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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PESQUISA Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS Projeto de Pesquisa: Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra- humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade. Relatório Final: Representações Sociais dos Índios em Sergipe Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia Social Código CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3 Bolsista: Rodrigo de Sena e Silva Vieira Departamento de Psicologia Matrícula: 04141634 Orientador: Professor Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima Responsável: Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo. Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1. http://gruponsepr.wordpress.com/ RELATÓRIO FINAL Janeiro /2007 – Julho /2007.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPEPRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS

Projeto de Pesquisa:

Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra-humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade.

Relatório Final:

Representações Sociais dos Índios em Sergipe

Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia SocialCódigo CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3

Bolsista: Rodrigo de Sena e Silva VieiraDepartamento de Psicologia

Matrícula: 04141634

Orientador: Professor Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima

Responsável:Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo.

Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1.http://gruponsepr.wordpress.com/

RELATÓRIO FINALJaneiro /2007 – Julho /2007.

Este projeto foi desenvolvido com bolsa de iniciação científicaPIBIC/CNPq

São Cristóvão - SE2007

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Sumário:

1. Resumo ............................................................................................................... 32. Apresentação ...................................................................................................... 43. Introdução .......................................................................................................... 54. As representações sociais segundo Moscovici ................................................... 65. As representações sociais: na interface da Sociologia-Psicologia ...................... 7 6. Transformando o não-familiar em familiar e o familiar em não familiar: Funções

das representações sociais ................................................................................... 97. Os processos de ancoragem e objetivação ......................................................... 108. Aculturação e mudança cultural de tribos indígenas no Brasil ......................... 119. Representações sociais dos índios ..................................................................... 1310. Método

10.1 Participantes ........................................................................................... 1310.2 Procedimentos e Instrumentos ............................................................... 14

11. Resultados e discussão ....................................................................................... 1412. Considerações finais ......................................................................................... 1913. Referências ....................................................................................................... 2114. Anexos

14.1 Anexo A: Termo de consentimento ....................................................... 2214.2 Anexo B: Roteiro de entrevista .............................................................. 23

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1. ResumoNeste trabalho, o grupo de pesquisa “NSEPR” estuda a representação social dos índios, o processo de infra-humanização, o racismo e os sentimentos de culpa e solidariedade. Este relatório diz respeito a uma investigação das representações sociais dos índios em nosso estado. Para isso, é feita uma breve discussão sobre o conceito de “representações sociais” e é referido um trabalho anterior sobre o tema. Os resultados obtidos mostram predominância da percepção dos índios através de figuras tradicionais, históricas ou mitificadas, o que se relaciona à situação de invisibilidade em que este grupo se encontra em nossa sociedade; além disso, é notável que em cidades onde há contato com os índios não há mudança significativa na formação das representações sociais.

Palavras-chave: índios, imagens, representação social.

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2. ApresentaçãoNenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (Darcy Ribeiro, 1996a, p. 120)

Os índios estão no Brasil antes do seu surgimento enquanto país, eles estão nos nossos livros de história, estão na história da nossa formação cultural, política e geográfica, na nossa língua, na nossa culinária, os índios estão em todas as regiões do país e mais que tudo isto eles estão na composição genética do nosso povo. Uma pesquisa feita pela UFMG em 1997 analisando o DNA dos brasileiros, demonstrou que 45 milhões de nós têm ascendência indígena. Por que então para a maioria dos brasileiros os índios são invisíveis? Por que raramente ou mesmo nunca nos sentimos “a mão possessa que os supliciou”? Por que tão perto biológica e geograficamente e tão longe em termos de identidade nacional?

O fotógrafo e antropólogo Siloé Soares de Amorim, estudioso dos índios do Brasil, apresenta um quadro compreensivo das ambivalências nacionais em relação ao índio. Parece que amamos ou aprendemos a cultuar um índio genérico, estereotipado, que anda nu e vive nas matas da Amazônia, ou seja, amamos o índio distante e improvável, o “índio total”. Os índios particulares e reais, ainda segundo Amorim (s/d), que transitam nas periferias urbanas, semi-urbanas, rurais; entre suas aldeias, a selva e as bancadas parlamentares, estes têm a difícil missão de criar paralelos entre seus espaços étnicos e o mundo que os rodeia, entre a imagem demandada por esses espaços sócio-politicos e a imagem visual que tentam construir com a finalidade de se auto-identificar e serem identificados. Nesse embate de “ressurgência”, “transfiguração” e “aculturação” os povos autóctones têm duas alternativas impostas pelos dominantes: mantêm-se “índios” nas matas para desocuparem os espaços sociais nacionais ou ocupam os espaços sociais, mas deixam de ser “índios”.

É nesse cenário complexo que habitam e são construídas as representações sociais dos índios no Brasil. É sobre esta temática que nos interessa compreender como são percebidos os índios por pessoas que vivem próximas e por outras que vivem distante deles e o que é um “índio” no imaginário social nacional?

No caso específico deste subprojeto de pesquisa procura-se investigar as representações sociais dos Índios em Sergipe e os sentimentos que ancoram essas representações. Interessa ainda analisar se essas representações são influenciadas pela presença próxima da única tribo do estado: os Xokós. Para tanto, coletamos dados nas cidades de Aracaju, Porto da Folha, Pão de Açúcar (AL)1, Estância, Itabaiana e Lagarto. Ainda que todos os bolsistas tenham participado de todas as fases da pesquisa, cada um deles ficou nas suas análises um elemento específico do objetivo geral. Neste relatório apresentamos as representações sociais dos índios encontradas no grupo pesquisado.

1 Pão de Açúcar compôs a amostra por ser a cidade mais freqüentada pelos Xokós nas suas relações com os não índios.

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3. IntroduçãoBrasília, 20 de abril de 1997: cinco jovens de classe média ateiam fogo no índio

Galdino de Jesus dos Santos, que dormia em um ponto de ônibus. Com 95% do corpo atingido pelas queimaduras, Galdino faleceu no dia seguinte. Este caso já foi largamente noticiado e discutido pela mídia e por diversos segmentos da sociedade ao longo dos 10 anos que se passaram. Os jovens cumpriram sentenças e obtiveram liberdade; o crime ainda é lembrado em atos públicos e relacionado a outros casos de violência urbana quando acontecem.

Do ocorrido, o que nos interessa atualmente são apenas algumas nuances. Primeiramente, uma justificativa “espontânea” dada por um dos autores do crime sobre, por assim dizer, o que os fez achar que poderiam fazer o que fizeram: eles haviam confundido a vítima com um mendigo. Num segundo momento, pode-se enfocar a decisão inicial tomada pela juíza Sandra de Santis, que a princípio tratava do caso: ela desqualificou o crime como homicídio doloso e o caracterizou como lesão corporal seguida de morte; em outras palavras, diminuiu a gravidade penal do caso, talvez convencida pelas alegações da defesa que afirmavam que os jovens não tinham a intenção de matar.

Não seria inconcebível considerar que, dentre os diversos focos de análise popular feitas sobre o ocorrido, muitos davam/dão conta de que os jovens estavam mentindo ao afirmar que confundiram o índio como um mendigo; já sobre a decisão inicial da juíza e sobre as alegações da defesa, certamente houve discussões enfocando a intenção ou não de cometer o crime.

Uma peculiaridade que claramente podemos extrair desses apontamentos é que, independentemente de os jovens terem causado repulsa em quase toda a sociedade, seus argumentos, embora refutados, chegaram a ser considerados. Ora, se Galdino fosse mesmo um mendigo, o crime seria brutal da mesma forma. De modo similar, a não intenção de matar não descarta o fato de os autores do crime terem julgado como aceitável ou divertida a “brincadeira” de atear fogo em um indivíduo.

Pelo que deram a entender os autores do crime, se o indivíduo queimado fosse um mendigo, o ocorrido passaria a ser aceitável. E ainda, por eles terem ateado fogo apenas com a intenção de fazer uma brincadeira, suas atitudes teriam sido menos aviltantes. Essa forma peculiar de encarar o outro está intimamente ligada à representação social que possuíam os jovens em relação à imagem de Galdino naquele instante. Ao vê-lo dormindo num ponto de ônibus em plena madrugada, encararam-no “como um mendigo”; a imagem de um mendigo, por sua vez, desdobra-se em uma cadeia de outras representações que levaram os indivíduos a se posicionar diante dele de uma forma específica – e tendo em vista a “brincadeira” de atear fogo que acabou ocorrendo, decerto não é incoerente inferir que a cadeia de representações talvez incluísse idéias de desprezo, infra-humanização ou similares.

Neste caso específico, entretanto, ainda pode ser adotada uma outra linha de interpretação: por ser índio, Galdino representa um grupo que está presente em nosso país desde seu surgimento, mas que atualmente parece ocupar uma posição de mero símbolo histórico no imaginário social; disto resulta uma invisibilização dos indígenas quando não estão de acordo com as características clássicas que são associadas àquele símbolo.

No fim das contas, não é possível apontar qual das interpretações propostas é a mais adequada. O importante é que, com este recorte, pode-se ter uma idéia da amplitude do conceito de representação social na Psicologia Social. Segundo Jodelet (1989), as representações sociais são responsáveis por regular a atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e grupos para fixar suas posições em relação às situações,

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acontecimentos, objetos e comunicações que lhes dizem respeito. Isso pode ser claramente observado no caso citado quando as atitudes tomadas pelos jovens foram justificadas em função de referenciais que eles adquiriram em suas histórias de vida. As representações sociais seriam, portanto, a “lente subjetiva” através da qual os indivíduos enxergam o mundo, posicionando-se diante dele. Criam ideologias e são modeladas por outras já correntes, num processo sempre ativo de construção de conhecimentos práticos.

Neste relatório, será exposto um estudo sobre as representações sociais dos Índios no estado de Sergipe. Os índios são um grupo que, segundo estudos anteriores, ocupa uma posição de invisibilidade em nossa sociedade: as representações construídas sobre eles são influenciadas de forma marcante por referenciais históricos ou mitificados (Lima, Silva & Vieira, 2006). Sendo assim, a caracterização dos índios em função de referenciais clássicos ou antigos faz com que este grupo “desapareça” se essas raízes estereotípicas não houverem sido mantidas.

Antes do relato sobre o estudo que desenvolvemos, entretanto, faz-se necessária uma breve discussão sobre o conceito de “representações sociais” em Serge Moscovici, que o resgata junto à Sociologia clássica e o transforma em teoria, além de um breve delineamento sobre os processos de aculturação e mudança cultural por que passaram os índios.

4. As representações sociais segundo MoscoviciEm seu livro "Representações Sociais: Investigações em psicologia social",

Moscovici (2003) fala sobre um fenômeno que levou o homem a diferentes processos de construção de conhecimento: "o medo instintivo de poderes que ele não pode controlar", que provoca "tentativas de poder compensar essa impotência imaginativamente”. (p. 29)

Para a superação desse suposto medo, grosso modo utilizaram-se, ao longo da história, duas perspectivas epistemológicas: uma delas diz respeito ao que pode ser chamado de "poder ilimitado da mente" e a outra, de “poder ilimitado dos objetos”.

De acordo com a perspectiva do poder ilimitado da mente, o pensamento age sobre os objetos, sendo estes uma réplica daquele; a outra, adotada pelo pensamento científico clássico, diz respeito ao "poder ilimitado dos objetos", ou seja, ao invés de o pensamento agir sobre a realidade, ele reage a ela.

Na filosofia, o que foi referido como “poder ilimitado da mente” também é chamado de idealismo, uma corrente filosófica que emergiu com advento da modernidade, com René Descartes e seu “cogito”, e em que a subjetividade é fundamental, uma vez que, com a proposta do primado do eu subjetivo, a oposição entre sujeito e objeto torna-se um incidente no interior do próprio eu. Isso se reflete no postulado básico de que “Eu sou Eu”, no sentido de que o “Eu é objeto para mim”.

Já a perspectiva do “poder ilimitado dos objetos” se traduz filosoficamente na corrente do realismo, surgida durante a Idade Média, e segundo a qual o objeto de conhecimento é independente do sujeito do conhecimento. É importante notar que o realismo não necessariamente significa uma oposição ao idealismo. Entre seus postulados está também o de que o conhecimento do objeto é diferente do objeto em si. A terminologia “realismo” é utilizada para frisar a possibilidade de existência do objeto (seja ele material, espiritual, etc) independentemente de se criar uma idéia sobre ele. (Wikipedia - Enciclopédia Online).

Constituindo duas formas de entendimento de um mesmo problema, estas duas perspectivas certamente representam aspectos relevantes na relação de nossos mundos externo e interno. A segunda, entretanto, revela-se mais adequada aos estudos de

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algumas vertentes da Psicologia Social, que pressupõem indivíduos reagindo a fenômenos, acontecimentos ou pessoas. Dessa forma, em que pesem os vieses cognitivos, as distorções subjetivas e as tendências afetivas, todas as nossas percepções e idéias são respostas ao ambiente em que vivemos. Contudo, existem fenômenos relevantes que não são englobados por essa perspectiva de pensamento como reação.

Inicialmente, é marcante a constatação de que, por vezes, não vemos, ou não somos capazes de ver, coisas que estão diante de nossos olhos. Isso ocorre devido a uma espécie de enviesamento de nossa percepção que pode não nos permitir enxergar, por exemplo, determinada classe de pessoas (os negros por alguns brancos ou os mais velhos pelos mais novos). O que resulta disso é uma invisibilidade de algo ou alguns que não se deve a falhas na visão de outros, mas à formação de uma realidade político-ideologicamente fragmentada, uma classificação de pessoas e coisas que faz algumas delas visíveis e torna outras invisíveis. É importante referir que tal fragmentação nem sempre é proposital, e pode ocorrer simplesmente devido a composições de espécies de repertórios conceituais ou perceptivos. (Moscovici, 2003).

Um outro fenômeno importante é o que tange a distinguirmos as aparências da realidade, ou seja, termos idéias formadas sobre determinadas coisas mesmo quando suas aparências reais não corroborem com elas. Fazemos essa distinção por podermos passar da aparência à realidade através de alguma noção ou imagem. Isso muitas vezes nos leva a perceber que alguns fatos que aceitamos sem discussão repentinamente transformam-se em ilusões. É o caso de nossas crenças passadas de que o Sol girava em torno da Terra. Hoje temos uma visão contrária a respeito disso, embora nossa percepção visual objetiva seja a mesma.

Uma terceira constatação, que está relacionada à primeira, é a de que nossas respostas aos estímulos que recebemos, ou seja, nossas reações aos acontecimentos ou nossos entendimentos de situações, estão diretamente relacionados a definições comuns a todos os membros de uma comunidade à qual pertencemos. Ou seja: nosso universo de possibilidades de entendimento das coisas está relacionado a definições previamente formadas e que se relacionam a fenômenos ou situações cuja codificação é partilhada por um coletivo. Sendo assim, se entrássemos numa determinada loja e víssemos pessoas com braços levantados, certamente teríamos o entendimento de que um assalto estaria se passando. (Moscovici, 2003).

Essas três proposições extrapolam a simples idéia inicial de que nós apenas reagimos a estímulos ou respondemos a situações, ou mesmo que os estímulos e objetos sejam meras construções mentais. De fato, ainda é aceitável considerar que façamos isso, mas estes são processos que são guiados por símbolos coletivos que dizem respeito a significações, convenções e afetos que são solidificados de forma não linear ou voluntária. Este é, em linhas gerais, o campo do fenômeno das representações sociais.

5. As representações sociais: na interface da Sociologia-PsicologiaO conceito de representações sociais iniciou-se com o sociólogo Émile

Durkheim que, ao tratar do que ele chamava de representações coletivas, as via como artifícios explanatórios irredutíveis a qualquer análise posterior, ou seja, ele considerava sua existência, mas não achava relevante para estudo suas estruturas ou suas dinâmicas internas de funcionamento. É como se as representações sociais fossem encaradas como um conceito fechado (e não um fenômeno dinâmico) que abrange uma cadeia completa de formas intelectuais que inclui ciência, religião, mito, modalidades de tempo e espaço, etc. Dessa forma, qualquer tipo de idéia, emoção ou crença de uma comunidade estaria incluído e embasado num conceito único e geral. (Durkheim, 1970)

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Embora não se descarte a visão durkeimiana, a posição da Psicologia Social a respeito das representações sociais é consideravelmente diferente. Em uma analogia, Moscovici define o campo das representações sociais da seguinte forma:

“Impressionisticamente, cada um de nós está obviamente cercado, tanto individualmente como coletivamente, por palavras, idéias e imagens que penetram nossos olhos, nossos ouvidos e nossa mente, quer queiramos quer não e que nos atingem, sem que o saibamos, do mesmo modo que milhares de mensagens enviadas por ondas eletromagnéticas circulam no ar sem que as vejamos e se tornam palavras em um receptor de telefone, ou se tornam imagens na tela da televisão.” (2003, p. 33).

Ele argumenta, entretanto, que esta não é uma analogia perfeita, e que se faz necessário frisar que as representações sociais possuem precisamente duas funções: a de convencionalizar os objetos, ou seja, a de adequá-los em categorias de entendimento pré-formuladas; e a de prescrever, ou seja, funcionam como uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e como uma tradição que decreta o que deve ser pensado. Essas características serão suficientemente discutidas adiante.

Ainda analisando a visão da Psicologia Social a respeito das representações sociais, pode-se destacar que sobressai uma maior preocupação com o conteúdo e a dinâmica das representações, ou seja, há interesse em como elas acontecem, quais são elas e em que situações são suscitadas. Isso caracteriza um interesse mais específico sobre os efeitos do fenômeno em diferentes contextos – ao contrário da visão sociológica clássica, que propõe um “adensamento” geral de conceitos. Há interesse também no conjunto de relações e comportamentos que surgem e desaparecem junto com as representações, algo que está intimamente ligado ao caráter dinâmico que lhes é atribuído. Sendo assim, é correto afirmar que, na visão de Moscovici, as representações sociais dizem respeito a experiências passadas de uma comunidade, mas podem ser modificadas por experiências presentes de indivíduos desta em circunstâncias que forcem um conflito entre a visão corrente e novas possibilidades de entendimento.

Além disso, outro fator característico da visão da Psicologia Social sobre o tema é a consideração de que elas podem ser vistas como uma maneira específica de compreender e de comunicar algo que já sabemos. Servem, então, para abstrair sentido do mundo e introduzir nele ordem, igualando toda imagem a uma idéia e toda idéia a uma imagem2.

Para melhor caracterizar essa proposição, é possível ampliar o exemplo do assalto citado anteriormente: como nossas reações a fenômenos ou a acontecimentos estão relacionadas a definições em comum aos membros de comunidades a que pertencemos, seria natural a decodificação de vermos clientes numa loja com braços levantados como um assalto. Mas as representações sociais podem ir além dessa decodificação objetiva. Como produtoras de sentido a coisas que já conhecemos, elas também permitem que entendamos situações de significado mais abstrato ou afetivo como, por exemplo, o valor ou significado emocional dado a uma celebração ou a uma dança em determinada comunidade, assim como a objetos envolvidos em tais acontecimentos. Este tipo valoração pode ser bem observado em algumas tribos indígenas, que possuem rituais cuja explicação não pode ser dada apenas com base em definições conceituais, mas “absorvidas” a partir da vivência num âmbito cultural. São rituais que geralmente dizem respeito a tradições e que são mantidos através do tempo.

2 Nessa perspectiva, as representações sociais sempre possuem duas faces interdependentes, a face icônica e a face simbólica.

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Como se vê, estas são significações que ultrapassam as simples denotações de objetos e situações, e que dizem respeito a algo socialmente compartilhado, mas não necessariamente de forma explícita ou direta. O campo das representações sociais, portanto, diz respeito à “familiarização” com determinados fenômenos, atuando na transformação do não-familiar em familiar.

6. Transformando o não-familiar em familiar e o familiar em não familiar: Funções das representações sociais.

Durante nosso dia-a-dia, estamos cercados por algo que se pode chamar de “atmosfera” das representações sociais. Com isso, entendemos as pessoas e os acontecimentos em nossa volta através de lógicas pré-formuladas que influenciam também os outros membros dos grupos a que pertencemos. Estas lógicas possibilitam-nos enquadrar nossas experiências em nosso entendimento da forma mais simples possível, de modo que mantemos a predominância desses esquemas de interpretação. E quando nos deparamos com algo aparentemente incomum ou desconhecido, temos uma forte tendência a criar uma compreensão sobre tal fenômeno que nos faça enxergá-lo de acordo com nossa bagagem anterior de conhecimento. Está caracterizada, dessa forma, a finalidade maior de todas as representações sociais: tornar familiar algo não-familiar.

Retratando essa nossa tendência, Moscovici propõe que:

“Em seu todo, a dinâmica das relações é uma dinâmica de familiarização, onde os objetos, pessoas e acontecimentos são percebidos e compreendidos em relação a prévios encontros e paradigmas. Como resultado disso, a memória prevalece sobre a dedução, o passado sobre o presente, a resposta sobre o estímulo e as imagens sobre a ‘realidade’.” (2003, p. 55).

É interessante imaginar que a caracterização do “diferente” baseada em paradigmas passados pode, com efeito, atuar de forma a torná-lo, enquanto diferente, invisível, pois sua caracterização se daria de acordo com esquemas do “igual”. Este é um fenômeno que pode ser observado na visão que se tem a respeito dos índios no Brasil atual. Ainda lembrados através de sua figura histórica mitificada, os membros desse grupo que não possuem as características que estão de acordo com o estereótipo criado para eles podem acabar sofrendo um processo de invisibilização, como se não fossem mais o que de fato são.

Moscovici propõe então que o confronto direto com o não-familiar só se dá em algum tipo de ocorrência em que as diferenças emergem de forma concreta, numa situação que impedisse um indivíduo de reagir como ele reagiria diante de um padrão usual. Como exemplo disso são apontados os doentes mentais ou pessoas de culturas muito diferentes às nossas, pois eles são como nós, mas ao mesmo tempo não são como nós. Em contato com estes, temos a materialização de algo que antes caracterizávamos de forma imaginativa, mas que agora se apresentam tais como são.

Essa presença de algo ausente, também chamada de “exatidão relativa”, é o que caracteriza a não-familiaridade. Esse confronto tende a ameaçar-nos de perder nossos marcos referenciais, ou seja, aquilo que nos possibilita ter um sentido de continuidade e compreensão sobre as coisas. É por isso que quando a alteridade se apresenta de forma não exatamente igual ao que “deveria ser”, podemos instintivamente rejeitá-la, pois ameaça uma ordem pré-estabelecida. Nestes casos ocorre o que se pode chamar de “re-apresentação”, ou seja, uma separação de conceitos e percepções que inicialmente

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estariam ligados, e pela colocação destes num contexto onde o que é incomum se torna comum ou familiar.

Ao considerarmos situações como estas, pode haver uma tendência ao entendimento de que nossas representações anteriores são sempre tão fortes a ponto de não percebermos algumas discrepâncias ou até inconsistências em nossas formas de entendimento. Desenvolvendo a argumentação de Moscovici, percebemos que isso não necessariamente ocorre. Mas embora possamos ter a capacidade de perceber tais discrepâncias ou inconsistências, nossas representações apresentam-se sempre de forma quase irresistível como arcabouço interpretativo que possuímos. Com isso, as imagens e idéias que utilizamos para perceber o não-usual podem estar, em oposição, apenas trazendo-nos de volta a algo que já conhecíamos e com o que já estamos familiarizados e, por isso, podemos ter a sensação de algo já visto (déjà vu) e já conhecido (déjà connu).

Pode-se perceber que tornar familiar o não-familiar, função básica das representações sociais, é um fenômeno bastante comum. Ele ocorre, via de regra, através de dois outros processos que atuam na formação das representações, a saber, a ancoragem e a objetivação.

7. Os processos de ancoragem e objetivaçãoA visão clássica da ciência, como sabemos, diz respeito à não influência do

cientista pelo seu objeto de estudo e ao necessário “desligamento” do cientista de seus valores e paradigmas com fins de obtenção de resultados mais apurados e menos enviesados. Nesse aspecto, podemos considerar que a função da ciência é desfamiliarizar (tornar não-familiar) o familiar.

Nos dias de hoje, entretanto, podemos tomar como perfeitamente aceitável a proposição de que é da própria ciência que vem o material que é tornado familiar. É nesta relação que atua o senso comum, que transporta a produção científica para um mundo consensual, re-apresentado, passível de fácil entendimento, ou seja, pode-se dizer que o senso comum é a ciência tornada comum ou acessível. Podemos ainda considerar que o “universo de senso comum” a que foi feita referência corresponde às representações sociais, que atuam exatamente no processo de obtenção do familiar. (Moscovici, 2003).

Para a transformação de palavras, idéias ou seres não-familiares em usuais, entretanto, é necessário que entrem em funcionamento dois mecanismos que formam as representações sociais, que fazem parte de um processo de pensamento baseado na memória e em paradigmas passados: são os mecanismos de ancoragem e de objetivação.

A ancoragem, como sugere seu nome, corresponde a uma tentativa de ancorar idéias desconhecidas, reduzindo-as a categorias e imagens comuns que as coloquem em um contexto familiar. Dessa forma, uma pessoa que tem como característica ser comunista ao extremo tende a relacionar acontecimentos sociais a sua escala de valores comunista. O mesmo pode acontecer com uma pessoa muito religiosa, que terá seu universo religioso como arcabouço interpretativo dos mais diversos acontecimentos.

Ainda segundo Moscovici, no processo de ancoragem ocorrem sempre classificações e atribuição de nomes, e estas são etapas que podem implicar conseqüências específicas. Através delas, ocorre o enquadramento de seres ou fenômenos em universos consensuais. Estes enquadramentos são feitos em contextos específicos, mas podem acabar sendo utilizados de forma deliberada, não somente em casos excepcionais ou contextualizados. Em detrimento disso, aqueles que falam e os

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que são falados podem entrar em categorias de identidade que eles não escolheram e sobre a qual não possuem controle.

Já a objetivação se caracteriza pelo papel de transformar algo inicialmente abstrato ou vago em algo quase concreto, materializado ou de “real existência”, ou seja, levar algo que antes parecia uma mera idéia a tornar-se um componente do mundo real, algo cuja existência não é comumente questionada. Sendo assim, a objetivação liga a idéia de não-familiaridade à de realidade, “materializando” (ou “realizando”) algo que antes fazia parte de outro nível de existência.

Este é um fenômeno que ocorre com grande freqüência, e com o qual lidamos a todo o tempo sem sequer percebermos. É fácil constata-lo ao pensarmos no grau de realidade com que encaramos “criações” como o inconsciente, idéias como a de justiça ou diversos fenômenos da física. A respeito do poder de influência da objetivação no meio social, Moscovici diz:

“(...) A materialização de uma abstração é uma das características mais misteriosas da fala. Autoridades políticas e intelectuais, de toda espécie, a exploram com a finalidade de subjugar as massas. Em outras palavras, tal autoridade está fundamentada na arte de transformar uma representação na realidade da representação; transformar a palavra que substitui a coisa, na coisa que substitui a palavra.” (2003, p. 71).

Pode-se considerar ainda que objetivar é descobrir a qualidade icônica de algo ideativo ou vago, ou melhor, é reproduzir um conceito em uma imagem. E mesmo quando determinadas palavras não são passíveis de associação a imagens, podem aparecer esquematizadas a partir de uma relação com outros ícones de sua cadeia semântica, ou melhor, representativa.

Partindo destes preceitos teóricos da Psicologia Social e baseados em estudos anteriores, realizamos uma pesquisa a respeito das imagens constituídas sobre os índios em nosso estado. Investigamos, assim, que tipos de imagens ou processos ideativos estão mais fortemente associados a este grupo, que está presente em nosso país desde seu início, e que hoje se encontra em posição desfavorecida na hierarquia social. Antes de tratar sobre as representações dos índios, entretanto, é fundamental uma rápida abordagem sobre os processos de assimilação e mudança cultural por que os indígenas passaram em nosso país. Dessa forma, será possível entender algumas das razões que os levaram a mudanças, que atualmente criam um contraste entre sua situação real e a imagem que se tem de seu grupo.

8. Aculturação e mudança cultural de tribos indígenas no BrasilEm “Aculturação indígena no Brasil”, Eduardo Galvão (1978) faz um apanhado

sobre condições que favoreceram processos de aculturação e mudança cultural de tribos indígenas no Brasil. Evitando entrar numa discussão conceitual profunda, pode-se dizer que tais processos tratam tanto de fatores externos que influenciam e modificam determinada cultura quanto de mudanças internas promovidas pelos próprios membros desta cultura, que podem decorrer de contingências diversas. O que se pode extrair da abordagem feita por Galvão é que, em seu processo de mudança cultural, os índios não podem ser encarados como um grupo ou um “bloco” homogêneo reagindo de forma idêntica a influências externas. Assim como quaisquer outros grupos, as diferentes tribos nacionais reagiram ao contato com outros povos em função de suas diferentes situações sócio-demográficas ou até emocionais.

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O conceito de “transfiguração étnica”, introduzido por Darcy Ribeiro (1996b), indica o resultado do contato de índios com o homem branco no Brasil. Diz respeito a uma nova configuração identitária de tribos indígenas que, ao entrarem em contato maciço com uma cultura dominante, mantiveram inalterados alguns de seus costumes e mitos, ao mesmo tempo em que assimilaram de forma marcante novos valores e normas. A transfiguração étnica, portanto, corresponde a um rearranjamento cultural, político e até geográfico.

Um exemplo deste processo é a tribo dos Tenehetara no estado do Maranhão, que ao entrar em contato maciço com os “caboclos” de outra cultura, acabou por manter intacta sua unidade tribal, embora tenha se adaptado de forma bastante rápida à cultura e aos costumes dos caboclos com que passaram a conviver. O início dessa mudança deu-se por uma contingência econômica, a saber, uma situação favorável no mercado que os levou à passagem do cultivo de subsistência do babaçu à produção de comércio. Já os Kaiapó e os Karajá, por ocuparem regiões de difícil acesso no planalto central, acabaram por não ter sua cultura afetada por, entre outros motivos, não haver um meio de serem integrados às práticas econômicas dos colonizadores (Galvão, 1978)

Ao abordar as mudanças culturais em tribos indígenas do Rio Negro, Galvão aponta outros fatores de alguma importância nesse processo. Entre eles está a atuação de missionários que, por condenar as práticas religiosas dos índios, introduziam-nos a outra religião. Esse tipo de intervenção acabava por influenciar também em instituições sociais. Além disso, com a ocorrência de conflitos com base nas novas religiões (como o catolicismo e o protestantismo), as tribos sofriam novos arranjamentos que desfiguravam suas configurações iniciais.

Além de missionários, os próprios índios podem ter promovido mudanças em suas comunidades ao entrar em contato com os caboclos. É o exemplo dos que tinham crédito facilitado junto aos colonos em troca de mão-de-obra rural. Estes acumulavam dívidas e eram obrigados a trabalhar por mais tempo para saná-las. Ao retornar para suas tribos, transformavam-se em agentes de mudanças por terem retido traços culturais diferenciados que provinham de seu contato com os colonizadores (Galvão, 1978).

Como se vê nesta rápida abordagem, há uma gama de fatores que influenciaram a mudança cultural de tribos indígenas por todo o país. Deve-se considerar, entretanto, que este não é um processo exclusivo desses grupos: é algo que seguramente ocorre em diferentes povos com diferentes culturas, e se deve tanto a fatores externos quanto a mudanças “ativas” das próprias comunidades. As representações sociais dos índios, entretanto, parece não ter acompanhado esse processo de mudança.

No estado de Sergipe, a tribo Xokó é um bom exemplo de como a “perda” de traços estereotípicos clássicos gera um impacto no reconhecimento social da identidade indígena. Os Xokó são remanescentes de outras tribos indígenas (Figueiredo, 1981 apud Santanta, 2004) e caracterizam-se por terem historicamente sofrido violência e perseguição de fazendeiros pela posse das terras que habitavam. As lutas pela recuperação dessas terras são um ponto importante no fortalecimento de sua identidade indígena, que por algum tempo não podia ser demonstrada em virtude de fortes represálias. Atualmente os habitantes da tribo, que geralmente possuem fenótipo negróide, caracterizam-se pelo resgate e pela afirmação de sua identidade indígena, que é repassada aos mais jovens em suas famílias e na escola da comunidade.

Algo bastante aparente numa visita à aldeia dos Xokó, localizada na Ilha de São Pedro (Município de Porto da Folha, Sergipe), é o processo de mudança cultural, ou transfiguração étnica por que passaram. Apesar de manterem vivos traços culturais como ritos, festejos e danças, logo se nota a adoção de diferentes traços culturais brancos: o uso de roupas “comuns”, o idioma (Português), as casas de tijolo usadas

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como moradia (embora dispostas em circunferência), entre outros. Por terem um fenótipo miscigenado e pela aquisição de novos costumes, os Xokó muitas vezes têm sua identidade indígena questionada. Este não é um processo isolado e se deve, como sugerido anteriormente, à formação de uma representação social peculiar sobre os índios – é o que será tratado a seguir.

9. Representações sociais dos índiosOs índios constituem um grupo minoritário que ocupa uma posição específica

em nossa sociedade, algo que se reflete na formação de imagens sobre eles. Esta posição relaciona-se, certamente, a suas caracterizações históricas, construídas pelos grupos detentores de poder político-ideológico.

A respeito da formação histórica de imagens e caracterizações sobre os índios no Brasil, Lima, Silva e Vieira (2006), em artigo ainda não publicado, fazem um apanhado geral de acontecimentos que foram determinantes para as representações que carregam hoje. Eles mostram que, através dos tempos, os índios foram caracterizados tanto por características negativas (como preguiçosos, não-aptos para o trabalho ou violentos) quanto como símbolos de identidade nacional, através de uma imagem mitificada. Isso se refletiu e se reflete, ainda hoje, na caracterização comumente feita sobre esse grupo, que vai da mitificação à demonização.

Os resultados de sua pesquisa sobre imagens dos índios, realizada na cidade de Aracaju no ano de 2005, corroboram as posições teóricas formuladas a seu respeito. Eles são, de modo geral, percebidos como possuidores de uma cultura diferente e distante da ocidentalidade, e por esse motivo tendem a ser considerados como não participantes da sociedade brasileira, constituindo uma “raça à parte” que hoje se encontra “sem identidade”.

A maior parte das enunciações obtidas por Lima, Silva e Vieira (2006) refere-se a um passado cultural ou a uma imagem perpetuada por muitos anos na história do Brasil a respeito dos índios, ou ainda a que características físicas, sociais e até mesmo psicológicas deveriam ter, com destaque a “cultura”, a “viver na mata”, a serem “selvagens”, a viverem nus, a pescarem, serem curandeiros, etc. Foram encontradas também referências à situação social de desamparo e de pobreza, que provavelmente os conduz a um imaginário de sofredores.

No atual estudo, tivemos como objetivo expandir o campo de pesquisa ao estado de Sergipe, que possui regiões em que há contato direto com a tribo dos Xokó, localizados na Ilha de São Pedro (Porto da Folha), além de haver diferenças nas realidades sócio-políticas de seus municípios, que podem implicar vieses na formação de representações.

10. Método

10.1 Participantes Nosso estudo foi constituído a partir de um roteiro de entrevista estruturado

aplicado com 378 moradores de 6 cidades (Aracaju 129 entrevistados; Estância 58; Itabaiana 34; Lagarto 53; Pão de Açúcar 54 e Porto da Folha 50 entrevistados), destas 6 cidades uma é a capital de Sergipe, quatro são do interior sergipano e uma fica no estado de Alagoas, porém na divisa com uma comunidade indígena do sertão sergipano, a saber, a tribo Xokó da Ilha de São Pedro em Porto da Folha/SE. Os entrevistados são em sua maioria mulheres (52,3%) e têm idades variando de 16 a 83 anos (Média = 34,6 anos, Desvio Padrão = 15), com renda familiar mensal que variou de menos de 1 salário mínimo (9,8%) até mais de 9 salários (12%), sendo a faixa de renda mais freqüente a

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compreendida entre 1 e 2 salários com 42,3% das respostas. A escolaridade dos entrevistados variou de analfabeto (3,2%) até nível superior completo (16,6%); sendo que a maioria dos entrevistados (31,9%) possui ensino médio completo. Dos 378 entrevistados 85 disseram ter parentes indígenas e 281 disseram não ter ou não saberem se tinham, sendo que 12 pessoas não responderam a esse questionamento.

10.2 Procedimentos e InstrumentosAs entrevistas foram individuais e na casa das pessoas. Participaram os

pesquisadores do NSEPR. Depois de ler Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os entrevistados (ver termo de consentimento no Anexo 1), apresentávamos nosso roteiro de entrevista (ver anexo II) e explicávamos os objetivos da pesquisa e as instruções de resposta. Basicamente as instruções diziam respeito ao caráter da entrevista e que eles deviam responder as perguntas com as suas opiniões sobre os questionamentos.

O roteiro de entrevista era composto de perguntas abertas e fechadas, que envolviam associação livre, opiniões sobre acontecimentos históricos envolvendo índios, sentimentos associados pelos entrevistados a eles, crenças pessoais e sociais, entre outros.

Nesta análise serão tratadas as questões 1 e 8 do roteiro de entrevista. Na primeira questão, pedíamos que os entrevistados tentassem dizer quais as palavras, idéias ou coisas lhes viam à mente quando ouviam a palavra “Índios”, quando o havia dificuldade em fazer a associação mental, sugeríamos que o entrevistado fizesse associações de palavras com algum termo familiar do seu cotidiano. Por exemplo: às mães era sugerido que elas fizessem associações com a palavra “Filho”, ou com o nome da cidade onde moram, etc. Esse procedimento era usado como forma de “aquecimento mental” das pessoas; porém, se mesmo depois disso a pessoa não conseguisse fazer associações com a palavra “Índios”, pulávamos à 2ª questão e daí para adiante. Na oitava questão, perguntamos aos entrevistados como eles descreveriam um índio.

Para análise das respostas às perguntas fizemos análise de conteúdo seguindo Bardin (1977) e Bauer (2004). Em seguida os dados foram tabulados e analisados no SPSS.

11. Resultados e discussãoConforme citado anteriormente, visando a verificar o imaginário social a

respeito dos índios, utilizamos o método da associação livre ao perguntarmos “Quando você ouve a palavra ‘Índios’, quais são as três primeiras coisas que você pensa?”. Obtivemos 961 enunciações, que foram organizadas em 26 categorias (ver tabela 1), dentre as quais as mais freqüentes dizem respeito a “elementos ou práticas culturais” (como “língua diferente”, “hábitos”, “pintura”, “cantam e dançam”, “tradição”, “forma de vestir”, “culinária”, “tribo”, “aldeia”) com 31,11% das respostas; “questões históricas” (como “descobrimento do Brasil”, “primeiros habitantes”, “antigüidade”, “nativos”, “portugueses”) com 9,57%; “natureza” (“mata”, “selva”, “floresta”, “rio”, “peixe”, “urso”, “macaco”) com 8,12% e “explorados/escravizados/discriminados” (“degradação dos portugueses”, “preconceito”, “mal tratados pelos brancos”) com 5,83%. Pode-se notar nestes resultados uma forte incidência de elementos históricos (“clássicos”) ou mitificados, tanto no que diz respeito a lugares como no que se relaciona à cultura. Na categoria “explorados/escravizados/discriminados”, a análise pode ser repartida: além da associação dos índios a elementos antigos como a degradação feita pelos portugueses, há também o apontamento de uma situação de

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“discriminação”, talvez motivada pela abordagem da mídia sobre casos de violência com índios ou afins.

Também é notável a pouca incidência de enunciações que aproximem os índios dos entrevistados: a categoria “Xokó/família/proximidade” (com respostas como “bisavó”, “descendência”, “passa por aqui”) aparece em apenas 9 enunciações, 0,94% do total.

Tabela 1: Freqüências e percentagens das respostas à questão “Quando você ouve a palavra ‘Índios’, quais são as três primeiras coisas que você pensa?”.

Categoria Freqüência %Elementos/Práticas Culturais (língua diferente, pintura, pureza cultural, tradição, cocar, rituais, nudez, canoa, arco e flecha, rede, caça, pesca, artesanato, espiritualidade, culinária, tribo, aldeia, oca).

299 31,11

Questões históricas (descobrimento do Brasil, primeiros habitantes, começo do Brasil, antigüidade, nativo, portugueses, desmatamento).

92 9,57

Natureza (mata, selva, floresta, rio, peixe, urso, macaco). 78 8,12Explorados/Escravizados/Discriminados (degradação dos portugueses, preconceito, mal tratados pelos brancos, vida triste, sem perspectiva de vida).

56 5,83

Exclusão/Pobreza (fome, miséria, sem direito à terra, sem direitos, abandonados, desvalorizados, rejeitados, desigualdade, desprotegidos, analfabetos, ignorantes).

40 4,16

Traços morais/Atribuições positivas (lealdade, trabalhador, honesto, gente boa, união, amizade, amor, carinho, esforçados, dignidade, inteligente, sabido, calorosos entre eles).

40 4,16

Primitivos/Selvagens (não sabem lidar com as pessoas da cidade, sem conhecimento da civilização, não civilizados, rudimentar).

37 3,85

Sociabilidade e modos de vida (vivem do próprio trabalho, vivem ao ar livre, sabem viver sem coisas materiais, modo de viver diferente, comunidades, coletividade, liberdade, povo, civilização).

37 3,85

Pessoas importantes/Devem ser respeitados (o povo do Brasil deve valorizar, merece mais atenção dos políticos, patrimônio da humanidade, respeito, donos de terras, sabem cuidar da terra, direitos, pessoas iguais).

36 3,75

Isolados/Desconhecidos (Espaço restrito, criado fora, afastados, Amazônia, Bahia, reserva indígena, vejo mais na TV, cinema/filme, pessoas não conhecidas, incompreensão).

29 3,02

Traços físicos/Raça (mestiço, aparência física, cor da terra, cabelo).

23 2,39

Admiração/Bonitos (coisa bonita de se ver, satisfação, orgulho, interessante, saúde, coisa boa).

23 2,39

Seres humanos (merecem respeito, filho de Deus, "homens, mulheres, crianças", têm direitos iguais).

22 2,29

Pessoas diferentes (diferença de convívio, vivem diferente, comportamento diferente, preservação do material genético indígena).

19 1,98

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Guerreiros/Lutadores (lutam pelo que é deles, persistentes, guerra, resistências, valentia, força e coragem que têm pra viver).

18 1,87

Pessoas ruins/Atribuições negativas (brigam entre si, invasores, desconfiados, não se pode esperar nada de bom deles, moleque, maloqueiro, aproveitadores, malandro, feio, desprezo, preguiçoso).

17 1,77

Civilizados/Perderam as raízes (desenvolvidos, novos hábitos, saída p/ as cidades, semi-catequizados, aculturados, perderam a cultura, pouca cultura, miscigenação, escola, estuda).

16 1,66

Jeito natural/Inocente (originalidade, simplicidade, naturalidade, Ingênuos, inocentes, inofensivos, puro, tranqüilo, pessoas felizes).

16 1,66

Não responde/Tautológico/Não categorizável. 15 1,56Animalescos/Desumanos (canibais, muito grosseiros, agressividade, medo, canibais fisionomia de macaco, violento).

11 1,14

Extinção/Genocídio (existem poucos hoje em dia, minoria, massacre).

11 1,14

Xokó/Família/Proximidade (Bisavó, descendência, passa por aqui).

9 0,94

Símbolos nacionais/Brasil (símbolo do Brasil, Pau-Brasil, bons brasileiros, brasileiro).

8 0,83

FUNAI 5 0,52Benefícios do governo (incentivos do governo, dinheiro perdido do governo).

3 0,31

Culpa 1 0,10Total 961 100

Para expandir o foco de análise, separamos as respostas obtidas nas cidades de Porto da Folha (SE) e Pão de Açúcar (AL), freqüentadas pelos membros da tribo Xokó, para avaliar em que medida o contato ou a convivência com os índios modificaria a representação social feita sobre eles. Apesar de haver um pequeno aumento na porcentagem de respostas que talvez indiquem um maior “conhecimento” sobre o grupo, como “traços morais e atribuições positivas”, o que se pode observar é que, grosso modo, as enunciações dos habitantes daquelas duas cidades não diferem relevantemente das que obtivemos no âmbito geral da pesquisa, o que pode ser visto na tabela 2. Apesar de não figurar entre as dez categorias mais freqüentes, as citações referentes a “Xokó/família/proximidade” aparecem 6 vezes, ou seja, dois terços das 9 enunciações que obtivemos em toda a pesquisa.

Tabela 2: As 10 mais freqüentes enunciações à questão “Quando você ouve a palavra ‘Índios’, quais são as três primeiras coisas que você pensa?” nas cidades

de Porto da Folha (SE) e Pão de Açúcar (AL).

Categoria FreqüênciaElementos/Práticas Culturais (língua diferente, pintura, pureza cultural, tradição, cocar, rituais, nudez, canoa, arco e flecha, rede, caça, pesca, artesanato, espiritualidade, culinária, tribo, aldeia, oca).

61

Questões históricas (descobrimento do Brasil, primeiros habitantes, começo do Brasil, antigüidade, nativo, portugueses, desmatamento).

24

Traços morais/Atribuições positivas (lealdade, trabalhador, honesto, 18

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gente boa, união, amizade, amor, carinho, esforçados).Explorados/Escravizados/Discriminados (degradação dos portugueses, preconceito, mal tratados pelos brancos, vida triste, sem perspectiva de vida).

15

Pessoas importantes/Devem ser respeitados (o povo do Brasil deve valorizar, merece mais atenção dos políticos, patrimônio da humanidade, respeito, donos de terras, sabem cuidar da terra, direitos, pessoas iguais).

14

Sociabilidade e modos de vida (vivem do próprio trabalho, vivem ao ar livre, sabem viver sem coisas materiais, modo de viver diferente, comunidades, coletividade, liberdade, povo, civilização).

14

Exclusão/Pobreza (fome, miséria, sem direito à terra, sem direitos, abandonados, desvalorizados, rejeitados, desigualdade, desprotegidos, analfabetos, ignorantes).

12

Primitivos/Selvagens (não sabem lidar com as pessoas da cidade, sem conhecimento da civilização, não civilizados, rudimentar).

11

Natureza (mata, selva, floresta, rio, peixe, urso, macaco). 10Admiração/Bonitos (coisa bonita de se ver, satisfação, orgulho, interessante, saúde, coisa boa).

9

Total 188

Em outro momento, perguntamos “Como você descreveria um índio?”. Para essa questão, obtivemos 574 enunciações, que foram organizadas em 23 categorias (ver tabela 3). Dentre estas, as mais freqüentemente mencionadas dizem respeito a “traços físicos” (“pele morena”, “cabelo liso”, “olho puxado”), com 31,36% das enunciações, seguida por “modos de vestir” (“vestimentas”, “nus”, “pés descalços”, “penas”, “pintados”) com 18,99%. Estas duas categorias de resposta sobressaem de forma marcante nos resultados, corroborando com as representações dos índios ligadas a uma imagem histórica clássica. É válido considerar que a categoria “traços físicos”, embora pareça remeter unicamente à caracterização de uma “raça”, certamente sofre grande influência da figura do índio nos livros de História; o biótipo, a cor de pele, a silhueta, portanto, parecem determinantes quando ocorre julgamento da pertença ou não de indivíduos ao grupo dos índios, embora muitos destes hoje estejam consideravelmente distanciados desses padrões de vestimenta e aparência física.

Tabela 3: Freqüências e percentagens das respostas à questão ‘Como você descreveria um índio?’ ”.

Categoria Freqüência %Traços físicos (pele morena, cabelo liso, olho puxado). 180 31,36Modo de vestir (vestimentas, nus, pés descalços, pelados, enfeites, pintados, penas).

109 18,99

Pessoas comuns (seres humanos, igual à gente, mesmos direitos e oportunidades).

35 6,10

Pessoas diferentes (maneira de viver diferente, diferentes tradições, costumes diferentes, língua diferenciada, modo de falar).

33 5,75

Características positivas (solidário, bonitos, Inteligentes, sadios, alegre, legal, extrovertido, conversador, amigável, se garantem no que fazem, sinceros, educados, confiável, autênticos, criativos, pacatos).

29 5,05

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Lutadores/Guerreiros (lutam por direitos, pela sobrevivência, pelas terras, batalhador, batalham e conseguem o que querem).

24 4,18

Inofensivos (não faz mal a ninguém, ingênuo, sem maldade, pacíficos, sem ambição capitalista, dignos, honestos).

21 3,66

Elementos culturais (dança, arco e flecha, atividades tradicionais, caçam, fazem artesanato, cultura médica, comem peixes, artista, cultura particular).

20 3,48

Modos de vida (liberdade, modo de vida admirável, união, simplicidade, humildade, trabalhador independente, subsistência).

20 3,48

Características negativas (arredio, preguiçoso, rancoroso, acomodados, feios, briguentos, ociosos, violentos, agressivos doido, selvagens).

19 3,31

Não responde/Não sabe/Não categorizável. 17 2,96Modernos (civilizados, tentam se atualizar na modernidade de hoje, curioso pela vida do homem branco).

10 1,74

Relação com a terra e a natureza (vivem da natureza, criados na mata, vivem nas florestas, “o índio é a natureza”).

9 1,57

Primitivo (rudimentar, nativo, ainda muito ligado à natureza, não evoluiu, comem com as mãos, não acostumado com a cultura da cidade).

9 1,57

Ignorantes/Despreparados (rude, sem cultura, analfabetos, sem instrução).

9 1,57

Necessitados e sofridos (muita pobreza, pessoas sem oportunidades, não têm acesso ao que o homem branco tem).

8 1,39

Isolados/ Separados (convivem afastados, vivem na cidade do interior).

6 1,05

Cismados (não gostam de conversar, falam pouco, desconfiados, têm medo pelo que já fizeram com eles, pessoas esquisitas).

5 0,87

Ignoram a gente (não aceitam civilização como a gente, conservadores).

3 0,52

Diferentes entre si (depende da versão). 3 0,52Mestiçagem 3 0,52Primeiros habitantes 1 0,17Pessoas com muitos filhos 1 0,17

Total 574 100

Mais uma vez separamos as respostas obtidas nas cidades de Porto da Folha (SE) e Pão de Açúcar (AL), numa tentativa de investigar em que medida o contato com a tribo Xokó influenciaria os padrões descritivos sobre os índios. Ao contrário do que uma reflexão superficial poderia sugerir, os resultados mostraram que, apesar de terem contato com índios “modificados”, os habitantes daquelas duas cidades adotaram um padrão de descrição similar ao dos entrevistados nas outras cidades. Na tabela 4 pode-se observar inclusive a presença das categorias “pessoas diferentes” e “não sabe/não responde/não categorizável”, o que mostra que, apesar do contato, ainda pode existir dificuldade em falar sobre os índios, além de haver uma caracterização deles como diferentes, quando no contato com os habitantes das cidades citadas os Xokó, aparentemente, não apresentam diferenças marcantes na fala ou no modo de agir. Não é possível avaliar, entretanto, se a atribuição dessa diferença diz respeito a uma imagem cristalizada sobre os índios ou a idéias formadas a partir do contato com os Xokó. E ainda, em termos absolutos, a incidência dessas respostas pode não ser tão significativa.

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Tabela 4: As 5 mais freqüentes respostas à questão ‘Como você descreveria um índio?’ nas cidades de Porto da Folha (SE) e Pão de Açúcar (AL).

Categoria FreqüênciaTraços físicos (pele morena, cabelo liso, olho puxado). 59Modo de vestir (vestimentas, nus, pés descalços, pelados, enfeites, pintados, penas).

25

Pessoas diferentes (maneira de viver diferente, diferentes tradições, costumes diferentes, língua diferenciada, modo de falar).

10

Não responde/Não sabe/Não categorizável. 9Pessoas comuns (seres humanos, igual à gente, mesmos direitos e oportunidades).

9

Total 112

12. Considerações finais Em nosso país, é marcante a crença de que a maioria dos acontecimentos históricos “importantes” e a formação da identidade nacional estão fortemente associados a uma dinâmica entre brancos e negros. Quando há menção aos povos indígenas, elas estão sempre enviesadas pela narrativa européia, que se tornou predominante no modo como nossa história foi e é contada. (Lima, Silva & Vieira, 2006). Com isso, é comum termos em nossos livros didáticos, por exemplo, referências aos índios como “preguiçosos”, “hostis” ou termos similares, algo que está intimamente relacionado ao fato de que eles não serviram muito bem aos trabalhos braçais que os europeus lhes queriam impor. E quando as referências a eles não dizem respeito a sua inaptidão ao trabalho, são retratados sempre com base numa exacerbação de traços culturais como o modo de vestir, o fato de viverem em selvas e etc, algo que era comum a eles, mas não aos europeus. Esses referenciais acabaram difundidos e perpetuados em nossa cultura, e parecem apresentar-se de forma irresistível quando somos convidados a pensar sobre o grupo dos índios. É de fácil percepção, portanto, que temos como forte referencial a respeito dos índios a maneira como foram descritos pelos europeus, para quem os povos nativos eram diferentes e exóticos. Isso se reflete nas representações sociais construídas sobre esse grupo já que elas, como propôs Moscovici (2003), baseiam-se mais na memória que na dedução, mais no passado que no presente, mais na resposta que no estímulo e mais nas imagens que na “realidade”. A realidade dos índios que pode ser observada hoje em dia é bastante diferente do que era no período colonial: apesar de ainda haver alguns que preservam a maioria das características “clássicas”, muitos miscigenaram-se (mudando de aparência), alteraram seus costumes, integraram-se às cidades e a outras comunidades, etc. Entretanto, a sociedade dominante, ao negar tal diferenciação e continuar a enxergá-los através de sua figura histórica, acaba por torná-los invisíveis e, por vezes, excluídos. Os dados obtidos em nossa pesquisa refletem bem as perspectivas teóricas e os resultados de outros estudos sobre o tema. Há uma forte tendência para a descrição dos índios através de elementos míticos, históricos ou tradicionais, além de forte negação da identidade de “índios” aos membros da tribo Xokó, algo que detectamos com grande incidência no discurso dos participantes que residem em Pão de Açúcar ou Porto da Folha, cidades próximas à tribo, o que ocorre em detrimento de os índios não possuírem as características que deles se esperam enquanto grupo que possui uma representação

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cristalizada. Durante as entrevistas nessas cidades, não era incomum, durante questões que pediam descrição dos índios, ouvirmos frases como “esses índios da ilha [de São Pedro] não são índios!”. Fora do âmbito da nossa pesquisa, também não é difícil observar a manutenção da imagem dos índios como algo distante. Um exemplo disso foi o que se passou no programa “Altas Horas”, veiculado pela rede Globo na madrugada de um domingo (22/07). Ao falar sobre a imagem que os estrangeiros têm sobre o nosso país, o apresentador “Serginho” Groisman afirmou que já foi muitas vezes indagado sobre se no Brasil há tigres, macacos, índios; em sua resposta, com algum traço de indignação, ele disse que até existem, sim, mas “cada coisa em seu lugar”. Certamente, grande parte dos espectadores sequer deu maior atenção ao que foi dito, exatamente por parecer algo óbvio para grande parte da população. Esse tipo de tratamento da mídia certamente tem grande força na manutenção de uma representação social dos índios cristalizada no passado. O que pode ser observado é que, atualmente, as informações sobre os índios são veiculadas de duas formas principais pelos veículos de comunicação de massa: ou são relatados casos de violência e conflitos envolvendo-os, ou são mostradas tribos “tradicionais” em matas distantes. Não nos parece descartável a inferência de que é daí que vem a grande incidência de associações do índio à figura clássica, assim como aos estereótipos de inofensivos ou violentos (o que dependeria da posição que é tomada ao se ter acesso às informações).

Acreditamos que este estudo é um ponto de partida para se ter idéia da dimensão que assumem as representações sociais formadas sobre os índios em relação à posição social que ocupam hoje: um grupo muitas vezes não reconhecido e/ou esquecido. Para que haja mudança nesta situação, é necessária a difusão de informações que ponham em cheque representações cristalizadas para que entrem em discussão, gerando outras. Por isso planejamos levar adiante o trabalho e apresentá-lo em congressos e artigos científicos a serem publicados em revistas especializadas na área científica.

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13. Referências:Agüero, O.A. (2002). Sociedades indígenas, racismo y discriminción. Horizontes

Antropológicos, 18, 255-264.Bauer, M.W. (2004). Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In M.W Bauer e G.

Gaskell (Eds.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, 3ª ed.,  pp. 189-217. Petrópolis: Vozes

Bardin, l. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.Caldeira, N. Guilherme.(2003) Produção de identidade coletiva: o caso dos índios Xocó

de Porto da Folha – SE. Dissertação de mestrado São Cristóvão.Durkheim, E. (1970) Representações individuais e representações coletivas In:

Sociologia e Filosofia. Rio de Janeiro: Forense.Freyre, G. (1933/1983). Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o

regime de economia patriarcal. Lisboa: Edição Livros do Brasil.Galvão, E. (1978). Índios e brancos no Brasil: encontro de sociedades, 126-192. Rio de

Janeiro: Paz e Terra.Jodelet, D.(1989) In “Pensée et Vie sociale”, capítulo 13 “La representacion social:

Fenomenos, concepto y teoria”. pp.357-373. Traduzido do francês por GOWTIÉS, Bernard. (1993).

Las Casas, B. (2001). O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América. Porto Alegre: L & PM.

Lima, M. E., Silva, D. e Vieira, R. Racismo e Imagens Sociais dos Índios na Cidade de Aracaju. Artigo ainda não publicado.

Moscovici, S.(2003). Representações sociais: investigações em psicologia social. 3ª ed. Petrópolis: Vozes.

Ribeiro, D. (1996a). O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2º ed., São Paulo: Companhia das Letras.

Ribeiro, D. (1996b). Sobre a mestiçagem no Brasil. In L. M. Schwarcz, & R. da S. Queiroz (Orgs.), Raça e Diversidade (pp. 187-211). São Paulo: EDUSP.

Santana, P (2004). Aldeamentos indígenas em Sergipe Colonial: subsídios para a investigação de arqueologia histórica Dissertação de mestrado. Cidade universitária Porf. José Aloísio de Campos. pág 76-87.

Silva, A.L. da. (1988). Índios. São Paulo: Ática.Villalta, L. (1997). O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In F.A. Novais

e L. de M. Souza (Orgs.), História da Vida Privada no Brasil / Cotidiano e vida privada na América portuguesa (Vol. 1, pp. 331-386). São Paulo: Companhia das Letras

Wikipedia – http://www.wikipedia.com. Acessado em 24 de Janeiro de 2007 às 20h.

14.1 Anexo A: Termo de Consentimento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

PROJETO DE PESQUISA: Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra-humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade

OBJETIVO DA PESQUISA

Analisar as representações sociais que os sergipanos constroem sobre os índios, tentando entender se elementos de racismo e de infra-humanização estão presentes nessas representações e que papel os sentimentos de solidariedade e de culpa coletiva podem ter na construção dessas imagens.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA PESQUISA

Serão realizadas entrevistas individuais com duração média de 20 minutos, nas quais as pessoas responderão a perguntas sobre identidade social e auto-categorização étnica.

COORDENADORES DA PESQUISA: Dr. Marcus Eugênio Lima (UFS-SE) assinatura _______________

Dra. Ana Raquel Rosas Torres (UCG-GO) assinatura _______________Dr. Rupert J. Brown (University of Sussex – UK) assinatura _______________

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO Pelo presente documento, declaro ter conhecimento dos objetivos da pesquisa,

que me foram apresentados pelo responsável pela aplicação do questionário, e conduzida pelo Mestrado e o Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe.

Estou informado(a) de que, se houver qualquer dúvida a respeito dos procedimentos adotados durante a condução da pesquisa, terei total liberdade para questionar ou mesmo me recusar a continuar participando da investigação.

Meu consentimento, fundamentado na garantia de que as informações apresentadas serão respeitadas, assenta-se nas seguintes restrições:

a) Não serei obrigada a realizar nenhuma atividade para a qual não me sinta disposto e capaz;

b) Não participarei de qualquer atividade que possa vir a trazer qualquer prejuízo;

c) O meu nome e dos demais participantes da pesquisa não serão divulgados;d) Todas as informações individuais terão o caráter estritamente confidencial;e) Os pesquisadores estão obrigados a me fornecer, quando solicitados, as

informações coletadas;f) Posso, a qualquer momento, solicitar aos pesquisadores que os meus dados

sejam excluídos da pesquisa. g) A pesquisa será suspensa imediatamente caso venha a gerar conflitos ou qualquer mal-estar dentro do local onde ocorre.Ao assinar este termo, passo a concordar com a utilização das informações para

os fins a que se destina, salvaguardando as diretrizes das Resoluções 196/96 e 304/2000 do Conselho Nacional de Saúde, desde que sejam respeitadas as restrições acima enumeradas.

O pesquisador responsável por este projeto de pesquisa é o Professor Marcus Eugênio Lima, que poderá ser contatado pelo e-mail [email protected], telefone: 3243 1063. Endereço: Rau A, casa 10, Cond. San Diego, Aruana, Aracaju -Se.

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Nome: ______________________________________________________Assinatura:_______________________________________________________Assinatura do responsável pela pesquisa:_______________________________

Aracaju................ de .............................. de 2006

14.2 Anexo B: Roteiro de Entrevista

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPEDEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA – NSEPR

Coloque as letras N (negro) P (Pardo) ou B (Branco) para classificar a cor da pele da pessoa________Projeto Representações sociais dos índios em Sergipe

Apresentação: Somos um grupo de pesquisa do DPS da UFS e estamos realizando uma pesquisa cujo objetivo é analisar as imagens que os sergipanos têm sobre os índios do Brasil. Para fazer este estudo pedimos a sua colaboração, respondendo a algumas perguntas. Não se preocupe que não existem respostas erradas ou certas. Nos importa apenas a sua opinião sobre o assunto. O(a) sr(a) não precisa se identificar. E pode ter acesso aos dados do estudo, basta nos contatar pelo telefone 079 3212 6748. Pode colaborar? Obrigado(a)!

1) Quando você ouve a palavra “Índios”, quais são as três primeiras coisas que você pensa? (caso o entrevistado não consiga, use uma palavra próxima do contexto da pessoa: almoço, futebol, Brasil).______________________________________________________________________________________________________

2) Quando você pensa nos acontecimentos do Brasil, o que lembra em relação aos índios?____________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Para você, existem índios no Brasil? sim ( ) não ( ) não sei ( )4) E em Sergipe, existem índios? sim ( ) não ( ) não sei ( )5) Você já viu um índio, pessoalmente? sim ( ) não ( ) (em caso negativo salte a questão n. 7)- Em caso afirmativo, foi aqui na sua cidade? sim ( ) não ( )- Viu muitas vezes ( ) Viu Poucas vezes ( ) 6) E pela TV já viu índios? sim ( ) não ( )7) Já manteve algum contato com índios (conversas, amizade, negócios, etc.)? sim ( ) não ( )8) Como você descreveria um índio? ________________________________________ ______________________________________________________________________9) Onde os índios vivem? _______________________________________________________________________________________________________________________

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10) Na sua opinião, o que nos índios fazem no seu dia-a-dia? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________11) Na sua opinião, qual a coisa mais típica ou mais característica em um índio (o que mais chama a tenção)?___________________________________________________

12) Agora eu vou ler algumas frases incompletas, gostaria que você tentasse completar as frases do jeito que achar melhor.a) Os índios são....................................................................................................................b) Se eu fosse um índio eu ..................................................................................................c) Se um filho ou uma filha meu(minha) se cassasse com um índio eu..............................

13. Como os brasileiros vêm os índios, qual o jeito de ser dos índios na visão da sociedade brasileira?

14. E você pessoalmente como Vê os índios?

Depois de finalizar as duas listas, releia cada uma das características e pergunte: “.......é, na sua opinião, uma coisa positiva, negativa ou neutra. Sinalize as características com um “+”, “-“ ou “+ -“.

15. Vou então ler algumas frases e preciso que indique se concorda ou discorda e que sentimentos ou emoções essas frases lhe despertam. a) Na sua opinião, na história do Brasil houve violência contra os índios? ( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- O que se lembra a este respeito?___________________________________________- Por que acha que aconteceu? ____________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

b) Na sua opinião, existe discriminação ou racismo contra os índios no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- Por que acha que acontece? ___________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

c) Em 20 de abril de 97, cinco jovens de classe média queimaram o índio Galdino Jesus dos Santos, que dormia em um ponto de ônibus em Brasília. O índio morreu. Os jovens foram libertados e estão soltos.- Por que acha que acontece? _____________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?_________________________________________

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d) Em várias regiões do Brasil os índios vivem em pé de guerra com os fazendeiros pela posse da terra. Nesta lutas, às vezes morrem índios, às vezes morrem fazendeiros. - Por que acha que acontece? _____________________________________________________________________________________________________________________

e) Para você, a cultura dos índios é respeitada no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso negativo, perguntar:- Por que acha que acontece? _____________________________________________________________________________________________________________________

f) Qual, na sua opinião a maior semelhança entre um índio e um negro no Brasil?______________________________________________________________________

g) E qual a maior semelhança entre um índio e um branco? ______________________________________________________________________

16. Vou ler uma lista de sentimentos. Dê para cada um deles uma nota de 0 (zero) a 5, em função do quanto eles expressam o que você sente em relação aos índios do Brasil. Quanto maior a nota mais forte o sentimento. Admiração ( )Culpa ( )Simpatia ( )Desprezo ( )

Orgulho ( )Pena ( )Respeito ( ) Outra __________________

Raiva ( ) Indiferença ( )Solidariedade ( )

17) Qual a sua opinião sobre reserva de vagas ou cotas de acesso para os índios a empregos e as universidades públicas?Discordo ( ) Concordo ( ) Não sei responder ( ) Por que? (Justifique)____________________________________________________________________________________________________________________________

Qual a sua idade____________Nível de escolaridade (estudou até que série/ano)?_____________Sexo: fem. ( ) masc. ( )Renda familiar aproximada: ( ) Menos de 1salário ( ) 1-2 ( ) 3-4 ( ) 5-6 ( ) 7-8 ( ) 8-9 ( ) mais de 9 salários.Qual sua profissão?_____________________________ Cidade da entrevista ___________Tem algum parente indígena? ( ) Sim . Qual?_____________ ( ) Não

Obrigado pela colaboração!

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