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    ( ~..

    P o s ; . . ~EM PSIO)l(X;IA

    ~ T n U l ' O.s ~ l t t ; : b R . DE"

    EswooiE

    PESQUlsAS p s t ~

    ' ~ ~ O ~

    " ' A PSICOLOGIA COMUNITRIA

    COMe" I '

    A:Gfiiiit V E " r R A N S t ~ O t S -socrAIS''. . ...." : ' : . ' ~ .. ' ..... : .. . . . . . ' : . ~ .

    LUCY VE .CARVALHO GALLINVO

    FGVjISOP IO'GP........

    salali08

    Janeiro':;" B:rasil

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    INS'ITIUTO SUPERIOR DE ES'lUI:XlS E PESCOISAS PSlcnSscx::IAIS.

    A PSICOLOGIACOMUNITRIA.COMOAGENTEVETRANSFORMADES'SOCIAIS

    Po r

    LUCYVECARVALHOGALLINVO

    Dissertao sul:metida cx:m:> requisi to parcia l para

    obteno do grau de

    MESTREEM PSICOLOGIA

    Rio de Janeiro, setembro de 1981

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    '-.

    Aos meus pais que,

    embora j de saudosa memria,

    ho de acompanhar-me durante toda a minha vida.

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    Agradeo ao Prof. FRANCOLOPRESTI SEMINERIO- meu Mestre e Orientador - pe

    la sua disponibil idade em orientar-me e pela profundidade e abertura com queo fez. Agradeo, principalmente, pelas palavras de estmulo e apreo dele

    recebidas, graas s quais me fo i possvel concluir este trabalho.

    Profa. RUTHNOBRESCHEEFFERque me despertou o in teresse para a Psicolo

    gia Comunitria e colocou minha disposio os seus l ivros especializados

    no assunto.

    Ao CURSOVEPOS-GRAVUAO VEPSICOLOGIAda Fundao Getlio Vargas, na pes

    soa de se u diretor, Prof. ANTONIOGOMESPENNApo r ter-me ampliado oshori

    zontes no campo da Psicologia.

    A UNIVERSIVAVEFEVERALRURALVE PERNAMBUCOque me permitiu t o longa ausn

    cia a fim de rea l izar o Mestrado.

    Ao PLANOINSTITUCIONALVECAPACITAOVEVOCENTEpela bolsa de estudo con

    cedida durante o Curso de Mestrado.

    A GERSONFERREIRA VA COSTA,pela boa vontade e presteza com que realizou

    os servios de dat i lograf ia .

    Ao meu irmo LaCIOe sua FAMTLIAque, durante todo o Curso de Mestrado, me

    acolheram com carinho no Rio de Janeiro, dando-me apoio.

    Aos meus FAMILIARESno Recife que, mesmo sentindo a minha ausncia durante

    trs anos, me incentivaram com a certeza de sua compreenso.

    JUVITHVEANVRAVESANTOSque esteve sempre perto de mim, oferecendo-me a

    sua presena e amizade.

    Agradeo, finalmente, ATOVASAS PESSOASque, de alguma forma, me incentivaram e contribuiram para a realizao deste trabalho.

    - iv -

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    S 'UM'- R I O

    Nas ltimas decadas tem ocorrido, no que se refere Psicologia , uma

    mudana de abordagem do modelo in t raps quico para uma perspect iva soc ia l , re la-

    t iva ao comportamento humano. Uma das propostas essenciais do novo movimento

    consis te em declarar que as desordens emocionais originam-se do mau funcionamen

    to das fontes bsicas de suporte socia l . Fo i nesse clima que em 1965 surgiu a

    Psicologia Comunitria. Esta se caracter iza pela busca de novos paradigmas que

    esto baseados, principalmente, na concepo preventiva de ajustamento e sade;e no modelo ecolgico.

    Neste trabalho pretendeu-se oferecer tambemcomo modelo al ternat ivo da

    Psicologia Comunitria a aprendizagem soc ia l . Deste ponto de v is ta , ou se ja , da

    aprendizagem socia l , os comportamentos considerados "desajustados" so vistos nOO

    como manifestaes de problemas in t raps quicos , e sim, como comportamentos que

    as pessoas aprenderam a copiar do ambiente atraves de reforos ou por meio de

    modelos oferecidos pela sociedade. Ta l posio embora implique em que o c o m p o ~

    tamento humano pode ser manipulado pelo controle dos est mulos ambientais,-ao

    exclui uma viso fenomenolgica do homem. Estas duas abordagens, aparentemente

    antagnicas, foram aqui apresentadas como um possvel elemento dinamizador da

    Psicologia Comunitria. Ao mesmo tempo em que se tentou demonstrar seD o com -

    portamento humano de alguma maneira controlado, ps-se em relevo a l iberdade que

    tem o homem de fazer escolhas, podendo ainda esforar-sp. para ev i ta r reforos ~

    versivos e contribuir para uma sociedade menos repressora.

    o obje t ivo deste estudo fo i apresentar uma viso his t r ica , ter ica

    e ideolgica da Psicologia Comunitria e abr i r novas perspectivasem

    termos desua praxis e sobretudo de suas metas. Da por que indagou-se a respei to das

    mudanas pretendidas pela Psicologia Comunitria e alertou-se para que elas ten

    nham um sentido transideolgico, visando sobretudo ao bem es ta r da comunidade.

    - v -

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    S U MMA RY

    In the l a s t decades there have been, in what concerns Psychology, a

    change in approaching from the intrapsychic medel to a socia l po in t of view ,

    re la ted to the human behavior. One of the essencial proposals of the new

    movement consis ts in declaring tha t the emotional disorders, are rooted in the

    malfunctioning of the basic sources of social support. I t was under these

    circunstances tha t in 1965 the Communitarian Psychology came about. I t i s

    characterized by the search fornew

    paradigms which are based, mainly, on thepreventive conception of adjustment and hea l th , and on the ecological modelo

    This work was also intended to offer as an al ternat ive model for the

    Communitarian Psychology, the socia l aprent iceship. From this point of view,

    tha t i s , th e socia l aprent t iceship , th e behaviors considered "disadjusted" are

    seen not as m a n i f ~ s t a t i o n sof intrapsychic problems, but as behaviors that

    people have learned to copy from th e environment through reinforcements, or

    through models offered by society. Such stand though implying tha t the human

    behavior can be manipulated through the ,control of environmental stimulus,

    doesn ' t exclude the phenomenological vis ion o f man. These two approachings,

    apparently antagonic, have been presented here as a poss ible dynamistic element

    of the Communitarian Psychology.At the same time tha t we try to demenstrate

    tha t the human behavior i s somehow con t ro l l ed , i t is also put in evidence the

    freedom of man to make h is choices , being also able to make an effo r t to avoid

    aversive reinforcements, and contr ibute to a less repress ive society.

    The object ive of th is study was to show a h i s to r i ca l , theore t ica l and

    ideologica l s i t e of the Communitarian Psychology and open up new perspectives

    in terms of i t s praxis and besides a l I i t s goa1s. That ' s the reason for the

    inves t igat ion about the changes intended by the Communitarian Psych10gy and for

    the warning tha t they take a transideo10gical meaning, aiming the we1fare of the

    community above a l I .

    vi -

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    1 N D I C E

    Agradecimentos .......................................... i vsumrio ................................................ v

    'Vi

    INIroDu;k?

    CAP1'IUI.o I

    01

    HIsn5RIco E~ ~ R I C O SDl>. PSICOICGIA aMUNITl\RrA 08

    1. ORIGEM E DESENVOLVIMEN'lO DA PSICOLOGIA PARADIGMA E A PSlCOIroIA CXMJNIT1\RIA ............................ 15

    CAPtTuLo I I

    A PSICOLOGIA COMUNITmA CXM) PIa:S SOCIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    1 . ABORDAGEM PREVENTIVA NA PSICOLOGIA C X l 1 U N I ~ 19

    1.1 . A preveno primria .............................................. 201.1.1. Crises Vitais e seu Significado na Interveno Primria 24

    1 .2 . Preveno Sectmria .............................................. 31

    1.3. Preveno Tercir ia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    1. 4. P r o f i ~ s i o n a i sde Ajuda e No-Profissionais ........................ 41

    - v i i -

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    CAPiTlJIo I I I

    ... ...... ........ 48

    A PSlCOIDGIA CXMlJN:ITARrA E SUA INSTRJMENTALIZN;NJ .................... 57

    1 . OS PRJCESSOS DE ~ E MJDEIAGEME SUAS I M P L I ~ E SNA APRENDIZAGEMSCCIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

    BIBLlOORAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

    - v i i i -

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    I N T R O D U O

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    I N T R O D U ~ O

    A cinciae , indiscut ive lmente , um dos principais valores de nossa cul-

    tura. A medicina, parte in tegrante dela, const i tu i - se tambem em um valor p r i -

    mordial para a nossa sociedade. Em vir tude de ser es ta considerada de tamanha

    importncia, o modelo medico tem sido ut i l i zado para estudo e tratamento dosdis

    trbios mentais. Atualmente, contudo, faz-se necessrio um novo posicionamento

    no que concerne s causas e tratamento de t a i s dis trb ios .

    Szasz (1976) refere que de acordo crym a posio reducionista do secu-

    10 XIX toda conduta do individuo ser ia relacionada com a f i s io log ia nervosa e

    muscular. Assim sendo, qualquer desvio de comportamento era visto como um s in -

    toma de enfermidade orgnica. Esta at i tude reforava-se pela constatao de que

    algumas enfermidades do sistema nervoso, t a i s como ar ter iosc lerose mlt ipla , o

    tumor cerebral e o' comprometimento em certas reas do crebro , manifestavamrse

    atravs de determinadas peculiaridades do comportamento. Da a tendncia de

    in fe r i r- s e facilmente a exis tncia de uma simples relao causal entre o~

    cere-

    bro e a conduta do individuo. Na epoca, esse enfoque concordava com as posi-

    es f i losof icas dominantes no campo da medicina, fazendo com que fossem t idas

    como problemas mdicos muitas situaes humanas complexas e baseando-se na cren

    a de que se t ratava apenas de uma enfermidade.

    o modelo medico, em relao s doenas mentais, fundamenta-se p r i n -

    cipalmente nos aspectos neurof is iolgico e , quando muito, psicodinmico; d n-

    fase especia l s intervenes qumicas e considera o problema como pert inente ~

    penas ao indivduo. Consequentemente, a rea de investigao deve ser dentro

    do prprio indivduo, separada a independente do contexto ambiental . Os psiquia-t r as que ainda aceitam t a l posio achamrse comprometidos, inconscientemente ou

    no, com os valores decorrentes dela e que nem sempre s o devidamente expl ic i t a

    dos.

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    2.

    A posio do doente mental dentro dessa conjuntura bastante incmo

    da para e le e para a comunidade qual per tepce . Seu dis trbio mental visto

    como um estigma o que o faz rejei tado pelo seu grupo. Dentro da perspectiva m

    dica , o c l ien te passivo e protegido pelo conhecimento super ior do prof i ss io -

    nal . Sendo o contexto ignorado, como j refer imos, o tratamento e baseado em

    um diagnstico cujo alvo a cura de uma "personalidade doente", sendo o compo,!.

    tamento manifesto apenas sintomtico.

    Sullivan (1953) aler tou para o fato de que o hospi tal destinado a do

    entes mentais precisa tornar-se uma escola para crescimento da personalidade em

    ve z de l imitar-se apenas a resguardar "personalidades fa l idas" , isolando-as do

    convIvio soc ia l .

    As tentat ivas no sentido de modificar diretamente o comportamento cha

    mado sintomtico so 'consideradas no apenas inef ic ien tes mas tambem arr i sca

    das,pois , estando apenas baseadas na remoo de sintomas no tm efe i to sobre

    a desordem subjacente que poder vol ta r a manifestar-se a traves de um outro s in

    toma.

    Szasz (1976) considera que o doente mental , hospitalizado por deciso

    de outrem, e um indivduo rotulado como "inadequado" ou "negativo" enquanto que

    os demais considerados sos, realizam esforos para que melhore. Ele passa a

    f i ca r enquadrado dentro de uma categoria que em muito se assemelha com a c lass i

    ficao antiga de f e i t i ce i ros e bruxas. Ainda hoje , muita gente que poderia be

    nef ic ia r- se bastante do tratamento psicolgico evi ta procur-lo por medo de ser

    rotulado como pessoa mentalmente perturbada.

    Vale r es sa l t a r que conceitos como "adequado X inadequado", "normalida

    de X anormalidade" envolve valores cu l tu ra is , morais e a te problemas et icos .

    Quando nos referimos ao aspecto moral e t ico , reportamo-nos s regras seguidas

    pelas pessoas para or ien tar as suas vidas e inclus ive o estudo dessas regras .

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    3.

    Sempre segundo Szasz (1976), "de acordo com a t i ca do jogo medico", a

    sade def inida entre outras coisas como um organismo em bom funcionamento. Tra

    ta - se , portanto, de um valor pos i t ivo , enquanto o oposto, valor negativo, um

    organismo doente. De acordo com esse enfoque no e bem aceito o fato de que t a ~

    to a sade quanto a enfermidade fazem parte da vida .

    No que se refere ao s padres de comportamentos considerados como p a t ~

    l g i c ~ sou anormais cumpre sa l i en ta r que eles s o julgados por cr i t e r ios subje-

    t ivos dos representantes da sociedade, interessados na manuteno do bom funcio

    namento da mesma. Dentre esses c r i t e r io s esto includos os at r ibutos dos que

    se desviam dos padres normativos, da escala de valores dos que fazem o ju lga -

    mento, do contexto social no qual o comportamento ocorre e uma ser ie de outr.JS

    fatores . Logo, um mesmo t ipo de conduta pode ser diagnosticada como patolgica

    ou ser normativamente sancionada e ate louvada por diferentes grupos em diferen

    tes cenrios ambientais.

    Reiff (1968) sent iu que o modelo medico adotado pela maioria dos psi -

    clogos t radicionais d i f i cu l t a a compreenso dos problemas reais enfrentados p ~

    l a sociedade.

    Problemas como delinquncia juveni l , desemprego e doenas mentais, s ~

    gundo Roman e Schmais (1972), podem ser combatidos ou atenuados levando-se em conta a exis tncia de uma patologia mais ampla ta l como pobreza, ins t i tu ies e l i -

    t i s t a s , desequi l br io econmico, discriminao r ac ia l e demais causas advindas

    da es t ru tu ra soc ia l .

    Em decorrncia da mudana de enfoque, por parte de muitos psiclogos,

    do modelo medico para uma perspect iva soc ia l , comeou a emergir a Psicologia Co

    . ... .un1tar1a.

    Uma das propostas essenciais do novo movimento e afirmar que as d e s o ~

    dens emocionais ser ias o r i g i n a ~ s edo mau funcionamento das fontes bsicas de

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    4.

    suporte soc ia l , principalmente da faml ia . Quando uma pessoa torna-se emocio

    nalmente perturbada, afirmam Zax e. Specter (1974), seu dis trbio pode ser v i s to

    como sintoma de uma falha do sistema social como um todo. Eles tambm sugerem

    que as ins t i tu ies de tratamento mantenham interrelao com outros segmentos da

    sociedade capazes de ajudar o paciente a viver de maneira mais sa t i s fa tr ia e

    produtiva, faci l i tando-lhe a re in tegrao no grupo a que per tence . A comunida

    de, por su a vez, precisa tornar-se mais sensvel em relao a sua responsabi l i

    dade no que tange reabi l i tao e re integrao dos considerados "perturbados

    mentalmente".~

    necessario tambm que e la seja capaz de aval iar a te que pontoes ta contribuindo para desenvolver entre os seus membros um comportamento per -

    turbado ou comprometido.

    Para Jones (1953) e Sull ivan (1953) a fora mais s ign i f ica t iva no t r ~

    tamento e preveno das doenas mentais esto no ambiente socia l e e precisamen

    te essa fora que as estruturas dos hospi tais falham em ca ta l i za r.

    Dentre os modelos al ternat ivos surgidos no campo da Psicologia Comuni

    t a r i a ressaltaremos neste trabalho a aprendizagem soc ia l . Nesta teor ia , se

    gundo Bandura (1979), ambos os comportamentos, desviante e pr-social , s o ad -

    quiridos e mantidos tendo como base t r s sistemas reguladores dis t in tos . No p r i

    meiro sistema, os padres de respostas s o controlados primariamente pelo e s t -

    mulo ambiental . Temos, po r exemplo, as respostas autnomas do organismo, como

    as reaes cardio-vasculares e gast ro in tes t ina is , que podem se r controladas por

    est mulos ambientais atraves de associaes contguas com outras experincias ~

    fet ivas d i re tas ou vi.crias. O comportamento instrumental tambm e igualmente

    controlado pelos est mulos do ambiente. Ele depende de su a associao com con

    t ingncias diversas de reforamento decorrente da s consequncias que acompanhamcertos cursos de ao. Assim sendo, algumas fo'rmas de comportamento desviante

    refletem primariamente um inadequado controle de estmulo. Um segundo sistema

    de controle do comportamento envolve um processo de feed-back, principalmente ~

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    5.

    traves de consequncias reforadoras que podem ser expressas po r meio de elogios

    e prmios ou se r ext intas ut i l izando-se desde uma simples reprovao ate formas

    mais inc is ivas , como o cast igo. O terceiro influente regulador do comportamen-

    to opera atraves do processo mediacional ou vicr io . As pessoas aprendem o b s e ~

    vando as consequncias decorrentes do comportamento de out ras , ou se ja , do mode

    lo .

    De uma perspect iva da aprendizagem soc ia l , condutas consideradas ina-

    dequadas, que vo de encontro aos valores vigentes so t idas no como manifesta

    es de uma patologia subjacente, mas sim comportamentos que as pessoas a p r e n d ~

    ram a copiar do ambiente e de demandas auto-impostas. Em ta l esquema c o n c e i t u a ~

    o funcionamento psicolgico envolve uma in terao recproca entre os padres de

    respostas e seu ambiente controlador. O t ipo de comportamento que uma pessoa ~

    xibe, a: certo ponto indica quais as contingncias ambientais que o inf luen -

    ciam.

    E considerado interessante por Ullmann(1972) o fato de que muitos dos

    indcios de uma "doena social" pode dentro de uma mesma decada tornarem-se in -

    dicadores de uma "evoluo cu l tu r a l " . Assim sendo, os cr i te r ios at ravs dos

    quais pode-se qual i f icar alguem como sendo uma "boa pessoa" ou tendo uma "boa

    vida" mudam rapidamente.

    Procurou-se, ate agora, dar uma viso geral dos temas que vo ser a-

    profundados neste t rabalho. Considera-se, porem, imprescindvel, antes de de -

    senvolver mais a perspect iva da Psicologia Comunitria, t ecer algumas considera

    -oes quanto ao conceito de comunidade.

    Nos grandes centros urbanos, onde a organizao social e altamente com

    plexa, torna-se d i f i c i l no somente def in i r como tambem iden t i f i ca r uma comuni-

    dade. As pessoas dependem de muitos grupos sociais diferentes visando sa t i s -

    fao de suas diferentes necessidades. Dependem de um grupo para garant i r se u

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    6.

    sa l r io , de outro para desenvolvimento cu l tu r a l , de um terceiro para recreao

    e assim por diante . At entre os membros de uma famlia h in teresses diversos

    que os orientam para grupos di feren tes .

    Klein (1968) define comunidade como sendo

    "a.6 inteJta..e.6 padJr..oYzac1.a6dentM de umdom1.ro de -tcvZdu.0.6,plLOCWUtndo enc.ontJr.aJc. ~ egUfl.a.Yl..ae ~ a : U 66a.o flhic.M pcvutu:ti1.1..zaJt c.omo~ u p o J t . t eem poc.a de " ~ t l t e . 6 ~ "e ganhM a.u.to-c.on6.ia.n.a e ~ i g Y 6 ~ c a . . oa:tJta.v1> da.

    v ~ d a .do

    d e l a " .-(Kln, 196 8, p. 11)

    Depreende-se da definio ci tada no s e ~ condio para que os ind iv -

    duos pertenam a mesma comunidade que estejam dentro do mesmo l imi te geogrfico.

    Po r sua vez, os indivduos confinados dentro de um l oca l par t icu la r tambm no

    pertencem necessariamente aos mesmos grupos. N-'!m sempre fazemos das pessoas

    que 1lX)ram mais perto o nosso cic lo social ou de recreao.

    Panzetta (1971) considera que os membros de uma comunidade precisam

    t e r em comum o senso de sofrimento, valores e metas a serem a l c ~ n a d o s .Ele en-

    fa t iza tambm a i ~ p o r t n c i ado fa to r tempo e da l iderana. Desse modo, a d v e r ~ e

    que o sentido de comunidade pode v i r e i r , pois , s vezes , as pessoas permane -

    cem unidas em torno de uma meta comum durante um perodo de tempo e depois afas

    tam-se quando cessa a causa que as manteve jun tas . Quanto l iderana, Pan-

    ze t ta admite que embora es pessoas tendo um senso comum de sofrimento ou opres-

    so, valores e metas, sem uma l iderana, tornam-se fragmentadas e isoladas umas

    das ou t ras . ~ importante, contudo, es ta r a l e r t a para o fato de que o poder co-

    locado nas mos dos representantes das comunidades s vezes no ut i l izado em

    favor destas , mas ao contrr io , serve para a t ende ra interesses pessoais ou pa-

    ra dar evaso a sentimentos reprimidos atravs de anos de intensa f r u s t r a ~ .

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    7.

    Quando se pretende, atraves da Psicologia Comunitria, promover m u d a ~

    as sociais cumpre r e f l e t i r sobre os metodos a serem ut i l i zados . Faz-se neces

    sr io tambem saber se as mudanas pretendidas i ro atender aos anseios dos memr

    bros da comunidade, levando-se em conta ainda sobre quais-valores sero elas a

    l iceradas .

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    I. CAPtruro I

    H I ~ R I ( x )E FtJNDAMENI'OS 'l'EtSRICOS DA PSICOr.cx:;IA a:MUN:ITARIA

    1 . ORIGEM E DESENVOLVIMENroDA PSICOLOGIA cnMUNITl\RIA

    1.1 . Contexto Histrico

    A Psicologia Comunitria surgiu como um movimento dentro de um contex-

    to mais amplo de Psicologia e Sade Mental, envolvendo novas abordagens rela

    t ivas a problemas sociais e de comportamento. Reconhecendo que as necessida

    des f s i cas , psicolgicas e sociais do individ:lo s o sa t i s fe i t a s atraves de

    sua interao com os outros e, consequentemente, com o seu ambiente, e la...

    ve

    a comunidade no apenas como fonte de problemas, mas tambem como agente po-

    tencialmente traputico. O desenvolvimento da Psicologia Comunitria assu-

    miu t a l importncia que fo i considerada por Nicho1as Hobbs (1964) como a te r

    cei ra revoluo na sade mental, equiparando-a s reformas humanistas em hos

    p i t a i s psiquitr icos promovidas por Pinel no seculo XVIII.

    Vrios fatores contribuiram para o seu desenvolvimento entre os quais,

    desejamos destacar, as modificaes que ocorreram no campo da sade mental e

    a mudana de enfoque das teorias in t raps quicas para as in terpessoais .

    1 . 1 . 1 . Contribuies no Carrpo da Sade Mental

    A PsicologiaComunitria

    comeou aemergir

    de uma novaa b o r d a g e ~

    in iciada na decada de 1950, por parte dos profiss ionais de sade me .l ta1,

    o que resul tou em uma reavaliao da s funes que tradicionalmente v i-

    nham sendo desempenhadas dentro desta rea, provocando importantes eons

  • 7/27/2019 000016786 A Psicologia Comunitria como agente de transformaes sociais

    19/105

    9.

    tataes

    As doenas mentais mais s r ias , a ~ psicoses, estavam s u p e r - r e p r e s e n

    das na s classes scio-econmicas mais baixas.

    A classe social era um fa to r que se correlacionava fortemente com o

    t ipo de tratamento a ser ministrado. Quanto mais baixa era a classe

    scio-econmica do c l ien te , menos dispendioso deveria ser o se u t r a ta

    mento. A classe operria raramente se submetia psicoterapia , pois

    o tratamento que lhe era administrado (drogas, eletrochoques) custava

    menos e t inha efe i to mais rpido, embora temporrio. Por outro lado,

    os profiss ionais da sade mental , sendo, na maioria, da classe mdia,

    sentiamrse muito mais vontade e preferiam t r a t a r pacientes neurt i

    cos de elevada capacidade verbal , tambm da classe mdia.

    - Os psicoterapeutas tomaram conscincia da fa l t a de recursos humanos na

    rea e de que sozinhos no podiam atender crescente demanda dos c l i

    entes que necessitavam de ajuda ou tratamento.

    - As pessoas que trabalhavam na rea de sade mental usavam uma aborda

    gem de servio derivada do modelo mdico. Tal modelo consis t i a em es

    perar no consultrio o c l ien te com um problema j insta lado e desen -

    volvido, na expecta t iva de que o prof i ss ional se r ia capaz de resolv-

    10 apenas confinado no consul tr io . Uma das mais sr ias consequn

    cias dessa posio ser ia a passividade assumida pelo prof i ss ional , im

    pedindo-o de engajar-se com as foras do ambiente externo no qual se

    encontrava inserido o paciente .

    Novos posicionamentos surgiram decorrentes dessas constataoes

    - Rejei tar a noo de dis trbio mental , argumentando que em seu l u g a r d ~

    veriam ser aplicados os princpios de ajustamento pessoa-ambiente, re

    la t iv idade cul tura l e diversidade .

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    10 .

    Exigir uma interveno que propic ie recursOs materiais , educacionais

    e psicolgicos a fi m de ~ a r a n t i rao s indivduos e sub-grupos de u m a c ~

    munidade o dire i to de viver por caminhos diferentes dos Ja traados p ~

    la sociedade.

    Desenvolver novas tcnicas que pudessem a t ing i r melhor os p a c i e n t e s m

    nos favorecidos em termos in te lec tua is ou soc ia is , uma vez que se t o ~

    nara evidente que a quimoterapia po r s i s no ajudaria de maneira e

    f icaz os portadores de dis trbio mental . Provavelmente esta foi uma

    da s colocaes que maior inf luncia exerceu no desenvolvioento de Psi

    cologia Comunitria.

    Tentar prevenir o desenvolvimento de doenas mentais em ve z de somen

    te t r a t a - l a s . Neste sent ido, Bender (1978) considera que o desenvol

    vimento his tr ico da Psicologia Comunitaria fo i em grande parte i n c e ~

    tivado pela obra de Caplan "InApproach to Conununity Mental Health"

    (1961), atraves do qual se promoveu o movimento da Psiqu ia t r ia Preven

    t iva .

    Defender a ide ia de que os hospi tais especializados em doenas men-

    t a i s deveriam estender suas at ividades ate comunidade, quebrando as

    barreiras exis tentes ent re essas ins t i tu ies e o pblico em geral .

    - Preparar a comunidade para receber os egressos dos hospi tais ps iquia

    tr icos a fi m de que eles possam te r um re torno to suave e produtivo

    quanto poss vel .

    1.1.2. Mudanas das teor ias in trapsquicas para as Inte;pessoais

    Quase todos os ter icos da personalidade (Freud, Jung, Murray,

    Eysenck e ou t ros ) , nas primeiras dcadas deste sculo usavam um modelo

    intrapsquico a par t i r do qual desenvolveram as suas teor ias . Eles es

    tudavam isoladamente o-indivduo, em cuja personalidade procuravam as

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    21/105

    11.

    causas do seu prprio comportamento. Surgiu, entao, um grupo designado como

    neo-freudianos (Fromm, Horney, Adler) que a t r ibu iu maior nfase s var iveis

    soc ia is . Em 1953, Sull ivan, a travs de sua teor ia "ps iquia t r ia in terpessoal"

    afastou-se do modelo in t raps quico e tentou desenvolver um novo modelo basea

    do na dinmica interpessoal . As suas idias sobre comunicao entre o "paci

    ente" e os membros de su a faml ia influenciaram, em 1956, um grupo de psiqui

    a t ras da Cal i frnia , const i tu ido por Batson, Haley, Weakland e Jackson. Este

    grupo passou a considerar que outras pessoas importantes na vida do cl iente,

    como a sua faml ia , deveriam tambm ser acompanhadas.

    Foi neste clima de tamanho in teresse , demonstrado pelos prof i s s iona i s

    da sade mental, no que concerne ao papel das foras ambientais no desenca -

    deamento de problemas de comportamento que comeou a desenvolver-se a Psico

    l og ia Comunitria.

    1.1.3. D=senvolvirrentoHistriooProprianente Dito

    Em 1955, o Congresso dos. Estados Unidos nomeou uma comisso encarre

    gada de fazer estudos sobre Sade e Doenas Mentais. Esta comisso, da qual

    'o s psiclogos eram membros s ign i f ica t ivos , publicou 10 monografias e um re la

    trio f ina lcomo resultado de se u

    t rabalho.As

    recomendaesdeste

    relat -r io foram consideradas um est mulo di re to para o desenvolvimento da Psicolo

    gia Comunitria e a sua consequencia mais importante fo i o incentivo para re

    . duzir a populao de doentes mentais em hosp i t a i s psiquitr icos.

    Sob a inspirao do re la t r io acima c i t ado , em 1963, organizaram-se

    centros de sade mental comunitrimpara serv i r a comunidades especficas . O

    princpio bsico de ta is centros era detectar e t r a t a r cedo as doenas men -

    ta is agudas por meio de um sistema que providenciasEe servios locais , evi -

    tando afas ta r de suas comunidades ou de seus lares as pessoas portadoras de

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    22/105

    12.

    dis trbios mentais. O objet ivo era diminuir o nmero de doentes crnicos nas

    grandes ins t i tu ies .

    Alguns psiclogos, in sa t i s f e i to s com os l imi tes impostos pela preocupa

    o de t r a t a r a doena mental i so lada, reuniram-se, em conferncia, na cida

    de de Boston, no mes de maio de 1965. Nessa ocasio teceram consideraes so

    bre a necessidade de formar psiclogos especializados para t rabalhar na rea

    de sade mental, caracterizando-os como "agentes de mudana","analistas de

    sistemas soc ia is" , "consultores da comunidade" e "estudiosos do homem como

    um todo em relao ao seu ambiente". Ainda no mesmo ano fo i publicado o p r i

    meiro jo rnal dedicado sade mental da comunidade int i tulado "The Community

    Mental Health Journal" (Rappaport, 1977).

    Em vir tude de muitos psiclogos comearem a aderir ao movimento de sa

    de mental e a iden t i f icar- se com as metas da conferncia de Boston, em 1966,

    a Psicologia Comunitria fo i oficia lmente reconhecida, como uma nova diviso

    dentro da APA (American Psychological Association) - (Rappaport, 1977). A

    p a r t i r de ento, e la tem procurado inf luenciar a ordem social tanto dentro da

    profisso, quanto na sociedade mais ampla.

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    13.

    2 . CCNCErro E NAWREZA DA . PSlOOIa;IA OOr.1lJNI'I'ARIA

    A Psicologia Comunitria e um movimento de reforma dentro de um campo maior da Psicologia Aplicada e que se caracter iza como uma nova abordagem

    para l ida r com os problemas do comportamento humano. El a enfat iza mais o aro

    biente social do que os fatores in t raps quicos como determinantes da sade

    mental.

    Sendo a Psicologia Comunitria, potencialmente, uma fora de con -

    t ribuio para mudanas sociais , requer :

    - Uma combinao do desenvolvimento dos recursos humanos.

    - Uma disponibi l idade de engajamento na at ividade pol t ica necess

    r i a para implementar novos programas ou encorajar a murlana so-

    cia.!.

    Um embasamento cient f ico .

    Os servios e programas a serem implementados pela Psicologia C o m ~

    n i t r i a no podem se r improvisados, nem prescindir do uso de metodos c ien t -

    f icos no campo ou no laboratr io . ~ importante reconhecer que cincia , pol i

    - -i c a e desenvolvimento de recursos nao sa o necessariamente tao independentes

    entre s i , como de in c io se pensava. Cada um deles e influenciado por fo r-

    as his t r icas e soc ia is , estando su je i to a valores e crenas pessoais que

    permeiam essas foras .

    Conforme vimos anter iormente , a Psicologia Comunitria surgiu da

    insat is fao com os servios psicolgicos administrados no campo da sade

    mental, tornando-se assim uma reao s abordagens t rad ic ionais . Uma de suas

    f ina l idades e promover mudanas de ordem ins t i tuc iona l e social e por Issovem assumindo um novo posicionamento, compatvel com as suas metas.

    "

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    14.

    A nvel ter ico passou a considerar a necessidade de uma faixa

    muito mais ampla das cincias soc ia is , integrando o conhecimento bsico relevan

    te para o exerc c io da profisso; o surgimento de novo paradigma, ressaltando

    a importncia da ecologia , relat ividade cu l tu ra l e diversidade; a inadequao

    dos modelos que situam apenas o indivduo como fonte de seus dis turbios emocio

    nais , sejam esses modelos bioqumicos, geneticos ou in t raps quicos .

    A nvel prt ico a Psicologia Comunitria comeou a u t i l i z a r novas

    tecnicas que poss ibi l i tam l ida r mais adequadamente com o comp"rtamento dos indi

    vduos considerados no ajustados sociedad; passou a in te rv i r mais ativamen

    te no que concerne a :

    - Ter uma at i tude prevent iva em relao aos dis turbios mentais;

    detectar as situaes de cr ises e nelas i n t e rv i r, quer sejam a

    nvel individual , quer a nvel comunitrio;

    ser um agente de mudanas na comunidade;

    ajudar as pessoas a loca l izar e u t i l i z a r as fontes de recursos e

    x is tentes na sua comunidade.

    A Psicologia Comunitria, segundo Rappapport (1977), es t po r def i

    . nio, envolvida no clss ico confl i to entre indivduos e grupos soc ia is , pois

    reune dois termos quase paradoxais Comunidade, que se refere a um grupo so

    c i a l e Psicologia que enfat iza o individual . Sabemos que o grupo social faci

    l i t a o desenvolvimento das pessoas, mas quando ele se torna maior e independen

    te , submetendo-se a uma at ividade desvinculada da populao h uma tendncia

    para serem desencorajadas as diferenas individuais . A Psicologia e, em parte,

    uma tentat iva para defender o dire i to da pessoa de se r di feren te , sec riscos de

    sofrer danos materiais e psicolgicos. ~ um esforo no sentido de conci l i ar a

    l iberdade individual s legtimas exigncias da sociedade. ~ uma abordagem que

    ev i ta considerar certos rtulos como sendo necessariamente negativos, exigindo,

    em consequncia, um controle soc ia l . A Psicologia Comunitria busca, pois , a l

    ternativas para l ida r com os desvios das normas estabelecidas pela sociedade base.

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    15.

    3. O mm PARADIG1AE A PSlmIDGIA m r u N I T ~ . R I A

    Una ve z que r es sa l t a a importncia da relao homem-ambiente, a P s i c ~

    logia Comunitria es t cada vez mais in teressada no estudo da ecologia.

    o termo e c o l o g i ~ c o m oentende Sel l (1969), refere-se ao estudo c i

    ent f i co da interao entre o organismo e o seu ambiente.

    Dois aspectos importantes devem ser levados em considerao nesse es

    tudo A natureza da interao e a natureza do ambiente que serve como mol

    dura ou engaste e no qual ocorrem as in teraes . Neste sent ido, deve levar

    se em conta os suportes oferecidos pelo ambiente, as suas inf luncias e as

    l imitaes determinadas por suas prprias es t ru tu ras .

    Os metodos ecolgicos tm sido aplicados na Biologia, Medicina, S o c i ~

    logia e , s mais recentemente,na Psicologia . O ponto de vis ta ecolgico na

    Psicologia enfat iza as relaes entre as pessoas e seu ambiente social e f -

    s ico . Considera que no h pessoa nem ambientes inadequados, mas antes que

    o ajus te ent re 2 partes pode es t a r em re la t ivo acordo ou desacordo (Kelly

    ,1969). Evita , assim, f ixar-se sobre as fraquezas e debilidades da pessoa ou

    da comunidade, sugerindo que o psiclogo deve es ta r atento para a c o m p l e x i d ~

    de dos sistemas sociais e para os caminhos atraves dos quais os sistemas tra

    balham.

    A abordagem ecolgica na Psicologia tem enfa t izado, em termos de

    ao, a interveno soc ia l , criando al ternat ivas atraves da localizao e de

    senvolvimento de recursos e foras que poss ibi l i tem maximizar o ajustamento

    pessoa-ambiente. Em termos de valor, um sistema baseado na relat iv idade e

    diversidade cu l tu ra l . Is to implica em que as diferenas entre pessoas e co

    munidade podem ser desejveis e que a disponibi l idade dos recursos ofereci-

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    16.

    dos pela sociedade no deveria t e r como cr i t r io um padro individual de compe-

    - .tenCla.Para Barker (1965), o importante da Psicologia Ecolgica acompa-

    nhar a crena de que as l e i s que governam o comportamento individual so dife -

    rentes daquelas que governam os comportamentos es tabelecidos . Por es ta razao

    -nao se pode nunca entender o mundo r ea l se somente forem estudadas pessoas com

    carac te r s t icas espec f icas capazes de sat is fazer s exigncias de um e x p e r i m e ~

    to planejado. As necessidades ecolgicas do homem precisam ser estudadas no

    seu ambiente natura l .

    Os psiclogos comunitrios es tao procurando para "ambiente" uma de

    finio que no se l imite apenas ao es t r i to senso do "estmulo" como sugere os

    behavioris tas e que tambem ndo se expresse de uma maneira vaga e inespecif{ca em

    termos de "foras soc ia is" .

    O ambiente no deve ser v is to como uma real idade imvel e estacio-

    nria em funo do qual o ajustamento deve ser fe i to . Ele , por vezes, tambem

    precisa ser modificado para atender s necessidades pessoais ou da comunidade.

    O ambiente pode ser definido como tudo que nos rodeia , incluindo aspectos geo -

    grf icos , arqui te tnicos (construido pelo homem), soc ia l , psicolgico, e tc .

    ~ no seu ambiente natu ra l dir io que as pessoas satisfazem maio-

    r i a de suas necess idades : Alimento, proteao, sade, afeio, auto-real izao,

    a f i l i a o , poder, oportur.idades para t rabalhar, aprender e cr i a r. Pode ser uma

    fonte de aprendizagem e ajuda, mas tambem pode funcionar como uma fora negat i -

    va bloqueando o crescimento e limitando o desenvolvimento do indivduo.

    ~ . ~A abordagem ecologica na psicologia requer atenao para os pr lnc l -

    pios pelos quais o ambiente opera. Os psiclogos devem, portanto , es ta r a t ( ~ -

    tos no sentido de iden t i f i ca r os recursos nele existentes e es tabelecer l iga-

    es entre esses recursos a fim de que sejam melhor ut i l izados .

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    17.

    o paradgma da Psicologia Comunitria tambem es t orientado no seE

    t ido de ace i ta r o relativismo c u l t ~ r a le respe i ta r as diferenas individuais .

    Rejeita a necessidade de impor-se um padro nico de cr i t e r ios ao s quais as p e ~

    soas devam amoldar-se e ser julgadas. A cul tura de uma sociedade, consubstan -

    ciada em su a l ngua, valores e t radies , exerce grande inf luncia na maneira p!:.

    la qual os seus membros percebem a realidade e , consequentemente, repercute nas

    suas at i tudes e aspiraes.

    Os fatores sacio-cul tura i s influenciam o indivduo no so dire ta ,

    mas tambem, indiretamente ao prescreverem a IDgneira como a sua famlia e os ami

    gos o tratam, alem de exercer grande inf luncia em seu regime alimentar, am-

    biente f s ico (em grande parte modificada pelo homem), hbitos e crenas r e l i -

    giosas.

    Quanto mais es tvel for uma sociedade e quanto mais r ica em su a he

    rana cu l tu ra l , mais provvel ser que e la pos s ib i l i te aos seus membros uma

    maior discriminao perceptiva e recursos adequados para resolver os problemas,

    faci l i tando, assim, a adaptao s si tuaes de vida . Po r outro lado, as socie

    dades em t rans io, o que es t ocorrendo com frequncia atualmente por contadas

    rpidas transformaes, tm escassas probabilidades de desenvolver metodos e f i -

    cazes que f a c i l i tem s pessoas lidarem com os novos problemas, cada vez mais fre

    quentes. Os valores , os modos de encarar a realidade e as prt icas tradicionris

    que podem t e r sido adequadas para enfrentar os problemas h uma de cada a t r s , j

    no satisfazem na situao a tua l . As pessoas se vem obrigadas a contar apenas

    com os seus proprios recursos. A Psicologia Comunitria, enfoca os problemashu

    manos como sendo decorrentes do ajustamento pessoa-ambiente e no como o resul

    tado da incompetncia de pessoas t idas como psicolgica ou culturalmente infe -

    r io res .

    Ao inves de ten ta r a jus ta r todos os indivduos a um caminho nico,

    o psiclogo comunitrio procura c r i a r condies que lhes facultem o dire i to de

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    28/105

    18.

    escolher suas prprias metas e es t i l o de vida . Faci l i ta os meios no sentido de

    que as pessoas possam te r acesso aos recursos mater ia is e psicolgicos ofereci

    dos pela comunidade, devendo ser garantida no somente a su a sobrevivncia, mas

    tambm o se u crescimento nos vrios aspectos, inclus ive o in te lectual . Is to im

    pl ica em desenvolver recursos e al ternat ivas para aqueles que desejam uma opor

    tunidade com o fim de escolher de maneira pessoal e nica o seu lugar em termos

    de vida e trabalho dentro da sociedade, sent indo-se , assim, capazes de exercer

    poder e controle sobre s i prprios e sobre os rumos a serem seguidos pela comu

    nidade a que pertencem. A Psicologia Comunitria favorece, por tanto, o desen -

    volvimento de uma comunidade calcada na diversidade e no num puro e simples c o ~

    formismo.

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    [ CAPITulo I I

    A PSlcoux; IA O)1;UNITJ\R:rA 0Jlv0 pRAxIs SCCIAL

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    AP1'IUro I I

    A PSICX>I.CGIA a:M1NITARrA CXMO PAAxIS SCX:::IAL

    ~ . AOOIDAGEM PREVENI'IVA NAPSlCOLCGIA C C M J N I ~

    Uma das novas abordagens no campo da sade mental que mais influenciou

    a Psicologia Comunitaria fo i a ati tude preventiva em re lao aos dis trbios

    mentais. Tal at i tude tem como objet ivo prevenir futuros problemas, evitando,na medida do poss vel , que eles ocorram. Atraves de uma ao sobre o ambien

    te , procura promover os meios para que as necessidades basicas dos ind iv

    duos sejam sa t i s fe i t a s e que o seu desenvolvimento ocorra de maneira normal.

    H uma preocupao real com todos os membros da comunidade e no arenas com

    aqueles ident i f icados como problemticos. Caplan, em seu l ivro PrincipIes of

    Preventive Psychiatry (1964), c lass i f icou a prevenao em 3 t i p o s : Primria,

    secundria e t e rc i r i a .

    1.1 . A Preveno Primria

    A preveno primria tem um sentido comunitario e por i sso em

    procurar l ida r com o problema de um indivduo espec f ico , ela tenta

    ve z de.

    reduzir

    a inc idncia de dis trbios mentais de todos os t ipos em uma populao i n t e i

    ra . Ha um esforo no sentido de neut ra l izar as inf luncias prejudiciais an

    tes que elas desencadeiem problemas causadores de doenas mentais. Vale res

    sa l t a r que um enfoque comunitrio no implica em negligenciar os casos indi

    viduais . Ao contrar io , acarreta uma maior responsabilidade no sentido de

    preocupar-se com o bem es ta r no somente da s pessoas que procuram ajuda, mas

    tambm com as outras , mais numerosas, que por vrios motivos no tm aCl , 5 0

    a uma ass i s tncia psicolgica.

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    20.

    A posio t radicional dos profiss ionais no campo da sade mental era

    or ientada para o paciente i n d i v i d u ~ l ,concentrando-se em uma nica pessoa e so

    mente se ocupando das influncias gerais do ambiente quando elas estavam l iga -

    das s experincias pessoais do paciente . Hoje, h uma preocupao com o ind i

    viduo, mas levando-se principalmente em considerao que ele representante de

    um grupo e que as suas necessidades pessoais e os recursos de que dispe estao

    vinculados comunidade da qual faz par te . Assim sendo, as informaes coleta

    das a respei to de um caso no so usadas apenas para formular um diagnostico i ~

    dividual , mas tambm para ajudar a compor um quadro s igni f ica t ivo de si tuao

    dos outros membros do grupo a que pertence.

    A preveno primria in teressa-se tambem em saber por que pessoas que

    enfrentam situaes semelhantes quelas portadoras de dis trbio mental, cont i

    nuam saudveis e produtivas. O in teresse a tua l , por tanto, no es t exclusiva -

    mente voltado para ' iden t i f i ca r condies adversas no ambiente, prope-se, t am

    bm a ident i f icar e propiciar fontes de recursos que possibi l i tem um desenvolvi

    mento harmonioso do indivduo e da comunidade.

    Caplan (1964) descreveu duas abordagens da preveno primria

    Sociai e Ao In terpessoal .

    Ao

    A Ao Social tem como f inal idade bs ica equipar a comunidade de tU rua

    neira que e la se torne capaz de prover os suprimentos indispensveis para sat is

    fazer s suas necessidades e de oferecer ~ s i s t n c i aqueles que enfrentam s i tua

    es de cr i s e . Atua junto a legis ladores , autoridades e p o l t i co s , quando a s i

    tuao requer, para que os obje t ivos propostos sejam alcanados.

    A fim de que possam manter a su a integr idade f s ica e psicologica, as

    pessoas precisam de suprimentos apropriados a cada es tgio par t icu la r de desen

    volvimento. De acordo com o modelo proposto po r Caplan (1964) os suprimentos fo

    ram class i f icados em f s icos , psicossociais e socio-cul turais .

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    21.

    Suprimentos f s icos so aqueles necessrios ao crescimento e desenvol

    vimento do corpo, manuteno da saude f s i ca e proteo contra danos corpo-

    ra is ( infeces, envenenamentos qumicos e traumatismos). Entre os suprimentos

    f t s icos , portanto, se incluem alimentao, abrigo adequado, estimulao senso -

    r i a l e oportunidades para exerc tc ios f s icos .

    Cumpre sal ientar que mesmo as necessidades ina tas , l igadas consti -

    tuio biolgica do indivduo, so continuamente modificadas pela interao com

    o meio ambiente e que somente podem ser sa t i s fe i t a s em um contexto psicossocial .

    Os suprimentos psicossociais visam sat isfao das necessidades in -

    te rpessoais e incluem a est imulao do desenvolvimento cognitivo e afet ivo. Es -

    tas necessidades so atendidas 'a t raves da interao com pessoas s igni f ica t ivas

    da faml ia ou da comunidade que se tornam focos de contnuas relaes emocio

    nais . Quando o suprimento psicossocial e inadequado, no promovendo os m e i o s p ~

    ra que as pessoas estabeleam relaes adequadas com aquelas que podem sa t i s fa -

    zer as suas necessidades, cr ia - se um clima propcio a uma maior incidncia de

    dis turbio mental .

    . pioio

    A respeito do relacionamento in terpessoal , Caplan emite a seguinte 0 -

    . "Uma.ILe.la.o ' .6a.ud..ve1' e: a.que.la em que.O O dJr.o .619n i 61c.a.:Uvo peJtc.eb e. , ll.e..6peLta.e. .te.nta. .6a..t6a.zeJt a..6 ne.c.e..6.6id.a.de..6da.. pe..6.6oa. de. ma.ne.-Ulc.ompa...ve1 c.om0.6 .6e . u . , . ~1Le6pe.cti..vO.6 p a p w .60cia..i6 e. com 0.6 vai..olLe..6-de. .6 ua c.uU:wut".(Caplan, 7964, P9. 46).

    Os suprimentos scio-cul turais dizem respei to s inf luncias que os

    costumes, os valores da cul tura e da es t ru tu ra social exercem sobre o desenvol-

    vimento e funcionamento da pessoa.

  • 7/27/2019 000016786 A Psicologia Comunitria como agente de transformaes sociais

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    A auto-imagem de um indivduo, seus sentimentos e at i tudes dependem

    em grande parte das expectativas d ~ s outros em relao ao se u comportamento. E ~

    sas expectativas tendem a determinar o papel e o lugar das pessoas no se u con -

    texto soc ia l , indicando, inclusive, o caminho de vida a ser seguido por e las .

    Os suprimentos scio-cul turais s o fornecidos at raves da aprovaao so

    c ia l e outras formas de recompensas reforadoras da segurana individual . Em

    contra-part ida, vem a punio quando o comportamento se afas ta do esperado pela

    estrutura social vigente .

    ~ conveniente esclarecer que a class i f icao dos suprimentos em f l s i -

    cos, psicossociais e scio-cul turais no deve .ser encarada de uma maneira r l g i

    da. As necessidades a serem supridas esto inextricavelmente interl igadas en

    tre s i , sendo, portanto , impossvel atend-las isoladamente. Por outro lado, e

    importante que no se veja o indivduo como um ser passivo a depender totalmen

    te da quantidade e da qualidade dos suprimentos que lhe so oferecidos . Ele tem

    a capacidade de provocar modificaes s ignif ica t ivas em seu meio ambiente a fim

    de que suas necessidades f s i ca s , psicolgicas e soc ia is sejam devidamente aten

    didas. Cabe ao psiclogo comunitrio conscient izar as pessoas de suas rea i spos

    sibi l idades neste sentido e or ien t- las na execuo de t a i s mudanas. Exemplos

    de preveno primria atraves da ao social incluem educao compensatria e

    programas escolares (Cowen, 1969; Gri ff in e Reinhorz, 1969); programas de t r e i

    namento (O'Connor e Rappaport, 1970); renovao urbana e variedades de bem-es

    t a r social (Kessler e Albee, 1975).

    A ao interpessoal , do mesmo modo que a ao so c ia l , tem po r ob je t i

    vo assegurar os suprimentos bsicos e promover uma superao saudvel das c r i -

    ses que acometem as pessoas na s diferentes fases de vida . Ela se dist ingue por

    envolver contatos face face entre prof iss iona is da sade mental e indivduos

    ou pequenos grupos que necessitam de ajuda num esforo para iden t i f icar e corr i

    g i r re l aes s ign i f ica t ivas que esto sendo perturbadas ou ate mesmo ameaadas

  • 7/27/2019 000016786 A Psicologia Comunitria como agente de transformaes sociais

    34/105

    23.

    de um rompimento.

    Embora o foco imediato da atenao se ja o indivduo, a ao interpes ~

    soaI pretende que os seus efe i tos sejam mais amplos, atingindo a prpria comunidade. Este in tento pode se r alcanado atraves da educao de l deres da comuni

    dade, pessoas que exeram maior inf luncia em pequenos grupos ou parentes que

    tenham ascendncia sobre a faml ia . Quando bem orientadas , as p e s s o a s - c h a v e

    dem p!anejar e implementar programas, dentro de uma viso mais rea l i s t a e madu-

    ra , poss ibi l i tando melhor acesso aos suprimentos bsicos necessrios sobrevi-

    vncia f s i ca e psicolgica dos componentes do grupo soc ia l .

    A preveno primria a traves da ao interpessoa1 e exemplificada po rprogramas ta is como interveno famil iar e educao dos pais ( B o 1 ~ ,1968); t r e i

    namento de ajudadores da comlnidade (Dorsey, Matsunaga e Bauman, 1964; Hommen,

    1972).

    Alguns aspectos importantes devem ser considerados em um programa de

    preveno primria : Seria interessante que se conhecesse tanto quanto~

    p o s s ~ -

    vel a et io logia da s doenas mentais, porem dado o imperfeito conhecimento que

    se tem sobre o assunto, outras bases para or ien tar as at ividades de preveno

    precisam ser desenvolvidas. ~ importante a ident i f icao de fatores ambientais

    que faci l i tem ou dif icul tem os meios a serem ut i l i zados pela comunidade paral i

    dar com os "s t r es s " . D e v e ~ s eencorajar as pessoas com suspei ta de dis trbio

    mental a procurar um tratamento adequado. Nesse sent ido, e interessante que seplaneje um trabalho incluindo no apenas uma descrio dos sintomas, mas t ~

    bem uma orientao para onde se dirigirem a fi m de obterem ajuda. ~ imprescin-

    dve1 elaborar programas visando proviso dos suprimentos indispensveis s ~

    brevivncia f s i ca e psicolgic3 dos membros da comunidade, bem como procurar

    neut ra l izar as inf luncias que dificultam essa proviso.

    Existem grupos vulneraveis a dis trbios mentais d e c o r r e n t e ~de vida

    so l i t r i a e improdutiva, como acontece f r e q u e n t e ~ e n t eentre as pessoas de idade.

  • 7/27/2019 000016786 A Psicologia Comunitria como agente de transformaes sociais

    35/105

    24.

    Um importante suprimento scio-cul tural a ser oferecido est imular as pessoas

    idosas a serem at ivas e , na medida do poss vel , independentes, ajudando-as a.

    permanecerem interessadas na vida socia l , po l t i ca e recreat iva de sua comunida

    de.

    Uma da s metas de um programa de preveno primria deve ser a in tegr i

    dade da famlia. Ha var ios fa tores que a ameaam, ta is como doenas, hosp i ta l i

    zaes, morte de um dos conjuges, divrc io, e tc . No simplesmente a proximi-

    da de espacia l dos membros da famlia, todavia, que lhe garante a integridade.

    Embora no se possam prescrever frmulas exatas para um bom relacionamento fami

    l i a r , possvel a elaborao de programas comunitarios visando educao dos

    pais , propiciando-lhes uma melhor compreenso da s necessidades dos f i lhos e dos

    motivos que lhes orientam o comportamento.

    Em termos de preveno primaria no podemos, po i s , perder de v is ta e ~

    ses dois importantes campos da a o : Social e interpessoal . No que se refere

    ao social um dos campos mais f r t e i s para se atuar a educao. Depois da

    famlia a escola a mais importante fonte transmissora de valores e de desen -

    volvimento das potencialidades individuais . O sistema educacional es ta d i re ta -

    mente sob o controle de l deres da comunidade que podem modificar o se u funcio-

    namento de acordo com in teresses p o l t i co s , da por que a ao socia l tambm de

    ve i n t e r f e r i r nesse aspecto.

    -Dentro da aao in terpessoal pode-se desenvolver um in teressante t raba

    lh o junto aos pais e a todos que exercem autoridades ta is como, chefe e l deres

    da comunidade, conscientizando-os de que devem es ta r atentos s necessidades de

    seus dependentes ou subordinados e ev i ta r usar o prprio pres t g io para atender

    apenas aos seus in teresses pessoais .

    l . l . l . Crises Vitais e seu Significado na Interveno Primria

    Na vida das pessoas ha mudanas espec f icas e , po r vezes,bruscas que imc

  • 7/27/2019 000016786 A Psicologia Comunitria como agente de transformaes sociais

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    25.

    plicam em demandas pesadas, exigindo novas es t ra teg ias e novas formas de c o m p o ~

    tamento para enfrenta-las . Tais situaes consti tuem o mago do que se define.como cr ise , deixando os indivduos mais disponveis para receber ajuda a fim de

    que possam resolver de maneira sa t i s fa t r i a os problemas surgidos.

    A cr ise e decorrente de um desequi l br io entre o alto signif icado e a

    dif iculdade do problema por um lado, e os recursos imediatamente disponveis pa

    ra resolv-los por outro. Embora haja uma maior mobilizao de energia, os me-

    canismos homeostat icos, em decorrncia do a l to nvel de tenso, no funcionam

    bem, impedindo a pessoa de empregar metodos pass veis de serem ut i l izados com

    xi to para a soluo do problema. Contudo, o termo cr ise j a no tem a conota -

    o de catastrofe iminente, adverte Erikson (1959) e complementa afirmando que

    t a l signif icado dif icu l tava uma melhor compreenso do termo. Ele v a cr ise co

    mo um mooento crucia l , um ponto cr t i co necessario para dar nova direo ao de-

    senvolvimento do indivduo, ajudando-o a descobrir novos recursos para su a r e c ~

    perao e crescimento e a desenvolver uma maior capacidade de diferenciao.

    As cr ises foram classif icadas por Erikson (1959) em dois t ipos: De de-

    senvolvimento e acidentais . No que se refere ao primeiro t ipo , esclarece que

    durante o desenvolvimento da personalidade ha uma sucesso de fases diferentes

    e entre elas ocorrem perodos de t ransio os quais em gera l provocam trans -

    tornos cognitivos e afet ivos. A esses perodos Erikson chamou de crises de de-

    senvolvimento e dentre elas evidenciou a cr i s e da adolescncia.

    o que mais agrava as chamadas cr ises de desenvolvimento e que os es tu

    diosos da sociedade e da h is t r ia parecem ignorar que todas as pessoas uma ve z

    foram cr ianas. Esquecem ser a sociedade const i tuda de geraes su je i tas ao

    processo de converteremrse de crianas em jovens e, posteriormente, em adultos

    e pais que devem in tegrar as mudanas his t r icas de suas vidas e continuar fazen

    do a his tr ia para seus descendentes.

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    26 .

    Durante o se u processo de crescimento a criana tem muitas oportunida

    des de ident i f icar-se , mais ou menos experimentalmente, com pessoas reais ou i -.

    maginarias, de ambos os sexos, com traos de personalidade, idias ,profisses e

    habitos dos mais diversos. No fim da infncia v-se obrigado a fazer escolhas

    radicais e o problema agrava-se quando o se u momento de vida , em par te decorren

    te de seu contexto ambiental, oferece- lhe apenas um numero l imitado de opes.-Os modelos socialmente s igni f ica t ivos que lhes sao apresentados p r o p o r c i o n a m p

    cas condies para que rea l ize combinaes de fragmentos de varias iden t i f ica -

    es viaveis . Principalmente os adolescentes procuram atraven dos modelos que

    lhes s o disponveis carac te r s t icas capazes de sa t i s fazer simultaneamente as

    suas necessidades resul tantes do estado de maturao do organismo, de sntese do

    eu e das exigncias da cul tura. Esse es tagio e chamado por Erikson (1959) de

    "cr i se de identidade". O jovem deve converter-se em uma pessoa auto-integrada

    em um estgio evolutivo que se caracter iza por uma diversidade no crescimento f

    s ico , maturidade geni ta l e conscincia soc ia l . O referido autor denomina desentimento de identidade in te r io r a integr idade a ser alcanada nesse perodo de

    vida. Considera, ainda que a identidade inc lu i mais do que a soma de todas as

    ident i f icaes sucessivas daqueles anos anteriores nos quais a criana queria

    ser: a era com frequncia obrigada a ser como as pessoas das quai.s dependia. H

    um constante esforo por par te dos adolescentes no sentido de def in i r- se e rede

    f in i r- s e a s i mesmo e a cada um dos demais com quem convive, fazendo comparaes

    geralmente crueis ao mesmo tempo em que buscam conci l ia r antigos valores in t ro -

    jetados com os novos que proliferam como resul tado de mudanas bruscas ocorr i -

    da s na sociedade. Nessa fase de su a vida o jovem contrape mais do que s i n t e t i

    za suas al ternat ivas sexuais, ocupacionais, e t icas e morais e com frequncia se

    v obrigado a fazer escolhas decisivas o que lhe parece muito d i f c i l .

    A fim de que possa experimentar melhor a sua auto-identidade, o ado -

    lescente deve sen t i r uma continuidade progressiva entre o que tem conseguido ser

    durante os longos anos da infncia e o que pretende ser no futuro; entre o que

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    27.

    e le pensa que e e o que os demais veem nele e esperam dele . A identidade implica em um modelo nico e o a d o l e s c e ~ t eao enfrentar essa cr ise s conseguira re-

    solv-la atravs de novas ident i f icaes com companheiros da mesma idade e com

    f iguras l deres fora da famlia. A sociedade tem a grande responsabilidade d i-

    ante das cr i ses de identidade que ocorrem na adolescncia pois e su a funo ~r ien ta r as escolhas dos jovens, oferecendo-lhes, inclus ive, modelos conf iveis .

    No ciclo v i t a l no apenas a adolescncia caracteriza-se como uma fase

    suscet vel do desencadeamento de cr i s e . Com as rpidas mudan,ras que vem ocor -

    rendo nas ltimas dcadas, inclus ive as d e c o r ~ e n t e sdos avanos tecnolgicos

    torna-se cada ve z mais d i f c i l envelhecer sem sen t i r - se ultrapassado. O enve -

    lhe cimento ser cada ve z menos uma experincia negativa, na medida em que as

    pessoas de idade no se sentirem desatualizadas do ponto de vis ta profiss ional

    e quando descobrirem que tm algo de s ign i f ica t ivo e duradouro para oferecer de

    corrente de seu prprio crescimento como pessoa.

    Embora as cr ises acidentais no possam ser previs tas como as de d e s e ~

    volvimento, sua ocorrncia em uma cer ta populao pode se r es tat i s t icamente p r ~

    di ta . Mesmo no sendo possvel se prevenirem todas as cr i s es , o fato de reco -

    nhecer a sua exis tncia e ident i f ica- las em situaes especficas , f a c i l i t a os

    meios para que se oferea ajuda e suporte s pessoas por elas at ingidas.

    Dependendo de como manipulam as c r i se s , as pessoas podem emergir das

    mesmas com maior ou menor habilidde para adaptar-se s novas situaes de vida.

    Se na t en ta t iva de superar uma cr i s e , aumentam o seu repertr io de habilidades

    para soluo efe t iva de problemas, ut i l izando novos " ins ights" , elas se torna -

    ro mais for tes e mais capazes para enfrentar outras situaes competi t ivas ou

    de perdas . No sent i ro , portanto , necessidade de recorrer a comportamentos re

    gressivos com bases no r ea l i s t a s ou a quaisquer outros meios que venham a d i f i

    cu l ta r o seu processo de crescimento individual . Na verdade, se as cr i ses-ao

    manipuladas pobremente, atraves de mecanismos neurt icos, as pessoas t o r n a ~ s e

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    28.

    menos capazes para funcionar bem no fu turo . Da po r que Cap1an (1964) afirma

    que a res is tnc ia ao distrbio m e n ~ a 1pode se r aumentado atraves da ajuda que

    se d ao indivduo em situaes de cr ise , considerando esse trabalho de grande

    importncia na preveno primria. Alem do mais, deve-se levar em considerao

    que durante a cr i s e , se ja de desenvolvimento, seja acidentais , as pessoas ex-

    perimentam um maior nvel de ansiedade. Em consequncia, como j referimos aci

    ma, ficam mais aber tas a novas experincias na esperana d ~ que possam encon

    t r a r, o mais rapidamente poss vel , meios eficazes para l ibe r t - l a s de suas ten--oes. Assim sendo, t o r n a ~ s emais carentes de contatos humanos e , por isso,mais

    suscet veis s inf luncias dos outros do que durante os perodos de funcionamen

    to es tvel . J vimos tambem como o homem in terage com o ambiente e a importn-

    c ia das repercusses scio-cu1turais sobre o seu comportamento. Po r i sso , na ~

    pinio de Cap1an (1964) uma das atuaes mais relevantes da Psicologia Comunit

    r i a na preveno primria e in te rv i r junto s pessoas que se encontram em s i tua

    es de cr i s e .

    Quando a1guem enfrenta um problema que ameaa priv-lo de qualquer s ~

    primento bsico, pondo em r i sco a su a estabi l idade emocional, os membros de su a

    faml ia ou de outros grupos primrios que lhe estejam ligados por es t re i tos 1a-

    os afe t ivos , s e n t e ~ s eem maior ou menor grau envolvidos pe1a"situao. Assim

    sendo, eles o apoiaro nas decises que esto em consonncia com os valores etradies do grupo ou exercero controle e , por vezes, o pressionaro no sent i -

    do de que as suas decises no entrem em choque com as expectativas que tm de-

    1e. Isso , em geral , aumenta o conf l i to diante da s i tuao. Por outro lado, o

    grupo poder propiciar-lhe canais adequados para dar evaso aos sentimentos ne-

    gativos que tendem a emergir quando o indivduo enfrenta uma cr i s e . Poder tam

    bem ajud-lo a enfrentar seus problemas de uma forma a t iva e criadora, p e r m i t i ~

    do-lhe um maior a l v io da s tenses. Po r i sso , ao buscar uma soluo para a cr i

    se , a pessoa visa , no somente ao atendimento de suas necessidades, mas procura

    tambem atend- las de ta l maneira que no entre em choque com o papel que desem-

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    29.

    penha junto sua famlia e prpria comunidade. Procura, p o r t ~ , t o ,ao resol-

    ver o problema corresponder tambm s expectativas da sociedade a que pertence.

    Assim sendo, o se u ambiente scio-cul tural e familiar poder tanto encora j- lo ,

    como l imi t- lo nas es t ra tg ias a serem ut i l izadas para enfrentar a cr i s e .

    o desfecho de uma cr ise , , portanto , influenciado pela ajuda ou obs-

    . tculos que o individuo encontra durante o perodo em que ele es t procurando ~

    laborar um padro de ajustamento e adaptao s circunstncias adversas. Faz-

    se, pois , mister que se ja providenciada uma ass i s tncia efe t iva e rpida para

    as pessoas m cr i s e . ~ importante que a ajuda oferecida se ja realmente acess -

    vel e disponvel. A cr ise proporciona ao psiclogo comunitrio uma grande o p o ~

    tunidade para envidar esforos no sentido de prevenir os dis trbios mentais en-

    t r e os que so atingidos por e la .

    Caplan (1964) aponta dois caminhos para prevenir os desajustamentos d ~

    correntes da s cr i ses o primeiro consiste em iden t i f i ca r e , se poss vel , a n t ~

    cipar-se s circunstncias desencadeadoras de cr i s es , tentando modific-las, a

    fi m de que seja diminui do o se u impacto sobre a populao. Isso envolve tambm

    i d en t i f i ca r locais onde ocorrem concentraoes de pessoas em cr ise e as circuns-

    tncias que lhes esto associadas. Exemplo: Clubes ou associaes frequenta-

    das por um grande nmero de senhoras na fa ixa de quarenta anos que esto e n t r a ~

    do na menopausa; pontos de encontro de pessoas aposentadas que comeam a se

    sen t i r in te is ; aglomerados de imigrantes que esto procurando adaptar-se no

    va ter ra . Tais providncias podem levar elaborao de planos que poss ib i l i -

    tem modificaes de certos elementos circunstanciais , favorecendo uma melhor a-

    daptao das pessoas em cr ise s novas oportunidades oferecidas pela comunidade.

    osegundo caminho apontado diz respei to providncia de servios para aqueles

    que j esto enfrentando ~ ~ cr ise , oferecendo-lhes suportes para uma melhor a-

    daptao.-

    Esses servios podem ser desenvolvidos atraves de uma aao social e

    in terpessoal .

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    30.

    A ao social opera no sentido de melhor ajus tar e adaptar a popula --ao durante as cr i ses que se desencadeiam na comunidade. Os seus programas de-

    vem procurar exercer influncia sobre os administradores pblicos e l deres da

    comunidade a fim de que mudem dentro do poss ivel , as circunstncias quando es-

    tas s o responsveis pelo desencadeamento das cr i s es . Quando fo r necessrio

    promover mudanas de pessoas chaves causadoras de problemas na comunidade. A

    sua atuao pode rea l izar- se tambm atravs da educao, levando as pessoas em

    cr ise a anal i sar os fatores causais subjacentes ao problema e planejar respos -

    tas mais ef ic ien tes baseadasem

    uma compreenso mais completa da s i tuao.

    A aao in terpessoal deve ser di r ig ida no sentido de melhorar a ajuda

    que oferec ida s pessoas em cr ise por membros d ~ sua familia, amigos e aSSLS-

    tentes informais da comunidade. Quando algum es t fortemente tensionado por

    uma cr ise , no s mobiliza os prprios recursos, mas tambm os daqueles com os

    quais convive. Po r su a vez, estes tambm se sentem estimulados a pres tar-Ihe

    ass i s tncia . Em ta l . s i tuao, as pessoas mais procuradas so aquelas mais vin

    cuIa das ao individuo em cr ise pelos laos primrios de suas necessidades bsi -

    cas de amor, in terao, dependncia e autoridade. Por i sso h uma forte tendn

    c ia para se procurar a ajuda dos l ideres leigos da comunidade, dos amigos nos

    bares e dos mais velhos . Essas pessoas embora tenham boa vontade de ajudar, na

    su a maioria, s o desprovidas de obje t ividade pela f a l t a de orientao e t re ina-

    mento, correndo o r i sco , inclus ive, de ident if icarem-se com os problemas daque-

    les que os procuram e neles projetarem as suas dif iculdades . Resulta dai , o

    r isco de uma orientao pouco saudvel. Reconhecendo-se o valor da colaborao

    da famil ia e desses ass i s ten tes informais, deve se r desenvolvida uma ao i n t e ~

    pessoal planejada e continua no sentido de tornar mais ef ic ien te e proveitoso o

    seu t rabalho.

    Algumas pessoas ao atravessarem uma si tuao de cr ise necessi tam ape-

    nas de que lhes ensinem algumas tcnicas para eliminar seu prprio bloqueio, ha

    bi l i tando-as a resolver a situao quase imediatamente pelos seus prprios re -

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    31.

    cursos. Outras, todavia, podero necess i tar do apoio de uma relao teraput i -

    ca, carecendo, assim, da interveno de um profiss ional especia l izado.

    A abordagem psicolgica da comunidade no que diz respei to cr ise , baseia-se, conforme expressa Fagan (1973) em uma compreenso mais ampla por par-

    te dos membros do grupo em relao cr ise que o indivduo at ravessa. E i s to

    . no s ign i f ica apenas segurar-1he a mo ou oferecer- lhe uma ser ie de en t rev i s t as

    em um gabinete durante algum tempo. Significa i r mais alem e in te rv i r com ele

    e po r ele junto sua comunidade a fi m de ajudar a modificar as respostas dessa

    comunidade e as suas presses. Em outras palavras , ajuda-lo a manipular a d e q u ~

    damente os fatores ambientais que no pode administrar com x i t ~agora.

    1.2 . preven;o secundria

    A preveno secundaria tem como objet ivo diminuir a taxa de incidncia dos

    dis trbios mentais na comunidade, reduzindo, consequentemente, a su a "preveln-

    cia" na "populao de r i sco" . Cap1an define a "preve1ncia" como sendo

    "a taxa. de c.a.6 0.6 e6 :ta.b e1.ec.ido.6do ~ . t : . W r .bio na. "popu1.a...o de /.6 c.o" rr.u.m c.e!Ltoponto ou peJodode tempo".(Captan, 1964, pg. 104).

    Considera-se "populao de r isco" aquela const i tu da por todas as pe,!

    soas que em circunstncias espec f icas podero ser acometidas de um determinado

    distrbio. Ele c i t a como exemplo de "populao de r i sco" todas as mulheres que

    deram luz em um determinado perodo de tempo, caso seja a psicose puerperal ,

    cuja ocorrncia se da nos primeiros t r s meses aps o par to , a doena que se es

    ta considerando.

    Pode-se reduzir a prevalncia dos dis trbios mentais na comunidade

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    procurando-se ev i ta r a inc idncia de novos casos, atravs da modificao do am-

    biente, diminuindo, na medida do poss vel , os fatores desencadeantes de t a i sd i s

    trbios . Essa medida es t mais l igada preveno primria e , nesse s e n t i d o , v ~

    l e r e s sa l t a r que, por vezes, os t rs t ipos de preveno se superpem entre s i .

    Uma segunda providncia a ser tomada e que es t mais l igada preven-

    o secundria, ser ia ten ta r reduzir o numero de casos antigos atraves de um

    d i a g n ~ s t i c oadequado e de um tratamento ef ic iente .

    Apreveno secundria deve

    te r oseu raio

    deao orientado para l i -

    dar, em larga escala com as desordens mentais, procurando iden t i f ic- las emseus

    diferentes graus na comunidade. ~ de Caplan a seguinte adver tnc ia :

    "Num pJtO::]Jtama. c.omun.i.-tJo 'A exc.elncia. bmi..ga. do bomI . Vevemo.6 e6toJr. p1tepa.~ 0 . 6pa.ka. a . c . ~o b j ~ t i v o . 6m o d e 6 t o ~pa.!ta. 0.6 .

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    33.

    de acarre tar nos outros o se u comportamento comprometido, como a diminuio de

    seu rendimento junto comunidade. o encaminhamento para uma ass i s tncia psico. -lgica ou tratamento psiquitr ico pode se r fe i to levando em conta um dos aspec-

    tos acima referidos. Vale porem r es sa l t a r que o enfoque comunitrio no deve

    i r a ponto de sac r i f i ca r os dire i tos dos indivduos portadores de dis trbio men

    . ta l em favor do grupo saudvel . Ao contrr io , deve-se, atraves de um plano ra-

    cional e ef ic ien te , promover o bem es ta r do maior nmero possvel de indivduos

    mentalmente perturbados.

    Em nossa cul tura o "papel do paciente" es t associado ideias de ser

    e le umJ. vtima passiva de alguma "doena". Considera-se que a pr inc ipa l respo,!!.

    sabilidade pela sua melhora cabe aos profiss ionais que o tratam, relegando-se a

    um plano i n f e r io r a possibil idade que tem de ajudar-se a s i mesmo no processo de

    recuperaao. Uma ve z rotulado de 'doente mental ' , cr ia - se uma expectativa em

    torno da pessoano

    sentido de que o seu comportamento se ja sempre inadequado eregressivo, passando a ser t ratado pela comunidade com cer ta indulgncia ou m e ~

    do . Tal at i tude contr ibui para enfraquecer o seu ' ego ' e reforar a su a condu

    ta desviante. Contribuiremos para que o paciente aos poucos vol te a te r um com

    portamento compatvel com sua faixa e t r i a e assuma gradativamente o papel que

    lhe cabe como membro da comunidade, se o considerarmos como algum que estO se

    defrontando com problemas de ordem material , socia l ou afe t iva e com poucas con

    dies emocionais para l ida r com os mesmos, mas que por outro lado es t empenha

    do em seu reajustamento pessoal e soc ia l . Tambem o ajudaremos se,ao invs de

    procurar reduzir a su a responsabilidade pelos seus atos,ns o incentivarmos a

    respei tar-se e a readquiri r o seu ' s t a t u s ' de pessoa madura no somente diante

    da famlia mas tambm diante de todos com que se relaciona.

    f essencial a q u ~ l q u e rprograma de preveno secundria procurar iden

    t i f i c a r , atravs do diagnstico precoce, a presena da desordem mental tao cedo

    quanto possvel e encorajar tambm o encaminhamento dos casos.

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    que ainda tm em s i mesmas muita disponibi l idade para uma recuperao e que de

    repente se sentem marginalizadas por serem rotuladas como doentes mentais. Re-

    forando esta advertncia vale mencionar a experincia de Glass e seus colegas

    nos servios psiquitr icos do Exercito Americano em 1958.

    "Ele6 a.pWUVtamque obUnham melho!te6 Jte-6uU:a.do-6teJLa.peu.t.i..co.6.6 e ~ . 6em0.6.601da.dO.6com c:LW.t.Jtb-J.6emocl..on.a...U e. de co mpolLtamento.6em 0.6 !temoveJtem de .6u.a..6 UY-da.de.6 p ~ 0-6 h o . 6 ~p . 6 ~ q u i ~ c o . 6 ,eobUveJtam0-6 melho!tu ! tu uUa.do.6em ce!L

    to-6 UpO-6de eM 0.6 .6 e 0.6 .6 olda.dO-6 MOeJtam -6equeJt !totu.la.do.6como p a . c l . . e n t ~ ~p.6-i..qui.:tJCO-6,mM -i..nteiJta.mente:tJr.a.:ta.dO-6po!t-6eu6 pltpJt-i..O.6o6-i..cl..C.6,0.6 qua.-i..-6po!t -6eutwmo eJtam a.judado.6a. comp!teendeJt0.6 pitoblemM de .6 eM .6ubo!tcUna.do.6mediante a66U-6oJa.de .6a.demen.ta.l".(Ca.p.f.a.n,7964, pg. 779).

    Separar uma pessoa de sua comunidade, impedindo-a de receber a in f lu -

    ncia est imuladora de seus subordinados, de seus pares e superiores , que pode -

    ro reforar posit ivamente o se u ego, e t ransfer - la para um hosp i t a l psiqui -

    t r ico onde alem de tudo t rocar o seu "status" de pessoa saudvel pelo de uma

    pessoa doente, apenas aumentar a dif iculdade de recuperao. t , por tanto, im-

    prescindvel que sejam includos nos programas de educao de sade mental or i -

    entao e dire t r izes para que os profiss ionais desse campo tornem-se habi l i ta -

    dos a decidi r de maneira co"nsciente sobre o encaminhamento dos pacientes que os

    procuram.

    Um diagnstico precoce s tem valor para a preveno secundria se pu

    der ser imediatamente seguido da ofer ta de acompanhamento psicolgico ou t r a t a -

    mento psiquitr ico conforme a gravidade do caso.~

    provvel que um dis trbiotratado em su a fase i n i c i a l responder mais rapidamente terapia do que se for

    protelado a te que se tenha ins talado na situao v i t a l do indivduo, o que o l ~

    va a t i r a r proveito das grat i f icaes e desobrigaes do papel de paciente , co-

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    36 .

    mo j foi referido.

    A desadaptao socia l demonstrada pelas crianas no incio de escola-

    -idade levou Zax e Cowen (1969) a alertarem para que os programas de prevenao

    secundaria dispensem ateno tambem a esse aspecto. Voltados tambem para t a l

    abordagem, Cowen e seus colegas (1973) na University of Rochsester atraves do

    Primary Mental Health project (Pl-nI) usou tecnicas de "seleo rapida" para a

    ident i f icao de escolas primarias que estao experimentando problemas educacio-

    nais ou de comportamento. Cowen, E.L., Door, D., Clarf ie ld , S .P. , Kreling, B. ,

    Pokracki, F., Pra t t , D.M., Terre l l , D.L., & Wilson, A.B. (1973).

    Um programa de preveno secundaria pode usar de varios recursos para

    incent ivar o encaminhamento precoce de quemnecessi ta de ateno especia l po r par-

    te dos prof i s s iona i s da rea de sade mental. A educao do pblico atraves

    dos meios de comunicao de massa poder dar bons resul tados . Fornecer i n f o r r r ~ -

    es aos pacientes potenciais , ao s seus parentes e amigos sobre a natureza dos

    dis trbios mentais, su a et io logia e suas poss ibi l idades de cura, quando se d a de

    vida ass i s tncia ao caso, poder entre outras coisas , f a c i l i t a r a procura de um

    servio especializado com a esperana de que um tratamento adequado dara bons

    resul tados . Podera tambem neut ra l izar e"stgmas supers t ic iosos e medos i r rac io -

    nais em relao s desordens mentais. Devem ser planejados programas de infor-

    mao pblica encorajando as pessoas a procurarem os servios de sade mental e

    orientando-as sobre onde podem se r encontrados ta is servios . Ser ia in teressan

    te que se procurasse f a c i l i t a r o contato de qualquer pessoa com as ins t i tu ies

    e prof i s s iona i s de ajuda, reduzindo, na medida do poss vel , a burocracia admi-

    n i s t ra t i va e diminuindo as barre i ras en t re ta is ins t i tu ies e a comunidade.

    1 .3 . Preveno Terc i r i a

    Assim como a preveno secundaria es ta voltada para o tratamento precoce e

    eficaz em grande escala dos indivduos mentalmente perturbados, tambem a p r e v e ~

    o t e rc i r ia opera em grande escala junto queles que estao em fase de recupe-

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    rao, reforando-os psicologicamente com o propsito de faz-los vol ta r a u t i

    l i z a r, o mais depressa poss vel , o seu potencial mximo de produtividade. A p r ~

    veno t e r c i r i a tem, po i s , como objetivo diminuir os efe i tos residuais que t e ~

    dem a permanecer aps o distrbio mental. Esses efe i tos provocam uma reduo

    da capacidade do indivduo, dificultando a sua contribuio e fe t iv a para a vida

    ocupacional e social da comunidade qual es t tentando se re in tegrar. A recu

    perao deve integrar-se aos processos de diagnstico e terapia e prosseguir de

    pois que es tes forem concludos. H, portanto , uma superposio no somente da

    preveno secundria em relao pr imr ia , como vimos anteriormente, mas tam -bem da t e rc i r i a no que se re fe re s outras duas. Mesmo quando o prof i s s iona l

    es t coletando dados a fim de diagnost icar a desordem mental no indivduo, deve

    tambem es t a r atento aos efe i tos desta na reduo de sua produtividade na medida

    em que o distancia de seu melO ambiente, dif icul tando posteriormente 0 se u re

    torno vida comunitria.

    Um s ign i f ica t ivo obstculo plena participao e produtividade den

    t ro de su a rede socia l ocorre quando a pessoa def inida como doente mental, com

    tudo que esse rtulo s ign i f ica para e la , seus parentes e amigos. O agravante

    ainda maior se o paciente admitido em um hospi tal ou cl n ica psiqu i t r ica . Va

    le r es sa l t a r que a designao de um comportamento como sendo sintomtico de um

    dis trbio mental subjacente implica que h um conjunto complexo de cr i t r ios en

    volvendo ta l designao e que, se por um lado es t baseado em alguns parmetros

    objet ivos , por outro, no pode fugir subje t ividade dos profiss ionais encarre

    gados do diagnstico.

    Uma contribuio val iosa em termos de preveno t e rc i r i a pode s e r f e i

    ta atravs deum

    trabalho junto s prpr ias ins t i tu ies especia l izadasem d o e ~

    a mental. Tem se evidenciado uI timamente por meio de cons tataoes p e s s o a : ~ se

    divulgao atravs dos meios competentes que as condies de vida em ta is i l . s t i

    tuie.s vem contribuindo muito para uma maior deteriorao do comportamento de

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    pessoas que encontrariam oportunidade de uma melhor adaptao se no houvessem

    sido hospi tal izadas . Em t ese , o internamento de um "doente mental" tem uma fu n

    o l t i l sociedade porquanto remove o "incmodo" do seio da comunidade, res -

    guardando-o, inclus ive, da v i s t a do pblico. ~ importante porem no se esque -

    cer de que o afastamento do paciente de seu meio provoca uma distoro e , po r

    vzes, a te uma ruptura de suas relaes ocupacionais e soc ia is , intensificando

    a dificuldade de sua recuperao. ~ , p o r t a n t o ,imprescindvel que em termos de

    preveno t e rc i a r i a se faa uma reviso das metas e dos metodos que esto sendo

    empregados nessas ins t i tu ies .

    Algumas medidas podem se r tomadas no sentido de minimizar as conse

    quncias do internamento de um p a c i e n t e : F a c i l i ~ a ros meios para que o per:o-

    do de hospita l izao se ja o menor poss vel ; poss ib i l i t a r uma comunicao mais

    aberta ent re o paciente e a comunidade, procurando informar os famil iares e ami

    gos a respeito de seu progresso; ten ta r tambm manter a pessoa hospital izada a

    par do que se passa em sua comunidade.

    Vale r es sa l t a r que a responsabilidade pelo paciente continua mesmo

    quando deixa o hospi ta l . Os profiss ionais precisam es t a r atentos ao que ocorre

    nas fronteiras entre ele e a sua comunidade, tomando medidas corret ivas para a-

    just-Io s suas redes soc ia is . Se , por um lado , e necessario ajudar o ind iv -

    duo a l idar com as manifestaes primrias decorrentes do se u estado mentalmen-

    te perturbado, por outro lado, deve-se procurar que se desfaam os esteretipos

    que se impregnaram nas expectativas dos outros sobre o seu retorno f ina l a uma

    vida produtiva na sociedade. Interrompendo-se o contato com a pessoa c o n s i d e r ~

    da doente mental, acentuamrse lembranas no meio em que se relacionava o que s ~

    l ien ta ainda mais o comportamento estranho e bizarro apresentado antes . Quando4 ' -vol ta ao conV1VlO normal com o se u grupo, as expectativas e percepoes a se u res

    peito podem ser perturbadas por t a i s lembranas.

    A remoo de um paciente de sua faml ia , trabalho e contatos sociais

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    tambm c r i a um outro t ipo de problema que vale pena ser ressal tado. Segundo

    Cumming (1962) a rede social "cerra f i l e i r as" para compensar a sua ausencia.

    As pessoas procuram rea jus tar-se dentro de sua at ividade a fim de assumir as v

    r ias tarefas que o paciente costumava real izar e, por vezes, a t procuram subs

    t i t u i - l o no desempenho de seus diversos papis . Em consequncia, quando ele re

    torna ao seu ambiente, ver i f ica que outros ocuparam o seu lugar na famlia e no

    trabalho e poder sen t i r necessidade de recuperar a sua antiga posio. Quando

    isso ocorre, po r cer to ter que enfrentar uma disputa com pessoas que, ostensi

    vamente ou no, provavelmente lhe oferecero res is tnc ia . Ta l situao torna-se mais d i f i c i l por ocorrer em uma fase da vida em que ele se sente i n s e g ~ r oe

    que lhe exige um grande esforo adapta t ivo.

    Um aspecto da prevenao t e rc i r i a a ser lembrado a reabi l i tao ocu

    pacional que por su a ve z ajuda a diminuir a brecha criada ent re o hospi tal e a

    comunidade. ~ aconselhvel que se faa uma avaliao da capacidade potencial

    de cada paciente durante a fase f ina l de se u internamento, bem como uma sonda -

    gem das oportunidades de trabalho oferecidas pela comunidade. Quando se f izer

    mister, uma reeducao ocupacional deve ser real izada, a exemplo do que aconte

    ce com deficientes f s icos , a fim de que o paciente possa adquir i r novas habi l i

    dades que o preparem para o mercado de t rabalho. Seria proveitoso oferecer aos

    administradores de