03_epidemiologia

download 03_epidemiologia

of 84

description

p

Transcript of 03_epidemiologia

  • UNA-SUSProcesso de Trabalho e Planejam

    ento na Estratgia Sade da Famlia -2012

    Secretaria de Estado da SadeSanta Catarina

    Universidade Aberta do SUS

    Universidade Aberta do SUS

    Eixo I - Eixo I Reconhecimento da Realidadeconhecimento da Realidade

    Epidemiologia

    Ateno BsicaEspecializao Multiprossional naEspecializao Multiprossional na

    CCS

    UFSC

  • GOVERNO FEDERAL

    Presidente da RepblicaMinistro da Sade Secretario de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade (SGTES) Diretora do Departamento de Gesto da Educao na Sade (DEGES) Coordenador Geral de Aes Estratgicas em Educao na Sade Responsvel Tcnico pelo Projeto UNA-SUS

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Reitora Roselane Neckel Vice-Reitora Lcia Helena Pacheco Pr-Reitora de Ps-graduao Joana Maria Pedro Pr-Reitor de Pesquisa Jamil Assereuy FilhoPr-Reitor de Extenso Edison da Rosa

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    Diretor Srgio Fernando Torres de Freitas Vice-Diretora Isabela de Carlos Back Giuliano

    DEPARTAMENTO DE SADE PBLICA

    Chefe do Departamento Antonio Fernando Boing Subchefe do Departamento Lcio Jos BotelhoCoordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho

    COMIT GESTOR

    Coordenadora do Curso Elza Berger Salema Coelho Coordenadora Pedaggica Kenya Schmidt Reibnitz Coordenadora Executiva Rosngela Leonor Goulart Coordenadora Interinstitucional Sheila Rubia Lindner Coordenador de Tutoria Antonio Fernando Boing

    EQUIPE EAD

    Alexandra Crispim BoingAntonio Fernando BoingEleonora Milano Falco VieiraMarialice de MoresSheila Rubia Lindner

    AUTORES 1 EDIO 2 EDIO ADAPTADA

    Antonio Fernando Boing Antonio Fernando BoingEleonora dOrsi Eleonora dOrsiCalvino Reibnitz Jnior Calvino Reibnitz Jnior

    REVISORES Marco Aurlio de Anselmo PeresErno Harzheim

  • Epidemiologia

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    Florianpolis

    2013

    Eixo I Reconhecimento da Realidade

    UFSC

    Verso adaptada do curso deEspecializao Multiprossional em Sade da Famlia

  • 2013 todos os direitos de reproduo so reservados Universidade Federal de Santa Catarina. Somente ser permitida a reproduo parcial ou total desta publicao, desde que citada a fonte.

    Edio, distribuio e informaes:Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitrio, 88040-900 Trindade Florianpolis SCDisponvel em: www.unasus.ufsc.br.

    Ficha catalogrfica elaborada pela Escola de Sade Pblica de Santa Catarina Bibliotecria respon-svel: Eliane Maria Stuart Garcez CRB 14/074

    Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Cincias da Sade. Curso de Especializao Multiprofissional na Ateno Bsica. Epidemiologia [Recurso eletrnico] / Universidade Federal de Santa Catarina; Antnio Fernando Boing; Eleonora DOrsi; Calvino Reibnitz Jnior 2. ed. Florianpolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.

    95 p. (Eixo 1 Reconhecimento da Realidade).

    Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

    Contedo do mdulo: Conceitos de epidemiologia. Indicadores de Sade. Sistema de Informao em Sade (SIS). Acessando os Sistemas de Informao em Sade (SIS). O Uso da Epidemiologia no Contexto da sua Unidade de Sade.

    ISBN: 978-85-61682-73-6

    1. Epidemiologia. 2. Indicadores de sade. 3. Sistemas de informao. I. UFSC. II. Boing, Antnio Fernando. III. DOrsi, Eleonora. VI. Reibnitz Jnior, Calvino. V. Ttulo. VI. Srie.

    CDU: 616-036.22

    EQUIPE DE PRODUO DE MATERIAL

    Coordenao Geral da Equipe: Eleonora Milano Falco Vieira, Marialice de MoraesCoordenao de Produo: Giovana SchuelterDesign Instrucional: Isabel Maria Barreiros Luclktenberg Reviso Textual: Ana Lcia P. do Amaral Design Grfico: Fabrcio SawczenIlustraes: Aurino Manoel dos Santos Neto, Rafaella Volkmann Paschoal Design de Capa: Rafaella Volkmann Paschoal

    U588e

  • SUMRIO

    Unidade 1 conceitos da epidemiologia .......................................................111.1 Definio da Epidemiologia .............................................................................. 111.2 Incio da Epidemiologia..................................................................................... 121.3 Aplicaes da Epidemiologia ............................................................................ 131.4 Outras Definies ............................................................................................. 161.5 Medidas de Frequncia de Doenas ................................................................. 17

    RefeRncias .........................................................................................24

    Unidade 2 indicadoRes de sade ...............................................................272.1 Indicadores de Sade: Tipos e Aplicaes ......................................................... 272.2 Indicadores de Mortalidade .............................................................................. 32

    2.2.1 Mortalidade Proporcional por Causas ......................................................... 322.2.2 Mortalidade Proporcional por Idade............................................................ 342.2.3 Curvas de Mortalidade Proporcional ......................................................... 352.2.4 Taxa ou Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM) ......................................... 372.2.5 Taxa de Mortalidade Especfica por Sexo, Idade ou Causa ........................... 392.2.6 Mortalidade Infantil ................................................................................... 402.2.7 Mortalidade Materna ................................................................................ 45

    2.3 Indicadores de Fecundidade ............................................................................. 472.4 Indicadores de Hospitalizaes e Mortes Evitveis............................................ 50

    2.4.1 Internaes por Condies Sensveis Ateno Primria ............................ 502.4.2 Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitveis

    por Intervenes do Sistema nico de Sade .............................................. 51RefeRncias .........................................................................................52

    Unidade 3 sistema de infoRmaes em sade (sis) ......................................55RefeRncias .........................................................................................61

  • Unidade 4 acessando os sistemas de infoRmaes em sade (sis) ..................634.1 Sistema de Informaes sobre Mortalidade (SIM) ............................................. 634.2 Sistema de Informaes sobre Nascidos Vivos (SINASC) ................................... 684.3 Sistema de Informao de Agravos de Notificao (SINAN) ............................... 714.4 Sistema de Informaes Hospitalares do Sistema nico de Sade (SIH-SUS) .... 734.5 Sistema de Informao de Ateno Bsica (SIAB) ............................................. 754.6 Outros Sistemas de Informaes de Sade....................................................... 78

    4.6.1 Sistema de Informaes sobre Oramento Pblico em Sade (SIOPS) .......... 784.6.2 Programa de Ateno Hipertenso Arterial

    e ao Diabetes mellitus (HIPERDIA) .............................................................. 784.6.3 Sistema de Vigilncia Alimentar e Nutricional (SISVAN) .............................. 794.6.4 SisPreNatal ............................................................................................ 794.6.5 Sistema de Informao do Programa Nacional de Imunizao (SI-PNI) ......... 794.6.6 Sistema Nacional de Informaes Txico-Farmacolgicas (SINITOX) ............ 79

    RefeRncias .........................................................................................80

    sntese do mdUlo ................................................................................82

    aUtoRes ..............................................................................................83

  • APRESENTAO DO MDULO

    Caro(a) aluno(a),

    Seja bem-vindo (a)! Voc est iniciando o estudo do mdulo de Epidemiologia, cujos conceitos e mtodos so aplicados a um amplo espectro de aes de promoo de sade e preveno de doenas e agravos.

    Neste mdulo voc entrar em contato com uma srie de mtodos e ferramentas que podem ser utilizados para orientar decises em sade e para contribuir no desenvolvimento e avaliao de intervenes voltadas ao controle e preveno dos problemas de sade.

    Iniciaremos conceituando epidemiologia e conhecendo seus usos e aplicaes no campo da Sade Coletiva. Tambm conheceremos as medidas de frequncia de doenas: a incidncia e a prevalncia. Aplic-las em seu cotidiano profissional de grande relevncia para a prtica assistencial, em aes de preveno de doenas e na promoo da sade na sua comunidade.

    Tambm discutiremos alguns importantes indicadores da sade, reforando a importncia do uso de alguns que voc j conhece e apresentar outros, cujo uso so desejveis na ESF. Tais indicadores podem ser obtidos a partir de Sistemas de Informaes em Sade, que, como mostraremos, so de fcil uso e enorme potencial para a Equipe de Sade da Famlia pensar e avaliar suas aes e estratgias desenvolvidas.

    Todo o Mdulo est pensado para a aplicao prtica e com vrios exemplos na ESF.

    Desejamos que, a cada unidade, voc desenvolva novos conhecimentos e habilidades para aplicar junto com sua equipe na sua prtica em Sade da Famlia.

  • Ementa

    O desenvolvimento do processo de reconhecimento da realidade por meio de instrumentais epidemiolgicos. Sistemas de Informaes em Sade. Anlise de dados para diagnstico das situaes de sade.

    Objetivo geral

    Ao final do mdulo, voc dever ser capaz de compreender as possibilidades de uso da epidemiologia em sua rotina de trabalho na Ateno Bsica, calcular alguns dos principais indicadores de sade e acessar diferentes sistemas de informaes em sade existentes no pas.

    Objetivos especficos

    Conceituar epidemiologia e conhecer as principais medidas de frequncia de doenas utilizadas na sade pblica.

    Calcular e interpretar alguns dos principais indicadores de sade utilizados no trabalho na Ateno Bsica.

    Debater a utilizao cotidiana dos indicadores de sade como compromisso de todos os que atuam no Sistema nico de Sade.

    Explorar alguns dos principais Sistemas de Informaes em Sade, identificando os meios de acess-los, os indicadores de sade que produzem e suas potencialidades para a Ateno Bsica.

    Reconhecer as possibilidades do uso da epidemiologia no contexto da sua Unidade de Sade.

    Carga horria: 30h

    Unidades de Contedo

    Unidade 1: Conceitos de epidemiologiaUnidade 2: Indicadores de SadeUnidade 3: Sistema de Informaes em Sade (SIS)Unidade 4: Acessando os Sistemas de Informaes em Sade (SIS)

  • PALAVRAS DOS PROFESSORES

    Neste mdulo voc vai entrar em contato com alguns conceitos importantes que iro contribuir para o desenvolvimento de suas atividades na Unidade de Sade. Voc vai perceber que estes conceitos so teis para planejar melhor a coleta, a sistematizao e a anlise dos dados em sade, na sua unidade e municpio. Com isso, voc e sua equipe podero desenvolver, como prtica cotidiana, a leitura da realidade sociossanitria e da morbi-mortalidade da populao, utilizando tais informaes para o planejamento local de sade e a avaliao das aes adotadas. As ferramentas e os conceitos que sero apresentados fazem parte da Epidemiologia.

    Na sua prtica cotidiana, junto Estratgia Sade da Famlia voc certamente se depara com uma srie de fichas ou formulrios eletrnicos que precisa preencher. Ao longo do mdulo, vamos discutir como transformar esse ato, que em determinado contexto pode parecer meramente burocrtico, em uma atividade com grande potencial de embasar as prticas assistenciais e de promoo de sade que voc e sua equipe desenvolvem. Vamos discutir o uso da informao para a ao e explorar alguns Sistemas de Informaes em Sade, com vistas ao seu uso em sua prtica profissional no mbito da ESF.

    Antonio Fernando BoingEleonora dOrsi

    Calvino Reibnitz Jnior

  • Unidade 1

    Epidemiologia

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 11

    Unidade 1

    Epidemiologia 1 CONCEITOS DA EPIDEMIOLOGIA

    Nesta unidade estudaremos conceitos bsicos e os principais usos da epidemiologia. Em seguida, sero abordados os conceitos de incidncia e prevalncia, importantes medidas de frequncia de doenas e demais eventos relacionados sade.

    1.1 Definio da epidemiologia

    Epidemiologia pode ser definida como a cincia que estuda o processo sade-doena em coletividades humanas, analisando a distribuio e os fatores determinantes das enfermidades, danos sade e eventos associados sade coletiva, propondo medidas especficas de preveno, controle ou erradicao de doenas, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administrao e avaliao das aes de sade (ROUQUAYROL; GOLDBAUM, 2003).

    Pelo significado da palavra, podemos entender melhor do que se trata:

    EPI = sobre

    DEMO = populao

    LOGOS = estudo

    A epidemiologia congrega mtodos e tcnicas de trs reas principais de conhecimento: Estatstica, Cincias da Sade e Cincias Sociais. Sua rea de atuao compreende ensino e pesquisa em sade, avaliao de procedimentos e servios de sade, vigilncia epidemiolgica e diagnstico e acompanhamento da situao de sade das populaes.

    Voc sabe que quem faz os estudos epidemiolgicos so os epidemiologistas, mas voc sabe de que rea so estes profissionais? Vamos conhecer melhor?

    Epidemiologistas so mdicos, enfermeiros, dentistas, estatsticos, demgrafos, nutricionistas, farmacuticos, assistentes sociais, gegrafos, dentre outros profissionais. Os epidemiologistas trabalham em salas de aula, servios de sade, laboratrios, escritrios, bibliotecas, arquivos, enfermarias, ambulatrios, indstrias e tambm nos mais variados locais de realizao de trabalhos de campo.

    A epidemiologia tem como princpio bsico o entendimento de que os eventos relacionados sade, como doenas, seus determinantes e o uso de servios de sade no se distribuem ao acaso entre as pessoas. H grupos populacionais

  • 12 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    que apresentam mais casos de certo agravo, por exemplo, e outros que morrem mais por determinada doena. Tais diferenas ocorrem porque os fatores que influenciam o estado de sade das pessoas se distribuem desigualmente na populao, acometendo mais alguns grupos do que outros (PEREIRA, 1995).

    1.2 Incio da epidemiologia

    Alguns autores indicam que a epidemiologia nasceu com Hipcrates na Grcia antiga. Numa poca em que se atribua as doenas, as mortes e as curas a deuses e demnios, o mdico grego se contraps a tal raciocnio e difundiu a ideia de que o modo como as pessoas viviam, onde moravam, o que comiam e bebiam, enfim, fatos materiais e terrenos eram os responsveis pelas doenas. Foi uma proposta revolucionria de se pensar o processo sade-doena.

    No entanto, a maior parte dos pesquisadores aponta o mdico britnico John Snow como o pai da epidemiologia. Durante boa parte do sculo XIX e nos sculos anteriores, no campo cientfico, a teoria miasmtica1 era a principal forma de explicao das doenas. Porm, quando uma violenta epidemia de clera atingiu Londres em 1854, Snow lanou mo de rigoroso mtodo cientfico e fez uma ampla, inovadora e criteriosa pesquisa. Ao final, relatou que as feies clnicas da doena revelavam que o veneno da clera entra no canal alimentar pela boca, e esse veneno seria um ser vivo, especfico, oriundo das excrees de um paciente com clera. [...] Assinalou, afinal, que o esgotamento insuficiente permitia que os perigosos refugos dos pacientes com clera se infiltrassem no solo e polussem poos. (ROSEN, 1995). Voc sabe o que h de espetacular no raciocnio de Snow? Ele relatou a transmisso hdrica de microorganismos sem microscpio e 30 anos antes de Robert Koch isolar e cultivar o Vibrio cholerae!!! O uso da cincia e de ferramentas epidemiolgicas salvou muitas vidas e ampliou a discusso sobre as causas das doenas.

    Outros nomes importantes na histria da epidemiologia foram o de John Graunt (1620-1674), pioneiro em quantificar os padres de natalidade e mortalidade; Pierre Louis (1787-1872), utilizando o mtodo epidemiolgico em investigaes clnicas de doenas; Louis Villerm (1782-1863), que pesquisou o impacto da pobreza e das condies de trabalho na sade das pessoas; e William Farr (1807-1883), na produo de informaes epidemiolgicas sistemticas para o planejamento de aes de sade (ROSEN, 1994; PEREIRA, 1995).

    1 Na teoria miasmtica, a origem das do-

    enas se daria a partir da m qualidade do

    ar, oriunda da putrefao de corpos huma-

    nos e de animais e da decomposio de

    plantas. Alm disso, os miasmas emana-

    vam dos dejetos dos doentes, de pntanos

    e lodos. Malria, por exemplo, a juno

    de mal e ar, mostrando a fora do pen-

    samento miasmtico.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 13

    Saiba mais

    Voc gostaria de conhecer mais sobre a histria da epidemiologia e da prpria

    sade pblica? O livro: ROSEN, G. Uma histria da sade pblica. Rio de Janeiro:

    Hucitec, 1994, uma leitura muito enriquecedora. E para conhecer mais sobre o

    trabalho revolucionrio de John Snow, h um livro muito rico sobre essa histria:

    JOHNSON, S. O mapa fantasma: como a luta de dois homens contra o clera mu-

    dou o destino de nossas metrpoles. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

    1.3 Aplicaes da epidemiologia

    Basicamente, temos trs grandes aplicaes da epidemiologia, que estudaremos agora.

    a) Descrever as condies de sade da populao

    Por exemplo, ao final do sculo XX e cerca de uma dcada aps a implementao do SUS, o Ministrio da Sade investigou as estatsticas oficiais do Brasil e descreveu o perfil de morbi-mortalidade2 da populao (BRASIL, 2002). O objetivo principal do Ministrio da Sade foi conhecer de que adoeceu e de que morreu a populao brasileira no ano 2000 e descrever a evoluo desses dados durante a dcada de 1990. A ttulo de ilustrao, verificou-se que em 1999, no Brasil, morreram, em mdia, 34,6 crianas com menos de um ano de vida para cada 1.000 que nasceram vivas naquele ano, e tal valor variou de 53,0 bitos por 1.000 nascidos vivos na regio Nordeste at 20,7/1.000 na regio Sul.

    Tambm se pde observar que, entre 1995 e 1999, a mortalidade por AIDS no pas caiu 50%; que as principais causas de mortes entre os jovens na dcada de 1990 foram externas (sobretudo acidentes de transporte, homicdios e afogamentos); e que os principais motivos de internaes de idosos foram insuficincia cardaca, bronquite/enfisema pulmonar e pneumonia.

    Com base nessas informaes, Unio, Estados e Municpios puderam, na poca, definir aes estratgicas a serem implementadas de acordo com o perfil

    2 As informaes a respeito das aes e

    programas de sade desenvolvidas pelo

    Ministrio da Sade so importantes para

    o planejamento de estratgias de ateno

    da sua comunidade. Consulte periodica-

    mente este portal do Ministrio da Sade

    e voc ter uma viso mais global para

    atender a situaes locais.

    http://portal.saude.gov.br/saude/

  • 14 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    epidemiolgico da populao, potencialmente com maior efetividade.

    b) Identificar quais so os fatores determinantes da situao de sade

    Por exemplo, no perodo que se seguiu Segunda Guerra Mundial, chamou a ateno de profissionais de sade o elevado nmero de pessoas com neoplasias. Nas unidades hospitalares, a quantidade de eventos oncolgicos era surpreendente, chamando a ateno os inmeros casos, particularmente, de cncer de pulmo.

    O conhecimento vigente na poca associava tais ocorrncias a, sobretudo, armas qumicas, alimentao deficiente e poluio. Mesmo com esses conhecimentos, as polticas de sade para diminuir a ocorrncia do cncer de pulmo no mostravam resultados positivos (RICHMOND, 2005).

    Foi ento que dois pesquisadores, Richard Doll (Figura 1) e Austin Hill, ao visitarem, nos hospitais, pacientes com cncer de pulmo, perceberam que quase todos relatavam o hbito de fumar. Posteriormente, eles acompanharam os hbitos de vida de mais de 40.000 mdicos britnicos e perceberam que no grupo de fumantes havia muito mais casos de cncer de pulmo que no de no fumantes (DOLL; HILL, 1999).

    A partir da, anlises estatsticas mais sofisticadas, novos estudos epidemiolgicos e investigaes laboratoriais comprovaram o que hoje muito claro para ns: fumar cigarro uma importante causa de cncer de pulmo (e outros tumores). Milhes de pessoas foram salvas pela aplicao deste conhecimento.

    Outros exemplos so as descobertas de associao entre: elevados nveis de colesterol sanguneo/doena isqumica do corao; adio de fluoretos aos sistemas de abastecimento pblico de guas/reduo dos nveis de cries dentrias; sedentarismo/mortalidade cardiovascular e no amamentao materna/mortalidade infantil.

    c) Avaliar o impacto das aes e polticas de sade

    Figura 1 Richard DollFonte: Wikimedia Commons, 2012.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 15

    Por exemplo, um dos principais motivos de internao entre os idosos a pneumonia. Outra razo importante a gripe. Preocupado com esta realidade, h alguns anos o Ministrio da Sade vem oferecendo gratuitamente a aqueles que tm 60 anos de idade ou mais a vacina contra a influenza. Mas ser que tantos esforos dos profissionais de sade e o recurso investido para desenvolver essa ao apresentaram impacto na populao? Ou seja, ser que ela deve continuar a ser implementada?

    A epidemiologia nos ajuda a responder essas perguntas.Um grupo de pesquisadores (FRANCISCO; DONALSIO; LATORRE, 2004) procurou responder a estas indagaes analisando a evoluo da hospitalizao de idosos por doenas respiratrias no estado de So Paulo entre 1995 e 2002.

    Foi observado que houve diminuio dos picos sazonais da proporo de internaes e das taxas por mil habitantes aps a interveno vacinal em ambos os sexos, sugerindo possvel impacto das vacinas disponibilizadas pelo Programa de Vacinao do Idoso (FRANCISCO; DONALSIO; LATORRE, 2004, p. 226). Certamente, novas pesquisas devem e continuam sendo executadas e, a partir desses achados epidemiolgicos, os gestores podero basear suas decises.

    Voc sabe qual a diferena entre pandemia, epidemia e endemia?

    Epidemia a elevao brusca, inesperada e temporria da incidncia de determinada

    doena, ultrapassando os valores esperados para a populao no perodo em questo.

    Pandemia a ocorrncia epidmica caracterizada por uma larga distribuio espa-

    cial, atingindo vrias naes.

    Endemia refere-se a uma doena habitualmente presente entre os membros de um

    determinado grupo, dentro dos limites esperados, em uma determinada rea geogr-

    fica, por um perodo de tempo ilimitado (MEDRONHO, 2003).

    1.4 Outras Definies

    Vamos continuar e definir alguns termos, e assim voc poder ampliar sua viso epi-

    demiolgica. Para que voc continue seu estudo, necessrio relembrar o conceito

    de populao. Vamos l!

  • 16 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Populao refere-se a grupos humanos definidos pelo seguinte conjunto de caractersticas comuns: sociais, culturais, econmicas, geogrficas e histricas.

    E as doenas, que tanto afligem a populao, o que so?

    Doenas so marcadores culturais das sociedades humanas, decorrentes da forma como nossa espcie organiza sua vida social e da forma como ela convive com outras espcies e com o meio ambiente. possvel, assim, compreender como doenas aparecem e somem, e como vo se transformando ao longo do tempo. O que se compreende como doena inclui: disfuno fsica ou psicolgica; estado subjetivo em que a pessoa percebe no estar bem; e um estado de disfuno social que acomete o indivduo quando doente. As doenas no so, portanto, apenas algo diagnosticado por profissionais de sade, mas tambm fenmenos subjetivos autopercebidos.

    Mas e quando a populao j estiver doente? Como trat-la? E como promover sade e prevenir doenas?

    A Clnica se debrua sobre as pessoas doentes para, a partir de um conjunto de sinais e sintomas e utilizando equipamentos mdicos e laboratoriais, realizar o diagnstico e o tratamento individualmente.

    J a epidemiologia se detm em populaes inteiras ou em suas amostras para, a partir dos indicadores de sade e outros dados epidemiolgicos construdos atravs da coleta de dados e de sua anlise por mtodos estatsticos, realizar o diagnstico de sade, subsidiando a implementao de medidas de promoo da sade e preveno de doenas coletivamente (MEDRONHO, 2005; ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).

    Logo, a capacidade de aplicar o mtodo epidemiolgico uma habilidade fundamental para todos os trabalhadores de sade que tenham como objetivo reduzir doenas, promover sade e melhorar os nveis de sade da populao, especialmente aqueles que trabalham na Estratgia Sade da Famlia, que necessariamente precisam compreender o todo e as especificidades de uma rea do conhecimento to abrangente.

    1.5 Medidas de Frequncia de Doenas

    O que so as medidas de frequncia de doenas?Voc viu que descrever as condies de sade da populao, medindo a frequncia com que ocorrem os problemas de sade em populaes humanas, um dos objetivos da epidemiologia. Para fazer essas mensuraes, utilizamos as medidas de incidncia e prevalncia.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 17

    A incidncia diz respeito frequncia com que surgem novos casos de uma doena num intervalo de tempo, como se fosse um filme sobre a ocorrncia da doena, no qual cada quadro pode conter um novo caso ou novos casos (PEREIRA, 1995). , assim, uma medida dinmica.

    Vejamos como calcular a incidncia:

    Incidncia =

    nmero de casos novos em determinado perodo

    nmero de pessoas expostas ao risco no mesmo perodo

    x constante

    Imagine, como exemplo, que, entre 400 crianas cadastradas na Estratgia Sade da Famlia e acompanhadas durante um ano, foram diagnosticados, neste perodo, 20 casos novos de anemia.

    O clculo da taxa de incidncia ser:

    20400

    que multiplicando por 1.000 (constante) nosdar a seguinte taxa de incidncia: 50 casosnovos de anemia por 1.000 crianas no ano.

    = 0,05

    Como voc pode notar, os casos novos, ou incidentes, so aqueles que no estavam doentes no incio do perodo de observao, mas que adoeceram no decorrer desse perodo. Para que possam ser detectados, necessrio que cada indivduo seja observado no mnimo duas vezes, ou que se conhea a data do diagnstico.

    J a prevalncia se refere ao nmero de casos existentes de uma doena em um dado momento; uma fotografia sobre a sua ocorrncia, sendo assim uma medida esttica. Os casos existentes so daqueles

    3 A constante uma potncia com base

    de 10 (100, 1.000, 100.000), pela qual se

    multiplica o resultado para torn-lo mais

    amigvel, ou seja, para se ter um nme-

    ro inteiro. muito mais difcil compreender

    uma taxa de 0,15 morte por 1.000 habitan-

    tes a uma taxa de 15 mortes por 100.000

    habitantes. Quanto menor for o numerador

    em relao ao denominador, maior a cons-

    tante utilizada.

  • 18 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos novos dos que ainda esto vivos e doentes (MEDRONHO, 2005; PEREIRA, 1995).

    Existem trs tipos de medidas de prevalncia:

    a) Prevalncia pontual ou instantnea

    Frequncia de casos existentes em um dado instante no tempo (ex.: em determinado dia, como primeiro dia ou ltimo dia do ano).

    b) Prevalncia de perodo

    Frequncia de casos existentes em um perodo de tempo (ex.: durante um ano).

    c) Prevalncia na vida

    Frequncia de pessoas que apresentaram pelo menos um episdio da doena ao longo da vida.

    Ao contrrio da incidncia, para medir a prevalncia os indivduos so observados uma nica vez.

    Vejamos como calcular a prevalncia:

    nmero de casos existentes em determinado perodo

    Prevalncia = x constantenmero de pessoas na

    populao no mesmo perodo

    Voltemos ao exemplo das crianas acompanhadas pela Equipe de Sade da Famlia. Suponha que em determinada semana todas as crianas fizeram exames laboratoriais. Das 400 crianas participantes, foram encontradas 40 com resultado positivo para Ascaris lumbricoides.

    Clculo da prevalncia de verminose por Ascaris:

    40400

    = 0,01

    que, multiplicado por 100 (constante), nos dar a seguinte prevalncia: 10 casos existentes de verminose por Ascaris a cada 100 crianas.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 19

    Entre os fatores que influenciam a prevalncia de um agravo sade, excluda a

    migrao, esto a incidncia, as curas e os bitos, conforme ilustrado na figura 2.

    Quanto migrao, o raciocnio bastante simples. A chegada a um municpio de

    novos moradores com determinada doena aumentar sua prevalncia, correto? Da

    mesma maneira, a sada de pessoas doentes diminuir sua frequncia Ou seja, sem

    se modificar o risco e a sobrevida pode haver flutuao nos casos existentes de

    determinada doena em funo de processos migratrios.

    Como voc pode ver, a prevalncia alimentada pela incidncia. Por outro lado, dependendo do agravo sade, as pessoas podem se curar ou morrer. Quanto maior e mais rpida a cura, ou quanto maior e mais rpida a mortalidade, mais se diminui a prevalncia, que uma medida esttica, mas resulta da dinmica entre adoecimentos, curas e bitos.

    Portanto, entre os fatores que aumentam a prevalncia, podemos citar (PEREIRA, 1995; MEDRONHO, 2005; ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003):

    a) a maior frequncia com que surgem novos casos (incidncia);

    b) melhoria no tratamento, prolongando-se o tempo de sobrevivncia, porm sem levar cura (aumento da durao da doena).

    A diminuio da prevalncia pode ser devido :

    a) reduo no nmero de casos novos, atingida mediante a preveno primria (conjunto de aes que atuam sobre os fatores de risco e que visam evitar a instalao das doenas na populao atravs de medidas de promoo da sade e proteo especfica);

    b) reduo no tempo de durao dos casos, atingida atravs da preveno secundria (conjunto de aes que visam identificar e corrigir, o mais precocemente possvel, qualquer desvio da normalidade, seja por diagnstico precoce ou por tratamento adequado), em razo do bito mais precoce pela doena em questo, ou seja, menor tempo de sobrevivncia.

    CASOS EXISTENTES

    (PREVALNCIA)

    Figura 2 Fatores que influenciam a prevalncia de um agravo sade, excluda a migrao

  • 20 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Entre os principais usos das medidas de prevalncia esto: o planejamento de aes e servios de sade, previso de recursos humanos, diagnsticos e teraputicos. Por exemplo, o conhecimento sobre a prevalncia de hipertenso arterial entre os adultos de determinada rea de abrangncia pode orientar o nmero necessrio de consultas de acompanhamento, reunies de grupos de promoo da sade e proviso de medicamentos para hipertenso na farmcia da Unidade de Sade (PEREIRA, 1995; MEDRONHO, 2005; ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003). Ressalta-se que a prevalncia uma medida mais adequada para doenas crnicas ou de longa durao.

    A incidncia, por outro lado, mais utilizada em investigaes etiolgicas para elucidar relaes de causa e efeito, avaliar o impacto de uma poltica, ao ou servio de sade, alm de estudos de prognstico. Um exemplo verificar se o nmero de casos novos (incidncia) de hipertenso arterial sistmica declinou depois da implementao de determinadas medidas de promoo da sade, como incentivo a uma dieta saudvel, realizao de atividade fsica e combate ao tabagismo no bairro.

    A partir de algumas variaes do conceito de incidncia, podemos chegar aos conceitos de:

    Mortalidade: uma medida muito utilizada como indicador de sade; calculada dividindo-se o nmero de bitos pela populao em risco. Estudaremos mais sobre essa medida na prxima unidade.

    Letalidade: uma medida da gravidade da doena, calculada dividindo-se o nmero de bitos por determinada doena pelo nmero de casos da mesma doena. Algumas doenas apresentam letalidade nula, como, por exemplo, escabiose; j para outras, a letalidade igual ou prxima de 100%, como a raiva humana.

    As medidas de frequncia podem ser expressas como frequncias absolutas ou re-

    lativas, vamos conhecer melhor suas aplicabilidades.

    As frequncias absolutas so pouco utilizadas em epidemiologia, pois no permitem medir o risco de uma populao adoecer ou morrer por determinado agravo. Por exemplo, segundo dados oficiais, o nmero de casos novos de AIDS diagnosticados e notificados em 2007 foi igual a 1.892 em Santa Catarina e a 2.578 em Minas Gerais (BRASIL, 2009). Houve maior nmero de casos em Minas Gerais do que em Santa Catarina, mas isso significa que o risco de adquirir AIDS foi maior no estado mineiro? No, pois a populao residente em Minas Gerais correspondia na poca a aproximadamente 19,7 milhes, enquanto que a de Santa Catarina era de apenas 6,0 milhes de habitantes (trs vezes menor).

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 21

    As frequncias relativas so mais utilizadas quando se deseja comparar a ocorrncia dos problemas de sade em populaes distintas ou na mesma populao ao longo do tempo.

    No exemplo que vimos acima sobre AIDS em Minas Gerais e Santa Catarina, calcular a frequncia relativa significa dividir o nmero de casos novos de cada estado pela sua populao. Assim, a incidncia de AIDS em 2007 foi igual a 31,3 casos por 100.000 habitantes em Santa Catarina e 13,1 casos por 100.000 habitantes em Minas Gerais.

    Reforando, em via de regra utilizamos as medidas relativas, no entanto h momentos em que devemos optar pelas medidas absolutas. Isso acontece quando o nmero de eventos considerados no clculo muito pequeno. Em tais momentos, variaes ao acaso (um ou dois casos a mais ou a menos, por exemplo) impactam severamente no achado e dificultam comparaes entre regies ou ao longo do tempo. Nesses momentos, podem-se calcular medidas relativas a partir da mdia de vrios perodos para estabilizar pequenos nmeros ou analisar dados agregados de vrias reas. Alm disso, para curtos perodos e com a base populacional estvel, podemos usar os nmeros absolutos para a anlise da morbi-mortalidade (DRUMOND JUNIOR, 2007). Por exemplo, com a populao mdia acompanhada por uma equipe de Sade da Famlia a morte de apenas uma criana menor de um ano de idade fato extremamente relevante e que merece sua ateno.

    Para fixar bem os conceitos e clculos de incidncia e prevalncia, vamos ver dois exemplos:

    Exemplo 1Em determinada rea de abrangncia de uma equipe da Estratgia Sade da Famlia, moravam e eram efetivamente acompanhadas, em 2009, um total de 4.622 pessoas adultas (idade entre 20 e 59 anos). Ao verificar os registros de casos de hipertenso arterial sistmica (HAS) existentes nessa populao, a equipe identificou que, no mesmo ano, havia 1.248 hipertensos. Devemos calcular a prevalncia ou a incidncia? Qual a utilidade dessa informao?

    Como se trata de casos existentes, calculamos a prevalncia. Nesse exemplo, no se verificou quantos casos novos de HAS surgiram, o que caracterizaria incidncia, mas se identificou quantas pessoas estavam com doena em determinado perodo, ou seja, uma medida esttica (prevalncia). E como calculamos a prevalncia? bastante simples. Dividimos o nmero de pessoas com a doena pelo total da populao e multiplicamos por uma constante.

  • 22 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    1.2484622

    x 100 = 27%Prevalncia =

    Com esses dados, podemos comparar se a prevalncia de hipertenso nessa rea (que pode ser um bairro) parecida com o que se observa nos bairros vizinhos, no restante do municpio, no estado ou no pas. Valores mais elevados exigiro especial ateno da equipe e as aes para o controle da doena no bairro precisaro ser rediscutidas ou, caso no existam, implementadas. Alm disso, a medida pode ser utilizada para fazer comparaes no tempo, ou seja, verificar se a prevalncia est aumentando, diminuindo ou estabilizou ao longo de meses ou anos.

    Exemplo 2No ano de 2007 moravam em Santa Catarina 580.166 idosos (pessoas com 60 anos de idade ou mais). Nessa populao foram diagnosticados 160 novos casos de tuberculose no mesmo ano. J em 2005, a populao era de 507.205 idosos e surgiram 157 casos novos da doena (BRASIL, 2009). Qual a medida que deve ser calculada? Quando o risco de ter tuberculose foi maior em Santa Catarina, em 2005 ou em 2007?

    Nesse exemplo tratamos de casos novos, assim calculamos a incidncia. No se tratou de quantas pessoas estavam com tuberculose, mas sim de quantas pessoas desenvolveram essa doena nos perodos identificados. Como calculamos a incidncia? Tambm simples. Basta dividir o nmero de casos novos surgidos em cada ano pela respectiva populao e multiplicar por uma constante.

    a) Incidncia em 2005 = 157507205

    x 100000 = 30,95 casos novos por 100.000 habitantes

    b) Incidncia em 2007 = 160580166

    x 100000 = 27,58 casos novos por 100.000 habitantes

    Podemos afirmar que o risco de desenvolver tuberculose entre os idosos catarinenses foi maior em 2005 quando comparado com 2007. Isso porque a incidncia no primeiro ano foi maior que em 2007.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 23

    Saiba mais

    Para conhecer mais sobre a aplicao do mtodo epidemiolgico, sobretudo no

    caso de epidemias, sugerimos o filme: E a vida continua. Produo de: Sarah

    Pillsbury e Midge Sanford. Direo de: Roger Sottiswoode. Intrpretes: Matthew

    Modine; Phil Collins; Anjelica Huston e outros. Estados Unidos da Amrica, 2003.

    1 DVD (141 min). Baseado na obra And the band played on: politics, people, and

    the AIDS epidemic de Randy Shilts. Disponvel em: .

    SNTESE DA UNIDADE

    O objetivo proposto nesta unidade foi o de conceituar epidemiologia, conhecer as principais medidas de frequncias de doenas utilizadas em epidemiologia e saber calcul-las. Voc atingiu o objetivo proposto?

    Na prxima unidade vamos conhecer detalhadamente os indicadores de sade, avanando, assim, nos nossos estudos da epidemiologia.

  • 24 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    REFERNCIAS

    BRASIL. Ministrio da Sade. Sistema de Informao de agravos de notificao. Braslia, 2009. Disponvel em: . Acesso em: 18 nov. 2009.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria Executiva. A sade no Brasil: estatsticas essenciais 1990-2000. 2. ed. Braslia, 2002. Disponvel em: . Acesso em: 11 mar. 2010.

    DOLL, R.; HILL, A. B. Smoking and carcinoma of the lung: preliminary report 1950. British Medical Journal, Londres, v. 77, n. 1, p. 84-93, 1999. Disponvel em: . Acesso em: 15 jun. 2012.

    DRUMOND JUNIOR, M. Epidemiologia em servios de sade: conceitos, instrumentos e modos de fazer. In: Campos, G. W. S. et al (Orgs.). Tratado de sade coletiva. Rio de Janeiro: Hucitec, 2007. p. 419-456. (Sade em debate, 170).

    FRANCISCO, P. M. S. B.; DONALSIO, M. R.; LATORRE, M. do R. D. de O. Internaes por doenas respiratrias em idosos e a interveno vacinal contra influenza no Estado de So Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia, So Paulo, v. 7, n. 2, p. 220-227, jun. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 11 mar. 2010.

    MEDRONHO, R. A. Epidemiologia. So Paulo: Atheneu, 2005.

    PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prtica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995.

    WIKIMEDIA COMMONS. Richard Doll. Disponvel em: . Acesso em: 18 nov. 2012.

    RICHMOND, C. Sir Richard Doll. British Medical Journal, v. 331, n. 7511, p. 295, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 20 abr. 2012.

    ROSEN, G. Uma histria da sade pblica. Rio de Janeiro: Hucitec, 1994.

    ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & sade. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

    ROUQUAYROL, M. Z.; GOLDBAUM, M. Epidemiologia: histria natural e preveno de doenas. In: ROUQUAYROL, M. Z; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & sade. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.

  • Unidade 1 Conceitos de Epidemiologia 25

  • Unidade 2

    Epidemiologia

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 27

    Unidade 2

    Epidemiologia 2 INDICADORES DE SADE

    Nesta unidade voc vai conhecer melhor alguns dos principais indicadores de sade que podem ser utilizados na sua prtica diria e no estudo da Sade Coletiva. Atravs de indicadores de sade, podemos descrever as condies de sade da populao e as suas caractersticas demogrficas.

    2.1 Indicadores de Sade: Tipos e Aplicaes

    Os indicadores de sade so frequncias relativas compostas por um numerador e um denominador que fornecem informaes relevantes sobre determinados atributos e dimenses relacionados s condies de vida da populao e ao desempenho do sistema de sade (MEDRONHO, 2005; PEREIRA, 1995).

    Os indicadores so diferentes de ndices, pois incluem apenas um aspecto, como

    a mortalidade. J o ndice expressa situaes com mltiplas dimenses, incorpo-

    rando numa nica medida diferentes indicadores. Um ndice muito comum na rea

    da Sade Pblica o de Desenvolvimento Humano (IDH). Para ler mais, acesse o

    endereo: ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS. Programa das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento. ndice de Desenvolvimento Humano. Genebra, 2009. Disponvel

    em: . Acesso em: 14 mar. 2010.

    A qualidade dos indicadores de sade vai depender da sua validade (capacidade de medir o que se pretende); confiabilidade (reprodutibilidade), mensurabilidade, relevncia e custo-efetividade.

    Para que sejam efetivamente utilizados, os indicadores precisam ser organizados, atualizados, disponibilizados e comparados com outros indicadores. No planejamento local, podem estar voltados para o interesse especfico da unidade de sade que vai utiliz-los. Quem melhor define os indicadores so os profissionais de sade, a populao e os gestores diretamente envolvidos no processo de trabalho.

    Voc conhece as principais modalidades de indicadores de sade?

  • 28 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Podemos citar estes:

    a) Indicadores de morbidade: indicam a incidncia e prevalncia de doenas;

    b) Indicadores de mortalidade: indicam a mortalidade atravs, por exemplo, da taxa de mortalidade geral, taxa de mortalidade infantil, taxa de mortalidade por grupos de causas (como doenas cardiovasculares, respiratrias e cncer) e razo de mortalidade materna;

    c) Indicadores relacionados nutrio, crescimento e desenvolvimento: indicam, por exemplo, proporo de nascidos vivos com baixo peso e proporo de adultos com obesidade;

    d) Indicadores demogrficos: indicam, por exemplo, distribuio da populao segundo sexo e idade;

    e) Indicadores socioeconmicos: indicam, por exemplo, escolaridade, renda, moradia e emprego da populao;

    f) Indicadores relacionados sade ambiental: indicam, por exemplo, qualidade do solo, da gua e do ar;

    g) Indicadores relacionados aos servios de sade: indicam, por exemplo, nmero de profissionais da sade por 1.000 habitantes e nmero de atendimentos em especialidades bsicas por 1.000 habitantes.

    Toda ao em sade parte do pressuposto de um impacto esperado em termos de melhoria das condies anteriores. Para medir esse impacto, so utilizados indicadores de sade.

    Veja o quadro 1 com exemplos de indicadores da sade na rea materno-infantil. Nesses exemplos, o indicador est mensurando o impacto esperado de uma ao que busca melhorar a sade da populao. Veja a sequncia do raciocnio:

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 29

    aes impacto espeRado indicadoRes clcUlo

    Incentivo ao aleitamento materno

    Reduo da desnutrio e das doenas infecciosas

    Percentual de crianas meno-res de 4 meses com aleitamento materno exclusivo

    No de crianas menores de 4 meses em aleitamento

    materno exclusivo

    populao menor de 4 mesesx 100

    Reduo das internaes hospitalares no primeiro

    ano de vida

    Percentual de inter-naes hospitalares de crianas meno-

    res de 1 ano

    No de internaes de crianas menores de 1 ano

    No de crianas menores de 1 anox 100

    Vacinao

    Reduo da morbi-morta-lidade por doenas preve-

    nveis por imunizao

    Cobertura vacinal de rotina de crianas menores de 1 ano

    No de crianas menores de 1 ano vacinadas com nmero total de

    doses preconizadas

    populao de crianas menores de 1 ano

    x 100

    Taxa de incidncia de sarampo (casos

    confirmados)

    N de casos confirmados de sa-rampo no municpio

    populao residentex 100

    Quadro 1 Indicadores de sade na rea materno-infantil Fonte: Brasil, 1998.

  • 30 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Mas por que um profissional da Estratgia Sade da Famlia, precisa dessas

    informaes?

    Por que devemos saber calcular e interpretar ndices e indicadores de sade usados

    em epidemiologia?

    No basta prestar uma boa assistncia aos pacientes quando eles procuram a Unida-

    de de Sade, ou seja, resolver clinicamente o problema quando ele aparecer?

    Os profissionais do SUS necessitam sim conhecer os indicadores da sade de sua

    regio e tambm saber calcul-los e interpret-los. Somente com essa viso mais

    global, mais sistmica, consegue-se ir alm do atendimento clnico, que essencial,

    mas no suficiente!!!

    Durante muito tempo foi essa lgica reducionista, de pensar que bastava o atendimento clnico, que predominou nos servios de sade do Brasil, mas ela j est sendo mudada.

    As Unidades de Sade e seus profissionais j no podem apenas esperar passivamente a demanda de pessoas batendo na porta em busca de assistncia a um problema individual. necessrio que as equipes de sade conheam o perfil epidemiolgico da populao adscrita, isto , de que ela adoece, quais as principais queixas que a leva Unidade de Sade, de que ela morre, por quais motivos internada, quais so os principais fatores determinantes das doenas na populao, etc. Alm disso, precisa saber qual a sua composio etria, quantas crianas nascem e at quantos anos vivem em mdia.

    Todas essas informaes permitiro que a Equipe de Sade da Famlia e planeje com antecedncia como organizar o servio de sade para atender as queixas mais comuns das pessoas e, melhor, poder pensar em estratgias para impedir que problemas de sade evitveis ocorram. Por fim, se a equipe dispuser dessas informaes ao longo do tempo, poder, inclusive, avaliar se as aes que est desempenhando so efetivas.

    Por exemplo, suponha que em determinado bairro a Equipe de Sade da Famlia, verificou que o indicador de mortalidade infantil foi muito alto em 2010. Depois de algumas reunies e ao analisar outros dados, decidiu que algumas aes eram necessrias para reduzir, em 2011, o bito de crianas menores de 1 ano. A equipe verificou com quais recursos humanos, financeiros, fsicos e de equipamentos contava e, a partir disso, definiu as seguintes aes:

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 31

    a) aumentar a taxa de imunizao em crianas;

    b) acompanhar com maior periodicidade as famlias com crianas de baixo peso;

    c) fazer campanhas ensinando e difundindo a Terapia de Reidratao Oral;

    d) melhorar a quantidade e a qualidade das consultas pr-natais;

    e) numa ao intersetorial, conseguir junto empresa de esgoto e saneamento a proviso de gua encanada e coleta de esgoto em uma parte do bairro no coberta;

    f) criar um grupo de gestantes e recm-nascidos, onde gestantes, mes e profissionais da sade conversem sobre temas essenciais, como o aleitamento materno;

    g) discutir com a Secretaria de Sade a ampliao e melhorias na UTI neonatal.

    Essas aes foram implementadas ao longo de 2011 e, ao final desse perodo, essencial que se tenha o indicador de mortalidade infantil atualizado; afinal, preciso saber se as aes surtiram efeito ou se no alteraram a realidade e precisam de modificaes. A partir da nova leitura da realidade, novos objetivos so discutidos pela equipe e outras aes desenvolvidas em busca de melhorias.

    Veja outro exemplo: por meio de indicadores de sade, determinada equipe pde identificar que, historicamente, entre os meses de janeiro e fevereiro, h expressivo aumento nos atendimentos na Unidade de Sade por diarreia, micose e insolao. Sabendo disso, os profissionais podem, em novembro e dezembro, desenvolver aes para minimizar essa demanda no servio de sade, como atuar com os agentes comunitrias de sade em instrues s pessoas durante as visitas domiciliares e promover aes intersetoriais no ambiente, como drenagem de crregos, pavimentao de ruas e limpeza urbana antes da temporada de chuva. Ademais, podem se organizar para tais atendimentos durante o vero. Agindo assim, haver planejamento e no improviso.

    Saiba mais

    Voc quer ter uma viso panormica e exploratria sobre a situao da sade

    pblica do Brasil atravs de indicadores de sade? No deixe de ler o painel de

    indicadores do SUS no endereo: .

  • 32 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    2.2 Indicadores de Mortalidade

    E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doena que a morte severina ataca em qualquer idade, e at gente no nascida). Joo Cabral de Mello Neto

    Veremos, na sequncia, o uso e a forma de clculos dos principais indicadores de mortalidade usados na Sade Pblica.

    2.2.1 Mortalidade Proporcional por CausasA mortalidade proporcional, como o prprio nome diz, um indicador do tipo proporo, que apresenta, no numerador, os bitos (por regio, causa, sexo ou idade), e, no denominador, o total de bitos cuja frao se deseja conhecer.

    A mortalidade proporcional por causas pode ser definida como:

    nmero de bitos pordeterminada causa no perodo

    total de bitos no perodox 100

    Por exemplo, em 2010, no Brasil, morreram 1.136.947 pessoas. Desse total de bitos, 326.371 foram por doenas do aparelho circulatrio (DAC). Aplicando-se a frmula anterior, ou seja, dividindo-se 326.371 (nmero de bitos por DAC) por 1.136.947 (total de bitos no perodo) e, em seguida, multiplicando-se o valor obtido por 100, chega-se a 28,70%. Portanto, de cada 100 mortes que ocorreram no Brasil, em 2010, 28,70 foram por doenas do aparelho circulatrio (BRASIL, 2009a).

    Mortalidade proporcional por DAC no Brasil em 2010:

    326.371

    1.136.947x 100 = 28,70%

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 33

    O grfico 1, a seguir, representa a evoluo da mortalidade proporcional por causas segundo a Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados com a Sade (CID)4, no Brasil, de 1930 a 2002. Acompanhe com ateno!

    10090

    8070

    6050

    4030

    20

    10

    01930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2002

    Outras Causas

    Infecto-parasitrias

    Circulatrias

    Respiratrias

    Digestivas

    Neoplasias

    Causas Externas

    Grfico 1 Distribuio proporcional das causas de morte Brasil, 1930-2002 Fonte: Brasil, 2005.

    Note que h uma reduo expressiva na proporo de bitos por doenas infecto-parasitrias e um aumento na proporo de bitos por doenas circulatrias e neoplasias ao longo do perodo. Esse fenmeno conhecido como transio epidemiolgica, que vem ocorrendo paralelamente transio demogrfica no nosso pas, caracterizada pela queda da fecundidade e envelhecimento populacional.

    No Brasil, as doenas cardiovasculares so a principal causa de bito (responsveis por quase um tero do total de mortes). Em segundo lugar encontram-se as neoplasias e em terceiro as causas externas (BRASIL, 2009a).

    Cabe destacar, no entanto, que algumas regies e grupos populacionais mais pobres do Brasil ainda conjugam altas taxas de doenas infectocontagiosas, carncia nutricional e morbidade materno-infantil com doenas crnicas e mortes por causas externas.

    4 A Classificao Estatstica Internacional

    de Doenas e Problemas Relacionados

    com a Sade (CID) atribui a cada doena e

    evento relacionados sade um cdigo es-

    pecfico, que contm at seis caracteres, e

    uniformizado em todos os pases. Por exem-

    plo, varola atribui-se o cdigo B03, que

    entendido universalmente. Periodicamente,

    sob a coordenao da Organizao Mundial

    de Sade, essa codificao revisada por

    um grupo de especialistas. Atualmente est

    em vigor a dcima reviso (CID 10).

  • 34 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Veja no grfico 2 da distribuio proporcional das principais causas de morte no Brasil em 2006.

    BRASIL

    0,2

    2,7

    4,5

    5,0

    5,7

    6,7

    8,3

    10,0

    12,4

    15,1

    29,4

    0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

    Gravidez, parto e puerprio

    Algumas afec. originadas no perodo perinatal

    Algumas doenas infecciosas e parasitrias

    Doenas do aparelho digestivo

    Doenas endcrinas nutricionais e metablicas

    Outros

    Causas mal definidas

    Doenas do aparelho respiratrio

    Causas externas

    Neoplasias

    Doenas do aparelho circulatrio

    %

    Grfico 2 Distribuio proporcional das principais causas de morte segundo captulos da Classificao Internacional de Doenas (CID-10), no Brasil, 2006 Fonte: Brasil, 2009a.

    2.2.2 Mortalidade Proporcional por IdadeUm indicador muito utilizado para comparar regies com diferentes graus de desenvolvimento, criado em 1957, o Indicador de Swaroop-Uemura ou Razo de Mortalidade Proporcional (RMP). Este indicador calculado dividindo-se o nmero de bitos em indivduos com 50 anos ou mais pelo total de bitos da populao (VERMELHO; LEAL; KALE, 2005).

    Ele permite classificar regies ou pases em quatro nveis de desenvolvimento:

    1o nvel (RMP 75%): pases ou regies onde 75% ou mais da populao morrem com 50 anos ou mais, padro tpico de pases desenvolvidos;

    2o nvel (RMP entre 50% e 74%): pases com certo desenvolvimento econmico e regular organizao dos servios de sade;

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 35

    3o nvel (RMP entre 25% e 49%): pases em estgio atrasado de desenvolvimento das questes econmicas e de sade; e

    4o nvel (RMP< 25%): pases ou regies onde 75% ou mais dos bitos ocorrem em pessoas com menos de 50 anos, caracterstico de alto grau de subdesenvolvimento.

    Atualizando: utilizando-se dados referentes a 34 pases em quatro pocas (1950, 1960, 1970 e 1980), foi verificado que a porcentagem de bitos de pessoas com 50 anos ou mais no proporcionou o maior poder de discriminao entre pases mais e menos desenvolvidos, em qualquer das pocas; nas duas ltimas, foi a percentagem de bitos de pessoas com 75 anos ou mais que correspondeu a esse maior poder. Foi sugerida a convenincia de reformulao das classes propostas por Swaroop e Uemura, definindo-se outras baseadas na RMP dada por pessoas com 75 anos ou mais. Perceba no quadro 2 a significativa diferena entre Santa Catarina e Amap em 2010. Enquanto que no estado catarinense 35,8% dos bitos ocorreram entre pessoas com 75 anos de idade ou mais, no Amap, este percentual chegou a apenas 20,0%!

    santa cataRina amap BRasilNmero de bitos de pessoas com 75 anos ou mais 12.341 435 410.759

    Nmero total de bitos 34.474 2.172 1.136.947Proporo de bitos de pessoas com 75 anos ou mais (%) 35,8% 20,0% 36,1%

    Quadro 2 Nmero e proporo de bitos de pessoas com 75 anos de idade ou mais em Santa Catarina, Amap e no Brasil em 2010. Fonte: BRASIL, 2009a.

    2.2.3 Curvas de Mortalidade ProporcionalAs curvas de mortalidade proporcional, ou como so conhecidas, curvas de Nelson de Moraes, receberam este nome em homenagem ao sanitarista brasileiro que as idealizou em 1959. So construdas a partir da distribuio proporcional dos bitos por grupos etrios em relao ao total de bitos. O seu formato grfico permite avaliar o nvel de sade da regio estudada. Os grupos etrios considerados nas curvas so: menores de 1 ano, 1 a 4 anos, 5 a 19 anos, 20 a 49 anos e 50 anos ou mais, correspondendo, esta ltima, faixa etria do indicador de Swaroop-Uemura (VERMELHO, LEAL, KALE, 2005).

    As variaes da curva de mortalidade proporcional representam distintos nveis de sade, como voc pode visualizar na figura 3:

  • 36 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    40

    < 1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 50 ou mais

    < 1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 50 ou mais

    30

    20

    10

    0

    4050

    60

    30

    2010

    0

    40

    50

    30

    20

    10

    0

    Tipo INvel de sade muito baixo

    Tipo IIINvel de sade

    regular

    80

    60

    40

    20

    0

    Tipo IVNvel de sade

    elevado

    Tipo IINvel de sade baixo

    Idade em anos Idade em anos

    Idade em anos Idade em anos

    < 1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 50 ou mais

    < 1 1 a 4 5 a 19 20 a 49 50 ou mais

    Figura 3 Variaes da curva de mortalidade proporcional Fonte: Laurenti et al, 1985.

    Veja no grfico 3 a curva de Nelson de Moraes para o Brasil, Santa Catarina e Amap. Nela, notamos que tanto o Brasil como Santa Catarina apresentaram, em 2010, curvas do tipo IV.

    Essas curvas so classificadas como nvel de sade elevado, pois a maior parte dos bitos ocorrem acima de 50 anos (74,3% no Brasil e 77,0% em Santa Catarina), e a menor parte ocorre entre menores de 1 ano (3,5% no Brasil e 2,6% em Santa Catarina), configurando uma curva em formato que se assemelha letra jota. Percebe-se um padro diferente no Amap, onde a proporo de bitos entre os mais jovens expressivamente maior.

    A crtica a tal curva a sua atual capacidade reduzida de discriminar desigualdades entre regies, pelos mesmos motivos citados anteriormente em relao ao indicador de Swaroop-Uemura.

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 37

    80,0

    70,0

    60,0

    50,0

    40,0

    30,0

    20,0

    10,0

    0,0Menor que 1 ano

    Amap Santa Catarina Brasil

    1 a 4 anos 5 a 19 anos 20 a 49 anos 50 anos ou mais

    Faixa etria

    %

    90,0

    Grfico 3 Curva de Nelson de Moraes para o Brasil, Santa Catarina e Amap, 2010 Fonte: MS/SUS/DASIS/SIM.

    2.2.4 Taxa ou Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM)O coeficiente geral de mortalidade, ou taxa de mortalidade geral, refere-se a toda populao e no ao total de bitos. calculado dividindo-se o total de bitos, em determinado perodo, pela populao calculada para a metade do perodo. Veja:

    nmero total de bitosno perodo

    populao total na metadedo perodo

    x constanteCGM =

    As vantagens desse indicador so a simplicidade de seu clculo e a facilidade de obteno de seus componentes. Permite comparar o nvel de sade de diferentes regies ao longo do tempo. Normalmente, o coeficiente geral de mortalidade se situa entre 6 e 12 bitos por 1.000 habitantes. Valores abaixo de 6 podem significar sub-registro de bitos (VERMELHO; LEAL; KALE, 2005).

  • 38 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Este coeficiente deve ser interpretado com cautela quando se realizam comparaes

    entre populaes distintas, pois sofre a influncia da composio etria da popula-

    o. O coeficiente geral de mortalidade de uma regio predominantemente jovem

    pode ser menor do que outra regio com elevada proporo de idosos, sem que isso

    signifique melhores condies de vida na primeira.

    Veja na tabela 1, como exemplo, os coeficientes de mortalidade especficos por idade e o coeficiente geral de mortalidade para Santa Catarina e Acre.

    Tabela 1 Coeficientes de mortalidade especficos por idade e coeficiente geral de mortalidade (por 1.000 habitantes), Santa Catarina e Acre, 2006

    faixa etRia santa cataRina acReMenor de 1 ano 10,3 18,3

    1 a 4 anos 0,5 0,8

    5 a 9 anos 0,2 0,3

    10 a 14 anos 0,3 0,4

    15 a 19 anos 0,8 0,8

    20 a 29 anos 1,4 1,6

    30 a 39 anos 1,7 2,2

    40 a 49 anos 3,8 3,8

    50 a 59 anos 8,7 8,1

    60 a 69 anos 18,8 17,7

    70 a 79 anos 44,7 40,2

    80 anos ou mais 132,1 102,2

    Coeficiente Geral de Mortalidade 5,1 4,0

    Fonte: BRASIL, 2009a.

    Na tabela 1 notamos que o coeficiente geral de mortalidade de Santa Catarina maior que o do Acre, ainda que, em quase todos os estratos, os coeficientes especficos por idade sejam menores. Percebemos que, embora primeira vista, pelo coeficiente geral, a mortalidade maior em Santa Catarina (o que representaria, portanto, piores condies de vida), isso no verdadeiro, j que em quase todas as idades, especialmente nos mais jovens, a mortalidade no Acre maior. O coeficiente geral do Acre menor porque depende da composio etria da populao, que difere bastante entre os estados, com maior proporo de idosos em Santa Catarina e maior proporo de jovens no Acre.

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 39

    Portanto, no podemos comparar diretamente os coeficientes gerais de mortalidade

    quando a estrutura etria das populaes for diferente. O recurso que pode ser usa-

    do, nesses casos, a padronizao dos coeficientes, utilizando-se uma populao de

    referncia, ou a comparao dos coeficientes especficos por idade. As tcnicas de

    padronizao podem ser estudadas em livros de epidemiologia e bioestatstica, no

    cabendo aprofund-las nesse momento.

    As taxas de mortalidade tambm podem ser especficas por sexo, idade ou causa.

    2.2.5 Taxa de Mortalidade Especfica por Sexo, Idade ou CausaAlm do coeficiente geral de mortalidade, podemos calcular a mortalidade especfica segundo algumas caractersticas da populao ou do bito. Por exemplo, possvel calcular a taxa de mortalidade por sexo, por idade ou por causa.

    O clculo se d atravs da seguinte frmula:

    nmero de bitos por sexo,idade ou causa no perodo

    populao do mesmo sexoou idade na metade do perodo

    x constante

    Na tabela 2 esto exibidas as taxas de mortalidade e a mortalidade proporcional por causa de acordo com o sexo em 2010. Voc pode observar que, em ambos os sexos, em Santa Catarina a primeira causa de bito so as doenas do aparelho circulatrio, sendo a mortalidade proporcional por esta causa maior no sexo feminino (32,4%) do que no sexo masculino (26,3%). Entretanto, o risco de morrer por doenas do aparelho circulatrio (taxa de mortalidade) maior no sexo masculino (168,4 bitos por 100.000 homens) do que no feminino (150,8 bitos por 100.000 mulheres). O menor peso da proporo de bitos por doenas do aparelho circulatrio verificado no sexo masculino pode ser explicado pela alta proporo de bitos por causas externas verificadas entre os homens (16,6%), o que no ocorre entre as mulheres (5,6%).

  • 40 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Tabela 2 bitos segundo a Classificao Internacional de Doenas (CID 10a reviso) mortalidade proporcional e taxa de mortalidade (por 100.000 hab), por sexo, Santa Catarina, 2010

    caUsas de moRtes

    mascUlino feminino

    BitosmoRtalidade pRopoRcional

    (%)

    taxa (poR 100.000)

    BitosmoRtalidade pRopoRcio-

    nal (%)

    taxa (poR 100.000)

    Doenas do aparelho circulatrio

    5.220 26,3 168,4 4.747 32,4 150,8

    Neoplasias (tumores) 3.936 19,8 127,0 2.923 20,0 92,9

    Causas externas de morbidade e mortalidade

    3.298 16,6 106,4 816 5,6 25,9

    Doenas do aparelho respiratrio

    2.057 10,4 66,3 1.575 10,8 50,0

    Doenas do aparelho digestivo 1.099 5,5 35,4 627 4,3 19,9

    Causas mal definidas 1.050 5,3 33,9 789 5,4 25,1

    Doenas endcrinas nutricionais e metablicas

    823 4,1 26,5 1.136 7,8 36,1

    Algumas doenas infecciosas e parasitrias

    750 3,8 24,2 537 3,7 17,1

    Doenas do sistema nervoso 393 2,0 12,7 426 2,9 13,5

    Doenas do aparelho geniturinrio

    323 1,6 10,4 398 2,7 12,6

    Total 19.833 100,0 639,7 14.637 100,0 465,0

    Fonte: MS, DATASUS, 2009a.

    Voc consegue diferenciar a mortalidade proporcional por causa da taxa de mortalidade especfica por causa? Caso no consiga, reveja o texto e os exemplos anteriores.

    2.2.6 Mortalidade InfantilA taxa, ou coeficiente de mortalidade infantil, uma estimativa do risco de morte a que est exposta uma populao de nascidos vivos em determinada rea e perodo, antes de completar o primeiro ano de vida (PEREIRA, 1995).

    A taxa de mortalidade infantil calculada por meio da seguinte equao:

    nmero de nascidos vivos no perodo

    x 1.000

    nmero de bitos de menores de 1 ano de idade no perodo

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 41

    A taxa de mortalidade infantil um dos indicadores mais consagrados mundialmente, sendo utilizado, internacionalmente como indicador de qualidade de vida e desenvolvimento, por expressar a situao de sade de uma comunidade e as desigualdades de sade entre grupos sociais e regies.

    Entre suas limitaes, podemos citar a existncia de sub-registro de bitos de me-

    nores de 1 ano e de nascidos vivos, erros na definio de nascido vivo e erros na

    informao da idade da criana na declarao de bito. Ou seja, em alguns casos, as

    estatsticas oficiais podem nos fornecer informaes imprecisas sobre nosso nume-

    rador e nosso denominador.

    O risco de morte no constante ao longo do primeiro ano de vida, sendo uma funo decrescente conforme a idade avana. Por este motivo, ele subdividido em dois componentes, denominados neonatal e ps-neonatal.

    Calcula-se a taxa de mortalidade neonatal atravs da seguinte equao:

    nmero de nascidos vivos no perodo

    x 1.000

    nmero de bitos de crianas entre 0 e 27 dias de vida

    O perodo neonatal tambm apresenta uma subdiviso em: neonatal precoce (0 a 6 dias de vida) e neonatal tardio (7 a 27 dias de vida). Conforme frmulas a seguir:

    Taxa de mortalidade neonatal precoce:

    nmero de nascidos vivos no perodo

    x 1.000

    nmero de bitos de crianas entre 0 e 6 dias de vida

  • 42 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Taxa de mortalidade neonatal tardia:

    nmero de nascidos vivos no perodo

    x 1.000

    nmero de bitos de crianas entre 7 e 27 dias de vida

    J o perodo ps-neonatal vai de 28 dias at completar 1 ano de idade.

    A taxa de mortalidade ps-neonatal obtida mediante a seguinte equao:

    nmero de nascidos vivos no perodo

    x 1.000

    nmero de bitos de crianas entre 28 dias e 1 ano de vida

    Conforme melhora o nvel de desenvolvimento de uma regio, a mortalidade infantil diminui e os bitos tendem a se concentrar prximos ao perodo neonatal (entre 0 e 27 dias de vida). As causas da mortalidade no perodo neonatal se relacionam com as condies da gestao e do parto, sendo particularmente influenciadas pela qualidade da assistncia ao pr-natal e ao parto. Quanto mais prximas do momento do nascimento (perodo neonatal precoce, de 0 a 6 dias de vida), mais forte ser a influncia das condies de nascimento (especialmente peso ao nascer e idade gestacional) e da assistncia neonatal para a sobrevivncia infantil (VERMELHO; LEAL; KALE, 2005).

    J as causas da mortalidade no perodo ps-neonatal, cujos principais exemplos so a diarreia e a pneumonia, relacionam-se com as condies socioeconmicas e ambientais, sobretudo nutrio e agentes infecciosos.

    Veja, a seguir, alguns grficos que ilustram a mortalidade infantil no Brasil e em Santa Catarina (Grficos 4 e 5).

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 43

    30,0

    15,0

    10,4

    25,5

    neonatal

    ps-neonatal

    infantil10,0

    7,5

    17,6

    25,0

    20,0

    15,0

    10,0

    0,0Brasil Santa Catarina

    5,0

    Taxa de mortalidade infantil, 1996

    bito

    s po

    r 100

    0 na

    scid

    os v

    ivos

    Grfico 4 Taxa de mortalidade infantil, neonatal e ps-neonatal (por 1.000 nascidos vivos), Brasil e Santa Catarina, 1996Fonte: Brasil, 2009a, 2009b.

    16,0

    18,0

    11,1

    5,3

    16,4

    neonatal

    ps-neonatal

    infantil

    8,8

    3,8

    12,614,0

    12,0

    10,0

    8,0

    6,0

    4,0

    0,0Brasil Santa Catarina

    2,0

    Taxa de mortalidade infantil, 2006

    bito

    s po

    r 100

    0 na

    scid

    os v

    ivos

    Grfico 5 Taxa de mortalidade infantil, neonatal e ps-neonatal (por 1.000 nascidos vivos), Brasil e Santa Catarina, 2006 Fontes: Brasil, 2009a, 2009b.

    A comparao entre Brasil e Santa Catarina revela que, em 1996, o estado j apresentava mortalidade infantil considerada baixa, com predomnio dos bitos no perodo neonatal. Dez anos depois, em 2006, este indicador mostrou reduo importante no Brasil, aproximando-se mais de Santa Catarina, sugerindo melhorias nas condies de vida.

    A seguir, nos grficos 6 e 7, compare a taxa de mortalidade infantil em pases selecionados, com previso at 2015.

  • 44 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    80

    90BrasilCubaMxicoCosta RicaJamaica

    100

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    01970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015ta

    xa d

    e m

    orta

    lidad

    e in

    fant

    il p

    or 1

    000

    nasc

    idos

    viv

    os

    Grfico 6 Taxa de mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos) em pases selecionados, 1970-2015 Fonte: Organizao Pan-Americana da Sade. Sade nas Amricas, 2007.

    E agora, compare a taxa de mortalidade infantil entre nossos vizinhos na Amrica do Sul, com previso at 2015.

    120

    140

    BrasilBolviaParaguaiArgentinaUruguai

    160

    100

    80

    60

    40

    20

    01970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015

    PeruColmbiaVenezuela

    taxa

    de

    mor

    talid

    ade

    infa

    ntil

    por 1

    000

    nasc

    idos

    viv

    os

    Grfico 7 Taxa de mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos) em pases selecionados, 1970-2015 Fonte: Organizao Pan-Americana da Sade, 2007.

    A comparao entre o Brasil e seus vizinhos mostra que estamos em uma situao intermediria, melhor que a de pases como Bolvia, Peru e Paraguai, e pior que a da Venezuela, Argentina e Uruguai. A mortalidade infantil diminuiu bastante em todos os pases no perodo estudado, porm as desigualdades entre os pases ainda permanecem.

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 45

    Continuamos os nossos estudos sobre mortalidade, s que agora tratamos sobre a mortalidade materna. Preste bastante ateno!

    2.2.7 Mortalidade MaternaA mortalidade materna um indicador utilizado mundialmente como referncia de desenvolvimento e qualidade de vida.

    A 10a reviso da Classificao Internacional de Doenas define morte materna como a

    morte de uma mulher durante a gestao ou at 42 dias aps o trmino da gesta-

    o, independentemente da durao ou da localizao da gravidez, devido a qualquer

    causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relao a ela,

    porm no devida a causas acidentais ou incidentais. (ORGANIZAO MUNDIAL DE

    SADE, 1998, p. 143).

    A razo de mortalidade materna calculada atravs da seguinte equao:

    nmero de nascidos vivos no perodox 100.000

    nmero de bitos de mulheres por causas ligadas gravidez, parto e puerprio no perodo

    O nmero de nascidos vivos utilizado no denominador da razo de mortalidade materna como uma estimativa da populao de gestantes expostas ao risco de morte por causas maternas. Isso ocorre porque no existe no pas a informao sistematizada sobre o nmero total de gestantes, apenas de nascidos vivos. Puerprio o perodo que vai do nascimento at 42 dias aps o parto.

    O clculo da razo de mortalidade materna para o Brasil utiliza o nmero total de bitos maternos informados pelos sistemas oficiais, corrigido (multiplicado) pelo fator de 1,42, que representa o sub-registro aproximado de 42% dos bitos maternos para o Brasil (LAURENTI et al, 1995).

    A mortalidade materna considerada evitvel pelo adequado acompanhamento da gestao e do parto. Em algumas regies do mundo, especialmente na frica, extremamente elevada.

  • 46 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Veja nos quadros 3 e 4 as estimativas realizadas pela Organizao Mundial da Sade (OMS) em conjunto com o Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF) e o Fundo de Populao das Naes Unidas (UNFPA) para a razo de mortalidade materna, nmero de bitos maternos e risco de bito materno, para 2005.

    localRazo de moRtalidade mateRna (poR 100.000 nascidos vivos)

    nmeRo de Bitos mateRnos

    Risco de Bito(1 mUlheR a cada)

    Mundo 400 536.000 92

    Regies desenvolvidas 9 960 7.300

    frica 820 276.000 26

    sia 330 241.000 120

    Amrica Latina e Caribe 130 15.000 290

    Oceania 430 890 62

    Quadro 3 Mortalidade materna em 2005, segundo regies do mundo Fonte: Organizao Mundial da Sade, 2007.

    localRazo de moRtalidade mateRna(poR 100.000 nascidos vivos)

    nmeRo de Bitos mateRnos

    Risco de Bito(1 mUlheR a cada)

    Chile 16 40 3.200

    Uruguai 20 11 2.100

    Cuba 45 61 1.400

    Mxico 60 1.300 670

    Argentina 77 530 530

    Brasil 110 4.100 370

    Colmbia 130 1.200 290

    Bolvia 290 760 89

    Haiti 670 1.700 44

    Quadro 4 Mortalidade materna em 2005, pases selecionados Fonte: Organizao Mundial da Sade, 2007.

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 47

    Saiba mais

    Na pgina da Secretaria de Estado da Sade de Santa Catarina esto disponveis

    os Cadernos de Informao em Sade. Neles os mais diversos indicadores de sa-

    de esto calculados e sumarizados de forma clara e com fcil acesso para todos

    os municpios do estado de Santa Catarina, inclusive o seu. SANTA CATARINA. Se-

    cretaria de Estado da Sade. Cadernos de informao em sade. Florianpolis.

    Disponvel em: .

    Acesso em 15 mar. 2010.

    A mortalidade materna no Brasil pode ser considerada extremamente elevada e incompatvel com o grau de desenvolvimento do pas. Esse indicador expressa a desigualdade social existente em nosso pas e a necessidade de melhorias nas polticas de sade materno-infantil.

    No quadro 5 so apresentados os valores da Razo de Mortalidade Materna para o Brasil e para Santa Catarina em 1997, 2000 e 2004. O aumento dos valores pode representar melhoria na qualidade da informao sobre bitos maternos, com diminuio do sub-registro.

    local 1997 2000 2004Brasil 61,2 52,4 76,1

    Santa Catarina 48,1 36,9 43,3

    Quadro 5 Razo de Mortalidade Materna (por 100.000 nascidos vivos) no Brasil e Santa Catarina, 1997, 2000 e 2004 Fonte: Brasil, 2009a, 2009b.

    2.3 Indicadores de Fecundidade

    Primeiro, vamos aprender a diferenciar fertilidade de fecundidade.

    Fertilidade a capacidade de gerar filhos. Toda mulher, teoricamente, tem essa ca-

    pacidade desde a menarca at a menopausa.

    Fecundidade se refere realizao do potencial de procriar, que pode ser alterado

    por esterilidade ou uso de mtodos anticoncepcionais.

  • 48 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    Entre os indicadores de fecundidade esto a taxa bruta (ou geral) de natalidade, as taxas de fecundidade especficas por idade e a taxa de fecundidade total. Veja como calcul-las:

    A taxa bruta (ou geral) de natalidade calculada atravs da seguinte equao:

    populao na metade do perodo

    x 1.000

    nmero de nascidos vivos no perodo

    A taxa de fecundidade especfica por idade obtida por meio da seguinte equao:

    nmero de mulheres do mesmo grupo etrio na metade do perodo

    x 1.000

    nmero de nascidos vivos, no perodo, de mulheres de um dado grupo etrio

    Dentre estes, o indicador mais utilizado a taxa de fecundidade total, estimada a partir do somatrio das taxas especficas de fecundidade por faixas etrias, multiplicada pelo tamanho do intervalo, em anos, de cada faixa etria. expresso em nmero de filhos por mulher, e representa o nmero mdio de filhos esperados, por mulher, ao final da sua vida reprodutiva se as condies atuais de regulao da fecundidade permanecerem inalteradas (PEREIRA, 2005). Muito complicado? Veja um exemplo no quadro 6:

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 49

    idade(anos)

    nmeRo de nascidos vivos nmeRo de mUlheRestaxa de fecUndidade

    especfica

    10 a 14 530 282.453 0,001876

    15 a 19 15.086 289.172 0,052170

    20 a 24 23.624 261.820 0,090230

    25 a 29 21.171 243.412 0,086976

    30 a 34 14.633 245.736 0,059548

    35 a 39 7.468 242.029 0,030856

    40 a 44 1.917 202.031 0,009489

    45 a 49 109 166.217 0,000656

    50 a 54 1 129.942 0,000008

    Total 84.539 2.062.812 Soma = 0,331808

    Quadro 6 Clculo da taxa de fecundidade total, Santa Catarina, 2005 Fonte: Santa Catarina, 2009.

    Taxa de fecundidade total = 0,331808 x 55 = 1,66 filho por mulher

    No Brasil, a taxa de fecundidade total caiu de aproximadamente 6 filhos por mulher, na dcada de 1960, para 2,4 filhos por mulher, em 2000 (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 2000).

    De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), realizada pelo IBGE em 2007, a taxa de fecundidade total no Brasil foi de 1,83 filho por mulher. A mdia foi inferior chamada taxa de reposio (de 2,1), que significa o mnimo de filhos que cada brasileira deveria gerar para que, no perodo de 30 anos, a populao total do pas permanecesse estvel.

    A acentuada queda na fecundidade da mulher brasileira nos ltimos 40 anos foi um dos

    fatores responsveis pelas mudanas na estrutura etria da populao. Isso ocorreu

    em todas as regies do pas, mas ainda persistem as diferenas regionais. As regies

    Norte e Nordeste, apesar de terem apresentado queda na fecundidade, ainda mantm

    valores superiores aos encontrados na Regio Sul e Sudeste do pas (IBGE, 2009).

    5 O valor 0,331808 refere-se soma da

    taxa de fecundidade especfica de cada

    faixa etria. J o valor de multiplicao

    igual a 5 se d pelo fato de o intervalo das

    faixas etrias ser de 5 em 5 anos. Se o in-

    tervalo fosse de 10 em 10 anos, o resulta-

    do deveria ser multiplicado por 10. Se as

    taxas fossem calculadas ano a ano, para

    todas as idades, bastaria somar as taxas

    especficas por idade para obter a taxa de

    fecundidade total.

  • 50 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    A queda da fecundidade, aliada queda da mortalidade, provocou importantes mudanas na estrutura da populao segundo idade e sexo, com diminuio do ritmo de crescimento populacional e envelhecimento da populao (maior proporo de idosos). Esse fenmeno denominado transio demogrfica.

    O conhecimento sobre a taxa de fecundidade total para a sua cidade ou bairro pode auxiliar no planejamento dos servios de sade materno-infantis, que precisam ser dimensionados de acordo com o nmero de mulheres grvidas, assim como no planejamento dos servios para ateno aos idosos, que necessitam ser ampliados devido ao aumento na proporo dos mesmos.

    2.4 Indicadores de Hospitalizaes e Mortes Evitveis

    Nesta seo, conheceremos o instrumento de medida das internaes por condies sensveis internao primria e a lista brasileira de causas de mortes evitveis por intervenes do SUS.

    2.4.1 Internaes por Condies Sensveis Ateno PrimriaComo instrumento para medir a efetividade da Ateno Primria Sade, no incio da dcada de 1990 surgiu, nos Estados Unidos da Amrica, o indicador denominado Ambulatory Care Sensitive Conditions, traduzido e incorporado na literatura brasileira como Condies Sensveis Ateno Primria (CSAP) (BILLINGS e TEICHOLZ, 1990; BILLINGS et al, 1993). Em sua formulao, parte-se do pressuposto que uma Ateno Primria de qualidade oferecida e acessada oportunamente pode evitar ou reduzir a frequncia de hospitalizaes por algumas condies de sade (ALFRADIQUE et al, 2009). Assim, taxas elevadas de internaes hospitalares por CSAP podem indicar baixo acesso aos servios de APS por parte da populao ou oferta de uma APS de baixa qualidade. Estudos conduzidos em diferentes pases confirmaram tal corolrio e associaram deficincias na rede de Ateno Primria a elevados ndices de internaes por CSAP. No contexto brasileiro h poucos estudos sobre o tema. Nedel et al (2008) descreveram frequncia de internaes por CSAP equivalente a 42,6% em Bag (RS) e Birchler (2007) a 26,4% no Esprito Santo. Ao analisarem dados de todo o territrio nacional, Alfradique et al (2009) identificaram que 28,5% das internaes ocorridas no SUS em 2006 foram por CSAP. Veja a lista brasileira das Condies Sensveis Ateno Primria em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v25n6/16.pdf

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 51

    2.4.2 Lista Brasileira de Causas de Mortes Evitveis por Intervenes do Siste-ma nico de SadeA Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade do Brasil coordenou especialistas de diversas reas do campo da sade do pas que, atravs de vrias anlises e debates, sistematizaram conceitos e metodologias com o propsito de construir uma lista brasileira de mortes evitveis por Intervenes do Sistema nico de Sade segundo grupos etrios. O artigo de Malta et al. (2007) sumarizou o processo de discusso sobre esse tema e apresentou uma lista de causas de mortes total ou parcialmente prevenveis por aes do setor da sade no Brasil. Ele est disponvel em http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v16n4/v16n4a02.pdf. De acordo com os autores, definiram-se como causas de morte evitveis ou reduzveis aquelas totalmente ou parcialmente prevenveis por aes efetivas dos servios de sade que estejam disponveis (ou acessveis) em um determinado local e momento histrico.

    Saiba mais

    Para conhecer mais sobre indicadores e informaes em sade, no deixe de

    acessar o site da RIPSA (Rede Interagencial de Informaes para a Sade). A Rede

    congrega instituies responsveis por informao em sade no Brasil, com o

    objetivo de produzir subsdios para polticas pblicas de sade, e disponibiliza uma

    srie de documentos de grande interesse sobre indicadores e informaes em

    sade. BRASIL. Ministrio da Sade. Rede interagencial de informaes para a

    sade. Indicadores bsicos para a sade no Brasil: conceitos e aplicaes. 2.

    ed. Braslia: OPAS, 2008. Disponvel em:.

    Acesso em: 14 mar. 2010.

    SNTESE DA UNIDADE

    Nesta unidade estudamos os Indicadores de Sade, o que possibilitar descrever as condies de sade e demogrficos da populao de seu municpio ou bairro.

  • 52 Boing, dOrsi, Reibnitz Jr. Epidemiologia

    REFERNCIAS

    ALFRADIQUE, M. E. et al. Internaes por condies sensveis ateno primria: a construo da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de sade (projeto ICSAP Brasil). Cadernos de Sade Pblica, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, p. 1337-1349, 2009. Disponvel em:. Acesso em: 14 mar. 2010.

    BILLINGS, J. et al. Impact of socioeconomic status on hospital use in New York city. Health Aff, Millwood, v. 12, n., p.162-173, 1993.

    BILLINGS, J.; TEICHOLZ, N. Uninsured patients in district of Columbia hospitals. Health Aff, Millwood, v. 9, n. 4, p.158-165, 1990.

    BIRCHLER, C. M. Estratgia sade da famlia e internaes por condies sensveis a ateno ambulatorial: relao produzida no campo da prtica profissional. 2007. Dissertao (Mestrado em Ateno Sade Coletiva)-Programa de Ps-Graduao em Ateno Sade Coletiva, Universidade Federal do Esprito Santo, Vitria, 2007.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Departamento de Informtica do SUS. Banco de dados do Sistema nico de sade. Sistema de Informaes sobre Mortalidade. Braslia, 2009a. Disponvel em: . Acesso em: 10 mar. 2010.

    ______. Ministrio da Sade. Departamento de Informtica do SUS. Banco de dados do Sistema nico de Sade. Sistema de Informaes de Nascidos Vivos. Braslia, 2009b. Disponvel em: . Acesso em: 10 mar. 2010.

    ______. Ministrio da Sade. Gabinete do Ministro. Portaria GM/MS n 3925, de 13 de novembro de 1998. Manual para organizao da Ateno Bsica no Sistema nico de Sade. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, n 220-E, de 17 de novembro de 1998.

    ______. Ministrio da Sade. Instituto Nacional do Cncer. Relatrio anual 2005. Braslia, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 10 mar. 2010.

    ______. ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE. Painel de Indicadores do SUS. Braslia, 2006.

    IBGE. Projeo da populao no Brasil. Rio de Janeiro, 2009. Disponvel em: < http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=1272>. Acesso em: 15 jan. 2010.

    LAURENTI, R. et al. Estatstica de sade. So Paulo: EPUB, 1985.

  • Unidade 2 Indicadores de Sade 53

    MALTA, D. C. et al. Lista de causas de mortes evitveis por intervenes do Sistema nico de Sade do Brasil. Epidemiologia e Servios de Sade, Braslia, v. 16, n. 4, p. 233-244, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 14 mar. 2010.

    MEDRONHO, R. A. Epidemiologia. So Paulo: Atheneu, 2005.

    MELO NETO, J. C. de. Morte e vida severina. So Paulo: Alfaguara Brasil, 2007.

    NEDEL, F. B. et al. Programa sade da famlia e condies sensveis ateno primria, Bag (RS). Revista de Sade Pblica, So Paulo, v. 42, n. 6, p. 1041-1052, 2008.

    ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS. Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Atlas do desenvolvimento humano: ndice de desenvolvimento humano - Municipal, 1991 e 2000. Genebra: PNUD, 2000. Disponvel em: . Acesso em: 19 nov. 2009.

    ORGANIZAO MUNDIAL DE SADE. Classificao internacional de doenas: dcima reviso (CID-10). 4. ed. So Paulo: EDUSP, 1998. v. 2.

    ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE (OPAS). Sade nas Amricas. Braslia, 2007. Disponvel em: . Acesso em: 25 fev. 2010.

    PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prtica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1995.

    SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Sade. Cadernos de informao em sade. Florianpolis, 2009. Disponvel em: . Acesso em 15 mar. 2010.

    VERMELHO, L. L.; LEAL, A. J. C.; KALE, P. L. Indicadores de sade. In: MEDRONHO, R. Epidemiologia. So Paulo: Atheneu, 2005. p. 33-56.

  • Unidade 3

    Epidemiologia

  • Unidade 3 Sistema de Informaes em Sade (SIS) 55

    Unidade 3

    Epidemiologia 3 SISTEMA DE INFORMAES EM SADE (SIS)

    Pelo contedo que estudamos at o momento, vimos que conhecer o perfil demogrfico e epidemiolgico da populao importantssimo. Motivos para conhecer os indicadores e us-los na prtica cotidiana so fartos. Por isso, nesta unidade, vamos estudar para que servem os Sistemas de Informaes em Sade, onde surgiram e que existem diferentes modelos de gesto da informao em sade.

    Voc conhece algum Sistema de Informao em Sade? Atravs desses sistemas informatizados voc pode obter dados do Brasil, do seu estado, municpio e at do bairro, bastando acessar a internet nos sites especficos e confiveis que vamos indicar aqui. Confira!

    Para que Servem os Sistemas de Informaes em Sade (SIS)?O Brasil dispe de vrios Sistemas de Informaes em Sade (SIS), definidos pela Organizao Mundial de Sade como um conjunto de componentes que atuam de forma integrada, por meio de mecanismos de coleta, processamento, anlise e transmisso da informao necessrios para planejar, organizar, operar e avaliar os servios de sade (FUNDAO OSWALDO CRUZ; UNIVERSIDADE DE BRASILA; FUNDAO DE EMPREENDIMENTOS CIENTFICOS E TECNOLGICOS, 1998). Dados registrados, sobretudo em mbito municipal, compem imensos sistemas informatizados que podem ser acessados para o clculo de indicadores de sade.

    Podem ser obtidas informaes para o Brasil, para cada unidade federativa, para o seu municpio ou bairro. Com acesso internet e alguns cliques no seu computador, em poucos minutos podemos descrever, por exemplo, as dez principais causas de mortes em Santa Catarina, nos ltimos vinte anos, por sexo e idade; ou ainda verificar quais os motivos das internaes no SUS dos residentes do seu municpio na ltima dcada.

    O acesso a tamanha quantidade de dados e em tempo to curto est diretamente relacionado ao avano tecnolgico que a humanidade vivenciou recentemente. E, quando falamos de informao, o aspecto tecnolgico uma importante dimenso que deve ser consid