0.00751 - Antes Do Ide (Joed Venturini de Souza)

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 Eis um livro que vem na hora certa: Primeiro por seu tema um verdadeiro  manual para o vocacionado para mis sões colocando-o diante de situações que o farão provar a verdadeira existência desta chamada; Segundo por seu escritor pessoa intei- ramente vinculada a este  ide do Senhor e que já experimentou na vida o antes o durante eo depoi s deste desaf io; Terceiro por sua temática vol tada para o alcance do propósito em que est amos em penhados como igrejas batistas de fazer missões em um mundo sem fronteiras. É livro fundamental principalmente pa raos jovens que estão diante de indagações sobre sua  chamada missionária ou mes mo sobre o seu melhor preparo par a  i r aos campos Ele revela cami nhos. Apont a problemas. Não esconde dificuldades. Faz vislumbrar as possíveis vitórias. Sobr etud o ensi na que o poder deDeus se manifesta na vida daquele que se entrega  obra do Senhor de forma sensata dedicada e confiante.  JUERP

Transcript of 0.00751 - Antes Do Ide (Joed Venturini de Souza)

Eis umlivroque vemna hora certa:Primeiro, por seu tema,um verdadeiro"manual" parao vocacionadoparamis-ses, colocando-o diante de situaes queofaro provar averdadeira existncia destachamada;Segundo, por seu escritor, pessoa intei-ramente vinculada aeste "ide" do Senhor, equejexperimentou na vidaoantes, oduranteeodepois deste desafio;Terceiro, por sua temtica voltada paraoalcance do propsito em que estamos em-penhados,comoigrejas batistas, de fazermisses em ummundo semfronteiras.livro fundamental, principalmente pa-ra os jovens que esto diante de indagaessobre sua "chamada missionria" ou mes-mo sobre oseu melhor preparo para "ir aoscampos", Ele revela caminhos. Aponta problemas. No esconde dificuldades. Fazvislumbrar as possveis vitrias.Sobretudo ensina que o poder de Deus se manifesta na vida daquele que seentrega obra do Senhor de forma sensata, dedicadaeconfiante.-.,JUERPJoed Venturini de SouzaAntes do ideo que vocprecisa saberantes de irpara ocampo missionrio.JUERP-Rio de Janeiro Joed Venturini de Souza, 2005Todos os direitos de publicao reservados JUERP - Junta de Educao Religiosa e Publicaesda Conveno BatistaBrasileiraCaixa Postal, 320 - Rio, RJ - 20001-970Direo GeralAlmir dos Santos Gonalves JniorCoordenao EditorialSolange Cardoso A. d'Almeida (RP/16897)Conselho Editorial/JuerpCarrie Lemos Gonalves, Celso Alosio Santos Barbosa,Ebenzer S. Ferreira, Gilton M. Vieira, Ivone Boechatde Oliveira, Joo Reinaldo Purim,Lael d'Almeida, Ldia de Oliveira Lopes, MarclioOliveira Filho, Pedro S. Moura, Margarida LemosGonalves, Roberto Alves Souza, Silvino c.F.Nettoe Tiago Nunes LimaProduo EditorialArte Sette Marketing e EditorialProduo GrficaWilly Assis Produo GrficaDistribuioEBD I - Marketing e Consultoria Editorial LIda.Te!. - OXX (21) 2104-0044Fax - 0800 216 [email protected] Editorial/JMMAntnio Galvo, Din Ren Lota,Elza Sant' Anna do Vale Andrade,Maria Bernadete da Silva, Maria LeiaNolasco Abreu, Noemi LucliaL. daS.Ferreira, Othon A. Amaral, ZaqueuM.de OliveiraRevisora - Alessandra S.A. AmaralNossa misso: "Viabilizar a cooperao entre as igrejasbatistas no cumprimento de sua misso como comunidade local"Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, Brasil)250-266Joe-Vende Souza, Joed VenturiniAntes do ide - O que voc precisa saber antes de ir para o campo missionrioJoed Venturini de Souza. - Rio de Janeiro: JUERP, 2005240p. 14x21cmISBN85-350-0251-0ide, Antes do - O que voc precisa saber antes de ir para o campo missionrio -Misses - I. TtuloCDD 250.266Este livro mais um resultado do convniofirmado entre a JUERP e a JMMpara a promoo da obra de misses mundiais pelas igrejas batistas do BrasilSumrioApresentao 7Agradecimentos 9Introduo 11I. Prepare-se, prepare-se, prepare-se!(Preparando-se para o campo) .152. Mas eu no sabia (Adaptao inicial ao campo) 333. O propsito da Misso (Definindo os objetivos do trabalho) ..474. Fecha tua porta!(Vida devocional no campo) 595. Eu te amo, querida!(Vida familiar no campo) 756. Febre e Cia. (A sade no campo) 937. Fogo amigo (As relaes entre missionrios no campo) 1118. Construindo pontes (Relao com o povo a alcanar) 1319. Resistir ou atacar? (Batalha espiritual no campo) 14710. Informando as bases(Comunicao com as bases a partir do campo) 16511. E agora? (Crises no campo) 18112. Est na hora!(Razes para a sada do campo) 19313. Sucesso ou fracasso? (Uma avaliao do trabalho realizado) ..... 207Concluso 223Notas bibliogrficas 231ApresentaoEis um livro que vem na hora certa. No estava em nosso planejamentoeditorial paraesteano, masquandochegou-noss mos resolvemos,como toda editora moderna tem que fazer, atropelar nobomsentido, onosso programa de edio, e dinamicamente, colocar aquilo que veio aoencontro de seu objetivo maior, em regime de prioridade.Foi isto exatamente o que sentimos quando "Antes do ide" chegou JUERP. Vivendo o ano de "misses em um mundo sem fronteiras", parao qual j lanamos o "livro do ano" e a "revista do ano", com um sem-nmerodemovimentosdedespertamentomissionriodemarcadoparaasnossasconvenes, associaese igrejasdurantetodoo transcorrerdo ano, no poderamos perder a oportunidade de juntar um livro comoeste a toda esta temtica.Primeiro, pelo seu tema, um verdadeiro "manual" para o vocacionado obra de misses. Sim, o autor consegue com enorme propriedade, poisviveu tudo isto, colocar no papel de maneira sistemtica e coerente todoo tipode preocupaoe deprovidnciasquedeveinundar a mentedovocacionadoque sepreparaparapartiraocampomissionrio, como"marinheiro de primeira viagem".Segundo, porseuescritor. OPastorJoedVenturini de Souzamaisumavezbrindaonossopblico-leitorcomummaterial deexpressivovalor quer pelos pontos que aborda objetivando dar ao novo missionriotodo um esquema de planejamento para cercar a sua primeira viagem aocampo de toda a segurana e previdncia possveis, em todos os aspectossociais, familiares, desade, derelacionamentos, decuidados gerais,quer pelosconceitos e pensamentosqueexpepara embasar tudoisto.Seuconhecimentodaliteratura geralsobre o assuntoe, especialmente,sua experincia bblica de tais conceitos, nos do um panorama literriodos mais valiosos nesse momento to complexo por que passa a modernamissiologia crist em face de seus desafios.Terceiro, pela entidade que encaminhou-nos o livro. AJunta deMisses Mundiais daCBBestperfeitamenteinseridanomundodehojenestedesafioquerepresenta missionar a Palavra deCristo em ummundosem fronteiras. Sua indicao para a publicao dolivro j era,para ns, antes mesmo da leitura, um fator positivo a apontar-nos sobre aoportunidade deste lanamento."Antes do ide" em suas mos, ento. livro fundamental para os jovensque esto diantededvidassobre o seu preparo para misses. Ele revelacaminhos. Aponta problemas. No esconde as dificuldades. Mostra asvitrias que poderoser obtidas. Mas em todoele, transparece a viso doautor de que o poder de Deus se manifesta na vida daquele que se entregapara a obra comdedicao, "deolhos fechadose mesmosem saber paraonde ir", mas com a certeza de que poder contar com a presena do Senhorda obra em todos os momentos, mesmo, "antes de ir".A JUERP se sente privilegiada mais uma vez em ser canal da inspiraode misses para o povo batista doBrasil por meioda ediodestelivro.Nossa orao para que o Senhor o use de forma positiva e crescente emmeio ao nosso pblico-leitor, especialmente aquele que foi chamado paraser bno entre os que no conhecem a pessoa de Cristo.O EditorAgradecimentosAcima de tudo agradeo ao Senhor da vida que me salvou, chamou-me e tem me permitido servir na sua seara. A ele todo o louvor eadorao por qualquer vitria que tenhamos.A meus pais, Pastor Francisco Antnio de Souza e Professora MrciaVenturini deSouza, por teremme levado a Jesus emtenra idade eme criado nos caminhos da Palavra de Deus; por terem me includo emseu ministrio missionrio e partilhado os momentos bons e maus; porteremapoiadomeuchamadomissionriodesdeoincio; por teremsesacrificado para queeu pudesseestudar e meformar; por todooapoioespiritual e material em orao e amor. Eles esto por trs da maioria dosconceitos deste trabalho. Junta de Misses Mundiais da Conveno Batista Brasileira e a seuSecretrio ExecutivoPro Waldemiro Tymchak por "segurarem as cordas"durante estes doze anos em que temos estado no "fundo do poo".Atodososmissionrioscomquemconvivi e trabalhei depertoequeacrescentaram algo minha viso da obra como Lucy Gonalves Guimares,Din Ren Lata, Renato Cordeiro de Souza e Norman Harrell.Aos colegas da misso WEC internacional que tm sido companheirosnocampodebatalhacomoFredeCindy Wieger eMettaDunlopqueacrescentaramconceitos nossavisocomsuas vidas e obracomoDavid e Maggie Whitehorn e Thomas e Jutta Weinheimer.scolegas, AnalitaDiasdosSantoseEdnaFerreira Dias, quetmrido e chorado conosco em Bafat e visto a obra crescer. Elas tm sidocolegaseirmsemmais deumsentidoeabenoadonossafamliaetrabalho grandemente.De modomuitoespecial aIdaHelena, minhanamoradajh20anos,minha esposa, amante, melhor amiga, companheira de cada luta ebaluarte nas horas dificeis. A ela devo a reviso do texto, a clarificaode idias e conceitos, o acrscimo de muitas ilustraes e a pacincia nosmomentos de desnimo. Esta obra tanto dela quanto minha.OAutorIntroduomedidaqueo aviocomeavaadescer eumavozemlnguaestranha dava instrues que ele no podia entender, o coraode Joo acelerou e ele comeou novamente a suar frio.Rapidamentevieramsuamenteas imagensdasltimassemanas. Adespedidanaigreja, emquesesentiucomoumheri indoaocampodebatalha. Adespedidadoempregoondeo fizeramsesentir umtolosentimentalista. Adespedidada famlia emque as lgrimas da mepareceram ter o condo de, pela primeira vez, lhe mostrar que talvez, stalvez, as coisas no fossem to fceis quanto ele esperava.Ao seu lado uma mulher obesa juntava as muitas bagagens de mo paragarantir que no esquecia nada enquanto a aeromoa em vo lhe explicavaque precisava ficar sentada at o avio descer. A aterrisagem foi mais comouma queda controlada, mas ali estava, finalmente.Joo agradecia a Deuspor ter conseguido chegar inteiro ao campo missionrio.o aeroporto, se que merecia tal nome, era uma pequena construoparaondeospassageirosliteralmentecorriamcompetindoparaentrarprimeiro. Logo Joo entendeuoporqu. Afila dos passaportes eraenormeeoguardafronteirioolhavaatodoscomaatitudedequemtinhatodootempodomundo. O jovemmissionrioolhavatudocomcuriosidade eansiedade. Procuravanooutroladoda linhaumrostoconhecido, mas no parecia conseguir encontr-lo. Foi s quando estavaj perto do balco de passaportes que divisou com alvio a face sorridentedo missionrio veterano que o aguardava.Antes do ideAespera pela bagageme a passagemna alfndega foramoutrasaventuras dignas desse nome. Pegar a mala parecia um exerccio de lutalivrecontratodos os demais passageiros espremidosjuntopequenaesteira rolante. Na alfndega as palavrasdocolega, j com muitosanosdecampo, tiveramumefeitomgicotipo"Abre-te, Ssamo!", poisosguardas sorrirameos deixarampassar. Jooolhavaomissionriodecabelos brancos comverdadeirarevernciaepensavaparasi mesmo:Um dia serei assim!Os dias seguintes foramtodos de excitao e magia. Tudo era todiferente! Aslnguaseramfascinantes, ascoresexuberantes, ascomidasexticas, as pessoas amveis, as perspectivas incrveis. Era exatamente o queele sempre sonhara. Ou seria mesmo? As primeiras dvidas vieram quandofoi roubadonafeiralocal. Depoiscomeou anotar quealgumaspessoaspareciam ter um ar de ressentimento para com os estrangeiros. Ao fim deIOdias, passou bastante mal com diarria e nuseas devido mudana da guae comida.Logo eram as dificuldades em conseguir o visto de permanncia.Ser que no sabiam que ele era missionrio?Fora convocado por Deus paraesse trabalho! Ele viera trazer o evangelho e seria instrumento de mudanasradicais nesse pas, pensava. Mas as autoridades no pareciam entender todoo valor deste jovem talento cheio de ideais.Quandoas semanas virarammeses e os meses se aproximavamdeumano, Jooestavadevoltaaoaeroporto. Seuar jnoerade atentacuriosidade. Tinha falta de brilho nos olhos. No acompanhava maisas pessoas andando. Magroecansado, comapelenumtomlevementeamarelado,estava fisicamentegasto pelas repetidas malrias e com a almagasta pelas sucessivas decepes. Afinal, fazer misses no era nem to fcil,nem to divertido como lhe parecera. A promessa de conhecer novas terrase novasculturas, enquantoespalhava asboas-novas, parecia-lhe agora um. r,efro distante de uma propaganda enganosa. A verdade era diferente.Averdadequeeleencontrara, custadebastantesofrimento, que fazer misses inclui trabalho duro, guerra espiritual do mais alto nvele, emcertos momentos, lutapelasobrevivnciafisicaeemocional. Aofimdesses meses, ele percebera que as pessoas no estavamansiosas porouvir oevangelho. Amaioriao olhava eo olharia semprecomoalgumdeumpasricoquepodialhesajudarfinanceiramenteeosconvertidosnemsempre falavama verdade sobre suas supostas "converses". Oscolegas missionrios no eram os santos que ele pintara no comeo. Havia12Introduosinceridade entre eles, mas tambminvejas, competio e, por vezes, atfalsidade. A cultura local, que a princpio parecera to rica e bonita, era naverdadeuma teia demonaca de supersties e algemas espirituais contraas quais eraprecisolutar at osangue. As paisagens belas e exticasescondiammalria, febre tifide, amebase e outras doenas; calor eumidade que exauriam as foras e uma alimentao pobre e repetitiva.Entrando noavio para regressar sua casa, apsmenosdeumanonocampoondepensaragastaravida, Joosesentiaumfracasso. DevoltaaoBrasil, noqueriafalardemisses. Sentiarancorparacomaigreja que a certa altura deixara de manter os compromissos financeiros.Sentia amargurapara com oslderes damisso quenotinham dadooapoio pastoral que ele julgava merecer. Sentia at uma certa raiva surda eno expressa de um Deus que o deixara na mo l longe de casa quandoele sesacrificaratantoparafazeraobra. Lutandoparasereadaptarterra natal, ele ainda sonha com paisagens e rostos de uma terra que umdiaquisevangelizar, masdificilmente ter forasou nimopara pensarnovamente em misses.******************Estahistriapodeparecerradical, mas infelizmenteno. Onomeescolhidofoi Joo, maspoderiaser Ronaldo, Francisco, Ricardo, Maria,Joana, Valria. O Joo de que falei fico, mas existem vrios por a paraconfirmar os fatos. A sua terra de adoo pode ser na frica, sia, Amricado Sul, Europa. Tanto faz, as experincias que so as mesmas.DizemqueoBrasil temsetornadonosltimosanosumverdadeiroceleiro de missionrios. Ns brasileiros temos nos orgulhado de.enviar umnmeroenormedemissionrios. Mastemos, tambm, criadoumafamapouco agradvel em muitos lugares do mundo. A fama de que missionriosbrasileiros ficampouco tempo. Afamadeque temossustento precrioeestamos malpreparados em termos teolgicos e acadmicos. A fama de quenossos trabalhos no tm continuidade. provvel que esta fama no seja merecida, mas como j diziam osantigos, "ondehfumaa, devehaver fogo". Com basenuma pesquisaI3Antes do ideaprofundada entre organizaes mlsslOnrias brasileiras, Ted Limpicrefere que apercentagemde retorno dos missionrios brasileiros noprimeiro ano de campo de 7%1. As principais causas apresentadas nessapesquisa foram: falta de sustento, falta de compromisso, problemas comos colegas, preparoinadequadoeproblemas deordempessoaF. Essaexcelente pesquisa nos d uma boa viso do queest acontecendo,mascertamente h mais.Haquelesqueretornamenosocontabilizados. Haquelesqueficam no campo, mas na verdade o deixaram em seus coraes, pois noestoproduzindoeapenasagentamo tempopara terminar o perodo.Haquelesqueficamporfaltaderecursospararegressar. Haquelesque se dedicam a outras coisas que no obra missionria e desta formadeveriam ser contados com os que saem.Nosso objetivo no ser pessimista. No entanto, encarar a verdade necessrio se queremos avanar. Se desejarmos ter uma fora missionriabemadaptada e que seja instrumento poderoso de evangelizao,precisamos enfrentar as questes, providenciar respostas e trabalharnassoluesencontradas. Temosquereconhecer comSung-Sam Kangque"missionriosdelongoprazoeficazes, produtivos, bemadaptados,contentese realizadosso as pessoasessenciais quefazemo grosso dotrabalho missionrio duradouro e resistente"3.Nesta obra no pretendemos trabalhar as questes tericas demisses. H excelentes livros nessa rea que servem queles que queremse dedicar obra. Estarei citando vrios deles nos prximos captulos. Oalvodestetrabalhofornecerumaajuda prtica quelesnoBrasil queesto pensando em misses ou se preparando para o campo missionrio,emparticularoscamposnoterceiromundoondeestoospovosno-alcanados.Estou no campo missionrio h quase 30 anos. Sou filho de missionrio,fui ovelhademissionriosnocampo, fui colega demissionriosesoumissionrio h12 anos. Vivenciei a vida de misses por vrios ngulos.Meu desejo fornecer ajuda em assuntos queeu gostaria de ter ouvidoantes de ir para o campo. Analisar os erros e acertos que vi e que cometipara auxiliar outrosnessa senda dificil. Procurareiabordar ostemasdopontodevistabrasileiro. Minhaoraoquedealgumaformapossaajudar futuros missionrios a terem sucesso na obra de misses.14Captulo IPrepare-se, prepare-se, prepare-se!"Se vocfracassar na preparaoest se preparando parafracassar"Benjamim Franklin"Qual de vs pretendendo construir uma torre no seassenta primeiro para calcular as despesas everificar se tem os meios para a concluir?"Lucas14.28uando DavidLivingstone se levantoupara falar ao auditriosuperlotadonaUniversidadedeCambridge, em 5 dedezembrode1857, deveria ter a noodaimportncia desuas palavraseseu apelo final ficou famoso: "Eu imploro para que dirijam a vossa atenopara a frica; eu sei que em poucos anos minha vida ser cortada naquelaterra que est hoje aberta; no deixem que se feche novamente. Eu volto frica para tentar abrir uma senda para o comrcio e o cristianismo; levemadiante este trabalho que comecei, deixo-o com vocs!"A verdade, porm, que nem Livingstone podia imaginar o impactoqueseudiscursoterianocontinenteafricanonos 60anos seguintes.Comeando com suas palavras e passando pela descoberta de sua morteAntes do ides margens do Rio Molilamo em maio de1873, a Europa se voltou paraa frica e desencadeou uma autntica corrida ao ouro que culminou coma diviso do continente entre as potncias da poca.Dos inmeros episdios pitorescos desta corrida, ressaltamos a lutapelabacia do Rio Congo. Amorte de Livingstone, a Europa tinhajmuitosterritriosnafrica. Assim, osportuguesesestavam estabelecidosem Angola, Moambique, GuineCabo Verde. Osinglesestinhammoforte noEgitoenafricadoSul, enquantoaFranaseconcentraranoSenegal eregiesadjacentes. Omapaampliadopelofamosomissionrioexplorador prometia, no entanto, outras zonas onde as riquezas poderiam serincalculveis. Talvez a mais misteriosa e cobiada fossea bacia do Congo.Quem controlasse o comrcio nesse rio e tivesse uma boa base estabelecidana sua bacia poderia levar os tesouros escondidos do interior do continente.Dois homenssedispuseramalevaracaboessaobraherclea. Umdeles, financiadopeloministriodosnegciosestrangeirosdaFrana,chamava-se Pierre Savorgnande Brazza, filho de umconde italiano.Brazzasealistaranamarinhafrancesaeseapaixonarapelafrica. Oexplorador tinha um ar idealista e romntico que conquistou o pblico deento. Sua ousadia arrojada e seus mtodos suaves ganharam a aclamaogeral, uma vez conhecidas suas aventuras. Ele iniciou a corrida bacia doCongo com meses de atraso, mas escolheu um itinerrio diferente de seuadversrio e que provou ser mais rpido.SeuoponenteeraHenryMortonStanley, filhodeirlandeses. Eleforarejeitado nainfncia e criadonumorfanato deondefugirapara embarcarrumo aos Estados Unidos. NaAmrica ele fez amizade comumricomercador ingls que oadotou, ajudou a completar sua educao e se tomouo pai que nunca tivera. Stanley adotou o nome do seu remidor ( nascena elefora batizado John Rowlands) e veio a se tomar o jornalista correspondentedoNew York Herald que, numa missoousada, encontrou o desaparecidoLivingstone, num dos episdios mais conhecidos da vida do missionrio.Oencontro com Livingstone mudou a vida de Stanley que passou a se dedicar frica e sua explorao. Ele ansiava pela aprovao inglesa, mas foi o reiLeopoldo da Blgica que o financiou na corrida pelo Congo.Noanode 1879, comalgunsmesesdeintervalo, asduasexpediespartiram. Stanley partiu primeiro,mas escolheu subir o Rio Congo, o quesignificava enfrentar vrias cataratas quase intransponveis. Brazza foi pelonorte atravs do Rio Ogowe. A grande diferena entre as duas expedies16Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!estava no nvel de preparao delas. Enquanto Brazza caminhava rpido,com um grupo com poucos mantimentos e soldados, Stanley avanava comcentenasde carregadores, barcos desmontveis, materialde construo etoneladas demantimentosparaenfrentaras cataratas. BrazzachegoubaciadoCongopelonorteemagostode 1880, quaseumanoantesdeStanley, mas estava exausto e sem mantimentos. Tudo que pde deixar namiservel estao, a que chamou Brazzaville (hoje capital da Repblica doCongo),foram duas cabanas de palha com alguns soldados senegaleses euma bandeira tricolor gasta. O prprioBrazza sobreviveu apenas porquerecebeu ajuda numa das estaes intermedirias de Stanley.Aexpediofinanciadapelorei daBlgicaschegoubaciamuitodepois, masquandoofeztinhavriasestaesconstrudasnocaminho,dispunha debarcos para explorar o rioe fazer tratados comos reislocaisalm de material de construo para tomar Stanleyville uma estao modelo(hoje Kinshasa, capital daRepblicaDemocrticadoCongo, ex-Zaire).Quandodois anosdepois aspotnciaseuropiassesentarammesanaConferncia de Berlim, a pequenina Blgica pde reclamar uma fatia muitomaior do Congo do que a forte Frana. Tudo porque Stanley tinha realmentese preparado para a misso que recebera. A preparao fizera a diferena.Esta apenas uma de centenas de histrias que confirmam a importnciada boa preparao no sucesso de qualquer misso.Seja na apresentao deuma pea de natal, na tentativa de passar no vestibular ou na construo deumacasa, a preparaoserfator decisivo para a vitria. Quanto maior amisso, maior deve ser a preparao. Quanto mais importante a tarefa, maiordeve ser a preocupao na fase de treinamento. Por isso nos alarma verificara citao do relatrio Brierley por Margaretha Adiwardana, notandoque otreinamentoinadequadoestem17 lugar entreas26causasderetomoprematuro dos missionrios, mas no Brasil a causa nmero umI. Isso depecontraonossocostumebrasileirode"fazeremcimadojoelho". Tenhoouvido, no poucas vezes, aidia deque para ser missionrio no terceiromundo no preciso muita formao, basta carregar a Bblia e saber pregar.Hmesmoquempensequeaquelesquevoparamissesnesseslocaisremotos so os que no conseguiram se dar bem no Brasil.A verdade que para ser bem-sucedido em misses, como em qualquercoisa na vida, preciso preparao adequada. Quanto mais dificil e carenteocampo, maisserexigidodomissionrioemaioresseroaspressesparaofracassoeadesistncia. Talvezporissonossosmissionrios"scomaBblia"tmdificuldadesemrealizarumtrabalhosignificativoe17Antes do ideque permanea. O pastor Edson Queirs comenta: "Creio que com todo oempenho missionrio da Amrica latina, muitos tm se disposto missopor motivaes errneas: uns motivados por emoes, outros por umespritoaventureiro, algunsporcuriosidade, outrospordesejodeveroreino de Deus se espalhar, mas sem a capacidade de executar a obra. Porisso creio que os candidatos obra missionria deveriam ser submetidosa uma seleo forte e estrita"2. Neste captulo pretendemos pensarexatamentesobre essa seleo e a preparao para a misso. Trataremosda preparao antes de ir para o campo em suas vrias vertentes.1. Convico de chamadaVerificamos queafaltadechamadoasegundacausaderetomoprematuro entre missionrios dos Novos Povos Enviadores (o Brasilentre eles) no j referido relatrio. Conhecendo as dificuldadesenfrentadasnoscamposmissionrios, principalmentenotrabalhocompovos no-alcanados, fica evidente a importncia da convico dechamada. Haver momentosem queisso tudoqueo missionrioterpara se firmar. Essa convico ser sua tbua de salvao. Se no a tiver,certamente afundar.Gostaria de propor alguns pontos para ajudar na definio da chamada.Reconheo que se trata de um assunto muito pessoal e como tal dificilser 100% objetivo, mas h aspectos que podemos considerar.1.1 - Em primeiro lugar, referiria atividade na obra de DeusSempre me parece estranho quando algumque no coopera naigreja se sente chamado para misses. como aquela velha idia de quesalvamoscertaspessoasdandoa elasresponsabilidadesnaigreja. Seoindivduo no mostra interesse em ministrar na sua comunidade, se nomostra amor pelos perdidos entre seu prprio povo e famlia, como quevai ministrar numa terradistante, entreum povo estranho?Minha meera muitosbia nesse aspecto. Quandolhe referia minha chamada paramisses, ela gentil, mas firmemente,lembrava-me que a misso comeaaqui e agora. Campo missionrio no lugar de se fazer turismo. Tambmnoo jeito paraseresolvera situaodeum jovem problemtico naigreja.Se tiver problemas no Brasil, eles certamente tendem a aumentarnumaterradesconhecidasobostressdaadaptaocultural. Devemosreconhecer queumchamadocoerenteaquelequesurgenocorao18Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!dealgumque j estengajadonaobra. Seocandidatoestativonasuaigreja, esteser o primeiro passo para confirmar a honestidadedochamado e comear a preparao.1.2 - Em segundo lugar, colocariaa necessidade da submisso autoridadeotrabalhomissionriofeito, regrageral, sobadireodeumamisso ou igreja. No campo raramente estaremos sozinhos. Normalmentehaver equipes missionrias. Anecessidade de trabalhar emgrupoe respeitar a autoridade algo fundamental nesse contexto. Muitosproblemasseriamevitados se na fasede "chamada" fosseverificada acapacidade docandidato de trabalhar em equipe e respeitar superiores.Soldadosinsubmissos frentedebatalhastrazemproblemasparasimesmos e para o resto das tropas.1.3 - Em terceiro, lembraria a disponibilidade para treinamentoNestecaptulo,em quefalamosdepreparao, pareceredundncia,mas preciso referi-lo. Jovens candidatos a missionrios tm a tendnciade pensar que o mundo vai acabar se no forem para o campo amanh. Aidia de passar anos estudando ou treinando os apavora. Querem sair parao campo dentro de, no mximo, um ms. Mas os anos de treinamento noso de modo algum desperdcio. Cada conhecimento adquirido pode semostrar vital na obra a desenvolver. Uma vez no campo, a oportunidadede treinamento acabou. Portanto, a hora de se preparar antes de seguir.Precisamoscomearamudaranossamaneiradepensar nessareaereconhecer como Bertil Ekstromque: "Particularmente naAmricaLatinaatendnciaenviar pessoasantesqueestejampreparadas, emvez de mant-las esperando e treinando o tempo que for necessrio"3.1.4 - Por ltimo, eu referiria vida de comunhoNesta sociedade das coisas instantneas h cada vez menos nfase nasdisciplinas espirituais. A simples meno do tema traz arrepios na colunademuitos. Masavidadecomunho, quevemsobretudodaoraoedoestudodaPalavra, serfundamental nasobrevivnciaeeficinciamissionria. Deusfalounopassadoefalahoje. CreioqueoEspritosussurra maisdoque grita. Para ouvi-lo preciso tempo. Nose podebuscar Deus esporadicamente e pensar quevamos entender sua voz. OSenhorestmaispreocupadocomonossocarterdoquecomnosso19Antes do ideservio. Quando somos o que ele quer, mediante uma vida de comunhoativa, notemos dificuldadeemsaberosplanos deDeus. Oser devepreceder o fazer e o falar.Ouvir Deus umpouco como escutar uma emlssao de rdioemondas curtas. No d para sintonizar uma vez e esquecer. Hnecessidadeconstante de sintoniafinaparanoseperder ocontato.Umcandidato a misses semvida devocional est, possivelmente,apenas sob o efeito de um apelo emocional. Desse modo, ele est longedepreencherasnecessidadesdeumfuturoobreiro. Perguntei acertolderevanglicoafricanosobreoqueeleachavaimportanteparaummissionrioantesdevirparaocampo. Suarespostafoi: "Ffirmeevida comprometida".Neste ponto os pastores e lderes de juventude tero papel fundamental.Orientar aqueles que aparecem com uma chamada sua funo. Questionar,ajudar, aconselhar sim, mas faz-lo de formafranca e honesta. Orientar notemendoexpor asfalhase apelando ao bomsenso. Issos por si j seriadecisivo na triagem dos muitos que surgem com chamada missionria.2. Preparao acadmicaQuando se fala de preparao logo se pensa em seminrio ou InstitutoBblico. Certamenteessaumadasetapasimportantesdapreparao.Hoje, felizmente, temosmuitasescolasnoBrasil queoferecemcursosnareademissiologiaouteologia, comespecializaoemmisses. Amissiologia como cincia cresceumuito. Temosmuitoslivros, apostilase fitas de treinamento, o que bom.H, no entanto, nessa abundncia dematerial, anecessidadedeescolher bemparaobter amelhorformaopossvel. No pretendo mencionar escolas, o que poderia se tornarinjusto. Vou apenas delinear princpios para uma boa escolha.Emprimeirolugar, ocandidatoter toda a vantagemse escolherumcursodemissesoudemissiologiaemvezdeumcursoteolgicooubblico. Asmatriasabordadastmmuitomaisavercomofuturotrabalhonocampoeoaproveitamentosermuitomaior. Cursoscomprofessores conceituados ajudam, pois temos nomes sonantes nessareaemnossopas, masessanodeveser anicafontedereferncia.Algumas questes teis so: Algum dos professores foimissionrio?Halgum missionrio treinado nesta escola que est fazendo um trabalho de20Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!valor? Tenho como contatar antigos alunos a fim de saber como avaliama formao que tiveram?Lembro-me de meus tempos de vestibular. Sabia que queria fazermedicina, mas onde?Estava em Portugal e s havia 5 faculdades a escolher.A mais famosa era a de Coimbra, a maior era a Faculdade de Medicina deLisboa. Conversei com vrios mdicos e procurei obter informaes sobrea formao e o efeito prtico da escola na vida mdica. Queria uma escolaque no somente me desse um ttulo, mas que me desse experincia e mepreparasse para o trabalho na prtica. Aps vrias consultas fiquei admiradodeverqueaindicaocaasobreaFaculdadedeCinciasMdicasdeLisboa, por vrias razes. No era minha primeira e nem segunda escolhaaprincpio, mas, depois das consultas, foi aquecoloquei notopodaspreferncias. Felizmente foi essa a faculdade que cursei e no me arrependoem nada, pois as indicaes recebidas se mostraram corretas e muito teis.Escolher umaescola quetemmissionrioscomoprofessorese temantigosalunosnocampo umaformadegarantir quevai receber noapenas boa formao acadmica, mas conhecimentos prticos quepodero ser de valor inestimvel no campo. Muita gente pode dar boasaulas e seguir currculos, mas apenas aqueles que estiveram na frente debatalha sabem na pele o que que o missionrio vive e sente. dessesconhecimentos tambm que estamos atrs.Outro fator importante naescolha daescola o ladoprticodaformao. Aescola oferece oportunidades de estgio? H algumaligao entre a escola e alguma instituio missionria? H algum apoiodadopela escola aosantigosalunosqueagoraestonocampo? Umaescola que j prev um tempo de experincia transcultural pode oferecervantagens em relao a outras.Regrageral, oalunoseformaesegueparaocamposemquehajaqualquer ligao sua escola. Mas essa ligao com os ex-alunos poderser umagrandefontede beneficiopara a escola e o missionrio. Seriauma formadefornecer apoio pastorale tcnico aoobreiro nocampo ereceber informaes da linha de frente que podem revolucionar a formade ensinar. Poderiamser testadas teorias e confirmar regras numarelao que beneficiaria a todos.Ainda na rea de formao acadmica, seria muito til se o candidatofizesse algum curso de aprendizado de lnguas como o curso de Lingstica21Antes do idee Missiologia da misso ALEM que pode ser feito em Braslia. H outroscursos do gneroque tambmfornecembases para oaprendizadodalngua. Essas medidas facilitaro bastante o trabalho no campo.3. Sustento financeiroConstatamos, infelizmente, que"asagnciasbrasileirasmencionamafaltadesustento financeirocomo a principalcausa isolada deretornodemissionrios", cita TedLimpic4 OBrasil umpasrico, masumacamadaexpressivadopovoevanglicono. OBrasil umpasrico,masnemsempreaprioridadedasigrejasestemmisses. Quandoasdificuldades apertam, o primeiro corte em misses, e l se vai o sustentodo missionrio. Logo, fica evidente que ter uma base segura de sustento parte importante da preparao para o campo.Umfator decisivo aqui que ocandidatoseja membroefetivoeatuante de uma igreja. Isto se prende ao que dissemos sobre o chamado.Fica muitomaisfcil a igreja se comprometer deformafiel e delongoprazo com uma pessoa conhecida e ativa na igreja. Candidatos sem igrejaoucompouca ligaos suas igrejas estaroemrisconeste quesitoto importante. Obter sustento prioritariamente entre aqueles que oconhecem bem deveria ser um dos alvosdo candidato. Fica mais difcilparar de enviar oferta a um missionrio que conheo pessoalmente e quefez um bom trabalho onde vivo.No contato com irmos ligados a negcios e empresrios, os candidatosdevemestarpreparadosparadaraelesboasrazesparacontribuir. Umprojeto bem organizado e estruturado vai certamente despertar mais interessequeumsimples"vamosganhar almaspara Jesus". Hmuitaspessoasdevalor em nossas igrejas, homens de negcios e empresrios de sucesso queesto dispostos a investir em misses, mas so homens e mulheres que lidamcomummundodealvos emetas bemdefinidos. Amensagempregadahabitualmentepelosmissionriosnasigrejasnovai sensibiliz-los. Umaapresentao sria e bem preparada de um projeto missionrio com "cabea,tronco e membros" vai ser bem mais interessante. Ter algum material escritopara deixar comeles tambm. Elaborar umfolder simples com a apresentaodo projeto e os alvos bem delineados pode fazer maravilhas.Lembro-medeumempresrioquemeconvidouaseugabinete. Naigrejaemque oencontrara, estavavestidomuitoinformalmentepelo22Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!quefiquei surpreendidocomoluxodeseuescritrio. Elemerecebeumuito bem, mas estava claro que no me chamara para ouvir um sermo.Ele era um homem ocupado, cheio de compromissos e negcios. Minhafuno era convenc-lo de que valia a pena investir emmisses eparticularmentenomeu projeto. Felizmentetiveboa orientaodeumamigo que me despertou para a necessidade de estar preparado para essasocasies. Tinha umfoi der comfotografiase ata plantadoprojeto. Oirmoouviu minha exposioenofimfezumadoaodemaisde50mil reais, quepermitiuaconstruodeumaescolacomdezsalasdeaulas e uma clnica com dois consultrios. Vale a pena estar preparado!Nunca sabemos quando uma situao destas vai surgir. Falaremos sobrea preparao do projeto missionrio mais detalhadamente no captulo 3.Outro fator que pode ser decisivo na questo do sustento a escolha daagncia missionria. Mais uma vez notamos que hoje o Brasil tem vriasagnciasenviadorasdemissionrios,bem comoigrejasdegrandeporteque o fazem de forma independente. Isso tem o seu lado positivo e revela afora que nosso pas tem para se tomar uma bno para o mundo por meiodaevangelizao. Todavia, como nopoderia deixar deser, humladonegativonessecrescimentodeagncias missionrias. Nemtodas estoconseguindosustentar missesemissionrioscomodesejvel. Talvezhajaumpoucodetriunfalismoemaumentar onmerodemissionriossem dar condies aos que j esto no campo. Talvez fosse possvel maiorcooperao a fim de que as brechas no sustento fossem colmatadas.Para comear hqueconhecer a polticaeconmicadamisso. Halgumaregranadeterminaodosustentomissionriooudependedoque este vai levantar? Caso dependa s do que vai ser levantado, qual a quantia necessria para a sobrevivncia no campo escolhido? Deve senotar queasnecessidadesvariam bastante decampo para campo. Quala percentagemdolevantadoqueficacomamisso?H casosemqueo missionrio levanta uma boa oferta, mas esquece que parte dela deveservir missoeseusgastos. Comoserfeitooenvio?Ocampoemvistatemestruturasbancriasquepermitamajudarpida?Noscasosemquenohcomoenviarverbarapidamente, omissionrioprecisaestarprovidoparaemergncias. Seas igrejasquesecomprometeramcomomissionriofalharemamissotemalgumaformade"segurar"omissionrio?Halgumaregraouclusulaquetemcomopunioocortedosustentonocampo?Esteassuntonopodeserignorado. Hquehaver clarezapor partedamissoeocandidatodeveperguntarpara ficar avisado. Como os outros missionrios dessa misso que esto23Antes do idepresentemente nocampo encaram a questo dosustento? H algum ex-missionrio dessa misso a quem se possa argir nesse sentido?Estasquestespodemparecerlevantardvidassobreasorganizaesmissionrias e suahonestidade. No ocaso. Estamos falando de missionriosque vo deixar suas terras. Iroviajar para lugares distantes, muitasvezescomesposaecrianaspequenasequepoderoamanhsedescobriremgravesapertosfinanceiros, sem terema quemrecorrer. Infelizmente j visituaes de cortar o corao, por isso insisto que o candidato deve buscartransparncia num assunto to bsico. Um missionrio que vive preocupadocom seu sustento dificilmente vai ter condies mentais e espirituais para sededicar de corao inteiro obra. Vai se tomar um problema para os outrosmissionrios na sua regio e um mau testemunho para os nacionais da terra,crentes e descrentes. Por tudo isso, enfatizamos a necessidade do candidatose preparar financeiramente para o campo.4. Agncia missionriaJ falamos sobre a escolha da agncia enviadora do ponto devistado sustento, mashoutrosaspectosaconsiderarnessaescolha.Lembremos que desentendimento com a entidade enviadora uma causaderetomoprematuro, logo, aescolhadamissoquevai representaralgo decisivo.Inicialmentesecolocaaquestodeiraocampoporumaagnciamissionria ou diretamente enviado pela igreja. Cresce a idia de que oideal ser enviado pelas igrejas. Mas essa posio tem suas desvantagens.Se pode parecer maisprximo domodelo bblico e oferecer umapoiomaiscalorosoaomissionriopor outroladosopoucasasigrejasquetmcondiesdearcar sozinhascomoscustosdoenvioesustentodemissionrios. Issoexcluiria asmilharesdeigrejasdemdioe pequenoporte que ficariamde fora do esforomissionrio. Esse desperdcioimpensvel resolvido pela existncia de organizaes que permitem sigrejas fazer misses em conjunto com suas co-irms em Cristo.o problema da igreja que envia missionrios independentes passa peladificuldade de dar apoio logstico. Ser preciso todo um grupo de pessoastrabalhandonasedenoBrasil parapermitir queo missionriooperenocampo. As igrejas tmessanoo?Atquepontoessas igrejas tmacapacidadedeapoiar equipes nocampocomtodos oscustos que isso24Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!acarreta? E o regresso do missionrio? Haver meios para sua reintegraona sociedadebrasileira? Almdo que, depender de uma s igreja tem semostrado perigoso do ponto de vista do sustento. Se mudar o pastor, mudaa filosofia da igreja e muitas vezes a primeira rea a sofrer misses. Comtodos os ventos de doutrina que soprampelo Brasil, relativamente comumas igrejas mudarem suas nfases e normalmente quem paga o preo dessasmudanas aquele que est longe no campo e nem sabe por que o salriodeixou dechegar. No estamos com isso negando o valor e o esforo dealgumas igrejas que sozinhas esto fazendo um belo trabalho missionrio,apenas chamamos a ateno dos candidatos para os riscos dessa opo.Tendo ditoisso, passemos squestes pertinentes escolha de umaagnciamissionria. OcandidatonoBrasiltemvriasopes. Algunsdetalhes a considerar seroos seguintes: linha denominacional, tipode liderana, qualidadedas relaes misso-missionrio, projetos emandamento e testemunho dos efetivos dessa agncia.Aprimeira questo denominacional. Se o candidato temfortesconvices doutrinrias deveria buscar uma misso que trabalha nessa linhade pensamento. Muitas misses se apresentam como interdenominacionais.Mas qual a verdadeira linha doutrinria dominante? Pode ser que o lderno campo escolhido seja muitofirmenessa questoapesar da misso noo ser, logo, as possibilidades de problemas so grandes. Se a agncia notiver cor doutrinria entocom quedenominaotrabalha nocampo?Sevierem a fundar igrejas, de que tipos sero? Responder a isso pode facilitar acompreenso da linha que seguida e orientar o candidato a saber se vai sesentir vontade nesse meio. Sou totalmente a favor da cooperao das vriasdenominaes no campo missionrio, mas sou tambm realista para saberque nem sempre isso possvel e em alguns casos cria problemas dificeisde serem ultrapassados.Creio por isso mesmo que o candidato deve sabermuito bem qual a linha doutrinria da agncia que pretende representar.A segunda questo o tipo de liderana que a misso usa. lideranahierarquizada? H liberdade para o missionrio direcionar sua atividadeou deve seguir estritamente as orientaes dos lderes? H lderesnocampoqueocandidatoescolheuouelepioneiro?Alideranaacessvel ou est ocupada demais para lidar com o candidato? Recordo-memuitobemdeterescritoaoProAlcidesTelesdeAlmeidaquandotinha10 anos de idade me apresentando a ele como futuro missionrio.Euera entofilhodemissionriosnos Aores, ilhasportuguesaseProAlcideseraoSecretrioExecutivodaJuntadeMisses Mundiaisda25Antes do ideConveno Batista Brasileira. Pois ele me respondeucomumabelacarta, bem pessoal, incentivando-mee abrindo asportasdesua missopara mim. Para um garoto de10 anos aquilo foi muito importante.A relao que vai haver entre o missionrio e a misso vai depender,sobretudo, do tipo deliderana vigente. Se o candidato no sabe muitobemoquepretendefazer nocampoeestdispostoaserguiadonaescolha do trabalho, pode muito bem se adaptar a uma liderana forteeautoritria que determina onde, como, quando e porque as coisas devemacontecer. Se por outro lado um indivduo com uma viso clara e fortedo que pretende fazer, deve buscar uma liderana mais aberta ao dilogoe que d maior liberdade aos missionrios nas suas escolhas e decises.Precisamos dos dois tipos de missionrios e dos dois tipos de liderana.Umaformademedirotipodelideranavai ser pormeiododilogodireto com esta. Tambm ser til o contato com missionrios que estonocampoeoutrosque jregressaramaoBrasil eserviramcomessamisso. Noexageradorealar essaquestovistoque estarelaomisso-missionriopodefacilitaravidanocampoou torn-lamesmoimpossvel.Uma ltima sugestona escolhada agncia otipode projetosemqueestenvolvida. Hmissesquesofortesemtrabalhosmuitoespecficos. Seaagnciaestacostumadacomoenviode mdicos-missionrios e o candidato professor de seminrio talvez deva procuraroutra instituio onde seus dons e talentos sejam mais valorizados. Saberquetipodeprojetosamissotem em andamentovai darumaidiaseo sonho docandidato ser ou no bem recebido no seio desta. Ter umanoo clara do que se espera do missionrio no campo antes de partir vaidiminuir bastante as tenses iniciais.Depois deescolhidaaagncia, servaliosoque omissionrioseidentifique e passe a ver a misso enviadora como sua famlia. Ele devese sentir parte dela e no ver a misso como um simples meio para chegaraocampo. Dessemodosualealdadeser bem maior e os retornosporparte da misso tambm.5. Cuidados com a sadeA preparao na rea da sade tem sido bastante negligenciada pelosmissionrios. Parece haver uma certa idia de que uma vez no campo a26Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!sadevai setornar deferropor alguma aoespecial doSenhor. Notenhodvida dequeDeus protegee podecurar. Todosconhecemosasrecomendaesclarasqueforamdadasa WillianCareynosentidodedesistir de sua misso ndia, pois sua sade no suportaria o clima. Elefoi e viveu na ndia por dcadas. Conheo uma candidata a misses que,confrontada com crises epilpticas, orou ao Senhor de forma clara:"Sedevosermissionriaentomecuredesteproblema..."edizendoissojogou foraa medicao e nunca mais teve nenhum ataque, embarcandonuma vida de mais de 30 anos de trabalho missionrio valoroso.Infelizmente conheo tambm casos de mlSSlOnanos quenegligenciaram essa questo e alguns por pouco no pagaram com a vida.Um jovem que tinha epilepsia desde a infncia simplesmente esqueceu amedicao ao sair para o campo. Seu quadro se agravou, complicado poruma crise de malria e esteve aos ps da morte. Outro,com problemascardacos, deixoudetomar os medicamentosaoseguirparaumpasonde o clima quente e mido era particularmente difcil para seu estado.Foi parar nos cuidados intensivos de um hospital numa cidade pobre doterceiro mundo, uma experincia que jamais esquecer.O que queremos salientar aqui que o candidato deve se prepararno mbito da sade antes de seguir para o campo. Comeando por umbomcheck-upparaexcluir problemas atentodesconhecidos. Setiver problemascrnicoscomodiabetes, hipertenso, alergias, asmaou bronquite, insuficincia renal, reumatismo ou doenas sseas,Doenas hormonais e outras, deve consultar seumdico sobre asimplicaes de ir morar num outro pas. Se precisar de medicao embase permanente,deveverificar senoseu pasadotivovai encontraressesmedicamentos. DependerdoenviodemedicaodoBrasil entrar por umcaminhoque temmuitos riscos. Primeiroporque difcil mandar remdios do Brasil e, segundo, porque emmuitoslugares o correio no seguro.O check-up deve incluir todos os membros da famlia, sem deixar deforaascrianas. Elas tmmaior poder deadaptao, masso tambmmaisvulnerveissmudanasdeclima, alimentaoe gua.Verifiquea necessidadedevacinasobrigatrias paraondeestindo. Emmuitospases nose pode entrar sem certas vacinas comoa da febreamarela.Pea informaes na Embaixada do pas para ter a certeza de no estaresquecendo nada. Pretendemos desenvolver o tema sade no campo deforma mais completa no captulo 6.27Antes do ide6. Apoio pastoralEis outro tema que fontecomum de reclamaes dos missionrios.Quase todos que conheci, de um modo ou de outro, reclamavam da faltade apoio pastoral. Creio que h passos a serem dados na preparao quepodero ajudar a minorar esta dificuldade.No Brasil estamos acostumados a ter uma igreja em cada esquina. Aconcentrao de evanglicos cresce a olhos vistos.H programas de TVevanglicos quase a todo instante. H estaes de rdio evanglicas commsica e pregao 24 horas por dia. H muitos e bons livros, de autoresconsagrados nas nossas livrarias eumcrescente nmerode editorastrabalhandoespecialmente parao pblicocristo. Hrevistase jornaisevanglicos sendo vendidos nas bancas de jornal. H fitas K7 e de vdeocom mensagens disponveis de bons pregadores e de cultos de adoraobemcomouma inflaode cantores egrupos musicais de todos osgneros, do samba ao pagode, do sertanejo ao rock, todos evanglicos, oupelo menos assim se intitulam. H congressos e retiros com palestrantesfamosos em lugares aprazveis a cada fim de semana.Comesta variedadedematerial disposio, difcil imaginarmosqueaosair doBrasilo missionriovaiviver emlugaresondea aridezespiritual total e assustadora. H pases inteiros onde no h um livrocristo para comprar. Muitas vezes no haver outra igreja para assistir eo missionrio chamado a dar de si, at o ponto da exausto, sem recebernada em retornonocampo espiritual. entoque ele vai sentir a faltadeapoioespiritual, poisaocontrriodoquecorreemcertoscrculos,os missionrios so pessoas comuns, comsuas fraquezas e falhas.Missionrio tambm desanima, tambm fica triste;missionrio tambmprecisadepastoredeajudaespiritual. Eis algumas sugestesparaocandidato preparar uma boa retaguarda antes de seguir para o campo.Umaspecto essencial, apesar de pouco visvel, a equipe de intercesso.Trata-sedaretaguarda espiritual daquelesirmoseirmsquesuportamverdadeiramenteo trabalhoemorao. Noestoufalandodaquelesqueoram esporadicamente por misses ou duranteas campanhas. No estoufalandodaqueles que apenas oram por ns. possvel orar por algum eno estar intercedendo. Estou pensando naqueles que tm um verdadeirodomou ministriodeintercesso. Quese preocupamemorar fielmentetodos os dias e que so sensveis voz de Deus parainterceder emmomentos de crise, que muitas vezes nem entendem.28Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!Recordo-medeummomento particularmentedificil denossa vida nocampo quando nosso primognito, Gabriel, estava muito doentecom umainfecointestinal. Comoslimitadosrecursosminhadisposiotenteitratar dele. O hospital da cidadenoinspirava a menor confiana e sabiaque no podia contar com mais ningum. Nessas horas ser pai e ser mdicoquaseinsuportvel. Eu oviadefinhandodiantedemeusolhosesentiaqueescapava deminhasmos. Ento, numa noiteem queodesespero jcomeava a tomar conta, orei em agonia: "Senhor, tem misericrdia, tu sabesque no tenho foras para isso, no estou preparado para perder Gabriel". Foium grito de angstia na noite africana e o Senhor ouviu. No dia seguinte, meufilhocomeou a melhorar e hoje est a rondando o computador enquantoescrevo, querendo saber se vou ter tempo para ir jogar bola.Oimportantedessaexperinciafoi oquedescobri maisdeumanodepois, quando visitava uma querida igreja em Campos, Rio de Janeiro.UmadenossasintercessorasforatocadapeloEspritoSantopara orarespecificamentepeloGabriel certanoite. Noentenderaporque, masrespondera presso do Senhor. Orou e chorou em agonia sem entendera razo, mas profundamente angustiada e clamando pela vida de Gabriel.Orou e clamou at que sentiu paz para descansar. No dia seguinte ligoupara nossa misso, masnoconseguiusaber nada. S depoisdevriassemanas, recebeuumacartafalandosobreosucedido. Quandovisiteiaigreja, conversamossobreoassunto, verificamosasdatasefoi comemoo que confirmamos que ela fora chamada a interceder exatamentequandoprecisvamos. Experinciascomoestatmserepetidovriasvezes, graas a Deus!Sei que muito do que temos feito aqui na Guin-Bissau foi resultadoda orao de nossos intercessores. Nas guerras muito maior o nmerodepessoasdeapoioqueodesoldados. NaprimeiraguerradoGolfohavia nove pessoas no apoio para cada soldado na linha de frente5.Fazermisses fazer guerra espiritual. No v para a batalha sem apoio.Criar e manter umgrupo de intercesso parte importante dapreparao para a obra missionria. Descobrir os intercessores vaidepender de visitas s igrejas e ateno ao interesse das pessoas.Intercessoressonormalmentepessoassimples, dopouconasvistas,masso fiise conhecem a vidadeorao. A manuteno desse grupode oraovai depender de cartas informativas regulares que soocompromissodomissionriocom o seuapoio. Nosaia para o camposem um exrcito de orao na retaguarda.29Antes do ideUm segundo aspecto do apoio pastoral, que pode ser preparado antesdaida ao campo, o despertamento de pessoas que possam ajudar como envio dematerial evanglico de carter devocional. Podem ser livros,revistas, K7's ouvdeos quetenhammensagens ealimentoespiritualparaomissionrio. Essecompromissodeveser tambmregularafimdeser eficaz. Nosmomentosdetristeza e sequido uma lufada de arfrescoreceber um livro novo ou uma boa revista que vai trazer palavrasde conforto e nimo. Sei bem disso pela instrumentalidade de algumasirms que fielmente me mandamrevistas evanglicas que so umblsamo no meio das dificuldades.Ainda nesse campo, mencionaria a necessidade de se ter umconselheiro ou amigo a quempossamos escrever e abrir o corao.Muitas vezes o missionrio vai sentir coisas que dificilmente podero sercompartilhadas com pessoas no campo. Podese dar o caso dese ter umcolega missionrio mais experiente por perto que servir de apoio mas, nocaso de isso no acontecer, pode ser til ter um lder comprometido e srioa quem se possa prestar contas e de quem se pode receber advertncias,exortaes e palavras de apoio. Esse tipo de apoio deveria ser dado pelaagncia enviadora, mas a verdade que nem sempre isso vai ser possvel.As tarefas administrativas ocupam todo o tempo e o missionrio sente umaenorme falta de ter com quem se abrir. Para isso servir esse apoio pastorale poder ser decisivo em momentos de dificuldade.Cabeaqui umanotasobreamudanadomissionrio. As agnciasnormalmentelhediroquelevesoessencial oquedefinirocomoaBblia e alguma roupa.Mas o obreiro precisa de material de trabalho. Setiver uma biblioteca, vaisentir grande faltade seus livros, pois estessoum auxlio no trabalho e no apoio pastoral. Vai precisar de seus recursospessoais como instrumentos musicais, material para trabalho infantil,apostilas de livros tcnicos, caso seja profissional. No vai ser fciltrabalhar sem o seu material, por isso insista e leve-o. Seja razovel parapoupar nos gastos, mas lembre-se que, a maioria das coisas que consegueno Brasil, voc no vai encontrar no campo. Se seu objetivo um trabalhode longo prazo (pelo menos alguns anos), vai precisar desse material.7. Atividades prvias no campoPor ltimolugar, cito a necessidadede uma expenencia prevIadetrabalho antesdaida aocampo. Muitasmissespedemou mesmo30Captulo I -Prepare-se, prepare-se, prepare-se!exigemqueocandidatotenhapelomenos alguns meses ouanos deestgio missionrio no Brasil. Trata-se de uma boa exigncia, pois serveparaavaliar acapacidadedetrabalhodoobreiro, suaflexibilidade eadaptaoasituaesnovas, suacapacidadedetrabalharemequipeesua verdadeira convico de chamada.Muitos problemas no campo podem ser evitados se o candidato passarpor um trabalho noBrasildomesmo tipo que pretende empreender nocampomissionrio. Afinal, senuncaatuounessareaemsuaprpriaterra, o que nos garante que vai conseguir faz-lo num contexto culturaldiferente, sob inmeras presses novas?bom que o candidato entenda que esse trabalho em primeiro lugaruma proteo para ele.Vai permitir entender o quesente nessetipo deatividade, quecrisesenfrentaoucomoasenfrentaesetemmesmoacerteza de que isso que deseja fazer. Em alguns casosser o perodode descobrir e desenvolver dons e talentos que de outra forma poderiamficar ocultos. Noperdadetempo. Ocampoomundoeasearacomea no meu vizinho e se estende at os confins da terra.ConcluindoAntes de ir ao campo missionrio, confirme sua chamada verificandoseugraude envolvimentonotrabalhoda igreja, suadisponibilidadedeaceitar liderana, suavontadedeprocurartreinamentoesuavidadevocional. Pesquise as escolas que treinam para o trabalho missionrioe escolha a que lhe oferecer melhor relao teoria-prtica. Analise bemas V ~ 1 S agnciasmissionriaseprocureentotrabalhar comaquelaque est dentro de sua linha doutrinria, tem uma liderana prxima doseuestiloe adotauma boa polticadesustento. Angariesustentadoresque lhedemseguranaemtermos de sustentonocampo. Faaumbom check-up mdico para toda a famlia. Verifique como ir lidar comqualquer doena crnica nonovocampo. Procureintercessoresquesecomprometam com voc e seu trabalho, pessoas que possam lhe enviarmaterial devocional devalor em base regular e um conselheiro a quempossa estar ligado enquanto estiver no campo.No incio de 200I, participava do congresso missionrio "Proclamai",no Rio de Janeiro, quando fui abordado por um jovem bem vestido quese diziavocacionado para misses. Tinha um ar srio, compenetrado e31Antes do ideinspiravaconfiana. Estavapensandoemirparaafaculdadeouentoiniciar logo o seminrio. A idia de fazer um curso e ainda o seminrio oassustava um pouco. Mas o que mais me surpreendeu foia forma comocolocousuas dvidas. De ummodobemarticuladoeprovavelmentemuitoestudado, ele perguntou: Pastor, na sua opinio, quais as trscoisas que devo fazer antes de ir para o campo missionrio?Senti grande empatia comsuapreocupao, mas nopude evitarresponder com um sorriso largo:as trs coisas so:prepare-se, prepare-se e prepare-se!32Captulo II"M ~ b" "as eu nao sa la..."Fiz-me tudo para com todos com ofimdepor todos os meios salvar alguns"1Corntios 9.22"O missionrio no pode comunicarsem levar em conta a cultura, pois a comunicao estinexoravelmente ligada cultura" IDavid 1. Hesselgraveculto tinha sido abenoado. O trabalho parecia estar avanandomuitobem. Meupai planejara ter quealugar casaecomearcultos emnossasaladeestar, mas quandochegamos comopioneiros da obrabatistaIlhaTerceira, nos Aores, jhavia casaalugada eum salo para oscultose atuma famliainteressada. Tudoporque o Senhor providenciara o necessrio por intermdio de um grupode crentes americanos da base militar de Lajes. As coisas estavam indobem mais rpido do que o esperado. Um programa de rdio estava dandoaconhecer amensageme haviaentusiasmoealegrianoscoraesdepapai e mame. Mas nofimdo culto veio a crise. Anica famliaquefreqentavaera a deSr. Manuel e dona Rosa eela noviera. Quandopapai perguntouaorude lavrador oporqu, ele respondeucomseusotaque ilhu marcado e difcil de entender:Antes do ide- Ela no veio porque est aborrecida.Logo em casa, podia se ver a preocupao no rostode meus pais. Oque foi que aborrecera a dona Rosa? No conseguiam se lembrar de nadaespecfico. Teriam passado por ela na vila sem a ver e ela ficara zangada?Teriam esquecidoalguma data importante para ela? Teria ela entendidomalalguma coisa quedisseram?Foraalgumgesto, atitudeou maneirade vestir? Por mais que dessem voltas cabea, no pareciam encontraralgo que explicasse o aborrecimento da senhora. Seria ela daquele tipoproblemticoque seaborrece compoucacoisa? Seriaomaridoqueinterpretaramal aatitudedelaeestavaescondendoumaoutrarazo?Para um casal chegado a pouco no campo, e ainda mais pioneiros,estedilemaaparentementepequenopodiasergraveeparalisante. Eramosprimeiros convertidos. O que fazer?Depois de pensar, conversar eorar, chegaramconclusoque shaviaumacoisaafazer. Confrontarasituao. Deveriamir senhorae descobrir o que se passava. Era a atitude bblica, andar na luz, saber oque havia e, se preciso, desculpar-se. E foram.Posso imaginar os pensamentos cruzandoacabeadeles emaltavelocidadeeosreceiosquealimentavamnocurtotrajetoentreaviladaPraiada Vitriaea freguesiadaCasadaRibeira, a apenasuns5km. Mas qual no foi a surpresa quando foram muito bem recebidos naporta pelo casal de velhinhos. Estavam muito contentes com a visita do"SenhorPastor". Meuspaisforamentrandoeseacomodandonasalaapertada da casa com um forte cheiro de lenha queimada no ar.- Ouvimos que a senhora estava aborrecida, irm Rosa (tentoumame).-Ai,nemme fale (retrucou a boa senhora). So umas enxaquecasque me do volta e meia e fico muito aborrecida.Meus pais se entreolharam. Acreditoque deviamestar cheios devontade de cair na gargalhada. Ento era isso? Na linguagem dos Aores"aborrecido" queria dizer doente ou adoentado. Mas eles no sabiam...Equalquer missionriotervrias histrias semelhantes acontar.Mesmo num pas irmo como Portugal, falandoa mesma lngua e comcostumes e culturas to prximas, possvel acontecer algo assim, agoraimagine o que vai suceder numa cultura e lngua completamente diversas34Captulo 11- "Mas eu no sabia... "da nossa? Por isso mesmo, nesta fase em que ainda estamos falando sobrepreparao, queremos abordar a preparao no campo. H coisas a fazerantes de ir para o campo, como vimos no captulo anterior. Mas, quandosechegaaocampomissionrio, htambmaspectos importantes depreparao antes de iniciarmos propriamente a obra de evangelizao.Os missionrios brasileiros tma fama de seremmuito ativos.Soosquemaisrapidamenteseenvolvemnotrabalhoelogoqueremmandar relatrios comnmeros bonitos. Esse aspecto positivo denossa disponibilidade para o trabalho esconde, no entanto, alguns fatospreocupantesparaaobramissionriaeficaz. Umdelesdizrespeitoprecipitao. Chegareseenvolverlogoquerdizer queomissionriono se deu tempo para adaptao cultural e estudo da lngua. Talvez porissonossosobreirostmafamadenofalarbemaslnguaslocaisedeorganizar igrejasiguaissdoBrasil. Outros deixamo trabalho pelametade debaixo do efeito do choque cultural.Creio que a razo principal desta pressa em comear o trabalho estligadaaocontextoevanglicobrasileiro. Por umladotemosummeioevanglicomuitodesenvolvidoehiperativonoBrasil. Omissionrio,muitas vezes, estava acostumado a um ritmo verdadeiramente alucinanteem sua cidade e igreja e ficar meio "parado" para estudar cultura e lnguano lhe parece correto. Por outro lado, as igrejas querem retorno de seuinvestimento. Quantas igrejas e crentes noBrasil esto preparados paraler uma carta do missionrio que est h seis meses no campo falando deseus progressos na lngua e mais nada?No entanto, o estudo dalnguaprioritrioetrabalhoduro. Seomissionriopassar seuprimeiroanoexclusivamentenessetrabalho, farbem. Squeparaissotemosquetrabalharamentalidadedas igrejasecomearaensinarsobreasquestes concernentes ao alcance de povos com lnguas e culturas muitodiferentes danossa. Pastoreselderes demisses nas igrejaspodemajudaramudaressaformadeverascoisasedarotemponecessrioaosnossosmissionriosparaa preparaonocampo. Vejamosalgunsaspectos dessa preparao.1. Aprendizado da lnguaNuncaserdemais insistirnaimportnciadoaprendizadocorretodas lnguas nativas para uma boa comunicao do evangelho. Ns,os evanglicos no Brasil, criticamos muitas vezes os missionrios35Antes do ideamericanos por nofalarembemoportugus, esquecendooquantonossalngua dificil. Por outrolado, novalorizamososmissionriosquefalambemalnguadeCames. Quando, porm, anossavez,devodizer que nemsempre temos dado umbomexemplo. Estamosacostumados a enviar missionrios para a Amrica do Sul onde a lnguano dificile como temosa mania deque falamosespanhol, lsurgiuum enorme contingente de missionrios falando "portunhol". Houve, noentanto, negligncianoaprendizadodaslnguasnativas. Porexemplo,noParaguai qual a percentagem de missionrios que se deu ao trabalhode aprender o guarani? Mas aqueles que trabalharam l sabem que essa a verdadeira lngua do corao da maioria dos paraguaios.Voltamos pois ao princpio. Aprender bem a lngua nativa essencial.Isso vai implicar, em muitos casos, a necessidade de se aprender mais deuma lngua. Por exemplo, noSenegal, pas da costa ocidental africana, alnguaoficialo francs. precisofalarofrancsparaa comunicaoem geral e para o tratamento com as autoridades. Mas, se quiser ser maiseficaz, o missionrio alm do francs vai ter que aprender a lngua tnicado grupo com o qual vai trabalharque pode seruolof, fula ou outra lngua.Um missionrio delngua inglesa teria ainda mais dificuldade na Guin-Bissau. Aprende-senormalmenteo portugusporquealnguaoficial.Mas, aochegar aBissau, descobrequea lngua dasruas o crioulo. Equando for trabalhar nas aldeias ter que aprender as lnguas nativas.oaprendizado da lngua trabalho cansativo e muitas vezesfrustrante. dificilencontrar bonsauxiliaresporqueaspessoassabemasualngua, masnosabemensinar. Aoencontrarumauxiliarnessareaprecisocuidadocomoaprendizadodepalavrasreligiosas, seoindivduo no for crente. Poder estar lhe dando palavras e conceitos desua religio. Ateno tambm prtica de pregar usando tradutores no-crentes ou recm-convertidos. O risco de dizer o que no se quer e de sermal-entendido enorme.Muitas vezes novai haver nenhummaterial escritoque ajude noaprendizado da lngua escolhida, nem dicionrios ou mesmo gramticas.H,no entanto, excelentes manuais ensinando tcnicas de aprendizagemde lnguas que o obreiro deve levar para o campo. Uma vez no pas, deveprocurar manuais das respectivas lnguas, se existirem. No se deveesquecerdepedirajudaaoutrasmissesmaisantigasnocampoeaosmissionrios experientes que podero dar sugestes e emprestar materialtil para essa tarefa. Um obreiro consciente deve colocar a possibilidade36Captulo11 - "Mas eu no sabia... "depassar seuprimeiroanoexclusivamentededicadoaoaprendizadodalngua e cultura. O ideal seria comear a se engajar em algo mais apenas nosegundo ano, reservando, no entanto, ainda um bom tempo para a lngua.Mais uma vez, ressaltamos, o tempo de estudo no desperdcio. Saber aslnguas ser fundamental para um trabalho completo e bem realizado.Umanotafinal. Estcientificamenteestabelecidoquemaisfcilaprender umalnguasevoc j estudou outras. Logo, serinteressantequeumcandidatoamissesaproveite, aindanoseu pas, paraestudaruma lngua estrangeira, mesmo que esta no seja diretamente til para oseu futuro campo. Ser uma forma de criar hbitos e regras para o estudoe tambm se preparar para essa dificil tarefa. Alm do mais, estudar umalngua como ingls ou espanhol sempre til para o futuro.2. Escolha do grupo a evangelizarLembro-me de ter ficadobastante perplexo quando cheguei GuinBissau pela primeira vez. Era filho de missionrio e j estava trabalhandohalgunsanoscomomdicoe pastor, lera muitoslivrossobre histriademissese missiologia mas, apesar de tudoisso, minha idia era quedeveria evangelizar os guineenses. Descobri de forma um tanto dolorosaquenohaviaumpovo guineense. Havia, sim, umlequeenormedepovos, raas e culturas muito distintas.Osbalantassoanimistas, comsociedadehorizontal esoligados agricultura. Os fulasso muulmanos,com estrutura social altamentehierarquizada e so ligados pecuria. Entre essas duas etnias h muitosressentimentos. Entre os mandingas a sociedade patriarcal como entreosdemaismuulmanos, masentreosbijagshconceitosmatriarcaisvincados. As diferenas levamtambmdificuldade de convivncia.Povosrivaisforamobrigadosaficar juntosdevidoafronteirascriadaspelos colonizadores. Mas os dios e rivalidades esto presentes logo porbaixoda pele. Esse omotivode tantasguerras tribaisnomundo. Fuiobrigado a entender issos no campo e tivequebuscar na presena doSenhor uma definio quanto ao grupo tnico que deveria evangelizar.Pode ser que o leitor candidato a misses j tenha uma etnia ou povoemmente, mastambm podeserque, tal comoeufiz, julguequeschegar eir pregando. DavidHesselgravenotaque"(...)aestratgiasadiatalvezditequeaabordageminicial sejafeitaamembrosdeum37Antes do idesgrupo(... )"2, ele chamaaissocontatos evangelsticos seletivos. Aeficcia e mesmo a viabilidade da obra entre povos no-alcanadospassa pela evangelizao de cada uma dessas etnias e esse trabalhodeve ser particularizado. No posso aqui dizer como escolher uma etnia.EssaobradoEspritoSanto, masqueriaqueosfuturos missionriosentendessema necessidade de fazer umtrabalho especficoquanto aetnias para poderemser mais eficazes. Realmente aPalavra nosdiz queemCristo nodevehaver barreiras tnicas, masesse passospodeserdado depois da evangelizao e do novo nascimento. Esperar que povosrivais sejuntemsobomesmotetoparaadoraoalgo que precisaesperar pela ao do EspritoSanto nos coraes dos j convertidos.3. Conhecimento da culturaEvangelizar passapor comunicar oevangelho, e comunicaopassapor transmisso deumamensagem queseja entendida. Essa comunicaonoser possvel seomissionrionoentender oscostumeseamaneiradepensardopovodaterra. Numdoslivrospreferidosdosestudantesdemissiologia, "Costumes eCulturas", l-senaintroduo: "Sequisermoscomunicaroevangelhoparaumpovocujomododevidadiferentedonosso,precisamos estar em condies de analisar as razes de sua maneirade pensar, agir e viver"3. Vem da toda a preocupao da missiologia em falarsobre contextualizao, antropologia missionria e conhecimento da cultura.No pretendo aqui elaborar sobre isso, j que temos excelentes tratados quefalam sobre a matria. Gostaria apenas de dar algumas sugestes para ajudarno estudo da cultura e na aculturao do missionrio.3.1 - Convivnciamais que bvio que para se conhecer uma cultura precisamosconvivercomessepovo. Masessapremissaporvezesesquecidanocampo. Asaudade da terra natal, a formaode grupos de missionriosda nossa terra, o acesso a canais de televiso por cabo, ainternet, tudoisso joga contra o corte do cordo umbilicaldo missionrio terra me.Surgemverdadeiros clubes de obreiros de certa nacionalidade quese renemcomregularidade assustadora e gastamhoras notando asvantagensda sua terra sobreo campo queescolheram e osabsurdosdacultura local. Outros se perdem navegando e surfando por sites caa deinformaes da santa terrinha. Tudoisso dificulta aintroduo em umacultura nova. No queremos criticar o amor ptrio nem negar o valor de38Captulo II - "Mas eu no sabia... "nos encontrarmos com colegas da mesma nacionalidade, mas deve haverbom senso se o objetivo mergulhar numa nova cultura.Morar fora deum complexo habitacional missionrio e longedeoutrosestrangeiros til. Reduzir o nmero de contatos com colegas pelo menos no perodoinicial tambm. Gastar tempo convivendo comnacionais deve serprioridade comopartedotrabalhode aculturao. Se for necessrio,pode-se at estabelecer um horrio para tal, de modo a no desperdiar otempo de forma improdutiva. Por exemplo, o missionrio passa a manhtrabalhando na lngua, tarde, testa seus conhecimentos e convive comopovo investindo, sobretudo, emouvir e procurar saber o que estacontecendo, o porqu, qual o significado e suas razes.3.2 - Material auxiliarOs livros, revistas e jornais da terra so uma boa fonte deinformaocultural. Lersobreahistriadopas, seusheriseepisdios famosos,conhecer o significado das cores da bandeira nacional ou outros smbolosdaterra. Ler eaprendercontostradicionaiseditadosdopovoajudamaentrar nacosmovisodaterraepodem renderpontosnumaconversainformal e at num discurso. Em muitos pases existem tratadosantropolgicos e sociolgicos feitos nos tempos em que esses pases eramcolniasdaEuropa. Essestrabalhos, apesar deumpouco ultrapassados,podemdar uma boa introduo no conhecimento das culturas locais.Tambm pode ser divertido e ilustrativo assistir a TV e ouvir a rdio local.Por regra os programasnacionais nosparecero montonose cansativosmas, por trsdeles, esta maneira dever e aformadeavaliar aculturalocal. Lembremosqueaquiloquepara nsbviopodenoser noutracultura. NaGuinBissau, por exemplo, entrealgumasetnias, umacasasuja de dejetos animais no sinal de falta de higiene da dona da casa, masderiqueza dodonoquemostra assim quetemmuitosanimais. Para umJula de meia idade, o grande sonho fazer a peregrinao a Meca e depoisficar o resto da vida sentado em casa recebendo visitas e sendo tratado comum verdadeiro rei. So vises diferentes. Precisamos conhec-las primeiroe procurar entend-las depois.3.3 - Casa e vida familiarOconhecimentodaculturavai passarporalgumas mudanas noscostumes do nosso lar. Pode ser que adotemos de algum modo parte dadieta local,quemudemos um pouco o arranjoda casa,que passemosaver o tempo de maneira diferente. Lembro-me que, sendo eu uma pessoa39Antes do idemuito orientada pelo tempo, desesperava-me com visitasquepassavamliteralmentehoras emminhacasasemter nadaespecial adizerouafazer. Para mim era uma interrupoinaceitveldemeutrabalhoe meestragavaodia. Lentamentefui entendendoqueera aformadeser dacultura local e fui relaxando e aprendendo a aproveitar essas visitas.Onde morar uma questo crucial para muitos. Concordo com PhilParshall quando afirma que "cada famlia deve ser franca com o Senhornesteassunto. Deveavaliarcomoraoas suasprpriasnecessidadesfisicase emocionais. O alvo viver o maisprximo possveldoestilodevida do povo a ser alcanado sem quehaja resultados adversosparaalgum membro da famlia. O equilbrio uma palavra-chave"4.Umjovemcasaldemissionrios chegou a um pasafricanomuitopobre e foilevado diretamente do aeroporto para uma aldeia no interiordo pas, sem gua, luz nem alimentao habitual. O missionrio veteranoque orientou esse procedimento tinha a melhor das intenes. O objetivoera mergulhar o casal imediatamente na cultura a alcanar. Infelizmentemergulhouocasal tambmnumaprofundadepressoqueresultounaperda de obreiros que poderiam ter sido muito teis. Em poucos mesesocasal estavaretornandoaoseupas de origem. OequilbrioaqueParshall se referia vai ditar que uma famlia viva diferente de outra. Cadaumdeve, comhonestidade, procuraroseumeio-termodentrodoalvocomumdeviverprximoaopovo. Unspoderoseadaptar vidanaaldeia, outros precisaro de casas mais ocidentalizadas. O importante estarem perto do povo e ministrarem eficazmente.Podeser queomissionrioresolvaadotar oestilodevestimentasda terra ouno. Isso vai depender do local e da cultura. H aindalugares onde isso muito importante, emoutros nemtanto. NostemposdeHudson Taylor, naChina, vestir-seecortarocabelocomoos chineses, foi revolucionrio no alcance deles para Jesus. Hoje,porm, a globalizao j mudou esse conceito em boa parte do mundo.Devemos lembrar que dificilmente as roupas por si snos tornaromais aceitveis culturalmente.J participei de reunies em que o nicovestido africana era um europeu, o que foi bastante estranho. A roupanodefinequemvocenemseestounoaculturado. Penetrarnacosmovisoeentender por que vemas coisas, comoas vem, overdadeiro desafio e, uma vez tendo iniciado essa compreenso, o povoperceber independentemente da roupa que estiver vestindo,pois comoPaul Hiebertdeclara "overdadeirotestedeidentificaonoo que40Captulo11 - "Mas eu no sabia... "fazemosnas situaes formais e estruturadas. como gastamos o nossotempo informal e os nossos pertences mais valiosos "5.o que foi dito sobre as vestimentas vale tambm para a adoo de umnomenativo. Muitosachambonitoeatromnticoreceberumnomenativo. Emalguns casos realmente significativo como na maneiraafetuosa que Mary Slessor era chamada de "Grande Me". Mas hcasos, como o deStanley, que ficouconhecidoentreosafricanos comoBula Matari, o"Quebrador deRochas", nomequedenunciavaseuusodeexplosivosesua faltadeescrpulosdeatirar em nativos. Um nometribal deve ser uma coisa natural. Pode ser adotado se vier com o decorrerda convivncia e normalmente demora bastante para ser adquirido. Ficamuitoestranhochegar eir escolhendoum nomenativoeseapresentarcom ele. Soar artificial e no vai ajudar na verdadeira identificao.4. IntegraoAlgunstmsugeridofases deadaptaocomoDonaldLarsonquedestacaafasedeAprendiz, essencialmenteligadalngua; afase deComerciante, quando se d uma maior troca de experincias e opinies;eafasedeNarradordehistriasemque omissionriocontaeouvehistrias que o ajudamna integrao ao contexto cultural6 tilrecordar que a forma como nos vemos vai ser diferente da maneira comoos nacionais nos vero. O missionrio costuma ter bem presente a noodaquilo que ele sacrificou para estar no campo missionrio. Traz desuaculturaevanglica uma idiade herosmoligadaobra missionria.Esperaqueospovosdaterraentendamoquantoestoganhandocomsua presena e o quanto ele abdicou para ser obreiro ali.Avisodaterraserinvariavelmenteoutra. Independentementedeomissionrioter ounomuitas posses, ele servistocomoalgumrico. Serconotadocomosantigoscolonizadoresporumladoecomos membros de organizaes como Naes Unidas ou uma ONG,organizaes de ajuda humanitria. Seja como for, ser visto como tendomuito dinheiro. Amaioria dosnacionais raciocina quese o missionriosaiu de sua terra rica e est ali numa terra to pobre porque tem algumavantagem financeira com isso. No esqueamos que muitas organizaesinternacionais pagam excelentes salrios a seus representantes em pasesdo terceiro mundo. Na frica Ocidental, por exemplo, todos os brancosso chamados de "Tubakos" quesignifica literalmente "cala verde" na41Antes do idelnguafula. Tratava-se das calas dos uniformes das tropas coloniais quedominaram essas terras. D para imaginar o que essa conotao faz pelaidentificao dos missionrios.Aprender a lidar comisso nemsempre fcil. Vai passar pelacapacidade domissionriose dar aconhecer. No sepodepresumirqueissoacontearapidamente. Seroprecisosmeses oumesmoanosparaqueaspessoascomecemaentenderumpoucomelhoras razesverdadeiras do missionrio. Pacincia e perseverana so palavras-chave. Lembremos quedurantedcadasosmissionriosna China eramconhecidos como "Diabos estrangeiros". Mesmo assim foram capazes deganhar os coraes de muitos para o Senhor de amor.5. Choque culturalE quando essa integrao no ocorre? Como lidar com o famigeradochoque cultural? No h uma resposta fcil, mas h caminhos a seremtrilhadosparaevitarasperdas causadasporessechoque. Umdeles entender que o choque inevitvel. Julgar-se acima dele ou vacinado novai ajudar.Conhecer e encarar a verdade sempre so os melhores passosdo que tentar fugir ou contorn-la.Entendamosquevaiser normal nocompreendermosmuitodoquevamosver eissovaicausar stress. Eu meviconfrontado comomdicocompessoas que, emestadoavanado de doenas graves, deixavamcentros urbanos onde havia tratamento e vinham para as aldeias onde nohavia possibilidade de salv-las. Isso me provocava sentimentos adversose mesmo raiva. No podia entender como podiam fazer algoque paramim s poderia ser classificado como tolice ou verdadeiro suicdio. Hojeentendo quetema ver com a cosmoviso deles. Suas vidasesto sobocontrole dos Irs (espritos territoriais) que tm domnio limitado. Essesespritos controlamapenas zonas pequenas prximas s aldeias, masestointimamenteligadossvidasdaspessoas. Voltaraldeiaumaformadeseaproximardaquelequeelespensampodersalv-los. Noesto se suicidando como eu pensava, mas tentando escapar. A verdade que tm muito maisf no Ir do que na medicina.omissionrio ocidental chega a uma regio islmica onde a poligamia a regra e se revolta. Para ele uma prtica errada e est essencialmenteligada sensualidade. Mas, no contexto oriental, a poligamia no tem tanto42Captulo II - "Mas eu no sabia... "a ver com sexo e sim com economia e status. Se o homem tem poder edinheiro, seria considerado falta de generosidade ter apenas uma mulher.Inclusive, tendo em conta que noIslo o homem que fica responsvelpela salvaoda mulher, seria antiticoe contra a religioumhomemrico no aproveitar a oportunidade de salvar vrias mulheres. Por outrolado,a questo econmica est sempre presente. Mais esposas significamais mo de obra e mais terras cultivadas, mais filhos e novamente maismodeobra. Trata-sedeuminvestimento. E pensandobem, serque,em certosentido, nomelhor a formadepoligamia oriental, emqueoindivduoassumeamulher e osfilhos, doquea poligamia ocidentalemque ele temcasos, amantes e namoradas, filhos ilegtimos, massassumeamulheroficial?Hemtodaincompreensocultural umacerta hipocrisia que complica ainda mais as coisas. No Brasil h muitospolgamos no assumidos...Masse ns no vamosentender muita coisa deles, tambm eles noentenderomuitascoisasnossas. Lembro-medaexpressodeespantode um africano em visita nossa casa ao olhar para uma embalagem deadoante. Tentamosexplicar queeraumasubstnciaqueadoavasemengordar. Para o nacional em causa no fazia sentido. Qual a utilidade deuma coisa que adoa e no engorda? No so eles adeptos de mulheresmaisfortes?No a gordura sinal de beleza e prosperidade? No vmas mulheres deles ao consultrio pedir medicamentos para ganhar peso?Por que algumgastaria dinheironuma substnciaque adoa e noengorda? Ele simplesmente no entendia...Essa falta de entendimento mtuo vai afetar o trabalho e muitas vezesa evangelizao. Quando se fez a traduo do evangelho para um dialetoafricanoinicialmente apalavramontefoi traduzida por "formigueiro".quenaquelqregiotudoplancieeelesnoconhecemmontes. Omissionrio julgava ter entendido, mas na verdade a palavra tinha outrosignificado. Imagineoquepensaramquandoleramque Jesus e seusdiscpulos subiram no formigueiro para a transfigurao... ou, sentou-seneleparaensinar... Ora, estashistriasquepodematserengraadasquando se referem a outros, perdem muito a graa quando os sujeitossomos ns. a que entra o choque.Hvrias descries dochoquecultural. Normalmente fala-se devrias fases. Inicialmentehoperodo do Turista. Tudo divertidoecolorido. Hmuitacuriosidadeetudopareceumagrandeealegreaventura. Mas o missionrio no turista. Logo vai ter que encarar a vida43Antes do idee vo acontecer episdios como os narrados acima e ele entra na fase quechamaria de Avestruz. Tenta se esconder, recua frente cultura local, ficadesorientadosem saber o que se espera dele.Normalmente nessa fasequecomeaoafastamentoeisolamentodomissionrio. Procuraficarmaisemaistempoemlugaresquelembremsua cultura ecostumes.Atendncia fechar-se e comear a fazer comparaes entre a sua terra e oscostumes locais. Se esta fase no for vencida, o missionrio acabar numperodo de autodestruio. Os sentimentos hostis vo crescer, o medo e adesiluso tambm. Vai ter receio de contatar o povo ou, pior ainda, podeficar com raiva por sentir que de alguma maneira eles tm culpa por seufracasso. Estes casosmais agudos costumamterminaremrejeiodotrabalho e fuga do campo. Mas, de volta sua terra, o indivduo se sentirfrustrado e fracassado.Afase de avestruz, noentanto, podeservencidaseomissionrioentender o que est acontecendo e se permitir alguns erros. Ser honestoao enfrentar seus sentimentos importante. Sobretudo no aceitar cair noisolamento. Esta fase necessita da ajuda de missionrios mais experientesedeveser encarada comnormalidadeparadarlugar fasedecrianaemquesevai iniciaraaprendizagem. Exatamentecomoumacriana,vo cometer erros, mas tambm iro progredir rumo desejada fasedeintegrao em que o indivduo pode ser considerado bicultural.Cada missionrio ter um"timing" diferente de adaptao. Unsparecemvencer mais depressa, outros precisamde mais tempo. Nofiquesecomparando. Faaseu"trabalhodecasa", procureavanarnaaprendizagemcultural e lembre-se que parte dapreparaoparaotrabalho. No inicie o trabalho propriamente dito enquanto no perceberque j entende razoavelmente a cultura a que vai ministrar.6. Trabalho evanglico nacionalOutroaspectodapreparaoquesefaz jnocampomissionrioumapesquisacuidadosadotrabalhoevanglicoque jexistenaterra.Essapesquisavai nosdarumanoomaisampladoquensmesmospoderemosfazer. Podeparecerdesnecessria, poisomissionriopodepensar: "Eu seio quequeroe voufazer diferentede todososdemais".Esta,alis, parece ser uma doena dos missionriosrecm-chegados aocampo. Lembra-me os alunos num curso de medicina. No primeiro ano s vaidade.Gostam de andar com o estetoscpio no pescoo e querem44Captulo11 - "Mas eu no sabia... "ser chamados de doutores e usar termos tcnicos de anatomia. No sextoano esto morrendo de medo porque sabem que dentro de poucos mesesteroosdoentessuafrentee jentenderamadificuldadedatarefa.Assim tambm,missionrios recm-chegados tm a tendncia deacharque vo revolucionar a evangelizao do pas e esto cheios deidias eentusiasmo. Seja como for, seria bom primeiro conhecer os trabalhos jexistentes.Visitar as igrejas e os projetos missionrios no pas muito inspiradoreinstrutivo. Saberdosveteranosquaisforamasmaioresdificuldades,quais soas maiores necessidades docamponoseuconceito, oqueverificaram qued certo e o que j sabem queno funciona. Noquerdizer quevamosimitar A ouB, masuma avaliaosria nosajudar acortar certas etapas e avanar mais rpido depois. Os missionrios commaistempodecampotmumavisobemmaisampladoqueopovoprecisaedoquepodeser feito. Permitir queabramnossoshorizontesvale a pena.Conhecer igrejas dirigidas por nacionais tambm muito interessante.Normalmente os missionrios gostam de ver essas formasdiferentes decultoeadorao, aprendemcnticosnovose, muitas vezes, sedoaliberdades que no teriam em seus pases. Mas o objetivo dessas visitas estudar formas e contedo. O que fazem? Como fazem? Por que fazemdesse modo? Isso me ensina algo sobre a melhor maneira de comunicara este povo? Que tipo de liderana a igreja nacional adotou? Pode ser queprecisemos mudar nosso estilo de liderar para algo mais compatvel coma forma de ser do povo. Por exemplo, a etnia em causa pode ter lideranapartilhadaesemostrar avessa alderesfortesou, pelocontrrio, podeapreciar exatamenteumlder queimperegrasedecises. Veja, tomenota, analise e deixe que isso faa parte de suas futuras decises quantoao tipo de trabalho que vai desenvolver.Que tipos de projetos missionrios existem no pas? Algum deles dognero que estamos pensando em implantar? Nesse caso, que problemasenfrentam?Comofoi quecomearam?Queimplicaesh emtermoslegais e autorizao governamental? H lugares em que os governos soabertos a quase todo tipo de ministrio missionrio. Em outros lugares,porm, hinmerosentraves. Conhec-losantesdedecidiroquevaifazer importanteparaevitardores decabea. Verifiquequetipodeimpacto evangelstico esse projeto est tendo. Devemos manter sempreem mente que somos missionrios e no uma forma disfarada de ONG45Antes do ide(Organizaono-governamental). Notemoscomoalvoapenasfazertrabalho social, mas levar a salvao. Saber de um projeto j implantado,se tem resultados prticos em termos de conquistar almas, ser, portanto,decisivo antes de formularmos nossos prprios projetos.ConcluindoUma veznocampomissionrio, lembre-se deque precisa detempopara se aculturar antes de comear a ministrar. Separe tempo significativoparaoestudodalngua. Procureconhecer aculturalocal pormeiodeconvviocomopovoe pesquisaemmateriais auxiliares. Definaemorao qual grupotnicovaievangelizar demodoa ser mais eficaz emseutrabalhoevisiteostrabalhosexistentestantomissionriosquantonacionais. Analiseosseuserros, acertoseaprendacomelestendoemvista a definio de sua estratgia missionria.Estavanumaaldeia fiilafazendoumavisitadecortesiaquandoumhomem se aproximou dogrupoonde eu estava e mostrouuma galinha.Olhei esorri semfazer comentrios. Passados uns minutos mostrou-me novamenteagalinha. Destavez sorri ecomentei queestavabemgordinha. Quando passados mais uns minutos, ele trouxe a galinhanovamente, fiquei umtanto contrariado e procurei ignor-lo. Nestemomentoumdosmeusamigos fitlascomentou quea galinha em causaseriaonossoalmooe, comohspededehonra, eraesperadoqueeuagradecesseevalorizasse agalinhapublicamenteparaque pudessempassaraoatodeprepar-la. Minhadificuldadeemfazer oesperadoestava na verdade atrasando a refeio. Mas eu no sabia...46Captulo IIIO propsito da misso"O homem sem um propsito como um barco sem leme"Thomas Carlyle"No fui desobediente viso celestial"Atos 26.19uandoo papa JlioIIencomendou a Michelangelo a pintura dotetodacapelaSistina, eletentouesquivar-se afirmandoquenoera pintor e sim escultor. Sugeriu Rafael para a obra, mas o papatantoinsistiuqueelecedeu. Naverdade, a situaofinanceiradopintorera precria e JlioIInoera propriamente o tipode homema quemsediziano. Seja comofor, quatroanosdepoisestava pronta aquela queconsiderada pelos especialistas a maior obra de pintura da histria da arte.A imensidade da obra at hoje maravilha todos que a vem. O trabalhorduo deixou Michelangelo envelhecido antes da hora. Ao terminar essetrabalhotinhaapenas 37anos, mas estavacansadoeemaciado. Seusolhos no podiam mais suportar a luz do sol e diz-se que s conseguia lerdeitado e segurando o livro por cima da cabea, pois fora nessa posioque trabalhara os quatro anos sobre os andaimes na Capela Sistina.Antes do ideoquepoucosecomenta, porm, queantes de iniciar apinturaMichelangelo mediu e mapeoutodo oteto emsua convexidade tocomplexa. Opapaapenas lhepediraquepintasseosapstolos, masogrande artista imediatamente visualizou no teto uma pintura muito maiscompleta que viria a ter 343 figuras em tamanho maior que o normal. Paracoloc-las no seu lugar, ele fez primeiro esboos de cada figura, usandomodelosvivose foi, ento, reproduzindo-os no tetouma a uma atquea obra estivessepronta parapintar. Inicialmente trabalhoucomalgunsajudantes, masasdiferenasdeestiloeramtomarcantesqueacaboudispensando todos e trabalhandodia aps dia sozinho. A principal razoquelevou Michelangelo a obter sucessoem tordua e monumentaltarefa foi porque desde o incio teve uma viso clara do que queria, umpropsito firme em mente e se manteve fiel a ele at o fim.Todos os grandeshomensdaHistria atingiram feitossignificativosporquetiveramumavisoclaradeseusobjetivos. Adefiniodeseuspropsitos os levouadiantenasendadosucesso. HenryFordsonhouque cada famlia americana teria seu prprio carro numa poca em que oautomvel era um artigo de luxo. Foi sua empresa quecriou o primeirocarro popular chegando a produzir, j em 1911, cerca de 500 mil unidadesa um custo de apenas 360 dlares cada.Joseph Lister foium mdicoingls que sonhou com cirurgias segurasnuma poca emque mais de 50%dos operados morria de infecohospitalar. Contra tudo e todos desenvolveu os princpios de assepsia quese usam at hoje e que tornaram as cirurgias seguras em nossos dias.O marroquino Ibn Batuta, aps uma peregrinao a Meca, teve o sonhode "viajar por toda a Terra" em plena Idade Mdia, quando a maioria dasviagenserafeitaapouacavaloeacarretavamriscosconsiderveis.Levou28anos viajandoportodoomundoconhecidosendoathojeconsiderado como umdos maioresviajantes detodosostempos, tendopercorrido o equivalente a trs voltas ao mundo. O livro de memrias desuas viagens um documento histrico altamente apreciado.Emmissesnofoi diferente. Livingstoneteveo propsito claro deabrir ointerior da frica aocomrcio e aocristianismo e, dessemodo,acabar com o famigerado trfico de escravos. Ele desvendou os segredosdo continente negro, colocou nos mapas vrios rios e lagos, sendo assimoprimeirohomembrancoapercorrerafrica, doOceanondicoaoAtlntico. O famoso trio de Serampore composto por Carey, Marshman48Captulo III - O propsto da mssoe Ward, pioneiros batistas na ndia, ficouconhecido por seu esforonapesquisa acadmica daslnguas, cultura e religio hindu, com o intuitode formar estratgias missionrias de sucesso. Hudson Taylor tinha umavisoclaradeseuspropsitosaocriar aMissodoInterior daChina.Sua organizao foi uma das mais bem sucedidas na histria de missesabrindo o interior da China para a evangelizao.Agora imagine um homem que traz malas e bagagens para a rodoviria.Elevem carregado de tal maneira que mal pode andar. Atrs dele vem aesposa e trs filhos pequenos. Tudo indica que vo encetar longa viagem.Mas, quando algum o pra para tentar saber aondevai, o sujeito respondecom um ar meio perdido: "No sei".Ora, embarcar semsaber odestinoloucura, todos reconhecem.Querer fazer misses sem um propsito claro, tambm. No admira quealiteraturaestejacheiadeopiniesconcordantes. Ofamosoestadistae primeiro-ministro da Inglaterra, BenjamimDisraeli, dizia que "osegredodosucessoconstnciaepropsito". T.T. Munger declarouque: "No h caminho de sucesso que no passe por um propsito claroeforte". OsprofessoresdaUniversidadedeWisconsin, Ramon Aldage BuckJoseph, referemque "os verdadeiros lderes desde Gandhi aLeeIacocca eMadre Teresa conduziramosseguidoresapoiadosnumavisoestratgica, tinhamumamissoclara, cultivaramvaloresfortes,moldaram comportamentosespecficos, conquistaram objetivosamplose formularam estratgias para atingir tudo isso"I .Esta verdade, como no podia deixar de ser, est tambm nas Escriturasporque toda a verdade provm de Deus. Assim, desde o incio vemos queDeus criouomundocomumpropsito. Depois criouohomemcomum propsitoe deuaohomem uma viso clara desua misso. O planoda salvao tambmestava estabelecido desde tempos imemorveis.PodemosnotarcomfacilidadequeopadronaPalavraqueDeusdpropsitosbemdefinidosa seusservos. Nodeveria construir umaarcapara escapar do dilvio. Abrao deveria ir para Cana a fim de iniciar umnovo povo. Moiss deveria libertar o povo doEgito e gui-los at a terraprometida. Josu deveria derrotar os povos cananitas e instalar o povo naterra. O Senhor chamava e dava a viso. No havia dvida quanto ao quedeveriam fazer.Jesussabiaqual erasuamissodeformaclara. EleadeclarounoinciodoministriocitandoIsaas: "evangelizarospobres, proclamar49Antes do idelibertaoaos cativos e restaurao de vista aos cegos, parapr emliberdadeos oprimidoseapregoar oanoaceitvel doSenhor"(Lucas4.18 e 19). O Mestre deixou claro aos discpulos seu propsito de ir cruz(Mateus16.21) e combateu aqueles que quiseram tir-lo desse caminho(Joo18.11). Ele tinha a noo perfeita da misso cumprida (Joo17.4e 19.30)edeixouinstruesclarasaosdiscpulosqueincluamoquefazer (testemunhar, pregar, ensinar, batizar, curar, expulsar demnios,falar novaslnguas),quandofazer(e recebereis virtudeao descer sobrevsoEspritoSanto) e ondefazer(Jerusalm,Judia, Samaria e atosconfins da terra).Omaior exemplode obra missionria depois de Jesus, oapstoloPaulo, tambmnos deixou o mesmo exemplo de propsito claro eestratgia missionria. Donald MacGravan em "Bridges of God" e DavidHesselgraveem "Plantar Igrejas" concordam quePaulo tinha"um planodeaodeliberado, bemformulado, devidamenteexecutado, baseadonaobservao e na experincia (...) desenvolvido sob a orientao do EspritoSanto e sujeitosua orientao e controle"2. EHesselgrave passa atrabalhar exatamente o "ciclo paulino" em seu excelente livro sobre comoPlantar Igrejas. Do mesmo modoLarry Pate afirma que "assim como emqualqueroutroempreendimentoimportanteaevangelizaodosgrupostnicosno-alcanadosrequerumplanejamentoefetivodeestratgias"3.Ficapoisbastanteclaroque, antesdeiniciaraobra, omissionriodevedefinir seus propsitos ou sua viso. Mas o que isso?Nas palavras de umdos maiores especialistas emtreinamento delderes, John Haggai, "uma viso uma imagem clara de algo que o lderquer que seu grupo seja ou faa"4. Parafraseando, diramos, que viso uma imagem clara daquilo que o missionrio quer