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Design para todos o design como interface cultural, social e econmicaRAPOSO, DanielDoutorando em Design na Faculdade de Arquitectura da Universidade Tcnica de Lisboa. Mestre em Design, Materiaise gesto de Produto.Professor e Coordenador de Curso de Design de Comunicao e Produo Audiovisual na Escola Superior de ArtesAplicadas do Instituto Politcnico de Castelo Branco.Palavras-Chave: Design; Social; Responsabilidade; Interface.Resumo: Este artigo trata do conceito de design para todos, que se relaciona com uma atitude projetualresponsvel, inclusiva e tica. uma reflexo sobre o impacto e social dos objectos de design e a necessidade derecuperar algumas preocupaes ticas prprias da filosofia do design e compatveis com os desgnios de ummundo movido pelo capital financeiro.IntroduoEncarar o design como algo ftil e apenas conferido ao campo da esttica provavelmente um dos grandesproblemas da disciplina, mas tambm da sua ainda fraca utilizao em benefcio da sociedade.Freqentemente, indivduos de diversos campos de atividade inclusive os profissionais da rea, confundemdesign com styling ou mesmo com Kitsch1. Criam-se objetos inteis que apenas visam estimular as vendas ouaumentar o ego do designer que confere o seu estilo a objetos que sero usados por terceiros.Provavelmente a falta de um sentimento de classe ou do associativismo em redor de um projeto forte embenefcio dos designers e da sociedade, razo para a falta da regulamentao da profisso, bem como daindefinio de conceitos e de uma confuso que assombra a atividade. Na rea do design tem reinado aindefinio e a utilizao do design, sobretudo como instrumento de vendas, esquecendo-se, desta forma, aprpria filosofia da disciplina que tem movido os designers ao longo dos tempos.Um olhar atento sobre o habitat do ser-humano bastar para verificar a presena de milhares de objetos eespaos que necessitam ou tm a interveno do design. Pense agora no impacto que cada um tem isoladamenteno mundo no nvel social, cultural e econmico. Assim se apresenta a reflexo que faz o subttulo do temaDesign para todos, o design como interface cultural, social e econmica.

1 Tambm necessrio no confundir a disciplina com a tcnica, as ferramentas ou com a metodologia.O design como interface culturalComo facilmente se entender, o designer influenciado ao nvel terico, metodolgico e representativopelo mundo em que se insere, porm tambm influenciador do seu contexto quando age como elemento pr-ativo ao nvel cultural, social e econmico, devolvendo representaes manipuladas do mundo.A simples seleo dos elementos comunicacionais a integrarem um cartaz, vo ditar a sua eficcia em termosde transmisso da mensagem, mas ainda podem acrescentar valor ou encerrar outros significados secundrios(figura 1). Por exemplo, a seleo de um modelo feminino ou masculino, a pose corporal, a faixa etria, ovesturio, o cenrio de fundo, o estilo, a cor e a iluminao, vo criar diferentes sensaes isoladas e deconjunto.Figura 1Fonte: Catalysts (ExperiementaDesign, Lisboa, 2005). Reforar a mensagem.Assim, se o papel do design otimizar a eficcia do objeto, pode tambm criar novos significados einfluenciar, positivamente ou no, o comportamento social (figura 2). A freqente seleo de modelosfotogrficos para um cartaz, com base em critrios cannicos assexuados pode criar efeitos de imitao, dandoorigem a doenas como a anorexia ou anemia.Figura 2Fonte: Catalysts (2005).Cartaz de Peter Moser (Sua, 2001), que em vez de uma top model usa uma modelo normal.Como refere Norberto Chaves (2001, p. 83) a propsito do papel do designer como agente cultural (...) odesigner grfico precisamente o elemento chave, aquele cuja idoneidade no a de configurar a mensagem sua maneira mas sim a de interpretar o especial cruzamento de cdigos do caso e de lhe dar uma soluoequilibrada que permita satisfazer as expectativas e possibilidades de todos os demais atores para que acomunicao alcance o seu mais alto nvel de eficcia.Como fica patente num conjunto de pictogramas, qualquer objeto de design deve facilitar a suadecodificao e uso, tornando-se acessvel a uma sociedade (figura 3). A este propsito tem-se falado em designuniversal, embora essa seja uma viso idealista e utpica, pois se o objeto de design deve ser acessvel pluralidade dos utilizadores, na maioria dos casos deve adaptar-se e respeitar valores culturais e morais a umaescala quase personalizada (figuras 4 e 5).Figura 3Fonte: Zimmermann (1998, p. 63)Pictogramas Otl Aicher, Jogos Olmpicos de Munique, 1972.Figura 4Fonte: Papanek (1995, p. 72)Cartas para pessoas com viso fraca.Figura 5Fonte: Papanek (1995, p. 73)Caixa de comprimidos e relgio digital com alarme para usar no pulso, com diferentes recipientes para cada medicamento.O design como interface socialSegundo Mijksenaar e Westendorp (2000), a vida contempornea um permanente teste inteligncia, namedida em que constantemente os indivduos so confrontados com problemas para resolver, com diferentesnveis de dificuldade. Os mesmos objetos que so criados para resolver problemas detectados acabam por criaroutros novos.A soluo passa pela capacidade dos objetos comunicarem sobre o seu uso (figura 6), e este um dosobjetivos do design, porm dada a complexidade dos objetos contemporneos, isto nem sempre suficiente,como referem Mijksenaar e Westendorp (2000) que o meio no a mensagem. No o se o produto se deveinterpretar como o meio. Por isso necessitamos instrues adicionais. Mas os manuais de instrues implicamtempo de aprendizagem e conhecimentos tcnicos que muitas vezes so inacessveis aos utilizadores,evidenciando a necessidade de simplificar o uso e com ele a vida das pessoas.Figura 6Fonte: Mijksenaar (2000, p. 20)A embalagem no se presta a ambigidades pela sua forma simples e evidente, bem como pelo reforo comunicacional que a infografiaoferece.Para agravar o problema de comunicao dos objetos, o quotidiano da sociedade contempornea est repletode poluio visual, sonora, de filas de trnsito ou de supermercados, que por sua vez implicam a interao comobjetos muitas vezes estranhos experincia humana. A simples utilizao de um caixa electrnico, de um sitede internet, de um computador ou de um despertador, implica nveis de dificuldade diferentes dependendo dacapacidade, cultura, conhecimento e experincia. Embora todo o ser humano passe por vrias fazes deincapacidade ao longo da vida, grande parte dos objetos do quotidiano excluem utilizadores descapacitados (poridade, cultura, fisicamente ou psicologicamente). Por exemplo, os teclados dos telefones, telemveis,computadores e multibancos so diferentes, implicando novas aprendizagens a cada uso e, portanto aumentandoa dificuldade da vida quotidiana.O design um meio de garantir a facilidade de utilizao, a utilidade, a qualidade, o conforto, a segurana eo respeito pelos valores da sociedade. Uma sociedade dita evoluda deveria respeitar os valores de cidadania,porm atualmente espera-se que sejam os estados a resolver os problemas que cabem aos cidados. Com algumafreqncia, as sociedades ditas do terceiro mundo ou de periferia, mostram que do pouco se pode fazer muito,reutilizando, reciclando, respeitando e valorizando o que a vida oferece (figura 7).Figura 7Fonte: Papanek (1995, p. 33) A escassez de material em pases pobres obriga reutilizao. Na imagem, um homem prepara pneus velhospara o transporte de gua.Os problemas ambientais tm alertado as pessoas para esses mesmos valores, porm as ditas sociedadesdesenvolvidas continuam a esconder o lixo e os problemas sociais debaixo do tapete.Uma correta utilizao do design pode melhorar substancialmente a qualidade de vida das pessoas a curto,mdio e longo prazo. Otimizando a capacidade comunicativa dos objetos, melhorando a experincia dos mesmose adequando-os cultura e conhecimentos do destinatrio, bem como respeitando os seus valores ou o mundo.Como refere Victor Papanek (1995), a prpria organizao dos espaos e a proliferao de mensagensvisuais que se tentam impor (figura 8), tm larga influncia sobre a qualidade de vida das pessoas. Papanek(1995) refere que uma cidade sem um centro orgnico constitudo pelos desejos sociais bsicos do homem:sociabilidade, religio, poltica e desenvolvimento artstico e intelectual no socialmente unida. Quedesenvolver uma cidade em funo do trnsito um dos problemas urbanos contemporneos, pois esquecem oncleo social comum (figura 9).Figura 8Fonte: Heskett (1981, p. 83)Poluio visual. Estimula-se que, em mdia por dia, recebemos cerca de 3 mil impulsos publicitrios.Figura 9Fonte: Papanek (1995, p. 119)Refere que uma cidade sem um centro orgnico constitudo pelos desejos sociais bsicos do homem: sociabilidade, religio, poltica edesenvolvimento artstico e intelectual no socialmente unida. Que desenvolver uma cidade em funo do trnsito um dos problemasurbanos contemporneos, pois esquecem o ncleo social comum.As grandes vias originam grandes filas de trnsito e criam um efeito tnel e um estresse dirio que impede aspessoas de desfrutar do universo humano, que pode ser amenizado criando zonas que possibilitem abrandar oritmo ou desfrutar do habitat, atravs de pontos de passagem como rtulas com algum tipo de interveno oujardins.O design pode significar uma melhoria da qualidade de vida ao melhorar os acessos e a experincia de usodos mesmos, bem como ao adaptar os projetos urbanos aos costumes e cultura do utilizador. Esta uma verdadeao nvel do traado dos espaos domsticos, de trabalho, de lazer ou de mobilidade, mas tambm ao nvel dacomunicao ou orientao, respeitando o mapa mental do utilizador (figuras 10 e 11).Figura 10Fonte: Mijksenaar (2001, p. 9)A fachada do edifcio e a sua arquitetura facilitam o reconhecimento e orientao, evitando a necessidade de sinalizao com o mesmo efeito.Figura 11Fonte: Heskett (1981, p. 150)A simplificao das vias rodovirias desejvel para facilitar a leitura, porm no se deve afastar do mapa mental do utilizador.O design como interface econmicaO design surge no apenas como uma mera forma neutra de materializar objetos, mas como forma deotimiz-lo estrategicamente em funo do seu pblico e de reforar a sua utilidade (figura 12). Possibilitando ainterpretao conceitual dos valores corporativos, dos dados fornecidos pelo marketing e a realizao depesquisa sobre os cdigos visuais dos concorrentes ou culturais do pblico-alvo.Figura 12Fonte: Heskett (1981, p. 42)Vrios tipos de palitos. O ltimo est preparado para que, depois do uso, se parta uma extremidade de modo a sobrepor-lhe a que esteve emcontato com a boca.A definio da estratgia nasce da interseo de diferentes interesses e condicionantes, tendo em conta ascapacidades da empresa e a sua identidade. A agregao dos valores corporativos ao design e sua conduta fazcom que deixem de ser meras formas vazias, que por sua vez possibilitam que o pblico se aproprie dossignificados.Contribuir para a competitividade das empresas no traz apenas benefcios econmicos, mas tambm sociais,ao contribuir para o aumento de postos de trabalho, da melhoria das condies de trabalho e da qualidade dosprodutos ou servios (figuras 13, 14 e 15). Esse contributo fundamental para a afirmao do design nasociedade, bem como o de melhorar o universo urbana em colaborao com os municpios. Porm, o designerno um mercenrio ao servio das empresas e disposto a fazer qualquer coisa, mas antes um estrategista dotadode conscincia social.Figura 13Fonte: Papanek (1995, p. 47)Fogo a energia solar desenvolvido com o apoio da Unesco para a ndia e Paquisto.Figura 14Fonte: Papanek (1995, p. 65)Pisa-livros (pisa-livros usa-se para abrir as pginas dos livros libertando as mos para outras tarefas, um termo do autor) feito com restos decouro.Figura 15Fonte: Papanek (1995, p.65). Projeto de cabos de talheres a partir de aparas de couro.Reflexo finalA regulamentao da profisso e um forte sentimento de classe por parte dos designers, so as formas degarantir o correto desempenho da atividade e de criar condies para que estes tenham a oportunidade dedesempenhar as suas funes sem concorrncia desleal e com as justas circunstncias. Esta questo no trata deum mero interesse corporativo, mas de garantir que os designers tm a oportunidade de servir bem a sociedade.O design , por definio, uma atividade multidisciplinar em que o designer recorre a especialistas econhecimentos de outras reas, desta forma possibilitando resolver problemas de forma mais consistente.BibliografiaMIJKSENAAR, Paul, WESTENDORP, Piet. Abrir aqui el arte del diseo de instruciones, Alemanha:Knemann, 2000. ISBN: 3-8290-5433-5MIJKSENAAR, Paul, Diseo de la informacin, Mxico:Editorial Gustavo Gili. 2001 ISBN: 968-887-389HESKETT, John, El diseo el la vida cotidiana, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2005. ISBN: 84-252-1981-7PAPANEK, Victor, Arquitectura e Design, Lisboa: Edies 70, 1995. ISBN: 972-44-0968-6ZIMMERMANN, Yves , Del diseo, Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1998. ISBN: 84-252-1780-6CHAVES, Norberto, El oficio de disear Propuestas a la conciencia crtica de los que comienzan, Barcelona:Editorial Gustavo Gili, 2001. ISBN: 84-252-1840-3Publicado em Design Grfico Comunidade Brasileira de Designhttp://www.designgrafico.art.br/comapalavra/designparatodos.htm@ Daniel [email protected]