômalo, estranho

em relação aos parâmetros de seu tempo e de sua cultura. Ao feio falta algo que ele

deve buscar reparar, consertar. Portanto, devemos fazer e investir o quanto

pudermos para adquirir/modelar o corpo perfeito.

Nesse contexto, o chamado culto ao corpo ou à “cultura do corpo” —

destacado por Freire Costa (2005) como o fato de o corpo “[...] ter­se tornado um

referente privilegiado para a construção das identidades pessoais” (p.203) — atribui

ao físico “[...] a regra científica que aprova ou condena outras aspirações à

felicidade” (FREIRE COSTA, 2005, p.190).

O que podemos observar nas manchetes que apresento nesta seção é que a

sociedade do espetáculo dá visibilidade a um estilo específico de vida. Segundo

Sarlo (2006), “somos livremente sonhados pelas capas de revistas, pelos cartazes,

pela publicidade, pela moda: cada um de nós encontra um fio que promete conduzir

a algo profundamente pessoal, nessa trama tecida com desejos absolutamente

comuns” (p.25). Desse modo, a forma como os meios de comunicação passam a

descrever e nomear o corpo — gordo, magro, baixo, imperfeito, inadequado... —

passa a balizar os critérios de avaliação de nossos corpos e a impulsionar alterações

corporais, para dar conta do corpo evidenciado pela mídia e, conseqüentemente,

desejado pelos sujeitos. “A vida desejada tende a ser a vida ‘vista na TV’”

(BAUMAN, 2001, p. 99) nas revistas e, no caso da menina Sarah — mencionada no

segundo capítulo — especificamente, nos desenhos animados.

Assim sendo, a sociedade do espetáculo “[...] reordena o mundo como um

desfile de imagens que determina o que merece atenção ou admiração” (FREIRE

COSTA, 2005, p. 228). Imagens que a massa de sujeitos passa a admirar e a querer

imitar, uma vez que “possuir um corpo como o dos bem­sucedidos é a maneira que

85

a maioria encontrou de aceder imaginariamente a uma condição social da qual está

definitivamente excluída, salvo raríssimas exceções” (FREIRE COSTA, 2005, p.166).

À medida que compreendemos que o corpo passa a ser um referencial da

identidade dos sujeitos, passamos também a perceber a forte notoriedade que o

mesmo vem recebendo nos meios de comunicação, ao longo dos anos. Entretanto,

essa é uma exibição despreocupada com as particularidades dos sujeitos. Uma

exibição que não leva em consideração os diferentes biótipos e que mobiliza

milhares de pessoas na incansável luta pelo alcance do “corpo ideal”. Uma corrida

que não tem fim, que não acaba e que faz parte de um mundo efêmero, frívolo,

obsoleto e consumista.

Nas palavras de Freire Costa (2005):

O corpo da publicidade, entretanto, não se dirige diretamente a nenhum de nós ou considera as peculiaridades de nossas histórias de vidas, ao provocar o nosso desejo de imitá­lo. A moda, em sua neutralidade moral e constante mudança, não nos acusa, nem elogia, apenas se apresenta como um ideal que devemos perseguir, sem consideração pelas conseqüências físico­emocionais que venhamos a sofrer. [...] Tudo o que resta é correr atrás, sempre em atraso e de forma angustiante, do corpo da moda. Até, é claro, chegar a velhice e sermos convencidos a assumir uma outra bioidentidade, a da terceira idade, última tentativa bioascética de permanecer jovem, vital, por dentro da moda. (p.197)

O Império da Moda

Clover: O espírito do Natal? Hello! Yves Mont Blanc tá fora de moda! Olha esse novo George

Vivaldi, saído das passarelas européias! 46

Clover — uma das personagens principais da série de desenho animado Três Espiãs Demais — nos dá muitas pistas sobre como a moda vem atuando no dia­a­

dia dos jovens meninos e meninas contemporâneos. No episódio Natal do Mal, por exemplo, Clover faz, durante todo o episódio, o possível e o impossível para adquirir

a bota da marca Yves Mont Blanc. Contudo, ao consegui­la, no final do episódio, faz a “caridade” de doá­la a Mandy, sua rival. Todo esse espírito solidário é

46 Episódio Natal do Mal.

86

desmascarado quando Clover afirma que a bota — a mesma pela qual fez loucuras

— já não faz parte do efêmero mundo da última moda.

Esse mundo nos faz constantemente consumir objetos, aparências e

relacionamentos de forma frívola e instantânea, porque para parecer espetacular, o

sujeito precisa transitar nas regras da sociedade da mídia, do consumo e do

espetáculo.

Entretanto, a moda, conceito tão comum e corriqueiro nos dias de hoje, nem

sempre esteve presente em nossa sociedade. Durante dezenas de milênios, homens

e mulheres das sociedades primitivas primavam pela manutenção das tradições.

Centrados na reprodução e no respeito ao passado, reproduziam e mantinham

antigas aparências e valores. Viver e dar continuidade às coisas do passado

associava os sujeitos a conceitos de qualificação, atributos essenciais em outros

tempos.

Segundo Lipovetsky (2006), “só a partir do final da Idade Média é possível

reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas

metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias”. (p.23)

É no reino do efêmero, do gosto pela novidade, das frivolidades em

movimento perpétuo que a moda se estabelece e cria raízes profundas. O que

podemos perceber é que

[...] enquanto nas eras de costume reinam o prestígio da antigüidade e a imitação dos ancestrais, nas eras da moda dominam o culto das novidades assim como a imitação dos modelos presentes e estrangeiros — prefere­ se ter semelhança com os inovadores contemporâneos do que com os antepassados. (p.33)

É somente com a instituição do instantâneo, do efêmero e do obsoleto que a

moda passa a fazer parte da vida dos sujeitos e a ditar algumas das regras

importantes do consumo, já que, “durante a mais longa parte da história da

humanidade, as sociedades funcionaram sem conhecer os movimentados jogos das

frivolidades” (LIPOVETSKY, 2006, p.27).

Baseada na esfera do parecer, a moda ganha forças a partir da atribuição de

significados aos objetos. Além dos fatos sociais, são os valores, os sistemas de

significação, que vão dar à moda a importância que hoje ela tem (LIPOVETSKY,

2006). Desse modo, ter a bota da marca que está, neste momento, imediatamente,

87

na moda dá a Clover uma gama de significados aos quais ela quer se associar e

pelos quais faria qualquer coisa para adquirir.

No entanto, faz­se necessário evidenciar que a moda almejada pela

personagem faz parte de uma moda que, como todas as modas, é um fenômeno

sócio­histórico e contingente. Dizendo de outro modo, os significados por ela

incorporados fazem parte de um registro espaço­temporal que talvez não mais

permaneçam daqui a instantes.

A moda, hoje, abre mão da “lógica imutável da tradição” (LIPOVETSKY, 2006,

p.33) e se baseia em duas lógicas: “a do efêmero e a da fantasia estética”

(LIPOVETSKY, 2006, p.35). Ou seja, é na depreciação do antigo, na dignificação do

novo e na constituição de significados, que a moda, cada vez mais, interpela e

mobiliza os sujeitos a buscar e a adquirir sempre o que é estética e

significativamente atual.

A moda, apesar de ter suas origens no vestuário, hoje não mais a ele se

restringe. Hoje ela é vista como “[...] uma prática dos prazeres, é prazer de agradar,

de surpreender, de ofuscar. Prazer ocasionado pelo estímulo da mudança, a

metamorfose das formas, de si e dos outros” (LIPOVETSKY, 2006, p.62). Vivemos

no mundo das oportunidades, mobilizados pela cultura do efêmero, seduzidos pela

sociedade do espetáculo e obcecados pela busca do prazer.

88

CAPÍTULO 5 ESPREITANDO AS JOVENS MENINAS ESPIÃS DEMAIS

Os significados não correspondem a uma qualidade essencial do objeto que temos que

desvelar; a essência das coisas nada mais é do que uma invenção humana, instituída nas trocas e

negociações de sentido que estabelecemos intersubjetivamente. (BUJES 2005, p. 186)

O presente capítulo segue na esteira da concepção de que aquilo que se

toma como a essência das coisas nada mais é do que um construto social. Uma

construção contingente e histórica que se propaga através da sociedade do

espetáculo compatível com a efemeridade da cultura contemporânea.

Embasada nessa lógica e inspiradas nos referenciais teóricos que

fundamentam esta pesquisa, apresento a seguir algumas inferências das análises

realizadas de dezesseis episódios da série de desenho animado Três Espiãs Demais, selecionados para o estudo. Essas análises procuram colocar em evidência um conjunto de significados atribuídos às subjetividades das jovens meninas

contemporâneas no desenho animado.

Três garotas espertas, corajosas, belas, encantadoras, namoradeiras,

consumistas... e, ao mesmo tempo, estudantes prosaicas e heroínas espetaculares

protagonizam a série. É importante destacar que tais atributos, segundo Ellsworth

(2001), servem como um tipo de estratégia dos modos de endereçamento, que

buscam aproximar os telespectadores da trama e dos personagens da programação,

para que os sujeitos se sintam identificados e representados nas imagens

oferecidas. E talvez seja esta mistura entre o heroísmo da missão (complementado

89

por “apetrechos” e “dispositivos” fascinantes) e o prosaísmo do cotidiano (casa,

escola, amizades, amores...) um dos atributos do enredo narrativo que capturam e

enredam muitas crianças, jovens e adultos, e que asseguram a grande audiência e o

sucesso do desenho.

O que tentarei mostrar é que as narrativas da série de desenho animado Três Espiãs Demais elegem significados que são atribuídos à juventude feminina, criando sentidos e inventando os sujeitos sociais. No entanto, eles não são impositivos e

coercitivos. Sua relação com os telespectadores faz­se de forma prazerosa. O que

vemos, na telinha, são constantes ensinamentos sobre o mundo, sobre formas de

nele viver, divertir­se e conduzir­se, de interpretá­lo e compreendê­lo.

Tendo como pressuposto que a linguagem organiza, nomeia e categoriza

nossas vidas e que “o hábito de falar sobre alguma coisa de uma determinada

maneira torna­se imediatamente o hábito de pensar sobre isso de determinada

forma” (MORAES, 2002 p. 39), pretendo colocar em evidência como as jovens

meninas são pensadas e narradas, no desenho animado selecionado para o estudo,

em relação às questões do consumo.

Assim sendo, o jeito de ser homem, mulher, menino, menina, vai se

articulando a partir da forma como esses sujeitos são narrados nas histórias

contadas nos episódios do desenho. “Cabe” à sociedade atribuir e “generificar” as

ações dos sujeitos desde a sua tenra idade (MORAES, 2002). Dizendo de outro

modo, desde o início de nossa existência passamos a ser interpelados, entre outras

coisas, pelas construções sociais acerca dos gêneros feminino e masculino.

Segundo Louro (1995):

Uma compreensão mais ampla de gênero exige que pensemos não somente que os sujeitos se fazem homem e mulher num processo continuado, dinâmico (portanto não dado e acabado no momento do nascimento, mas sim construído através de práticas sociais masculinizantes e feminizantes, em consonância com as diversas concepções de cada sociedade); como também nos leva a pensar que gênero é mais do que uma identidade aprendida, é uma categoria imersa nas instituições sociais (o que implica admitir que a justiça, a escola, a igreja, etc. são “generificadas”, ou seja, expressam as relações sociais de gênero). Em todas essas afirmações está presente, sem dúvida, a idéia de formação, socialização ou educação dos sujeitos. (p. 103)

Ou seja, os significados de como ser homem ou como ser mulher são o

resultado de diversos discursos oriundos de diferentes espaços sociais. “São os

90

textos circulantes no império cultural que estão nos inventando e fazendo de nós o

que somos” (COSTA, 2005b, p.211). Dentre os espaços que propagam

ensinamentos, podemos citar a televisão — no caso do presente estudo, o desenho

animado. Ela se constitui num artefato que, combinando basicamente histórias, sons

e imagens coloridas, proporciona a rápida aceitação das “verdades” transmitidas, a

acomodação perante fatos peculiares e a reprodução da “realidade” normalizada.

Assim sendo, o desenho tem ensinado um jeito de ser menina, um jeito de ser

mulher em nossa sociedade; lições que muitas de minhas alunas têm compreendido

com surpreendente facilidade.

O que parece é que os desenhos animados, juntamente com outras

programações e instituições, têm instruído e construído, no contexto social e a partir

de representações, o que faz parte e o que vem a ser o feminino e o masculino, pois:

[...] não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos. (LOURO, 1997, p.21)

Pelas regularidades apresentadas nos episódios analisados, podemos

perceber, nas narrativas do desenho animado Três Espiãs Demais, a presença de

uma juventude feminina deslumbrada e excessivamente preocupada com o

consumo de objetos, com a aparência externa de seus corpos e com

relacionamentos com o sexo oposto.

Missões

O dicionário Borba (2002), define missão como:

1. Realização de um compromisso assumido perante outra pessoa; encargo [...] 2. realização de uma obrigação moral; dever a cumprir [...] 3. função especial que um governo confere a uma pessoa ou grupo de pessoas para tratar de determinado assunto [...] 4. pregação de missionário [...] 5. objetivo [...] 6. finalidade [...] 7. estabelecimento de missionários para a evangelização [...] 8. o conjunto de pessoas que recebem determinado encargo, comissão [...]. (p.1046)

91

A cada episódio, nossas heroínas — Sam, Alex e Clover — recebem de seu

chefe, Jerry, missões a realizar. O acompanhamento dos episódios proporcionou a

percepção de que o desenho Três Espiãs Demais apresenta a seguinte lógica: Jerry incumbe as espiãs de missões de caráter coletivo­mundial. Tais missões referem­se

à resolução de situações de emergência com repercussão mundial. Entretanto, o

acompanhamento dos episódios evidenciou um conjunto de missões, entrecruzadas

com as missões de caráter coletivo­mundial, postas pelas heroínas para si próprias

e/ou para o seu grupo próximo. Essas missões não são explicitamente enunciadas

no desenho, embora, no decorrer dos episódios perceba­se nitidamente a presença

de missões de caráter individual­grupal.

Com o intuito de melhor visualizar e organizar os dados coletados, em relação

às missões, optei por apresentá­las em tabelas. Inicio com as missões de caráter

individual­grupal, e depois passo às missões de caráter coletivo­mundial.

QUADRO 1 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de aparências

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL

CONSUMO DE APARÊNCIAS

Episódios Ações

Alienígenas Alex precisa aprender a dirigir

Dor de dente Acabar com a dor de dente de Alex

A Ilha WOOHP Estarem belas para o piquenique da WOOHP

Vencer o concurso de beleza do salão Mega­Mani Mania Mania de Manicure

Fazer as unhas no salão Mega­Mani Mania

Cidadãs Modelo Clover precisa vencer um concurso de beleza

Nasce uma espiã Sam precisa conseguir conviver com a fama

Garotas do Vale do Silício

Respeitar as regras de etiqueta

A promoção do mal (Parte 1)

Alex deve fazer a dieta do coelho

92

QUADRO 2 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de objetos

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL

CONSUMO DE OBJETOS

Episódios Ações

Conseguir a bolsa da Mute Dor de dente

Descobrir o motivo da pobreza de Mandy

Natal do Mal Conseguir a bota da Yves Mont Blanc

Lei da Gravidade Escolher quem fica com o melhor e maior quarto da casa, que as espiãs acabaram de ganhar de seus pais

Biscoitos da Paixão Conseguir um chapéu tamanho M para Clover

QUADRO 3 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de relacionamentos

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL

CONSUMO DE RELACIONAMENTOS

Episódios Ações

Encolhe­encolhe Sair com um gatinho lindo

Encolheu a cabeça Sam precisa conquistar um belo garoto, jovem e intelectual

A promoção do mal (Parte 1)

Salvar o belo espião Jean

As garotas dos Games

Alex quer conhecer o jovem Troy, apresentador de televisão por quem está apaixonada

Verdade no susto Descobrir quem é a melhor amiga de Alex

É o jeito como se joga

Ser escolhida por David — o “gato” disputado pelas três espiãs

Estabelecendo um cruzamento entre os diferentes direcionamentos das

missões pessoais — emergências privadas que devem ser resolvidas a qualquer

93

preço — podemos perceber que as necessidades das jovens meninas,

freqüentemente, transitam entre os três focos selecionados para esta pesquisa:

consumo de objetos, consumo de aparências e consumo de relacionamentos.

Ao apreciarmos os quadros é possível perceber que os critérios de relevância

das jovens meninas balizam­se por uma busca incansável por fama, sucesso e

reconhecimento social. Seus desafios individuais são supérfluos, individualistas e

têm por objetivo o alcance de banalidades. Não se evidenciam, nos episódios

analisados, problemas ou interesses que se distanciem da preocupação com a

aparência na sociedade do espetáculo, com o status social ou com os

relacionamentos afetivos.

Segundo Lipovetsky (2005), hoje nós vivemos a era do pós­dever. Uma

sociedade que se distancia de preceitos superiores e volta­se “à satisfação das

aspirações imediatas, à paixão pelo ego, à felicidade intimista e materialista” (p.

XXIX). De acordo com o autor, “nossas sociedades tornaram inúteis todos os valores

inerentes ao sacrifício, sejam eles relacionados à aspiração da vida eterna ou a

finalidades profanas” (p. XXIX). Com o declínio da fé na Divina Providência, a

descrença no Estado, o indivíduo passa a se tornar o mais importante referencial da

cultura democrática. Assim sendo, na sociedade pós­moralista os direitos subjetivos

fazem cair em desuso o sentido crucial do dever. “A fórmula ‘é preciso fazer...’ cedeu

lugar ao fascínio da felicidade; a obrigação peremptória, à excitação dos sentidos; a

proibição irretorquível, à liberdade de escolha” (p.25­26). O que parece é que “A

fruição do momento presente, o culto de si próprio, a exaltação do corpo e do

conforto passaram a ser a nova Jerusalém dos tempos pós­moralistas” (p.29).

Impregnadas dessa lógica pós­moralistas, as jovens espiãs buscam a

“felicidade acima de tudo!” (LIPOVETSKY, 2005, p.31), suas atenções estão

centradas na realização pessoal. Conforme Lipovetsky (2005) “A época da felicidade

narcisista não se equipara à da máxima ‘é proibido proibir’, mas sim a uma ‘moral

sem obrigações nem sanções’” (p.36).

Nesse contexto social, as missões de caráter individual­grupal — de grande

importância para Sam, Alex e Clover — muitas vezes são colocadas num patamar

equivalente ou superior às missões de caráter coletivo­mundial. Constatação que se

evidencia, por exemplo, em episódios como Lei da Gravidade. Nele, Sam, Alex e Clover ganham de seus pais uma linda, grande e encantadora casa. A casa é

94

perfeita, porém há um “grande” problema a ser resolvido — Quem ficará com o

quarto maior? Em casa, as jovens disputam o cômodo através de sorteio. Clover

trapaceia e as amigas descobrem. Na escola, as espiãs conversam sobre a missão

de caráter coletivo­mundial conferida por Jerry. Entretanto, Clover protesta:

Clover: Como você consegue pensar na missão com uma crise como essa rolando?

A crise a que se refere é a da distribuição dos cômodos da casa. Existe crise

maior do que disputar o melhor quarto da casa? Enfim, ter o melhor cômodo daria à

Clover a oportunidade e o espaço adequado para guardar suas roupas. À Sam

ofereceria espaço para guardar seus livros e estudar. E, para Alex, significaria um

espaço perfeito para treinar seu taekwondo.

Durante a conversa na lanchonete da escola, as espiãs são sugadas por Jerry

para um avião, com a finalidade de receber mais pistas sobre a missão de caráter

coletivo­mundial. Clover fica furiosa.

Clover: Jerry! Jerry: Acredito que não estavam no meio de nada urgente. Clover: Não! Só a decisão mais importante das nossas vidas!

Seguindo a lógica consumista e narcisista, Clover tem uma preocupação

maior a resolver, seus interesses pessoais. Baseada nas coordenadas da felicidade

e da auto­realização, do fascínio e do relacional, Clover vive na cultura do self­love (LIPOVETSKY, 2005).

Assim sendo, seus interesses podem se resumir a fazer as unhas no salão de

beleza Mega­Mani Mania. No episódio Mania de Manicure, Clover, Sam e Alex precisam fazer as unhas. As garotas escolhem o salão mais badalado do momento

— Mega­Mani Mania. Isso porque se trata de um centro estético altamente

avançado, todo computadorizado; não existem manicures, somente máquinas e

robôs. Entretanto, as jovens só poderão ser atendidas dali a seis meses, pois a

agenda do salão de beleza está lotada. Clover fica inconsolável, e passa boa parte

do episódio procurando encontrar uma forma de poder cuidar de suas unhas

naquele estabelecimento.

Clover: Ah! Dã! Eu vou dar um jeito de arrumar um horário nesse salão cricri. Nem que eu morra!

95

Em seguida, Jerry as incumbe de uma missão de caráter coletivo­mundial. As

espiãs devem descobrir o que está acontecendo com garotas que estão

desaparecendo. As pistas levam as jovens meninas a um salão de beleza

depredado.

Sam: Só tem um jeito de descobrir. Vamos ver o que tem aí por dentro desse salão de manicure. E eu falei dentro mesmo. (Alex corta o vidro, com um apetrecho, retira a maçaneta e abre a porta). Clover: Bom trabalho, Alex! Tá ficando boa nessa coisa de quebra e entra. Alex: Brigada! Ah! Eu acho. (As espiãs entram no salão que, por sua configuração antiga, passa a ser por elas denominado de “museu”. Clover pára ao ver um telefone). Sam: Você vem? Clover: Vô. Espera só um pouquinho. (Clover testa o telefone. Ele tem linha. Em seguida, disca para alguém. A recepcionista da Mega­Mani Mania atende). Recepcionista: Mega­Mani Mania, posso ajudar em alguma coisa? Clover: Ah! Oi! Meu nome é (Clover muda de voz) Duquesa de Likfild do Sul. Eu só vou ficar na cidade um dia, deveres na embaixada, e eu preciso, urgentemente, fazer as unhas. Eu não aceito não como resposta. (Nesse instante, a tela se divide ao meio. Metade da cena mostra Clover ao telefone e a outra metade mostra uma jovem, morena, fazendo a unha, a recepcionista ao fundo). Recepcionista: Me desculpe pela confusão duquesa, mas a senhora já não está aqui? (Os olhos de Clover se transformam em dois octógonos azuis. Sua boca fica aberta, se assemelhando a de um boneco ventríloquo). Clover: Ah! É claro! Continuem assim. (Clover desliga o telefone). Clover: Droga! Eu tentei enganar ela! (Sam aparece furiosa). Sam: Esquece a unha e concentra, Clover! Clover: Desculpa!

Nesse episódio podemos perceber uma dessensibilização da jovem espiã

perante questões éticas, pois em meio a escombros — durante a resolução de uma

missão de caráter coletivo­mundial — Clover engana suas amigas e tenta também

enganar a recepcionista do salão, para conseguir fazer as unhas. É a beleza a

qualquer custo. Não há escrúpulos para se obter um corpo­espetacular, uma

aparência irretocável, já que, “de modo geral, ou ‘se é um corpo­espetacular’ ou ‘se

é um João ou Maria Ninguém’” (FREIRE COSTA, 2005, p.231).

No quadro a seguir podemos observar as missões de caráter coletivo­

mundial, recebidas pelas três espiãs nos episódios analisados.

96

QUADRO 4 — Missões de Caráter coletivo —mundial

MISSÕES DE CARÁTER COLETIVO­MUNDIAL

Episódios Ações

Alienígenas Salvar as pessoas capturadas por alienígenas

Dor de dente Encontrar pessoas importantes desaparecidas (presidente, atriz, patinadora famosa)

Encolhe­encolhe Encontrar os marcos históricos que estão sendo roubados

Encolheu a cabeça Descobrir quem está transformando pessoas inteligentes em primatas e fazê­las voltar ao “normal”

A promoção do mal ( Parte 1)

Passar por testes para serem promovidas ao time de elite dos agentes

A Ilha WOOHP Salvar a espiã Britney

As garotas dos games

Descobrir o paradeiro de pessoas famosas que estão misteriosamente desaparecendo

Garotas do Vale do Silício

Descobrir o que está acontecendo com dispositivos computadorizados que estão atacando e castigando algumas pessoas. (professor de ginástica, diretora de uma escola e atleta)

Lei da gravidade Descobrir o que está acontecendo com na Organização Espacial Internacional

Cidadãs modelo Descobrir o que aconteceu com doze modelos seqüestradas

Conter G.L.A.D.I.S. que está ativando mísseis para destruir o mundo Natal do Mal Ajudar Jerry com a festa de Natal da WOOHP

Nasce uma espiã Descobrir o paradeiro de astros de Hollywood que foram raptados

Verdade no susto Descobrir quem tentou raptar o cantor Jackson John

É o jeito como se joga

Descobrir por que o país Zanzibar está dominando as Olimpíadas de Inverno

Mania de manicure

Descobrir o paradeiro de jovens adolescentes que estão desaparecendo

97

Biscoitos da Paixão

Descobrir por que as pessoas estão disputando entre si para adquirir os Biscoitos da Paixão

Em suas tarefas de agentes especiais, Sam, Alex e Clover trabalham para o

Centro de Serviços Secretos da Organização Mundial de Proteção Humana

(WOOHP).

Dentre as dezesseis missões de caráter coletivo­mundial instruídas pela

WOOHP, delegadas na pessoa de Jerry, cinco referem­se à salvação de

celebridades, como cantores, atores, políticos e modelos. O que parece é que o

desenho dedica especial atenção àqueles que estão em evidência na sociedade do

espetáculo e faz referência direta a questões ligadas à fama, ao sucesso e à

riqueza. A pobreza, a injustiça, o sofrimento não são focalizados. Aliás, nem ao

menos pensados, nos episódios analisados. Os bem­sucedidos ocupam

permanentemente o centro das missões de salvação.

Mesmo tratando­se de uma Organização Mundial de Proteção Humana, a

WOOHP segue a lógica contextual das jovens espiãs e centra suas missões

predominantemente em premissas frívolas, superficiais, efêmeras e, certas vezes,

narcisistas. É possível constatar que muitas das missões partem de causas

particulares e de pessoas exclusivas.

Conforme Lipovetsky (2005), “os fins morais superiores foram equiparados a

ideais supra­individuais” (p.173). Hoje assistimos à preponderância dos direitos

individuais sobre as causas coletivas.

A era pós­moralista identifica­se com o despojamento das responsabilidades morais em face da coletividade e com uma revalorização social da esfera estritamente interindividual da via ética, desde que esta venha amputada de sua conotação imperativa. (174)

Nesse contexto, nenhum dos vilões pretende destruir o planeta ou transformá­

lo em um habitat para outros seres. Os vilões, como em muitas outras narrativas, são sujeitos que procuram se vingar de algo ou de alguém específico. No entanto, a

grande mola propulsora para o mal, no desenho em estudo, é a vingança contra

pessoas que tolheram a possibilidade do sujeito­vilão de entrar ou de continuar em

meio à fama e ao sucesso. Um bom exemplo encontra­se no episódio Dor de Dente, no qual o vilão era dentista das estrelas, mas sua licença foi caçada depois que o

98

presidente do país onde ele mora deixou o branqueador, que ele criou, tempo

demais em sua boca. Como o presidente não seguiu suas instruções, o produto

corroeu seus dentes. Para se vingar, o dentista queria destruir os dentes das

pessoas. Ou seja, não poder fazer parte da sociedade do espetáculo faz com que os

sujeitos se vinguem dos demais, tentando impedi­los de também o fazer.

Consumo de Aparências

Conforme Alvarenga e Dal’Igna (2004), o corpo é:

como um lócus de inscrição de identidade e diferença que produz sujeitos de uma cultura. Por isso, afirmamos que o corpo é história. Nele se inscrevem muitas marcas sexuais, com e através de práticas afetivas, políticas, esportivas, estéticas, dentre outras [...] Ele foi (e é) falado, invadido, investigado, ressignificado. (p. 66)

É a forma de inscrever e descrever o corpo das jovens meninas, na série de

desenho animado Três Espiãs Demais, que pretendo evidenciar nesta seção. Uma forma específica que, segundo análises, coloca­se como imprescindível para o

alcance da felicidade.

Conforme venho discutindo, jovens divertidas e bem­humoradas, as espiãs

Alex, Sam e Clover, enfrentam e solucionam muitos e variados problemas, que

abrangem desde a seleção de roupas fashion para um encontro (episódio Encolhe­ encolhe), o cuidado com as unhas (episódio Mania de Manicure), a aquisição de acessórios da moda (episódios Natal do Mal, Dor de dente), até a solução das difíceis missões indicadas por Jerry.

Conter mísseis que podem destruir o mundo ou cuidar para não estragar a

“chapinha” recém feita são, para nossas heroínas, missões distintas, porém de

equivalente importância.

Nos episódios analisados, as meninas­heroínas — Sam, Clover e Alex — são

reincidentemente representadas como jovens com excessiva preocupação em

relação à sua aparência, passando por muitos desafios para estarem apresentáveis.

A preocupação permanente com a aparência se estende às demais personagens

coadjuvantes da trama, com quem estabelecem constantes comparações.

99

Dentre os dezesseis episódios analisados, nove apresentam questões

referentes ao que denomino consumo de aparências. Ser a mais popular da escola

(episódio Nasce uma espiã), vencer concursos de beleza (episódios Mania de manicure e Cidadãs modelo), obedecer a regras de etiqueta (episódio Garotas do Vale do Silício), aprender a dirigir (episódio Alienígenas), escolher a roupa certa para um encontro (episódio Encolhe­encolhe) ou usar produtos para ficar bela (episódio A Ilha WOOHP) são alguns dos exemplos de situações nas quais os problemas são resolvidos em função da lógica do mundo da moda — obsolescência, sedução e

diversificação (LIPOVETSKY, 2006).

No episódio Encolhe­Encolhe, por exemplo, Clover precisa escolher a roupa que usará no encontro com Jason, um “gatinho” que conheceu na praia.

(Enviadas por Jerry para a Índia, as jovens espiãs têm de descobrir o que está encolhendo marcos históricos em todo o mundo. Chegando ao Taj Mahal, Sam exclama:) Sam: É incrível! Alex: É melhor do que algumas casas que tem em Beverly Hills. (Enquanto as jovens conversam, Clover aparece exausta, num segundo plano, sentada em cima de suas malas). Sam: Eu não entendo por que você teve de trazer todas as suas roupas? Clover: Crise de moda. Eu tenho que escolher o que usar no meu encontro. Regra número um num encontro: sua roupa é tudo. Espera! Essa não é a regra de número um na vida? (Na China, as espiãs tentam evitar a captura da Grande Muralha da China. Clover aparece mexendo em sua mala). Clover: Ninguém vai me ajudar a arrumar uma roupa pro meu encontro, não é?

Segundo a narrativa do desenho, a regra número um de um encontro e até

mesmo da vida de uma jovem é: “sua roupa é tudo”. “Como disse Debord, o dilema

moral da contemporaneidade não é mais o da escolha entre ‘ser’ e ‘ter’, porém o da

escolha entre ‘ser’ e ‘parecer’“ (FREIRE COSTA, 2005, p.231). Assim, o parecer

passa a atribuir ao sujeito uma gama de significados, na qual as roupas constituem­

se em signos decodificados de acordo com a cultura. Nesse sentido, o ato de

escolher a roupa faz­se demasiado complexo, e a espiã demais, Clover,

compreende que, na sociedade do espetáculo, ela confere significados e contribui

para a constituição e valorização de sua identidade. A grande dúvida é a quais

significados a personagem quer se associar. “A questão central do comprismo não é

saber se os objetos distorcem ou não a vida emocional, mas como participam na

100

gestação, manutenção e reprodução de nossos ideais de eu” (FREIRE COSTA,

2005, p.163).

Em outro episódio da série, Sam, preocupada em impressionar um jovem

menino, afirma para as colegas que a convidam para ir à Feira do Glamour:

Sam: Eu não vou mais aparecer em público até estar apresentável! 47

Estar apresentável, no contexto do desenho animado em estudo, denota um

tipo de postura perante o corpo, postura que transcende o ato de vestir­se de acordo

com a ditadura da moda e preocupar­se com a beleza e a imagem, mantendo­se em

forma e maquiada. Estar apresentável denota uma nova forma de viver assegurada

em bases consumistas, efêmeras e frívolas. Estar apresentável significa quase uma

obsessão por enquadrar­se em padrões repletos de minúcias efêmeras.

Para Sarlo (2006): “O desejo, não tendo encontrado um só objeto que o

satisfaça nem ao menos transitoriamente, encontrou na construção de objetos a

partir do próprio corpo o non plus ultra onde se reúnem dois mitos: beleza e

juventude” (p. 31).

É na linha da representação de corpos belos, jovens, saudáveis, que se

inscrevem as narrativas das Três Espiãs Demais, capturadas pela incansável busca de fazer parte de uma identidade (re)construída pelos “segmentos econômicos”.

Conforme Meyer & Soares (2004):

Nosso tempo é, também, um tempo em que importantes segmentos econômicos se sustentam fabricando e vendendo representações de determinados corpos, definidos como “bonitos e saudáveis”: a mídia, a indústria do vestuário e da moda, as indústrias de cosméticos, farmacológica, nutricional e esportiva, a medicina estética, para ficar nos exemplos mais óbvios. (p.8)

Os segmentos econômicos, juntamente com os meios de comunicação,

narram, (re)criam, inventam, testam e reforçam um tipo “aceitável” de ser. Com uma

lista prescritiva de afazeres engendram sobre a subjetividade dos sujeitos um jeito

imaginável de viver. “Os indivíduos, além de serem levados a ver o mundo com as

lentes do espetáculo, são incentivados a se tornar um de seus participantes pela

imitação do estilo de vida dos personagens da moda” (FREIRE COSTA, 2005,

p.230). As três espiãs fazem parte deste universo criador de identidades, e na

47 Episódio Encolheu a cabeça.

101

análise dos episódios podemos perceber as possíveis formas de conviver no mundo

das jovens meninas.

No episódio Biscoitos da Paixão, encontramos uma expressiva caracterização do que se constitui como beleza e saúde no contexto do desenho, reforçando a idéia

já articulada no episódio Cidadãs Modelo, como referi no segundo capítulo. O episódio inicia com Alex, Clover e Sam apreciando lojas no shopping, em busca de algo que ainda não haviam comprado. Clover identifica na vitrine um chapéu que viu

em uma revista e que pretende adquirir. O impasse a seguir surge da dificuldade da

personagem em aceitar que para a sua cabeça o tamanho ideal é G, ou seja,

grande. A jovem despreza e recusa o tamanho do chapéu, afirmando que nunca em

sua vida usará alguma coisa do tamanho grande, pois “o corpo tem que aceitar a

fantasia porque esta é mais importante do que ele [...]” (SARLO, 2006, p.34). É claro,

objetivo e compreensível nos dias atuais o discurso impresso nesse fragmento inicial

de história: ser do tamanho grande é algo inaceitável, pois alude à obesidade, algo

insuportável e inadmissível para quem vive em sociedades regidas pelo dispositivo

da magreza (MARTINS, 2006).

Dando continuidade ao episódio, as espiãs são transferidas para a agência

WOOHP, onde mais uma missão de caráter coletivo­mundial as espera. Desta vez, o

grande caso a solucionar é o desejo incontrolável de comer que acomete as

pessoas após engolir um biscoito especial, cuja conseqüência é engordar

exageradamente. As heroínas têm, então, que desvendar quem está por trás do

caso e acabar com esta vilã dos últimos tempos — a gordura. Destacando o quanto

o ato de comer é contrário ao bem­estar, as personagens do mal, contrapondo­se à

beleza e à imagem delgada das demais, são gordas e fortes e suas armas de fogo

jogam biscoitos que podem engordar até explodir, o que aponta para um encaixe

entre a narrativa do desenho e o discurso contemporâneo que vem exacerbando as

preocupações relativas ao corpo gordo. Tal como alertam Martins e Costa (2006, p.

7), quando afirmam que “a fronteira entre alguns quilos a mais e obesidade vêm se

diluindo, originando um controle normativo, no qual o corpo magro representa um

aperfeiçoamento, uma evolução”.

Durante todo o episódio as espiãs estão empenhadas em eliminar a “maligna

gordura”. Percebe­se, nesses vinte minutos de trama, um discurso “anorexista”

representando e descrevendo o gordo como evidência material do que venha a ser o

102

mal e o “anormal”. Contudo, ao final do episódio, Clover, contradizendo as

“verdades” proferidas, aceita o chapéu de tamanho G e afirma que: “O que vale é ser

feliz. Não importa o tamanho”. Vemos aqui a pedagogia da mídia fazendo suas

prescrições e demonstrando como ser gordo faz mal aos sujeitos, tanto no que se

refere à saúde, quanto no que diz respeito à beleza do corpo em evidência. Indo

além, podemos dizer que a narrativa do desenho pressupõe que ser gordo não é

aceitável, não faz parte da juventude bela que “todas” as jovens meninas almejam, e

aceitar isso significa resignação, abdicação de certas pretensões e possibilidades.

O que se percebe na contemporaneidade, e a narrativa do desenho reafirma,

é que “são centenas de milhares de indivíduos correndo às tontas atrás de uma

miragem corporal idolatrada às expensas de tudo mais, e, o que é pior, fabricada

para ser desmontada em pouco tempo” (FREIRE COSTA, 2005, p. 231).

Embrenhadas na sociedade pós­moderna e seduzidas pelos discursos acerca do

corpo e da moda, as espiãs fazem de tudo para estarem de acordo com padrões

estabelecidos de beleza e, portanto, serem aceitáveis e perfeitamente consoantes

com as exigências de seu grupo social.

O episódio Verdade no Susto apresenta um ponto de referência para que as garotas e os garotos telespectadores saibam onde encontrar as dicas “certas” para

ter o corpo perfeito — as revistas.

(Sam e Alex aparecem sentadas, comendo sorvete, na lanchonete da escola. Clover vem se aproximando, com uma revista em suas mãos). Clover: Tá aqui meninas! A edição especial da Cochicho 48 ! (Alex pega a revista das mãos de Clover e abre­a). Alex: Nossa! Uma entrevista na íntegra com a supermodelo Gisela! Tomara que seja legal! (Sam se aproxima de Alex para olhar a revista também). Sam: Ela diz que o segredo de sua longa silhueta é comer (A imagem foca a revista com duas fotos de Gisela) somente comidas longas e fininhas, tipo espaguete. (Alex aparece com uma colher cheia de sorvete). Alex: Hum! Eu deveria ter pedido um sorvete tipo picolé, ao invés de bola. Clover: Viu! Informação que a gente vai usar! É o que eu chamo de jornalismo investigativo.

De acordo com o desenho, as revistas são um ótimo lugar para encontrarmos

as dicas sobre como cuidar do nosso corpo. Segundo Clover, “Informação que a

48 Alusão a revistas do tipo Capricho, Atrevida etc que circulam no Brasil para o público adolescente feminino.

103

gente vai usar!”. A personagem classifica­as como jornalismo investigativo 49 , pois as

revistas apresentam informações não disponíveis facilmente para o público. São

reportagens que exigem maior precisão na apuração das informações; não bastam

apenas declarações, é preciso confrontar documentos, o que exige um treinamento

e uma qualificação diferenciada do jornalista. Assim sendo, através da afirmação

que finaliza o excerto, a personagem acaba por validar a dieta da modelo Gisela,

apresentando a entrevista como uma reportagem precisa e verossímil.

A revista também é apresentada como manual de manutenção do corpo, no

episódio A promoção do mal (Parte 1), episódio em que Alex passa a seguir à risca a dieta do coelho.

Alex: Ninguém entrou aqui. Eu troquei tudo na casa por produtos derivados de cenoura (Uma gota pinga dos cabelos de Sam e Clover) Eu tô fazendo a dieta do coelho! (Várias cenouras preenchem o fundo da tela. Alex segura uma revista com a dieta do coelho). Sam: Dieta do coelho? Isso significa que você só vai comer cenoura? (Clover mostra sua escova de dente). Clover: Correção! Ela vai fazer a gente só comer cenoura! (Alex folheia a revista com a dieta. O fundo volta a ficar coberto de cenouras). Alex: É a nova mania de Beverly Hills. Sabia que uma cenoura te dá energia pra andar uns quatro quilômetros? Pode acreditar! Cenoura é o melhor legume que tem. Quem é gente, come. Clover: Pode esquecer! Se não forem feitas de diamante, eu não gosto de cenoura! Alex: Mas cenouras são ótimas! Elas melhoram sua vista (Alex coloca as mãos nos olhos, agora, grandes), te dão mais capacidade pra pular (Ao lado de Alex, aparece uma nuvem com Alex vestida de coelho, pulando) e ainda curam piolho. (Alex aponta o cabelo com os dois indicadores).

Tais episódios me fizeram recordar do momento, já referido no capítulo

quatro, em que encontrei um estande com revistas repletas de informações acerca

de alterações necessárias para que os corpos fiquem à altura do que se espera

momentaneamente. O que parece é que as revistas reproduzem as “novas manias”,

que freqüentemente e repentinamente surgem, interpelam os sujeitos, e acabam,

juntamente com outros artefatos, enredando­os e engajando­os em processos de

subjetivação. Aos sujeitos, “tudo que resta é correr atrás, sempre em atraso e de

forma angustiante, do corpo da moda” (FREIRE COSTA, 2005 p. 197).

49 Pinheiro (2007); Coelho Sobrinho (2007), cf. ref. biblio.

104

De acordo com a narrativa do desenho, o que aparece nas revistas, o que a

tevê mostra, o que surge nas passarelas, coloniza o desejo dos sujeitos e passa a

ser o objeto máximo de ambição e de preocupação das jovens garotas de Beverly Hills. Enfim, “toda a cultura mass­midiática tornou­se uma formidável máquina comandada pela lei da renovação acelerada, do sucesso do efêmero, da sedução,

da diferença marginal” (LIPOVETSKY, 2006, p.205).

Contudo, a beleza apresentada pelo desenho vai além das questões

corporais, e coloca em foco ações que tornam as meninas mais belas e atraentes,

instituindo não só a forma de cuidar do corpo, mas também quais atitudes tomar

para ocupar um espaço notório na sociedade. Bom exemplo é o início do episódio Alienígenas, no qual Alex aparece tentando aprender a dirigir. Após muitas tentativas e a desistência de seu instrutor, a jovem se desespera e expõe um dos

grandes motivos que a levou a aprender a dirigir.

Alex: Mas eu tenho que passar! As garotas que dirigem são muito mais atraentes do que as que não dirigem!

A ação de aprender a dirigir não tem outra função senão a de pertencimento e

de sedução. É necessário aderir à sua imagem essa competência repleta de

significados social e culturalmente postos como desejáveis. A jovem precisa adquirir

uma habilidade que, segundo a narrativa do desenho, é imprescindível para que se

torne atraente, encaixando­se nos parâmetros definidos dentro de um outro

contexto.

O processo de se encaixar nos padrões definidos pelo grupo também é

tematizado e discutido no episódio Garotas do Vale do Silício, no qual as jovens espiãs aparecem em um tribunal de julgamento, na escola. Clover é a juíza e deve

penalizar Sam por ter infringido a altura máxima do salto permitida pelo código do

vestuário. Clover a absolve, porém Mandy intervém e a professora depõe Clover do

cargo. Mandy assume o caso e condena:

Mandy: A corte condena vocês três por desrespeito. E a sentença é de três semanas na coleta de lixo. Próximo caso! (A cena finaliza com a projeção das três espiãs atrás das grades, com roupas de listras brancas e pretas, com uma carcereira batendo com um cacetete nas grades).

105

Assim como todos os que não se enquadram nas regras do vestuário, as

heroínas são condenadas à pena de exclusão social, são reduzidas a meras

catadoras de lixo, pena insuportavelmente cruel em seu grupo.

Outro importante ensinamento Clover coloca em evidência no episódio A Ilha

WOOHP: “Quem pode colocar preço na beleza?” (expressão de Clover). Clover passa a

ser uma esteticista Esther 50 . E como vendedora de porta em porta “de tudo o que

existe de bom no mundo”, apresenta a suas amigas uma maleta repleta de cosméticos

e de maquilagem. Ao abrir a maleta, uma forte luz recobre Clover. A imagem que

segue são de produtos brilhando, aleatoriamente, dentro da maleta. O preço é

abusivo. Sam reclama. Clover contesta: “Quem pode colocar preço na beleza?”. Vale

tudo quando se quer estar estonteante.

Cosméticos e hidrantes, produtos distantes da vida de meninas de outros

tempos, hoje fazem parte de um conjunto de aparatos que toda a garota deve não

apenas conhecer, como também adquirir para se tornar bela e integrada em seu

grupo etário, social, em seu tempo. Sam e Alex não pretendem comprar os produtos

— seus preços são elevados — porém Clover descobre outra forma de convencê­

las.

Clover: Vocês não querem estar lindas para os gatinhos no piquenique da WOOHP esse fim de semana? (As duas espiãs se olham e um som estridente prenuncia a mudança de idéia). Alex: Bom, pensando assim, eu vou pegar um hidratante. Sam: Eu fico com o microesfoliante facial. (As espiãs compram os produtos e rapidamente já os experimentam). Sam: Ou! Parece que tem mil dedinhos esfoliando o rosto da gente. Alex: Olha só! Minhas mãos nunca foram tão macias! Ah! (As duas personagens aparecem, lado a lado, olhos fechados, sorrisos nos lábios e

expõem as mãos e o rosto, agora “devidamente” cuidados. Repentinamente, saem feixes de luz das mãos de Alex e do rosto de Sam).

Ficar bela para agradar a um gatinho é algo de que, segundo a narrativa do

desenho, toda a jovem menina deve se ocupar. A temática em relação aos

relacionamentos afetivos será discutida, ainda neste capítulo, na seção sobre

“Consumo de Relacionamentos”.

50 Nome da linha de cosméticos que Clover revende.

106

Percebendo o corpo jovem como um locus histórico e, portanto, construído na

relação proximal com as “verdades” a ele atribuídas, é possível salientar que a forma

como ele é narrado, no espaço televisivo da série de desenho animado Três Espiãs Demais, prenuncia um tipo de atitude das jovens meninas em relação ao seu corpo, enquadrada de acordo com certos clichês sociais. A preocupação das personagens

com a forma e a aparência física, com a moda e a repetida evidência do corpo, narra

um modo especial de ser e conviver com o corpo. O que se percebe é que “a medida

ética do interesse pelo corpo, portanto, não está no montante de cuidados a ele

dedicado, mas na significação que os cuidados assumem” (FREIRE COSTA, 2005,

p.20).

Como se pode observar nos recortes apontados na presente análise, o

consumo de aparências de uma jovem menina está em foco no desenho Três Espiãs Demais, classificando ações, comparando condutas e práticas humanas e

estabelecendo uma forma de regulação cultural. (HALL, 1997a).

Consumo de Objetos

Dentre os dezesseis episódios assistidos para o estudo, sete fazem forte

referência ao consumo de objetos em suas narrativas. E é possível identificar,

muitas vezes, nesses capítulos, problematizações que colocam o consumo de

objetos no centro de discussões em relação às missões de caráter individual­grupal.

Freqüentemente, o desenho narra e caracteriza as jovens meninas como

completamente fascinadas pela sociedade do consumo e incrivelmente adeptas aos

signos e ações por ela transmitidos. O que parece é que as jovens da série de

desenho animado Três Espiãs Demais se inscrevem e atuam em uma sociedade na qual “as coisas são ornamentos simbólicos das identidades e ferramentas dos

esforços de identificação [...]” (BAUMAN, 2001, p.100). São identidades transitórias

que vão se significando através da posse momentânea dos objetos (SARLO, 2006).

O ato de consumir objetos transcende o simples processo de aquisição e passa a se

caracterizar “como a apropriação coletiva, em relações de solidariedade e distinção

com outros, de bens que proporcionam satisfações biológicas e simbólicas, que

servem para enviar e receber mensagens” (GARCIA­CANCLINI, 2006, p.70).

107

Botas, bolsas, vestidos, blusas não possuem valor intrínseco, seu valor

mercantil “[...] é resultante das interações socioculturais em que os homens os

usam” (GARCIA­CANCLINI, 2006, p.70). Seguindo a lógica consumista do desenho,

“cabe” aos objetos categorizar e classificar os sujeitos, na contemporaneidade. Isso

quer dizer que o valor não está no objeto em si, mas nos significados que concentra

e distribui a quem os consome. Mais do que objetos, são artefatos culturais

carregados de significados.

Um bom exemplo de como o valor dos objetos se constitui na relação

proximal com o seu grupo e como a eles é atribuída a identidade dos sujeitos é

apresentado no episódio Dor de Dente. Nele a personagem Clover se compara com a sua rival de colégio Mandy, personagem que já possui o objeto do seu querer, a

bolsa da Mute.

(As três espiãs aparecem sentadas no pátio da escola). Clover: Então, eu ainda tô na lista de espera da bolsa exclusiva pra clientes da Mute, que a irritante da Mandy trouxe ontem. Alex: Ai! Clover: Eu sei! É super injusto! Sam: O que foi Alex? Você tá com dor? Alex: Tô sim! Eu tô com um dente aqui doendo muito! A sorte é que só dói quando eu como, falo ou respiro. (Clover fica furiosa e reclama:) Clover: Ah! Dá licença! A gente pode voltar pro problema de verdade! A Mandy só conseguiu a bolsa porque ela subornou o cara. Eu nunca faria uma coisa dessas!

Clover é representada nessa cena — de forma semelhante a muitas outras

em outros episódios — como uma jovem insatisfeita com a falta de algum produto. A

tristeza, a culpa, a ansiedade e a frustração de Clover em relação à bolsa desejada

expressam o sofrimento causado pela falta daquilo que é caracterizado como um

objeto carregado de um conjunto de significados que validam, credenciam quem o

possui perante seu grupo.

Segundo Steinberg e Kincheloe (2004):

Obviamente, poder misturado com desejo produz um coquetel explosivo; a colonização do desejo, no entanto, não é o fim da história. O poder envolve o consciente e o subconsciente de uma forma que evoca, sem dúvida, desejo, mas também culpa e ansiedade. (p.21)

O querer adquirir a bolsa é algo superior a tudo o que está à volta da

personagem. Após a bolsa colonizar os seus desejos, Clover não se libertará dos

108

sentimentos de culpa e ansiedade até possuí­la. Para a jovem espiã, o objeto de

desejo é mais importante que a dor que sua amiga sente em seu dente ou mesmo

que qualquer missão coletivo­mundial que possa surgir naquele momento, pois, “a

corrida para o consumo, a febre das novidades não encontram sua fonte na

motivação do prazer, mas operam­se sob o ímpeto da competição estatutária”

(LIPOVETSKY, 2005, p. 171).

Essa corrida pela posse dos objetos do consumo aparece também no

episódio Natal do Mal. Nesse episódio, o objeto de desejo de Clover passa a ser a bota Yves Mont Blanc.

Ele inicia com as espiãs caminhando pelo shopping de Beverly Hills, repleto de decorações natalinas e de uma imensa árvore de Natal. Clover pára em frente a

uma vitrine e começa a tirar fotos de presentes com seu celular. Sua intenção é

enviá­las por mensagem para seus pais, que estão na Europa, para que possam lhe

mandar os presentes de Natal. Clover e suas amigas “compreendem” que, “essa

época do ano é pra dar, não para receber” (Sam). E seguindo a lógica, afirma Clover,

“Mas eu só quero dar, Sami. Quero dar a minha lista de Natal para o meu pai”. Submersa

em sentimentos narcisistas e hedonistas, Clover não tem olhos solidários para os

demais. A ela só interessam seus próprios desejos e objetivos, seus próprios

“problemas”. Para a personagem, “o sentido da vida deixou de ser pensado como

um processo com finalidades em longo prazo e objetivos extrapessoais” (FREIRE

COSTA, 2005, p. 186).

Dando continuidade ao episódio...

(De repente um som estridente prenuncia a descoberta de algo. Ao fundo, surgem nuvens com diferentes tons de rosa e lilás acompanhadas de branco. As cores são destacas por estrelas que brilham aleatoriamente. As bochechas de Clover ficam avermelhadas de uma ponta de seus olhos a outra. Seus olhos, um pouco diminuídos, expressam a satisfação em ver algo em sua frente). Alex: O que é isso? O novo sabor de sorvete sem gordura? Clover: Não. É Yves Mont Blanc! A marca de sapatos mais fabulosa do planeta! (Clover tira fotos da bota em diversas posições. Quando se aproxima para pegá­la, é surpreendida por Mandy, que retira as botas da vitrine. Clover leva um susto). Mandy: Larga essa botinha, otária! A minha mãe vai comprar pra mim o último par dessas botas. (Clover a arranca das mãos de Mandy). Clover: Só se for por cima das minhas unhas! Mandy: São minhas! (Clover puxa pelo cano da bota, enquanto Mandy puxa pelos pés.) Sam: Ô Clover! Vai arriscar quebrar uma unha por causa de uma bota?

109

(Enquanto puxam e disputam a bota...). Clover: Eu pago o dobro do preço! Mandy: Eu pago o quádruplo! Clover: Eu dobro qualquer oferta dela! Mandy: “Manheee”! Faça alguma coisa! (De repente surge a mãe de Mandy ao celular.) Mãe da Mandy: Eu já fiz, Docinho! Eu acabei de comprar a cadeia de lojas nacional desta marca. E com todas as botas junto. Mandy: Comprou? (Clover fica desiludida). Clover: Não acredito!

Nesse episódio, Clover e Mandy disputam não apenas um objeto, mas todos

os significados que possam ser evocados pelo produto na sociedade do consumo.

Entretanto, como afirma Bauman (1999),

Para aumentar sua capacidade de consumo, os consumidores não devem nunca ter descanso. Precisam ser mantidos continuamente acordados e em alerta sempre, continuamente expostos a novas tentações, num estado de excitação incessante — e também, com efeito, em estado de perpétua suspeita e pronta insatisfação. (p.91)

E, de repente, “A marca mais fabulosa do planeta” (expressão de Clover) tem

seus dias contados, não só no episódio como no dia­a­dia dos sujeitos que

constituem a sociedade do consumo. Clover, suas amigas espiãs e a rival Mandy

compreendem o valor simbólico que a bota possui e, após sua obsolescência,

sabem desfazer­se dela, já que, conforme Sarlo (2006),

O tempo foi abolido para os objetos comuns do mercado. Não que eles sejam eternos, e sim por serem inteiramente transitórios. Duram enquanto não se gastar de todo seu valor simbólico, porque, além de mercadorias, são objetos hiper­significantes. (p.29)

A transitoriedade dos objetos pode ser evidenciada quando, ao final do

episódio, Clover doa sua bota para Mandy, que está chorando. Sam acredita que

Clover compreendeu o espírito do Natal. Contudo, a personagem dá a história um

final inusitado, porém muito compreensível para os “consumidores cidadãos”.

Clover: O espírito do Natal? Hello! Yves Mont Blanc tá fora de moda! Olha esse novo George Vivaldi, saída das passarelas européias! (Clover tira de uma caixa de presentes uma bota rosa. Muitas estrelas brilham, aleatoriamente, ao redor do produto. Mandy tira as botas Yves Mont Blanc dos pés e joga­as no chão). Mandy: Ah! Sua insuportável, (Mandy faz uma bola com a neve do chão) tentando me insultar com essas coisas feias!

110

Na sociedade do efêmero, do obsoleto e das novidades, a bota Yves Mont Blanc teve seus dias contados. “Não há linha de chegada óbvia para essa corrida atrás de novos desejos, muito menos de sua satisfação” (BAUMAN, 1999, p.87).

Mandy, celebrando a cultura do efêmero e do obsoleto, afirma que Clover a insultou

“com essas coisas feias”, ou seja, com botas, agora, já fora de moda. Clover a insultou

mais especificamente em função da posição superior que se encontra em relação à

posse dos objetos da moda, porque, “os objetos, hoje como ontem, servem para

ostentar a opulência de seus possuidores” (FREIRE COSTA, 2005, p. 174) e colocar

as jovens meninas em evidência na sociedade do espetáculo.

Segundo Lipovetsky (2006):

Desse modo, a sociedade de consumo, com sua obsolescência orquestrada, suas marcas mais ou menos cotadas, suas gamas de objetos, não é senão um imenso processo de produção de ‘valores signos’ cuja função é conotar posições, reinscrever diferenças sociais em uma era igualitária que destruiu as hierarquias de nascimento. (171)

No desenho, a importância do ter, reforçada constantemente, estabelece uma

significativa aproximação, e em certos casos relação de causa e efeito, entre

felicidade e consumo e/ou consumo e felicidade.

Observemos outro trecho decupado do episódio Dor de Dente. Nesse episódio, Clover acredita que Mandy subornou alguém para possuir a bolsa da Mute, bolsa que, para ser entregue, segue uma lista de espera. As espiãs pensam que

isso é um golpe baixo de Mandy. Sam afirma:

Sam: Falando em coisas baixas, eu gostaria de saber por que a Mandy veio de ônibus? (Mandy fica furiosa. O fundo da imagem é preenchido por tons de vermelho, branco, preto e raios). Mandy: Pra sua informação, tô fazendo uma pesquisa pro jornal sobre transporte público. Ah! Por enquanto dou nota zero! (De repente surgem pequenos chifres em Clover, sugerindo um caráter diabólico para sua atitude, e ela rapidamente pergunta:) Clover: Pro ônibus ou pra pesquisa? (Mandy, ligeiramente, puxa a sua bolsa da Mute e, com ar de vingança, mostra para Clover. Ao fundo, as cores se intercalam em vários tons de azul). Mandy: Tá com inveja, né? Acho que algumas de nós são exclusivas e outras não são. (Clover expressa seu desagrado com expressão horripilante: olhos esbugalhados, com rajadas de sangue, testa vermelha e sobrancelhas que ultrapassam os limites do desenho do cabelo. Um caminhão de lixo desaba sobre Mandy. Na seqüência, as espiãs aparecem na lanchonete da escola fazendo seu lanche e visualizam Mandy comendo um sanduíche). Mandy: O que é que vocês estão olhando? Acontece que eu não agüento mais a comida desse lugar. É muito nojenta pro meu gosto refinado!

111

Sam: Ah! A comida daqui nojenta? Ela tá comendo sanduíche de mortadela! (Em seguida, aparece, no laboratório de Química). Sam: Meninas, isto é muito estranho! Tão vendo a blusa da Mandy? É igualzinha aquela que eu doei praquele bazar de caridade de roupas de marca. Eu acho que... Vocês acham que... Alex: Que em vez de comprar na Rodeo Drive a Mandy tá comprando num bazar de caridade? Sam: Só tem um jeito de ter certeza! A minha blusa tem as minhas iniciais atrás. Clover: Você ainda põe as iniciais nas suas roupas? A gente não tá mais no maternal! Sam: Acontece que o bordado é muito legal! (Sam mira a gola da blusa de Mandy com uma lente de aumento e completa:) Sam: E com certeza é a minha blusa! Clover: Primeiro ônibus, depois o sanduíche de mortadela, agora isso! Será que a Mandy tá sem grana? (Dando continuidade ao episódio, Sam é raptada. Alex e Clover falam com Jerry pelo comunicador. De repente ouvem:) Mandy: U$ 12é minha oferta final. É pegar ou largar! Alex: A Mandy tá fazendo uma “venda de garagem”? (Aparece a imagem da placa com a escrita em inglês e uma voz realiza sua leitura traduzida) 51 . Clover: Não qualquer “venda de garagem”. Uma “venda de garagem” de Beverly Hills. Se isso não é sinal de problema financeiro, eu não sei o que é. (Clover fecha o comunicador com Jerry falando e protestando. Logo em seguida, se aproxima da venda. Seus olhos brilham ao encontrar a bolsa da Mute e um som estridente, representando a alegria e a felicidade do momento, celebram a probabilidade da compra da tão desejada bolsa, desde o início do episódio). Clover: Aaah! A Mandy tá vendendo a bolsa exclusiva por 20 dólares. Ah! Vamos ver até que ponto o desespero chega. (Clover se aproxima de Mandy). Clover: Oi, Mandy! Eu te dou cinqüenta centavos pela bolsa. Mandy: Até parece! Você sabe que essa bolsa vale 50 mil vezes isso! Alex: Você tá passando por algum problema financeiro? Mandy: Não seja ridícula! Eu só tô me livrando de algumas coisas para dar lugar à nova coleção de outono que eu encomendei. Você vai querer a bolsa ou não? (Nesse momento a mãe de Mandy aparece gritando. A potência de seu grito é representada pelo vôo dos cabelos das personagens e deformação de seus rostos impulsionados pela força de seu berro). Mãe da Mandy: Mandy! Você não pode falar com suas amigas! É isso que significa estar de castigo? Clover: Castigo? Mandy: Não, mãe! Elas não são minhas amigas! Mãe: Nada de desculpas, mocinha! Só vai ter seu cartão e a sua liberdade de volta quando as notas melhorarem. Já pro seu quarto! Clover: Isso explica tudinho. Ela não tá sem grana, ela tá sem o cartão de crédito! Eu não acredito que eu vou dizer isso, mas coitadinha! Esse sim é o pior castigo do mundo!

51 A expressão “venda de garagem” foi traduzida literalmente do inglês garage sail, que se refere a uma prática comum nos Estados Unidos de vender, em dia marcado, na garagem das casas, objetos em desuso.

112

A relação que se coloca entre não poder comprar, não poder desfrutar de

coisas caras e “estar em baixa” dá a idéia de que “estar em alta” é reservado aos

que possuem condições de consumir. Na fala que finaliza o excerto nota­se,

inclusive, um sentimento de compaixão (raro!) da espiã em relação à Mandy, que

não pode usar seu cartão de compras. Seu castigo é o pior castigo do mundo: não

poder fazer parte da cidadania do mercado, não poder pertencer à sociedade do

consumo, não ser cidadão consumidor. As identidades, atualmente, configuram­se

no consumo, elas dependem daquilo que se possui, ou daquilo que se pode chegar

a possuir (GARCIA­CANCLINI, 2006).

Nesse contexto, a cidadania é exercida através da possível circulação e

notoriedade dos sujeitos na sociedade do espetáculo. Dentre as personagens,

Clover é narrada como impaciente, impetuosa, indócil, características citadas por

Bauman (1999) como próprias dos consumidores. Desse modo, podemos tematizá­

la como um bom exemplo de jovem assujeitada às normas e regras do consumo,

com a vida governada pela sociedade do consumo. A personagem vive num

constante “shopping spree”, definido por Sarlo (2006) como “[...] um impulso teoricamente irrefreável enquanto houver condições econômicas para levá­lo a cabo.

Trata­se, ao pé da letra, de uma coleção de atos de consumo na qual o objeto se

consome antes sequer de ser tocado pelo uso” (p. 28). Clover é caracterizada como

a mais arrebatada pela magia do consumo, disputando infatigavelmente com sua

rival Mandy pela posse antecipada de produtos. Clover aprendeu muito cedo essas

regras do consumo e agora as está ensinando, de forma lúdica e prazerosa, às

milhares de telespectadoras que vibram com suas proezas e modo de ser em todo o

mundo.

Observemos outra passagem dos episódios:

Clover: Já vi. Já comprei. Já devolvi. 52

Essas são as palavras de Clover ao examinar a vitrine de uma das lojas do shopping, no episódio Biscoitos da Paixão. As três espiãs, naquele momento a passeio, estavam em busca de algo para comprar. Capturadas pela teia do

consumo, elas procuravam, tal como explica Bauman (1999), “não tanto a avidez de

52 Episódio Biscoitos da Paixão.

113

adquirir, de possuir, não o acúmulo de riquezas no seu sentido material, palpável,

mas a excitação de uma sensação nova, ainda não experimentada [...]” (p.91).

A fala de Clover reproduz o ápice da busca pelo acúmulo de sensações

promovidas pelo consumo. A expressão, “Já vi”, mencionada pela personagem, no

momento em que estão diante da vitrine de uma loja do shopping, acompanhada de

gestos e rosto de insatisfação e desaprovação, nos dá a sensação de movimento,

de busca constante, de procura, pois, de acordo com Canclini (2006), “[...] o

problema não é tanto a falta, mas o fato de o que possuem tornar­se a cada instante

obsoleto ou fugaz” (p.32). Segundo a narrativa do desenho, tudo o que está exposto

na vitrine já foi visto e revisto pelos incansáveis e sedentos olhos consumidores das

três personagens. “O desejo do novo é, por definição, inextinguível” (SARLO 2006,

p. 26). Como afirma Bauman (1999):

Para os consumidores da sociedade de consumo, estar em movimento — procurar, buscar, não encontrar ou, mais precisamente, não encontrar ainda — não é sinônimo de mal­estar, mas promessa de bem­aventurança, talvez a própria bem­aventurança (p. 91)

A expressão seguinte, “Já comprei”, reafirma a importância de comprar, sem

critérios, sem seleção. A afirmação, expressa com descaso e ironia, sugere que as

jovens meninas contemporâneas, enleadas no mundo fashion, compram tudo o que está na onda momentânea da moda e apenas não adquirem o que não se encontra

à venda.

Por fim, a expressão “Já devolvi” acrescenta a idéia da descartabilidade. O

que está na moda já foi olhado, comprado e devolvido por não lhes saciar as

sensações “prometidas” ou ainda porque seu valor simbólico esgotou­se

rapidamente.

Vejamos a música de abertura 53 que acompanha o clipe de abertura do

desenho:

Estamos prontas pra qualquer missão, enfrentar E vamos encarar Mas toda vez que entramos no shopping queremos comprar! 54

Elegantes, charmosas, das missões desvendamos a trama Bem espertas, corajosas De três espiãs conquistamos a fama e é pra já, vamos lá, gira em nosso programa!

53 Três Espiãs Demais (2007), cf. ref. biblio. 54 Grifo meu.

114

A cada episódio, a música enaltece a importância do shopping enquanto espaço “normalmente” visitado pelas jovens meninas, instituindo essa ação de entrar

no shopping e comprar como prática habitual identificadora da juventude feminina. Em sua instigante análise sobre o shopping, Sarlo (2006) ressalta que na soma de diferentes estilos, o shopping compõe “uma estética adolescente” (p.22).

A visita ao templo máximo do ter não se faz descompromissada, pois como

diz a letra da trilha sonora, “[...] toda vez que entramos no shopping queremos comprar!”. O shopping, no desenho animado, é o paraíso de toda a jovem menina que se preze, é um espaço de livre circulação, no qual se transita aceitando com

deleite as armadilhas do consumo. Nele as meninas encontram tudo de que

necessitam para fazer parte do universo jovem. O sentimento de pertencimento é tão

expressivo no desenho que Clover chega a chamar o Shopping Beverly Hills de

“nosso shopping”, no episódio Encolheu a cabeça.

Sarlo (2006) sublinha que “como numa nave espacial, é possível realizar ali

todas as atividades reprodutivas da vida: come­se, bebe­se, descansa­se, consome­

se mercadorias e símbolos segundo regras não escritas porém absolutamente

claras” (p. 15).

Em episódios como As garotas dos games, por exemplo, o shopping é lembrado e referenciado como um lugar não só muito freqüentado, mas também

muito conhecido pelas jovens meninas.

Nesse episódio, as protagonistas aparecem, já no início, na escada rolante do Shopping Beverly Hills. Comentam um assunto de grande relevância para elas: como se comportar e o que fazer em meio a uma grande liquidação.

Alex: Foi bom a gente ter pego refrigerante antes das compras, né? Sam: Lembra da última liquidação do ano? A Clover ficou tão empolgada que quase desmaiou de desidratação dentro do provador. Clover: O que eu não posso entender é como eles param a gente por uma simples garrafa de água! É uma coisa tão boba, mas não na maior liquidação do ano.

Nesse contexto, pegar água antes das compras torna­se um tipo de

prescrição para os telespectadores das jovens espiãs, que devem evitar a

desidratação durante suas compras. Isso porque, segundo a narrativa do desenho,

115

há tão grande número de produtos a ser comprado e um tempo tão longo de

envolvimento no processo de aquisição dos produtos da moda que é fácil esquecer

de beber água.

Em meio às compras, as espiãs são sugadas por Jerry para a WOOHP, com

vistas à resolução de mais uma missão de caráter coletivo­mundial. Clover protesta.

Clover: Eu não acredito que fomos sugadas da maior e melhor liquidação do ano!

Para ela, é inaceitável ser retirada do seu templo de prazeres. Do lugar onde

estão expostos, “todos os objetos sonhados” (SARLO, 2006, p. 21) e que naquele

momento encontravam­se em liquidação — o shopping.

Ao mencionar “objetos sonhados”, acabei por relembrar o episódio Biscoitos da Paixão, quando Clover não aceita comprar o chapéu de tamanho G, que, segundo ela, “deveria” ser M. O que parece, segundo a narrativa do desenho, é que

o próprio ato de consumir ou não um objeto, devido ao seu tamanho, ressalta quais

valores constituem a identidade da personagem. Valores que estão — associados

aos tantos outros ensinados pelos diferentes setores sociais — a colonizar os

pensamentos do público que assiste regularmente ao desenho animado Três Espiãs Demais.

Nesse aspecto, quando meninos e meninas adquirem revistas, álbuns,

brinquedos, cadernos, pastas, estojos, entre outros acessórios, buscando se

associar aos significados apresentados por seus personagens preferidos, não só

adquirem utensílio e entretenimento mas também acabam por procurar viver os

valores por eles ensinados.

Sabat (2004) afirma que:

[...] além do consumo de produtos como cadernos, lancheiras, sapatos, roupas que trazem personagens dos filmes, torna­se considerável, também, o “consumo” de um conjunto de valores que estão sendo reproduzidos através dessas personagens e que são amplamente “consumidos” pelas crianças. (p.96)

Ou seja, através do consumo definimos nossas escolhas, delimitamos quais

valores e atitudes estão em destaque e são aceitos em nossa sociedade e a quais

deles queremos nos associar. Assim sendo, “[...] quando selecionamos os bens e

nos apropriamos deles, definimos o que consideramos publicamente valioso, bem

116

como os modos com que nos integrarmos e nos distinguirmos na sociedade, de

combinarmos o pragmático e o aprazível” (GARCIA­CANCLINI 2006, p.35).

O que podemos perceber através das análises realizadas nesta seção é que

estamos continuamente sendo interpelados pelas pedagogias do consumo. No caso

do desenho animado, a questão se torna ainda mais insidiosa e articulada, pois o

programa parte de um enredo criativo, prazeroso e dinâmico, que vive a povoar as

telinhas e a conquistar telespectadores de diferentes grupos, culturas e sociedades,

ensinando um jeito especial de ser “cidadão” consumidor.

Nas narrativas da série de desenho animado Três Espiãs Demais fica claro o estímulo ao consumo desenfreado, que de forma ardilosa, conquista a cultura juvenil

feminina e vai instituindo como modelo um outro jeito de viver. Um viver arraigado

nos princípios do ter e do parecer. O desenho dissemina um discurso capaz de

produzir, selecionar e categorizar as coisas mais importantes da vida, expressando­

as como “coisas compráveis”. Repetidos centenas de vezes, os discursos do

consumo povoam nossos desejos, restringem e articulam nossas possíveis ações

enquanto cidadãos e cidadãs.

Consumo de Relacionamentos

No que se refere à afetividade, parece que essa também se converteu na

busca incansável pelo “consumo” de relacionamentos com jovens belos, intelectuais,

“sarados” e socialmente em evidência.

Reincidentemente, Sam, Alex e Clover se mostram capazes de qualquer

coisa para conseguir alcançar o prazer narcisista da conquista de jovens meninos. A

vida atribulada das três jovens meninas, em meio a missões, compras, casa e

escola, é povoada por meninos lindos, musculosos e inteligentes. De acordo com a

narrativa do desenho, o mundo de uma jovem menina é vazio se não contar com a

presença do masculino. Não um vazio preenchível, mas de uma incompletude

eterna, que se assegura na busca interminável por novos relacionamentos. Nas

narrativas do desenho, buscar contínuos e descartáveis relacionamentos é a

representação do ideal de felicidade.

117

De dezesseis episódios analisados, oito tematizam em suas tramas os

relacionamentos afetivos entre as jovens meninas espiãs e jovens meninos. Neles

os relacionamentos são apresentados como produtos a serem consumidos. Isso se

evidencia na medida em que se pode perceber: a imensa euforia estabelecida em

função da sedução dos garotos em relação às meninas, a espantosa “batalha” para

conquistar seus ”objetos” de desejo e a fácil descartabilidade dos relacionamentos,

que podem ser substituídos por uma “versão” nova e aprimorada a cada episódio. As

tramas dão ênfase ao prazer da conquista e ao descarte.

Inteiramente inscrito no discurso heteronormativo e sexista, o desenho

animado Três Espiãs Demais — de forma lúdica, em meio a trilhas sonoras, imagens

frenéticas e cores alucinantes — ensina como “qualquer” jovem menina pode

conseguir sair com o “gatinho” que quiser.

No episódio Encolhe­encolhe, por exemplo, Clover dá instruções não só às

suas amigas, mas a todos os telespectadores capturados pela trama de suas

narrativas. No início do episódio as espiãs aparecem patinando na praia. De

repente, Clover começa a se desequilibrar nos patins.

Sam: O que foi? Por que está patinando tão mal? (Clover se atira nos braços de Alex. Neste instante, aparece um jovem, com porte atlético, uma bola de vôlei em punho, para dar o saque. Na imagem, os dentes do jovem soltam brilhos. Clover diz às amigas:) Clover: Olha só como se faz! (Ela patina em direção ao jogador e cai sobre ele). Clover: Ah! Eu sinto muito! Você está bem? Rapaz: Ah! Eu estou bem sim! Não se preocupe. (O clima de romance é apresentado pelo coração lilás que se forma na tela. Coração que mostra ao centro os olhares apaixonados dos dois jovens. Alex conversa com Sam:) Alex: É, ela é boa! Sam: É mesmo! (A cena volta a enfocar os dois personagens enamorados). Clover: Ah! Claro! Sexta, à noite, seria perfeito, Jason. Jason: Ô, legal! Eu pego você às oito. (Agora já patinando perfeitamente, Clover vai ao encontro das amigas). Clover: Vocês viram? Eu vou sair com Jason Robert. A Mandy vai odiar tanto! Ela se acha dez e quer sempre ter um menino.

A expressão “Olha só como se faz!” prenuncia um momento de demonstração

e exemplo para os demais. Anuncia que Clover mostrará a todas as jovens meninas

como elas podem agir para marcar um encontro com um “gatinho”. Com a

118

encenação, Clover também se vinga de sua rival Mandy que, como toda a jovem

menina, “[...] quer sempre ter um menino”. Um menino sem identidade fixa ou

significado especial. Na narrativa, os namorados são comparados a mercadorias e,

segundo Bauman (2004),

Consideradas defeituosas ou não “plenamente satisfatórias”, as mercadorias podem ser trocadas por outras, as quais se espera que agradem mais, mesmo que não haja um serviço de atendimento ao cliente e que a transação não inclua a garantia de devolução do dinheiro. (p.28)

O fascínio por garotos é muitas vezes evidenciado na série de desenho

animado selecionada para o estudo. O poder de atração dos personagens

masculinos pode ser observado em episódio como Garotas do Vale do Silício. Nessa narrativa, as espiãs são enviadas para a Itália com o intuito de proteger um professor

de ginástica que está sendo atacado por dispositivos computadorizados. Enquanto

as espiãs interrogam o professor, três belos garotos se aproximam e trocam olhares

com Clover. De repente, um dos rapazes acena para a personagem. Clover levanta

e vai saltitando em direção aos jovens meninos. Sam faz uma importante descoberta

em relação à missão de caráter coletivo­mundial.

Sam: É isso! O treinador pegava no pé dos garotos numa escola e o Bret noutra! (Nesse momento, Sam é focada em primeiro plano, enquanto num segundo plano, Clover é jogada várias vezes para o alto nos braços dos três belos rapazes; experiência que a deixa no auge da felicidade). Sam: Pessoal! Se por acaso forem ambos o mesmo garoto que está agora no Vale do Silício?! (Sam percebe o que está acontecendo com Clover e com a mão no queixo faz uma expressão de desaprovação. Alex levanta e caminha em direção a Clover). Alex: Hum! Hora de fazer uma visita ao Vale do Silício. No caminho a gente deixa o treinador na WOOHP. (Ao perceberem a aproximação de Alex, os garotos colocam Clover novamente no chão. Alex pega Clover pela mão. Clover fica olhando para trás e abanando para os garotos. Os jovens demonstram em suas faces expressões de decepção. Um deles com a mão na cintura e os outros dois com os braços estendidos ao longo do corpo). Sam: Vem Clover!

Ou seja, Clover, em meio às buscas de pistas sobre a missão de caráter

coletivo­mundial, tem algo mais importante a fazer, conhecer e conquistar belos

garotos. Isso porque, na sociedade do efêmero, os relacionamentos rapidamente

ficam obsoletos.

119

Em outro episódio 55 , as jovens meninas vão a Ilha WOOHP 56 , para salvar a

espiã Britney. Após encontrar Britney e lutar contra alguns criminosos, as heroínas

têm apenas quatro minutos para voltar ao avião antes da explosão da ilha. Britney

fez uma trilha a laser quando foi capturada. Clover, Alex e Sam acreditam que a

treinaram muito bem. Alex tem uma idéia.

Alex: A gente devia pedir para o Jerry deixar você na nossa equipe pra sempre! Britney: Que amor, Alex! Mas, o Jerry já me colocou numa equipe. (Britney mostra, no seu comunicador, a foto de dois belos jovens. Os olhos de Alex, Sam e Clover, rapidamente, transformam­se em corações vermelhos e o rosto de Britney demonstra o quanto está satisfeita e muito bem acompanhada.). Britney: Meninas, estes são Dimitri e o Xavier. Clover: Que delícia! Alex: Não é justo! Sam, Alex e Clover: Aaaahhhhhh! Britney: Eles vão estar no piquenique da WOOHP. Eu apresento pra vocês!

Os minutos vão passando. A ilha pode explodir a qualquer momento. Todavia,

sempre há tempo para conhecer belos e “deliciosos” pretendentes, tal como Clover

se expressa (Que delícia!) no excerto anterior. Isso porque, na narrativa da série de

desenho animado, os relacionamentos passam a ser compreendidos como séries de

eventos amorosos, “como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados

pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração” (BAUMAN, 2004, p.20).

No episódio Encolheu a cabeça, Sam acredita ter encontrado o namorado perfeito. Contudo, há um problema: sua paquera mostra­se extremamente erudita. O

“gatinho” entende tudo de música clássica, etiqueta, literatura, dança... Para

conquistá­lo, a personagem investe em aulas de etiqueta, em curso de dança para

aprender tango (dança que, segundo ele, é a única dança de “verdade”) e refaz seu

guarda­roupa. Sam é capaz de fazer qualquer coisa para conquistar seu objeto de

desejo. E isso se torna evidente em uma conversa entre Alex e Clover, enquanto

observam Sam, na aula de etiqueta.

Alex: Essas maneiras exemplares são muito chatas. Nem parece que é a Sam! Clover: Eu sei! Ela só tá fazendo isso para conquistar o Rodolf. Ele é que devia conquistar ela!

55 Episódio A Ilha WOOHP. 56 Ilha onde a organização mantém aprisionados criminosos perigosos.

120

Segundo a narrativa do desenho, vale tudo no jogo da conquista. Vale mudar

completamente o seu estilo e tornar­se outra pessoa. Vale até mesmo manter

rivalidade entre espiãs e disputar com suas amigas, disputa que pode ser observada

no episódio É o jeito como se joga, no qual as três espiãs concorrem pela atenção do “gato” David. Vejamos, na transcrição da cena, como as garotas o conheceram.

(Sam aparece em uma aula, no laboratório de química. Em meio a muitos alunos de jaleco, ela conversa com um jovem belo e intelectual). David: Então o composto de nitrogênio gera a fricção, provocando a eliminação dos organismos indesejáveis. (Estrelas brilham aleatoriamente. Sam aparece com as mãos juntas encostadas no queixo, as bochechas vermelhas, incluindo o nariz, os olhos de satisfação e a boca aberta). Sam: Ai! (David aparece à frente de um fundo com bolhas e estrelas em nuances de branco e lilás). (Na cena seguinte, um apito dá a largada na pista de atletismo da escola. Alex corre num revezamento e passa o bastão para um belo e musculoso rapaz. Eles vencem a corrida). Alex: Isso aí, David! (O rapaz aparece em meio a bolhas e estrelas em nuances de branco, rosa e amarelo). David: Passagem excelente, Alex! (Alex fica com as mãos cruzadas em frente ao peito. O fundo é preenchido por cores com tons de rosa, amarelo e branco. Duas atletas observam Alex). Alex: Ah! (Na próxima cena, Clover aparece num teatro ensaiando a peça de Romeu e Julieta. David aparece de joelhos, vestido de Romeu). David: Ó! Fale anjo brilhante. Por que tua corte é tão gloriosa como um mensageiro alado dos céus? (Clover surge, na sacada do castelo, com vestido rosa e cabelos longos). Clover: Ó David! David! Onde estás David? (David aparece de perfil com os dentes cerrados e com uma gota de constrangimento caindo de seu cabelo). Clover: Renegue teu pai, recuse seu nome. Ou, se não quiseres, apenas jure meu amor. (David se levanta). David: Estava ótimo, Clover! Tão cheio de emoção! Mas, o nome do personagem é Romeu, não David. (Neste momento, o fundo fica repleto de bolhas e estrelas em nuances de rosa, amarelo e branco). David: Vamos passar outra vez? Clover: Ah!

Logo após, as três jovens meninas se encontram no corredor da escola.

Juntas contam que estão apaixonadas. Descobrem que pelo mesmo garoto. A

disputa e as provocações iniciam.

Clover: Por que vocês duas estão olhando pro meu verdadeiro amor, hein?

121

Alex: Seu verdadeiro amor? O David é o cara de quem eu tava falando! (Sam também briga por David). Sam: Bem, eu o inspirei intelectualmente! (De repente, o segundo plano fica azul e vários raios, acompanhados de sons, enriquecem a cena). Alex: Até parece! A gente quase deu a mão na corrida de revezamento! (Clover volta à discussão e, muito tranqüila, interfere. O segundo plano retorna a apresentar o corredor do colégio). Clover: Alex, Sam, olha só pra vocês, competindo por um cara, quando, obviamente, ele gosta de mim! (Clover coloca a mão nos ombros de Alex e Sam. Ambas caem para trás. Apenas Clover fica de pé). Sam: Veremos isso! Alex: É! Vale tudo no amor e na...

Como diz o ditado popular não concluído por Alex “Vale tudo no amor e na

guerra”. Vale disputar cada minuto, cada espaço, sem pensar nas conseqüências.

Durante a discussão, as espiãs são sugadas para a WOOHP. Jerry tem mais uma

missão de caráter coletivo­mundial para ser resolvida — descobrir por que um país

está dominando as Olimpíadas de Inverno.

Clover: Deixa eu entender isso direito. Você nos arrancou do David (As bochechas de Clover ficam vermelhas e um coração rosa estoura ao seu lado) por causa de uns joguinhos bobos?

Clover considera a missão de caráter coletivo­mundial “boba”, porque as

heroínas têm outra coisa importante para resolver: quem ficará com David. Durante

a missão de caráter coletivo­mundial, diversas vezes as meninas fazem provocações

em relação ao personagem David, chegando a se separarem em certo momento.

Após a solução do caso, as espiãs aparecem novamente na escola. De repente,

encontram David e cobram dele uma decisão.

Clover: David! Não pode deixar a gente esperando para sempre! Precisamos saber de qual você gosta! David: Ã? Mas como assim? Eu gosto de todas! Alex: Nã, nã, nã, nã, não! A gente quer saber de qual de nós você gosta! Sabe? (Alex aparece com um indicador na boca, o outro braço ao lado do corpo. O fundo fica repleto de bolhas com nuances de lilás e branco.). David: Ah! Sam: Queremos que escolha uma de nós! David: A gente não escolhe uma garota como se fosse um produto em uma prateleira! Clover: A gente não se importa! Vá em frente! Diga a elas que sou eu! David: Clover, Sam, Alex, por favor! Vocês são todas ótimas! Eu não tenho como escolher uma entre vocês. Sinto muito!

122

(David sai caminhando. As jovens meninas o acompanham com os olhos.).

Como produtos em uma prateleira as personagens exibem­se para serem

escolhidas. Como afirma Clover “A gente não se importa!”. O consumo de

relacionamentos já é comum no dia­a­dia das espiãs. O ato de selecionar paqueras

como se estivessem em prateleiras, é prática corriqueira entre as jovens meninas

contemporâneas.

Durante alguns episódios percebe­se também o fascínio pelos personagens

masculinos que estão em evidência na sociedade do espetáculo: cantores 57 ,

atores 58 , apresentadores 59 e modelos 60 famosos são descritos como sujeitos

perfeitos e idolatráveis. No episódio As garotas dos games, por exemplo, Alex se apaixona pelo apresentador de televisão, Troy. Para ela, “Todo mundo sabe que o Troy

é o cara mais doce e adorável do mundo todo”. Ele é “maravilhoso, bondoso e gentil”.

Depois de solucionada a missão de caráter coletivo­mundial, Alex e suas amigas vão

aos estúdios do programa para conhecer o apresentador. No entanto, há um

problema, Troy é gerado por computador. Alex chora, não acredita. Seu objeto de

desejo era apenas uma montagem computadorizada. Neste instante, um jovem loiro,

de óculos e com uma pilha de livros e cds, entra no camarim. Alex, sem querer, bate

nele e tudo cai ao chão.

Alex: Desculpa! Steve: Ah! Tudo bem! Eu sou Steve. Eu criei o Troy! (Os olhos de Alex brilham e seus lábios novamente voltam a sorrir). Alex: É sério? Eu sou a Alex. (Juntos tentam pegar o mesmo cd e tocam as mãos. As bochechas avermelhadas dos personagens expressam o constrangimento. Muitos corações cor de rosa cobrem o fundo da tela de baixo para cima. Perplexas, Sam e Clover conversam enquanto Steve e Alex saem do camarim de braços dados). Sam: Ah, Clover! Não é bom programar um final feliz?

O que parece é que o sentimento profundo de Alex em relação a Troy se

dissipou instantaneamente. Surge uma nova e consumível conquista — Steve. Alex

consegue um final feliz, está novamente ao lado de um jovem menino.

57 Episódio Verdade no susto. 58 Episódio Nasce uma espiã. 59 Episódio As garoas dos games. 60 Episódio Dor de dente.

123

A maioria dos relacionamentos em que as personagens se envolvem parecem

tão frágeis, superficiais e efêmeros quanto quaisquer outros vivenciados na

contemporaneidade. Os vínculos afetivos não sobrevivem ao fluxo dos episódios, o

que pode fazer parte da gramática do desenho. O que parece é que as jovens

protagonistas do desenho vivem meras relações de bolso (BAUMAN, 2004) —

instantâneas e disponíveis. Relações que, conforme Bauman (2004), não envolvem

amor e que devem ser mantidas no bolso para que não alterem a rotina dos sujeitos

envolvidos. “É o tráfego que sustenta todo o prazer. Mantenha o bolso livre e

preparado” (BAUMAN, 2004, p.37), para que outros relacionamentos possam ser

captados e guardados no bolso.

Bauman (2004), em seu livro Amor Líquido, faz uma importante reflexão acerca da representação dos relacionamentos afetivos na telenovela EastEnders 61 e sua repercussão no dia­a­dia de seus telespectadores. Neste momento aproprio­me

de suas palavras por perceber que possa se estabelecer uma relação proximal entre

a pedagogia da telenovela mencionada por ele e a pedagogia do desenho animado

em estudo. Assim sendo, a série de desenho animado Três Espiã Demais é a repetição:

Daquilo que é o nosso conhecimento do dia­a­dia. Reafirmações regulares e confiáveis para a pessoa insegura: sim, esta é sua vida, e a verdade sobre a vida de outros como você. Não entre em pânico, vá levando, e não se esqueça nem por um momento de que isso vai acontecer — pode estar certo. (BAUMAN, 2004, p.42)

Partindo da suposição de que “homens e mulheres internalizam as construções sexistas” (MORAES, 2002 p. 28) e que ser jovem menina emerge na

relação com o que se diz sobre sê­lo, é possível perceber que os discursos

apresentados pelo desenho animado acabam por configurar uma importante

pedagogia, instruindo milhares de telespectadores quanto a um jeito socialmente

aceitável de ser e estar no mundo.

61 Segundo informações coletadas no livro Amor Líquido, EastEnders é um “seriado da BBC exibido com enorme sucesso desde 1985. Ambientado em Walford, região fictícia do ‘east end’ de Londres, aborda o cotidiano de famílias operárias, vizinhas e por vezes aparentadas, que vivem em Albert Square”. (Bauman, 2004, p.40).

124

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando aprendi todas as respostas mudaram as perguntas!

(grafitti bogotano)

O forte atravessamento da mídia no currículo e na vida escolar (COSTA,

2006) tem mobilizado professores e professoras — dos mais diferentes níveis — a

buscar alternativas para o aproveitamento e aproximação dos temas midiáticos aos

conteúdos programáticos de suas disciplinas.

O que parece é que não existem muitas alternativas. A mídia não só invade

nossas vidas de pessoas comuns como ultrapassa os muros da escola, interpela

sujeitos das mais distintas idades e condições sociais, fornecendo elementos para a

constituição de suas subjetividades. Neste aspecto, concordo com Costa (2006) e

me aproprio de suas palavras para propor uma breve reflexão acerca desta

presença invasiva e aparentemente incontrolável da mídia na escola,

Alguns dirão que artefatos externos à vida da escola sempre adentraram seus muros, e eu concordo com isso, pois fui aluna também, e professora de escola por algum tempo. Mas o que acontece hoje parece ser bem diferente. Antes eram pequenos detalhes, fortuitos incidentes, quase sempre vigiados, reprimidos e eliminados. Hoje não é assim; hoje eles se impõem, abalam a autoridade, subvertem a disciplina e a ordem, desviam os focos de atenção, invadem a cena, porque já começam a governar a alma das crianças e jovens. (p.192)

Já não cabe mais somente à escola o poder de selecionar, controlar e

distribuir os saberes que povoam a vida dos sujeitos. Meninas e meninos, cada vez

mais fascinados por assuntos veiculados pela mídia, mostram­se prontos a fazer o

impossível de ontem transformar­se no possível do amanhã. Isso porque tais

sujeitos inscrevem­se em uma lógica que se assenta sobre princípios narcisistas e

hedonistas. Preocupando­se com o prazer individual e com as constantes novidades

trazidas pela moda e veiculadas pela mídia, jovens e crianças — ensimesmados em

um mundo que paradoxalmente mostra­se globalizado e solitário — vêem a escola

como mais um dos muitos palcos de exposição na sociedade do espetáculo. Em

constantes e infindáveis movimentos em busca de visibilidade, os novos

personagens que invadem as telinhas — como Sam, Alex e Clover — fazem da

125

escola — em uma relação muito próxima com o que ocorre no cotidiano de crianças

e jovens na contemporaneidade — o espaço não só de exibição de novas roupas,

bolsas, botas, estilos de unha e cabelo, paqueras, entre outros, mas também de

disputa, com os demais colegas, pela tão sonhada popularidade.

Também não cabe mais somente à escola — como outrora já se chegou a

pensar — os processos que promovem a aprendizagem de como ser e conviver em

sociedade. Revistas, programas de TV, cinema, brinquedos, jornais, álbuns, entre

outros incontáveis artefatos culturais, compõem importantes lugares pedagógicos,

que de forma prazerosa, lúdica e envolvente, especialmente para crianças e jovens,

mostram, organizam e difundem uma gama importante de significados.

O que parece é que a mídia, em um emaranhado de narrativas e imagens

fascinantes, nos dá lições de como são ou deveriam ser os sujeitos

contemporâneos. Em meio a histórias de variados formatos, a mídia aponta uma

gama de significados que acabam por balizar a vida de muitas pessoas, que buscam

não só incorporar tais modelos em suas vidas, mas também aderir aos significados

postos em circulação.

Partindo da idéia de que as narrativas da mídia — além de muito presentes

no cotidiano escolar — são capazes de nos ensinar lições de como ser, viver e

conviver, a partir dos significados por ela apresentados, e tomando por base a idéia

de que “[...] nossas perguntas, as respostas que encontramos e as ações que elas

possam inspirar serão sempre contingentes, provisórias e sujeitas a constantes

revisões” (COSTA, 2005b, p.208­209), procurei na presente dissertação, mostrar

alguns dos possíveis significados articulados nas narrativas da série de desenho

animado Três Espiãs Demais.

Escolhendo estratégias analíticas cuidadosas, rigorosas e comprometidas

com a pesquisa, percebi que uma nova narrativa em relação às jovens meninas vem

se esboçando e circula em todo o mundo. O que parece é que, segundo minhas

percepções, um novo jeito de ser jovem menina [que eu chamaria de pós­moderno]

povoa os episódios do desenho animado selecionado para a presente pesquisa.

Segundo suas narrativas, objetos, aparências e relacionamentos, completamente

imbricados com o consumo, aparecem no desenho como temas­chave em seu

cotidiano.

126

Em meio aos problemas prosaicos e às missões heróicas, as protagonistas —

Sam, Clover e Alex — mostram­se inteiramente enredadas pelas teias do consumo e

capturadas pelas tramas da moda. Inseridas na sociedade do consumo e do

espetáculo, as espiãs fazem de tudo para (man)terem status, popularidade e evidência, e isso só é possível aliado ao universo dos objetos, com suas marcas de

inequívocos significados no império do consumo fashion. Entretanto, a efemeridade e obsolescência dos objetos, das aparências e dos relacionamentos, mobilizam­nas

a permanecerem incansavelmente em busca de novidades. Isso porque,

“abandonados aos impulsos” (BAUMAN, 2004), não mais atemo­nos a objetos

específicos e duradouros. Buscamos, isto sim, novos momentos de êxtase

promovidos pelo movimento de conquista do que é desejado, e a associação

instantânea dos significados por ele atribuídos as nossas identidades (SARLO,

2006) no momento da aquisição. Entretanto, tais significados se desintegram

rapidamente, em meio à avalanche de outros novos que são provisoriamente

apontados com aceitáveis pela sociedade do consumo, veiculados pela mídia e

qualificados na sociedade do espetáculo.

Os achados da presente pesquisa, distanciando­se das verdades universais e

totalizantes que tão bem demarcaram a modernidade, resultam de um outro jeito de

olhar, e mostram aquilo que meus olhos e minhas lentes teóricas possibilitaram ver.

Contudo, outros olhares poderiam produzir distintos sentidos sobre o desenho

animado Três Espiãs Demais. No império da ambivalência, seria possível produzir, multiplicar e matizar uma gama distinta e infindável de outros significados.

Seria possível pensar que, no momento de criação e montagem da série de

desenho animado, seus autores tenham tentado direcionar seu programa a um

público específico — garotas estudantes — e que, em um movimento involuntário,

tenham acertado em cheio crianças e jovens de variadas idades, condições sociais e

sexos. Isso ocorreria porque “o espectador e a espectadora nunca é, apenas ou totalmente, quem o filme pensa que ele ou ela é” (ELLSWORTH, 2001, p.20) e sua

captura poderia ocorrer por uma multiplicidade de significados. Conforme Ellsworth

(2001), a captura pelos filmes refere­se diretamente a relações que se estabelecem

entre o seu texto e as experiências particulares dos espectadores e espectadoras. O

que parece é que há algo no texto que age de alguma forma sobre quem os assiste.

Tal suspeita nos leva a refletir acerca da produtividade irrestrita de significados para

127

e por essa indiscriminada e distinta quantidade de sujeitos, que acabam por produzir

interpretações muito particulares do desenho animado em estudo.

Desvencilhados da superioridade das certezas, quem sabe, seria possível

investigar o humor, nisso que poderíamos considerar uma caricatura de jovens

meninas apresentada pelo desenho, e extrair desse foco analítico outros significados.

Poderíamos pensar e problematizar em outras direções, não só naquela que apontei.

Poderíamos supor que ao invés de estar produzindo mais consumo, o desenho

possa estar desafiando crianças, jovens e adultos, ao se olharem naquelas meninas,

a repensarem, problematizarem e questionarem suas condutas face ao consumo.

Será que não estariam aquelas imagens, quase caricaturais, da relação das

meninas com o consumo, ensinando algumas meninas a verem o ridículo e o

exagero daquilo e daí conduzirem suas ações em uma outra direção?

Talvez o desenho possa também mostrar outros significados para as mães e

pais telespectadores que, ao acompanharem as tramas em que se envolvem as

personagens da série, acabem por refletir sobre as relações entre jovens e consumo

na contemporaneidade.

Essas distintas interpretações seriam possíveis porque, segundo Ellsworth

(2001): “[...] as relações entre a forma como os textos cinematográficos endereçam

seu público e a forma como os espectadores reais lêem os filmes não são nítidas ou

puras — elas tampouco são lineares ou causais” (p.40).

Percebendo que as perguntas servem para “armar uma perspectiva para ver”, articulei nesta seção outras perguntas, por perceber que as minhas, assim como

todas as outras que forem articuladas nos mais diversos trabalhos acadêmicos, são

“[...] expressão de um tempo de um pensamento, de uma movimentação no interior

da cultura” (COSTA, 2005b, p.201) e portanto, resultantes de um jeito específico,

contingente e histórico de ver.

128

REFERÊNCIAS

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Episódios do desenho: TRÊS ESPIÃS DEMAIS

DOR DE DENTE. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 01 maio. 2006. Programa de TV.

BISCOITOS DA PAIXÃO. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 08 maio. 2006. Programa de TV.

ENCOLHE­ENCOLHE. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 01 jun. 2006. Programa de TV.

ENCOLHEU A CABEÇA. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 05 jun. 2006. Programa de TV.

ALIENÍGENAS. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 12 jun. 2006. Programa de TV.

A PROMOÇÃO DO MAL. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 19 jun. 2006. Programa de TV.

A ILHA WOOHP. TV Xuxa. Rio de Janeiro. Rede Globo: 18 jul. 2006. Programa de TV.

AS GAROTAS DOS GAMES. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 22 jul. 2006. Programa de TV.

GAROTAS DO VALE DO SILÍCIO. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro, Canal Jetix, 25 nov. 2006. Programa de TV.

135

LEI DA GRAVIDADE. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 28 nov. 2006. Programa de TV.

CIDADÃS MODELO. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 18 dez. 2006. Programa de TV.

NATAL DO MAL. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 23 dez. 2006. Programa de TV.

NASCE UMA ESPIÃ. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro, Canal Jetix, 03 jan. 2007. Programa de TV.

VERDADE NO SUSTO. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 05 jan. 2007. Programa de TV.

É O JEITO COMO SE JOGA. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 23 fev. 2007. Programa de TV.

MANIA DE MANICURE. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 04 abr. 2007. Programa de TV.

136

ANEXOS

137

ANEXO I – FICHA TÉCNICA 62

Nome do desenho: Três Espiãs Demais (Totally Spies) Autores: Vincent Chalvon­Demersay e David Michel Direção: Stéphane Berry Produção: Marathon Production, TF1, Fox Family Channel, Fox Kids Europe e Corportion Image Entertainment Categoria: Programa para Crianças

Duração: Aproximadamente de 22 a 30 minutos Procedência: Francesa Gênero: Série de desenho animado

Elenco Principal: Sam (Samantha): Ela é muito inteligente e ótima aluna na escola. Seu uniforme de espiã é verde. Alex: A espiã veste­se de amarelo. Ela é a mais nova do trio. Alex é esportista e apaixonada pela cultura oriental. Clover: Clover é a mais vaidosa, consumista e namoradeira das espiãs. Sua roupa de espiã é vermelha. Sempre dando em cima dos garotos, Clover chega a esquecer­ se de seus compromissos em meio às missões. Jerry: Ele é o chefe WOOHP, organização para a qual as espiãs trabalham. Diverte­ se "sugando" as meninas dos lugares mais inusitados para o seu escritório. Mandy: Mandy é a rival da escola. Com ela, as espiãs disputam status e namorados.

Sinopse: O que acontece quando três típicas garotas de Beverly Hills são introduzidas no mundo da espionagem internacional? A série de desenho animado Três Espiãs Demais conta a história de três típicas jovens meninas — Sam, Clover e Alex — que têm um trabalho nada comum: são agentes secretas da WOOHP 63 — Organização Mundial de Proteção Humana. Entretanto, para a maioria das pessoas elas continuam sendo jovens meninas prosaicas de Beverly Hills. Assim, as garotas têm que se dividir entre as missões e o dia­a­dia de toda a jovem de menina contemporânea (provas de escola, garotos, compras e suas rivais de escola). Sob o comando de Jerry, que dá dicas e coordenadas sobre as missões, as heroínas enfrentam vilões perigosos, usando uma tecnologia super vaidosa (batons a laser, secadores super potentes etc), porque nunca se pode subestimar um bom acessório! Inteligentes e valentes, para salvar o mundo de perigosos vilões, as garotas têm de conciliar as missões que recebem, com suas tarefas escolares ou a escolha do vestido perfeito para a festa de sexta! Para elas, lutar contra o crime não é desculpa para ter unhas maltratadas!

62 Informações disponíveis nos sites: <http://www.marathon.br>; <http://www.tvglobinho.zip.net> e <http://www.wikipedia.com.br>. 63 World Organization of Human Protection

138

ANEXO II ­ TEXTOS

Aluna (9 anos — 4ª série) Data: 28/03/2006

As Três Espiãs Demais

Um dia três meninas Alex, Sam e Clover estavam caminhando pelo colégio e o lixo puxou elas, era a WOOHP (Agência de Espionagem). Jerry falou:

— A missão de vocês é prender o ex­estilista de moda, porque ele está tentado congelar o mundo, seus apetrechos são o batom laser, as mochilas a jato e o mais novo quite de mergulho. Tchau, tchau meninas!

Quando elas chegaram, Clover falou: — Da próxima vez vou pedir para o Jerry para a gente vir de limusine, porque

isso está me matando! Depois que elas resolveram a missão, voltaram para o colégio e quando

Clover viu o garoto novo já se apaixonou por ele David, então foi correndo e se apresentou:

— Oi, eu sou a Clover e você é o David, eu já sei! E então apareceu a sua pior inimiga Mandy, e ela falou: — Pode ir saindo Clover, porque ele é o meu namorado! He, he, he, he! Então ela foi embora com as amigas!

Aluna (9 anos — 4ª série) Data: 28/03/2006

As Três Espiãs Demais

Um belo dia, Clover foi ao shopping com Sam e Alex, suas melhores amigas. Clover disse: — Olha que lindo aquele chapéu! — Sim, Clover! É lindo! E aí aparece a Mandy, a pior inimiga que já se viu na vida. Ela diz para a moça da loja: — Eu quero esse chapéu. Bota na minha conta. Bye! Bye! Clover ficou um inferno. Sam chamou Clover e Alex e disse: — Vamos sentar naquele banco.

139

O Jerry bota o dedo no botão e elas caem gritando. — Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh! — Olá meninas! Bom, teremos que fazer uma viagem a Nova Iorque. — Que legal! — disse Clover. — Mas vocês vão ter que se preocupar com a missão. Lá vão elas para conseguir a missão. A missão delas era férias. Elas não

sabiam. Era o aniversário de Sam. Assim que elas chegaram na casa nova, ficaram surpreendidas. Jerry liga e diz: — Feliz Aniversário Sam! Ela diz: — Obrigada Jerry.

Aluna (9 anos — 4ª série) Data: 24/04/2007

Calor para sempre

Era uma vez uma colegial espiãs, que se chamava Sami, mas suas amigas chamam­na de Sam.

As amigas de Sami eram Clover e Alex. Enquanto Sami estava na prova de ciências, um bandido estava a solta, roubando coisas para transformá­las em uma máquina que atingiria o Sol e colocaria na frente da Lua e ficaria verão para sempre. E Madama Charla, que é conhecida como bandida Charral, poderia vender seus bronzeadores que hipnotizariam as pessoas que serviriam de servos para Charral. Ela governaria o mundo.

Mas, Sami tinha uma lente de contato que localizava bandidos perigosos à solta. Sami pediu ao seu professor para ir ao banheiro e já avisou para seu professor:

— Vou demorar! Estou com diarréia. Sami saiu correndo da escola e foi para seu esconderijo localizar a bandida,

pegou seu uniforme de espiã, pegou seu jetisky e saiu pela entrada que dá de sua casa para o mar. Foi até o navio que Charral estava. E, quando chegou, lutou contra Charral e venceu a luta, ligou para a polícia e fim.

ANEXO III ­ FICHAMENTO

Fita 1 Temporada 1 – Data: 12/06/2006 Episódio: Aliens ­ Alienígenas

Missões

1. Alex precisa aprender a dirigir;

2. Salvar as pessoas capturadas por alienígenas.

Cena 1 64 — (1) 65

Professor da auto­escola: Eu realmente sugiro que consiga os horários de ônibus, mocinha. Porque desse jeito você dificilmente vai passar no exame de motorista. Alex: Mas eu tenho que passar! (debruçada sobre o capô do carro) As garotas que dirigem são muito mais atraentes que as que não dirigem!

Con

sumo de

Apa

rências

Cena 2 — (5)

(Encurralada num beco sem saída, Clover tem o fio de cabelo cortado por um dos suspeitos misteriosos. No mesmo instante, sua boca aumenta de tamanho — só aparecem dentes — suas sobrancelhas ultrapassam o desenho dos cabelos, uma mancha vermelha cobre a região dos olhos e nariz e seus olhos aumentam, distribuindo de forma desigual as cores que o compõe. Após jogar o suspeito conta a parede, Clover afirma:) Clover: Ninguém mexe no meu cabelo.

Cena 1 — (2)

(Chegando na WOOHP – tudo escuro). Sam: É aqui que é a WOOHP? Eu não vejo nada. Clover: Sabia que eu deveria me preocupar com o esmalte Brilho no Escuro que comprei no shopping.

Con

sumo de

Objetos

Cena 2 (Suspeitas indicam que a próxima abdução 66 será na Arábia e é para lá que as espiãs vão).

64 Em todas as fichas de decupagem o número indicativo da cena refere­se à seqüência em que aparecem nos episódios, cenas relativas aos focos selecionados para esta pesquisa. 65 Os números indicados entre parênteses referem­se à ordem cronológica das cenas.

2

— (4) Clover: É o tipo de missão que eu gosto. Disfarçada na cidade das pechinchas. Cena 3 — (6)

(Sam e um ET foram raptados pela GOOPE — Organização Global para Surrupiar Recursos Extraterrestres. A intenção é criar medo nas pessoas através das abduções que só serão interrompidas se os governos entregarem todas as riquezas).

Con

sumo de

Relacionamen

tos

Cena 1 — (3)

(Ao investigarem o 1º lugar das abduções — um milharal — as espiãs encontraram dois jovens e belos cowboys. Os olhos de Clover rapidamente se transformam em dois grandes corações. Ao fundo, outros corações, em rosa pink, fazem movimentos de cima para baixo, contrastando com a tela rosa claro. Clover afirma:) Clover: Eles nem parecem desse planeta!

Fita 1 Temporada 1 — Data: 08/05/2006 Episódio: Passion Patties – Biscoitos da Paixão

Missões

1. Descobrir por que as pessoas estão disputando entre si para adquirir os Biscoitos da Paixão;

2. Conseguir um chapéu tamanho M para Clover.

Con

sumo de

Aparências

Cena 1 — (2)

(Clover entra na loja e solicita o chapéu tamanho médio. Ele não entra muito bem, fica desconfortável. Motivada por suas amiga, experimenta o tamanho G). Clover: Eu nunca irei usar nada do tamanho G! Alex: Você está igual à capa da revista Adolescente Sensível. (Enquanto Clover experimenta o tamanho grande. Mandy entra na loja e compra o tamanho médio). Mandy: Eu quero esse chapéu. Bota na minha conta. Bye! Bye! (Clover fica furiosa e opta por esperar a chegada de outro chapéu de tamanho M).

66 A palavra é aqui empregada no sentido apresentado pelo Dicionário de usos do Português do Brasil (2002), que se fundamenta em estatística de usos contemporâneos no Brasil (linguagem literária e jornalística). “[Abstrato de ação] ato de arrebatar alguém com violência: A edição de 19 de novembro traz artigo de capa sobre o fenômeno da abdução por extraterrestres (FSP)”. Ou seja, as pessoas estavam sendo capturadas por alienígenas.

3

Cena 2 — (3)

(De repente, aparecem três vendedoras do biscoito Agridoce. Os biscoitos são carregados em um carrinho de supermercado. As vendedoras chegam na casa de uma senhora jovem, extremamente magra, cabelos bem apanhados, maquiagem e lhe oferecem o produto. Como resposta elas ouvem que ela está de regime. Contudo, não a escutam e forçam­lhe a comer um biscoito. A partir deste instante a senhora agarra todos os outros biscoitos do carrinho e começa a engordar).

Cena 3 — (4)

(Em seguida, as espiãs são capturadas por uma máquina que as envia até a WOOHP. Jerry mostra as jovens meninas que as pessoas estão disputando entre si para adquirir os Biscoitos da Paixão. Biscoitos que ao serem ingeridos, as pessoas não param de comer e em instantes engordam exageradamente).

Cena 4 — (5)

(Logo após, as espiãs são enviadas para a fábrica dos Biscoitos Agridoce. Lá são atacadas por personagens gordas e fortes. Suas armas de fogo jogam biscoitos. Quando as Três Espiãs Demais são capturadas, a dona da empresa agridoce, magra e de formas bem delineadas, as ameaça:) Dona da Fábrica: Essa máquina forçará vocês a comerem até explodir!...É a morte pelo doce... Quando eu trabalhava numa fábrica de biscoitos eu comi ao invés de vender e fui demitida, agora eu tenho a minha própria fábrica. (Clover foi obrigada a comer biscoitos e começou a exageradamente engordar. As meninas conseguiram vencer a vilã, fazendo­a tomar a substância que produzia o desejo de comer e instantaneamente engordar).

Cena 5 — (5)

(Após vencer e destruir os Biscoitos Agridoces, as amigas retornaram ao shopping. Lá, Clover, após tomar o antídoto e voltar ao seu número ideal, resolveu comprar o chapéu tamanho G. A espiã justificou a suas amigas:) Clover: O que vale é ser feliz. Não importa o tamanho.

Con

sumo

de Objetos Cena 1

— (1) (Inicialmente as espiãs aparecem no shopping observando uma vitrine). Clover: Já vi. Já comprei. Já devolvi. (No mesmo instante, a vendedora expõe na vitrine um chapéu). Clover: O chapéu da capa da revista chegou.

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Fita: 1

Temporada: 3 — Data: 01/05/2006 Episódio: Dental? More Like Mental — Dor de dente

Missões

1. Acabar com a dor de dente da Alex;

2. Conseguir a bolsa da Mute; 3. Descobrir o motivo da pobreza de Mandy;

4. Encontrar pessoas importantes desaparecidas (presidente de um banco multinacional, atriz, patinadora

famosa) 67 ;

Cena 1 — (1)

(O episódio inicia com o presidente de um banco internacional sendo atacado por um robô. O robô joga­lhe um gás que lhe faz rir de forma assustadora).

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Apa

rências

Cena 2 — (6)

(Horas mais tarde... O sinalizador, criado por Jerry, leva as duas espiãs ao apartamento, onde Sam está. As espiãs arrombam o vidro e Clover constata:) Clover: O que a gente tá fazendo no apartamento do modelo mundialmente famoso Dastin Cruis? Alex: Tá bom! Fala como é que você sabe disso? (Clover pisca um dos olhos). Clover: Bom, isso é completamente ilegal. Tem uma revista de fofocas que mostra os apartamentos das celebridades, todo o ano. Você deveria dar uma olhada.

Con

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Objetos Cena 1

— (2) (As três espiãs aparecem sentadas no pátio da escola). Clover: Então, eu ainda tô na lista de espera da bolsa exclusiva pra clientes da Mute, que a irritante da Mandy trouxe ontem. Alex: Ai! Clover: Eu sei! É super injusto! Sam: O que foi Alex? Você tá com dor? Alex: Tô sim! Eu tô com um dente aqui doendo muito! A sorte é que só dói quando eu como, falo ou respiro. (Clover fica furiosa e reclama:) Clover: Ah! Dá licença! A gente pode voltar pro problema de verdade! A Mandy só conseguiu a bolsa, porque ela subornou o cara. Eu nunca faria uma coisa dessas! (Mandy chega de ônibus. As espiãs se assustam).

67 O vilão é um dentista queria destruir os dentes das pessoas, para se vingar. Ele era dentista das estrelas, mas sua licença foi caçada depois que o presidente deixou o branqueador que ele criou tempo demais em sua boca. Como o presidente não seguiu suas instruções, o produto corroeu seus dentes.

5

Sam: Falando em coisas baixas, eu gostaria de saber por que a Mandy veio de ônibus? (Mandy fica furiosa. O fundo da imagem é preenchido por tons de vermelho, branco, preto e raios.). Mandy: Pra sua informação, tô fazendo uma pesquisa pro jornal sobre transporte público. Ah! Por enquanto dou nota zero! (De repente surgem pequenos chifres em Clover, sugerindo um caráter diabólico para sua atitude, e ela rapidamente pergunta:). Clover: Pro ônibus ou pra pesquisa? (Mandy, ligeiramente, puxa a sua bolsa da Mute e, com ar de vingança, mostra para Clover. Ao fundo, as cores se intercalam em vários tons de azul.). Mandy: Tá com inveja, né? Acho que algumas de nós são exclusivas e outras não são. (Clover expressa seu desagrado com expressão horripilante: olhos esbugalhados, com rajadas de sangue, testa vermelha e sobrancelhas que ultrapassam os limites do desenho do cabelo. Um caminhão de lixo desaba sobre Mandy).

Cena 2 – (3)

(Na seqüência, as espiãs aparecem na lanchonete da escola fazendo seu lanche e visualizam Mandy comendo um sanduíche). Mandy: O que é que vocês estão olhando? Acontece que eu não agüento mais a comida desse lugar. É muito nojenta pro meu gosto refinado! Sam: Ah! A comida daqui nojenta? Ela tá comendo sanduíche de mortadela!

Cena 3­ (4)

(No laboratório de Química). Sam: Meninas, isto é muito estranho! Tão vendo a blusa da Mandy? É igualzinha aquela que eu doei praquele bazar de caridade de roupas de marca. Eu acho que... Vocês acham que... Alex: Que em vez de comprar na Rodeo Drive a Mandy tá comprando num bazar de caridade? Sam: Só tem um jeito de ter certeza! A minha blusa tem as minhas iniciais atrás. Clover: Você ainda põe as iniciais nas suas roupas? A gente não tá mais no maternal! Sam: Acontece que o bordado é muito legal! (Sam mira a gola da blusa de Mandy com uma lente de aumento e completa:) Sam: E com certeza é a minha blusa! Clover: Primeiro ônibus, depois o sanduíche de mortadela, agora isso! Será que a Mandy tá sem grana?

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Cena 4 ­ (5)

(Sam é raptada. Alex e Clover falam com Jerry. De repente ouvem:) Mandy: U$ 12 é minha oferta final. É pegar ou largar! Alex: A Mandy tá fazendo uma “venda de garagem”? (Aparece a imagem da placa com a escrita em inglês e uma voz realiza sua leitura). Clover: Não qualquer “venda de garagem”. Uma “venda de garagem” de Beverly Hills. Se isso não é sinal de problema financeiro, eu não sei o que é. (Clover fecha o comunicador com Jerry falando e protestando. Logo em seguida, se aproxima da venda. Seus olhos brilham ao encontrar a bolsa da Mute e um som estridente, representando a alegria e a felicidade do momento, celebram a probabilidade da compra da tão desejada bolsa, desde o início do episódio). Clover: Aaah! A Mandy tá vendendo a bolsa exclusiva por 20 dólares. Ah! Vamos ver até que ponto o desespero chega. (Clover se aproxima de Mandy). Clover: Oi, Mandy! Eu te dou cinqüenta centavos pela bolsa. Mandy: Até parece! Você sabe que essa bolsa vale 50 mil vezes isso! Alex: Você tá passando por algum problema financeiro? Mandy: Não seja ridícula! Eu só tô me livrando de algumas coisas para dar lugar à nova coleção de outono que eu encomendei. Você vai querer a bolsa ou não? (Nesse momento a mãe de Mandy aparece gritando. A potência de seu grito é representada pelo vôo dos cabelos das personagens e deformação de seus rostos impulsionados pela força de seu berro). Mãe da Mandy: Mandy! Você não pode falar com suas amigas! É isso que significa estar de castigo? Clover: Castigo? Mandy: Não mãe! Elas não são minhas amigas! Mãe: Nada de desculpas mocinha! Só vai ter seu cartão e a sua liberdade de volta quando as notas melhorarem. Já pro seu quarto! Clover: Isso explica tudinho. Ela não tá sem grana, ela tá sem o cartão de crédito! Eu não acredito que eu vou dizer isso, mas coitadinha! Esse sim é o pior castigo do mundo! (Neste momento, as jovens são sugadas para a casa de Jerry. Clover reclama:) Clover: Obrigada por nada Jerry! Eu tava de olho num “Boá” de pena de pavão que eu podia ter comprado por 25 centavos e tinha troco.

Cena 5 ­ (7)

(Já na escola, após a resolução do caso do dentista, Clover se exibe com a bolsa da Mute). Clover: Com esta linda bolsa eu recupero o meu posto inatingível de mais fashion de Beverly Hills. Ah! Se bem que eu me sinto bem mal por ter pago somente 50 centavos. Alex: Você pode pagar o valor real pra Mandy! Clover: Helloooo! Não tô me sentindo tão mal assim. (Mandy feliz, chega numa belíssima limusine).

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Mandy: Eu fechei o ano em química! Seja bem­vindo de volta cartão de crédito! (Na tela o cartão ocupa metade do espaço. Mandy, ao fundo, o admira com ar de vilã. Para dar maior destaque ao cartão, as cores de fundo mesclam suas cores — amarelo, laranja e verde). Mandy: Ah! E obrigada por ter tirado essa coisa brega de mim. (A personagem aponta para a bolsa de Clover) Eu acabei de encomendar a mais nova bolsa da Mússia. Deve chegar a qualquer momento, pelo correio pack deck , Correio Aéreo Express. Ah! Já chegou! (A bolsa cai de um avião com o auxílio de um pára­quedas. Clover fica furiosa e grita:) Clover: Ah! Mas essa bolsa só ia sair na próxima coleção! Ah! Isso é tão injusto! Sam: Olha pelo lado bom. Você tem coisas que a Mandy nunca vai poder comprar, amigas de verdade. Clover: Fazer o quê? Não, vocês são o máximo.

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Fita 1 Temporada 1 — Data: 01/06/2006 Episódio: Shrinking — Encolhe­encolhe

Missões

1. Sair com um “ gatinho” lindo;

2. Encontrar os marcos históricos que estão sendo roubados.

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aparências

Cena 1 ­ (2)

(Enviadas por Jerry para a Índia, as jovens espiãs têm de descobrir o que está encolhendo marcos históricos em todo o mundo. Chegando ao Taj Mahal Sam exclama:) Sam: É incrível! Alex: É melhor do que algumas casas que tem em Beverly Hills. (Enquanto as jovens conversam, Clover aparece exausta, em um segundo plano, sentada em cima de suas malas). Sam: Eu não entendo por que você teve de trazer todas as suas roupas? Clover: Crise de moda. Eu tenho que escolher o que usar no meu encontro. Regra número um num encontro: sua roupa é tudo. Espera! Essa não é a regra de número um na vida? (Na China, as espiãs tentam evitar a captura da Grande Muralha da China. Clover aparece mexendo em sua mala). Clover: Ninguém vai me ajudar a arrumar uma roupa pro meu encontro, não é?

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Cena 1­ (1)

(No início do episódio as espiãs aparecem patinando na praia. De repente, Clover começa a se desequilibrar nos patins). Alex: O que foi Clover? Ficou com câimbra, pra desequilibrar assim? Clover: Não! Eu tô bem! Sam: O que foi? Por que está patinando tão mal? (Clover se atira nos braços de Alex. Neste instante, aparece um jovem com porte atlético, com uma bola de vôlei em punho, para dar o saque. Na imagem, os dentes do jovem soltam brilhos. Clover diz às amigas:) Clover: Olha só como se faz! (Ela patina em direção ao jogador e cai sobre ele). Clover: Ah! Eu sinto muito! Você está bem? Rapaz: Ah! Eu estou bem sim! Não se preocupe. (O clima de romance é apresentado pelo coração lilás que se forma na tela. Coração que mostra ao centro os olhares apaixonados dos dois jovens. Alex conversa com Sam:) Alex: É, ela é boa! Sam: É mesmo! (A cena volta a enfocar os dois personagens enamorados). Clover: Ah! Claro! Sexta, à noite, seria perfeito, Jason. Jason: Ô, legal! Eu pego você às oito.

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(Agora já patinando perfeitamente, Clover vai ao encontro das amigas). Clover: Vocês viram? Eu vou sair com Jason Robert. A Mandy vai odiar tanto! Ela se acha dez e quer sempre ter um menino.

Cena 2 ­ (3)

(Em outra cena, as espiãs encontram os causadores do encolhimento: são três ex­cientistas da WOOHP, que fizeram a experiência e foram encolhidos por sua própria máquina. Clover também acabou por ser reduzida). Clover: É o fim! Como é que eu vou experimentar minhas roupas para o encontro? (Após as instruções de Jerry, Clover reclama:) Clover: Hei! Como é que eu fico? Jerry: Ah! Sim! Já estamos trabalhando num antídoto para você, Clover. Clover: Legal! Porque vocês sabem: em dois dias eu tenho esse encontro com um cara chamado Jason... (Jerry a interrompe). Jerry: Eu sei! Eu sei! Clover: Mas eu já te contei sobre o que ele tem bem no meio... (Jerry, novamente, interrompe) Jerry: Desculpe, acho que estamos perdendo contato. Tchauzinho!

Cena 3 ­ (4)

(Após resolver a missão, as meninas aparecem em casa. De repente a campainha toca. É o carteiro. Ele entrega as malas de Clover e uma máquina para fazê­la retornar ao seu tamanho. Neste momento, Sam e Alex passam a disputar a máquina, para acioná­la em Clover. Sem querer Alex e Sam acabam mirando as malas de Clover, as aumentando, exageradamente, de tamanho junto com suas roupas). Clover: Ah! Não! Não posso usar isso! Eu não posso usar nada! O Jason não pode me ver assim! O que eu vou fazer? Ah! Esqueçam! Vou fazer assim: você atende a porta e cancela o encontro. Diga que eu tô doente, gripada. Pra marcar um outro dia. Sam: Tem certeza? Isto é, a gente pode te emprestar uma roupa. Clover: Nem pensar, meninas! Planejei a roupa perfeita a semana inteira. (A campainha toca. Alex e Sam dispensam o garoto que acaba por trombar com Mandy. Mandy aplica a mesma técnica que Clover usou no início do episódio. Jason convida­a para sair e Clover fica furiosa.).

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Fita: 2 Temporada : 3 — Data: 05/06/2006 Episódio: Head Shrinker much? – Encolheu a cabeça

Missões

1. Descobrir quem está transformando pessoas inteligentes em primatas e fazê­las voltar ao “ normal” ;

2. Sam precisa conquistar um garoto belo, jovem e intelectual.

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Apa

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Objetos

Cena 1 ­ (3)

(Sugadas e transportadas para a WOOHP, as jovens espiãs receberam instruções de Jerry). Jerry: Na verdade, parece que está acontecendo um incidente no Shopping Beverly Hills. Clover: No nosso shopping? (Após receberem os apetrechos). Jerry: Muito bem! Podem ir para o shopping. (Espiãs parecem felizes, com expressão de quem tem grandes planos para a sua missão). Jerry: Mas, lembrem­se vocês estão indo em missão. Então, nada de compras! Três Espiãs: Ah! Poxa!

Cena 1 ­ (1)

(O episódio inicia com Sam tentando encantar um belo jovem intelectual. Como não teve muito sucesso, tentou buscar uma solução). Sam: Eu não sou tão ignorante! Clover: Não é não, Sam! Esqueça esse programa de índio e vamos nos divertir na Feira do Glamour de Beverly Hills. Sam: Feira do Glamour! Para todo mundo rir de mim? Mas, não mesmo! Eu não vou mais aparecer em público até estar apresentável! Vamos fazer aula de etiqueta! Alex e Clover: O quê?

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Cena 2 ­ (2)

(Alex e Clover observam Sam na aula de etiqueta). Alex: Essas maneiras exemplares são muito chatas. Nem parece que é a Sam! Clover: Eu sei! Ela só tá fazendo isso para conquistar o Rodolf. Ele é que devia conquistar ela!

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Fita: 2 Temporada: 3 — Data: 19/06/2006 Episódio: Evil Promotion much? – A promoção do mal – Parte 1

Missões

1. Passar por testes para serem promovidas ao time de elite dos agentes;

2. Alex deve fazer a dieta do coelho;

3. Salvar o belo espião Jean.

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rências Cena 1 ­

(1) (No início do episódio, as espiãs aparecem em sua casa. Sam caminha até a geladeira, pega um suco, bebe­ o e o cospe no chão). Sam: Por que é que o suco tá com gosto de meia velha? (Clover aparece no banheiro, escovando os dentes. Ao colocar a escova com a pasta na boca, cospe­a na pia). Clover: Ai! Que nojo! O que que aconteceu com a pasta? (Clover desce as escadas e encontra Sam com a caixa de suco na mão). Sam: O que aconteceu com o suco? Eu preciso tomar suco de manhã! Clover: Ã! Não olha pra mim! Alguém entrou aqui e trocou a minha pasta de menta por essa gosma laranja. (Alex aparece comento cenoura). Alex: Ninguém entrou aqui. Eu troquei tudo na casa por produtos derivados de cenoura (Uma gota pinga dos cabelos de Alex e Clover) Eu tô fazendo a dieta do coelho! (Várias cenouras preenchem o fundo da tela. Alex segura uma revista com a dieta do coelho). Sam: Dieta do coelho? Isso significa que você só vai comer cenoura? (Clover mostra sua escova de dente). Clover: Correção! Ela vai fazer a gente só comer cenoura! (Alex folheia a revista com a dieta. O fundo volta a ficar coberto de cenouras). Alex: É a nova mania de Beverly Hills. Sabia que uma cenoura te dá energia pra andar uns quatro quilômetros? Pode acreditar! Cenoura é o melhor legume que tem. Quem é gente, come. Clover: Pode esquecer! Se não forem feitas de diamante, eu não gosto de cenoura! Alex: Mas cenouras são ótimas! Elas melhoram sua vista (Alex coloca as mãos nos olhos, agora, grandes) te dão mais capacidade pra pular (Ao lado de Alex, aparece uma nuvem com Alex vestida de coelho, pulando) e ainda curam piolho. (Alex aponta o cabelo com os dois indicadores). Clover: Tá! Deixa eu fala logo. Eka! Sam: Cenouras são legais, mas um regime só com cenoura é um pouquinho demais. (Clover confirma balançando a cabeça) Você não acha que tá achando demais, amiga?

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Cena 1 ­ (2)

(As espiãs são avisadas por Jerry que deixarão de ser Espiãs Junior e entrarão no Time de Elite de Gentes Mais da WOOHP. Em seguida, as espiãs foram transportadas para uma bela mansão onde farão testes para serem promovidas. Na mansão, são recebidas por Terence, irmão de Jerry. Levadas a seus quartos, percebem que existem quatro quartos). Terence: Escolha uma porta. Qualquer uma vai levá­la até sua suíte particular. Sam: Esperai! Tem quatro portas e acontece que nós só somos três. (Nesse momento um som suave e tilintante anuncia a presença de outra pessoa na sala. Terence o apresenta). Terence: Meninas, gostaria de apresentá­las ao seu colega, o agente Jean. (A imagem mostra­o de baixo para cima, sobre um fundo azul coberto por rosas cor de rosa. Jean é um belo jovem, cabelos curtos, moreno, porte médio. Nesse instante, as espiãs colocam­se uma ao lado da outra, boquiabertas, mãos fechadas e à frente do rosto, corações no lugar dos olhos, combinando com um fundo rosa claro e muitos corações de diferentes nuances). Terence: Ele trabalhará junto com vocês. (Clover encostando­se rapidamente no braço de Jean). Clover: Ah! Me permite? O meu nome é Clover. Mas você pode me chamar de gatinha! (A imagem, agora, foca Alex e Sam expressando desaprovação da iniciativa da colega. Lado a lado, braços cruzados, olhares ferozes e bocas em u invertido. Jean vai ao encontro das outras duas espiãs, inclina­se e apresenta­se). Jean: Senhoritas! (Alex coloca as mãos no queixo, sorri e seus olhos novamente se transformam em corações. Já os de Sam brilham constantemente). Alex: Ah! Esse lugar é bom demais pra ser verdade! Sam: Quem diria que nós iríamos misturar trabalho com prazer!

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Cena 2 ­ (3)

(Os instrutores apresentam o motivo da escolha dos espiões.). Clover: E o Jean? Instrutor: Jean é o mais precoce de todos. Foi escolhido no dia em que nasceu. (A imagem mostra Jan, no berçário, olhando golpes de artes marciais na TV e os reproduzindo no berço.) A inteligência de Jean e seu talento natural para lutas, eram exemplares. (Alex se aproxima de Jean).

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Alex: Gatinho das artes marciais quando bebê! Ah! Tô apaixonada! (Enquanto isso corações saem de sua cabeça. Furiosa, Clover a puxa de perto de Jean). Clover: Sai daí ô! Eu vi ele primeiro! (Sam aponta o dedo indicador para o nariz de Clover e responde:) Sam: Viu não! Nós vimos juntas! (Um reflexo de luz vermelho no cabelo de Clover expressa o quanto sua cabeça está quente com esta situação). Jean: Meninas! Tem Jean aqui suficiente para todo mundo! (De braços abertos, o espião acolhe as três jovens. A cor rosa cobre o fundo da tela, repleto de corações).

Sam Sua habilidade com apetrechos e a habilidade para solucionar problemas apareceram desde muito pequena.

Alex Proeza atlética e habilidade para se disfarçar.

Clover As habilidades de espionar e observar já eram muito desenvolvidas ainda quando criança.

A escolha das

espiãs

Jean No dia que nasceu, demonstrava inteligência e talento natural para a luta.

Fita: 2 Temporada: 3 — Data: 18/07/2006 Episódio: Scape from WOOHP Island — A Ilha WOOHP

Missões

1. Salvar a espiã Britney;

2. Estarem belas para o piquenique da WOOHP.

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Cena 1 – (1)

(As meninas aparecem em casa. Alex de quimono treina taekwondo no meio da sala. Enquanto isso, Sam lê um livro. De repente, a campainha toca. Alex vai até a porta e quando abre...). Clover: Surpresa! (A imagem a seguir é de Clover com roupa e malas cor de rosa. Ao fundo, uma luz a contorna com outra tonalidade de rosa. Clover entra e deposita sua maleta sobre a mesa, onde Sam apoiava seu livro). Alex: Você perdeu sua chave? Sam: E a sua noção de moda? Clover: Não! E não! Eu sou uma esteticista Esther. E isso não é o máximo? Alex: (Expressão de interrogação) Estétister o quê?

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Clover: Uma vendedora de porta em porta de tudo que existe de bom no mundo. (Em seguida, Clover abre sua maleta. Uma forte luz dela emana. Luz tão forte que a imagem da personagem aparece recoberta por uma mancha clara. A imagem que segue são de produtos, dentro da maleta, que aleatoriamente brilham). Alex: Ah! Sam: Uau! Alex: Hum! Nunca vi uma reportagem no noticiário sobre esses produtos? Clover: Nada foi comprovado! Sam: O preço abusivo fala por si mesmo! Clover: Quem pode colocar um preço na beleza! (Clover olha o rosto de Sam). Clover: Sam, tá nascendo uma espinha aí? (A expressão de Sam muda completamente. Uma gota de suor escorre por sua testa. Os olhos pequenos e retos, a testa cheia de riscos e os lábios de decepção, em forma de u invertido, expressam seu constrangimento. Sam olha para Alex). Sam: Você disse que não dava para ver! (Alex faz um sorriso sem graça. Clover aproveita para pegar as mãos de Alex). Clover: Alex, você andou limpando a privada de novo? (Alex puxa suas mãos que estavam sendo analisadas por Clover). Alex: A privada não se limpa sozinha, sabia? (Sam coloca suas mãos tapando a boca, mostrando o pavor da situação). Clover: Ah! Gente!Só experimenta algum! Por mim! Sua melhor amiga! (Percebendo o desprezo de suas amigas em relação aos produtos, Clover tenta outra forma de convencê­las.). Clover: Vocês não querem estar lindas para os gatinhos no piquenique da WOOHP, esse fim de semana? (As duas espiãs se olham e um som estridente prenuncia a mudança de idéia.). Alex: Bom, pensando assim, eu vou pegar um hidratante. Sam: Eu fico com o microesfoliante facial. (As espiãs compraram os produtos e, rapidamente, já os experimentam.). Sam: Ou! Parece que tem mil dedinhos esfoliando o rosto da gente. Alex: Olha só! Minhas mãos nunca foram tão macias! Ah! (As duas personagens aparecem, lado a lado, olhos fechados, sorrisos nos lábios, expondo as mãos e o rosto, agora “devidamente” cuidados. Repentinamente, saem feixes de luz das mãos de Alex e do rosto de Sam). Clover: Fica sessenta e nove e cinqüenta. Sam e Alex: Ã? (As espiãs caem para trás quando ouvem o preço dos produtos. Alex sentada ao chão, olhos para cima,

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direcionados para Clover que só aparece dos ombros para baixo). Alex: Cara, pra quem não põe preço na beleza, você não economiza, hein?! (Quando Alex e Sam aparecem pagando Clover o chão abre e as espiãs são transportadas para a WOOHP, onde irão receber mais uma missão para solucionar).

Cena 2 – (2)

(As espiãs aparecem na WOOHP. A imagem mostra Clover contando o dinheiro). Jerry: Temos um problema, meninas! Clover: O único problema que eu vejo é sua pele branquela, Jerry. Mas, eu tenho o autobronzeador que eu terei o maior prazer em te vender. Jerry: O avião de Britney caiu. Sam, Alex e Clover (Assustadas): Ã? Britney? (Britney é outra espiã da WOOHP).

Cena 3 – (3)

(As três espiãs sobrevoam a Ilha da WOOHP, com motos voadoras, à procura do avião de Britney, que caiu). Clover: É ali! Agora vamos cumprir logo essa missão de salvar a Britney antes que estrague o meu cabelo, que está lindo hoje! (Chegando na ilha, as espiãs são atacadas pelo criminoso Gargântula. As amigas tentam fugir com suas mochilas a jato. Gargântula captura Alex). Sam e Clover: Alex! Alex: Alguém sabe se as mochilas têm airbeg? Sam: Agüenta aí, Alex! Eu te salvo! (Sam tira o capacete e começa a coçar seu rosto incansavelmente. A velocidade do ato de coçar é expressa pelo desaparecimento das mãos. Percebe­se o sofrimento de Sam, pela exposição dos dentes, e a irritação da pele, através de manchas claras no rosto). Clover: Hellooo! A gente tá no meio da batalha. Não é hora de desconcentrar. Sam: Não sou eu! É esse seu creme brotoegeador! Tá atacando a minha cara! Clover: É só uma alergiazinha. Minha linha de produtos tem uma pomada pra isso. Mas, agora a gente tem que dar um curto­circuito na placa mãe do Gargântula.

Cena 4 – (4)

(Após vencer o criminoso, Gargântula, Alex é jogada para o alto e Sam consegue pegá­la). Alex: Ei! Boas mãos, Sam! Sam: Ah! Queria dizer o mesmo de você! (A imagem mostra as mãos de Alex cobertas de pêlos). Alex: Ah!!!! Quanto pêlo! Culpa daquele hidratante fajuto!!! Clover: Ah! Não encana! Eu posso te vender um creme depilatório que é o máximo. Agora, chega de papo furado. Nós temos duas horas para salvar a Britney e sair dessa bomba relógio. Sam: Vamos!

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Cena 1 – (5)

(Após encontrar Britney, faltam apenas quatro minutos para a explosão da ilha). Clover: Você tem um mapa para voltar para o avião, Britney? Britney: Tenho coisa melhor, uma trilha a laser. Eu fiz quando fui capturada. Clover: Uau! Nós te treinamos muito bem mesmo. Britney: Super bem! Alex: A gente devia pedir para o Jerry deixar você na nossa equipe pra sempre! Britney: Que amor, Alex! Mas, o Jerry já me colocou numa equipe. (Britney mostra, no seu comunicador, a foto de dois belos jovens. Os olhos de Alex, Sam e Clover, rapidamente, transformam­se em corações vermelhos e o rosto de Britney demonstra o quanto está satisfeita e muito bem acompanhada). Britney: Meninas, estes são Dimitri e o Xavier. Sam, Alex e Clover: Aaaahhhhhh! Clover: Que delícia! Alex: Não é justo! Britney: Eles vão estar no piquenique da WOOHP. Eu apresento pra vocês!

Fita: 2 Temporada: 1 — Data: 22/07/2006 Episódio: Games Girl’s — As Garotas dos Games

Missões

1. Alex quer conhecer o jovem Troy, apresentador de televisão por quem está apaixonada;

2. Descobrir o paradeiro de pessoas famosas que estão misteriosamente desaparecendo.

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Cena 1 – (1)

(As espiãs iniciam o episódio na escada rolante do shopping Beverly Hills). Alex: Foi bom a gente ter pego refrigerante antes das compras, né? Sam: Lembra da última liquidação do ano? A Clover ficou tão empolgada que quase desmaiou de desidratação dentre do provador. Clover: O que eu não posso entender é como eles param a gente por uma simples garrafa de água! É uma coisa tão boba, mas não na maior liquidação do ano.

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Cena 2 – (4)

(As espiãs são sugadas do shopping para WOOHP). Clover: Eu não acredito que fomos sugadas da maior e melhor liquidação do ano! Jerry: Bom dia garotas! Parece que vocês tiraram o dia para fazer compras. Clover: Eu devo lhe dizer que é melhor não nos tratar como sua roupa suja Jerry!

Cena 1 – (2)

(Sam, Clover e Alex circulam no shopping e passam em frente a uma loja de televisores. De repente, uma música toca e a imagem de um personagem atrai a atenção de Alex. Alex parece hipnotizada pela imagem do jovem que aparece na televisão. Sem querer, ela derruba água na blusa de Clover). Alex: Desculpa Clover! Mas, é que o Troy é uma coisinha tão fofa, que eu não consigo tirar os olhos dele. (Enquanto Alex fala, corações saem de seus olhos e, ao fundo, corações maiores cobrem a tela de baixo para cima. As cores rosa e lilás predominam na tela. Na imagem que finaliza a cena, Alex aparece com uma baba ao lado da boca e olhos caídos).

Cena 2 – (3)

(As jovens meninas aparecem dentro de uma lojas escolhendo roupas). Clover: Alex, todo o ano você fica gamada em algum ator que você pensa que é o maior cara do mundo. (Sam entra no provador. Alex responde com expressão de raiva). Alex: E daí?! O que é que tem? Sam: Acorda! Ele só está representando! Alex: Ah! Vai! Todo mundo sabe que o Troy é o cara mais doce e adorável do mundo todo. Sam: Está bem! Mas, quem disse que não tem mulheres no pedaço? (Sam sai do provador, usando um vestido longo, cor rosa­choque). Alex: Eu sei que vocês só estão querendo o meu bem, mas se vocês pudessem conhecer o Troy, pra ver o quanto ele é maravilhoso, bondoso e gentil! (Sam admira sua imagem no espelho, passa as mãos no cabelo e gira. Sua expressão é de felicidade). C

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Cena 3 – (5)

(Após solucionar a missão, as espiãs vão aos estúdios de Hollywood disfarçadas de três homens, para conhecer o Troy). Sam: Foi muito legal o Jerry nos emprestar o Tim (carro que muda de aparência a partir das ordens), para podermos vir ao estúdio sem sermos incomodadas. Clover: É, foi ótimo conseguir energia para poder usar o cinto de realidade virtual. (As jovens voltam a aparência de espiãs, em frente ao camarim de Troy).

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Alex.: Eu não acredito que eu vou conhecer mesmo o Troy! (Alex arruma o cabelo e a blusa e abre a porta do camarim com expressão de ansiedade e felicidade. De repente, a voz de Troy repete continuamente a mesma frase). Troy: Oi! Eu sou o Troy! (Ao entrar na sala, Alex vê a imagem do personagem numa tela de computador). Alex: Claro que o Troy é tão perfeito! Ele é gerado por computador! (Dois rios de lágrimas se formam em seu rosto) Sabia que era bom demais pra ser real. Sam: Ah! Sinto muito Alex! Mas eu sei onde você pode visitar o Troy se você realmente quiser. Alex: Tudo bem! Eu cansei do virtual! (Neste instante um jovem loiro, de óculos e com uma pilha de livros e cds entra no camarim e Alex, caminhando, choca­se com ele, deixando tudo cair ao chão). Alex: Desculpa! Steve: Ah! Tudo bem! Eu sou Steve. Eu criei o Troy! (Os olhos de Alex brilham e seus lábios novamente voltam a sorrir). Alex: É sério? Eu sou a Alex. (Juntos tentam pegar o mesmo cd e tocam as mãos. As bochechas avermelhadas dos personagens expressam o constrangimento. Muitos corações cor de rosa cobrem o fundo da tela de baixo para cima. Perplexas, Sam e Clover conversam enquanto Steve e Alex saem do camarim de braços dados). Sam: Ah, Clover! Não é bom programar um final feliz? Clover: Ah! Esperai, Sam! Eu não quero pensar em computador por um bom tempo! (Fala produzida a partir dos grandes desafios que encontraram para sair do mundo virtual).

Fita: 2 Temporada: 1 — Data: 25/11/2006 Episódio: Silicon Valley Girl’s — Garotas do Vale do Silício

Missões 1. Descobrir o que está acontecendo com dispositivos computadorizados que estão atacando e castigando

algumas pessoas. (professor de ginástica, diretora de uma escola e atleta);

2. Respeitar as regras de etiqueta.

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Cena 1 ­ (1)

(O episódio inicia com as jovens espiãs num tribunal de julgamento, na escola. Clover é a juíza). Clover: Sam! Alex! A corte não teve escolha senão declará­las culpadas por violar o código do vestuário. Sam: Mas Clover! Sua excelência! O salto só tinha um centímetro e pouco a mais do que o código permite! Alex: Não pode perdoar essa? (Clover levanta a perna e analisa a altura do salto de sua bota rosa de cano longo. Sua expressão é de constrangimento em relação à punição das amigas). Clover: Bom! Considerando as circunstâncias, sairão dessa com uma condenação com a pena suspensa.

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Mandy: Objeção sua excelência! Isso é total favoritismo! Professora: Concordo! Você está sendo muito complacente para ser uma juíza da corte da escola, Clover! Vou substituí­la pela Mandy. (Clover fica furiosa e arranca sua peruca de juíza da cabeça). Mandy: Obrigada, senhora Bronks! Eu prometo restaurar a dignidade dessa corte. (Clover arremessa a peruca de juíza na cabeça de Mandy). Mandy: A sua integridade, também! (Clover caminha em direção às rés e Mandy assume a posição de juíza). Mandy: A corte condena vocês três por desrespeito. E a sentença é de três semanas na coleta de lixo. Próximo caso! (A cena finaliza com a projeção das três espiãs atrás das grades, com roupas de listras brancas e pretas com uma carcereira batendo com um cacetete nas grades).

Cena 2 – (3)

(Após solucionar a missão, às jovens espiãs retornam ao colégio para enfrentar a juíza Mandy. Mandy ponta para a blusa desabotoada de Clover e diz:) Mandy: Ora, ora! Isso é um desrespeito com o tribunal! Professora: Mandy! Agora já chega! Mandy: Vejamos... Eu as condeno a seiscentas horas pegando o lixo. Professora: Não! Nada disso! Você desobedeceu o código de vestuário. Está fora do tribunal dos estudantes. Mandy: Ah! Mesmo? Ah! Bom, se não sou mais juíza, exijo outro trabalho.

Cena 3 – (4)

(Na seqüência final, as três espiãs aparecem bebendo suco numa mesa com guarda­sol, no pátio do colégio, e observando Mandy catando lixo). Alex: Ah! Mandy! Faltou a embalagem do leite! (Mandy aparece furiosa, recolhendo lixo do chão. Quando Mandy pega a embalagem de leite uma fina fumaça cinza sai da caixa). Sam: Leite azedo! Corram! (As três espiãs saem correndo).

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Cena 1 – (2)

(As espiãs vão para a Itália para tentar proteger o professor de ginástica que está sendo atacado por dispositivos computadorizados. Na tentativa de levá­lo para a WOOHP – único lugar seguro – pegaram um trem. De repente, uma voz sai de dentro do comando do trem e avisa que o treinador será castigado. O trem, desgovernado, aumenta a velocidade e corre em direção a rochas. As espiãs saltam com o professor e aterrissam numa praia onde três belos e musculosos garotos jogam vôlei). Alex: Talvez seja uma pergunta boba a se fazer a um professor de ginástica. Mas, você tem algum inimigo? Professor de Ginástica: Não, apenas todos os meus alunos. Sam: Tinha algum craque em computadores? (Os jovens garotos se aproximam e trocam olhares com Clover). Professor de Ginástica: Eu tinha um geninho, que pulou etapas todo o ano passado. Eu esqueci o nome dele. (Um dos rapazes acena para Clover, outro rapaz encosta­se ao ombro do anterior e juntos distribuem olhares convidativos). Professor de Ginástica: Foi transferido para o Vale do Silício. (Clover retribui o aceno e os olhares e dá uma piscada de olho). Clover: O Colégio Vale do Silício? Não foi lá que a vítima número três foi a professora? (Clover levanta e vai saltitando em direção aos meninos). Sam: É isso! O treinador pegava no pé dos garotos numa escola e o Bret noutra! (Nesse momento, Sam é focada em primeiro plano, enquanto em um segundo plano, Clover é jogada várias vezes para o alto nos braços dos três belos rapazes; experiência que a deixa no auge da felicidade). Sam: Pessoal! Se por acaso forem ambos o mesmo garoto que está agora no Vale do Silício?! (Sam percebe o que está acontecendo com Clover e com a mão no queixo faz uma expressão de desaprovação. Alex levanta e caminha em direção à Clover). Alex: Hum! Hora de fazer uma visita ao Vale do Silício. No caminho a gente deixa o treinador na WOOHP. (Ao perceberem a aproximação de Alex, os garotos colocam Clover novamente no chão. Alex pega Clover pela mão. Clover fica olhando para trás, abanando para os garotos. Os jovens demonstram em suas faces expressões de decepção; um deles com a mão na cintura e os outros dois com os braços estendidos ao longo do corpo). Sam: Vem Clover!

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Fita: 3 Temporada: 3 — Data: 28/11/2006 Episódio: Physics 101 much? — Lei da Gravidade

Missões 1. Escolher quem fica com o melhor e maior quarto da casa que as espiãs acabaram de ganhar de seus pais;

2. Descobrir o que está acontecendo com na Organização Espacial Internacional.

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Aparências

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Cena 1 – (1)

(As espiãs chegam de táxi em frente a uma casa e se posicionam de costas para ela. Juntas e abraçadas fazem a contagem para se virarem). Três Espiãs: Um, dois, três! (Quando viram, sua expressão é de alegria, espanto, felicidade, euforia. A imagem que aparece é de uma linda e enorme casa. Realçando o valor da casa, brilhos cintilam, alternadamente, de suas janelas. As três gritam de alegria). Três Espiãs: Aaaaaaaahh! (E, rapidamente, entram na mansão). Clover: Mas isso é tão legal! (As primeiras imagens percorrem a peça da casa acompanhando o olhar das jovens meninas. É possível observar a presença de portas de vidro, de um extenso aquário e de uma mesa com cadeiras de vidro). Sam: Eu nem acredito que é toda nossa! Alex: Não é muito legal nossos pais terem deixado a gente morar juntas, enquanto eles estão na Europa? (Ao mesmo tempo em que Alex fala, o foco de imagem percorre o trajeto do quintal para o interior da casa. Dois andares, terraço, paredes e portas de vidro, piscina, são algumas das atribuições da casa das jovens meninas). Sam: É muito legal! Por falar nisso, a vizinhança é bacana! (Enquanto admira o enorme aquário que serve de divisória entre três ambientes, Sam afirma:). Alex: É! Aposto que a gente mora perto de algum cantor. (O foco da imagem alterna entre as espiãs, que se encontram em três ambientes diferentes enquanto falam). Sam: Ou ator de cinema! Clover: Ou, o que é melhor ainda, estilistas! Sam: A gente vai se divertir muito, muito!

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(Alex e Clover abraçam Sam enquanto ela fala e, juntas, completam:) Três Espiãs: Amigas para sempre! (Clover corre para o enorme banheiro, com três pias, armário com roupões, dois espelhos de corpo inteiro e uma banheira de hidromassagem). Clover: Ah! Uou! Vocês têm que ver o salão de beleza que é o banheiro! (A imagem muda. No segundo piso da casa, Alex aparece admirando o quintal). Alex: Vocês têm que ver a piscina e a hidro! (Em seguida, Sam em uma janela, admirando a vista). Sam: Vocês têm que ver essa vista! É maravilhosa! (A imagem foca a vista para o mar. Todos os lugares cintilam, expressando o valor que representam para as meninas. Juntas chegam a um dos quartos). Três Espiãs: Gente! (A emoção, a alegria e o espanto das jovens são valorizados por raios brancos que delas emanam em direção ao quarto). Alex: Ah! Clover: Que lindo! Sam: Eu vi primeiro! (Sam e Alex fazem menção de que vão caminhar em direção ao quarto. Clover as segura pelo ombro e diz:). Clover: Desiste gente! Esse quarto é tudo o que eu preciso para guardar minha coleção de roupas de grife! Esse quarto praticamente grita por mim! (Uma vara de roupas aparece, ao fundo, com cabides repletos de diferentes modelos de roupas. A face de Sam aparece no canto da tela). Sam: Desculpa, Clover. Suas roupas não vão caber quando trouxer a minha mesa e os meus livros. (Alex posiciona­se na frente de Clover e diz:) Alex: Gente! Mas eu super preciso do espaço para treinar meu taekwondo! (Alex inicia uma seqüência de golpes para demonstrar o quanto precisa do quarto. Clover a empurra, tirando­a de cena. Alex reproduz sons do taekwondo). Alex: Iá! Hô! Iá! Clover: Iá nada! As minhas roupas precisam de um lar e vai ser aqui. (O rosto de Clover passa a ocupar meia tela da imagem e em um segundo plano Sam aparece sentada, usando o computador. A imagem vai se deslocando e revela Sam). Sam: Mas sou eu quem passa maior parte do tempo estudando. (Clover coloca uma das mãos na cintura e com a outra esfrega o queixo. Sam, ao lado, expressão de braveza. De repente, uma luz brilha do lado da face feliz de Clover, ela estala os dedos). Clover: Ah!

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(Clover anota algo em um bloco, enquanto as amigas a observam. Após concluir suas anotações, a personagem divide uma folha de papel em vários pedaços. Clover fica de costas para Sam e Alex). Clover: Tá bom! Já chega! (Clover vira­se com um chapéu na mão) Vamos resolver como gente civilizada e fazer um pequeno sorteio. Alex, você tira. (Alex aparece com expressão de ansiedade. Sam, de preocupação. Alex olha o papel feliz. Num instante sua expressão muda completamente. Suas bochechas ficam vermelhas e também o nariz, seus olhos arredondados são preenchidos por vários círculos. Em seguida, ela lê lentamente, catatônica). Alex: Clo­ver! (Clover vira de costa para as amigas). Clover: Yes! (Enquanto Alex está paralisada, Sam passa a vascular o chapéu. De repente, dois rios de lágrimas escorrem pelo rosto de Alex. Clover aparece feliz e com as mãos para o alto, festejando o sorteio. Raios claros saem dela). Clover: Vocês podem vir me visitar a hora que quiserem. (Balões e serpentinas completam o fundo). Sam: Bom, eu acho que é justo. (Sam está com o chapéu nas mãos e a imagem foca dentro do chapéu vários papéis com o nome de Clover. Sam vê e sua face expressa fúria). Sam: Ei! Peraí! Gente civilizada, né? Tá escrito Clover em todos os papéis! (De repente, os balões, as serpentinas e o arco­íris — ao fundo de Clover — são substituídos pela imagem de Sam e Alex desfiguradas, como monstros. Seus dentes cerrados ocupam metade da face e seus olhos aparecem brancos. O arco­íris é substituído por uma espécie de labareda de fogo. Neste momento, o chão se abre e as meninas são sugadas e levadas para a WOOHP, onde Jerry as espera. Porém, a discussão continua. Sam fala para Clover:) Sam: Você não é a única que tem roupas! (Alex para Sam:) Alex: É Clover! E não é só você que faz lição! Eu tenho roupa e lição e taekwondo. Sam: Ai! Tá! (Alex aplica um golpe em Sam. Jerry se aproxima e quase é atingido pela perna de Alex). Jerry: Eu não entendo a importância deste debate de nível intelectual (Jerry arruma a gravata) tão alto, mas atividades estranhas na Organização Espacial Internacional têm acontecido.

Cena 2 – (2)

(Na escola, as espiãs aparecem na lanchonete). Clover: Pedra, papel e tesoura. Alex: É! Você vai roubar de novo! Clover: E como é que se rouba nesse jogo?

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(Sam, mão direita fechada sobre a mesa, responde furiosa:) Sam: Você acha um jeito! Clover: Há! Então o que você sugere? Alex: Eu sugiro nos concentrarmos na missão. Clover: Como você consegue pensar na missão com uma crise como essa rolando? (Mandy se aproxima da mesa das espiãs e fala para Clover). Mandy: (risos) Não precisa de licença para usa uma roupa tão feia assim? Ah! Não fala nada não. Olha quem vem ali?! (Clover se enfurece ao ouvir a voz de Mandy. Neste momento, aparece a imagem de um belo jovem. A pupila dos olhos de Mandy se transforma em uma estrela. De boca aberta, uma gota de saliva parece prestes a pingar de sua boca. As espiãs são sugadas por Jerry).

Cena 3 – (3)

(As espiãs foram sugadas por Jerry em um avião. Clover fala furiosa:) Clover: Jerry! Jerry: Acredito que não estavam no meio de nada urgente. Clover: Não! Só a decisão mais importante das nossas vidas! Jerry: Ótimo! Então pode esperar. Clover: Ah! (O rosto de Clover se transfigura: seus olhos aumentam, significativamente, de tamanho, a boca aberta em formato de u invertido e os ombros caídos para frente). Jerry: A amostra que mandaram é de uma fórmula antigravitacional que a Organização Espacial Internacional estava pesquisando nos anos 80. (Clover fica sentada, de braços cruzados). Clover: Você chamou a gente para isso? Comunicador Jerry! Era só apertar um botão. Sam: (mão no queixo) Espere um pouco. Eu li sobre isso. A pesquisa acabou quando o astronauta responsável nunca mais voltou de uma missão. Jerry: Exatamente! E ninguém mais conseguiu decifrar sua fórmula exata. (Clover aparece de perfil, sem olhar para Jerry. Está muito furiosa). Clover: Há! O comunicador ainda era opção! (Sam se aproxima de Jerry, que pilota o avião). Sam: Posso ver a fórmula? Queria trabalhar nisso. (Jerry entrega uma espécie de mini­disco nas mãos de Sam, que o insere em seu comunicador. O computador de Jerry avisa:) G.L.A.D.I.S.: Alerta vermelho no setor quatro, Jerry! Jerry: Há outro roubo acontecendo em um laboratório, que faz sistemas de guia. Alex: Mas olha, esses códigos são pontos de laser. O ladrão nem enganou o sensor de alarme pra entrar lá.

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Sam: Como isso é possível? Jerry: Me avisem quando descobrirem! (Clover continua furiosa e de braços cruzados). Clover: Espera! A gente tem que saber quem vai ficar com o quarto grande! Jerry: Ah! Isso é simples. (Jerry ejeta as três jovens meninas).

Cena 4 – (4)

(As espiãs voltam para casa. As imagens mostram, novamente, todas as parte da casa, em uma tentativa de expressar como ela é bela. As espiãs aparecem no quarto maior). Clover: Sério mesmo? Sam: Você merece! (Alex faz uma sorriso “falso”) Depois de salvar o mundo e as nossas vidas é o mínimo que podemos te dar. (Sam e Alex se abraçam, dando gargalhadas). Três Espiãs: Amigas para sempre! (Clover empurra Sam e Alex para fora do quarto e fecha a porta). Clover: Eu vou arrumar coisas! (Do lado de fora, Sam e Alex se olham). Clover: Maravilha! O melhor quarto de Beverly Hills (Clover caminha pelo quarto em direção à cama) e ninguém merece mais do que eu. (caminha em direção à janela) Tomara que a vista também seja boa! (Clover abre a persiana e dá de cara com Mandy na janela da casa em frente). Clover e Mandy (gritam): Ah! Clover: Mandy! Mandy: Clover! (Clover fecha a persiana, rapidamente). Clover: Meninas! Meninas! Não é justo eu ficar com o quarto. É sério! Quem quer trocar? Meninas! Meninas!

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Fita: 3 Temporada: 1 — Data: 18/12/2006 Episódio: Model Cityzens — Cidadãs Modelo

Missões 1. Clover precisa vencer um concurso de beleza.

2. Descobrir o que aconteceu com doze modelos seqüestradas.

Cena 1 – (1)

(O episódio inicia, na Grécia, com três belas modelos — morena, ruiva e negra — tirando fotos em um monumento. De repente, surge um helicóptero que joga uma rede sobre as modelos e as captura).

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Cena 2 – (2)

(As jovens meninas aparecem no shopping, subindo uma escada rolante. Clover conduz Alex e Sam, de olhos vendados, até a entrada de uma loja). Alex: Clover, pra onde você tá levando a gente? Sam: Você lembra a última vez que ela fez isso? A gente acabou na Choupana Bat e Gut do Bote Piercing. (Juntas, caminham em direção a uma loja. Clover segura­as e param em frente a loja — Hollywood Milke Shake Palace.). Alex: Foi mesmo. E ainda demorou quatro horas pra convencer ela que um anel no lábio não iria realçar nossa beleza natural. Clover: Relaxem garotas! Essa surpresa está completamente livre de piercing. Agora podem tirar as vendas. “Tadam”! (Clover aponta em direção ao interior da loja. Sam e Alex fazem expressão de decepção). Sam e Alex: Ah! Sam: A Cabana Super Legal? Alex: Eu não entendi, Clover. Que que é? Você quer beber alguma coisa? Clover: Não. Eu tô aqui pra me inscrever pro concurso Miss Super Legal. (Clover abraça as amigas e aponta para um baner.) Vocês vieram aqui pra me dar um apoio. Sam: Um concurso de beleza fast food. Tá brincando, né? Você sabe que a beleza só é ilusão. Clover: É claro!... que não to brincando... e olhando as concorrentes. Eu que estou a um passo da vitória. (De repente, um carrinho de transporte aparece e dentro dele Mandy. O carrinho também traz vários fotógrafos. Mandy vê Clover e afirma:) Mandy: Só um instantinho Clover. (Mandy desce do carrinho e vários flashes representam sua popularidade para o concurso) Esse é o meu concurso e só meu! Nada ou ninguém vai me impedir de ser a Miss Super Legal e deslanchar (Mandy faz poses para vários fotógrafos) minha carreira de modelo. Clover: Ah! É mesmo, é? Mandy: É isso mesmo. Porque todas que venceram esse concurso acabaram fazendo muito sucesso e eu desejo (Clover aparece furiosa) para elas muito obrigada. Por que você e seus sapatos baratos não dão o fora daqui, ã? (Na imagem a seguir, Clover aparece com expressão de decepção. Logo após, transforma­se em pedra e a

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pedra se esfarela em vários pedaços. Rapidamente, se recompõem e furiosa, apontando o indicador para Mandy, responde:) Clover: A única coisa barata por aqui é essa sua tentativa idiota de tentar me derrubar. Agora, saia do meu caminho! (Clover passa por Mandy, a empurra com a mão, se inscreve no banner com os nomes das candidatas, joga a canetinha para o alto, dá a volta e passa, novamente por Mandy. Mandy fica furiosa.). Clover: Vamos nessa garotas! Vamos planejar minha festa da vitória. (Alex e Sam seguem Clover).

Cena 3 – (4)

(As espiãs, disfarçadas, vão à Semana da Moda em Nova Iorque, a procura de pistas sobre o seqüestro de doze modelos.) Alex: Cara! Isso sim é que é “muvuca”! (De repente, uma modelo que houve a conversa, interfere). Modelo desconhecida: Todo mundo aqui para ver o novo fenômeno, Gasele. Clover: Gasele? Modelo desconhecida: Ela apareceu em cena, linda, do nada. E a bruxa já está pegando todos os trabalhos de nós. Isso é, eu e o restante das supermodelos vamos ficar todas a ver navios. (As espiãs sobem no teto, com o auxílio de um de seus apetrechos. Gasele entra em cena. Muitos flashes são representados pelos clarões. Gasele aparece usando vestido rosa e luvas longas. Linda, com seios salientes, cintura fina, alta, Gasele é um ícone de beleza). Três espiãs: Ah! Clover: Nunca vi ninguém tão, tão perfeita! É inacreditável! Sam: Fica de olho nela Alex! Alex: Tá bom! (Alex coloca lentes que a possibilitam ver através de metais. Ao acompanhar as ações da modelo, Alex percebe algo estranho). Clover: O que ela está fazendo, Alex? Alex: Tirando as luvas. (Exatamente do ponto que tira suas luvas até o punho, a pele da modelo parece estranha). Alex: Ai! Coisa estranha! Clover: O quê? Alex: A pele dos braços e das mãos dela, têm cores diferentes! (A imagem em close, mostra a mão da modelo como que com remendos entre os dedos, o punho, a mão e metade do braço). Clover: Cores diferentes, como um bronzeamento artificial? Alex: Cores diferentes, como na noiva de Frankstein! Talvez ela não seja tão perfeita assim, hein!

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Sam: Vamos para os bastidores para dar uma olhada melhor.

Cena 4 – (5)

(Espiãs chegam ao camarim de Gasele.). Sam: Lembrem­se, somos jornalistas. Portanto, ajam profissionalmente. (Nesse instante, a modelo sai do camarim. Clover vê os braços dela, assusta­se, põem as mãos nas bochechas e diz:) Clover: Ai! Credo! Sam: Esse não é o tipo de comportamento profissional que eu tinha em mente, Clover. (Sam aproxima­se da modelo). Sam: Oi, Gasele! Eu sou Sam, da Revista Tendências do Momento. Queria lhe dizer o quanto gostei do seu show. Gasele: (sotaque francês) Obrigada! Mas, a verdade é que devo tudo a minha agência. Realmente, eu não existiria sem eles. (Um rapaz aparece e coloca um casaco nos ombros de Gasele). Relmet: É isso. E nós não existiríamos sem ela. Sou Relmet. Eu represento a Gasele. Ela sozinha colocou nossa agência no mundo. (Clover se aproxima de Relmet). Clover: Você é agente de modelos? Relmet: Então me diz se eu tenho o que é preciso pra ser modelo? (Alex aparece com um braço cruzado e uma mão no rosto). Alex: Ai! (Sam surge furiosa, dentes cerrados, olhos grandes, estrela de raiva na cabeça e braços retos, ao longo do corpo). Relmet: Minha filosofia é que todos têm algo ao seu respeito que é perfeito. Em seu caso são as pernas. (A imagem foca Clover feliz, fundo amarelo com manchas rosa e raios brancos saindo do pé que está ao chão, já que sua outra perna aparece levantada para trás, na altura da cintura). Clover: Você está dizendo que eu tenho potencial pra modelo? (Relmet aparece com expressão de discordância). Relmet: Sinto. Não exatamente. (A luz apaga. Clover com as pernas unidas até o joelho, pés um para cada lado, braços ao longo do corpo, olhos pequenos e boca ao canto do rosto, demonstra a sua decepção. Relmet leva Gasele). Relmet: Vamos Gasele! (Gasele cai de joelhos) Você precisa de seu sono de beleza.

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(Alex encontra algo no chão. É a orelha de Gasele. Alex desmaia).

Cena 5 – (6)

(Espiãs aparecem descansando, em um apartamento). Sam: Eu mandei a orelha dela para a WOOHP, para análise. O próximo passo é investigar a Imagem Perfeita. Clover: Imagem Perfeita? Pára com isso! Olha só, que tipo de agência maluca é essa, afinal? (mãos na cintura) Veja esse tal de Relmet, por exemplo, ele se diz um agente; não reconheceria uma modelo nem que ela requebrasse na frente dele. Alex: Como é que é? Clover: Não importa o que o Relmet disse. Sei que tenho potencial pra modelo! (Um empregado do hotel bate a porta). Três espiãs: Ã? Empregado: Entrega especial! (Clover abre a porta. O empregado segura um copo com um canudo e um buquê de flores). Empregado: Veio da Cabana Super Legal! (Clover abre o bilhete que está entre as rosas.). Clover: Aqui diz que eu sou finalista do concurso de beleza Miss Super Legal! Aqui tá a prova! Sou modelo em potencial! (Sam e Alex aparecem sentadas no sofá com olhos e bocas pequenos, demonstrando não terem gostado da notícia. Clover fecha a porta, vira­se e arranha uma das pernas com o buquê de rosas). Clover: Ai! Alex: Você tá legal! Clover: Ah! Eu tô bem! Foi só um arranhão. Sam: Ótimo! A gente não ia querer que algo acontecesse com a nossa rainha da beleza em potencial. (De repente, surge um helicóptero à frente da janela. Um gancho quebra o vidro e captura Clover, que perde o copo e o buquê). Clover: Ah! (Sam e Alex pulam e agarram­se nas pernas de Clover). Clover: Tão puxando as minhas pernas perfeitas! (O helicóptero balança). Alex: Tá tentando derrubar a gente. (Devido ao balanço do cabo, Sam e Alex caem).

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Cena 6 – (7)

(Alex e Sam vão à Agência Imagem Perfeita, localizada na Austrália, a procura de pistas sobre o desaparecimento de Clover e das outras modelos). Sam: Somos jornalistas do Tendências do Momento, viemos ver Tuesday Tate (ex­modelo e diretora da agência). (A recepcionista consulta a agenda da dona da agência). Recepcionista: Vocês não estão na agenda da senhorita Tate (Alex olha a perna da recepcionista e apavora­ se ao perceber que tinha o mesmo arranhão da perna de Clover) Mas eu acho que vão ter que ir embora. (A recepcionista faz sinal para duas seguranças, que jogam as espiãs para fora da agência).

Cena 7 – (8)

(Alex e Sam entram na agência perfurando o solo. Novamente dentro da agência, observam a grande quantidade de aparelhos eletrônicos). Alex: Parece mais uma clínica high tech do que uma agência de modelos. (Juntas, entram em uma sala de vidro). Sam: O que será que tem aí? (Havia no escritório, atrás da mesa de Tuesday, fotos de duas mulheres semelhantes, porém uma linda e feliz e a outra feia e triste). Alex: Uuuu! Olha só isso! As duas são a Gasele? Cara, isso que é dupla personalidade. (Enquanto Alex fala, Sam acessa o computador de Tuesday. Uma seqüência de fotos de modelos aparecem na tela). Sam: Bingo! Doadoras Gasele: Steice, Eine, Eny, Kely, Gretchen. (O comunicador de Sam toca. Ela o abre. É Jerry). Sam: Aqui é Sam! Jerry: Olá meninas! Achei que gostariam de saber. A orelha que me mandaram pertence a uma modelo que foi raptada semana passada. O nome dela é Gretchen. Alex: Ah! Sam, esse, esse... é um dos nomes da lista de doadoras! Jerry: Como é? Sam: Eu sei o que parece Alex. Mas, como é possível? Tuesday: Posso ajudá­las, senhoras? Sam: Sim, sim, pode. Somos jornalistas do Tendências do Momento. E... Alex: E viemos entrevistar você. Tuesday: Muito bem, mas sejam rápidas. Tenho que sair para uma entrevista de modelos na Nova Zelândia.

Cena 8 – (9)

(Após a entrevista, Sam e Alex conseguem fugir de Tuesday e seus capangas e passam a transitar pela tubulação de ar). Sam: Temos que chegar naquela área proibida que chegamos antes. Alex: Deve ser por aqui, em algum lugar. (Juntas escorregam e caem em uma sala com várias gavetas, semelhantes as de um necrotério, porém, com

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portinhas transparentes. Logo encontram Clover. Sam aperta um botão que faz com que a gaveta de Clover saia). Sam: Clover! Alex: O que aconteceu com você? Clover: A Imagem Perfeita rouba partes do corpo! Foi assim que criaram a Gasele. Agora tem alguém por aí correndo com as minhas pernas perfeitas. (Neste instante, a imagem foca as novas pernas de Clover: coxas, panturrilhas e tornozelos muito grossos. A reação de pavor de Sam e Alex é instantânea. Olhos arregalados, boca aberta e grito expressam o susto das jovens.). Alex e Sam: Ah! (A trilha sonora é como se algo tivesse caído e quebrado. A imagem de Clover é desproporcional, suas pernas mudam completamente o seu visual). Sam: Sem problemas! Vamos tirar você inteirinha daqui! Tuesday: Eu não teria tanta certeza disto! Não podemos deixá­las ir e correr o risco de contarem ao mundo nosso pequeno segredo. (Seguranças da agência capturam as três espiãs). Sam: Por que está fazendo isso? Me larga! Tuesday: É muito simples. Eu quero criar um exército de modelos perfeitas, para dominar a indústria que destruiu minha carreira. (Tuesday teve uma perna amputada, ao ser mordida por um leão, durante uma sessão de fotos). Alex: Você não podia roubar só uma par de pernas novos pra você? Porque aí ia dar muito menos trabalho. Tuesday: Alex, você tem razão. Mas, de uma certa forma meu maligno plano de vingança parece muito mais divertido. Sam: Não vai funcionar! Tuesday: Talvez pensem um pouco mais depois de minha demonstração, querida. (Tuesday estala os dedos. De repente, aparece a recepcionista com as pernas de Clover. A imagem foca as “novas” pernas da recepcionista). Clover: Ei! Aquelas são as minhas pernas! Relmet: Correção, elas eram suas pernas. Agora pertencem à Imagem Perfeita. Assim como as partes do corpo de suas amigas. (Tuesday pega as bochechas de Sam). Tuesday: Preparem­se para serem modelizadas. (Clover é colocada de volta na gaveta, aos gritos. Sam e Alex são forçadas a entrar em uma máquina, junto com a recepcionista. Uma fumaça sinaliza que algo está por acontecer. Em seguida, a recepcionista aparece com as pernas de Clover, o cabelo de Alex e os dentes e as bochechas de Sam. Uma música de terror

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expressa o pavor da situação. Sam e Alex se olham e se apavoram ao perceber que estão com partes feias do corpo da recepcionista.). Clover: Eu achando que eu é que tava na pior. Tuesday: Agora, como vou ter muitos doadores de todo o mundo no Centro de Convenções de Okland, eu estou pronta para dispensar vocês. Alex: Dispensar a gente? Relmet: Sim! Vamos mergulhar vocês no oceano, onde se juntarão ao lado de tubarões furiosos que comem gente para almoço.

Cena 9 –(10)

(Após solucionada a missão, Sam, Alex e Clover aparecem novamente no shopping em frente a Cabana Super Legal. Alex: Clover, tem certeza? Vai desistir mesmo? Clover: Completamente. Eu pensei muito e decidi que já tive o suficiente dessa história de modelo e concurso de beleza. O próprio ambiente é tenebroso. Além do mais, desde que eu tive as minhas pernas de volta, eu me lembro de quão bela eu sou realmente e não preciso de ninguém pra confirmar isso. Sam: Eu sempre soube que você era bonita e esperta. Coordenador do concurso: Pois é uma pena! Você teria vencido. Mas, como você desistiu, eu estou premiando a que ganhou o segundo lugar com os seus 25 mil dólares em dinheiro e o seu carro esporte conversível novinho em folha. Parabéns Mandy! (Mandy aparece, fazendo poses, em cima do carro. Muitos flashes e fotógrafos expressam sua fama). Mandy: Obrigada! Obrigada a todos e a cada um! (risos) (Clover se agarra nos pés do coordenador do concurso. Ele caminha a arrastando). Clover: 25 mil? Espera, eu só estava brincando. Eu quero se Miss Super Legal!

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de objetos Cena 1

– (3) (As espiãs conversam, em frente ao elevador do shopping). Clover: Acreditam na pretensão daquela garota? Alex: Ai, nem me fala! Como é que ela ousa dizer que você usa sapatos de liquidação? Sam: Eu acho melhor ver vitrines, ir na manicure e esquecer a mala da velha Mandy. (Juntas Alex e Clover apontam o indicador para Sam e falam:) Alex e Clover: Combinado!

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Relacioname

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Fita 4 Temporada 3 — Data: 23/12/2006 Episódio: Evil G.L.A.D.I.S. much? — Natal do Mal

Missões 1. Conter G.L.A.D.I.S., que está ativando mísseis para destruir o mundo;

2. Ajudar Jerry com a festa de Natal da WOOHP;

3. Conseguir a bota da Yves Mont Blanc.

Con

sumo

de

Apa

rências

Con

sumo de

Objetos

Cena 1 ­ (1)

(O episódio inicia com a fuga de um criminoso da prisão da WOOHP. Enquanto isso, as espiãs caminham, pelo shopping de Beverly Hills repleto de decorações natalinas e de uma imensa árvore de Natal. Clover dá um grito.). Clover: Ai! Eu adoro o Natal em Los Angeles! Todos esses ramos de azevinho, a neve falsa, os presentes absurdamente caros! Sam: Ei! (Sam coloca uma moeda em um pote ao lado de um Papai Noel) Essa época do ano é pra dar, não para receber, Clover! Clover: Mas eu só quero dar Sami. Quero dar a minha lista de Natal para o meu pai. (Clover, em frente a uma vitrine, tira fotos de presentes em seu celular — blusa, chapéu, bolsa. O som que acompanha a cena reproduz o clique de uma máquina fotográfica.) Clover: Ah! Ó! (De repente surge um som estridente. Ao fundo, aparecem nuvens com diferentes nuances de rosa e lilás, acompanhadas do branco. As cores são destacas por estrelas que brilham, aleatoriamente. As bochechas de Clover ficam avermelhadas de uma ponta de seus olhos a outra. Seus olhos, um pouco diminuídos, expressam a satisfação em ver algo em sua frente). Alex: O que é isso? O novo sabor de sorvete sem gordura? Clover: Não. É Yves Mont Blanc! A marca de sapatos mais fabulosa do planeta! (Clover tira fotos da bota, em diversas posições. Quando se aproxima para pegá­la, a personagem é surpreendida por Mandy, que retira as botas da vitrine. Clover leva um susto). Mandy: Larga essa botinha, otária! A minha mãe vai comprar pra mim o último par dessas botas. (Clover a arranca das mãos de Mandy). Clover: Só se for por cima das minhas unhas!

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Mandy: São minhas! (Clover puxa pelo cano da bota, enquanto Mandy puxa pelos pés). Sam: Ô Clover! Vai arriscar quebrar uma unha por causa de uma bota? (Enquanto puxam e disputam a bota...). Clover: Eu pago o dobro do preço! Mandy: Eu pago o quádruplo! Clover: Eu dobro qualquer oferta dela! Mandy: “Manheee”! Faça alguma coisa! (De repente surge a mãe de Mandy ao celular). Mãe da Mandy: Eu já fiz, Docinho! Eu acabei de comprar a cadeia de lojas nacional desta marca. E com todas as botas junto. Mandy: Comprou? (Clover fica desiludida). Clover: Não acredito! Mãe da Mandy: Comprei! Acredite. (Mandy corre e abraça a sua mãe). Mandy: Oh! Você vai superganhar o meu voto pra mãe do ano, Fibis! (Mandy e sua mãe falam juntas, ao sair da loja:) Mandy e sua mãe: Feliz Natal! Alex: Que pena que não deu certo, Clover. (Clover, com duas sacolas de compras em cada braço, fecha as mãos e diz furiosa:) Clover: Ah! Mas eu vou ter essas botas! Nem que eu tenha que obrigar o próprio Yves Mont Blanc a fazer uma pra mim no dia de Natal. Sam: Isso que é espírito de Natal. (De repente, o comunicador de Alex toca e as espiãs escondem­se dentro da loja, para atendê­lo). Jerry: Por falar em Natal, estão cordialmente convidadas para virem a festa da WOOHP, hoje. Alex: Obrigada! Mas, não vai dar Jerry. A gente ainda tem que fazer umas compras de última hora. Jerry: Desculpem meninas, mas o convite é uma intimação. Na verdade, preciso de você aqui, agora, para uma missãozinha pré­festa. Sam: Na noite de Natal? Alex: Mas, Jerry! Clover: Mas eu nem tô com roupa de festa!

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Cena 2 – (2)

(Espiãs na WOOHP). Sam: Jerry! Que missão pode ser mais importante do que fazer compras em cima da hora? Jerry: Arrumar o meu escritório, para a festa de hoje à noite. (Clover fica furiosa). Clover: Ah! É isso! Eu vou devolver o seu presente, assim que eu tiver comprado! Jerry: Eu não me importo. Afinal, essa época do ano tem a ver com dar e não com receber. Por falar em dar. G.L.A.D.I.S. dê o material para as meninas. G.L.A.D.I.S.: Balde, esfregão, aspirados, vassoura cândida. Clover: Jerry, eu não tenho tempo pra isso! Eu tenho botas extremamente caras pra encontrar. Jerry: Não seja tola, Clover! Você vai estragar suas botas com toda a limpeza que vai fazer.

Cena 3 ­ (3)

(As três espiãs aparecem vestidas de ajudantes do Papai Noel — gorro, casaco, mini saia e bota preta — na festa da WOOHP). Sam: Que horror! Eu não sei o que é pior, esta festa ou essa roupa ridícula! Clover: Nem me fale! Tipo, ninguém falou pro Jerry que fux é o vermelho desse ano? Alex: E, hello! Será que ninguém falou pra ele que festa é pra se divertir? (Enquanto isso, Jerry conversa em outro espaço da sala, com três espiões). Jerry: E então, Crawfort, um agente padrão da WOOHP, virou duende do mal, contratou uma rena truqueira (risos) e foi pelo menos o que ele pensou. (A imagem volta a focar as três espiãs). Clover: Ah! Isso é um pesadelo! Eu vou ficar presa nesta festa pro resto da minha vida e eu nunca vou conseguir achar aquelas botas! (Clover atira­se sobre o teclado de G.L.A.D.I.S.). G.L.A.D.I.S. Posso fazer alguma coisa pra te ajudar, Clover? Clover: Pode encontrar uma bota Yves Mont Blanc pra mim? G.L.A.D.I.S. Afirmativo. Clover: (sorri) Ah! G.L.A.D.I.S. Yves Mont Blanc disponível em... (Alex derruba sua bebida sobre G.L.A.D.I.S. e seu sistema pára de operar). Alex: Opa! (Jerry vem correndo na direção de G.L.A.D.I.S.). Jerry: Ah! Meu Deus! Isso não é nada bom! Clover: Ah! Foi a mancada do ano! Ela tava prestes a revelar só a informação mais importante do mundo!

Cena 4 – (4)

(Após a bebida cair sobre G.L.A.D.I.S., o computador começa a atacar todos os espiões que participam da festa. Sam, Alex, Clover e Jerry escondem­se de G.L.A.D.I.S., num quarto de segurança). Jerry: Esta sala está revestida com titânio. Deve diminuir a habilidade dela de nos encontrar.

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Clover: Tá, aí você derrubou a bebida na G.L.A.D.I.S. Por que, do nada, ela ficou tão má? Eu não fiquei tão louca quando você derrubou geléia na minha blusa. Alex: Ela deve de ter cansado de ficar só na sombra do Jerry, sabe? Não ter nunca a atenção pra ela. Sam: Gente, ela é um computador! Ela não liga pra essas coisas. Jerry: Eu temo que seja minha culpa G.L.A.D.I.S. estar lá. Eu fiz o dowloawd do cérebro dela de o Cérebro (simultaneamente, aparece a imagem do fugitivo da prisão apresentado no início do episódio) o vilão mais ardiloso do mundo. Alex: Ah! Clover: Ela tem cérebro de vilão? Jerry: É um vilão que planejou destruir o mundo, fazendo com que os países atirassem mísseis uns nos outros. Eu pensei ter apagado todas as ligações do mal! Sam: Bom, ele deve ter uma fraqueza. Todo mundo tem! (Clover, com voz suave, olhos e rosto de satisfação, comenta:) Clover: Ah! Shopping!

Cena 5 – (5)

(Após desativar dois mísseis — disparados por G.L.A.D.I.S. — Clover e Sam aparecem em um jato, retornando para a WOOHP. De repente, Clover, sobrevoando a cidade, vê algo lá em baixo. A imagem é enriquecida pelo som de uma buzina de carro antigo). Clover: Ah! Há! Sam, olhe! Sam: O que foi? É o Papai Noel? Toma cuidado! Não acerta ele! (A imagem mostra prédios altos e o tráfego de carros. Gradativamente, a imagem vai focando uma jovem menina e conclui o foco no par de botas da personagem). Clover: É melhor que Papai Noel! É a bota da Yves Mont Blanc! Sam: Não brinca! E é outra pessoa que está usando! (O jato aterrissa ao lado da jovem. Clover desce do jato e fala com a dona da bota, enquanto Sam a observa da porta do avião). Clover: Segurança Nacional, senhorita! Tenho que confiscar suas botas por motivos oficiais. (Clover, na porta do jato...). Clover: O país te agradece. (A imagem, a seguir, é da jovem menina assustada, com pés descalços. Na seqüência, Clover aparece feliz com o rosto no meio do par de botas).

Cena 6 – (6)

(Após a missão solucionada, de volta a festa de Natal da WOOHP. Alex olha a bota que Clover “confiscou” e diz:). Alex: Olha! “Ce” ganhou o presente de Natal que queria! Clover: Ganhei! (Clover, feliz, abraça as duas amigas).

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Clover: Feliz Natal, meninas! Cena 7 – (7)

(À noite as jovens espiãs chegam em casa e encontram a árvore de Natal repleta de presentes). Clover: Uau! Ah! São do meu pai, lá da Europa! Sabia que ele não ia me decepcionar! (Clover se aproxima dos presentes. Sam, Alex e Clover ouvem um choro vindo da rua). Sam: O que é isso? Alex: Uma das renas deve estar com hérnia de carregar todos os presentes da Clover. (Na imagem a seguir, Mandy aparece sentada na rua, em frente a um iglu, do lado de fora de sua casa, chorando muito). Clover: Mandy? Mandy: Minha mãe vendeu pra uma celebridade o último par de botas Yves Mont Blanc que eu queria. Mas, vou mostrar pra ela! Vou ficar aqui fora e congelar até morrer! Sam: Tá uns vinte graus aqui fora! (Após a colocação de Sam, Mandy chora e grita com maior força e intensidade. Suas lágrimas aumentam, significativamente, em termos de quantidade. Tanto que parecem duas fontes jorrando água para cima. Neste momento, Clover tira as botas Yves Mont Blanc, que havia confiscado da jovem, e dá para Mandy) Clover: Toma. Feliz Natal! (Mandy pára imediatamente de chorar). Mandy: Pra mim? Sério? Você é a pessoa mais legal que já odiei! Alex: Nossa Clover! Que boa ação! Não é a sua cara! Sam: Eu tô orgulhosa de você! Finalmente eu vi o espírito do Natal. Clover: O espírito do Natal? Hello! Yves Mont Blanc tá fora de moda! Olha esse novo George Vivaldi, saído das passarelas européias! (Clover tira de uma caixa de presentes uma bota rosa. Muitas estrelas cintilam, aleatoriamente, ao redor do produto. Mandy tira as botas Yves Mont Blanc dos pés e joga­as no chão). Mandy: Ah! Sua insuportável (Mandy faz uma bola com a neve do chão), tentando me insultar com essas coisas feias! (Mandy joga a bola de neve no rosto de Clover, que fica furiosa. Clover faz uma bola muito maior. Mandy tenta se esconder dentro do iglu, porém ele não consegue sustentar o peso da bola de neve e cai sobre Mandy. Mandy fica gritando). Clover: Agora sim, esse foi o melhor presente de Natal!

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Con

sumo de

Relacionamen

tos

Fita 4 Temporada 1 — Data: 03/01/2007 Episódio: A Spy is Born — Nasce uma espiã

Missões

1. Sam precisa conseguir conviver com a fama;

2. Descobrir o paradeiro de astros de Hollywood que foram raptados.

Cena 1­ (1)

(O episódio inicia com o rapto de uma atriz famosa de Hollywood).

Con

sumo de

Apa

rências

Cena 2 – (2)

(Na escola, as espiãs sobem as escadas e entram no saguão da escola. Muitas pessoas aparecem conversando). Sam: O que será essa agitação toda? Alex: Sei lá! Mandy: Oi! Bando de insignificantes, vocês viram o que saiu hoje? (Mandy mostra, em suas mãos, um livro azul de título Berveley Hills School — Year Book. Clover fica feliz e caminha para pegar um dos livros). Clover: Ai que bom! (Mandy interrompe o trajeto de Clover). Mandy: Não! Vamos ver... Tem uma página aqui que mostra que essa que vos fala é a única, definitiva e a mais popular do Colégio Berveley Hills! (Clover aparece ao lado de Mandy, mãos na cintura e expressão de indignação. Mandy fica com uma das mãos segurando o livro aberto e com a outra mão no queixo. Seu rosto expressa felicidade, até o momento em que olha para o livro e se espanta). Mandy: Ah! Ou não! Isso é terrível! Alex: O que que foi Mandy?

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Mandy: Ela é a tragédia que já aconteceu no Colégio Berveley. (Mandy aponta o livro para Sam e Clover o pega de sua mão). Clover: É que a Sam foi votada a mais popular! Sam e Alex: Ã? (A imagem foca o livro aberto. Em uma das páginas aparece uma foto de Sam, ocupando toda a páginas). Voz de Tradução: Aluno mais popular do ano. (Mandy fica furiosa e arranca o livro das mãos de Clover. Enquanto isso, as espiãs se divertem com sua fúria). Mandy: É claro que deve ter havido algum engano. Todo mundo sabe, que eu sou a aluna mais popular da escola. Sam: Por que será que todos votaram em mim? Alex: Ah! Porque você é inteligente, engraçada e super legal! (Duas jovens belas e populares interromperam a conversa). Jovem: É por isso que queremos estar com você neste fim de semana. Mandy e Sam: (assustada) Querem? Jovem: É claro! Adoramos nos cercar de muita popularidade. Tchauzinho! (Sam, Alex, Clover e Mandy aparecem assustadas). Mandy: Ah! É isso! Vou pôr um fim a essa loucura de votos, imediatamente! Eu exijo uma recontagem! Sam: Tudo bem! Isso é oficialmente estranho. (Sam olha para o lado). Arnold: Eu trouxe isso para você! (Arnold — um rapaz de óculos, com traços que o caracterizam como CDF — entrega um buquê de flores à Sam) Sam: Ah! Obrigada Arnold! Não precisava! Arnold: Mas, você merece Miss Popular! (De repente, belos rapazes do time do colégio se aproximam de Sam, com seus livros abertos). Jogador 1: Ei! Sam! Poderia assinar nossos livros? Jogador 2: Assina o meu! Jogador 3: E o meu também! (Sam se assusta com o grande número de pessoas que se aproximam). Várias vozes: É! Voz 1: E o meu! Voz 2: Assina o meu livro! (Sam fica rodeada de pessoas. Clover aparece assustada). Sam: Ah! Talvez mais tarde pessoal. Neste momento, eu preciso fazer uma coisa muito, muito importante. (Sam, Alex e Clover correm pelo corredor do colégio, para fugir dos fãs de Sam. Logo encontram uma porta

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aberta e se escondem). Clover: Aqui é o depósito do faxineiro! Alex: É! Que coisa tão importante você ia querer fazer aqui, hein? Sam: Me esconder! Clover: Sam, você não tá acostumada a ser uma celebridade, pode ficar uma pouco assustada, mas acredite em mim, você não deve fugir da fama! Você deve abraçá­la! Vamos lá! Vamos voltar e encontrar com seus fãs! Jerry: Não tão depressa! (O chão se abre e as espiãs são transportadas para a WOOHP. Sam grita:) Sam: Dessa vez, eu estou contente em te ver Jerry!

Cena 3 – (3)

(Na sala com Jerry...). Jerry: Meninas, receio ter péssimas notícias. Julian Reinstis e Dak Janson, os dois astros de cinema de maior bilheteria, foram, misteriosamente, raptados. Três Espiãs: Ã?! Sam: Tudo bem, eu retiro o que eu disse. Alex: E como é que isso aconteceu? Jerry: Em plena luz do dia. O que deixa o caso mais estranho. Clover: Estranho mesmo! Esses astros só se bronzeiam com luz solar artificial. Sam: Temos algum suspeito, Jerry? (Aparece no telão a imagem de um astro de cinema). Jerry: Nenhum. É por isso que nós queremos que vocês, meninas, fiquem disfarçadas e de olho em Brock William. Como ele é astro de terceira melhor bilheteria, temos receio de que ele será a próxima vítima. (Imediatamente, as meninas ficam muito felizes). Clover: Ah! Que doideira! O Brock é o maior gato que existe! Jerry: Er! Eu estou contente por estarem entusiasmadas. Mas, lembrem­se que ele é uma pessoa em evidência e discrição é fundamental. Não queremos que a mídia descubra nada. Clover: Ah! Sossega Jerry! Nós somos profissionais!

Cena 4 – (5)

(As meninas não conseguem evitar o rapto de Brock). Alex: Ainda bem que ficamos com isso! Clover: E o que é isso? Alex: Ah! Eu não sei! Eu vi o seqüestrador deixar cair no túnel. Sam: É melhor mandarmos pra WOOHP! (Sam abre o comunicador). Jerry: Esta é uma ótima idéia! Quais são as últimas notícias? Sam: Infelizmente nós acabamos de perder o Brock, Jerry!

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(Jerry coloca a mão direita na cabeça). Jerry: Ã? Puxa! Então, é melhor eu mandar ajuda. Um helicóptero está indo buscá­las. (Clover coloca os dois braços para atrás da cabeça.). Clover: Tô precisando mesmo de um descanso! Jerry: Na verdade, eu tenho outra missão para vocês. (No comunicador, aparece a imagem de uma jovem loira — cabelos longos, casaco e blusa rosas — acenando). Jerry: Every Ston, uma estrela de grande bilheteria, vai a uma premier em Hollywood esta noite. Uma de vocês terá de se disfarçar de Ember e servir de isca, para descobrir esse bandido, enquanto as outras duas tentam impedi­lo. Clover: Bom, obviamente, eu vou fazer o papel de Ember, sou a mais qualificada do grupo. Jerry: Eu sinto muito. Você é alta demais. Ah! Bom, nós escolhemos a Alex, para ser a celebridade isca. (Clover e Alex de assustam). Clover: Alex? Alex: Eu? Jerry: Mandamos preparar uma máscara plástica de Ember, enquanto conversamos. Agora nós temos mais notícias sobre celebridades (Jerry começa a tirar papeizinhos de uma caixa rosa). Parece que Sam, em sua ausência, recebeu uma infinidade de cartas e foi a sensação da noite. (Sam responde decepcionada). Sam: Muito legal.

Cena 5 – (6)

(Alex é raptada e, juntamente com os outros atores, é levada para a ilha de Lumière — nome do seqüestrador. Sam e Clover os encontram em meio a simulacros de pedaços de monumentos históricos de todo o mundo). Lumière: Vocês devem estar curiosos pra saber porque foram reunidos aqui. Brock: Nem tanto, parceiro. O que a gente quer mesmo é dar logo o fora daqui. Meu agente deve tá doente de preocupação por minha causa. Lumière: É uma pena, mas eu vou falar assim mesmo. No passado, Hollywood não deu nem um pouco de atenção ao meu trabalho. Agora eu vou fazer um filme que eles não vão ter condições de ignorar. Um filme estrelado por todos vocês! Julian Reinstis: Não estrelaria a porcaria do seu filme, nem que me desse metade da bilheteria e todo dinheiro do mundo. Lumière: Há, há, há! Confiem em mim. Essa é uma oferta que vocês não vão poder recusar. Alex: (Ainda disfarçada de Ember) E se nós recusarmos? Lumière: Vocês não têm escolha! Esta ilha é um gigantesco set de filmagens, cheio de armadilhas e explosivos e, é claro, câmeras que vão captar toda a matança. (Lumière aperta o botão de um controle remoto, que está em suas mãos, e há uma grande explosão atrás dos

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atores). Lumière: Mas quem sabe, se algum de vocês conseguir sobreviver a esse maravilhoso estouro de obra prima, a gente pode até pensar numa seqüência. (Clover e Alex aparecem em um esconderijo, de onde observam tudo o que está acontecendo. Clover aparece furiosa). Clover: Primeiro a Alex ficou com o papel que, obviamente, era pra mim e, agora, vai fazer um filme! Quando eu vou ter a minha grande chance? (Sam bate duas vezes com a mão na cabeça de Clover). Sam: Acorda Clover! A Alex foi seqüestrada e está sendo forçada a fazer um filme! Clover: E daí?

Cena 6 – (7)

(Após a missão resolvida, Sam e Clover aparecem, novamente, subindo as escadas da escola). Sam: Eu não sei sobre vocês, mas eu estou tão contente de finalmente estar em casa. Clover: Eu também já estava farta de celebridades. (Ao entrar no saguão da escola, muitos alunos olham para Sam). Várias vozes: Olha lá a Sam! É ela! Sam!... Clover: Tem tempo suficiente de chegar ao depósito do faxineiro! Você sabe, se corre. (O rosto de Mandy surge na tela — de perfil, apenas da bochecha ao pescoço— segurando um megafone próximo a boca). Mandy: Atenção todos! Eu tenho um comunicado muito importante a fazer (Mandy aparece em cima de um armário). Depois de uma recontagem oficial dos votos, constatou­se que houve um erro na anotação. Como eu suspeitava, eu sou a garota mais popular da escola. (Todos, com seu livro do ano, correm em direção à Mandy) Várias vozes: Então assina pra mim! Assina aqui Mandy! Ah! Mandy: Espera um pouco! Ah! Eu vou cair! Ah! (Mandy cai de cima do armário).

Con

sumo de

Objetos

43

Con

sumo de Relacionamen

tos Cena 1­

(4) (Na residência de Brock William, as espiãs aparecem disfarçadas atrás de folhagens — Sam de jardineira, Alex de cozinheira e Clover de arrumadeira). Sam: Certo! Por que eu estou de jardineira outra vez? Clover: Por que a arrumadeira ficou com os seus sapatos e você cozinha mal. Sam: Ah! Obrigada! Clover: As ordens! Agora vamos fazer o que o Jerry mandou e ficar de olho no Brock. Sam e Alex: Certo! (As três espiãs escalam a sacada da casa e entram no quarto de Brock) Alex: Ai gente! Esse quarto é tão lindo! (A imagem, gradativamente, revela o grande e sofisticado quarto). Clover: Isso porque é o quarto do Brock William! E, olhe! Ele tem uma cama d’água! (Clover corre e se atira na cama de Brock. A imagem foca o rosto de Clover feliz, balançando sobre a cama). Sam: Clover! Acorda! A gente deveria estar investigando, lembra? Você sabe? Procurando coisas fora do comum! (Clover ainda deitada sobre a cama encontra uma cueca do astro). Clover: Isso aqui serve? (Sam fica ainda mais furiosa. Ela aparece com olhos grandes, um rosado de bochecha a bochecha, incluindo o nariz). Sam: Ei! Ponha isso no lugar! (Alex, que estava observando Brock na piscina pela porta de vidro, vê algo estranho.) Alex: Gente, vem dá uma olhada nisso aqui! (A imagem mostra a piscina de Brock. Primeiramente, aparecem as pernas de Brock, metade submersas, e, em seguida, o corpo inteiro do ator, descansando sobre uma grande bóia). Clover: Olá bonitão! (Estrelas brilham ao redor do rosto de Clover). Alex: Ã? Na verdade, eu tava falando dele. (Havia um fotógrafo tentando subir em uma árvore, ao lado da casa de Brock. Vestido de calças e botas verdes, camisa amarelo­queimado e chapéu camuflado com folhas verdes, o fotógrafo tentava tirar fotos de Brock) Sam: Aquele deve ser o raptor! Vamos espiãs! Precisamos detê­lo. (Enquanto Sam e Alex correm em direção as escadas, Clover tem uma idéia. Ela abre a porta de vidro e liga seus sapatos a jato). Clover: Sem tempo a perder! (Clover voa em direção ao fotógrafo, faz uma pirueta em um galho da árvore e se atira sobre o fotógrafo). Clover: Vamos acabar logo com isso, seu seqüestrador de celebridades barato!

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(Nesse momento, o galho da árvore onde estavam começa a rachar, e, juntos, caem na piscina, derrubando o ator). Brock: Mas, o que é isso? (Clover aparece submergindo e levantando o fotógrafo). Clover: Não se preocupe Brock, os dias de crime deste panaca terminaram! (Brock fica furioso — sobrancelhas arqueadas e boca com dentes cerrados — e aponta o indicador para Clover). Clover: É senhor William pra você! E saiba que este que está chamando de panaca é um fotógrafo muito respeitado. Eu não gosto que meus empregados domésticos fiquem atacando a mídia! (Clover fica furiosa). Clover: Eu não sou uma simples empregada! Eu sou uma engenheira doméstica. Além do mais, eu só tava tentando protegê­lo. Brock: Rã! Proteger do quê? De acabar na capa de alguma fabulosa revista super importante? Fotógrafo: (Saindo da piscina) Não quero saber disso! Minha câmera está completamente perdida! Terá notícias do meu advogado! (Clover, ainda dentro da piscina, parece assustada e constrangida com a situação). Clover: Ouça, eu sinto muito mesmo! Brock: Tá! Ta bom! Agora voltem ao trabalho! Sam: Você está bem Clover? Clover: Ótima! Acho que eu fui longe demais! Alex: Ah! Eu não te culpo. O Brock é um gatão maravilhoso!

Fita 4 Temporada 3 — Data: 05/01/2007 Episódio: Truth or Scare — Verdade no Susto

Missões

1. Descobrir quem tentou raptar o cantor Jackson John;

2. Descobrir quem é a melhor amiga de Alex.

Con

sumo

de

aparên

cias Cena 1­ (1)

(O episódio inicia à noite, em frente a um clube de Beverly Hills. No clube, muitos fãs e seguranças aguardam a passagem de uma bela e escultural modelo). Gisela: Eu também amo vocês queridos. Cada um de vocês. (A modelo manda beijos para os fãs, faz pose para foto e caminha até sua limusine. A limusine começa a andar e seus braços, de repente, são presos ao banco por algemas de aço. Instantaneamente, o cinto de segurança a aprisiona na poltrona do carro).

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Gisela: Ah! Motorista, tem alguma coisa errada com o carro. Socorro! Motorista (Cirilo): Ah! Eu vou te ajudar Gisela. (O motorista fecha o vidro que separa os bancos da frente dos bancos de trás. De repente, um grosso gancho de ferro pára em frente ao rosto de Gisela e joga­lhe um gás. Ela tosse). Motorista (Cirilo): Mas só depois de você me responder algumas perguntinhas. (As pupilas dos olhos de Gisela, instantaneamente, diminuem).

Cena 2 – (2)

(Sam e Alex aparecem sentadas, comendo sorvete, na lanchonete da escola. Clover vem se aproximando, com uma revista em suas mãos). Clover: Tá aqui meninas! A edição especial da Cochicho! (Alex pega a revista das mãos de Clover e abre­a). Alex: Nossa! Uma entrevista na íntegra com a supermodelo Gisela! Tomara que seja legal! (Sam se aproxima de Alex para olhar a revista também). Sam: Ela diz que o segredo de sua longa silhueta é comer (A imagem foca a revista com duas fotos de Gisela.) somente comidas longas e fininhas, tipo espaguete. (Alex aparece com uma colher cheia de sorvete). Alex: Hum! Eu deveria ter pedido um sorvete tipo picolé, ao invés de bola. Clover: Viu! Informação que a gente vai usar! É o que eu chamo de jornalismo investigativo. (Mandy se aproxima da mesa onde as jovens espiãs conversam.). Mandy: Não tá na hora de você trocar essa fofoquinha por fofoca de verdade? Hello! Realite ou risco? Um jogo novo em que você deve revelar um segredo cabeludo ou enfrentar um desafio. Sam: Ã? Realidade ou risco? Desculpa acabar com a sua ilusão, Mandy. Mas, verdade ou desafio é do “arco da velha”! Mandy: Desculpa, (começa a gritar) não tava ouvindo? (A cabeça de Mandy se aproxima do foco da imagem e aumenta, significativamente, de tamanho). Mandy: Não é verdade ou desafio! Vem da França e tem uma mala bem bonitinha. E aí? Quem começa? Alex: Esquece, Mandy! A gente não tá interessada no seu joguinho ridículo. (Mandy tira da mala uma seta giratória e começa a girá­la). Mandy: Mas é claro que estão! (A imagem foca Mandy com uma carta na mão). Mandy: Realidade ou risco? Sam: Realidade. Mandy: Ou! Qual é o nome do primeiro cara que você beijou na vida? Sam: (risos) Lorde Bladerei, na sexta série, nossos aparelhos engancharam. Mandy: Gracinha. Tá bom, mais giro. Alex, realite ou risco? Alex: Realidade!

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Mandy: Uuuu! Aaah! (risos) Qual é o nome da sua melhor amiga? Alex: Clover e Sam! Dã! (Mandy bate na mesa e reproduz, com a boca um som que representa o erro. Instantaneamente, Alex e Mandy aparecem num quiz Mandy com uma prancheta nas mãos e Alex atrás de um balcão com o seu nome na frente). Mandy: Tem que escolher só uma! (Ambas retornam a cena da lanchonete). Alex: Tenho nada! Eu gosto delas igual! Mandy: Se você se recusa a responder a realidade, tem que correr o risco. Alex: Tá! Eu vou correr o risco. Mandy: Ótimo! Então corra o risco de perder uma amiga, dizendo o nome da que se gosta mais! (Alex levanta da mesa, furiosa). Alex: Esquece! Eu não vou escolher entre a Clover e a Sam, por causa do seu jogo idiota! (Sam caminha se distanciando da mesa). Mandy: Nossa! Ela ficou braba! Tá escondendo alguma coisa! Sam: Alex espera! Clover: Alex, calma! A gente nunca vai deixar a Mandy separar a gente. Sam: É Alex! Você sabe que a gente sempre vai ficar juntas, não importa... (A lixeira se abre e as meninas são sugadas para a WOOHP).

Cena 3 – (3)

(Na WOOHP...). Jerry: Desculpem a intromissão, meninas. No entanto, sabendo que vocês tendem a revelar idolatria por celebridades. Acho que não vão se importar. (No telão aparece a imagem de um jato amarelo ouro). Alex: Ei! É o avião particular de vidro, do Jackson John! Sam: Jackson John? Aquele cantor pop brega, totalmente recluso? Alex: Ele não é brega! Ele é o máximo! A música dele me toca a alma. Clover: A sua e a de um monte de velhinhos, porque “Hello!” só velho gosta dele. Jerry: Meninas, por favor, os méritos artísticos do senhor Jackson, não são interesse da WOOHP. Mas, o seu desaparecimento abrupto é. (A imagem que aparece é de Jackson, em seu jatinho, sendo atacado pelo mesmo gancho e recebendo o mesmo gás da modelo Gisela). Jerry: Parece que o senhor Jackson foi atacado por um homem que persuadiu o piloto. Por sorte, ele achou uma brecha e conseguiu escapar. Clover: Quem iria tentar um seqüestro tão estranho?

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Jerry: Eu não sei, e nem o prórpio Jackson John. Foi por isso que ele contratou vocês para descobrir. Alex: Quer dizer que a gente vai para o Rancho JJ? Jerry: É, vão! Três Espiãs: Demais! Sam: (para Clover) Você não disse que era coisa de velhinho? Clover: (para Sam) Você não disse que ele era brega?

Cena 4 – (5)

(As espiãs dão um comunicador para JJ, se disfarçam de JJ — para atrair o vilão — e se separam pelo rancho. Alex entra no trem da propriedade e é aprisionada. O mesmo gancho de ferro, que jogou gás em Gisela e Jackson, ataca a Alex). Voz misteriosa (Cirilo): Boa tarde, senhor Jackson! Vamos tentar de novo, tudo bem! (o gás atinge Alex) Quantas plásticas o senhor fez? Alex: Nenhuma! Eu gosto de mim como eu sô. Voz misteriosa (Cirilo): Estranho! E quanto gastou com roupas na semana passada? Alex: Deixa eu ver... Eu comprei uma saia muito fofa e um par de tênis. (Alex balança a cabeça) Oitenta dólares! Voz misteriosa (Cirilo): Hum! Você não é Jackson John! Alex: Não, eu sou a Alex, agente da WOOHP e tem mais duas vindo pra pegar você.

Cena 5 – (6)

(Apesar de Sam e Clover tentarem salvar Alex, o vilão a captura, porém deixa cair uma pista — um boné). Sam: Ei! Olha isso! YW! Os uniformes daqui não deveriam ter JJ como logo? Clover: Sam! Esse é o logotipo da Revista Cochicho! Vamos ver o que a WOOHP sabe sobre isso! (Clover abre o seu comunicador). Jerry: Olá meninas! Como vai a missão? O senhor Jackson está a salvo? Clover: Ele tá bem Jerry, mas a Alex foi seqüestrada. Nós achamos que o bandido está conectado a Revista Cochicho. Jerry: Hum! Cochicho? Vamos ver. Ah! Sim! Achei! Aqui! Cirilo Orelhinha, o ex­guarda­costa de celebridades, usou seus contatos para abrir a sua própria revista, com escritórios em Beverly Hills! Sam: Então sabemos para onde temos que ir. Jerry: Vou mandar o avião da WOOHP.

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Cena 6 – (7)

(Clover e Sam conseguem entrar na sede da Revista Cochicho). Sam: Nossa! Parece que alguém parou a impressão! (Clover levanta um lençol e encontra muitos frascos com substâncias coloridas. Para destacar sua importância, uma luz branca recobre e reflete sobre os produtos). Clover: Ei! Que coisa estranha! Não parece equipamento de impressão, parece mais coisa de química! (Enquanto Clover balança um Copo de Becker, Sam aparece, em segundo plano, mexendo em um computador.). Sam: Achei a fórmula do que está naqueles Beckers, Clover. (Clover se aproxima e, juntas, observam, na tela do computador, uma espécie de cadeia de DNA). Sam: É um tipo de extrato de DNA! Clover: Ei! Então é assim que a revista tem conseguido os podres dos artistas. O Cirilo seqüestra eles e usa esse extrato pra eles falarem as baixarias.

Cena 7 – (8)

(De repente, Clover encontra um botão e aperta­o. O botão faz com uma jaula, com Alex dentro, apareça). Sam e Clover: Alex! Sam: Você está bem? Alex: Eu tô perfeitamente bem. Só que o Cirilo me deu o extrato da verdade e então eu só falo a verdade. Clover: Ah é é? Então você poderia dizer o nome da sua mais velha e querida amiga? Alex: Claro! É a Oly! Clover e Alex: Ã? Sam: Oly? Clover: Oly? (Cirilo aparece descendo as escadas da revista). Cirilo: Outra verdade descoberta pela Revista Cochicho. Clover: Cirilo Orelhinha! Cirilo: Em carne e osso. Sam: Seus dias de promotor de fofocas acabaram, cara! Nunca mais vai usar extrato da verdade em ninguém! Clover: É! A partir de agora as fofocas dos artistas vão ser boatos e rumores, como devem ser! Cirilo: E como é que as três mocinhas vão me impedir? Alex: Bom, elas devem te pegar com um rímel que atira rede. Depois, me tirar daqui com as botas de salto perfurador e, aí, ligar para a WOOHP pelos comunicadores. (Clover e Sam se assustam e ficam furiosas com Alex). Clover e Sam: Alex! Alex: He, he! Foi mal gente. Cirilo: Agora eu vou contar pra vocês uma coisa sobre os negócios de revistas. Sabe, tudo começa com o papel.

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(Cirilo atira um enorme rolo de papel contra Sam e Clover. Elas saem correndo). Sam e Alex: Ah! Cirilo: Depois se adiciona tinta. (Em seguida, Cirilo joga tinta nas duas espiãs, com o auxílio de uma mangueira. As meninas caem emuma prensa e são enroladas com papel, por Cirilo). Cirilo: E, finalmente, a prensa. (Cirilo aperta o botão que liga a prensa).

Cena 8 – (9)

(Cirilo leva Alex para entrar na WOOHP e acabar com os outros tablóides. Apesar de lutar, Jerry também é capturado e atingido pelo extrato da verdade). Cirilo: Agora, Jerry, não é? Talvez você queira me contar sobre o mais novo armamento da WOOHP? Jerry: Certamente. Pressione o botão azul, na mesa. Cirilo: Hum? (risos) Jerry: Apresento­lhe o paparazo. (Um mini­tanque, surge na mesa de Jerry) Aperte o botão verde do lado, por favor! Cirilo: Hum! Parece que está carregando! Jerry: E está! Pressionando, novamente, aciona o flash de luz, que irá deixar qualquer oponente sem sentidos. Cirilo:Você espera que eu elimine a concorrência com este brinquedinho? Jerry: É claro que não! Essa é a versão de mesa. Pressione o botão vermelho, por favor! (No telão, aparece um tanque em tamanho real.). Jerry: Esta é a versão tamanho integral do paparazo, com flash de transistor ajustável de cinqüenta mega watts. Com força total, pode cegar permanentemente qualquer um num rio de cinco quadras. Cirilo: É isso! É perfeito! Meus rivais não podem imprimir nada sem enxergar! Jerry: É só digitar as coordenadas do alvo e apertar enter. Uma contagem regressiva vai dizer quando a carga estiver pronta.

Con

sumo

de

Objetos

50

Con

sumo de

Relacionamen

tos

Cena 1­ (4)

(As espiãs aterrissam no rancho JJ. Enquanto descem, pensam que alguns fogos de artifício são armas de fogo utilizadas para atingi­las). Sam: Ei! Não são explosões, são fogos de artifício! Jackson: (sotaque caipira) É um evento que acontece toda terça feira, né. “Cês” devem “se” as agente da WOOHP. Eu sou Jackson John. (Alex fica frente a frente com Jackson. As mãos da personagem se juntam na altura do queixo, seus olhos se transformam em dois corações vermelhos. Ao fundo, muitos corações, de diferentes tonalidades de rosa, cobrem a tela branca. Corações pequenos saem dos olhos de Alex). Alex: Senhor Jackson! Eu não acredito que eu tô conhecendo você! Jackson: Me chame J.J. (Alex desmaia nos braços de Sam e Alex). Sam: Como se a gente não soubesse. Pensei que só os bandidos que usassem roupas estranhas!

Fita 5 Temporada 2 — Data: 23/02/2007 Episódio: It’s How You Play The Game — É o jeito como se joga

Missões

1. Descobrir por que o país Zanzibar está dominando as Olimpíadas de Inverno;

2. Ser escolhida por David — o “ gato” disputado pelas três espiãs.

Con

sumo

de

aparên

cias Cena 1­

(1) (O episódio inicia às duas horas da madrugada, na Suíça. Um senhor colocar um inseto eletrônico no travesseiro de uma jovem menina. Enquanto ela dorme, o inseto entra em seu ouvido).

Con

sumo

de Objetos

51

Cena 1­ (2)

(Sam aparece em uma aula, no laboratório de química. Em meio a muitos alunos de jaleco, ela conversa com um jovem belo e intelectual). David: Então o composto de nitrogênio gera a fricção, provocando a eliminação dos organismos indesejáveis. (Estrelas brilham aleatoriamente. Sam aparece com as mãos juntas encostadas no queixo, as bochechas vermelhas, incluindo o nariz, os olhos de satisfação e a boca aberta). Sam: Ai! (David aparece à frente de um fundo com bolhas e estrelas em nuances de branco e lilás).

Cena 2 – (3)

(Na cena seguinte, um apito dá a largada na pista de atletismo da escola. Alex corre num revezamento e passa o bastão para um belo e musculoso rapaz. Eles vencem a corrida). Alex: Isso aí, David! (O rapaz aparece em meio a bolhas e estrelas em nuances de branco, rosa e amarelo). David: Passagem excelente, Alex! (Alex fica com as mãos cruzadas em frente ao peito. O fundo é preenchido por cores com tons de rosa, amarelo e branco. Duas atletas observam Alex). Alex: Ah!

Cena 3 – (4)

(Clover aparece em um teatro, ensaiando a peça de Romeu e Julieta. David aparece de joelhos, vestido de Romeu.). David: Ó! Fale anjo brilhante. Por que tua corte é tão gloriosa como um mensageiro alado dos céus? (Clover surge, na sacada do castelo, com vestido rosa e cabelos longos). Clover: Ó David! David! Onde estás David? (A cena mostra David de perfil, com os dentes cerrados e com uma gota de constrangimento caindo de seu cabelo). Clover: Renegue teu pai, recuse seu nome. Ou, se não quiseres, apenas jure meu amor. (David se levanta). David: Estava ótimo Clover! Tão cheio de emoção! Mas, o nome do personagem é Romeu, não David. (Neste momento, o fundo fica repleto de bolhas e estrelas em nuances de rosa, amarelo e branco). David: Vamos passar outra vez? Clover: Ah!

Con

sumo de

Relaciona

mentos

Cena 4 – (5)

(No corredor do colégio, ao lado dos armários, Sam, Alex e Clover se encontram). Três Espiãs: Adivinhem? Eu estou apaixonada! (As três meninas param de falar, ficam congeladas. Olhos grandes com pupilas muito pequenas. Juntas, ficam com uma mão com o indicador levantado e dizem:) Três Espiãs: Ele é novo! (As três meninas ficam estáticas, novamente — olhos grandes e pupilas pequenas). Clover: (emocionada) Ele é lindo!

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Sam: Ele é um gênio! Alex: Ele é um atleta incrível! (As três meninas congelam e se olham, novamente. De repente começam a rir). Sam: Por um instante eu achei que estivéssemos falando do mesmo cara! David: Oi, Alex! Clover! Sam! (David aparece envolto em uma grande bolha branca. Tons de rosa, branco, amarelo e lilás recobrem o fundo da imagem. Um som estridente e estrelas mostram o encantamento do momento. As três surgem lado a lado, olhos fechados, lábios sorridentes, uma mão para trás e a outra para frente, acenando para David). Três Espiãs: Oi David! (David vai embora e o “encantamento” se desfaz. As amigas percebem que estão apaixonadas pelo mesmo rapaz. Clover protesta, furiosa). Clover: Por que vocês duas estão olhando pro meu verdadeiro amor, hein? Alex: Seu verdadeiro amor? O David é o cara de quem eu tava falando! (Sam também briga por David). Sam: Bem, eu o inspirei intelectualmente! (De repente, o segundo plano fica azul e vários raios, acompanhados de sons, enriquecem a cena). Alex: Até parece! A gente quase deu a mão na corrida de revezamento! (Clover volta à discussão e, muito tranqüila, interfere. O segundo plano retorna a apresentar o corredor do colégio). Clover: Alex, Sam, olha só pra vocês, competindo por um cara, quando, obviamente, ele gosta de mim! (Clover coloca a mão nos ombros de Alex e Sam. Ambas caem para trás. Apenas Clover fica de pé). Sam: Veremos isso! Alex: É! Vale tudo no amor e na... (As espiãs são sugadas para a WOOHP).

Cena 5 — (6)

(Na WOOHP). Jerry: Garotas, temos em nossas mãos uma situação muito peculiar. Um único país está dominando as olimpíadas de inverno. Clover: Deixa eu entender isso direito. Você nos arrancou do David (As bochechas de Clover ficam vermelhas e um coração rosa estoura ao seu lado) por causa de uns joguinhos bobos? Jerry: As Olimpíadas não são apenas jogos, Clover, e não são bobas. Alex: É isso aí! É um evento maravilhoso, que celebra o espírito de competição. Uma coisa que eu e o David sabemos apreciar! Clover: Alex, queridinha, quando você percebeu isso, hein? (Alex rosna). Jerry: Garotas! Concentrem­se! (Aparece no telão a imagem de uma seleção) Essa é a equipe que está

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dominando a corrida de skate, de hóquei no gelo e, novamente, no biatlo. E, na verdade, eles estão arrasando em todos os eventos, até agora. Sam: E a parte estranha é? Jerry: As chances de uma única seleção ganhar todas as medalhas, são ínfimas. (Os atletas aparecem, na praia, com roupas de banho) Sem mencionar o fato de que a equipe que está brilhando nos esporte de inverno é de Zanzibar. Alex: Então alguém tá fazendo alguma coisa! A gente não sabe nem quem, nem o quê. Jerry: Exatamente! Agora fiquem a vontade com seu cartão de crédito decodificador digital, acrescido de uma lâmina afiadíssima, braceletes algemas, termo­sensor seis mil infravermelho, com óculos de sol e detector de movimentos e luvas de aderir o suficiente. Ah! Sem esquecer a bota ultraleve felpuda, para qualquer tempo. (Clover pega a bota das mãos de Jerry e alcança para Sam). Clover: Ah! Completamente medonha! Exatamente o seu estilo, Sam. Espero que o David goste. (A imagem a seguir foca o rosto de Alex. Seus olhos e boca agigantados expressam sua felicidade. Ao fundo, gira um arco­íris saindo da personagem). Alex: Essa missão é muito perfeita! Eu vou disfarçada de uma das atletas! (Sam interfere, com expressão de desprezo). Sam: Para que possa dizer ao David que esteve nas olimpíadas! Vai esquecendo! Clover: É! Esquece! Além do mais, eu sou a única que posso usar um uniforme colante de microfibras. (Clover se balança, exibindo o seu corpo). Jerry: Alex! Alex: Obrigada Jerry! Sabia que você ia concordar comigo! Jerry: Você vai disfarçada de repórter. (Alex se decepciona) Sam, você vai disfarçada de treinador e Clover vai correr no Trenó Box Leder. (Clover se apavora. Suas mãos vão ao rosto e seus olhos aumentam de tamanho. O fundo fica azul e branco e anda velozmente de cima para baixo). Clover: Ah! Mas esse é esporte pra gente troncuda! Eu sou delicadinha! Alex: Não seja tão modesta, Clover! (Alex aponta para as coxas de Clover) As suas coxas são mais fortes do que se pode imaginar. Jerry: Boa viagem garotas!

Cena 6 — (7)

(Na Suíça, as espiãs observam, do alto de um prédio, a equipe de Zanzibar). Alex: Pra mim, eles parecem atletas comuns! Sam: Ótimo! Então, caso encerrado! Contamos para o Jerry e voltamos pra casa. Clover: Insultos não vão resolver este caso. E, quanto antes o resolver mais cedo poderei voltar para a minha grande paixão! Alex: As compras.

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(Clover fica furiosa. O fundo é preenchido por muito fogo. As três jovens descem do terraço. Clover é a primeira a sair do prédio. As espiãs, uma a uma, aparecem com os cotovelos na altura dos ombros e feições de indignação). Clover: É isso! Eu tô precisando, urgentemente, de algum tempo sozinha! (Sam é próxima a passar pela porta). Sam: Pra mim, ótimo! (Em seguida, Alex sai). Alex: Eu assino embaixo!

Cena 7 — (8)

(Novamente, no colégio, após solucionar a missão, as espiãs aparecem caminhando no corredor). Clover: Foi tão legal a Miriam e o Barcero terem ganhado o ouro de forma limpa! Sam: E nada de truques. Da maneira como deve ser. Alex: Esportes do melhor! (David aparece). David: Oi, Clover! Sam! Alex! (As jovens aparecem lado a lado, olhos arredondados, mãos juntas, próximas ao queixo, e rostos apaixonados. Tons de branco, lilás e estrelas cobrem o fundo da imagem). Três Espiãs: Oi, David! Clover: David! Não pode deixar a gente esperando para sempre! Precisamos saber de qual você gosta! David: Ã? Mas como assim? Eu gosto de todas! Alex: Nã, nã, nã, nã, não! A gente quer saber de qual de nós você gosta! Sabe? (Alex aparece com um indicador na boca, o outro braço ao lado do corpo. O fundo fica repleto de bolhas com nuances lilás e branco). David: Ah! Sam: Queremos que escolha uma de nós! David: A gente não escolhe uma garota como se fosse um produto em uma prateleira! Clover: A gente não se importa! Vá em frente! Diga a elas que sou eu! David: Clover, Sam, Alex, por favor! Vocês são todas ótimas! Eu não tenho como escolher uma entre vocês. Sinto muito! (David sai caminhando. As jovens meninas o acompanham com os olhos). Três Espiãs: Vocês viram aquilo? (Juntas param e se olham). Três Espiãs: Ele estava olhando pra mim! Sam: Muito bem! Isso é loucura! Dissemos que não faríamos isso. Alex: É! Clover: É! E que seríamos boas esportistas!

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Alex: Há! E, além disso, ele tava olhando nos meus olhos! (Clover e Sam se enfurecem e rosnam). Clover: Sei! E ele ficou me dando uma secada, tá! Sam: Vocês duas estão delirando! É a mim que ele quer! (As três espiãs riem).

Fita 6 Temporada 4 — Data: 04/04/2007 Episódio: Mani­Maniac Much? — Mania de Manicure

Missões

1. Fazer as unhas no salão Mega­Mani Mania; 2. Vencer o concurso de beleza do salão Mega­Mani Mania; 3. Descobrir o paradeiro de jovens adolescentes que estão desaparecendo.

Cena 1— (1)

(O episódio inicia com duas belas jovens saindo de um salão de beleza e admirando suas mãos). Jovem ruiva: Eu adorei como ficou minha unha! Jovem loira: Eu também. E a melhor parte é que não tivemos que ficar de papo furado com a manicure. (As jovens entram em um beco escuro. São seguidas por uma sombra. Unhas longas e pontiagudas raspam uma parede. O barulho estridente é acompanhado por faíscas). Jovens: Ã? Jovem loira: O que é isso? (O homem das sombras pára de raspar suas unhas e começa a rir). Jovem ruiva: Eu não sei, mas não vou ficar aqui pra descobrir! (A sombra, monstruosa, ergue seus braços, cruza suas mãos acima da cabeça e atira pontas de unha nas jovens. As unhas prendem as garotas na parede e elas são capturadas).

Con

sumo de

Apa

rências

Cena 2 — (2)

(As espiãs aparecem caminhando pela rua.). Alex: Mega­Mani Mania, aí vamos nós! Ê! Clover: Ah! As minhas unhas tão quase pulando de animação! (De repente, uma sombra começa a aparecer em frente às meninas e sombreia­as até o pescoço. Juntas erguem seus rostos e ficam espantadas com o que vêem). Três Espiãs: Ã! Demais! (A imagem foca um prédio de cima a baixo. O prédio é muito sofisticado, com duas letras “m” grandes e rosa pink. Um som estridente representa o surgimento de algo importante. Em seguida, as espiãs aparecem em frente à vitrine do salão). Clover: Lixa de unhas laser, preenchimento de cor eletrônico, uma escovadinha power pra polir. Parece que

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os meus sonhos se tornaram realidade! Alex: Eu não acredito! Como tudo isso é futurista! (Sam se espanta, olhando a vitrine). Sam: Ã? O preço também é bem futurista! (Clover defende:) Clover: Ah! Fazer parte do mundo das mais altas tecnologias de tratamento de unha, não é barato Sami! (Para enfatizar a importância de fazer as unhas, Clover aparece montada em um cavalo, vestida de cowboi, laçando grandes e lindas unhas decoradas). Clover: Agora vamos lá! (Clover aponta para a porta) Nosso destino tecnológico nos espera! (Clover corre para entrar e sua imagem se transforma apenas em feixes de luz. Um clarão representa a passagem da rua para dentro do salão. No salão, apenas máquinas e robôs preparam as unhas das clientes. De repente, uma jovem aparece pintando suas unhas. A máquina, com cinco pincéis, instantaneamente, faz o trabalho. Os olhos das três espiãs, agora, aparecem redondos. As meninas surgem lado a lado, com as mãos juntas, próximas ao queixo, e bocas fechadas. Muitas estrelas saem de seus corpos, sinalizando o encantamento da cena). Clover: Acho que eu vou de francesinha na mão (A imagem foca a mão) e vermelho russo no pé (A imagem mostra os pés de Clover, mexendo os dedões). Alex: Unhas internacionais, adorei! (A recepcionista se aproxima). Recepcionista: Com licença! Vocês tem hora marcada? Alex e Sam: Ah! Hum! Recepcionista: Por favor! Digitem seus nomes. (De repente, a barriga da recepcionista se abre e surge um teclado e uma tela em holograma). Três Espiãs: Ã? (Faíscas brancas aparecem ao redor de suas cabeças) Alex: Nossa! Esse lugar é muito automatizado! Até a recepcionista é automática! (Clover se aproxima do teclado). Clover: Permitam­me! (Clover digita o seu nome). Recepcionista: Seu horário está marcado para dia trinta de maio. Clover: É só daqui seis meses! Não dá pra esperar tudo isso pra tirar a cutícula! Recepcionista: Desculpe, mas a Mega­Mani Mania (O teclado é recolhido) está lotado até lá. (A recepcionista se retira). Sam: (Braços cruzados) Esperai! Esse lugar não inaugurou ontem? (Mandy aparece com um bilhete na mão). Mandy: Somente para convidados!

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(Sam, Alex e Clover ficam furiosas. Ao lado de Mandy surgem duas garotas populares da escola). Mandy: Parece que o trio de lerdas (Mandy e suas amigas fazem a letra L com o indicados e o polegar) não estava na lista. De novo! (Mandy admira suas unhas da mão esquerda). Mandy: Mas, olha só! Ficou impressionante o que eles fizeram: lincent (Uma nuvem surge sobre as espiãs e três raios atingem suas cabeças.) e o preenchimento de cores personalizadas combinadas. Não acham? (Mandy mostra suas unhas rosa pink, com corações rosa claro e contorno brancos). Três Espiãs: Ã! (Mandy e suas amigas riem das três espiãs. Clover aparece furiosa. Tiras de fumaça saem de sua cabeça. Riscos pretos preenchem sua testa e o espaço abaixo de seus olhos. Sua boca, disforme, é preenchida por dentes cerrados. Clover rosna, dá um grito e se transforma numa labareda. Sam aparece com um balde de água e joga­o água sobre a amiga. Em seguida, a abraça e leva­a em direção a porta). Sam: Quer saber, Mandy? Beverly Hills tá cheio de manicures. Não precisamos desse salão metido! Mandy: Sem a unha feita na Mega­Mani Mania, você não pode participar do concurso de modelos da Mega­ Mani Mania. Quem ganhar vai ser a supermodelo oficial da Mega­Mani Mania! (Clover e Sam aparecem na porta. Uma buzina toca. Ao ouvir Mandy, Clover volta correndo). Clover: Você disse, modelo oficial? Mandy: (Com mão na cintura) Arã! (A imagem mostra Clover com um buquê de flores e um longo vestido lilás, posando para fotos em meio a repórteres, câmeras e fotógrafos). Mandy: Mesmo que conseguisse fazer a unha, você nunca iria ganhar se eu tivesse concorrendo. (risos) Agora, se me dão licença, o polimento com a escova dia power me espera. (Mandy e suas amigas riem. Clover fica furiosa). Clover: Já chega! Eu tenho que entrar nesse concurso de modelos Mega­Mani Mania, fazendo a mão na Mega­mani Mania ou não! Alex: Nossa! Fala sério! Que frase mais cheia de Mega­Mani Mania. Sam: Ô Clover! Não acha que ficou obcecada com esse concurso por causa da Mandy? Clover: Ah! Dã! Eu vou dar um jeito de arrumar um horário nesse salão cricri. Nem que eu morra! (Jerry surge em um helicóptero e suga as espiãs de dentro do salão).

Cena 3 — (3)

(No helicóptero da WOOHP). Jerry: Bom dia, super espiãs! (Clover fica furiosa e aponta o indicador no rosto de Jerry). Clover: Só se for pra você, né! Acontece que eu estou no meio de uma emergência de unha! Jerry: Temo que isso vai ter que esperar, Clover. Temos outra emergência em nossas mãos. Alex: Então isso explica o jeito que a gente veio parar aqui.

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Jerry: Nos últimos dois dias Beverly Hills sofreu várias abduções (A imagem de jovens vai aparecendo na tela do computador) Esta é Clara Hilks, Jéssica Wolker e outras três adolescentes não identificadas. Sam: E elas se conhecem? Jerry: Pelo que nós sabemos, não. Sam: O que será que todas elas têm em comum? Jerry: É por isso que vocês, super espiãs, foram chamadas. (G.L.A.D.I.S., o computador de Jerry, interfere). G.L.A.D.I.S.: Ataque em execução. (O rosto de uma bela jovem aparece na tela do computador). G.L.A.D.I.S.: A polícia recebeu outro chamado de um adolescente de Beverly Hills. Jerry: Hora de entrar em ação meninas.

Cena 4 — (4)

(As espiãs chegam ao lugar, onde a adolescente havia solicitado ajuda). Alex: Tem certeza que é esse o lugar? É tão tranqüilo. Me dá a impressão de que eu tinha que meditar agora. (Espiãs ouvem um grito). Clover: Isso não parece um mantra calminho, pra mim. Sam: Vamos meninas! Está vindo lá de trás. (Com suas mochilas a jato, as espiãs vão para os fundo da casa. Lá encontram a adolescente sendo carregada por outras duas jovens, vestidas de saia e blusa iguais). Adolescente: Tira as mãos de mim! Socorro! (Clover e Alex derrubam as duas vilãs). Alex: Ã! Olha! Não são a Clara e a Jéssica? As meninas desaparecidas? Clover: Vamos olhar mais de perto. (Clover joga uma rede sobre as garotas. Instantaneamente, as unhas das vilãs aumentam de tamanho, elas espedaçam a rede e escapam). Alex: Vamos atrás delas! Sam: Regra número um das piscinas: nunca corra na borda da piscina! (Sam arremessa um baguete nas vilãs e uma delas cai na piscina). Alex: E agora outra! (Alex desce pelo escorregador, liga sua mochila e tenta atacar a vilã. Entretanto, ela movimenta, rapidamente, suas longas unhas e arranha Alex e suas roupas. Alex cai sobre uma cerca). Alex: Ai! Agora eu sei como se sentem aquelas cercas vivas. (As vilãs conseguem capturar a adolescente. Contudo, na luta, deixam para trás uma pista). Sam: Mas e ai? O que deu naquelas meninas? Alex: Sei lá! Mas minha roupa de espiã nunca mais vai ser igual. (Alex abre o seu comunicador. Uma claridade, gradativamente, se espalha por seu uniforme e os arranhões,

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como que num passe de mágicas desaparecem). Clover: Nossa! Que aberração! Parece que elas tinham superpoderes na unha ou sei lá! (A imagem foca um pedaço de unha brilhando na piscina. Sam pega­o.). Sam: E por falas em unhas... Dá uma olha nisso! (Alex usa um apetrecho para ampliar a imagem da unha. As jovens ficam espantadas. A unha rosa, apresenta no centro o perfeito desenho de uma abelha. Os olhos das espiãs aumentaram de tamanho). Alex: Essa é a unha postiça mais bonita que eu já vi na vida! Clover: Ah! Eu pensei que conhecesse todos os salões da cidade, mas nunca vi coisa como essa antes! Sam: Quem fez isso é bom. Quase bom demais. Vamos pra WOOHP analisar o desenho. (As espiãs saem correndo. Clover tropeça, cai e chora. Em seguida, tira uma de suas luvas). Clover: Ai! Ótimo! Eu quebrei a unha! (Sam e Alex, que haviam corrido para socorrê­la, desprezam o fato. A imagem foca a unha quebrada de Clover). Clover: Agora eu preciso ir no Mega­Mani Mania mais do que nunca! Sam: Ã! A gente tá numa supercrise de seqüestros. Não acha que a gente tem que ver as prioridades? Clover: Ah! Ficar bonita é uma prioridade! Você sabe! Sempre trabalho melhor com a unha grande.

Cena 5 — (5)

(Na WOOHP. Enquanto Sam e Alex pesquisam informações sobre a unha, Clover conversa com G.L.A.D.I.S.). Clover: Mas G.L.A.D.I.S., eu preciso de um horário! (Seu dedo está enfaixado) Como você pode perceber, claramente, minhas lindas unhas de jasmim não estão mais tão lindas! G.L.A.D.I.S.: Pela última vez Clover! Eu sou um sistema de distribuição de itens. Entrar em computadores para marcar horário na manicure, não é função minha. Clover: O que eu posso fazer? Não posso ficar andando com a ponta da unha quebrada! (O computador lhe alcança uma lixa). Clover: Ah! Eu fazer minha unha? Até parece! (Jerry aparece na sala). Jerry: Conseguiu alguma coisa? (Clover corre para o lado das amigas). Sam: A unha que encontramos (Na tela do computador aparece a imagem de um manicure e, ao lado, informações sobre ele) é um trabalho do dono de um salão de beleza local. Menin Wong. Clover: Acho que eu já ouvi falar dele. Ele não ganhou um monte de prêmios de manicure? Sam: Três vezes o Prêmio Internacional de Manicure de Hon Kong, a medalha de ouro da UNUIS Pela Paz (No computador, a barra de rolagem mostra uma infinidade de premiações) e o glamouroso Unha Dourada por Excelência em Design de Unhas. Alex: Nossa! Ele é praticamente um embaixador internacional da unha!

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Jerry: Eu não fazia nenhuma idéia de que isso existia! (Sam coloca a unha numa espécie de scaner, que reproduz o desenho na tela do computador. De repente, o computador sinaliza, através de um som constante e de um ponto de exclamação, que há algo de estranho. A imagem foca o olho da abelha).

Cena 6 — (6)

Sam: Uau! Olha só! A pedra do olho da abelha é um tipo de receptor. Jerry: Hum. Sam: Por que um estilista de unha colocaria um receptor ai? Alex: Talvez ele queira saber por onde anda o trabalho dele. (Enquanto Alex fala, Clover anda catatônica, com mãos fechadas e próximas ao queixo, bochechas e nariz vermelhos, olhos arredondados e pupilas grandes. Clover caminha até a unha e pega­a em suas mãos). Clover: Senhor Wong! Se tiver me ouvindo, seu trabalho é o máximo! Você é o mago do esmalte! (Jerry tosse, forçadamente). Jerry: Por que vocês três não vão pro salão do Menin e vêem o que podem descobrir? Sam: Pode deixar Jerry. Museu de Arte em Manicure, aí vamos nós!

Cena 7 — (7)

(No salão de manicure). Alex: Parece que o Menin fechou o negócio, gente! Clover: (Espiando pela porta de vidro) Por que um artista, com o talento dele, fecharia? (A imagem foca o interior do prédio: vasos quebrados, papéis jogados, coisas atiradas, cadeiras quebradas sofás estragados) Com certeza, tem mercado pro trabalho único que ele faz! Sam: Só tem um jeito de descobrir. Vamos ver o que tem aí por dentro desse salão de manicure. E eu falei dentro mesmo. (Alex corta o vidro, com um apetrecho, retira a maçaneta e abre a porta). Clover: Bom trabalho, Alex! Tá ficando boa nessa coisa de quebra e entra. Alex: Brigada! Ah! Eu acho. (As espiãs entram no salão que, por sua configuração antiga, passa a ser por elas denominado de “museu”. Clover pára ao ver um telefone). Sam: Você vem? Clover: Vô. Espera só um pouquinho. (Clover testa o telefone. Ele tem linha. Em seguida, disca para alguém. A recepcionista da Mega­Mani Mania atende.). Recepcionista: Mega­Mani Mania, posso ajudar em alguma coisa? Clover: Ah! Oi! Meu nome é (Clover muda de voz) Duquesa de Likfild do Sul. Eu só vou ficar na cidade um dia, deveres na embaixada, e eu preciso, urgentemente, fazer a unha. Eu não aceito não como resposta. (Nesse instante, a tela se divide ao meio. Metade da cena mostra Clover ao telefone e a outra metade mostra

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uma jovem, morena, fazendo a unha, com a recepcionista ao fundo). Recepcionista: Me desculpe pela confusão duquesa, mas a senhora já não está aqui? (Os olhos de Clover se transformam em dois octógonos azuis. Sua boca fica aperta, se assemelhando a de um boneco ventríloquo). Clover: Ah! É claro! Continuem assim. (Clover desliga o telefone.). Clover: Droga! Eu tentei enganar ela! (Sam aparece furiosa). Sam: Esquece a unha e concentra, Clover! Clover: Desculpa!

Cena 8 — (8)

(As espiãs encontram o transmissor que controla as mentes das jovens, a partir das unhas. De repente, ele liga e surgem adolescentes. As espiãs se escondem atrás do transmissor. As unhas das meninas piscam). Alex: É impressão ou a Dona tá diferente? Clover: Ah! Dá um novo significado a ser escrava das unhas. Menin: (Fala às adolescentes). Meninas! É tão bom vê­las de novo! Imagino que estejam pensando o que estão fazendo aqui. Jovens: Aaaah! Menin: Para punir as minhas ex­clientes, que trocaram o meu trabalho genial e único, por aquela porcaria pré­ fabricada da trama computadorizada da Mega­Mani Mania, vocês vão acabar com a Mega­Mani Mania, unha por unha, uma de cada vez. (Menin aperta num botão do transmissor e ri. As unhas das jovens brilham. Todas recebem informações e instruções pelos receptores, em suas unhas). Jovens: Aaaah! Clover: Isso é muito injusto! (Clover sai do esconderijo e se aproxima das jovens) Quer dizer que todos vocês são clientes da Mega­Mani Mania? (Alex e Sam correm para junto de Clover. Alex vai empurrando Clover). Alex: Ah! Oi! Tudo bem? Sam: Não liga não. A gente já estava de saída. (Menin fica furioso). Menin: (Rosna) Peguem as intrusas! (As unhas das jovens brilham e crescem, significativamente, de tamanho. Mesmo lutando, as espiãs são capturadas. Alex e Sam conseguem escapar. Clover, porém, tem suas unhas feitas e vira uma das seguidoras de Menin).

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Cena 9 — (9)

(Sam e Alex chegam ao Mega­Mani Mania, para avisar do ataque de Menin e suas seguidoras). Recepcionista: Com licença! Vocês têm hora marcada? Sam: Não viemos fazer a unha! Viemos dar um aviso! Alex: Um bando de mulheres, de unha muito comprida, tá vindo acabar com esse lugar, unha por unha! Recepcionista: Ai! Ai! Ai! Parece bem ruim. (De repente, a imagem foca Mandy, fazendo as unhas). Mandy: “Qualé”! Esquece elas! Só tão tentando arranjar uma desculpa furada, porque não conseguem marcar horário e querem se vingar de todo mundo, para sua auto­lerdade. Recepcionista: Isso é sério? Bom, eu só tenho uma coisa a dizer sobre isso. (Alex e Sam são expulsas do salão).

Cena 10 — (10)

(Alex e Sam, na tentativa de retirar as pessoas do salão, resolvem invadi­lo pelo teto). Sam: Todo mundo escuta! Vocês têm que sai da Mega­Mani Mania agora! Senão saírem, vão pagar mais caro do que os preços absurdos! (As clientes do salão não dão ouvidos à Sam). Alex: Coloca a sandalhinha, anda! Vai gente! Anda! (As clientes começam a correr). Sam: Por favor! Saiam! (Menin e suas seguidoras vêm correndo em direção ao Mega­Mani Mania). Menin: Vamos acabar com aquele lugar, meninas! (Todos ouvem o grito. Sam tem a idéia de esconder as clientes no armário. Mandy segura a porta, enquanto Sam e Alex a empurram). Sam: Não se preocupe! Estarão seguras! Alex: E não saiam até a gente mandar! Mandy: Até parece que vou obedecer essas duas ridículas! Sam: Eu sei que a gente já teve problemas com você Mandy, mas, por favor, obedeça só desta vez! (Clover, Menin e as outras jovens quebram a vitrine do salão e invadem o Mega­Mani Mania). Clover: Ah! Deixa a Mandy ficar! Menin: Aqui é mais sem graça do que eu tinha imaginado. Clover: Eu quero testar minhas unhas novas! Recepcionista: Com licença! Vocês têm hora...(Com suas unhas longas, Clover parte a recepcionista em três pedaços) Digite o seu... (A recepcionista se despedaça). Mandy: Você ficou louca mesmo, Clover! Dessa vez, a sua inveja de mim passou dos limites! (Alex e Sam conseguem fechar o armário). Menin: Façam as cutículas, meninas!

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(As adolescentes correm e começam a destruir as máquinas do salão). Alex: Pára! Essas máquinas trazem alegria pra muitas adolescentes como você!

Cena 11 — (11)

(Com a ajuda de Jerry, Alex e Sam conseguem destruir o transmissor). Alex: Olha, depois de tudo isso, eu nunca mais vou menosprezar as manicures! Sam: Parece que o Jerry conseguiu destruir o transmissor. (Aos poucos, Clover e as adolescentes vilãs acordam do transe e voltam ao normal). Mandy: Nossa! O que aconteceu? O que que eu tô fazendo com vocês (Mandy aponta para Sam e Alex) ridículas? Eu não quero saber de ganhar um prêmio toda semana por fazer a unha aqui. (Começa a gritar). Eu nunca mais ponho os meus pés nesse salão de quinta categoria! (Um fotógrafo passa por Mandy e caminha em direção à Clover. Sam e Alex estão ao lado de Clover, que começa a recuperar os sentidos). Clover: Ah! Onde eu tô? Ah! Que bom! Na Mega­Mani Mania! (Clover olha para suas longas e lindas unhas). Clover: Voalá! Unhas perfeitas! (O fotógrafo tira fotos das mãos de Clover). Fotógrafo: Ah! Não precisamos mais procurar! Encontramos a modelo oficial da Mega­Mani Mania. (Mandy corre furiosa para o lado de Clover). Mandy: O quê? Clover: Ah! Sim! Eu ganhei! Eu ganhei! (Clover aparece saltando em meio a revistas, onde ela aparece nas capas com roupas e poses distintas. Imediatamente, pega um gloss e um espelho.). Clover: Espera! O meu gloss tá brilhando bastante? (Clover passa o gloss e pisca várias vezes). Fotógrafo: Ã! Eu só vou fotografar da cintura para baixo. Mandy e Três Espiãs: Ã? Fotógrafo: A modelo oficial da Mega­Mani Mania é um modelo de mão, querida. (O fotógrafo tira mais fotos das mãos de Clover e vai embora). Mandy: Parabéns por ser a modelo oficial da Mega­Mani Mania, otária! Pena (risos) que ninguém vai saber que é você! (Clover fica uma fera. Suas mãos aumentam de tamanho e se transformam em luvas de boxe, que tentam acertar Mandy). Sam: A gente já foi atacada por muita unha hoje! Alex: Ah! Pode crer, Sami. Clover: Ah! Deixa eu pega ela! Deixa eu pega ela! (Clover corre para pegar Mandy).

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Mandy: Ah! Sai de perto de mim! Você é louca! Você quer ser igual a mim! Esse é o seu problema! Ah! Me deixa em paz! Me deixa em paz! (O episódio termina com Clover, no meio da rua, correndo atrás de Mandy).

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