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Povos e Línguas •
Rompendobarreiras
Pág. 20
Ariovaldo Ramos
Potencialmente fracosRonaldo Lidório
Uma tensãodesnecessária
Igor Miguel
Disponível em:
ANO 2 • Nº 9 • POVOSELINGUAS.COM.BRPOR UM BRASIL MISSIONÁRIO
A TRADICÃODA RELIGIÃO
AFRICANA
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2 • Povos e Línguas Asas de Socorro conta com seu apoio para fazer muito mais!
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Povos e Línguas • 3
246 ultrassons (novidade)
415 cortes de cabelo
1360 consultas médicas
1820 procedimentos de enfermagem
1947 procedimentos odontológicos
429 Bíblias distribuídas
431 visitas às casas
715
crianças e adolescentes ouviramhistórias bíblicas
2125 pessoas assistiram ao Filme Jesus
Este sorriso tão bonito...
é para te dizer
obrigada
Os ribeirinhos agradecem a sua oferta!
Asas de Socorro conta com seu apoio para fazer muito mais. CONTRIBUA!www.asasdesocorro.org.br/tamojunto | (62) 4014-0323
EVANGELIZAÇÃO | SAÚDE | MOBILIZAÇÃO DA IGREJA
O Projeto IDE 2015 aconteceu entre os
dias 14 e 24 de Julho, na pequena cidade
de Prainha, às margens do Rio Amazonas,
Região Oeste do Pará. Mais de 200
pessoas vestiram a camisa em
benefício dos ribeirinhos.
ESTE ANO O PROJETO IDE REALIZOU:
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4 • Povos e Línguas
“Pede-me e eu te darei as nações por herança e os confns da Terra por tua
possessão.” (Salmos 2:8)
EQUIPE
Breno Vieitas | Direção-Geral | [email protected]
Jullyana Pimenta (MTb 19117 MG) | Diretora Executiva | [email protected]
Natalie Rocha | Assistente de redação | [email protected]
Raicle Ferraz | Relacionamento institucional | [email protected] Cançado | Finanças/ Circulação | [email protected]
Samuel Matos | Diagramação e Arte
REVISÃO
Versão Final
CORRESPONDENTES INTERNACIONAIS
Olegário Gaspar (Nova Zelândia) | Tágory Figueiredo (Alemanha) | José Godoi (China)
COLUNISTAS:
Ariovaldo Ramos | Igor Miguel | Luís Fernando Nacif Rocha | Ronaldo Lidório
PARTICIPAM DESTA EDIÇÃO
André Souza | Antonia Leonora van der Meer | Breno Tonon | Dora Bomilcar de
Andrade | Eguinaldo Hélio | Flávio Ramos | Felipe Fulanetto | Gustavo de Souza
Borges | Jonathan Silveira | José Carlos Alcântara | Marcelo Gualberto | Patrícia
Varella Silva Teixeira | Raquel Emerick | Sadler Lopes | Wesley Thiago Reis
CONSULTORES
Paulo Bottrel | Jeremias Pereira | Luís Fernando Nacif Rocha | Ariovaldo Ramos |Ronaldo Lidório | Paulo Mazoni | Cassiano Luz
A Revista POVOS E LÍNGUAS é uma publicação do Grupo Povos e Línguas.
Todas as matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores.
Editorial
ategorias, rótulos, divisões e interesses são formas de selar as
diferenças que marcam as relações humanas. As palavras de Pauloecoam e lançam uma base sólida para transitarmos em meio aoscontrastes. “E vos revestistes do novo homem que se refaz para o plenoconhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não podehaver grego, nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, es-cravo, livre; porém Cristo é tudo em todos.” (Cl 3.11).
Cristo preserva a identidade do homem e restaura sua capacidade deolhar nos olhos e enxergar o outro como um igual. Ele resgata a dignidadee o valor que podem ser notados pelo contraste entre culturas, formas,expressões e corações. Deus criou a diversidade e suas inúmeras mani-festações; Ele ensina seus filhos a lidar com as diferenças e a valorizá-las.Afinal, o amor é o vínculo perfeito dos imperfeitos (Cl 3.14).
É verdade que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus(Rm 3.23), pois, em Adão, todos morreram, mas em Cristo todos os quecreem são vivificados (1 Co 15.22). Jesus fez questão de quebrar osmais fortes paradigmas e ainda o faz, em nossa geração, por meio doSeu Corpo, a Igreja.
Sendo assim, continuamos trabalhando para encurtar distâncias e fazerpontes para a realização efetiva da Grande Comissão (Mt 28.19). Ao avan-çar pelas próximas páginas, você vai poder sentir minimamente a frieza daguerra no Oriente; ser apresentado aos maoris, os indígenas da Nova Ze-lândia; compreender a dinâmica da espiritualidade africana; conhecer maissobre a Igreja Chinesa; entender o risco dos guetos missionários; notar adiferença do olhar do cristão para o olhar do turista e vai dar um grande
salto, ao quebrar a tensão entre a missão e a apostolicidade da Igreja.
Estamos contados entre os de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9)!
Entre iguais
C
Rompendo barreiras
Ariovaldo RamosPág. 10
Oferta missionária
Luís Fernando Nacif RochaPág. 30
Potencialmente fracos
Ronaldo LidórioPág. 40
Tensão desnecessária
Igor MiguelPág. 64
Colunistas
Jullyana Pimenta | Diretora Executiva
Fale ConoscoCentral de [email protected](31) 3657-9054
povoselinguas .com.br
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O antídoto da indiferença
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Povos e Línguas • 5
20
História dasMissões Cristãs 12A pequena semente
Cuidado Integral 16Vasos de barro
Povos NãoAlcançados 18O povo maori
Escuta Missionária 34China
A fome na Síria e a fome do mundo
Pág. 8Circular
Segure a ondaPág. 26Mídia e Reino
Além das evidências
Pág. 38Missão e Adoração
Índio urbano
Pág. 42Missões Urbanas
Um leão por dia
Pág. 46Profissionais em Missão
O olhar que determina a ação
Pág. 54Grupo Povos e Línguas
A TRADICÃODA RELIGIÃOAFRICANA
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6 • Povos e Línguas
Quem Somos
Grupo Povos e Línguas é formado por pessoas de diversos ministérios. É um es-
paço aberto interdenominacionalmente para refletir sobre o Evangelho no aspecto
missionário, tendo Jesus Cristo e Sua Grande Comissão como o centro dos inte-
resses e a condição básica para rmar parcerias entre as igrejas e as agências missioná-
rias; entre pessoas que compreendem que, juntos, podemos ir mais longe pelo objetivo de
levar o Evangelho de Jesus Cristo aos conns da Terra.
Investimos esforços na dinâmica de relacionamento entre pastores, igreja local, voca-
cionados, agências e campo missionário. Dispomos de diversas estruturas de comuni-
cação e, especialmente, de cinco ferramentas utilizadas no processo de mobilização da
Igreja Brasileira: Escuta Missionária, Programa de TV, Revista, Treinamentos em Vídeo e
Workshops Estaduais. Por meio desses recursos, o Grupo trabalha para promover a mo-
bilização e, denitivamente, ver o Brasil se posicionando como uma verdadeira plataforma
de envio missionário, contando com mais de 40 milhões de evangélicos.
Temos a visão de missões tradicionalmente compreendida e a mentalidade da missio-
nalidade entre diversos atores. São empresários, prossionais liberais e outros que com-
preendem que, ocupados ou não com um ministério eclesiástico, temos o único chamado
de fazer com que o nome de Jesus Cristo seja anunciado a toda criatura, bem como deimplantar o seu Reino entre nós.
Da mesma maneira, nossos conselhos de referências teológicas e de agência trazem
a segurança de sempre avançarmos com a certeza de que todas as etapas estão sendo
cumpridas. Enquanto isso, trabalhamos dentro do alvo coletivo, respeitando sempre a
realidade de cada ministério e sua visão missionária.
GrupoPovos e Línguas
O
A Revista Povos e Línguas não é produzida como objetivo de obtenção de lucros. Toda a sua
produção é custeada por parceiros que fazemparte do Grupo e acreditam na relevância dessainiciativa. Grande parte dos exemplares produzi-dos é doada para líderes brasileiros e distribuídagratuitamente em eventos relacionados ao universo missioná-rio. Caso deseje ser um patrocinador ou um parceiro, entre emcontato conosco pelo telefone (31) 3657-9054.
Juntos podemos ir mais longe, por um Brasil missionário!
acesse com seu smartphone
Por um Brasil missionário
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Povos e Línguas • 7
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8 • Povos e Línguas
A fome na Síria e a fome do mundoBraços cruzados diante da missão
Circular
aneiro começou com mais uma
tragédia: imagens de crianças
sírias famintas, esqueléticas, há
dias sem comer, chocaram o mundo
mais uma vez. Atrás de sse infortúnio
está o bloqueio do fornecimento de
alimentos imposto pelas tropas de
Bashar Al-Assad e pelas forças rebel-
des que militam contra e le.
No meio do conflito, cidades inteiras,
como Madaya, ficaram isoladas. As
organizações humanitaristas tiveram
grande dificuldade para obter autoriza-
ção do governo para enviar alimentos
e remédios para as cidades sitiadas.
A proibição do fornecimento de
alimentos a essas famílias, além de
ser moralmente reprovável, é conside-
rada uma evidente violação do DireitoInternacional Humanitário. Em 1949, as
Convenções de Genebra estabeleceram
o núcleo duro das chamadas normas
de guerra. Nelas, definiu-se a proteção
mínima a ser garantida às “pessoas
que não tomem parte diretamente das
hostilidades”. É o caso, por exemplo, da
população civil que está nas áreas atin-
gidas pelos conflitos militares, na Síria.
As guerras são c atastróficas por si
só, mas seus efeitos podem ser muito
mais devastadores quando as “regras
do jogo” não são seguidas. Infeliz-
mente isso é o que ocorre na Sír ia. A
imprensa internacional está fazendo
severas críticas ao tratamento cruel
e desumano adotado pelas p artes
envolvidas no conflito.
As agressões contra a população
civil configuram crime de guerra e
sujeitam os responsáveis a julgamen-
to do Tribunal Penal Internacional,em Haia, na Holanda. Entretanto, nem
isso parece intimidar os beligerantes.
No fim das contas, o Comitê Interna-
cional da Cruz Vermelha pôde distri-
buir alimentos e remédios às famílias
carentes de Madaya. Entretanto, issonão bastou para solucionar a fome de
400 mil famílias na mesma situação,
em outras cidades da Síria.
Estima-se que, no mundo todo, mais
de 60 milhões de p essoas tenham
sido obrigadas a se de slocar entre
refugiados, asilados e solicitantes.
Muitos procuram muito menos do que
melhorar sua situação econ ômica:querem simplesmente sobreviver.
Igualmente trágica é a angústia
existencial pela qual passa a huma-
nidade. A “pós-modernidade líquida”
gradativamente rompe valores univer-
sais. Não há uma substituição, mas
uma abolição deles.
Agora o mundo assiste estupefato à
consequência mais atroz da “abolição
do homem”: o declínio da capacidade
de se sensibilizar. Ignorar as dores do
mundo pode até parecer mais confor-
tável, mas o “ide” é prioritário. Preci-
samos resistir à indiferença para não
comprometer a relevância da Igreja no
mundo. As pessoas têm fome, e nós, a
Igreja, temos uma missão.
J
Tágory Figueiredo
Mestre em Direito Internacional. Advogado,membro da Ordem dos Advogados de Portugale do International Action Team da Law Society ofEngland and Wales. Atua como missionário bivoca-cionado da Igreja Batista Central de Belo Horizontena Alemanha. Casado com Carolina Schwab e paido Daniel e da Catarina
Regime sírio autoriza acesso humanitário à cidade sitiada de Madaya
F o t o : S A P O
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Povos e Línguas • 9
A cada 24 horas, 37 milmuçulmanos morrem,
partindo para umaeternidade sem Deus.
Ajude a transformaressa realidade.
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www.m3.org.br
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10 • Povos e Línguas
Quando o erro é eclesiológico
Coluna
omaremos como ponto de partida
o discurso de despedida de Jesus,
que está no capítulo 16 do livro
de João. Concentre-se no trecho em
que Jesus promete a vinda do Espírito
Santo: “Mas eu lhes afirmo que é para
o bem de vocês que eu vou. Se eu nãofor, o Consolador não virá para vocês;
mas se eu for, eu vou enviá-lo. Quando
ele vier, convencerá o mundo do pe-
cado, da justiça e do juízo. Do pecado,
porque os homens não creem em mim;
da justiça, porque vou para o Pai, e
vocês não me verão mais; e do juízo,
porque o príncipe deste mundo já está
condenado.” (Jo 16.7-11).
Ao dizer essas palavras, Jesus estáse preparando para partir e afirma
a seus discípulos que sua ida vai
beneficiá-los. A promessa da vinda
do Espírito Santo significa o início
de uma nova fase, pois eles passa-
rão a ser guiados pelo Consolador,
uma presença que estará com eles o
tempo todo e vai instruí-los “em toda
a verdade” (Jo 16.13).
De acordo com Jesus, sob a orientação
do Espírito Santo, os discípulos seriam
instrumentos de propagação do Evan-
gelho do Reino ao mundo. Infelizmente
há cristãos que veem a ação do Espírito
como independente da Igreja. É como se
Ele prescindisse dos recursos do Corpo
de Cristo em Seu ministério. Esse é um
grande equívoco e precisa ser corrigido!
A igreja, pensam, está ali com suas
celebrações, sua liturgia, seus encon-
tros - desencontros também - e sua
agenda social. E o Espírito Santo lá
fora, no mundo, está levando homens
e mulheres à conversão, aumentando o
rebanho das igrejas.
Eis o grande erro, pois quando Jesus
fala do Espírito Santo, Ele o chama de
“outro Consolador” (Jo 14.16). Cristo
apresenta duas ideias fundamentais: a de
que Jesus se via como um consolador e
a de que o outro Consolador continuaria o
trabalho que Ele iniciara nos discípulos e
por meio deles.
O Espírito opera na Igreja e por inter-médio dela. Portanto, se a missão dEle
é convencer o mundo “[...] do pecado,
da justiça e do juízo” (Jo 16.8), é natural
esperar que Ele conte com o Corpo de
Cristo para essa obra: “Ora, vós sois
o corpo de Cristo e seus membros em
particular.” (1 Co 12.27).
É óbvio que a Igreja não tem como chegar
ao âmago da questão, no centro nervoso
das decisões, onde cada um diz sim ou não
ao convite ao arrependimento e à conver-
são. Esse lugar, no recôndito de cada ser
humano, está fora do alcance de qualquer
um de nós, mas, até a chegada desse mo-
mento crucial, qual é o papel da igreja?
O apóstolo Paulo disse que somos
cooperadores de Deus (1 Co 3.9). Como
T
Rompendobarreiras Além disso, passamos a
contar com a ação do Es-pírito Santo que traduz aocoração humano a Palavraproclamada: é a Sua açãoefetiva que conduz o serhumano ao arrependimento
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Povos e Línguas • 1
fazemos isso? Com entrega e submissão
incondicional ao Espírito Santo; por meio
da pregação do Evangelho, pelo serviço ao
mundo e por meio da oração.
“Mas recebereis poder, ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas tes-temunhas tanto em Jerusalém quanto em
toda a Judéia e Samaria e até os confins
da terra.” (At 1.8). Essas foram as últimas
palavras de Jesus e elas comunicam uma
profecia, que é um gabarito tanto para o
profeta quanto para aquele que o segue.
Para o profeta, porque põe em xeque a sua
credibilidade; para o seguidor, porque, se
afirma que é seguidor do profeta, ele tem de
estar alinhado com a profecia.
O profeta é Jesus de Nazaré, o Cristo,
o Filho de Deus. Sua profecia se cumpriu
cabalmente e, em apenas dez dias após Sua
declaração, o Espírito Santo veio sobre os
discípulos e os colocou em marcha missio-
nária, como Ele preconizara.
A partir daí, compreende-se que todo cris-
tão é naturalmente cheio do Espírito Santo e
está em jornada missionária, porque foi paraisso que o Espírito veio e continua a agir.
Logo, a ênfase missionária é o que carac-
teriza a vida da Igreja, que é, por definição,
uma comunidade que peregrina em missão.
A Igreja de Cristo é a reunião dos que
receberam o Espírito e, portanto, o po-
der necessário para cumprir a missão. O
poder dado por Ele compreende a ressur-
reição pela qual nascemos de novo. Pela
comunhão, ministramos aos necessitados
e entre nós à medida que precisamos de
restauração espiritual.
Com a ressurreição vêm os dons, como se
lê: “Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro
e deu dons aos homens.” (Ef 4.8). Eles são
ferramentas espirituais que usamos para a
execução de Sua vontade; assim chega até
nós a iluminação, que é a capacidade de
entender a Palavra de Deus; a intrepidez
para a proclamação e a sabedoria para a
orientação. Além disso, passamos a contar
com a ação do Espírito Santo que traduz ao
coração humano a Palavra proclamada: é a
Sua ação efetiva que conduz o ser humanoao arrependimento.
Todas essas habilidades são d adas à
Igreja para que possamos testemunhar a
respeito de Cristo. Isso implica anunciar o
Evangelho a todas as etnias. Todos devem
ser coerentes, dando bom testemunho ao
viver a mensagem que proclamam e, por
meio da proclamação da Palavra de Deus,
evidenciar a presença e a obra redentiva de
Jesus.
A partir do evento histórico da morte e
ressurreição de Jesus, anunciamos o Cristo
ressurreto a todo ser humano, em todas as
etnias, intercedendo por eles e lhes envian-
do missionários. Para isso, empenhamos to-
das as possibilidades econômico-financei-
ras que nos são dadas por graça de Deus.
Assim, toda comunidade de fé que se diga
cristã está, por definição, alinhada com a
profecia do Cristo, sendo testemunha dEle
por meio de sua vida e de sua ação missio-
nária local, nacional e interétnica.
Ariovaldo Ramos
Filósofo, teólogo e escritor. Pastor e Presidente da VisãoMundial Brasil, a maior organização cristã não governa-mental do mundo
Todos devem ser coerentes,dando bom testemunho ao vi-ver a mensagem que proclamame, por meio da proclamação daPalavra de Deus, evidenciar a pre-sença e a obra redentiva de Jesus
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12 • Povos e Línguas
A pequena sementeHistória das Missões Cristãs
m Gálatas 1.18-19, o apóstolo Paulo
fala de uma de suas visitas a Jerusa-
lém. Naquela ocasião, ele disse não ter
visto nenhum dos apóstolos, senão Pedro e
Tiago, irmão do Senhor. A última referênciaque temos deles está no capítulo 15 do l ivro
de Atos, que regista o Concíl io de Jerusa-
lém. Ao que tudo indica, todos eles cedo
se dispersaram pelo mundo para pregar o
Evangelho em obediência à Grande Comis-
são. Diante desse fato, nós nos perguntamos:
o que fizeram? Onde pregaram? A que povos?
O que sabemos sobre seu trabalho missioná-
rio? Onde pregou Mateus? E Judas Tadeu? ETiago, Bartolomeu e Tomé? E os demais?
Somos tentados a pensar que a propagação
do Evangelho por todo o mundo conhecido de
então se restringiu ao trabalho missionário
do apóstolo Paulo e de seus colaboradores. O
‘silêncio’ dos registros históricos sobre o tra-
balho apostólico contrasta com a narrativado livro de Atos. Por que sabemos tão pouco
sobre os demais apóstolos?
SIMPLICIDADE E MODÉSTIA
Hoje metrópoles e monumentos carregam
o nome dos apóstolos. Em sua geração,
porém, excluindo sua importância diante dos
que aceitaram a Mensagem, eles podem ser
incluídos na descrição feita por Paulo. Os
apóstolos foram “a escória do mundo” (1 Co
4.13). Quem se preocuparia em compor-lhes
qualquer tipo de biografia? Não passavam
de ex-pescadores, nascidos em uma terra de
pouca importância, pequenina pedra bruta
encravada na imensa montanha que era o
Império Romano.
O DURO INÍCIO DO CRISTIANISMO
Diferentemente do islamismo ou mesmo do
judaísmo, rel igiões esta tais, o cristianismo viveu
marginal no seu início. Tanto na perspectiva dos judeus quanto na dos romanos e dos gregos ,
não passava de uma seita estranha entre mui-
tas outras. Só ao longo da história, sua força e
seu impacto poderiam ser sentidos e observa-
dos. Sua sobrevivência despendeu um esforço
sobre-humano e não havia tempo nem estabili-
dade para narrar a história dos que lançaram os
fundamentos cristãos.
A forte perspectiva da parousia1 e da vinda do
Reino de Deus não deixavam espaço para ne-
nhum tipo de historiografia. O Evangelho preci-
sava ser levado a todos os povos, e esse avanço
do Reino era encarado com grande urgência.
Mesmo Jesus sendo o maior nome da Histó-
ria, nenhum escritor da época se preocupou emescrever sobre Ele. Somente seus seguidores
o fizeram. Há uma escassez muito grande de
registros históricos. Se pouco ou nada escreve-
ram sobre Ele, menos ainda se preocuparam em
registrar as ações de seus apóstolos.
Sendo assim, a maior parte do que sabemos
sobre o trabalho dos apóstolos está envolta
em lenda e em fatos obscuros. Ainda assim,
muitas dessas histórias representam um fator
importante, pois sua existência se baseia em
fundos de verdade que nos permitem saber,
mesmo que sem grande exatidão, as regi-
ões onde trabalharam. Segundo Aramis C.
de Barros em sua obra “Doze Homens e Uma
Missão”2, podemos identificar o trabalho dos
apóstolos nas seguintes regiões:
E
O avanço da missão apostólica no primeiro século
1 Parousia é a volta do Senhor. A expectativa dos primeiros cristãos era de que Jesus voltaria ainda na geração deles. Muitos tinham esperan-
ça de estar vivos quando isso acontecesse, o que gerava um sentimento de urgência.2 BARROS, Aramis C. Doze homens e uma missão. São Paulo: Hagnos, 2006.
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Povos e Línguas • 13
Somos tentados a pen-sar que a propagaçãodo Evangelho por todo
o mundo conhecido deentão se restringiu aotrabalho miss ionáriodo apóstolo Paulo e deseus colaboradores
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14 • Povos e Línguas
Apesar da escassez de informações,
podemos perceber que a ordem de ir e
pregar o Evangelho a todos os povos foi
obedecida pelos apóstolos. Boa parte
do mundo antigo, no Império Romano e
ao redor, recebeu a mensagem apos-
tólica. Uma semeadura teve início com
o trabalho dos 12, obras que perduram
através dos séculos, sendo realizada
por sucessores muitas vezes anônimos.
Ao observarmos o Mapa Mundi,
vemos o grande número de países
alcançados pelo trabalho missionário
apostólico. Eles avançaram por pra-
ticamente todo o mundo conhecido
da época: Itália, Grécia, Turquia, Síria,
Israel, Líbano, Jordânia, Arábia, Ar-
mênia, Irã, Iraque, Índia, Etiópia, Egito,
França, Espanha, Portugal, Albânia,
Inglaterra, Macedônia, Líbia, Tunísia,Marrocos, Bulgária, Romênia, Chipre,
Argélia, Afeganistão, Paquistão, Bélgica,
Luxemburgo, etc. Sem dúvida, foi uma
ação de grande alcance promovida peloEspírito Santo.
Foi com esforço e fé que, no final do
século IV, vimos o cristianismo emer-
gir como a fé de boa parte do mundo
então conhecido. Embora anônimo, o
trabalho missionário dos apóstolos e
de seus auxiliares, igualmente anôni-
mos, foi eficaz.
RELATOS HISTÓRICOS
O testemunho de alguns historiado-
res nos fornece um pequeno vislum-
bre da realidade do avanço missioná-
rio apostólico: “Esses homens nada
mais faziam do que deitar os funda-
mentos da fé em alguns lugares es-
trangeiros e estabelecer outros como
pastores, encarregando-os do cultivo
dos recém-admitidos e, em seguida,
mudavam-se para outras regiões e
outros povos com a graça e a coope-ração de Deus, já que, por meio de les,
continuavam realizando-se, ainda
então, muitos e maravilhosos pode-
res do Espírito divino [...]. Sendo-nos
impossível enumerar pelo nome todos
os que na primeira geração de após-
tolos foram pastores e inclusive evan-
gelistas nas igrejas de todo o mundo,
é natural que mencionemos por seus
nomes e por escrito apenas aque-
les dos quais se con serva a tradiçãoaté hoje graças a suas memórias da
doutrina apostólica [...].” (Eusébio de
Cesaréia, História Eclesiástica).
Não existe maior drama na histó-
ria do que a vista de um punhado de
cristãos desprezados ou oprimidos por
uma série de imperadores, suportando
todas as provas com sublime tenaci-
dade, multiplicando-se calmamente,
construindo uma ordem enquanto seus
inimigos geravam o caos, opondo a
palavra à espada, a esperança à bru-
talidade e, afinal, derrotando o Estado
mais poderoso que a história conhece
[Roma]. César e Cristo tinham se de-frontado na arena. E Cristo vencera [...]
(Will Durant, César e Cristo).
Enquanto este grande corpo [Império
Romano] foi invadido pela violência
aberta ou minado pela lenta deca-
dência, uma pura e humilde religião
gentilmente se insinuava na mente
dos homens, crescendo em silêncio e
obscuridade, derivando novo vigor da
oposição e, finalmente, erigindo a triun-
fante bandeira da cruz nas ruínas do
Capitólio. (Edward Gibbon, Decline and
Fall of Roman Empire).
Esses relatos marcantes mostram o
Reino, como afirmou Jesus: “O reino dos
céus é semelhante a um grão de mos-
tarda, que um homem tomou e plantou
no seu campo; o grão é, na verdade,
a menor de todas as sementes, mas,
depois de crescido, é a maior das hor-
taliças e faz-se árvore, de tal modo queas aves do céu vêm pousar nos seus
ramos” (Mt 13.31-32). O mundo não es-
perava que uma “semente” tão pequena
determinasse os rumos da humanidade.
Há uma história que o homem escreve
e o homem lê. Nela encontraremos vários
missionários famosos, no entanto, há
uma história escrita com a vida e a morte
de inúmeros missionários anônimos,
dentre eles, os apóstolos. Essa história,só Deus lê e apenas na eternidade ela
será completamente conhecida.
Eguinaldo Hélio de Souza
Pastor no Vale da Bênção em Araçariguama -SP. Professor de Teologia e História. Jornalista,apologeta e escritor
Bartolomeu: Ásia Menor, Norte da Índia
e Armênia.
Mateus: Pérsia, Pártia, Macedônia e Etiópia.
Simão Zelote: Ilhas Britânicas, Egito,Cirenaica, Mauritânia e Líbia.
Matias: Síria, Macedônia e Etiópia.
André: Sul da Rússia (Cítia e Pártia), ÁsiaMenor, Macedônia e Grécia.
Filipe: Ásia Menor (Frígia) e Gália.
Judas Tadeu: Armênia, Mesopotâmia, Síria,Pérsia, Fenícia, Arábia e região da Assíria.
João: Ásia Menor (região de Éfeso),Grécia e Roma.
Tiago: Espanha.
Pedro: Ilhas Britânicas, Acaia, Roma eMesopotâmia.
Tiago, irmão de João: Morreu nas mãos
de Herodes.
DozeHomens
12
Tomé: Índia, Babilônia, Média-Pérsia e Etiópia.
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16 • Povos e Línguas
ui missionária por dez anos
em Angola, em um contex-
to de guerra. O governo e ra
marxista, o que ge rava inúmeras
limitações e dificuldades para anossa atuação, especialmente no
que diz respeito à realização de
viagens dentro do país, que eram
necessárias, mas muito compli-
cadas. O povo v ivia na miséria; os
hospitais transbordavam de feridos
e epidemias de malária, doença do
sono, sarampo e de muitas outras
enfermidades. Faltavam recursos
básicos, o que acarretava muitas
mortes, tristeza e dor.
Mesmo nesse cenário, ser missio-
nário em si não era difícil. O povo
nos recebia bem e precisava de
uma mensagem de esperança. Por
outro lado, esperavam muito mais
de nós do que podíamos fazer. Era
uma realidade desgastante. Nossas
limitações e fraquezas eram eviden
tes. Também estávamos sujeitos à
malária e a outros males.
Portanto, assim que voltei ao Bra-sil para servir no Centro Evangélico
de Missões (CEM), propus encon-
tros para missionários cansados e
desgastados, independentemente
de qual fosse o seu campo ou a sua
agência. Nessa época, o Senhor
trouxe cooperadores, como o pasto
Osmar Ludovico da Silva.
Portanto, desde 1996 organiza-
mos encontros na cidade de Viçosa
(MG). Sempre hou ve missionários
necessitados desse tipo de apoio,
refrigério ou restauração. Eram pes-
soas com experiências missionárias
no Brasil, entre indígenas, pescado-
res ou no ser tão nordestino. Outros
trabalhavam em diferentes conti-
nentes, provenientes de agências e
FSempre há missionários comferidas profundas e lutas
escondidas no coração. Paraque a cura deles realmen-te ocorra, é fundamental aparticipação de suas igrejasnesse processo
Vasos de barroCuidado Integral
Pessoas comuns chamadas para uma tarefa extraordinária
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Povos e Línguas • 17
igrejas diversas. Logo depois nasceu
o grupo do Cuidado Integral do Mis-
sionário (CIM), que hoje é um Depar-
tamento da Associação de Missões
Transculturais Brasileiras (AMTB).
Assim esse trabalho avançou, e outras
formas de cuidado do missionário fo-ram sendo desenvolvidas e aplicadas.
Hoje os encontros também se reali-
zam em Curitiba (PR) sob a direção da
liderança do CIM.
Uma vez reunidos, o que mais lhes im-
pactava era um ambiente de abertura, de
compreensão mútua, de liberdade para
abrir o coração, serem ouvidos, aceitos e
respeitados. A maioria das pessoas saía
com novo vigor e coragem para continu-
ar, além de conscientes de que não eram
os únicos que passavam por tamanhas
lutas e limitações. Não eram pessoas
fracassadas, como muitos as considera-
vam, mas soldados feridos que voltavam
das frentes mais difíceis.1
Mesmo para os filhos de missionários
(FMs) havia atividades especiais. Os
encontros se tornaram significativos,porque eles percebiam a riqueza de se-
rem poliglotas e crianças conhecedoras
de vários países e culturas. Elas também
descobriam crianças com experiências
semelhantes e faziam amizades precio-
sas. Além desse serviço oferecido no
Brasil, alguns membros do grupo fize-
ram viagens a outros continentes onde
oferecemos um apoio semelhante aos
missionários. Houve vários encontros
no Senegal, no Timor-Leste, em Angola,Moçambique e em países da Europa,
Ásia e do Oriente Médio.
O melhor não são somente as pales-
tras oferecidas, mas a oportunidade
e o encorajamento para que cada um
reconheça suas lutas e frustrações, as
encare na presença do Senhor e receba
Seu amor restaurador. Não há soluções
imediatas para todos os problemas, mas
certamente é possível encontrar reno-
vação, coragem para enfrentar as lutas,
o ânimo e a fé em Deus. Assim perseve-
ram com alegria pela consciência de que
são pessoas comuns chamadas parauma tarefa extraordinária.
Sempre há missionários com feri-
das profundas e lutas escondidas no
coração. Para que a cura deles real-
mente ocorra, é fundamental a partici-
pação de suas igrejas nesse processo.
O apoio pastoral ao missionário deve
ser encarado como prioridade dentro
das agências missionárias. As igrejas
e as agências devem desenvolver um
ministério nessa área com pessoas
experientes e preparadas para essa
tarefa, de preferência com vivência
de campo. É importante considerar a
necessidade de visitas pastorais ao
missionário e que as avaliações físicas
e psicológicas não se restrinjam à fase
de preparação para o envio, mas se
estendam até o retorno do missionário,
possibilitando o diagnóstico de even-tuais problemas a serem tratados.
Casais missionários enfrentam
vários desafios e conflitos. Eles
precisam encontrar um ambiente
de confiança para poder expor suas
dificuldades. É importante que todo
o processo de criação dos filhos, so-
bretudo as fases mais críticas, como
o período de amamentação, a fase es-
colar e a adolescência, sejam acom-
panhadas pela liderança da missão.
Mulheres solteiras fiéis e consagradas
servem nos campos mais difíceis,
mas ainda sofrem c om carências,
solidão e recebem ofertas indiscretas
de ajuda para arrumar companheiros.
Elas precisam de cobertura de oração,
intercessão e de apoio fiel de pessoas
com quem possam se abrir, com liber-
dade e sinceridade. As visitas pas-torais são muito importantes, assim
como a participação em encontros e
em retiros espirituais.
Nenhum missionário verdadeiramente
chamado por Deus se arrepende por ter
escolhido a carreira missionária. Fazem
isso conscientemente e com alegria,
mas não se pode esquecer em nenhum
momento da jornada de que somos
um corpo, o Corpo de Cristo: “Por-que, assim como o corpo é um, e tem
muitos membros, e todos os membros,
sendo muitos, são um só corpo, assim
é Cristo também.” (1 Co 12.12). Cada
um faz parte de um esforço maior por
alcançar os povos com as boas notícias
do Reino de Deus. Somos humanos e
precisamos muito da atenção carinho-
sa, do respeito e do cuidado devidos a
qualquer semelhante.
Antonia Leonora van der Meer
Foi missionária por dez anos em Angola. Serviucomo professora, deã e diretora do CEM, emViçosa (MG). Hoje trabalha para despertarigrejas para missões e compõe a liderançado Cuidado Integral do Missionário (CIM), umdos departamentos da Associação de MissõesTransculturais Brasileiras (AMTB)
O apoio pastoral ao mis-sionário deve ser encaradocomo prioridade dentrodas agências missionárias.As igrejas e as agênciasdevem desenvolver umministério nessa área compessoas experientes e pre-paradas para essa tarefa,de preferência com vivên-cia de campo
1 Leia o artigo da autora publicado no site Ultimato Online: Missionário: Maluco, Mártir, Mendigo ou o quê?
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20 • Povos e Línguas
A tradição da religião africanaCapa
África é um dos continentes mais belos e
diversos do planeta. Abriga hoje mais de 1
bilhão de pessoas divididas em 58 países e
territórios, falando mais de 2 mil línguas e dezenas
de milhares de dialetos. Culturas e línguas africanas
influenciam todo o mundo com seu exemplo de per-
severança em meio à adversidade, alegria perante
situações de abatimento e vivacidade nas expres-
sões de dança, música e artes.
Apesar de ser palco de um grande número deconflitos e, em geral, gurar entre os mais baixosíndices de desenvolvimento humano, a África tem
sido forte contribuinte com todo o mundo em diver-
sas áreas. Desde tempos remotos, o Egito, Norte da
África, desenvolveu e exportou conhecimento sobre
engessamento de ossos quebrados, anestésicos
e cicatrizantes. No Mali foram feitas algumas das
primeiras descobertas astronômicas: planetas eestrelas até então invisíveis. O modelo de cuidado
familiar africano vem sendo estudado e utilizado
como forma de diminuição da orfandade e comocuidado social. A engenharia de construção com
barro e palha foi copiada por quase todo o mundo
antigo. Alimentos e bebidas, como o cuscuz e o
café, originaram-se na África - Magreb e Etiópia.
As contribuições para as áreas de esporte, música,
política e ciência são crescentes. Do ponto de vista
cristão e evangélico, há forte expansão da fé em
Jesus, em quase todo o continente, com maiores
restrições no norte islâmico.
Apesar da ampla diversidade religiosa, tendo
como religiões ocialmente predominantes ocristianismo e o islamismo, as religiões tradicionais
africanas sugerem uma das maiores influências
socioculturais no continente. Estima-se que cerca
de 100 milhões de africanos seguem as religiões
tradicionais e possivelmente mais da metade dos
seguidores de outras religiões - inclusive o cris-
tianismo - experimentam forte sincretismo com
crenças e práticas tradicionais.
As religiões tradicionais africanas foram e ainda
são alvo de incontáveis estudos, livros e teses. Por
um lado, é inegável que cada povo, cultura e língua
na África tenha as próprias crenças e práticas
religiosas. Portanto, não há uma religião comum.Por outro lado, missionários como Edward Smith1 e
Noel Baudin2 e antropólogos como Robert Rattray3
e Alfred Ellis4 reconheceram, desde as primeiras
investigações, a intrigante semelhança entre as reli-
giões tradicionais em quase todo o continente. Isso
levou-os a utilizar a expressão “religião africana”, no
singular.
AS TEORIAS DA ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO
Algumas teorias antropológicas tentaram explicara religião africana. Uma delas é o Totemismo, queÉmile Durkheim chama de um parentesco místico
entre seres humanos e a natureza. Claude Lévi
Strauss indica sua importância para a identidade do
grupo.5 O clã africano Binaliib, da etnia Konkomba
de Gana, por exemplo, conta que, ao longo da sua
história, sentiu-se ligado ao leopardo, recebendo
seu nome, compartilhando seu território de caça e
sentindo-se “misturado” ao perl daquele animalsua força, resistência e velocidade. A partir dessa
ligação totêmica, surgem tabus e normas. Por ve-
zes, leis. No caso Konkomba, o clã Binaliib não pode
caçar nem comer um leopardo. Não pode também
partilhar das presas que o felino nem transitar
com muita liberdade em seu território de caça. Os
A
Diversidade e antropologia
1 SMITH, Edward. African Beliefs and Christian Faith. Londres: Lutterworth Press, 1936.
2 BAUDIN, Noel. Fetishism and Fetish Worshippers. Nova York: Benziger Brother, 1885.
3 RATRRAY, Robert. Religion and Art in Ashanti. Oxford: OUP, 1927.
4 ELLIS, Alfred. The Ewe/Yoruba Speaking Peoples of the Slave Coast of West Africa. Londres: Chapman & Hall, 1894.
5 STRAUSS, Claude Lévi. Totemismo Hoje. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
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22 • Povos e Línguas
anciãos utilizavam a expressão ndjotiib
(irmãos de sangue) quando se referiam
aos leopardos. Warner Tolra descreveque nessa crença os feiticeiros pode-
riam se servir de animais para caçar
por eles (nagualismo) ou de espíritos de
animais mortos que os ajudariam.6
Outra teoria que tenta, em parte,
explicar a religião tradicional africana
é o Animismo. Apesar de o conceito
não ser mais utilizado, Animismo, de-
rivado do Latim “anima” que significa
“respirar”, está associado à ideia de
que o espírito está presente em todas
as coisas, “animando” o mundo e o
universo. Assim árvores, rochas, terra
e água poderiam ser vistas como ele-
mentos controlados por espíritos em
que o visível e o invisível se misturam.
Em outras teorias, alguns estudiosos
chegaram a apontar que as religiões
africanas eram politeístas, reconhe-
cendo logo em seguida que, mesmo
crendo em diversos espíritos e deuses,
a relação do homem africano com
esses seres era bastante diferente do
conceito clássico de politeísmo.
A teoria provavelmente mais difundi-da é a do Fetichismo, do latim facti-
cius e francês fetiche , a crença de que
alguns objetos feitos pelo homem po-
dem ter poderes sobrenaturais.7 Crê-se
que espíritos podem possuir certos
objetos e torná-los suas habitações e,
por meio disso, exercer influência so-
bre uma pessoa, família, um grupo ou
toda uma geração. O guardião desses
objetos seria um feiticeiro com certa
influência sobre o grupo. Ainda segun-
do Tolra, a relação do homem com osespíritos de ancestrais, chamado de
“manismo”, tem forte expressão nas
culturas africanas, indo da reverência à
adoração em diferentes contextos.8
Uma teoria antropológica levantada
pelos cristãos indica que as religiões
tradicionais africanas derivam de al-
gum tipo de monoteísmo. Essa teoria
vem ganhando sustentação científica,
apesar de ainda ser pouco reconhe-
cida no meio acadêmico. Sabemos queessa é a explicação bíblica para toda re-
lação religiosa da humanidade, iniciando
com a relação de Deus com o homem
e, após o pecado, passando para a re-
lação do homem com outros conceitos
e expressões de deus e deuses, dando
origem a toda sorte de desenvolvimento
religioso (Rm 1.19-25).
A Antropologia da Religião, que sempre
defendeu a magia ou algum tipo de es-
piritualismo politeísta como raiz da reli-
gião africana, hoje está revisitando seus
conceitos. Além de muitas evidências
nos mitos, ritos, contos e nas músicas
sobre um ser criador distinto dos outros
espíritos e deuses, é curioso notar que
muitos povos, em meio à miríade de
espíritos e deuses, conservam algum
nome para designar a um deus supremo,
mesmo que sobre ele pouco se saiba.
Os Konkombas o chamam de Uwumbor;
os Edos, de Osanabuwa; os Ashantis, deOnyame e os Ewe, de Nan Buluku.
As teorias que tratam de compreen-
der a religião tradicional africana são
múltiplas e complexas, visto ser um
conjunto de crenças não registradas
sistematicamente, mas passadas de
pais para filhos por meio de contos,
mitos, práticas e tradições. Não há
um livro, uma revelação, um profe-
ta nem um registro sequer que liste
as crenças e as práticas religiosas,
nem mesmo um termo específico
para descrever essas crenças. Essa
condição torna o estudo da religião
africana ainda mais intrigante.
AS MARCAS DA RELIGIOS IDADE
AFRICANA TRADICIONAL
Durante os nove anos em que eu e
minha esposa moramos entre Gana
e Togo no Oeste africano, observa-
mos que a prática religiosa entre osKonkombas, Bassaris, Chokossis,
Ashantis e outros grupos, mesmo com
pouca ou nenhuma relação, era muito
semelhante no primeiro olhar. De-
pois vimos que eram compreensões e
práticas comuns não apenas ali, mas
em boa parte da África. As principais
marcas eram quatro:
A falta de distinção entre o religioso e
o não religioso: na nossa visão de mun-
do (ocidental) há, em geral, uma clara
divisão entre o sagrado e o profano,
entre o religioso e o secular, o espiritual
e o científico. Na cosmovisão africana,
essa divisão parece não existir. Religião
é parte da cultura e se manifesta em
todas as formas da vida individual e
social como aquilo que se come, o tra-balho na roça, os padrões de descanso,
a composição da família e até mesmo
a organização de uma viagem. Nascer
em uma sociedade tradicional africana
é integrar-se a um grupo de crenças e
práticas que permeiam a própria iden-
tidade do grupo. Religião, assim, não é
um corpo de doutrinas que se distingue
da vida e da ciência; não é uma opção
Nesse contexto, não háateus nem pessoas semreligião, pois a religiosidadeé vista como parte da vida,da cultura e da sociedade.As simples perguntas “emque você crê?” ou “qual a suareligião?” não fazem muito
sentido nesse universo
6 LIDORIO, Ronaldo. Comunicação e Cultura. São Paulo: Editora Vida Nova, 2014.
7 EVANS-PRITCHARD, Edward. Theories of Primitive Religion. Oxford: Clarendon, 1965.
8 LIDORIO, Ronaldo. Comunicação e Cultura. São Paulo: Editora Vida Nova, 2014.
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Povos e Línguas • 23
a que alguns aderem nem uma decisão
pessoal. É parte da vida. Nesse contexto,
não há ateus nem pessoas sem religião,
pois a religiosidade é vista como parte
da vida, da cultura e da sociedade. As
simples perguntas “em que você crê?”
ou “qual a sua religião?” não fazem mui-to sentido nesse universo.
Essa falta de distinção entre o
religioso e o não religioso levou os
primeiros observadores europeus a
pensar que os africanos não tinham
religião. No século 18, os relatórios
que chegavam aos centros de estudos
europeus falavam sobre “[...] grupos de
pessoas sem organização social e sem
conceito de divindade ou de religião”. 9
Uma observação mais acurada levou
à conclusão de que não era ausência
de religião, mas - ao contrário - uma
sociedade em que tudo era religioso.
A relação com os ancestrais: essa
relação na religião tradicional africana
é intensa e constante. Alguns grupos,
como os Bassaris e Chokossis, têm
os ancestrais como parte da famíliapresente, separando para eles um
lugar na roda de conversa ou mesmo
mantendo certa comunicação, dirigin-
do-se a eles como se ali estivessem.
Entre os Konkombas é comum, na roda
de conversas embaixo das árvores no
fim da tarde, ficar um banquinho vazio
representando a presença de algum
dos ancestrais. Outros grupos que não
os têm como presentes parecem nutrir
uma relação diferente, mais aproxima-da com os ancestrais. Esse vínculo vai
além das simples lembranças.
Muito se discute se a relação com os
ancestrais é de reverência, reconheci-
mento de autoridade ou de adoração.
De toda forma, nas religiões tradicio-
nais, os ancestrais parecem ser tidos
como presentes, participantes da vida
da família e guias nas decisões diárias.
Muitos têm seus nomes citados ou
cantados nos ritos.
A crença nos espíritos: em certo
período, a religião africana tradicional
passou a ser chamada de Animismo ou
Fetichismo devido a sua ampla relação
com espíritos em diversas categorias,
como a de humanos, de animais, não
humanos e assim por diante...
Os espíritos tidos como malignos
são exorcizados durante os ritos e ostidos como benignos são adorcisados
- chamados em vez de repelidos. Por
sua vez, o que podemos chamar de
feiticeiro (que guarda os objetos onde
os espíritos habitam) diz poder entrar
em transe, viajar e visitar outros luga-
res de forma espiritual e até mesmo
frequentar outras dimensões. Nesse
universo concebe-se grande número
e diversidade de espíritos, espectros,
almas, duendes, aparições, donos das
matas, espíritos simbióticos (que se
transformam em homens ou animais),
anjos, demônios e deuses. Muitos
desses espíritos têm nomes usados
em ritos e invocações e que foram
exportados para religiões afros, como
Candomblé, Santería e Vodu.
As práticas religiosas utilitárias: as
práticas atribuídas à religião tradi-cional africana são, em sua maioria,
utilitárias, pois objetivam resolver os
conflitos da vida.
Outra prática valorizada nesse con-
texto são os ritos de iniciação, que se
dão geralmente em cinco áreas: nasci-
mento e nome, passagem para a fase
adulta, casamento, passagem para a
fase de ancião e as ligações com a
ancestralidade. Os mais conhecidos
são aqueles ligados ao nascimento e à
passagem para a fase adulta. Alguns
grupos evitam dar nome à criança
nos primeiros anos (sendo, às vezes,apenas sussurrado entre os pais) por
crerem que os espír itos atingem os
humanos a partir de suas particulari-
dades, incluindo seus nomes. Muitas
vezes, o nome é dado em uma ceri-
mônia de proteção que pode envolverinvocações ou libações. Já o rito de
passagem para a fase adulta pode
ser vinculado à circuncisão, provas de
força, obediência ou submissão em
diversas cerimônias apotropaicas10,
que buscam afastar as influências
malignas naquela nova fase da v ida.
Os ritos de invocação normalmente
são direcionados aos ancestrais ou
aos espíritos. Anciãos frequentemente
invocam os ancestrais em ritos do-
mésticos. Alguns grupos utilizam um
ritual específico a cada manhã em que
se solicita a proteção dos ancestrais,
antes que qualquer membro da família
saia da casa. Já os ritos de invocação
de espíritos não humanos são geral-
mente conduzidos por pessoas com
esta especialidade: homens sagrados,
feiticeiros, sonhadores ou bruxos. Es-
ses ritos são mais elaborados e, muitas
vezes, envolvem algum tipo de presente
ou de sacrifício para o espírito que, na
visão do povo, pode ser bom, mau ou
aético - bom e mau ao mesmo tempo.
Eles fazem ritos de proteção antes de
construir uma casa, fazer uma roça ou
iniciar uma viagem. Ritos de agressão
são geralmente encomendados para
que outra pessoa perca a memória, a
sanidade, a saúde física ou morra.
As magias são abundantes nas
religiões tradicionais africanas. Magia
é a manipulação de elementos natu-9FROBENIUS, Leo. The Voice of Africa. Vol 1. Hutchison, 1913..10Que tem o poder ou a intenção de afastar o mal.
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24 • Povos e Línguas
rais com a expectativa de produzir um
efeito s obrenatural. Podem envolver
objetos naturais ou fabricados, ges-
tos, palavras ou pensamentos. Deixar
a criança recém-nascida tocar a terra
para que ganhe força; tomar água da
chuva e do rio misturada em propor-ções iguais para obter boas ideias; pen-
durar ossos de certos animais em uma
árvore próxima para que a roça produza
bem estão entre as centenas ou os mi-
lhares de magias aprendidas, ensinadas
e praticadas em vários lugares.
Como se percebe nesses poucos
exemplos, a religião tradicional africana
é, por natureza, utilitária, uma vez que
se propõe a resolver os problemas da
vida. A compreensão que esses grupos
têm (em sua relação com o invisível,
espiritual ou divino) é, por natureza, de
negociação. Essa relação aponta para a
questão de maior vulnerabilidade quan-do se apresenta o Evangelho de Cristo a
eles: o sincretismo.
PRINCIPAIS DESAFIOS MISSIONÁRIOS
Um dos principais desafios missio-
nários nesse contexto é a pregação de
todo o Evangelho e não de parte dele,
para não correr o risco de contribuir
para o sincretismo religioso em que
partes da fé cristã se misturam com
elementos religiosos locais. É preciso,
portanto, pregar sobre o amor de Deus
e a sua justiça; o céu e o inferno; as
bênçãos, bem como as lutas; a provisão
e o sofrimento. É preciso que a históriacompleta do Evangelho, que é Jesus,
seja contada, visto que o Evangelho é
supracultural, pois explica o homem e
sua cultura, não o contrário; é multi-
cultural, pois junta em torno de Cristo
pessoas de todos os povos e línguas;
é intercultural, pois essas pessoas e a
sua igreja vivem em comunhão; é trans-
cultural, pois o Evangelho deve ser leva-
do de uma cultura a outra; é cultural,
pois ele foi revelado em nossa história
e em nosso tempo; e é contracultural,pois propõe uma vida diferente, na con-
tramão do mundo que se decompõe.
Outro desafio missionário é a con-
textualização do Evangelho pregado.
Há dois grandes riscos quando não se
estuda e não se compreende a cultura
receptora antes de pregar o Evan-
gelho. O primeiro é de total falta de
compreensão por parte de quem ouve;
o segundo é aquele que ouve dar umnovo, e estranho, significado à mensa-
gem. Ambos os riscos ocorrem quando
a mensagem não é contextualizada. A
contextualização, para fins missioná-
rios, reveste-se no desafio de pregar
a Palavra de Deus de forma teologica-
mente fiel e, ao mesmo tempo, cultu-
ralmente inteligível. Várias vezes ouvi,
na África, pregadores fiéis pregando
o Evangelho de forma fiel e voltando
satisfeitos para suas casas, sem saber
que seus tradutores utilizaram para
“Deus” vários termos que se referem
aos espíritos invocados na região.
A contextualização também nos
ajuda a perceber que a falta de conhe-
cimento da cultura, africana ou não,
leva-nos também a, na pregação bíbli-
ca, responder a perguntas que não es-
tão sendo feitas. É certo que devemos
pregar toda a Palavra e não somente
responder às perguntas levantadas
naquele contexto, mas não devemos
fechar os olhos e deixar de pregar
sobre as reais crises do povo. Certavez ouvi um ganense de Acra, c apital
de Gana, perguntar: “Por que os bran-
cos gostam de responder a perguntas
que só eles fazem?”. Ele se referia a
uma série de estudos em certa igreja
sobre “vitória”. E completou: “Vitória é
preocupação dos brancos… Aqui nos
preocupamos com o medo”. A Pala-
vra de Deus é resposta de Deus para
toda pergunta humana. Compreender
a pergunta daquela geração e daquelacultura é uma grande ajuda para que o
povo seja confrontado com o Evange-
lho e por ele edificado.
Um terceiro desafio missionário no
contexto da religião tradicional africa-
na é produzir movimentos autóctones
O grave erro cristão na África, nos
últimos séculos, na visão de muitos
missiólogos, é a geração de depen-
dência financeira, social e espiritualprolongada. Há igrejas que, mesmo
plantadas há mais de cem anos,
continuam dependentes das denomi-
nações e das missões de origem. Há
projetos sociais que, após décadas,
continuam integralmente comanda-
dos por estrangeiros, te ndo africanos
apenas nas funções e nos trabalhos
que não envolvem liderança. Essas
iniciativas em igrejas ou em proje tos
sociais permanecem eternamenterestritas aos recursos e ao estilo dos
fundadores, correndo o risco de per-
der sua efetividade e, pior, o contato
com a realidade. Toda ação missioná-
ria na África deveria conceber, desde
o início, a formação de líderes locais
e, no momento apropriado, a transfe-
rência de responsabilidade, recursos e
autoridade para o povo local.
A compreensão que
esses grupos têm (emsua relação com o invisí-vel, espiritual ou div ino)é, por natureza, de ne-gociação. Essa rel açãoaponta para a questãode maior vulnerabilida-de quando se apresentao Evangelho de Cristo a
eles: o sincretismo
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Povos e Línguas • 25
Tippett enfatiza: “quando um povo[...] passa a ver Jesus como um Senhor
pessoal, e não um Cristo estrangei-
ro; quando eles agem de acordo com
valores cristãos aplicados à própria
cultura, vivendo um Evangelho que
faz sentido à sua cosmovisão; quan-do eles adoram ao Senhor de acordo
com critérios que eles entendem [...],
então nós teremos ali uma igreja entre
eles”.11 Para que isso aconteça, é ne-
cessário observar alguns critérios para
a comunicação do Evangelho:
1) O Evangelho deve ser comunicado
com base nos princípios bíblicos, não
sendo negociado pelos pressupostos
das culturas doadoras e receptoras.
Toda cultura criada por Deus e cor-rompida pelo pecado tem áreas a
serem confirmadas e outras a serem
confrontadas pelas Escrituras;
2) O Evangelho é suficiente para todo
homem em toda cultura e em todas as
gerações. É tanto transculturalmente
aplicável quanto supraculturalmente
evidente. Portanto, é suficiente para
todo homem em qualquer contexto e
tempo em que viva;
3) O Evangelho comunicado e vivi-
do deve também ter como objetivo
ver a Igreja de J esus em todo canto
com capacidade própria para expan-
são e amadurecimento autóctone.
O treinamento de uma c omunidade
autóctone deve estar na mente do
movimento missionário antes mes-
mo da sua chegada;
4) O Evangelho deve ser comunica-
do quando se tem suficiente conhe-
cimento da cultura que o recebe. O
objetivo dessa constante vigilância é
apresentar o Evangelho bem tradu-
zido l inguística e culturalmente, fiel
às Escrituras e fazendo sentido para
a rotina de quem o recebe. É neces-
sário fazer o povo perceber que Deus
fala a sua língua.
Mesmo com a crescente presença
cristã e o fortalecimento das igrejas
no continente africano, há grande
necessidade de atuação missionária. ONorte da África, islamizado, há mais de
200 grupos não alcançados e diversos
países fechados para a atuação cristã.
O Centro, o Oeste e o Sul contam mais
de 600 grupos não alcançados pelo
Evangelho. Em todo o continente, o
sincretismo religioso permanece um
desafio que demanda tradução e ensi-
no da Palavra.
Concluo este texto com um peque-
no testemunho da aplicação de umvalor bíblico em um co ntexto africano.
A Igreja Konkomba, em Koni - Gana,
após ouvir o Evangelho e aprender
diversos assuntos da Palavra, come-
çou a estudar um pouco mais sobre
o dízimo. Sem dúv ida, tratava-se de
um assunto constrangedor para nós
como missionários. Como falar sobre
contribuição em uma comunidade
pobre? Como expor sobre dízimo em
uma sociedade que normalmente n ãocompra nem vende, mas troca? Como
tratar sobre provisão da casa do Se-
nhor em uma igreja de crentes novos,
todos plantadores de inhame para a
própria sobrevivência? A Palavra de
Deus tem respostas para t odas as
perguntas, mesmo aquelas que nunca
tínhamos feito. Resolvemos apenas
expor o que diz a Palavra sobre o
dízimo, sem qualquer aplicação local
durante algum tempo.
Sugerimos que os crentes pudessem
conversar sobre o que ouviam e como
achavam que deveria ser aplicado
em seu contexto. Algumas semanas
depois, dois anciãos tomaram a palavra
durante um culto e explicaram que, pelo
que ouviram e entenderam da Pala-
vra: 1) o dízimo é um privilégio, não um
pagamento; 2) 10% é uma referência
mínima. Deve-se procurar investir mais
3) cada um deve contribuir com aquilo
que produz ou ganha. Nesse caso, inha
mes; e 4) deve-se contribuir no ritmo
que se produz e ganha. No caso, umavez por ano, na colheita.
A partir daqueles dias, os crentes
konkombas da igreja de Koni passa-
ram a contribuir uma vez por ano, por
ocasião da colheita, com 10% ou mais
de sua produção. Os diáconos pre-
pararam os lugares apropriados para
estocar o inhame (que dura quase um
ano, quando enterrado), e a liderança
da igreja organizou o seu uso. O pas-
tor konkomba, que trabalha com tem-po integral, as viúvas, os órfãos e os
necessitados deveriam ter prioridade
ao receber aquele alimento, distri-
buindo-se ao longo dos meses. Certa
quantidade era guardada para viabili-
zar as viagens missionárias e para os
visitantes que porventura chegavam à
aldeia despreparados.
Aquela igreja, pela boa visão da sua
liderança local, usa o recurso entregueao Senhor, a cada ano, para ações mis-
sionárias perto e longe, suprimento da
família pastoral e ajuda aos famintos e
aos necessitados. Nós, como missio-
nários estrangeiros, não conseguiría-
mos aplicar de maneira tão apropriada
esse ensino bíblico, o que nos lembra
que o povo local, convertido ao Senhor
Jesus, com a ação do Espírito Santo e
acesso à Palavra, é o melhor tradutor
das verdades bíblicas para a própria
vida, o coração e sociedade. O Evange-
lho de Cristo fala a língua do povo na
cultura do povo e responde às pergun-
tas de seus corações.
11 TIPPETT, Alan. Introduction to Missiology. Pasadena: William Carey Library, 1987.
Ronaldo Lidório
Pastor e missionário presbiteriano ligado à APMTe Missão AMEM
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26 • Povos e Línguas
Breno Tonon
Publicitário, pastor e ministro de louvor naIgreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte- MG. Missionário da Jovens Com Uma Missão(JOCUM) formado em Tyler, EUA e integrantedo Ministério Nívea Soares
Mídia e Reino
odos os dias somos bombardea-dos por informações que chegampor diversos meios de comuni-
cação. É bem verdade que nos últimosanos as mídias digitais vêm ganhandoforça, obrigando os meios tradicionais,como TVs, rádios e revistas, a se rein-ventar. Com a forma que nos comuni-camos em plena mutação, saber utilizar
as ferramentas disponíveis é cada vezmais importante. Isso se não quisermosser mais um no meio desse “tsunamimidiático. Esse fenômeno vem gerandomudanças significativas nas relações in-terpessoais. Talvez a mais evidente sejaa sensação de que todos têm uma voza ser ouvida. Mas será que todas essasvozes são de fato relevantes?
A facilidade que qualquer pessoatem de emitir um parecer a qualquer
momento, acaba se tornando um fatorlimitador ao pensamento e à refle-xão. É impressionante como rapida-mente se forma uma enxurrada delixo virtual, ignorante e sem a menorimportância. Estamos testemunhan-
do o nascimento de uma geração de
ativistas de sofá que dominam a arte
de polemizar e ne gligenciam a razão e
o bom senso.
Em 2 Samuel 18, a Bíblia relata a his-
tória de Aimaás. Ao fim da batalha em
que morreu Absalão, Joabe env iou um
mensageiro etíope para fazer o relato da
batalha para Davi. Porém, Aimaás pediu
a Joabe que o deixasse acompanhar o
etíope. Apesar de ter saído algum tempo
depois do primeiro mensageiro, Aimaás
teve um melhor desempenho em sua
corrida e chegou antes às portas da ci-
dade (2 Sm 18.23). Entretanto, a perfor-
mance na corrida não lhe assegurou o
sucesso na missão. Ao chegar diante de
Davi e questionado sobre o que acon-
tecera na batalha e sobre a situação de
Absalão, Aimaás não passou o relato
completo. Ele omitiu a principal infor-
mação: o filho do rei estava morto (2 Sm
18.28-30). É claro que Davi queria saber
o resultado da guerra, mas pela reação
dele ao ouvir que Absalão havia morrido,dá para perceber que o estado do filho
era o que realmente o preocupava.
A mídia não pode ser um m em si. Seela existe é porque há uma mensagem a
ser transmitida. A mensagem é a priorida-
de. Para que a informação seja compre-
endida da maneira correta, é importante
estar atento a alguns princípios da comu-
nicação. É preciso denir o público-alvo,pois em plataformas como facebook e
Google é possível fazer a segmentação
por gênero, faixa etária, região e por
tags de interesse. Escolha a abordagem
correta, use uma linguagem acessível.
Postagens com elementos gráficos cha-
mam mais a atenção. A cr iatividade e a
originalidade nunca saem de moda. Na
web, as pessoas tendem a ser impacien-
tes. Por isso, quanto mais direto melhor.
Lembre-se de que performance semmensagem de pouco adianta. Mídia semconteúdo é tão inútil quanto o própriomau uso da mídia. Não se carregampedras preciosas em sacolas de plásti-co. Nossa mensagem é valorosa demaispara ser entregue displicentemente.Somos missionários em tempo integral.
Usar as ferramentas certas, da formacorreta é nosso dever. Missão e comuni-cação andam de mãos dadas.
T
Segure a ondaMais uma gota no oceano midiático
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Povos e Línguas • 27
DEPASTORPARAPASTOR
ONG piedosa ou Igreja de Jesus? Pág. 32 Marcelo Gualberto
CADERNO ESPECIAL Nº 9 | POVOSELINGUAS.COM.BR
BÊNÇÃO PERTO
E BÊNÇÃO LONGEOfertante ou mantenedor? Pág. 30 Pastoral
O avanço missionário nomaior país da Ásia Oriental
Pág. 34 Escuta Missionária
Praça da Liberdade, Belo Horizonte - MGFoto: Divulgação
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28 • Povos e Línguas
Uma perspectiva cristocêntricaIntencionalmente missionários
Igreja Missionária
Igreja Pentecostal Herdeiros de
Deus nasceu há 18 anos na Região
Nordeste de Belo Horizonte (MG).
Nesta curta trajetória, sempre buscamos
ser uma igreja bíblica que discipula cris-tãos para viverem dignamente o Evan-
gelho de Jesus (Fl 1.27). Ministério de
homens, mulheres, jovens, adolescentes
e crianças, escola dominical, congressos,
seminários, tudo isso tivemos durante
esses anos, esforçando-nos na tarefa de
responder ao compromisso de sermos
Igreja de Cristo, expressão do Seu amor.
Porém, a verdade é que nem sempre
fomos intencionalmente missionários.Podemos fazer essa armação olhando
para a história de nossa igreja e realizando
um exame das nossas ações para com os
perdidos de perto e de longe.
Sempre buscamos desenvolver ativi-
dades fora das quatro paredes do templo
que pudessem despertar em nossos
irmãos o desejo de servir ao Cordeiro.
Ainda assim, a intencionalidade de uma
igreja missionária não estava presente
nem permeava os ensinos, as pregações
e os eventos. Isso nos distanciava da
realidade de sermos luz para aqueles quenão conhecem Deus, conforme está regis-
trado: “[...] eu te pus para luz dos gentios
a m de que sejas para salvação até os
conns da terra.” (At 13.47).
Assim desenvolvemos “nossos” minis-
térios e crescemos, mas nos faltava algo
fundamental: a finalidade missionária.
Ainda não somos completos (Fl 3.12),
mas alcançamos o que não tínhamos.
Como a Igreja é uma ferramenta paraservir à missão de Deus, o Senhor pas-
sou a ligar-nos a outras igrejas, pastores
missionários e agências que tinham ex-
periências missionárias. Essas conexões
nos fizeram muito bem!
Outro fator de mudança do nosso
propósito missionário foi o VII Con-
gresso Brasileiro de Missões, realizado
A
F o t o : D i v u l g a ç ã o
Praça da Liberdade, Belo Horizonte - MG
Como a Igreja é umaferramenta para servir à
Missão de Deus, o Senhorpassou a ligar-nos a outrasigrejas, pastores, missioná -rios e agências que tinhamexperiências missionárias.Essas conexões nos fze -ram muito bem
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Povos e Línguas • 29
em outubro de 2014, em Águas de
Lindóia (SP). Ali tivemos contato, na
pessoa de nosso pastor titular José
Felício Bottaro, com diversas pessoas,
ministérios e materiais desenvolvidoscom o intuito de equipar a Igreja Bra-
sileira na sua participação dentro da
ação salvadora de Deus nas nações.
Após os quatro dias de congresso, a
impressão que tivemos foi de que éra-
mos outra igreja - que se colocava no
centro dos acontecimentos e que pen-
sava receber o favor de Deus graças
aos próprios esforços. Entendemos
que precisávamos mudar urgentemen-
te nossa forma de trabalhar para que
Cristo fosse conhecido por meio de
nós. Aquele foi um momento de grande
impulso para avançarmos.
A partir dessa compreensão, nossa
vida como igreja foi mudada com o de-
sejo de responder à Grande Comissão
e nos mobilizar como Corpo de Cristo
para promover as mudanças necessá-
rias. Nossas pregações mudaram, e a
intencionalidade missionária é patente
em nossos ensinos e nas práticas.
Como resultado, é possível ver
nossos irmãos testemunhando po-
sitivamente sobre a transformação
que a igreja tem vivido: vidas estão
ganhando sentido, apoiamos missio-
nários de outras igrejas e movimentos
que trabalham pela causa missioná-
ria, trabalhos transculturais e muitas
outras iniciativas.
Agora sabemos e sentimos que so-
mos parte do que Deus tem feito em
toda a Terra para o avanço da Gran-
de Comissão. Vocacionados vêm se
apresentando à igreja. Agora vivemos
a expectativa de env iar nosso primeiro
missionário. Cremos que isso seja re-
flexo da postura que tomamos diante
do desejo de fazer Deus conhec ido
entre todos os povos.
A declaração de Jesus deve ecoar
por meio de nossas atitudes: “Vós
sois o sal da terra; e se o sal for
insípido, com que se há de salgar?
Para nada mais presta senão para se
lançar fora e ser pisado pelos ho-
mens.” (Mt 5.13). Gr aças a Ele, não
temos receio de dar os primeiros
passos para a concretização do envio
e o acompanhamento de missionários
pois as parcerias estabelecidas nos
últimos quatro anos nos dão direçãopara ações práticas e assertivas. Con-
fiamos em Deus e sabemos que Ele
continuará a nos guiar
Wesley Thiago dos Reis
Pastor de Jovens da Igreja Pentecostal Herdeirosde Deus, em Belo Horizonte - MG
F o t o s : A r q u i v o P e s s o a l
Ação de evangelismo promovida pela igreja em Belo Horizonte - MG Enco ntro idea lizado pelo s jovens para apre nder e compar til har sobre a real ida-de de outras nações
F o t o s : A r q u i v o P e s s o a l
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Povos e Línguas • 3
for movido por algum testemunho ou desafio
muito tocante, dou uma oferta missionária.
Acontece que o missionário teima em ser
uma pessoa normal, que faz refeições diárias,
coloca os filhos na escola, paga aluguel, ele se
veste e precisa ter recursos para o ministériode evangelismo, discipulado e o que mais seu
projeto missionário requerer. Não se faz isso
com ofertas esporádicas e variáveis, mas com
um sustento estável e constante, que não
aparece e desaparece à mercê de um impulso
ou de um “sentir no coração”. Alguém pode-
ria até lembrar que a obra missionária se faz
pela fé, o que é plena verdade, mas creio de
todo o coração que essa fé no Deus Provedor
se desdobra em Ele usar a Sua Igreja para
cumprir Seus propósitos na Terra. Esse fatornos devolve a responsabilidade de sermos a
resposta da fé de nossos missionários.
Em muitos casos, indivíduos e igrejas locais
que enviam ofertas para missionários o fazem
de forma “nervosa”, por vezes enviando por
um período e saltando outros ou então che-
gando ao final do ano e parando por completo,
com o missionário já no campo, sem ao me-
nos avisar com um mínimo de antecedência.
Com frequência, famílias inteiras de missioná-rios se veem em apuros financeiros, com um
ministério florescente, mas sem condições
de se manter com um mínimo de dignidade
e, muitas vezes, sem condições de comprar
suas passagens de volta. É fundamental
lembrarmos que praticamente nenhum visto
usado por missionários lhes dá a permissão
de buscar um trabalho no país onde estão.
Assim, se levarmos em conta que a palavra
“oferta” está carregada de tanta transitorieda-de, por que não decidimos passar de ofertantes
de missões para mantenedores de missões?
Se em nossa cultura o ofertante não o faz de
forma constante, por que não ensinamos nos-
sas igrejas a serem mantenedoras de missões
transculturais? Dessa forma, é melhor todos
darmos uma quantia constante para missões
que cabem em nosso orçamento familiar,
deixando as ofertas para momentos especiais,
do que nos esforçarmos para dar um montante
maior de vez em quando.
Da mesma forma, igrejas locais devem
abraçar missões transculturais com o mes-
mo zelo, sem alterar o quadro de missio-nários toda virada de ano ou quando uma
nova liderança assume, ou se um novo pro-
je to de co nstrução de templo va i começar.
Como mantenedores, e não só ofertantes,
podemos caminhar com os missionários
em seus projetos com uma perspectiva de
longo prazo, com frutos que são colhidos
apenas em etapas mais avançadas dos
projetos, bem como dar a suas famílias se-
gurança para fazerem seus planejamentos
com mais tranquilidade.
Plantar igrejas é uma jornada que exige
perseverança e paciência. Mais desafiador
ainda é fazer isso rompendo barreiras cul-
turais, linguísticas e geográficas. Esse é um
trabalho que exige manutenção e, por isso e
para isso, mantenedores.
É certo que uma simples mudança de vo-
cabulário não será suficiente, mas se essa
mudança é fruto de uma nova mentalidade eatitude da liderança da igreja local e de nos-
sos púlpitos, ela pode se refletir na vida das
nossas igrejas, soprando tempos novos so-
bre nossa caminhada como Igreja Brasileira
Missionária. Uma mudança de mentalidade
não acontece da noite para o dia, mas, com
certeza, começa com pequenas atitudes de
alguns que vão, num efeito dominó, conta-
giando outros a sua volta.
Por isso, talvez a primeira pergunta quevocê pode se fazer é: hoje eu sou um ofer-
tante ou um mantenedor de missões?
Luís Fernando Nacif Rocha
Pastor de missões da Oitava Igreja Presbiteriana deBelo Horizonte - MG
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32 • Povos e Línguas
ONG piedosa ou Igreja de Jesus?Ações do Corpo de Cristo
Artigo
Papa Francisco alertou em uma
de suas homilias: “Sem Jesus
Cristo, a Igreja se transforma em
uma Organização Não Governamental
(ONG) piedosa”. Há muita verdade e sa-
bedoria nessas palavras! Certa vez, em
resposta à pergunta de Jesus: “Vocêstambém querem ir embora?”(Jo 6.67),
Pedro argumentou: “Para onde iremos
nós? Só Tu tens as palavras de vidaeterna!” (Jo 6.68).
Nos últimos 30 anos vejo, a partir da
minha vida, a Igreja escolher caminhos
distantes do Caminho. Escolhemos o
caminho da organização e não do “or-
ganismo”; do planejamento estratégico
em vez da dependência e da oração;
do luxo no lugar da simplicidade; do
receber mais do que distribuir; do apli-
car no mercado financeiro em vez de
investir na vida de pessoas.
Conheço muitas ONGs piedosas que
prestam excelentes serviços à socie-
dade, mas é fundamental lembrar que
a Igreja de Jesus é muito maior do
que isso: ela tem que ter as marcas de
Cristo. E quais são essas marcas? Es-
tilo de vida simples, senso de missão
encarnado e compromisso absoluto
com a vontade do Pai.
As palavras de Francisco e sobretudo
sua simplicidade foram abençoadoras
e serviram de exemplo para a minha
vida. Na Igreja, o fazer o bem deve ser
apenas mais uma consequência da co-
munhão com Jesus em minha v ida e na
vida daqueles que congregam comigo.
Precisamos de uma Igreja que se pareça
com a Igreja Original (At 2.42-47), quetrazia as marcas de Jesus e mantinha
o seu equilíbrio e a sua espiritualidade,
fundamentando alguns pilares.
O primeiro deles era o equilíbrio entre
saber e realizar. Cultivavam uma espiri-
tualidade que persevera na sã doutrina
e manifesta grande poder (At 2.42).
Outro pilar era a valorização do culto
comunitário, que oportunizava grande
comunhão de casa em casa, e assimcompreendiam o papel do culto nas
casas e no templo (At 2.46).
O equilíbrio entre oração e crescimento
era demonstrado por meio de uma espiri-
tualidade que revelava total dependência e
que, por isso mesmo, alcançava grandes
resultados (At 2.42; 47). A singeleza e a
satisfação andavam juntas. Os irmãos
descobriram o valor das coisas simples e
experimentavam grande alegria (At 2.46).
Eles compreendiam o signicado de dar ereceber, abriam mão do ter, valorizavam o
ser e viviam felizes com o necessário (At
2.44-45). Por m, conseguiam viver emcomunhão com forte ímpeto missionário,
pois amavam os de dentro e conquista-
vam a simpatia dos de fora (At 2.47).
As ONGs piedosas fazem bem a muita
gente, mas a Igreja é a continuação da
obra do Deus Encarnado; é o próprio
bem e, por isso mesmo, onde chega,
leva paz, amor, consolo, esperança,
fé, ânimo e força. A Igreja do Senhor
é muitíssimo maior do que qualquer
denominação ou organização. O “Ventodo Espírito” continua soprando e Deus
falou por intermédio do Papa!
O
Marcelo Gualberto
Diretor Nacional da Mocidade Para Cristo do Brasile pastor da Comunidade Presbiteriana Central deBelo Horizonte - MG
32 • Povos e Línguas
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Povos e Línguas • 33
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34 • Povos e Línguas
O avanço missionário nomaior país da Ásia Oriental
Escuta Missionária
China é um país colorido e formado
por vários povos. Normalmente,
quando nos referimos ao povo
chinês, estamos falando do povo Han. No
entanto, na formação dessa grande naçãopodemos nominar até 550 povos e línguas
diferentes. Há pouco mais de 60 anos, a
China tornou-se comunista. Naquele mo-
mento, o governo não podia ignorar distin-
ções étnicas, mas acabaram por dividi-los
em apenas 55 etnias minoritárias.
A China tem uma história milenar. O confu-
cionismo, o taoísmo e o budismo formaram a
mentalidade tradicional que ainda influencia
o modo de vida do chinês. A variedade depovos produziu sosticação e uma comple-
xidade cultural nem sempre vista em outros
lugares. Os chineses são responsáveis por
invenções, como o papel, a bússola, a pólvora
e muitas inovações tecnológicas.
O movimento cristão na China tem uma
história de séculos para ser contada.
Vamos destacar dois personagens: o padre
Jesuíta Matteo Ricci, um dos primeiros
missionários da Igreja Católica Romana,
considerado o fundador das Missões
Católicas Modernas. Hudson Taylor, a
segunda gura-chave para o avanço docristianismo: foi um missionário Protestan-
te, fundador da China Inland Mission (CIM),
hoje OMF. Houve muitos outros, mas que-
remos citar esses dois porque ambos são
reconhecidos pelo profundo domínio do
idioma, alto grau de relacionamento com a
cultura e a elaboração de estratégias con-
cretas para a região. Essas características
são importantíssimas para o missionário
transcultural que deseja desenvolver um
trabalho profícuo e duradouro.
A realidade dos cristãos é muito
diversa no país e deve ser analisa-
da, num primeiro momento, sob três
aspectos: o das grandes cidades, o do
interior e o das minorias, pois apresen-
tam realidades sociais e dificuldades
de acesso a recursos diferenciadas.
Podem também ser vistos como os da
A
China
A China tem uma históriamilenar. O confucionismo, o
taoísmo e o budismo forma-ram a mentalidade tradicionalque ainda inuencia o modo
de vida do chinês. A varieda-de de povos produziu sos -ticação e uma complexidadecultural nem sempre vista emoutros lugares
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Povos e Línguas • 35
igreja oficial e os da igreja nas casas,
pois desfrutam de diferentes níveis de li-
berdade. Podemos, também, percebê-los
entre os cristãos que pertencem a igrejas
enviadoras e os que necessitam do apoiode missionários.
Diante desse cenário, o mais impor-
tante é que a Igreja do Senhor Jesus
está crescendo na China. Não convém
firmar números, mas o crescimento é
visível e sem precedentes na histó-
ria mundial. Um exemplo concreto
da mobilização cristã na China foi a
realização, em outubro de 2015, de
um encontro com mais de 900 líderes
chineses para a criação da “Mission
China 2030”, cuja visão é justamente
a mobilização e o env io de mais de 20mil missionários chineses até 2030.
De fato, podemos pe rceber várias
organizações internacionais e na-
cionais intencionalmente trabalhan-
do juntas para o avanço do Reino.
Mesmo assim, iniciamos o ano de
2016 com mais de 150 povos não
alcançados. Há cerca de 90 trabalhos
de tradução da Bí blia acontecendo
simultaneamente, com a necessidadeimediata do início de mais de 60 no-
vos projetos de tradução. Além disso,
existe um sem-número de igrejas so-
licitando pessoas com experiência no
trabalho com crianças, jovens, casais
e outros ministérios. Mas, com certe-
za, a maior necessidade é a formação
de líderes à semelhança de Cristo.
Podemos e devemos enviar missio-
nários à China. No entanto, nossos
vocacionados precisam entender que é
o Espírito Santo quem os está envian-
do. O preparo deve abranger o estudoteológico, missiológico e o aprendizado
linguístico. É de suma importância que
o vocacionado se comprometa com o
aprendizado continuado para que consi-
ga comunicar o Evangelho no ambiente
de uma cultura e uma língua milenares.
A Igreja Brasileira está sendo con-
vidada a participar desse grande
momento da história da Igreja Chi-
nesa. Mais do que isso: está sendo
convidada a participar da expansão do
Reino de Deus na Ásia. Devemos orar
especificamente para entendermos o
chamado de Deus para a Sua Igreja.
José Godoi
Missionário brasileiro servindo na China hádez anos
Há cerca de 90 trabalhos detradução da Bíblia aconte-cendo simultaneamente, coma necessidade imediata doinício de mais de 60 novos
projetos de tradução
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36 • Povos e Línguas
esde a mobilização, passando peloenvio até o cuidado do missionáriono retorno do campo, o movimento
missionário e as pesquisas sempre cami-nharam juntos. A pesquisa missionária éo processo de consiliência1 com a MissioDei, distinguindo-se das demais pesquisasacadêmicas. O trabalho do missionáriopesquisador busca discernir o que Deus fez eestá fazendo para entender como podemoscooperar com Ele. Por isso, compreendemoso pesquisador como um obreiro, cristão, mis-sionário, humano, com suor no rosto, mãosestendidas e pés na estrada.
De 29 de setembro a 2 de outubro de2015 ocorreu a I Consulta Brasileira dePesquisa Missionária em Atibaia (SP).O evento foi organizado pelas entidadesAssociação de Missões TransculturaisBrasileiras (AMTB), Movimento Lau-
sanne, Servindo aos Pastores e Líderes(Sepal) e Martureo. Diversos temas fo-ram abordados na Consulta, dentre eles,o panorama do cristianismo no mundo,metodologias de pesquisa, definição determinologias, promoção de unidade daspesquisas com a AMTB e obstáculospara a realização delas.
Um dos preletores convidados foi ToddJohnson, diretor do Centro de Estudos doCristianismo Global, nos Estados Unidos.Todd foi o responsável por trazer o panoramado cristianismo mundial, denir as terminolo-gias e desaar os pesquisadores brasileirosa rmar uma parceria internacional paraampliar o alcance dos dados coletados.
Durante a consulta, foi unânime a percep-ção da necessidade de amadurecer a práticae a efetivação de iniciativas relacionadasàs pesquisas no Brasil, criando referênciassólidas, formando mais pesquisadores eapoiando o desenvolvimento dessa área.Larry Kraft, missionário pesquisador daSepal, que serviu no Brasil, alertou: “Se nãotivermos dados corretos, teremos estratégiaserradas”. A pesquisa missionária não substi-tui o trabalho do Espírito Santo, mas ajuda adiscernir a seara e prepara um caminho para
servir formando um elo entre a teoria e a prá-tica, a suposição e a convicção, as hipótesese os fatos.
É válido ressaltar algumas das pesquisasbrasileiras que vêm fornecendo importantesdados para o avanço missionário. Uma delasé o Banco de dados das pesquisas indígenas
da AMTB que tem direcionado o trabalhonessa área durante décadas, indicando asetnias com maior necessidade e abertura àatuação missionária.
A Aliança Evangélica Pró-Quilombolasdo Brasil faz uma pesquisa nacional paraidenticar as supostas 2 mil comunidadesquilombolas sem presença evangélica.Outra iniciativa é o Projeto Fronteiras. Emnovembro, o mapeamento das comunida-des tradicionais do estado do Amazonas foiconcluído. Entre as 7,5 mil comunidades, 6mil não têm uma igreja evangélica.
No nal da Consulta, chegamos à con-clusão de que é necessário impulsionarempreendimentos missionários, dar suporteà igreja em missões e aprimorar a formaçãomissionária com as pesquisas. Todos saíramcom o compromisso de continuar o trabalho
com excelência, criando um centro de pes-quisas missionárias no Brasil por intermédioda AMTB. A entidade vai unicar as diversaspesquisas e ser a base de conabilidade einformação para as igrejas e os líderes.
D
Felipe Fulanetto
Pastor e missionário na Igreja do Nazareno, coor-denador de pesquisa institucional da Associaçãode Missões Transculturais Brasileiras (AMTB)
Além dos dadosResoluções da I Consulta Brasileira de Pesquisa Missionária
Artigo
1 Unidade do conhecimento ou conjunção de áreas do conhecimento que chegam a mesma conclusão utili-zando disciplinas e metodologias distintas.
Convidados de diversas organizações missionárias participaram da Consulta em Atibaia, São Paulo
F o t o : U l t i m a t o
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Povos e Línguas • 37
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38 • Povos e Línguas
Além das evidênciasMissão e Adoração
o livro de Mateus está o registro de uma
cena memorável em que Jesus fala direta-
mente para pessoas que foram usadas para
operar milagres e maravilhas: “Nem todo o que me
diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos
céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor,
não profetizamos nós em teu nome? E em teu
nome não expulsamos demônios? E em teu nome
não zemos muitas maravilhas? E então lhes direiabertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mt 7.21-23).
É importante observar que Jesus arma catego-
ricamente que essa divisão vai acontecer. E o mais
assustador: não serão alguns que lhe dirão isso,
mas muitos! Todos os cristãos devem estar aten-
tos às palavras de Jesus, mas, especialmente nes-
se contexto, os líderes devem redobrar a atenção e
fazer uma profunda varredura em seu coração.
Por vezes, ao ministrar a outros desenvolvendo
seus dons e talentos, você consegue ver o agir
de Deus e perceber o mover do Espírito Santo.
Pessoas são alcançadas pelo amor de Deus;
outras são libertas, recebem bênçãos, curas e
restauração. Isso é o cumprimento da promessa
dEle: “E esses sinais seguirão os que crerem:
em meu nome expulsarão os demônios, falarão
novas línguas, pegarão nas serpentes e, se bebe-
rem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano
algum; e porão as mãos sobre os enfermos e os
curarão.” (Mc 16.17-18).
O fato de Deus ter usado você como um canal
de Sua ação, um vaso de barro (2 Co 4.7), não
signica que tudo está bem dentro do seu coração!
Infelizmente essa é a verdade e não conheço uma
forma mais clara de dizê-la: ser usado por Deus
não signica ser aprovado por Ele!
No registro de Mateus ca claro que aquelas
pessoas citadas por Jesus foram realmente usa-
das por Deus. Elas operaram muitos milagres - e
não foi em nome delas mesmas. Porém, a verdade
é que, mesmo participando da ação de Deus, isso
não signicou que seus corações estavam corre-
tos. O Senhor sonda os corações e sabe o que se
passa no íntimo de cada um de nós (Sl 139.1).
Deus tem um eterno compromisso com SuaPalavra. Ele sempre é el e responde aos sedentos.
Ninguém deve cometer o erro de acreditar que a
operação do Senhor esteja ligada diretamente a
quem você é ou às suas ações.
Paulo, em sua carta a Timóteo, deixa um conse-
lho envolto em grande sabedoria: “Procura apre-
sentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não
tem de que se envergonhar […]” (2 Tm 2.15). Veja
que Paulo diz “aprovado” e não “usado”.
Que o Senhor nos livre de ser um canal de ben-
ções na vida de outras pessoas, lançando mão do
precioso nome de Jesus para operar milagres e, no
último dia, ouvir: “Apartai-vos de mim [...]”. Não é
essa a frase que quero ouvir de Deus.
São as nossas atitudes fora dos “holofotes”, quan-
do ninguém nos vê, que vão determinar qual respos-
ta ouviremos da parte de Deus. Para ser aprovado,
há apenas um caminho: “Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua
cruz e siga-me.” (Lc 9.23). Que o Senhor te abençoe
e imprima essas palavras em seu coração!
N
Uma linha tênue
Raquel Emerick
Líder, vocalista e pianista do Ministério Além. Formadapelo Christ for the Nations, em Dallas - Texas, EUA. Autorado livro “Coração de Adorador” e de mais três títulos
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Povos e Línguas • 39
O fato de Deus ter usadovocê como um canal de Suaação, um vaso de barro (2Co 4.7), não signica que
tudo está bem dentro doseu coração! Infelizmen-te essa é a verdade e nãoconheço uma forma maisclara de dizê-la: ser usadopor Deus não signica ser
aprovado por Ele
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40 • Povos e Línguas
O que o pedido de Paulo aos efésios nos revela?
Coluna
ma das verdades mais claramen-
te experimentadas por todos é a
fraqueza. Somos todos potencial-
mente fracos, e essa fraqueza é expressa
em diversas áreas da vida. Biologicamente
nossa fraqueza se destaca perante uma
enfermidade ou pelo simples passar dos
anos, quando não temos a mesma força.Moralmente a cada dia somos confronta-
dos pelas inclinações ao pecado, percebe-
mos de forma nítida quão fácil é desobede-
cer a Deus. Emocionalmente vivemos altos
e baixos, alegrias e tristezas no mesmo dia.
Mesmo pessoas maduras enfrentam fragi-
lidades emocionais. Espiritualmente temos
diculdade de conciliar o conhecimentoda vontade de Deus com a obediência em
nossos corações. O certo é que somos
todos potencialmente fracos em algumaárea da vida.
Paulo escreveu à igreja em Éfeso para tratarde diversos assuntos. Um deles é a fraquezahumana. O apóstolo declarou que, ao sermosde Cristo (capítulo 1), lutamos contra a carne,o mundo e o diabo (capítulo 2); estamos emuma caminhada de aperfeiçoamento da fé(capítulos 3 e 4) e vemos nossa fraqueza seapresentar por meio de conflitos nos relacio-namentos entre pais e lhos, patrões e em-
pregados, maridos e mulheres (capítulos 5 e6). Na conclusão da carta, ele diz: “Quanto aomais, sede fortalecidos no Senhor e na forçado Seu poder.” (Ef. 6.10). E passa a tratar daarmadura de Deus.
A Palavra nos adverte que perante a
realidade da vida e a potencial fraqueza
humana, há apenas um caminho: sermos
fortalecidos em Deus. E o texto passa a
mostrar três motivos para buscarmos im-
perativa e diariamente esse fortalecimento.
O primeiro está no verso 11 do capítulo 6:
“a m de não cairdes nas ciladas do diabo”.O termo grego para “ciladas” (ou armadi-
lhas) é methodias que se refere a planos
bem-pensados. Signica que o inimigo
das nossas almas, sobre o qual Paulo falanessa carta, observa-nos e planeja o mal
contra nós. E creio que sejamos ataca-
dos, preferencialmente, nas áreas em que
somos ou estamos fracos.
Certa vez, um programa sobre leões e
búfalos, na África do Sul, apresentou um
grupo de cientistas tentando descobrir por
que os leões daquela região observavam
longamente a manada de búfalos antes de
atacá-la. Após um longo período sem obterrespostas, os cientistas resolveram analisar
a carcaça dos búfalos mortos e encontra-
ram ali um padrão. Todos os animais ata-
cados pelos leões tinham algo em comum:
estavam fracos. Alguns eram muito velhos;
outros, muito novos e outros estavam
enfermos. Todos experimentavam algum
grau de fraqueza física. Concluíram, assim,
que os leões, ao observarem a manada de
búfalos, procuravam os mais fracos.
Veio à minha mente o que a Bíblia fala do
diabo, que está ao nosso derredor como
um leão pronto para nos atacar (1 Pe 5.8).
Quais são as áreas fracas de sua vida que
precisam urgentemente ser fortalecidas por
Deus? É na conssão e no quebrantamento
que somos por Ele transformados. Paulo,
ao longo do capítulo 6 da carta aos Efésios,
fala sobre a armadura de Deus. Somos for-
U
Potencialmentefracos
Todos os animais atacadospelos leões tinham algo emcomum: estavam fracos.Alguns eram muito velhos;outros, muito novos eoutros estavam enfermos.Todos experimentavamalgum grau de fraqueza fí-sica. Concluíram, assim, queos leões, ao observarem amanada de búfalos, procu-ravam os mais fracos
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Povos e Línguas • 4
talecidos quando lemos e meditamos na Palavra,
quando temos tempo de qualidade em oração,
ao investirmos na comunhão com os irmãos e
nos dedicarmos ao serviço, à missão.
O segundo motivo pelo qual devemos urgente
e continuamente procurar ser fortalecidos noSenhor e na força do Seu poder está no verso 13:
“para que possais resistir no dia mau”. Há dias
bons e maus em nossas vidas. Dias de alegria,
fé e vitória em que tudo dá certo. E há dias de
tristeza, dúvidas e derrota, quando tudo conspira
contra nós. A ordem de sermos fortalecidos em
Deus não é para o dia mau, mas para o dia bom.
Devemos buscar o fortalecimento em Deus no
dia bom para quando o dia mau chegar estarmos
fortes e resistirmos.
O termo grego para “resistir” é antistenai e serefere a uma estaca bem ncada no chão que,no dia da tempestade, não é removida. Não
é difícil louvar a Deus de coração quando se
recebe um presente inesperado, uma promoção
no emprego ou uma ótima notícia nos exames
médicos. É, porém, um desao louvar ao Senhorquando o desemprego bate à porta, a enfermi-
dade não cessa e o inesperado é uma tragédia.
O que Paulo parece nos dizer é que devemos
todos nos fortalecer no Senhor para quando o
dia mau chegar, podermos louvar o Seu Nomeconvictos de que Ele é bom, governa todas as
coisas e cuida dos Seus. E todos os Seus planos
são planos de amor. Há uma forte e estreita
ligação entre fé e descanso nesse texto. À medi-
da que cremos, descansamos.
Chegamos ao terceiro motivo pelo qual deve-
mos buscar a força do Senhor. Este é o ponto
principal sobre o qual quero tratar neste texto:
no verso 18 do capítulo 6 de Efésios, Paulo fala
sobre oração. Na verdade, boa parte das cartaspaulinas estão em um ambiente de oração. Ele
ora, escreve as orações, instiga o povo a orar e
pede orações. No verso 19, ele tem a oportunida-
de de fazer um pedido de oração surpreendente
à igreja em Éfeso. Ele pede que orem e explica
o motivo: “para que me seja dada, no abrir da
minha boca, a palavra para, com intrepidez, fazer
conhecido o mistério do evangelho”. Esse pedido
me impressiona por dois motivos: porque, exceto
Jesus, Paulo é a gura mais audaciosa e intré-
pida na pregação do Evangelho em todo o Novo
Testamento. Ele pregou nas sinagogas e nas
praças, a indivíduos e a multidões, sendo per-
seguido, debaixo de zombarias, em meio a uma
tempestade e até quando estava encarcerado.
Paulo não parece precisar de mais intrepidez.
Porém, ao que parece, seu pedido revela o fato
de ela não ser resultado de disposição humana,
temperamento pessoal, capacitação ou planeja-
mento, mas da força do Senhor. O texto sugere
uma ligação entre intrepidez e espiritualidade
- temos audácia na pregação do Evangelho à
medida que estamos mais próximos de Deus.
Portanto, nossa vida com o Senhor parece ser
determinante para o nosso ministério pastoral
ou missionário, bem como para nossa vida cristã
diária perante aqueles que ainda não seguem o
Cordeiro. Falaremos de Deus na medida em que
estivermos cheios do Espírito.
Há outro motivo pelo qual esse pedido de
oração feito por Paulo me impressiona: ele não
estava em um momento fácil de sua vida. Estava
preso em Roma, já ao m de sua exaustivacarreira, não contava com muitos amigos ao seu
redor e tinha a impressão de que poderia morrer
a qualquer momento. Nessa oportunidade de
fazer um pedido de oração mais pessoal, ele nãosuplica por liberdade, justiça, companheirismo,
dinheiro nem conforto. Ele pede apenas que Deus
lhe dê audácia para falar de Jesus.
Se somos salvos em Cristo, recebemos do Se-
nhor a missão de fazer o Seu Nome conhecido.
Frequentemente temos oportunidade, conheci-
mento e até mesmo recursos - mas falta-nos
intrepidez. À semelhança de Paulo, precisamos
orar e pedir oração para que nos seja dada a
intrepidez necessária para anunciar a verdademais fantástica e transformadora do universo:
Jesus Cristo, Senhor e Salvador, vive. Que o
Senhor nos fortaleça!
Ronaldo Lidório
Pastor e missionário presbiteriano ligado à APMT eMissão AMEM
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42 • Povos e Línguas
Índio urbanoA relação transcultural
Missões Urbanas
á alguns anos avalio que esfor-
ços missionários entre indígenas
urbanizados não têm alcançado
os resultados desejados, levando as
igrejas a abandonarem alguns traba-lhos, mesmo com o amor e a dedica-
ção dispensados. As que ainda insis-
tem estão carregando um fardo que
lhes parece pesado demais. Afirma-
ções como “eles só querem as coisas”;
“eles só se aproveitam de nossa boa
vontade”; “eles não têm interesse pelo
Evangelho” revelam essencialmente
um problema antropológico.
Até 2010, mais de 35% dos indígenas
brasileiros, isto é, 324.834 dos 896.9171
estavam vivendo em centros urbanos,
ou por migração ou por ficarem encur-
ralados pelo crescimento das cidades
ao seu redor, diminuindo drasticamente
os seus recursos de subsistência -
caça, pesca e colheita. A situação afeta
sobretudo sua identidade. Por essa ra-
zão, eles se obrigam a buscar na cidade
aquilo que lhes supra as necessidades
mínimas para a sobrevivência. Noentanto, esses indígenas se deparam
com a marginalidade, a mendicância, o
alcoolismo e, dentre as poucas alter-
nativas de sustento, a venda de alguns
artesanatos no centro das cidades.
O olhar que a cidade lança sobre eles
geralmente é de desprezo e preconceito.
O senso comum impregnado pela teoria
evolucionista unilinear diz que os povos
passavam por estágios de selvageria e bar-bárie até se tornarem civilizados. Essa visão
rotula os indígenas e os coloca em uma
categoria de selvagem, isto é, não civilizado
É comum ouvirmos que são indolentes,
preguiçosos e que seu lugar é na floresta.
Porém, há uma afirmação recorrente de
que aqueles índios que moram na cidade
HA cultura de um povonão pode ser reconhecida
apenas pela manifestaçãoexterna (vestimenta, porexemplo). Isso é apenas aponta do iceberg. São asbases de sua formação quedão sentido à vida e à ex-pressão cultural de um povo
1 Brasil.FUNAI/IBGE. O Brasil Indígena, 2010. Disponí-
vel em ibge.org.br.
F o t o : A g ê n c i a B r a s i l
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Povos e Línguas • 43
André Souza
Vice-presidente da Missão Evangélica da Amazô-nia (Meva). Mestre em Antropologia e Mi ssiolo-gia. Missionário há 16 anos entre os indígenas
não são mais indígenas. É certo que, se
você ainda não pensou dessa maneira, ao
menos já ouviu alguém dizer isso. Sendo
assim, eles recebem duas mensagens:
você é um selvagem e deve viver na flo-
resta, mas se você quer viver na cidade,
então você não é mais indígena. É óbvioque essa afirmação é um absurdo, mas,
na prática, é o que acontece.
A ideia de que eles deixaram de ser
indígenas por se encontrarem em situ-
ação urbana é recorrente, porque agora
usam calças e bermudas, camisas e
camisetas, tênis, sapatos ou sandá-
lias; porque não pintam mais o rosto,
não usam os enfeites tradicionais de
penas, ossos e sementes. É por isso
que se referem a eles como não sendo
mais indígenas. Todavia, indígenas na
cidade ainda são indígenas de verdade.
Se não são mais indígenas, o que
eles são? Pessoas pobres que se
encontram nas periferias da cidade, fa-
lam português, vestem-se como todos
os outros e, por isso, são iguais, certo?
Errado. São idênticos na perspectivada criação, mas diferentes em sua ma-
neira de sentir, pensar e agir. Isso quer
dizer que partilham de outros códigos
que constituem sua cultura.
A cultura de um povo não pode ser reco-
nhecida apenas pela manifestação externa
(vestimenta, por exemplo). Isso é apenas a
ponta do iceberg. São as bases de sua for-
mação que dão sentido à vida e à expressão
cultural de um povo. O comportamento é
somente o resultado de sua cosmovisão, ou
seja, aquele núcleo da cultura que determina
as crenças, os valores, as leis, costumes,
regras e, nalmente, o comportamento.
Sendo assim, qualquer esforço evan-
gelístico ou plantação de igreja entre
esses grupos na cidade deve, neces-
sariamente, levar em consideração
que se trata de outra cultura, ou tra
forma de linguagem e até mesmo ou-
tro idioma. A falta de contextualização
tem conduzido inúmeros trabalhos ao
desânimo e ao abandono do ministé-
rio entre indígenas nas cidades.
Afinal, é necessário levar em consi-
deração que se trata de um trabalho
transcultural. Isso mesmo: em sua
cidade, do seu lado, há outra cultura,
outra língua, outra maneira de sen-
tir, pensar e agir. Por isso, qualquer
trabalho que vise povos indígenas
nas cidades deve levar em considera-
ção a antropologia aplicada às ações
missionárias, a qual de nominamos
“Antropologia Missionária”.
Há uma impressão errada sobre
quem são os indígenas urbanos e,
consequentemente, a perspectiva es-
tratégica torna-se igualmente inade-
quada. É necessário compreender que
estamos lidando com uma situação
transcultural. Por isso, é importan-
te que cada envolvido se atenhaao preparo teológico, linguístico e
antropológico para a excelência desse
ministério. Para compreendermos “o
outro”, precisamos entender as ideias
que estão por trás dos fenômenos ou
fatos socioculturais.
No Brasil há diversos treinamentos
nessa área. Um deles é o “Capacitar”,
que acontece anualmente, abordando
temas relevantes, como Antropo-
logia Cultural, Plantio de Igrejas e
Aquisição de Línguas. É direcionado
a missionários, líderes de missões,
seminaristas e vocacionados para a
obra missionária. O trabalho entre
indígenas nas cidades exige atenção
e preparo, assim como os projetos
desenvolvidos em aldeias.
35%dos indígenas brasileiros,isto é, 324.834 dos 896.917estavam vivendo em centrosurbanos, ou por migraçãoou por fcarem encurraladospelo crescimento das cidadesao seu redor.
Indígena Munduruku
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44 • Povos e Línguas
ida de um missionário ao cam-po transcultural envolve muitosdesaos, detalhes e tensões. Desde
a vocação até a sua chegada ao campo,há um longo caminho a ser percorrido.Mesmo projetos simples exigem grandeesforço e renúncia.
Eu e minha esposa moramos dois anos
como missionários no Norte da África.Durante seis meses, moramos com umafamília muçulmana, aprendemos a línguae zemos um mergulho cultural. Em 2002,partimos para o nosso destino com ocoração cheio de alegria por obedecer aochamado do Mestre, mas conscientes deque era um grande desao. Resumindo ahistória: Deus preparou uma família queestava disposta a nos receber sem nuncanos ter visto. Eram pessoas simples e muitoacolhedoras. Podemos armar que foi uma
das melhores experiências da nossa vida.Certamente faríamos tudo outra vez!
Ao retornar, tivemos acesso ao artigo
“Criando uma sensação de pertencer”,no qual Thomas e Elisabeth Brews-ter apresentam uma teoria chamada
Vinculação, que trata da composiçãopsicológica e fisiológica de um recém--nascido, logo após seu nascimento,prepara o bebê de forma singular paraestabelecer vínculos. Se os pais e acriança estiverem juntos durante essetempo, cria-se um vínculo profundo,capaz de resistir às grandes mudançaspelas quais o bebê ainda vai passar.
Com certeza, os níveis de empolgaçãoe de adrenalina do bebê e dos paisestão no ápice. Os sentidos da crian-ça estão sendo estimulados por umasérie de sensações novas.
Certamente é nesse momento que obebê está equipado com uma habilidadeextraordinária para responder a circuns-tâncias incomuns e aos novos estímulos.Assim é o missionário criando vínculosfortes em um novo contexto cultural. Ele
está aberto e flexível para receber e res-ponder positivamente a todas as mudan-ças que vai experimentar. O missionáriorecém-chegado está em um estado dealerta incomum, tanto psicológica quantosiologicamente, para desenvolver víncu-los no novo ambiente. Segundo Thomas
e Elisabeth, o novo missionário estápreparado, talvez mais do que em outromomento, para estabelecer vínculos.
É muito importante lembrar que, se osentimento de inclusão do missionário forestabelecido com outros estrangeiros, elevai viver isolado do povo local, criando umverdadeiro “gueto missionário”. Essa é uma
tendência natural que deve ser tratada comatenção, pois a falta de vínculo e de identi-cação com a cultura e as pessoas da na-ção pode comprometer o desenvolvimentodo projeto inicial e, principalmente, passarlonge do motivo pelo qual foi enviado: fazediscípulos de todas as nações (Mt 28.19).
O missionário deve estar bem preparadopara mergulhar em seu novo contexto. Por-tanto, o objetivo de seu envio deve estar clarodesde o início do preparo e ser mantido ao
longo de sua jornada.
A
Flávio Ramos
Fundador e presidente executivo da Missão EvangélicaÁrabe do Brasil (Meab). Instrutor e membro do Conse-lho Nacional do Perspectivas Brasil, um movimentointernacional que une cristãos no propósito de pensare potencializar seu envolvimento na tarefa de glorificara Deus entre todos os povos
Não forme guetosArtigo
1 BREWSTER,Thomas e Elizabeth. Integração Cultural e a Tarefa Missionária: criando uma sensação de pertencer.
In: Perspectives On The World Christian Movement. Pasadena: William Carey Library, 1981.
Contra tendências
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Povos e Línguas • 45
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46 • Povos e Línguas
Um leão por diaUma análise da postura de Daniel
Profissionais em Missão
Bíblia traz exemplos de homens
e mulheres que foram excelentes
prossionais e que trabalharamservindo a diversos governantes como
funcionários públicos, abençoando na-
ções inteiras. O livro de Daniel mostra que
o exercício do seu trabalho era coerente
com os ensinamentos das Escrituras
Sagradas. Ele era íntegro e foi um missio-
nário por onde passou.
A história de Daniel se passa no período
em que seu povo foi dominado pelos ba-
bilônicos, e muitos foram para o exílio. Ele,ainda adolescente, e seus amigos foram
levados à revelia como cativos. Eles eram
muito jovens, tinham entre 13 e 15 anos de
idade. Foram separados por suas carac-
terísticas físicas e habilidades intelectuais
que serviam aos interesses de dominação
do rei Nabucodonosor (Dn 1.4).
Desde a sua chegada, Daniel e seus
amigos se mantiveram rmes em suas
convicções. Inicialmente por não se con-
taminarem com as iguarias do reino (Dn
1.8), mas eles tiveram diversas situações
em que a fé deles foi posta à prova. Em
todo o relato do livro, a conduta deles
sempre foi digna de nota. E todas as vezes
em que Daniel ou seus amigos eram tes-
tados ou questionados sobre sua fé, eles
não perdiam a oportunidade de rearmá-lae disseminá-la (Dn 2.28; 3.1-30).
No livro de Daniel, logo no capítulo três,
encontramos um relato surpreendente,
no qual Daniel e seus amigos estavam
dispostos a morrer por sua fé, testemu-
nhando-a com convicção e armandoque, Deus os livrando da fornalha ou não,
eles não serviriam a outros deuses (Dn
3.17-18). As Escrituras também relatam
que a conduta de Daniel era tal que mes-
mo depois de quase 70 anos de trabalho,
estando ele já por volta dos 80 anos, o
novo rei, que era rei do império Medo-Per-
sa, manteve Daniel no poder e, conforme
Daniel 6.3, pensava em promovê-lo para o
posto de primeiro-ministro.
Tanto na história da fornalha de fogo
(Dn 3), da cova dos leões (Dn 6), quanto
nos demais relatos do livro, encontra-
mos registros de que todas as vezes
em que ele ou seus amigos tinham
sua fé colocada à prova, eles agiam de
forma ética e bíblica. Nessas ocasiões,
eles tinham a oportunidade de teste-
munhar ainda mais fortemente a sua fé.
Sempre que isso acontecia, o nome do
Senhor era exaltado.
As histórias desses missionários ensinam
de forma maravilhosa, que Deus é quem
envia cada um. Ninguém nasce nem vive
por um acaso. E de acordo com o exemplo
de Daniel, onde quer que cada um esteja,
deve ser correto em suas atitudes, ético em
sua postura, bom prossional e um traba-
lhador incansável. Ao seguir esse modelo,
enfrentando um leão por dia, o cristão tem
a sua fé questionada ou colocada à prova,
e é nesses momentos que devemos estar
preparados para testemunhar, aproveitando
a chance de pregar o Evangelho e fazer dis-
cípulos em todas as nações. Quando isso
acontecer em sua cidade, no seu trabalho,
em sua vizinhança ou em sua família, o
nome do nosso Senhor será exaltado.
A
Gustavo de Souza Borges
Membro da equipe de coordenação do de-partamento Profissionais em Missão (PEM) daAssociação de Missões Transculturais Brasileiras(AMTB). Bacharel em Ciência da Computaçãocom pós-graduação em Matemática e Estatística.É gerente de novos negócios em uma multinacio-nal de seguros e editor do site fazendotendas.org.Participou do Tentmaking Business as MissionCourse na Global Opportunities - EUA
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48 • Povos e Línguas
De joelhosPara os que desejam ir mais longe
Artigo
rar pelos perdidos é uma açãoda qual muito se fala, mas quepoucos realmente entendem. É
como tentar abrir um cofre trancado semconhecer a combinação. Não importaquão valioso seja o conteúdo: nós vamosacabar frustrados e vamos desistir. Porisso, a compreensão bíblica da oração éfundamental.
Jesus fazia apenas o que via o Pai fazer(Jo 5.19). Da mesma forma, devemos fa-zer apenas o que vemos o Senhor fazer.E o que Ele está fazendo? Jesus sempreestá intercedendo por nós (Hb 7.25).Cometemos um grave erro ao rotularalguns cristãos como intercessores. Issosugere que o restante de nós está livre daresponsabilidade. Não está!
A Bíblia nos ensina sobre a soberaniade Deus e as responsabilidades dos
cristãos. Jesus é claro quando diz que oSenhor da seara envia trabalhadores paraa seara, mas, para que Ele envie, os seusdiscípulos deveriam rogar para que issoacontecesse (Mt 9.38). Deus podia enviarmissionários sem os rogos da igreja, masEle incluiu as orações no Seu plano e nosdesignou essa responsabilidade.
Uma das razões principais para orar-mos por missões, além da obediência ao
Senhor, é o amor pelos nossos irmãos e
por aqueles que ainda não foram alcan-
çados. É necessário orar pelo avanço
do Reino de Deus por meio das missões
realizadas pelo mundo.
A missionária Durvalina Bezerra afirma
sabiamente que existe um trinômio:oração-avivamento-obra missionária.
A prática da oração permeava e dirigia
todas as atividades da Igreja Primitiva.
A história comprova que, quando há
oração, há liberdade para o Espírito Santo
agir (At 2.42-47).
Na Idade Média, chamada Idade dasTrevas, eram feitas vãs repetições semcomunicação real com Deus. Todaviahomens levantados pelo Senhor se dedi-caram à oração pela causa missionária:John Wycliffe, John Huss e JerônimoSavonarola.
No Movimento Morávio, os cristãos sen-tiram a necessidade de separar algumashoras diárias para o propósito da oração enão tardou vir sobre eles um derramar doEspírito Santo. Nos primeiros 20 anos deexistência da Igreja Morávia, foram envia-dos mais missionários que o protestantis-mo europeu zera em 200 anos.
Em nossa geração há uma grandemobilização de oração pelo povo mu-çulmano, por povos não alcançados,pelos indígenas e pelo reavivamentoda Igreja Europeia. Como disse Elea-nor L. Doan: “O Progresso da históriada Igreja é a história do seu povoorando”. Hudson Taylor afirmou que,durante mais de 40 anos, o sol nunca
se levantou na China sem o encontrarde joelhos, em oração.
Coorie Tem Boom, autora do livro“Refúgio Secreto”, costumava per-guntar: “Para você, a oração é o pneusobressalente ou o volante do carro?”Pare um pouco esta leitura e respon-da, bem lá no íntimo, lembrando-se deque a oração também compõe o seuchamado. Há um tremendo poder naoração que jamais pode ser ignorado,para que trabalhemos juntos em prol
do avanço missionário.
O
Dora Bomilcar de Andrade
Foi missionária da Mocidade Para Cristo (MPC),como coordenadora regional do Ministério Des-perta Débora. Coordena o programa de oração daAssociação de Missões Transculturais Brasileiras(AMTB) e apresenta o programa “Entre Amigas”na Rádio Transmundial
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Povos e Línguas • 49
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50 • Povos e Línguas
Visão 2025Uma missão a ser completada
Linguística
semente plantada no memorável
Congresso de Lausanne, em
1974, chamou a atenção da
Igreja para a existência de milhares de
grupos etnolinguísticos sem nenhumcontato com o Evangelho.
Cristãos brasileiros têm o privilégio
de ler a Bíblia em várias traduções, com
linguagem erudita e do cotidiano, com
notas de renomados comentaristas.
Essa é uma realidade distante para 1,8
mil línguas no mundo, que representam
180 milhões de pessoas. De acordo com
as Sociedades Bíblicas Unidas, 4 mil lín-
guas não dispõem da tradução completada Bíblia.
A Visão 20251 está mobilizando o
Corpo de Cristo no Brasil e no mundo
para que igrejas, sociedades bíblicas,
organizações missionárias e outros
interessados efetivamente se engajem.
Assim, cada uma dessas línguas pode
passar a ter pelo menos um projeto de
tradução em andamento até 2025.
A tradução da Bíblia, especialmente
para grupos minoritários, é uma tarefa
urgente e desafiadora. Exige paciên-
cia e perseverança, pois é realizada
em médio ou em longo prazo, mas os
resultados e o impacto na vida das
pessoas são imensuráveis.
Em muitos casos, a tradução da Bíblia
requer a análise e a graa de uma língua
ainda sem representação gráca; depen-de da produção de livros, textos, materiais
de alfabetização até chegar ao ponto de
fazer e usar uma tradução. Para atingir
esse objetivo, signicativos investimentos
materiais são feitos e vidas são dedica-
das como oferta suave no altar de Deus.
A Em muitos casos, a tradu-ção da Bíblia requer a análise
e a graa de uma línguaainda sem representaçãográca; depende da produ -ção de livros, textos, ma-teriais de alfabetização atéchegar ao ponto de fazer eusar uma tradução
1 A Visão 2025 foi adotada pelas organizações SIL International e Wycliffe International em 1999 - a resolu-ção consiste em ações para que até o ano 2025 haja um projeto de tradução da Bíblia em andamento paratodas as línguas ainda sem tradução.
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Povos e Línguas • 5
A melhor forma de investir na vida é fazer
algo que dure para a eternidade. A Palavra
de Deus flui no coração do homem como
um rio. Tem tanta vida, tanto vigor e seexpressa com tanta força para cada povo
e cada língua que nenhum poder sobre
a face da Terra pode detê-la até que seupropósito seja cumprido.2
O pastor Kiboi, do Quênia, no lme “O
Fluir da Palavra”, testemunha: “Antes de as
Escrituras chegarem ao meu povo, Jesus
nos parecia distante, um desconhecido.
Mas, agora que temos a Bíblia em nosso
idioma, Ele está caminhando conosco nes-
ta montanha. Deus está conosco [...]”.
As línguas que ainda carecem de umatradução da Bíblia estão no topo do
grande desafio. O trabalho requer novas
estratégias para concluir projetos de
tradução para línguas de difícil aces-
so, pois a maioria delas está isolada
geograficamente em países como a
Papua-Nova Guiné, onde se falam 864
línguas, das quais pelo menos 300 ne-
cessitam de uma iniciativa de tradução,
e a Indonésia. Na África Central, em
países como a Nigéria, centenas de
línguas precisam de uma tradução dasEscrituras, e aqui no Brasil ainda há
povos indígenas sem a Bíblia.
Há muitos desaos a serem superados:
a falta de recursos humanos que resultem
em missionários-tradutores, alfabetizado-
res, discipuladores para fazer o trabalho de
campo e as limitações nas nanças, que
tornam ainda maior o desao de manter os
programas iniciados e começar outros.
Novos tradutores são extremamente ne-
cessários para que outros projetos sejam
iniciados. Há várias áreas de cooperação
e atividades com as quais o povo de Deus
em missão pode se envolver:
1) Trabalhos pioneiros - novos projetos detradução, educação e uso das Escrituras;
2) Treinamento de tradutores, educadores,consultores e outros;
3) Estruturas de envio;
4) Supervisão e pastoreio no campo;
5) Formação de cotradutores, educadores
e lideranças autóctones;
6) Pesquisa: levantamento de necessida-des, logística e outros;
7) Produção de material bíblico pedagógico
que contemple o Novo e o Antigo Testa-
mentos, mídias, lmes e outros;8) Comunicação em massa: divulgação dos
desaos em igrejas, seminários, faculdades te-
ológicas, universidades e nas mídias em geral.
Toda iniciativa relacionada ao movi-
mento de tradução é bem-vinda, mas
essa tarefa é privilégio da Igreja. Ospastores e líderes devem ser os princi-
pais motivadores da missão de traduzir
a Bíblia, apoiando espiritual e finan-
ceiramente seus vocacionados para
treinamento e envio.
Para a Visão 2025 tornar-se uma reali-
dade, a Igreja e as agências missionárias,
numa só mente, devem avançar juntas
e ampliar a sua abrangência. A iniciativa
não será realizada de maneira isolada,mas em cooperação, requerendo os
recursos à nossa disposição.
O Fórum Internacional de Agências Bíbli-
cas é uma ferramenta que o Senhor está
usando para manifestar unidade. A Aliança
Global Wycliffe (AGW) está assumindo
uma posição de liderança para assegurar
o sucesso desse esforço cooperativo. Mais
de 120 organizações no mundo compõem
a AGW, e algumas são brasileiras.
A AGW estabelece sete Correntes de
Participação das quais uma instituição
precisa preencher pelo menos duas para
fazer parte da Aliança.
São elas:
1) Envolvimento com a Igreja: esse relacio-
namento inclui um enfoque na tradução da
Bíblia e/ou ministérios relacionados com
comunidades linguísticas minoritárias;
2) Oração com enfoque nas necessidades
do Movimento de Tradução da Bíblia;3) Financiamento: levantamento de re-
cursos financeiros para apoiar a tradu-
ção da Bíblia;
4) Recrutamento ou envio de pessoas;
5) Programas de Tradução da Bíblia;
6) Treinamento em funções de tradu-
ção da Bíblia: cursos relevantes para a
tradução bíblica;
7) Serviços Especializados, como consulto-
rias de tradução.
A Associação Linguística Evangélica
Missionária (Alem) coloca à disposição da
Igreja Brasileira e de suas estruturas de
envio, como agências e conselhos mis-sionários, um curso que é referência em
treinamento para missionários-tradutores
e outras áreas que envolvem a comuni-
cação do Evangelho em contextos que
demandam o aprendizado de uma língua,
sua análise, graa e a tradução da Bíblia.
Juntos podemos avançar para vermos
cumprir diante dos nossos olhos a visão do
apóstolo João: “[...] uma multidão, a qual
ninguém podia contar, de todas as naçõese tribos, e povos, e línguas, que estavam
diante do trono, e perante o Cordeiro,
trajando vestes brancas e com palmas nas
suas mãos.” (Ap 7.9).
José Carlos Alcântara
Pastor e membro do Conselho Deliberativo da As-sociação Linguística Evangélica Missionária (Alem)
Para a Visão 2025tornar-se uma realidade, aIgreja e as agências mis-sionárias, numa só mente,devem avançar juntas eampliar a sua abrangência
2 Fala extraída do flme “O Fluir da Palavra”.
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52 • Povos e Línguas
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54 • Povos e Línguas
O olhar que determina a açãoA indiferença que mantém a distância
Grupo Povos e Línguas
m geral, não se fala muito sobre
missões em nossas igrejas, a
não ser em momentos separados para
isso, anualmente nas conferências
missionárias ou em eventuais cultos
de missões. Assim, levantarmos a
questão missionária e suas inúmeras
vertentes e necessidades, como a
evangelização urbana, a ação social, o
alcance de segmentos menos evan-
gelizados, como surdos, ribeirinhos
e ciganos, parece ser um assunto
distante e recheado de estatísticas.
A tendência é não nos conectarmos
com as informações expostas e, poralguma razão, não assimilarmos a
ideia de que o trabalho entre os povos
não alcançados continua sendo uma
responsabilidade da Igreja de Jesus.
Alguns elementos parecem cooperar
com essa apatia diante das necessida-
des de avanço do Reino além-fronteiras.
Os povos não alcançados, em sua
maioria, estão geograficamente
distantes das igrejas locais, e esse
distanciamento faz com que eles per-
maneçam tecnicamente fora do raio
de ação ministerial da igreja. O perí-
metro de ação evangelística de uma
igreja local pode ser medido no que
costumo chamar de “5/5 mil” (km).
As nossas igrejas atuam bem em um
raio de 5 quilômetros até, no máximo,
50 quilômetros (Jerusalém e Judéia).
Quando passamos a falar de um
alcance de 500 quilômetros (Samaria)
e 5 mil quilômetros (confins da Terra),a igreja tende a não se comprometer
devido a fatores como investimento
em logística e pessoal ou por pura
falta de compreensão da abrangência
global da Grande Comissão.
A distância geográfica pode ter sido
uma desculpa no passado, mas em
E(...) a igreja tende a não secomprometer devido a fa-
tores como investimentoem logística e pessoal oupor pura falta de compre-ensão da abrangência glo-bal da Grande Comissão
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Povos e Línguas • 55
nossa geração a globalização rom-
peu grandes barreiras. O “mundo”, que
estava longe, tem ficado cada vez mais
perto de nós. Em menos de 48 horas um
missionário pode estar inserido no meio
de um povo não alcançado na África, na
Ásia ou no Oriente Médio. O percursopode acontecer em menos tempo, se
considerarmos os povos não alcança-
dos no Brasil ou nas Américas. Portanto,
a distância não é mais um problema. A
curta visão missionária é, muitas vezes,
proporcional à nossa perspectiva geo-
gráfica da missão, e uma v isão missio-
nária limitada costuma não enxergar os
povos não alcançados.
“O que os olhos não veem, o coração
não sente”, diz o ditado popular. Essa
máxima se aplica à maneira impessoal
com que a igreja local se relaciona com
esses povos que vemos em imagens e
vídeos de missões. Algumas iniciativas
tocam as emoções, mas não alteram o
planejamento prático e ministerial da
igreja. Os olhos ficam marejados, mas
nem sempre levam à prática imediata
da oração ou a outra ação efetiva deavanço missionário.
É importante lembrar aos vocacio-
nados e aos novos missionários que o
mais importante é o que vem depois das
lágrimas. Eles devem ser desafiados a
enxugar as lágrimas por um momento
e fazer uma pergunta crucial: o que eu
posso fazer diante da realidade que me
foi apresentada?
Há uma compreensão quase unânime
entre os missiólogos de que a melhor
abordagem missionária transcultural
são os relacionamentos. Um obreiro que
chega para viver no meio de um povo
não alcançado deve procurar rapida-
mente fazer contatos, estabelecer víncu-
los, amizades e construir gradativamen-
te a sua rede de relacionamentos. Ao
ganhar a confiança por meio da amiza-
de, as pessoas se tornam cada vez mais
abertas à apresentação do Evangelho.
É necessário lutar contra a impesso-
alidade, pois ela conduz a Igreja pelocaminho da indiferença fazendo com
que não nos importemos a ponto de
enviarmos alguém para lhes contar a
história de Jesus, o Cristo, que veio
para nos dar salvação, uma nova histó-
ria e um novo nome na eternidade.
O nosso Deus é pessoal e ama Seus
filhos de maneira individual. “Os teus
olhos viram o meu corpo ainda informe;
e no teu livro, todas essas coisas foram
escritas; as quais em continuação fo-
ram formadas, quando nem ainda uma
delas havia.” (Sl 139.16).
Pessoas com roupas, costumes e
comidas tão diferentes que parecem
que são de outro planeta: isso é o
que vem à cabeça de muitos quando
pensam em povos não alcançados. É
como se fossem alienígenas, exóti-
cos demais para nos en volver com
eles. Muitos têm medo do diferente,
pois desafia diretamente aqueles que
estão na zona de conforto.
Esses povos, muitas vezes, são
apreciados pela igreja da mesma
maneira como um turista se relaciona
com as pessoas nos países que visita
A relação é de uma curiosidade pas-
sageira, com algumas fotos e vídeos
para contar uma história e, em segui-da, a total desconexão. Não carrega-
mos conosco o desafio do que está
por trás daquele olhar, das roupas
diferentes e das comidas exóticas.
Levamos conosco apenas uma his-
tória sintetizada como um tu rista de
câmera nas mãos. Assim absorvemos
as apresentações e os dados sobre os
povos ainda não alcançados.
Costumo chamar o desconfortável
versículo de Romanos 10.14 de “O
desabafo de Paulo”: “Como, pois, in-
vocarão aquele em quem não creram?
E como crerão naquele de quem não
ouviram? E como ouvirão, se não há
quem pregue?”. Paulo sabia que o per
dido que está longe é tão importante
quanto o perdido que está perto.
Como filhos de Deus, comissiona-dos que somos (Mt 28.19), devemos
encurtar as distâncias e ter a iniciati-
va de ir até os povos não alcançados,
trazê-los para perto, caminhar junto e
ousar conhecer realidades diferentes.
Os apóstolos não mediram esfor-
ços para ir além das fronteiras mais
remotas. Se o Br asil é uma potência
para a evangelização dos povos, é
importante lembrar que nem sempre
foi assim. Um dia também fomos um
povo distante e não alcançado. Vamos
permanecer sendo uma igreja tão
grande que envia tão pouco?
Não carregamos conoscoo desafio do que estápor traz daquele olhar,das roupas diferentes edas comidas exóticas.Levamos conosco apenasuma história sintet izadacomo um turista de câ-mera nas mãos
Sadler Lopes
Grupo Povos e Línguas
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56 • Povos e Línguas
AteísmoCenário e desafos
Artigo
oi-se o tempo em que era inco-
mum encontrarmos pessoas que
não acreditam na existência de
Deus. Embora os ateus representem
uma minoria global (de 2% a 8%), a
descrença em Deus está sendo cada
vez mais popularizada e mostrada
como sendo a única opção verdadeira
para aqueles que querem assumir um
compromisso sério com a razão e a ci-
ência. Esse novo movimento de popu-
larização do ateísmo, acompanhado de
um forte requinte de ridicularização da
fé, começou a ganhar notoriedade em
2004, quando o neurocientista ateu,
Sam Harris, publicou seu livro “A Morte
da Fé”. Nos anos seguintes, mais
publicações como essa chegaram ao
mercado, como “Deus, um Delírio”, do
biólogo Richard Dawkins; “Quebrando
o Encanto”, do filósofo Daniel Dennett,e “Deus não é Grande”, do jornalista
Christopher Hitchens.
Os livros desses escritores ateus
foram traduzidos e publicados em vários
idiomas - incluindo o português e são
bestsellers no Brasil. No entanto, existe
o lado mais conservador, por assim
dizer, da descrença. Estou me referindo
ao ateísmo clássico, não militante, que
está satisfeito em manter sua visão de
mundo sem que isso signifique ridicu-
larização e marginalização da religião.
Esses ateus protestam contra a nova
agenda ateísta por acreditarem que esse
movimento vá acabar por macular a his-
tória do ateísmo, fazendo com que sua
credibilidade intelectual seja perdida.
Quando se trata de evangelização
de ateus, acredito que existam alguns
desafios singulares. Certamente não
soa natural ouvir alguém dizer que
não acredita na existência d e Deus.
Por isso, muitas vezes os cristãos
assumem uma postura intransigente
com essas pessoas, ignorando seus
argumentos, suas dúvidas e suas
inquietações. Portanto, é necessário
aprender a ouvi-las, a entender suacosmovisão e a amá-las.
Precisamos também estar dispostos
a abrir mão dos métodos clichês de
evangelismo, que não se preocupam
em ser sensíveis à contextualização.
Evangelizar um ateu é diferente de
evangelizar um descrente comum. Via
de regra, o ateu tem um pano de fundo
intelectual que faz com que ele ques-
tione a veracidade do cristianismo,
valendo-se da razão e da ciência para
tanto. Então, outro desafio missionário
é desenvolver um método de evange-
lismo apologético que se preocupa em
responder com precisão às objeções e
aos questionamentos deles (1Pe 3.15).
Talvez você tenha se deparado como sentimento de que os verdadeiros
missionários são aqueles que desejam
ir para a África, para o Oriente Médio ou
para as favelas do Brasil. No entanto,
precisamos de missionários nas uni-
versidades brasileiras e em países onde
o ateísmo tem crescido rapidamente,
como Inglaterra, França, Dinamarca e
Suécia. Já é hora de despertarmos para
esse campo missionário e investirmos
na evangelização de ateus.
F
Jonathan Silveira
Trabalha na área de produção editorial e marketingda Edições Vida Nova, formado em Direito e alunodo programa Master of Divinity na Escola de Pastoresda Primeira Igreja Batista de Atibaia - SP. Dedica-seao estudo da Apologética, Filosofia e Cosmovisão,e é coordenador do ministério TUPORÉM - websitededicado à disponibilização de recursos nas áreas deestudo mencionadas
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Povos e Línguas • 57
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58 • Povos e Línguas
Servindoaos Pastores e Líderes - Sepal
Como Irão?
Servindo aos Pastores e Líderes
(Sepal) é uma missão interna-
cional, interdenominacional e
multicultural estabelecida no Brasil
desde 1963. Nesses 53 anos de ser-viço às lideranças da Igreja Brasileira,
a Sepal pratica o discipulado, treina-
mento, a capacitação, a mentoria de
pastores e o desenvolvimento de ma-
terial de apoio ministerial. Sua missão
é mobilizar líderes de igrejas que sejam
eficazes e comprometidos com Deus e
consequentemente com o objetivo de
alcançar as nações, conforme a orien-
tação de Jesus: “Portanto ide, fazei
discípulos de todas as nações, bati-
zando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo.” (Mt 28.19).
A One Challenge International, que
gerou a Sepal Brasil e diversas agên-
cias missionárias ao redor do mundo,
nasceu em Taiwan, no início da década
de 50. A One Challenge foi motiva-
da pela necessidade de treinamento
bíblico e ministerial a milhares de
convertidos chineses entre as forças re
cém-derrotadas pelo regime comunista
Essa demanda gerou o engajamento dededicados homens e mulheres de Deus
que se consagraram como “servos
por amor a Jesus” (2 Co 4.5). Servir se
tornou sua filosofia de ministério e o
mesmo se deu ao se instalar no Brasil.
Hoje a Sepal é membro da One Chal-
lenge Global Alliance (OCGA) e, com as
organizações-membro dessa mesma
Aliança, compõe equipes ministeriais
em todo o mundo.
No Brasil, a missão foi pioneira
na criação de diversos ministérios,
como “Vencedores por Cristo”, “Lar
Cristão” e o “Ministério de Apoio a
Pastores e Igrejas” (Mapi). Grande
parte da liderança evangélica no país
foi profundamente influenciada pelos
“Encontros Sepal para Pastores e Lí-
A No Brasil, a missão foi pio-neira na criação de diversos
ministérios, como “Vence-dores por Cristo”, “Lar Cris-tão” e o “Ministério de Apoioa Pastores e Igrejas” (Mapi)
F o t o s : S e p a l
Encontro Sepal realizado em 2012 com o tema ‘’Igreja Irresistível’’, em Águas de Lindóia, São Paulo
F o t o s : S e p
a l
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Povos e Línguas • 59
deres”, que está às vésperas da sua 44ª
edição, em maio de 2016, com o tema
“Integrando Gerações”.
Vale lembrar que em um tempo em quea Igreja Brasileira tinha pouco ou nenhum
acesso a informações ou a material de
apoio referente ao desafio transcultu-
ral, uma parcela significativa da força
missionária foi inspirada e orientada pela
mobilização e pelo conteúdo de pesqui-
sas produzido pela Sepal. Portanto, aolongo dos anos, sua liderança vem se
empenhando para mantê-la como uma
agência de apoio à igreja, atuando de for-
ma relevante ao considerar os desafios
da contemporaneidade.
A Sepal aplica 93% de todos os seus
recursos diretamente no ministério e
apenas 7% em custos operacionais.
Como instituição missionária, funciona
como uma plataforma de apoio para a
atuação ministerial de todos os seus
missionários, servindo-os à medida
em que servem ao Senhor no trilho das
suas vocações.
Há cerca de uma década, a Sepal se
tornou também um centro de mobili-
zação missionária, enviando pessoas
que fazem diferença para atuarem pelo
mundo. A instituição conta com 99 mis
sionários que servem no Brasil, com-
pondo sete equipes distribuídas pelas
regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e
Nordeste. Estão presentes em outros
12 países e em cinco continentes, onde
atuam com a mesma visão de servir
às igrejas locais, contribuindo para
que sejam suficientemente fortes para
alcançar o seu povo.
Com o foco voltado para o avanço do
Reino, a Sepal mobiliza também prossio-
nais e empreendedores, estimulando-os acriar estratégias para o avanço do Reino de
Deus no mundo, entendendo que, apesar
de não ser nova, trata-se de uma estratégia
ecaz e relevante para os nossos dias.
www.sepal.org.br
(11) 5523-2544
A instituição conta com 99missionários que servem noBrasil, compondo sete equi-pes distribuídaspelas regiões Sul, Sudeste,
Centro-Oeste e Nordeste.Estão presentes em outros 12países e em cinco continen-tes, onde atuam com a mes-ma visão de servir às igrejaslocais, contribuindo para quesejam sucientemente fortes
para alcançar o seu povo
Abertura do Encontro Sepal 2012 Diversos momentos de oração são promovidos durante os encontros
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60 • Povos e Línguas
VindeIndo
oçambique é um país da África
austral com um dos piores
Índices de Desenvolvimento
Humano do mundo. Há incontáveis
deficiências em áreas fundamentais,como saúde, educação e saneamento.
Todavia, mesmo com tantos desafios
e limitações, é possível reconhecer
nos olhos do povo uma força e uma
alegria singulares.
Mais de 70% da população moçam-
bicana vive na área rural, e o ensino
pré-escolar ainda não é obrigatório.
É visível a dificuldade de aprendizado
das crianças nas classes iniciais. Elas
não têm acesso aos meios de comu-
nicação e, em muitas c omunidades,
não há energia elétrica.
As crianças são expostas a vários
tipos de privação e violência. Muitas
não conseguem avançar nos estudos e
veem pouca ou nenhuma possibilidade
de conseguir chegar à universidade e
se desenvolver profissionalmente.
Além de todos os fatores sociais que
pressionam a criança moçambicanapara fora da escola, há uma barreira: a
língua. No contexto familiar, a comuni-
cação acontece por meio de dialetos e,
ao serem matriculadas na escola, aos
6 anos de idade, as crianças se depa-
ram com todo o material didático em
português. Os professores não recebem
o preparo adequado para auxiliar as
crianças no processo de transição da
língua. Ao apresentar fortes dificulda-
des de aprendizado e sem o apoio de
profissionais especializados, a crian-
ça desiste de ir à escola. Com isso, o
índice de evasão escolar extrapola os
limites aceitáveis.
Ainda bem pequenas, as cr ianças
começam a acompanhar seus pais até
as “machambas”, áreas de cultivo para
a subsistência da família. As planta-
ções geralmente ficam distantes das
casas. Todos os filhos devem ajudar
na lavoura. O irmão mais velho deve
cuidar do mais novo e assim as criançassão cuidadas umas pelas outras sem a
ajuda de um adulto. A situação acarreta
inúmeros acidentes domésticos.
A maioria dos pais não prioriza a frequên-
cia dos lhos na escola e a baixa expecta-
tiva de vida do povo moçambicano leva-os
naturalmente a se preocupar mais com a
sobrevivência. Por isso, a ajuda dos lhos
na plantação é tão importante.
Os desaos são enormes! Há muitos moti-
vos para que as crianças deixem a escola ou
nem mesmo se matriculem, porém Deus, com
todo o Seu amor, é capaz de levar esperança
para esses pequeninos. A Escola Comunitá-
ria Vinde é uma missão cristã com foco na
evangelização de crianças e adolescentes por
meio da educação infantil e do esporte.
M
Crianças africanas são exposta a uma realidade que força a evasão escola
Uma luta contra a evasão escolar de crianças moçambicanas
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Povos e Línguas • 6
A Escola atende crianças em idade
pré-escolar (3 a 5 anos). Há um esforço
do governo do país para implantar o
sistema de estudo para cr ianças nessa
faixa etária, mas ainda há muito porfazer diante da demanda social, espe-
cialmente na zona rural.
Outro trabalho desenvolvido pela Escola
é o reforço escolar oferecido para crian-
ças que transitam para o ensino primário
(entre a 1ª e a 4ª série). Nessa fase há
muitas crianças com dificuldade para ler
e escrever. O projeto fornece alimentação
adequada, apoio médico e acompanha-
mento familiar. Portanto, toda a família
pode ser alcançada e beneficiada.
O esporte, especialmente o futebol, é ou-
tra oportunidade de gerar pontes. Assim,
a Vinde também oferece aulas de futebol
para meninos com idade entre 9 e 17
anos, fase em que muitos deles já estão
fora da escola. Alguns já estão até casa-
dos e têm lhos, mesmo sem formação
prossional nem condições básicas para
sustentar a casa. Outros já estão mergu-
lhados no alcoolismo e na prostituição.
A Escola é um ambiente propício para
aprenderem o valor da disciplina a par tir
do esporte. Esse acompanhamento os
ajuda a refletir sobre suas escolhas. Por
meio do esporte, alguns deles conse-
guem se mudar para outras cidades e
fazer cursos profissionalizantes.
Em 2016, o grande desafio é a estru-
turação da sede da escola. O projeto
visa a construção de três salas de
aula, uma secretaria, uma cozinha com
refeitório, banheiro e uma sala para
aulas de artesanato. As paredes das
salas de aula já foram levantadas e,
sempre que oramos, o Senhor nos leva
a perseverar e a continuar trabalhando
para a conclusão da obra. Sempre que
somos tentados a desistir, lembramos
das palavras de Paulo: “Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro para
que a excelência do poder seja de Deus
não de nós. Em tudo somos atribula-
dos, mas não angustiados; perplexos,mas não desanimados [...]” (2 Co 4.7-8)
Cristo nos fortalece. É por Ele que deve
mos permanecer amando e trabalhando
em prol do avanço do Reino.
Todos os dias fazemos um culto com as
crianças. Vê-las aprendendo a orar, bus-
cando em primeiro lugar o Reino de Deus,
é impagável. Este é o objetivo de todo e
qualquer esforço: a manifestação de Cristo
por meio da nossa vida. Nele encontramosforças para superar todos os problemas
sociais que testemunhamos diariamente.
Jesus é a verdadeira esperança!
Patrícia Varella Silva Teixeira
Missionária e educadora infantil servindo emMoçambique - África
Crianças atendidas pelo projeto Crianças moçambicanas durante atividade pedagogica
A r q u i v o P e s s o a l
A r q u i v o P e s s o a l
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62 • Povos e Línguas
Missão JuvepComo Irão?
forma mais efetiva de evan-
gelizar uma cidade, uma
região ou uma nação é plan-
tando igrejas bíblicas. Por isso, a
principal meta da Missão Juvep émobilizar esforços para o plantio
de igrejas no sertão nordestino
e entre os povos minoritários da
região, que estão entre os menos
evangelizados do Brasil .
Como uma missão interdenomina-
cional, a Juvep trabalha com liberda-
de, apoiando iniciativas de plantação
de igrejas. Sua sede está localizada
estrategicamente na região metropo-litana de João Pessoa, a capital mais
equidistante da Região Nordeste.
A Missão dispõe de quatro progra-
mas ativos de suporte para o desen-
volvimento de projetos relacionados
com a plantação de igrejas no sertão.
O primeiro deles é destinado ao sertão
urbano, que consiste na realização de
projetos em cidades com menos de 5%
de cristãos evangélicos. Os projetos
missionários de férias acontecem nos
meses de janeiro e julho com excelen-tes estratégias para o início do plantio
de uma igreja sertaneja.
Na zona rural nordestina há mais de 6
mil povoados sem uma igreja. Nessas
localidades, a Missão desenvolve o
Projeto Radical Sertão em que voluntá-
rios dedicam 18 meses para trabalhar
estrategicamente divididos em equipes
visando o plantio de igrejas nos povoa-
dos rurais não alcançados.
Entre os povos minoritários é
desenvolvido o Projeto TriRadical no
qual os candidatos formam equipes
que dedicam um ano para se capaci-
tar no Centro de Preparo Missionário
da Juvep e posteriormente dedicam
dois anos para o trabalho de campo,
A Na zona rual nordestina hámais de 6 mil povoados
sem uma igreja. Nessaslocalidades a Missão de-senvolve o Projeto RadicalSertão em que voluntáriosdedicam 18 meses para tra-balhar estrategicamente
F o t o : P o v o s e L í n g u a s
Os sertanejos estão entre os povos menos evangelizados do Brasi
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Povos e Línguas • 63
que pode ser feito em uma tribo indí-
gena, numa comunidade quilombola ou
em um rancho cigano. Em João Pes-
soa (PB) também funciona o Seminário
Teológico da Missão, que conta com
mais de 200 alunos.
Com vistas em ações de longo
prazo, a Missão desenvolve o Proje-
to Desbravadores, que consiste no
envio de casais de missionários para
comunidades inóspitas de sertanejos
ou de povos minoritários para a evan-
gelização, o discipulado e o desenvol-
vimento de projetos de cidadania que
culminem no plantio de igrejas.
O Sertão Nordestino é cheio de pecu-
liaridades e de ricas manifestações cul-
turais que precisam ser consideradas
no processo de plantação de igrejas.
Assim, com o objetivo de atender mis-
sionários que necessitam de preparo
nessa área, a Juvep oferece o curso de
“Plantio de igrejas e Cultura Sertaneja”,
uma ferramenta estratégica que torna
mais eficaz o processo de evangeliza-
ção e discipulado de sertanejos.
A Missão também trabalha com o de-
senvolvimento de projetos sociais co-
nectados à igreja local para beneficiar
crianças e adolescentes, promovendo
melhoria da renda familiar, abasteci-
mento de água em povoados rurais,
discipulado infantil, esclarecimento
sobre os riscos relacionados ao uso
de drogas e a promoção de ações para
suporte às comunidades em situações
de emergência.
No campo das missões transcultu-
rais, a Juvep trabalha com capacita-
ção de líderes e plantio de igrejas em
nações menos evangelizadas. A Juvep
já atuou no Peru e, desde 2001, está na
Índia e no Timor-Leste. Agora a Mis-
são se prepara para enviar novos mis-
sionários para os continentes africano,
asiático e para nações sul-americanas
Por meio do Departamento de Envio
e Cuidado Missionário, a Juvep apoia
igrejas locais no processo de envio epastoreio de missionários no campo.
Há muitas necessidades extremas
entre sertanejos rur ais, comunidades
quilombolas, indígenas e ciganas. A
Igreja Brasileira precisa se unir cada
vez mais em prol da evangelização
desses grupos, pois é certo que a
Igreja Nordestina tem um gr ande
potencial de envio missionário e que,
ao longo dos próximos anos, muitossertanejos serão env iados aos quatro
cantos do mundo.
www.juvep.com.br
(83) 3248-2095
Trabalho de evangelização realizado em São Miguel do Tapuio, Piauí Equipe do Projeto 60º promovido pela Missão Juvep, em Buruti dos Montes, Piauí
F o t o s : P o v o s e L í n g u a s
F o t o : J u v e p
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64 • Povos e Línguas
Tensãodesnecessária
Coluna
iz o antigo Credo Niceno1: “Creio
na Igreja una, universal e apos-
tólica”. Cristãos se caracterizam
por crerem em uma Igreja2 que é “ca-
tólica” (universal) e “apostólica”. Como
veremos, essa antiga confissão cristã
preserva a noção de que a missão cristãnão é apenas um “acessório” ou uma
“tarefa adicional” da Igreja. Pelo contrá-
rio. O envio missionário é um dos aspec-
tos que definem sua natureza.
Em seu livro “The Drama of Doctrine”
(O Drama da Doutrina), Kevin Vanhoozer
se vale de uma explicação interessante
sobre essa dupla característica da Igre-
ja. Segundo ele , o Esp írito Santo opera
a partir de duas “forças” ou “movimen-tos” constantes. Uma força centrípeta,
que atrai a Igreja para o centro de sua
identidade, para a reunião dos santos e
sua comunhão em torno do Evangelho
de Jesus Cristo, a doutrina apostólica
e os sacramentos (ceia e batismo). A
outra força é centrífuga, que impulsiona
e envia a igreja para fora, para o mundo,
para as pessoas fora de seu círculo
comunitário. O primeiro movimento é
chamado de “catolicidade”3; o segundo
é a “apostolicidade”.
O modelo que compreende a Igreja
como sendo católica e apostólica ajuda
a entender a tensão que eventualmente
acomete a relação entre a “igreja local”
e a “Missão da Igreja”. Muitas vezes,
alguns desconfortos entre “pastor” e
“missionário” nascem precisamente de
uma eclesiologia4 ou de uma missiolo-
gia empobrecidas.
Pastores e missionários podem se
entender melhor a partir dessa dupla
compreensão da natureza da Igreja. É
verdade que os vocacionados para o
serviço na igreja local podem cair natentação de ignorar a vocação apostó-
lica da Igreja; mas também é verdade
que missionários podem cometer o erro
oposto, depreciando a necessidade de
catolicidade e da identidade local e se-
rem displicentes nos vínculos comuni-
tários locais e visíveis.
A apostolicidade se relaciona com a
catolicidade da Igreja e vice-versa. A ta-
D
¹ O Credo Niceno-Constantinopolitano é um dos mais importantes documentos de unidade da Igreja Cristã no
mundo. Praticamente todos os cristãos, das diversas confissões, como evangélicos, católicos romanos, orto-
doxos orientais, coptas e episcopais, concordam com os termos que ali aparecem. ² Neste texto adoto o termo “Igreja” com “I” maiúsculo para me referir ao Corpo de Cristo, a Igreja Invisível e
Mística, de todos os tempos e em todos os lugares do mundo. Quando uso “igreja” com “i” minúsculo, refiro-me
à Igreja como ela se expressa na visibilidade da reunião local dos santos, o culto público, participando dos
sacramentos, desfrutando da palavra do Evangelho pregada, comungando e sendo servida e pastoreada por
oficiais devidamente ordenados.
³ Os termos “católicos” e “catolicidade” não são utilizados aqui com o sentido “católico romano”, mas com o
seu sentido original grego. “Católico” quer dizer em grego aquilo que é “comum a todos” ou que é “universal”.
4 Aquilo que diz respeito à Igreja. Eclesiologia é o campo da teologia que estuda a identidade e a natureza da Igreja.
É possível perceber quea integração entre cato-licidade e apostolicidadepode, enm, promover
uma experiência renova-dora e inspiradora entre aigreja e a missão
Eclesiologia e missiologia
8/18/2019 02 Fevereiro 2016 App
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Povos e Línguas • 65
refa apostólica da Igreja (sua missão) é plan-
tar comunidades de fé a partir da penetração
de cristãos na sociedade e nas comunidades
culturais, como famílias, tribos nativas, tribos
urbanas, agrupamentos sociais e institucio-
nais. Por outro lado, a igreja local é fruto de
um trabalho missionário e deve ser enco-rajada, educada, pastoreada e enviada para
cumprir sua função apostólica.
É possível perceber que a integração entre
catolicidade e apostolicidade pode, enfim,
promover uma experiência renovadora e ins-
piradora entre a igreja e a missão. O famoso
texto de Paulo em Efésios 4.11-13 conecta os
ministérios da Igreja (e/ou igreja local) com
o sucesso da Missão de Cristo como efeitode sua encarnação e ascensão. Pois Cristo
é aquele que, em Sua “unidade” com o Pai,
“encheu todas as coisas” (Ef 1.23), depois de
ser “enviado” (apesteilen) em missão para
reconciliar todas as coisas com Deus, o Pai.
Em tempos em que o termo “apóstolo” tor-
na-se um título eclesiástico, é fundamental
não perdermos a noção de que sua conota-
ção bíblica é eclesiológica. A palavra “após-
tolo” vem do grego apóstolos e significa
simplesmente enviado, emissário, mensagei-
ro ou delegado para uma tarefa. É claro que
devemos fazer distinção entre os primeiros
apóstolos, claramente enviados pelo próprio
Cristo, e aqueles que depois são “enviados”
(apostoloi) pela Igreja ao longo do tempo.
A partir de uma leitura cuidadosa do
livro dos Atos dos Apóstolos, vemos que a
característica predominante dos primeirosapóstolos era de serem cristãos particular-
mente vocacionados por Deus e equipados
pelo Espírito Santo com uma diversidade de
competências para plantar e edificar igrejas
em locais ainda não alcançados pelo Evange-
lho de Cristo. Parece razoavelmente plausível
que essa definição se encaixe bem no perfil
da tarefa missionária em sentido estrito.
Em seu comentário de Efésios, João
Calvino assevera que os serviços descri-
tos em Efésios 4.11-13 não se relacionam
com títulos vazios, mas com vocações e
competências claramente dadas por Deus.
Precisamos nos libertar da necessidade
de titulação e nos concentrar no apoio apessoas que apresentam competências
claramente apostólicas, proféticas, evange-
lísticas e/ou pastorais e didáticas.
O ministério com característica apostólica
tende a ser polivalente justamente por seu
perfil pioneiro. Vocações com características
proféticas se relacionam com aquela habi-
lidade graciosa para discernir a vontade de
Deus pelas Escrituras, no poder do EspíritoSanto, para orientar, admoestar e edificar
pessoas nessa vontade.
Missionários (emissários) podem ser per-
feitamente auxiliados por ministérios com
características evangelísticas que, mesmo
sendo uma tarefa de todo cristão, vale-se de
gente com competências particulares para
comunicar o Evangelho de forma mais efi-
ciente. Pastores-mestres orientam, educam e
edificam a igreja na verdade evangélica comorevelada nas Escrituras Sagradas. A vocação
missionária está mais na ponta apostólica da
Igreja, enquanto pastores-mestres concentram
suas atividades na dimensão mais católica.
Portanto, não faz sentido criar uma tensão
entre igreja local e missão, pois a Igreja é, e
sempre será, fundamentalmente católica e
apostólica. Os serviços descritos pelo após-
tolo Paulo apreciam e integram a catolici-
dade e a apostolicidade de uma Igreja que é
una como Cristo é.
Igor Miguel
Casado com Juliana Miguel e pai de João Miguel.Teólogo, pedagogo e mestre em Letras pela USP. Coor-denador pedagógico da ONG OMCV e pastor na IgrejaEsperança, em Belo Horizonte - MG
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66 • Povos e Línguas
Campos Brancos
Saiba como se envolver
Este espaço é destinado às agências missionárias que são
referência no desenvolvimento de projetos nacionais e transcul-
turais. Nesta seção são publicadas informações relacionadas
à abertura de projetos e demandas de campos existentes que
precisam de missionários.
Centro de Missões Urbanas (Cemu)
Local: Nepal
Campo: Capital Kathmandu e vilarejos nas montanhas
Projeto/ação: Plantação de igrejas, desenvolvimento de projetosna área do esporte e criação de casas de abrigo para crianças
em vulnerabilidade social.
Público-alvo: Nepaleses de todas as faixas etárias.
Formação: Preparo missiológico, aptidão e treinamento na
área esportiva.Idioma: Fluência em inglês. O idioma local será aprendido no país.
Habilidade: Aptidão para treinamento e pastoreio, capacidadepara trabalhar com crianças e jovens.
Tempo de execução: Indeterminado
Contato:[email protected]
WEC BRASIL (Missão Amem)
Local: Bélgica.
Campo: Região de Liége.
Projeto/ação: Plantação de igrejas autóctones.
Público-alvo: Povo de língua francesa e imigrantes.
Formação: Bacharel em teologia/missiologia.
Idioma: Fluente em francês e inglês.
Habilidade: Flexibilidade, capacidade de adaptação, criatividade,organização e boa comunicação.
Tempo de execução: 2 anos
Contato: [email protected]
Missão Evangélica da Amazônia (Meva)
Local: Brasil.
Campo: Indígena.Projeto/ação: Trabalho de base na cidade de Boa Vista - RR. Desenvolver ministério de apoio (compras) para missionários daMeva que moram em aldeias da região.
Público-alvo: Famílias
Formação: Teologia e conhecimento básico em administração.
Idioma: Português
Habilidade: Organização e disposição física.
Tempo de execução: Indeterminado
Contato: [email protected]
Missão Evangélicaaos Índios do Brasil (Meib)
Local: Brasil.
Campo: Aldeamentos e áreas urbanas onde há um alto índice dealcoolismo, suicídio e vulnerabilidade social nos estados do Pará
e do Maranhão.Projeto/ação: Evangelização, discipulado, treinamento deliderança autóctone e plantio de igrejas indígenas. Via-gens missionárias, retiros espirituais, classes com cr ian-ças e adolescentes, cursos bíblicos bilíngues e açõessociais na área de saúde.
Público-alvo: Etnias indígenas Guajajara, Kayapó, Xikrin, Kanela,
Tembé e Anambé.
Formação: Teologia, Linguística, Enfermagem, Pedagogia, Músi-ca e Agronomia.
Idioma: Português e habilidade para aprender idiomas
Tempo de execução: 5 anos (mínimo)
Contatos: [email protected]
Junta de Missões Mundiais (JMM)
Local: Oriente Médio.
Campo: Campos de refugiados, com incursões por localidadespróximas e apoio à comunidade cristã local.
Projeto/ação: Voluntariado missionário para levar ajuda humani-tária e espiritual a pessoas que vivem em campos de refugiados.
Público-alvo: Refugiados de todas as idades, independente-mente de religião.
Formação: Medicina, enfermagem e outras formações naárea da saúde.
Idioma: Inglês, francês ou árabe.
Habilidade: Aptidão para cuidados com a saúde.
Tempo de execução: aproximadamente 12 dias em agosto de 2016
Contato: [email protected]
Missão Kairós
Local: Senegal.
Campo: RusqueProjeto/Ação: Centro de saúde Casa de Vida (Keru Dund),que oferece aos senegaleses atendimento médico, aulassobre nutrição às mães e controle de peso das criançassubnutridas. Farmácia comunitária com medicações gené-ricas e vídeos educativos na área de saúde preventiva.
Público-alvo: público em geral
Formação: Dentistas, bioquímicos, nutricionistas e clínicos gerais.
Idioma: Francês
Tempo de Execução: Indeterminado
Contato: [email protected]
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Povos e Línguas • 67
Com mais de 10 anos de história, o ministério
Nívea Soares tem alcançado pessoas em diversas
nações com uma declaração de amor e exaltação
a Jesus em forma de canções. Sua visão é
anunciar as boas-novas do evangelho de Cristo
trazendo despertamento à igreja em relação ao
seu lugar em Deus e na sociedade
Seu chamado é ser facilitador para que mais e
mais pessoas se acheguem ao único Deus e
sejam cheias do Seu Espírito
Então conheçamos e prossigamos em
conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva
é certa; e Ele a nós virá como a chuva, como
chuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3
ESTES E OUTROS PRODUTOS ESTÃO DISPONÍVEIS EM
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