003 XPTO (2)

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A Infecção Sentimental Contra –Ataca Grupo XPTO Paulo Michelotto Permitam-me babar um pouco. Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem merece. E creio que – dos que vi até aqui - esse era o grande espetáculo para abrir o Festival. Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil? O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula Magna!- de Teatro. Então que abra o próximo Festival. Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a humildade nos permitir - nosso ofício seja também o de participar um pouco como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim. O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando sua obra.. Só posso adorar. Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!... AH!... OH!... Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?. Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos. Quer saber mais? Vá assistir.

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A Infecção Sentimental Contra –AtacaGrupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem merece.E creio que – dos que vi até aqui - esse era o grande espetáculo para abrir o Festival.Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula Magna!- de Teatro.Então que abra o próximo Festival.Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a humildade nos permitir - nosso ofício seja também o de participar um pouco como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim.O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando sua obra.. Só posso adorar.Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!... AH!... OH!... Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?. Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos.Quer saber mais? Vá assistir. Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena cena- que mais parecia uma pequena passagem entre cenas - em que robôs trombam uns com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se transformando em uma guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que finalmente se rompe ao tentar pescar o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do próprio XPTO. A de crianças que recriam o Universo.Beijos para cada uma delas, pois me comovem.Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.O mundo será bem, melhor depois disso.