052 - Cadernos de Teatro

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052 - Cadernos de Teatro

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  • cadernos de teatro

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    ;:-..: .-~..TEATRO NA EDUCAO - Maria Clara, Machado

    TEATR9'PROFmCO - Christian Gillux'

    A:MORTA- - Oswald de Andrade~... .

    52

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    r ' , DO} JORNAIS!

    foi MOVIMENTO. TEATRAL lJaneiro/maroj721

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  • CADERNOS DE TEATRO N. 52janeiro-fevereiro-ma ro-1972

    Publicao d'O TABLADO patrocinada. peloServio Nacional de Teatro (MEC)

    Redao ePesquisa d'O TABLADO

    Diretar-responsvel - JOo SRGIO M.uumro NUNES. Diretar-executivo - MAllIA CLARA MAOOIJO-Diretor-tisoreiro ., Enny .fu:zENnE No

    Reqator-chefe - VrncINIA VALLI

    Redao: oTABLADO .Av. Lneu de Paula Machado;'795 ~ ZC20Rio de Janeiro - Guanabara ~ Brasil: .

    .. .

    . Os textos pub1iiados.nos. CADERNOS.DE ,TEATRO. :': s6-p9A~rgp.-ler_leRr~s~taqos,~~nle_"IljI10rizao

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    TEATRO PROFTICO

    1919

    GROPlUS:

    Em sua origem, oteatro nascelr de llma nostalgiametafsica... Aseo teatral da Bauhaus busca possi-bilidades novas que possam sati*zer essa nostalgia ms-tica; ela cleseia dar ao seu trabalho no s sati*esestticas mas criar essa alegria primitiva perceptvel atodos os sentidos.

    1932

    ARTAUD:

    Des~amos introduzir anatureza inteira 110 teatro,tal como queremos realiz-la. Por mais vasto que sejaesse programa, ele no ultrapassa oprprio teatro, queparece identificar-se com as foras da antiga magia.

    1936

    ARTAUD:

    Queremos ressuscitar uma idia do espetculo total,em que o teatro retornar ao cinema, ao music holl,ao circo e prpria vida oque sempre lhe pertenceu.Asala ser fechada por quatro paredes, sem qualquerespcie de ornamento e opblico sentado, no meio dasala, em baixo, em cadeiras mveis que lhe permitiroacompanhar oespetculo que se passar em redor dele.De fato, aausncia de palco no sentido comum da pala-vra convidar a ao a desdobrar-se nos quatro cantosda platia.

    No l1Uver cenrio; bastar para esse ofcio per-sonagens-hieroglifos, trajes rituais, maneqnins de dezmetros de altura".

    um teatro de sangueum teatro que, a cada representao, far ganharcorporalmentealguma coisa quele que representacomo quele que vem ver representarpoisno se representaage-se.

    Oteatro , na realidade, a gnese da criao.

  • 1969

    J. BECK:

    Ns penslfvamos que o teatro eavida eram duascoisas separadas, mas isso era u11Ia bela mentira, LivngTheater (teatro vivo - teatro da vida) - porque quere.mos fazer do teatro uma reali&/{le em que possamosacreditar e que contenha, para. os sentidos, essa esp-cie de violncia concreta que toda sensao verdadeiracomporta,.. No ponto de desgaste aque chegou nossasensibilidade, certo que necessitamos de tlm teatroque despeite nervos ecorao

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    CtIRISTIAN GILLOUX

    OOrente: fonte de alimento dos ltimos cinquentaanos de renovao teatral. Em 1930, arepresentao doteatro de Bali, por ocasio da Exposio IntemacionaLPara Artaud, {; a revelao; sua viso de um teatro me-tafisico se delineia, Ele compreende esse teatro orien-tal em que "os temas que faz vibrar no so dele, masdos deuses. Eles vm - parece - das junes pIimitivasda Natureza que um Esprito double favoreceu. Oqueele revolve oManifestado, uma espcie de Fsica pri-meira da qual oEspito nunca se desprendeu", Teatroem contato permanente com ooriginal. Teatro da iden-tificao, da unidade enfim reencontrada, do concretoe do abstrato. Teatro do absoluto, Artaud acentua seuataque contra o teatro ocidental da palavra - com-preendido como gnero literrio pela abusiva importn-cia dada ao texto, e que em nada utiliza a erpresocnica: o movimento no espao, a terceira dimensodo gesto e da voz - contra as formas estticas de umaarte petrificada, formas que aprisionam as foras cs-micas, que dissociam a cultura da vida, o esprito damatria. Artaud invoca, ento, opoder liberador e sa-lutar do teatro. Se quisermos evitar os piores conflitos,devemos por fim a essa ruptura dentro de ns e "acre-ditar no sentido da vida renovada pelo teatro e emque o homem se toma senhor daquilo que ainda no e ofaz nascer. Isso leva arejeitar as habituais fron-teiras do homem e de seus poderes e a tornar infi-nitos os limites daquilo que se chama realidade" paraque essas formas possam explodir.

    Acena se torna um perigoso lugar de destruio,semelhante ao caos antes da criao. Mas o atar, essefeiticeiro que grita, dana, invoca, e odiretor, este demiurgo de um mundo renascente, devem aceitar orisco,Devem aproximar-se omais possvel da crao, "discu-tir no s todos os aspectos do mundo objetivo e des-cdtivo elterior, mas tambm omundo interno, isto , ohomem considerado metafisicamente". Eles devem, comoo alquimista, remontar ao seio da matria para trans-mut-la, no drama essencial em que se encontram emconflitos necessrios os Princpios prinutivos; dramatizar,pela exploso da forma que os contm, as duas forasde que cada um odouble inverso do outro, como po-

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    sitivo e negativo, e cuja resultante nada mais {; que aprpria vida em perptuo c/evenir (da essa crueldade)atravs de outras fonnas.

    Eles devem fazer do teatro uma forma dinmica quese destri medida que ultrapassa toda a significaoda realidade em primeiro grau: as palavras, os gestosadquirem um valor intrnseco, significantes se torna~significados; les no so mais o decalque da reali-dade, mas aprpria realidade condensada.

    Ailuso d lugar a uma concreturle alm da lin-guagem articulada, alm das formas mcrtas e estereoti-padas do intelecto, do pensamento racional (da a im-portncia da herana do sonho surrealsta], a uma lin-guagem concreta diri~da aos sentidos e que no sedetm, por isso, nesse contato, at atingir as camadasmais profundas de nosso esprito: a expresso totalno espao eno tempo. Amise elt scene uma lin~ua.gem prtica e uma prtica da linguagem: apantonuma,a msica, a dana, a intonao, a incantao, o grito,os ruidos, as luzes desestruturam a conscincia e se tor-nam os verdadeiros sinais dessa liberao catrtica.Sinais hieroglficos "que evocam ao esprito imagens deintensa poesia natural", deixando distancia a psicolo-gia sumria, as racionalizaes intelectuais, os correiosdo corao.

    Apea no mais sofre a ditadura do texto; ela vivedo que llle prprio no aqui e agora, daquiio que especificamente teatral: a encenao, expresso i.deol.gica, "projeo ardente de tudo que pode ser obtido deconsequncias objetivas de uma palavra, de um som,uma msica ede sua combinao recproca, no espao eno tempo, materializao da simblica do mito arcaico,em fonnas evolutivas de contedo intemporal e abso-luto.

    Oobjeto do teatro (re)criar mitos, "traduzir avida em seu aspecto universal, imenso e ertrar destavida imagens sob as quais gostariamos de nos eneon-trar". Em outras palavras, viver efetivamente a dsntl-ficao do esprito na matria e da matria no esprito.Oteatro o momento crucial da Criao a partir da"anarquia formal" da matria, eda "integrao da idia".

    ETERNIDADE DO INSTANTEORGNICO...

    Momento do "ato total" de que fala Grotowski.Momento {mico em que o atol' jamais far duas vezesomesmo gesto, visto que participa integralmente do de-venr, do momento da vida; momento ilIemedivel emque ele se encoutra inteiramente "no centro do dramasem dissimular-se sob opitoresco de um personagem apretexto da verdade humana". Oator, privilegiado pelasua dupla natureza (orgnica e esprtnal], torna-se ocentro da cosmogonia teatral e, consequentemente, ter-na-se uma forma entre as formas Apenas, como "todaverdadeira efi~e, ele tem asua sombra" que ele reen-contra na necessidade que ogtua; "seu processo interior um processo real", que lhe revela os impulsos orgnicas mais prefundcs; como diz Julien Beck "o ator noespalha mais mentiras, ele no engana, ele se confessapublicamente atravs sua "prptia linguagem psicanal-tica de sons egestos".

    Ele o motor da representao e lhe devolve suafuno; o teatro volta a essa "idia elementar mgica,retomada pela psicanlise moderna, que consiste, paraobter a cura de um doente, em lhe fazer tomar a ati-tude etelior qual se desejaria recoaduzi-lc",

    ." EESPIRITUAL

    Mas se uma das especificidades do teatro atingirdiretamente oorganismo nos periodos de nevroses e debaixa sexualidade como este em que mergulhamos, deatacar essa sexualidade por meios fsicos, no se tratade cair na armadilha do ato, esbanjador de energia;no fazer como oassassino que, no podendo resistir ssuas paixes comete realmente o crime. Ao couhro,, "oestado de transe provocado pela representao de nos-sos demnosinteriores" um estado de extrema luci-dez, de lriper-percepo e no deve levar morte, aoincesto ou ao massacre efetivos mas evitar qualquer des-truio de matria e sublimar-se na espiritualidade. Oteatro uma situao concreta, criada artificialmente afim de provocar estados de esprito, sensaes fortes ereais que, pelo conhecimento vivido e obtido interior-mente, nos permitem atingir um equilbrio supremo deforas dai resultantes; estado metafisico, quando caem

  • oMGICO TEATRALOTeatro da Crueldade - crueldade tomada "no

    sentido dessa dor fora da necessidade inelutvef' - antes de tudo lucidez, uma m~ca rigorosa de "todosos meios tcnicos e prticos", a utilizao na mise ellscene de todas as possibilidades da poesia concreta, "apoesia, simplesmente, sem forma, sem testo ... tentandoexperimentar a velha eficcia mgica, sua fora fasci-nante e integral alm da palavra". Em outras pala-vras "a utilizaco de um lado, da massa e da extenso, ,dum espetculo que se dirige ao organismo inteiro ede outro, uma mobilizao intensiva de objetos, de ges-tos, de sinais utilizados num sentido novo", .

    Aexienso cnca deve corresponder s quatro di-menses interiores, isto , aos diferentes planos de re-ceptividade do organismo at as camadas mentais maisprofundas e ao sonho atualizado, confrontando opassa-do e opresente intemporal, de todos os nossos desejose inibies.

    coberta das foras profundas, uma liberao de tudn Aextenso o espao-tempo, omovimento; ou "oque o sufocava, o parto da vida, e goza o sacrifcio reencontro do espao e do tempo a linha. S po-"mortal" (lue se desenrola diante dele como necessrio demos conceber a linha com omovimento ... s temos sua regenerao. Helao sado-masoquista em duplo omovimento corporal, nele realizamos esimbolizamos osentido unindo irremediavelmente atol' e espectador. movimento csmico" (Appia). Encenar , portanto, prin-

    Esse mergulllO no interno s pode ter por motor cipalmente, projetm' oatol' no espao do som e do gestonossos sentimentos extremos: omedo, ohonor, a angs- atravs de uma linguagem plstica e sonora. Oatol'tia mortal; e nossos estados extremos: a clera, a vio- deve poder, ento, dominar todas as suas possibilida-lncia, oamor. Eles correspondem a um mundo que a des corporais e mentais. Nada em seu jogo ser dei-razo recusa, ela que se contenta com idias claras, xado ao "acaso ou n. iniciativa pessoaf', ao voluntarismoque a conscincia se recusa aconhecer para poder viver psicolgico. Essa "adorvel e matemtica mincia" quemais calma e covardemente. So as nicas capazes d a impresso de "vida superior", canalizar todos osde provocar em ns Ochoque necessrio revelao a impulsos vindos do fundo de seu organismo. Ele serque aspramcs Somente eles so capazes de nos fas- dono de sua espontaneidade. "Os movimentos muscula-einar, isto , de nos atrair e aenerizar. oseu pr- res do esforo so como aefgie de um outro esforo emprio poder de fascinao (sua ambivalncia: salutar e duplo e que, nos movimentos do jogo dramtico, se 10-terrvel) que representa o primeiro conflito que nos caliza nos mesmos pontos" do corpo. Acada um dessesconduzir~ medida que a crueldade for cada vez mais . pontos de impulso, a cada uma das qualidades dointensa e insuportvel como se nos aproximssemos do flego, a cada um dos termos das ternrias respirat-prprio sol, medida que odeterminismo filosfico que lias e musculares corresponde "um sentimento, um mo-ele representa for implacvel, at osupremo conflito no vimeato do espirito, um salto da afetividade humana".seio da unidade, l onde a anarquia formal condio "Saber antecipadamente os pontos do corpo que pre-sine qlla no/! de toda criao. a~ perto do caos, que ciso fazer vibrar lanar o espectador em transes m-o teaho, como a morte, tira todo seu poder de fasci- gicos". Esse conhecimento de si mesmo permtir aonao. atar projetar o grito, o gesto, produzir a imobilidade,

    o silncio que vo deseaodear no espectador que par-ticipa dessa necessidade "um desprendimento de ener-gia real', uma necessidade de exoreisar as foras obs-curas, as sombras que esto dentro dele eque ele devetambm comandar. "Quanto mais se mergulha no queh de oculto em ns, mais necessrio disciplinar, exte-riormeute, o que a forma, a artificialidade, o deo.grmna, osinal" (Grotowski).

    Se o ator tem, alm da sua natureza dupla (org-nica-espiriual], um lugar importante na representao,os sinais falam tambm com ele. Os gritos, as queLxas,as palavras articuladas (que ento reencontraram sua.sonoridade plena, seu fsico e so utilizadas num jogodifcil de vogais, como as usava a Kabala) so provo-cadas por ele. Mas se as possibilidades vocais oferecemuma grande variedade de tonalidade, de novos instru-mentos (empregados tambm no estado de objetol, denovos aparelhos sonoros baseados nas fuses especiaisou em alianas renovadas de metais, podem atingir umnovo diapaso da oitava, produzir vibraes estranhas,insuportveis, lancinantes. Artaud ficaria plenamente

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    ADescida. aos 11lfe1'l1os

    a domina enos devolve todo oseu pattico. Seu orga-nismo deve ser um grito terrvel epenetrante. Oatordeve atingir "essas' esferas em que a beleza no di-fere mais da verdade." (Grotowski). Oteatro toma-se olocal de um sacrifcio exemplar. "Ele se eleva nova-mente ao esplendor intemo porque como ao exem-plar ele redescobre a profecia. Ele no muda o cursodo mundo, mas confinna uma mutao na conscincia".(Hogoff)

    : claro que, diante de tal espetculo que atingetal gravidade, que se reveste de tal importnda (porsua referncia criao original que se recria perpetua-mente em ns) e apela para nossos liames universais,nossa metafsica do espirita-corpo, o espectador no mais esse voyeLlr aptico do teatro da palavra rida, doteatro de bmdevard como das falsas tragdias de Cor-neille e Racine. Ele se torna sua razo de ser. Elecompreender oator que d humilde egenerosamente aSua pessoa como os antigos compreendiam aquele que,coberto de ouro, tinha o privilgio de lanar-se paraeles numa pirmide de serpentes. Ele ver nela oseuprprio dOLlble, asombra. de sua prpria efgie. Assis-tir cerimna mgica de uma morte e um renasci-mento: o ator que mOITe erenasce.

    Morrer sem destruio de matria, como o pesti-lento. ManeI' numa "voluta de formas" apocalpticas.Para renascer em eatravs "dessas formas que domemem toda forma eque no podem sair de uma contempla-o das formas em si mesmas, mas que saem de umaidentificao m~ca com as fonnas"j renascer por umalinguagem na ma~a destrutiva e na potica universalque o espectador sentir no "eco de toda sua sensibi-lidade, em todos os seus nervos"; renascer pelo atori-tual (em que ele participa de uma m~ca em seu sermetafsico) que s tem sentido se se efetua atravs dacoletividade reunida, para que ela seja revolvida ecruel-mente tocada.

    Estabelece-se a a relao essencial entre o ator eo espectador actant, a do carrasco e da vtima; relaosado-masoquista: de um lado o ator sofre sua prpria .dor egoza de uma eficcia, de outro lado, oespectadorgoza dessa dor recebida porque ela significa a redes-

    Oatol', em eontato com oMal, a Violncia, oHor-ror, o Medo deve cruzar o cabo "herico e difcil" dodomnio de si mesmo: seus atos devem continuar a serilusrios. O atol' que "representa" em Annabella deJohn Ford (teatro isabelino) o papel de Giovanni nodeve realmente matar a irm, mas ao contrrio levarat final oseu jogo teatral: tudo oleva interiormente aum crime e ele deve mim-lo. Deve manter a iluso doato, uma iluso que se torna. verdica, que no nosengana mais; um ato-iluso, uma teatralidade que to-mamos como se ofosse: ns, espectadores, sabemos entoque o que se passa. em cena um sonho, "um preci-pitado verdico do sonho", um jogo grahrito de extremaeficcia pois que nos mostra at onde a nossa perversi-dade, nossas paixes, "nossas foras obscuras" podemnos levar se em lugar de salvaguardar nossa liberda-de na sublimao, ns nos encadeamos fatalidade denossos ates

    Devemos tirar uma lio da representao em queo ator se sacriica por ns, vai at ofim de uma Dor,

    Atravs do Jogo

    as mscaras, as sombras se iluminam, no qual Eros no mais unicamente um libido carnal; mas todas as forasde vida, de amor.

    "Maud achava que se ns fssemos somente capa-zes de sentir, de sentir realmente, acharamos o sofri-mento insuportvel, a dor intolervel, poriamos fim aela e, finalmente, capazes de sentir, experimentaramosde fato a alegria de amar, de criar, de estar em paz, desermos ns mesmos" (Julien Beck}. Osofrimento, a dorrevoltada devem sobrepujar a realidade. Oestado do-loroso do atol' (e do espectador) s tem valor se forgrahrito, isto , inutilizado: a dor deve ser conservadaem seu estado de ener~a pura para poder romper nos-sas formas interiores, nossos hbitos, nossa moral; emvez de esgotar-se em exteriorizao ela deve alimentaros conflitos, o tumulto das foras, a anarquia que seencontra no seio da Unidade esem aqual no h criao.

    Para Artaud um dos valores essenciais do Teatro daCrueldade sua grahridade: "teatro que ensina justa-mente a inutilidade da ao que, uma vez feita, nose f:!z mais e a utilidade superior do estado inutilizadopela ao, mas que, "retoum", produz a sublimao.

  • OJOGO DRAMTICO:

    Diga auma criana: "voc hoje ovento" ou "faaMAluA CLARA MACHADO uma rvore nascendo da terra e depois comece a con-

    I "versar com seu co ega.Neste artigo vamos abordar dois aspectos do teatro - Conversa de que?

    na educao: oteatro-jogo eoteatro-espetculo. Ambos - Conversa de gente com rvore,com a mesma finalidade: desenvoh~mento da criativi- Acriana entra logo no jogo. No discute se rvo-dade. Facilitar este desenvolvimento a tareia de todo re fala, se vento "fazve1", se ... se .. , Ela comeabom educador. Ora, a educao, ou melhor, a rstru- a odiar. E o professor, observando-a, tamhm se enri-o que vnhames adotando, ate bcm pouco tempo, no quecc.fazia outra coisa seno cercear a capacidade de criar. A aplicao do jogo dramtico na teraputica Pensava-se que para bem integrar um homem na sacie- assunto para psiclogos, mas fcil verificar o que odade bastava ensin-lo aser igual a todos os outros. No jogo mostra das necessidades psicol~cas da criana:est muito longe apoca em que, nas aulas de desenho, desinibio, liberao da agressividade mal controlada,o aluno era obrigado a copiar cabeas de esttuas gre- da falta de amor e da nsia de viver! "Fazendo degas ou figuras geommcas, .. Aquele que tivesse von- conta", a criana est muito mais peIto da verdade dotade de pintar uma rvore ou apenas borrar opapel era que verbalizando seus problemas com uma psicloga.reprimido ese sentia marginalizado, diferente. Esta di- Da liberao de agressividade atravs do jogo dra-ferena no entanto e que ofazia NICO, diferente, no mtico, tenho 1m1 exemplo esclarecedor entre crianasmeio de outros diferentes, para que cada um sozinho de 10, 11 e12 anos. Amonitora pede s crianas parapudesse procurar aprpria soluo, hoje para odesenho inventarem uma histria de ndios e representarem. A:.de uma rvore, amanh para oprprio desenvolvimento. crianas se.dividem em v{uios gmpos e comeam aEntregar criana solues prontas desestimul-la a trabalhar. A disposio delas h um malo com ,oupascriar'. Criar uma atividade permanente, que no d Ivelhas e material de cena: tambores, chapus, espn-diploma mas uma sensao de constante caminhar para gardas, panelas, etc, ... etc. ... 15 minutos depois co-uma plenitude de existncia. Garanto que muita crian- mea a representao. Elas geralmente fazem questoa gostaDa de dssecbrr um dia que dois e dois fazem de dizer que esto fazendo teatro. "O palco lhes atroaicinco, s pelo prazer de descobrir sozinha uma coisa muito. So artistas e querem ser como os grandes danica. Educar no fazer acriana abrir os olhos para televiso. Ofato de saberem que esto representandoum detennnadc saber, pr-estabeleeido pelo professor, as deixa ainda mais livres para expressarem oque estocom solues prontas que oaluno ter que iorosunen- sentindo. Isto, aparentemente, as distancia de seus pr-teaceitar junto com todos os outros para omelhor fun- pros problemas deixando a ima~nao trabalhar e ocionamento da sociedade e para o seu prprio bem, inconsciente agir. Muitos grupos mostraram hstrias de

    Educar FAZER ACRIAI~A ABRIR OS OLHOS udios, como cantorias, quase sempre baseados no quePARA OMUNDO QUE ARODEIA e dar-lhe a possi- aprendiam na escola. Um dos gmpos, porm, resolvebilidade de se maravilhar com cada nova descoberta apresentar uma triho de antropfagos que se delicia-que ela mesma vai fazendo do mundo que acerca, Esta vam num banquete em que comiam seus pais! Amo-capacidade, hoje, s opoeta ccrserva Oque uma nitora, indeeisa: - ser educativo? Deixo continuar opena! Sensvel para omundo que descobre, a criana jogo livremente para ver no que d ou interrompo edouser tambm sensvel para os outros homens, para as uma lio de moral sobre orespeito devido aos pais, etc,cincias, para as artes, para o prazer de vive; etc] Amonitora preferiu aguardar o final. k cran-

    Despertar no aluno a NECESSIDADE de uma ati- as que assistiam ao jogo estavUl1l tambm se deleitan-tude eradcra a grande tarefa do professor, chanlar do. Ao terminar o jogo tudo voltou ao nermal e osa ateno do aluno sobre sua capacidade de inventar e "ndcs antropfagos" e seu pequeno pblico, enlusias-de trarsonrar, mado, estavam felizes por terem feito uma "brincadeira"

    TEATRO NA EDUCAO

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    sos, de crimes atrozes, da devoo sobrehumana, tenta-~emos concentrar 11In espetculo que, sem recorrer slInag~ns gastas dos velhos mitos, se revela capaz deestrar as foras que se a~tam neles."

    Como par~ uma catedral, "a ideologia", nmoral deum teatro ~ta em relao COm sua arquitetura. Noteatro tra(!IclOna! nenhum esforo de participao sepede ao. e~pectador - ooyellJ' gozador passivo - quevem a:SlS~r .aos desregramentos dos prncipes, . nte-leetuahzaao, pelo terto, do homem e de seu destino(sem ~e tratar, da, de um teatro-crtico brechtiano")percebidos pelo autor e que nos vem, mais ou menos re-transm!tido pelo d}re:or (adaptador e no criador) eccmediaetes, Opubhco acha-se, ento, diante da caixad~ espetculo, numa poltrona, numa falsa intimidade,dJante e em repouso visto que a percepo (lue se lhepede (dada) do drama linear. Mas no teatro talcomo o entende Altaud e todo o movimento de reno-vao, de Crcpus aos gl1lpOS de pesquisas dos lti-mos anos, oespectador e participante, comunsante en-

    I .I I. ~] r , b'1'0\~( ona proplla uao (ramahca.

    E "se determinnda poca se volta e se desinteressa .do teatro que o teatro deixou de represent-Ia. Elano e~era ~ais ,~ue ele .llle fomea os mitos em quepcdera apOlar-se. Omito aparece, ento, como umaimagem acrescida. Visto que a representao dos mi-tos deve ser evolutiva, destruidora das [ermas anlsasblasfematria dos ritos habituas, oteatro que se af~st~dessa funo perde sua razo de ser.

    O"Teatro da Crueldade escolher temas e assuntosque correspondam agitao einquietude caracters-ticas de nossa poca'. Os mitos devero, portanto, atua-Iizar-se nos dois sentidos do termo, isto , objetivar-seem cena representando "os vdhcs conflitos" sob novafOlma. "O amor quotidiano, a ambio pessoal, os abor-recimentos dil'os, s tm valor em reao a essa for-ma de hon'vellil'smo, que se encontra nos mitos aosquais as coletividades em massa deram seu consenti-mento. por isso que, em torno de personagens fame- (Planeie, 20/2/71)

    oTEATRO DA CRUELDADE

    satisfeito com as descobertas da msicaconereta e ele-tro-acstica e com a estereofonia (essa posse da fonna-espao em todas as dimenses). Do mesmo modo "vi-braes luminosas devem ser pesquisadas, maneiras no-vas de. espal~ar as luzes em ondas e por faixas paraproduzir quahdades de tons particulares, reintroduziudona luz u~n elemento de tenso, de densidade, de opaci-dade afim de Ilroduzir ocalor, ofrio a clera omedo J ) )etc. Nessa encenao concebida como totalidade -que participa de uma utilizao de todas as formas arts-ticas de eJipresso e se torna, atravs dessa sntese, umaarte maior e no menor, no mais simples" internle(liriaentre atar e espectador mas realmente criadora - nter-vem as roupas. Elas sero, como em toda cerimnia~itual, belas, fau.stosas, antigas para se parecerem comessas roupas roiIenares que tm uma aparncia reve-

    ladora do .fato~de sua ~~roximao com as tradies que~s rroduzlram. Tradlao transmitida pelos Mitos, Pro-Jeao formal das foras vitais que nos permam con-servar oensinamento eosentimento metafsico da vida.Mas o mito, para guardar todo o seu poder evocadordever ser uma cultura vira; isto , evoluir em sua for~ma eapelar em cada poca, em sua representao, paraoutras formas de sensibilidade.

  • de teatro. Amonitora conversou sobre a disciplina nojogo, a maneira teatral flue elas estavam representando,et~., e o~servou para si mesma [lne era melhor que ascnanas Jogassem numa histria de faz-de-conta aagres-sividade contida cnatural do que se tomassem adoles-centes reealendos, impossibilitados de cxtravasarem seusse~Jtimentos c~condidos .. claro qne nenhuma daquelascn~nas que~l~ seus pms mortos ou maltratados, apena!io Jogo dramtico foi uma maneira simblica de liberara agressividade natural mas proibida em relao aospais.

    Escolhendo temas sobre pais e mestres, as crian-as descarregam ressentimentos que o sentimento drcul~a esc~ncUa eque? jogo libera porque apenas urm~~1llcadelfa ~e teatro". No teatro oaluno qu.e faz pa-

    . ~C1s ~le antondade geralmente leva enormes surras, ousefmoes. Um gmpo de meninas, uma vez, criou numaimproviso um bando de avs que resolveu assaltar umbanco porqne no tinha nada que fazer. No final doassalto as "velhinhas" se arrependeram e resolveramfazer alguma coisa na \~da, para no assaltarem maisbancos, ento abrem uma casa de flores!

    H tambm os jogos onde acriana trmJsborda sen-timentos de plenitude, de amor e de camaradagem. Aredescoberta da natureza atravs de sua identificaoc?m os ;leme~tos ou com os animais, nos jogos dram-ticos, da a cnana a oportunidade de reavivar a sensi-bilidade, redescobrindo sensaes perdidas., Muit~ importante, na aplicao do jogo dramtico,e a soluao pessoal Em cada situao dada, 'em cadah!stria, m:smo com asoluo pr-estabelecida pelo mo-nior, a enana deve encontrar a prpria maneira dever e sentir.

    Para desempenhar bem ojogo dramtico a crianatem que aprender a observar. Ao repetir a situaoim.aginada, ela solicitada aVER. Omundo da orianavai se alargar, aguando aobservao: rvores animaisluar, rio, vento, chuva e estrelas entram no' pequen~grande universo da crian. -Da para avida cotidiana um passo: arua, a cidade, os homens e seus sentimen-tos, tudo material para a recriao, no palco, de umasituao dramtica.

    Aaplicao do jogo dramtico no estudo de valorincalculvel. Pode ser aplicado no estudo da msica, dahistria eat mesmo da cincia. H alglUlS anos aCASES(MEC) tentou uma esperineia fascinante nas escolas

    do Estado da Guanabara. Foi aberto um concursoentre as escolas, cada uma teria que apresentar umadramatizao sobre "ENTRADAS E BAlvDEIRAS".'r' .. '/ lI' d\lfgmm \a I, uma as examinadoras do concurso con-cluiu: "a finalidade do concnrso - contribuir para oconhecimcnto do fato histrico - repercutiu intimamen-te nos estndantes de nvel primrio, removendo a indi-ferena rel~ estudo da H:do B., pareceu-nos plena-mente atmgrda. 11pesar das falhl~s observadas, os resulta-do,s levam arecomendar adramatizao espontilnea comometodo aser usado no ensino da matria pelo vivo inte-ressc demonstrado pela criana pela "hrneadem de ban-deirante", alm de haver facilitado o trabalho da pro-fessora quanto li pesquisa do conhecimento c outrasatvdades. Houve oportnnidade de verificar de quemaneira ofato histlico repercutiu no esprito da crian-a, levando-a asentir e incorpor-lo sua erperinda",Jogando-se inteira, numa representao dramtica acriana est liberando anseios, fantasias, fnrstraes, de-sejos e sua viso do mundo.

    Mas muito importante que a dramatizao espon-tnea seja uma atividade somente das crianas, sem se\~sar a um espetculo ou qualquer forma de exibido-msmo. El.}lor a criana . crtica ou mesmo aos aplau-sos do uma platia seria desvirtuar ofogo, que deixariad~ ser e.spontne~. Uma representao teatral com p-blec, feita por cnanas, no passa de uma imitao malfeita de espetculos de adultos, onde o papel decora-do dito de uma maneira fonnal, (ensaiada pela pro-fessora) e limitado pelo texto e pela marcao. Almde cercear a cratvidade iantil o espeteulo teatraldecorado, vsanrlo uma platiasobretndo formada depais eomplascentes, uma escola de exibicionismo, umacompetio desleal entre os pequenos atores. Geral.mente os melhores papis so dados ( justo, desdeque vise ao espeteulo) aos mais desinibidos, isto aosmais "exibidos". Otmido eretrado, oque talvez masnecessite. do jogo dramtico, bandonado em nome dosucesso do espetculo. E resta ainda oproblema dasro~pas caras que nem todos os alunos podem pagar,criando-se a casta dos que podem representar porquetem uma situao econmka melhor., Acriana t~l~ a t~ndneia nornal de imitar espe-

    taculos de teleVJsao, cmema ou teatro. Isto no temimportncia. Deitemos que ela mesma tenha asua con-cepo "de como fazer", que ela mesma tente imitar o

    que viu e gostou. Imitando, sem oaurlo da professo-ra, ela estal. ainda criando. Os trechos que mais aimpressionaram, os atores com os quais ela mais se iden-tificou so transpcrtados para acena numa oiso infantilepessoal idealizada. Oresultado, muitas vezes, desas-troso do ponto de vista artstico, porm uma maneirasaudvel de deixar a criana livre para extravasar suamaneira de perceber omundo.

    Oteatro infantil do TABLADO uma fonte cons-tante de inspirao para as crianas. Cada pea mon-tada pelo grupo assunto para todo um ano de ativi-dades de jogos dramticos entre as crianas. Em 1971,no havia atividade dramtica entre os alunos dos cur-sos do TABLADO que no contasse com bandidos emocinhos, ndios e canes, provenientes da histria deTRIBOB6 CITY (pea montada pelo TABLADO).

    TEATRO-ESPETCULO:

    Teatro-espeteulo oteatro feito por adultos pm'a ascrianas.

    Se o jogo dramtico libera a criatividade, o espe-tculo teatralalimenta esta criatividade. Um espetculode teatro bem feito um estmulo inesgotvel para asensibilidade da criana. A emoo artstica leva acriana a um mundo de fantasia e de sonho que cor-responde ao que busca sua alma em desenvolvimento.N1Ull espeteulb bem feito h pereto entendimentoentre os anseios ainda desconhecidos da criana earea-lidade inel.}llicvel do mmdo misterioso que a rodeia.Omistrio teatral justamente esta iden~eao pro-funda de cores, ritmos, msica, movimento e palavr~com aalma do espectador. Antonin Artaud diz que tea-tro poesia em movimento no espao. Opblico esperaeste momento de poesia. E que pblico mais capaz,mais pronto para captar esta poesia solta no espao queacriana? Se ela vive no mundo do faz"de-conta, trans-formar este faz-de-conta em realidade tarefa de todoedueadcr-criador, : difcil, neste dcada de compu-tadores provar a importncia do espetculo teatral bemfeito na alma da criana. No h. estatstica que mos-trem omaior ou menor grau de sensibilidade captadonuma sala de teatro. Mas, para o observador sensvela transformao que sofre o pequeno pblico durante

    um especulo inesquecvel! E talvez esta seja agrande emoo .do realizador.

    Quando cu fazia teatro de marionetes, via crian-as emocionadas esperarem o fim do espetculo, paratocarem nos bonecos. Silenciosas, graves, elas chegavampCltO dos personagens para melhor se "entenderem".

    Entre os jovens que fazem teatro para crianas huma gnmde confuso'sobre oque comunicao. "Co-municao" lJoje uma das palmas mais usadas dovocabulrio. Fazem-se cursos, palestras, reportagens, embusca do significado da palavra mgica. Televiso, tea-tro, cinema, rdio eonumicao. .. Grito, berro, surra,pancadaria, autofalante, sexo... tambm comunica-o. Talvez ohomem esteja apefecmdc demais os"veculos" da comunicao edescuidando da mensagem.Apesar de todas as teorias inteleehlais em moda a crian-a necessita de um "clima" para receber: osilncio dasala, as luzes, amsica. : necessrio se recolher, estaratento. Ela no um simples aparelho receptor deimagens e palavras vazias. Acriana deve ser solici-tada a participar ativamente de uma emoo total eno de uma competio esportiva.

    Nunca deixo de citar a comovente paltieipao deuma menininha de uns 8anos num espetcl~o de P/11ft,oFOlltasmin/w, no TABLADO. Quando ame do fan-tasminha perdia tempo, falando ao telefone coisas in-teis com a prima Bolha, enquanto Maribel estava emperigo, Phift vira-se para aplatia econfessa aflito queaquele era o nico deleitn de sua me. Amenina selevanta na platia, eno meio de total silncio, ~rita so-lidria, com00da: "No liga no, Pluft, minha metambm assim..."

    Aquela menina estava realmente se comuuicando ese identificando. Oproblema de Pluft era odela eassimela no estava mais s. Atenso em relao a suame estava sendo aliviada ahavs da hist6ria de Pluft.Oteatro estava lhe dando a oportnnidade de descobrir,atravs de uma emoo, os pr6prios anseios eproblemas.

    Na mesma pea, quando Pht extasiado ante ochoro da menina Maribel, vira.se para a me e diz:"Veja, mame, a menina est derramando o mar todopelos olhos", Oll\~mos de quase todos os espectadoresum "Ahhh!". Asatisfao do apelo potico da imagemrecebida, penetrava atravs dos sentidos, e se manifes-tava neste "AlJhh!". No preciso explicar com pa-lavras a imagem. .. se o pblico esta atento, a comu-

  • nicao se faz, isto , comunicao verdadeira, alimentopedido pela sensibilidade do espectador. Estaremos,ento, comunicando eno impingindo, forando um p-blico anos aceitar ou aceitar nossas idias, por melhoresque elas sejam.

    Uma pea infantil que apela para o excesso degritos e perguntas, para o excesso de dilogos com aplatia, est formando torcedores eno pessoas,

    Arealizao de um espetculo para crianas exige,pois, grande cuidado da parte dos realizadores. enga-no pensar que criana, por no poder criticar, aceitaqualquer espeticalo que se lhe apresente. Perguntema um menino de 13 anos se ele gosta de teab'o infantil.Amaicra diz que tudo no passa de uma "xaropada",E os pais sensveis ficam desesperados porque os filhosno gostam mais de arte. Isto terrvel para a educa-o e a prpria arte. melhcr no fazer nada doque fazer mal. Aaparente facilidade do teatro infantiltem atrado muita gente que se inicia na arte teatral:"J que no se consegue fazer teatro para adultos vamosfazer teatro infantil". " isto , distribuio de balas, derevistinhas, de presentes, muita luz, gdtaria, pancadaria,llisteria epronto! Neste caso no estamos desenvolven-do a sensibilidade. Estamos alimentando as doenasda sensibilidade. Estamos "apelandc' e perdendo amaravilhosa oportunidade de desenvolver na criana acapacidade de captar, atravs do espetculo, o mistrioda vida.

    (Da rev, Educao, publ. MEC)

    COMO CONSTRUIR OS CENlUOS

    TRAINIS

    Os tranis so a base .de toda construo cnica edevem ser executados com peIfeio, As solues quedaremos a seguir so muito simplificadas, de maneiraque qualquer modificao adicionada pode resultar numtrabalho inferior.

    Medidas. As "travessas" ocupam toda a largurade um trainel e, consequentemente, os "prumcs" tmo cumpdmento do trainel menos duas vezes a largurada madeira, Do mesmo modo a travesa central dalargura do trainelmenos duas vezes a largura da ma-deira usada. Os trainis com mais de 3,60m requeremduas travessas centrais e os com mais de 4m de larguradevem ser corsrudos com ripas de 2,5 x 10cm. Osesquadros tm aprosmadamente omesmo cumprimentoda travessa, porm, as medidas no precisam ser exatase podem ser feitas a olho.

    Os ngulos. Se os cantos de um trainel no esti-verem em ngulos retas perfeitos, toma-se impossvelIig~los com justeza a outros trainis, oque cria muitasdificuldades. Otrainel deve ser armado no cho, comaface anterior para baiso; medida que cada elementovai sendo colocado no lugar deve ser preso ao chocom pregos finos que no so pregados at ofim. Cadacanto deve ser ajustado cuidadosamente com um esqua-dro de ao. preciso verlicar ao longo de cada ele-mento para ter certeza de que est relo, e verificar asposies medindo as diagonais, que devem ser iguais.

    Juntas. As cantoneiras de madeira so colocadasrecuadas, aproximadamente 1,5cm da face erterior dosprumos, pois de outro modo quando dois trainis foremcolocados aum ngulo reto um do outro, as cantoneirassero um impecilho.

    Adisposio dos pregos tambm importante. Umprego no lugar certo fortalece a junta, enquanto nolugar errado enfraquece amadeira. Um prego deve sercolocado em cada canto do reforo, e2 em cada extre-midade enviesada da junta. Outros pregos devem serpregados nos pontos nos quais as cantoneiras de ma-deira mostrem tendncia a afastar-se das ripas. Paraimobilizar os pregos coloca-se uma chapa metlica soba junta emartela-se oprego de encontro mesma. Issofaz que suas pontas virem para um lado. Uma vezassim imobilizados, os pregos no podem ser retiradossem danilcar a madeira e, consequentemente, os cen-rios que so montados apenas para uma determinadaproduo devem ser ligados comparafusos em vez depregos, para que se possa aproveitar novamente a ma-deira em outros cenrios,

  • Forl'ilo dos tranis. Alona deve cobrir o tranelapenas na face anterior da armao, e no deve servirada ao longo da espessura da madeira. Afazenda aser usa-da deve ser COItada uns 8cm mais comprida e5cm mais larga do que a armao. Vira-se a armao(face anterior para cima) e extende-se o tecido sobreela. Afazenda deve ficar folgada, mas no franzidae a trama deve ficar paralela os lados das cabeceirasda armao. Prega-se alona temporariamente aos pru-mos com uma srie de tachas separadas uns 15cm entresi, e a um pouco menos de lcm para dentro da su-perfice interior da ripa. Prega-se, ento, uma tachano centro de cada travessa, a um pouco menos de lemda exremidade interior da ripa; depois prega-se umatacha. a mais distncia de cada metade, e outras noscentros dos espaos deixados. Isso divide folga demadeira igual.

    Abeira que fica solta para fora deve, ento, sercolada (cola sinttica) 11 madeira e, assim que secar,prega-se ento uma segunda srie de tachas, a 3em deintervalo ca lcm da borda exterior da armao, cortan-do-se o excesso ela fazenda com uma faca. Esta ajudaa rasgar: o segredo est em puxar o excesso da lonacom a mo esquerda (cnquanto a direita corre com afaca) exercendo a presso no ngulo apropriado.

    Traillis para portas e janelas. Estes requerem quese forme uma armao menor dentro da maior. Anoser que ocenrio s v ser utilizado em uma produo, desnecessrio cerstruir trainis especiais para janelas,lareiras, etc. Trainis de porta podem ser utilizadosvedando-se qualquer parte da abertura que no for ne-cessira. Quando os mesmos trainis so utilizados paraformar paredes de cenrios diversos de uma mesma pro-duo, as aberturas indesejveis podem ser tampadastemporariamente com painis pequenos aplicados, querecobrem a parte que deve ser vedada. Trata-se depequenos traluis sobre cuja anmo, na face anterior,deve ser pregada uma segunda moldura de papelogrosso ou material semelhante, com uma rebcrda de 2ou 3cm, que impede qualquer fresta entre otranel maiore omenor. Afazenda colada recobrindo a rebcrda,Esses painis menores devem ser pintados junto com osmaiores, pata no haver diferena na cor.

    O"batente de ferro" faz com que seja necessriocortarem-se os 4pnunos ea travessa interior 4mm mais

    CUltos do que seu tamanho exato. ir tira de ferro podeser vergada a frio, quando presa num tomo e batida amartelo. Amedida extedor da lmina de ferro, depoisde vergada, deve corresponder exatamente largurado tranel Os buracos para os parafusos s devemser abertos com lima broca, depois de vergada a li\mi-na, e as bordas dos mcsmos devem ser eseuiadas demodo a permitir que os parafusos se ajustem perfeita-menta 11 abertura eficlucm com a cabea rigorosamenteno nvel da superfcie da lmina. Utilizam-se 12 pa-rafusos em gmpos de trs. impossvel fazer fixarum parafuso no corte trasverso de uma ripa, isto , naexh'emidade de um pnnno.

    As pequenas chapas h'iangulares pm'a firmar os pm-mos interiores e exteriores so essenciais para a rigi-dez do trainel.

    Nos trainis de porta usam-se trs pedaos separa-dos de fazenda para a forrao: os dos cantos devemser colocados primeiro, para que o da verga os recu-bra na: ertremdade. Quando os pedaos dos cantosficam por cima s vezes acontece que os pintores de-formam a ertremidade,

    Ligao dos trainis. As paredes so, nonnalmente,formadas de dois ou trs traillis que devem ser ligadosde tal Ionm que no apaream frestas entre os mesmos.Colocam-se os traiais no cho, com a face anteriorpm'a cima, e ligmn-se os mesmos com dobradias depino. Uma dobradia colocada a SOcm do alto, umaameia altura e outra a 30cm da base. Aseguir afres-ta reeoberh com uma tira estreita de lona (ou algo-dozinho) que deve ter 10cm de largura eser um poucomais comprida que onanel Atira molhada e tor-cida at que fique apenas mida. Vai-se ento abrindoa tira sobre um pedao de ripa e passando a goma defminha de trigo em toda a sua extenso (no se passacola a no ser que a parede seja pemaneste]. Pin-celam-se tambm os dois trainis ao longo da fresta,numa superfcie de uns 5em para cada lado. Duaspessoas pegam atira pelas ertremidades: enquanto umasegura sua enrendsde no alto, a outra cola a sua so-bre a base da fresta, segurando-a depois na posiocerta. com 4tachas ou percevejos. Atira vai sendo aospoucos esticada sobre a fresta, com o auxlio de umpincel de cola quase seco. Notem que as erlremidadesezteriores das dobradias ficam expostas, oque no pre-

    judica, j que a tinta que se usa no cenrio adere smesmas, Uma tira larga demais, por outro lado, tendea descolar-se da superfcie dos trainis. Atira no devcser muito esticada para no descolar quando seca Qua-tro tachas ou percevejos so pregados acima e abaL,ode cada dohradia e ao alto dos trainis. Se sobrarum pedao de tira no alto, dobra-se pma dentro antesde pregar,

    Grossura, Se trs ou mais trainis do mesmo ta-manho forem ligados uns aos outros~ ser il~l~os:veldobr-los. Para conigir esse defeito e necessano use-rir, entre dois dos trains, uma ripa de 2,5em x 7,5ao longo de todo o comprimento. Aripa e as duasfrestas so cobertas por uma tira de 18cm de largo.

    Recortes. So fonnados por uma foUla de compen-sado ou papelo grosso, que se prega ~ um ~'ainel deforma ilTegular, consh1Ildo para determmado Iim, Paraque orecorte possa ser rf~do, preciso que as partesque constituem aarmao sejam mmad~s em esquadros,Abase deve ser composta por uma so pea para queno haja superlcies irregulares que possam pegar nocho quando orecorte transportada

    CONSTRUO DE CENHIO - Cenrio Pendurado

    Certos tipos de cenrio precisam ser sustentadospelo alto, oque normalmente feito ligando-se os mes-mos s varas com as cordas,

    Tetas. Omesmo teto normalmente usado paratodos os cenrics de uma pea. Ele construdo comum grande trainel sem reforos hiangulares nos cantos ecom a estrutura ligada por reforos do teta em lugarde reforos comuns. As vrias Iairas de fazenda devemser emendadas no sentido do comprimento, e as ripasdevem ser de 3x1,5 cm em vez de 1,5 x5cm. Comoos elementos mais longos (que ccnesposdem aos pm-mos dos trainis) tero apl'Oimadamente 9m de co~prmento, necessrio que sejam compo:tos de do~spedaos. Ajuno dos mesmos pode se~ feita com auti-lizao de dois pedaos da mesma madeira, de 5em, umusado como labaas para. reforo, Alona deve ser co-lada e pregada s travessas mas apenas pregada aospnunos. Quando o teta desarmado para ser guar-

    dado ou transportado, a lona enrolada em tomo dastravessas.

    Teles. Os teles so fonnados por vrias faixas delona cosidas umas s outras no sentido horizontal. Asvaras de cima e de baixo so, cada uma, constihldaspor 2ripas de iguais dimenses,. colocadas ~o longo decada latia da beira da lona e hgadas um a outra porparafusos. Vrias ripas so necessrias para cada lado.Ca:da junta reforada com uma labaa presa por pa-rafusos fL,ados por porcas no lado oposto. As porcas de-vem ser embutidas e as pontas dos parafusos cortadasao mesmo nvel.

    Os lados do telo devem ser aparados de maneiraa faz-lo diminuir do alto para a base, na proporode 2,5cm para 30cm, de altura. Esse estreitamento aju-da afazer desaparecer as rugas que aparecem nos can-tos dos teles retangulares.

    Bambolinas. So semelhantes aos teles, porm,mais curtas e destitudas de varas na parte inferior.Quando representam folhagens, usa-se recortar a pmteinferior ilTegularmente, imitando, folhas T~d? r~c~ltepequeno tende a enrolar para trs, Como e mevltavelque haja algum enrolamento, aparte_rec~rtada deve serpintada dos dois lados para que nao fique exposta alona em sua cor natural,

    PORTAS E JANELAS

    Otipo mais simples de porta construdo comose fosse um pequeno trainel com uma tr.avessa C~l;tralde 15cm de largma, filada por cantoneiras metlicas,Prendendo-se painis de moldura fina 11 face anteriordesse tipo, possvel obter-se um efeito suficientementereilista Uma :lorta um pouco mais elaborada pode ser

    . 1 I Iconstruda com ripas de 15cm de largma e a ona epresa por trs da am;ao, ant~s de serem ~olocadas ascantoneiras de madeira no trameI. Uma tira de mol-dura aplicada superfcie interior (L, esp~sma)dos painis fomlados pelos elementos da annaao.

    Portais. So feitos com tbuas de 2,5cm por 15cm.Recorta-se uma reentrncia para receber o reforo deferro para o batente inferior, que Iomadn por umaripa de 2,5 x 1cm chanfrada de ambos oS,la~os, paraque os ateres no tropecem. Esta base e fixada, de

  • cada lado, por uma chapa em ngulo reta e uma can-toneira (ambas metlicas) de cada lado. Uma cha-pinha metlica perfurada, vergada e aparafusada a umlado do batente, pode ser utilizada como retentor paraa.lingueta da fechadura.

    Aporta engonada ao batente por dobradias depino solto. Uma folha de cada dobradia aparafusadaliporta com as alas dos pinos projetando-se para almda superfcie. Aoutra folha invertida para dobrar nosentido da face posterior da porta. Obatente dei-tado no cho com a face anterior virada para baixo.Coloca-se a porta por cima do mesmo, eratanente puralela no lado da dobradia e a I,5cm acima da base,para qne a porta possa abrir e fechar livremente. Sento que as folhas soltas da dobradia so parafu-sadas aos portais.

    Janelas. Os portais ou marcos para janelas so tons-trudcs da mesma maneira que os da porta, com a dife-rena que so iguais no alto e na base, e que levamuma tira de moldura na. base para fornecer uma guiapara a janela no batente inferior. Ocaixilho superior de 4cm mais largo do que a abertura da perta epregado li face pcsterior da armao. Ocaixilho infe-rior tem as mesmas dimenses pelo lado de dentro dosuperior, mas corria construdo com ripa de 5cm delargura, em vez de 7cm, isto suficientemente estrei-to para correr dentro de um trilho fonnado 110r duastirinhas finas de ripa, pregadas na parte interior dobatente. As traves horizontais dos vidros so feitas detiras de ripa pregadas ao caiUlho. As traves verticaisdo eaidlho inferior devem ficar por trs das horizon-tais para evitar que, por acidente, o caixilho nlerorpegue no superior no momento de ser aberto. Painisde losango podem ser sugeridos por cordes tranadosepregados . face posterior dos c:u.U1hos.

    Se a janela no for praticve~ por vezes poss-vel no utilizar Um fundinho, mas simplesmente pregarum forro de fazenda por trs da armao, Naturalmenteusam-se pano preto para as cenas noturnas e pano azulclaro transparente, que pode ser iluminado por trs,para cenas diurnas. Tais recursos so aplicados commais facilidade quando as janelas so enfeitadas comcortinas cruzadas epresas apenas nos cantos inferiores.E nunca devem ser usados para cenas durante o dianas quais qualquer abertura, como uma porta, pel'lllita

    que se veja ocu; em tais casos praticamente impos-svel fazer com que os dois recursos tenham o mesmoaspecto.

    Arcos. Aface anterior do arco recortada em pa-pelo grosso e aparafusado li face anterior da aberturado trainelna qual ser usado. Uma armao de nadei-ra construda e liga(la li face posterior da abertura.Essa armao formar a espessura do portal e, almdisso, segurar no lugar a espessura do arco. Essaespessura do arco feita de papelo grosso com lonacolada em ambos os lados. Papelo recoberto de lonapode ser recurvado com facilidade sem quebrar. Pode-

    . -se usar tambm compensado fino, atravessado (noverga ao comprido).

    Molduras. A aparncia de qualquer acabamentode madeira muito melhorada com ouso de molduras.Amoldura chanfrada nos cantos e presa por peque-nos pregos sem cabea. Uma moldura longa pode serformada de vrias peas curtas, j que as juntas nosero \~sveis ao pblico. Um painel pode ser fomla-do por quatr~ pedaos presos nos cantos por preguinhossem cabea. Enecessrio colocar travessas adicionais naparte posterior dos traiuis para formar uma supericeslida qual os painis possam ser pregados. Molduraspesadas, como cimalhas ou sancas, podem ser formadaspela combinao de uma ou mais-tbuas com vriastiras de moldura estreita. Molduras rasas ou quaisqueroutros detalhes com menos de lcm de espessura podemser simulados com tinta.

    ESCADAS E PRATICVEIS

    Os teatros profissionais usam degraus e praticveisdiferentes dos aqui indicados, mas como estes somais versteis, so os mais adaptveis ao trabalho degmpos amadores. -

    Pmticoeis. Aparte superior fornada por trspedaos de madeira de 5cm x IOcm, paralelos e colo-cados no cho sobre seu lado m~s fino, aos quais seprega, pe1]Jendiculamlente, uma srie de tbuas. Cadatbua ecolocada sobre as trs traves bsicas e prega-da individualmente. Essa pranchada eforrada com umacolchoado e o conjunto ento recoberto de lona ou

    ..-

    ~.

    I

    de aniagem, que dobrada para os lados epregada comtachas.

    As pemas so tambm feitas de madeira de 5cmx rOcm, colocadas pelo lado interior das traves bsicaslaterais e aparafusadas no lugar. Atrave bsica centralda cobertura mantida no lugar por uma trave trans-versa de 5cm x rOcm que se aparafusa s pemas. Osesquadros so feitos de qualquer sobra de madeira efixados com pregos ccmuns, de tamanho mdio. Pla-taformas de mais de 2m necessitam de mais duas remasao centro, bem como de mais uma travessa.

    Escadas. Sua construo com opiso dos degrausde 2,5cm de espessura e 25cm de profundidade (lar-gura da tbua), enquanto os dementes (pmtes lateraisdentadas) so recortados em tbuas. de 2,5cm x SOcm.Os dormentes no devem nunca ser afastados mais de75 cm um do outro. Todos os' degraus devem seracolchoados pm'a evitar o barulho. Algumas camadasde papelo cornlgado recoberto de lona ou aniagemformaro uma proleo satisfatria.

    Trainis ele proteo. Olado de uma escada ougrupo de degraus que fica ~svel ao pblic~ tem de serrecoberto seja por papelo grosso, seja por traineis especialmente construidos,

    FORMAS IRREGULARES

    Pedras, troncos, etc. so feitos de ammes levesde madeiraecobertas com tela de arame de galinheiro,que pode ser amoldada na fama desejada. Lona do-brada ou amassada na forma apropriada, cosida sobreesse conjlUlto e pintada.

    Consertos. Um trainel rasgado pode ser remenda-do, colando-se um pedao de lona pelo lado de trs. Apessoa que vai fazer oremendo predsa de outra que aauxilie segurando uma tbua pelo lado da frente, pa:aformar um ponto de apoio contra oqual se possa reali-zar o trabalho.

    . Quando um pedao de lona cede, fomlando umcalombo flcido, deve-se respingar a lona pelo lado detrs com 11111 pouco dgua, oque faz com que ela enco-lha e fique, portanto, novamente esticada.

    No prximo nmero: Pintura de. Cenrios.

    (Do Livro: Como. fazer Teatro (O), de H.Nelms, Editora Letras e Artes, GB)

    Este lvm pode ser pedido 11 Edora, 11 lua Paulino Fernan-

    des 17 - .Botafogo, GB.

    '1

  • oQUE VAMOS REPRESENTAR

    AMORTA

    OSWALD DE ANDRADE: (~)

    .Respeitvel. pblicol No vos pedimos palmas,pedmes bombeaosl Se quiserdes salvar vossas tradi-es e a vossa moral, ide chamar os bombeiros ou sepreferirdes a policia! Somos como vs mesmos umimenso cadver gangrenado! Salvai nossas podrides etalvez vos salvareis da foreira acesa do mundo!

    (') NOla autobiogrfica: ", Ea sou o povo. Do laelomaterno oenho ele uma descenelncia faustosa ele guerreiros os"ficlalgos elo Moz

  • BEA11UZ - Sinto a voragem ... avoragem (IUC vai esfriando a genteantes de cair.

    OPOETA - Oh! Inflexvel? Oh!Absoluta! Desmoronas na ao!

    AOUTIlA - Que vs, poeta?OPOETA - H uma fresta na tua

    imagem. Uma fresta. Est abertaa porta do teu quarto tenebroso!mas no h ningum dentro dele.

    BEATIUZ - H o outro homem, ocime e a ameaa permanente davida ...

    AOUTIlA - H um grande sdi-co, um sacerdote no circo... Noplenrio do circo... Quero denun-ciar! Quero! Que sexualidade cres-cente! Aquele aparelho um prolon-gamento do corpo dele. Asua carade orgasmo! Fundemos um tribu-nal.

    BEATIlIZ - Foi na sala cirrgica.Apureza me envolvia como algodo.Eopai da minha primeira erperin-ea di~tal!

    OPOETA - Sinto um suspiro imen-so pelo teu corpo em posio...

    OHIEROFANTE - Ginecolgica...Afantasia sempre um paraquedas.

    OPOETA - Arte outra realida-de...

    BEATIUZ - Mas eu serei um ca-dver rebelde. No me deixo enter-rar!AOUTRA - Vives enterrada em ti

    diante do espelho!OPOETA - s sempre uma Vit-

    ria de Samatrcia; com os olhos eoscabelos presos a um horizonte semfundo.

    AOUTRA - Eu sou aperspectiva.BEATIUZ - No ouo nada. .. se-

    no os meus gritos, um atropelo eosilncio...

    OPOETA - Paz a teu corpo!

    AENFEIThIliIHA - Quando a mor- O Pm.'TA - s matemaI! Quete resvala por nos, a vida torna-se madrugada de amor, vamos ter, co-grandiosa. tovia!

    BEATTIlZ - Somos almas! OHIEHOFANTE - Altima noite OPOETA - Ningum, como eu, I sem dia seguinte...

    tem acompreenso absoluta da des- A OUTRA - Amulher no so-truio. Cansada c vib~lante ela es- mente um frasco fsico.preita ohomem. O HIElIOFANTE - O sexual a

    BEATlUZ - Existe para o bem e raiz da vida, Ai tropeam um nopara omal. outro omundo velho c alIaVa.

    O POETA - Ilsspiraste o cheiro BEATRIZ - Quero. eno quero.perigoso da liberdade. AOUTRA - Hesito.

    BEATIlIZ - Venho de terras sim- BEATIUZ - Tenho fome.pies. A OUTRA - Ela quer ganhar o

    A9UTRA - Essa incapacidade de po leviano!se mOltificar... BEATRIZ - Meu pai.

    BEATIlIZ - Porque nasci? Me di- OHIEROFANTE - Foi osemal quegam? Me expliquem? No queria inventou o jazido de famllia e anascer. Sou um pobre sexo amputa- casa...do do seu tronco econmico,.. BEATRIZ - Quero ser um espe-(C/wra) Nunca pensei que a vida tculo para mim mesma!fosse resistncia. Ou me mato ou AOUTRA - s tuna flor irascveLme isolo na parede de um bordel. OHIEROFANTE - S possvel um

    OHIEROFili'ITE - As conjuraes. acordo no sexual.As peras. As hipnoses. OPOETA - Apoesia desacordo

    A OUTRA - Amaldioada natu- entre os conceitos.reza! BEATRIZ - Um terreno fofo, poeta!

    BEATIlFl - Amaldioada 110ra que OPOETA - Perco-me no pal dome criou! Tu, poeta, no passas de movimento.um ser vivo. Devamos ter juntos OHIEROFili\'TE - Opoeta mergu-uma bela coragem. lha na percepo...

    OHIEROFM'TE - Qual? OPOETA - S a cicuta de Scra-BEATIUZ - Nos amanncs num ne- tes salvar omundo.

    crotrio lavado. OHIEROFA~'TE - Adata mais m-OPOETA - Meu corao no sen- portante da histria a que ps o

    te ainda a fora atrativa da mar-homem entre a ao e Deus!te. .. OPOETA - Entre oseu ser animalAOUTRA - Foste tu, poeta, que e o seu ser social.

    preparaste para Beatriz os caminhos AOUTRA - En sou oAlter-ego.evasivos da liberdade. OPOETA - Eu, ooposto de Bea-

    BEATIlIZ - Eu queria saber se era triz... a raiz dialtica de seu ser,para outro humano a Inspirao... BEATIUZ -' Progrido para a morte

    O POETA - Desmanchaste meu nos teus braos. E te encontro nosonho infantil. seio tumultuoso da natureza. Sou

    BEATRIZ - Atiro-me em flexa ma- um elemento dela como a lua numravilhnsa para ti... ramo de rvore.

    J.......

    .J..I

    OHIEROFili'ITE - Ohomem com-preendeu a responsabilidade econ-mica de matar.

    OPOETA - Osonho f-lo acorda-do criar a primeira jaula.

    OHIEROFANTE - Aprimeira tica.AOUTRA - Ajaula de si mes-

    mo...OHIEROFANTE .; Os vegetarianos

    querem retroceder na primitiva di-reo. Comer da rvore da Vida,em pratos industriais,

    BEATIUZ - Em jaulas...OPOETA - Porque insistes?BEATIUZ - No h argumento que

    demova o amor ...AUTRA - No amor s existe o

    que h de pior no homem.OPOETA - a volta do troglo-

    dita - violenta eperidica,OHIEROFJU'lTE - Para garantir a

    espcie enjaulada. Osexual ora-dical da vida. Sua essncia abru-talidade. O amor a quebra detoda tica, de toda evoluo...

    AOUTRA - a pessoa distintaque escuta atrs da porta, viola cor-respondncia, manda CUltas anni-mas emata nos jornais... Eu nun-ca fiz isso ...

    BEATIUZ - Oamor oquero-poreque-quero...

    AOUTRA - Quem gritou?BEATRIZ - No foi aqui.OPOETA - Tua madrugada ser

    assim.AUTRA - s opress~o, poeta!OPOETA - Sou a classe mdia.

    Entre a bigorna e omartelo, fiqueio som!

    OHIEROFANTE - Ahua que esgui-cha enclausurada.

    BEATIUZ - Sem mim mcaeras ca-lado.

    OPOETA - Viverei na gora. Vi-verei no social. LibertadoI

    BEATRIZ - Sou a raiz da vidaonde toda revoluo desemboca, seespraia epara.

    OPOETA - Um dia se abrir napraa pblica omeu abcesso fecha-do, Expor-me-ei perante as largasmassas.

    AOUTRA - Eosexo? Oinimigointerior!

    OPOETA - Deixarei os pequenosprotestos - ochapu grande, a ca-beleira faustosa: falarei a linguagemcompreensvel da mstralha

    BEATIlIZ - EXiste uma frente ni-ca ...

    OHIEROFANTE - Opas oficial deFreud...

    OPOETA - No haver progressohumano, enquanto houver a frentenica sexual.

    BEATRIZ- Nunca atua febre amo-rosa deisou omeu corpo, poeta!

    OPOETA - Porque me retemperono teu tero matemo.

    BEATRIZ - Tenho medo.OPOETA - No mundo sem elas-

    ses oanimal humano progredir semmedo.

    A ENFERMEIRA - Sabes oque medo?

    OHIEROFili'ITE - osentimentoinaugural.

    O POETA - o sentimento deinsegurana do feto na vida aquosada gerao.A OUTRA - Vi uma luz.OPOETA - a luz sobre o mar

    inexistente que nos rodeia.BEATIlIZ - Estou obscura como

    uma idia reli~osa.OPOETA - s a noite. Carrego

    nos meus ombros oteu desequili'brioglandular.

    AOU1llA - Acegueira mora emtua histeria!

    BEATRIZ .- Horror! Horror! Ile-solve a minha questo econmicaantes que eu morra em plena mo-cidade!

    AOUTIlA - Algum enh'ou? Cen-surarei quem for ...

    OHIEHOFANTE - Pela porta queno existe.

    A ENFEIThlElHA SONMBULA (le-vantando-se) - ahora mtrica,

    BEATRIZ - Mereo todas as coisaslindas da vida... As coisas lindasda morte.

    OHIEROFANTE - No plano da sa-ciedade esquizofrnica.

    OPOETA - Toda aminha produ-o h de ser protesto e embeleza-mento enquanto no puder despejarsobre as brutalidades coletivas apo-tncia dos meus sonhos.

    AOUTRA - Emparedado! Criasteuma grande doena!

    BEATRIZ - Meu mpin/OPOETA - Accrstmio do ro-

    mantismo habita este quarto., .BEATRIZ - Que sou eu?OPOETA - A psique irreconhe-

    cvel...OHIElIOFili\'TE - Onascimento da

    alma.OPOETA - Osubterrneo que a

    sociedade ordena. Um dia serei re-conduzido atmosfera ...

    BEATIUZ - Estamos fora do social!OPOErA - Apolcia s me per-

    mite esbravejUl' no teu dramticointerior.

    OF.fIEROFA1~TE -Poeta!OPOETA - Eles tomaram oEsta-

    do, eu fiquei com a mulher. Crieiunja alma de cova. Por isso buscodrama e busco oteu cheiro.

    BEATIUZ - Cantas a tua missa decorpo presente!

  • V07:iS AO FUNDO - Abaixo aauto-rdade dos ociosos! Abaixo! Que-remos overbo criador da ao!

    OPOETA (entra conversando comHORCIO) - Deixei-a para sem-pre. .. Sinto-me atual. Longe da"Apassionata".

    HoRCIO - Pisas de novo a terrados que se embuam nas regras dobom viver...

    OPOETA:"" Renovo-me na ma.HoRCIO - opas da gramtica.

    Nele achars o teu elemento for-mal.

    OPOETA - Ainda guaido a espe-rana trgica de v-la ...

    HORcIO - Voltas a essa mulhercomo um cJiminoso!

    OPOETA - Porque sou oculpado.HORCIO - Deisaste.a?OPOETA - Fui andando cada vez

    mais para o lado das estrelas e elaficou no meio da msica. ,.

    HoRCIO - E'sts marcado porela ...

    OPOETA - Sinto-a como a culpa,como aesperana. .. Sem ela avida deserta, o mundo uma trgicaplancie sem descanso! Ela a ca-verna do indivduo... Onde me

    Saem de cena conversando

    OTURISTA - E patres, Que se-ria do mundo sem os patres?

    OPOLCL\ - Eles querem queimartodos os cadveres, os mais respei-tveis, os que fazem a fortuna dasempresas funerrias, como aimpren-sa, a poltica ...

    O TURISTA - Acabam qucrendoqueimar o cadver da eurosidade,que sou eu!

    Vozes ao fundo.

    Os CRE1IADORES -' -Abaixo osmortos! Limpemos aterra! Abaixo!

    APOLCIA - De um tempo parac, no sei porque agravou-se acon-tenda. Creio que os \~vos cresce-ram, agora querem se emancipar.Os mortos os agrilhoam indstda,E eles querem ocupar fblicas, ci-dades eomundo... Ingrato~. Nosabem que sem os mortos, eles noteriam tudo, emprego, salrios, assis-tncia ...

    falo sete lnguas, nesta idade! Eno tenho mais govemante!

    OPOLCIA- Tambm falo sete ln-guas, toUas mortas. Aminha funo mesmo essa, mat-Ias. Todo omeu glosrio de frases fcitas ...

    OTURISTA - As mesmas que euemprego. Ns dois, s conseguimoscatalogar o mundo, esfri-lo, p-loem vitrine!

    OPOLCIA - Somos os guardiesde uma tem sem surpresas.

    OTURISTA - E querem translor-m-la! Absurdo! No melhorassim? Sabemos onde esto a torre

    OTURISTA - Eaqueles?OPoLCIA _ So os mortos. de Pisa, as Pirmides, o Santo Se-OTURISTA - Vivem jlmtos? Vi- . pulcro, os cabars ...

    vos e mortos? APoLCIA - Nossa desgraa seriaOPoLCIA - Omundo um dco- imensa se subvertessem a ordem es-

    nrio. Palavras vivas e vocbulos tabelscida nos Bedekers. Desconhe-mortos. No se atracam porque so- ceramos as pedras novas da vida,mos severos vigilantes. Fechamo-Ios os feitos calorosos da rebeldia. Noem regras indiscutveis efim. Fa- distinguiramos mais fronteiras e al-zemos mesmo que estes que so a fnclegas... Perderamos opo easerenidade tomem olugar daquelas funo,que so araiva eofennento. Fun- OTURISTA - E ns, os rccs, osdamos para isso as academias. .. os ociosos, onde passear as nossas neu-museus... os cdigos... rastenias, os nossos reumatismos?

    O TuruSTA - E os vivos recla- Onde? Perderamos toda antori-maml dade..

    OPOLCIA - Mais do que isso.Querem que os outros desapareampara sempre. Mas se isso aconte-cesse no haveria mais os cus daliteratura, as guas paradas da poe-sia, os lagos imveis do sonho, Tudoque clssico, isto , o que se en-sina nas classes ...

    OTURISTA - Com quem tenho ahonra de falar?

    OPoLCIA - Com apolcia poli-glota.

    OTURISTA - Oh! que prazer! O'senhor sou eu mesmo na voz passi-va. Na minha qualidade de turista

    Um grupo de gente amO/talhada.atravessa acena.

    OTUJUSTA PRECOCE - Por favor,Quem so aqueles?

    OPoLCIA - Um rrsso, um ale-mo, um japons, um italiano, umnacional. ..

    OTmusTA - Oque so?OPOLCIA - Nomes comuns,

    a grande rcserva humana de ondese tira para a ao, osujeito ...

    OTURISTA - So vivos?OPoLCIA - Vivos todos.

    I.......

    Personagens Dramticos:

    OPOETABEATRIZHORCIOOCREMADOROHnmOFANTEOJUIZUMA ROUPA DE HOMEMGRUPO DE CREMADORESGRUPO DE CONSEllVADORES

    DE CADVERMORTOSVIVOSOTURISTA PRECOCEOPOLCIA POLIGLOTA

    Acena representa uma praa ondevm desembocar vrias ruas. Umgrupo de gente internacional passaao fundo.

    II QUADRO

    NO PAIS DA GRAMTICA

    OPOETA - Ficars nesse garfo ge-lado.

    BEATRIZ - SOCOlTo!O HIEllOFAi'lTE - Ningum te

    ouvir no pas do indivduo!OPOETA - Quando a morte res-

    vala por ns, a vida toma-se gran-diosa,

    BEATRIZ - D-me um epitfio,poeta!

    OPOETA - Diante do espelho, ssempre aVitria de Samatrcia, comos olhos e os cabelos presos a umhorizonte sem fundo.

    BEATRIZ - Fujamos. Foi a outraque morreu!

    OH1EHOFAi'ITE - Sopra para sem-pre ocomutador nctumo.

    OPOETA - Meu libi! Meu se-cular libi!

    O HIEOOFANTE - Complexo deque fao a mscara,

    OPOETA - E eu a ruptura ...OHIEHOFANTE - Darei sempre a

    viso oficialOPOETA - Enquanto eu bradar o

    cauto noturno do emparedado. Umcanto desconexo. Interier como osanguc. As comunicaes cortadascom a \~da!

    BEATllIZ (chol'llndo) - Desfiguras-te-me sob as tintas efusivas do amor.

    OPOETA - Fizeram-me abando-nar a'.gora para viver sobre mimmesmo de mil recursos improduti-vos. Eu quero voltar gora.

    OHIEllOFAi'ITE - Arealidade mo-lesta os humanos.

    OPOETA - Eu sou um valor semmercados. Criaram osentimento eotornaram um valor excludo da troca.

    BEATlllZ - s oauglno, poeta!OPOETA - Encenraro aqui a

    tua imagem silenciosa,BEATRIZ - Eu sou a lealdade sem

    sentido!OPOETA - No bem como no mal.BEATllIZ - No te deixo ...

    OPOETA - Melancolia! Feita deluar e de onda noturnai Quem tedefinir?

    OH1EHOFANTE - No pas doEgo...

    BEATllIZ - Por que acreditas emmim?

    OHIElloFAi'ITE - s insolvel sema censura.

    BEATRIZ - Tanto algodo e tantosangue!

    OH1EHOFANTE - Vou para opassem dor. Longe das con~raes edas peras!

    oPOETA - Minha vida reduzida,prisioneira, entunmlada!

    BEATRIZ - Sou a muTIlcr de mr-more c dos cemitrios.

    O HmIOFANTE - Pi(ic baixo ...dcvagar.

    AENFEll1IEIHA - Um golpe de jiu--jtsu, pronto.

    OPOETA (num gesto longo) - Tume mastigas, noite tenebrosa!

    AENFEllMEIRA senta-se.O HIEllOFANTE - Consumatum!OPOETA - Guerra sua alma.AENFEllMEIIlA - precso des-

    fazer todo sinal do drama...OHIEllOFANTE - No h perigo.

    Recomponhamos o cadver. umpiedoso dever. Juntemos os seusmembros esparsos, os cabelos, osdentes.

    BEATRIZ - Meu amor.OPOETA - No possvel mais ...BEATRIZ - Por que?OPOETA - Oprofessor te disso-

    ciou. Fujamos. No h crime aindavisvel.

    AENFEllMEIIlA - Na aurora virobuscar os restos do ch da meianoite,

    BEATRIZ - Oamor oquero-par-que-quero da vida,

    O H1EHOFANTE - O criador doirremedivel.

    OPOETA ~ Que diz agora o teucorao? Para justificar-te!

    BEATRIZ - Vive do medo de teter perdido!

    Q' POETA - Quebraste oelo.BEATRIZ - No poderei fazer nada

    sem ti, sem o teu calor, a tua ado-rao.

    OPOETA - Quebraste aporta fe-chada...

  • Novo tumulto

    OHIEROFAi'lTE - 111 ilIo telll)Jore!Os CREMADORES - Fora! Fora!

    brana de sua voz? Ficarei perdidono mundo tenvel da rua ...

    Os CONSERVADORF.'l - Muito bem!Muito bem!

    OHIEROFANTE - Devemos obe-decer os nossos maiores. E seguiroque est,\ escrito ...

    VOZES - Julgai! Julgai!OJUIZ - Os mortos govllmmn os

    vivos. Premissa maior! Premissamenor. .. Os cremadores soexces-sivamente vivos! Ergo! Ergo! De-vem ser... Concluso! Governa-dos ...

    Os. CONSERVADORES - Governadospor ns!

    VOZES - Muito bem! Mtto bem!OUTRAS VOZES - Fora! Idiota!

    Vendido! Cadver]HrEROFAi'ITE - Eis um silogismo

    ilTCfutvel!OPOETA - Essa l~ca tem servi-

    do de fundamento atodos os crimeshistricos.

    Os CONSERVADORES - extraordi-nria aperspeicia dos livros!

    OPOETA - Fora ovelho arg dosfilisteusI

    O CREMADOR - Rebelemo-nos.Um dia sairemos de nossos labora-trios subterrneos. . Para limparomundo de toda putrefao!

    As 1'ITERJEIES - Ah! Oh! Ih!

    Acharanga dos conservadores decadver forma lll))' squito e conduzo juiz em triunfo.

    Os CONSERVADORES (retirando-se)- Abaixo os solecismos! Abaixo osbarbarismos! Abaixo!

    UMA ROUPA DE HOMEM (passan-do) - Boa tarde, linda! .

    BEATRIZ - Boa tarde.OPOETA - Quem ?BEATRIZ - Um conhecido. Estive

    ontem com ele...

    Deus e Jesus Cristo me inspirem eme garantam ocu.

    OHIEROFANTE - Culto aos mor-tos! Culto aos mortos! Onde j seviu destruir um cadver. Senhorjuiz, a humanidade levou sculospara construir esta frase "Deus, P-tria e FmnUia", Como dlll1'0g-la?Como eporque?

    BEATRIZ - Como fala bem essevelhel

    OCREMADOR - Oque nos traz IIcena a fome! Mais que qualquervocao. Muito mais que avontadede representar. o problema dacomida! Aproduo da terra des-viada dos vivos para os mortos. Nstrabahamcs pm'a alimentar cadve-res. Mais eles absorvem a produ-o, mais aniquilam os vivos, Tudoque produzimos vai para sua bocainsaciada. Eles possuem armas edi-rigem exrcitos iludidos pela igno-rncia epela f religiosa.

    Os CRE1IADORES - Rebelemo-nos!VOZES - Faamos a limpeza do

    mundoIOs CRE1IADORF.'l - QUyimemos os

    cadveres qne infestam a terra!.VOZES - Sim! A cremao! A

    cremao!Os CRE1IADORF.'l - preciso des-

    truir os mortos que paralisam avdalVOZES - Vamos queim-los!OJUIZ - Esperai! Esperai a sen-

    tena. Tragam aqui o livro: B--blos. Tudo est no Liwo. (Colo-cam diante dele um grande livroaberto. Ele oira as pginas) Vamosver. De-vo-la-men-lo.. . Pur-l--ca-ol Adiante! Viver para osoutrosI Nol Est aqui! Achei (L1lum grande berro) Os-mortos-go-vemam-es-vivosl (Aclamaes. Pro-testos)

    o jui% agradece a Illanifestao,Formam-se em torno dele semi--crculos irados.

    O HIEROFANTE - Somos o ver-nculo das caravelas ...

    O CRE1IADOR - No sculo doavio!

    Os CREMADORES - Somos aHnguafalada pelo rdio... Queima essatabuleta.

    Os CONSERVADOllES - Babel!Babell

    Os CHEMADORF.'l - No! Somosos fundamentos do esperanto, a lin-gua da humanidade una!

    OmOFAlfrE - No pode! Nopodei Quem poder destruir umafrase feita?

    Os CREMADORF.'l - Fora as frasesfeitas, as frases ocas! Fora as fra-ses mortas!

    Os CoNSERVAnORES - Chama ojuiz! Chama ojtz!

    AMULTIDO - Ojuiz!

    OCRE1IADOR - Conhecemos ojul-gamento! contra ns!

    O, JUIZ - SilncioI Julgarei segun-do os cnones.

    VOZES - Os cnones mortos.OJUIZ - Comeai aerposio do

    pleito. Sou todo oU\~dos! Que

    Acharanga toca,

    VOZES - A vem o jtz. Ele jul-gar!

    Os CONSERVADORF.'l- um grandegramtico!

    Os CRE1IADORF.'l - um jtZ declasse.

    Os CONSERVADORF.'l - Viva ojuiz!Viva ouosso querido juiz!

    CORO DAS INTERJEIES - Oh!Ahl Hi!

    Os CRE1IADORF.'l - Fora a estupi-dez das inte*ies!

    OHIEROFANTE - Massa desprez-vel de pronomes mal colocados!

    OCREMADOR - Fora! Quinhentis-tas! Falais uma lfngua estranha snovas catadupas humanas!

    OtUlllulto cresce. Juniam-se aoscremadores galicismos, solecislllos,barbarismos. Do lado dos mortoscerram colunas, graves interjeies,adietivos lustrosos e senhoriais ar-caismos.

    Am!sica toca w)). tango. OHIE-ROPAlvTE procura oEvangelho.

    las armaes metlicas. Anaturezafoi vencida pela mecnica]

    OPOETA - Desfizeste tua frgile confusa capa tica. Deixaste aso-ciedade dos humanos ...

    BEA11UZ - Me reconheces? Os CREMADORF.'l - Fora! Fora osOPOETA - Ainda trago no corpo exploradores da vida! Limparemos

    operume lascivo de tuas calas! omundo!B S 1 BEATRIZ - Quem so esses deser-

    EATRIZ - ou \~rgem (e novo. deites?No vs este vu? OPOETA - a vanguarda que

    OPOETA (retira-se) - amsen- luta pela libeliao humana.rn de um ente que se dispersa! O BEATRIZ (sufocada) - Quanta gen-teu inspito ser se desagrega! te! No posso, no posso me habi-

    BEATRIZ - Ao contrrio, encontrei . E 1a minha unidade! tuar. sses iomens procurando mu-

    lheres esperando homens ...Holl.CIO (chamando-o) - Deixa- OPOETA - Pareces pertencer a

    -al No vs que habitas de novo um paIs assemado, Que sentes?com ela os subterrneos da vida inte-rior? Tens os olhos longnquos, a boca

    voluntariosa crispada!OPOETA - Ela omeu drama. O. sCREMADORF.'l- Fogo nesses po-HoRAcIO - Oempresrio da tua dres! Abaixo odespotismo dos mor-

    morte. Deixa-a! tos.OPOETA - No. Ocorao aecr-

    da de repente. E' comea o tra-balho irracional Corrosivo de to-do debate. .. Aconscincia toma--se um estado sentimental e a justi-a foge do mundo... Oh! Drama!Desenvolvimento do prprio seruniversal! Eu te busco!

    BEATRIZ - Porque crias em mimpesados encargos assim! Eo senti-mento de culpai Desenvelvldo naclula de um circo. Osentimentoespetacular da culpa! Adisciplinadas feras, as grandes quedas semrede, oamer pelo palhao,

    HoRACIO - Foge! No vs uma auma as fices da ~da interior?

    OPOETA - Porque fugir? Paradepois me arrastar pelos locais emque a acompanhei? Me acoitar sombra de seus gestos idos, pro-curando nos cenrios encontrados adois, a sombra de seu ser, a len-

    HOMCJO - So os mortos que ma-nifestam...

    OPOETA - Conheo aquele ho-mem da tabuleta.

    HOMcJO - So os conservadoresde cadver. ..

    Os CRE1fADORF.'l - Limpemos omundo! Abaixo os mortos! Eles co-mem a comida dos vivos! Abaixo!

    OHIEROFANTE - Materialistas!OCREMADOR - Ao contritrio! So-

    mos a constante idealista que fazavanar ahumanidade!

    O POETA (aponta/1(lo BEATRIZ,que aparece COIl~ passos medidos,esttica sob o vu) - Ei-la! Quegestos solenes! (Aproximando-se efalando-lhe) Voltas ao meu cami-nho?

    BEATRIZ - Todos os esforos meabandonaram! Onde estou?

    OPOETA - No pas da Ordena-o...

    BEATRIZ - Os homens abateram asflorestas. Expulsaram os espritos daterra! Substituram as rvores pe-

    Tllmlllto. Um pequeno Exrcitoda Saluao penetra na praa e seinstala para w)). comcio mllsical epacfico. Um llOl1lem gordo trazuma tabuleta onde se l "Deus, P-tria eFamlia". oHIEROFANTE.Sons fnebres seguem obando far-dado.

    Tumulto do outro lacio da cena.Um gl'llpo de exaltados, ell~ roupapobre, protesta contra o comcio.Homens emulheres invadem acena.

    acolho sem nada esperar, sem nadadesejar...

    HORAcJO - Ela te imobiliza camortalha.

  • OPor;rA - No entanto no po-derei fazer mais nada sem til Semteu calor c tua adorao.

    BEATlUZ - Amo-te ainda. Vemcomigo. Nada pode conter avida ...

    OPOIITA - Amorte...BEATHIZ - Nunca atua fehre amo-

    rosa deixou omeu corpo.

    BEATIUZ - Vamos com eles, poeta.OPom.il - No.BEA:DlIZ - Vamos!OPOJo"A - Queres seguir amsi-

    ea da morte?BEATRIZ - Ojuiz decidiu ...OPOETA - O juiz um morto

    tambm.BEATRIZ - Somos toelos mortos!O POETA - Vem para o outro

    lado! Minha ao heriea e prti-ca te salvar.

    A VOO DE U1 CRlli\fADOR - preciso mudar o mundo!

    AVoz DO HIEROFANTE - prce-so conservar as instituies!

    AVOZ DO CnE.MADOR - precisoqueimar os cadveres que infestamaterra. Eles tiram os alimentos elosvivos.

    VfJCi.S - Querem mudar a super--estrutura.

    UMA Voz - Ocomportamento.OUTRA Voz - Areflexiologia.BIlATRfl - Araiz de tudo ose-

    xual. O amar o quero-porque-quero da vida. Nessa frente nica,a humanidade hesita. _. Vem.

    OPOETA - No, osocial dominaos humanos. Vem conosco. Vemcom os liberadores do grande con-flito!

    BEATIlIZ - Como s cndido. Ogue os homens querem isso, 56

    oPOlITA - Impossvel ...BEATUIZ - Sim. Pedin-me que

    fosse sua. Faloume da eternidade.Mas lembrei-me de tuas palavras.Recusei. Ele disse: No insisto!Sei que sers minha!

    OPOJo"A - Mas um morto, flue-rdal

    BEATIUZ - Morto?!OPOETA - Sim. Tu no morres- ii charanga dos conservadores de

    te, querida... No podias ter te cadver passa ao fundo.avistado intimamente com ele, que ino cxiste. Por acaso no notaste .as suas roupas despegadas do cor-po? um morto. No sabes?

    BEATRfl - Aqui na cidade?OPOETA - Sim, meu amor. Os

    . d . f . Imortos am a 1I1 estam a terra VIva.Metade da populao desta praa de gente 1I10lta.

    BEATIUZ - Se eu tivesse morridoserias um necrfilo!

    OPOETA - 'ler-te-ia abandonado!BEATRIZ - No podes abandonar-

    -me! Nasci da seleo de ti mes-mo! (Declamando) Comecei a pal-pitar com atua religio infantil, coma tua cultura adolescente! Fui ocofre herldico das tuas tradies, a.euma de tua gente!

    OPOETA - Como te encontro mu-dada! No te recordas seno deevocaes e cadeias!

    BETRlZ - Tu te tomaste um puroestmulo mecnico. No acodes aoschamados de tua alma!

    OPOETA - Os acentos de minhador no te penetram mais. No que-bram amudez do teu mundo de pe-dra. Ests perturbada, os olhos lon-gnquos, a boca voluntariosa crs-pada

    BEATRfl (depois de IlIn silncioeoocatioo) - Perteno s re~es daamnsia.

    isso! (Coloca as mos recaladamen-te sobre osexo).

    OPOETA - s a morte, oabismofinal, o longe da terra

    BEATRIZ - Sou a imagem do se-xual.

    OPOETA - Ests deformada, lon-gnqua, inexata... Pareces despe-gada dos ossos, como aquele que tecumprimentou.

    BEATRIZ - Tenho um enconlromarcado com ele.

    O POETA - Impossvel. ummorto!

    Achal'llnga do exrcito da mortetoma conta da cena lentamente.BEATRIZ centra/izil-o.

    VOZJlS - Culto aos mortos! Cultoaos mortos! Passagem para um gran-ele enteno... (Saem levandoa)

    O POETA - Fora ele resistnciaao mundo que comea.._

    HoRcIO - Onde vais? Que tens?OPOETA - Estou como quem per-

    deu um brinquedo querido... es-pera...

    HouclO - Deixa-a!OPOETA - Horcio, no escalpe-

    les minha dor! Estou marcado porela.

    HRero - Onde vais?OPOETA - Salv-Ia!HoRero - Como?OPOETA - Pelo primeiro a\~o ...

    Numa folha morta passarei fi gar-ganta cerrada da outra vida

    Sai correndo atrs do cortejo, clljacharanga ainc1a se olloe.

    HoRCIO - Insensato! Poeta!Guardar-te-o para sempre os den-tes fechados ela morte!

    III QUADRO

    oPAS DA ilNESTESIA

    Personagens Dramticos:

    BEATIIIZOPOETAOHIEROFAi'ITEACIUA,':IA-DE-ESUALTESEUS PAISOAIJ1ETA COMPLETOO]WlIO-PATRUIJIA (acompauha-

    do de uma motocicleta)ADAMA'DAS-CA1I:LIASASENHORA MINISTRAGARONTEOURUBU DE EllGARD

    A cena representa um recinto so-bre lIIua. paisagem de alum11nio ecarvo. 11 direita, um aerdromoque serve de necrotrio. Ao centro,Ulll jazigo de famlia. Jl esquerda, arvore desgalhada da Vida, em for-ma de CI'llZ, onde arde, pregado, umfacho. Um gl'llpo de cadveres re-centes ~t conversando nos degrausdo jazigo. Passagem lateral para a

    . platia, onde aprimeim fila de ca-deiras se conservar vazia.

    OIUDlO-PATRULlIA - Ouve-se jorudo do motor!

    A DAMA-DASCAMLlAS - Escu-tem!

    OA1LETA COMPLETO - No !A SENHORA MINISTRA - uma

    mosca.OHIEROFANTE - No.OA1LETA COMPLETO - Agora .ADA1fA DAS CA1ILIAS - No.ASENHORA MINISTRA - Amosca.OHIEROFAt'ITE - Oautogira ele

    Caronte...A Slli'lHORA MINISTRA - uma

    mosca no interior de meu nariz!

    (Silncio) Gostaria de conhecer opoeta...

    OHulO PATRULHA - Ele vem deautogira, trazendo a morta!

    A DAMA DAS CAMLIAS -Quem ?

    OHIEl\OI.,INTE - Beatriz.ASENHORA MmlSTRA - Eele?OHmnOFAl''1TE - Opoeta vem de

    planador. S assim penetrar nes-sas paragens...

    ASENHORA MINlSIRA - Omotor.OHIEROFANTE - Amosca.OPAI (pando acabea pela ogi-

    va do jaz~o) - Silncio! Eu habitoum lugar silencioso ou no? Eu mematei para ouvir a solido. Paraestar s! No viver em sociedade.Em nenhuma sociedade. Eu me en-contro assediado de inhigas, cumu-lado de vis preocupaes.

    OHnillOFANTE - Fao sentir queo\~zinho est num cemitrio de pri-meira. No h mclhor.

    OPAI - Por isso que eu noqueria embarcar no auto~ro.

    Siincio

    O HIEROFANTE - O motor...ADAMA - Opoeta...A SENHORA MmISTRA - Amos-

    ClI. .

    oul'llbu de Edgatc1. atravessa acena ao fundo. I

    O RDIO PATRULHA - Ouo vo-zes ...

    ADAMA - amosca azul, ..OHIEROFAt'lTE - o urubu de

    Edgard.ORDIO PATRULHA - Silncio!OHIEROFANTE - Fiquemos con-

    centrados como perfumes.

    Berreiro 110 jazigo

    OMENINO DE ESMALTE - Ai! Ai!(Espia pelnligia)

    Os CAD:WERES - Que isso? Que isso?

    O HIEROFANTE - Uma cena defamlia.

    ASENHORA MmlSTIlA - Que pes-soal escandaloso!

    ADAMA DAS CAMLIAS - Brigamsempre. Nunca pensei que fosseassim no seio da sociedade honrada!

    OHIEROFANTE - Gente catlica.E extremamente conceituada, Odrama que os trouxe para c teve amais ttrica repercusso nos meiosdistintos.

    ASENHORA MINISTRA - Como foi?OHIEROFANTE - Gs. Suicdio

    coletivo.ADAMA DAS CA1I:LIAS - Enin-

    gum escapou?OMENINO (pela oigia) - Esse su-

    jeito, alm de me ter suicidado, noquer me dar docel

    OPAI - Cala aboca!OMENINO - Depois cliz que pai!OPAI- Oamante de tua me te

    dava doces!.OMENINO - por isso que eu

    gostava dele ...OPAI - Cnico, bastardo, filho de

    uma...

    Pancadaria, IIrros, choros.

    ADAt'IA DAS CA1ILlAS - Esta r-vore no tem sombra.

    O RDIO PATIlULHA - Gastou aque tinha em 60 sculos!

    ASENHORA MINISTRA -Por que atrouxeram para c?

    OHIEROFANTE - uma pea elemuseu. Gomo ns..

  • ADAMA DAS CA11LIAS - Foi elaque fez a queda do primeiro pai.

    O HIEROFANTE - A queda ...Quando otroglodita desceu da rvo-re... caiu. Ese tornou homem ...

    A DAMA nAS CAMLIAS - arvore da ,~da ...

    OATIlliA COMPLETO - Da vidaespiritual. Anica que me interes-sa ...

    A.SENllOllA MINISTIIA - Quem esse sujeito?

    ORDIO PATtlULHA - um atle-ta completo.

    A DAMA DAS CAMLIAS - Masno tem frutas essa rvore?

    OHIEROFANTE - Tinha uma. Co-meram. Foi com seus galhos que seacendeu oprimeiro fogo. .. E comela toda se far a ltima foguei-ra, Ento uma incendiria?

    O HIEROFANTE - Nela costuma-mos festejar oNatal dos falecidos..

    OMENlNO (pela vigia) - Eu que-ro 1ml brinquedo...

    OPAI - Vai pedir ao amante detua me.

    AME - Ele nunca me passouas doenas que trouxeste para casa.

    ADAMA DAS CAMLIAS- Conte--nos ahistria da queda de Ado...

    OHIEROFAl'ITE - Levou um tom-bo. .. Quando se levantou do solo,estava criada a propriedade priva-da ...

    ASENTIORA MINISTllA - Foi dessarvore que ele despencou...

    OMOTOCICIJSTA - Ento que so-mos?

    OJfu:RoFANTE - Ocontedo dasmitologias.

    OATIJITA COMPLETO - Oalimen-to espiritual dos mortos!

    ASENHORA MINISTRA - Osusten-tculo das reli~es!

    O HIEllOFANTE - Depois que oouro nos expulsou da Idade de Ouro,exploramcs a fbula ...

    OlUmo PATnULllA - E o traba-lho da terra,

    ADAMA DAS CAMLIAS - Entofoi um choque f~ico que produziu Ohomem?

    OHIEUOFAl'ITE - No. Foi umchoque econmico. Caindo da rvo-re,. ele perdeu os frutos com que sealimentava.

    ASENHORA MINISTRA - Engate ordio, seu patrulha.

    ORDIO PATtlULHA - No posso.S tenho na minha motocicleta umaestao emissora.

    ASENHOUA MINISTIlA - Que pena!Agente podia at ouvir a terra...Escutar a Giovinezza... Ir s cor-ridas de longe.

    ADAMA DAS CAMLIAS - No meutempo eu adorava as corridas.

    ASENHORA MINISTllA - Oh! Ascorridas! Lonchamps! ODerby deEpson! Eu tinha um coronel queme pagava o taxi o dia inteiro, spara namornr os meus braos nascorridas. Era um homem casado,muito srio!

    o ltrubn de Edgarel passa aofundo.

    ADA1IA DAS CA1ILIAS - Quem esse passarinho?

    OATIJITA COMPLETO - Oesp-rito da rvore.

    ADAlvIA DAS CA1ILIAS - Ourubudo Edgard.

    ASEJ.'illORA MINSTtlA - Quem mesmo odono?

    O HIEHOFANTE - Um literato,Edgard Poe.

    A DAlvIA DAS CA1ILIAS - Paraque serve um bicho desses?

    OHIEROFANTE - quem fome-ce certides de bito.

    ADAlvIA DAS CA1rLIAS - Ondeque ele mora?

    OHIEllOFAl'ITE - No interior ocoda cruz,

    A SENHOllA MINISTHA - vidachata!

    O HIEllOFANTE - Que vos faltaaqui?

    ADAMA DAS CAMLIAS - Apri-mavera! Pssaros coloridos. Gritos([alma! Namorados!

    ASENHOHA MINISTllA - Vamos in-ventar um joguinho?

    OHIEHOFANTE - Jogtcremos gol-fe com as nossas caveiras ...

    OATIJITA Coi\IPIJITO - Faltam asesteques.

    OlUmo PATtlUlliA - Jogaremoscom as nossas prprias tbias.

    ASEi'illOllA MINISTRA - No. Me-lher ler amo. Um brinquedo desociedade.

    OATLETA ColvlPlJITO - OHiero-fante sabe ler.

    ASENHOHA MINISTRA - Disseram11l11a vez que eu ia mcrrer aos oiten-ta anos. Me blefaram.

    OlEROFAl"TE - Aqui imposs-veller-se a mo a algum.

    A DA1iA DAS CAlvrFLIAS - Porque?

    OHIEHOFAl'ITE ~ Porque no te-mos mais linhas nas mos tumefae-tas ... (todos examinam as prpriasmos) Est tudo esgarado pelamorfia lenta e definitiva da morte.Vivemos na negao.

    OATIJITA COi\lPIJITO - Na eterni-dade.

    OHIEHOFANTE - No alm do es-pao.

    ASENHOHA MINISTHA - Opoetano vir at aqui atrs da morta!

    ......

    -

    .',

    ADAMA DAS CAMLIAS - Vir.Eu (lue fui mulher da vida sei queele 0r.

    A SEJ.\TJlOj}A MINISTtlA - Quem a senhora?

    ADAi\!A DAS CA1'fu'LIAS (mostran-do as flores que aenvoluem) - Nov? Sou a dama das camlias.

    ASENIIOHA MINISTRA - Pois eufui asenhora legtima de um minis-tro ...

    O ATLETA C01lPIJITO - Noadiantou nada. Apodreceu comoeu. Eis aqui o que resta de umatleta completo.

    ASmmoHA MINISTRA - ! Pa-trulha! Liga ordio na motocicleta,Fala a Nirvana-emissora! Vamosdesmoralizar toda vida

    OHIEHOFANTE - No!OATLETA COMPIJITO - Por que?OHIEllOFANTE - Estas coisas me-

    cnicas no convm ao nosso estadoonrico.

    ASENllOHA MINISTHA - Mas a ir-radiao nos interessa.

    OATIJITA CONlPIJITO - um de-sabafo espirual...

    ASEi'iHOHA MINISTllA - Um passatempo...

    ADA1IA DAS CAi\ILIAS - Trouxe-mos conosco todos os recalques ter-renos.

    ASENHOUA MINISTRA - Ou nohabitamos o pa& sem censura...

    ADA1IA DAS CA1ILIAS - Oauto-~ro est se aproximando. Opoetavir atrs ...

    O HIEHOFANTE - Agora .O RDIO PATHULHA - Viva Ca-

    ronte!Os MOUTOS (manifestando)

    Vival Viva oiniciador! Viva!

    ASENIfOHA MINISTllA - Silncio!OHIEllOFANTE - Que reine entre

    ns osilncio que convm aos mor-tos.

    Permanecem todos estticos comofiguras de cera. OllTubu de Edganlse imobiliza junto roore esgalha-da. Escuta-se orudo de 11m motor.Um alltogil'O desce verticalmente, edele sai Garante trazendo nos braostIIn corpo de mulher amortalhadonum grande renarel argent.

    OHIEHOFANTE - Est morta?CAnONTE - No insistiu em ficar.OHIEHOFANTE - Os mortos no

    insistem,CAUONTE (depositando ocorpo so-

    bre amesa de mrmore do necl'Ot-rio) - Oservio terreno me reclama.(Parte no autogiro)

    OATLETA COMPLETO - Sinto do-res reumticas.

    OHIEROFANTE - Cuidado.OATIJITA COi\lPLETO - Por que?O HIEHOFANTE - O poeta pode

    chegar a qualquer momento.OATIJITA COMPIJITO - Mas sinto

    dores fulgurantes!ASENHOHA MINISTRA - Voc tem

    a tuna bolsa de gua quente?ADAMA DAS CAMLIAS - Sinto

    um frio enorme no peito!O HIEUOFANTE - a presena

    dos sopros augurais da terra.A DA1IA DAS CAi\ILIAS - O

    poeta.O HIEHOFAl"TE - Ele vir can-

    tando agrandeza do agir...ASENHOHA MINISTllA - Quem

    que faz o discurso de recepo?ORDIO PATHULHA - Amotoci-

    cleta ...OHIEROFAl"TE - Iornsstesvos ri-

    dculos aproximao da vida.

    ADAlvIA DAS CA1ILIAS - Toma-mo-nos humanos,

    O POETA (procura na cena) -Beatriz! Beatriz] Hetificadora demeus caminhos! Que tive longe deti? Cachos de desgraas. Ofereo--te o terreno alagado de meu senti-mento! Sem desejar nada de ti, deteu corpo sepulcral, ofereo-te omeu corao. (descerm o 1'8nard)Beatriz!

    BEATllIZ - Sacrilgio...OPOETA - BeahzlBEATllIZ - Dizes to bem omeu

    nome! Porque tudo que te dou deemoo, de fora criadora, no pesem tua arte estancada?

    OPOETA - Falas de novo a lin-guagem da vdal Queres de novodar existncia ao poema de meu en-contro!

    BEATHIZ - Que fizeste, poeta! Nopodes penetrar no pas que eu ha-bito. No podes preserutar minhaintimidade com os autmatos!

    OPOETA - Lacera-me de novo aangstia criadora. Venho de umanoite cheia de passos e de vultos, anoite sem ti!

    BEATHIZ - Que se passa l embaixo, onde h chuva?

    OPOETA - Achuva, coiteira detragdias!

    BEATllIZ - OEgo e a Gramtica,O POETA - Pareces anestesiada

    num lenol de argila!BEATtlIZ - Interrompsste o meu

    sonho, poeta, s a incomo!OPOETA - Como falas diferente!

    Trazes no fcies os sinais da decom:posio de tua unidade!

    BEATllIZ - Pelo contrrio...OPOETA - s a mscara de um

    ser que se dispersa. Teus olhos de-liram enquanto a tua boca amargasorri, Tens os cabelos do homem

  • de Nccndertal, coroados de espi-nhos!

    HEATHfl .,.. Sou oprimeiro degrauda vida espirill1al!

    OPOETA - Oque me chama oDrama. Drama, desenvolvimento doprprio ser universal!

    HEA'J1l1Z - Quero plata...O POETA - Dissimetra, minha

    criadora (Ussimetria!BEA'J1llZ - Tu me abrste de novo

    os caminhos incoerentes da erra,poeta!

    oPoeta aproxima-se quieto esom-brio.

    oI-ill:ROFANTE - Formaremos umcomcio de protesto! Oamor querfaze-la voltar ao paG ordenado eterrvel da ma.

    ORDIO PA'J1lULIIA - Onde nosreuniremos?

    ADAMA DAS CAfllLIAS - Vamospara a platia, assim no perdere-mos agrande cena.

    ORDIO PA'J1lULHA - Vamos.ASENHORA MINIS'J1lA - Que curio-

    sidade eu sinto!O ATLETA COMPLETO - Para a

    platia! Quero ver como um poetaama!

    OHlEROFAi'lTE - Ordena ocorte-jo, rdio patmlha, seguir-te-emos emordem alfabtica.

    ORDIO PA'J1lULHA - Debout lesmOlts!

    Os cadveres se organiz.am di/icul-tosamente. Animados pelo barullloMmotocicleta, conduzem-se elll rit-mo mole, atrs do Rdio Patrullla,que desce acena.

    OHlEROFANTE (deixando opalco)_ De que serve aqui