04 Artigo Violencia Contra Mulher Completo
-
Upload
graca-martins-martins -
Category
Documents
-
view
20 -
download
0
Transcript of 04 Artigo Violencia Contra Mulher Completo
1
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UMA RELAÇÃO DE PODER DO HOMEM E UM EMARANHADO DE EMOÇÕES DA MULHER
Larissa Costa Souza1
Luciana Mendes de Almeida2
Rozi Santos da Silva3
Suzi Moura Paula4
Maria das Graças Teles Martins5
RESUMO
Este estudo tem como objetivo analisar os aspectos físicos, psicológicos e comportamentais que afetam as emoções de mulheres vítimas de violência doméstica e as contribuições da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) no processo de acolhimento às mulheres em situação de violência. O sofrimento da mulher vítima de violência doméstica precisa ser compreendido como um elemento indispensável no processo de atendimento e intervenções psicológicas, como o propósito de fazer com que a mulher reinterprete suas emoções, recupere sua autoconfiança e valorize sua autoestima. A metodologia adotada é de direcionamento qualitativo, o método de procedimento é de cunho bibliográfico, envolvendo a análise de conteúdos. Utilizou-se materiais como artigos científicos, teses, resumos, periódicos disponíveis no Google Acadêmico, Scielo, Biblioteca virtual e livros na seara da psicologia para o desenvolvimento da pesquisa. Diante da análise dos aspectos teóricos apreendidos na revisão da literatura, evidencia-se que o fenômeno da violência contra a mulher é complexo e com fortes causas culturais, econômicas e sociais, aliado a ausência de intervenções de tratamento tanto para vítima de maus tratados, quanto para o próprio agressor. A terapia cognitivo-comportamental no processo de atendimento das mulheres vítimas de violência contribuirá na substituição da visão negativa que a mulher cria acerca de si, fazendo com que a mesma, construa avaliações mais realistas, adaptativas e uma visão mais positivas, diante das situações ocorridas.
PALAVRAS-CHAVE: Violência contra a Mulher; Emoções; Psicologia; Terapia Cognitiva
Comportamental.
1 Acadêmica do 3º semestre de Psicologia da Faculdade de Macapá–FAMA. E-mail: [email protected] Acadêmica do 3º semestre de Psicologia da Faculdade de Macapá–FAMA. E-mail: [email protected] Acadêmica do 3º semestre de Psicologia da Faculdade de Macapá–FAMA. E-mail: [email protected] 4 Acadêmica do 3º semestre de Psicologia da Faculdade de Macapá–FAMA. E-mail: [email protected] 5 Professora Orientadora da Faculdade de Macapá-FAMA. E-mail: [email protected]
2
Introdução
Este estudo tem como propósito analisar os aspectos físicos, psicológicos e
comportamentais que afetam as emoções de mulheres vítimas de violência doméstica, e
enfatiza também, as contribuições da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) no processo
de acolhimento às mulheres em situação de violência. O estudo é de natureza bibliográfica,
tendo como referencial teórico o embasamento em livros e artigos científicos.
Entende-se, que a violência física e psicológica decorrente de maus-tratos, agressão
física, sexual, moral e psicológica sofrida pelas mulheres no âmbito familiar, provocam
consequências devastadoras que comprometem sua autoestima.
Ademais, outros fatores afetam a mulher psicologicamente como medo, o temor
aterrorizante de ser agredida pelo seu companheiro, insegurança, vergonha, ansiedade,
depressão, e instabilidade emocional por não sabem a razão capaz de desencadear a fúria
novamente de seus agressores.
No entanto, evidencia-se a forte contribuição da Terapia Cognitivo-Comportamental
no processo de acolhimento e intervenção psicológica de vítimas de violência doméstica ou
intrafamiliar, pois, esse processo de intervenção tem como objetivo substituir a visão negativa
que o cliente tem acerca de si, fazendo com que o cliente construa avaliações mais realistas,
adaptativas e uma visão mais positivas de si mesmo diante das situações.
O estudo tem como objetivo analisar os aspectos físicos, psicológicos e
comportamentais que afetam as emoções de mulheres vítimas de violência doméstica. E para
a consecução desta proposta, elaborou-se a seguinte problemática: Quais são as consequências
da violência psicológicas sobre as emoções de mulheres vítimas de violência doméstica?
Portanto, esse estudo tem como conjectura a abordagem qualitativa, onde se utiliza o
referencial teórico de autores, que evidenciam os aspectos relativos sobre a violência contra a
mulher. Deste modo, o estudo busca analisar os aspectos físicos, psicológicos e
comportamentais que afetam as emoções de mulheres vítimas de violência e as possíveis
patologias que podem afetar a sua à saúde mental.
Neste sentido a pesquisa tem como pressupostos as concepções de vários teóricos, tais
como: Teles, Melo (2003), Paulo, Paro (2009), Costa, Santos (2008), Pereira, Rangé (2011),
Wright, Basco, Thase, entre outros autores que contribuição para o desenvolvimento desse
estudo.
Referencial Teórico
Violência contra Mulher à sombra da Sociedade
3
O lar é considerado um dos lugares mais seguros e acolhedor, porém, nos casos de
violência doméstica, este lugar passa a ser um ambiente familiar cruel e perverso. Um
ambiente que apresenta perigo contínuo, que resulta para a mulher, um estado de alerta
ininterrupto, medo e ansiedade constante.
Segundo Teles, Melo (2003) a violência contra a mulher faz parte do cotidiano das
cidades, do país e do mundo. Porém, esse tema ainda é tratado como algo inerente à mulher e
que faz parte da vida.
Morato et al (2009) enfatizam que as práticas de violência está associado à história da
humanidade, porém, as concepções dessas práticas variam de acordo com as normatizações
estabelecidas na sociedade, de acordo com o momento e espaço.
A violência doméstica está na sombra da sociedade e a mulher carrega em seu corpo e
alma, uma cicatriz como um final da violência praticada por um agressor, que muitas vezes, é
a pessoa que ela mantém um forte vínculo afetivo. As agressões idênticas e cíclicas, que
acontecem nas famílias, independentemente, de etnia, classe social, idade e/ou orientação
sexual.
A violência, em seu significado mais frequente, quer dizer uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer alfo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem ao seu domínio, é uma violação dos direitos essenciais do ser humano (Teles, Melo, 2003, p 15).
O fenômeno da violência contra a mulher é complexo, com fortes causas culturais,
econômicas e sociais, aliado a ilegalidade e impunidade do agressor. Ou seja, a violência
doméstica e familiar contra as mulheres, traduz-se em um poder, força física masculina e da
história de desigualdades culturais entre homens e mulheres, afirmados através de papéis
estereotipados que corroboram a violência.
Para Teles, Melo (2003) a violência de gênero tem sua origem na discriminação
histórica contra as mulheres, ou seja, ao longo do processo de construção e consolidação de
ações explícitas e implícitas que enfatizam a submissão da população feminina durante o
desenvolvimento da sociedade humana. Os mesmo autores reiteram que a discriminação é um
processo que sustenta e justifica os atos violentos, e que se desenvolveram como algo
pertencente e vinculado à natureza humana.
Por meio da força bruta, inicialmente, forjou-se o controle masculino sobre as mulheres. Gradativamente foram introduzidos novos métodos e novas formas de dominação masculina: as leis, a cultura, a religião, a filosofia, a ciência, a política. Ao serem tratadas como propriedade dos homens, a mulheres perderam, em diferentes níveis, a autonomia, a liberdade e o mais básico direito de controle sobre o seu próprio corpo (Teles, Melo, 2003, p. 29).
4
Todavia, a família possui forte entrelaçamento de emoções, valores e crenças que se
perpetuam de geração para geração, e que demarcam também, a diferença entre os sexos nas
relações de poder. A família é um celeiro social da reprodução ideológica dos valores e do
poder dos homens sobre as mulheres.
“A violência contra a mulher é uma subordinação adquirida pelo aprendizado, na
família, na sociedade e às vezes, até na escola. O comportamento violento é estruturado sobre
vários aspectos sendo um deles um conceito multidimensional da agressão” (Costa, Santos,
2008, p. 07).
Entretanto, ao longo da história as mulheres buscam a sua ascensão na sociedade.
Morato et al. (2009) citam que a partir dos anos 70, os movimentos de mulheres feministas
enfatizavam a importância de discussões sobre à questão da violência de gênero, denunciando
o grave problema que afetava a saúde física e mental das mulheres, comprometendo assim,
severamente seu comportamento na sociedade.
No ano de 1994, a Organização dos Estados Americanos reconheceram a violência
contra a mulher como uma violação aos direitos humanos das mulheres, a partir da
Convenção Interamericana passou-se a prevenir, sancionar e erradicar a Violência contra a
Mulher, conhecido como a Convenção de Belém do Pará (Morato et al., 2009, p. 16). A partir
desta convenção, a violência contra a mulher passou a ser conceituada juridicamente,
incluindo assim, a violência física, sexual, e psicológica.
Souza (2009) cita que advento da Lei 11.340/06 no Brasil, denominada Lei Maria da
Penha, em razão da luta da vítima Maria da Penha Maia Fernandes, que diante da inoperância
da legislação brasileira, sofreu reiteradas violências em seu lar, tornando-se vítima de
homicídio, e tendo como agressor seu próprio marido, que simulou e desviou sua
responsabilidade enquanto agressor, afirmando que a vítima fora atacada por ladrões.
Deste modo, “as agressões sofridas por Maria da Penha foram seguidas de outras,
deixando-a com marcas físicas (paraplégica irreversível) e psicológicas. Porém, a dor e o
sofrimento da violência vivida, fortaleceu ainda mais sua luta contra a violência” (Souza,
2009, p.22).
Porém, a Lei 11.340/06 define as formas de agressão contra a mulher como:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
5
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
No entanto, com a instituição da Lei Maria da Penha criou-se um mecanismo essencial
ao enfrentamento de todas as formas de opressão e agressão sofridas pelas mulheres no Brasil,
tornando-se assim, uma das grandes conquistas das mulheres brasileiras, e evidenciando
também, que violência contra a mulher deixam fortes marcas psíquicas.
As Marcas da Violência Psicológica
A violência física e psicológica decorrente de maus-tratos, agressão física, sexual,
moral e psicológica sofrida pelas mulheres no âmbito familiar, provocam consequências
devastadoras que comprometem sua autoestima.
Ademais, outros fatores afetam a mulher psicologicamente como medo, o temor
aterrorizante de ser agredida pelo seu companheiro, insegurança, vergonha, ansiedade,
depressão, e instabilidade emocional por não sabem a razão capaz de desencadear a fúria
novamente de seus agressores.
A violência não é doença, no entanto propicia e perpetua doenças emocionais, tais como estresse, baixa autoestima, depressão, ansiedades, disfunções sexuais, distúrbios alimentares e desordens de personalidade, que colocam a vida efetivamente em risco. Trata-se, pois de um problema de saúde coletiva e também da assistência à saúde das mulheres. Mas, infelizmente ainda não é vista correntemente como tal (Costa, Santos, 2008, p 22).
As consequências da violência psicológica surgem no momento em que a mulher
procura atendimento médico e/ou psicológico nos Centros de Saúde para tratar tanto dos
ferimentos físicos, quanto de seu adoecimento emocional associado a patologias, posteriores à
violência. A problemática da violência contra a mulher precisa ser entendido como uma
questão de saúde pública, visto que, a violência não afeta somente a vítima mais a sociedade
de forma geral, e independente, de nível socioeconômico, cultural, e nível de escolaridade, ou
seja, todas as mulheres se encontram suscetíveis a sofrer com a violência (Paulo, Paro, 2009,
p. 02).
6
Segundo Paulo, Paro (2009) a violência psicológica muitas vezes não deixam marcas
visíveis, mas aos poucos vão desestruturando a defesa da vítima, através de pensamentos
intrusivos, sentindo-se culpada pelas agressões sofridas.
Os mesmo autores destacam que o sentimento de culpa associado aos pensamentos
intrusivos, provocam consequências graves como o isolamento, medo, baixa autoestima,
problemas de ansiedade, depressão, ideação suicidada, tentativa de suicídio, estresse pós-
traumático, abuso de álcool e outras drogas.
De acordo com Costa, Santos (2008) as mulheres adaptam-se as mais diversas formas
de violência, pois, passam a não valorizar-se mais como mulher, deixando de acreditar em seu
potencial, e em muitos casos, não buscam ajuda.
Conforme Paulo, Paro (2009) a mulher passa por três fases de acúmulo de tensões
emocionais em seu relacionamento. O primeiro diz respeito aos incidentes menores de
agressões verbais, e crises de ciúmes, que tem um período indefinido, no qual a mulher tenta
acalmar o seu agressor, sendo prestativa, acreditando poder aliviar a raiva do agressor,
sentindo-se responsável pelo ato de agressividade de seu companheiro, criando um
mecanismo de defesa ao pensar que fazendo as coisas corretamente, as agressões não irão
reincidir e podendo terminar.
O segundo momento de acordo com os autores é a fase de explosão que desencadeia
um processo agudo de violência contra a mulher, sendo um fator consequente da primeira
fase, os efeitos são lesões corporais, tapas, pontapés e mordidas. Pois, a mulher vivencia está
fase com o sentimento de embaraço e impotência diante da situação ocorrida. Deste modo, a
terceira e última fase, o agressor demonstra sentimento de arrependimento para com a mulher,
fazendo juras de arrependimento e passando a se comportar como um apaziguador
sensibilizando a vítima com suas promessas.
Porém, essas fases de violência contra a mulher, tornam-se cada vez mais repetitivos e
graves, expondo uma situação que compõem um ciclo vicioso, e que se repetem ao logo dos
dias, meses ou anos, contribuindo para o processo de desmoronamento da moral e da
autoestima da vítima. As marcas da agressão física são visíveis em seu corpo, mas as marcas
profundas deixadas em seu psicológico não (Paulo, Paro, 2009, p. 10).
Para Costa, Santos (2008) a violência afetar o discernimento a respeito do caráter
destrutivo das relações entre agressor e vítima, a ponto de permitir que a mulher seja
sucumbida pela sedução que não ocorrerá mais as agressões, apesar saberem que podem se
machucar, mas ao mesmo tempo sonham, idealizam e negam-se para a realidade.
Williams, Maldonado, Padovani (2008) citam que os efeitos da violência sofrida pela
mulher, ocasionam sérios problemas à saúde mental. Dentre algumas causas do sofrimento,
7
evidencia-se a depressão, que surge com um conjunto de sintomas que alteram os
pensamentos, o estado de ânimo e os comportamentos das mulheres como tristeza, choro sem
motivo aparente, falta de esperança, visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro,
sentimento de culpa e inutilidade.
De acordo com Fiorelli, Mangini (2010) as manifestações de emoções negativas
intensas sob o comportamento e o pensamento da mulher vítima de violência, incluem
alterações na atenção seletiva, distorções na percepção e na memória, ou seja, surge um
conjunto de situações que influenciam o seu comportamento.
Porém, conforme a concepção dos autores, o medo associado às emoções negativas
contribui para a inibição e a geração de novas ideias. As mulheres que são dominadas pelo
medo, muitas vezes, não conseguem esboçar reação, e por vezes, continuam ano após ano
lastimando-se das agressões sofridas. Pois, possivelmente, há uma limitação de pensamentos
que impõe através do medo, que bloqueia a sua capacidade de reagir e de encontrar soluções
para seus problemas.
Ademais, as causas da violência tornam as mulheres mais ansiosas, apreensivas,
sensação de perigo constante, nervosismo persistente, tremores nas mãos, tensão muscular,
palpitação, ondas de frio e calor, transpiração, irritabilidade, perturbação do sono, inquietação
e dificuldades de concentração, evidenciando assim, o seu histórico de violência (Williams et
al., p. 26).
No entanto, os efeitos da violência também influenciam nas sensações, emoções e
ações, que desencadeiam, vícios de pensamentos ou erros na maneira de pensar sobre sim
mesma.
Contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental
As mulheres vítimas do efeito da violência precisam reaprender a lidar com suas
emoções e habituar-se a uma nova vida livre dos sintomas da violência. Compreende-se que a
emoção é um combustível que o corpo acumula, e caso as emoções não sejam extravasadas, é
possível que ocorra uma forte explosão emocional (Fiorelli, Mangini, 2010, p. 42).
Porém, sintomas como choro compulsivo, depressão, sinais fisiológicos de ansiedade,
e comportamentos agressivos, são exemplos de emoções que rompem os mecanismos de
contenção que o psiquismo estabelece, para que indivíduo possa retomar o controle de seus
comportamentos.
Williams et al. (2008), comentam que compreender as emoções, é o primeiro passo
para o autoconhecimento. É preciso identificar os sentimentos que move o indivíduo, que às
8
vezes são sentimentos confusos, mas que precisam ser assumidos para o mesmo ter controle
sobre os sentimentos e emoções.
(...) as emoções humanas têm como base o pensamento, a mente em constante atividade, gerando raciocínios, afetos e condutas que permitem o indivíduo um maior ou menor percepção da realidade. A terapia cognitiva criada por Beck está baseada nesses princípios. Mais que os fatos em si, a forma como o individuo interpreta influencia a forma como ele se sente e se comporta em sua vida. Uma mesma situação produz reações distintas em diferentes pessoas, e uma mesma situação em diferentes momentos de sua vida (Pereira, Rangé, 2011, p. 21).
Partindo desse pressuposto, evidencia-se a contribuição da Terapia Cognitivo-
Comportamental no processo de acolhimento e intervenção psicológica de vítimas de
violência doméstica ou intrafamiliar. Segundo Paulo, Paro (2009) a Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC), tem como objetivo substituir a visão negativa que o cliente tem
acerca de si, fazendo com que o cliente construa avaliações mais realistas, adaptativas e uma
visão mais positivas de si mesmo diante das situações.
Ademais, o terapeuta cognitivo tem como papel, auxiliar o cliente a identificar seus
pensamentos errôneos e aprender maneiras mais realista de reformulá-los. Pois, assim, o
cliente está aplicando as mesmas técnicas utilizadas outrora por ele mesmo, para as resoluções
de seus problemas (Paulo, Paro, 2009, p. 14).
Pereira, Rangé (2011) destacam que a terapia cognitiva é uma psicoterapia focal
baseada na conceituação de uma abordagem estrutura, diretiva e colaborativa, como forte
componente educacional, estabelecida para o aqui e agora, com prazo limitado, que apresenta
auto nível de eficácia cientificamente comprovado pelas suas contribuições no tratamento de
transtornos mentais, depressão, ansiedade, transtornos de personalidade, e entre outros.
Segundo Wright, Basco, Thase (2008) na terapia cognitivo-comportamental, os
terapeutas incentivam seus clientes no desenvolvimento e aplicações de processos consciente
adaptativo de seus pensamentos, como os pensamentos racionais e a solução de problemas.
No entanto, o terapeuta ajuda o cliente a reconhecer e mudar seu pensamento relativo aos
pensamentos automáticos e esquemas.
Conforme a compreensão dos autores, o pensamento automático é o processo de
cognição que passa rapidamente pela mente em meio a situações e acontecimentos, mesmo
que o cliente esteja consciente do pensamento automático, geralmente, o processo de
cognição não está sujeitas a análise racional meticulosa. Entretanto, os esquemas são crenças
nucleares que operam como matrizes ou preceitos subjacentes no processo de informação,
permitindo que o ser humano filtre, codifiquem e atribuam significados as informações
intuídas do meio ambiente.
9
Contudo, a terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem de tratamento baseada
em preceitos sobre a função da cognição no controle das emoções e dos comportamentos, que
pode contribuir no processo de tratamentos de mulheres vítimas de violência doméstica.
O tratamento permitirá a vítima reconhecer e modificar seus pensamentos automáticos
e a evitar influência dos esquemas sobre suas sensações e emoções prejudicadas pela
violência doméstica, ocasionando assim, problemas a sua saúde mental, como alterações no
sono, problemas alimentares, isolamento, medo, baixa autoestima, ansiedade, e depressão.
Metodologia
A pesquisa buscou analisar a importância de reflexões na seara da psicologia acerca
dos sofrimentos e emoções de mulheres vítimas de violência doméstica como um fator
imprescindível no processo de atendimento e intervenções psicológicos, com base nas
contribuições da Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), como o propósito de fazer com
que a mulher reinterprete suas emoções, recupere sua autoconfiança e se valorize cada vez
mais.
Deste modo, o método de procedimento adotado para a realização dos objetivos
propostos pelo estudo foi à pesquisa bibliográfica, através de livros e artigos científicos. A
pesquisa qualitativa, segundo Lakatos (2005) é um procedimento que não requer métodos e
técnicas estatísticas.
No entanto, para a análise de discussão dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo
que permitiu compreender as diferentes concepções dos autores de acordo com a realidade
estudada, possibilitando assim, a elaboração de reflexões sobre os aspectos psicológicos e
comportamentais que afetam as emoções de mulheres vítimas de violência doméstica (Costa,
2011, p. 10).
Resultados e Discussões
De acordo com os aspectos teóricos visto na revisão da literatura a respeito dos efeitos
da violência doméstica sobre os aspectos físicos, psicológicos e comportamentais que afetam
as emoções de mulheres vítimas de violência. Constatou-se que os efeitos da violência, como
citado por Williams, Maldonado, Padovani (2008) ocasionam sérios problemas à saúde
psicológica da mulher como depressão, choro sem motivo aparente, falta de esperança, visão
negativa de si mesmo, sentimento de culpa e inutilidade. Que fazem com que a mulher tenha
medo excessivo causado por uma ameaça anterior ou dano, decorrentes da violência física e
psicológica, provocando conflitos, onde a vítima experimenta seus traumas sob a forma de
pesadelos ou flashbacks, que trazem lembranças perturbadoras.
10
Paulo, Paro (2009) evidenciam que a violência psicológica muitas vezes não deixam
marcas visíveis, mas aos poucos, vão desestruturando a defesa da vítima, através de
pensamentos intrusivos e sentimento de culpa pelas agressões sofridas.
Na compreensão de Fiorelli, Mangini (2010) as manifestações das emoções negativas
intensas sob o comportamento e o pensamento da mulher, provocam alterações na atenção
seletiva, distorções na percepção e na memória, ou seja, surge um conjunto de situações que
influenciam o seu comportamento. Pois, a mulher sucumbida pelo medo, apresentam
limitações de pensamentos que bloqueiam a sua capacidade de reagir e de encontrar soluções
para seus problemas, que em muitos casos, podem levar a um desajuste emocional e social.
No entanto, compreende-se que a terapia cognitivo-comportamental pode contribuir no
processo de tratamentos de mulheres vítimas de violência doméstica, através de sua
abordagem de tratamento baseada em preceitos sobre a função da cognição no controle das
emoções e dos comportamentos.
Conforme o entendimento de Pereira, Rangé (2011) que destacam que a terapia
cognitiva é uma psicoterapia focal baseada na conceituação de uma abordagem estrutura,
diretiva e colaborativa, como forte componente educacional, estabelecida para o aqui e agora,
com prazo limitado, com auto nível de eficácia cientificamente comprovado, pelas suas
grandes contribuições no tratamento de transtornos mentais, depressão, ansiedade, transtornos
de personalidade, e entre outros.
Em virtude dos casos de violência contra a mulher, e a magnitude das sequelas
orgânicas e emocionais que produz, evidencia o forte caráter endêmico da violência, que
converte em um problema de saúde pública, ou seja, a violência doméstica e intrafamiliar
contra as mulheres traduzem-se em forma de poder e força física masculina ao longo da
história de desigualdades culturais entre homens e mulheres, através de papéis estereotipados
que legitimam a violência.
Portanto, o fenômeno da violência contra a mulher é complexo e com fortes causas
culturais, econômicas e sociais, aliado a ausência de intervenções de tratamento tanto para
vítima de mal tratados, quanto para o próprio agressor.
Considerações finais
Compreende-se que a prática da violência contra mulher, está atrelada a história da
humanidade, que variam de acordo com as normatizações estabelecidas na sociedade.
A violência doméstica vive a sombra da sociedade, onde milhões de mulheres
carregam em sua alma a dor e a cicatriz da agressão que sofrida dentro do seu próprio lar,
considerado como um dos lugares mais seguros e acolher, mas que apresentar traços de uma
11
violência perversa, e cruel que estampa uma frase na porta de entrada de sua: “alerta! neste lá
há um agressor que apresentar perigo constante”. A agressão física e psicológica é cíclica, e
ocorrem, independentemente, de classe social, idade, orientação sexual ou etnia.
Diante da análise e discussão da literatura, evidencia-se que a violência está em todos
dos lugares, produzindo a cada dia novas vítimas de maus-tratos, como se fosse um vírus que
contamina os agressores e enfermiça as agredidas. O ataque de violência na sociedade sempre
acarreta prejuízos irreparáveis no descontrole emocional e social da mulher. Porém, o
fenômeno da violência no âmbito da sociedade não é algo novo, mas que já persiste ao longo
de muitas gerações.
Ademais, o tema sobre a violência contra as mulheres precisa se discutido como um
fenômeno biopsicossocial complexo e dinâmico, cujo seu surgimento está interligado ao
surgimento e desenvolvimento da vida em sociedade, que passou a ser abarcado como um
comportamento aprendido e internalizado culturalmente, e que não deve ser entendido como
algo inerente a natureza humana.
Entretanto, ações estratégias de políticas públicas asseguram os direitos das mulheres
vítimas de violência doméstica através de ações de avaliação e intervenção sobre o crescente
impacto da violência na sociedade. Porém, essas ações precisam promovidas também, com
mais frequência âmbito do sistema de saúde, e principalmente, em delegacias e posto de
atendimento com o intuído dos profissionais na área da psicologia, prestarem o acolhimento,
atendimento e intervenções psicológicas, como o propósito de fazer com que a mulher
reinterprete suas emoções, recupere sua autoconfiança e valorize a sua autoestima para poder
enfrentar as situações de agressão.
Todavia, ressalta a importância da contribuição da terapia cognitivo-comportamental
no atendimento das mulheres vítimas de violência, pois, a terapia tem como objetivo substituir
a visão negativa que o cliente tem acerca de si, fazendo com que o mesmo, construa
avaliações mais realistas, adaptativas e uma visão mais positivas de si, diante das situações
ocorridas.
Portanto, fala de violência doméstica é compreender uma ampla gama de atos, desde a
agressão verbal, abuso emocional, e violência física e sexual, que é manifestado através das
desigualdades de gênero, de maneira mísera, que contribui para a manutenção do
desequilíbrio do poder do homem e o emaranhado de emoções da mulher.
12
Referências
Carlos, Johnatan da Silva (2011). Análise do comportamento aplicada à prática pedagógica na educação infantil. Portal da Psicologia. www.psicologia.pt. ISSN 1646-6977.
Costa, Maricília Teixeira da; Santos, Sílvia Mendonça dos Santos e (2008).Violência doméstica contra as Mulheres e seus efeitos emocionais. Instituto de Ensino Superior da Amazônia da Faculdade Martha Falcão. Manaus.
Fiorelli, José Osmir; Mangini, Rosana Cathya Ragazzoni (2010). Psicologia Jurídica. 2ª ed. São Paulo: Altas.
Lakatos, Eva Maria (2005). Fundamentos de metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Atlas.
Morato, Alessandra Campos; Santos, Claudiene; Ramos, Maria Eveline Cascardo; Lima, Suzana Canez da Cruz (2009). Análise da Relação Sistema de Justiça Criminal e Violência Doméstica contra a Mulher: a perspectiva de mulheres em situação de violência e dos profissionais reesposáveis por seu acompanhamento. Brasília: Escola Superior do Ministério Publico da União.
Paulo, Raiani Dias; Paro, Eliane (2009).Violência Doméstica Contra a Mulher: Uma Visão da Abordagem Cognitivo-Comportamental. Universidade de Várzea Grande-MT (UNIVAG).
Pereira, Melanie; Rangé, Bernard P. (2011). Terapia Cognitiva In: Rangé, Bernard & Colaboradores. Psicoterapias cognitivo-comportamental: um diálogo com a psiquiatria. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.
Souza, Sérgio Ricardo. Comentário à Lei de Combate à Violência contra Mulher. 3ª ed. Curitiba: Juruá.
Teles, Maria Amélia de Almeida; Melo, Monica (2003). O que é Violência Contra a Mulher. São Paulo: Brasiliense.
Williams, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque; Maldonado, Daniela Patrícia Ado; Padovani, Ricardo da Costa (2008). Uma vida livre da violência: Projeto Parceria Módulo 1 Cartilha. Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Psicologia.
Wright, Jesse H.; Basco, Monica R.; Thase, Michael E (2008). Aprendendo a Terapia Cognitivo-comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed.
Notas: Artigo Científico apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade FAMA/2014.1, como requisito da avaliação parcial do 2º Bimestre na disciplina PPB II e Matrizes Behaviorismo, orientado pela professora Msc. Maria das Graças Teles Martins